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Universidade Camilo Castelo Branco Programa de Pós-Graduação em Produção Animal KARINA PAZ LANDIM EFICIÊNCIA DO PROCEDIMENTO DE INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS POR PISTOLA DE IMPACTO SEM PENETRAÇÃO E O REFLEXO NA QUALIDADE DA CARNE Descalvado, SP 2011

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Universidade Camilo Castelo Branco

Programa de Pós-Graduação em Produção Animal

KARINA PAZ LANDIM

EFICIÊNCIA DO PROCEDIMENTO DE INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS

POR PISTOLA DE IMPACTO SEM PENETRAÇÃO E O REFLEXO NA

QUALIDADE DA CARNE

Descalvado, SP

2011

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Karina Paz Landim

EFICIÊNCIA DO PROCEDIMENTO DE INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS POR PISTOLA

DE IMPACTO SEM PENETRAÇÃO E O REFLEXO NA QUALIDADE DA CARNE

Orientadora: Profa Dra Käthery Brennecke

Descalvado, SP

2011

Dissertação de Mestrado apresentada

ao Programa de Pós-Graduação em

Produção Animal da Universidade

Camilo Castelo Branco, como

complementação dos créditos

necessários para obtenção do título de

Mestre em Produção Animal.

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Dedicatória

Impróprio dizer que este trabalho é obra de apenas uma pessoa,

como mostra a capa, mas sim de muitas que me incentivaram e

não me deixaram esmorecer durante esta jornada.

Aos meus pais Milton Paz Landim e Elizabete Flor Paz Landim e

ao meu esposo Diego Francisco por acreditarem na minha

capacidade, pelo amor, carinho, paciência e apoio incondicional

prestados a mim e, por acharem que eu sempre sou melhor do que

realmente sou! Meu eterno agradecimento... Sem esse porto seguro

tudo seria mais difícil ! Amo vocês.

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Agradecimentos

Ao Prof. Dr Vando Soares pela honra de ter sido sua aluna , pela

ajuda e suporte para finalizar este projeto.

Ao Profa. Dra Kathery Brennecke pelas sugestões e presteza..

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Deus conceda-me serenidade para aceitar as

coisas que não posso modificar, coragem para

modificar aquelas que posso e sabedoria para

reconhecer a diferença”.

São Francisco de Assis

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Resumo

O objeto deste estudo foi a avaliação da eficiência do procedimento de insensibilização de

bovinos, utilizando pistola de impacto não penetrativa na região frontal da cabeça em

atendimento as normas Bem Estar animal recomendada pela União Européia e, seu reflexo

na qualidade da carne. O estudo foi realizado nos meses de julho e agosto de 2010 no

Frigorífico Rodopa Indústria e Comércio de Alimentos Ltda, localizado na cidade de Santa

Fé do Sul, Estado de São Paulo, sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) e habilitado para

exportação aos países Membros da União Européia. Neste período foram abatidos 21.708

bovinos, destes 18.054 bovinos foram avaliados quanto ao pH por serem considerados

durante o processo de abate elegíveis para União Européia. Os critérios adotados para

verificação da eficiência do procedimento de insensibilização foram: movimentos/reflexos

oculares, vocalização (mugido) e reflexo de equilíbrio (tentativa de levantar a cabeça e

posicionar-se de forma ereta), avaliados e registrados individualmente. A identificação dos

animais foi realizada através de seqüencial numérico em ordem crescente, composto por 3

dígitos seguido da data de abate representada em dia, mês e ano e, carimbados no

membro posterior e anterior dos lados esquerdo e direito da carcaça. A determinação da

qualidade das carcaças foi efetuada através da mensuração do pH precisamente no

músculo Longíssimos dorsi, entre a 11º e 12º costela, após o período de maturação

sanitária e considerando os valores aceitáveis entre 5,31 a 5,98 desclassificando para o

mercado europeu valores superiores. Foi realizado a estatística descritiva e análise de

correlação de Pearson entre os sinais de insensibilização, o resultado encontrado foi que

97% dos sinais de insensibilidade observado foi o reflexo de equilíbrio (RE) e que os

índices diários e médios de apresentação de insensibilidade apresentavam-se superior a

1% esperado nas auditorias de bem-estar. Dos animais elegíveis para produção européia

17% apresentaram pH superior a 5,9 o que acarretaria impacto econômico na produção e

possíveis problemas comerciais com a apresentação de carne DFD.

Palavras chave: atordoamento, abate, bem estar animal,qualidade da carne.

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Abstract

The object of this study was to evaluate the efficiency of the procedure stunning of cattle,

using an impact gun would not penetrate the frontal region of the head in the service Animal

Welfare standards recommended by the European Union and its reflection on the quality of

meat. The study was conducted in July and August 2010 in Rodopa Refrigerated Food

Industry and Trade Ltd., located in Santa Fe do Sul, São Paulo, under Federal Inspection

Service (SIF) and able to export to the Members of the European Union. In this period were

slaughtered 21,708 cattle, 18,054 of these animals were assessed for pH because they are

considered during the slaughter process eligible for the European Union. The criteria

adopted to verify the efficiency of the procedure were stunning: movements / eye reflexes,

vocalization (mooing) and equilibrium reflex (try to raise your head and position is upright),

measured and recorded individually. The animal identification was performed by sequential

number in ascending order, consists of three digits followed by the date of slaughter

represented in days, months and years, and stamped the anterior and posterior limb of the

left and right sides of the housing. The determination of the quality of carcasses was done

by measuring the pH precisely Longíssimos dorsi muscle between the 11th and 12th rib,

after the maturation period and considering the health of acceptable values from 5.31 to

5.98 derating for the European market higher values. We conducted descriptive statistics

and Pearson correlation analysis between the signs of desensitization, the result was that

97% of the signals was observed insensitivity of the equilibrium reflex (ER) and that rates

and average daily production of present-insensitivity if greater than 1% expected in audits of

well-being. Of animals elegible for European production 17% had a pH greater than 5,9

which would result in the production and economic impact of possible problems with the

commercial presentation of DFD meat.

Key words: stunning, slaughter, animal welfare, meat quality.

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Lista de ilustrações

Figura 1 Fraratura do crânio localizada na região frontal de bovinos ocasionada pela insensibilização por pistola de impacto sem penetração no frigorífico

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Figura 2a Local ideal do disparo (frontal) a aproximadamente 2 cm acima do cruzamento das linhas quando utilizado pistola de impacto sem penetração ...................................................................................................

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Figura 2b Posicionamento perpendicular ao cranio da pistola de impacto sem penetração ...................................................................................................

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Figura 3 Operação de sangria de bovinos insensibilizados na área de sangria do frigorífico ......................................................................................................

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Figura 4 Sinais de insensibilidade observado na calha de sangria do frigorífico: Olhar vidrado, mandíbula relaxada e língua exteriorizada, reta e flexível ...

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Figura 5 Modelo de pistola de embolo retrátil não penetrante utilizado na insensibilização de bovinos .........................................................................

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Figura 6 Foto do Box de contenção automático marca Lunasa utilizado no frigorífico ......................................................................................................

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Figura 7 Teste do reflexo ocular/palpebral (MO) realizado após a insensibilização, através do toque nas pálpebras e no globo ocular durante o monitoramento no frigorífico ........................................................................

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Figura 8 pH das meias carcaças mensuradas no músculo Longissimos dorsi após o período de maturação sanitária no frigorífico ......................................................................................................................

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Figura 9 Gráfico de pizza evidenciando a relação percentual entre os sinais de sensibilidade (MO, V e RE) apresentados nos 18.057 bovinos avaliados no frigorífico no período de Julho a Agosto de 2010 ...................................

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Figura 10 Histograma do pH das meias carcaças do lado direito de 18.057 bovinos abatidos no frigorífico no período de Julho a Agosto de 2010 ....................

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Figura 11 Histograma do pH das meias carcaças do lado esquerdo de 18.057 bovinos abatidos no frigorífico no período de Julho a Agosto de 2010 .......

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Distribuição de freqüência pH médio evidenciando a faixa limite de desclassificação e os índices de desclassificação (pH superior a 5,98) ..................................................................................................

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Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 1

1.1 Objetivos Gerais ................................................................................ 2

1.2 Objetivos Específicos ........................................................................

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2. REVISÃO BIBLIOGÁFICA ................................................................

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3. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................. 9

3.1 Local .................................................................................................. 9

3.2 Material .............................................................................................. 9

3.3 Métodos ... ........................................................................................ 10

3.3.1 Método de insensibilização ............................................................... 10

3.3.2 Procedimentos de monitoria .............................................................. 11

3.3.3 Mensuração de pH ............................................................................ 12

3.3.4 Análise de estatística ........................................................................

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4. RESULTADOS .................................................................................

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5. DISCUSSÃO .....................................................................................

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6. CONCLUSÕES .................................................................................

19

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................

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1. INTRODUÇÃO

A criação e produção de carnes são atividades importantes que incentivam o

crescimento de agroindústrias. No Brasil e em todo o mundo a indústria moderna da carne

opera dentro dos padrões que garantem animais livres de doenças, adequados ao consumo

humano, corretamente manejados e com métodos de abate rápido e eficiente para que os

animais não sofram dor.

O bem-estar dos animais nem sempre foi preocupação dos produtores e

consumidores, mas hoje, diante de algumas mudanças nos padrões de consumo, está

entre os principais fatores que influenciam na hora dos consumidores decidirem pela

compra do produto e esta pressão, primeiramente a Europa e recentemente de vários

países emergentes, está fazendo com que os modelos tradicionais de produção animal

sejam repensados.

Portanto o Programa de Bem-Estar na indústria da carne não é um benefício

opcional e sim uma exigência nacional e internacional.

Dentre os procedimentos que envolvem o abate de bovinos, a etapa de

insensibilização é a que mais exige atenção, pois requer, além de instalações e

equipamentos adequados, mão de obra bem treinada. Além de que a construção,

instalações e os equipamentos dos estabelecimentos de abate, bem como o seu

funcionamento devem poupar aos animais qualquer excitação, dor ou sofrimento (Brasil,

2000).

O sistema de contenção dos animais submetidos à insensibilização deve possibilitar

o ajuste do equipamento de contenção para cada situação, em função de variações de

peso e tamanho dos animais de uma mesma espécie (Brasil, 2000). A contenção deve ser

realizada em box individual que permita o posicionamento de forma que o disparo seja

realizado no local ideal, com precisão e durante o tempo estritamente necessário.

Atualmente alguns modelos de box de contenção possuem um apoio mecânico para a

cabeça conhecido como bandeja, este apoio melhora a precisão da insensibilização com

dardo cativo.

O equipamento utilizado para atender as exigências internacionais européias é a

pistola de impacto sem penetração, este equipamento é responsável pela concussão

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cerebral, ou seja, um distúrbio de curta duração que causa a perda de consciência, das

atividades normais e dos reflexos. O estado de inconsciência só é atingido quando do uso

correto deste equipamento disparado na região frontal do animal, imediatamente a sua

contenção.

O monitoramento objetiva avaliar que o estado de inconsciência perdure até a

conclusão da operação de sangria, e é realizado através da observação direta (visual,

auditivo e tato) de alguns reflexos pós insensibilização, tais como movimentos/reflexos

oculares, vocalização (mugido) e reflexo de equilíbrio (tentativa de levantar a cabeça e

posicionar-se de forma ereta). A apresentação de qualquer destes sinais de insensibilidade

indica a ineficiência do processo. É comum que o animal que apresente qualquer dos sinais

acima seja imediatamente re-atordoado.

O manejo pré–abate inadequado, em especial a contenção e insensibilização levam

a um esgotamento do glicogênio muscular e queda anormal do pH, neste sentido, o pH se

caracteriza como um importante indicador de eficiência de processo e atributos de

qualidade inclusive na aparência dos cortes. A resistência em proceder mudanças na forma

de criar e manejar animais são limitações que devem ser superadas para que a questão de

bem estar animal seja efetivamente implementada em programas de qualidade da carne.

1.1.Objetivos gerais O objetivo geral do estudo foi avaliar a eficiência do procedimento de insensibilização

de bovinos com pistola de impacto sem penetração e, seu reflexo na qualidade da carne.

1.2. Objetivos específicos

De maneira específica, pretendeu-se:

I. Avaliar a eficiência do procedimento de insensibilização por pistola de impacto sem

penetração em bovinos através dos níveis de insensibilidade (reflexos/movimentação

ocular, vocalização (mugido) e reflexo de equilíbrio (tentativa de levantar a cabeça)

apresentados de forma isolada ou conjunta;

II. Observar outros reflexos apresentados por ocasião do procedimento de insensibilização;

III. Correlacionar a eficiência do procedimento de insensibilização com o pH da carne como

indicador de qualidade da carne.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Em seus estudos, Parker et al. (2011) revela que tornar um animal inconsciente

através de um golpe na cabeça foi um dos primeiros métodos de insensibilização que

surgiu, contudo atualmente temos melhores equipamentos e mais conhecimentos para

assegurar que este princípio básico, possa ser aplicado de forma rápida e eficaz garantindo

que em 100% das vezes os bovinos fiquem insensíveis a dor.

Segundo Neves (2008), no Brasil o método de insensibilização de bovinos mais

utilizado é a pistola de impacto (com e sem penetração), porém também são utilizados

outros métodos como eletronarcose, marreta e o corte da medula ou choupeamento, sendo

estes dois últimos proibidos no Brasil, porém ainda muito utilizados em pequenos

abatedouros.

A finalidade da insensibilização é deixar os animais inconscientes, de modo que

possam ser cortados e sangrados sem causar dor ou aflição (Gregory, 1998). Esse estado

de inconsciência deve perdurar até o final da sangria, assim o principal objetivo da

insensibilização é diminuir o sofrimento dos animais na eminência da sua morte (Grandin,

1997; Velarde et al., 1998 e Velarde et al., 2003).

De acordo com Grandin (2009) tem havido um renovado interesse na utilização da

pistola de impacto sem penetração devido às preocupações em relação a Encefalopatia

Espongiforme Bovina (BSE), este modelo de equipamento impede a disseminação de

tecido nervoso, considerado material de risco, pelo organismo. Estudos apontam que a

utilização da pistola de impacto sem penetração reduziu consideravelmente a quantidade

de tecido cerebral ou medular espalhados para outras partes do corpo.

A autora justifica que a utilização da pistola de impacto sem penetração é mais

eficiente quando produz fratura no crânio (Figura 1), portanto a eficácia no atordoamento é

aumentada de acordo com o grau de fratura e é provável que a redução da disseminação

de material de risco é reduzida quando a fratura é minimizada, sendo portanto objetivos

opostos.

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Figura 1. Fratura do crânio localizada na região frontal de bovinos ocasionada pela insensibilização por

pistola de impacto sem penetração no frigorífico .

Observações recentes em uma planta frigorífica de bovinos, evidenciou que a pistola

de impacto sem penetração da Marca Jarvis é mais eficiênte na insensibilização do gado

tipo Zebu e, que touros são mais difíceis de insensibilizar em comparação a vacas ou bois.

Grandin (2009) relatou que a experiência prática em plantas frigoríficas indicam que a

insensibilização de touros tem sido um problema contínuo mostrado repetidamente em

auditorias de bem-estar animal.

Daly apud Neves (2008) relata que a efetividade da insensibilização também está

relacionada com a categoria do animal. Touros são mais difíceis de serem bem

insensibilizados do que as outras classes de bovinos devendo, portanto, evitar o uso de

pistolas sem penetração nestes animais. Lambooy apud Neves (2008), aponta em seus

estudos que a pistola de impacto sem penetração quando comparada com a pistola de

impacto com penetração, possui menor eficiência, e segundo o autor não deveria ser aceita

como método de insensibilização. Isto porque em seus estudos eles encontraram que

apenas 50% dos animais foram insensibilizados corretamente com esse método, esta

avaliação foi realizada tendo como base as avaliações de freqüência cardíaca, pressão

sangüínea, presença de respiração e presença de reflexos sensoriais a luz (reflexos

visuais) registrados por eletroencefalografia e eletrocorticografia.

O local ideal de disparo é no plano frontal da cabeça do animal, na interseção de

duas linhas imaginárias que vão da base do chifre do animal até o olho do lado oposto da

cabeça (Neves, 2008). No entanto, segundo Parker et AL. (2011), quando se utiliza um

dardo não penetrante a posição deverá ser aproximadamente 2 cm acima do cruzamento

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das linhas, conforme ilustrado na figura 2a e, a pistola deve ser posicionada corretamente

perpendicular ao crânio, com a ponta direcionada para o centro do cérebro (Figura 2b).

.

De acordo com a Instrução Normativa no 3 de 2000, a operação de sangria (Figura 3)

deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal, de modo a provocar um rápido,

profuso e mais completo possível escoamento do sangue, antes que o animal recupere a

sensibilidade. Esta operação deve ser realizada através da seção dos grandes vasos do

pescoço, no máximo 1 minuto após a insensibilização (Brasil, 2000).

Figura 3. Operação de sangria de bovinos insensibilizados na área de sangria do frigorífico.

Figura 2a. Local ideal do disparo (frontal) a aproximadamente 2 cm acima do cruzamento das linhas quando utilizado pistola de impacto sem penetração. Fonte: Parker et al. (2011).

Figura 2b. Posicionamento perpendicular ao cranio da pistola de impacto sem penetração. Fonte: Parker et al. (2011).

Figura 2a

Figura 2b

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Alguns regulamentos europeus exigem que os animais sejam sangrados no prazo de

45 a 60 segundos após insensibilização e quando o primeiro tiro não tornar o animal

completamente insensível e houver a necessidade de um tiro pela segunda vez, a

cronometragem deverá acontecer após o segundo tiro (Grandin,2009).

Parker et al. (2011) recomendam que na insensibilização de bovinos utilizando a

pistola de impacto sem penetração, o tempo máximo entre a operação de insensibilização e

sangria deverá ser de 30 segundos.

Na insensibilização por pistola de impacto, tanto nas pistolas com e sem penetração,

as principais causas de insucesso na insensibilização estão relacionados à falta de

manutenção dos equipamentos, cansaço dos funcionários e falhas de desenho ergonômico

dos equipamentos que, em geral, são muito pesados e volumosos e não possuem os

contrapesos adequados. O cansaço dos funcionários, acrescido do mau desenho dos

equipamentos contribuem para que o atordoador erre o local recomendado para o disparo

na cabeça do animal (Grandin, 1997).

Grandin (2004) afirma que o cansaço do operador é a terceira causa responsável por

falhas na insensibilização e que, em algumas plantas de grande porte, a prevenção do

problema de sobrecarga e fadiga pode exigir o emprego de dois operadores com

revesamento freqüente entre eles.

Grandin (2009) comenta que o ideal seria ter 99 a 100% dos animais insensibilizados

no primeiro disparo, com tolerância máxima de 5% para mais de um disparo. Níveis abaixo

de 95% de eficiência no primeiro disparo são considerados pela autora como inaceitável,

resultando em falhas graves nas avaliações de auditorias de bem-estar animal.

A Instrução Normativa nº 3, exige que o estabelecimento realize, no mínimo uma vez

ao dia, o monitoramento do processo de insensibilização e sangria (Brasil, 2000). Parker et

al.(2011) participa da mesma opinião afirmando que, quando os animais são

insensibilizados é essencial que haja monitoramento da insensibilização até a sangria.

A mensuração do estado de inconsciência de um animal gera muita polêmica entre os

autores, Grandin apud Neves (2008), relatou que um animal bem insensibilizado apresenta

logo após o disparo um colapso, caindo no chão; em seguida entra na fase tônica da

convulsão cerebral, havendo a flexão e enrijecimento dos membros que dura em média 10

a 15 segundos após a insensibilização e logo depois entra na fase clônica, onde começa os

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movimentos com as patas (“pedaladas”). Parker et al.(2011) relata que se o animal for

insensibilizado corretamente ele demonstrará sinais característicos, como colapso imediato,

membros anteriores estendidos e retos, perda de respiração rítmica, olhos abertos, fixos e

vidrados e, podem haver chutes involuntários que cessam gradualmente. Os membros

traseiros podem apresentar movimentos de chute mas, a cabeça e o pescoço devem

apresentar-se solta e flexível. Um espasmo normal, que perdure por no máximo 20

segundos, pode causar alguma flexão do pescoço e da cabeça (Grandin, 2010).

O reflexo dos olhos deve ser verificado para assegurar que a insensibilização tornou o

bovino inconsciente. Quando a pálpebra ou a córnea é tocada não deve haver nenhuma

resposta (Grandin, 2009). Quando a pistola de impacto sem penetração é utilizada, os olhos

devem permanecer abertos com um olhar vazio, não deve haver movimentos dos olhos e a

insensibilidade pode ser questionável se os olhos apresentarem nistagmo (Grandin, 2010);

Gregory apud Neves, descreve que após içar o animal, na calha de sangria, deve-se

observar a protusão da língua, que indica que o masseter, músculo da mandíbula, está

relaxado, a ausência de respiração rítmica, a ausência dos reflexos oculares palpebrais e

corneais, bem como a ausência de reflexos de dores, que são testados principalmente na

narina e na língua.

A língua deve estar exteriorizada, de forma retilínea e flexível (Figura 4). De acordo

com Grandin (2010), quando a língua apresenta movimentos representa um sinal de

sensibilidade parcial.

Figura 4. Sinais de insensibilidade observado na calha de sangria do frigorífico : Olhar vidrado,

mandíbula relaxada e língua exteriorizada, reta e flexível.

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Após a insensibilização o animal é içado, a região dorso lombar deve permanecer reta

e não deve apresentar o reflexo de endireitamento. Quando um animal sensível é

parcialmente suspenso no trilho ele tentará levantar a cabeça (Grandin, 2010), em nenhum

momento, durante ou após o atordoamento do animal ele pode vocalizar. Parker et al.

(2011) resume os sinais que indicam que a insensibilização não foi eficaz: rotação do globo

ocular, vocalização, respiração ritmica e qualquer tentativa de levantar-se ou endireitar-se

no momento de içar. Segundo Grandin (2000), a vocalização é um sinal de que o animal

está sensível a dor.

Bartels apud Neves (2008) informa que o método de insensibilização interfere na

eficiência da sangria. Pardi et al (1995), descreve que existem indicações de que a sangria

mais completa deve ser precedida de um bom método de insensibilização.

A queda do pH após a morte, causada pelo acúmulo de acido lático, constitui um dos

fatores mais marcantes na transformação do músculo em carne, com decisiva importância

na futura qualidade da carne e dos produtos preparados a base dela. A glicólise termina em

condições naturais, quando o pH alcança o ponto isoelétrico da miosina, ou seja, em torna

de 5,5 (Pardi et al, 1993), a carne bovina de boa qualidade tem um valor de pH final

próximo a 5,5 (Grandin, 2008).

A queda do pH, porém não é uniforme em relação a animais da mesma espécie,

podendo cair em alguns rapidamente, para um valor de 5,4 e 5,5 na primeira hora após a

sangria, até atingir um pH final entre 5,3 e 5,6 (Pardi et al, 1993). A Circular

nº096/2004/DCI/DIPOA que trata do pH de carcaças inadequadas para a exportação para

União Européia declara que as carcaças com valores maiores que 5,9 não devem ser

aproveitadas para obtenção de cortes in natura para exportação a este mercado.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local

O experimento foi conduzido em Frigorífico localizado no município de Santa Fé do

Sul, Estado de São Paulo, devidamente registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento e, habilitado à exportação aos países membros da Comunidade Européia.

As coletas de dados foram realizadas diariamente através de observação direta

(visual, tato e auditivo), de 21.708 animais insensibilizados por pistola de impacto sem

penetração, abatidos durante os meses de Julho e Agosto de 2010.

Somente as carcaças bovinas elegíveis durante o abate para exportação para União

Européia, foram submetidas a maturação sanitária e avaliação do pH, totalizando 18.057

carcaças, independente do sexo, raça e categoria animal.

3.2 Material

Foram utilizadas, no procedimento de insensibilização, duas pistolas de impacto sem

penetração da marca Jarvis, Modelo USSS-2 (Figura 5), box de contenção automático de

bovinos da marca Lunasa (Figura 6) operado pelo mesmo colaborador da empresa, durante

os dois meses de coleta de dados.

A etapa de monitoramento dos reflexos de insensibilidade foi realizada por 2

colaboradores da empresa sendo, um responsável pela avaliação no animal na praia de

vômito pós insensibilização e, o outro pelos apontamentos em planilha específica (anexo 1).

Na mensuração de pH foram utilizados 2 peagâmetros da marca Jhonnis, calibrados

anualmente por empresa credenciada pelo INMETRO e, aferidos com solução tampão pH 4

e pH 7 diariamente a cada 100 meias carcaças no mínimo e/ou quando encontrado valores

de pH com diferenças acima de 0,2.

A mensuração do pH nas meias carcaças foi realizada por 2 auxiliares do Controle

de Qualidade devidamente treinados, que revesavam-se entre as operações de

mensuração do pH e anotação dos valores encontrados em cada meia carcaça (banda) que

foram registrados em planilha específica (anexo 2).

2 9

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Figura 5. Modelo de pistola de embolo retrátil não penetrante utilizado na insensibilização de bovinos.

Fonte: http://www.jarvis.com.br/bovinos/usss2.htm

3.3 Métodos 3.3.1 Método de Insensibilização

O método de insensibilização utilizado foi o mecânico percussivo não penetrativo

(Brasil, 2000), este processo só é permitido quando utilizada a pistola que provoca um

golpe no crânio.

Os bovinos foram direcionados para o box de contenção somente quando o

colaborador responsável estivesse preparado para proceder o disparo. Imediato a entrada

do animal no box de contenção, era acionado o dispositivo automático de contenção do

tronco (Figura 6) e da cabeça (bandeja).

Figura 6. Foto do Box de contenção automático marca Lunasa utilizado no frigorífico. A seta indica o

dispositivo de imobilização do tronco.

2 10

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A pistola de impacto foi posicionada de forma perpendicular ao crânio, na região

frontal, de forma a atingir no córtex cerebral causando a paralisação imediata dos reflexos

do animal.

3.3.2 Procedimentos de Monitoria

O monitoramento foi realizado por dois colaboradores, um localizado na Praia de

Vômito, responsável em testar o reflexo palpebral e observar a presença de movimento

ocular. Este teste foi realizado através do toque com o dedo indicador, no canto interno do

globo ocular (Figura 7) e na pálpebra.

Figura 7. Teste do reflexo ocular/palpebral (MO) realizado após a insensibilização, através do toque

nas pálpebras e no globo ocular durante o monitoramento no frigorífico.

O segundo colaborador, localizado anterior a calha de sangria, realizava a

verificação visual de movimentos voluntários (tentativa de levantar a cabeça/reflexo de

equilíbrio) e a verificação sonora de vocalização (mugido).

A presença dos sinais de sensibilidade foram registradas em planilha, de acordo com

o seqüencial numérico de abate correspondente a cada animal.

A avaliação foi realizada diariamente, sempre pelos mesmos colaboradores em todos

os animais abatidos, independente do sexo, raça e categoria animal.

O experimento ocorreu durante os meses de Julho e Agosto/2010, totalizando 21.709

bovinos.

2 11

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Os animais após a esfola foram identificados através de seqüencial numérico em

ordem crescente, composto por 3 dígitos seguido da data de abate representada em dia,

mês e ano, carimbados no membro posterior e anterior dos lados esquerdo e direito da

carcaça.

3.3.3 Mensuração do pH

A mensuração do pH foi realizada após o período de maturação sanitária (temperatura

superior a 2ºC por 24 horas no mínimo), utilizando peagâmetro portátil da marca Jhonnis,

introduzindo o eletrôdo entre a 11º e 12º costela, precisamente no músculo Longíssimos

dorsi (Figura 8), inicialmente na banda esquerda e posteriormente na banda direita da

carcaça.

Figura 8. pH das meias carcaças mensuradas no músculo Longissimos dorsi após o período de

maturação sanitária no frigorífico.

Os apontamentos foram registrados em planilha, nos seqüenciais correspondentes de

acordo com a data de abate, considerando os valores aceitáveis entre 5,31 a 5,98 e,

desclassificando para o mercado europeu valores superiores.

Todas as carcaças inadequadas para a exportação à União Européia foram marcadas

com carimbo oval com linhas cruzadas conforme preconizado na Circular nº 224/2001 do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

2 12

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3.3.4 Análise de estatística

Os dados observacionais coletados durante o abate de bovino nos meses de julho e

agosto de 2010 foram tabelados e plotados de acordo com os preceitos de análise

descritiva de dados.

Os sinais de sensibilidade e o pH direito, esquerdo e médio foram confrontados em

uma análise de correlação de Pearson (p<0,05).

O Software utilizado Statistica versão 7.0 Copyright StatSoft. Inc. 1984-2004.

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4. RESULTADOS

Para atender critérios de auditorias em bem-estar animal, conforme preconizado por

Grandin (1999), o ideal que 99% a 100% dos animais fossem insensibilizados no primeiro

disparo. Na perspectiva dos limites propostos pela autora, os resultados obtidos na

insensibilização, utilizando pistola de impacto não penetrativa, demonstram que, do total de

animais elegíveis para exportação, 0,03% apresentaram movimento ocular (MO); 0,04%

vocalizaram (V) e 2,6% presença de reflexo de equilíbrio (RE), havendo assim a

necessidade de nova insensibilização, evidenciando a ineficiência do procedimento.

A Figura 9 demonstra o percentual entre os sinais de sensibilidade (MO, V e RE)

observados nos bovinos.

Figura 9. Gráfico de pizza evidenciando a relação percentual entre os sinais de sensibilidade (MO, V e

RE) apresentados nos 18.057 bovinos avaliados no frigorífico no período de Julho a Agosto de 2010.

Partindo dos dados apresentados pela Tabela 1, relacionando o pH médio destes

animais e, desclassificando as meias carcaças com valores de pH superior ao pH 5,98,

tivemos 3,82% dos animais elegíveis, destinados a outros mercados que não possuem tais

exigências.

Embora não tenha sido encontrado na literatura dados disponíveis relacionados a

esse tema, este índice representa uma perda econômica significativa para a indústria uma

vez que, os animais destinados a produção na Europa possuem um valor diferenciado e

2% 1%

97%

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neste caso, a produção a partir de meias carcaças desclassificadas são destinadas a

mercados menos atrativos financeiramente.

A mesma Tabela 1 apresenta um percentual bastante significativo de meias carcaças

com valores próximos a desclassificação (16,4%), o que traria problemas comerciais, pois

grande parte dos cortes são comercializados na forma resfriada com temperatura de

conservação entre -2ºC a +2ºC e, este pH reduz consideravelmente a vida-de-prateleira

destes cortes cárneos.

Tabela 1: Distribuição de freqüência pH médio evidenciando a faixa limite de desclassificação e os índices de desclassificação (pH superior a 5,98).

Intervalo de Classes

pH Freqüência Freqüência

Relativa Freqüência Acumulada

Freqüência Acumulada Relativa

5,31 ┞─ 5,41 209 1,16% 209 1,16% 5,41 ┞─ 5,51 1210 6,70% 4464 7,86% 5,51 ┞─ 5,61 3045 16,86% 5660 24,72% 5,61 ┞─ 5,71 5074 28,10% 9538 52,82% 5,71 ┞─ 5,81 4868 26,96 14406 79,78% 5,81 ┞─ 5,91 2962 16,40% 17368 96,18% 5,91 ┞─ 6,01 597 3,31% 17965 99,49% 6,01 ┞─ 6,11 47 0,26% 18012 99,75% 6,11 ┞─ 6,21 35 0,19% 18047 99,94%

6,21 ┞─┤ 6,31 10 0,06% 18057 100,00% Total 18057

A Figura 10 demonstra os valores de pH obtidos no lado direito, resultando em 2.186

meias carcaças desclassificadas (12,1%), ressaltando que 3.450 meias carcaças

encontravam-se no limite de desclassificação.

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Figura 10. Histograma do pH das meias carcaças do lado direito de 18.057 bovinos abatidos no frigorífico no

período de Julho a Agosto de 2010.

Os valores de pH obtidos no lado esquerdo (Figura 11) apontam um volume maior de

desclassificação (2.359 meias carcaças) e de meias carcaças com limites próximos (3.515

meias carcaças), bem como a apresentação de valores extremos de pH (6,5 a 6,81).

Figura 11. Histograma do pH das meias carcaças do lado esquerdo de 18.057 bovinos abatidos no

frigorífico no período de Julho a Agosto de 2010.

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5. DISCUSSÃO

O procedimento de insensibilização através da utilização de pistola de impacto sem

penetração para atender os critérios de auditorias em bem-estar animal preconizado por

Grandin (1999), bem como os requisitos previstos no Regulamento (CEE) 1099/2009 do

Food and Veterinary Office (FVO) da União Européia, deverá ser cuidadosamente

reavaliado.

Embora as legislações européias que tratam do tema ainda não preconizem índices

toleráveis de reinsensibilização, denota que “em relação a insensibilização existe uma

preocupação mais robusta devido a eventuais deficiências propiciarem o sofrimento dos

animais” (Circular nº550/2011/CGPE/DIPOA). A mesma legislação descreve a necessidade

dos estabelecimentos assegurarem verificações regulares da execução plena deste

procedimento, de forma a avaliar que os animais não apresentem sinais de consciência ou

sensibilidade no período compreendido entre o final do processo de insensibilização e a

morte.

A cobrança pelos mercados mais exigentes de medidas brasileiras taxativas em

favor ao bem-estar animal com certeza trará melhorias nos resultados aqui descritos, tais

como uma preocupação com o desenvolvimentos de equipamentos utilizados para a

contenção e insensibilização mais eficientes no contexto específico e a necessidade do

estabelecimento possuir pessoal qualificado na execução das práticas relacionadas ao

bem-estar animal (Circular nº550/2011/CGPE/DIPOA).

Neves (2008) recomenda que a pistola de impacto sem penetração possua um

compressor de ar exclusivo para alimentá-la, melhorando assim a eficiência e diminuindo,

por conseqüência, o número de disparos dado por animal. Essas pistolas são fabricadas

para que quando o animal receba o disparo e não seja capaz de perceber a dor. Quando o

animal recebe um disparo, que não é eficaz, ele sente dor e entra em estado de alerta e

angústia, deteriorando muito o seu bem-estar.

Gradin (2009) descreve que a manutenção ruim dos dispositivos de insensibilização

é uma das principais causas da má insensibilização. A Circular nº550/2011/CGPE/DIPOA

prevê que os equipamentos utilizados nas atividades de contenção e insensibilização

devem ser checados quanto ao seu funcionamento antes do início das atividades e os

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instrumentos responsáveis pela mensuração dos parâmetros devem ser calibrados

conforme especificação do fabricante.

Em relação ao índice obtido de meias carcaças desclassificações e com valores

próximos à desclassificação, cabe ressaltar os comentários de Neves (2008), onde

diversos fatores podem influenciar o pH 24 horas das carcaças, como manejo das carcaças

dentro do frigorífico, tempo de transporte e espera no frigorífico, manejo pré abate e

características individuais dos bovinos.

Neves (2008) descreve que o pH após 24 horas é afetado principalmente por

estresse crônico nos bovinos, dessa forma o tipo de abate ou insensibilização utilizado

aumentaria a chance de ocorrer uma carne DFD, devido a soma na participação dos

eventos estressantes.

Valores extremos de pH conforme constatados no esquerdo lado (6,5 a 6.81) é

relatado por Parker et al.(2011), quando o bovino é submetido a longo período de stress e o

pH final não diminui significamente permanecendo elevado após 24 horas.

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6. CONCLUSÕES

O procedimento de insensibilização por pistola de impacto não penetrativa em

bovinos não atende os índices de exigência dos mercados internacionais;

Apresenta reflexos nos membros dianteiros (espasmos musculares) que perduram

por períodos inferiores a 15 segundos;

São necessários instalações e equipamentos adequadas bem como operador

treinado;

Não foi possível avaliar com precisão se o sexo, a raça e a categoria animal

influencia na eficiência do procedimento, pela dificuldade de correlacionar estes itens,

merecendo um estudo especifico;

Não houve alterações significativas no pH das meias carcaças(desclassificações).

Com este estudo, também, percebe-se o despertar para as práticas de bem-estar

animal, ou seja, as preocupações com o mau manejo dos animais estão ganhando adeptos

e não mais sendo vistas apenas como exigências de comercialização.

O aperfeiçoamento das práticas de manejo pré abate proporciona um produto final

diferenciado, uma carne bovina de qualidade, com atributos que atualmente são valorizados

pelos principais mercados internacionais, como a União Européia.

Porém, em relação à técnica existe uma carência no aspecto de como monitorar se o

animal está realmente inconsciente, as pessoas que trabalham com os equipamentos não

sabem como fazer corretamente este monitoramento.

Em relação ao equipamento existe uma falta de suporte dos fabricantes, haja vista

que também os fornecedores dos equipamentos não possuem representantes

suficientemente preparados para capacitar os operadores na fábrica, além dos

equipamentos não serem tão eficientes no primeiro disparo.

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