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Educação Superior e Inovação: o caso da PUCRS/Brasil Marilia Costa Morosini * Jorge Luis Nicolas Audy ** Introdução A Educação Superior no Brasil é de origem recente (século XIX), sofre influência da colonização portuguesa, de modelo francês e, no século XX, de modelo norte americano. A Educação é atribuição de Estado e integra políticas do MEC – Ministério de Educação e do MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia. No contexto de uma sociedade globalizada e do conhecimento orientações de organismos multilaterais levam o sistema de educação superior - SES à expansão, privatização, a diversificação administrativa e acadêmica, a centralização estatal nas políticas de avaliação da qualidade e da regulação e a busca do desenvolvimento cientifico e tecnológico com marca da inovação. Tendências recentes apontam para a recuperação das instituições públicas e a políticas afirmativas via novos padrões de acesso e de permanência nas IES. O presente texto analisa a educação superior no Brasil considerando as políticas públicas de educação com o marco legal definidor da LDB (Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e eixos norteadores da Política Nacional de Ciência, Tecnologia & Inovação. Discute um caso de Inovação em uma Universidade Latino-americana – a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, a melhor universidade privada do sul do país. Inicia com a visão histórica do processo de inovação na instituição (1999) na sua preparação para um novo cenário nacional, caracterizado pela redução dos investimentos públicos diretos em Pesquisa e Desenvolvimento e pelo aumento das cooperações com as empresas. O foco inovador na Universidade é a rede INOVAPUC. O texto apresenta sua estruturação e * Professora PUCRS. Coord.a da Rede UNIVERSITAS/RIES (http://www.pucrs.br/faced/pos/universitas). Núcleo de Excelência em C, T & I CNPq/FAPERGS e do Observatório de Educação CAPES/INEP. Bolsista Produtividade CNPq. Pós-doutora junto ao LLILAS – Institute of Latin American Studies, da Universidade do Texas - Austin. [email protected] ** Pró-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa PUCRS, Doutor em Administração na Área de Sistemas de Informação. Professor Titular da Faculdade de Informática e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da PUCRS. Pesquisador na área de Sistemas de Informação, com linhas de pesquisa em Engenharia de Software, Qualidade e Melhoria de Processos e Gerência de Projetos em ambientes de DDS (Desenvolvimento Distribuído de Software) e GSD (Global Software Development). [email protected]

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Educação Superior e Inovação: o caso da PUCRS/Brasil

Marilia Costa Morosini*

Jorge Luis Nicolas Audy**

Introdução

A Educação Superior no Brasil é de origem recente (século XIX), sofre

influência da colonização portuguesa, de modelo francês e, no século XX, de modelo

norte americano. A Educação é atribuição de Estado e integra políticas do MEC –

Ministério de Educação e do MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia.

No contexto de uma sociedade globalizada e do conhecimento orientações de

organismos multilaterais levam o sistema de educação superior - SES à expansão,

privatização, a diversificação administrativa e acadêmica, a centralização estatal nas

políticas de avaliação da qualidade e da regulação e a busca do desenvolvimento

cientifico e tecnológico com marca da inovação. Tendências recentes apontam para a

recuperação das instituições públicas e a políticas afirmativas via novos padrões de

acesso e de permanência nas IES.

O presente texto analisa a educação superior no Brasil considerando as políticas

públicas de educação com o marco legal definidor da LDB (Lei Diretrizes e Bases da

Educação Nacional) e eixos norteadores da Política Nacional de Ciência, Tecnologia &

Inovação. Discute um caso de Inovação em uma Universidade Latino-americana – a

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, a melhor

universidade privada do sul do país. Inicia com a visão histórica do processo de

inovação na instituição (1999) na sua preparação para um novo cenário nacional,

caracterizado pela redução dos investimentos públicos diretos em Pesquisa e

Desenvolvimento e pelo aumento das cooperações com as empresas. O foco inovador

na Universidade é a rede INOVAPUC. O texto apresenta sua estruturação e

* Professora PUCRS. Coord.a da Rede UNIVERSITAS/RIES (http://www.pucrs.br/faced/pos/universitas). Núcleo de Excelência em C, T & I CNPq/FAPERGS e do Observatório de Educação CAPES/INEP. Bolsista Produtividade CNPq. Pós-doutora junto ao LLILAS – Institute of Latin American Studies, da Universidade do Texas - Austin. [email protected] ** Pró-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa PUCRS, Doutor em Administração na Área de Sistemas de Informação. Professor Titular da Faculdade de Informática e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da PUCRS. Pesquisador na área de Sistemas de Informação, com linhas de pesquisa em Engenharia de Software, Qualidade e Melhoria de Processos e Gerência de Projetos em ambientes de DDS (Desenvolvimento Distribuído de Software) e GSD (Global Software Development). [email protected]

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funcionamento. A rede objetiva o desenvolvimento de uma cultura empreendedora

integrada, com a visão compartilhada da inovação na universidade; e promove um

esforço multidisciplinar na busca de soluções às demandas da sociedade em termos de

desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural. Entre os desafios se destacam

a superação da resistência a um processo de inovação que exige uma postura

empreendedora por parte da universidade e a incorporação deste processo ao tradicional

papel da universidade - ensino, pesquisa e extensão.

1. Cartografia do SES no Brasil

A educação superior brasileira na contemporaneidade tem como marco legal

diferenciador a LDB (1996) e medidas complementares que apontam para uma

transformação no SES do país. Este passa a ser caracterizado pela expansão,

privatização, diversificação, busca da qualidade através da avaliação e da regulação,

bem como, mais recentemente, por políticas afirmativas e de recuperação das

universidades públicas.

A Expansão é identificada pelo crescimento expressivo do SES, cujos índices, no

período de 1996 a 2005, chegam a, aproximadamente, 135%, para instituições, 138%

para matriculas, e 207%, para cursos. (Tabela 1).

TABELA 1

EVOLUÇÃO DAS IES, CURSOS E MATRÍCULAS

Fonte: MEC/Inep/Deaes.

Ano IES

%

Cresc. Cursos

%

Cresc. Matrículas

%

Cresc.

1996 922 - 6.644 - 1.868.529 -

1997 900 -2,4 6.132 -7,7 1.945.615 4,1

1998 973 8,1 6.950 13,3 2.125.958 9,3

1999 1.097 12,7 8.878 27,7 2.369.945 11,5

2000 1.180 7,6 10.585 19,2 2.694.245 13,7

2001 1.391 17,9 12.155 14,8 3.030.754 12,5

2002 1.637 17,7 14.399 18,5 3.479.913 14,8

2003 1.859 13,6 16.453 14,3 3.887.022 11,7

2004 2.013 8,3 18.644 13,3 4.163.733 7,1

2005 2.165 7,6 20.407 9,5 4.453.156 7,0

96/05 134,8% 207,1% 138,3%

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A privatização também é identificada. De um total de 2.429.737 vagas, em

2005, 88% se concentram no setor privado1: 57% no particular e 31% no

comunitário/filantrópico/confessional; 89% da IES são privadas e 73% das matrículas.

A diversificação é outra das características do SES. O percurso formativo na

educação brasileira (Gráfico 1) possibilita que ao lado dos tradicionais cursos de

bacharelado e de licenciatura sejam ofertados cursos seqüenciais e, mais recentemente

cursos tecnológicos que se apresentam em crescimento acelerado. No quesito

organização acadêmica, as universidades, em 1996, representavam 14,8% em relação ao

total de instituições e em 2005, esse percentual baixou para 8,1%. Junto à categoria

universidade são identificados os centros universitários (5,3%), as faculdades integradas

(5,4%), as escolas isoladas (73%) e as faculdades tecnológicas (8,5%).

Quadro 1 - Percurso Formativo na Educação Brasileira, 2007

Fonte: MEC/INEP/DEAES, 2007.

O processo de expansão, privatização e diversificação apesar de diminuir a

concentração da educação superior em determinadas regiões geográficas do país não a

1 Segundo fontes oficiais do governo (RISTOFF, GIOLO, 2006) a política educacional em vigor criou condições legais, políticas e ideológicas para que se estabelecesse no Brasil, um mercado educacional estrito senso. Pela Lei n. 9.870, de 23 de novembro de 1999, o legislativo brasileiro ratificou a possibilidade de as instituições educacionais operarem com fins lucrativos. Por outro lado, o governo obstrui o caminho da expansão da educação pública federal (a Lei n. 9.649, de 27 e maio de 1998, impediram a União de expandir a oferta de educação profissional e tecnológica; o Presidente da República vetou as metas do PNE, Lei n. 10. 172, de 9 de janeiro de 2001, itens 4.3,2 3 4.4, 24, que previam a expansão da educação superior pública).

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alterou substancialmente: a região sudeste é expressiva. Em 1996 nesta região se

concentravam 62,4% das IES, 47,5% dos cursos e 55% das matrículas. Em 2005, esses

percentuais baixaram para % (instituições), % (cursos) e % (matrículas).

O modelo de expansão adotado pelo Brasil direcionou a oferta para poucos

cursos: 4 cursos concentram 41% das matriculas: 14,1% em Administração, 12,7% em

Direito, 6,5 % em Pedagogia e 7,7 % Engenharia, produção e construção. Estes mesmos

cursos concentram 38% dos concluintes: 13% em Administração, 10% em Direito; 10%

em Pedagogia e 5% em Engenharia, produção e construção.

Em 2004/2005 concluíram o ensino médio no país 1.879.044 estudantes e as

vagas oferecidas eram 2.435.987. Ou seja, havia mais vagas do que candidatados

formados no ano. Analisando a relação entre as vagas oferecidas na graduação

presencial e os candidatos matriculados segundo a organização administrativa pública

ou privada constatamos a diminuição do preenchimento para a rede privada. (Gráfico

1). AMARAL (2006) apresenta como razão desta sobra de vagas o esgotamento das

possibilidades de acesso frente às condições financeiras dos candidatos.

GRAFICO 1

As funções docentes também sofreram alterações nestes 10 anos pós LDB da

Educação Nacional. A titulação dos docentes demonstra sua qualificação num ritmo

similar ao da expansão do SES: em 1996 tínhamos 25% mestres e 16% doutores e, em

2005, temos 36 % mestres e 22 % de doutores, concentrados 47% dos mestres e 57%

dos doutores na região sudeste. Nas IES públicas 41% são doutores enquanto que nas

privadas 40% são mestres. Nas IES públicas há o predomínio do regime de trabalho de

tempo integral 75% e nas IES privadas o regime de tempo parcial 84%.

O nível de exclusão econômico-social do Brasil é de tal forma acentuada que,

apesar da expansão do SES, a taxa bruta de escolarização superior ainda é muito baixa.

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Do total da população somente 4 163 733 estão matriculados em IES, correspondendo a

uma taxa de 17,3%. Outros países apresentam taxas bem mais altas: Argentina: 63,2%,

Austrália: 72,2%, Chile: 43,0%, França: 56,0%, Portugal: 56,6%, EUA: 82,4% e

Paraguai: 24,4% (Banco Mundial, 2004)

Paralela a estas constatações o governo brasileiro, que direciona centralizamente a

educação superior, emite decisões2 com o fim de implantar ações afirmativas e a busca

da reestruturação das instituições públicas. As principais medidas são: FIES3,

PROUNI4, política de quotas5, REUNI6 e outras, que somadas à criação de 10

universidades federais e 49 novos campi, amplia o número de vagas na educação

superior, interioriza a educação pública e gratuita e combate as desigualdades regionais.

(www.prouni.com.br) Todas estas ações vão ao encontro das metas do Plano Nacional

2 Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei – PL nº. 7.200/2006 –, Lei Orgânica das Universidades Públicas Federais, que objetiva: fortalecimento da universidade pública, contenção da mercantilização do ensino superior, democratização do acesso, garantia da qualidade e construção de uma gestão democrática. (http://mecsrv04.mec.gov.br/reforma/Noticias_Detalhe.asp?Codigo=8216). Paralelamente, devido às tensões que envolvem a aprovação deste projeto, o governo vem implantando medidas isoladas que buscam direcionar o SES ao contexto globalizado. 3 O Programa de Financiamento Estudantil - FIES é destinado a financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes que não têm condições de arcar com os custos de sua formação e estejam regularmente matriculados em instituições não gratuitas, cadastradas no Programa e com avaliação positiva pelo MEC. Criado em 1999 para substituir Programa de Crédito Educativo – PCE/CREDUC, o FIES registra, no segundo semestre de 2006, 1.110 mantenedoras, 1.513 IES, 2.059 campi, 23.035 cursos/habilitações em todo Brasil e 449.786 estudantes beneficiados, com recursos da ordem de R$ 4,5 bilhões entre contratações e renovações semestrais dos financiamentos desde a criação do programa. A partir de 2005, o FIES passou a conceder financiamento também aos estudantes selecionados pelo PROUNI. (http://www3.caixa.gov.br/fies/FIES_FinancEstudantil_financiamento.asp) 4 ProUni - Programa Universidade para Todos, Lei nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005, tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em IES privadas, oferecendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos No seu primeiro processo seletivo, o ProUni ofereceu 112 mil bolsas em 1.142 IES de todo o país. Até 2010 o programa deverá oferecer 400 mil novas bolsas de estudos. 5 As universidades portam autonomia, assim elas determinam os critérios para o acesso de novos alunos, o que faz com a política de cotas varie de uma instituição para outra. Via de regra, as cotas estão relacionadas a características étnicas (afro-descendentes, indígenas, etc.); a situação social (estudo sistemático anteriores ao terceiro nível em escola pública, renda, trabalhadores rurais, presidiários, etc.), a deficiência físicas ou emocionais, etc. 6 O programa tem como diretrizes: I - redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno; II - ampliação da mobilidade estudantil, com a implantação de regimes curriculares e sistemas de títulos que possibilitem a construção de itinerários formativos, mediante o aproveitamento de créditos e a circulação de estudantes entre instituições, cursos e programas de educação superior; III - revisão da estrutura acadêmica, com reorganização dos cursos de graduação e atualização de metodologias de ensino-aprendizagem, buscando a constante elevação da qualidade; IV - diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltada à profissionalização precoce e especializada; V - ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil; e VI - articulação da graduação com a pós-graduação e da educação superior com a educação básica. Todas as IFES brasileiras – 53 concorreram e 42 universidades federais tiveram seus planos de reestruturação aprovados pelo MEC.

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de Educação - PNE, que prevê a presença, até 2010, de pelo menos 30% da população

na faixa etária de 18 a 24 anos na educação superior, hoje restrita a 12% (taxa liquida).

2. Ciência, Tecnologia e Inovação

““......oo ccoonnhheecciimmeennttoo cciieennttííffiiccoo ee oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaa ccaappaacciiddaaddee ddee aapplliiccaaççããoo

ddaass iinnoovvaaççõõeess tteeccnnoollóóggiiccaass ddeesseemmppeennhhaamm uumm ppaappeell ccaaddaa vveezz mmaaiiss cceennttrraall ccoommoo

ffaattoorr ddee mmuuddaannççaa ee ddee ddiinnaammiissmmoo eeccoonnôômmiiccoo ee ssoocciiaall. (TEZANOS, 2001. p. 81)

É neste contexto que a Ciência, a Tecnologia e, mais recentemente, a Inovação

refletem um amadurecimento histórico. No Brasil, o Sistema Nacional de C & T é de

caráter recente. Ele é criado em 1975 congregando diversos planos (MOROSINI, 1991):

PNDE – Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico, PBDCT - Plano Básico de

Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico, PNPG – Plano Nacional de Pós-graduação

e tendo como um dos órgãos mais importantes do fomento o CNPq - Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criado em 1955 e, em nível de MEC, a

CAPES, fomentadora da pós-graduação.

Mesmo com as dificuldades históricas o país construiu um sistema de C&T que

conta atualmente com 80 000 pesquisadores doutores. Da mesma forma que a

graduação se expande a pós-graduação brasileira também o faz. “A pós-graduação está

crescendo a uma média anual de 7%. Em março deste ano, contávamos com 2.437

programas de pós, 3.637 cursos e 148 mil estudantes” (Guimarães in CASTRO, 2007).

Tabela 2 Tabela 3

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O Brasil é responsável por 2% da ciência mundial (16.872 artigos publicados em

2006.). Ocupa o 15° lugar em produtividade e o 20° lugar em qualidade (citação)7. A

qualidade e o crescimento da pós-graduação brasileira seriam os fatores responsáveis

pelo avanço8. A seguir podemos identificar a série histórica dos grupos de pesquisa nas

IES do país. E no gráfico a seguir a concentração regional dos mesmos.

Tabela 4 IES, grupos, pesquisadores e pesq-doutores- 1993-2004

Fonte:www.cnpq.br

Frente à diversificação do sistema de C & T com a incorporação do conceito de

inovação na agenda do setor empresarial e na política de fomento à pesquisa dos

governos federal e estaduais o MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia, em sintonia

7 As áreas que mais cresceram na comparação entre os dois últimos triênios (2001-2003 e 2004-2006) foram psicologia e psiquiatria (70%), produção animal e vegetal (58%), ciências sociais (52%), medicina (47%), farmacologia (46%), ciência agronômica (46%, imunologia (44%), computação (44%) e ecologia e meio ambiente (40%). 8 As universidades com maior impacto estão a seguir listadas sendo seus dados relativos a artigos, citações, media de citação por artigo: Univ. Harvard (EUA), 9.003, 89.323, 9,91; Univ. Cambridge (Reino Unido), 4.748, 31.863, 6,71; Univ. Stanford (EUA), 4.568, 35.239, 7,57; Univ. Califórnia – Berkeley (EUA), 4.772, 33.359, 6,99; Inst. de Tec de Massachusetts (EUA), 3.830, 33.083, 8,64; Inst. de Tec. da Califórnia (EUA), 2.446, 21.817, 8,92; Univ. Columbia (EUA), 4.209, 30.501, 7,25; Univ. Princeton (EUA), 2.091, 13.920, 6,66; Univ. Chicago (EUA), 2.638, 19.587, 7,42; Univ. Oxford (Reino Unido), 4.067, 27.754, 6,82. (Folha de São Paulo, 28 de out.2007 (web science, citações 2005 e 2007 de artigos de 2005). No Brasil ocupa o primeiro lugar o Instituto Butantã, seguido de da UNIFESP, da USP e da UFSM (ver anexo)

1993 1995 1997 2000 2002 2004

IES 99 158 181 224 268 335

Grupos 4.402 7.271 8.632 11.760 15.158 19.470

Pesquisadores 21.541 26.779 33.980 48.781 56.891 77.649

Pesquisadores e doutores (D)

10.994 14.308 18.724 27.662 34.349 47.973

(D)(P) em % 51 53 55 57 60 62

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com o Governo Federal, elaborou o seu Plano de Aceleração do Crescimento – PAC da

Ciência. Este tem como meta para 2 010 um investimento de 1,5% do PIB em P, D & I

e é focado na área tecnológica. São R$ 41 bilhões dos quais 15,3 bilhões para 13 áreas

de pesquisa estratégicas. O estado de São Paulo é o único a repassar o percentual

devido às fundações de pesquisa estaduais - FAP´s (1%). A nova legislação, junto a

outras como a Lei da Inovação Tecnológica, busca reduzir a distância entre as

iniciativas públicas e privadas, estimulando a pesquisa e a rápida absorção desses

conhecimentos pelo setor produtivo.

Quadro 1 Política de estado de C & T e o foco de investimentos, Brasil, 2008.

Fonte: www.mct.gov.br Gráfico 3

O PAC da Ciência se consubstancia em plano de Ação (2007 – 2010) tendo

como prioridades os quatro eixos estratégicos que norteiam a atual Política Nacional de

C,T&I. As principais Linhas de Ação são:

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I – Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C,T&I (Consolidação Institucional do Sistema Nacional de C, T&I, formação de Recursos Humanos para C,T&I9, Infra-estrutura e Fomento da Pesquisa Científica e Tecnológica); II – Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas (Apoio à Inovação Tecnológica nas Empresas, Tecnologia para a Inovação nas Empresas, Incentivo à Criação e à Consolidação de Empresas Intensivas em Tecnologia); III – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em áreas Estratégicas (Áreas portadoras de futuro: Biotecnologia e Nanotecnologia, Tecnologias da Informação, Insumos para a Saúde, Biocombustíveis, Energia Elétrica, Hidrogênio e Energia Renováveis, Petróleo, Gás e Carvão Mineral, Agronegócio, Biodiversidade e Recursos Naturais, Amazônia e Semi-Árido, Meteorologia e Mudanças Climáticas, Programa Espacial, Programam Nuclear, Defesa nacional e Segurança Pública; IV – C, T&I para o Desenvolvimento Social (Popularização da C, T&I e Melhoria do Ensino de Ciências, Tecnologias para o Desenvolvimento Social).

É neste contexto que a educação superior se insere com a perspectiva de um

aumento no numero de bolsas CNPq/CAPES de quase 79% (2006 – 95 000; e 2010 -

170 000), com ênfase nas engenharias e nas áreas de conhecimento relevantes para o

PITCE (Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior).

“Pretende-se que a maior oferta de recursos humanos, combinada com os incentivos

das Leis de Inovação e do Bem, aumente a atividade de P & D nas empresas e a

absorção de mestres e doutores e, conseqüentemente, faça com que a proporção de

pesquisadores nas empresas cresça de 26.3%, hoje, para 33.5% dos 120 000

pesquisadores estimados em atividade de pesquisa no país para 2010.” (MCT, 2007.

p. 62)

No atual contexto caracterizado por grandes e contínuas mudanças, a habilidade

de explorar novas oportunidades é fundamental para as universidades. Além disso, a

busca de diferenciais também é importante e, cada vez mais, a capacidade de inovação

surge como um recurso organizacional para melhorar a competitividade.

A universidade, como outras organizações, não fica alheia a esta realidade. De

um lado, porque é ela própria fonte e ponto de partida de inovações. De outro, porque

também esta organização pode e deve utilizar-se da inovação na melhoria de seus

produtos e processos, com o objetivo de melhor desempenhar sua função, qual seja de

ensinar, pesquisar e formar recursos humanos capazes de responder às necessidades da

sociedade.

9 Ampliar o número de bolsas de formação, pesquisa e extensão concedidas pelo CNPq, com foco nas engenharias e áreas prioritárias da Política Industrial, Tecnológicas e de Comércio Exterior (PITCE) e em setores estratégicos para o desenvolvimento do País; favorecer a inserção de pesquisadores – engenheiros e doutores – nas empresas, como meio de induzir o nascimento de estruturas de P, D&I empresarial; promover a expansão e a qualificação do quadro de profissionais envolvidos nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação nas ICTs, seguindo diretrizes que privilegiem o esforço da superação das desigualdades regionais.

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3. A PUCRS – Inovação na universidade

A trajetória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul tem

origem na criação do curso superior de administração e finanças, inaugurado em 1931,

que originou a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas. Em 1948, foi aprovada a

instalação da Universidade Católica do Rio Grande do Sul a qual seria, em 1950,

agraciada pela Santa Sé com o titulo de Pontifícia.

A PUCRS, em 2007, é constituída pelo campo central, localizado em Porto

Alegre e pelos campi de Viamão e de Uruguaiana10. Conta com 27 000 alunos, com um

percentual de 52% de conclusão, em 52 cursos de graduação com um percentual de 70%

com a nota 5 (Conceito muito bom), segundo a avaliação do MEC. A pós-graduação

strito sensu abarca 23 programas num total de 39 cursos, dos quais 19 cursos de

mestrado foram avaliados pela CAPES com nota 4 ou superior e 10 cursos de doutorado

com nota 5 ou superior. A pós-graduação lato sensu está presente em 68% das unidades

acadêmicas da PUCRS, com 60 cursos que envolvem 1 907 alunos. Existem 220 bolsas

de Iniciação cientifica, 26 patentes e registros de software e 79 bolsistas de

produtividade e/ou de desenvolvimento tecnológico. A IES se dedica a EAD e atendeu 6

940 alunos em cursos de extensão, graduação e pós-graduação. Da mesma forma a

PUCRS busca incentivar e promover a mobilidade dos estudantes por meio de

intercâmbios acadêmicos num total de 44 convênios internacionais para a graduação e

52 para a pós-graduação.

A PUCRS conta com 1 577 docentes, dos quais 85% têm titulação de mestrado

e doutorado e 34% têm regime integral (40h).

A instituição tem mais de quinhentos laboratórios destinados a apoiar as

atividades de ensino e pesquisa e um acervo de 524.608 itens, em sua biblioteca. A

infra-estrutura física e de equipamentos pedagógicos está sintetizada na tabela a seguir.

Tabela 5 Infra estrutura física e equipamentos, PUCRS, 2007. Infra estrutura qtde m² Equipamentosto N.

Área de Lazer 2 22 530 Microcomputadores 7.320

10 A PUCRS, através de seus campi central e de Viamão, tem forte atuação na capital do estado do Rio Grande do Sul e na região metropolitana com uma população de 4 101 647 habitantes . Esta região é o terceiro maior pólo econômico do país concentrando as áreas industrial, calçadista, petroquímica, siderúrgica, metal-mecânica e de microeletrônica. Também é nesta região que estão localizadas mais de 9 instituições de ensino superior com cerca de 150 mil alunos. O campus de Uruguaiana está localizado na fronteira oeste do estado, limítrofe à Argentina. A principal atividade econômica é a agropecuária.

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Auditório 35 3 868 Servidores 164

Banheiros 502 5 750 Impressoras 2.114

Biblioteca 3 9 950 Projetores 322

Instalaç. admins 137 4 851 Retroprojetores -

Laboratórios 526 57 707 Televisores 175

Salas de aula 592 34 683 Monitores 7.853

Salas Coordenação 291 4 167 Scanner 358

Salas de Docentes 97 3 711 DVD 60

Fonte: PDI PUCRS, 2007.

O plano estratégico de 2001 – 2010 da instituição prevê como objetivos: a

consolidação e expansão da graduação, da pós-graduação e da extensão com foco

destaque na primeira; o crescimento com sustentabilidade; a diferenciação pela

qualidade nos produtos e serviços, atualização e inovação, integração entre o ensino a

pesquisa e o exercício de ações solidárias; a adoção de postura estratégica, seletiva e

empreendedora; Indução e apoio à criação e consolidação de áreas ou núcleos de

excelência na universidade; e a consolidação e expansão da educação a distância.

É neste contexto, que a PUCRS cria a Rede INOVAPUC com o objetivo de

articular os atores e os mecanismos relativos ao processo de inovação e

empreendedorismo da Instituição. Seus parâmetros basilares discutem esta relação e o

papel na sociedade do conhecimento, assim como, o conceito de Universidade

Empreendedora.

No tocante a Inovação e Empreendedorismo na Sociedade do Conhecimento é

de destacar que o crescente peso da ciência e da tecnologia é cada vez mais tema central

de intensos debates éticos e políticos (UNESCO, 2005). A inovação surge como uma

resposta da ciência à busca de diferenciação por parte das empresas. Esta diferenciação

pode ser a chave da sustentabilidade das mesmas em um mercado cada vez mais

concorrencial.

O conhecimento, por sua vez, é a base de um processo de inovação, e tem como

insumo fundamental a informação. O processo de inovação e transferência de

conhecimento é dinâmico, complexo e interativo, pois deve existir um fluxo de

informações entre os agentes envolvidos no processo de produção do conhecimento.

Este é caracterizado como uma contínua atividade de pesquisa, composta e estruturada

pelas forças econômicas, pelo conhecimento tecnológico e pela demanda dos

consumidores (BALESTRIN; VARGAS, 2004).

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A inovação11 é considerada um processo estratégico (HAMEL, 1999) do qual

fazem parte a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção

de novos produtos, processos ou técnicas organizacionais (DOSI, 1982). Como

processo, a inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos das empresas

(DRUCKER, 1998), sendo, portanto, um processo de aprendizagem organizacional

(BELL; PAVITT, 2003).

Pode-se dizer, portanto, que também para as universidades a inovação é um

elemento importante visto que, como organização, a universidade tem responsabilidade

e função em relação o desenvolvimento da sociedade como um todo. A inovação pode

estar relacionada à criação de algo totalmente novo ou à adoção de algo já existente que

pode ser aplicado tanto nos serviços oferecidos pela Universidade, quanto nos seus

processos, nas tecnologias empregadas, nas práticas de ensino e de gestão, nos negócios

ou nos investimentos institucionais, etc. O processo de inovação, portanto, deve ser

valorizado e incentivado pela Universidade para que a melhoria contínua possa se

instalar como prática corrente na instituição.

Inovação e empreendedorismo, embora diferentes, são conceitos profundamente

relacionados. É possível dizer que o empreendedorismo é o ato de utilizar inovações de

forma oportuna, gerando novos negócios na economia. Empreendedor é o inovador com

características que compreendem criatividade, persistência, habilidade de assegurar que

seus desejos sejam realizados, liderança, iniciativa, flexibilidade, habilidade em

conduzir situações e habilidade em utilização de recursos (FILION, 1991).

No tocante a Universidade Empreendedora e seus desafios da Renovação é de

considerar que a Universidade é um ambiente propício à inovação (ETZKOWITZ,

2003) e, como tal, uma fonte de inovações a serem transferidas para a sociedade como

um todo. Nos últimos anos, autores como Burton Clark (2003) e Etzkowitz (1998 e

2000) têm usado o termo empreendedorismo com freqüência na área acadêmica, onde

sustentam que a visão de uma Universidade Empreendedora é resultado das demandas

da sociedade e da procura de sustentabilidade das instituições.

O conceito de Universidade Empreendedora, tal como definido por Etzkowitz

(2003), refere-se à capacidade da academia em formular objetivos [acadêmicos] claros,

11 Inovação é mais do que simplesmente o desenvolvimento de novos produtos e processos, e significando mudanças que alteram o desempenho das organizações (BELL; PAVITT, 2003), é fundamental para a estratégia das mesmas. Ou seja, deve fazer parte da definição da estratégia e seu desenvolvimento, estando presente desde a definição do negócio até o planejamento de como os objetivos devem ser alcançados (DRUCKER, 1998).

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transformando o conhecimento gerado em agregação de valor econômico e social. Neste

sentido, a universidade, tal como outras organizações, devem definir uma direção

estratégica a seguir. Clark (2003) define a Universidade Empreendedora como sendo

uma instituição ativa que faz mudanças na sua estrutura e no modo de reagir às

demandas internas e externas. O autor considera que o termo Universidade

Empreendedora12 destaca com mais ênfase e clareza a necessidade de ações e de uma

visão que leve a mudanças na postura das instituições.

De acordo com Etzkowitz (1998) as universidades estão passando por um

processo de mudanças que as faz incorporar na sua missão responsabilidade sobre o

desenvolvimento econômico e social. Para tal, elas devem adaptar-se a esta sociedade

em transformação e desenvolver capacidades que garantam sua sustentabilidade

(CLARK, 2003). Isto implica uma mudança no que diz respeito ao processo de

produção, difusão e aplicação dos conhecimentos (UNESCO, 2005).

3.1. INOVAPUC: novos mecanismos de integração entre sociedade, universidade e

conhecimento.

A partir de 1999, a Universidade iniciou o processo de criação e

desenvolvimento de uma série de ações visando prepará-la para um novo contexto que

se configurava no cenário nacional, que apontava para a redução dos investimentos

públicos diretos em Pesquisa e Desenvolvimento e um aumento das cooperações com as

empresas. Este processo de aproximação com as empresas, visando ampliar os

investimentos em P&D, ocorreu tanto de forma direta na interação Universidade-

12 Clark (2003) identifica cinco elementos que endereçam questões críticas do processo de mudança: uma direção forte e clara do caminho a seguir: uma das maiores dificuldades para a mudança envolve estruturas gerenciais inadequadas e sem capacidade de conduzir as mudanças necessárias. Isto requer uma postura forte e clara da direção a seguir, que deve ser incorporada (aceita) tanto pela administração central como pelos diversos departamentos acadêmicos, buscando uma conciliação entre os novos valores gerenciais com os valores acadêmicos tradicionais; desenvolvimento periférico expandido: frente às novas demandas, as atuais estruturas não conseguem responder satisfatoriamente, gerando uma distância cada vez maior entre as demandas da sociedade e a capacidade de atendê-las. Neste sentido, deve ser estimulado o desenvolvimento de novas estruturas e mecanismos institucionais que permitam atender satisfatoriamente estas novas demandas (centros de pesquisa interdisciplinares, ambientes de inovação, etc.); diversificação das fontes de financiamento: amplias as fontes de financiamento, quer seja para a sustentabilidade da pesquisa como para a própria sustentabilidade da Universidade; estimulação dos acadêmicos: o principal fator de mudança reside na aceitação do processo pelos departamentos da Universidade e todos os seus colaboradores, que devem ser estimulados a se incorporar no processo de transformação; desenvolvimento de uma cultura empreendedora integrada: criar uma cultura integrada, representada por uma visão compartilhada é crítico para o sucesso da mudança, gerando uma perspectiva institucional.

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Empresa, quanto via os Fundos Setoriais, criados a partir do processo de privatização na

segunda metade da década de 90.

No final dos anos 90 foi criada a AGT (Agencia de Gestão Tecnológica), que faz

a gestão de projetos conjuntos entre a universidade e as empresas. Em 2002 foi criado o

Parque Cientifico e Tecnológico da PUCRS, o TECNOPUC, e em 2003 a Incubadora de

Empresas de Base Tecnológica RAIAR.

. No final do ano de 2004, com a mudança da gestão na Reitoria da Universidade,

os temas empreendedorismo e inovação se aprofundam na nova equipe diretiva, se

tornando um dos eixos estratégicos da nova Reitoria. Complementam os eixos

estratégicos de gestão a Qualidade, Interação com a Sociedade e Integração Ensino,

Pesquisa e Extensão.

Na busca de maior organicidade nas ações nestas áreas, se iniciam as discussões

visando a criação de uma rede que congregasse as principais ações da PUCRS nestas

áreas, algumas das quais a Universidade já possuía destaque nos cenários nacional e

internacional. A criação de um Grupo de Discussão na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-

Graduação tinha por objetivo estabilizar conceitos básicos sobre as áreas de inovação e

empreendedorismo e propor uma solução que fornecesse uma abordagem mais

sistêmica nestas áreas.

A partir do grupo de discussão sobre inovação e empreendedorismo que originou

a Rede INOVAPUC a palavra inovação está associada a todo o processo de mudança,

provocado ou não pelos elementos da rede, que agregue valor à Universidade e, por

conseqüência, à sociedade. A expressão “agregar valor” é associada a todas as ações

que possibilitam que a PUCRS cumpra com a sua missão (“... produzir e difundir

conhecimento e promover a formação humana e profissional, orientada por critérios de

qualidade e relevância, na busca de uma sociedade justa e fraterna.”) e a aproximem de

sua visão de futuro (“...será referência nacional e internacional pela relevância das

pesquisas e excelência dos seus cursos e serviço, com a marca da inovação e da ação

solidária, promovendo a interação com a comunidade, a qualidade de vida e o diálogo

entre ciência e fé.”).

O foco da atuação da Universidade por meio da INOVAPUC é promover um

esforço multidisciplinar para buscar soluções e oferecer respostas às demandas da

sociedade em termos de desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural. Desta

forma, a relação entre Universidade e Sociedade ocorre em dois sentidos: tanto

problemas identificados na sociedade podem dar origem ao desenvolvimento de

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pesquisas, quanto resultados e conhecimento já disponíveis na Universidade podem ser

aplicados na solução de problemas existentes.

Um dos objetivos da Universidade é promover a integração das diversas

unidades envolvidas no processo de inovação e empreendedorismo, de forma a garantir

a melhoria do fluxo de informações internamente e tornar as ações mais eficientes e

efetivas, interna (na comunidade acadêmica) e externamente (na sociedade).

Estruturação da Rede Inovapuc

A partir destas discussões, ao final de 2005 foi constituída uma Assessoria na

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação para o tema Inovação e Empreendedorismo.

Esta assessoria tinha por primeiro objetivo realizar um mapeamento do processo de

inovação e empreendedorismo na PUCRS, identificando atores, mecanismos

envolvidos, funções e atividades das unidades, bem como a identificação de possíveis

gargalos no processo de inovação e empreendedorismo. O processo de estruturação da

Rede INOVAPUC teve como método a pesquisa-ação13.

Assim, a criação da Rede INOVAPUC foi definida a partir dos resultados da

pesquisa e articula atores do Núcleo Acadêmico e Unidades Periféricas. O Núcleo

Acadêmico é composto pelas Unidades Acadêmicas, Institutos de Pesquisa e a área de

pesquisa do MCT, sendo unidades universitárias onde se desenvolvem as pesquisas

científicas e tecnológicas. Os resultados destas pesquisas podem apresentar potencial

transferência para a sociedade e para a própria Universidade. As Unidades Periféricas

são mecanismos institucionais voltados à interação com a sociedade, mais

especificamente com empresas e diferentes níveis de governo, conforme pode ser

visualizado na Figura 1.

13 Os dados foram coletados por meio de entrevistas, de documentos e observação participante. As entrevistas ocorreram nas diversas unidades da PUCRS, priorizando as de maior atuação na relação Universidade-Empresa, os institutos de pesquisa e as Pró-Reitoras da universidade. O trabalho inicial foi um conjunto de entrevistas com as unidades da universidade que tinham um contato maior com as empresas, ou seja, que representam realmente a interação Universidade-Empresa na PUCRS, e são Unidades Periféricas de acordo com Clark (2003). Foram realizadas entrevistas com os gestores da Agência de Gestão Tecnológica (AGT), Incubadora Raiar, Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT), Parque Científico e Tecnológico (TECNOPUC), Núcleo de Empreendedorismo da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia. Além destes, representando o Núcleo Acadêmico da Universidade (CLARK, 2003) foram entrevistados os diretores dos institutos de pesquisa da Universidade, sendo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (IPCT), Instituto de Pesquisas Biomédicas (IPB), Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), Instituto do Meio Ambiente (IMA) e ainda a parte relativa à pesquisa do Museu de Ciência e Tecnologia (MCT). Também foram entrevistados

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Quadro 2 Rede INOVAPUC, PUCRS, Brasil, 2008

Figura 1. Rede INOVAPUC

Fonte: ANPROJETO INOVAPUC, 2007

A AGT é quem faz a gestão das relações entre a Universidade, as Empresas e o

Governo no âmbito dos projetos de P&D. O papel da AGT no que diz respeito à relação

à interface da Universidade com a sociedade é de captar suas demandas e canalizar as

respostas a elas geradas na Universidade. Neste sentido, a AGT é o principal contato

com as oportunidades que existem no mercado, tanto em relação às demandas para

desenvolvimento de projetos em conjunto com empresas como para identificação de

fontes de financiamento para a pesquisa na Universidade.

Fonte: PUCRS, 2008

A Incubadora Raiar é uma incubadora de Base Tecnológica Multisetorial. Seu

objetivo é abrigar empresas cujos produtos, processos e serviços sejam resultados de

pesquisas aplicadas, prioritariamente oriundas de projetos de alunos, professores e

funcionários da PUCRS. Por meio do processo de incubação as empresas poderão

desenvolver as atividades necessárias para colocar seus produtos e serviços no mercado.

Para tal a incubadora conta com o Serviço de Apoio à gestão, desenvolvendo as funções

de gestão empresarial, envolvendo a comercialização, comunicação e marketing dos

produtos.

os Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação e de Extensão). A análise dos dados foi realizada sob controle do seminário central, de responsabilidade dos pesquisadores.

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O TECNOPUC14 atua como gestor das relações da Universidade com as

empresas e entidades localizadas no Parque ou com interesse em nele se localizar, sendo

também responsável pelo relacionamento do Parque e da Incubadora RAIAR com as

várias instâncias de governo (municipal, estadual e federal) e com as entidades que

congregam Parques e Incubadoras. Tem por objetivo atrair projetos de pesquisa

científica e tecnológica desenvolvidos em conjunto com as empresas, inserindo a

PUCRS diretamente no processo de desenvolvimento técnico, econômico e social da

região e do país.

O Núcleo Empreendedor tem por objetivo desenvolver ações relativas ao

estímulo ao empreendedorismo no âmbito da Universidade. Além da pré-incubação de

empresas, o Núcleo Empreendedor desenvolve atividades relacionadas à qualificação do

processo empreendedor, tais como palestras e eventos relacionados ao tema, programas

de capacitação, identificação e desenvolvimento de competências para o empreendedor

e apoio na área de gestão. O Núcleo surgiu a partir de ações da Faculdade de

Administração, Economia e Contabilidade, mas também tomou uma dimensão maior e

atualmente é uma unidade de suporte para toda a Universidade.

O Escritório de Transferência de Tecnologia - ETT tem por objetivo realizar

a gestão da transferência de tecnologia da Universidade. O ETT deve atuar nas diversas

14 TECNOPUC – Parque Científico e Tecnológico da PUCRS: é a resposta a uma demanda crescente da sociedade que buscou na universidade a possibilidade de estabelecer parcerias que permitissem um crescimento mútuo. Negócio - Habitat de pesquisa e inovação potencializador do capital intelectual de seus atores; Missão - Criar uma comunidade de pesquisa e inovação transdisciplinar por meio da colaboração entre academia, empresas e governo visando aumentar a competitividade dos seus atores e melhorar a qualidade de vida de suas comunidades; Visão - Em 2010 o TECNOPUC será referência nacional e internacional pela relevância das pesquisas com a marca da inovação, promovendo o desenvolvimento tecnológico, econômico e social da região. Tem como princípios: Zelo pela imagem e cultura da PUCRS; Respeito aos princípios da ética; Eqüidade de tratamento aos parceiros; Qualidade e inovação na gestão; Valorização da potencialidade dos pesquisadores da PUCRS; e Visão global com atuação local. Áreas temáticas do TECNOPUC: é um parque científico e tecnológico multi-temático, focado em três áreas: a) Tecnologia da Informação e Comunicação; b) Energia e Física Aplicada; e c) Ciências Biológicas, da Saúde e Biotecnologia. Estas áreas temáticas foram definidas em função da competência acadêmica da universidade, envolvendo grupos de pesquisa científica e tecnológica e cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado), associada à existência de demanda de sociedade. O TECNOPUC possui 5,4 há e é a parte integrante do campus central da PUCRS, com mais de 70 há de área total. Situa-se em local privilegiado da capital do Estado do Rio Grande do Sul, com bela urbanização, que acolhe mais de 32.000 estudantes, 1.800 professores e 1.200 funcionários. Atualmente são 70 projetos de pesquisa e desenvolvimento envolvendo 60 pesquisadores e quase 400 estudantes de todos os níveis. O parque inteiro tem uma área de 5,6 há e reúne empresas multinacionais e regionais. A Fase II do TECNOPUC representará uma expansão de mais de 20 mil m² em área construída para receber novas parcerias e empreendimentos. Estes novos ambientes, com espaços modulares, irão abrigar empresas intensas em tecnologia, associações, centros de P&D da universidade voltados à interação com empresas e a ampliação da incubadora RAIAR.

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formas de transferência de tecnologia Universidade-Empresa, incluindo a propriedade

intelectual, dando suporte ao trabalho conjunto entre estes agentes.

O IDÉIA atua como área multidisciplinar tendo por objetivo a pesquisa e o

desenvolvimento. Esta unidade sedia projetos de diversas Unidades Acadêmicas e atuar

como incubadora de projetos (spin-off acadêmico). Finalmente, o LABELO é um

laboratório especializado em calibração e ensaios, focado na área de metrologia

cientifica e industrial, acreditado aos organismos de competência nacional.

Inicialmente, a rede INOVAPUC, originária da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-

Graduação, era focada nas ações de Pesquisa da Universidade. No entanto, a partir de

discussões sobre o objetivo da rede, e considerando a importância da articulação das

ações da Universidade para a efetividade de sua atuação na sociedade, todas as Pró-

Reitorias consideraram que era fundamental tratar também as ações de forma conjunta,

integrando pesquisa, ensino e extensão. Desta forma, também estão representadas, por

meio das Unidades Acadêmicas e da atuação de diversas Unidades Periféricas, as ações

de ensino e extensão da PUCRS, envolvendo atualmente as Pró-Reitorias de Extensão,

Graduação, Administração e Ação Comunitária.

Funcionamento da Rede INOVAPUC

A rede INOVAPUC articula os atores envolvidos no ensino, pesquisa e

extensão. Neste sentido o grupo de gestores das Unidades periféricas reúne-se

mensalmente com o objetivo de trocar informações, resolver problemas e identificar

oportunidades de melhorias no processo de inovação e empreendedorismo na

Universidade. A Rede conta também com o Fórum INOVAPUC e o sistema Banco de

Idéias.

O Fórum INOVAPUC é permanente e é o elo entre o Núcleo Acadêmico e as

Unidades Periféricas. Está constituído pelos gestores das Unidades Periféricas e pelos

Agentes de Inovação, que são representantes de cada uma das Unidades participantes do

Núcleo Acadêmico, indicados pelos respectivos Diretores. Estes Agentes de Inovação

têm a função de comunicar as ações de inovação em desenvolvimento e às Unidades as

oportunidades e demandas da sociedade e de outras Unidades.

O Fórum promove a disseminação do conhecimento gerado na Universidade

entre Núcleo Acadêmico e Unidades Periféricas, de forma a promover a ligação entre a

produção científica e as oportunidades do mercado. Assim, o conhecimento e as

inovações gerados com a pesquisa podem ser transformados em empreendimentos, da

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mesma forma que demandas da sociedade podem gerar projetos de pesquisa e

desenvolvimento.

O Fórum ocorre em quatro reuniões anuais. A coordenação do Fórum

INOVAPUC deve apresentar propostas de encaminhamento de demandas das reuniões

anteriores, apresentar evolução e resultados do Banco de Idéias e apresentar temas para

discussão. Os Agentes de Inovação (AI) devem comunicar as ações de inovação em

desenvolvimento nas Unidades, comunicar oportunidades identificadas e demandas

recebidas que possam ter relação com demais Unidades participantes do Fórum;

comunicar as necessidades das Unidades em relação a informações e treinamentos na

área de inovação; e discutir a aprovação das propostas apresentadas no Banco de Idéias.

Os Gestores das Unidades Periféricas comunicam demandas e oportunidades recebidas

que possam ter relação com demais Unidades participantes do Fórum e discutem a

aprovação das propostas apresentadas no Banco de Idéias. Também ocorre no Fórum

palestras com pesquisador(es) renomado(s) da área de Inovação e Transferência de

Tecnologia, para servir de marco teórico referencial para o trabalho a ser desenvolvido.

O Banco de Idéias atende o objetivo de poder gerenciar de uma forma eficiente

as idéias inovadoras a Gerência de Tecnologia da Informação e Telecomunicação

(GTIT) informatizou o processo de armazenamento das idéias propostas para que

possam ser analisadas, melhoradas e implementadas. A este processo foi dado o nome

de “Banco de idéias”. Este workflow define a ordem de execução e as condições pela

qual cada tarefa é iniciada. Além disso, ele é capaz de representar a sincronização das

tarefas e o fluxo de informações buscando a automação de um processo de negócio,

total ou parcialmente, durante o qual documentos, informações e tarefas são passadas

entre os participantes do processo. Este processo sempre inicia com o preenchimento,

por algum integrante do grupo Fórum INOVAPUC, do formulário eletrônico que

contém as informações necessárias para o seu cadastro.

A partir de então, a idéia passa por diversas etapas. A primeira é de análise/

avaliação na qual para cada idéia são nomeados de um a três avaliadores pela

coordenação tendo como critério de seleção o nível de conhecimento que o avaliador

tem em relação ao que se trata a idéia. Quando avaliada favoravelmente a idéia passa

para a etapa de discussão no grupo do Fórum, onde um mediador, designado pela

coordenação, tem a responsabilidade de com base nas informações anteriores, gerenciar

um quadro de discussão para a idéia proposta. Após este realizará um relato da

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discussão. A última etapa é, se aprovada a idéia, de ratificação em uma reunião

presencial do Fórum INOVAPUC.

As diversas ações da Universidade na dimensão de Inovação e

Empreendedorismo têm apresentado impactos importantes nos últimos anos em diversas

frentes, em especial nas áreas de pesquisa e Pós-Graduação, tendo me vista a conexão

próxima existente entre a Rede INOVAPUC e a pesquisa na PUCRS.

Neste sentido, para ilustrar estes impactos (Tabela 1), verifica-se que a PUCRS é

a 17ª. universidade em número de grupos de pesquisa homologados pelo CNPq, sendo a

primeira universidade particular comunitária neste ranking. Este é o segundo biênio em

que a instituição aparece nesta posição, reflexo direto das diversas ações na área de

fomento a pesquisa na universidade, que desde 2001 possui seu foco central na inovação

como fator discriminante das atividades da instituição nesta área. É de destacar o Parque

Cientifico e Tecnológico (criado em 2002), a Incubadora RAIAR (criada em 2003), o

Escritório de Transferência de Tecnologia (criado em 2005) e a Rede INOVAPUC

(criada em 2007).

Tabela 6 Classificação das IES segundo o número de grupos de pesquisa da

instituição, Brasil, 2007

Classificação IES Nº. Grupos

1º USP 1.780

2º UFRJ 853

3º UNESP 774

4º UFMG 650

5º UNICAMP 628

6º UFRGS 557

17º PUCRS 271

Fonte: www.cnpq.br

Como conseqüência natural do crescimento e maior visibilidade da pesquisa na

universidade, na ultima avaliação da CAPES em 2007 (referente ao triênio 2004-2006),

considerando as médias das avaliações dos Programas Stricto Sensu das Instituições

com mais de 10 Programas de PG, a PUCRS está na segunda posição da Região Sul

(média 4,48), entre todas as universidades. Nesta relação, a tabela a seguir, a UFRGS é

a primeira colocada (média 4,89). Esta evolução da avaliação é reflexo direto do

crescimento dos grupos de pesquisa e de sua produção científica e tecnológica, pois

neste período, de 2001 a 2007, a universidade passou de 5 patentes depositadas para 32,

sendo 28 patentes e 4 registros de software. As ações do Escritório de Transferência de

Tecnologia (ETT) são determinantes deste crescimento.

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Tabela 7 Classificação de IES segundo a avaliação de Programas de Pós-graduação

strito sensu ( mestrado e/ou doutorado), Região Sul, Brasil, 2004-2006.

IES

Número

Progrmas Média % Cursos 6+7 % Cursos 5

% Cursos

5+6+7 % Cursos 3, 4

UFRGS 75 4,893 21,33 44,00 65,33 34,67

UFPR 49 4,061 4,08 18,37 22,45 77,55

UFSC 50 4,3 8 32,00 40 60

UFSM 25 4,08 8 16,00 24 76

FURG 12 3,666 0 0,00 0 100

UFPEL 16 4,1875 6,25 12,50 18,75 81,25

PUCRS 25 4,48 8 44,00 52 48

PUCPR 12 3,9166 0 16,67 16,67 83,33

UEM 24 4,1666 8,33 20,84 29,17 70,83

UEL 22 3,7727 0 18,18 18,18 81,82

UNISINOS 16 4,25 6,25 31,25 37,5 62,5

Fonte: www.cnpq.br

Outros fatores relevantes, mesmo que indiretos, foram os aumentos de bolsas e

do fomento aos projetos de pesquisa científica e tecnológica da PUCRS. Em função da

criação do TECNOPUC (com direcionamento de seus recursos para a área de pesquisa,

via a criação de um Fundo de Pesquisa) e a atuação da AGT (Agencia de Gestão

Tecnológica) na atração de novos projetos de P&D o volume de bolsas de IC (Iniciação

Científica) da própria universidade, passou de 80 em 2004 para 150 em 2006 e 230 em

2008. Da mesma forma, o volume de bolsa de mestrado e doutorado oferecidos pela

própria universidade aumentou em 320 (120 bolsas de Doutorado e 200 de Mestrado.

Este aumento é fruto da criação em 2005 do Programa PROBOLSAS, com recursos do

Fundo de Pesquisa do Tecnopuc. É de reforçar que estas bolsas não incluem as bolsas

da CAPES e CNPq.

Finalmente, do ponto de vista de captação direta de recursos de pesquisa e

desenvolvimento por parte da universidade junto às empresas e a FINEP, com foco na

interação Universidade-Empresa-Governo, a evolução dos volumes captados mostram

claramente a importância das ações nas áreas de inovação e empreeendedorismo, via as

Unidades e setores da Rede INOVAPUC. A evolução destas captações de recursos para

projetos de P&D é significativa no período, passando de 1,5 milhões em 2000

(considerando 9 empresas parceiras) para mais de 27 milhões no ano 2007

(considerando 70 empresas parceiras),stes dados não incluem os projetos de órgãos

tradicionais de fomento, como CNPq, CAPES, FAPERGS e outras fontes nacionais e

internacionais. O aumento de recursos captados se reflete diretamente na ampliação das

bolsas de IC para os alunos de graduação, equipamentos, bolsas de mestrado e

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doutorado, criado um circulo virtuoso de crescimento sustentado das atividades de

pesquisa, seja na esfera da graduação como da pós-graduação.

Para finalizar é importante registrar que também são em torno do INOVAPUC

que se desenham os novos processos de formação continuada e permanente no marco da

sociedade do conhecimento e da aprendizagem. Complementando o processo de

formação continuada a reitoria promove seminários internacionais anuais temáticos

sobre Inovação relacionado aos eixos estratégicos da instituição, a saber: em 2006,

Universidade, Empreendedorismo e Inovação; em 2007, Universidade

interdisciplinaridade e Inovação; em 2008, Universidade Qualidade e Inovação; e em

2009, Universidade, Comunidade e Inovação. Estes seminários se estendem também a

questão do ensino, com o programa de Capacitação docente, que em 2007 abordou -

Inovação Curricular: sensibilização para as mudanças na Universidade.

5. Considerações Finais

A partir dos resultados obtidos é possível dizer que a estruturação da Rede

INOVAPUC é um projeto institucional que está atingindo seus objetivos de uma maior

articulação interna das unidades da universidade, de forma a tornar mais efetivo o

processo de inovação e empreendedorismo.

Neste sentido a estrutura existente possibilita, por exemplo, que resultados de

pesquisa obtidos nas Unidades Acadêmicas e Institutos de Pesquisa possam resultar em

projetos a serem incubados no Instituto Idéia, que participa no suporte aos

pesquisadores ainda no processo de encaminhamento de projetos de pesquisa. Seguindo

o fluxo dentro da Rede INOVAPUC, após a incubação, esses projetos podem

transformar-se em empresas incubadas na Raiar para, na seqüência gerarem empresas

estabelecidas dentro do TECNOPUC ou mesmo fora do parque. Todo esse processo

pode ser assessorado pelo Escritório de Transferência de Tecnologia no que se refere à

propriedade intelectual e pelo Núcleo Empreendedor nas questões de gestão do

desenvolvimento da futura empresa.

Embora o foco inicial tenha sido a pesquisa, houve uma adesão posterior de

todas as áreas da universidade. Isto ocorreu tanto pela necessidade de articulação

identificada pelos gestores do processo, quanto pelo interesse despertado por esta ação

nas diferentes instâncias da universidade. De fato, mesmo que o processo de inovação e

empreendedorismo tenha sua base na pesquisa acadêmica, seu desenvolvimento

demanda atividades e ações que são de responsabilidade de outras áreas. Assim, não é

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possível separar o ensino deste processo, dada sua estreita relação com a pesquisa

dentro da PUCRS, bem como as áreas de extensão e ação comunitária, que têm

importante ação na missão da PUCRS de atuar junto à sociedade.

Em relação à teoria, foi possível identificar e caracterizar o Núcleo Acadêmico e

as Unidades Periféricas da universidade. Verifica-se na PUCRS o desenvolvimento

periférico expandido descrito por Clark (2003), a partir das diversas estruturas

existentes para suporte à relação universidade/empresas/governo. Percebe-se que estas,

embora de grande atuação e visibilidade externa, são pouco conhecidas por parte da

comunidade acadêmica.

Um dos resultados já alcançados é um conhecimento maior das estruturas

existentes na universidade de forma mais ampla, principalmente por parte de unidades

que tradicionalmente não tem uma vinculação direta com a área de relações

universidade-empresa. As áreas de humanidades e sociais aplicadas, no entanto, tem um

potencial de participação nesse tipo de projeto que começa a ser vislumbrado. Este

trabalho de articulação e integração é importante considerando que os problemas cada

vez mais complexos apresentados à universidade demandam soluções

multidisciplinares. Isto é um processo a ser desenvolvido e, naturalmente, nem todas as

áreas terão o mesmo grau de participação. Neste sentido a estruturação da Rede

contempla a integração e a confluência de interesses descrita por Etzkowitz (1998).

A partir de um maior conhecimento identificou-se, como resultado das reuniões

do Fórum INOVAPUC, contatos entre pesquisadores de diferentes unidades para

desenvolvimento de pesquisas conjuntas. Chama a atenção, também, um crescente

interesse de desenvolvimento de projetos que não associados à área de pesquisa em si.

Neste sentido as áreas de graduação e extensão têm demonstrado interesse e

participação com idéias a serem desenvolvidas na universidade.

Em relação à ferramenta “Banco de Idéias”, que entrou em funcionamento

definitivo em março de 2007, já está servindo de canal de divulgação de idéias em

diferentes áreas, predominando administrativa e de ensino, revelando também que não

há predominância da área de pesquisa no processo. Uma das possíveis explicações é o

fato de que as idéias inovadoras relativas à pesquisa já tem canais estabelecidos, como

projetos, editais, entre outros, ao contrário de ações na área administrativa e de

extensão.

Outro resultado identificado é o interesse que esta ação despertou na

comunidade externa, embora não seja seu foco principal de ação. Em função da Rede

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coordenar as ações de um processo que tem interação com as empresas, estas acabam

tomando conhecimento deste mecanismo da universidade que, por ser algo novo em

termos de estruturação do processo, chama a atenção e dá credibilidade à postura de

universidade empreendedora.

O diagnóstico do processo de inovação e empreendedorismo dentro da

Universidade identifica como principal desafio em relação à dinâmica do processo de

inovação e empreendedorismo, a deficiência no fluxo de informações entre as Unidades

e os agentes envolvidos. Isto se verifica tanto em relação às Unidades Periféricas quanto

às unidades do Núcleo Acadêmico.

Para suprir esta carência sugere-se melhorar o fluxo de informações para

aumentar o conhecimento da realidade interna da Universidade, onde as unidades e os

atores que tem foco na pesquisa possam tanto dar conhecimento da sua produção como

tomar conhecimento das possibilidades de levar adiante suas descobertas de pesquisa no

sentido da inovação e do mercado quando assim o desejarem. Por outro lado, as

unidades focadas na relação Universidade-Empresa precisam ter maior conhecimento

do que se faz em termos de pesquisa na Universidade, de forma a melhor tratar as

demandas recebidas das empresas.

Concluindo, é possível dizer que a estruturação da Rede INOVAPUC, embora

não tendo criado nenhuma estrutura nova, permitiu uma organicidade que está

melhorando o fluxo do processo de inovação e empreendedorismo na universidade. Esta

ação tem potencial de possibilitar o desenvolvimento de uma cultura empreendedora

integrada, representada por uma visão compartilhada, que é crítico para o sucesso do

processo, gerando uma perspectiva institucional (Etzkowitz, 1998; Clark, 2003).

Caracteriza-se, pois, como um mecanismo capaz de garantir à comunidade

interna o conhecimento das ações e possibilidades existentes na PUCRS. Isto se verifica

na prática, embora seja uma ação muito recente. Sua efetividade como promotora do

processo de inovação e empreendedorismo, no entanto, vai depender de quanto às

estruturas e os mecanismos, a partir do momento em que se tornam conhecidos, serão

utilizados pelos agentes.

Diversos desafios se apresentam para a universidade neste campo.

1. toda inovação representa um processo de ruptura entre uma forma de ver a

realidade, uma prática ou situação, para uma outra com qualidades distintas, ou que pelo

menos seja percebida como tal. Desta forma, ao tirar as pessoas de sua “zona de

conforto” e questionar padrões estabelecidos, é possível encontrar resistência a um

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processo de inovação em qualquer organização e, em especial, em relação à adoção de

uma postura empreendedora por parte da universidade; e

2. a incorporação ao tradicional papel da universidade - ensino, pesquisa e

extensão – a nova responsabilidade sobre o desenvolvimento econômico e social. Esta

função exige uma atitude mais pró-ativa da universidade, seja isto chamado de inovação

ou empreendedorismo. Esta atitude, por certo, traz consigo tomadas de posição e

comprometimento com determinadas causas, que exigirá uma profunda reflexão por

parte dos responsáveis.

Enfim é importante lembrar que a educação e a pesquisa de excelência devem

conduzir a melhoria da qualidade de vida, ao desenvolvimento humano sustentável e ao

bem-estar social..

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Anexo

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IES Brasileiras e artigos científicos de impacto

Fonte: Folha de São Paulo, 2007 (web science, citações 2005 e 2007 de artigos de 2005)