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IBSN: 978-85-7282-2778-2 Página 1 Efeito rotacional de praia associado a erosão em trecho de orla: Praia da Macumba, Rio de Janeiro/RJ Akel da Silva Saliba (a) , Artur Lana Guzzo (b) Thiago Gonçalves Pereira (c) (a ) Instituto de Geografia IGEOG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, [email protected] (b) Programa de Pós-graduação em Geografia PPGEO, Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, [email protected] (c) Departamento de Geografia Fisica DGF, Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, [email protected] Eixo: Zonas costeiras: processos, vulnerabilidades e gestão Resumo As ocupações e construções em orlas expostas podem resultar em desequilíbrio no ambiente sedimentar, quando não respeitada a faixa de dinâmica praial. Na praia da Macumba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, são constatadas essas características na forma de processos erosivos intensos. Vindo de recorrentes desabamentos das estruturas urbanas rígidas, esta orla sofreu, entre setembro e novembro de 2017, os maiores prejuízos já registrados. Um conjunto de um ambiente costeiro com um dinamismo intenso, alterações nas características naturais e ocupação inadequada proporcionaram um cenário de vulnerabilidade e risco. Para compreender a dinâmica do local, adotou-se monitoramentos com perfis de praia, imagens obtidas por VANT para mapeamento e coleta de informações e dados secundários. Foi observado que o transporte litorâneo desenvolvido por condições específicas de clima de ondas e ventos, atuam no processo de erosão e deposição em trechos opostos do arco praial, identificado como efeito rotacional de praia. Palavras chave: Erosão costeira; Geomorfologia Costeira; Morfodinâmica praial; Ocupação da orla.

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Efeito rotacional de praia associado a erosão em trecho de orla: Praia

da Macumba, Rio de Janeiro/RJ

Akel da Silva Saliba (a), Artur Lana Guzzo (b) Thiago Gonçalves Pereira (c)

(a) Instituto de Geografia – IGEOG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ,

[email protected]

(b) Programa de Pós-graduação em Geografia – PPGEO, Universidade do Estado do Rio de

Janeiro – UERJ, [email protected]

(c) Departamento de Geografia Fisica – DGF, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ,

[email protected]

Eixo: Zonas costeiras: processos, vulnerabilidades e gestão

Resumo

As ocupações e construções em orlas expostas podem resultar em desequilíbrio no ambiente

sedimentar, quando não respeitada a faixa de dinâmica praial. Na praia da Macumba, Zona Oeste do Rio

de Janeiro, são constatadas essas características na forma de processos erosivos intensos. Vindo de

recorrentes desabamentos das estruturas urbanas rígidas, esta orla sofreu, entre setembro e novembro de

2017, os maiores prejuízos já registrados. Um conjunto de um ambiente costeiro com um dinamismo

intenso, alterações nas características naturais e ocupação inadequada proporcionaram um cenário de

vulnerabilidade e risco. Para compreender a dinâmica do local, adotou-se monitoramentos com perfis de

praia, imagens obtidas por VANT para mapeamento e coleta de informações e dados secundários. Foi

observado que o transporte litorâneo desenvolvido por condições específicas de clima de ondas e ventos,

atuam no processo de erosão e deposição em trechos opostos do arco praial, identificado como efeito

rotacional de praia.

Palavras chave: Erosão costeira; Geomorfologia Costeira; Morfodinâmica praial;

Ocupação da orla.

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1. Introdução

Recentemente publicado, o livro “Panorama da Erosão Costeira no Brasil” (MUEHE, 2018)

traz inumeros exemplos de erosão costeira de ordem natural das praias brasileiras, mas também,

processos erosivos acelerados devido a instalação de construções rígidas, tais como muros (seawalls) e

molhes, que provocam profundas mudanças na dinâmica de praias e sérios problemas de desequilíbrio

no balanço sedimentar da zona costeira.

No litoral do Estado do Rio de Janeiro são conhecidas as áreas submetidas ao processo de

urbanização e artificialização da orla que possuem no seu passado recente o histórico de episódios

erosivos. Esses eventos vem sendo observado por diversos autores, dentre eles Muehe et al. (2001),

Lins-de-Barros (2005), Silva et al. (2009), Fernandez et al. (2011) e Bulhões et al. (2014), Pereira et al,

(2017), como sendo resultado forçantes meteorológicos e oceanográficos associados a uma ocupação

costeira inadequada, que geralmente inviabiliza por completo espaço na retaguarda das praias para a

natural mobilidade do sistema praial.

Em alguns arcos praiais segmentados por promontórios rochosos não muito distante entre si

(entre 1 a 5km) essa mobilidade do sistema praial pode se manifestar de forma celular, onde os

sedimentos da praia e zona submarina próxima ficam retidos entre esses promontórios e promovem

erosão e acumulação de sedimentos em setores opostos devido ao transporte litorâneo desenvolvido a

partir da obliquidade de incidência de ondas. O efeito rotacional se dá a partir da alternância dessas

condições em que as areias são removidas de uma ponta para outra de um arco de praia e retornam em

situação condições opostas (KLEIN et al., 2002; BRYAN et al., 2013).

Neste trabalho, são trazidos contribuições resultantes de monitoramento morfodinâmico em

um trecho de orla que possui antecedentes de erosão e destruição das estruturas rigidas posicionadas

junto a linha de costa. Os levantamentos de dados se dá desde outubro de 2017, registrando um grande

evento erosivo que ocorreu no local, e desde então se mantem a fim de obter informações sobre as

variações morfológicas dos depósitos arenosos emersos e a estabilidade da linha de costa em relação às

condições de mar.

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1.1. Área de Estudos

Em termos geomorfológicos, o trecho conhecido como Praia da Macumba e Praia do Pontal,

está inserido no macrocompartimento dos cordões litorâneos (MUEHE, 1998), como parte de um

sistema de barreiras arenosas costeiras governadas por ondas, no qual a barreira frontal ao mar possui

característica estável ou de lenta retrogradação, sendo de idade holocênica com idade de ± 5.500 anos

(MUEHE e CORREA, 1989).

A direção da linha de costa predominantemente E-W (MUEHE e VALENTINI, 1998) tem

como principais influenciadores no comportamento das ondas os ventos alísios resultantes da zona de

alta pressão atmosférica do Atlântico Sul – ASAS, que geram ondas e correntes no sentido leste - oeste

e de ventos decorrentes das frente frias migratórias formadas pela massa Polar atlântica (SOUZA, 1988;

PINHO, 2003), geralmente associado às condições de ressacas do mar, que atacam a linha de costa

frontalmente ou podem gerar ondas e correntes no sentido oeste-leste (PEREIRA et al, 2018).

A leste da área forma-se um tombolo arenoso estabilizado pela Ilha do Pontal e a oeste o arco

praial é delimitado pelo canal de Sernambetiba, totalizando um trecho de orla de aproximadamente

2,7km, onde foram distribuidos seis pontos de monitoramento (Figura 1).

Figura 1 - Localização da praia da Macumba e Pontos de Monitoramento.

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2. Materiais e Métodos

Foram coletados dados morfodinâmicos nos pontos P1 e P2 localizados na praia do Pontal e os

pontos P3, P4, P5 e P6 na praia da Macumba, e aerolevantamentos feitos através de VANT – Veículo

Aéreo Não Tripulado para monitorar a variação da linha de costa. Até o momento soma-se um total de

10 campanhas com as seguintes datas: 11/10, 18/10, 01/11 e 24/11 de 2017, 19/01, 16/03, 27/04, 19/06

e 30/08 de 2018 e 1601 de 2019. Também foram feitas pesquisas em portais de notícia para identificar

o processo de construção do calcação e os diversas vezes que o mesmo precisou ser reparado após a

erosão ou destruição, além da obtenção de imagens pretérias através do Google Earth.

2.1. Aquisição de dados morfodinâmicos

Os perfis topográficos foram obtidos através do método de Baliza de Emery, utilizando duas

balizas com régua e uma trena como ferramentas para medir a evolução topográfica da praia através da

altura e distância nos 6 pontos pré-definidos. Essas duas informações geram um plano bidimensional

que é trabalhado no Excel para a geração de gráficos. A intervenção das obras de engenharia para

reforma do calçadão e os destroços durante a erosão em estado ativo impediram a medição de perfis

topográficos em alguns pontos nos levantamentos em 2017. Esse método de obtenção de perfis

topográficos foi utilizado por exemplo por Belligotti (2009).

2.2. Imagens de VANT e imagens do Google Earth

Para aquisição das imagens foi utilizado o VANT Phantom3 Professional da DJI nos campos

dos dias: 11/10 e 24/11 de 2017 e 19/01, 19/06 e 30/08 de 2018, no planejamento dos vôos foram

utilizados alguns aplicativos gratuitos, como por exemplo o Precision Flight e Drone Deploy. Os

aerolevantamentos em 2017 tiveram definido o GSD (Ground Sample Distance) em 5 cm/px, já os de

2018 o pixel possuí 4 cm. O GSD é a conversão do tamanho do pixel na imagem para a distância desse

pixel no terreno, em cm/px; A sobreposição de tomada de fotos foi de 75% frontal e 65% lateral nos

levantamentos de 2017, e de 80% lateral e frontal em 2018, melhorando assim, a resulução espacial do

mapeamento aerofotogramétrico.

No processamento fotogramétrico e análise dessas imagens foi utilizado o software PhotoScan

para que fossem gerados mosaicos das imagens obtidas em cada campo, com o objetivo de delimitar e

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analisar o avanço e recúo da linha de costa. Após feitos os mosaicos, os mesmos foram georreferenciados

no ArcGIS 10.5.1 utilizando como base a ortofoto do IBGE de 2005. A linha de costa foi delimitada a

partir do alcance máximo das ondas sobre a face de praia, sendo possível identificar a partir da coloração

da areia, quando úmida um amarelado mais escuro e quando seca um amarelado mais claro. Esse

metodologia para monitoramento costeiro já foi aplicado por Albuquerque et al (2017).

A obtenção de imagens do Google Earth serviu para interpretação e análise de eventos

pretéritos, mas que por falta de uma rotina de imagens, não foi amplamento utilizado.

3. Resultados

Os levantamentos de informações realizados mostram que há mais de uma década os processos

de erosão poe em risco as estruturas e equipamentos urbanos na orla. Na Tabela I, estão alguns registros

dos eventos de maior erosão que comprometeram as instalações na orla.

Tabela 1: Linha do tempo de eventos na praia da Macumba.

Data Evento

Agosto de 2006 Conclusão do calçadão do Projeto Eco-Orla na praia da Macumba.

5 de setembro de 2006 Semanas após a conclusão, o calçadão sofre o primeiro solapamento em um pequeno

trecho (Correio do Brasil, 2006).

1° semana de dezembro de 2008

Novamente a erosão castiga o calçadão, afetando uma extensão de cerca de 70 metros

(Jornal do Brasil, 2008).

1° semana de maio de

2011

A natureza manda um aviso e são retiradas cerca de 30 toneladas de areia do calçadão

após uma forte ressaca (Correio do Brasil, 2011).

Julho de 2015 Prefeitura do Rio de Janeira foi condenada pela Justiça Federal a recuperar

ambientalmente a orla da Praia da Macumba, já que foi considerada uma obra mal realizada e sem respeitar os estudos ambientais (MPF, 2015).

2° metade de setembro de 2017

Durante uma ressaca a praia da Macumba sofre intensa erosão e as ondas destroem cerca de 600 metros do calçadão.

2° metade de outubro de 2017

Início das obras de reconstrução da orla avaliada em 14,5 milhões de reais (O Globo, 2017).

Março de 2018 É finalizada a reconstrução da parte do calçadão que solapou durante a ressaca em 2017.

2° metade de junho de

2018

Três meses após a conclusão da reforma, o calçadão sofreu novemente com a erosão

costeira, atingindo a contenção feita nas obras e removendo os sacos de areia que protegiam e sustentavam o calçadão (Agência Brasil, 2018).

A partir de setembro de 2017 foram registrados os eventos de maiores intensidades naquela

área, cerca de 600 metros do calçadão foram danificados, sendo que cerca de 150 metros teve seu

completo solapamento, revelando também os escombos pretéritos que ali foram deixados (Figura 2).

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Após a recuperação natural da praia e seu cordão arenoso reestabelecido de forma natural a Prefeitura

do Rio de Janeiro optou pela reconstrução do calçadão na mesma posição do anterior, em uma obra

avaliada em 14,5 milhões de reais (O Globo, 2017), finalizada em março de 2018. Após três meses de

conclusão das obras, o calçadão sofreu novemente com a erosão costeira, atingindo a contenção feita e

removendo alguns sacos de areia que protegiam e sustentavam o calçadão (Agência Brasil, 2018).

Figura 2– (A): Antes da obra do projeto Eco-Orla, em 2004; (B): Calçadão destruído pós ressaca

18102017; (C): Reconstrução 19/01/2018; (D):Praia recuperada e com calçadão reconstruído 18012019.

Fonte: (www.ricosurf.com.br e acervo pessoal.)

Os resultados da morfodinâmica confirmam uma elevada mobilidade da linha de costa nos

pontos P4 e P5, que seria o trecho onde ocorreu o maior avanço do mar, ocasionando o solapamento das

estruturas que ali estavam. Já os pontos P1, P2, P3 e P6 não sofreram com a erosão durante o período

de monitoramento, portanto, com uma dinâmica menor que os dois primeiros pontos.

Os pontos P1 e P2 possuem uma certa estabilização principalmente devido ao apoio rochoso

ao qual o arco de praia está ancorado, com formação de um tombolo. As respostas de variação

morfológoca são influenciadas em função do clima bimodal de ondas, com ondas do quadrante leste-

sudeste arrebentando com mais energia no P1 e menos no P2 e situação inversa quando as ondas são do

quadrantes sul-sudoeste. (Figura 1).

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O ponto P3 é o com maior estabilidade (Figura 1), apesar de estar localizado no meio de um

arco praial não sofre com perdas significativas de sedimentos com as variações de climas de ondas,

diferente da intensa dinâmica morfológica esperado em praias de alta energia (WRIGHT et al., 1978;

SHORT, 1979; WRIGHT e SHORT, 1984, 1988 apud PEREIRA et al. 2018).

Desde o início do monitoramento por perfis de praia, os pontos P4 e P5 foram os que sofreram

mais intensamente com a erosão, registrado já no primeiro levantamento (111017). É possível observar

que em ambos os pontos a largura da praia emersa foi muito curta, tendo o P4 14,01m e o P5 com

35,05m de largura, e com isso, as ondas tiveram contato direto com a base do calçadão, ocasionando o

solapamento por completo no P4 e de alguns pontos próximos ao P5. Na ordem cronológica dos perfís

topográficos é possivel observar que em ambos os pontos que foram severamente erodidos, ocorre a

recuperação gradual do estoque sedimentar, isso devido a mudança na direção das ondas, que em

setembro a novembro de 2017 (período erosivo), foi predominantemente no sentido leste-oeste e a partir

de dezembro passou a se mais equilibrado.

Para se chegar a origem dessa recuperação sedimentar é necessário comparar o perfil

topográfico dos pontos P4 e P5 com o P6, observa-se que no momento da erosão dos primeiros pontos,

é quando o P6 está com maior extensão de praia (105,96m). Em sequência, com uma ligeira recuperação

nos outros pontos, a largura do P6 reduz, chegando em seus menores valores registrados durante o

monitoramento no dia 190618 com 72,51m de largura, enquanto os pontos P4 e P5 registraram um dos

seus maiores, 77,04 e 71,6 m respectivamente (Figura 3).

Esse fenômeno, conhecido como Beach Rotation – Rotação de Praia, foi reconhecido por

Bryan (2013) e Klein (2002), e ocorrem principalmente em praias que são encaixadas entre dois

afloramentos rochosos, quando não muito distante entre si, o que permite prender os sedimentos naquele

local, quando exposto a ondas de incidência obliqua promove a deriva litorânea e transporte de um

grande contigente de sedimentos de uma ponta para a outra da praia, e após a alteração dos da direção

das ondas esses sedimentos retornam ao seu local anterior.

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Figura 3 – Perfis de Praia nos pontos P1, P2, P3, P4, P5 e P6.

As conclusões feitas a partir dos dados morfodinâmicos obtidos são confirmadas com

os dados produzidos a partir das imagens de VANT coletadas (Figura 4 e 5). É possível

observar a movimentação da linha de costa em uma espécie de balanço sedimentar, quando a

linha de costa avança sobre o mar na ponta sudoeste da praia, a mesma recua na ponta nordeste.

A amplitude observada nos dados morfodinâmicos é identificada também nas imagens

de VANT, o que corresponde ao fenômeno da rotação de praia. Enquanto no P6 ocorre uma

amplitude máxima de 33,45m de recúo, tendo 105,96 no primeiro dia de campo (111017) e

72,51m no dia em que foi registrado a menor largura (190618), os pontos P4 e P5 registram

uma grande amplitude indicando avanço, P4 com uma recuperação de 63,03m, registrando

14,01m no dia 111017 e 77,04m no dia 190618, entretanto, sua maior extensão foi registrada

no dia 300818 – 85,04m –, totalizando 71,03 de amplitude de variação da largura da praia, já o

P5 tinha 34,05m no dia 111017 e 71,6m no dia 190618 – dia com maior extensão registrada –

totalizando uma amplitude de 37,55m, reforçando que a recuperação da praia se deu no

movimento dos sedimentos do P6 para o P4 e P5.

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Figura 4 – Imagens de VANT e Linhas de costa obtidas em: 11/10/17, 24/11/17, 19/01/18, 19/06/18 e 30/08/18.

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Figura 5 – Mapa com superposição das linhas de costa obtidas.

4. Considerações finais

Fica evidente que o projeto Eco-Orla na praia da Macumba se demonstrou frágil ao longo de

sua existência, servindo como agravante nas perdas com as intensas erosões geradas pelas ressacas e

condições hidrodinâmicas intensas e contínuas. Isso reforça a necessidade de estudos prévios sobre a

dinâmica praial em localidades em que o processo de ocupação e urbanização em áreas costeiras ainda

se encontra em fase de expansão.

Com o perceptível balanço sedimentar de erosão acreção em extremidades opostas da praia, o

fenômeno de Rotação de praia – Beach Rotation se mostra como uma importante processo de

distribuição sedimentar para explicar possíveis cenários de dinâmica praial na qual a praia da Macumba

tem sido exposta aos longos dos anos.

Para se confirmar que de fato esse fenômeno rege a dinâmica da praia e é responsável pelos

episódios de erosão e destruição das estruturas rígidas, o monitoramento está em continuidade e dados

mais refinados sobre o padrão de incidência de ondas na linha de costa serão utilizados para auxiliar no

entendimento dos processos morfodinâmicos da área de estudo, sobretudo no trecho com maior

incidência de erosão severa.

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