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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE DOS MÚSCULOS MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Flávia Leães de Almeida Santa Maria, RS, Brasil 2009

ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE DOS …jararaca.ufsm.br/websites/ppgdch/download/Flavia.pdf · 2 2009. A447e Almeida, ... Postgraduate Program in Human Communication Disorders

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DISTRBIOS DA COMUNICAO HUMANA

    ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS

    MSCULOS MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Flvia Lees de Almeida

    Santa Maria, RS, Brasil 2009

  • 1

    ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS

    MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO

    por

    Flvia Lees de Almeida

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de

    Concentrao Audio e Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Distrbios da Comunicao Humana

    Orientadora: Prof. Dr. Ana Maria Toniolo da Silva Co-orientadora: Prof. Dr. Eliane Corra

    Santa Maria, RS, Brasil

    2009

  • 2

    A447e Almeida, Flvia Lees de Eletromiografia de superfcie dos msculos masseter e temporal em sujeitos com bruxismo / Flvia Lees de Almeida. Santa Maria: UFSM, 2009. 111 f.

    Orientador: Ana Maria Toniolo da Silva Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de Concentrao Audio e Linguagem, 2009.

    1. Bruxismo. 2. Eletromiografia. 3. Msculos Mastigatrios. I. Silva, Ana Maria Toniolo da. II. Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de Concentrao Audio e Linguagem. III. Ttulo.

    CDU 616.314-001.4

  • 3

    Universidade Federal de Santa Maria

    Centro de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao

    Humana

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada,

    aprova a Dissertao de Mestrado ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS MASSETER

    E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO

    Elaborada por

    Flvia Lees de Almeida

    como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Distrbios da Comunicao Humana

    Comisso Examinadora:

    Ana Maria Toniolo da Silva, Prof. Dr. (UFSM) (Presidente/Orientador)

    Eliane Corra, Prof. Dr. (UFSM) (Co-orientador)

    Kelly Cristina Alves Silverio, Prof. Dr. (UTP) (Membro)

    Cludio Figueir, Prof. Dr. (UFSM) (Membro)

    Santa Maria, 30 junho, de 2009

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo, primeiramente, a Deus por no permitir que eu desistisse.

    Obrigada pelo amor e ajuda nos momentos mais difceis.

    A minha famlia, em especial, ao meu pai e minha me. Muito obrigada pelo

    amor, pela confiana, pelo respeito e por aceitarem e acreditarem nas minhas

    escolhas. A vocs, meu amor incondicional!

    Agradeo muito ao meu mano, sobrinhos e a Rose! Obrigada pela pacincia e

    por entenderem as minhas angstias e ausncias. Vocs moram no meu corao!

    A minha querida orientadora Prof. Ana Maria por todo carinho, apoio e

    confiana a mim dedicados durante todos esses anos que trabalhamos juntas. Os

    seus ensinamentos foram fundamentais para o meu crescimento pessoal e

    profissional.

    A professora Eliane Corra pelas excelentes contribuies prestadas ao meu

    trabalho. Muito obrigada!

    A querida amiga e colega Angela! Nunca poderei agradecer por toda ajuda.

    Tu s uma pessoa especial que sempre estar em meu corao.

    As meninas do Laboratrio de Motricidade Oral: Geovana, Dbora, Luana,

    Luane, Juliana, Fernanda, Tas e Clarissa por todo o apoio, colaboraes e,

    principalmente, pela amizade que dedicaram a mim todo esse tempo!

    A todos os amigos que torceram pela concretizao desse trabalho....essa

    conquista no seria possvel sem vocs.

    A minha querida mana Lu. Obrigada pelas palavras de incentivo, pelos

    ouvidos pacientes, pelo carinho, pelos momentos compartilhados e principalmente

    pela amizade!

    Fao um agradecimento especial Professor Cludio Figueir, no apenas por

    ter aceitado o convite para ser membro da banca do meu trabalho, mas por to

    gentilmente ter contribudo com a realizao das avaliaes dos sujeitos da

    pesquisa. Obrigada pela ateno e pelas contribuies que tanto enriqueceram esse

    estudo.

  • 5

    Agradeo a Prof Kelly Cristina Alves Silvrio pela disponibilidade e ateno

    em aceitar participar da banca examinadora e por abrilhantar esse estudo com suas

    consideraes. Muito obrigada!

    professora Mrcia Keske-Soares por toda a dedicao em fazer do

    Programa de Ps Graduao em Distrbios da Comunicao Humana um curso

    respeitado, contribuindo dessa forma para o crescimento da Fonoaudiologia.

    professora Luciane Jacobi, pela realizao das anlises estatsticas, pelas

    excelentes explicaes e por toda a ateno a mim dedicada.

    Para finalizar, agradeo a todas as pessoas que participaram desse estudo. A

    colaborao de vocs foi fundamental para que esse momento se tornasse

    realidade. Obrigada por acreditarem em mim e por contriburem com a cincia, em

    especial, com a Fonoaudiologia.

  • 6

    RESUMO

    Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana

    Universidade Federal de Santa Maria

    ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO

    AUTORA: FLVIA LEES DE ALMEIDA

    ORIENTADOR (A): ANA MARIA TONIOLO DA SILVA Data e Local da Defesa: Santa Maria, 30 de junho de 2009.

    Este estudo teve como objetivo geral verificar o comportamento da atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, em sujeitos com e sem bruxismo. E como objetivos especficos mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com bruxismo, e o padro da atividade eltrica dos msculos masseter e temporal em sujeitos com e sem bruxismo, comparando-os. Participaram deste estudo 31 sujeitos, de ambos os sexos, com idades entre 19 e 51 anos, dos quais 20 apresentavam bruxismo (GE) e 11 no apresentavam bruxismo (GC). Os sujeitos foram avaliados atravs do instrumento RDC/TMD e realizaram avaliao odontolgica, fonoaudiolgica e exame eletromiogrfico. Este ltimo foi realizado nas situaes de repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada. Os resultados mostraram que o padro eletromiogrfico dos msculos apresentou-se prximos aos nveis de normalidade no repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada nos sujeitos com e sem bruxismo. A maioria dos sujeitos com bruxismo apresentou queixa de dor, sendo mais evidenciado o nvel severo e, principalmente, no msculo masseter. No houve correlao estatisticamente significante entre dor e atividade EMG. Quando comparadas as mdias da atividade eltrica dos grupos com e sem bruxismo, no verificou-se diferena estatisticamente significante nos msculos estudados, exceto para o masseter direito durante o repouso e para masseter esquerdo durante a mastigao. Pode-se concluir que a dor no consistiu um fator prejudicial ao desempenho da atividade eltrica dos msculos estudados nas situaes avaliadas e que o bruxismo no alterou a atividade eltrica dos msculos mastigatrios.

    Descritores: Bruxismo; Eletromiografia; Msculos Mastigatrios.

  • 7

    ABSTRACT

    Masters Dissertation Postgraduate Program in Human Communication Disorders

    Federal University of Santa Maria

    ELECTROMYOGRAPHY OF SURFACE OF THE MASSETER AND TEMPORAL MUSCLES IN SUBJECTS WITH BRUXISM

    AUTHOR: FLVIA LEES DE ALMEIDA

    ADVISOR: ANA MARIA TONIOLO DA SILVA Date and Place of the Presentation: Santa Maria, June, 30th, 2009.

    This study aimed to analyze the electric activity of masseter and temporal muscles, in subjects with bruxism. The specific objectives were to measure the electric activity of the masseter and temporal muscles, to verify the graduation of the pain to the palpation and your correlation with the electric activity in subjects with bruxism, and to compare the electrical activity pattern of these muscles in subjects with and without bruxism. 31 participants, male and female, aged between 19 and 51 years old were volunteers in the study, 20 of them with bruxism (SG) and 11 without bruxism (CG). The participants were examined based on RDC/TMD instrument, dentistry and speech pathology assessments and electromyography exam. The last one was carried out during rest, maximum intercuspation and the rhythmic mastication. The results showed that the electromyography pattern of the muscles was presented next to the levels to normality during rest, maximum intercuspation and usual mastication rhythmic in the subjects with and without bruxism. Most of the subjects presented complaint of pain, being more evidenced the severe degree and mainly in the muscle masseter. There was not statistically significant correlation between pain and EMG activity. It was not observed statistically significant differences in the studied muscles, except for the right masseter during the rest and for left masseter during the mastication when comparing the averages of the electric activity of the subjects with and without bruxism. It can be concluded that the pain did not consist a harmful factor to the electric activity performance of the studied muscles in the appraised situations and that the bruxism did not alter the electric activity of the masticatory muscles.

    Key words: Bruxism; Electromyography; Masticatory Muscles.

  • 8

    LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 Conexo para oito canais (A), pr-amplificadores ativos (B),

    eletromigrafo (C), eletrodos duplos de superfcie(D).......................................41

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    Tabelas referentes ao Artigo de Pesquisa: Relao entre dor e atividade

    eltrica dos msculos mastigatrios na presena de bruxismo

    TABELA 1 Distribuio das mdias e desvio padro da atividade

    eletromiogrfica (RMS) dos msculos masseteres direito (MD) e esquerdo (ME)

    e dos msculos temporais direito (TD) e esquerdo (TE) obtidas do grupo de

    sujeitos com bruxismo (n=20) nas provas da eletromiografia (EMG) de repouso,

    mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada..................................52

    TABELA 2 Distribuio dos valores absolutos (n) e relativos (%) dos sujeitos

    com bruxismo (n=20) segundo a escala de dor do RDC/TMD relatada nos

    msculos masseteres direito (MD) e esquerdo (ME) e dos msculos temporais

    direito (TD) e esquerdo (TE).............................................................................53

    TABELA 3 Correlao entre a atividade eltrica dos msculos masseteres

    direito (MD) e esquerdo (ME) e temporal direito (TD) e esquerdo (TE) com a

    escala de dor do exame clnico do RDC/TMD dos sujeitos com bruxismo nas

    provas da eletromiografia (EMG) de repouso, mxima intercuspidao e

    mastigao habitual ritmada..............................................................................54

  • 10

    Tabelas referentes ao Artigo de Pesquisa: Atividade eltrica dos

    msculos mastigatrios em sujeitos com e sem bruxismo

    TABELA 1 Comparao dos valores mdios e desvio padro (DP) da

    atividade eletromiogrfica (RMS) dos msculos (MD), (ME), (TD) e (TE) obtidas

    do Grupo Estudo (GE) e do Grupo Controle (GC) nas Provas de repouso (P1),

    mxima intercuspidao (P2) e mastigao habitual ritmada (P3)....................72

    TABELA 2 Comparao, em cada um dos grupos (GE e GC), da atividade

    eletromiogrfica (RMS) entre os msculos masseteres e temporais nos lados

    direito e esquerdo nas Provas de repouso (P1), mxima intercuspidao (P2) e

    mastigao habitual ritmada (P3).....................................................................72

    TABELA 3 Comparao, em cada um dos grupos (GE e GC), da atividade

    eletromiogrfica (RMS) entre os msculos masseteres direito e esquerdo e,

    temporais direito e esquerdo nas Provas de repouso (P1), mxima

    intercuspidao (P2) e mastigao habitual ritmada (P3).................................72

  • 11

    LISTA DE REDUES

    A/D Conversor analgico/digital

    Ag/AgCl Eletrodos Prata/Cloridato de Prata

    bpm Batidas por minuto

    CEP Comit em tica e Pesquisa

    cm - Centmetros

    dB Decibis

    DP Desvio Padro

    DTM Disfuno Temporomandibular

    EMG Eletromiografia

    GC Grupo Controle

    GE Grupo Estudo

    G - Gigaohm

    Hz Hertz

    KHz KiloHertz

    mm - Milmetros

    V - Microvolts

    MD Msculo masseter direito

    ME Msculo masseter esquerdo

    P1 Prova 1: repouso

    P2 Prova 2: mxima intercuspidao

    P3 Prova 3: mastigao habitual ritmada

    http://en.wiktionary.org/wiki/gigaohms

  • 12

    RDC/TMD Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens

    Temporomandibulares

    RMS Root Mean Square Raiz Quadrada Mdia

    SAF Servio de Atendimento Fonoaudiolgico

    SE Sistema Estomatogntico

    TD Msculo temporal direito

    TE Msculo temporal esquerdo

    V - Volts

  • 13

    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO A Documento de aprovao no Comit de tica em Pesquisa........93

    ANEXO B - Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens

    Temporomandibulares (RDC/DTM)...................................................................94

    ANEXO C - Protocolo de Avaliao Fonoaudiolgica..........................................111

  • 14

    LISTA DE APNDICES

    APNDICE A - Termo de Autorizao Institucional Servio de Atendimento

    Fonoaudiolgico/SAF /UFSM..........................................................................118

    APNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................119

    APNDICE C Quadro de armazenamento de dados da Avaliao

    Odontolgica....................................................................................................121

  • 15

    SUMRIO

    RESUMO.............................................................................................................6

    ABSTRACT..........................................................................................................7

    LISTA DE ILUSTRAES...................................................................................8

    LISTA DE TABELAS............................................................................................9

    LISTA DE REDUES......................................................................................11

    LISTA DE ANEXOS...........................................................................................13

    LISTA DE APNDICES.....................................................................................14

    1 INTRODUO................................................................................................17

    2 REVISO DE LITERATURA...........................................................................20

    2.1 Bruxismo......................................................................................................20

    2.2 Msculos Mastigatrios e Dor......................................................................26

    2.3 Eletromiografia............................................................................................ 30

    3 MATERIAL E MTODO..................................................................................37

    4 RELAO ENTRE DOR E ATIVIDADE ELTRICA DOS MSCULOS

    MASTIGATRIOS NA PRESENA DE BRUXISMO ......................................44

    4.1 Resumo........................................................................................................44

    4.2 Abstract........................................................................................................45

    4.3 Introduo....................................................................................................46

    4.4 Materiais e Mtodos.....................................................................................47

    4.5 Resultados...................................................................................................52

    4.6 Discusso....................................................................................................55

    4.7 Concluso....................................................................................................58

  • 16

    4.8 Referncias Bibliogrficas...........................................................................58

    5 ATIVIDADE ELTRICA DOS MSCULOS MASTIGATRIOS EM SUJEITOS

    COM E SEM BRUXISMO .................................................................................64

    5.1 Resumo........................................................................................................64

    5.2 Abstract........................................................................................................65

    5.3 Introduo....................................................................................................65

    5.4 Mtodos.......................................................................................................66

    5.4.1 Caracterizao da pesquisa.....................................................................66

    5.4.2 Procedimentos para seleo dos Grupos.................................................67

    5.4.3 Critrios para seleo dos Grupos...........................................................67

    5.4.4 Caracterizao do Grupos........................................................................68

    5.4.5 Avaliao Eletromiogrfica.......................................................................68

    5.4.6 Anlise dos dados.....................................................................................70

    5.4.7 Mtodo Estatstico....................................................................................71

    5.5 Resultados...................................................................................................71

    5.6 Discusso....................................................................................................73

    5.7 Concluses..................................................................................................76

    5.8 Referncias Bibliogrficas...........................................................................77

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...............................................................81

    ANEXOS............................................................................................................92

    APNDICES....................................................................................................117

  • 17

    1 INTRODUO

    O sistema estomatogntico constitui-se por um conjunto de estruturas que

    desenvolvem funes comuns como a suco, a deglutio, a mastigao a

    respirao e a fala. Quando existem desvios dos padres normais ocorrem

    alteraes na forma ou funo destas estruturas.

    As disfunes que atingem este sistema tm sido amplamente estudadas por

    diferentes profissionais ligados a rea, sendo suas causas muitas vezes associadas

    a algum tipo de hbito deletrio, pois os mesmos podem afetar as estruturas faciais,

    proporcionando danos significativos as mesmas (ARAJO, 1988).

    Entre os hbitos deletrios freqentemente relatados na literatura est o

    bruxismo. Este, de acordo com a Classificao Internacional dos Distrbios do Sono,

    pode ser definido como um hbito no fisiolgico do sistema mastigatrio,

    caracterizado pelo apertar ou ranger dos dentes, sendo estes, provavelmente,

    decorrentes da contrao rtmica dos msculos masseteres, realizados de forma

    contnua e inconsciente, podendo ser de manifestao noturna ou diurna, atingindo

    de 5 a 20% da populao em alguma fase da vida (THORPY, 1997; POSSIDENTE

    et al., 1997), tendendo a diminuir com o avano da idade (KISER & GROENEVELD,

    1998), embora ainda no haja na literatura um consenso sobre a real prevalncia do

    mesmo (MACEDO, 2008).

    Quando ocorre durante o sono, h predomnio de deslizamento das

    superfcies oclusais dos dentes em contato excntricos e apertamentos dentrios,

    levando ao aumento da tenso, devido contrao isomtrica dos msculos

    elevadores da mandbula, sendo que nesta segunda situao a hipertrofia muscular

    mais freqente (DEKON et al. 2003).

    Pereira et al. (2006), citaram como possveis etiologias para o bruxismo,

    principalmente, fatores psicossociais, alteraes do sono, uso de drogas de ao

  • 18

    central ou desarmonias oclusais. Acredita-se que todos esses fatores promovam

    alm de desgaste dentrio, dor na face, j que, h possibilidade do bruxismo estar

    vinculado etiologia da dor facial (MCFARLANE et al., 2003).

    Devido aos prejuzos provocados pelo bruxismo, uma avaliao detalhada

    relevante, j que seu diagnstico no de fcil realizao e ainda porque no h

    relatos na literatura de uma avaliao que contemple todos os aspectos que devem

    ser avaliados (KOYANO et al., 2008). Caractersticas psicolgicas e aspectos da

    arcada dentria, da musculatura orofacial e de qualidade de sono, so alguns dos

    aspectos que devem ser investigados a fim de eleger o tratamento mais adequado e

    favorecer a percepo do sujeito sobre a presena do hbito.

    Segundo Ferla (2004), a avaliao fonoaudiolgica da musculatura facial

    baseia-se, especialmente, na avaliao clnica a qual fornece dados subjetivos e

    qualitativos do aspecto, resistncia, funcionalidade e potncia, sendo bastante vlida

    e utilizada, tambm, para averiguar o aspecto da dor facial que explicitada no

    momento da palpao da musculatura afetada.

    Ainda que o exame clnico seja imprescindvel, Nagae & Brzin (2004)

    acreditam que, na rea da fonoaudiologia, h uma crescente necessidade da

    incluso de mtodos objetivos para verificar a condio muscular de sujeitos que

    sofrem de patologias que prejudicam a musculatura mastigatria, em especial os

    msculos masseter e temporal (GONZLES, 2000; DOUGLAS, 2002; FELCIO &

    MORALES, 2003).

    Desse modo, com o intuito de auxiliar e enriquecer a avaliao, bem como

    proporcionar uma conduta mais adequada aos profissionais da fonoaudiologia e de

    reas a fim, a eletromiografia de superfcie surge como mtodo importante,

    permitindo maior objetividade nos resultados de pesquisas e na obteno de

    parmetros para diagnstico (RAHAL & PIEROTTI, 2004; BIASOTTO, BIASOTTO-

    GONZALEZ & PANHOCA, 2005).

    Esta representa um meio de mensurar os potenciais eltricos emanados pelos

    msculos no momento da contrao (QUIRCH, 1965; LEHMKUHL & SMITH, 1989;

    DAHLSTRM, 1989; DE LUCA,1997).

  • 19

    Portanto, este estudo teve como objeto geral verificar o comportamento da

    atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, por meio de avaliao

    eletromiogrfica, em sujeitos com e sem bruxismo.

    Este estudo foi organizado em 6 captulos, sendo o primeiro a presente

    introduo geral, o segundo destinado reviso de literatura; o terceiro aos

    materiais e mtodos, o quarto e o quinto captulos referem-se aos artigos de

    pesquisa provenientes dos resultados do estudo e, para finalizar, o sexto captulo

    destina-se s referncias bibliogrficas do mesmo.

    O artigo de pesquisa a ser apresentado no quarto captulo tem como ttulo

    Relao entre dor e atividade eltrica dos msculos mastigatrios na presena de

    bruxismo e como objetivo mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e

    temporal, verificar a graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade

    eltrica em sujeitos com bruxismo. Este trabalho foi elaborado de acordo com as

    normas da Revista Brasileira de Fisioterapia/Brazilian Journal of Physical Therapy

    (RBF/BJPT) para a qual ser encaminhado.

    O segundo artigo, apresentado no quinto captulo, procurou verificar, por meio

    da avaliao eletromiogrfica, o padro da atividade eltrica dos msculos masseter

    e temporal em sujeitos com e sem bruxismo, comparando-os. Esse artigo tem como

    ttulo Atividade eltrica dos msculos mastigatrios em sujeitos com e sem

    bruxismo, e ser submetido a Pr-Fono Revista de Atualizao Cientfica, sendo

    redigido de acordo com as normas propostas pela mesma.

    No final deste trabalho esto apresentados os anexos e apndices utilizados

    na constituio da pesquisa.

  • 20

    2 REVISO DE LITERATURA

    Este captulo destinado reviso da literatura, por meio da anlise e

    comparao de snteses de trabalhos e obras relacionados com o contedo deste

    estudo. A fim de favorecer a compreenso da leitura, os assuntos sero abordados

    separadamente, iniciando com a exposio de trechos sobre bruxismo, aspectos

    anatmicos e fisiolgicos da musculatura envolvida na funo de mastigao e dor

    e, por fim aspectos sobre eletromiografia.

    2.1 Bruxismo

    O bruxismo um hbito deletrio que danifica o sistema estomatogntico,

    sendo decorrente, entre outros, da falta de coordenao neuromotora dos msculos

    da mastigao, podendo manisfestar-se atravs de movimentos viciosos como

    repetidas ocluses, em forma de tiques nervosos, projeo ou lateralizao da

    mandbula (ARAJO, 1988). Este termo deriva da palavra grega brychein, que

    significa apertamento, frico ou atrito dos dentes entre si sem nenhum objetivo

    funcional aparente (FAULKNER, 1990).

    Seus prejuzos atingem tanto a musculatura quanto a arcada dentria, j que

    em sujeitos que realizam esse hbito pode haver hiperatividade do msculo

    masseter, presena de desgastes dentrios, sensibilidade pulpar, periodontite e at

    mesmo mobilidade dentria (MEDEIROS, 1991).

    Alm dessas, a literatura tambm relata como caractersticas da ocorrncia

    do bruxismo a tenso ocorrida nas estruturas envolvidas na funo da mastigao,

    principalmente, nos msculos mastigatrios e na articulao temporomandibular,

    que, associadas ao estresse, distrbios do sono, medo de dor, idade e at o sexo do

    sujeito so apontadas como alguns dos fatores contribuintes para a diminuio da

    atividade muscular em sujeitos patolgicos (ROMPR et al., 1992; RAUSTIA,

    SALONEN & PYHTINEN, 1996).

  • 21

    Um hbito deletrio, como o bruxismo, pode afetar a atividade eltrica dos

    msculos envolvidos e, conseqentemente, prejudica a funo a qual esses

    msculos se propem, como foi observado nos resultados do estudo de Tsolka et al.

    (1994), onde pacientes com patologia muscular apresentaram aumento da atividade

    eltrica no repouso.

    Com relao sua prevalncia, existem controvrsias entre estudos. H os

    que relatam que, na faixa entre 18 e 29 anos de idade, chega a 13%, diminuindo

    com o avano da idade (LAVIGNE & MONTPLAISIR, 1994; KIESER &

    GROENEVELD, 1998), outros acreditam que o bruxismo mais evidente na faixa

    etria entre 10 e 40 anos (ATTANASIO, 1997) havendo ainda referncias que 5 a

    20% da populao apresenta este hbito em alguma fase da vida sendo que esse,

    freqentemente, est associado a sinais de ansiedade, estresse e transtornos do

    sono (POSSIDENTE et al., 1997). Porm, de acordo com Macedo (2008), ainda no

    h na literatura dados mais precisos a respeito da prevalncia do bruxismo,

    provavelmente, devido realizao de diferentes metodologias nas pesquisas que

    estudam esse hbito.

    De acordo com a Classificao Internacional dos Distrbios do Sono, o

    bruxismo pode ser descrito como a realizao, em especial durante o sono, de

    movimentos estereotipados e peridicos com ranger e/ou cerrar de dentes,

    provavelmente, decorrentes da contrao rtmica dos msculos masseteres. Alm

    disso, o seu diagnstico no de fcil realizao, j que raramente percebido pelo

    sujeito, manifestando-se por meio de rudos durante o sono, desconforto muscular

    matinal e desgaste dentrio, o qual s ser notado aps avaliao com o dentista

    (THORPY, 1997).

    O bruxismo pode ser caracterizado pelo apertamento ou ranger dos dentes;

    manifestando-se de dia ou de noite e apresentando-se de forma consciente (morder

    lpis, dedos ou o uso contnuo da chupeta) ou inconsciente. Sua etiologia abrange

    fatores locais (contatos prematuros, interferncias oclusais); sistmicos (indivduos

    portadores de asma, rinite, pacientes com alteraes do sistema nervoso central,

    distrbios gastrointestinais ou endcrinos); psicolgicos (estresse, ansiedade);

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Kieser%20JA%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Groeneveld%20HT%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 22

    ocupacionais (prtica de esportes de competio) e/ou fatores hereditrios

    (GUSSON, 1998; BADER & LAVIGNE, 2000).

    Este, na maioria das vezes, diagnosticado por dentistas por meio da anlise

    da arcada dentria, onde se observa, alm do tipo de ocluso, a existncia de

    facetas de desgaste (BIANCHINI, 1998; JUNQUEIRA, 2004).

    Indivduos que realizam bruxismo apresentam sinais e sintomas como

    sensibilidade palpao; sensao de msculos rgidos do masseter e do temporal;

    contrao excessiva e atpica do msculo masseter; cefalia que, provavelmente,

    provocada pela m circulao nos msculos e/ou desequilbrio da atividade

    muscular; desgaste nas facetas dos dentes anteriores; rudo noturno de rangimento;

    aumento do tnus; espasmos musculares; contrao sustentada da musculatura e

    perda dos perodos de repouso muscular (CLARO,1998; ROCHA, 2000; JARDINI,

    2007).

    Ibastera et al. (1998) realizaram um estudo com 24 sujeitos com bruxismo os

    quais realizaram anamnese e eletromiografia de superfcie dos msculos

    mastigatrios, digstricos, esternocleidomastideos e trapzios, na posio de

    repouso. A anlise dos resultados demonstrou que a posio de repouso mantida

    por uma mnima atividade eltrica, especialmente, dos msculos temporais e

    trapzios e, que nestes sujeitos houve um desequilbrio muscular que promoveu um

    predomnio de atividade para o lado esquerdo na situao de repouso.

    Segundo Lacius-Pinto et al., (2000), o bruxismo um hbito oral deletrio de

    causa multifatorial que pode comprometer de diferentes maneiras o sistema

    estomatogntico, musculatura, dentes, periodonto, entre outros. Quando se

    apresenta durante o sono, h predomnio de deslizamento das superfcies oclusais

    dos dentes em contato excntricos e apertamentos dentrios, com aumento da

    tenso por contrao isomtrica dos msculos elevadores da mandbula, sendo que

    nesta segunda situao a hipertrofia muscular mais freqente (DEKON et al.

    2003).

    Relatos da literatura referem que o hbito de ranger os dentes mais

    evidente em pacientes adultos estressados, hiperativos, sujeitos a episdios de

    agressividade ou que apresentam personalidade compulsiva, afetando de maneira

  • 23

    significativa a musculatura mastigatria (LAVIGNE & MANZINI, 2000; BADER &

    LAVIGNE, 2000).

    Dentre as diversas etiologias do bruxismo podem-se encontrar causas

    emocionais, como o estresse, conflitos internos, tenses e ansiedade, assim como

    outros fatores como o uso de fumo, lcool, drogas, ocorrncia de doenas ou

    traumas, uma possvel ligao desse hbito com alteraes do sistema

    dopaminrgico central e fatores de ordem central como os mecanismos

    neurofisiolgicos e neuroqumicos, responsveis pelos movimentos mandibulares

    relacionados mastigao, deglutio e respirao (ROCHA, 2000; LOBBEZOO &

    NAEIJE, 2001; BARRANCA-ENRQUEZ, LARA-PREZ & GONZLEZ-

    DESCHAMPS, 2004; PEREIRA, et al., 2006). Alm disso, a literatura refere que os

    efeitos desencadeados pela existncia do mesmo dependero da natureza,

    intensidade e durao com que ocorrerem (SILVA et al., 2002).

    Sinais como dor ou sensibilidade dentria a estmulos trmicos, mialgia do

    masseter e temporal, cefalia, cervicalgia e sensao de tenso na musculatura

    mastigatria so os principais relatos de sujeitos portadores de bruxismo, bem como

    de sujeitos com alteraes na articulao temporomandibular, havendo, portanto,

    uma possibilidade de relao entre essas duas patologias (ZARB et al., 2000; ALO,

    2003; MIYAKE et al., 2004; NAGAMATSU-SAKAGUCHI et al., 2008; SVENSSON et

    al., 2008). McFarlane et al., (2003), tambm referem uma possvel relao entre

    bruxismo e dor facial, j que o mesmo favorece a ocorrncia de hiperatividade da

    musculatura mastigatria, alm de otalgia e cefalia.

    Pergamalian et al., (2003) estudaram a possvel relao entre desgaste

    dentrio, bruxismo, dor na articulao temporomandibular (ATM) e a severidade da

    dor muscular em 84 sujeitos com desordem temporomandibular (DTM). Os autores

    observaram a ocorrncia de bruxismo ocasional em 32,1% dos sujeitos, em 47,6%

    atividade bruxista foi considerada freqente e em 11,9% dos sujeitos no houve

    relato de bruxismo, alm disso, os resultados do estudo no evidenciaram relao

    entre o bruxismo e dor muscular e, esse teve relao inversamente proporcional

    com a dor na articulao temporomandibular. O estudo ainda evidenciou que as

    variveis, desgaste dentrio, dor muscular e dor na ATM no tiveram relao

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Pergamalian%20A%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 24

    significativa com o bruxismo, concluindo que nesses sujeitos o desgaste dentrio

    no serviu para diferenciar sujeitos com e sem bruxismo; que a intensidade de dor

    muscular no teve relao direta com a freqncia do bruxismo e teve associao

    inversa com a dor na ATM.

    Com relao avaliao de sujeitos com bruxismo, na rea da

    fonoaudiologia, a anlise da musculatura mastigatria ainda realizada,

    basicamente, por meio de palpao muscular, porm sendo esta uma avaliao

    subjetiva e sujeita a controvrsias entre avaliadores, torna-se necessria a incluso

    de procedimentos objetivos que verifiquem a condio da musculatura de sujeitos

    que sofrem de patologias que prejudicam a musculatura (NAGAE & BRZIN, 2004;

    FERLA, 2004), j que a literatura no menciona a existncia de um mtodo com

    validade diagnstica que contemple todos os aspectos prejudicados por este hbito

    (KOYANO et al., 2008). Contudo, o uso da eletromiografia de superfcie na

    fonoaudiologia, por ser um mtodo objetivo, quantificador, no invasivo e indolor,

    enriquece as avaliaes e auxilia no diagnstico, em especial, na rea de

    motricidade orofacial (RAHAL & PIEROTTI, 2004; BIASOTTO, BIASOTTO-

    GONZALEZ & PANHOCA, 2005).

    Soares et al. (2004) avaliaram clinicamente o desempenho mastigatrio de 42

    sujeitos, dos quais 24 apresentavam bruxismo e 18 no apresentavam bruxismo. Os

    autores verificaram que sujeitos com bruxismo apresentaram predominncia de um

    lado na mastigao (79%) contrapondo a 9 (50%) do grupo controle. Alm desse

    dado, foi possvel constatar que 42% dos sujeitos com bruxismo realizavam

    triturao dbil dos alimentos. Concluiu-se ao final do estudo que mastigao dos

    sujeitos com bruxismo diferiu da normal devido ocorrncia de mastigao unilateral

    e tambm pelo resultado inferior da varivel triturao dos alimentos. Os autores

    sugeriram que os efeitos do bruxismo sejam minimizados, a fim de evitar a

    ocorrncia de hipertrofia nos msculos mastigatrios e outros danos ao sistema

    estomatogntico.

    Glaros & Burton (2004) pesquisaram a relao entre o hbito de apertar os

    dentes e o aumento da dor; se a presena desse hbito um indicador de disfuno

    temporomandibular, e se os relatos de dor tm relao com a atividade

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Glaros%20AG%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Burton%20E%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 25

    eletromiogrfica. Quatorze sujeitos sem queixa de dor foram avaliados por meio do

    RDC/TMD, e divididos aleatoriamente em dois grupos. Durante a eletromiografia, um

    grupo foi orientado a realizar apertamento dentrio com forte presso e o outro

    grupo com fraca presso, realizando relaxamento aps esta testagem. Alm disso,

    os sujeitos deveriam ao final de cada sesso de eletromiografia, indicar, por meio de

    uma escala, a sensao de dor nos msculos avaliados. Os autores observaram que

    a dor referida no grupo que realizou apertamento em forte presso dos dentes era

    significativamente mais elevada que no outro grupo; que a atividade eltrica do

    msculo masseter teve relao positiva com os relatos de dor e, tambm, que o

    hbito de apertar os dentes pode aumentar a sensao de dor e auxiliar no

    diagnstico de DTM, ainda que em sujeitos sem queixa aparente de dor.

    Dallanora et al. (2004) avaliaram com eletromiografia de superfcie a atividade

    eltrica no repouso dos msculos masseteres e temporais anteriores de sujeitos

    com bruxismo submetidos a sesses de acupuntura. Os sujeitos com bruxismo

    foram avaliados antes, imediatamente aps a sesso de acupuntura e por cinco dias

    aps a interveno. Os resultados demonstraram reduo da atividade de ambos os

    msculos em 66% a 73% dos sujeitos, na avaliao de 60 horas aps a sesso de

    acupuntura, concluindo que o uso da mesma foi eficaz na diminuio da atividade

    eltrica desses msculos em sujeitos com bruxismo.

    Ferreira et al. (2007), analisaram a atividade eltrica dos msculos

    masseteres de mulheres com bruxismo por meio da eletromiografia de superfcie e

    procuraram observar a eficcia da utilizao de placas miorrelaxantes nas mesmas.

    As coletas foram realizadas nas situaes de ocluso mandibular sem apertar os

    dentes e na mxima contrao voluntria, tanto aps um dia de trabalho, sem a

    utilizao de placas miorrelaxantes, como aps uma noite de sono utilizando a placa

    miorrelaxante. Os autores verificaram diminuio na atividade eltrica dos

    masseteres bilateralmente, em ambas as situaes, aps o uso da placa

    miorrelaxante, sugerindo a utilizao desta como recurso miorrelaxante e, ainda

    associando o aumento da atividade eltrica dessa musculatura com o estresse

    provocado pela rotina do trabalho.

  • 26

    Sujeitos bruxistas foram submetidos a tratamento com Toxina Botulnica

    (BTX-A) e com injees de placebo, a fim de verificar a eficincia desta substncia

    na atenuao da dor miofacial e da hiperatividade presente na musculatura desses

    sujeitos. Aspectos clnicos objetivos (movimentos mandibulares, abertura de boca) e

    subjetivos (dor no repouso, durante a mastigao, e tolerncia ao tratamento) foram

    avaliados ao longo da pesquisa, que teve durao de 6 meses. Os resultados

    demonstraram melhora em ambos os aspectos, em especial no grupo que utilizou a

    toxina, evidenciando a eficcia desta substncia no tratamento da dor miofacial no

    grupo estudado (GUARDA-NARDINI et al., 2008).

    A fim de verificar os efeitos do bruxismo sobre a atividade eltrica da

    musculatura mastigatria, Li et al., (2008) avaliaram por meio de exame clnico e

    eletromiografia, 24 sujeitos com bruxismo e 16 sem bruxismo nas situaes de

    repouso e contrao voluntria mxima. Os autores verificaram que na situao de

    repouso os sujeitos com bruxismo obtiveram resultados significativamente maiores

    que os do grupo sem bruxismo, ocorrendo o contrrio na contrao voluntria

    mxima. Alm disso, puderam observar a ocorrncia mais elevada de assimetria nos

    sujeitos com bruxismo, quando comparados aos sem bruxismo, embora sem

    significncia estatstica.

    Rossetti et al., (2008b) procuraram, em seu estudo, verificar se o bruxismo do

    sono tem relao com a desordem temporomandibular (DTM) em 14 sujeitos com

    DTM e 12 sujeitos sem DTM. Foram realizadas avaliao funcional, questionrio

    clnico e uso de uma escala visual analgica para a palpao muscular. Alm

    dessas avaliaes, os sujeitos tambm foram submetidos a polissonografia e a uma

    segunda avaliao clnica que relacionava o ritmo da atividade muscular e a dor

    matinal nos msculos mastigatrios. Os pesquisadores no encontraram relao

    entre bruxismo do sono e DTM, tampouco com a dor na palpao.

    2.2 Msculos Mastigatrios e Dor

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Rossetti%20LM%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 27

    De acordo com Douglas (1999) e Natalini (2004), a mastigao uma funo

    automtica, aprendida e condicionada que pode ser modificada, sendo considerada

    a funo mais importante para o desenvolvimento do sistema estomatogntico, na

    qual participam estruturas moles e duras da cavidade oral, msculos e a articulao

    temporomandibular, comandadas pelo crtex.

    A musculatura envolvida na mastigao tem sua insero na mandbula e

    composta pelos msculos temporal, masseter e pterigideos medial e lateral. O

    temporal, alm da elevao mandibular, mantm a postura da mandbula no

    repouso, j o masseter faz elevao, lateralizao e protruso da mandbula, alm

    de ser o msculo responsvel pela produo de fora para a realizao da

    mastigao (GONZLEZ, 2000; DOUGLAS, 2002; FELCIO & MORALES, 2003;

    FELCIO, 2004).

    O comportamento eletromiogrfico dos msculos masseteres, temporais e

    supra-hiideos frente mastigao de diferentes materiais (goma de mascar,

    rolinhos de algodo e Parafilm) foi avaliado 10 em sujeitos sem histrico de

    alteraes na musculatura, ou em qualquer uma das estruturas responsveis pela

    mastigao. Aps a anlise dos resultados, a autora pode concluir que rolinhos de

    algodo e Parafilm so materiais bastante teis e indicados para a realizao do

    exame eletromiogrfico por apresentarem menor variao em relao aos demais

    produtos (BIASOTTO, 2000).

    Fazendo uma relao da musculatura mastigatria com as possveis

    alteraes que podem acomet-la, Cattoni (2004) refere que os hbitos orais

    deletrios, em especial bruxismo, briquismo, onicofagia e mordedura de lbios e

    bochechas, so importantes fatores contribuintes para alteraes neuromusculares,

    pois levam a uma demanda funcional atpica dos msculos mastigatrios produzindo

    fadiga, dor e incoordenao dos mesmos e, dessa forma, prejudicam a mastigao.

    Svensson et al. (2004) pesquisaram a associao da dor com a atividade

    neuromuscular, em msculos da mandbula e msculos do pescoo em 19 homens.

    Os sujeitos receberam injees de uma determinada substncia nos msculos

    masseter direito ou no msculo esplnio com o intuito de induzir a dor, e realizaram

    exame eletromiogrfico em trs diferentes posies de cabea, concluindo, ao final

  • 28

    do estudo, entre outros aspectos, que a dor nos msculos da mandbula pode estar

    associada ao aumento de atividade eletromiogrfica nos msculos do pescoo, com

    a cabea e a mandbula na posio de repouso.

    Sujeitos com Classe I e III de Angle foram submetidos avaliao

    eletromiogrfica a fim de verificar e comparar a atividade do masseter e do

    bucinador durante o ciclo mastigatrio de pedaos de po francs. A autora verificou

    ao trmino do estudo, entre outros resultados, que nos sujeitos Classe I, os

    msculos masseter e bucinador apresentam padres de atividade eltrica

    semelhantes, o que no ocorre nos sujeitos Classe III (NAGAE, 2005).

    Vinte sujeitos, diagnosticados portadores de dor miofacial, por meio do

    questionrio Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens

    Temporomandibulares (RDC/TMD), foram submetidos avaliao eletromiogrfica

    dos msculos masseteres e temporais. Os participantes foram divididos em dois

    grupos com 10 sujeitos em cada, sendo que um dos grupos recebeu um programa

    de exerccios mastigatrios de 8 semanas com goma de mascar e o outro grupo,

    apenas incentivo. Os resultados demonstraram que os sujeitos que realizaram os

    exerccios com goma de mascar relataram decrscimo da dor durante o repouso e

    durante o teste de mastigao. Alm disso, o exame eletromiogrfico final mostrou

    um significativo aumento da atividade eltrica dos msculos masseteres no teste de

    isometria neste grupo (GAVISH et al., 2006).

    Shinozaki et al (2006) submeteram 13 sujeitos com DTM laserterapia a fim

    de verificar a eficcia da mesma na reduo da dor e, por meio da avaliao

    eletromiogrfica, puderam observar a atividade eltrica dos msculos masseter e

    temporal na situao de repouso. Os sujeitos realizaram ainda, uma avaliao

    subjetiva da dor. Foram realizadas avaliaes eletromiogrficas antes e aps as

    aplicaes de laser, com intervalos de tempo. Reduo nas atividades eltricas dos

    msculos foi observada aps a aplicao do laser, comprovando que esta tcnica

    auxilia no alvio da dor.

    As caractersticas da atividade eletromiogrfica dos msculos mastigatrios

    (temporal e masseter) foram comparadas entre sujeitos com desordens

    temporomandibulares, com dor nos msculos do pescoo e com um grupo controle,

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Gavish%20A%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVAbstractPlusDrugs2

  • 29

    durante a realizao da prova de contrao voluntria mxima em uma pesquisa

    realizada por Ferrario et al., (2007). As anlises das respostas eletromiogrficas dos

    msculos durante o apertamento demonstraram que os sujeitos com DTM

    apresentaram os menores valores de atividade eltrica (75V nos sujeitos com DTM,

    124 V nos sujeitos com dor no pescoo e 95 V nos controles) e a maior

    assimetria, quando comparados aos outros dois grupos.

    Felcio et al., (2007) estudaram a mastigao e variveis como tempo para

    ingerir, nmero de golpes mastigatrios e tipo mastigatrio (unilateral ou bilateral) de

    20 sujeitos com desordem temporomandibular e 10 controles, os quais foram

    submetidos a anamnese, exame clnico e anlise funcional da ocluso. Os

    resultados do estudo indicaram que os sujeitos com DTM tiveram uma tendncia a

    mastigao unilateral diferindo, dessa forma, do padro fisiolgico esperado,

    ocorrendo o contrrio com a maior parte dos sujeitos normais que realizaram a

    mastigao de modo adequado, ou seja, bilateralmente.

    Rossetti et al., (2008a) utilizaram polissonografia do sono e o questionrio

    Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens Temporomandibulares

    (RDC/TMD), a fim de verificar a ocorrncia de dor miofacial em sujeitos com

    bruxismo do sono. Os autores encontraram associao entre dor miofacial e

    bruxismo e, embora o mesmo seja um fator de risco para a ocorrncia de dor, este

    risco foi considerado baixo na populao estudada. Alm disso, como alguns

    sujeitos relataram a ocorrncia de apertamento dentrio foi realizada a associao

    deste com a dor, sendo que os resultados evidenciaram uma estreita relao entre

    esses aspectos, inclusive demonstrando que o apertamento dentrio um fator de

    risco maior para a dor do que o bruxismo do sono.

    Com o objetivo de verificar a relao entre dor, atividade eletromiogrfica,

    fatores psicolgicos e terapia oclusal com uso de placa oclusal, Van Selms et al.

    (2008) puderam observar, aps um perodo de acompanhamento dos participantes

    do estudo, que mudanas no comportamento emocional/psicolgico foram as que

    tiveram mais relao com as mudanas na dor muscular. Alm disso, os autores

    tambm verificaram que em 3 sujeitos houve associao entre a mudana na

    atividade eletromiogrfica e uso da placa, embora no tenha ocorrido relao entre a

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Ferrario%20VF%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22van%20Selms%20MK%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 30

    mudana na EMG e a dor , j em 2 sujeitos as alteraes na dor muscular estiveram

    associadas ao uso da placa e a mudanas psicolgicas.

    Santana-Mora et al. (2008) avaliaram, atravs de exame eletromiogrfico, os

    msculos masseteres e temporais de 25 mulheres com queixa de Desordem

    Temporomandibular (DTM) direita, 25 com DTM esquerda e 25 mulheres sem

    disfuno durante a contrao mxima. Por meio desse estudo, foi possvel observar

    que as participantes com DTM apresentavam atividade eletromiogrfica inferior as

    do grupo sem disfuno, evidenciando ainda, que no grupo com DTM os temporais

    estavam mais ativos que os masseteres. Alm disso, atravs do uso de um ndice de

    assimetria, a pesquisa pode evidenciar que as mulheres com DTM direita

    preferiam ativar o lado esquerdo e vice-versa. Os autores acreditam que essa

    reduo na atividade eletromiogrfica possa ser vista como um mecanismo de

    proteo criado pelo sistema neuromuscular.

    Rodrigues-Bigaton et al. (2008) avaliaram por meio de eletromiografia os

    msculos masseter e temporal, bilateralmente, em 31 sujeitos com DTM e 15

    sujeitos clinicamente normais nas situaes de repouso e no mximo apertamento

    dentrio. Os resultados evidenciaram um aumento da atividade eltrica no repouso

    nos sujeitos com DTM em relao aos controles, porm na situao de apertamento

    mximo de dentes no foram constatadas diferenas entre os grupos. Os autores

    so cautelosos ao reconhecer que, ainda que este aumento de atividade tenha sido

    evidenciado, o mesmo no deve ser considerado como hiperatividade muscular,

    mas como um sinal sugestivo da presena de DTM.

    2.3 Eletromiografia

    A eletromiografia de superfcie consiste no registro e estudo das propriedades

    eltricas intrnsecas dos msculos esquelticos, pois todo msculo ao ser contrado,

    sofre uma srie de transformaes mecnicas, estruturais, qumicas e eltricas. As

    descargas eltricas produzidas pela contrao muscular devem-se as mudanas de

    polarizao na membrana que envolve a fibra muscular. O conjunto de descargas

  • 31

    eltricas das diferentes fibras que compem uma unidade motora constitui o

    potencial de ao que pode ser captado, amplificado e registrado pelo

    eletromigrafo (QUIRCH, 1965).

    Lous, Sheikholeslam & Moller (1970) avaliaram eletromiograficamente os

    msculos masseteres e a poro anterior dos msculos temporais em sujeitos com

    DTM e sem alteraes durante o repouso e verificaram um aumento significativo da

    atividade eltrica destes msculos nos disfuncionados, sendo este aumento mais

    evidente no msculo temporal, regio esta relacionada ao maior relato de dor.

    A realizao de uma adequada avaliao eletromiogrfica depende de alguns

    fatores como, por exemplo, eletrodos sensveis que capturem os potenciais eltricos

    do msculo, um amplificador que processe o sinal eltrico e um decodificador que

    permita a visualizao grfica do sinal, a fim de que a completa anlise dos dados

    seja executada (SODERBERG & COOK,1984; PORTNEY, 1993).

    O tipo de eletrodo empregado na avaliao depende do tipo de musculatura e

    objetivo do estudo que est sendo realizado. Eletrodos de superfcie so utilizados

    na avaliao de grandes msculos, ou grupos musculares superficiais. No so

    invasivos e nocivos, alm de serem de fcil aplicao e mais confortveis para o

    sujeito avaliado (SODERBERG & COOK, 1984; PORTNEY, 1993; CRAM, KASMAM

    & HOLTZ, 1998), porm so suscetveis a atenuao causada pelo tecido

    subcutneo e ao crosstalk (atividade eltrica oriunda de outros msculos ou grupos

    musculares). indicado, tambm, o uso de um eletrodo terra, a fim de evitar

    interferncias do rudo eltrico externo, que pode ser causado por outros aparelhos.

    Este, geralmente, posicionado sobre um osso (SODERBERG & COOK, 1984;

    PORTNEY, 1993).

    A eletromiografia de superfcie uma avaliao objetiva, que vem sendo

    utilizada, ao longo dos anos, para avaliar grupos musculares como o da mastigao,

    em diferentes populaes, a fim de realizar uma interveno mais efetiva e

    adequada ao padro eltrico que estes msculos apresentarem, j que este um

    mtodo no invasivo, que consegue captar e registrar as mudanas na cinesiologia

    da musculatura (CHRISTENSEN & RADUE, 1985; FERRARIO et al., 1993; FERLA,

    2004; BRZIN, 2004; JARDINI, RUIZ & MOYSS, 2006), podendo ser conceituado,

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Jardini%20RS%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 32

    de acordo com Basmaijan & De Luca (1985), como o estudo dos sinais eltricos que

    os msculos liberam durante uma funo.

    Sendo o bruxismo um hbito que pode causar danos a musculatura

    mastigatria, o uso da eletromiografia de superfcie em sujeitos portadores do

    mesmo bastante indicado, uma vez que, geralmente, o bruxismo provoca

    hiperatividade muscular, a qual leva fadiga e espasmo, acarretando dor nos

    grupos musculares envolvidos na mastigao (LASKIN & BLOCK, 1986).

    Esta considerada uma avaliao objetiva, pois realiza a coleta da atividade

    eltrica de msculos, atravs de eletrodos conectados a equipamentos que realizam

    amplificao e registro dos sinais (LEHMKUHL & SMITH, 1989; DAHLSTRM,

    1989), geralmente sendo posicionados na regio de maior volume de massa

    muscular (FERRARIO et al., 1993). De acordo com a literatura, se tratando de

    msculos mastigatrios e para sujeitos normais, espera-se que o registro desses

    sinais seja o mais simtrico e fisiolgico possvel (MCCARROL & NAEIJE, 1989),

    sendo considerado dentro dos nveis de normalidade, para o repouso, um valor de

    atividade eltrica em torno de 5V (CRAM, KASMAN & HOLTZ, 1998).

    Ferrario et al. (1993) ao estudar homens e mulheres saudveis verificou que

    na situao de repouso estes sujeitos tinham potenciais de atividade semelhantes

    com valores de aproximadamente 1.9 V no temporal e 1.4 V no masseter, contudo

    na prova de contrao voluntria mxima, os valores de atividade eltrica nos

    homens foram superiores aos apresentados pelas mulheres, sendo 181.9V no

    temporal e 216.2 V no masseter nos homens e 161.7 V no temporal e 156.8 V no

    masseter nas mulheres.

    Os cuidados para que se realize uma adequada coleta do sinal

    eletromiogrfico de suma importncia, sendo cada vez mais freqente o emprego

    do processo de normalizao dos dados, pelo fato deste permitir a reprodutibilidade

    dos registros e reduzir a variabilidade das informaes, para que possa haver

    comparao dos resultados entre diferentes indivduos (KNUTSON et al., 1994;

    ERVILHA, DUARTE & AMADIO, 1998; FERLA, 2004; CORRA & BRZIN, 2007),

    visto que a eletromiografia de superfcie avalia no apenas a atividade dos msculos

    isoladamente, mas a atividade dos diferentes grupos musculares, como o caso dos

  • 33

    msculos envolvidos na mastigao. Entretanto, conforme De Luca (1997), a

    normalizao pode vir a suprimir dados que seriam essenciais para distinguir

    sujeitos normais de sujeitos patolgicos.

    A eletromiografia de superfcie relatada na literatura como uma excelente

    forma de avaliar, de maneira no-invasiva, os processos bioqumicos e fisiolgicos

    dos msculos esquelticos. Entretanto, possui limitaes, tais como colocao dos

    eletrodos, caractersticas fisiolgicas, anatmicas e bioqumicas do msculo

    estudado, tipo de fibra muscular ativada, espessura da pele assim como os cuidados

    com o ambiente aonde ir se realizar o exame, como, por exemplo, revestir o piso

    com material isolante, desligar aparelhos eltricos, cuidar o horrio das coletas (DE

    LUCA 1997, SAKAI, 2006). Alm disso, com o intuito de diminuir estas limitaes,

    Ferla, Silva & Corra, (2008) recomendam treinar e esclarecer o sujeito que ser

    avaliado sobre todos os procedimentos aos quais ser submetido e realizar, pelo

    menos 3 coletas para cada situao avaliada para assegurar a fidedignidade do

    exame.

    Portanto, necessrio ter um cuidado especial durante a avaliao

    eletromiogrfica para que a mesma tenha validade, rigor cientfico e seja livre de

    interferncias que, posteriormente dificultem a sua anlise, como, por exemplo, a

    preparao prvia da pele, a fixao dos eletrodos e a posio do paciente

    (HERMENS et al., 2000).

    A avaliao eletromiogrfica dos msculos da mastigao muito importante

    para complementar o diagnstico odontolgico, favorecendo a escolha da

    interveno mais adequada, bem como evitando a recidiva do problema e, sendo o

    bruxismo um problema, na maioria das vezes, diagnosticado pelos dentistas, a

    eletromiografia de superfcie vem a contribuir com este diagnstico, no sentido de

    esclarecer estes profissionais sobre as condies da musculatura mastigatria, a

    qual muitas vezes prejudicada por esse hbito (VALENTINO, 2002; SOUSA,

    2004).

    Com o intuito de corroborar com essa informao, em estudo realizado por

    Turcio et al. (2002), foi observado que, em sujeitos que apresentavam

    comprometimento da musculatura mastigatria, limitao da funo mandibular e

  • 34

    dor severa, houve diminuio da atividade eltrica dos msculos temporais, e

    aumento da atividade do masseter na mastigao e contrao mxima aps

    tratamento com placa estabilizadora, embora sem significncia estatstica. Os

    autores referiram que esses sujeitos, geralmente, so estressados, o que favorece a

    realizao de freqentes contraes isomtricas nesses msculos.

    Ao analisar a postura, a atividade eltrica e a prevalncia de bruxismo em

    diferentes classes oclusais, Gadotti, (2003) pode verificar, por meio de valores de

    RMS bruto, que os sujeitos com bruxismo e portadores de classe II foram os que

    tiveram maior atividade eltrica dos temporais e masseteres. Ainda nesse mesmo

    estudo, constatou-se que tanto nos sujeitos com bruxismo, como nos sem bruxismo

    os portadores de classe I foram os que tiveram padro eletromiogrfico mais

    funcional, ou seja, atividade do temporal menor que do masseter.

    Ressalta-se que a avaliao eletromiogrfica tem sido realizada,

    principalmente, na posio de repouso mandibular, na mastigao e na isometria, a

    fim de observar o padro muscular apresentado em sujeitos com diferentes

    patologias (PEDRONI, BORINI & BRZIN, 2004; FERLA, SILVA & CORRA, 2008).

    Rahal (2003) referiu que a eletromiografia, embora estudada desde os

    primrdios do sculo XIX, de emprego recente na fonoaudiologia, sendo que sua

    utilizao tem como objetivo auxiliar no diagnstico e teraputica dos distrbios

    motores orofaciais e nas alteraes de respirao, mastigao, deglutio e fala.

    Como a avaliao clinica subjetiva, existe, na fonoaudiologia, certa

    dificuldade em estabelecer parmetros que facilitem o diagnstico. Em razo disto,

    exames quantificadores como a eletromiografia, que mensuram os potenciais

    eltricos emanados pelos msculos no momento da contrao muscular, tm sido

    empregados na prtica clinica, a fim de complementar o diagnstico e possibilitar o

    estabelecimento de correlaes entre os achados clnicos e eletromiogrficos

    durante sua avaliao (RAHAL & PIEROTTI, 2004).

    Na fonoaudiologia clnica, a interpretao dos achados eletromiogrficos,

    freqentemente realizada por meio do sinal bruto, tem sido til para visualizar,

    qualitativamente, o tamanho e a forma do potencial de ao muscular, permitindo

    uma anlise minuciosa das caractersticas e do padro da ao exercido pelos

  • 35

    msculos (NAGAE & BRZIN, 2004; NAGAE, 2005). Em alguns trabalhos os

    achados eletromiogrficos so analisados no domnio da amplitude por meio do

    clculo do RMS (root mean square), sem utilizao do procedimento de

    normalizao que poderia suprimir distines do sinal entre sujeitos normais e com

    patologias (RIBEIRO, MARCHIORI & SILVA, 2002).

    Segundo Jardini (2005), uma avaliao acurada de todos os fatores

    envolvidos nos aspectos de forma e funes orofaciais deve incluir os potenciais

    neuromusculares que o sujeito apresenta, avaliados pela eletromiografia. No

    entanto, sabe-se que os mtodos clnicos atuais utilizados para avaliao da face

    so baseados em anlises qualitativas, como palpao, resistncia, prova de

    funo, observao da forma, potncia trao, sinais de envelhecimento e, mais

    atualmente, medies com paqumetro.

    Concordando com a descrio acima, Oncis, Freire & Marchesan (2006)

    realizaram um estudo eletromiogrfico dos msculos mastigatrios durante o

    repouso e a mastigao, alm de rastrearem a movimentao mandibular nos ciclos

    mastigatrios por meio da eletrognatografia em 26 sujeitos saudveis. Os autores

    verificaram que houve uma diferena entre a atividade eltrica dos msculos no

    repouso, estando o temporal mais ativo (1,28 v masseter; 1,94 v temporal),

    observaram ainda que em 100% da amostra houve preferncia mastigatria, sendo

    que 65,4% dos sujeitos realizam mastigao direita e 34,6% esquerda. Os

    autores concluram que, mesmo em sujeitos normais pode haver preferncia por um

    lado mastigatrio.

    Quarenta sujeitos, divididos em 12 normais e 28 com DTM, foram avaliados

    por meio de eletromiografia de superfcie, com a finalidade de verificar o

    comportamento dos msculos mastigatrios (masseter e temporal) durante as

    situaes de isometria e isotonia. Alm dessa avaliao, os sujeitos responderam o

    questionrio Critrios diagnsticos de pesquisa para as Desordens

    Temporomandibulares (RDC-DTM), que pode divid-los em 3 grupos de acordo com

    as caractersticas da DTM sendo, tambm, submetidos a exame clnico. Os

    resultados do estudo evidenciaram que, na maioria dos sujeitos sintomticos, a

    atividade eltrica dos temporais foi predominante em relao dos masseteres em

  • 36

    ambas as situaes de avaliao, ocorrendo o contrrio nos sujeitos normais. Os

    autores puderam concluir que pode haver alteraes no padro eletromiogrfico dos

    indivduos com DTM em relao aos assintomticos (TOSATO & CARIA, 2007).

  • 37

    3 MATERIAL E MTODO

    A realizao deste estudo preenche as normas e diretrizes do Conselho

    Nacional de Sade, resoluo 196/1996 (BRASIL Resoluo MS/CNS/CNEP n.

    196/96 de 10 de outubro de 1996), alm de ter sido aprovado pelo Comit de tica

    em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria CEP/UFSM (ANEXO A) sob

    o protocolo de nmero 0172.0.0243.000-07.

    Os sujeitos que fizeram parte deste estudo foram jovens e adultos, com

    idades entre 19 e 51 anos, com e sem bruxismo, de ambos os sexos e sem distino

    de raas. Estes foram provenientes de encaminhamentos de profissionais da rea

    da fonoaudiologia e da fisioterapia, bem como sujeitos que procuraram a

    pesquisadora por iniciativa prpria, aps a leitura de anncios realizados em jornais

    da cidade de Santa Maria - RS, bem como na mdia eletrnica no site da UFSM.

    A escolha por jovens e adultos foi efetuada levando-se em considerao que

    estes so momentos do desenvolvimento humano no qual as trocas dentrias j

    ocorreram e, tambm, devido maior incidncia de estresse que, conforme relatos

    da literatura (BARRANCA-ENRQUEZ, LARA-PREZ, GONZLEZ-DESCHAMPS,

    2004; PEREIRA, et al., 2006) uma provvel etiologia do bruxismo. Alm disso,

    Attanasio (1997) referiu que o bruxismo muito incidente, atingindo de forma

    elevada a faixa etria entre 10 e 40 anos.

    Antes de dar incio s avaliaes, que foram realizadas no Servio de

    Atendimento Fonoaudiolgico (SAF UFSM), mediante autorizao da diretora do

    mesmo (APENDICE A), todos os sujeitos foram esclarecidos verbalmente sobre os

    procedimentos e, aos que estiveram de acordo, foi solicitada a autorizao para

    participao na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    (APENDICE B).

    A amostra do estudo foi composta por 31 sujeitos, dos quais 20 pertenciam ao

    Grupo Estudo (GE) e 11 ao Grupo Controle (GC). O GE era composto por 4 homens

    (20%) e 16 mulheres (80%), com idades entre 19 e 51 anos. O GC contou com 1

  • 38

    sujeito do sexo masculino (9,09%) e 10 sujeitos do sexo feminino (90,91%) com

    idades entre 22 e 27 anos.

    Estes respeitaram os critrios de incluso pr-estabelecidos pela

    pesquisadora, sendo que para participarem do GE os sujeitos deveriam apresentar

    queixa de bruxismo (ranger ou apertar os dentes; relato de hipersensibilidade na

    musculatura da mandbula durante o dia, no repouso e/ou durante a mastigao,

    evidenciada por dor e/ou desconforto ao toque, a diferentes temperaturas ou durante

    as refeies, e desgaste dentrio) presente por um perodo de, no mnimo, 6 meses

    (GADOTTI, 2003), serem jovens e/ou adultos, no apresentarem falhas dentrias e

    terem referido dor na face, a qual foi confirmada pelo instrumento Critrios de

    Diagnstico para Pesquisa de Desordens Temporomandibulares (RDC/TMD)

    (ANEXO B). Para participarem do GC, os sujeitos no poderiam apresentar queixa

    de bruxismo ou dor facial, deveriam ser jovens e/ou adultos, no apresentarem

    falhas dentrias e responderem de forma negativa questo nmero 3 do RDC, a

    qual confirmava a ausncia de dor facial nos ltimos meses.

    Os critrios de excluso adotados foram aplicados tanto para o GC, quanto ao

    GE e foram os seguintes: possuir doenas que pudessem comprometer a

    musculatura esqueltica, tais como distrofia muscular, miopatias e mialgia, ou

    apresentar sinais evidentes de comprometimento neurolgico que interferissem na

    compreenso dos procedimentos e/ou na atividade muscular.

    O instrumento Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens

    Temporomandibulares (RDC/TMD) (ANEXO B) um mtodo composto por dois

    eixos. No primeiro (Eixo I) avaliam-se questes fsicas das desordens musculares

    e/ou articulares, como a dor palpao, abertura de boca, excurses da mandbula,

    entre outros aspectos, no segundo eixo (Eixo II) so investigadas questes

    comportamentais, psicolgicos e psicossociais, contemplando, desse modo, no

    apenas os aspectos clnicos, mas tambm os fatores emocionais os quais so

    mencionados como etiologia de patologias que danificam a musculatura mastigatria

    (DWORKIN & LERESCHE,1992). Esta avaliao foi realizada pela pesquisadora.

    A escolha por esta avaliao, tambm, considerou o fato de os sintomas da

    DTM se assemelharem aos do bruxismo (ZARB et al, 2000; MIYAKE et al., 2004;

  • 39

    NAGAMATSU-SAKAGUCHI, et al., 2008; SVENSSON et al., 2008), alm deste ser

    um instrumento de qualidade e confiabilidade que permitiu identificar, em viglia,

    alguns sinais e sintomas deste hbito, j que suas manifestaes so mais

    evidentes durante o sono. Respostas positivas as questes 15c (Algum lhe disse,

    ou voc nota, se voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares quando

    dorme a noite?), 15d (Durante o dia, voc range os seus dentes ou aperta os seus

    maxilares?) e 15e (Voc sente dor ou rigidez nos seus maxilares quando acorda de

    manh?) do RDC (ANEXO B) auxiliaram no diagnstico, sugerindo a presena de

    bruxismo no sujeito avaliado.

    Um aspecto relevante, pertencente ao exame fsico (Eixo I), que tambm

    serviu para ratificar o diagnstico de bruxismo, foi palpao muscular realizada nos

    msculos temporal (posterior, mdio e anterior), masseter (superior, mdio e

    inferior), regio mandibular posterior e submandibular, regies adjacentes a ATM e

    musculatura intra-oral, apenas dos sujeitos pertencentes ao GE, j que a dor

    muscular na regio da mandbula e suas proximidades foi uma das queixas,

    freqentemente, relatada pelos sujeitos deste estudo.

    Nesta etapa, os sujeitos foram orientados a responder, de maneira subjetiva,

    a sensao que a palpao realizada pela pesquisadora provocou, classificando-a

    em ausente (0), dor leve (1), moderada (2) e severa (3), para cada msculo e lado

    palpado. Esta foi realizada com as polpas dos dedos indicadores e mdios, com

    presso em forte intensidade.

    Aps a avaliao do RDC, os sujeitos foram submetidos a avaliaes

    fonoaudiolgica, odontolgica e eletromiogrfica.

    A avaliao fonoaudiolgica, foi composta por uma breve anamnese e exame

    do sistema estomatogntico (SE). A anamnese investigou antecedentes

    fisiopatolgicos, presena de outros hbitos, realizao de tratamentos

    odontolgicos ou fonoaudiolgicos prvios, bem como estado de sade geral do

    sujeito. O exame do SE avaliou de forma intra e extra-oral os rgos do SE quanto

    aos aspectos de tnus, sensibilidade e mobilidade; assim como, as funes de

    mastigao, suco, deglutio e respirao, tendo como base o protocolo para

    avaliao utilizado no SAF UFSM (ANEXO C). Apesar de no ser o foco deste

    estudo, a avaliao fonoaudiolgica dos rgos e funes do SE foi realizada para

    javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');

  • 40

    auxiliar no diagnstico de bruxismo, j que nesta investigou-se o histrico do sujeito,

    alm de visualizao e palpao muscular e avaliao das funes do SE, da qual a

    mastigao faz parte.

    A avaliao odontolgica foi realizada por um cirurgio dentista, colaborador

    do estudo e com experincia na rea, com o propsito de confirmar a presena e a

    ausncia do bruxismo, j que tanto o GE quanto o GC a realizaram. Nesta verificou-

    se, por meio da anlise da arcada dentria, a ocorrncia de desgaste dentrio e a

    ocluso (BIANCHINI, 1998; JUNQUEIRA, 2004), constatando que dos 20 sujeitos do

    GE, 3 no apresentavam facetas de desgaste nos dentes, realizando apenas

    apertamento dentrio. No foi utilizado protocolo especfico para esta avaliao e os

    dados foram armazenados em um quadro elaborado pela pesquisadora (APENDICE

    C).

    O exame eletromiogrfico foi realizado nas situaes de repouso, mxima

    intercuspidao e mastigao habitual ritmada, com o intuito de obter os registros da

    atividade eltrica da parte superficial do msculo masseter e das fibras anteriores do

    msculo temporal. Para a realizao desta avaliao o sujeito foi treinado e

    esclarecido sobre a posio e as atividades que deveria realizar durante o exame,

    conforme recomenda Ferla, Silva & Corra (2008).

    Previamente realizao do exame, foi efetuada a higiene da pele do rosto

    (HERMES et. al, 2000) com lcool etlico 70% onde foram posicionados os eletrodos

    de superfcie. Para evitar quaisquer interferncias, alm do uso de um eletrodo de

    referncia (terra) sobre a regio do osso frontal dos sujeitos, foram desligados todos

    os aparelhos eletro-eletrnicos e fontes de luz que pudessem gerar

    interferncia/rudo ao sinal eletromiogrfico, bem como revestiu-se com borracha o

    piso e a mesa onde o aparelho encontrava-se no local da realizao das coletas (DE

    LUCA, 1997; SAKAI,2006).

    O equipamento utilizado para a realizao do exame eletromiogrfico foi o

    modelo EMG 1200 (Lynx Tecnologia ltda.), composto de 8 canais de entrada

    (FIGURA 1), placa conversora A/D de 16 bits e faixa de entrada de +/-2V. Utilizou-se

    o filtro do tipo Butterworth, freqncia de corte passa-alta de 10Hz e passa-baixa

  • 41

    de 1000Hz, freqncia de amostragem de 2KHz, 2048 amostras/canal e tempo

    de amostragem de 1024s.

    A captao dos sinais foi realizada por meio de pr-amplificadores ativos

    (FIGURA 1) com entrada diferencial (PA1020) da Lynx Eletronics Ltda conectados a

    eletrodos duplos de superfcie de Ag/AgCl (SODERBERG & COOK, 1984;

    PORTNEY, 1993) da marca Hal Ind. e Com (FIGURA 1). Os eletrodos de

    superfcie utilizados apresentavam 10 mm de dimetro e 2 mm de superfcie de

    contato, com distncia fixa de 20 mm entre os mesmos, eram descartveis, auto-

    adesivos e j possuam na sua superfcie inferior o gel condutor. Estes foram

    posicionados na regio de maior volume e massa do msculo, aps solicitao da

    realizao de uma contrao mxima pelo sujeito, a fim de que houvesse uma

    captao mais efetiva do sinal (FERRARIO et al., 1993). O ganho foi de 20 vezes, a

    impedncia de entrada de 10 G e a taxa de rejeio de modo comum de > 100 dB.

    Figura 1 Conexo para oito canais (A), pr-amplificadores ativos (B), eletromigrafo (C),

    eletrodos duplos de superfcie(D)

    Para a coleta e anlise dos sinais eletromiogrficos foram usados os

    Softwares BioInspector 1.8. (Lynx) e AqDAnalysis 7.0 (Lynx), respectivamente. Os

  • 42

    dados foram salvos em computador porttil com bateria prpria para evitar

    interferncias; processados em RMS (raiz quadrada mdia) j que, de acordo com

    Basmajian & De Luca (1985) este representa o melhor mtodo, pois contempla as

    alteraes fisiolgicas do sinal eletromiogrfico, reflete o nmero, a freqncia de

    disparo e a forma dos potenciais de ao das unidades motoras ativas, permitindo

    ainda uma anlise da amplitude do sinal eletromiogrfico; e expressos em V

    (microvolts).

    As coletas foram realizadas com os sujeitos sentados confortavelmente,

    cabea orientada de acordo com o Plano Frankfurt, com o tronco ereto, ps

    apoiados no solo, braos apoiados sobre os membros inferiores e com olhos

    fechados, a fim de evitar a interferncia da piscada no exame. Foram realizadas 3

    coletas para cada uma das situaes estudadas (FERLA,SILVA & CORRA 2008),

    a fim de excluir possveis indues de resultados, bem como para assegurar a

    fidedignidade do exame (DE LUCA, 1997).

    Com relao s provas realizadas, conforme sugeriu Ferla (2004), para a

    prova de repouso, o padro adotado foi o sujeito estar sentado em posio habitual

    de lbios e mandbula, sem contato entre as arcadas dentrias, e permanecendo

    assim por 10 segundos com os olhos fechados; para a prova de mxima

    intercuspidao o sujeito deveria contrair a musculatura mastigatria bilateralmente

    e simultaneamente, com mxima intercuspidao dentria, mordendo com fora um

    pedao de Parafilm (dobrado em 5 partes) (BIASOTTO, 2000; BIASOTTO-

    GONZALEZ, BRZIN, 2004; BERRETIN-FELIX, et al., 2005) permanecendo assim

    por 5 segundos, sob o comando verbal da pesquisadora aperta, aperta, aperta. A

    mastigao habitual ritmada foi avaliada considerando como padro o sujeito

    sentado realizando movimento de mastigao habitual em ritmo definido por

    metrnomo (40 bpm), por 10 segundos. Para essa coleta foi utilizado po francs

    cortado em pedaos com aproximadamente 2x1x1 cm (NAGAE, 2005) e metrnomo

    digital da marca Cherub Tipo WSM 001.

    A escolha dos melhores sinais levou em considerao a configurao do

    mesmo, ou seja, os que apresentassem menos evidncias de rudo, bem como o

    histograma mais harmnico e conexo ao sinal. Estes foram analisados com o auxlio

  • 43

    do software AqDAnalysis 7.0 (Lynx), quantificados em RMS (raiz quadrada mdia) e

    expressos em V (microvolts). Optou-se pela anlise do sinal em RMS sem

    normalizao, pois embora esta seja recomendada, j que permite a

    reprodutibilidade dos registros e reduz a variabilidade de informaes (KNUTSON et

    al., 1994; ERVILHA, DUARTE & AMADIO, 1998; FERLA, 2004), a sua utilizao

    pode suprimir distines de dados quando se compara sujeitos normais e

    patolgicos (DE LUCCA, 1997; RIBEIRO, MARCHOIRI & SILVA, 2002).

  • 44

    4 RELAO ENTRE DOR E ATIVIDADE ELTRICA DOS

    MSCULOS MASTIGATRIOS NA PRESENA DE BRUXISMO

    4.1 Resumo

    Objetivo: Mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a

    graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com

    bruxismo. Mtodos: Todos os sujeitos do estudo foram selecionados aps avaliao por meio

    do instrumento Critrios de Diagnstico em Pesquisa para Desordens Temporomandibulares

    (RDC/TMD) alm de avaliao odontolgica e fonoaudiolgica. A atividade eltrica dos

    msculos mastigatrios foi avaliada por meio da eletromiografia de superfcie nas situaes

    de repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada. Para a coleta e anlise dos

    sinais eletromiogrficos foram usados os Software BioInspector, 1.8 (Lynx), e software

    AqDAnalysis. 7.0 (Lynx), respectivamente, quantificados em RMS (raiz quadrada mdia) e

    expressos em V (microvolts). A anlise estatstica dos dados foi realizada atravs do

    Coeficiente de Spearman com significncia de p

  • 45

    fraca e sem significncia estatstica, indicando que a dor no consistiu um fator prejudicial ao

    desempenho da atividade eltrica dos msculos estudados nas situaes avaliadas.

    Descritores: Bruxismo, Eletromiografia, Msculos Mastigatrios, Dor facial.

    4.2 Abstract

    Objective: To measure the electric activity of the masseter and temporal muscles,to verify

    the graduation of the pain to the palpation and your correlation with the electric activity in

    subjects with bruxism. Methods: All the participants were examined according to the

    Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) instrument

    combined with the dentistry and the speech pathology evaluation. The electric activity in

    the masticatory muscles was measured based on surface electromyography, during the rest,

    maximum intercuspation and during usual mastication rhythmic. In the collection and

    analysis of the electromyography signals, it was used BioInspector, 1.8

    (Lynx

    ), and

    AqDAnalysis, 7.0 (Lynx

    ), and the data were quantified on RMS (root mean square) and

    expressed in V (microvolts). The statistic analysis was based on the Spearman

    Coefficient with a significance level of 5%. Results: The results showed that the EMG

    pattern of the studied muscles was presented next to the levels to normality in the rest,

    maximum intercuspation and in the rhythmic habitual mastication. Most of the subject

    with bruxism presented complaint of some pain, being more evidenced the severe degree

    and mainly in the masseter muscle. There was not evidenced statistically significant

    correlation between pain and activity EMG, once this last one was next the normality

    levels. Conclusion: The analysis of the results indicated that in spite of the presence of

    the pain in the masticatory muscles, most of the correlations between pain and EMG were

  • 46

    weak and without statistics significance, indicating that pain did not intervene with the

    performance of the electric activity of the muscles studied in the evaluated situations.

    Key words: Bruxism, Electromyography, Masticatory Muscles, Facial Pain.

    4.3 Introduo

    O bruxismo um termo que deriva da palavra grega brychein e pode ser descrito como

    um hbito consciente ou inconsciente de ranger e/ou apertar os dentes, envolvendo

    movimentos rtmicos semelhantes aos realizados durante a mastigao, porm, por no ser

    funcional, causa dor e fadiga muscular, alm de danos aos dentes e periodonto, podendo ser

    realizado durante o dia ou noite1,2

    .

    Sua etiologia abrange fatores locais, sistmicos, psicolgicos, ocupacionais e/ou

    fatores hereditrios,3,4

    alm de hbitos como o uso de fumo, lcool, drogas; doenas e

    traumas, e uma possvel ligao com alteraes do sistema dopaminrgico central5. Quanto

    prevalncia do bruxismo, at o momento, no existe na literatura6 um consenso a este

    respeito, embora haja referncia de que o mesmo atinge de 5 a 20 % da populao em alguma

    fase da vida sendo, freqentemente, associado a sinais de ansiedade, estresse e transtornos do

    sono7.

    Os sinais e sintomas mais expressivos do bruxismo so sensibilidade ao toque,

    sensao de rigidez nos msculos mastigatrios, contrao excessiva e atpica do masseter,

    cefalia que, provavelmente, provocada pela m circulao no msculo temporal, desgaste

    nas facetas dos dentes anteriores e rudo noturno. Alm disso, a musculatura mastigatria

    largamente afetada com aumento do tnus, espasmos, contrao sustentada e perda dos

    perodos de repouso muscular8-10

    .

  • 47

    A literatura refere que o bruxismo est vinculado etiologia da dor facial11

    , estando de

    acordo com as principais queixas de sujeitos com bruxismo que so mialgia do masseter e

    temporal, cefalia, cervicalgia, e dor ou hipersensibilidade dentria a estmulos trmicos12-15

    .

    A fonoaudiologia uma das cincias que contribui para o tratamento do bruxismo

    favorecendo, principalmente o relaxamento da musculatura envolvida e melhorando o padro

    mastigatrio. Porm, at o momento no h nessa rea, ao menos como rotina, a realizao de

    avaliaes que considerem todos os aspectos que devem ser investigados nos sujeitos que

    realizam este hbito.

    Com o intuito de contemplar estes aspectos, embora ainda de modo subjetivo, a

    aplicao de mtodos como o Critrio de Diagnstico em Pesquisa para Desordens

    Temporomandibulares (RDC/TMD)16

    tem sido um importante recurso auxiliar de diagnstico,

    pois permite identificar, em viglia, alguns sinais e sintomas do bruxismo.

    Entretanto, como a avaliao clnica baseia-se na anlise qualitativa, acredita-se que a

    incluso de mtodos objetivos, como a eletromiografia de superfcie, na rotina de

    procedimentos de avaliao, vem a contribuir de forma mais efetiva para o diagnstico, j que

    possibilita a anlise da atividade eltrica dos msculos envolvidos 17,18

    .

    Baseando-se nestas colocaes o presente estudo teve como objetivo mensurar a

    atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a graduao de dor palpao e

    sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com bruxismo.

    4.4 Materiais e Mtodos

    A realizao deste estudo preenche as normas e diretrizes do Conselho Nacional de

    Sade, resoluo 196/1996 (BRASIL Resoluo MS/CNS/CNEP n. 196/96 de 10 de outubro

  • 48

    de 1996), alm de ter sido aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da instituio

    no qual foi desenvolvido, sob o protocolo de nmero 0172.0.0243.000-07, sendo que

    participaram deste estudo somente os sujeitos que estiveram de acordo com as explicaes

    prestadas pela pesquisadora sobre os procedimentos e que assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido.

    Assim, fizeram parte desta pesquisa, 20 sujeitos com bruxismo, sendo 4 do sexo

    masculino (20%) e 16 do sexo feminino (80%), na faixa etria entre 19 e 51 anos (mdia de

    idade de 26,90 anos), de ambos os sexos e sem distino de raas, os quais deveriam

    apresentar queixa de dor facial, ranger e/ou apertar os dentes e desgaste ou apertamento

    dentrio.

    A escolha por jovens e adultos levou em considerao relatos de uma significativa

    ocorrncia desse hbito na populao, em especial na faixa etria entre 10 e 40 anos19

    , alm

    de uma tendncia maior ao estresse nessa fase da vida que, conforme a literatura20,

    considerado uma etiologia do bruxismo.

    Foram excludos sujeitos que apresentassem doenas que danificam a musculatura

    esqueltica, que possussem sinais evidentes de comprometimento neurolgico que pudessem

    interferir na compreenso dos procedimentos, bem como na atividade muscular ou que

    tivessem falhas dentrias.

    Aqueles que preencheram os critrios estabelecidos foram submetidos, primeiramente,

    a uma avaliao pelo instrumento Critrio de Diagnstico em Pesquisa para Desordens

    Temporomandibulares (RDC/TMD)16

    , que um mtodo padronizado, utilizado como auxiliar

    no diagnstico da DTM, o qual foi realizado pela pesquisadora.

    A escolha desta avaliao foi baseada no fato de que os sintomas da DTM

  • 49

    assemelham-se aos do bruxismo21,13-15

    , alm de que, este um instrumento de qualidade e

    confiabilidade que permitiu identificar em viglia alguns sinais e sintomas deste hbito, j que

    as suas manifestaes so mais evidentes durante o sono. Este constitudo por dois eixos,

    sendo que o Eixo I examinou aspectos fsicos e o Eixo II avaliou aspectos comportamentais,

    psicolgicos e psicossociais16

    .

    A queixa de dor muscular foi confirmada e avaliada pelo exame fsico do RDC (Eixo

    I), atravs da palpao dos msculos temporal e masseter, onde os sujeitos foram orientados a

    responder, de maneira subjetiva, a sensao que a palpao provocou, classificando-a em

    ausente (0), dor leve (1), moderada (2) e severa (3), para cada msculo e lado palpado. Este

    exame foi realizado com presso em forte intensidade.

    Alm de investigar a dor muscular, o RDC ratificou a presena de bruxismo nos

    sujeitos que responderam de modo positivo as questes 15c (Algum lhe disse, ou voc nota,

    se voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares quando dorme a noite?), 15d

    (Durante o dia, voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares?) e 15e (Voc sente dor

    ou rigidez nos seus maxilares quando acorda de manh?) do Eixo II do RDC, que verificaram

    a ocorrncia de sintomas freqentemente evidenciados por estes sujeitos.

    Aps a avaliao do RDC, os sujeitos realizaram avaliaes odontolgica

    fonoaudiolgica, e eletromiogrfica.

    A avaliao odontolgica foi realizada por um cirurgio dentista atravs da anlise da

    arcada para verificao de desgaste nos dentes22,23

    com o propsito de confirmar a presena do

    bruxismo. Esta constatou que dos 20 sujeitos com bruxismo, 3 no apresentavam facetas de

    desgaste nos dentes, realizando apenas apertamento. A avaliao fonoaud