178
1

ELIANA MARIA DE OLIVEIRA SÁ · 4. Bom Despacho 15 5. Brasília de Minas 15 6. Carmo do Paranaíba 15 7. Coromandel 15 8. Curvelo 15 9. Divinópolis 15 10. Francisco Sá 15 11. Itabira

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2

ELIANA MARIA DE OLIVEIRA SÁ

QUANDO O CURRÍCULO FAZ A DIFERENÇA.... O CURRÍCULO INTEGRADO NA FORMAÇÃO EM SERVIÇO DO

TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL / THD

Mestrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

OUTUBRO DE 2000

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3

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Eliana Maria de Oliveira Sá

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Educação

da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.

Área de concentração: Sociologia e História da Profissão Docente e

da Educação Escolar

Orientadora: Prof. Dra. Rita Amélia Teixeira Vilela

Belo Horizonte, outubro de 2000

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4

617.37

S11q

2000

617.37 Sá, Eliana Maria de Oliveira S11q Quando o currículo faz a diferença... 2000 O currículo integrado na formação em serviço

do Técnico em Higiene Dental / THD Belo Horizonte: PUCMG, 2000 167 p. Dissertação (Mestrado) PUCMG 1- Currículo- Higiene Dental 2- Saúde bucal - Currículo I.Título CDD: 617.37 NWL: WV21

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5

Dissertação defendida e aprovada em 26 de outubro de 2000, pela banca

examinadora constituída pelos professores:

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6

Dedico esta pesquisa aos trabalhadores do SUS,

que, no dia a dia, constroem os sistemas locais

de saúde bucal.

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7

AGRADECIMENTOS

Ao meu querido Altair, companheiro e cúmplice dos meus sonhos.

Aos meus amados filhos, Paula, André e Guilherme, inspiração maior para que eu siga os

caminhos da "educação para a liberdade".

À professora Rita Amélia Teixeira Vilela, orientadora desta pesquisa, pela sabedoria, pelo

estímulo e sobretudo pela confiança na minha busca, no meu achado.

À professora Ana Maria Casasanta e ao reitor da PUCMG, Padre Geraldo Magela, pelo

apoio que me deram durante o Curso de Mestrado.

À Cláudia Maria Silva Marques, com quem primeiro troquei idéias e sentimentos acerca

dessa pesquisa.

Aos colegas do SUS, que, de várias formas, contribuíram para que eu ousasse falar da

utopia educacional da formação em serviço. Obrigada a Diana, Nora Nei, Carlos Tenório,

Marly Moysés, Anna Lúcia e Marlene pela prévia leitura deste trabalho e por todas as

sugestões. Obrigada Sandra, Marília, Artur e Lucy pelas preciosas ajudas na montagem

desta pesquisa.

À Mariana Lúcia Ferreira Tavares, atual diretora da ESMIG, e seus antecessores, Cláudio

Romano, Lêda Costa e Eunice Godoi, pelo crédito que deram ao meu trabalho.

À Cida e Alcione, pela disponibilidade e confiança em repassar todo o material referente

ao curso de formação de THD, de Carmo do Paranaíba.

À Roseli, Lourdes e Alicinha, que cuidaram para que eu pudesse ficar mais disponível

para estudar.

À Iara Rosa pela ajuda na construção gráfica.

Aos meus queridos pais, Zezinho e Alice, pelas suas histórias de vida.

À Deus, por mais este trabalho concluído.

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES............................................................................................. I RESUMO .......................................................................................................................II ABSTRACT ..................................................................................................................III INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1 CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS .............................................20 CAPÍTULO 2: OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE BASIL BERNSTEIN ...............32 2.1 Tipos de currículo ............................................................................35 2.2 Classificação e Enquadramento do conhecimento educacional.......37 2.3 Códigos de conhecimento educacional ............................................39 2.4 Socialização gerada pelos códigos educacionais ............................40 CAPÍTULO 3: O CURRÍCULO INTEGRADO DO THD ...............................................46 3.1 A formação em serviço .....................................................................46 3.2 O sistema de avaliação ....................................................................52 CAPÍTULO 4: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS .............................................55 4.1 As questões relacionadas à Classificação .......................................56 4.2 As questões relacionadas ao Enquadramento .................................58 4.3 Tipologia geral do código integrado do THD ....................................67 4.4 As relações pedagógicas: 4.4.1 Relação ensino-serviço .......................71 4.4.2 Relação aluno-conhecimento .............79 4.4.3 Relação professor-aluno .....................96 4.4.4 Relações afetivas .............................101 CONCLUSÕES .........................................................................................................108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................117 ANEXOS ....................................................................................................................126

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - A formação em serviço do THD .............................................................. 11

FIGURA 2 – Mapa dos municípios autorizados pelo C.E.E. para a formação do

Técnico em Higiene Dental ..................................................................... 13

FIGURA 3 – Quadro com a distribuição dos alunos nos cursos de THD’s por

municípios, número de matrículas e concluintes - 1997 a 2000 ..............14 FIGURA 4 - Estrutura Básica do Sistema de Mensagem “Currículo” ..........................37

FIGURA 5 - Estrutura Básica do Sistema de Mensagem “Pedagogia”........................38 FIGURA 6 - A Metodologia da Problematização .........................................................51

FIGURA 7 - Tratamento de Conteúdo Curricular ........................................................57

FIGURA 8 - Ficha de avaliação no processo..............................................................63

FIGURA 9 - Os trabalhos escolares e sua ligação com os serviços de saúde ..........77

FIGURA 10 – Foto do THD supervisionando procedimentos coletivos .......................84

FIGURA 11 – Foto do THD executando procedimentos individuais ...........................85

FIGURA 12 – Foto da formatura da turma de THD de Carmo do Paranaíba .............95

FIGURA 13 – O círculo virtuoso na área de Saúde Bucal ........................................107

FIGURA 14 - Os conceitos de Bernstein aplicados nas relações pedagógicas do

Curso do THD .......................................................................................112

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10

RESUMO

Foi objetivo deste trabalho analisar as relações pedagógicas estabelecidas no

Curso de Formação em Serviço do Técnico em Higiene Dental (THD), no município de

Carmo do Paranaíba, Minas Gerais, no período de 1998 a 1999.

A opção metodológica escolhida foi o Estudo de Caso qualitativo, utilizando o

discurso dos trabalhadores – educandos, expressos nos registros de avaliação,

elaborados ao longo do curso.

Buscou-se o entendimento da gramática interna do Currículo Integrado utilizado na

formação do THD, aplicando o conceito dos Códigos Educacionais de Basil Bernstein.

Os resultados encontrados indicaram que a proposta do Currículo Integrado do

THD favorece uma formação profissional ampliada, qualificando-o, possibilitando uma

visão crítica da realidade sócio cultural do trabalho e estimulando-o a interferir na

organização local dos serviços de saúde bucal.

As conclusões desta investigação apontam para a aproximação entre os

pressupostos teóricos da integração ensino-serviço e a aplicação prática dessa proposta.

Identificam-se os avanços já alcançados na parceria dos setores de saúde e educação na

formação em serviço e a necessidade de ampliação institucional destes resultados.

Palavras-chave: Basil Bernstein, currículo integrado, formação em serviço, qualificação

profissional, relações pedagógicas, Técnico em Higiene Dental.

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ABSTRACT

The purpose of this study was to analyse the pedagogical relations established on

the Dental Hygene Tecnician course in Carmo do Paranaíba, Minas Gerais state, from

1998 to 1999.

The method chosen was to analyse qualitatively, using the workers speech-writen

on the evaluation sheets elaborated as the couse went on.

The curriculum grammar was also studied based on Basil Bernstein’s educational

codes.

The results of the study have indicated that the curriculum of the Hygenist course

helps with a wide professional formation, qualfying them and giving them the possibility of

a critic view of the cultural and social situation of this profession and estimulating them to

work at the local organization of the bucal health services.

We have concluded with this study that the ideas of the teaching-service integration

and the pratic al aplication are very close. We could identify a well done work between the

health services and the teaching programs and the necessity of an institutional ampliation

of this results.

Key words: Basil Bernstein, curriculum, in service formation, professional qualifying,

pedagogical relations, Hygenist

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12

ANEXO I

Dados de identificação dos THD’s, municípios envolvidos e

demandas de novas turmas

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13

OFICINA DE AVALIAÇÃO DAOFICINA DE AVALIAÇÃO DAFORMAÇÃO EM SERVIÇO DOFORMAÇÃO EM SERVIÇO DO

THD EM MINAS GERAISTHD EM MINAS GERAIS

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE - SESMGSECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE - SESMGFUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS - FUNEDFUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS - FUNEDESCOLA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS - ESMIGESCOLA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS - ESMIGCENTRO FORMADOR DE RECURSOS HUMANOS PARA A SAÚDE - CFRHSCENTRO FORMADOR DE RECURSOS HUMANOS PARA A SAÚDE - CFRHS

FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS / FUNEDESCOLA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS / ESMIGSECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE / SES/MG

CENTRO FORMADOR DE RECURSOS HUMANOS PARA A SAÚDE / CFRHS

CURSO DE FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL

Município sede Número de municípiosenvolvidos

Número de alunosmatriculados

Número de alunosconcluintes

Bom Despacho 6 12 12

Brasília de Minas 11 16 14

Carmo do Paranaíba 11 24 23

Juiz de Fora 20 84 77

Nazareno 11 15 Em andamento

Paracatu 12 29 26

Patrocínio 1 6 6

Pouso Alegre 20 28 Em andamento

Santo Antônio do Monte 4 7 7

TOTAL 96 221 165

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14

MUNICÍPIO SEDE MUNICÍPIOS ENVOLVIDOSBOM DESPACHOESTRELA DO INDAIÁ

BOM DESPACHO LUZNOVA SERRANAONÇA DO PITANGUIPITANGUICAMPO AZULCHAPADA GAÚCHAIBIRACATÚICARAÍ DE MINAS

BRASÍLIA DE MINAS LONTRALUISLÂNDIAPATÍSSÃO JOÃO DA PONTEUBAÍVARZELÂNDIA

SÃO GOTARDOCARMO DO PARANAÍBACRUZEIRO DA FORTALEZAGUIMARÂNIALAGAMAR

CARMO DO PARANAÍBA MATUTINAPRESIDENTE OLEGÁRIORIO PARANAÍBASANTA ROSA DA SERRATIROSVAZANTE

FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTALFORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL

MUNICÍPIO SEDE MUNICÍPIOS ENVOLVIDOSBELMIRO BRAGACORONEL PACHECODESCOBERTOGOIANÁJUÍZ DE FORALIMA DUARTEMARIPÁ DE MINASMATIAS BARBOSAPASSA VINTE

JUÍZ DE FORA PEDRO TEIXEIRAPEQUERIPIAURIO NOVORIO PRETOSANTA RITA DO JACUTINGASANTANA DO DESTERROSANTOS DUMONTSÃO JOÃO NEPOMUCENOSENADOR CORTÊSSIMÃO PEREIRA

FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL ((ContCont.).)

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15

MUNICÍPIO SEDE MUNICÍPIOS ENVOLVIDOSNAZARENOBARROSOCONCEIÇÃO DA BARRA DE MINASCORONEL XAVIER CHAVESDESTERRO DE ENTRE-RIOS

NAZARENO ENTRE RIOS DE MINASIBITURUNALAGOA DOURADAMADRE DE DEUS DE MINASRESENDE COSTASÃO TIAGO

UNAÍARINOSBONFINÓPOLIS DE MINASBURITISCABECEIRA GRANDE

PARACATU DOM BOSCOFORMOSOGUARDA MORJOÃO PINHEIRONATALÂNDIAPARACATUURUANA DE MINAS

PATROCÍNIO PATROCÍNIO

FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL ((ContCont.).)

MUNICÍPIO SEDE MUNICÍPIOS ENVOLVIDOSSANTA RITA DO SAPUCAÍBOM REPOUSOBUENO BRANDÃOCACHOEIRA DE MINASCAMANDUCAIASCAMBUÍCONCEIÇÃO DOS OUROSESPÍRITO SANTO DO DOURADOHELIODORA

POUSO ALEGRE INCONFIDENTESIPUIUNANATÉRCIAOURO FINOPOUSO ALEGRESÃO JOÃO DA MATASÃO SEBASTIÃO DA BELA VISTASENADOR AMARALSILVIANÓPOLISTOCOS DO MOJITURVOLÂNDIA

CLÁUDIOSANTO ANTÔNIO DO MONTE CARMO DO CAJURU

SANTO ANTÔNIO DO MONTE

FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL ((ContCont.).)

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16

Levantamento de dados de matrícula - THD - 97/98

Sexo Idade Escolaridade Município

FEM MASC -18anos

18 à 20anos

21 à 30anos

31 à 40anos

41 à 50anos

+50anos

II GrauCompleto

II GrauIncompleto

I GrauCompleto

Bom Despacho 11 1 – – 8 3 1 – 12 – –

Brasília deMinas 15 1 1 4 10 1 – –

Carmo doParanaíba

24 – – 3 16 4 1 – 24 – –

Juiz de Fora 68 16 – 3 37 27 16 1 71 3 10

Paracatu 24 5 – 1 20 8 – – 27 – 2

Patrocínio 6 – – – 2 2 2 – 5 1 –

Santo Antôniodo Monte

7 – – – 3 3 1 – 6 – 1

TOTAL 155 23 1 11 96 48 21 1 145 4 13

Levantamento de dados de matrícula - THD - 97/98

S e x o

F e m i n i n o

Mascul ino

Id a d e M e n o s d e 18

a n o s

18 à 2 0 a n o s

2 1 à 3 0 a n o s

3 1 à 4 0 a n o s

4 1 à 5 0 a n o s

M a i s d e 5 0a n o s

E s c o l a r i d a d e

II GrauCo m p le t o

II GrauI n c o m p l e t o

I GrauCo m p le t o

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MUNICÍPIOS ALUNOS1. Abaeté 152. Araçuaí 153. Belo Horizonte 30 (02 turmas)4. Bom Despacho 155. Brasília de Minas 156. Carmo do Paranaíba 157. Coromandel 158. Curvelo 159. Divinópolis 1510. Francisco Sá 1511. Itabira 30 (02 turmas)12. Juiz de Fora 1513. Manhumirim 1514. Minas Novas 1515. Nazareno 1516. Ribeirão das Neves 1517. Pará de Minas 1518. Paracatu 1519. Patos de Minas 1520. Patrocínio 1521. Ponte Nova 1522. Pouso Alegre 1523. Santo Antônio do Monte 1524. São João Del Rei 1525. Teófilo Otoni 30 (02 turmas)26. Várzea da Palma 15 Total 435

DEMANDA POR MUNICÍPIODEMANDA POR MUNICÍPIO

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18

ANEXO II

Relatório final da Oficina de Avaliação da Formação em

Serviço do THD em Minas Gerais

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19

A FORMAÇÃO EM SERVIÇO DO THD EM MINAS GERAIS

O Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde (CFRHS), responsável direto

pela profissionalização do Técnico em Higiene Dental em Minas Gerais, iniciou no I

semestre de 1999 um processo de avaliação dos cursos de formação em serviço.

Num primeiro momento, foram relacionados os municípios que participam da

“Concentração” e “Dispersão” dos cursos, totalizando 100 (cem) Secretarias Municipais

de Saúde envolvidas na formação do THD.

Em seguida, a partir de dados coletados na matrícula, foi estabelecido um quadro

descritivo (sexo, idade, escolaridade) dos alunos dos 7 (sete) municípios-sede que já

haviam concluído o curso e de 2 (dois) que estavam com o curso em andamento. Foi

estabelecido o total de alunos matriculados e o número de alunos concluintes. Esse

levantamento de dados permitiu um primeiro delineamento panorâmico estadual da

formação do THD.

Em abril/99, através de uma reunião realizada na Secretaria de Estado da Saúde, com a

participação de técnicos do Ministério da Saúde, Superintendência de Epidemiologia,

Coordenadoria de Saúde Bucal, Superintendência de Recursos Humanos e Escola de

Saúde de Minas Gerais, constatou-se o cumprimento de metas em relação à formação

do THD, discutiram-se as dificuldades encontradas, bem como algumas estratégias para

a abertura de novas turmas. Definiu-se o repasse de recurso financeiro de R$ 3.360,00

(três mil, trezentos e sessenta reais) da Secretaria de Estado para a FUNED, no sentido

de garantir o pagamento de apoio técnico para a continuidade do curso em Nazareno.

Em maio/99, foi realizada, na ESMIG, uma oficina de trabalho envolvendo a

Superintendência de Recursos Humanos e de Epidemiologia da SESMG, o CFRHS,

Diretorias Regionais de Saúde de Juiz de Fora, São Jõao del Rei, Divinópolis, Pouso

Alegre e municípios ( Bom Despacho, Brasília de Minas, Carmo do Paranaíba, Juiz de

Fora, Nazareno, Paracatu, Patrocínio, Pouso Alegre e Santo Antônio do Monte).

Nessa oficina, foram analisados vários aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem,

bem como outros relacionados à integração da formação e o serviço. Foram levantados

pontos positivos e negativos referentes a aspectos pedagógicos, administrativos e à

assistência . As conclusões das discussões foram registradas em forma de relatórios.

Uma síntese dos relatórios pode assim ser apresentada:

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20

1. Aspectos relacionados à preparação do docente do curso de THD: o curso

ministrado na ESMIG tanto preparou o dentista para a sua nova função de instrutor,

como possibilitou um maior envolvimento desse profissional com os serviços de

saúde do município. O material didático e a bibliografia foram de excelente qualidade.

Os apoios técnicos foram de alto nível e o curso foi um estímulo ao crescimento

pessoal. Coordenação atuante e presente. Foi sugerido que algumas questões de

ordem pedagógica sejam mais exploradas no curso (sistema de avaliação,

recuperação paralela, como lidar com comportamentos indesejáveis, etc).

2. Participação do CD enquanto instrutor e coordenador da formação do T.H.D.:

houve um crescimento pessoal e profissional muito grande. Constata-se uma

valorização do profissional dentista dentro do serviço, bem como sua maior

integração com outros setores da administração pública. Foi rico o relacionamento

com os T.H.D.’s, com os outros dentistas da região. De uma maneira geral os

dentistas avaliam que ficaram sobrecarregados com o processo assumido no

município e região. Houve desgaste em relação a aspectos burocráticos. Foram

unânimes em afirmar que faltaram apoio e supervisão durante o curso. Identificam

aqui um nó crítico e sugerem uma participação mais atuante da ESMIG. Alguns

cursos municipais não foram apoiados ou pouco apoiados pelas DRS.

3. A sensibilização pedagógica dos dentistas instrutores da dispersão: Serviu para

que tivessem uma pequena noção da metodologia usada no curso, criando uma

maior responsabilidade em relação à formação do THD. Provocou uma maior

aproximação entre os dentistas. Há também avaliações pouco positivas; registro de

profissionais que não se envolveram no processo. Dentistas que tiveram seus

contratos suspensos foram substituídos por outros dentistas-instrutores, que

acompanharam THD’s sem terem participado da sensibilização pedagógica.

4. Apoio técnico oferecido ao dentista da dispersão: Em alguns municípios o

processo de educação continuada dos dentistas da dispersão aconteceu

paralelamente ou logo após ao Curso de Especialização da ESMIG. Na maioria dos

municípios-sede, o apoio técnico aos dentistas se dava na mesma semana em que os

THD’s estavam em concentração. Essa parece ser a forma mais adequada. De uma

maneira geral a avaliação é bastante positiva (em relação a conteúdo, material

científico usado). Foi sugerido que a ESMIG forme um Banco de Apoio Técnico em

Saúde Bucal.

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21

5. Concentração dos THD’s: Ótimos índices de freqüência, baixíssima evasão, notória

evolução da maioria dos alunos em relação ao envolvimento e compromisso com o

serviço. As avaliações dos THD’s feitas ao final de cada Unidade são, de uma

maneira geral, bastante positivas. Registro de que as discussões foram mais ricas em

turmas onde estavam envolvidos mais municípios (diversidade de situações). As

maiores dificuldades registradas referem-se a questões relacionadas à dispersão

(serviço não organizado para a adequada inserção do THD) que refletiam no

momento de concentração.

6. Dispersão dos THD’s: Reconhecimento do profissional THD pela comunidade,

introdução de melhorias na qualidade do serviço. Aplicação e relação imediata da

teoria com a prática. Na maioria dos municípios envolvidos falta uma maior

organização dos serviços para que o THD desempenhe todas as suas funções.

7. Participação das instituições envolvidas (SMS, ESMIG, CFRHS, DRS’s): Ausência

de representantes da ESMIG / CFRHS nas solenidades de abertura oficial e

formatura. Não houve acompanhamento, orientação e supervisão sistematizada do

curso por parte da instituição formadora. Envolvimento de DRS’s variável (presente

em alguns municípios e ausente em outros). Competências e responsabilidades

pouco definidas ao longo dos cursos.

Conclusões e recomendações:

• A maioria dos municípios envolvidos na formação do THD não está organizada para

uma prática de controle das doenças bucais. Esse desajuste dificulta e, às vezes,

impede que o THD que está sendo formado teste os seus novos conhecimentos na

prática. De uma maneira geral, o serviço está se preparando para funcionar como uma

“sala de aula”, mas há que se buscar uma maior sincronia entre sua reorganização e a

formação do THD. Essa situação remete para a necessidade de um maior ajuste entre

o processo de formação em serviço (ESMIG/CFRHS/SRHSES) e o modelo de

assistência em saúde bucal (Coordenadoria de Saúde Bucal e Auditoria Odontológica

/ SES).

• Uma nova postura institucional que foi repetidas vezes levantada pelos participantes

da Oficina de Trabalho, refere-se a um acompanhamento mais sistemático da

ESMIG/CFRHS em relação aos cursos descentralizados. Foi sugerida supervisão

técnico-pedagógica mais definida. Nesse sentido, já estão sendo agendados

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encontros de supervisão com os municípios que estão com cursos de formação em

andamento (Curvelo, Nazareno, Pouso Alegre e Várzea da Palma).

• Uma pesquisa qualitativa relacionada ao tema da Qualificação Profissional e da

formação em serviço do THD está em andamento na ESMIG, e será um instrumento a

mais nesse processo de avaliação de cursos.

• Atualmente, a ESMIG participa de atividades junto ao Conselho Regional de

Odontologia através de uma Comissão de Equipe de Saúde Bucal. Essa Comissão

pretende, entre outras questões discutir e propor novas atribuições ao Técnico de

Higiene Bucal. Esta é uma discussão necessária e imprescindível para se dar

continuidade à profissionalização do THD em Minas Gerais. Recomenda-se a

manutenção dessa parceria.

Belo horizonte, 20 de setembro de 1999

______________________________

Eliana Maria de Oliveira Sá

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ANEXO III

Mapa com a distribuição dos cursos de formação de THD

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Cursos de formação do THD Cursos de formação do THD Julho 2000Julho 2000

Municípios SedeMunicípios Sede

Municípios EnvolvidosMunicípios Envolvidos

Juiz de ForaPouso Alegre

Nazareno

Ponte Nova

Belo Horizonte

Santo Antônio do Monte

Bom Despacho

Carmo do Paranaíba

Curvelo

Patrocínio

Paracatu

Várzea da Palma

Brasília de Minas

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ANEXO IV

Instrumento preliminar para coleta de dados

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ENTREVISTAS Dentista da Concentração: A seqüência de perguntas segue uma ordem temporal dos acontecimentos 1. Identificação: nome, data de nascimento, naturalidade, formação, pós-graduação. 2. Quando iniciou o Curso de Especialização em B.H., você conhecia a proposta de

articulação regional e formação descentralizada de THD’s? 3. Como o curso a preparou para ser instrutora? 4. Quando planejaram o Curso de THD de Carmo do Paranaíba, que profissionais

desejavam formar? 5. De que forma os dentistas da dispersão foram envolvidos e sensibilizados para

acompanharem as THD’s? 6. Como era feito o planejamento da semana de concentração? 7. O “Guia Curricular” do Ministério era seguido o tempo todo ou eram introduzidas

alterações? Porque? 8. Como você constatava o desenvolvimento dos alunos em relação aos novos

conhecimentos? 9. Como agia quando percebia que os novos conhecimentos não estavam sendo

dominados pelos alunos? 10. Como eram avaliados os THD’s? 11. Descreva situações que você entende como ricas/fortes do ponto de vista do ensino-

aprendizagem. (Seguir seqüência de concentrações) 12. Como eram tratados os conflitos do dia-a-dia que o THD trazia do seu local de

trabalho? 13. Caracterize as relações estabelecidas entre os alunos, entre vocês instrutoras e as

relações entre os alunos e vocês. 14. Que modificações no local de trabalho foram realizadas pelos THD’s através do

curso? 15. E no curso, que modificações foram feitas no sentido de adequar a demanda

apresentada pelos THD’s e pelo município? 16. Como foram realizados e quais os objetivos dos trabalhos de dispersão?

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17. Como os THD’s se comportavam diante desta atividade? 18. Você sabe como estão os THD’s, como trabalham depois de terminado o curso de

formação? C.Dentista da dispersão: 1. Como foi sua preparação para ser instrutor de THD na dispersão? 2. Que elementos novos esta prática exigiu de você? 3. Como você identificava o desenvolvimento do THD ao longo do curso? 4. Na trajetória do curso e após a formatura, que características você nota que foram

incorporadas pelo THD? 5. Que aspectos do comportamento do THD na prática de saúde bucal mais lhe chama

a atenção? Secretário Municipal de Saúde 1. Por que o município Carmo do Paranaíba fez a opção de formar THD? 2. Descreva como aconteceu o Curso de Formação de THD em Carmo do Paranaíba 3. Há diferenças entre o curso de THD e outros cursos profissionalizantes? Quais? 4. Que relatos ou registros foram feitos acerca da organização dos serviços de saúde

bucal, durante ou após o curso de THD?

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ANEXO V

Roteiro para elaboração de um Memorial

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ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE UM MEMORIAL

Caro aluno (a)

Este roteiro tem por finalidade organizar algumas informações de sua trajetória

pessoal e profissional antes e durante o curso realizado.

1. Fale de você, dos seus hábitos, da sua família, do seu lazer, da sua cidade, de

outros lugares que morou, de outros cursos que já fez, etc...

2. Fale de sua trajetória profissional. Que outros trabalhos já realizou? Como e por

que resolveu fazer este curso e se tornar um(a) THD?

3. Fale de sua trajetória neste curso. Relembre do início ao fim: as dificuldades, os

desejos, as frustrações, as descobertas, as conquistas, os momentos tristes e

alegres, enfim, os sentimentos que de uma forma ou de outra te impulsionaram a

várias realizações e te fizeram amadurecer e crescer pessoalmente e

profissionalmente.

4. Fale dos resultados que você obteve nos seus períodos de dispersão e que

acredita ter sido positivo para o seu município.

5. Fale o que pretende fazer daqui para frente, o que gostaria de mudar na sua

prática para melhorar o seu trabalho. Quais os seus projetos a curto, médio e longo

prazo?

6. Por último, faça um paralelo da sua vida antes e depois do curso. O que mudou?

Alcione Elisa Ribeiro Garcia

Maria Aparecida de Mendonça Carneiro

Instrutoras do Curso de THD

Comemore! Você chegou ao final do curso, mas não ao final do aprendizado.

Continue estudando, analisando e se aprimorando, pois aprender é rejuvenescer.

PARABÉNS!

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ANEXO VI

Seqüência de atividades da 1a unidade didática da área I do

Guia para a formação do THD

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PRIMEIRA UNIDADE

PROPÓSITO

Iniciar, a partir de sua visão de mundo, uma reflexão sobre os problemas de saúde da população e desenvolver a capacidade de observação e comunicação com pessoas e grupos.

Ao mesmo tempo, pretende estimular a percepção da relação existente entre os modos de vida e de trabalho e os problemas de saúde da população, com destaque para as questões de saúde bucal.

OBJETIVOS 1. Identificar os modos de viver do homem e sua relação com os problemas de saúde

geral e bucal. 2. Perceber formas de comunicação com o seu grupo, com a população e entre

profissionais de saúde e usuários. 3. Identificar como as características individuais interferem com os problemas de

saúde das pessoas.

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PRIMEIRA UNIDADE

CONCENTRAÇÃO SEQÜÊNCIA DE ATIVIDADES ORIENTAÇÃO PARA O INSTRUTOR

I I

1. Discutir as seguintes questões: 1.Dividir em pequenos grupos. Apoiar as discussões dos grupos, estimulan-

Como são as condições de vida e do o relato das vivências e o registro de trabalho das pessoas de sua co- das conclusões. Enfatizar, ainda, du- munidade? rante as discussões, os aspectos re-

ferentes à habitação, alimentação, di- Como elas resolvem seus proble- versão, transporte, uso dos serviços mas de saúde geral e bucal? de saúde, práticas populares, tipo de

trabalho e duração, salário ou outras De que adoecem e morrem estas formas de remuneração. pessoas e porque isto ocorre?

2· Sintetizar os resultados das discus- 2. Trabalhar com todo o grupo, orientando-o sões dos grupos, registrando-as em quanto à classificação das doenças, de acor- cartaz ou outro material visual. do com as categorias transmissível e não - transmissível e quanto às suas causas segundo alimentação, condições de trabalho, micro- organismos, mística, moradia e outras. Classificar as práticas de saúde segundo a natureza: mágicas e/ou religiosas (benzeduras, rezas, despachos, etc.); medicamentos (chás, ervas, remédios em geral, etc.); privação, restrição ou recomendação de alimentos e condições ambientais; busca de ajuda especializada formal (médicos, enfermeiros, outros) e informal (curandeiros, padres, benzedeiras, parteiras, etc.). Classificar o tipo de trabalho de acordo com a atividade econô- mica: agropecuária, industrial, mineração, co- mércio, serviços (educação, saúde, transporte, etc) e informal (bóia-fria, biscateiro, vendedor ambulante, doméstico e outros). Destacar dentro de cada setor as ocupações mais significativas na sua região. 3. Discutir as seguintes questões: 3. Dividir os participantes em dois

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grupos e encarregar a cada um a discus- "A população conhece os seus pro- são de uma das questões e apresentar as blemas de saúde (de quê e porquê conclusões. adoece) e busca formas de resolvê- los". "A população não identifica seus pro- blemas de saúde (de quê e porquê adoece) e não busca formas de resolvê-los". 4. Apresentar as conclusões parciais de 4. Trabalhar com todo o grupo. Ajudar cada grupo. a sistematizar os resultados, buscando extrair as alternativas apresentadas e a importância de testá-las junto à po- pulação. 5. Discutir como as conclusões do gru- 5. Ainda com o grande grupo, levantar po podem ser comprovadas. sugestões das diferentes formas de ouvir a população e orientar na escolha dos instrumentos mais adequados para a obtenção das informações (observação, entrevista, questionário, etc.). Discutir quais e quantas pessoas serão abordadas, o conteúdo e a técnica que serão adotadas. 6. Dramatizar a forma mais adequada de 6. Dividir em pequenos grupos orientan- levantamento de opinião junto à po- do para que cada um dramatize a for- pulação. ma levantada. A partir de cada apre- sentação, registrar elementos a elas relativos (técnica de abordagem e cumprimentos dos objetivos). Condu- zir a discussão, ainda em grupo, para a identificação de questões inadequa- das relativas ao processo de comu- nicação e cumprimento do conteúdo proposto. 7. Realizar o levantamento de opinião 7. Organizar a atividade, de preferência junto à população. em duplas. 8. Apresentar os resultados obtidos no 8. Observar e registrar pontos importan- levantamento. tes referentes à comunicação e aos objetivos da atividade, destacando si- tuações que possam merecer uma nova dramatização que facilite a elucidação e análise dos fatos encon- trados. Trabalhar com todo o grupo na

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montagem de um quadro, agrupando as doenças levantadas segundo as suas causas e as formas de resolução apontadas pela população. 9. Comparar os quadros obtidos nos 9. Estimular a discussão, refletindo so- itens 2 e 8. e bre o porquê das diferenças encon-

10 tradas no perceber e enfrentar os problemas de saúde, associando-os

com os modos de vida da população (moradia, trabalho, questões religiosas e culturais, educação, lazer, etc.). 10. Sistematizar o resultado da discussão. 11. Refletir em torno das seguintes situa- 11. Dividir os treinandos em dois grupos. ções: Cada grupo deve refletir sobre uma das situações, de acordo com o rotei- Numa favela, sem infra-estrutura básica, ro apresentado. muitos de seus moradores (adultos e crianças) desenvolveram um quadro de diarréia de Roteiro para reflexão: origem infecciosa. Ao procurarem um posto de saúde Estimular a discussão, buscando le- mais próximo, algumas pessoas foram vantar pontos que evidenciem a liga- atendidas e obtiveram o diagnóstico ção do modo de vida da população e tratamento para a doença. com a doença manifestada. Enfatizar Entretanto, nem todos puderam seguir questões ligadas a: as orientações do médico. Os vizinhos e amigos, acometidos do mesmo mal, condições de vida referentes ao foram trocando idéias e informações trabalho, renda, consumo (moradia, obtidas sobre o que estava acontecen- alimentação, vestuário, educação, do e as formas de resolver o problema. lazer, saneamento); Quando as autoridades sanitárias detectaram a origem da doença, me- fatores ligados ao aparecimento e didas de controle foram tomadas. propagação da doença; Mas, para uma parcela da população, a enfermidade gerou conseqüências abrangência individual e coletiva do irreversíveis. problema e busca de ajuda formal e informal; persistência ou não do problema e formas possíveis de controle e cura. A caixa d'água de um prédio localiza- do numa área nobre da cidade foi con- taminada. Este prédio possui uma es- trutura física de grande porte (parque

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infantil, sauna, salão de jogos, áreas ajardinadas, etc.). Alguns dos mora- dores, adultos e crianças, iniciaram um processo de cólica intestinal e di- arréia de origem infecciosa que os fez imediatamente procurar um médico para diagnosticar e tratar a doença. Embora essas medidas tenham sido tomadas, o foco de infecção persis- tiu. O porteiro, observando o movi- mento e ouvindo parte das conversas, comentou com o responsável pela ad- ministração que muitas pessoas do prédio estavam tendo o mesmo pro- blema de saúde. Foi buscada ajuda especializada e, através de uma rápi- da investigação foi reconhecida a ori- gem do problema e tomadas atitudes adequadas para solucioná-lo. Roteiro para reflexões: * Quem adoeceu e como estas pes-

soas vivem? * Quais os fatores que levaram essa

população a adoecer? * Quais as formas buscadas para re-

solver o problema e como a ques- tão foi resolvida?

*Quais as conseqüências desse

problema para a população? Registrar as respostas. 12 Apresentar os resultados das discus- 12. Registrar em forma de quadro com- sões. parativo as principais questões levan- tadas em cada grupo. 13 - Leitura e discussão do texto "Processo

Saúde-Doença".

13.Realizar a atividade de leitura em pequenos grupos e solicitar aos grupos que façam o resumo do texto estudado.

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14 Discussão referente à leitura do tex- 14 - Acompanhar a to. atividade, esclarecendo dúvidas. 15 - Assistir e discutir ao filme "Ilha das 15 - Apresentar o filme e esti- Flores". mular a discussão, poste- riormente.

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SEQUENCIA DE ATIVIDADES II 1. Discutir o seguinte caso: Num porão de uma casa antiga funci- ona uma pequena fábrica onde trabalham oito costureiras com uma jornada de 10 a 12 horas/dia, recebendo salário mínimo e o referente às horas-extras. D. Rita, uma das costureiras, casada, mãe de seis filhos, mora numa favela e apresen- tou sintomas de tuberculose (febre, tosse, cansaço), posteriormente confirmado com o exame de escarro. Passados alguns dias, um de seus filhos, alcoólatra, apresentou a mesma doença, embora o restante da família não tenha manifestado o problema. Roteiro para reflexão: Identificar as condições que levaram D. Rita a adoecer. Por que nem todos de seu convívio adoeceram? Registrar as respostas. 2. Apresentar os resultados das discussões. 3 Leitura e discussão do texto: “Mecanismos de Defesa (Noções Básicas)”. 4. Discussão referente a leitura do texto.

ORIENTAÇÃO PARA O INSTRUTOR II 1.Trabalhar em pequenos grupos. Estimular a discussão no sentido de refletir:

condições de vida, jornada e ambiente de trabalho, salário, moradia, alimentação, transporte, lazer, educação, etc.; os fatores que interferem na resistência das pessoas: sexo, enfermidade, estado nutricional, idade, fatores genéticos, condições de imunidade, uso de drogas, álcool etc.. 2. Trabalhar com todo o grupo ajudando a estabelecer o conceito de resistência, relacionadoo com condições de vida. 3 Realizar a atividade em pequenos grupos e

solicitar o resumo do texto estudado. 4. Acompanhar a atividade, esclarecendo dúvidas.

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SEQÜÊNCIA DE ATIVIDADES ORIENTAÇÃO PARA O INSTRUTOR

III III 1. Discutir as seguintes questões: 1 Dividir a turma em pequenos grupos, estimulando o relato das vivências e Quais são os problemas que apa- o registro das conclusões. recem na boca? Por que as pessoas perdem os dentes? Como as pessoas resolvem seus problemas de saúde bucal? 2. Sintetizar os resultados das discus- 2.Trabalhar com todo o grupo, orientan- sões do item anterior, registrando-os do a listagem das doenças de acordo em cartazes ou outro material visual. com a localização: nos dentes, gengi- vas, língua, lábios, bochechas, etc. e relacionando as causas, segundo: microorganismos, traumas, hábitos de higiene, alimentação, sistêmicas, con- dições de vida, trabalho, fatores cul- turais, acesso ou não à assistência odontológica, às políticas de fluore- tação e à informação, prática profis- sional. Classificar as práticas para re- solver os problemas de saúde bucal segundo. a natureza: mágicas e/ou religiosas (benzeduras, simpatias, re- zas, despachos, etc.); medicamentos (chás, bochechas, pastas dentárias, antissépticos bucais, remédios em geral, etc.); busca de ajuda especi- alizada (dentistas, médicos, farma- cêuticos e outros) e informal (práticos etc.); restrição de alimentos (doces, gelados, etc.); aplicação, de calor e frio; demandas de ajuda institucional (fluoretação das águas etc.). 3. Debater a seguinte questão: 3. Trabalhar com todo o grupo, estimu- lando a discussão livremente. Siste- Os problemas de saúde bucal in- matizar os resultados terferem nas condições de vida das

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pessoas? Registrar o resultado do debate. 4. Debater: O usuário percebe as ques- 4.Estimular a discussão, o relato de ex- tões discutidas no item anterior da periências e a importância de testar mesma forma que o grupo? os dados junto ao usuário. Registrar as conclusões. 5. Realizar um levantamento de opiniões 5.Orientar o levantamento de opinião junto aos usuários sobre seus proble- com o usuário, com base, entre ou- mas de saúde bucal. tros, nos seguintes aspectos:

a) Quando sente sua boca doente?

b) Quais fatores levam ao aparecimento de doenças na boca?

c) Quais as conseqüências dos

problemas e como são resolvidos?

Discutir como e quando abordar o usuário. Orientar a tabulação das respostas obtidas (agrupamento segundo suas semelhanças e quantificação).

6. Relatar algumas situações vividas na 6. Destacar pontos importantes referen- abordagem ao usuário. tes à comunicação e ao conteúdo da atividade desenvolvida. 7. Apresentar o resultado dos dados le- 7. Analisar e sistematizar as respostas, vantados e tabulados. ressaltando os seguintes aspectos: o valor da doença bucal como im- pedimento para exercer atividades, as dificuldades nas relações pes- soais, etc.; fatores relacionados às questões individuais (cuidado pessoal, resis- tência, alimentação, consumo de açúcar, etc.), às questões sociais (condições de vida e de trabalho, remuneração, consumo, acesso e qualidade dos benefícios sociais; água fluoretada; questões do ser-

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viço (acesso e qualidade do trata- mento, etc); acesso à informação; conseqüências para a saúde geral e bucal (dor; halitose; processos in- fecciosos e sua repercussão sistê- mica; perda dentária, alteração da fala; estética; hábitos e mastiga- ção; aspectos relativos ao trabalho, às relações pessoais, lazer, etc.); formas de resolução (busca de aju- da formal e informal etc.). 8. Comparar os resultados da discussão 8. Estimular a discussão, refletindo so- do item 4 com as conclusões referen- bre o porquê das possíveis diferen- tes ao levantamento junto ao usuário. ças encontradas, ressaltando a per- cepção do usuário sobre os proble- mas de saúde bucal. Relacionar com a questão de saúde geral. 9. Refletir sobre as seguintes questões: 9.Trabalhar com todo o grupo, solicitan- do a cada aluno que expresse sua opi- Como você se sente diante da si- nião. tuação vivida pelos usuários? Qual é o seu papel, enquanto pro- fissional de saúde e cidadão, dian- te das questões levantadas pelos usuários? 10. Assistir ao filme "TV - Memória Popu- 10. Apresentar o filme e estimular a dis- lar'. cussão, posteriormente.

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PRIMEIRA UNIDADE

DISPERSÃO SEQÜÊNCIA DE ATIVIDADES ORIENTAÇÃO PARA O INSTRUTOR 1 No seu local de trabalho, realizar um 1 Apoiar o trabalho, se possível levantamento de opinião junto à sua e tendo contato direto com a situação comunidade, a cerca de seus proble- 2 observada . Discutir com os alunos as dife- mas de saúde, incluindo a saúde bu- renças de contextos sociais no levanta- cal. mento, estimulando para que sejam feitos os necessários ajustes metodológicos. 2 Registrar suas novas observações sobre a relação entre modos de viver e problemas de saúde. Observação: Esta atividade só deve ser aplicada quando os alunos são procedentes de outras localidades.

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ANEXO VII

Fichas de avaliação

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AVALIAÇAO DO DESEMPENHO FINAL ÁREA CURRICULAR 1

"PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA BUCAL" Escola Nome do aluno Local/Unidade de Saúde Período: Data de início da Área Data de término da Área

DESEMPENHOS FINAIS CONCEITO

. Desenvolve ações de prevenção e controle das doenças ocupacionais, das doenças transmissíveis de interesse odontológico e das doenças cárie e periodontal, através de:

· Identificação dos riscos ocupacionais ligados ao trabalho odontológico.

. Aplicação de medidas para controle dos agentes físicos, mecânicos, químicos, biológicos e psicológicos que provocam doenças ocupacionais.

. Lavagem, preparação, desinfecção, esterilização e manuseio de materiais e instrumental segundo normas estabelecidos.

· Identificação dos problemas de saúde geral e bucal mais comuns da população, estabelecendo relações entre eles e condições de vida.

. Trabalho educativo com a população considerando suas necessidades e condições de vida.

· Execução de ações específicas de prevenção e controle da cárie e da doença periodontal, a nível coletivo e individual.

. Orientação e acompanhamento dos pacientes e controle de comparecimento.

. Conhecimento e aplicação dos índices mais utilizados em odontologia para a medida da cárie dentária e doença periodontal nas populações.

...................................... de ..................................................... de 19 .................

___________________________________________________ Assinatura do lnstrutor/Supervisor

Observação: a) Esta ficha é o resultado globalizante de todas as avaliações de processo realizadas durante as

Unidades Didáticas da Área Curricular 1 e representa a competência final expressa em conhecimentos, habilidades e atitudes.

b) Esta ficha é a que deverá ser encaminhada à Secretaria Escolar da Escola Técnica de Saúde e/ou

Centro Formador para fins de composição do histórico escolar do aluno.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objeto de análise as relações pedagógicas do

Curso de Formação em Serviço do Técnico em Higiene Dental (THD), programa

institucionalmente desenvolvido pela Escola de Saúde de Minas Gerais / Centro

Formador de Recursos Humanos para a Saúde (ESMIG/CFRHS), para a

qualificação profissional dos trabalhadores do setor.

Essa análise se faz necessária no contexto atual da implementação, tanto da

Reforma Sanitária no setor de saúde, quanto da Reforma do Ensino Médio e

Profissional no Setor Educacional.

A Reforma Sanitária1, enquanto um projeto de ação política que interessa ao

processo de construção da cidadania no país, traz na atualidade uma reflexão sobre a

agudeza e magnitude da abordagem do tema da formação de recursos humanos para

o setor de saúde. Contudo, as preocupações com essas questões de recursos

humanos nos serviços de saúde e especificamente em saúde bucal, já vêm de longa

data. Análises e recomendações a esse respeito podem ser encontradas em

inúmeros registros na história dessas instituições. O crescimento da demanda por

serviços e a incapacidade de resposta do sistema de saúde são fatores básicos na

acumulação do problema. Existe hoje um grande contingente de trabalhadores que

prestam serviços de saúde sem a necessária qualificação profissional.

Essa situação assinala os limites para a implantação de uma política sanitária

com possibilidade de êxito e exige ações para superar esse quadro, dentre elas, um

programa coerente de capacitação e formação profissional para o setor, que tem sido

responsabilidade das Escolas Técnicas de Saúde.

1 A Reforma Sanitária é entendida como um movimento social resultado de muitos anos de luta, que, no final da década de 80, foi apresentado à sociedade brasileira, pelas organizações de ensino, entidades de classe e serviços da área de saúde como o caminho possível para a transformação das condições sanitárias do país.

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2

As Escolas Técnicas de Saúde do SUS – Sistema Único de Saúde - no Brasil

são entidades governamentais que atuam no âmbito do setor de saúde e têm como

função principal promover a profissionalização dos trabalhadores nele inseridos, ou

em vias de inserção.

Criadas em sua maioria na década de 80, essas escolas surgiram como

alternativa para o enfrentamento do problema já identificado na época, da não

qualificação da força de trabalho empregada nos serviços de saúde, colocando em

risco a saúde da população usuária. Considerando a inserção e o contexto da prática

real desses trabalhadores, as Escolas Técnicas foram reconhecidas e autorizadas

pelo sistema educacional para funcionarem de forma descentralizada e atenderem às

necessidades do setor2.

Dentro da atual política sanitária, considerando o processo de descentralização

e municipalização dos serviços de saúde, as Escolas Técnicas tornam-se

imprescindíveis e estratégicas para responder às demandas de profissionalização dos

trabalhadores de saúde de nível médio.

Atualmente o país conta com 27 Escolas Técnicas/Centros Formadores em 18

Estados da federação. Em Minas Gerais, existem três Escolas de Formação Técnica

(Norte de Minas, Vale do Aço e FHEMIG/Fundação Hospitalar do Estado de Minas

Gerais) e um Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde/CFRHS que

funciona na Escola de Saúde de Minas Gerais, em Belo Horizonte (TORREZ, 1994).

De acordo com seu regimento escolar, o CFRHS é concebido como um

estabelecimento de ensino oficial do Sistema Único de Saúde, destinado a preparar

profissionalmente, por meio de cursos supletivos e de qualificação profissional,

pessoal de nível fundamental e médio para o desempenho de atividades específicas

2Cada Conselho Estadual de Educação se pronuncia, através de “Parecer”, sobre a criação da Escola Técnica. A autorização de funcionamento da Escola é emitida através da Secretaria Estadual de Educação.

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do setor de saúde. Foi criado na década de 70 com a denominação de Centro

Interescolar de Saúde de Minas Gerais/CISAMI, mantido pela Fundação Ezequiel

Dias/FUNED. Em 1980 mudou sua denominação (CFRHS) e seu funcionamento foi

autorizado pela Portaria 012/84 de 10/01/84, da Secretaria de Estado da Educação de

Minas Gerais. Sua sede é na Escola de Saúde de Minas Gerais, em Belo Horizonte

(SES/MG, 1996). O corpo docente da ESMIG/CFRHS é constituído de pessoal

legalmente habilitado, segundo as normas do Sistema Estadual de Ensino.

Prioritariamente, os docentes do curso são profissionais que atuam na rede de serviço

do SUS, observada a legislação vigente. O corpo discente é constituído,

prioritariamente, por pessoal já engajado na força de trabalho do SUS (MINAS

GERAIS, 1996).

Os recursos humanos atuantes na área de saúde, denominados de pessoal

auxiliar, compreendem, de uma maneira geral, os servidores de nível educacional

não superior. Esse contingente é constituído de pessoas que, na maioria das vezes,

não tiveram acesso à escola ou dela foram excluídas, seja da parte da educação

geral, seja da parte profissionalizante. Esses profissionais prestam serviços de saúde

à população em atividades e tarefas consideradas adjacentes, mas realizam ações

que demandam capacidade de observação, juízo crítico e decisão, para as quais uma

formação mínima seria desejável, senão indispensável.

Estima-se que existam no Brasil cerca de 400 mil trabalhadores atuando na

área de saúde sem qualificação específica. Exercem funções diversas, desde

administração de serviços gerais até função assistencial nas áreas de enfermagem,

odontologia, nutrição, fisioterapia, meios diagnósticos e vigilância sanitária, e que,

devido à falta de qualificação, não recebem a devida valorização social e institucional.

Representam em torno de 50% dos trabalhadores empregados no setor (PEZZATO,

1999). Várias alternativas já foram implementadas para tentar sanar a situação, que

continua preocupante.

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Desde 1975, por meio do Parecer 460/75, o atual Ministério da Educação e

Desporto / Conselho Nacional de Educação estabeleceu o perfil, currículos mínimos e

critérios para a formação de pessoal auxiliar odontológico, o Técnico em Higiene

Dental/THD e o Atendente de Consultório Dentário/ACD. Além dessa regulamentação

educacional, os profissionais da área de saúde bucal se submetem ainda a normas

específicas dos procedimentos profissionais regulamentados pelo Conselho Federal

de Odontologia/ CFO. O Técnico em Higiene Dental é reconhecido pelo CFO que

aprovou o exercício dessa profissão com a Resolução 155/84, e alterada pela

Resolução 157/87 (BRASIL, 1994).

Uma discussão que se coloca hoje em relação ao pessoal auxiliar odontológico

é a questão da redefinição do seu perfil profissional, bem como a necessidade de se

utilizar uma nomenclatura mais apropriada ao trabalho que envolve essas ocupações

(CARVALHO, 1999), em função das reformas educacionais e da demanda do sistema

por serviços de saúde bucal.

A reforma em curso, conduzida pelo Ministério da Educação e do Desporto, ao

aplicar a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB - (BRASIL, 1996) e ao

propor a edição do Decreto 2.208/97 (BRASIL, 1997), a Resolução 04/99 (CNE/CEB,

1999) e o Parecer 16/99 (CNE,1999), regulamentando a educação profissional,

favorece esse debate, e exige novas posturas e ações educacionais direcionadas

para a qualificação profissional no setor (BRASIL, 1999).

Aos concluintes de curso de nível técnico, portadores de certificado de

conclusão do ensino fundamental, será expedido pela ESMIG/CFRHS o certificado de

habilitação profissional e, aos portadores de certificado de conclusão do ensino médio

(II grau), será expedido o diploma de habilitação profissional.

De acordo com a LDB, existem duas modalidades de educação formal: a

escolar e a profissional. A educação escolar se divide em dois níveis: a educação

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básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e a

educação superior.

A educação profissional recebeu, na LDB, tratamento particularizado (BRASIL,

1997). Ela pode ser desenvolvida em articulação com o ensino regular ou em

modalidades que completem estratégias de educação continuada, podendo ser

realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas ou nos

ambientes de trabalho. No setor de saúde as Escolas Técnicas já assumem este

papel, mas a atual legislação fortalece sua missão de formadora de trabalhadores

qualificados. As Escolas Técnicas e Centros Formadores são as instituições formais

para qualificar, a nível técnico os profissionais da área, ao mesmo tempo em que se

responsabilizam pela formação das outras modalidades previstas.

A educação profissional compreende três níveis. O primeiro nível, básico, é

destinado à qualificação, requalificação e reprofissionalização de trabalhadores,

independentemente de escolaridade prévia. É uma modalidade educacional não

formal, de duração variável e não dependente de regulamentação do sistema

educacional. As instituições que ministram a educação profissional, apoiadas

financeiramente pelo Poder Público, deverão, obrigatoriamente, oferecer os cursos

profissionais de nível básico em sua programação. Nesta categoria enquadram-se,

por exemplo, os treinamentos e qualificação de Agentes Comunitários de Saúde.

O segundo nível de educação profissional é destinado a proporcionar

habilitação de nível técnico profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino

médio. Possui uma organização curricular própria e independente do ensino médio,

podendo ser oferecida de forma simultânea ou em seqüência a este. Para obter o

diploma de técnico de nível médio o interessado deve possuir o certificado de

conclusão do ensino médio. Nesse segundo nível, encaixa-se o Técnico em

Higiene Dental.

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O terceiro nível, o tecnológico, corresponde a cursos de nível superior na área

tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e técnico. Os cursos de nível

superior, correspondentes à educação profissional de nível tecnológico, deverão ser

estruturados para atender aos diversos setores da economia, abrangendo áreas

especializadas e conferindo diploma de tecnólogo.

A Resolução 04/99 (CNE/CEB, 1999), institui as diretrizes curriculares

nacionais para a educação profissional de nível técnico. Define as áreas profissionais,

suas características, as competências profissionais gerais e as cargas horárias. Para

a área da saúde, a carga horária mínima de cada habilitação é de 1.200 horas.

Nessa conformação do ensino profissional, as Escolas Técnicas de Saúde, os

Centros Formadores de Recursos Humanos para a Saúde e os cursos

tradicionalmente por eles oferecidos, assumem uma nova dimensão na política e nas

estratégias de formação profissional no país. Reformulações e novas propostas têm

sido experimentadas nos últimos anos, procurando enquadrar-se à legislação vigente

e tentando dar respostas adequadas ao setor.

Foi com a carga horária de 1200 horas que a ESMIG/CFRHS formou nos

últimos anos os Técnicos em Higiene Dental. Esse curso foi aprovado em 8/10/96

pelo Parecer 913/96 e Resolução 406/96 do Conselho Estadual de Educação/CEE. O

pedido de autorização para a implantação como experiência pedagógica do Curso de

Técnico em Higiene Dental apresentado ao CEE tem base legal facultada pelo Art. 52

da Resolução CEE 386/91 e disciplinada pela Resolução / CEE 398/95 (CEE, 1996).

Os requisitos referentes à matrícula na ESMIG/CFRHS para esses cursos foram:

idade mínima de 18 anos, conclusão do ensino de II grau e estar inserido (ou em vias

de inserção) na rede do SUS.

No documento apresentado ao Conselho Estadual de Educação (MINAS

GERAIS, 1996), justifica-se a opção pelo curso de THD devido à política do SUS no

sentido de canalizar esforços para melhorar os níveis de saúde bucal no país. Em

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Minas Gerais, estima-se uma necessidade de 1866 THD’s para garantir a

universalização de procedimentos coletivos de controle da incidência da doença cárie

dentária em crianças e adolescentes de 5 a 14 anos. Tal necessidade aumenta se

considerado o grupo de gestantes, adultos, velhos e crianças de 0 a 4 anos. As

razões epidemiológicas, bem como as necessidades de racionalização da assistência

em saúde bucais à população também respaldam o investimento na formação destes

profissionais.

O Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde (CFRHS) fez a

opção pela formação em serviço do Técnico em Higiene Dental (THD) por meio

da adoção do Currículo Integrado. Essa escolha aponta para uma concepção

educacional que busca resgatar, para os trabalhadores de saúde, o conceito e a

prática da cidadania e permite a reflexão, a crítica e o domínio do conhecimento

indispensáveis à reformulação de sua prática profissional (BRASIL, 1994).

A proposta de profissionalização por meio do Currículo Integrado é anterior à

legislação atual. “A LDB legitimou e consagrou o trabalho de construção e implantação dos

Currículos Integrados” 3.

Em 1994, essa concepção educacional foi analisada em uma dissertação de

mestrado na Faculdade de Educação do Rio de Janeiro. Com seu trabalho intitulado

“Qualificação e trabalho em saúde: o desafio de ir além na formação dos

trabalhadores de nível médio” , a autora explicitou a estratégia político-pedagógica

da formação em serviço dos auxiliares de enfermagem, e os avanços possíveis para

a relação entre qualificação e trabalho em saúde (TORREZ, 1994).

O Parecer 16/99 (CNE, 1999), que estabelece os princípios e a organização da

educação profissional, assinala a necessidade de atualização permanente dos cursos

e currículos. Analisar os currículos orientadores dos cursos em andamento, além de

ser pertinente e necessário para a compreensão das práticas de formação dos

3 Ena Galvão, técnica do Ministério da Saúde. Comunicação pessoal em 17/08/00

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profissionais da área de saúde, poderá oferecer subsídios para o aperfeiçoamento

constante dos programas de formação profissional do setor de saúde, e em geral.

Autores como MICHAEL YOUNG (1989) afirmam que há necessidade de se

compreenderem as questões curriculares, considerando-as num contexto sócio-

histórico e sugerem a exploração de novas estruturas para o currículo, viabilizando as

possibilidades educacionais no ambiente do trabalho.

MOREIRA (1992), um estudioso das principais tendências do pensamento

curricular no Brasil, defende a idéia de se planejarem currículos que dêem aos

estudantes voz ativa e crítica e que lhes forneçam o conhecimento e as habilidades

necessárias para a sobrevivência e o crescimento no mundo moderno. Essa

concepção está associada à ênfase na necessidade de se trabalhar no sentido de

levar o aluno a desenvolver força de vontade, disciplina, respeito ao trabalho,

constância nos esforços e propósitos. Mas também se pretende formar cidadãos

críticos, autônomos, participantes, ativos e possuidores de conhecimentos e

habilidades que o levem a contribuir para a promoção de melhores e mais justas

condições de vida para todos.

Nessa perspectiva, o que procuramos foi analisar o Currículo Integrado

praticado na formação em serviço do Técnico em Higiene Dental. Algumas

instituições governamentais do setor de saúde vêm promovendo esforços no sentido

de favorecer o processo de educação continuada para o nível superior e a

profissionalização do nível médio por meio dos Currículos Integrados. Assim, já estão

publicados pelo Ministério da Saúde, os seguintes documentos: Guia curricular para a

formação do Auxiliar de Enfermagem para atuar na rede básica do SUS (BRASIL,

1994), Guia curricular para a formação do Auxiliar de Enfermagem: área hospitalar

(SANTOS, 1995), Guia curricular para a formação de Técnico em Higiene Dental para

atuar na rede básica do SUS (BRASIL, 1994), Guia curricular para a formação do

Atendente de Consultório Dentário para atuar na rede básica do SUS (BRASIL, 1998).

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Ainda não publicados, mas já construídos, estão os Currículos Integrados do

Técnico de Patologia Clínica e Técnico de Farmácia . 4

Para o nível superior, já estão publicados os seguintes documentos:

Desenvolvimento gerencial de unidades de saúde do distrito sanitário - Projeto

GERUS (BRASIL, 1995), Capacitação em desenvolvimento de recursos humanos de

saúde - CADRHU (SANTANA, 1993), Capacitação de enfermeiros em saúde pública

para o SUS (BRASIL, 1994), Capacitação técnica para o cirurgião-dentista atuar na

rede básica do SUS (BRASIL, 1994). Atrelada às capacitações técnicas, há também a

Capacitação pedagógica para instrutor/supervisor da área da saúde (BRASIL, 1994).

O Currículo Integrado para a formação do THD é um plano pedagógico que

articula dinamicamente trabalho e ensino, prática e teoria, serviço e comunidade.

Nesse plano, os problemas e suas hipóteses de solução devem ter sempre, como

pano de fundo, as características socio-culturais do meio em que esse processo se

desenvolve. Tal processo de formação se caracteriza pela concepção pedagógica de

integração ensino-serviço, onde a realidade se torna a referência problematizadora e

as ações educativas consistentes com a proposta da Reforma Sanitária, no sentido de

reorientar e qualificar a prática profissional (BRASIL, 1994).

As avaliações e regulações necessárias a esse processo não se processarão

apenas no espaço interno do curso, mas pelos efeitos que se prolongarem, para além

da ação pedagógica (TORREZ, 1994).

O Currículo Integrado atende aos conteúdos mínimos profissionalizantes

estabelecidos pelo Parecer CFE 460/75 e Resolução CEE 362/87 (BRASIL, 1994).

Os cursos são organizados alternando períodos de Concentração e Dispersão,

observada a metodologia de integração ensino-serviço.

4 Isabel Santos, técnica do Ministério da Saúde. Comunicação pessoal em 17/08/00

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A Concentração refere-se ao momento do curso destinado ao desenvolvimento

de conteúdos. Todos os alunos encontram-se juntos (concentrados) no “Centro

Formador” que foi descentralizado para um município-sede. Os períodos de

Concentração são caracterizados como momentos de reflexão/teorização da prática

profissional. São considerados como momentos de reconstrução teórica de formas,

princípios mais elaborados e científicos que buscam instrumentalizar e explicitar a

prática profissional. Sob a orientação direta do Instrutor, um cirurgião-dentista da rede

básica do SUS, capacitado técnica e pedagogicamente, os alunos desenvolvem

atividades programadas no Guia Curricular (BRASIL, 1994). São discutidas as

questões referentes a sua prática cotidiana, bem como desenvolvidos novos

conhecimentos e habilidades que objetivam instrumentalizar os alunos para uma

ação profissional diferente.

A Dispersão é o momento do curso destinado ao desenvolvimento das

habilidades práticas. Os alunos estão distribuídos (dispersos) em diferentes unidades

de atendimento do SUS; num posto de saúde ou policlínica dos seus municípios de

origem, onde já trabalham integrados formalmente ao sistema de saúde, normalmente

próximos do município sede onde ocorre a Concentração. Na Dispersão há

orientação, acompanhamento e registro sistemático do desenvolvimento do

educando. Este momento visa a favorecer a reflexão de cada aluno no universo das

funções para as quais está se habilitando. É na Dispersão que ocorre uma nova

sistematização dos conhecimentos e a sua consolidação. Esse momento acontece

após cada período de Concentração ou paralelamente a ele. O instrutor da Dispersão

é o dentista que trabalha na unidade de saúde, na mesma equipe do aluno. Esse

profissional docente (instrutor) também participou de uma atualização técnica e

sensibilização pedagógica, oferecida pelas instituições de saúde (Secretarias

Municipais).

A Figura 1 mostra o esquema de funcionamento dos municípios da Dispersão,

Concentração e destes municípios-sede com o CFRHS em Belo Horizonte.

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= Dispersão do THD = Concentração do THD

CFRHS = Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde

FIGURA 1: A formação em serviço do THD

Não se distingue um momento específico de “Estágio Supervisionado”. Na

estrutura proposta, a prática é avaliativa e acontece durante todo o processo. Uma

prática contínua, relacionada com a formação teórica e técnica. O processo não

separa a teoria da prática.

O processo de avaliação considera o desempenho do aluno na Concentração e

na Dispersão, fundamentando-se no domínio dos componentes teóricos e das

habilidades técnicas. Preponderam os aspectos qualitativos sobre os quantitativos.

C F R H S B H

MUNICÍPIO SEDE

MUNICÍPIO SEDE

MUNICÍPIO SEDE

MUNICÍPIO SEDE

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Participam da avaliação todos os dentistas envolvidos no processo ensino-

aprendizagem. Utiliza-se o conceito apto e não-apto para fins de aprovação, bem

como percentual mínimo de 75% de freqüência. O curso tem duração de 30 semanas,

sendo 12 semanas de concentração e 18 de dispersão.

Nos municípios a serem beneficiados pelo projeto, a Superintendência

Regional de Ensino envolvida confirma a existência de instalações, equipamento,

material didático e acervo bibliográfico adequados e disponível para o

desenvolvimento do curso. Nos locais escolhidos, acha-se confirmada essa situação

em relatórios de verificação in loco, elaborados por equipe de inspeção da jurisdição

de ensino regional.

Os cursos estão autorizados a funcionar com sedes descentralizadas em 18

Secretarias Municipais de Saúde. São elas: Araçuaí, Belo Horizonte, Bom Despacho,

Brasília de Minas, Carmo do Paranaíba, Coromandel, Curvelo, Francisco Sá, Itabira,

Juiz de Fora, Minas Novas, Nazareno, Paracatu, Patrocínio, Ponte Nova, Pouso

Alegre, Santo Antônio do Monte e Várzea da Palma. Na página seguinte, o mapa da

Figura 2 permite uma visualização da distribuição destes municípios no Estado de

Minas Gerais.

Desses municípios autorizados pelo CEE a oferecer o curso de formação em

serviço do THD, 11 já abriram turmas e concluíram o processo e 1 município está com

o curso em andamento. O quadro da Figura 3 foi montado a partir dos dados

disponíveis na ESMIG/CFRHS e mostra a abrangência em Minas Gerais do processo

de formação em serviço por meio do Currículo Integrado.

A formação em serviço do THD é uma estratégia que, ao mesmo tempo

em que possibilita ao aluno aprender a partir dos problemas demandados pela

realidade, utiliza-se deles e os transforma, contribuindo assim para a melhoria

da qualidade desses serviços. O ambiente de trabalho, entendido como a “sala de

aula”, é um local para se aprender, mas também para se aprimorar.

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FIGURA 2: Mapa dos municípios autorizados pelo CEE para a formação do THD

Várzea da Palma

Paracatu

Carmo do Paranaíba

Coromandel

Brasília de Minas

Patrocínio

Nazareno

Pouso Alegre

Santo Antônio do Monte

Bom DespachoBelo Horizonte

Juiz de Fora

Ponte Nova

Itabira

Curvelo

Minas Novas

Araçuaí

Francisco Sá

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MUNICÍPIO SEDE NÚMERO DE MUNICÍPIOS

ENVOLVIDOS

NÚMERO DE ALUNOS

MATRICULADOS

NÚMERO DE ALUNOS

CONCLUINTES

Belo Horizonte 3 56 Em andamento

Bom Despacho 6 12 12

Brasília de Minas 11 14 14

Carmo do Paranaíba 11 25 24

Curvelo 11 14 13

Juiz de Fora 20 84 79

Nazareno 11 14 14

Paracatu 12 30 26

Patrocínio 1 6 6

Pouso Alegre 22 28 28

Santo Antônio do Monte 3 7 7

Várzea da Palma 4 13 13

TOTAL 115 303 236

Fonte: Secretaria de Ensino do CFRHS

FIGURA 3: Quadro com a distribuição dos alunos nos cursos de THD’s por

municípios, número de matrículas e concluintes - 1997 a 2000

A oportunidade do aluno de participar do cotidiano do serviço, de suas

dificuldades, seus mecanismos políticos e de poder, representa um aporte

pedagógico inesgotável. Pressupõe-se que a formação precede e ultrapassa o âmbito

escolar. Ela continua no mundo do trabalho, mediada pelas instituições de saúde

(BARBOSA, 1998).

A preparação dos docentes que atuam nesse processo é de responsabilidade

da Escola de Saúde. Todo dentista graduado em Faculdades de Odontologia pode

ser o instrutor do THD. Entretanto, na rotina dos serviços do SUS, observa-se que o

dentista que entra ou faz parte do sistema, de uma maneira geral, não está preparado

tecnicamente para assumir os desafios da prática coletiva, muito menos sensibilizado

para o seu papel docente. As contradições colocadas pela realidade dos serviços de

saúde são muito grandes. Na maioria das vezes, apesar de estarem relacionados

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administrativamente com o SUS, os serviços de saúde e de saúde bucal não se

encontram organizados sob os princípios da Reforma Sanitária. Além de ser

chamado, em equipe, a repensar e reorganizar esses serviços, o dentista é também

desafiado a um novo papel, que na sua graduação não foi priorizado: o de formar

pessoal auxiliar.

Para essa grande demanda, a operacionalização de cursos de capacitação

técnica e pedagógica para dentistas é também uma estratégia para a reorganização

de serviços de saúde bucal e a formação em serviço do THD. É dentro de um

contexto de repensar a realidade e redefinir o modelo de assistência que se insere

também a capacitação de dentistas e a formação de THD. O preparo pedagógico do

profissional de nível superior é, de certa forma, condição preliminar para a viabilização

dos cursos de qualificação do pessoal auxiliar ao qual nos referimos neste trabalho.

Em 1996, aconteceu na ESMIG o I Curso de Especialização em Atenção

Básica de Saúde / Odontologia Coletiva que capacitou 24 dentistas de municípios

mineiros para reorganizarem os serviços de saúde bucal e também exercerem a

função de docentes na composição da equipe.

Em 1997, os dentistas que participaram do curso iniciaram no seu

município de origem a formação em serviço do THD por meio do Currículo

Integrado. Esses dentistas são os responsáveis pela Concentração dos THD’s. Eles

também são responsáveis por deflagrar, na sua região, com apoio da Escola de

Saúde de Minas Gerais, um processo de capacitação e sensibilização pedagógica

dos dentistas que atuarão como instrutores do THD na Dispersão.

Ao elegermos a análise do processo de formação do THD como eixo

deste trabalho, demarcamos também sua abrangência. Interessou-nos estudar a

construção de ordens curriculares alternativas, as visões sociais transmitidas e

a prática como ponto de partida e de chegada.

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Este trabalho tem significação especial para os trabalhadores que atuam nos

processos educativos no setor de saúde e saúde bucal, e para os educadores que se

ocupam de estudos de currículo de formação em serviço, em diversos setores.

“O objeto desse estudo se vincula ao campo das utopias por justiça social, democracia

e libertação. Não podia ser diferente, em razão do currículo estar no centro da relação

educativa, e estar ligado ao saber, poder e identidade” (Cit. Pág. 121 ROMANO,

1999).

Suas implicações estão no cenário municipal, estadual e nacional. Sua

contribuição se localiza no campo da estruturação dos cursos profissionalizantes, bem

como nos cursos de formação dos docentes de profissionais de nível médio na área

de saúde bucal.

Nossa prática profissional sempre trouxe como desafio a forte ligação da saúde

e educação. Na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / PUC-MG,

desenvolvendo atividades docentes no Curso de Atendente de Consultório Dentário

(ACD), questionávamos o nosso trabalho como professores, ao mesmo tempo em

que identificávamos os limites daquela formação que estava sendo oferecida.

Perguntávamos: como, a partir dos conhecimentos transmitidos aquelas alunas

responderiam às demandas do mundo profissional?

Enquanto docentes da disciplina de Odontologia Social, também na PUC-MG,

o desafio era sermos educadores dentro de uma estrutura curricular que enfatizava

ações tecnicistas, onde a repetição era o foco maior. Como estabelecer relações

pedagógicas que contribuíssem para que o aluno se tornasse mais crítico e

questionador? Como sensibilizá-lo para o seu papel de ator social?

Mas a motivação maior para este estudo é oriunda da nossa atuação na

área de recursos humanos, como integrante da equipe formadora de

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profissionais de nível básico e técnico da ESMIG/CFRHS e como instrutora e

coordenadora de cursos de pós-graduação do SUS.

Inquietavam-nos as propostas de inserção do “nível médio” na equipe de saúde

bucal. No final da década de 80, quando fomos convidadas pela Organização Pan

Americana de Saúde para construirmos o “Guia curricular para a formação do Técnico

em Higiene Dental para atuar na rede básica do SUS”, iniciamos um caminho de

tateios e sucessivas aproximações do que viria a ser um Currículo Integrado. Esse

material foi publicado pelo Ministério da Saúde nos anos 90, enquanto proposta

nacional e utilizado em vários estados, inclusive em Minas Gerais.

Construir esse plano pedagógico foi um grande desafio em relação à

organização do seu conteúdo e à compreensão da sua dimensão político-pedagógica.

Mas na época, nosso conhecimento pedagógico não nos permitiu compreender o

poder de regulação dos currículos escolares.

Foi a partir da consolidação da nossa formação pedagógica, através do Curso

de Mestrado em Educação, ao entender as dimensões sociais e práticas do currículo,

é que foi possível perceber a importância de analisar e avaliar a proposta do currículo

em questão.

Esse estudo sobre a formação em serviço do THD, representou uma

possibilidade de resgate da reflexão sobre a dimensão pedagógica e os efeitos do

controle social do Currículo Integrado por nós implementado. Representou também a

desmistificação do conceito de pesquisa, apontando os múltiplos horizontes que a

formação em serviço abre, reforçando a idéia de investigação enquanto descoberta,

criação, diálogo.

Especialistas em educação exaltam a importância da tarefa política de

estabelecer arranjos curriculares que sejam transgressivos da ordem curricular

existente. A construção de ordens curriculares alternativas considera a

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disciplinariedade como um núcleo a ser atacado em uma estratégia de desconstrução

da organização curricular existente (MOREIRA, 1995).

Que visões sociais estariam sendo transmitidas aos profissionais da saúde

envolvidos nesse plano pedagógico? Que identidades individuais esse currículo

estaria produzindo?

Entendendo o currículo não apenas como implicado na produção das relações

de poder no interior da escola e da sociedade, mas também como histórica e

socialmente contingente, sua área de atuação é vista como uma arena política.

Usando a antiga metáfora, o currículo não será mais uma pista de corrida, mas a

própria jornada (DOLL, 1997). Sabe-se que a corrida começa antes do ponto de

largada da pista (grade curricular) e continua o seu longo caminho após a placa de

chegada. A pista, por si só, não define a corrida. É preciso saber quem corre, como

corre, o que vislumbra a frente. Quem é o técnico dessa corrida? Como é essa

pessoa que também definirá o ritmo a ser impresso? A corrida é uma ação isolada ou

os corredores estão envolvidos em uma atividade coletiva? No correr (apropriação do

conhecimento) predominam as ações de competição ou de cooperação? Enquanto

correm transformam a realidade que os cerca? São estimulados a fazê-lo? Qual é o

“clima” da corrida? Como se comportam as autoridades políticas que optaram por

essa jornada? Depois da linha de chegada, qual é a postura dos corredores? Qual a

dimensão política da ação pedagógica que foi desenvolvida?

O conhecimento não é algo estático, acabado e definitivo, Sua renovação

precisa estar constantemente penetrando a prática, e vice-versa, num movimento

dialético, incessante de realimentação das idéias pelos fatos e dos fatos pelas idéias

(KRAMER, 1989).

Foi com esta concepção que o Currículo Integrado para a formação do THD foi

construído. No entanto, queríamos investigar quais eram os pressupostos da

arquitetura interna do Currículo Integrado. O curso havia contribuído, como se

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propunha, para possibilitar no processo de qualificação, além de conhecimentos,

atitudes comprometidas com a mudança da situação de saúde da população?

Desde o início do Curso de Mestrado, havia o desafio de definir o objeto de

estudo e, em seguida, enxergar sutilezas, relações ligadas a esse objeto que

permitissem identificar as teorias que o suportavam. Tratava-se de um grande

investimento em, a partir de uma dada realidade, buscar explicações teóricas (ou

construí-las) que possibilitassem uma melhor leitura e entendimento dessa realidade

(BOURDIEU, 1989). Este foi o nosso desafio.

Organizamos esta exposição da seguinte maneira:

• Introdução: exposição do objeto, objetivos da pesquisa, problemática, o

envolvimento com o trabalho, seus limites, importância e a quem se dirige o

estudo.

• Capítulo 1 – Considerações metodológicas: apresentação das condições em que

se deram os trabalhos, os caminhos escolhidos para a efetivação do estudo, os

atores, as questões inquietadoras.

• Capítulo 2 – Os pressupostos teóricos de Basil Bernstein.

• Capítulo 3 - O Currículo Integrado do THD

• Capítulo 4 – Interpretação dos resultados. O caráter educativo da formação em

serviço: discussão acerca do tema Currículo Integrado.

• Conclusões: síntese dos impactos, dificuldades e possibilidades da alternativa

pedagógica de formação em serviço por meio dos Currículos Integrados.

• Referência Bibliográfica

• Anexos

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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Coerente com o processo que deu forma ao trabalho proposto, a opção

metodológica para analisar e avaliar o Currículo Integrado do THD foi a abordagem

qualitativa, onde o ambiente natural funcionaria como a fonte direta de dados. O

interesse maior era verificar como a situação se manifestava, ou seja, a preocupação

com o processo de realização do curso ou de concretização da proposta do Currículo

Integrado era muito maior do que com o produto, ou seja, com os próprios resultados

do(s) curso(s) desenvolvido(s). Nossa preferência também se baseava no fato de

querermos estudar questões difíceis de quantificar, como postura, sentimentos,

motivações e atitudes (GOLDENBERG, 1998).

O Estudo de Caso foi o recurso metodológico assumido. Esse tipo de

abordagem nos permitiu partir inicialmente de algumas questões ou pontos críticos

que foram sendo explicitados, reformulados ou abandonados à medida que se

mostraram mais ou menos relevantes. Não partimos de uma visão pré-determinada

da realidade, mas procuramos apreender os aspectos ricos e imprevistos que

envolveram uma determinada situação (LÜDKE, 1986). Nosso propósito era retratar

uma unidade em ação: o caso da formação do THD por meio do Currículo Integrado.

Nessa pesquisa, o desafio foi colocar em jogo a teorização de questões ligadas

a uma prática escolar (as relações pedagógicas no curso de formação do THD)

aparentemente irrisória, sem significado.

A experiência de utilização do Currículo Integrado para a formação em serviço

do THD parecia-nos uma alternativa pedagógica viável e que produzia resultados

interessantes e necessários. Ainda que essa idéia fosse partilhada pelos atores

envolvidos e se consolidasse numa avaliação institucional positiva, o nosso

movimento durante todo o tempo foi no sentido de romper com essa representação e

buscar respaldo científico para esse conjunto de constatações.

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À medida que foi possível estabelecer uma trama teórica que permitiu um

olhar sobre o objeto com mais clareza e distância, foi identificada também a

necessidade de alterações no caminho que inicialmente havia sido traçado.

Ainda que seja comum encontrar nos trabalhos acadêmicos os relatórios finais

descrevendo de forma acabada os caminhos que foram seguidos, é sedutora a idéia

de registrar as primeiras formas, as propostas iniciais de como foi concebida a

pesquisa.

No projeto apresentado ao Colegiado do Curso de Mestrado, sobre a

abordagem metodológica, no item: “dados a serem coletados, os instrumentos e

procedimentos de coleta”, havia a proposta de uma análise preliminar de dados

disponíveis para depois procedermos à coleta de outros dados, por meio da

observação e entrevistas com docentes e autoridades envolvidas. A aplicação de

questionários destinados aos THD’s formados em um município sede escolhido, era

uma tentativa de certificação do que pensavam e refletiam esses atores sobre o seu

processo de formação em serviço. Entretanto, o tratamento oferecido aos dados que

nos serviriam como preliminares, acabaram elevando-os à qualidade de material

empírico para essa dissertação. Adiante falaremos mais detalhadamente sobre esse

material.

Talvez, por já estarmos submetidas a um meio com alto nível de

“contaminação” pela busca de integração entre teoria e prática, seja tão difícil falar do

caminho seguido, sem descrever como foi o caminhar.

A ESMIG/CFRHS, através da equipe coordenadora dos cursos de qualificação

profissional, realizou uma ação diagnóstica para verificar como os instrutores da

Concentração dos cursos de formação de THD avaliavam esse processo em Minas

Gerais. Assim, foram realizadas Oficinas de Trabalho com a participação dos

C.Dentistas de diferentes regiões do estado onde o curso já havia sido concluído,

totalizando, àquela época 7 municípios (Bom Despacho, Brasília de Minas, Carmo do

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Paranaíba, Juiz de Fora, Paracatu, Patrocínio e Santo Antônio do Monte). Para essa

Oficina de trabalho foram levantados dados de matrícula e identificados os THD’s

(sexo, idade e escolaridade), total de alunos que iniciaram e concluíram o curso e

demanda de formação de novas turmas por município. As informações agrupadas no

Anexo I nos permitiram um primeiro traçado do perfil dos alunos e dos municípios já

envolvidos no processo. Não havia dados disponíveis para um delineamento sócio-

econômico desses profissionais, o que nos possibilitaria um maior conhecimento do

grupo e possíveis integrações com outros trabalhos.

Ainda na Oficina de Trabalho que foi realizada na Escola de Saúde de Minas

Gerais, os Dentistas-Instrutores da Concentração do curso de THD responderam a

um questionário auto-aplicável. A partir da tabulação dos dados colhidos nos

questionários e da Oficina em si, foi elaborado um relatório final. O relatório final

dessa Oficina (Anexo II) foi encaminhado às autoridades setoriais. Também foram

definidas estratégias de condução da política de formação do THD em Minas Gerais.

Esses dados que nos foram disponibilizados permitiu-nos inicialmente

identificar um “Panorama da Profissionalização do THD em Minas Gerais”.

Identificamos o total de municípios envolvidos nesse processo de formação de

THD por meio do Currículo Integrado e projetamos o resultado em um mapa (Anexo

III). Esse mapa revelou-nos uma grande contradição da proposta de formação de

trabalhadores de nível médio para os serviços de saúde bucal no Estado de Minas

Gerais: as regiões mais carentes e necessitadas (Vale do Jequitinhonha e Norte de

Minas), ainda que tivessem instrutores capacitados para iniciar a formação do THD,

não dispuseram de recursos financeiros suficientes para dar continuidade a esse

processo.

No plano pedagógico, foi instituído como rotina, na ESMIG, o acompanhamento

dos coordenadores de cursos de formação de THD, por meio dos Encontros

Pedagógicos. Trata-se de um espaço aberto para a discussão e encaminhamento de

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questões técnicas e pedagógicas, onde são abordados temas levantados pelos

cirurgiões-dentistas responsáveis pela Concentração do curso. Esses encontros

possuem caráter regular, em regime trimestral, e estão sendo alvo de avaliação

constante pelos atores envolvidos.

Acompanhamos o cotidiano da ESMIG/CFRHS como funcionária da instituição

e, ao mesmo tempo, como pesquisadora. Tentamos olhar para dentro da Escola,

perceber seus problemas, suas precariedades, seus avanços, suas contradições.

Observamos detalhes administrativos e pedagógicos, conversamos informalmente

com técnicos e diretores.

“É um mergulho no empírico, mas não um mergulho desprovido de proteção. Levo

comigo um equipamento rudimentar, mas o suficiente para não me afogar no mar de

fatos aparentemente desarticulados que é a vida diária de uma escola” (cit. Pág. 62

MELLO, 1998).

Pretendíamos, a partir dessa etapa, fazer uma primeira ordenação do material

que estava nos municípios e foi disponibilizado para esse estudo. Pretendíamos, ao

mesmo tempo, verificar alguns pressupostos teóricos, definir o município onde

centraríamos os estudos de campo, bem como os destaques pedagógicos levantados

pelos docentes e que mereceriam maior atenção ao longo das outras etapas da

pesquisa. Após essa primeira sistematização é que definiríamos os roteiros de

entrevistas e as guias de observação.

Como a atenção estava concentrada em fazer uma análise qualitativa do curso,

fizemos uma leitura minuciosa dos registros disponíveis. Deparamo-nos com os

relatórios das inspetoras regionais de ensino e investigamos todos as questões

levantadas.

Agrupando todo o material referente à formação do THD em Minas Gerais,

encontramos um número enorme de registros feitos pelo corpo discente durante o

andamento dos cursos. Eram avaliações feitas ao final de cada semana de

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Concentração (uma média de registros que variava de acordo com o número de

alunos no município), onde os alunos expressavam opiniões e pontos de vista sobre a

prática pedagógica desenvolvida.

Foi feita uma primeira leitura desse material e constatada a riqueza no

teor dos depoimentos. Percebemos que tínhamos em mãos registros

suficientes para avaliar as relações pedagógicas impressas aos cursos

descentralizados. Isso se tornou essencialmente o material de análise.

Por uma questão de tempo e de método, decidimos focar toda a atenção num

só município que houvesse concluído o curso. Já fora constatado, por meio dos

cirurgiões-dentistas instrutores, que, quanto mais heterogêneo o grupo de alunos e de

experiências que traziam, mais ricas as discussões em grupo.

Assim, Carmo do Paranaíba foi o município selecionado. Sua escolha não foi

no sentido de eleger um subgrupo retirado do universo populacional a ser estudado e

que permitisse fazer uma generalização para todos os outros municípios. A indagação

que poderia ocorrer a partir desse estudo seria a de tentar conhecer o que se podia

aplicar (ou não) desse caso em outras situações de cursos que seguiam a mesma

concepção pedagógica.

A escolha desse município foi baseada em critérios estabelecidos a partir dos

Encontros Pedagógicos (que começaram a acontecer na ESMIG de uma maneira

sistematizada) de avaliação do processo de formação do THD. Dos problemas do

serviço que eram levados para o curso, o mais comum referia-se aos diferentes

estágios em que se encontrava a organização dos serviços de saúde bucal do SUS. A

questão mais polêmica que surgia era o fato da “sala de aula” (serviços locais de

saúde bucal) não estar organizada o suficiente para garantir ao THD uma prática

ajustada à aplicação dos novos conhecimentos adquiridos. Havia uma grande

contradição no processo de formação do THD. A maioria dos municípios possuía um

modelo de atenção à saúde centrado no profissional de nível superior (cirurgião-

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dentista), de enfoque individual, de caráter curativo e Equipamento/Dependente, ou

seja, com o pressuposto de que a ausência de equipamento odontológico inviabilizava

as ações assistenciais. Ao mesmo tempo estavam investindo na formação de um

profissional que tem como ação primeira o controle da incidência das doenças bucais

(prevenção), e que discutia com freqüência a importância da inversão da lógica de

atenção. No curso, esses profissionais eram formados para o trabalho em equipe e

para a execução de ações coletivas universalizadas.

Se, por um lado, a estrutura do serviço dificultava a inserção do THD, sem

dúvida o fato desse profissional estar em formação e buscar no dia-a-dia a definição

do seu espaço de ação, provocavam conflitos e abria espaços para uma reflexão local

sobre o trabalho em equipe na construção de um novo modelo assistencial.

Outro ponto de estrangulamento referia-se à inexistência, em alguns

municípios, de consultórios disponíveis para o THD trabalhar. É comum encontrar

municípios de pequeno porte equipados com apenas um consultório. Nesse caso, ou

o THD, ou o cirurgião-dentista fazia o atendimento individual. Considerando que

durante a formação profissional do THD necessariamente o cirurgião-dentista tem de

estar presente no local do atendimento, ou um ou outro estaria com atividades

profissionais reduzidas. Essa contradição, relacionada à produção final de serviços

prestados, era motivo de grandes discussões locais.

Essas eram questões que, embora ligadas à assistência, possuíam sérias

implicações pedagógicas.

O critério definidor para a escolha de Carmo do Paranaíba foi então o fato de,

num mesmo curso, conviverem situações de municípios com graus diferenciados de

organização dos serviços de saúde bucal. A heterogeneidade das práticas de saúde

bucal e, conseqüentemente, as concepções diferentes que cada trabalhador

envolvido trazia, faziam com que Carmo do Paranaíba fosse o município eleito.

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Na nossa hipótese inicial, quanto mais diversas e contraditórias as realidades,

mais polêmicas e ricas as relações de ensino-aprendizagem.

Existia uma intenção explicitada anteriormente no projeto de pesquisa de, a

partir de dados a serem colhidos em campo, identificar as relações pedagógicas que

foram estabelecidas (relação professor/aluno, teoria/prática, ensino/serviço, do

processo de avaliação, dentre outras). Ao longo da análise das informações já

disponíveis, fomos nos deparando com registros em forma bruta que, se lapidados,

aproximar-se-iam das categorias procuradas.

Como NETO (2000), entendemos categoria como o conjunto de elementos ou

aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si.

As informações do questionário que pretendíamos coletar dos THD’s, de como

avaliavam os recursos utilizados, a atuação dos docentes, o apoio técnico, a infra-

estrutura do serviço, etc, encontravam-se suficientemente disponibilizadas nesse

material. As percepções dos envolvidos já haviam sido colhidas durante as semanas

de Concentração. Os cursos de formação de THD desenvolvidos na ESMIG traziam

todos essa característica: a de registros sistemáticos de avaliações dos alunos acerca

de questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem.

Além disso, os registros nos ofereciam a avaliação temporal do processo.

Consideramos isso mais rico do que uma avaliação a posteriori, o que

pretendíamos captar com nosso instrumento formal de coleta de dados. O roteiro de

entrevistas com dentistas da Concentração e Dispersão que inicialmente seria

utilizado foi anexado ao final (Anexo IV). Com essa escolha, a de utilizarmos os

depoimentos dos educandos já colhidos ao longo do curso, julgamos inclusive que a

avaliação dos envolvidos era mais verídica, mais real, sem contaminações de uma

avaliação feita depois de concluído o curso. Além disso, a quantidade de depoimentos

disponíveis oferecia um material farto e rico, bem maior do que obteríamos através da

aplicação dos questionários anteriormente previstos.

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Durante o Curso de Especialização dos cirurgiões-dentistas, em Belo

Horizonte, vários instrumentos de avaliação do processo pedagógico foram

apresentados e utilizados. Muitos desses instrumentos foram reutilizados nos

municípios e recriadas novas formas de avaliação durante o Curso de Formação de

THD. Assim, ao final de cada Concentração, era pedido aos THD’s que avaliassem,

sob diferentes aspectos, a semana de trabalho.

Em Carmo do Paranaíba, exceto na primeira unidade, quando os depoimentos

foram orais e o registro feito pelo docente, essas avaliações foram escritas pelos

próprios alunos. Os comandos para a avaliação variavam ao longo das unidades

didáticas. A maioria dos depoimentos estava em folha de papel ofício, com a

orientação de que fossem avaliados os conteúdos trabalhados, a metodologia, o

material bibliográfico utilizado, o desempenho dos instrutores e do apoio técnico.

Esses itens a serem avaliados se repetiam a cada mês. O que variava era a forma de

apreciá-los: uma reta graduada de zero a cinco, seguida de comentários; sinais para

cada tópico (verde: está bom, pode continuar; amarelo: repense e melhore ou

vermelho: pare, está ruim, tem que melhorar) e a justificativa do porquê da

sinalização. Foi também pedido que apontassem pontos positivos e negativos. Numa

das últimas unidades didáticas, havia um comando de que avaliassem dizendo como

se sentiram, o que precisava ser mudado e do que gostaram; e em outra unidade

havia uma pergunta: “Como me sinto diante da perspectiva de me formar?”. Em

algumas Concentrações foi pedida uma auto-avaliação. Questionava-se o

desempenho individual nos trabalhos em pequenos grupos e também no grande

grupo.

O conjunto das avaliações, colhido ao final de cada Concentração, retratava

um período marcante na vida dos educandos dos onze municípios da região de

Carmo do Paranaíba. Os comentários referiam-se a inquietações no plano pessoal,

profissional, emocional e sobretudo relacionado ao processo pedagógico. Embora não

tivéssemos gravações que evidenciassem o tom da voz, os silêncios na fala, as

expressões carregadas de emoção, as expressões escritas eram muito ricas:

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minuciosas e diversificadas. Encontramos textos revestidos de denúncias, de

sentimentos de abandono e também muitos reforços positivos e críticas sobre o

processo de formação. Frases fortes, às vezes curtas, muitos questionamentos, mas

sempre envolvidos por um caráter de profunda crença de que estavam fazendo sua

história.

Os registros foram utilizados como material empírico da dissertação.

Referia-se a depoimentos de 24 alunos do curso, totalizando 275 registros

escritos manualmente entre fevereiro de 1998 a fevereiro de 1999. A maioria

dessas avaliações não estava identificada, o que impossibilitou nominar cada

declaração utilizada ao longo da pesquisa. Quando os comentários se referiam à ação

docente, normalmente o nome do instrutor estava explicitado. Consultados sobre o

fato de serem citados, nenhum instrutor se opôs ou manifestou preferência de uso do

anonimato.

Como os documentos-fonte foram produzidos independentemente da pesquisa,

procedemos a uma seleção qualitativa do material. Para a constituição desse corpus,

não foi usada qualquer técnica estatística de amostragem. Todo o material foi lido e

interpretado segundo os objetivos desta pesquisa. Procuramos ordená-los em relação

às informações que registravam possíveis respostas às nossas questões.

“Pode-se quase afirmar que é neste ponto – ao desenvolver as categorias, ao definir e

delimitar os tipos de comportamentos anotados – que o estudo de caso exige a mais

cerrada crítica. É nesse estágio que a sistematização da maior parte dos dados

começa, isto é, condensação, cortes, reinterpretações, etc. Os passos nessa

transformação, portanto, devem ser cuidadosamente marcados se o pesquisador

espera que suas conclusões sejam aceitas” (Cit. Pág. 429, GOODE, 1975).

A partir do ajustamento desses depoimentos, foram encontradas novas

categorias relacionadas às relações pedagógicas e agrupadas da seguinte forma:

Relação Ensino/Serviço, Relação Aluno/Conhecimento, Relação Professor/Aluno,

Relações Afetivas.

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“Se os documentos-fonte susceptíveis de permitir o estudo do problema foram

produzidos independentemente da pesquisa, o analista procede habitualmente a uma

escolha, e dentro do tipo de documentos escolhidos terá ainda muitas vezes que

proceder a alguma seleção, com base em critérios que explicitará. Estes critérios

podem ser de ordem qualitativa ou quantitativa” (cit. Pág. 109 VALA, 1987)

Assim, as referências teóricas de que dispúnhamos orientaram uma primeira

exploração do material. Essa primeira leitura contribuiu para o alargamento da

problemática a estudar.

Parecia-nos através dos depoimentos, que o plano pedagógico seguido na

formação em serviço do THD fora adequado. Mas estava ? Qual a gramática interna e

quais princípios regem o Currículo Integrado? Por quais motivos estaríamos

chegando a esses resultados? Embora fosse confortador perceber que a proposta

pedagógica oficialmente instituída na ESMIG/CFRHS, na habilitação do THD, estava

dando certo, tornou-se inquietador saber explicar tal fato. Descobrir o que estava

escondido nessa aparência de curso bem sucedido passou a ser o grande

interesse deste estudo.

Mas para isto, fez-se necessário um esforço maior no sentido de ir além das

aparências dos depoimentos e buscar explicações para os acertos explicitados.

Buscamos então dar ênfase à análise de conteúdos das comunicações escritas

pelos alunos durante o período do curso de formação; procuramos captar suas

falas, o sentido que deram ao curso.

Sabemos dos problemas de enviesamentos de respostas, pelo menos

potencialmente, decorrentes da consciência que os sujeitos têm de que estão a ser

observados ou testados, dos constrangimentos associados ao papel do entrevistado,

da interação entrevistador-entrevistado, etc.

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“A análise de conteúdo tem exatamente como uma das suas vantagens o fato de

poder exercer-se sobre material que não foi produzido com o fim de servir a

investigação empírica” (Cit. Pág. 107 VALA, 1987)

Ainda que a ênfase maior nesse estudo tenha sido dada à análise dos

conteúdos das comunicações escritas dos alunos THD’s, analisamos também o Guia

curricular para a formação do Técnico em Higiene Dental para atuar na rede básica

do SUS (BRASIL, 1994), os documentos de Capacitação pedagógica para instrutor

supervisor da área de saúde (BRASIL, 1994) e a Capacitação técnica para o

cirurgião-dentista atuar na rede básica do SUS (BRASIL, 1994). Através desses

documentos oficiais do Ministério da Saúde, foi possível confrontar e complementar

os referidos conteúdos escritos pelos THD’s. Assistimos à fita de vídeo da formatura

dos THD’s. Tivemos acesso aos discursos proferidos pelos instrutores na cerimônia

de encerramento. Foi-nos também disponibilizado o álbum de fotografia de atividades

desenvolvidas ao longo do curso.

Esses registros visuais ampliaram o conhecimento do nosso estudo porque nos

proporcionaram documentar momentos que ilustraram o cotidiano vivenciado. Essas

técnicas de documentação, ao lidar com os planos da imagem e da comunicação,

assumiram um papel complementar ao estudo como um todo (NETO, 2000).

As fichas de avaliação das atividades de Dispersão (totalizando cerca de 700

folhas de registros), também nos serviram de consulta para algumas constatações

acerca do processo de acompanhamento dos educandos.

Os trabalhos escritos pelos THD’s ao final de cada período de Dispersão já

haviam sido conferidos pela inspetora de ensino regional e devolvidos aos alunos.

Isso impediu uma leitura e análise desse material. Também um “Memorial” foi

elaborado pelas THD’s ao final do curso. Tivemos acesso restrito a ele, o que nos

impediu uma exploração maior do seu conteúdo, que, sem dúvida, muito enriqueceria

nossa discussão (vide roteiro em Anexo V). O “Memorial” foi um instrumento usado

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para organizar informações da trajetória pessoal e profissional do educando. Por meio

dele reforçava-se a idéia de um processo de formação amplo, integral, que

contemplava os vários aspectos da vida do educando.

A escolha de um referencial teórico para embasar nosso estudo recaiu sobre

as teorias de Basil Bernstein sobre Códigos de Colecção e de Integração; o que nos

possibilitou a análise da gramática interna do Currículo Integrado. A literatura

específica sobre Bernstein nos foi disponibilizada, na sua maior parte, em edições de

Portugal, o que nos trouxe alguns problemas com terminologia. Os “Códigos de

Colecção” são, na verdade, no Brasil, traduzidos como “Códigos Seriados”.

A partir do entendimento da organização curricular integrada do Curso de

Formação do THD, foi possível uma reflexão sobre os desdobramentos e desafios

dessa solução encontrada pelos serviços de saúde bucal do Estado de Minas Gerais

e pela ESMIG/CFRHS.

Salientamos que o termo Currículo Integrado, quando aplicado à formação do

THD, não é, na sua concepção, o mesmo cunhado por Basil Bernstein.

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CAPÍTULO 2:

OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE BASIL BERNSTEIN

O currículo constitui um instrumento utilizado, ao longo dos tempos, por

instituições educacionais de diferentes sociedades. É usado tanto para desenvolver

processos de conservação, como para a transformação e renovação dos

conhecimentos historicamente acumulados. O currículo contribui para socializar as

pessoas segundo valores tidos como desejáveis, como também para criar as

condições necessárias tanto para manter a estrutura social quanto para formatar

mudanças na ordem social e material. As relações entre currículo e a ordem social,

conformam um campo que tem merecido, já faz algumas décadas, considerável

investimento de análise.

Ainda que seja crescente a valorização em torno dessa temática, não há

consenso em relação ao que se deva entender pela palavra currículo. As divergências

ocorrem por ser esse um conceito resultante de uma construção cultural, histórica e

socialmente determinada (MOREIRA, 1997).

A análise histórica sobre a temática currículo, mesmo tendo sido alvo de

nossos estudos, não foi aqui abordada. Não foi objetivo desta pesquisa, discutir o

desenvolvimento de abordagens e de dimensões do campo de currículo, mas, sim, a

partir de uma dimensão apropriada desse campo, analisar a experiência curricular do

Curso de Formação do Técnico em Higiene Dental. A dimensão escolhida nos

orientou para entender as relações entre a estratificação do conhecimento e a

estratificação social, os pressupostos subjacentes aos processos de seleção e de

organização do conhecimento escolar, bem como as relações entre as formas de

organização do currículo e do ensino e as formas dominantes de poder e de controle

social presentes na sociedade. Enfim, entender a educação como lugar de exercício e

jogo de poder.

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O foco teórico escolhido foi produzido na Inglaterra dos anos 60/70, quando se

abriram novas perspectivas para os estudiosos do campo do currículo. Foram

superadas as análises de caráter limitadamente técnico, até então dominantes, e

surgiram abordagens mais críticas das questões curriculares, conformando assim um

movimento de reforma de pensamento e de práticas no meio educacional.

O postulado de base dessa corrente de reforma considerava o conhecimento

como uma construção social hierarquizada que intervém nas relações de poder ao

contribuir, por sua parte, para a manutenção das relações sociais dominantes. A

publicação de uma coleção de textos (Knowledge and Control) de Michael Young,

Pierre Bourdieu e Basil Bernstein demarcou um movimento conhecido como a “Nova

Sociologia da Educação” (DANDURAND, 1991).

Devido à ênfase que foi colocada na análise dos conteúdos do ensino, esse

período demarcou também a ampliação de perspectiva no campo de currículo,

possibilitando a configuração de uma “Sociologia do Currículo”. (FORQUIN, 1993).

Baseamos nossa análise nos estudos produzidos nesse período por Basil

Bernstein. Esse autor desenvolveu uma teoria buscando entender como o currículo

está estruturalmente organizado. Sua pergunta básica é: como os diferentes tipos de

organização do currículo estão ligados a princípios diferentes de poder e de controle?

“Bernstein não está preocupado com o “conteúdo” propriamente dito do

currículo. Ele não pergunta por que se ensina esse tipo específico de conhecimento e

não outro, nem tampouco por que esse conhecimento particular é considerado válido e

aquele outro não. Ele está mais preocupado com as relações estruturais entre os

diferentes tipos de conhecimento que constituem o currículo”. (Cit. Pág. 71, SILVA,

1999)

Sua teoria aborda a complexidade que existe em torno das relações de classe

no nível da política e da prática educacional e da forma como elas estabelecem

limites sobre aquilo que é possível fazer nas escolas, possibilitando entender melhor

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as relações de dominação e subordinação predominantes hoje no ambiente escolar,

assim como agir melhor sobre elas.

Partindo do pressuposto que existe uma conexão entre o que é ensinado nas

escolas e a “sociedade mais ampla”, a tarefa é saber quais são essas conexões

determinadas e como elas realmente funcionam na vida cotidiana das escolas. O

desafio da teoria de Bernstein consiste em integrar os níveis micro e macro de

análise (APPLE, 1992).

“O modo como uma sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia os

saberes destinados ao ensino reflete a distribuição do poder em seu interior e a

maneira pela qual aí se encontra assegurado o controle social dos comportamentos

individuais”, escreve Bernstein (Cit. Pág. 85 FORQUIN, 1993).

Dada a extensão da sua obra e a gama de tópicos sobre os quais Bernstein

trabalhou, escolhemos um conjunto limitado de questões diretamente relacionadas ao

nosso objeto de trabalho. Para um melhor entendimento dessas questões,

selecionamos certos pontos importantes da sua teoria . Os conceitos aqui abordados

referem-se aos seus trabalhos originais, escritos no final dos anos 60 e início da

década de 70 e que foram referenciados e discutidos nas obras “A teoria de Bernstein

em Sociologia da Educação” (DOMINGOS,1985), “Reinventando o poder na e pela

educação: utopia e realidade” (COELHO, 1988), “Educação, cultura e poder de

classe: Basil Bernstein e a sociologia da educação neomarxista” (APPLE, 1992),

“Escola e Cultura” (FORQUIN, 1993) e “A estrutura do discurso pedagógico”

(BERNSTEIN, 1996). Algumas obras sobre currículo, especialmente aquelas que

dialogaram com a teoria de Bernstein ou que, com base em sua teoria também

favoreceram o entendimento do currículo e suas dimensões sócio-político-culturais

foram por nós estudadas. Gostaríamos de ressaltar as seguintes: “Globalização e

Interdisciplinariedade: O Currículo Integrado” (SANTOMÉ, 1998) e “Documentos de

identidade; uma introdução às teorias do Currículo” (SILVA, 1999).

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Os estudos de Bernstein sobre currículo escolar remetem para três dimensões

analíticas da organização do conhecimento e que estão relacionadas à sua teoria de

linguagem. Na primeira dimensão, a estratificação do conhecimento refere-se a como

as diferentes áreas de conhecimento obtêm diferentes avaliações e prestígios sociais.

Na segunda dimensão, define-se a área do conhecimento que se espera seja

dominada por alunos. Na terceira dimensão, refere-se às relações entre os conteúdos

e áreas de conhecimento, caracterizando-se o currículo aberto com disciplinas

fracamente classificadas ou o currículo fechado com disciplinas bem definidas e

separadas pela especificidade. É nessa terceira dimensão que centraremos nossa

discussão. Adiante detalharemos esses tipos de currículo.

Para Bernstein, o conhecimento formal - aquele que as instituições escolares

assumem como sua tarefa produzir e cultuar - é realizado através de três sistemas de

mensagens: Currículo, Pedagogia e Avaliação. O Currículo define o conhecimento

válido, a Pedagogia define a transmissão válida do conhecimento e a Avaliação define

a validação do conhecimento por parte do aluno.

2.1 TIPOS DE CURRÍCULO:

Na instituição educacional, existe uma organização do tempo em “unidades”

(divisão formal do tempo) que são preenchidas por um determinado “conteúdo” (forma

como o período do tempo é usado, ou seja, aquilo que preenche esse tempo).

Analisar a delimitação dos diferentes conteúdos significa considerar a força da

fronteira entre eles. Esta força de fronteira pode ser aberta (fronteiras atenuadas) ou

fechada (fronteiras bem definidas). A partir da forma de relação que os conteúdos

mantêm entre si, podem definir-se dois tipos fundamentais de Currículo – Currículo de

Colecção (compartimentados - conteúdos mantêm entre si uma relação fechada) e

Currículo de Integração (não existem limites bem definidos, mantendo os conteúdos

uma relação aberta entre si).

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No Currículo de Colecção pode haver uma redução de tipos de conteúdos no

decurso da vida educacional, promovendo um ensino em profundidade. A

especialização vai sendo cada vez maior. Os temas mantêm uma relação fechada e

envolvem uma hierarquia na qual “o último mistério” é revelado muito tardiamente na

vida educacional. O conhecimento é encarado como algo “sagrado”, a que nem todos

têm acesso. Como se fosse propriedade privada, com vários tipos de fronteiras

simbólicas, as pessoas que possuem esse conhecimento aparecem como detentoras

de um monopólio. Cada professor pode (já que o conhecimento está organizado em

conteúdos isolados), dentro de certos limites prescritos, seguir seu próprio caminho.

A teoria pedagógica subjacente é didática (aprendizagem dirigida). Os critérios de

avaliação são independentes, definidos por cada professor. A avaliação repousa

sobre um leque bem definido de conhecimentos e de competências. Sabe-se

antecipadamente o que são boas e más respostas.

No Currículo de Integração, os vários conteúdos estão subordinados a uma

idéia central que, reduzindo o isolamento entre eles, os agrega num todo mais amplo.

Cada conteúdo deixa de ter importância por si só para assumir um significado relativo.

A função de cada conteúdo é determinada e explicitada dentro do todo de que faz

parte. Os conteúdos abertos se inter-relacionam em torno de uma idéia central,

integradora. Os professores encontram-se envolvidos numa tarefa partilhada, o que

conduz a um entrosamento e um estilo de avaliação comum. A prática pedagógica

deve estar centrada no modo como o conhecimento é adquirido e não nos estados do

conhecimento. A teoria pedagógica tende a ser auto-reguladora. Os critérios de

avaliação são comuns. Um Currículo de Integração conduz a um ensino em extensão.

Segundo Bernstein, na década de 70, esse tipo de Currículo apenas existia ao

nível da ideologia e da teoria, havendo um pequeno número de escolas que tinha

tentado institucionalizá-lo.

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2.2 CLASSIFICAÇÃO E ENQUADRAMENTO DO CONHECIMENTO

EDUCACIONAL

Bernstein faz uma análise dos princípios subjacentes à estruturação de um

currículo dado. Para essa análise, ele se apóia em Marx, que havia demonstrado que

a estrutura das classificações e enquadramentos da sociedade confirmava a

distribuição de poder, e, em Durkheim, que demonstrara os princípios que regem o

controle social.

Classificação e Enquadramento do conhecimento educacional são definidos

em função da força de fronteira. Fronteiras são arranjos sociais, pelos quais domínios

de conhecimento e de experiência são mantidos separados. São utilizadas para

demarcar esferas respectivas do “sagrado” e do “profano” no conhecimento

elaborado.

A Classificação se refere às relações entre os conteúdos, isto é, a natureza da

diferenciação entre conteúdos e entre o conhecimento puro e aplicado. Quando a

Classificação é forte, os conteúdos estão bem isolados uns dos outros por fronteiras

nítidas, assim como são nítidas as fronteiras que separam o conhecimento puro do

aplicado. Quando a Classificação é fraca, os isolamentos entre os conteúdos e a

forma pura e aplicada dos conhecimentos são reduzidos; as fronteiras são atenuadas.

A estrutura básica do sistema de mensagem Currículo está baseado nas

variações da força de Classificação (Figura 4).

Característica Classificação forte Classificação fraca

Disposição dos conteúdos Isolados por fronteiras nítidas Isolamento reduzido, fronteiras

atenuadas

FIGURA 4: Estrutura Básica do Sistema de Mensagem Currículo

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Uma forte Classificação pressupõe fortes defensores de fronteiras entre

conteúdos e cria um forte sentido de pertencer a uma classe particular (dominante),

ou seja, leva à criação de uma identidade específica.

O Enquadramento refere-se à forma do contexto no qual é feita a transmissão-

aquisição do conhecimento, ou seja, está relacionado à força da fronteira entre o que

pode e o que não pode ser transmitido numa relação pedagógica. O Enquadramento

refere-se ao controle que o professor e o aluno possuem sobre a seleção, ritmo e

organização do tempo do conhecimento a ser transmitido-adquirido na relação

pedagógica.

A estrutura básica do sistema de mensagem Pedagogia é dada pelas variações

na força de Enquadramento (Figura 5).

Características Enquadramento forte Enquadramento fraco

Controle sobre o que é

transmitido

Fronteira nítida demarcando o

que pode e o que não pode ser

transmitido

Fronteira atenuada

Opções disponíveis ao professor

e aluno para o controle do que é

transmitido e adquirido

Opções reduzidas Gama de opções

Relação entre conhecimento

extra-escolar do professor e do

aluno e o conhecimento

educacional

Isolamento entre conhecimento

educacional e conhecimento

comunitário do dia-a-dia

Fronteira atenuada

FIGURA 5: Estrutura Básica do Sistema de Mensagem Pedagogia

Os Enquadramentos fortes reduzem o poder do aluno sobre o que adquire,

como adquire e quando adquire e aumentam o poder do professor na relação

pedagógica.

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39

A relação entre conhecimento escolar e não escolar evidencia o controle da

comunidade sobre a escola.

2.3 CÓDIGOS DE CONHECIMENTO EDUCACIONAL

Os sistemas de mensagens (Currículo, Pedagogia e Avaliação), aqui

considerados em conjunto, são modelados por princípios subjacentes que constituem

o Código do Conhecimento Educacional. Código é um conjunto de regras implícitas. A

forma que este código assume depende dos princípios que regulam a Classificação e

o Enquadramento do Currículo, Pedagogia e Avaliação. Sendo um código de

conhecimento educacional um princípio que modela um dado Currículo, a tipologia

dos códigos partirá da distinção entre os tipos de Currículos. Desse modo,

consideram-se dois códigos gerais subjacentes aos dois tipos de Currículo: Código de

Colecção e Código de Integração.

. Código de Colecção: Surge em qualquer organização do conhecimento

educacional que envolva forte Classificação, variando os seus sub-tipos conforme a

força da Classificação e do Enquadramento. O Código de Colecção especializado diz

respeito a um Currículo de Colecção onde o número de conteúdos fechados é

reduzido. O Código de Colecção não especializado refere-se a um Currículo de

Colecção em que existe um número relativamente elevado de conteúdos fechados.

. Código de Integração: Surge em qualquer organização do conhecimento

educacional onde haja uma marcada tentativa de reduzir a força de Classificação,

variando os seus sub-tipos quanto à força dos Enquadramentos relativos ao controle

do professor e do aluno sobre o conhecimento transmitido. Existe a subordinação de

disciplinas ou cursos previamente isolados a qualquer idéia relacional que atenue as

fronteiras entre as disciplinas. O Código de Integração pode estar baseado num

professor que dispõe de um extenso período de tempo com o mesmo grupo de

alunos, ou baseado num grupo de professores que atuam subordinados a uma idéia

relacional que atenue as fronteiras entre os conteúdos.

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40

A natureza da Classificação e do Enquadramento afeta a estrutura de autoridade/

poder que controla a seleção e a organização do conhecimento educacional e, por

seu intermédio, entram na consciência e modelam-na.

A questão crucial para Bernstein é entender como se aprendem as posições de

classe. Interessa-lhe conhecer como as estruturas de classe se traduzem em

estruturas de consciência. O código é precisamente a gramática da classe. É o código

que faz a ligação entre as estruturas macrossociológicas da classe social, a

consciência individual e as interações sociais do nível microssocial. Para Bernstein,

classe social é a posição que as pessoas ocupam na divisão social do trabalho (mais

especializada, menos especializada; mais ligada à produção material ou à produção

simbólica). A classe social não é uma categoria apenas econômica, mas também

cultural. Assim, as frações de classe agem não apenas no interior da economia, mas

também nas instituições políticas e culturais.

A posição ocupada na divisão social (entendida como tendo uma base econômica

e cultural) determina o tipo de código aprendido. O tipo de código determina, por sua

vez, a consciência da pessoa, o que ela pensa, os significados que realiza ou produz

na interação social.

Os códigos são aprendidos de forma implícita. Na educação, os códigos se

expressam através do Currículo, da Pedagogia e da Avaliação.

2.4 SOCIALIZAÇÃO GERADA PELOS CÓDIGOS EDUCACIONAIS

Num Código de Colecção, os alunos são socializados desde muito cedo na

convicção de que o conhecimento é privado, mediante o encorajamento ao trabalho

isolado, sem troca de informações ou partilha de tarefas com os colegas. A estrutura

profunda do código especializado manifesta-se numa forte Classificação entre

pessoas através da criação de identidades específicas e de proprietários do

conhecimento. O forte Enquadramento entre os conhecimentos escolar e não escolar

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socializa muito cedo o aluno num quadro pedagógico que desencoraja conexões com

as realizações da vida do dia-a-dia ou que, pelo menos, filtra cuidadosamente essas

ligações. Quanto mais fortes forem a Classificação e o Enquadramento, mais

hierarquizado e ritualizadas serão as relações sociais, o aluno visto como ignorante,

com baixo estatuto e poucos direitos. Neste contexto, o professor tem o controle ou

vigilância máxima.

À medida que decorre a vida escolar e que vai se dando a especialização, os

alunos vão sendo selecionados de modo a serem eliminados aqueles que não são

capazes de atingir a última etapa da caminhada em que inicialmente todos estavam

envolvidos. Os que avançam adquirem uma identidade educacional que dificilmente

será alterada, enquanto aqueles que não conseguem sentem o conhecimento como

algo doloroso e sem significado. Com a progressão da vida escolar, surge então uma

relação muito estreita entre os membros que possuem o mesmo tipo de identidade.

Essa relação, aliada ao sistema hierárquico do Código de Colecção, irá reforçar o

controle criado pela própria hierarquia. Essa combinação assume o papel de um

poderoso agente de controle. A especialização promove diferenças que reforçam a

identidade educacional criando categorias puras. O conhecimento, enquanto algo

“sagrado” e “misterioso”, engrandece não só o seu significado, mas também o

daqueles que o dominam. O poder está então nas mãos de quem detém o

conhecimento, assumindo-se esse conhecimento como um poderoso meio de

controle.

A “separação das coisas” permite a repetição do passado. A socialização

dentro dessa separação torna essas “coisas” acontecimentos ou práticas tomadas

como certas, não encorajando a busca de uma nova ordem.

Quando o conhecimento é regulado por Códigos de Colecção, a ordem social

emerge da natureza hierárquica das relações de autoridade, da organização

sistemática do conhecimento diferenciado e de práticas de exame explícitas,

geralmente previsíveis.

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A rigidez das Classificações, bem como a dos Enquadramentos, favorece um

exercício autoritário do poder docente, ao mesmo tempo em que estabelece uma

margem de escolha pedagógica limitada. Ao professor não é permitida muita iniciativa

tanto na escolha dos conteúdos a transmitir quanto nas modalidades da ação

pedagógica. A autoridade do professor sobre o aluno não significa autonomia, já que

esta é de qualquer forma delegada pela instituição para ensinar o que a instituição

quer e como quer. Os discentes são subordinados aos docentes e estes são

subordinados aos diretores ou aos seus chefes de departamento disciplinares, sem

ter muitas relações de trabalho com os colegas do mesmo nível que eles.

Num sistema como esse, de poder oligárquico e compartimentado, a

transparência é muito frágil, o que favorece o descontentamento, a discórdia e o

desenvolvimento de uma concepção conspiratória do funcionamento das

organizações.

O isolamento dos conteúdos curriculares e sua falta de relação são reflexos de

outras separações e hierarquizações no mundo da produção, especialmente a que

separa trabalho manual e intelectual. A realidade cotidiana aparece desfigurada,

baseada em saberes aparentemente sem ideologia e descontextualizados da

realidade. O conhecimento não é considerado um requisito e um instrumento para

entender, analisar, refletir e agir nessa realidade cotidiana e problemática na qual os

educandos vivem. Não são incentivadas atividades que evidenciem que todo

conhecimento é produzido por um contexto social, econômico e político específico,

que o mediatiza e condiciona. O currículo disciplinar favorece mais a propagação de

uma ideologia de neutralidade. As dimensões conflituosas da realidade e da cultura

são ignoradas.

Nesse tipo de currículo corre-se o risco de gerar um modelo de “educação

bancária”, segundo a terminologia do educador brasileiro Paulo Freire, onde o mais

importante é a acumulação somatória dos conhecimentos, não favorecendo a

autonomia e impedindo a possibilidade de uma educação libertadora.

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43

Num Código de Integração, a sua fraca Classificação e conseqüente

subordinação dos conteúdos a uma idéia relacional implica numa redução da

autoridade de cada conteúdo. Haverá perturbações nas estruturas de autoridades

existentes, nas identidades educacionais específicas e nos conceitos de propriedade.

A redução do isolamento entre os conteúdos reduz o poder de decisão dos

professores. A integração aumenta o poder de decisão dos alunos promovendo um

maior equilíbrio de poder entre professor e aluno na relação pedagógica. Há um

encorajamento para uma prática de uma pedagogia e avaliação comuns. A orientação

da pedagogia será alterada enfatizando a forma como o conhecimento é criado e não

na aquisição dos estados do conhecimento. Os pormenores de cada assunto tendem

a ser minimizados, enquanto a sua estrutura profunda é valorizada. A via de

conhecimento da relação pedagógica faz-se de uma estrutura de profundidade para

uma estrutura de superfície. As teorias de aprendizagem assumem um caráter auto-

regulador, correspondendo a uma mudança nas relações de autoridade, não só pelo

aumento dos direitos do aluno, como também pelo enfraquecimento da fronteira entre

o que pode e não pode ser ensinado.

O conceito de manutenção de fronteira reflete-se não só na manutenção do

conhecimento educacional como na organização das relações sociais.

Como conseqüência da socialização criada pelo Código de Integração, haverá

um enfraquecimento das fronteiras entre os diferentes membros da instituição. Os

professores estabelecerão relações horizontais de trabalho, resultantes de uma tarefa

educacional partilhada e de cooperação.

Entre os alunos, haverá também fortes lealdades e relações horizontais de

trabalho baseadas na cooperação e interajuda (receber e dar conhecimentos). Há um

encorajamento a comportamentos espontâneos e efervescentes a manifestação das

relações sociais e o seu questionamento.

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Quando o conhecimento é regulado por Códigos de Integração, a ordem social

será planejada e construída como uma matriz de mudança potencial. Para que essa

ordem criada não se torne problemática, considera Bernstein que é necessário

satisfazer às seguintes condições:

• Haver um consenso relativo à idéia integradora, que deverá estar bem explícita.

• Ser clara e coerente a ligação entre a idéia integradora e o conhecimento que ela

coordena. Os Códigos de Integração exigem dos professores um elevado poder

de síntese e de analogia e grande capacidade para aceitar e explorar a

ambigüidade ao nível do conhecimento e das relações sociais.

• Haver uma definição muito clara de critérios de avaliação. É necessário explicitar o

que vai ser avaliado, a forma como vai ser avaliado e qual o lugar das

competências nessa avaliação. O Enquadramento fraco possibilita que maior

número de comportamentos do aluno seja divulgado, sendo assim possível, em

princípio, um certo grau de diversidade entre os alunos. É possível que os critérios

de avaliação sejam fracos relativamente aos atributos cognitivos, mas fortes no

que se refere às atitudes afetivas (atributos de caráter, conduta e maneira de ser).

A Classificação e Enquadramento fracos criam possibilidades de tornar visível o

interior do aluno. Como resultado, a socialização poderá tornar-se mais intensiva e

penetrante. É porém previsível que ele reaja a estas intrusões no seu íntimo, pela

criação de mecanismos de defesa.

• Haver uma comissão de professores e alunos que constitua um sistema de

retroação sensível e que funcione como outro agente de socialização no Código

de Integração.

É possível que os Códigos de Integração tenham sua origem em significados

profundos. Seu movimento pode significar uma crise nas estruturas de poder e nos

princípios de controle. Assim, o movimento na direção de um Código de Integração

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representaria uma tentativa de desclassificar e alterar as estruturas de poder e os

princípios de controle e, desta forma, descongelar a estrutura do conhecimento e

mudar as fronteiras da consciência. Deste ponto de vista, os Códigos de Integração

serão sintomas de uma crise moral.

Estudiosos do campo de currículo têm assinalado que os estudos de Bernstein

possibilitam interpretar relações pedagógicas no interior das instituições escolares e

entendê-las como favorecedoras ou não de mudanças das relações sociais de poder.

Dialogando com as implicações sociais da compartimentalização dos saberes

escolares e as formas institucionalizadas de processamento desses saberes,

Bernstein demonstra que “toda espécie de delimitação, quer ela seja material ou simbólica,

supõe e induz, com efeito, relações de poder” (Cit. Pág. 38, FORQUIN, 1992).

Portanto, consideramos que o campo conceitual da teoria de Bernstein é um

referencial adequado para orientar a leitura de experiências curriculares, como

demonstram estudos desenvolvidos anteriormente na Inglaterra, no contexto de

consolidação da Nova Sociologia da Educação (FORQUIN, 1995).

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CAPÍTULO 3

O CURRÍCULO INTEGRADO DO THD

Uma das questões iniciais deste estudo foi a necessidade de entender o

porquê de uma experiência de qualificação profissional no setor saúde ter sido

desenvolvida por meio da opção por um Currículo Integrado. No Brasil, dentro do

movimento da Reforma Sanitária, diante do caos instalado nos serviços de saúde,

uma das tarefas a ser cumprida era a de denunciar e atuar contra as propostas

educacionais existentes no setor, de reprodução da ideologia dominante. O currículo

por disciplinas poderia ceder lugar ao sonho político a favor de uma prática

pedagógica libertadora? O sonho da reinvenção da sociedade poderia ocupar o

espaço escolar, o espaço institucional para desvendar a realidade que estava

sendo ocultada pelo currículo dominante (disciplinar)?

O sistema educacional, exatamente por causa de sua localização no interior de

uma trama mais ampla de relações sociais, constituiria para o setor da Saúde um

importante terreno, no qual ações significativas poderiam ser desenvolvidas (APPLE,

1989).

3.1 A FORMAÇÃO EM SERVIÇO

A qualificação dos profissionais de saúde, no Brasil, apresentava distorções

relacionadas ao perfil do trabalhador da área, muitas vezes ele mesmo excluído do

processo educacional (sujeito sem escolaridade), inadequação de suas propostas,

além de currículos completamente desvinculados do processo de trabalho e das

características do trabalhador. Adotava metodologias condicionadoras e inculcadoras,

subestimando a capacidade reflexiva do aluno, preparando-o para um exercício

profissional servil e repetitivo. Aplicava procedimentos de avaliação que objetivavam

predominantemente a reprovação, seguindo rigidamente a carga horária, com critérios

de aprovação pré-determinados, sem vinculação com o aluno, seu ritmo de

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aprendizagem ou a relevância dos conhecimentos frente a sua prática social

(TORREZ, 1994).

Segundo OLIVEIRA (1996), a busca de modalidades que superassem os

limites do utilitarismo, imediatismo e assistencialismo na formação de trabalhadores

da saúde, impulsionou o desenvolvimento de um processo alternativo de qualificação

profissional. Assim, em 1981, foi firmado um acordo entre o Ministério da Saúde (MS),

Ministério da Educação e Cultura (MEC), Ministério da Previdência e Assistência

Social (MPAS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS), denominado

Projeto Larga Escala (PLE). Os pressupostos pedagógicos do PLE contemplavam:

uma metodologia de ensino na qual o educando é visto como participante ativo do ato

da aprendizagem e da elaboração do conhecimento; um processo educativo

estreitamente ligado aos processos sociais e às transformações políticas e o fato de

que professor e aluno constroem o saber, mediatizados pelas condições concretas de

sua prática profissional. O PLE evidencia a não neutralidade do conhecimento.

Implantado em alguns estados do Nordeste do Brasil em 1982, o PLE passou a

ser difundido nacionalmente em 1984. Em 1996, 1004 municípios já executavam o

PLE (SANTOS, 1996). Seu funcionamento foi autorizado pelo setor educacional como

experiência pedagógica para habilitar e qualificar a força de trabalho existente nos

serviços de saúde.

O PLE assinalava como aspectos relevantes para a qualificação profissional:

• Integração ensino-serviço

• Flexibilização e descentralização na organização dos cursos

• Desenvolvimento de uma percepção crítica em relação ao conteúdo técnico e ao

contexto sócio-cultural do trabalho

• Abrangência da formação

• Construção e execução da proposta do Currículo Integrado

• Avaliação progressiva e constante

• Percepção do aluno como sujeito do processo

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• Concepção da prática profissional integral (dimensão técnica e política)

• Possibilidade de formação para 25 categorias diferentes, abrangendo os

trabalhadores de nível médio da enfermagem, odontologia, farmácia, apoio

diagnóstico e administrativo (OLIVEIRA, 1996).

Ao longo da década de 80, começaram a ser construídos os Currículos

Integrados para a formação em serviço dos trabalhadores de nível médio da saúde.

Em 1987, três dentistas da rede básica do SUSMG, incluindo a autora deste estudo,

foram indicadas para elaborar o Currículo Integrado para o THD. Sob orientação de

um consultor da OPS, fomos desafiados a construir um instrumento de formação

prevendo que o educando não deveria ser retirado da sua prática de serviço, mas

estimulado a refletir sobre ela e transformá-la à luz de novos conhecimentos

científicos e sociais. Esse trabalho foi concluído em três anos e sua publicação pelo

Ministério da Saúde se deu no início dos anos 90 (BRASIL, 1994).

Dentro do PLE, a apresentação dos Currículos Integrados estava ancorada na

problematização, um método de ensino/aprendizagem no qual o eixo do processo

pedagógico é o movimento ação/reflexão/ação. O educando é visto como participante

ativo do ato da aprendizagem e da elaboração do conhecimento. Tratava-se de um

processo educativo estreitamente ligado aos processos sociais e às transformações

políticas. Ao valorizar as experiências entre os sujeitos, tanto a nível consciente dos

seus conhecimentos como na afetividade do grupo, a problematização adequava-se à

formação de trabalhadores dos serviços de saúde, permitindo os questionamentos

necessários à prática cotidiana. Segundo OLIVEIRA (1996), ao propiciar a conexão

entre educação e estrutura social, essa proposta encaixava-se na corrente de

pensamento didático-pedagógica conhecida como histórico-crítica.

A partir da IX Conferência Nacional de Saúde, realizada em agosto de 1992,

quando existiram grandes esforços no sentido de concretizar o processo de

municipalização da saúde e de se propor caminhos para a efetiva implantação do

SUS, o Projeto Larga Escala adquiriu maior relevância. Essa alternativa político-

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pedagógica deveria atuar como cunha de contradição necessária, de modo a

transformar a realidade anterior, tanto no plano do conhecimento, quanto no plano

histórico-social. Contribuiria, assim, com as mudanças inadiáveis requeridas pelas

relações sociais existentes, reproduzidas no setor saúde (TORREZ, 1994).

Na formação do THD para atuar na rede básica do SUS, as situações de

aprendizagem eram colocadas de maneira gradual, encadeadas e sucessivas,

formando uma rede de conhecimentos articulados – o Currículo Integrado. Essa

proposta pedagógica apresentava uma combinação entre dois elementos: de um lado,

a realidade dos serviços de saúde, calcada em condições concretas de trabalho, e de

outro a legitimidade do processo, por tratar-se de uma qualificação oficial efetivada

através de centros de formação vinculados às Secretarias de Saúde e com

características da escola aberta.

A dinâmica dessa concepção de ensino-aprendizagem considera

prioritariamente a relação entre um sujeito que aprende e um objeto que é

apreendido. Três categorias conceituais sustentam essa prática pedagógica: os

esquemas de assimilação; padrões culturais e sucessivas aproximações ao objeto

(BRASIL, 1994).

Os esquemas de assimilação são formas progressivas de ação mental ou

material que um sujeito desenvolve para conhecer alguma coisa e fazem parte dos

princípios piagetianos. Os padrões culturais dizem respeito à visão de mundo, mitos,

tradições, estrutura familiar e trajetória profissional. As sucessivas aproximações ao

objeto referem-se ao fato de que a relação sujeito-objeto não se processa de forma

linear, mas através de um movimento de idas e vindas (OLIVEIRA, 1996).

A discussão de como é a montagem de um Currículo Integrado, publicada na

“Capacitação Pedagógica Para Instrutor/Supervisor da Área de Saúde”, editada em

1989 e reimpressa em 1994 pelo Ministério da Saúde/DF (BRASIL, 1984), será aqui

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abordada com o intuito de esclarecer o processo de construção do Currículo

Integrado para o THD.

A construção do Currículo Integrado para a formação do THD iniciou-se com a

definição de um perfil profissional. As atribuições dessa categoria incluíam, além das

já regulamentadas, outras que deveriam ser absorvidas, no sentido de se ajustar o

trabalho do THD às necessidades dos serviços de saúde bucal. Essas atribuições

foram reunidas em áreas, de acordo com o tipo genérico de atividades.

Nessas áreas, foram identificadas as competências necessárias e os conceitos,

processos, princípios e técnicas para o desenvolvimento dessas competências. Os

conhecimentos comuns a cada competência foram relacionados e hierarquizados.

Desse processo de síntese e classificação dos conhecimentos, resultou uma rede de

estrutura de conteúdos. Os conteúdos, processos ou princípios mais gerais ou

englobadores foram identificados como assuntos ou conceitos-chave.

Cada conceito-chave e sua correspondente rede de conhecimentos teóricos e

práticos deu lugar a uma unidade de ensino-aprendizagem. Cada unidade possuía

uma estrutura pedagógica dinâmica, orientada por determinados objetivos de

aprendizagem, em função de um conjunto articulado de conteúdos e sistematizada

por uma metodologia didática. As unidades guardavam autonomia entre si, ao mesmo

tempo em que se articulavam umas com as outras com vistas à totalização das áreas

de atribuições e do perfil profissional.

Como se pretendia que o aluno construísse o seu próprio conhecimento, a

aprendizagem se daria como resultado da assimilação ativa a partir da própria prática

do sujeito e das sucessivas mudanças provocadas pela informação gradativamente

assimilada.

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Os objetivos de cada unidade refletiam, então, esta atividade assimiladora do

aluno no processo de sucessivas aproximações ao conhecimento, uma forte relação

prática-teoria-prática.

O Currículo Integrado, pela própria concepção de integração trabalho-ensino,

haveria que ser operado numa profunda mudança no processo pedagógico. Assim,

era planejada uma série encadeada de atividades de aprendizagem que surgiam das

situações do próprio serviço. A partir delas, incentivava-se a reflexão e busca de

conhecimentos que reverteriam em novas formas de ação. Cada unidade de ensino-

aprendizagem percorria o mesmo processo, variando os materiais e estratégias,

integrando o ensino individual e grupal, mas sempre no mesmo sentido.

A Figura 6 mostra o esquema de como funciona essa metodologia. É de autoria

de Maria Cristina Davini, apresentado no texto Currículo Integrado, que está na

publicação da Capacitação Pedagógica para o Instrutor/Supervisor Área da Saúde

(DAVINI, 1994):

TEORIA

REFLEXÃO SELEÇÃO DE PRINCÍPIOS E

MÉTODOS PARA A AÇÃO FUTURA

PRÁTICA / NOVA PRÁTICA

REALIDADE TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE

FIGURA 6: A metodologia da problematização

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As orientações para o supervisor, assim como as seqüências de atividades dos

educandos, foram explicitadas ao longo de todas as unidades didáticas. Ao supervisor

cabia orientar a reflexão, ouvindo as percepções iniciais dos educandos, estimulando

a observação, a indagação e a busca de respostas. Corrigiria desvios e, junto com os

alunos, avaliaria seus avanços e dificuldades; respeitaria o ritmo de aprendizagem e

os padrões culturais do grupo para que eles produzissem seus próprios

conhecimentos e mudanças necessárias no seu local de trabalho. Estimularia a busca

ativa de conhecimentos e técnicas apropriadas a cada situação.

3.2 O SISTEMA DE AVALIAÇÃO

A avaliação desse processo se iniciava com o acompanhamento sistemático da

evolução do educando na construção do seu conhecimento. Enquanto atividade

permanente e indissociável da dinâmica de ensino-aprendizagem, permitia

acompanhar o avanço dos educandos, detectar a tempo suas dificuldades, ajustar e

reajustar o ensino e suas características aos diferentes contextos, corrigir e reforçar o

processo de ensino. Não se avaliaria para eliminar, mas sim para acompanhar e

recuperar. A avaliação estaria dirigida não somente ao educando, mas ao processo

como um todo, visando a subsidiar a tomada de decisão no sentido de superar

dificuldades de operacionalização e assegurar uma apropriada utilização e

combinação de tempo, recursos humanos e materiais para o alcance dos objetivos

desejados. O processo era avaliado no próprio momento em que acontecia e, assim,

o educando, como parte fundamental desse processo, também estaria sendo

avaliado.

No Currículo Integrado do THD não se preconizava uma avaliação quantitativa de

aprendizado. Deveriam ser usados instrumentos de avaliação que permitiam

resultados cumulativos, com a finalidade de auxiliar o educador no acompanhamento

sistemático do educando-trabalhador, do processo de aprendizagem atrelado à sua

atuação na prática concreta do trabalho. A perspectiva básica seria a possibilidade

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de acompanhar, analisar e compreender os efeitos do processo prática-teoria-

prática.

Os instrumentos de avaliação utilizados pelo Currículo Integrado são os

seguintes:

• Registro de fato: O instrutor interpreta a evolução do educando por meio de

situações significativas e valiosas. Usado para detectar o grau de avanço ou de

dificuldade do educando em relação ao que aprendeu, em situações que se

apresentam de forma espontânea, sem previsão de padronização. Com base

nesse instrumento de diálogo, o instrutor programa outras situações de

aprendizagem, quando necessário. O registro deve ser sintético, mas claro, de

modo a retratar a situação, o comportamento significativo e o resultado da

entrevista-diálogo.

• Avaliações mediante atividade de papel e lápis: Realizadas mediante

desenhos, croquis, preenchimento de listas, finalizando quadros, etc. Confirmam a

aprendizagem na medida em que através dela se evidenciam progressos ou

dificuldades. Após o diálogo sobre esses progressos e dificuldades, o instrutor

deverá anotar no verso da folha de trabalho do educando sua avaliação do

rendimento observado. Servem de fonte de informação para reajustar as

estratégias de ensino e de acompanhar a evolução do educando.

• Lista de observação: Usada para acompanhar a evolução de tarefas ou

processos que podem ser desdobrados em ações muito específicas, em

procedimentos que podem ser padronizados a priori. Consiste em uma lista de

operações que decompõem o processo de trabalho segundo diferentes técnicas.

O instrutor, observando o comportamento do educando, marcará sua presença ou

ausência de domínio. É fundamental o diálogo educativo sobre cada um dos

pontos de operações, de modo a corrigir, refletir e aprofundar a aprendizagem.

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• Auto-avaliação: Instrumento usado pelo educando, através do qual são feitos

registros a partir de sua própria compreensão acerca do processo de ensino-

aprendizagem. O educando revela aquilo que aprendeu, de forma original,

pessoal, além de apreciar seu próprio comportamento no processo.

• Avaliação de produtos finais ou desempenhos: Apreciação efetuada pelo

instrutor a partir da análise de todo o material acumulado. A ficha de desempenho

final é o instrumento básico que legitima o aproveitamento do educando.

Dessa forma, na formação do THD havia duas dimensões complementares na

avaliação: uma avaliação de processo, proporcionando informações para

acompanhar e corrigir a ação pedagógica durante cada passo da seqüência, e outra

avaliação de produtos parciais ou desempenhos. Essa avaliação de desempenhos

procuraria determinar o resultado do processo cumulativamente, verificando o

desempenho profissional alcançado na área. A avaliação do produto consistiria no

somatório das avaliações de processo e seria essencialmente legitimadora.

Optamos por apresentar no capítulo seguinte, junto com a discussão sobre

Classificação e Enquadramento os conteúdos do Currículo Integrado e as atividades

desenvolvidas nos serviços de saúde.

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CAPÍTULO 4

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Como já explicitado anteriormente, o termo Currículo Integrado, quando

aplicado à formação do THD não é, na sua concepção, o mesmo empregado por Basil

Bernstein.

O Currículo Integrado de Bernstein refere-se a uma concepção situada no

campo teórico, favorável a um processo não conformador, mas não implantado

plenamente em ambientes escolares. Só pode ser entendido na totalidade de sua

elaboração conceitual ocorrida na década de 70, na Inglaterra.

“Apresenta-se menos como uma descrição de situações ou de mudanças

realmente observáveis do que como uma análise conceitual e “ideal-típica”, onde o

autor interroga-se sobre as implicações possíveis (no plano pedagógico,

organizacional, cultural) de diversos modos de organização do saber escolar definidos

a priori” (Cit. Pág. 87, FORQUIN, 1993).

O Currículo Integrado do THD foi uma proposta construída nos serviços de

saúde e para os serviços de saúde, regulamentada pelo setor educacional e

implementada em vários estados do Brasil, inclusive em Minas Gerais. No seu modelo

é claramente enunciada a proposta de ser favorável à educação de profissionais

comprometidos com uma prática libertadora e traduzida concretamente nas

mudanças a serem operadas no setor de saúde. Sua base de construção não se

apoiou nos trabalhos de Bernstein.

Interessava-nos identificar, na proposta curricular do THD, e no seu

desenvolvimento real, no município de Carmo do Paranaíba, qual seria sua

Classificação, seu Enquadramento, como estas categorias poderiam explicar os

resultados do curso. Esperávamos que o referencial da teoria construída por

Bernstein pudesse confirmar ou não se o modelo de currículo por nós elaborado

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poderia ser apontado como elemento fundamental para se romper com uma

concepção tradicional de formação profissional do trabalhador na área de saúde. O

Currículo Integrado favoreceria uma formação mais abrangente e mais coerente com

a proposta à qual se vincula a Reforma Sanitária?

“.... Uma concepção educacional que busca resgatar, para os trabalhadores de

saúde, o conceito e a prática da cidadania e permite a reflexão, a crítica e o domínio

do conhecimento indispensáveis à reformulação da prática profissional.......” (BRASIL,

1994)5

O que fizemos foi um exercício, um primeiro olhar de aproximação entre a

teoria de Bernstein e a formação em serviço do THD por meio do Currículo Integrado.

Descreveremos a seguir nossa busca de interlocução entre essas propostas.

4.1 AS QUESTÕES RELACIONADAS À CLASSIFICAÇÃO

Na formação em saúde, os currículos adotados são, normalmente, organizados

com base em disciplinas. Tais disciplinas apresentam-se isoladas, estanques,

justapostas de forma arbitrária e classificadas em científicas e aplicadas (ROMANO,

1999).

O Currículo Integrado do THD prevê um conjunto de atividades pedagógicas

estruturadas em unidades didáticas seqüenciais. A programação apresentada nos

“Guias Curriculares para a formação de Técnico em Higiene Dental para atuar na rede

básica do SUS” (BRASIL, 1994), se agrupa em três áreas distintas, a saber:

Área I: Prevenindo e controlando o processo saúde-doença bucal

Área II: Participando do processo de recuperação da saúde bucal

Área III: Participando do planejamento e administração dos serviços de saúde.

5 Cópia de texto usado na página 7 desta dissertação

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Conforme o quadro abaixo (Figura 7), essas áreas curriculares, com seus

conteúdos programáticos e respectiva carga horária correspondem às disciplinas

obrigatórias estabelecidas pelo setor educacional e pela regulamentação profissional

do THD.

Currículo Formal Currículo Integrado

Relação de regiões Disciplina Área I Área II Área III

Biologia X X

Química X X

Higiene Dentária X X X X

Técnica Auxiliar de Odontologia X X X

Odontologia Social X X X

Material/Equipamento/Instrumental X X X X

Fundamentos de Enfermagem X X X

FIGURA 7: Tratamento de conteúdo curricular

A dimensão do currículo que reduz o isolamento entre os conteúdos são

os conceitos-chave e a relação ensino-serviço. Trata-se de uma idéia relacional,

um conceito que vai além dos conteúdos, enfocando princípios gerais em alto nível de

abstração. A idéia da integração ensino-serviço age seletivamente sobre o

conhecimento de cada matéria a ser ensinada. As particularidades de cada matéria

passam a ter reduzido significação, enfatizando-se os princípios gerais e conceitos

através dos quais esses princípios são obtidos. Isso remete para uma preocupação

menor em adquirir estados de conhecimento, e maior em enfatizar como o

conhecimento é criado. Em síntese, enfatizam-se as várias maneiras de conhecer.

Os conteúdos correspondentes a cada disciplina, e que se desenvolvem

ao longo de cada área curricular, apresentam força de fronteiras atenuadas, ou

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seja, não existem limites bem definidos. Os conteúdos estabelecem uma

relação aberta entre si, isto é, sua Classificação é fraca.

Ao analisar minuciosamente cada unidade didática do Guia Curricular (BRASIL,

1994), constatamos tal fato. Por exemplo, nas seqüências de atividades relacionadas

à doença cárie dentária, encontramos quatro disciplinas envolvidas e em torno de dez

conteúdos programáticos diferentes. Não identificamos o conteúdo “puro” das

matérias, por mais técnica que fosse a atividade desenvolvida.

A título de confirmação, anexamos a seqüência da primeira unidade didática

da Área I, onde os conteúdos da disciplina Odontologia Social, relacionados ao

Processo saúde-doença (conceito de saúde-doença, histórico social da doença,

manifestações individuais e coletivas) e Comunicação em Saúde (relação ensino-

aprendizagem, desmonopolização da informação) aparecem diluídos ao longo do

roteiro de discussão (Anexo VI). A unidade didática também abre espaços para outros

assuntos (resistência imunológica, a coleta de dados como instrumento organizante

dos serviços de saúde), que serão retomados ao longo do curso.

4.2 AS QUESTÕES RELACIONADAS AO ENQUADRAMENTO:

O contexto da transmissão do conhecimento: seleção, tempo, ritmo e espaço

Na teoria de Bernstein, o princípio do Enquadramento está relacionado com o

controle social, que regula o processo de comunicação, seja no processo de

produção, seja nos processos de socialização e comunicação pedagógica. Na

comunicação pedagógica esse princípio delimita o que se pode comunicar, quando,

em que contexto, e como se deve comunicar (ETGES, 1979).

A estrutura do Currículo Integrado para o THD é fraca, ou seja, há fronteiras

obscuras entre o que pode ou não ser transmitido. A seleção do conteúdo, ainda que

seguindo o mínimo profissionalizante exigido pela legislação educacional e expresso

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no Guia Curricular (BRASIL, 1994), pode ser rearranjada de acordo com interesses e

necessidades levantadas a nível local. Assim, é comum a inserção de seqüências e

estudos complementares, ajustando-se as demandas do grupo de educandos,

educadores e as necessidades do próprio serviço ao material básico inicial oferecido

pelo Centro Formador.

Há um tempo demarcado para a formação profissional (cerca de um ano), mas

que é ampliado, de acordo com as necessidades individuais. O ritmo da

aprendizagem dos conteúdos é previamente calculado pelos instrutores locais e

traduzido em forma de um cronograma. As alterações nesse cronograma são

freqüentes e determinadas pelo compasso dos alunos. A organização do tempo

segue a proposta que, ao ser apresentada pelo instrutor, sofre as alterações

sugeridas pelos alunos, ou modificadas pelo próprio instrutor à luz dos

acontecimentos em sala de aula.

Essa dimensão do trabalho foi confirmada nos registros de avaliação do curso,

onde os THD’s oferecem sugestões de rearranjo:

“Deveria ter um tempo determinado para cada trabalho”.

“Às vezes a organização sai um pouco do controle de vocês”.

“Nos grupos, às vezes há muita discussão fora dos assuntos em pauta e no grupão,

acho que não precisa de tantas experiências pessoais”.

Para Bernstein, existe uma evolução nos princípios de integração social em

ação no contexto da educação escolar que se manifesta através de uma “abertura”

maior em matéria pedagógica, cultural, social, organizacional, bem como espacial e

arquitetural. O uso do tempo e do espaço torna-se mais maleável, a organização do

trabalho mais flexível. (FORQUIN, 1993).

O “confinamento” da sala de aula e a definição puramente racional do espaço,

com filas de cadeiras geometricamente dispostas e muitas vezes com lugares

determinados é tido como uma expressão de algo mecanicamente organizado.

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Referindo-se ainda a uma organização do trabalho mais elástica, Bernstein identifica

mudanças na forma de “sala de aula” , com número de alunos constante, para a

forma de “grupos de trabalho”, com números variáveis de alunos segundo as

atividades (FORQUIN, 1993).

Durante todo o período de formação, o THD se depara com opções diferentes

relacionadas ao espaço físico da sala de aula. De uma maneira geral, trabalha-se

com a disposição interna em círculo, que facilita a comunicação (professor-aluno e

entre alunos). Há o pressuposto de que todos têm o que aprender e ensinar. É

comum uma certa “transgressão de espaço”. Sempre que necessário, cadeiras

mudam de lugar. São amontoadas num dos cantos quando se utilizam dinâmicas

mais movimentadas e que exigem espaços maiores.

ESPÍRITO SANTO (1996) afirma que a idéia de um “universo estático”,

“certinho”, é um obstáculo ao desenvolvimento do aluno e seguramente também a

disposição da classe acaba por influir nesse ponto.

Na formação do THD por meio do Currículo Integrado, o espaço na sala de

aula era fracamente marcado; as regras que regulam os movimentos de objetos,

pessoas, práticas e comunicações menos restritas. A grade espacial estava baseada

na regra “as coisas devem ser reunidas”.

Segundo BERNSTEIN ( 1996), isso encoraja as representações individuais.

No Guia Curricular, nas seqüências de atividades e na orientação para o

instrutor, essa característica aparece explícita:

“Fazer dramatização de uma situação de atendimento no caso de uma extração

dentária, enfocando o processo de esterilização” (Cit. Pág. 164 BRASIL, 1994).

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No Currículo Integrado do THD, os conteúdos do saber escolar foram

explorados, em primeiro lugar, através da experiência que os educandos adquiriram

em seu meio social e no trabalho. Nas seqüências de atividades, foram convidados a

expressarem o que pensavam e sabiam sobre aquele tema em questão. Era

solicitado aos THD’s que observassem / descrevessem / registrassem as condições

concretas da realidade. Havia o pressuposto de que existiam diferenças na maneira

de compreender o que aparentemente era o mesmo contexto. Essas discussões

aconteceram em pequenos grupos, onde a construção do conhecimento se iniciava.

“É uma metodologia que dá oportunidade de todos colocarem suas experiências e isto

enriquece muito o conteúdo trabalhado”.

“Foi muito organizado, porque em pequenos grupos é mais fácil trabalhar e se um tem

uma dúvida o outro colega pode ajudar”.

“Aprendo muito, trocamos o que sabemos nos trabalhos de grupos”.

Todas as opiniões eram discutidas e muitas vezes o grupo chegava a um

consenso. Sempre era solicitado pelo instrutor um registro das conclusões do grupo

(consensuais ou não). Essa síntese era apresentada pelo integrante do grupo para

toda a turma e confrontada com as conclusões de outros grupos. As contradições que

surgiam, quando não identificadas pelo grande grupo, eram então destacadas pelo

instrutor. A partir dessa produção o conhecimento científico já produzido e

sistematizado era apresentado em forma de textos de apoio. Aprofundando-se no

tema em questão, os educandos confrontavam sua produção inicial com as novas

questões introduzidas. Uma síntese final era feita e, para uma maior fixação do

conteúdo, um professor (apoio técnico) fazia uma exposição teórica. O novo

conhecimento seria então discutido no sentido de aplicá-lo no cotidiano, através das

atividades de Dispersão.

Nessa dinâmica de trabalho reconhecemos o que Bernstein chama de um

conjunto de relações que são as condições para a aquisição da voz pelo sujeito.

Trata-se de uma parte de sua teoria sobre os códigos, suas modalidades e o

processo de reprodução cultural. O que é reproduzido e o processo de sua aquisição

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sofrem variações, resistências, contestações, oposições e lutas. Segundo o autor,

essas alterações surgem das relações estruturais entre grupos sociais.

“Também argumentamos em favor de um conjunto adicional de relações, que são as

condições para a aquisição da “voz” pelo sujeito. Essas são representadas aqui em

forma de diagrama:” (Cit. Pág. 49, BERNSTEIN, 1996)

Classificação

Regras de reconhecimento

O que pode ser colocado junto

Sintaxe de geração

Transpondo essa teoria para a estrutura curricular integrada do THD, ocorre

primeiramente a apresentação do problema. Em seguida a expressão das percepções

individuais e coletivas. No passo seguinte, o acréscimo do conhecimento já produzido;

e por fim, o novo conhecimento a ser aplicado.

“Para Bernstein há no processo de transmissão/aquisição não apenas vozes

dominantes e dominadas, mas também a possibilidade de mudança nessas vozes,

considerando-se a presença de uma dimensão oposicional, ainda a se constituir como

voz” (Cit. Pág. 236 COELHO, 1988).

No Currículo Integrado do THD era oferecida uma base para os desequilíbrios,

os questionamentos necessários à ordem estabelecida. Essa tensão entre ordem e

mudança favorecia o desejo e a necessidade de imprimir alterações significativas na

organização local dos serviços de saúde bucal. A Figura 8 mostra o modelo da ficha

de avaliação no processo transcrita do Guia Curricular (Pág. 184 BRASIL, 1994). A

atividade é um convite de ruptura com a ordem estabelecida. Essa ficha era

preenchida no momento de Dispersão do curso.

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63

“Prevenindo e controlando o processo saúde-doença bucal”

Contaminação no ambiente de trabalho

Área I – Quarta Unidade

Situação relacionada com

contaminação

Possíveis conseqüências Como resolver

Orientação:

Comece a observar em sua Unidade as condições de trabalho que se relacionam com o

problema de contaminação. Verifique, por exemplo:

• Como é eliminado o lixo da Unidade

• Condições de limpeza, inclusive o banheiro

• Fornecimento de água e destino dos dejetos

• Presença de animais, insetos e roedores

• Existência de animais, criadouros de insetos e roedores

• Existência e condições de conservação de material de limpeza, desinfecção e

instrumentos de esterilizar

• Outras condições

Para cada situação observada, procure indicar conseqüências e maneiras de resolvê-la.

FIGURA 8: Ficha de avaliação no processo

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64

Nas Concentrações, onde as discussões em pequenos grupos favoreciam a

expressão dos próprios saberes sobre um determinado assunto, ou após a leitura de

um texto de apoio, a dinâmica interna do grupo nem sempre era tranqüila, como

observamos nos registros de avaliação dos THD’s:

“O trabalho em grupo não está sendo realizado como proposto, pois alguns membros

do grupo não querem discutir o assunto para depois registrar a síntese geral, ficando

prevalecendo a opinião do membro que domina o grupo. É uma pressa de ler, não

podendo trocar idéias, contar a experiência vivida. Para a apresentação é um jogo de

empurra, ninguém quer ir à frente enfrentar as próprias dificuldades”.

“Nem todos participam, pois existem os que falam muito e não dão oportunidade para

os demais participantes”.

“Sinal amarelo: os participantes do grupo estão só lendo e não comentando. Um ou

dois fazem a conclusão e apresentam depois no grupão. O grupo não está sendo fiel à

metodologia”.

Esses comentários demonstram, por um lado, o fato de que os trabalhos em

pequenos grupos já estavam incorporados à rotina educacional e, por outro, a crítica

feita aos colegas por não estarem seguindo o que foi preconizado.

Há um pedido para que os docentes se posicionem no sentido de ajudar o

grupo a se auto-regular.

“É uma pena que alguns de nossos colegas não respeitem a fala do outro, a

experiência ou até mesmo o problema que o atormenta e que faz deixar muitas de nós

sem coragem de dizer nada por medo de críticas. Gostaria que vocês olhassem mais

pra esse lado e agissem com mais rigidez; que abordassem esse ponto de modo a

consentir cada um se expressar. Obrigada.”

Numa recente entrevista, quando questionado sobre a prática pedagógica,

Bernstein afirmou que “uma ação pedagógica ideal seria uma ação através da qual os

estudantes estão conscientes desde o princípio de sua própria pedagogia” (ESPANYA,

1998).

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65

No Currículo Integrado do THD, os contextos de aprendizagem – as

seqüências de atividades, os textos de leitura, as dinâmicas – serviram como

desencadeadores para os educandos projetarem sua imaginação, para exercitarem

sua curiosidade e favorecer suas explorações no meio comunitário e no trabalho.

“Sinto que serei importante para a promoção de saúde em meu município. Já consigo

ver com clareza a importância do nosso trabalho se realizado dentro das normas e

técnicas que nos foram passadas. Ao contrário do que vinha acontecendo há alguns

meses (meu desânimo diante das grandes dificuldades que enfrentamos), hoje sei que

as mudanças e acertos só acontecem quando realmente queremos. E eu sei que

conseguirei mudar muitas coisas (mesmo que seja apenas no local de trabalho), que

farão significativas diferenças”.

“Sinto que vai ser muito difícil ser THD no meu município, por não termos estrutura

nem apoio; mas me sinto feliz por saber que agora já tenho preparo para lutar por algo

de concreto que realmente poderá ser útil a alguém”.

Segue-se o princípio educacional de trabalhar com o que o educando pode

oferecer. A partir daí, ele é introduzido através de sucessivas aproximações nas

significações universalistas das formas de pensamento utilizadas pelos profissionais

já formados do setor de saúde.

Segundo a terminologia de Bernstein, chama-se Pedagogia Invisível o tipo de

prática usada quando as regras de ordem regulativa e discursiva utilizam critérios

implícitos para hierarquizar, seqüênciar e cadenciar o conhecimento. O adquirente

parece preencher o espaço pedagógico. O foco está em procedimentos internos do

adquirente (cognitivo, lingüístico, afetivo, motivacional). Considera-se que esses

procedimentos são compartilhados por todos os adquirentes, embora sua realização

como texto irá criar diferenças entre eles. Tais diferenças não são usadas como base

para comparação entre eles, mas uma indicação de singularidade.

“As pedagogias invisíveis colocam o foco nos procedimentos ou competências que

todos os adquirentes devem trazer para o contexto pedagógico. As pedagogias

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invisíveis estão preocupadas em organizar o contexto para possibilitar que as

competências compartilhadas desenvolvam realizações adequadas aos adquirentes.

Assim, no caso das pedagogias invisíveis, são produzidas, através de comunalidades

internas (isto é, competências compartilhadas), diferenças externas não-comparáveis”

(Cit. Pág. 104-105 BERNSTEIN, 1996).

Importante destacar que, o conceito de código pressupõe competências

(lingüísticas/cognitivas) que todos adquirem e compartilham. Não é possível discutir

código com referência às deficiências cognitivas localizadas no nível da competência.

O código refere-se a um processo de regulação cultural específico da realização das

competências compartilhadas.

Entendemos que o Currículo Integrado para a formação do THD usou da

prática de uma Pedagogia Invisível. Adiante retomaremos essa questão.

Os contextos das escolas copiam (muitas vezes) aspectos que estão excluídos

do mundo do trabalho. Quando os educandos se dirigem à escola, entram num

sistema simbólico que não lhes traz ligação alguma com a vida profissional que levam

fora dela (BERNSTEIN, 1985).

Rompendo com a dicotomia teoria/prática, o curso é conduzido no

sentido de refletir sobre a realidade dos serviços de saúde e transformá-la.

“Eu achei bastante interessante, pois o aluno tem mais liberdade de expressar suas

idéias, opiniões e sugestões. Também neste método é colocada a realidade desse

serviço em cada município, podendo cada aluno ou instrutor fazer suas críticas e

sugestões sobre o assunto”.

“Foi um bom módulo, esclareceu dúvidas que tínhamos em relação a nosso trabalho”.

“Aprendemos muitas coisas que irão nos ajudar muito em nossos serviços”.

No plano pedagógico do Currículo Integrado do THD, há o pressuposto de que

a experiência social que o educando possui é válida e significativa e que, essa

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imagem deve ser devolvida a ele. Para devolvê-la é preciso que ela faça parte da

trama da experiência educativa que criamos. A escola torna-se assim local de

encontro interessante e apaixonante para os educandos e educadores.

“Os assuntos estavam muito interessantes, onde pude expor o que sabia, pude

participar mais e aprender muita coisa nova”.

“Metodologia é inovadora, proporcionando assim melhor entendimento e assimilação.

Trabalho em grupo nos dá chance para tirar dúvidas entre nós e de conhecer novas

realidades”.

“Acho muito interessante esta metodologia, nos dá liberdade de questionar mais e

aprendemos muito com os outros”.

“A metodologia faz com que possamos nos soltar e participar”.

Essa organização do conhecimento educacional para a formação do THD,

envolvendo uma marcante tentativa de redução da força de Classificação e de

Enquadramento, dá lugar ao chamado Código Integrado.

O Código Integrado favorece relações do tipo “horizontal” (concordância,

cooperação e participação) em todos os níveis, tanto entre os alunos quanto entre os

professores. Há um contínuo trabalho de equipe com ajustamento de objetivos,

conteúdos, métodos, modos de avaliação, enfim, um consenso. A explicitação e a

homogeneização da base ideológica dos cursos tornam-se uma necessidade. A

avaliação leva em consideração níveis mais profundos da personalidade, aptidões e

atitudes gerais. A informação circula, a visibilidade social é muito grande, todo mundo

tem o direito de saber e o poder de comunicar (FORQUIN, 1992).

4.3 TIPOLOGIA GERAL DO CÓDIGO INTEGRADO / THD

Segundo Bernstein, podemos encontrar duas modalidades do Código tipo

Integrado: a primeira envolvendo um professor que tem uma extensa quantidade de

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tempo para estar quase sempre com o mesmo grupo de alunos. Esse professor opera

com vários conteúdos distintos, obscurecendo as fronteiras entre eles.

A outra modalidade envolve mais de um professor. Nesse caso, a integração é

mais difícil em relação à primeira (que envolve somente um professor), por implicar

em uma inter-relação entre eles. O grupo de professores pode ser de uma matéria

comum ou de diferentes matérias (SANTAROSA, 1979).

A tipologia do Currículo Integrado para o THD refere-se a um modelo

intermediário: um professor, que conta com a participação de um apoio técnico. O

apoio técnico é um outro professor (normalmente um especialista na temática

estudada), que é convidado ao final de cada unidade didática a auxiliar a turma a

fazer a síntese final. Não se trata de um docente que chega com a “aula pronta” e

expõe para a turma, mas de alguém que se situa em relação ao grupo, às discussões

que aconteceram ao longo da semana e contribui aprofundando itens que sejam de

interesse do grupo e reforcem a relação ensino-serviço.

A relação estabelecida pelo CFRHS para as atividades de Concentração é de

um instrutor para o máximo de 15 alunos. No curso de Carmo do Paranaíba, foi feita a

opção de abertura de duas turmas (num total de 24 alunos) e a presença constante

de dois instrutores. Isso permitiu um maior número de municípios envolvidos, já que

existia uma demanda acumulada de formação de profissionais de nível médio na área

de saúde bucal. Para as duas turmas, um único apoio técnico (professor especialista)

era convidado a participar do encerramento da unidade didática.

Para os municípios envolvidos na formação do THD por meio da integração

ensino-serviço, o número de alunos por turma é sempre uma questão polêmica. É

comum o reconhecimento do alto custo financeiro da proposta.

BERNSTEIN (1984), ao estabelecer os pressupostos de uma Pedagogia

Invisível (em essência, centrada no aluno e frouxamente controlada), identifica nas

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69

questões relacionadas ao espaço um limite de ordem econômica. Um número

reduzido de alunos para que a pedagogia realize seu potencial aumenta

necessariamente o custo do espaço.

De acordo com SANTAROSA (1979), a pedagogia dos Códigos Integrados

tende a enfatizar as várias maneiras de conhecer. Há uma preocupação menor na

necessidade de adquirir estados de conhecimento, e maior em enfatizar como o

conhecimento é criado. Como uma das condições para satisfazer o desenvolvimento

de um Currículo Integrado (segundo a concepção de Bernstein) é a homogeneidade

nos critérios de avaliação, essa autora se dedicou a essa busca. Seu trabalho sobre

integração curricular é uma análise com relação à homogeneidade nos critérios de

avaliação.

Para o curso de formação do THD, esse exercício não pôde ser feito. Os

ajustes e movimentos feitos pelos docentes em direção a uma pedagogia comum,

assim como a tendência a um sistema comum de avaliação não foram objeto deste

estudo. O material necessário a esse tipo de análise teria de ser colhido ao longo do

curso, quando se procuraria identificar os níveis de concordância dos instrutores

acerca do desempenho de cada educando. O fato das fichas de avaliação das

atividades de Dispersão ficarem arquivadas nos onze municípios envolvidos, do

curso já ter sido concluído, dos municípios não terem atualmente um contato

sistematizado com o CFRHS, tudo isso dificultou o agrupamento desse material.

Como já citado anteriormente, as avaliações individuais só foram

disponibilizadas ao final deste estudo. Ainda que os THD’s tenham, em vários

momentos, se referido à participação dos docentes, não dispúnhamos de material

apropriado para focar o índice de concordância que atingiram na avaliação dos

alunos; o que sem dúvida geraria um indicador de aproximação ao Currículo

Integrado proposto por Bernstein.

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“Todas as modalidades pedagógicas são geradas pelo mesmo conjunto de regras

internas, regras cujas realizações variam de acordo com seus valores de classificação

e de enquadramento” (Cit. Pág 11, BERNSTEIN, 1996).

Pesquisas com o referencial teórico de Bernstein permitem diferentes tipos de

aplicação, que podem variar desde uma análise da escola, do currículo, bem como

dos discursos pedagógicos. Em seu estudo sobre o discurso de sala de aula, CUNHA

(1997) analisa os contextos instrucional e regulador segundo Bernstein.

No estudo desenvolvido em Carmo do Paranaíba, a não disponibilidade de um

conjunto de falas seqüenciais de sala de aula também impossibilitou uma análise de

contextos do discurso pedagógico.

Como nosso objeto de estudo foi a análise das relações pedagógicas

estabelecidas no curso de formação do THD, identificamos nessas relações o modo

como o poder se manifestava (através dos princípios de Classificação) e o modo

como o controle se manifestava (através dos princípios de Enquadramento). Como já

descrito anteriormente, a Classificação (poder) diz o que é legítimo ou ilegítimo incluir

no currículo, o que pode e o que não pode ser falado. O Enquadramento (controle) diz

respeito à forma de transmissão, ou seja, ao ritmo, ao tempo, ao espaço da

transmissão.

4.4 AS RELAÇÕES PEDAGÓGICAS:

A definição geral de códigos, que tinha sido utilizada por Bernstein desde os

seus primeiros trabalhos, enfatiza a relação entre significados, realizações e contexto.

Assim,

“Um código é um princípio regulativo, tacitamente adquirido, que seleciona e integra

significados relevantes, formas de realização e contextos evocadores” (Cit. Pág 143,

BERNSTEIN, 1996).

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Segue-se dessa definição, que a unidade para a análise de códigos é a relação

entre contextos. O código é um regulador das relações entre contextos. A relação

entre estes cria marcadores de fronteiras. Um contexto é definido por seus valores de

Classificação e de Enquadramento.

Discutiremos a seguir, as relações pedagógicas estabelecidas ao longo do

processo de formação do THD e suas tendências para estabelecerem fronteiras

atenuadas e isolamentos reduzidos.

4.4.1 RELAÇÃO ENSINO-SERVIÇO

Agrupamos nessa categoria as expressões e comentários sobre os serviços de

saúde bucal, os efeitos do trabalho no processo de ensino-aprendizagem e vice-

versa. Identificamos no conjunto dos registros dos THD’s a utilidade do curso para o

cotidiano profissional. São evidentes as melhorias nos processos individuais de

conhecimento do conteúdo e a aplicabilidade local dos procedimentos, técnicas e

novas posturas frente ao trabalho.

Bernstein acentua que um enfraquecimento das compartimentações entre os

saberes pode favorecer a invenção, a criatividade intelectual. Há um convite para o

aluno descobrir e fazer funcionar certas estruturas lógicas profundas dos saberes, por

oposição às divisões e especificações superficiais inscritas na configuração tradicional

das matérias escolares (FORQUIN, 1993).

“Estou saindo daqui com a cabeça cheia de idéias, isto é muito bom para nosso futuro

que nos espera. Fez-nos sentir mais motivados com nossas criatividades”.

“Não tenho palavras para expressar o quanto foi importante para nós esta aula de

hoje, despertou em mim grandes idéias para fazer em meu município”.

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“Foi ótima a aula expositiva e muito jóia a confecção de brinquedos. São coisas

simples que às vezes não imaginamos que possam ajudar em nosso trabalho.

Excelente idéia”.

“Sinto-me muito feliz, com muitas novas idéias”.

“Criei muitas idéias de como programar a saúde bucal de meu município”.

O Currículo Integrado para o THD considera as peculiaridades sócio-culturais

do trabalho e do trabalhador. O pressuposto é que na unidade educação-trabalho o

educando participe da construção da sociedade e da cultura. É esperado desta

prática pedagógica que o THD seja o protagonista da construção do saber, consciente

do seu papel na transformação da realidade dos serviços de saúde.

Assim, enquanto sujeito histórico e crítico, produz a avaliação do seu

desenvolvimento individual e coletivo através de dois movimentos: do processo do

conhecimento e do produto do trabalho (OLIVEIRA, 1996).

O fazer cotidiano, carregado com suas contradições e limites, é a base do

movimento de ação-reflexão-ação.

“Foi um dos melhores módulos, não sabia nem a metade do que foi dito, aprendi

muitas coisas e espero mudar muito em meu município”

“Aprendi muita coisa nova e também mexeu comigo na criatividade, não acomodar.

Identifiquei, em vários aspectos, situações que já experimentei, veio me confirmar que

estou no caminho certo e novo”.

• O CONTEÚDO E SUA ADEQUAÇÃO ÀS NECESSIDADES DOS SERVIÇOS

“O conteúdo é muito importante para o trabalho”

“É um conteúdo muito rico e amplo que nos possibilitou descobertas importantíssimas

sobre o nosso trabalho”

“Foi muito legal porque nos aproximamos mais da realidade que iremos viver”

“Assunto interessante e de muita validade no dia-a-dia de nossos serviços”

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“Assunto interessante e de muita importância para a rede pública. Aliás, é

imprescindível”.

“O conteúdo foi ótimo, muita coisinha simples que poderia estar sendo aplicada no

nosso dia a dia; às vezes fazemos errado por falta de esclarecimento”.

“Este módulo como um todo veio resolver todos os meus problemas, pois é o mês que

vamos começar o levantamento epidemiológico” (Grifo nosso).

No último registro, chamou-nos a atenção o fato da aplicação do pronome

pessoal possessivo (meus) para se referir aos problemas relacionados ao

levantamento epidemiológico. Como essa é uma atividade de responsabilidade do

cirurgião-dentista, sendo formalmente definido (pelas atribuições profissionais) o

papel do THD como monitor ou anotador de dados, pode parecer inadequada sua

postura. Teoricamente o planejamento, organização, execução e análise dos

resultados dos levantamentos são feitos pelo profissional de nível superior. Esse tipo

de estudo transversal, muitas vezes não é desenvolvido nos municípios. Tal fato

ocorre por vários motivos; um deles é o fato do cirurgião-dentista desconhecer ou não

valorizar essa atividade. O THD, ao descobrir a importância do diagnóstico coletivo na

organização dos serviços de saúde, assume o desafio de programar o levantamento

epidemiológico e executar grande parte dele. O exame clínico, como requer

conhecimentos de domínio do cirurgião-dentista, justifica o uso do verbo no plural

(vamos), evidenciando a participação desse outro profissional. O educando, ao

conhecer melhor o seu processo de trabalho, reinventa os fatos e faz mudanças onde

trabalha.

Para analisar a natureza da relação entre o código que regula a forma de

educação e o código que regula a forma de produção, Bernstein utiliza os mesmos

conceitos de Classificação e Enquadramento.

“Se a Classificação é fraca, as relações entre os agentes são menos nítidas, existe um

reduzido isolamento entre as suas funções e os agentes são mais intermutáveis entre

as diferentes categorias. .... O Enquadramento será fraco se a unidade primária de

produção for um acto relativamente cooperativo, baseado no grupo, em que há

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oportunidade de variar as condições e, talvez, a seqüência e a ritmagem de trabalho, e

em que o produto, mantendo uma relação mais direta com o objeto total de produção

(está mais próximo desse objeto), é menos uma fracção desse objeto” (Cit. Pág. 224

DOMINGOS, 1985).

Quanto mais fragmentado ou dividido for o ato, mais forte será o

Enquadramento. Quanto menos fragmentado ou dividido for o ato, mais fraco será o

Enquadramento (BERNSTEIN, 1996).

Levantamos a hipótese de que, no processo de formação do THD, existe

uma tendência de gerar alterações no Enquadramento do processo e na relação

de trabalho em saúde bucal. O mesmo se aplica nas questões de Classificação,

já que há possibilidades do ato primário (da prática da produção) ser resultado

de agentes integrados, de qualificações variadas.

O THD, ao ser formado por meio do Currículo Integrado, torna-se mais

preparado para o trabalho em equipe e assume papéis mais amplos, anteriormente

destinados a profissionais de nível superior. Ao desenvolver atos de produção (ações)

mais integrados, mais o produto final é sua realização, sua conseqüência.

TORREZ (1994), em seu estudo relacionado à qualificação e trabalho em

saúde, afirma ser possível desenvolver nos trabalhadores seu potencial para ações

inteiras, desempenhos completos, e não para fragmentos soltos. A recuperação do

saber integral sobre o processo de trabalho aponta para o resgate da capacidade de

ser ator, tanto da realidade social insatisfatória, quanto daquela que julga mais justa e

necessária.

Ainda que esta seja uma temática que tangencia nossos estudos, não houve a

pretensão de teorizar ou aprofundar nessa análise. Não foi objetivo desta pesquisa

discutir as conexões entre a prática pedagógica e o campo produtivo. Bernstein vem

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estudando essas questões, analisando as relações presentes entre o campo da

produção, o do controle simbólico e a educação (SANTOS, 1999).

• TRABALHO EM EQUIPE

Várias atividades foram propostas aos educandos no sentido de

desempenharem papéis mais ativos: pesquisas, exposições, observações,

entrevistas, participação de simulações, etc. Ao partilharem experiências por meio da

discussão, do debate, eram-lhes ensinadas a cooperação, a importância do trabalho

em equipe. Aprendiam a ser reflexivos e críticos praticando tais destrezas no dia-a-

dia. Sabiam que tinham voz e que era importante compartilhar o que pensavam e

comparar com os demais colegas. Aprendiam a compartilhar o pensamento

valorizando e respeitando as contribuições que qualquer um pudesse oferecer.

Segundo SANTOMÉ (1998), os conceitos adquiridos através da experiência

vivencial estabelecem fortes elos nos campos emocional e intelectual.

“A metodologia continua muito boa, visto que nos ajuda a trabalhar em equipe, o que é

tão necessário nessa área da Odontologia”.

“Procuro sempre aprender mais e mais, gosto de questionar e esclarecer todas as

dúvidas. As colegas me ajudam muito”.

• COMPROMISSO COM A POPULAÇÃO

Na formação em serviço, a ligação da instituição escolar ao ambiente

comunitário, inspiração histórica no campo educacional, ajudou os educandos

a melhorarem a compreensão de suas realidades e comprometerem-se com os

usuários dos serviços de saúde bucal.

“Sinto-me muito alegre e otimista em poder prestar minha contribuição para a saúde

da população que tanto necessita”.

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“Me sinto também muito feliz por saber que nós vamos mudar a educação (em saúde)

bucal nos nossos municípios”.

“Aprender coisas novas é sempre muito bom. Principalmente quando através deste

aprendizado se pode ajudar as pessoas que precisam. Espero poder transmitir aos

outros o que aprendi aqui. Foi muito bom!"

“Foi ótimo; abriu a visão para que possamos fazer alguma coisa para a comunidade,

principalmente a mais carente”.

“A calma e dedicação das instrutoras muito me ajuda, me encoraja para continuar

confiante que posso ajudar a minha comunidade; servir bem”.

A proposta do Currículo Integrado atingiu o que SANTOMÉ (1998) coloca

como uma meta educacional: provocar uma preocupação pela condição humana, seja

ela qual for sua raça ou cultura.

• OS TRABALHOS DE “DISPERSÃO”

Ao final de cada Concentração, os educandos eram orientados a

desenvolverem atividades de Dispersão. Eram atividades relacionadas aos conteúdos

trabalhados durante a semana e que seriam repensados no cotidiano das ações dos

serviços de saúde bucal. O educando registrava as situações observadas no local de

trabalho, sua adequação (ou não), as possíveis conseqüências e como resolver os

problemas identificados. Na unidade didática seguinte, a primeira atividade sempre se

referia às dificuldades e facilidades encontradas na rotina do serviço e no

desenvolvimento da atividade de Dispersão. Assim, a Concentração do curso

começava com os THD’s explicitando os avanços (ou estagnações) do serviço.

No Guia Curricular (BRASIL, 1994), as orientações para os trabalhos de

Dispersão sempre eram no sentido de estreitar as relações entre a teoria e a prática,

o ensino e as necessidades do serviço. O quadro a seguir refere-se a uma síntese

dos trabalhos propostos em algumas unidades das áreas curriculares (Figura 9).

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Área/

Unidade

Atividade de Dispersão Orientação para o instrutor

Área I

Unidade I

No seu local de trabalho, realizar um

levantamento de opinião junto à sua

comunidade, acerca de seus problemas de

saúde, incluindo a saúde bucal.

Discutir com os alunos as diferenças

de contextos sociais no levantamento,

estimulando para que sejam feitos os

ajustes metodológicos.

Área I

Unidade III

Observar e registrar as condições de trabalho na

unidade de saúde na qual você trabalha e propor

alternativas para corrigir as situações que

possam dificultar a aplicação dos princípios de

ergonomia estudados.

Acompanhar o trabalho dos alunos,

retomando as discussões sobre

ergonomia e ajudando-os a encontrar

soluções para os problemas

detectados.

Área I

Unidade IV

Realizar observações sobre as condições

relativas ao processo de contaminação em sua

unidade de origem, apresentando sugestões

para mudar a situação.

Supervisionar a rotina de trabalho dos

alunos, complementando com

informações.

Área I

Unidade V

Discutir formas de aplicação das medidas de

controle de cárie estudadas (controle de placa e

tártaro, uso do flúor, selante e cariostático).

Discutir e propor meios de operacionalizar

atividade de educação em saúde bucal.

Orientar na elaboração e

encaminhamento das propostas,

avaliando o grau de assimilação dos

alunos com relação ao conteúdo

estudado.

Área III

Unidade II

Observar na Unidade de saúde como está

distribuído o espaço físico em relação às

atividades a que está destinado, incluindo as

medidas de biossegurança.

Orientar os alunos na observação

quanto à adequação dos ambientes

(conforto do paciente, condições de

trabalho dos profissionais) em relação

às atividades que desenvolvem.

Área III

Unidade IIII

Realizar, juntamente com outros profissionais

envolvidos, a programação das atividades de

atenção em saúde bucal, em seu local de

trabalho.

Promover esta prática em momento

oportuno.

FIGURA 9: Os trabalhos escolares e sua ligação com os serviços de saúde

Essa “mudança da prática” era observada através dos depoimentos de

secretários de saúde, coordenadores de saúde bucal, cirurgiões-dentistas da

Dispersão, e também através dos registros das avaliações escritas que o THD fazia

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do curso. À medida que novos questionamentos eram feitos, as contradições da

realidade ficavam mais explícitas, exigindo-se atitudes concretas para problemas

reais. Quando um conteúdo técnico era introduzido, sempre era colocado sob a ótica

de que esse novo conhecimento seria aplicado em uma situação específica, e que os

seus efeitos não seriam “neutros”.

“Foi muito bom, pois participamos mais dos trabalhos em grupo e dentro da sala. E a

forma como foram passados os nossos trabalhos de dispersão também será de

grande proveito.”

“Positiva a apresentação dos problemas dos municípios, procurando soluções viáveis.”

“Não gostei da participação de algumas colegas ao expormos a”dispersão” de nossos

municípios, pois falar dos nossos problemas não é motivo de riso e críticas. Se não

colocarmos aqui os nossos problemas, quem vai nos ajudar?”

“Às vezes, quando são falados os problemas do município, algumas (pessoas) fazem

cara ruim, outras até mandam calar; acham que falamos demais. Se não for possível

colocarmos os nossos problemas aqui, o que está acontecendo de errado em nosso

município, como vamos tentar achar soluções? Onde teremos idéias? Não está sendo

fácil.”

“Notamos a crítica dos colegas quando apresentamos os problemas do município.

Sabemos que muitas vezes pode se tornar cansativo, mas o respeito é essencial, pois

o local onde podemos buscar possíveis soluções é aqui. Se não procurarmos isso

aqui, onde procuraremos?”

O curso de formação foi visto pelos educandos como o espaço legítimo para as

discussões dos problemas da prática dos serviços de saúde bucal. A busca de

soluções criativas e adequadas à realidade local foi o grande desafio colocado.

Enquanto em processo de formação, os THD’s, ao apresentarem a realidade

local e serem convidados a transformá-la, aprendiam as exigências do Sistema Único

de Saúde. Os desafios da construção de um sistema local de saúde bucal

tornavam-se uma meta, que certamente ultrapassaria o limite temporal do

curso. A meta educacional de preparar as pessoas para compreender e intervir no

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seu meio sócio-cultural, implicava também em torná-las capazes para utilizar a

mesma variedade de recursos à sua disposição nesse meio.

A integração entre ensino e serviço permitiu que, nas avaliações do curso, os

ganhos ficassem atrelados:

“Foi um dos melhores módulos, também nós conseguimos muitas vitórias em nosso

município”.

Numa ficha de avaliação no processo, onde o cirurgião-dentista da Dispersão

comenta o envolvimento da THD no planejamento das ações locais de saúde bucal,

encontramos o seguinte “Registro de Fato”:

“A aluna procurou o Secretário de Saúde para fazer o trabalho sobre”Políticas de

Saúde” e conhecer melhor a política de saúde do município. O Secretário de Saúde

ficou impressionado com o interesse da aluna sobre o assunto”.

4.4.2 RELAÇÃO ALUNO-CONHECIMENTO

Não utilizamos nenhuma unidade de enumeração que nos permitisse contar a

freqüência de uma categoria ou o número de imagens consagradas a um

determinado conteúdo. No entanto, ficou evidente o maior número de registros

relacionando o aluno ao processo de se apropriar do conhecimento. Os educandos

fazem uma avaliação extremamente positiva do curso. Mostram-se revestidos de

uma nova identidade social.

• AS ATIVIDADES EM PEQUENOS GRUPOS

JOYCE (1980) enfatiza que, em relação a assuntos mais sérios, questões

controvertidas, drama e o aperfeiçoamento de habilidades sociais e sócio-intelectuais

exigem atividades de grupo.

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Na formação do THD, eram freqüentes os trabalhos em pequenos grupos. Os

educandos analisavam os problemas, colocavam em prática idéias e exploravam

valores sociais. O comprometimento do grupo e seus processos interpessoais eram

incluídos como elementos para estudo. O conhecimento dos resultados era coletivo e

emergente. O confronto de idéias criava condições para o desenvolvimento do talento

pessoal e propiciava os efeitos humanizantes da pesquisa cooperativa.

“Se não fosse em grupo eu não teria aprendido nada, teria ido embora no primeiro

dia”.

“É muito bom, porque às vezes uma pessoa não sabe uma coisa e a outra sabe, então

uma tira a dúvida da outra”.

“O trabalho em grupo dá oportunidade a todas de falarem”.

“Todos participam no que são capazes, e no que tem mais facilidade”.

“Gosto dos trabalhos em grupo, apesar dos desencontros, é um meio eficaz onde

todos têm interesse em aprender”.

“Muito bom trabalhar em grupo, enriquece mais o conhecimento de cada um, a gente

tem mais liberdade para perguntar. Nós aprendemos muito mais trabalhando em

grupo”.

• AS SUCESSIVAS APROXIMAÇÕES AO OBJETO

Nos registros dos THD’s, a categoria conceitual sucessivas aproximações ao

objeto, com seu movimento de tateios sistemáticos em direção à apropriação do

conhecimento, aparece registrada, na maioria das vezes, como uma “repetição”.

“Apesar de ser meu primeiro contato com a teoria, achei um pouco repetitivo, o

conteúdo sempre voltava em alguma parte do assunto estudado; porém, para mim foi

positivo”.

“Foi muito esclarecedor, apesar de repetir tantas vezes as mesmas coisas”.

“Gostei, aprendi muito; tive muitas dúvidas esclarecidas, apesar de muito repetitivo”.

“Quanto aos métodos aplicados fica um pouco a desejar, ficaram um pouco

repetitivos”.

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“O conteúdo: a gente já ouviu falar em tudo isso, mas quando a gente vê e ouve uma

pessoa que entende mais do assunto falar, a gente fica mais responsável ou tenta

ser”.

Ao mesmo tempo em que pontuam sobre a “repetição” como algo negativo,

cansativo, às vezes, (principalmente para aqueles que provavelmente já apresentam

um maior domínio do conteúdo) reconhecem que “repetir” é algo bom, proveitoso.

A relação dinâmica entre o sujeito concreto e o objeto a ser assimilado ocorre a

partir das sucessivas aproximações, alcançadas pela aplicação ativa dos esquemas

de assimilação de que o sujeito dispõe e a partir de sua percepção social inicial. A

aprendizagem requer um tempo no qual o sujeito investigue ativamente, aplicando

suas formas de conhecer e aproximando-se cada vez mais da matriz interna do

assunto, em um processo de idas e vindas de reflexão e ação (BRASIL, 1994).

• AS DIFICULDADES INDIVIDUAIS

Na inovação metodológica do Currículo Integrado, levava-se em conta o fato dos

educandos não possuírem o hábito de discussão, devido ao peso de muitas

experiências anteriores. A timidez e o mutismo de alguns educandos, a incapacidade

de atrever-se a pensar e a comunicar-se com outras pessoas era algo a ser rompido

individualmente, mas com o apoio da estrutura curricular e da construção coletiva.

O curso parece ter conseguido aumentar a confiança dos educandos em

suas próprias habilidades. As dificuldades iniciais, expressas nos registros de

avaliações, foram sendo superadas ao longo do processo de formação.

“Foi bom, mas achei um pouco difícil no início, mas ouvindo o conhecimento de todos

ficou mais fácil de entender”.

“Participei o máximo que podia, só que às vezes não sabia bem o assunto, então não

dava muitas opiniões”.

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“Tenho dificuldades. Espero estar vencendo essas dificuldades nos próximos

módulos”.

“Enquanto estamos sintetizando, discutindo, participo. Mas a apresentação, tenho

muita dificuldade de expressão”.

“Estou adorando o curso, não participo muito, mas estou entendendo com facilidade

os estudos”.

“Em pequenos grupos todos participam, mas quando chega no grande grupo as mais

espontâneas e que têm facilidade em se expressar é que vão lá na frente”.

“Tenho que melhorar mais, vou procurar ler, fazer resumos e tentar falar um pouco

mais, porque tenho muita dificuldade em falar com tantas pessoas me olhando”.

“Participo muito dos grupos pequenos, mas quando chega no grande eu fico muito

tímida e não falo nada, ou quase nada”.

“Neste módulo tive a oportunidade de explicar um trabalho do nosso grupo, mesmo

tendo dificuldades aprendi muito, tenho que me desinibir mais”.

“Tive oportunidade de apresentar uma parte de um trabalho em grupo; fiquei nervosa

mas tenho que acostumar, foi muito importante”.

“Estou me desinibindo mais e com o apoio da Cida e da Alcione fica mais fácil”.

“Mais pessoas participaram nas apresentações e deram mais comentários

enriquecendo os trabalhos”.

SANTOMÉ (1998) enuncia essa questão, chamando a atenção para o

silenciamento progressivo dos alunos ao longo dos anos escolares.

• RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

As principais doenças que acometem a cavidade bucal (cárie e doença

periodontal) são controláveis. No Brasil, ainda que esteja confirmado um declínio na

prevalência da doença cárie, o quadro ainda se apresenta bastante crítico. Tal fato é

observado particularmente nas populações menos favorecidas, onde se pressupõe

existir uma maior dificuldade de acesso a bens essenciais para a sobrevivência, entre

os quais, incluem-se a educação e os serviços básicos de saúde (COSTA, 1999).

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No Sistema Único de Saúde, o THD tem o papel central de executar um conjunto

de atividades de controle coletivo da incidência das doenças bucais. São ações

descentralizadas e de periodicidade definida. Executam também Levantamentos de

Necessidades em Saúde Bucal, favorecendo a organização do atendimento clínico

individual, que é feito pelo cirurgião-dentista e pelo próprio THD .

A prática cotidiana do THD permite a universalização das ações coletivas de

saúde bucal . Estudos recentes revelam indicadores de serviço monitorados para

verificar o impacto causado pelas mudanças do comportamento das doenças bucais

nas populações expostas a um programa de “inversão da atenção” (LOUREIRO,

1998). Em tais programas, o trabalho do THD é de grande importância.

Entretanto, existem obstáculos para o avanço desse modelo de atenção. As

corporações, os profissionais de nível superior, e às vezes até o gestor local não

estão plenamente convencidos da importância da inversão do modelo assistencial e

do papel do THD.

“Sinto-me desmotivada e sem força pois o mais importante na conclusão de um curso

é ser reconhecida pelo menos a existência de sua profissão como algo de grande

importância pelas autoridades. Apesar de estar sem força, vou trabalhar no sentido

de fazer-me ser reconhecida, não só pelas autoridades mas também pela

sociedade, a quem realmente serei importante” (grifo nosso).

“Dentro de tantas dificuldades encontradas no município, não me sinto tão

entusiasmada quanto deveria estar. Sei da grande importância que represento para o

meu município, e do grande trabalho que irei desempenhar se me derem oportunidade

de fazê-lo”.

A Figura 10 permite visualizar como uma ação simples (higienização bucal

supervisionada) e de grande impacto na redução da doença cárie pode ser

desenvolvida simultaneamente em um grupo de até 10 pessoas.

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FIGURA 10: Foto do THD supervisionando procedimentos coletivos

• DOMÍNIO DA QUESTÃO TÉCNICA

Usando dos princípios do método de pesquisa, os alunos buscavam

informações para responder as perguntas propostas e usavam a estrutura conceitual

desenvolvida para assimilar novos conteúdos e se apropriarem daquele

conhecimento. Cada unidade didática, ao promover processos de aprendizagem que

favoreceram os educandos a assumirem de maneira reflexiva um sistema de valores,

também motivou e desenvolveu todo um conjunto de destrezas que lhes permitiam

estabelecer novas relações e interações com os conteúdos.

“Sinto-me capaz, segura de realizar procedimentos que me sejam enviados”.

“Sinto-me satisfeita e feliz. Eu achava que sabia muito, mas o que eu aprendi é muito

mais do que eu imaginava. Me sinto segura e otimista quanto ao meu trabalho e

espero ter excelentes resultados nos próximos anos”.

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“Através de todos estes critérios que vimos e aprendemos com certeza podemos

agora enxergar com mais clareza os recursos que dispomos e as formas e planos que

regem em nosso município”.

“Aprendemos sobre os riscos que estamos correndo em nosso trabalho”

“Foi ótimo conhecer como é feita a programação em saúde e como funciona o SUS”.

“O exercício feito de Epidemiologia foi muito válido. No início estava muito por fora,

depois gostei e achei fácil”.

“Positivo aprender a ter calma diante dos problemas. Aprendemos como podemos

através das ações modificar um sistema deficiente e ineficaz”.

A análise de todos os registros demonstrou o crescente domínio dos

educandos com as questões técnicas. Termos técnicos eram usados gradativamente

com domínio e propriedade. A Figura 11 ilustra o ambiente clínico onde o THD

desenvolve ações individuais de controle das doenças bucais.

FIGURA 11: Foto do THD executando procedimentos individuais

FIGURA 11: Foto do THD executando procedimentos individuais

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• PERFIL PROFISSIONAL

O perfil profissional do THD, definido pelo Conselho Federal de Odontologia,

conserva uma forte estrutura “fordista”, no sentido de que, atrás dela há uma

concepção de prática semelhante a uma linha de montagem de uma fábrica.

Algumas atribuições profissionais são fragmentadas e voltadas para um modelo de

atenção de cunho cirúrgico-restaurador. Por fazerem parte de uma lógica

assistencial diferente da preconizada pelos serviços de saúde bucal do SUS

(MINAS GERAIS, 1999), algumas atividades não são reforçadas no Guia

Curricular para a formação do THD (BRASIL, 1994). Fazem parte da seqüência de

atividades somente para compor o mínimo exigido pelo setor educacional e pelos

órgãos de classe, mas não são enfatizadas no curso.

Essa contradição é identificada e registrada pelos educandos:

“Não gostei deste conteúdo, achei muito difícil, muito cansativo”.

“Não gostei do conteúdo, pois acho que tem coisa mais importante para fazermos que

ficarmos manipulando material. É claro que é importante conhecer, mas, não me

despertou interesse”.

“O assunto do módulo foi cansativo, os textos não me prendiam a atenção”.

“Seqüência I, não gostei. Acho que é de interesse só do C.Dentista”.

• A AVALIAÇÃO

Uma questão polêmica que surgiu ao longo do curso referiu-se à aplicação de

provas, enquanto um instrumento para aferir a aquisição de conhecimento. Ainda que

tal instrumento não faça parte do processo de avaliação do Currículo Integrado para o

THD, os registros mostram que provas foram aplicadas ao longo de algumas

Concentrações.

O primeiro depoimento sugerindo uma avaliação do tipo “teste” foi encontrado

na unidade didática IV, da primeira área curricular. Tratava-se da “Biossegurança e o

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Controle da Infecção na prática Odontológica”, um tema amplo, complexo, polêmico e

cujas atividades práticas no consultório eram de responsabilidade direta dos

profissionais de nível médio.

“Não estou acostumado com este método, onde praticamente são os alunos que dão a

aula. Prefiro o método mais tradicional, com um instrutor dando a aula (explicação e

ensinamento) e os alunos sendo submetidos a uma avaliação para teste de

conhecimentos. ... Trabalho em grupo: todo curso deveria adotar este meio. É através

deste trabalho que as pessoas aprendem a se relacionar e é o meio mais fácil de

todos se auto-ajudarem para que possamos fazer um trabalho mais qualificado e

profissional”.

A opinião do educando sobre a metodologia de trabalho mostra claramente a

dúvida, o sentimento dividido entre dois caminhos. No primeiro, o professor ensina,

o aluno aprende e mostra que aprendeu através de testes. No segundo, o

desafio da construção coletiva do conhecimento. Razões para essa situação

poderiam ser um nível elevado de ansiedade ou experiências de fracassos crônicos

no tema.

Para SANTOMÉ (1998), a alternativa da aprendizagem por repetição,

tradicionalmente conhecida, gera, de início, “mais confiança” no meio escolar.

Bernstein sugeria que a evolução em direção a uma escola “mais aberta”

“poderia muito bem provocar uma espécie de sentimento de vertigem tanto entre os

professores como entre os alunos, entre os quais alguns poderiam ser tentados a se

desviar de uma instituição que não lhes ofereceria mais pontos de apoio simbólicos

sólidos, para se voltarem para outras fontes de certeza e de identificação

emblemática” (Cit. Pág. 88 FORQUIN, 1993).

A aplicação de provas era um exemplo.

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Na unidade didática seguinte, a estratégia de uma gincana parece ter sido a

forma encontrada pelas instrutoras para checar o domínio do conteúdo por parte do

grupo. Esse caminho escolhido teve uma repercussão positiva sobre o grupo.

“Gostei muito, principalmente dos questionários e da gincana realizada, com certeza

não ficou ninguém sem participar”.

“Foi ótima: exige mais concentração, grava melhor principalmente na gincana, deu

para entender bem as dúvidas que não tinham ficado bem esclarecidas, respondendo

os questionários e discutindo foi uma boa idéia”.

“Gosto da metodologia e foi interessante a diversificação de atividade”.

“A metodologia utilizada é muito boa porque está sempre variando as maneiras de

estudo e isso faz com que fixemos as coisas sem nos esforçar muito”.

Nos registros da unidade seguinte encontramos somente um comentário que

se referia ao processo de avaliação, e chamava a atenção a forma objetiva e direta de

expressão.

“Não gosto de fazer avaliação”.

Como esse comentário aparece da mesma forma na unidade seguinte, com a

mesma letra e se referindo às provas, deduzimos que a crítica não se referia ao

processo de avaliação como um todo proposto no Currículo Integrado, mas à

aplicação de provas.

Na Concentração seguinte, unidade didática VI, encontramos o maior número

de críticas e comentários negativos relacionados à prova.

“Negativo: muita tensão com avaliação”.

“Negativo a expectativa para a prova”.

“Não gostei da avaliação, não porque estava difícil, mas porque não gosto”.

“Negativo a ansiedade antes da avaliação”.

“Muita ansiedade no momento antes da prova”.

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O grupo continuava inconformado no momento seguinte de Concentração. A

prova, um símbolo deixado pelo racionalismo na educação, refere-se a uma visão

fragmentada e não a uma avaliação que diz respeito ao conhecimento do ser humano

integral. A prova carrega (ainda que de forma velada) um ato de julgamento que

desconsidera o corpo emocional do aluno. O grupo sabia disto e usava dos

instrumentos que tinha em mãos ( as avaliações por escrito) para tentar reverter a

relação de força junto às instrutoras.

“Foi muito cansativo, não sei se era eu que estava muito triste por não ter feito uma

prova boa”.

“Questões da prova de difícil compreensão”.

“Confesso que estou muito cansada; e a dispersão está se tornando muito cansativa

com as avaliações. Não sei o que estudo primeiro”.

“Negativo as provas, por causa do nervosismo que a gente fica, eu sabia tudo. Na

hora que as outras estudavam, eu respondia tudo, mas na hora H não fiz nada. Foi

horrível. A dispersão está muito pesada pelos compromissos que já temos e apenas

03 semanas para tudo. As questões da prova estão de difícil interpretação e esse

negócio de exceto faz a gente misturar o que sabe”.

“As questões da prova estão muito difíceis de interpretar”.

“Não gosto da avaliação final, está dando muito trabalho para a dispersão, já temos

muito trabalho para fazer nos consultórios e o tempo está muito pouco para estudar

tanta coisa. Sabemos que é para o nosso bem, só queremos menos trabalho”.

“Cida e Alcione: contrariou demais com essas provas, diziam no início que não havia

prova e agora no entanto furaram a palavra”.

A figura do professor, marcada por um papel de autoridade, ao seguir

programas sem criticá-los, ou ao adotar as posturas de avaliação que se traduziam

em provas e notas, estava, aos olhos do aluno, contradizendo a dimensão daquele

currículo em prática.

Ainda que houvesse comentários positivos sobre a prova, principalmente ao

fato das questões serem discutidas em sala, não percebemos um apoio explícito à

técnica.

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A “prova” do mês seguinte parecia ter sido mais fácil, o que talvez justificasse

um número menor de comentários.

“Não gosto das avaliações”.

“Não gosto das avaliações, não gosto de provas. Não vejo nesta conduta nada que me

ajude a crescer”.

O último comentário sobre provas aparece na unidade didática II, da Área II.

“Me senti bem, só achei a avaliação difícil e cansativa”.

Segundo Bernstein,

“as regras de avaliação asseguram a reprodução do princípio de classificação básica

da sociedade, ou seja, a distribuição de poder. É pela avaliação que a transmissão e a

aquisição de saber e de habilidades se interrelacionam e que se configura, realmente,

o conteúdo legítimo da prática pedagógica, ou seja, os conhecimentos e competências

em relação aos quais os educandos são posicionados” (Cit. Pág. 254 COELHO,

1988).

Ao optar pela utilização das provas, as docentes mudavam o referencial em

relação à aceitação ou não das respostas dos alunos. Essa forma de medir o

rendimento era diferente do preconizado, onde o que interessava era o esforço real

que o aluno fez (ou não) para alcançar tal resultado, seu comportamento, seu espírito

social.

A avaliação acompanha o processo de aprendizagem e não só um momento

privilegiado (o da prova). Em termos de sala de aula, a avaliação envolve o

desempenho do aluno, do docente, e da adequação da proposta como um todo

(MASETTO, 1997).

No Currículo Integrado, a atmosfera social do modelo de avaliação

proposto enfatiza a independência e a diligência. Os alunos são estimulados a

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julgar seu próprio progresso e a sentir-se recompensados com ele. Provas não

são adequadas para identificar esse processo.

Os registros dos THD’s e as informações a que tivemos acesso nos levaram a

crer que os instrumentos de avaliação preconizados (registro de fato, lista de

observação, avaliação mediante atividades de papel e lápis) foram subutilizados em

Carmo do Paranaíba. Já as avaliações de desempenho final, por área, foram

adequadamente utilizadas.

No sentido de ir além do fato em si (aplicação de provas), refletimos sobre o

papel da instituição formadora (no caso a Escola de Saúde e o Centro Formador) que,

de acordo com registros institucionais, não acompanhou o trabalho dos docentes que

atuaram nessa experiência de formação do THD. A ausência, naquela época, de um

sistema regular de supervisão deixava os docentes expostos a desvios.

Mas também podemos entender o não acompanhamento dos docentes pela

ESMIG/CFRHS, como uma forma (implícita) da instituição não apoiar o curso.

Identificamos aqui uma negligência interna da escola, já que havia profissionais

(cirurgião-dentista e pedagogo) preparados para assumirem esse papel e não o

fizeram.

Outro contraponto à questão da aplicação de provas, refere-se ao fato de que a

nossa leitura das fichas de avaliação no processo (Modelos em Anexo VII), onde os

THD’s eram avaliados pelos C.Dentistas, indicou a falta de compreensão dos

instrutores da Dispersão quanto aos instrumentos preconizados. As listas de

observação, onde aparecem as operações que decompõem o processo de trabalho

segundo diferentes técnicas, estavam muitas vezes preenchidas parcialmente. As

fichas de registro de fatos, instrumento com inúmeras possibilidades de interação

entre aluno-professor, foram subutilizadas no curso como um todo. Nesse instrumento

de avaliação, poderiam ter sido descritas as situações bem sucedidas, os

acontecimentos, incidentes e fatos significativos da vida diária da sala de aula.

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92

Identificamos a importância de um processo de Educação Continuada para os

profissionais de nível superior, onde as questões técnicas e pedagógicas podem ser

retomadas e ajustadas ao movimento de reorganização dos serviços.

Outras pequenas irregularidades foram constatadas nas avaliações mediante

atividades de papel e lápis. Embora as falhas não comprometessem a avaliação como

um todo, entendemos que concorreram para gerar nas instrutoras da Concentração

dúvidas acerca da legitimidade do processo e a busca da alternativa da “prova”. Dito

de outra forma, as dificuldades operacionais dos momentos de Dispersão, influíram

na seqüência de atividades da Concentração, gerando desvios metodológicos. Por

meio de um sistema regular de supervisão, a opção pelo processo de recuperação

paralela (se necessário) poderia ter sido utilizado. Os professores criariam situações

adequadas de acompanhamento paralelo, gerando as experiências necessárias para

que o educando superasse suas dúvidas e dificuldades.

Os instrumentos de avaliação disponíveis no Currículo Integrado ofereciam

indícios de retratação do educando acerca do seu envolvimento no seu campo de

investigação e trabalho. Havia espaço para registro de suas inquietações e perguntas

que permitiam a busca de alternativas adequadas aos problemas reais. As

dificuldades encontradas para se avaliar o que realmente importava, a imaginação

criadora, não deveria ser motivo suficiente para remeter a um rigor com questões que

não são essenciais.

ALVES (1991) defende a importância de se avaliar as inquietações, as perguntas

do cotidiano que fazem a mente vagar muito além das apostilas; a imaginação que

investiga as alternativas dadas, as dúvidas, que serão muito mais reveladoras do

fervilhar do amor e da paixão, pré-requisitos para os vôos da imaginação criadora.

Destacamos a importância dos ajustes institucionais realizados posteriormente,

no sentido de garantir aos instrutores dos cursos descentralizados o

acompanhamento de supervisão, os Encontros Pedagógicos.

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93

• OS CÓDIGOS EDUCACIONAIS

Bernstein distingue os significados realizados pelas pessoas por meio do

Código Restrito (“textos”, falas, dependentes do contexto) e Códigos Elaborados

(“textos”, falas, independentes do contexto). A escola, de uma maneira geral,

expressa os valores da classe dominante. Ela utiliza um Código Elaborado (linguagem

falada pelos grupos que têm acesso às posições sociais mais elevadas). Os grupos

da classe média são capazes de distinguir e responder aos dois Códigos, enquanto

os grupos operários têm, em geral, acesso a apenas um deles, o Código Restrito. Um

grupo sem prévia orientação para um Código Elaborado terá de traduzir a linguagem

formal da escola, a fim de que esta adquira algum significado. Se a aprendizagem se

der de maneira mecânica, traduzida num acréscimo de vocabulário, as novas

palavras, vazias de significado social, serão imediatamente esquecidas uma vez que

o grupo abandone a escola. Para que a aprendizagem de um grupo que praticamente

só tenha acesso a um Código Restrito, se dê em termos efetivos, todo o sistema

básico de percepção deve ser alterado. Em outros termos, seria uma ressocialização.

(OLIVEN, 1979).

O trabalho de RASCHE (1979) mostra que crianças da classe média

produzem Códigos mais Elaborados e crianças operárias produzem Códigos

Restritos. Demonstra também que a escola está mais bem preparada para

acompanhar crianças de classe média.

STEFFEN (1980) afirma que é dentro destes Códigos que se processam todos

os dados de relacionamento dos indivíduos. Com base nos dados do Código Restrito,

ou do Código Elaborado, vai se observando, ou mesmo predizendo, uma vasta gama

de atitudes entre grupos e classes sociais.

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No Currículo Integrado do THD, em que pesem os atropelos da avaliação

realizada, houve respeito em relação aos diferentes “Códigos” inicialmente

expressos pelos alunos. De acordo com Bernstein, houve uma ressocialização.

“Gostei muito do espaço dado para a fala de cada componente do curso, respeitando

a individualidade de cada um de nós em nossos relatos. A preocupação de vocês nas

nossas dificuldades nos ajudando e apoiando é de fundamental importância, o que me

deixou mais segura a partir deste módulo”.

“A metodologia deixa a pessoa à vontade para responder”.

“Gosto da forma como são abordados todos os assuntos; nos trabalhos em grupo,

todos tiveram uma maior participação, inclusive os mais calados, estão aprendendo a

dar a sua opinião. A respeito da forma como vocês instrutoras nos ajudam a entender

melhor todos os temas debatidos, de uma forma bem mais clara e nítida, só temos a

ganhar e agradecer”.

“Metodologia muito boa, com oportunidade de fala para todos”.

“Sempre dinâmico, de modo que force a participação de todos os alunos”.

“É muito boa esta maneira de vocês usarem deixando nós alunas muito à vontade

para aprender”.

“Foi boa a colocação dos problemas e todos chegaram à conclusão que temos que

respeitar a fala do outro”.

Ao final do curso, todos os THD’s freqüentes receberam, dentro do prazo

estabelecido, o conceito APTO para o desempenho das atividades previstas nas três

áreas curriculares. Isso sugeriu que os alunos demonstraram um potencial disponível

para elaborações mais complexas. No curso houve a presença de estímulos que

favoreceram e possibilitaram a expressão de outros códigos. O acesso a um Código

Elaborado não dependeu de características psicológicas dos educandos, mas de um

acesso a posições sociais dentro da estrutura formalmente reconhecida, a escola.

“Estou chegando à reta final de mais uma batalha na minha vida. Estou me sentindo

vitoriosa, estou feliz por ter chegado bem, por ter conquistado novas amizades e

novos conhecimentos”.

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“Pudemos ampliar nossos conhecimentos e entender melhor pontos que nos foram

colocados ao longo deste ano”.

Um papel extremamente importante que coube ao curso referiu-se ao

desenvolvimento da consciência crítica, da mente aberta, do pensamento flexível e da

possibilidade de apresentar princípios mais universais e códigos mais integrados.

A Figura 12 mostra o momento da formatura de THD’s e docentes.

FIGURA 12: Foto da formatura da turma de THD de Carmo do Paranaíba FIGURA12: Foto da formatura da turma de THD de Carmo do Paranaíba

MEDEIROS (1979), ao discutir o papel da escola no processo de socialização,

enfatiza o seu complexo propósito relacionado ao desenvolvimento da imaginação em

um contexto livre e da tentativa de emparelhar escola e trabalho.

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“Espero conseguir realizar todos os meus objetivos, que além de promover a saúde

bucal, ajudarão também a promover a saúde geral. Esta é a meta que pretendo

alcançar com os conhecimentos que adquiri durante esses 11 módulos”.

Os instrutores foram partícipes dessa construção, e seu trabalho inúmeras

vezes, reconhecido pelos alunos.

“Vocês foram brilhantes. Conseguiram prender a atenção de todas, de forma que

todas falassem a mesma língua”.

“Falaram em uma linguagem simples, facilitando que todas entendam o assunto.

Apoiavam bem o grupo sempre que necessário”.

4.4.3 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

De acordo com FORQUIN (1993), em um texto de 1967, “Open Schools –

Open Society?”, Bernstein analisava as transformações pedagógicas, culturais e

organizacionais que têm lugar efetivamente no interior dos sistemas escolares. Na

visão de Bernstein, a ênfase à resolução de problemas, à descoberta autônoma e

menos às aprendizagens operatórias estritas modificava as relações de autoridade

entre professores e alunos.

O Código Integrado gerava entre os THD’s um encorajamento para uma prática

de avaliações comuns, onde o professor também era alvo a ser avaliado pelo aluno.

“Sinal amarelo para Cida e Alcione em relação à pontualidade. Sinal verde nos demais

itens”.

“As instrutoras estavam muito sem paciência”.

“Poderiam mudar um pouco, dar algumas atividades diferentes”.

Pelas avaliações, percebe-se uma grande admiração dos THD’s pelos

docentes da Concentração. De uma maneira geral, esses profissionais se mostraram

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próximos, pacientes com os alunos em formação. São muitos os elogios e mensagens

de agradecimento ao instrutor. Ainda que não tenha sido objetivo desta pesquisa uma

análise avaliativa com cálculos de freqüência e intensidade das referências positivas e

negativas acerca dos professores, chamou-nos a atenção o número de palavras

idiossincráticas (VALA, 1987). Os textos estão carregados de significações

incontestáveis relacionadas aos docentes: “dedicada, amiga, capacitada, disponível,

esforçada, clara nas idéias, interessada, transmite segurança, prestativa,

compreensiva, muita disponibilidade em todos os aspectos, atenciosa, competente”,

etc. A disposição do temperamento do grupo fez com que se sentissem, de um modo

muito especial, as marcas desses professores.

“Alcione é sem dúvida uma pessoa maravilhosa em todos os sentidos. É amiga de

todas nós e está pronta a esclarecer todas as dúvidas que aparecem”.

“Cida: visão muito abrangente de todos os assuntos facilitando a explanação da

matéria”.

“Achei muito importante o respeito dos professores com os alunos, respeitando suas

dificuldades; porque se não tivesse havido esse respeito eu não estaria aqui, e não

teria a chance de aprender o que estou aprendendo”.

“As instrutoras nos passam boa vontade e carisma de ensinar, com um potencial forte

do que é ser um profissional com praticidade e segurança”.

Se a cultura do professor deve fazer parte da cultura do educando, é preciso

primeiro que a cultura do educando esteja na consciência do educador. O educador

se esforça para compreender os pontos de vista que são expostos em lugar de tentar

deliberadamente mudar as opiniões expressadas (BERNSTEIN, 1985).

“Ela se mostra uma instrutora muito capacitada e consciente, procurando buscar o

conhecimento em nós mesmos e não encucar outros em nossas mentes”.

”Uma profissional que nos induz a procurar o conhecimento”.

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Quando o professor se aventura numa permissão maior de que o aluno se

mostre por inteiro, a emoção corre solta, afloram-se as emoções menos suspeitadas,

a linguagem se organiza (ESPIÍRITO SANTO, 1996).

“Gostaria primeiramente de parabenizá-las (Cida e Alcione) por terem nos ajudado

com tanto mérito, o que fez de nós profissionais capacitados a irmos agora em busca

de nossos ideais”

“Poder ter vocês, Cida e Alcione, ao nosso lado tantos módulos foi muito bom; adquiri

muita experiência, aprendi e cresci muito (a minha personalidade e o caráter)”.

“Fico grata pelo empenho e preocupação de vocês, Cida e Alcione, em nos ajudar a

conseguirmos nos realizar em nossos locais de trabalho”.

“Maravilhosa foi a convivência com vocês Cida e Alcione. Que Deus esteja com vocês

hoje e sempre”.

Segundo Bernstein, os papéis do professor são também mais variados, mais

diversificados e ao mesmo tempo menos prescritos antecipadamente. De preferência

são construídos e realizados dia a dia, no curso das múltiplas interações que têm

lugar no interior da instituição (FORQUIN, 1993).

“Cida: esforço em estar buscando novos caminhos, novas idéias e recursos para

enriquecer o nosso aprendizado”.

“Cida batalhou muito, parabéns pelo seu desempenho, você é um profissional capaz”.

“Cida soube desempenhar muito bem o seu papel e teve facilidade em superar os

obstáculos impostos pelos imprevistos”.

“Cida conseguiu vencer mais esse módulo”.

“Instrutora foi de grande habilidade pois estava com vários problemas, mas mesmo

assim deu muita atenção a todos”.

A busca da integração entre ensino e serviço remetia a vários desdobramentos

de ordem político/pedagógica, e o instrutor assumia variados papéis. Viabilizar o

curso parece ter sido uma luta, e os alunos reconheciam o esforço do instrutor no

sentido de dar continuidade ao processo.

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Bernstein notava que essa evolução em direção a uma escola “mais aberta”

inscrita no espírito do tempo, ia encontrar fortes resistências em razão da ameaça que

toda educação aberta parece exercer sobre a ordem estabelecida (FORQUIN,1993).

O Código Integrado favorecia a relação do tipo “horizontal” (a concordância,

cooperação, participação) em todos os níveis, tanto entre os alunos quanto entre os

professores. A democracia parecia se opor ao autoritarismo, a flexibilidade à rigidez, a

participação social à segmentação burocrática, os valores modernos de abertura e

convívio pareciam confrontar os antigos hábitos de isolamento e de manutenção das

distâncias (FORQUIN, 1993). No curso houve um contínuo trabalho de equipe, um

constante ajustamento dos objetivos, dos conteúdos e dos métodos.

“Houve uma união entre Cida e Alcione e todos do grupo para que houvesse um

desempenho maior de todos”.

“Positivo a integração das instrutoras Cida e Alcione com a turma”.

Os THD’s, ao identificarem nas instrutoras pessoas comprometidas com a

prática de ensino e serviço, também nos permitiram indicar que esse processo de

formação em serviço por meio do Currículo Integrado é contra-hegemônico e

está ainda apoiado em instrutores e outros agentes de parceria. Não se trata de

um projeto consolidado como prática e política institucional.

“Tenho receio de que forças externas venham inviabilizar o curso de THD”

A figura do professor inspira apoio e coragem para o enfrentamento dos

desafios dos serviços.

“A calma e dedicação das instrutoras muito me ajuda, me encoraja para continuar

confiante que posso ajudar a minha comunidade”

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• A EQUIPE DOCENTE

A participação dos professores da equipe de apoio técnico, ao longo das

Concentrações, parece ter sido motivo de grande investimento por parte das

instrutoras. A forma como esses profissionais participaram e foram referenciados

pelos alunos demonstrou um ajustamento entre toda a equipe docente.

“Os apoios técnicos são pessoas muito comunicativas e prestativas, aceitando nos

ajudar de uma maneira tão espontânea e amiga”.

“O apoio técnico reforçou o que vimos durante a semana, foi muito válido”.

“Eleonor é uma excelente profissional e mostrou competência ao passar para a gente

o compromisso que temos como ser humano de saber entender e estar prontas a ter

iniciativas quando deparamos com um imprevisto na nossa área de saúde”.

“A aula da Lilian foi ótima, reforçou os trabalhos feitos durante a semana e valorizou o

trabalho do THD”.

“Dora: com seu jeito extrovertido e animado nos tocou, nos mostrando a importância

do trabalho em equipe e do respeito mútuo”.

“Marisa: Maravilhosa, com ela eu não me canso, nem parece ser professora da

UFMG, por ser muito simples, o que a torna além de muito competente, muito amiga”.

“Carlos: gostei muito de sua forma de explicar a matéria, de uma maneira

descontraída e simples. Uma pessoa que já passou e ainda passa pelos problemas

que enfrentamos. Admiro muito pessoas com força e garra como ele; realmente não

teria pessoa melhor para nos dar apoio”.

O entusiasmo do corpo docente comunicava-se por meio da linguagem verbal.

Uma equipe convencida do que realizava favorecia a que os educandos captassem

se o que estava acontecendo valia a pena ou não, e se posicionassem diante dos

problemas a serem enfrentados.

• A AULA EXPOSITIVA

Para que a aprendizagem aconteça, ela precisa ser significativa para o aluno.

Deve permitir ao aluno relacionar o que está aprendendo com os conhecimentos e

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experiências que já possui. O que está sendo apresentado deve entrar em contato

com situações concretas de sua vida (MASETTO,1997).

“Uma aula expositiva após leitura dos textos é muito valiosa”.

“A aula foi boa, os slides foram muito úteis para a visualização do que foi visto durante

a semana”.

“A aula foi muito esclarecedora, pois às vezes, quando fazemos a leitura dos textos,

alguns pontos importantes passam desapercebidos. E hoje foi a oportunidade para se

fixar e esclarecer (entender) estes pontos”.

“É sempre bom ter alguém que trabalha na área que estamos estudando para falar no

final do módulo. Esclarece as dúvidas e complementa os textos. Foi muito bom”.

Na formação em serviço do THD, a aula expositiva acontecia de uma maneira

contextualizada, sendo referendada de forma positiva pelo conjunto de educandos.

4.4.4 RELAÇÕES AFETIVAS

As afirmações dos discentes que foram agrupadas sob a categoria “Relações

afetivas”, constituíram um texto forte, onde os conflitos gerados pelas relações

humanas foram muitas vezes explicitados. Os registros mostram que o curso ajudou o

educando a tomar consciência da sua maneira de ser em relação ao outro, como suas

palavras repercutiam nas outras pessoas, quais as barreiras nas comunicações.

“Sinto-me feliz por saber que o curso superou as minhas expectativas, sinto-me

realizada por notar que foi muito engrandecedor. Passei por novas experiências,

amadureci por enfrentar certas barreiras, aprendi a não ser tão dona da verdade, e

não cobrar tanto de mim mesma, aprendi a errar. Sinto-me triste porém em saber que

dificilmente as nossas vidas se cruzarão novamente, em grupo, como aconteceu

durante este ano, mês após mês. Fica aqui um emaranhado de felicidade e tristeza”.

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Entendemos essa tomada de consciência como um elemento para iniciar uma

mudança de comportamento. Os esforços gerados nesse movimento de, em grupo

discutir, refletir sobre a própria prática profissional favoreceu o trabalho de construção

do conhecimento. Assim, “trabalho em equipe” deixou de ser um referencial teórico e

consubstanciou-se na prática do curso.

“Apesar de haver alguns desentendimentos entre algumas pessoas do grupo, deu

para perceber que existe muita amizade entre o restante da turma e isto facilita demais

o aprendizado. A gente se sente bem à vontade para expressar, principalmente o que

pensamos”.

Por meio desse registro observamos que o educando reconhece o pressuposto

pedagógico de que os trabalhos em grupo favorecem maior interesse dos alunos e,

por conseguinte, maior rendimento na aprendizagem.

Os problemas de relações humanas que surgiram foram motivos de discussão

nos pequenos e no grande grupo. O empenho das instrutoras de obter e conservar a

cooperação e a confiança dos educandos aparece explícito.

“Achei muito boa a interferência das instrutoras no relacionamento da turma”.

“O relacionamento entre os colegas como sempre foi bom, neste aspecto o que mais

chamou a atenção foi a abordagem de nos reintegrarmos com a colega Margarida”.

A utilização de recursos didáticos não convencionais (filmes Holliwoodianos,

notícias de jornais, letras de músicas, reportagens de revistas, textos de reflexão,

dinâmicas) criou possibilidades para aflorarem preconceitos, resistências, moralismos.

Considerava-se importante transgredir o universo fechado e restrito dos chamados

conteúdos técnicos. Havia uma busca de caminhos não-oficiais, sem desprezar, é

claro, os conhecimentos científicos sistematizados.

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O uso de uma linguagem poética cria oportunidades para que a intuição se

manifeste e, conseqüentemente, seja liberada a emoção retida pelo pensamento

estritamente racional (ESPÍRITO SANTO, 1996).

“As brincadeiras foram maravilhosas, descobrimos talentos que nem a gente mesmo

sabia que tínhamos”.

“Foi ótimo, muito bom, me mostrou muitas coisas, cada dia aprendo mais”.

“Dinâmicas: ajudaram-nos a conhecer um pouco mais as colegas através de suas

experiências; valeu”.

O Guia Curricular para a formação do THD, por meio da sua seqüência de

atividades, favorecia um percurso mais descontraído em direção ao domínio do

conhecimento.

“Dramatizar situações de atendimento onde o usuário é informado dos

cuidados a serem tomados para o controle da cárie dentária” (cit. Pág 259,

BRASIL, 1994).

O uso de dramatizações relacionadas à realidade dos serviços de saúde

permitia que os educandos percebessem suas próprias emoções, favorecendo o seu

autoconhecimento, sua própria identidade. Diante da constatação de sentimentos de

raiva, ciúme, inveja, colocava-se sua mudança para emoções mais ajustadas a um

equilíbrio pessoal. A passagem de situações de dramatizações para a vida real

permitia importante reflexão avaliativa da transformação no comportamento do aluno.

Uma gama de questões rotineiras em sala de aula podia ser trabalhada com largo

proveito para os educandos.

“O que acontece aqui no curso é que quando vamos colocar nossos problemas,

muitas das meninas ficam fazendo cara ruim, mandando a gente calar, não dão a

mínima para o que falamos, se não pudermos falar aqui nossos problemas o que

vamos fazer para encontrarmos uma solução para as nossas dificuldades em nossos

municípios? Fiquei bastante triste e magoada, já viemos tristes por causa dos

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problemas, agora estamos voltando pior ainda. Mas tem uma solução a partir de hoje,

não apresentaremos nossos problemas para não causar atritos entre o grupo”.

Ao longo de cada unidade didática foi possível identificar as diferenças

encontradas em cada local de trabalho e expressas nas falas dos THD’s. No fórum

educacional da formação em serviço, o propósito foi o de estabelecer um diálogo

voltado, não para a conformidade e o acordo, mas sim para a compreensão, a

tolerância e o respeito das diferenças.

Um diálogo voltado para manter a diferença, não para eliminá-la (MOREIRA,

1997).

• O ALUNO FRENTE AOS DESAFIOS DO TRABALHO

São polêmicas as relações entre o mundo do trabalho e o campo educacional.

FRIGOTTO (1999) defende o papel fundamental da educação de gerar valores éticos,

políticos; o papel de preparar cidadãos para a vida social, cultural, a vida humana. No

processo de construção do conhecimento, há que se relacionar os saberes com a

história e os acontecimentos do dia-a-dia.

Numa Pedagogia Invisível, o controle está quase inteiramente na comunicação

interpessoal. Os educandos são encorajados a tornar públicos aspectos do seu

interior: sentimentos, fantasias, temores (BERNSTEIN, 1996).

“Iniciei o curso com dificuldades que superei. Encontrei limitações no trabalho mas me

senti uma profissional que colaborava para melhoras e imaginava poder fazê-las

melhor após a formatura. Agora, véspera do acontecimento, não sei como me sinto,

pois há muitas decisões que me deixam sem saber como vou trabalhar quando tudo

for decidido. Não contava com tantas mudanças”.

• AS QUESTÕES DE HIERARQUIA

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Pelos depoimentos dos THD’s, percebemos uma certa “resistência” dos

cirurgiões-dentistas a essa “nova” categoria profissional. Não se tratava de algo

explícito, mas de posturas, de atitudes veladas de controle e rejeição. A prática

odontológica hegemônica do cirurgião-dentista é presa a uma estrutura racionalista,

onde os “conhecimentos científicos” são ajustados a uma lógica formal. Essa lógica

se opõe ao empirismo, que vê no domínio sensorial as fontes do conhecimento. Como

os THD’s são formados numa concepção dialética, situando-os num universo real,

permitindo uma ampla e irrestrita busca e pesquisa do conhecimento, também no

cotidiano, sem restrições culturais ou de outra ordem, os conflitos tornam-se

inevitáveis.

“Sinto vontade de trabalhar e muito frustrada por saber que o THD não é aceito pelo

C.Dentista, e eu dependo dele para exercer, para promover saúde. Que minha posição

é de luta em todos os sentidos. Temo continuar como antes, sem apoio por parte dos

gestores e secretários de saúde. Dependo do querer dos outros. Não vou me

acomodar, porém terei paciência”.

“Me sinto realmente uma THD, compromissada com o paciente, com a saúde bucal.

Quero me dedicar ainda mais a cada dia.”Não ter medo de perguntar o porquê ao

dentista, ir atrás”. Legal”.

Alguns educandos demonstraram ter sido estimulados a enfrentar o abuso do

poder local do cirurgião-dentista. Deixaram transparecer um desejo de mudanças nas

relações onde há uso excessivo da autoridade, ao mesmo tempo em que se

mostraram cuidadosos, conhecedores de que lidam em um campo onde se requer

ousadia e cautela ao mesmo tempo. Sabedores da importância do equilíbrio nas

situações de mudança, já que a radicalização não contribui para o diálogo.

Podemos afirmar que o curso de formação do THD em Carmo do

Paranaíba, abriu amplas possibilidades aos alunos de, após cada unidade

didática, fazerem a crítica da própria instituição em que estudam, do conteúdo

estudado, do método, do papel do docente e dos serviços de saúde onde

trabalham. A mensagem que se tem é a de que, ao criticarem e construírem

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novas relações pedagógicas estarão, por extensão, comprometidos com a

construção da sociedade como um todo.

O conflito, a inquietação e a dúvida fizeram parte do cotidiano escolar. O

desafio de uma formação ligada aos interesses e necessidades da população (e dos

serviços de saúde) foi assumido na rotina da prática pedagógica.

O Currículo Integrado configurou um avanço na proposta de formação e na

organização dos serviços de saúde.

Houve um ganho real para a população na medida em que as inovações

tecnológicas chegaram mais rápido a ela. Houve a profissionalização do THD. Ele foi

formado com o objetivo claro de responder, junto com a equipe de saúde bucal, as

necessidades de uma determinada população. O cirurgião-dentista instrutor da

Concentração, além de capacitar-se técnica e pedagogicamente (na ESMIG) também

assumiu na prática o novo papel de formador e coordenador da equipe.

Regionalmente foi deflagrado um movimento de atualização técnica e pedagógica

para os profissionais da rede de serviços SUS. Com isso a população também se

beneficiou. Estabeleceu-se na Saúde Bucal um Círculo Virtuoso (Figura 13).

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107

SUS

FIGURA 13: O círculo virtuoso na área de Saúde Bucal

Acreditamos que nesse espaço de reflexão e questionamento das contradições

do real vislumbraram-se, ainda que tênues, as perspectivas de transformação.

THD

CD / INSTRUTOR CONCENTRAÇÃO

CD / INSTRUTOR DISPERSÃO

POPULAÇÃO

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CONCLUSÕES

TIPO DE CURRÍCULO E RELAÇÕES PEDAGÓGICAS

Na concepção de Bernstein, um currículo com fraca Classificação, no qual as

fronteiras entre os diferentes campos são pouco nítidas, não significa ausência de

poder (SILVA, 1999).

No Currículo Integrado para o THD, ficou evidenciado que o plano pedagógico

estava organizado de acordo com princípios diferentes de poder. As relações de

poder (status quo) nesse modelo de formação demonstraram ser igualitárias,

buscando as contribuições de todos os atores para a construção de um modelo

assistencial em saúde bucal inserido no SUS.

Do mesmo modo, a forma didática de realização do curso, na qual os

estudantes apresentavam um poder maior de decisão sobre as diversas dimensões

da pedagogia (ritmo, tempo, espaço) não significava que o controle estivesse

ausente. Estavam em ação outros princípios de controle, mais sutis, mas nem por

isso menos eficazes. A instituição formadora (ESMIG/CFRHS) dispunha de outras

formas de controle: exigência de limite de freqüência, horários definidos, tarefas a

serem cumpridas, padrão de qualidade técnica e outras exigências locais.

Acerca das relações pedagógicas estabelecidas na formação do THD por meio

do Currículo Integrado, baseando-nos em SANTOMÉ (1998), podemos concluir:

RELAÇÃO ENSINO-SERVIÇO

A sala de aula converteu-se em um espaço em que os serviços de saúde (e a

sociedade) puderam ser submetidos a revisão e crítica. Os educandos puderam

desenvolver habilidades imprescindíveis para participar e contribuir para o

aprimoramento da comunidade concreta e específica da qual faziam parte.

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Houve um esforço educacional para envolver os educandos em debates sobre

a construção do conhecimento, sobre os conflitos do dia-a-dia de trabalho, para que

se sentissem obrigados a identificar suas posições, interesses, ideologias. Os

registros indicaram que os educandos tornaram-se, ao longo do processo de

formação, mais capazes de duvidar, interrogar, aventurar-se a estabelecer novas e

originais hipóteses para as várias situações colocadas.

A formação do THD por meio do Currículo Integrado, ao eleger a prática dos

serviços de saúde bucal como “ponto de partida e de chegada”, aproximou os

interesses, desejos e as preocupações dos educandos à apropriação do

conhecimento necessário e urgente para transformar o cotidiano.

Usando novamente a metáfora do currículo enquanto jornada (DOLL, 1997),

tornou-se possível definir a arena política da formação do THD. A corrida (o processo

de formação) começou antes do ponto de largada (o início do curso) da pista (a grade

curricular), e continua o seu longo caminho após a placa de chegada (formatura).

Correm os trabalhadores do SUS, aqueles já engajados ou em via de inserção no

sistema. Correm como atletas que trocam o bastão, ou seja, sabem que correm em

grupo, numa atividade coletiva. Sabem que o seu bom desempenho é importante,

mas que também dependem do desempenho da equipe. Foram cooperativos.

Vislumbraram a frente o reconhecimento profissional (habilitação), mas também os

benefícios que a prática em saúde bucal iria reverter aos usuários do SUS. O técnico

da jornada (o cirurgião-dentista instrutor) foi alguém da equipe, que se distanciou às

vezes do movimento de correr para assumir o papel de facilitador da jornada. O

cirurgião-dentista desdobrou-se, assumiu novos papéis, tornou-se referência local e

regional. Durante a corrida, todos foram estimulados a transformar a realidade que os

cercava. Foram convidados a assumirem o papel, além de trabalhadores do SUS, de

cidadãos. Durante a corrida, existiram diferentes climas, de acordo com os diferentes

espaços políticos conquistados.

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110

O uso da metodologia da problematização serviu para identificar e procurar

soluções para os problemas da vida real. Propiciou visões da realidade nas quais os

educandos apareceram como atores sociais, pessoas criativas e inovadoras . Abriu-

lhes perspectiva de formação de uma consciência crítica, mais aguda em relação à

realidade social.

RELAÇÃO ALUNO-CONHECIMENTO:

Foram criadas situações de ensino e aprendizagem nas quais, por sua

relevância, os conteúdos culturais selecionados no projeto curricular interagiram e

propiciaram processos de reconstrução, junto com o que já existia nas estruturas

cognitivas dos alunos. A partir dos conceitos espontâneos dos educandos, foram

gerados contradições ou conflitos capazes de obrigá-los a substituir ou reconstruir

suas idéias para enfrentar os novos desafios. Os educandos mostraram estar atentos

para detectar, analisar e buscar soluções para os problemas. Por meio da instituição

escolar puderam compreender melhor o mundo no qual vivem, comparando com

outras pessoas suas opiniões e julgamentos, em um clima de cooperação e liberdade.

RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO:

Os professores aproveitaram os conceitos que os alunos traziam e estimularam

o seu desenvolvimento para que se aproximassem de outros referenciais. Como havia

uma fraca compartimentação de conteúdos, foi mais fácil a compreensão dos

educandos, pois a realidade era mais precisa, melhor observada. Os professores

parecem ter assumido o compromisso de não expressar de início suas opiniões, mas

de centrar-se em escutar, resumir, controlar as interrupções, introduzir novos dados,

incentivar os grupos a interpretarem as várias situações, impedindo um consenso

prematuro em torno das questões levantadas. Aproveitaram os erros dos educandos

para revisar o trabalho realizado; criaram as condições para que os educandos

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111

identificassem os próprios erros e aprendessem a corrigi-los. Pediram opiniões sobre

suas próprias atuações, abrindo assim melhores condições para o diálogo.

A formação oferecida aos professores (Curso de Especialização em Atenção

Básica de Saúde / Odontologia Coletiva), indicou ter contribuído para que

aprendessem a não interferir e a respeitar as respostas e pontos de vista divergentes

dos diferentes alunos THD’s.

RELAÇÕES AFETIVAS

O Currículo Integrado, ao possibilitar a apresentação do conteúdo sem

fragmentação, possibilitou a inseparabilidade entre o sensível e o intelectual, entre a

memória, a percepção, o conceito, a imagem e a palavra.

As dinâmicas, os jogos educacionais funcionaram como auxiliares para

incentivar o aparecimento de outras atividades que exigiam maior esforço e

perseverança.

OS CÓDIGOS DE INTEGRAÇÃO E O CURRÍCULO INTEGRADO DO THD

Bernstein define as condições para que o conhecimento seja regulado por

códigos de integração (DOMINGOS, 1985). Aplicando essas condições à formação

em serviço do THD, podemos afirmar:

• Havia um consenso quanto à idéia integradora do curso (relação ensino-

serviço), explícita no Guia Curricular e confirmada nos registros dos

educandos.

• A relação ensino-serviço coordenou o conhecimento gerado e apropriado

no curso.

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• Existiu um sistema de retroação sensível entre professores e alunos que

funcionou como outro agente de socialização no Código de Integração.

• Existia (a priori) uma definição muito clara de critérios de avaliação.

Entretanto, num determinado momento do curso, dificuldades operacionais

geraram uma busca forte de atributos cognitivos. Essa foi a condição que,

talvez, menos tenha aproximado as duas experiências: a teórica, descrita

por Bernstein e a prática, vivenciada no curso de formação de THD em

Carmo do Paranaíba.

O quadro da Figura 14 mostra as categorias de Classificação e Enquadramento

aplicadas nas relações pedagógicas do Curso de THD.

Relações pedagógicas Classificação (isolamento de fronteiras)

Enquadramento (o que pode e como é transmitido)

Ensino – Serviço __ (fraco) __ (fraco)

Aluno – Conhecimento __ (fraco) __ (fraco) + (forte)

Professor – Aluno __ (fraco) __ (fraco)

Afetivas – Grupo __ (fraco) __ (fraco)

FIGURA 14: Os conceitos de Bernstein aplicados nas relações pedagógicas do Curso do THD

Em síntese, o Currículo Integrado do THD aproximou-se do modelo

curricular integrado de Bernstein , gerando Códigos de Integração e

confirmando as hipóteses desse autor. O Currículo Integrado do THD

demonstrou promover diferenças qualitativas no profissional formado.

Em 1999, um outro Currículo Integrado foi analisado em uma dissertação de

Mestrado do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde. Com seu trabalho

intitulado “Da reforma curricular à construção de uma nova práxis pedagógica: A

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experiência da construção coletiva de um Currículo Integrado” , a autora analisa as

possibilidades e limites que o Currículo Integrado traz para a transformação da práxis

pedagógica. Também averigua se a práxis pedagógica está em transformação, na

direção de uma práxis crítica, a partir da construção coletiva do Currículo Integrado da

Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Utilizando-se

inclusive de categorias de análise defendidas por Bernstein (Classificação e

Enquadramento), a autora demonstra as diferenças que o Currículo Integrado

promoveu no corpo docente e discente (ROMANO, 1999).

A articulação entre a concepção pedagógica e a dimensão política da prática

integrada foi confirmada na formação do THD. Além de formar trabalhadores para a

área da saúde, o Currículo Integrado viabilizou inserir, nos serviços locais,

profissionais comprometidos com práticas democráticas. A partir dessa constatação,

uma nova questão que se abre, refere-se ao trabalho que o THD vem desenvolvendo

na sua pós-formação. Continua ele com o mesmo compromisso social demonstrado

ao longo do seu processo de formação? Como responde hoje aos desafios colocados

pelo mundo do trabalho?

TIPO DE AÇÃO PEDAGÓGICA

AS LIMITAÇÕES ENCONTRADAS

Nesta pesquisa, a análise dos códigos à luz dos conceitos de Classificação e

Enquadramento fez surgir novos questionamentos. Os Códigos de Integração podem

ser considerados como matrizes potenciais de mudança destinados a efetuar uma

alteração na distribuição do poder e nos princípios de controle no desenvolvimento de

currículo. Diante da constatação da socialização de Códigos Integrados, quais

seriam hoje as condições para a continuidade do processo de formação de

trabalhadores de nível médio em saúde bucal? Quais seriam as condições de

resistência às mudanças ainda necessárias?

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Coexistem na ESMIG/CFRHS propostas pedagógicas de diferentes

concepções.

“É preciso ter presente que um bom ensino integrado é muito mais do que a aplicação

de uma determinada metodologia. Pelo contrário, implica em não perder de vista as

razões pelas quais se está optando por essa modalidade curricular, seus princípios

filosóficos. Reconhecer e assumir que educar é uma ação política, não um trabalho

meramente técnico. Implica em repensar a instituição como um todo (...). Implica

também que a Instituição de ensino se constitua realmente em uma totalidade a partir

de uma mesma e clara filosofia” (Cit. Pág. 118 ROMANO, 1999).

Se a instituição escolar não é entendida apenas como o lugar onde é realizada

a reconstrução do conhecimento, mas também como um espaço no qual se reflete

criticamente sobre as suas implicações políticas, qual é a atenção que os setores

envolvidos (Saúde e Educação) conferem a esse processo ?

Outra questão que merece ser melhor refletida é a situação tendenciosa de

regiões e municípios mais desenvolvidos formarem THD’s com recursos próprios,

enquanto regiões menos desenvolvidas continuam sem qualificar seus profissionais

de nível médio em saúde bucal (Ver mapa em Anexo 3). Identificamos a necessidade

de uma política mais definida de financiamento para a profissionalização do THD em

Minas Gerais no sentido de interferir no “Mapa da desigualdade”.

Ao concluir esta pesquisa, constatamos que seguimos caminhos que se

aproximam dos preconizados por estudiosos do campo dos currículos:

“Sugiro, então, em um primeiro momento, que os curriculistas atuem nas diferentes

instâncias da prática curricular, participando da elaboração de políticas públicas de

currículo, acompanhando a implementação das propostas e realizando estudos nas

escolas que avaliem essa implementação. Proponho também que desenvolvam

investigações da prática curricular, com os que nela atuam, de modo a subsidiar a

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formulação de políticas de currículo, favorecer a renovação da prática e promover o

avanço da teoria” (Cit. Pág. 30-31 MOREIRA, 1998).

Num primeiro momento, atuamos participando da elaboração de instrumentos

públicos de currículo na área de saúde bucal. Acompanhamos a implementação das

propostas em Minas Gerais, avaliando-as. Ao desenvolvermos essa investigação,

acreditamos estar subsidiando a formulação de políticas de currículo, favorecendo a

renovação da prática e promovendo o avanço da teoria.

Apostar nesse profissional significa defender a formação de um novo tipo de

pessoa, mais aberta, mais flexível, solidária, democrática e crítica. Alguém preparado

para a celeridade das mudanças.

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VERDADE

A porta da verdade estava aberta,

Mas só deixava passar

Meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

Porque a meia pessoa que entrava

Só trazia o perfil da meia verdade.

E a segunda metade

Voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta, derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

Onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades

Diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela,

Nenhuma das duas era totalmente bela.

E carecia optar. Cada um optou conforme

Seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drumond de Andrade

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69. YOUNG, Michael. Currículo e democracia: lições de uma crítica à “nova sociologia

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126

ANEXO I

Dados de identificação dos THD’s, municípios envolvidos e

demandas de novas turmas

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127

ANEXO II

Relatório final da Oficina de Avaliação da Formação em

Serviço do THD em Minas Gerais

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128

ANEXO III

Mapa com a distribuição dos cursos de formação de THD

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129

ANEXO IV

Instrumento preliminar para coleta de dados

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130

ANEXO V

Roteiro para elaboração de um Memorial

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131

ANEXO VI

Seqüência de atividades da 1a unidade didática da área I do

Guia para a formação do THD

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132

ANEXO VII

Fichas de avaliação