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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
EDSON LOPES DA PONTE
EFEITO ANTI - INFLAMATRIO DO LEO ESSENCIAL DE
Croton zehntneri PAX ET HOFMM E DO ANETOL
FORTALEZA
2009
1
EDSON LOPES DA PONTE
EFEITO ANTI - INFLAMATRIO DO LEO ESSENCIAL DE Croton
zehntneri PAX ET HOFMM E DO ANETOL
Dissertao apresentada ao Curso de
Mestrado Acadmico em Cincias
Fisiolgicas do Centro de Cincias da
Sade da Universidade Estadual do Cear
como requisito para obteno do grau de
Mestre em Cincias Fisiolgicas.
Orientadora: Dra. Ana Maria Sampaio Assereuy
Co-orientadora: Dra. Andrelina Noronha Coelho
de Sousa
FORTALEZA
2009
2
EDSON LOPES DA PONTE
EFEITO ANTI - INFLAMATRIO DO LEO ESSENCIAL DE Croton
zehntneri PAX ET HOFMM E DO ANETOL
Dissertao apresentada ao Curso de
Mestrado Acadmico em Cincias
Fisiolgicas do Centro de Cincias da
Sade da Universidade Estadual do Cear
como requisito para obteno do grau de
Mestre em Cincias Fisiolgicas.
_____/___________/______
Data
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Sampaio Assreuy - Orientadora
Universidade Estadual do Cear - UECE
_______________________________________
Profo. Dr. Jos Henrique Leal Cardoso
Universidade Estadual do Cear - UECE
_______________________________________
Profo. Dr. Pedro Marcos Gomes Soares
Universidade Federal do Cear - UFC
3
Deus, por sempre realizar a vontade
Dele em minha vida.
Dedico este Trabalho
4
AGRADECIMENTOS
Deus por permitir que eu viva a servir;
Aos meus pais por todo o esforo realizado para me ajudar a chegar at aqui;
Ao meu irmo Marcelo Lopes da Ponte por ter sido sempre minha referncia;
minha irm Cintia Lopes Ferreira da Ponte por sua doura e compreenso;
Ao meu irmo Matheus Lopes da Ponte que talvez hoje no entenda, mas que
daqui algum tempo ele vai ler isso e eu quero que ele saiba o quanto
importante para mim;
minha namorada Aline Oliveira Vitor por ser meu porto seguro;
Aos animais que doaram sua vida para o progresso da cincia;
Ao Colgio e Faculdade Christus por todo apoio concedido, em especial ao Dr.
Jos Rocha e Dr. Miguel Leito, que me incentivaram sempre a seguir a
docncia;
Profa. Dra Andrelina Noronha Coelho de Sousa por ser meu elo de ligao
com a cincia;
Profa Dra Ana Maria Sampaio Assreuy pelo exemplo de orientao,
perseverana, vontade, garra e dedicao;
Ao Dr. Jos Henrique Leal Cardoso por acreditar e confiar na vitria do nosso
mestrado e futuro doutorado;
Dr. Claudia Ferreira Santos, Ariclcio, Kildere, Adriano, rika, Natlia,
Giovanni, Luciano, Lorena Fidlis, Moabe, Carlos Eduardo, Cecla,
Hermgenes e todos que contriburam para a minha iniciao cincia;
5
Paloma Leo Sousa que em todos os momentos me ajudou sem vacilar;
Alana Freitas Pires que, alm de colega e amiga, uma pessoa exemplo de
prestatividade e humildade;
Gabriela que chegou ao LAFFIN e j deixa a sua marca de alegria, bondade
e doura;
Albertina, Lvia, Rmmulo, Natlia, Carol, Pmela, Felipe, Pedro e todos
aqueles que compem o LAFFIN;
A todos os meus colegas de mestrado: Fleury, Kerly, Camille, Paulo, Marco
Antonio, Liza, Rmulo, Jamile, Andr, Denise e tantos outros que o espao no
permite citar;
A todos os professores que me ensinaram at agora;
A todos que fazem parte do Instituto Superior em Cincias Biomdicas como: a
Ecila, Lindalva, Frank, Paulo Csar, a todos os guardas patrimoniais, Ccero, e
Cleidson;
Aos meus alunos e ex-alunos
FUNCAP pelo apoio financeiro
6
RESUMO
Os leos essenciais obtidos de plantas do gnero Croton
(Euphorbiaceae) possuem aroma agradvel e so fontes de molculas
biologicamente ativas, a partir das quais se obtm compostos quimicamente
distintos de elevado significado cientfico e amplo uso popular teraputico. O
leo essencial de Croton zehntneri (OECz), conhecido como Canela-de-
Cunh, apresenta como constituintes principais o anetol, estragol e o eugenol.
Baseado nas aes antiinflamatria in vitro, antioxidante e antinociceptiva do
OECz e/ou de seus principais constituintes, o objetivo desse trabalho foi
investigar a ao e o mecanismo anti-inflamatrio do OECz e do anetol, no
modelo de edema de pata em camundongos de origem no imune, induzido
por carragenina, e imune, induzido por ovalbumina em animais sensibilizados.
O tratamento sub-crnico dos animais com o OECz e o anetol tambm foi
realizado para avaliar possvel toxicidade sistmica.O OECz (10, 30 e 100
mg/kg; v.o.) e o anetol (3, 10 e 30 mg/kg; v.o.) inibiram o edema de pata
induzido por carragenina em cerca de 40 e 31%, respectivamente. Na
investigao do mecanismo da ao anti-inflamatria, o OECz (10mg/Kg) inibiu
os edemas induzidos por bradicinina (57%), histamina (54%), nitroprussiato de
sdio (45%) e substncia P (33%), mas no alterou aqueles induzidos por
serotonina, composto 48/80, cido araquidnico e prostaglandina E2. O anetol
inibiu os edemas induzidos por bradicinina (59%), serotonina (45%), substncia
P (36%) e histamina (30%), mas no alterou o edema induzido por
nitroprussiato de sdio. O efeito antiedematognico do OECz (35%) tambm foi
observado no modelo de inflamao imune. Os resultados do presente trabalho
mostram que o OECz e o anetol apresentam atividade antiedematognica em
modelo de inflamao aguda, cujo mecanismo envolve principalmente a
inibio de cininas, bem como do mediador de fase tardia, o xido ntrico. O
OECz e o anetol no apresentaram toxicidade sistmica, sendo esta uma
caracterstica promissora importante para uma futura utilizao como
fitoterpico.
Palavras-chave: leo essencial, anetol e Croton zehntneri
7
ABSTRACT
Essential oils from the gender Croton (Euphorbiaceae) are sources of bioactive
molecules, from which are obtained several compounds of diverse chemical
groups and great therapeutic potential in folk medicine. The essential oil of
Croton zehntneri (EOCz), popularly known as Canela-de-Cunh, possesses
anethole, estragole and eugenol as the main constituents. Based on the in vitro
antiinflammatory, antioxidant and antinociceptive properties of EOCz and/or its
main constituents, the aim of this study was to investigate the underlined
mechanism involved in the EOCz and anethole antiinflammatory action, using
models of mice paw edema of non immune and immune origin, induced by
carrageenin and ovalbumin (in desensitized animals), respectively. The animals
subchronic treatment with EOCz and anethole was also performed in order to
evaluate possible systemic toxicity. EOCz (10, 30, 100 mg/kg; p.o.) and
anethole (3, 10, 30 mg/kg; p.o.) inhibited the paw edema induced by
carrageenin about 40 and 31%, respectively. The investigation of the anti-
inflammatory mechanism showed that EOCz (10mg/Kg) inhibited the edema
induced by bradykinin (57%), histamine (54%), sodium nitroprusside (45%) and
substance P (33%), but did not alter those induced by serotonin, compound
48/80, arachidonic acid or prostaglandin E2. Anethole inhibited the edema
induced by bradykinin (59%), serotonin (45%), substance P (36%) and
histamine (30%) but did not interfere with the edema induced by sodium
nitroprusside. The EOCz antiedematogenic effect (35%) was also observed in a
model of immune inflammation. In summary, the present results show that
EOCz and anethole present antiedematogenic activity in a model of acute
inflammation, whose mechanism involves mainly their inhibitory action towards
kinins, but also upon the late phase mediator nitric oxide. EOCz and anethole
do not present systemic toxicity, being this important feature useful for future
phytotherapic application.
Key-words: essential oil, anethole, Croton zehntneri
8
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 Croton zehntneri Canela - de cunh 16
Figura 2 Estrutura molecular do anetol. 24
Figura 3 Efeito antiedematognico do OECz sobre o edema de pata
induzido por carragenina.
44
Figura 4 Efeito antiedematognico do anetol sobre o edema de pata
induzido por carragenina.
45
Figura 5 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido por histamina.
47
Figura 6 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido pelo composto 48/80.
48
Figura 7 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido por bradicinina.
50
Figura 8 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido pela substncia P.
51
Figura 9 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido por serotonina.
53
Figura 10 Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de
pata induzido pelo nitroprussiato de sdio.
54
Figura 11 Efeito antiedematognico do OECz sobre o edema de pata
induzido por cido araquidnico e prostaglandina E2.
55
Figura 12 Efeito antiedematognico do OECz sobre o edema de pata
induzido por ovalbumina em animais sensibilizados.
57
Tabela 1 Constituintes qumicos do leo essencial de C. zehntneri 42
Tabela 2 Efeito inibitrio do OECz e do anetol sobre o curso temporal do
edema de pata induzido por carragenina.
46
Tabela 3 Resumo dos efeitos inibitrios do OECz e do anetol sobre o
curso temporal do edema de pata induzido por estmulos
inflamatrios.
56
Tabela 4 Tratamento sub-crnico com OECz e anetol no altera o peso
corporal dos animais nem o peso mido de seus rgos.
58
Tabela 5 Tratamento sub-crnico com OECz e anetol no altera os
parmetros bioqumicos de funo renal, heptica e cardaca.
58
9
LISTA DE ABREVIATURAS
ALT - alanina aminotransferase
AMPc - adenosina monofosfato cclico
ASC - rea sob as curva
AST - aspartato aminotransferase
ATP - adenosina trifosfato
BH4 - tetrabiopterina
CD4 - Grupamento de diferenciao 4
CD8 - Grupamento de diferenciao 8
Cg - carragenina
CK - creatinoquinase total
cm - centmetro (s)
COX - ciclo-oxigenase
C5a - quinto componente do sistema complemento ativado
DAG - diacilglicerol
EDRFs - fatores de relaxamento vascular derivados do endotlio
EDTA K3 cido etilenodiaminotetractico tripotssico
ELAM-1 - molcula endotelial de adeso de leuccito
eNOS - xido ntrico sintase endotelial
FcRI - receptores na superfcie de suas membranas
fMLP - Peptdeo N-formil-metil-L-metionil-L-leucil-L-fenilalanina
g - grama (s)
GTP - guanosina trifosfato
h - hora (s)
H1 - receptor de histamina
HE - hematoxilina-eosina
HA - Histamina
ICAM-1 - Molculas de Adeso Intercelular-1
IgE - imunoglobulina E
IL-1 - interleucina-1
INF- - interferon-
iNOS - xido ntrico sintase induzvel
10
i.p - intraperitoneal
IP3 - trifosfato de inositol
K+ - potssio
Kg - quilograma (s)
LAM-1 - molcula leucocitria do leuccito
L-NAME - L- NG nitro arginina metil Ester
LPS - lipopolissacardeo
LTB4 - leucotrieno do tipo B4
mg - miligrama (s)
min - minuto (s)
ml - mililitro (s)
mm - milmetro
NaCl - cloreto de sdio
NADPH - nicotinamida adenina dinucleotdeo associado ao grupo fosfato e
on hidrognio
NK1 - receptor para substncia P
NO - xido ntrico
NOS - xido ntrico sintase
nNOS - xido ntrico sintase neuronal
nmol - nanomol
ng - nanograma
OECz - leo Essencial do Croton zehntneri
PCAM-1 - molcula de adeso de clula endotelial e plaqueta
PADETEC - Parque de desenvolvimento tecnolgico do Cear
PAF - fator ativador de plaquetas
PG - prostaglandinas
PSP-I - subunidade I da espermadesina suna
s.c. - sub-cutnea
SNC - Sistema Nervoso Central
SP - Substncia P
VCAM-1 - Molcula de Adeso Vascular
v.o. - via oral
TNF- - fator de necrose tumoral alfa
5-HT - serotonina
11
5-HT1- receptor serotoninrgico
g - micrograma (s)
l - microlitro (s)
m - micrometro (s)
12
SUMRIO
1 INTRODUO 14
1.1 ASPECTOS BOTNICOS DAS PLANTAS AROMTICAS DA
FAMLIA Euphorbiaceae 14
1.2 LEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS
PRINCIPAIS CONTITUINTES. 16
1.3 PROPRIEDADES BIOLGICAS DE ALGUNS LEOS
ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS 18
1.4 PROPRIEDADES BIOLGICAS DO GNERO Croton 20
1.5 EFEITOS BIOLGICOS E FARMACOLGICOS DO LEO
ESSENCIAL DO Croton zehntneri E DE SEUS PRINCIPAIS
CONSTITUINTES
21
1.5.1 Anetol o principal constituinte do leo Essencial de Croton
zehntineri 23
1.6 RESPOSTA INFLAMATRIA 24
1.6.1 Alteraes vasculares 25
1.6.2 Eventos celulares e papel de molculas de adeso 27
1.6.3 Clulas residentes e seus mediadores 30
2. JUSTIFICATIVA 34
3. OBJETIVOS 35
4. MATERIAIS E MTODOS 36
4.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS 36
4.2 LEO ESSENCIAL 36
4.3 DROGAS E REAGENTES: 36
4.4 DISSOLUO DAS DROGAS E LEO 37
4.5 ESTUDO DA ATIVIDADE ANTIINFLAMATRIA 37
4.6 MODELO DE EDEMA DE PATA INDUZIDO POR
OVALBUMINA 39
4.7 ESTUDO DA TOXICIDADE SUBAGUDA DO LEO
ESSENCIAL DE C. zehntneri E ANETOL 39
4.8 ANLISE ESTATSTICA 41
5. RESULTADOS 42
5.1 COMPOSIO QUMICA DO LEO ESSENCIAL DE C. 42
13
zehntneri
5.2 O LEO ESSENCIAL DE C. zehntneri E O ANETOL INIBEM O
EDEMA DE PATA INDUZIDO POR CARRAGENINA
43
5.3 EFEITOS DO LEO ESSENCIAL DE C. zehntneri E DO
ANETOL SOBRE ALGUNS MEDIADORES INFLAMATRIOS
ENVOLVIDOS NA FASE INICIAL DO EDEMA DE PATA
INDUZIDO POR CARRAGENINA
46
5.3.1 Efeitos do OECz e do anetol sobre o edema de pata induzido
por histamina e pelo composto 48/80 46
5.3.2 O OECz e o anetol inibem o edema de pata induzido por
bradicinina 49
5.3.3 O OECz e o anetol inibem o edema de pata induzido pela
substncia P 49
5.3.4 O anetol, mas no o OECz inibe o edema de pata induzido
por serotonina 52
5.4 EFEITOS DO LEO ESSENCIAL DE C. zehntneri E DO
ANETOL SOBRE ALGUNS MEDIADORES INFLAMATRIOS
ENVOLVIDOS NA FASE TARDIA DO EDEMA DE PATA
INDUZIDO POR CARRAGENINA
52
5.4.1 O OECz mas no o anetol, inibe o edema de pata induzido
pelo nitroprussiato de sdio 52
5.4.2 Ausncia de efeito inibitrio do OECz sobre o edema de pata
induzido por cido araquidnico e PGE2 55
5.5 O LEO ESSENCIAL DE C. zehntneri INIBE O EDEMA DE
PATA INDUZIDO POR OVALBUMINA EM CAMUNDONGOS
SENSIBILIZADOS
56
5.6 O LEO ESSENCIAL DE C. zehntneri E O ANETOL NO
APRESENTA TOXICIDADE SISTMICA 57
6 DISCUSSO 59
7 CONCLUSES 65
8 REFERNCIAS 66
14
1 INTRODUO
A investigao das propriedades qumicas e farmacolgicas de plantas
medicinais nativas deve ser vista como uma importante estratgia cientfica
e/ou econmica na busca de alternativas teraputicas, diagnsticas e/ou
biotecnolgicas. A utilizao indiscriminada destas plantas, sem a devida
validao experimental, pode trazer srias complicaes para a sade da
populao.
leos essenciais so misturas complexas, farmacologicamente ativas,
que conferem aromas e sabores caractersticos, conhecidos como leos
etreos ou leos volteis. temperatura ambiente, os leos essenciais (ou
volteis) apresentam-se como lquidos oleosos de alta volatilidade, o que os
diferencia dos leos fixos (MATOS; FERNANDES, 1978; SIMES et al., 1999).
1.1 ASPECTOS BOTNICOS DAS PLANTAS AROMTICAS DA
FAMLIA Euphorbiaceae
A famlia Euphorbiaceae uma das mais estudadas no Brasil,
apresentando substncias volteis distribudas por todos os rgos da planta,
que podem representar fonte renovvel de substratos (BRITO; BRITO, 1993).
Esta famlia possui cerca de 7.500 espcies reunidas em 290 gneros
(WEBSTER, 1993; BARROSO, 1991), dentre eles o gnero Croton com
espcies ocorrendo em abundncia no mundo inteiro, sendo mais evidentes
nas regies tropicais e temperadas (ALLEN, 1976; JOLLY, 1977; LAWRENCE,
1951).
O gnero Croton um dos maiores representantes da famlia
(WEBSTER, 1994), compreendendo cerca de 750 a 800 espcies de
distribuio neotropical (RANDAU et al., 2004) e segundo Craveiro et al. (1980)
o de maior disperso no Nordeste, onde se encontram as grandes
populaes vegetais de Marmeleiros e Velames na vegetao secundria.
15
Segundo estudos botnicos realizados por Souza e Lorenzi (2008), o gnero
Croton o mais comum em todos os ecossistemas terrestres brasileiros,
amplamente distribudo na flora nordestina brasileira, nas regies de cerrado,
matas dos tabuleiros litorneos, matas pluviais e, principalmente, nas caatingas
nordestinas, e de grande utilidade medicinal ao homem do campo (DUCKE,
1959; VILA VERDE, 2005). De acordo, com as denominaes populares, as
espcies de Croton nativas no Nordeste do Brasil, podem ser agrupadas nas
categorias: canelas silvestres, marmeleiros e velames (FERNANDES et al.,
1971).
O Croton zehntneri Pax et Hoffm, cujo leo essencial explorado nesse
trabalho, um arbusto delicado e muito aromtico, com ramos que so
revestidos de pelos estrelados. As inflorescncias apresentam-se em racenos
contnuos e desinfloras de 3 a 8 cm de comprimento. O fruto mostra cpsula
subglobosa, trilobulada, medindo de 4 a 5 mm de comprimento. A planta
produz quantidade razovel de leo essencial com rendimento de 1,5 - 3% do
peso de suas folhas (CRAVEIRO et al., 1980). Este vegetal caracterstico de
solo arenoso, branco e bem drenado, pode chegar a dois metros de altura,
apresenta caule com colorao avermelhada e folhas curto-pecioladas de at 5
centmetros de comprimento, um centmetro de largura (lanceoladas) e com
filotaxia helicoidal. As folhas so do tipo simples e alternadas, possuindo cerca
de 2 a 3,5 cm de comprimento e 1,5 a 3 cm de largura. No limbo h nervura
proeminente na face dorsal e sulco na face ventral. O pecolo foliar
pubescente de cerca de 2 mm.
O Croton zehntneri pertence categoria das canelas silvestres,
popularmente conhecido como canela de cunh. Possui como principal
caracterstica o aroma forte e adocicado, semelhante ao anis (Illicium verum),
ao cravo da ndia (Eugenia caryophyllata) ou mistura de ambos
(FERNANDES et al., 1971), que exalado por todas as partes da planta
(CRAVEIRO et al., 1980). usado popularmente por suas aes sedativa,
estimulante de apetite, anti-sptica e para distrbios gatrintestinais (MATOS,
1999).
16
1.2 LEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS
PRINCIPAIS CONTITUINTES.
Os leos essenciais encontram-se na forma de pequenas gotas entre as
clulas, associadas a vrias funes necessrias sobrevivncia do vegetal
em seu ecossistema. Dentre essas funes, podemos destacar seu papel na
defesa contra microorganismos e predadores bem como na atrao de insetos
Figura 1 - Croton zehntineri - Canela - de - cunh
e outros agentes fecundadores (LAVABRE, 1993; SIQUI et al., 2000).
Representam fontes de molculas biologicamente ativas, a partir das quais se
tm produzido compostos com grande significado teraputico e cientfico
(TISSERAND; BALACS, 1995). Estima-se que exista cerca de 3000 leos
essenciais conhecidos, dos quais 300 so importantes comercialmente, pois
so destinados principalmente ao mercado de aromatizantes e perfumes (VAN
DE BRAAK; LEIJTEN, 1999).
Os leos essenciais apresentam composio lipoflica quimicamente
diferente da composio glicerdica dos verdadeiros leos e gorduras. So
geralmente incolores ou ligeiramente amarelados e pouco instveis em
17
presena de ar, luz, calor e umidade (MATOS; MATOS, 1989; TISSERAND;
BALACS, 1995).
Os leos essenciais so produtos de composio complexa extrados de
plantas por vrios processos, sendo o mais utilizado a destilao por arraste de
vapor dgua (CRAVEIRO et al., 1976; BRUNETON, 1995). Essas plantas tm
um contedo de leo essencial em torno de 0,1 a 0,5% e, raramente, de 1 a
5%, do peso verde (BRUNETON, 1995).
Um problema muito comum na pesquisa de atividade biolgica que
mesmo simples extratos ou outros produtos derivados de plantas podem conter
uma mistura de vrios compostos que esto sujeitos variao de
concentrao de acordo com mudanas ambientais (TAYLOR et al., 2001). A
composio qumica dos leos essenciais pode variar muito, incluindo
hidrocarbonetos terpnicos, alcois, cetonas, aldedos, teres, xidos, steres
entre outros. comum encontrarmos leos volteis contendo mais de 200
constituintes, sendo um predominante e os demais aparecendo como
elementos-trao. Esses componentes, incluindo-se os elementos-trao, tm
importncia fundamental no aroma. importante destacar que plantas de uma
mesma espcie, cultivadas em diferentes partes do mundo, apresentam via de
regra leos essenciais com a mesma composio qualitativa, porm diferindo
nas propores dos seus constituintes (ROBBERS, et al., 1996; MATOS;
FERNANDES, 1978; LAVABRE, 1993).
Embora a composio qumica dos leos essenciais de uma planta
determinada geneticamente, alguns fatores podem alterar esta composio,
tais como quimiotipo, ciclo vegetativo, rgo utilizado para extrao, poca do
ano, temperatura e horrio da coleta. Como exemplo, o leo essencial de
Ocimum gratissimum coletado em Fortaleza apresenta um teor de eugenol que
varia de 98,02% ao meio dia at 11,37% s 17h, enquanto o teor de 1,8 cineol
zero ao meio, mas se a coleta for s 17h, pode chegar at 75,5% (LAVABRE,
1993; MATOS et al. 1989; SILVA et al. 1992).
O leo essencial do Croton zehntneri (OECz) apresenta como principais
constituintes os derivados de fenilpropanos; anetol (principalmente o trans-
18
anetol), estragol e eugenol, tambm presentes com bastante frequncia nos
leos essenciais de outras plantas (CRAVEIRO et al., 1978; CRAVEIRO et al.,
1981). Foi verificado que o teor desses constituintes varia de acordo com a
localidade onde a planta coletada (CRAVEIRO et al., 1981). Desta forma,
classificou-se o Croton zehntneri em trs quimiotipos: quimiotipo anetol, aquele
que contm um considervel percentual de anetol, embora no seja o principal
constituinte (anetol 28% e estragol 75% do peso do leo); quimiotipo eugenol
(eugenol 68,5% do peso do leo) e estragol (estragol 80% do peso do leo)
onde o teor de anetol muito baixo. No entanto, encontrou-se na localidade de
Viosa do Cear uma amostra cujo leo contm cerca de 85% de anetol. Ainda
esto presentes nesta amostra o mirceno, o cariofileno, o -elemeno, o 1-8-
cineol e o -pineno (CRAVEIRO et al., 1981).
A canela de cunh bastante utilizada na medicina popular, na forma
de ch ou infuso, como sedativo, estomquico, antiespasmdico,
antianorexgeno e antidiarrico (CRAVEIRO et al., 1977, 1978, 1980; MATOS,
1999). Apesar do largo uso, pouco se tem investigado sobre os seus efeitos
farmacolgicos.
1.3 PROPRIEDADES BIOLGICAS DE ALGUNS LEOS
ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS
Os leos essenciais, em funo de sua complexa composio qumica,
apresentam uma diversidade de atividades biolgicas. Uma propriedade
amplamente descrita a antimicrobiana, que est presente na grande maioria
destes compostos (RAO; NIGAM, 1970; LIMBERGER et al., 1998; SANTOS et
al., 1998; GUENTHER, 1976; MILHAU et al., 1997, LOPES-LUTZ et al., 2008)
e representa de certa forma, uma extenso do prprio papel de proteo que
exercem nas plantas contra bactrias e fungos fitopatognicos (JANSSEN et
al., 1987). Esta propriedade foi demonstrada contra o Bacilus typhosus e
Klebsiella pneumoniae (GUENTHER, 1976). No leo extrado das folhas de
Eugenia jambola (jambolo) e E. bracteate, esta atividade foi demonstrada
contra o Vibrio cholerae e Salmonella typhi (RAO; NIGAM, 1970). Nos gneros
19
Psidium e Pilocarpus, contra Pseudomonas aeruginosa (SANTOS et al., 1998)
e recentemente, para vrias espcies do gnero Artemisia, contra Escherichia
coli, Staphylococcus aureus e S. epidermidis (LOPES-LUTZ et al., 2008). Em
2002, Holetz e colaboradores observaram que vrias plantas brasileiras de uso
popular possuem atividade antibacteriana com comprovao cientfica, e em
muitas delas este efeito se d atravs de seu leo essencial.
Outros leos essenciais foram efetivos contra Plasmodium falciparum in
vitro (MILHAU et al., 1997), Entamoeba histolytica (DE BLASI et al., 1990), a
cercria do Schistosoma mansoni (MENDES et al., 1990), alguns tipos de
vrus, incluindo herpes simplex tipo 1 e 2 (SIDDIQUI et al., 1996; KOCH et al.,
2008), influenza e HIV (HAYASHI et al., 1995, ASRES et al., 2005).
Pesquisas com leos essenciais tm revelado seu potencial como
agentes repelentes de insetos vetores de doenas como os mosquitos do
gnero Aedes, transmissores da dengue (MATSUDA et al., 1996) e da doena
de Chagas (FOURNET et al., 1996). H tambm a ao larvicida contra o
mosquito transmissor da dengue (MORAIS et al., 2006).
Alm das propriedades antimicrobianas dos leos essenciais, foram
evidenciados efeitos diurticos e hipotensores (CONSOLINI et al., 1999;
LAHLOU et al., 2000), anti-fngicos (LIMA et al., 2006), anticonvulsivantes
(FURTADO et al., 2000); antipirticos e depressores do sistema nervoso
central (MECKES et al., 1996). Merecem ser destacadas as atividades
miorrelaxante e antiespasmdica (COELHO-DE-SOUZA et al., 1997, 1998;
MAGALHES et al., 1998; BEZERRA et al., 2000; LIMA et al., 2000; PINTO et
al., 2009); anti-cncer (ASHOUR, 2008); gastroprotetora (PAULA et al., 2006);
antioxidante (MONTEIRO et al., 2007); analgsica e anti-inflamatria (LINO et
al., 2005; LIN et al., 2008)Para o leo essencial de Ocimum gratissimum foi
demonstrado o efeito relaxante sobre os msculos lisos de leo de cobaia
(MADEIRA et al., 2002, 2005) e aorta de ratos hipertensos (INTERAMINENSE
et al., 2007), bem como os efeitos anti-inflamatrio (RABELO et al., 2001) e
antinociceptivo (RABELO et al., 2003)
20
1.4 PROPRIEDADES BIOLGICAS DO GNERO Croton
Nas ltimas dcadas, nosso grupo vem estudando, do ponto de vista
farmacolgico e fisiolgico, os leos essenciais de plantas medicinais,
principalmente do gnero Croton, usadas na medicina popular nordestina, na
tentativa de caracterizar seus efeitos e verificar a contribuio de seus
constituintes isolados.
Dentre as plantas do gnero, esto sendo estudadas as do Croton
argyrophylloides, C. nepetaefolius, C. sonderianus e C. zehntneri, para as quais
foi demonstrada a atividade larvicida contra o Aedes aegypti (LIMA, 2006) e
para seus leos essenciais a atividade antioxidante (MORAIS et al., 2006).
Os leos essenciais de C. zehntneri, C. argyrophylloides e C.
nepetaefolius apresentaram atividade antifngica e potencialidade fitoterpica
para dermatofitoses (FONTENELLE et al., 2008). O leo essencial de C.
nepetaefolius (MAGALHES et al., 1998) e seus principais constituintes
(MAGALHES et al., 2004) apresentaram efeitos vasorelaxante, miorelaxante e
anti-espasmdico no msculo liso de aorta, traquea e intestino (MAGALHES
et al., 2003, 2008), atividade hipotensora em ratos hipertensos (LAHLOU et al.,
2000), bem como bloqueio da excitabilidade do nervo citico (LIMA-ACCIOLY
et al., 2006) e efeito antinociceptivo em camundongos (ABDON et al., 2002).
Foi verificada tambm a ao antinociceptiva para o leo essencial de C.
sonderianus (SANTOS et al., 2005). Alm destas, a atividade anti-inflamatria
foi demonstrada para os leos essenciais de C. celtidifolius (SUREZ et al.,
2003), C. cuneatus (SUREZ et al., 2006) e C. malambo (NARDI et al., 2007).
Esta atividade, assim como os efeitos antinociceptivo, antiulcerognico e
vasorelaxante, foram demonstrados em roedores para o leo essencial do C.
cajucara, popularmente conhecido como sacaca (CARVALHO et al., 1996;
CAMPOS et al., 2002; ALBINO DE ALMEIDA et al., 2003; BIGHETTI et al.,
1999; SILVA et al., 2005). O Croton flavens apresentou atividade
antineoplsica em tumores pulmonares e do clon (SYLVESTRE et al., 2006).
21
Do gnero Croton, uma das plantas cujo estudo do leo essencial nosso
grupo muito tem investido o Croton zehntneri.
1.5 EFEITOS BIOLGICOS E FARMACOLGICOS DO LEO
ESSENCIAL DO Croton zehntneri E DE SEUS PRINCIPAIS
CONSTITUINTES
Os efeitos do OECz j foram descritos em nervo isolado
(ALBUQUERQUE et al., 1981, 1984) e no msculo esqueltico
(ALBUQUERQUE et al., 1984). Alm disso, foi sugerido que este leo e seus
constituintes anetol e estragol, promovem relaxamento em msculo esqueltico
de sapo pelo bloqueio da transmisso neuromuscular e aumento da
concentrao citoplasmtica de clcio no retculo sarcoplasmtico
(ALBUQUERQUE et al., 1995). As aes do OECz e do estragol tambm foram
estudadas no msculo liso intestinal de cobaia (COELHO-DE-SOUZA et al.,
1997, 1998) e sobre alguns parmetros cardiovasculares (SIQUEIRA et al,
2006; 2006b). Foi demonstrada tambm atividade antinociceptiva na segunda
fase do teste de formalina (OLIVEIRA et al., 2001) e dados preliminares
apotaram uma baixa toxicidade aguda e sub-aguda em camundongos
(OLIVEIRA et al., 2004). Somado a esses efeitos, este leo essencial
apresenta atividade depressora sobre o sistema nervoso central, bem como as
aes antioxidantes e antihelmntica (BATATINHA; SOUZA-SPINOZA;
BERNADI, 1995; MORAIS et al., 2006; CAMURA-VASCONCELOS et al.,
2007).
Tem sido demonstrada uma diversidade de aes para os constituintes
majoritrios do OECz (anetol, estragol e eugenol) (CRAVEIRO et al., 1981).
O estragol, um ismero do anetol, possui ao depressora fulgaz sobre
o SNC, com alteraes de alguns reflexos comportamentais (LE BOURHIS;
SOENEN, 1973; CONSENTINO et al., 2004); discreta potencializao do
tempo de repouso promovido pelo pentobarbital (SETO; KEUP, 1969); efeito
22
anestsico, miorrelaxante e anticonvulsivante (DALLMEIR; CARLINI, 1981;
ALBUQUERQUE et al., 1981), bloqueio da excitabilidade do nervo citico de
rato (LEAL-CARDOSO et al, 2004), aumento da temperatura e da
aminotransferase sangunea em camundongos (KALEDIN et al., 2007).
O eugenol possui propriedades analgsica (GUENETTE et al., 2006),
anestsica local (DALLMEIR; CARLINI, 1981), anti-espasmdica (WAGNER et
al., 1979) e antibacteriana contra Helicobacter pylori (ALI et al., 2005). Em
tecido nervoso, o eugenol bloqueia tanto a conduo do potencial de ao em
nervo frnico como a juno neuromuscular (BRODIN; ROED, 1984; OZEKI et
al., 1975). Em neurnios do gnglio da raiz dorsal posterior o eugenol estimula
uma corrente inica dependente de Ca++ e de cloreto com caractersticas
semelhantes quelas promovidas pela capsaicina (OHKUBO; KITAMURA,
1997). De maneira semelhante ao anetol e ao estragol, o eugenol mostra
atividade depressora do SNC apresentando efeito anestsico geral e indutor de
hipotermia (DALLMEIR; CARLINI, 1981). Alm disso, o eugenol apresenta
efeito antinociceptivo em camundongos em vrios modelos (OHKUBO;
SHIBATA, 1997), provavelmente devido inibio de canais de clcio (CHUNG
et al., 2008).
Em msculo liso vascular, o eugenol promove vasodilatao de artrias
contradas com norepinefrina, por alta concentrao de K+ e estimulao
eltrica (STICHT; SMITH, 1971; HUME, 1983; NISHIJIMA et al., 1999).
O eugenol (ROMPELBERG et al., 1996) e o anetol (DRUKARCH et al.,
1997) mostraram efeito modulador das concentraes intracelulares de
substncias antioxidantes como o glutation e a enzima glutation-N-transferase
(BOUTHILLIER et al., 1996). Essas substncias, alm de antioxidantes,
tambm inibem a peroxidao lipdica (NAGABABU; LAKSMAIAH, 1994;
MANSUY et al., 1986) e atuam como removedores de radicais hidroxilas
(TAIRA et al., 1992). O eugenol reduz a concentrao intracelular de glutation e
Trifosfato de Adenosina (ATP) em fibroblastos da mucosa oral humana em
cultura, alm de inibir a peroxidao lipdica e o sistema xantina/oxidase (JENG
et al., 1994) e possuir atividade anticarcinognica (PISANO et al., 2007).
23
Tambm reduz a liberao de mediadores inflamatrios induzidos por
lipopolissacardeos (LPS) em macrfagos humanos (LEE et al., 2007).
1.5.1 Anetol, o principal constituinte do leo essencial de Croton
zehntineri
O anetol inibe de forma reversvel a formao de glicognio (COT;
OLENSON, 1951); apresenta ao estrognica em ratos (ZONDEK;
BERGMANN, 1938); ao depressora do sistema nervoso central (BOISSIER
et al., 1967); propriedades psicolpticas em camundongos (LE BOURHIS;
SOENEN, 1973); anticonvulsivante e hipntico (MARCUS; LICHTENSTEIN,
1979); inseticida e antimicrobicida (CHANG; CHO; LI, 2009; KARAPINAR,
1990) e efeito analgsico (MARCUS; LICHTENSTEIN, 1979) . Alm disso,
relaxa o msculo o isolado de aorta de ratos, envolvendo canais de clcio
dependentes de voltagem (SOARES et al., 2007). Sabe-se que o anetol um
terpenide (Fig.2), e pesquisas mostram que alguns possuem atividade anti-
inflamatrio in vitro (SALMINEN, et al., 2008). Alguns trabalhos tm atribudo
ao anetol as atividades anticarcinognica (CHAINY et al.,2000), antitrombtica
e gastroprotetora (TOGNOLINI et al., 2007), antigenotxica (ABRAHAM, 2001);
antioxidante (FREIRE et al., 2005) anti-inflamatria (CHAINY et al., 2000; YEA
et al., 2006).
O trans-anetol bastante utilizado como aromatizante na fabricao de
bebidas (licores, gins, aguardentes da cana etc.) e em formulaes
farmacuticas (LE BOURHIS; SOENEN, 1973). Quando administrado por via
endovenosa, se distribui irregularmente pelo organismo, se acumulando em
certos rgos como fgado, pulmes e crebro. Depois de absorvido por via
oral rapidamente metabolizado (LE BOURHIS, 1968; FRITSCH et al., 1975).
24
Figura 2 Estrutura molecular do anetol
1.6 RESPOSTA INFLAMATRIA
A inflamao uma resposta complexa de defesa de um tecido vivo em
especial de tecidos vascularizados contra estmulos agressores, na tentativa de
destruir, imobilizar ou diluir o agente lesivo. Essa reao envolve vrias
alteraes locais, como por exemplo: dilatao de arterolas, capilares e
vnulas, aumento do fluxo sanguneo acompanhado de alteraes na
permeabilidade vascular, exsudao de lquidos e protenas plasmticas para o
espao extravascular (eventos vasculares) e migrao de leuccitos para o
foco inflamatrio (eventos celulares) (ROCHA; SILVA, 1978; SEDGWICK;
WILLOUGHBY, 1985).
Alm das alteraes locais, a inflamao aguda se caracteriza por uma
srie de alteraes sistmicas como dor, febre, elevao nos nveis de
protenas, caracterizadas em conjunto como protenas de fase aguda (-2
macroglobulina, inibidor de C1- esterase, fibrinognio, haptoglobina,
componentes C3 e C5 do complemento, protena C-reativa) (BAUHMANN;
GAULDIE, 1994) alterao nos nveis de alguns ons e metais. Tem sido
demonstrado que a produo de IL-6 pelo fgado essencial para a induo da
expresso de protena C reativa, sugerindo que o aumento nos nveis desta
25
protena de fase aguda seja secundrio ao aumento da secreo de IL-6 (DAS,
2002).
A cintica do processo inflamatrio ocorre em dois momentos. O
primeiro, que desencadeado logo aps a infeco (inflamao aguda),
caracterizado por infiltrado predominantemente neutroflico; e outro, que
depende ou no da resoluo do processo na fase aguda (inflamao crnica),
caracterizado pela presena de macrfagos e linfcitos, alm de angiognese
e proliferao de tecido conjuntivo. Clinicamente, a inflamao aguda
apresenta algumas caractersticas especficas resultantes das alteraes
vasculares e celulares que o tecido sofre. Essas alteraes foram inicialmente
descritas por Cornelius Celsus, no incio da era crist como os quatro sinais
cardinais da inflamao: dor, calor, tumor e rubor. Mais tarde, no sculo XIX,
Virchow introduziu a perda de funo do rgo lesionado como sendo o quinto
sinal cardinal (SEDGWICK; WILLOUGHBY, 1985).
Todos os eventos inflamatrios, em qualquer fase do processo, so
mediados por substncias qumicas advindas do plasma sanguneo ou de
clulas que se encontram no foco inflamatrio, sejam elas residentes ou no.
Essas substncias so chamadas de mediadores inflamatrios, e quando
inibidas ou estimuladas podem modular negativa ou positivamente a
inflamao. Em alguns casos, a modulao negativa se torna necessria, pois
quando o processo inflamatrio persiste, pode ocorrer um estado patolgico
com leso de clulas normais do hospedeiro (BAUHMANN; GAULDIE, 1994;
BROID, 1991).
1.6.1 Alteraes vasculares
Inicialmente, ocorre uma vasoconstrio transitria seguida de
vasodilatao, que responsvel pelo aumento do fluxo sanguneo, o que
provoca calor e eritema. Posteriormente, ocorre a estase sangunea advinda do
aumento de permeabilidade da microvasculatura, uma vez que o
extravasamento de lquidos e protenas para o interstcio provoca
26
hemoconcentao, aumentando a viscosidade sangunea e gerando o
alentecimento da circulao. Esses eventos so desencadeados por vrios
mediadores qumicos, incluindo-se a bradicinina, a serotonina (5-HT), a
histamina e as prostaglandinas da srie E e I (PGE e PGI). Estes dois ltimos
so metablitos do cido araquidnico, formados atravs da ativao da via
das ciclooxigenases (COX). Essas enzimas coexistem nas isoformas
constitutiva, que produzem prostaglandinas em quantidades fisiolgicas, e
induzida, que produzem prostaglandinas em grandes quantidades, sendo estas
ltimas as principais responsveis pelos eventos inflamatrios (BHANDARI et
al., 2005). Recentemente uma terceira forma de cicloxigenase foi descoberta e
sabe-se que expressa em humanos, pricipalmente no crtex cerebral e no
corao (CHANDRASEKHARAN et al., 2002). Alguns desses mediadores,
como a bradicinina, causam dilatao induzindo a liberao de fatores de
relaxamento vascular derivados do endotlio (EDRFs). J foi demonstrado que
o xido ntrico (NO) um dos EDRFs liberados pelas clulas endoteliais
(PALMER et al., 1987; MONCADA et al., 1991), que participa do controle do
fluxo sangneo (FORTES et al., 1994), da expresso de molculas de adeso
e do aumento da permeabilidade vascular induzida pelo fator ativador de
plaquetas (PAF) e pela prpria bradicinina (MAYHAN, 1992). O NO
sintetizado a partir da combinao da L-arginina e do oxignio molecular, tendo
como principais cofatores a nicotinamida adenina dinucleotdeo associado ao
grupo fosfato e on hidrognio (NADPH) e o tetrabiopterina (BH4), pela enzima
xido ntrico sintase (NOS). H trs diferentes isoformas de NOS, a endotelial
(eNOS) e a neuronal (nNOS), que so formas constitutivas e dependentes de
Ca++ para suas atividades, e a forma induzvel (iNOS), que no depende de
Ca++ e induzida por macrfagos ativados por citocinas pr-inflamatrias ou
por endotoxinas (NATHAN, 1997; THIEMERMAN, 1997; LUNDBERG et al.,
2008).
O aumento da permeabilidade vascular pode ocorrer por diferentes
mecanismos, dependendo dos receptores ativados na clula endotelial ou da
leso provocada no vaso sanguneo. Prope-se que a histamina e leucotrienos
causam contrao endotelial; interleucina-1 (IL-1) e fator de necrose tumoral
alfa (TNF-) participam da reorganizao citoesqueltica endotelial; leuccitos
27
ou agentes agressores provocam leso vascular direta e extravasamento de
fluidos; fator de crescimento endotelial vascular gera aumento da transcitose e
neovascularizao, que tambm provoca extravasamento de fluidos. O
exsudato contm vrios mediadores que influenciam as clulas adjacentes e os
prprios vasos sanguneos e incluem os produtos da ativao de quatro
cascatas enzimticas do plasma: sistema do complemento, sistema da
coagulao, sistema fibrinoltico e sistema das cininas (ROBBINS et al., 1994).
O edema causado por agentes flogsticos como a carragenina e a
dextrana, tem sido amplamente empregado como modelo experimental para o
estudo da inflamao (KATZ et al., 1984) e as substncias capazes de inibi-lo
tm sido consideradas, bons agentes anti-inflamatrios (GODHWANI et al.,
1987).
A resposta inflamatria possui caractersticas diferentes de acordo com
o tipo de estmulo. Por exemplo, a dextrana promove a liberao de
mediadores vasoativos, como histamina e serotonina, esse estmulo
caracteriza-se por produzir um edema osmtico sem infiltrado celular. J a
carragenina promove a liberao de uma srie de mediadores qumicos, como
histamina, serotonina, bradicinina numa fase inicial, e NO, prostaglandinas, IL-
1, TNF- numa fase tardia, induzindo um edema rico em infiltrado celular. Alm
disso, clulas inflamatrias residentes so essenciais no desencadeamento
dessas respostas (SALVEMINI et al., 1999; KATZ et al., 1984).
1.6.2 Eventos celulares e papel de molculas de adeso
Uma maneira eficiente de o hospedeiro defender-se contra agentes
agressores atravs da migrao de leuccitos, que ao alcanarem o foco da
infeco fagocitam, degradam e matam antgenos estranhos. Muitas vezes,
num processo inflamatrio prolongado estas clulas imunes podem agredir os
prprios tecidos do hospedeiro, lesionando clulas normais. Alm do que o
prprio infiltrado celular pode contribuir para a amplificao dos eventos
28
vasculares e celulares da resposta inflamatria, atravs da liberao de
mediadores vasoativos e quimiotticos (BEVILACQUA et al., 1994;
WEDMORE; WILLIAMS, 1981).
Os tipos celulares presentes no foco inflamatrio variam de acordo com
o estgio da leso e tipo de estmulo. Nas primeiras 24 horas predominante o
infiltrado neutroflico, sendo este mais tarde substitudo por clulas
mononucleares. Para os leuccitos alcanarem o local infectado necessrio
que passem por um processo complexo que envolve a adeso destes ao
endotlio vascular e componentes da matriz extracelular, bem como a
passagem destas clulas para o espao extravascular (McEVER, 1991). De um
modo geral, a migrao de leuccitos ocorre nas seguintes etapas: 1.
marginao; 2. rolamento (adeso fraca); 3. adeso firme; 4. diapedese e 5.
quimiotaxia.
Aps a alterao do fluxo laminar sanguneo provocado pelos eventos
vasculares, os leuccitos comeam a migrar para a regio vascular perifrica,
fenmeno chamado de marginao. Posteriormente, essas clulas interagem
com molculas de adeso (selectinas, integrinas e imunoglobulinas), que so
extremamente importantes para o trfego de leuccitos na corrente sangunea
e modulao da migrao, pois possibilitam sua adeso do leuccito ao
endotlio (McEVER,1992). Nesse sentido, demonstrou-se que populaes de
linfcitos derivados de um determinado stio linfide, quando removidas e
reinjetadas em animais, se deslocam para o local onde originalmente foram
encontradas. Mais tarde foi confirmado que a natureza bioqumica dessas
molculas de adeso era lectnica (LASKY, 1992).
As selectinas so formadas por trs sub-famlias: selectinaL (LAM-1),
encontrada constituitivamente na superfcie de leuccitos mediando o
rolamento de neutrfilos no endotlio e o movimento dos mesmos para os
tecidos linfides perifricos, uma vez que seus ligantes (mucinas) esto
presentes nesses locais; selectinaP, presente na superfcie de plaquetas,
sendo tambm expressas no endotlio vascular sob a ativao de citocinas,
trombina, histamina e outros e se liga a resduos silicos de oligossacardeos
29
dos leuccitos de maneira dependente de Ca++; selectina-E (ELAM-1),
expressa na superfcie do endotlio vascular em resposta a estmulos como IL-
1 e TNF-, que se liga a resduos silicos de oligossacardeos dos leuccitos
de maneira dependente de Ca++ (McEVER, 1991, 1992; VARKI, 1992;
EPPIHIMER et al., 1996; PAN et al., 1998).
Aps o rolamento, segue-se a adeso firme mediada por
imunoglobulinas e -2 integrinas. Essas ltimas so protenas presentes na
membrana dos leuccitos e que podem ter sua expresso aumentada aps a
ativao destas clulas por mediadores inflamatrios como o fator de
agregao plaquetria (PAF) ou citocinas. As imunoglobulinas de adeso,
molculas presentes no endotlio, mais ligadas ao processo de migrao so:
Molculas de Adeso Intercelular-1 (ICAM-1), Molculas de Adeso
Intercelular-2 (ICAM-2), Molcula de Adeso Vascular (VCAM-1) e molcula de
adeso de clula endotelial e plaqueta (PCAM-1). Mediadores inflamatrios
liberados por clulas residentes ativadas podem agir aumentando a avidez de
ligao entre as molculas de integrinas e imunoglobulinas, favorecendo a
adeso firme (CRONSTEIN; WEISSMAN, 1993; PANS, et al., 1999).
O leuccito, aps passar por esses processos adesivos sofre a
diapedese, que caracterizada pela sada desta clula do interior do vaso
sanguneo para o tecido inflamado por entre as junes endoteliais. Porm,
essa passagem controversa, pois alguns pesquisadores demonstraram que
neutrfilos podem migrar por via transendotelial em resposta a um agente
quimiottico direto como o peptdeo N-formil-metil-L-metionil-L-leucil-L-
fenilalanina (fMLP) (FENG et al.,1998).
No espao extravascular, os leuccitos podem sofrer quimiotaxia para o
foco da infeco. Esse processo controlado por agentes quimiotticos, tanto
de origem endgena, que so aqueles liberados pelas prprias clulas do
hospedeiro (componentes do sistema complemento, citocinas etc.), quanto
exgena, que so aqueles advindos do prprio agente agressor (produtos
bacterianos de origem lipdica e fMLP (RIBEIRO et al.,1991; 1996).
30
Os agentes quimiotticos tambm podem ser classificados como
agentes diretos, que agem atraindo diretamente a clula imune leucotrieno do
tipo B4 (LTB4), quinto componente do sistema complemento ativado (C5a),
fMLP, interleucina-8 (IL-8), subunidade I da espermadesina suna (PSP-I) ou
agentes indiretos (IL-1, TNF-) que agem estimulando as clulas residentes
(macrfagos, mastcitos, fibroblastos etc.) a liberar os agentes quimiotticos
diretos (RIBEIRO et al.,1991; 1996; ASSREUY et al., 2002; 2003).
Segundo Snyderman e Didsbury (1991) o agente quimiottico direto age
ligando-se a receptores de superfcie presente na membrana da clula imune.
Esses receptores so acoplados a protena G, e quando estimulados levam a
ativao da fosfolipase C que resulta na formao de trifosfato de inositol (IP3)
e diacilglicerol (DAG). Estes, por sua vez, aumentam os nveis intracelulares de
Ca++, tanto pela liberao de clcio do retculo sarcoplasmtico (receptores de
IP3), como pelo aumento do influxo deste on advindo do meio extracelular. Os
nveis de Ca++ aumentados levam a interao dos miofilamentos contrteis
fazendo com que a clula emita pseudpodes em direo ao estmulo.
1.6.3 Clulas residentes e seus mediadores
Clulas inflamatrias residentes so aquelas que habitam
originariamente determinados tecidos, incluindo macrfagos, mastcitos,
linfcitos, fibroblastos e clulas endoteliais, dentre outras. Duas das mais
importantes clulas residentes so os macrfagos e os mastcitos, que na
presena de um agente agressor, so ativadas e liberam mediadores qumicos
que desencadeam os eventos iniciais da resposta inflamatria. Esses
mediadores promovem tanto os eventos vasculares quanto os celulares, e
desta forma provocam migrao de outras clulas de defesa e amplificao
dessa resposta.
Macrfagos teciduais so clulas derivadas de moncitos sanguneos
durante o processo de migrao para o tecido (OGLE et al., 1994). Entretanto,
31
estas clulas apresentam diferenas bioqumicas e estruturais de acordo com o
local onde se implantam, recebendo inclusive nomenclaturas diferentes, como:
clulas de Kupfer (macrfagos hepticos), osteoclastos (macrfagos sseos),
histicitos (macrfagos do tecido conjuntivo) clulas de Langerhans
(macrfagos cutneos) e micrglias (macrfagos do sistema nervoso central).
Os macrfagos so as principais clulas responsveis por desencadear o
processo inflamatrio, no momento da leso, uma vez que aps ativao,
liberam um fator quimiottico para neutrfilos na presena de antgenos como o
LPS . Alm disso, a migrao neutroflica para cavidade peritoneal de ratos
induzida por estmulos como carragenina, zimosan e endotoxinas pode ser
potencializada por tioglicolato (que estimula o aumento da populao de
macrfagos) ou inibida por lavagem peritoneal, procedimento que reduz a
populao de macrfagos (CUNHA; FERREIRA, 1986; RIBEIRO et al., 1990).
A funo fisiolgica do macrfago est relacionada sua capacidade fagoctica
e a produo de enzimas hidrolticas e de radicais txicos derivados do
oxignio. Alm disso, o macrfago responsvel pela produo e liberao de
uma srie de interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8) e outros mediadores, tais como
enzimas, protenas do sistema do complemento, TNF- e eicosanides, que
participam de vrios eventos do processo inflamatrio.
Mastcitos so derivados de clulas hematopoiticas pluripotentes da
medula ssea e apresentam diferenas morfofisiolgicas de acordo com o
tecido onde so encontrados. Entretanto, essas clulas possuem
caractersticas histolgicas semelhantes aos basfilos do sangue. Apesar
dessa similaridade, os mastcitos e os basfilos parecem possuir linhagens
diferentes (GALLI, 1990; WELLE, 1997). Os mastcitos de uma maneira geral
so essenciais para o desenvolvimento de uma resposta alrgica
(hipersensibilidade imediata). Essas clulas apresentam receptores na
superfcie de suas membranas (FcRI), que reconhecem a poro Fc da
imunoglobulina E (IgE), que capaz de se associar a antgenos e desta
maneira ativar os mastcitos. Uma vez ocorrido a ativao celular, esse sinal
se propaga nestas clulas e eleva os nveis intracelulares de Ca++, provocando
a exocitose de vesculas contendo mediadores bioativos que facilitam o
desenvolvimento da alergia. A ativao destas clulas tambm pode ocorrer
atravs de estmulos no imunolgicos, endgenos e exgenos: tais como o
32
composto 48/80, peptdeos de venenos, neuropeptdeos (substncia P),
peptdeos hormonais (peptdeo relacionado ao gene de calcitonina) e
anafilatoxinas que ativam a protena G independente de Ca++, e desta forma
promovem exocitose dos grnulos mastocitrios (GALLI, 1990; LAGUNOFF et
al., 1983; METCALFE et al., 1997). Os principais mediadores liberados pelos
grnulos de mastcitos so a histamina e a serotonina (esta segundo
PARRATT; WEST, 1958, somente em roedores), que so essenciais para o
desenvolvimento dos eventos vasculares (vasodilatao e aumento de
permeabilidade vascular) e celulares (expresso de molculas de adeso,
ativao de leuccitos etc) da resposta inflamatria (MARONE et al., 2002).
A histamina foi caracterizada em 1910, e somente em 1929, Dale fez
conexo entre a histamina e a reao anafiltica (BARGUER; DALE citado por
MARONE et al., 2002). Esta substncia amplamente encontrada em
mastcitos, basfilos, clulas gstricas enterocromafins e neurnios
histaminrgicos no crebro. A histamina uma amina formada pela
descarboxilao do aminocido histidina, que se encontra complexada com a
heparina e protenas cidas no interior granular, sendo suas atividades
biolgicas atribudas a ativao dos receptores H1, H2, H3 e H4 (MARONE et
al., 2002). Estes fazem parte do grupo de receptores que possuem sete
domnios transmembrana e interagem com protenas ligadoras de GTP
(guanosina trifosfato). O receptor H1 est relacionado com eventos que
promovem aumento da concentrao de Ca++ intracelular, enquanto que o
receptor H2 com respostas mediadas por elevao dos nveis intracelulares de
AMPc. J os receptores dos sub-tipos 3 e 4 operam como variaes dos dois
anteriores, porm, apresentam efeitos adicionais de reduo dos nveis de
AMPc (MACGLASHAN, 2003). O composto 48/80 um potente degranulador
de mastcitos e portanto um indutor de liberao de histamina e outros
mediadores (PATON, 1951).
A 5-HT um neuromediador encontrado no sistema nervoso central,
descoberta em 1868, que desempenha vrias funes relacionadas com
humor, sono, apetite, percepo da dor, reflexo de vmito, regulao da
temperatura e da presso arterial. Fora do sistema nervoso central, a
serotonina est presente em plaquetas, linfcitos, moncitos, macrfagos,
mastcitos, clulas neuroendcrinas pulmonares e clulas enterocromafins. J
33
foram identificados mais de 16 diferentes tipos e sub-tipos de receptores para a
serotonina, relacionados com as mais diferentes funes (MOSSNER; LESCH,
1998). Destaca-se sua atuao no sistema imune e na reposta inflamatria. A
5-HT em altas concentraes (superiores a 3 M) parece atuar nos receptores
5-HT1A e 5-HT2 facilitando a ativao de macrfagos, bem como a conseqente
proliferao de clulas T (YOUNG et al., 1993; YOUNG; MATTHEWS, 1995). A
serotonina tambm est relacionada com a melhora da imunidade natural, que
pode ser aferida pela medida de ons superxidos e produo de interferon-
(INF-). A 5-HT tambm essencial para o desenvolvimento de reaes de
hipersensibilidade tardias, pois esse mediador responsvel por induzir a
liberao de mediadores quimiotticos para linfcitos T CD4 e CD8 (IL-16), e
pelo recrutamento de leuccitos atravs da sua atuao em receptores 5-HT2
existentes no endotlio vascular. Desta forma, a serotonina essencial
tambm para o desenvolvimento dos eventos celulares do processo alrgico ou
inflamatrio, uma vez que essa substncia promove migrao celular atravs
da expresso de molculas de adeso (MOSSNER; LESCH, 1998).
A bradicinina, um outro mediador do processo inflamatrio, um
peptdeo vasoativo que provoca vasodilatao e aumento da permeabilidade
vascular, resultando sua ao vasodilatadora, em parte, pela produo de PGI2
e pela liberao de NO. Trata-se de um potente indutor de dor, ao que
potencializada pelas prostaglandinas (LOUREIRO-SILVA et al., 1999; LEEB-
LUNDBERG et al., 2005).
A substncia P age na periferia, promovendo inflamao por seus efeitos
sobre os vasos sanguneos, (vasodilatao e aumento da permeabilidade
vascular) clulas do sistema imune (atrao das clulas do sistema imune para
o local da leso e degranulao de mastcitos com liberao de diversos
neuromediadores) (DRESSLER et al., 2005; ROCHA et al. 2007) e no sistema
nervoso autnomo. A inibio da transmisso da substncia P e da emisso
perifrica podem aumentar o arsenal teraputico no controle da dor (ONETTA,
2005).
34
2 JUSTIFICATIVA
O C. zehntneri amplamente distribudo no Nordeste brasileiro onde, em
forma de chs e infusatos bastante utilizado como medicamento caseiro.
Apesar disso, pouco se conhece sobre os efeitos fisio-farmacolgicos de seu
leo essencial no processo inflamatrio.
Os leos essenciais obtidos de outras espcies do gnero Croton
mostram efeito anti-inflamatrio e antinociceptivo O leo essencial de C.
zehntneri (OECz) apresenta ainda efeito relaxante sobre a musculatura lisa
vascular in vitro e isso, de modo indireto, pode sugerir sua atividade nos
eventos vasculares da inflamao. Apresenta tambm significativa atividade
antinociceptiva na fase inflamatria do teste da formalina, efeito
antiedematognico em ratos e uma baixa toxicidade.
Tendo em vista que leos essenciais so misturas complexas, o
componente majoritrio do OECz foi tambm alvo de estudo, pois tem sido
demonstrado que seus principais constituintes (anetol, estragol e eugenol)
apresentam ao antinociceptiva em modelos experimentais. As atividades
anti-inflamatria (in vitro para o anetol), antioxidante e gastroprotetora tambm
foram descritas para o eugenol e o anetol. Todas essas propriedades em
conjunto fornecem evidncias e estimulam a investigao da potencial
atividade anti-inflamatria deste leo essencial e de seu principal constituinte
em modelo de inflamao in vivo.
35
3 OBJETIVOS
Avaliar o efeito anti-inflamatrio e o mecanismo de ao do OECz, em
modelos de inflamao imune e no-imune, e do anetol, sobre eventos da
inflamao no-imune.
Mais especificamente, pretende-se:
- Avaliar a atividade antiedematognica do OECz e do anetol no modelo de
edema de pata induzido por carragenina em camundongos;
- Investigar o mecanismo da atividade antiedematognica do OECz e do anetol
no modelo acima referido;
- Verificar a toxicidade sub-crnica do OECz e do anetol;
- Investigar a atividade antiedematognica do OECz no modelo de edema de
pata induzido por ovalbumina em animais sensibilizados.
36
4. MATERIAL E MTODOS
4.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS
Foram utilizados camundongos Swiss albinos (Mus musculus) adultos de
ambos os sexos pesando entre 25 e 35 g procedentes do biotrio da Faculdade
Christus e mantidos na Sala de Quarentena do Instituto Superior de Cincias
Biomdicas - Universidade Estadual do Cear (UECE). Os animais
permaneceram no laboratrio para adaptao por um perodo de pelo menos 1
hora (h) antes da realizao dos experimentos. Estes receberam rao e gua
ad libitum, foram mantidos sob condies adequadas de luz e temperatura, e
manipulados de acordo com os padres estabelecidos pelo Comit de tica da
Universidade Estadual do Cear (UECE-N 0559924-4).
4.2 LEO ESSENCIAL
As plantas utilizadas para extrao do leo essencial foram coletadas
em Viosa do Cear e identificadas atravs de excicatas que esto
depositadas no Herbrio Prisco Viana-UFC (# 27477 - indexado no Index
Herbariorum). O leo essencial do Croton zehntneri (OECz) foi extrado pelo
mtodo de destilao por arraste de vapor dgua (Laboratrio de
Eletrofisiologia - UECE) e analisado por cromatografia gasosa e espectrometria
de massa (PADETEC UFC), como descrito por CRAVEIRO e colaboradores
(1980, 1981).
4.3 DROGAS E REAGENTES:
- Carragenina lambda (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Bradicinina (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
37
- Captopril (Neoqumica, BR)
- Histamina (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- cido araquidnico (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Prostaglandina E2 (PGE2) (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Substncia P (Alexis, Biochemicals, Sucia)
- Composto 48/80 (Alexis, Biochemicals, Sucia)
- L- NG nitro arginina metil Ester (L-NAME) (Chemicals & Co, EUA )
- Serotonina (5-HT) (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Tween 80 (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Anetol (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Nitroprussiato de Sdio (Vetec, BR)
- Ovalbumina (Sigma, Chemicals & Co, EUA)
- Cloreto de Sdio (Frenesius e Kabi Brasil Ltda)
- Hidrxido de alumnio (Vetec, BR)
- Dexametasona (Eurofarma, BR)
Todos os demais sais e drogas utilizados foram de pureza analtica.
4.4 DISSOLUO DAS DROGAS E LEO
O OECz e o anetol foram diludos em soluo de Tween 80 1% e as
demais drogas em soluo fisiolgica de NaCl 0,9% estril (salina).
4.5 ESTUDO DA ATIVIDADE ANTIINFLAMATRIA
A atividade anti-inflamatria do OECz e do anetol foi testada em dois
modelos de edema de pata (imune e no imune) analisando:
a) o efeito inibitrio do OECz e anetol sobre a formao de edema
induzido por carragenina;
38
b) o efeito inibitrio do OECz sobre a formao de edema induzido por
ovalbumina em animais sensibilizados;
c) a mensurao do edema se foi feita em um Pletismmetro digital
(Panlab LE 7500) antes da injeo (s.c.) intraplantar dos estmulos
inflamatrios (tempo zero). Posteriormente, a medida de volume, dependendo
do protocolo, foi feita aos 30 min e 1, 2, 3 e 4 h aps a administrao dos
agentes inflamatrios. O edema foi calculado como a diferena entre o volume
de lquido deslocado pelas patas em um determinado tempo aps o estmulo e
antes do estmulo (tempo zero). Os resultados foram expressos como mdia
E.P.M do volume (L) deslocado pelas patas ou das reas sob as curvas (ASC)
calculadas utilizando-se o mtodo do trapzio (LANDUCCI et al., 1995) e
expressos em unidades arbitrrias. O controle positivo de edema foi o grupo
que recebeu aplicao local de carragenina e o controle negativo salina;
d) o estudo da atividade antiedematognica do OECz e anetol no modelo
de edema de pata induzido por carragenina foi feito pela administrao no
grupo controle, nas patas direitas, alquotas de 50 l de salina estril e nas
patas esquerdas, o mesmo volume (50 l) contendo o agente edematognico
carragenina (300 g/pata). Os animais foram tratados com OECz, por via oral,
atravs de uma cnula orogstrica (gavagem) nas doses de 1, 3, 10, 30 e 100
mg/kg e com anetol nas doses de 3, 10 e 30 mg/kg, 60 minutos antes das
aplicaes dos agentes edematognicos; para investigar o edema de origem
imunie os camundongos foram sensibilizados conforme protocolo previamente
descrito (CANETTI et al., 2001). Resumidamente, os animais receberam uma
emulso de 200 L contendo ovalbumina (20 g; s.c.) dispersa em 1mg de
hidrxido de alumnio. Aps 14 dias, foi feita nova administrao de ovalbumina
aos animais. Para os animais falso-imunizados (controle) foi realizado o mesmo
procedimento experimental, porm sem a presena de ovalbumina na emulso.
Decorridos 21 dias aps a primeira imunizao, os animais controles e
imunizados foram pr-tratados com o OECz (10 mg/Kg; v.o.), 1 hora antes do
desafio s.c. ovalbumina (6 g/pata) ou salina. Os grupos controles negativos e
39
positivos receberam salina ou dexametasona (0,5 mg/Kg, s.c.) 1h e 24h antes
da induo do edema.
e) Para investigar quais os mediadores inflamatrios estariam sendo
inibidos pelo OECz/anetol impedindo a formao de edema de pata induzido
por carragenina foram delineados os seguintes protocolos:
Os animais foram pr-tratados com OECz/anetol (v.o.), na melhor dose
inibitria, 60 min antes da induo do edema de pata por alguns mediadores
qumicos comuns a fase inicial e tardia do edema induzido por carragenina.
Assim utilizou-se: bradicinina (3 nmol; 50l), histamina (100 nmol/pata; 50l),
serotonina (100 g/pata; 50l), substncia P (20 nmol; 50l), nitroprussiato de
sdio (10 mol; 50l), composto 48/80 (100 ng/pata; 50l), cido araquidnico
(1,5 mg/pata; 50l), prostaglandina E2 (30 nmol/pata; 50l). O controle positivo
de edema foi o grupo que recebeu aplicao local do estmulo inflamatrio e o
controle negativo salina;
Nos experimentos em que foi utilizada a bradicinina, os animais
foram tratados 1 h antes, com o inibidor da cininase II, o captopril (5 mg/kg,
s.c.), a fim de prevenir a degradao do peptdeo (CORRA; CALIXTO, 1993).
4.6 ESTUDO DA TOXICIDADE SUB-CRNICO DO LEO ESSENCIAL
DE Croton zehntneri E ANETOL
Foram utilizados trs grupos de 8 animais cada. Um grupo recebeu o
OECz, o segundo recebeu anetol e o terceiro Tween 80 (1%) (controle) durante
quatorze dias por via oral, obedecendo a posologia de dose nica diria de
10mg/kg contido em 0,1mL/10g de peso corporal. O grupo controle recebeu o
mesmo volume de Tween 80 1% pela mesma via. Aps o tratamento, foi feita a
avaliao dos parmetros abaixo descritos:
40
Peso corporal e de rgos do sistema imune: os animais foram
pesados antes e aps o tratamento com o OECz, anetol ou twenn 80. Aps o
sacrifcio foi feita a exciso do fgado, bao, rim e corao e a pesagem dos
mesmos ainda midos.
Anlise macroscpica: possveis alteraes macroscpicas
(vermelhido, esteatose, ndulos, focos hemorrgicos) foram avaliadas nos
rgos observados.
Testes bioqumicos: amostras de sangue foram coletadas do plexo
infra orbital. O sangue foi coletado em tubos contendo gel separador para
anlise bioqumica e EDTA K3 ou heparina para evitar coagulao. Aps a
coleta de sangue e ainda sobre efeito anestsico, foi feito o sacrifcio dos
animais por deslocamento cervical. Foram empregados Kits comerciais com
tcnicas padronizadas, baseados em mtodos cinticos, enzimticos e
colorimtricos atravs de aparelho automatizado (LABMAX 240 - LABTEST).
Foi utilizada a metodologia micro devido pequena quantidade de soro obtido.
Estas dosagens so utilizadas na clnica mdica para avaliao da funo
destes rgos
Para avaliar os efeitos hepatotxicos:
- foram realizadas as dosagens de alanina aminotransferase
(ALT), aspartato aminotransferase (AST);
Para avaliaes da nefrotoxicidade
- foram determinados os nveis plasmticos de uria e creatinina
(parmetros bioqumicos teis na avaliao da funo renal,
particularmente nas funes tubulares e glomerulares, assim como no
metabolismo das protenas e aminocidos);
Para avaliar a funo cardaca;
- foram determinados os nveis de creatinoquina total (CK-total),
como indicador de funo cardaca..
41
4.7 ANLISE ESTATSTICA
De todos os experimentos foram calculadas as Mdias Erro Padro da
Mdia (EPM) para um certo nmero de eventos (n) em cada grupo. As
diferenas estatsticas foram obtidas atravs da anlise de varincia (ANOVA)
e teste de Ducan ou teste t de Student para dados pareados ou no-pareados
e p
42
5 RESULTADOS
5.1 COMPOSIO QUMICA DO LEO ESSENCIAL DE Croton
zehntneri
O leo essencial de Croton zehntneri (OECz) foi extrado pelo mtodo de
destilao por arraste por vapor dgua (Laboratrio de Eletrofisiologia - UECE)
e analisado por cromatografia gasosa e espectrometria de massa no Parque de
Desenvolvimento Tecnolgico da Universidade Federal do Cear (PADETEC
UFC). O resultado da anlise est na Tabela 1.
Tabela 1 Constituintes qumicos do leo essencial de Croton zehntneri
Constituintes Teor (%)
Anetol 77,6
Estragol 9,3
Anisaldedo 4,7
Mirceno 1,4
Espatulenol 1,2
- Elemeno 1,1
1,8 cineol 0,6
Metil farnesoato 0,1
Elementos traos ou
indeterminados
5,1
43
5.2 O LEO ESSENCIAL DE Croton zehntneri E O ANETOL INIBEM O
EDEMA DE PATA INDUZIDO POR CARRAGENINA
O pr-tratamento de camundongos com o OECz (1, 3, 10, 30 e 100
mg/kg) por via oral (gavagem), 1 hora antes da aplicao local (s.c.)
intraplantar do estmulo inflamatrio carragenina, produziu efeito
antiedematognico. Este efeito para o OECz foi significativo nas doses de 1
mg/kg (33,7 3,1 l) e 3 mg/kg (37,5 3,8 l) a partir da terceira hora, em
relao ao controle (52,8 5,2 l). Na medida em que se aumentava a dose do
OECz, a resposta antiedematognica era antecipada. Na dose de 30 mg/kg o
efeito inibitrio se apresentava a partir da segunda hora (24,5 3,3 l) e nas
doses de 10 mg/kg (35,7 2,0 l) e 100 mg/kg (23,3 2,1 l) a resposta j era
detectada desde a primeira hora, quando comparado ao grupo controle (52,8
6,4 l; 58,5 7,3 l) (Fig. 3A). O OECz apresentou efeito inibitrio significativo
em todos os tempos a partir da dose de 10mg/kg (ASC: 5485,7 447,4),
reduzindo em 40% o edema promovido pela carragenina (ASC: 11271,4
1224,4). Alm disso, as respostas obtidas nas doses de 10, 30 e 100mg/kg
foram estatisticamente diferentes daquelas nas doses de 1 e 3 mg/kg (Fig. 3B).
O anetol, testado oralmente em trs doses (3, 10 e 30 mg/kg), 1 hora
antes do estmulo, tambm apresentou efeito antiedematognico em torno de
31% em relao ao controle de carragenina. Em todas as doses, a resposta
antiedematognica do anetol foi significativa a partir da primeira hora: 3 mg/kg
(55,0 12,0 l), 10 mg/kg (60,8 3,2 l) e 30 mg/kg (51,6 6 l) em relao a
carragenina (88,3 9,8 l) (Fig. 4A), mas no foram estatisticamente
diferentes entre si (Fig. 4B).
Observa-se pela anlise da Tabela 2 que a menor dose inibitria efetiva
do OECz sobre o edema induzido por carragenina a de 10 mg/kg, e que o
anetol possui efeito semelhante nas trs doses testadas, incluindo-se a dose
de 10mg/kg. Assim, determinou-se que esta dose seria utilizada para investigar
o mecanismo dos efeitos antiedematognicos do leo e do anetol.
44
0 60 120 180 240
0
10
20
30
40
50
60
70
**
**
**
*
*
*
ED
EM
A (l)
TEMPO (min)
Salina 0,9% ( s.c.)
Carragenina 1% ( s.c.)
OECz 1mg/kg (v.o.)
OECz 3mg/kg (v.o.)
OECz 10mg/kg (v.o.)
OECz 30mg/kg(v.o.)
OECz 100mg/kg(v.o.)
* ***
***
A)
SALINA CARRAGENINA OECz 1 OECz 3 OECz 10 OECz 30 OECz 1000
2
4
6
8
10
12
14
*
*
*
#
&
AS
C (U
nida
des
Arb
itrr
ias
x 10
3)
1 3 10 30
OECz
100 mg/kgSALINA CARRAGENINA OECz 1 OECz 3 OECz 10 OECz 30 OECz 1000
2
4
6
8
10
12
14
*
*
*
#
&
AS
C (U
nida
des
Arb
itrr
ias
x 10
3)
1 3 10 30
OECz
SALINA CARRAGENINA OECz 1 OECz 3 OECz 10 OECz 30 OECz 1000
2
4
6
8
10
12
14
*
*
*
#
&
AS
C (U
nida
des
Arb
itrr
ias
x 10
3)
1 3 10 30
OECz
100 mg/kg
B)
Figura 3 - Efeito antiedematognico do OECz sobre o edema de pata induzido por carragenina. O OECz (1, 3, 10, 30 e 100 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o., 1h antes da induo do edema de pata por carragenina (1%; s.c.). O controle negativo recebeu salina
estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A) O edema foi medido antes (tempo zero) e aps
60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado pela variao dos volumes das patas (L) entre os vrios tempos e o tempo zero. (B) As reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=8). * p
45
0 60 120 180 240
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
***
*
*
*
**
Carragenina 1% (s.c.)
Salina 0,9 % (s.c.)
Anetol 3 mg/kg (v.o.)
Anetol 10 mg/kg (v.o.)
Anetol 30 mg/kg (v.o.)
ED
EM
A (l)
TEMPO (min)
**
**
A)
Figura 4 - Efeito antiedematognico do anetol sobre o edema de pata induzido por carragenina. O anetol (3, 10 e 30 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o., 1h antes da induo do edema de pata por carragenina (Cg; 1%; s.c.). O controle negativo recebeu salina
estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A) O edema foi medido antes (tempo zero) e aps
60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado pela variao dos volumes das patas (L) entre os vrios tempos e o tempo zero. (B) As reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=8), *p
46
Tabela 2 Efeito inibitrio do OECz e do anetol sobre o curso temporal do edema de pata induzido por carragenina
5.3 EFEITOS DO LEO ESSENCIAL DE Croton zehntneri E DO
ANETOL SOBRE ALGUNS MEDIADORES INFLAMATRIOS ENVOLVIDOS
NA FASE INICIAL DO EDEMA DE PATA INDUZIDO POR CARRAGENINA
5.3.1 Efeitos do OECz e do anetol sobre o edema de pata
induzido por histamina e pelo composto 48/80
A histamina um dos principais mediadores de fase inicial do teste de
edema de pata induzido por carragenina. Nos tempos de 30, 60 e 120 min, o
edema de pata produzido pela histamina (40,0 4,4; 32,2 3,7; 32 3,7) foi
respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o OECz (20,5
4,5; 18,3 4,0; 15,0 2,2) (Fig.5A), o que resultou em uma inibio de 54%
(Fig. 5c) pela anlise da rea sob a curva (Histamina: ASC: 5076,0 443,0
versus OECz: ASC: 2775,0 343,7). Da forma semelhante nos tempos de 30,
60 e 120 min, o edema induzido pela histamina (43,3 3,3; 37,1 4,0; 38,3
4,7), foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o anetol
(25,6 3,6; 26,5 2,0; 20 5,1) (Fig. 5B), o que promove uma inibio de 30%
(Fig. 6D) na anlise da rea sob a curva (Histamina: ASC 5622,5 569,0
versus anetol: ASC: 3462,5 358,46).
Dose
Tempo
1 3 10 30 100
OECz OECz ANETOL OECz ANETOL OECz ANETOL OECz
60 min 22 7 37* 39* 31* 38* 42* 60*
120 min 19 15 51* 57* 39* 53* 45* 61*
180 min 36* 28* 39* 59* 25* 55* 35* 55*
240 min 35* 38* 40* 53* 23* 55* 43* 57*
n= 6 - 8 camundongos; valores expressos em percentagem; * p < 0,05 em relao carragenina; o anetol nas doses de 1 e 100 mg/kg, no foi avaliado.
47
SALINA HISTAMINA ANETOL
0
2
4
6
8
*30%
AS
C (
Un
ida
de
s A
rb
itr
ria
s
x 1
03)
D)
0
2
4
6
8
*
54%
AS
C (
Un
ida
de
s A
rb
itr
ria
s x
10
3)
SALINA HISTAMINA OECz
C)
Figura 5 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre edema de pata induzido por histamina. O OECz e o anetol (10 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o., 1 h antes da
induo do edema de pata por histamina (100 nmol/pata; s.c.; 50 l ). O controle negativo recebeu
salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero) e
aps 30, 60, 120, e 180 min de sua induo e calculado pela variao dos volumes das patas (l) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C e D) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=8), *p
48
Para verificar se a ao do OECz/anetol sobre o edema induzido pela
histamina est envolvida com a sua liberao partir de mastcitos, utilizou-se
o composto 48/80, sabidamente um degranulador mastocitrio, como estmulo
para induo de edema de pata. Somente no tempo 120 min., o edema de pata
produzido pelo composto 48/80 (96,0 9,7) foi inibido pelo pr-tratamento dos
animais com o OECz (70,0 5,16398), o que no resultou em uma inibio
sgnificativa (Fig. 6A) pela anlise da rea sob a curva (48/80: ASC 19458
1620,4 versus OECz: ASC: 15725 996,8074). De forma semelhante o edema
induzido pelo composto 48/80, no foi inibido pelo anetol em nenhum tempo e
esta inibio (Fig. 6B) se reflete na anlise da rea sob a curva (48/80: ASC:
19458 1620,4 versus anetol: ASC 17858,3 848,8).
Figura 6 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de pata induzido pelo composto 48/80. O OECz e o anetol (10 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados
v.o., 1 h antes da induo do edema de pata por composto 48/80 (100 ng/pata; s.c.; 50 l). O
controle negativo recebeu salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero) e aps 30, 60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado
pela variao dos volumes das patas (L) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C e D) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=8), *p
49
5.3.2 O OECz e o anetol inibem o edema de pata induzido por
bradicinina
A bradicinina um peptdeo vasodilatdor e participa da fase inicial do
edema induzido pela carragenina. Nos tempos de 30 e 60 , o edema de pata
produzido pela bradicinina (35 2,8; 12,5 2,5) foi respectivamente inibido
pelo pr-tratamento dos animais com o OECz (8,75 2,26582; 1,25 1,25)
(Fig.7A), o que resultou em uma inibio de 57% (Fig. 7C) pela anlise da rea
sob a curva (Bradcinina: ASC: 1762,5 223,9 versus OECz: ASC: 750,0
164,3). De forma semelhante nos tempos de 30 e 60 min, o edema induzido
pela bradicinina (31,25 3,98098; 21,25 4,7949), foi respectivamente inibido
pelo pr-tratamento dos animais com o anetol (15 2,6; 7,5 1,6) (Fig. 7B), o
que gera uma inibio de 30% (Fig. 7D) na anlise da rea sob a curva
(Bradicinina: ASC 2231,2 364,0 versus anetol: ASC: 900 157,8).
5.3.3 O OECz e o anetol inibem o edema de pata induzido pela
substncia P
A substncia P uma neurocinina, que est envolvido com vrios
eventos fisiolgicos e participa tambm do processo inflamatrio. Nos tempos
de 60 e 120 min, o edema de pata produzido pela substncia P (74,2 5,2;
84,8 4,4) foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o
OECz (41,4 5,9; 50,0 5,7) (Fig. 8A), o que resultou em uma inibio de 33%
(Fig. 8C) pela anlise da rea sob a curva (SP: ASC: 15257,1 1027,1 versus
OECz: ASC: 10521,4 894,8). Antecipando o efeito o sobre a substncia P,
nos tempos de 30; 60 e 120 min (54,2 4,8; 74,2 5,2; 84,8 4,0), o edema
foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o anetol (35,0
6,5; 38,7 7,6; 55 9,0) (Fig. 8B), o que gera uma inibio de 36% (Fig. 8D)
na anlise da rea sob a curva (Substncia P: ASC 15257,1 1027,1 versus
anetol: ASC: 9993,7 1606,8).
50
0 30 60 90 120
0
10
20
30
40 Bradicinina
Salina
OECz
ED
EM
A (
l)
TEMPO (min)
*
*
A)
0 30 60 90 120
0
10
20
30
40
ED
EM
A (
l)
TEMPO (min)
Bradicinina
Salina
Anetol
*
*
*
B)
SALINA BRADICININA ANETOL0
1
2
3
AS
C (
Un
ida
de
s A
rb
itr
ria
s x
10
3)
59%
*
D)
Figura 7 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de pata induzido por bradicinina. OECz e anetol (10 mg/kg; v.o.); Tween 80 (1%; v.o.); captopril (5 mg/kg; s.c.) foram
administrados, 1 h antes da induo do edema de pata por bradicinina (3 nmol/pata; s.c.; 50 l). O controle negativo recebeu salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero) e aps 30, 60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado pela
variao dos volumes das patas (L) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C e D) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=6-8), *p
51
Figura 8 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de pata induzido pela substncia P. OECz e anetol (10 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o., 1 h antes da
induo do edema de pata pela substncia P (3nmolar; s.c.; 50 l). O controle negativo recebeu
salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero)
e aps 60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado pela variao dos volumes das patas (l) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n= 8), *p
52
5.3.4 O anetol, mas no o OECz inibe o edema de pata induzido por
serotonina
A serotonina uma amina que pode se encontrar armazenada nas
vesculas mastocitrias e atuar como mediador inflamatrio, Em todos os
tempos medidos (30, 60, 120, 180 e 240 min), o edema de pata produzido pela
serotonina (101,25 6,3; 77,5 6,1; 70 7,5; 66,2 4,6; 66,2 5,6) no foi
respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o OECz (85,0
8,0; 63,7 8,0; 48,7 7,6; 52,5 5,2; 52,5 4,9) (Fig.9A), o que se reflete pela
anlise da rea sob a curva (Fig. 9C). Por outro lado, nos tempos de 30, 60,
180 e 240min, o edema induzido pela serotonina (101,25 6,3; 77,5 6,1; 70
7,5; 66,2 4,6; 66,2 5,6), foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos
animais com o anetol (75,0 2,6 ; 47,5 4,1; 28,75 2,9; 30,0 6,8; 41,2
8,1) (Fig. 9B), promovendo uma inibio de 45% (Fig. 9D) na anlise da rea
sob a curva (HT: ASC 5622,5 569,0 versus anetol: ASC: 3462,5 358,46).
5.4 EFEITOS DO LEO ESSENCIAL DE Croton zehntneri E DO
ANETOL SOBRE ALGUNS MEDIADORES INFLAMATRIOS ENVOLVIDOS
NA FASE TARDIA DO EDEMA DE PATA INDUZIDO POR CARRAGENINA
5.4.1 O OECz mas no o anetol, inibe o edema de pata induzido
pelo nitroprussiato de sdio
O nitroprussiato de sdio um doador de xido ntrico, que por sua vez
possui atividade vasodilatadora no processo inflamatrio. Nos tempos de 60,
120 e 180 min, o edema de pata produzido pelo nitroprussiato de sdio (52,8
5,2; 50 6,1; 35,7 3,6) foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos
animais com o OECz (33,75 4,6; 23,7 7,3; 12,5 4,9) (Fig. 10A), o que
resultou em uma inibio de 35% (Fig. 10C) pela anlise da rea sob a curva
(NTPS: ASC: 8785,7 865,3 versus OECz: 4762,5 853,1). Entretanto, o
53
edema induzido pelo nitroprussiato de sdio nos tempos de 60, 120, 180 e 240
min (52,8 5,2; 50 6,1; 35,7 3,6; 17,1 1,8), no foi respectivamente
inibido pelo pr-tratamento dos animais com o anetol (62,8 5,2; 32,8 7,1;
28,5 7,6; 18,5 5,9) (Fig. 8B), o que se reflete na anlise da rea sob a curva
(Fig. 10B).
0 60 120 180 240
0
20
40
60
80
100
120
*
*
**
*
*
ED
EM
A (
l)
TEMPO (min)
Serotonina
Salina
Anetol
*
30
B)
0 60 120 180 240
0
20
40
60
80
100
120
ED
EM
A (
l)
TEMPO (min)
Serotonina
Salina
OECz
30
A)
Figura 9 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de pata induzido por serotonina. OECz e anetol (10 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o. ,1 h antes da
induo do edema de pata por serotonina (100 g/pata; s.c.; 50 l ). O controle negativo recebeu
salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero) e aps 30, 60, 120, 180 e 240min de sua induo e calculado pela variao dos volumes
das patas (l) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n=8), *p
54
SALINA NITROPRUSSIATO OECz ANETOL0
2
4
6
8
10
ASC
(Uni
dade
s Ar
bitr
rias x 10
3 )
45%
*
c)
0 60 120 180 240
0
10
20
30
40
50
60
ED
EM
A (
l)
TEMPO (min)
Nitroprussiato de Sdio
Salina
OECz
*
*
*
A)
0 60 120 180 240
0
10
20
30
40
50
60
70
ED
EM
A (
l)
TEMPO(min)
Nitroprussiato de Sdio
Salina
Anetol
B)
Figura 10 - Efeito antiedematognico do OECz e anetol sobre o edema de pata induzido pelo nitroprussiato de sdio. OECz e anetol (10 mg/kg) ou Tween 80 (1%) foram administrados v.o.,1 h
antes da induo do edema de pata por nitroprussiato de sdio (10 molar; s.c.; 50 l ). O controle
negativo recebeu salina estril (0,9%; 50 l; s.c.) na pata contralateral. (A e B) o edema foi medido antes (tempo zero) e aps 60, 120, 180 e 240 min de sua induo e calculado pela variao dos
volumes das patas (L) entre os vrios tempos e o tempo zero. (C) as reas sob as curvas (ASC) foram determinadas pelo mtodo do trapzio. Mdia E.P.M. (n= 8); * p < 0,05 em relao ao nitroprussiato de sdio.
55
5.4.2 Ausncia de efeito inibitrio do OECz sobre o edema de pata
induzido por cido araquidnico e prostaglandina E2
O cido araquidnico e a prostaglandina E2 so molculas que derivam
de lipdios e fazem parte de uma cascata de reaes que produzem vrios
mediadores inflamatrios. Nos tempos de 15, 30, 60 e 120 min, o edema de
pata produzido pelo cido araquidnico (74 6,7; 58 5,8; 58 8,6; 50 5,4)
no foi respectivamente inibido pelo pr-tratamento dos animais com o OECz
(70 6,3; 52 3,7; 54 6,0; 48,0 7,3) (Fig. 11A). No edema induzida pela
prostaglndina E2,, nos tempos 30, 60, 120 e 240 min (77,5 6,2; 82,5 11,0 ;
65 6,4; 55 5,0), tambm, no foi respectivamente inib