Educação Das Relações Étnico-raciais Negras Atuação De

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ARTIGO CIENTÍFICO DE GRANDES PROFESSORES DA UFSCAR E DO MOVIMENTO NEGRO DE SOROCABA

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  • Revista HISTEDBR On-line Artigo

    Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n 52, p. 340-356, set2013 ISSN: 1676-2584 340

    EDUCAO DAS RELAES TNICO-RACIAIS NEGRAS: ATUAO DE

    PROFESSORES DA REDE PBLICA DE ENSINO DA REGIO DE SOROCABA-SP

    Marcos Francisco Martins1

    Adriana Varani2

    Ademir Barros dos Santos3

    Lucimara Aparecida Feliciano da Rocha4

    Marilda Aparecida Corra5

    RESUMO

    O artigo apresenta e analisa os resultados de uma pesquisa realizada na regio de Sorocaba-

    SP com 171 professores da rede pblica de educao bsica. O objetivo da investigao foi

    saber como ocorre a atuao dos professores com as questes tnico-raciais nas escolas. A

    coleta de dados foi realizada por meio de um questionrio produzido e aplicado pelos

    participantes de um curso de extenso planejado e desenvolvido, no segundo semestre de

    2012, por docentes da UFSCar, juntamente com lideranas da comunidade negra da regio.

    Os dados colhidos foram analisados a partir da relao com as delimitaes legais e

    orientaes institucionais atualmente em vigor. Entre os resultados apresentados, destaca-se o

    fato de que a atuao dos professores com a histria e com a cultura afro-brasileira nas

    escolas da regio tem ocorrido, mas ainda de forma pouco planejada, com iniciativas

    pontuais e carentes de estruturao.

    Palavras-chave: educao tnico-racial; ensino de histria e cultura afro-brasileira; Lei

    10.639/03.

    EDUCATION OF RELATIONS ETHNIC-RACIAL BLACK: PERFORMANCE OF

    TEACHERS OF PUBLIC EDUCATION IN SOROCABA-SP

    ABSTRACT:

    The paper presents and analyzes the results of a survey conducted in the region of Sorocaba-

    SP with 171 teachers from public education. The aim of the research was to know how the

    performance of teachers with ethnic and racial issues have been developed in schools. Data

    collection was conducted through a questionnaire produced and applied by participants in an

    extension course planned and developed in the second half of 2012 by teachers UFSCar,

    along with leaders of the black community in the region. The collected data were analyzed

    from the relationship with the demarcation legal and institutional guidelines currently in

    force. Among the results, we highlight the fact that the performance of the teachers with the

    history and culture african-Brazilian schools in the region has occurred, but still so poorly

    planned, with specific initiatives and poorly structured.

    Keywords: racial-ethnic education, teaching history and culture african-Brazilian, Law

    10.639/03.

    Introduo

    A pesquisa aqui relatada originou-se de uma demanda que, em 2011, foi apresentada

    pela comunidade negra aos docentes e discentes da UFSCar durante o I Encontro UFSCar-Movimentos Sindicais e Sociais da regio de Sorocaba (cf. MARTINS, 2012). Naquela oportunidade, foi reivindicado, entre outros pleitos, um curso aos professores da rede de

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    ensino pblica de nvel bsico para habilit-los a implantar adequadamente o que reza a Lei

    10639/03: [...] o ensino sobre Histria e Cultura Afro-Brasileira, contedo que foi reiterado pela Lei 11645/08, ampliando-o para a histria e cultura indgena

    6.

    Dois docentes da UFSCar Sorocaba assumiram a incumbncia de desenvolver o

    reivindicado curso. Para tanto, convidaram representantes e lideranas da comunidade negra

    da regio para integrarem-se ao processo de formulao e execuo da atividade.

    Participaram efetivamente dessa ao 7 organizaes e movimentos sociais ligados luta

    pelo reconhecimento dos direitos, da histria e da cultura negra. Junto com docentes e

    discentes de graduao e do Programa de Mestrado em Educao do Campus, formularam,

    durante o primeiro semestre de 2012, a proposta de um curso de extenso intitulado

    Relaes tnico-Raciais e Educao. Os termos raa e etnia foram utilizados para identificar o curso porque

    [...] se entende por raa a construo social forjada nas tensas relaes entre

    brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas, nada tendo a

    ver com o conceito biolgico de raa cunhado no sculo XVIII e hoje

    sobejamente superado. [...] o termo foi ressignificado pelo Movimento

    Negro que, em vrias situaes, o utiliza com um sentido poltico e de

    valorizao do legado deixado pelos africanos. importante, tambm,

    explicar que o emprego do termo tnico, na expresso tnico-racial, serve

    para marcar que essas relaes tensas devidas a diferenas na cor da pele e

    traos fisionmicos o so tambm devido raiz cultural plantada na

    ancestralidade africana, que difere em viso de mundo, valores e princpios

    das de origem indgena, europia e asitica. (BRASIL MEC, 2004, p. 13)

    O curso foi realizado no segundo semestre de 2012 e teve como principal objetivo

    colaborar com o processo de reparao e de valorizao da identidade, da cultura e da histria

    dos negros brasileiros, tornando-os reconhecidos, a partir das possibilidades do trato com a

    questo na educao bsica. Segundo o que foi anunciado na abertura da atividade por

    Petronilha Beatriz Gonalves e Silva, uma das relatoras pelo Conselho Nacional de Educao

    do Parecer 03/2004, aprovado pelo Conselho Pleno em 10/03/2004:

    Reconhecimento implica justia e iguais direitos sociais, civis, culturais e

    econmicos, bem como valorizao da diversidade daquilo que distingue os

    negros dos outros grupos que compem a populao brasileira. E isto requer

    mudana nos discursos, raciocnios, lgicas, gestos, posturas, modo de tratar

    as pessoas negras. Requer tambm que se conhea a sua histria e cultura

    apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito

    da democracia racial na sociedade brasileira [...]. Reconhecimento requer a

    adoo de polticas educacionais e de estratgias pedaggicas de

    valorizao da diversidade, a fim de superar a desigualdade tnico-racial

    presente na educao escolar brasileira, nos diferentes nveis de ensino.

    Reconhecer exige que se questionem relaes tnico-raciais baseadas em

    preconceitos [...] Reconhecer tambm valorizar, divulgar e respeitar os

    processos histricos de resistncia negra [...]. Reconhecer exige que os

    estabelecimentos de ensino, freqentados (sic!) em sua maioria por

    populao negra, contem com instalaes e equipamentos slidos,

    atualizados, com professores competentes no domnio dos contedos de

    ensino, comprometidos com a educao de negros e brancos, no sentido de

    que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir

    posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminao.

    (BRASIL MEC, 2004, p. 11 e 12)

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    Participaram do curso 45 alunos de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar -

    Sorocaba, 11 lideranas da comunidade negra e 20 professores da rede pblica municipal e

    estadual da regio. Durante as 15 aulas ministradas por convidados dos mais variados perfis,

    de acadmicos a lideranas da comunidade negra, foi discutida a histria e a geografia da

    frica, os desafios histricos enfrentados pela comunidade negra no Brasil e,

    particularmente, na regio de Sorocaba, bem como, nos 5 encontros finais, questes relativas

    educao das relaes tnico-raciais no espao escolar, com temas versando sobre

    currculo, materiais didtico-pedaggicos, formao de professores e experincias com a

    questo negra desenvolvidas por profissionais que atuam na rede pblica de ensino bsico.

    Do processo de desenvolvimento do referido curso resultaram alguns produtos, e entre eles se destacam: materiais didticos confeccionados pelos que participaram do curso e

    voltados ao trabalho com a temtica negra na educao bsica, e um instrumento de coleta de

    dados produzido coletivamente, um questionrio, o qual aqui apresentado, sendo

    analisadas, interpretadas e problematizadas algumas informaes por ele colhidas.

    Sobre a coleta e anlise-interpretao dos dados

    O referido questionrio surgiu a partir das discusses desenvolvidas durante o

    mencionado curso de extenso, uma vez que ningum que dele participou dispunha de

    informaes, com rigor acadmico-cientfico, sobre qual era a situao dos professores que

    atuavam na rede bsica de ensino da regio em relao problemtica negra, especialmente

    sobre o processo de formao desses docentes, os conhecimentos que tinham e a prtica

    educativa que desenvolviam. Como essas informaes foram entendidas como muito

    significativas para eventuais aes posteriores, os participantes do curso e seus formuladores

    e executores resolveram produzir coletivamente um questionrio a ser aplicado a uma

    amostra de docentes da regio de Sorocaba.

    O questionrio continha 19 questes, divididas em 4 blocos: no primeiro haviam

    questes relacionadas identificao do respondente; no segundo indagaes sobre o

    processo de formao escolar e no escolar, incluindo, particularmente, processos educativos

    com contedos relacionados histria e cultura afro-brasileira; no terceiro,

    questionamentos sobre o conhecimento em relao s questes tnico-raciais; e no quarto

    bloco haviam 5 perguntas sobre a atuao do professor em sala de aula com a histria e com

    a cultura afro-brasileira.

    O questionrio foi aplicado pelos participantes do curso7 a 194 professores da rede

    bsica de ensino da regio de Sorocaba. Todavia, 22 deles foram aplicados a ttulo de pr-

    teste, e 1 foi descartado em funo de ter sido respondido por um coordenador. De modo que

    neste artigo utilizada uma amostra investigada de 171 professores.

    No processo de coleta de dados, os pesquisadores no foram orientados a colherem

    respostas de docentes de disciplinas especficas, o que poderia ocorrer privilegiando as reas

    de [...] educao artstica e de literatura e histria brasileiras, conforme estabelece o Art. 2 da Lei 11.645/08. Resolveu-se no fazer esse recorte por disciplinas por se entender, como

    informa o mesmo Art., que Os contedos referentes histria e cultura afro-brasileira e dos povos indgenas brasileiros sero ministrados no mbito de todo o currculo escolar [...]. Ou seja, considerou-se que se [...] as Africanidades Brasileiras8 abrangem diferentes reas, no precisam, em termos de programas de ensino, constituir-se numa nica disciplina, pois

    podem estar presentes, em contedos e metodologias, nas diferentes disciplinas constitutivas

    do currculo escolar. (SILVA, 2005, p. 160). Dessa forma, a coleta de dados foi aleatria em

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    relao s disciplinas ministradas pelos respondentes. Alm disso, o questionrio tambm foi

    aplicado a professores dos anos iniciais do ensino fundamental, nvel de ensino em que no

    h professor de disciplina especfica, mas docentes que trabalham com diferentes reas do

    conhecimento de forma integrada.

    Os dados colhidos foram analisados a partir de algumas referncias bibliogrficas, que

    sero apresentadas ao longo deste texto, e tambm considerando as atuais orientaes formais

    e legais do Estado brasileiro educao das relaes tnico-raciais, como o caso, entre

    outras, das seguintes:

    - Lei 11.645/08 (cf. a nota de rodap VI);

    - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana, do MEC, em 2004; - Orientaes e Aes para a Educao das Relaes tnico-raciais, emitidas pelo MEC em 2006;

    - Plano Nacional de Implementao das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana

    da Educao, de 2009; - recomendaes presentes no livro Raas e etnias sade e preveno nas escolas, editados pelo Ministrio da Sade como um dos fascculos da coleo intitulada

    Adolescentes e Jovens para a Educao entre Pares, do Projeto Sade e Preveno nas Escolas (SPE);

    - Currculo do Estado de So Paulo, particularmente o de Cincias Humanas e suas Tecnologias e o de Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias.

    Neste texto sero relatados, analisados e interpretados, bem como problematizados, o

    primeiro e o quarto bloco do questionrio, isto , sero apresentados os respondentes e

    avaliadas as respostas que deram a 5 perguntas do quarto bloco de questes, que versaram

    sobre a atuao do professor na escola com as questes tnico-raciais negras.

    Identificao dos sujeitos da pesquisa

    Entre os 171 professores que responderam ao questionrio, quase a metade (48%)

    encontra-se na faixa etria entre os 21 e 40 anos (de 21 a 30 anos: 18%; de 31 a 40 anos:

    30%), isto , parte desses profissionais foi formada no perodo de vigncia da Lei 10639, que

    de 2003, e, assim, deveriam ter sido habilitados a lidarem com o ensino da histria e da

    cultura afro-brasileira.

    Em relao autodeclarao de raa-etnia, os entrevistados se manifestaram como sendo brancos em sua ampla maioria (71%) e apenas 5% como negros. interessante

    observar essa autodeclarao porque, segundo o Censo 2010 do IBGE, os pretos e os pardos

    so predominantes na sociedade brasileira (50,9%) e em Sorocaba9 eles representam, a partir

    da autodeclarao, 145.267 pessoas, 24,76%. primeira vista, o que as respostas ao

    questionrio permitem inferir que o fenmeno registrado em Sorocaba em relao ao

    enorme crescimento da identificao da populao como negra e parda, verificado entre os

    anos de 2000 a 2010, que foi de 65,1%, no se refletiu entre os professores da rede pblica.

    Entre os variados elementos explicativos para esse resultado podem estar, entre outros, os

    dois seguintes: primeiro que a profisso de professor, por exigir formao de nvel superior,

    ainda no plenamente acessada pela comunidade negra; e, segundo, a dificuldade de

    afrodescendentes se reconhecerem como negros, fruto, ainda, do peso da ideologia do

    branqueamento10.

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    Os professores respondentes atuam, majoritariamente, em Sorocaba-SP, conforme

    indica a Tabela 1.

    Tabela 1 Cidade em que atua como professor

    Respostas Quantidade

    Araoiaba da Serra 06

    Mairinque 03

    Pereiras 02

    Salto de Pirapora 20

    Salto de Pirapora + Araoiaba da Serra 01

    So Roque 02

    Sorocaba 115

    Votorantim 19

    Votorantim + Sorocaba 03

    Total geral 171

    So os mais variados os nveis de ensino bsico nos quais atuam os professores que

    participaram da pesquisa, alguns, inclusive, em mais de um nvel de ensino, conforme se

    observa na Tabela 2.

    Tabela 2 Nvel em que atua como professor

    Respostas Quantidade

    Anos finais do Ensino Fundamental 13

    Anos finais do Ensino Fundamental + anos iniciais do Ensino Fundamental 03

    Anos finais do Ensino Fundamental + Ensino Mdio 29

    Anos finais do Ensino Mdio + Ensino Mdio 01

    Anos iniciais do Ensino Fundamental 55

    Anos iniciais do Ensino Fundamental + Ensino Mdio 03

    Anos iniciais do Ensino Mdio 02

    Educao Infantil 29

    Educao Infantil + sries iniciais do Fundamental 07

    Educao Infantil + anos iniciais e finais do Ens. Fund. + Ensino Mdio 01

    Educao Infantil + Ensino Mdio + anos finais do Ensino Fundamental 01

    Educao Infantil + Ensino Mdio + anos finais do Ensino Fund. + Ensino Mdio 01

    Ensino Mdio 20

    Ensino Mdio + anos iniciais e finais do Ensino Fundamental 05

    Ensino Tcnico 01

    Total geral 171

    A rede de ensino em que atuam os respondentes , majoritariamente, a pblica

    estadual (48%), seguida da pblica municipal de Sorocaba (29%), sendo que mais 6

    municpios da regio tiveram docentes compondo a amostra de sujeitos investigados.

    Identificados os professores que responderam ao questionrio, necessrio verificar o

    que e como eles tm desenvolvido a educao das relaes tnico-raciais nas escolas da rede

    pblica de ensino da regio de Sorocaba, ou melhor, como tem sido o trabalho pedaggico, e

    isso o que se apresenta a seguir.

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    Atuao de professores da educao bsica na regio de Sorocaba com as questes

    tnico-raciais negras

    Inicialmente, ao tratar da atuao dos professores com a educao das relaes tnico-

    raciais negras, importante verificar como tal questo trabalhada - se que nas reunies pedaggicas que envolvem o coletivo de docentes na escola, denominado como HTPCs11. E isso porque esse um espao importante, uma vez que pode ser utilizado para a formao

    docente e no planejamento do trabalho pedaggico, com vistas a articular aes didtico-

    pedaggicas individuais e as iniciativas coletivas da escola, inclusive, as que dizem respeito

    no apenas execuo de normas legais no mbito da educao, mas, tambm, voltadas ao

    atendimento das demandas comunitrias e sociais, bem como ao desvelamento e ao

    enfrentamento das contradies sociais que se manifestam no espao escolar, como o caso

    do racismo e do preconceito.

    A questo 4.1 pretendeu saber dos respondentes se as questes relativas ao estudo da histria e da cultura afro-brasileira se fizeram presente nos HTPCs e os resultados

    apurados foram os seguintes:

    Tabela 3 Presena da histria e da cultura afro-brasileira nos HTPCs

    Respostas Quantidade

    No 91

    Sim 74

    Anulada 02

    Em branco 04

    Total geral 171

    O que a Tabela 1 apresenta , realmente, muito preocupante, uma vez que a maioria

    dos 171 respondentes (53%) indicou que nos HTPCs semanais dos quais participaram no foram discutidas questes relacionadas histria e cultura afro-brasileira. Concebido o

    HTPC como um espao privilegiado para a formao continuada e construo dos saberes

    docentes do profissional na prpria instituio em que trabalha (cf. SOUZA, 2011), e

    considerando que tal espao deveria ser utilizado para capacitar docentes e os articularem a

    promover o estudo da histria e da cultura afro-brasileira12

    , que se tornou obrigatrio, mesmo

    levando em conta a autonomia da escola, as respostas estimulam outros pesquisadores a

    saberem o que se tem privilegiado como contedo para essas horas garantidas em Lei13

    , algo

    que a pesquisa aqui relatada no se props a responder. Resta, contudo, analisar as respostas

    positivas, isto , as daqueles que responderam afirmativamente pergunta 4.1. Em se tratando das respostas positivas (43%), h de se considerar que, nesse caso, o

    professor teve que complementar a resposta informando como, de que forma a discusso

    ocorreu durante os HTPCs. Eis os resultados:

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    Tabela 4 Como se desenvolveram os HTPCs que trataram de questes relativas histria e cultura afro-brasileira

    Respostas Quantidade14

    Com apresentao de msica 01

    Leitura do livro Menina do lao de fita 01

    Contribuies da comunidade local 01

    Resolues do Governo do Estado de So Paulo 01

    Com apresentao de debate sobre dana 01

    Assistir a uma pea de teatro 01

    Palestras e cursos 02

    Lei 10639/03 e Lei 11.645/08 03

    Apresentao de vdeo 07

    Desenvolvimento de projeto especfico sobre a temtica 09

    Discusso e debate sobre o assunto 17

    Leitura de texto sobre a questo 24

    Em branco 06

    Resposta sem referncia ao como foi trabalhada a questo no HTPC 12

    Entre as mais variadas formas pelas quais os HTPCs trataram de questes relativas histria e cultura afro-brasileira, chama a ateno o desenvolvimento de projetos especficos sobre a temtica, mesmo considerando que tais projetos no foram detalhados; em alguns casos, apenas o ttulo foi mencionado (por exemplo: Projeto frica; Conscincia Negra). Essa informao pode revelar e esconder algumas nuanas do trabalho pedaggico em curso: revelar que a questo, de alguma maneira, tem estado presente nas

    escolas, e esconder, por exemplo, que os projetos especficos sobre a temtica apenas uma interveno localizada, pontual, e no aquela apontada pelas normas legais e pelas as

    Diretrizes Curriculares, pois elas indicam que as atividades devero ser desenvolvidas no

    mbito de todo o cotidiano da escola, em atividades curriculares e extracurriculares.

    (BRASIL MEC, 2004, p. 21). Como dizem as Orientaes e Aes para Educao das Relaes tnico-Raciais,

    Chamamos a ateno para a importncia de no realizar atividades isoladas

    ou descontextualizadas. importante que a temtica das relaes tnico-

    raciais esteja contida nos projetos pedaggicos das instituies, evitando-se

    prticas localizadas em determinadas fases do ano como maio, abril, agosto,

    novembro. Estar inserido na proposta pedaggica da escola significa que o

    tema ser trabalhado permanentemente e nessa perspectiva possvel criar

    condies para que no mais ocorram intervenes meramente pontuais,

    para resolver problemas que surgem no dia-a-dia relacionados ao racismo.

    Aos poucos, o respeito diversidade ser um princpio das instituies e de

    todas as pessoas que nela atuam. (BRASIL MEC, 2006, p.168)

    Outra questo a ser mencionada ao tratar da Tabela 4 que nenhuma resposta indicou

    a presena de especialistas no assunto ou mesmo de representantes do movimento negro nos

    HTPCs, que o que rezam as Diretrizes Curriculares. Entre outras interpretaes que se

    pode ter dessa ausncia, que ela pode ser vista como duplo prejuzo aos professores, pois

    eles perdem a possibilidade de aprofundarem o estudo da histria e da cultura afro-brasileira

    e, tambm, perdem por no contarem com a colaborao de importantes agentes do processo

    de reconhecimento, reparao e valorizao da identidade, da cultura e da histria dos negros

    brasileiros durante o espao e o tempo do HTPC, que so os movimentos sociais.

    Ainda sobre as respostas apresentadas na Tabela 4, interessante mencionar que

    alguns professores indicaram, inclusive, a motivao que levou o assunto histria e cultura

    afro-brasileira aos HTPCs. Em relao a isso, foram citadas as 4 (quatro) seguintes: 8 (oito)

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    citaes para a Semana da Conscincia Negra; 1 (uma) citao para conflitos entre alunos; 1 (uma) citao ao dia 13 de maio; e 1 (uma) citao Semana do Folclore. De maneira que se pode dizer que foi muito oportuna a transformao pelo Movimento Negro

    Unificado, em 1978, da data 20 de novembro em Dia Nacional da Conscincia Negra, pois alm de isso repercutir em vrios cantos do Brasil, nos quais se tornou feriado e motiva a

    reflexo sobre o reconhecimento dos negros, tambm repercutiu no interior da escola,

    estimulando o desenvolvimento de aes didtico-pedaggicas voltadas histria e cultura

    afro-brasileira. Por outro lado, vale refletir o quanto, nas respostas, a atuao pode estar

    restrita comemorao de uma data (cf. BRASIL MEC, 2006, p. 169, que citado abaixo, na anlise da Tabela 6).

    Por sua vez, foram as seguintes as respostas questo 4.2, sobre a incluso nos planos de ensino dos entrevistados de contedos relativos ao estudo da histria e da cultura

    afro-brasileira:

    Tabela 5 Contedos relativos histria e cultura afro-brasileira nos planos de ensino

    Respostas Quantidade

    No 64

    Sim 97

    Anulada 02

    Em branco 08

    Total geral 171

    muito expressiva a resposta no (37%), uma vez que a Lei 11.645/08 exige que [...] o estudo da histria e cultura afro-brasileira [...] sero ministrados no mbito de todo o currculo escolar. Mesmo considerando a autonomia da escola, o fato de ter 64 respostas informando que o tema no est nos planos de ensino autoriza a interpretar que nem sempre a

    norma legal e as claras orientaes para que determinado contedo seja desenvolvido ( o

    caso dos documentos que orientam a consecuo do currculo voltado ao estudo da histria e

    da cultura afro-brasileira) so suficientes para garantir que o reconhecimento, a reparao e a

    valorizao da identidade, da cultura e da histria dos negros brasileiros estejam presentes no

    cotidiano da escola. A propsito, o Plano Nacional de Implementao das Diretrizes

    Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-raciais e para o Ensino de

    Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana da Educao surgiu com o intuito de [...] colaborar para que todo o sistema de ensino e as instituies educacionais cumpram as

    determinaes legais com vistas a enfrentar todas as formas de preconceito, racismo e

    discriminao (BRASIL MEC, 2009, p. 23), mas reconhece

    As dificuldades inerentes implantao de uma lei no mbito da Federao

    brasileira tambm alcanaram a Lei 10639/03. A relao entre os entes

    federativos (municpios, estados, Unio e Distrito Federal) uma varivel

    bastante complexa e exige um esforo constante na implementao de

    polticas educacionais. Isso no foi diferente em relao implementao

    das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes

    Etnicorraciais, se considerarmos os papis complementares dos diversos

    atores necessrios implantao da Lei. [...] todos os atores envolvidos

    necessitam articular-se e desenvolv-las de forma equnime. Isso significa

    incluir a temtica no Projeto Poltico Pedaggico da Escola, ao que

    depende de uma srie de outras [...] (BRASIL MEC, 2009, p. 22)

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    Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n 52, p. 340-356, set2013 ISSN: 1676-2584 348

    Em se tratando das respostas sim, elas esto em consonncia ao que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais, pois indicam textualmente a incluso nos planos de ensino

    da temtica negra:

    Incluso, em documentos normativos e de planejamento dos

    estabelecimentos de ensino de todos os nveis estatutos, regimentos, planos pedaggicos, planos de ensino de objetivos explcitos, assim como de procedimentos para sua consecuo, visando ao combate do

    racismo, das discriminaes, e ao reconhecimento, valorizao e respeito

    das histrias e culturas afro-brasileira e africana (BRASIL MEC, 2004, p. 24 grifos nossos)

    Aos que responderam sim, foi solicitado que indicassem como a incluso no plano de ensino feita. As respostas coletadas indicaram o seguinte:

    Tabela 6 Como os contedos relativos histria e cultura afro-brasileira

    se apresentam nos planos de ensino

    Respostas Quantidade

    Atividades compatveis com as faixas etrias 01

    Histria local dos negros 01

    Discusso sobre vesturio 01

    Atividades artsticas 01

    Trabalhos colaborativos 01

    Discusso das Leis relativas ao tema 01

    Curso sobre o tema 01

    Seminrios 01

    Eleio de Obama 01

    Espao de convivncia 02

    Vida dos escravos 02

    Vdeos e filmes 02

    Culinria15 03

    Rodas de conversa e discusses 03

    Msica 04

    Esportes e capoeira 04

    Exposies 04

    Dana 05

    Ldico: cantigas, brincadeiras, jogos e poesias 05

    Pesquisas 06

    Projetos especficos sobre o tema 08

    Livros especficos sobre o tema, textos e literatura 10

    Segundo o Currculo oficial do Estado, Caderninho do Estado, apostila

    11

    Diversidade e identidade16 14

    Datas comemorativas17 14

    Histria da formao do povo brasileiro 19

    Em branco 04

    Resposta sem referncia ao como foi trabalhada a questo nos planos de ensino

    19

    As diferentes formas de incluir nos planos de ensino contedos, estratgias e objetivos

    relacionados histria e cultura afro-brasileira esto muito prximas daquelas sugeridas

    pelas Orientaes e Aes para a Educao das Relaes tnico-Raciais (Cf. BRASIL MEC, 2006, p. 165 a 212). As citaes dos respondentes indicaram as inmeras

    possibilidades de se desenvolver as atividades sugeridas pela Lei 11.645/08. No pode ser

    aceito, portanto, como desculpa para a no incluso nos planos de ensino a falta de

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    maneiras, de estratgias e de procedimentos adequados de lidar com o tema. Eles so

    variados e a multiplicidade se revela tanto nas atividades mais corriqueiras da pedagogia

    tradicional, quanto naquelas mais ligadas s pedagogias alternativas ao tradicionalismo

    pedaggico.

    Vale destacar o grande nmero de respostas relacionadas s prticas culturais. Elas

    podem indicar, entre outras inferncias, certa preocupao com o resgate da cultura negra ou,

    de outro modo, a persistncia de um olhar para tal identidade como algo extico, o que as

    respostas colhidas no permitiram verificar.

    Em relao a uma das respostas mais destacadas, com 14 citaes, as Datas comemorativas, deve-se ter em mente que

    O planejamento de atividades [...] tendo como referncia datas

    comemorativas que so reproduzidas ano a ano, sem anlise crtica da parte

    dos(as) educadores/as, no contribui para a reflexo do porque celebrar tais

    heris, grupos e costumes, seguindo padres que correspondem a uma viso

    das origens do povo brasileiro, que no a nica. (BRASIL MEC, 2006, p. 169)

    Todavia, ao mesmo tempo em que h um movimento crtico em relao

    comemorao restrita de uma data especial, vale ressaltar que o movimento negro, ao

    conquistar a comemorao do dia 20 de novembro, se apropriou da lgica das datas

    comemorativas para lembrar um fato histrico significativo para a comunidade e, apesar das

    repercusses restritivas em relao ao reconhecimento, esta tambm uma forma de garantir

    que a temtica seja remetida ao mbito escolar, motivando reflexes, debates e aes

    relacionados conscincia negra.

    Interessante observar que a Histria de formao do povo brasileiro apresentou-se com destaque, 19 respostas, o que vai ao encontro do que prescreve as Diretrizes

    Curriculares, particularmente na parte intitulada Conscincia poltica e histria da diversidade, pois ali se l que entre os princpios a conduzir o trabalho na escola est a

    [...] compreenso de que a sociedade formada por pessoas que pertencem

    a grupos tnico-raciais distintos, que possuem cultura e histria prprias,

    igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nao brasileira, sua

    histria; [o] conhecimento e valorizao da histria dos povos africanos e

    da cultura afro-brasileira na construo histrica e cultural brasileira

    (BRASIL MEC, 2004, p. 18)

    A pergunta 4.3 pretendeu saber se nas aulas e demais atividades que efetivamente so desenvolvidas na escola o professor trabalha ou trabalhou com as questes relativas ao

    estudo da histria e da cultura afro-brasileira. As respostas obtidas so as expressas a seguir:

    Tabela 7 Trabalhou em aula ou em outra atividade da escola com as questes sobre a histria e a

    cultura afro-brasileira

    Respostas quantidade

    No 51

    Sim 111

    Anulada 01

    Em branco 08

    Total geral 171

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    Ao comparar essa Tabela 7 com a Tabela 5, percebe-se que pouca mudana se teve,

    isto , aquele professor no coloca em seu plano de ensino atividades relacionadas s

    questes tnico-raciais (37%) muito provavelmente seja o mesmo que, tambm, no a

    trabalhou em aula e nem participou de iniciativas com essa perspectiva (30%) na escola. De

    outro modo, se pode dizer que entre os professores que colocaram as questes tnico-raciais

    no plano de ensino (57%) e aqueles que, mesmo no colocando, participaram de iniciativas

    com esse contedo na escola (65%), houve uma variao para mais de apenas 7%, ou seja, h

    um conjunto de cerca de 1/3 (um tero) de professores que responderam ao questionrio que

    no colocaram a histria e a cultura afro-brasileira em seus planos de ensino e, tambm, no

    participaram de nenhuma atividade relacionada a isso, o que preocupante, para dizer o

    mnimo, considerando a premncia de na escola se enfrentar o problema do racismo e

    trabalhar formas de se reconhecer os direitos, a histria e a cultura da comunidade negra.

    Esse resultado faz lembrar que

    Ainda encontramos muitos(as) educadores(as) que pensam que discutir

    sobre relaes raciais no tarefa da educao. um dever dos militantes

    polticos, dos socilogos e antroplogos. Tal argumento demonstra uma

    total incompreenso sobre a formao histrica e cultural da sociedade

    brasileira. E, ainda mais, essa afirmao traz de maneira implcita a idia de

    que no da competncia da escola discutir sobre temticas que fazem parte

    do nosso complexo processo de formao humana. Demonstra, tambm, a

    crena de que a funo da escola est reduzida transmisso dos contedos

    historicamente acumulados, como se estes pudessem ser trabalhados de

    maneira desvinculada da realidade social brasileira. (GOMES, 2005, p. 146)

    A questo 4.4 procurou saber sobre a experincia dos professores que colocaram a histria e a cultura nos planos de ensino, ou melhor, quais as facilidades e dificuldades

    encontradas, bem como os resultados obtidos. Essa pergunta aberta demonstrou que:

    Tabela 8 Facilidades, dificuldades e resultados alcanados com as atividades desenvolvidas com a

    histria e a cultura afro-brasileira previstas nos planos de ensino

    Resultados Dificuldades Facilidades

    Respostas Quan

    tidade

    Respostas Quan

    tidade

    Respostas Quan

    tidade

    O assunto choca os alunos 01 Dificuldade de prender ateno dos alunos

    01 Apoio da direo e da coordenao

    01

    Os alunos gostam do tema 01 Alguns alunos no aceitam negros em postos de comando

    01 Troca de informaes nos HTPCs

    01

    As atividades estimulam a crtica

    01 Alunos negros pouco participam

    01 Apoio da Secretaria Estadual

    02

    As crianas passam a respeitar mais as diferenas

    01 Lidar com religies de matriz africana

    01 Alunos gostam da temtica, prende a ateno dos alunos

    02

    Repercusso na famlia e na comunidade

    02 Enfrentar esteretipos 01 Surgiram materiais facilitadores; material disponvel

    04

    Mudana na mentalidade 03 Material sobre tno-matemtica

    01 Sem dificuldades 09

    Desperta interesse em conhecer costumes, culinria

    e religio

    03 Formao didtica para trabalhar com o tema

    02 Interesse dos alunos na temtica, empenho, participao

    10

    excelentes apresentaes e seminrios apresentados

    04 Resistncia de alguns professores, diretores e coordenadores

    02

    Interessante, positivo, produtivo, muito legal, timo

    22 Alunos mal informados sobre a questo

    02

    Viso superficial, equivocada, sobre a frica

    03

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    Falta de interesse e participao dos alunos

    03

    Falta material, material fragmentado

    04

    Preconceitos dos alunos 05

    Respostas em branco 27

    Respostas sem condies de saber quais as facilidades, dificuldades e

    resultados alcanados

    11

    Em relao s facilidades de se lidar com as questes relativas ao estudo da histria e

    da cultura afro-brasileira, destaca-se o interesse dos alunos pelo tema (10 citaes), que desenvolvido sem dificuldades (09 respostas), j que os Alunos gostam da temtica (02 menes), a qual prende a ateno (outras 2). Corrobora essa inferncia as poucas dificuldades citadas relacionadas a essa questo: Dificuldade de prender ateno dos alunos (1 resposta), Alunos negros pouco participam (mais 1 resposta) e Falta de interesse e participao dos alunos (3 citaes).

    Sobre as dificuldades, a que teve maior citao o Preconceito dos alunos, com 5 citaes, o que era de se esperar, considerando o atual estgio de desenvolvimentos das

    relaes sociais no Brasil, em que a democracia racial, anunciada por Gilberto Freyre18 como um contributo original da civilizao luso-brasileira (cf. GUIMARES, s/d), se

    apresenta, de fato, como um mito, bem descrito por Florestan Fernandes e Roger Bastide, para os quais a naturalizao das desigualdades sociais sustenta subjetivamente a injusta e

    objetiva situao econmica, social, poltica e cultural vivida pela comunidade negra (cf.

    FERNANDES, 1978). Em outras palavras, de fato um [...] mito [a viso de que] vivemos em uma cultura uniforme em que no existem desigualdades nem preconceitos[, isso] s fez

    com que as discriminaes praticadas com base nas diferenas raciais acabassem por ficar

    ocultas, sobretudo aquelas contra as populaes negra e indgena. (BRASIL, MS, 2011, p. 11 e 12)

    Entre os resultados alcanados com as atividades previstas nos planos de ensino e

    desenvolvidas, saltam vista as respostas com 22 citaes: Interessante, positivo, produtivo, muito legal, timo. Supe-se que isso ocorra concretamente porque, alm dos aspectos positivos mencionados nas facilidades, tais atividades estimulam a crtica, motiva o respeito s diferenas, repercute na famlia e na comunidade, muda a mentalidade e desperta o interesse dos alunos em conhecer os costumes, a culinria e as religies de matriz africana. Como bem mencionou um dos respondentes, no poderia ser outro o resultado seno o de chocar os alunos, o que foi citado com conotao positiva.

    Os resultados apontados pelos respondentes vo ao encontro do que se estabelece

    como habilidades no Currculo do Estado de So Paulo, tanto o volume destinado s Cincias humanas e suas tecnologias (Ensino Fundamental Ciclo II e Ensino Mdio), quanto ao relativo s Linguagens, cdigos e suas tecnologias, para o mesmo nvel de ensino. Particularmente, as seguintes respostas autorizam tal afirmao: As atividades estimulam a crtica, As crianas passam a respeitar mais as diferenas, Repercusso na famlia e na comunidade, Mudana na mentalidade, Interesse em conhecer costumes, culinria e religio, Excelentes apresentaes e Seminrios apresentados. O mesmo se pode dizer em relao reivindicao de alguns intelectuais que estudam as africanidades e

    militam em favor do reconhecimento da comunidade negra, como o caso de Petronilha

    Beatriz Goncalves e Silva, haja vista o apelo que faz em relao ao

    [...] estudo das Africanidades com o propsito de que os currculos

    escolares, em todos os nveis de ensino: valorizem igualmente as diferentes

    e diversificadas razes das identidades [...]; busquem compreender e

    ensinem a respeitar diferentes modos de ser, viver, conviver e pensar;

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    Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n 52, p. 340-356, set2013 ISSN: 1676-2584 352

    discutam as relaes tnicas, no Brasil, e analisem a perversidade da assim

    designada democracia racial; encontrem formas de levar a refazer concepes relativas populao negra [...]; identifiquem e ensinem a

    manusear fontes em que se encontram registros de como os descendentes de

    africanos vm, nos quase 500 anos de Brasil, construindo suas vidas e sua

    histria [...]; permitam aprender a respeitar as expresses culturais negras

    [...]; situem histrica e socialmente as produes de origem e/ou influncia

    africana, no Brasil, e proponham instrumentos para que sejam analisadas e

    criticamente valorizadas. (SILVA, 2005, p. 157)

    Todavia, esse promissor cenrio construdo a partir da Tabela 8 no pode ser bem

    apreciado sem se mencionar as respostas em branco, as quais atingiram o maior nmero de

    citaes: 27. Descartando-se os problemas decorrentes do cansao de os professores

    responderem a um questionrio com 19 questes, muitos dos quais tomados diariamente por

    inmeras atividades em vrias escolas, as respostas em branco podem indicar, entre outros

    problemas, certa desconsiderao dos docentes em avaliar o trabalho didtico-pedaggico

    que desenvolvem.

    A ltima questo do questionrio procurou saber se h material didtico relativo

    histria e da cultura afro-brasileira, e o resultado a que se chegou foi:

    Tabela 9 Material didtico disponibilizado na escola

    H material didtico relativo histrica e

    cultura afro-brasileira quantidade

    No 24

    Sim 96

    No sei dizer 39

    Anulado 01

    Em branco 11

    Total geral 171

    A resposta No sei dizer, com 23%, pode indicar alguma possibilidade de que os que assim responderam compem aquele grupo de cerca de 1/3 (um tero) de professores que

    no coloca em seu plano de ensino atividades relacionadas histria e cultura afro-

    brasileira (37%), no a trabalhou em aula e nem participou de iniciativas com essa

    perspectiva (30%) na escola (cf. Tabelas 5 e 7). Se no se sabe dizer se a escola dispe de

    material didtico, por que no se procurou com eles trabalhar. Contudo, h de se considerar,

    tambm que o respondente pode no ter procurado na escola materiais alusivos histria e

    cultura afro-brasileira por diferentes razes, inclusive porque tais materiais, em algumas

    ocasies, ficam guardados em lugar que apenas uma pessoa tem acesso, o que muito

    comum. De maneira que o que essas duas possibilidades de interpretao de tais dados

    coletados revelam que os respondentes desconhecem o que a escola tem a lhes oferecer

    sobre a temtica aqui em questo, o que uma situao delicada tambm.

    A resposta que conta com 56% dos respondentes a que afirma que as escolas contam

    com material didtico relativo histria e cultura afro-brasileira. Bastante promissor esse

    nmero, uma vez que at recentemente no se dispunha da quantidade e da qualidade dos

    materiais didticos sobre a questo do racismo, do reconhecimento, da reparao, da

    identidade, da cultura e da histria dos negros brasileiros.

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    guisa de concluso

    Neste momento final do texto, cabe ressaltar, sinteticamente, alguns elementos que

    mais diretamente expressam questes relativas atuao dos professores da rede pblica de

    educao bsica da regio de Sorocaba-SP com a histria e a cultura afro-brasileira, as quais

    foram possveis de ser observadas a partir dos dados coletados. So trs os elementos a serem

    destacados.

    O primeiro refere-se identificao dos professores que responderam ao questionrio.

    O fato de que eles representam um percentual muito baixo em relao aos ndices relativos

    presena negra na regio, indica a necessidade de prosseguimento de pesquisas para que se

    possa saber, reiterando o que foi dito, se esse elemento revela a dificuldades que a

    comunidade negra est tendo para acessar profisses que exigem nvel superior, ou se,

    realmente, o dado colhido est afetado pela ideologia do branqueamento, no caso manifesta

    na autodeclarao de raa e etnia.

    O segundo elemento a ser destacado diz respeito aos HTPcs. Eles poderiam ser mais e melhor utilizados pelos profissionais que atuam na escola, para otimizar ainda mais os

    resultados alcanados com as atividades relativas histria e a cultura afro-brasileira. Uma

    das formas de se fazer isso poderia ser promover a aproximao dos professores da rede

    pblica com dois setores e agentes sociais que no apareceram nos dados coletados: os

    estudiosos da matria e os movimentos sociais que militam em favor da reparao, da

    valorizao e do reconhecimento dos negros, principalmente os que tm atuao no territrio

    da escola. Esse procedimento tem o potencial de, entre outros, despertar os professores que

    no apresentam no plano de ensino contedos e atividades relativas s questes tnico-

    raciais.

    O terceiro destaque diz respeito responsabilidade por desenvolver o que pede a

    legislao e encaminhado pelos documentos institucionais que orientam a ao do professor

    em sala de aula. Essa uma responsabilidade coletiva, que no deve ser restrita e cobrada

    apenas do professor e da escola, de seus demais agentes, como o caso da direo. Ela diz

    respeito, tambm, aos diferentes nveis das instncias estatais e entes federados: municpio,

    estado e governo federal. Articulados e, inclusive, demandados pela comunidade e pelos

    movimentos sociais, os resultados alcanados por processos de educao escolar das relaes

    tnico-raciais podero reverberar para alm dela, at mesmo porque [] as lutas de libertao tambm libertam os opressores (BRASIL MEC, 2009, p. 12)

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    Notas

    1 Professor adjunto da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar) - campus Sorocaba, onde coordena o

    Programa de Mestrado em Educao e lidera o GPTeFE. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho

    Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), graduado em Filosofia (PUC-Campinas), com

    mestrado e doutorado em Filosofia e Histria da Educao (FE-Unicamp). E-mail: [email protected] 2 Doutora em Educao pela Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp),

    professora adjunta da UFSCar Sorocaba. E-mail: [email protected] 3 Coordenador da Cmara de Preservao Cultural do Ncleo de Cultura Afro-Brasileira NUCAB - da Uniso

    (Universidade de Sorocaba), membro dos Conselhos Deliberativo da SCB 28 de Setembro e Superior da

    Fundao Cafun. E-mail: [email protected] 4 Graduada em Educao Fsica e educadora do Centro Cultural Quilombinho, em Sorocaba-SP. E-mail:

    [email protected]

  • Revista HISTEDBR On-line Artigo

    Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n 52, p. 340-356, set2013 ISSN: 1676-2584 356

    5 Formada pela Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Sorocaba, atua junto aos Conselhos Municipais da

    Mulher e do Negro, bem como desenvolve atividades educativas junto ao Centro Cultural Quilombinho. E-mail:

    [email protected] 6 Muito embora a Lei 10639/03 tenha sido alterada pela Lei 11645, em 10 de maro de 2008, ela [...] um

    marco histrico. Ela simboliza, simultaneamente, um ponto de chegada das lutas antirracistas no Brasil e um

    ponto de partida para a renovao da qualidade social da educao brasileira. (MEC, 2009, p. 13) 7 No foi possvel apurar, dos 171 questionrios aplicados, quantos foram respondidos pelos professores com

    presena do pesquisador anotando as respostas (o que parte da literatura rea da metodologia da pesquisaa

    cientfica chama de formulrio cf.: GIL, 2002, 115 e 116; CERVO e BERVIAN, 1976, p. 149) ou com os prprios docentes preenchendo as respostas (identificado por questionrio cf.: GIL, 2002, p. 119; CERVO e BERVIAN, 1976, p. 147). 8 Segundo Silva, Ao dizer africanidades brasileiras estamos nos referindo s razes da cultura brasileira que tm

    origem africana. Dizendo de outra forma, estamos, de um lado, nos referindo aos modos de ser, de viver, de

    organizar suas lutas, prprios dos negros brasileiros, e de outro lado, s marcas da cultura africana que,

    independentemente da origem tnica de cada brasileiro, fazem parte do seu dia-a-dia. (SILVA, 2005, p. 155) 9 A cidade de Sorocaba se localiza no sudeste do Estado de So Paulo, a 92 quilmetros da capital. Tem uma

    populao estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), em 2010, de 586.625 habitantes,

    mas compe uma regio de 16 municpios conurbados (Alumnio, Araariguama, Araoiaba da Serra, Boituva,

    Capela do Alto, Ibina, Iper, Itu, Mairinque, Piedade, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, So Roque,

    Sorocaba e Votorantim), os quais totalizam 1,5 milho de habitantes, aproximadamente, segundo o mesmo

    instituto de pesquisa. 10

    Segundo Domingues, [...] o branqueamento uma categoria analtica que vem sendo usada com mais de um sentido. O branqueamento ora visto como a interiorizao dos modelos culturais brancos pelo segmento negro,

    implicando perda do seu ethos de matriz africana, ora definido pelos autores como processo de clareamento da populao brasileira, registrado pelos censos oficiais e previses estatsticas do final do sculo XIX e incio

    do sculo XX. (DOMINGUES, 2002, p. 565 e 566) 11

    Utilizamos no questionrio a referncia sigla HTPCs (Horrio de Trabalho Pedaggico Coletivo) porque a nomenclatura utilizada em grande parte das redes oficiais de ensino, mas no em sua totalidade. H redes que

    apresentam diferentes denominaes, mas com o mesmo objetivo, qual seja o de promover um espao de

    discusso e articulao do trabalho pedaggico da escola; logo, um espao em que h a possibilidade de

    reflexo e planejamento da atuao no campo da temtica especfica. 12

    Veja-se que a Diretrizes Curriculares Nacionais afirma como necessrio o Apoio sistemtico aos professores para elaborao de planos, projetos, seleo de contedos e mtodos de ensino, cujo foco seja a Histria e

    Cultura Afro-Brasileira e Africana e a Educao das Relaes tnico-Raciais. (BRASIL MEC, 2004, p. 23) 13

    A lei 11.738/2008, que regulamenta [...] o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistrio pblico da educao bsica, no Art. 2, pargrafo 4, garante condies para a formao continuada do professor, pois estabelece que Na jornada de trabalho, observar-se- o limite de 2/3 (dois teros) da carga horria para o desempenho das atividades de interao com os educandos. 14

    As respostas apresentadas indicaram, em alguns casos, mais de uma citao, da o resultado ser superior,

    numericamente, quantidade de 74 questionrios que responderam afirmativamente questo 4.1. 15

    Cf. MARTINS, 2009. 16

    Um das respostas indicou a etno-matemtica como prevista no Plano de Ensino. 17

    Sete respostas indicaram, especificamente, o dia 20 de novembro, Dia da conscincia negra. 18

    Como disse Haufbauer, Comumente, o conceito de democracia racial vinculado ao nome de Gilberto Freyre. Mas a ideia de que a sociedade brasileira sempre esteve dominada por relaes harmoniosas bem mais

    antiga. Em textos do sculo XIX, por exemplo, no Abolicionismo de J. Nabuco encontram-se argumentos deste tipo [...]. Mas verdade que foi Gilberto Freyre quem eternizou esse mito, quem deu uma forma muito

    popular a essa ideologia j na sua obra prima Casa Grande e Senzala. (HAUFBAUER, s/d, p. 01)

    Recebido em maio-2013

    Aprovado em setembro-2013