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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FISIOLOGICAS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EFEITO DO 1,8-CINEOL SOBRE OS PARÂMETROS ELETROFISIOLÓGICOS DAS CÉLULAS NERVOSAS DO GÂNGLIO CERVICAL SUPERIOR DE RATOS FRANCISCO WALBER FERREIRA DA SILVA FORTALEZA, CEARÁ JULHO - 2007

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FISIOLOGICAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EFEITO DO 1,8-CINEOL SOBRE OS PARÂMETROS

ELETROFISIOLÓGICOS DAS CÉLULAS NERVOSAS

DO GÂNGLIO CERVICAL SUPERIOR DE RATOS

FRANCISCO WALBER FERREIRA DA SILVA

FORTALEZA, CEARÁ

JULHO - 2007

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FRANCISCO WALBER FERREIRA DA SILVA

EFEITO DO 1,8-CINEOL SOBRE OS PARÂMETROS ELETROFISIOLÓGICOS DAS

CÉLULAS NERVOSAS DO GÂNGLIO CERVICAL SUPERIOR DE RATOS

Dissertação apresentada como exigência parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Ciências Fisiológicas à

comissão julgadora da Universidade Estadual de Ceará,

sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Sales Ávila

Cavalcante e co-orientação do Prof. Dr. José Henrique

Leal Cardoso.

Universidade Estadual de Ceará

Fortaleza, Ceará

Julho - 2007

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S586e Silva, Francisco Walber Ferreira da Efeito do 1,8-cineol sobre os parâmetros eletrofisiológicos

das células nervosas do gânglio cervical superior de ratos. / Francisco Walber Ferreira da Silva.— Fortaleza, 2007.

80p. Orientador: Dr. Francisco Sales Ávila Cavalcante. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ciências

Fisiológicas.) — Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde.

1. 1,8-cineol 2. Técnica do microeletrodo intracelular 3.

Gânglio cervical superior I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde

CDD: 612

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS

EFEITO DO 1,8-CINEOL SOBRE OS PARÂMETROS ELETROFISIOLÓGICOS DAS

CÉLULAS NERVOSAS DO GÂNGLIO CERVICAL SUPERIOR DE RATOS

FRANCISCO WALBER FERREIRA DA SILVA

Data do exame: 18 / 07 / 2007

Banca examinadora:

_________________________________________________________

Prof. Dr. Francisco Sales Ávila Cavalcante – UECE

(Orientador)

___________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Alcântara Holanda – UFC

___________________________________________________________

Prof. Dr. Antônio José da Costa Sampaio - UVA

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AGRADECIMENTOS

Ao prof. Francisco Sales Ávila Cavalcante pelo convite para fazer parte deste estudo,

pela orientação na minha vida acadêmica e pela amizade nesses anos de convivência.

Ao prof. José Henrique Leal Cardoso pela recepção em seu laboratório, pela sua co-

orientação neste trabalho e pelos importantes conhecimentos compartilhados.

Aos professores Carlos Jacinto de Oliveira, Francisco Geraldo de Melo Pinheiro e

Emerson Mariano da Silva, pela minha iniciação à vida científica ainda na graduação.

Aos professores da graduação de Licenciatura em Física pela minha formação

profissional e científica e aos professores do Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências

Fisiológicas pela atenção que tiveram comigo por ser um profissional da área de ciências

exatas e da terra.

Aos meus pais, Paulo e Izabel , e ao meu irmão, Walter, pelos incentivos e apoio em

seguir meus ideais, mesmo quando os caminhos não pareciam ser fáceis.

A minha namorada, Ticianna, pelos constantes conselhos durante momentos delicados

em minha vida.

Aos amigos do Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas, em especial João Luís,

Socorro Quintino, Sílvio Ramos, Paula Matias e Paula Virgínia, pela ajuda durante as

disciplinas e pela amizade e companheirismo que experimentamos durante nossa convivência.

Aos técnicos de laboratório Pedro e Franck pelo seu trabalho árduo e muitas vezes

invisível, mas imprescindíveis para o andamento de uma pesquisa científica.

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Aos bolsistas de iniciação científica Davi Cavalcante, Luiz Júnior, Maria Donatila,

Tiago dos Santos e a prof.(a) Roseli Barbosa, pois sem eles esse trabalho não seria possível.

A todos os amigos que fiz no Laboratório de Eletrofisiologia, no Instituto Superior de

Ciências Biomédicas e todas as outras pessoas que contribuíram para a passagem de mais uma

etapa em minha vida.

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SUMÁRIO

Listas de Abreviaturas................................................................................................................. i

Listas de Figuras....................................................................................................................... iv

Lista de Tabelas....................................................................................................................... vii

Resumo................................................................................................................................... viii

Abstract...................................................................................................................................... x

1. Introdução.......................................................................................................................... 01

1.1. Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Respiratório..................................................... 01

1.2. Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Imunológico.................................................... 04

1.3. Efeito do 1,8-Cineol sobre o Transporte de Substâncias pela Pele............................. 06

1.4. Efeito do 1,8-Cineol sobre o Trato Gastrintestinal..................................................... 10

1.5. Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Cardiovascular e Metabolismo Ósseo............. 12

1.6. Efeito do 1,8-Cineol sobre os Parâmetros Eletrofisiológicos..................................... 13

1.7. Características do Potencial de Ação nos Neurônios do Gânglio Cervical Superior. 16

1.7.1. Os canais para sódio......................................................................................... 18

1.7.2. Os canais para potássio.................................................................................... 19

1.7.3. Os canais para cálcio........................................................................................ 22

1.7.4. Os canais para cloreto...................................................................................... 22

1.8. Justificativa e Relevância do Estudo........................................................................... 24

2. Objetivos............................................................................................................................ 25

2.1. Objetivos Gerais......................................................................................................... 25

2.2. Objetivos Específicos................................................................................................. 25

3. Metodologia....................................................................................................................... 26

3.1. Preparo das Soluções e Drogas................................................................................... 26

3.2. Animais e Tecidos...................................................................................................... 26

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3.2.1. Gânglio Cervical Superior............................................................................... 26

3.3. Medidas Eletrofisiológicas......................................................................................... 28

3.4. Análise dos Dados e Estatística.................................................................................. 30

3.4.1. Parâmetros eletrofisiológicos........................................................................... 31

3.5. Protocolos Experimentais........................................................................................... 31

4. Resultados.......................................................................................................................... 34

4.1. Ação do 1,8-cineol sobre o Potencial de Ação........................................................... 34

4.1.1. Curso Temporal da Inibição e Recuperação do Potencial de Ação................. 34

4.1.2. Amplitude do Potencial de Ação..................................................................... 36

4.1.3. Inclinações Máximas (dv/dtmáx) do Potencial de Ação no Ramo Ascendente e

Descendente......................................................................................................... 40

4.1.4. Duração do Potencial de Ação......................................................................... 48

4.2. Ação do 1,8-Cineol sobre a Resistência de Entrada da Membrana Celular............... 52

4.3. Ação do 1,8-Cineol sobre o Potencial de Repouso Celular........................................ 56

4.4. Ação do 1,8-Cineol sobre a Excitabilidade Celular.................................................... 60

5. Discussão........................................................................................................................... 65

5.1. Efeito do 1,8-cineol sobre as Preparações Intactas do GCS de Ratos........................ 65

5.2. Estudos Anteriores Envolvendo o 1,8-cineol............................................................. 65

5.3. Estudos Anteriores Envolvendo Constituintes de Óleos Essenciais........................... 66

5.4. Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Associados ao PA (Curso Temporal,

Amplitude, Inclinações, Duração) na Concentração de 6 mM................................... 67

5.5. Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Associados ao PA (Curso Temporal,

Amplitude, Inclinações, Duração) na Concentração de 1 mM................................... 68

5.6. Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Resistência de Entrada da Membrana e

Potencial de Repouso na Concentração de 6 mM....................................................... 69

5.7. Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Resistência de Membrana e Potencial de

Repouso na Concentração de 1 mM........................................................................... 71

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5.8. Efeito do 1,8-cineol sobre Todos os Parâmetros na Concentração de 0,1 mM...........71

5.9. Efeito do 1,8-cineol sobre a Excitabilidade Celular................................................... 72

5.10. Considerações Finais................................................................................................. 73

6. Conclusão........................................................................................................................... 74

Referências bibliográficas........................................................................................................ 75

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LISTAS DE ABREVIATURAS

[Na]i Concentração de sódio intracelular

48/80 Composto degranulador dos mastócitos

ANOVA Análise de variância

ATPase Atividade catalítica do ATP

AZT Zidovudina

Ca++ Íon cálcio

cAMP Adenosina monofosfato cíclico

cm/h Centímetro por hora

ClC-2 Canais para cloreto do tipo 2

CNGA2 Subunidade A2 do canal ativado por nucleotídeo cíclico

CNGA4 Subunidade A4 do canal ativado por nucleotídeo cíclico

CNGB1 Subunidade B1 do canal ativado por nucleotídeo cíclico

CNGC Canal ativado por nucleotídeo cíclico

DCC Clampeamento descontínuo de corrente

DMSO Dimetilsulfóxido

dPC Dipalmitoilfosfatidilcolina

dv/dtmáx Inclinação máxima da voltagem em relação ao tempo

e.p.m. Erro padrão da média

GCS Gânglio cervical superior

GTN Glutationa

gNa Condutância para o íon sódio

gK Condutância para o íon potássio

gLeak Condutância para os demais íons (cloreto, etc.)

i

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gnaf Condutância de sódio com inativação rápida

gnas Condutância de sódio com inativação lenta

Hz Hertz

H-H Hodgkin & Huxley

IBMX 3-isobutil-1-metilxantina

ISCB Instituto superior de ciências biomédicas

IKv Corrente de potássio dependente de voltagem

IA Corrente de potássio A

ICa Corrente de cálcio dependente de voltagem

IM Corrente de potássio M

IAHP Corrente de potássio pós-hiperpolarização

IKCa Corrente de potássio dependente de cálcio

IL-4 Interleucina 4

IL-1β Interleucina 1β

K+ Íon potássio

KHz Quilohertz

L-NAME l-nitro-arginina-metil-éster

L, N, P, Q, R Subtipos de canais para cálcio dependentes de voltagem

M Molar

mM Milimolar

μM Micromolar

Mg Miligrama

Ml Mililitro

mg/cm2 Miligrama por centímetro quadrado

mg/kg Miligrama por quilograma

ii

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Μg Micrograma

Min Unidade de tempo minuto

Μl Microlitro

μS Microsiemen

mV Milivolt

MΩ Megaohm

N Número de experimentos realizados

Na+ Íon sódio

PA Potencial de ação

PAC Potencial de ação composto

PEG Polietileno glicol

Ppm Partes por milhão

RNa Resistência associada ao canal para sódio

RK Resistência associada ao canal para potássio

RL Resistência associada à condutância “leakage”

S Unidade de tempo segundo

TNFS Trinitrobenzeno sulfônico

TNF-α Fator de Necrose Tumoral α

UECE Universidade estadual de ceará

v/v Volume/volume

V Volt

Vm Potencial transmembrana

iii

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LISTAS DE FIGURAS

Nome da Figura Página

Figura 01: Fórmula química estrutural do 1,8-cineol. 01

Figura 02: Circuito elétrico representando a membrana celular no modelo de

Hodgkin e Huxley. 17

Figura 03: Valores de repouso das variáveis m e h e suas respectivas

constantes temporais como função do potencial de membrana. 19

Figura 04: Valores de repouso das variáveis kcf e kcs e suas respectivas

constantes temporais como função do potencial de membrana. 21

Figura 05: Montagem do aparato experimental necessário para o registro dos

parâmetros eletrofisiológicos descrito nesse trabalho. 29

Figura 06: Protocolo da fase de impalamento e estabilização montado com

comandos externos. 32

Figura 07: Protocolo para as outras fases do experimento montado com

comandos internos e externos. 33

Figura 08: Curso temporal da inibição e recuperação do PA sob a ação do

1,8-cineol na concentração de 6 mM em uma mesma célula. 35

Figura 09: Amplitude do PA na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol

(6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o impalamento

foi mantido por um longo tempo

36

Figura 10: Amplitude do PA na estabilização (n=8), sob a ação do 1,8-cineol

(1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a

inibição do PA.

37

Figura 11: Amplitude do PA na estabilização (n=8, com e n=6 sem DMSO) e

sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a

concentração de 0,1 mM da droga.

38

Figura 12: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA na estabilização

(n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para 40

iv

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as células onde o impalamento foi mantido por um longo tempo.

Figura 13: Inclinação máxima do ramo descendente do PA na estabilização

(n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para

as células onde o impalamento foi mantido por um longo tempo.

41

Figura 14: Inclinação do ramo ascendente do PA na estabilização (n=8), sob a

ação do 1,8-cineol (1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que

não tiveram a inibição do PA.

42

Figura 15: Inclinação do ramo descendente do PA na estabilização (n=8), sob

a ação do 1,8-cineol (1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células

que não tiveram a inibição do PA.

43

Figura 16: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA na estabilização

(n=8, com e n=6 sem DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem

DMSO) para as células sob a concentração de 0,1 mM da droga.

44

Figura 17: Inclinação máxima do ramo descendente do PA na estabilização

(n=8, com e n=6 sem DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem

DMSO) para as células sob a concentração de 0,1mM da droga.

45

Figura 18: Duração do PA na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol

(6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o impalamento

foi mantido por um longo tempo.

48

Figura 19: Duração do PA na estabilização (n=8), sob a ação do 1,8-cineol

(1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a

.inibição do PA.

49

Figura 20: Duração do PA na estabilização (n=8, com e n=6 sem DMSO) e sob

a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a

concentração de 0,1 mM da droga.

50

Figura 21: Resistência de entrada da membrana celular na estabilização

(n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para

as células onde o impalamento foi mantido por um longo tempo.

52

Figura 22: Resistência de entrada da membrana celular na estabilização

(n=8), sob a ação do 1,8-cineol (n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as 53

v

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células sob a ação da droga na concentração de 1 mM.

Figura 23: Resistência de entrada da membrana na estabilização (n=8, com e

n=6 sem DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para

as células sob a concentração de 0,1 mM da droga.

54

Figura 24: Potencial de repouso celular na estabilização (n=5), sob a ação do

1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o

impalamento foi mantido por um longo tempo.

56

Figura 25: Potencial de repouso celular na estabilização (n=8), sob a ação do

1,8-cineol (n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células sob a ação da

droga na concentração de 1 mM.

57

Figura 26: Potencial de repouso celular na estabilização (n=8, com e n=6 sem

DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as

células sob a concentração de 0,1 mM da droga.

58

Figura 27: Traçados do PA na estabilização, após a exposição do 1,8-cineol e

após a injeção de corrente na célula. 60

Figura 28: Amplitude da resposta de voltagem na estabilização (n=6), sob a

ação do 1,8-cineol (n=6) e após a injeção de corrente na célula para

reposicionamento do potencial transmembrana no valor do novo potencial de

repouso.

61

Figura 29: Inclinação máxima do ramo ascendente (a) e do ramo descendente

(b) do PA na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e após

a injeção de corrente na célula (n=5).

62

Figura 30: Duração do PA na estabilização (n=6), sob a ação do 1,8-cineol (6

mM, n=6) e após a injeção de corrente na célula (n=6). 63

Figura 31: Corrente limiar de geração do PA na estabilização (n=6) e após a

injeção de corrente na célula (n=6). 63

vi

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LISTAS DE TABELAS

Nome da tabela Página

Tabela 01: Amplitude do PA (mV) para diferentes fases do experimento sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). 39

Tabela 02: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA (mV/ms) para

diferentes fases do experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e

0,1 mM).

46

Tabela 03: Inclinação máxima do ramo descendente do PA (mV/ms) para

diferentes fases do experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e

0,1 mM).

47

Tabela 04: Duração do PA (ms) para diferentes fases do experimento sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). 51

Tabela 05: Resistência de entrada da membrana celular (MΩ) para diferentes

fases do experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). 55

Tabela 06: Potencial de repouso celular (mV) para diferentes fases do

experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). 59

vii

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RESUMO

O 1,8-cineol é um terpeno constituinte de diversos óleos essenciais de plantas

utilizadas na medicina popular. Este constituinte apresenta várias ações farmacológicas, como

antiinflamatória, antitumoral e gastroprotetora. Entretanto é difícil encontrar estudos que

relacionem a ação tanto de óleos essenciais como de seus constituintes sobre preparações do

sistema nervoso. Como muito desses óleos e seus constituintes são considerados anestésicos

locais, esse trabalho teve como objetivo estudar os efeitos do 1,8-cineol sobre os parâmetros

eletrofisiológicos, bem como sobre a excitabilidade nervosa, em preparações intactas de

células nervosas do Gânglio Cervical Superior (GCS) de ratos. Para isto, Ratos Wistar foram

sacrificados por concussão cerebral e seus GCS dissecados e montados em uma câmara para

superfusão com solução Locke e 1,8-Cineol. Foi utilizada a técnica do microeletrodo

intracelular e protocolos no modo de clampeamento de corrente para a determinação desses

parâmetros sob a ação do 1,8-cineol, sendo os dados continuamente monitorados e registrados

em computador. Na concentração de 6 mM, todas as células (n=12) tiveram a inibição do

Potencial de Ação (PA) e mostraram alteração nos parâmetros eletrofisiológicos estudados

(amplitude do PA, inclinações máximas, duração, resistência de entrada da membrana e

potencial de repouso). Os efeitos do 1,8-cineol foram reversíveis em até 45 min após a

exposição do tecido ao composto na concentração de 6 mM. Na concentração de 1 mM pode-

se distinguir dois blocos de resultados: células com inibição do PA e características

semelhantes às células sob exposição de 1,8-cineol na concentração de 6 mM (n=7) e células

onde não houve essa inibição (n=8). Contudo, para este último grupo de células, houve uma

pequena alteração na amplitude do PA e da inclinação máxima do ramo ascendente do PA

sem alteração do potencial de repouso celular. Já para a concentração de 0,1 mM não houve

alteração significativa nos parâmetros associados ao PA nem na resistência de entrada da

membrana celular e no potencial de repouso (n=14). Houve uma despolarização do potencial

transmembrana quando o tecido foi exposto a concentração de 6 mM e fizemos estudos sobre

a excitabilidade ao final dessa despolarização. Para isto, injetamos corrente continuamente na

célula com o intuito de retornar o potencial transmembrana a seu valor da estabilização e

encontramos alterações em alguns parâmetros eletrofisiológicos, assim como, alteração na

corrente limiar de geração do PA. Portanto, como conclusão, o 1,8-cineol bloqueou o PA nas

concentrações de 6 mM e 1 mM e seus efeitos foram reversíveis. Esse bloqueio pode se dar,

possivelmente, pela ação do composto diretamente sobre os canais para sódio ou pelo

viii

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mecanismo indireto de despolarização da membrana celular, através da ativação do canal para

cloreto ativado por cálcio. Além do mais, os dados mostrados também demonstram que o 1,8-

cineol bloqueou a excitabilidade neuronal nas células do GCS de ratos.

ix

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ABSTRACT

1,8-cineol is a terpene that constitutes many essential oils from medicinal folk plants.

This compound presents many pharmacological activities as anti-inflammatory, antitumoral

and gastroprotective. However it is difficult to find studies that relate the effects of both

essential oils and its compounds in nervous system tissues. Since many of these oils and its

constitutes are reported to be anesthetics drugs, the study of the effects of 1,8-cineol in

electrophysiological parameters, as well as nervous excitability, in rats intact Superior

Cervical Ganglion (SCG) nervous cells was performed. For this, Wistar rats were sacrificed

by cerebral concussion and its SCG dissected and mounted in a chamber for superfusion in

Locke solution and 1,8-cineol. It was used the intracellular microelectrode technique and

protocols in current clamp mode for determination of these parameters under 1,8-cineol

chalenge, being the data continuously monitored and recorded in computer. In the

concentration of 6 mM, all cells (n=12) had inhibition of Action Potential (AP) and showed

modifications in the electrophysiological parameters studied (AP amplitude, maximum

inclinations, duration, input membrane resistance and rest potential). The effects of 1,8-cineol

were reversible until 45 min after passage of the compound to the tissue in the concentration

of 6 mM. In the concentration of 1 mM it had two types of cells: with AP inhibition and

similar features to the cells treated with 1,8-cineol in the concentration of 6 mM (n=7) and

cells with no inhibition (n=8). However this last group of cells was weakly affected in the AP

amplitude and AP maximum ascendant inclination and showed no alteration of rest potential.

For the concentration of 0,1 mM there was no significant alteration in the parameters

associated to the AP, neither in the input membrane resistance, or in rest potential (n=14).

There was a membrane depolarization when the tissue was treated with the concentration of 6

mM and the excitability in the final of this depolarization was investigated. For this, we

injected current continuously in the cell to return the transmembrane potential to its value in

the stabilization and we found alterations in some electrophysiological parameters, as well as,

modification in the AP generation threshold current. Therefore, in conclusion, the 1,8-cineol

blocked the AP in the concentration of 6mM and 1mM and its effects were reversible. This

blockade could be, possibly, by the action of the compound directly in the sodium channels or

by indirect mechanism of cellular membrane depolarization, through the activation of

calcium-activated chloride channel. Besides, the data showed yet that 1,8-cineol blocked the

neuronal excitability in the rats SCG cells.

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1. INTRODUÇÃO

Os terpenos são uma grande família de produtos naturais compostos por classes como

os monoterpenos, que contêm 10 átomos de carbono em sua estrutura (com duas subunidades

de isoprenos) e que fazem parte da composição de grande parte dos óleos essenciais de

plantas. O 1,8-cineol (também chamado apenas de cineol, eucaliptol ou até de cajeputol)

apresenta-se como o principal componente de diversos óleos essenciais como o da artemísia

(ASANOVA et al., 2003), do eucalipto, do óleo de alecrim (SANTOS & RAO, 1997), do

Croton Nepetaefolius (LIMA-ACCIOLY et al., 2006) dentre outros como composto principal

ou em menor quantidade. Sua fórmula química, mostrada na Figura 01, é C10H18O, com peso

molecular igual a 154,24D e nome químico 1,3,3-trimetil-2-oxabiciclico(2.2.2)-octano. Esse

composto é utilizado para tratamento de resfriados e para tratamento de doenças do sistema

gastroentestinal, além de demonstrar ações antimicrobianas (BALACS, 1997), e diversos

trabalhos envolvem os efeitos do 1,8-cineol sobre preparações tanto in vitro como in vivo.

B A

Figura 01: Fórmula química estrutural do 1,8-cineol. A Figura A foi adaptada de Moteki

et al., 2002, Fig. 01 e a Figura B, adaptada de Cal, Kupiec e Sznitowska, 2006, Fig. 01.

1.1 Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Respiratório

Alguns trabalhos mostraram a ação do 1,8-cineol sobre o sistema respiratório, tanto

em animais como em humanos. Jager e colaboradores (1996) fizeram um estudo com o

objetivo de determinar a farmacocinética do 1,8-cineol em humanos sujeitos a inalação

prolongada dessa droga e conseguir mais informações sobre a absorção, distribuição e

eliminação deste composto. Eles utilizaram quatro voluntários (dois homens e duas mulheres)

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nos quais foi administrado o 1,8-cineol por inalação, através de um circuito fechado de

respiração com passagem de até 4 ml do composto por 20 min. Amostras de sangue foram

coletadas após 5 min de inalação até 60 min de experimento.

Os pesquisadores notaram que o 1,8-cineol foi rapidamente absorvido a partir do ar

inalado e pode ser detectado no sangue 5 min após o início do procedimento de

administração. Os valores da vida média de entrada desse composto e o tempo no qual a

concentração máxima de 1,8-cineol foi alcançada estiveram muito próximos em todos os

indivíduos (~3-7 min e 14-19 min, respectivamente). Já distribuição da meia-vida do 1,8-

cineol nos tecidos foi de 2 e 4,8 min para os dois homens, enquanto as duas mulheres

exibiram prolongados valores de 6,9 e 13,1 min. O valor do parâmetro cinético de eliminação

do 1,8-cineol para os homens foi de 31,1 e 32,6 min enquanto as mulheres tiveram valores 2,5

a 10 vezes maior.

Ainda com experimentos com seres humanos Juergens e colaboradores (2003)

executaram um teste aleatório placebo-controlado com objetivo de determinar a eficácia do

uso da terapia oral com o 1,8-cineol sobre a redução do uso de glicocorticosteróides em

pacientes com asma grave. Para tanto, eles utilizaram pacientes asmáticos que recebiam entre

5 e 24 mg de um glicocorticóide (prednisolona) e de modo paralelo aplicaram, aleatoriamente,

200 mg de 1,8-cineol ou placebo por até 12 semanas. Esses dois grupos foram comparados

com relação à gravidade de sua asma, como determinado pelo uso sistêmico de longa duração

da prednisolona concomitante com medicação para asma.

Após esse tratamento, os pacientes que foram submetidos à ingestão do 1,8-cineol por

terapia oral tiveram seu tratamento com glicocorticosteróides reduzido, em média, para

3,75mg e a maioria dos pacientes com asma crônica que receberam essa administração oral de

1,8-cineol permaneceu clinicamente estável, a despeito de uma redução média da dose oral de

esteróides. Ainda mais, este trabalho demonstra que uma terapia de longa duração com 1,8-

cineol é bem tolerada por seres humanos e que essa droga medeia uma atividade

antiinflamatória equivalente à prednisolona sugerindo, pela primeira vez, uma atividade

antiinflamatória relevante do 1,8-cineol na asma brônquica.

Para comprovar ainda mais essa ação antiinflamatória, esse mesmo pesquisador e seu

grupo de pesquisa (JUERGENS et al., 2004) estudaram a eficácia do 1,8-cineol sobre a

inibição da produção de citocinas associadas às células linfócitos T não-fracionados de

humanos comparados com monócitos in vitro. Essas células foram incubadas na presença e

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ausência do 1,8-cineol nas concentrações de 10-5 a 10-9 M simultaneamente com o estímulo

por 20 h para estabilização das culturas de células.

Dados preliminares já apontavam a exclusão dos efeitos citotóxicos do 1,8-cineol

nestas concentrações sobre as culturas de células. Os resultados encontrados nesse estudo

mostraram que o 1,8-cineol na concentração terapêutica conhecida de 1,5 μg/ml (10-5 M) teve

um efeito inibitório significante de 65-99% na produção de citocinas em linfócitos periféricos

humanos normais in vitro e apresentou-se como forte inibidor da produção do Fator de

Necrose Tumoral α (TNF-α) e da Interleucina 1β (IL-1β) em monócitos e linfócitos

estimulados. Além do mais, esse composto pode ter atividade antialérgica adicional devido ao

bloqueio da produção da Interleucina 4 (IL-4). Portanto, com base no estudo de Juergens e

colaboradores (2004) e com os resultados do trabalho de Juergens e colaboradores (2003),

observa-se que o tratamento sistêmico com o 1,8-cineol pode ser útil no controle da ativação

dos processos inflamatórios que estão ligados à exacerbação da asma e da doença pulmonar

obstrutiva crônica.

Já em um trabalho mais recente, Keinan e colaboradores (2005) investigaram a ação

de oleofinas (1,8-cineol e limoneno) no tratamento profilático da asma. Eles utilizaram grupos

de ratos sensibilizados com ovalbumina e hidróxido de alumínio para induzir a asma. Em um

grupo de animais foi administrado o limoneno e outro grupo administrado o 1,8-cineol, ambos

por 7 dias (do 14o ao 21o dia a partir do 1o dia de sensibilização dos animais) continuamente,

produzindo 125 ppm (partes por milhão), enquanto um terceiro grupo permaneceu como

controle.

Esses autores observaram que no grupo que recebeu inalação com o 1,8-cineol não

houve qualquer mudança apreciável na broncoconstrição, enquanto as observações acerca dos

ratos tratados com o limoneno mostraram significativa prevenção da obstrução brônquica.

Além do mais, os ratos tratados com limoneno mostraram redução significativa da infiltração

celular inflamatória peribronquial em comparação com o grupo tratado com o 1,8-cineol. O

estudo mostra, portanto, que o 1,8-cineol apresentou uma fraca atividade antiinflamatória em

relação ao outro composto, o limoneno, além de não reduzir de forma apreciável a

broncoconstrição.

Como levantado na literatura, há uma controvérsia acerca do efeito antiinflamatório do

1,8-cineol sobre preparações no sistema respiratório e para uma melhor caracterização de seus

efeitos mais trabalhos devem ser realizados.

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1.2 Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Imunológico

Moteki e colaboradores (2002) investigaram os efeitos do 1,8-cineol (nas

concentrações 5 µM, 7,5 µM e 10 µM) sobre a proliferação e apoptose das células leucêmicas

humanas MOLT 4B e HL-60 e das células cancerígenas KATO III de estômago de humanos.

Essas células foram cultivadas na presença de veículo (etanol) ou do 1,8-cineol por 12, 24, 48

e 72 h, e ao final desses períodos foram executados testes no material celular das amostras.

Esses autores encontraram uma inibição significante dose-dependente da proliferação das

células MOLT 4B e HL-60. Para esses dois tipos de células, a inibição da proliferação

alcançou 100% na concentração de 10 µM, mas não para as células KATO III, onde nessa

mesma concentração a inibição foi de apenas 41,6% depois de 3 dias do cultivo dessas

células. A partir desse dado, os autores investigaram se parte desse efeito foi resultante da

indução de apoptose nessas células pela droga. Eles encontraram que as amostras de HL-60

tratadas com o 1,8-cineol já mostravam células que tiveram apoptose após 48 h de tratamento

com a dose de 7,5 µM. As células MOLT 4B também apresentaram esse perfil, mas esse fato

não ocorreu com as células cancerígenas KATO III do estômago. Portanto os autores

demonstraram, de acordo com os dados do seu trabalho, que o 1,8-cineol exerceu uma

atividade antitumoral a partir da inibição da proliferação das células leucêmicas humanas

devido à indução de apoptose.

Também com relação à atividade antitumoral, Asanova e colaboradores (2003)

investigaram os efeitos do 1,8-cineol, nas concentrações de 10-6 M a 10-2 M, na atividade

antitumoral em células do melanoma H157 e carcinoma HT144 de ratos. Na dose de 1×10-2 M, a

inibição de crescimento das células H157 e HT144 foi 95 e 96%, respectivamente,

acrescentando ainda mais dados para essa atividade antitumoral do 1,8-cineol.

Ainda sobre o estudo do 1,8-cineol em células do sistema imunológio, Scelza e

colaboradores (2006) avaliaram a citotoxicidade desse constituinte, do óleo da laranja e do

clorofórmio sobre os macrófagos do peritônio retirados de ratos Swiss. Essas células foram

incubadas com solvente e o 1,8-cineol (nas concentrações finais de 0,050% e 0,025%) por 30

min, e em seguida foi avaliada a viabilidade celular comparada com os outros grupos.

Como resultados, os pesquisadores encontraram que todos os compostos foram

capazes de induzir a perda da viabilidade celular, refletindo assim sua citotoxicidade em

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relação ao controle, com maior efeito nos grupos do 1,8-cineol e do clorofórmio. Além do

mais, o 1,8-cineol e o clorofórmio mostraram-se mais citotóxicos do que o óleo da laranja,

mas os autores ressalvaram a necessidade de reavaliar essa toxicidade.

Outro estudo que mostra os efeitos desse composto e sua toxicidade foi realizado por

Santos e Rao (1997) que estudaram a influência modulatória de vários agentes farmacológicos

no edema de pata induzido pelo 1,8-cineol e o papel dos mastócitos nessa resposta. Para isto,

a habilidade de induzir edema foi testada através de injeção subplantar de 1,8-cineol (10, 15 e

20 µl/pata) na pata de ratos Wistar. Como resultado, na dose de 10 µl o pico do edema foi

detectado 30 min após a injeção dessa droga e gradualmente diminuiu enquanto na dose de 15

e 20 µl, o 1,8-cineol induziu grande edema, com efeito de pico em 2 h e teve longa duração.

Esse edema de pata foi significantemente suprimido pelo antihistamínico difenidramina, pelo

antiserotoninérgico metilsergida e pelo antagonista tanto da histamina como da serotonina, a

ciproheptadina.

Os autores verificaram a possibilidade da ativação dos mastócitos no edema de pata

induzido por essa substância e encontraram que nos ratos pré-tratados com o composto 48/80

(um agente degranulador dos mastócito), o edema foi quase completamente ausente em

resposta ao 1,8-cineol. Também o citotifen, um estabilizador dos mastócitos que bloqueia a

liberação de mediadores químicos, mostrou-se efetivo no bloqueio do edema de pata induzido

pelo 1,8-cineol.

Para confirmar a influência do 1,8-cineol sobre os mastócitos, esse mesmo autor e seu

grupo de pesquisa investigaram o possível papel dessas células em resposta ao 1,8-cineol (nos

volumes de 10 µl, 20 µl e 40 µl/in situ) induzidos pelo esfregaço em ratos Wistar machos

(SANTOS & RAO, 2002). Outros compostos também foram utilizados (como o 48/80) e cada

rato foi utilizado apenas uma vez, num período de observação de 30 min.

Como resultado, quando comparados com solução salina, os efeitos do 1,8-cineol e do

48/80 na resposta ao esfregaço foram dose-dependente. Quando os ratos foram pré-tratados

com a difenidramina e a ciproheptadina, os efeitos do 1,8-cineol induzidos pelo esfregaço

diminuíram sensivelmente e com o pré-tratamento com um agonista do receptor A1 da

adenosina, notavelmente suprimiu esse efeito da droga. De acordo com as conclusões dos

autores, esse efeito do 1,8-cineol sobre o receptor A1 da adenosina pode indicar a liberação de

adenosina em altas concentrações a partir de tecidos danificados pelo esfregaço, o que

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favorece a ativação do receptores A3 dos mastócitos, com subseqüente degranulação e

liberação de mediadores inflamatórios.

1.3 Efeito do 1,8-Cineol sobre o Transporte de Substâncias pela Pele

Dentre todos os estudos sobre a ação do 1,8-cineol em tecidos biológicos,

investigações sobre o efeito de amplificador dessa droga no transporte de drogas através da

pele são muito encontradas. Cal e colaboradores (2001) avaliaram a penetração cutânea in

vitro de cinco diferentes terpenos (D-limoneno, L-limoneno, dipenteno, terpinoleno e 1,8-

cineol) liberados a partir de modelos de matrizes de poliuretano para camadas de pele isoladas

ou para um meio receptor, com o intuito de disponibilizar mais dados a cerca de sistemas

terapêuticos que utilizem a passagem de substâncias através da pele. Os terpenos foram

incorporados às matrizes, com composição acima de 39% de seu conteúdo total, e para o

estudo de liberação e penetração desses terpenos, essas matrizes foram colocadas sobre

amostras de pele do tórax de cadáveres humanos por até 8 h. Ao término do experimento, as

camadas da pele foram separadas, os níveis da concentração de terpenos mensurados e o meio

receptor também analisado.

Os pesquisadores encontraram que a taxa de liberação de terpenos da matriz em

direção ao meio receptor foi maior para o 1,8-cineol, provavelmente por ser o composto

menos lipofílico em comparação aos outros terpenos. Quando considerando apenas a derme

como a única barreira de passagem dos terpenos, a cinética de passagem foi similar àquela

observada à passagem para o meio receptor, indicando que a derme não se apresenta como

uma barreira para a difusão desses compostos. O perfil de penetração desses terpenos através

da epiderme com a camada córnea intacta (também designada de estrato córneo) também foi

estudado e a taxa de penetração foi menor na presença dessa estrutura para todos os terpenos,

comprovando que esta camada atua como uma barreira.

Considerando a acumulação de terpenos nas camadas da pele, o 1,8-cineol apresentou

quase duas vezes maior concentração do que os outros terpenos (~3,5 mg/cm2 para a camada

córnea + epiderme e ~3 mg/cm2 para a derme), o que de acordo com os autores demonstra que

uma possível ligação desse composto aos tecidos não pode ser descartada.

Esse mesmo autor e seu grupo de pesquisa também desenvolveram um trabalho

posterior onde tentaram correlacionar a cinética de absorção e eliminação de quatro terpenos

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cíclicos (entre eles o 1,8-cineol) com as propriedades físico-químicas destes compostos. Eles

também utilizaram a pele da região do tórax de cadáveres humanos, que não possuíam

doenças de pele, para determinar esse parâmetro de absorção e eliminação da droga e as

camadas da pele, assim como no trabalho anterior, foram separadas para se determinar qual o

nível de acumulação desses terpenos nessas camadas. A penetração dos terpenos pela derme

foi estudada durante 4 h e a análise da camada córnea demonstrou uma acumulação dos

terpenos desde suas camadas mais externas para as mais internas e até mesmo uma rápida

penetração na epiderme. Como conclusão, esses pesquisadores encontraram que todos os

terpenos investigados apresentaram diferentes características de penetração e eliminação.

Considerando os terpenos cíclicos e acíclicos, os terpenos que possuem oxigênio em sua

composição apresentaram uma maior penetração na pele do que aqueles tipos hidrocarboneto

ou éster (CAL et al., 2006).

Como citado nos trabalhos de Cal e colaboradores (2001 e 2006) a pele apresenta uma

barreira substancial contra a permeabilidade de drogas e no que concerne às estratégias

disponíveis para a amplificação desse efeito, muita atenção é dada ao uso de substâncias

químicas amplificadoras dessa permeabilidade. Heard e colaboradores (2006) desenvolveram

um trabalho onde prepararam formulações simples utilizando ácido mefenâmico e polietileno

glicol (PEG) 400 como a droga a ser permeada através da pele. Para estudar os efeitos de

penetração, eles incorporam a estas formulações várias proporções de etanol e 1,8-cineol (5,

10 e 25%, v/v) e aplicaram na pele de orelhas de suínos.

Como resultados, eles encontraram que a pele de suínos foi 5 a 13 vezes mais

permeável ao etanol do que ao 1,8-cineol, mesmo quando esses compostos foram utilizados

nas mesmas quantidades. Como o 1,8-cineol é consideravelmente mais lipofílico do que o

etanol, uma hipótese para explicar essa baixa permeabilidade é o fato de os domínios polares

viáveis da epiderme e da derme poderem reduzir essa permeabilidade. O etanol é um potente

solvente tanto para espécies polares como para não-polares e é compreensível que uma

pequena quantidade de etanol é capaz de desfazer quantidades significativas de ligações

anfipáticas não-covalentes nos lipídios da camada córnea e que pode possuir efeito de

modulação na barreira da pele. Esse efeito, de acordo com os autores, aparentemente, não

ocorre com o 1,8-cineol. Assim, é proposto pelos pesquisadores, mesmo sendo algo simplista,

que os processos de difusão são suficientes para a atividade de amplificação da

permeabilidade pelo etanol e 1,8-cineol, apesar da modulação inicial que possa ocorrer dentro

da camada córnea.

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Essa barreira natural da camada córnea (localizada na camada mais superficial da

epiderme) oferece dificuldades no transporte de drogas, incluindo a zidovudina (AZT), em

concentrações clínicas efetivas através da pele. Assim, Narishetty e Panchagnula (2005)

investigaram os efeitos do 1,8-cineol e do l-mentol na permeabilidade transdérmica do AZT

através da pele de cadáveres humanos, além de tentarem desvendar os mecanismos de ação a

nível molecular. Para isso, os autores utilizaram um modelo do sistema lipídico da camada

córnea, consistindo dos mais abundantes ingredientes dessa estrutura (mistura de lipídios

ternários de ceramidas III bovinas, colesterol e ácido palmítico), no intuito de estudar os

efeitos dos terpenos já citados na agregação subcelular, no estado conformacional das cadeias

alquil de lipídios e nas pontes de hidrogênio nas cabeças dos grupos ceramidas.

Os pesquisadores notaram que quando o 1,8-cineol e o l-mentol foram incorporados ao

modelo lipídico, eles aumentaram a desordem das cadeias alquil lipídicas em baixas

temperaturas, incluindo temperaturas fisiológicas. Tanto o 1,8-cineol como o l-mentol,

significantemente, aumentaram o pseudoestado de fluxo de AZT em comparação à água ou

veículo e o aumento em geral do fluxo observado para o AZT nesta investigação foi

ocasionado pelo efeito tanto do veículo como dos terpenos nas propriedades de barreira da

pele. Assim, os terpenos utilizados no trabalho de Narishetty e Panchagnula (2005) mostraram

efeitos tanto nas caudas alquil lipídicas quanto nas cabeças dos grupos polares. Em

temperaturas fisiológicas, os terpenos primariamente atuaram nas cabeças dos grupos polares,

quebrando a rede de pontes de hidrogênio inter e intralamelar e levando a um decréscimo da

integridade da barreira da pele.

Assim com o AZT, outras drogas foram estudadas. No trabalho de Gao e Singh (1997)

foram selecionados três terpenos (carvona, 1,8-cineol e timol) para investigar seus efeitos nas

mudanças biofísicas nos lipídios da camada córnea e na integridade macroscópica de barreira

da epiderme, correlacionando estas mudanças com a absorção cutânea in vitro do 5-

fluorouracil. Eles também utilizaram a pele de orelhas de suínos, com retirada das camadas da

pele por técnicas de separação por calor e as drogas foram utilizadas nas proporções de 5% de

terpenos e 50% de etanol.

Todos os terpenos aumentaram o transporte in vitro do 5-fluorouracil comparados com

o controle. O coeficiente de permeabilidade foi maior para o timol (~0,225 cm/h) seguido do

1,8-cineol (~0,125 cm/h). A perda de água pela epiderme também foi avaliada neste estudo.

Os pesquisadores encontraram que o 1,8-cineol não aumentou a fluidez da membrana

(diferentemente do timol que apresentou modificação na fluidez dos lipídios da camada

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córnea), mas aumentou in vitro a perda de água pela via transepidérmica. Esse aumento

possivelmente refletiu uma perturbação na barreira da pele. Assim, todos os compostos

estudados provocaram perturbação na integridade de barreira da pele e apenas o timol

provocou, também, uma alteração na fluidez dos lipídios da camada córnea.

Nem sempre o 1,8-cineol promove uma boa permeabilidade às drogas. Em um

experimento de amplificação da penetração do diclofenaco de sódio (a partir de gel carbômero

contento propileno glicol) em amostras de pele retirada da região abdominal de ratos Wistar

machos, o 1,8-cineol não se mostrou uma boa opção. Os melhores amplificadores de

penetração foram os terpenos acíclicos (como o geraniol, utilizado neste estudo), mas as

cetonas não revelaram uma forte atividade amplificadora, assim como o 1,8-cineol

(ARELLANO et al., 1996).

Como foi proposto que os terpenos provocam uma perturbação na integridade da

barreira da pele e aumento da fluidez dos lipídios da camada córnea (Gao e Singh, 1997) e

que esses compostos, provavelmente, se ligam aos tecidos (Cal et al., 2001), o trabalho de

Turina e colaboradores (2006) provavelmente explica essas observações. O objetivo do

trabalho desses pesquisadores foi estudar a habilidade de alguns terpenos (timol, cânfora, 1,8-

cineol, geraniol e mentol) de se incorporar em modelos de membrana e de afetar a sua

organização supramolecular, de forma a determinar características de sua particular interação

com biomembranas. Para isto eles construíram filmes monomoleculares (também chamados

de filmes Langmuir) de dipalmitoilfosfatidilcolina (dPC) e determinaram a penetração desses

monoterpenos nestas camadas na interface ar-água, o tamanho das vesículas dos

monoterpenos e a concentração micelar crítica.

Os pesquisadores encontraram que todos os monoterpenos estudados tiveram valores

de concentração micelar crítica entre 3 e 8 µM, na seguinte ordem: 1,8-

cineol<timol<geraniol<mentol<cânfora. Ainda mais, a penetração desses terpenos na camada

monomolecular de dPC foi evidenciada por um incremento na pressão lateral de superfície

por área constante. Todos os terpenos foram capazes de penetrar na camada, de uma subfase

aquosa para a monocamada de dPC, sob uma pressão inicial bem acima de 37 mN/m e esse

parâmetro reflete a habilidade dos monoterpenos de deformar a interface água-lipídio.

Portanto, como conclusão desses autores, os resultados apontam para fato que mesmo

interações específicas de drogas-membrana podem ser modificadas pela agregação de outros

compostos.

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1.4 Efeito do 1,8-Cineol sobre o Trato Gastrintestinal

O 1,8-cineol também é tradicionalmente utilizado como agente condimentar de

alimentos. Devido a esse uso, Boyle e colaboradores (2005) investigaram a absorção desse

composto pelo organismo administrado na dieta, com o intuito de demonstrar a relação direta

da concentração sanguínea do 1,8-cineol e a cessação da fome no Trichosurus vulpecula

(gambá de cauda-de-escova da montanha). Esses animais foram alimentados com dietas que

possuíam o 1,8-cineol em diversas concentrações por três dias e amostras de sangue foram

coletadas ao fim desse período. Os autores encontraram que a concentração de 1,8-cineol no

sangue, para cada tratamento com concentração de droga diferente, foi similar e os

metabólitos do 1,8-cineol presentes no sangue estiveram 10 vezes maiores do que os níveis do

próprio 1,8-cineol. Portanto, eles levantaram a hipótese de que o controle imediato da

alimentação parece ser regulado pelos níveis sangüíneos de 1,8-cineol, enquanto os

metabólitos estão, provavelmente, envolvidos na ingestão crônica dessa droga.

Recentemente Neves e colaboradores (2007) também fizeram estudo com o 1,8-cineol

sobre o volume gástrico e parâmetros cardiovasculares (pressão arterial, pressão venosa

central e freqüência cardíaca). Eles utilizaram ratos Wistar machos mantidos em jejum por 24

h e as doses empregadas do composto foram de 1 a 3 mg/kg. Os pesquisadores encontraram

que o 1,8-cineol reduziu, de maneira dose-dependente, a pressão arterial e a freqüência

cardíaca, mas isso não acontece com a pressão venosa central.

Ainda neste estudo, foi investigado o efeito do 1,8-cineol sobre a motilidade intestinal

e os autores encontraram que essa substância foi capaz de aumentar, também de maneira

dose-dependente, o tônus estomacal, diminuindo, assim, a compliância gástrica. Os dados

apresentados neste estudo mostram que os efeitos do 1,8-cineol podem resultar de um reflexo

autonômico ou de uma ação direta deste óleo essencial no músculo liso intestinal, além do

que, quando há uma vagotomia bilateral, os efeitos do 1,8-cineol sobre a freqüência cardíaca e

pressão arterial cessam.

Santos e colaboradores (2004) propuseram um estudo para examinar a possível

influência da aplicação local do 1,8-cineol na colite aguda induzida por ácido trinitrobenzeno

sulfônico (TNFS) em ratos Wistar machos. Esses animais foram tratados com o 1,8-cineol

administrado por instilação intraretal nas doses de 200 e 400 mg/kg. Os resultados obtidos

10

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mostraram que o 1,8-cineol possuiu efeitos preventivos na colite induzida pelo TNFS, como

verificado por seus efeitos nas mudanças macroscópicas, histológicas e bioquímicas do tecido.

O 1,8-cineol reduziu significantemente o peso úmido dos segmentos distais do cólon e os

pontos de dano no cólon, comparados com o controle que recebeu apenas o veículo.

Santos e colaboradores (2004) documentaram que esse constituinte na concentração de

400 mg/kg foi capaz de reduzir a atividade da enzima mieloperoxidase, um marcador

bioquímico da infiltração de neutrófilos em tecidos danificados, bem como houve uma

notável depleção dos níveis da glutationa (GTN) nos tecidos do cólon. A redução da atividade

dessa enzima pode ser interpretada como uma manifestação da atividade antiinflamatória do

1,8-cineol e como a GTN é um dos mais abundantes antioxidantes intracelulares que possui

um papel essencial em proteger a célula de danos oxidativos, os pesquisadores concluíram

que o tratamento com 1,8-cineol melhorou o balanço oxidativo colônico nos animais com

colite, pois ele foi capaz de reduzir a atividade da mieloperoxidase e os níveis teciduais da

GTN.

Já Santos e Rao (2001) investigaram o efeito protetor do 1,8-cineol sobre o sistema

gastrointestinal e os possíveis mecanismos envolvidos nessa proteção. Para isto eles

utilizaram ratos Wistar machos e induziram danos na mucosa gástrica através da ingestão

intragástrica de etanol (1 ml/rato). As doses de 1,8-cineol, também administradas de forma

oral, foram 25, 50, 100 e 200 mg/kg e após 60 min da ingestão do etanol os ratos foram

sacrificados e seus estômagos retirados para análises.

Os pesquisadores encontraram que o 1,8-cineol ofereceu prevenção do dano gástrico

induzido pelo etanol nas doses de 50 a 200 mg/kg de maneira similar ao ácido

nordihidroguaiarético (um inibidor da lipooxigenase). Como essas doses são relativamente

pequenas, eles ainda levantam a hipótese de que esse composto seja um inibidor preferencial

da enzima lipooxigenase. Ainda mais, foi estudado se o efeito gastroprotetor do 1,8-cineol foi

devido à liberação endógena de adenosina e óxido nítrico, com a utilização de um antagonista

da adenosina (PT-8) e de um inibidor da óxido nítrico sintase dependente de cálcio, a l-nitro-

arginina-metil-éster (L-NAME).

Como resultado, nenhum destes compostos modificou a resposta do 1,8-cineol no

dano gastrointestinal, sugerindo que nem a adenosina nem o óxido nítrico participam do efeito

gastroprotetor.

11

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1.5 Efeito do 1,8-Cineol sobre o Sistema Cardiovascular e Metabolismo Ósseo

Soares e colaboradores (2005) desenvolveram um estudo sobre a ação do 1,8-cineol

sobre a atividade contrátil dos músculos papilares cardíacos em ratos Wistar machos. Os

parâmetros de força isométrica de pico, tempo gasto até alcançar a tensão de pico, tempo de

relaxamento foram determinados na presença e ausência do 1,8-cineol, no intervalo de

concentrações de 0,003 mM a 0,5 mM.

Como resultados, o 1,8-cineol reduziu a força de maneira dose-dependente, com

redução de 50% da força de contração na concentração de 0,3 mM. Os outros parâmetros

também foram reduzidos de maneira dose-dependente. Como o desenvolvimento da força

depende da concentração de cálcio extracelular, os pesquisadores avaliaram a força na

presença e ausência do composto a diferentes concentrações de cálcio extracelular (0,62 mM

a 5 mM). Contudo, o 1,8-cineol não reduziu a força de contração em resposta ao aumento de

força devido ao aumento da concentração de cálcio extracelular. Ainda mais, contrações

tetânicas foram iniciadas a partir do uso de 5 mM de cafeína e após 20 min da exposição ao

1,8-cineol (na concentração de 0,3 mM), houve redução da força isométrica. Portanto, no

estudo de Soares e colaboradores (2005) o 1,8-cineol reduziu a contratilidade miocárdica de

maneira dependente de concentração e ainda possuiu efeito depressor das contrações tetânicas

sem redução da miosina ATPase.

Diversos ingredientes da dieta humana estão relacionados com a inibição da

reabsorção óssea, como vegetais comuns, saladas e ervas. Como os monoterpenos estão

distribuídos amplamente no reino das plantas e em algumas ervas que são comumente

utilizadas na nutrição humana, Mühlbauer e colaboradores (2003) resolveram investigar

diversos óleos essenciais, ervas e seus constituintes sobre seus efeitos no metabolismo ósseo.

O 1,8-cineol e outros compostos foram misturados com a comida úmida dos ratos em

quantidades diárias por rato.

Para o monitoramento da reabsorção óssea a substância tetraciclina 3H foi injetada em

ratos machos recém-nascidos desde a 1ª semana de vida até a 6ª semana, pois essa substância

é depositada nos ossos e liberada quando o osso é reabsorvido. Assim, a medida dessa

tetraciclina foi monitorada diariamente através da excreção de 3H na urina. Uma mistura de

quatro monoterpenos em 200 mg de óleo de folhas secas (128 mg, composta de 80 mg de

thujone, 24 mg de 1,8-cineol, 14 mg de cânfora e 10 mg de borneol) inibiu a reabsorção óssea

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por 26 ± 5%. Utilizando apenas os constituintes thujone, eucaliptol e cânfora nas mesmas

doses acima (80 mg, 24 mg e 14 mg respectivamente), a inibição também foi significativa.

Para saber se os monoterpenos agem diretamente sobre as células ósseas, os autores

investigaram os efeitos desses terpenos na reabsorção in vitro em células de osteoclastos

isolados. A atividade de reabsorção foi diminuída significantemente nas culturas com o timol,

borneol e cânfora (na concentração de 1 mM). Já outros monoterpenos, incluindo o 1,8-cineol,

não se mostraram ativos in vitro nessa concentração. Assim, como mostrado pelos

pesquisadores, os compostos borneol, timol e cânfora inibiram a reabsorção óssea atuando

diretamente nas células ósseas e não indiretamente, por exemplo, influenciando os hormônios

calciotrópicos ou estimulando a absorção de cálcio intestinal.

1.6 Efeito do 1,8-Cineol sobre os Parâmetros Eletrofisiológicos

Grande parte dos trabalhos presentes na literatura utiliza o 1,8-cineol como uma

substância para deflagrar reações em neurônios receptores olfatórios e poucos trabalhos

mencionam a ação do 1,8-cineol sobre os parâmetros eletrofisiológicos de células neuronais.

Uma exceção é o trabalho de Lima-Accioly e colaboradores (2006), que estudaram os efeitos

do 1,8-cineol sobre a excitabilidade das células nervosas. Eles utilizaram ratos Wistar machos

de onde retiraram o nervo ciático e o colocaram em uma câmara de mistura (câmara de

Harvard) para estimulá-lo com a presença e ausência do 1,8-cineol. Nesse tipo de preparação,

eles tentaram investigar qual a ação desse composto, nas concentrações de 1 a 8 mM, sobre

parâmetros do Potencial de Ação Composto (PAC), tais como a amplitude pico-a-pico,

velocidade de condução nervosa, cronaxia e reobase.

Esses pesquisadores encontraram que a baixas concentrações de 1,8-cineol (1 e 2 mM)

não houve efeito significante nos parâmetros do PAC. Entretanto, para concentrações

maiores, houve uma progressiva e significante alteração dos parâmetros que foram revertidos

a seus valores iniciais (controle) após 180 min de lavagem da preparação. Nas concentrações

de 4 mM, 6 mM e 8 mM houve redução da amplitude pico-a-pico de 76,5 ± 4,4%, 70,0 ± 3,9

% e 14,8 ± 4,1% em relação ao controle, respectivamente. Esse efeito também foi verificado

na velocidade de condução nervosa na concentração de 6mM e 8mM com redução de 86,4 ±

4,5% e 76,1 ± 5,2% em relação ao controle, respectivamente. A cronaxia e a reobase também

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foram investigadas e os pesquisadores encontraram um aumento desses parâmetros a partir de

90min de exposição à droga na concentração de 8mM.

Assim, de acordo com os autores, as alterações observadas nos parâmetros do PAC

neste estudo (amplitude pico-a-pico, velocidade de condução nervosa, cronaxia e reobase)

mostraram que o 1,8-cineol bloqueou a excitabilidade nervosa no nervo ciático de ratos e que

essas modificações indicam uma dependência de ativação de canais para sódio, seja de

maneira direita ou indireta, tais como despolarização da membrana ou bloqueio do

metabolismo do axônio.

Chen e colaboradores (2006) desenvolveram um trabalho de investigação sobre os

canais ativados por nucleotídeos cíclicos (CNGC) participantes da transdução da informação

olfatória e a ação de odorantes (isoanil acetato, anisol, 1,8-cineol e limoneno) sobre a

modulação destes canais. Como a aplicação destes compostos odorantes em células nativas

inevitavelmente influencia a atividade de todas as moléculas sinalizadoras, esses

pesquisadores utilizaram um sistema de expressão heteróloga, onde algumas subunidades do

CNGC foram expressas em oócitos de Xenopus, mas também os neurônios receptores

olfatórios de ratos foram dissociados.

Na situação onde havia apenas o canal ativado por nucleotídeos cíclicos (oócitos de

Xenopus), o 1,8-cineol e os outros compostos inibiram a ação do canal, entretanto com uma

potência de inibição menor se comparado com os neurônios nativos. O canal formado

somente pela subunidade CNGA2 foi menos sensível a esses compostos do que quando essa

subunidade foi expressa junto com CNGA4 e CNGB1. Essas duas últimas subunidades são

importantes, pois elas estão ligadas às propriedades do canal, tais como aumento na

permeabilidade ao cálcio e a velocidade da modulação do canal pelo complexo cálcio-

calmodulina.

De acordo com os autores, o arranjo assimétrico das quatro subunidades do CNGC

pode possibilitar que a ativação do canal seja alterada devido a uma distorção na bicamada

lipídica da membrana, pois a concentração efetiva desses odorantes, neste trabalho, é muito

alta (~5 a 10 mM), dentro da ordem de grandeza de concentração que provoca quebra da

membrana do oócito. A corrente induzida por odorantes nos neurônios olfatórios é conhecida

por ter duas componentes: uma componente através dos CNGC e outra a partir dos canais de

cloreto ativados por cálcio. Os íons cálcio fluem através dos CNGC que abrem os canais de

cloreto ativados por cálcio. Assim, a aparente inibição observada nos neurônios olfatórios,

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pode ser resultado do desaparecimento dessa corrente de cloreto devido a um fechamento dos

CNGC.

Zufall e colaboradores (2000) fizeram um minucioso trabalho a cerca da amplificação

dos transientes de cálcio, induzidos por substâncias odorantes, devido à liberação desse íon e

seu papel na transdução do sinal olfatório nos neurônios olfatórios receptores da salamandra.

Eles dissociaram esses neurônios do epitélio nasal desses animais adultos, perfizeram testes

eletrofisiológicos (tanto em clampeamento de corrente como de voltagem) e de quantidade de

cálcio (imagens de microscopia confocal) e a substância odorante utilizada foi o 1,8-cineol na

concentração de 300 µM.

Como resultados, quando o tecido foi exposto ao 1,8-cineol na concentração

mencionada por 1 s, ele teve efeito similar ao inibidor da fosfodiesterase, o 3-isobutil-1-

metilxantina (IBMX). Essa substância é conhecida por estimular a via da adenosina

monofosfato cíclica (cAMP) sensível à substâncias odorantes, causando abertura dos CNGC e

permitir a entrada de cálcio.

Combinando essas duas técnicas (eletrofisiologia e imagem de microscopia confocal)

esses pesquisadores encontraram que esses tipos de neurônios possuem uma reserva de cálcio

que pode ser liberada no repouso aplicando a substância tapsigargina (um inibidor de uma

enzima chamada SERCA, que capta o cálcio citosólico e o guarda nas reservas do retículo

endoplasmático), além de que essas reservas estão compartimentadas nos neurônios olfatórios

receptores. Além do mais, os dados obtidos pelos autores fornecem evidências da

contribuição significativa da liberação de cálcio a partir as reservas sensíveis à tapsigargina

iniciados por estímulo de substâncias odorantes.

Reiserts e Matthews (2001) também investigaram o uso do 1,8-cineol, (nas

concentrações de 10, 30, 100 e 300µM), nos disparos de Potenciais de Ação (PA) e nas

respostas da corrente receptora. Eles utilizaram a técnica de pipeta de sucção, considerada não

invasiva e que fornece registros estáveis por um longo período de tempo, para determinação

desses parâmetros nas células dos receptores olfatórios isolados de ratos.

Esses pesquisadores encontraram que quando as células eram expostas a um pulso

breve de 1,8-cineol (1 s), uma grande corrente receptora foi detectada (a partir da

concentração de 30 µM) acompanhada, durante a fase de ascensão dessa corrente, por curtos

disparos de correntes de alta freqüência. Na concentração mais alta (300 µM) a forma de onda

da corrente receptora desenvolvia um pico inicial, seguido de uma fase de platô. A freqüência

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de disparos variou gradualmente com o aumento de concentração da droga, chegando até

mesmo próximo a níveis de saturação.

Eles também fizeram experimentos com exposição prolongada de 1,8-cineol (30 a 60

s). Na concentração de 10 µM, para essa exposição prolongada de droga, houve disparos de

potenciais esporádicos durante o período de estimulação com o constituinte. Já nas

concentrações de 100 µM e 300 µM nenhum PA foi evocado devido ao aumento transiente da

corrente receptora.

Os pesquisadores notaram que a exposição a níveis baixos de 1,8-cineol iniciou tanto

disparo de PA de alta freqüência como nenhuma resposta, de forma que freqüências

intermediárias não foram encontradas. Essa tendência dos disparos de potenciais foi

acentuada pelo colapso progressivo na amplitude dos picos dos potenciais. Esse efeito,

provavelmente, resultou da progressiva e completa inativação dos canais para sódio

dependentes de voltagem.

Os autores ainda expuseram o tecido a baixas concentrações de sódio extracelular

ainda sobre o estímulo do 1,8-cineol, de forma que a corrente receptora não foi abruptamente

reduzida. Eles citam que, como essa corrente não foi bastante reduzida, outro íon pode estar

atuando como, por exemplo, o cloreto. Nessas condições, para o cloreto agir, é necessário que

os canais de cloreto ativados por cálcio estejam abertos e que as concentrações de cálcio

dentro da célula permaneçam elevadas. Assim, os pesquisadores propõem que deva existir um

mecanismo trocador de sódio-cálcio nesse tipo de célula e que esse trocador possui um papel

importante na saída do cálcio que entra através dos CNGC durante as respostas às substâncias

odorantes.

1.7 Características do PA nos Neurônios do Gânglio Cervical Superior

O PA pode ser entendido como uma variação abrupta do potencial transmembrana

(Vm) celular e que se propaga para todas as regiões de uma célula excitável. Essa variação

abrupta se dá, explicado no momento de forma simplória, pela entrada ou saída de íons da

célula. Esses íons movem-se através dos seus gradientes de concentração e conseguem

atravessar a membrana celular devido a estruturas chamadas de canais iônicos. Estes canais

possuem uma característica de seletividade, onde um íon atravessa suas estruturas mais

facilmente que outro íon e, em eletrofisiologia, estes canais são representados como

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condutâncias. Assim, os canais para sódio são estruturas que permitem, principalmente, a

passagem de íons sódio. É bem verdade que outros íons (como o potássio) podem atravessar

esse canal, mas a sua quantidade em comparação ao íon preponderante é ínfima. Portanto,

temos as condutâncias ao íon sódio, potássio, cloreto etc. Essas condutâncias possuem

propriedades particulares. A condutância ao íon sódio possui características diversas da

condutância ao íon potássio e ainda é comum encontrar diferenças entre canais que são

permeáveis ao mesmo íon.

O modelo de geração de PA em células excitáveis, como os neurônios, utiliza diversas

condutâncias. Uma descrição clássica e apropriada da geração e propagação dos PA é

encontrada em um artigo de Hodgkin & Huxley (1952), onde eles estudaram o

comportamento elétrico da membrana do nervo gigante da lula. Eles propuseram um análogo

elétrico à membrana celular onde esta continha condutâncias, que representavam os canais

iônicos, fontes de tensão (ou voltagem), que representavam os potenciais de Nernst para os

íons respectivos, e um capacitor, representando a membrana celular. Todos esses elementos

estão mostrados na Figura 02.

Figura 02: Circuito elétrico representando a membrana celular no modelo de Hodgkin e

Huxley. As condutâncias estão representadas por gNa = 1/RNa, gK = 1/RK e gleak = 1/RL e os

potenciais de Nernst logo abaixo das condutâncias no circuito (adaptado de Hodgkin &

Huxley, 1952, Fig. 01).

Nesse modelo, a corrente iônica total que atravessa a membrana é dividida em três

componentes: uma associada aos íons sódio, outra associada aos íons potássio (gNa e gK

representado na figura 02, respectivamente) e uma pequena corrente chamada de vazamento

(leakage) formada pela reunião dos íons cloreto e outros íons (gleak na figura 02). Eles também

propuseram um modelo matemático que descreve o curso temporal desse PA, composto por

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diversas equações diferenciais. Eles concluíram que as respostas de um axônio gigante de lula

isolado a estímulos elétricos são devidas a alterações reversíveis nas permeabilidades ao sódio

e potássio, deflagradas por mudanças no Vm.

O modelo de Hodgkin & Huxley (H-H) ainda é muito utilizado para representar outros

modelos de células excitáveis em diversos organismos e estruturas. No Gânglio Cervical

Ssuperior (GCS), existem diversos trabalhos sobre as condutâncias envolvidas na geração do

PA e todos eles utilizam como base o modelo de H-H com suas condutâncias e potenciais de

Nernst característicos. As condutâncias presentes no GCS definem correntes iônicas com

características distintas, mesmo entre canais que permitem a passagem do mesmo íon, como

citado anteriormente. Assim, diversas correntes estão associadas ao PA no GCS de ratos.

1.7.1 Os Canais para Sódio

O papel biológico relativamente simples da corrente de íons sódio (INa) é gerar, nas

células excitáveis, a rápida ascensão do PA. Os mecanismos de ativação e inativação dessa

corrente foram estudados por Belluzzi & Sacchi (1986). Eles utilizaram os neurônios

simpáticos do GCS de ratos e encontraram que a cinética de ativação e inativação

(representado pela letra m e h, respectivamente) da INa podem ser aproximados ao formalismo

m3h utilizado por Hodkgkin e Huxley (1952) no axônio gigante da lula. A faixa de voltagens

da componente cinética de ativação dessa corrente (m) está em torno de -50 mV e -40 mV,

chegando ao seu valor máximo (aproximadamente 1) entre -10 mV e 0 mV. Já a faixa de

voltagens da componente cinética da inativação (h) está em torno de -80 mV a -40 mV. Essas

faixas de voltagem e componentes cinéticas de ativação e inativação estão mostradas na figura

03.

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(a) (b)

Potencial (mV)

-60 -30 0 30

0,0

0,1

0,2

0,3

Cin

étic

a de

ativ

ação

m

0,0

0,5

1,0

Potencial (mV)

-100 -50 0

Cin

étic

a de

ativ

ação

h

0,0

0,5

1,0

Con

stan

te te

mpo

ral h

(ms)

0

5

10

15

20

25

Con

stan

te te

mpo

ral m

(ms)

Figura 03: Valores de repouso das variáveis m e h e suas respectivas constantes

temporais como função do potencial de membrana. Em (a) a linha contínua representa a

cinética de ativação da componente m e a linha tracejada a constante temporal m. Em (b) a

linha contínua representa a cinética de ativação da componente h e a linha tracejada a

constante temporal h.

Uma característica de destaque do trabalho de Belluzzi & Sacchi (1986) foi o fato dos

autores conseguirem isolar e caracterizar duas componentes da INa nas células nervosas do

GCS. Eles encontraram que existem duas classes de inativação que definem duas

componentes na condutância ao sódio: uma inativação rápida (chamada de gNaf) e uma

inativação lenta (chamada de gNas). Esta última funciona como amplificador dos efeitos de

despolarização da corrente de INa e os valores destas condutâncias são, de acordo com Sacchi

e colaboradores (1998), 9,28 µS e 7,43 µS para a gNaf e gNas, respectivamente.

1.7.2 Os Canais para Potássio

No GCS existem cinco tipos de correntes que transportam íons potássio e estão

relacionadas ao PA: a corrente retificadora retardada (IKV), a corrente A (IA), a corrente M

(IM), a corrente pós-hiperpolarização (IAHP) e a corrente de potássio dependente de cálcio

(IKCa).

A corrente retificadora retardada dependente de voltagem (IKV) é ativada em Vm mais

positivos do que -40 mV, aumenta em amplitude com o aumento da despolarização e a

condutância associada a essa corrente alcança os valores de saturação em torno de +20 mV.

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Entretanto a IKV declina em despolarizações prolongadas, com um desenvolvimento desse

declínio mais lento se comparado com a sua ascensão. Mesmo com esse declínio, essa

corrente não possui inativação aparente (e se possui, a constante de tempo da inativação é

muito longa) e o curso temporal dessa ativação pode ser descrito por uma cinética de primeira

ordem (n) de acordo com o formalismo de Hodgkin & Huxley (BELLUZZI et al., 1985a).

De acordo com Belluzzi e colaboradores (1985b) a corrente A (IA) é caracterizada

como uma corrente transiente e considerada uma característica estável das membranas

excitáveis (assim como a IKV). As características dessa corrente são: completa inativação em

valores de potencial próximos ao potencial de repouso celular; quando há uma remoção da

inativação, há uma modesta repolarização da membrana; quando há a ativação da IA devido a

despolarização, também há uma subseqüente inativação exponencial logo em seguida.

A IA é ativada em Vm mais positivos que -60 mV e sua amplitude também aumenta

com o aumento da despolarização, alcançando o pico em 1 a 2,5ms e subseqüentemente

decaindo para zero com um curso temporal exponencial, como já citado anteriormente. O

desenvolvimento e a remoção da inativação da IA também seguem um curso temporal

exponencial de maneira dependente de voltagem na faixa de -100 mV e -40 mV. Assim, ainda

como citam Belluzzi e colaboradores (1985b), aproximadamente 50% dos canais que

conduzem essa corrente estão disponíveis no potencial de repouso fisiológico, mas não existe

um conceito unificado que defina seu papel funcional. As funções dessa corrente vão desde

controle da latência dos disparos de PA, modulação das trajetórias dos PA “anode break”,

controle dos disparos repetitivos e modulação da amplitude dos potenciais pós-sinápticos

(GALVAN & SEDLMEIR, 1984).

A corrente M (IM) é formada, também, por íons potássio, ativada e desativada

lentamente, e não possui mecanismo de inativação. Essa corrente está ligada ao controle da

geração de PA, pois ela atua na repolarização da membrana celular em direção ao valor de

repouso do Vm. Além do mais, a inibição da IM resulta em pequena despolarização, aumento

da resistência da membrana e aumento na excitabilidade celular (IKEDA E

KAMMERMEIER, 2002). A IM é ativada em valores de potenciais mais positivos do que -60

mV e a condutância associada a essa corrente chega à saturação em aproximadamente -30

mV. Wang & McKinnon (1995) estudaram as correntes de potássio nas células do GCS e

encontraram que a ausência ou a presença da IM determina se uma célula responde de modo

fásico ou tônico a um estímulo persistente despolarizante, pois essa corrente foi encontrada,

exclusivamente, nos neurônios que responderam de modo fásico.

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Duas correntes iônicas que transportam íons potássio são reguladas pelo íon cálcio: a

corrente pós-hiperpolarização (IAHP) e a corrente de potássio dependente de cálcio (IKCa).

A IAHP possui a característica de duração prolongada logo após a geração de um PA.

Ela é uma corrente independente da voltagem, ativada por pulsos despolarizantes de alta

duração e amplitude, mas que possui dependência do íon cálcio que permeia a célula. Sacchi e

colaboradores (1995), mostraram que quando a ICa era aumentada, seja pelo aumento do nível

de despolarização ou pelo aumento do período de entrada do cálcio, havia um aumento

correspondente da IAHP e uma entrada de 1,7×107 íons de cálcio era necessária para uma

ativação significante da condutância associada a essa corrente. A sua amplitude decresce

linearmente com a hiperpolarização da membrana celular e ela é quase completamente

abolida em valores de potencial próximos ao potencial de Nernst para o íon potássio.

Já a corrente de potássio dependente de cálcio (IKCa), foi estudada por Belluzzi &

Sacchi (1990). Seus dados apresentam a existência de duas componentes da IKCa: uma

componente nomeada de rápida e outra de lenta. Estas componentes são ativadas por

despolarização após -30 mV, mas a faixa de voltagens onde elas estão ativas é muito restrita.

As variáveis cinéticas de ativação tanto da componente rápida como da lenta (denominadas de

kcf e kcs) alcançam o valor máximo logo após 0 mV, como pode ser visto na Figura 4.

Potencial (mV)

-60 -40 -20 0 20

Con

stan

te te

mpo

ral k

cf (m

s)

1

2

3

4

Cin

étic

a de

ativ

ação

kcf

0,0

0,5

1,0

Potencial (mV)

-40 -20 0 20

Con

stan

te te

mpo

ral k

cs (m

V)

0

100

200

300

400

500

Cin

étic

a de

ativ

ação

kcs

0,0

0,5

1,0

(b) (a)

Figura 04: Valores de repouso das variáveis kcf e kcs e suas respectivas constantes

temporais como função do potencial de membrana. Em (a) a linha contínua representa a

cinética de ativação da componente kcf e a linha tracejada a constante temporal kcf. Em (b) a

linha contínua representa a cinética de ativação da componente kcs e a linha tracejada a

constante temporal kcs.

Os autores ainda destacam no trabalho que a ICa e a IKCa compartilham a mesma

dependência de voltagem e que ambas dependem da concentração de cálcio extracelular.

21

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Devido a essa dependência de cálcio, a sua ativação se inicia com um atraso de 0,4 a 0,7 ms

em relação à ICa, o que corresponde a uma entrada no neurônio de, aproximadamente, 3×105

íons de cálcio, necessário para ativar essa corrente (SACCHI et al., 1998).

1.7.3 Os Canais para Cálcio

Beluzzi & Sacchi (1989), fizeram um estudo sobre as correntes de cálcio (ICa) nos

neurônios do GCS. Eles encontraram evidências da presença de duas componentes da

macrocorrente ICa: uma componente com inativação e outra componente de repouso tardia que

exibe uma dependência diferenciada quando um potencial é imposto à célula (clampeamento

do potencial de repouso). Em condições de inibição do movimento dos íons Na+ e K+, essa ICa

é iniciada a partir de despolarizações em torno de -30 mV. A ICa alcança sua amplitude

máxima entre 0 e +10 mV em 2 a 3 ms e após, decai virtualmente para zero se for mantida

uma despolarização. Essa fase de decaimento indica o processo de inativação dessa corrente e

ela ocorre durante o funcionamento normal do neurônio.

Em muitos tipos de neurônios, os canais para cálcio regulados por voltagem podem ser

classificados no tipos L, N, P, Q e R e essa classificação advém da sensibilidade destes canais

a diferentes agentes bloqueadores, como as dihidropiridinas (bloqueadoras dos canais tipo L)

ou as toxinas da família da agatoxina (bloqueadora dos canais do tipo P e Q). Martínez-Pinna

e colaboradores (2002) encontraram em experimentos utilizando neurônios intactos do GCS

de ratos que todos os subtipos de canais existem neste tecido e que eles contribuem para a

corrente total de Ca2+, tanto na resposta a pulsos despolarizantes como na própria constituição

do PA. Ainda mais, os autores também propõem que os canais do tipo L, N e R contribuem de

maneira significativa para a corrente total, enquanto uma pequena componente da corrente

flui pelos canais do tipo P e Q.

1.7.4 Os Canais para Cloreto

Os canais para cloreto atualmente recebem muita atenção. Até pouco tempo, as

condutâncias que transportavam esse íon eram incluídas, junto com outras condutâncias, na

classe de condutâncias de vazamento. Entretanto, esse tipo de canal apresenta diversas

22

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características e peculiaridades. Clark e colaboradores (1998) investigaram a possível

existência de uma corrente retificadora de cloreto ativada por hiperpolarização nos neurônios

dissociados do GCS de ratos. Eles encontraram que essa corrente existe neste tipo de tecido e

que é ativada em potenciais mais negativos do que -30 mV. Além do mais, essa corrente foi

bloqueada pela aplicação externa de cádmio ou zinco, da mesma maneira que a corrente de

cloreto ClC-2 expressa nos oócitos do Xenopus. Os pesquisadores ainda demonstraram a

presença do mRNA dos canais ClC-2 nos neurônios do GCS, a partir dos experimentos com

reação em cadeia da transcriptase-polimerase reversa, sugerindo que estes canais podem

funcionalmente ser expressos nessas células.

Com relação às propriedades desta condutância, ela apresenta uma dependência de

voltagem na faixa de -40 mV a -120 mV, como citado anteriormente, e Sacchi e

colaboradores (2003) mostraram também outras características. Eles demonstraram que

existem mecanismos que controlam a condutância do cloreto e que estão ativos na região do

potencial de membrana onde o neurônio é considerado passivo. Outra característica crucial é a

dependência de atividade neuronal prévia, isto é, a condutância do cloreto varia se

anteriormente a célula fosse estimulada. Portanto, de acordo com o trabalho dos autores, as

condutâncias do cloreto são diferentes se a célula foi estimulada previamente. Contudo, a

resposta a esse comportamento foi explicada em um trabalho posterior. Sacchi e

colaboradores (2007) observaram que a condutância ao cloreto variava de 20 a 33 µS após

disparos de PA. Ainda mais, com a depleção do sódio intracelular e seu sucessivo

restauramento por ionoforese, o neurônio foi levado de um estado estável de baixa

condutância ao cloreto para uma alta condutância (isto é, uma maior sensibilização dessa

condutância). A sensibilização da condutância ao cloreto foi ausente na concentração

intracelular de sódio ([Na]i) igual a zero, desenvolveu-se bem (com valor de condutância

chegando a 20 µS) com [Na]i igual a 15 mM e tendeu a valores de saturação (em torno de 60

µS) para valores maiores da [Na]i. Assim, de acordo com o trabalho de Sacchi e

colaboradores (2007), sob condições fisiológicas o disparo de PA e os períodos de silêncio

(onde não há resposta da célula) podem continuamente modular o grau de sensibilização da

condutância ao cloreto. Isto pode influenciar o controle do potencial de membrana natural

mediado pela condutância ao cloreto, resultando em um contínuo ajuste da excitabilidade

neuronal.

23

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1.8 Justificativa e Relevância do Estudo

O 1,8-cineol mostra-se um constituinte com ação distinta e peculiar em diversos

tecidos biológicos. Esse composto é encontrado em óleos essenciais de diversas plantas, com

muitos usos terapêuticos já citados. Entretanto, para a grande maioria das plantas, não existem

dados que confirmem cientificamente a sua utilidade terapêutica. É difícil encontrar na

literatura científica estudos que relacionem a ação tanto de óleos essenciais como de seus

constituintes sobre preparações do sistema nervoso e, até o momento, não foram encontrados

trabalhos que relatem a utilização da técnica do microeletrodo intracelular na investigação dos

efeitos destes constituintes em tecidos biológicos. Exceto pelos trabalhos que utilizam o 1,8-

cineol para deflagrar PA nos neurônios receptores olfatórios, outros trabalhos visam apenas

avaliar parâmetros comportamentais que compreendam mecanismos do sistema nervoso.

Portanto, é com o intuito de disponibilizar mais dados da ação do 1,8-cineol sobre o sistema

nervoso, que resolvemos investigar a ação deste composto sobre os parâmetros

eletrofisiológicos das preparações intactas dos neurônios do GCS de ratos.

24

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivos Gerais

Este trabalho tem como objetivo estudar os efeitos do 1,8-Cineol sobre parâmetros

eletrofisiológicos, bem como sobre a excitabilidade celular, em preparações intactas de

células nervosas do GCS de ratos.

2.2 Objetivos Específicos

• Demonstrar a ação do 1,8-Cineol nas concentrações de 6mM, 1mM e 0,1mM

sobre o curso temporal do PA;

• Determinar as alterações nos parâmetros associados ao PA, como amplitude,

inclinação máxima do ramo ascendente e descendente e duração do PA;

• Determinar as alterações dos parâmetros resistência de entrada da membrana

celular e potencial de repouso das células nervosas nestas concentrações;

• Elucidar os possíveis mecanismos de ação desse óleo sobre a excitabilidade

elétrica nas células nervosas desse tecido.

25

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3. METODOLOGIA

3.1 Preparo das Soluções e Drogas

A solução de Locke foi utilizada como solução nutritiva do tecido e possuía a seguinte

composição com concentrações em mM: NaCl 136; KCl 5,0; MgCl2 0,98; NaH2PO4 0,36;

NaHCO3 11,9; CaCl2 2,0 e glicose 5,0. Essa solução teve seu pH ajustado para 7,4. O preparo

da solução contendo o 1,8-Cineol se deu através da diluição desse composto em

Dimetilsulfóxido (DMSO), a 0,2% da solução total, e em solução de Locke. As concentrações

de 1,8-Cineol utilizadas neste estudo foram 6 mM, 1 mM e 0,1 mM. Os experimentos foram

realizados sob temperatura controlada entre 18 e 22°C no laboratório de eletrofisiologia do

Instituto Superior de Ciências Biomédicas (ISCB) da Universidade Estadual do Ceará

(UECE). Todos os sais e drogas utilizados foram de grau de pureza analítica e adquiridos da

Sigma Chemical (St Louis, MO, EUA) ou da Reagem (Rio de Janeiro, BRASIL).

3.2 Animais e Tecidos

Foram utilizados ratos (Rattus novergicus) albinos adultos, variedade Wistar, com

massa corporal entre 200 e 350 g, provenientes do biotério do ISCB da UECE. Os animais

foram mantidos em caixas de propileno à temperatura de 26 ± 2 ºC, com livre acesso a água e

ração. Os experimentos foram realizados obedecendo aos padrões éticos de manipulação e

utilização de animais experimentais estabelecidos pelo Comitê de Ética de Utilização de

Animais da UECE (número do protocolo: 06379067-0).

3.2.1 Gânglio Cervical Superior

Os animais foram sacrificados por concussão cerebral e em seguida medida a sua

massa. A dissecação cirúrgica foi realizada através de uma incisão longitudinal da pele na

face ventral do pescoço, seguida da remoção das glândulas, músculos e tecido adiposo para a

localização da traquéia e do ramo da artéria carótida que irriga o pescoço e a cabeça, pois

26

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estas estruturas servem como referencia para a localização dos GCS. Os GCS são

relativamente discretos em ratos, podendo ser identificados para sua dissecação e estão

posicionados na região onde a artéria carótida inicia sua bifurcação. Tanto o gânglio direito

como o esquerdo foram rapidamente retirados e depositados em uma placa de Petri contendo

solução Locke para permitir o seu fácil manuseio para eliminação de tecidos anexos e da

cápsula de tecido conjuntivo que o reveste. Os gânglios foram utilizados em experimentos no

mesmo dia ou permaneceram sob refrigeração (~4 ºC) por um período não maior que 24 h.

Não se observou alteração nos parâmetros eletrofisiológicos com a manutenção do tecido

nessas condições (seja ele utilizado prontamente ou após 24 h de sua dissecação).

Após os procedimentos acima descritos, o tecido foi transferido para uma câmara de

acrílico com fundo Silgard®, especialmente projetada para permitir a superfusão desse tecido.

Sua fixação ao fundo da câmara foi possível com o emprego de microalfinetes inoxidáveis,

tomando o cuidado de prendê-lo pelas extensões pré e pós-ganglionar. Para evitar que o

gânglio fosse empurrado pelo microeletrodo durante o impalamento das células,

microalfinetes foram colocados nas laterais do tecido, não o perfurando, mas atuando como

um esbarro.

A superfusão do tecido foi realizada por meio de fluxo mantido por gravidade,

ajustado entre 1 e 1,5 ml/min, com solução de Locke. Para minimizar os efeitos de

capacitância do eletrodo, o nível de líquido da câmara foi controlado na menor altura possível

acima da superfície do gânglio.

Para a fixação do GCS e observação dos procedimentos de impalamento, a câmara foi

montada em uma lupa (modelo COLLEGE STEREO, MLW Intermed, Schöneiche,

Alemanha), com ampliação máxima de 40×. Em particular, a ampliação de 20× foi suficiente

para a execução desses procedimentos. A movimentação do microeletrodo, bem como o

impalamento das células, foi feita com um micromanipulador hidráulico (modelo MWO-3,

Narishige International Inc., Long Island, NY, EUA).

As soluções para a superfusão foram colocadas em frascos mariote e conectadas à

câmara por meio de cânulas e válvulas three-way, que permitiram a troca de soluções com

rapidez e sem descontinuidade de fluxo. As montagens das conexões e frascos foram

otimizadas de forma a reduzir as distâncias entre os locais onde estavam as soluções e a

câmara, com o intuito de diminuir o lapso de tempo entre a abertura da válvula e o início da

exposição do tecido às outras soluções.

27

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Para a retirada de líquido da câmara foi utilizada uma bomba de infusão, com uma de

suas extremidades conectada a um estreito tubo (para agir como um sugador de líquido) e a

outra a um depósito de descarte de solução. Essa montagem foi instalada fora do local onde

estava a câmara, para evitar a adição de vibração ao sistema. Por fim, a solução que fica na

câmara considerada como meio extracelular foi aterrada e, portanto, atribuído valor do

potencial igual a zero.

3.3 Medidas Eletrofisiológicas

Os registros eletrofisiológicos foram feitos utilizando a técnica do microeletrodo

intracelular, no modo de clampeamento de corrente (current clamp). Neste modo há a fixação

do valor da corrente a ser injetada por essa técnica de forma a medir as variações de potencial

advindo do sistema. Os potenciais transmembrana foram obtidos através do uso de

microeletrodos confeccionados com vidro do tipo borossilicato (diâmetro externo e interno

1,0 e 0,5 mm, respectivamente), apresentando resistências na faixa de 40 a 90 MΩ. Foi

utilizado um puxador de micropipetas (modelo P-97, Sutter Instrument, Novato, CA, EUA),

para a preparação desses microeletrodos e, como etapa posterior, o preenchimento de sua

cavidade interna com uma solução de 95% de potássio 3M e 5% de citrato de potássio. Para a

conversão de corrente iônica em corrente elétrica, essa solução é posta em contato com um fio

de prata, revestido com uma fina camada de cloreto de prata, conectado a um eletrômero

(modelo AXOCLAMP 2B, Axon Instruments, Foster City, CA, EUA). Este eletrômero possui

algumas saídas para o monitoramento dos sinais, onde foram conectados osciloscópios: um

para o monitoramento do Vm e da corrente injetada (modelo 5111A, TEKTRONIX,

Beaverton, OR, EUA) e outro para monitoramento da carga e descarga do microeletrodo

(modelo HM303-6, HAMEG Instruments, Mainhausen, Alemanha). A aquisição dos registros

eletrofisiológicos foi feita através do uso de uma interface A/D (modelo DIGIDATA 1200,

Axon Intruments, Foster City, CA, EUA) controlada por um software (CLAMPEX, versão

6.0) e os dados armazenados em computador. A Figura 05 ilustra essa montagem.

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(C)

(B)

A

(A)

Figura 05: Montagem do aparato experimental necessário para o registro dos parâmetros eletrofisiológicos descrito nesse trabalho. O

gânglio é fixado no fundo de uma câmara de acrílico (A), com Sylgard® e os dados dos parâmetros eletrofisiológicos são enviados para um

eletrômero (B). Este eletrômero possui saídas para o monitoramento dos sinais, onde foram conectados osciloscópios (D). A aquisição dos

registros eletrofisiológicos foi feita através do uso de uma interface analógico/digital (C) controlada por um software e os dados armazenados em

computador (E). Um gerador de sinais (F) foi acoplado ao sistema para determinar a freqüência com a qual os dados eram gerados e coletados.

29

(E)

(D)

(F)

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Após o impalamento de uma célula, o Vm foi considerado como sendo a deflexão

máxima de voltagem medida entre o valor do potencial na ponta do eletrodo e o valor do

potencial no meio extracelular (potencial nulo). Devido à diferença de mobilidade entre os

íons potássio e cloreto, freqüentemente havia a formação de um potencial de ponta no

eletrodo de forma que, nas análises, subtraiu-se do valor do potencial medido o valor do

potencial de ponta estabelecido. O valor desse potencial de ponta era verificado após a

retirada do microeletrodo da célula. Os sinais foram registrados ora pelo modo Bridge (com

freqüência de corte de 30 kHz), ora pelo modo descontínuo de clampeamento de corrente (do

inglês Discontinnuous Current Clamp [DCC], freqüência de amostragem de 1-2 kHz e

freqüência de corte de 3 kHz), pois o confronto dos dados desses dois modos permite uma

análise mais fidedigna dos parâmetros eletrofisiológicos.

3.4 Análise dos Dados e Estatística

A análise dos dados foi feita com os softwares Clampfit® (versão 8.1.0.12, Axon

Instruments) e Sigmaplot® (versão 9.01, Systat Software). As células foram consideradas

significativas nesse trabalho quando, ao final do período de estabilização (2,5 a 5 min), o

potencial de repouso apresentasse valor mais negativo que -40 mV e resistência de entrada da

membrana superior a 30 MΩ. Os resultados estão representados no formato média ± erro

padrão da média (e.p.m.), onde a variável n representa o número de experimentos feitos. Para

a comparação de dois grupos, utilizou-se o teste t de Student pareado e não pareado ou o teste

de Wilcoxon quando os dados não apresentaram normalidade de distribuição. Além do mais,

os testes de Análise de Variância (ANOVA) também foram executados sobre os grupos de

dados que apresentavam normalidade de distribuição e com valores iguais de variância, com a

utilização dos testes de comparação múltipla de Student-Newman-Keuls ou de Fisher. Já o

teste ANOVA de Kruskal-Wallis foi realizado quando estes dados possuíam diferentes

valores de variância ou não apresentavam normalidade de distribuição. Foram considerados

estatisticamente significantes os resultados que apresentaram a prevalência menor que 5%

(p<0,05).

30

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3.4.1. Parâmetros Eletrofisiológicos

Os parâmetros eletrofisiológicos estudados neste trabalho foram: o potencial de

repouso celular, a resistência de entrada da membrana celular, o curso temporal da ação do

1,8-cineol sobre o PA, a amplitude do PA, a inclinação máxima da voltagem em relação ao

tempo (dv/dtmáx) do ramo ascendente e descendente do PA e a duração desse potencial. Como

já citado, o potencial de repouso foi determinado como sendo uma deflexão estável do Vm

após o período de estabilização da célula. A resistência de membrana foi determinada pela lei

de ohm, V=R·i, onde V representa a diferença de voltagem entre o valor máximo alcançado

do potencial transmembrana devido à injeção de uma corrente e o potencial de repouso. O

decurso temporal do PA foi determinado através das sucessivas comparações entre os

traçados dos episódios sob a ação do 1,8-cineol e a amplitude desse potencial determinada

pela diferença entre o valor de pico e o potencial de repouso. As inclinações máximas dos

ramos ascendente e descendente foram determinadas pela razão entre a variação da voltagem

de dois pontos próximos e a variação de tempo entre esses dois pontos. Por fim, a duração do

PA foi determinada como o intervalo de tempo quando o potencial de ação, no ramo

ascendente e descendente, alcança 50% do valor de sua amplitude.

3.5 Protocolos Experimentais

Para o estudo da ação do 1,8-Cineol sobre a excitabilidade elétrica das células do GCS

foram utilizados dois protocolos experimentais distintos, mas apresentando pontos em

comum. Para os dois protocolos foi utilizado tanto o modo Bridge como o modo DCC e o

tempo entre os episódios (sweeps) eram de 1 s (freqüência de 1 Hz). Essa freqüência foi

determinada por um gerador de sinais que estava acoplado ao sistema, de forma que atuava

como um sincronizador desses equipamentos (também chamado de trigger). Portanto, os

protocolos podiam ser montados utilizando tanto comandos externos (através do gerador de

sinais, o trigger externo) como de comandos internos (através do uso do software no

computador, o trigger interno). O primeiro protocolo foi montado apenas com comandos

externos como demonstrado na figura 06. A duração total do episódio desse protocolo foi de

260 ms, com freqüência de amostragem de 20 kHz. A janela de pulso de corrente (tempo no

qual havia a injeção de corrente no sistema) tinha, aproximadamente, duração de 100 ms e

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amplitude de -100 pA. Esse protocolo auxiliava no impalamento das células, pois o valor do

potencial registrado na ponta do eletrodo podia variar de valores positivos a negativos (em

relação ao potencial nulo da solução na câmara) indicando até um falso impalamento. Com a

janela de pulso de corrente de amplitude negativa, ao penetrar na célula, havia o carregamento

da capacitância de membrana, denunciado pela curva exponencial no início e no fim da janela

de pulso da resposta da voltagem representado na Figura 06. Este comportamento confirmava

o verdadeiro impalamento da célula. Além do mais, parâmetros eletrofisiológicos da fase de

estabilização foram obtidos, como resistência de membrana e potencial de repouso.

Figura 06: Protocolo da fase de impalamento e estabilização montado com comandos

externos. A duração total do episódio do protocolo foi de 260 ms, com freqüência de

amostragem de 20 kHz, amplitude do pulso hiperpolarizante igual a -100 pA e largura de 100

ms. Os traçados mostrados estão no modo DCC.

O segundo protocolo foi montado com comandos internos e externos, como mostra a

Figura 07. A duração total do episódio foi de 960 ms dividido em duas faixas de freqüência de

amostragem: de 0 a 192 ms a 20 kHz e de 193 a 960 ms a 5 kHz. Estas duas faixas de

amostragem foram necessárias para mostrar com maior clareza algumas propriedades do PA.

Duas janelas de pulsos de corrente foram criadas. A janela de pulso de corrente determinada

pelos comandos internos estava localizada na faixa de 193 a 960 ms, com duração de 300 ms

e amplitude de valor fixo igual a -100 pA. Já a janela de pulso de corrente determinada pelos

comandos externos estava localizada na faixa de 0 a 192 ms, com duração de,

aproximadamente, 100 ms. Esta janela de pulso possuía amplitude ajustável, podendo ser

modificada a qualquer momento. Assim, este outro protocolo foi utilizado nas outras fases dos

32

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experimentos. Essas fases, sob este protocolo, foram definidas como: estabilização;

determinação do limiar de geração do PA; exposição ao 1,8-Cineol; lavagem.

Figura 07: Protocolo para as outras fases do experimento montado com comandos

internos e externos. A duração total do episódio foi de 960 ms dividido em duas faixas de

freqüência de amostragem: de 0 a 192 ms a 20 kHz e de 193 a 960 ms a 5 kHz. Na faixa de

amostragem a 20 kHz, a amplitude do pulso era ajustável, enquanto a amplitude do pulso na

faixa de 5 kHz possuía valor fixo e igual a -100 pA. Na figura, esta fase representa a

determinação do limiar de geração do PA. Os traçados mostrados estão no modo BRIDGE.

Ainda mais, foi possível executar a injeção de corrente, diferente das correntes nas

janelas dos pulsos citados anteriormente, em todo o protocolo. Para isso, utilizamos comandos

de injeção de corrente de maneira contínua (do inglês, Direct Current Command [DC

Command]) de modo que uma corrente escolhida pelo usuário, de valor e polaridade variável,

pudesse ser injetada na célula para manter o Vm em um novo valor fixo (análogo a um

clampeamento de voltagem). Utilizamos essa manobra nas células onde houve modificação

do potencial de repouso celular ao final da exposição com o 1,8-cineol. O objetivo era voltar o

Vm ao valor do potencial de repouso celular na estabilização e realizar medições nas

propriedades elétricas dos neurônios sob esta nova condição e ainda com o tecido sob a ação

da droga.

33

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4. RESULTADOS

4.1 Ação do 1,8-Cineol sobre o Potencial de Ação

4.1.1 Curso Temporal da Inibição e Recuperação do Potencial de Ação

O 1,8-cineol na concentração de 6 mM apresentou efeito de inibição do PA e alteração

nos parâmetros eletrofisiológicos. Todas as células nessa concentração apresentaram inibição

do PA (n=12). Nas células onde foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo (até uma hora após a administração da droga) houve uma recuperação dos parâmetros

eletrofisiológicos como também do curso temporal do PA (n=5). A Figura 08 (a) demonstra

esse parâmetro de inibição do PA para essa concentração, com tempo médio de inibição de

159,75 ± 34,73 s após o início da abertura da válvula de exposição ao 1,8-cineol. Esse tempo

de inibição auxiliou na determinação do tempo de exposição à droga para as outras doses

empregadas (1 mM e 0,1 mM). Já a Figura 08 (b) apresenta a recuperação da inibição do PA,

com tempo de recuperação de até 45 min de lavagem.

Já para a concentração de 1 mM, bem como para a concentração de 0,1 mM, o tempo

de exposição do tecido à droga foi de 150 s, estipulado a partir da média do tempo de inibição

do PA para a concentração de 6 mM. Houve células que, assim como as células expostas ao

1,8-cineol na concentração de 6 mM, demonstraram inibição do PA (n=7) e outras que não

apresentaram esse efeito (n=8) ao final da exposição à droga. Os traçados dessa inibição se

assemelham aos da Figura 08 (a).

Para a concentração de 0,1 mM o curso temporal do PA foi avaliado tanto com o uso

do veículo solubilizante do 1,8-cineol, o DMSO, como para a solução com a droga sem esse

veículo. O curso temporal do PA não apresentou modificações tanto com a solução contendo

o veículo do 1,8-cineol (n=8) como com a solução sem o veículo (n=6) ao final da exposição

do tecido ao 1,8-cineol (final dos 150 s de exposição).

34

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(a)

Curso temporal da inibição do potencial de ação sob ação do 1,8-Cineol [6mM] E

pisó

dios

1 a

o 26

8 (In

terv

alo

de 2

7 ep

isód

ios)

0 20 40 60 80 100 120

Figura 08: Curso temporal da inibição e recuperação do PA sob a ação do 1,8-cineol n

concentração de 6 mM em uma mesma célula. Em (a) está mostrado a inibição do PA, em

(b) a recuperação dessa inibição e em (c) estão mostrados os traçados do primeiro e do últim

episódio (esquerda e centro, respectivamente) do curso temporal mostrado em (a) e do últim

episódio (direita) mostrado em (b).

a

o

o

(c)

(b)

Tem140

po (ms)160 180 200 220 240 260 280 300

Curso temporal da recuperação da inibição do potencial de ação sob a ação do 1,8-Cineol [6mM]

Epi

sódi

os 1

ao

600

(Inte

rval

o de

60

epis

ódio

s)

0 20 40 60 80 100 120Tem140

po (ms)160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo (ms)100 200 300

Pote

ncia

l (m

V)

40

-60

-40

-20

20Tempo (ms)

100 200 300

Pote

ncia

l (m

V)

40

-60

-40

-20

20Tempo (ms)

100 200 300

Pote

ncia

l (m

V)

20

-20

-40

-60

40

35

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4.1.2 Amplitude do Potencial de Ação

Na concentração de 6 mM, as resposta de voltagem das células analisadas eram PA

que possuíam, em média, amplitude igual a 64,89 ± 4,55 mV (n=12). Durante a aplicação do

1,8-cineol, a amplitude da resposta foi decaindo progressivamente e modificada, ao final da

aplicação da droga, para uma resposta passiva com amplitude igual a 14,86 ± 1,21 mV

(n=12). Todas as células sob esta concentração tiveram bloqueio do PA. Além do mais, estes

dados apresentaram diferença estatística significante (p≤0,001, teste-t de Student pareado).

Para as células em que foi possível manter o impalamento durante longo tempo (até uma hora

após a aplicação da droga) houve recuperação desse parâmetro durante a lavagem (n=5). Os

valores da amplitude na estabilização, ao final da aplicação do cineol e ao final da lavagem

foram 67,88 ± 9,12 mV, 14,80 ± 1,28 mV e 61,20 ± 9,74 mV, respectivamente (Figura 09).

Para estes dados, houve diferença estatística significante apenas da fase do cineol em relação

às demais fases (p<0,001, ANOVA, Teste de Fisher).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Ampl

itude

(mV)

0

20

40

60

80

100

*

Figura 09: Amplitude do PA na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM,

n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o impalamento foi mantido por um

longo tempo. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados

e as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a

mediana dos valores da amplitude do PA.* diferença estatisticamente significante em relação

às fases de estabilização e final da lavagem (p<0,001, ANOVA, Teste de Fisher).

Para a concentração de 1 mM, como relatado anteriormente, houve células que

demonstraram inibição do PA (n=7) e conseqüentemente redução estatisticamente significante

36

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da amplitude do PA (p≤0,001, teste-t de Student pareado). A amplitude do PA e da resposta

local desse grupo de células na fase de estabilização e ao final da exposição ao 1,8-cineol foi

58,75 ± 3,40 mV e 17,92 ± 0,96 mV, respectivamente. A Figura 10 mostra os dados das

células onde não houve essa inibição do PA ao final da exposição ao 1,8-cineol. A amplitude

na fase de estabilização, final da aplicação do 1,8-cineol e final da lavagem foi 81,69 ± 3,10

mV (n=8), 71,13 ± 5,17 mV (n=8), 72,37 ± 8,18 mV (n=6), respectivamente, e não houve

diferença estatística significante entre as fases do experimento (p=0,318, ANOVA).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Ampl

itude

(mV)

40

50

60

70

80

90

100

110

Figura 10: Amplitude do PA na estabilização (n=8), sob a ação do 1,8-cineol (1 mM,

n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a inibição do PA. No

gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas

pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana dos

valores da amplitude do PA. Para essa concentração, não houve diferença estatística

significante dos dados entre as fases do experimento (p=0,318, ANOVA).

Já na concentração de 0,1 mM, todas as células estudadas (n=14) não apresentaram

redução estatisticamente significante da amplitude entre as diversas fases do experimento

(p=0,836, ANOVA). Os valores da amplitude, nessa concentração, para a estabilização, final

da aplicação do 1,8-cineol e final da lavagem foi 71,36 ± 2,96 mV (n=14), 71,12 ± 3,02 mV

(n=14), 74,02 ± 4,96 mV (n=9), respectivamente. Ainda mais, foi investigado se o veículo

solubilizante do 1,8-cineol, o DMSO, possuía algum efeito sobre o tecido. Tanto as células

onde foi administrada a concentração de 0,1 mM da droga na presença do veículo como a

concentração na sua ausência não apresentaram diferença estatística significante (p=0,507 e

p=0,531, teste-t de Student pareado para a concentração com e sem o veículo,

37

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respectivamente). Os dados da amplitude sob a ação da droga com DMSO estão representados

na Figura 11 (a) e seus valores na estabilização e final da ação do 1,8-cineol foi 67,70 ± 2,77

mV (n=8) e 68,58 ± 2,70 mV (n=8), respectivamente. Sob a ação da droga sem DMSO,

mostrado na Figura 11 (b), os valores da amplitude na estabilização foi 76,23 ± 5,53 mV

(n=6) e ao final da ação do 1,8-cineol, 74,50 ± 6,14 mV (n=6).

Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Ampl

itude

(mV)

50

60

70

80

90

100

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Ampl

itude

(mV)

50

60

70

80

90

100

(b) (a)

Figura 11: Amplitude do PA na estabilização (n=8, com e n=6 sem DMSO) e sob a ação

do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a concentração de 0,1 mM

da droga. Em (a) está mostrado a amplitude do PA das células com exposição ao 1,8-cineol

mais o solubilizante e em (b) sem o DMSO. Nos gráficos, os limites das caixas representam o

25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

respectivamente, a média e a mediana dos valores da amplitude do PA. Para essa

concentração, não houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do

experimento tanto na presença do veículo como na ausência (p=0,507 e p=0,531, teste-t de

Student pareado para a concentração com e sem o veículo, respectivamente).

Os dados da amplitude do PA, em suas diferentes fases e sob diferentes concentrações,

estão sumarizados na Tabela 01.

38

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Tabela 01: Amplitude do PA (mV) para diferentes fases do experimento sob a ação do

1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos como média ± e.p.m. e o valor de n

representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

1,8-cineol

Final da

lavagem

todas as células 64,89 ± 4,55

(n=12)

14,86 ± 1,21

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação 67,88 ± 9,12

(n=5)

14,80 ± 1,28

(n=5)2

61,20 ± 9,74

(n=5)

com inibição do PA58,75 ± 3,40

(n=7)

17,92 ± 0,96

(n=7)1 * *

1 mM

sem inibição do PA 81,69 ± 3,10

(n=8)

71,13 ± 5,17

(n=8)

72,37 ± 8,18

(n=6)

todas as células 71,36 ± 2,96

(n=14)

71,12 ± 3,02

(n=14) * * *

com DMSO 67,70 ± 2,77

(n=8)

68,58 ± 2,70

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO 76,23 ± 5,53

(n=6)

74,50 ± 6,14

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização; 2 dado estatisticamente significante em

relação as outras fases;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

39

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4.1.3 Inclinações Máximas (dv/dtmáx) do Potencial de Ação no Ramo Ascendente e

Descendente

As inclinações máximas (dv/dtmáx) do ramo ascendente e descendente do PA foram

estudadas sob a ação do 1,8-cineol. Na concentração de 6 mM, as células analisadas

possuíam, em média, dv/dtmáx de ramo ascendente igual a 41,46 ± 7,78 mV/ms (n=12). Após a

aplicação da droga, como o PA foi completamente inibido nessa concentração, não há valor

da dv/dtmáx do ramo ascendente e, portanto, atribuído o valor zero (n=12). No grupo de células

onde o impalamento pode ser mantido por um longo tempo houve recuperação desse

parâmetro e a dv/dtmáx do ramo ascendente teve valor igual a 45,50 ± 14,06 mV/ms na

estabilização (n=5), valor igual a zero ao final da aplicação da droga (n=5) e valor igual a

41,00 ± 16,31 mV/ms ao final da lavagem (n=5). Estes dados, mostrados na Figura 12,

apresentaram diferença estatística significante apenas da fase de exposição ao 1,8-cineol em

relação às demais e entre a fase de estabilização e final da lavagem não houve diferença

estatística significante (p<0,05, ANOVA, Teste de Student-Newman-Keuls).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

0

20

40

60

80

100

*

Figura 12: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA na estabilização (n=5), sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o

impalamento foi mantido por um longo tempo. No gráfico, os limites das caixas

representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior

representam, respectivamente, a média e a mediana dos valores da inclinação máxima do

ramo ascendente do PA. * diferença estatisticamente significante em relação às fases de

estabilização e final da lavagem (p<0,05, ANOVA, Teste de Student-Newman-Keuls).

40

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Para a dv/dtmáx do ramo descendente do PA na concentração de 6 mM, as células

analisadas possuíam, em média, valor igual a -24,17 ± 3,32 mV/ms (n=12). Assim como na

dv/dtmáx do ramo ascendente, após o final da aplicação do 1,8-cineol, o valor desse parâmetro

para o ramo descendente foi zero (n=12). No grupo de células onde o impalamento pode ser

mantido por um longo tempo, a dv/dtmáx do ramo descendente teve valor igual a -22,00 ± 3,74

mV/ms na estabilização (n=5), valor igual a zero ao final da aplicação da droga (n=5) e valor

igual a -20,50 ± 2,78 mV/ms ao final da lavagem (n=5). Os dados da inclinação para essa

concentração mostrado na Figura 13 apresentaram diferença estatística significante apenas da

fase de exposição do 1,8-cineol em relação às demais e entre a fase de estabilização e final da

lavagem não houve diferença estatística significante (p<0,05, ANOVA, Teste de Student-

Newman-Keuls).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

*

Figura 13: Inclinação máxima do ramo descendente do PA na estabilização (n=5), sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o

impalamento foi mantido por um longo tempo. No gráfico, os limites das caixas

representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior

representam, respectivamente, a média e a mediana dos valores da inclinação máxima do

ramo descendente do PA. * diferença estatisticamente significante em relação às fases de

estabilização e final da lavagem (p<0,05, ANOVA, Teste de Student-Newman-Keuls).

Na concentração de 1 mM as células que apresentaram inibição do PA tiveram o valor

da dv/dtmáx do ramo ascendente na estabilização igual a 40,00 ± 5,77 mV/ms (n=7) e valor

igual a zero após a exposição à droga (n=7). Já para as células que não apresentaram essa

inibição, o valor da dv/dtmáx do ramo ascendente na estabilização, ao final da exposição do

41

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1,8-cineol e ao final da lavagem foi 71,25 ± 10,93 mV/ms (n=8), 52,50 ± 7,50 mV/ms (n=8) e

50,00 ± 9,31 mV/ms (n=6), respectivamente. Mesmo com a redução do valor da inclinação na

fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, estes dados não apresentaram

diferença estatística significante entre as três fases do experimento (p=0,239, ANOVA). A

Figura 14 mostra os dados dessa inclinação nas células sem inibição do PA para a

concentração de 1 mM.

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

20

40

60

80

100

120

Figura 14: Inclinação do ramo ascendente do PA na estabilização (n=8), sob a ação do

1,8-cineol (1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a

inibição do PA. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos

dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a

mediana dos valores da inclinação máxima do ramo ascendente do PA. Para essa

concentração, não houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do

experimento (p=0,239, ANOVA).

Para o ramo descendente, o valor da dv/dtmáx no grupo de células com inibição do

potencial foi -30,00 ± 3,09 mV/ms (n=7) na estabilização e zero na fase final da exposição ao

1,8-cineol (n=7). Nas células onde não houve essa inibição do PA nessa concentração, o valor

da dv/dtmáx do ramo descendente na estabilização, ao final da aplicação do 1,8-cineol e ao

final da lavagem foi -38,75 ± 2,95 mV/ms (n=8), -35,00 ± 2,67 mV/ms (n=8) e -38,33 ± 3,07

mV/ms (n=6) respectivamente. Estes dados também não apresentaram diferença estatística

significante entre as fases do experimento (p=0,386, ANOVA) e estão mostrados na

Figura 15.

42

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Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

-55

-50

-45

-40

-35

-30

-25

-20

Figura 15: Inclinação do ramo descendente do PA na estabilização (n=8), sob a ação do

1,8-cineol (1 mM, n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a

inibição do PA. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos

dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a

mediana dos valores da inclinação do ramo descendente do PA. Para essa concentração, não

houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do experimento (p=0,386,

ANOVA).

Para a concentração de 0,1 mM, os valores da dv/dtmáx do ramo ascendente do PA na

estabilização e ao final da aplicação da droga foi 63,57 ± 5,70 mV/ms (n=14) e 60,71 ± 5,97

mV/ms (n=14), não demonstrando diferença estatística significante entre essas fases (p=

0,461, teste de Wilcoxon). Nas células onde foi administrado o 1,8-cineol com o DMSO, os

valores desse parâmetro também não apresentaram diferença estatística significante (p=0,815,

teste-t de Student pareado), bem como nas células onde não foi utilizado esse solubilizante

(p=0,296, teste-t de Student pareado). Os valores da dv/dtmáx do ramo ascendente do PA nas

células onde foi utilizado o DMSO na estabilização e ao final da exposição do 1,8-cineol foi

60,00 ± 3,27 mV/ms (n=8) e 58,75 ± 5,15 mV/ms (n=8), respectivamente. Nas células onde

não foi utilizado o DMSO, o valor da dv/dtmáx do ramo ascendente na estabilização e ao final

da exposição ao 1,8-cineol foi 68,33 ± 13,02 mV/ms (n=6) e 63,33 ± 12,82 mV/ms (n=6),

respectivamente. As Figuras 16 (a) e (b) mostram esses dados das inclinações sob a ação do

1,8-cineol com (a) e sem solubilizante (b).

43

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Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

20

40

60

80

100

120

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

20

40

60

80

100

120

(b) (a)

Figura 16: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA na estabilização (n=8, com e

n=6 sem DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células

sob a concentração de 0,1 mM da droga. Em (a) está mostrado a dv/dtmáx do ramo

ascendente do PA das células com exposição ao 1,8-cineol mais o solubilizante e em (b) sem

o DMSO. Nos gráficos, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e

as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana

dos valores da inclinação máxima do ramo ascendente do PA. Para essa concentração, não

houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do experimento tanto com o

veículo como sem (p=0,815 e p=0,296 teste-t de Student pareado para a concentração com e

sem o veículo, respectivamente).

Já para o ramo descendente, o valor desse parâmetro em todas as células estudadas sob

essa concentração na estabilização e ao final da aplicação da droga foi -45,00 ± 3,74 mV/ms

(n=14) e -42,14 ± 3,95 mV/ms (n=14), não demonstrando diferença estatística significante

(p=0,391, teste-t de Student pareado). As células sob a administração do 1,8-cineol com o

DMSO tiveram o valor da dv/dtmáx do ramo descendente igual a -50,00 ± 4,63 mV/ms na

estabilização (n=8) e -47,50 ± 5,26 mV/ms ao final da exposição ao óleo (n=8). As células

sob a administração do 1,8-cineol sem o DSMO tiveram o valor da dv/dtmáx do ramo

descendente igual a -38,33 ± 5,43 mV/ms na estabilização (n=6) e -35,00 ± 5,00 mV/ms ao

final da exposição ao 1,8-cineol (n=6). Estes dados estão demonstrados na Figura 17 (a) com

o uso do DMSO e na Figura 17 (b) sem o uso do veículo e não apresentaram diferenças

estatísticas significantes em relação aos seus respectivos grupos (p=0,668, teste-t de Student,

para as células com o uso do DMSO e p=0,500, teste de Wilcoxon, para as células sem o uso

do DMSO).

44

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Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

-70

-60

-50

-40

-30

-20

-10

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

-70

-60

-50

-40

-30

-20

-10

(b) (a)

Figura 17: Inclinação máxima do ramo descendente do PA na estabilização (n=8, com e

n=6 sem DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células

sob a concentração de 0,1 mM da droga. Em (a) está mostrado a dv/dtmáx do ramo

descendente do PA das células com exposição ao 1,8-cineol mais o solubilizante e em (b) sem

o DMSO. Nos gráficos, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e

as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana

dos valores da inclinação máxima do ramo descendente do PA. Para essa concentração, não

houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do experimento tanto com o

veículo como sem (p=0,668, teste-t de Student, para as células com o uso do DMSO e

p=0,500, teste de Wilcoxon, para as células sem o uso do DMSO).

Os dados das inclinações máximas, tanto do ramo ascendente com do descendente do

PA em suas diferentes fases e sob diferentes concentrações, estão sumarizados na Tabela 02 e

Tabela 03.

45

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Tabela 02: Inclinação máxima do ramo ascendente do PA (mV/ms) para diferentes fases

do experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos como

média ± e.p.m. e o valor de n representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

1,8-cineol

Final da

lavagem

todas as células 41,46 ± 7,78

(n=12)

0,00 ± 0,00

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação 45,50 ± 14,06

(n=5)

0,00 ± 0,00

(n=5)2

41,00 ± 16,31

(n=5)

com inibição do PA 40,00 ± 5,77

(n=7)

0,00 ± 0,00

(n=7)1 * *

1 mM

sem inibição do PA 71,25 ± 10,93

(n=8)

52,50 ± 7,50

(n=8)

50,00 ± 9,31

(n=6)

todas as células 63,57 ± 5,70

(n=14)

60,71 ± 5,97

(n=14) * * *

com DMSO 60,00 ± 3,27

(n=8)

58,75 ± 5,15

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO 68,33 ± 13,02

(n=6)

63,33 ± 12,82

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização; 2 dado estatisticamente significante em

relação as outras fases;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

46

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Tabela 03: Inclinação máxima do ramo descendente do PA (mV/ms) para diferentes

fases do experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos

como média ± e.p.m. e o valor de n representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

1,8-cineol

Final da

lavagem

todas as células -24,17 ± 3,32

(n=12)

0,00 ± 0,00

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação -22,00 ± 3,74

(n=5)

0,00 ± 0,00

(n=5)2

-20,50 ± 2,78

(n=5)

Com inibição do PA -30,00 ± 3,09

(n=7)

0,00 ± 0,00

(n=7)1 * *

1 mM

Sem inibição do PA -38,75 ± 2,95

(n=8)

-35,00 ± 2,67

(n=8)

-38,33 ± 3,07

(n=6)

todas as células -45,00 ± 3,74

(n=14)

-42,14 ± 3,95

(n=14) * * *

com DMSO -50,00 ± 4,63

(n=8)

-47,50 ± 5,26

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO -38,33 ± 5,43

(n=6)

-35,00 ± 5,00

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização; 2 dado estatisticamente significante em

relação as outras fases;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

47

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4.1.4 Duração do Potencial de Ação

A média da duração do PA na concentração de 6 mM para todas as células (n=12) foi

de 5,15 ± 0,49 ms. Após a aplicação da droga o PA foi inibido e, portanto, não há duração

desse potencial (valor representado por zero). No grupo de células onde o impalamento pode

ser mantido por um longo tempo houve recuperação desse parâmetro e a duração na

estabilização, após a aplicação da droga, e no fim da lavagem foi 4,66 ± 0,59 ms (n=5), zero

(n=5) e 4,98 ± 0,31 ms (n=5), respectivamente. Estes dados apresentaram diferença estatística

significante da fase de exposição ao óleo em relação às demais (p<0,05, ANOVA, teste de

Student-Newman-Keuls) e estão mostrados na Figura 18.

Fases

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Dur

ação

(ms)

0

1

2

3

4

5

6

7

*

Figura 18: Duração do PA na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5)

e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o impalamento foi mantido por um

longo tempo. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados

e as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a

mediana dos valores da duração do PA. * diferença estatisticamente significante em relação às

fases de estabilização e final da lavagem (p<0,05, ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls).

Na concentração de 1 mM as células que apresentaram inibição do PA tiveram o valor

da duração na estabilização igual a 5,11 ± 0,38 ms (n=7) e ao final da exposição ao 1,8-cineol

igual a zero (n=7). Na Figura 19 há a demonstração dos dados das células que não

apresentaram essa inibição e o valor da duração do PA na fase de estabilização, ao final da

exposição ao 1,8-cineol e ao final da lavagem foi de 4,91 ± 0,48 ms (n=8), 4,94 ± 0,47 ms

(n=8) e 6,28 ± 1,37 ms (n=6), respectivamente. Para estes dados, não foi encontrada diferença

48

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estatística significante entre as fases do experimento (p=0,552, ANOVA, teste de Kruskal-

Wallis).

9Figura 1

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Dur

ação

(ms)

3

4

5

6

7

8

9

10

: Duração do PA na estabilização (n=8), sob a ação do 1,8-cineol (1 mM, n=8) e

a todas as células

estudad

ao final da lavagem (n=6) para as células que não tiveram a inibição do PA. No gráfico,

os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e

contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana dos valores da

duração do PA. Para essa concentração, não houve diferença estatística significante dos dados

entre as fases do experimento (p=0,552, ANOVA, teste de Kruskal-Wallis).

Já para a concentração de 0,1 mM, os valores da duração do PA par

as na estabilização, ao final da exposição ao 1,8-cineol e no final da lavagem foi,

respectivamente, 4,12 ± 0,26 ms (n=14), 4,11 ± 0,31 ms (n=14) e 4,29 ± 0,38 ms (n=9). Estes

dados não apresentaram diferença estatística significante entre as três fases do experimento

(p=0,914, ANOVA). Nas células onde foi administrado o 1,8-cineol com o solubilizante, os

valores da duração na estabilização e após a exposição à droga não apresentaram diferença

estatística significante (p=0,196, teste-t de Student pareado), bem como nas células onde não

foi administrado o DMSO (p =0,625, teste de Wilcoxon). Esses valores, mostrados na Figura

20 (a), da duração do potencial nas células onde foi utilizado a droga mais o solubilizante,

foram iguais a 4,40 ± 0,36 ms (n=8) na estabilização e 4,17 ± 0,35 ms (n=8) na fase final da

exposição ao 1,8-cineol. Nas células onde não foi utilizado o 1,8-cineol com o solubilizante, o

valor da duração na estabilização e ao final da exposição ao óleo foi de 3,74 ± 0,33 ms (n=6) e

4,02 ± 0,59 ms (n=6), respectivamente, e esses dados estão mostrados na Figura 20 (b).

49

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Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Dur

ação

(ms)

2

3

4

5

6

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Dur

ação

(ms)

2

3

4

5

6

(b) (a)

Figura 20: Duração do PA na estabilização (n=8, com e n=6 sem DMSO) e sob a ação do

1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a concentração de 0,1 mM da

droga. Em (a) está mostrado a duração do PA das células com exposição ao 1,8-cineol mais o

solubilizante e em (b) sem o DMSO. Nos gráficos, os limites das caixas representam o 25° e o

75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

respectivamente, a média e a mediana dos valores da duração do PA. Para essa concentração,

não houve diferença estatística significante dos dados entre as fases do experimento tanto com

o veículo como sem (p=0,196, teste-t de Student pareado, e p=0,625, teste de Wilcoxon para a

concentração com e sem o veículo, respectivamente).

Os dados da duração do PA, em suas diferentes fases e sob diferentes concentrações,

estão sumarizados na Tabela 04.

50

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Tabela 04: Duração do PA (ms) para diferentes fases do experimento sob a ação do 1,8-

cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos como média ± e.p.m. e o valor de n

representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

1,8-cineol

Final da

lavagem

todas as células 5,15 ± 0,49

(n=12)

0,00 ± 0,00

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação 4,66 ± 0,59

(n=5)

0,00 ± 0,00

(n=5)2

4,98 ± 0,31

(n=5)

com inibição do PA 5,11 ± 0,38

(n=7)

0,00 ± 0,00

(n=7)1 * *

1 mM

sem inibição do PA 4,91 ± 0,48

(n=8)

4,94 ± 0,47

(n=8)

6,28 ± 1,37

(n=6)

todas as células 4,12 ± 0,26

(n=14)

4,11 ± 0,31

(n=14) * * *

com DMSO 4,40 ± 0,36

(n=8)

4,17 ± 0,35

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO 3,74 ± 0,33

(n=6)

4,02 ± 0,59

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização; 2 dado estatisticamente significante em

relação as outras fases;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

51

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4.2 Ação do 1,8-Cineol sobre a Resistência de Entrada da Membrana Celular

Nesta etapa, estudamos o comportamento da resistência de entrada da membrana

celular sob a ação do 1,8-cineol. Na concentração de 6 mM, todas as células investigadas

(n=12) tiveram uma redução do valor desse parâmetro na fase final da exposição à droga, com

células mostrando uma recuperação desse valor ao final da lavagem (n=5). A média da

resistência de entrada para todas as células (n=12) na fase da estabilização e ao final da

exposição ao 1,8-cineol foi 69,92 ± 11,13 MΩ e 41,21 ± 3,49 MΩ, respectivamente, e estes

valores mostraram diferença estatística significante (p≤0,001, teste de Wilcoxon). A Figura 21

apresenta os dados das células onde o impalamento pode ser mantido por um longo tempo e o

valor da resistência na estabilização, ao final da exposição ao 1,8-cineol e ao final da lavagem

foi, respectivamente, 47,51 ± 10,78 MΩ (n=5), 34,05 ± 2,94 MΩ (n=5) e 51,35 ± 6,43 MΩ

(n=5). Note que estes dados não se mostraram estatisticamente significantes entre si (p=0,265,

ANOVA, teste de Fisher).

Figura 21: Resistência d

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Res

istê

ncia

de

entra

da (M

ohm

)

10

20

30

40

50

60

70

80

90

e entrada da membrana celular na estabilização (n=5), sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o

impalamento foi mantido por um longo tempo. No gráfico, os limites das caixas

representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior

representam, respectivamente, a média e a mediana dos valores da resistência de entrada da

membrana do PA. Para essa concentração, não houve diferença estatística significante dos

dados entre as fases do experimento (p=0,265, ANOVA, teste de Fisher).

52

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Na concentração de 1 mM, há a distinção de dois grupos de células que se

correlacionam à inibição do PA. Para todas as células onde houve inibição do PA (n=7), os

valores da resistência de entrada tiveram uma redução do seu valor ao final da exposição ao

1,8-cineol. Esses valores, em média, foram iguais a 89,07 ± 9,98 MΩ na estabilização e 59,31

± 5,89 MΩ ao final da exposição à droga, além de apresentarem diferença estatística

significante (p=0,005, teste-t de Student pareado). Para as células onde não houve essa

inibição (n=8), seis tiveram uma redução do valor da resistência de entrada na fase final da

aplicação da droga e duas tiveram um leve aumento desse valor que continuou na lavagem.

Nesse grupo de células, o valor desse parâmetro na estabilização, ao final da exposição ao

1,8-cineol e ao final da lavagem foi 77,82 ± 8,88 MΩ (n=8), 67,17 ± 7,79 MΩ (n=8) e 70,32 ±

7,08 MΩ (n=6), respectivamente. Estes dados, também apresentados na Figura 22, não

apresentaram diferença estatística significante entre as fases do experimento (p=0,624,

ANOVA, teste de Fisher).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Res

istê

ncia

de

entra

da (M

ohm

)

20

40

60

80

100

120

Figura 22: Resistência de entrada da membrana celular na estabilização (n=8), sob a

ação do 1,8-cineol (n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células sob a ação da droga

na concentração de 1 mM. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75°

percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

respectivamente, a média e a mediana dos valores da resistência de entrada da membrana

celular. Para essa concentração, não houve diferença estatística significante dos dados entre as

fases do experimento (p=0,624, ANOVA, teste de Fisher).

Já para a concentração de 0,1 mM, para todas as células estudadas, a resistência de

entrada da membrana celular na estabilização e ao final da exposição ao 1,8-cineol foi 61,55 ±

6,10 MΩ (n=14) e 60,46 ± 5,27 MΩ (n=14), respectivamente, sem diferença estatística

53

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significante entre esses dados (p=0,693, teste-t de Student pareado). Nas células onde o 1,8-

cineol foi administrado com o solubilizante DMSO, os valores desse parâmetro foram iguais a

64,85 ± 7,42 MΩ (n=8) na estabilização e 66,49 ± 7,55 MΩ (n=8) ao final da exposição ao

1,8-cineol. Esses dados estão mostrados na Figura 23 (a). Nas células sem o uso do

solubilizante, com dados mostrados na Figura 23 (b), os valores na estabilização e ao final da

exposição ao 1,8-cineol foram iguais a 57,14 ± 10,79 MΩ (n=6) e 52,41 ± 6,27 MΩ (n=6),

respectivamente. Estes dados não apresentaram diferenças estatísticas significantes, tanto no

grupo de células onde houve o uso do DMSO como no grupo de células sem esse

solubilizante (p=0,554, teste-t de Student pareado, para as células com o DMSO e p=0,313,

teste de Wilcoxon, sem o DMSO).

Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Res

istê

ncia

de

entra

da (M

ohm

)

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Res

istê

ncia

de

entra

da (M

ohm

)

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

(b) (a)

Figura 23: Resistência de entrada da membrana na estabilização (n=8, com e n=6 sem

DMSO) e sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a

concentração de 0,1 mM da droga. Em (a) está mostrado a resistência de entrada das células

com exposição ao 1,8-cineol mais o solubilizante e em (b) sem o DMSO. Nos gráficos, os

limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e

contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana dos valores da

resistência de entrada da membrana celular. Para essa concentração, não houve diferença

estatística significante dos dados entre as fases do experimento tanto com o veículo como sem

(p=0,554, teste-t de Student pareado, para as células com o DMSO e p=0,313, teste de

Wilcoxon, para as células sem o DMSO).

Os dados da resistência de entrada da membrana celular, em suas diferentes fases e

sob diferentes concentrações, estão sumarizados na Tabela 05.

54

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Tabela 05: Resistência de entrada da membrana celular (MΩ) para diferentes fases do

experimento sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos como

média ± e.p.m. e o valor de n representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

cineol

Final da

lavagem

todas as células 69,92 ± 11,13

(n=12)

41,21 ± 3,49

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação 47,51 ± 10,78

(n=5)

34,05 ± 2,94

(n=5)

51,35 ± 6,43

(n=5)

com inibição do PA 89,07 ± 9,98

(n=7)

59,31 ± 5,89

(n=7)1 * *

1 mM

sem inibição do PA 77,82 ± 8,88

(n=8)

67,17 ± 7,79

(n=8)

70,32 ± 7,08

(n=6)

todas as células 61,55 ± 6,10

(n=14)

60,46 ± 5,27

(n=14) * * *

com DMSO 64,85 ± 7,42

(n=8)

66,49 ± 7,55

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO 57,14 ± 10,79

(n=6)

52,41 ± 6,27

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

55

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4.3 Ação do 1,8-Cineol sobre o Potencial de Repouso Celular

Estudamos, também, o comportamento do potencial de repouso celular sob a ação do

1,8-cineol. Na concentração de 6 mM, todas as células investigadas (n=12) tiveram uma

despolarização do potencial de repouso na fase final da exposição à droga, com células

mostrando uma recuperação desse valor ao final da lavagem (n=5). Em média, o potencial de

repouso para todas as células na fase da estabilização e ao final da exposição ao 1,8-cineol foi

-52,82 ± 2,81 mV (n=12) e -43,36 ± 2,40 mV (n=12), respectivamente, e estes valores

mostraram diferença estatística significante (p≤0,001, teste-t de Student pareado). Para as

células onde foi possível manter o impalamento por um longo tempo, esse parâmetro

apresentou recuperação. A Figura 24 mostra os dados do potencial de repouso nas diversas

fases do experimento e seu valor na estabilização, ao final da exposição ao 1,8-cineol e ao

final da lavagem foi, respectivamente, -51,35 ± 3,96 mV (n=5), -40,94 ± 3,97 mV (n=5) e -

50,69 ± 6,51 mV (n=5). Estes dados mostraram diferença estatisticamente significante entre a

fase de estabilização e final da exposição ao 1,8-cineol (p=0,042, teste-t de Student pareado),

mas estatisticamente não significante entre a fase final da exposição à droga e final da

lavagem (p=0,145, teste-t de Student pareado).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Pote

ncia

l de

repo

uso

(mV)

-80

-70

-60

-50

-40

-30

-20

*

#

Figura 24: Potencial de repouso celular na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol

(6 mM, n=5) e ao final da lavagem (n=5) para as células onde o impalamento foi mantido

por um longo tempo. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil

dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média

e a mediana dos valores do potencial de repouso celular. * diferença estatisticamente

56

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significante em relação à fase de estabilização (p=0,042, teste-t de Student pareado);

# diferença estatisticamente não significante em relação à fase final da exposição ao 1,8-

cineol (p=0,145, teste-t de Student pareado) e em relação à fase de estabilização (p=0,929,

teste-t de Student pareado).

Na concentração de 1 mM, assim como no parâmetro resistência de entrada da

membrana celular, há a distinção de dois grupos de células que se correlacionam à inibição do

PA. Para todas as células onde houve inibição do PA (n=7), ocorreu uma despolarização do

potencial de repouso ao final da exposição ao 1,8-cineol. Esses valores, em média, foram

iguais a -47,47 ± 2,65 mV na estabilização e -39,36 ± 3,19 mV ao final da exposição à droga,

além de apresentarem diferença estatística significante (p≤0,001, teste-t de Student pareado).

Para as células onde não houve essa inibição (n=8), seis células apresentaram leve

despolarização do potencial de repouso, enquanto duas células apresentaram hiperpolarização

ao final da aplicação do 1,8-cineol que continuou na lavagem. Nesse grupo de células, o valor

desse parâmetro na estabilização, ao final da exposição ao 1,8-cineol e ao final da lavagem foi

-55,93 ± 1,30 mV (n=8), -55,12 ± 3,33 mV (n=8) e -56,64 ± 5,38 mV (n=6), respectivamente.

Estes dados, demonstrados na Figura 25, não apresentaram diferença estatística significante

entre as fases do experimento (p=0,953, ANOVA, teste de Fisher).

Figura 25: Potencial de repouso celular na estabilização (n=8),

Fases do experimento

Estabilização Cineol Fim da lavagem

Pote

ncia

l de

repo

uso(

mV)

-70

-65

-60

-55

-50

-45

-40

sob a ação do 1,8-cineol

(n=8) e ao final da lavagem (n=6) para as células sob a ação da droga na concentração de

1 mM. No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as

linhas pontilhada e contínua no interior representam, respectivamente, a média e a mediana

dos valores do potencial de repouso celular. Para essa concentração, não houve diferença

57

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estatística significante dos dados entre as fases do experimento (p=0,953, ANOVA, teste de

Fisher).

Na concentração de 0,1 mM, para todas as células estudadas, o valor do potencial de

repouso na estabilização e ao final da exposição ao 1,8-cineol foi -49,60 ± 1,65 mV (n=14) e -

50,93 ± 1,79 mV (n=14), respectivamente, sem diferença estatística significante entre esses

dados (p=0,091, teste de Wilcoxon). Nas células onde a droga foi administrada com o

solubilizante DMSO, os valores desse parâmetro foram iguais a -49,49 ± 1,94 mV (n=8) na

estabilização e -51,67 ± 2,29 mV (n=8) ao final da exposição ao 1,8-cineol e esses dados estão

demonstrados na Figura 26 (a). Nas células sem o uso do solubilizante, os valores na

estabilização e ao final da exposição ao 1,8-cineol foram iguais a -49,75 ± 3,07 mV (n=6) e -

49,94 ± 3,05 mV (n=6), respectivamente, e os dados estão mostrados na Figura 26 (b). Estes

dados não apresentaram diferenças estatísticas significantes, tanto no grupo de célula onde

houve o uso do DMSO como no grupo de células sem esse solubilizante (p=0,196, teste-t de

Student pareado, para as células com o DMSO e p=0,941, teste-t de Student pareado, sem o

DMSO).

Fases do experimento (C/ DMSO)

Estabiização Cineol

Pote

ncia

l de

repo

uso

(mV)

-65

-60

-55

-50

-45

-40

-35

Fases do experimento (S/ DMSO)

Estabilização Cineol

Pote

ncia

l de

repo

uso

(mV)

-65

-60

-55

-50

-45

-40

-35

(a) (b)

Figura 26: Potencial de repouso celular na estabilização (n=8, com e n=6 sem DMSO) e

sob a ação do 1,8-cineol (n=8, com e n=6 sem DMSO) para as células sob a concentração

de 0,1 mM da droga. Em (a) está mostrado o potencial de repouso celular das células com

exposição ao 1,8-cineol mais o solubilizante e em (b) sem o DMSO. Nos gráficos, os limites

das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no

interior representam, respectivamente, a média e a mediana do potencial de repouso celular.

Para essa concentração, não houve diferença estatística significante dos dados entre as fases

do experimento tanto com o veículo como sem (p=0,196, teste-t de Student pareado, para as

células com o DMSO e p=0,941, teste-t de Student pareado, sem o DMSO).

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Os dados do potencial de repouso, em suas diferentes fases e sob diferentes

concentrações, estão sumarizados na Tabela 06.

Tabela 06: Potencial de repouso celular (mV) para diferentes fases do experimento sob a

ação do 1,8-cineol (6 mM, 1 mM e 0,1 mM). Dados descritos como média ± e.p.m. e o valor

de n representa o número de experimentos feitos.

Concentração Estabilização

Final da

aplicação do

cineol

Final da

lavagem

todas as células -52,82 ± 2,81

(n=12)

-43,36 ± 2,40

(n=12)1 *

6 mM

com recuperação -51,35 ± 3,96

(n=5)

-40,94 ± 3,97

(n=5)1

-50,69 ± 6,51

(n=5)2

com inibição do PA -47,47 ± 2,65

(n=7)

-39,36 ± 3,19

(n=7)1 * *

1 mM

sem inibição do PA -55,93 ± 1,30

(n=8)

-55,12 ± 3,33

(n=8)

-56,64 ± 5,38

(n=6)

todas as células -49,60 ± 1,65

(n=14)

-50,93 ± 1,79

(n=14) * * *

com DMSO -49,49 ± 1,94

(n=8)

-51,67 ± 2,29

(n=8) * * * 0,1 mM

sem DMSO -49,75 ± 3,07

(n=6)

-49,94 ± 3,05

(n=6) * * *

1 dado estatisticamente significante em relação à fase de estabilização; 2 dado estatisticamente não significante

em relação ao final da exposição ao 1,8-cineol;

* em algumas células (n=7) não foi possível manter o impalamento por um período de tempo

longo suficiente para permitir a recuperação desse parâmetro, enquanto em n=5 células isso

foi possível; * * não foi possível manter o impalamento por um tempo longo o suficiente para

a recuperação desse parâmetro; * * * como não houve modificação significativa desse

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parâmetro na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação à estabilização, os dados foram

omitidos.

4.4 Ação do 1,8-Cineol sobre a Excitabilidade Celular

Investigamos também qual alteração o 1,8-cineol provoca na excitabilidade elétrica

celular dos neurônios do gânglio cervical superior. Partimos do pressuposto de que como o

1,8-cineol na concentração de 6 mM provocou uma despolarização do potencial de repouso

celular em todas as células estudadas (n=12), que modificação ocorreria nos parâmetros

associados ao PA (e à excitabilidade) se o potencial de repouso, ao final da ação do 1,8-

cineol, voltasse ao valor da fase de estabilização? Para isso, ao final da ação do 1,8-cineol (6

mM), quando o PA fosse completamente inibido, injetamos corrente na célula (com um

clampeamento de voltagem manual, injetando corrente constantemente) de forma que o

potencial de repouso retornasse a valores próximos ou iguais ao potencial de repouso celular

na fase de estabilização. A Figura 27 demonstra o curso temporal do PA sob as condições

iniciais (estabilização e após a exposição ao 1,8-cineol) e sob as novas condições de potencial

de repouso impostas (após a injeção de corrente) em uma das células estudadas.

LegendaEstabilizaçãoApós o 1,8-cineolApós corrente

Tempo (ms)0 50 100 150 200 250 300

Pot

enci

al (m

V)

-60

-40

-20

0

20

Figura 27: Traçados do PA na estabilização, após a exposição do 1,8-cineol e após a

injeção de corrente na célula. Foi feito a média de 5 episódios no traçado após a exposição

do 1,8-cineol para a redução do ruído.

60

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Essas células apresentaram, em média, potencial de repouso na estabilização igual a -

50,50 ± 3,18 mV (n=6) e ao final da exposição do 1,8-cineol igual a -40,48 ± 3,06 mV (n=6).

Ao injetarmos a corrente o valor do potencial de repouso, em média, foi -51,63 ± 3,49 mV

(n=6). A amplitude da resposta de voltagem (potencial de ação) na estabilização, ao final da

exposição ao 1,8-cineol a após a injeção de corrente foi 73,79 ± 6,00 mV (n=6), 16,31 ± 2,33

mV (n=6) e 54,28 ± 5,52 mV (n=6), respectivamente. Este dados, mostrados na Figura 28,

exibiram diferença estatística significante entre as fases de estabilização e final da exposição

ao 1,8-cineol (p<0,001, ANOVA, teste de Fisher) e da fase de estabilização com os valores da

amplitude após a injeção de corrente na célula (p=0,013, ANOVA, teste de Fisher).

Fases do experimento

Estabilização Cineol Após corrente

Ampl

itude

(mV)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

*

#

Figura 28: Amplitude da resposta de voltagem na estabilização (n=6), sob a ação do 1,8-

cineol (6 mM, n=6) e após a injeção de corrente na célula para reposicionamento do

potencial transmembrana no valor do novo potencial de repouso. No gráfico, os limites

das caixas representam o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no

interior representam, respectivamente, a média e a mediana da amplitude do PA. * diferença

estatisticamente significante em relação à fase de estabilização (p<0,001, ANOVA, teste de

Fisher); # diferença estatisticamente significante em relação à fase de estabilização (p=0,013,

ANOVA, teste de Fisher).

A dv/dtmáx do ramo ascendente do PA na estabilização, ao final da exposição ao 1,8-

cineol e após a injeção de corrente foi 60,00 ± 12,25 mV/ms (n=5), zero (n=5) e 30,00 ± 0,00

mV/ms (n=5), respectivamente, e estão mostrados na Figura 29 (a). Estes dados também

apresentaram diferença estatística significante entre todas as fases, seja da estabilização contra

a fase de exposição à droga, estabilização e após a injeção de corrente ou após a injeção de

corrente contra a fase final de exposição ao 1,8-cineol (p<0,05, ANOVA, teste de Student-

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Newman-Keuls). Já para a dv/dtmáx do ramo descendente do PA, o valor dessa inclinação na

estabilização foi -42,00 ± 3,74 mV/ms (n=5), zero (n=5) na fase final da exposição ao 1,8-

cineol e -32,00 ± 3,74 mV/ms (n=5) após a injeção de corrente na célula. Nestes dados,

mostrados na Figura 29 (b), existe diferença estatística significante entre as fases de

estabilização e final da exposição ao 1,8-cineol e na fase de exposição à droga e após a

injeção de corrente na célula. Contudo, entre a fase de estabilização e após a injeção de

corrente na célula, não houve diferença estatística significante dos dados (p<0,05, ANOVA,

teste de Student-Newman-Keuls).

Fases do experimento

Estabilização Cineol após corrente

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

0

20

40

60

80

100

Fases do experimento

Estabilização Cineol após corrente

Incl

inaç

ão (m

V/m

s)

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

*

#

(a) (b)

Figura 29: Inclinação máxima do ramo ascendente (a) e do ramo descendente (b) do PA

na estabilização (n=5), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=5) e após a injeção de corrente

na célula (n=5). Em (a) está mostrado a inclinação máxima do ramo ascendente do PA e em

(b) a inclinação máxima do ramo descendente. Nos gráficos, os limites das caixas representam

o 25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

respectivamente, a média e a mediana dos valores das inclinações máximas do PA. Houve

diferença estatística significante dos dados da dv/dtmáx do ramo ascendente do PA entre todas

as fases do experimento (p<0,05, ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls). * diferença

estatisticamente significante em relação à fase de estabilização (p<0,05, ANOVA, teste de

Student-Newman-Keuls); # não há diferença estatisticamente significante em relação à fase de

estabilização (p<0,05, ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls).

A duração do PA na estabilização, ao final da exposição ao óleo e após a injeção de

corrente foi 5,08 ± 0,66 ms (n=6), zero (n=6) e 7,62 ± 1,18 ms (n=6), respectivamente (Figura

30). Houve apenas diferença estatística significante da fase de exposição ao 1,8-cineol em

relação às demais (p<0,05, ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls).

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Fases do experimento

Estabilização Cineol Após corrente

Dur

ação

(ms)

0

2

4

6

8

10

12

*

Figura 30: Duração do PA na estabilização (n=6), sob a ação do 1,8-cineol (6 mM, n=6) e

após a injeção de corrente na célula (n=6). No gráfico, os limites das caixas representam o

25° e o 75° percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

respectivamente, a média e a mediana dos valores da duração do PA. * diferença estatística

significante dos dados apenas na fase final da exposição ao 1,8-cineol em relação às demais

(p<0,05, ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls).

Já para a corrente limiar de geração do PA, seu valor foi 325 ± 73,9 pA (n=6) na

estabilização. Após a injeção da corrente, essa corrente limiar teve seu valor alterado para 583

± 138 pA (n=6). Estes dados, mostrados na Figura 31, apresentaram diferença estatística

significante entre si (p=0,012, teste-t de Student pareado).

Figura 31: Corrente limiar de geração do PA na estabilização (n=6) e após a

Fases do experimento

Corrente limiar antes Corrente limiar após

Cor

rent

e lim

iar (

pA)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

*

injeção de

corrente na célula (n=6). No gráfico, os limites das caixas representam o 25° e o 75°

percentil dos dados e as linhas pontilhada e contínua no interior representam,

63

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respectivamente, a média e a mediana dos valores da corrente limiar de geração do PA.

* diferença estatisticamente significante entre os dados (p=0,012, teste-t de Student pareado).

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5. DISCUSSÃO

5.1 Efeito do 1,8-cineol sobre as Preparações Intactas do GCS de Ratos

A grande descoberta deste estudo foi o bloqueio reversível do potencial de ação nas

células nervosas do gânglio cervical superior de ratos pelo 1,8-cineol, também conhecido por

cajeputol ou eucaliptol. Esse bloqueio se faz acompanhar de alteração reversível do potencial

de repouso, aspecto em que o 1,8-cineol se distingue de muitos terpenóides de baixo peso

molecular que são constituintes de óleos essenciais, como o eugenol e o estragol. Esses dois

constituintes são considerados anestésicos locais, ou seja, supostamente bloqueiam o PA sem

alterar o potencial de repouso celular. O presente estudo, dentro do melhor do nosso

conhecimento e do que está disponível na literatura internacional, é o primeiro a demonstrar

estes efeitos.

5.2 Estudos Anteriores Envolvendo o 1,8-cineol

Como já citado, estudos anteriores que envolvem a ação do 1,8-cineol sobre

eletrofisiologia concentram-se, primariamente, sobre a via de transdução de sinal do sistema

olfatório. Contudo, há diferenças da ação das substâncias chamadas de odorantes nesse

sistema. Chen e colaboradores (2006) mostraram uma ação modulatória de inibição do 1,8-

cineol sobre o canal ativado por nucleotídeos cíclicos (CNGC). Mas outros trabalhos mostram

que essas substâncias odorantes possuem papel de amplificação de transientes de cálcio

(ZUFALL et al., 2000) e possuindo papel chave na transdução do sinal olfatório. Ainda sobre

o trabalho de Zufall e colaboradores (2000), os autores encontraram que o 1,8-cineol

estimulava a via da adenosina monofosfato cíclica (cAMP) causando abertura dos CNGC e

permitindo a entrada de cálcio. Assim, esta entrada de cálcio possibilitava a abertura de um

canal específico, os canais para cloreto ativado por cálcio, e que ainda pode ser adicionada da

idéia de Reiserts e Matthews (2001) que propõe a existência de um mecanismo trocador de

sódio-cálcio para possibilitar a saída do cálcio que entra através dos CNGC durante as

respostas às substâncias odorantes.

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Em relação à excitabilidade, o trabalho de Lima-Accioly e colaboradores (2006)

demonstra a ação do 1,8-cineol no bloqueio do PAC e que corrobora com a ação desta

substância neste trabalho na concentração de 6 mM. O trabalho citado anteriormente utilizou

uma faixa de concentrações entre 1 e 8 mM, onde a dose de 1 mM e 2 mM não demonstraram

efeitos significativos de bloqueio da excitabilidade. Neste trabalho, em doses menores do que

1 mM (especificamente 0,1 mM), não houve alteração dos parâmetros estudados, mas na dose

de 1mM houve um efeito em um grupo de células. Esse efeito apenas em um grupo de células

não é surpreendente, pois provavelmente a concentração de 1 mM está próxima da

concentração limiar de atuação dessa droga, faixa de concentração em que a dispersão de

efeito é maior.

5.3 Estudos Anteriores Envolvendo Constituintes de Óleos Essenciais

Outros constituintes de óleos essenciais que são terpenóides de baixo peso molecular,

como o anetol, estragol e eugenol e são similares ao 1,8-cineol, também apresentam efeitos

sobre preparações que envolvem o sistema nervoso e que possuem certa analogia com o 1,8-

cineol. Albuquerque e colaboradores (1995) fizeram um estudo sobre a ação do anetol e do

estragol (0,05 a 1 mg/ml) em preparações de músculo de sapos e ratos. Estes compostos são

isômeros, derivados do fenilpropanol e apresentaram duas ações nestes tecidos: uma de

depressão ou bloqueio da transmissão neuromuscular e a produção de contração quando as

preparações eram rapidamente resfriadas. Estes pesquisadores encontraram que estes

compostos bloquearam as contrações iniciadas por estimulação nervosa e que também a

resposta do reto abdominal de sapos à acetilcolina foi reduzida. Já para a segunda ação, estes

pesquisadores sugerem que o anetol e o estragol podem atuar no retículo sarcoplasmático,

mas não definem se sua ação se dá pelos mecanismos de liberação de cálcio destas reservas,

pelos mecanismos de seqüestro do cálcio ou por ambos os mecanismos.

O estragol também apresentou efeitos sobre o potencial de ação composto do nervo

ciático de ratos (LEAL-CARDOSO et al., 2004). Este composto induziu bloqueio do PAC de

maneira dose-dependente a partir da concentração de 2 mM. Na concentração de 4 mM, o

estragol alterou significantemente a amplitude pico-a-pico do PAC, a velocidade de condução,

a cronaxia e a reobase, demonstrando, assim, um bloqueio da excitabilidade nervosa neste

tipo de preparação.

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Esse mesmo grupo de pesquisa também estudou o efeito do terpineol sobre o PAC nas

preparações do nervo ciático de ratos (MOREIRA et al., 2001). Estes pesquisadores também

encontraram que na concentração de 300 µM, houve redução da amplitude pico-a-pico e da

velocidade de condução ao fim de 180 min de exposição à droga. Na concentração de 600

µM, houve o bloqueio quase por completo do PAC e esse dado preenche um critério para dar

a essa substância, assim como o estragol e o 1,8-cineol, uma atividade anestésica local.

Entretanto, outros critérios devem ser obedecidos para a classificação dessa atividade, como a

interação direta da droga com canais para sódio dependentes de voltagem e ausência de

alteração consistente do potencial de repouso celular.

O timol também preenche, em parte, essa atividade anestésica local. Haeseler e

colaboradores (2002), estudaram o efeito de bloqueio do timol e mentol nas correntes de sódio

dependentes de voltagem em sistemas heterólogos de células HEK 293 expressando a

subunidade alfa dos canais para sódio das células nervosas IIA do cérebro de ratos ou os

canais para sódio do músculo esquelético humano, hSkM1. Os autores encontraram como

resultado principal que o timol, e de maneira menos potente o mentol, bloqueou os canais para

sódio dependentes de voltagem tanto neurais como esqueléticos de maneira dependente de

concentração sugerindo, assim, um efeito anestésico local e antinociceptivo.

5.4 Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Associados ao PA (Curso Temporal,

Amplitude, Inclinações, Duração) na Concentração de 6 mM

Em vistas deste trabalho, a concentração de 6 mM de 1,8-cineol apresentou efeito

máximo sobre as preparações intactas de neurônios do GCS de ratos. Como mostrado nos

resultados, todas as células sob esta concentração apresentaram inibição do PA com a

subseqüente alteração em todos os parâmetros estudados. A amplitude do PA ficou reduzida

apenas à resposta local ou resposta passiva da membrana celular e, como o PA foi inibido, foi

atribuído o valor zero aos outros parâmetros relacionados ao PA (inclinação máxima do ramo

ascendente e descendente e duração do PA). Nas células onde o impalamento pode ser

preservado por um longo tempo, houve a recuperação do curso temporal do PA e dos

parâmetros eletrofisiológicos, denunciando que os efeitos provenientes da ação do 1,8-cineol

são reversíveis. Em contraste com o trabalho de Lima-Accioly e colaboradores (2006) nessa

concentração, os efeitos provenientes do 1,8-cineol sobre o tecido foram rápidos, tanto na

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inibição (em média 150 s) quanto na recuperação dos parâmetros, com a reversão do efeito de

inibição do PA sendo detectada após 2,5 min de lavagem até 45 min. Essa diferença na

velocidade de instalação e reversão desses efeitos talvez se deva a que os nervos ciáticos dos

estudos de Lima-Accioly foram mantidos intactos e com todos os envoltórios preservados.

Essa condição talvez tenha retardado o acesso do 1,8-cineol aos axônios.

5.5 Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Associados ao PA (Curso Temporal,

Amplitude, Inclinações, Duração) na Concentração de 1 mM

Na concentração de 1 mM pode-se distinguir dois blocos de resultados. Em um grupo

de células houve a inibição do potencial de ação, com características semelhantes às células

sob exposição de 1,8-cineol na concentração de 6 mM. A amplitude do PA ficou reduzida à

resposta passiva da célula e os outros parâmetros relacionados ao PA foram atribuídos o valor

zero. Contudo, nenhum impalamento pode ser mantido por um longo período de tempo para a

recuperação dos parâmetros e do curso temporal sob esta concentração. Em outro grupo de

células, não houve a inibição do PA após a exposição do 1,8-cineol por 150 s e os parâmetros

inclinação máxima do ramo descendente e duração do PA não sofreram alterações

significativas. Entretanto, pode-se suspeitar que a amplitude do PA foi reduzida, assim como

o valor da inclinação máxima do ramo ascendente foi alterado, porque se juntarmos o fato que

o potencial de repouso, sob esta concentração, permaneceu num valor estável tanto na fase

final da aplicação do 1,8-cineol como na lavagem, algum mecanismo deve ter atuado para a

diminuição dos parâmetros já citados. Caso aceite que a inclinação máxima do ramo

ascendente e a amplitude do PA foram alteradas sem alteração do potencial de repouso, esse

fato implica que o 1,8-cineol apresentou um componente de ação direta sobre o canal para

sódio, seja bloqueando, inativando, dificultando ou retardando a abertura deste canal.

Diversos trabalhos apontam a ação de substâncias diretamente sobre canais iônicos,

como o trabalho de Haeseler e colaboradores (2002) que demonstrou a ação do timol sobre os

canais para sódio dependentes de voltagem. Como a inclinação máxima do ramo ascendente

do PA está relacionada com corrente de íons sódio e visto que esse parâmetro teve seu valor

reduzido ao final da ação do 1,8-cineol na concentração de 1 mM, este trabalho também

propõe que esse composto, assim como o timol, deva ter uma ação direta sobre o canal para

sódio.

68

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5.6 Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Resistência de Entrada da

Membrana e Potencial de Repouso na Concentração de 6 mM

A resistência de entrada da membrana celular sob a ação do 1,8-cineol na

concentração de 6 mM teve seu valor reduzido em todas as células estudadas. Nas células

onde o impalamento pode ser mantido por um longo tempo, houve recuperação do valor da

resistência de entrada. Mesmo não sendo estatisticamente significante a diferença entre o

valor da resistência ao final da ação o 1,8-cineol e da estabilização, Zufall e colaboradores

(2000) mostraram que esse composto possui uma ação similar à IBMX de ativação de canais

iônicos específicos (os canais CNGC), o que significa um aumento da condutância da

membrana (e conseqüente redução da resistência, pois resistência e condutância possuem uma

razão inversamente proporcional). Assim, durante a lavagem (onde já não há mais a presença

do 1,8-cineol e apenas da solução nutridora Locke) é de se esperar que não haja mais a

ativação da condutância, o que é denunciado pelos dados de recuperação da resistência de

entrada da membrana na fase final da lavagem.

O potencial de repouso, sob a ação do 1,8-cineol na concentração de 6 mM, sofreu

uma despolarização de, aproximadamente, 10 mV em todas as células estudadas.

Possivelmente esse seja um mecanismo de inibição do PA, pois a despolarização se dava de

modo lento e gradual. Desse modo, o potencial transmembrana alcançava os valores de

ativação dos canais para sódio lentamente acarretando, também, que esses canais entrassem

no estado de inativação. Assim, uma população de canais para sódio poderia rapidamente se

abrir, mas logo entrariam no estado inativado, onde assim permaneceriam até que o potencial

transmembrana retornasse ao valor do potencial de repouso original. Esse fato pode ser

demonstrado no grupo de células onde houve recuperação do curso temporal do PA. Nesse

grupo de células, como demonstrado nos resultados, o potencial de repouso voltou ao valor

inicial da estabilização. Essa despolarização pode ser comparada à despolarização sofrida por

outros tecidos (como os neurônios receptores olfatórios da salamandra e de ratos) quando

expostos ao 1,8-cineol.

O fato da despolarização da membrana ocorrer simultaneamente com a redução da

resistência de entrada reforça a hipótese da existência de canais para cátions ativados por

nucleotídeos cíclicos (CNGC) e de canais para cloreto ativados por cálcio nesse tipo de célula.

Reuter e colaboradores (1998) investigaram a existência dos canais para cloreto ativados por

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cálcio nos neurônios sensórios olfatórios de ratos e o seu papel na transdução do sinal

quimioelétrico. Os pesquisadores encontraram que os canais para cloreto ativados por cálcio

conduzem uma corrente para dentro com efluxo de cloreto, que leva a uma despolarização da

membrana celular. Essa despolarização está ligada aos canais para cátions ativados por

nucleotídeos cíclicos. Quando os CNGC são ativados, eles permitem a entrada de cátions,

nesse caso principalmente o cálcio, para dentro da célula. Essa entrada de íons cálcio acarreta

na ativação dos canais para cloreto ativado por cálcio, com a saída de cloreto da célula e

despolarização da membrana. Contudo, esse mecanismo não é exclusivo para este tipo de

tecido, sendo encontrado em outras preparações (SÁNCHEZ-VIVES & GALLEGO, 1994;

ZUFALL et al., 2000; REISERT & MATTHEWS, 2001).

Algumas substâncias possuem efeito de liberação de cálcio das reservas intracelulares.

O etanol é uma destas substâncias que aumenta a concentração basal de cálcio intracelular,

além de inibir o influxo de cálcio extracelular através dos canais para cálcio dependentes de

voltagem em culturas de neurônios do GCS de ratos (XIAO et al., 2005). O 1,8-cineol

também possui essa atividade nos neurônios receptores olfatórios da salamandra (ZUFALL et

al., 2000; REISERT & MATTHEWS, 2001). Se o 1,8-cineol exercer esse efeito de liberação

de cálcio dessas reservas intracelulares dos neurônios do GCS de ratos, também seria possível

a ativação dos canais para cloreto ativados por cálcio, não dependendo diretamente dos

CNGC (SCOTT et al., 1995). Assim, esse seria um mecanismo adicional para a ativação deste

tipo de canal.

Os canais para cloreto ativados por cálcio aparecem em diversos tipos celulares como

nos neurônios da medula espinhal de ratos, motoneurônios, em cultura de neurônios do

hipocampo, nos neurônios do gânglio da raiz dorsal de ratos, entre outros (SCOTT et al.,

1995) e também em preparações de neurônios axotomizados do GCS de ratos (SÁNCHEZ-

VIVES & GALLEGO, 1994). Como esses tipos de canais já foram descritos no GCS e diante

dos resultados encontrados sob esta concentração, este trabalho sugere a possível ação do 1,8-

cineol sobre os canais para cloreto ativados por cálcio nos neurônios do GCS de ratos.

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5.7 Efeito do 1,8-cineol sobre os Parâmetros Resistência de Membrana e

Potencial de Erepouso na Concentração de 1 mM

Sob a concentração de 1 mM, os dois grupos de células apresentam características

distintas. No grupo de células com inibição do potencial de ação, houve redução significativa

da resistência de membrana e despolarização do potencial de repouso. Novamente, estas

células apresentam características semelhantes a das células que foram expostas à dose de 6

mM. Já para as células sem inibição do PA, a resistência de membrana foi levemente

modificada, mas estatisticamente não significante. Como já citado o potencial de repouso não

sofreu alteração, demonstrando que o sistema causador da despolarização da membrana

celular na concentração de 6 mM não foi acionado (ou se foi acionado, atuou fracamente)

neste tipo de célula e sob a concentração de 1 mM.

5.8 Efeito do 1,8-cineol sobre Todos os Parâmetros na Concentração de 0,1 mM

Na concentração de 0,1mM, investigou-se a interferência do veículo solubilizante do

1,8-cineol, o DMSO, nessas preparações. A ausência ou presença do DMSO não alterou os

parâmetros eletrofisiológicos estudados. Como um todo, a concentração de 0,1mM não

mostrou alteração significativa nos parâmetros associados ao PA (amplitude, inclinações

máximas do ramo ascendente e descendente e duração do PA) nem na resistência de entrada

da membrana celular e no potencial de repouso. Esses dados demonstraram que realmente se

obteve um resultado dependente de concentração, pois valores pequenos de concentração não

promoveram efeito. Adicionalmente, demonstram que os resultados observados foram devido

à ação do 1,8-cineol e não do veículo da droga (DMSO).

Esses dados contrastam com alguns trabalhos encontrados na literatura, como o de

Reisert e Matthews (2001). Neste trabalho, os autores conseguiram obter respostas de

disparos de correntes com a aplicação de doses acima de 30 µM (ou 0,03 mM) de 1,8-cineol

nas células receptoras olfatórias isoladas de ratos. Além do mais, a dose de 100 µM (ou 0,1

mM) foi utilizada no trabalho de Reiset e Matthews (2001) e também deflagrou essas

respostas de corrente. O trabalho de Zufall e colaboradores (2000) também utilizou o 1,8-

cineol na concentração de 300 µM (ou 0,3 mM) para deflagrar respostas celulares nos

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neurônios receptores olfatórios da salamandra. Quando os pesquisadores utilizaram um pulso

de 1 s de duração de 1,8-cineol na concentração mencionada acima, este composto induziu

uma despolarização, a partir do potencial de repouso de -60 mV, para -24 mV. Essa

despolarização durou em torno de 3 s e durante a fase de despolarização do potencial

transmembrana, disparos transientes de potenciais de ação ocorreram. Como se pode notar, a

menor dose de 1,8-cineol empregada neste trabalho pode provocar respostas em outros

tecidos. Entretanto, nos neurônios o GCS de ratos isso não foi constatado. Essa diferença de

potência farmacológica para os efeitos do 1,8-cineol no GCS em comparação com os

neurônios olfatórios não foi pesquisada no presente estudo. Contudo, pode-se sugerir como

hipótese explicativa que a expressão dos canais iônicos envolvidos na resposta ao 1,8-cineol

seja diferente nas duas preparações.

5.9 Efeito do 1,8-cineol sobre a Excitabilidade Celular

O 1,8-cineol também mostrou-se um bloqueador da excitabilidade celular nas

preparações intactas dos neurônios do GCS. Diversos trabalhos apontam os efeitos de

terpenóides no bloqueio da excitabilidade em nervo ciático de rato (LIMA-ACCIOLY et al.,

2006; LEAL-CARDOSO et al., 2004; MOREIRA et al., 2001). Perfizemos experimentos

onde o potencial de repouso, após o efeito despolarizante do 1,8-cineol, retornava ao seu valor

original da fase de estabilização. Dois parâmetros não tiveram alterações estatisticamente

significantes entre a fase de estabilização e após a injeção de corrente: inclinação máxima do

ramo descendente e duração do PA. Os outros parâmetros tiveram alterações significativas. A

amplitude do PA teve um valor menor do que a da estabilização, assim como a inclinação

máxima do ramo ascendente. Considerando que o potencial transmembrana ao final da

exposição ao 1,8-cineol foi imposto a um valor muito próximo e até mesmo igual ao potencial

de repouso na estabilização, deve haver algum mecanismo que esteja atuando para a redução

dos parâmetros já citados. Como proposto na concentração de 1 mM, o 1,8-cineol pode estar

atuando diretamente sobre os canais para sódio, diminuindo, assim, o valor da inclinação

máxima do ramo ascendente do PA e reduzindo a amplitude. Esse é mais um fato para a

inclusão desse mecanismo de atuação dessa droga sobre a inibição do PA.

Além do mais, a corrente limiar de geração do PA também foi modificada. De acordo

com os dados, é necessário um valor maior de corrente para deflagrar uma resposta da célula.

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Assim, visto estas alterações nesses parâmetros, demonstrou-se que o 1,8-cineol atuou no

bloqueio da excitabilidade celular nesse tipo de preparação.

5.10 Considerações Finais

Esse estudo demonstra que o 1,8-cineol possui efeitos de inibição do PA e bloqueio da

excitabilidade neuronal. O 1,8-cineol, assim como outros terpenos, apresentou uma atividade

anestésica local em trabalhos anteriores, de forma que é relevante a caracterização e possível

elucidação dos mecanismos de ação deste composto a partir de técnicas mais elaboradas,

como a do microeletrodo intracelular. Fatos de destaque neste trabalho estão no efeito deste

constituinte em despolarizar o potencial de repouso celular e da possível ação desta substância

sobre um canal iônico que provoca esse efeito. Além do mais, como existe uma larga

utilização de óleos essenciais constituídos por terpenos como o 1,8-cineol na medicina

popular e em medicamentos, esse estudo acrescenta novas informações sobre a ação deste

composto em preparações intactas de neurônios do sistema nervoso.

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6. CONCLUSÕES

• O 1,8-cineol bloqueia o potencial de ação nas células nervosas do gânglio

cervical superior de ratos na concentração de 6 mM e 1 mM e seus efeitos são

reversíveis;

• Na concentração de 6 mM, o 1,8-cineol provoca despolarização do potencial

de repouso celular e alteração nos parâmetros eletrofisiológicos amplitude,

inclinações máximas do ramo ascendente e descendente, duração do PA e

resistência de entrada da membrana;

• Um possível mecanismo de inibição do PA encontra-se na ação direta do 1,8-

cineol sobre os canais para sódio dependentes de voltagem;

• Outro possível mecanismo reside na despolarização lenta e gradual do

potencial de repouso devido a ativação de um canal para cloreto ativado por

cálcio. A ativação desse canal pode se dar através da liberação de cálcio das

reservas intracelulares, devido à entrada de cálcio pelos canais para cátions

ativados por nucleotídeos cíclicos ou por ambos os processos, mediado pelo

1,8-cineol;

• O 1,8-cineol bloqueia a excitabilidade nervosa em células intactas do gânglio

cervical superior de ratos;

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