28

Efeitosdo eucalipto 1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Efeitosdo eucalipto 1
Page 2: Efeitosdo eucalipto 1

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL/BA

Responsável Técnico Cristiano Raykil Pinheiro

Relatório de Pesquisa Diagnostica da Situação Socioeconômica do Entorno da Fabrica de Celulose na Microrregião de Eunápolis

Eunápolis 2005

Page 3: Efeitosdo eucalipto 1

Impactos socioeconômicos da monocultura do eucalipto e produção de celulose no Extremo Sul da Bahia

Cristiano Raykil1Cientista Social

Apresentação

Pretende-se discutir os impactos negativos da monocultura do Eucalipto e

produção de celulose no extremo sul da Bahia apresentando os dados referentes

às condições de vida de sua população, seus aspectos econômicos e sociais.

Para tanto, os debates primordiais dessa empreitada econômica global deverão

ser apresentados, propondo-se desmistificar algumas narrativas veiculadas pelo

capital estrangeiro através de suas empresas prepostas que publicam a idéia de

desenvolvimento “incluindo todos”.

Os pontos essenciais para essa análise estão no debate do desenvolvimento

regional, na instalação da industria e seu suposto beneficio em investimentos

sociais, que é papel do Estado, e renda para a população através do emprego.

Efetuou-se uma pesquisa com abrangência de atingir os municípios que

compreendem o entorno da região da fábrica da Veracel / Celulose: Itapebí,

Itagimirim, Eunápolis, Belmonte, com enfoque especial nos Povoados de

Barrolândia e Ponto Central do Distrito de Mogiquiçaba no Município Belmonte.

Totalizando, segundo o IBGE, em estimativa 2004, uma população de 128.868

habitantes.

Impactos negativos

Os dados levantados, através deste diagnóstico, têm extrema importância, pois

não existem registros da situação de comunidades marginais no Extremo Sul da

Bahia. Essa relação de poder econômico, enfrentada pelas comunidades locais

reflete a disponibilidades de ferramentas, dados científicos, que auxiliem a tomada

1 Pesquisador CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia

Page 4: Efeitosdo eucalipto 1

de consciência dos sujeitos locais, tais como as ong’s, sindicatos, associações etc,

de extrema importância no equilíbrio das tomadas de decisões.

O universo dos dados gerais que versam sobre a região encontram-se dispersos,

orientados pelos interesses das unidades patrocinadoras dessas pesquisas e

visam originalmente justificar algum investimento local e por exigência das

agencias fomentadoras.

Desenvolvimento Humano

Um índice muito utilizado para verificar a condição sócia econômica da população

regional é o IDH municipal, inferido pela ONU, representa um interessante

referencial. Pela sua constituição não oferece uma visão mais focal de

determinada comunidade e não reflete, em curto prazo, os impactos de um grande

investimento econômico em uma micro região.

As bases de cálculo do IDH municipal refere-se aos índices educacionais,

longevidade e renda.

Uma vez escolhidos os indicadores, são calculados os

índices específicos de cada uma das três dimensões

analisadas: IDHM-E, para educação; IDHM-L, para saúde

(ou longevidade); IDHM-R, para renda. Para tanto, são

determinados os valores de referência mínimo e máximo de

cada categoria, que serão equivalentes a 0 e 1,

respectivamente, no cálculo do índice. Os sub-índices de

cada município serão valores proporcionais dentro dessa

escala: quanto melhor o desempenho municipal naquela

dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1. O IDHM

de cada município é fruto da média aritmética simples

desses três sub-índices: somam-se os valores e divide-se o

resultado por três (IDHM-E + IDHM-L + IDHM-R / 3). (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2003)

Page 5: Efeitosdo eucalipto 1

Tabela 01

Código Município IDHM, 2000

IDHM-Renda, 2000

IDHM-Longevidade, 2000

IDHM-Educação, 2000

291650 Itapicuru (BA) 0,521 0,464 0,537 0,563

291630 Itapebi (BA) 0,636 0,52 0,715 0,674

291072 Eunápolis (BA) 0,704 0,654 0,662 0,796

290340 Belmonte (BA) 0,618 0,564 0,586 0,705

291530 Itagimirim (BA) 0,633 0,594 0,573 0,732

292740 Salvador (BA) 0,805 0,746 0,744 0,924

(fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2003)

Na tabela acima, objetiva-se demonstrar um panorama dos índices IDH-M no

Estado da Bahia, evidenciando os municípios objetos desse estudo,

comparativamente com o ranking do maior (melhor) índice, apontando para o

município de Salvador, capital do Estado, com uma população de 2.440.886

habitantes, segundo o Censo de 2000 (IBGE), por conta da concentração de

investimentos e renda no Estado. E o menor (pior) índice que aponta o município

de Itapicuru, na Região Nordeste da Bahia, a cerca de 240 km da capital, com

uma população de 27.315 habitantes, segundo o censo 2000 (IBGE).

Outro ponto essencial para análise é o Êxodo Rural que acompanha o trajeto das

monoculturas, por conta da falta de planejamento estatal no deslocamento das

populações, na inclusão de novos postos de trabalho e do avanço das empresas

que mecanicamente objetivam redução de custos, traduzindo-se em vantagens

competitivas que se apresentam, segundo PEDREIRA (2004), na forma de: mão-

de-obra barata, incentivos fiscais, infraestrutura comercial e industrial: estradas,

portos, abastecimento de água e energia, terras de baixo valor e altas

potencialidades naturais.

Page 6: Efeitosdo eucalipto 1

Essa região apresenta dados alarmantes referentes ao êxodo rural em virtude do

acentuado incremento econômico periférico industrial.

Estudos recentes sobre o desenvolvimento urbano e/ou

regional, revelam que os efeitos espaciais decorrentes do

processo de globalização e das novas tecnologias não são

uniformes e homogêneos. Na verdade, frente ao novo

paradigma, observam-se tanto fatores que levam a

dispersão dos meios de produção para espaços periféricos,

como fatores que sugerem novos vetores de concentração

espacial.

(PEDREIRA apud STORPER, et al, 2004)

Tabela 02

Município de

Eunápolis População Geral Pop Urbana Pop Rural

Censo 1991 70.545 63.540 7.005

Censo 2000 84.120 79.161 4.959

População Rural em 1991 é igual a 9,92% População Rural em 2002 é igual a 5,89% Taxa de redução população Rural é de 59.37% Fonte: IBGE.

Esses dados proporcionam uma visão panorâmica, mas não são capazes refletir,

de fato, a realidade vivida pelas pessoas que foram deslocadas do campo para os

aglomerados urbanos, seja cidade, distrito ou mesmo povoados e quando usa-se

a média para cálculo de índices, corre-se o grande risco de mascarar as situações

extremas que vivem essas comunidades.

Gráfico 01

Page 7: Efeitosdo eucalipto 1

Um exemplo claro é o IDH-M do Município de Eunápolis, de 0,704, conforme

Tabela 01, que segundo o IBGE, possui uma população estimada, em 2004, de

91.085 habitantes, concentrada em 94,1%, no perímetro urbano, sem contar com

a massa de trabalhadores oriundos de todas as partes, que passaram a compor

essas comunidades e não aparecem nas estatísticas.

Verifica-se, na Tabela 02, que houve um êxodo rural considerável onde 59,37% da

população rural migrou para zona urbana, no período de 1991 a 2000, em

contrapartida a redução da população rural brasileira nesse mesmo período foi

apenas de 28%. O que aponta para um distúrbio local.

A população urbana cresceu por conta do êxodo e relacionada à propaganda

institucional das Empresas da Monocultura do Eucalipto e dos Governos Estadual,

Federal e Municipal que anunciaram a criação de 12.000 empregos segundo

reportagem de A Tarde em 24 de julho de 1994, o que chamou atenção de um

número muito grande de trabalhadores desempregados do Estado da Bahia e

Estados vizinhos como nordeste do Estado de Minas Gerais e norte do Estado do

Espírito Santo. Inclusive houveram relatos que vários trabalhadores estavam

chegando dos municípios do Norte da Bahia, como Juazeiro e até mesmo de

Pernambuco, como Petrolina, num raio de distância de aproximadamente 1000

km.

Page 8: Efeitosdo eucalipto 1

Conforme De´Nadai, et. al. (2005), discutindo sobre os dados da geração de

empregos proporcionada pela monocultura do eucalipto, em quadro comparativo

com a cultura do café, apresenta discrepância nos dados referentes a quantidade

de terras (ha) para gerar um emprego direto. A Veracel Celulose informa que para

cada 183 ha cria-se um emprego direto, enquanto que para gerar um emprego

direto na cultura do café é necessário apenas 1 ha, como vemos na tabela

abaixo.

Tabela 03

Monocultura #Terra para gerar 1

emprego direto (ha)

#Terra para gerar 1 emprego

direto e indireto (ha)

Eucalipto (Aracruz Celulose)

122 28

Eucalipto (Veracel Celulose)

183 37

Café 1 <1 Fonte: De´Nadai, et. Al. (2005). pp 19.

Em publicação da Revista Bahia Análise e Dados (2004), PEDREIRA evidencia,

em sua conclusão sobre a ocupação territorial e migração da população rural no

Extremo Sul da Bahia, que:

Em síntese, podemos inferir que a expansão dos maciços

florestais se deu, fundamentalmente, sobre as áreas

ocupadas sobre matas e florestas naturais, avançando,

posteriormente, nas áreas ocupadas com pastagens e, em

menor proporção, nas terras dedicadas ao cultivo. Sendo

assim, poderíamos ser tentados a concluir que a atividade de

reflorestamento teve reduzido impacto sobre a agricultura

familiar, ocupada primordialmente por lavouras. Entretanto,

essa conclusão escamoteia um aspecto muito importante,

qual seja: a implantação de eucalipto, a ocupar áreas

passiveis de serem utilizadas pela agricultura familiar, a

exemplo das terras improdutivas, cobertas com matas e

Page 9: Efeitosdo eucalipto 1

florestas naturais e, mesmo, aquelas ocupadas com

pastagens naturais, termina bloqueando as possibilidades de

reprodução dos agricultores familiares.

O Êxodo Rural também se deu por conta do avanço da monocultura do eucalipto

que reverteu as unidades de produção agropecuárias em plantios de eucalipto,

seja pela compra das terras pela Empresa responsável, Veracel Celulose, ou

mesmo através do Fomento, que desequilibrou economicamente a região.

Trabalhadores rurais perderam seus empregos e não acharam recolocação,

alargando as populações desempregadas e marginalizadas.

Amparados pela ação do Estado brasileiro em suas representações Federal,

Estadual e até mesmo Municipal, com investimentos na ordem de R$ 1,5 bilhão,

em financiamento pelo BNDES, que inclusive, é acionista em 12,5% das ações da

Empresa Aracruz Celulose, que detém 50% das ações da Veracel Celulose, que

por sua vez, na instalação de sua Fábrica no Extremo Sul da Bahia contou

também com investimentos do International Finance Corporation (IFC) do Banco

Mundial, no valor de 50 milhões de dólares. segundo De´Nadai, et. Al. (2005), que

corresponde a 10% do valor investido pelo Estado Brasileiro.

Conseqüentemente, os beneficiários dessa política, ao longo

do período 1972-1980, foram grandes grupos internacionais,

grupos privados nacionais e o próprio Estado, não só as

políticas de incentivo as exportações, como também das

agências como BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social e CVRD – Companhia Vale do Rio

Doce. Essas agências tinham como objetivo passar a

compor um setor dinâmico, cuja perspectiva é mais

promissora quanto maior o número de concentração de

capital atingido.

(CAR, 1994. pp28)

Page 10: Efeitosdo eucalipto 1

O mais importante a destacar nessa situação é que a escolha por esse tipo de

desenvolvimento não passou pela tomada de consciência das populações locais e

ainda mais, essas são subordinadas a força de um capital esmagador que a

seduz, num processo de mascaramento da realidade. Propagandas direcionadas

a construção da ilusão de melhor renda, cooptação econômica de políticos e

agentes sociais locais, como no caso as populações tradicionais não organizadas

e comunidades marginalizadas, combinam para a formação de um “engodo”

político-cultural difícil de resolver à luz da consciência.

Desenvolvimento Humano - Renda

Tabela 04

Município

% darenda apropriadapelos 20%mais pobres, 2000

% da renda apropriada pelos 40% mais pobres, 2000

% da renda apropriada pelos 60% mais pobres, 2000

% da renda apropriada pelos 80% mais pobres, 2000

% da renda apropriada pelos 20% mais ricos, 2000

% da renda apropriada pelos 10% mais ricos, 2000

Eunápolis (BA) 1,67 7,18 16,4 32 68 53,67

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

Usando os mesmos parâmetros de análise do IDH, baseados no Censo de 2000,

observamos uma realidade negativa de distribuição de renda no Município de

Eunápolis, por exemplo. Os 20% da população mais pobre apresenta um índice

1,67% da renda apropriada, enquanto os 68% da renda é apropriada pela

população dos 20% mais ricos deste município, demonstrando uma enorme

desigualdade social.

A exemplo dessa situação, com base nas mesmas fontes, observamos em recorte

estatístico, a renda per capita da média do quinto mais pobre e quinto mais rico da

população, verifica-se um acentuado fosso social, principalmente se observarmos

com atenção a enorme “contorção algébrica” que as famílias têm que executar

Page 11: Efeitosdo eucalipto 1

para sobreviver com R$ 0,54 ao dia, por indivíduo, para todas as necessidades

básicas, a exemplo do pobre em Eunápolis, conforme quadro comparativo abaixo:

Tabela 05

Código Município Renda per capita médiado 1º quinto mais pobre,2000

Renda per capita média do quinto mais rico, 2000

290340 Belmonte (BA) 16,63 366,08 291072 Eunápolis (BA) 16,35 666,01 291530 Itagimirim (BA) 17,24 442,84 291630 Itapebi (BA) 15,61 246,84 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

Apesar dos números absurdos, concluídos a partir dos índices de IDH-M, pode-se

perceber a proporção dessa situação em analises de extremos. Os índices

indicados são resultados de médias. É inimaginável dar conta das condições de

vida humana provocada por essa escolha de desenvolvimento produtivo.

Desenvolvimento Humano – Educação

Tabela 06

Código Município

Índice de

Desenvolvimento

Humano

Municipal-

Educação, 2000

290340 Belmonte (BA) 0,705 291072 Eunápolis (BA) 0,796 291530 Itagimirim (BA) 0,732 291630 Itapebi (BA) 0,674 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

Outro índice importante para a análise do desenvolvimento humano é a

Educação. Dados Oficiais, citados na Tabela 07, apontam para uma situação

Page 12: Efeitosdo eucalipto 1

alarmante. Em Eunápolis, por exemplo, 45% da população que deveria estar na

escola na faixa de 10 a 14 anos, tem menos de quatro anos de estudo, é

analfabeta funcional. Esse dado já é extremo, sem contar com conjuntura em que

esses dados são coletados. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,

FNDE, que disponibiliza para os municípios recursos proporcionais ao número de

matrículas efetuadas, não exige nem proporciona um controle gerencial desses

recursos que facilite uma eficácia nos resultados esperados. O que existe é fiscal,

que em certa medida proporciona uma cobrança na aplicação dos recursos, mas

não garante os resultados positivos. Poderia-se esperar a eficácia diretamente

ligada a um conjunto sistêmico de ações que estabeleçam a aplicação dos pilares

da administração: planejamento, organização, execução e controle, focando o

monitoramento qualitativo dos processos.

Tabela 07

Analfabetismo Funcional por Faixa Etária da População, 2000 Municípios do Estado da Bahia

Município

% 10 a 14 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000

% 15 a 17 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000

% 18 a 24 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000

% 15 anos ou mais com menos de quatro anos de estudo, 2000

Belmonte (BA) 70,18 35,02 39,21 55 Eunápolis (BA) 44,92 17,54 22,34 39,21 Itagimirim (BA) 55,82 27,99 31,74 53,39 Itapebi (BA) 76,38 44,47 47,11 61,69 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

O Analfabetismo Funcional mede essa eficácia da educação municipal, pois não

bastam ter escolas, professores, recursos e não oferecer uma funcionalidade

estrutural a esses elementos, através de uma estratégia gerencial participativa,

que poderia começar pela Gestão Participativa nas Unidades Escolares,

transformando-as em núcleos educacionais em detrimento ao conceito de “currais

eleitorais” que se desenvolve através da indicação político-partidária de diretores,

coordenadores e até mesmo, professores contratados em situação de

Page 13: Efeitosdo eucalipto 1

precariedade no trabalho. A exemplo disso temos os contratos do Estado,

chamado REDA, Regime Especial de Direito Administrativo, com

aproximadamente 4800 professores trabalhando (FOLHA DIRIGIDA,2005) em

condições de precariedade, sem formação adequada, direitos trabalhistas,

autonomia, dentre outros.

Desenvolvimento Humano – Saúde

Tabela 08

Código Município

Mortalidade atécinco anos deidade, 2000

Mortalidade atéum anode idade, 2000

Número de médicos residentes pormil habitantes, 2000

Percentual deenfermeiros residentes comcurso superior, 2000

Percentual depessoas com65 anosou maisde idade morando sozinhas, 2000

Percentual de pessoas commais de50% dasua renda proveniente detransferências governamentais, 2000

Probabilidade de sobrevivência até 40anos, 2000

Probabilidade de sobrevivência até 60 anos, 2000

290340 Belmonte (BA) 94,11 60,93 0,53 0,34 19,19 13,52 81,17 63,18

291072 Eunápolis (BA) 67,65 43,36 0,44 0 12,99 7,96 86,06 71,07

291530 Itagimirim (BA) 99,17 64,33 0 2,3 14,9 10,75 80,27 61,82

291630 Itapebi (BA) 51,63 32,88 0 1,2 19,67 10,49 89,16 76,6 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

A situação da saúde pública não destoa da precariedade apontada pelos outros

índices. A condição periférica apresenta realidades extremas, que são muitas

vezes manipuladas por números, índices estatísticos aleatoriamente justapostos

para justificar a incapacidade gerencial dos recursos destinados para tal.

Page 14: Efeitosdo eucalipto 1

A exemplo disso pode-se observar o péssimo atendimento hospitalar, onde um

único hospital atende a concentrada população do Município de Eunápolis e sua

região de influência.

Os dados relativos à concentração de médicos residentes por mil habitantes,

conforme Tabela 08, não significa que a população tenha disponível essa

quantidade de profissionais médicos para seu atendimento, através do sistema

público de saúde. O serviço publico municipal que detém a responsabilidade de

disponibilizar esses profissionais para o atendimento da grande maioria da

população, que é carente, segundo os dados referentes a concentração de renda

visto anteriormente, não o faz de forma eficaz.

A inexistência de uma política municipal de saúde, em Eunápolis, por exemplo,

concorre para um agravamento dessa situação de discrepância entre o

atendimento da população mais pobre e aquela que concentra renda, onde muitas

vezes não utiliza os serviços médicos públicos locais, buscando-os nas grandes

capitais, ou em caráter particular e/ou convênios no atendimento médico local.

Como conseqüência disso podemos destacar a marcante queda da expectativa de

vida após os 40 anos de idade, onde se reduz em 22.16%, frente a expectativa de

sobrevivência até os 60 anos.

Somando toda situação agravante de Eunápolis, município com maior

concentração populacional da região pesquisada, que possui um grande

desequilíbrio no que diz respeito à renda, o percentual de sua população, que

sobrevive com ajuda governamental correspondente a 50% de sua renda é de

7.96%.

Diante do exposto pode-se concluir que os investimentos diretos do estado

brasileiro que impactam na sobrevivência da população mais carente é ínfimo

frente aos investimentos proporcionados na instalação da Fábrica da Veracel

Celulose, de capital prioritariamente estrangeiro.

Page 15: Efeitosdo eucalipto 1

Desenvolvimento Local

Extremo Sul da Bahia, região que desponta na produção econômica em 5° lugar,

por conta de sua diversificação produtiva, como mostra o quadro abaixo o seu

destaque, corre o risco de ter comprometido as vantagens e resultados de sua

produção em nome do capital, deixando sua população e os atores econômicos

locais a margem desse processo.

Região Econômicas –Estado da Bahia

Produto Municipal (R$ Milhões) Classificação

Baixo-Médio São Francisco 1.355,49 10º

Chapada Diamantina 826,84 13º Extremo Sul 2.439,92 5º Irecê 632,69 14º Litoral Norte 2.854,97 3º Litoral Sul 2.280,68 6º Médio São Francisco 549,95 15º Metropolitana de Salvador 20.761,35 1º Nordeste 2.958,39 2º Oeste 1.720,85 8º Paraguaçu 2.461,08 4º Piemonte da Diamantina 1.083,83 12º Recôncavo Sul 1.357,55 9º Serra Geral 1.093,79 11º Sudoeste 2.014,01 7º

Fonte: Site do SEI – www. sei.ba.gov.br (novembro 2004)

Segundo COUTO FILHO (2004) em uma análise referente ocupação da mão de

obra e o produtivismo nas mesorregiões da Bahia diz que “Ainda que se

encontrem alternativas de ocupação e renda e cresçam a pluriatividade e as

atividades não-agropecuárias no meio rural, as rendas, nessa área, ainda estão

muito distantes daquelas percebidas no ambiente urbano”.

Aponta também a taxa de ocupação EHA (Equivalentes-Homens-Ano) por

hectares plantados. A Mesorregião do Sul da Bahia é a primeira o ranking com

27% do Estado quando afirma:

A região Sul é a ideal do ponto de vista da ocupação, já que é a primeira no ranking do EHA (Equivalentes-Homens-Ano) e tem apresentado um processo de diversificação, calcado em

Page 16: Efeitosdo eucalipto 1

culturas muito ocupadoras por hectare, que distribui bem sua demanda de mão-de-obra ao longo do ano.

Destacando que a análise feita para a mesorregião Sul que congrega as

microrregiões do Litoral Sul e Extremo Sul da Bahia, verifica-se a importância da

diversificação da produção e principalmente a necessidade de uma política mais

voltada para o interesse do desenvolvimento regional sustentável.

O processo de globalização regional se apresenta para essa região com a

implantação da monocultura do eucalipto e a produção fabril de celulose, numa

arrojada empreitada econômica, em detrimento de um crescimento econômico

voltado para a sustentabilidade.

A implantação e o desenvolvimento das novas atividades florestais e agroindustriais, ao tempo que proporciona a inserção competitiva da região nos circuitos dinâmicos da economia nacional e internacional, provoca transformações significativas na estrutura econômica e social local, particularmente no espaço rural. PEDREIRA (2004, pp 1006)

Os primeiros resultados de produção da fábrica já superaram as expectativas, com

51 mil toneladas, 12,2 toneladas a mais do que o esperado, conforme dados

divulgados pela empresa em seu site na internet.

Nos deparamos aqui com as limitações do modelo de desenvolvimento que, de

um lado se apresenta privilegiando o capital e sua proliferação, através de seus

instrumentos de controle e apropriação e, por outro lado, um desenvolvimento

sustentável, que propõe a produção para o atendimento das necessidades locais,

de sobrevivência das populações produtoras.

[...] as principais causas da deterioração ininterrupta do meio

ambiente mundial são os padrões insustentáveis de

consumo e produção, especialmente nos países

industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões

de consumo e produção provocam o agravamento da

pobreza e dos desequilíbrios.

Page 17: Efeitosdo eucalipto 1

(NAÇÕES UNIDAS, 1992:1).

No que diz respeito aos desequilíbrios ambientais que estão ligados

sistematicamente as questões sociais e de sustentabilidade observamos que,

segundo VIANA:

[...] os efeitos ambientais adversos do plantio de eucalipto mais ressaltados por aqueles que se posicionam contrariamente a ele são: a retirada de água do solo, tornando o balanço hídrico deficitário, com o rebaixamento do lençol freático e até o secamento de nascentes; o empobrecimento de nutrientes no solo, bem como seu ressecamento; a desertificação de amplas áreas, pelos efeitos alelopáticos sobre outras formas de vegetação e a conseqüente extinção da fauna; a ocupação de extensas glebas de terra, que poderiam estar produzindo alimentos; a criação de empregos apenas durante a implantação do plantio, mesmo assim para mão-de-obra desqualificada, com baixos salários, e o estímulo ao êxodo rural e o conseqüente inchaço das metrópoles.

Ainda como conclusão do relatório para análise de dados sobre eucalipto no Brasil, VIANA conclui:

Quanto ao efeito social, alega-se que o plantio de eucalipto reduz a mão-de-obra no campo, visto que o número de empregos gerados no reflorestamento por eucalipto é de cerca de um para cada quinze hectares plantados, enquanto que a mesma área de quinze hectares cultivada com plantios tradicionais (mandioca, café, feijão, milho, banana, etc.) gera trinta empregos. Portanto, a substituição de trinta mil hectares de cultivos tradicionais por eucalipto significa empregos para apenas dois mil trabalhadores contra o desemprego de 58.000 trabalhadores rurais, caso se utilize a mesma gleba para o plantio tradicional.

O projeto da instalação da fábrica e plantação da monocultura do eucalipto na

região, remonta 14 anos conforme dados publicados em Jornal local que

questiona os impactos da monocultura do eucalipto no sistema social, a promessa

de empregos e benefícios para a comunidade, já que foi comparadamente

Page 18: Efeitosdo eucalipto 1

apontado que a produtividade da plantação é maior nessa região que em qualquer

parte do planeta (A Notícia 7, 1991), tempo suficiente para que os agentes de

transformação: O Estado em seus Governos Federal, Estadual e Municipal e

Capital Privado Internacional, executasse as bases da transformação social e de

infraestrutura básica para a população. Em análise sistêmica para deslocar a

população rura, e em seu lugar plantasse a monocultura do eucalipto, seria

necessária uma recolocação desses seres humanos em unidades produtivas para

suprir a manutenção de suas necessidades básicas de sobrevivência, se a

principal característica desse negocio não fosse a terra e sua ocupação, o que

inviabiliza as tentativas de replanejamento populacional e de ocupação.

Pesquisa Quantitativa (Survey)

O povoado de Barrolândia foi selecionado para a Pesquisa Quantitativa, pela

proximidade com a Fábrica e notoriamente seu maior impacto sócio ambiental.

Local de instalação do alojamento dos trabalhadores para a construção da fábrica

e aglomerado urbano que acolheu um grande número de pessoas que foram

atraídas pela propaganda de emprego efetuada na mídia estadual e nacional.

Barrolândia, considerada pelo IBGE como povoado, pertencente ao distrito de

Mogiquiçaba no Município de Belmonte/Ba, que em 2004, segundo informações

oficiais da unidade Estadual do IBGE, teve sua população estimada em 18.986

habitantes, não sendo possível essa estimativa para o referido povoado

trabalhamos com as informações do Censo de 2000, que infere uma população de

3.937 habitantes.

Esse recorte foi feito com o intuito de diagnosticar elementos reveladores da

situação socioeconômica da população do entorno da fábrica, que se apresenta

através de estimativa do IBGE para o ano de 2004 em 128.868 habitantes nos

municípios de Belmonte, Eunápolis, Itagimirim e Itapebí.

Page 19: Efeitosdo eucalipto 1

Representando 3,05% do total da população dos municípios circunvizinhos que

qualitativamente sofre o impacto, supera totalidades de quaisquer índices

analisados.

O cálculo da amostra para a pesquisa survey propõe 7,5% de significância, 92,5%

de confiança e 3% de erro amostral onde na população total de 3.937 habitantes

encontra-se uma amostra de 338,71 habitantes.

Baseados no proposto pelo projeto o instrumento de pesquisa survey dividiu-se

em três partes: a primeira focando os dados da residência, que foi o nosso ponto

de referência de coleta, através do mapeamento fornecido pelo IBGE; o segundo

referente ao nível e inserção econômica da população pesquisada e o terceiro

referente à expectativa da população com a instalação da fábrica.

A seleção da amostra sistemática utilizada foi à totalidade dos setores

organizados para amostragem do Censo de 2000 (IBGE), em Barrolândia, que

compreende 6 setores com o intervalo de 10 em dez residências.

A coleta de dados se deu após preparação técnica de um grupo de

pesquisadores para ação que tinha como objetivo a aplicação do instrumento

de pesquisa como também a observação e documentação de imagens, fotos e

depoimentos.

Análise de dados Barrolândia

Toma-se essa comunidade como amostra, pois representa um recorte importante

da população e sua situação referente aos impactos negativos que a instalação da

fábrica de celulose trouxe e desenvolverá na região.

Essa pesquisa tem como objetivo pontuar o “marco zero” de uma série de outras

que seguirão, no sentido de medir os impactos negativos desse modelo de

desenvolvimento regional imposto à essa comunidade.

Page 20: Efeitosdo eucalipto 1

Dados da residência

1. Densidade domiciliar

23%

38%

20%

9%

10%

01a 03 Pessoas

04 a 05 Pessoas

06 a 07 Pessoas

acima de 07Pessoas

Não resp.Pessoas

3. Quantidade pessoas trabalhando

15%

16%

56%

13%

Nenhuma

Uma

Duas

Acima de 03

4. Condição domiciliar

70%

15%

11%

3%

1%

PrópriaAlugadaImprovisadaOutrosNão Resp.

A maioria da população vive em casa própria, com 70% dos informantes e em

média com uma densidade domiciliar de 3-4 pessoas por residência. O dado que

chama atenção é a quantidade de residências em que nenhum de seus membros

tem algum tipo de trabalho e/ou atividade remunerada,conforme Gráfico 3, que

aponta um índice de 13%.

6. Existe Sanitário?

67%

33%

Sim

Não

8. Abastecimento de água

98%

0%

2%

Rede Geralpoço/nascenteNão Resp.

Destino do lixo

97%

1%

2% coleta

jogado no rio

queimado

enterrado

nâo resp.

As condições Sanitárias se encontram em dados alarmantes, pois, em 33% das

residências não existem sanitários, porém essa população conta com

abastecimento de água e coleta de lixo.

Page 21: Efeitosdo eucalipto 1

Dados de Renda

21. Remuneração Atual

5. Renda Mensal Familiar

11%

39%32%

15%3%

Os dados referentes à renda familiar apontam para uma situação de emergência,

pois a população se divide entre os que estão em situação de miséria absoluta,

com 50% das pessoas que vivem com uma renda familiar de menos de um salário

mínimo, ou nenhum, e os outros 50% em situação de pobreza. Essa comunidade

demonstra, uma condição de igualdade em pobreza e miséria, pois os detentores

de renda da região não moram nessa comunidade.

O desemprego aparece em índices muito mais alarmantes que as médias

apresentadas pelos institutos de pesquisa para o país, que ficam em torno de

9,4% conforme IBGE (março 2005) contra os 38% de Barrolândia.

É importante salientar que a coleta foi feita em pleno andamento da construção da

Fábrica da Veracel Celulose, o que pode comprovar que, se temos uma pequena

comunidade de 3.937habitantes e a empresa promete 12 mil empregos na região,

inevitavelmente essa seria a comunidade mais atingida positivamente, assim

como foi, em seus aspectos negativos.

Não tem

Menos de umS.M

01 a 02 S. M

Mais de doisS.M

Não Resp.

53%38%

9%

Sim

Não

Não Resp.

Page 22: Efeitosdo eucalipto 1

Expectativa da população com a instalação da fábrica

23. Como avalia sua condição de vida:

42%

42%

6%

5% 5%

BoaRegularRuimPéssimaNão Resp.

27. Com a construção da fábrica da veracel, qual sua expectativa de

melhoria de vida:

74%

15%

1%

1%

9%

BoaRegularRuimPéssimaNão Resp.

Reafirmando argumento anterior, pode-se perceber que o nível de consciência da

população local está comprometido pelas condicionantes culturais apresentadas

na forma da Escolaridade da Tabela 07, onde indica um índice de analfabetismo

funcional no município de Belmonte, dos indivíduos de 10 a 14 anos, com menos e

4 anos de estudo, é de 70.18% , e relacionada a população economicamente

ativa, os indivíduos com mais de 15 anos de idade e com menos de 4 anos de

estudo é de 55%.

A situação educacional, pilar estrutural do desenvolvimento econômico

sustentável, frente as novas tecnologias e a condição de cidadania efetiva, está

comprometida pelo descaso e opção, por parte do estado brasileiro, no que diz

respeito aos seus investimentos.

Dessa forma, pode-se ainda ocorrer os dados referentes à expectativa da melhoria

de vida, entre boa e regular em 89%, com a vinda da fabrica da Veracel Celulose.

Esses mesmos indivíduos avaliam sua condição de vida, conforme demonstrado,

por dados oficiais, mesmo que forjados pelas médias, em boa e regular num total

de 84%.

Page 23: Efeitosdo eucalipto 1

REFERENCIAS

FOLHA DIRIGIDA. SEE-Ba: Edital em Outubro e provas em novembro. In: < http://www.folhadirigida.com.br/script/FdgDestaqueTemplate.asp?pStrLink=2,5,14,64542&IndSeguro=0> Acesso em 20/08/2005.

BAHIA. Política de Desenvolvimento para o Extremo Sul da Bahia. CADERNOS CAR, 3 Extremo Sul, 1994.

VIANA, Maurício Boratto. O EUCALIPTO E OS EFEITOS AMBIENTAIS DO SEU PLANTIO EM ESCALA. Brasília: Câmara dos Deputados, 2004.

COUTO FILHO, Vitor de Athaide. Produtivismo e ocupçãoi da mão de obra agrícola na Bahia: uma analise regionalisada da década de 1990. In: BHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador, v.13, n.4, p. 969-990, 2004. NAÇÕES UNIDAS (1992). Agenda 21, capitulo 4, Mudança dos padrões de consumo. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/arquivos/cap01.pdf> Acesso em: 23 jan. 2005. REUTERS. Desemprego no Brasil tem menor nível desde 2002. In: <http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/reuters/2005/07/21/ult29u41801.jhtm >Acesso em 20/08/2005. PEDREIRA, Márcia da Silva. Complexo Florestal, desenvolvimento e reconfiguração do espaço rural: o caso da região do Extremo Sul baiano. In: BAHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador, v.13, n.4, p. 1005-1018, 2004. DE’NADAI, Alacir; OVERBEEK, Winfridus; SOARES, Luiz Alberto. Promessas de emprego e destruição de trabalho: o caso Aracuz Celulose no Brasil. Brasil: Coleção do WRM sobre as Plantações, n. 2, 2005. PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Software.disponível em < http://www.undp.org.br/HDR/Atlas.htm>. Acesso em 20/08/2005. IBGE. Censo 2000. In: < http://www.ibge.gov.br/censo/default.php> cesso em 20/08/2005.

Page 24: Efeitosdo eucalipto 1
Page 25: Efeitosdo eucalipto 1
Page 26: Efeitosdo eucalipto 1
Page 27: Efeitosdo eucalipto 1
Page 28: Efeitosdo eucalipto 1