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Eixo Temático: 1 - POLÍTICAS DE FORMAÇÃO PARA A DOCÊNCIA NOS
DIVERSOS NÍVEIS
SUMÁRIO
A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .......... 13
ATUAÇÃO DO PROFESSOR FORMADOR NO PROJETO SALA DO EDUCADOR DA ESCOLA ESTADUAL MARINES FÁTIMA DE SÁ TEIXEIRA DE ALTA FLORESTA - MT ....................................................................................................... 29
CONTRIBUIÇÕES DOS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: Uma Experiência do Cefapro De Alta Floresta ......................................................................................................... 45
DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: Um Estudo de Caso Sobre o Significado do Trabalho .................................................................................................................... 58
ENTRE O PENSADO E O CONSTRUÍDO: Um Estudo Sobre a Complexidade da Formação Docente no Ensino Superior ................................................................... 79
EXTENSÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNEMAT JUARA .............................. 94
O CONTATO DO LICENCIANDO COM A ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DOCENTE ............................... 107
OS SABERES DOCENTES E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE .............................................................................................................. 130
PROJETO SALA DE EDUCADOR: RESSIGNIFICANDO O PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM ESCOLAR .................................................................................. 142
13
A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Jaciara de Oliveira Sant´Anna Santos¹
Marcolino Sampaio dos Santos²
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar a formação docente na Educação de Jovens e Adultos
nas escolas municipais e estaduais do município de Brumado-BA, objetivando identificar:
Quem é este (a) educador (a) que trabalha com a EJA e como se dá a sua formação nos dias
atuais? A formação docente é importante para o processo de ensino e aprendizagem da EJA
a fim de oferecer subsídios que possam contribuir na investigação da prática pedagógica do
educador. Vale salientar que a metodologia da pesquisa constitui no tipo bibliográfico, optando
também por uma abordagem qualitativa e quantitativa. Foram confeccionadas tabelas,
gráficos, questionários, visando fornecer subsídios para melhor compreensão da temática em
foco. Para obtenção de informações, realizou-se a princípio uma pesquisa bibliográfica,
buscando a leitura de alguns teóricos tais como: Paulo Freire, Telma Ferraz, Moacir Gadotti,
José Romão, Eliane Albuquerque e Artur Gomes. A pesquisa identifica que a falta de formação
docente é um dos fatores determinantes na perda da motivação dos educandos nas escolas
do município de Brumado. Desta forma, faz-se necessário uma maior intervenção do Poder
Público juntamente com a Secretaria de Educação, para que possam proporcionar aos
educadores cursos de formação e acompanhamento das turmas, de forma a propiciar uma
melhor qualidade de vida aos educandos que frequentam as classes de EJA do município de
Brumado-BA.
Palavras-chave: Formação de Professores. Prática Docente. Educação Jovens e
Adultos.
____________________________
1. Mestranda em Docência Universitária pela Universidade Tecnológica Nacional Buenos Aires – Argentina, Professora efetiva do Campus XX, Brumado, pela Universidade do Estado da Bahia – Brasil. [email protected].
14
2. Mestre em Teologia e Educação, Coordenador Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Caetanos. Professor convidado do curso de Pedagogia de Aracatu, da Plataforma Freire da Universidade do Estado da Bahia – Brasil. [email protected] 1. INTRODUÇÃO
A formação docente da Educação de Jovens e Adultos é uma questão imprescindível,
devido a estes profissionais dedicarem seu tempo ao trabalho com cidadãos repletos de
sonhos e metas que por alguns motivos não puderam na época devida concluírem os seus
estudos.
Os primeiros programas que surgiram para atender os jovens e adultos não davam
muita importância para o profissional que lecionava nas classes de EJA, pois qualquer
cidadão que sabia ler e escrever poderia assim ensinar. Na sociedade moderna, percebe-se
uma mudança, devido às exigências impostas no mercado de trabalho, o qual busca um
educador que tenha aptidão e conhecimentos teóricos para trabalhar com educandos jovens
e adultos.
Devido à relevância do assunto faz-se necessário um estudo da temática em foco,
uma vez que o papel do docente é de suma importância para o processo de ensino e de
aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos. Esse trabalho visa fazer o estudo da
formação docente da Educação de Jovens e Adultos nas escolas municipais e estaduais do
município de Brumado-BA.
É de suma importância o estudo da questão: Quem é este (a) educador (a) que
trabalha com a Educação de Jovens e Adultos e como se dá a sua formação nos dias atuais?
A Lei de Diretrizes e Base da Educação, 9394/96 no artigo 37 do primeiro parágrafo relata:
Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames.
Observando as dificuldades do município em estabelecer uma política pública para a
educação de jovens e Adultos esse trabalho será de grande relevância social para toda a
população brumadense, autoridades e órgãos em geral, uma vez que servirá de subsídio para
conhecimento das condições atuais da formação docente da Educação de Jovens e Adultos
no município.
Partindo desse pressuposto, far-se-á um estudo das consequências da formação do
docente de EJA na vida dos educandos, uma vez que a permanência, incentivo e o
15
desempenho dos alunos dependerão do perfil do profissional que trabalhará com estes alunos.
Assim o estudo em questão atuará como referência básica para professores, acadêmicos e
pesquisadores que poderão coletar informações, dados e aprofundar-se sobre o assunto. O
objetivo da pesquisa é analisar como se dá a formação dos docentes da Educação de Jovens
e Adultos e quais seriam os saberes necessários para o (a) educador (a) de jovens e adultos.
A hipótese provável é que além da formação docente, um dos fatores determinantes na prática
pedagógica é a escassez de material didático destinado a esse público e a desmotivação dos
educandos. A metodologia é de suma importância no desenvolvimento da pesquisa científica,
ela trata das formas, dos procedimentos, das ferramentas que constitui a sua prática. Através
desta, foi possível analisar a formação docente da Educação de Jovens e Adultos no município
de Brumado, de forma a obter dados, interpretar, comparar, entre outros. Para a obtenção de
dados, foram utilizados levantamentos bibliográficos em gabinete, além de aplicação de
questionários aos professores que atuam na área, bem como confecção de tabelas e gráficos,
visando fornecer subsídios para melhor compreensão da temática em foco. Para obter
informações bibliográficas foram utilizadas a biblioteca do Campus XX, da UNEB (Universidade
do Estado da Bahia) e a coleta de dados e informações por meio de livros, teses e revistas. Foi
empregada neste trabalho, a abordagem qualitativa e quantitativa, uma vez que foram
aplicados testes e entrevistas contendo questões que facilitaram a compreensão do estudo.
Nessa pesquisa foram utilizadas as bibliografias de alguns autores como Paulo Freire
(1998), Barcelos (2006), Gadotti (2005), Telma Ferraz (2004). A revisão da literatura consta
do histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, a formação docente da EJA e
posteriormente, aborda a prática pedagógica da EJA no município de Brumado Bahia.
2. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Antes de tratar sobre Educação de Jovens e Adultos, é necessário fazer uma viagem
no tempo, discorrendo sobre a política educacional no Brasil, desde o Período Colonial,
retratando assim, o grande contingente de pessoas excluídas do processo educacional.
Apesar da denominação de uma Educação para Jovens e Adultos ser moderna, a
preocupação com os adultos não escolarizados vem de longa data, desde o início da
colonização portuguesa no Brasil, quando os índios, os primeiros habitantes até então, eram
doutrinados para uma educação restrita a convenção da fé católica pela catequese e pela
instrução do que para outros conhecimentos.
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Os primeiros indícios da educação de jovens e Adultos no Brasil são perceptíveis
durante o processo de colonização, após a chegada dos padres Jesuítas, em 1532. Estes se
voltaram para a catequização e “instrução” de adultos e adolescentes tanto de nativos quanto
de colonizadores, diferenciando apenas os objetivos para cada grupo social. Pode-se afirmar
que a Educação de Jovens e Adultos começou oficialmente quando se estruturou o sistema
público de ensino.
As primeiras iniciativas voltadas para a educação básica de jovens e adultos no Brasil
manifestaram-se por volta do séc. XVI , quando os primeiros padres jesuítas aportaram na
terra recém-descoberta sob a ordenação do rei de Portugal , com a ordem de instruir os índios
habitantes nativos dessa terra, ensinando-lhe os dogmas religiosos da igreja católica, uma
que os portugueses almejavam educar os povos indígenas com o fim de torná-los dóceis e
submissos.
A alfabetização, submissão que fragmenta a língua é o real, é o ponto
de partida para seletividade do sistema educacional cujas raízes estão
na seletividade econômica e social da sociedade brasileira na qual
uma pequena minoria, detendo a propriedade privada dos meios de
produção, explora e exclui uma maioria que possui apenas a força do
trabalho (MELLO, 1997, p.71-72).
Nessa perspectiva o movimento educativo organizado pelos missionários prolongou-
se durante todo o processo de povoamento das terras brasileiras no período colonial.
Já em meados do séc. XIX, sobretudo em 1824, apareceram as primeiras
preocupações voltadas ao desenvolvimento da educação elementar e gratuita que seria
oferecida a todos os cidadãos, porém seus resultados positivos foram mínimos, pois naquela
época prevalecia uma concepção marxista que concedia os direitos sociais somente aos
homens e a classe elitista, agravando ainda mais a questão da exclusão social, uma vez que,
negros, índios e mulheres permaneceram à margem do direito a ingressar em uma instituição
escolar, ou seja, a eles não era concedido o direito da educação.
Anteriormente, a solicitação social da alfabetização se dirigia apenas
a grupo social extremamente restrito, (em princípio os letrados, os
escribas, os sacerdotes, mais tarde toda a aristocracia), pois bastava
que esses poucos indivíduos soubessem ler e escrever, para haver
transmissão do escasso saber existente (Idade Média) e para o
desempenho das funções administrativas exigidas pela organização
relativamente elementar dessa sociedade. Por isso, verifica-se o caso
de que tanto muitos reis como os camponeses eram analfabetos.
(PINTO, 1997, p.103).
17
Embora livre de suas obrigações com a educação básica, a primeira república marca
o aparecimento de grandes reformas educacionais que de certo modo demonstravam
preocupações com o estado precário do ensino básico no Brasil.
Na década de trinta, no século XX intermediado por reivindicações que buscavam
estender o ensino público para todos os cidadãos independentemente da classe social ou
idade, nesse momento dentro do processo histórico da educação, houve manifestações
sistemáticas direcionadas à Educação de Jovens e Adultos contraditoriamente ao federalismo
e a revolução de 1930, a constituição de 1934 determina outra reformulação dos aspectos
educacionais, visto que no seu artigo 150 declarou pela primeira vez em escala nacional uma
educação democrática, devendo ser administrada pelas instituições familiares e pelos
governantes.
Além das manifestações que visam promover a educação gratuita para todos os
cidadãos, outros fatores como: a situação política e econômica do país contribuiu para a
inserção da EJA na Constituição Federal de 1934. No aspecto econômico pelo fato do Brasil
se encontrar em ascensão industrial que não caberia à mão-de-obra analfabeta, politicamente
não era dado ao analfabeto o direito de votar. Conforme, Melo (1997, p.44) “É importante se
ter clara a relação alfabetização/industrialização/urbanização porque todas as políticas
públicas de alfabetização só avançaram quando associadas ao desenvolvimento urbano e
industrial”.
2.1. Uma perspectiva acerca da EJA
No início dos anos 40 e 50 do séc. XX a EJA ganhou destaque no âmbito do ensino
público com a implantação de campanhas como: a Campanha de Educação de Adolescentes
e Adultos-CEAA (1947-1967), a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo-CNEA
(1958) e a Campanha Nacional de Educação Rural-CNER (1952-1963) todas essas
campanhas tinham o objetivo de atender os analfabetos brasileiros.
A primeira campanha CEEA foi idealizada por Lourenço Filho, tinha como objetivo
primordial a utilização de 25% dos recursos destinados pelo Fundo Nacional do Ensino
Primário (FNEP) na educação de adultos. A campanha de educação de adolescentes e
adultos embasava-se no lema “Ainda por amor às crianças, é que deveríamos educar
adolescentes e adultos”, pois educando os adolescentes e os adultos provavelmente o nível
de vida das crianças melhorará, uma vez que elas necessitam de exemplos para seguir.
18
De acordo com Pinto (1997, p.81) “A educação do adulto não pode ser conseguida
separada da educação da criança, porque o adulto não desejará ser alfabetizado se não
considerar necessário saber ao menos tanto quanto seus filhos”. Na mesma perspectiva a
segunda campanha CNER (1952-1963) que tinha como principal objetivo investir no
desenvolvimento intelectual dos camponeses, uma vez que a grande maioria dos analfabetos
existentes no Brasil se concentra na zona rural. Já a terceira campanha implementada nesse
terceiro período a Campanha Nacional da Erradicação no Analfabetismo CNEA (1958) cuja
proposta era erradicar o analfabetismo no Brasil, dessa forma ampliar o nível de conhecimento
da clientela atendida.
No final da década de 50, no ano de1958 foi celebrado em prol da Educação de Jovens
e Adultos o segundo Congresso Nacional de Jovens e Adultos o qual contou com o maior
educador de todos os tempos Paulo Freire.
Surgiram desse congresso as propostas de programas permanentes com o intuito de
enfrentar o problema da Alfabetização de Adultos que previa a implantação de programas de
alfabetização por todo o Brasil sob a coordenação do próprio Paulo Freire, iniciativa que
resultou em alfabetização de 300 trabalhadores em 45 dias causando um impacto
impressionante na opinião pública.
Visto que as primeiras campanhas instituídas com o intento de erradicar o
analfabetismo no Brasil apresentavam resultados um tanto moderado, as mesmas tiveram
curto tempo de duração pela Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional – LDB.
As palavras com que organizar o programa de alfabetização deviam
vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua
real linguagem, os seus anseios, as suas inquietações, as suas
reivindicações, os seus sonhos. Deviam “vir carregadas de
significação de sua experiência existencial e não da experiência do
educador” (FREIRE, 2006, p.20).
Sucessivamente aos movimentos sociais anteriores surgem novas iniciativas
comprometidas com a questão de extinguir o analfabetismo e desenvolver ações educativas
ligadas à arte e a cultura popular. Emergindo assim os centros populares de cultura, o
movimento de cultura popular e o movimento de educação de base que visavam em primeira
instanciam a disseminação da fé cristã, embora tivesse importante contribuição na ação da
diminuição do analfabetismo. Todavia o regime militar não reconhece essas iniciativas como
uma boa influência para erradicar o analfabetismo no Brasil. Todos os programas citados
anteriormente eram vistos como uma ameaça a essa forma de governo, pois podiam
desestabilizar o regime militar, uma vez que tais programas educativos dariam a população
19
argumentos para se posicionar criticamente frente aos problemas de origem social, política e
econômica. Diante dos impactos que esses programas educativos poderiam causar ao
governo, movimentos sociais como o MPC E CPC sofreram censura até serem extintos,
prevalecendo apenas o MEB por apresentar vínculo com a igreja católica.
Com a extinção de todas as campanhas sociais implementadas ao longo da década
de 40 até meados dos anos 60. As iniciativas no âmbito da educação de jovens e adultos
ficam sob o comando do governo militar, que por sua vez passou a se preocupar com o
problema do analfabetismo e implantou o Movimento Brasileiro de Alfabetização MOBRAL,
programa este que apresentava em seus procedimentos e materiais educativos vestígios dos
anos 60, porém sua ação educativa distanciava de todo sentido crítico e problematizador. Do
ponto de vista educativo o MOBRAL é concebido como uma modalidade de educação que
tinha como objetivo alienar a população analfabeta.
Então, o fim do Regime Militar e o surgimento da Nova República marcam um novo
rumo na história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Embasada na democracia
popular em favor da cidadania a nova república extingue o MOBRAL e cria a Fundação
Educar, órgão destinado a dirigir as ações educativas com o apoio técnico e financeiro do
governo federal, no entanto essa entidade educacional foi extinta em 1990, no início do
mandato do Presidente Fernando Collor de Mello.
Brasil Alfabetizado: Iniciado pelo MEC em 2003 destina recursos a
organização da sociedade civil, organismos públicos estaduais e
municipais e instituições de ensino superior para desenvolverem seus
projetos de alfabetização. Prevê o incentivo à leitura por meio da
distribuição de livros aos recém-alfabetizados.
O MOVA Brasil, implementada e financiada por governos municipais
e estaduais em parceria com organizações da sociedade civil. As
organizações parceiras responsabilizam-se pelo desenvolvimento das
ações de alfabetização enquanto o órgão público subvenciona o
programa e promove a formação dos educadores.
E o Programa Alfabetização Solidária, empreendido pelo Governo
Federal até 2002, constitui-se em uma ONG em 2000. Dirige as ações
a municípios e regiões com índices elevados de analfabetismos,
mediante parcerias com universidades públicas e privadas, que atuam
na formação e no acompanhamento das ações. (VÓVIO, 2004, p.23-
24).
Percebe-se que ao longo da história da educação básica, desencadearam muitas
campanhas de alfabetização de adultos, sendo assim é com base neste contexto histórico
que buscamos compreender a Educação de Jovens e Adultos como concepção de educação
20
promotora de cidadania e do bem estar social que fundamentada nas leis de diretrizes e base
no Ensino Nacional: Lei nº5692/71 e Lei nº9394/96.
Porém é necessário enfatizar que os programas de alfabetização de jovens e adultos
implementados no país nos últimos anos ainda apresentam em parte características das
campanhas de alfabetização desenvolvidas em meados do séc. XX.
Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma
autoritária, centrada na compreensão mágica de palavra, palavra
doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente
oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito mais do que
desvelavam a realidade, agora, pelo contrário, a alfabetização como
ato de conhecimento, como ato criador e como ato político é um
esforço de leitura do mundo e da palavra. (FREIRE, 2006, p.30).
Apesar de não estar havendo continuidade dos programas ao longo dos tempos, a
Educação de Jovens e Adultos está sempre sendo buscada, com objetivo de realmente
permitir o acesso de todos à educação, independentemente da idade. Desta forma fica claro
o caminho que a Educação de Jovens e Adultos percorreu em nosso país até chegar aos dias
de hoje. Muito já foi feito, mas ainda há o que se fazer. Não se pode acomodar com os avanços
já conseguidos é necessário vislumbrar novos horizontes na busca da total erradicação do
analfabetismo em nosso país, pois a educação é direito de todos.
Finalmente, ressalta-se que a dificuldade de efetivação da Educação de Jovens
Adultos dentro de um padrão de qualidade está mais na questão metodológica, aí incluindo-
se o problema de formação inicial e continuada dos professores e a falta de material didático-
pedagógico adequado, do que nos objetivos do ensino, uma vez que estes são propostos
segundo o nível e, portanto abstraídos da clientela a que se destinam.
2.2. A Prática Pedagógica do Educador de Jovens e Adultos
A educação de jovens e adultos deve partir da incorporação da cultura e da realidade
vivenciada dos educandos por meio de práticas educativas. Deve levar em conta o saber
desses alunos, de forma a valorizar e incorporar a aprendizagem, ao invés de ignorá-la.
Especialistas de diversas tendências e nacionalidades como Paulo Freire, 1980,
Saviani, 1991, Young, 1975, relatam a necessidade de considerarmos a cultura de origem e
a experiência de vida do aluno como pontos de partida de uma prática pedagógica voltada
para os interesses dos setores populares.
21
Os discentes que estudam nas classes de Educação de Jovens e Adultos são pessoas
que não tiveram acesso por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada e trazem
consigo sonhos, metas e perspectivas, devido a isso, é imprescindível que o docente trabalhe
com a vivência do aluno. “O homem se educa por meio das relações concretas de sua vida
desenvolvendo-se de forma crítica e reflexiva. Moll, Jaqueline, p.77-78”
Salienta-se que através da “relação dialógica entre educador/ educando” (Freire, 1991,
p.49), os ensinamentos devem partir das concepções do aluno jovem e adulto sobre o seu
mundo, ou seja, “o ponto de partida são os seus conhecimentos prévios”. (Em sua obra: “A
importância do ato de ler”, 1994, p.11), Freire nos ensina de uma maneira mais evidente
quando afirma que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
É de fundamental importância perceber quem é o educando, para que os conteúdos a
serem trabalhados façam sentidos e tenham significado, sejam elementos concretos na sua
formação, instrumentalizando-o para uma inovação significativa da sua realidade.
Conhecendo o que os alunos sabem e o que eles ainda não sabem, tem-se em mãos
informações preciosas para organizar o ensino, considerando o processo de construção de
conhecimento dos educandos.
Uma educação que reconheça essa necessidade estaria contemplando a boniteza
como uma das experiências propostas por Paulo Freire quanto à prática educativa. Boniteza
essa que só poderá acontecer no respeito pleno à diferença, na humildade, nos diferentes
ritmos de tempo - por exemplo, do tempo diferente e no respeito às diversidades de toda
ordem. Enfim, na aceitação do outro como legítimo em seu ser/ estar no mundo, desde que
esse outro (a) tenha como orientação a paz, a justiça, a cooperação, o cuidado de si e para
com todos os (as) outros (as).
É imprescindível que o docente esteja sempre planejando o que será trabalhado em
classe, observando atentamente o desempenho e o interesse dos alunos, ajustando-os
quando necessário para que o educando sinta satisfação em estar na classe. É necessário
“[...] conceber a profissão de professor como uma profissão que pressupõe uma prática de
reflexão e atualização constante.” WEIZ, 2001 p.118.
O docente que aperfeiçoa a sua prática educativa será mais crítico, dinâmico e
reflexivo, proporcionando ao aluno adulto desenvolver suas habilidades e competências de
forma autônoma em um ambiente prazeroso por meio do diálogo.
22
O diálogo só se inaugura com algumas condições a priori, tais como:
o amor, humildade, fé nos homens e um pensar crítico: Se não amo o
mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível
o diálogo. Não há, por outro lado, diálogo se não há humildade. A
prenuncia do mundo, com que os homens o recriam
permanentemente, não pode ser um ato arrogante. (FREIRE, 2005,
p.92).
A escola deve ser uma formadora de cidadãos, e o papel do educador deve ser
entendido como o de um mediador do diálogo do aluno com o conhecimento, com o outro e
com o mundo. Os jovens e adultos acumulam em seus caminhos questionamentos, saberes,
significados e a prática pedagógica dos educadores devem estar voltadas para o diálogo,
favorecendo para o desenvolvimento como um todo do aluno adulto, pois partir da trajetória
de vida será um ponto de partida para uma pedagogia que se baseia pelo diálogo entre os
saberes escolares e os saberes sociais.
É importante que o ambiente escolar seja envolvido por professores que decidam pelo
colorido, músicas, poesias, debates, atividades em equipe, a fim de proporcionar aos
educandos um ambiente mais humano, prazeroso e criativo por parte do educador para que
a aprendizagem aconteça de forma eficaz e dinâmica.
Nesta perspectiva Durand (1989) (apud Jaqueline Moll p.22) enfatiza que na fase
adulta tem-se presente a possibilidade do exercício plenos dessa criatividade, desde que lhe
sejam dados às condições e se afastem os condicionamentos que bloqueiam o processo
criativo no adulto, como a repetição e a rotina, a formalização rígida das atividades, entre
outros aspectos.
Para essa adequação torna-se viável, não somente rever material didático, mas é
preciso não só o educador pensar o seu papel, como também ser flexível ao seu trabalho,
evitando rotina em sala de aula e resgatando a auto-estima desses alunos. É necessário
também, ouvir os apelos que ecoam na alma do educando e isso requer capacidade de
observação, senso sensível a ponto de perceber o vazio em alguns momentos que o jovem e
adulto sente. A didática do adulto deve partir da situação específica em que se encontra o
aluno. Freire rejeita a visão de um ensino técnico baseado na transmissão de conhecimentos
formais, acabados, propondo um conhecimento aberto, em construção, provisório, que vê a
educação como um compromisso político a favor do aprendiz.
23
A educação deve ser um ato coletivo, solidário - um ato de amor, dá
pra pensar sem susto- não, pode ser imposta. Porque educar é uma
tarefa de trocas entre pessoas e se não pode ser nunca feita por um
sujeito isolado (até a auto-educação é um diálogo à distância), não
pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que possui
todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar
que não possui nenhum. (BARCELLOS, p.42).
Percebe-se que o docente que trabalha com o cotidiano do aluno tem mais garantia
de ter sucesso em sua prática pedagógica, pois estará desenvolvendo em classe atividades
que tenham a ver com as habilidades e o interesse de seus alunos jovens e adultos,
proporcionando assim uma aprendizagem dinâmica e eficaz.
3. METODOLOGIA
Em consonância com os preceitos de Minayo (2003), o trabalho de pesquisa
não nasce de uma grande “inspiração”, mas, de uma necessidade, seja ela uma
curiosidade, uma investigação ou um problema que se deseja solucionar. E não foi
diferente deste trabalho, o qual se baseou em um processo de estudos em vários
autores, pesquisa, assim foram utilizados levantamentos bibliográficos em bibliotecas
bem como aplicação de questionários e entrevistas com professores da EJA, visando
fornecer subsídios para melhor compreensão da temática em foco. Para obtenção de
informações bibliográficas foi utilizada a biblioteca do Campus XX Brumado da UNEB
(Universidade do Estado da Bahia) e a minha particular. Também foi empregada neste
trabalho, a abordagem qualitativa e quantitativa, uma vez que foram aplicados
instrumentos de coleta de dados, através da técnica da entrevista e do questionário
contendo questões que facilitaram a compreensão do estudo.
O questionário foi aplicado para quinze professores, sendo seis da rede estadual e
nove da rede municipal. Dos 15 entrevistados, 85% possuem ou estão cursando o nível
superior, porém nem todos lecionam em sua área de formação, pois a maioria tem formação
em letras. A carga horária de cada professor com poucas exceções é de 20 horas semanais.
É importante frisar que as instituições onde os professores entrevistados atuam, não possui
coordenador pedagógico e as orientações atinentes a este assunto são oferecidas pela
24
Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SEMEC) do próprio município, ou através dos
Núcleos Pedagógicos Regionais.
Na pesquisa foram utilizadas as bibliografias de alguns autores como Paulo Freire
(1998), Barcelos (2006), Gadotti (2005), Telma Ferraz (2004).
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. Quem é este (a) educador (a) que trabalha com a EJA
Após a aplicação dos questionários nas escolas municipais e estaduais no município
de Brumado-BA pode-se constatar que nem todos os professores entrevistados possuem
experiência com o trabalho de Jovens e Adultos. Na escolha destes docentes para o trabalho
com Jovens e Adultos foram utilizados alguns critérios. A pesquisa confirmou que 23% do
total estão ensinando para essa clientela porque fizeram curso de formação, 38% para
complementação de carga horária, 30% por aptidão e 9% por falta de vaga no diurno ou pela
necessidade da escola.
Ao serem indagados sobre a orientação de um coordenador pedagógico 70% dos
professores reúnem quinzenalmente para trocarem experiências, fazer o planejamento de
algumas atividades, estudo de textos e troca de materiais, porém 30% não têm reuniões nem
auxílio de uma pessoa capacitada que ajude no enriquecimento das aulas.
Evidenciou que as atividades propostas em classe são variadas e dinâmicas, pois 69%
trabalham com poesias e debates, 92% com atividades em grupo, 84% com exercícios para
reforçar a aprendizagem e leitura de interpretação e textos, 76% com músicas, 46% propõe
bingos e avaliações escritas, uma vez que consideram o ato de avaliar um processo contínuo
que deve ocorrer a todo o momento. Executam outras atividades como produção textual para
desenvolver a escrita, sessão filmografia, atividades recreativas para descarregar as tensões
decorrentes do dia-a-dia do trabalho e leitura de romances.
Os docentes ao serem entrevistados sobre as dificuldades encontrados no trabalho de
Educação de Jovens e Adultos 100% relataram que a falta de recursos existente na escola é
muito grande, 46% atribuíram à falta de capacitação e desmotivação dos discentes, 23% falta
25
de debate entre os colegas. Outros problemas enfrentados são as evasões ou ausência dos
educandos, trabalho de campo, muitos professores subestimam a capacidade dos alunos,
alegando que trabalham e estão cansados e também a falta de compromisso de alguns
educadores que não se preocupam com o processo de ensino e de aprendizagem.
Quando os docentes foram questionados sobre o perfil do professor disseram que têm
de ser, além de profissional, educador. Deve esteja engajado na luta pela inclusão social, pois
os educandos da Educação de Jovens e Adultos são diversificados e com muitos problemas
sociais. O professor deve ser dinâmico, ter “jogo de cintura”, pois é uma clientela especial.
Deve ser também flexível, compreensivo, paciente, perseverante e incentivador para melhor
a autoestima dos alunos.
No que diz respeito ao processo de formação com a Educação de Jovens e Adultos
23% falaram que foi por meio de cursos de formação como Um Salto Para o Futuro, curso de
extensão proposto pela Universidade do Estado da Bahia, aperfeiçoamento no Instituto Anísio
Teixeira e acompanhamento pedagógico da Secretaria Municipal/ Estadual de Educação,
23% mediante encontros pedagógicos e 54% não tiveram nenhuma formação, pois atua na
área apenas para complementação de carga horária.
Diante do exposto percebe-se a necessidade de pensar a formação de
professores para a educação de jovens e adultos como um compromisso político, visto que
as ações das universidades em relação à formação de educadores jovens e adultos ainda
são tímidas se considerarmos, de um lado, a relevância que tem ocupado o EJA nos debates
educacionais e, de outro, o potencial das instituições universitárias como agências de
formação. Os trabalhos acadêmicos que se referem à temática, analisados por MACHADOS
(2000), alertam que formações recebidas pelos professores, normalmente por meio de
treinamentos e cursos aligeirados, são insuficientes para atender as demandas da educação
de jovens e adultos. Nesse sentido, concluem que, para se desenvolver um ensino adequado
a esse público, é necessária uma formação inicial específica consistente, assim como um
trabalho de formação continuada. A autora afirma que “há um desafio crescente para as
universidades no sentido de garantir/ampliar os espaços de discussão da EJA, seja nos
cursos de graduação, pós-graduação e extensão” (p.16).
26
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação de Jovens e Adultos insere-se em uma política global que visa à
universalização da educação básica como um compromisso com o desenvolvimento humano,
social, político, econômico, cultural e ético da Nação. Entretanto, percebe-se que ainda há
muito a ser feito no que diz respeito à formação e prática docente no processo de ensino e de
aprendizagem.
Após a execução da pesquisa ficou constatado que a hipótese foi confirmada, uma vez
que a falta de formação docente é um dos fatores determinantes na perda da motivação dos
educandos nas escolas do município de Brumado. A carência de material didático destinado
a esse público e a falta de troca de experiência por parte do educador, também é fator
agravante que tem contribuído para aumentar as dificuldades na prática pedagógicas dos
profissionais que trabalham com a Educação de Jovens e Adultas.
A pouca atenção destinada à formação da Educação de Jovens e Adultos não é um
problema que ocorre somente em Brumado, mas em outros municípios brasileiros. A
formação docente deve ser um processo contínuo e participativo, no qual o ser humano de
forma individual e coletiva deve construir valores sociais, adquirir conhecimentos, tomar
atitudes, exercer habilidades e competências voltadas para a melhoria da educação, atuando
assim na realidade local, sem perder de vista a dimensão global.
No que se refere ao nível de conscientização dos professores de Educação de Jovens
e Adultos no município de Brumado em relação a sua formação constatou-se que os mesmos
reconhecem a importância acerca da problemática e não aceitam passivamente a forma como
é tratada a questão.
Desta forma, faz-se necessário uma maior atenção e intervenção do Poder Público
Municipal e Estadual juntamente com a Secretaria de Educação, para que possam
proporcionar aos educadores cursos de formação e acompanhamento das turmas a fim de
propor sugestões e procurar sanar as dificuldades encontradas na prática pedagógica desses
professores, de forma a propiciar uma melhor qualidade de vida aos educandos que
frequentam as classes de Educação de Jovens e Adultos do município de Brumado - BA.
27
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ATUAÇÃO DO PROFESSOR FORMADOR NO PROJETO SALA DO EDUCADOR
DA ESCOLA ESTADUAL MARINES FÁTIMA DE SÁ TEIXEIRA DE ALTA
FLORESTA - MT
Márcia Cristina Machado Pasuch1 Marilaine de Castro Pereira Marques2
RESUMO
O projeto Sala de Educador (PSE) integra as políticas de formação ofertada aos profissionais da educação do estado de Mato Grosso, realiza-se no espaço escolar e o processo de orientação tanto no que se refere à elaboração como ao acompanhamento de sua execução compete à Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) via Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO). É um processo dinâmico em que diferentes profissionais estão envolvidos, dentre os quais o professor formador (PF) do CEFAPRO. O objetivo da pesquisa foi verificar se há sintonia entre o papel atribuído aos PF do CEFAPRO pela mantenedora SEDUC/MT e o que os profissionais da escola esperam de sua atuação no PSE. Para tanto, realizou-se uma análise qualitativa de uma das 9 questões (abertas) do Instrumento Avaliativo encaminhado às escolas pela SEDUC no final do ano letivo de 2014. Essas questões foram respondidas por 19 profissionais da Escola Estadual Marines Fátima de Sá Teixeira, lócus da pesquisa. Para construção do referencial teórico, buscou-se suporte, principalmente, no parecer orientativo do Projeto Sala de Educador (PSE) de 2014 e na Política de formação dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso, exarada em 2010. Os dados da pesquisa permitem assegurar que os profissionais da escola investigada reconhecem e valorizam o papel do PF no desenvolvimento do PSE, destaca-se que as muitas atribuições destinadas a este profissional colocam-no numa condição de permanente desafio. Palavras-chave: Projeto Sala de Educador. Professor formador. Formação continuada.
ABSTRACT
The project Educator’s Room (hereby PSE) integrates the politics of formation offered to the professionals of education of the state of Mato Grosso, it is made in the school space and the process of orientation, regarding the elaboration and the following-up of
1 Doutora em Educação. Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação Popular da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Professora da Escola Estadual Marines Fátima de Sá Teixeira de Alta Floresta – MT. Brasil. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Educação. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta - MT. Brasil. E-mail: [email protected]
30
its execution, behooves to the Secretary of the State of Education (hereby SEDUC) through the Centre of Formation and Updating of the Professional of Primary Education (hereby CEFAPRO). It is a dynamic process in which different professionals are evolved, among those the teacher trainer (TT) of CEFAPRO. The aim of this research was to verify if there is a tune between the attributed role to the TT of CEFAPRO by the maintainer SEDUC/MT and what the professionals of the school expect of their acting in the PSE. Therefore, we made a qualitative analysis of one of the nine (open) questions of the Evaluating Instrument forwarded to the schools by SEDUC in the end of the year 2014. These questions were answered by 19 professionals of the State School Marines Fátima de Sá Teixeira, locus of the research. To the construction of the theoretical references we sought support, mainly, in the formatting orientative of Project Educator’s Room (PSE) of 2014 and in the Politics of formation of professionals of Primary Education of Mato Grosso, entered in 2010. The data of the research allow us to ensure that the professionals of the investigated school acknowledge and value the role of the TT in the development of PSE, it is emphasized that the many attributions destined to this professions put him/her in a condition of permanent challenge.
Keywords: Project Educator’s Room. Teacher trainer. Continuing formation.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente há consenso entre os profissionais e estudiosos da educação de
que a formação continuada (FC) é fator preponderante no desenvolvimento
profissional docente. Esta relevância alcançou estatuto legal e no que se refere à
responsabilidade dos sistemas de ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN/1996) define no art.67, inciso II, “que os sistemas de ensino deverão
promover aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim”.
Nesta direção, a formação continuada compõe o conjunto de ações
estabelecidas no Plano Nacional de Educação – PNE (13.005/2014), e, no sentindo
do alinhamento dos planos, encontra-se também explicitada no Plano Estadual de
Mato Grosso (10.111/2014), o que se constata na meta 16: “garantir aos profissionais
da educação formação inicial e continuada [...]” (SEDUC, 2014).
Ainda em âmbito nacional, com a aprovação da Lei 11.738, de 16 de julho de
2008 (Lei do Piso Salarial), os docentes conquistaram o direito de 1/3 da jornada de
trabalho ser dedicada a planejamento e formação em serviço. Em Mato Grosso, essa
31
conquista já figura na carreira docente desde a promulgação da Lei Complementar
50, de 1º de outubro de 1988.
Por sua vez, a Secretaria do Estado de Educação de Mato Grosso criou e
implantou no arcabouço de sua política de formação dos profissionais da educação
os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica
(CEFAPROs), no ano de 1997, os quais têm por finalidade “desenvolver projetos de
formação continuada para professores da rede pública de ensino, programas de
formação de professores leigos e projetos pedagógicos para a qualificação dos
profissionais da educação” (MATO GROSSO, 2010, p.19). Atualmente são 15
CEFAPROs, em diferentes cidades-polo, dentre as quais Alta Floresta, ao norte de
MT.
Ao longo de sua existência, o CEFAPRO/SEDUC, alinhado aos dispositivos
legais, tem desenvolvido sua função através de um diálogo contínuo com os diferentes
sujeitos que compõem o cenário da educação: Ministério da Educação (MEC),
Universidades, Conselhos de Educação, Sindicato dos Trabalhadores no ensino
Público de Mato Grosso (SINTEP), assessorias pedagógicas, escolas, fóruns,
“estimulando e garantindo a FC, em serviço, no horário de trabalho e no coletivo.”
(SANTOS; SILVA e RAMOS, 2012).
Destaca-se que esta perspectiva encontra fundamento entre as proposições de
FC que se configuram progressistas, com destaque às apresentadas por Imbernón
(2010), que apontam para a formação centrada na escola, envolvendo estratégias
empregadas conjuntamente pelos formadores para mediar a formação de modo que
responda às necessidades da escola, para elevar a qualidade do ensino e da
aprendizagem.
O projeto Sala de Educador faz parte das políticas de formação continuada para
os profissionais da educação do estado de Mato Grosso e tem por finalidade constituir
um espaço de formação centrado nas dificuldades de aprendizagem dos educandos
e nas necessidades formativas dos profissionais da escola. Trata-se de um projeto
destinado aos profissionais que estejam preocupados com a qualidade da educação
prestada à sociedade e dispostos a promover um processo educativo mais humano.
Com a finalidade de conhecer a concepção dos profissionais da educação da
Escola Estadual Marines Fátima de Sá Teixeira a respeito do trabalho que o formador
32
do CEFAPRO realiza na instituição, delinearam-se as seguintes questões: há sintonia
entre o papel atribuído aos formadores do CEFAPRO pela mantenedora SEDUC /MT
e o que os profissionais da escola esperam deles? Como estes profissionais
percebem a atuação da formadora que monitora a formação continuada?
Com essas indagações, a pesquisa teve por objetivo geral verificar se há
sintonia entre o papel atribuído aos formadores do CEFAPRO pela mantenedora
SEDUC/MT e o que os profissionais da Escola Estadual Marines Fátima de Sá
Teixeira esperam de sua atuação no Projeto Sala de Educador.
Por sua vez, os objetivos específicos foram: apresentar a função dos
formadores do CEFAPRO frente ao projeto Sala de Educador e conhecer a concepção
que os profissionais da escola Marines Fátima de Sá Teixeira têm a respeito do
acompanhamento da formadora do CEFAPRO no projeto Sala de Educador em 2014.
Para tanto, referenciou-se nas orientações contidas em dois dos documentos
oficiais acerca dos papéis atribuídos ao professor formador: a) Política de formação
dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso (2010); b) Parecer Orientativo
do Projeto Sala de Educador para o ano de 2014.
Os dados analisados foram coletados do instrumento de avaliação elaborado
pela SEDUC e respondido pelos profissionais da escola ao final do ano letivo de 2014.
Para o propósito desta pesquisa, uma das 9 questões constantes no questionário foi
analisada, a saber: como o professor do CEFAPRO contribuiu para o desenvolvimento
do Projeto Sala de Educador da escola Marines F. S. Teixeira?
Ao buscar respostas para a questão norteadora, deparou-se com aspectos do
ideário que os profissionais da Escola Marines F. de Sá Teixeira têm do
acompanhamento da formação continuada realizado pela formadora do CEFAPRO.
Nesse caso, os resultados da pesquisa poderão contribuir para se realizarem análises
e posteriores redimensionamentos das ações do Centro de Formação, rumo a uma
atuação cujos propósitos se aproximem cada vez mais das expectativas das escolas.
33
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de
Alta Floresta (CEFAPRO/AF)
O CEFAPRO/AF foi instituído no dia 08 de junho de 1998, pelo Decreto nº
2.319, constituindo um dos 15 (quinze) polos, ligados à mantenedora SEDUC de Mato
Grosso. Tem por escopo a formação continuada, a inclusão digital e o uso de novas
tecnologias na prática pedagógica dos profissionais da educação básica da rede
pública estadual de ensino e das equipes das Secretarias Municipais de Educação,
que estabelecerem cooperação técnica com a SEDUC.
O CEFAPRO/AF iniciou suas atividades em 1999, para atender sete
municípios. Desde então tem implementado políticas de formação inicial e continuada,
propostas pelo MEC e pela SEDUC, entre elas, o Proformação (Programa de
Formação de Professores em Exercício); o Proinfantil (curso destinado aos
profissionais que atuam na educação infantil sem a formação específica para o
magistério); os Parâmetros em Ação (Programa de desenvolvimento profissional
continuado) e Escola Organizada em Ciclos de Formação Humana, que consiste
numa proposta político-pedagógica de Mato Grosso, que prevê a inclusão escolar de
todos os alunos na idade certa, considerando o desenvolvimento humano e os direitos
às aprendizagens.
É importante destacar que o CEFAPRO afigura-se uma inovação que no Brasil
existe somente em Mato Grosso. Trata-se de uma conquista educacional do estado.
Mesmo que o órgão não esteja estruturado com o nível de excelência para o qual foi
criado e que a educação requer, o Centro de Formação é um espaço de fortalecimento
da cultura da formação continuada e de busca de alternativas para promover uma
educação humanista.
Em 2004, o CEFAPRO implantou o Projeto Sala de Educador (PSE), que
constitui o foco fundamental do centro, por se tratar de política pública de formação
continuada em Mato Grosso.
De acordo com a política de formação dos profissionais da educação básica
em Mato Grosso, o Sala de Educador tem por finalidade:
34
Criar espaço de formação, de reflexão, de inovação, de pesquisa, de colaboração, de afetividade, etc., para que os profissionais docentes e funcionários possam, de modo coletivo, tecer redes de informações, conhecimentos, valores e saberes apoiados por um diálogo permanente, tornando-se protagonistas do processo de mudança da sua prática educativa. (MATO GROSSO, 2010, p.22-23).
Essa concepção dialoga com a afirmação de Nóvoa (2001, p.01)
[...] São as escolas e os professores organizados nas suas escolas que podem decidir quais são os melhores meios, os melhores métodos e as melhores formas de assegurar esta formação continuada. Com isto, eu não quero dizer que não seja muito importante o trabalho de especialistas, o trabalho de universitários nessa colaboração. Mas a lógica da formação continuada deve ser centrada nas escolas e deve estar centrada numa organização dos próprios professores.
Nesta mesma direção, Tardif (2006) frisa que os professores possuem,
produzem e utilizam saberes específicos em sua profissão e devem ser considerados
sujeitos deste conhecimento. Sendo assim, os profissionais da educação das escolas
estaduais de Mato Grosso têm no espaço do PSE uma oportunidade de formação e
desenvolvimento profissional.
Destaca-se que o projeto de formação continuada da escola deve ser elaborado
de forma coletiva, tendo como referência as avaliações internas e externas da escola
e o Projeto Político Pedagógico (PPP). A formação precisa servir para gerar mudanças
significativas nas práticas dos profissionais da educação, com vistas à melhoria dos
processos de ensino-aprendizagem e da qualidade da educação (NÓVOA, 2009).
Neste sentido, o docente, sujeito omnilateral, para além de sua formação inicial,
está em contínua formação e aprendizagem, seja com os alunos, com os pais, com
os gestores, com seus pares, seja com suas próprias indagações (FREIRE, 1987).
Não obstante, para que o processo de formação permanente/continuada alcance
significado educativo político, há de ser problematizado, refletido, planejado e o PSE
configura-se num espaço para essas ocorrências.
O PSE está organizado para ser desenvolvido com uma carga horária anual de
80 horas (no mínimo), distribuídos, preferencialmente, de maneira igualitária entre os
dois semestres letivos. Neste projeto, devem constar, além dos aprofundamentos
teóricos, propostas de intervenções pedagógicas. Os encontros são mediados pelos
35
coordenadores das unidades escolares que contam com a orientação,
acompanhamento, avaliação e intervenção de um formador do CEFAPRO. A
avaliação deve ser formativa e processual, para garantir os ajustes necessários.
Para os profissionais que perceberem a formação continuada como
oportunidade de construção de autonomia intelectual e protagonismo profissional, o
projeto Sala de Educador constitui um espaço dinâmico, produtivo e gerador de
experiências exitosas.
2.2 Professor formador do CEFAPRO e sua atuação no PSE das Escolas
Um dos sujeitos que integra o corpo de profissionais atuantes no CEFAPRO é
o professor formador (PF), de acordo com o papel que lhe é imputado no Decreto nº
1.395, de 2008, sua função é mediar a formação continuada, promover a comunicação
das ações de formação no espaço entre Seduc/Cefapro/Assessoria/Escola, utilizar-se
da formação para melhorar o desenvolvimento pessoal e profissional e estabelecer
relação entre a formação e a transposição didática.
Em âmbito global, o documento intitulado Política de Formação dos
Profissionais da Educação Básica, exarado em 2010 pela SEDUC, estabelece que:
O professor formador do Cefapro deve ser um pesquisador e um produtor de conhecimentos sobre a educação, sobre o que e como ensina, investigando na e sobre a prática. Deve estar preparado para permitir que o Cefapro seja realmente um espaço de formação e atue como referência de apoio teórico-metodológico ao profissional que está na escola. Deve, então, trabalhar continuamente na construção de uma prática integrada de formação, inicial e continuada, em exercício, visando ao aperfeiçoamento do ensino (MATO GROSSO, 2010, p.21).
Neste campo de discussão e para o propósito deste trabalho, procurou-se o
disposto no Orientativo de Elaboração do Projeto Sala de Educador 2014, buscando
identificar o que é atribuição do PF, mesmo que tal documento não aborde
especificamente tais funções. Não obstante, o documento traz as funções do
CEFAPRO, o que remete diretamente PF, ainda que não se circunscrevam somente
como responsabilidades deste:
36
Orientar a elaboração do Projeto Sala de Educador considerando o diagnóstico das necessidades formativas; Acompanhar, orientar e avaliar o desenvolvimento do Projeto Sala de Educador em cada unidade escolar; Orientar os(as) coordenadores(as) pedagógicos(as) das unidades escolares na elaboração, desenvolvimento e avaliação do Projeto Sala de Educador; Chancelar os certificados da participação dos(as) profissionais da educação da rede estadual; Articular com a assessoria pedagógica, ações que visem à efetiva implantação e implementação do Projeto Sala de Educador nas escolas; Assessorar e orientar a equipe gestora das Secretarias Municipais de Educação, que firmarem parceria, de forma a possibilitar-lhes a implantação e implementação do Projeto Sala de Educador nas escolas municipais; Elaborar cronograma de acompanhamento, orientação e intervenção em atendimento às escolas no desenvolvimento do Projeto Sala de Educador; Participar de outros momentos pedagógicos desenvolvidos pela escola sempre que possível; Articular, junto ao(a) coordenador(a) de formação do Cefapro, a participação de outros(as) formadores(as) do Centro nos estudos desenvolvidos na escola, de modo a atender às diversas necessidades da mesma; Registrar o acompanhamento e intervenções realizadas nas escolas de forma a possibilitar a avaliação do Projeto e a atuação do Cefapro; Auxiliar as escolas na inserção do Projeto Sala de Educador no SigEduca (MATO GROSSO, 2014, p.5-6).
Como se pode notar, muitas são as responsabilidades imputadas ao professor
que ocupa a função de formador no CEFAPRO, compete, entretanto dizer que esse
profissional, para além das inscrições formais, opera também na construção de sua
identidade profissional, de modo que o êxito ou o fracasso de suas ações está
sobremaneira vinculado ao coletivo das unidades escolares em que atua.
O cenário em questão evidencia a pertinência da tessitura da complexa
indagação, mencionada na introdução do presente artigo: há sintonia entre o papel
atribuído aos formadores do CEFAPRO pela mantenedora SEDUC /MT e o que os
profissionais da Escola Estadual Marines espera deles? Como esses profissionais
percebem a atuação da formadora que monitora a formação continuada? A seguir
apresentam-se os discursos dos profissionais pesquisados e discussões inerentes
aos mesmos.
3 METODOLOGIA
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O trabalho foi realizado no período de novembro de 2014 a abril de 2015, na
Escola Estadual de 1º Grau Marines Fátima de Sá Teixeira, no município de Alta
Floresta – MT.
Os sujeitos da pesquisa foram 19 profissionais da educação (professores,
coordenadores pedagógicos, apoios administrativos e técnicos administrativos
educacionais) que participaram do Projeto Sala de Educador em 2014.
Para a coleta de dados, lançou-se mão do Instrumento de Avaliação do PSE
encaminhado pela SEDUC às unidades escolares do estado de Mato Grosso. O
referido instrumento é composto de 9 questões, contudo, para os propósitos desta
investigação, explorou-se somente uma: como o professor do CEFAPRO contribuiu
para o desenvolvimento do Projeto Sala do Educador?
O método de abordagem utilizado foi o indutivo e o de procedimento foi o de
estudo de caso. Os dados da pesquisa foram analisados de forma qualitativa e
descritiva, conforme proposições de Bogdan e Biklen (1994). Os dados foram
organizados em duas categorias de análises: uma contendo o ideário dos profissionais
pesquisados que reconheceram a contribuição da formadora do CEFAPRO, que
monitorou a formação continuada Sala de Educador da escola, e outra com o ideário
dos que não reconheceram essa contribuição.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
A análise dos dados revela uma avaliação positiva dos sujeitos investigados
quanto à contribuição do professor formador no desenvolvimento do PSE/2014.
Embora as respostas tenham sido sucintas e breves, é possível uma primeira
aproximação sobre a significação deste sujeito, o PF, no processo formativo em curso.
A maioria das respostas aponta para o reconhecimento de sua importância ao longo
do processo e dialoga com o estabelecido pelos documentos oficiais.
“contribui com as orientações do projeto e das oficinas realizadas”; “através da elaboração do projeto, também sempre que era pedido ajuda em alguma coisa, ela auxilia”;
38
“contribui de forma objetiva no diagnóstico dos problemas e nas observações para solução dos mesmos”.
Essas respostas remetem à primeira atribuição constante no Orientativo de
Elaboração do Projeto Sala de Educador 2014: orientar a elaboração do Projeto Sala
de Educador a partir do diagnóstico das necessidades formativas da escola.
O acompanhamento e as intervenções realizadas no processo de construção
do PSE exigem do PF um olhar acurado para a realidade da Escola, de modo a
orientar para que as escolhas realizadas pelo coletivo em formação contemplem o
mapeamento da realidade constante no Projeto Político Pedagógico (PPP) com vistas
a superar as fragilidades atinentes à prática pedagógica.
Nas respostas dos sujeitos pesquisados, encontrou-se consonância com a
afirmação de que “o professor formador do CEFAPRO deve ser um pesquisador e um
produtor de conhecimentos sobre a educação, sobre o que e como ensina,
investigando na e sobre a prática” (SEDUC, 2010, p.21):
“contribui na nova forma de olhar os mecanismos de aprendizagem”; ”contribui trazendo uma nova visão do processo como um todo”; “contribuiu tanto no aspecto conceitual como nas problematizações colocadas”; “participou de vários encontros com apontamentos sobre os temas e sugeriu temas para estudo”; “com alternativas para um bom desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; “contribui através da troca de experiências entre os educadores”.
A postura de estar com os profissionais da escola, numa relação horizontal de
escuta e acolhimento, livre da soberba intelectual, é fundamental na construção de
uma relação dialógica e construtiva no espaço de formação continuada (ZUIN, 2008).
Nota-se que os apontamentos referentes à contribuição do professor formador
não eximem o profissional da escola de assumir seu protagonismo na formação
continuada, o que significa abraçar o próprio processo de formação, refletir sobre sua
prática e buscar coletivamente ampliar seus saberes, contudo sem desprezar ou
menosprezar a contribuição do CEFAPRO, via PF.
É pertinente assinalar que a instauração do PSE é o reconhecimento no
espectro das políticas públicas de que as tradicionais oficinas com receitas prontas,
descontextualizadas da realidade escolar, como formação para os profissionais da
39
educação, não geraram as mudanças necessárias para elevar a aprendizagem dos
educandos nas últimas décadas. Significa, também, assumir que a formação do
profissional da educação é um processo inacabável, cujo lócus privilegiado é a escola
como espaço de produção e socialização de conhecimentos e saberes sobre a
profissão e a profissionalização.
E é neste cenário de construção e constituição do profissional da educação que
vão sendo constituídas as redes de saberes, competindo também ao PF do
CEFAPRO acompanhar, orientar e avaliar o Projeto em curso. Sua contribuição neste
aspecto se evidencia quando os sujeitos afirmam:
“dando apoio e sanando as dúvidas e também incentivando”; “auxiliou e participou de vários encontros, trazendo troca de experiências e idéias”; “com sua presença e esclarecendo algumas dúvidas”; “sempre auxiliando, sugerindo, etc”; “nas visitas dos encontros e contribuindo com o assunto em pauta”; “contribui com as experiências vivenciadas pela formadora”.
Além do conhecimento técnico de sua área, outros saberes como: ouvir, calar,
olhar, acolher, problematizar, ladear, constituem-se elementos que podem fazer
diferença na atuação do PF.
Deve ter domínio de área do saber que orienta, domínio da área pedagógica, conhecimento das teorias de formação continuada, autonomia intelectual, social e moral e consciência da dimensão política da educação. Deve ainda ser reflexivo sobre sua prática, criativo para propor e recriar situações de aprendizagem, autodidata e comprometido com sua própria formação, acreditando na ação formadora e transformadora da educação. Por fim, deve envolver-se com as problemáticas educacionais, contribuindo na definição, divulgação e implantação das políticas públicas de formação, no contexto da educação pública brasileira. (MATO GROSSO, 2010, p. 21-21)
Por sua vez, os sujeitos que atuam na escola carecem vislumbrar os
formadores como aliados, como pares também em formação. Trata-se de sujeitos que
podem contribuir com pertinentes problematizações e no alcance de respostas
satisfatórias para os diferentes desafios vivenciados no ambiente escolar.
40
Neste sentido a negação, ou resistência, quanto à significação da presença do
PF manifestou-se nas respostas:
“só contribuiu com a presença”; “com a presença”.
A questão que se afigura é: qual a qualidade desta presença? Atualmente,
tendo em vista as tendências de educação mais progressistas que apontam para a
necessidade de promover uma formação continuada que instrumentalize para a
criticidade e autonomia intelectual, as instituições de formação inicial e continuada
investem em estudos que têm como foco o processo ação-reflexão-ação. Portanto, os
entrelaçamentos e diálogos entre as diferentes instâncias formativas (escola e
CEFAPRO) são de relevância, considerando que a formação é um diferencial e uma
necessidade dos profissionais da educação.
As relações humanas são complexas e influenciam a qualidade do trabalho nos
diversos setores de atuação antrópica. Por outro lado, cada pessoa percebe o mundo
de uma maneira, de acordo com sua historicidade. Essas questões precisam ser
exploradas paulatinamente, porque também auxiliam no processo de estabelecimento
de vínculos positivos, que, por sua vez, favorecem as trocas de experiências de forma
mais exitosa.
Considerando o cenário das respostas dos professores da escola pesquisada,
em que dois dos profissionais perceberam a presença do professor formador do
CEFAPRO por um ângulo diferente dos demais, fica um indicativo para se realizar
pesquisa de modo a compreender os motivos que os levaram a ter a referida
percepção.
Por fim, os professores da Escola destacaram que a presença da PF contribui
por ofertar, dentre outras coisas, informações relacionadas à educação:
“acompanhando a formação e trazendo algumas informações”; “estando presente em algumas reuniões e principalmente trazendo algumas informações que demoram bastante para chegar até nós”.
Assim como os professores precisam trabalhar com metodologias ativas com
seus educandos para mediar uma formação humana e autônoma, os formadores de
41
professores também têm a responsabilidade de trabalhar na perspectiva da
problematização dos desafios cotidianos, da busca de alternativas viáveis para cada
situação pedagógica, da capacidade de avaliar resultados exitosos e das
necessidades de novas intervenções, de forma fundamentada.
No cenário da educação atual, observa-se, por meio da mídia e da vivência
cotidiana do processo educativo, que alguns avanços vêm ocorrendo por conta dessa
tendência. Contudo, ainda é grande a nostalgia de muitos profissionais que não
entenderam ou não se sensibilizaram para a possibilidade de serem autores das
mudanças que a escola precisa, em vez de somente supervalorizar soluções
apresentadas de forma genérica, por especialistas externos.
Os formadores do CEFAPRO, para auxiliar os professores das escolas a
construírem o perfil profissional que a pós-modernidade requer, também carecem de
formação permanente, que inclua conhecimentos conceituais, didáticos, de políticas
públicas, de ética e da realidade com a qual trabalham. Tais conhecimentos não
constituem um aparato revolucionário que oferecerá todas as respostas, mas um
arcabouço orientador de suas práxis, que deve ser sistematicamente retroalimentada.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados revelou uma avaliação positiva dos sujeitos investigados
quanto à contribuição do professor formador no desenvolvimento do PSE/2014. A
maioria das respostas dos sujeitos da pesquisa apontou para o reconhecimento da
importância do PF ao longo do processo, destacando que “o mesmo contribuiu com
as orientações do projeto e das oficinas realizadas”; “com a elaboração do projeto
PSE, sempre que era pedido ajuda em alguma coisa, ela auxilia”; “contribuiu de forma
objetiva no diagnóstico dos problemas e nas observações para solução dos mesmos”.
As respostas em evidência indicaram que há sintonia entre a função atribuída pelos
documentos oficiais ao PF e o que os sujeitos da pesquisa reconhecem como feitura
do profissional do CEAFAPRO.
A negação, ou resistência, quanto à significação da presença do PF também
se manifestou nas respostas de dois profissionais da Escola Marines Fátima de Sá
42
Teixeira, visto que os mesmos destacaram que a formadora do CEFAPRO contribuiu
somente com sua presença. Foi uma maneira sutil de demonstrar que as possíveis
contribuições que o PF pode oferecer não foram significativas para os mesmos.
Ouvir a diversidade de vozes dos participantes do PSE da escola Marines foi
muito importante, porque, assim, identificaram-se aspectos exitosos do trabalho do
PF e a necessidade de buscar estratégias de sensibilização e intervenção pedagógica
que possam ser úteis aos que ainda não percebem o CEFAPRO como parceiro no
delineamento de alternativas para melhorar a qualidade da educação de Mato Grosso.
Considerando o cenário das respostas dos professores da escola Marines F.
S. Teixeira, em que dois dos profissionais perceberam a presença do professor
formador do CEFAPRO por um ângulo diferente dos demais pesquisados, fica um
indicativo para se realizar pesquisa para compreender os motivos que os levaram a
ter a referida percepção.
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R. e BIKLEN, S. INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO: Uma Introdução à Teoria a aos Métodos. Portugal: Porto editora, LTDA, 1994. BRASIL (1996). Lei nº 9394, de 20/12/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, ano CXXXIV, Nº 248, 23/12/96, pp.27.833-27.841. (Brasil). Nº 9394/96. _________. Presidência da República; Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. PNE; decênio 2014-2024. _________. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica - DF, Lei nº 11.738/2008, que institui o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da Educação Básica. Parecer CNE/CEB Nº: 18/2012. Aprovado em: 2/10/2012. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
43
IMBERNÓN, F. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010. MATO GROSSO (Estado). Decreto n. 1395, de 16 de junho de 2008. Dispõe sobre a regulamentação da Lei n. 8.405, de 27 de dezembro de 2005, que trata da estrutura administrativa e pedagógica dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso. D.O. 24854. Mato Grosso MT, 16 jun. 2008. Disponível em: Acesso em: 23.01. 2015. _________.LEI Nº 10.111, de 06 de junho de 2014. Dispõe sobre a revisão e alteração do Plano Estadual de Educação, instituído pela Lei nº 8.806, de 10 de janeiro de 2008. Diário Oficial nº: 26307; Data de publicação: 06/06/2014. _________. Secretaria de Estado de Educação. Política de formação dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso. Cuiabá, MT: SEDUC,2010. Secretaria de Educação e Cultura. Lei Complementar n. 50/1998, que dispõe sobre a carreira dos Profissionais da Educação Básica. Cuiabá: SEDUC,1998. _________. Secretaria de Educação e Cultura. Decreto no 2.319/1998, que dispõe sobre a criação de Centros de Formação e Atualização do Professor. Cuiabá: SEDUC, 1997 _________. Secretaria de Estado de Educação. Secretaria Adjunta de Políticas Educacionais. Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação Básica. Orientativo de Elaboração do Projeto Sala de Educador 2014. Cuiabá: SEDUC, 2014. _________. Edital nº04/2008/GS/SEDUC/MT. Disponível em: www.iomat.mt.gov.br/. Acesso em 29 set. 2010. NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa, Portugal: Educa, 2009. ________. O professor pesquisador e reflexivo. 2001. Disponível em: http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto/interview;jsessionid=C66C4B33F8CEC7AEC987785B479CE894?idInterview=8283. Acesso em: 04 abr. 2015. SANTOS, Leandra I. S.; RAMOS, R. C. G.; SILVA, L. Formação continuada em Mato Grosso: análise de documentos orientativos do programa/projeto sala de professor/educador. Acta Semiótica et Linguística, v. 17, p. 80-105, 2012.
44
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. ZUIN, Antônio A. S. Adoro odiar meu professor: o aluno entre a ironia e o sarcasmo pedagógico. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
45
CONTRIBUIÇÕES DOS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI NA
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: Uma Experiência do Cefapro De Alta
Floresta
Marilaine de Castro Pereira Marques3
Edileuza da Cruz Maçaneiro4
Simone José Aparecida da Silva Santos5
RESUMO
Os desafios encontrados na escola retratados nos comentários de professores e nas informações veiculadas pela mídia sinalizam a necessidade de repensar a prática pedagógica. Por trabalharmos com a formação de educadores, no Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta e vivenciarmos muitas inquietudes dos professores em relação a tais desafios realizamos um projeto intitulado “Contribuições dos Quatro Pilares da Educação para o Século XXI na Formação Continuada de Professores”. O mesmo teve por finalidade oferecer aos professores da Educação Básica, estudos inerentes à formação humana e reflexões sobre a responsabilidade docente frente ao desafio de melhorar a qualidade da educação. O projeto foi realizado no período de setembro a dezembro de 2014, nas dependências do CEFAPRO de Alta Floresta. As atividades foram desenvolvidas em etapas presencias e à distância, totalizando uma carga horária de 40 h. Segundo depoimentos dos participantes, os estudos proporcionaram contribuições significativas para a prática docente e para o entendimento da complexidade do ser humano. O projeto foi relevante porque possibilitou estudos e reflexões que poderão auxiliar os educadores na promoção de uma educação mais humanista.
Palavras-chave: Formação Continuada. Práticas Pedagógicas. Educação Humanista.
CONTRIBUTIONS OF THE FOUR PILLARS EDUCATION FOR THE XXI CENTURY IN THE CONTINUED TEACHERS TRAINING: A Cefapro’s Experience In Alta Foresta
3 Mestre em Educação. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta - MT. Brasil. E-mail: [email protected] 4 Especialista em Língua Portuguesa e Literatura. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta - MT. Brasil. E-mail:[email protected] 5 Especialista em metodologia e didática numa visão interdisciplinar. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta - MT. Brasil. E-mail:[email protected]
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The challenges faced in schools reported by teachers and the information published in the media indicates the need to rethink the pedagogical practice. By working with teacher training at the Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Alta Floresta and have been experiencing many teachers concerns related to these challenges we developed a project called " Contributions of the four pillars’ education for the XXI century in the continued teachers training: a CEFAPRO’s experience in Alta Floresta ". It aimed to provide teachers from Basic Education, studies inherent to human formation and reflection on teaching responsibility facing the challenge of improving the quality of education. The project was carried out from September to December 2014, in CEFAPRO dependencies of Alta Floresta. The activities were conducted in presence stages and distance learning, with a schedule of 40 h. According to testimony of the participants, the studies have provided significant contributions to teaching practice and to understand the complexity of human beings. The project was relevant because it allowed studies and reflections that may help educators in promoting a more humanistic education.
Keywords: Continuing Education. Pedagogical Practices. Humanistic Education.
1 INTRODUÇÃO
As políticas públicas da educação brasileira têm avançado no sentido de alcançar
melhor qualidade no ensino e aprendizagem. Nesse contexto, vem apresentando alguns
progressos, entre eles, a inclusão, investimentos na infraestrutura das escolas e na formação
dos educadores. No entanto, o panorama continua preocupante, conforme os indicadores de
avaliação externa, tais como: Provinha Brasil, Prova Brasil, ENEM (INEP, 2015) e PISA (UOL
EDUCAÇÃO, 2014).
De acordo com as estatísticas, a violência e as dificuldades de relacionamentos nas
escolas continuam crescentes. Segundo Goleman (2012), esses acontecimentos são reflexos
de uma cultura que investe majoritariamente no intelectual, oferecendo atenção incipiente ao
lado emocional do indivíduo.
Os desafios encontrados na escola tais como: desistência, repetência, dificuldade de
aprendizagem, conflitos aluno/aluno, aluno/professor, professor/professor, o desinteresse dos
alunos pelas aulas, a pouca participação dos pais na escola e a crescente violência retratada
nos comentários de professores e nas informações veiculadas pela mídia, sinalizam a
necessidade de repensar a prática pedagógica.
Por trabalhar com a formação de professores, no Centro de Formação e Atualização
dos Profissionais da Educação Básica - CEFAPRO6 e vivenciar muitas inquietudes dos
6O Estado de Mato Grosso conta com 15 Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica – CEFAPRO. Cada Centro constitui-se como um polo educacional, tem sua finalidade estabelecida no decreto Nº 1.395, de 2008, ou seja, formação continuada, inclusão digital e o uso de novas tecnologias na prática pedagógica dos profissionais da educação básica da rede pública estadual de ensino.
47
professores em relação aos fenômenos ora em destaque, realizamos um projeto pautado no
seguinte questionamento: Um estudo sobre os Quatros Pilares da Educação para o Séc. XXI
poderá contribuir para amenizar esses desafios nas escolas públicas de Alta Floresta?
Os referidos pilares enfocam a necessidade de considerar o ser humano na sua
complexidade e para tanto, propõe que é preciso investir no desenvolvimento das
capacidades do educando, no que se refere ao aprender a ser, a conviver, a aprender e a
fazer.
O projeto proposto teve por finalidades oferecer aos educadores estudos inerentes aos
Quatro Pilares da Educação para o Século XXI, enfocando sua relevância para a formação
humana; e promover reflexões a respeito da função do professor frente à necessidade de
melhorar a qualidade da educação.
O projeto foi de relevância porque possibilitou momentos de estudos reflexivos que
poderão auxiliar os educadores a administrar conflitos no contexto educativo, a considerar os
diversos perfis de aprendizagem na prática docente, a reafirmarem conceitos sobre a
complexidade do ser humano e a fortalecer a política da escola organizada por Ciclo de
Formação Humana nas escolas de Alta Floresta.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Para desenvolver o projeto intitulado “Contribuições dos quatro pilares da educação
para o século XXI na formação continuada de professores: uma experiência do CEFAPRO de
Alta Floresta”, primeiramente recorremos ao Relatório Jaques Delors; posteriormente
lançamos mão das Orientações Curriculares de Mato Grosso (que tem como princípio a
educação humanista); e por último, porém não menos importante, buscamos os pressupostos
das Inteligências Múltiplas, com foco na inteligência emocional. Desse modo, a revisão de
literatura tanto do projeto, quanto do presente artigo foi composta pelos subtítulos dispostos
a seguir.
2.1 Quatro Pilares da Educação para o Século XXI
Jaques Lucien Jean Delors de nacionalidade francesa, formado na área de economia
e política, no período de 1992 a 1996, presidiu a Comissão Internacional sobre Educação para
o Século XXI, da UNESCO. Naquele período, elaborou o relatório "Educação, um Tesouro a
descobrir", em que se apresentam os Quatro Pilares da educação.
Segundo Delors (2010), a sociedade do conhecimento aponta para a necessidade de
uma aprendizagem ao longo de toda vida, fundamentada em quatro pilares interligados, que
objetiva a formação holística do indivíduo. Esses pilares são: aprender a conhecer; aprender
a fazer; aprender a conviver e aprender a ser.
48
Aprender a conhecer diz respeito à necessidade de tornar prazeroso o ato de
conhecer, construir, reconstruir o conhecimento para que esse seja sempre renovado.
Aprender a fazer implica em desenvolver espírito colaborativo, humildade, ter iniciativa e
intuição, ser flexível, saber comunicar-se e estar aberto para enfrentar novas situações.
Aprender a conviver requer que o indivíduo desenvolva a percepção de interdependência, que
saiba administrar conflitos, a participar de projetos comuns e ter prazer nessa busca. Aprender
a ser envolve as três aprendizagens anteriores, indica a importância de desenvolver a
sensibilidade, responsabilidade, o sentido ético e estético, o pensamento autônomo e crítico,
a imaginação a criatividade, iniciativa e o crescimento integral da pessoa em relação à
inteligência.
O relatório sistematizado por Jaques Delors traz em seu bojo importantes
contribuições para a formação dos humanos, portanto, os quatro pilares da educação para o
século XXI precisam ser incorporados nos currículos escolares de forma transversal e
contínua.
A política de educação no estado de Mato Grosso propõe que as escolas tenham como
princípio orientador do Projeto Político Pedagógico, os pressupostos da educação humanista.
Os estudos realizados no projeto “Contribuições dos Quatro Pilares da Educação para o
Século XXI na Formação Continuada de professores: uma experiência do CEFAPRO de Alta
Floresta” abordou a importância e a necessidade de considerar o ser humano em sua
integralidade. Foi uma iniciativa que poderá contribuir com os participantes do projeto, rumo
ao fortalecimento da política ora em questão.
2.2 Inteligências Múltiplas e Alfabetização Emocional
Parafraseando Antunes (2009), para a resolução dos problemas do cotidiano e tomada
de decisão ao longo da vida, recorre-se à emoção tanto quanto à razão. Portanto, a
administração das emoções precisa ser valorizada, assim como o cognitivo, pois, o
autocontrole e o autoconhecimento são elementos básicos da formação humana.
Gardner é o precursor dos estudos referente às inteligências múltiplas. O autor
defende as seguintes inteligências: A inteligência Lógico-matemática: relacionada ao
potencial de utilizar o raciocínio abstrato para organizar o pensamento; A Linguística: que diz
respeito a articulação lógica e criativa das ideias, oratória e memória declarativa; A Musical:
potencial para utilizar os símbolos musicais, ritmos, partituras e instrumentos; A Espacial:
voltada para a desenvoltura em lidar com tempo e espaço; A Corporal cinestésica: potencial
relacionado ao controle e domínio do corpo, com senso de sincronização e movimentos
expressados; A Interpessoal: relacionada a percepção e convivência; A Intrapessoal: refere-
se ao autoconhecimento, habilidade intuitiva e a automotivação; A Naturalista: percepção e
integração com a natureza; A Existencialista: está voltada para a busca do sentido da vida e
da humanidade (GARDNER, 2000).
49
Para Gardner (2006) mais importante que o número de inteligências é a premissa de
que há uma multiplicidade delas e que cada ser humano tem um perfil de pontos fracos e de
pontos fortes nas inteligências. Não há uma lista universalmente aceita de inteligências
humanas, porque esta é um construto que se manifesta em comportamentos e não em
entidades físicas verificáveis (GARDNER, 1994).
Existem várias obras de Howard Gardner que defendem as inteligências múltiplas no
ser humano. Antes dos estudos realizados por ele, muitas das capacidades implícitas, no que
chama de “inteligência”, já eram percebidas, mas, eram concebidas como dom especial, que
não poderiam ser encontradas na maior parte das pessoas, nem ser trabalhada nas escolas
o desenvolvimento de tais capacidades (ANTUNES, 2009).
Nessa conjuntura, temos escolas que ainda privilegiam apenas duas das inteligências
citadas: a Linguística e a Lógico-matemática, consideradas como as que têm maior prestígio,
logo, os que não as desenvolvem, culturalmente ficam à margem dos valores intelectuais,
mesmo que tenham outras linguagens expressivas para se comunicarem com o mundo. Ao
desconsiderar a multiplicidade de inteligências dos Homo sapiens, a escola perde uma grande
oportunidade de contribuir mais coerentemente, no desenvolvimento integral do ser humano.
Por sua vez, Sampaio (2004, p.37) corrobora essa ideia destacando que o ensino tem se
constituído sem o engajamento emocional do professor e do aluno.
A Alfabetização Emocional está pautada nas descobertas de pesquisadores no estudo
da mente humana. Para Antunes (2009, p.24) “diante dessa constatação científica e tomando
por base centenas de experiências de Alfabetização Emocional, cabe aos verdadeiros
educadores brasileiros” incorporá-la no currículo escolar.
2.3 Formação de Professores
Considerando os desafios que os educadores enfrentam atualmente na escola, e a
busca de elementos que contribuam com o desenvolvimento da sua prática de forma mais
satisfatória, estudos inerente aos Quatro Pilares da Educação para o Séc. XXI (aprender a
aprender, fazer, conviver e ser), consistem numa experiência útil para os propósitos
educacionais.
A política de Estado de Mato Grosso propõe uma educação pautada nos Ciclos de
Formação Humana, a qual almeja novos tempos e espaços para ensinar – aprender a sentir,
ser e fazer (MATO GROSSO, 2000). Para se trabalhar nesse viés é preciso considerar as
dimensões do ser humano: cognitiva, afetiva e social.
As Orientações Curriculares de Mato Grosso (OCS) afirmam que: “A Educação é um
dos principais espaços de mediação na formação do sujeito histórico. Nessa perspectiva é
que ganha sentido o conceito de formação integral que articula as potencialidades de todas
as dimensões do ser humano”.
50
Por sua vez, Imbernon (2009, p.103) destaca que: “A formação deve ajudar a
estabelecer vínculos afetivos entre o professorado, a saber: trabalhar com as emoções,
motivar-se, reconhecer as emoções dos outros professores e professoras [...]. E, sobretudo,
a desenvolver a autoestima docente”.
Cunha (2010, p.87) apregoa que “educar não consiste apenas em passar
conhecimento acadêmico, porque a vida é demasiadamente afetiva para ser”. Pelo exposto,
é de fundamental importância que as instituições de formação inicial e continuada de
professores, proponham estudos sobre a necessidade de considerar o ser humano nas suas
múltiplas faces, pois essa postura pode contribuir com a melhoria da qualidade do ensino nas
escolas.
2.4 Formação Humana
Nas últimas décadas, vivenciamos grandes mudanças na sociedade ocasionadas pelo
impacto do avanço tecnológico, o que levou a intensas reformas na educação, no sentido de
alcançar uma escola mais humana e inclusiva, como superação da escola seletiva e
excludente.
No estado de Mato Grosso, as políticas educacionais vem buscando atender às
mudanças, a partir de propostas que concebam o educando como sujeito capaz de intervir na
natureza e transformá-la e que valorizem a formação integral desse sujeito.
Nesse contexto, “A educação em seu papel preponderante de formação humana vê-
se instada a atender às novas necessidades sociais e econômicas, aliando-se, aos aspectos
da ética, da solidariedade, da gestão compartilhada das políticas sociais, das utopias e das
tecnologias a favor da vida” (MATO GROSSO, 2010, p.7).
De acordo com Lima (2002), os Ciclos de Formação é uma conceituação da escola
como espaço de formação, não só de aprendizagem, no qual o sujeito é a preocupação inicial.
Neste processo, as aprendizagens não serão definidas em função de justaposição de
aprendizagens das várias áreas, mas como parte integrante da formação humana, o que
inclui, certamente, a dimensão ética da aquisição e uso do conhecimento.
“Educação por Ciclos de Formação é uma organização do tempo escolar de forma a se adequar melhor às características biológicas e culturais de todos os alunos. Não significa, portanto, dar mais tempo para os mais fracos, mas, antes disso, é dar o tempo adequado a todos.” (LIMA, 2002, p.9).
Para assegurar esse papel da educação, incorpora-se a estrutura dos Ciclos de
Formação Humana que tem a finalidade de promover o desenvolvimento integral do educando
51
e seu preparo para o pleno exercício da cidadania, tendo em vista os princípios da liberdade
e os ideais de solidariedade humana.
3 METODOLOGIA
O projeto foi realizado no período de setembro a dezembro de 2014, nas dependências
do CEFAPRO de Alta Floresta e os sujeitos atendidos foram os profissionais da educação
básica do município (professores do 1º e 2º ciclos do ensino fundamental regular e de EJA).
As atividades foram desenvolvidas em cinco etapas presenciais e cinco à distância,
ambas com carga horária de 20h. Nas etapas presenciais realizamos estudos e práticas sobre
os Quatros pilares da educação para o século XXI, Inteligências múltiplas, Alfabetização
emocional e Formação humana. Para as etapas à distância encaminhamos práticas para
serem desenvolvidas nas escolas onde os professores participantes do projeto lecionavam.
O trabalho presencial contou com leituras, reflexões, trabalhos em grupos,
socialização e tematização de práticas pedagógicas. As práticas realizadas pelos professores
nas escolas foram socializadas e tematizadas no início de cada encontro, de forma oral e
escrita. Como mediadoras do projeto fazíamos as considerações destacando as boas práticas
e indicando outras possibilidades de aplicações pedagógicas, na perspectiva do processo
ação-reflexão-ação.
Organizamos o relato escrito das práticas realizadas em arquivo digital e
disponibilizamos aos participantes. A avaliação ocorreu no processo, considerando o
envolvimento e a participação efetiva dos professores nas atividades propostas
(planejamentos, demonstrações das práticas, depoimentos e fotos). A mesma foi registrada
em relatórios e abarcou os seguintes aspectos: a coerência entre os estudos desenvolvidos e
as práticas que os educadores realizaram nas escolas, a criatividade e a participação nas
discussões de forma fundamentada.
No início do projeto realizamos diagnóstico escrito dos conhecimentos que os
participantes tinham sobre os Quatro Pilares da educação para o século XXI. No final do
projeto solicitamos uma avaliação escrita para que os participantes apresentassem seus
julgamentos sobre as possíveis contribuições da iniciativa.
As reflexões e considerações dos participantes em diferentes momentos dos
encontros formativos foram registradas em caderno de campo, que junto com outros
instrumentos de coleta de dados, constituiu um rico acervo para fazermos a avaliação dos
resultados do projeto. Para o desenvolvimento da pesquisa divulgada nesse artigo, foram
utilizados somente os dados do diagnóstico e da avaliação final dos participantes.
O método de abordagem utilizado na pesquisa foi o indutivo e o método de
procedimento foi o de estudo de caso. Os dados da pesquisa foram analisados de forma
qualitativa e descritiva, conforme proposições de Bogdan e Biklen (1994).
52
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A primeira atividade dos encontros formativos foi a realização do diagnóstico. Ao
serem questionados sobre o que sabiam sobre os quatro pilares da educação para o século
XXI, apenas 2 (dois) dos vinte e três (23) participantes discorreram sobre quais são os
referidos pilares, os demais informaram que tinham visto algo sobre o assunto, mas, não se
lembravam.
Os 2 (dois) participantes que souberam falar sobre os quatro pilares ainda que
superficialmente, afirmaram que incluem os princípios dos mesmos em suas práticas
pedagógicas, valorizando os conhecimentos que os educandos têm, sensibilizando-os para a
necessidade de respeitar às diversidades e a utilizar o diálogo como meio de resolução de
conflito; destacaram ainda que, com essas práticas é possível se promover melhora na
aprendizagem. Os participantes que ouviram falar ou leram sobre o assunto, mas não se
lembravam, salientaram que veem como um desafio, considerar os quatro pilares na prática
pedagógica.
Destacaremos, na sequência, reflexões acerca dos objetivos específicos do projeto:
Oferecer aos educadores estudos inerentes aos Quatro Pilares da Educação para o Século
XXI, enfocando sua relevância para a formação humana; e promover reflexões a respeito da
função do professor frente à necessidade de melhorar a qualidade da educação.
4.1 ESTUDOS INERENTES AOS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI
No final do projeto, realizamos a avaliação utilizando questionário para coletar as
informações, a partir do seguinte questionamento: Que contribuições os estudos sobre os
Quatros Pilares da Educação para o Séc. XXI trouxeram para sua formação profissional?
Os professores apontaram várias contribuições. Na sequência serão apresentadas
algumas que indicam que os participantes compreenderam a importância dos quatro pilares
para a formação humana.
“A formação nos levou a refletir em como o mundo está carente de atenção, de informação e estudos sobre as emoções, sentimentos e afeto. Essa formação aborda esses fatos que nossos alunos tanto necessitam, além dos conteúdos programáticos. Questões sobre a vida, refletir os atos e atitudes a serem tomadas para com o próximo e o crescimento intelectual”. “Ainda me lembro do primeiro dia de formação e como foi importante para o meu conhecimento, pude perceber que devemos ser compreensivos com os outros e estarmos sempre buscando alcançar nossos objetivos”.
53
“Possibilitou uma profunda reflexão sobre os meus valores como professora e também como ser humano, ajudando-me a descobrir as minhas falhas e procurar melhorar a cada dia, principalmente na convivência com as pessoas, respeitando o jeito de ser e de viver de cada um e valorizando as pessoas que fazem parte da minha vida, tanto pessoal quanto profissional.” “Foi gratificante, ajudou-me a desenvolver melhor as aulas que ministro, aprendi também a ser mais paciente e tolerante com os outros e quero continuar colocando em prática tudo que aprendi”. “A formação me trouxe muitas reflexões sobre minha pratica pedagógica e como trabalhar os valores fundamentais da pessoa humana. Foi importante porque resgatei valores, talentos escondidos, ofuscados, esquecidos em minha vida”.
Os depoimentos explicitam aspectos que são de extrema importância na formação
docente, entre eles, a reflexão sobre a prática; a compreensão da importância de inserir os
valores humanos na prática pedagógica; e a valorização do elemento afetivo, no processo de
construção de conhecimentos.
4.2 REFLEXÕES A RESPEITO DA FUNÇÃO DO PROFESSOR FRENTE À NECESSIDADE
DE MELHORAR A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
Por meio dos depoimentos expostos a seguir, também foi possível identificar que os
estudos do projeto serviram para fortalecer as concepções dos participantes, no que se refere
à responsabilidade que cada educador deve ter com a melhoria da qualidade da educação.
“Com o curso pude me sensibilizar, tive o amadurecimento, crescimento e sabedoria para encorajar meus alunos”. “Aprendi a minimizar os conflitos existentes na escola, a buscar de outros caminhos e metodologias para resgatar o aluno que está ficando para trás e incluí-lo aos outros”. “Este estudo nos deixou claro que devemos desafiar os alunos a buscar o conhecimento e que cada um tem seu tempo para aprender e forma diferente de aprender”. “Esse curso nos levou a refletir que devemos sempre trabalhar com amor, ter esperança em dias melhores, acreditar que podemos fazer a diferença no nosso ambiente de trabalho e ao nosso redor, se colocar no lugar do outro, dar oportunidade aos nossos alunos, ouvir seus anseios, suas dores, ajudá-los a ser melhor”. “Alertou-nos para novas aprendizagens, que a esperança e a persistência estejam constantemente em nós, pois temos uma grande responsabilidade com nossos alunos, fazer com que eles consigam viver em sociedade com seriedade e justiça”.
“Os conhecimentos que aprendi com o curso já estão florindo na sala de aula com os meus alunos do CEJA”.
54
Ao analisar os depoimentos dos participantes constatamos que os objetivos propostos
para o projeto foram alcançados, ou seja, os professores afirmaram que os estudos serviram
para ressaltar a importância dos princípios dos Quatro Pilares da Educação para o Século XXI
no currículo escolar e da responsabilidade que os educadores têm frente à necessidade de
melhorar a qualidade da educação.
O depoimento dos participantes indicou que os mesmos entenderam que a educação
requer um educador “que se pergunta sobre o que fundamenta seu pensamento pedagógico,
a sua concepção de ser humano, de mundo e de sociedade e como isso se relaciona com a
sua concepção de educação e suas práticas pedagógicas” (MATO GROSSO, 2010, p.47).
Conforme depoimentos dos participantes, as reflexões, atividades e troca de
experiências realizadas durante os estudos trouxeram contribuições significativas para os
participantes, também no que se refere: a resolução de conflitos que emergem no cotidiano
escolar e a importância de organizar situações educativas que favorecem os diversos perfis
de aprendizagem, com vistas à inclusão de todos.
Vale destacar que ao comparar o diagnóstico inicial com a avaliação realizada no final
do projeto, compreendemos que os estudos foram exitosos, porque no início do mesmo,
somente dois profissionais souberam discorrer sobre os quatro pilares da educação e sua
importância para no currículo escolar; ao final do projeto, todos souberam abordar de forma
fundamentada o tema em voga.
Os conhecimentos construídos no processo em questão poderão contribuir para uma
atuação pedagógica que considere cada vez mais, o ser humano na sua integralidade (afetivo,
cognitivo, social e espiritual), o que de acordo com Morin (2002) é de fundamental importância
para formar o cidadão planetário.
Os professores que participaram do projeto (ainda que em níveis diferenciados) tinham
necessidades formativas referentes ao entendimento do ser humano como unidade complexa
e multifacetada. Os estudos possibilitaram aos participantes aprimorar suas capacidades
profissionais e pessoais, como indicaram os depoimentos dos mesmos.
Assim como os educandos devem ser considerados nas suas diversas nuances, o
educador também precisa receber investimento formativo que os instrumentalizem
paulatinamente para o trabalho nessa perspectiva.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos, por meio dos depoimentos dos participantes, que os estudos inerentes
aos Quatro Pilares da Educação para o Sec. XXI trouxeram contribuições significativas para
o enfrentamento dos desafios comumente encontrados no contexto escolar.
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Verificamos também que os objetivos propostos para o projeto foram alcançados, visto
que os professores afirmaram que os estudos serviram para ressaltar a importância dos
princípios dos Quatro Pilares da Educação para o Século XXI no currículo escolar e da
responsabilidade que os educadores têm frente à necessidade de melhorar a qualidade da
educação.
Considerando que os avanços científicos indicam, que para a resolução dos problemas
do cotidiano e tomada de decisão ao longo da vida, o indivíduo recorre à emoção, tanto quanto
a razão, é mister que ambas sejam igualmente valorizadas nos currículos escolares e na
formação dos professores, de forma transversal e contínua.
Os conhecimentos construídos durante o Projeto “Contribuições dos quatro pilares da
educação para o século XXI na formação continuada de professores” poderão contribuir para
uma atuação pedagógica que considere cada vez mais, o ser humano na sua integralidade
(afetivo, cognitivo, social e espiritual). Assim, poderá fortalecer a política de estado (Escola
Organizada em Ciclos de Formação Humana) que aponta para a necessidade de um currículo
integrado, que favoreça a formação para a cidadania e para o mundo do trabalho.
Da mesma forma que os educandos devem ser considerados nas suas diversas
nuances o educador também precisa receber investimento formativo que os instrumentalizem
paulatinamente para o trabalho nessa perspectiva.
REFERÊNCIAS
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DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: Um Estudo de Caso Sobre o Significado do
Trabalho
Regina Dalla Nora7
Marisa Claudia Jacometo Durante8
RESUMO O presente trabalho concerne sobre a docência na Educação Física, área apreciada em discursos direcionados a educação, todavia sua trajetória passou por altos e baixos, inclusive a classe profissional passou por crise de identidade. Assim, esse estudo teve por objetivo entender qual o sentimento do professor de educação física em relação ao significado do seu trabalho para a sociedade. Especificamente, buscou-se: a) Fazer um levantamento das emoções positivas do professor de Educação Física com relação ao significado do seu trabalho para a sociedade; b) Fazer um levantamento das emoções negativas; c) Comparar as emoções positivas e negativas. Metodologicamente utilizou-se da abordagem indutiva com aplicação de questionários a professores de educação física que atuam na educação básica, no município de Lucas do Rio Verde. Os principais resultados indicam que quando sob influência das emoções positivas o profissional sente-se motivado e empenhado a realizar seu trabalho, ao contrário, as emoções negativas fazem o caminho reverso, torna o profissional mais cansado, desmotivado, irritado, sentindo-se desvalorizado, sem vontade de trabalhar, ou seja, pode transformá-lo em um docente que torna suas aulas cansativas e entediantes e não se importa com a forma pela qual é reconhecido. Por fim a relevância social da docência em Educação Física está ligada a capacidade de autocontrole de ambas as emoções, porque no ambiente de trabalho não há como viver apenas o lado positivo, é necessário viver o negativo também, é a habilidade de trabalhar os impulsos que coopera em agregar valor tanto social quanto pessoal ao trabalho docente. Palavras-chave: Docência na Educação Física. Emoções. Significado do Trabalho. ABSTRACT This work concerns about teaching in physical education, area assessed in speeches directed to education, but his career has had its ups and downs, including the professional class has experienced identity crisis. Thus, this study aimed to understand what the feeling of the physical education teacher in relation to the meaning of their work to society. Specifically, we sought to: a) Make a survey of positive emotions of the physical education teacher about the meaning of their work to society; b) Make a survey of negative emotions; c) Compare the positive and negative emotions. Methodologically we used the inductive approach with questionnaires physical education teachers working in primary education in the municipality of Lucas do Rio Verde. The main results indicate that when under the influence of positive emotions
7 Licenciada em Educação Física. Brasil. e-mail: [email protected] 8 Doutora em educação. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Faculdade La Salle. Brasil. e-mail: [email protected]. Orientadora do artigo.
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professional feel motivated and committed to do its work, in contrast, negative emotions do the reverse path, makes the most jaded professional, unmotivated, angry, feeling undervalued, unwilling to work, or can turn it into a teaching which makes their tiresome and boring classes and do not care about the way in which it is recognized. Finally the social relevance of teaching in physical education is linked to self-control capacity of both emotions, because in the workplace there is no way to live only the positive side, it is necessary to live the negative too, is the ability to work the impulses cooperate on adding value both socially and staff to teaching. Keywords: Teaching in Physical Education. Emotions. Meaning of Labor. 1 INTRODUÇÃO
Ao falarmos sobre a relevância social do trabalho, é tendencioso refletirmos
sobre a sociedade em que vivemos. Assim se analisarmos tais pensamentos
chegaremos à reflexão de que a sociedade em que vivemos é uma sociedade
extremamente capitalista, e por isso dentro dela o trabalho é de extrema necessidade
e importância porque é ele quem proporciona tal característica.
Na teoria marxista o trabalho tem tal relevância por ter sido fundamental em
todas as formações sociais já vividas pelo homem. Ora por instinto, ora por senso
organizacional. Podemos considerar o trabalho como uma força determinante para o
aparecimento do homem com todas as suas características qualitativas, sendo
importante para formação das relações sociais, pois proporciona relacionamento e dá
sentido as ações humanas.
O presente trabalho concerne sobre a docência na Educação Física, área
apreciada em discursos direcionados a educação, todavia sua trajetória passou por
altos e baixos, inclusive a classe profissional transpôs por crise de identidade. Tal
profissional foi por tempo denominado como treinador ou preparador físico, não havia
nenhuma preocupação com a construção do conhecimento em tal disciplina, apenas
rendimento. O nome sofreu alteração para professor de educação física, porém,
infere-se que o cenário do passado ainda se faz presente, considerando que ainda
ocorrem fortes críticas sobre a oferta da educação física na escola ou da escola
(GADOTTI, 2002).
A princípio a única preocupação em relação às aulas de Educação Física foi à
inclusão de exercícios físicos, movimentos ginásticos copiados da Europa e
posteriormente sua prioridade foram os hábitos de saúde e higiene, uma disciplina
60
que ensinasse o educando hábitos saudáveis como o banho, cuidado com os dentes
e alimentação. Em meados de 1964 os governos Militares investiram forte no esporte
como forma de preparação do cidadão para o exercício militar, período em o que o
país sofreu o golpe militar e os interesses sociais se voltaram ao mesmo, o que vale
ressaltar que cada período da Educação Física está correlacionado ao momento
político em que o país estava passando, assim como todo currículo educacional e a
própria educação em si era reflexo dos interesses sociais (DARIDO, 2008).
Tal disciplina era tão desconsiderada que por tempos ela fora ministrada pelo
professor que passasse mais tempo com a turma, considerando o ensino infantil e
fundamental, sendo ministrada na maioria das vezes pelo pedagogo. Assim as aulas
não passavam de oportunidades para que o aluno brincasse e descarregasse energia
sobe a supervisão de um profissional que não fora preparado para exercer tal função.
Nesse sentido as aulas eram recreativas e a orientação que o aluno recebia era
somente quanto a atividade que desenvolveria, não havia planejamento e observação
quanto ao desenvolvimento do aluno.
Anos mais tarde tal função foi atribuída ao profissional de direito, o professor
de Educação Física. A docência em Educação Física é dinâmica, de infinitas
possibilidades onde o docente tem autonomia para observar, analisar e perceber a
capacidade e o limite do aluno para poder propor a ele desafios. Por ser uma aula de
atividades lúdicas e extremamente expressivas exigem do professor flexibilidade e
disposição física, mental e emocional.
A educação passou por inúmeras transformações o que alterou o papel da
escola e consequentemente o papel do professor. Ensino como respeito, cooperação,
moral e ética foram, de certa forma, transferidos da família para escola. Essa
transferência e modificação da função do docente e conjunto com todas as
transformações da educação têm de certa forma, tem afetado a organização e o
ambiente de trabalho.
Porém, o docente de educação física tem sido submetido a uma longa jornada
diária de trabalho, a um stress emocional fruto do relacionamento aluno X professor.
A docência é uma forma de trabalho de influência social, e assim como qualquer outro
está sujeito as consequências do mesmo.
61
Na esteira da mudança reside a questão do significado do trabalho, ou seja,
como o professor de educação física percebe seu trabalho perante a sociedade. Essa
percepção pode influenciar a sua qualidade de vida e também a qualidade de vida no
trabalho.
Neste contexto, Walton em 1973 estabeleceu critérios para a Qualidade de Vida
no Trabalho. Estes critérios se dividem em oito categorias conceituais, sendo elas:
1) Compensação justa e adequada, que visa mensurar a adequação da
remuneração ao trabalho feito pelo trabalhador;
2) Condição de trabalho, que considera a jornada de trabalho e o ambiente
físico, que não ofereça perigo em excesso ou sejam prejudiciais à saúde;
3) Uso e desenvolvimento de capacidade, referindo-se ás oportunidades que o
trabalhador tem de aplicar seu saber e suas aptidões;
4) Oportunidade de crescimento e segurança, visa as possibilidades de carreira
profissional, crescimento e desenvolvimento pessoal;
5) Integração social na organização, onde haja ausência hierárquica e
preconceituosa, que seja propicio ao apoio mutuo e respeito;
6) Constitucionalismo, onde haja compreensão dos direitos trabalhistas e
estabelecimento de normas e regras;
7) O trabalho e espaço total de vida, que visa mensurar o equilíbrio entre vida
no trabalho e vida pessoal;
8) Relevância social da vida no trabalho, atuação da empresa na sociedade
verificada através da imagem, da responsabilidade pessoal e pelos produtos e pelas
práticas de emprego.
Este estudo aborda o oitavo critério, que se refere a relevância social do
trabalho na vida, como a auto estima do trabalhador pode ser afetada quando a
organização em que trabalha não é socialmente responsável, causando uma
depreciação do próprio trabalho ou de sua carreira. No contexto da docência em
educação física, analisará como o ambiente, a função e os encargos de tal profissão
pode afetar de modo relevante o professor, atentando-se as emoções e a influência
que ela estabelece nesta perspectiva.
Assim, este estudo teve por objetivo entender qual o sentimento do professor
de educação física em relação ao significado do seu trabalho para a sociedade.
62
Especificamente, buscou-se: a) Fazer um levantamento das emoções positivas do
professor de Educação Física com relação ao significado do seu trabalho para a
sociedade; b) Fazer um levantamento das emoções negativas do professor de
Educação Física com relação ao significado do seu trabalho para a sociedade; e c)
Comparar as emoções positivas e negativas para responder a problemática desse
estudo, qual a relevância social da docência em educação física.
O tema aqui abordado é de suma importância para que haja o entendimento
sobre como o professor de educação física reconhece o seu trabalho e como a
sociedade reconhece o trabalho exercido por ele, para que posteriormente a
comunidade possa usufruir desta percepção e com isso melhorar o autoconhecimento
emocional, aprimorando seu desempenho no ambiente organizacional.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Docência na Educação Física
A Educação Física no Brasil tem se submetido, assim como outras profissões,
aos novos princípios de formação de professores, o que gera inúmeras discussões
acerca de sua atuação dentro da educação brasileira. O currículo escolar, os saberes
necessários, a formação inicial e posterior são temas centrais de tais discussões. O
fato é que há uma enorme preocupação em relação a formação de docentes. Tal
formação é regulamentada pela Lei de Diretrizes e Base da educação (LDB n°
9.394/96, nos art. 61 e 62).
A educação física sempre buscou a legitimação no ambiente escolar e uma
prática pedagógica competente o que exigia uma reestruturação nos cursos de
formação docente. Assim precisa receber os mesmos conhecimentos transmitidos na
docência pedagógica, pois assim como o pedagogo, o professor de educação física
também precisa ter domínio sobre as práticas pedagógicas e as competências
necessárias para agir de forma correta no ambiente escolar, como explica Costa
(1996, p.10):
A fase de formação inicial é o período durante o qual o futuro professor adquire os conhecimentos científicos e pedagógicos e as
63
competências necessárias para enfrentar adequadamente a carreira docente. Se esta fase não promover a alteração das concepções prévias incorretas sobre a escola, a Educação Física e o ensino que os estudantes transportam para curso, estas ideias irão exercer uma influência permanente e decisiva nas suas crenças, perspectivas pedagógicas e comportamentos quando forem professores de Educação Física.
O conhecimento de técnicas e estratégias motivam o professor de educação
física, o faz empenhar-se em sua função porque ele entende os meios para se
alcançar o fim o esperado, é exatamente este profissional que escola tem buscado.
Necessitamos de professores altamente motivados e empenhados em enfrentar a sua atividade profissional com curiosidade, que assume as tarefas profissionais de uma forma não rotineira, enfim professores reflexivos que entendem o processo de aprendizagem e de formação como fazendo parte da própria função docente, que creiam e assumam o processo de melhoria do seu próprio ensino como um empreendimento coletivo (COSTA, 1996, p.27).
A escola precisa de professores de Educação Física motivados a
desempenhar, de forma concreta e eficaz, seu papel dentro da educação. Tal
motivação e empenho estão diretamente ligados a qualidade de vida no trabalho, fruto
do conhecimento dos processos de produção, da quebra da rotina, da valorização,
assunto que será abordado posteriormente. Se entendermos a escola como uma
empresa, podemos entender o aluno como o produto desta empresa, produto este
que consiste no conhecimento que aluno adquire, por isso é importante que o
professor de educação física entenda como se dá à construção da aprendizagem e
tenha percepção quanto ás capacidades e limitações do mesmo, assim há
possibilidade de desenvolver atividades que desafiem o aluno a se desenvolver e a
se envolver ao mesmo temo em que se satisfaz em sua profissão.
Para ser professor de educação física além de conhecer os assuntos
pertencentes a área física é necessária entender o aluno, para isso tal profissional
precisa desenvolver em seu caráter profissional um pesquisador e um estudante para
poderem deliberar, construir e trabalhar no ambiente proposto, de forma a exercer a
sua autonomia respeitando seu aluno.
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2.2 Emoções
Desde o período pré-histórico nós, seres humanos, fomos extremante
expressivo e corpóreo devido sermos dotados de emoções, e é através delas que
sempre demonstramos nosso estado comportamental. O fato é que nossas ações
estão extremamente ligadas as nossas emoções e por isso desde a infância somos
ensinados a controlá-las e auto conhecê-las. Afinal o que são emoções? No dicionário
Junior (1996, p.200) emoção é o “estado em que fica a pessoa ao ter uma grande
alegria ou uma grande tristeza”.
Para Walton (1973) a emoção tem dupla origem, é tanto biológica quanto social
e é o que garante a sobrevivência da espécie humana. Assim entendemos que para
o homem a emoção é de suma importância, uma vez que ela se manifesta de forma
contagiante.
Na percepção de Soto (2002, p.44) a “origem da emoção manifesta-se no
caráter primário da conduta emotiva, quando a emoção é intensa e não existe o freio
do social, por exemplo, quando se produzem ataques de risos, gritos”. Ainda a define
como “qualquer agitação e transtorno da mente, o sentimento, a paixão, qualquer
estado mental veemente ou excitado”. Para Soto (2002, p.45) a emoção é um estado
interno, que pode se manifesta de forma boa ou ruim:
[...] Estado interno (fisiológico e mental) do organismo que pode ser analisando a partir de uma dupla perspectiva provocada pela resposta interna do sujeito, diante de um estimulo percebido como agradável ou desagradável.
Ou seja, uma percepção mental a ser exposta através de uma ação agradável
ou desagradável, mas necessária ao homem. De acordo com o exposto, surge à
necessidade de compreendermos melhor a origem e causa das emoções, pois desta
forma, aprenderemos a lidar com os nossos sentimentos e posteriormente nossas
atitudes serão outras.
Assim há uma diferença entre emoção e sentimento, enquanto uma é um
estado psico-fisiológico a outra é a emoção filtrada.
A emoção diferencia-se do sentimento, sentimento são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações que
65
vivenciam, porque, conforme observado, é um estado psico-fisiológico. O sentimento, por outro lado, é a emoção filtrada através dos cognitivos do cérebro [...] [...] Podemos dizer que o sentimento é uma consequência da emoção com características mais duráveis (CASANOVA, SEQUEIRA, SILVA, 2009, p.6).
É importante que haja o entendimento dessa diferença porque as emoções são
públicas, ou seja, a emoção é o que nos move, o que nos impulsiona a agir, é
inconsciente. Já o sentimento é pessoal, é privado, é consciente e particular de cada
indivíduo.
Assim podemos entender a emoção como um impulso instintivo e biológico
responsável pelas nossas vivencias, que nos impulsiona a experimentar, que nos
move. Em um sentido mais poético, a emoção é a janela pela qual visualizamos a
vida.
2.2.1 Emoções positivas
As emoções positivas estão diretamente interligadas ao nosso estado
emocional, consequentemente nossas emoções interferem diretamente no nosso
rendimento diário. As emoções positivas provocam aproximação, acontecem quando
a percepção que o indivíduo tem de alguma situação é boa, ou seja, quando a situação
a qual ele se vê envolvido lhe desperta um sentimento positivo que pode resultar em
uma ação positiva.
Pessoas que conhecem a si mesmo possuem mais facilidade para controlar
suas emoções porque conseguem prever sua ação, mesmo as emoções sendo
impulsivas e inconscientes, nesse sentido o controle está na capacidade que o
indivíduo tem de reconhecer seus próprios sentimentos e os dos outros e lidar com
isso, o que Goleman (1995 ) conceituou como inteligência emocional e que segundo
Soto (2009, p. 218) é “a capacidade de saber se relacionar, de se fazer ouvir quando
é preciso e de sentir-se bem consigo mesmo é o tipo de faculdade que constitui a
diferença crucial das pessoas com um bom equilíbrio emocional”. Para ele tal
capacidade pode ser o início de uma organização comportamental:
Ter capacidades emocionais significa ser capaz de conduzir as próprias emoções de tal maneira que melhore seu desenvolvimento
66
pessoal e sua qualidade de vida. A aprendizagem das emoções melhora as relações, cria responsabilidades afetivas entre pessoas, faz o trabalho mais cooperativo e facilita o sentimento de comunidade
(SOTO, 2002, p.103).
No ambiente de trabalho, assunto da presente pesquisa, as emoções positivas
favorecem o bom desempenho na função, assim como facilita o bom relacionamento
e favorece o respeito mútuo e a cooperação. Ela desperta motivação, entusiasmo e
cria um ambiente propicio a criatividade, o raciocínio e a capacidade de resolver
problemas.
As emoções positivas proporcionam dinâmica no ambiente de trabalho e a
inteligência emocional nos faz entender as duas partes da situação, a nossa e a do
outro, assim a compreensão e a solução de problemas são mais simples e menos
complexas. O que nos faz entender que ao administrar nossas emoções conseguimos
promover o bem estar ao nosso redor, de modo que a cooperação, a compaixão e a
empatia nos livram de comportamentos agressivos e incômodos desnecessários.
Quanto mais as emoções positivas se sobressaem as emoções negativas há menos
problemas sociais, físicos e cognitivos, de forma a contribuir e a favorecer a qualidade
de vida no trabalho.
2.2.2 Emoções negativas
As emoções surgem como respostas a estímulos, são impulsos neurológicos
que incitam o homem a agir frente as situações. O conjunto de representações
emocionais, ou seja, os diversos estímulos e a forma como o indivíduo reage a esses
estímulos são chamados de impressão, que por sua vez é constituída das marcas
internas causadas por tais representações, ou seja, ela é consequência do impulso
neurológico e dos sentimentos gerados por ele (CASANOVA, SEQUEIRA, SILVA
2009). Assim entende-se que tal consequência tem efeito emocional, em relação à
emoção em si, e mental, em relação às representações internas criadas pelas
percepções de tais estímulos que influi no comportamento humano.
O dia-a-dia, a rotina que homem segue e falta do auto estímulo ao controle
emocional torna limitada a sua consciência, assim à percepção quanto ao
comportamento é quase nula. Portanto a capacidade de perceber os estímulos que o
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rodeia de forma consciente tem sido reduzido, o que faz com que o indivíduo passe
seu dia em contato maior com o seu interior, com suas impressões. O que fica
registrado em seu consciente, muitas vezes, é apenas aquilo que se julgou ter
importância, assim apenas o que quebra a “rotina” faz parte das percepções
conscientes, o restante são apenas respostas inconscientes a estímulos percebidos
também de forma inconsciente (CASANOVA, SEQUEIRA E SILVA, 2009).
Essa “mecanização” ou ativismo resulta em vícios de ações, o que faz com que
não haja como desenvolver o controle emocional, então o indivíduo passa a ser refém
e suas ações. Isso resulta em impressões, consequências internas que condicionam
desmotivação, cansaço, fadiga, desinteresse, irritação entre outras emoções
negativas.
Vale ressaltar que o mercado de trabalho busca pessoas que saibam controlar
suas emoções. A maioria dos líderes de empresas ou pessoas bem sucedidas
comporta-se de acordo com a situação, não demonstram medo, nem agem
impulsivamente porque não submetem suas emoções a rotina ou ao ativismo que as
rodeia, apenas desperta em si percepção mais profunda quanto suas próprias ações.
Tratando-se de relacionamento no trabalho, organização, administração e o
próprio desempenho da função é extremante importante entender a inteligência
emocional, que consiste resumidamente em considerar as próprias ações e as ações
do próximo e reagir de forma a respeitar o próximo tanto quanto a si mesmo, assim
ela é um exercício mutuo, mesmo que a segunda pessoa não tenha tal entendimento
ou domínio.
As emoções negativas assim como as emoções positivas nascem das
percepções acerca das situações e se concretizam na ação resposta do estimulo feito
pela percepção. O que determina a positividade ou negatividade é impressão que o
indivíduo possuiu de tal situação.
Os padrões repetitivos de ações que quase sempre são inconscientes
denomina-se emoções negativas, pois são sempre difíceis ou quase impossíveis de
se controlar, o que é a aversão das emoções positivas. De acordo com Goleman
(1995, p.56) “as emoções negativas poderosas distorcem a atenção para suas
próprias atenções, interferindo com a tentativa de concentração em outra parte”. As
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pessoas que não controlam suas emoções vivem constantemente combatendo o
sentimento de desespero, por causa das precipitações habituais de suas ações.
As emoções negativas causam a egocêntricidade, ou seja, faz com que o
indivíduo acredite que o mundo acontece a sua volta por seu intermédio e que o outro
é sempre o problema da questão. Nessa perspectiva, o indivíduo foca na melancolia
e na dor e não abre espaço para novas experiências, mantendo assim a sua rotina de
estimulo, ação e impressão, não permitindo a quebra desse processo. Goleman
(1995) elenca que as emoções negativas são impulsividades, o que para um ambiente
de trabalho é extremante inapropriado, pois há uma organização e uma ordem para
todas as coisas e funções. As emoções negativas interferem diretamente na qualidade
de vida no trabalho devido ao desequilíbrio harmônico de função e relacionamento
que ela causa. O movimento repetitivo, os hábitos diários e os vícios no trabalho
somados ao ativismo e a rotina diária desenvolve a inconsciência quanto as ações,
esse padrão estabelece as emoções negativas. O indivíduo que não controlam as
suas emoções desestabiliza seu interior e exterior, porque nossas ações afetam
diretamente o ambiente físico que nos rodeia. Estudos médicos comprovam que as
emoções negativas consomem energia do corpo humano originado cansaço,
desmotivação entre outros problemas de saúde.
A escola é um ambiente que proporciona mecanização e rotina. O professor de
Educação Física exerce uma função sujeita a este círculo vicioso. A desvalorização
profissional, a pressão dos alunos nas aulas, o stress pela longa carga horária que tal
função oferece, são fatores que tornam favoráveis as respostas negativas, ou seja as
emoções negativas. A profissão docente é uma profissão que exige muito do
professor, quando não se tem percepção consciente daquilo que se vive cair em um
círculo vicioso de negatividade é simples e imperceptível. Apenas se sentem os
sintomas, professores de educação física desmotivados, cansados, desanimados,
com elevado nível de stress, o que os tornam fortes candidatos a desistência
profissional.
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2.3 Significado do Trabalho
O significado do trabalho é estudado por diversas disciplinas, entre elas a
antropologia e a sociologia. O ponto de partida para entendermos o significado do
trabalho está em entender o que constitui o trabalho. Na teoria marxista (1993) o
trabalho é capacidade de transformar a natureza de modo a atender as necessidades
humanas. Assim entendemos que o trabalho doa significado para natureza porque há
uma relação entre os dois de sujeito – objeto. É como se a transformação que o
trabalho faz no natural doasse identidade, exemplo, ao arar a terra a terra recebe
significado de fertilidade, ao colher os frutos de uma árvore ela recebe o significado
frutífera e assim por diante. Nos primórdios da civilização o trabalho serviu como
parâmetro para uma organização comunitária e de certa forma pode ser
responsabilizado pelo início das primeiras sociedades.
Os primeiros estudos acerca do significado do trabalho foram feitos por
Kackman e Oldhan (1975), ambos psicólogos que relacionaram a qualidade de vida
no trabalho ao sentido do trabalho. Para eles há três características fundamentais para
qualidade de vida no trabalho: 1) Variedade de tarefas; 2) Identificação dos processos;
3) Retorno sobre seu desempenho.
O trabalho só tem significado quando o trabalhador envolver-se com essas
características. Só há interesse por parte do indivíduo quando o trabalho possibilita
que desenvolva suas capacidades e habilidades realizando tarefas diversas, as quais
ele possa identificar o processo, entenda como tal atividade começa, se desenvolve e
termina, sendo agente participante desse processo.
O retorno também é parte de fundamental importância, uma vez que é o agente
motivador do trabalho, todo indivíduo que desenvolve alguma função tem interesse o
que ela dará para ele, seja salário, seja produção, seja até mesmo a satisfação de ter
feito, um trabalho não remunerado de forma a atender as expectativas do trabalhador
pode quebrar o círculo que proporciona qualidade de vida no trabalho e o significado
do trabalho.
Quando há o exercício destas três características há maior estimulo a
produção, o trabalhador se sente integrado, e incluso nos processos da empresa,
assim como suas emoções o impulsionam e o motiva fazendo com que haja melhor
70
rendimento da função. Cria-se um ambiente propício, o trabalhador se sente acolhido,
passa a gerar dentro de si contentamento e sentimentos de bem estar, de pertencer
ao local de trabalho. Neste contexto há Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), e esta
qualidade sempre foi algo com o qual o ser humano sempre se preocupou
(RODRIGUES, 1999). Maslow (apud RODRIGUES, 1999) listou a hierarquia de
necessidades composta por cinco essenciais para ser humano, são elas
necessidades fisiológicas, segurança, estima, amor e auto realização. Para ele a QVT
é o resultado da satisfação destas cinco necessidades.
Para Walton (1973) a qualidade de vida no trabalho está na satisfação e auto
estima do empregado, em seu oitavo critério, critério que nomeia o presente estudo,
Walton aponta a relevância social do trabalho como responsabilidade social que a
empresa deve ter. A QVT, como explica Limongi- França (1997, p.80):
é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da QVT ocorre a partir do momento em que olha a empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial.
O trabalho exerce importância organizacional social, ou seja, ele organiza a
sociedade em que vivemos e a caracteriza. Assim todo profissional é importante frente
à sociedade e precisa ser tratado como tal. A empresa precisa apresentar a sociedade
a importância do seu trabalho e valorizar seu funcionário de forma que ele se sinta
parte do processo, é esse sentimento que da relevância ao trabalho para o indivíduo,
para a sociedade a empresa precisa demonstrar responsabilidade pelos seus
produtos e pelas suas práticas, ela precisa ser organizada, ter políticas saudáveis,
pois é isso que proporcionando um bom e adequado ambiente de trabalho.
3 METODOLOGIA
A pesquisa adotou a abordagem indutivo, que busca a generalização a partir
do particular para o geral. É qualitativa, uma vez que buscou entender o fenômeno a
partir das percepções dos sujeitos participantes do mesmo. Foi descritiva, pois
descreveu as características do assunto da relevância social do trabalho do docente
71
em educação física. O método de procedimento adotado foi um estudo de caso, pois
analisou, de forma direta, as relevâncias sociais do trabalho docente em educação
física.
Os sujeitos de pesquisa foram 10 professores licenciados em educação física,
residentes no Município de Lucas do Rio Verde-MT, docentes da rede pública
municipal e privada. A caracterização do sujeito foi obtida por meio do questionário e
apresenta-se no quadro 1.
QUADRO 1- Caracterização do sujeito
Sexo Masculino Feminino
6 4
Rede de educação em que
atua Privada Publica estadual
Publica municipal
2 8
Tempo de formação 0 a 2 anos 2 a 4 anos 4 a 6 anos
Mais de 6 anos
1 2 7
Tempo de atuação9 na docência da educação
física 0 a 2 anos 2 a 4 anos 4 a 6 anos Mais de 6
anos
1 2 1 5
Na educação,
você já atuou fora
da docência Sim Não
7 3
Se a reposta foi sim, onde:
Coordenação pedagógica
Direção escolar
Supervisão escolar
Orientação pedagógica Outros
1 4 Coordenação
cultural
Academia
Formador
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
9Um respondente deixou de assinalar o tempo de atuação.
72
Optou-se por um questionário misto. A coleta dos dados foi realizada nas
dependências das instituições de ensino em Lucas do Rio Verde no período de 12 a
31/10/2014.
Os resultados e análise da pesquisa estão apresentados no capítulo 4, assim,
a codificação optou pelo número 4, seguido das categorias estabelecidas a priori pelos
objetivos específicos.
A análise dos dados se deu a partir da identificação de respostas semelhantes
e divergentes, tendo como base teórica em relação ás emoções Goleman; QVT
Rodrigues, Walton e Limongi-França.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com intuito de preservar a identidade do participante da pesquisa, quando
necessário inserir extrato de sua fala, será descrito como P1, P2 [...] P10.
4.1 Emoções Positivas do Professor de Educação Física com Relação ao Significado
do seu Trabalho para a Sociedade
Com o objetivo de entender a relevância social do trabalho docente em
Educação Física realizou-se uma pesquisa, onde os participantes foram questionados
sobre como entendiam ser as emoções e se acreditavam que elas pudessem interferir
na rotina de trabalho. O estudo revelou que 30% dos respondentes relacionam as
emoções á risos, aflição, ansiedade, alegria, medo, impulso neural e satisfação,
assinalando basicamente todas as opções oferecidas. Ainda no mesmo
questionamento, 60% dos respondentes relacionaram a emoção a alegria, medo e
ansiedade e apenas 10% dos respondentes assinalou a opção que caracteriza a
emoção como um impulso neural o que nos permite entender que há uma confusão
quanto ao significado da emoção. O que nos faz perceber que 90% dos respondentes
confundiram a emoção com sentimentos que são frutos da emoção, mas não são
emoções.
Perguntados sobre a influência das emoções na rotina de trabalho, 60% dos
respondentes afirmaram que sim, as emoções interferem totalmente na rotina de
73
trabalho e 40% dos respondentes afirmaram interferir parcialmente, o que nos leva a
entender que ambos os respondentes percebem mudanças em seu comportamento
diário no trabalho por conta de impulsos neurais não controlados, ainda que a maioria
dos respondentes não entendam a emoção como um impulso e a confundam com
sentimentos reconhecem sua interferência direta na rotina de trabalho.
Quando os mesmos profissionais foram questionados quanto ao controle das
emoções, 30% responderam ser capazes de se controlar apenas em situações boas,
ou seja, controlam apenas suas emoções positivas. Isso se dá porque as emoções
positivas tendem a despertar sentimentos bons como riso, alegria, satisfação o que
leva o profissional a tomar boas decisões, na verdade as emoções positivas motivam
o indivíduo a reagir de tal forma que suas ações tendem a serem boas,
independentemente da situação positiva. Em relação a relevância social da docência
em Educação Física, quando temos um profissional exposto a contínuas situações
que o levam de forma consciente, mas também inconsciente a tomar decisões
consideravelmente boas, a agir de acordo com os sentimentos despertados pela
situação positiva, obtém-se uma valorização interna (do próprio profissional com a
função que exerce) que passa a ser externa (reconhecida pelos participantes
externos, alunos, pais, outros professores) isso agrega valor à função desempenhada.
A auto realização também é fruto da exposição á emoções positivas, quando
questionados se sentiam-se realizados quanto á sua função 70% disseram que sim,
que sentiam-se realizados, relacionando a auto realização ao sentimento de amor e
prazer como afirma o P3 “Amo o que faço, trabalho em uma profissão que me dá muito
prazer”. O sentimento de realização pode ser entendido como uma junção de
expectativa, empenho, amor, dedicação, recompensa entre outros. São bons
sentimentos que, por consequência, geram boas ações. Isso nos leva a crer que a
relevância externa está diretamente ligada a interna e pessoal de cada profissional,
pois quando foi solicitado que avaliassem sua função, o seu trabalho perante a
sociedade, 60% avaliaram-se como um bom profissional aos olhos da sociedade,
considerando sua função como de bom desempenho. A percepção social do trabalho
está diretamente ligada a auto realização, pois sentir-se realizado motiva o profissional
a fazer mais e melhor, propicia a tomada de decisões e a elaboração de boas ações
no ambiente de trabalho.
74
4.2 Emoções Negativas do Professor de Educação Física com Relação ao Significado
do seu Trabalho para a Sociedade
Enquanto as emoções positivas levam instintivamente e muitas vezes
imperceptivelmente o indivíduo a tomar boas decisões e agir de forma boa e
agradável, as emoções negativas exercem um peso superior tanto na rotina quanto
na carreira profissional, especificamente do docente em Educação Física.
As emoções negativas exigem maior nível de controle emocional e auto
controle, pois ao contrário das positivas as emoções negativas são tendenciosas á
ações inconscientes.
Na pesquisa realizada, os participantes foram questionados sobre o controle
emocional, se sentiam-se capazes de conter-se frente as situações rotineiras positivas
e negativas. 60% dos entrevistados disseram ser capaz de se controlar frente a
qualquer situação que possa surgir durante a jornada de trabalho, 30% disseram ser
capaz de controlar-se apenas em situações boas. Os participantes do grupo dos 30%
fazem parte da grande maioria da sociedade, ou seja, pessoas que não conseguem
controlar-se frente a notícias ruins, imprevistos, sentimentos ruins, enfim situações
desconfortáveis e negativas. Embora sejam a minoria em nossa pesquisa (feita
apenas com docentes de Educação Física) levam-nos a entender que existe uma
parcela de docentes que não exercem controle de seus impulsos e consequentemente
atraem para si as consequências de decisões e ações feitas por impulso de forma
inconsciente. Isso pode gerar além de transtornos pessoais - porque temos uma forte
tendência em transferir ao próximo aquilo que se passa conosco - em transtornos
profissionais, pois as emoções muitas vezes regem as decisões tomadas.
Estando desconfortável em seu ambiente de trabalho é muito provável que haja
pouco ou nenhum sentimento de realização, isso porque como explicado antes há
uma forte relação entre o realizar e sentimentos bons como amor a profissão. 30%
dos entrevistados disseram não sentir-se realizados quanto à docência em Educação
Física. Isso significa que algo não está se encaixando no exercício da função. Algo a
analisar é que os mesmos 30% disseram não ter domínio e controle perante situações
ruins. Assim, podemos questionar: será que auto realização está ligada ao controle
75
emocional? Sim está, por ser um sentimento ela é fruto das emoções positivas,
depende das situações positivas para existir.
Outra situação a se considerar é a insatisfação, fruto de emoções negativas.
Ao questioná-los quanto á remuneração financeira, 70% dos entrevistados disseram
não ser remunerados o suficiente para a função que exercem. O fim do trabalho, o
resultado final e remuneração são fatores extremamente importantes para obter-se
significado e relevância do trabalho. Sentir-se insatisfeito e desvalorizado afeta
diretamente o rendimento do profissional. Ao relacionar este fator com a relevância
social da docência em Educação Física nos deparamos com um dos fatores que
causam maior desistência profissional, pois age diretamente na emoção do indivíduo,
que na maioria das vezes decide desistir. A desistência é uma ação derivado das
emoções negativas. Os impulsos frente a situações negativas quando não controlados
podem levar o profissional a sentir-se inútil, desvalorizado, leva-o a sentir que o seu
trabalho não tem sentido. Este sentimento leva o docente ao desânimo, que interfere
em seu desempenho, se não há desistência, há desmotivação, cansaço e desgaste.
O professor de Educação Física, objeto de estudo desta pesquisa, exerce uma
função extremante difícil quando posto frente ao quesito emocional, pois seu trabalho
exige de si fisicamente e mentalmente ao mesmo tempo. É uma função propícia ao
cansaço de ambos, corpo e mente, assim controlar seus impulsos frente a situações
negativas, ou seja, se controlar frente a emoções negativas torna-se quase
impossível.
Ao chegar na escola o aluno não quer encontrar um professor agressivo,
nervoso ou estressado. Precisamos lembrar que o aluno faz parte da sociedade, se
ele o encontrar de tal forma o desvalorizará e consequentemente desvalorizará seu
trabalho e levará sua família também a desvalorizá-lo. O fato é, quando controlado
por suas emoções negativas sejam elas derivadas do baixo salário, má condição de
trabalho, frustração, falta de realização profissional entre outras, o profissional
compromete sua produção, rendimento e o valor social. É assim para todos os
profissionais, inclusive para o professor de Educação Física.
Como estudamos anteriormente muitos fatores contribuem para agregar
relevância social a uma função docente em Educação Física, não é apenas o trabalho
76
em si, mas forma de executá-lo, o ânimo, a precisão, a perfeição, a contribuição social,
o valor pessoal agregado, o significado do trabalho é a relevância do trabalho.
4.3 Comparação entre as Emoções Positivas e Negativas e a Relevância Social da
Docência em Educação Física
Enquanto as emoções positivas são os impulsos frentes as situações boas, as
emoções negativas são impulsos frente as situações ruins. São parecidas por serem
ambas respostas neurais as situações cotidianas externas. O fato é que ambas fazem
parte da vida do ser humano e precisamos aprender a viver com elas para sermos
bem sucedidos socialmente, pessoalmente, profissionalmente e todas as “mentes”10
possíveis. Tanto as emoções positivas quanto as negativas interferem diretamente em
todas as áreas da nossa vida.
A emoção é um importante fator a ser levado em consideração quando falamos
sobre a relevância social da docência em Educação Física, porque é ela quem
determina parte da personalidade e do caráter do profissional. Quando sob influência
das emoções positivas o profissional pode sentir-se mais motivado, mais empenhado
a realizar seu trabalho. Ao contrário das emoções positivas, as emoções negativas
fazem o caminho reverso, torna o profissional mais cansado, desmotivado, irritado,
sentindo-se desvalorizado, sem vontade de realizar um bom trabalho, ou seja, pode
transformá-lo em um docente que torna suas aulas cansativas e entediantes e não se
importa com a forma pela qual é reconhecido.
Por fim a relevância social da docência em Educação Física está ligada a
capacidade de autocontrole de ambas as emoções, porque no ambiente de trabalho
não há como viver apenas o lado positivo, é necessário viver o negativo também, é a
habilidade de trabalhar os impulsos que coopera em agregar valor tanto social quanto
pessoal ao trabalho docente.
Por corolário, cabe salientar que ao buscar a exaustão e o sentimento de
satisfação nas academias as pessoas buscam por controle de seus impulsos e
sensação que tal controle permite. Assim também é o aluno que precisa aprender a
10 Refere-se de forma irônica a outras áreas cuja a palavra que as nomeia terminam em “mente”.
77
controlar seus impulsos e para isso precisa de um professor que se controle. Isso é
apenas um dos vários fatores já citados neste estudo quanto á relevância da docência
em Educação Física.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qual o sentimento do professor de educação física em relação ao significado
do seu trabalho para a sociedade? Durante todo este estudo buscou-se encontrar a
reposta para esta problemática, e para isto percorreu-se um extenso caminho
estudando as emoções positivas e negativas e o significado do trabalho, assim como
sua relação com a docência em Educação Física. Buscando um entendimento ainda
maior analisou-se o contexto real dos docentes em Educação Física e então a
resposta resumiu-se a uma única palavra, realização. O sentimento do professor de
Educação Física em relação ao significado social do seu trabalho é realização.
Com a pesquisa constatou-se que há uma profunda ligação amorosa e
prazerosa entre o docente e sua função, os docentes participantes da pesquisa
resumiram seu sentimento social quanto á sua função a realização quando
questionados se sentiam-se realizados, a maior parte deles desconsiderou a condição
de trabalho, a remuneração e afirmaram sentir-se realizados porque amam e sentem
prazer no que fazem, o que prova a influência direta das emoções na relevância social
da docência em Educação Física.
Assim, a relevância social da docência em Educação Física está no próprio
indivíduo. Está na valorização doada por ele mesmo a função que dá significado as
suas ações.
Por fim consideramos que o trabalho dá significado ao homem e o homem cria
sua identidade através do significado que recebe. A docência em Educação Física
tem a relevância que o docente atribui a ela, de modo que função e sujeito
complementam-se em um importante processo pessoal que ao mesmo tempo é social,
pois há uma relação profunda constante entre os participantes do mesmo.
78
REFERÊNCIAS
COSTA, F. Carreiro da. Formação de professores: objetivos, conteúdos e estratégias. In Formação de professores em educação física: concepções, investigações, prática. Lisboa: FMH Edições, 1996. LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de vida no trabalho: conceitos, abordagens, inovações e desafios nas empresas brasileiras. Rio de Janeiro, 1997. GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionaria que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva,1995. MATTOS, Geraldo. Dicionário junior da língua portuguesa.São Paulo: FTD, 1996. RODRIGUES, Marcus. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Petrópolis: Vozes, 1999. WALTON, Richard E. Quality of Working Life: What is it? Sloan Management. USA, 1973.
79
ENTRE O PENSADO E O CONSTRUÍDO: Um Estudo Sobre a Complexidade da
Formação Docente no Ensino Superior
Janete Rosa da Fonseca11
Sandra Inês Horn Bohm12
RESUMO
Este artigo buscou uma reflexão acerca das mudanças de uma sociedade liquida e da necessidade dos profissionais da Educação Superior estarem atentos e preparados para estas mudanças através de uma formação continuada. Ao refletirmos sobre isto surgiu a problemática da pesquisa aqui apresentada, a busca de referenciais para a descoberta da identidade docente contribui para a formação da complexidade do oficio de professor do Ensino Superior? Ao nos lançarmos na busca por respostas propusemos como objetivo geral identificar se a busca a busca de referenciais para a descoberta da identidade docente contribui para a formação da complexidade do oficio de professor do Ensino Superior e ainda estabelecer a relação entre a formação dos professores e seus referencias teóricos, bem como verificar o nível de profundidade de suas análises ontológicas ao se posicionar sobre quem são. E por fim E por fim indagar as percepções que os docentes participantes da pesquisa demostraram acerca de sua prática. A metodologia escolhida para o desenvolvimento desta proposta foi a do estudo de caso. A análise dos dados, em um estudo de caso, consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as evidências para tratar proposições iniciais de um estudo. Quanto ao método o escolhido foi o indutivo e a pesquisa do tipo descritiva. Com o intuito de determinar o foco da análise optou-se pela categorização dos dados, foram elencadas três categorias de análise com o intuito de tomar conhecimento das percepções que os docentes da IES pesquisada têm acerca de sua identidade como professores do Ensino Superior. Entre o pensado e o construído no que tange a formação docente faz-se necessário um constante repensar de práticas.
Palavras-chave: Formação Docente. Identidade. Ensino Superior.
11 Pedagoga, Especialista em Orientação Educacional, Especialista em Estratégia Empresarial, Mestre em Educação, Doutora em Educação. Coordenadora do Curso de Pedagogia da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde- MT. Docente dos Programas de Pós Graduação Lato Senso das Faculdades, La Salle, FASIPE e UNIC. 12 Bacharela em Administração (FEMA - Faculdades Integradas Machado de Assis). Mestre em Engenharia da Produção (UFSM - Universidade Federal de Santa Maria). Coordenadora do Curso de Agronegócio. Docente dos Cursos de Graduação e Pós graduação da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde- MT.
80
ABSTRACT
This paper aims to reflect about the changes of a liquid society and the need of the professionals of higher education be aware and prepared for these changes through continued training. As we reflect on this arose the problem of the research presented here, the search for references to the discovery of teacher identity contributes to the formation of the complexity of the office of Professor of Higher Education? As we launch the search for answers proposed as a general objective to identify if the search the search for references to the discovery of teacher identity contributes to the formation of the complexity of Higher Education Teacher office and also establish the relationship between the training of teachers and their theoretical references and check the level of depth of its ontological analysis to position themselves about who they are. Finally Finally investigate the perceptions that teachers participating research have shown about their practice. The methodology chosen for the development of this proposal was the case study. Data analysis in a case study, is to examine, categorize, classify in tables, test or otherwise, recombine the evidence to treat initial proposals of a study. As for the method chosen was the inductive and descriptive research. In order to determine the focus of the analysis it was decided to categorize the data, we listed three categories of analysis in order to ascertain the perceptions that teachers of IES have researched about their identity as teachers of Higher Education. Between thought and built with respect to teacher training is necessary a constant rethinking practices
Key words: Teacher Training. Identity. Higher Education
INTRODUÇÃO
Propondo aqui uma discussão que não é nova, mas que devido ao momento
que vivemos em sociedade é extremamente atual, permite-se iniciar a mesma
trazendo à tona uma questão referente ao então já referenciado momento “atual”. De
tempos em tempos, cientistas, sociólogos, filósofos, historiadores, políticos, insistem
em “batizar”, o período em que estamos vivendo com um nome diferente, novo.
Alguns nomes duraram pouco tempo, outros perduram até agora, mas o que tem até
o momento se mantido em alta é o termo pós-modernidade. O que nos leva a pensar
que a pós-modernidade tem seu foco nas questões irrompidas com a globalização
que atinge os domínios econômico, cultural e político.
Com relação a sociedade pós-moderna podemos pensar em dois argumentos,
um deles parte da impossibilidade de o humano ser objeto da ciência, uma vez que é
imerso em subjetividade. O outro fundamenta-se na pressuposição de que a
81
objetividade é ilusória, já que o fenômeno humano sempre se encontra marcado por
um viés ideológico. Podemos perceber com mais clareza estes argumentos, nas
palavras de Kumar (1997, p.132)
A sociedade pós moderna associa tipicamente o local e o global. Os acontecimentos globais, a internacionalização da economia e da cultura, são refletidos para as sociedades nacionais, minando as estruturas nacionais e promovendo as locais.
Essa distinção entre modernidade e pós modernidade foi fruto das inquietações
de autores como Jean Braudillard apud Castro (2001), quando este tenta explicar a
realidade como um conjunto de modelos. A modernidade inicia com a Revolução
Industrial, a pós modernidade é o período em que impera a comunicação de massa,
segundo esse autor, vivemos no “êxtase” das comunicações. A partir dessas reflexões
nos posicionamos frente a uma inquietação, uma vez que nesta sociedade cambiante,
encontramos um profissional que necessita atualização constante, que necessita
acompanhar as mudanças e as variações dessa modernidade liquida, ou seja, nessa
efervescência encontramos o professor do Ensino Superior. Ao refletirmos sobre isto
surgiu a problemática da pesquisa aqui apresentada, a busca de referenciais para a
descoberta da identidade docente contribui para a formação da complexidade do oficio
de professor do Ensino Superior? Ao nos lançarmos na busca por respostas
propusemos como objetivo geral identificar se a busca a busca de referenciais para a
descoberta da identidade docente contribui para a formação da complexidade do oficio
de professor do Ensino Superior e ainda estabelecer a relação entre a formação dos
professores e seus referencias teóricos, bem como verificar o nível de profundidade
de suas análises ontológicas ao se posicionar sobre quem são. E por fim E por fim
indagar as percepções que os docentes participantes da pesquisa demostraram
acerca de sua prática.
Acredita-se na importância do tema proposto pois, somos sabedores da
existência de um consenso de que a docência no Ensino Superior não requer
formação no campo do ensinar. Pimenta e Anastasiou (2011), deixam isso claro ao
enfatizar que muitos acreditam que para o desempenho da docência no Ensino
Superior seria suficiente o domínio de conhecimentos específicos, pois o que
verdadeiramente identifica esta docência é a pesquisa ou o exercício profissional no
82
campo. A escolha do tema e os procedimentos metodológicos adotados devem-se a
questão de que no Brasil vem se desenvolvendo pesquisas que gravitam em torno da
epistemologia da prática que investiga o ensino, a identidade docente e sua prática
pedagógica.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Dimensões Políticas da Formação de Professores para a Educação Superior
A legislação brasileira não exige do professor do Ensino Superior nenhuma
formação pedagógica para sua atuação nos cursos de graduação. Conforme a
legislação vigente um curso de pós graduação lato ou strictu sensu deve ser capaz de
garantir que este profissional encontra-se apto a ministrar aulas nesse nível de ensino,
o que certamente deve ser visto com certa cautela, uma vez que esta formação nem
sempre garante a qualidade e a verdadeira compreensão do processo de
ensino/aprendizagem.
De acordo com Morosini (2000), na década de 60 e 70 ainda acompanhadas
de um modelo desenvolvimentista a universidade ficou entendida como um espaço
reservado para produzir conhecimento desenvolvimento e fortalecimento das políticas
públicas do Estado. Nesta época o Estado também viveu um período autoritário onde
a estratégia era de anular ou diminuir a ideia clássica da universidade e possibilitar a
liberdade e a contestação. A reflexão pode ser feita a partir da ideia de concepção
reducionista da formação de professores investigadores especialistas, não se nega a
importância da investigação como função do professor universitário. As práticas da
docência eram muito voltadas à organização de cada instituição de ensino em razão
das políticas públicas omitirem as determinações referentes ao processo de ensinar.
A partir da década de 90, o Estado avaliativo marca presença efetiva no processo para
orientar a qualidade e a excelência do ensino no Brasil. Nesta época surge o
questionamento de quem é o professor universitário.
E a resposta que se tinha era baseava no tipo de formação acadêmica, área de
atuação e experiência em sala de aula, e mais uma vez a didática não era exigida e
nem vista como necessária para a atuação professor do Ensino Superior. Podemos
83
observar isto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) de
vinte de dezembro de 1996, através de seu artigo 62 torna claro como deve ser a
formação de docentes para atuar na educação básica, bem como no artigo 65 explicita
que a formação docente incluíra práticas de ensino, ou seja estagio supervisionado
obrigatório de no mínimo 300 horas, com exceção de aqueles que se destinam à
docência para educação superior, uma vez que o artigo 66 da referida lei determina
que a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-
graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Conforme
Frauches e Fagundes (2007, p.148)
Para atuação no magistério superior não há exigência de aprovação previa em licenciaturas. Estas são indispensáveis para o exercício do magistério na educação básica. Para o exercício da docência no ensino superior o profissional deve ser portador de um título obtido em cursos ou programas de pôs graduação, lato ou estrito senso, tendo como base uma formação em curso de graduação: bacharelado, licenciatura ou curso superior de tecnologia. O parecer CES/CNE Nº 499/99 esclarece dúvidas quanto a aplicação do artigo 66 que refere que a preparação dos docentes para o ensino superior deve ser feita em nível de pôs graduação, prioritariamente, mas não exclusivamente, em programas de mestrado e doutorado. Admite, por outro lado, que a preparação para o magistério superior seja também feita em cursos de especialização, com carga horaria mínima de 360 horas e disciplinas voltadas para a especialização do graduado em determinada área ou campo do saber.
Percebe-se claramente que a formação para atuação no Ensino Superior, não
recebeu maior atenção na lei maior da educação, acredita-se que seria necessária
maior clareza quanto aos requisitos necessários para atuação destes profissionais.
2.2 Perfil Docente: e o desenvolvimento de uma identidade docente
As competências técnicas contribuem para o professor compreender o
processo ensino/aprendizagem mas as competências humanas contribuem para que
esse profissional possa definir qual é sua identidade como docente do Ensino
Superior. Afinal quem é o professor do Ensino Superior? Um pesquisador? Um
estudioso de sua prática? Pimenta (2007, p.165) nos leva a uma reflexão sobre este
tema ao dizer que,
84
[...] pelo significado que cada professor, como ator e autor, confere a atividade docente no seu cotidiano, com base em seus valores, seu modo de situar-se no mundo, sua história de vida, suas representações, seus saberes, suas angustias e seus anseios, no sentido que tem em sua vida por ser professor.
A identidade de um profissional se constrói também a partir de seu conjunto de
valores e do quanto este profissional se doa para a docência no Ensino Superior. A
qualificação de um profissional tem a ver com uma série de fatores dentre eles as
descrições propostas para o cargo e se seu comportamento corresponde ao que se
espera de um professor universitário em decorrência do status que é atribuído ao seu
cargo na sociedade.
A construção de uma identidade docente inicia-se no processo de efetivar a
formação na área. Quando profissionais das mais diversas áreas passam a atuar
como professores no ensino superior acabam por faze-lo sem qualquer processo
formativo e alguns até mesmo sem que tenham escolhido ser professores.
Se este profissional é oriundo de alguma licenciatura teve oportunidade de
discutir teorias e práticas relativas a questão de ensino e da aprendizagem, porem
sabemos que a formação recebida foi direcionada a uma outra faixa etária de alunos
e obviamente com objetivos de formação bastante diferenciados da formação que se
pretende desenvolver no ensino superior. Conforme Pimenta e Anastasiou (2011),
para os profissionais que são oriundos das demais áreas a construção da identidade
de professor de ensino superior se dá ao longo da trajetória e nos momentos que
sucedem a graduação com os cursos de especialização, mestrado e doutorado. Pelo
exposto até o momento, nesta reflexão pode-se perceber o quão complexo é traçar
um perfil, construir uma identidade para o docente do Ensino Superior, pois não
podemos restringir essa construção à sua própria prática e nem mesmo a sua
formação de base.
2.3 Didática: Olhares que se cruzam na prática pedagógica
A introdução da didática no Brasil, aconteceu através da inserção de uma
disciplina nos cursos de formação de professores. Esta disciplina foi desde o início
trabalhada como o conjunto de teoria e técnicas relativas a transmissão de
85
conhecimento, ou ainda como a arte de ensinas, conceito este deixado como legado
do percussor da educação humanista, Jan Amós Comenius em seu livro, Didática
Magna de 1638. Até os dias atuais a identificação com uma perspectiva normativa e
prescritiva de métodos e de técnicas permanece arraigada no imaginário da grande
maioria dos docentes.
Segundo Pimenta e Anastasiou (2011, p.62), “os professores universitários,
quando indagados acerca do que esperam da Didática, são unânimes em afirmar: as
técnicas de ensinar.” A didática acaba por possibilitar que os professores
“pedagogizem13” sua prática. Ou seja na docência das disciplinas que estão sob sua
responsabilidade possam articular elementos lógico-científicos próprios de cada área.
A didática nos proporciona reconhecer que ninguém nasce professor, mas nos
tornamos professor. E é nesse processo que Scarpato (2012), nos diz que “vamos
construindo nossa identidade docente, o que não irá ocorrer somente em um período
da vida mas, durante toda nossa experiência de sala de aula.
O conhecimento da didática possibilita ao professor a compreensão das
relações que transcendem o ensino das disciplinas, muitas vezes ouve-se falar que
um professor tem uma boa didática ou até mesmo que algum texto era didático, o que
nos remete a simples constatação de que tem didática ou é didático aquele que sabe
explicar, ou que torna sua explicação relevante para quem o escuta ou lê.
Sabemos que a Educação se subordina a um modelo político- social, que está
organizada de forma a atender a sociedade em que está inserida mas o professor
necessita saber como fazer com uma crença se traduza no ensino de um determinado
conteúdo é também papel da didática. Podemos observar outros vieses por onde se
percebe a presença e a importância de uma boa didática nas palavras de Malheiros
(2013, p.47)
[...] é preciso que o docente seja capaz de criar um ambiente propício para que a aprendizagem aconteça. Para muitos além dos métodos de ensino, reside a estruturação de espaços orientados para a formação do outro. A criação e a manutenção deste ambiente são outra vertente da didática.
13 Grifo nosso.
86
Todo o professor de qualquer nível de ensino precisa e merece ter a
oportunidade de cursar didática ou de aproximar-se dela afim de que possam
compreender a complexidade do ofício docente no processo ensino aprendizagem.
3. METODOLOGIA
Para Fonseca (2002), methodos, significa organização, e logos, estudo
sistemático, pesquisa, investigação, ou seja, metodologia é o estudo da organização,
dos caminhos a serem percorridos, para se realizar uma pesquisa, ou um estudo, ou
para se fazer ciência. Etimologicamente significa o estudo dos caminhos, dos
instrumentos utilizados para se fazer uma pesquisa científica. A pesquisa qualitativa
que é conforme a percepção das autoras deste estudo a que consegue construir
significados e possibilita construir sentido às falas e manifestações dos docentes
nesta investigação.
Ao se definir esta pesquisa quanto a sua abordagem optou-se pela pesquisa
qualitativa, por se ela como nos diz Denzin e Lincoln (2010), em si mesma um campo
de investigação. Ela atravessa disciplinas, campos e temas. Em torno do termo
pesquisa qualitativa, encontra-se uma família interligada e complexa de termos,
conceitos e suposições. A pesquisa qualitativa não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de
um grupo social, de uma organização, etc.
As formas de estudo do objeto da pesquisa foram consideradas e desta forma
optou-se por realizar uma pesquisa do tipo descritiva, no que tange aos objetivos da
mesma, na qual se observam, registram, analisam, classificam e interpretam os fatos
sem que o pesquisador faça interferências. Desta forma puderam-se estudar os
fenômenos que permeiam o mundo físico e humano sem a necessidade de manipulá-
los. A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que
deseja pesquisar. Esse tipo de estudo, conforme Trivinos (1987) pretende descrever
os fatos e fenômenos de determinada realidade.
Quanto ao método trata-se de uma pesquisa indutiva, quanto a natureza
caracteriza –se como pesquisa aplicada pois, objetiva gerar conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e
87
interesses locais. Na escolha do procedimento a ser utilizado, o estudo de caso, foi o
mais apropriado para a investigação proposta. Pois conforme Fonseca (2002, p.33),
Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revelá-lo tal como ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador.
A análise dos dados, em um estudo de caso, consiste em examinar,
categorizar, classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as evidências
para tratar proposições iniciais de um estudo. Segundo Yin (2005), analisar as
evidências de um estudo de caso é uma atividade particularmente difícil, pois as
estratégias e as técnicas não tem sido muito bem definidas. A familiaridade com várias
ferramentas e técnicas de manipulação é muito útil, mas cada estudo de caso deve
se esforçar para ter uma estratégia analítica geral, estabelecendo prioridades do que
deve ser analisado e por que.
Com o intuito de determinar o foco da análise optou-se pela categorização dos
dados, foram elencadas três categorias de análise com o intuito de tomar
conhecimento das percepções que os docentes da IES pesquisada têm acerca de sua
identidade como professores do Ensino Superior. O questionamento foi dirigido a um
grupo representativo dos docentes que compõe o quadro da Faculdade La Salle de
Lucas do Rio Verde.
4. Identidades Construídas, os professores da Faculdade La Salle de Lucas do Rio
Verde- Um estudo de caso
A Faculdade La Salle possui um foco muito claro na oferta de formação
continuada para os docentes da Instituição. Se percebe claramente esta preocupação
em cada atividade selecionada e preparada nos encontros semestrais chamados de
88
Jornadas Pedagógicas. Nestes encontros são tratados vários temas que são
importantes para a atuação dos docentes, dentre eles, questões como a didática,
temas atuais que devem ser inseridos na prática pedagógica, bem como assuntos
referentes a questões técnico-administrativas imprescindíveis para o conhecimento
das rotinas do universo da academia.
Em uma das Jornadas Pedagógicas realizadas na IES, foram abordadas
questões sobre a identidade dos docentes, a inserção na pesquisa e o conceito de
didática, onde os participantes foram colocados de frente a um questionamento
ontológico, quem sou eu? Estas questões deram origem as três categorias
apresentadas, identidade docente, pesquisa e didática. Participaram desta pesquisa
trinta e oito docentes dos Cursos de Graduação da Faculdade La Salle. O quadro 1,
apresenta os resultados obtidos.
Categorias Categorias Secundárias Categorias Principais
89
a) Identidade
Docente
Busca constante, empático; Auxilia o acadêmico em suas dificuldades; Busca inovação a cada ano; Que ouve e quer ser ouvido; Mantém o vínculo após o término do Curso; Tem muito o que aprender; Em busca do eterno aprendizado; Conhecedor apenas da “matéria” que leciona; Preocupa-se em ensinar e transmitir melhor o conhecimento. Envolvido mas ciente de suas limitações pedagógicas; Docência é uma interlocução de sujeitos; Por conta da boa experiência profissional sentiu-se provocado a ensinar; Atuação, muitas vezes equivocada por falta de formação Pedagógica; Inconformidade com a desvalorização da Educação; Buscar no conteúdo argumentos significativos para os acadêmicos; As aulas funcionam como laboratório; Procurar não se perder no academicismo;
Professor Pesquisador; Professor reflexivo; Professor autoritário mas com espírito afetivo; Professor crítico; Professor que cativa; Busca conhecer sem tempo para ser; Professor Apaixonado; Professor interessado; Professor que se preocupa com a Educação global; professor estudioso e compromissado; Sujeito docente em formação; Um técnico; Professor técnico, um bacharel; Profissional com cargas distintas, mas ambas na docência; Professor preocupada com o a instrumentalização do saber técnico científico; Professor impaciente e incompleto; Professor mediador; Professor dialético; Um professor com base epistemológica; Profissional em construção; Professor facilitador; Professor identificado com a missão Lassalista; Professos angustiado; Professor executivo; Dinâmico; Professor inquieto;
90
b) Pesquisa Ainda precisa aprender a pesquisar; Em fase de construção e desconstrução constante; Em desenvolvimento; Contiguidade com a produção científica; Ler, pesquisar e começar a escrever; Desafio constante; É preciso ser cientista; A pesquisa é o meu maior desafio; Em constante evolução; Pesquisar e investigar a si próprio antes de prosseguir. Necessidade de melhorar as questões referentes a pesquisa;
Está em busca desse aprendizado; Ainda é um pouco sonho; Em busca de conhecimento e ferramentas; Próximo das perspectivas investigativas; Iniciando a escrita de suas pesquisas; Academia e pesquisas científicas; Sente muito medo de escrever; Exercitando a produção científica; saberes da prática e saberes da docência; Pesquisador de suas práticas;
c) Didática Exemplos e vivências ampliam a credibilidade do professor; Incentivo a criatividade e a tecnologia; Um professor que consegue competir diretamente com o celular e sua tecnologia tornando a aula mais atrativa; Fazer a diferença sem medo de desafios; Como aprender, como ensinar, como transmitir melhor; É quem conhece a disciplina mas reconhece que ainda não saber sobre ela; Ter uma boa bagagem teórica e de conceitos;
Reflexão acerca das metodologias utilizadas no processo ensino/aprendizagem; Aprendizagem de processor educacionais; Conhecimentos variados para determinados temas; Consciência da necessidade de aprender; Questionamento constante: Ciência da Educação e Pedagogia; Preocupação em transmitir o certo; Construção de novas possibilidades de intervenção pedagógica;
QUADRO 1 – Categorias Secundárias e Principais
Fonte: Jornada Pedagógica, 2014.
Numa sociedade onde o paradigma da mudança é a dinâmica constante, faz-
se imprescindível adequar a prática docente a essa vertiginosa inconstância de uma
91
sociedade líquida, o exercício da docência exige uma constante renovação e
aprimoramento de práticas. Zabala (2010, p.15) corrobora ao apresentar que,
O professor modifica algum aspecto de sua prática docente como resposta a algum problema prático, depois de comprovar sua eficácia para resolve-lo. Através da avaliação, a compreensão inicial do professor sobre o problema se transforma. Portanto a decisão de adotar uma estratégia de mudança precede o desenvolvimento da compreensão. A ação inicia a reflexão.
Refletir sobre como ensinar na sociedade atual, requer dos profissionais do
Ensino Superior um constante aprender a aprender. Nesse sentido parafraseia-se
aqui um dos sujeitos dessa pesquisa que assinou seu relato sobre a identidade
docente como, “eterno aluno.”14
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A problemática da pesquisa aqui apresentada, a busca de referenciais para a
descoberta da identidade docente contribui para a formação da complexidade do oficio
de professor do Ensino Superior? Percebemos que há uma identidade a ser
construída, há uma concepção de aula a ser revista e consequentemente atualizada,
há novos modos de ensinar e de aprender a serem praticados, e há também uma
forma mais completa e real de estabelecermos uma conexão entre o pensado e o
construído na docência da Educação Superior.
Como o objetivo geral estava alicerçado na proposta de identificar se a busca
de referenciais para a descoberta da identidade docente contribui para a formação da
complexidade do oficio de professor do Ensino Superior, foi possível perceber que
sim, pois esta busca em descobrir sua identidade como vimos apontada nesta
pesquisa leva os docentes a buscar maiores referenciais para sua prática, o
questionamento de sua identidade os leva a uma busca constante pela formação de
novos saberes. Scarpato (2012), nos diz que “vamos construindo nossa identidade
docente, o que não irá ocorrer somente em um período da vida mas, durante toda
nossa experiência de sala de aula.
14 Grifo nosso.
92
Ao estabelecer a relação entre a formação dos professores e seus referencias
teóricos, percebeu-se que os profissionais buscam aliar as experiências obtidas com
suas práticas profissionais as teorias e até mesmo reconhecendo que isto as vezes
vem ocorrendo de forma equivocada, entendem que isto acontece devido à falta de
formação pedagógica da maioria.
O nível de profundidade de suas análises ontológicas ao se posicionar sobre
quem são, deixou claro que independente das dificuldades apontadas estes docentes
são apaixonados pela docência e não hesitam em aceitar desafios e buscar formação
continuada para transpor os obstáculos da busca por uma aprendizagem significativa.
E por fim ao indagar as percepções que os docentes participantes da pesquisa
demostraram acerca de sua prática nos deparamos com alguns profissionais
inquietos, angustiados mas sempre na busca por atingir o objetivo de se orgulhar da
profissão escolhida e dos resultados que vem obtendo através da pesquisa constante
de suas práticas, o que promove a construção de novas e importantes intervenções
pedagógicas. Como nos diz, Pimenta e Anastasiou (2011, p.62), “os professores
universitários, quando indagados acerca do que esperam da Didática, são unânimes
em afirmar: as técnicas de ensinar.”. Entre o pensado e o construído no que tange a
formação docente faz-se necessário um constante repensar de práticas.
REFERÊNCIAS
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93
KUMAR, Krishan. Da sociedade Pós-industrial a pós-moderna: Novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar,1997. MALHEIROS, Bruno Taranto. Didática Geral. Rio de Janeiro, LTC, 2013. MOROSINI, Marília Costa (Org.). Professor do Ensino Superior: identidade, docência e formação. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2000. PIMENTA, Selma Garrido. ANASTASIOU, Léa das Graças. Docência no Ensino Superior. São Paulo, Editora Cortez, 2011. ______________. Formação dos Profissionais da Educação: Visão crítica e perspectivas de mudança. Educação e Sociedade, Campinas, CEDES, nº 68, 2007. SCARPATO, Marta. Didática e Desenvolvimento Integral. São Paulo, Avercamp, 2012. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: A pesquisa qualitativa em Educação. São Paulo, Editora Atlas, 1987. YIN, Robert K. Estudo de caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre, Editora Bookman, 2005. ZABALA, Antoni. A prática educativa. Porto Alegre, Artmed, 2010.
94
EXTENSÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNEMAT JUARA
Lisanil da Conceição Patrocínio Pereira15
Lori Hack de Jesus16
Waldineia Antunes Alcântara Ferreira17
RESUMO
As atividades de Extensão sobre a educação ambiental têm sido desenvolvidas por professores, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação lato-sensu do Campus da UNEMAT de Juara e professores da Escola Estadual Luiza Nunes Bezerra, Escola Municipal Rui Barbosa, Escolas da Terra Indígena Apiaká-Kaiabi e Escola Municipal Ulisses Guimarães do Município de Novo Horizonte do Norte. Consideramos que essas escolas tem oportunizado de forma inovadora e autônoma a construção de conhecimentos pelas crianças. Este trabalho busca contemplar a formação continuada de professores, indo além do saber técnico didático, mesclando o saber científico, com objetivação e sensibilidade, articulando a construção de um conhecimento histórico-cultural e ambiental que ultrapassa a leitura e o discurso recorrente da formação do Vale do Arinos, infelizmente com forte base no desmatamento que permitiu a colonização deste Território. Tem como objetivo contribuir para a formação de cidadãos aptos para decidirem e atuarem na realidade social de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. As atividades comportam um importante espaço acadêmico e pedagógico que auxilia na formação em sala de aula de estudantes de graduação, sobretudo, nas disciplinas de Metodologia Científica e Monografia, na quinta fase formativa do Curso de Pedagogia na construção e apresentação dos projetos de Conclusão de Curso.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Conhecimento Popular. Diversidade.
ABSTRACT
The outreach activities about Environmental education have been developed by teachers, researchers, graduate students from the UNEMAT Campus, in Juara, and teachers from the State School Luiza Nunes Bezerra, Municipal School Rui Barbosa, Amerindian Schools Apiaká-Kaiabi and Municipal School Ulisses Guimarães from Novo Horizonte do Norte town. We consider that these schools have
15 Doutora em Geografia. Professora no Curso de Pedagogia do Campus da UNEMAT/Juara. Brasil. [email protected] 16 Mestre em Educação. Professora no Curso de Pedagogia da UNEMAT, Campus de Juara. Brasil. [email protected] 17 Doutora em Educação. Professora no Curso de Pedagogia da UNEMAT, Campus de Juara. Brasil. [email protected]
95
propitiated in a original and autonomous way, the construction of knowledge by the children. This job seeks to contemplate the extended formation of teachers, going beyond the technical didatic scholarship, merging the scientific knowledge, with objectification and sensibility, organizing the construction of a historical-cultural and environmental awareness that exceeds the reading and speech abilities originated at the formation of the Arinos Valley, unfortunately with strong base on the deforestation process that allowed the colonization of this Territory. It has as objective to contribute to the formation of citizens able to decide and work on the social reality in a manner of commitment to life, the welfare of each one and of the society, both local and global. The activities contain an important academic and pedagogical area that helps on the classroom graduation process, especially on the Scientific Methodology and Monograph disciplines, on the fifth development phase of the Education Course in the constitution and presentation of the End of Course projects.
Keywords: Environmental Education. Popular knowledge. Diversity.
1 INTRODUÇÃO
Os projetos de extensão e de pesquisa na área de Educação Ambiental têm
sido consolidados nas produções científicas e acadêmicas, apresentadas em eventos
científicos, bem como no número expressivo de Trabalhos de Conclusão de Curso
(TCC) de graduação que são propostos e defendidos em cada semestre no curso de
Pedagogia e nas defesas de monografias da pós-graduação em Educação e
Diversidade, que foi proposto pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Diversidade da Amazônia Legal e na Pós-Graduação Docência no Ensino Superior.
Nesta perspectiva, está correspondendo à exigência da obrigatoriedade na
matriz curricular, da Educação Ambiental que permeia o curso de Pedagogia do
Campus da UNEMAT de Juara. Desta forma, este grupo de pesquisa tem intensificado
as suas ações em Educação, Meio Ambiente e Diversidade, ações como essa ajudam
certamente a consolidar uma sociedade sustentável e invoca uma
corresponsabilidade da universidade no entendimento de conceitos através de ações
extensionistas, de ensino e pesquisa. Para isso, é necessário mais do que
informações e conceitos, a Universidade deve cumprir com o seu papel de trabalhar
96
com atitudes, com formação de valores. Entendemos também que a instituição tem o
dever de trabalhar a formação da consciência ecológica.
Estas ações têm sido planejadas para minimizar, monitorar e compensar os
impactos gerados, de forma a manter a biodiversidade existente no ambiente em volta
das instituições onde este grupo de pesquisa mantem atividades, seja através dos
Programas Novos Talentos/CAPES e do PIBID- Programa Institucional de Bolsas para
a Iniciação à Docência/CAPES, além de contribuir com o desenvolvimento científico,
tecnológico, educacional, econômico, social e cultural de Mato Grosso.
Os objetivos deste texto são: Refletir sobre as condições de produção e
apropriação do conhecimento científico em Educação Ambiental, de forma reflexiva e
crítica, procurando estabelecer um diálogo com as ciências; Construir conceitos e
valores de forma coletiva, sempre a partir de reflexões, ações e posturas realizadas
no cotidiano. Serão levadas em consideração necessidades individuais e coletivas
realizadas a partir da abordagem dos temas como educação ambiental, meio
ambiente e produção do conhecimento; E Incentivar educadores a levarem para o
cotidiano da sala de aula questões ambientais atuais e de significativa importância
social.
As atividades englobam o universo de alunos(as) e professores(as) que são
beneficiados pela elaboração de projetos em Educação Ambiental. Contribuindo com
a sua vida acadêmica, também contribui com o professor na sua prática pedagógica,
o que possibilita a inclusão social, pois este professor sendo crítico e reflexivo
contribuirá ainda mais com uma sociedade transformadora. É importante trazer ao
debate em diferentes espaços, ações coletivas e concretas que despertem a
população do Vale do Arinos para a sensibilização sobre alguns conceitos como
preservação, conservação e equilíbrio ambiental.
Uma das ações concretas sobre Educação Ambiental é o desenvolvimento do
projeto de extensão sobre Memória Visual e ambiente, que nasce para potencializar
a memória ambiental de uma área (re) inventada pela comunidade acadêmica da
UNEMAT de Juara, bem como, dar visibilidade aos projetos que estão sendo
desenvolvidos ao longo das atividades desencadeadas no Novos Talentos e
PIBI/CAPES. Têm sido utilizadas as Tecnologias da Informação e Comunicação como
ferramenta de divulgação e debates de ideias, como canal alternativo e interativo com
97
a população local, sensibilizados para as questões das vivências e memórias
ambientais através do mundo digital. Estas ações contribuem com a consciência
política, humana e propositiva - dos educadores e de outros profissionais - no sentido
de participar efetivamente das problemáticas sociais deste estado e país.
Há uma ineficácia no trato com o ambiente e há também uma dose cultural
nesse sentido, a crença de um ambiente infinito, a concepção antropocêntrica, a
natureza como objeto de exploração, concepção de um desenvolvimento fundado na
exploração, na produção de larga escala, que produzem uma despotencialização da
relação - ser humano-natureza - porque oprimem outros seres humanos, além da
exploração ser feita diretamente no ambiente, também é feita sob a própria
humanidade, desumanizando-a.
Talvez, na contemporaneidade, onde se dissemina uma ótica ambiental que
enfrenta ações e atitudes ainda não tão sólidas, a educação ambiental seja a motriz
na construção de uma ética ambiental que contraria a concepção antropocêntrica e
inaugura uma consciência de dependência entre seres humanos e natureza.
Trata-se de um trabalho relevante para a academia, visto que a Educação
Ambiental na universidade se constitui como um caminho de potencialidade, num
contraponto com as fragilidades tão marcadas e sinalizadas na sociedade. Ela pode
ser uma estratégia de luta, de produção de conhecimento, de cuidado com o ambiente
e, acima de tudo, um espaço de construções coletivas e ambientalmente justas e
adequadas às formas alternativas de pensar o mundo.
Acreditamos que a academia associada à comunidade e não apenas nela
mesma, seja pelas interpretações de mundo e com o mundo, o lugar de mudanças de
paradigmas a favor da ética ambiental, da visão holística, enfim, uma ética biocêntrica,
onde o centro é a própria vida, de todos os bios e da Mãe Terra que nos abriga.
O ambiente socioambiental tem sido lido em vários ângulos, na perspectiva da
‘colonização’ deste Estado, das relações empreendidas com a natureza e também do
Município de Juara/MT, a invisibilidade dos povos indígenas, os processos de
exploração compreendidos como processos meramente extrativistas, o uso
inadequado dos recursos hídricos e a paulatina construção e esforços no
fortalecimento educativo que ainda há muito por fazer. Nesta perspectiva, com estas
ações, compreende-se que é necessário oportunizar à comunidade acadêmica e local
98
vivenciem processos reflexivos das transformações do meio social, representacionais,
memoriais, de imagens e identidades, procurando ultrapassar, transpor o discurso
único ou unilateral, que muitas vezes impera nas sociedades, sobretudo contra a
defesa do ambiente. Tentaremos superar o discurso que a sobrevivência nesta região
só é possível através das atividades sustentadas no desmatamento e madeireiras, e,
mais recentemente, a chegada da agricultura com atividades intensivas, já
provocando danos maiores ao ambiente. Como apontam os PCNs (1997, p. 09):
É preocupante, no entanto, a forma como os recursos naturais e culturais brasileiros vêm sendo tratados. Poucos produtores conhecem ou dão valor a esse conhecimento do ambiente em que atuam. Muitas vezes, para utilizar um recurso natural, perde-se outro de maior valor, como tem sido o caso da formação de pastos em certas áreas da Amazônia.
2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Alguns pressupostos
O Município de Juara é formado, conforme documentos oficiais, por processos
migratórios que estão associados às políticas de desenvolvimento do País da década
de 1970, com o Plano de Integração Nacional (PIN), o mesmo teve como finalidade a
ocupação da Amazônia Legal. O processo migratório foi cada vez mais fortalecido,
isso é, registrado com o surgimento de programas que viabilizassem, com maior
rapidez, os processos ocupacionais e, é nesse contexto, que em 1971 surge o
Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (PRODOESTE) (PEREIRA, 2011).
A ideia dos espaços vazios construiu uma memória migrante de pioneirismo. A
história e/ou os programas, ao pensar no desenvolvimento, silenciou povos que já
habitavam a região do Vale do Arinos, grupos étnicos que aqui estão e aqui estiveram
desde há muito tempo.
Nesse contexto, dizemos que as histórias de migração, de ocupação, de
resistência são histórias de complexas interconexões, porque interrelaciona migração,
comunidades étnicas, formação e desenvolvimento local. Os processos de resistência
dos povos que já estão no lugar e dos grupos migratórios que depois os compõem,
sofrem conflitos que vão além destes grupos, que se inserem em processos políticos
muito mais amplos, muitas vezes, não compreendidos.
99
Considerando o processo histórico, a construção imaginária do espaço vazio,
a eloquência resistente dos povos indígenas da região, do povo matogrossense em si
e ainda considerando a mobilidade e as diferentes identidades, compreendemos que
este projeto tem grande relevância para a constituição de novos saberes, por buscar
produzir e ou reproduzir histórias vividas de migração e das comunidades étnicas que
historicamente procurarão defender seu território, composto de matas e florestas. Dá-
nos a possibilidade de evocar imaginários culturais e de identidades que podem ser
identificados com o testemunho oral.
O ser humano, de acordo com os PCNs (1997), deve aproximar-se do meio no
qual vive e interage, e é nesse sentido que a Educação Ambiental traz contribuições
para a sociedade, visto que ela é parte integrante do meio ambiente, pelo fato de
proporcionar o conhecimento das questões ambientais que nos norteiam. E deve ser
desenvolvida na escola, de forma transversal, em virtude de que a escola é um dos
locais que mais oportuniza aos alunos o desenvolvimento do conhecimento
sistematizado.
Sato (1997) recorda que há vários autores que julgam ser importante as aulas
fora da sala da escola, como aulas a campo, em contato com a natureza, em virtude
de estas aulas possibilitarem uma sensibilização maior com as questões ambientais,
possibilitando vivência maior. É claro que esse tipo de trabalho gera custos
financeiros, burocracia e muito mais trabalho, entretanto, possibilita uma maior
interação entre os professores e alunos.
O Programa Novos Talentos/CAPES possibilitou a construção de uma horta na
Escola Municipal Rui Barbosa e em cada fase dessa construção houve a participação
dos alunos de toda a escola que souberam colocar no papel a importância de
atividades como esta para o meio ambiente.
É interessante destacar o papel do professor na realização de atividades como
esta, pois é a possibilidade de desenvolver a transversalidade em Educação
Ambiental, para isso é importante que o professor tenha conhecimento e informações
sobre as questões ambientais para desenvolver um trabalho adequado com seus
alunos. Esclarecendo aos alunos que ele não sabe tudo, em virtude do conhecimento
ser algo constante na vida do ser humano, ou seja, o homem está constantemente
aprendendo, como nos falam os PCNs de Meio ambiente (1997).
100
A Educação Ambiental, conforme a Lei 9.795/99 que dispõe sobre a Educação
Ambiental, ensina no seu Art. 2º:
A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Portanto, para além da sala de aula e não apenas em sala de aula. Pela
própria natureza da questão ambiental, a aquisição de informações sobre o tema é
uma necessidade constante para todos. Isso não significa dizer que os professores
deverão saber tudo para que possam desenvolver um trabalho junto aos alunos, mas
sim, que deverão se dispor a aprender sobre o assunto e, mais do que isto, transmitir
aos seus alunos a noção de que o processo de construção e produção do
conhecimento é constante. O desenvolvimento da Educação Ambiental nas escolas
está ligado ao fato das questões ambientais oferecerem uma perspectiva particular
por tratar de assuntos locais, mas que diz respeito de forma direta ou indireta ao
mundo todo, em virtude disto, o trabalho com o tema Meio Ambiente deve ser de forma
diversificada. Sendo assim, o papel do professor é fundamental para possibilitar que
o aluno compreenda a complexidade das questões ambientais de forma diversificada
e contextualizada como ressaltam os PCNs (1997).
Para que o aluno possa compreender a complexidade e a amplitude das
questões ambientais, é fundamental oferecer-lhe, além da maior diversidade possível
de experiências, uma visão abrangente que englobe diversas realidades e, ao mesmo
tempo, uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do
ambiente físico, as suas condições sociais e culturais.
Reigota (1994) ensina que a educação ambiental deve ser entendida como uma
educação política, no sentido que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigirem
justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais
e com a natureza. Esse lugar é dialético, porque o campo sociológico traz em si a
suavidade das águas, das matas. Fala com o vento com os seres vivos abarca a
constituição de um campo ecológico com árvores de grande e pequeno porte,
nascentes que borbulham como cantos de vida.
101
Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais
são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos
(confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa)
e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a
promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.
2.1 Universidade e conhecimento popular
A universidade tem um papel importante na construção do conhecimento e
aproximação com a sociedade e isto se concretiza através da pesquisa participante,
que possibilitam espaços de liberdade e de superação da opressão, principalmente,
do próprio meio acadêmico. Desta forma ocorre o ser mais, concepção chave da
humanização Freireana. A concepção Freireana (2005) aqui circunscrita é de uma
universidade como prática de liberdade e parte da ideia da leitura de mundo, parte
da reflexão das ações no âmbito dos projetos desenvolvidos e na dialogicidade entre
os atores envolvidos nos subprojetos como o PIBID e Novos Talentos.
O Diálogo ocorre a partir da análise das manhas e tramas como ensina Freire
(1996), movimentos estratégicos que permeiam a pedagogia da rua que procura
escutar as necessidades dos atores/sujeitos das atividades de educação ambiental,
partindo do conhecimento já acumulado por cada participante das atividades, para
tanto, o conhecimento bancário aqui é deixado de lado para que a construção do
conhecimento ocorra de forma horizontal, através das trocas de saberes e
conhecimento.
3 METODOLOGIA
As atividades de extensão em Educação ambiental vêm sendo realizadas pelo
Grupo de Pesquisa em Diversidade da Amazônia Legal, registrado no CNPq. Estas
102
atividades são desenvolvidas com escolas públicas parceiras nos Programas Novos
Talentos/CAPES e PIBID (Programa Institucional de Iniciação a Docência/CAPES).
Sendo este um trabalho conjunto com a Prefeitura Municipal de Juara, Secretaria
Municipal de Educação de Novo Horizonte do Norte, procurando aproximar sociedade
para o que chamamos de alfabetização ambiental. Tem sido construídos espaços de
convivência no campus universitário de Juara, através de propostas coletivas de
educação ambiental.
A abordagem utilizada nesta pesquisa é qualitativa, que de acordo com Minayo
(2013), permite a apreensão de questões, permite a captação de percepções e
emoções que não podem ser quantificadas. Em se tratando de ambiente é possível
perceber, na visão das pessoas, a aproximação do meio ambiente com o espaço
vivido com suas histórias de vida. Os resultados também têm sido trabalhados
qualitativa e quantitativamente (MINAYO, 2013), buscando obter um diagnóstico da
situação de conhecimento sobre Educação Ambiental entre os participantes dos
projetos de extensão, por fim, são avaliados, através de depoimentos dos envolvidos
nas atividades, os impactos resultantes da ação das atividades.
A metodologia de pesquisa utilizada tem sido a participante, pois de acordo
com Thiollent (2011), toda pesquisa é participante e também pesquisa-ação. Este
trabalho segue uma postura dialógica, com discussões pautadas na educação
ambiental e na realidade ambiental diagnosticada (leitura de textos, aulas expositivas
dialogadas). Concomitante, ocorre a orientação da elaboração de projetos com ações
ambientais, onde têm sido trabalhados conteúdos relacionados à Educação
Ambiental, como o histórico da discussão desta temática nos Cursos de Administração
e Pedagogia, nas disciplinas de Metodologia Científica, Metodologia da Pesquisa
Educacional e Trabalho de Conclusão de Curso, com o enfoque nos projetos de
pesquisa na educação ambiental, sustentabilidade e sociedades sustentáveis.
Estas ações são frutos de atividades desenvolvidas no curso de pós-
graduação em Educação e Diversidade no Campus da UNEMAT/Juara, bem como
dos projetos de extensão e curso em Educação Ambiental. Entendemos ser
importante compartilhar o acúmulo desta aprendizagem em diferentes espaços com
diferentes pessoas, com ações coletivas e concretas, que possam despertar a
população do Vale do Arinos para a sensibilização dos cuidados com a natureza e a
103
vida. É fortemente embasada na pedagogia popular, que é um pressuposto teórico
que estamos assinalando a partir dos ensinamentos de Paulo Freire e de uma
educação popular.
As proposições metodológicas aqui descritas interconectam-se e os
subprojetos se cruzam fortalecendo o programa. Assim, temos como meta principal e
por meio de diferentes expressões ambientais e de sustentabilidade social que levam
à reflexão das práticas pedagógicas na Educação Básica. A avaliação do programa
dar-se-á dentro dos subprojetos em diálogo, reflexão da formação do pedagogo/a da
prática pedagógica dos anos iniciais do Ensino Fundamental, elaboração de portfólios
coletivos, exposições de painéis, produção de artigos, arquivos fotográficos e vídeos
documentários das ações.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A Educação Ambiental é um tema transversal e coloca para os educadores um
desafio de entender e melhor relacionar-se no e com o ambiente. Nesse sentido, as
ações desencadeadas nos Programas Novos Talentos e PIBID atende as
necessidades dos professores do ensino básico, orienta a prática da pesquisa no
cotidiano escolar, sobretudo, com ênfase no ambiente natural, construído por meio de
projetos de trabalho ou aprendizagens por projetos.
As atividades propostas nas escolas parceiras são desenvolvidas com a
participação da comunidade escolar e local, através de palestras e campanhas de
sensibilização sobre o consumo sustentável e a responsabilidade social e ambiental
sobre os resíduos sólidos gerados em seu lar e no seu local de trabalho.
A parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Novo Horizonte do
Norte, com a Escola Estadual Luiza Nunes Bezerra, a Escola Municipal Rui Barbosa
e com as Escolas Estaduais Indígenas da Terra Indígena: Apiaká Kaiabi tem sido
importante e seus resultados têm sido apresentados em Eventos como o Kalunga,
Mostra Científico e Cultural do Vale do Arinos (estes eventos ocorrem com a
organização do Grupo de Pesquisa sobre Diversidade na Amazônia Legal e
participação de todas as instituições parceiras do Programa).
104
As parceiras são resultados de demandas colocadas por estes povos e
instituições, que historicamente são alijadas/excluídas da universidade, assim, o
projeto de relações ambientais e agroecológicas são desenvolvidas, parte nas aldeias
Mayrob, Munduruku e Tatuí que compõem a Terra Indígena Apiaká Kaiabi e parte no
Campus Universitário de Juara. Acredita-se que a aproximação dos povos Indígenas
com a universidade tem contribuído para diminuir o preconceito existente,
lamentavelmente, dentro da universidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações desenvolvidas perpassam e se encontram de maneira interdisciplinar,
que são: a educação ambiental, a relação entre a universidade e a comunidade que
são trabalhadas em círculos de cultura, atendendo aos pressupostos da pedagogia
freireana que respalda as ações destes projetos.
Tem o firme propósito de incorporar a área no entorno do Campus da UNEMAT
e torná-la uma Área de Preservação Permanente e também laboratório vivo do
Programa UNEMAT Sustentável, para que seja espaço de experiências da
Universidade, em parceria com escolas públicas, secretarias de educação e meio
ambiente e da sociedade de forma geral.
As ações extensionistas como estas, em um território rico em potencial de
recursos hídricos, bacias hidrográficas, águas subterrâneas, cabeceiras, corixos,
baías, banhados, córregos, igarapés, lagoas, nascentes dos rios e os desvios de
cursos d’agua fazem parte deste desenho hidrológico e pouco se tem cuidado ou dado
importância para esta fisionomia aquífera que tem sido alvo da degradação ambiental.
Grandes cursos de água têm sido poluídos, por lixos lançados em seus leitos, tanto
pelas empresas, usinas e, mesmo por esgotos domiciliares e hospitalar. Essa
deterioração hídrica e ambiental é decorrente de vários fatores, que aglutinados,
demonstram uma das maiores fragilidades deste estado. Dentre tais fatores
mencionamos o crescimento urbano, não utilização adequada de áreas verdes, falta
de infraestrutura e de gestão ambiental que beneficie a humanidade e, por
conseguinte, o meio ambienta de inserção antrópica. Assim, temos como objetivo
105
sensibilizar os moradores de Juara para o cuidado com a área no entorno da
UNEMAT.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Meio ambiente e saúde. Brasília, MEC, 1997. V. 09. BRASIL. Lei 9.795. de 27/04/1999. Dispõe sobre a Educação e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. D.O.U 28/04/1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
____________. Pedagogia do Oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2005.
MINAYO, Maria Cecília. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 33. ed. Petropólis-RJ: 2013. PEREIRA, Lisanil da Conceição Patrocínio. A ocupação do território Matogrossense e a recriação camponesa em áreas do agronegócio: O caso de Campo Verde e Tangará da Serra-MT. Niterói: [s.n], 2011. REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994. SATO, Michèle. Educação para o ambiente amazônico. São Carlos: Tese de Doutorado, PPGERN/UFSCar, 1997. SORRENTINO, Marco. De Tbilisi a Tessaloniki a educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 2011.
107
O CONTATO DO LICENCIANDO COM A ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA
RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DOCENTE
Silvia Regina Vieira da Silva18
RESUMO
O primeiro contato com o campo de atuação, a escola, pode-se tornar um grande desafio para o futuro professor durante o seu processo de formação com relação à perspectiva de atuação na profissão docente. Pensar a escola de educação básica como local prioritário de realização do estágio e o lócus da formação docente é refletir sobre a importância desse espaço na constituição da identidade docente e no exercício da profissão. Portanto, aqui, sob o aspecto de experiências relacionadas ao acompanhamento de licenciandos de Matemática e Física, compartilhar reflexões, fundamentadas em artigos científicos da área de Educação, tendo o estágio supervisionado como viés; independente das áreas. Ou seja, além das áreas de Matemática e Física, o que se tem discutido nas outras áreas no que diz respeito ao estágio supervisionado? Existem preocupações comuns? Quais a contribuições? Como resultados preliminares destaca-se a importância do estágio na formação do futuro professor. Em alguns artigos existem cobranças com relação à responsabilidade das instituições formadoras; incluindo a do orientador de estágio. Noutros é discutida a importância de se encontrar uma forma de acompanhar os estagiários contemplando o ato da reflexão. Mas, considerando que as áreas têm muito em comum, faltou algum artigo que discutisse o estágio supervisionado independente de área. Este fato pode estar associado aos critérios escolhidos, o que dá brecha para outras pesquisas.
Palavras – chave: Licenciatura. Políticas Públicas. Estágio Supervisionado.
1 INTRODUÇÃO
O estágio curricular supervisionado sempre foi uma preocupação, desde a
época da graduação, quando cursei uma “licenciatura 3 + 1”; três anos de formação
teórica e um ano de formação prática (pedagógica). Na época, década de 1990, os
estagiários do curso de Matemática (licenciatura) ofereceram minicursos no ambiente
18Doutorado em Educação Matemática. UNESP/Ilha Solteira. Brasil.
108
universitário. A divulgação foi feita via rádio e os alunos da rede pública de ensino
básico foram até a universidade para efetivar a inscrição. O formato do minicurso, com
vagas limitadas, proporcionou a convivência de crianças de diversas escolas no
mesmo ambiente, mas, restringiu o contato do licenciando com a realidade escolar.
Somente alguns anos depois, quando, por questões de sobrevivência, assumi aulas,
no período noturno, numa escola pública na cidade onde fazia mestrado, o contato se
efetivou. A escola era na periferia, num bairro separado da cidade por uma pequena
serra. A história de vida daqueles alunos sensibilizou-me. Aliás, essa experiência
marcou a minha vida profissional, numa época que eu não dispunha do professor de
prática de ensino e estágio para auxiliar-me a refletir sobre diversas questões. Porque,
assim como Fiorentini(2008), acredito que as
(...) práticas de ensino e os estágios supervisionados (...) representam uma instância importante e fundamental à formação do professor, sendo marcada por intensa e significativa aprendizagem profissional. Mas, a riqueza e qualidade dessa aprendizagem, tendo em vista a compreensão da complexidade da prática/cultura escolar e suas possibilidades ou alternativas de transformação, requer, por parte dos licenciandos, um trabalho sistemático de reflexão e investigação das práticas cotidianas escolares. (FIORENTINI, 2008, p.49)
Posteriormente tornei-me professora de uma universidade pública que oferecia
o curso de licenciatura em Matemática. Mas, somente a partir da década de 2.000,
depois de concluir o doutorado em Educação Matemática, passei a assumir as
disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Naquela época as
pesquisas científicas relacionadas à temática já tinham encontrando respaldo na
legislação brasileira. Promulgada em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases previu, Art.
65º, no mínimo trezentas horas de prática de ensino. (BRASIL, 1996). Já os pareceres
CNE/CP 09/2001 e 27/2001(nova redação Parecer n° 09/2001), que tratam das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, instituiu um novo olhar no que diz respeito às disciplinas que fazem parte dos
cursos de formação de professores:
a.) No interior das áreas ou disciplinas. Todas as disciplinas que constituem o currículo de formação e não apenas as disciplinas pedagógicas têm sua dimensão prática. É essa dimensão prática que deve estar sendo permanentemente trabalhada tanto na perspectiva
109
da sua aplicação no mundo social e natural quanto na perspectiva da sua didática.
b.) Em tempo e espaço curricular específico, aqui chamado de coordenação da dimensão prática. As atividades deste espaço curricular de atuação coletiva e integrada dos formadores transcendem o estágio e têm como finalidade promover a articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar, com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão para compreender e atuar em situações contextualizadas, tais como o registro de observações realizadas e a resolução de situações-problema características do cotidiano profissional. Esse contato com a prática profissional, não depende apenas da observação direta: a prática contextualizada pode “vir” até a escola de formação por meio das tecnologias de informação – como computador e vídeo –, de narrativas orais e escritas de professores, de produções dos alunos, de situações simuladas e estudo de casos. (BRASIL, 2001a)
c.) “(...) No estágio curricular supervisionado a ser feito nas escolas de educação básica. O estágio obrigatório definido por lei deve ser vivenciado durante o curso deformação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Deve, de acordo com o projeto pedagógico próprio, se desenvolver a partir do início da segunda metade do curso, reservando-se um período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na condição de assistente de professores experientes. Para tanto, é preciso que exista um projeto de estágio planejado e avaliado conjuntamente pela escola de formação inicial e as escolas campos de estágio, com objetivos e tarefas claras e que as duas instituições assumam responsabilidades e se auxiliem mutuamente, o que pressupõe relações formais entre instituições de ensino e unidades dos sistemas de ensino. Esses “tempos na escola” devem ser diferentes segundo os objetivos de cada momento da formação. Sendo assim, o estágio não pode ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação, mas envolve necessariamente uma atuação coletiva dos formadores.”. (BRASIL, 2001c)
E, por fim, o Parecer nº CNE/CP 21/2001, que trata da duração e carga horária
dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, dividiu, no Art. 1°, a
referida carga em dimensões dos componentes comuns:
(...) I- 400 (quatrocentas) horas de prática de ensino, vivenciadas ao longo do curso; II- 400 (quatrocentas) horas de estágio supervisionado, sob forma concentrada ao final do curso; III- 1800 (mil e oitocentas) horas para os conteúdos curriculares de atividades acadêmico-científico-culturais em sala de aula;
110
IV- 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. (BRASIL, 2001b)
Mas, experiências recentes, relacionadas ao acompanhamento de
licenciandos do curso de Matemática – através da disciplina Prática do Ensino de
Matemática com Estágio Supervisionado e do desenvolvimento de um
subprojeto(Matemática) relacionado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
à Docência (PIBID)/UNESP/Ilha Solteira – e reuniões do GPECIM 19, fizeram-me
refletir, sobre algumas questões.
Pensar a escola de educação básica como local prioritário de realização do
estágio e o lócus da formação docente é refletir sobre a importância desse espaço na
constituição da identidade docente e no exercício da profissão. Mas, ao mesmo
tempo, remete a pensar a responsabilidade das disciplinas de estágio e dos projetos
que envolvem licenciandos nos cursos de formação de professores. Segundo Pimenta
(2011) o estágio “como campo de conhecimentos e eixo curricular central nos cursos
de formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos
indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas
ao exercício profissional docente” (p.61). Nesse sentido, o que Pimenta (2011) está
chamando a atenção é que refletir sobre a profissão docente também significa pensar
sobre o processo de construção da identidade docente. Contudo, ao analisar a
profissão de professor verifica-se que mais do que as incumbências que a profissão
traz consigo, está o fato desta estar estritamente desvalorizada. Fator que pode
influenciar direta ou indiretamente na atuação profissional. Além disso, diversos
fatores estão relacionados à questão de atuar, ou não, na profissão de formação:
baixos salários, dificuldades de realizar aulas diferenciadas devido aos inúmeros
processos burocráticos que cercam a escola, ausência de preparo e interesse dos
alunos, salas superlotadas, péssimas condições estruturais, falta de materiais, ou
seja, as condições atuais de trabalho para os professores estão no mínimo
insatisfatórias (ENGE, 2004; CAVALCANTE e CARNEIRO, 2003; DIANA e OLIVEIRA,
2008; TARDIF e LESSARD, 2007).
19 GPECIM – Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática.
111
O estudo de Ferreira (2012), ao investigar as relações entre a formação inicial
e a escolha profissional dos egressos de um curso de Licenciatura, por meio das
relações que compreendem fatores externos e internos, que aliados influenciam na
tomada de decisão do seguir, ou não, a profissão de professor mostrou que, as
influências que cercam os egressos, em sua vida pessoal e profissional, dentro ou
fora da universidade, não aparecem isoladas ou pontuadas, mas em um emaranhado
envolvendo diversos fatores simultaneamente. Nesse sentido, a desvalorização da
profissão de professor foi o item mais apontado pelos egressos como desmotivador
para os que desejam seguir como professor na educação básica, de modo que a pós-
graduação é uma possibilidade de continuidade na carreira docente e com melhores
condições de trabalho.
Mas será que os chamados fatores externos são de fato os vilões quando se
reflete sobre a tomada de decisão de seguir ou não a profissão docente?
Arruda et al. (2005) ao acompanhar estagiários de um curso de licenciatura em
escolas públicas durante o estágio supervisionado ressalta o quanto é impactante
para o licenciando o contato com a sala de aula, a escola, diante dos anseios,
expectativas no que diz respeito a atividade futura como professor. Destaca que, por
mais que seja individual e subjetiva a reação de cada um, a reflexão sobre o que é ser
professor e se ele realmente deseja para si a vivência profissional futura nesse
contexto e instituição é consensual.
Como é sabido, estamos vivendo uma época em que o importante é o espetáculo, a fama, o dinheiro, onde a violência faz parte do dia-a-dia, onde a vida de muitos jovens se resume a uma busca por novas e cada vez mais intensas experiências, enfim, uma sociedade narcisista, onde impera o registro do imaginário (...). Com certeza, isso traz diversos complicadores para a atuação do professor. (ARRUDA et al., 2005, p.02)
Portanto, neste texto pretendo, sob o aspecto da experiência do estágio
supervisionado e da participação de licenciandos em projetos de iniciação à docência,
compartilhar reflexões, fundamentadas em artigos científicos da área de Educação,
tendo o estágio supervisionado das licenciaturas como viés; independente das áreas.
112
Ou seja, além das áreas de Matemática e Física20, o que se tem discutido nas outras
áreas no que diz respeito ao estágio supervisionado? Existem preocupações comuns?
Quais a contribuições?
2 METODOLOGIA
Neste texto, considerando a perspectiva traçada no item anterior, utilizaremos
artigos científicos selecionados segundo alguns critérios: periódico nacional escrito
em português, Qualis A1 ou A2 na área de Educação, indexação na Coleção SciELO
(Scientific Eletronic Library Online21) Brasil, associação do periódico a alguma
instituição de ensino superior, expressão de busca (estágio supervisionado; título,
autor ou assunto) e, por último, estar associado a alguma licenciatura. Dos 17 artigos
selecionados, um foi descartado22, pois, apesar de incluir a expressão estágio
supervisionado, não fazia uma discussão sobre a temática.
Portanto, aqui, serão compartilhadas reflexões relacionadas a estágio
supervisionado, considerando os critérios descritos anteriormente.
3 REVISÃO E DISCUSSÃO DA LITERATURA
Os dados serão organizados da seguinte forma: nome periódico, título, ano,
curso, objetivo do artigo, contribuições. E, caso não exista menção explicita com
relação a estágio supervisionado, um item com este nome será acrescido.
Ressalto que no item contribuições não foram inseridas considerações
específicas de área, mas, aquelas que poderiam estar associadas a qualquer uma
20Áreas que fazem parte dos estudos do GPECIM. 21 Biblioteca Eletrônica Científica On-line. 22 SALVADOR, Heloisa Hernandez de Fontes e VILLELA, Lucia Maria Aversa. Dividindo histórias e opiniões: o produto de uma pesquisa em história da educação matemática. Bolema [online]. 2013, vol.27, n.46, pp. 547-562.
113
das áreas associadas às licenciaturas. Por último, as referidas contribuições não estão
relacionadas somente a resultados de pesquisa mencionados no artigo, mas
afirmações no corpo do texto (íntegra).
3.1 Artigos Selecionados
Bakhtiniana: Revista de estudos do discurso
Título 01: Ensino de língua materna e Análise de Discurso Crítica
Ano: 2012
Curso: Licenciatura em Letras
Objetivo do artigo: Abordar “reflexões sobre potencias contribuições da Análise de
Discurso Crítica para práticas de ensino-aprendizagem de português como língua
materna” (RAMALHO, 2012, p.178)
Estágio supervisionado: Para cumprir o objetivo foi realizada “uma experiência de
pesquisa – ação com estudantes de Estágio supervisionado em Português”
(RAMALHO, 2012, p.178).
Contribuições:
Nesse espaço de reflexão proporcionado pelas atividades de estágio, orientadas por uma perspectiva discursiva e transformadora, os/as professores/as em formação percebem que não há “receita pronta”, como eles/as avaliam; que a docência é um trabalho de pesquisa, de crítica, de discussão, de dúvida, de formulação e reformulação de propostas de intervenção situadas que se mostrem efetivas para o desenvolvimento da consciência de que a linguagem não serve apenas para comunicar, mas também para segregar, para legitimar diferenças, para universalizar interesses que favorecem uma minoria e penalizam a maioria. (RAMALHO, 2012, p.197)
Título 02: Escrita acadêmica na escrita reflexiva profissional: citações de literatura
científica em relatórios de estágio supervisionado
Ano: 2013
Curso: Licenciatura em Letras
Objetivo do artigo: Investigar “práticas de citação de literatura científica na escrita
reflexiva do gênero relatório de estágio supervisionado, produzido por professores em
114
formação, em disciplinas de estágio obrigatório em Ensino de Língua Inglesa numa
Licenciatura em Letras.” (MELO et al., 2013, p.95)
Contribuições:
“É necessário também mais investimento em pesquisas científicas sobre o uso da escrita reflexiva para o letramento do professor em formação inicial. Acreditamos na emergência de uma prática diferenciada de escrita na formação de professores, sobre a qual ainda há muito a se desvendar. Provavelmente, a própria situação de produção (e o comando de produção escrita do relatório de estágio) sejam fatores importantes para a escrita reflexiva profissional.” (MELO et al., 2013, p.116)
BOLEMA
Título 01: Perscrutando Diários de Aulas e Produzindo Narrativas sobre a Disciplina
Estágio Supervisionado de um Curso de Licenciatura em Matemática
Ano: 2014
Curso: Licenciatura em Matemática
Objetivo do artigo:
Discutir modos de perscrutar os escritos diários de modo a avaliar como eles contribuem para a perspectiva colaborativa vivenciada durante o estágio, como também situar os aspectos metodológicos do trabalho de estágio e da pesquisa sobre ele. (GONÇALVES JUNIOR; CARVALHO, 2014, p.777)
Contribuições:
(...) ao narrar os acontecimentos no diário, vivenciamos os sofrimentos do outro e comungamos a responsabilidade de educar matematicamente os alunos. Nesse processo, aspectos da identidade do futuro professor de Matemática vão se constituindo com as tensões da prática. (GONÇALVES JUNIOR; CARVALHO, 2014, p.777)
Título 02: O uso de blogs como tecnologia educacional narrativa para a forma/ação
inicial docente
Ano: 2014
Curso: Licenciatura em Matemática
115
Objetivo do artigo: Tendo como interrogação “de que forma o blog, entendido como
tecnologia de informação e comunicação narrativa, pode atuar no processo de
acompanhamento e investigação da prática docente do (futuro) professor de
Matemática?” (SANTOS et al., 2014, p. 928-929), os autores de propõem trazer
(...) rastros da experiência da utilização de blogs no acompanhamento do estágio de regência de alunos da última fase do curso de Licenciatura em Matemática e uma discussão sobre suas potencialidades, ao tomá-los como objeto de pesquisa em Educação
Matemática. (SANTOS et al., 2014, p.929)
Contribuições:
“É importante ressaltar que as estratégias metodológicas com o uso de tecnologias
digitais não extinguem ou substituem as demais, consideradas tradicionais, e sim as
transformam a caminho de uma conexão entre elas.” (SANTOS et al., 2014, p.933)
“(...) é fundamental que ele [aluno] se reconheça como ator nesse cenário com o
importante papel de expor seus pontos de vista e reflexões, refletir sobre sua prática
buscando aprender com autonomia construindo seu próprio caminhar.” (SANTOS et
al., 2014, p.934)
“(...) podemos perceber como é importante que o professor regente reconheça seu
papel na acolhida inicial dos estagiários, pois esse primeiro contato pode determinar
a forma como se darão os trabalhos ao longo do estágio.” (SANTOS et al., 2014, p.
936)
Os acadêmicos, em vários momentos em disciplinas do curso de licenciatura, discutem sobre o interesse dos alunos, mas a observação, na prática, dessa situação, os coloca em momento de reflexão sobre a profissão e também sobre a organização escolar (...) (SANTOS et al., 2014, p.937)
“Muitas das concepções dos estagiários são transformadas ao longo da realização do
estágio por conta de sua inserção na realidade escolar (...)” (SANTOS et al., 2014,
p.938)
116
“Momento importante dessa realidade escolar é aquele em que o estagiário tem a
oportunidade de participar das atividades do conselho de classe e vivenciar um
momento de reflexão sobre o papel do conselho (...)” (SANTOS et al., 2014, p.938)
(...) as percepções desta situação escolar [Conselho de Classe] pelo aluno como tendo um caráter mais social do que disciplinar, como sendo um dos momentos em que professores e coordenadores trabalham conjuntamente desfocando um pouco de cada uma das disciplinas individualmente. Ainda que elogie o comprometimento dos professores, o estagiário relata perceber que muitos assuntos não são tratados, nesse momento, como deveriam, muito provavelmente devido à relação entre tempo e prioridades. Além disso, evidencia uma sintonia entre uma percepção pessoal sobre a turma com a qual trabalhou e as considerações apresentadas pelos professores da escola durante o conselho de classe. (SANTOS et al., 2014, p.939)
Por si só, a regência de estágio é uma condição que traz ansiedade e apreensão para os futuros professores. Quando eles se deparam com situações em que percebem os professores em exercício falando mal da profissão e da situação escolar, acabam por questionar a si mesmos sobre suas pretensões com relação à profissão de professor. (SANTOS et al., 2014, p.941)
Uma das linhas de tensão apresentadas (...) diz da presença do estagiário na escola. Para a universidade, o estagiário é considerado futuro professor e na escola, ao reger uma turma, necessita afirmar sua autoridade. Para seus alunos, não é aprendiz, mas professor. Como professor, necessita cativar sua turma, tem suas preferências. Como professor, tem dificuldades. Como professor, experimenta. Como professor, acerta e erra. Além disso, como professores regentes, revelaram dificuldades encontradas ao dividirem o espaço da sala de aula com os alunos e outro professor - oficial da turma -, relações estas que nem sempre se mostraram amigáveis. (SANTOS et al., 2014, p.946)
Ciência & Educação
Título 01: A influência das mudanças da legislação na formação dos professores: as
300 horas de estágio supervisionado
Ano: 2001
Curso: Licenciaturas (Biologia, Física e Química)
Objetivo do artigo: Analisar “o impacto das novas legislações educacionais brasileiras
na formação de professores.” (CARVALHO, 2001, p.113)
117
Estágio supervisionado:
Ao abordar a questão do estágio curricular dos futuros docentes no ensino fundamental e médio, compara a formação destes com a dos médicos nos cursos de Medicina, fazendo uma proposta para a distribuição dos conteúdos específicos nos currículos dos cursos de licenciatura. (CARVALHO, 2001, p.113)
Contribuições:
“apesar de as 300 horas de prática de ensino existem na grade curricular, elas nunca
aparecem na grade curricular.” (CARVALHO, 2001, p.115)
“Nossa proposta é paralela à proposta curricular para os cursos de medicina, nas quais
primeiramente se valorizam as disciplinas básicas e depois se agrupam as
profissionalizantes.” (CARVALHO, 2001, p.121)
Temos agora uma ocasião única – a obrigatoriedade das 300 horas – para uma proposição de integração e de interdisciplinaridade das disciplinas que tratam diretamente com a educação. Propomos uma integração, justamente pelos estágios, quando o nosso aluno vai vivenciar a escola como um todo e de uma outra forma, não mais como o aluno que foi. (CARVALHO, 2001, p.121)
Título 02: Os saberes docentes na formação inicial do professor de física: elaborando
sentidos para o estágio supervisionado
Ano: 2010
Curso: Licenciatura em Física
Objetivo do artigo: Apresentar “os resultados de uma investigação a respeito da
construção dos saberes docentes, durante a realização do estágio supervisionado da
licenciatura de Física.” (BACCON; ARRUDA, 2010, p.507)
Contribuições:
“O estágio, entretanto, enfrenta problemas diversos para a sua plena realização.
Grande parte dos professores da escola básica não atua como formador, limitando-se
apenas a receber os estagiários em sua sala.” (BACCON; ARRUDA, 2010, p. 510)
“(...) a experiência proporcionada pelo estágio supervisionado pode depender das
expectativas dos licenciandos, das relações que eles possam estabelecer com a
escola e com os professores de sala e da preparação prévia realizada pela
universidade.” (BACCON; ARRUDA, 2010, p.510)
118
Título 03: Enfrentamento de problemas conceituais e de planejamento ao final da
formação inicial
Ano: 2010
Curso: Licenciatura em Física
Objetivo do artigo: Apresentar “(...) uma reflexão sobre o processo de enfrentamento
de problemas por futuros professores de Física, no período de estágio supervisionado,
a partir de modelos construídos numa pesquisa desenvolvida junto a um grupo de
professores em formação continuada.” (USTRA; HERNANDES, 2010, p.723)
Contribuições:
O engajamento dos estagiários no enfrentamento de problemas genuínos associados ao planejamento, à semelhança do que ocorreu no grupo de professores, representou um processo importante para a construção do conhecimento profissional, individual e coletivo. As contribuições do trabalho apontam para o fortalecimento das disciplinas de práticas de ensino na formação inicial e sugerem atividades para a formação continuada. (USTRA; HERNANDES, 2010, p.723)
Título 04: Formação docente: reflexões sobre o estágio curricular
Ano: 2012
Curso: Licenciatura em Ciências Biológicas
Objetivo do artigo: Apresentar “reflexões e discussões sobre a importância e o papel
do estágio curricular na formação prática de alunos do curso de licenciatura em
Ciências Biológicas.” (ROSA et al., 2012, p. 675)
Contribuições:
O que se pode perceber durante todo um curso de licenciatura em Ciências Biológicas, é a dificuldade sentida pelos alunos em lidar com a realidade da sala de aula e com a complexidade dos saberes que servirão de base ao ofício docente. (ROSA et al., 2012, p.676) Compreender o Estágio Curricular como um tempo destinado a um processo de ensino e de aprendizagem – em uma oportunidade para refletir, sistematizar e testar conhecimentos durante o curso de graduação (não sendo, simplesmente, uma experiência prática) – é reconhecer que, apesar da formação oferecida em sala de aula ser fundamental, ela sozinha não é suficiente para preparar os alunos para o pleno exercício de sua profissão. (ROSA et al., 2012, p.677)
119
O estágio curricular é, portanto, indispensável na construção da identidade profissional, uma vez que a profissão de professor não pode ser considerada uma ciência aplicada, sendo que o envolvimento humano não pode ser sistematizado, devendo haver um contato mais intenso para gerar o conhecimento. (ROSA et al., 2012, p.678) Quanto à questão da escolha do curso, 73% [entrevistados] não tinham a licenciatura como primeira opção e não pretendem dar aulas depois de se formar; 75% realizam pesquisas em áreas não correlatas à educação. (...) a maior parte afirma tê-lo escolhido por ser oferecido no meio do ano. Percebe-se então, com estes dados, que os alunos não se veem como futuros professores, mesmo estando estudando para isso. (ROSA et al., 2012, p.678) “(...) 60% dos alunos entrevistados, para os quais o estágio de docência de observação não traz nenhuma contribuição, já que se resume a observar o cotidiano escolar e, consequentemente, o professor regente, enumerando os erros e os acertos, sem nenhum intuito específico.” (ROSA et al., 2012, p.682) “(...) 82% sentem-se desmotivados perante o estágio curricular. Dentre os principais fatores que cooperam para essa desmotivação estão: dificuldade de conseguir estágios; desvio de papéis dos estagiários; falta de apoio/auxílio dos profissionais envolvidos na área; e choque com a realidade.” (ROSA et al., 2012, p.682)
“(...) 64,2% afirmaram ter sentido dificuldades no estágio de regência devido ao choque com a realidade escolar (dificuldade de expor o conteúdo, falta de interesse dos alunos, ter de enfrentar o inesperado, dar aula sem ter tempo para preparar).” (ROSA et al., 2012, p.685)
“Dentre as sugestões dos entrevistados, duas se destacaram. A primeira (...) seria transferir o estágio para o último período, separado das outras disciplinas. A segunda sugestão mais citada foi quanto à substituição do estágio de observação e regência, por elaboração e aplicação de projetos nas escolas. (ROSA et al., 2012, p.685) Analisando os resultados, podemos constatar que o currículo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UNIFAL-MG ainda baseia-se na regra do “3+1”, dando preferência à dicotomia entre teoria e prática, transformando o professor em um especialista da profissão biólogo. (ROSA et al., 2012, p.686)
“(...) esta ação [orientação/supervisão] é determinante no desempenho dos estagiários em sua docência e precisa ser sempre repensada.” (ROSA et al., 2012, p.686) “Outra questão que deve ser trabalhada é com relação à conscientização das escolas e professores regentes da importância do Estágio para os futuros professores (...)” (ROSA et al., 2012, p.686)
120
Mesmo com toda a problemática que envolve o Estágio Curricular, constatamos que há uma valorização desta disciplina e a consciência de que ela é de extrema importância, para a formação profissional, pelos acadêmicos. No entanto, é necessário realizar uma permanente reflexão sobre o seu desenvolvimento, para a busca da melhoria da qualidade do ensino. (ROSA et al., 2012, p.686)
Título 05: O curso de licenciatura em Ciências Naturais e a organização de seus
estágios supervisionados
Ano: 2014
Curso: Licenciatura em Ciências Naturais
Objetivo do artigo: Discutir “a necessária formação de Licenciados em Ciências
Naturais para atuar em toda a Educação Básica, e a estruturação dos Estágios
Supervisionados do referido curso.” (RAZUCK; ROTTA, 2014, p.739)
Contribuições:
(...) o estágio supervisionado pode ser um forte eixo articulador na melhoria da formação inicial dos docentes, sobretudo no que tange ao rompimento da dicotomia entre a teoria e a prática e na constituição do estágio como espaço de pesquisa para a elaboração de projetos coletivos de formação do educador. (RAZUCK; ROTTA, 2014, p.739)
DELTA (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada)
Título 01: Proposta de análise textual-discursiva do gênero relatório de estágio
supervisionado
Ano: 2012
Curso: Licenciatura em Letras
Objetivo do artigo: Apresentar “uma proposta de análise textual-discursiva do gênero
relatório de estágio supervisionado, produzido por professores em formação inicial,
em cursos de licenciaturas.” (SILVA, 2012, p.281)
Contribuições:
(...) a diversidade de composição do gênero ocorre no próprio relatório de estágio, o que é motivado por inúmeros fatores, dentre os quais destacamos a falta de consenso entre os profissionais responsáveis por coordenar e ministrar os estágios supervisionados a respeito da operacionalização das orientações oficiais sobre a disciplina. (...) A diversidade desses procedimentos não foi aqui destacada como argumento favorável a alguma padronização do gênero focalizado como produto final das disciplinas de estagio supervisionado. (...) Os estágios supervisionados se configuram como um campo de
121
investigações com questões bastante particulares, portanto, tais estudos precisam ser realizados de forma situada, nos próprios estágios, os quais não podem ser vistos apenas como um espaço de aplicação ou importação de saberes, produzidos em outras circunstancias, mesmo que originários da própria esfera escolar ou acadêmica. (SILVA, 2012, p.287) Essa configuração textual revelou a ausência do trabalho sistematizado sobre as práticas de escrita como atividades mediadoras da formação inicial do professor, o qual se deseja critico da própria pratica profissional. (...) Esses resultados revelam, portanto, a necessidade de uma maior orientação das praticas de escrita por parte do supervisor de estágio supervisionado, o que pode não depender, exclusivamente, desse docente, mas, minimamente, de uma reação cooperativa de todos os formadores atuantes nas licenciaturas. (SILVA, 2012, p.302)
Título 02: Dos gêneros textuais utilizados na formação do professor de Biologia
Ano: 2013
Curso: Licenciatura em Biologia
Objetivo do artigo: Problematizar “os gêneros relatório e artigo científico escritos por
4 estudantes- estagiários na disciplina Prática de Ensino de Biologia” (OLIVEIRA e
TRIVELATO, 2013, p.341)
Contribuições:
“julgamos que a escrita na formação docente pode ser uma ferramenta que contribui para a manifestação de sentimentos, expectativas e identificações profissionais do futuro professor (...). Para isso acreditamos na importância de proporcionar aos licenciandos-estagiários a oportunidade de produzir determinados gêneros textuais que possibilitem a reflexão sobre suas ações, a formalização de saberes
necessários a pratica pedagógica, uma revisão critica de sua formação e, por fim, produzir-se como professor. (OLIVEIRA e TRIVELATO, 2013, p.341) (...) vemos como problemática a questão do não envolvimento, ou mesmo do distanciamento dos licenciandos na escrita dos artigos, principalmente porque eles estavam tratando de suas próprias praticas e, no entanto, não ocorreu a implicação ou a inscrição mais profunda desses sujeitos produtores de linguagem e de conhecimento. (OLIVEIRA e TRIVELATO, 2013, p.341) Os relatórios mais que os artigos possibilitaram a expressão de posicionamentos a favor ou contra a prática docente. (...) no relatório, a função enunciador foi mais evidenciada, pois o artigo nem sempre facilitou que os licenciandos se vissem no papel de professor. (OLIVEIRA e TRIVELATO, 2013, p.357)
122
(...) é preciso se questionar sobre o que se pretende ao adotar a escrita de gêneros acadêmicos. Se o objetivo é levar o licenciando a refletir sobre sua atuação enquanto professor, talvez estes não sejam os mais indicados (...). Talvez seja o caso de se pensar em outros gêneros como: diários reflexivos, memoriais, estórias de vida, cartas, enfim, uma escrita que abarque manifestações de sentimentos, de dificuldades, de experiências já vividas, de expectativas etc. Que se produzam textos que levem o autor a se identificar com aquilo que escreve deixando ali suas marcas subjetivas e quem sabe ao ler e reler tais anotações possa perceber que ha possibilidade e necessidade de mudança sempre. (OLIVEIRA e TRIVELATO, 2013, p.360)
Educação & realidade
Título: A condição de aluno-professor de língua inglesa em discussão: estágio, identidade e agência.
Ano: 2013
Curso: Licenciatura em Letras
Objetivo do artigo: Abordar “(...) o posicionamento dos licenciandos ora como alunos,
ora como professores, e os conflitos que esta posição híbrida, em não sendo
reconhecida como tal, pode ocasionar.” (JORDÃO; BÜHRER, 2013, p.669)
Contribuições:
“(...) acredito que o interesse maior da academia sobre o estágio e a prática como
componentes curriculares na atualidade deve-se em grande parte a importância dada
pela legislação a estes momentos da formação.” (JORDÃO; BÜHRER, 2013, p.671)
“Tratar da condição de aluno-professor parece-nos crucial para que haja realmente
uma possibilidade de intervenção neste momento da formação.” (JORDÃO; BÜHRER,
2013, p.680)
Educação e Sociedade
Título: Estágio supervisionado e práticas de oralidade, leitura e escrita no ensino
fundamental.
Ano: 2010
Cursos: Pedagogia e Licenciatura em Letras
Objetivo do artigo:
“(...) discorrer sobre o contexto de realização de um projeto de comunicação a distância entre alunos do ensino fundamental (EF)
123
mediada por estagiários e professores. Trata-se de uma modalidade de estágio supervisionado proposto aos alunos de Pedagogia e de Licenciatura na disciplina “Metodologia do Ensino de Português”. (SEMEGHINI-SIQUEIRA et al; 2010, p.563)
Contribuições:
Certamente, compete à universidade reinventar a formação dos professores de língua materna, contribuindo para que eles possam, por sua vez, reinventar as práticas educativas. Entretanto, (...) a formação universitária, tanto do professor que trabalha no ciclo I quanto daquele que atua no ciclo II, não tem produzido alterações concretas nas práticas pedagógicas, ou seja, a maioria dos docentes “continua atuando como seus antigos professores”. (SEMEGHINI-SIQUEIRA et al; 2010, p.569) (...) se em determinada época o mote era “o fracasso do aluno”, depois “o fracasso da escola” (ou do professor do EF), pode-se agora apontar numa outra direção: “o fracasso da formação universitária”. É premente, pois, que toda a comunidade acadêmica envide esforços para solucionar esse impasse. (SEMEGHINI-SIQUEIRA et al; 2010, p.569)
(...) a execução do projeto pôde alterar, de forma positiva, as representações que os
estagiários detinham dos professores, dos alunos e da escola (...) (SEMEGHINI-
SIQUEIRA et al; 2010, p.581)
Educação em revista
Título 01: Atualizando a Hidra? O estágio supervisionado e a formação docente inicial
em História
Ano: 2010
Curso: Licenciatura em História.
Objetivo do artigo: “(...) pensar o currículo e a formação docente inicial em História,
sobretudo a partir do lugar construído para a prática de ensino e estágio
supervisionado.” (SILVA, 2010, p.131)
Contribuições:
Além das dicotomias evidentes entre teoria e prática, presentes no texto das Diretrizes, e que reverberam nas matrizes dos cursos, observam-se, ainda, a falta de entendimento e de clareza da concepção de prática como componente curricular e suas diferenças
em relação ao estágio curricular supervisionado. (SILVA, 2010, p.148)
124
“(...) a incorporação da carga horária relativa à prática e ao estágio não foi suficiente
para erodir as estruturas que sustentam esse modelo (...)” (SILVA, 2010, p. 150)
Não há receitas, nem escolhas fáceis. Mas há escolhas. Sem enfrentarmos o problema da formação inicial de frente e com determinação, vamos continuar recuando pragmaticamente (...) Até quando vamos continuar cortando e reformando coisas em nossas matrizes curriculares que crescem e reinstalam os velhos problemas
de sempre? (SILVA, 2010, p.153)
Título 02: A escrita de diários na formação docente Ano: 2012
Curso: Pedagogia
Objetivo do artigo: “(...)investigar as contribuições da escrita de diários para
estudantes de um curso de Pedagogia que já haviam cursado as disciplinas de estágio
supervisionado para a docência, em que uma das atividades se referia à elaboração
de diários de campo.” (SOUZA et al., 2012, p.181)
Contribuições:
(...) podemos levantar a hipótese de que a escrita do diário por si só possa não propiciar a reflexão e a análise dos fatos vivenciados no estágio dos futuros professores, sendo fundamental a concretização de um diálogo com agentes externos, que podem ser o professor formador e os colegas de estágio. (SOUZA et al., 2012, p.204)
“(...) é importante que as reflexões dos estagiários se relacionem com os estudos
teóricos realizados ao longo do curso.” (SOUZA et al., 2012, p.206)
Título 03: Reflexões acerca do estágio curricular na formação do professor licenciado
em teatro
Ano: 2013
Curso: Licenciatura em Teatro
Objetivo do artigo: “A partir de um breve panorama histórico, busca-se apontar
enfrentamentos e dificuldades políticas e culturais em torno da inserção do ensino de
teatro, como campo de conhecimento no currículo da Educação Básica.” (ALMEIDA
JUNIOR, 2013, p.43)
125
Estágio supervisionado: “Toma-se como objeto para esta discussão o estágio
supervisionado obrigatório e o seu papel na formação do futuro docente.” (ALMEIDA
JUNIOR, 2013, p.43)
Contribuições:
(...) é possível distinguir (de modo geral) a presença de dois grupos de alunos (...). Um grupo de alunos que não tem a escolha da profissão docente como primeira opção de trabalho. São alunos que optam pela licenciatura, conforme seus depoimentos em sala de aula, como uma forma de certificação extra para enfrentar o mercado de trabalho, caso não deem certo como artistas. Outro grupo é de alunos que desejam de fato ser professores de teatro (ou ao menos não têm dúvidas em relação a esta opção). (ALMEIDA JUNIOR, 2013, p.53-54)
3.2 DISCUSSÃO DA LITERATURA
A revisão não seria adequada se dependesse somente dos resumos dos
artigos, pois, muitos deles, ou não atendiam o que normalmente é exigido, ou, o que
era apresentado só fazia sentido com a leitura do texto na íntegra; somente três artigos
tinham no resumo as informações completas (objetivo, método, resultados e
conclusões) e claras.
Em 2001 foi selecionado um artigo. Já em 2010 quatro, assim como em 2012
e 2013. E, em 2014, três. Sendo que, o periódico “Ciência & Educação” concentrou a
maior quantidade de artigos selecionados (cinco).
Como não foi utilizado o critério de tempo, o fato de o primeiro artigo surgir
somente em 2001 possivelmente está relacionado a legislação implementada na
década de 1990. Mas, de 2001 a 2010 existe um vazio; considerando os critérios
enunciados nada foi publicado.
No que diz respeito às licenciaturas, o curso de Letras possui maior número
de artigos (cinco). Matemática dois artigos, assim como Física e Ciências Biológicas.
Sendo que História, Pedagogia, Teatro, Ciências Naturais possuem um artigo por
área. Um dos artigos discute três licenciaturas: Biologia, Física e Química.
A leitura do item 3.1 evidencia questões que surgem em várias áreas:
- Estagiário: É professor ou aluno? Enfrenta dificuldade com a realidade escolar; Tem
expectativas negativas com relação ao ambiente escolar; não tem como primeira
opção ser professor;
126
- Supervisor: Não assume a posição de co-formador; Desanima o estagiário; Não
acolhe o estagiário de forma adequada;
- Formação inicial: As instituições de ensino superior não demonstram clareza com
relação à implementação da legislação. Muitas vezes as disciplinas atendem a
legislação, mas na prática, mantém práticas antigas;
- Relatórios: O formato dos relatórios pode não estar adequado ao que se pretende
(refletir sobre o ato de estagiar).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os artigos científicos (selecionados através de critérios pré-estabelecidos)
associados ao acompanhamento de licenciandos do curso de Matemática (mediado
por discussões provenientes do GPECIM) deram destaque à importância do estágio
na formação do futuro professor. Em alguns deles existem cobranças com relação à
responsabilidade das instituições formadoras; incluindo a do orientador de estágio.
Noutros é discutida a importância de se encontrar uma forma de acompanhar os
estagiários contemplando o ato da reflexão. Mas, considerando que as áreas têm
muito em comum, faltou algum artigo que discutisse o estágio supervisionado
independente de área. Este fato pode estar associado aos critérios escolhidos, o que
dá brecha para outras pesquisas.
REFERÊNCIAS
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127
BACCON, A. L. P.; ARRUDA, S. de M. Os saberes docentes na formação inicial do professor de física: elaborando sentidos para o estágio supervisionado. Ciênc. educ. (Bauru) [online]. 2010, vol.16, n.3, pp. 507-524.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996.
______. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº CNE/CP 09/2001, de 08 de maio de 2001.
______. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº CNE/CP n° 21/2001, de 06 de agosto de 2001.
______. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº CNE/CP 27/2001, de 02 de outubro de 2001.
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129
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USTRA, S. R. V.; HERNANDES, C. L. Enfrentamento de problemas conceituais e de planejamento ao final da formação inicial. Ciênc. educ. (Bauru) [online]. 2010, vol.16, n.3, pp. 723-733.
130
OS SABERES DOCENTES E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PERMANENTE
EM SAÚDE
Mariana Silva Vieira Fachim23
RESUMO
A Educação Permanente em Saúde no Brasil foi estabelecida pelo Ministério da
Saúde em 2004 como uma política pública de âmbito nacional através da Portaria
198. Esta política já sofreu algumas modificações em 2007 e mais recente em 2014.
Este ensaio tem como objetivo relacionar a política pública nacional de Educação Permanente
em Saúde com os Saberes Docentes abordados por Maurice Tardif (2002) e Clermont
Gauthier et al (1998). Foi realizado leitura e análise crítica da literatura disponível em
bibliotecas virtuais, sites do Ministério da Saúde e livros. Para fundamentação da temática foi
utilizado publicações do Ministério da Saúde (MS) e os teóricos Gauthier e Tardif. Estes
saberes docentes que se desenvolvem no trabalho e para o trabalho tem relação direta com
a proposta do MS através da Política Nacional de EPS. Os professores, que na PEPS são
então os profissionais de saúde, também tem o seu processo de ensino aprendizagem voltado
para o trabalho. Profissionais da saúde são professores. Trabalham também diretamente com
pessoas que precisam ser transformadas, ensinadas, motivadas. Através de uma assistência
prestada, uma orientação fornecida, uma educação em saúde realizada, é possível modificar
a realidade das pessoas.
Palavras-chave: Educação Permanente em Saúde. Saberes docentes. Educação em
Saúde.
ABSTRACT
The Continuing Health Education in Brazil was established by the Ministry of Health
in 2004 as a public policy nationwide through Ordinance 198. This policy has
undergone some modifications in 2007 and later in 2014. This essay aims to relate
the public policy National Continuing Education in Health with Knowledge Teachers
23 Especialista em Didática do Ensino Superior. Faculdade de Enfermagem UNIC-Rondonópolis. Brasil. E-mail: [email protected].
131
approached by Maurice Tardif (2002) and Clermont Gauthier et al (1998). Was
performed critical reading and analysis of the available literature on virtual libraries,
the Ministry of Health websites and books. For the thematic reasoning was used
publications of the Health Ministry (MS), Gauthier and Tardif theorists. These
teachers knowledge that develop at work and from work is directly related to the
proposal of the MS through the National Policy (EPS). The teachers, who are then
in PEPS health professionals, also has its teaching and learning process focused on
the job. Health professionals are teachers. They also work directly with people who
need to be transformed, taught, motivated. Through a care delivery, one provided
guidance, health education carried out, you can change the reality of the people. -
987
Keywords: Continuing Health Education. Teaching knowledges. Health Education.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo faz parte dos estudos desenvolvidos no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Mato Grosso – campus de Rondonópolis. Tem como
objetivo relacionar a política pública nacional de Educação Permanente em Saúde com os
Saberes Docentes abordados por Maurice Tardif (2002) e Clermont Gauthier et al. (1998).
A Política de Educação Permanente em Saúde (PEPS) foi implementada no país em
2004. Está alicerçada em conhecimentos pedagógicos e na Teoria de Aprendizagem
Significativa do teórico Paulo Freire.
Sendo uma política voltada para área da saúde todavia fundamentada em princípios
educacionais houve a necessidade de associar conhecimentos dessas áreas distintas. Assim
cria-se um desafio para os profissionais da saúde.
A partir da análise dos textos foi observado que há relação entre saberes docentes e
a PEPS e que a vinculação dos conhecimentos da educação e saúde podem modificar a
prática dos profissionais.
132
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Educação Permanente Em Saúde
A partir da Constituição Federativa do Brasil em 1988, houve uma nova formulação
política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde no país através
do Sistema Único de Saúde (SUS) como modelo único de atenção à saúde para todo o
território nacional. Os princípios doutrinários desta política são: Universalidade, Equidade e
Integralidade da atenção à saúde da população; já os princípios organizativos são:
Regionalização e hierarquização, Resolubilidade, Descentralização, Complementariedade do
setor privado (BRASIL, 1990).
Neste contexto, em 1993, surge o Programa Saúde da Família (PSF) numa reunião
em Brasília (Distrito Federal), sobre o tema “Saúde da Família”, convocada pelo gabinete do
Ministro da Saúde, com apoio do UNICEF. O PSF possui como proposta modificar a antiga
concepção que profissionais de saúde tinham sobre sua atuação, deixando a medicina
curativa para atuar na integralidade da assistência, estando então em conformidade com os
princípios do SUS (ROSA; LABATE, 2005).
Como consequência dessa implementação foi necessária uma mudança progressiva
dos serviços passando de:
Um modelo assistencial centrado na doença e baseado no
atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à
saúde, onde haja a incorporação progressiva de ações de promoção
e de proteção, ao lado daquelas propriamente ditas de recuperação
(BRASIL, 1990).
Assim sendo foi preciso que os trabalhadores atuantes nessas instituições
modificassem alguns aspectos de sua conduta profissional, logo, foi fundamental que fossem
capacitados. É importante destacar também que essas mudanças deveriam ser feitas no
processo de formação e desenvolvimento desses profissionais da saúde na graduação, pós-
graduação, educação permanente.
133
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 200º, inciso III, já determinava que: “ao
SUS compete, ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde". A Lei nº
8080/1990 também estabelece em seu artigo 6º, inciso III, que incumbe ao SUS a “ordenação
da formação de recursos humanos na área de saúde”.
Em 2003 foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
(SGTES) pelo Ministério da Saúde através do Decreto nº 4.726. A SGTES desenvolve ações
“para o fomento de políticas para a formação, educação permanente, valorização dos
trabalhadores e democratização das relações de trabalho no SUS”. A secretaria é estruturada
em dois departamentos: Gestão da Educação (DEGES) e da Gestão e da Regulação do
Trabalho em Saúde (DEGERTS) (BRASIL, 2011).
O DEGES adotou a educação permanente como a estratégia primordial para a
reorganização das práticas de formação, atenção, gestão, formulação de políticas e controle
social no setor da saúde, aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde em 04 de setembro de
2003. Após aprovação e pactuação desta política, o DEGES deu início ao processo de
constituição dos Polos de Educação Permanente em Saúde.
Os Polos de Educação Permanente em Saúde funcionam como dispositivos do SUS
para promover mudanças, tanto nas práticas de saúde quanto nas práticas de educação na
saúde, funcionando como rodas de debate e de construção coletiva- Rodas para a Educação
Permanente em Saúde (BRASIL, 2004, p.11).
Com vistas a atender então, a necessidade de capacitação do profissional de saúde,
tendo em vista ser essa responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), foi instituída a
Portaria nº 198/GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004, que institui a Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde como estratégia do SUS para a formação e o
desenvolvimento de trabalhadores para o setor. Esta portaria define como Educação
Permanente em Saúde (EPS) a aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se
incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho, baseando-se na aprendizagem
significativa e na possibilidade de transformar as práticas dos trabalhadores da saúde
(BRASIL, 2014).
As diretrizes para a EPS são: valorizar o trabalhador e o trabalho em saúde no
Ministério da Saúde (MS), na perspectiva da Política Nacional de Humanização da Atenção e
Gestão no SUS; fomentar práticas educacionais em espaços coletivos de trabalho,
fortalecendo o trabalho em equipes multiprofissionais; promover a aprendizagem significativa
por meio da adoção de metodologias ativas e críticas; favorecer a autonomia dos sujeitos e a
134
corresponsabilização nos processos de trabalho do MS; articular a EPS e a gestão de pessoas
por competências para a organização das ações de educação no MS; fortalecer a gestão da
EPS de forma compartilhada e participativa, no âmbito do MS; contribuir para a mudança
cultural e institucional direcionada à gestão compartilhada e ao aprimoramento do SUS;
constituir-se como uma estratégia política para o enfrentamento da fragmentação dos serviços
e das ações de saúde; e valorizar as múltiplas dimensões humanas nos processos de ensino-
aprendizagem (BRASIL, 2014).
O MS propõe a educação permanente como uma estratégia de transformação das
práticas de formação, de atenção, de gestão, de formulação de políticas, de participação
popular e de controle social no setor da Saúde. Baseia-se na aprendizagem significativa com
a intenção de transformar as práticas profissionais existentes porque perguntas e respostas
são construídas a partir da reflexão de trabalhadores e estudantes sobre o trabalho que
realizam ou para o qual se preparam (BRASIL, 2005).
Já em 2007 foi instituída a Portaria nº 1.996/GM/MS que dispõe sobre as diretrizes
para a implementação da PEPS e agora mais recentemente foi estabelecida Portaria nº 278
de 27 de fevereiro de 2014 que determina diretrizes para a implementação da PEPS, no
âmbito do MS.
Conceitua também o termo aprendizagem significativa como o processo de
aprendizagem que propicia a construção de conhecimentos a partir dos saberes prévios dos
sujeitos articulados aos problemas vivenciados no trabalho (BRASIL, 2014). Considera o
conhecimento que o profissional de saúde já possui sobre determinado assunto e o relaciona
com os entraves de seu cotidiano, assim então o conhecimento se constrói de forma
significativa ao sujeito.
A educação permanente pode ser entendida como aprendizagem-
trabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das
organizações. Ela é feita a partir dos problemas enfrentados na
realidade e leva em consideração os conhecimentos e as experiências
que as pessoas já têm (BRASIL, 2005).
135
2.2 A Necessidade de Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde
Intensas foram as modificações experimentadas pelos sistemas nacionais de saúde
em todo o mundo ocidental, atingindo fortemente a área de Recursos Humanos, impondo-lhe
transformações importantes, tais como: novas formas de contratação, novas funções e áreas
de competência, mudanças na organização do trabalho, destaque no desempenho e
avaliação. Concomitantemente, houve importante competição institucional, visando maior
resolutividade, produtividade e qualidade do serviço, enfatizando a necessidade de
aperfeiçoar as funções de regulação dos processos de desenvolvimento de recursos humanos
(BRASIL, 2006).
Acerca dos desafios decorrentes das reformas e da consolidação do SUS, no Brasil,
destacam-se diferentes necessidades em diferentes cenários. No cenário do trabalho, a
gestão complexa de múltiplos sistemas de contratação e gestão, o imperativo da gestão
descentralizada, o incentivo para incrementar a qualidade e a produtividade, a flexibilidade
contratual, a relevância do trabalho em equipe e a gestão empreendedora orientada para o
reconhecimento dos direitos dos usuários (BRASIL, 2006).
Tais circunstâncias tornaram visíveis a importância de “conceber, implementar e
institucionalizar alternativas de educação permanente tanto para a formação de profissionais
quanto para o seu aprimoramento em serviço”; todavia “explicitam o notável aumento da
demanda por melhoria da qualidade do trabalho, por nova certificação profissional e novas
modalidades de acreditação e credenciamento” (BRASIL, 2006, p.39).
A obrigação de que os trabalhadores da saúde estejam cada vez mais qualificados e
sejam mais produtivos para as instituições estão presentes nesta conjuntura atual da lógica
capitalista, as quais sobressaem as políticas neoliberais do mercado. Com base nisto, os
serviços estabelecem formas de controlar os profissionais de saúde associando ao trabalho a
busca permanente pela produtividade com qualidade, segurança e principalmente economia.
Segundo Ceccim (2005) a velocidade com que conhecimentos e saberes tecnológicos
se atualizam na saúde, a distribuição de profissionais e serviços segundo a acessibilidade da
população torna muito complexa a atualização permanente desses profissionais. Afirma que
“sempre seremos poucos, sempre estaremos desatualizados, nunca dominaremos tudo o que
se requer em situações complexas de necessidades em/direitos à saúde” (CECCIM, 2005,
p.163). Portanto a implementação da PEPS torna-se um desafio mas também uma
necessidade.
136
3 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa que possui como
método a análise documental.
Foi realizado seleção e leitura dos textos: “Por uma teoria da pedagogia: pesquisas
contemporâneas sobre o saber docente” (GAUTHIER et al, 1998); “Saberes docentes e
formação profissional” (TARDIF, 2002) e publicações do Ministério da Saúde referente a
implantação da PEPS no país.
Posteriormente foi realizada análise de conteúdo, que segundo Bardin é:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens” (BARDIN, 1979, p.42).
A análise dos documentos possibilitou o alcance do objetivo que consistia em
relacionar a PEPS com os saberes docentes citados por Tardif (2002) e Gauthier et al (1998).
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 A Relação Entre Educação Permanente em Saúde e os Saberes Docentes
No texto “Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber
docente” de Gauthier e colaboradores (1998) os autores afirmam que existem algumas ideias
errôneas a respeito dos saberes necessário a prática docente nos levando a uma cegueira
conceitual. São eles: basta ter talento; basta conhecer o conteúdo; basta ter bom senso; basta
seguir sua intuição; basta ter experiência e basta ter cultura.
137
Para os autores não são necessários somente esses saberes. Segundo os mesmos
os saberes necessários para o ensino são: o saber disciplinar; o saber curricular; o saber das
ciências da educação; o saber da tradição pedagógica; o saber experiencial e o saber da ação
pedagógica (GAUTHIER et al., 1998).
O saber docente também é plural e temporal pois é adquirido ao longo da vida e da
carreira profissional. Dizer que é temporal significa dizer que “ensinar supõe aprender a
ensinar, ou seja, aprender a dominar progressivamente os saberes necessários a realização
do trabalho docente” (TARDIF, 2002, p.20). “Ensinar é mobilizar uma ampla variedade de
saberes, reutilizando-os no trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para o trabalho”
(TARDIF, 2002, p.21).
O saber dos professores depende das condições concretas com que seu trabalho é
realizado, da sua personalidade e da experiência profissional dos mesmos. Deve ter relação
com seu trabalho na escola e na sala de aula. “O saber do professor traz em si mesmo as
marcas de seu trabalho, que ele não é somente utilizado como um meio no trabalho, mas é
produzido e modelado no e pelo trabalho” (TARDIF, 2002, p.17).
Tardif (2002) afirma que “[...] se quero saber como realizar um trabalho qualquer, o
procedimento mais normal consiste em aprendê-lo com aqueles que efetuam esse trabalho”
(TARDIF, 2002, p.241).
Estes saberes docentes que se desenvolvem no trabalho e para o trabalho tem relação
direta com a proposta do MS através da Política Nacional de EPS. Os professores, que na
PEPS são então os profissionais de saúde, também tem o seu processo de ensino
aprendizagem voltado para o trabalho.
A proposta desta política é de que a aprendizagem aconteça a partir de necessidades
vivenciadas no ambiente de trabalho, sendo assim, o tema proposto para a EPS será
significativo aos trabalhadores pois já é uma necessidade deles. Por conseguinte a
aprendizagem se fará significativa.
Profissionais da saúde são professores. Trabalham também diretamente com pessoas
que precisam ser transformadas, ensinadas, motivadas. Através de uma assistência prestada,
uma orientação fornecida, uma educação em saúde realizada, é possível modificar a realidade
das pessoas. E para que esses profissionais estejam aptos a ensinar, também é necessário
que aprendam e aprendam permanentemente.
138
Gauthier e colaboradores afirmam: “Ensinar é necessariamente entrar em relação com
o outro para transformá-lo, é julgar em contexto, é confrontar-se com o caráter contingente da
interação social” (GAUTHIER et al, 1998, p.349).
A educação é uma forma de construir cidadania, formar indivíduos conscientes de seus
direitos e deveres e capazes de lutar por eles. A educação é capaz de proporcionar ao homem
a compreensão de sua realidade, permitindo-lhe desafiá-la em busca de soluções para o
enfrentamento dos problemas individuais e coletivos (OLIVEIRA; SANTOS, 2011).
Entretanto a educação em saúde só se torna eficaz se proporcionar a população uma
aprendizagem significativa, que esteja orientada em princípios educacionais e utilize didáticas
de ensino que promovam a interação dos usuários para que então se produza conhecimento.
E a aprendizagem significativa é a teoria educacional utilizada pela EPS.
A educação em saúde está relacionada à aprendizagem, desenhada para alcançar a
saúde, sendo necessário que a mesma esteja voltada a atender a população conforme a sua
realidade. Seus objetivos são o de desenvolver nas pessoas o senso de responsabilidade
pela sua própria condição de saúde e da comunidade a qual pertençam, e a capacidade de
participar da vida comunitária de uma maneira construtiva (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).
Na Estratégia Saúde da Família (ESF) os profissionais de saúde têm como uma de
suas atribuições a realização da educação em saúde, que fazem destes, agentes de
mudanças individuais e coletivas no contexto biopsicossocial de atenção à família. Sendo
assim atribuído aos profissionais da atenção à família o papel de facilitador do processo de
educação em saúde (MACHADO et al., 2007).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há uma associação direta entre educação e saúde. Os profissionais da saúde são
professores nas unidades e é necessário possuir esses saberes docentes para que a
educação em saúde por eles realizada ocorra de forma significativa a população. E também
que a EPS para eles elaborada, ocorra da mesma forma.
Entretanto no decorrer de sua formação acadêmica esses profissionais não são
capacitados para realizarem atividades de educação em saúde de acordo com os
139
fundamentos educacionais, visto que sua formação ainda é estritamente técnica voltada a
execução de procedimentos clínicos.
Faz-se então fundamental que esses profissionais tenham esse tipo de conhecimento
pois oportunizaria uma melhor interlocução junto à população, alcançando uma aprendizagem
significativa dos participantes das atividades educativas em saúde.
A proposta do MS através da PEPS é de capacitar permanentemente esse profissional
em saúde através de metodologias pedagógicas de ensino. Relacionando esses
conhecimentos podemos ter como resultado uma assistência prestada satisfatória, tendo em
vista a mudança da atuação do trabalhador.
Sendo assim são necessários que os saberes citados por Gauthier et al (1998) e Tardif
(2002) sejam estudados pelos profissionais da saúde para execução das EPS afim de que
possam ter uma aprendizagem significativa e então prestar uma assistência integral a
população e que ela seja de qualidade.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. ABC do SUS: Doutrinas e Princípios. Brasília: Ministério da Saúde, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde: polos de educação permanente em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 198, em 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
140
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Cadernos RH Saúde, v. 3, n. 1. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. SGETS: políticas e ações. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL, Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 278, de 27 de fevereiro de 2014. Institui diretrizes para implementação da Política de Educação Permanente em Saúde, no âmbito do Ministério da Saúde (MS). Brasília: Diário Oficial da União, 2014.
CECCIM, R. B. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface. Comunicação, Saúde e Educação, v.9, p.161 - 177, 2005.
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1998.
141
MACHADO, M. F. A. S. et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS: uma revisão conceitual. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 02, p.335-342, abr. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232007000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 set. 2013.
OLIVEIRA, H. M; GONÇALVES, M. J. F. Educação em saúde: uma experiência transformadora. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 57, n. 6, p.761-763, nov/dez, 2004.
OLIVEIRA, R. L; SANTOS, M. E. A. Educação em saúde na estratégia saúde da família: conhecimentos e práticas do enfermeiro. Revista Enfermagem Integrada, Ipatinga- MG, v.4, n.2, nov./dez. 2011.
ROSA, W. A. G.; LABATE, R. C. Programa saúde da família: a construção de um novo modelo de assistência. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2005, v.13, n.6, p. 1027-1034.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
142
PROJETO SALA DE EDUCADOR: RESSIGNIFICANDO O PROCESSO ENSINO E
APRENDIZAGEM ESCOLAR
Arlete Tavares Buchardt24
José Aldair Pinheiro25
Márcia Ravarena Pasquali26
RESUMO
O presente artigo versa sobre a formação continuada em serviço e a Educação do Campo em escolas que possuem turmas multisseriadas. As discussões estão pautadas sob o objetivo geral de compreender como e em que a formação continuada na Educação do Campo pode contribuir para o desenvolvimento de práticas pedagógicas transformadoras que possibilitem a melhoria da qualidade da aprendizagem e a contextualização de saberes nesse contexto. A partir dos objetivos específicos buscamos conhecer quais os desafios e necessidades educativas nas relações de ensino e aprendizagem e na formação continuada; entender os processos pedagógicos empregados para possibilitar a relação teoria e prática emanadas das discussões e planejamentos nos encontros de formação e por fim identificar quais foram as contribuições da formação continuada para as práticas pedagógicas com implicações na melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos. Buscamos aporte teórico em Nóvoa (1995), Day (2001), Barros (2005), Hage (2010), Pereira (2005) dentre outros. Para o feito, utilizamos como base metodológica o método dialético e a abordagem qualitativa e exploratória. Utilizamos os procedimentos técnicos da pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Para a coleta de dados nos valemos da pesquisa participante através da observação direta, entrevistas e depoimentos. As análises ocorreram em três momentos - pré-análise; exploração do material; inferência e compreensão. Os resultados apontam que através da formação continuada foi possível ressignificar o Projeto Político Pedagógico da escola, organizar o currículo a partir da aprendizagem por projetos, realizar o planejamento coletivo e melhorar significativamente a aprendizagem dos alunos e alunas e a participação dos familiares nas ações desenvolvidas pela escola.
24 Mestra em Crítica Textual. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) de Sinop-MT. Brasil. E-mail: [email protected]. 25 Mestre em Ciências Ambientais/Educação Ambiental. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) de Sinop-MT. Brasil. E-mail: [email protected]. 26 Especialista em Gestão Pública e Psicopedagogias. Secretaria Municipal de Educação de Nova Ubiratã-MT. Brasil. E-mail: [email protected].
143
PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo. Salas Multisseriadas. Formação Continuada. Aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
O espaço de debate dos temas relativos à educação escolar tem aumentado
significativamente nas últimas décadas. As mudanças, as transformações científicas
e tecnológicas, econômicas e culturais, globais e locais emanam à educação novos
fenômenos ou perpetuam práticas antigas que se tornam desafios constantes com
implicações diretas na gestão escolar e nas relações de ensino e aprendizagem.
Esses fenômenos tornam cotidianos necessários de serem interpretados ou
ressignificados como demandas sociais refletidas como necessidades educativas a
serem debatidas.
Dentre outras possibilidades a formação continuada em serviço dos
profissionais da educação básica tem sido condição ou possibilidade de se estudar
tais demandas sociais educativas. Neste trabalho trazemos à discussão alguns
desses temas de debates na educação, a saber, a formação continuada, a educação
do campo e práticas educativas transformadoras junto aos educadores da Escola
Municipal Pedro Álvares Cabral do município de Nova Ubiratã-MT.
Propomo-nos discutir como a formação continuada na Educação do Campo
com escola que possui salas multisseriadas, como ou em que a formação continuada
na Educação do Campo pode ou contribui para o desenvolvimento de práticas
pedagógicas transformadoras que possibilitem a melhoria da qualidade da
aprendizagem e a contextualização de saberes em turmas multisseriadas. Como ou
em que é possível a formação continuada no campo contribuir para a melhoria da
aprendizagem dos alunos e alunas nas escolas.
Objetivamos saber quais foram as contribuições da formação continuada para
os educadores da Escola Municipal Pedro Álvares Cabral no tocante à
contextualização dos saberes e à qualidade da aprendizagem refletida no
desenvolvimento dos alunos. Especificamente procuramos saber quais eram os
desafios e necessidades educativas nas relações de ensino e aprendizagem e na
144
formação continuada; Entender os processos pedagógicos empregados para
possibilitar a relação entre teoria e prática e por fim saber e conhecer quais foram as
contribuições da formação continuada nas práticas pedagógicas com implicações na
melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos.
A Escola Municipal Pedro Álvares Cabral é a primeira Escola do Campo do
município e pelas condições geográficas enfrentou algumas dificuldades de
atendimento por parte da gestão municipal principalmente no acompanhamento
pedagógico fazendo com que os antigos problemas se perpetuassem e os desafios
novos não fossem tratados adequadamente a fim de proporcionar o suporte
necessário para realizar o aperfeiçoamento do ensino e aprendizagem.
Tal situação começou a ser tratada de forma mais acentuada a partir de 2011
quando foi firmada uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e o Centro
de Formação e Atualização dos profissionais da Educação Básica (Cefapro), polo de
Sinop-MT, para oferecer a formação continuada para a rede municipal de educação
propiciando a participação dos educadores da escola acesso à formação continuada
segundo os parâmetros da formação continuada do Estado de Mato Grosso.
A partir de então, deu-se início os contatos e trabalhos com esses profissionais
que buscavam analisar a realidade educativa da qual faziam parte buscando meios e
formas de tranformá-la. Esse contexto geo-social e educacional, bem como as
mudanças ocorridas se constituiu um dos motivos mais fortes para o desenvolvimento
desse trabalho. Outro fator importante é o fato dos autores serem também os
formadores e coordenadores do projeto de formação continuada da escola, cuja
condição possibilitou diagnosticar as necessidades e desafios educativos, planejar a
formação visando a relação teoria e prática, acompanhar o desenvolvimento e por fim
avaliar os resultados e implicações dessa formação no aprimoramento teórico e
metodológico dos educadores.
2 REVISAO DA LITERATURA
2.1 Educação do Campo e escolas/salas multisseriadas
145
O campo constitui espaço de mobilização social. O que se pode perceber
atualmente diz respeito à existência de duas formas diferentes e opostas de visualizar
o campo, de um lado a visão do agronegócio, segundo a qual o campo é lugar sem
prestígio social, atrasado, sem recursos, passível de ser explorado pela agricultura
capitalista. Em oposição a este pensamento socialmente divulgado encontramos a
agricultura familiar camponesa trazendo consigo um projeto de vida construído sobre
as bases do trabalho como gerador de cultura e produção na luta por estabelecer uma
sociedade justa e um cidadão crítico estreitamente identificado com a terra.
Nesse espaço sócio-cultural, político e econômico em que forças antagônicas
disputam o domínio é que se estabelecem as bases da Educação do Campo conforme
registrado no Caderno Didático da Educação do Campo, (2010, p.51)
Assim, a concepção de Educação do Campo (EdoC) estabelece relação entre a educação, a direção do desenvolvimento da agricultura camponesa e do projeto para o Brasil. Ela nasce no bojo do processo de resistência e luta dos camponeses e das camponesas que vivem no e do seu trabalho no campo e também na luta pelo direito à educação.
A escola do campo e seus educadores e educadoras ao compreender o
contexto em que se encontra inserida a escola necessita colocar essas questões em
debate, trazer à comunidade a discussão dessas forças que se fazem presentes no
ambiente escolar e familiar atendido pela escola. E não somente isto, mas também é
importante socializar, refletir, debater e se posicionar frente a outros problemas e
desafios vividos pelas escolas do campo. No espaço educativo da escola do campo
também é fundamental debater sobre a organização do trabalho pedagógico, o
currículo, o Projeto Político Pedagógico e a aprendizagem dos alunos e alunas do
campo. Torna-se fundamental que os professores e professoras possam socializar
com a escola e com a comunidade sua forma de pensar e organizar o trabalho com
os alunos e alunas a fim de que todos percebam que o fazer pedagógico do professor
e da professora contempla o contexto da comunidade em que vivem os alunos e
alunas e contribui no processo de formação do cidadão crítico e participativo que se
deseja. Caderno Didático da Educação do Campo, (2010, p.60)
146
É preciso fortalecer na escola a dimensão do trabalho coletivo entre os educadores. Cada professor deve ter a oportunidade de debater seu planejamento com os outros colegas da escola, com a direção, com a comunidade. Dessa forma, mais facilmente conseguiremos selecionar e trabalhar conteúdos que estejam em sintonia com a concepção de ser humano que se quer formar, com a concepção de educação e com o fortalecimento da identidade dos trabalhadores do campo. Nesta concepção é preciso garantir conteúdos e métodos que abordem os problemas concretos da realidade, articulando as questões mais amplas (a totalidade) com os conteúdos específicos das diferentes áreas do conhecimento (Português, História, Matemática, Artes, Educação Física e outros), baseados numa teoria metodológica e do conhecimento materialista histórico-dialético, coerente com o projeto de sociedade que se quer construir.
Este processo educativo todo necessita estar especificado para os pais e
comunidade, os pais tem que ser levados ao conhecimento do trabalho pedagógico
desenvolvido pelos professores e participar ativamente das ações de construção do
Projeto Político Pedagógico e do currículo a ser desenvolvido pela escola, tornando-
se colaboradores nesse processo de construção de conhecimentos e de formação de
um cidadão do campo capaz de analisar a realidade atual do mundo e de seu contexto
mais próximo a fim de atuar sobre essa realidade e contexto, promovendo ações de
transformação do mundo como aborda o Caderno Didático da Educação do Campo,
(2010, p.137)
Neste sentido, pensar o trabalho pedagógico da escola, o Projeto Político-Pedagógico, significa pensar a pedagogia do trabalho, tendo como referência inicial, ponto de partida, o trabalho do campo. Significa pensar, especialmente para a Educação do Campo, o caráter pedagógico dos processos de mudança na base técnica da produção no campo.
A terra e o trabalho na e com a terra, a produção campesina, a geração de
cultura se encontram vinculados ao contexto sociocultural do campo e transversalizam
o currículo e o PPP da escola do campo. A partir desse contexto o currículo é
percebido não mais vinculado à escola urbana, mas inserido no contexto do campo e
do trabalho com a terra.
De acordo com o Caderno Didático da Educação do Campo, (2010, p.188-192)
o currículo para a escola do campo necessita contemplar algumas especificidades,
dentre elas destacamos:
147
O currículo para a transformação do trabalho pedagógico na sala de aula e na escola, em suas dimensões básicas: formas organizativas e normativas, o trabalho na escola, o conhecimento e a realidade, os objetivos e a avaliação, os conteúdos e métodos, os tempos e espaços educativos e as relações comunitárias e familiares.
O currículo a ser construído para a escola do campo precisa contemplar as
peculiaridades do campo no qual a escola está inserida, trabalhando junto aos alunos
e alunas com questões que sejam realmente pertinentes, que tragam a realidade para
o centro dos debates, que articulem o contexto comunitário com as atividades
pedagógicas desenvolvidas pelas áreas do conhecimento. Pereira, (2005, p.106 e
107) ressalta este ponto ao dizer que:
Acreditamos que o currículo adotado nas escolas do meio rural deva primar pelo conhecimento de questões que são relevantes para a vida do aluno. Ler, escrever e contar não são as únicas formas de conhecimento que o professor deva priorizar. As questões da realidade devem ser colocadas na educação do campo, possibilitando ao aluno das classes multisseriadas condições de participar da construção da sua própria história. Frente a essa realidade, o currículo para escola do campo deve dar conta da participação da comunidade no processo de ensino-aprendizagem, criando espaços de discussões e debates, promoverão uma articulação entre comunidade e alunos levando-os buscar soluções para os problemas comuns dentro do local onde vivem.
A discussão do currículo da escola do campo passa ainda por um grande
desafio pedagógico que se apresenta aos professores e professoras que é a
organização e o planejamento para a escola/sala multisseriada, pois, segundo
depoimento de professores(as) em Hage, (2010, p.33)
A classe multisseriada é um grande desafio. Nós temos que procurar integrar os alunos. Como é que nós vamos trabalhar os conteúdos com essas séries juntas? Fica difícil. A solução é dividir a turma para trabalhar.
E mais, a formação inicial universitária, e, às vezes, nem a formação inicial,
apenas o Ensino Médio, não preparam o profissional para atuar na escola do campo,
e menos ainda, para atuar em salas multisseriadas. Essa preparação necessita ser
suprida pela formação continuada, no processo de ação-reflexão-ação, trazer para os
148
estudos a necessidade de aprender os caminhos para atuar com essa
heterogeneidade presente na escola/sala multisseriada, conforme reforçam CRISTO,
Ana Claudia Peixoto de; LEITE NETO, Francisco Costa e COUTO, Jeovani de Jesus,
(2005, p.127 e 128)
Assim as aulas nas classes multisseriadas passam a ser marcadas por uma lista de conteúdos disciplinares distantes da vivência dos alunos. Esses fatores são reflexões de uma formação de magistério que não lhes preparou, para trabalhar em tal realidade. Uma vez que este curso proporciona uma formação docente para atuar no meio urbano.
É essencial que a escola do campo com suas salas multisseriadas se torne um
centro de socialização e produção de cultura que valoriza o ser humano em sua
formação e que respeita o contexto no qual o mesmo se encontra inserido, pois a
comunidade deseja ver seus filhos e filhas estudando na escola da comunidade e que
este estudo seja de qualidade para as crianças da terra conforme reforça Barros,
(2005, p.144)
As escolas multisseriadas possuem um papel de pertencimento e existência da educação no local, nas suas vilas e comunidades, haja vista que a preferência seja que as crianças e adolescentes estudem na escola que seja da e na comunidade. Por isso, a escola é vista como instrumento que promove a formação humana das pessoas através da comunicação, das relações sociais construindo o ser humano em sociedade.
Ao observarmos todo esse contexto que se apresenta no entorno da escola do
campo e que por estar a Escola Municipal Pedro Álvares Cabral inserida no contexto
sociocultural apresentado percebemos que a formação continuada se apresentou
como uma possibilidade de responder aos desafios presentes no contexto do
processo ensino e aprendizagem da escola do campo e suas salas multisseriadas.
2.2 Formação Continuada
A formação continuada objetiva trabalhar as fragilidades da formação inicial,
buscando através de um contínuo processo reflexivo encontrar alternativas que
149
possibilitem suporte teórico assim como metodológico para que o professor e a
professora, ao rever sua prática, encontre o aperfeiçoamento a fim de atender ao
aluno e aluna em seu processo de construção de conhecimentos. Partindo dessa
premissa o Estado de Mato Grosso em sua política de formação dos profissionais da
educação considera que esse processo necessita ocorrer continuamente ao longo da
vida profissional, oportunizando a valorização e destacando o compromisso do Estado
e dos profissionais, conforme ressaltam as políticas públicas da SEDUC/MT, (2010,
p.14-15):
Será possível incorporar a formação em todos os aspectos da profissão: profissionais sempre em formação, teoria e prática sempre aliadas ao fazer cotidiano, profissionais formadores e em formação em interação constante, formação continuada concebida em todas as fases da carreira. Auxiliados por Antônio Nóvoa, os princípios dessa política estão alicerçados na articulação da formação inicial com a prática escola, na formação em serviço vinculada a uma prática de aprendizagem ao longo da vida e na formação do profissional reflexivo, investigativo, colaborativo e capaz de ações educativas em equipe.
A formação continuada, conforme já ressaltamos acontece na forma interativo-
reflexiva e segundo Romanowski é a formação que ocorre de acordo com os
parâmetros da “pesquisa-ação, reflexão na ação e da ação” (2010, p.135),
oportunizando o estabelecimento de ações investigativas contínuas.
Segundo Nóvoa (1995, p.25), a formação continuada se estabelece “através de
um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente
de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar estatuto
ao saber da experiência.”
Ao considerarmos a formação continuada num todo e sua especificidade para
a Educação do Campo necessitamos pontuar as fragilidades da mesma, e não
somente desta, mas também da formação inicial, pois ambas, normalmente ocorrem
descontextualizadas e distantes do contexto campesino, mas centradas no contexto
educacional e de vivência urbanos. Portanto, torna-se imprescindível que a formação
continuada ofereça o suporte para as devidas reflexões sobre o contexto sociocultural
e histórico que permeia o espaço campesino no qual se encontram as escolas do
campo.
150
De forma ainda mais ampla e abrangente Day (2001, p.53), no seu livro
“Desenvolvimento profissional de professores: os desafios da aprendizagem
permanente” nos diz que o desenvolvimento profissional do professor e da professora
constitui um processo que carrega em si as experiências de aprendizagem individuais
e coletivas.
Para que os professores ampliem o seu conhecimento sobre a prática ao longo da carreira, necessitam de se envolver, individual ou coletivamente, em diferentes tipos de reflexão sobre seu próprio pensamento, sobre os valores que lhe são subjacentes e sobre os contextos em que trabalham. Para tal, necessitam de apoio intelectual e afetivo e têm de ser tornar investigadores individuais e colaborativos.
Nessa perspectiva, os profissionais, tanto em seu trabalho individual quanto
colaborativo com outras pessoas avalia e ressignifica os seus compromissos quanto
aos objetivos do ensino, construindo e desenvolvendo de forma crítica o conhecimento
essencial a uma prática profissional de qualidade no contexto escolar. Portanto, é
essencial que o professor e a professora se coloquem na posição de aprendiz
permanente.
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada junto aos professores e funcionários da Escola
Municipal Pedro Álvares Cabral. Esta é uma escola situada a cem quilômetros da
cidade de Nova Ubiratã na zona rural, sendo, portanto, uma escola do campo. Sua
organização curricular é multisseriada, atendendo alunos da Educação Infantil (Pré I
e II), anos iniciais e finais do Ensino Fundamental de 9 anos (1ª ao 9ª ano) e Ensino
Fundamental de 8 anos (8ª série em fase terminal após a adesão ao Ensino
Fundamental de 9 Anos). Distribuída em dois períodos, matutino e vespertino, conta
hoje com quatro professores, dois com licenciatura e especialização e dois com
magistério, uma servente/merendeira e dois motoristas do transporte escolar. Possui
em média cinquenta e cincos educandos. Situa-se no distrito Santa Terezinha do Rio
Ferro, BR 242 a 100 km da sede do município, conforme já informamos.
151
Pela natureza do objeto aqui debatido a opção metodológica foi pela
abordagem dialética e qualitativa por considerar que há uma relação dinâmica entre a
realidade – Educação do Campo, formação continuada, práticas pedagógicas
transformadoras, o marco legal e os sujeitos envolvidos no processo. Segundo,
Minayo (1994, p.22).
A pesquisa qualitativa se preocupa com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis.
De acordo com os objetivos trata-se de um estudo exploratório, cujos
procedimentos técnicos estão baseados na pesquisa bibliográfica, devido o
levantamento bibliográfico oferecer suporte para analisar os dados. Apresenta
características de estudo de caso por focar um determinado grupo de professores.
A coleta de dados foi baseada no qualitativo participante e na observação por
essas técnicas abrangerem análise de registros, observação de acontecimentos e
entrevistas e principalmente pelos próprios pesquisadores fazerem parte e serem os
sujeitos da pesquisa envolvidos diretamente com o objeto em estudo. Os sujeitos
participantes da pesquisa foram oito pessoas, sendo quatro professores, um do apoio
e nutrição e dois motoristas do ônibus escolar.
Assim os instrumentos da coleta de dados pautaram-se na seleção de
depoimentos (memoriais), entrevistas com questões abertas e registros pessoais
(cadernos de campo) em que os registros foram feitos ao longo do desenvolvimento
da formação continuada, analisados com a finalidade de se observar os impactos da
formação continuada no trabalho docente desse grupo de professores.
Os procedimentos de análises dos dados utilizados pautaram-se na análise
de conteúdo (BOGDAN E BIKLEN,1991, p.146), seguindo três passos distintos e
interligados: pré-análise; exploração do material; inferência e compreensão.
152
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Inicialmente é necessário construirmos uma visão do conjunto, do contexto em
que a escola está situada. Esse contexto social, histórico e econômico é marcado por
profundas contradições determinadas marcadas por forças de poderes notadamente
distintas: A agricultura familiar que teve início com a ocupação inicial promovida pelo
INCRA (Instituto Nacional de Reforma Agrária); o ambientalismo, embora fracas e
muitas vezes silenciadas, mas sempre presente, e agronegócio que na última década
principalmente predomina na região como força produtiva e organização social do
trabalho.
O agronegócio expande-se sobre as pequenas propriedades e inviabilizando a
agricultura familiar, de modo que atualmente restam poucos pequenos agricultores.
Já o ambientalismo se contrapõe ao agronegócio no que tange aos modos de
produção e a preocupação com a sustentabilidade socioambiental. A preocupação
dos educadores da escola como entender as influências desses contextos, que muitas
vezes se mostram de modo conflituoso e tenso. No mesmo sentido outras questões
como gestão pedagógica, dificuldades de acesso e o planejamento pedagógico,
dentre outros.
Nas reuniões o grupo constantemente indagava sobre tais questões e como
tratá-las efetivamente. A alternativa viável para compreender os fenômenos e
problemas da escola foi pensar a formação continuada como teoria e prática: seria
esse o caminho viável de enfrentamento dos desafios?
Passamos em seguida a discorrer sobre os objetivos tratados e a análise e
apresentação dos resultados.
1) Como a escola realiza a formação continuada e adapta à realidade do campo?
Anteriormente a 2011, a formação ou atualização dos professores era através
de cursos esporádicos sem uma programação e determinados por carga horária fixa
sem um compromisso com a materialização objetiva das teorias estudadas.
A primeira e significativa contribuição para o grupo foi tomar conhecimento do
que seria a formação continuada, o modo que se propunha organizar os encontros de
153
estudos e os pressupostos teóricos que embasavam tal organização. Após o grupo
apresentar uma pré-disposição para trabalhar os próprios desafios, o passo seguinte
foi pensar um projeto de estudo que contemplasse o diagnóstico da realidade tratando
das necessidades formativas para compreender os desafios empíricos vivenciados,
contemplasse também, o levantamento das teorias e teóricos para fundamentar as
concepções imbricadas nos processos pedagógicos em que os educadores estavam
envolvidos. Este projeto, compreendido como Projeto Sala de Educador27 faz parte
das políticas de formação continuada do Estado de Mato Grosso. Abaixo, as falas 1
e 2 expressam o início desse processo.
Fala 1: buscamos primeiro momento fazer uma avaliação reflexiva sobre a
realidade em que a escola está inserida. Assim sempre procuramos responder
algumas perguntas como desenvolver o planejamento, ou seja, a principal
necessidade hoje da escola, o ensino e aprendizagem de nossos alunos.
Fala 2: buscamos temas e assuntos que são adequados a realidade local
onde a escola está inserida, ou seja refletimos sobre o que deve ser trabalhado com
os estudantes, o que eles precisam saber no ligar onde vivem.
2) Ressignificar o Projeto Político Pedagógico da escola;
Outro ponto positivo a destacar, em que o espaço de discussão gerado pela
formação continuada produziu resultados foi a necessidade de ressignificar o Projeto
Político Pedagógico (PPP) da escola. Isto porque, este documento não tinha
significado. Sua elaboração era mera formalidade burocrática.
Fala 3: Após relemos o diagnóstico da nossa escola, sentimos que devemos
rever e analisar o texto. Por isso, estaremos realizando uma pesquisa de campo com
questionário e entrevista.
27 Espaço de formação continuada em serviço para os profissionais da escola pública da rede estadual de Mato Grosso, com momentos de formação coletiva (gestores, coordenadores pedagógicos, professores, técnicos e apoio administrativo educacional) e específica (atendendo as especificidades) cujo objetivo é fortalecer a escola como espaço de formação, construindo um comprometimento coletivo com a qualidade do processo educativo do aluno e sua aprendizagem.
154
3) Organizar o currículo a partir de projetos de aprendizagem para salas multisseriadas
e realizar o planejamento coletivo.
Para o grupo um dos maiores desafios era a relação teoria e prática em salas
multisseriadas num contexto histórico, econômico e social, marcado pela contradição
e conflitos. Dos muitos momentos de discussão e estudos teóricos os educadores
perceberam que deveriam partir do currículo. Propor uma nova organização curricular
se constitui um desafio devido às incertezas geradas no processo. Qual a melhor
organização curricular para este contexto e necessidades pedagógicas. A opção foi a
organização da aprendizagem por projetos.
Fala 4: O planejamento de aulas é feito de acordo coma realidade local dos
educandos, ou seja, as aulas são planejadas conforme a necessidade dos
educandos”.
Fala 5: As nossas temáticas foram escolhidas de acordo com a nossa realidade
escolar. Encontramos muitas dificuldades em trabalhar ou lecionar com as salas
multisseriadas.
Fala 6: Estes Projetos nos ajudaram a discutir as formas de como nós
planejarmos e organizarmos o trabalho pedagógico da escola multi.
A organização curricular de aprendizagem por projetos pressupõe que os
processos de ensino e aprendizagem partem das indagações dos alunos e dos
conhecimentos que eles já têm, desenvolvendo-se em colaboração/cooperação
interna e externa. Entretanto, exige romper com horários, disciplinas, sequências, pré-
requisitos, hierarquias, espaços rígidos concebendo-os de formas flexíveis, pois na
relação entre professor – aluno – comunidade (meio social) alunos e professores são
aprendizes, construindo conhecimento interdisciplinar, em ambientes informatizados
(MAGDALENA & COSTA, 2003, p.16).
A organização do currículo a partir da aprendizagem por projetos possibilitou
maior interação entre a comunidade escolar, ou seja, os pais foram convidados a
contribuir com seus conhecimentos, saberes e experiências. A participação era
pensada nos planejamentos pedagógicos de acordo com os temas de estudo dos
155
projetos (FIGURA, 01 e 02). De acordo com os tipos de atividades nos projetos é que
se faziam o convite ao pai, já com o conhecimento prévio de que poderia contribuir
com o desenvolvimento do tema. Dessa forma, mantinha-se a preocupação de
relacionar sempre teoria e prática, ou seja, tornar uma teoria a extensão da prática e
esta uma teoria.
Na figura 01, pais e alunos participam da reorganização do espaço escolar
usando materiais concretos disponíveis na própria comunidade dão forma às figuras
pensadas pelos professores e alunos. Já a figura 02, mostra a transformação desse
espaço a partir dos projetos.
Figuras 01 (Fonte: Acervo da escola) Figuras 02 (Fonte: Acervo da escola)
As falas 6 e 7 expressam um pouco da importância da formação continuada
para a transformação das práticas pedagógicas e o envolvimento e participação da
comunidade escolar, principalmente o segmento dos pais.
Fala 6: O tema em estudo foi bastante importante para nosso aprofundamento, pois
nos mostrou como elaborar projeto de aprendizagem nas escolas do campo;
Fala 7: acredito que o planejamento de aula, pois temos sala multi, aluno com
níveis de aprendizagem diferente se exige mais do professor. Para que se cumpra
156
essa necessidade e necessário ter um planejamento diversificado que possa atender
todos os alunos da mesma sala de aula. Nesse caso podemos citar os projetos
pedagógicos que escola desenvolve, são apresentando aos pais e comunidade.
Em suma, para elaboração do currículo para as escolas do campo deve ter sua
base na consideração do campo, suas populações, seu modo de vida e as
necessidades de transformações sociais, na consideração da vida concreta do campo
e deve ser compreendido como política, programas e planos de educação no sentido
amplo, pois as escolas não podem viver uniformemente, bem como não devem ser
colocadas em um mesmo formato.
Fala 8: Outro ponto importante foi sobre o currículo que é feito na pratica do
dia a dia e sobre o que nós podemos e temos a base nos documentos oficiais, mas
que sua construção deve ser analisada e feita conforme a realidade que a escola está
inserida.
4) Participação contínua dos pais/responsáveis nas atividades pedagógicas e reuniões
Atualmente as escolas, assim como os educadores da educação básica, têm
constantemente se debruçado sobre o tema da participação da família na educação
escolar dos filhos. Para os educadores da E. M. Pedro Álvares Cabral esse tema era
um desafio permanente, porém superado quando a partir do desenvolvimento dos
projetos de aprendizagem foram superados.
Fala 9: Havia pouca participação da família na escola. Essa situação nos
inquietava a todos: a maioria dos educandos apresentava baixo rendimento escolar e
não participavam dos eventos realizados/promovidos fora do horário de aula. Seus
familiares não frequentavam as reuniões e só vinham à escola quando eram
chamados pela direção. Essa situação mobilizou nos professores para a mudança.
Então iniciamos juntos com alunos, pais e professores o primeiro mutirão de
organização e limpeza do pátio e construção da horta, pois havia muito mato, resto de
construção velha (madeiras, concertos etc.), que não tinha mais utilidade. Esse
mutirão acontecia no domingo no período matutino. Promovemos a primeira Festa
157
Junina na dependência da escola. Com esse valor realizamos a confraternização, da
Páscoa, dia das Crianças, Natal, Dia das Mães e Pais. A reunião acontecia uma vez
por mês para avaliamos a necessidade da escola e alunos. Esta relação entre a escola
e família começou a ganhar força, e a cada reunião aumentava a participação dos
pais.
As figuras 03 e 04 mostram as atividades de aula de campo em que os alunos
participantes do projeto, juntamente com os pais recolhem o lixo e preparam o espaço
para atividades e estudos posteriores, buscando sensibilizar para a sustentabilidade
ecológica.
Figura 03 (Fonte: Acervo escolar). Figura 04 (Fonte: Acervo escolar).
5) Aperfeiçoar o ensino e aprendizagem do aluno melhorando a qualidade da educação
Percebe-se que os estudos teóricos aplicados às atividades práticas alcançou
resultados significativos na aprendizagem do aluno e aluna, possibilitando a melhoria
da qualidade da educação. As falas dos professores e professoras, assim como a
imagem do projeto pedagógico da horta escolar (Figura 5) ressaltam os resultados
alcançados pela formação continuada.
Fala 10: De lá para cá os educandos tiveram um crescimento/avanço
educacional muito grande. A prática pedagógica é um desafio constante, mas sempre
158
quando possível buscamos conciliar com a formação continuada práticas, por isso que
estudamos e refletimos sobre a mesma.
Figura 05 (fonte: Acervo escolar).
Fala 11: a maneira de lecionar está diferente, pois é uma escola multi que
atende várias turmas numa mesma sala. O modo de planejamento é diversificado para
atender as turmas multi. Houve melhoria no aprendizado geral dos estudantes.
Fala 12: em nossa prática pedagógica estamos já vendo algumas mudanças,
pois os nossos alunos estão mais críticos, tanto para responder as atividades
propostas e no momento que precisam expor seus conhecimentos através da
oralidade.
Através dos relatos e observações in loco percebemos que a participação dos
alunos passou por significativas transformações. Antes de iniciarem os projetos era
muito comum, os educadores reclamarem do “desinteresse dos alunos” e percebe-se
nitidamente que diminuíram esses fenômenos.
Fala 13: Os estudantes tiveram grande avanço em vários aspectos como:
leitura, produção de textos, concurso de poesias, jogos escolares, etc. Os alunos
estão mais críticos nas atividades desenvolvidas no dia-a-dia, estão sempre
perguntando para sanar suas dúvidas em determinados assuntos. De forma geral a
escola hoje, tem uma nova “cara” mais transparente, organizada e com objetivos
claros voltados ao aprendizado do educando.
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Figura 06 (Fonte: Acervo escolar). Figura 07 (Fonte: Acervo escolar).
A figura 06 mostra o espaço interno da escola decorado com arte e recursos
trazidos e elaborados. E a figura 07, alunos da escola que foram premiados em
competições educativas municipais e regionais. A fala 14 contempla essas mudanças.
Fala 14: Com certeza houve muitas mudanças uma delas foi no avanço da
aprendizagem de nossos alunos principalmente na alfabetização estão lendo mais
participam ativamente dentro e fora escola.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o ano de 2011, quando os professores que participaram da pesquisa
iniciaram seu trabalho nesta unidade escolar, a preocupação era com os educandos
e o ensino e a aprendizagem eram o foco, pois havia educandos de 6ª série que não
eram alfabetizados, de 8ª série que não dominavam as quatro operações básicas;
havia ainda defasagem de idade/ano/série, abandono da escola, pouca participação,
envolvimento e comprometimento dos pais com a escola. E, segundo a coordenadora
da escola “diria que o principal de toda a falta de planejamento do que ensinar aos
educandos”.
160
A escola não participava de reuniões ou eventos que a Secretaria Municipal de
Educação promovia, sendo representada por uma pessoa do quadro de profissionais
da secretaria que não conhecia a realidade ou o contexto da unidade escolar Pedro
Álvares.
Em 2012 iniciaram efetivamente a formação continuada do Projeto Sala de
Educador seguindo os parâmetros da formação continuada do Estado de Mato
Grosso, acompanhados e orientados pela professora formadora Arlete Tavares
Buchardt do CEFAPRO (Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da
Educação Básica) de Sinop.
Esta ação formativa em serviço fomentou mudanças significativas no processo,
repercutindo positivamente na formação dos professores, em sua prática pedagógica,
no processo ensino e aprendizagem e no relacionamento com os pais e com a
comunidade. Segundo depoimento da coordenadora da escola: “marcou com a nossa
escola começamos a tomar outro rumo.”
A formação continuada na escola Pedro Álvares está organizada de forma que
todos os professores participem. Definem um horário que é acessível a todos nos
feriados ou sábados com uma carga horária de quatro ou oito horas, dependendo da
temática definida pelo grupo, após o diagnóstico.
O primeiro passo é a avaliação geral de todo ano letivo, após iniciam o
planejamento do Projeto Sala do Educador, com pesquisas e leituras referentes às
temáticas de acordo com a realidade escolar. As temáticas auxiliam no planejamento,
organização do trabalho pedagógico da escola multisseriada e nas ações de
intervenção pedagógica no processo de ensino e aprendizagem dos alunos e alunas.
A prática se organiza da seguinte forma: os professores e professoras estudam
a teoria na Sala de Educador e na prática desenvolvem trabalhos (atividades
pedagógica), projetos com educandos, profissionais da escola e pais.
Os pais e a comunidade tornaram-se cada vez mais participativos e atuantes a
cada avanço que a escola conquistava. Outro ponto significativo para a comunidade
escolar foi a participação e conquista de premiações em concurso e nos jogos
escolares, pois a escola se destacava apesar de ter um número bem menor de
participantes que as demais escolas e conquistavam um número maior de
premiações. Essas conquistas juntamente com o trabalho pedagógico possibilitaram
161
grandes avanços, um exemplo de alunos do 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos
que concluíam alfabetizados. Diria ainda que dedicação, esforço, união e
comprometimento de cada professor e professora fez toda a diferença, tudo era
decidido em grupo e juntos concluíam as ações.
Na formação continuada no Projeto Sala de Educador a prática pedagógica em
2012, foi identificar e entender a concepção da escola do campo. Nesse ano o
planejamento das atividades pedagógicas começou a tomar outro rumo, pois, antes
os professores e professoras se preocupavam em cumprir o livro didático, ou seja, se
preocupavam com quantidade e não qualidade. Assim começaram a ressignificar o
ensino a partir da realidade dos alunos e alunas.
Em 2013, a preocupação era unir os estudos do Pacto da alfabetização co os
estudos do Projeto Sala de Educador, pois o tema da Alfabetização na Idade Certa
vinha ao encontro das necessidades e do planejamento desde o ano de 2011. Os
temas estudados neste ano colaboraram auxiliando na definição de “o que ensinar” e
“como ensinar”, ou seja no planejamento e organização das atividades pedagógicas.
Em 2014, a prática pedagógica, a reestruturação do Projeto Político
Pedagógico que também teve início em 2012, mas que não havia sido concluído, pois
o PPP da escola Pedro estava construído segundo os parâmetros da escola urbana e
não rural. Iniciaram realizando estudo teórico de como reestruturar. Assim deram
continuidade com uma leitura minuciosa do PPP. Cientes de que o PPP apresenta o
desejo, o plano de melhoria, de mudança de uma realidade. Essa realidade configura-
se no trabalho pedagógico que se realiza diariamente nas aulas, no currículo, na
metodologia, no processo de avaliação, na forma de participação dos pais, nas
relações interpessoais, na concepção de educação que a escola defende, na
coordenação pedagógica praticada, na forma de gestação implementada. Enfim,
todas as ações desenvolvidas na escola, tendo em vista o processo de ensino e
aprendizagem, constituem o trabalho pedagógico da escola.
Além dessa temática, desenvolvemos trabalhos com projetos os quais foram
socializados na Feira do Conhecimento do município. Os professores e professoras
estudaram a teoria no Sala de Educador e depois colocaram os projetos pedagógicos.
Nesse processo a escola desenvolveu vários projetos que possibilitaram a construção
da aprendizagem por projetos. Para realizarem os projetos, levaram em consideração
162
a missão, a organização e o funcionamento da escola, uma vez que os trabalhos
envolveriam toda a comunidade escolar: professores, servente/merendeira,
motoristas, alunos, pais e comunidade geral. Assim se pode destacar que os projetos
contribuem para o desenvolvimento pedagógico dos alunos, já que se observa uma
melhora considerável no desempenho escolar. Além disso, aos alunos e alunas
participam das aulas e têm facilidade em relatar fatos de seu cotidiano. Há
entrosamento entre alunos da zona rural e àqueles que moram na cidade, pois tem
contribuído para renovar a convicção de que os professores são colaboradores na
construção de uma sociedade mais justa, crítica e participativa.
Em suma, todas as mudanças decorrentes da formação continuada
concentraram-se em alguns pontos distintos e interligados: fundamentação teórica;
fundamentação metodológica; planejamento e prática. Nesses meandros houve
muitos questionamentos principalmente envolvendo ensino e metodologia. O ensino
se configurou numa forma de apresentar os projetos e conteúdos aos alunos de forma
gradativa, estruturada e organizada, na expectativa de que eles os pudessem
observar, manusear, assimilar e introjetarem.
Concluímos que a escola de qualidade não precisa “provar” que possui
qualidade com tabelas, índices ou números. Ela é reconhecida pela comunidade
escolar que a produz, pelos alunos que forma. O conhecimento quando efetivamente
produzido, transforma as pessoas, transforma o mundo ao seu redor.
Encerramos com o depoimento da coordenadora da escola: “Nós professores
aprendemos que quando a criança aprende algo que faz sentido para ela, ela se enche
de alegria e grita ao mundo: “Eu aprendi”. Com este grito concluímos este texto.”
REFERÊNCIAS
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163
CRISTO, Ana Claudia Peixoto de; LEITE NETO, Francisco Costa e COUTO, Jeovani de Jesus. In Educação do campo na Amazônia: retratos de realidade das escolas multisseriadas no Pará / Salomão Mufarrej Hage (Org.). - Belém: Grafica e Editora Gutemberg Ltda, 2005.
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SILVA, Maria Ozamira; Refletindo a pesquisa participante. Em aberto. Brasília: INEP/MEC, ano 5 n. 31, jul/set, p. 49-55, 1986.
TAFFAREL, Celi Nelza Zülke; SANTOS JUNIOR, Cláudio de Lira e ESCOBAR, Micheli Ortega. Cadernos didáticos sobre educação no campo/ Universidade Federal da Bahia, organizadores: Celi Nelza Zülke Taffarel, Cláudio de Lira Santos Júnior, Micheli Ortega Escobar coordenação Adriana D’Agostini, Erika Suruagy Assis de Figueiredo, Mauro Titton. – Salvador: EDITORA, 2010.