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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA Desenvolvimento do Sistema Financeiro e Crescimento Econômico: Revisão da Literatura e dos Estudos Empíricos Aplicados ao Brasil AUTORA: ELESSANDRA POMBO CORRÊA ORIENTADOR: Prof. Ary Barradas JULHO 2005 8

Elessandra Pombo Correa

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO DE ECONOMIA

    MONOGRAFIA

    Desenvolvimento do Sistema Financeiro e Crescimento

    Econmico: Reviso da Literatura e dos Estudos

    Empricos Aplicados ao Brasil

    AUTORA: ELESSANDRA POMBO CORRA

    ORIENTADOR: Prof. Ary Barradas

    JULHO 2005

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  • INTRODUO

    Para que uma sociedade possa atingir um melhor padro de bem-estar,

    necessrio que, alm de outras condies, ocorra diminuio da taxa de desemprego, aumento

    da renda, que implica tambm aumento de consumo e de arrecadao tributria. Enfim, o

    objetivo de melhoria de bem-estar de uma sociedade tem como condio necessria, ainda

    que no suficiente, a obteno de elevadas e permanentes taxas de crescimento, que podem

    ser traduzidas pelo aumento da capacidade produtiva.

    Elevar a taxa de crescimento do produto potencial requer aumento do volume

    de recursos produtivos e da produtividade. De acordo com Carvalho (2001), o crescimento

    do volume de recursos (acumulao de capital) determinado pelo volume de investimentos

    produtivos, enquanto que o crescimento da produtividade est ligado a: 1) adoo de

    tecnologias mais eficientes; 2) inovaes tecnolgicas; 3) qualificao da mo-de-obra; e 4)

    uso de escalas de produo mais eficientes (Carvalho, 2001, p. 14).

    Um dos fatores que desempenham papel relevante na elevao da taxa de

    crescimento econmico o desenvolvimento do sistema financeiro, por ser capaz de

    mobilizar e direcionar recursos a projetos produtivos, viabilizando tanto o investimento

    quanto o aumento de produtividade.

    A importncia do desenvolvimento do sistema financeiro torna-se ainda mais

    acentuada pela integrao mundial, que faz com que capitais do mundo inteiro possam, com

    baixos custos de transao, buscar globalmente as melhores alternativas de investimento e os

    melhores retornos. Essa integrao gera grandes oportunidades para o pas desde que sejam

    oferecidos retornos, condies e custos de transao similares aos de seus competidores no

    resto do mundo.

    O presente trabalho tem como objetivo discutir a importncia do

    desenvolvimento do sistema financeiro para o crescimento econmico, atravs do estudo das

    principais teorias que tratam do financiamento da firma. Ser discutida a importncia do

    desenvolvimento do setor bancrio e do mercado acionrio como canais de financiamento e

    apresentados resultados de pesquisas sobre o padro de financiamento das empresas

    brasileiras.

    9

  • O trabalho est dividido da seguinte forma:

    Na seo II discute-se a importncia do desenvolvimento financeiro para o

    crescimento econmico, com a apresentao do resultado de algumas pesquisas a esse

    respeito.

    Na seo III, apresenta-se a diviso terica a respeito da estrutura do mercado

    financeiro, se orientado para o mercado de capitais ou para o mercado bancrio.

    Na seo IV, descreve-se, brevemente, duas das teorias predominantes acerca

    da estrutura de capital da firma: A Static Tradeoff Theory (STT) e a Pecking Order Theory

    (POT). So tambm apresentados alguns estudos que testaram a aplicabilidade dessas teorias

    s empresas brasileiras.

    Na seo V, so discutidas as teorias que tratam de aspectos institucionais que

    podem exercer influncia no grau de desenvolvimento do sistema financeiro de um pas.

    Neste mbito, so abordadas as questes relativas governana corporativa.

    As consideraes finais so apresentadas na seo VI.

    10

  • II A IMPORTNCIA DO DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO PARA O

    CRESCIMENTO ECONMICO

    Matos (2002) define desenvolvimento financeiro como a capacidade de as

    instituies financeiras de um pas ou regio colocarem disposio dos agentes econmicos

    servios que facilitem e intensifiquem as transaes econmicas destes.

    Segundo Carvalho (2001), o sistema financeiro desempenha sua principal

    funo no desenvolvimento econmico atravs da alocao dos recursos, facilitando a troca

    de bens e servios e a transferncia da poupana entre supridores e tomadores finais. Assim, o

    autor discute seis funes bsicas por ele desempenhadas, quais sejam:

    1) Mobilizao de recursos;

    2) Alocao de recursos no espao e no tempo;

    3) Informao e monitorao de empresas;

    4) Administrao e alocao de riscos;

    5) Liquidao de obrigaes e realizao de pagamentos; e

    6) Gerao e divulgao de informao til aos diversos setores da

    economia.

    Com base em alguns estudos anteriores [Cameron (1961, 1967), Goldsmith

    (1969), McKinnon (1973) e Gerschenkron (1962)], Rajan e Zingales (1996) examinam se o

    desenvolvimento financeiro facilita o crescimento econmico por reduzir o custo de

    financiamento externo para as firmas. Sob tal hiptese, os autores partem do pressuposto de

    que o desenvolvimento do sistema financeiro deve ter um efeito ainda maior na taxa de

    11

  • crescimento das firmas mais dependentes de financiamento externo, como as firmas

    industriais e combinam dados de indstrias e de pases para o perodo de 1980-90.

    Os resultados sugerem que o desenvolvimento financeiro tem uma substancial

    influncia na taxa de crescimento econmico das firmas financeiramente dependentes,

    decorrente de reduo do custo de financiamento externo. Os autores concluem que, no

    contexto da literatura sobre restries financeiras, existem evidncias de que as imperfeies

    do mercado financeiro tm impacto no investimento e no crescimento da firma e,

    conseqentemente, da economia.

    Mesmo com a predominncia do entendimento de que o desenvolvimento

    financeiro afeta o crescimento econmico, existem controvrsias sobre se esta relao de

    causalidade nesta direo, se na direo inversa ou se existe uma relao de bicausalidade.

    Matos (2002) apresenta uma anlise histrica do pensamento econmico acerca

    da relao entre essas duas variveis, permeando as quatro correntes principais que tratam do

    assunto.

    A linha terica principal e mais tradicional, discutida por Schumpeter (1959,

    publicado em 1911), Goldsmith (1969) e, mais recentemente, McKinnon (1973) e Shaw

    (1973), defende que o desenvolvimento financeiro afeta diretamente o crescimento

    econmico. De acordo com essa viso, o desenvolvimento do sistema financeiro exerce

    influncia positiva na eficincia econmica dos pases, por aumentar a liquidez, mobilizar

    poupana, intensificar a acumulao de capital e melhorar a alocao de recursos.1

    As demais vises oscilam entre as postulaes de determinao conjunta

    [Greenwood e Jovanovic (1990)] relao inversa [Arestis e Demetriades (1998)] e

    ausncia de relao [Modigliani e Miller (1958)]2.

    As teorias que postulam a ausncia de relao entre desenvolvimento

    financeiro e crescimento econmico se baseiam na hiptese da teoria neoclssica de mercados

    perfeitos, em que as taxas de juros determinam as oportunidades de investimentos. Esta teoria

    apresenta um mundo irreal de mercados perfeitos, onde inexistem impostos, assimetria

    informacional e desigualdade de custos entre pessoas fsicas e jurdicas.

    1 Autores citados por Matos (2002), pg. 6.

    12

    2 Idem..

  • Em sua pesquisa, Matos (2002) estuda a natureza da relao entre

    desenvolvimento financeiro e crescimento econmico para o caso brasileiro, tendo utilizado

    dados dos perodos de 1947- 2000, 1963-2000 e 1970-2000. Como indicadores do

    desenvolvimento financeiro, o autor utiliza as seguintes razes: (a) crdito bancrio ao setor

    privado/PIB; (b) crdito do sistema financeiro ao setor privado/PIB e; (c) recursos do pblico

    confiados ao sistema financeiro/M2. Os resultados obtidos do suporte emprico existncia

    de impactos diretos e unidirecionais do desenvolvimento financeiro sobre o crescimento

    econmico, sem retroalimentao.

    Beck, Levine e Loyasa (1999) analisam o impacto do desenvolvimento

    financeiro no crescimento econmico, mais especificamente no efeito que o setor bancrio

    exerce no crescimento da produtividade, na acumulao de capital, na taxa de poupana

    privada e no crescimento em geral. O resultado de significante impacto causal positivo do

    desenvolvimento financeiro no crescimento da renda per capita e da produtividade per capita,

    com melhor alocao de recursos, acelerao do crescimento do fator de produtividade total,

    com repercusses positivas no crescimento econmico de longo prazo.

    Carvalho (2001) apresenta separadamente dados acerca da relao entre setor

    bancrio, mercado acionrio e crescimento econmico.

    Para ilustrar a relao entre o setor financeiro e real, Carvalho (2001) cita

    Levine (1997) e apresenta uma amostra de 48 pases, divididos em trs grupos: pases de

    baixa, mdia e alta renda per capita (Figura 1). O autor destaca que, partindo de pases com

    baixa renda para pases com alta renda per capita, os bancos comerciais e outras instituies

    financeiras crescem em importncia, enquanto que o papel do banco central como alocador de

    recursos diminui. Observa-se ainda que, medida que a renda cresce, o sistema financeiro

    aloca mais crdito para o setor privado.

    O desenvolvimento do setor bancrio medido como a razo entre crdito

    bancrio a empresas e o crescimento econmico, pelo PIB. Para o setor bancrio, o autor

    apresenta uma amostra de 37 pases, divididos em quatro grupos pelo grau de

    desenvolvimento do sistema bancrio: subdesenvolvido; pouco desenvolvido; desenvolvido e

    muito desenvolvido. Observa-se a relao positiva e crescente entre o desenvolvimento

    bancrio e a taxa de crescimento do PIB per capita.

    13

  • O mercado acionrio, como segmento do mercado financeiro, gera impacto

    positivo no crescimento econmico, ao permitir maior liquidez dos ativos financeiros,

    diversificao dos riscos e facilitar as decises de investimento, quando atua adequadamente

    na disseminao das informaes disponveis.

    O mercado lquido oferece a facilidade de transformar um ativo em moeda

    rapidamente, viabilizando, assim, projetos de longo prazo. Isso significa tambm facilidade na

    transferncia e diversificao dos riscos especficos do investimento. O risco especfico do

    investimento determinado pela incerteza sobre o valor que o ativo ter na data de

    vencimento. Agregando diversos agentes, o custo de diversificao da carteira reduzido,

    assim como o custo na obteno de informaes sobre os projetos de investimento, j que o

    preo ser determinado pelo mercado e incorporar toda a informao disponvel.

    A maior facilidade na obteno de informaes permite uma alocao mais

    eficiente de recursos, direcionando-os para os projetos mais rentveis e provocando uma

    preocupao dos investidores com a gesto das empresas. Esse comportamento dos

    investidores pode levar os administradores das firmas a uma maior preocupao com seu

    desempenho econmico-financeiro.

    Com base nos trabalhos de Atje e Jovanovic (1989) e Levine e Zervos (1996 e

    1998), que utilizaram o turnover e a razo do valor transacionado como medidas do

    desenvolvimento do mercado acionrio, Carvalho (2001) afirma que, implicitamente, a

    funcionalidade do mercado acionrio est justamente relacionada sua liquidez.

    Turnover o valor anual das transaes dividido pela capitalizao burstil.

    Refere-se ao giro. A capitalizao burstil o valor terico, a preos de mercado, de todas as

    empresas listadas em bolsa, calculada a partir dos preos negociados. A razo do valor

    transacionado o valor anual das transaes dividido pelo PIB.

    A respeito da relevncia do mercado de capitais para o crescimento econmico

    no longo prazo, Levine e Zervos (1996) forneceram uma importante contribuio para a

    literatura ao testarem um modelo com dados de 41 pases, no perodo de 1976 a 1993. Aps

    isolar os efeitos de outras variveis potencialmente capazes de afetar o crescimento

    econmico, tais como, PIB per capita inicial, investimento inicial em capital, estabilidade

    poltica, medidas monetrias e fiscais e polticas cambiais, o mercado de capitais permaneceu

    positiva e significativamente correlacionado ao crescimento de longo prazo.

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  • III ESTRUTURAS DO SISTEMA FINANCEIRO

    O sistema financeiro usualmente dividido entre intermedirios financeiros

    (bancos, seguradora e fundos de penso) e mercado de capitais (aes e debntures). A

    constatao de ineficincia na alocao da poupana estimulou a discusso sobre qual desses

    segmentos seria mais relevante para o crescimento econmico de um pas [Kang e Stulz

    (1997); Dow (2004)].

    Tendo como parmetros o Reino Unido e os Estados Unidos, de um lado, e o

    Japo e a Alemanha de outro, esses estudos buscam identificar se as economias que mais

    crescem so aquelas cujo sistema financeiro mais orientado para o mercado de capitais, com

    propriedade das companhias dispersa entre diversos agentes (Modelo anglo-saxo, Modelo

    pr-mercado ou market-centered), ou se aquelas cujo sistema financeiro baseia-se na

    utilizao de emprstimos, com maior concentrao de controle nas mos de instituies

    financeiras (Modelo pr-mercado bancrio ou bank-centered).

    Na dcada de 80, o bom desempenho da economia japonesa quando comparado

    ao desempenho da economia americana levou muitos pesquisadores a conclurem que a

    estrutura de sistema financeiro orientado para o mercado bancrio era a varivel explicativa

    das diferenas entre os dois pases.

    O entendimento era de que o sistema financeiro da Alemanha e do Japo

    minimizava a influncia de investidores impacientes, no caso, acionistas com pressa de ganho

    de capital. Assim, essa estrutura financeira permitira, mais facilmente, financiamentos para os

    projetos de prazo longo.

    Entretanto, na dcada de 90, este entendimento foi confrontado pelo melhor

    desempenho da economia americana em relao economia japonesa, evidenciando que a

    15

  • estrutura do sistema financeiro de um pas no poderia ser considerada a varivel com maior

    poder explanatrio para as diferenas entre os pases.

    Atualmente, as discusses se concentram em identificar as variveis que

    afetam a escolha de estrutura de capital das firmas e em como os investidores analisam os

    projetos em pases com estruturas financeiras diferentes, levando em conta a forma como as

    empresas so gerenciadas, o arcabouo legal e regulatrio que protege cada tipo de investidor,

    alm de outros arranjos institucionais.

    Beck, Dermingu-Kunt, Levine e Maksimovic (2000), ao explorarem a relao

    entre a estrutura financeira o grau em que o sistema financeiro market-centered ou bank-

    centered e o desenvolvimento econmico, concluram que a estrutura do sistema financeiro

    no determina maior crescimento das firmas. Os autores encontram, porm, fortes evidncias

    de que o nvel geral de desenvolvimento financeiro e do ambiente legal influenciam o

    desenvolvimento econmico.

    O recente episdio da crise asitica, em 1997, levou alguns analistas

    econmicos a apontarem a estrutura financeira como a causa do colapso daquelas economias

    que teriam operado com excesso de alavancagem financeira, decorrente do padro de

    financiamento baseado no crdito.

    Ainda assim, as anlises acerca dos dois modelos no so conclusivas e a

    dificuldade centra-se na falta de uniformidade no desempenho dos pases que adotam cada um

    dos modelos ao longo do tempo.

    16

  • IV TEORIAS SOBRE A DETERMINAO DA ESTRUTURA DE

    CAPITAL DA FIRMA ESTUDOS SOBRE EMPRESAS BRASILEIRAS

    A teoria de Modigliani e Miller (1958), que defende que a estrutura de capital

    da firma (se dvida ou capital prprio) no altera seu valor, originou diversos debates acerca

    da escolha tima de estrutura de capital, em funo da contestao de suas hipteses de: (a)

    oferta de fundos infinitamente elstica; (b) mercados perfeitos; (c) informao simtrica entre

    os agentes acerca do retorno dos projetos de investimentos e; (d) ausncia de impostos.

    Para Zonenschain (1998), discusso sobre modelos financeiros que possam

    contribuir para o desenvolvimento econmico foram somados os debates de questes

    microeconmicas que tratam da escolha da firma sobre a estrutura tima de capital. A escolha

    de estrutura de capital da firma (autofinanciamento, dvida ou emisso de aes) afeta seu

    montante de investimentos. Isto gera impactos no nvel global de investimentos da economia.

    Logo, o nvel global de investimentos no independente do padro de financiamento

    adotado pelas empresas. A autora elenca os seguintes elementos que considera diretamente

    relacionados com a empresa ou com o ambiente macroeconmico/institucional:

    1) Valor colateral dos ativos Empresas que podem oferecer ativos como

    colaterais podem vir a obter emprstimos em condies mais favorveis.

    Por isso, poderiam preferir a contratao de emprstimos emisso de

    aes.

    O contraponto deste elemento que as empresas com condies menos

    favorveis a emprstimos, por falta de ativos colateralizveis, podem ser

    induzidas pelo acionista controlador a aumentar seu endividamento, com

    o objetivo de facilitar o monitoramento dos gestores, j que a instituio

    financeira tambm exerceria um acompanhamento da administrao.

    17

  • 2) Taxa de crescimento da firma Existe, por parte dos acionistas, a

    preocupao com a expropriao que pode ser exercida pelos gestores da

    companhia (Teoria do Agente/Principal). No caso das indstrias com

    crescimento acelerado, o custo de monitoramento pode ser maior porque

    as empresas possuem maior flexibilidade para escolher seu investimento

    futuro. Em vista desta flexibilidade e da dificuldade de monitoramento,

    os gestores podem adotar um nvel subtimo de investimentos, como

    meio de deixar graus de liberdade para obteno de benefcios privados.

    O maior custo de monitoramento traz maior dificuldade na obteno de

    emprstimos. Por isso, o crescimento futuro esperado da indstria

    negativamente relacionado com o nvel de endividamento de longo prazo

    da empresa.

    3) Grau de especificidade do produto Os custos de falncia so relevantes

    na escolha da estrutura de capital da firma. Se a empresa trabalha com

    produto muito especfico, o custo de falncia pode ser ainda maior, j que

    os consumidores podem no encontrar outros fornecedores daquele

    produto, os fornecedores podem no encontrar compradores e os

    empregados podem ter habilidades especficas, o que dificulta a obteno

    de outro emprego. Assim, quanto maior o grau de especificidade do

    produto, menor o uso de endividamento.

    4) Setor da indstria A autora apresenta este elemento pela ligao que

    tem com o item anterior. Em alguns setores da indstria pode haver

    produtos mais especficos do que em outros, levando as empresas a se

    utilizarem, proporcionalmente, de menos de endividamento.

    5) Tamanho da empresa - O custo de falncia proporcionalmente maior

    para empresas menores. As maiores tendem a ser mais diversificadas e

    menos inclinadas falncia e, assim, tm maior propenso a serem

    substancialmente mais alavancadas do que as menores. Os custos de

    emisso de aes e de endividamento de longo prazo para as empresas de

    menor porte tambm so muito maiores do que para as grandes. Como

    resultado, as empresas menores utilizam-se em maior proporo de

    endividamento de curto prazo.

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  • 6) Volatilidade dos lucros - Quanto maior a volatilidade do lucro, menor o

    nvel de endividamento timo.

    7) Lucratividade da empresa - De acordo com a Pecking Order Theory

    (PQT) - que ser discutida mais adiante -, as empresas procuraro sempre

    se financiar primeiro com os lucros retidos e depois com recursos

    externos. Nesse caso, quanto maior a lucratividade da empresa no

    perodo anterior, maior a possibilidade de que ela se financie atravs dos

    lucros retidos.

    8) Impostos - A estrutura e o valor dos impostos desempenham papel

    importante na definio da estrutura de capital das empresas na medida

    em que conduzem a custos diferenciados para cada fonte alternativa de

    capital. Polticas que alteram o custo de oportunidade dos fundos, a taxa

    de retorno real da poupana, os impostos sobre taxas de juros e

    dividendos, os subsdios etc. tambm afetam a estrutura de capital das

    empresas.

    9) Estabilidade - A inflao afeta o custo de oportunidade dos fundos para

    quem toma emprstimos. Quanto maior a inflao, menor o recurso

    emisso de aes. A estabilidade monetria, portanto, favorece o uso de

    emisso.

    10) Desenvolvimento do sistema financeiro De acordo com a autora, tanto

    o grau de desenvolvimento do sistema financeiro como o modelo adotado

    por cada pas tem relevncia na deciso sobre a estrutura de capital das

    empresas.

    19

  • 4.1. Pecking Order Theory e Static Tradeoff Theory

    Daher (2004) tenta mostrar, em sua pesquisa, o que determina a estrutura de

    capital das empresas brasileiras. Para tanto, analisa, comparativamente, duas teorias: a Static

    Tradeoff Theory (STT) e a Pecking Order Theory (POT).

    A Static Tradeoff Theory (STT - estrutura do balanceamento esttico) foi

    desenvolvida por Rajan e Zingales (1995) e pressupe que existe uma estrutura de capital

    tima, onde os benefcios e custos do endividamento estariam balanceados. As Empresas mais

    lucrativas tenderiam a um endividamento maior, em funo da obteno de benefcio fiscal

    sobre os juros. O nvel timo de endividamento seria obtido caso no houvesse custos de

    transao nem assimetria informacional.

    A Pecking Order Theory (POT), desenvolvida por Myers (1984), estabelece

    que a estrutura de capital da firma definida na seguinte seqncia: primeiro o

    autofinanciamento, depois a contratao emprstimos e, por ltimo, a emisso de aes.

    De acordo com esta teoria, as empresas mais lucrativas so menos endividadas

    porque podem financiar seus projetos. A relutncia na emisso de novas aes se deve ao

    entendimento de que existe assimetria de informaes entre investidores potenciais e gestores

    da firma. Assim, quando uma empresa resolve emitir aes, os investidores acreditam que o

    os gestores possuem informaes que eles no possuem e que o preo est superavaliado. Esta

    desconfiana leva os investidores a exigirem um desconto. As empresas que teriam ofertado

    suas aes a um preo justo decidem, ento, no recorrer ao mercado acionrio, pois teriam

    que se submeter a uma subprecificao, que traduzida em subinvestimento. Esta questo

    relaciona-se aos aspectos institucionais que sero melhor detalhados na prxima sesso.

    Daher (2004) utiliza uma amostra de 420 empresas no-financeiras listadas na

    Bolsa de Valores de So Paulo (BOVESPA) e na Sociedade Operadora do Mercado de Ativos

    (SOMA), entre 1995 e 2002, para tentar identificar qual das duas teorias descritas acima seria

    aplicvel s empresas brasileiras. O autor detecta uma sobreposio da PQT em relao

    20

  • STT. Entretanto, evidencia que tal sobreposio pode ser devida a certas idiossincrasias do

    Brasil, no identificadas nos pases utilizados para anlise daquelas teorias.

    Primeiro, o papel pouco relevante do mercado acionrio brasileiro como forma

    de captao de recursos. O mercado tem poucas aes negociadas e, ainda assim, so, na

    maior parte, aes preferenciais, cujas emisses so consideradas, para a Teoria das Finanas,

    aumento de endividamento, e no capital prprio.

    Em segundo lugar, existe o problema de pouca oferta de crdito privado,

    decorrente de elevadas taxas de juros e da restrio de crdito, j que a principal opo dos

    bancos a compra de ttulos pblicos.

    Lucinda e Saito (2002) investigam a mesma questo sobre a aplicabilidade das

    teorias descritas acima para as empresas brasileiras, para o perodo compreendido entre 1995

    e 1999, utilizando uma amostra de 321 empresas, distribudas em diferentes setores

    industriais. Da mesma forma, seus resultados no permitem uma resposta conclusiva sobre

    qual a estrutura de deciso de financiamento das empresas no Brasil. No entanto, os autores

    consideram que os resultados parecem indicar que, de acordo com o critrio do R2 ajustado, o

    melhor modelo de explicao seria o modelo STT, ao qual chamam de Modelo de

    Endividamento timo com Custos de Ajustamento.

    Dentre as alternativas de financiamento existentes autofinanciamento,

    endividamento e mercado de capitais as empresas brasileiras usam mais freqentemente o

    autofinanciamento e os emprstimos bancrios, de acordo com pesquisa realizada por Moreira

    e Puga (2000), cujos resultados encontram-se sintetizados na TABELA 1.

    O autofinanciamento, seguido do endividamento bancrio, tem sido a fonte

    mais utilizada de obteno de recursos para investimento por parte das empresas. O estudo

    analisou 4.312 indstrias, no perodo de 1995 a 1997, que representavam 53% do produto

    industrial brasileiro de 1997.

    Embora trate de perodo relativamente curto recente, quando tanto a proteo

    dos mercados, quanto o papel empresarial do Estado j haviam declinado significativamente,

    o estudo revela claramente o pequeno papel desempenhado pelo mercado de capitais.

    O trabalho considerou que os recursos no obtidos atravs de

    autofinanciamento ou endividamento o foram atravs de emisses no mercado acionrio. Ao

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  • incluir as empresas de capital fechado, os valores encontrados no estudo como sendo oriundos

    de emisso de aes so ainda menores, na medida em que incorporam os aportes diretos de

    capital feitos pelos donos ou novos scios dessas empresas.

    Esses resultados sugerem, segundo os autores, um quadro de constrangimento

    financeiro ao crescimento, onde os limitados recursos internos das firmas dificultam

    investimentos mais ambiciosos em expanso da capacidade ou em desenvolvimento

    tecnolgico.

    TABELA 1 Caractersticas das Empresas Brasileiras 1995/97.

    Empresas Nmero Intensidade Indicadores de Performance

    Padro de Financiamento (%)

    de do Capital Lucro/ Lucro/ Interno Dvida Aes Empresas (Ativo/ Ativo Patr. Rec. Lq.) Lquido

    Nacionais Micro e Pequenas 1.888 0.75 5.81 8.69 63 20 17 Mdias 1.376 0.85 4.82 6.65 48 29 23 Grandes 671 1.17 5.28 8.17 44 30 26 Total 3.935 0.85 5.38 7.89 54 25 21 Estrangeiras Micro e pequenas 54 0.85 8.02 11.36 75 20 5 Mdias 124 1.01 5.90 8.63 63 20 17 Grandes 199 1.02 7.22 10.59 60 23 17 Total 377 0.99 6.90 10.06 63 21 15 Todas Micro e Pequenas 1.942 0.75 5.88 8.76 63 20 17 Mdias 1.500 0.86 4.91 6.81 50 28 23 Grandes 870 1.13 5.72 8.73 48 29 24 Total 4.312 0.87 5.51 8.08 55 25 20 Fonte: MOREIRA, Maurcio e PUGA, Fernando, Como a indstria financia seu crescimento: uma anlise do Brasil Ps Plano real Texto para discusso n 84, BNDES, outubro de 2000.

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  • V ASPECTOS INSTITUCIONAIS

    Vrios estudos tm tentado demonstrar que o grau de desenvolvimento do

    sistema financeiro de um pas depende do nvel de proteo oferecido aos investidores [La

    Porta et al. (1997), (1998a) e (1998b), Gleaser, Johnson e Shleifer (2001), Levine (1996),

    Levine e Zervos (1996), Beck, Loyasa e Levine (1999), Rajan e Zingales (1998) e Stulz

    (2000)]. Segundo essa linha terica, o nvel de proteo oferecido aos investidores tem

    impactos diretos na escolha da estrutura de capital da firma e no crescimento econmico.

    Com foco no mercado de capitais, Carvalho (2003) expe que os benefcios

    obtidos com a abertura de capital dependem da liquidez das aes das empresas. Aes com

    baixa liquidez, para que sejam atraentes, devem pagar um prmio ao investidor, representado

    por desconto em seu preo de negociao, que representa um aumento no custo de captao

    de recursos para as empresas.

    Esta elevao do custo de captao em funo de falta de liquidez desestimula

    as empresa a captarem recursos por meio da emisso de aes.

    A liquidez depende do nmero de participantes do mercado. Assim,

    importante o aumento de participao dos investidores minoritrios no mercado acionrio.

    Por outro lado, cada investidor minoritrio tem direito a uma pequena parcela

    do fluxo de caixa gerado pela empresa. Isto implica que os custos para que minoritrios

    tenham seus direitos assegurados devem ser baixos. Do contrrio, o minoritrio preferir

    aplicar seus recursos em investimentos mais seguros. Portanto, a participao de minoritrios

    est condicionada eficcia da proteo aos seus direitos: regras adequadas, transparncia de

    informao e enforcemen, entendida como qualidade de aplicabilidade da lei.

    Segundo Stulz (2000), a forma como a empresa financia suas atividades afeta

    sua Governana, entendida aqui como um conjunto de mecanismos que permitem aos

    investidores se assegurarem de que recebero o retorno de seus investimentos. Se o

    23

  • financiamento ocorre atravs de emprstimos, os credores podem intervir na firma somente se

    houver risco de no pagamento, enquanto que se for atravs da emisso de aes, os

    acionistas podem afetar as aes dos gestores ainda que no haja o risco de falncia.

    Para Lethbridge (1997), um sistema de Governana Corporativa composto

    pelo conjunto de instituies, regulamentos e convenes culturais, que rege a relao entre as

    administraes das empresas e os acionistas ou outros grupos s quais as administraes, de

    acordo com o tipo de modelo, devem prestar contas. As caractersticas e o desenvolvimento

    desses modelos, que podem ser associados a grupos de pases, refletem as peculiaridades de

    formas distintas de organizao capitalista e prioridades polticas e sociais diversas.

    Ento, para que se possa falar em eficincia do sistema financeiro na alocao

    de recursos, liquidez e reduo do custo de captao, preciso que o investidor tenha

    credibilidade nos institutos que lhe asseguram os retornos de seus investimentos e sintam-se

    protegidos.

    Alm disso, preciso que o investidor sinta-se seguro de que os preos esto

    refletindo toda a informao disponvel, de que ele no ter que incorrer em custos adicionais

    para a obteno de informaes por crer que outros agentes possam estar utilizando

    informaes que no foram eqitativamente divulgadas no mercado.

    Berle e Means (1932) desenvolveram trabalho pioneiro que mostra que os

    interesses dos administradores das companhias nem sempre coincidem com os interesses dos

    acionistas. Este estudo originou a chamada Teoria da Agncia.

    Esta teoria discute falhas de mercado, originadas na assimetria informacional,

    tais como seleo adversa, riscos de comportamento (Moral Hazard) e custos de

    agenciamento.

    Stiglitz (1989)3 argumenta que nos pases menos desenvolvidos, essas questes

    institucionais tm impacto maior na economia real do que nos pases mais desenvolvidos,

    devido inaptido dos governos e das instituies em lidar com tais falhas de mercado.

    24

    3 STIGLITZ, J. E., Perspectives on Economic Development markets, market failures and development, AEA Papers and Proceedings, May, 1989. Citado por Zonaschain, 2003, p. 4

  • Lamb (2001) apresenta as definies sobre algumas falhas de forma bastante

    esclarecedora, quais sejam: Moral Hazard, seleo adversa e o problema do caroneiro (free-

    rider).

    O risco moral (Moral Hazard) ocorre quando h probabilidade de

    comportamento oportunista aps um evento contratual. Evento contratual uma situao de

    acordo (formal ou tcito) onde uma parte assume compromissos perante outra, segundo

    determinadas condies. O risco moral tem um sentido tico, no qual existe a probabilidade

    de uma das partes tirar proveito das imperfeies inerentes s condies estabelecidas no

    arranjo contratual. a possibilidade de aes ocultas por parte do gestor, que detm mais

    informao sobre a companhia, por tentao ou por motivao. Aes essas que o gestor no

    teria caso fosse o nico beneficirio de seus esforos. Moral hazard uma condio sob a

    qual o principal no pode estar certo de que o agente colocou o mximo esforo.

    O problema de seleo adversa trata da possibilidade de uma parte contratual

    conhecer, antes da contratao, detalhes que afetam a avaliao da transao e que so

    desconhecidos da outra parte. Ocorre devido a uma possvel incapacidade do principal

    (investidor) em identificar corretamente os riscos de uma transao e da possvel inexistncia

    de vontade do agente em declarar sua verdadeira condio.

    A questo da seleo adversa tornou-se mais conhecida pelo trabalho de

    George Akerlof The Market for Lemons: Qualitative Uncertainty and the Market

    Mechanism". A presena de informao assimtrica cria um problema de seleo adversa da

    seguinte forma: se consumidores no confiam na qualidade de um produto, tornam-se

    dispostos a pagar somente um preo mdio por ele. Este preo mdio mais atrativo para

    vendedores que tm produtos ruins do que para vendedores que tm produtos bons (da o

    termo seleo adversa). Conseqentemente, mais produtos ruins sero oferecidos do que

    produtos bons. Se os consumidores so racionais, eles devero antecipar esta seleo adversa

    e esperar que a qualquer preo dado, um produto escolhido aleatoriamente tem mais

    probabilidade de ser um produto ruim do que um bom produto. Essas expectativas implicam

    menor disposio para pagar por esses produtos e ento a proporo de produtos bons que

    de fato oferecida cai mais

    Trazendo o tema para finanas corporativas, tem-se que, na existncia de

    assimetria informacional, no qual o investidor desconfia que no tem todas as informaes

    necessrias a uma correta avaliao da empresa, dispe-se a pagar somente o preo mdio do

    25

  • mercado acionrio. As empresas que consideram que valem mais do que esse preo mdio

    no se sentem atradas a disponibilizar seus ttulos. Portanto, acaba ocorrendo uma oferta

    maior de empresas ruins.

    As incertezas quanto ao comportamento dos agentes, originados na assimetria

    informacional tambm objeto de preocupao na formulao de leis e contratos

    corporativos. Os dirigentes tm controle da informao da empresa por estarem no centro do

    complexo de contratos que a constitui. Eles podem manipular a informao, podem ter um

    comportamento oportunista quanto informao e podem maximizar a sua utilidade em

    detrimento dos interesses dos demais interessados na empresa.

    O problema do caroneiro refere-se aos benefcios que podem ser obtidos sem

    esforos prprios, ou com o mnimo de esforos, j que outros os desenvolvem para obter o

    benefcio, ou seja, aquele agente econmico que pega carona, beneficia-se da ao de

    outrem sem despender esforos e/ou recursos. O problema do caroneiro pode manifestar-se

    em duas situaes. A primeira diz respeito perda de valor por habilidade ou estratgia

    desenvolvida com custos e que passa a ser apropriada ou seguida por outros. O outro

    problema do risco do caroneiro o no desenvolvimento de uma ao por beneficiar outras

    partes interessadas que no contribuem com o custo da ao. Um exemplo desse ltimo o do

    acionista minoritrio que desiste de controlar os dirigentes de sua empresa porque os custos

    deste controle so seus, mas os benefcios do controle atingiriam todos os demais

    minoritrios.

    As incertezas quanto ao comportamento dos agentes, originados na assimetria

    informacional tambm objeto de preocupao na formulao de leis e contratos

    corporativos. Os dirigentes tm controle da informao da empresa por estarem no centro do

    complexo de contratos que a constitui. Eles podem manipular a informao, podem ter um

    comportamento oportunista quanto informao e podem maximizar a sua utilidade em

    detrimento dos interesses dos demais interessados na empresa.

    Beck, Levine e Loyasa (2000) investigam se as diferenas, entre pases, nos

    direitos legais de credores, eficincia de cumprimento de contratos e padro de sistema

    contbil ajudam a explicar as diferenas no nvel de desenvolvimento dos intermedirios

    financeiros. Os resultados so de que pases com: 1) leis que do alta prioridade em assegurar

    os credores o recebimento integral do valor presente em suas aes contra firmas; (2) sistemas

    legais que rigorosamente fazem cumprir os contratos, incluindo aqueles com governos; (3)

    26

  • padres contbeis que produzem alta qualidade em termos amplos e permitem a

    comparabilidade das demonstraes financeiras entre as firmas tendem a ter intermedirios

    financeiros melhor desenvolvidos.

    Himmelberg, Hubbard e Love (2000) investigaram a relao entre custos de

    agncia, proteo dos investidores e custo de capital, em 38 pases, concluindo tambm que a

    severidade do custo de agncia depende da proteo do investidor.

    A concluso que quanto mais fraca a proteo dos investidores, maior a

    concentrao de propriedade e maior o custo de capital. Neste caso, como o objeto da

    expropriao so os outros investidores, o efeito o declnio do financiamento externo para as

    companhias e a caracterizao de mercados de capitais pequenos para pases com fraca

    proteo legal.

    Stulz (2000) examina como a organizao das atividades financeiras afeta a

    eficincia com a qual as empresas investem e gerenciam fundos. De acordo com o autor,

    estruturas financeiras que permitam o desenvolvimento de capital especializado por

    intermedirios financeiros so cruciais para o desenvolvimento econmico.

    O autor conclui que, em uma fraca estrutura financeira, o custo de capital to

    elevado que se torna difcil para empreendedores criar firmas e fazer com que estas invistam

    de modo eficiente. Para o autor, a questo do desenvolvimento financeiro est relacionada

    qualidade das instituies legais, como a lei de falncias, e estabilidade macroeconmica.

    No Brasil foram desenvolvidas algumas pesquisas que buscam avaliar o

    impacto de estruturas institucionais no desempenho das firmas. Silveira (2004) investigou os

    fatores que fazem com que algumas empresas apresentem um nvel de governana maior do

    que outras submetidas a um mesmo ambiente contratual. O resultado principal da pesquisa

    sugere que a estrutura de propriedade influencia a qualidade da governana corporativa. O

    resultado identificou uma relao negativa significante entre o excesso de direito de voto em

    posse do acionista controlador e a qualidade da governana. O autor investigou tambm a

    relao entre governana e desempenho da firma, no tendo encontrado influncia

    significante e consistente entre as duas variveis.

    Tendo em vista a dificuldade na modificao de regras pblicas e da legislao,

    a Bolsa de Valores de So Paulo criou uma espcie de contrato privado ao qual as empresas,

    27

  • j listadas na Bovespa ou no, poderiam voluntariamente aderir. Tais contratos referem-se

    criao de dois novos segmentos na Bolsa de Valores, cujas regras referem-se adoo de

    melhores prticas de governana corporativa. Estes segmentos so chamados de Nveis

    Diferenciados e Novo Mercado.

    Carvalho (2003) investiga se a adoo de nveis diferenciados de governana

    tem impacto sobre a valorao das aes (existncia de retornos anormais positivos), sobre o

    volume de negociao, sobre a liquidez e sobre a exposio a fatores macroeconmicos. Sua

    amostra corresponde srie de preos de fechamento e volume de negociao das aes das

    empresas que migraram para os nveis de governana entre junho de 2001 e maio de 2002,

    totalizando 22 empresas.

    O autor detecta que o comprometimento com melhores prticas por meio da

    migrao tem impacto positivo sobre a valorao das aes, o volume de negociao, a

    liquidez e a sensibilidade do preo das aes a fatores macroeconmicos.

    28

  • VI CONSIDERAES FINAIS

    O presente trabalho buscou discutir a importncia do desenvolvimento do

    sistema financeiro para o crescimento econmico, atravs de uma breve apresentao das

    principais teorias que tratam do assunto. Para tanto, permeou-se as teorias que tratam sobre os

    canais de financiamento da firma, os determinantes da escolha de sua estrutura de capital,

    tendo tambm sido abordados as variveis relacionadas aos aspectos institucionais que podem

    exercer influncia sobre a escolha de financiamento da firma e, conseqentemente, sobre o

    grau de desenvolvimento financeiro de um pas.

    Ao estudar a natureza da relao entre desenvolvimento financeiro e

    crescimento econmico para o caso brasileiro, com dados dos perodos de 1947- 2000, 1963-

    2000 e 1970-2000, Matos (2002) conclui que a existem impactos diretos e unidirecionais do

    desenvolvimento financeiro sobre o crescimento econmico, sem retroalimentao.

    Com base nas teorias de Static Tradeoff Theory (STT) e Pecking Order Theory

    (POT), que estudam os determinantes da escolha de estrutura de capital da firma, Daher

    detecta uma sobreposio da PQT em relao STT. Entretanto, o autor considera que este

    resultado pode ser devido a dois fatores: (1) ao papel pouco relevante do mercado acionrio

    brasileiro como forma de captao de recursos e (2) pouca oferta de crdito privado,

    decorrente de elevadas taxas de juros e da restrio de crdito, j que a principal opo dos

    bancos a compra de ttulos pblicos.

    Ao analisar a mesma questo, Lucinda e Saito (2002) chegam a concluses

    opostas as de Daher (2004). Entretanto, os autores consideram que seus resultados podem no

    ser conclusivos em funo de problemas metodolgicos.

    29

  • Moreira e Puga (2000) analisam a escolha de financiamento de 4.312 indstrias

    brasileiras, no perodo de 1995 a 1997. Os resultados sugerem que as empresas brasileiras

    fazem grande uso do autofinanciamento, o que pode representar um quadro de

    constrangimento financeiro ao crescimento.

    Com relao aos aspectos institucionais que podem exercer influncia no grau

    de desenvolvimento do sistema financeiro, Carvalho (2003) detectou que o comprometimento

    com melhores prticas de governana corporativa tem impacto positivo sobre a valorao das

    aes, o volume de negociao, a liquidez e a sensibilidade do preo das aes a fatores

    macroeconmicos.

    30

  • VII REFERNCIAS

    1) BECK, Thorsten, DERMINGU-KUNT, Asli, LEVINE, Ross e MAKSIMOVIC,

    Vojislav. Financial Structure and Economic Development; firm, industry and

    country evidence. Policy Research. World Bank Working Paper 2423, ago. 2000.

    2) BECK, Thorsten, LEVINE, Ross e LOYASA, Norman. Finance and the Sources of

    Growth. Journal of Monetary Economics 46, 31-77, 1999.

    3) BERLE, A. e MEANS G. The Modern Corporation and Private Property. MacMillan,

    New York, (1932).

    4) CARVALHO, A. Gledson. Desenvolvimento Financeiro e Crescimento Econmico.

    Revista Econmica do Nordeste, vol. 33 (out/dez), 2001. Disponvel em

    .

    5) Efeitos da Migrao para os Nveis de Governana da

    BOVESPA. Trabalho preparado para a BOVESPA, 2003. Disponvel em

    .

    6) DAHER, Ceclio Elias. Testes Empricos de Teorias Alternativas sobre a Determinao

    da Estrutura de Capital das Empresas Brasileiras. Dissertao apresentada ao

    Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Ps-Graduao em Cincias

    Contbeis UnB, Braslia, 2004.

    7) DOW, Sandra. When Do Owners Make a Difference? A comparison of market-centred

    versus bank-centred governance. Universit du Qubec Montral, june, 2004.

    Disponvel em .

    31

  • 8) HIMMELBERG, Charles, HUBBARD, R. Glenn, LOVE, Inessa. Investor Protection,

    Ownership, and the Cost of Capital. Policy Research, Working Paper 2834. World

    Bank, Washington, D.C., abril 2002.

    9) KANG, Jun-Koo, STULZ, Ren M. Is Bank-Centered Corporate Governance Worth it?

    A cross sectional analysis of the performance of japanese firms during the asset

    price deflation. NBER Working Paper n. 6238, oct, 1997. Disponvel em

    .

    10) LA PORTA, R., LOPEZ-DE-SILANES, F., SHLEIFER, A., VISHNY, R. Legal

    Determinants of External Finance. Journal of Finance 52, 1131-1150, 1997.

    11) .Law and Finance. Journal of Political Economy 106, 1113-

    1155, 1998a.

    12) .Investor Protection; origins, consequences, reform. Harvard

    Institute of Economic Research, Working Paper n. 1883, 1999a.

    13) .Investor Protection and Corporate Valuation. NBER Working

    Paper n. w7403, out. 1999b.

    14) .Investor Protection and Corporate Governance. Journal of

    Financial Economics 58, 3-27, 2000.

    15) LA PORTA, R., LOPEZ-DE-SILANES, F., SHLEIFER, A. Corporate Ownership

    Around the World, Journal of Finance 54, 717-738, 1998b.

    16) LA PORTA, Rafael, LOPEZ-DE-SILANES, F. Capital Markets and Legal Institutions.

    in Beyond the Washington Consensus: Institutions Matter, dez. 1998c.

    17) LAMB, Roberto. Governana Corporativa; arena e contexto. Universidade Catlica do

    Rio Grande do Sul. Faculdade de Administrao, Contabilidade e Economia. Textos

    para Discusso. Porto Alegre : PURCS; 2001. Disponvel em

    .

    32

  • 18) LETHBRIDGE, Eric. Governana Corporativa. REVISTA BNDES. Rio de Janeiro : n.

    8, dez. 1997. Disponvel em.

    19) LEVINE, Ross. Financial Development and Economic Growth; views and agenda.

    Journal of Economic Literature, p. 688-729, 1996.

    20) LEVINE, Ross e ZERVOS, Sara. Stock Market Development and Long-Run Growth.

    Policy Research Working Paper 1582, World Bank, mar. 1996.

    21) .Financial Intermediations and Growth; causality and causes.

    Journal of Monetary Economics 46, 31-77, 2000.

    22) LUCINDA, Cludio Ribeiro de e SAITO, Richard. Determinantes do Endividamento

    das Empresas Brasileiras: Volume e Composio. EAESP/FGV. So Paulo, 2002.

    23) MATOS, Orlando Carneiro de. Desenvolvimento do Sistema Financeiro e Crescimento

    Econmico no Brasil; evidncias de causalidade. Trabalho para Discusso, n. 49.

    Banco Central do Brasil, set. 2002.

    24) MOREIRA, Maurcio e PUGA, Fernando. Como a Indstria Financia seu Crescimento;

    uma anlise do Brasil ps-plano real. BNDES. Texto para discusso n 84, out.

    2000. Disponvel em www.bndes.gov.br.

    25) RAJAN, Raghuram G., ZINGALES, Luigi. Financial Dependence and Growth. NBER

    Working Paper 5758, set. 1996.

    26) SHLEIFER, Andrei e VISHNY, Robert. A Survey of Corporate Governance. NBER

    Working Paper n. 5554, abril 1996.

    27) SHLEIFER, Andrei e WOLFENZON, Daniel. Investor Protection and Equity Markets.

    Harvard University - Department of Economics and New York University -

    Department of Finance, 2000.

    28) SILVEIRA, Alexandre di Miceli da. Governana corporativa e estrutura de

    propriedade: determinantes e relao com o desempenho das empresas no Brasil.

    33

  • Tese de Doutorado apresentada Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade da USP. So Paulo, 2004.

    29) STULZ, Ren M. Does financial Structure Matter for Economic Growth? A corporate

    finance perspective. World Bank Working Paper, 2000. Disponvel em

    .

    30) ZONENSCHAIN, Claudia Nessi. Estrutura de Capital das Empresas no Brasil.

    REVISTA BNDES. Rio de Janeiro : n. 10, dez. 1998. Disponvel

    em

    34