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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I / SALVADOR GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA EMILE REIS DA HORA EDUCAÇÃO NA CIDADANIA: Uma análise da experiência da Escola da Ponte, em Santo Tirso, Portugal Salvador-Ba 2011

EDUCAÇÃO NA CIDADANIA - uneb.br · 2 CIDADANIA E EDUCAÇÃO 13 2.1 HISTÓRICO DA CIDADANIA: DOS PRIMÓRDIOS À REVOLUÇÃO ... trabalho com as crianças e adolescentes,

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I / SALVADOR

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

EMILE REIS DA HORA

EDUCAÇÃO NA CIDADANIA:

Uma análise da experiência da Escola da Ponte,

em Santo Tirso, Portugal

Salvador-Ba 2011

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EMILE REIS DA HORA

EDUCAÇÃO NA CIDADANIA:

Uma análise da experiência da Escola da Ponte,

em Santo Tirso, Portugal

Monografia apresentada como requisito parcial para

obtenção da Graduação em Pedagogia, Habilitação

em Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do

Departamento de Educação da Universidade do

Estado da Bahia, sob orientação do Professor

Doutor Alfredo Eurico Rodriguez Matta e co-

orientação da Professora Doutora Francisca de

Paula Santos da Silva.

Salvador-Ba 2011

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Hora, Emile Reis da

Educação na cidadania : uma análise da experiência da Escola da Ponte em Santo

Tirso, Portugal / Emile Reis da Hora . – Salvador, 2011.

44f.

Orientador: Prof. Dr. Alfredo Eurico Rodrigues Matta.

Co-Orientadora: Profª. Drª. Francisca de Paula Santos da Silva.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.

Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011.

Contém referências e anexos.

FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB

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EDUCAÇÃO NA CIDADANIA: Uma análise da experiência da

Escola da Ponte, em Santo Tirso, Portugal

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada de Pedagogia, Departamento de Educação, Campus I, Universidade do Estado da Bahia.

Aprovada em __25___/__03___/___2011__.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Prof. Dr. Alfredo Eurico Rodriguez Matta Universidade do Estado da Bahia

__________________________________________________ Prof.ª Dra. Francisca de Paula Santos da Silva Universidade do Estado da Bahia

__________________________________________________

Prof. Dra. Elizabete Conceição Santana Universidade do Estado da Bahia

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me capacitado para vencer mais um desafio, dando-me

paciência e perseverança e por ter colocado pessoas essenciais para que meu

aprendizado acontecesse.

Aos meus pais pelo apoio e incentivo em minha trajetória acadêmica e por terem me

proporcionado a visita a Escola da Ponte.

À Evelin da Hora, minha irmã que mesmo distante se fez tão presente como

tradutora e companheira das madrugadas, enquanto eu digitava a pesquisa.

Aos meus amigos que nos momentos de desespero souberam me confortar, em

especial a Rita Sales com a qual pude compartilhar preocupações.

Às amigas Mariana Santos e Sâmela Marhai pelas orientações e correções.

Ao meu orientador Alfredo Eurico Rodriguez Matta pela orientação e apoio.

À minha co-orientadora Francisca de Paula Santos da Silva pela dedicação e

acompanhamento.

À professora Piedade Vaz Rebelo por orientar a minha chegada a Escola da Ponte.

Enfim, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram com a realização desta

pesquisa.

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Estudar é escrever um ditado, sem ninguém nos ditar. E, se um erro nos for apontado, é sabê-lo emendar. É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar, Pois, na escola da vida, primeiro está saber estudar.

(SANTOS, Ary dos, Aprender a Estudar, Hino da Escola da Ponte)

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RESUMO

O presente estudo surge do problema: Como a Escola da Ponte educa para a cidadania? Desta forma, analisa o Projeto Educativo da Escola da Ponte, na teoria e na prática, tendo por perspectiva a cidadania que norteia as relações interpessoais e destes sujeitos com o conhecimento. Neste sentido, compreende o conceito de cidadania e educação cidadã com a alteração da história da humanidade. Além disto, percebe esta influência nos pensamentos pedagógicos elaborados e nos ideais, métodos e técnicas de educadores engajados com a causa popular. Analisa em que aspectos a Escola da Ponte pode ser percebida como uma escola que educa para a cidadania. No decorrer da pesquisa aborda algumas questões: - Como caracterizar a educação para cidadania? – Conhecendo as concepções de renomados educadores sobre Escola popular e educação para a cidadania, como entender a Escola da Ponte? Aprimorando esta questão por observância in loco, com a utilização de abordagem qualitativa, na pesquisa exploratória, descritiva, bibliográfica e analítica. Conclui que o projeto desta escola conduz a um aprendizado na cidadania. Palavras-chave: Cidadania. Educação. Escola popular. Escola da Ponte.

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ABSTRACT The present study appears of the following problem: how does the Escola da Ponte educate for citizenship? Thus, analyzing the Education Project of the Escola da Ponte in theory and practice, in the perspective of the citizenship which guides the relationships among the people and, the relationship of these people and the knowledge. In this sense, it understands the concept of citizenship with the change of human history. Also realizes this influence in the elaborated pedagogic thoughts and ideals and pedagogical methods and techniques of educators engaged with the popular cause. Analyzes in which aspects the Escola da Ponte can be seen as a school that educates for citizenship. During the research deal with the questions How characterize education for citizenship? Knowing the views of renowned educators on popular education for citizenship, how to understand the Escola da Ponte? It perfects this subject by observance in loco, using a qualitative approach, in an exploratory, descriptive,bibliographical and analytical research. It concludes that the design of this school leads to an apprenticeship in citizenship. Keywords: Citizenship. Education. Popular school. Escola da Ponte.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 CIDADANIA E EDUCAÇÃO 13

2.1 HISTÓRICO DA CIDADANIA: DOS PRIMÓRDIOS À REVOLUÇÃO FRANCESA 13

2.1.1 Grécia 14

2.1.2 Roma 15

2.1.3 Inglaterra 17

2.1.4 Estados Unidos 18

2.1.5 França 20

2.2 MUDANÇAS SOCIAIS E DE MENTALIDADES E SUAS REPERCUSSÕES NA

ÁREA DA EDUCAÇÃO 23

3 ESCOLA POPULAR: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO PARA

A CIDADANIA 26

3.1 JOHN DEWEY 26

3.2 MARIA MONTESSORI 28

3.3 CELÉSTIN FREINET 29

3.4 PAULO FREIRE 30

4 ESCOLA DA PONTE: EXEMPLO DE EDUCAÇÃO CIDADÃ 33

4.1 CONTEXTOS DE CRIAÇÃO DO PROJETO “FAZER A PONTE” 34

4.1.1 O projeto na prática 35

4.2 ANÁLISE DO PROJETO EDUCATIVO FAZER A PONTE NA PERSPECTIVA

DA CIDADANIA 38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

REFERÊNCIAS 42

ANEXOS 44

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1. INTRODUÇÃO

A sociedade atual, individualista e competitiva, é marcada por uma crise de

valores que reflete diretamente nas relações interpessoais. Desta forma dificilmente

se vê respeito pelo espaço do outro e de suas necessidades básicas, desde o direito

a vida, até a moradia digna, subsistência, acesso a escola e ao lazer. Assim surge a

reflexão: em que medida esta problemática afetará a formação do indivíduo

enquanto cidadão?

Sobre a questão do (des) respeito ao semelhante, Pinsky (2008, p.72) afirma

que na sociedade atual “numa subversão de valores, direito de cidadão é, para

muitos, seu direito particular [...]”. Portanto, é comum testemunharmos em ações

cotidianas, atitudes de desrespeito ao outro que revelam o desconhecimento da

palavra cidadania.

Além disso, preocupações acerca do bem-estar do outro somente ganham

enfoque em períodos festivos e de desastres ambientais nos quais a mídia destina

todos os seus esforços, e quando os meios de comunicação não mais comentam o

assunto, parece algo inexistente.

Inserido neste contexto social e levando-se em conta que a educação informal

acontece a todo instante e em todos os espaços, o educando leva consigo para o

ambiente escolar, as situações presenciadas em seu cotidiano e que são

incorporadas a suas experiências de vida, então em alguns momentos na sua

relação com os colegas poderá reproduzir tais situações desagradáveis.

Logo, acredita-se que a educação é um instrumento eficaz para a formação

dos sujeitos e transformação social, então se faz necessária na perspectiva de

formação dos cidadãos autônomos, críticos, reflexivos e dispostos a viverem numa

relação de colaboração dentro da escola, difundindo esta ideia na sociedade.

Por isso, atitudes cidadãs aprendidas e praticadas na escola têm maior possibilidade

de serem incorporadas pelos estudantes.

Diante de tal compreensão acerca da sociedade, foi possível constatar que o

ensino oferecido pela instituição escolar Tradicional prima pela formação profissional

em detrimento da formação dos cidadãos, além de tornar o professor detentor do

conhecimento, e estimular como afirma Freire (1979, p.38) a existência da educação

bancária que mantém os alunos como meros receptores de conhecimento, que não

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refletem sobre os conteúdos. Considerando este contexto decidiu-se, iniciar os

estudos em busca de uma pedagogia que valorize os sujeitos enquanto seres

humanos e estimule seu potencial criativo.

Para entender o motivo da existência deste dado sobre o ensino Tradicional,

os estudos de Matta (2005, p.121), discorrem sobre a educação na sociedade

baiana que tem enfoque burguês e defende que esta educação:

[...] tem basicamente três funções: 1] em primeiro lugar, a educação é um forte elemento massificador e uniformizador, o que garante a ampliação dos padrões de consumo; 2] além disso, ela vai facilitar o controle social, já que os comportamentos, desejos, atitudes, também são massificados; 3] por fim, ela deve aprimorar as habilidades profissionais dos trabalhadores, ampliando sua eficiência e produtividade, o que servirá para alimentar as máquinas produtivas da burguesia.

Consoante as afirmações comentadas, a educação escolar não tem interesse

em permitir que o estudante desenvolva sua capacidade de reflexão e ação, e,

portanto, os padroniza objetivando obter o controle social.

Porém, conforme leituras e pesquisas elucido existência de uma escola na

qual a educação não é utilizada para uniformização dos indivíduos. Ela preza pelo

desenvolvimento das potencialidades de cada um. É a experiência da Escola da

Ponte, uma instituição pública localizada em Vila das Aves, no concelho de Santo

Tirso, distrito do Porto, Portugal, sobre a qual foi possível aprofundar os estudos a

partir de leituras e realização de uma visita. Esta instituição tem obtido êxito em seu

trabalho com as crianças e adolescentes, portanto desperta o interesse de seja

duvidosos ou defensores do seu projeto.

Com a oportunidade de observar a prática do pedagogo através das

disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica e nos Estágios Supervisionados da

universidade que nos insere em ambiente escolar público, se percebeu que um

ensino conteudista não atende as necessidades do público em questão, visto que

outros aspectos tais como a formação cidadã são mais urgentes. É possível notar

esta necessidade nas cenas de violência presenciadas nas instituições escolares,

em especial nas de educação popular a qual damos enfoque neste estudo.

Portanto, o tema desta pesquisa é a contribuição da Escola da Ponte para a

formação dos sujeitos na perspectiva da cidadania. A partir do seguinte problema,

como a Escola da Ponte educa para a cidadania? Buscou-se como objetivo geral

analisar o Projeto Educativo da Escola da Ponte na teoria e na prática, na

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perspectiva da cidadania haja vista que a mesma norteia as relações interpessoais e

destes sujeitos com o conhecimento. Para tanto, foi necessário compreender o

conceito de cidadania e de educação cidadã; apresentar pensamentos pedagógicos

que favorecessem pensar e perceber a educação popular para a cidadania e

analisar em que aspectos a Escola da Ponte pode ser percebida como uma escola

que educa para a cidadania.

Além destas, outras importantes questões nortearam esses estudos, “Como

caracterizar a educação para cidadania?”; “Quais as concepções de renomados

educadores sobre Escola popular e educação para cidadania?” e “Como entender a

Escola da Ponte?”

A partir das análises dos resultados verificados na escola da Ponte, pensou-

se na possibilidade da escola brasileira ser dotada de uma diferente metodologia,

que atendesse as necessidades do meio, mas não com os mesmos aspectos

defendidos pelo projeto da Ponte porque é importante considerar as peculiaridades

das cidades, grupos sociais envolvidos, conforme Pacheco (2001,p.83)

a validade da experiência da Ponte deve, pois ser relativizada. Houve factores de emergência decorrentes de um contexto específico e que não poderiam ser replicados. O que possa ser transferível tem mais a ver com o espírito e a gramática do projecto.

Por conseguinte, este modelo de escola deve ser estudado e adaptado à

realidade da comunidade em que se deseja aplicar, pois foi criado para atender as

urgências da sociedade portuguesa.

A partir do momento que a educação na cidadania for priorizada, os cidadãos

poderão dar-se conta de seus direitos e deveres e assim poderão lutar por eles de

forma consciente, podendo assim colaborar com a mudança de mentalidades na

sociedade. Com a evolução da educação na cidadania na escola, o aluno

compreenderá que a mesma “[...] pode ser qualquer atitude cotidiana que implique a

manifestação de uma consciência de pertinência e de responsabilidade coletiva.”

(PINSKY, 2008, p.19), ou seja, o conceito de cidadania está relacionado a um grupo

a uma sociedade e para poder existir uma relação harmoniosa entre os sujeitos,

deve ser bem esclarecido.

O aprimoramento destes estudos ocorreu por observância in loco e conversas

com a coordenadora pedagógica do projeto “Fazer a Ponte” da escola estudada, a

senhora Ana Moreira, a coordenadora do Núcleo de Consolidação, a docente

Alexandra e a funcionária Helena Alves que apresentou o espaço físico da

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instituição, por não haver um estudante para fazê-lo como é de costume, por ser

período de férias, visto que a visita foi realizada em agosto de 2010.

Utiliza abordagem qualitativa, quanto aos objetivos é de natureza exploratória

e descritiva, quanto à técnica utilizada é bibliográfica e analítica.

Da abordagem qualitativa se objetivou descrever o objeto de estudo e seu

contexto e realizar posterior análise do mesmo para compreensão do fato. Houve

especial atenção as opiniões dos atores envolvidos no processo, dada a importância

de tais informações. É exploratória, pois busca informações sobre um tema pouco

conhecido, ou seja, é uma tentativa de aproximação com o desconhecido para

promover a construção de hipóteses.

Também é descritiva, pois descreve as características do fenômeno

estudado. E trata-se de pesquisa bibliográfica porque recorre a fontes de livros e

revistas, o que torna possível o acesso ao fenômeno de forma abrangente. Além de

ser analítica, visto que “[...] é feita com base nos textos selecionados.” (GIL, 2002,

p.78), com confronto de informações no sentido se validá-las, com a finalidade de

obter respostas ao problema da pesquisa. Realizou-se uma leitura crítica, porém

com objetividade e tentativa de compreensão dos autores estudados.

A relevância deste estudo é de mostrar que existem práticas pedagógicas que

valorizam o sujeito e tornam a escola um ambiente de amizade, solidariedade,

respeito mútuo e pesquisa. Estes elementos imbricados criam situações de

aprendizagem que proporcionarão ao educando uma formação que estimule a

autonomia, criatividade, e reflexão que serão reproduzidas em sua vida pessoal.

“A Escola da Ponte apenas mostrou que há utopias realizáveis.” (PACHECO, 2001,

p.83) que há possibilidades de novos rumos para uma educação que pouco foi

modificada desde os primórdios da história da sociedade, com seus métodos

desestimulantes e severos. Logo, pensou-se na possibilidade de aplicar esta

metodologia no contexto das escolas brasileiras e em suas repercussões.

Para tanto, este segundo capítulo intitulado Cidadania e educação discorreu

acerca da história da cidadania, seu conceito e a definição de educação cidadã; no

terceiro capítulo Escola popular: concepções de educação para a cidadania foi

abordada a educação popular sob o ponto de vista de renomados estudiosos, para

tanto foi subdividida em quatro: John Dewey, Maria Montessori, Celéstin Freinet e

Paulo Freire que contribuíram com idéias e ações para a educação das camadas

populares, no quarto capítulo Escola da Ponte: exemplo de educação cidadã

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analisou-se o contexto de criação e o projeto aplicado na Escola da Ponte que

concorre para uma educação popular na cidadania.

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2. CIDADANIA E EDUCAÇÃO

Compreender o conceito de cidadania em 2011 implica conhecer como o

mesmo foi construído ao longo da História da Humanidade. Para Demo (1999, p. 70)

“cidadania é a qualidade social de uma sociedade organizada sob a forma de

direitos e deveres majoritariamente reconhecidos.” Enquanto para Pinsky (2008,

p.19) a “[...] cidadania pode ser qualquer atitude cotidiana que implique a

manifestação de uma consciência de pertinência e de responsabilidade coletiva.”, ou

seja, o conceito de cidadania está relacionado a um grupo, a uma sociedade e para

poder existir uma relação harmoniosa e efetiva entre os sujeitos deve ser bem

esclarecido. A consciência dos direitos e deveres e seu reconhecimento pelos

órgãos competentes que legitimam o “ser” cidadão na sociedade.

Com o desenvolvimento das sociedades surgem novas mentalidades e

necessidades, por isso, mais direitos e deveres dos cidadãos são criados e

incorporados as Declarações, Constituições e regimentos no caso das empresas,

organizações e escolas para proporcionar harmonia nas relações humanas. O

exemplo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que assegura

liberdade e igualdade entre os seres humanos, o fim das torturas de qualquer

ordem, da escravidão e da servidão marca o fim de um período e o início de um

novo momento.

Pensar cidadania remete a seus primórdios e em alguns momentos da

História em que esta questão possui grande destaque, Covre (1991 p.16) chama

atenção para a Grécia, já Matos (2001), além de dar enfoque a sociedade citada,

evidencia Roma, Inglaterra, Estados Unidos e França e afirma que destas

sociedades surgem o atual conceito de cidadania que será discutido, a partir do

entendimento do que foi este conceito na progressão da história.

2.1 HISTÓRICO DA CIDADANIA: DOS PRIMÓRDIOS À REVOLUÇÃO FRANCESA

Com o intuito de proporcionar a compreensão do Histórico da cidadania e

consequentemente seu conceito decidiu-se organizar os marcos que seguem por

ordem cronológica de acontecimentos que assim se sucedem: Grécia, Roma,

Inglaterra, Estados Unidos e França. Estes países foram cenários de sociedades

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que com o seu desenvolvimento que em alguns casos aconteceu por meio de

revoluções, puderam ter os direitos e deveres dos cidadãos registrados e ampliados.

2.1.1 Grécia

Na sociedade grega, de acordo com Mello e Costa (2001, p. 89) são duas as

cidades-estados que possuem maior importância: Esparta e Atenas.

Havia na pirâmide social de Esparta a divisão em: esparciatas, periecos e

hilotas. Os primeiros eram aristocratas guerreiros que eram sustentados pelo

Estado; os periecos eram homens livres, porém proibidos de participar das decisões

políticas e contribuir com o futuro da cidade, eram agricultores, comerciantes e

artesãos. Os hilotas eram servos do Estado.

No que diz respeito ao direito dos cidadãos a educação, a finalidade da

instrução espartana era formar os cidadãos física e militarmente para que pudessem

defender sua região, com este propósito eram lhe incutido o nacionalismo afim de

que pudessem servir com mais bravura. Assim, a partir dos sete anos as crianças

eram entregues ao Estado que tinha a incumbência de ensinar-lhes a escrita e

disseminar histórias dos heróis de Esparta.

As crianças e jovens pertencentes à nobreza recebiam educação diferenciada

focada nas funções de poder na sociedade, por isso a mesma estava focada na

ação, no conhecimento e na arte de falar em público, ou seja, dar ordens. Já as

crianças das classes subalternas não recebiam educação alguma, apenas

treinamento para que perpetuasse na sociedade o ofício que aprendiam dos seus

pais.

Os jovens ricos recebiam instrução em casa “de fato, escravos estrangeiros,

prisioneiros de guerra, eram sempre os pedagogos em casa, [...] já os mestres de

escola são gregos ou pessoas livres, que exercem um ofício como outros.”

(MANACORDA, 1996, p.61)

A disciplina se dava de forma rigorosa através do chicote e há também relatos

de violência.

Com a mudança da sociedade houve a democratização do ensino, conforme

considera Manacorda (1996, p.67).

a partir daí, porém, a instrução atingirá não somente as crianças livres (eleútheroi paîdes), mas também as meninas (párthenoi), os pobres (penétes) e até os escravos (doûloi) [...].

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O filósofo Aristóteles também defendia que a educação deveria ser igual para

todos e promovida pelo Estado, ou seja, era a favor da educação pública.

Algumas mudanças começaram a surgir e, apenas para exemplificar, o ensino da

música e a ginástica que eram reservados aos homens livres, tornaram-se

acessíveis a todos.

É importante ressaltar que como conseqüência desta democratização, com o

aprendizado do alfabeto ocorreu a difusão do conhecimento, da informação e assim

era possível conhecer os direitos e deveres dos cidadãos através da leitura das leis.

A luta pelos direitos fomentava a criação de conflitos no interior das cidades-

estado e o acesso à educação escolar significou a abertura de possibilidades para a

participação popular nas decisões sobre o destino das cidades.

Em relação à sociedade ateniense, esta se configurou também de forma

estratificada: cidadãos, metecos e escravos. Os cidadãos eram homens livres, filhos

dos atenienses, podiam ser pequenos agricultores, artesãos e comerciantes; os

metecos eram os estrangeiros e os escravos, a maioria da população. No que diz

respeito à cidadania, Mello e Costa (2001, p.105) salientam que “os estrangeiros, as

mulheres e os escravos estavam privados [...]” do direito de exercê-la.

Na Grécia houve a formação integral do individuo física e intelectualmente.

Nesta sociedade ocorreu a formação do cidadão como ser livre, dotado de

consciência critica, autonomia e participação social, logo se iniciou a idéia de

democracia, ainda que restrita aos cidadãos livres. Os autores Piletti e Piletti (2002,

p. 27) afirmam que um dos legados desta sociedade para o mundo ocidental é

“[...] a idéia de que a educação é a preparação para a cidadania [...]”.

Pode-se perceber uma sociedade na qual em principio o direito a educação,

não era ampliado a todas as classes sociais, porém aos poucos ocorreu sua difusão,

além disso, os estrangeiros, as mulheres e escravos eram privados de exercer o

direito ao voto. Não muito divergente da sociedade grega e sim influenciada pela sua

cultura, Roma assemelha-se em vários aspectos, no que tange as oportunidades

oferecidas às massas.

2.1.2 Roma

No início da República, a sociedade romana compreendia: patrícios, plebeus,

clientes e escravos. Os patrícios eram a nobreza, as primeiras famílias a habitar

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Roma; os plebeus eram pequenos agricultores estrangeiros, comerciantes, pastores

ou artesãos, já os clientes trabalhavam em terras de patrícios pagando-lhes uma

quantia por isso.

Na sociedade romana, a educação das crianças e adolescentes ficava a

cargo das famílias. Num primeiro momento, era a responsabilidade das mães ou

mulheres mais velhas, estas lhes ensinavam o alfabeto e as tradições familiares,

num segundo momento com os pais aprendiam as técnicas militares. Neste sentido,

Manacorda (1996, p.74) traz a reflexão de que:

esta educação no seio da família é freqüentemente exaltada pelos escritores romanos; porém, ao evocá-la, nunca devemos esquecer dois aspectos que as exigências da exposição impedem que sejam destacadas a cada vez: os testemunhos históricos referem-se sempre às classes dominantes, ignorando quase sempre as classes subalternas [...]

Mais uma vez na História da Humanidade, a educação escolar existiu como

privilégio de algumas classes sociais, o que dificultou a difusão das informações

entre os indivíduos, para que pudessem refletir sobre as mesmas e construir

opiniões, acerca do movimento da sociedade.

A influência da cultura grega foi marcante na sociedade romana, visto que

com a evolução da sociedade, a educação das crianças romanas ficou a cargo dos

escravos gregos e depois das escolas que com o tempo foram se difundindo no

território romano, chegando até a serem criadas instituições públicas de ensino.

Estas instituições passaram a receber também o povo, que aprendia gramática e

retórica, fato que de certa forma incomodava os conservadores da época que viam

neste ato a possibilidade de ascensão das classes populares a cargos políticos.

No que tange a exercício de direitos, em Roma todos os homens sem

distinção de classe social adquiriam o direito ao voto. Aqueles que obtinham

cidadania romana desfrutavam de privilégios situação que ocorreu com os plebeus

que aos poucos conquistaram seus direitos e, mais tarde, junto com os patrícios,

formaram a nobreza.

Em virtude de circunstâncias comuns às sociedades como as desigualdades

e injustiças sociais, alguns grupos tiveram que optar por manifestações populares

que culminaram em revoluções com o objetivo de obter seus direitos civis, políticos e

sociais. São as sociedades inglesa, norte-americana e francesa.

19

2.1.3 Inglaterra

A Revolução Inglesa foi o período desde a Revolução Puritana de 1640 a

Gloriosa de 1688. Em decorrência da morte de Elizabeth I, Jaime I, rei da Escócia e

seu primo assumiu o trono inglês, fato que não agradou o povo, visto que ele era a

favor do direito absoluto dos reis, além ser anglicano. O novo rei agravou a situação

ao adotar medidas de monopólio sobre a indústria têxtil, sem o consentimento do

Parlamento.

Com sua morte, Carlos I, seu filho, assumiu o trono e foi levado a assinar a

Petição dos Direitos, que proibia a ação da Coroa sem consultar o parlamento,

entretanto retomou a cobrança de impostos, logo a população insatisfeita fez

instaurou uma guerra civil.

O povo tinha representante: os parlamentares, porém só quem tinha direito ao

voto eram os proprietários de terras e às mulheres este direito era negado. Por

adotarem medidas em oposição ao rei, o parlamento foi invadido e desta vez, o povo

foi convocado para lutar, ainda que não possuísse bens. Em consequência desta

manifestação popular, Carlos I foi decapitado e Oliver Cromwell que estava à frente

do exercito do povo criou um governo republicano.

Devido ao seu óbito, Carlos II, filho do antigo rei retomou a monarquia e

proporcionou a acumulação de capital a seu país, o que seu sucessor Jaime II não

conseguiu, pois assumiu por pouco tempo por não atender aos anseios da

população que se incomodou com os privilégios concedidos aos católicos. Desta

forma, configurou-se a Revolução Gloriosa de 1688, que o tirou do trono sem

violência.

Guilherme de Orange assumiu e logo foram criados o Toleration act (Ato de

Tolerância religiosa) e o Bill of Rights (Declaração de Direitos). O primeiro concedia

liberdade religiosa aos cristãos que não fossem católicos, já o segundo submetia as

decisões do rei à autorização do parlamento, além de adotar medidas de proteção

aos cidadãos.

A partir desta Revolução surgem os chamados “direitos humanos”, pois o

poder é transferido de um Estado absoluto e centralizador para um Estado

“[...] limitado,divisível e resistível.” (MONDAINI, 2008, p.129), logo o povo não ficou

submisso a vontade da realeza e adquiriu direitos de cidadão,após extenso período

de manifestações.

20

No que tange a educação não havia preocupação do Estado com a educação

das camadas populares de forma que a mesma poderia acarretar reivindicações

populares, devido à conscientização pelo acesso a informação. Por isso, havia

poucas escolas nas cidades mais pobres para que a hierarquia social fosse

perpetuada.

Em virtude desta quase inexistente relação do governo com a educação, a

mesma ficava a cargo das ordens religiosas ou era realizada por professores

particulares. Assim, como conteúdos havia a instrução religiosa, o acesso ao

cálculo, leitura e escrita, além de rigorosa disciplina.

Os ideais revolucionários defendidos neste período sinalizaram o que mais

tarde seria chamado de Iluminismo, visto que uma nova forma de pensar a

sociedade e os direitos dos cidadãos se difundia na Inglaterra. Sendo assim,

impulsionados por ideais iluministas, os Estados Unidos e a França manifestaram-se

diante de insatisfações populares em relação a realeza e seu sistema de governo.

2.1.4. Estados Unidos

Perseguidos na Inglaterra por discordarem da Igreja Anglicana, mais de 60%

da população migrou para os Estados Unidos, este país recebeu diferentes ondas

de imigrações, cada grupo com concepções distintas de ordem pública, poder

político e liberdade pessoal. Porém, não somente falantes da língua inglesa

compuseram a sociedade durante a revolução americana, como também holandesa,

alemã e francesa.

O período anterior a Revolução Americana é marcado por conflitos entre

colonos ingleses que estavam na América do Norte com os colonos franceses que

habitavam o que se chama hoje de Canadá. Eles disputavam o comércio de peles e

monopólio da pesca. Este período foi chamado de Guerra dos Sete Anos da qual a

Inglaterra saiu vitoriosa e conquistou o Canadá.

Durante a Guerra, os ingleses se endividaram, pois soldados foram enviados

da metrópole para combater, logo a mesma quis repassar os gastos para as

colônias através de impostos sobre as mercadorias das mesmas. Movidos pelo

pensamento iluminista de liberdade de comércio, crítica a privilégios, dentre outros

pensamentos, os colonos puderam analisar sua condição de submissão a Inglaterra

e iniciaram os protestos.

21

Além disso, os americanos só podiam vender seus produtos a Inglaterra e

comprar somente dela o que necessitassem, sem concorrer com os produtos da

metrópole. Porém, os americanos realizaram um comércio triangular, o que foi

dificultado com a Lei do Selo.

Em virtude disso, em dezembro de 1773, no porto de Boston vestidos de

índios, os colonos lançaram o chá trazido por navios ingleses ao mar, episódio que

ficou conhecido por “a apreensão do Chá de Boston”. Em represália, a metrópole

fechou o porto até que a dívida fosse paga.

Então, as colônias se reuniram no congresso da Filadélfia, Pensilvânia em

1774 e criaram a Declaração dos Direitos dos Colonos que defendia o direito dos

colonos não serem taxados injustamente e permitia o livre comércio colonial. Em

1775 iniciou-se a guerra pela independência.

Em principio, os colonos foram desfavorecidos por não terem um exército

bem preparado, depois a França enviou tropas para ajudá-los em resposta a sua

derrota na Guerra dos Sete Anos. Em 4 de Julho de 1776 foi criada a Declaração da

Independência dos Estados Unidos e em 1783 os ingleses reconheceram a

independência do mesmo pelo Tratado de Versalhes.

A respeito da educação, antes das escolas públicas existirem, só os mais

abastados tinham acesso a uma educação formal, muitos deles eram educados por

tutores ou professores itinerantes. Os jovens homens deveriam estudar direito,

ciências ou teologia em Princeton, Yale, Harvard, Dartmounth ou William e Mary.

Além disso, muitos deles recebiam instrução pelos pais, ministros ou alguém

instruído nas localidades.

A maioria tinha uma educação prática como aprendizes de comerciantes e

artesãos, isso não significa que não aprendiam a ler e escrever, visto que tais

conhecimentos eram importantes em muitos empreendimentos. Já as mulheres

tinham acesso limitado ao conhecimento, a disparidade educacional nas colônias

era notável no que diz respeito à educação de homens e mulheres.

Após a revolução, defendeu-se nos Estados Unidos que os estados deveriam

envolver-se no processo educativo com o intuito de focar na educação republicana,

além de haver esforços no sentido da criação de universidades, por outro lado,

poucos estados responsabilizaram-se pela educação primária.

O estado de Massachussets destacou-se no empenho ao ensino primário,

seus habitantes puritanos, consideravam a educação um ato sagrado para a leitura

22

das escrituras, por isso cada aldeia deveria escolher um dos seus moradores para

ensinar somente os meninos a ler e escrever. Para tanto, foram fundadas escolas

primárias nas aldeias, onde as esposas dos pastores ou as viúvas eram

encarregadas de exercer esta função, dentre os conteúdos estavam a religião e os

valores.

De um lado, para manter a disciplina, visto que se tornava difícil obter a

atenção e interesse dos alunos, recorria-se aos castigos corporais até nas

universidades, por outro, recompensavam-se os bons alunos.

Antes da Revolução já existiam as academias que formavam os estudantes

para o exercício das profissões. Lá, eles aprendiam conforme pontua Giles (1987,

p. 215)

[...] a Escrita, a Aritmética, a Contabilidade, a Geometria, a Astronomia, a Língua Inglesa, a Oratória, a História, a Geografia, a Cronologia, a Moral e a História Natural.

Estudavam também Francês, Espanhol e Alemão, a depender da profissão

que exerceriam no futuro. O Estado manteve-se quase omisso no que tange a

construção das academias, por isso cobravam-se taxas aos alunos, por isso

somente estudantes oriundos da classe média tinham acesso a educação.

Na França país que será melhor comentado no próximo ponto, a educação

teve enfoque burguês, que distinguia os tipos de educação a serem oferecidos, para

cada classe social.

2.1.5 França

A sociedade francesa era dividida em Primeiro Estado, representado pelo

clero; o Segundo Estado pela Nobreza e o Terceiro Estado pela burguesia e

camadas populares. Havia discordâncias entre estas classes sociais no que diz

respeito a privilégios e direitos.

No período que antecede a Revolução Francesa, a maioria da população

residia na zona rural e vivia em condições miseráveis assim como os trabalhadores

das cidades e a burguesia que, descontentes com os altos impostos aos quais eram

submetidos, mantinham os privilégios das classes pertencentes ao ápice da

pirâmide social como o clero e a nobreza.

A França desde o governo do rei Luís XV passava por problemas sociais

crescentes que mobilizaram a população e eclodiu a Revolução Francesa no

23

governo do rei Luís XVI. Desde a coroação de Luís XVI, já ocorriam manifestações

populares, porém a Revolução teve início com a reunião dos Estados Gerais em

1789.

Movidos pelos ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade” burguesia,

camponeses e trabalhadores realizaram invasões e protestos. Vencida esta primeira

etapa da revolução, a burguesia conquistou o que estava entre seus anseios: mais

participação política e liberdade econômica, de maneira que a população ficou

submissa ao poder da burguesia e mais uma vez teve sua participação política

negada.

A partir daí, a escola pública surge como obrigação do Estado e instrumento

de massificação ideológica burguesa. Os princípios da educação propostos pela

burguesia eram a universalidade do ensino, obrigatoriedade, gratuidade e laicidade

este com o intuito de transmitir os ideais burgueses. Com o advento dos meios de

comunicação, a mesma relega a segundo plano a escola e investe nos mesmos

para propagar seus anseios.

Dentre as conseqüências da Revolução Francesa é importante destacar a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e a Constituição de 1971.

Esta declaração de 1789 surgiu para assegurar a igualdade de direitos e deveres

dos cidadãos, com respeito ao próximo ainda que perante a lei.

A Constituição de 1971 complementou o que foi decidido na Declaração de

1789 e assegurava o direito à segurança, ao ensino público gratuito e a

subsistência. Neste último direito ocorreu o abuso do Estado e dos empresários que

ofereciam salários irrisórios aos trabalhadores que tinham que aceitar, pois era lei

sua adesão ao trabalho. Assim, o direito a ter uma forma de prover o sustento da

família era assegurado, porém num tom de imposição, como se para a massa

populacional as oportunidades não precisassem ser de qualidade.

Em relação aos direitos civis e políticos, para a Constituição de 1971 estavam

impedidos de exercer o direito de votar e ser votado as mulheres, empregados, os

que viviam de forma ilegal e os que não pagavam impostos, além dos menores de

25 anos.

Em 1792 com a criação da Constituição Republicana, a população começou a

participar mais da vida política do país, apesar de ainda não contemplar as mulheres

e assalariados neste período.

24

A luz do que foi exposto, cidadania é, sobretudo, participação,

reconhecimento. É a condição de cidadão que é o individuo dotado de consciência

dos seus direitos civis, políticos e sociais assegurados pelas instituições

competentes. Os civis são os direitos individuais a liberdade de expressão, de

deslocamento, de igualdade, segurança; já os políticos referem-se a interesses

individuais que encontram suporte em sindicatos que se tornam direitos de um

grupo, além do dever de votar e ser votado, enquanto os direitos sociais são direitos

voltados para o bem estar social como a educação, saúde, lazer, trabalho entre

outros.

Como já foi explanado, por conta do surgimento de novas necessidades, na

contemporaneidade surgiram direitos das minorias como as mulheres, direitos para

parturientes, consumidores, crianças e adolescentes, além de direitos relacionados à

engenharia genética.

Sendo assim, usufruir dos direitos dos cidadãos é transpor a passividade

existente nas mentalidades acomodadas, questioná-los e exigí-los, do mais simples

que ocorre no cotidiano ao mais complexo. O conhecimento dos mesmos torna o

individuo reflexivo, crítico e atento às necessidades individuais e coletivas. Logo, são

atitudes de respeito ao próximo e exigência de ações que promovam o bem-estar

coletivo, portanto uma das formas de atingir esta conscientização é pela educação

num ambiente que proporcione relações de aprendizagem na cidadania.

A educação na cidadania deve proporcionar ao aluno situações para a

construção do conhecimento num ambiente que o leve a praticar os conteúdos

aprendidos em sala de aula. Esta educação deve fomentar situações nas quais o

educando seja induzido a questionar, refletir, criticar, expor suas opiniões e ser

respeitado por isso. Ele deve desenvolver sua autonomia e criatividade com

atividades que tenham relação com a sua vida e não puramente conhecer os

assuntos.

Para que esta educação aconteça com êxito, é imprescindível a participação

dos pais e da comunidade, para que estes percebam a escola como patrimônio da

comunidade e assim possam exigir das autoridades melhorias para estas

instituições. A todo o momento o estudante poderá aprender a ser cidadão na

prática e na observação das atitudes dos adultos. Nesta educação o cuidado, o

respeito pelo outro e a solidariedade devem ser cultivados.

25

Ao atentarem-se sobre a urgência de uma educação que mantivesse os

sujeitos ativos no meio escolar e na vida, alguns estudiosos da área da educação

desenvolveram Pensamentos Pedagógicos e técnicas a serem utilizadas nas

escolas com o objetivo de tornar o educando, responsável por seu aprimoramento

emocional, psíquico e cognitivo.

2.2 MUDANÇAS SOCIAIS E DE MENTALIDADES E SUAS REPERCUSSÕES NA

ÁREA DA EDUCAÇÃO

Os movimentos revolucionários ocorridos nos três países citados tiveram

repercussões em todo o mundo quanto às idéias que foram difundidas. Com as

conquistas obtidas com as guerras, a sociedade mudou juntamente com seus

anseios, logo o sistema educativo sofreu modificações para atender as demandas

sociais.

Assim, o “Pensamento Pedagógico Tradicional” foi demasiadamente criticado,

e deu lugar a novas formas de se conceber a educação, seus objetivos e seus

métodos. Por conseguinte, novos Pensamentos Pedagógicos ganharam espaço na

concepção de alguns estudiosos da educação, como o Movimento da Escola Nova,

o “Pensamento Pedagógico Antiautoritário” e o “Pensamento Pedagógico Brasileiro”

que tiveram seu desencadeamento, com o surgimento do citado Movimento.

A Escola Nova visava a renovação da educação e valorizava a criatividade do

educando.

Nas escolas “novas”, a espontaneidade, o jogo e o trabalho são elementos educativos sempre presentes, é por isso que depois foram chamadas de ativas.”.( MANACORDA, 1996, p.305)

Assim, a passividade era deixada de lado, permitindo a participação da

criança no processo educativo. A proposta deste Pensamento Pedagógico era de

que a educação deveria fomentar a mudança social. Um de seus pioneiros foi

Adolphe Ferrière que junto com seu Birô Internacional das Escolas Novas criou trinta

itens para que a escola fosse considerada escolanovista. Dentre eles, o educando

deveria ter participação ativa em seu próprio processo de aprendizagem, este

pensamento dá enfoque aos métodos que tornam a aprendizagem mais significativa

para a criança.

O norte-americano John Dewey, difusor destas idéias defendeu que a

educação devia focar-se na ação dos sujeitos e não na mera transmissão de

26

saberes, para ele a escola se confunde com a vida, por isso “o aprender fazendo”,

por ele apoiado era de suma importância.

Maria Montessori foi uma das seguidoras deste movimento e produziu

materiais pedagógicos para ser utilizados pelas crianças desde o mobiliário das

salas de aula que eram correspondentes a faixa etária, além disso, o educador

brasileiro Paulo Freire também defendeu a Escola Nova e afirmava que a educação

pode ser instrumento de dominação ou libertação.

É válido destacar que uma corrente de pensamento que surgiu após a crítica

a educação Tradicional proposta pela Escola Nova foi o “Pensamento Pedagógico

Antiautoritário” que defendia uma educação que priorizasse a liberdade de

expressão e de pensamento dos indivíduos e a não coerção dos mesmos, idéia esta

que ia de encontro à educação Tradicional. Alguns seguidores deste movimento

eram radicais a exemplo de Francisco Ferrer Guardia que propunha que os alunos

soubessem sobre as injustiças sociais para combatê-las através de revoluções.

Já o francês Celéstin Freinet recebeu esta influência e foi responsável pela

criação das técnicas de aulas-passeio, texto- livre imprensa na escola,

correspondência interescolar, que faziam com que os alunos desempenhassem

trabalhos na escola de forma livre.

O “Pensamento Pedagógico Brasileiro” tem como representante o educador

brasileiro Paulo Freire, entre outros pesquisadores e estudiosos da educação

brasileira. Este movimento baseou-se em ideais iluministas trazidos por estudantes e

divide-se em “liberal” e “progressista”.

Estas duas vertentes possuem aspectos em comum, porém dentre suas

particularidades, pode-se perceber que no “Pensamento Pedagógico Liberal” há

uma preocupação com a criança e sua liberdade, já o “Pensamento Pedagógico

Progressista” apoia “[....] o envolvimento da escola na formação de um cidadão

crítico e participante da mudança social.”(GADOTTI,1999, p.238), ou seja, preza

pela formação do cidadão consciente de sua condição e desejoso por transformar a

sociedade, como defende Paulo Freire.

Freire objetivou a conscientização e alfabetização de jovens e adultos das

camadas populares e incentivou a “libertação” desta classe.

Neste movimento surgiram questionamentos acerca da função social da

escola, visto que não havia preocupação com a educação para a massa. Após o

período ditatorial, surgiram defensores da educação popular e da pública que se

27

uniram em defesa da “educação pública popular”, logo deveria haver uma educação

promovida pelo Estado para o povo.

Assim, todos os movimentos abordados tiveram a influência iluminista de

“liberdade, igualdade e fraternidade”, ou seja, da construção de uma escola e

sociedade democráticas e cidadãs, nas quais o respeito ao outro e a liberdade são o

centro das discussões. Todos estes estudiosos em educação visaram à educação

das massas com o intuito de promover uma mudança social.

28

3. ESCOLA POPULAR: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

Estudiosos interessados na educação das classes populares vislumbraram a

possibilidade de ser proporcionada uma educação para o povo, de forma que este

se torne consciente de sua condição de cidadão com direitos e deveres a serem

conhecidos, a partir de sua iniciação ao mundo da escrita e introdução ao

letramento.

Desejosos em transcender o ensino Tradicional que foca seus objetivos nos

conteúdos, ou seja, puramente no professor, dedicaram-se a estudar maneiras de

fazer com que o educando aprenda e que o conhecimento sistematizado oferecido

pela escola tenha algum significado para ele de forma que lhe desperte o interesse.

Desta forma, o estudante torna-se sujeito ativo no processo de ensino

aprendizagem. Por isso, estes autores buscaram suas bases no movimento da

Escola Nova que propunha uma educação para a vida, pois a mesma e escola não

são situações distintas e sim entrelaçadas.

Assim, engajados neste ideal, eles o fizeram com vistas a educação popular

pública. A educação se revela como um veículo de conscientização de pessoas que,

ao trabalharem na escola suas curiosidades, questionamentos e descobertas,

poderão posicionar-se na sociedade como cidadãos, críticos, reflexivos e

autônomos.

Os estudiosos John Dewey, Maria Montessori, Célestin Freinet e Paulo Freire

trazem importantes contribuições para os educadores acerca de uma educação que

priorize a cidadania. Sendo assim, será analisada a história pessoal de cada um

deles e como esta influenciou em suas concepções sobre educação.

3.1 JOHN DEWEY

Pedagogo, filósofo e psicólogo, o norte-americano John Dewey (1859-1952)

nasceu em Burlington,Vermont. Interessou-se por pedagogia ao perceber que a

escola não acompanhava o desenvolvimento da sociedade e da psicologia. Dewey

defendeu também o pensamento de que a escola deve ter mantida pelo Estado e

acessível a todos.

John Dewey, enquanto criança percebeu a falta de interesse dos alunos pelos

métodos e saberes escolares, além de ter chegado à conclusão que fora educado

29

em grande parte fora do ambiente escolar. Sendo assim, criticou a falta de sentido

na aprendizagem escolar.

Alertou sobre os “programas” das escolas que impedem que o aluno aprenda

o que é necessário para a sua vida e enfatizou que se a aprendizagem for

significativa para o aluno, ou seja, tiver relação com seu contexto, ele vai se esforçar

para aprender, o que não acontece nas instituições de ensino Tradicionais que se

baseiam nos conteúdos dos livros que inúmeras vezes se distanciam dos interesses

do educando e este somente memoriza e esquece para as provas. O filósofo

defendeu que se o aprendizado tiver relação com a vida, o estudante irá utilizá-lo em

outras situações.

O psicólogo era seguidor da Escola Ativa e a favor da “escola laboratório” na

qual o a “aprender fazendo” um ofício com um especialista é mais importante do que

o ensino baseado puramente na instrução do professor. A este respeito Giles (1987,

p.260) afirma que

a escola deve ser um laboratório onde a criança dispõe dos materiais e ferramentas necessários para construir, criar, e pesquisar, assumindo papel ativo no processo educacional.

Para este estudioso, a criança poderá ser um cidadão ativo também na

sociedade.

Nesse sentido, pela sua teoria, o professor torna-se um orientador e

estimulador das situações de aprendizagem, função de extrema importância que

defrontará o educando com situações desafiadoras.

Dewey questionou: “como aprender, com efeito, honestidade, bondade,

tolerância, no regime de “lições” marcadas para o dia seguinte? ”(DEWEY, 1967,

p.34), por isso enfatizou a necessidade da prática no cotidiano escolar, sobretudo no

que tange a convivência e ao assegurar que a educação é vida não preparação para

a mesma, retirou todo o caráter propedêutico do ensino.

Para ele, “vida, experiência, aprendizagem – não se podem separar.

Simultaneamente vivemos, experimentamos e aprendemos.” (Dewey, 1967, p.16),

por isso criticou o treino oferecido pelas escolas que nada se relacionam com a vida

do educando e a criança o repete sem ao menos ter incorporado à sua vida.

Este pedagogo afirmou que educação é a própria vida, pois acontece a todo o

momento no meio social com a troca de experiências, reflexão e reestruturação de

idéias, mas salienta ser necessária a educação formal oferecida pelas escolas.

30

Para Dewey, o aprender para a vida se processa quando o aprendizado é

incorporado e provoca no individuo uma mudança de comportamento.

Considerou ainda que a escola tem educado as crianças para que possam

atingir o modelo do adulto, entretanto destaca que o adulto não pode ser o padrão

visto que a aprendizagem acontece até a velhice, ainda que com menos intensidade.

John Dewey salientou que a partir de sua teoria, os indivíduos mais

conscientes poderão observar as experiências vividas pelo grupo na sociedade,

revisá-las e depois modificá-las, para o bem comum, o que constitui a formação de

cidadãos pela escola. Logo, para ele o educando deve aprender o que realmente

utilizará em sua vida, e que esta ocupação tenha a mesma função na sociedade.

Assim como Dewey, a italiana Maria Montessori também sugeriu alterações

nos métodos e fins da educação proporcionada às crianças das classes populares.

3.2 MARIA MONTESSORI

Italiana, Montessori (1870-1952) nasceu em Chiaravalle, estudou medicina,

fato que era incomum para as mulheres de sua época, porém a estudante destacou-

se. Foi Psicóloga, Pedagoga e Antropóloga.

Enquanto psicóloga, realizou trabalhos em Roma com crianças portadoras de

Necessidades Educativas Especiais (NEE) e obteve significativo êxito. Pois, as

crianças que ela atendia em seu consultório quando realizavam exames nas escolas

para indivíduos normais conseguiam até mesmo superar as crianças nestas escolas

públicas o que a fez perceber a crise pela qual passava a escola Tradicional em

relação à metodologia empregada.

Começou a interessar-se por pedagogia e ao receber o convite de uma

construtora para que trabalhasse com crianças das classes populares, aceitou e

estabeleceu algumas normas para a Casa Dei Bambini (Casa das crianças), em

Roma. Os pais deveriam mandar seus filhos de 3 a 7 anos para a escola,

higienizados e deveriam aceitar os métodos da mesma, sem ônus, pois era uma

instituição Pública.

Montessori ao criar esta instituição, desenvolveu atividades voltadas para as

crianças sem NEE, filhos de proletários, preocupando-se em primeiro lugar com o

desenvolvimento de cada criança, por isso em seu método valorizou o pensamento,

a concentração e o raciocínio. Todavia, tentou ensinar padrões de comportamento a

31

crianças consideradas sem educação, ensinou a como vestirem-se, a preparar

alimentos dentre outras situações, o que despertava nestas a autonomia numa

educação para ser utilizada na vida cotidiana.

Ela foi responsável pela criação de vários métodos de aprendizagem de forma

que a criança aprendesse com objetos concretos que fazem parte de sua realidade

como os brinquedos, o “material dourado” e a mobília compatível com seu tamanho.

Com o suporte destes materiais exercitou nelas os sentidos. Outra importante

contribuição da pedagoga para o aprendizado infantil é a arrumação das classes

com as crianças agrupadas com diferentes idades para que ocorram colaboração,

descoberta e aprendizado mútuos.

Estes educandos desde cedo adquirem consciência sobre as situações e já

começam a opinar, são estudantes ativos e responsáveis pelo seu processo de

aprendizagem e pelo processo do outro à medida que dialogam entre si.

“Trata-se de um método totalmente centrado na criança, a ponto de Montessori

considerá-lo como instrumento de libertação da criança como membro da classe dos

oprimidos.” (GILES, 1987 p.257), pois a criança possui papel ativo neste método por

ser estimulada pelas descobertas a pensar e questionar.

Assim, em seu método o professor deve destinar um olhar atento ao

educando para lhe proporcionar situações que possam estimular suas descobertas e

criatividade. Seu método difundiu-se por Roma e pelo mundo, dado o interesse de

estudiosos sobre sua forma de desenvolvimento do trabalho pedagógico.

Então, o respeito à criança e a sua faixa etária foram os objetivos de

Montessori que desejou que em liberdade, estes indivíduos pudessem se

desenvolver e atingir a autonomia, o pedagogo Célestin Freinet comungou com tais

idéias da médica italiana.

3.3 CÉLESTIN FREINET

Francês, Freinet (1896-1966) nasceu em Gars, foi professor primário, porém

em virtude da sua participação na Primeira Guerra Mundial por ter sofrido lesões no

pulmão, buscou técnicas que facilitassem seu trabalho com as crianças.

Percebeu no decurso de sua infância que a criança, não demonstrava

interesse pela escola pelo fato desta não possuir relação com a vida, para ele era

32

como se existissem dois mundos antagônicos, pois as experiências destes

indivíduos antes do ingresso a aula eram desconsideradas.

Célestin baseava suas técnicas na importância dos alunos trabalharem na

escola, pois condenava a educação aplicada de passiva e formal. O professor

criticou esta educação o uso de livros, cartilhas, programas e exames. Para ele, a

forma como estes materiais são utilizados, afastam-se dos interesses da criança,

pois são aplicados para sujeitos de contextos diversos, sem aproximar da realidade

do estudante e simplesmente o padroniza.

Logo, sugere que sejam trabalhados textos livres e desenhos produzidos

pelas crianças que, segundo o educador, lhe despertavam o interesse e que depois

eram escolhidos alguns para preencherem o livro da vida. A partir disso, criou a

imprensa na escola e a correspondência inter-escolar pela qual as escolas trocavam

informações ao mesmo tempo que estimulavam a capacidade criadora, a produção

escrita e a leitura.

Consequentemente, estes textos e o livro da vida eram os materiais didáticos

construídos coletivamente pelos educandos. Neste sentido, o papel do professor

devia ser de criar as situações de trabalho para o aluno e ajudá-lo a obter êxito e

estimulá-lo.

Além das técnicas mencionadas, ele empregou a aula passeio, o fichário

escolar, e o plano de trabalho, desta forma assegurava que o interesse da criança

seria despertado, visto que a escola se assemelharia a sua vida e trabalharia

ativamente. Todos estes esforços de Freinet eram focados na educação popular.

Assim como este Francês, o educador brasileiro Paulo Freire também

vislumbrou a possibilidade de haver a educação das camadas populares de forma

que estes sujeitos tivessem papel ativo no processo de ensino aprendizagem.

3.4 PAULO FREIRE

O educador brasileiro Paulo Régis Neves Freire (1921-1997), nasceu em

Recife, Pernambuco. Cursou Direito, porém seguiu carreira docente. Obteve

experiências em sala de aula e, em 1947 teve contato com a educação de jovens e

adultos, a partir daí começou a refletir a cerca da educação das camadas populares

trabalhadoras.

33

Este educador pensou a educação popular como uma forma de tornar os

cidadãos mais críticos e conscientes, por isso afirma que a educação é um ato

político. Freire (1980, p.21) “[...] preocupado com o problema do analfabetismo,

dirigiu-se sempre as massas que se supunham “fora da história.” A serviço da

liberdade, sempre dirigiu-se as massas mais oprimidas,confiando em sua liberdade,

em seu poder de criação e de crítica.”,por isso se dedicou a causa popular.

Freire era contra a “educação bancária” que considera os educandos como

sujeitos sem nenhum tipo de conhecimento e o professor é o centro do aprendizado

transferindo o saber ao estudante.

Ele acreditava que através da educação os sujeitos podem ser libertos da

opressão e refletir acerca de sua condição de dominado, por isso a leitura de mundo

precede a leitura da palavra e, desta forma, alfabetizava os sujeitos usando suas

técnicas, dentre estas o diálogo. Para ele, “quanto mais conscientizados nos

tornamos, mais capacitados estamos para ser anunciadores e denunciadores,

graças ao compromisso de transformação que assumimos.” (FREIRE, 1980, p.28)

para ele, pela conscientização é possível mostrar ao oprimido sua condição e

estimulá-lo a perceber a relação dominante X dominado para haver sua libertação e

mudança social.

Criou métodos de alfabetização de adultos que consistia em utilizar palavras

geradoras que faziam parte do contexto, da vida dos educandos principalmente no

campo profissional. As palavras eram separadas por sílabas e eram apresentadas

as famílias das mesmas com diferentes vogais, posteriormente os alunos criavam

novas palavras das sílabas já aprendidas oralmente.

Responsável pela criação dos Círculos de Leitura, extremamente importantes

no processo de conscientização pela reflexão crítica, os professores previamente

capacitados mostravam fotos e, a partir delas provocavam o estudante com

questionamentos que fomentavam reflexões e discussões.

Assim, estes educadores almejaram transcender a passividade existente nas

escolas e com suas idéias e métodos e objetivaram que as crianças tivessem maior

participação, reconhecimento, conhecimento e liberdade na escola, de forma que o

aprendizado fosse construído por estímulo a criatividade, descobertas, reflexões,

indagações, com situações presentes no cotidiano destes cidadãos, o que

despertava nos estudantes o gosto pelo conhecimento. Estes pensamentos

estiveram pautados no desejo de educar as massas para a democracia.

34

Estas idéias, apesar de defendidas em outros contextos sociais, fazem-se

presentes nas atuais inquietações sobre a educação escolar. Assim, as mesmas

compõem o projeto “Fazer Ponte” da Escola da Ponte em Portugal que educa as

crianças, numa esfera de atitudes cidadãs.

A crítica aos “programas” defendido por Dewey e o “aprender fazendo”; o

estímulo ao desenvolvimento do individuo com trabalhos individuais e em grupo com

crianças de diferentes idades proposto por Montessori; as técnicas Freinet de

imprensa na escola, aula- passeio, texto livre, o plano de trabalho e o desejo de

educar as camadas populares no sentido de libertá-las, defendido por Freire compõe

o projeto desta instituição.

35

4. ESCOLA DA PONTE: EXEMPLO DE EDUCAÇÃO CIDADÃ

A Escola Básica Integrada Aves São Tomé de Negrelos, a Escola da Ponte

existe numa comunidade humilde em Vila das Aves, no concelho de Santo Tirso,

distrito do Porto, Portugal e promove a educação de crianças e adolescentes de 6

aos 15 anos. Trata-se de uma instituição de ensino público cujo projeto denominado

“Fazer a Ponte” foi idealizado por um grupo de educadores e coordenado pelo

professor José Pacheco em 1976. Nesta instituição de ensino:

O papel do professor é o de fomentador de curiosidades, de orientador na resolução de problemas. O professor é alguém que ajuda a resolver problemas, que estimula as crianças, que confia nas suas potencialidades. O professor não se impõe pelo seu estatuto, assume tarefas de estímulo e organização. (PACHECO, 2001, p.75)

O professor ou orientador educativo como é denominado assume o papel de

orientador das situações de aprendizagem e o discente é estimulado a adquirir

autonomia diante de suas escolhas, situações estas que vão refletir em sua vida

pessoal. A instituição escolar, enquanto ambiente de “adestramento cognitivo” dá

lugar a um ambiente de amizade, solidariedade, respeito e pesquisa.

Neste ambiente, toda a comunidade escolar assume a responsabilidade sobre

a educação destes indivíduos, o que é definido pelo regulamento escolar.

Há uma critica aos “programas” a serem seguidos pelas instituições

escolares, de modo que nesta escola eles não são seguidos. Estes alunos estudam

os assuntos que lhes despertam o interesse, sempre mediados pelo professor, além

disso, a cidadania é ensinada e exercitada a todo o momento.

Ocorre o respeito aos diferentes tempos de aprendizagem, por isso acolhe

crianças com histórico de violência, problemas emocionais ou portadoras de

Necessidades Educativas Especiais (NEE). Na concepção do projeto educativo da

escola, todas as crianças possuem singularidades a serem trabalhadas, onde criam

um ambiente de companheirismo e ajuda mútua.

Não há seriação, aulas, nem separação por idades e sim são criados grupos

de estudos divididos em: iniciação, consolidação e aprofundamento.

O currículo da escola baseia-se no currículo nacional e visa atingir

competências, para tanto são desenvolvidos projetos que visam às dimensões

artística, lógico-matemática, identitária, naturalista e linguística.

36

4.1 CONTEXTOS DE CRIAÇÃO DO PROJETO “FAZER A PONTE”

O ano de criação do projeto Fazer a Ponte foi marcado por golpes populares

na sociedade portuguesa em consequência da Revolução dos Cravos em 1974.

O período que antecedeu a criação do projeto especificamente o dia 25 de

Abril de 1974 ou Revolução dos Cravos foi marcado por uma adesão popular a

manifestação dos militares contra o governo ditatorial que perdurou por mais de 40

anos. Jovens, operários, intelectuais e militares realizaram manifestações antes da

eclosão da revolução.

Desejosos por liberdade de expressão, fim das guerras coloniais, pois estas

exigiam altos valores dos cofres públicos e envio de jovens soldados que morriam

em combate; os portugueses desejavam então o retorno destes e fim da ditadura.

Unidos aos militares, os manifestantes tiraram do governo Marcelo Caetano e

quem assumiu foi António Spínola. O nome Revolta dos Cravos é devido à

distribuição desta espécie de flor entre os vitoriosos.

Com a vitória da população, muitos portugueses colonos regressaram a

Portugal, entretanto outros continuaram em terras africanas. A partir daí, o aumento

populacional se deu de forma significativa, principalmente em Lisboa e Porto.

Neste clima revolucionário, os intelectuais começaram por formular idéias

para revolucionar a área da educação pública que segundo Antunes (1994, p.13)

ocorria uma “[...] assustadora degradação do sistema de ensino a todos os níveis.”

E ainda segundo o citado autor a mesma deveria servir para o desenvolvimento e

avanços sociais e ter relação com a vida, fato que não ocorria.

Estes precedentes contribuíram para este novo projeto de concepção da

educação, pois dadas as revoltas e insatisfações com o ensino oferecido, a

sociedade estaria preparada para o novo.

Foi um momento propício pós-revolução a implantação de uma educação na

cidadania, pois os estudantes que viram na manifestação popular a participação

política através da evidência do descontentamento que obteve resultados positivos e

consequentemente a conquista do desejado direito civil, a liberdade, dentre outros.

Inseridos neste contexto social, um grupo de professores decidiu ser

necessária à mudança, pois trabalhavam isolados em salas de aula seriadas e

separadas como afirma seu idealizador José Pacheco (2002, p.97):

Em 1976, a Escola da Ponte era um arquipélago de solidões. Os professores remetiam-se para o isolamento físico e psicológico,

37

em espaços e tempos justapostos. O trabalho escolar era exclusivamente centrado no professor, informado por manuais iguais para todos, repetição de lições, passividade. Entregues a si próprios, encerrados no refúgio da sua sala, a sós com seus alunos, seu método, seus manuais, sua falsa competência multidisciplinar...

Os alunos da Escola tinham aulas baseadas nos métodos Tradicionais com o

uso de manuais e explicações do professor, o que Alves (2002) compara com linhas

de montagem que padronizam os produtos.

Além de deficiências no método, havia carências na infraestrutura da escola.

A mesma existia num contexto de abandono e necessitava de pintura, mobiliário

novo e reformas, porém não havia envolvimento dos pais e da comunidade, o que

tornou urgente estabelecer este diálogo para obtenção de uma relação de ensino-

aprendizagem coesa e exitosa. Neste contexto, configurou-se o projeto Fazer a

Ponte que objetivou “fazer a ponte” entre os pais e a escola que ao constatar a

urgência de um novo espaço escolar:

Começaram por reivindicar a construção de um novo edifício escolar, pois, há mais de vinte anos, a escola situava-se junto de uma lixeira e não dispunha de instalações sanitárias condignas. A associação de pais é hoje um parceiro indispensável. Garante o funcionamento da cantina, a realização de actividades de férias para as crianças, a aquisição de equipamentos essenciais ao desenvolvimento do projecto. Mas é, sobretudo, um interlocutor sempre disponível. (PACHECO, 2001, p.80)

Devido a esta conquista, os pais e toda a comunidade escolar são

responsáveis pelo processo educativo, que com o projeto Fazer a Ponte anseia a

educação na solidariedade, participação e autonomia.

4.1.1 O projeto na prática

O projeto em questão está pautado na pesquisa, não há aulas diretas, somente

quando solicitadas, pois os estudantes tiram dúvidas entre si, caso não encontrem

as respostas recorrem à aula do professor. É um método centrado na criança e no

estímulo ao desenvolvimento de suas potencialidades.

Nesta escola, não há divisão por séries ou disciplinas, o que ocorre é a

divisão em grupos de estudo, ou seja, ao ingressar a Ponte a criança é inserida na

iniciação para aprender a ler e escrever, o que é importante destacar é que não são

38

sílabas isoladas que aprendem e sim, palavras e frases. Quando já adquirem certa

autonomia passam para a consolidação e logo após para o aprofundamento.

No início do ano letivo são formados grupos de três alunos que deve ser

heterogêneo de forma que ocorra ajuda mútua, juntam-se alunos com dificuldades

com os que estão mais adiantados. Todo o trabalho na escola é realizado com a

supervisão e orientação do educador, sem imposição e sempre com acordos e

direcionamentos. Para tanto, foram criados o que na mesma chamam de

dispositivos, que são as técnicas utilizadas para obtenção da aprendizagem e

desenvolvimento pessoal dos alunos.

A cada dia, o discente prepara seu plano individual que deve estar pautado no

que for decidido anteriormente no plano quinzenal, com o professor. Para que as

metas sejam alcançadas, as pesquisas devem acontecer em grupos que são

formados por afinidades. Ao final do dia deve ser realizada uma auto-avaliação a

partir do que foi elaborado no plano do dia. Passados quinze dias, novos temas

serão definidos em grupos para serem estudados.

Em relação à avaliação, o “eu já sei, preciso de ajuda, posso ajudar em” que

ficam afixados num mural compõem o processo que os conduz a mesma, que

somente é realizada quando se sentem preparados e desejam socializar suas

descobertas. O aluno para ser avaliado, expõe no “eu já sei” que já atingiu seus

objetivos e pode passar para os mais complexos. Porém, se ainda não conseguiu

compreender o assunto deve buscar ajuda no “preciso de ajuda” e se conhece o

conteúdo para ajudar o colega “posso ajudar em”.

Com o intuito de manter a organização da escola, ocorre à divisão de tarefas

escolares entre os alunos, em relação ao encaminhamento das atividades e

manutenção de um ambiente escolar harmônico, são os grupos de

responsabilidades.

Reconhecidamente cidadãos pelo regimento escolar e também pela

declaração dos direitos e deveres dos alunos, criada pelos mesmos, nela há direitos

de participação, de voto, de escolha, de ter uma escola com condições dignas,

dentre outros. Entre os deveres estão: o de respeitar regras, respeitar o outro,

cumprir com as obrigações, ser responsável consigo e com o outro, ser educado,

frequentar a escola, dentre outros.

Num ambiente de relações cidadãs, os educandos possuem direitos e

deveres criados em conjunto que devem ser cumpridos para que ocorra a integração

39

e harmonia na escola. Neste sentido, há também os “Direitos Inalienáveis do Leitor”,

dentre os mesmos estão: “O direito de não ler; o direito de saltar páginas; o direito

de não acabar um livro; o direito de reler; o direito de ler não importa o quê; o direito

de amar os heróis dos romances; o direito de ler não importa onde; o direito de

saltar de livro em livro; o direito de ler em voz alta; o direito de não falar do que se

leu.” Estes direitos fortalecem o gosto pela leitura vista como algo livre para o lazer e

não como uma obrigação.

Ainda para o fortalecimento das atitudes cidadãs, há a comissão de ajuda,

composta por estudantes escolhidos pelos professores e alunos, a qual é

responsável pela caixinha dos segredos, “acho bom” e “acho mau” que são opiniões

que os estudantes emitem sobre o que desejam na escola. Os dois últimos

acontecem com o uso dos computadores.

A caixinha dos segredos foi criada diante da observação atenta dos docentes

acerca do suicídio infantil. Em virtude dos altos índices de suicídio, os professores

atentaram-se ao comportamento dos alunos e de forma a evitar situações como

esta, foi criada a “caixinha dos segredos” na qual os estudantes depositam frases

carinhosas aos docentes, desabafos e solicitação de conselhos. Configurou-se daí o

professor tutor, que acompanha o desenvolvimento dos alunos, fato do qual é

possível perceber que é um projeto sempre em construção a partir das

necessidades que surgem.

Nos computadores é produzido o jornal da escola, uma versão moderna da

imprensa escolar proposta por Freinet é o jornal “Dia a dia” que é on line e com

publicação mensal. Nele, os estudantes divulgam passeios realizados, eventos

sociais e esportivos e até mesmo atividades individuais e em grupos. É possível

perceber o alcance do projeto de cunho social que apresenta na prática o que foi

registrado em seu projeto educativo.

Há as assembléias nas quais diversos assuntos são discutidos entre alunos,

pais, professores, funcionários e visitantes. Para estas reuniões, a comunidade

escolar recebe por e-mail, além de ser afixada no mural da escola, a convocatória

que informa a pauta do encontro e a data. Finalizada a reunião, é divulgada a ata da

mesma pela internet. Assim, os educandos podem se sentir responsáveis por si e

pelo outro, ao serem responsáveis pelo funcionamento da instituição na exposição

de opiniões para a tomada de decisões em prol do grupo.

40

A cidadania esteve presente desde a união dos pais com a escola que

reivindicaram melhor estrutura escolar para seus filhos às relações interpessoais. A

tutoria realizada pelos professores é uma ação que merece atenção, haja vista que

os mesmos acompanham desde o emocional a aprendizagem dos alunos sobre os

quais se responsabilizam. A depender do número de matriculados, é limitada a

quantidade de estudantes para cada professor, estes estabelecem uma troca de

informações com os encarregados de educação que são os pais ou responsáveis e

vice-versa.

Este projeto elucida ao aluno que o mesmo não está sozinho no mundo e que

ao estabelecer amizade ocorre a troca de saberes e melhor desenvolvimento

pessoal e cognitivo.

4.2 ANÁLISE DO PROJETO EDUCATIVO FAZER A PONTE NA PERSPECTIVA DA

CIDADANIA

Este projeto é simples e objetivo, sendo assim há maior probabilidade de

aplicação, por abordar idéias possíveis de serem concretizadas.

Desta forma, o mesmo enfatiza a importância da colaboração dos pais,

professores, alunos e funcionários para que as metas sejam alcançadas, logo há a

associação de pais que estão sempre comprometidos com as necessidades da

instituição, além disso, os mesmos têm consciência acerca do projeto educativo que

escolhem para seus filhos.

O mesmo preza a solidariedade, autonomia, criatividade, participação entre

todos os envolvidos e explica que isso se deve a necessidade da formação de

cidadãos comprometidos consigo e com o coletivo.

Ressalta a autonomia do estudante de sentir-se preparado para ser avaliado

e solicitar de seu professor no dispositivo “Eu já sei” ou pedir a seus colegas no

“preciso de ajuda” ou “posso ajudar em”.

Outra importante contribuição é que há o respeito pelas singularidades do

aluno, principalmente no que tange ao aprendizado. Ressalta que cada ser humano

tem suas singularidades, que são acompanhadas por professores tutores que

percebem avanços e dificuldades dos discentes sob sua responsabilidade.

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Defende, assim como Dewey, que a educação se dá por experiência e

ressignificação além de tecer críticas à prática tradicional do ensino de disciplinas

estanques e valorizar a educação escolar e a informal.

Afirma que os alunos devem participar das decisões no interior da escola para

seu bom funcionamento, estas opiniões são manifestadas em reuniões de

assembléias.

Portanto é um projeto que direciona seus objetivos na pessoa humana e

consequentemente no estudante. Aprender a relacionar-se consigo e com o outro na

sociedade é a principal finalidade desta educação, que concentra seus esforços na

formação de sujeitos ativos na escola e na sociedade.

42

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecimento de direitos e deveres, participação, conquista, reconhecimento

e respeito ao outro, são atitudes cidadãs que ao longo da história humana foram

construídos e reconstruídos, algumas vezes para uma minoria interessada na

manutenção e obtenção de poder e riqueza, outras para o bem comum. O século

XXI é o momento no qual a sociedade solicita de forma urgente que estes direitos

sejam exigidos e aplicados para o bem comum, em especial para o bem estar das

crianças.

A história da cidadania enfatiza que quando conscientes de sua condição de

submissão e de sua capacidade de luta, os povos reivindicaram seus direitos e

obtiveram sucesso. Uma das repercussões desta história que envolveu revoluções

foi a mudança de mentalidades que atingiu o sistema de ensino, consequentemente

métodos foram criados para exercitar nas crianças e adolescentes a autonomia,

reflexão e criatividade, na busca pela superação da passividade disseminada pelo

método tradicional, que não se relacionava com o cotidiano destas.

Se o trabalho for iniciado na escola, local onde os estudantes passam a maior

parte de seu dia, torna-se possível sua aplicação além dos muros da instituição.

Desta forma, um cidadão consciente, pode exigir seus direitos individuais e coletivos

dos mais simples aos mais complexos, além disso, deve responder por suas

obrigações, enquanto sujeito integrante de um grupo.

Diferentemente das escolas comuns que preparam o discente para a

cidadania, a Escola da Ponte educa na cidadania, para o hoje que é algo tão

urgente. O educar na cidadania é também para a cidadania, no presente e no futuro.

Na Ponte, a participação de todos na elaboração, aplicação e execução de direitos e

deveres, fortalecem estas relações, que se encontram enfraquecidas na

contemporaneidade.

Como Célestin Freinet (1996, p.9) afirma sobre a escola do futuro que:

a escola de amanhã será centrada na criança enquanto membro da comunidade. De suas necessidades essenciais, em função das necessidades da sociedade a que pertence, é que discorrerão as técnicas manuais e intelectuais a dominar, a matéria a ensinar, o sistema de aquisição, as modalidades da educação.

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Assim, os idealizadores deste projeto perceberam as urgências da sociedade

portuguesa, pesquisaram e encontraram em Dewey, Montessori, Freinet e Freire

algumas respostas para suas inquietações.

O medo de errar imobiliza as ações humanas, mas se a educação é vida

como defende Dewey, também enfrentará erros e acertos sempre no sentido de

acertar na esperança da construção de uma sociedade mais humana e justa.

44

REFERÊNCIAS

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45

JORNAL DIA-A-DIA: Escola da Ponte. Disponível em: <http://jornal-dia-a-dia.blogspot.com/>. Acesso em: 17/03/2011. MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Tradução de Gaetano Lo Monaco. 5ª ed. - São Paulo : Cortez, 1996. MATTA, Alfredo Eurico Rodriguez. A Educação e a ascensão da burguesia na Bahia. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade. Salvador: UNEB. v. 14, nº 24, jul./dez. 2005. MATOS, José Pedro da Costa. Educar para a cidadania. Maio 2001 MELLO, Leonel Itaussu A.; COSTA, Luís César Amad. História Antiga e Medieval: Da comunidade primitiva ao Estado Moderno. 4ª ed. 4ª impressão Scipione, 2001. MONDAINI, Marco. Revolução Inglesa: o respeito aos direitos dos indivíduos. PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 4. ed. 2ª reimpressão São Paulo: Contexto, 2008. PACHECO, José. Uma escola sem muros. In: CANÁRIO, Rui; MATOS, Filomena; TRINDADE, Rui (Orgs.). Escola da Ponte: Defender a escola pública, 2001. __________Escola dos sonhos existe há 25 anos em Portugal. IN: ALVES, Rubem. A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. 4ed. Campinas: Papirus, 2002. __________. Para os filhos dos filhos dos nossos filhos. Campinas: Papirus, 2006. PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. São Paulo: Ática, 2002. PINSKY, Jaime. Cidadania e educação. 9.ed. 1ª reimpressão São Paulo: Contexto 2008. _____________; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 4 ed. 2ª reimpressão São Paulo: Contexto, 2008. Projeto Educativo da Escola da Ponte. Disponível em: <http://www.escola daponte.com.pt/documen/concursos/projecto.pdf>. Acesso em: 09 mar 2011. SILVA, Taís Oliveira de Amorim da. Por uma ‘escola do olhar’: a concepção de educação na escola básica de são tomé de negrelos – a escola da ponte. Disponível em: <http://www.unisuam.edu.br/semioses/pdf/rev_semioses_ed5_Art_10.pdf>. Acesso em: 27 mar 2011. VIEIRA, Liszt. Marshall e os direitos de cidadania. In: Cidadania e globalização. Disponível em: <www.eneb2004.kit.net/.../O%20que%20é%20cidadania.doc> Acesso em 26 fev 2011. VOLO, Dorothy Denneen; VOLO, James M. Daily life during the American Revolution. Westport, Conn: Greenwood Press, 2003.

46

ANEXOS

ANEXO A- PORTÃO DE ENTRADA DA

ESCOLA DA PONTE, NAQUELE

INSTANTE PUDE PERCEBER QUE A

INSTITUIÇÃO ERA BEM SIMPLES,

AUTORIA DA PESQUISADORA.

ANEXO B- PÁTIO DE ENTRADA DA

ESCOLA, ESTE MURO TRANSMITE A

SENSAÇÃO DE INSERÇÃO NUM

AMBIENTE PARA CRIANÇAS,

AUTORIA DA PESQUISADORA.

ANEXO C- ESPAÇO DE LAZER,

AUTORIA DA PESQUISADORA.

ANEXO D- ENTRADA DE ACESSO A

ESCOLA, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO E- MURAL AFIXADO NA ENTRADA DO

PRÉDIO NA PAREDE INTERNA, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

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ANEXO F- SALA DA ESCOLA, BEM

ILUMINADA E AREJADA, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO G- SALA DA ESCOLA, SEMPRE

PREPARADAS PARA A REALIZAÇÃO DOS

TRABALHOS EM GRUPOS, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO H- SALA DE INFORMÁTICA E

PESQUISA, AUTORIA DA PESQUISADORA. ANEXO I- SALA DA ESCOLA, AUTORIA

DA PESQUISADORA.

ANEXO J- SALA DA ESCOLA, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO L- SALA DA ESCOLA, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

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ANEXO M- SALA DE PESQUISAS CIENTÍFICAS

DA ESCOLA, AUTORIA DA PESQUISADORA ANEXO N- DIMENSÃO ARTÍSTICA E SUAS

COMPETÊNCIAS, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO O- ORGANIZAÇÃO DOS MATERIAIS

DE USO COLETIVO FEITO PELOS GRUPOS

DE RESPONSABILIDADES, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO P- ORGANIZAÇÃO DOS MATERIAIS

DE USO COLETIVO FEITO PELOS GRUPOS

DE RESPONSABILIDADES, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO Q- ORGANIZAÇÃO DOS MATERIAIS

DE USO COLETIVO FEITO PELOS GRUPOS

DE RESPONSABILIDADES, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO R- CRAVOS

CONFECCIONADOS PELOS

ALUNOS EM MEMÓRIA AO DIA DA

REVOLTA DOS CRAVOS, AUTORIA

DA PESQUISADORA.

49

ANEXO S- MURAL COM ATIVIDADES DE

ENRIQUECIMENTO CURRICULAR DIVIDIDAS

POR GRUPOS, AUTORIA DA PESQUISADORA.

ANEXO T- ATIVIDADES DO MURAL DE

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO

CURRICULAR AMPLIADAS, AUTORIA DA

PESQUISADORA.

ANEXO U- SITUAÇÃO QUE ELUCIDA A

AUTONOMIA DOS EDUCANDOS E

RESPONSABILIDADES COM O OUTRO,

AUTORIA DA PESQUISADORA.

50

ANEXO V- CONVOCATÓRIA DA REUNIÃO DA ASSEMBLÉIA REALIZADA DIA 18 DE

FEVEREIRO DE 2011, RECEBIDA VIA E MAIL.

Convocatória nº 12

Convocam-se todos os elementos da comunidade educativa para

estarem presentes na Assembleia de escola do ano letivo 2010/11,

a qual se realizará no dia 18 de Fevereiro, pelas 15:00h, na Junta de

Freguesia, com a seguinte ordem de trabalhos:

- Leitura e aprovação da ata nº11;

-Apresentação e aprovação do plano de ação Eco-Escolas

-Pedaço de Mim:

-Texto sobre Universo, em Inglês – Miguel Evaristo;

-Apresentação do projeto do Ministério da Educação “Para uma

Escola Melhor”;

-Tempo para professores, alunos, funcionários, pais e visitas.

Vila das Aves, 15 de Fevereiro de 2011

(Inês Gomes Tavares)

51

ANEXO W- ATA DA REUNIÃO DA ASSEMBLÉIA DO DIA 18 DE FEVEREIRO DE 2011,

RECEBIDA VIA E- MAIL.

No dia 28 de Fevereiro de 2011, pelas 14:00 horas, na Junta de Freguesia de Vila das

Aves, realizou-se a décima segunda Assembleia de Escola do ano lectivo 2010/2011, com a

seguinte ordem de trabalhos:

-Leitura e aprovação da ata nº11;

-Aprovação do plano de ação;

-Pedaço de mim:

-Power point sobre galáxias: Miguel Evaristo;

-Projecto:”Para uma escola melhor”;

-Tempo para professores, alunos, funcionários, pais e visitas.

A Inês deu a palavra ao André, que começou por ler a ata nº11, que foi aprovada por

maioria com 7 abstenções. De seguida passámos ao próximo assunto: aprovação do plano de

acção. A Sarai começou por explicar que na tutória falámos sobre o plano de ação, explicou a

forma de votação e passámos à aprovação. As propostas aprovadas foram as seguintes:

Propostas da água:

Participar no “projecto ENEAS”.

Elaborar campanhas contra a poluição dos rios.

Colocar torneiras económicas na escola /colocar redutores nas torneiras para poupar

água.

Fazer atividades experimentais com a água.

Fazer o registo diário (através dos contadores) do consumo de água na escola e

implementar medidas de poupança de água.

Colocar garrafas de água dentro dos autoclismos da escola.

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Visitas:

Visitar uma nascente.

Visitar uma ETAR/ETA.

Visitar o pavilhão da água.

Propostas da energia:

Reunir um grupo de alunos que fique responsável por verificar os gastos

desnecessários de energia (desligar as luzes nos espaços vazios, desligar os computadores

quando não estão a ser utilizados…).

Pesquisar sobre os diferentes tipos de lâmpadas e trocar todas as lâmpadas

incandescentes por lâmpadas economizadoras.

Construir carros solares a partir de materiais reutilizáveis.

Visitas:

Visitar um parque eólico.

Visitar uma fábrica de aerogeradores.

Visitar uma barragem hidroeléctrica.

Propostas dos resíduos:

Ajudar os 5’rs na separação do lixo.

Separar corretamente o lixo dentro da escola.

Visitas:

Visitar um ecocentro.

Visitar a LIPOR e percorrer o “circuito da reciclagem” “círculo de valorização orgânica

” e a “Horta da Formiga”.

Propostas da floresta:

Pesquisar sobre a importância das florestas e algumas medidas significativas para a

sua preservação.

Visitas:

Fazer uma caminhada pela floresta, observando-a e valorizando todas as suas

potencialidades.

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Ouvir a experiência de um guarda-florestal, convidando-o a vir à escola ou fazendo

uma visita.

Criar pequenos grupos para fazer a limpeza a uma mata/floresta da região.

Seguidamente passámos ao seguinte assunto: Pedaço de mim.

O Miguel chamou o Miguel Evaristo para apresentar um power point sobre o

Universo, os alunos comentaram e passámos ao próximo assunto: Projecto “Para uma escola

melhor”. Neste assunto o Sérgio e o Frederico falaram um pouco sobre o projecto,

apresentaram um power point sobre o mesmo e responderam algumas questões dos

colegas.

Depois passámos para o tempo para professores, alunos, funcionários, pais e visitas.

O Júlio perguntou se alguém queria falar sobre alguma coisa da sua semana ou partilhar

algo. Alguns alunos partilharam e, logo de seguida, a Inês encerrou a Assembleia.

Vila das Aves, 21 de Fevereiro de 2011

A Presidente da Mesa da Assembleia:

________________________________________________________________

(Inês Gomes Tavares)

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ANEXO X- JORNAL DA ESCOLA DA PONTE, RECEBIDO VIA E-MAIL.

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ANEXO Y- PLANO QUINZENAL, OBTIDO NA ESCOLA DA PONTE.

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ANEXO Z- HINO DA ESCOLA DA PONTE, OBTIDO VIA INTERNET.

Aprender a Estudar

(Hino da Escola da Ponte)

Estudar não é só ler nos livros que há nas escolas,

É também aprender a ser livre e sem ideias tolas.

Ler um livro é muito importante e, às vezes urgente,

Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente.

É preciso aprender a escrever, mas também a crescer, mas também a sonhar.

É preciso aprender a viver, aprender a estudar.

Estar na Escola da Ponte é estudar,

Estar contente consigo é estudar,

Aprender com os outros, aprender consigo,

E ter um amigo também é estudar.

Estudar também é repartir, também é saber dar

O que a gente souber dividir, para multiplicar.

Estudar é escrever um ditado, sem ninguém nos ditar.

E, se um erro nos for apontado, é sabê-lo emendar.

É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar,

Pois, na escola da vida, primeiro, está saber estudar.