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Link: http://revista.unati.uerj.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1517-59282005000300008&lng=pt RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT Educação Musical com Idosos Music Education with the Elderly Sônia Leal de Souza* RESUMO Uma das características da sociedade contemporânea, que a cada dia vê crescer sua população com mais de 60 anos, passou a ser o questionamento dos fatores para um envelhecimento bem-sucedido. O objetivo deste estudo foi fazer uma reflexão, com base na literatura disponível, sobre as contribuições da educação musical para esse envelhecimento, principalmente no que concerne às modificações neurofisiológicas, alertando para a necessidade de maiores pesquisas na área. PALAVRAS-CHAVE : Envelhecimento; Saúde do Idoso; Neurociências; Neurofisiologia; Música INTRODUÇÃO “Onde há vida, há inacabamento.” (Freire, 2000, p. 55) Nas últimas décadas vimos aflorar nos meios de comunicação de massa mais e mais reportagens e artigos sobre o que é ser idoso, o que é envelhecer e quais são as melhores formas de passar por esse processo. Termos antes só encontrados nos livros específicos da área de saúde tomaram conta do cotidiano, e a sociedade contemporânea, que a cada dia vê crescer sua população com mais de 60 anos de idade, passou a conviver com o

Educação Musical Com Idosos

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Um relatorio sobre a experiencia do envelhecimento e o ensino musical

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RELATO DE EXPERINCIA / EXPERIENCE REPORT

Educao Musical com IdososMusic Education with the Elderly

Snia Leal de Souza*

RESUMOUma das caractersticas da sociedade contempornea, que a cada dia v crescer sua populao com mais de 60 anos, passou a ser o questionamento dos fatores para um envelhecimento bem-sucedido. O objetivo deste estudo foi fazer uma reflexo, com base na literatura disponvel, sobre as contribuies da educao musical para esse envelhecimento, principalmente no que concerne s modificaes neurofisiolgicas, alertando para a necessidade de maiores pesquisas na rea.PALAVRAS-CHAVE: Envelhecimento; Sade do Idoso; Neurocincias; Neurofisiologia; Msica

INTRODUO

Onde h vida, h inacabamento. (Freire, 2000, p. 55)

Nas ltimas dcadas vimos aflorar nos meios de comunicao de massa mais e mais reportagens e artigos sobre o que ser idoso, o que envelhecer e quais so as melhores formas de passar por esse processo. Termos antes s encontrados nos livros especficos da rea de sade tomaram conta do cotidiano, e a sociedade contempornea, que a cada dia v crescer sua populao com mais de 60 anos de idade, passou a conviver com o questionamento dos fatores que podem ou no contribuir para um envelhecimento bem-sucedido. Chegamos era dos idosos (Veras, 2004). Segundo Neri (1995), uma velhice bem-sucedida uma condio de bem-estar fsico ligada s circunstncias da histria pessoal e do potencial de plasticidade de cada indivduo, mas tambm no pode estar alijada das condies sociais e dos valores existentes no ambiente em que esse indivduo envelhece. Baltes et al. (1995) destacam o fato de que o envelhecimento um processo multidimensional e multidirecional, no qual ganhos, perdas e momentos de estabilidade no s se alternam, como tambm podem ser concomitantes. Rowe e Kahn (1999, p.xii/39), aps definirem a expresso envelhecimento bem-sucedido como um processo em que encontramos vrios fatores que permitem aos indivduos continuar a funcionar efetivamente, tanto fsica quanto mentalmente, estabelecem seus trs comportamentos principais: engajar-se na vida, evitar doenas e manter em alto padro as funes fsica e cognitiva. Abordando cada etapa desses comportamentos, os autores chamam a ateno para a importncia do ato de aprender para as funes mentais. Afirmam, ainda, que possvel os idosos se interessarem e terem sucesso no contato com novos conhecimentos, quebrando o mito de que a aprendizagem na velhice impossvel. Stano (2001) aponta o contexto escolar como um espao possvel para a construo da qualidade de vida, pressupondo participao, compromisso, insero e renovao de significados, em uma permanente busca, por parte do ser humano, enquanto ser inacabado, alm de poder intensificar a auto-eficcia (Rowe, Kahn, 1999) ou seja, a crena em si mesmo e na sua capacidade de aceitar e vencer desafios. Neri e Cachioni (1999) alertam para a crescente demanda por atividades educacionais por parte de maiores de 60 anos, demanda esta que pode ser exemplificada pelo trabalho realizado na Escola Municipal de Msica Prof. Weberty Bernardino Aniceto, em Nilpolis municpio no Estado do Rio de Janeiro (doravante EMN) , onde a turma especfica para terceira idade comeou com 15 alunos. Hoje j existem quatro turmas, com aproximadamente 40 alunos cada e lista de espera para novos grupos. Assim, se h procura pelo aprendizado, e se aprender diferentes habilidades e desenvolver competncias mantm/intensifica o padro das funes cognitivas sendo tal manuteno/intensificao um dos pontos-chave para um processo de velhice bem-sucedida resta-nos saber de que forma o aprendizado musical pode contribuir para o processo e para uma melhor qualidade de vida. Considera-se aqui qualidade de vida a

percepo do indivduo acerca de sua posio na vida, de acordo com o contexto cultural e sistema de valor com os quais convive e em relao a seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes (Paschoal, 2002, p.81).MSICA E SADE A relao entre msica e sade remonta a tempos antigos: os escritos egpcios em 1550 a.C. atribuam influncia msica para a fertilidade da mulher e os gregos consideravam Apolo, ao mesmo tempo, o que cura e o mestre da msica. Essa relao foi-se aprofundando e, deixando para trs os mitos, as lendas e o senso comum, passou a ser tema de pesquisas cientficas na rea mdica, de assistncia e cuidado e na musicoterapia. Alguns exemplos dessa vertente podem ser dados atravs de estudos sobre o efeito da msica em pacientes portadores do Mal de Alzheimer (Bright, 2003), com desordens psiquitricas, com enfarte agudo do miocrdio e em reabilitao cardaca, com dores crnicas provenientes de osteoartrite, parkinsonianos, queimados, com doentes terminais ou em perodos ps-operatrios. Assinale-se ainda a importncia do uso da msica em exerccios fsicos (para estes temas e seguintes, vide www.ncbi.nlm.nih.gov Medline/Pubmed). Contudo, as pesquisas cientficas no se prendem apenas aos aspectos teraputicos ou preventivos do uso da msica em tratamentos e cuidados. Uma outra vertente de estudo encontra seu objeto na prpria msica: a Neurocincia Cognitiva da Msica. Neste campo do conhecimento so estudados os processos cognitivos relacionados percepo e apreenso de sons e melodias, observando-se os circuitos neurais envolvidos na criao e/ou no processamento da msica (Altenmller, 2004).Os temas passam pelas diferenas entre msicos e no-msicos no trato com a matria sonora: reconhecimento de melodias aceleradas ou lentificadas, identificao de notas no pertencentes ao contexto tonal, memorizao e processamento de sons de diferentes alturas, descobertas de melodias sem treinamento prvio, aquisio de capacidades de mapeamento visuo-motor atravs do aprendizado de teclado ou caracterizao do ouvido absoluto (capacidade que alguns indivduos possuem de, ao ouvir determinada nota musical, identific-la corretamente, mesmo se isolada. Em geral, o ser humano identifica a nota atravs da relao com outras notas existentes no contexto musical, o que chamado de ouvido relativo). Tambm esto presentes estudos sobre as modificaes geradas pelo envelhecimento no trabalho do msico: observam-se a performance, o controle motor fino, a execuo exata de ritmos, a memorizao de partituras e at mesmo a influncia do tipo de atividade exercida pelo msico em sua durao de vida (como exemplo, a vida curta e estressante dos msicos de jazz ou a vida longa das sopranos). Porm, a rea que mais se destaca justamente a relativa identificao dos procedimentos mentais relacionados ao processamento musical por parte dos indivduos, de como nosso crebro funciona ao ouvir ou produzir msica. Em recente artigo, Peretz e Zatorre (2005) apresentam um relato detalhado sobre a situao atual das pesquisas sobre o tema, alertando que se trata de um campo rico e fecundo de investigao sobre percepo, memria, emoo e performance. Embora existam textos de mais de um sculo, somente nas ltimas dcadas o processamento musical se tornou uma rea de estudo sistematizado, em que se destaca a procura de entendimento sobre a organizao do crebro musical e a possvel revelao de como se d o trabalho do msico, em termos mentais. Zatorre (2003) declara que a Neurocincia Cognitiva da Msica ainda est engatinhando em suas pesquisas e chama a ateno para o fato de que necessrio definir bem o aspecto especfico da funo musical a ser estudado e, quando possvel, identificar os componentes cognitivos associados a essa funo. Mas o volume de pesquisas no campo j extenso, o que pode ser comprovado pelos dois volumes dos Anais da Academia de Cincia de Nova York dedicados s ao tema (Peretz, Zatorre, 2001; Avanzini, 2003). Janata e Grafton (2003) ressaltam que a msica consiste precisamente de seqncias de movimento e som que engajam toda a mente em mltiplas experincias. Devido ntima relao msica-movimento, percepo-ao, a msica proporciona uma maneira de examinar a organizao cerebral de comportamentos complexos. J est mais do que definido que a percepo musical no se relaciona a apenas um hemisfrio cerebral, mas a uma rede neural que se ativa durante a escuta (Altenmller, 2001; Peretz, 2002). Tambm ficou comprovado que as reas sensorio-motoras corticais so alteradas, havendo uma intensa reorganizao plstica cerebral proveniente do aprendizado musical (Pantev, 2003). A princpio, pode-se pensar que essas modificaes neurais e plasticidade se do porque o aprendizado musical ocorre em fases em que o crebro e seus componentes ainda esto em processo de formao (em geral, quando criana, em torno dos cinco a nove anos). Porm, em recente pesquisa, Pascual-Leone (2001) questiona essa idia, selecionando indivduos de diversas idades que no tocavam nenhum instrumento musical, no sabiam datilografar usando todos os dedos e nem tinham empregos que exigissem habilidades manuais. A esses indivduos foi ensinada uma seqncia de notas, uma para cada dedo (a tradicional relao, em alguns mtodos para piano e teclado, das notas musicais do/r/mi/f/sol com, respectivamente, polegar/indicador/mdio/anular/ mnimo para a mo direita e mnimo/anular/mdio/indicador/polegar para a mo esquerda). Eles foram ainda orientados a estudar tal seqncia por duas horas dirias, obedecendo a critrios estabelecidos pelo pesquisador: tocar cada nota durante o mesmo tempo e aplicar o mesmo espao de intervalo entre notas diferentes. Em uma segunda etapa, o grupo foi dividido em dois subgrupos, sendo que apenas um continuou a treinar. Utilizando estimulao magntica transcranial focal para mapear as reas corticais envolvidas na tarefa, testes foram realizados antes, durante e depois dos treinos. Os resultados apontaram que, para a aquisio de habilidades motoras indispensveis execuo do exerccio, foi necessria uma reorganizao do crtex motor referente aos msculos envolvidos na tarefa. Nos casos dos indivduos que pararam o treino, houve uma espcie de adormecimento das funes ativadas. Para o autor, o treino desvelou conexes previamente existentes que so o ponto de partida para novas e significativas transformaes estruturais em longo prazo, conforme as habilidades musicais se tornem automticas e apreendidas ou seja, aps um processo de aprendizado musical mais longo e mais consciente do que a mera repetio usada na pesquisa.

Acrescenta tambm que tocar um instrumento musical requer mais do que o conhecimento factual sobre o instrumento e os mecanismos atravs dos quais ele tocado. Mesmo sabendo a posio das mos, os movimentos dos dedos e a seqncia a seguir, ainda assim o indivduo no capaz de tocar uma pea elementar: essencial uma espcie de traduo, que relaciona conhecimento, seleo dos aspectos relevantes, escolha de metas e ativao das estruturas sensorio-motoras para que haja realmente uma interpretao musical (Bangert, 2001; Pantev, 2001). Se a questo aprendizado e prtica constante, e se essa prtica proporciona considerveis modificaes neurofisiolgicas no indivduo, seriam tais mudanas passveis de se suceder tambm no crebro que envelhece? Sloboda (2003) afirma que os seres de todas as idades tm a capacidade de processar o material sonoro tanto absoluta quanto relativamente, e que essas habilidades podem ser desenvolvidas com o treino em qualquer idade.

Se, segundo Vicini (2004), a plasticidade no transitria nem compensatria, mas uma capacidade adaptativa sistemtica uma configurao dinmica do sistema nervoso, persistindo ao longo da vida e no excluindo o perodo da velhice haveria no idoso realmente um grau de plasticidade cerebral que tornasse possvel tantas mudanas provocadas pelo aprendizado musical? Aprender msica seria apenas uma questo social (interao, intergeracionalidade etc.) e psicolgica (auto-estima, auto-eficcia etc.) ou tal aprendizado poderia proporcionar ao idoso modificaes neurofisiolgicas importantes na conquista de uma velhice bem-sucedida?EDUCAO MUSICAL COM IDOSOS O ensino de msica a idosos foi tema de pesquisa j em 1979 (Ozanian, 1979) e, antes disto, o MENC (Music Educators National Committee) estabeleceu, em 1974, um programa para educao permanente de msica (Achilles, 1992). Desde ento, diversos autores da rea de educao musical tm-se dedicado ao assunto. A tica mais freqente se refere a benefcios que a expresso artstica possibilita, seja em termos de gratificao/auto-estima (Hanser, 1990; Wikstrom, 2004), seja pelo vis da intergeracionalidade entre alunos idosos e seus professores mais jovens (Ferrigno, 2003), ou pelo reconhecimento de que as atividades musicais propiciam atitudes positivas. Elas tm o poder de preencher necessidades pessoais, de participao e companheirismo e contribuem para o desenvolvimento pessoal (Boswell, 1992; Porter, 2001). Tambm so comuns entrevistas e questionrios que procuram identificar as preferncias musicais dos idosos (Pickles, 2003), relacionando-as existncia ou no de um aprendizado musical enquanto jovens e crianas (Flowers Murphy, 2001). Porm, embora o tema venha sendo abordado h vrias dcadas, pouco tem sido estudado com relao ao processo de aprendizado em si mesmo: o idoso aprende ou so apenas atividades ldicas? Clingman (1990) j alertava que a msica parte de um processo de aprendizado ao longo da vida e que os idosos necessitavam de atividades que proporcionassem a eles um sentimento de pertencer ao mundo, uma liberao de tenses e emoes negativas. O autor enfatizava que o indivduo e sua qualidade de vida deveriam sobrepujar a tcnica, mas nunca o professor poderia descuidar do aprendizado e da importncia dos valores e conceitos musicais. Sem dvida, esse equilbrio um grande desafio para quem trabalha com idosos. Para Achilles (1992), o professor deve compreender o desenvolvimento e a forma de aprendizado dos indivduos idosos, a fim de conseguir efetivamente realizar um trabalho musical com os mesmos. Ressalta que o envolvimento no projeto de aprendizado musical em si uma das mais importantes razes pelas quais o idoso decide comear o estudo, muito mais do que benefcios fsicos e de sade secundrios. Tambm Myers (1992) d destaque existncia de um objetivo musical especfico seja cantar melhor no coral que freqenta ou tocar a msica preferida no instrumento de escolha, etc. Darrough (1992) reala a existncia de mitos e preconceitos com relao ao fato de o idoso no ser capaz de aprender um instrumento, j que teria a preferncia por atividades passivas de escuta musical e estaria preso a determinados gneros e estilos, dificultando o aprendizado. O autor acrescenta que tal idia irreal e refora que, ao perguntar a seu grupo de alunos qual seria a categoria de sua experincia no coral, o termo musical foi o mais escolhido, ultrapassando as classificaes como recreacional ou teraputico. Tivemos a oportunidade de comprovar esse objetivo musical com 140 alunos da EMN, que fazem parte das quatro turmas que l cursam Musicalizao e Teoria Musical, na faixa de 50 a 92 anos. As turmas so para a terceira idade, sendo aceitos alunos entre 50 e 60 anos, em caso de existncia de vagas, ou encaminhados por professores de outras turmas, devido a dificuldades no aprendizado nas turmas regulares. Quando os alunos ingressam nas turmas, perguntada a razo pela qual escolheram o aprendizado musical, em uma entrevista tambm com informaes pessoais: todos ingressaram na escola com o desejo de tocar um determinado instrumento musical (teclado, piano e violo na maioria, mas tambm esto presentes a flauta, a percusso e o canto), embora saibam que o aprendizado e as atividades realizadas durante o curso podem gerar outros resultados alm dos musicais. As razes da escolha pela msica se dividem entre o desejo no realizado desde criana de aprender o instrumento escolhido, a vontade de melhorar sua participao nas diversas instituies religiosas existentes no municpio ou at mesmo a necessidade de essas instituies terem um grupo musical para o acompanhamento de cultos, missas e ofcios. Perante a procura, infelizmente, os autores (Ernst, Emmons, 1992; Orlofsky, Smith, 1997; Rowe, Kahn, 1999; Ernst, 2001) ressaltam o pouco ajustamento curricular e de recursos pedaggicos, o que indica a inadequao de algumas instituies de ensino na educao de idosos, mais de dez anos aps a promulgao da Lei n 8.842, de 04/01/94 que no Captulo IV, artigo 10, item III, prope adequar currculos, metodologias e material didtico nos programas educacionais para idosos. So poucas as propostas de educao musical especficas para a terceira idade e os professores (Orlofsky, Smith, 1997) apontam a dificuldade de encontrar material para os principiantes, j que tais livros normalmente so voltados para crianas. Diversos autores dedicam pesquisas s modificaes mentais e fsicas provenientes do envelhecimento (Guerreiro, 2001; Neri, 2002; Forlenza, Caramelli, 2004), mas, como Rowe e Kahn (1999) ressaltam, se dificuldades existem, so limites a se romper atravs da persistncia no aprendizado. Roy Ernst, membro do Departamento de Educao Musical da Eastman School of Music (Rochester, EUA), fundou em 1991 a New Horizons Band, uma banda formada s com idosos at ento leigos em msica. Estes vm at hoje fazendo suas apresentaes com o apoio da Escola de Msica e da Escola de Medicina e Odontologia de Rochester. O projeto conta com cinco mil componentes distribudos em mais de 100 bandas entre EUA e Canad e tem um site prprio (disponvel emwww.newhorizonsband.com). Ernst relata sua experincia com o ensino de msica (1992, 2001) e declara que no se pode negar os benefcios sociais, mentais e fsicos das pessoas que freqentam suas aulas, alm, claro, dos benefcios musicais. Destaca que os idosos vm motivados pelo prazer de aprender msica e no porque algum deseja que eles aprendam, o que gera um comprometimento e faz com que eles estejam sempre dispostos no s para as aulas como tambm para os ensaios extras (muitos chegam uma hora antes da hora marcada), alm de praticarem constantemente. Para o autor, os indivduos que comeam a aprender msica quando idosos no tero o mesmo patamar tcnico que poderiam ter se tivessem iniciado mais cedo, mas a experincia e a bagagem musicais que tm contribuem bastante para uma questo crucial em msica, que a interpretao de uma pea musical. Assim, necessrio controlar a obsesso pela perfeio e compreender que o padro passa a ser aquele que d a eles prazer e sentido de realizao ou, como afirma, o melhor que possam fazer sempre bom o suficiente: Your best is always good enough (Ernst, 2001, p. 48-49). Sua metodologia d nfase ao cantar e aos movimentos corporais rtmicos, abordando tocar de ouvido (tocar sem o apoio de partituras), improvisar e compor canes originais. Aps quatro semanas de estudo, introduzida a notao musical (conjunto de caracteres que tradicionalmente possibilitam a escrita e a leitura de uma partitura), mas atravs de msicas que eles j toquem e conheam bem. Os alunos da banda tm aulas individuais no instrumento de escolha durante um ms e depois comeam a prtica coletiva (considerada ideal pelo autor), com o apoio das aulas individuais para o aprimoramento tcnico. Foram encontradas dificuldades no que concerne s mudanas vocais, perda de audio e viso (dificuldade para ler partituras no tamanho original) e a problemas osteoarticulares (que algumas vezes geraram modificaes nos instrumentos usados, j que a proposta sempre de incluso). O sentimento de desconforto perante as dificuldades diminuiu quando, ao olhar em volta, os idosos puderam ver outros com problemas iguais ou semelhantes. Contudo, o autor destaca que, assim como o envelhecimento, o aprendizado musical um processo individual, portanto nico e intransfervel, devendo o professor estar atento a cada aluno. Ernst (1992, 2001) salienta ainda que dois aspectos so importantes. O primeiro se refere ao grande desafio que acomodar diferentes nveis de habilidades (e impossibilidades) na prtica em conjunto cotidiana, da a necessidade de que haja mais pesquisas sobre a maneira como o idoso aprende msica. O segundo aspecto a urgncia em se dar visibilidade aos grupos de idosos que praticam msica, mostrando-os como modelos que possam incentivar outras pessoas e outros professores a se reunir nesse trabalho. Embora de destaque, os trabalhos com idosos no se resumem aos desenvolvidos nos EUA e Canad. Tambm aqui no Brasil alguns professores vm propondo grupos de ensino de msica para os que envelheceram. H onze anos, Uricoechea (1994) propunha uma aula especfica para idosos na Escola de Msica Villa Lobos (Rio de Janeiro), tendo em vista a existncia de alunos que no se adaptavam aos cursos regulares. Tais aulas, a princpio de apoio, tinham como cerne a vivncia rtmica (percusso corporal e instrumental), o desenvolvimento da percepo musical, a improvisao, o canto e o aprendizado de flauta doce. A autora aponta dificuldades de respirao e articulao para o instrumento de sopro, mas ressalta a melhora progressiva da mobilidade corporal e das funes motoras provenientes da prtica percussiva. Outro exemplo foi a experincia relatada por Bonilla (2002), em uma clnica geritrica na periferia de Porto Alegre, onde aconteceram encontros musicais de uma hora de durao com setenta idosos entre 60 e 85 anos (90% mulheres). Foram realizadas atividades de apreciao musical, expresso corporal e canto, alm da realizao de uma pea teatral. A autora aponta dificuldades na memorizao, na emisso vocal (devido s mudanas de registro provocadas pelo envelhecimento) e na percepo/execuo rtmica. Nossa experincia na EMN tambm fruto inicial da inadequao de alguns alunos aos procedimentos e metodologia tradicional do ensino de msica (o rpido andamento das aulas, as provas constantes, a participao em exames prticos com a presena de uma banca examinadora etc.). A primeira turma de idosos foi criada em 2000 e, quando ingressamos na escola, em 2002, havia em torno de vinte alunos participando: apenas dois homens (cujo nmero j alcana hoje 20% do total). A proposta atual desenvolver uma nova forma de perceber o mundo sonoro e lidar com as diferentes possibilidades rtmico-meldicas existentes. Os alunos cursam dois perodos de musicalizao, em que so abordados os conceitos de paisagem sonora (ambiente acstico que circunda o ser humano Schafer, 2001), os parmetros do som (caractersticas atravs das quais podemos distinguir um som de outro: durao, intensidade, altura, timbre e textura), a representao de sons e ritmos (seja pelo corpo, seja apenas pela voz, por instrumentos ou por uma escrita no-convencional), a improvisao e a composio, iniciando-se a prtica em instrumentos de percusso e canto (para mais detalhes, vide Souza, 2002). A partir desses elementos e atravs de um processo de transio, ingressam na disciplina teoria musical (nomenclatura utilizada na EMN para designar as aulas em que so abordadas as caractersticas da notao musical tradicional, a percepo auditiva e a execuo rtmico-meldica) e no aprendizado de flauta doce, teclado e violo, mantendo o trabalho de canto e percusso.

Compartilhamos as idias apresentadas por Ernst (1992, 2001) e vemos o aprendizado real dos alunos, que vo aos poucos ganhando autonomia e independncia na prtica musical, chegando a fazer apresentaes pblicas em encontros na escola (intergeracionais e com a presena de familiares e amigos), o que gera a cada dia mais alunos interessados em participar do trabalho. Da mesma forma, acreditamos que o grande desafio integrar diferenas, incluir, trabalhar com diversos nveis de habilidades/capacidades/comprometimentos, com poucos recursos didticos e material de apoio disponveis.

Perda auditiva e visual, problemas articulares ou respiratrios, modificao na extenso da emisso vocal, lentido no processamento de novas informaes, dificuldade em inibir estmulos irrelevantes, declnio na velocidade e preciso motoras, influncia de situaes de aprendizado anteriores no satisfatrias ou at traumatizantes so elementos presentes no cotidiano. Mas a superao desses elementos tambm comum (o ndice de abandono inferior a 10%, geralmente por agravamento no quadro de alguma patologia, principalmente hipertenso) e observamos na prtica semanal uma melhora em certos aspectos (respirao, coordenao motora, ateno, concentrao, entre outros), que necessitam de maiores e mais especficas pesquisas.

Guerreiro e Rodrigues (2002) alertam que o desempenho cognitivo dos idosos varia devido a fatores pessoais (nvel escolar e intelectual, motivao, conhecimentos prvios sobre o assunto, personalidade, sade etc.) mas tambm devido s caractersticas do material a ser abordado (riqueza, organizao, estrutura etc.) e das condies em que o idoso realizar a tarefa (velocidade e modo de apresentao, ambiente fsico etc.). A proposta de educao musical com idosos deve passar sempre pela conscincia de que o processo se d com o idoso e no para ele. No se trata de dar conhecimentos, mas possibilitar condies para que o conhecimento se d. No se trata de memorizar contedos e repetir nomenclaturas, mas compreender seus significados e ser capaz de criar com eles. Assim, no so apenas habilidades e competncias desenvolvidas, mas uma nova atitude, uma nova forma de perceber e agir no mundo, uma proposta de empowerment (capacitao para o poder ou seja, atividades que busquem encorajar os idosos a descobrir talentos e a assumir um papel mais ativo em suas vidas - Guerreiro, 2001).CONSIDERAES FINAIS Aprender a tocar um instrumento, aprender msica , para o idoso, um processo que vai muito mais alm do que o mero prazer pessoal do ato de tocar ou a integrao e a convivncia produzidas pela prtica em conjunto. Modificaes neurofisiolgicas se fazem presentes e mais do que necessrio e urgente um aprofundamento no campo da Neurocincia Cognitiva da Msica no que concerne ao aprendizado musical por parte do idoso. Para aqueles que se dedicam ao ensino de msica com idosos, estar a par dos conhecimentos produzidos na rea gerontolgica e neurocientfica primordial, pois nenhum processo educacional formal se d sem que o professor conhea aquele a quem se prope ensinar e a maneira como esse indivduo aprende, a fim de melhor proporcionar situaes de aprendizagem.

Percepo, ateno, concentrao, memria, capacidade de julgamento e planejamento, aceitao de resultados e limitaes, imagem corporal, campo sensorio-perceptual e motor, tarefas visuoespaciais e proprioceptivas, plasticidade cerebral enfim, inmeros so os temas e as possibilidades de pesquisa nesse caminho. A educao musical com idosos recente e o caminho a percorrer bem extenso, mas no h dvidas de que, seja pela manuteno e intensificao das funes cognitivas, seja pela reorganizao plstica cerebral ou pelos aspectos sociais e psicolgicos, grande pode ser a contribuio da msica para uma velhice bem-sucedida e com qualidade de vida, objetivo de tantos indivduos atualmente.

H um ditado que diz: se eu soubesse como so alegres os netos, eu os teria tido antes. Recentemente comeamos a modificar este ditado dizendo: se soubssemos como so alegres os avs, teramos comeado a lhes ensinar mais cedo. Fazer msica simplesmente bom demais para ser deixado apenas para as crianas. (Roy Ernst www.newhorizonsband.com)NOTAS*Especialista em Geriatria e Gerontologia (UnATI-UERJ), licenciada e especialista em Educao Musical (CBM) e em Literatura (UERJ). Professora de musicalizao, teoria musical, flauta doce, teclado e violo para idosos na Escola Municipal de Msica Prof. Weberty Bernardino Aniceto, municpio de Nilpolis, no Rio de Janeiro. Professora de msica da FAETEC/Rio de Janeiro e recreadora musical no Lar Cristo Matilde de Oliveira, no Rio de JaneiroREFERNCIAS BIBLIOGRFICASACHILLES, Elaine. Finding Meaning in Music for All Ages. Music Educators Journal, MENC, v.79, n.4, p.21-22, 1992.ALTENMLLER, Eckart O. How many music centers are in the brain? 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