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EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI O que um futuro profissional deve apreender hoje para o sucesso no terceiro milênio Constantino Comninos Professor de Economia Política. Mestre em Educação – Gestão de Ensino Superior. Especialista em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial. Especialista em Técnicas de Planejamento para o Desenvolvimento. Cônsul Honorário da Grécia em Curitiba ( PR – SC – RS ). Sumário Resumo Explicações necessárias – questionamentos e decálogo A Técnica Delphi Forecasting Histórico da Técnica Delfos de fatos portadores de futuro e novas abordagens Dos resultados da pesquisa, questionamentos e posições assumidas Conclusões Fontes Bibliográficas Resumo Este artigo trata de apresentar os temas que devem ser apreendidos hoje, diante das condicionantes futuras que o mundo irá exigir de cada profissional. Sugere aplicar novos conhecimentos para o sucesso profissional. “A maior virtude do mundo não é te tornares livre. É lutar impiedosa e tenazmente em prol da liberdade.”

EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XX

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Este artigo trata de apresentar os temas que devem ser apreendidos hoje, diante das condicionantes futuras que o mundo irá exigir de cada profissional. Sugere aplicar novos conhecimentos para o sucesso profissional.

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EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI

O que um futuro profissional deve apreender hoje para o sucesso no terceiro milênio

Constantino Comninos

Professor de Economia Política. Mestre em Educação – Gestão de Ensino Superior. Especialista em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial. Especialista em Técnicas de Planejamento para o Desenvolvimento. Cônsul Honorário da Grécia em Curitiba ( PR – SC – RS ).

Sumário

ResumoExplicações necessárias – questionamentos e decálogoA Técnica Delphi ForecastingHistórico da Técnica Delfos de fatos portadores de futuro e novas abordagensDos resultados da pesquisa, questionamentos e posições assumidasConclusõesFontes Bibliográficas

Resumo

Este artigo trata de apresentar os temas que devem ser apreendidos hoje, diante das condicionantes futuras que o mundo irá exigir de cada profissional. Sugere aplicar novos conhecimentos para o sucesso profissional.

“A maior virtude do mundo não é te tornares livre. É lutar impiedosa e tenazmente em prol da liberdade.”

Odisséia – fragmentos [XV, 1171-1172]in Nikos Kazantsákis, escritor grego.

“Os países emergentes precisam de uma revolução pela

educação. Os países desenvolvidos, de uma revolução na educação.”

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Gerhard Schroeder,ex Primeiro-Ministro Alemão

Explicações necessárias – questionamentos e decálogo

“Não há nada como um sonho para criar o futuro.”

Victor Hugo

Tive contato com a matéria, objeto deste texto, faz alguns anos, na

qualidade de participante em reunião de professores constituída por

especialistas de várias áreas do saber, que apreciou e discutiu as primeiras

propostas do Planejamento Estratégico de certa entidade educacional de

nível superior. Tratava-se de um grupo interdisciplinar. Um dos professores

de minha equipe de trabalho apresentou-nos para apreciação, cópia xérox

com três questionamentos utilizados por uma pesquisa, cujas respostas

permitiram a construção de um decálogo. Chamou a atenção o título do

decálogo, deveras sugestivo, pela ordem, conforme segue:

Questionamentos da pesquisa

01. O que os estudantes necessitarão saber?

02. Quais comportamentos e habilidades são importantes?

03. Como os educadores, pais, cidadãos, empresas e governos

poderiam contribuir para o sucesso dos estudantes?

Decálogo - Proposta para o sucesso no século XXI

01. Habilidades holísticas e interdisciplinares.

02. Habilidade para utilizar computadores e outras tecnologias.

03. Habilidade no relacionamento inter-pessoal.

04. Habilidade e comportamento: autodisciplina.

05. Habilidade na resolução de conflitos e negociação.

06. Respeitar a diversidade: os não semelhantes.

07. Conhecimento de geografia: línguas.

08. Exemplo de integridade e honestidade.

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09. Entusiasmo com a vida: metas de aprendizado permanente.

10. Ser modelo de comportamento ético.

O decálogo resumia informação editada pela internet, resultado de

pesquisa realizada pela Associação Americana de Administradores Escolares

dos Estados Unidos da América – AASA – (1998), produto de entrevistas com

55 eminentes especialistas na área da educação, negócios, governo,

psicologia, sociologia, antropologia, demografia, chefes de família, estes,

nem todos com formação universitária. A pesquisa em pauta inquiria sobre o

futuro dos jovens frente aos desafios que provavelmente enfrentariam no

século XXI.

Interessei-me pelo tema e tratei de ampliar o decálogo, avaliando as

informações da pesquisa pelo website. Procurei aprofundar as informações

da pesquisa, para entender melhor estes resultados e preparar algumas

palestras sobre o tema. Na medida em que o assunto era debatido com as

minhas turmas dos Cursos de Direito e Arquitetura & Urbanismo e em outros

cursos da casa de ensino superior onde eu exercia o magistério, os

questionamentos, posso dizer até fulminantes da parte dos alunos, foram

enriquecendo as minhas anotações. Na medida em que novos pontos de

vista amadureciam as idéias, convidado, pronunciei palestras sobre o tema

em outras unidades universitárias do Estado do Paraná. O resultado da

pesquisa foi discutido, com ênfase ao caso brasileiro, conquanto, com a

devida redução sociológica que a realidade educacional brasileira exige,

fundamentada em estatísticas educacionais e medidas tomadas pelo

governo com respeito ao ensino, via leitura específica editada pela imprensa.

A idéia era divulgar, diria melhor, fazer conhecer o resultado da

pesquisa, na minha percepção inicial, válida para qualquer país, vinculado-a

ao mundo da “globalização”, modismo este, que vem sendo intensamente

“imposto” no cotidiano de todos os segmentos societários da humanidade.

Também, procurei, na medida do possível, conhecer melhor alguns

“futurólogos” que, em sua maioria, pude notar, vislumbravam dias sombrios

para a humanidade. Na literatura disponível que tratava de prospecções

futuras, encontrei pontos de vista contraditórios. A cada leitura de novos

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textos, passei a absorver, novas informações e conhecimentos que atiçavam

minha curiosidade. Cito alguns: (Weiner, 1991), (Naisbit, 1994, 1997),

(Arrighi, 1996), (Toffler, 1991), (Sen, 1999, 2001), (Friedman, 2005), (Teixeira

da Silva, 2004), (Faure, 1972), (Fukuyama, 2000), (Judt, 2008), (Sachs,

2005), (Stewart, 1998), (Nonaka & Takeuchi, 1997), (Senge, 2004), (Barbeiro,

2006), (Langoni, 1996), (Almeida, 2002), (Frieden, 2008), (Estulin, 2006),

(Kennedy, 19983), (Ohmae, 1991, 1996, 1998), (Thurow, 1993, 19970),

(Schaff, 1990), (Kourganoff, 1990), (Weber, 1989), (Casper & von Humboldt,

1997), (Giannotti, 1986), (Carboncini, 1987), (Minogue, 1981).

Deste interesse nasceu o artigo que coloco à avaliação e critica dos

leitores interessados.

Da técnica Delphi Forecasting

“A questão não é se possuímos inteligência, mas se somos versados na reflexão do gênero mais amplo e mais profundo.”

AllanBloom

“O homem não é a criação das circunstâncias. As circunstâncias é que são a criação dos homens.”

Allan Bloom

Como metodologia, a pesquisa aplicou a Técnica Delfos, conhecida

como “Delphi Forecasting” – que sugere o Oráculo de Delfos, resumindo, um

“exercício de futurição”. Trata-se de: (a) prever fatos portadores de futuro,

constituídos por (b) eventos verificados em períodos anteriores, utilizando

(c) rodadas com especialistas - perguntas X respostas -, aliadas a (d)

comentários livres sobre uma determinada temática, utilizando (e) baterias

de questionamentos visando um objetivo pré-determinado.

Explicitando melhor a técnica: é um exercício tipo “jogo”. Explico.

Imagina-se certa situação (um determinado cenário ou tantos mais outros

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que possam ajudar na tarefa, interligados a certa hipótese inicial). Escolhem-

se os participantes (atores), procurando sugerir nova postura diante de um

fato que se deseja conhecer, algo concreto retirado do inusitado. Admite-se a

utilização de eventos, ligados à hipótese formulada e que se deseja provar.

Podem ser utilizados quantos eventos forem necessários. A técnica pretende

estabelecer uma linha de conduta futura a partir de uma situação presente,

baseada em tendências históricas e eventos vivenciados pelos atores no

passado. Uma bateria de perguntas é destinada aos atores que não podem

ter conhecimento de quais outros participam da pesquisa, não devendo

haver contato entre eles em hipótese alguma. As respostas dos atores

(versus eventos), permite ao analista, avaliar os resultados parciais e, em

fase posterior, os resultados finais da pesquisa. A bateria de perguntas

reformulada a cada round é encaminhada aos atores quantas vezes o

analista entender que deva ser aplicada. A cada retorno, o analista

acrescenta novos questionamentos, dando conhecimento aos atores, da

apuração dos resultados, transformados em estatísticas globais das

respostas anteriores, sem identificar os participantes. Admite-se até três

tentativas como suficientes para a constituição dos cenários que podem ser

classificados como ruim, bom, ótimo. Na medida em que os rounds se

sucedem, os atores vão sendo eliminados da pesquisa, conforme o

conhecimento do assunto demonstrado da parte de cada ator em relação à

hipótese investigada. Em caso de insegurança nos resultados, admite-se até

mais duas tentativas. Com o resultado final atingido, o analista poderá reunir

os atores (todos ou em parte) frente a frente para um debate sobre a

matéria, quando, alguns aspectos da pesquisa poderão esclarecer as dúvidas

deixadas nos resultados finais obtidos.

Tive a oportunidade de conhecer esta técnica há alguns anos. (1) Em

1967 na Harvard University, Boston, Mas, USA, participando de seminário

que apresentou resultados de algumas pesquisas realizadas em várias áreas

do conhecimento, tais como, educação, transporte, agricultura, atendimento

social, políticas públicas. Uma segunda experiência ocorreu em (2) 1979,

quando participei de Seminário Interdisciplinar no Departamento de Relações

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Internacionais da Califórnia University Los Angeles – UCLA. Na ocasião,

integrava uma equipe de 12 outros especialistas de várias nações hispano-

americanas. Tive a oportunidade de avaliar os resultados do Relatório

Orientador solicitado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos

aquele departamento, sobre a problemática do Canal do Panamá, que foi

elaborado com base em cenários prospectivos da metodologia Delphi. Este

relatório orientou o Governo Americano quando da passagem do Canal do

Panamá ao Governo deste país. (3) Em 1982, no Rio de Janeiro, surgiu a

terceira oportunidade. Integrando um grupo de 18 profissionais de nível

superior de variadas profissões, estive envolvida diretamente em um estudo

cuja hipótese estava ligada a uma futura crise institucional política no Brasil.

Integravam o grupo outros 17 assessores que agiam como observadores e

orientadores. Oportunidade única, pois, a equipe contava com militares de

patente superior, e pessoal civil ligado a vários órgãos públicos que atuavam

no planejamento governamental. Este grupo, utilizando em parte a

metodologia Delphi, enfocou a realidade brasileira em amplo espectro, com

vistas à adoção de estratégias internacionais decisórias envolvendo temas

sobre aspectos sociais, políticos, econômicos, demográficos e institucionais.

Ressalto que desta feita, o método tradicional Delfos sofreu adaptações, tais

como: (1) os questionários foram substituídos por formulários; (2) novo

roteiro foi elaborado para dar unidade nos questionamentos e melhor avaliar

as respostas das entrevistas individuais com os participantes escolhidos; (3)

cada participante expunha, em contatos ou em reuniões sucessivas, a sua

opinião sobre a matéria; o analista avaliava cada ponto e classificava as

respostas conforme roteiro pré-estabelecido. O mais importante desta fase

era saber identificar qual a melhor opção a ser adotada, pois, na medida em

que a pesquisa avançava, o número de cenários aumentava, gerando

dificuldade na escolha dos mais pertinentes. O resultado de cada entrevista

passava a compor matrizes de entradas e saídas (in put-out put). No fundo,

o objetivo maior da pesquisa foi traçar os rumos futuros que poderiam ser

seguidos pelos órgãos públicos assim como pelo setor privado da economia,

frente à crise energética mundial (1987).

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O fato mais importante que levou a instituição a pesquisar a hipótese

formulada: o boom do petróleo de 1973 (aumento de US$ 2,50 o barril para

US$ 14,00) seguido de outro em 1979 (aumento para US$ 35,00), que,

mesmo com certo atraso, levou o Brasil a iniciar ex-abrupto, melhor, a toque

de caixa, o Programa do Álcool.

No ano de 1982, ficamos sabendo que universidades brasileiras de São

Paulo e Rio de Janeiro priorizavam estudos ligados a matriz energética

brasileira, com vistas a encontrar algumas soluções frente aos múltiplos

cenários mundiais que pudessem envolver o Brasil, evitando o atraso em seu

crescimento (Pereira, 1984). Metodologia utilizada: Técnica Delfos.

Com estas experiências, posso garantir que os resultados atingidos,

provaram que a técnica “delphi forecasting” é eficiente, pois oferece opções

para a tomada de decisões com perspectivas de curto, médio e longo prazo.

Saliento que o resultado de qualquer investigação científica que utilize a

metodologia Delphi, depende de cada realidade pesquisada. Cabe ao

analista propor as intervenções a realizar e em qual tempo. Em suma, os

resultados obtidos são baseados nas respostas dos atores interligadas aos

eventos de cada caso pesquisado. O grande desafio do analista está em seu

discernimento para perceber o que pretende. Em suma, ter certeza quase

absoluta dos resultados, o que implica, em um pré-conhecimento da

realidade que deseja abordar.

Avaliar resultados nas fronteiras do inusitado, depende dos saberes de

cada especialista, cuja ótica de observação determinará, pelos

conhecimentos e prática adquiridos, quais medidas poderão ser tomadas

para intervir nas realidades em crise.

Depoimentos sobre a importância da análise prospectiva:

Segundo H. T. Malvar, “o objetivo maior da prospectiva, quaisquer que sejam as técnicas adotadas, é transformar a incerteza total do tomador de decisões, quanto ao futuro, em incerteza parcial”. “

Bell & Juvenel sugerem que, “a prospectiva não pretende predizer o futuro, mas projetar diferentes futuros alternativos, relacionando

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possíveis decisões e eventos com futuros efeitos. Há de se conviver com a noção paradoxal de que as possibilidades de futuros são várias, mas o futuro será um só.”

Considerando estas experiências, acreditei nos resultados da pesquisa

realizada pela AASA, citada no primeiro item deste texto. E passei a divulgar

o decálogo.

Histórico da Técnica Delfos de fatos portadores de futuro e novas abordagens

Um breve histórico sobre o surgimento da técnica.

(1) Olaf Helmer e N. Dolkey, consultores da Rand Corporation, Santa

Mônica, Califórnia, observando o declínio da empresa após a Segunda

Grande Guerra Mundial (1945), com a diminuição das encomendas pelas

Forças Armadas dos Estados Unidos, adotaram uma estratégia de

conhecimento da realidade futura, criando esta técnica, que os levou a

prever o comportamento do mercado e salvar a companhia de um desastre

econômico.

(2) No final dos anos sessenta, o Governo Francês, diante de

informações de suas embaixadas, divulgadas pela imprensa local e mundial,

que publicava os deslocamentos constantes de “atores-chave” entre pontos

estratégicos envolvendo a cúpula dos países Árabes (OPEP – Organização dos

Produtores de Petróleo), liderados pelo Ministro da Energia da Arábia Saudita,

Sheik Yamani, chegou à conclusão de que uma crise energética se

aproximava. O Governo da França encomendou pesquisa de âmbito mundial

utilizando a técnica Delphi Forecasting, que chegou a conclusão de que no

início dos anos 1970, haveria uma crise no setor. A pesquisa trouxe

informações precisas sobre o problema. E a França partiu para a construção

de plantas energéticas nucleares em regiões estratégicas do país, superando

a crise dos anos 1970 sem maiores traumas.

Após algumas análises, tomo a liberdade de apresentar algumas

reflexões sobre a pesquisa da AASA, com outro desenho, comentando alguns

pontos que considero relevantes para a situação brasileira, na tentativa de

justificar este artigo.

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A preocupação com o tema tem duas vertentes. A primeira é que

sempre apreciei a Técnica Delphi, haja vista, a sua utilização em alguns

estudos que tive a oportunidade de participar. A segunda é que sempre

desejei aplicá-la a algum tema universitário. Notadamente na área da gestão

universitária, ou mesmo na educação sob o ponto de vista global, que tenha

relação com as preocupações educacionais que venho vivenciando com

intensidade nas funções de docência e concomitantemente na administração

do ensino superior nos últimos 4 decênios de minha vida acadêmica.

No caso da proposta acima citada, o tempo histórico é de grande

magnitude, pois se trata do século XXI. É evidente que a educação como

processo e não como momento, não pode ser medida dentro de uma camisa

de força, mas, deve oferecer rumos para a obtenção de resultados

satisfatórios. Especificamente, no resultado da pesquisa em análise,

saliento, está em jogo o papel do futuro profissional, independentemente dos

status que venha a ocupar.

Explico. Primeiro, entre tantas preocupações e que poderia ser motivo

de pesquisa utilizando a Técnica Delphi, sugiro a abordagem da seguinte

hipótese: qual caminho irá tomar o ensino superior da Região Sul brasileira

com epicentro no Estado do Paraná nos próximos 50 anos, frente a crises

sociais e econômicas, diante de um processo sucessório político linear e em

confronto com um mundo que se moderniza nas fronteiras da globalização

da economia onde as exigências em informação e conhecimento estão sendo

colocadas a prova? É título surrealista? Pode até que seja. Entretanto,

pergunto: quem saberá dar respostas claras para onde vamos ao campo da

educação, e principalmente no da educação integral, a Paidéia dos gregos

antigos, na minha percepção, esta, tão necessária nos dias da atualidade?

Que cenário educacional nos espera nos próximos anos para um país

dicotômico regionalmente em termos econômicos e sociais, convivendo com

a unidade na diversidade? Qual o futuro do MERCOSUL, sem que haja uma

pedagogia da integração que permita aos envolvidos, países e pessoas,

saber efetivamente do que se trata?

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Segundo. Por força de função acadêmico-administrativa, estive

envolvido com Projeto Pedagógico de certa instituição de nível superior no

Estado do Paraná, que iniciou sua implantação no início do decênio em curso,

ousadamente (por iniciativa e decisão suprema de membro da cúpula

universitária), em todos os cursos da entidade e produto de discussões

polêmicas em reuniões com os grupos orientadores do citado projeto. A

temática fundamental deste projeto me obrigou a rever alguma literatura,

notadamente a dos anos que prelecionei no Curso de Pedagogia – Habilitação

Administração Escolar -, as Disciplinas de Economia da Educação e Políticas

Educacionais nesta universidade. Saliento que o Projeto Pedagógico foi

alocado ao Plano Estratégico da instituição. Motivo: ambos foram

considerados como um integrado ao outro. De um lado, creio, estava

correto. De outro, na prática, houve um desacerto entre as duas áreas

responsáveis pela implantação tanto de um deles como do outro. O que

segue é tão somente a minha opinião, com base em minha humilde

percepção do fato em si. (1) quem está ligado somente à gestão

universitária, perde a ótica da sala de aula; (2) o Projeto Pedagógico tratava

de estabelecer metas de ensino, mais destinado à interdisciplinaridade,

acarretando custos maiores e contratação de novos professores como massa

crítica indispensável ao sucesso do projeto. (3) Os setores envolvidos

diretamente no Plano Estratégico, criava camisas de força em contenção de

despesas, que impediu à implantação de inúmeros pontos cruciais a

sobrevivência do Projeto Pedagógico. Creio que esta dicotomia deve perdurar

por algum tempo, De outro lado, cabe aos analistas do Plano Estratégico,

reconhecer o não acerto das metas por eles propostas, uma vez, que dois de

seus cenários, não tiveram a consistência adequada para o pleno sucesso

deste plano. Reunidos os dois contendores, Projeto versus Plano, foi proposta

a idéia de rever o Plano. De outro lado, os responsáveis pelo Projeto, não

abriam mão de seus princípios, e ambos caminham por estradas não

convergentes. Quero crer que o Plano está assegurando o controle dos

gastos. E o Projeto segue sendo executado via reuniões, seminários, oficinas

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de trabalho, e continua a não contar com a plenitude dos recursos humanos

e materiais necessários para atingir os objetivos propostos.

Poderia até arrolar inúmeras sugestões para cobrir determinadas

lacunas referentes a críticas que possam estar sendo admitidas de minha

parte, entretanto, é terreno assaz pantanoso para quem não aceita certas

medidas pedagógicas que vem sendo implantadas no sistema educacional

em vigência. É provável que minha percepção tenha furos, face a não ser um

especialista na área. Minha experiência de magistério me conduziu a não ser

pedagogo, mas educador. Defendo práticas fundamentadas em conteúdo e

não apenas em simples informações. O conteúdo ensina e forma. A

informação nem sempre forma. Pelo que vejo, há mais desinformação. E

quem não usa o conteúdo como ponto básico da educação, não tem

condições de oferecer o melhor ensino.

Terceiro. Ainda persiste meu interesse pela educação em análise

macro, mesmo que minha formação não seja diretamente ligada a essa área

do saber. Entretanto, a experiência no magistério me fez ver a educação

como força orientadora na formação da nacionalidade. E ai vai à questão: o

que se faz em sala de aula, uma vez que este espaço não é lugar só para o

ensino – formativo por excelência e não apenas informativo -, mas para a

prática da pedagogia do ensino? Este é um ponto ligado a um conceito que

tem mais de dois mil anos. Foi desenvolvida na pedagogia da antiga Grécia,

e que é título de obra clássica com o nome de “Paidéia – a formação do

homem grega” (Yaeger, 1933). Como foi aludido linhas atrás, os gregos

praticavam a Paidéia como educação integral, priorizando a formação política

do cidadão da polis – a cidade-estado.

Quarto. Na convivência acadêmica e em rodas sociais, venho

observando comportamentos e ouço com certo saudosismo, termos como

civismo, ética, bons costumes. As circunstâncias nos fazem ver que uma

espécie de sinistrose crônica paira no ar, como se um desejo insano tenha

tomado conta de alguns segmentos grupais, desejosos, a qualquer custo, de

retornar às antigas tradições. Explico: os meios de comunicação de massa

estão degradando, a cada dia que passa, com os antigos princípios, passando

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a divulgar informações, até em uma linguagem absurdamente sem nexo e

que está sendo utilizada pela juventude. Infelizmente, alguns setores destes

grupos, não acreditam na força das mudanças que só a educação pode

promover. São resistentes às transformações sociais avançadas. Segmentos

sociais estes que se escandalizam com facilidade com o que vêem e ouvem

por estarem ainda vivenciando épocas passadas que bem mereceriam da

parte destes, pelo menos, revisão de conceitos, por menores que sejam. As

gerações de hoje passaram a entender estes mesmos valores com enfoques

e atitudes distintas. Entretanto, enquanto alguns desejam ver o “circo pega

fogo”, pergunto: o que estes grupos tradicionalistas vem fazendo quanto ao

futuro dos nossos jovens, boa parte deles quando não abandonados,

entregues a orientação de escolas que não sabem a que vieram e para onde

devem ir?

Quinto ponto. Defendo a prática da utilização de técnicas prospectivas

de futuros, tais como a Delphi Forecasting. Cada nova medida de porte a ser

tomada na administração acadêmica, nos dias de hoje, criar cenários é

condição sine qua non para o sucesso da implantação que objetiva melhorar

o sistema.

É responsabilidade de todos nós, educadores, operadores da

“pedagogia do ensino”, orientar os nossos estudantes para o que lhes

reserva o futuro, já que o século XXI não é mais coisa do passado, mas é o

presente, e que com certeza, acrescentará mais modernidade ao moderno

mundo onde todos nós vivenciamos e temos um papel a cumprir.

Pergunto, como desafio. Por que não se realiza pesquisa similar

utilizando a metodologia Delfos, em nível municipal, estadual ou em âmbito

nacional do Brasil, para conferir o Decálogo proposto pela AASA?

Dos resultados da pesquisa, questionamentos e posições assumidas

“A universidade livre existe apenas da democracia liberal, e as democracias liberais, existem apenas, onde há universidades livres.”

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Allan Bloom

Allan Bloom há mais de um decênio (1987), lançou um livro, com

abordagem crítica a educação superior e que se praticava nos países ricos,

com ênfase aos Estados Unidos. A obra intitulada “A decadência da cultura

ocidental” tem como subtítulo uma chamada ao descaso que as sociedades

em geral – inclusive as ricas -, estão tratando a educação. E garanto que a

culpa deste descalabro, não é prerrogativa somente dos governos. Diz o

subtítulo da obra de Bloom: “ensaios sobre o declínio da cultura geral de

como a educação superior vem defraudando a democracia e empobrecendo

os espíritos dos estudantes de hoje”. A tradução publicada em Portugal dá à

obra um subtítulo ousado: “a cultura inculta” (1987). Este livro mexeu com a

educação nos países ricos, envolvendo professores, administradores

escolares, políticos. Nos Estados Unidos, o Semanário The Educational

Bureau, dedicou por meses, nos anos 1987 e 1989, em suas edições,

páginas e mais páginas, alertando as autoridades educacionais do país,

estados, distritos e municípios, sobre a carência do ensino no qual o país se

encontrava. Os debates chegaram ao Congresso Nacional Americano e aos

Congressos Estaduais. O impacto do livro de Bloom extravasou as fronteiras

do país e fez o mesmo efeito mundialmente como o de Faure, intitulado

“Aprender a ser”, publicado pela UNESCO nos idos dos anos 1960. Reli esta

obra, e aliando seus principais conceitos à “cultura inculta” de Bloom,

procurei traçar minha análise nos resultados da pesquisa, produto dos

questionamentos e do decálogo citados no intróito deste artigo.

Como a pesquisa teve como participantes pais, educadores, escolas,

sociedade civil e governos, quanto a contribuição de cada um para o

conhecimento, aptidões e habilidades necessárias aos jovens, objetivando o

sucesso profissional do futuro cidadão no século XXI, entendi as razões de

ser e o escopo tanto de Faure (1972) como de Bloom (1987).

Os resultados da pesquisa surpreenderam alguns observadores e

deram razão a outros. Aqueles que se surpreenderam, creio, estão fora da

realidade. Os que já vinham se preocupando com o tema, acariciaram seu

ego. Pergunto: o que estamos nós, educadores, a fazer por esta causa em

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nosso cotidiano e em nosso meio ambiente interno e, porque não, no

ambiente externo as nossas atividades?

Apresento meus comentários seguindo a ordem dos resultados da

pesquisa, conforme o decálogo.

O princípio básico da modernidade está na visão holística do universo.

Holos em grego representa o todo. O conhecimento “virou a mesa” e se

tornou interdisciplinar. Não existe mais especialista na especialidade. O

especialista deve se preocupar também, pelo menos em parte, com a

generalidade, evitando o enclausuramento dentro de seu próprio meio

ambiente interno. Por outro lado, não deve ignorar o meio ambiente externo,

frente à mundialização da economia e a uma nova arquitetura da geopolítica

mundial. Os espaços regionais vão sendo definidos em blocos de países, com

um novo ordenamento jurídico de caráter comunitário que se implanta em

várias áreas geográficas do planeta. É ai que o mundo gira em nome da

holicidade.

Um dos itens sugerido pelos especialistas é leitura, necessária a

qualquer grupo social. Saber escrever e se comunicar com compreensão

abrangente, é tarefa individual, mas, é obrigação da escola ensinar a teoria

da língua e a prática de sua aplicação. É função primordial da escola, não

interessando em que nível de ensino esta tarefa se faça. Já ouvi de inúmeros

colegas ao longo dos anos, na convivência do cotidiano, que a culpa do

inadequado emprego da língua está no primeiro e segundo graus. Pergunto:

quem prepara os professores para o primeiro e segundo graus senão as

escolas preparatórias, ou seja, desde os primórdios do Primeiro Reinado, os

institutos de educação - antiga Escola Normal - e a universidade? A leitura

aprimora a palavra e escrita, e a escrita é o meio de comunicação mais

contundente que existe. É a prova cabal de qualquer exame que venha

garantir o direito de acesso a qualquer atividade nas mais óbvias

circunstâncias.

Conhecer matemática. Vivemos em um país sem tradição

matemática. Não pretendo entrar no mérito da questão, mas, a grande

maioria de nossos alunos abomina esta matéria. Motivo: má orientação

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didática de um conhecimento fundamental para o desenvolvimento lógico da

mente. E este fato já se dava desde a Reforma Capanema (1942), se dá

desde os primeiros anos do ensino de primeiro grau (Lei 5692-1969). Ora, a

matemática é o sustentáculo do raciocínio filosófico. E a filosofia permite

nortear a vida com racionalidade marcando a prática dos princípios éticos de

todas as sociedades. Aliando este fato a invenção da democracia pelos

gregos antigos, conquanto este regime político ter sido exercitado na Grécia

antiga com certa demagogia, justificando-se esta prática como a garantia da

prevalência da ordem democrática, assim mesmo, foi possível governar as

cidades-estado da velha héllade, com dignidade e tirocínio, graças ao

raciocínio lógico de seus pensadores. Entretanto uma coisa ficou clara na

vida dos gregos antigos: o ordenamento das idéias, que prevaleceu na

formação dos regimes políticos, nas formas de governo, na ordem econômica

e no primado do direito quanto à aplicação da justiça, esta com base nos

princípios éticos que norteavam os destinos das polis da época. Na minha

percepção, creio, que a nova geração, deveria participar ativamente,

engajando-se politicamente nos partidos, disputando eleições, participando

de comitês de candidatos probos, lendo, organizando seminários sobre a

situação política nacional e internacional, analisando e discutindo textos

políticos de autores consagrados, e daí afora.

Os jovens devem saber interpretar estatísticas, dados e todos os

tipos de informação. Nos dias de hoje o mundo está plugado em rede,

resultado de uma infra-estrutura informatizada que nem sempre espelha a

verdade quando informa. A verdade científica é fundamental quando se faz

presente no conhecimento honesto. Saber usar computadores é um ponto

que destaca o homem da sociedade moderna, entretanto, tendo

conhecimentos para saber depurar “o joio do trigo”. Em linguagem chã: na

sociedade em rede - internet - entra lixo, sai lixo.

O conhecimento das questões governamentais é condição sine

qua non para o exercício da cidadania. Venho perguntando aos meus alunos

e ao público de minhas palestras quem leu a Constituição do país, pelo

menos a última de 1988, e a resposta é sempre a mesma: quase ninguém

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sabe do que se trata. Deveres e direitos dos cidadãos são praticados por

ouvir dizer e não por conhecimento da causa. Só as lê quando tem algo a

reivindicar. De preferência os direitos. Os deveres...

Conhecer a história e as quantas anda o governo é obrigação do

cidadão, mas também da escola como indutora na formação da cidadania.

Uma democracia depende de seu exercício, senão, ela perece, dá lugar a

formas totalitárias e opressivas de governo. Democracia não é democratite.

Democracia é liberdade em todos os sentidos que o termo e o conceito

encerram, contudo, exercitada com vigilância.

A história do mundo não é interesse tão somente de especialistas. Na

era da globalização, a história e a geografia são instrumentos de

vanguarda do mundo atual. Muitos tratados diplomáticos foram bem

sucedidos por aqueles que os firmaram pelo conhecimento destas duas

ciências. Assim como o conhecimento de línguas estrangeiras. Estes

dois pontos estão interligados. São interdependentes. Condição de

sobrevivência para aqueles que desejam ocupar posições de destaque na

sociedade global. Este ítem arquiteta a aptidão mais positiva de sucesso nos

dias atuais. É tema contemporâneo da mais alta significação social e global.

Comunicação escrita e oral é postura para vencer as vicissitudes

dos mercados, cada vez mais competitivos. Trata da linguagem bem

aplicada, da palavra bem empregada. Garante o trabalho intelectual de

quem se dedica a gestão de todos os tipos de negócios. É gerador de

empregos nobres. Na medida em que a comunicação é realizada com

clareza, há sempre um mercado a conquistar. É onde as idéias se destacam

por aqueles que apreenderam o domínio da comunicação.

Conhecer, para saber criar, é preciso, pois, para utilizar a

racionalidade dedutiva e indutiva como instrumento de precisão lógica, os

jovens devem aprender a pensar por associação e via de conseqüência,

saber avaliar as realidades via leituras, as mais diversificadas. É preciso

ousar para criar. Mudanças de postura são necessárias. É preciso lançar o

olhar para um novo horizonte. Acrescento à pesquisa a necessidade de

saber comparar. Comparar no tempo e no espaço. Retorno aos gregos:

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sincronia – sinchronos - refere-se ao tempo, diacronia – dichronos -, ao

espaço (La Palombara, 1974).

“Aprender a ser”, ou melhor, aprender a autodisciplina que leva a

responsabilidade dos atos praticados e a aplicação de princípios éticos

avaliando comportamentos pessoais e objetivos a atingir. Repito: os meios

de comunicação vêm bombardeando a juventude com exemplos não

recomendáveis à formação da cidadania. País onde a disciplina é parte de

seu ideário tem atingido níveis altos de desenvolvimento. Lembro que a

disciplina intelectual é aliada a disciplina corporal. Desde Platão, que pregava

o conhecimento da matemática, os exercícios físicos e a dança como

elementos formadores do futuro cidadão, creio, devem ser exercitados nos

dias atuais pelos jovens. O Japão é exemplo de como as artes marciais e

certos tipos de esporte individual e coletivo, são parte de um sistema

educativo que dá significado à formação de pessoas concentradas na arte da

techné, oferecendo melhores condições para a criatividade. Resumindo: o

ideário samurai – disciplina mental e corporal -, ainda está presente na

cultura japonesa.

O cidadão deve saber se adaptar e ser flexível diante das mudanças

que se verificam ao seu derredor, encorajando as iniciativas com

criatividade. Estes pontos auxiliam no exercício do trabalho quando da

participação com outras pessoas ao compor uma equipe. Saber fazer parte

de um time é essencial para a utilização do conhecimento. Construir uma

equipe é tarefa assaz desafiadora. Em uma palavra: não ser individualista,

ser cooperativo.

Respeitar os valores dos outros dividindo as contribuições da

equipe, já que, em grupo, a produtividade aumenta. Ligar este respeito ao

entusiasmo em aprendizado permanente. Ninguém sai da escola

entendendo e sabendo tudo. A escola ensina os caminhos básicos. Informa

alguns conhecimentos. O aprendizado na época atual depende de estudos

pós-graduados em nível de especialização, mestrado, doutorado, quando as

necessidades assim o exigirem. Não é, necessariamente, condição exclusiva

para a formação de pessoal destinado ao magistério de nível superior. Estas

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necessidades hoje fazem parte das novas exigências ligadas a livre iniciativa.

Empresas modernas pesquisam novos processos de produção e novos

produtos, associadas ou não as universidades. Evidentemente, se em

parceria com os saberes universitários, o conhecimento e a informação

permutadas engrandecem o desenvolvimento da ciência e da tecnologia da

nação.

O entendimento da multiculturalidade, diversidade esta, típica dos

países jovens, devido à presença de grupos étnicos dos rincões mais

distantes do mundo, é fator decisivo no entendimento da ordem

internacional da sociedade global. Representa um aprendizado para a

resolução de conflitos de caráter interno como externo. Neste ponto a

educação é elemento chave, assim como, saber gerenciar estas

divergências, é elemento de alta significação da vida em comunidade.

Ser honesto e íntegro, assim como entender e respeitar os não

semelhantes, é fator legitimado pela grandeza de espírito de qualquer

cidadão. Vale dizer não impor modelos, por mais que estes tenham sido

provados com sucesso em circunstâncias as mais diversas em outros países.

Nunca esquecer que cada realidade é uma realidade. E que cada realidade

deve ser observada em sua própria perspectiva. E modelos sociológicos não

são unânimes de aplicação em qualquer realidade sem as devidas

adaptações a cada novo meio.

Conclusões

“Quando um estudante chega à universidade, encontra uma desnorteante variedade de departamentos e uma desnorteante variedade de cursos. E não (encontra) orientação oficial alguma, nenhum acordo a nível de universidade sobre o ele devia estudar.”

Allan Bloom

Quando este texto estava sendo apresentado na forma de palestras, as

discussões com meus alunos sobre a citação acima, levava a controvérsias.

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Alunos brasileiros não conseguem avaliar o que significa matrícula por

créditos, utilizadas nas universidades americanas com grande sucesso. No

Brasil, sempre fomos adeptos da anualidade, mesmo que em algumas

instituições de nível superior tenham implantado a semestralidade, “quase”

obrigatória desde a Reforma Passarinho (Lei 5540-1968). Os americanos

adotam majoritariamente a trimestralidade. Esta modalidade inflaciona as

disciplinas propedêuticas, a maioria obrigatórias, e as de formação

profissional, com um leque desnorteante de temas, levando o formando a um

certo grau de especialização específico.

Na minha experiência - diria limitada face ao conhecimento de

especialistas estrangeiros consagrados, mais citados pela área da pedagogia

-, a ausência de uma massa crítica numerosa no meio brasileiro, quando a

implantação das Leis 5540 – Ensino Superior -, e a 5692 – Ensinos de Primeiro

e Segundo Graus -, impediu o sucesso imediato desta reforma. A intenção foi

louvável. Entretanto, quando não se consegue atingir o escopo de imediato,

um fosso passa a separar alguns estratos da sociedade, levando ao caos o

ensino no futuro, notadamente, nas exigências mínimas de conhecimento

que cada formando deve ter apreendido, cabendo a escola dar-lhe o

conhecimento prospectivo do que o futuro lhe reserva.

Creio, faltou a realização de pesquisa utilizando a metodologia tipo

Delfos, para verificar os cenários da educação, ex-ante a implantação de

ambas as reformas de ensino.

Voltando aos resultados da pesquisa. No todo, como o teor que agora

faz parte do texto, era apresentado oralmente para estudantes de inúmeros

cursos, ficou demonstrado, via discussões e debates, contudo as

discordâncias entre grupos de alunos, que o tema é pertinente e universal.

O decálogo apresentado nas primeiras linhas deste texto, não é

prerrogativa desta ou daquela profissão ou mesmo desta ou daquela unidade

de ensino superior. Aplica-se a qualquer atividade profissional, haja vista sua

generalidade. A metodologia Delfos partiu para novos segmentos de

pesquisa. Desde seus primórdios em que a técnica foi testada, passaram os

analistas a avaliar fatos portadores de futuros para (1) a área militar, (2) a

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previsão tecnológica, (3) ciências biológicas, com ênfase a medicina, (4)

ciências políticas e gerenciamento, (5) ensino e treinamento (in Kossobudzki

– anotações de aulas, 1994).

Os estudantes devem entrar na universidade consciente de seu papel

no futuro do país onde vivem sem ignorar que o mundo de hoje, é parte de

um sistema regional e mundial de alta competitividade. Quem dominar mais

tecnologias, mais conhecimentos, quem investir mais em pesquisa, quem

preparar mais massa crítica estratégica, terá futuro promissor. Quem

descurar destes itens, quem não aceitar novos modelos, quem resistir às

mudanças, quem não investir na educação, amargará seus erros no futuro.

Exemplo clássico: vide o Japão do pós Segunda Grande Guerra Mundial.

Tomo a liberdade de acrescentar dois pontos de vista que considero

crucial para o crescimento do Brasil. (1) Ou este país resolve oferecer mais

ensino de línguas estrangeiras aos seus jovens, ou sucumbiremos para as

nações que tem um grau de domínio em outras línguas melhor do que nós.

(2) Acrescento: leitura de livros é apenas uma parte de aquisição de

conhecimentos; leitura de revistas especializadas é saber dos novos saberes,

das novidades.

Por outro lado, conhecer a história e a geografia de seu país,

aprofundar-se no conhecimento das questões do governo, ler a constituição

com a atenção devida para poder exercer seus direitos e deveres,

estabelecendo uma relação interdisciplinar de conhecimento da política com

a economia do país, é obrigação de todo cidadão. Creio que este ponto é

estratégico para o crescimento intelectual da nação e do exercício pleno da

cidadania.

Pessoalmente acredito na educação como força motivadora, indutora e

arma pacífica para a transformação da sociedade. A educação se aplica em

termos verticais e horizontais. Projetos de mudança como o que se está

utilizando em algumas universidades ou faculdades isoladas, na tentativa de

mudar os modelos arcaicos, é atitude renovadora, desafiadora, criativa e

exigência da contemporaneidade, favorecendo o traço de novos rumos

educacionais exigidos para o século XXI.

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Procurei tratar este artigo, melhor dizendo, relato expositivo,

fundamentado em experiências pessoais, conhecimento teórico e diálogo

entre o autor e o seu público. Espero ter sido entendido.

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Page 24: EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XX

EDUCATION for the XXI CENTURY

What a future professional be learning to day for a successfully in the third millennium

Constantino Comninos

Professor of Political Economy. MA in Education - University Management. MBI in Business Intelligence and Knowledge Management. Honorable Consul of Greece in Curitiba.

Summary

This article demands to know some matters that will be to catch to day, to reach the good conditionings for a future world. Suggest applying newly knowledge’s for the professional success. 0

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