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36 2º Semestre 2018 Origem em Revista A mídia de modo geral, e mesmo pesquisa- dores, por acreditarem que já se formou um certo consenso editorial, atribuem um poder, uma pessoa, uma marca à famosa ciência. Essa forma de tratá-la está presente em todos os meios de divulgação. Talvez você me pergunte: “mas isso está errado?” Sim! A ciência, da forma como vem sendo tratada, parece ser uma pessoa, uma instituição, um ser consciente; quando, na- verdade, não o é. Educação em Ciências MÁRCIO FRAIBERG

Educação em Ciências MÁRCIO FRAIBERG · dores, por acreditarem que já se formou um certo consenso editorial, atribuem um ... ma de fazer ciência seria a verdade sobre o tema

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36 2º Semestre 2018Origem em Revista

A mídia de modo geral, e mesmo pesquisa-dores, por acreditarem que já se formou um certo consenso editorial, atribuem um

poder, uma pessoa, uma marca à famosa ciência. Essa forma de tratá-la está presente em todos os meios de divulgação. Talvez você me pergunte: “mas isso está errado?” Sim! A ciência, da forma como vem sendo tratada, parece ser uma pessoa, uma instituição, um ser consciente; quando, na-verdade, não o é.

Educação em Ciências M Á R C I O F R A I B E R G

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De uma forma simplificada, eu posso lhe dizer que a ciência é um conjunto de métodos, característicos de cada área, que pretende minimizar a intervenção humana na busca por respostas do que é observável na natureza.

Assim, ela não pode ser usada como se fosse uma instituição, uma pessoa. O correto seria dizer: O cientista tal, utilizando esses métodos da ciência, percebeu que, nessas condições, tal resultado foi encontrado. Mas, ao invés de atribuir ao cientista a descoberta, informa-se que a “ciência” fez tal descoberta. No mínimo, incoerente!

Aliás, outro ponto a ser discutido é o de que essa for-ma de fazer ciência seria a verdade sobre o tema. Sabe-mos que muitas pesquisas foram manipuladas de forma a favorecer determinados grupos, com os mais variados tipos de interesses. Quem já não ouviu que beber vinho amplia a vida? Hoje sabemos que não é bem assim. Dizer, então, que a ciência é pura, isenta de influências huma-nas e mesmo sociais, não permitindo perceber o cientista inserido em um grupo, não é mais sustentável. É preciso escapar à alternativa da ciência pura, totalmente livre de qualquer necessidade social, e da ciência escrava, sujei-ta a todas as demandas político-econômicas, e entender que o estudo é um primeiro passo na tentativa de com-preender o que nos cerca. A esperança de um entendi-mento correto do que é ciência no meio acadêmico está nas mãos da futura geração.

Proposta de Atividade de Intervenção (se não for pro-fessor, faça essa atividade ao longo de suas leituras):

Em sala de aula, proponha que seus alunos descu-bram o que é ciência na visão dos meios de comunica-ção. Para isso, escolha (ou peça aos próprios alunos que tragam) matérias sobre algum tema ligado à ciência.

Deixo como exemplo a seguinte matéria publicada na revista Superinteressante:

https://goo.gl/TVRxC4

1. A ciência descobre ou o pesquisador é quem acredi-ta que há uma relação?

As matérias, de modo geral, acabam por fazer parecer que a conclusão é definitiva, que o assunto já está resolvi-do e que não há mais nada a ser discutido. Porém, não é bem assim. (para saber mais, sugerimos a leitura da ma-téria publicada nesta edição intitulada “A descoberta da ciência”)

2. Estimule os seguintes questionamentos: “Quem é essa ciência? “Ciência descobre” alguma coisa? Ela é um ser consciente? É uma pessoa? Está correta essa forma de informar a respeito de uma pesquisa?

Resposta Pessoal

3. Como se poderia revelar essa descoberta ao grande público?

Quem é essa ciência? “Ciência

descobre” alguma coisa? Ela é um ser consciente? É uma pessoa?

Está correta essa forma de informar a respeito de uma

pesquisa?

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A forma mais honesta seria a de mencio-nar que “a equipe do biólogo americano Jef-frey Friedman, da Universidade Rockefeller, em Nova York, usando de um determinado método, descobriu que…”

Quando ler um texto científico, use o exer-cício acima. Separe as evidências, os achados, a realidade dos eventos descritos de um lado, e do outro, a conclusão a que o cientista (ou gru-po) parece ter chegado.

Indicação de Leitura

Acesse nosso site e encontre uma leitura complementar. Um arti-go chamado “A ciência é ‘fonte de informação’?”

(...) Ciência, por exemplo, permite es-tudar qualquer assunto, mas precisamos ter dados para isso. Como disse antes, Ciência não é fonte de informações. Você precisa de duas coisas para estudar: fonte de informa-ção e método. O papel da Ciência é forne-cer os melhores métodos, não os dados. Os dados você coleta de observações(...)

Acesse: https://bit.ly/2KkenLt

As conclusões empatam com as observa-ções?

Em que momento a ciência se tornou he-gemônica?

Por que não é mais bem-vindo pensar com base nos dados encontrados?

Para o texto dado como exemplo nesta matéria, reúno as informações da seguinte forma:

Márcio Fraiberg Machado é biólogo e doutor em Educação em Ciências pela Pontifícia Universidade Católi-ca do Rio Grande do Sul (PUCRS), e autor de diversos livros didáticos e paradidáticos em Biologia e Ciên-cias naturais publicados pela Casa Publicadora Brasileira (CPB). [email protected]