Efeito Corona Em Bobinas Estatoricas

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  • ALVARO JOS NO FOGAA

    EFEITO CORONA EM BOBINAS ESTATRICAS UMA

    ABORDAGEM NUMRICA

    Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Cincias. Programa de Ps-Graduao em Mtodos Numricos em Engenharia, Universidade Federal do Paran. Orientador: Profa. Mildred Ballin Hecke Co-orientador: Prof. Ren Robert

    CURITIBA 2003

  • ii

    TERMO DE APROVAO

    ALVARO JOS NO FOGAA

    EFEITO CORONA EM BOBINAS ESTATRICAS UMA ABORDAGEM NUMRICA

    Dissertao aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincias, com rea de concentrao em Mecnica Computacional, no Programa de Ps-Graduao em Mtodos Numricos em Engenharia da Universidade Federal do Paran, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof.a Dr.a Mildred Ballin Hecke Departamento de Construo Civil, UFPR Co-Orientador: Prof. Dr. Ren Robert Departamento de Engenharia Eltrica, UFPR Prof. Dr. Jos Roberto Cardoso Departamento de Engenharia de Energia e Automao Eltricas,

    USP Prof. Dr. Wilson Arnaldo Artuzi Jnior Departamento de Engenharia Eltrica, UFPR Curitiba, 2 de setembro de 2003

  • iii

    Prefiro ser livre a ser escravo. Prefiro dizer o que penso a mentir. E prefiro saber a ser ignorante.

    Henry Louis Menckel

  • iv

    minha esposa, Enides, e aos meus filhos, Luciana e Alvaro, cujo amor, compreenso e incentivo permitiram reduzir um pouco mais a minha ignorncia.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo, de todo o corao, a todos os que contriburam para o desenvolvimento

    deste trabalho. Correndo o risco de deixar de mencionar explicitamente algumas

    pessoas que foram igualmente importantes, gostaria de agradecer em particular:

    minha Orientadora, Mildred Ballin Hecke, pela orientao segura, pelo incentivo ao

    longo de todo o trabalho e pela amizade.

    Ao meu co-Orientador, Ren Robert, pelas sugestes oportunas e pelo encorajamento

    constante.

    Aos professores e funcionrios do CESEC, que, com seu valioso auxlio, tornaram

    muito mais fcil e agradvel todo o trabalho.

    Diretoria de Produo da Companhia Paranaense de Energia Copel, por ter

    disponibilizado o tempo necessrio ao desenvolvimento deste trabalho.

    Aos colegas de curso, cuja convivncia enriqueceu este trabalho, em todos os sentidos.

    minha famlia, a quem este trabalho dedicado.

  • vi

    SUMRIO LISTA DE SMBOLOS........................................................................................... viii

    RESUMO...................................................................................................................... x

    ABSTRACT................................................................................................................. xi

    1. INTRODUO .......................................................................................................1

    2. REVISO DE LITERATURA ..............................................................................4

    3. JUSTIFICATIVA DA ABORDAGEM BIDIMENSIONAL UTILIZADA.......7

    4. GEOMETRIA DA EXTREMIDADE DO ENROLAMENTO...........................9

    5. O POTENCIAL ELTRICO NAS CABEAS DE BOBINA ..........................11

    6. O DOMNIO DO PROBLEMA...........................................................................13

    7. A EQUAO DO CAMPO ELTRICO ...........................................................16

    8. O MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS......................................................18

    9. A ANALOGIA COM A ANLISE TRMICA .................................................21

    10. CONDIES DE CONTORNO DO PROBLEMA .......................................22

    11. SOLUO ANALTICA UNIDIMENSIONAL.............................................23

    12. SOLUO NUMRICA BIDIMENSIONAL ................................................26

    12.1. BOBINA SEM A PROTEO ANTICORONA.............................................26

    12.2. COMPARAO COM A SOLUO ANALTICA......................................29

    12.3. BOBINA COM O VERNIZ 217.21..................................................................32

    12.4. BOBINA COM O VERNIZ 217.22..................................................................37

    13. A INFLUNCIA DO COMPRIMENTO DO VERNIZ .................................41

    13.1. BOBINA COM O VERNIZ 217.21..................................................................41

    13.2. BOBINA COM O VERNIZ 217.22..................................................................44

    14. A INFLUNCIA DA VARIAO DA CONDUTIVIDADE DO VERNIZ.47

    15. CONCLUSES ..................................................................................................51

  • vii

    16. SUGESTES PARA DESENVOLVIMENTO ...............................................53

    17. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................54

  • viii

    LISTA DE SMBOLOS

    - Condutividade eltrica - Freqncia angular - Permissividade i - Unidade imaginria ( )1 U - Potencial eltrico escalar

    f - Freqncia

    t - Tempo

    r - Operador nabla Ar

    - Vetor genrico

    Dr

    - Densidade de fluxo eltrico

    - Densidade volumtrica de carga Br

    - Densidade de fluxo magntico

    Er

    - Intensidade de campo eltrico

    Hr

    - Intensidade de campo magntico

    jr

    - Densidade de corrente

    - Permeabilidade v - Funo peso (ou de ponderao)

    - Domnio - Contorno do domnio nr - Normal unitria externa ao contorno U~ - Valor conhecido de U

    j~ - Valor conhecido de jr

    m - Coeficientes da soluo numrica m - Coeficientes da funo peso

    - Funes base do MEF

  • ix

    mkK - Elementos da matriz de rigidez do MEF

    mC - Elementos do vetor de cargas do MEF

    - Condutividade trmica T - Temperatura

    q - Calor interno

    c - Calor especfico

    m - Densidade volumtrica de massa Fr

    - Fluxo trmico

    e - Espessura

    I - Corrente eltrica

    L - Comprimento

    nff ,,1 L - Funes no lineares genricas

    ( )xF r - Sistema de equaes no lineares, funo do vetor xr ( )0xJ r - Matriz Jacobiana do sistema ( )xF r , calculada em 0xr

  • x

    RESUMO

    No presente trabalho, o campo eltrico nas cabeas de bobina de mais alta

    tenso de um enrolamento estatrico de um gerador sncrono analisado atravs do

    Mtodo dos Elementos Finitos (MEF). Particular ateno dada ao problema da

    ruptura do ar junto superfcie externa do isolamento da bobina, popularmente

    conhecido como efeito corona, provocado pela distribuio do gradiente de

    potencial naquela superfcie.

    A utilizao de fitas ou vernizes com caractersticas condutivas lineares e no-

    lineares sobre a superfcie externa da bobina analisada, de forma a verificar sua

    efetividade na supresso do efeito corona assim como a influncia das caractersticas

    das fitas ou vernizes na distribuio do campo eltrico.

    O emprego de uma soluo numrica interessante neste caso, pois a elevada

    resistividade dos materiais isolantes empregados na fabricao do isolamento da

    bobina dificulta o mapeamento do campo eltrico por meios experimentais; a presena

    da ponta de prova do instrumento de medida altera a distribuio do campo que se

    quer medir. Adicionalmente, a utilizao de um modelo numrico bem mais

    econmica que o emprego de mtodos experimentais, que envolvem a produo de

    pelo menos uma bobina e a utilizao de fontes e de instrumentao de alta tenso.

    As dimenses da bobina utilizadas no trabalho so de um gerador real, j

    construdo. Como as dimenses das bobinas no variam significativamente dentro de

    uma ampla faixa de potncias nominais dos geradores e considerando-se uma tenso

    nominal de 13,8 kV, empregada na maioria dos geradores produzidos no pas, os

    resultados obtidos podem ser tidos como gerais. A tcnica, porm, pode ser utilizada

    para qualquer gerador, introduzindo-se no modelo as dimenses particulares de cada

    caso.

  • xi

    ABSTRACT

    In the present work, the electrical field at the endwinding of a high voltage

    synchronous generator is analyzed using the finite element method (FEM). Special

    attention is given to the air breakdown phenomena close to the coil insulation external

    surface, the well known corona effect, caused by the voltage gradient distribution on

    that surface.

    The use of linear and non-linear electrical characteristics tapes or varnishes

    over the endwinding is analyzed, in order to check the corona suppression

    effectiveness, as well as the tapes or varnishes characteristics influence on the voltage

    gradient distribution.

    In this problem, a numerical solution is interesting, since the high resistivity of

    the electrical insulation materials used in stator windings manufacturing brings a lot of

    problems to map the electrical field experimentally; the instrument probe usually

    disturbs the field distribution being measured. In addition, a numerical model is much

    more inexpensive than experimental methods, that involves, at least, one stator coil

    and high voltage sources and instrumentation.

    The stator coil dimensions are from a real synchronous generator, already in

    operation. Considering that coil dimensions do not vary largely within a large range of

    generators rated power and that a usual 13.8 kV rated voltage is adopted, the results

    can be considered generally. Although, the method can be used in any generator,

    introducing the particular coil dimensions into the model.

  • 1

    1. INTRODUO

    O estudo da distribuio dos campos eltricos e magnticos de fundamental

    importncia na engenharia eltrica, particularmente na rea de mquinas eltricas.

    Considerando que o conceito construtivo das mquinas eltricas rotativas (geradores e

    motores) consideravelmente antigo, o comportamento dos campos em seu interior

    relativamente bem conhecido. Entretanto, pela inexistncia de recursos

    computacionais na poca da definio e da consolidao dos padres de projeto destas

    mquinas, o conhecimento dos campos foi feito com base em valores mdios. So,

    portanto, bastante familiares aos projetistas de motores ou geradores valores mdios,

    por exemplo, de densidade de corrente, de densidade de fluxo magntico ou de

    densidade superficial de potncia, que devem se situar dentro de determinadas faixas

    de valores de forma a permitir a concepo de uma mquina sem problemas crticos de

    desempenho.

    Alguns aspectos de desempenho, porm, necessitam de um conhecimento

    mais detalhado dos campos existentes no interior da mquina. Na maior parte dos

    casos, necessrio conhecer o comportamento dos campos nas extremidades das

    partes ativas (as que participam do processo de converso eletromecnica de energia).

    ali que ocorrem fenmenos de disperso (distribuio irregular) dos campos

    eltricos e magnticos que, se no forem corretamente compreendidos e determinados,

    podem levar a falhas ou, na melhor das hipteses, reduzir consideravelmente a vida

    til da mquina eltrica.

    Um dos fenmenos decorrentes da disperso do campo eltrico que

    geralmente aparece e provoca danos ao isolamento das mquinas eltricas o chamado

    efeito corona. Trata-se de descargas que ocorrem no ar em funo da concentrao

    do campo eltrico nas extremidades do enrolamento estatrico, sobre a superfcie

    externa do isolamento. Tais descargas, se no controladas ou evitadas, danificam a

    superfcie do isolamento e produzem oznio, podendo levar a mquina a uma falha

    prematura. A forma usualmente empregada para evitar o aparecimento das descargas

  • 2

    a aplicao de fitas ou tintas com caractersticas especficas de condutividade eltrica

    sobre a superfcie externa do isolamento.

    O objetivo do presente trabalho , atravs da utilizao de um modelo

    numrico, analisar a distribuio do campo eltrico na extremidade do enrolamento

    estatrico, verificando a efetividade da atuao das fitas ou tintas na supresso das

    descargas, assim como analisar a influncia das caractersticas destas fitas ou tintas na

    distribuio do campo eltrico.

    No desenvolvimento da anlise, foi utilizado o programa ANSYS/Mechanical

    (verso 6.0).

    O presente trabalho se desenvolve atravs da reviso de literatura, no captulo

    2 e, no captulo 3, pela apresentao de uma justificativa para a abordagem

    bidimensional utilizada. A geometria da extremidade do enrolamento estatrico

    apresentada no captulo 4, seguida no captulo 5 pela determinao do potencial

    mximo que atua em duas cabeas de bobina adjacentes. A definio do domnio, no

    captulo 6, completa a descrio fsica do problema abordado.

    A modelagem do problema apresentada nos captulos 7, 8 e 9, onde so

    mostradas, respectivamente, as equaes do campo eltrico aplicveis, as bases do

    Mtodo dos Elementos Finitos e a analogia com a anlise trmica, necessria

    utilizao do ANSYS/Mechanical.

    As condies de contorno so apresentadas no captulo 10. Uma soluo

    analtica unidimensional apresentada no captulo 11, e seus resultados so

    comparados com a soluo numrica bidimensional no captulo 12, evidenciando-se as

    limitaes da referida soluo analtica em relao a aspectos importantes do

    problema.

    Os captulos 12, 13, 14 e 15 apresentam a soluo numrica do problema,

    investigando a influncia das caractersticas de dois vernizes distintos sobre a

    distribuio do campo eltrico na superfcie das cabeas de bobina, alm de explorar a

    influncia do comprimento dos vernizes e da variao das caractersticas de um

    mesmo verniz.

  • 3

    As concluses so apresentadas no captulo 16 e sugestes para o

    desenvolvimento de trabalhos futuros so descritas no captulo 17.

    O desenvolvimento deste trabalho foi motivado principalmente pelas

    dificuldades prticas encontradas na utilizao dos sistemas de proteo anticorona.

    Em muitos casos, a aplicao dos vernizes feita seguindo-se risca as instrues do

    fabricante indicadas no catlogo do produto e, mesmo assim, as descargas no

    desaparecem. As curvas caractersticas dos vernizes raramente constam dos catlogos,

    inviabilizando um maior controle do verniz por parte do usurio antes da efetiva

    aplicao sobre as bobinas. A determinao do comprimento de verniz a utilizar feita

    com base em frmulas empricas, tambm geralmente indicadas pelo fabricante no

    respectivo catlogo. Os fabricantes que produzem dois ou mais vernizes com

    caractersticas distintas no indicam quais critrios devem ser observados para a

    correta seleo do verniz a utilizar em uma determinada mquina.

    Espera-se que as concluses deste trabalho sirvam de subsdio, tanto para

    fabricantes como para usurios, para o aprimoramento dos produtos e das tcnicas

    utilizadas nos sistemas de proteo anticorona das mquinas eltricas de alta tenso.

  • 4

    2. REVISO DE LITERATURA

    As mquinas eltricas de corrente alternada, desde a concepo do motor

    trifsico de induo por Nicola Tesla em 1887, apresentam uma notvel continuidade

    em relao a sua constituio fsica. Um motor ou um gerador atual de corrente

    alternada possui basicamente os mesmos componentes da concepo original. Houve,

    naturalmente, uma fantstica evoluo nos materiais empregados na construo das

    mquinas eltricas. Novos materiais permitiram uma extraordinria reduo no

    tamanho das mquinas, assim como um incremento igualmente notvel no seu

    rendimento. Consequentemente, aumentaram tambm de forma considervel as

    solicitaes eltricas, mecnicas e trmicas sobre os materiais empregados. Maiores

    solicitaes sobre os materiais implicaram o aparecimento de problemas que podiam

    ser negligenciados nas mquinas mais antigas. Um destes problemas, decorrente

    diretamente do aumento nas solicitaes eltricas sobre os materiais isolantes, o

    efeito corona, descrito sucintamente acima.

    O problema das descargas em ar na superfcie externa do isolamento das

    mquinas eltricas vem, portanto, sendo estudado desde que o valor da tenso nominal

    das mquinas eltricas ultrapassou a barreira dos 5000 V, permitindo o aparecimento

    de intensidades de campo eltrico suficientes para provocar o rompimento do ar

    prximo ao isolamento.

    Entretanto, a complexidade da geometria dos enrolamentos e a falta de

    ferramentas computacionais adequadas para o tratamento do problema, levaram a

    pesquisa em direo a modelos experimentais empricos. O mapeamento do campo

    eltrico era, muitas vezes, realizado de forma grfica, atravs do mtodo dos

    quadrados curvilneos, conforme descrito por KOSTENKO e PIOTROVSKI 3. O

    mtodo das diferenas finitas tambm foi utilizado para o mapeamento do campo

    eltrico, como indicado em HAYT 2, mas a aplicao prtica do mtodo ainda era

    invivel devido s limitaes dos meios computacionais e complexidade do domnio.

    Restando a via experimental, diversos materiais para revestimento superficial do

    isolamento eram testados em relao eficcia na supresso das descargas, tendo por

  • 5

    base modelos matemticos baseados na representao deste revestimento por meio de

    elementos de circuito (resistores e capacitores) discretos e concentrados. Esta

    abordagem permite a obteno de uma soluo analtica unidimensional, descrita por

    RIVENC, BIDAN e LEBEY4, apresentando simplificaes necessrias obteno da

    soluo analtica que introduzem erros considerveis para determinados valores de

    condutividade dos vernizes empregados. Adicionalmente, a soluo analtica se

    restringe apenas regio onde o verniz de proteo anticorona est aplicado,

    deixando-se de investigar o que acontece no final do verniz, o que ser feito no

    presente trabalho.

    SHEWCHUN e MITCHELL 6, desenvolveram modelos para determinar a

    condutividade do carbeto de silcio (SiC), o material mais empregado na fabricao de

    vernizes de proteo anticorona de caracterstica no-linear. Seu trabalho, porm, no

    analisou especificamente as aplicaes prticas dadas aos vernizes que utilizam o

    carbeto de silcio como matria prima bsica.

    Grande nmero de trabalhos experimentais foram desenvolvidos por DAY,

    WROBLEWSKI e WEDDLETON 5, KADOTANI e SATO 7, GULLY e WHEELER 9,

    CORNICK 14, MALAMUD e CHEREMISOV 18, HASSAN et al. 19 e REHDER E

    STUTT 20, basicamente para validar os sistemas de proteo anticorona utilizados

    pelos principais fabricantes de mquinas eltricas. Nenhum deles abordou uma

    eventual comparao entre os resultados experimentais obtidos e a aplicao de uma

    abordagem numrica ao problema. A exemplo do trabalho de RIVENC, BIDAN e

    LEBEY4, acima mencionado, a investigao ficou restrita ao que acontece sobre a

    superfcie do verniz de proteo.

    PHILLIPS, OLSEN e PEDROW 16 trabalharam no desenvolvimento de um

    critrio de otimizao de projeto para eletrodos de alta tenso. O trabalho, porm,

    estava mais voltado s linhas de transmisso que s mquinas eltricas rotativas. Da

    mesma forma, o trabalho terico de BELEVTSEV 17 sobre o mecanismo da descarga

    em gases no trouxe subsdios ao problema especfico das mquinas rotativas.

    O efeito da superfcie dos eletrodos (rugosidade e imperfeies) sobre as

    descargas em ar foi abordado por MAHDY e ANIS 13, indicando que a altura das

  • 6

    imperfeies superficiais assim como o ngulo mdio das mesmas pode reduzir

    significativamente a tenso de incio das descargas. A utilizao de vernizes nas

    mquinas eltricas, entretanto, permite a obteno de superfcies de bom acabamento,

    suficientemente lisas para que o efeito das imperfeies no seja acentuado. Alm

    disto, o critrio utilizado para a avaliao dos resultados (a tenso de incio das

    descargas) no parece ser o mais adequado para avaliar a efetividade da proteo

    anticorona, j que o parmetro determinante para o aparecimento da descarga a

    intensidade de campo eltrico.

    O trabalho de TECHAUMNAT, HAMADA e TAKUMA 15, relativo

    intensificao do campo eltrico em pontos de tripla juno (eletrodo, dieltrico slido

    e dieltrico gasoso), na presena de condutividade superficial no dieltrico slido,

    utiliza valores de condutividade muito baixos em relao aos dos vernizes de proteo

    anticorona empregados nas mquinas eltricas rotativas. No possvel, portanto,

    utilizar diretamente os seus resultados na investigao das descargas nas cabeas de

    bobina.

    Os trabalhos que utilizam mtodos numricos, tais como BAKER, GULLY e

    WHEELER 8, EGIZIANO et al. 10, YEO et al. 11 e VITELLI 12, no abordam

    diretamente o problema em cabeas de bobina, no utilizam programas comerciais ,

    no comparam os resultados com a soluo analtica unidimensional e se concentram

    apenas na investigao do emprego de diversos vernizes ou fitas, sem abordar as

    variaes que podem ocorrer nas caractersticas dos materiais ou no efeito que o

    comprimento da proteo pode causar na distribuio do campo eltrico.

  • 7

    3. JUSTIFICATIVA DA ABORDAGEM BIDIMENSIONAL UTILIZADA

    Considerando-se a geometria complexa das cabeas de bobina, conforme

    mostrado na figura 1, pode-se inferir que a melhor abordagem seria a adoo de um

    modelo tridimensional. Afinal, todos os enrolamentos atuais so de dupla camada, isto

    , possuem duas camadas de bobinas no sentido radial. Isto implica a existncia de

    duas camadas de cabeas de bobina nas extremidades do ncleo estatrico. As duas

    camadas se entrecruzam (como pode ser visto na figura 1-b e no segundo plano da

    figura 1-c), formando uma malha onde cada cabea de bobina de uma camada cruza

    por vrias outras cabeas de bobina da outra camada.

    Porm, a abordagem bidimensional empregada neste trabalho pode ser adotada

    desde que se considere que:

    - A mxima diferena de potencial, decorrente da prpria disposio das

    bobinas, ocorrer entre bobinas adjacentes de uma mesma camada;

    - A largura das bobinas de 5 a 7 vezes maior que a sua espessura., podendo-

    se, portanto, desprezar as variaes do campo eltrico na direo da largura

    das bobinas;

    - As menores distncias entre os pontos de maior potencial nas cabeas de

    bobina (o cobre no interior das bobinas) e os pontos de potencial nulo (as

    extremidades do ncleo estatrico) ocorrem entre bobinas adjacentes de

    uma mesma camada.

    Os enrolamentos atuais so todos trifsicos de corrente alternada, com

    freqncia de 60 Hertz. A anlise do comportamento dos vernizes deveria portanto, em

    princpio, utilizar a forma complexa da condutividade do verniz ( ) i+ . O trabalho de RIVENC, BIDAN e LEBEY4, porm, mostrou que quando a parte real ( ) muito maior em relao parte imaginria ( ) , como o caso para os vernizes de proteo anticorona utilizados em cabeas de bobina, a parte imaginria pode ser desprezada,

    optou-se neste trabalho por considerar a mxima diferena de potencial instantnea

    que pode aparecer entre as cabeas de bobina de duas fases distintas, ou seja,

  • 8

    considerar a tenso aplicada ao modelo como um potencial constante no tempo, ao

    invs de alternado.

    A adoo de uma abordagem unidimensional, por sua vez, implica assumir

    simplificaes muito drsticas para a correta modelagem do problema, como ser

    mostrado no captulo 11 deste trabalho, que descreve uma soluo analtica

    unidimensional. As mesmas limitaes que introduzem erros na soluo analtica se

    aplicam a um eventual modelo numrico unidimensional do problema.

  • 9

    4. GEOMETRIA DA EXTREMIDADE DO ENROLAMENTO

    A geometria da extremidade do enrolamento estatrico de um gerador tpico

    pode ser compreendida a partir da figura 1. As extremidades das bobinas do

    enrolamento estatrico saem do interior de ranhuras verticais na superfcie interna do

    ncleo estatrico (um cilindro de ao silcio destinado a direcionar o campo

    magntico), estando dispostas lado a lado.

    FIGURA 1-a Seo de um gerador sncrono tpico. O retngulo vermelho

    indica a extremidade do enrolamento estatrico.

    ROTOR

    E S TATOR

  • 10

    FIGURA 1-b Detalhe da extremidade do enrolamento estatrico, mostrando as

    extremidades superiores das bobinas estatricas.

    FIGURA 1-c Foto da extremidade das bobinas estatricas, mostrando a proteo

    anti-corona (regies em cinza) aplicada imediatamente aps a sada do ncleo

    estatrico.

    NCLEO ESTATRICO

    EXTREMIDADE DO ENROLAMENTO ESTATRICO

  • 11

    5. O POTENCIAL ELTRICO NAS CABEAS DE BOBINA

    Os geradores sncronos utilizados atualmente so todos trifsicos, isto , so

    compostos por trs enrolamentos (as fases, geralmente denominadas A, B e C)

    fisicamente defasados de 120 graus eltricos, de forma a produzir trs tenses

    defasadas de 120 graus eltricos entre si. Assim, o mximo potencial instantneo que

    pode aparecer entre duas cabeas de bobina adjacentes no enrolamento estatrico

    corresponde mxima diferena entre as tenses instantneas de duas fases quaisquer,

    conforme mostra a figura 2. As duas linhas verticais mostradas na figura indicam o

    ponto de mxima diferena de potencial entre as fases A e C, correspondentes

    amplitude da tenso de linha A-C, mostrada em amarelo.

    FIGURA 2 Mxima diferena de potencial entre cabeas de bobina adjacentes

    Considerando um gerador com tenso nominal eficaz de 13800 V, freqncia

    nominal de 60 Hz, e sabendo que as tenses de fase e de linha so senoidais, as tenses

    A e C, por exemplo, sero dadas por:

    )sen( wtUU MA = (1)

    Tenses de fase e de linha

    -20000

    -15000

    -10000

    -5000

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    0 30 60 90 120

    150

    180

    210

    240

    270

    300

    330

    360

    ngulo (graus)

    Tens

    o (V

    )

    Fase C

    Fase A

    Linha A-C

  • 12

    )240sen( 0+= wtUU MC (2) onde:

    VU M 65,112673/213800 == sradfw /3776022 === (3)

    A mxima diferena de potencial entre duas cabeas de bobina adjacentes

    ocorrer para 60=wt graus, resultando em tenses instantneas de: VU A 9758)60sen(65,11267

    0 == VU C 9758)300sen(65,11267

    0 == Estes sero os potenciais utilizados como condio de contorno no cobre das

    bobinas estatricas. O ncleo estatrico, por ser aterrado, ter potencial nulo.

  • 13

    6. O DOMNIO DO PROBLEMA

    As dimenses adotadas para o domnio onde ser avaliada a distribuio de

    potencial eltrico esto indicadas na figura 3 (contorno em linhas pretas). As fronteiras

    do domnio se referem superfcie externa do cobre da bobina, superfcie externa do

    ncleo estatrico, linha mdia do espao existente entre duas cabeas de bobina

    adjacentes (mostradas em linha tracejada vermelha na figura 3) e a uma fronteira

    fictcia onde a distribuio de potencial pode ser considerada conhecida em funo de

    sua distncia em relao ao final da proteo anticorona aplicada. O interior do

    domnio compreende duas regies: o isolamento da bobina (compsito de mica e

    resina epxi) e o ar existente entre as cabeas de bobina.

    FIGURA 3 Geometria do domnio

    As regies relativas aos vernizes de proteo anticorona correspondem a

    pelculas com espessura de 0,1mm, junto superfcie externa do isolamento da bobina.

  • 14

    Sero considerados trs vernizes de proteo anticorona, com caractersticas eltricas

    distintas:

    - verniz condutivo : aplicado desde a superfcie do ncleo estatrico, at um

    comprimento de 25mm acima deste. O verniz condutivo possui

    condutividade constante e igual a 0,5 S/m (correspondente a uma

    resistividade superficial de 20000 por quadrado, para uma espessura de 0,1mm).

    - Verniz semicondutivo : aplicado desde a extremidade do verniz condutivo,

    at um comprimento de 50 mm (L2 na fig.3) ou 100 mm (L1 na fig.3),

    medidos sobre a superfcie externa do isolamento da bobina. Sero

    analisados dois vernizes semicondutivos com distintas caractersticas

    eltricas no-lineares. Os vernizes so fabricados pela Von Roll Isola,

    sendo identificados pelas referncias comerciais 217.21 e 217.22. As

    caractersticas de tenso (CC) x corrente de cada um dos vernizes esto na

    figura 4. No desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada a curva mdia de

    cada verniz, indicada no centro da regio hachurada dos grficos. A regio

    hachurada representa a variao nas caractersticas do verniz que pode ser

    encontrada no produto.

    FIGURA 4 Caracterstica tenso (CC) x corrente dos vernizes 217.21 e

    217.22

  • 15

    A partir dos grficos da figura 4 anterior e considerando a espessura de 0,1

    mm utilizada para os vernizes semicondutivos, pode-se traar os grficos de

    resistividade x tenso (CC) de cada um dos vernizes 217.21 e 217.22, respectivamente

    mostrados nas figuras 5 e 6.

    FIGURA 5 Resistividade x tenso (CC) do verniz 217.21

    FIGURA 6 Resistividade x tenso (CC) do verniz 217.22

    Resistividade do verniz 217.21

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    300000

    350000

    2,25

    2,75

    3,25

    3,75

    4,25

    4,75

    5,25

    5,75

    6,25

    6,75

    7,25

    7,75

    Tenso (kV)

    Res

    istiv

    idad

    e (o

    hm.m

    )

    Resistividade do verniz 217.22

    0

    20000

    40000

    60000

    80000

    100000

    0,75

    1,25

    1,75

    2,25

    2,75

    3,25

    3,75

    4,25

    4,75

    5,25

    5,75

    6,25

    6,75

    7,25

    7,75

    Tenso (kV)

    Res

    istiv

    idad

    e (o

    hm.m

    )

  • 16

    7. A EQUAO DO CAMPO ELTRICO

    O problema do campo eltrico na cabea de bobina, com ou sem a utilizao

    de verniz de proteo anticorona, regido pela equao de Laplace do potencial

    eltrico escalar, que pode ser obtida diretamente das equaes de Maxwell:

    = Drr (4) 0= Brr (5)

    tBE =rrr

    (6)

    tDjH =rrrr

    (7)

    e das relaes constitutivas:

    EDrr = (8) HBrr = (9)

    Ejrr = (10)

    Utilizando a aproximao quasi-esttica:

    0= Drr (11) 0= Brr (12)

    UEE == rrrr 0 (13) jHrrr = (14)

    e a lei da conservao da carga eltrica:

    00 ==+ j

    tj

    rrrr (15) temos:

    ( ) ( ) 0=== UEj rrrrrr (16) ( ) 0= Urr (17)

    que a equao de Laplace do potencial eltrico, onde:

    =U Potencial eltrico escalar no interior do domnio; = Condutividade eltrica dos materiais no interior do domnio;

  • 17

    =i Condutividade eltrica do isolamento = 10-9 S/m; =a Condutividade eltrica do ar = 10-9 S/m.

    Com a aplicao dos vernizes de proteo anticorona, necessrio levar em

    conta a condutividade dos mesmos em relao ao ar e ao isolamento da bobina, e o

    problema deve passar a considerar os seguintes valores:

    =c condutividade eltrica do verniz condutivo = 0,5 S/m; =s condutividade eltrica do verniz semicondutivo = )(Us , conforme

    as curvas das figuras 21, 25 e 37.

    A densidade de corrente )( jr

    pode ser determinada pela relao constitutiva

    (10) que a Lei de Ohm generalizada.

  • 18

    8. O MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

    Segundo BECKER, CAREY e ODEN 1, o Mtodo dos Elementos Finitos

    uma tcnica geral para a obteno de solues aproximadas para problemas de valor

    de contorno. Por sua generalidade e riqueza de idias subjacentes ao mtodo, este tem

    sido usado com notvel sucesso em diversas reas da engenharia e da fsica.

    Utilizando a equao diferencial que descreve o campo eltrico na cabea de

    bobina, apresentada no captulo 7 acima, podemos descrever as bases do mtodo

    aplicado em duas dimenses.

    Seja a equao (17):

    ( ) 0= Urr onde:

    ),( yxUU = a funo potencial eltrico escalar que satisfaz a equao diferencial em qualquer ponto de um domnio bidimensional ;

    A funo ),( yxU , portanto, a soluo exata que desejaramos conhecer.

    Porm, devido complexidade do domnio, s condies de contorno ou aos

    coeficientes envolvidos, no geralmente possvel obter a soluo exata em forma

    clssica fechada. Devemos, portanto, procurar obter uma soluo aproximada.

    Isto pode ser feito reformulando-se o problema, de forma que uma soluo

    aproximada aceitvel satisfaa a equao diferencial em mdia no domnio completo.

    A reformulao do problema nesta forma conhecida como formulao fraca (ou

    variacional).

    Ponderando a equao com uma funo peso ),( yxv e fazendo o resduo mdio

    ponderado em igual a zero, resulta em:

    = 0)]([ vdUrr (18)

    Utilizando-se a identidade vetorial:

    ( ) AvAvAv rrrrrr += (19) temos:

    ( ) AvAvAv rrrrrr = (20)

  • 19

    Fazendo:

    UA = rr (21) Resulta em:

    ( ) ( ) UvUvUv = rrrrrr (22) Introduzindo (22) em (18), temos:

    0])([

    = dvUUv rrrr (23)

    0)()( =

    dvUdUvrrrr (24)

    A primeira integral em (24) pode ser transformada em uma integral no

    contorno de , com a aplicao do teorema da divergncia (ou de Gauss), logo: ( ) ( ) 0=

    dvUvdnU

    rrrr (25)

    sendo:

    =nr normal unitria externa ao contorno de . A primeira integral em (25) corresponde s condies de contorno, que podem

    ser do tipo:

    ==UU ~ valor prescrito para o potencial no contorno ; ==== UEjj rrr ~ valor prescrito para a densidade de corrente no

    contorno ; A equao (25) a formulao variacional do nosso problema. Agora, no

    procuramos mais a funo ),( yxU que satisfaz a equao diferencial original em todo

    o domnio . Procuramos uma funo ),( yxU , contnua em e com derivada primeira tambm contnua em , que satisfaa a equao (25) para qualquer funo peso ),( yxv , contnua em e com derivada primeira tambm contnua em .

    Resta-nos escolher a forma das funes ),( yxU e ),( yxv que iremos utilizar

    para viabilizar a implementao prtica do mtodo variacional. O Mtodo dos

    Elementos Finitos estabelece que:

    - as funes base )( utilizadas para aproximar as funes ),( yxU e ),( yxv devem ser as mesmas:

  • 20

    =

    =N

    kkkNU

    1 (26)

    =

    =N

    mmmNv

    1 (27)

    - as funes base devem ser polinmios no nulos definidos nos elementos

    em que o domnio ser subdividido.

    Introduzindo as expresses de NU (26) e de Nv (27) em (25), temos a

    formulao variacional discreta do problema, em que a soluo aproximada definida

    pela combinao de um subconjunto finito do espao das funes base escolhidas,

    resultando em:

    ( ) =

    =N

    kmkkm djd

    1

    ~ rr para m=1,...,N (28)

    A expresso acima representa um sistema de equaes algbricas que pode ser

    expresso por:

    =

    =N

    kmkmk CK

    1 para m=1,...,N (29)

    A soluo do problema se resume, uma vez escolhidas as funes base, em

    determinar os coeficientes k da soluo aproximada NU . Uma descrio mais detalhada a respeito da montagem do sistema de equaes algbricas est em

    BECKER, CAREY e ODEN 1.

    Neste trabalho, o domnio foi dividido em elementos triangulares com seis ns

    e funes de interpolao quadrticas.

  • 21

    9. A ANALOGIA COM A ANLISE TRMICA

    A fim de permitir a introduo das curvas de condutividade dos vernizes

    217.21 e 217.22 no modelo, ser utilizado o mdulo de anlise trmica do ANSYS.

    Pode-se verificar a perfeita analogia entre o potencial eltrico escalar e o potencial

    trmico escalar (campo de temperaturas) no domnio de clculo, comparando-se as

    equaes diferenciais, sendo a do problema trmico:

    ( )tTcqT m = rr (30)

    onde:

    = condutividade trmica do material; =T temperatura (potencial trmico escalar); =q fontes de calor interno; =c calor especfico do material; =m densidade do material.

    Como no existem fontes no interior do domnio ( =q 0) e o problema

    estacionrio ( 0=

    tT ), a equao se reduz a:

    ( ) 0= Trr (31) Logo, existe correspondncia direta entre as condutividades eltrica e trmica

    e entre os potenciais escalares eltrico e trmico.

    A equao constitutiva que relaciona o potencial ao fluxo trmico dada por:

    TF = rr (32) Completando a analogia, basta considerarmos a condutividade trmica

    como uma funo do prprio potencial, isto , ( )T = , correspondente condutividade eltrica ( )U = .

  • 22

    10. CONDIES DE CONTORNO DO PROBLEMA

    As condies de contorno utilizadas na resoluo do campo eltrico na cabea

    de bobina so as mesmas tanto para o problema com a proteo anticorona, como para

    o problema sem a proteo anticorona e esto indicadas na figura 7.

    FIGURA 7 Condies de contorno

    Nas interfaces entre os diversos materiais no interior do domnio (indicados

    pelos ndices 1 e 2 nas equaes abaixo) so automaticamente consideradas pelo

    ANSYS as seguintes condies de contorno:

    tt EE 21 = (continuidade das componentes tangenciais da intensidade de campo eltrico);

    nn DD 21 = (continuidade das componentes normais da densidade de campo eltrico).

  • 23

    11. SOLUO ANALTICA UNIDIMENSIONAL

    Uma soluo analtica do problema da distribuio do campo eltrico em

    cabeas de bobina pode ser obtida abordando-se o problema unidimensional da

    distribuio do potencial eltrico sobre a superfcie externa do isolamento com verniz

    condutivo aplicado, conforme descrito por RIVENC, BIDAN e LEBEY4, representado

    pela equao diferencial:

    0022

    =

    iivv e

    UUdx

    Ude (33)

    onde:

    =v condutividade do verniz; =i condutividade do isolamento; =ve espessura do verniz; =ie espessura do isolamento; =0U potencial aplicado no cobre da bobina; =U potencial sobre a superfcie do isolamento, funo apenas da distncia ( x )

    at o ncleo estatrico.

    A equao (33) decorre diretamente da aplicao da equao da continuidade

    da corrente eltrica,

    0= jrr (34) aplicada em um volume compreendido pela regio ABCD, mostrada na figura 8, com

    comprimento unitrio na direo z.

    De acordo com o teorema de Stokes:

    == 0Sdjdvj rrrr (35) Logo, o fluxo do vetor j

    r deve ser determinado atravs das superfcies

    limitadas pelo contorno ABCD e comprimento unitrio na direo z, que inclui a

    fronteira entre o isolamento da bobina e o verniz anticorona, conforme mostrado na

    figura 8. A orientao positiva do vetor Sdr

    para fora do contorno.

  • 24

    FIGURA 8 Modelo da soluo analtica unidimensional

    Efetuando-se a integral de superfcie descrita em (35) no contorno ABCD,

    temos:

    ( ) ( ) ( ) += 0 0 00 00 211y y y tvvtvvtii dyxEdyxEdyxESdj r ( ) ( ) = 0 0 212 0y xx niitii dxxEdyxE (36) Assumindo que:

    - A espessura do verniz pequena (0,1mm) e sua condutividade alta em

    relao condutividade do isolamento, o campo eltrico no interior do

    verniz ser puramente tangencial;

    - y0 pequeno e x1 e x2 so pontos bastante prximos um do outro, o que

    permite pensar no ponto (x,0) como um n de um circuito eltrico;

    podemos comparar cada uma das integrais em (36) a uma corrente que entra

    ou sai do n em (x,0), ou seja:

    I1+ I2-I3- I4- I5=0

  • 25

    Desprezando as correntes tangenciais I1 e I4 no isolamento e considerando que:

    ( )dxxEU tv= , o potencial no verniz, (37) ( ) ini exEUU = 0 , o potencial no isolamento e, (38)

    ( ) ( ) dxdx

    dExExE tvtvtv = 21 , a variao do campo eltrico na direo x, (39)

    as integrais em (36) resultam em:

    0022

    =

    iivv e

    UUdx

    Ude

    que a equao (33).

    A soluo, de acordo com o trabalho de RIVENC, BIDAN e LEBEY4 e

    considerando as condies de contorno ( ) 00 =U e ( ) 0=LdxdU , dada por:

    ( )( )( )

    =

    LLxUU

    cosh

    cosh10 (40)

    onde:

    =L comprimento do verniz de proteo anticorona aplicado sobre a bobina;

    viv

    i

    ee1

    = (41)

    A intensidade de campo eltrico, portanto, dada por:

    ( )( )( )L

    LxUE

    senhsenh

    0= (42)

    Como foi visto acima, este tipo de soluo parte do pressuposto de que a

    condutividade do verniz muito menor que a do isolamento da bobina, isto , despreza

    as correntes tangenciais no interior do isolamento. Como isto no verdadeiro quando

    se considera a bobina sem verniz de proteo anticorona ou quando se utilizam

    vernizes de caracterstica no-linear com resistividades elevadas para baixas tenses,

    como geralmente o caso, a soluo descrita pelas equaes de U e E acima deve

    diferir significativamente da soluo exata e da soluo numrica bidimensional. Isto

    ficar evidente no captulo 12, onde feita a comparao com a soluo numrica.

  • 26

    12. SOLUO NUMRICA BIDIMENSIONAL

    12.1. BOBINA SEM A PROTEO ANTICORONA

    O programa utilizado neste trabalho foi o ANSYS/Mechanical (verso 6.0). O

    campo eltrico sem a proteo anticorona foi determinado atravs de uma malha de

    elementos triangulares slidos de 6 ns (PLANE35), com 4204 elementos e 8539 ns.

    A malha mais fina foi definida junto ao ncleo estatrico e na superfcie do isolamento

    da bobina, onde se espera as maiores variaes na intensidade de campo eltrico. A

    malha mostrada na figura 9. A convergncia da soluo foi obtida em uma nica

    iterao, j que no esto presentes os vernizes de caracterstica no linear. O critrio

    de convergncia utilizado foi a norma L2 da carga eltrica no interior do domnio (raiz

    quadrada da soma dos quadrados das diferenas entre a carga obtida na soluo

    numrica e a carga aplicada no modelo), cujo valor default do ANSYS 10-6.

    FIGURA 9 Malha utilizada no problema sem a proteo anticorona

  • 27

    O campo eltrico na cabea de bobina, sem a proteo anticorona aplicada

    sobre a superfcie externa do isolamento, mostrado nas figuras 10, 11 e 12 abaixo.

    FIGURA 10 Distribuio do potencial sem a proteo anticorona

    O mdulo de anlise trmica do ANSYS foi utilizado para permitir a

    introduo das caractersticas no-lineares dos vernizes de proteo anticorona. A

    figura 10 mostra a distribuio do potencial U em todo o domnio. A figura 11 mostra

    o potencial U sobre a superfcie externa do isolamento da bobina, em funo da

    distncia a partir do ncleo estatrico. Pode-se facilmente notar, em ambas as figuras,

    a concentrao do campo junto extremidade do ncleo estatrico. A figura 12 mostra

    a intensidade do campo eltrico )( UErr = sobre a superfcie externa do isolamento da

    bobina, em funo da distncia a partir do ncleo estatrico. Nos pontos em que a

    intensidade de campo eltrico ultrapassa o limite de ruptura do ar (cerca de 2,5.106

    V/m), haver descarga.

    Potencial (V)

  • 28

    FIGURA 11 Distribuio do potencial (V) sobre a superfcie externa do isolamento

    FIGURA 12 Distribuio da intensidade de campo (V/m) sobre a superfcie externa

    do isolamento

    0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Pot

    enci

    al(V

    )

    0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    deca

    mpo

    (V/m

    )

  • 29

    Todas as figuras acima serviro como referncia para a verificao do efeito

    da aplicao dos vernizes de proteo anticorona sobre a distribuio do campo

    eltrico na cabea de bobina.

    12.2. COMPARAO COM A SOLUO ANALTICA

    A comparao entre a soluo numrica bidimensional obtida acima e a

    soluo analtica unidimensional descrita no captulo 11 est nas figuras 13 e 14

    abaixo, que mostram a distribuio de U e E para um comprimento de 50mm sobre o

    isolamento da bobina a partir do final do verniz condutivo (L2 na figura 3), sem verniz

    semicondutivo aplicado.

    FIGURA 13 Comparao entre a soluo analtica unidimensional e a soluo

    numrica bidimensional para o potencial, sem verniz semicondutivo aplicado sobre a

    bobina.

    0100020003000400050006000700080009000

    10000

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Distncia (mm)

    Pote

    ncia

    l (V)

    U analtico U numrico

  • 30

    FIGURA 14 Comparao entre a soluo analtica unidimensional e a soluo

    numrica bidimensional para a intensidade de campo, sem verniz semicondutivo

    aplicado sobre a bobina.

    0

    5

    10

    15

    200 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Distncia (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    de c

    ampo

    (V

    /m)

    E analtico E numrico

    Considerando-se um verniz de condutividade constante e igual a 10-5 S/m, as

    solues analtica e numrica se aproximam bem mais, conforme pode ser visto nas

    figuras 15 e 16.

    FIGURA 15 Comparao entre a soluo analtica unidimensional e a soluo

    numrica bidimensional para o potencial, com verniz condutivo aplicado (10-5 S/m).

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Distncia (mm)

    Pote

    ncia

    l (V)

    U analtico U numrico

    (x 106)

  • 31

    FIGURA 16 Comparao entre a soluo analtica unidimensional e a soluo

    numrica bidimensional para a intensidade de campo, com verniz aplicado (10-5 S/m).

    A soluo unidimensional, por outro lado, se torna bastante difcil de obter

    caso se deseje considerar um verniz de caracterstica no-linear. Praticamente, deixa

    de ser possvel obter-se uma soluo analtica. Esta mais uma razo para a

    explorao de uma soluo numrica para o problema.

    Pode-se notar ainda, da anlise dos grficos das figuras 15 e 16, que o uso de

    um verniz condutivo com condutividade constante e suficientemente baixa em relao

    condutividade do isolamento da bobina aparentemente resolve o problema da

    concentrao do campo eltrico junto extremidade do ncleo estatrico. De fato, a

    intensidade de campo eltrico indicada no grfico da figura 16 est sempre bem abaixo

    da intensidade de ruptura do ar. Entretanto, a soluo analtica no evidencia o que

    ocorre aps o final do verniz condutivo, isto , para distncias superiores ao

    comprimento do verniz. Podemos tirar algumas concluses a partir do grfico do

    potencial, mostrado na figura 15. Dos 9758 V aplicados no cobre da bobina, apenas

    3000 V foram redistribudos sobre os 50 mm do verniz condutivo. Os restantes 6758 V

    se concentraro justamente no final do verniz. Isto equivale simplesmente a jogar o

    problema da concentrao de campo eltrico 50 mm mais para frente. Na prtica,

    comum o aparecimento de descargas justamente na regio imediatamente aps o final

    do verniz. Como se ver mais adiante neste trabalho, a falta de visualizao da regio

    0

    0,05

    0,1

    0,15

    0,2

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Distncia (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    de c

    ampo

    (V

    /m)

    E analtico E numrico

    (x 106)

  • 32

    final do verniz anti-corona no ocorrer com a utilizao de um mtodo numrico,

    desde que o modelo utilizado inclua a regio prxima ao final da pintura de proteo

    anticorona. Isto, porm, ocorre naturalmente como decorrncia da definio do

    domnio e da necessidade de atribuir as condies de contorno; como no se conhece o

    potencial no final do verniz, o domnio deve ser estendido alm dele para a correta

    implementao do mtodo.

    12.3. BOBINA COM O VERNIZ 217.21

    O campo eltrico com 100mm do verniz 217.21 foi determinado atravs de

    uma malha de elementos triangulares slidos de 6 ns (PLANE35), com 10739

    elementos e 21686 ns. O elemento da malha mais fina, na rea correspondente

    pintura de proteo anticorona, foi definido com 0,1 mm de lado, correspondente

    espessura do verniz. A malha mostrada na figura 17. interessante salientar que a

    presena do verniz no domnio, com uma espessura de 0,1 mm, leva utilizao de

    elementos extremamente pequenos no interior do mesmo. Na gerao da malha de

    elementos finitos, especial ateno deve ser dada transio entre a regio do verniz e

    as regies adjacentes, de forma que no haja deformao excessiva nos elementos

    triangulares que compem a malha. No caso do ANSYS/Mechanical, uma eventual

    deformao excessiva indicada pelo prprio programa, atravs de uma mensagem de

    erro. Tal mensagem impede o prosseguimento da anlise, exigindo a alterao da

    malha. Por outro lado, a grande relao entre as reas do maior e do menor elemento

    da malha tambm sinalizada pelo programa atravs de um aviso, permitindo, porm,

    a obteno da soluo numrica. Considerando a boa concordncia entre a soluo

    analtica unidimensional e a soluo numrica para o caso do verniz com

    condutividade constante e igual a 10-5 S/m mostrada acima, pode-se concluir que a

    elevada relao entre as reas dos elementos extremos da malha no prejudicou os

    resultados da anlise numrica. A convergncia da soluo foi obtida aps 3 iteraes,

    tendo sido necessrio relaxar levemente o critrio de convergncia em relao ao valor

  • 33

    default do Ansys para a norma L2 da carga eltrica no interior do domnio, de 10-6

    para 0,63.10-4, ligeiramente superior ao menor valor obtido nas vrias iteraes.

    FIGURA 17 Malha utilizada no problema com o verniz 217.21 e no problema com o

    verniz 217.22, ambos aplicados com 100mm de comprimento

    A utilizao do verniz condutivo nos primeiros 25mm acima do ncleo

    estatrico no apresenta problemas na aplicao do mtodo, j que a resistividade

    deste verniz constante. A aplicao de um verniz como o 217.21, com caractersticas

    no-lineares, introduz um problema adicional, j que sua resistividade funo do

    prprio campo eltrico que queremos determinar. Para solucionar o problema devemos

    lanar mo de um procedimento iterativo, em que, partindo-se de valores iniciais para

    a resistividade do verniz, determina-se a distribuio do campo eltrico; em seguida, a

    partir do campo eltrico, recalcula-se a resistividade do verniz e, novamente,

    determina-se a distribuio do campo eltrico. Com a repetio sucessiva deste

    procedimento um certo nmero de vezes, pode-se obter a distribuio do campo

  • 34

    eltrico que se ajusta curva de resistividade do verniz empregado, desde que o

    mtodo apresente convergncia, isto , que a soluo, a cada iterao, se aproxime

    mais da soluo do problema. O mtodo empregado para as iteraes foi o de Newton-

    Raphson, sucintamente descrito abaixo.

    Seja o sistema de equaes no lineares:

    ( )( )( )

    =

    ==

    0,,,

    0,,,0,,,

    21

    212

    211

    nn

    n

    n

    xxxf

    xxxfxxxf

    LM

    LL

    (43)

    que pode ser expresso em forma vetorial como:

    ( ) 0rr =xF (44) onde:

    ( )Tnxxxx ,,, 21 Lr = Expandindo o sistema em srie de Taylor centrada no vetor 0x

    r , temos:

    ( ) ( ) ( )( )000 xxxJxFxF vrrrr += (45) onde ( )0xJ r a matriz Jacobiana do sistema, calculada em 0xr . Igualando-se a expanso em (45) ao vetor nulo e considerando-se o vetor 0x

    r

    como uma primeira aproximao kxr soluo do sistema e o vetor xr como a

    aproximao subseqente 1+kxr , obtemos a frmula genrica do mtodo de Newton-

    Raphson:

    ( ) ( )kkkk xFxJxx rrrr 11 + = (46) O campo eltrico na cabea de bobina, com 100mm do verniz 217.21 aplicado

    sobre a superfcie externa do isolamento, mostrado nas figuras 18, 19 e 20 abaixo.

    A figura 18 mostra a distribuio do potencial U em todo o domnio. A figura

    19 mostra o potencial U sobre a superfcie externa do isolamento da bobina, em

    funo da distncia a partir do ncleo estatrico. A figura 20 mostra a intensidade do

    campo eltrico )( UE = rr sobre a superfcie externa do isolamento da bobina, em funo da distncia a partir do ncleo estatrico.

  • 35

    Comparando-se as figuras 10 e 18, pode-se constatar a redistribuio do

    potencial U ao longo da superfcie do verniz. Em conseqncia, a intensidade do

    campo eltrico ao longo de toda a superfcie do isolamento ficou abaixo daquela

    necessria ruptura do ar; logo, no haver descarga. Pode-se ainda notar uma certa

    concentrao do campo eltrico junto ao final da proteo anticorona (L=125 mm).

    Apesar disto, a intensidade de campo eltrico ainda inferior de ruptura do ar.

    Entretanto, como se ver mais adiante neste trabalho, o gradiente de potencial neste

    local depende das caractersticas do verniz empregado e do seu comprimento.

    possvel que, sob determinadas combinaes de ambos, o limite de ruptura do ar seja

    ultrapassado, aparecendo descargas junto ao final ou junto ao incio do verniz

    (L=25mm).

    Considerando que o programa utilizado permite o clculo com materiais no

    lineares, a curva caracterstica do verniz 217.21 foi introduzida na definio dos

    materiais correspondentes ao modelo, conforme mostrado na figura 21.

    FIGURA 18 Distribuio do potencial com 100mm do verniz 217.21

    Potencial (V)

  • 36

    FIGURA 19 Distribuio do potencial (V) sobre a superfcie externa do isolamento,

    com 100mm do verniz 217.21

    FIGURA 20 - Distribuio da intensidade de campo (V/m) sobre a superfcie

    externa do isolamento, com 100mm do verniz 217.21

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Pot

    enci

    al(V

    )

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    deca

    mpo

    (V/m

    )

  • 37

    FIGURA 21 Condutividade do verniz 217.21, em funo do potencial

    12.4. BOBINA COM O VERNIZ 217.22

    O campo eltrico resultante na cabea de bobina com a aplicao do verniz

    217.22 foi determinado com a mesma malha utilizada para o verniz 217.21. Apenas a

    curva caracterstica da condutividade do verniz foi alterada, utilizando-se a curva

    indicada na figura 25. A convergncia da soluo foi obtida aps 12 iteraes, tendo

    sido necessrio relaxar levemente o critrio de convergncia em relao ao valor

    default do Ansys para a norma L2 da carga eltrica no interior do domnio, de 10-6

    para 0,85.10-5.

    A figura 22 mostra a distribuio do potencial U em todo o domnio. A figura

    23 mostra o potencial U sobre a superfcie externa do isolamento da bobina, em

    funo da distncia a partir do ncleo estatrico. A figura 24 mostra a intensidade do

    campo eltrico )( UE = rr sobre a superfcie externa do isolamento da bobina, em funo da distncia a partir do ncleo estatrico.

    Potencial (V)

    Con

    dutiv

    idad

    eel

    tric

    a(S

    /m)

  • 38

    FIGURA 22 Distribuio do potencial, com 100mm do verniz 217.22

    FIGURA 23 - Distribuio do potencial sobre a superfcie externa do

    isolamento, com 100mm do verniz 217.22

    Pot

    enci

    al(V

    )

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Potencial (V)

  • 39

    FIGURA 24 Distribuio da intensidade de campo (V/m), com 100mm do

    verniz 217.22

    FIGURA 25 Condutividade do verniz 217.22, em funo do potencial

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    deca

    mpo

    (V/m

    )

    Potencial (V)

    Con

    dutiv

    idad

    eel

    tric

    a(S

    /m)

  • 40

    A anlise das figuras 23 e 24 mostra que a ao do verniz 217.22 sobre a

    distribuio do campo eltrico no to efetiva quanto a do verniz 217.21. De fato,

    apenas os primeiros 2400 V, de um mximo de cerca de 8000 V na superfcie do

    isolamento da bobina, se distriburam sobre o verniz (contra os cerca de 6500 V do

    verniz 217.21). Houve, portanto, um deslocamento da zona de maior gradiente de

    potencial da extremidade do ncleo estatrico, na bobina sem a proteo anticorona,

    para o final do verniz 217.22. Verificando-se o grfico da figura 24, pode-se constatar

    que o gradiente de potencial imediatamente aps o final do verniz (L=125 mm) atinge

    3,6.106 V/m, suficientemente elevado em relao ao gradiente de ruptura do ar para

    provocar o aparecimento de descargas.

  • 41

    13. A INFLUNCIA DO COMPRIMENTO DO VERNIZ

    A anlise dos grficos da distribuio de potencial sobre a superfcie do

    isolamento da bobina com os vernizes aplicados (figuras 19 e 24), mostra que o efeito

    de distribuio do potencial ocorre nos primeiros 40 mm de comprimento do verniz.

    Somos levados a crer, portanto, que utilizar um comprimento de verniz de 100 mm

    seja um desperdcio, j que so os primeiros 40 mm que efetivamente reduzem o

    gradiente de potencial sobre o ar em contato com a superfcie da bobina. Desta forma,

    o comprimento de verniz foi reduzido para 50 mm, obtendo-se os resultados mostrados

    a seguir para cada um dos vernizes sob anlise.

    13.1. BOBINA COM O VERNIZ 217.21

    O clculo foi refeito mantendo-se todas as condies do clculo anterior, exceto a

    malha, que foi ligeiramente alterada em funo da alterao no comprimento do

    verniz, passando para uma malha com 7450 elementos e 15081 ns, conforme

    mostrado na figura 26. A convergncia da soluo foi obtida aps 6 iteraes, tendo

    sido necessrio relaxar levemente o critrio de convergncia em relao ao valor

    default do Ansys para a norma L2 da carga eltrica no interior do domnio, de 10-6

    para 0,22.10-4. Os resultados podem ser vistos nas figuras 27, 28 e 29 (distribuio do

    potencial em todo o domnio, distribuio do potencial na superfcie do isolamento e

    intensidade de campo eltrico na superfcie do isolamento, respectivamente).

  • 42

    FIGURA 26 - Malha utilizada no problema com o verniz 217.21 e no problema com o

    verniz 217.22, ambos aplicados com 50mm de comprimento

    FIGURA 27 Distribuio do potencial, com 50 mm do verniz 217.21

    Potencial (V)

  • 43

    FIGURA 28 Distribuio do potencial na superfcie, com 50 mm do verniz 217.21

    FIGURA 29 - Distribuio da intensidade de campo (V/m) sobre a superfcie externa

    do isolamento, com 50 mm do verniz 217.21

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Pot

    enci

    al(V

    )

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    deca

    mpo

    (V/m

    )

  • 44

    Das figuras 28 e 29, pode-se concluir que a reduo do comprimento do verniz

    217.21 de 100 mm para 50 mm aceitvel. A variao de potencial sobre o verniz

    passou de 6500 V para cerca de 4800 V, mas esta reduo no implicou na elevao

    significativa do gradiente de potencial no final do verniz, que ficou em torno de

    1,8.106 V/m.

    13.2. BOBINA COM O VERNIZ 217.22

    O clculo foi refeito mantendo-se todas as condies do clculo anterior, exceto a

    malha, que foi ligeiramente alterada em funo da alterao no comprimento do

    verniz, passando para uma malha com 7450 elementos e 15081 ns, conforme

    mostrado na figura 26. A convergncia da soluo foi obtida aps 9 iteraes, tendo

    sido necessrio relaxar levemente o critrio de convergncia em relao ao valor

    default do Ansys para a norma L2 da carga eltrica no interior do domnio, de 10-6

    para 0,91.10-5. Os resultados podem ser vistos nas figuras 30, 31 e 32 (distribuio do

    potencial em todo o domnio, distribuio do potencial na superfcie do isolamento e

    intensidade de campo eltrico na superfcie do isolamento, respectivamente).

    Das figuras 31 e 32, pode-se concluir que a reduo do comprimento do verniz

    217.22 de 100 mm para 50 mm no produz alteraes significativas. A variao de

    potencial sobre o verniz passou de 2400 V para cerca de 1000 V; por sua vez, o

    gradiente de potencial no final do verniz manteve-se em torno de 3,6.106 V/m, o que

    produzir descargas neste local.

  • 45

    FIGURA 30 Distribuio do potencial, com 50 mm do verniz 217.22

    FIGURA 31 Distribuio do potencial na superfcie, com 50 mm do verniz 217.22

    Potencial (V)

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Pot

    enci

    al(V

    )

  • 46

    FIGURA 32 - Distribuio da intensidade de campo (V/m) sobre a superfcie externa

    do isolamento, com 50 mm do verniz 217.22

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    deca

    mpo

    (V/m

    )

  • 47

    14. A INFLUNCIA DA VARIAO DA CONDUTIVIDADE DO VERNIZ

    A resistividade dos vernizes (ou a sua condutividade) pode variar dentro de uma

    ampla faixa, conforme pode ser visto na figura 4. Dos resultados obtidos nos modelos

    acima descritos, fica claro que a utilizao de vernizes com condutividades mais

    elevadas que a mdia do verniz 217.21 no produzir bons resultados, ocorrendo ainda

    concentrao do campo eltrico nas extremidades do verniz. Iremos, portanto,

    investigar os resultados decorrentes da aplicao do verniz 217.21 com a curva de

    condutividade em seu limite inferior (ou com a resistividade em seu limite superior),

    correspondente curva mais direita na figura 4. A curva de condutividade

    introduzida no ANSYS mostrada na figura 37. O campo eltrico foi determinado

    atravs de uma malha de elementos triangulares slidos de 6 ns (PLANE35), com

    12847 elementos e 25902 ns. A malha mostrada na figura 33. A convergncia da

    soluo foi obtida aps 10 iteraes, tendo sido necessrio relaxar levemente o critrio

    de convergncia em relao ao valor default do Ansys para a norma L2 da carga

    eltrica no interior do domnio, de 10-6 para 0,12.10-4.

    Os resultados so mostrados nas figuras 34, 35 e 36 (distribuio do potencial

    em todo o domnio, potencial ao longo da superfcie do isolamento e intensidade de

    campo eltrico ao longo da superfcie do isolamento, respectivamente).

  • 48

    FIGURA 33 - Malha utilizada com o verniz 217.21 com condutividade mnima

    FIGURA 34 Distribuio do potencial, com 100 mm do verniz 217.21, com

    condutividade mnima

    Potencial (V)

  • 49

    Pode-se verificar, pela comparao entre as figuras 18 e 34, que a utilizao do

    verniz 217.21 com a curva de condutividade mnima (ou resistividade mxima)

    praticamente eliminou a concentrao de campo eltrico no final do verniz. Por outro

    lado, houve um aumento da concentrao do campo eltrico no incio do verniz. De

    fato, as figuras 35 e 36 evidenciam claramente isto; o gradiente no incio do verniz

    chega aos 3,1.106 V/m, elevado o suficiente para produzir descargas no ar. Ou seja, se

    o verniz utilizado estiver no limite inferior de condutividade, a intensidade de campo

    eltrico volta a crescer no incio do mesmo.

    FIGURA 35 Distribuio do potencial na superfcie do isolamento, com

    100mm de verniz 217.21 com condutividade mnima

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Pot

    enci

    al(V

    )

  • 50

    FIGURA 36 Distribuio da intensidade de campo (V/m) sobre a superfcie externa

    do isolamento, com 100 mm do verniz 217.21 com condutividade mnima

    FIGURA 37 Condutividade mnima do verniz 217.21

    0 14,3 28,6 42,9 57,2 71,5 85,8 100,1 114,4 128,7 143 Distncia a partir do ncleo estatrico (mm)

    Inte

    nsid

    ade

    de c

    ampo

    (V/m

    )

    Potencial (V)

    Con

    dutiv

    idad

    eel

    tric

    a(S

    /m)

  • 51

    15. CONCLUSES

    A partir das simulaes efetuadas e descritas neste trabalho, pode-se chegar s

    seguintes concluses:

    - A pintura de proteo anticorona usualmente aplicada sobre a superfcie

    externa das cabeas de bobina dos enrolamentos estatricos realmente

    produz uma redistribuio do campo eltrico junto sada do ncleo

    estatrico. No se pode porm garantir que no haver descargas nas

    extremidades do verniz, pois o seu aparecimento depende da combinao

    do comprimento de verniz utilizado e da curva caracterstica de

    condutividade do verniz.

    - O emprego da soluo analtica unidimensional produz erros significativos

    no potencial e na intensidade de campo quando a condutividade do verniz

    empregado comparvel do isolamento, o que geralmente acontece no

    incio do verniz, onde o potencial baixo.

    - A efetiva eliminao das descargas depende, entretanto, das caractersticas

    do verniz empregado e do comprimento do mesmo sobre a cabea de

    bobina. Para um bom desempenho em geral, o joelho da curva de

    resistividade (zona de maior variao da resistividade com a tenso) deve

    se situar prximo metade do valor da tenso nominal de fase do

    enrolamento. O comprimento a aplicar deve ser de, pelo menos, 50mm,

    tomando-se o cuidado de verificar a intensidade de campo resultante nos

    extremos da pintura.

    - A variao na curva caracterstica de condutividade (ou resistividade) dos

    vernizes disponveis comercialmente ampla o suficiente para no garantir

    a efetividade na supresso do efeito corona na superfcie do isolamento das

    bobinas estatricas. A utilizao de um verniz que esteja no limite inferior

    da faixa de condutividade poder, dependendo do comprimento utilizado,

    produzir descargas no incio do verniz. Por outro lado, a utilizao de um

  • 52

    verniz que esteja no limite superior de condutividade pode produzir

    descargas no final do mesmo;

    - A aplicao do MEF para a verificao do desempenho da proteo

    anticorona em cabeas de bobina bastante conveniente sob o ponto de

    vista econmico, evitando-se a realizao de ensaios com bobinas reais e o

    uso de equipamentos de alta tenso (fontes e instrumentos de medida). O

    domnio de clculo relativamente simples, no apresentando problemas

    significativos de implementao. Os recursos para a visualizao dos

    resultados disponveis na maioria dos programas comerciais que utilizam o

    MEF permitem verificar de forma muito mais efetiva o desempenho da

    proteo anticorona em comparao com a soluo analtica

    unidimensional. De fato, em toda a bibliografia consultada no foi

    encontrada nenhuma meno concentrao de campo no final do verniz

    ou influncia da faixa de variao da condutividade dos vernizes.

  • 53

    16. SUGESTES PARA DESENVOLVIMENTO

    O presente trabalho se concentrou na determinao do potencial eltrico e do seu

    gradiente junto superfcie externa do isolamento da bobina em funo do

    comprimento e das caractersticas do verniz utilizado. Alguns outros aspectos

    poderiam ser investigados em trabalhos futuros, tais como:

    - Perdas e aquecimento nos vernizes de proteo anticorona. Tais aspectos

    esto relacionados ao desempenho de longo prazo dos vernizes,

    determinando o seu envelhecimento;

    - Determinao das caractersticas timas do verniz para a obteno de uma

    distribuio de potencial que garantidamente no produza descargas, assim

    como o estabelecimento da faixa de variao mxima admissvel;

    - Estudo concomitante do envelhecimento experimental do verniz e sua

    simulao numrica.

  • 54

    17. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Introduction. New York: Prentice Hall Inc., 1981.

    2. HAYT Jr., W. H. Eletromagnetismo. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e

    Cientficos Editora S.A., 1978.

    3. KOSTENKO, M., PIOTROVSKI, L. Mquinas Eltricas. Porto: Lopes da

    Silva Editora, 1979.

    4. RIVENC, J. P., BIDAN, P., LEBEY, T. Stress Grading Materials: A Discussion

    on Lumped Elements Circuits Validity. IEEE International Conference on

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    Electronics, Machines and Drives Conference, Pub. n. 487, 2002.

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    Materials for Use in Electrical Machines. IEE Dielectric Materials,

    Measurements and Applications Conference, Pub. n. 473, 2000.

    10. EGIZIANO, L., TUCCI, V., PETRARCA, C., VITELLI, M. A Galerkin Model

    to Study the Field Distribution in Electrical Components Employing Nonlinear

    Stress Grading Materials. IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical

    Insulation, n. 6, Vol. 6, 1999.

  • 55

    11. YEO, Z., BURET, F., KRHENBHL, L., AURIOL, P. A Nonlinear Model

    for Surface Conduction. IEEE Transactions on Magnetics, n. 5, Vol. 34,

    1998.

    12. VITELLI, M. Numerical Performance Analisys of Semiconductor Coatings for

    Corona Suppression. IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical

    Insulation, n. 6, Vol. 6, 1999.

    13. MAHDY, A. M., ANIS, H. I., WARD, S. A. Electrode Roughness Effects on

    The Breakdown of Air-insulated Apparatus. IEEE Transactions on

    Dielectrics and Electrical Insulation, n.4, Vol. 5, 1998.

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    Hazardous Environments Conference, Pub. 390, 1994.

    15. TECHAUMNAT , B., HAMADA, S., TAKUMA, T. Electric Field Behavior

    near a Zero-angle Contact Point in the Presence of Surface Conductivity. IEEE

    Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, n. 4, Vol. 4, 2002.

    16. PHILLIPS, D. B., OLSEN, R. G., PEDROW, P. D. Corona Onset as a Design

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