Educacao Emancipacao Movimento Campones

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    Trabalho e educao no movimento campons

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009 423

    Introduo1

    Abordando o tema Trabalho, movimentos sociais

    e educao, o artigo tem por objetivo trazer elementos

    para identicar os princpios de liberdade e emancipa-o incluindo, em alguns casos, a autonomia que

    sustentam as experincias de trabalho-educao em

    sistema de alternncia realizadas pelos movimentos

    sociais populares rurais/do campo. Tais movimentos

    compreendem organizaes sociais, comunitrias e

    sindicais que so responsveis pelas Casas Familiares

    Rurais (CFRs) e pelas Escolas Famlias Agrcolas

    (EFAs), tendo por referncia, no caso deste estudo, a

    Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Rio

    Grande do Sul (FETAG/RS). Os movimentos sociais a

    * Artigo decorrente dos estudos relacionados aos projetos

    Liberdade, autonomia, emancipao na relao trabalho agrcola

    e educao escolar: conceitos em questo, do qual resulta a obra

    Movimento campons, trabalho e educao, encaminhada para

    publicao, e Experincias pedaggicas dos movimentos sociais

    populares e polticas de educao rural/do campo: confronto de

    concepes (2008-2011), ambos com apoio do Conselho Nacional

    de Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico (CNPq).

    que nos referimos incluem ainda os integrantes da Via

    Campesina, que, no Brasil, congrega o Movimento dos

    Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento

    dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos

    Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dasMulheres Camponesas (MMC), a Pastoral da Juven-

    tude Rural (PJR), a Comisso Pastoral da Terra (CPT)

    e a Federao dos Estudantes de Agronomia do Brasil

    (Guzmn & Molina, 2005, p. 7).

    Dentro da Via Campesina, sob a liderana do

    MST e do MPA, feita a formao em regime de

    alternncia de trabalho-educao na Fundao de

    Ensino e Pesquisa da Regio Celeiro (FUNDEP) e

    no Instituto de Capacitao e Pesquisa da Reforma

    Agrria (ITERRA), ambos no Rio Grande do Sul.Do mesmo modo, a pedagogia em que se alternam

    tempo-escola e tempo-comunidade o mtodo adota-

    do pela Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF),

    criada em 2005, no municpio de Guararema, estado

    de So Paulo. Mas nosso estudo aborda somente as

    experincias realizadas no Rio Grande do Sul. Apesar

    da diversidade de sujeitos, projetos sociais e formas

    de organizao, todos esses movimentos sociais po-

    pulares tm em comum uma luta histrica pela terra

    Trabalho e educao no movimento campons:liberdade ou emancipao?*

    Marlene RibeiroUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educao

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    Marlene Ribeiro

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    de trabalho, pela democracia e por uma vida digna

    para todos, o que nos permite sintetiz-los na unidade

    movimento campons.

    Considerados tanto por teorias revolucionrias

    quanto conservadoras ignorantes e com formas de

    organizao da produo vistas como arcaicas, osagricultores familiares organizam-se em movimen-

    tos sociais populares segundo suas caractersticas

    e demandas, constituindo, como sujeito histrico,

    o movimento campons. Este ocupa a cena pblica

    com demandas de reforma agrria, poltica agrcola e

    educao do campo e, mais do que isso, cria e admi-

    nistra uma modalidade de educao voltada aos seus

    interesses, alternando tempos/espaos de trabalho na

    agricultura, na pecuria e na pesca, com educao naescola. Esse sujeito uno/diverso em construo que ao

    mesmo tempo se mostra e surpreende, mobilizando

    rgos pblicos, escolas e universidades para dar res-

    postas s suas demandas, tambm desperta o interesse

    dos pesquisadores pelo aprofundamento das questes

    que emergem de sua caminhada histrica. Eis a im-

    portncia do estudo, no qual se destaca a necessidade

    de atentar para o novo contido nas experincias de

    trabalho-educao dos movimentos sociais populares

    produzidas revelia do processo de reproduo e acu-mulao do capital e do controle do Estado.

    A origem e a trajetria das CFRs e das EFAs em

    vrios pases da Europa, no Canad e no Brasil, bem

    como da FUNDEP e do ITERRA, gerados a partir do

    MST, no Brasil, tm sido registradas por inmeros

    autores, bem como a denio da pedagogia da alter-

    nncia (Chartier, 1986; Silva; 2003; Estevam, 2003;

    Bachelard, 1994; Chartier et al., 1997; MST, 2001).

    O mtodo em que se alternam tempo-comunidade e

    tempo-escola, adotado pelos cursos oferecidos aos

    movimentos sociais populares organizados na Via

    Campesina, no tem o mesmo sentido e histria da

    pedagogia da alternncia (ITERRA, 2004).

    Neste artigo buscamos captar a liberdade e a

    emancipao, presentes nas experincias de trabalho-

    educao do movimento campons, como princpios/

    ns incorporados nas concepes que sustentam te-

    rica e metodologicamente aquelas experincias. Isso

    posto, vamos explicitar o entendimento das ideias de

    liberdade e emancipao em alguns autores clssicos

    que as formularam. Na sequncia, analisaremos as

    concepes de educao para o trabalho nos autores

    que orientam as experincias das CFRs e das EFAs,

    identicadas com as ideias de liberdade seguidas das

    concepes de trabalho-educao que orientam as

    experincias da FUNDEP e do ITERRA, identicadas

    com a perspectiva utpica de emancipao humana.

    Liberdade e emancipao: uma leitura

    dos autores clssicos

    A concepo de liberdade produzida dentro das

    prticas que revolucionam o regime feudal no processode construo do modo capitalista de produo. Nesse

    processo destaca-se a luta pela liberdade de desenhar

    e produzir a mercadoria fora dos padres impostos

    pelas corporaes e de coloc-la venda em mercados

    situados para alm dos espaos sagrados dos burgos

    (Polanyi, 2000). Tem como ponto de referncia a

    guerra civil inglesa, ou Revoluo Gloriosa de 1688,

    e entre seus tericos destacam-se Locke (1973) e

    Stuart Mill (1998). Para o primeiro, a liberdade do

    estado de natureza deve ser substituda pela liberdadepactuada que garanta a propriedade da terra baseada

    no trabalho. Contraditando com essa informao re-

    gistrada em sua obra, na prtica Locke era acionista

    de uma empresa que comerciava escravos negros

    (Losurdo, 2006). O segundo, Stuart Mill, reete sobre

    a liberdade dirigindo-se s camadas mais civilizadas

    da populao inglesa e apontando para a possibilidade

    de uma repblica democrtica, com um governo eleito.

    Chama a ateno para o medo que desperta a tirania

    da maioria, concebida como um coletivo que exerce,

    ela mesma, o governo (Mill, 1998).

    Na Frana a discusso sobre a liberdade assume

    uma dimenso poltica no interior da Revoluo

    Francesa de 1789. Rousseau o pensador mais ex-

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    indivduo proprietrio de terras e de bens, formulada

    por Locke e Mill, a preocupao de Rousseau (1973)

    desloca-se para a sociedade, de modo que a liberdade

    de cada um possa preservar o direito de todos a essa

    mesma liberdade.

    Por m, e tendo conscincia dos limites desta

    sntese, passamos Alemanha, onde no houve uma

    revoluo propriamente dita, mas o pas foi sede da

    produo do pensamento losco mais elaborado de

    liberdade relacionada cidadania e ao Estado, repre-

    sentado por Kant e Hegel. Tendo a burguesia a classe

    emergente na Alemanha como o sujeito a quem diri-

    ge seu discurso losco, Kant (1998a, 1998b) associa

    a liberdade ao uso da razo esclarecida para o exerccio

    do livre pensar. Quanto ao, pensa que os sditosdevam submeter-se s leis do Estado. Por sua vez, em

    Hegel (1990) a liberdade a do esprito que capaz

    de reetir sobre si mesmo. Assim, para este lsofo

    no podem exercer a liberdade os que, para satisfazer

    suas necessidades de sobrevivncia ou decorrentes do

    estado de natureza, necessitem trabalhar, o que dene

    o privilgio da classe que pensa e que, portanto, tem

    a liberdade de decidir e agir.

    Todavia, esse discurso da losoa que acabamos

    de resumir, sendo divorciado da economia e da poltica,oculta a ao histrica dos camponeses e de trabalhado-

    res urbanos na construo das prticas/concepes de

    liberdade. Do sculo XI ao sculo XVIII, camponeses,

    religiosos e trabalhadores urbanos promoveram revoltas

    em pases como Inglaterra, Frana, Alemanha, Rssia,

    ustria, Hungria e Sua. A liberdade de interpretar

    a Bblia, pregada por Lutero, compreendida pelos

    camponeses como possibilidade de instituir-se a justia

    social. A histria da liberdade mostra que esse conceito

    tem uma base emprica nos movimentos sociais popu-

    lares de luta pela terra de trabalho; portanto, tem sua

    raiz no movimento campons. Do mesmo modo, todas

    as revolues sociais no sculo XX (mexicana, russa,

    chinesa, vietnamita, boliviana, cubana, nicaraguense)

    foram, no total ou em grande parte, camponesas (Mar-

    tins, 1989, p. 17; Ianni, 1985, p. 16).

    Se a liberdade tem sua base em revolues que

    ocorreram e efetuaram transformaes, a emanci-

    pao, embora tenha sido tentada nas revolues j

    ocorridas, ainda um processo inconcluso; ela ainda

    um horizonte no apenas contemplado, mas busca-

    do. Para compreend-la pesquisamos elementos nos

    escritos polticos de Marx (1979, 1985, 1986) e nos de

    Marx e Engels (1984), os quais partem da liberdade acaminho da emancipao. A liberdade transpassada

    dialeticamente pela contradio que ope, do lado

    positivo, a conscincia e, do negativo, as necessida-

    des bsicas determinadas pelas condies materiais

    de existncia que ampliam ou limitam o exerccio da

    liberdade. Como autodeterminao, a liberdade supe,

    vista por um ngulo, a eliminao dos obstculos

    que impedem a emancipao, ou seja, a realizao

    de todo o potencial presente na pessoa humana. Poroutro ngulo, a organizao social precisa abarcar a

    tridimensionalidade do humano, que indivduo,

    natureza e sociedade, de maneira articulada (Frigotto,

    2002). Assim, em Marx e Engels a emancipao hu-

    mana incorpora a liberdade, porm a supera ao incluir

    a dimenso natural e a social para alm do indivduo

    abstrato, no qual uma suposta razo, que seria superior,

    subordinaria as dimenses corporais e sociais.

    A liberdade o m projetado pelo capitalismo;

    por isso, princpio da ao, com destaque para a li-berdade de mercado que a crise iniciada em setembro

    de 2008, com a falncia de bancos privados e bolsas de

    valores, mostra no ter sustentao material concreta.

    A falncia do livre mercado condena, assim, milhes

    de seres humanos ao estado de no-liberdade, por

    estarem excludos das condies objetivas/subjetivas

    mnimas de existncia. A emancipao, por sua vez,

    um projeto do socialismo, mas as poucas e recentes

    experincias, que datam do sculo XX, evidenciam a

    necessidade de aperfeioar esse projeto, para incor-

    porar, na unidade social, a diversidade dos processos

    de organizao e manifestao humanas.

    Educao para o trabalho

    na pedagogia da alternncia

    As ideias de liberdade e de emancipao, forjadas

    em acontecimentos histricos e retomadas numa bre-

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    ve sntese, assumem novos formatos discursivos nas

    obras de autores que reetem sobre a relao entre a

    educao escolar e o trabalho, tendo por referncia a

    produo industrial. Conserva, porm, a sua essncia

    vinculad. ConseraservservsREpaservraservoinnd. nd. nas

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    pitalista de produo. A formulao e a aplicao de

    polticas pblicas de bem-estar (entre elas a educao)

    por parte do Estado, associadas ao padro taylorista-

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    tura. Publicado em 1935, observa-se a preocupao

    do autor em trazer discusso o sentido da liberdade

    no perodo de interregno entre as duas guerras mun-

    diais, considerando que j havia ocorrido, em 1917,

    a Revoluo Russa e estava se iniciando, em 1934, o

    processo revolucionrio na China.Dewey associa a sua compreenso da liberdade

    ideologia expressa na Declarao da Independncia

    dos Estados Unidos da Amrica. Para o autor, essa

    expresso clssica da liberdade americana incorpora

    a ideia de que ela tanto uma conquista quanto uma

    meta histrica, uma vez que autogoverno o direi-

    to inerente dos homens livres e que isso, uma vez

    obtido, o que os homens prezam acima de tudo o

    mais (Dewey, 1970, p. 98). A esse seu entendimentoda liberdade contrape a situao de pases em que,

    na sua percepo, os homens e as instituies esto

    deixando de ser livres em alguns casos, at com

    certo entusiasmo. O autor sustenta sua concepo de

    liberdaderelacionando-a com a teoria que interpreta

    o homem como um ser de natureza, sujeito s leis

    e aos direitos naturais, prprios de uma sociedade

    tambm natural. A essa concepo do homem e da

    sociedade, Dewey relaciona as leis psicolgicas e as

    teorias polticas que orientaram as lutas para garantir aindependncia norte-americana. Assim, pensa que, se

    essas concepes sobre a natureza humana e sobre os

    ns morais orientadores das aes forem deixadas de

    lado e, em consequncia, tambm o direito liberdade

    historicamente conquistada pelos Estados Unidos,

    poderia existir alguma coisa que lhes possa tomar

    o lugar, alguma que d o suporte e o apoio que elas

    antes deram? (idem, ibidem, p. 99).

    O movimento da Escola Nova situa-se em um

    processo mais amplo de mudanas que ocorriam na

    sociedade que se urbanizava, exigindo, alm da am-

    pliao do sistema escolar, um ensino que preparasse

    os alunos para enfrentar mudanas. Cabia escola,

    nesse contexto, a funo de corrigir as desigualdades

    sociais pela oferta de uma formao que possibilitasse

    ao indivduo obter um emprego e ascender socialmen-

    te. Nessa perspectiva que o escolanovismo pode ser

    entendido como uma pedagogia liberal.

    Dewey posiciona-se contrrio importncia

    conferida losoa nos Estados Unidos, denindo

    a educao como lugar e prtica da reexo, apoiada

    pela psicologia, para a criao de um mtodo cons-

    ciente de ensino (Luedemann, 2002, p. 14), o que

    pode explicar a relao que se estabelece entre a EscolaNova e a psicologia gentica de Piaget. Embora sendo

    produto da realidade europeia, a teoria de Piaget, tam-

    bm conhecida como construtivismo, aproxima-se do

    escolanovismo de Dewey, o que explica a indicao

    de ambos como autores que sustentam a pedagogia da

    alternncia nas CFRs e EFAs.

    O aprender um tornar-se, para Piaget. Ele

    ressalta o dinamismo do conhecimento atravs da

    anlise, contrapondo-se a uma concepo armada emuma essncia imutvel, cujo ser idntico a si mesmo

    s pode ser explicado numa sntese. Ressaltando a

    ao espontnea do sujeito, o construtivismo ope-se

    teoria da representao da realidade, base da escola

    tradicional, no que concorda com Dewey. No preten-

    de, com isso, apresentar a soluo denitiva para as

    questes da escola que no se resumem aos mtodos de

    ensino. No se pode deixar de enfatizar a proximidade

    de Piaget com a Escola Nova, relacionando a aprendi-

    zagem intelectual ao desenvolvimento da intelignciana ao de construir o conhecimento.

    Em suas obras, Piaget contesta o ensino memo-

    rizativo (Piaget, 1976b) e o uso do condicionamento

    para reforar associaes motoras (Piaget, 1976a).

    Mas questiona principalmente o ensino de losoa

    ou de metafsica com mtodos em que se destacam

    a erudio e o raciocnio subjetivo atravs da intros-

    peco (Piaget, 1975). Ele arma que os educadores

    importantes que deixaram seu nome na histria no

    so pedagogos e que, no perodo de 1935 a 1965, ne-

    nhum grande pedagogo apareceu na lista dos homens

    eminentes que marcaram a histria da pedagogia

    (Piaget, 1976b, p. 17). Apesar dessa viso negativa

    dos pedagogos, no responsabiliza os professores, os

    quais seriam desestimulados pela desvalorizao so-

    cial e estariam presos a programas determinados pelo

    Estado. Impossvel saber se, ao fazer esta armao,

    Piaget tinha conhecimento da obra do pedagogo russo

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    Makarenko, que escreveu o Poema pedaggico(s.d.)

    num perodo de dez anos (1925-1935),2ou se, de fato,

    no considerava seu trabalho pedaggico, at pelas

    crticas feitas ao pedagogo russo, acusado de silenciar

    diante do despotismo de Stlin.

    O construtivismo uma teoria da ao; contrape-se, dessa forma, ao ensino baseado na transmisso

    de conhecimentos, cujo instrumento principal a

    linguagem. Com isso, o ensino est centrado nas

    aes dos alunos, organizadas como esquemas de

    assimilao que permitam classicar, relacionar etc.

    Piaget contesta modelos fechados de aprendizagem,

    buscando reconstituir as situaes nas quais se produ-

    ziram os conhecimentos. Desenvolve um trabalho de

    regulao, com esquemas de ao direcionados paraobjetivos, de modo que reconstitua processos de cons-

    truo dos conhecimentos; por isso sua identicao

    como construtivismo. No se atm forma, uma vez

    que esta tende a desvincular-se do contedo ou do

    contexto em que foi gerado o conhecimento que se

    pretende trabalhar.

    A nfase sobre o aluno como sujeito do ato de

    conhecer pode conferir menor importncia aos demais

    elementos presentes numa relao pedaggica, que

    so, nesse caso, o professor, os materiais de apren-dizagem e as condies histrico-sociais em que os

    alunos, os professores e essas condies esto inseri-

    dos. Mesmo reconhecendo a importncia da interao

    entre o sujeito e o meio, a poca e o modo como

    foram realizadas as experincias pelo prprio Piaget

    em seu pas, a Sua, podem limitar a compreenso

    dos processos cognitivos, uma vez que restringem as

    condies concretas de realizao dos registros e das

    observaes ao processo pedaggico.

    A maioria das teorias que sustentam as organi-

    zaes curriculares nos diferentes nveis de ensino

    como suas prticas so orientadas por teorias psico-

    lgicas, colocando o indivduo como centro da ao

    educativa. O construtivismo piagetiano , talvez,

    uma das mais inuentes, o que explica a sua indica-

    2 Ver Apresentao de S. Telingater em Poema pedaggico,

    v. 1 (Makarenko, s.d., p. 7).

    o pelos pesquisadores ligados s CFRs e s EFAs.

    No entanto, so feitas crticas a esse construtivismo

    porque a sua aparente indiferena poltica lhe permite

    combinar-se com reformas de cunho neoliberal, con-

    tribuindo para fortalecer a ideologia do livre mercado

    (Silva, 1998), apesar de proclamar-se democrtico,crtico e emancipatrio. Na mesma direo, Duarte

    (2001, p. 2) identica a concepo psicolgica e

    epistemolgica interacionista-construtivista de Piaget

    como associada ao lema aprender a aprender, inter-

    pretado pelo autor como uma expresso inequvoca

    das proposies educacionais anadas com o projeto

    neoliberal.

    O terceiro nome que mais aparece nas indi-

    caes dos educadores envolvidos com as CFRs eEFAs Edgar Morin. Suas obras inscrevem-se no

    debate sobre as relaes entre as cincias, em que a

    congurao disciplinar que estas adotam resulta em

    enorme fragmentao, principalmente considerando o

    avano do conhecimento em determinadas reas. Isso,

    segundo Morin, diculta a compreenso dos desaos

    colocados s sociedades contemporneas. Diante dos

    problemas cada vez mais complexos que as sociedades

    enfrentam, o autor prope o reencontro das cincias

    com o humanismo, porque somente estudos de carterinter-poli-transdisciplinar podem contribuir para dar

    respostas satisfatrias queles problemas (Morin,

    2003). A metfora da complexidade, adotada pelo

    autor, inspira-se no tecido, porque este se constitui

    de elementos heterogneos indissociveis, prprios

    da totalidade que compreende uma multiplicidade de

    elementos.

    Aprofundando a anlise, o autor explicita a

    complexidade do que tecido pelos acontecimentos,

    constitudos de aes, reaes, determinaes e aca-

    sos que integram o mundo fenomnico, o qual se nos

    apresenta como confuso, desordem e, por isso mes-

    mo, incerteza. Assim, as cincias naturais justicam

    a necessidade de colocar em ordem os fenmenos

    para que se possa obter o conhecimento, retirando

    dele a desordem, a dvida, a incerteza. Permanecem

    apenas os elementos da ordem, da clareza, da certeza,

    permitindo distinguir e hierarquizar esses elementos.

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    Mas tais operaes necessrias inteligibilidade

    correm o risco de torn-la cega se eliminarmos os ou-

    tros caracteres do complexus;e efetivamente, como o

    indiquei, elas tornam-i( )65(q) p0DC -5ej(DCM)5(s)5( )68iaue1uuepucomo19.49o

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    ffaure, 1997). Enquanto possibilidade de superao

    das relaes entre as classes sociais, incorporando a

    liberdade articulada igualdade de condies de seu

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    inspiraes do momento (Pistrak, 1981, p. 29).

    Outro educador citado nos documentos que orien-

    tam a formao da FUNDEP e do ITERRA (Caldart,

    1995, 1997; FUNDEP, 1995, 1996; ITERRA, 2004)

    Makarenko, autor do Poema pedaggico(s.d., v. I,

    II, III). Sua teoria pedaggica funda-se na autoridadesocial, privilegiando as questes coletivas sobre as

    individuais. Justicam-se, assim, os castigos para

    obter uma disciplina que venha a beneciar o grupo.

    Sua obra inspira-se nas experincias pedaggicas

    por ele coordenadas na Colnia Gorki e na Comuna

    Dzerjinki, em que realizou um trabalho de formao

    com rfos da guerra civil. Para Makarenko, a escola

    o ncleo bsico da sociedade comunista, onde se

    forja o homem solidrio; por isso precisa ser umacomunidade de interesses comuns, e no um agrupa-

    mento de indivduos isolados. A liberdade individual

    encontra seu limite no bem maior da comunidade; por

    isso no se admitem hesitaes quando se trata de usar

    a autoridade da ajuda incutindo a norma naqueles

    que colocam seus interesses individuais acima dos

    interesses coletivos.

    Na pesquisa sobre a obra e a vida de Makarenko,

    Luedemann (2002) procura desfazer algumas inter-

    pretaes sobre este pedagogo, que, pela nfase nocoletivo sobre o individual, tem sido criticado como

    autoritrio. Makarenko no pode ser identicado seja

    como restaurador da escola burguesa e autoritria, seja

    como criador de uma escola contra o desenvolvimento

    livre do indivduo e a forma de massicao a favor

    da educao stalinista, seja como criador de uma nova

    escola socialista, pensa Luedemann (2002, p. 21).

    Destacam-se, na obra de Makarenko, as seguintes

    ideias: a) formao para a organizao das coletivida-

    des; b) pedagogia da revoluo, de modo que essa no

    degenere em acomodao; c) relao entre trabalho

    produtivo, instruo e autogesto; d) formao de

    um trabalhador culto, que saiba comandar e obedecer

    (Capriles, 1989).

    O terceiro nome indicado nas experincias da

    FUNDEP e do ITERRA o de Nadezhda Konstantino-

    vna Krupskaya; h poucas informaes e publicaes

    a respeito dela e do trabalho poltico-pedaggico que

    desenvolveu. Krupskaya pensava que, nos propsitos

    da Revoluo, seria preciso ampliar as possibilidades

    para os trabalhadores frequentarem a escola. Ao lado

    de Lunatcharski, comissrio para a Instruo Pblica,

    essa educadora criou um sistema nico de ensino, ga-

    rantindo o acesso universal educao pblica e gra-tuita (Luedemann, 2002, p. 16). Tambm desenvolveu

    trabalhos de instruo poltica das massas, a partir de

    1920; antes isso era impossvel porque a revoluo

    e a participao da Rssia na I Guerra impunham a

    soluo de problemas mais urgentes.

    Do processo de agitao que mobilizava as

    camadas populares para a luta armada contra o ini-

    migo, era preciso desenvolver uma educao poltica

    sistemtica, pensava Krupskaya. Com isso seriamoportunizadas condies, aos operrios e camponeses,

    para aprofundar os xitos da revoluo e formular

    respostas s tarefas para a consolidao do socialismo.

    Krupskaya tambm se preocupava com a formao

    poltica do campesinato; pensava que o socialismo

    no poderia consolidar-se sem provocar mudanas que

    retirassem os camponeses pobres de seu isolamento,

    criando condies de cooperao entre eles e a classe

    operria (Coletivo de Autores Soviticos, 1987).

    Os autores russos que orientam a formao emTC e TE na FUNDEP e no ITERRA colocam como

    horizonte da educao a construo do socialismo,

    por isso suas preocupaes esto direcionadas para a

    emancipao humana. Com isso, deslocam-se da liber-

    dade do indivduo cidado e da autonomia conquistada

    atravs de um emprego assalariado objetivos aponta-

    dos pelos autores do escolanovismo, do construtivismo

    e da complexidade para a emancipao que garanta

    a liberdade e a autonomia para todos. Entretanto,

    esses esforos para ampliar direitos sociais, como a

    educao para alm do indivduo, por exemplo, no

    esto isentos de contradies.

    Voltando s origens da pedagogia socialista e aos

    autores que a propuseram e colocaram em prtica,

    preciso, ao analis-las, levar em conta a pobreza do

    povo russo, a revoluo concomitante participao

    na I Guerra Mundial e o retorno dos soldados para re-

    construir a vida, o trabalho e o pas, ou seja, o contexto

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    11/19

    Trabalho e educao no movimento campons

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009 433

    em que foram produzidas as experincias pedaggicas

    dos educadores russos. Poucas de suas obras chegaram

    ao Brasil, a maioria traduzida do russo para o espanhol.

    O processo revolucionrio, o retorno depois da guerra

    e o enfrentamento de questes urgentes, como a fome,

    desenhavam um contexto em que quase tudo estavapor ser feito e inventado. A Revoluo Russa, geradora

    de uma esperana coletiva que se estendeu de 1918 a

    1929, foi enterrada pela hegemonia da burocracia sob

    Stlin, que veio substituir Lnin no poder sovitico

    (Tragtemberg, 1981, p. 8).

    Alm do boicote dos pases capitalistas, um dos

    maiores desaos para a consolidao do socialismo

    era a relao entre o operariado e o campesinato.

    possvel que a educao como formao humana naperspectiva da emancipao social tenha sido percebi-

    da como alternativa. Ou, quem sabe, as organizaes

    sociais populares russas em determinadas conjunturas,

    como o boicote, principalmente dos Estados Unidos

    e da Europa, tenham concentrado suas preocupaes

    com a formao humana efetuada atravs de uma

    escola que articulasse o trabalho produtivo edu-

    cao escolar. De modo semelhante, isso pode estar

    ocorrendo em relao Via Campesina, no Brasil,

    diante da relao do Estado com o MST e da pressodo movimento reacionrio ruralista, presente no Con-

    gresso Nacional como Unio Democrtica Ruralista

    (UDR), conforme ca claro na obra organizada por

    Melo (2006).

    preciso reconhecer, no entanto, que a formao

    humanista efetuada pela FUNDEP e pelo ITERRA

    associa a liberdade da pessoa emancipao social,

    considerando a autonomiado/no trabalho cooperado

    articulada autonomia de os movimentos sociais po-

    pulares denirem suas estratgias de organizao e luta

    na unidade do movimento campons. Nesse sentido,

    podemos armar que suas prticas/concepes de

    trabalho-educao esto dirigidas para a construo

    do projeto popular de sociedade e educao ou para

    a emancipao humana, cuja compreenso transcende

    o indivduo. Mesmo levando em conta as contradi-

    es peculiares ao modo capitalista de produo que

    impregnam tambm as experincias pedaggicas do

    movimento campons, e at por isso, preciso con-

    siderar que a emancipao humana uma construo

    histrica. Ela princpio/m educativo que pressupe

    a liberdadede escolha, a autonomia do trabalho, mas

    vai alm ao propor a igualdade de condies para que

    liberdade e autonomia sejam acessveis a todos.

    Paulo Freire: a unidade na diversidade

    A relao trabalho-educao como base de uma

    formao humana omnilateral comea a ser esboada

    por Marx (1982), em seguida por Lnin (1977), am-

    pliada por Gramsci (2001) e colocada em prtica em

    experincias realizadas na Rssia, aps a revoluo,

    por Pistrak, Makarenko e Krupskaya, estendendo-sepelos anos de 1920 e meados dos anos de 1930. Nessas

    fontes engendram-se os princpios/ns de liberdade da

    pessoa humana relacionada dialeticamente eman-

    cipao social enquanto alicerces que sustentam as

    experincias de trabalho-educao-cooperao no

    tempo-escola e no tempo-comunidade, realizadas pela

    FUNDEP e pelo ITERRA.

    A Escola Nova, ou escola ativa, e o construtivismo

    piagetiano so concepes que embasam a educao

    para o trabalho oferecida nas escolas do ensino bsicoe prossional nos pases em que vigorava o capitalis-

    mo. Por sua vez, a complexidade pensada por Morin

    em um momento no qual ocorrem debates, na Europa,

    nos anos de 1990, sobre uma espcie de caos em que a

    cincia, por mais que esteja desenvolvida, no consegue

    abarcar. Do mesmo modo, a incerteza atinge a estabili-

    dade dos postos de trabalho gerados pelo capitalismo,

    sinalizando para a incerteza, ao mesmo tempo, como

    desao e possibilidade de serem criadas alternativas,

    situando-se a teoria da complexidade nesse contexto.

    Essas so as fontes que alimentam os princpios/ns

    de liberdade do indivduo associada autonomia do/

    no trabalho, presentes nas experincias de pedagogia da

    alternncia realizadas pelas CFRs e pelas EFAs.

    Um nome aparece em todas as experincias

    efetuadas pelas CFRs e EFAs, pela FUNDEP e pelo

    ITERRA, em que se alternam o trabalho agrcola e a

    educao escolar. Trata-se do educador pernambucano

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    Marlene Ribeiro

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009

    Paulo Freire. Ainda que suas ideias sejam aplicadas

    por enfoques diferentes, umas enfatizando o mtodo

    de alfabetizao e outras a possibilidade de romper

    a relao entre opressor/oprimido, seu pensamento

    a sntese das propostas pedaggicas desenvolvidas

    pelo movimento campons. Essa a razo pela qualdeixamos o dilogo com este autor para o nal, bus-

    cando apreender em sua prxis pedaggica e polti-

    ca como se exprimem os princpios de liberdade e

    emancipao. Para isso, localizamos seu pensamento

    no interior das tendncias filosficas e correntes

  • 7/23/2019 Educacao Emancipacao Movimento Campones

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    Trabalho e educao no movimento campons

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009 435

    analfabetos como sujeitos de educao e produo

    de conhecimento. Em sua abordagem, argumenta

    que o processo formal de aprendizagem realizado na

  • 7/23/2019 Educacao Emancipacao Movimento Campones

    14/19

    436

    Marlene Ribeiro

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009

    do modo de produo capitalista. Embora esse seja

    um projeto vivo, em movimento, por isso atravessado

    pelas contradies prprias das relaes entre capital

    e trabalho, nele se redenem as concepes de liber-

    dade, autonomia e emancipao. Enquanto educador

    e constituidor/constituinte da classe revolucionria, omovimento campons, associado ao movimento ope-

    rrio, constri-se como sujeito histrico que projeta

    a emancipao humana.

    O movimento campons, no Brasil, tem obtido

    importantes conquistas, principalmente na educao

    do campo, uma proposta de armao dos sujeitos

    polticos coletivos que vivem do trabalho com/da

    terra e que, historicamente, tm sido anulados na

    educao rural que lhes tem sido oferecida. Dessasconquistas ressaltamos as Diretrizes Operacionais

    para a Educao Bsica das Escolas do Campo e o

    Programa Nacional de Educao da Reforma Agrria

    (PRONERA), este vinculado ao Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) e no ao

    Ministrio da Educao (MEC). Todavia, se de um

    lado, asDiretrizese o PRONERA, conquistados em

    mobilizaes, marchas e conferncias de educao

    do campo, esto registrados em leis, de outro, muitos

    obstculos se colocam para que sejam postos emprtica. Entre esses obstculos se incluem: as di-

    culdades para a liberao dos recursos mesmo aps

    a aprovao dos projetos de formao; a recusa em

    aceitar a prestao de contas do uso de recursos em

    atividades pedaggicas, feitas pelo ITERRA, princi-

    palmente as desenvolvidas pelo MST; o encerramento

    do convnio com a Universidade do Estado do Rio

    Grande do Sul (UERGS) para a realizao de cursos

    de graduao efetuados na FUNDEP e no ITERRA.

    Contrapondo-se educao rural que no considera os

    agricultores e agricultoras como produtores sociais de

    vida e conhecimento, o movimento campons recria,

    na pedagogia em que se alternam trabalho agrcola e

    educao escolar, a formao humana integral referida

    ao movimento operrio (Ribeiro, 2008, 2009).

    A exposio feita at aqui permite armar que as

    experincias, nas quais se alternam trabalho e educa-

    o nas CFRs, nas EFAs, na FUNDEP e no ITERRA

    so orientadas por concepes e princpios de liber-

    dade e emancipao cujos signicados divergem. As

    CFRs e as EFAs orientam a formao em pedagogia

    da alternncia nas concepes da Escola Nova, for-

    muladas por Dewey, no construtivismo de Piaget e na

    teoria da complexidade de Morin. Nessas concepes,o aluno o centro do processo de ensinar/aprender;

    a nfase recai sobre a construo do conhecimento, a

    resoluo de problemas e a criatividade para enfrentar

    os desaos dos atuais tempos de incerteza. Atentando

    ao objetivo colocado de incio, temos que nessas ex-

    perincias a liberdade est relacionada ao exerccio de

    uma cidadania ativa para intervir no desenvolvimento

    local e regional, orientando-se pelo modelo de poltica

    representativa para atuar dentro do Estado liberal.Precisamos, entretanto, levar em conta que as contra-

    dies tambm esto presentes nessas organizaes

    pedaggicas e sindicais. As CFRs e EFAs lutam pela

    participao ativa na comunidade, buscando ampliar

    os espaos de conquista dentro do Estado; em muitos

    casos, os estudantes participam de mobilizaes so-

    ciais de luta por reforma agrria e polticas pblicas

    voltadas aos interesses dos agricultores.

    A pedagogia do TC e do TE, que caracteriza a

    formao na FUNDEP e no ITERRA, sustenta-seem uma concepo/prtica de pedagogia social, re-

    correndo aos registros das experincias pedaggicas

    de trabalho produtivo articulado educao escolar

    efetuadas na Rssia, tendo por referncia as obras de

    Pistrak, Makarenko e Krupskaya. Essa pedagogia que

    tem por base a trade trabalho-educao-cooperao

    aponta para o horizonte da emancipao humana como

    uma conquista possvel. Nessa formao a nfase

    recai sobre a relao entre a educao e a realidade, a

    auto-organizao, a disciplina e a organizao de uma

    coletividade. Nessas experincias tambm podem ser

    observadas contradies prprias do modo capitalista

    de produo na qual esto mergulhadas, porque os jo-

    vens, principalmente das camadas populares, precisam

    de empregos para sobreviver.

    Experincias histricas de educao realizadas

    pelos movimentos sociais populares so constante-

    mente retomadas e recriadas para responder a novos

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    Trabalho e educao no movimento campons

    Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009 437

    desaos que emergem do contexto atual, resultando

    em uma fuso de novas ideias, mantendo, no entanto,

    a matriz original do popular. Apesar de apresentarem

    divergncias terico-metodolgicas, as experincias

    pedaggicas das CFRs, da EFAs, da FUNDEP e do

    ITERRA tm um ponto em comum: a refernciaprtico-terica no educador Paulo Freire. Na sua

    Pedagogia do oprimido, Freire aponta a liberdade e a

    autonomia como possibilidades de escolha, de vida,

    de trabalho. Elas seriam pontos de partida. Sem negar

    a personalidade, prpria de cada um, parte dela para

    ampliar a considerao das diferenas que, na base,

    so de classe social, mas tambm so de gnero,

    raa, cultura, idade... Enraizado nas suas vivncias

    como educador popular, que conheceu e se envolveucom vrias experincias de educao popular, em

    diferentes pases do mundo, Paulo Freire exercita

    uma pedagogia emancipante como prxis que, como

    movimento, incorpora, reinventa e rearma a liberdade

    e a emancipao.

    Liberdade e autonomia, como bases de uma

    formao, podem apresentar limites, quando restri-

    tas educao para o trabalho, a sobrevivncia e a

    cidadania. Em um pas capitalista, como aquele no

    qual vivemos e trabalhamos, estamos sujeitos a esseslimites porque o trabalho, a sobrevivncia e a cida-

    dania no esto acessveis a todos. Na perspectiva da

    contradio e do movimento que aponta para a supe-

    rao, porm, est implcita a possibilidade de romper

    com as velhas relaes sociais, para, por dentro delas,

    ir gestando as novas, assentadas sobre a cooperao

    em lugar da competio. A emancipao seria, nesse

    sentido, princpio/m da relao entre trabalho agr-

    cola e educao escolar.

    Tendo o trabalho como princpio educativo, traos

    de uma concepo/prtica de formao omnilateral

    podem ser captados nas experincias pedaggicas

    de trabalho-educao do movimento campons. Tais

    experincias parecem integrar um projeto popular

    que emite alguns sinais em direo a uma sociedade

    diferente, em que as classes populares possam exercer

    a liberdade, ter autonomia em seus processos organi-

    zativos e conquistar a emancipaoverdadeiramente

    humana. Isso o que podemos captar nas experincias

    pedaggicas de trabalho agrcola e educao escolar,

    apesar das diferentes compreenses observadas nos

    princpios/ns de liberdade e emancipao que as

    orientam.

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  • 7/23/2019 Educacao Emancipacao Movimento Campones

    18/19

    Resumos /Abstracts/Resumens

    600 Revista Brasileira de Educao v. 14 n. 42 set./dez. 2009

    Key words: Bologna Process; Europe;

    higher education; regionalization;

    globalization.

    El proceso de Bolonia se vuelve

    global: modelo, mercado, movilidad,

    fuerza intelectual, o estrategia parala construccin del Estado?

    El artculo examina la interconexin

    progresiva de los espacios de la

    poltica de educacin superior,

    enfocando particularmente a Europa

    y a su proyecto de globalizacin

    de la educacin superior, as como

    las implicaciones del mismo para

    otras economas nacionales y

    regionales. El trabajo comienza

    con el Espacio Europeo deEducacin Superior, delineando

    las principales caractersticas del

    competitivo proyecto europeo en la

    educacin superior. Presentndose

    como el Proyecto Multilateral de

    Bolonia, proyectado para crear una

    arquitectura unicada de educacin

    superior en Europa, fue remodelado

    y dirigido por la estrategia Lisboa

    2000 de la Unin Europea para la

    competitividad y por el relanzamientode la Agenda Lisboa 2005. Esta

    agenda ha permitido la utilizacin

    de la educacin superior como una

    plataforma para amplias estrategias

    de regionalizacin y globalizacin de

    la Unin Europea, para crear tanto

    mentes cuanto mercados para la

    economa europea de conocimiento,

    llevando a la emergencia de un sistema

    global ms integrado y relacional de

    educacin superior. Las acciones de

    Europa tambin son moldeadas por

    su propio proyecto de construccin

    del Estado, que tiende a favorecer a

    la colaboracin con las regiones y

    promover el inter regionalismo como

    una plataforma para la negociacin

    global.

    Palabras claves: Proceso de Bolonia;

    Europa; educacin superior;

    regionalizacin; globalizacin.

    Marlene Ribeiro

    Trabalho e educao no movimento

    campons: liberdade ou

    emancipao?

    O artigo aborda o tema trabalho,

    movimentos sociais e educao. Tem

    por objetivo trazer elementos para

    identifcar os princpios/fns de liber-

    dade e emancipao que sustentam

    as experincias de trabalho-educao

    em sistema de alternncia, realizadas

    pelos movimentos sociais populares

    do campo. Trata-se das organizaes

    sindicais de trabalhadores rurais e

    dos movimentos organizados da Via

    Campesina. Apesar da diversidade de

    sujeitos, projetos sociais e formas de

    organizao, esses movimentos tm

    em comum uma luta histrica pela

    terra de trabalho e pela democracia, o

    que permite sintetiz-los na unidade

    movimento campons. Na importncia

    do estudo destaca-se a necessidade de

    atentarmos para o novo contido nas

    experincias de trabalho-educao

    do movimento campons, que so

    produzidas revelia do processo de

    reproduo e acumulao do capital e

    do controle do Estado.

    Palavras-chave: trabalho-educao;

    movimentos sociais; pedagogia da al-

    ternncia; liberdade e emancipao.

    Work and education in the Rural

    Workers Movement: freedom or

    emancipation?

    The article is about work, social

    movements and education. Its objective

    is to present elements in order to

    attempt to identify the principles and

    ends of freedom and emancipation

    which sustain experiences of work-

    education in a system of alternation,

    carried out by popular social

    movements in the countryside. It

    deals with trade union organizations

    of rural workers and the movements

    organized by the Via Campesina.

    Despite the diversity of subjects, social

    projects and types of organization,

    these movements have in common an

    historical struggle for land on which to

    work and for democracy, which allow

    us to synthesize them in the one unit of

    Rural Workers Movement. The study

    is important in that it highlights the

    need to pay attention to what is new

    in the experiences of work-education

    developed by the Rural Workers

    Movement, which is produced in the

    absence of the process of reproduction

    and accumulation of capital and of

    State control.

    Key words:work-education; social

    movements; pedagogy of alternation;

    liberty and emancipation.

    Trabajo y educacin en el

    movimiento campesino: libertad o

    emancipacin?

    El artculo trata del tema trabajo,

    movimientos sociales y educacin.

    Tiene por objetivo traer elementos

    para identicar los principios y los

    nes de libertad y emancipacin

    que sostienen las experiencias de

    trabajo-educacin en sistema de

    alternancia, realizadas por losmovimientos sociales populares del

    campo. Se trata de las organizaciones

    sindicales de trabajadores rurales

    y de los movimientos organizados

    de la Va Campesina. A pesar de

    la diversidad de sujetos, proyectos

    sociales y formas de organizacin

    estos movimientos tienen en comn

    una lucha histrica por la tierra

    de trabajo y por la democracia, lo

    que nos permite sintetizarlos en la

    unidad movimiento campesino. En la

    importancia del estudio se destaca la

    necesidad de considerar acerca del

    nuevo contenido en las experiencias

    de trabajo-educacin del movimiento

    campesino, que son producidas en

    oposicin del proceso de reproduccin

    y de acumulacin del capital y del

    control del Estado.

    Palabras claves:trabajo-educacin;

  • 7/23/2019 Educacao Emancipacao Movimento Campones

    19/19

    Resumos/Abstracts/Resumens

    movimientos sociales; pedagoga de la

    alternancia; libertad y emancipacin.

    Andr Luiz Paulilo

    As estratgias de administrao das

    polticas pblicas de educao na cidade

    do Rio de Janeiro entre 1922 e 1935

    O artigo busca explanar as estratgias

    de administrao da educao pblica

    desenvolvidas na cidade do Rio de

    Janeiro entre 1922 e 1935. Examinan-

    do as polticas pblicas de educao,

    durante as administraes de Antnio

    Carneiro Leo (1922-1926), Fernan-

    do de Azevedo (1927-1930) e Ansio

    Teixeira (1931-1935), apresenta as mu-

    danas ocorridas na organizao da Di-

    retoria Geral de Instruo Pblica. Na

    complexa rede de instituies e sabe-

    res, visando reformar a estrutura admi-

    nistrativa da educao, a ampliao das

    agncias de Estado e a especializao

    dos servios de educao constituem

    um importante recurso poltico.

    Palavras-chave: polticas pblicas

    de educao; reforma educacional;

    escolarizao 1922-1935; histria da

    educao.

    The administrative strategies for public

    policies of education in the city of Rio de

    Janeiro between 1922 and 1935

    This article seeks to explain the

    administrative strategies for public

    education developed in the city of Rio

    de Janeiro between 1922 and 1935. A

    careful look at the public policies of

    education, during the administrations

    of Antnio Carneiro Leo (1922-1926),

    Fernando de Azevedo (1927-1930)

    and Ansio Teixeira (1931-1935),

    shows the changes in the organization

    of the General Directorate of Public

    Instruction in the Federal District. The

    amplication of state agencies and the

    specialization of educational services

    constitute an important political resource

    in the complex network of institutions

    and knowledge, aimed at reforming the

    administrative structure of education.

    Key words: public policies of education;

    educational reform; schooling 1922-

    1935; history of education.

    Las estrategias de administracin de

    las polticas pblicas de educacin

    en la ciudad de Rio de Janeiro entre1922 y 1935

    El artculo busca explicar las

    estrategias de administracin de la

    educacin pblica desarrolladas en la

    ciudad de Rio de Janeiro entre 1922

    y 1935. Examinando las polticas

    pblicas de educacin, durante la

    administracin de Antnio Carneiro

    Leo (1922-1926), Fernando de

    Azevedo (1927-1930) y Ansio Teixeira

    (1931-1935), presenta los cambiosocurridos en la organizacin de la

    Directoria General de Instruccin

    Pblica. En la compleja red de

    instituciones y saber, enfocando la

    reforma de la estructura administrativa

    de la educacin, la ampliacin

    de las agencias de Estado y la

    especializacin de los servicios de

    educacin constituyen un importante

    recurso poltico.

    Palabras claves: polticas pblicasde educacin; reforma educacional;

    escolaridad 1922-1935; historia de la

    educacin.

    Menga Ldke, Giseli Barreto da Cruz e

    Luiz Alberto Boing

    A pesquisa do professor da educao

    bsica em anlise

    O texto discute a pesquisa do professor

    com autores que veem nela alguma

    possibilidade de acontecer. Dentre

    os autores trabalhados, destacam-se:

    Stenhouse, Elliott, Huberman, Geral-

    di, Fiorentini, Cochran-Smith, Lytle,

    Anderson, Herr, Andr, Ldke, Cruz,

    Zeichner, Diniz-Pereira, Nofke, Tardif

    e Zourhlal. Para servir de instrumento

    pesquisa, foram selecionados dois tra-

    balhos de professores que foram apre-

    sentados no XII Encontro Nacional de

    Didtica e Prtica de Ensino (ENDIPE,

    2004) e dois outros no II Seminrio

    Internacional de Pesquisa em Educao

    Matemtica (SIPEM, 2003). Os qua-

    tro textos foram enviados a 12 juzes,

    escolhidos em diferentes instncias,

    dentre profssionais bem preparados

    em suas respectivas reas de formao,

    com vasta experincia de pesquisa e

    intensa produo, alm de interessados

    e sensibilizados com a formao de

    professores, inclusive no que se refere

    sua pesquisa. A partir dos pareceres

    desses avaliadores, so apresentados

    alguns resultados terico-metodolgi-

    cos e prticos que podem enriquecer o

    debate sobre os limites e possibilidades

    da pesquisa dos professores.

    Palavras-chave: pesquisa educacional;

    professor da educao bsica; julga-

    mento.

    Primary school teacher research

    under appraisal

    The text discusses teacher research with

    writers who perceive the possibility

    of this kind of research taking place.

    Among these writers we highlight:

    Stenhouse, Elliott, Huberman, Geraldi,

    Fiorentini, Cochran-Smith, Lytle,Anderson, Herr, Andr, Ldke, Cruz,

    Zeichner, Diniz-Pereira, Nofke, Tardif

    e Zourhlal. As research tools, two

    papers presented by teachers at the

    XII Encontro Nacional de Didtica e

    Prtica de Ensino (ENDIPE, 2004)

    and two other papers presented at the

    II Seminrio Internacional de Pesquisa

    em Educao Matemtica (SIPEM,

    2003) were selected. The four texts

    were sent to twelve judges chosen at

    different instances among well-reputed

    professionals in their respective areas

    of expertise, with considerable research

    experience and impressive academic

    production. The selected judges had

    also shown interest and understanding

    of teacher training, including teacher

    research. Based on the written views

    of these evaluators some theoretical-

    methodological as well as practical

    results are presented that might