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Educação de Jovens e Adultos: caminhos afirmativos na construção de práticas pedagógicas referenciadas na história e cultura afro-brasileira e africana Fernanda Almeida de Carvalho 1 Palavras-chave: Lei 10.639/03. EJA. Práticas pedagógicas. Relações étnico-raciais. RESUMO O presente artigo faz parte de uma pesquisa de mestrado que se propôs a identificar e compreender as estratégias desenvolvidas pelos profissionais da educação na construção de práticas pedagógicas na perspectiva da implementação da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares em uma escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. O estudo objetivou abordar o diálogo entre a modalidade EJA e o campo da Educação para as Relações Étnico- Raciais, apoiado nos conceitos de ações afirmativas, docência, currículo, práticas pedagógicas e multiculturalismo. Este trabalho apresenta um caráter qualitativo, com uma abordagem metodológica de estudo de caso, norteada pelas seguintes questões: Como os profissionais que atuam na EJA incluem as temáticas relacionadas aos afro-brasileiros e às africanidades em suas práticas pedagógicas, e quais os caminhos construídos para a efetivação dessa proposta? Quais os conhecimentos que os profissionais que atuam na EJA têm sobre a Lei 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares? Quais as percepções dos docentes sobre o negro e as questões étnico-raciais? Como as questões das relações raciais são problematizadas no currículo e pelos professores? Concluiu-se que as práticas pedagógicas estudadas são um avanço no campo da implementação da Lei 10.639/03, ultrapassando o discurso e inserindo-a no cotidiano escolar, contribuindo para a compreensão das relações entre a construção de práticas pedagógicas inclusivas na EJA e o trabalho com a questão étnico-racial; a ampliação da inserção/valorização da cultura do povo negro neste espaço educativo e a construção da luta antirracista no Brasil. 1. INTRODUÇÃO Tanto no campo da produção teórica quanto no da militância política, tornou-se consensual a ideia de que uma das estratégias privilegiadas de combate ao racismo consiste em se promover um maior conhecimento e valorização da história e cultura dos africanos e seus descendentes, ao longo da história brasileira, passando-se a defender o estudo de tais conteúdos nos currículos escolares. As últimas décadas foram marcadas por investimentos nessa direção, por meio de uma série de medidas no âmbito da legislação e das políticas educacionais, num processo que culminou com a promulgação da Lei Federal 10.639/03-MEC, que trata da obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todos os níveis da educação básica, com o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das 1 Pedagoga pela UFMG, Pós-graduada em PROEJA pelo CEFET-MG, Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG, Professora da EJA da Prefeitura Municipal de Educação de Belo Horizonte, Professora do IEC/PUC-MG, Membro do Grupo de Discussão Étnico-Racial da Educação Barreiro, Membro do Fórum Estadual de Educação e Diversidade Étnico-racial de MG. Vínculo Institucional: Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte.

Educação de Jovens e Adultos: caminhos afirmativos na ......Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira (DCN), além da construção

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  • Educação de Jovens e Adultos: caminhos afirmativos na construção de práticas pedagógicas referenciadas na

    história e cultura afro-brasileira e africana

    Fernanda Almeida de Carvalho1

    Palavras-chave: Lei 10.639/03. EJA. Práticas pedagógicas. Relações étnico-raciais.

    RESUMO

    O presente artigo faz parte de uma pesquisa de mestrado que se propôs a identificar e compreender as estratégias desenvolvidas pelos profissionais da educação na construção de práticas pedagógicas na perspectiva da implementação da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares em uma escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. O estudo objetivou abordar o diálogo entre a modalidade EJA e o campo da Educação para as Relações Étnico-Raciais, apoiado nos conceitos de ações afirmativas, docência, currículo, práticas pedagógicas e multiculturalismo. Este trabalho apresenta um caráter qualitativo, com uma abordagem metodológica de estudo de caso, norteada pelas seguintes questões: Como os profissionais que atuam na EJA incluem as temáticas relacionadas aos afro-brasileiros e às africanidades em suas práticas pedagógicas, e quais os caminhos construídos para a efetivação dessa proposta? Quais os conhecimentos que os profissionais que atuam na EJA têm sobre a Lei 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares? Quais as percepções dos docentes sobre o negro e as questões étnico-raciais? Como as questões das relações raciais são problematizadas no currículo e pelos professores? Concluiu-se que as práticas pedagógicas estudadas são um avanço no campo da implementação da Lei 10.639/03, ultrapassando o discurso e inserindo-a no cotidiano escolar, contribuindo para a compreensão das relações entre a construção de práticas pedagógicas inclusivas na EJA e o trabalho com a questão étnico-racial; a ampliação da inserção/valorização da cultura do povo negro neste espaço educativo e a construção da luta antirracista no Brasil.

    1. INTRODUÇÃO

    Tanto no campo da produção teórica quanto no da militância política, tornou-se consensual a ideia de que uma das estratégias privilegiadas de combate ao racismo consiste em se promover um maior conhecimento e valorização da história e cultura dos africanos e seus descendentes, ao longo da história brasileira, passando-se a defender o estudo de tais conteúdos nos currículos escolares. As últimas décadas foram marcadas por investimentos nessa direção, por meio de uma série de medidas no âmbito da legislação e das políticas educacionais, num processo que culminou com a promulgação da Lei Federal 10.639/03-MEC, que trata da obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todos os níveis da educação básica, com o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

    1 Pedagoga pela UFMG, Pós-graduada em PROEJA pelo CEFET-MG, Mestre em Educação Tecnológica

    pelo CEFET-MG, Professora da EJA da Prefeitura Municipal de Educação de Belo Horizonte, Professora do

    IEC/PUC-MG, Membro do Grupo de Discussão Étnico-Racial da Educação – Barreiro, Membro do Fórum Estadual

    de Educação e Diversidade Étnico-racial de MG. Vínculo Institucional: Rede Municipal de Educação de Belo

    Horizonte.

  • Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira (DCN), além da construção do Plano Nacional de Implementação dessas Diretrizes Curriculares Nacionais, o qual apresenta, como objetivo central, colaborar para que todo o sistema educacional cumpra com as determinações legais de enfrentamento a todas as formas de racismo, preconceito e discriminação.

    Apesar de reconhecermos que ainda existe uma grande distância entre a legislação educacional e o que acontece efetivamente no cotidiano das escolas brasileiras, não podemos negar que os últimos anos têm sido marcados por um conjunto de fatores e ações em prol da inclusão da temática africana e afro-brasileira nos currículos escolares numa configuração que alia: o caráter de obrigatoriedade imposto pela Lei 10.639/2003; uma série de políticas públicas promovidas por sistemas de ensino e órgãos oficiais; a existência de diversos programas de formação continuada de professores focados nessa temática; a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN –, que apresenta, como um de seus temas transversais, a “Pluralidade Cultural”; uma vasta produção de materiais didáticos e paradidáticos; uma intensificação dos debates, no seio da sociedade brasileira, sobre a natureza do racismo e o lugar da população negra, sobretudo a partir da perspectiva de implementação de políticas afirmativas em diferentes setores; o engajamento de diversos professores nos movimentos de afirmação da identidade negra e de combate ao racismo, entre tantos outros. Partindo da hipótese de que a conjugação de alguns desses fatores tem contribuído para que essa temática compareça de forma mais sistemática, o momento atual nos instiga a desenvolver um olhar mais apurado para essa realidade na EJA e nos remete ao problema de pesquisa proposto: Quais as estratégias desenvolvidas pelos profissionais da educação na construção/ação de práticas pedagógicas voltadas à implementação da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares na Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RMEBH).

    A presente pesquisa de mestrado, Educação de Jovens e Adultos: Caminhos Afirmativos na Construção de Práticas Pedagógicas referenciadas na História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, realizada entre os anos de 2013 a 2015, pretendeu identificar as práticas pedagógicas, no âmbito da implementação da Lei 10.639/03, construídas pelos profissionais (professores e gestão pedagógica) da EJA; analisar os materiais, atividades e metodologias utilizadas por esses profissionais da educação nos espaços formativos que contemplem as africanidades brasileiras; averiguar documentos institucionais que regem a EJA, bem como as políticas do município voltadas ao cumprimento das políticas de promoção da igualdade racial e da implementação da Lei 10.639/03, e identificar e analisar as contribuições do uso das práticas pedagógicas direcionadas às questões étnico-raciais na vivência dos estudantes. Este estudo apoiou-se num referencial teórico que traz diálogos entre a EJA e as questões étnico-raciais, com base em autores como Paulo Freire, Miguel Arroyo, Nilma Lino Gomes, Joana Célia Passos, Maria Amélia Giovanetti, Leôncio Soares, Silvani dos Santos Valentim; além da interlocução entre Currículo, multiculturalismo, práticas pedagógicas e a dimensão étnico-racial de acordo com J.Gimeno Sacristan, Tomaz Tadeu da Silva, Antônio Flávio Moreira, Vera Maria Candau, José Carlos Libâneo, Maurice Tardif, Samira Zaidan, Anna Maria S. Caldeira, Kabengele Munanga, Petronilha B. G. e Silva, dentre outros.

  • No processo de estudo, o levantamento bibliográfico realizado indicou que ainda são poucos os estudos, que, no contexto da Educação de Jovens e Adultos, problematizam a implementação da Lei 10.639/03 no âmbito das práticas pedagógicas e analisam teórica e metodologicamente aquelas que foram exitosas. Nesse sentido, destaca-se a importância de pesquisar se a EJA vem cumprindo as exigências da Lei dentro de suas práticas pedagógicas, e efetivando sua função social no que diz respeito às questões que abrangem as relações étnico-raciais no Brasil. Segundo Gomes (2005, p. 92), “faz-se necessária à inclusão da discussão sobre a questão racial na EJA não como um tema transversal ou disciplina do currículo, mas como discussão, estudo, problematização e vivências”.

    Baseado nesse contexto a pesquisa pautou-se nas seguintes questões: Como os profissionais que atuam na EJA incluem as temáticas relacionadas aos afro-brasileiros e às africanidades em suas práticas pedagógicas, e quais os caminhos construídos para a efetivação dessa proposta? Quais os conhecimentos que os profissionais que atuam na EJA têm sobre a Lei 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares? Quais as percepções dos docentes sobre o negro e as questões étnico-raciais? Como as questões das relações raciais são problematizadas no currículo e pelos professores?

    Acreditamos que as reflexões em torno da inserção/repercussão dos marcos legais nas práticas pedagógicas da EJA representem mais um passo para a garantia da integração entre os saberes trazidos pelos educandos, à cultura afro-brasileira e africana e as diversas áreas de conhecimento. Almeja-se que a investigação de tal vivência possa contribuir para a compreensão das relações entre a construção de práticas pedagógicas inclusivas na EJA e o trabalho com a questão étnico-racial e, ao mesmo tempo, para a ampliação da inserção/valorização da cultura do povo negro e da construção da luta antirracista no Brasil.

    2. DIÁLOGOS ENTRE A EJA E AS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS

    Ao pautarmos o diálogo das questões étnico-raciais com a Educação de Jovens e Adultos, é necessário trazer algumas questões de fundo que permearão as nossas reflexões: Qual a ligação da EJA com a dimensão das relações étnico-raciais? Quais os nós que ligam o perfil dos sujeitos educandos dessa modalidade de ensino a essa dimensão? Qual o compromisso dos profissionais da educação com a promoção da igualdade racial? Qual o diálogo existente entre as políticas de promoção da igualdade racial e as políticas de EJA?

    A compreensão da construção do campo da EJA, como parte do movimento da Educação Popular faz-se essencial para emergirmos uma pauta de discussão em torno das questões apresentadas no encontro de percursos dialógicos diversos com as dimensões das relações étnico-raciais. Nessa direção, um primeiro ponto relevante a ser levantado na ligação da EJA com a questão racial refere-se à contribuição do Movimento Negro diante das práticas de alfabetização e letramento com jovens e adultos, em meados do século XX, por meio da FNB (Frente Negra Brasileira) e o TEN (Teatro Experimental do Negro), com cursos educacionais que ultrapassavam meras propostas de ensino, trazendo em seu bojo uma educação política dos sujeitos. Tais ações educativas dos movimentos negros trouxeram uma proximidade com o campo

  • da EJA, principalmente, no que diz respeito ao seu caráter de educação popular, em busca da garantia de direitos negados aos negros escravizados e/ou filhos do processo escravocrata por uma justiça social, além de terem o elemento de politização dos educandos em suas aulas.

    Dando continuidade aos elementos dialógicos desta conversa, podemos destacar o caráter multicultural desse público que se compõe atualmente por sujeitos jovens, adultos e idosos, com as suas especificidades de cor/raça, gênero, orientação sexual, classe social/trabalhadora e suas variadas experiências de vida. Nesse sentido, tal caráter aponta que pensar esses sujeitos da EJA é trabalhar para a diversidade, reconhecendo as especificidades desse público e as diversas desigualdades que sofrem, dentre elas as diferenças étnico-raciais, contribuindo na possibilidade de transformações sociais na vida desses indivíduos.

    Nesse sentido e dando continuidade as nossas questões iniciais, acreditamos que seja primordial aprofundarmos nossa discussão em torno dos sujeitos educandos da EJA, pois é necessário reconhecer aprofundadamente as suas especificidades com base em suas diversas vivências, construídas na realidade cultural que estão inseridos, traçando os principais “nós” que os conectam a questão étnico-racial. Inicialmente, destacamos o fator exclusão nas trajetórias desses indivíduos que foram “expulsos” da escola comum e/ou não tiveram acesso às práticas escolarizadas, no período considerado adequado. Deve-se salientar que é intrínseco considerar na EJA as identidades individuais e coletivas desses sujeitos de direitos, embora vivenciassem e vivenciam uma constante negação dos direitos básicos à alimentação, saúde, moradia, educação, trabalho e dignidade.

    Dialogando com essa realidade, Arroyo (2001: 1, grifos nossos) reflete que:

    a educação de jovens e adultos tem sua história muito mais tensa do que a história da educação básica. Nela se cruzaram e cruzam interesses menos consensuais do que na educação da infância e da adolescência, sobretudo quando os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos, excluídos.

    Outro fator importante é analisar os sujeitos da EJA pelo viés da desigualdade

    racial, considerando que esse público é constituído, basicamente, por pessoas das camadas populares e negras. Ou seja, pensar o público da EJA a partir da visão racial é enxergar a educação por meio do olhar sobre os educandos, e, como diz Arroyo (2001), reconhecendo suas identidades em tempos de exclusão e de forma mais ampla adentrando num campo político e de reconhecimento de direitos. Além disso, é importante evidenciar que este estudo discute as questões raciais não pelo seu conceito biológico de raça que já está cientificamente ultrapassado, mas pelo uso social e político do termo.

    Dessa forma, pode-se perceber que é legitimo pesquisar as questões étnico-raciais nas práticas pedagógicas da EJA, tendo em vista o perfil dos sujeitos inseridos, suas percepções quanto ao seu pertencimento racial, e a necessidade de compreender melhor os processos que constituíram a produção social das diferenças nesse contexto.

    Além de reconhecer a importância de se compreender os sujeitos discentes, na ligação das questões étnico-raciais com a EJA, para analisar de forma qualitativa as

  • práticas pedagógicas que incluam conhecimentos voltados às africanidades brasileiras nesta pesquisa, tornou-se necessário refletir também sobre as especificidades dos profissionais da educação (docentes, gestão escolar) que constroem esses processos didático-pedagógicos, reiterando assim, esses atores, como agentes fundamentais na construção da ação pedagógica, e a importância e o compromisso deles diante da efetivação da promoção da igualdade racial.

    Pensando na historicidade da EJA como espaço educativo de caráter emancipatório, onde suas marcas identitárias caminham junto ao legado da Educação Popular, e que, segundo Giovanetti (2005), concebe a educação como um processo de formação humana que visa a contribuir para o processo de mudança social, a gestão pedagógica e os sujeitos docentes constroem-se dentro dessa perspectiva libertadora de educação. Não há um perfil definido desse profissional, mas a sua construção pauta-se na concepção educativa da EJA, que assume um caráter compromissado em reverter as desigualdades sociais, auxiliando no processo de mudança social dos sujeitos discentes que vivenciaram e vivenciam diversos direitos negados historicamente. Nessa direção transgressora de educação, Arroyo (2006) destaca que o educador deve alargar o seu olhar diante desse educando, visualizando suas identidades para além da sala de aula, como jovens e adultos com rostos, histórias, cor, trajetórias sócio-étnico-raciais, do campo, da periferia.

    Nessa perspectiva, os profissionais que trabalham com a EJA devem ter consciência de sua tarefa diante do compromisso profissional e social de abarcar em suas práticas pedagógicas uma pedagogia da diversidade, voltada para a educação das relações étnico-raciais. Tal diálogo aberto e constante feito pelos profissionais da EJA na escola estudada dá a possibilidade de abertura para desvelar as práticas racistas presentes em seu interior e que, muitas vezes, passam despercebidas, além de possibilitar o fortalecimento do debate sobre o assunto e a intervenção educativa, muitas vezes, nas situações de racismo apresentadas. Todos esses elementos remetem ao quanto à educação, por meio de suas práticas, e seus profissionais são meio essencial na transformação do paradigma racista presente em nossa sociedade.

    Ao pensarmos nos movimentos de luta desses trabalhadores da educação lutando por melhores condições de trabalho e buscando uma valorização do magistério, num caminho de busca por direitos, tal categoria reforça mais ainda a urgência em apresentar maior sensibilidade diante das desigualdades sociais, e incluir, no seio da prática docente, questões que conscientizem e discutam os direitos negados à população. Em se tratando de educadores da EJA, essa discussão possui mais legitimidade ainda se refletirmos na proposta educacional dessa modalidade, sendo as questões raciais imprescindíveis nessas práticas.

    Tomando como base todo o panorama apresentado, a última questão de fundo, que trata do diálogo das políticas de promoção da igualdade racial com as políticas de EJA, é imprescindível no momento atual, pois vivemos, como citado anteriormente, um momento histórico de criação de inúmeras ações e políticas voltadas à inserção do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, e da educação para as relações étnico-raciais, as quais nos remetem à pergunta de quais apontamentos essas políticas têm voltado a essa modalidade de ensino. Além disso, “ao se examinar as relações entre a EJA e as políticas de promoção da igualdade racial, identifica-se um canal propício para o enfrentamento dos históricos índices de desigualdade, exclusão,

  • discriminação racial e injustiça, presentes na trajetória de escolarização e de vida de significativa parcela da população negra” (PASSOS, 2010, p. 118).

    Nesta direção reflexiva, primeiramente, é inegável que documentos que regem a Educação de Jovens e Adultos, como o Parecer CEB 11/2000, que regulamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, e os documentos base da CONFINTEA (Conferência Internacional de Educação de Adultos) já apresentavam, em sua formulação, o compromisso da educação diante das desigualdades étnico-raciais. Ademais, encontra-se um importante espaço de apontamentos das políticas de promoção da igualdade racial voltados para a EJA por meio do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, construído a partir da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares, que surgiu da necessidade advinda dos anseios regionais para a implementação da referida Lei e tem, como finalidade, a execução da educação das relações étnico-raciais, além de focalizar as responsabilidades de cada sistema educacional e instituições em cada nível e modalidade de ensino. Ela propõe, claramente, ações direcionadas ao campo da EJA e, também, afirma a importância de se trabalhar as questões étnico-raciais nessa modalidade de ensino, como garantia da promoção da justiça social/racial na sociedade.

    O fato de a Educação de Jovens e Adultos ser contemplada, de forma específica, nesse documento, mostra um cuidado com essa modalidade de ensino que tem sua história marcada por lutas em prol do direito à educação de qualidade em qualquer tempo da vida, em busca da reparação de direitos da cidadania negados aos seus educandos, sendo um deles o da igualdade racial.

    A partir dos diálogos apontados entre as políticas de promoção da igualdade racial e a EJA, podemos refletir que, no âmbito teórico, ela aparece como elemento intrínseco à educação dessa modalidade de ensino, entretanto, ainda é um desafio a este campo traçar estudos e pesquisas que nos remetam à discussão da efetivação dessas políticas nas práticas da sala de aula voltadas aos sujeitos jovens, adultos e idosos. Além de se colocar, como questão primordial, o reconhecimento oficial e público dessas diversidades, não somente a partir da criação de leis e políticas, mas efetivamente nas práticas pedagógicas de ensino.

    Diante desse panorama, sabe-se que ainda há um campo de conflitos na efetiva inserção da Lei 10.639/03 nas instâncias educativas, mas compreender a EJA – como uma construção do movimento popular e estudá-la por meio dessa perspectiva – é dar continuidade ao diálogo existente entre o movimento popular e o movimento negro na educação, mostrando que a relação entre esses dois campos é intrínseca e que, muitas são, as reflexões provindas desse espaço. Como afirma Arroyo (2007, p. 118), “é urgente produzir pesquisas e teorização sobre os lugares por onde passam essas pedagogias emancipatórias”, para um dia visualizarmos de fato a efetivação plena de ações destes campos de conhecimentos na EJA, não só em algumas práticas, mas como Política de Estado.

    2.1 CAMINHOS METODOLÓGICOS

  • Considerando que a pesquisa se propôs a compreender os processos didático-pedagógicos construídos pelos profissionais da EJA de uma escola pública municipal em busca de implementar a Lei 10.639/03, optamos por uma investigação de caráter qualitativo, com uma abordagem metodológica de estudo de caso. Esse tipo de pesquisa permitiu uma reflexão sobre a realidade de acordo com o seu contexto histórico, político, socioeconômico e cultural. Nessa perspectiva, adotamos diversos instrumentos de pesquisa como: análise de documentos, observação direta, aplicação de questionários, entrevistas e grupo focal, possibilitando uma visão holística das práticas pedagógicas investigadas.

    A pesquisa de campo foi realizada, no ano de 2014, na Escola Municipal Nelson Mandela2 que faz parte da rede de instituições educacionais da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A escolha da escola se deu por critério de estudo em uma instituição de Educação de Jovens e Adultos que apresentasse a inserção da Lei 10.639/03 em suas práticas pedagógicas. Os dados relativos à caracterização da escola e de proposta foram levantados com base nas observações, conversas, entrevistas e, principalmente, do Projeto Político Pedagógico (PPP).

    A Escola Municipal Nelson Mandela (EMNM) situa-se em Belo Horizonte, na regional Barreiro, em uma vila popular, reconhecida pelo poder público como um dos principais bolsões de pobreza da cidade. A escola é um local de referência cultural no espaço da comunidade, já que são poucas as opções de acesso cultural na vila.

    Em meio a esta comunidade destituída de estrutura, a instituição escolar pesquisada se destaca pelo seu cuidado e belo aspecto. Como característica das escolas municipais, ela apresenta uma boa estrutura para os estudos, e, de tempos em tempos, é reformada, para um maior conforto da comunidade escolar. Embora alguns estudantes não tenham zelo com a escola, ela apresenta uma boa aparência, sem pichações, com materialidade necessária em todos os espaços. A direção tem procurado envolver a comunidade no cuidado com o seu prédio, realizando eventos com plantio do jardim na entrada e pinturas no muro da escola.

    O histórico da Educação de Jovens e Adultos na Escola Municipal Nelson Mandela teve início com base no Programa Executivo Bolsa-Escola, (PEBE) 3, que, em 1997, ao levantar a demanda para a alfabetização de jovens e adultos na região, descobriu que não existia nenhuma oferta para essa modalidade de ensino. Assim, em 1998, começou um projeto com um curso de alfabetização no Parque das Águas, local próximo à comunidade, com uma turma, para atender à demanda. Em 2000, o projeto passou a ser desenvolvido na EMNM, numa sala emprestada, pois, por meio da escuta da professora às vozes dos estudantes da turma, apontaram a escola como o local mais próximo de suas residências.

    2 Pseudônimo dado à escola pesquisada – A escolha do nome se deu devido ao caráter da pesquisa.

    Nelson Mandela é um ícone mundial na luta pela promoção da igualdade racial.

    3 O Programa Executivo Bolsa-Escola, (PEBE) foi implementado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, por proposição de Projeto de Lei aprovado em 5 de julho de 1996, sendo um Programa que institui um beneficio para as famílias que estejam em situação sociofamiliar de risco ou as próprias crianças estejam em situação de risco, visando, dessa maneira, a "garantir a admissão e permanência na escola pública das crianças de 7 a 14 anos".

  • Diante da luta pela abertura da EJA na escola, em dezembro de 2004 tiveram a permissão para o funcionamento da modalidade de ensino, que iniciou em 2005 com a aprovação do Projeto Político Pedagógico, “respeitando o perfil dos estudantes, a diversidade dos sujeitos, a diversidade geracional, no que se refere à garantia do acesso e permanência na escola” (PPP EJA EMNM, 2005, p. 11).

    Como o estudo foca a análise na construção/ação das práticas pedagógicas voltadas às questões étnico-raciais na EJA, os atores principais foram os profissionais da educação. O quadro desses profissionais constituía-se de seis docentes, uma diretora, uma vice-diretora e uma professora em laudo médico que ficou na função de apoio pedagógico. Uma das professoras não pôde participar de todo o processo da pesquisa, ficando sem responder ao questionário e a realizar a entrevista, pois esteve de licença médica em boa parte do tempo de campo.

    Dos nove profissionais da educação pesquisados, sete são do sexo feminino e dois do sexo masculino, reafirmando o retrato feminino da docência no ensino fundamental. Com relação à faixa etária, vemos um grupo adulto, compreendendo idades que variam de 34 a 50 anos, com 78% acima de 40 anos. No que tange ao item sobre a autodeclaração de raça/cor, quatro se autodeclararam pardos, três como pretos e dois como brancos. Esse retrato nos mostra um grupo de profissionais da educação com uma maioria negra (78%), considerando a junção de pretos e pardos. Será que esta característica identitária, mostrando uma maioria de profissionais negros no grupo, contribui para a inserção de práticas pedagógicas voltadas à temática racial? Tal dado sobre a identidade racial do grupo incide algumas reflexões.

    Com relação às características acadêmicas e profissionais do grupo, todos possuem graduação, sobrelevando que a metade do grupo possui formação na área da pedagogia. Do total do grupo, 45% possui alguma pós-graduação, apresentando um professor com mestrado. Ao indagarmos se trabalham e estudam no momento, 89% só trabalham, e apenas um profissional estuda atualmente, fazendo faculdade de letras. No final do ano, fui informada de que um dos docentes iria começar o curso de doutorado em 2015.

    Ao visualizarmos as informações voltadas à trajetória profissional do grupo, vemos que a maioria (67%) tem mais de vinte anos de atuação no magistério, dois profissionais têm, respectivamente, doze e quatorze anos de experiência, e apenas um começou a lecionar há três anos e meio. No que diz respeito ao tempo na EJA, seis profissionais têm entre nove e vinte anos de atuação, os outros 33% têm entre seis meses a três anos, realçando que a diretora tem experiência nesta modalidade de ensino apenas na gestão. Quanto ao tempo na EJA da EMNM, cinco profissionais têm entre nove e quatorze anos de tempo, levando-se em conta o período em que a EJA funcionava na escola sem a aprovação formal da modalidade, os outros 45% dos profissionais têm até cinco anos de atividade. O quesito exercício, na função atual na escola, apontou nos dados que a gestão tem três anos de atuação, já os docentes apresentam no quadro, quatro com laboração entre cinco a doze anos, e duas até dois anos. A ex-diretora e ex-professora da EJA trabalhou dez anos na EJA da EMNM, sendo cinco como professora e cinco como diretora, entre os anos de 2002 a 2011.

    Nas descrições individuais, é perceptível que todos os profissionais entraram na área da educação por desejo, que muitos apresentaram desde a infância. A entrada na EJA aconteceu por diversas vias de oportunidade, como vagas oportunizadas pelo

  • concurso, dobra de trabalho, horário disponível, busca pelo exercício da docência com esse público de estudantes. Todavia, os motivos de permanência na modalidade se destacam pela vontade e satisfação dos docentes em trabalhar na EJA, em virtude do perfil do público atendido que, na opinião dos profissionais, demonstra maturidade e interesse em aprender e melhorar de vida; a possibilidade de planejamento e formação no coletivo; a flexibilidade curricular; ser uma modalidade que requer ir além do ensino, exigindo uma postura política e militante, além de, “fazer a diferença na vida das pessoas” que foram excluídas de alguma forma da escola.

    O último item do eixo dados pessoais trouxe a interrogação quanto à participação do grupo em atividades comunitárias, sindicais, religiosas, voluntárias e militantes, que mostrou o envolvimento de 78% dos sujeitos profissionais nessas atividades, em algum momento da vida. Pelas respostas apontadas, é visível a participação da maioria em atividades ligadas ao trabalho voluntário na área da educação e em segmentos religiosos. Considerando o tema deste estudo, ressaltamos a ligação de um dos profissionais durante 10 anos no Movimento Negro.

    De acordo com a trajetória profissional desse grupo no magistério e na EJA, vemos que grande parte dele tem uma vasta experiência, sendo um componente importante para a reflexão sobre a construção da prática docente e da identidade coletiva dos profissionais.

    2.2 O PROJETO MAMA ÁFRICA

    O “Mama África” trata-se do projeto estruturador do trabalho pedagógico de toda a EMNM em torno das africanidades brasileiras. Apesar de anteceder a Lei 10.639/03, surgindo em 2002, ele sustenta-se nela e apresenta como objetivo principal ampliar os conhecimentos sobre a cultura afro-brasileira e africana, na perspectiva de compreender as relações estabelecidas entre Brasil e África, ampliando o conceito de cidadania, respeito à diversidade, no sentido de contribuir para a formação de sujeitos mais críticos.

    A EJA, desde o início da implantação da modalidade na escola, aderiu ao trabalho do Projeto Mama África, e de acordo com os relatos, foi possível constatar que, ao longo dos anos, o projeto foi se constituindo no cotidiano da escola, com o seu coletivo de profissionais, e uma cultura diante deste trabalho foi sendo construída, num movimento de busca e construção constante de uma educação mergulhada na diversidade.

    A partir de uma linha do tempo, iremos discorrer sobre algumas das estratégias didático-pedagógicas que foram sendo construídas ao longo dos anos, de 2005 a 2014, pelos professores da EJA da EMNM norteados pelo Projeto Institucional Mama África, onde foram construindo uma série de práticas pedagógicas, desenvolvidas individual e coletivamente. No começo, as atividades eram desenvolvidas de forma mais tímida e esporádica, mas à medida que o grupo da EJA foi se aperfeiçoando diante dos conhecimentos da temática, as práticas foram tornando-se mais frequentes e intensas.

    Os registros encontrados nos diários do período citado registram os conteúdos de forma geral inserindo o trabalho com a cultura afro-brasileira e africana. Porém, nem todas as metodologias desenvolvidas foram registradas nesse documento, inviabilizando constatar, por meio do registro escrito, tudo que foi trabalhado.

  • Primeiramente, é importante enfatizar que é possível perceber, pelos registros nos diários, que a proposta de EJA sempre foi construída de forma coletiva e não fragmentada em disciplinas. Os conteúdos são organizados de forma anual ou semestral, apresentando as diversas áreas de conhecimento trabalhadas, de forma coletiva, de todas as turmas. No início de ano, o grupo de profissionais elabora uma pesquisa de levantamento do perfil dos estudantes, para construírem sua proposta educativa anual. As intenções pedagógicas da EJA registradas nos diários mostram uma preocupação do grupo em abarcar uma educação multicultural, como destacado abaixo:

    Objetiva-se desenvolver atitudes de cidadãos atuantes e conscientes da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil. Para isso busca se estabelecer relações étnico-raciais positivas que garantam a interação, a negociação de objetivos comuns, a fim de que todos e todas tenham seus direitos respeitados, valorizando sua identidade e participação na consolidação da democracia brasileira. (Diário Escolar 2014 da EJA da EMNM).

    A memória dos temas e práticas pedagógicas realizadas entre os anos de 2005

    a 2014 versa um trabalho pautado na problematização da existência do racismo, conscientização e valorização do negro na sociedade, preocupada com uma educação para as relações étnico-raciais, trazendo a história dos negros no Brasil e pontos importantes da cultura africana. A cada ano é escolhido um tema central que direciona o trabalho dos educadores e cria um elo para as práticas pedagógicas coletivas de toda escola. Apontamos aqui, somente alguns temas abordados, pois como não havia um portfólio que registrasse todos os trabalhos, não foi possível resgatar todas as temáticas centrais.

    Ao transitarmos pelos temas anuais do Projeto Mama África, resgatados pelos registros, começamos pelo ano de 2008 que desenvolveu o “Projeto Contando e Cantando a História do Samba”, inspirado no material produzido pela educadora e cantora Dóris do Samba, que enfoca as africanidades brasileiras a partir da história do samba no Brasil. Em 2010, relacionando com a realização da Copa do Mundo na África do Sul, a escola indicou o tema “A África e a Copa do Mundo”, em que aprofundaram os conhecimentos sobre o continente Africano e as especificidades dos seus países, trabalhando a origem do homem na África; os reinos africanos; a diáspora africana, o Regime do Apartheid na África do Sul; os mitos africanos e as demais riquezas culturais desse continente. Em 2011, focou-se no conhecimento sobre as “Artes Africanas”, abordando as formas geométricas nas obras de arte africana; trazendo também elementos da arte Adinkra, com direito a um passeio com os estudantes, em São Paulo, no Museu Afro Brasil. Em 2012, o tema foi a comemoração dos dez anos do Projeto Mama África, resgatando o que tinha sido realizado até então, e realizando seminários com a comunidade escolar sobre a diversidade étnico-racial. O ano de 2013 optou por referenciar as personalidades negras brasileiras e mundiais que contribuíram na luta antirracista com o tema “De Zumbi dos Palmares a Nelson Mandela”, e, finalizando, no ano de 2014, a temática escolhida foi “Diga não ao racismo”, pois os educadores vinham observando a prática de várias atitudes preconceituosas na escola entre os adolescentes, e o Brasil, naquele momento, apresentava muitas notícias de ações discriminatórias nos campos de futebol, divulgadas nos telejornais, o que trouxe

  • o foco do debate sobre o racismo no Brasil, com a necessidade da conscientização dos estudantes e construção de práticas antirracistas no dia a dia. Vejamos um discurso da professora Rosa sobre um dos momentos do projeto desenvolvido no ano de 2008.

    Participamos do projeto Contando a História do Samba com a Dóris e depois fomos ao show dela, nessa época cada turma pesquisou um sambista e teve até aluno se caracterizando de um sambista, cada sala cantou e fez uma apresentação, até Martinho da Vila mandou um livro seu para cada aluno porque escrevemos uma carta para ele contando do projeto. (Profª Rosa

    [Nome fictício].Informação verbal). 4

    Algumas das práticas pedagógicas multirraciais desenvolvidas foram realizadas através de palestras diversas sobre as questões étnico-raciais apresentando temas como: preconceito, discriminação e racismo; medicina popular – ervas medicinas; identidade étnica; discriminação religiosa; mulheres negras; ações afirmativas; beleza negra; cultura senegalesa; a diversidade na escola em três tempos: religiosidade, relações étnico-raciais, diversidade cultural; a Lei 10.639/03. Outra frente são as Oficinas Afropedagógicas realizadas todos os anos, no mês de novembro, trabalhando os saberes sobre a cultura africana e afro-brasileira a partir das artes, trazendo a teoria e a prática desses conhecimentos. Os temas geralmente são: construção de bonecas abayomis; os símbolos Adinkras, desenhos africanos na lixa; modelagem de mulheres negras em papel machê; releitura de livros da literatura africana e afro-brasileira; jogos africanos; releitura de pintores negros, como Heitor dos Prazeres; geometria nas estampas de tecidos africanos; beleza negra – penteado afro e maquiagem para a pele negra; máscaras africanas e outras.

    A Mostra de filmes comentados é uma constante nas aulas sobre a temática, com vídeos como: Quanto vale ou é por quilo; África do Sul (Teleaulas); Invictos; Entre os muros da escola; Hotel Ruanda; Mojubá – as heranças africanas; Macumba – as palavras africanas presentes em nosso vocabulário; Duelo de Titãs. Já os Passeios Pedagógicos ocorreram em vários espaços como no FAN – Festival de Arte Negra; Museu Afro Brasil em São Paulo; Belo Vale – museu do escravo e comunidades quilombolas Chacrinha dos Pretos e Vila da Boa Morte; Quinta dos Cristais – museu a céu aberto sobre a escravidão; Ouro Preto; Congonhas; Prêmio Zumbi de Cultura Negra no Palácio das Artes; I, II e III Mostra Afro-brasileira das escolas municipais do Barreiro; Trilha Afro-brasileira no Memorial Minas Gerais Vale e Museu de Artes e Ofícios; Exposição na Casa Fiat das obras do Aleijadinho; Cinema no Sesc Palladium – Mulheres Africanas.

    A Literatura africana e afro-brasileira é um ponto forte nas práticas educativas e tem como base contos e poesias, trabalhando a contação de histórias a partir da tradição dos griôs; leitura e releitura de livros; sarau de poesias; mostra de livros que abordam a temática étnico-racial; construção de caderno de poesias com os estudantes; estudo sobre a biografia dos escritores e poetas negros como Solano Trindade, Carolina Maria de Jesus, Mia Couto, Madu Costa, Conceição Evaristo, entre outros.

    4 Entrevista gravada na escola EMNM, nov.14.

  • A parceria através da Participação de representantes dos diversos movimentos sociais negros nas práticas pedagógicas da EJA acontecia frequentemente, onde neste período, contaram com a presença de Dóris do Samba; Meninas de Sinhá; Grupo Tambor de Família; Rapper Russo; Senegaleses; Integrantes do Núcleo de Relações Étnico-Raciais da SMED; educadora e escritora Rosa Margarida de Carvalho Rocha; escritora Madu Costa; escola de samba; grupo de dança afro; grupos de congado; a jornalista e escritora Rosália Diogo; Isabel – trabalho com ervas medicinais e cabelo afro e outros. A Valorização da Beleza Negra aparece nas atividades pedagógicas através de desfiles; oficinas de cabelo e maquiagem voltada para o público negro; debates de vídeos; apresentações artísticas de danças; estudos sobre a estética negra, melanina e outros.

    São muitas as práticas, mas vale salientar, a participação da EJA em 2013 no concurso Curtas Histórias do MEC, que incentivou o desenvolvimento de produções audiovisuais de cunho cultural e educativo, na produção do curta metragem “A história do negro através dos tempos”; na construção de um caderno com poesias produzidas pelos estudantes em 2011; na produção de um blog com as atividades realizadas na EJA no ano de 2012; na participação em mostras culturais e apresentações sobre o Projeto Mama África em seminários da área de educação e presença na reportagem dos dez anos da Lei 10.639/03, em 2013, no Programa Extra Classe da TV Simpro Minas.

    Finalizando, destacamos a movimentação em torno da Mostra Cultural do Mama África, que se apresenta como um momento de concretização dos trabalhos desenvolvidos durante todo o ano, onde a comunidade do entorno da escola participa das ações e alguns contribuem com oficinas para os estudantes. Podemos resumir este, como um momento de festa da diversidade na escola, o orgulho da negritude se estampa nas faces dos estudantes e profissionais.

    Diante desse quadro e de todos os dados levantados ao longo da pesquisa, averiguamos que o currículo da EJA da escola pesquisada apresenta um caráter mais narrativo do que prescritivo, embora as amarras institucionais ainda se apresentem como um grande desafio. São fios que contam práticas pedagógicas construídas com base em uma história permeada pelas vivências, saberes e problemáticas dos sujeitos da EJA para a implementação da legislação antirracista nas práticas pedagógicas, apontando caminhos afirmativos multiculturais, que vão delineando uma identidade, não sem curvas e percalços, como todo ciclo vivo educacional

    3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Ao realizar este estudo, acreditamos que esta não é apenas mais um trabalho científico, mas, sobretudo, uma reflexão diante de uma prática que tenta humanizar processos desumanizadores. Foi na crença de que as instituições educativas são de extrema importância na construção da formação humana e, consequentemente, um espaço legítimo de combate à injustiça racial/social que nos aventuramos no campo da pesquisa, procurando desvendar como as práticas pedagógicas da EJA vêm contribuindo como meio de inserção da educação para as relações étnico-raciais, em tempos históricos de conquistas políticas diante das questões raciais, principalmente por meio da promulgação da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares. Nesse

  • sentido, reafirmamos, a partir deste estudo, o quanto é intrínseca a necessidade de igualdade da herança cultural africana/negra no sistema educacional brasileiro, visto que ela é uma das principais matrizes culturais que integram a chamada cultura nacional e que, até hoje, ainda não ocupou uma posição de igualdade dentro dos currículos educacionais. Dessa forma, vemos que, para além das leis e políticas, é essencial o reconhecimento dessa diversidade dentro das práticas pedagógicas na escola, e, considerando que a nossa luta em prol da igualdade ainda é longa, devemos buscar sempre mais espaços para estas discussões inerentes a nós, seres humanos, que nos fazem refletir sobre a nossa humanidade e sentido de viver.

    Diferentemente da maioria das escolas brasileiras, a EMNM iniciou suas ações direcionadas às africanidades brasileiras antes mesmo da institucionalização da Lei 10.639/03. Não obstante, ao mesmo tempo, foi possível averiguar a importância dessa legislação e das outras políticas antirracistas no desenvolvimento e manutenção dessas práticas na EJA e na escola pesquisada em sua totalidade, visto que, por meio delas, um bojo de ações e materialidades foram construídas, permitindo um melhor embasamento sobre a temática racial por meio das formações e dos diversos materiais literários e didáticos disponibilizados aos educadores durante todos esses anos.

    Nesse contexto, a análise dos dados permitiu-nos visualizar em princípio que o ensejo dos percursos didático-pedagógicos – traçados pelos profissionais da EJA da escola pesquisada na frente de trabalho pela promoção da igualdade racial – ocorreu antes mesmo de seu funcionamento efetivo em 2005, ao surgir dentro de um terreno escolar que já semeava uma educação pela diversidade, consubstanciado pelo Projeto Mama África. Tal indicativo contribuiu de forma veemente para que o PPP da EJA desde o início abordasse a Lei 10.639/03, e teve uma preocupação em tratar as questões étnico-raciais, além de auxiliar na caminhada da inclusão das práticas pedagógicas multirraciais no cotidiano escolar. Visualizamos que a institucionalização dessa legislação tanto no PPP quanto na criação de um projeto coletivo, tornou o campo fértil para a implantação e implementação da Lei 10.639/03 e foi alavanca dos processos educativos que conduziram a temática racial na escola, confirmando a essencialidade da inserção da Lei nos documentos que regem as propostas educacionais, para propiciar uma maior garantia da efetivação dessas práticas.

    Ficou evidente a participação de todos os educadores na construção/ação das práticas pedagógicas na perspectiva da Lei 10.639/03, sejam elas individuais ou coletivas, demonstrando uma vontade e engajamento com essa questão, além do conhecimento do grupo de profissionais da EJA sobre a legislação antirracista. Assim, percebemos também a importância de uma professora referência no assunto, auxiliando e motivando o grupo nessas frentes de trabalho, bem como do apoio e fomento da direção escolar. Essa realidade nos remete ao fato de que a presença de um perfil de educadores da EJA com uma visão da Educação Popular foi decisiva para a concretização de uma pedagogia da diversidade, visto que o foco do olhar volta-se aos educandos para além das salas de aula, enxergando suas realidades e necessidades, por uma educação humanizadora; além da característica do alto grau de estabilidade dos componentes do grupo de profissionais – trabalhando juntos há um bom tempo –, o que permitiu gerar um clima de harmonia e coesão nos trabalhos de forma coletiva.

  • Diante dessa reflexão, vemos o quanto é essencial a sensibilidade no docente, permitindo-o avistar para além das carteiras, papéis, notas, conteúdos. Os nossos educandos precisam ser olhados como seres humanos que fazem parte do nosso dia a dia e junto a nós aprender e trocar saberes e vivências. Assim, inferimos que os processos organizadores da escola são importantes e legítimos, mas não podemos deixá-los ultrapassar o ideário de uma educação pela diferença, que oportunize patamares iguais de conhecimento para todos, além do reconhecimento de nossa diversidade, valorizando a história de vida de cada um, e inspirando a nós docentes a construir nossos processos didático-pedagógicos e fortalecer os laços da docência num trabalho coletivo.

    A formação para os profissionais da EJA, a nosso ver, é de uma essencialidade prioritária para a concretização dos objetivos da Lei 10.639/03, pois é a partir dela que os atores desse processo poderão ter a compreensão da verdadeira história dos africanos e afrodescendentes no Brasil, da cultura negra, de suas contribuições, bem como o reconhecimento e conscientização do seu pertencimento na cultura e história brasileira.

    Com relação a esse quesito, evidenciou-se positivamente que todos os profissionais já tinham alguma formação na área da temática racial e estavam em busca de mais aperfeiçoamento. Vale sobressair a contribuição de espaços não escolares (museus, cinema, teatro) na ampliação do olhar desses educadores e gestores, e na instrução sobre o tema referido. Porém, ainda ressaltaram a necessidade de mais estudos, sobretudo de formações dentro do ambiente escolar, visto que ainda são muitos os conhecimentos a serem aprimorados para um melhor desenvolvimento de suas práticas pedagógicas. Tais dados evidenciaram que, tanto os educadores quanto a gestão, reconhecem a importância da formação continuada para a condução de práticas qualificadas, estão em constante busca por aperfeiçoamento e enxergam os desafios nesta área a serem superados, o que aguça a consciência e a responsabilidade em pautar a legislação antirracista nas práticas pedagógicas.

    Ao pensarmos na variedade de possibilidades que a temática racial pode nos permitir, reconhecemos que o trabalho desenvolvido na EJA da EMNM é um avanço neste sentido da implementação da Lei 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares, visto que ela ultrapassa o discurso, e insere no seu dia a dia, diversas práticas pedagógicas atendendo aos quesitos dessa legislação, apresentando um caráter inter/multidisciplinar, com uma grande variedade de metodologias de trabalho, utilizando de vários tipos de materialidade, numa relação próxima com a comunidade e a articulação com grupos sociais, fechando seu ciclo de trabalhos anuais num evento institucional que legitima e engrandece os trabalhos desenvolvidos durante o ano, induzindo-nos a constatar o seu enraizamento institucional.

    A percepção de mudanças de conceitos e atitudes em prol do respeito e valorização da diferença, tanto nos professores quanto nos estudantes, deve também ser destacada e nos mostra o quanto é significativo este tipo de trabalho nas escolas. Percebemos pelos discursos dos sujeitos da pesquisa, que os seus olhares se ampliaram diante das desigualdades, tanto quanto se humanizaram em seu âmago e em ações, confirmando para nós que, por meio dessas práticas pedagógicas multirraciais, é possível “que preconceitos e discriminações contra este grupo sejam abolidos, que sentimentos de superioridade e de inferioridade sejam superados, que

  • novas formas de pessoas negras e não negras se relacionarem sejam estabelecidas” (SILVA, 2005 p. 158), visualizando um mundo pautado na igualdade.

    Assim, atestamos que a EJA da EMNM, por meio do Projeto Mama África, em seus doze anos de existência na escola e nove anos na modalidade, mostra-nos um enraizamento institucional da Lei 10.639/03, reconhecendo seu conteúdo como direito de todos e responsabilidade da educação escolar, bem como da necessidade de desenvolvimento de uma educação para as relações étnico-raciais neste espaço. Apesar disso, averiguamos e salientamos a necessidade de que ela invista num aprimoramento da sistematização e registro das suas práticas pedagógicas que possibilite uma melhor organização, além da garantia de uma sustentabilidade e conservação da memória de seus trabalhos, que precisam ser mais socializados, permitindo servir de apoio pedagógico na construção de outras ações na sua escola e em outras instituições educativas, além da necessidade de se criar estratégias de conscientização e formação dos novos profissionais que chegam à EJA e à EMNM.

    Diante disso, esperamos que este estudo possa contribuir para suscitar novas pesquisas e construir conhecimentos que aportem diálogos entre a Educação de Jovens e Adultos e as questões étnico-raciais, principalmente no que tange à implementação da Lei 10.639/03 nas práticas pedagógicas escolares. Assim, acreditamos na necessidade de nos debruçar em mais estudos sobre iniciativas emancipatórias com elementos para debater e desvelar essas desigualdades de forma real, esclarecendo os sujeitos estudantes para a realidade social, conscientizando-os na busca de seus direitos, e, a partir daí, pensar em propostas educacionais para a igualdade contaminando outros espaços escolares nessa direção.

    Não podemos nos esquecer de que essa discussão, sobre a inserção da Lei 10.639/03 e de suas Diretrizes Curriculares nas práticas pedagógicas da EJA, é apenas um viés das ações políticas a serem efetivadas em torno das questões raciais no Brasil. Sabemos que esse desafio sócio-político-cultural, de mudança do paradigma racista para a cultura do multiculturalismo, é amplo e requer os esforços de todos os setores da sociedade. Além disso, todo esse processo de conscientização do educador e sua efetivação no trabalho pedagógico em torno da temática das relações étnico-raciais é uma “gota” se comparado ao “mar” de ações políticas e sociais que devem ser efetivadas nessa direção. Entretanto, temos ciência de que esse passo é de extrema importância na construção de novos valores educativos, os quais possibilitarão alternativas de caminhos concretos para o reconhecimento de toda a diversidade cultural presente em nossa realidade.

    Enfim, diante de toda essa vivência e reflexões, vemos a importância de aprender com nossos ancestrais, com nossas heranças africanas, como a roda que dá abertura de reconhecimento de nossos pares, acolhendo a todos indistintamente; da valorização de nossa corporeidade, de visualização dos seres humanos em todos os aspectos, mente, corpo e alma; do respeito dos que já viveram antes e podem nos presentear com sua sabedoria; dos valores éticos e morais que nos auxiliam a seguir num caminho mais humanizador e na busca para o “Ser mais”, que Paulo Freire tanto nos fala. Acreditamos que, com base no exposto, devemos continuar na luta por uma educação para a diversidade e de promoção para a igualdade. Que possamos buscar mais esses espaços no chão das escolas, possibilitando-nos uma vivência da sensibilidade para além das letras, e valorizando cada vez mais a verdadeira história

  • que nos faz brasileiros, com nossas heranças culturais negras, indígenas, europeias e outras, com a clareza de onde tais culturas vêm e como fomos construindo nossa Nação e nossas formas de viver.

    4. REFERÊNCIAS

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