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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Mestrado em Genética Molecular Comparativa e Tecnológica
Efeito do extracto de folhas de Ginkgo biloba em
células HepG2 tratadas com Paraquato.
Sandra Cristina Machado da Silva
Vila Real, 2012
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Mestrado em Genética Molecular Comparativa e Tecnológica
Efeito do extracto de folhas de Ginkgo biloba em
células HepG2 tratadas com Paraquato.
Sandra Cristina Machado da Silva
Vila Real, 2012
II
Júri de Apreciação
Presidente: ______________________________________________
1º Vogal: _______________________________________________
2º Vogal: _______________________________________________
Classificação: ____________________________________________
Data: __/__/____
III
A Orientadora
Prof. Doutora Isabel O’Neill M. Gaivão
Departamento de Genética e Biotecnologia
UTAD
A Co-orientadora
Prof. Doutora Fernanda Leal
Departamento de Genética e Biotecnologia
UTAD
IV
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Fernando Pessoa
V
Agradecimentos
Ao finalizar esta etapa da minha vida resta-me apenas agradecer a todos os que me
ajudaram a conseguir alcançá-la.
À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em nome do Professor Doutor
Carlos Alberto Sequeira, Reitor da UTAD, pelas facilidades concedidas na realização
deste trabalho.
Ao Coordenador do 2º Ciclo de Genética Molecular, Comparativa e Tecnológica, em
nome do Professor Doutor Valdemar Pedrosa Carnide, pelas facilidades na
realização deste trabalho e pela disponibilidade para esclarecimentos.
À Professora Doutora Isabel Gaivão, minha orientadora, por todo o apoio e incentivo
que me deu ao longo deste ano.
À Professora Doutora Fernanda Leal, minha co-orientadora, por todos os conselhos
sábios dados na altura certa. Agradeço toda a compreensão, simpatia, companhia e
disponibilidade.
Ao laboratório de Biologia Celular e Bioenergética do Departamento de Biologia e
Ambiente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa da
Professora Doutora Amélia Maria Silva, por todo o apoio e disponibilidade que me
foram concedidos e pelo conhecimento científico que me foi transmitido. Muito
obrigada!
Ao Instituto Dr. Ricardo Jorge (Porto), na pessoa do Dr. João Paulo Teixeira, por
sempre tão simpática e prontamente se ter disponibilizado a receber-me.
Ao Jorge Soares não há palavras para agradecer porque muitíssimo obrigada é muito
pouco!
Aos meus Avós Luís Machado e Otília Martins por serem os responsáveis pela
realização do meu sonho. Agradeço-vos toda a ajuda que me deram e todos os
conselhos e experiência de vida que partilharam comigo. Estou-vos muito grata por
tudo! Avó, serás sempre para mim o maior exemplo de dignidade que alguma vez
VI
poderei ter! Eras a pessoa com que mais desejava partilhar este momento, mas sei que,
onde quer que estejas, estás feliz por mim.
À minha Mãe por me ter ajudado a ultrapassar esta etapa da minha vida que em muitos
momentos não foi nada fácil. Obrigado por seres a melhor mãe do Mundo e por seres
minha!
Ao meu Pai pelos conselhos sábios que me dá, por me amar e por ser o melhor Pai do
Mundo! Obrigada por tudo!
À minha Irmã Ana por estar sempre presente. És a pessoa que eu mais amo no Mundo!
A todos os Amigos nomeadamente: Tânia Lopes, Jorge Ferreira, Mónica Batista,
Leandro Costa, por terem sido verdadeiros amigos. Muito obrigado por tudo o que me
deram: pelas folias, pela compreensão, por tentarem manter-me sempre animada e
confiante em alturas de desespero. Obrigada pelas vivências que partilhamos e por todos
os momentos que passamos juntos.
Ao Cazé Pinto por ser o melhor namorado do Mundo. Obrigado por acreditares em
mim, muitas vezes mais que eu própria!
Aos Colegas de Mestrado, pelo companheirismo, sempre com uma palavra amiga e um
sorriso.
A todos que não referi aqui, mas que tiveram do meu lado ao longo deste trabalho, o
meu muito obrigado a todos.
VII
Resumo
O extracto de folhas de Ginkgo biloba L. é um dos fármacos de origem vegetal mais
vendido no Mundo. Relativamente a este extracto o presente trabalho estudou a sua
genotoxicidade/antigenotoxicidade e esclarecer se este detém um efeito quimioprotector
contra os danos induzidos pelo agente indutor de espécies reactivas de oxigénio (ROS),
o Paraquato (PQ), usando a versão alcalina do Ensaio do Cometa para medir as quebras
de cadeia de DNA basais e medir as 8-oxoguaninas e outras purinas alteradas (sítios
FPG) pela incubação com formamidopirimidina DNA glicosilase (FPG). O PQ é um
herbicida que origina a produção de ROS dentro das células e tem sido apontado como
um factor relevante no desenvolvimento da doença de Parkinson. Neste estudo analisou-
se a sua genotoxicidade e pretendeu-se contribuir para o estabelecimento de um
protocolo alternativo aos métodos usados para a indução de danos oxidativos.
O efeito de diferentes concentrações de Paraquato (1; 1,5; 2 e 5 µM) foi testado em
células HepG2. Diferentes concentrações de extracto vegetal (0,5; 5 e 10 g/L) foram
testadas sozinhas ou combinadas com Paraquato (1 e 1,5 µM), ao longo do tempo (de
uma a 24 horas de incubação), de modo a avaliar o efeito mutagénico/antimutagénico
deste extracto vegetal.
A incubação das células HepG2 com o extracto vegetal (10 g/L) durante uma hora
aumentou os danos no DNA (quebras de cadeia e dano oxidativo), provavelmente
devido aos ácidos ginkgólicos presentes no extracto bruto. A incubação com 0,5 g/L ao
longo do tempo (uma, 4 e 24 horas) indicou que, 4 horas após a incubação das células
HepG2, o dano é sobretudo oxidativo. Os tratamentos com Paraquato conduziram a um
aumento do dano oxidativo no DNA, nas concentrações 1 e 1,5 µM, após 4 horas de
incubação. O pré-tratamento de 24 horas das células HepG2 com Ginkgo biloba L. (0.5
e 5 g/L), antes do tratamento com PQ (1 e 1,5 µM, durante 1 hora), aumentou o dano
oxidativo no DNA, revelando, ao contrario do que seria de esperar, efeitos genotóxicos
quando usado nesta concentração e tempo.
Palavras-chave: Ginkgo biloba L., Paraquato; HepG2; Ensaio do Cometa.
VIII
Abstract
Ginkgo biloba L. leaf extract is one of the most widely used nutritional supplements in
the world. The aim of this work was to study the genotoxic/antigenotoxic effect of the
Ginkgo biloba L in HepG2 cells, and testify the protective effect of this extract against
damage induced by the potent reactive oxygen species (ROS) inducer Paraquat (PQ),
using the alkaline comet assay to measure basal DNA strand breaks (SBs) and to
measure 8-oxoguanines and other altered purines (FPG sites) by incubation with
formamidopyrimidine DNA glycosylase (FPG). PQ is an herbicide that produces ROS
inside the cells and it has been appointed as a relevant factor in the development of
Parkinson’s disease. In this study we analyzed its genotoxicity and it was intended to
contribute to the establishment of an alternative protocol to the methods used for the
induction of oxidative damage.
The effect of different concentrations of PQ (1; 1.5; 2 and 5 µM) was tested on HepG2
cells. Different concentrations of plant extract (0.5; 5 and 10 g/L) have been tested alone
and combined with PQ (1 and 1.5 M), over time (from 1 h to 24 h of incubation), to
evaluate the mutagenic/antimutagenic effect of plant extract.
Incubating HepG2 cells with plant extract (10 g/L) for 1 h increased the DNA damage
(strand breaks and oxidative damage), probably due to ginkgolic acids present in crude
extract. Incubation with 0.5 g/L over time (1, 4 and 24 h) indicated that, at 4 h after
HepG2 cells incubation, the damage is mainly oxidative. PQ treatment leads to an
increasing of the oxidative DNA damage, at concentration of 1 and 1.5 µM, after 4 h of
incubation. A 24 h pre-treatment of HepG2 cells with Ginkgo biloba L. (0.5 and 5 g/L),
before PQ treatment (1 and 1.5 µM, for 1 h), increased the oxidative DNA damage,
revealing, in contrast to the expectations, its genotoxic effects when used at this
concentration and time.
Keywords: Ginkgo biloba L.; Paraquat; HepG2; Comet assay.
IX
Índice Geral
Agradecimentos ................................................................................................................ V
Resumo .......................................................................................................................... VII
Abstract ......................................................................................................................... VIII
Índice Geral .................................................................................................................... IX
Índice de Figuras ............................................................................................................ XI
Índice de Quadros ........................................................................................................ XIV
Índice de Tabelas ......................................................................................................... XIV
Lista de abreviaturas e símbolos .................................................................................. XVI
1. Introdução.................................................................................................................. 1
1.1 Espécies Reactivas de Oxigénio e Stresse Oxidativo ........................................ 1
1.1.1. Espécies reactivas de oxigénio: o seu local de produção e sua reactividade
2
1.1.2. Defesas Celulares Contra Espécies Reactivas de Oxigénio ....................... 4
1.1.3. Consequências in vivo da geração de radicais livres de oxigénio .............. 7
1.2. Ginkgo biloba .................................................................................................. 12
1.3. Linha Célular HepG2 ....................................................................................... 18
1.4. Ensaio do Cometa ............................................................................................ 19
1.5. Paraquato (PQ) ................................................................................................. 21
2. Objectivos................................................................................................................ 24
3. Material e Métodos.................................................................................................. 25
3.1. Material Biológico ........................................................................................... 25
3.2. Meios de Cultura e Soluções ........................................................................... 25
3.2.1. Meio de cultura completo ......................................................................... 25
3.2.2. Meio de cultura sem soro.......................................................................... 26
3.2.3. Soluções .................................................................................................... 26
X
3.3. Extracto de folhas de Ginkgo biloba ................................................................ 27
3.4. Preparação da solução stock de Paraquato ...................................................... 28
3.5. Desagregação das células HepG2 com tripsina ............................................... 28
3.6. Contagem das células ....................................................................................... 28
3.7. Avaliação da genotoxicidade e citoprotecção em células HepG2: Ensaio do
Cometa ........................................................................................................................ 29
3.7.1. Procedimento ............................................................................................ 29
4. Resultados ............................................................................................................... 34
4.1. Avaliação do efeito do extrato de Ginkgo biloba no DNA .............................. 35
4.2. Avaliação do efeito genotóxico do Paraquato ................................................. 37
4.3. Avaliação do efeito do extracto de Ginkgo biloba em células HepG2 tratadas
com Paraquato ............................................................................................................. 42
5. Discussão ................................................................................................................. 47
6. Conclusões .............................................................................................................. 56
7. Bibliografia.............................................................................................................. 61
XI
Índice de Figuras
Figura 1: Produção e reparação enzimática de resíduos 8-oxoguanina no DNA (Fonte:
Adaptado de Nash et al, 1996). ............................................................................... 11
Figura 2: Visão global do mecanismo das espécies reactivas de oxigénio e o mecanismo
de lesão oxidativa de tecidos que conduz a condições patológicas (Fonte: Adaptado
de Bandyopadhyay et al, 1999). .............................................................................. 12
Figura 3: Estrutura de cinco ginkgolides e do bilobalide (Fonte: Stromgaard e
Nakanishi, 2004). .................................................................................................... 14
Figura 4: Fórmula de estrutura do Paraquato. ................................................................ 21
Figura 5: Formação de radicais livres na célula aumentada via exposição ao Paraquato
com consequente peroxidação lipídica (Fonte: Adaptado de Bus et al, 1975 citado
por Schmitt et al, 2006). .......................................................................................... 23
Figura 6: Imagens de ensaios do cometa realizados em células HepG2 após a coloração
do seu DNA com Brometo de Etídeo. A) Experiência controlo em que as células
não foram sujeitas a nenhum tratamento – a inexistência de cauda demonstra os
baixos níveis de danos no DNA das células HepG2 utilizadas; B, C e D) Danos no
DNA resultantes da incubação das células com diferentes tratamentos; B)
Paraquato 1 µM (4 horas); C) Extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (4 horas) e D)
Extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (24 horas) + Paraquato 1,5 µM (1 hora). Ensaios
com tratamento enzimático FPG. Exemplos ilustrados com setas. Todas as imagens
foram obtidas numa ampliação de 400 vezes. ......................................................... 34
Figura 7: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com diferentes concentrações do
extracto de folhas de Ginkgo biloba (g/L) durante uma hora. Para cada tratamento
foram feitos ensaios com e sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos
de DNA é expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e
desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis
(letras iguais indicam diferenças significativas). .................................................... 35
Figura 8: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Ginkgo biloba 0,5 g/L ao longo
do tempo (0, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem
tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em
XII
percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram
obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras iguais
indicam diferenças significativas). .......................................................................... 37
Figura 9: Dano no DNA em células HepG2 tratadas com diferentes concentrações de
Paraquato (µM) durante 30 minutos. Para cada tratamento foram feitos ensaios com
e sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em
percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram
obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras iguais
indicam diferenças significativas). .......................................................................... 38
Figura 10: Dano no DNA em células HepG2 tratadas com diferentes concentrações de
Paraquato (µM) durante uma hora. Para cada tratamento foram feitos ensaios com e
sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em
percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram
obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras iguais
indicam diferenças significativas). .......................................................................... 39
Figura 11: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1 µM ao longo do
tempo (0, 5 e 30 minutos, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos
ensaios com e sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é
expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio
padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras
iguais indicam diferenças significativas). ............................................................... 40
Figura 12: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1,5 µM ao longo do
tempo (0, 5 e 30 minutos, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos
ensaios com e sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é
expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio
padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras
iguais indicam diferenças significativas). ............................................................... 41
Figura 13: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1 µM durante uma
hora após uma pré-incubação das células com Gb 0,5 g/L (24 horas). Apresentam-
se valores de dano com e sem a enzima FPG. A avaliação dos danos de DNA é
expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio
XIII
padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis (letras
iguais indicam diferenças significativas). ............................................................... 43
Figura 14: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1,5 µM durante
uma hora após uma pré-incubação das células com Gb 0,5 e 5 g/L (24 horas).
Apresentam-se valores de dano com e sem a enzima FPG. A avaliação dos danos
de DNA é expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de média e
desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em quatro géis
(letras iguais indicam diferenças significativas). .................................................... 44
Figura 15: Comparação entre o dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato
(1 e 1,5 µM) durante uma hora com uma pré-incubação das células com Gb 0,5 g/L
(24 horas) e a adição conjunta de Paraquato e Gb 0,5 g/L às células durante uma
hora. Apresentam-se valores de dano com e sem a enzima FPG. A avaliação dos
danos de DNA é expressa em percentagem (%) de DNA na cauda. Os valores de
média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas obtidos em
quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas). .................................. 46
XIV
Índice de Quadros
Quadro 1: Principais espécies reactivas de oxigénio e o seu metabolismo (Fonte:
Nordberg e Arnér, 2001). .......................................................................................... 8
Quadro 2: Enzimas metabolizadoras de xenobióticos presentes em células humanas
HepG2 (Adaptado de Knasmuller et al, 1998). ....................................................... 19
Quadro 3: Plano de preparação das células para o ensaio do cometa............................. 30
Índice de Tabelas
Tabela 1: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de extracto de Ginkgo biloba (g/L) a células HepG2
durante 1 hora. ......................................................................................................... 36
Tabela 2: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de
exposição das células HepG2 ao extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (em horas). ... 37
Tabela 3: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de Paraquato (µM) a células HepG2 durante 30 minutos.
................................................................................................................................. 38
Tabela 4: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de Paraquato (µM) a células HepG2 durante 1 hora. ..... 39
Tabela 5 Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de
exposição das células HepG2 ao Paraquato 1 µM. ................................................. 40
Tabela 6 Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de
exposição das células HepG2 ao Paraquato 1,5 µM. .............................................. 42
Tabela 7: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
Ginkgo biloba 0,5 g/L às células HepG2 24 horas antes da adição de Paraquato 1
µM durante uma hora. ............................................................................................. 43
XV
Tabela 8: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
Ginkgo biloba 0,5 e 5 g/L às células HepG2 24 horas antes da adição de Paraquato
1,5 µM durante uma hora. ....................................................................................... 45
Tabela 9: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
Ginkgo biloba 0,5 g/L 24 horas antes da adição de Paraquato (1 e 1,5 µM) e da sua
adição conjunta (durante uma hora) às células HepG2. .......................................... 46
XVI
Lista de abreviaturas e símbolos
·OH Radical hidroxilo
8-oxoGua 8-oxo-7, 8 desidro-2’-desoxiguanosina
ATP Adenosina-trifosfato
BB Bilobalide
BE Brometo de etídio
BER Reparação por excisão de base (Base Excison Repair)
CO2 Dióxido de carbono
Cu Cobre
Cu/Zn-SOD Superóxido dismutase Cobre-zinco
CYP Citocromo P
dGTP Desoxiguanina trifosfato
DMEM Dulbeco’s Modified Eagles Medium (Meio de cultura)
DNA Ácido desoxirribonucleico
e-
Electrão
EGb761 Extracto de Ginkgo biloba padrão
Fe Ferro
FPG Formamidopirimidina-DNA-glicosilase
GA Ginkgolide A
Gb Ginkgo biloba
GB Ginkgolide B
GlyRs Receptores da glicina
GPx Glutationa Peroxidase
GSH Glutationa reduzida
GSSG Glutationa oxidada
H+
Ião hidrogénio
XVII
H2O Água
H2O2 Peróxido de hidrogénio
HepG2 Linha celular derivada de carcinoma hepatocelular
HOCl Ácido hipocloroso
LMP Agarose de baixo ponto de fusão (Low Melting Point)
Mn-SOD Superóxido dismutase de manganês
NADH Nicotinamida adenina dinucleótido fosfato
NADPH Nicotinamida adenina dinucleótido fosfato (reduzida)
NMP Agarose de normal ponto de fusão (Normal Melting Point)
O2 Oxigénio molecular
O2-
Radical superóxido
ºC Graus Celsius
PAF Factor de agregação plaquetária
PBR Receptores benzodiazepínicos periféricos
PBS Tampão fosfato salino
PQ Paraquato
Prx Peroxirredoxinas
RNA Ácido ribonucleico
RO· Radicais alcoxi
ROO· Radicais peróxidos
ROOH Hidroperóxido
ROS Espécies reactivas de oxigénio (Reactive Oxygen Species)
Sítio AP Lesão apurínica/apirimidínica
SOD Superóxido dismutase
SS Quebras de DNA de cadeia simples
UV Radiação ultravioleta
1
1. Introdução
Desde que o stresse oxidativo foi considerado como o principal factor que conduz ao
envelhecimento e às doenças neurodegenerativas relacionadas com a idade (Ames et al,
1993), as terapias antioxidantes adequadas para controlar estes processos têm sido alvo
de uma atenção especial a nível mundial. O isolamento de um factor antioxidante não
tóxico proveniente de fontes naturais seria uma das melhores abordagens para o controle
da patogenese mediada por espécies reactivas de oxigénio (Bandyopadhyay et al, 1999).
1.1 Espécies Reactivas de Oxigénio e Stresse Oxidativo
O oxigénio é vital para os processos de vida aeróbia. Os organismos aeróbios utilizam o
oxigénio molecular (O2) para a respiração ou para a oxidação de nutrientes de modo a
obter energia. No entanto, cerca de 5% desse O2 é convertido em espécies reactivas de
oxigénio (ROS), designadamente o radical superóxido (O2-), o peróxido de hidrogénio
(H2O2) e o radical hidroxilo (·OH) (Cabiscol et al, 2000; Bandyopadhyay et al, 1999).
As espécies reactivas de oxigénio formam-se principalmente devido à “fuga” de
electrões da cadeia transportadora na mitocôndria. A exposição a radiação ionizante,
radiação ultravioleta (UV), drogas quimioterapeuticas e toxinas ambientais induz uma
sobreprodução de espécies reactivas de oxigénio (Salmon et al, 2004).
O stresse oxidativo surge quando a concentração de oxigénio activo aumenta para um
nível que excede a capacidade de defesa da célula. O stresse oxidativo, através de uma
série de eventos, desregula as funções celulares podendo conduzir a várias condições
patológicas, incluindo disfunções cardiovasculares, doenças neurodegenerativas,
patogenese gastroduodenal, disfunções metabólica, cancro e envelhecimento prematuro.
O stresse oxidativo atinge, como alvos biológicos, os ácidos nucleicos (DNA e RNA),
as proteínas e os lípidos (Cabiscol et al, 2000; Bandyopadhyay et al, 1999).
Até determinado nível, a presença de espécies reactivas de oxigénio é fundamental para
a célula e para o organismo visto que desempenham duas funções principais: defesa
contra infecções e regulação redox da actividade dos factores de transcrição.
2
Quando os fagócitos são activados produzem ROS em quantidade suficiente para
eliminar o agente infeccioso. Nesta situação o complexo NADPH oxidase converte o O2
em O2-. O superóxido é posteriormente reduzido pela enzima superóxido dismutase
(SOD) a H2O2 que é depois convertido em ácido hipocloroso (HOCl) e
espontaneamente origina-se o radical hidroxilo. Estas espécies reactivas de oxigénio são
tóxicas para as bactérias captadas pelos fagócitos. O ácido hipocloroso destrói a ligação
do DNA à membrana, pondo fim à replicação bacteriana (Nordberg e Arnér, 2001).
As espécies reactivas de oxigénio podem também afectar directamente a conformação
e/ou a acção de todas as moléculas que contenham sulfidril através da oxidação deste
grupo (-SH). Este tipo de regulação redox afecta muitas proteínas importantes na
transdução de sinal, enzimas e receptores de membrana. Para muitos factores de
transcrição as ROS funcionam como mediadores fisiológicos do controlo da transcrição
(Nordberg e Arnér, 2001).
1.1.1. Espécies reactivas de oxigénio: o seu local de produção e sua reactividade
O O2 sofre redução num processo sequencial univalente formando-se vários
intermediários, tais como o superóxido, o peróxido de hidrogénio e o radical hidroxilo
que colectivamente são denominados como espécies reactivas de oxigénio (ROS)
(Bandyopadhyay et al, 1999).
O2 (e-) O2- (e-) H2O2 (e-) ·OH (e-) H2O
A redução do O2 é limitada pela enzima citocromo oxidase da cadeia mitocôndrial de
transporte de electrões, que reduz o O2 a H2O sem libertar qualquer O2- ou H2O2.
O2 + 4H+
+ 4e- 2H2O
No entanto, o O2- é sistematicamente produzido na respiração celular (Fridovich, 1983)
devido à "fuga" de um electrão num local específico da cadeia de transporte de electrões
da mitocôndria, resultando numa inadequada redução de electrão único do oxigénio a
O2- (Chance et al, 1979 citado por Bandyopadhyay et al, 1999; Loschen et al, 1974)
3
As células fagocíticas, quando activadas durante a fagocitose, dão origem a O2- e H2O2
através da activação da NADPH oxidase. A dismutação espontânea de O2- em pH neutro
ou a dismutação pela enzima superóxido dismutase resulta na produção de H2O2
(Bandyopadhyay et al, 1999).
Exceptuando episódios de exposição anormal a radiação ionizante, a geração de ·OH in
vivo exige a presença de quantidades vestigiais de metais de transição como o ferro ou o
cobre. A simples mistura de H2O2 e sais de Fe2+
dá origem a ·OH (reacção de Fenton).
Fe2+
+ H2O2 Fe3+
+ ·OH + OH-
Vestígios de Fe3+
podem também reagir com o H2O2.
Fe3+
+ H2O2 Fe2+
+ O2– + H
+
A geração de ·OH pode também ter origem na reacção de duas espécies reactivas de
oxigénio.
O2–
+ H2O2 OH– + ·OH + O2.
A constante de velocidade desta reacção é muito baixa, mas pode ser aumentada se for
catalisada por vestígios de iões de metais de transição - reacção de Haber-Weiss
(Halliwell e Gutteridge, 1984).
Fe3+
+ O2– Fe
2+ + O2
Fe2+
+ H2O2 Fe3+
+ ·OH + OH-
____________________________________________
O2– + H2O2 (sal de ferro) O2 + ·OH + OH
-
Tanto o ferro como o cobre existem nos sistemas biológicos ligados a proteínas,
membranas, ácidos nucleicos ou agentes quelantes (Halliwell e Gutteridge, 1984). No
entanto, durante uma situação extraordinária de isquemia e acidose celular, por
exemplo, os iões destes metais são libertados de algumas metaloproteínas
(Bandyopadhyay et al, 1999; Chevion et al, 1993; Biemond et al, 1984).
4
O O2- mostra uma elevada reactividade em ambientes hidrofóbicos, mas uma baixa
reactividade em soluções aquosas. Devido ao seu estado de carga, o O2- não pode
atravessar as membranas biológicas, com excepção da membrana dos eritrócitos, que
possui um canal de aniões, que auxilia a sua passagem. Uma acção deletéria indirecta do
O2- é a sua dismutação a H2O2, que é sensível à catalase. Num sistema livre de metais de
transição, o H2O2 mostra uma toxicidade limitada. No entanto, o seu elevado tempo
médio de vida e o facto de ser semipermeável às membranas conferem-lhe a capacidade
de se difundir até uma distância considerável do seu local de geração. Pelo contrário, o
·OH é extremamente reactivo tendo um tempo de meia vida muito curto e uma
capacidade de difusão muito limitada. Este radical ataca e danifica quase todas as
moléculas que se encontrem na sua proximidade. Assim, a extensão dos danos às
células pelo O2- e pelo H2O2 aumenta na presença de iões de metais de transição, devido
à geração do radical mais poderoso o ·OH (Bandyopadhyay et al, 1999).
1.1.2. Defesas Celulares Contra Espécies Reactivas de Oxigénio
O aparecimento do oxigénio na atmosfera acarretou o desenvolvimento de mecanismos
de defesa celular que mantêm a concentração de radicais derivados do O2 em níveis
toleráveis e que reparam os danos oxidativos. Tanto as células procariotas como as
eucariotas possuem estes mecanismos. Os mecanismos de defesa incluem: enzimas
como a superóxido dismutase, a catalase, várias peroxidases e moléculas
constitutivamente presentes na célula que mantêm um ambiente intracelular de redução
e que captam o oxigénio reactivo (Cabiscol et al, 2000).
1.1.2.1. A defesa primária contra ROS: Remoção catalítica por enzimas
antioxidantes
A superóxido dismutase (SOD), a catalase e as peroxidases constituem um grupo de
apoio mútuo na defesa das células contra as ROS. Enquanto a SOD diminui o nível de
O2-, a catalase e as peroxidases fazem o mesmo para o H2O2.
5
1. Superóxido Dismutase (SOD; E.C. 1.15.1.1)
O O2- é tóxico para o crescimento da célula e é a superóxido dismutase (SOD), que
recolhe estes radicais.
A SOD foi a primeira enzima metabolizadora de ROS a ser descoberta. Existem duas
isoenzimas SOD: a Mn-SOD presente na mitocôndria e a Cu/Zn-SOD presente no
citoplasma. Na reacção catalisada pela SOD, duas moléculas de superóxido formam
peróxido de hidrogénio e oxigénio molecular (Nordberg e Arnér, 2001).
2O2- + 2H
+ H2O2 + O2
A biossíntese de SOD é controlada principalmente pelo seu substrato, o O2- (Nordberg e
Arnér, 2001; Bandyopadhyay et al, 1999).
2. Glutationa Peroxidase (GPx; E.C. 1.11.1.9)
A glutationa peroxidase catalisa a reacção dos hidroperóxidos com a glutationa reduzida
(GSH) para formar glutationa dissulfeto (GSSG) e o produto de redução do
hidroperóxido.
ROOH + 2GSH ROH + GSSG + H2O
O substrato desta enzima varia entre o H2O2 e hidroperóxidos orgânicos. É uma enzima
selénio. Localiza-se no citoplasma e na mitocôndria (Bandyopadhyay et al, 1999).
3. Peroxirredoxinas (Prx; E.C. 1.11.1.15)
As peroxirredoxinas (Prx) reduzem directamente os peróxidos como o peróxido de
hidrogénio (Roos e Messens, 2011; Nordberg e Arnér, 2001).
2 e- + 2 H
+ + H2O2 2 H2O
ROOH ROH
6
4. Catalase (E.C. 1.11.1.6)
A catalase está presente em quase todas as células de mamíferos e localiza-se nos
peroxissomas ou nos microperoxissomas. É uma hemoproteína e catalisa a
decomposição do H2O2 em água e oxigénio molecular.
2H2O2 O2 + 2H2O
A catalase reduz o risco de formação de radicais hidroxilo a parir do peróxido de
hidrogénio via reacção de Fenton. Esta enzima liga-se ao NADPH que protege a enzima
da inactivação e aumenta a sua eficiência (Nordberg e Arnér, 2001; Bandyopadhyay et
al, 1999).
O Quadro 1 resume a origem das espécies reactivas de oxigénio, o sistema enzimático
de defesa e os produtos resultantes.
1.1.2.2. Defesa secundária contra ROS: “captadores” de radicais livres
A defesa secundária contra as espécies reactivas de oxigénio é constituída por moléculas
(os "captadores") que reagem com os radicais para produzir outros compostos de
radical. Quando os captadores produzem uma espécie radical menos prejudicial,
denominam-se antioxidantes.
Estes antioxidantes não enzimáticos, são nomeadamente o NADH e o NADPH, o ácido
ascórbico, o tocoferol, o ácido úrico, o β-caroteno e a glutationa (GSH) (Cabiscol et al,
2000).
O α-tocoferol, o ascorbato e a glutationa reduzida (GSH) actuam em conjunto como
antioxidantes celulares: o α-tocoferol está presente nas membranas celulares e
lipoproteínas plasmáticas. Quando o radical tocoferol é formado migra para a superfície
da membrana e é reconvertido em α-tocoferol através da sua reacção com a ascorbato
ou com a glutationa. O radical ascorbato resultante pode depois regenerar o ascorbato
por redução com a GSH. A GSH também capta directamente as espécies reactivas de
7
oxigénio, e a GSSG resultante regenera a GSH através do sistema NADPH-glutationa
redutase (Bandyopadhyay et al, 1999).
1.1.3. Consequências in vivo da geração de radicais livres de oxigénio
As espécies reactivas de oxigénio, devido à sua elevada reactividade causam danos em
componentes celulares vitais como os ácidos gordos polinsaturados, as proteínas e os
ácidos nucléicos, sendo potencialmente tóxicas, mutagénicas e carcinogénicas. Em
menor medida, os hidratos de carbono também são alvos das ROS (Cabiscol et al, 2000;
Bandyopadhyay et al, 1999).
Estas reacções podem alterar as propriedades intrínsecas de membrana como a fluidez e
o transporte de iões, conduzir à perda da actividade enzimática, formação de proteínas
com ligação cruzada e/ou inibição da sua síntese e danos no DNA nomeadamente cisão
de cadeia, a modificação de bases (Pacifici et al, 1993; Stadtman, 1990; Moody e
Hassan, 1982).
Os ácidos gordos polinsaturados, devido às suas múltiplas ligações duplas, figuram-se
como excelentes alvos para o ataque dos radicais livres. Esta oxidação está na origem da
formação de placas ateroscleróticas (Cabiscol et al, 2000).
A peroxidação lipídica é iniciada pelo radical ·OH, radicais alcoxi (RO·) e radicais
peróxidos (ROO·) (Turrens e Boveris, 1980). Isto conduz a um processo de auto
perpetuação uma vez que os radicais peróxidos são iniciadores bem como os produtos
de peroxidação lipídica. Os radicais peróxido de lípidos reagem com outros lípidos,
proteínas e ácidos nucleicos propagando assim a transferência de electrões e
provocando a oxidação de substratos.
Comparando com os radicais livres reactivos, os aldeídos têm um tempo de vida
superior e podem difundir-se do local da sua origem alcançando e atacando alvos
distantes. Actuam como "segundos mensageiros tóxicos" das reacções em cadeia
iniciadas (Cabiscol et al, 2000; Bandyopadhyay et al, 1999).
8
Quadro 1: Principais espécies reactivas de oxigénio e o seu metabolismo (Fonte: Nordberg e
Arnér, 2001).
Molécula ROS Principais Origens Sistema enzimático
de defesa Produto (s)
Superóxido (O2-)
“Fuga” de electrões
da cadeia
transportadora de
electrões
Fagócitos activados
Xantina oxidase
Flavoenzimas
Superóxido
dismutase (SOD)
H2O2 + O2
Peróxido de
Hidrogénio (H2O2)
Do O2- via SOD
NADPH-oxidase
(neutrófilos)
Glucose oxidase
Xantina oxidase
Glutationa
Peroxidase
H2O + GSSG
Catalases
H2O + O2;
Peroxirredoxinas
(Prx)
H2O
Radical Hidroxilo
(·OH)
Do O2- e H2O2 via
metais de transição
(Fe2+
ou Cu2+)
9
Quando as proteínas são expostas a espécies reactivas de oxigénio ocorrem alterações
nas cadeias laterais de aminoácidos e a estrutura da proteína é alterada. Estas
modificações oxidativas conduzem a alterações funcionais que perturbam o
metabolismo celular. Os estudos sobre o processo de envelhecimento demonstram a
acumulação de enzimas cataliticamente inactivas ou menos activas e mais termolábeis
além de um aumento no nível de conteúdo carbonil (indicador da oxidação catalisada
por metais). Contudo, na célula o dano oxidativo de proteínas é um processo normal,
provocado de modo a degradar as proteínas danificadas e assim promover a síntese de
novas proteínas (Cabiscol et al, 2000; Bandyopadhyay et al, 1999).
As modificações oxidativas no DNA foram descobertas por Kasai e Nishimura, 1984
durante um estudo sobre os efeitos de alimentos cozinhados e as modificações que estes
podem provocar no DNA. Mas estas alterações foram também descobertas num estudo
independente deste por Dizdarogiu em 1985 (Poulsen et al, 1999).
As espécies reactivas de oxigénio causam danos oxidativos no DNA, tanto nuclear
como mitocôndrial. Os seus alvos são bases azotadas e açúcares originando-se quebras
de cadeia simples e duplas. Ocorre conjuntamente a formação de lesões
apurínicas/apirimidínicas (sítios AP) e ligações cruzadas do tipo DNA-proteínas. Estas
lesões bloqueiam a replicação do DNA (Cabiscol et al, 2000). Devido a estas
modificações químicas, a acção das ROS é considerada mutagénica caso os sistemas de
reparação do DNA não sejam capazes de regenerar de imediato esta biomolécula.
O radical ·OH dá origem a diversos produtos a partir das bases do DNA que incluem
particularmente a hidroxilação da guanina em C-8 para formar 8-oxo-7, 8 desidro-2’-
desoxiguanosina (8-oxoGua), a 2,6-diamino-4-hidroxi-5-formamimodipirimidina
(Fapy), a 8-OH-adenina, a 2-OH-adenina, a timina glicol e a citosina glicol (Wiseman e
Halliwell, 1996).
Está demonstrado o envolvimento das ROS na indução de mutações no proto-oncogene
humano C-Ha-ras-1 e no gene supressor de tumor p53. Estas mutações desempenham
um papel vital na transdução de sinal conduzindo à proliferação e transformação celular.
As ROS regulam os factores de transcrição pela modulação oxidativa das cascatas de
proteínas cinases. As ROS induzem ainda genes de resposta ao stresse como o c-fos, c-
jun, jun-B, jun-D, c-myc, erg-1 e heme oxigenase-1 (Bandyopadhyay et al, 1999).
10
As espécies reactivas de oxigénio estão envolvidas na regulação dos factores de
transcrição AP-1 e NFkB (Sen e Packer, 1996; Amstad et al, 1992). Estes ligam-se a
regiões promotoras de genes regulando a expressão de várias proteínas, tais como o
factor de necrose tumoral-alfa (TNFα), interleucinas (IL) 1 e 2, colagenase e
metaloproteinases de matriz, proteínas estas envolvidas em respostas inflamatórias e
lesão de tecidos.
As bases azotadas são particularmente afectadas sofrendo uma oxidação possivelmente
genotóxica (Nash et al, 1996). A base modificada 8-oxoguanina (Figura 1) pode ser
incorporada no genoma através do ataque das ROS aos resíduos de guanina adicionados
ao DNA ou através da oxidação dos dGTP a 8-oxo-dGTP que são depois usados como
substrato pelas DNA polimerase. Mas independentemente da forma de incorporação, o
emparelhamento preferencial dos resíduos 8-oxoGua com a adenina (A) durante a
replicação dá origem a mutações por transversão de guanina:citosina (G:C) para
timina:adenina (T:A). Esta tendência de emparelhamento juntamente com o elevado
número de resíduos de 8-oxoGua produzidos no genoma a cada geração celular permite
que estes resíduos sejam os mutagénios endógenos mais significativos (Cabiscol et al,
2000; Nash et al, 1996).
O dano oxidativo do DNA mitocôndrial também envolve a modificação de bases e
quebras de cadeia, que leva à formação de componentes da cadeia transportadora de
electrões imperfeitos. Isto reflecte-se na geração de mais ROS através do aumento da
perda dos electrões e em danos celulares adicionais, sendo isto um ciclo vicioso (Reiter,
1997; Richter, 1988;).
Ainda que existam mecanismos de defesa endógenos contra as espécies reactivas de
oxigénio, quando o sistema antioxidante celular fica indisponível ou quando as ROS
atingem níveis anormalmente elevados, ocorre dano oxidativo nas células que, em
última instância, conduz a várias condições patológicas. Em doenças como artrite
reumatóide, cancro, aterosclerose, fibrose cística, ulcerogenese gastrointestinal, doença
de Alzheimer e de Parkinson foi já relatado o envolvimento de ROS (Das et al, 1997;
Wiseman e Halliwell, 1996).
11
Figura 1: Produção e reparação enzimática de resíduos 8-oxoguanina no DNA (Fonte: Adaptado
de Nash et al, 1996).
O stresse oxidativo mediado por ROS pode conduzir à morte celular por apoptose.
Como consequência desenvolvem-se as doenças neurodegenerativas e ocorre uma perda
progressiva de linfócitos T em casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana
(Khalid e Ashraf, 1993). Foi já demonstrado que o produto do gene p35 actua como um
antioxidante captando os radicais livres e prevenindo o processo de apoptose
(Bandyopadhyay et al, 1999).
Eversince Harman foi o primeiro investigador a propor o envolvimento dos radicais
livres no processo de envelhecimento, em 1956. A base molecular do envelhecimento e
o papel das ROS neste processo tem atraído uma atenção considerável nos últimos anos
sendo consensual que o envelhecimento e as doenças relacionadas com a idade resultam
do dano oxidativo nas biomoleculas (Bandyopadhyay et al, 1999; Harman, 1981).
A Figura 2 representa as fontes de espécies reactivas de oxigénio, os seus “captadores”
e as consequências da sua acção.
12
Figura 2: Visão global do mecanismo das espécies reactivas de oxigénio e o mecanismo de
lesão oxidativa de tecidos que conduz a condições patológicas (Fonte: Adaptado de
Bandyopadhyay et al, 1999).
Foi em 1974 que Gebhart detectou os primeiros antimutagénicos. Desde então têm sido
feitos numerosos estudos em compostos que possam proteger as células contra danos
causados no seu DNA por xenobióticos prevenindo as consequências que daí podem
advir (Mersch-Sundermann et al, 2004).
1.2.Ginkgo biloba
A árvore Ginkgo (Ginkgo biloba L.) é o único membro sobrevivente da família
Ginkgoaceae, família esta com origem no período Jurássico. Por esta razão, esta árvore
é considerada um fóssil vivo. Por ser distinta de todas as outras plantas vivas esta árvore
insere-se na sua própria divisão, a Ginkgophyta. A Ginkgo biloba é dióica, pode crescer
mais de 35 metros de altura e chegar a uma circunferência de até 10 metros. Além disto,
13
é capaz de atingir idades superiores a mil anos. Esta árvore é um sobrevivente resiliente
em ambientes poluídos, crescendo onde outras árvores sentem dificuldades. É
excepcionalmente resistente a ataques por fungos e insectos. A descoberta de
anterozóides móveis por parte de um botânico japonês fornece uma conexão crítica
entre os ciclos de vida de plantas inferiores e superiores (Stromgaard e Nakanishi,
2004).
A Ginkgo biloba, sendo a árvore mais velha do Mundo, possui uma vasta história do seu
uso na medicina tradicional chinesa. Os extractos das suas folhas têm sido usados desde
o ano 3000 a.C. para o tratamento da asma e bronquites (Ritch, 2000). O seu uso foi
descrito no livro de Liu Wen-Tai em 1505 e no Chinese Materia Medica por Pen Tsao
Ching (1578) para o tratamento de sintomas de senilidade dos membros mais velhos da
corte real chinesa (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Thiagarajan et al, 2002).
O extracto de folha de Ginkgo biloba é actualmente o fármaco de origem vegetal mais
vendido na Europa e um dos dez mais vendidos nos Estados Unidos da América
(Stromgaard e Nakanishi, 2004; Sierpina et al, 2003). As preparações feitas com base
nas suas folhas foram introduzidas no mundo ocidental por volta de 1965 pela
companhia alemã Dr. Willmar Schwabe. Mais tarde, esta companhia em colaboração
com a companhia francesa Beaufour-Ipsen desenvolveu o extracto de Ginkgo biloba
padrão – o EGb761, utilizado em investigação científica e vendido em farmácias e
parafarmácias (Stromgaard e Nakanishi, 2004).
O extracto de folhas de Ginkgo biloba possui mais de 60 compostos bioactivos sendo os
principais os flavonóides, os glicosídeos, os terpenóides (ginkgolides e biobalide) e o
ácido anacárdico (Thiagarajan et al, 2002; Ritch, 2000).
Os ginkgolides (A, B, C, J e M) e o biobalide são compostos exclusivamente
encontrados na árvore Ginkgo biloba (Figura 3).
14
Figura 3: Estrutura de cinco ginkgolides e do bilobalide (Fonte: Stromgaard e Nakanishi, 2004).
O estudo dos efeitos dos componentes individuais do extracto de Ginkgo biloba é
essencial para fornecer uma documentação científica completa dos seus potenciais
efeitos terapêuticos. Mas além do contributo individual de cada composto os efeitos
sinergéticos são um ponto importante a considerar. A biodisponibilidade destes
compostos é também um parâmetro que deve ser tida em conta. Os flavonóides no
extracto de Ginkgo biloba não são capazes de transpor a barreira hemato-encefálica ou,
pelo menos, não em quantidade suficiente para exercer efeitos fisiológicos no sistema
nervoso central. Já a biodisponibilidade dos ginkgolides e do biobalide é de 70 a 80%,
com um tempo médio de vida de 3 a 5 horas. O carácter lipofílico destes torna-os
permeáveis à barreira hemato-encefálica e por isto, a presença destas estruturas únicas é
decisiva na concretização das melhorias associadas ao extracto de Ginkgo biloba
(Stromgaard e Nakanishi, 2004).
Os ensaios com extracto de Ginkgo biloba são vários e permitiram descrever várias
acções biológicas, nomeadamente: acção vasorreguladora com o aumento do fluxo
sanguíneo, melhorias em casos de zumbidos de origem vascular, melhoria cognitiva, da
resposta imunitária, protecção contra a apoptose celular, melhoria dos sintomas da
doença de Alzheimer em fase inicial e atraso na progressão desta doença, alívio do
stresse, efeitos antioxidantes, capacidade de antagonizar o receptor do factor de
agregação plaquetária, inibição de episódios agudos de asma, inibição da formação de
β-amilóide, melhorias em casos de depressão emocional, glaucoma, tonturas e dores de
cabeça, acção reguladora genética, aumento da longevidade, efeito protector na
progressão de retinopatias diabéticas (Ritch, 2000), neuroprotecção, efeitos positivos
15
em casos de disfunção sexual secundária, doença das alturas e diminuição da
vasoactividade em resposta ao frio, melhoria do metabolismo da glicose no cérebro,
vertigens e melhoria dos sintomas congestivos da síndrome pré-mestrual (Stromgaard e
Nakanishi, 2004; Thiagarajan et al, 2002; Sierpina et al, 2003; Ritch, 2000). O extracto
de Ginkgo biloba tem também uma actividade antineoplásica tendo demonstrado um
efeito anticlastogénico em estudos com vítimas do acidente nuclear de Chernobyl
(Ritch, 2000).
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que, em 2010, 50 a 60%
da população mundial com mais de 65 anos sofreu de alguma doença degenerativa.
Informação de 2012 aponta já para a existência de 35,6 milhões de pessoas a sofrer de
demência estimando-se que este valor duplique até 2030 e triplique até 2050. Para já os
tratamentos existentes são pouco eficazes e vitalícios. Para já a OMS recomenda o uso
de Ginkgo biloba na doença de Raynaud e síndrome pós flebítica (Sierpina et al, 2003).
A primeira actividade biológica significativa dos ginkgolides foi descoberta em 1985
quando demonstraram ser potentes antagonistas do receptor do factor de agregação
plaquetária (PAF) (Stromgaard et al, 2004). Os ginkgolides, nomeadamente o
ginkgolide B, são responsáveis pela capacidade neuroprotectora, antioxidante,
capacidade de captação de radicais livres e de relaxamento do endotélio. Os ginkgolides
inibem também a formação de β-amilóide (Sierpina et al, 2003).
O factor de agregação plaquetária está envolvido na modulação de vários processos do
sistema nervoso central e periférico. O PAF é produzido por basófilos, neutrófilos,
monócitos, plaquetas e células endoteliais, e induz a agregação de neutrófilos, aderência
e quimiotaxia. A sua presença aumenta a permeabilidade vascular, a libertação de
lisossomas e a síntese de superóxido (Ritch, 2000).
Os níveis de PAF aumentam no Sistema Nervoso Central durante um trauma e nestes
casos a acção dos antagonistas do PAF é reduzir o dano neuronal pela limitação do
aumento da concentração de iões cálcio induzido pelo PAF. Os inibidores do PAF
diminuem o tamanho do enfarte cerebral e aumentam a recuperação da actividade
metabólica cerebral após isquemia. (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Ritch, 2000). O
potencial problema clínico mais importante que envolve a ingestão de Ginkgo biloba
está precisamente relacionado com a sua capacidade de inibição do factor de activação
16
plaquetária. Posto isto, o uso desta planta medicinal não deve ser concomitante com a
ingestão de outros agentes antiplaquetários (Sierpina et al, 2003).
Os ginkgolides A, C e J, mas principalmente o ginkgolide B são antagonistas dos
receptores da glicina (GlyRs). Os ligandos dos GlyRs, como moduladores da sua função
podem ser usados como relaxantes musculares, agentes sedativos e analgésicos
(Stromgaard e Nakanishi, 2004).
Os ginkgolides, particularmente os GA e GB são ainda moduladores da acção dos
receptores benzodiazepínicos periféricos (PBR). A função dos PBRs relaciona-se com a
proliferação celular, stresse e desordens de ansiedade. Em casos de desordens
neurodegenerativas e após danos cerebrais ocorre um aumento no número de PBRs. O
efeito neuroprotector dos GA e GB prende-se com a inibição da expressão de PBRs
(Stromgaard e Nakanishi, 2004).
Relativamente à sua capacidade antioxidante, os estudos demonstram que o extracto de
Ginkgo biloba protege os neurónios cerebrais expostos a stresse oxidativo induzido por
espécies reactivas de oxigénio: o pré-tratamento destes com Ginkgo biloba prolonga a
sua sobrevivência após exposição a um agente indutor de stresse como o peróxido de
hidrogénio. O seu potencial antioxidante é comparável ao do ácido ascórbico, glutationa
e alfa-tocoferol. Este extracto é um eficaz captador de radicais peroxilo e superóxido
além de conseguir captar o óxido nítrico e inibir a sua produção, impedindo a oxidação
da oxihemoglobina (Ritch, 2000).
O extracto de Ginkgo biloba preserva também o metabolismo mitocondrial e a produção
de ATP em vários tecidos e previne alterações morfológicas e os índices de dano
oxidativo associado ao envelhecimento mitocondrial (Ritch, 2000).
Sabe-se que o extracto de Ginkgo biloba tem um importante efeito protector contra os
danos causados por radicais livres ao nível da peroxidação lipídica em vários tecidos e
sistemas experimentais. A este nível a sua acção prende-se com o aumento dos níveis de
GSH e da actividade da GSSG reductase (Ritch, 2000).
Alguns estudos clínicos realizados com o extracto de Ginkgo biloba demonstraram a
sua eficácia contra o choque séptico induzido por bactérias Gram-negativas e em casos
de falha renal pós-transplante (Stromgaard e Nakanishi, 2004).
17
O extracto de Ginkgo biloba melhora o fluxo sanguíneo cerebral e periférico, um efeito
que tem sido atribuído à fracção não flavonóide. Ocorre ainda a diminuição da
viscosidade do sangue e o aumento da deformabilidade dos eritrócitos. Pacientes com
doença cardíaca coronária, hipertensão, hipercolesterolemia e diabetes têm melhorado
os níveis de fibrinogénio e a viscosidade do plasma após tratamento com este extracto.
Este inibe ainda a formação do trombo arterial (Ritch, 2000).
A Ginkgo biloba e o bilobalide inibem a redução, in vitro, da quantidade de ATP, nas
células endoteliais, induzida por hipoxia e atrasa o início da glicólise. Suprime ainda o
colapso na membrana induzido por hipoxia no cérebro (Ritch, 2000).
O extracto de Ginkgo biloba é útil no tratamento do fenómeno de Raynaud, que ocorre
em resposta à hipotermia ou stresse emocional.A Gingko biloba é capaz de aumentar a
captação de glucose e a síntese de glicogénio nas células do músculo liso arterial (Ritch,
2000). Os ginkgolides têm efeitos cardioprotectores, sendo o GA o composto mais
efectivo (Stromgaard e Nakanishi, 2004).
O bilobalide (BB) modula os principais neurotransmissores do cérebro (glutamato e
ácido γ - aminobutírico (GABA)). Exibe também uma actividade anticonvulsiva
(Stromgaard e Nakanishi, 2004).
Mas os estudos que utilizam o extracto de Ginkgo biloba estão, neste momento, muito
voltados para a sua potencial utilização no tratamento da doença de Alzheimer. Os
tratamentos com base nesta planta medicinal permitiram o abrandamento do
desenvolvimento dos sintomas cognitivos desta demência e a regressão de certos
aspectos cognitivos nos doentes foi atrasada cerca de 7 a 8 meses. Os estudos
demonstram também que os efeitos do extracto de Ginkgo biloba são mais expressivos
em situações de comprometimento cognitivo leve a moderado em vez de casos de
demência severa sugerindo que a sua função será estabilizar ou atrasar o início dos
sintomas. Os efeitos clínicos observados podem explicar-se pela descoberta de que este
extracto inibe a agregação β-amilóide, que se acredita ser de importância significativa
no desenvolvimento desta patologia (Stromgaard e Nakanishi, 2004).
A Ginkgo biloba é geralmente bem tolerada sendo raros os efeitos colaterais,
normalmente leves, e incluem náuseas, vómitos, diarreia, dores de cabeça, tonturas,
palpitações, inquietação, fraqueza ou erupções cutâneas. Deve ser prestado principal
18
cuidado à ingestão de folhas de Ginkgo biloba não processadas pois estas contêm ácidos
ginkgólicos que são tóxicos (Sierpina et al, 2003).
Para qualquer um dos efeitos pretendidos com a ingestão de Ginkgo biloba, o tempo de
tratamento e a quantidade diária ingerida são factores importantes no surgimento dos
efeitos benéficos. As indicações de dosagem são 120 a 140 mg por dia, em duas a três
doses (Stromgaard e Nakanishi, 2004).
1.3. Linha Célular HepG2
A linha celular HepG2 foi isolada pela primeira vez em 1972 por Aden e colaboradores
a partir de um hepatoblastoma primário de um rapaz argentino de 11 anos (Mersch-
Sundermann et al, 2004). A sua escolha como modelo in vitro em estudos de
genotoxicidade deve-se ao facto de esta linha celular ser capaz de mimetizar as
respostas dadas in vivo. Em primeiro lugar, a escolha de linhas celulares imortais
prende-se com a sua disponibilidade em grandes quantidades, poderem ter origem em
diferentes espécies e serem facilmente mantidas em cultura. As linhas celulares
derivadas de carcinomas são ainda capazes de reter a capacidade de exercer funções
específicas das células e tecido in vivo (Dehn et al, 2004). A linha celular de hepatoma
humano usada neste estudo retém muitas das funções especializadas que caracterizam
os hepatócitos humanos normais, nomeadamente a actividade de enzimas da fase I e II
(Quadro 2), envolvidas na activação metabólica e destoxificação de carcinogénios
genotóxicos e os antioxidantes (Dehn et al, 2004; Majer et al, 2004; Mersch-Sunderman
et al, 2004; Miura et al, 1999; Peppard e Knap, 1999). Por último, a escolha de uma
linha celular de origem humana deve-se ao facto da capacidade de activação das
enzimas metabolizadoras de xenobióticos e as especificidades relativamente ao seu
substrato apresentarem uma variação interespecífica (Mersch-Sundermann et al, 2004).
A toxicidade de algumas substâncias nos hepatócitos pode ser medida recorrendo a
varias estratégias que avaliam diferentes parâmetros e que permitem detectar
perturbações estruturais e funcionais que prejudicam as capacidades normais de uma
célula e produzem danos (Dehn et al, 2004).
19
Quadro 2: Enzimas metabolizadoras de xenobióticos presentes em células humanas HepG2
(Adaptado de Knasmuller et al, 1998).
Enzimas de Fase I Enzimas de fase II
Citocromo P450 (CYP)
CYP 1A
CYP 1A1
CYP 1A2
CYP 2B
CYP 2C
CYP 3A
CYP 2E1
Arilhidrocarbono hidroxilase (AHH)
Nitroredutase
N-demetilase
Catalase
Peroxidase
Oxidases de Função Mista (MFO)
NAD(P)H: citocromo c redutase
Citocromo P450 redutase
NAD(P)H: quinona oxirredutase
Epóxido hidrolase
Sulfotransferase ST
Glutationa S-transferase (GST)
Uridina glucuronosil transferase
N-acetiltransferase
UDP-glucuroniltransferase (UDPGT)
Oxidases de Função Mista (MFO)
1.4. Ensaio do Cometa
A Electroforese em Gel de Célula Isolada ou Ensaio do Cometa é um método simples,
sensível, versátil, rápido e económico que permite a avaliação de quebras nas cadeias do
DNA em células eucarióticas (Collins et al, 2008; Burlinson et al, 2007; Collins, 2004).
Nesta técnica, as células são colocadas num gel de agarose com baixo ponto de fusão
colocado sobre uma lâmina de microscópio previamente revestida com agarose de ponto
de fusão normal. Segue-se a sua desproteinização pela incubação numa solução de lise
sendo depois sujeitas a electroforese. A coloração do DNA com um fluorocromo revela
20
uma imagem semelhante a um cometa onde se pode distinguir uma cabeça e uma cauda
de DNA quando visualizado num microscópio de fluorescência. As células com um
maior número de quebras no DNA apresentam uma cauda maior e/ou uma maior
concentração de DNA nesta estrutura (Collins et al, 2008).
Nas células o DNA está organizado em nucleossomas: DNA enrolado em volta de um
núcleo de histonas criando em superenrolamento (negativo). Após a lise a maioria das
histonas é removida mas o DNA continua superenrolado. Uma quebra de cadeia simples
(SS) vai relaxar o superenrolamento de DNA na “ansa” em que esta ocorreu, permitindo
que este se movimente sob um campo electroforético (Collins et al, 2008; Collins,
2004).
A primeira demonstração do ensaio de electroforese em gel de célula única foi feita em
1984 por Östling e Johanson utilizando pH=10. Actualmente estas condições não são
normalmente adoptadas sendo que a maioria dos ensaios envolve um tratamento em
pH>13, procedimento este que foi sugerido poucos anos depois por dois grupos de
investigação independentes: Singh et al (1988) e Olive et al (1990). Estas condições de
pH permitem detectar quebras de cadeia e sítios alcali-lábeis no DNA (Collins et al,
2008; Collins, 2004).
Os sítios alcali-lábeis são sítios apurínicos e apirimidínicos ou sítios AP. Surgem da
perda de uma base danificada, conduzindo à existência de um açúcar sem base no
esqueleto de DNA. Os sítios AP ocorrem como intermediários no processo de reparação
por excisão de base (BER) ou devido a alterações na estabilidade química do DNA
(Collins et al, 2008; Burlinson et al, 2007; Collins, 2004).
A sensibilidade e a especificidade dos ensaios cometa podem ser melhoradas se ao
procedimento padrão se acrescentarem etapas específicas (Collins et al, 2008; Collins,
2004).
Nas células normais as bases oxidadas ocorrem, pelo menos, em tão grande número
como as quebras de cadeia e os sítios AP. Este dano pode ser detectado em ensaios
cometa através da digestão do DNA por endonucleases especificas de lesão após a etapa
de lise celular (Collins, 2009; Collins et al, 2008).
Algumas destas enzimas mais comummente utilizadas são a endonuclease III que
reconhece pirimidinas oxidadas e a formamidopirimidina-DNA-glicosilase (FPG),
21
utilizada neste estudo, que detecta o principal produto de oxidação de purinas, a 8-
oxoguanina, purinas de anel imidazol aberto ou formamidopirimidinas (fapy Ade e fapy
Gua). O local sensível à enzima é convertido numa quebra de cadeia aumentando a
intensidade da cauda do cometa (Collins, 2009; Collins et al, 2008; Collins, 2004).
Estas enzimas são utilizadas principalmente para avaliar o efeito da suplementação com
antioxidantes e analisar o espectro de danos induzido por um agente genotóxico
(Collins, 2009; Collins et al, 2008; Collins, 2004).
Nos ensaios do cometa, o DNA é visualizado através de microscopia de fluorescência.
Os corantes mais comummente utilizados são o brometo de etídio (BE) e o DAPI (4,6-
diamidino-2-fenilindole) (Collins et al, 2008; Collins, 2004).
A análise dos cometas pode ser feita através de uma avaliação visual em que cada
cometa é classificado numa de cinco categorias sendo 0 (zero) células não danificadas
(cometas sem cauda ou com cauda dificilmente perceptível) e 1 a 4, células com um
aumento relativo na intensidade da cauda, ou através da análise de imagens que utiliza
uma câmara ligada a um computador com um software de análise adequado (Collins et
al, 2008; Collins, 2004).
1.5. Paraquato (PQ)
O 1,1'-dimetil-4,4'-bipiridina-dicloreto ou Paraquato (Figura 4) foi pela primeira vez
sintetizado por Weidel e Russo em 1882, sendo que as suas propriedades herbicidas
foram apenas descobertas em 1955 e a sua utilização iniciou-se em 1962 (Schmitt et al,
2006; Serra et al, 2003).
Figura 4: Fórmula de estrutura do Paraquato.
22
Devido ao número de casos de intoxicação e mortes por paraquato vários países já
suspenderam ou restringiram o seu uso e adoptaram medidas como diminuir a sua
concentração no produto final e acrescentar substâncias odoríferas, corantes e eméticas
nas preparações comerciais (Schmitt et al, 2006).
Têm sido descritos vários mecanismos subjacentes à citotoxicidade do paraquato. O
modelo geralmente aceite pela comunidade médica e científica refere que os danos nos
tecidos se devem a um aumento na formação de radicais livres e espécies reactivas de
oxigénio (Schmitt et al, 2006; Fukushima et al, 2002).
Nas células, o paraquato é reduzido formando-se o radical livre monocatiónico PQ+ que,
em condições aeróbias, é rapidamente oxidado enquanto se geram radicais superóxido
que iniciam uma cascata de reacções que conduzem à produção de mais espécies
reactivas de oxigénio, principalmente peróxido de hidrogénio e radical hidroxilo, que
causam danos no DNA, destroem os lípidos das membranas celulares (Figura 5) e
podem conduzir à morte celular. Desde que haja NADPH e suprimento de oxigénio, o
radical paraquato continuará a oxidar-se, produzindo danos celulares (Li et al, 2011;
Schmitt et al, 2006).
23
Figura 5: Formação de radicais livres na célula aumentada via exposição ao Paraquato com
consequente peroxidação lipídica (Fonte: Adaptado de Bus et al, 1975 citado por Schmitt et al,
2006).
Estudos epidemiológicos e laboratoriais indicam o paraquato como um factor etiológico
ambiental na doença de Parkinson ao mediar a morte celular dos neurónios
dopaminérgicos através da indução de stresse oxidativo (Yang et al, 2009).
24
2. Objectivos
A realização deste trabalho teve como principais objectivos:
Analisar a genotoxicidade de um composto indutor de espécies reactivas de
oxigénio sob condições específicas – o Paraquato (PQ);
Contribuir para o estabelecimento de um protocolo alternativo aos métodos
usados para a indução de danos oxidativos no DNA;
Estudar o efeito citotóxico e genotóxico do extracto de folhas de Ginkgo
biloba no DNA;
Avaliar um potencial efeito antigenotóxico do extracto de folhas de Ginkgo
biloba contra o stresse oxidativo induzido quimicamente pelo Paraquato.
Para este estudo, utilizaram-se células da linha celular de carcinoma hepatocelular
humano – HepG2 e a técnica do Ensaio do Cometa.
25
3. Material e Métodos
3.1. Material Biológico
Neste estudo a linha celular utilizada foi a linha do carcinoma hepatocelular humano
HepG2 (ATCC). Estas células foram mantidas em meio de cultura completo e numa
incubadora (Binder) à temperatura de 37ºC com 5% de CO2 no laboratório de
Biologia Celular e Bioenergética do Departamento de Biologia e Ambiente da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A manipulação das células foi sempre realizada em condições assépticas, numa
câmara de fluxo laminar, classe II (Faster, BH-EN 2004) de modo a prevenir
quaisquer contaminação de origem bacteriana, fúngica ou viral.
3.2. Meios de Cultura e Soluções
Os meios de cultura são formulados de modo a fornecer às células os nutrientes
essenciais ao seu metabolismo, crescimento e proliferação. Contêm vitaminas,
aminoácidos, glicose e iões inorgânicos. Os meios de cultura, quando não utilizados
de imediato, foram mantidos a 4ºC.
Neste estudo utilizaram-se duas formulações de meio: uma com soro designada por
meio de cultura completo e outra sem soro.
3.2.1. Meio de cultura completo
DMEM (Dulbeco’s Modified Eagles Medium, Gibco), suplementado com 2 mM de
L-glutamina (Gibco, Life Technologies), 10% (v/v) de soro fetal bovino, FBS
(Gibco, Life Technologies) e antibióticos (200 U/mL de Penicilina e 200 µg/mL de
Estreptomicina (Gibco, Life Technologies). Este meio base contém 25 mM de
glicose e 0,1 g/L de piruvato.
26
3.2.2. Meio de cultura sem soro
DMEM (Dulbeco’s Modified Eagles Medium, Gibco), suplementado com 2 mM de
L-glutamina (Gibco, Life Technologies) e antibióticos (200 U/mL de Penicilina e
200 µg/mL de Estreptomicina (Gibco, Life Technologies). Este meio base contém
25 mM de glicose e 0,1 g/L de piruvato.
3.2.3. Soluções
É descrito em seguida o nome e a composição das soluções utilizadas neste estudo.
3.2.3.1. Solução de PBS 1x
A solução tampão PBS (tampão fosfato) contém 137 mM NaCl; 2,7 mM KCl; 1,75
mM KH2PO4 e 10 mM Na2HPO4.2H2O. O pH foi ajustado a 7,4 com HCl 1M.
3.2.3.2. Solução de lise
Esta solução contém 2,5 M NaCl; 0,1 M EDTA; 0,01 M Tris e 5 mL de NaOH 10
M. O pH foi ajustado a 10 com NaOH. Para a sua utilização nos ensaios cometa
adiciona-se Triton X-100 à concentração de 1% (v/v).
3.2.3.3. Solução de electroforese
Esta solução é feita com 300 mM de NaOH e 1 mM de EDTA dissolvidos em água
destilada.
27
3.2.3.4. Tampão F
Preparou-se uma solução de tampão F 10x concentrada, contendo 0,04 M HEPES;
0,1 M KCl; 0,0005 M EDTA e 2% (p/v) BSA. Em cada utilização diluiu-se 50 mL
de tampão F em 450 mL de água destilada.
3.3. Extracto de folhas de Ginkgo biloba
As folhas de Ginkgo biloba L. utilizadas neste estudo foram recolhidas em
Novembro de 2010 de um espécime localizado na Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro. A preparação do extracto foi realizada como descrito por Ding e
colaboradores (2004).
As folhas foram lavadas com água destilada, os pecíolos dispensados e seguiu-se
uma secagem ao ar, à temperatura ambiente durante aproximadamente três semanas.
De seguida, as folhas foram moídas utilizando um moinho doméstico de modo a
obter-se um pó fino. Este pó foi armazenado em frascos de vidro fechados até ser
utilizado para extracção.
Preparou-se uma solução stock de Ginkgo biloba de concentração 120 g/L pesando
3,6 g de pó de folhas que foram transferidas para um tubo de polipropileno de 50
mL. A este tubo adicionaram-se 30 mL de água destilada. Esta mistura foi aquecida
em banho-maria a 100 ºC durante 5 minutos. Seguiu-se uma centrifugação a 2000 g
durante 15 minutos. Aproveitou-se o sobrenadante e repetiram-se as etapas de
banho-maria e centrifugação. O novo sobrenadante obtido foi filtrado utilizando
filtros de 0,5 µm o seu pH ajustado a 6,5 com NaOH e armazenado a -20ºC.
Para a adição do extracto de Ginkgo biloba às células HepG2 nas concentrações de
0,5; 5 e 10 g/L procedeu-se às diluições da solução stock a 5; 50 e 100 g/L tendo em
conta que, para a adição às células, a cada 900 µL de meio de cultura sem soro se
adiciona 100 µL de extracto (dilui-se 10x).
28
3.4. Preparação da solução stock de Paraquato
A acção do Paraquato (PQ) ou metil viologénio nas células HepG2 foi avaliada
tendo por base a sua capacidade de geração de radicais de oxigénio já descrita.
O Paraquato (Sigma Chemical Co) foi dissolvido em PBS 1x de modo a obter-se
uma solução stock de concentração 1 mM. Esta solução foi armazenada à
temperatura de -20º C (de modo a evitar a sua degradação) em alíquotas de 1,5 mL.
No dia da adição deste composto às células em cultura descongelaram-se as
alíquotas necessárias e procedeu-se às devidas diluições.
3.5. Desagregação das células HepG2 com tripsina
As HepG2 são uma linha celular aderente crescendo in vitro até à confluência total
ou parcial. Quando se atinge uma confluência de 80-90% é necessário sujeitá-las a
subcultura evitando-se, deste modo, a morte celular.
A etapa de tripsinização pretende romper as ligações que as células estabelecem
entre si e com a superfície das caixas de cultura. O tempo de submissão das células a
esta protease depende das ligações estabelecidas.
O meio de cultura presente em cada um dos 12 poços das caixas de cultura foi
cuidadosamente removido. Às células de cada poço foi adicionado 1 mL de tripsina
(Tripsina 0,05% - EDTA, GIBCO) tapando em seguida a caixa de cultura com a sua
tampa. A caixa foi colocada, durante 5 a 7 minutos, na incubadora de CO2 a 37ºC.
Após esta incubação, caso se verificasse que as células ainda se mantinham
aderentes, recorreu-se a uma ligeira “batida ou toque” nas caixas para ajudar ao seu
desprendimento. A etapa de tripsinização termina ao adicionar-se 1 mL de meio de
cultura com soro dado que este inactiva a tripsina.
3.6. Contagem das células
Após a tripsinização, com as células individualizadas, procedeu-se à sua contagem.
O número de células foi determinado através de contagem ao microscópio óptico,
utilizando uma câmara de Neubauer.
29
3.7. Avaliação da genotoxicidade e citoprotecção em células HepG2: Ensaio
do Cometa
3.7.1. Procedimento
3.7.1.1. Revestimento das lâminas com agarose
A primeira etapa do ensaio do cometa consiste em realizar um primeiro
revestimento das lâminas com uma solução de agarose de normal ponto de fusão
(NMP) a 1% em água destilada, de modo a que o gel contendo as células adira. A
solução foi aquecida no microondas até ficar translúcida. De seguida as lâminas
foram mergulhadas nesta solução de agarose ainda quente e limpas com papel no
lado inferior. Estas lâminas ficaram a secar ao ar, marcadas no lado fosco com um
traço a lápis no canto superior direito indicando deste modo o lado revestido com
agarose.
3.7.1.2. Tratamento das células para o ensaio do cometa
As células HepG2 foram plantadas em cinco placas de cultura de 12 poços à
densidade de 1x105
células/mL (1 mL de meio por poço). Aos poços foram
adicionados novos meios sem soro com extracto de Ginkgo biloba, Paraquato ou
ambos, durante períodos de tempo variável (de 5 minutos a 24 horas) de acordo com
o plano apresentado no Quadro 2.
Decorrido o tempo de exposição das células HepG2 aos diferentes meios, estes
foram removidos e procedeu-se à tripsinização. A suspensão obtida foi colocada em
tubos de 1,5 mL para centrifugar 3 minutos a 200 x g (Centrifuga de eppendorfs,
Centrifuge & Vórtex). O sobrenadante foi descartado e o sedimento ressuspendido e
lavado com 1 mL de PBS. O procedimento é repetido. As amostras foram colocadas
em gelo até à adição de agarose de baixo ponto de fusão (LMP) (Gibco, Life
Technologies).
30
Quadro 3: Plano de preparação das células para o ensaio do cometa.
Placas de cultura de 12 poços
Caixa 1 Caixa 2
1 2 3 4 1 2 3 4
A
Ensaio
Controlo
(PQ=0 µM e
Gb=0 g/L)
Ensaio
Controlo
(PQ=0 µM e
Gb=0 g/L)
PQ1 µM (5
min)
PQ1 µM
(5min)
PQ1,5 µM
(5 min) PQ1,5 µM
(5 min) PQ1,5 µM
(30 min) PQ1,5 µM
(30 min)
B PQ1 µM (30
min)
PQ1 µM (30
min)
PQ1 µM
(1h)
PQ1 µM
(1h)
PQ1,5 µM
(1h) PQ1,5 µM
(1h)
PQ1,5 µM
(4h)
PQ1,5 µM
(4h)
C
PQ1 µM
(4h)
PQ1 µM
(4h)
PQ1 µM
(24h) PQ1 µM
(24h) PQ1,5 µM
(24h) PQ1,5 µM
(24h)
PQ 2 µM
(30 min)
PQ2 µM
(30 min)
Caixa 3 Caixa 4
1 2 3 4 1 2 3 4
A PQ 2 µM
(1h)
PQ2 µM
(1h)
PQ 5 µM
(30 min)
PQ5 µM
(30 min)
Gb 0,5 g/L
(4h)
Gb 0,5 g/L
(4h)
Gb 0,5 g/L
(24h)
Gb 0,5 g/L
(24h)
B PQ 5 µM
(1h)
PQ5 µM
(1h)
Gb 0,5 g/L
(1h)
Gb 0,5 g/L
(1h)
Gb 0,5 g/L
(24h) + PQ
1 µM (1h)
Gb 0,5 g/L
(24h) + PQ
1 µM (1h)
Gb 5 g/L
(24h) + PQ
1 µM (1h)
Gb 5 g/L
(24h) + PQ
1 µM (1h)
C
Gb 5 g/L
(1h)
Gb 5 g/L
(1h)
Gb 10 g/L
(1h)
Gb 10 g/L
(1h)
Gb 0,5 g/L
+ PQ 1 µM
(1h)
Gb 0,5 g/L
+ PQ 1 µM
(1h)
Gb 0,5 g/L
(24h) + PQ
1,5 µM (1h)
Gb 0,5 g/L
(24h) + PQ
1,5 µM (1h)
31
Caixa 5
1 2 3 4
A
Gb 5 g/L
(24h) + PQ
1,5 µM (1h)
Gb 5 g/L
(24h) + PQ
1,5 µM (1h)
Gb 0,5 g/L
+ PQ 1,5
µM (1h)
Gb 0,5 g/L
+ PQ 1,5
µM (1h)
Adicionou-se a cada sedimento 290 µL de agarose LMP e homogeneizou-se. Em
cada lâmina previamente revestida colocaram-se duas gotas de 70 µL cada,
cobrindo-se estas com uma lamela 18x18 mm. As lâminas foram colocadas a 4ºC
durante 5 minutos para solidificar a agarose e depois disso as lamelas foram
removidas.
O número recomendado de cometas num gel é cerca de 2 x 104 (Collins, 2004).
3.7.1.3. Lise alcalina
As lâminas foram colocadas em tinas com solução de lise, durante de uma hora até 4
horas, a 4º C. As lâminas em que as células foram tratadas com Paraquato foram
colocadas numa tina à parte.
A lise alcalina tem por objectivo permitir a lise das membranas celular e nuclear e a
desproteinização do DNA.
3.7.1.4. Tratamento com a enzima FPG
As lâminas foram sujeitas a 3 lavagens de 5 minutos com Tampão F a 4ºC. Durante
a última lavagem procedeu-se à diluição da enzima com o mesmo tampão
adicionando-se 300 µL a cada tubo com FPG pronta a usar. Nas lâminas marcadas
com FPG colocaram-se 50 µL de solução de enzima em cada gel e cobriu-se com
uma lamela 22x22 mm. Para as lâminas não sujeitas à enzima colocaram-se 50 µL
32
de tampão F em cada gel e uma lamela. Todas as lâminas foram colocadas numa
câmara húmida e levadas à incubadora durante 30 minutos a 37ºC. Findo o tempo as
lamelas foram retiradas.
3.7.1.5. Tratamento alcalino
As lâminas foram colocadas na tina de electroforese. Encheu-se a tina com solução
de electroforese recém-preparada de modo a ultrapassar-se o nível das lâminas em
apenas cerca de 0,2 cm. O tempo de exposição das lâminas a esta solução foi de 40
minutos, a 4ºC e em condições de obscuridade.
O tratamento alcalino (pH>13) permite a desnaturação do DNA e a conversão dos
locais AP em quebras de cadeia.
3.7.1.6. Electroforese
Decorridos os 40 minutos de tratamento alcalino iniciou-se a electroforese. Esta
etapa realizou-se a uma voltagem de 0,8 V/cm o que atendendo à dimensão da tina
usada resulta numa voltagem de 25 V e uma corrente de 300 mA, durante 30
minutos. Caso o valor da voltagem não seja atingido deve retirar-se solução de
electroforese da tina. Caso seja o valor da amperagem a não ser atingido então
adiciona-se solução.
3.7.1.7. Neutralização
As lâminas retiradas da tina de electroforese foram sujeitas a duas lavagens de 10
minutos com PBS e água destilada. Após as lavagens as lâminas foram deixadas a
secar à temperatura ambiente, em papel absorvente, no escuro.
Esta etapa realiza-se de modo a eliminar restos de álcalis que podem interferir com a
coloração.
33
3.7.1.8. Visualização dos cometas
A cada gel foram adicionados 20 µL de Brometo de Etídio (2 µg/mL) (Sigma
Chemical Co) imediatamente antes da visualização das lâminas num microscópio de
fluorescência, com uma câmara acoplada e ligada a um computador com um
software adequado. O filtro de excitação adequado é de 542 nm emitindo a 568 nm.
Observou-se cada gel no seu todo, de modo a obter uma perspectiva geral do dano
dos cometas. Neste estudo recorreu-se ao método de avaliação dos cometas por
análise de imagem e utilizou-se o programa Comet Assay IV.
Na selecção dos cometas teve-se em conta, que os bordos do gel e as áreas próximas
de bolhas de ar devem ser evitadas, uma vez que aqui existem cometas com um
nível anormalmente elevado de dano. Tal como recomendado analisaram-se 50
cometas por lâmina.
O parâmetro de avaliação escolhido foi a intensidade da cauda ou percentagem de
DNA na cauda do cometa uma vez que existe uma relação linear com a frequência
de quebra do DNA, é relativamente pouco afectado pelas configurações de limite e
permite a discriminação do dano de 0 a 100% de DNA na cauda. Além disto dá uma
indicação muito clara da aparência dos cometas (Collins, 2004; Collins et al, 2008;
Burlinson et al, 2007).
3.7.1.9. Análise estatística de dados
Os resultados obtidos foram analisados no programa “Statistical Program for Social
Sciences – SPSS”, versão 17.0. Procedeu-se à análise de variância univariada
(ANOVA) para a comparação de mais de duas médias e ao teste de Tukey para as
comparações múltiplas.
Os ensaios foram realizados em duplicado e os resultados apresentados pela média
± desvio padrão. O nível de significância foi estabelecido para p < 0,05.
34
4. Resultados
A extensão dos danos no DNA produzidos pela incubação das células HepG2 a
concentrações crescentes de extracto de Ginkgo biloba e de Paraquato foi determinada
através do ensaio do cometa. A análise dos cometas obtidos foi realizada através da
medição da intensidade luminosa relativa da cauda (% de DNA na cauda). Avaliaram-se
50 cometas por lâmina. Os valores obtidos sem a incubação com enzima FPG
correspondem a quebras na cadeia de DNA simples e duplas, locais de reparação
incompleta, sítios alcali-lábeis enquanto os valores com enzima correspondem a estes
danos mais o principal produto de oxidação de purinas, a 8-oxoguanina (Collins et al,
2008; Burlinson et al, 2007; Collins, 2004).
A Figura 6 evidencia alguns dos resultados obtidos nos ensaios do cometa realizados.
As imagens demonstram diferentes níveis de danos no DNA como consequência dos
diferentes tratamentos a que as células HepG2 foram submetidas.
Figura 6: Imagens de ensaios do cometa realizados em células HepG2 após a coloração do seu
DNA com Brometo de Etídeo. A) Experiência controlo em que as células não foram sujeitas a
nenhum tratamento – a inexistência de cauda demonstra os baixos níveis de danos no DNA das
células HepG2 utilizadas; B, C e D) Danos no DNA resultantes da incubação das células com
diferentes tratamentos; B) Paraquato 1 µM (4 horas); C) Extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (4
horas) e D) Extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (24 horas) + Paraquato 1,5 µM (1 hora). Ensaios
35
com tratamento enzimático FPG. Exemplos ilustrados com setas. Todas as imagens foram
obtidas numa ampliação de 400 vezes.
4.1. Avaliação do efeito do extrato de Ginkgo biloba no DNA
A bibliografia disponível não descreve nem orienta relativamente a uma faixa de
concentrações de Ginkgo biloba que se poderiam utilizar em testes de
genotoxicidade in vitro. Posto isto, a acção do extracto de folhas de Ginkgo biloba
no DNA de células HepG2 foi determinada através da adição às células de extractos
diluídos em meios de cultura com concentrações finais de extracto de 0,5, 5 e 10
g/L, durante 1 hora. Os resultados da avaliação dos danos no DNA para os
tratamentos com e sem enzima FPG encontram-se no gráfico da Figura 7.
Figura 7: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com diferentes concentrações do extracto de
folhas de Ginkgo biloba (g/L) durante uma hora. Para cada tratamento foram feitos ensaios com
e sem tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem
(%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise
dos cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
A Tabela 1 faz referência aos valores de dano oxidativo obtidos para os ensaios do
cometa realizados após uma hora de incubação das células HepG2 com concentrações
crescentes de extracto de Ginkgo biloba. Os valores de dano oxidativo são obtidos
subtraindo os valores de intensidade da cauda dos cometas nos ensaios com tratamento
enzimático FPG aos valores obtidos sem este tratamento.
0 0,5 5 10
Sem FPG 3,8 3,9 7,5 8,6
Com FPG 6,6 6,1 8 14,8
0
5
10
15
20
25
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de concentrações crescentes de
Ginkgo biloba (g/L) - 1 hora
a
d
b e c
f a,b,c
d,e,f
36
[Gb]; 1hora Dano
Oxidativo
0 2,8
0,5 2,2
5 0,5
10 6,2
Tabela 1: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de extracto de Ginkgo biloba (g/L) a células HepG2 durante 1 hora.
Ao comparar-se os resultados obtidos para a incubação das células HepG2 com extracto
de Ginkgo biloba verificou-se que, tanto com como sem tratamento enzimático FPG,
existe um aumento do dano induzido no DNA do ensaio controlo e concentrações 0,5 e
5 g/L para a concentração máxima de 10 g/L. Esta concentração máxima demonstra o
nível de dano oxidativo mais elevado.
O gráfico da Figura 8 e a Tabela 2 demonstram a evolução dos danos induzidos ao
DNA de células HepG2 incubadas com extracto de Ginkgo biloba na concentração
mínima – 0,5 g/L – ao longo do tempo. Os resultados foram obtidos ao fim de uma, 4 e
24 horas de incubação.
A análise dos dados obtidos demonstra que não existem diferenças significativas ao
nível das quebras de cadeia (ensaios sem tratamento FPG).
Nos ensaios com tratamento enzimático também não se verificaram diferenças entre o
controlo e uma hora de incubação. Os valores de dano total no DNA tornaram-se
significativos ao fim de 4 e 24 horas. Às 4 horas de incubação obtém-se o valor de dano
oxidativo no DNA mais elevado. Das 4 horas de incubação para as 24 horas verifica-se,
apesar de não ser estatisticamente significativa, uma tendência decrescente do nível de
danos sendo, no entanto, os valores obtidos muito superiores aos do controlo e de uma
hora de incubação.
37
Figura 8: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Ginkgo biloba 0,5 g/L ao longo do
tempo (0, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem tratamento
enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de DNA na
cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas
obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
[Gb] = 0,5
g/L; tempo
Dano
Oxidativo
Controlo 2,8
1 2,2
4 21,1
24 16,5
Tabela 2: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de exposição
das células HepG2 ao extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (em horas).
4.2. Avaliação do efeito genotóxico do Paraquato
O efeito do herbicida Paraquato no DNA foi avaliado ao adicionarem-se diferentes
concentrações deste agente gerador de radicais livres à linha celular HepG2. As
concentrações de Paraquato escolhidas neste estudo tiveram por base o estudo realizado
por Dusinská e colaboradores (1998). Os resultados obtidos encontram-se ilustrados nos
gráficos das Figuras 9 a 12.
Para um tempo de incubação de 30 minutos (Figura 9, Tabela 3), nos ensaios sem
tratamento FPG verificou-se uma diminuição significativa no nível de danos no DNA
Controlo 1 4 24
Sem FPG 3,8 3,9 3,5 2,6
Com FPG 6,6 6,1 24,6 19,1
0 5
10 15 20 25 30 35 40 45
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito do tempo de exposição à Ginkgo biloba
0,5 g/L em horas
a,b c,d
a,c
b,d
38
da concentração PQ = 1,5 µM comparando com a concentração de 5 µM e nos ensaios
com tratamento enzimático verifica-se uma diminuição significativa da concentração de
1,5 µM para a concentração de 2 µM.
Figura 9: Dano no DNA em células HepG2 tratadas com diferentes concentrações de Paraquato
(µM) durante 30 minutos. Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem tratamento
enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de DNA na
cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos cometas
obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
[PQ]; 30
minutos
Dano
Oxidativo
0 2,8
1 2,6
1,5 1,6
2 0,6
5 2,4
Tabela 3: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de Paraquato (µM) a células HepG2 durante 30 minutos.
O dano oxidativo para cada uma das concentrações estudadas situa-se ao nível do
controlo.
0 1 1,5 2 5
Sem FPG 3,8 3,4 5,8 3,2 2,7
Com FPG 6,6 6 7,4 3,8 5,1
0
2
4
6
8
10
12
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de concentrações crescentes de
Paraquato (µM) - 30 minutos
a
a
b
b
39
Para um tempo de incubação de 1 hora (Figura 10; Tabela 4) o aumento gradual das
concentrações de Paraquato não se repercutiu em diferenças significativas entre as
diferentes concentrações testadas.
Figura 10: Dano no DNA em células HepG2 tratadas com diferentes concentrações de
Paraquato (µM) durante uma hora. Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem
tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de
DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos
cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
[PQ]; 1
hora
Dano
Oxidativo
0 2,8
1 1,1
1,5 2,6
2 3,2
5 4,2
Tabela 4: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de
concentrações crescentes de Paraquato (µM) a células HepG2 durante 1 hora.
Escolhendo-se as concentrações intermédias de Paraquato (PQ = 1 e 1,5 µM) pretendeu-
se avaliar as consequências genotóxicas da incubação das células HepG2 com este
herbicida ao longo do tempo (tmáx = 24 horas). Os gráficos das Figuras 11 e 12 e as
Tabelas 5 e 6 mostram os resultados obtidos.
0 1 1,5 2 5
Sem FPG 3,8 4,2 3,2 2,4 3,7
Com FPG 6,6 5,3 5,8 5,6 7,9
0
2
4
6
8
10
12
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de concentrações crescentes de
Paraquato (µM) - 1 hora
40
Figura 11: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1 µM ao longo do tempo
(0, 5 e 30 minutos, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem
tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de
DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos
cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
[PQ]=1µM;
tempo
Dano
Oxidativo
Controlo 2,8
5 minutos 3,9
30 minutos 2,6
1 hora 1,1
4 horas 16,3
24 horas 12,8
Tabela 5 Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de exposição
das células HepG2 ao Paraquato 1 µM.
Os resultados obtidos mostram que não existem diferenças significativas de danos no
DNA entre o ensaio controlo, os 5 minutos, os 30 minutos e a hora de incubação. As
diferenças significativas surgem a partir das 4 horas para os ensaios com tratamento
FPG. As 4 horas foram o tempo em que se verificou maior dano oxidativo do DNA. Das
4 para as 24 horas de incubação verificou-se uma tendência de diminuição do nível de
dano oxidativo apesar de esta diferença não ser significativa.
Control
o
5
minutos
30
minutos 1 hora 4 horas
24
horas
Sem FPG 3,8 2 3,4 4,2 3,5 4
Com FPG 6,6 5,9 6 5,3 19,8 16,8
0
5
10
15
20
25
30
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito do tempo de exposição ao Paraquato 1 µM
a,b
a,c,e,g
b,d,f,h
c,d e,f g,h
41
Contr
olo
5
minut
os
30
minut
os
1 hora 4
horas
24
horas
Sem FPG 3,8 2,7 5,8 3,2 2,8 2,6
Com FPG 6,6 9,3 7,4 5,8 20,3 27,7
0
10
20
30
40
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito do tempo de exposição ao Paraquato 1,5
µM
a
a,b,c b
d,f,h,j,l
e.g,i,k,l
c
d,e f,g h,i j,k
Os ensaios sem tratamento enzimático FPG não demonstraram diferenças significativas
ao longo do tempo.
Comparativamente aos resultados obtidos para a concentração de PQ = 1 µM, a adição
de PQ na concentração de 1,5 µM originou uma resposta genotóxica diferente.
Nos ensaios sem tratamento enzimático verificou-se um aumento significativo das
quebras de cadeia dos cinco minutos para os 30 minutos de incubação. O nível deste
tipo de danos decresceu posteriormente às 4 e 24 horas de incubação.
Figura 12: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1,5 µM ao longo do tempo
(0, 5 e 30 minutos, 1, 4 e 24 horas). Para cada tratamento foram feitos ensaios com e sem
tratamento enzimático FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de
DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos
cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
Nos ensaios com tratamento FPG não se verificaram alterações significativas entre o
ensaio controlo e uma hora de incubação. Existiu um acréscimo significativo dos danos
ao fim de 4 horas e 24 horas. Ao contrário dos resultados obtidos para a concentração de
1 µM o dano oxidativo aumentou das 4 para as 24 horas correspondendo este último
tempo de incubação ao máximo de danos obtidos.
42
[PQ]=1,5µM;
tempo
Dano
Oxidativo
Controlo 2,8
5 minutos 6,6
30 minutos 1,6
1 hora 2,6
4 horas 17,5
24 horas 25,1
Tabela 6 Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito do tempo de exposição
das células HepG2 ao Paraquato 1,5 µM.
4.3. Avaliação do efeito do extracto de Ginkgo biloba em células HepG2
tratadas com Paraquato
A avaliação de um potencial efeito antigenotóxico por parte do extracto de folhas de
Ginkgo biloba foi realizada ao pré-incubar as células HepG2 com Gb = 0,5 g/L e 5 g/L
durante 24 horas antes da adição de Paraquato nas concentrações de 1 µM e 1,5 µM. Os
gráficos das Figuras 13 e 14 e as Tabelas 7 e 8 apresentam os resultados obtidos nestes
ensaios.
Verificou-se que, mais do que a adição do agente promotor de radicais livres – o
Paraquato – é o efeito do extracto de Ginkgo biloba nas células que induz um
significativo aumento do dano oxidativo no DNA. O dano induzido pela incubação
durante 24 horas com Gb = 0,5 g/L é da mesma ordem do dano induzido após o mesmo
período de incubação com Gb = 0,5 g/L e 1 hora de incubação com PQ 1 µM (Figura
13).
Em termos de quebras de cadeia (ensaios sem tratamento FPG) não se verificaram
diferenças significativas entre a Gb = 0,5 g/L (24 horas de incubação) e Gb = 0,5 g/L
(24 horas) + PQ = 1 µM (1 hora).
43
Figura 13: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1 µM durante uma hora
após uma pré-incubação das células com Gb 0,5 g/L (24 horas). Apresentam-se valores de dano
com e sem a enzima FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%) de
DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos
cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
Controlo Gb 0,5 (24h) PQ 1 (1h) Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1 (1h)
Sem FPG 3,8 2,6 4,2 4,5
Com FPG 6,6 19,1 5,3 18,6
0
5
10
15
20
25
30
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de Ginkgo biloba 0,5 g/L 24h
antes da adição de Paraquato 1 µM
a,b
a b
Pré-incubação
com [Gb]=0,5
g/L; [PQ]=1
µM
Dano
oxidativo
Controlo 2,8
Gb 0,5 (24h) 16,5
PQ 1 (1h) 1,1
Gb 0,5 (24h) +
PQ 1 (1h) 14,1
Tabela 7: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de Ginkgo
biloba 0,5 g/L às células HepG2 24 horas antes da adição de Paraquato 1 µM durante uma hora.
44
Figura 14: Dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato 1,5 µM durante uma hora
após uma pré-incubação das células com Gb 0,5 e 5 g/L (24 horas). Apresentam-se valores de
dano com e sem a enzima FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem (%)
de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise dos
cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
Nos ensaios sem tratamento enzimático FPG não existem diferenças significativas entre
a incubação das células com extracto de Ginkgo biloba 0,5 g/L (24 horas de incubação)
e a incubação com Gb = 0,5 e 5 g/L (24 horas) seguida de 1 hora de incubação com
Paraquato na concentração de 1,5 µM (Figura 14).
O dano oxidativo induzido pela incubação durante 24 horas com Gb = 0,5 g/L é da
mesma amplitude do dano induzido após o mesmo período de incubação com Gb = 0,5
g/L ou Gb = 5 g/L mais 1 hora de incubação com PQ = 1,5 µM. Verifica-se uma
tendência de dano oxidativo crescente quando se aumenta a concentração de extracto na
pré-incubação apesar de a diferença não ser, pelo menos para estas concentrações,
significativa.
Controlo Gb 0,5 (24h) PQ 1,5 (1h) Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1,5 (1h)
Gb 5 (24h) +
PQ 1,5 (1h)
Sem FPG 3,8 2,6 3,2 4,2 5,1
Com FPG 6,6 19,1 5,8 20,1 21,8
0
5
10
15
20
25
30
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de Ginkgo biloba 24h antes da
adição de Paraquato 1,5 µM
a,b,c
a b c
45
A inexistência de dados relativos à pré-incubação das células HepG2 com extracto de
Ginkgo biloba na concentração de 5 g/L para PQ = 1 µM prende-se com as sucessivas
perdas de géis na fase de incorporação das células em agarose LMP.
O gráfico da Figura 15 e a Tabela 9 permitem a comparação dos resultados obtidos nos
ensaios com pré-incubação das células HepG2 com extracto de Ginkgo biloba na
concentração de 0,5 g/L e a sua adição conjunta com as concentrações de Paraquato 1 e
1,5 µM.
Relativamente aos danos no DNA obtidos sem tratamento FPG verifica-se que estes
permanecem praticamente inalterados para qualquer um dos ensaios realizados.
Os ensaios com tratamento FPG permitiram descobrir um aumento significativo do
dano oxidativo do DNA de células pré-tratadas com Gb = 0,5 g/L durante 24 horas
comparativamente aos ensaios controlo como já foi descrito. No entanto, o dano
oxidativo mensurado para os ensaios de adição conjunta de Gb = 0,5 g/L e PQ = 1 e 1,5
µM encontram-se ao nível dos registados para os ensaios controlo.
Pré-incubação
com [Gb];
[PQ]=1,5 µM
Dano
Oxidativo
Controlo
2,8
Gb 0,5 (24h)
16,5
PQ 1,5 (1h) 2,6
Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1,5 (1h)
15,9
Gb 5 (24h) +
PQ 1,5 (1h)
16,7
Tabela 8: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de Ginkgo
biloba 0,5 e 5 g/L às células HepG2 24 horas antes da adição de Paraquato 1,5 µM durante uma
hora.
46
Figura 15: Comparação entre o dano no DNA de células HepG2 tratadas com Paraquato (1 e 1,5
µM) durante uma hora com uma pré-incubação das células com Gb 0,5 g/L (24 horas) e a
adição conjunta de Paraquato e Gb 0,5 g/L às células durante uma hora. Apresentam-se valores
de dano com e sem a enzima FPG. A avaliação dos danos de DNA é expressa em percentagem
(%) de DNA na cauda. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos a partir da análise
dos cometas obtidos em quatro géis (letras iguais indicam diferenças significativas).
Pré-incubação
com [Gb] =
0,5 g/L ou
adição
conjunta com
[PQ] = 1 e 1,5
µM
Dano
Oxidativo
Controlo 2,8
Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1 (1h)
14,1
Gb 0,5 + PQ
1 (1h)
0,5
Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1,5 (1h)
15,9
Gb 0,5 + PQ
1,5 (1h) 1,3
Tabela 9: Valores de dano oxidativo obtidos para a avaliação do efeito da adição de Ginkgo
biloba 0,5 g/L 24 horas antes da adição de Paraquato (1 e 1,5 µM) e da sua adição conjunta
(durante uma hora) às células HepG2.
Controlo Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1 (1h)
Gb 0,5 + PQ
1 (1h)
Gb 0,5 (24h)
+ PQ 1,5 (1h)
Gb 0,5 + PQ
1,5 (1h)
Sem FPG 3,8 4,5 4,6 4,2 3,5
Com FPG 6,6 18,6 5,1 20,1 4,8
0
5
10
15
20
25
30
% d
e D
NA
na
ca
ud
a
Efeito da adição de Ginkgo biloba 0,5 g/L 24 h
antes da adição de Paraquato e da adição conjunta
a,b
a,c
c
b,d
d
47
5. Discussão
O uso de plantas medicinais acompanhou o Homem ao longo da sua história. Mais
recentemente o benefício empírico destas plantas tem sido cientificamente comprovado
ou refutado porque, apesar de se tratar de produtos naturais, isso não significa que sejam
inócuos, devendo ser submetidos a vários ensaios clínicos e científicos que
comprovarão se a sua toma está isenta de risco.
O extracto de folhas de Ginkgo biloba tem demonstrado, na maioria dos estudos, efeitos
biológicos benéficos para a saúde humana, tais como, a inibição da produção de radicais
de oxigénio, a captação de radicais livres, efeitos anti-lipoperoxidativos, redução de
danos neuronais, redução da agregação plaquetária, acção anti-inflamatória, anti-
tumoral e anti-envelhecimento (Chan et al, 2007). Mas, apesar de a maioria dos estudos
demonstrar os efeitos quimioprotectores dos polifenóis presentes neste e noutros
extractos de origem vegetal, existem também estudos que demonstram uma natureza
dual destes compostos que podem actuar como pró-oxidantes (Babich et al, 2011).
O estudo realizado pretendeu dar um modesto contributo para a compreensão do modo
de acção do extracto de folhas de Ginkgo biloba ao nível do DNA, isto porque a
informação relativa à genotoxicidade e tumorigenicidade destes produtos é limitada.
Como previamente referido, a escolha das células HepG2 prendeu-se com diversos
factores de entre os quais o facto de o fígado ser o principal órgão responsável pela
biotransformação da maioria dos xenobióticos ingeridos. Muitos autores defendem ser
fundamental que os compostos sejam avaliados relativamente à sua toxicidade hepática
estimando-se in vitro se o fígado seria capaz de metabolizar o composto teste (Liu e
Zeng, 2009).
Os resultados obtidos apontam para um aumento dos danos no DNA das células HepG2
quando expostas durante uma hora com extracto de folhas de Ginkgo biloba, algo que
foi avaliado utilizando a técnica do Ensaio do Cometa. O nível de dano obtido está
dependente da concentração de extracto utilizada: comparativamente ao ensaio controlo
(Gb = 0 g/L) foi para concentração de 10 g/L que se verificou um aumento dos danos no
DNA tanto para os ensaios sem tratamento FPG como para o ensaios em que se utilizou
esta enzima. As concentrações de 0,5 e 5 g/L avaliadas não se repercutiram num
aumento de nenhum dos dois tipos de danos analisados.
48
Tendo por base a menor concentração de extracto de folhas de Ginkgo biloba analisada
(0,5 g/L) pretendeu-se investigar de que modo a sua adição às células HepG2 poderia
influenciar o DNA ao longo do tempo. Para tal realizaram-se ensaios do cometa ao fim
de uma, 4 e 24 horas após a adição do extracto às células em cultura. Apurou-se que, ao
nível das quebras de cadeia de DNA, não se verificaram alterações ao longo do tempo
em estudo encontrando-se este valor ao nível dos ensaios controlo. O dano oxidativo foi
o que aumentou significativamente atingindo-se um máximo após 4 horas de incubação.
Das três possíveis respostas celulares à exposição a polifenóis: (a) stresse oxidativo
moderado e despoletar dos sistemas de defesa antioxidante após uma exposição
moderada, (b) subjugação dos sistemas de defesa antioxidante e indução da morte
celular por apoptose após uma exposição intermédia a elevada e (c) subjugação das
defesas antioxidantes celulares e dano oxidativo que conduz à morte celular por necrose
após uma exposição muito elevada (Babich et al, 2011), pode pressupor-se que a que se
verificou neste estudo sobre o efeito do extracto de Ginkgo biloba ao longo do tempo,
foi a primeira, isto porque se verificou uma tendência de diminuição do dano oxidativo
das 4 para as 24 horas, apesar de esta não ser significativa. O alargamento do tempo de
exposição analisado poderia confirmar esta hipótese.
A natureza pró-oxidante do extracto de folhas de Ginkgo biloba verificada neste estudo
através do ensaio do cometa foi já identificada em outros estudos que utilizam
estratégias diferentes na avaliação do stresse oxidativo induzido às células tais como a
avaliação do nível da glutationa, da peroxidação lipídica ou de enzimas antioxidantes
celulares (Babich et al, 2011).
Alguns estudos demonstram que ocorre a geração de H2O2 no meio de cultura DMEM
quando este é suplementado com extracto de Ginkgo biloba. Os componentes do meio
tais como sais inorgânicos, vitaminas e aminoácidos contribuem para a geração de ROS.
(Babich et al, 2009). Reconhece-se também que o pH é um parâmetro importante uma
vez que a instabilidade dos polifenóis em pH alcalino conduz à sua auto-oxidação
causando a geração de ROS em meios de cultura modificados com os extractos vegetais
(Babich et al, 2011).
Existem também estudos como o elaborado por Yeu e colaboradores (2000) que se
debruçam sobre compostos únicos presentes no extracto de Ginkgo biloba, como a
49
ginkgetina, demonstrando também a ocorrência de elevados níveis de ROS
intracelulares em células de carcinoma cervical OVCAR-3.
A acção da quercetina (um ginkgoflavonóide) foi também estudada utilizando o ensaio
do cometa demonstrando-se que esta danifica de modo significativo o DNA através de
quebras nas cadeias do DNA e do aumento de 8-oxoGUA (Silva et al, 2002; Yamashita
e Kawanishi, 2000).
O nível de danos no DNA obtido pode dever-se a um aspecto importante a ter em conta
e que se refere ao facto de, neste estudo, se ter usado extracto bruto, isto é, sem qualquer
processamento após a sua obtenção a partir das folhas da árvore. Deverá notar-se que os
estudos científicos realizados no âmbito do extracto de folhas de Ginkgo biloba têm por
base o extracto padrão EGb761 que é processado de modo a obter-se 24% de
flavonóides glicosilados, 6% de terpenóides e 5 a 10% de ácidos orgânicos (Vasseur, et
al, 1994). Ou seja, os ácidos ginkgólicos que, pelas suas propriedades tóxicas, são
practicamente removidos dos extractos processados (Jaggy e Koch, 1997) estavam
presentes no extracto utilizado neste estudo.
De acordo com vários estudos, os ácidos ginkgólicos presentes na Ginkgo biloba têm
demonstrado propriedades citotóxicas, mutagénicas, carcinogénicas e genotóxicas (Liu
e Zeng, 2009; Fuzzati et al, 2003; Hecker et al, 2002; Baron-Ruppert e Luepke, 2001;
Koch et al, 2000; Westendorf e Regan, 2000; Siegers, 1999). Posto isto, existem
orientação de várias autoridades reguladoras que requerem a remoção parcial dos ácidos
ginkgólicos de extractos de Ginkgo biloba usados terapeuticamente de modo a obter-se
uma concentração limite de, no máximo, 5ppm.
No estudo de Siegers (1999) o potencial tóxico dos ácidos ginkgólicos foi testado em
várias linhas celulares humanas e de animais (I-407, HepG2, HaCat, LLC-MK2 e LLC-
PK1) representando deste modo diferentes sistemas de órgãos. Tendo por base o teste
IC50 verificou-se que os dois extractos de folhas de Ginkgo biloba padrão (com 2,2 e 3
ppm de ácidos ginkgolicos) foram significativamente menos citotóxicos que as fracções
contendo ácidos ginkgólicos. Estima-se que o extracto bruto de Ginkgo biloba contenha
2,2% deste tipo de ácidos (Siegers, 1999).
Estudos demonstram que os ácidos ginkgólicos originam uma libertação de lactato
desidrogenase (LDH) indicando que a sua actividade tem por base danos na membrana
50
celular. Por sua vez o extracto padrão EGb761 não induz esta libertação mesmo em
concentrações elevadas demonstrando não possuir propriedades citotóxicas. No entanto,
inibe a proliferação celular (Heckeret al, 2002).
O estudo de Hecker e colaboradores (2002) demonstrou que os ácidos ginkgólicos
exercem efeitos tóxicos complexos que, dependendo do tipo celular e da concentração
utilizada, podem causar diferentes padrões de dano e culminar em morte celular por
apoptose ou necrose.
Por sua vez, um estudo de Liu e Zeng (2009) demonstrou que a toxicidade dos ácidos
ginkgólicos em células HepG2 foi superior à estimada em hepatócitos primários de
ratos devido a diferenças no metabolismo de fase II. Estudos realizados em hepatócitos
primários de rato demonstraram existir morte celular quando as células foram incubadas
com ácidos ginkgólicos na concentração de 10 mg/L e quebras de cadeia e indução da
proliferação celular em concentrações inferiores (0,1 a 3 mg/L) (Hecker et al, 2002). As
concentrações utilizadas nos estudos referenciados são muito superiores às adicionadas
às células HepG2 no presente estudo. Assim, ocorrendo um coerente aumento na
citotoxicidade positivamente correlacionado com o aumento da concentração de ácidos
ginkgólicos, a questão – concentrações de extracto de Ginkgo biloba tendo em vista
uma posterior transição dos resultados obtidos in vitro para efeitos in vivo – é algo
difícil de avaliar. As concentrações de Ginkgo biloba usadas no presente estudo não têm
uma relevância fisiológica em termos de um organismo no seu todo, como aliás
acontece na maioria dos estudos. Os testes realizados em células em cultura são, no
entanto, a primeira etapa nos estudos de compostos possivelmente terapêuticos.
O estudo de Liu e Zeng (2009) revelou que a combinação de toma de ácidos ginkgólicos
e fármacos como o Omeprazole (indutores das enzimas CYP1A e 3A) pode conduzir à
biotransformação destes ácidos em compostos ainda mais tóxicos, tendo esta descoberta
relevância ao nível da polimedicação em que os indivíduos combinam vários tipos de
fármacos com suplementos com extracto de Ginkgo biloba vendido em farmácias,
ervanárias e supermercados.
Por outro lado, os ácidos ginkgólicos já demonstram possuir acções benéficas como
actividade moluscicida (controle de moluscos, como lesmas e caracóis) (Chen et al,
2007), antimicrobiana e funções antitumorais (Chen et al, 2008). Relativamente ao
Toxoplasmagondii causador de toxoplasmose verificou-se que os ácidos ginkgólicos
51
inibem o seu crescimento e são menos tóxicos que a Azitromicina (antibiótico) para
células HFF (Hecker et al, 2002).
Desde a introdução do Paraquato como herbicida em 1962 que se especula acerca do
seu mecanismo de citotoxicidade (Peter et al, 1992). Estudos demonstram que esta
toxicidade ocorre via peroxidação lipídica (Tawara et al, 1996), dano oxidativo
mitocondrial (Cochemé e Murphy, 2008) e danos no genoma (Peter et al, 1992). Em
investigação científica o PQ é utilizado para aumentar os níveis do radical superóxido
quando se pretende investigar o stresse oxidativo (Cochemé e Murphy, 2008).
Os danos pelo Paraquato podem ser induzidos directamente na molécula de DNA ou
através da produção de radicais livres devida à forte peroxidação lipídica induzida. A
peroxidação de lípidos polinsaturados dá origem a uma gama de substâncias que
possuem o potencial de danificar o DNA. Estas substâncias incluem peróxidos lipídicos
e espécies que contém electrões desemparelhados como os radicais alcoxil e peroxil
(Martínez-Tabche et al, 2004; Burcham, 1998).
O potencial genotóxico do PQ tem sido estudado em diferentes organismos e linhas
celulares desde 1970 revelando a indução de alterações cromossómicas e
genotoxicidade. A acumulação de H2O2 gera a produção dos radicais hidroxilo
altamente tóxicos através da reacção de Fenton (Nicotera et al, 1985; Tanaka e Amano
1989) e consequentemente quebras na cadeia de DNA e degradação da desoxiribose
(Salam et al, 1993; Martínez-Tabche et al, 2004). Também têm sido relatadas
modificações na actividade de enzimas mitocondriais (Konstantinova e Russanov,
1999). Por outro lado, também existem estudos em que estas alterações não foram
observadas (Ortiz et al, 2000).
No entanto, a genotoxicidade deste herbicida revela-se pouco estudada
comparativamente ao que se sabe sobre os mecanismos pelos quais o Paraquato induz
peroxidação lipídica e danos na mitocôndria. Posto isto, os resultados obtidos neste
estudo tiveram pouco termo de comparação e a sua comprovação deveria ser feita com
estudos posteriores usando outras técnicas de analise de danos no DNA.
52
Os resultados obtidos neste estudo demonstraram o aumento significativo do dano
oxidativo para as concentrações de Paraquato 1 e 1,5 µM às 4 e 24 horas de incubação o
que era expectável visto que a metabolização deste composto na célula, como já foi
referido, acarreta a produção de espécies reactivas de oxigénio. A pouca diferença entre
ensaios com e sem tratamento enzimático FPG após 1 hora de incubação para todas as
concentrações estudadas está de acordo com o estudo realizado por Dusinská e
colaboradores, apesar de, neste estudo de 1998 os valores de percentagem de DNA na
cauda serem superiores visto que as células utilizadas – macrófagos alveolares e células
epiteliais tipo II – não possuirem os mecanismos de destoxificação presentes nas células
HepG2.
O estudo de Martínez-Tabche e colaboradores (2004) demonstrou uma diminuição no
nível de danos no DNA induzidos pelo Paraquato no último período de incubação (8
dias) provavelmente como resultado da reparação estimulada pela mutagénese. No
presente estudo verificou-se uma tendência de diminuição (apesar de não significativa)
no nível de dano oxidativo das 4 para as 24 horas de incubação das células para a
concentração de 1 µM de Paraquato. A avaliação de uma exposição das células ao
Paraquato alargada no tempo poderia esclarecer esta dinâmica celular.
Um dos resultados obtidos neste estudo e que não vai de encontro ao estudo de
Dusinská e colaboradores (1998), em que com o aumento da concentração de Paraquato
ocorre um concomitante aumento nos níveis de dano do DNA das células, é o facto de,
aos 30 minutos de incubação, para a concentração PQ = 5 µM o nível de quebras de
cadeia de DNA diminuir comparativamente à concentração PQ = 1,5 µM. Para o
mesmo tempo, o dano oxidativo diminui de forma significativa de PQ = 1,5 µM para
PQ = 2 µM. Uma explicação possível poderá ser a existência de proteínas de Multi-
Drug Resistance (MDR) nas células HepG2. As proteínas MDR são capazes de
bombear os xenobióticos para fora da citomembrana, usando a energia do ATP. Este
mecanismo é complexo e envolve a sobrexpressão destas proteínas transportadoras de
drogas quando as células são expostas a compostos tóxicos como o Paraquato. Apesar
de as células utilizadas no estudo de Dusinská e colaboradores (1998) também
expressarem este tipo de proteínas, este mecanismo deverá ser mais expressivo na linha
celular HepG2 visto tratarem-se de células tumorais e serem células hepáticas (Gao et
al, 2007).
53
Interessante será também verificar que as concentrações de Paraquato utilizadas no
estudo aqui apresentado e no estudo de Dusinská e colaboradores (1998) de modo a
obter resultados significativos em termos de genotoxicidade são da ordem dos
micromolar (µM) (10 µM é a concentração mais elevada do estudo de 1998 obtendo-se
para esta concentração uma percentagem de DNA na cauda dos cometas na ordem dos
60%). No entanto, nos estudos sobre o mecanismo de toxicidade do Paraquato através
da peroxidação lipídica e de danos na mitocôndria as concentrações utilizadas são
significativamente superiores. Por exemplo, segundo o estudo de Peter e colaboradores
(1992) em termos de peroxidação lipídica induzida por Paraquato a concentração de 2,5
mM é a concentração mínima para que os resultados comecem a ser significativos.
Posto isto, a indução de genotoxicidade deverá ser alvo de maior interesse por parte da
comunidade científica de modo a compreender-se melhor esta faceta da citotoxicidade
induzida pelo Paraquato.
Vários compostos têm sido utilizados na indução de stresse oxidativo, nomeadamente o
peróxido de hidrogénio (H2O2), o cloreto de cádmio (CdCl2), sulfato e cobre (CuSO4),
luz visível e poluentes ambientais em geral (Shukla et al, 2011). Mas muitos outros
compostos têm sido estudados como potenciais indutores deste tipo de danos no DNA e
o presente estudo propôs-se também a estudar de que forma o Paraquato poderia ser
utilizado na indução do dano oxidativo. E, de facto, os resultados obtidos demonstram
que este herbicida é capaz de induzir stresse oxidativo sem aumentar o nível de danos
de cadeia quando as células são submetidas às concentrações de 1 ou 1,5 µM durante
pelo menos 4 horas. É de salientar, no entanto, que estes resultados foram obtidos tendo
por base um estudo feito em células HepG2 que, sendo células de carcinoma de fígado
possuem enzimas de destoxificação, protectoras da célula em geral e do DNA em
particular, que poderão estar presentes de forma menos significativa noutros tipos de
células, pelo que a concentração utilizada e o tempo de exposição das células ao
herbicida podem variar muito na obtenção dos mesmo resultados. O trabalho de
Dusinská e colaboradores (1998) demonstra as diferenças que existem em termos de
dano no DNA para as mesmas concentrações de Paraquato e os mesmos tempos de
exposição mas utilizando dois tipos de células diferentes – macrófagos alveolares e
pneumócitos.
54
Pretendendo-se estudar um efeito quimioprotector do extracto de Ginkgo biloba,
verificou-se que uma pré-incubação de 24 horas das células HepG2 com concentrações
de 0,5 e 5 g/L de extracto de folhas de Ginkgo biloba acarretou um aumento do dano
oxidativo do DNA quando estas foram submetidas ao tratamento com Paraquato 1 e 1,5
µM durante uma hora. O aumento deste tipo de danos no DNA comparativamente aos
resultados obtidos para as mesmas concentrações e tempo de exposição ao Paraquato
em células não pré-tratadas é substancial, sendo o extracto de Ginkgo biloba o pró-
oxidante de maior destaque. A incubação com PQ, durante uma hora, não aumentou o
nível de danos de DNA além daquele já previamente obtido para os ensaios com
extracto bruto de Ginkgo biloba, 24 horas – não se verificou um efeito sinergético na
indução de dano oxidativo quando o PQ é adicionado de forma consecutiva ao extracto.
Os resultados obtidos na avaliação dos danos no DNA para a adição conjunta às células
de extracto de Ginkgo biloba e Paraquato – diminuição significativa do nível de danos
no DNA comparativamente aos danos obtidos na adição consecutiva destes compostos –
pode indicar a activação de mecanismos de protecção das células. Muitos tipos de
células e nomeadamente as células de carcinoma hepático HepG2 são dotadas de
estratégias que permitem a sua sobrevivência, nomeadamente as proteínas MDR já
mencionadas. Necessitando esta hipótese de ser corroborada, esta poderá ser uma das
explicações que integrada noutras permitem perceber a biologia complexa da célula
quando exposta a compostos citotóxicos.
Assim, apesar de a maioria dos estudos demonstrar uma faceta quimioprotectora dos
compostos fenólicos existentes em produtos de origem vegetal (pelo que um dos
possíveis resultados poderia ser que o extracto de folhas de Ginkgo biloba facilitasse a
destoxificação do Paraquato e prevenisse a oxidação e mutação do DNA), os resultados
obtidos neste estudo vão de encontro ao pequeno número de estudos que demonstram
uma capacidade pró-oxidante deste extracto.
A um nível mais técnico pode fazer-se um apontamento relativamente aos ensaios
cometa controlo em que as células HepG2 não foram sujeitas a nenhum tratamento,
permanecendo todo o tempo em meio de cultura DMEM. Muitos autores defendem que
um baixo nível de danos no DNA obtido nos ensaio cometa controlo são o melhor
indicador de que as células estão vivas e capazes a facultar resultados fidedignos. Os
55
ensaios cometa são mais fiáveis na avaliação da viabilidade celular (feita nas amostras
antes de estas serem sujeitas aos diversos estudos) que o teste mais comummente
utilizado – o teste de exclusão pelo azul de tripano – visto que neste teste as células
podem captar o corante sem estarem mortas: este teste apenas testa a integridade da
membrana celular (Collins et al, 2008).
A principal dificuldade encontrada ao longo da execução dos ensaios do cometa foi a
perda dos géis. Esta situação ocorreu preferencialmente após a incorporação das células
em agarose LMP e ocasionalmente durante as etapas de lise ou electroforese. A
principal explicação apontada pelos investigadores tem sido o facto de, em atmosfera
húmida, os géis não aderirem tão bem às lâminas de vidro. Uma das possíveis soluções
é a substituição das lâminas por filme plástico para agarose (Gelbond®). Esta opção
apesar de ser mais dispendiosa garante a aderência dos géis.
56
6. Conclusões
As plantas medicinais são geralmente consideradas como possuidoras de uma ampla
gama terapêutica e baixos níveis de risco toxológicos. No entanto, os fármacos
derivados de plantas podem conter constituintes que exercem efeitos secundários não
desejados (Ernst e Barnes, 1998). Deste modo, os produtos fitoterapêuticos, assim como
as drogas sintéticas, devem ser avaliados por critérios de eficácia, qualidade e segurança
(Hecker et al, 2002; Couzinier e Mamatas, 1986).
O presente estudo permite inferir, ao nível de ensaios em cultura de células in vitro, que
a incubação com extracto aquoso bruto de folhas de Ginkgo biloba, isto é, feito a partir
de folhas da árvore sem qualquer processamento posterior, poderá representar um
potencial perigo genotóxico devido, principalmente, à presença de ácidos ginkgólicos.
Os estudos de Zuang (2001) e Hecker e colaboradores (2002) já tinham demonstrado a
redução do número de células viáveis quando expostas a este extracto vegetal e o
presente estudo contribuiu, com dados genotóxicos, para uma compreensão alargada dos
mecanismos subjacentes à acção nefasta que o extracto bruto pode representar para as
células.
O potencial antigenotóxico e quimioprotector já descrito noutros estudos sobre o
extracto de folhas de Ginkgo biloba foi também refutado nos ensaios realizados. Este
tipo de conclusões tem sido retirada para vários extractos de origem vegetal, nutrientes e
micronutrientes que são empiricamente considerados benéficos.
Este estudo, no entanto não afasta os notórios benefícios da toma do extracto de Ginkgo
biloba na melhoria das capacidades cognitivas, efeito dilatador dos vasos sanguíneos e
impedimento da oxidação do colesterol LDL, sendo consequentemente importante na
prevenção de doenças vasculares. A toma de fármacos à base de Ginkgo biloba
vendidos em farmácias está, à partida, isenta de riscos uma vez que há um
processamento do extracto de modo a que a concentração de ácidos ginkgólicos não
ultrapasse os 5 ppm, concentração esta considerada segura. Por outro lado, os
ginkgolides e o bilobalide já demonstraram ser capazes de ultrapassar a barreira hemato-
encefálica que é o principal entrave de muitos compostos estudados que, apesar de
potencialmente benéficos, não exercem qualquer função em estudos in vivo (Lang et al,
2010). A questão levantada neste estudo coloca-se quando o extracto de folhas de
57
Ginkgo biloba, é obtido directamente das folhas destas árvores sendo depois os seus
princípios benéficos e nefastos extraídos em água. Existem dois aspectos a ter em conta
neste caso: o primeiro prende-se com o facto de esta infusão natural parecer à partida
inócuo podendo conduzir a uma ingestão acima do recomendável; além disto, deve
notar-se que os benefícios do extracto de Ginkgo biloba são principalmente
direccionados para uma faixa etária acima dos 40 anos o que a nível genético pode
acarretar um efeito nefasto sinergético uma vez que, aos danos no DNA e mutações
adquiridos ao longo da vida, se poderão juntar os danos induzidos por constituintes
prejudiciais da toma do extracto. Em última análise isto poderia potenciar o
desenvolvimento de doenças com uma base genética, como o desenvolvimento de
cancro.
É por esta razão que a produção de extractos de plantas medicinais padrão deve
obedecer ao princípio do seu enriquecimento em compostos terapeuticamente relevantes
e exclusão de substâncias com possíveis propriedades nefastas. Assim, durante a
produção do extracto padrão de folhas de Ginkgo biloba, EGb 761, que é
comercializado, as fracções contendo ácidos ginkgólicos são removidas enquanto as
concentrações mínimas dos constituintes terapeuticamente activos estão garantidas. A
eliminação destes compostos e outros alquilfenóis do extracto padrão é justificável sob
considerações toxicológicas e, por razões de segurança, não é aceitável permitir
concentrações destes compostos que excedam os níveis propostos (Hecker et al, 2002).
A relevância clínica desta afirmação é sublinhada por alguns relatos médicos em que se
verificou o desenvolvimento de dermatites de contacto sistémicas após a ingestão oral
de suplementos de Ginkgo biloba com elevadas quantidades de ácidos ginkgólicos
(Chiu et al, 2002).
Uma questão relevante prende-se com o facto de cerca de 25% das drogas
comercializadas terem origem vegetal. Mas, apesar disso, esta é uma com um enorme
potencial de evolução visto existirem entre 250 000 a 500 000 espécies vegetais sendo
que apenas uma pequena percentagem está a ser estudada.
O estabelecimento de plantas in vitro é provavelmente um dos pontos cruciais na
elaboração de fármacos à base de espécies vegetais isto porque, quando a planta ou
parte de planta têm origem no campo pode ocorrer uma grande variabilidade dos
compostos benéficos e nefastos sendo esta inconstância uma das principais dificuldades
58
de uma produção em massa. Outras questões prendem-se com a bioacumulação de
substâncias tóxicas, por parte da planta, devido à poluição e também com a salvaguarda
dada à biodiversidade que, por vezes, é colocada em causa com a sobre-exploração de
algumas plantas.
Os resultados obtidos neste estudo utilizando a técnica do ensaio do cometa devem ser
complementados com vários outros testes, como os teste de redução do tetrazólio MTT,
método de exclusão do azul de tripano ou de captação do vermelho neutro de modo a
avaliar-se o crescimento celular, a viabilidade, a integridade e a morfologia das células
quando incubadas com o extracto vegetal de Ginkgo biloba (Hecker et al, 2002). A
avaliação dos efeitos deste extracto noutras linhas celulares e modelos in vivo permitiria
deslindar, de uma forma mais aprofundada, quais os riscos reais da toma de uma infusão
de folhas de Ginkgo biloba.
A realização do trabalho aqui apresentado permitiu concluir que a utilização do
Paraquato é um meio eficaz e barato de se produzir dano oxidativo na linha celular
HepG2. De facto este herbicida é capaz de aumentar a geração de radicais livres
concomitantemente com a formação enzimática de radicais monocatiónicos de
Paraquato na presença de NADPH, induzindo posteriormente dano oxidativo no DNA
(Tanaka e Amano, 1989; Nicotera et al, 1985; Bus et al, 1974; Dodge e Harris 1970;
Gage, 1968).
A relevância dos compostos capazes de induzir este tipo de danos, expressa-se na
investigação fundamental de danos no DNA e a sua reparação in vitro, em estudos de
quimioprotecção onde se avalia a capacidade de protecção das células por parte de
fitoquímicos ou a acção de nutrientes e micronutrientes contra danos oxidativos. Além
disto, deverá notar-se que o dano oxidativo base no DNA é um possível factor da
etiologia do cancro, pelo que estudos nesta área são também desejáveis (Collins, 2004).
O presente estudo revelou também que o aumento da concentração de Paraquato
acrescentado a células HepG2 contribui para o acréscimo dos danos no DNA até ao
ponto em que, provavelmente, as células começam a bombear o xenobiótico de novo
para o meio de cultura diminuindo a quantidade de danos no DNA como forma de
59
proteger a sua integridade. Este pequeno indício de um mecanismo de protecção contra
compostos citotóxicos e genotóxicos coloca em hipótese a realização de estudos
posteriores que o confirmem ou refutem mas que, mesmo assim, poderão elucidar a
comunidade científica sobre aspectos como a importância das proteínas MDR na
resistência das células cancerígenas às drogas quimioterapeuticas. Um outro tipo de
estudos possíveis poderá debruçar-se sobre a forma como certos compostos de origem
vegetal poderiam ser úteis, combinados com a quimioterapia, ao inibirem a acção das
proteínas MDR, como demonstra o estudo de Li e colaboradores (2011). Esta é uma
área ainda inexplorada cujo potencial poderá ser significativo.
Como anteriormente referido, deve ter-se em conta que as concentrações de Paraquato e
o tempo de exposição aferidos neste estudo são válidos para a linha celular HepG2 com
todas as características inerentes a uma linha celular de carcinoma hepatocelular,
podendo estas características ser distintas ou até inexistentes noutras linhas celulares ou
em células recentemente obtidas de uma origem in vivo.
Os ensaios do cometa são uma técnica que, sendo possível variar ou introduzir etapas ao
protocolo base, permitem uma avaliação aprofundada e específica da acção de
diferentes compostos ao nível do DNA. Os ensaios do cometa – FISH (hibridação in
situ fluorescente) utiliza sondas de cDNA ou oligonucleotidos que reconhecem
sequências de interesse, sendo úteis na avaliação das taxas de reparação especificas de
um gene após a exposição a baixas doses a um agente que danifica o DNA visto que,
permitem localizar cromossomas, regiões de cromossomas, classes de DNA ou genes
específicos. Outra variante interessante é a exposição das células ao composto teste após
a sua incorporação na agarose LMP e após a etapa de lise. Deste modo, a avaliação do
efeito do composto ao nível do DNA é directa e não está dependente do metabolismo
celular (Collins, 2004).
Concluindo, o presente estudo permitiu apurar:
O aumento da concentração de Paraquato contribui para o acréscimo dos
danos no DNA das células HepG2 até ao ponto em que mecanismos de
protecção celular são activados contra uma toxicidade aguda;
60
O aumento do tempo de exposição das células ao Paraquato nas
concentrações menores (1 e 1,5 µM) resulta no incremento do dano
oxidativo;
A utilização de Paraquato é uma alternativa viável aos métodos usados
para a indução de dano oxidativo no DNA. Para as células HepG2 obtém-se
o nível máximo de dano oxidativo após 4 horas de incubação ao Paraquato
nas concentrações de 1 ou 1,5 µM;
O extracto bruto de folhas de Ginkgo biloba é capaz de aumentar o nível de
danos no DNA devido à presença de ácidos ginkgólicos;
Este extracto vegetal, em bruto, induz o acréscimo do dano oxidativo do
DNA ao longo do tempo e não manifesta o potencial antigenotóxico descrito
em estudos científicos que utilizam extracto processado.
61
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