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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E SOCIEDADE MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE E SOCIEDADE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EFICIÊNCIA CLÍNICA DAS RESTAURAÇÕES ADESIVAS NAS LESÕES DENTÁRIAS DE ABFRAÇÃO: COMPARAÇÃO DE DOIS MATERIAIS RESTAURADORES MESTRANDA: FABIANNA DA CONCEIÇÃO DANTAS DE MEDEIROS ORIENTADORA: PROF a DR a ISABELA PINHEIRO CAVALCANTI LIMA Mossoró RN 2014

EFICIÊNCIA CLÍNICA DAS RESTAURAÇÕES ADESIVAS NAS … · EFICIÊNCIA CLÍNICA DAS RESTAURAÇÕES ADESIVAS NAS ... 2.1.1 Classificação das Lesões cervicais não-cariosas 17 2.2

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E SOCIEDADE

MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE E SOCIEDADE

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EFICIÊNCIA CLÍNICA DAS RESTAURAÇÕES ADESIVAS NAS

LESÕES DENTÁRIAS DE ABFRAÇÃO: COMPARAÇÃO DE

DOIS MATERIAIS RESTAURADORES

MESTRANDA:

FABIANNA DA CONCEIÇÃO DANTAS DE MEDEIROS

ORIENTADORA:

PROFa DRa ISABELA PINHEIRO CAVALCANTI LIMA

Mossoró – RN

2014

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FABIANNA DA CONCEIÇÃO DANTAS DE MEDEIROS

EFICIÊNCIA CLÍNICA DAS RESTAURAÇÕES ADESIVAS NAS

LESÕES DENTÁRIAS DE ABFRAÇÃO: COMPARAÇÃO DE

DOIS MATERIAIS RESTAURADORES.

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Saúde e Sociedade. Orientadora: Profa Dra Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima

Mossoró – RN

2014

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Medeiros,Fabianna da Conceição Dantas de. Eficiência clínica das restaurações adesivas nas lesões dentárias de abfração:

comparação de dois materiais restauradores./Fabianna da Conceição Dantas de Medeiros.–Mossoró, RN, 2014

81 f. Orientador(a):Profa Dra Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima Dissertação (Mestrado em Saúde e Sociedade). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade.

1. Resina composta - Dissertação. 2. Cimento de ionômero de vidro -

Dissertação. 3. Abfração dentária -Dissertação. I. Lima, Isabela Pinheiro

Cavalcanti. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III.Título.

UERN/BC CDD 617.6

Catalogação da Publicação na Fonte.

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Bibliotecária: Elaine Paiva de AssunçãoCRB 15 / 492

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5

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho,

À Deus pai todo poderoso, pelas bênçãos divinas que sempre me

proporcionou. Sem Ele nada seria possível, a sabedoria e a tranquilidade nas

escolhas dos caminhos, a coragem para acreditar e lutar pelos meus objetivos,

além da fé para não desistir dos meus SONHOS. Agradeço todos os dias pelo

dom da vida e por acreditar no poder de Deus.

Aos meus Pais Francisco das Chagas de Medeiros e Ana Maria Dantas

de Medeiros, além deste trabalho dedico-lhes todas as minhas conquistas.

Reconheço todo o esforço que fizeram e ainda fazem para a minha educação e

para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Vocês que são exemplos de

luta, honestidade e dedicação, que sempre acreditaram na minha capacidade e

me apoiaram em todos os momentos. Sou abençoada pela família que tenho e

que me fortalece a persistir diante das dificuldades. À vocês meu amor

incondicional e gratidão.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, professora Drª. Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima, por

toda atenção e esmero na construção deste trabalho. Desde o tempo da graduação

que te considero um ser humano incrível, uma mãe dedicada e atenciosa e uma

amiga que sempre têm ótimos conselhos para oferecer, além de ser uma

professora/pesquisadora altamente capacitada. “Quero ser assim quando eu

crescer”. Obrigada por ter me mostrado com seu próprio exemplo que ser professor

é muito mais que ter conhecimento e saber repassá-lo. Orientar é mais que guiar os

passos, mas instigar a reflexão dos fatos mediante um olhar crítico. Agradeço, ainda,

pela credibilidade concedida a mim, por ter chamado minha atenção quando

necessário e me elogiado quando fui merecedora, e por ter me concedido

oportunidades que jamais obteria sozinha. Sua competência em tudo aquilo a que se

dedica a fazer é inspiradora, não apenas para mim. Meu agradecimento especial.

À minha irmã Anna Tereza Dantas de Medeiros, pelo companheirismo,

cumplicidade e amizade que existe entre nós. Obrigada pelo carinho e a bondade

que sempre demonstrou.

Aos meus queridos amigos e familiares como um todo, pelo apoio e por

torcerem pela minha realização profissional. Àqueles que mesmo distantes me

acompanham e acreditam no meu potencial.

À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e, mais precisamente,

ao Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade, sob coordenação da Profª.

Drª. Maria Irany Knackfuss pela oportunidade e concretização deste trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade

por compartilharem conhecimentos essenciais na minha formação como mestre.

Aos secretários da Pós-Graduação Rodrigo e Luzia Mendes, pela atenção e

dedicação na resolução dos nossos pedidos.

Ao Departamento de Odontologia daUERN e a todos os professores, onde

tenho a honra de ter me formado, pela excelência e qualidade do ensino que lidera

entre os melhores cursos de Odontologia do país, apesar das adversidades

enfrentadas. Agradeço pela possibilidade de execução da pesquisa e das demais

atividades acadêmicas.

7

Aos pacientes, sem os quais, literalmente, não seria possível executar essa

pesquisa. O meu eterno agradecimento pela participação voluntária e a

disponibilidade para as etapas da pesquisa.

A todos os funcionários das Clínicas Integradas da UERN pela ajuda e

acessibilidade fundamentais, que permitiram a realização da pesquisa.

À todos os professores que passaram por mim até este dia. Alguns

deixaram seus ensinamentos na minha memória, outros permanecem presentes, me

acompanhando e me incentivando. Uma obra como essa se constrói com

colaboração, estudo e conhecimento acumulado e se aprimora com esforço e

dedicação. Com cada um dos meus professores aprendi um pouco do que sei. O

meu agradecimento aos educadores que me ajudaram a obter o título de mestre.

Aos professores Dr. Humberto Jefferson de Medeiros e Drª Maria Irany

Knackfuss pela contribuição oferecida durante o processo de qualificação para o

aperfeiçoamento deste trabalho.

Aos professores Dr. Fernando José de Oliveira Nóbrega por aceitar e se

disponibilizar como avaliador voluntário da fase experimental da pesquisa.

À minha turma de mestrado, pelas múltiplas experiências compartilhadas

nesses dois anos. A proposta multidisciplinar desse mestrado contribui para a inter-

relação das várias áreas de conhecimentos, o que ampliou meu olhar crítico como

profissional de saúde. Agradeço especialmente ao meu grupo de estudo,

representado por Edson Junior e Diego Dantas, meu companheiro das viagens

semanais para Mossoró.

Aos meus amigos da primeira turma de Odontologia da UERN, pela

amizade que ainda sobrevive apesar da distância. Que a vida pessoal e profissional

de todas seja sempre bem-sucedida.

Aos alunos da graduação da UERN com quem eu também aprendi.

Acompanhá-los nas clínicas, juntamente com a minha orientadora, contribuiu

bastante com a minha formação como professora.

Á aluna de iniciação científica Emanuelle Louyde Ferreira de Lima, por ser

tão prestativa, atenciosa e gentil em todos os momentos que eu precisei.

À todos que contribuíram para a construção desse trabalho.

Obrigada!!

8

SUMÁRIO

RESUMO 10

ABSTRACT 11

I INTRODUÇÃO 12

1.1 O PROBLEMA 12

1.2 OBJETIVOS 14

1.2.1 Objetivo geral 14

1.2.2 Objetivos específicos 14

1.3 JUSTIFICATIVA 15

II II REVISÃO DE LITERATURA 16

2.1 LESÕES CERVICAIS NÃO-CARIOSAS 16

2.1.1 Classificação das Lesões cervicais não-cariosas 17

2.2 LESÕES DE ABFRAÇÃO DENTÁRIA 21

2.2.1 Fatores Etiológicos 22

2.2.2 Características Clínicas das Abfrações 23

2.2.3 Associação da Abfração dentária com as cargas oclusais 26

2.2.4 Considerações sobre o Tratamento das Abfrações 29

2.3 RESINA COMPOSTA COMO MATERIAL RESTAURADOR

PARA AS ABFRAÇÕES

31

2.3.1 Resinas Compostas 33

2.4. O CIMENTO DE IONÔMERO DE VIDRO NO TRATAMENTO

DAS ABFRAÇÕES

35

2.4.1 Advento do Cimento de Ionômero de Vidro Modificado por Resina 37

III METODOLOGIA 39

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 39

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 39

3.2.1 População 39

3.2.2 Amostra 40

3.3 PROTOCOLO CLÍNICO RESTAURADOR 41

3.3.1 Ajuste Oclusal 42

3.3.2 Etapas Restauradoras 43

3.3.3 Resina composta Microhíbrida com um sistema adesivo 45

9

3.3.4 Cimento de Ionômero de Vidro modificado por resina 46

3.4 COLETA DOS DADOS 47

3.4.1 Instrumentos para coleta de dados 47

3.4.2 Procedimentos para coleta de dados 49

3.5 ANÁLISE DOS DADOS 50

IV RESULTADOS E DISCUSSÃO 52

V CONCLUSÕES E SUGESTÕES 67

VI REFERÊNCIAS 69

ANEXOS 76

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Composição dos materiais estudados e seus respectivos

fabricantes.

44

Tabela 2 Descrição dos critérios empregados para a avaliação clínica das

restaurações.

48

Tabela 3 Índice de retorno dos pacientes e das restaurações avaliadas nos

intervalos de tempo em estudo.

53

Tabela 4 Comparação das médias dos ranks do sistema USPH-S para

resina composta nos tempos imediato, 01 mês e 06 meses.

56

Tabela 5 Comparação das Médias dos Ranks do sistema USPH-S para

CIV nos tempos imediato, 01 mês e 06 meses.

59

Tabela 6 Comparação das Médias dos Ranks dos materiais RC e CIV nos

tempos imediato, 01 mês e 06 meses.

64

11

LISTA DE ABREVIATURAS

Bis-GMA bis-fenol a-glicidil metacrilato

LCNC Lesões cervicais não-cariosas

CIV Cimento de ionômero de vidro

CIVMR Cimento de ionômero de vidro modificado por resina

Hema hidroxi-etil metacrilato

JCE Junção cemento-esmalte

RC Resina composta

USPHS United States Public Health Service

12

RESUMO

É necessária a recuperação do tecido dentário nas lesões de abfração por meio de

materiais restauradores adesivos. Nesse sentido, avaliou-se clinicamente a

eficiência do tratamento de lesões dentárias de abfração baseado em restaurações

com dois materiais adesivos diferentes. Foram selecionados 30 pacientes que

apresentassem no mínimo duas abfrações em pré-molares distintos, realizaram-se

restaurações nestes elementos num mesmo tempo clínico, usando em um deles a

resina composta Z100 (3M) e no outro o CIV modificado por resina Vitremer (3M).

Após a fase restauradora, a coleta de dados deu-se mediante o sistema de

avaliação do USPHS modificado. Os critérios avaliados foram: integridade marginal,

descoloração marginal, desgaste, retenção, cárie secundária e hipersensibilidade

em períodos de tempo variados (imediato, 01 mês e 06 meses após a restauração

confeccionada). A análise estatística baseou-se nos testes Anova de Friedman e

Mann-Whitney, considerando um p< 0,05. De acordo com os resultados, os dois

materiais apresentaram comportamento clínico satisfatório no período de 06 meses.

Foi observada uma diferença significativa (p< 0,05) nos critérios de integridade

marginal, descoloração marginal e desgaste para ambos os materiais nos tempos

avaliados. Para o Vitremer, a retenção foi satisfatória (p> 0,05). Não houve

significância para cárie e hipersensibilidade. Portanto, o CIV modificado por resina

apresentou um melhor desempenho clínico de acordo com os critérios avaliados.

Sugere-se para estudos posteriores, a associação da avaliação indireta mediante

fotografias e modelos com a avaliação clínica das restaurações.

PALAVRAS-CHAVES: Resina composta. Cimento de ionômero de vidro. Abfração

dentária.

13

ABSTRACT

The recovery of tooth tissue in the lesions of abfraction using adhesives restorative

materials is necessary. Therefore, it was clinically evaluated the efficacy of abfraction

dental injuries treatment based on restorations with two different adhesive materials.

30 patients who had at least two distinct abfractions in premolars were selected,

there was restoration of these elements on the same clinical time, one of them using

a composite resin Z100 (3M) and the other by the modified GIC Vitremer resin (3M).

After the restorative phase, data collection occurred through modified USPHS

evaluation system. The criteria assessed were: marginal integrity, marginal

discoloration, wear, retention, secondary caries and hipersensitivity on different

periods of time (immediate, 01 months and 06 months after the restoration made).

Statistical analysis was based on Anova Friedman and Mann-Whitney’s test,

considering p<0.05. According to the findings, both materials showed satisfactory

clinical behavior in the period of 06 months. Significant difference (p<0.05) was

observed in the criteria: marginal integrity, marginal discoloration and wear for both

materials in the analized moments. For Vitremer, the retention was satisfactory

(p>0.05). There was no significance to carie and hipersensitivity. Therefore, the GIC

modified by resin showed a better clinical performance according to the evaluated

criteria. It is suggested for further studies, the association of indirect assessment by

photographs and models with clinical evaluation of restorations.

KEYWORDS: Composite resin. Glass ionomer cement.Dental abfraction.

14

IINTRODUÇÃO

1.1O PROBLEMA

O fenômeno do envelhecimento populacional, aliado à difusão de

conhecimentos voltados para a promoção de saúde bucal, tem contribuído com a

manutenção dos elementos dentais, o que vem sendo relacionado ao aparecimento

cada vez mais frequente das lesões cervicais não cariosas (LCNC) no cotidiano das

clínicas odontológicas (EAKLE, 2012).

Cerca de um quarto da população apresenta lesões cervicais não cariosas, e

as lesões são significativamente mais prevalentes com o avanço da idade (<50 %),

com os pré-molares sendo os dentes mais afetados.(HEINTZE; RUFFIEUX;

ROUSSON, 2010). Há um consenso que a etiologia dessas lesões é multifatorial,

incluindo a abrasão mecânica e processos erosivos. Além disso, a abfração também

tem sido relacionada ao aparecimento dessas lesões(VEITZ-KEENAN et al., 2013).

A abfração consiste na perda patológica de estrutura dentária cervical causada

por forças oclusais excêntricas sobre o dente, o que resulta no estresse tensional e

consequente fadiga e ruptura do esmalte e dentina em um ponto distante da

aplicação de forças, culminado com a formação da lesão(MARCAUTEANU et al.,

2014). As lesões se apresentam em forma de cunha e com margens bem definidas,

geralmente na margem gengival da superfície vestibular do dente, subgengivais e,

ainda, nas margens das coroas e restaurações.(REYES et al., 2009)

Segundo Soareset al. (2013) as lesões resultantes destes mecanismos de

destruição podem trazer alguns problemas aos dentes, como a

15

hipersensibilidadedentinária, o aumento da retenção de biofilme bacteriano e a

incidência de cárie. Dessa forma, podem comprometera integridade estrutural, a

vitalidade pulpar e a estética, sendo necessária a recuperação do tecido dentário

perdido por meio de materiais restauradores.

Cerca de 30% dos dentes com abfrações são considerados sensíveis na

primeira avaliação, sendo, portanto, queixa comum dos pacientes e motivo para visita

ao dentista.(VEITZ-KEENAN et al., 2013)

O tratamento das lesões por abfração depende da eliminação do fator

etiológico através da associação de medidas preventivas às terapêuticas. O ajuste

oclusal previamente à restauração é considerado fundamental para o sucesso do

tratamento.(SCHINDLER; TURP, 2010)Quanto ao tratamento restaurador, este é

realizado frequentemente com resinas compostas, cimentos ionoméricos, ou uma

combinação dos dois materiais restauradores e sistemas adesivos adequados. A

retenção adesiva micromecânica, preservação de estrutura dentária, boa estética e

as características funcionais são aspectos que favorecem a escolha dos

materiais.(HUANGFU; XU, 2011)

No entanto, estudos tem relatado o insucesso de restaurações cervicais de

abfrações e a busca incessante pelo material restaurador mais indicado, assim como,

os fatores clínicos causadores do fracasso das mesmas. (KIM et al., 2009; PECIE et

al., 2011; PEREIRA et al., 2012; SOARES et al., 2013)

Mediante os fatos apresentados, podemos inferir que as lesões cervicais por

abfrações constituem um problema de saúde bucal relevante na sociedade atual,

principalmente no que se refere ao insucesso clínico dos procedimentos

restauradores. Com isso, os pacientes e Cirurgiões-dentistas são sujeitos à repetição

16

de tratamentos poucos resolutivos, gerando insatisfação a permanência do problema

de saúde.

1.2OBJETIVOS

1.2.1Objetivo Geral

Avaliar clinicamente a eficiência do tratamento de lesões dentárias de

abfração baseado em restaurações com doismateriais adesivos diferentes.

1.2.2Objetivos Específicos

Comparar o desempenho clínico de uma resina composta em relação a um

cimento de ionômero de vidro modificado por resina, na restauração de

lesões dentárias de abfração.

Analisar as restaurações adesivas com ambos os biomateriais no que se

refere à retenção, integridade marginal, descoloração da margem, desgaste,

cárie secundária e hipersensibilidade pós-operatória.

Observar a interferência dos períodos de avaliação na eficiência clínica dos

dois materiais estudados.

17

1.3JUSTIFICATIVA

A restauração de abfrações é uma ocorrência rotineira nas clínicas

odontológicas. Algumas razões para isso são o crescimento da população idosa, um

menor índice de perda dentária, e possivelmente o aumento de alguns fatores

etiológicos relacionados à vida moderna(WOOD; KASSIR; BRUNTON, 2009).

Com base nessa perspectiva, as lesões cervicais por abfrações constituem

um problema de saúde bucal relevante na sociedade atual, principalmente no que se

refere ao insucesso clínico dos procedimentos restauradores, o que motivou a

realização desse estudo.

Portanto, sentiu-se ser necessária a execução de um estudo clínico que

avaliasse o desempenho in vivo de dois biomateriais restauradores, ambos ampla e

cientificamente validados como benéficos à saúde humana.Com isso, acredita-se que

o presente estudo possa contribuir com a comunidade científica, bem como com os

profissionais que lidam diariamente com as falhas das restaurações de abfrações e,

principalmente, com os pacientes, possibilitando a indicação de restaurações mais

eficientes.

Além do mais, optou-se por um estudo clínico, pois por mais fidedigno que

seja o estudo in vitro, este não é capaz de reproduzir adequadamente as condições

bucais, tais como as alterações térmicas, a presença de saliva e os esforços

mastigatórios. Além disso, estes testes não são capazes de relacionar as variáveis

clínicas como idade, risco à cárie, hábitos e higiene bucal.

Destarte, perante essas considerações, os estudos clínicos exercem papel

fundamental para avaliar o comportamento dos materiais restauradores,

possibilitando a obtenção de resultados mais condizentes com a realidade.

18

II REVISÃO DA LITERATURA

2.1 LESÕES CERVICAIS NÃO-CARIOSAS

A perda da estrutura dentária comumente pode ser causada por fraturas

acidentais, anomalias, cáries ou estar relacionada ao desgaste

fisiológico(OLIVEIRA; DAMASCENA; SOUZA, 2010). Apesar disso, a literatura tem

descrito diferentes formas de destruição que afetam os elementos dentais e que não

tem a doença cárie como fator etiológico(ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013).

O envelhecimento populacional vem sendo relacionado à preservação de

elementos dentários. Com isso, a incidência do desgaste dentário tem aumentado

em concomitância com o aumento da expectativa de vida das pessoas e com a

diminuição da perda parcial ou total dos dentes, sendo cada vez mais rotineira a

questão do desgaste dentário para o dentista. (WOOD et al., 2008)

As lesões cervicais não cariosas (LCNCs) representam a perda irreversível de

tecido dentário duro na zona cervical dos dentes. Elas podem apresentar diferentes

formas, de rasos a defeitos profundos, com características planas, côncavas ou

angulares. (STOJANAC et al., 2013)O termo lesão cervical não-cariosasurgiu na

tentativa de classificar estes tipos de lesões, que ocorrem no colo do dente.

(GRIPPO; SIMRING; COLEMAN, 2012)

As duas últimas décadas tem proporcionado uma infinidade de novos estudos

sobre tais lesões. As LCNCs são caracterizadas pela perda da estrutura dentária na

região cervical dos dentes próximos à junção cemento-esmalte (JCE), com a

exposição de dentina e cemento, podendo ocasionar consequentemente

19

hipersensibilidade dentinária (MONTEIRO PEIXOTO et al., 2010) e desconforto

estético para o paciente(OLIVEIRA; DAMASCENA; SOUZA, 2010).

A prevalência dessas lesões vem aumentando à medida que se eleva a

expectativa de vida da população, variando de 5 a 85 %, independentemente da

forma e da etiologia. Todavia, estudos epidemiológicos não são comuns, por conta

da dificuldade em obter e comparar dados de diferentes populações (que

apresentam características próprias) e metodologia pouco padronizada. (OLIVEIRA;

DAMASCENA; SOUZA, 2010)

Entretanto, os estudos apontam que estas lesões afetam ambos os sexos e

tem a prevalência aumentada com a idade dos pacientes.(BRANDINI et al., 2012).

As LCNCs são encontradas mais frequentemente na face vestibular dos pré-molares

e caninos, entretanto com maior prevalência nos primeiros pré-molares.(WOOD;

KASSIR; BRUNTON, 2009)

2.1.1 Classificação das Lesões cervicais não-cariosas

Diversos estudos tem classificado esses tipos de lesão em categorias como

erosão, abrasão e abfração. No entanto, tais classificações consideram fatores

mecânicos e químicos ácido-dependentes, mas desconsideram outros importantes

fatores formadores e moduladores, como os fatores bioquímicos, eletroquímicos,

enzimáticos e os efeitos piezoelétricos da dentina. (ASSIS; VILLARES; BRESSAN,

2013)

A abrasão constitui-se no desgaste patológico do dente (WOOD et al.,

2008)devido às causas não associadas à mastigação e deglutição, por processos

20

biomecânicos de atrito, tais como escovação dentária, hábito de segurar objetos

entre os dentes ou praticar uma dieta com alimentos rígidos.(MARCAUTEANU et al.,

2014)

O desgaste dentário erosivo é uma perda progressiva da substância dentária

por processos químicos que não envolvem a ação bacteriana de dissolução ácida da

estrutura do dente. Ao contrário da cárie que é causada pelos ácidos do biofilme

bacteriano, a erosão é causada por ácido de origem extrínseca ou intrínseca.

(MARCAUTEANU et al., 2014)Na quarta categoria temos as lesões de abfração,

causadas por forças de carga biomecânica. (MICHAEL et al., 2009)

Esses processos de desgaste da estrutura dentária podem apresentar

atuação independentemente ou em combinação. (PEREIRA et al., 2012)Todos os

processo podem se sobrepore o diagnóstico do fator etiológico é fundamental a fim

de escolher o tratamento mais adequado. Atualmente, os únicos fatores

considerados nesse diagnóstico tem sido a história médica e a aparência

morfológica das lesões. (MARCAUTEANU et al., 2014)

O desgaste patológico dentário afeta a estética, a função e a longevidade das

estruturas dentárias remanescentes. Conhecer a evolução das característicasdo

desgaste dental patológico ao longo do tempo é essencial para o prognóstico dos

dentes e para o início de etapas terapêuticas mais adequadas. Um processo de

desgaste ativo requer medidas terapêuticas imediatas, que incidam sobre as suas

principais causas, tais como ajuste oclusal por desgaste seletivo, placa oclusal,

controle do consumo de ácidos, tratamento do refluxo gastroesofágico, técnica de

escovação correta.(MARCAUTEANU et al., 2014)

Tem sido sugerido que lesões cervicais apresentam variados aspectos

morfológicos. Huret al . (2011) classificaramLCNCs em três morfologias : em forma

21

de cunha, em forma de pires e forma misturada. A lesão em forma de cunha é

caracterizada por uma linha de ângulo interno afiado. A lesão em forma de pires tem

uma linha de ângulo interno arredondada. Quando a lesão tem linhas suaves e

forma semicircular, mas a parede cervical tem uma linha de ângulo agudo

claramente, é chamada de uma lesão mista.

No entanto, as LCNCs ainda tem sido geralmente atribuídas à abrasão ou à

erosão ácida. A utilização imprecisa de tais terminologias tem ocasionado a

dificuldade de realização de boas pesquisas, assim como a impossibilidade de

diagnósticos precisos que permitam tratamentos adequados. (GRIPPO; SIMRING;

COLEMAN, 2012)

Nos anos 80, Lee e Eakle defenderam a teoria biomecânica para a formação

destas lesões, e o termo abfração foi sugerido (LEE; EAKLE, 1984 apud ROMEED;

MALIK; DUNNE, 2012).

A patogenia das lesões cervicais não cariosas ainda continua bastante

contraditória, principalmente por causa da dificuldade em investigar e comparar

dados clínicos juntamente com a complexidade das propriedades biofísicas da

estrutura dental. (OLIVEIRA; DAMASCENA; SOUZA, 2010)

Segundo Hur (2011) a etiologia das LCNCs não é bem compreendida e ainda

controversa. Grippo, Simring e Coleman(2012) sugerem uma nova classificação para

as LCNCs considerando os últimos 20 anos de estudo. Essa classificação aborda o

mecanismo patodinâmico associando os fatores formadores e moduladores das

LCNCs, que seriam a biocorrosão (por agentes químicos, bioquímicos e

eletroquímicos), a fricção (por desgaste) e tensão (abfração).(GRIPPO; SIMRING;

COLEMAN, 2012)

22

A natureza multifatorial destas lesões é apresentada então, com ênfase em

três principais fatores(estresse, fricção e biocorrosão) e como eles interagem no

ambiente complexo da cavidade oral, com os fatores modificadores, quais sejam: a

morfologia, a composição, a microestrutura, a mobilidade e a posição do dente na

arcada, amortecido pelo ligamento periodontal, fatores oclusais e salivares. (EAKLE,

2012; GRIPPO; SIMRING; COLEMAN, 2012)

Tem sido sugerido que, enquanto a morfologia pode ser derivada a partir de

etiologia multifatorial, a forma não está associada com a causa da lesão. (SOARES

et al., 2013)

Os fatores oclusais foram identificados como os principais fatores etiológicos

para a formação e crescimento das LCNCs. Uma vez estabelecida, a lesão pode

apresentar progressão acelerada devido à escovação com pressão excessiva e

substâncias ácidas. (GRIPPO; SIMRING; COLEMAN, 2012; SOARES et al., 2013)

Com relação à patogenia do desgaste dentário, ama das interações mais

importantes é a abrasão/abfração potencializada pela erosão dental (HARPENAU;

NOBLE; KAO, 2011).

No entanto, o conhecimento da patogênese das LCNCs não é bem apreciada

pelo público leigo e pelos profissionais da área odontológica, uma vez que os sinais

podem ser sutis. Assim, o desgaste dentário cervical é um problema odontológico

desafiador por causa da sutileza de alterações precoces, confusão sobre a etiologia

do problema e o dilema de quando ou como gerir essa etiologia. (HARPENAU;

NOBLE; KAO, 2011)

23

2.2 LESÕES DE ABFRAÇÃO DENTÁRIA

A palavra abfração (ab, distância; factio, quebra) define a perda patológica de

tecido duro em decorrência de concentrações de tensões originadas pela aplicação

de carregamentos biomecânicos. Esses carregamentos causam flexão dentária e a

consequente fadiga do esmalte e da dentina em um local distante do ponto da carga

oclusal(ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013).

Os poucos estudos que mostram a prevalência das abfrações não

apresentam uma metodologia uniforme que possibilite caracterização dessa

patogenia na população. Há evidência de que homens e mulheres apresentaram

abfrações de modo semelhante, sendo os pré-molares inferiores e superiores os

dentes mais frequentemente afetados. (RITTER et al., 2009)

Uma alta prevalência de abfração na cervical dos dentes foi relatada em

diversos estudos. (BRANDINI et al., 2012; EAKLE, 2012; OLIVEIRA; DAMASCENA;

SOUZA, 2010) No estudo de Reyes et al. (2009), 50% dos pacientes apresentaram

pelo menos uma lesão de abfração. Embora essas lesões sejam significativamente

mais prevalentes com o avanço da idade, há também uma alta prevalência de

abfrações que afetam crianças e jovens. (NASCIMENTO et al., 2011; STOJANAC, I.

L. et al., 2008; WOOD et al., 2008)

O fato dos pré-molares serem os dentes mais afetados pelas abfrações está

relacionado à maior constrição cervical dos mesmos, associado a um menor

diâmetro coronário e, consequentemente, menor quantidade de estrutura dentária na

JCE. (NASCIMENTO et al, 2011) Esses fatores facilitam ao enfraquecimento e a

perda de estrutura nesta região, quando há a concentração de tensões devido à

sobrecarga oclusal. (PALOMINO-GOMEZ et al.,2011)

24

No estudo de Santiago et al. (2010), foram executadas 26 restaurações em

pré-molares superiores para 09 nos pré-molares inferiores, o que segundo o autor

pode ser explicado pela maior prevalência das lesões cervicais nos pré-molares da

maxila. Nessa mesma perspectiva, os estudos in vitro de Pereira et al. (2012) e

Soares et al. (2013) utilizaram os pré-molares superiores como amostra.

Já para Palomino-Gomez et al. (2011) o tipo de dente mais frequentemente

afetado pela abfração foi o primeiro pré-molar inferior. De acordo com Srirekhaet al.

(2013), a orientação lingual dos pré-molares na mandíbula torna-os mais suscetíveis

à concentração de tensões de tração na região cervical, além de apresentarem uma

menor seção transversal na cervical em relação aos pré-molares superiores.

2.2.1 Fatores Etiológicos

A hipótese de abfração proposta por Lee eEakle (1984 apud ROMEED;

MALIK; DUNNE, 2012) sugere como possível etiologia as cargas biomecânicas que

podem criar tensão elástica de flexão e deformação da estrutura dental,

desarranjando os cristais de hidroxiapatita do esmalte e permitindo que pequenas

moléculas, como as de água, penetrem e tornem esses cristais mais suscetíveis ao

ataque químico e à posterior deterioração mecânica.(WOOD; KASSIR; BRUNTON,

2009)

A abfração ocorre mediante um processo cíclico e excessivo (MICHAEL et al.,

2009), com o tempo, as microfraturas de esmalte e dentina, se propagam

perpendicularmente ao longo eixo dos dentes sob pressão, resultando em um

defeito geralmente em forma de cunha. (EAKLE, 2012)

25

Para Pereira et al. (2012) as abfrações ocorrem devido às forças oclusais

excêntricas durante o ciclo mastigatório, comportamento parafuncional ou má

oclusão, que levam à flexão da estrutura dental, ocasionando tração de um lado e

compressão do lado oposto e a concentração de tensões na região cervical.

É provável que as lesões de abfração, combinadas com a erosão química,

possam diminuir a resistência ao desgaste dos tecidos duros cervicais à abrasão

mecânica da escovação, resultando em perda adicional de estrutura dentária.

(REYES et al., 2009)

De acordo com Pereiraet al. (2012), o esmalte cervical tem uma ligação

mecânica fraca com a dentina subjacente, já próximo à área da JCE. Quando um

dente está em hiperoclusão, as forças de mastigação transmitidas principalmente

para o dente são transferidas para a região cervical. (VASUDEVA; BOGRA, 2008)

Ambos, esmalte e dentina, tem altas resistências à compressão, mas a sua

capacidade para resistir ao estresse tensional é baixa. O estresse tensional pode

criar microfraturas no esmalte ou dentina. Estas fraturas propagam-se numa direção

perpendicular ao longo eixo do dente, conduzindo a um defeito localizados na JCE.

(PEREIRA et al., 2012)

Embora apresente alta dureza superficial, o esmalte é friável e frágil, com

baixa tolerância a deformações plásticas. (NGUYEN et al., 2008)A habilidade do

esmalte para suportar tensões depende significativamente da magnitude e da

direção das tensões relacionadas à orientação dos prismas. (ASSIS; VILLARES;

BRESSAN, 2013)

No estudo realizado por Romeed, Malik eDunne (2012) verificou-se que as

tensões sobre pré-molares foram concentradas na JCE. Em consonância, no estudo

26

de Huret al (2011) foi observado que as margens coronárias das lesões de abfração

localizavam-se ao nível e/ou sob a JCE.

Segundo Seabra, Barbosa e Lima (2012) na abfração, observa-se a

coexistência de dois fatores: a lateralização de cargas oclusais como fator principal,

e um periodonto de sustentação forte como fator importante para determinar o tipo

de dano causado pela oclusão.

Caso a qualidade do periodonto de sustentação não permita a mobilidade

dental, essas tensões acumuladas podem favorecer problemas como deformação

plástica da estrutura de esmalte/dentina cervical, microfraturas dos prismas,

propagação das fraturas em direção aos túbulos dentinários, infiltração de líquidos,

exposição de dentina e formação de uma LCNC característica de abfração. (ASSIS;

VILLARES; BRESSAN, 2013)

Com relação à lateralização de forças, no estudo realizado por Palomino-

Gomezet al.(2011) que buscaram avaliar a influência da excursão lateral mandibular,

função em grupo e orientação canina na formação de abfração dentária, constatou-

se que as forças laterais mediante os movimentos excursivos podem contribuir para

a presença de abfrações. No estudo realizado por Romeed, Malik eDunne (2012)foi

observado que a máxima carga lateral produzida tem importância maior na formação

das abfrações do que a carga axial.

A associação de forças laterais ao hábito parafuncional de mastigação

unilateral, são agentes etiológicos com grande potencial para desenvolver lesões

cervicais. Portanto, a relação desses com os demais fatores, como dieta ácida e

abrasão mecânica, pode fazer com que haja progressão das lesões. Cada vez mais

a combinação de fatores etiológicos ao longo do tempo acarretará abfrações mais

severas aos pacientes. (PECIE et al., 2011;REYES et al., 2009)

27

2.2.2 Características Clínicas das Abfrações

A lesão característica de abfração apresenta-se em forma de cunha ou em

“V”, com ângulos agudos e bem definidos, apresentando a borda oclusal de esmalte

intacto e uma superfície brilhante. (MARCAUTEANU et al., 2014)

É uma lesão progressiva. Geralmente situa-se perto do fulcro do dente e com

maior frequência na porção mais cervical da face vestibular anatômica dos dentes

acometidos. (SEABRA; BARBOSA; LIMA, 2012; WOOD et al., 2008) E a partir

desse pressuposto, a direção da força lateral regula a posição da lesão e aumenta a

concentração de tensão sobre o dente, enquanto o seu tamanho está relacionado

com a quantidade de força e a sua duração. (HUANGFU; XU, 2011)

De acordo com Lee e Eakle (1984apud ROMEED; MALIK; DUNNE, 2012), a

severidade da lesão é relacionada também com o número de tensões envolvidas. As

forças envolvidas são variáveis e a profundidade da abfração depende da

intensidade, duração, direção, frequência e localização das forças oclusais.

As sequelas das tensões no esmalte incluem linhas finas de fratura, estrias e

lesões cuneiformes. Já as sequelas do envolvimento na dentina incluem uma lesão

profunda na cervical em forma de “V”, completamente circundada pelo dente, ou

várias chanfraduras na JCE. (ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013)

Com relação ao tipo de defeito em forma de cunha, Nguyenet al. (2008)

observaram mediante microscopia eletrônica, que todas as LCNCs estendidas a

partir da JCE à superfície da raiz exibiram uma variedade aparente de cunha. A

abfração, não deve ser utilizada para designar todas as LCNCs porque estas lesões

são comumente de origem multifatorial.(GRIPPO; SIMRING; COLEMAN, 2012)

Porém, uma ampla revisão de lesões abfração, apesar de apontar para a etiologia

28

multifatorial, estabelece que os fatores oclusais sãoas características etiológicas

primárias. (WOOD. et al., 2008)

Sendo a ocorrência das abfrações mais progressiva, estas lesões mostram

uma hipersensibilidade marcada, causando desconforto ao paciente, o que dura até

que os túbulos dentinários estejam fechados, mediante a esclerose dentinária.

(SEABRA; BARBOSA; LIMA, 2012) A esclerose dentinária é formada como uma

resposta a estímulos crônicos de baixa intensidade e como consequência do

envelhecimento fisiológico, o que está relacionado ao fato das LCNCs ocorrerem

mais na população mais velha. (STOJANAC et al., 2013)

A hipersensibilidade dentária é definida como a dor causada por um estímulo

não nocivo, a qual ocorre em áreas onde existe exposição de dentina ao meio

externo. (VEITZ-KEENAN et al., 2013)Clinicamente, pode ser verificada mediante

estímulo mecânico não nocivo, como o contato da sonda exploradora, ou por

estímulo térmico, advindo de um jato de ar da seringa tríplice. (MONTEIRO

PEIXOTO et al., 2010) Geralmente é atribuída ao fluxo de fluido nos túbulos

dentinários abertos expostos pela progressão da lesão cervical, principalmente para

as abfrações. Nesse sentido, recomenda-se a restauração destas lesões,com base

nos resultados de estudos de um ano ou mais de duração. (VEITZ-KEENAN et al.,

2013)

2.2.3 Associação da Abfração dentária com as cargas oclusais

De acordo com alguns autores, a abfração ainda é um conceito teórico, uma

vez que não é apoiada pela evidência clínica adequada. (DALEY et al., 2009;

29

MICHAEL et al., 2009) Para Michael et al. (2009), recomenda-se que os tratamentos

destrutivos, irreversíveis destinados a tratar a chamada lesão de abfração, tais como

ajuste oclusal, devem ser evitadas.

Em relação à associação entre hábitos parafuncionais e a presença de LCNC,

Shah, Razavi eBartlett (2009) que também pesquisaram a prevalência de LCNC em

pacientes que demonstravam bruxismo, não verificaram diferenças estatísticas

significantes.

No entanto, estudos relacionaram as tensões envolvidas na origem e

progressão das abfrações aos fatores endógenos, como a parafunção e deglutição;

bem como, aos fatores exógenos, como a mastigação, hábitos, ocupações e

próteses odontológicas. (ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013)

Segundo Perezet al. (2012) a abfração dental está relacionada aos fatores

oclusais de concentração de estresse, tais como interferências oclusais, contatos

prematuros, hábitos de bruxismo e apertamento. Alguns hábitos como roer unhas,

bruxismo e disfunções temporomandibulares são fatores que podem estar

relacionados com a etiologia e progressão das LCNCs e devem ser diagnosticados e

considerados no tratamento (BRANDINI et al., 2012).

Diferentes tipos de contato oclusal podem criar padrões variáveis de

distribuição de tensões nos dentes. (HUANGFU; XU, 2011)De acordo com o estudo

de Oliveira, Damascena e Souza (2010) 71% dos pacientes com LCNC

apresentaram pelo menos um contato prematuro, seja este na máxima

intercuspidação habitual ou nos movimentos de lateralidade e de protrusão,

evidenciando que há correlação entre a carga oclusal e a presença de LCNC.

Esse achado pode ser explicado pelo fato de que, quando a oclusão é ideal

as forças mastigatórias durante a função são direcionadas ao longo eixo do dente e

30

adequadamente dissipadas, além de resultar em mínima distorção da dentina e do

esmalte. Quando a oclusão não é ideal, são geradas forças laterais que podem

causar flexão no dente e criar tensão compressiva no lado em que o dente está

recebendo a força, e, tensão de tração no lado oposto. (EAKLE, 2012)

Segundo Tsiggoset al. (2008) existe uma associação significativa entre o

autorelato de bruxismo e ocorrência de desgaste dentário, mais especificamente da

abfração dental. Nesses pacientes, as abfrações são os sinais de sobrecarga oclusal

produzidas por bruxismo, os quais podem ser fortes, inconscientes, por processos

rítmicos e/ou apertamento dos dentes, durante o dia ou durante o sono, associado a

níveis elevados de estresse emocional e facetas de desgaste patológicas.

(MARCAUTEANU et al., 2014)

Com base nesse pressuposto, o ajuste oclusal é indicado para qualquer

alteração induzida da relação intermaxilar tridimensional, dentre elas a abfração

dentária, uma vez que proporcionam a eliminação profilática generalizada das

interferências oclusais. (SCHINDLER; TURP, 2010)

A abfração consiste em uma destruição dentária progressiva, isto é, só é

interrompida com a eliminação do agente causal (oclusão mal dirigida), mediante o

ajuste da oclusão. (SEABRA; BARBOSA; LIMA, 2012)No estudo de Soareset al.

(2013) ficou constatada a importância do ajuste oclusal como parte do tratamento

dasLCNCs, uma vez que se as carga não forem ajustadas para uma oclusão

adequada, poderia resultar em progressão das dimensões das LCNCs.

31

2.2.4 Considerações sobre o Tratamento das Abfrações

Estudos tem atribuído o insucesso de restaurações cervicais à abfração. As

tensões acumuladas sobre estas tem sido relatadas como responsáveis pela falha

de adesão, permitindo o surgimento de fendas que favorecem a penetração de

fluidos e bactérias, levando à perda de retenção e deslocamento das restaurações.

(KIM et al., 2009; PECIE et al., 2011; PEREIRA et al., 2012; SOARES et al., 2013)

Segundo Srirekha e Bashetty(2013), a concentração de estresse na região

cervical é responsável não só pelo desenvolvimento da lesão cervical, mas também

pela falta de retenção da restauração. Em vista disso, a combinação da adesão

química e materiais restauradores de propriedades elásticas apropriadas se mostra

promissora de sucesso a longo prazo.

No estudo de Soareset al. (2013), a simulação de sobrecarga oclusal nos

modelos com lesões restauradas demonstraram uma menor concentração de tensão

de tração na região cervical. Segundo o autor, asimples restauração da LCNC não é

considerada "tratamento", mas sim a remoção de fatores etiológicos e a substituição

de tecido perdido, promovendo uma melhoria estética e uma redução de possível

hipersensibilidade

A decisão em restaurar as lesões de abfração tem o objetivo de fortalecer o

dente e reduzir a concentração de tensão e a flexão dental, diminuindo a progressão

da lesão e os problemas inerentes ao seu aparecimento como a hipersensibilidade

dentinária. (PEREIRA et al., 2012) A restauração melhora o comportamento

biomecânico, tanto a distribuição de tensões quanto os níveis de deformação,

consequentemente melhorando o prognóstico da lesão e longevidade da

restauração. (ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013)

32

A restauração das lesões mais avançadas pode ser planejada com desenhos

cavitários e materiais restauradores selecionados levando em consideração os

fatores na escolha da melhor estratégia de tratamento, o que necessariamente

envolve etapas de identificação do problema, o diagnóstico, a remoção do fator

etiológico ou tratamento, e, se necessário, a restauração. (PECIE et al., 2011)

Destarte, as medidas preventivas podem ser instituídas, se os fatores causais

são detectados e seus fatores modificadores são considerados, para evitar novas

lesões e travar a progressão de lesões existentes. (EAKLE, 2012; NASCIMENTO et

al., 2011)

Um planejamento pode ser feito para modificação em relação às tensões, a

fricção, e abiocorrosão sobre os dentes para impedir a continuação dos degradantes

da estrutura dental ao redor da restauração recém-colocada. (EAKLE, 2012)Nesse

sentido, as características oclusais, a história relatada pelo paciente e as

características morfológicas das lesões geralmente norteiam o profissional em

direção ao fator etiológico específico e ao controle dos mesmos. (OLIVEIRA;

DAMASCENA; SOUZA, 2010)

Cabe ressaltar que apesar deas restauração de abfração serem uma

ocorrência comum nas clínicas odontológicas, constituem o tipo de restaurações

menos duráveis e apresentam um alto índice de perda de retenção, defeitos

marginais e cárie secundária. (WOOD; KASSIR; BRUNTON, 2009)

Em relação às causas para estes problemas podem ser destacados as

dificuldades de isolamento, para a inserção do material, o contorno e dificuldade de

acabamento e polimento, devido à localização cervical. Além disso, as abfrações

apresentam margens em esmalte e em dentina radicular que respondem de maneira

independente às forças mastigatórias. (PEREZ et al., 2012)

33

2.3 RESINA COMPOSTA COMO MATERIAL RESTAURADOR PARA AS

ABFRAÇÕES

A resina composta(RC) é um dos materiais restauradores de escolha para

restauração de abfração, é o mais amplamente utilizado devido às suas

propriedades estéticas e mecânicas. (KIM et al., 2009) Além de apresentar uma

técnica eficiente e conservadora, a RC reestabelece função e estética dos dentes

que por algum motivo perderam estrutura. (WOOD; KASSIR; BRUNTON, 2009)

Com base no bom desempenho clínico, as resinas compostas passaram a ser

largamente utilizada nas restaurações de abfrações, uma vez que se adaptam bem

as cavidades formadas nas cervicais dos dentes, não prejudicam a estética,

possuem vantagens pela sua baixa condutibilidade térmica e baixa solubilidade.

(AWLIYA; EL-SAHN, 2008)

Durante muito tempo, o desempenho clínico das resinas compostas em

LCNCs foi considerado insatisfatório, devido às suas formas não retentivas e

margens deixadas em dentina. Além do mais, a contração de polimerização, as

mudanças térmicas e as forças oclusais geram tensões nas interfaces adesivas,

ocasionando consequentemente falhas nas mesmas. (PECIE et al., 2011)

Nesse contexto, materiais estéticos e sistemas adesivos estão

constantemente passando por melhorias, a fim de aprimorar a adesão aos tecidos

dentais duros, bemm como as características estéticas, a redução da contração de

polimerização, e a simplificaçãodos procedimentos clínicos. (BURROW; TYAS,

2007)

34

Para obter uma boa união entre o adesivo e as estruturas dentárias, é

necessário que as superfícies de esmalte e dentina sejam adequadamente

preparadas, o sistema adesivo tenha uma menor viscosidade, e a superfície tratada

tenha um baixo módulo de tensão superficial. (STOJANAC et al., 2013)

A localização frequente das margens de LCNCs em cemento e/ou dentina

torna seu tratamento mais difícil, tornando as margens das restaurações cervicais

mais suscetíveis à infiltração. (STOJANAC et al., 2013) O fluxo de microrganismos e

fluidos orais devido à infiltração podem causar a descoloração marginal de

restaurações, a hipersensibilidade pós-operatória, cáries secundárias e alteração

pulpar irreversível. (PETROVIC et al., 2010)

No estudo de Soareset al. (2013) as LCNCs restauradas com resina,

independentemente do tipo de carga ou da morfologia da lesão, demonstraram uma

melhor distribuição das tensões, devido às propriedades mecânicas da resina.

Houve, no entanto, alguns casos de falhas, as quais podem estar relacionados com

a maior dificuldade em alcançar a adesão à dentina esclerótica, usualmente

encontrada na base do LCNCs.

2.3.1 Resinas Compostas

Os fatores que podem afetar a longevidade da restauração incluem a

qualidade da adesão, a descoloração marginal da restauração, possivelmente

devido à polimerização do compósito, a inserção de grandes volumes de resina,

além do difícil acesso na entrada da zona distal, para terminar a restauração.

(BURROW, 2011)

35

Com relação ao tipo de resina composta, o módulo de elasticidade deste

material deve ser o mais semelhante possível ao da estrutura dental para que esta

possa acompanhar a movimentação sofrida pelo dente. Não obstante, deve ser

ressaltado que a contração de polimerização e a degradação deste material

continuam sendo suas principais limitações. (BAIG et al., 2013; PEREIRA et al.,

2012)

Em especial, a contração de polimerização pode ter um impacto negativo na

resposta clínica de restaurações classe V, induzindo um estresse mecânico no dente

através da união ao esmalte e à dentina. Este processo pode provocar a formação

de fendas marginais, abrindo um caminho para a migração de microorganismos,

instalando um processo de infiltração marginal e acelerando a desadaptação das

margens da restauração. (AWLIYA; EL-SAHN, 2008)

A contração de polimerização está diretamente relacionada à flexão do dente,

o que poderá causar a deterioração da união entre o substrato dentário e os

materiais restauradores ao longo do tempo, levando às falhas das restaurações

cervicais. (FRANCO et al., 2006)

Com o advento das resinas de baixo módulo de elasticidade, como os

compósitos microparticulados, grande parte da força que incide sobre dente é

absorvida pela restauração em vez de serem transmitidos para a interface dente-

restauração. (PEREIRA et al., 2012)

Estas resinas tem maior capacidade de flexionar junto com as estruturas

dentárias, de absorver as tensões da contração de polimerização através da

liberação de alguma tensão acumulada durante o relaxamento por escoamento

diminuindo, assim, a formação de fenda, microinfiltração e desadaptação nas

36

margens cavitárias em comparação às resinas de alto módulo de elasticidade.

(KUBO; YOKOTA; HAYASHI, 2010)

As resinas híbridas desenvolvem maiores tensões na contração de

polimerização. Caso não haja uma compensação, ocorrerá o deslocamento da

restauração. Entretanto, deve ser ressaltado que resinas de micropartículas

contraem mais do que as híbridas. (PEREIRA et al., 2012)No estudo de Kuboet al.

(2010) foi comprovado que ambos os tipos de resina composta (híbrida e fluida)

demonstraram um desempenho clínico aceitável nas restaurações de LCNS até 03

anos depois de realizadas.

O condicionamento da dentina afeta significativamente a qualidade da ligação

adesiva. Para a restauração bem sucedida das LCNCs, é necessário possuir um

bom conhecimento das características micromorfólogicas da dentina esclerótica, que

é o substrato base para união com o material restaurador. A dentina esclerosada, ou

vítrea, é brilhante e escura com uma superfície homogênea, contém colágeno

desnaturado, o que dificulta significativamente a formação da camada híbrida

adesiva. (STOJANAC et al., 2009)

A qualidade da adesão à dentina esclerosada é mais fraca quando

comparada à dentina não esclerosada. O condicionamento de dentina esclerótica é

imprevisível devido ao maior grau de mineralização e obliteração quase completa

dos túbulos dentinários, resultando numa menor penetração de adesivo.

(STOJANAC et al., 2013) De certa forma, isso explica o fato de a camada híbrida ser

significativamente mais fina em dentina esclerosada, quando comparada com a

dentina normal. (PETROVIC et al., 2010)

Diante do exposto, fica evidente a eficácia das resinas compostas nas

restaurações de lesões cervicais não cariosas, principalmente as abfrações, que

37

dentre todos os tipos de LCNC são as que mais necessitam de restauração para se

reestabelecer principalmente função e estética uma vez que causam bastante

hipersensibilidade dolorosa e desconforto ao paciente.

2.4 O CIMENTO DE IONÔMERO DE VIDRO NO TRATAMENTO DAS

ABFRAÇÕES

Dentre os materiais adesivos estéticos temos os cimentos de ionômero de

vidro (CIV), que fora, primeiramente desenvolvido por Wilson e Kent em 1969, no

Laboratório de Química do Governo, em Londres, Reino Unido.(SIDHU, 2010)

Os cimentos de ionômero de vidro, em relação aos diferentes materiais

restauradores disponíveis, são considerados materiais biocompatíveis, os quais

apresentam moléculas grandes, baixa toxicidade e união química aos íons cálcio da

estrutura dental. Contudo, apresentam baixa capacidade de polimento, o que

permite maior acúmulo de biofilme bacteriano. Apesar disso, o CIV apresenta melhor

resposta do periodonto do que o amálgama de prata. (SANTAMARIA et al., 2009)

O valor de tensão de interface do CIV e da resina composta é bem menor do

que a de amálgama. Este último é 09 vezes maior do que os dois primeiros. A

tensão de interface do CIV ligeiramente menor do que a resina, devido à sua

característica de coeficiente térmicolinear semelhante à estrutura dentinária.

(HUANGFU; XU, 2011)

Materiais à base de ionômero de vidro são clinicamente populares em

diversas áreas da Odontologia restauradora, apresentando sucesso clínico

considerável na restauração de lesões cervicais. (FRANCISCONI et al., 2009)

38

Devido às suas características como coeficiente de expansão térmica similar

ao da estrutura dentária e adesão química ao esmalte, dentina e cemento, os

cimentos de ionômero de vidro tem sido indicados para restaurações de abfrações

por reduzirem significantemente a infiltração marginal. (FRANCISCONI et al., 2009)

Além disso, o uso de uma base de CIV associada à resina composta, a

técnica chamada "sanduíche", ou técnica mista, permite associar as boas

características de compósitos e CIVs, sendo considerada bastante útil na

restauração dos defeitos cervicais não cariosos. (FRANCO et al., 2006)

Como foi comprovado clinicamente no estudo de Premovićet al. (2012), em

que as restaurações com compômero em combinação com um adesivo dental

simplificado de passo único apresentaram desempenho clínico aceitável em lesões

classe V após um ano de acompanhamento.

Os cimentos de ionômero de vidro podemincorpor bolhas de ar durante a

manipulação, estas introduzem porosidades junto com as partículas de carga que se

expõe durante a abrasão, contribuindo para o aumento da rugosidade. Clinicamente,

tal rugosidade pode diminuir a resistência ao desgaste do material restaurador e

tornar esta superfície significativamente mais propensa ao aumento da deposição de

biofilme bacteriano, com consequente degradação superficial e infiltração marginal,

podendo reduzir a longevidade da restauração. (PEREIRA et al., 2012)

2.4.1 Advento do Cimento de Ionômero de Vidro Modificado por Resina

Tal como acontece com a maioria dos outros materiais, o cimento de

ionômero de vidro também sofreram evoluções, melhorias e desenvolvimentos.

39

Como evolução deste, tem-se o advento do ionômero de vidro modificado por resina

(CIVMR), material patenteado no final da década de 80. (FRANCO et al., 2006)A

inovação do CIVMR foi uma tentativa de ajudar a superar os problemas

tradicionalmente associados com os convencionais, ou seja, sensibilidade à

umidade e propriedades físicas, especialmente a sua baixa resistência mecânica.

Os CIVMRs foram pensados como uma melhoria sobre os materiais originais,

mantendo as vantagens clínicas dos CIVs tradicionais, tais como a adesão e

liberação de flúor que oferece alguma proteção contra a cárie. O CIVMR apresenta

em sua composição basicamente uma base de vidro, um ácido polimérico solúvel

em água, monômeros orgânicos e um sistema fotoiniciador. (SIDHU, 2010)

Na essência são cimentos ionoméricos, análogos ao CIV convencional com a

incorporação de uma pequena quantidade de monômeros, bem como fotoiniciadores

envolvidos na reação de polimerização, exibindo propriedades físicas intermediárias

aos dois produtos. (SANTAMARIA et al., 2009)

Materiais restauradores híbridos exibem pronunciada diversidade em suas

características físicas e mecânicas. O CIV modificado por resina possui qualidades

superiores ao CIV convencional, entretanto, eles permanecem inferiores às resinas

compostas em características importantes como resistência ao desgaste e

manutenção da lisura superficial. (VAN DIJKEN; PALLESEN, 2008)

Em acréscimo, o CIVMR apresenta uma característica diferente. A forma de

ativação do material ocorre pelareação ácido-base, física e/ou de oxi-redução na

ausência de luz, que proporcionam uma polimerização mais uniforme, alta

resistência inicial, menor influência de ganho ou perda de água e melhor estética.

(PEREZ et al., 2012)Atualmente, os CIVMRs são usados em uma variedade de

situações clínicas, como para forramentos e bases, agentes de cimentação e

40

materiais restauradores. Após duas décadas de uso, é razoável esperar algum nível

de evidências sobre o seu desempenho clínico. (SIDHU, 2010)

As restaurações cervicais com cimentos de ionômero de vidro também podem

ter uma taxa de retenção boa, mas pobre estética, sendo a estética um fator primário

que justifica restaurar uma LCNC. Por isso, da utilização do CIV modificado por

resina, que ameniza o componente estético quando comparado ao CIV

convencional. (HEINTZE; RUFFIEUX; ROUSSON, 2010)

A avaliação mais longa destes materiais é fornecida em um estudo que

avaliou durante 13 anos diferentes sistemas adesivos, no qual o CIVMR apresentou

a melhor retenção e menor taxa de falhas anualmente. (VAN DIJKEN; PALLESEN,

2008) Segundo Pereiraet al. (2012) que observaram a influência de técnicas

restauradoras na adaptação marginal e em restaurações classe V simulando

abfrações, concluíram que todos os grupos apresentaram microinfiltração em graus

diferentes, com os menores valores para o ionômero de vidro modificado por resina.

Diversos estudos avaliaram o comportamento clínico dos CIVMRs em

cavidades classe V, sendo observadas taxas de retenção excelentes, que variavam

de 95 a 100%, em até dois anos de avaliação. No entanto, apesar dos resultados

favoráveis para a retenção dos CIVMRs, o selamento marginal apresentou defeitos

cervicais, notados logo nos primeiros seis meses. (SIDHU, 2010)Resultados

similares foram observados ao longo de cinco anos, com uma taxa de 93 % de

retenção para o mesmo CIVMR. (LOGUERCIO, et al., 2002)

Com base nesses aspectos, o CIV modificado por resina torna-se um material

efetivo nas restaurações de classe V, sendo o CIV convencionalindicado como base

de forramento para restaurações cervicais com resina composta.(SRIREKHA;

BASHETTY, 2013)

41

III METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O estudo foi desenvolvido no serviço de atendimento clínico das Clínicas

Odontológicas do curso de Odontologia da UERN, situado na cidade de Caicó – RN,

após a aprovação no comitê de Ética em Pesquisa desta instituição (ver Anexo 1).

Caracterizado como um estudo experimental clínico e prospectivo, que

avaliou comparativamente a eficiência do tratamento de lesões de abfração

baseado em dois materiais: resina composta (Z100 – 3M) e cimento de ionômero de

vidro modificado por resina (Vitremer – 3M).

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

3.2.1 População

Os sujeitos selecionados para o estudo foram oriundos das disciplinas de

Clínicas Integradas do curso de Odontologia da UERN, através da busca ativa nos

prontuários e encaminhamento dos alunos das respectivas disciplinas. Uma mesma

equipe de pesquisador e auxiliar realizaram a triagem de pacientes e a seleção de

dentes com lesões cervicais.

Cabe ressaltar que foram selecionados pacientes com plano de tratamento

em andamento pelas disciplinas de Clínicas Integradas, os quais já apresentavam

42

grau de condicionamento e higiene bucal satisfatórios, além de concluídas as

restaurações oclusais dos elementos posteriores, exceto os dentes portadores de

abfração. Além do mais, os pacientes convocados para o estudo receberam os

devidos esclarecimentos pelo pesquisador, concordaram e assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para esta pesquisa.

3.2.2 Amostra

Para o cálculo do tamanho da amostra, utilizou-se uma planilha do Programa

Microsoft Excel 2007. Considerandoa taxa de retenção de 98% relativa ao CIV

Modificado por resina em 06meses(SIDHU et al., 2010), um α de 0,05, um poder de

80% para o teste unilateral, o tamanho mínimo da amostra correspondeu à 30

restaurações em cada grupo, a fim de detectar uma diferença de 20% entre os

grupos.

Logo, considerando que cada paciente receberiaduas restaurações de

abfrações pareadas, a amostra final foi composta por 30 pacientes, totalizando 60

dentes restaurados, estando de acordo com as recomendações da American Dental

Association (ADA) em testes clínicos de materiais restauradores adesivos.

(AMERICAN DENTAL ASSOCIATION, 2001 apud LOGUERCIO, et al., 2011)

Foram selecionados para o estudo pacientes de ambos os gêneros, faixa

etária entre 18 e 50 anos, bom estado de saúde geral, com higiene oral satisfatória,

que apresentassem no mínimo 20 dentes e contenção dentária posterior. Além de

portadores de no mínimo duas lesões de abfração em dentes pré-molares distintos,

em oclusão, que apresentassem dentes antagonistas.

43

Para tanto, realizou-se um criterioso exame clínico e radiográfico das

condições dentárias, osdentes utilizados neste estudo foram especificamente pré-

molares, que apresentassem lesões cervicais em forma de cunha, nas faces

vestibulares com profundidades iguais ou superiores a 1,0 mm.

Os dentes incluídos no estudo eramobrigatoriamente hígidos ou restaurados

satisfatoriamente (desde que em regiões diferentes das abfrações), que

apresentassem relação oclusal com seus antagonistas e sem a presença de

inflamação gengival adjacente ou alterações periapicais afins.

Considerou-se como exclusão de sujeitos a necessidade de prótese dentária

no espaço imediato aos dentes a serem observados no estudo, o diagnóstico de

cárie coincidindo com o defeito cervical da abfração ou a indicação de tratamento

endodôntico irreversível no elemento alvo. Bem como,o comprometimento

periodontal moderado a severo ou hábitos parafuncionais severos, ou seja,pacientes

que necessitavam de outro tratamento antes de qualquer intervenção restauradora e

por isso, não incluídos no estudo.

Foi estabelecida a padronização dos pares de dentes a serem restaurados, os

quais deveriam apresentam tamanhos e profundidades similares. Quanto à posição

na arcada foram considerados um pré-molar de cada arcada, posicionados em hemi-

arco diferentes.

3.3 PROTOCOLO CLÍNICO RESTAURADOR

Com a finalidade de padronização, todos os procedimentos restauradores

foram executados pelo mesmo pesquisador e seu respectivo auxiliar que

44

participaram da triagem de pacientes. Cada paciente recebeu duas restaurações,

sendo os materiais distribuídos aleatoriamente, de acordo com o esquema ilustrado

na Figura 1. Antes de iniciar o procedimento restaurador, era realizado o sorteio para

a distribuição das restaurações nos dentes e para determinar qual restauração seria

realizada primeiro.

Figura 1 – Esquema demonstrando o protocolo restaurador utilizado no estudo.

Fonte: As autoras.

3.3.1 Ajuste Oclusal

Previamente aos procedimentos restauradores, realizou-se o ajuste oclusal

por desgaste seletivo de cada paciente, com o objetivo de eliminar algum contato

prematuro ou interferência oclusal, de acordo com a sequência:

1. Posicionamento do paciente na cadeira odontológica em uma posição

próxima aos 90˚ graus.

45

2. Manipulação do paciente para a posição craniomandibular de relação

cêntrica.

3. Marcação dos contatos interoclusais nos movimentos de

abertura/fechamento e nas guias de lateralidade, através de um carbono

oclusal (Papel carbono ContactoFilm–Angelus) acoplado a uma Pinça Müller.

4. De acordo com o caso, realizou-se os desgaste seletivos nos contatos

interdentários indesejáveis utilizando pontas diamantadas sob alta rotação com

refrigeração adequada. O processo de marcação dos contatos com carbono foi

repetida até a obtenção dos contatos interoclusais favoráveis para uma oclusão

equilibrada.

3.3.2 Etapas restauradoras

Após o ajuste oclusal, fez-se a profilaxia dos dentes a serem restaurados com

pedra-pomes e água a fim de remover quaisquer resíduos ou biofilme bacteriano

que pudesse interferir no processo de seleção de cor. Para a resina composta

poderia optar pelas várias opções de cores da série Z100, como A1, A2, A3, A3.5,

B2 e C2. Porém, a única cor de CIVRM disponível era a A3.

A seleção de cor prévia é importante, pois há a desidratação subsequente dos

tecidos dentários e alterações das propriedades ópticas do esmalte durante as

etapas restauradoras. Concluída a seleção de cor, outros procedimentos como:

anestesia nos casos necessários e isolamento absoluto do campo operatório foram

realizados.

46

O isolamento absoluto do campo operatório feito com o emprego de grampos

retratores gengivais nº 212, reduzindo a contaminação e aumentando a visibilidade

do operador, facilitando desta forma os procedimentos operatórios. Quando

necessário, o afastamento dos tecidos gengivais e visualização da terminação

cervical da abfração era complementada com a colocação do fio retrator no sulco

gengival.

Quadro1 – Composição dos materiais estudados e seus respectivos fabricantes.

Material Composição Fabricante

Resina Z100 Bis-GMA, dimetacrilato de uretano e

Trietilenoglicoldimetacrilato, Vidro de bário,

Trifluoreto de itérbio, Vidro de fluorsilicato de

alumínio e Bário, Dióxido de silício,

Catalisadores, Estabilizadores e pigmentos.

Matriz orgânica: Bis-GMA e TEGDMA.

3M ESPE

Adesivo

Adper Single Bond

Bis-GMA, Hema (2-Hidroxietilmetacrilato),

Dimetacrilatos, Acrilato de ácido fosfônico,

Dióxido de silício e, Iniciadores e inibidores

em etanol.

3M ESPE

Vitremer Primer Hema, ácido policarboxílico, água, etanol,

fotoiniciador.

3M ESPE

CIV Vitremer Pó: Vidro de fluor-alumínio silicato

Líquido: Hema, água, solução aquosa

fotosensível de ácido

polialqueônicomodificada

3M ESPE

Fonte: VITREMER: Ionômero de vidro para restauração e Construção de núcleo. São Paulo: 3M ESPE, 2012. Bula do fabricante.

Z100: Restaurador Universal. São Paulo: 3M ESPE, 2012. Bula do fabricante.

47

Seguindo as diretrizes da ADA para restauração com materiais adesivos, não

se realizou nenhum tipo de preparo cavitário, confecção de bisel ou determinação de

paredes nas abfrações. (AMERICAN DENTAL ASSOCIATION, 2001 apud

LOGUERCIO, et al., 2011) Concluídos esses procedimentos, confecionou-se as

restaurações das abfrações, em conformidade com as instruções do fabricante para

cada material testado.A Tabela 1 descreve as marcas comerciais dos materiais

utilizados no presente estudo.

3.3.3 Resina composta Microhíbrida com um sistema adesivo

O tratamento realizado nos substratos dentários limitou-se à execução do

condicionamento ácido do esmalte e dentina, com o ácido fosfórico a 37% na forma

de gel (Condac – FGM), por um tempo de 30 segundos no esmalte e 15 segundos

na dentina. Decorrido este tempo, as lesões foram lavadas abundantemente com

jatos de água pelo dobro de tempo do condicionamento ácido, qual seja 1 minuto.

A superfície dentária então seca com uma bolinha de algodão levemente

umedecida com água associada à projeção do jato de ar posicionado à distância,

objetivando não desidratar demasiadamente a dentina e possibilitar a penetração do

sistema adesivo com a formação da camada híbrida.

Subsequentemente, executou-se a aplicação do sistema adesivo

monocompetente (Adper Single Bond – 3M) feita de acordo com as recomendações

do fabricante, sendo aplicado com microbrushs, compatíveis com o tamanho da

abfração, verificando-se o aspecto brilhoso conseguido, que corresponde a uma

correta aplicação do adesivo.

48

Seguiu-se com a fotoativação do sistema adesivo, por 20 segundos,

utilizando-se um aparelho fotopolimerizador (XL 3000 – 3M), com intensidade de luz

de no mínimo 600mW/cm². Caso não fosse conseguido um aspecto de brilho

homogêneo em toda a superfície dentinária, o procedimento adesivo era repetido.

A resina composta (Z100 – 3M) inserida em três incrementos de no máximo

2,0 mm de espessura, aplicados consecutivamente nas paredes gengival,

incisal/oclusal e cobertura final, com o auxílio de espátulas de resina. Cada

incremento com fotoativaçãopor 40 segundos.

Para a remoção do excesso de material e acabamento na restauração

utilizou-selâmina de bisturi nº 12 e pontas diamantadas de diferentes granulações,

sendo realizada em um campo seco para melhor visibilidade e precisão, a fim de

não danificar o esmalte. O polimento feito após 07 dias, a partir do uso de pontas

multilaminadasde 12 a 30 lâminas (Jet Burs), sob refrigeração, pontas de silicone

abrasivas (Enhance – Dentsply), discos abrasivos de granulação fina (Soft Lex – 3M)

aplicados de forma intermitente evitando a geração de calor excessivo.

Todo procedimento de acabamento e polimento foi executado sob isolamento

relativo com o emprego de roletes de algodão e sugadores de saliva para facilitar o

acesso à margem cervical das lesões, o qual ficava limitado quando do emprego dos

grampos retratores.

3.3.4 Cimento de Ionômero de Vidro modificado por resina

O Cimento de ionômero de vidro modificado por resina utilizado foi Vitremer

Primer/Vitremer – 3M ESPE. Inicialmente, aplicou-se o primer com um microbush

49

sobre a superfície da abfração, permanecendo em contato com esta por um período

de 30 segundos e fotoativado por 20 segundos, com o mesmo aparelho descrito

anteriormente.

A manipulação do CIV baseou-se nas recomendações do fabricante, na

proporção pó/líquido de 1:1 (01 colher de pó para 01 gota do líquido).. Em uma placa

de vidro empregando uma espátula nº 24, aglutinou-se por aproximadamente 45

segundos até atingir uma massa de consistência cremosa, com aspecto úmido e

brilhante.

Após a manipulação, inseriu-se o material na abfração com incrementos de

2,0 mm de espessura com o auxílio de espátulas de inserção para um melhor

assentamento do material, dada uma conformação anatômica mais compatível com

a região cervical. Todo o procedimento de manipulação e inserção do material foi

realizado por um único operador, bem como o procedimento restaurador.

Realizou-se a fotoativação de cada incremento por um período de 40

segundos. A remoção dos excessos mais grosseiros utilizou lâminas de bisturi nº 12

associada à aplicação de uma fina camada do agente de superfície (FinnishingGloss

– 3M) que acompanha o conjunto do material restaurador, sendo fotoativado por 20

segundos. O acabamento e polimento foram executados de maneira semelhante às

restaurações com o sistema restaurador adesivo, após 7 dias da confecção da

restauração.

3.4 COLETA DE DADOS

3.4.1 Instrumento para Coleta de Dados

50

Quadro 2 – Descrição dos critérios empregados para a avaliação clínica das restaurações.

Critérios Escala Descrição dos critérios

Integridade marginal

Alfa (A) Não há evidência visual de fratura marginal e a

ponta do explorador não é aprisionado na

interface dente/restauração.

Bravo (B) Há evidência visível e tátil da presença de fissura,

mas a dentina não está exposta.

Charlie (C) O explorador penetra na interface

dente/restauração, apresentando dentinaexposta,

mas a restauração não está perdida.

Desgaste Alfa (A) A restauração apresenta continuidade com a

forma anatômica do dente existente.

Bravo (B) A restauração apresenta continuidade com a

forma anatômica do dente, mas há perda de

material restaurador sem exposição de dentina.

Charlie (C) Existe perda de material restaurador levando a

exposição de dentina..

Descoloração marginal

Alfa (A) Não há evidência visual de descoloração

marginal na interface dente/restauração.

Bravo (B) Há evidência visual de descoloração marginal na

interface dente/restauração, mas sua penetração

não se estende em direção à polpa.

Charlie (C) Há evidência visual de descoloração marginal na

interface dente/restauração, com evidente

extensão da penetração em direção à polpa.

Retenção Alfa (A) Presença da restauração.

Charlie (C) Ausência parcial ou total da restauração.

Cárie secundária Alfa (A) Não há evidência visual de cárie na interface

dente/restauração.

Charlie (C) Há evidência visual de cárie na interface

dente/restauração.

Hipersensibilidade pós-operatória

Alfa (A) Ausência de sintomatologia dolorosa a estímulos

térmicos e/ou de percussão.

Bravo (B) Presença de sintomatologia dolorosa quando da

atuação dos diferentes estímulos.

Charlie (C) Presença de sintomatologia espontânea relatada

pelo paciente.

Fonte: SANTIAGO, S. L. et al. Two-year clinical evaluation of resinous restorative systems in non-carious cervical lesions. Braz Dent J, 2010. p. 231.

51

O instrumento para coleta de dados utilizado no estudo consiste em uma

modificação do Sistema de avaliação do USPHS (United StatesPublic Health

Service), cujos critérios preconizados são: retenção, integridade marginal,

descoloração da margem cavosuperficial, desgaste, cárie secundária e

hipersensibilidade pós-operatória.(BAYNE; SCHMALZ, 2005)

Como pode ser observada na Tabela 2, a organização desses critérios

baseou-se em uma escala de dados ordinal (Alfa, Bravo, Charlie). A classificação de

A (Alpha) foi usado para marcar as melhores qualidades das restaurações, B (Bravo)

para pequenas alterações, e C (Charlie) uma qualidade da restauração insatisfatória.

Odesempenho de cada restauração teve avaliação independente, mediante o

preenchimento de uma ficha individual (Anexo 2) elaborada especificamente para

avaliação direta dos examinadores, a qual continha: nome do paciente, o dente

restaurado e os critérios para avaliar a qualidade das restaurações.

3.4.2 Procedimento para Coleta de Dados

A coleta de dados da pesquisa consistiu na avaliação clínica das

restaurações, mediante uma modificação do Sistema de avaliação do USPHS, o

qual se baseia na inspeção clínica, utilizando-se sonda exploradora nº 5 e espelho

bucal e que determina a padronização de procedimentos.Sobre padronização, o

método determina que os materiais a serem testados devam ser colocados nas

mesmas condições, ou seja, pelo mesmo profissional, no mesmo paciente e mesmo

período de observação.

Esta etapa contou com doisavaliadores, os quais não foram informados sobre

os materiais empregados e do conceito de ambos, caracterizando um estudo cego.

52

A seleção dos avaliadores baseou-se no fato dos mesmos serem professores das

disciplinas de Clínicas Integradas do curso de Odontologia/ UERN, que

apresentassem disponibilidade em participar das avaliações.

A concordância entre os dois avaliados considerou o teste Kappa ponderado.

Para todos os critérios, foi registrada uma excelente concordância entre os dois

examinadores (Retenção: kappa = 0,85; integridade marginal: kappa = 0,85;

descoloração marginal: kappa = 0,85; desgaste: Kappa = 0,85; cárie secundária:

kappa = 1,00 e hipersensibilidade pós-operatória: Kappa = 0,90)

As observações clínicas e preenchimento dos formulários foram feitos

imediatamente após o término das restaurações e em avaliações clínicas após 01

mês e 06 meses após a confecção. O período imediato correspondeu à avaliação

após o polimento.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados baseou-se em estatísticas descritivas e inferenciais. Na

estatística descritiva, verificou-se a distribuição das variáveis através das medidas

de tendência central, bem como uma análise da dispersão dos dados. Após, fez-se

uma análise de como os dados se distribuem ao redor da média, dessa forma, como

se tratam de variáveis de natureza ordinal, sua dispersão foi verificada através de

quartis.

Na estatística inferencial, realizaram-se os testes não-paramétricos entre a

variável dependente e as variáveis independentes. Destarte, para conhecer se as

medianas das variáveis independentes diferem nos tempos repetidos analisados, em

53

ambos os materiais, foi utilizado o teste ANOVA de Friedman, com os testes post

hoc de Wilcoxon.

Neste caso, para evitar distorções do valor de alfa, foi feita a penalização do

valor de p pela correção de Bonferroni, dividindo-se o número de comparações pelo

valor de p, aceitando-se como significativo um valor inferior a 5% de significância.

Por fim, para conhecer se as medianas diferem nos dois materiais entre as

variáveis independentes utilizou-se o teste de Mann-Whitney. Todos os testes foram

realizados no programa estatístico SPSS 20.0 aceitando um nível de significância de

5% e um poder de 80%.

54

IV RESULTADOSE DISCUSSÃO

De um modo geral, a etiologia multifatorial, a patogênese, o diagnóstico e a

seleção de procedimentos restauradores para LCNCs, principalmente as abfrações,

representam um desafio em Odontologia e um assunto frequente de discussão.

Traçando um perfil dos pacientes incluídos no estudo, a maior parte dos

pacientes enquadra-se como adultos e adultos jovens, na faixa de 20-30 anos

(n=13), assim como a faixa de 30-40 anos (n=13) e apenas 4 pacientes com faixa de

idade superior a 40 anos. Isso pode ser explicado pela cultura mutiladora ainda

presente na região de Caicó-RN, o que faz com que os pacientes com idade

superior a 40 anos geralmente apresentem muitas perdas dentárias, principalmente

dos pré-molares, não preenchendo aos critérios de inclusão da pesquisa.

Com relação ao gênero, houve um maior número de pacientes do sexo

feminino (n= 18), no entanto, não há relatos de associação de abfração com o

gênero na literatura. A maior quantidade de participantes mulheres está

possivelmente relacionada ao fato de que as mulheres ainda procuram mais pelos

serviços de saúde do que os homens, caracterizando o perfil amostral encontrado.

A realização de um estudo clínico dessa natureza apresenta algumas

dificuldades, pois envolve o retorno e o acompanhamento de um considerável

número de pacientes por um período prolongado de tempo. Muito embora, os

índices de retorno dos pacientes mostraram-se satisfatórios, ocorrendo apenas uma

perda no período de 06 meses, como descrito na Tabela 3. Essa questão pode ser

justificada pelo fato de Caicó-RN ser uma cidade de pequeno porte, o que facilita a

locomoção, o acesso e a presença dos pacientes durante as fases da pesquisa.

55

Tabela 3 - Índice de retorno dos pacientes e das restaurações avaliadas nos

intervalos de tempo em estudo.

Imediato 01 mês 06 meses

Retorno dos pacientes

(n=30) 30 30 29

Restaurações RC

(n=30) 30 30 29

Restaurações CIVMR

(n=30) 30 30 29

Fonte: As autoras.

Diversos estudos apontam que as abfrações se apresentam isoladas, tendo

uma maior incidência nos pré-molares, seguidos dos primeiros molares e caninos.

(RITTER et al, 2009; SHAH; RAZAVI; BARTLETT, 2009) Dentre os dentes

restaurados(n=60), ocorreu uma similaridade para a posição nas arcadas superior e

inferior, sendo restaurados 30 pré-molares inferiores e 30 pré-molares superiores.

Esse fato justifica-se pela distribuição dos materiais de modo aleatório entre as

arcadas.

Para a avaliação das restaurações executadas no estudo utilizou-se o

Sistema USPHS, o qual foi publicado por Cvar e Ryge em 1971 e ainda orienta as

pesquisas clínicas até os dias atuais, em todo mundo (BAYNE; SCHMALZ, 2005;

PECIE et al., 2011) Além do mais, os critérios USPHS são avaliados nos programas

de normalização e aceitação da ADA para novos materiais e técnicas restauradoras.

Com base nessas prerrogativas, através da avaliação desses critérios é possível a

discussão do presente estudo com as demais pesquisas em nível internacional.

56

Nesse contexto, a qualidade das restaurações baseou-se nos critérios

originais do USPHS para materiais estéticos, sendo: integridade marginal,

descoloração marginal, desgaste e cárie secundária. Acrescentou-se a esses, os

critérios retenção e hipersensibilidade pós-operatória, validados por Bayne em 1991

e que caracterizam o USPHS modificado. (BAYNE; SCHMALZ, 2005)

O uso dos critérios USPHS modificado é essencial quando se considera o

objeto desse estudo. A análise da retenção na restauração de defeitos cervicais é

utilizada para avaliar a efetividade de sistemas adesivos, (VAN LANDUYT et al.,

2008) uma vez que consistem em cavidades não retentivas e que não recebem

nenhum tipo de preparo cavitário. Ao mesmo tempo em que, os dentes com

abfrações são clinicamente sensíveis na maioria dos casos, sendo fundamental

incluir a hipersensibilidade pós-operatória para avaliação da efetividade das

restaurações.

Como vantagens do sistema USPHS em relação aos demais sistemas de

avaliação para estudos clínicos, podem-se citar a padronização dos procedimentos,

a calibração dos avaliadores, o pareamento das restaurações num mesmo indivíduo

e realização de duas avaliações independentes.(BAYNE; SCHMALZ, 2005)De

acordo com uma meta-análise realizada por Heintze, Ruffieux e Rousson (2010),

esses fatores constituem as principais dificuldades para a avaliação clínica de

restaurações.

Cabe ressaltar, que o presente estudo seguiu todas essas orientações,

visando a padronização do protocolo clínico e o controle das variáveis e dos viéses.

No entanto, a desvantagem do sistema USPHS é que as escalas ordinais e suas

respectivas estatísticas não paramétricas refletem uma significância clínica ao invés

57

de estatística, dificultando a análise dos dados e a comparação com os resultados

de outros trabalhos.

A longevidade da restauração de abfração está relacionada ao material

restaurador selecionado, aos fatores associados ao operador e ao paciente. (CHEE;

RICKMAN; SATTERTHWAITE, 2012; GRIPPO; SIMRING; COLEMAN, 2012;

PEREZ et al., 2012). Sendo a sobrecarga oclusal, a flexão dentária, a degradação

química e a consequente fadiga da interface denterestauração, fatores importantes

na falha dessas restaurações (ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2013;HARPENAU;

NOBLE; KAO, 2012;WOOD; KASSIR; BRUNTON, 2009), estes, devem ser

considerados antes da confecção das mesmas, através da análise dos contatos e

ajuste oclusal.

Sabendo que o sucesso do tratamento restaurador das abfrações depende da

eliminação das cargas oclusais mal dirigidas sobre os dentes, (MARCAUTEANU et

al., 2014; SCHINDLER; TURP, 2010; SEABRA; BARBOSA; LIMA, 2012; TSIGGOS

et al., 2008)esta pesquisa adotou como protocolo clínico a realização do ajuste

oclusal prévio em todos os pacientes, objetivando eliminar contatos prematuros e

interferência oclusais e assim, controlar as cargas oclusais excêntricas sobre os

dentes a serem restaurados.

No entanto, não foi encontrado em nenhum dos estudos com metodologia

semelhante a este apresentado, a utilização do ajuste oclusal prévio como protocolo

clínico. Sendo assim, propôs-se uma metodologia inovadora com o intuito de

devolver a estabilidade oclusal mediante os desgastes seletivos dos contatos

indesejáveis.

58

Aqui, a comparação de cada material entre os períodos avaliados foi realizada

com o teste ANOVA de Friedman considerando o nível de significância de 5% (p<

0,05), como pode ser visualizado nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 4. Comparação das médias dos ranks do sistema USPHS para resina composta, nos tempos imediato, 01 mês e 06 meses.

Variáveis Tempos Média dos

Ranks Q25 Q75

Valor

de p

Integridade marginal

Imediato a 2,17 3,00 3,00 0,005

1 mês a,b 2,02 2,00 3,00

6 meses b 1,81 2,00 3,00

Desgaste

Imediato a 2,09 3,00 3,00 0,039

1 mês a,b 2,03 3,00 3,00

6 meses b 1,88 2,00 3,00

Descoloração Marginal

Imediato a 2,12 3,00 3,00 0,039

1 mês a,b 1,97 3,00 3,00

6 meses b 1,91 3,00 3,00

Retenção

Imediato a 2,09 3,00 3,00 0,039

1 mês a,b 2,03 3,00 3,00

6 meses b 1,88 3,00 3,00

Cárie

Imediato a 2,00 3,00 3,00 >0,050

1 mês a 2,00 3,00 3,00

6 meses a 2,00 3,00 3,00

Sensibilidade

Imediato a 2,03 3,00 3,00 >0,050

1 mês a 2,03 3,00 3,00

6 meses a 1,93 3,00 3,00

Fonte: As autoras.

A análise da tabela 4 mostra o desempenho da resina composta Z100, em

que a integridade marginal apresentou uma diferença estatisticamente significativa

entre o período inicial e 06 meses (p < 0,005). Assim como, para os critérios

59

descoloração marginal, desgaste e retenção, nos quais observamos uma diferença

significativa entre todos os períodos avaliados (valor de p= 0,039).

Em consonância com esse achado, no estudo de Santiago et al. (2010) houve

diferenças significativas na resina composta para os critérios retenção (p = 0,02) ,

integridade marginal (p = 0,002 ) e desgaste (p = 0,04).

A ocorrência de adaptação marginal insuficiente da resina composta é um

sinal de degradação da ligação adesiva, o que está relacionada com a contração de

polimerização, o coeficiente de expansão térmica diferente entre o material e o

dente, e, as cargas oclusais. (KUBO; YOKOTA; HAYASHI, 2010; PETROVIC et al.,

2010; STOJANAC et al., 2013)O elevado módulo de elasticidade das resinas

microhíbridas, como a resina Z100, a caracteriza como um compósito rígido e,

assim, incapaz de flexionar junto com o dente quando submetido à atividade oclusal.

(PEREIRA et al, 2012; SOARES et al., 2013)

Pereira et al. (2012) observaramin vitro alteração na integridade marginal dos

dentes restaurados com a resina Z100. Segundo o autor, o alto módulo de

elasticidade da resina Z100 não é suficiente para dissipar o estresse da contração

de polimerização, característica ainda persistente dos compósitos, levando à falha

de adesão e o colapso de vedação.

Por outro lado, o estudo de Awliya e El-Sahn (2008) mostrou que as lesões

classe V restauradas com resinas de elevado módulo de elasticidade apresentaram

uma distribuição das tensões satisfatória, sem a ocorrência de deterioração

marginal.

A contração de polimerização está diretamente relacionada à flexão do dente,

o que causa um estresse mecânico e tensional na interface dente-restauração,

culminando com a deterioração da adesão ao longo do tempo. Este processo pode

60

provocar a formação de fendas marginais, instalando um processo de infiltração e

descoloração marginal, acelerando a desadaptação das margens da restauração,

consequentemente, levando a perda de retenção e ao fracasso da restauração.

(HEINTZE et al., 2009; PREMOVIC et al., 2012; SRIREKHA; BASHETTY,

2013)Toda essa sequência de fatos pode explicar o comportamento da resina

composta avaliada, cujo desempenho clínico apresentou alteração na integridade

marginal, na retenção e na descoloração marginal, durante o período de 06 meses.

Sobre a descoloração marginal, Santiago et al. (2010) relataram que foi

observado um comportamento mais satisfatório para esse aspecto tanto da resina

como do CIVMR avaliados, especialmente para a RC.Segundo Burrow e Tyas

(2011) a presença de restaurações cervicais de resina com descoloração nas

margens pode está relacionada aos defeitos marginais propriamente ditos, assim

como ao excesso de material restaurador em áreas não condicionadas e não

removidos após o polimento, que facilitam a impregnação de pigmentos.

De modo similar aos resultados do presente trabalho, o estudo de Kim et al.

(2009) relataram a descoloração marginal significante para todos os materiais

avaliados, incluindo um CIVMR e uma RC, especialmente para a resina que

apresentou 50% da classificação Bravo após 18 meses.

Com relação ao desgaste, os achados do estudo atual revelaram que ocorreu

diferença significativa para esse critério entre os períodos avaliados. No estudo de

Stojanacet al. (2013) não foi observada significância para o desgaste quando da

utilização de uma resina microhíbrida, associada a diferentes sistemas adesivos,

contradizendo os resultados deste estudo.Já nas observações de Santiago et al.

(2010) houveram diferença significativa entre a forma anatômica dos materiais ao

longo do tempo, principalmente para a RC quando comparada ao CIV.

61

A possível explicação para isso é que as tensões de tração durante a flexão

dentária favorecem a formação de trincas no corpo da restauração, o que facilita o

desprendimento das cargas inorgânicas da resina quando submetidas às situações

de fricção mecânica e abrasão química, como durante a escovação.

A Tabela 5 apresenta os resultados para o cimento de ionômero de vidro

modificado por resina Vitremer.

Tabela 5. Comparação das Médias dos Ranks do sistema USPH-S para CIV nos tempos imediato, 01 mês e 06 meses.

Variáveis Tempos Média dos

Ranks Q25 Q75

Valor

de p

Integridade

marginal

Imediato a 2,16 3,00 3,00 0,001

1 mês a 2,10 3,00 3,00

6 meses b 1,74 2,00 3,00

Desgaste

Imediato a 2,09 3,00 3,00 0,028

1 mês a 2,09 3,00 3,00

6 meses b 1,83 2,00 3,00

Descoloração

Marginal

Imediato a 2,12 3,00 3,00 0,022

1 mês a,b 2,02 3,00 3,00

6 meses b 1,86 2,00 3,00

Retenção

Imediato a 2,07 3,00 3,00 0,069

1 mês a 2,07 3,00 3,00

6 meses a 1,86 3,00 3,00

Cárie

Imediato a 2,00 3,00 3,00 >0,050

1 mês a 2,00 3,00 3,00

6 meses a 2,00 3,00 3,00

Sensibilidade

Imediato a 2,07 3,00 3,00 0,368

1 mês a 2,02 3,00 3,00

6 meses a 1,91 3,00 3,00

Fonte: As autoras.

62

Observamos que houve uma diferença estatisticamente significativa para a

integridade marginal, somente entre o período inicial e 06 meses, considerando um

nível de significância de p < 0,001.

Para os critérios desgaste e descoloração marginal observamos diferença

estatisticamente significativa. No critério desgaste observamos a diferença entre os

períodos imediato e 06 meses; enquanto que na descoloração marginal observamos

que houve diferença estatisticamente significativa entre todos os períodos avaliados.

No entanto, não houve diferença significativa para a retenção, o que difere o CIVMR

dos resultados encontrados na resina.

A maior capacidade de resistência do CIVMR quando comparado ao CIV

convencional, o baixo módulo de elasticidade, o coeficiente de expansão térmica

similar ao dente e a adesão química aos tecidos dentários, permitem que o CIVMR

flexione junto com o dente e, assim, uma maior capacidade de suportar a tensões de

tração. Essas características inerentes ao Vitremer favoreceram os achados

satisfatórios para o critério retenção, diferindo dos resultados encontrados na resina

composta.

De modo semelhante aos achados do atual estudo, diversos estudos

avaliaram o comportamento clínico dos CIVMRs em cavidades classe V, sendo

observadas taxas de retenção excelentes, que variavam de 95 a 100%, em até dois

anos de avaliação, como nos resultados de SIDHU (2010) e Santiago et al.

(2010).Segundo Santiago et al. (2010) a alta taxa de retenção do Vitremer pode ser

atribuída à sua capacidade de adesão química ao esmalte e à dentina, referindo-se

aessa característica como uma auto-adesividade.

No entanto, Van Dijkenet al. (2008) usando um CIVMR em restaurações

cervicais encontraram uma perda de retenção 4,5% e 17,9% depois de 2 e 6 anos,

63

respectivamente. A análise da Tabela 5 revelou resultados insatisfatórios para

integridade marginal no CIV modificado por resina, apresentando diferença

significativa com nível de significância considerável (p < 0,001).

Do mesmo modo, no estudo de Santiagoet al. (2010) foi identificada para o

Vitremer, uma diferença estatisticamente significativa para a integridade marginal (p

= 0,001). Da mesma forma, SIDHU (2010) relatou a deterioração marginal clínica

significativa para o CIVMR em 06 e 18 meses após a confecção da restauração.

Em contrapartida, outros estudos como o de Pereiraet al. (2012) e Francisconi

et al. (2009) descreveram que o CIVMR (Vitremer) produziram os melhores

resultados para integridade na margem de dentina.Apesar das características

biomecânicas favoráveis, a explicação para a deterioração marginal marcante do

CIVMR pode ser o resultado da expansão higroscópica dos componentes do

ionômero de vidro e, consequentemente, às fraturas decorrentes do sobrecontorno

de material nas margens, quando submetidos às cargas oclusais. (SANTAMARIA et

al., 2009)

Outro fator que pode explicar esse achado é que, embora não tenha sido

realizado o acabamento ou biselamento das paredes de esmalte, a própria

configuração da lesão pode determinar bordas de esmalte abfratado, friáveis e sem

suporte, que sobrepassam o ângulo cavosuperficial. (FRANCO et al., 2006) Dessa

forma, as pequenas fraturas marginais relacionam-se ao pequeno volume de CIVMR

na interface dente/restauração.

Esses dados são confirmados pelo estudo de Baig, Mustafa e Al-Muhaiza

(2013) que analisaram, por microscopia eletrônica de varredura, a qualidade

marginal de vários sistemas restauradores adesivos, inclusive a do Vitremer. Os

autores observaram que a qualidade marginal do esmalte foi grandemente

64

influenciada pelas fraturas de prismas de esmalte, em alguns casos os prismas

foram removidos e pequenos defeitos na interface eram visíveis. Achados similares

foram relatados por Huret al. (2011)e Nguyen et al.(2008).

Segundo Francisconiet al (2009)quando há aunião satisfatória entre material

restaurador e dente, as forças geradas por compressão da restauração atuam mais

no corpo do que na interface adesiva. Consequentemente, a união adesiva é

preservada, possibilitando à restauração uma retenção favorável, enquanto que a

integridade marginal é afetada, como pode ser constatado nos nos achados do

presente estudo.Nessa mesma perspectiva, Van Landuytet al.(2008) concluíram que

embora os índices de retenção tenham melhorado para os sistemas adesivos atuais,

o selamento marginal ainda é um problema a ser solucionado.

Burrow e Tyas (2007) observaram que a deterioração marginal foi mais

pronunciada do que a descoloração para ambos os materiais, de modo semelhante

aos resultados do estudo atual. No entanto, essa deterioração marginal não

prejudicou a performance geral das restaurações, pois as mesmas apresentaram-se

clinicamente aceitáveis sem necessidade de substituição.Assim como ocorreu com a

resina composta Z100, os resultados do presente estudo mostraram que o Vitremer

apresentou diferença significativa para a descoloração nas margens da restauração,

em todos os períodos de avaliação.

No estudo de Stojanacet al. (2013) também foi observada a descoloração

marginal tanto em resina como em CIVMR. A hipótese é que, mesmo pequenos

defeitos marginais ou lacunas micrométricas permitem a penetração e/ou a retenção

de pigmentos que levam à descoloração marginal. (HEINTZE et al., 2011)Para tanto,

nos estudos de Santiago et al. (2010) e Franco et al. (2006) não ocorreram

65

diferenças significativas na descoloração marginal do Vitremer, após 2 e 6 anos de

acompanhamento, respectivamente.

No CIV modificado por resina, a estabilidade de cor inicial geralmente é

satisfatória em relação ao dente, porém verifica-se que estes materiais tendem a

mudar de cor ao longo do tempo. (SIDHU, 2010) Isso pode estar relacionado com as

mudanças de superfície desses materiais, o que se manifesta sob a forma de perda

de contorno anatômico e desgaste, como mostraram as estatísticas dos resultados

do estudo atual. Com relação ao desgaste da restauração, Franco et al. (2006)

observaram a manutenção da forma anatômica satisfatória, tanto para a resina como

para o CIVMR em até 01 ano de avaliação.

A explicação para o desgaste anatômico das restaurações executadas com o

ionômero em longo prazo deve-se às suas propriedades físicas inferiores à RC,

apresentando baixa resistência ao desgaste associada à força de escovação

excessiva. No entanto, Van Dijken e Pallesen (2008) apresentaram resultados

satisfatórios para a manutenção da forma anatômica do Vitremer, e que segundo

eles pode ser justificado pela melhoria das propriedades físicas dos ionômeros

híbridos.

Durante a manipulação, os cimentos de ionômero de vidro incorporam bolhas

de ar, estas introduzem porosidades junto com as partículas de carga que se expõe

durante a abrasão mediante a escovação, contribuindo para o aumento da

rugosidade e com o desgaste visualizado clinicamente. (PEREIRAet al., 2012)

Observamos na Tabela 6, a comparação entre cada critério avaliado para

ambos os materiais (RC e CIVMR), nos intervalos de tempo.

66

Tabela 6. Comparação das Médias dos Ranks dos materiais RC e CIV nostempos imediato, 01 mês e 06 meses.

Variáveis Materiais N Média dos Ranks Q25 Q75 Valor de

p

Integridade marginal imediato RRC 30 29,58 3,00 3,00 0,490

CIV 30 31,42 3,00 3,00

Integridade marginal 1 mês RRC 30 28,77 2,00 3,00 0,269

CIV 30 32,23 3,00 3,00

Integridade marginal 6 meses RRC 29 29,41 2,00 3,00 0,964

CIV 29 29,59 2,00 3,00

Desgaste imediato RRC 30 30,00 3,00 3,00 0,720

CIV 30 31,00 3,00 3,00

Desgaste 1 mês RRC 30 29,50 3,00 3,00 0,492

CIV 30 31,50 3,00 3,00

Desgaste 6 meses RRC 29 29,66 2,00 3,00 0,931

CIV 29 29,34 2,00 3,00

Descoloração Marginal

imediato

RRC 30 31,50 3,00 3,00 0,393

CIV 30 29,50 3,00 3,00

Descoloração Marginal 1 mês RRC 30 31,00 3,00 3,00 0,741

CIV 30 30,00 3,00 3,00

Descoloração Marginal 6

meses

RRC 29 31,00 3,00 3,00 0,372

CIV 29 28,00 2,00 3,00

Retenção imediato RRC 30 30,50 3,00 3,00 1,000

CIV 30 30,50 3,00 3,00

Retenção 1 mês RRC 30 30,03 3,00 3,00 0,584

CIV 30 30,97 3,00 3,00

Retenção 6 meses RRC 29 29,59 3,00 3,00 0,953

CIV 29 29,41 3,00 3,00

Cárie imediato RRC 30 30,50 3,00 3,00 1,000

CIV 30 30,50 3,00 3,00

Cárie 1 mês RRC 30 30,50 3,00 3,00 1,000

CIV 30 30,50 3,00 3,00

Cárie 6 meses RRC 29 29,50 3,00 3,00 1,000

CIV 29 29,50 3,00 3,00

Sensibilidade imediato RRC 30 29,50 3,00 3,00 0,393

CIV 30 31,50 3,00 3,00

Sensibilidade 1 mês RRC 30 29,50 2,00 3,00 0,451

CIV 30 31,50 3,00 3,00

Sensibilidade 6 meses RRC 29 29,00 2,00 3,00 0,740

CIV 29 30,00 2,00 3,00

Fonte: As autoras.

67

Contudo, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa quando

há a comparação entre os dois materiais avaliados, considerando um nível de

significância de 5%. Analisando as Tabelas 4, 5 e 6, podemos observar que o critério

cárie secundária permaneceu inalterado durante todo o período de avaliação, não

havendo o aparecimento de lesões cariosas para ambos os materiais. Assim como,

não houve diferença estatisticamente significativa para a hipersensibilidade pós-

operatória, tanto para a resina como para o CIVMR.

Em consonância com esses achados, o estudo de Pollington e Van Noort

(2008) constatou que das 60 restaurações confeccionadas com resina composta,

nenhuma apresentou cárie ou problemas de hipersensibilidade pós-operatória.

Porém, em alguns casos de abfrações foram observadas hipersensibilidade

nas avaliações imediata e com 01 mês após a confecção da restauração. A

hipersensibilidade, que foi criada imediatamente após a colocação da restauração

pode ser o resultado de danos mecânicos da gengiva, durante o acabamento e

polimento ou o excesso de material que foi deixado em contacto com os tecidos

moles. (MONTEIRO PEIXOTO, et al., 2010)

A presença de hipersensibilidade dentária pós-operatória após 01mês vem

sendo associada à retração gengival e exposição radicular, imediatamente após a

colocação da restauração ou após o seu acabamento e polimento, como foi

observado por Veitz-Keenanet al. (2013). Esse fato também foi observado no estudo

de Stojanacet al. (2013), em que a hipersensibilidade presente nas avaliações iniciais

diminui no decorrer do tempo, sendo totalmente solucionado ao término dos dois

anos de acompanhamento.

Diversos estudos estabeleceram que não houve a detecção de cárie

secundária associada às restaurações cervicais. Como no estudo clínico de

68

Sidhu(2010) após um acompanhamento de 18 meses com restaurações em CIVMR

e RC. Do mesmo modo, os achados de Santiago et al. (2010), Loguercio et al (2002)

e Franco et al. (2006), com proservação dos pacientes de 02, 05 e 06 anos,

respectivamente.

A não ocorrência de cárie nas restaurações avaliadas está possivelmente

relacionada ao fato de que os pacientes incluídos no estudo apresentavam-se na

fase do tratamento após o condicionamento do meio bucal. Com base nesse

aspecto, os pacientes mostravam boa higiene oral, especialmente depois da

motivação e treinamento que corresponde às etapas do condicionamento, deixando-

os aptos para receberem a fase restauradora do tratamento.

A partir da análise dos resultados, é perceptível o desempenho clínico

satisfatório de ambos os materiais para a restauração cervical de abfração, com as

peculiaridades inerentes às propriedades físicoquímicas de cada um. Entretanto,

concorda-se com a literatura e comprova-se dentro dos objetivos deste estudo que o

CIVMR é a primeira opção para restaurar abfrações.

Embora, o CIVMR não apresente as propriedades estéticas semelhantes à

resina, o seu comportamento biomecânico frente às sobrecargas oclusais

relacionadas etiologicamente com a abfração, deixa evidente a adequada

recuperação do tecido dentário perdido por este biomaterial. Porém, na escolha do

material restaurador deve ser considerada a relação custo-benefício, tendo em vista

o maior custo financeiro para aquisição do CIVMR quando comparado à RC.

Destarte, depreende-se com esse estudo que a compreensão da biomecânica

das restaurações cervicais facilitaria a seleção de materiais restauradores, ao

mesmo tempo em que possibilitaria um melhor prognóstico partindo do

entendimento de todos os fatores associados.

69

V CONCLUSÕES E SUGESTÕES

CONCLUSÕES:

1.Ambos os materiais avaliados, a resina composta e o cimento de ionômero de

vidro modificado por resina, apresentaram comportamento clínico satisfatório na

restauração de lesões dentárias de abfração em todas as condições observadas.

2. As restaurações realizadas com aresina composta e com o CIV modificado por

resina mostraram desempenho clínico semelhante com relação à integridade

marginal, descoloração marginal, desgaste, cárie secundária e hipersensibilidade

pós-operatória. Apenas no critério retenção houve superioridade do CIV modificado

por resina.

3. Apenas para a avaliação de 06 meses é que foram observadas as principais

diferenças significativas na eficiência clínica dos dois materiais estudados.

4.O cimento de ionômero de vidro modificado por resina apresentou melhor

desempenho clínico do que a resina composta na restauração de lesões dentárias

de abfração.

70

SUGESTÕES

1. Sugere-se a inclusão dos métodos indiretosde avaliação, o que possibilitaria a

obtenção de resultados mais precisos. Dentre eles, podemos propor a utilização de

fotografias, imagens digitais, modelos de gesso ou réplicas em resina epóxica, que

facilitam a visualização das mudanças nas restaurações no decorrer do tempo.

2.Recomenda-se o acompanhamento das restaurações adesivas de abfrações por

períodos de tempo mais longos, para que a sua efetividade seja avaliada de maneira

mais confiável com relação a este componente tão significativo para a vida útil de

um tratamento reabilitador, que é o tempo.

3. Também se faz mister a análise longitudinal da oclusão funcional destes

pacientes .

4.Acusa-se também a inserção na metodologia de um terceiro tipo de restauração

de abfrações, a chamada técnica “sanduíche”, a qual associa uma base de ionômero

à restauração de resina composta.

5. Sugere-se às pesquisas futuras a análise da influência da situação oclusal em

dentes antagonistas, no desempenho clínico das restaurações de abfrações.

6. Pesquisar adesivos autocondicionantes em associação com compósitos mais

atuais.

71

VI REFERÊNCIAS

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78

ANEXOS

ANEXO 1–APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA

79

80

81

82

ANEXO 2–FICHA PARA AVALIAÇÃO DOS PACIENTES

Governo do Estado do Rio Grande do Norte

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - PROPEG

FACULDADE DE ENFERMAGEM-FAEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E SOCIEDADE – PPGSS

MESTRADO EM SAÚDE E SOCIEDADE - MASS

Campus Central – BR 110 – KM 46 – Rua Prof. Antônio Campos, s/n – Costa e Silva. CEP: 59.633-010 -Mossoró – RN

Telefones: (84) 3314-5373 – FAX: (84) 3315.2131

Email: [email protected] Site: http://propeg.uern.br/ppgss

FICHA PARA AVALIAÇÃO DAS RESTAURAÇÕES Nome do Paciente:___________________________________________________ Data do Exame: __/__/____. Examinador:_____________________________

DENTE:

CRITÉRIOS A B C

Integridade Marginal

Desgaste

Descoloração Marginal

Retenção

Cárie Secundária

Hipersensibilidade

DENTE:

CRITÉRIOS A B C

Integridade Marginal

Desgaste

Descoloração Marginal

Retenção

Cárie Secundária

Hipersensibilidade

DENTE:

CRITÉRIOS A B C

Integridade Marginal

Desgaste

Descoloração Marginal

Retenção

Cárie Secundária

Hipersensibilidade

DENTE:

CRITÉRIOS A B C

Integridade Marginal

Desgaste

Descoloração Marginal

Retenção

Cárie Secundária

Hipersensibilidade