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Elevação de cargas A utilização de equipamentos de elevação de carga na construção civil advém das grandes distâncias de transporte a serem vencidas (cargas em movimento nos locais de trabalho) e das grandes cargas a serem transportadas. Para tal, são utilizados equipamentos de grande porte. Não é difícil então admitir que a quantidade de energia envolvida no processo, somada à dificuldade de se operar o movimento de cargas a longa distância, muitas vezes sem contacto visual, fazem do transporte de cargas uma questão a ser analisada com muito cuidado. De forma genérica, nestas operações devem ser observadas as medidas preventivas seguintes: Executar a instalação sempre segundo as especificações do fabricante; Fixar em todo equipamento de elevação de cargas uma placa indicativa das cargas limites de trabalho e, eventualmente, instruções adicionais. Esta placa deve estar em local bem visível aos trabalhadores que utilizam o equipamento; O operador e o encarregado devem receber instruções sobre os procedimentos de utilização segura do equipamento; Os trabalhos nocturnos só devem ser efectuados em condições suficientes de iluminação; Recomenda-se a utilização de um «Livro de Inspecção» do equipamento, com o objectivo de facilitar a verificação das condições relativas à manutenção preventiva do mesmo. Devem, também, constar neste livro os procedimentos correctos nos trabalhos de manutenção, listas de verificação e fichas de controlo; Executar reparações e trabalhos de manutenção somente quando o equipamento estiver fora de operação e, sempre que possível, desligado; A manutenção do equipamento deve ser autorizada pelo Serviço de Segurança da empresa, o qual deve inspeccionar o equipamento previamente e, depois, acompanhar cuidadosamente os trabalhos; Os equipamentos não devem ser operados em condições climatéricas desfavoráveis (nomeadamente, chuvas e ventos fortes); Ao fim de cada período de trabalho, o operador deve verificar as condições de travamento do equipamento e assegurar-se de que este não poderá ser accionado por pessoa não autorizada; Recipientes contentores e baldes basculantes devem ter um dispositivo de segurança que impeça qualquer movimento acidental durante o transporte; As cargas constituídas por materiais de grandes dimensões devem ser transportadas em recipientes adequados, devidamente acondicionadas, e de forma que o seu peso seja bem distribuído; Materiais de pequenas dimensões devem ser devidamente acondicionados, de forma a não caírem durante o transporte. Para além de guinchos, talhas, cadernais, ganchos, roldanas e outros engenhos elevatórios de menor dimensão, utiliza-se na actividade da construção três tipos de equipamento destinados a elevar e movimentar cargas volumosas e pesadas a grandes distâncias:

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Elevação de cargas

A utilização de equipamentos de elevação de carga na construção civil advém das grandes distâncias de transporte a serem vencidas (cargas em movimento nos locais de trabalho) e das grandes cargas a serem transportadas.

Para tal, são utilizados equipamentos de grande porte. Não é difícil então admitir que a quantidade de energia envolvida no processo, somada à dificuldade de se operar o movimento de cargas a longa distância, muitas vezes sem contacto visual, fazem do transporte de cargas uma questão a ser analisada com muito cuidado.

De forma genérica, nestas operações devem ser observadas as medidas preventivas seguintes:

Executar a instalação sempre segundo as especificações do fabricante; Fixar em todo equipamento de elevação de cargas uma placa indicativa das cargas limites de

trabalho e, eventualmente, instruções adicionais. Esta placa deve estar em local bem visível aos trabalhadores que utilizam o equipamento;

O operador e o encarregado devem receber instruções sobre os procedimentos de utilização segura do equipamento;

Os trabalhos nocturnos só devem ser efectuados em condições suficientes de iluminação; Recomenda-se a utilização de um «Livro de Inspecção» do equipamento, com o objectivo de

facilitar a verificação das condições relativas à manutenção preventiva do mesmo. Devem, também, constar neste livro os procedimentos correctos nos trabalhos de manutenção, listas de verificação e fichas de controlo;

Executar reparações e trabalhos de manutenção somente quando o equipamento estiver fora de operação e, sempre que possível, desligado;

A manutenção do equipamento deve ser autorizada pelo Serviço de Segurança da empresa, o qual deve inspeccionar o equipamento previamente e, depois, acompanhar cuidadosamente os trabalhos;

Os equipamentos não devem ser operados em condições climatéricas desfavoráveis (nomeadamente, chuvas e ventos fortes);

Ao fim de cada período de trabalho, o operador deve verificar as condições de travamento do equipamento e assegurar-se de que este não poderá ser accionado por pessoa não autorizada;

Recipientes contentores e baldes basculantes devem ter um dispositivo de segurança que impeça qualquer movimento acidental durante o transporte;

As cargas constituídas por materiais de grandes dimensões devem ser transportadas em recipientes adequados, devidamente acondicionadas, e de forma que o seu peso seja bem distribuído;

Materiais de pequenas dimensões devem ser devidamente acondicionados, de forma a não caírem durante o transporte.Para além de guinchos, talhas, cadernais, ganchos, roldanas e outros engenhos elevatórios de menor dimensão, utiliza-se na actividade da construção três tipos de equipamento destinados a elevar e movimentar cargas volumosas e pesadas a grandes distâncias:

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1. Grua fixaMáquina destinada à elevação, por meio de um gancho suspenso e movimentação de cargas num raio de vários metros, em todos os níveis e direcções.

Este equipamento é constituído por uma torre metálica, com um braço horizontal giratório e os motores de orientação, elevação e translação de carga.

As gruas podem ser fixadas em maciços ou sapatas de betão ou podem movimentar-se sobre carris, dispondo, então, de um motor de translação da própria grua.

a) Dossier da grua

Cada grua instalada deve possuir um dossier onde conste:

Fabricante (endereço e telefone); Empresa de manutenção (endereço e telefone); Operadores (dados pessoais); Relatório da última inspecção efectuada; Dispositivos de comunicação disponíveis e utilizados; Tipos de dispositivos de segurança em operação (travamento, travamento com limitador de

velocidade automático, interactivo com outras gruas, etc.); Características da grua (altura máxima, capacidades de carga, alturas para travamento, etc.);

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Zonas de interferência com outras gruas; Zonas interditas e zonas de velocidade limitada.

b) Regras de segurança relativas à grua e sua instalação

Dispor de ganchos de suspensão com um fecho de segurança que impeça desprendimento acidental da carga;

Não permitir a suspensão de cargas em situações em que se formem ângulos oblíquos entre o cabo do guincho e a lança da grua;

A capacidade de carga do solo deve ser seguramente suficiente para suportar o peso da grua (incluindo cargas dinâmicas e acção do vento);

Prever um sistema de drenagem para evitar a infiltração de água sob a sapata de suporte da grua; Prever um reforço na estrutura da edificação onde se prevê a ancoragem para travamento da

grua; Garantir, por ocasião da sua instalação, uma distância mínima de 3 m da lança a qualquer

obstáculo. Para o caso de existirem nas proximidades cabos de alta tensão, esta distância deve ser de, no mínimo, 6 m (consultar a concessionária de energia eléctrica);

Dispor de ligação à terra segundo as especificações do fabricante; Dispor de rampas de acesso à torre, escada e cabina absolutamente seguras, não permitindo

qualquer tipo de improvisação; Não permitir que as gruas sejaqm utilizadas em demolições como equipamentos de tracção; No caso de grua instalada externamente à edificação, deve ser prevista uma ancoragem para

altura superior a 39 m (ou 10 tramos da torre). Para alturas entre 39 e 48 m, executar uma ancoragem no 8.º tramo. Para alturas superiores a 48 m, executar uma ancoragem no 13.º tramo.

Prever um reforço na estrutura do edifício, nos locais de instalação das ancoragens, para o futuro travamento da grua;

É importante uma escolha criteriosa e harmoniosa dos postos de trabalho caracteristicamente mais localizados (estáticos), e dos locais de instalação das gruas. Deve-se evitar, tanto quanto possível, o trânsito de cargas sobre estes locais;

Devem ser classificadas como «zonas interditas» à movimentação aérea de cargas os locais ocupados por vias-férreas, hospitais, escolas, linhas de transmissão de energia eléctrica, vias de grande circulação de pessoas, etc.;

As gruas devem ser equipadas com limitadores de velocidade, de momento e de fim de curso; As gruas devem contar com um dispositivo de segurança que sinalize ao operador a proximidade

de uma zona interdita. Este dispositivo deve também impedir, em caso de falha, a «intrusão» da carga sobre a zona interditada;

Quando duas ou mais gruas definirem «áreas de interferência simultânea», estas devem ser equipadas com um dispositivo que estabeleça um «funcionamento interactivo» entre elas. Este dispositivo deve provocar um travamento automático sempre que uma lança ou gancho avançar sobre uma zona de actuação de outra grua, ou caso o operador não respeite os limites de velocidade de aproximação ou paragem;

O operador deve possuir um sistema de comunicação, permanente e eficiente (rádio ou intercomunicador), para contactos com o chefe de manobras (sinaleiro) e, eventualmente, com outros operadores;

O método de comunicação gestual é outro meio bastante simples e muito utilizado. Neste caso, o chefe de manobras (sinaleiro) e o operador devem possuir um perfeito conhecimento dos «gestos de comandos», dos sinais luminosos e sonoros (respostas do operador da grua) normalmente utilizados. A comunicação é indispensável sempre que ao operador seja impossível o contacto visual da carga, ou quando esta seja transportada horizontalmente a menos de 2 m de altura de um plano de trabalho.c) Medidas de segurança na operação de subida à torre

Comunicar ao Serviço de Segurança da empresa, o qual deve autorizar o início dos trabalhos após efectuar uma inspecção, bem como acompanhar todo o trabalho;

É indispensável a utilização do arnês a todos os trabalhadores na torre; Efectuar os trabalhos à luz do dia e em boas condições climatéricas; A área de influência da grua, durante a operação, deve ser isolada. Somente aos trabalhadores

relacionados com a operação em questão deve ser permitido o livre acesso; Seguir rigorosamente as instruções do fabricante.

d) Medidas de segurança relativas ao operador

Considera as patologias que incapacitam para o exercício da função de operador-manobrador de grua, tais como:

Excessiva dificuldade da visão em proporção e perspectiva; Surdez; Doenças cardiovasculares;

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Hipertensão arterial não controlada; Problemas respiratórios; Diabetes Distúrbios renais; Epilepsia. A cabina de trabalho deve ser adequadamente ventilada, dispor de um sistema eficiente de

condicionamento do ar e possibilitar uma visibilidade perfeita; Devem ser realizados exames médicos e psicotécnicos periódicos, com maior frequência conforme

a idade do operador.e) Medidas de segurança relativas à manutenção

Verificações diárias: Enrolamento do cabo; Condições de fixação do lastro (contrapesos). Verificações semanais: Condições de lubrificação; Condições dos cabos e sua lubrificação. Verificações mensais: Condições de aperto dos tramos da torre e outros elementos sujeitos a movimentos espontâneos; Dispositivos limitadores de momento, se existir. Tentar a suspensão de uma carga 10 % maior do

que a máxima carga de trabalho autorizada, para verificar se o mecanismo de travamento automático da suspensão é accionado;

Instalações eléctricas.f) Acessórios de elevação

CabosAs cargas, cabinas e cestos, são traccionadas e sustentadas por cabos de aço cuja resistência está em função da sua composição, da qualidade do aço e do desgaste sofrido.

Diâmetros mínimos dos cabos em função das roldanas

ø do cabo (mm) ø da roldana (mm)

12,70 30,00

15,80 35,00

19,00 40,00

22,20 46,00

25,40 50,00

A lubrificação dos cabos é muito importante, tanto como protecção contra a corrosão, como contra o desgaste do cabo.

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Todo o cabo, cuja utilização é periódica, deve ser lubrificado com óleo pesado quando fora de uso ou quando armazenado em lugar descoberto.

Se o período em desuso se estender por meses, antes de cada nova utilização deve-se limpar o cabo, remover o lubrificante protector, e, seguidamente, aplicar-se nova lubrificação.

Para o caso de cabos e bobinas armazenados em lugar descoberto por curto período de tempo, deve-se somente remover mecanicamente o excesso de lubrificante protector.

É necessário inspeccionar periodicamente os cabos ao longo de todo o seu comprimento, para averiguar da existência ou não de nós ou qualquer anormalidade que possa ocasionar um desgaste prematuro ou a ruptura do cabo, nomeadamente junto às fixações e, também, para determinar as suas substituições.

Casos típicos de avaria dos cabos resultantes de funcionamento deficiente

Avarias Causas

Quebra por fadiga Desprendimento de fios de aço devido à elevação de cargas com polias de dimensões reduzidas

Amassamento Enrolamento desordenado do tambor

Afrouxamento localizado dos fios Alívio da tensão proveniente da sobrecarga

Amassamento em forma de espiral

Elevação de cargas pesadas com roldanas múltiplas ou enrolamento em tambor de pequenas dimensões

Medidas preventivas a adoptar relativamente aos cabos de aço:

Antes de usar, examinar cuidadosamente e rejeitar os cabos que apresentarem: Hérnias; Estrangulamento ou deformações; Toro quebrado; Número excessivo de fios quebrados. Manusear os cabos com luvas de cabedal e evitar: Arestas vivas; Sobrecargas; Abalos violentos; Formação de nós. Verificar periodicamente: Amarras e pontas de amarras; Enrolamento regulador no tambor. Após o uso, efectuar as seguintes operações: Limpar e lubrificar o cabo; Estocar numa peça devidamente arredondada; Eliminar os cabos defeituosos.

GanchosOs ganchos são constituídos por olhal, assento, patilha de segurança e bico.

Devem a apresentar seguintes requisitos:

Número de modelo; Designação; Componente do material: Carga máxima de utilização.

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As principais medidas preventivas a implementar, aquando da utilização de ganchos em gruas são:

Apenas utilizar ganchos colocados em posição inversa à do desengate acidental da carga e que apresentem todas as características de uma boa resistência mecânica;

Não alterar a forma de um gancho, nem consertá-lo por aquecimento; Destruir um gancho aberto ou torcido;

Nunca efectuar soldaduras sobre o gancho nem utilizá-lo como massa; Controlar o engate da carga de modo a que: Os esforços sejam sempre aplicados sobre o assento do gancho e nunca no bico;

O sistema se oponha ao desengate acidental da carga por meio do estado de funcionamento e uso da patilha de segurança;

Que quando se exerça uma força imprevista, esta não tenda a deformar ou a provocar a abertura do gancho.

2. Grua automóvel

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Conjunto formado por um veículo portante, que se movimenta sobre lagartas, dotado de sistemas de propulsão e direcção, sobre cujo chassi é montado um aparelho de elevação com lança direccional usualmente telescópica.

Grua automóvel

Tipos Características

Grua móvel Possui cabine ou um posto de condução único contendo os órgãos de comando:

– De manobra da grua;

– De condução do veículo.

Grua sobre camião Possui duas cabines distintas:

– A cabine do camião contém os comandos para a condução do veículo;

– A cabine da grua contém os comandos para operação da grua.

a) Requisitos legais e normativos

Dispor de uma placa de identificação, ostentando, de modo legível e indelével, as seguintes indicações:

Nome e endereço do fabricante; Designação da marca, modelo e, eventualmente, número de série; Ano de fabrico. Possuir de modo legível e indelével a marcação CE; Possuir uma Declaração ou Certificado CE, redigido em língua portuguesa; Possuir um Manual de Instruções, em língua portuguesa; Possuir extintor de incêndio na cabine; Ser dotada de aviso sonoro para alertar as pessoas; Possuir um sistema de sinalização luminosa constituído por faróis rotativos; Ter sinalização de segurança; Possuir cinto de segurança no posto de operação; Apresentar no posto de comando um plano de cargas que indique as cargas nominais para as

diversas configurações possíveis;

Apresentar um autocolante de revisão, onde estejam registadas as informações mais relevantes de cada revisão periódica a que a máquina se sujeita;

Dispor de acessórios de elevação ostentando as seguintes informações: Identificação do fabricante; Identificação dos materiais;

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Identificação da carga máxima de utilização; Marcação «CE». Existir uma pasta da máquina, dossier que se encontra sob a responsabilidade do operador,

integrando os seguintes documentos: Cópia da declaração ou do certificado «CE» de conformidade da grua; Ficha das características da grua; Plano de manutenção; Instruções de operação, em língua portuguesa; Registo das últimas inspecções e ensaios efectuados; Registo das intervenções do Serviço de Assistência, ao equipamento; Registo das verificações periódicas efectuadas pelo operador.

b) Carga máxima de utilização

A carga máxima de utilização de uma grua automóvel depende das suas condições de utilização, nomeadamente de:

Condições de apoio; Comprimento e do ângulo de inclinação da lança; Mecanismos de elevação e telescopagem.

A carga máxima de utilização encontra-se definida para cada configuração nas tabelas ou ábacos do fabricante (diagrama de cargas ou plano de cargas).

Para a determinação da carga de utilização, para além do peso da carga propriamente dito, deverá ser considerado o peso dos acessórios de utilização, cabos, cadernal, lingas e balancim.

3. Elevadores de transporte de materiaisEquipamento preparado para o transporte e elevação exclusivamente de materiais e que deverá conter no interior do estrado uma placa indicando a proibição de elevar pessoas, bem como a respectiva carga máxima.

Este equipamento deverá dispor de:

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Sistema de travagem automática; Sistema de segurança electromecânica no limite superior, instalado a 2 m abaixo da viga superior

da torre; Sistema de travagem de segurança para manter o equipamwnto parado em altura, além do freio

do motor; Interruptor de corrente para que só se movimente com as portas fechadas; Dispositivo de tracção na subida e descida, de modo a impedir a descida da cabine em queda livre; Guias suficientemente rígidas para não flectirem e oferecerem resistência adequada ao

varejamento, no caso de eventual paragem brusca do estrado; Estrado provido nas laterais de painéis fixos de contenção de materiais com uma altura de 1 m e,

nas demais faces, portas ou painéis removíveis.

Outros aspectos importantes de segurança a ter em conta na utilização destes equipamentos:

Movimentação do equipamento não poder ser comandada do respectivo estrado; Movimentação do contra-peso apenas se poder efectuar entre guias.

Autores: Ernesto Dias