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Universidade do Minho Instituto de Educação julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico Elisabete Maria Teixeira Alves A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico UMinho|2016 Elisabete Maria Teixeira Alves

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Universidade do MinhoInstituto de Educação

julho de 2016

A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico

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Elisabete Maria Teixeira Alves

julho de 2016

A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico

Trabalho realizado sob a orientação daProfessora Doutora Maria de Lourdes Dionísio

Dissertação de MestradoMestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em Línguas

Universidade do MinhoInstituto de Educação

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Declaração

Nome: Elisabete Maria Teixeira Alves

Endereço eletrónico: [email protected]

Telemóvel: 966308279

Número do Cartão de Cidadão: 10196480

Título da dissertação: A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º

ciclo do ensino básico.

Orientadora: Professora Doutora Maria de Lourdes Dionísio

Ano de conclusão: 2016

Designação do Mestrado: Mestrado em Ciências da Educação,

Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação

em Línguas

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA DISSERTAÇÃO, APENAS

PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO

INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho,

Assinatura: _________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

À Doutora Maria de Lourdes Dionísio, por ter acreditado, desde o primeiro

momento, na minha capacidade para concluir este projeto. Um agradecimento muito

especial pela orientação, pela motivação e pela disponibilidade que sempre me concedeu.

Por último, agradeço pela liberdade de me deixar ser eu mesma.

À minha pequenita, Francisca, por tudo o que trouxe à minha vida.

Aos meus pais, João e Adelaide, por todos os sacrifícios que fizeram em favor da

minha educação e pela formação humana que me ofereceram.

À minha irmã, Maria João, pelo apoio incondicional, por ter acreditado nas minhas

potencialidades, por não me ter deixado sucumbir perante as inúmeras adversidades.

Ao meu marido, Alexandre, pela ajuda, pela compreensão, pela força e pela

incomensurável paciência.

Às minhas amigas, Ana e Estela, por todo o apoio.

Aos alunos participantes, por aceitarem o desafio de participarem neste projeto.

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TÍTULO: LEITURA LITERÁRIA EM CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO

COM ALUNOS DO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO.

Mestrado em Ciências da Educação - Área de Especialização em Supervisão

Pedagógica na Educação em Línguas

Elisabete Maria Teixeira Alves

Universidade do Minho

2016

RESUMO

Os documentos oficiais reguladores do ensino do Português – Metas Curriculares de

Português do Ensino Básico, 2012 e Programa de Português do Ensino Básico, 2009 –

transferem a leitura literária para um campo especial de abordagem – o domínio da

Educação Literária – onde sobressai o inegável valor do texto literário não só na promoção

e desenvolvimento da intelectualidade do aluno, como também na formação da sua

identidade e integridade.

A preocupação em trazer o tema à discussão justifica-se por observarmos uma

resistência clara dos nossos alunos a uma experiência de leitura que acreditamos ser

essencial à sua formação. Deste modo, a compreensão das circunstâncias que explicam a

relação dos alunos do 3.º ciclo do ensino básico com a leitura literária, na tentativa de

perceber o que dificulta/facilita a formação de leitores literários, em contexto escolar, é o

propósito que subjaz a esta investigação. Assim, o estudo que aqui se materializa teve

como objetivos norteadores: (i) problematizar o papel da escola na formação do leitor

literário; (ii) caracterizar os aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos; (iii)

caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos

alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares; (iv) Identificar algumas

dimensões das práticas de leitura literária dos alunos, nomeadamente no que diz respeito

aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos privilegiados.

As principais conclusões alcançadas são as seguintes: a) os alunos não gostam de ler

na escola, porque os textos literários não são do seu interesse; b) os estudantes reconhecem

os contributos da leitura literária para o seu desenvolvimento pessoal; c) no momento de

estudar um texto literário, a maioria dos alunos está muito dependente dos comentários e

apontamentos dos professores sobre os textos; d) as atividades de leitura não são práticas

comuns nas vivências interpares dos inquiridos.

Palavras – chave: Leitura literária, leitores literários, escola

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Title: LITERARY READING IN SCHOOLS: A STUDY OF STUDENTS IN THE 3RD

CYCLE OF BASIC EDUCATION

Master's Degree in Educational Sciences - Specialisation in Pedagogical Supervision

in Language Education.

Elisabete Maria Teixeira Alves

Universidade do Minho

2016

ABSTRACT

The official documents regulating the teaching of Portuguese - Goals for Portuguese

in Basic Education, 2012 and Portuguese Basic Education Programmes, 2009 - have

shifted literary reading to a special field of focus – the area of Literary Education. Here,

prominence is given to the undeniable value of literary texts both in fostering the students’

intellectual development and in shaping their identity and integrity.

The interest in raising the topic for discussion is justified by having observed a clear

resistance on the part of our students to an experience of reading that we believe is

essential to their education. Therefore, the underlying purpose of this research is to

understand the circumstances that explain the relationship that students of the 3rd cycle of

basic education have with literary reading in an attempt to see what hinders/facilitates the

making of literary readers in schools.

Moreover, the democratic, reflective and transforming view taken by this study has

these guiding objectives:(i) to examine the role of schools in shaping literary readers; (ii) to

characterise the aspects of the teaching of reading valued by students; (iii) to characterise

the critical socialisation contexts for literary reading experienced by students, notably the

family, the school and the peer group; (iv) to identify certain areas of literary reading

practices of students, with particular emphasis on objectives, purposes, frequency and

favoured contexts.

The main conclusions drawn are: a) students do not like reading in school, because

they are not interested in literary texts; b) students recognise the contribution literary

reading makes to their personal development; c) when they are studying a literary text,

most students rely heavily on comments and notes that teachers make on the texts; d)

reading activities are not widely engaged in by the respondents’ peers.

Keywords: literary reading, literary readers, High School

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ÍNDICE

DECLARAÇÃO ..................................................................................................................II

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... III

RESUMO ............................................................................................................................. V

ABSTRACT ...................................................................................................................... VII

TABELAS ...................................................................................................................... XVII

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 21

CAPÍTULO I ..................................................................................................................... 27

A LEITURA LITERÁRIA, EM CONTEXTO ESCOLAR ........................................... 27

1. A LEITURA LITERÁRIA NO PROGRAMA DE PORTUGUÊS DO 3.º CICLO DO ENSICO BÁSICO.

…………………...........……………………………………………………………..29

2. OS VALORES DA LEITURA LITERÁRIA .......................................................................... 34

3. O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE LEITORES LITERÁRIOS ......... 41

4. O PAPEL DA FAMÍLIA NA FORMAÇÃO DE LEITORES LITERÁRIOS ................................... 53

5. O ALUNO ENQUANTO LEITOR LITERÁRIO E CONSTRUTOR DE SENTIDO(S) ..................... 56

6. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 60

CAPÍTULO II .................................................................................................................... 63

O ESTUDO EMPÍRICO ................................................................................................... 63

1. OS OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO ................................................................................ 65

2. PARADIGMA DE INVESTIGAÇÃO ................................................................................... 66

3. UMA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA: O ESTUDO DE CASO ............................................. 70

4. ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO .................................. 78

4.2.1 O inquérito por questionário ........................................................................... 80

4.2.2 O inquérito por entrevista ............................................................................... 85

5. ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DE INFORMAÇÃO ............................................................... 95

6. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 98

CAPÍTULO III ................................................................................................................ 101

A LEITURA LITERÁRIA, EM CONTEXTO ESCOLAR: DADOS DOS INQUÉRITOS...

……………………………………………………………..……………………………..101

1. DADOS RELATIVOS AO INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO ............................................. 103

1.1. Leitura e a prática da leitura…………………………………………::..…. 103

1.2. O Papel da leitura………………………………………………………….…..109

1.3. O Papel da família: os pais e a leitura………………………………...……….113

1.4. O papel dos pares: os amigos e as práticas de leitura…………………………117

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1.5. Representações dos alunos sobre o texto literário……………………...……..120

1.5.1. Como os alunos definem um texto literário ................................................ 120

1.6. A escola: o papel do professor na sedimentação de hábitos de leitura literária122

1.6.1. Métodos de estudo dos textos literários, na aula de Português ................... 122

1.6.2. Métodos e estratégias de leitura literária, na aula de Português ................... 126

1.7. A polinização do gosto da leitura literária………………………………….....130

1.7.1. Motivos para gostar de um texto literário .................................................... 130

2. DADOS RELATIVOS AO INQUÉRITO POR ENTREVISTA ................................................. 137

2.1.1. Perceções sobre a atratividade da leitura literária, em contexto escolar ..... 141

2.1.2. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos

alunos: A Escola .................................................................................................... 142

2.1.3. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos

alunos: O grupo de pares. ...................................................................................... 144

2.1.4. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos

alunos: A família ................................................................................................... 145

3. PRINCIPAIS CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO ............................................................. 147

CAPÍTULO IV ................................................................................................................. 153

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 153

CONCLUSÃO ………………………………………………………………………………155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 157

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ABREVIATURAS/SIGLAS

GIPP- Guião de Implementação do Programa de Português do Ensino Básico

MCP- Metas Curriculares de Português

OECD- Organization for Economic Co-operation and Development

PISA- Programme for International Student Assessment

PPEB- Programa de Português do Ensino Básico

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GRÁFICOS

GRÁFICO 1. FREQUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE LEITURA DOS ALUNOS

DO 7.º ANO ...................................................................................................................... 107

GRÁFICO 2. FREQUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE LEITURA DOS ALUNOS

DO 9.º ANO ...................................................................................................................... 108

GRÁFICO 3. MOTIVOS PARA A LEITURA RECONHECIDOS PELOS ALUNOS DO

7.º ANO ............................................................................................................................. 110

GRÁFICO 4. MOTIVOS PARA A LEITURA RECONHECIDOS PELOS ALUNOS DO

9.º ANO ............................................................................................................................. 111

GRÁFICO 5. COMPORTAMENTOS RELACIONADOS COM A LEITURA ENTRE OS

FAMILIARES DOS ALUNOS DO 7.º ANO ................................................................... 114

GRÁFICO 6. COMPORTAMENTOS RELACIONADOS COM A LEITURA ENTRE OS

FAMILIARES DOS ALUNOS DO 9.º ANO ................................................................... 115

GRÁFICO 7. ATIVIDADES DO GRUPO RELACIONADAS COM A LEITURA

(ALUNOS DO 7.º ANO) ................................................................................................... 118

GRÁFICO 8. ATIVIDADES DO GRUPO DE AMIGOS RELACIONADAS COM A

LEITURA .......................................................................................................................... 119

GRÁFICO 9. ATIVIDADES CONSIDERADAS IMPORTANTES PARA O ESTUDO

DO TEXTO LITERÁRIO, NA SALA DE AULA (7.º ANO) .......................................... 122

GRÁFICO 10. ATIVIDADES CONSIDERADAS IMPORTANTES PARA O ESTUDO

DO TEXTO LITERÁRIO, NA SALA DE AULA (9.º ANO) .......................................... 124

GRÁFICO 11. MÉTODOS E ESTRATÉGIAS DE LEITURA DE UM TEXTO

LITERÁRIO, NA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS – 7.º ANO ...................................... 129

GRÁFICO 12. MÉTODOS E ESTRATÉGIAS DE LEITURA DE UM TEXTO

LITERÁRIO, NA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS – 9.º ANO ...................................... 129

GRÁFICO 13. RAZÕES PARA GOSTAR DE UM TEXTO LITERÁRIO (7.º ANO) ... 131

GRÁFICO 14. RAZÕES PARA GOSTAR DE UM TEXTO LITERÁRIO (9.º ANO) ... 132

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QUADROS

QUADRO 1. DISTRIBUIÇÃO DOS SUJEITOS DA AMOSTRA POR GÉNERO . 78

QUADRO 2. IDADE DOS INQUIRIDOS DO ESTUDO .......................................... 78

QUADRO 3. GUIÃO DA ENTREVISTA REALIZADA AOS SUJEITOS

PARTICIPANTES ...................................................................................................... 92

QUADRO 4. SÍNTESE DAS FASES DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO ............. 93

QUADRO 5. OBJETOS ESCOLHIDOS PELOS INQUIRIDOS PARA LEVAR

PARA UM LOCAL ISOLADO ................................................................................ 103

QUADRO 6. NÚMERO DE ALUNOS QUE NO MOMENTO DA INQUIRIÇÃO

ESTAVA A LER UM LIVRO NÃO ESCOLAR ..................................................... 105

QUADRO 7. NÚMERO APROXIMADO DE LIVROS NÃO ESCOLARES LIDOS

PELOS INQUIRIDOS ............................................................................................... 106

QUADRO 8. GOSTO PELA LEITURA ................................................................... 111

QUADRO 9. MOTIVOS APONTADOS PARA LER ............................................. 112

QUADRO 10. MOTIVOS APONTADOS PARA NÃO GOSTAR OU GOSTAR

POUCO DE LER ....................................................................................................... 113

QUADRO 11. QUANDO ERAS PEQUENO ALGUÉM TE LIA OU CONTAVA

HISTÓRIAS? ............................................................................................................ 116

QUADRO 12. FAMILIAR QUE LIA OU CONTAVA HISTÓRIAS ...................... 117

QUADRO 13. PARÂMETROS DE CLASSIFICAÇÃO DE UM TEXTO COMO

LITERÁRIO .............................................................................................................. 121

QUADRO 14. GRAU DE CONCORDÂNCIA COM ATIVIDADES E MÉTODOS

DE LEITURA – 7.º ANO .......................................................................................... 134

QUADRO 15. GRAU DE CONCORDÂNCIA COM ATIVIDADES E MÉTODOS

DE LEITURA – 9.º ANO .......................................................................................... 136

QUADRO 16. DIMENSÕES DAS PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA DOS

ALUNOS - OBJETOS, FREQUÊNCIA, PREFERÊNCIAS E CONTEXTOS

PRIVILEGIADOS DE LEITURA ............................................................................ 140

QUADRO 17. OS PAIS E A LEITURA – COMPORTAMENTOS

RELACIONADOS COM A LEITURA ENTRE OS FAMILIARES DIRETOS ..... 146

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TABELAS

TABELA 1. PERCEÇÕES SOBRE A LEITURA LITERÁRIA, EM CONTEXTO

ESCOLAR ......................................................................................................................... 189

TABELA 2. ASPETOS DA DIDÁTICA DA LEITURA LITERÁRIA VALORIZADOS

PELOS ALUNOS .............................................................................................................. 193

TABELA 3. CONVICÇÃO DOS ALUNOS SOBRE PROCEDIMENTOS ADOTADOS,

NA AULA, PARA O ESTUDO DE UM TEXTO LITERÁRIO ...................................... 195

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ANEXOS

ANEXO 1 .......................................................................................................................... 173

ANEXO 2 .......................................................................................................................... 175

ANEXO 3 .......................................................................................................................... 177

ANEXO 4 .......................................................................................................................... 187

ANEXO 5 .......................................................................................................................... 189

ANEXO 6 .......................................................................................................................... 193

ANEXO 7 .......................................................................................................................... 195

ANEXO 8 .......................................................................................................................... 197

ANEXO 9 .......................................................................................................................... 209

ANEXO 10 ........................................................................................................................ 223

ANEXO 11 ........................................................................................................................ 225

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INTRODUÇÃO

“Uma visão de educação como espaço de emancipação e

transformação interroga, necessariamente, o papel dos contextos,

dos alunos e dos professores na configuração dos fins e meios da

pedagogia.”

(Raya, Lamb & Vieiral, 2007, p. 18)

A educação é hoje o pilar indispensável ao progresso das sociedades modernas,

representado pela escola, enquanto sistema onde a prática pedagógica é a base da

construção das subjetividades, o espaço primeiro onde se reclama que se eduque para os

reptos da modernidade.

Desta forma, a escola constitui-se como a instituição que assume com evidência o

papel principal na formação de cidadãos críticos, responsáveis e sérios. Ninguém

contestará, no entanto, que para exercer uma cidadania ativa é fundamental o domínio da

leitura, uma vez que este é determinante no desenvolvimento cognitivo, na formação do

juízo crítico, no acesso à informação, na expressão e no enriquecimento cultural.

Neste quadro, sublinha-se o valor da leitura (e da escrita), enquanto instrumento

essencial na formação do ser humano e na modernização das sociedades. A leitura

possibilita a formação de indivíduos conscientes dos seus direitos e dos seus deveres. Esta

é fonte de conhecimento e nela “desenvolvemos e afirmamos o gosto estético, através dela

aprendemos a melhor nos exprimirmos, por ela criamos imagens do mundo com

implicações diretas no que somos e na imagem que de nós damos aos outros e que para nós

próprios fazemos” (Lages, 2007, p. 9).

Neste sentido, “não sendo o único lugar de formação de leitores, da escola, quase

exclusivamente, espera-se que cumpra as expectativas sociais relativamente às capacidades

e às práticas de leitura dos cidadãos” (Dionísio, 2000, p. 19). Seguindo esta lógica, é

inevitável que os professores compreendam que o “letramento literário é uma prática social

e, como tal, responsabilidade da escola” (Cosson, 2006, p. 23). Logo, urge uma reflexão

sobre como fazer a escolarização da literatura sem a descaracterizar, sem a transformar

“num simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização”

(idem), porquanto “in schools, our readings of texts are monitored and modified by the

presence of an other in the person of the teacher, and it is this triad of relationships

involving readers, texts and teacher which is central to an understanding of the ways in

which readers are made and modified in classroom” (Corcoran & Evans, 1987, p. 7).

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Não obstante a assunção de que (i) “ler é uma competência extremamente valorizada

entre nós” (Cosson, 2014, p. 33), (ii) “é importante saber ler e ler” (Dionísio, 2000, p. 19) e

(iii) “a escola é o lugar social privilegiado de produção de leitores” (idem), a verdade é

que, em contexto escolar, o aluno continua, regra geral, a ser um leitor por

constrangimento e não um leitor rendido ao ato de ler, particularmente à leitura literária.

Com efeito, é nossa convicção que formar leitores competentes e polivalentes,

leitores críticos e autónomos capazes de enfrentar a diversidade de textos com que poderão

vir a ser confrontados na vida prática é uma exigência da escola, em especial do professor

de Português. Efetivamente, do professor espera-se “que ensine a ler, faça emergir a

vontade de ler como experiência voluntária e mantenha viva essa atitude ao longo de todo

o percurso escolar e além dele” (GIPP, 2011, p. 6). Concludentemente, aos professores são

colocados inúmeros e complexos desafios no ensino da leitura, vendo-se estes obrigados a

dar respostas adequadas quer na forma quer no tempo. E essas respostas têm de ser

reconsideradas, pois, enquanto professoras de Português, presenciamos com assustadora

frequência as dificuldades com que os alunos se debatem na leitura do texto literário que,

não raras as vezes, os relegam para estados de letargia facilmente confundíveis com

aversão pela leitura literária, em especial, e pela leitura, em geral. Na realidade, “texts need

readers to bring them into being as literary works, and young readers need teachers to help

them explore the range of possibilities in shaping their responses to the text-script”

(Corcoran & Evans, 1987, p. 17).

De facto, é da responsabilidade do professor alargar os horizontes de leitura dos

jovens, abrindo-lhes o caminho à leitura literária, não só pelo seu valor patrimonial,

cultural e histórico, como também pelas potencialidades únicas do texto literário de

representação do mundo e de reflexão sobre a natureza humana.

Nesta perspetiva, por muitas dificuldades que se levantem à inclusão dos textos

literários na sala de aula, é obrigação do professor de Português trabalhar para que esta

integração seja inequívoca e culturalmente consequente, pois, o texto literário “acrescenta,

ao processo de aprender a ler em língua materna, uma mais valia distintiva quanto à

especificidade de leitura escolar” (Dionísio, 2000, p. 65).

Na base do nosso estudo o que está em causa é a formação de leitores literários, ou

seja, leitores de literatura, leitores capazes de ler uma obra literária de forma competente,

crítica, reflexiva, leitores capazes de olhares plurais, múltiplas leituras e distintas

interrogações sobre o texto literário.

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Com efeito, cremos que, no que respeita à receção da leitura literária pelos alunos do

3.º ciclo do ensino básico, são, ainda, muitas as questões que permanecem sem resposta.

Assim, do interesse em compreender o fenómeno da leitura literária, no seu contexto,

emergiram duas questões centralizantes para esta investigação:

1. Quais as perceções dos alunos acerca da leitura literária, em sala de aula?

2. O que dificulta/facilita, em contexto escolar, a formação de leitores literários?

Alguns teóricos do campo da educação e da leitura, como, por exemplo, Giasson,

1993, 2005; Pennac, 1996; Manguel, 1998; Colomer, 1999; Poslaniec, 2006; Sousa, 2007;

Magalhães, 2008, Cosson, 2006, 2014, entre outros, têm sido unânimes em afirmar a

relevância da leitura literária para a constituição de um leitor crítico em qualquer outra

esfera discursiva. Todavia, nos últimos anos, têm crescido as críticas à escola,

relativamente à sua insatisfatória capacidade de formar leitores literários, não obstante os

elevados investimentos económicos na Educação, nas últimas décadas, nomeadamente, a

criação do Plano Nacional de Leitura, a ativação do Plano das Redes das Bibliotecas

Escolares, a regulamentação da carreira de Bibliotecário Escolar, entre outros.

Igualmente, sucessivos estudos nacionais e internacionais, como o PISA

(Programme for Internacional Student Assessment, promovido pela OECD - Organization

for Economic Co-operation and Development)), referenciam Portugal como um dos países

desta organização com níveis de proficiência de leitura mais baixos. Importa referir que na

confluência da análise dos últimos relatórios PISA, se constata que a literatura alcança

“uma visibilidade nunca antes vista numa avaliação de literacia da OCDE.

Com efeito, a literatura torna-se objeto específico de questões orientadoras da

análise de dados, como por exemplo: “Os sistemas educativos que dão valor à

interpretação de textos literários na escola têm mais alunos que leem por prazer?

Ou: “Os sistemas educativos que dão valor a disciplinas sobre o cânone têm mais

alunos a ler por prazer?” A resposta é significativamente afirmativa”.

(Dionísio, 2014, p. 115)

Ainda, os documentos oficiais que regulam o ensino do Português – Metas

Curriculares de Português do Ensino Básico, 2012 e Programa de Português do Ensino

Básico, 2009 – defendem a leitura como um dos principais objetivos do ensino da língua

materna e deslocam a leitura literária para um campo especial de abordagem – o domínio

da Educação Literária – que mostre ao “aluno que, neste caso, não se está perante um

mero “tipo” de texto, equiparável aos anteriores, mas antes perante textos com um estatuto

estético e cultural próprio” (PPEB, 2009, p. 137).

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Assim, partindo das premissas anteriormente enunciadas, por nos encontrarmos

conscientes de que a formação de leitores literários se configura à luz de um quadro

antropológico que vai evoluindo em função dos hábitos e das práticas culturais

contemporâneas a cada leitor, foi com uma natural empatia que esta temática despertou o

nosso interesse e deu o mote ao nosso estudo. Nele procura-se lançar uma contribuição

para um melhor conhecimento sobre as circunstâncias que explicam a relação dos alunos

do 3.º ciclo do ensino básico com a leitura literária.

Assim, e entendendo-se que (i) a leitura literária “como diálogo pressupõe uma

relação que se estabelece entre leitor e autor, texto e contexto” (Cosson, 2014, p. 51) e (ii)

“o problema da formação de leitores não reside nos textos eles próprios, mas nas formas

como são dados a ler e nas motivações (às vezes apenas tácitas) para se darem a ler assim”

(Dionísio, 2004, p 71), esta investigação rumou em direção a uma maior compreensão

sobre o pensamento e conceções dos alunos acerca da leitura literária, bem como procurou

conhecer (i) as representações dos alunos sobre a relevância da leitura literária no seu

desenvolvimento pessoal e escolar; (ii) as motivações e atitudes dos alunos para com a

leitura literária, em contexto de sala de aula; (iii) as reações dos alunos às

estratégias/métodos de leitura literária adotados pelos professores; (iv) as perceções dos

alunos relativas ao empenhamento da escola e dos professores na promoção da leitura

literária; (v) as perceções sobre a frequência da prática de leitura literária e os contextos

privilegiados e (vi) as características dos contextos de socialização dos alunos e suas

atitudes para com a leitura literária, designadamente no contexto da família, no grupo de

pares e na escola.

Para tal, construiu-se um projeto de investigação que procurou, na sua essência,

reunir informação que possibilitasse:

(i) Problematizar o papel da escola na formação do leitor literário;

(ii) Caracterizar os aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos;

(iii) Caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados

pelos alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares;

(iv) Identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos,

nomeadamente no que diz respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos

privilegiados.

Relativamente à arquitetura desta investigação, esta adotou o design de um estudo de caso

exploratório de indução analítica, em que a investigadora assumiu um estatuto não participante, e

persegue, em termos epistemológicos, um paradigma naturalista que pretende cumprir finalidades

de tipo descritivo e interpretativo.

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No que concerne à sua contextualização, o estudo contou com a colaboração de quarenta e

três alunos, vinte e três a frequentar o 7.º ano e vinte o 9.º ano de escolaridade, de alunos de uma

escola do distrito do Porto com frequência no 3.º ciclo de ensino básico. Por sua vez, o processo de

recolha de dados foi desenvolvido ao longo do ano civil de 2015, tendo-se privilegiado como

instrumentos de recolha de informação o inquérito por questionário e o inquérito por entrevista,

mais concretamente, a entrevista em grupo.

No que diz respeito à sua estruturação, a dissertação aqui apresentada desenvolve-se, para

além deste preâmbulo, ao longo de 4 capítulos. No primeiro, realiza-se o enquadramento teórico

que cientifica este estudo, nos capítulos II e III, apresenta-se o estudo empírico. Assim, no capítulo

II, é feita uma descrição da metodologia da investigação e o capítulo III é dedicado à análise da

informação recolhida e às principais conclusões auferidas, face aos resultados obtidos.

Por fim, termina-se esta dissertação, com o capítulo IV, onde são feitas algumas

considerações finais sobre as implicações e limitações do estudo realizado.

Importa realçar que não é nossa intenção generalizar os dados alcançados ao universo

estudantil do 3.º ciclo do ensino básico, uma vez que nos restringimos a um segmento de alunos a

frequentar os 7.º e 9.º anos de escolaridade, no ano letivo de 2014/2015. Contudo, acreditamos que

as conclusões efetuadas poderão ser um apoio à implementação de futuras investigações na área,

bem como poderão ser úteis para os professores de Português na definição de estratégias de leitura

literária, na sala de aula.

Os princípios teóricos que norteiam o nosso estudo estão pautados em estudiosos que vêm

discutindo e apontando caminhos alternativos para o ensino da leitura literária, bem como nos

documentos oficiais que regulam o ensino do Português, elaborados justamente para orientar as

práticas pedagógicas dos professores.

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CAPÍTULO I

A LEITURA LITERÁRIA, EM CONTEXTO ESCOLAR

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1. A leitura literária no programa de Português do 3.º ciclo do Ensico Básico.

Os últimos anos têm sido marcados por sucessivas e rápidas alterações ao nível dos

programas e das orientações curriculares do Português do Ensino Básico. Na sequência

destas alterações, nasce o novo Programa de Português do Ensino Básico (PPEB),

homologado a 31 de março de 2009 e coordenado por Carlos Reis.

De acordo com a calendarização fixada pela portaria n.º 266/2011, de 14 de

setembro, o PPEB entrou em vigor em 2011/2012, nos 1.º, 2.º, 5.º e 7.º anos; em

2012/2013, nos 3.º, 6.º e 8.º anos e, em 2013/2014, nos 4.º e 9.º anos de escolaridade.

Paralelamente à sua conceção, foram criados vários materiais de apoio,

designadamente, os Guiões de Implementação do Programa de Português (GIPP),

disponibilizados online no site do Ministério da Educação.

Posteriormente, surgem as Metas curriculares de Português do Ensino Básico1

(MCP), homologadas em Agosto de 2012, que têm como texto de referência o PPEB de

2009 e se centram no que desse programa é considerado essencial que todos os alunos

aprendam, de forma articulada e progressiva por ciclos e anos de escolaridade. Isto é, as

metas aparecem como “documentos clarificadores das prioridades nos conteúdos

fundamentais dos programas” (MCP, 2012, p.4) e visam determinar não só o momento em

que cada conteúdo deve entrar no processo escolar, mas também reforçar a continuidade e

a progressão entre diferentes anos e ciclos (MCP, 2012). Delas constam cinco domínios de

referência, no 3.º Ciclo, ou seja, respeitaram-se os domínios existentes no programa de

2009 – Oralidade, Leitura, Escrita e Conhecimento Explícito da Língua, agora designado

de Gramática e acrescentou-se a Educação Literária (idem).

Deste modo, são princípios organizacionais das Metas de Português: (i) a definição

dos conteúdos fundamentais que devem ser ensinados aos alunos; (ii) a ordenação

sequencial e hierárquica dos conteúdos ao longo dos anos de escolaridade; (iii) a definição

dos conhecimentos e capacidades a adquirir e a desenvolver pelos alunos e (iv) o

estabelecimento de descritores de desempenho dos alunos que permitam avaliar a

consecução dos objetivos (MCP, 2012, p.4).

As metas constituem um documento normativo de utilização obrigatória e a sua

aplicação entrou em vigor no ano letivo de 2013/2014 (inclusive) para os 1.º, 3.º, 4.º, 5.º,

1 As Metas Curriculares de Português do Ensino Básico encontram-se homologadas ao abrigo do nº 4 do artigo 8º do Decreto –

Lei nº 137/2012, de 5 de julho, publicado em DR, 2ª série - número 155 – a 10 de agosto de 2012.

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7.º e 9.º anos de escolaridade e no ano letivo de 2014/2015 para os 2.º, 6.º e 8.º anos de

escolaridade.

No campo da Educação Literária, a justificação para a especificação deste domínio

autónomo prende-se com a necessidade de reiterar a relevância atribuída à Literatura e,

deste modo, levar as novas gerações à apreensão consciente dos seus valores.

Nesta perspetiva, a Literatura é tida como um repositório de todas as possibilidades

históricas da língua e, por conseguinte, um importante veículo de difusão de tradições e

valores, sendo, por isso, parte integrante do património nacional. Em concomitância,

argumenta-se, por um lado, que a Educação Literária é indispensável para uma forma de

cidadania mais complexa e consciente e, por outro, que a mesma favorece uma plena

formação do indivíduo (MCP, 2012).

Neste âmbito, foi elaborada uma “lista de obras e textos literários para leitura anual,

válida a nível nacional, garantindo assim que a escola, a fim de não reproduzir diferenças

socioculturais exteriores, assume integralmente a defesa de um currículo mínimo para

todos os alunos que frequentam o Ensino Básico (MCP, 2012, p. 4).

Tal como se proconiza no prograrma homologado em 2009 (pág. 17), “o descritor de

desempenho designa aquilo que se espera que o aluno faça depois de uma experiência de

aprendizagem”. Neste sentido, os descritores de desempenho dos alunos, que contém, na

sua formulação, não só o conteúdo como o conhecimento a dominar e as capacidades a

desenvolver, são a essência das Metas Curriculares de Português. Assim, estas Metas, que

incidem objetivamente nos desempenhos que “de forma imprescindível, os alunos deverão

revelar” (MCP, 2012, p.7) em cada ano de escolaridade, são obrigatórias, sem prejuízo de,

no entanto, em anos subsequentes, estes continuarem a ser mobilizados. Deste modo,

reafirma-se um princípio fundamental que subjaz a estes documentos reguladores: o

princípio da progressão, desde logo inerente a cada ciclo.

Quando chegam ao 3.º ciclo, os alunos têm já um leque pessoal de leituras,

relacionado quer com os seus interesses pessoais quer com as atividades e leituras

escolares realizadas em momentos anteriores. Consequentemente, ao longo deste ciclo “ o

seu perfil de leitores alarga-se e as suas competências aprofundam-se, procurando-se

atingir uma desenvoltura progressiva nas formas de ler e interpretar textos (PPEB, 2009,

p.113). O objetivo será atingir um perfil de leitor mais confiante, mais autónomo, mais

perspicaz e mais crítico.

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Neste sentido, insiste-se na promoção da “leitura de textos de qualidade que

abarquem a variedade que a literatura apresenta, bem como a diversidade cultural e de

experiências que ela elabora” (op. cit., p. 139).

Com efeito, a leitura, no âmbito do literário, visa o desenvolvimento de práticas

interpretativas que associem a atividade compreensiva, de análise e de apreciação, com a

dimensão social e cultural dos textos. Reforça-se, deste modo, o desígnio de o aluno se

tornar progressivamente mais consciente dos saberes e das estratégias de leitura que já tem

e de como as convocar para ampliar a sua eficiência enquanto leitor crítico (PPEB, 2009).

Assim, no caso específico dos 7.º e 9.º anos, no qual se centra o nosso estudo, são

objetivos pretendidos e respetivos descritores de desempenho dos alunos, no domínio da

Educação Literária, os que a seguir se enunciam:

7.º Ano

1. Ler e interpretar textos literários.

1. Ler adaptações de obras clássicas e textos literários, portugueses e estrangeiros, de

diferentes épocas e de géneros diversos.

2. Distinguir sílaba métrica de sílaba gramatical e segmentar versos por sílaba métrica,

reconhecendo o seu contributo para a construção do ritmo do verso.

3. Sistematizar elementos constitutivos da poesia lírica (estrofe, verso, rima, esquema

rimático).

4. Analisar os paratextos para contextualizar e antecipar o conteúdo de uma obra.

5. Identificar temas e ideias principais.

6. Fazer inferências e deduções, clarificando-as.

7. Explicitar o sentido global do texto.

8. Detetar a forma como o texto está estruturado (diferentes partes).

9. Identificar pontos de vista e universos de referência, justificando.

10. Interpretar palavras polissémicas.

11. Identificar e reconhecer o valor dos seguintes recursos expressivos: enumeração,

personificação, comparação, anáfora, perífrase, metáfora, aliteração, pleonasmo e

hipérbole.

12. Comparar textos de diferentes géneros, estabelecendo diferenças e semelhanças

(temas e formas).

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2. Apreciar textos literários.

1. Ler textos literários, portugueses e estrangeiros, de diferentes épocas e de

géneros diversos.

2. Reconhecer valores culturais que perpassam nos textos.

3. Exprimir, oralmente e por escrito, ideias pessoais sobre os textos lidos ou

ouvidos.

3. Ler e escrever para fruição estética.

1. Ler por iniciativa e gosto pessoal, aumentando progressivamente a extensão e

complexidade dos textos que seleciona.

2. Fazer leitura oral (individualmente ou em grupo), recitação e dramatização de

textos lidos.

3. Escrever um pequeno comentário (cerca de 100 palavras) a um texto lido para

comunicar conhecimentos e pontos de vista.

4. Escrever por iniciativa e gosto pessoal, de forma autónoma e fluente (por

exemplo: retrato, narrativas imaginárias, poemas).

(MCP, 2012, p. 57-58)

9.ºAno

1. Ler e interpretar textos literários.

1. Ler textos literários, portugueses e estrangeiros, de diferentes épocas e de géneros

diversos.

2. Reconhecer e caracterizar elementos constitutivos da narrativa (estrutura; ação;

personagens, narrador da 1.ª e 3.ª pessoa; contextos espacial e temporal).

3. Detetar a forma como o texto está estruturado, atribuindo títulos a partes e

subpartes.

4 Identificar processos da construção ficcional relativos à ordem cronológica dos

factos narrados e à sua ordenação na narrativa.

5. Identificar e reconhecer o valor dos seguintes recursos expressivos: anáfora,

imagem, símbolo, alegoria, sinédoque.

6. Reconhecer e caracterizar textos de diferentes géneros (epopeia, romance, conto,

crónica, soneto, texto dramático).

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2. Apreciar obras literárias em função de grandes marcos espácio-temporais e culturais.

1. Ler textos literários, portugueses e estrangeiros, de géneros variados.

2. Reconhecer os valores culturais, estéticos, éticos, políticos e religiosos que

perpassam nos textos.

3. Expressar, de forma fundamentada, pontos de vista e apreciações críticas suscitados

pelos textos lidos.

3. Situar obras literárias em função de grandes marcos espácio-temporais e culturais.

1. Reconhecer relações que as obras estabelecem com o contexto social, histórico e

cultural no qual foram escritas.

2. Comparar ideias e valores expressos em diferentes textos de autores

contemporâneos com os de textos de outras épocas e culturas. 3. Estabelecer relações

entre a experiência pessoal e textos de diferentes épocas e culturas.

4. Valorizar uma obra enquanto objeto simbólico, no plano do imaginário individual e

coletivo.

5. Integrar os textos lidos numa comunidade de textos e práticas.

4. Ler e escrever para fruição estética.

1. Ler por iniciativa e gosto pessoal, aumentando progressivamente a extensão e

complexidade dos textos que seleciona.

2. Fazer leitura oral (individualmente ou em grupo), recitação e dramatização de

textos lidos.

3. Escrever um pequeno comentário crítico (cerca de 140 palavras) a um texto lido.

4. Mobilizar a reflexão sobre os textos literários e sobre as suas especificidades, para

escrever textos, por iniciativa e gosto pessoal, de forma autónoma e fluente.

(MCP, 2012, p. 72-74)

Em síntese, poder-se-á dizer que são objetivos da leitura literária: (i) formar uma

cultura literária; (ii) fruir a dimensão estética do texto literário; (iii) capitalizar a

experiência humana presente na obra literária; (iv) reconstruir, no ato da receção, a

significação do texto literário; (v) contextualizar a linguagem literária em função de

marcos temporais e culturais; (vi) apreciar criticamente um texto literário; (vii) conhecer

autores representativos da literatura portuguesa e da literatura universal; (viii) tomar

consciência das especificidades dos diferentes modos de literatura – lírico, narrativo e

dramático e (ix) aceder às mundividências proporcionadas pelo texto literário” (GIPP,

2011, p. 19).

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Condensando a informação reunida ao longo deste ponto, uma leitura global possível

de se realizar sobre a Educação Literária, ao longo deste ciclo, remete-nos para a

relevância da progressão e da consolidação de experiências significativas de aprendizagem

cujo correlato seja os resultados esperados, no que a desempenhos diz respeito.

Neste âmbito, no final do ciclo, pretende-se, essencialmente, que o aluno seja capaz

de se posicionar enquanto leitor de obras literárias, situando-as em função de grandes

marcos temporais e geográfico – culturais e reconhecendo os aspetos relevantes da

linguagem literária. Também, perspetiva-se que estabeleça correspondências entre a

vivência pessoal e textos de diferentes épocas e culturas, tomando consciência do modo

como as ideias, as experiências e os valores são diferentemente representados,

aprofundando, assim, a construção de referentes culturais. (PPEB, 2009).

2. Os Valores da leitura literária

“Sendo o objeto da literatura a própria condição

humana, aquele que a lê e a compreende, se tornará não um

especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser

humano.”

(Todorov, 2009, p. 92-93)

A entrada em vigor das Metas Curriculares de Português do Ensino Básico veio

lançar novos desafios para a leitura no âmbito do literário, encetando o debate sobre

questões ligadas à escolha de autores, às obras de referência eleitas para leitura obrigatória

e à receção das mesmas pelos alunos.

Assim, assumindo “uma opção política de língua e de política de ensino” (MCP,

2012, p. 5), foi criado o domínio da Educação Literária. Neste “reitera-se que se deve

promover a leitura de textos de qualidade que abarquem a variedade que a literatura

apresenta, bem como a diversidade cultural e de experiências que ela elabora” (PPEB,

2009, p. 139).

Desta forma, os documentos oficiais que regulam o ensino do Português defendem a

leitura como um dos principais objetivos do ensino da língua materna e deslocam a leitura

literária para um campo especial de abordagem que mostre ao “aluno que, neste caso, não

se está perante um mero “tipo” de texto, equiparável aos anteriores, mas antes perante

textos com um estatuto estético e cultural próprio” (op. cit., p.137).

Não obstante os elevados investimentos económicos na Educação (criação do Plano

Nacional de Leitura, ativação do Plano das Redes das Bibliotecas Escolares,

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regulamentação da carreira de Bibliotecário Escolar, entre outros) e as sucessivas reformas

curriculares, a verdade é que continuam, por um lado, a elevar-se múltiplas vozes, de

diversos quadrantes, com críticas à escola, em geral, e aos professores de Português, em

particular, relativamente à sua insatisfatória capacidade de formar leitores literários. Por

outro, uma das muitas discussões que se observam em ambiente escolar prende-se com a

crescente resistência dos alunos à leitura literária. Já em 1998, Rui V. Castro afirmava que

“ (…) é iniludível o desconforto com que se olha a escola quando falamos da leitura,

dos hábitos de leitura que a escola não consegue criar, dos leitores competentes que a

escola não consegue “produzir”. E aqui é visível uma profunda contradição entre a

representação que as agências e os agentes educativos fazem das suas funções (…) e a

avaliação que aí mesmo é feita, afirmando-se constantemente a falência, ainda que relativa,

do seu programa: os alunos não lêem, os alunos lêem mal, os alunos não sabem falar, os

alunos não sabem escrever” (p. 45).

Nesta ordem de ideias, parece crível que a leitura possa suscitar nos jovens maior

regularidade, mais maturidade e voluntarismo se, antes de mais, se constituir como

atividade que dê prazer. Daí que “its seems important to show them – children – at once

that they can read for pure unadultered enjoyment, that reading a story or a poem […]is

sheer pleasure” (Gibson & Levin, 1979, p. 9).

Não podemos, no entanto, deixar de referir que,

“a educação literária não é apenas a educação do gosto. Não se ensina literatura

apenas para trabalhar ou apurar a sensibilidade perante o texto como obra de arte […]. A

ideia de que em literatura tudo tem que ser muito simples e ajustado ao gosto do estudante

é uma falácia estética que nem sequer devia ser discutida, se não fosse o facto lamentável

de muitos professores de Português a subscreverem […]”

(Ceia, 2002, p. 9, 11).

Uma vez que têm emergido, em número e constância, uma variedade tal de diretrizes

e estratégias de concertação – sob o primado da formação do leitor, da promoção de

práticas de leitura literária e do desenvolvimento do prazer pela leitura – não se

compreende que, na escola, esta se tenha tornado sinónimo de monotonia, de

constrangimento, de contragosto, de imposição ou, inclusivamente, de inadequação

metodológica. Pensamos com Emília Amor (1993) que

“ o abuso da leitura, enquanto meio de ensino, e os constrangimentos a ela

associados têm contribuído para estiolar, nos alunos, o prazer de ler ou para situar as suas

preferências como consumos marginais, reforçando neles a convicção de que da escola, em

matéria de leitura, só virão obrigações enfadonhas, juízos críticos ou interdições” (p. 95).

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Perante um quadro de leitura escolar pouco animador e reduzido o horizonte de

expectativas dos alunos face à mesma, é com preocupação que observamos esta clara

oposição a uma experiência de leitura que acreditamos ser essencial à sua formação – a

leitura do texto literário – porquanto, a literatura corresponde a uma necessidade universal

que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade. Pelo facto de dar forma aos

sentimentos e à visão do mundo, ela organiza-nos e liberta-nos do caos e,

consequentemente, humaniza-nos. Negar a fruição da literatura é, por isso, mutilar a nossa

humanidade (Cândido, 2004).

Por outras palavras, os textos que trazem “livremente em si o que chamamos de bem

e o que chamamos de mal “ (op. cit., p. 176) possuem a capacidade de humanizar o sujeito,

ou seja, de confirmar a humanidade do homem.

“Entendo aqui por humanização […] o processo que confirma no homem aqueles

traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa

disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos

problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres,

o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em

que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”

(op. cit. ,p. 180)

A reflexão e autorreflexão são duas das consequências mais diretas da leitura do

texto literário. As mesmas são produto de um processo intrincado que impele o leitor a dar

algo de si, quer perante a exigência imposta pelo texto “para preencher espaços do não-dito

ou do já-dito, espaços, por assim dizer, deixados em branco” (Eco, 1993, p. 27), quer pelo

facto de a literatura refletir sobre o que é humano, estimulando, deste modo, o leitor a ler-

se a si mesmo e aos outros (Steiner, 2011, p. 31).

Efetivamente, a literatura é pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social

em que vivemos, pelo que a realidade que esta aspira compreender é a experiência humana.

Com efeito,

“ao contrário dos discursos convencionais, técnicos e informativos, representativos

das culturas oficiais, os textos de ficção e poesia são uma forma de dar sentido e

interpretabilidade à vida e ao mundo por meio do contraditório, do incoerente, do

impensável e do indizível. Por outro lado, a ficção e a poesia podem ser também um

recurso para a criação de hipóteses a respeito de um mundo futuro e ainda não existente.”

(Azevedo, 2014, p. 95)

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Parece-nos, desta forma, que o poder da literatura de criar mundos possíveis e de se

abrir ao questionamento sobre a natureza humana confere ao texto literário propriedades

pedagógicas que poderão auxiliar não só na promoção e desenvolvimento da

intelectualidade do aluno, como também na construção da sua identidade e da sua

integridade.

É, justamente, neste quadro que se nos afigura legítimo afirmar, em consonância com

o discurso oficial, que “a maturação dos jovens leitores não pode dispensar o contacto com

os textos literários de qualidade, pois estes dar-lhes-ão, para lá de uma mundividência

ímpar, uma consciência crítica do património linguístico e cultural que enforma a

identidade nacional e, também, universal ” (GIPP, 2011, p. 19).

Somos, assim, confrontados com a evidência de que a leitura literária ajuda os jovens

a crescer “ não só intelectualmente como do ponto de vista da compreensão do mundo “

(Ceia, 2009, p. 7). O contacto com o texto literário favorece o desenvolvimento de um

comportamento mais crítico e menos preconceituoso diante do mundo, possibilitando,

desta forma, a promoção da formação ética e do pensamento crítico do aluno, por um lado,

e a capacidade de desenvolvimento do pensamento autónomo e responsável, por outro.

Nós próprios, em sintonia com o que afirma Rosenblatt ([1938] 2005), pensamos que

o poder do texto literário reside, também, na sua estrutura emocional subjacente e na sua

representação dos sentimentos, instintos e atitudes do ser humano, sendo essas que

impelem o aluno a realizar, enfim, uma leitura do mundo. Para o efeito, segundo esta

autora, não é necessário que a situação relatada, no texto, seja comparável à experiência do

leitor, pois “ whatever the form – poem, novel, drama, biography, essay – literature makes

compreensible the myriad ways in which human beings meet a mind uttering its sense of

life” (op. cit., p. 5).

A esta dimensão pode acrescentar-se, ainda, que

“a leitura literária democratiza o ser humano porque mostra o homem e a sociedade

em diversidade e complexidade, e assim nos torna mais compreensivos, mais tolerantes –

compreensão e tolerância são condições essenciais para a democracia cultural; A leitura

literária democratiza o ser humano porque traz para seu universo o estrangeiro, o desigual o

excluído, e assim nos torna menos preconceituosos, menos alheios às diferenças – o senso

de igualdade e de justiça social é condição essencial para a democracia cultural; a leitura

literária democratiza o ser humana porque elimina barreiras de tempo e de espaço, mostra

que há tempos para além do nosso tempo, que há lugares, povos e culturas para além da

nossa cultura, e assim nos torna menos pretensiosos, menos presunçosos – o sentido da

relatividade e da pequenez de nosso tempo e lugar é condição essencial para a democracia

cultural” .

(Soares, 2004, p. 31-32)

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Reafirma-se que por meio da leitura literária o “leitor experimenta por interpostos

eventos e pessoas e reflete sobre situações que, embora de fantasia, podem relacionar-se

com a vida real” (Dionísio, 2014, p. 112).

Nas palavras transcritas depreende-se, portanto, que a leitura literária permite ao

aluno elaborar sentidos de profundidade.

Scholes (1989), adotando um ponto de vista não dissonante do anteriormente

explicitado, destaca o valor dos textos, enquanto poderosos recursos culturais, decisivos na

formação do jovem leitor, esclarecendo que

“a leitura não se resume a permanecer num conforto exterior ao texto, onde o poder

deste não possa atingir-nos. Há que penetrar nele, atravessar o espelho e vermo-nos do

outro lado. Se Derrida estiver certo, e quanto a isto creio que sim – não é possível

mantermo-nos fora da textualidade, seja de que modo for. Quando tomamos consciência de

nós próprios, achamo-nos já totalmente desenvolvidos como criaturas textuais. O que

somos e aquilo em que nos tornaremos foi antecipadamente modelado por poderosos textos

culturais” (p. 43).

É certo que durante o ato de ler, o aluno leitor se distancia da realidade circundante

para interagir com o texto literário, contudo, na escrita representa-se o mundo e é essa

representação que é oferecida ao aluno, transportando-o à realidade dos outros, onde ele

tem oportunidade de se posicionar numa perspetiva crítica e criativa. Na verdade,

“por meio da experiência com a literatura obtemos palavras para dizer o mundo e

um mundo a ser vivido. Esse mundo é inicialmente do outro, posto que toda a leitura é

diálogo, mas nós o tomamos e experienciamos como nosso, rompendo os limites espaciais

e temporais de nossas vidas. A literatura […] torna tudo possível […] porque ela nos

permite ser o outro ao sermos nós mesmos.”

(Cosson, 2014, p. 50-51)

Nesta perspetiva, a literatura pode ser entendida, entre outras possibilidades, como

uma forma de apreciar e compreender o mundo, nas suas variadas tonalidades, através da

expressão estética de sentimentos e emoções. Sousa, segundo Britton (1970), diz

“que experimentamos o mundo, construímos e gravamos dele uma representação.

Deste registo acumulado das nossas experiências passadas, urdimos expectativas

relativamente ao futuro, e, porque a cada momento o futuro é presente, essas expectativas

são cada vez mais elaboradas e fundamentadas, e portanto, capazes de nos ajudar a melhor

interpretar o presente.”

(Sousa, 1990, p.117)

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É, assim, evidente que a literatura possui uma natureza que propicia um encontro

marcado entre o leitor e o texto, sobretudo, pela subjetividade, e que pode, por isso,

suscitar o prazer. Dessa forma, pode ser concebida como um passaporte ou bilhete de

partida (Queirós, 1999, p. 24) para o mundo ficcional, tornando o aluno capaz de refletir e

dar sentido ao mundo que o cerca, visto que “é muitas vezes a actuação de heróis e anti-

heróis literários que nos ensina a melhorar a nossa própria vida. Ninguém aprende a ser

melhor se não encontrar alguma vez um outro que soube ser melhor do que alguma vez

imaginámos que podíamos ser” (Ceia, 2002, p. 54). Dito de outro modo, literatura é todo

um contexto, uma história, uma compreensão de estruturas profundas que têm o

compromisso de tirar o leitor do seu lugar-comum e de o transportar para um outro

contexto nunca antes visto e imaginado. Nesta lógica, o aluno é levado à leitura do mundo

e de si mesmo, enveredando por um caminho sedutor e enigmático.

Reafirma-se, portanto, que a literatura é imaginário materializado na língua. Por

outras palavras, o exercício da leitura literária abre as portas da linguagem por onde o

ideológico e o imaginário atravessam em grandes ondas (Barthes, 1973). Nela podemos

encontrar as funções básicas que favorecem a construção da personalidade dos alunos. A

literatura “é essencialmente palavra, quanto da experiência de mundo que concentra e

disponibiliza, pois não há limites temporais ou espaciais para um mundo feito de palavras

– o exercício da liberdade que nos torna humanos” (Cosson, 2014, p. 25).

Idêntica é a opinião de Iser ([1978] 1980, p. 126) para quem literatura é uma

construção feita a partir das palavras – caracterizada, essencialmente, por proporcionar

múltiplas possibilidades de interpretação, de sentido. Para o autor, o texto literário é o

único texto que proporciona ao aluno an overflow of possibilities, isto é, propicia imensas

possibilidades de sentido ativadas pelos blanks e gaps do próprio texto. Uma perspetiva

partilhada por Eco, quando refere que um dos atributos distintivos do texto literário é a

possibilidade de oferecer ao leitor uma iniciativa interpretativa, de exigir um trabalho

inferencial para que este possa preencher os espaços em branco e encher os interstícios

(1993, p. 55) do texto preguiçoso.

De facto, as diversas aceções de um texto literário e a plurissignificação de uma

palavra possibilitam ao jovem leitor viajar num universo infinito de oportunidades,

fantasias e anseios, facilitando a sua interação com diferentes épocas, sociedades e

culturas. Todorov sublinha justamente que “a literatura abre ao infinito essa possibilidade

de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona

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sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais

belo” (2009, p. 23).

De igual forma, o que falta no quotidiano, no mundo real, entre famílias, o jovem

leitor poderá encontrar no universo das personagens e, daí, viajar pelas terras dos outros

(apud Chartier, 1997) numa viagem que o levará à reflexão e ao diálogo, ao convívio com

os outros e, naturalmente, à compreensão e ao crescimento, na relação consigo próprio e

com os demais, numa simbiose eu/universo. Em suma, a leitura literária oferece ao

estudante “a liberdade de uma maneira tal que nenhum outro modo de ler poderia oferecer”

(Cosson, 2014, p. 50).

Neste âmbito, não é difícil de perceber que a experiência da literatura é “ um modo

único de experiência, uma expansão de fronteiras dos nossos próprios sentimentos e

mundos, vividos por meio de nós mesmos” (Rosenblat, [1978] 1994, p. 68).

Não bastasse esta expansão de horizontes, “o exercício de imaginação que a leitura

de todo texto literário requer é uma das formas relevantes do leitor assumir a posição de

sujeito e só podemos exercer qualquer movimento crítico quando nos reconhecemos como

sujeitos” (Cosson, 2014, p. 50).

Como se deduz deste quadro genérico de considerações, a importância atribuída à

leitura do texto literário, em contexto escolar, justifica-se pelas inúmeras vantagens que

esta contempla. Com efeito, esta proporciona não só gozo estético, como permite ao aluno

desenvolver a imaginação e a capacidade de (re)elaborar a linguagem, por um lado, e

favorece a aquisição de saberes culturais, por outro. Também, possibilita ao aluno chegar a

sentidos cada vez mais complexos, consentindo o confronto de diferentes visões do mundo

e o conhecimento de si e dos outros (Silva, 2012).

Neste âmbito, em contexto escolar, a leitura literária ajuda a ler melhor, não só

porque faculta a criação de hábitos de leitura ou porque proporciona prazer, mas,

principalmente, porque nos dá, como nenhum outro tipo de leitura o faz, as ferramentas

essenciais para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem (Cosson,

2006).

Efetivamente, a leitura literária não só é uma verdadeira experiência de

autoconhecimento, como contribui para a formação da identidade do aluno, humanizando-

o, no sentido mais amplo da palavra.

Enfim,

“a maior vantagem da leitura literária (de clássicos ou de modernos, de autores

“maiores” ou “menores”) é esta: é a única forma de leitura que podemos nunca esquecer.

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Não nos recordamos das cartas, relatórios, receitas (médicas, de farmácia, de cozinha; ou

de outras), instruções de máquinas, de electrodomésticos, de uso; impressos variados

(actualizados), actas, etc. […] Mas recordar-nos-emos enquanto vivermos de pelo menos

um livro de ficção que nos tocou e nos mudou o olhar sobre o mundo, como não

esquecemos o poema que soube encontrar as palavras que nunca saberemos dizer.”´

(Ceia, 2009, p. 5-6)

Em jeito de conclusão, não podemos deixar de reiterar, em consonância com o

pensamento de Ceia (2009, p.8) que “quem lê, vê mais; quem lê, sonha mais; quem lê,

decide melhor; quem lê, governa melhor; quem lê escreve melhor. Poucos são os actos que

valorizamos e que praticamos que não possam ser melhorados com mais leitura”.

3. O papel da escola e do professor na formação de leitores literários

No 3.º ciclo do Ensino Básico, no qual se centra o nosso estudo, os corpora de textos

a estudar estão balizados pelas indicações contidas no Programa de Português do Ensino

Básico, 2009 e nas Metas Curriculares de Português, 2012. Nestas se destaca a leitura

como um dos principais objetivos do ensino da língua materna e se desloca a leitura

literária para um campo especial de abordagem que mostre ao “aluno que, neste caso, não

se está perante um mero “tipo” de texto, […] mas antes perante textos com um estatuto

estético e cultural próprio” (PPEB, 2009, p. 137).

De facto, nos últimos anos, foram bem audíveis vozes que reclamaram uma presença

efetiva dos textos literários no ensino da língua, “valorizados na sua condição de

testemunhos de um legado estético e não meramente integrados como casos tipográficos a

par de outros com muito menor densidade cultural” (op. cit., p.5).

Do mesmo modo, a investigação das últimas décadas demonstrou que a eficácia da

aprendizagem da leitura está dependente de diversos factores, como o contacto frequente

com boa literatura e o ensino explícito de estratégias para a compreensão de textos.

Efetivamente, em contexto escolar, as atividades de leitura regem-se pelos

documentos programáticos que, não só estabelecem o corpus, como determinam as formas

como eles devem fomentar diferentes leituras e transmitir marcas de identidades históricas,

culturais e literárias.

No entanto, os materiais didáticos que sustentam o desenvolvimento da leitura do

texto literário colocam em cena uma diversidade de textos que, por vezes, transpõem não

só as fronteiras do literário, mas também a sua dimensão pedagógica. Por conseguinte, “as

dúvidas sobre o que ler e como acabam por invadir, naturalmente, os territórios escolares.

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É aí que a parte mais significativa da formação do leitor se concretiza e, como tal, são […]

os professores que se veem a braços com a responsabilidade de escolher livros” (Custódio,

2012, p. 93).

Na realidade, embora as opções ou indicações curriculares da disciplina de Português

estejam limitadas aos corpora programáticos, o papel do professor continua a ser decisivo

na mediação, na escolha e na ponderação do tipo de leitura e de estratégias usadas para a

promoção da leitura, em geral, e de textos literários, em particular. Aliás, “estes programas

pressupõem uma concepção do professor de Português como agente do desenvolvimento

curricular […], o professor deverá ser capaz de tomar adequadas decisões de

operacionalização […], adaptando-as à realidade educativa da sua escola e da sala de aula”

(PPEB, 2009, p.9).

Com efeito, o trabalho no domínio da Educação Literária consolida-se, de acordo

com o texto do programa, pela constituição, pelo professor, de corpora textuais que

reúnam um conjunto de critérios globais, concretamente: (i) representatividade e qualidade

dos textos; (ii) Integridade das obras; (iii) diversidade textual e (iv) progressão, tendo,

obviamente, sempre presente, a lista de obras e textos para leitura orientada constante dos

documentos reguladores e, em alguns casos, a obrigatoriedade de estudo de alguns textos,

como, por exemplo, os excertos selecionados da obra Os Lusíadas ou, no caso do texto

dramático, uma de duas peças de Gil Vicente – Auto da Barca do Inferno ou Auto da Índia,

relativamente ao 9.º ano de escolaridade. Não obstante, reafirma-se que “a lista de autores

e de textos constitui a base sobre a qual o professor seleciona e organiza um corpus textual

para leitura integral adequado a cada contexto de trabalho, tendo em atenção as leituras

efetuadas em anos anteriores” (op. cit., p.137).

Assim, o professor, enquanto agente mediador do programa, deverá prestar especial

atenção aos textos a utilizar, criando condições para que os alunos possam ler e apreciar

textos literários representativos das literaturas de expressão portuguesa e da literatura

universal apresentada em português. Trata-se, no fundo, de ter de distinguir entre textos a

selecionar para promover o desejo de ler e textos para formar alunos leitores. Porquanto,

“escolhendo diretamente, aconselhando ou induzindo escolhas, [o professor] acaba por

deter (…) um papel e um conjunto de funções decisivas como mediador de leitura” (Amor,

1993, p. 99).

Segundo Raimundo (2007), o professor tem uma importância significativa na

formação do leitor, visto que este é o principal mediador entre o aluno e a leitura, em

ambiente escolar. Assim, “se à escola foi dado o objetivo de formar leitores, o professor é

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o principal executor desse projeto, e dele será o dever de apresentar o mundo da leitura ao

aluno. A maneira como o professor realizar essa tarefa será decisiva para despertar ou não

o interesse pela leitura ” (p. 109).

Seguindo esta perspetiva, e de acordo com Silva, Bastos, Duarte & Veloso (2011),

inspirados no trabalho de Cerrillo (2006),

“mediador é alguém que funciona como ponte ou elo de ligação entre os livros e os

leitores, propiciando e facilitando o encontro, a descoberta e o diálogo entre ambos. […]

Tem como principais funções: criar e incentivar hábitos de leitura, seduzir os leitores,

facilitar a tarefa de compreender, orientar a leitura, selecionar ou ajudar a selecionar os

livros adequados ao leitor ou leitores, preparar, implementar e avaliar projetos de animação

da leitura e de promoção/divulgação do livro ” (p. 33).

Além disso, para o sucesso de qualquer prática de leitura, em contexto escolar,

exige-se do professor de Português uma sólida compreensão teórica sobre o que é leitura e

como fazê-la. Isto é,

“como nenhum método pode ser eficaz antes de ser executado, todo o problema da

competência literária é necessariamente um problema pedagógico: como é que posso

ensinar aos outros aquilo que a experiência do literário me ensinou a mim? Quando

falamos de competências falhadas, devíamos antes falar de métodos de ensino que não

foram devidamente experimentados ou leitores que não foram devidamente experientes”.

(Ceia, 2002, p. 21)

No fundo, cremos que “o significado pedagógico mais relevante da literatura e

aquele que o professor deve ter sempre presente é o exemplo” (op.cit., p. 53). Em outros

termos, ler é uma prática social, portanto, a leitura na escola deve ser um espaço para o

diálogo, em que o professor desempenha o importante papel de leitor, de mediador e de

árbitro. Nesta medida, “o exemplo do professor enquanto leitor é crucial para o

desenvolvimento do interesse pela leitura: para se ser bom “treinador” é fundamental

gostar do que se ensina e o gosto pela leitura e pela literatura também se processa por

“contaminação” (GIPP, 2011, p. 13).

Desta forma, na escola, compete ao professor, em situação de sala de aula, motivar e

criar rotinas de indução de hábitos, concebendo atividades que levem o aluno a querer ler,

visto que este querer, este desejo não surge de modo espontâneo. Efetivamente, Amor,

neste campo, já há muito alerta que “um professor que não seja um leitor confesso e

praticante, com dificuldade encontrará a energia, o gosto e a imaginação que uma empresa

de tal envergadura exige” (1993, p. 96).

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Socorrendo-nos do pensamento de Matos (1987) ao defender a necessidade de o

leitor experienciar a obra literária, atrever-nos-íamos a acrescentar que, “o ensino da

literatura é, em rigor, impossível, pela simples razão de que a experiência não se ensina.

Faz-se. Mas podem e devem criar-se as condições para essa experiência: removendo

obstáculos e proporcionando ocasiões” (p. 20). Isto é, é necessário que os percursos

pedagógicos contemplem contextos de ensino e de aprendizagem ricos, desafiadores e

significativos. Nesta linha, o professor deve considerar um programa alargado de leituras

que inclua, por um lado, as que se efetuam em sala de aula ou orientadas a partir dela e, por

outro, as leituras por interesse pessoal (PPEB, 2009).

Aliás, Inês Silva (2012), numa linha de opinião muito próxima, afirma que “os textos

literários a ler no ensino básico são de reconhecido mérito, mas dentro das possibilidades

apresentadas aos professores há um fator […] essencial: escolher obras (não só narrativas,

como dramáticas e poéticas) que estejam mais próximas das experiências dos alunos” (p.

72).

Com estes pressupostos, e sabendo-se que as atividades e projetos de leitura devem

ser orientados para objetivos vários, cabe ao professor integrar sequências didáticas que

visem a leitura literária com propósitos bem definidos.

Por outras palavras,“a leitura em contexto escolar deve ser motivada e finalizada.

Isto é, as atividades de leitura deverão ter fundamentos claros e precisos, que constituam

desafios de aprendizagem (…). As atividades e projetos de leitura devem também ser

sempre orientados para um (ou vários) propósito(s) ou finalidade(s): por exemplo, ler para

identificar ideias chave, ler para procurar informação específica; ler para identificar pontos

de vista; ler para debater as posições do autor; ler para recreação” (GIPP, 2011, p. 8).

Em termos práticos, a criação de contextos promotores de leitura e a seleção dos

textos é fundamental para que exista sucesso na receção e compreensão dos mesmos. Para

isso, e na sua condição de guia e mediador, o professor deverá utilizar textos dos mais

variados géneros, que divirtam, emocionem e envolvam o aluno no processo de leitura.

Diante da perspetiva de que cada leitura é sempre influenciada pelas leituras já

realizadas pelos leitores (Manguel, 1998), é importante que, nos momentos de reflexão e

planificação da prática pedagógica, as escolhas dos textos e dos modos de ler se adaptem

ao aluno – às suas competências, às suas vivências e às suas expectativas.

De igual forma, e seguindo preocupações similares com a preparação da leitura e

com a seleção dos textos a ler, os alunos devem ser envolvidos em múltiplas formas de ler

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e de aceder à leitura: “ler e ouvir ler; leitura silenciosa e leitura em voz alta; leitura

orientada e leitura recreativa; ler individualmente, ler em grupos…” (GIPP, 2011, p. 27).

Convém, também, ter em consideração que, por várias razões, os alunos têm aptidões

distintas perante objetos e/ou produtos culturais diferentes, pelo que o professor deverá não

só conceber oportunidades de aprendizagens variadas como criar uma dinâmica de ensino

que impulsione percursos interpretativos variados, criativos e que considerem, de alguma

forma, os interesses e as vivências dos alunos. Por outro lado, é importante evitar a

repetição de práticas estereotipadas, contemplando-se mecanismos para auxiliar os alunos

a superarem as suas dificuldades e, progressivamente, apresentando atividades mais

exigentes (PPEB, 2009).

Da reflexão que tem sido efetuada se depreende que o professor deve ter em mente

que a experiência e os conhecimentos do aluno não podem ser menosprezados, antes pelo

contrário, devem ser compreendidos como uma possibilidade de dar sentido à prática

leitora e de instituir elos entre leituras atuais e futuras que potenciem o expandir dos seus

horizontes literários.

Embora “os textos habitualmente recomendados para ler em sala de aula [sejam] de

reconhecido mérito literário, (…) frequentemente estão afastados dos interesses dos nossos

alunos e são irrelevantes para as suas preocupações. De facto, serem obrigados a ler textos

tão afastados das suas experiências e conhecimentos só pode aumentar a sensação de

frustração dos alunos, inferioridade e mesmo incapacidade. Por isso, precisamos de

escolher textos que possam não pertencer ao cânone literário, mas que reflitam as vidas e

os interesses dos nossos alunos” (GIPP, 2011, p. 20).

Em contexto escolar, a nossa experiência, enquanto professoras de Português, leva-

nos a afirmar que o texto literário é promovido tendo por base atividades de leitura que

colocam o aluno em contacto com o tema do texto proposto pelo manual escolar, e não

com a sua pluralidade de sentidos, com propósitos claros de o utilizar como pretexto para a

realização de ações mecânicas, como o estudo do vocabulário, as interpretações

predefinidas e autorizadas, o estudo da gramática, entre outras, perpetuando-se, deste

modo, a cultura da mesmice.

Um exemplo ilustrativo desta prática é a utilização do questionário, formato mais

comum para instruir o aluno na interpretação do texto. A este respeito, Mª de Lourdes

Dionísio (2000) refere que

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“A par da especificidade linguística das próprias questões, a ordem com que

ocorrem e a sua reiteração ao longo do manual enformam normas de conduta a ter para com

os textos. A ocorrência sistemática (e às vezes única) de actos directivos, para os textos

narrativos, como “Quem é a personagem?”, “Em que espaço e tempo se situa acção?”,

“Identifica o tipo de narrador”, “Caracteriza física e psicologicamente a personagem”,

aponta ao leitor aprendiz o caminho que se deve seguir (…) este modo de levar os alunos a

ler os textos de forma mediada condiciona, (…) o papel do aluno enquanto leitor” (p. 120-

121).

Assim, “romper com rotinas estéreis e desmotivadoras e repensar a prática em

moldes formativos surgem, (…) como prioridades do professor de Português e condição

essencial para a elaboração e concretização de um programa de promoção de leitura

(Amor, 1993, p. 103). O aluno não é um não leitor nato, mas um leitor em potencial e

somos nós, professores, que o devemos guiar até ao mundo literário, porque

“(…) ninguém resiste à tentação de saber o que se esconde dentro de algo fechado –

seja a sabedoria do bem e do mal no fruto proibido, seja na caixa de Pandora, seja o quarto

do Barba Azul. Mas, para isso, é preciso saber que algo existe lá dentro. Se ninguém jamais

comenta sobre as maravilhas encerradas, a possível abertura deixa de ser uma porta ou uma

tampa e o possível tesouro fica sendo apenas um bloco compacto ou uma barreira

intransponível”.

(Machado, 2001, p. 149)

Incide sobre os professores a responsabilidade de fazer os alunos desvendarem o que

está por detrás dessa porta e deslindar o mundo extraordinário da literatura, auxiliando-o a

entender o legado da cultura da humanidade.

O trabalho de formação do aluno leitor literário implica, como já referimos, o

reconhecimento das especificidades da literatura e da leitura literária. A literatura é uma

forma cultural diferenciada e única;

“é compreensão, indagação, reflexão, construção e desconstrução de significados,

que exige atuações específicas por parte do leitor na sua apropriação (…) o signo literário

alimenta-se da ambiguidade, da opacidade, da plurissignificação, da mesma forma que pede

modos de aproximação compatíveis com tal natureza para ser experimentado em suas

múltiplas possibilidades”.

(Oberg, 2014, p. 204)

Esta conceção impõe, naturalmente, um aluno leitor ativo, capaz de construir o

significado do texto à medida que o lê, através da incorporação de novas informações com

os saberes prévios a elas relacionados, da adatação das suas expectativas e da utilização de

estratégias flexíveis que retifiquem a compreensão do texto através duma verificação

consciente do ato de leitura.

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Daí a importância da criação de percursos pedagógicos que contemplem contextos de

ensino e de aprendizagem ricos, desafiadores e significativos que ampliem as condições e

as oportunidades de sucesso dos alunos. Isto é, do professor espera-se que conceba

oportunidades de aprendizagem variadas, designadamente as que a seguir se expõem, com

propósito puramente exemplificativo, tal como o recomendado no PPEB (2009):

“ i) Realização de modalidades diversas de leitura: leitura integral, leitura em

profundidade de excertos selecionados, leitura cursiva fora do espaço da

aula;

ii) Utilização de processos de leitura diversificados: estabelecer focalizações antes

de ler, durante a leitura e depois de ler; ler agrupamentos de textos, para

comparar e constratar (em função de determinado critério: temático, formal,

etc.); procurar um equilíbrio entre a leitura de textos “familiares” e a leitura

de textos “resistentes”;

iii) Utilização recorrente de técnicas e de estratégias de leitura para diversos fins:

recolher, reproduzir, condensar, esquematizar a informação;

iv) Criações de contextos variados que permitam aos alunos expressarem-se

(oralmente ou por escrito) sobre as leituras realizadas em sala de aula,

elaborando de forma autónoma e fundamentada as suas apreciações e

reflexões críticas;

v) Criação de contextos favoráveis à construção de âncoras culturais, através do

estabelecimento de relações entre várias obras literárias e destas com o

mundo, nomeadamente com diferentes tipos de manifestações culturais:

música, cinema, teatro, etc.;

vi) Envolvimento em atividades relacionadas com o mundo do livo e da leitura,

que incentivem a autonomia leitora e o interesse pela leitura como fonte de

prazer e de conhecimentos do mundo: p. ex., diálogo livre sobre leituras

realizadas; encontros com personalidades do mundo da escrita; criação de

círuculos e fóruns de leitura (na aula ou na biblioteca escolar; com recursos

a meios eletrónicos, etc.);

vii) Envolvimento em atividades de caráter expressivo e lúdico, a partir das leituras

realizadas: recitação, improvisações, dramatizações, recriações de textos em

diferentes linguagens;

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viii) Avaliação das estratégias de leitura seguidas e dos resultados obtidos (se as

referidas estratégias foram ou não adequadas e porquês) “ (p.148).

A viagem que temos encetado pelos horizontes da leitura literária leva-nos a afirmar

que é urgente uma reflexão sobre as práticas literárias recorrentes nas escolas, se quisermos

efetivamente promover uma mudança nessas realidades, transcendendo uma abordagem

teórico-metodológica reguladora e constituindo uma proposta teórica emancipadora para as

relações entre o aluno – leitor e o texto. O professor pode contribuir para transformar os

seus alunos em leitores aptos e, fundamentalmente, em amantes de leitura. A arte e o

engenho, embora sujeitos aos seus recursos e à sua criatividade, englobam também uma

enorme porção de pequenos segredos técnicos que outros, os alunos, podem pôr em

prática.

Lajolo (2004) convida-nos, de resto, à reflexão sobre esta temática ao afirmar:

“se algumas metodologias e estratégias propostas para o desenvolvimento da leitura

parecem enganosas por trilharem caminhos equivocados, o engano instaura-se no começo

do caminho, a partir do diagnóstico do declínio ou da inexistência do hábito de leitura entre

os jovens. Espartilhada em hábito, a leitura torna-se passível de rotina, de mecanização e

automação, semelhante a certos rituais de higiene e alimentação, só para citar áreas nas

quais o termo hábito é pertinente” (p. 107).

Revisitando o quadro teórico anterior, uma leitura global possível de realizar sobre

estratégias de leitura e, consequentemente, construção de sentido(s) remete-nos para a

existência de estratégias e metodologias que podem fazer com que os alunos se sintam

confiantes com a leitura do texto literário e, desta forma, desenvolvam, a partir de leituras

feitas, em contexto escolar, o gosto pelo literário e o potencial crítico e reflexivo necessário

para o aperfeiçoamento do gosto e do requinte estético.

Nesta medida, Cosson (2006) advoga que a literatura só funcionará como

instrumento de sensibilidade e locus de conhecimento, se for convenientemente explorada.

Para o efeito, a adoção de metodologias que apontem caminhos para um trabalho de leitura

literária torna-se essencial. Por conseguinte, planear significa pensar todas as etapas à luz

de um ou mais métodos críticos, visualizando uma finalidade em cada uma delas, passando

da fruição do texto à sua interpretação, numa construção de conhecimentos diversos.

Em boa medida, talvez uma forma de repensar o processo de ensino-aprendizagem

do texto literário, na escola, seja a harmonização entre a prática pedagógica dos

professores e as contribuições da teoria literária. A sintonia entre teoria e prática deveria

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nortear a prática docente, pois, desta forma, a leitura do texto literário não ficaria

prejudicada pela fragilidade conceitual de alguns docentes que se escondem nos livros

didáticos e os usam sem nenhum tipo de senso crítico.

Curiosamente, parece existir uma desarticulação e uma clivagem entre a abordagem

dos textos na escola e as sugestões presentes nos materiais de apoio disponibizados pelo

Ministério da Educação para a conceção do PPEB, 2009, como, por exemplo no Guião

para a Implementação do Programa de Português do Ensino Básico, 2011, no âmbito do

trabalho em leitura. Na verdade, nele se preconiza que desenvolver atividades

estereotipadas, que limitem o lugar do aluno a uma receção passiva dos sentidos dos textos,

distinguida apenas pelas perguntas do professor (oralmente ou através de questionários

escritos), é limitar as oportunidades de se alargar juízos mais complexos. A passagem para

um grau de maior complexidade, em termos de compreensão e do questionamento sobre o

texto, constitui uma exigência no trabalho do professor, que deve conduzir os alunos a

níveis mais elevados de compreensão e de interpretação: fazer inferências; identificar

implícitos; fomentar a reação e a avaliação; estabelecer relações entre textos, etc. Com

efeito, a leitura crítica deve entrar cedo na escola, ou seja, é importante não só

compreender o que o texto diz, mas também determinar porque o diz e o que podemos nós

dizer das suas intenções (GIPP, 2011).

Em função do exposto, e partindo da importância atribuída à integração do texto

literário no ensino, pelas vantagens que, noutros momentos, já contemplamos, a escola

deve constituir-se como um espaço fertilizante que proporcione ao aluno o contacto com

variados textos e múltiplas leituras que lhe estimulem o pensamento e o sentido crítico, “no

sentido de o leitor se tornar um ser exigente, pronto para desafios cada vez mais

complexos” (op.cit., 19).

Com efeito, a generalidade dos estudos centrados na análise das inter-relações entre a

leitura e a literatura, no contexto escolar, parecem convergir para uma ideia central que se

afasta, na íntegra, do discurso regulador oficial: na escola, a leitura é realizada tendo em

vista o consumo rápido de textos, relegando-se para segundo plano a valorização do papel

do aluno, das suas interpretações, da troca de experiências e das discussões sobre o texto.

Efetivamente, estas práticas sufocam a descoberta da leitura por prazer, inibem o

aluno e o ato de ler passa a ser compreendido pelos alunos como uma obrigação. Segundo

Mª Lourdes Dioníso (1993),

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“[...] fomentar o gosto pela leitura como passo primeiro para levar os alunos a

participar na vida literária tanto como intenção como em extensão, isto é, ler literatura e

sobre literatura, não se coaduna com abordagens do texto […] viradas para a aquisição de

uma parafernália de metalinguagens, desorganizada e despida de significado” (p.116).

Não sendo a escola o único espaço com responsabilidades na aprendizagem da

leitura, a verdade é que dela se espera que desempenhe a árdua e complexa tarefa de

“proporcionar aos aprendentes, mediante o contacto refletido com os textos, o

desenvolvimento pleno […] das capacidades inerentes ao acto da leitura […]” (Amor,

1993, p. 82). Esta responsabilidade passa invariavelmente por um professor, por isso ele

desempenha um papel fundamental na prática e no uso do conhecimento inerente ao ato de

ler. Para o sucesso de qualquer prática de leitura, como já referimos em momentos

anteriores, exige-se do professor uma sólida compreensão teórica sobre o que é leitura e

como fazê-la, porque “quando se trata do professor leitor, a palavra leitura não quer dizer

capacidade de decifrar sinais gráficos, mas sim de doar sentido ao que se lê, de ser capaz

de viver, numa leitura literária, uma experiência iniciática” (Cademartori, 2009, p. 24).

Espera-se que a escola forme leitores críticos e autónomos capazes de desenvolver

uma leitura crítica do mundo. Efetivamente, “o leitor crítico não se descuida de, em frente

dos textos, refletir e transformar as idéias por ele produzidas” (Silva,1998, p. 28).

Contrariamente, a escola está a formar “ledores”, consequência de uma leitura trabalhada

como uma ato mecânico e rotineiro (Silva, 1998a), de uma “leitura de decodificação e

paráfrase que visa a mera aceitação e assimilação e, […] a produção de consumidores

acríticos da informação (e das histórias) por outros produzidas” (Dionísio, 2004, p. 71).

Desta forma, a leitura de um texto literário pode, por um lado ser tarefa agradável e

enriquecedora ou, por outro, um verdadeiro martírio, que bloqueia a compreensão do leitor

e o afasta do prazer da leitura. Portanto, “a formação de leitores não se pode dissociar da

descoberta do prazer de ler” (Sousa, 1999, p. 507).

Assim, o trabalho com o texto literário, pelo seu carácter plurissignificativo e, por

isso, mais aberto à participação do leitor, pressupõe atividades cujo enfoque privilegie a

subjetividade. Apresentando características específicas que nenhum outro texto detém,

torna-se necessário despertar nos nossos alunos o prazer de ler textos literários, pois, de

acordo com Dionísio (2000), “a eleição do texto literário como objeto de ensino e

aprendizagem da língua encontra a base de sustentação no facto de à literatura se atribuir,

explícita ou implicitamente, uma missão educadora que a escola apenas tem de potenciar”

(p. 60).

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Em suma, parece-nos que é elementar formar leitores de literatura competentes,

autónomos e críticos, capazes de ler na escola e muito para lá dela. Por conseguinte, “

ensinar a ler (a ler integralmente e em profundidade) – eis (…) o objetivo fundamental das

disciplinas literárias” (Coelho, 1976, p. 63).

Importa, ainda, mencionar que a complexidade do contexto educativo e de todos os

processos envolvidos induzem-nos, a nós professores, num processo de indagação e

dúvida. Desta forma, torna-se necessária a investigação intrínseca de novas formas de agir,

de metodologias e estratégias eficazes, como forma de superar as dificuldades sentidas no

quotidiano pedagógico. Reafirma-se, portanto, em consonância com Oliveira-Formosinho

(2007) citado em Oliveira-Formosinho e Formosinho (2008, p. 7-8) que

“tomar consciência desta necessidade de promover outros modos de ensinar obriga-

nos a assumirmo-nos como profissionais reflexivos e críticos. Ser profissional reflexivo é,

assim, antes de mais, criar uma proteção em relação ao frenesim narrativo e à retórica

nominalista; é fecundar as práticas nas teorias e nos valores, antes, durante e depois da

ação; é interrogar para ressignificar o já feito em nome próprio do projeto e da reflexão que

constantemente o reinstitui”.

Neste sentido, pensamos com Amaral, Moreira & Ribeiro (1996) quando dizem que

a reflexão possibilita ao professor reconstruir “ mentalmente a acção para a analisar

retrospectivamente. O olhar a posteriori sobre o momento da acção ajuda o professor a

perceber melhor o que aconteceu durante a acção e como resolver os imprevistos

ocorridos” (p. 97).

Neste campo, resta-nos acrescentar que “a reflexão sobre a reflexão na ação ajuda a

determinar as nossas ações futuras, a compreender futuros problemas ou a descobrir novas

soluções” (Alarcão, 1996, p. 19). Por outras palavras, a reflexão sobre as práticas exige do

professor uma postura assente na observação e análise sistemáticas das suas ações e dos

alunos com quem trabalha, por forma a poder produzir conhecimento sobre eles, sobre as

suas características grupais, sociais e culturais. Ou seja, dentro das escolas é preciso que se

pense, cada vez mais, numa pedagogia da leitura que considere as diferentes experiências

culturais dos alunos e que não se suponha já adquirido o que está, ainda, em vias de

constituição. Luiza Cortesão (2000) reforça esta perspetiva, fazendo notar, entretanto, que

“este conhecimento, porém, não é suficiente se a escola e os professores estão

realmente interessados em não contribuir para a distribuição desigual do sucesso educativo,

de acordo com os grupos socioculturais de origem. Os professores terão de usar esse

conhecimento para repensar formas (e até conteúdos) de trabalho que possam ir ao

encontro dos interesses, que valorizem os saberes, que não desrespeitem os valores, que

aproveitem as competências que os alunos sempre têm, seja qual for a sua origem social e

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étnica, mas que a sociedade e a escola atuais nem aproveitam, nem valorizam e nem

aceitam” (p. 45).

A escola tem de desempenhar com qualidade o seu papel como formadora de

leitores. Para isso, torna-se, cada vez mais, urgente o fomento de projetos de incentivo à

leitura literaria. Neste contexto, poder-se-á ter em consideração, p. ex.: i) a organização de

encontros orientados com escritores, ilustradores e editores; ii) a organização de

deslocações orientadas a espetáculos de teatro e recitais de poesia; iii) a frequência guiada

de feiras do livro, biblioteca municipal, entre outras (PPEB, 2009).

Igualmente, os profissionais responsáveis por mediarem a leitura, nas escolas –

bibliotecários e professores, devem ser, eles próprios, leitores assíduos, pois, só se

convence alguém sobre alguma coisa, quando, realmente se acredita no que se apregoa.

Por outro lado, o trabalho em aula beneficiará grandemente de uma relação estreita

com a Biblioteca escolar. De facto, este recurso em articulação com as atividades de sala

de aula, ou espontaneamente utilizado pelos alunos, integra-se numa prática inclusiva, que

favorece a autonomia e a disponibilidade para aprendizagem ao longo da vida. Mais, a

biblioteca escolar deverá conter uma variedade alargada de livros, nos diferentes tipos e

géneros, bem como um referencial de textos em diversos suportes, como registos

audiovisuais e recursos digitais, para apoio às tarefas da aula ou orientadas a partir dela.

Deste modo, o trabalho a realizar, por professores e alunos, no que respeita ao

desenvolvimento dos desempenhos descritos, no ciclo e no domínio da Educação

Literária, concretizar-se-á de forma mais eficaz (PPEB, 2009).

Por fim, face ao papel crucial que a família ocupa na vida dos jovens alunos,

compete, ainda, à escola o incentivo ao envolvimento das famílias no estímulo da leitura

literária, incrementando uma participação ativa dos diversos intervenientes educativos,

numa perspetiva colaborativa e cooperativa, porquanto, como defende Miguéns “ (…) a

parceria primeira, a mais óbvia e insubstituível, realiza-se (…) entre a escola e a família

que, em estreita colaboração, poderão empreender esse estimulante caminho desde a

criança que tomam nos braços até ao cidadão competente, autónomo, solidário,

responsável e útil que inicia uma (…) participação ativa na sociedade” (Miguéns, 2005, p.

9).

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4. O papel da família na formação de leitores literários

“A educação e o acompanhamento dos filhos em todo o processo educativo são não

apenas um direito, mas uma obrigação dos pais. É da família que depende um quadro de

referências que acompanhará a criança e o jovem ao longo da sua vida. A família é,

portanto, a primeira das instâncias educativas e surge como determinante muito forte dos

resultados dos alunos, pelo que a escola deve atuar como um parceiro na educação das

crianças e dos jovens e deve envolver os pais, incentivar a sua participação e trabalhar

colaborativamente com eles”.

(Miguéns, 2005, p. 9 - 10)

Como temos vindo a referir, a formação do aluno leitor literário entronca em

diversos contextos que, por sua vez, devem estar em contínuo diálogo: a família, a escola,

a biblioteca (da escola, pública), entre outros contextos sociais.

Sendo a leitura importante em todos os contextos sociais e em todas as formas, é, por

isso, necessário que se fale do papel da família, pois, esta é a primeira instituição a

promover e a colaborar na formação de crianças leitoras. Na verdade, a família é o lugar

privilegiado para a criança despertar para o interesse da leitura (Manzano, 1988).

Assim, é consensual que a família tem um papel preponderante no desenvolvimento

de atitudes favoráveis face ao desenvolvimento da leitura. Aliás, já em 1986, Richard

Bamberger alegava que “a prontidão para a leitura é determinada, em parte, pela atmosfera

literária e linguística reinante na casa da criança” (1986, p.71). Inclusivamente, Alvarez

(2000) chega a asseverar que sem a ajuda dos pais são poucas as probabilidades de se

desenvolver, na criança, uma atitude favorável em relação à leitura. Nesta medida, é no

interior do modelo familiar que o gosto pela leitura se intensifica, que a leitura ganha status

como valor social importante na construção socioeducacional das crianças e adolescentes.

Desta forma, a família constitui-se como o primeiro modelo de identificação da

criança, uma vez que é ela que a confronta com livros, que lhe cria expectativas, lhe dá

apoio e a estimula (Jolibert, 1991).

Os estudos mostram que a criança, ainda antes de entrar para a escola, pode tornar-se

leitora e apropriar-se da leitura através da mediação da família, da convivência e dos

hábitos desenvolvidos no ambiente familiar.

Assim, se o jovem aluno estiver inserida num ambiente estimulante e motivador da

leitura, em que a presença de livros faça parte da vida do quotidiano, é natural que este

venha a desenvolver o interesse por aprender a ler e, em especial, pela leitura. Por

conseguinte, é necessário que, em contexto familiar, se estimule esse interesse e se faça

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entender que através da leitura se pode conhecer o mundo, não só um mundo de

imaginação, mas também um mundo de inclusão social.

Neste sentido, a família (nomeadamente a figura dos pais) deve procurar criar e

incentivar hábitos de leitura nos seus filhos, para, desta forma, se efetivar como mediador

entre a criança e a leitura (GIPP, 2011).

Com efeito, quando a leitura não é estimulada, em ambiente familiar, acaba, muitas

vezes, por ser considerada irrelevante, já que acontece, somente, em lugares rígidos e sob a

forma de obrigação, ou seja, na escola. Por outro lado, se o estímulo à leitura acontecer

num ambiente informal, espontaneamente, no lar, é mais provável que o aluno desenvolva

hábitos de leitura e, em concomitância, tenha mais facilidade na compreensão de textos.

Aliás, Vieira (2004) afirma que

“o leitor formado na família tem um perfil um pouco diferenciado daquele outro que

teve o contacto com a leitura apenas ao chegar a escola. O leitor que se inicia no âmbito

familiar demonstra mais facilidade em lidar com os signos, compreende melhor o mundo

no qual está inserido, além de desenvolver um senso crítico mais cedo, o que é realmente

importante na sociedade” (p. 6).

É justamente neste quadro, que se nos assegura legítimo invocar que é missão dos

pais a incumbência das primeiras estratégias, bem como a acessibilidade das literaturas

infantis para, assim, lhes despertarem o gosto pela leitura e de lhes provocarem o desejo de

ler.

Com efeito, segundo Ceia,

“Ler às crianças durante os seus primeiros anos de vida, ajuda-as a crescer não só

intelectualmente como do ponto de vista da compreensão do mundo. A medida da

imaginação de cada um na vida adulta, a meta que cada um de nós consegue atingir no

exercício da mais espantosa e complexa das nossas capacidades – o ser capaz de pensar – é

determinada pela forma como nos moldaram a nossa imaginação durante os primeiros anos

de vida”.

(Ceia, 2009, p. 7)

Neste âmbito, são pequenas, mas inestimáveis, as ações quotidianas que podem

fomentar o gosto pela leitura. Assim, partindo do pressuposto que “a leitura é uma

aprendizagem desde os primeiros anos de vida. Ler a uma criança pode ser, ainda no útero,

(…) benéfico, mesmo que a ciência não consiga provar que espécie de benefício possa ser

esse” (op. cit., p. 6).

Os pais podem iniciar por: (i) mostrar e interpretar ilustrações; (ii) ler histórias ao

deitar; (iii) oferecer livros às crianças; (iv) incentivar os filhos a contar histórias; (v)

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frequentar bibliotecas; (vi) proporcionar à criança a constituição da sua própria biblioteca;

(vii) partilhar leituras, manifestando interesse e conversando com as crianças sobre as suas

experiências leitoras; (viii) acompanhar a criança a livrarias, propiciando a aquisição de

livros, convidando-a à leitura e releitura dos seus textos preferidos. Como sublinha Vieira

(2004), “os pais podem iniciar contando histórias para os filhos dormirem, presentear as

crianças com livros, incentivar os filhos a contarem histórias em casa, assim haverá sempre

uma troca de conhecimentos e cria-se o estímulo para que as crianças, adolescentes e

jovens tenham realmente prazer pela leitura“ (p. 5).

Em jeito de síntese, podemos afirmar que o gosto de ler e a aquisição de hábitos de

leitura, por parte dos jovens, resultam de uma educação com início nos primeiros anos de

vida, no seu universo familiar. Na realidade, é no contexto familiar que tudo começa em

relação à leitura. Portanto, “a motivação para aprender a ler será diretamente proporcional

ao estatuto social e efetivo que a leitura tiver para a família e para o aprendiz de leitor.

Quando há hábitos de leitura na família, desenvolver um sentimento de pertença a esta

família passará por ser leitor” (Viana, 2012, p. 14).

Seguindo esta perspetiva, a promoção do gosto pela leitura, a aquisição e o

desenvolvimento de hábitos de leitura é um processo contínuo que principia na família e se

perpetua na escola, ao longo de todo o seu percurso escolar. “Mas se é importante esta

noção de partilha de responsabilidades, assumindo que a escola não é a única instância

responsável pela formação de leitores” (Sousa, 1999, p. 507), urgente é também que a

família colabore ativamente com a escola (nomeadamente com o professor) nas atividades

promovidas para estimular o gosto pela leitura, cooperando num trabalho que se quer

conjunto.

Como já demonstrámos noutro local, o professor detém um papel determinante no

que se refere ao favorecimento deste envolvimento, se não o principal, competindo-lhe

incentivar, encorajar e apoiar as famílias, demonstrando-lhes o quão relevante é o seu

contributo. Para tal, “é necessário que se construa uma relação de diálogo mútuo, onde

cada parte envolvida tenha oportunidade de falar, analisar e partilhar, permitindo uma

efetiva troca de saberes e experiências” (Caeiro, 2005, p. 22-23).

Efetivamente, é preciso fazer chegar a mensagem que, de acordo com o referenciado

no Guião de Implementação do Português do Ensino Básico, 2011,

i) as crianças pequenas, em geral, têm grande apetência pela leitura e esse

interesse deve ser alimentado;

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ii) a partilha de momentos de leitura é importante. É bom que os pais leiam

histórias aos filhos, que falem sobre as histórias, se a criança assim o quiser;

que partilhem leituras com os seus filhos, que falem de livros de que tenham

gostado;

iii) é bom que os pais leiam à frente dos filhos e que juntos vão a bibliotecas para

requisitar livros e livrarias;

iv) sempre que possível devem oferecer livros que vão ao encontro dos interesses

dos filhos;

v) as crianças devem manusear os livros que existam em casa, deixando-os ao seu

alcance; devem também ter contacto com vários suportes de escrita: jornais e

revistas.

(GIPP, 2011, p. 40).

Por fim, perante este quadro, resta-nos sublinhar que “tanto as crianças como as

famílias como as escolas e, sobretudo as crianças, têm a ganhar e muito com uma relação

mais estreita, com uma colaboração em parceria, com uma relação feita de confiança

mútua” (Miguéns, 2005, p. 9-10).

5. O aluno enquanto leitor literário e construtor de sentido(s)

O leitor tem o seu papel na obra: enriquece o livro.

Jorge Luís Borges, 2000

Um dos princípios que defendemos radica no entendimento de que a formação de um

leitor competente se sustém na conceção de leitura como prática social. Também, de que é

da interação dinâmica do aluno com o texto, numa determinada situação de leitura que a

compreensão na leitura se efetiva.

Neste sentido, no processo de leitura (entendido este como um processo global e

globalizante), uma das pedras – angulares da construção de sentidos é, indiscutivelmente, o

aluno.

Sim-Sim (2008) considera que “a compreensão da leitura é um processo complexo

que envolve o que o leitor conhece sobre a sua própria língua, sobre a vida, sobre a

natureza dos textos a ler e sobre processos e estratégias específicas para a obtenção do

significado da informação registada através da escrita” (p. 9).

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Nesta perspetiva, a obra não está concluída quando sai da mão do seu criador, trata-

se apenas de um mero objeto, um material, tal como se depreende das palavras de Rösing

(2014, p. 212), quando afirma que “a significação da obra é feita pelo leitor. Neste sentido

valoriza-se o papel do leitor na transformação de um objeto num ser vivo, capaz de

estimular a produção de significados os mais diferentes, superficiais e profundos, onde se

destaca o papel do leitor que passa a ser o grande protagonista da ação”

Assim, nesta visão, “(…) cada leitor, na medida dos seus conhecimentos,

reconstruirá o seu texto” (Sousa, 1993, p. 63). Logo, torna-se legítimo declarar que o

sentido do texto literário não está no texto, nem no leitor, mas encontra-se na interação das

variáveis leitor - texto - contexto. Aliás, Bartolomeu Campos de Queirós é perentório a

afirmar, relembrando a influência de Foucault, que “o que o sujeito lê não é a frase que eu

escrevo, é o silêncio que eu deixo entre as palavras” (Queirós, 2014, p. 55).

Podemos então afirmar que um leitor literário, ou nas palavras de Eco (1993) um

leitor de segundo nível, é aquele que sabe jogar o jogo, ou seja, é um leitor atento às

estratégias e pistas textuais, capaz de refletir sobre as mesmas. Em suma, é um leitor que

mergulha, verticaliza, reflete e se detém, não é um leitor apressado, é um leitor que relê.

Dito de outra forma, é um leitor que se envolve com o objeto para o compreender, para o

interpretar, para selecionar os conteúdos de que se vai apropriar, estendendo o seu

conhecimento e desenvolvendo a sua afetividade.

Rösing (2014) sublinha, justamente, que “o trajeto percorrido pelo leitor na recepção

do texto não é linear. Entram em ação esquemas mentais de domínio desse leitor, suas

vivências, suas experiências leitoras, repertório vocabular, textual, bagagem cultural,

determinantes na construção de uma identidade leitora significativa” (p. 212-213).

Nesta abordagem interativa, cabe ao aluno intervir no texto através da aplicação de

experiências, conhecimentos, expectativas e, essencialmente, objetivos e estratégias que o

conduzam à construção de sentido.

Desta forma, a leitura é vista como um processo construtivo, como uma interação

produtiva do aluno com o texto, como constata Manguel (2010a): “mais tarde, como

decerto sucede com todos os leitores, percebi que o meu papel era o principal e que a

existência da história dependia da minha recetividade e interpretação crítica” (p. 39).

Por outras palavras, a leitura literária deve ser encarada pelo aluno como um

processo holístico que não o isola. Antes, como uma interação dinâmica em que este ativa

o texto, imbuindo-o de sentido, um processo em que ele se serve de si, dos seus

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conhecimentos pessoais e da sua intenção de leitura. A este propósito, Aguiar e Silva

(1996) defende que é fundamental

“reconhecer a existência autónoma, a alteridade originária e substantiva das duas

instâncias que interagem semioticamente no processo da leitura – a instância constituída

pelo texto e a instância representada pelo leitor -, rejeitando quer a hipótese de que o leitor

seja “um efeito (um produto) do livro”, quer a hipótese de que o livro seja “um efeito (uma

construção) do leitor. O texto, antes do acto de leitura é já um artefacto […] possuindo

certas características e marcas semióticas que o individualizam na sua corporeidade e na

sua ratio textus – o sentido e que não permitem qualquer leitura por qualquer leitor. O

receptor, por sua vez, é uma entidade semiótica que se constitui ao longo do tempo,

modelada e replasmada no decurso de múltiplas leituras, estruturada pela aquisição de

diversificados conhecimentos e pela fruição ou pelo sofrimento de multímodas experiências

vitais” (p. 314-315).

Nesta linha de pensamento, para que a leitura faça sentido para o aluno, este deve

sentir-se parte dela, reconhecer-se nela, para, deste modo, poder construir conhecimento.

Essa relação dialógica entre o texto e o aluno leitor é analisada por Vicent Jouve (2002)

que reforça a necessidade de contribuição do leitor na construção do sentido do texto.

Segundo o mesmo, é através da capacidade de antecipação que este levanta hipóteses

acerca do texto, fazendo previsões sobre o mesmo e, por conseguinte, delimitando o seu

espaço na concretização de sentido. Evidentemente, este ato de apropriação de sentidos

tem implicações pedagógicas, uma vez que vem reforçar a importância de se desenvolver

no aluno a capacidade de pensar, de ler criticamente, de se expressar, enfim, de atuar como

sujeito ativo, mobilizando conhecimentos prévios no processo de compreensão do próprio

texto.

Na pressuposição de que “reading is indeed a meaning-construction process […]”

(Ruddell & Unrau, 1994, p. 996) ou, numa posição em tudo semelhante à anteriormente

citada, “[…] reading is an active process of making meaning” (Thomson, 1987, p. 86), ao

aluno cabe o papel de construtor de sentido. Este papel exige-lhe, como já referimos, uma

atitude dinâmica, devendo esta consubstanciar-se, desde logo, na ativação concomitante

das suas estruturas cognitivas e afetivas (Giasson, 1993). Trata-se, no fundo, de valorizar

tudo o que o aluno é, enquanto pessoa, as suas experiências, os seus conhecimentos sobre o

mundo social e sobre a língua. Segundo Oberg (2014, p. 204-205),

“a fruição literária apresenta um caráter de gratuidade2não funcional, que implica

afetos, imaginação, sentidos e também intelecto; não é um fenômeno de ordem apenas

sensível, nem apenas intelectual, caracterizando-se como ato cognitivo complexo e

contrapondo-se, assim, às noções que comumente a identificam como mero ato sensorial,

2No sentido daquilo que não é funcional; do que não tem, necessariamente, uma aplicabilidade e rentabilidade imediatas.

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hedonista e esvaziado de sua complexidade. A especificidade do texto literário aliado às

articulações necessárias à apropriação e reconstrução de sentidos torna a fruição literária

um processo no qual interagem tanto aspectos textuais particulares, como aspetos

cognitivos, próprios do sujeito e relacionados a mediações de ordem histórica e cultural.

Desse modo, esse processo não pode ser mecânico ou previsível, tanto pelas

especificidades do objeto ao qual se relaciona – a literatura – quanto pelo caráter singular e

individual e, ao mesmo tempo, sociocultural, da produção de sentidos implicada nesse ato”.

Não obstante o poder de criação atribuído ao aluno, Scholes alerta para os limites

interpretativos do mesmo, pois, enquanto leitores, “we can never totally separate an

author’s intention from our own” (1989, p. 62-63). De facto, o texto é um modo de

comunicação diferida que o autor enche de intenções conscientes ou inconscientes, por

conseguinte, “all texts have their meaning and persuasive ends” (ibidem).

Idêntica a perspetiva de Cosson (2006) que entende que o aluno, por meio da

interpretação, negoceia o sentido do texto, num diálogo que abrange autor, leitor e

comunidade. De facto, segundo o autor a interpretação depende

“do que escreveu o autor, do que leu o leitor e das convenções que regulam a leitura

em uma determinada sociedade. Interpretar é dialogar com o texto tendo como limite o

contexto. Esse contexto é de mão dupla: tanto é aquele dado pelo texto quanto o dado pelo

leitor; um e outro precisam convergir para que a leitura adquira sentido. Essa convergência

dá-se pelas referências à cultura na qual se localizam o autor e o leitor, assim como por

força das constrições que a comunidade do leitor impõe ao ato de ler” (p.41).

Uma conceção assente no quadro, anteriormente, descrito implica, necessariamente,

reconhecer as limitações à reconstrução de sentidos impostas pelo próprio texto. Logo, não

devemos concluir “que qualquer interpretação é possível pelo que qualquer leitura dos

alunos seria sempre aceitável. O que é possível é a qualidade da interpretação tal como ela

é permitida pelo texto, pois, nele estão inscritos todos os textos virtuais” (Sousa, 1993, p.

63).

Em jeito de síntese, o leitor literário é aquele que lê um texto literário, cujo papel de

co-construtor de significados textuais reside na sua capacidade de ativar as enciclopédias e

os intertextos pessoais, alicerçados em leituras anteriores, para captar a intencionalidade de

um texto. Assim, para ser vivida em todas as suas dimensões, a fruição literária implica

capacidades variadas do aluno, além de textos e contextos socioculturais que a viabilizem.

Por último, subscrevemos o pensamento de Dionísio (2000), quando esta afirma que

“tornar-se e ser-se leitor não envolve apenas o domínio e mestria de uma técnica,

mas envolve também uma forma de posicionamento face ao escrito e às práticas de

apropriação dos sentidos textuais. Este posicionamento, constitutivo da história pessoal de

cada sujeito, é uma função de um processo social mais vasto que prescreve um conjunto de

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convenções sobre as possibilidades e impossibilidades inerentes às acções individuais e

sociais da leitura“ (p.393).

6. Conclusão

Antes de avançarmos para o capítulo II do nosso estudo, deixamos aqui algumas

considerações sobre o que escrevemos até ao momento.

Assim, condensando a informação reunida ao longo destes pontos, compreende-se

que o trabalho de formação do leitor literário implica o reconhecimento das especificidades

da literatura e da leitura literária.

Como se defendeu a propósito, a escola não deve ignorar as múltiplas possibilidades

de leitura do texto literário. Pelo contrário, devem ser criadas condições para que essa

multiplicidade seja explorada, utilizando para o efeito não só a criatividade do professor,

como também a dos próprios alunos, com o intuito decisivo de formar leitores críticos e

conscientes.

Para o sucesso de tão árdua tarefa, é importante a realização de um trabalho

conjunto, cujo início precoce se deve fazer no seio familiar, através dos pais, e, depois,

prolongar na escola com a participação ativa de todos os envolvidos no processo educativo.

Portanto, é destes a responsabilidade de descobrir novos rumos que façam da leitura um

instrumento de prática social, sem descurar, no entanto, que “recomendar a leitura de livros

é tão importante e tão inútil como recomendar que se beba muita água. É bom leitor quem

transformou o acto de ler numa necessidade e num instinto primários “ (Ceia, 2009, p. 8).

Reconhecer as especificidades implicadas na formação do aluno, enquanto leitor

literário, e, nesse contexto, a importância da fruição, significa atuar de modo compatível

com tal complexidade. Nesse sentido, destacamos a importância de uma abordagem do

texto que realce, por um lado, o estudo dos aspetos literários e, por outro, a análise de

espetos simbólicos, das metáforas, das analogias… Trata-se, pois, de desenvolver uma

leitura que possibilite o estímulo à capacidade interpretativa, uma leitura que vá além do

que é literal, do que está dito superficialmente. Antes, uma leitura que atente ao que está

nas entrelinhas, uma leitura de exploração de toda a riqueza expressiva do texto literário,

numa interação entre o aluno leitor, o texto e o contexto, numa leitura do texto, mas

também do mundo.

Com este entendimento, e corroborando o pensamento de Cosson (2006, p. 29), “se

quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a força humanizadora da literatura,

não basta apenas ler”. Na verdade, o texto literário deve ser amplamente explorado, através

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da criação de espaços para a reflexão que facilitem ao aluno o sentido de si mesmo e a

expansão da visão do mundo.

Conscientes desta realidade, compete-nos, a nós, professores, tanto uma atuação

diferenciada como a criação de condições profícuas de contacto do aluno com a obra

literária, respeitando nesta as suas características essenciais.

Assim,

“se ao estudante de hoje ensinarmos que o texto literário é não só um exercício da

imaginação artística mas também, em muitos casos, uma nova forma de ver o mundo que

pode constituir em si mesma um ensinamento novo, pelo exemplo extraordinário das

personagens ou pela expressão cuidada e original da escrita, então teremos inaugurado uma

nova didáctica”.

(Ceia, 2002, p. 53)

Por fim, reconhecendo que o encontro entre o texto literário e o aluno leitor é sempre

um encontro singular, que envolve emoções, gestos, hábitos e práticas, dependentes do

tempo, do espaço, das idiossincrasias e competências do próprio leitor, importa perguntar:

Quais as perceções dos alunos acerca da leitura literária, em sala de aula? O que

dificulta/facilita, em contexto escolar, a formação de leitores literários?

Partindo desta importância que a literatura tem sobre o Homem e sobre a sociedade, e

no desiderato de compreender as circunstâncias que explicam a relação dos alunos do 3.º

ciclo do ensino básico com a leitura literária, em contexto de sala de aula, foi idealizado

este estudo.

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CAPÍTULO II

O ESTUDO EMPÍRICO

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1. Os objetivos da investigação

"Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo

e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço

e comunicar ou anunciar a novidade".

(Freire, 1996, p.14)

Nos últimos anos, a leitura literária, na escola, dado o reconhecimento da sua

relevância e, em consequência, da sua crescente complexidade, tem sido alvo de aturada

investigação, o que tem gerado uma profusão de apreciações, diretrizes, tendências teóricas

e metodológicas que apontam sentidos nem sempre coincidentes. Efetivamente, os

resultados obtidos mostram, de um modo geral, uma tendência pouco animadora e

facilmente observável no comportamento dos jovens “eternamente plugados pelos fones de

ouvido, trocando incessantemente mensagens nas redes sociais, jogando online em sites

especializados ou entretidos no videogames, navegando de muitas formas na web”

(Cosson, 2014, p. 12) – a literatura parece não ter mais lugar no quotidiano dos jovens,

talvez porque cada vez mais cedo se embrenham em aventuras virtuais em consolas e

plataformas de jogos, estando, por isso, mais habituados a enunciados visuais complexos e

a elaborados enredos virtuais.

A tomada de consciência de que, atualmente, os jovens aparentam não ter

concentração nem disponibilidade para a leitura literária e de que “ ano após ano, os

professores de literatura lamentam a incompetência literária e linguística dos seus alunos”

(Ceia, 1999, p. 51) cedo se transformou em preocupação-magna pessoal e em objeto

principal desta investigação.

Nesta medida, a génese deste estudo centra-se no interesse em compreender o

fenómeno da leitura literária, em ambiente escolar. Deste interesse, emergiram duas

questões centralizantes para esta investigação:

1. Quais as perceções dos alunos acerca da leitura literária, em sala de aula?

2. O que dificulta/facilita, em contexto escolar, a formação de leitores literários?

Desta forma, no sentido de operacionalizar a indagação que se achou na base da

construção deste estudo, definiram-se os seguintes objetivos norteadores:

(i) Problematizar o papel da escola na formação do leitor literário;

(ii) Caracterizar os aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos;

(iii) Caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados

pelos alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares;

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(iv) Identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos,

nomeadamente no que diz respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos

privilegiados.

2. Paradigma de investigação

A pesquisa em educação não pode ignorar os quadros de referência paradigmáticos

que a orientam, visto que estes, segundo Valles (1997) guiam o investigador nos aspetos

ontológicos e epistemológicos da investigação, bem como na seleção dos métodos.

Comummente designados de paradigmas de investigação, estruturam-se na base de um

fundamento epistemológico, “em conceções relativamente estabilizadas sobre o sujeito, o

objeto e as relações entre o sujeito e o objeto do conhecimento” (Sarmento, 2003, p. 141).

A este respeito, Pacheco (1995) afirma que o paradigma da investigação cumpre duas

funções principais: a de unificação de conceitos, de pontos de vista e de pertença a uma

identidade comum às questões teóricas e metodológicas; e a de legitimação entre os

investigadores, dado que um determinado paradigma aponta para critérios de validade e de

interpretação.

Se o paradigma da investigação unifica conceitos e proporciona legitimação à

investigação, cabe ao investigador identificar em que paradigma estará pautada a sua

investigação. Crescentes debates têm acontecido entre dois paradigmas básicos da

investigação: o paradigma quantitativo e o paradigma qualitativo.

Nesta linha de pensamento, para a compreensão dos princípios e postulados que

conformam, dão sentido e rumo às práticas de investigação é fundamental “regressar” ao

tempo das disputas surgidas acerca dos modelos dominantes de compreensão do fenómeno

educativo: O paradigma positivista, também designado por paradigma racionalista, o

paradigma interpretativo, “denominado frequentemente paradigma qualitativo,

hermenêutico, fenomenológico, antropológico ou etnográfico” (Morgado, 2012, p. 41) e o

paradigma crítico.

Sem o propósito de uma descrição detalhada destes modelos, importa, no entanto,

salientar alguns princípios definidores e distintivos entre si.

Por um lado, a abordagem positivista que baseia o conhecimento unicamente nos

factos, regularidades e tendências observáveis, cuja linearidade se traduz em dados

objetivos e quantificáveis, numa lógica dedutiva, a partir de um distanciamento entre

investigador e a realidade estudada, pois, “a única forma válida de desenvolver o

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conhecimento sobre o homem é baseando-se no que pode observar-se ou tornar-se

observável” (Popkewitz, 1988, p. 66).

Por outro, o esquema interpretativo, considerado por Guba (1990, p.17) como “um

conjunto de crenças que orientam a ação”, caracteriza-se por uma preocupação com o

indivíduo e o entendimento do mundo subjetivo da experiência humana (Cohen e Manion,

1994) sendo a compreensão da realidade construída numa lógica indutiva. Assim se

percebe que

“(...) The gendered, multiculturally situated research approaches the world with a set

of ideas, a framework (theory, ontology) that specifies a set of questions (epistemology)

that he or she then examines in specific ways (methodology, analysis) (…) Every

researcher speaks from within a distinct interpretative community that configures, in its

special way, the multicultural, gendered components of the research act”.

(Denzin e Lincoln, 2003, p. 29-30)

Por fim, o paradigma crítico, de índole reflexiva, formado num prisma político e

direcionado para a mudança social, procura a compreensão das alterações sociais a partir

da inter-relação de valor, interesse e ação (Popkewitz, 1988), aliando-se a ideologia e a

autorreflexão crítica aos processos de construção de conhecimentos (Arnal, Del Rincón, &

Latorre, 1996), com o desígnio de se “articular a interpretação empírica dos dados sociais

com os contextos políticos e ideológicos em que se geram as ações sociais” (Sarmento,

2003, p. 143).

Morgado (2012, p. 42-43) sublinha justamente que, não obstante as analogias

concetuais e metodológicas com o paradigma interpretativo, “ os investigadores

‘incorporam’ a dimensão ideológica com o intuito de não se limitarem a descrever e

compreender a realidade mas de intervirem nela e transformá-la, orientando o

conhecimento para a emancipação e libertação de cada indivíduo”.

Face a estes paradigmas contrastantes e na medida em que epistemologia e

metodologia se encontram (não exclusivamente, mas) intimamente relacionadas – os

“puristas” transpõem estas oposições para o campo das metodologias de investigação,

considerando que existe uma incompatibilidade entre metodologias quantitativas - de

pendor epistemológico positivista - e metodologias qualitativas -de pendor epistemológico

interpretativo.

Genericamente, se o paradigma da investigação unifica conceitos e proporciona

legitimação à investigação, cabe ao investigador identificar em que paradigma estará

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pautada a sua investigação. Desta forma, aceitando uma dicotomia entre metodologia

qualitativa e metodologia quantitativa, importa, neste momento, explicitar a perspetiva que

configurou a construção de conhecimentos do presente estudo.

No estudo que aqui se apresenta sobre a leitura literária, em contexto escolar, optou-

se por uma abordagem interpretativa, dentro do paradigma qualitativo da investigação,

visto ser a mais adequada à natureza do tema, aos objetivos, aos instrumentos de

investigação utilizados, às questões de investigação que nos propusemos tratar e por ser

considerada por Afonso como “mais congruente com a agenda contemporânea da

investigação académica em educação” (2005, p. 10).

A orientação qualitativa privilegia, essencialmente, a compreensão dos problemas a

partir da óptica dos sujeitos da investigação. Segundo Bogdan & Biklen (1994), esta

abordagem permite descrever um fenómeno em profundidade através da apreensão de

significados e dos estados subjetivos dos sujeitos, perspetivando a particularização e

compreensão dos sujeitos e dos fenómenos na sua complexidade e singularidade.

Do ponto de vista da investigação qualitativa, procura-se a compreensão das inter-

relações que acontecem na vida real, pretende-se perceber os significados que têm os

factos para aqueles que os experimentam, pois, segundo Stake (1999) a realidade não pode

ser descoberta, mas sim interpretada e construída. Assim se compreende que a lógica da

investigação qualitativa seja a lógica da construção do conhecimento em que os

investigadores

“[…] begin with individuals and set out to understand their interpretations of the

world around them. Theory is emergent and must arise from particular situations; it should

be ‘grounded’ on data generated by the research act. Theory should not precede research

but follow it.[…] The data thus yielded will be glossed with meanings and purposes of

those people who are their source. Further, the theory so generated must make sense to

those to whom it applies”.

(Cohen & Manion, 1994, p. 37)

É nesta linha de pensamento que, Meltzer, Petras & Reynolds, (1975) reconhecem a

perspetiva interpretativa como uma orientação teórica que se apoia em duas grandes

correntes. Por um lado, na fenomenologia, cuja preocupação é perceber o sentido dos

acontecimentos e interações das pessoas ordinárias nas suas situações particulares. Por

outro, no interacionismo simbólico, que tem como principais pressupostos que (i) a

experiência humana é mediada pela interpretação – os objetos, as situações e os

acontecimentos não têm significado em si mesmos, mas este é-lhes atribuído pelas pessoas

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que neles intervêm, (ii) o mesmo é produto da interação social entre os seres humanos e

(iii) é produzido e modificado através de um processo interpretativo que cada pessoa vive

permanentemente ao lidar com os símbolos que vai encontrando no seu quotidiano.

Pressupostos, de resto, corroborados por Merriam (1988), Denzin (1989) e Mertens,

(1998) ao fazerem notar que, de um modo geral, a investigação de tipo interpretativo (i) se

preocupa essencialmente com os processos e as dinâmicas, (ii) mais do que qualquer outra,

depende de forma decisiva do investigador, (iii) procede por indução, reformulando-se os

seus objetivos, problemáticas e instrumentos no curso do seu desenvolvimento e (iv) se

baseia em thick description, que vai além dos factos e das aparências, apresentando com

grande riqueza de pormenor o contexto, as emoções e as interações sociais que ligam os

diversos participantes entre si.

Nesta ordem de ideias, “the interpretivist tries to show how choices are made by

participants or ‘actors’ in social situations within the process of interaction. For the

interpretivist there is no one objective reality that exists outside the actor’s explanations,

just different versions of events” (Burton & Bartlett, 2005, p. 22).

Reportando-se ao paradigma qualitativo, Bogdan & Biklen (1994) afirmam que este

tem na sua génese cinco características: (1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural e

o investigador é o principal agente na recolha dos mesmos; (2) os dados que o investigador

recolhe são essencialmente de caráter descritivo; (3) os investigadores que utilizam

metodologias qualitativas interessam-se mais pelo processo em si do que pelo produto; (4)

a análise de dados é feita de forma indutiva; e (5) o investigador procura descobrir e

compreender os significados que têm os factos para aqueles que os experimentam.

Partindo da ideia de que a tarefa primordial do investigador é a interpretação, os

mesmos autores enfatizam que este precisa de compreender o pensamento subjetivo dos

participantes nos seus estudos, defendendo, todavia, que o mesmo não pode prescindir de

analisar os dados usando também o seu ponto de vista.

Segundo Bryman (1988), uma das características fundamentais da investigação

qualitativa reside no compromisso de ver os eventos, ações, normas, valores… partindo da

perspetiva do indivíduo que está a ser estudado.

Nesta ordem de ideias, investigar implica a interpretação “de ações de quem é

também intérprete” (Coutinho, 2011, p. 17), envolvendo, como tal, interpretações de

interpretações. De facto, “the researcher seeks to understand and to portray the

participants’ perceptions and understandings of the particular situation or event” (Burton &

Bartlett, 2005, p. 22).

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Merriam (1988) complementa que os intervenientes da investigação não são

circunscritos a variáveis isoladas, mas imbuídos no seu contexto natural, visto que “o

investigador qualitativo é capaz de captar diretamente a experiência vivida” (Denzin &

Lincoln, 1994, p.11).

Assim, o processo de investigação qualitativa é o percurso do campo ao texto e do

texto ao leitor. Esta via estabelece um processo reflexivo e complexo. O investigador faz a

pesquisa no terreno, para obter informação, orientando-se por duas convicções básicas: a

científica que define e descreve a natureza da realidade social, e a epistemológica que

determina e norteia o modo de absorver e percepcionar a realidade (Denzin, 1994).

Em jeito de conclusão, “a investigação qualitativa é uma perspetiva multimetódica

que envolve uma abordagem interpretativa e naturalista do sujeito de análise ” (Denzin &

Lincoln, 1994, p. 2) e, “ao contrário da investigação quantitativa, os métodos qualitativos

encaram a interação do investigador com o campo e os seus membros como parte explícita

da produção do saber, em lugar de a excluírem a todo o custo, como variável interveniente.

A subjetividade do investigador e dos sujeitos estudados faz parte do processo de

investigação” (Flick, 2005, p. 6). Apesar disso, procura-se, em investigação qualitativa,

não deixar ir demasiado longe a subjetividade desse envolvimento para não enviesar o

conhecimento e a interpretação da realidade.

Em suma, uma das perspetivas teóricas que inspira a investigação qualitativa é a

interpretativa cujo pensamento fulcral é o de que a ação humana é substancialmente uma

experiência social em que cada um vai constantemente produzindo significado.

Com base nos pressupostos até aqui enunciados, importa reafirmar que o estudo que

realizamos sobre a leitura literária, em ambiente escolar, segue uma posição

epistemológica de natureza qualitativa, uma vez que assenta na compreensão das perceções

de um grupo de alunos acerca da leitura literária, em sala de aula, focalizando-se nas suas

perspetivas e pontos de vista.

3. Uma estratégia metodológica: o estudo de caso

Sendo a informação qualitativa a essência da investigação interpretativa (Radnor,

2002), o estudo de caso é uma estratégia metodológica frequentemente eleita pelos estudos

de natureza qualitativa (Hamel, Dufour & Fortin, 1993; Stake, 2000; Radnor, 2002;

Léssard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005; Creswell, 2007 e 2009). Para estes autores, o

estudo de caso consiste num exame detalhado de uma situação, sujeito ou

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acontecimento.Faz todo o sentido reiterar que o estudo de caso “is not a methodology as

such but a research strategy where the researcher aims to study one case in depth” (Burton

& Bartlett, 2005, p. 85).

Assim, no campo da investigação educativa, tem-se tornado cada vez mais comum o

estudo de caso de natureza qualitativa (Hamel, Dufour & Fortin, 1993; Stake, 2000;

Radnor, 2002; Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005; Creswell, 2007 e 2009).

Idêntica a opinião de Pérez Serrano (1998) para quem o uso recorrente deste método

se deve às inúmeras possibilidades de estudo, compreensão e melhoria social e profissional

que o mesmo pode oferecer.

Neste sentido, o estudo de caso rege-se dentro da lógica que guia as sucessivas

etapas de recolha, análise e interpretação da informação dos métodos qualitativos, com a

particularidade de que o propósito da investigação é o estudo intensivo de um caso

(Latorre, Del Rincón & Arnal, 1996). Por outras palavras, como estratégia de investigação,

o estudo de caso procura compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos

complexos, nos quais estão concomitantemente envolvidos diversos factores.

Segundo Coutinho (2002), quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um

personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma

nação.

De facto, apresentado por Bassey (1999) como uma estratégia de eleição para

desenvolver teoria educacional que aclare a política e prática educativas, o estudo de caso

reveste-se de um conjunto de características que permitem inseri-lo num paradigma

qualitativo e interpretativo, que se aplicam a este estudo, e que compreendem o seguinte:

“An educational case study is an empirical enquiry which is:

- conducted within a localized boundary of space and time (i.e. a

singularity);

- into interesting aspects of an educational activity (…);

- mainly in its natural context and within an ethic of respect for persons;

- in order to inform the judgements and decisions of practitioners or policy-

makers;

- or of theoreticians who are working to these ends;

- in such a way that sufficient data are collected for the researcher to be

able:

a) to explore significant features of the case,

b) to create plausible interpretations of what is found,

c) to test for the trustworthiness of these interpretations,

d) to construct a worthwhile argument or story,

e) to relate the argument or story to any relevant research in literature,

f) to convey convincingly to an audience this argument or story,

g) to provide an audit trail by which other researchers may validate or challenge the

findings, or construct alternative arguments”.

(Ibidem, p. 58)

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Na mesma linha de pensamento, Bogdan & Biklen, baseados nos estudos de Merriam

(1988), referem-no como uma “observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de

uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico” (2007, p. 59). Desta

forma, o estudo de caso reúne um conjunto de vantagens que o tornam atrativo para o

estudo que se pretende desenvolver, uma vez que, como estratégia metodológica, contribui

fortemente para o “nosso conhecimento dos fenômenos individuais, grupais,

organizacionais, sociais, políticos e relacionados” (Yin, 2010, p. 24).

Para caracterizar o estudo de caso, Benbasat, Goldstein & Mead. (1987) consideram

que este deve possuir as seguintes particularidades: (i) fenómeno observado no seu

ambiente natural; (ii) dados recolhidos utilizando diversos meios (entrevistas,

questionários, registos áudio e vídeo, entre outros); (iii) uma ou mais entidades (pessoa,

grupo, organização) são analisadas; (iv) a complexidade da unidade é estudada

aprofundadamente; (v) pesquisa dirigida aos estágios de exploração, classificação e

desenvolvimento de hipóteses do processo de construção do conhecimento; (vi) não são

utilizadas formas experimentais de controlo ou manipulação; (vii) o investigador não

precisa especificar antecipadamente o conjunto de variáveis dependentes e independentes;

(viii) os resultados dependem fortemente do poder de integração do investigador; (ix)

podem ser feitas mudanças na selecção do caso ou dos métodos de recolha de dados à

medida que o investigador desenvolve novas hipótese; (x) pesquisa desenvolvida com

questões “como?” e “porquê?” ao contrário de “o quê?” e “quantos?”.

No mesmo sentido se pronuncia Coutinho (2011, p. 294) que as sintetiza em cinco:

1) o “caso é ‘um sistema limitado’ – logo tem fronteiras ‘em termos de tempo, eventos ou

processos’ e que ‘nem sempre são claras e precisas’”; 2) “é um caso sobre ‘algo’, que há

que identificar para conferir foco e direção à investigação”; 3) é holístico, ou seja, “tem de

haver sempre a preocupação de preservar o carácter ‘único, específico, diferente, complexo

do caso’ ”; 4) “a investigação decorre em ambiente natural”; e 5) “o investigador recorre a

fontes múltiplas de dados e a métodos de recolha muito diversificados […]”. Logo,

segundo a autora, estamos perante “uma investigação empírica […] que se baseia no

raciocínio indutivo […]; que depende fortemente do trabalho de campo […]; que não é

experimental […]; que se baseia em fontes de dados múltiplas e variadas” (op. cit.), sendo

que foi este, no nosso entender, o conjunto de características que vestiu o estudo

implementado no âmbito desta investigação.

Não obstante a essência qualitativa do estudo de caso, não significa que este não

possa contemplar uma perspetiva quantitativa sempre que esta se mostre pertinente à

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compreensão da informação reunida. Para Stake (1999), a distinção de métodos

quantitativos e qualitativos é uma questão de ênfase, já que a realidade é uma mescla de

ambos.

Em idêntica linha de pensamento, Cupchick (2001) evidencia que os defensores

destas abordagens partilham o facto de ambas tratarem fenómenos reais, com processos

sociais, e as duas terem de atribuir sentido aos seus dados. Este autor considera, ainda, que

as duas correntes estão inter-relacionadas, concorrendo a pesquisa quantitativa para o

reconhecimento de processos relevantes, e conferindo à investigação qualitativa a base da

sua descrição. De facto, no estudo aqui apresentado, a análise quantitativa foi mobilizada,

pontualmente, no tratamento analítico do questionário, uma vez que “se é verdade que na

investigação educativa em geral abundam mais os estudos de caso de natureza

interpretativa/qualitativa, não menos verdade é admitir que, estudos de caso existem em

que se combinam com toda a legitimidade métodos quantitativos e qualitativos” (Coutinho

& Chaves, 2002, p. 225).

A propósito da comensurabilidade dos paradigmas, Lincoln & Guba (2003) afirmam:

“(...) Are paradigms commensurable? It is possible to lend elements of one

paradigm into another, so that one is engaging in research that represents the best of both

worldviews? The answer, from our perspective, has to be a caution yes. This is specially so

if the models (paradigms) share axiomatic elements that are similar, or that resonate

strongly between them. So, for instance, positivism and pospositivism are clearly

commensurable. In the same vein, elements of interpretivist/postmodern critical theory,

constructivist and participative inquiry fit comfortably together” (p.67).

Em face dos aspetos referidos, conclui-se que a utilização de dados qualitativos e

quantitativos, na mesma investigação, conflui para o reconhecimento destas metodologias

como complementares ao invés de opostas ou rivais. Como tal, a análise quantitativa aqui

concretizada foi um ponto de partida para a descrição do modo como um grupo de alunos

perceciona, define, estuda, interpreta, o texto literário, em sala de aula. Logo, atribuiu-se

maior prioridade à exploração dos dados e menos à sua mensuração.

A pluralidade de características que compõem o estudo de caso leva a algumas

tipificações e classificações. Uma análise das conceções de autores como Bogdan & Biklen

(2007), Gomez, Flores & Jiménez (1996), Stake (2000) e Yin ([2005] 2010) indica que têm

subjacente às mesmas diferentes categorizações “baseadas quer no estudo, quer na

especificidade da situação/temática/grupo a investigar, quer ainda nos procedimentos

metodológicos que adotam” (Morgado, 2012, p. 65).

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Bogdan & Biklen (2007) e Yin ([2005] 2010)por exemplo, classificam os estudos de

caso recorrendo ao número de casos em estudo. Estes autores falam em estudo de caso

único e estudo de caso múltiplo ou comparativo. No primeiro o investigador estuda uma

realidade, um ambiente, enfim um caso, já no segundo, abrange mais do que um caso.

Sobre o estudo de caso comparativo, Bogdan & Biklen (2007) referem que, não

obstante a multiplicidade de casos em estudo, o seu propósito é serem, posteriormente,

comparados e contrastados.

Associada aos objetivos e à natureza das informações emerge a classificação, de

acordo com Yin ([2005] 2010)de estudos de caso como: exploratórios, descritivos,

explicativos e avaliativos.

Segundo o autor, um estudo de caso é: (i) exploratório quando se conhece muito

pouco da realidade em estudo e os dados se dirigem ao esclarecimento e delimitação dos

problemas ou fenómenos da realidade. Isto é, são um prelúdio para uma investigação

subsequente, visto que procuram proposições relevantes para orientar estudos posteriores;

(ii) descritivo quando representa a descrição completa de um fenómeno inserido no seu

contexto natural; (iii) explicativo quando os dados determinam relações de causa e efeito

em situações reais, ou seja, procuram a causa que melhor explica o fenómeno estudado e

todas as suas relações causais; (iv) avaliativo quando produz descrição densa, esclarece

significados e produz juízos preponderantes para o ato da avaliação.

Neste campo, comparando os tipos descritos pelos autores destacados, observamos

que o estudo que aqui se retrata sobre a leitura literária, em contexto escolar – é um estudo

de caso único (Yin ([2005] 2010); Bogdan & Biklen, 2007), uma vez que incidiu sobre

uma realidade particular e circunscrita – um grupo de 43 alunos do ensino básico.

Atendendo aos objetivos – (i) problematizar o papel da escola, na formação do leitor

literário; (ii) caracterizar os aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos; (iii)

caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos

alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares; (iv) identificar algumas

dimensões das práticas de leitura dos alunos nomeadamente, no que diz respeito aos seus

objetivos, frequência e contextos privilegiados - e à natureza das informações do mesmo, é

exploratório Yin ([2005] 2010), motivado pelo seu carácter propulsor de proposições

relevantes suscetíveis à concetualização de design de estudos posteriores.

Á luz dos preceitos anteriormente apresentados, resta-nos, em suma, reforçar que a

opção pela abordagem metodológica do estudo de caso se centra, sobretudo, numa dupla

perspetiva: (1) permitir uma interpretação da realidade estudada centrada na compreensão

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de significados e perspetivas dos participantes, numa lógica ecológica, indutiva e

inferencial; (2) possibilitar, dada a sua natureza descritiva e analítica, o questionamento e a

confrontação com casos e teorias pré-existentes, potenciando, deste modo, o emergir de

novas perspetivas e teorias (Yin ([2005] 2010); Guba & Lincoln, 1994; Ponte, 1994;

Merriam, 1988).

3.1 O contexto do caso em estudo

“A investigação em educação é essencial para o desenvolvimento e aperfeiçoamento

contínuos da prática educativa” (Borg & Gall, 1989, p 4), razão pela qual se fez este

estudo em contexto real, auscultando alunos do Ensino Básico, oriundos de uma escola

pública do distrito do Porto.

Um dos aspetos mais importantes numa investigação de essência qualitativa é,

segundo Kincheloe (2003), a sua preocupação com o contexto. Com efeito, o contexto

assume, na tendência investigativa atual, uma relevância assinalável para a compreensão

dos fenómenos em estudo, visto que um caso constitui uma entidade bem definida,

necessariamente inserida num certo contexto.

Desta forma, Bryman (1998) afirma que, no âmbito da investigação qualitativa, a

mensagem que os investigadores transmitem é que qualquer que seja a esfera em que se

recolha a informação, só se pode compreender os eventos quando os mesmos estão

situados num contexto social e histórico mais amplo.

Não obstante a notoriedade que o contexto assume para a investigação qualitativa,

alguns autores postulam que a sua relevância depende do tipo de caso a estudar.

Yin ([2005] 2010)parece atribuir mais ênfase ao contexto no estudo de caso

descritivo, uma vez que este apresenta uma descrição exaustiva de um fenómeno dentro do

respetivo contexto.

Por sua vez, Stake (2000) defende que a atenção que se deve dar ao contexto deve ser

tanto maior, quanto mais intrínseco for o caso. Contudo, quando se trata de um estudo de

caso instrumental, como o que aqui se mostra, alguns contextos podem ser importantes,

mas em muitas situações perdem relevância, visto que, como refere Yacuzzi, em relação ao

estudo de caso (…) “em que não apenas se estuda um fenómeno, mas também o seu

contexto. Isto implica a presença de tantas variáveis que o número de casos necessários

para as tratar estatisticamente seria impossível de estudar” (2005, p. 9).

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3.2 A escola: caracterização física e humana

A escola onde se desenvolveu o presente estudo situa-se no distrito do Porto e é sede

de um Agrupamento de Escolas público, constituído por uma escola secundária, uma

escola dos 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico, cinco escolas do 1.º ciclo do Ensino Básico e

seis Jardins de Infância.

Inaugurada em 1918, teve, ao longo dos anos, várias designações e ministrou cursos

diversos até se instalar no atual edifício. A escola encontra-se implementada numa zona

residencial, transformada por um latente aumento demográfico, em resultado das soluções

habitacionais que, progressivamente, destituíram o ambiente rural que outrora a

caracterizou. É de salientar que esta instituição se destina a uma população de mil

quatrocentos e sessenta e oito alunos, distribuídos pelos 3.º ciclo do Ensino Básico e

Ensino Secundário, integrando ainda alunos dos Cursos de Formação de Adultos, do

Ensino profissional, do Percurso Curricular Alternativo e do Ensino Secundário

Recorrente. Da moldura humana da escola fazem, igualmente, parte cento e trinta e oito

professores, na sua generalidade efetivos, e cento e sete elementos do pessoal não docente,

dos quais oitenta e oito são assistentes operacionais, dezanove assistentes técnicos e um

técnico superior.

No que diz respeito às infraestruturas que servem esta comunidade, deve salientar-se

o bom estado de conservação com o qual se apresentam, fruto da intervenção sofrida nos

anos letivos de 2009/2010 a 2011/2012 pela empresa Parque Escolar. Esta não só permitiu

a remodelação dos blocos já edificados, como também a construção de mais um bloco, de

um campo de jogos coberto e de um novo parque oficinal. Assim, para além das 46 salas

de aulas normais, que se acham distribuídas por dois blocos com três pisos cada, a escola

está equipada, para além das áreas destinados à gestão e administração, com os seguintes

espaços: dois laboratórios de Química, quatro laboratórios de Polivalentes, dois

laboratórios de Física, dois laboratórios de Biologia/Geologia, quatros alas de Informática,

um estúdio multimédia, um estúdio de fotografia, três salas de Desenho, uma oficina de

Eletrotecnia, um laboratório de Eletrónica, uma oficina de Mecanotecnia, um laboratório

de Frio, uma oficina de Construção Civil, duas oficinas de carpintaria, um pavilhão

gimnodesportivo, um ginásio, um espaço exterior coberto, uma sala de estudo, três salas de

trabalho para os Departamentos, um centro de recursos, uma biblioteca, uma sala de

reuniões, um auditório, uma sala de diretores de turma, doze gabinetes de trabalho, um

refeitório/bar, uma sala de professores e uma reprografia/papelaria.

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Um ensino solidário e qualificado para uma aprendizagem efetiva e universal na

consolidação de uma escola pública de referência parece ser a premissa sobre a qual se

desenha o Projeto Educativo desta instituição de ensino, que estabelece como principais

metas, o aumento do sucesso escolar, a melhoria da qualidade do processo de ensino e

aprendizagem, a promoção de formação profissional do corpo docente e não docente, o

fomento de uma participação ativa dos Encarregados de Educação na Escola e a

sensibilização para a adoção de hábitos saudáveis junto da comunidade escolar.

3.3 Os alunos do estudo

Neste tipo de estratégia metodológica, como é o estudo de caso, não se privilegia

uma amostragem aleatória e numerosa, mas sim criteriosa ou intencional.

Seguindo esta linha de raciocínio, para a seleção da escola presidiu um critério bem

definido – área geográfica, considerando-se aqui o distrito do Porto. Para a escolha das

turmas e, naturalmente, dos sujeitos que as integram, foi considerado como requisito o

nível de escolaridade: 7.º e 9.º anos de escolaridade por representarem, respetivamente, (i)

a etapa inicial do 3.º ciclo, onde a preocupação maior com o texto literário se centra na

perceção e na decifração, ou num conjunto de operações cognitivas de menor

complexidade e (ii) a fase final do ciclo, onde os alunos têm uma grande caminhada pelas

veredas da Literatura Portuguesa, tendo já trilhado um percurso pela leitura literária

considerável, o que poderá significar que haja, pelo menos do ponto de vista probabilístico,

maiores condições para que tenham desenvolvido, concomitantemente, as suas capacidades

leitoras e o seu conhecimento e perceção do texto literário.

Apraz referir que pelo facto de estarmos interessados em analisar este grupo de

alunos na sua globalidade, não se analisaram os dados em função de variáveis

demográficas, como a idade ou o género.

Assim, a amostra é composta por quarenta e três alunos. Destes, vinte e três

frequentam o 7.º ano e vinte o 9.º ano de escolaridade. É de salientar que entre os alunos

que compõem a amostra do 7.º ano, seis são elementos do sexo feminino e dezassete do

sexo masculino.

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Por sua vez, a do nono ano divide-se equitativamente – dez do género feminino e dez

do masculino.

7.º Ano 9.º Ano

Rapazes 6 10

Raparigas 17 10

Total 23 20

Quadro 1. Distribuição dos sujeitos da amostra por género

Os sujeitos do 7.º ano que constituem esta amostra tinham, no momento da

inquirição, uma idade média de 12,4 anos e os do 9.º ano uma média de 14,6 anos.

Idade dos alunos 7.º Ano 9.º Ano

12 14 0

13 8 0

14 1 9

15 0 11

Quadro 2. Idade dos inquiridos do estudo

Todos os inquiridos frequentam pela primeira vez o ano de escolaridade em que se

encontram matriculados.

4. Estratégias e instrumentos de recolha de informação

A literatura sugere-nos que o paradigma e as questões de investigação frequentemente

definem a natureza metodológica apropriada para um estudo (Newman & Benz, 1998; Stake,

1995). E, nesta lógica, acentua Morgado que “as técnicas e os instrumentos de recolha de dados

utilizados são elementos essenciais, uma vez que deles dependem, em grande parte, a qualidade e o

êxito da investigação” (2012, p. 71). Desta forma, ao principiar esta etapa da investigação, “o

investigador deve ter uma ideia bem definida das questões orientadoras da investigação e dos

procedimentos de recolha de dados que pode utilizar para responder a essas questões” (Erickson

1989, cit in Morgado, 2012, p. 71).

Com efeito, parece consensual que devem ser o caso e o seu contexto, bem como as

proposições e respetivas questões orientadores a indicar ao investigador as melhores técnicas e

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instrumentos a utilizar bem como a informação a recolher. Seguindo esta linha de raciocínio,

conclui-se que determinações sobre as técnicas e instrumentos de recolha de dados não são

decisões autónomas e independentes. Mas, pelo contrário, dependem da forma como se concebe a

própria investigação e das características que esta apresenta, visto que só a visão global do estudo

permite determinar o que será mais adequado e o que será capaz de fornecer informação suficiente

e pertinente.

Em virtude do cariz naturalista desta investigação, e perfilhando o pensamento de

Hammersley e Gomm (2000) de que a abordagem metodológica do estudo de caso dá

ênfase à informação de cariz qualitativo, neste estudo congregaram-se algumas estratégias

e instrumentos metodológicos de recolha de informação de tradição, maioritariamente,

qualitativa. No entanto, convém reiterar, com Santos (1999), que a maior diversidade e

integração de métodos produz uma maior confiança nos resultados, pelo que se recorreu,

ainda que pontualmente, a procedimentos de análise quantitativa, na análise dos dados do

inquérito por questionário, pois pensamos com Fielding & Schreier (2001) que “(...)

interrelating data from different sources is to accept a relativistic epistemology, one that

justifies the value of knowledge from many sources, rather than to elevate one source of

knowledge (or more accurately, perhaps, to regard one knowledge source as less imperfect

than the rest) (p. 50).

Em suma, no desenho desta investigação, incluiu-se uma fonte de dados, um grupo

de 43 alunos, a frequentar o 3.º ciclo do Ensino Básico de uma escola pública do distrito

do Porto, e dois tipos de abordagem: a qualitativa e a quantitativa (utilizada como um dos

pontos de partida para a análise qualitativa). Como técnica e instrumentos de recolha de

dados, a nossa preferência incidiu sobre o inquérito por questionário e o inquérito por

entrevista, sobre os quais nos debruçaremos pormenorizadamente mais adiante.

4.1 Condições de recolha de dados

Após autorização prévia da Direção da escola e dos Encarregados de Educação dos alunos

colaborantes, formalizada pela assinatura de um “informed consent form” (Creswell, 2009, p. 89),

no qual constava, entre outros, o compromisso de utilizar as informações recolhidas

exclusivamente para fins investigativos e o de assegurar a confidencialidade sobre a identidade da

escola e dos participantes (v. anexos 1 e 2), procedeu-se à recolha de informação. Importa referir,

antes de se aludir à descrição dos instrumentos eleitos para o efeito, que este processo decorreu ao

longo do ano civil de 2015 e envolveu diferentes fases e momentos que se sistematizam no

Quadro 4.

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4.2 O inquérito

Coutinho (2011), inspirada nos estudos de Wiersma, (1995, [1969]) e Ghiglione & Matalon,

(1997, [1977]) define inquérito (questioning) como uma processo que visa a consecução de

respostas expressas pelos intervenientes no estudo. Este método consubstancia a técnica de

inquérito por questionário e a técnica de inquérito por entrevista, (Eisman, 1992b; Tashakkori &

Teddlie, 1998), caracterizadas essencialmente pelo tipo de instrumento que lhes é adjacente,

questionário (questionnaire) e guião de entrevista (interview guide), respetivamente (Tashakkori &

Teddlie, 1998).

Tuckman (2000) sublinha, justamente, que esta é uma das técnicas mais utilizadas, uma vez

que possibilita a obtenção de informação, sobre determinado fenómeno, através da formulação de

questões que refletem atitudes, opiniões, perceções, interesses e comportamentos de um conjunto

de indivíduos.

Em face dos aspetos referidos, deu-se preferência ao inquérito por questionário e ao

inquérito por entrevista (semiestruturada/semidiretiva) no âmbito da implementação do estudo

empírico, justamente porque “se pretendemos uma recolha direta de informação factual relacionada

com o background dos sujeitos, indicadores da classe social, preferências, etc, a técnica será

“perguntar” aos sujeitos seja através de um questionário escrito ou durante uma entrevista”

(Coutinho, 2011, p. 108).

4.2.1 O inquérito por questionário

Embora o inquérito por questionário não seja uma das técnicas mais representativas

na investigação qualitativa, vários autores argúem a favor da sua adoção por considerarem

que esta pode, de facto, prestar uma grande serviço à investigação qualitativa.

Por um lado, o questionário é um instrumento fácil, rápido e pouco dispendioso de

recolha de informação sobre um vasto número de pessoas, por outro, possibilita o

anonimato dos inquiridos, o que se traduz em maior honestidade nas respostas (Brown &

Dowling, 1998, Frazer e Lawley, 2000). Também, “a natureza dominantemente

quantitativa do inquérito por questionário e “a sua capacidade de «objetivar» informação “

conferem-lhe um certo “estatuto de excelência e autoridade científica” (Ferreira, 1999, p.

67 cit in Morgado (2012, p. 80).

Aliás, Quivy e Campenhoudt (1998) consideram-na a mais adequada para “o

conhecimento de uma população enquanto tal – as suas condições de vida, os seus

comportamentos, os seus valores ou as suas opiniões” (p.189). Acresce, ainda, o facto de,

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em consonância com o que defendem Ghiglione & Matalon (1997), este método permitir a

realização de um estudo mais profundo, através da colocação de “um maior número de

questões”, permitindo, assim, “descrever de forma mais perspicaz as opiniões e os

comportamentos que procuramos estudar” (p. 16).

De acordo com Tuckman (2000), um dos processos mais diretos para ter informação

sobre determinado fenómeno reside em formular questões às pessoas que, de alguma

forma, estão envolvidas ou relacionadas com o fenómeno. Porém, o processo de

formulação das mesmas não é óbvio e deve ser claramente estruturado pelo investigador.

De facto, Martins (2006), citado por Morgado (2012), alerta para esta problemática,

aconselhando a que estas sejam “claras, precisas e compreensíveis para os respondentes,

devendo, por isso, ser redigidas numa linguagem adequada às características dos inquiridos

e não devem ser formuladas de modo a induzir as respostas ou a causar desconforto aos

inquiridos” (op. cit., p. 82). Por conseguinte, ao elaborar-se o questionário, devem ser

prestados especiais cuidados à sua conceção, dando particular atenção (i)ao número de

perguntas; (ii) ao tipo de resposta a solicitar; (iii) ao layout e (iv) à aparência geral do

formulário (Eisman,1992b; Ghiglione & Matalon, 1997,[1977]).

Com estes pressupostos em mente, foi construído o questionário cuja finalidade

consistiu em reunir informação que permitisse: a) problematizar o papel da escola na

formação do leitor literário; b) caracterizar os aspetos da didática da leitura valorizados

pelos alunos; c) caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura literária

experiência dos pelos alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares e d)

identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos, nomeadamente,

no que diz respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos privilegiados.

Antes de se apresentar a forma como este instrumento foi criado, impõe-se uma

alusão às diversas etapas que presidiram à sua elaboração.

Assim, numa fase preparatória procedeu-se à revisão da literatura específica para a

obtenção de um manancial teórico que fundamentasse a sua construção e,

consequentemente, conferisse validade ao seu conteúdo.

Posteriormente, numa segunda fase, e tendo por base os postulados nos corpora da

especialidade, elaboraram-se os itens, sempre com a preocupação que estes retratassem as

dimensões a estudar pensadas por nós a priori, na medida em que um instrumento só é

considerado válido, quando mede o que visa medir (Hill & Hill, 2002; Tuckmam, 2000).

Nesta sequência, submeteu-se o questionário, após a sua construção, a uma consulta –

acordo de juízes – a uma investigadora especialista na área de conhecimento em que se

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inscreve o presente estudo. Importa referir que ouvida “a opinião de experts sobre a

qualidade do instrumento para medir o construto desejado, porque o autor está demasiado

próximo para evitar o óbvio” (Coutinho, 2011, p. 127)., se avançou para a sua

reestruturação.

Findo este passo, e no desiderato de averiguar aspetos da sua elaboração intrínseca,

da sua clareza, da sua aplicabilidade e da sua adequação, isto é, “possíveis falhas ou

inconsistências” (Morgado, 2012, p. 85) que levassem a um enviesamento do estudo

empírico, prosseguiu-se para um processo de pilotagem do questionário, porquanto

“however careful the design of the study, however many controls and however well

designed the data collection devices and procedures, the real world can still conspire to

thwart the evaluator” (Alderson & Beretta, 1992, p. 99).

Neste sentido, solicitou-se a “um conjunto de indivíduos com características

idênticas aos da amostra a estudar” (Morgado, 2012, p. 85) e, por conveniência de

proximidade e de disponibilidade, dentro do mesmo contexto estudado, que o respondesse

e indicasse os aspetos menos explícitos. Desta forma, selecionou-se uma amostra

constituída por: (i) três alunos do sétimo ano de escolaridade (ii) dois alunos do oitavo ano

de escolaridade e (iii) três alunos do nono ano de escolaridade.

Na sequência das observações apresentadas e tendo presente as alterações sugeridas,

designadamente a simplificação da linguagem utilizada na versão original, realizou-se a

redação definitiva do questionário (Anexo 3).

Por se tratar de um questionário aplicado em meio escolar, houve o cuidado de se

formalizar um pedido de autorização de aplicação junto do Gabinete de Estatística e

Planeamento da Educação (GEPE) do Ministério da Educação. Após ter sido submetido a

análise por parte desta entidade e respeitados os conselhos para a proteção da identidade

dos sujeitos participantes (eliminação de dois itens do questionário: grau de instrução dos

pais ou Encarregado de Educação e ocupação ou profissão mais recente dos pais ou

Encarregado de Educação), foi aprovado e autorizado pelos Serviços de Inovação Escolar,

tendo ficado registado com o número 0493000002 (Anexo 4).

Ultrapassadas as fragilidades, aplicou-se o questionário, no final do segundo

semestre do ano letivo 2014/2015, na sala de aula das disciplinas de Educação Visual (7.º

ano) e de Formação Cívica (9.º ano) com o consentimento informado das docentes. O

questionário foi respondido individualmente no espaço de tempo de aula concedido pelas

professoras. Este processo foi antecedido por uma renovada explanação “sobre a

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problemática em análise e os objetivos que” se pretendiam “concretizar” (Morgado, 2012,

p. 80).

Neste momento do texto, é importante sublinhar que os itens que compõem este

instrumento, vinte questões fechadas, cumpriram objetivos distintos sob o ponto de vista da

informação a recolher e cobriram três áreas da recolha de informação: (1) coleta de dados

sobre o conhecimento dos alunos; (2) obtenção de dados sobre os seus valores ou as suas

preferências e; (3) recolha de dados sobre as suas atitudes e convicções (Afonso, 2005).

Observemos de seguida os objetivos de cada item.

Questões 1 a 4:

(i) Recolher informação necessária à caracterização biográfica e escolar dos

sujeitos: idade, sexo, ano de escolaridade e número de matrículas efetuadas no

mesmo.

Questão 6:

(i) Recolher informação sobre as atividades entre o grupo de amigos ligados à

leitura;

(ii) Identificar o papel dos pares na formação de atitudes e comportamentos

relacionados com a leitura.

Questões 7 e 8:

(i) Obter informação para identificar atitudes perante a leitura e comportamentos dos

familiares diretos relacionados com o gosto pela leitura;

(ii) Identificar atitudes perante a leitura e comportamentos de leitura dos familiares

diretos, ou com ela relacionados.

Questões 5, 9, 10 e 11

(i) Obter informação sobre a prática da leitura extraescolar;

(ii) Identificar hábitos de leitura, frequência e tipo de obras /preferências;

(iii) Caracterizar o tipo de leitor e grau de apetência pela leitura.

Questão 12

(i) Obter informação sobre perceções/convicções sobre o papel da leitura;

(ii) Identificar motivações fundamentais para a prática de leitura.

Questão 13

(i) Colher informação sobre a prática da leitura – intensidade do gosto de ler -

autoavaliação de leitor.

Questão 14

(i) Obter dados para aprofundar motivos que levam os alunos a ler;

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(ii) Identificar motivações fundamentais para a prática de leitura.

Questão 15

(i) Recolher elementos para identificar motivos que levam os alunos a não gostar ou a

gostar pouco de ler.

Questão 16

(i) Obter dados para identificar convicções/perceções dos alunos sobre o texto literário;

(ii) Analisar representações dos alunos sobre o que define um texto como literário.

Questão 17

(i) Recolher informação que permita identificar métodos de estudo do texto literário

privilegiados pelos alunos, em sala de aula;

(ii) Analisar a influência dos professores na sedimentação de hábitos de leitura.

Questão 18

5. Obter dados para identificar procedimentos ligados ao ato de ler um texto literário, na aula;

6. Identificar modos de ler o texto literário e hábitos de leitura.

Questão 19

(i) Recolher informação que identifique características da especificidade do texto literário

privilegiadas pelos alunos conducentes à leitura;

(ii) Analisar pontos de atratividade da e para a leitura.

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Questão 20

(i) Recolher informação para identificar explicações exógenas para

convicções/comportamentos/interesses/atitudes/preferências de prática de leitura,

em contexto escolar;

(ii) Identificar/analisara influência dos professores na sedimentação de hábitos de leitura

literária.

A análise das informações prestadas foi baseada em procedimentos de estatística

descritiva simples e de análise de conteúdo a que nos reportaremos mais adiante.

4.2.2 O inquérito por entrevista

Entre as técnicas de recolha de informação, disponíveis em metodologia qualitativa, a

entrevista é uma das mais utilizadas, desempenhando um papel importante na atividade científica e,

em particular, na pesquisa em educação (Lüdke & André, 1986).

Sendo a entrevista “uma conversa entre duas pessoas” (Bisquerra, 1989, p. 103), possibilita

ao investigador reunir informação nas palavras próprias dos sujeitos de modo a que se possa

percecionar a forma como estes interpretam o mundo que os circunda (Bogdan & Biklen, 2007).

Trata-se, pois, de “uma das formas mais comuns e poderosas de tentar compreender outros seres

humanos” (Fontana & Frey, 1994, p. 361). Desta forma, a entrevista releva-se uma excelente

técnica para captar a diversidade de descrições e interpretações que as pessoas têm sobre a

realidade, tornando-se o investigador qualitativo um instrumento adequado para captar essas

realidades múltiplas (Stake, 1999). Neste sentido, Yin elege-a como uma das fontes de informação

mais importantes e essenciais, no estudo de caso Yin ([2005] 2010)

Também Gaskell (2002), que autentica a relevância das entrevistas para a compreensão de

contextos sociais específicos, sugere que

“O emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo da vida

dos respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então, esquemas

interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais conceptuais e

abstratos […]. A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o

desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores e sua situação. O objetivo é

uma compreensão detalhada das crenças, atitudes e motivações, em relação aos

comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos” (p.64).

Em suma, a entrevista permite ao investigador aceder aos significados que as pessoas

atribuem às coisas e às situações, proporcionando o estudo do objeto na sua profundidade

(Lüdke & André, 1986). Cabe ao investigador “compreender os pontos de vista dos

sujeitos e as razões que os levam a assumi-los” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 138).

À luz destes argumentos, optou-se, nesta investigação, por uma técnica de índole

qualitativa de natureza dialógica – a entrevista em grupo, também denominada de grupo

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focal (focus group), visto ser esta uma técnica que “permite recolher opiniões distintas

sobre a mesma temática, confrontar ideias, partilhar experiências e estimular discussões”

(Morgado, 2012, p. 76). Nesta perspetiva, a entrevista em grupo vai além das respostas das

entrevistas individuais, porquanto estimulam as respostas e a recordação dos

acontecimentos, revelando-se, desta forma, rica em dados (Flick, 2004). Também, porque é

particularmente útil para comparar, debater e replicar diferentes opiniões entre os

elementos do grupo (Vásquez & Angulo, 2003). A esta dimensão pode acrescentar-se,

ainda, que a entrevista em grupo “permite correções, esclarecimentos e adaptações que a

tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas” (Lüdke & André,

1986, p. 34).

Tal como não deixa de chamar a atenção George Gaskell (2002), devido à sua

capacidade interativa e problematizadora, a situação grupal facilita o intercâmbio de

posições dos indivíduos e, assim, partindo da perspetiva dos atores, possibilita-se a

construção do comum entre os sujeitos. Por outras palavras, o grupo fornece critérios sobre

o consenso emergente. A partilha e o contraste de experiências constroem um quadro de

interesses e preocupações comuns que são raramente articuladas por um único indivíduo.

Com base nas conceções assinaladas, e em consonância com Levingstone (1996)

citado em Flick (2005), elegemos a entrevista em grupo por esta se revestir de um duplo

potencial:

“Em primeiro lugar, geram debate, revelando assim quer os significados atribuídos

pelas pessoas aos temas discutidos, quer o modo de acertarem mutuamente significados.

Em segundo, criam diversidade e diferença, tanto no interior do grupo como inter-grupos; e

evidenciam o que Billig (1987) denominou a natureza dilemática dos raciocínios

quotidianos”.

(Levingstone, 1996, p. 96)

Face ao exposto, a entrevista semiestruturada (ou semidiretiva) afigurou-se-nos a

mais indicada, dado que perfilhamos com Flick (2004) a convicção que “é mais provável

que os sujeitos entrevistados expressem os seus pontos de vista numa situação de entrevista

desenhada de forma relativamente aberta do que numa entrevista estandardizada (op. cit.,

p. 89). Também, dada a sua natureza maleável e flexível permite, tanto quanto possível,

que o entrevistado se expresse “abertamente, com as palavras que desejar e na ordem que

lhe convier” (Quivy & Campenhoudt, 1998, p. 194), oferecendo, ao mesmo tempo, a

possibilidade de, evitar divagações sem rumo (Wragg, 2002).

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87

Todavia, apesar das potencialidades que se reconhecem ao grupo focal para a recolha

de informação, algumas dimensões poderão, eventualmente, ser consideradas limitativas.

Por um lado, o papel do investigador, simultaneamente moderador, que pode ter um maior

ou menor grau de controlo face ao desenvolvimento da interação em grupo. Por outro, o

risco dos participantes tenderem a ser autoseletivos, omitindo questões importantes para o

grupo, desviando-se da temática central ou trazendo temas irrelevantes para o objeto de

estudo. Assim, nesta investigação, tivemos o cuidado e o bom senso de conduzir o grupo

de modo a que este mantivesse o foco sobre os interesses do nosso estudo, sem negarmos,

no entanto, aos participantes a possibilidade de estes se expressarem espontaneamente.

Também, tivemos a preocupação, como adverte Minayo (2000), de não o induzir, de forma

consciente ou não, a partir do nosso ponto de vista. Isto é, coube-nos o papel crucial de

minimizar e diluir algumas das dificuldades imprevisíveis, uma vez que “no grupo focal, o

entrevistador é o catalisador da interação social (comunicação) entre os participantes”

(Gaskell, 2002, p. 12).

Acresce, ainda, referir que antes da realização das entrevistas foi construído um

guião que permitiu identificar os aspetos de relevo a abordar e a forma como a reunião iria

ser conduzida (Martins (2006) cit in Morgado, p. 2012). Reitera-se que se idealizou um

esquema básico, próprio da entrevista semiestruturada, tendo a sua aplicação sido flexível

e, sempre que se justificou, procedeu-se a adaptações (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Importa, igualmente, mencionar que o guião de entrevista, que se apresenta no

Quadro 3., se alicerçou nas duas questões centralizantes desta investigação e que em

seguida se relembram:

1. Quais as perceções dos alunos acerca da leitura literária, em sala de aula?

2. O que dificulta/facilita, em contexto escolar, a formação de leitores literários?

Assim, orientada por estas questões centralizantes, a entrevista em grupo possibilitou a

angariação de informação que permitiu: (1) Recolher informação para identificar pontos de

atratividade da leitura literária; (2) Obter elementos para analisar a influência de pais, professores e

pares na formação de atitudes e comportamentos relacionados com a leitura; (3) Obter dados para

caracterizar aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos; (4) Obter informação para

identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos, nomeadamente no que diz

respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos privilegiados.

Na ótica da reunião de dados, as entrevistas efetuadas consentiram não só a recolha

de informação sobre o pensamento e conceções dos alunos acerca da leitura literária, como

também permitiram recolher dados sobre: (1) representações dos alunos sobre a relevância

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da leitura literária no seu desenvolvimento pessoal e escolar; (2) motivações e atitudes dos

alunos para com a leitura literária, em contexto de sala de aula; (3) reações dos alunos às

estratégias/métodos de leitura literária adotados pelos professores; (4) perceções dos alunos

relativas ao empenhamento da escola e dos professores na promoção da leitura literária; (5)

perceções sobre a frequência da prática de leitura literária e os contextos privilegiados; (6)

características dos contextos de socialização dos alunos e suas atitudes para com a leitura

literária, designadamente no contexto da família, no grupo de pares e na escola. É de

salientar que estes dados vieram complementar e aprofundar as informações recolhidas

através do inquérito por questionário.

Deste modo, e em sintonia com Gaskell (2002), para se obter esta informação

formaram-se quatro grupos focais, tão homogéneos quanto possível, mas,

simultaneamente, com um grau de heterogeneidade que oferecesse perspetivas divergentes:

(i) dois grupos constituídos por dez alunos cada, pertencentes à turma do 9.º ano de

escolaridade; (ii) um grupo de 10 e outro de treze elementos, da turma do 7.º ano. Esta

divisão realizou-se tendo em conta o número de sujeitos participantes de cada turma: vinte

do 9.º ano e vinte e três do 7.º ano de escolaridade.

Tendo presente os objetivos que figuram no guião e, uma vez no terreno,

consideraramos, ainda, alguns cuidados e exigências, recomendados por vários autores,

nesta fase de recolha de dados, no sentido de garantir a validade e a fiabilidade da

entrevista.

Previamente ao momento da entrevista, procurou-se estabelecer uma relação de

proximidade e de confiança com os inquiridos, criando-se um ambiente de descontração,

de empatia e de credibilidade ao reafirmar-se os objetivos da entrevista (Lüdke & André,

1986) para que os entrevistados se sentissem à vontade para falar e se expressarem

livremente.

Aliás, em sintonia com o que afirmam Fabra & Domènech (2001), sublinhou-se que

“ […] não há respostas corretas ou incorretas às perguntas que se fazem e […], portanto,

[…] tudo o disserem será considerado valioso. O que se lhes pede são pontos de vista,

opiniões, comentários sobre experiências passadas […] sempre com o objetivo de recolher

informação, nunca de avaliar “ (p. 44).

Simultaneamente, reiterou-se que não só as informações fornecidas seriam,

unicamente, “utilizadas para fins de pesquisa” (ibidem, p. 37), como também nos

obrigávamos ao dever do respeito do sigilo e do anonimato de todos os sujeitos

participantes.

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89

Na nossa opinião, é importante ter estas dimensões em consideração, sobretudo

quando o grupo é composto por jovens participantes.

Acresce de resto dizer, como referido em momentos anteriores, que se desenvolveu

uma conversa assente num guião, estruturalmente maleável, contendo os pontos principais

sobre a problemática desta investigação.

Neste contexto, deve dizer-se que no total foram efetuadas quatro entrevistas. Uma

por grupo em cada um dos anos letivos. As do 7.º ano tiveram uma duração média de

quarenta e cinco minutos e foram gravadas em áudio e vídeo, tendo sido, posteriormente,

transcritas verbatim (Anexos 7 e 8).

Das entrevistas realizadas aos alunos do 9.º transcreveu-se verbatim (Anexos 9 e 10)

o que foi percetível e passível de ser reproduzido.

Finalmente, impõe-se uma referência ao protocolo ético de investigação (Anexo 2)

estabelecido com todos os participantes, antes do início da investigação, onde foram

“clarificadas as obrigações e responsabilidades a que cada um se obriga por honra” (Sousa,

2009, p. 34). Deste modo, estes foram informados sobre todos os aspetos da investigação e

reiterou-se, novamente, o carácter voluntário da sua participação, na mesma. Visto tratar-se

de alunos, solicitou-se, de igual forma, o consentimento dos Encarregados de Educação,

“explicando-se-lhes devidamente os objetivos da investigação, os procedimentos a

desenvolver e os conteúdos dos questionários a utilizar” (ibidem, p. 35).

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Objetivos gerais:

(1) Recolher informação que permita identificar pontos de atratividade da leitura literária;

(2) Obter elementos que permitam analisar a influência de pais, professores e pares na formação de atitudes e comportamentos relacionados com a leitura;

(3) Obter dados para caracterizar aspetos da didática da leitura valorizados pelos alunos;

(4) Obter informação para identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos, nomeadamente no que diz respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e

contextos privilegiados.

Blocos Objetivos específicos Tópicos para o formulário de questões Questões colocadas

A legitimação

da

Entrevista

Legitimar a entrevistar;

Motivar o entrevistado

Relembrar o trabalho de investigação que está a

ser realizado e, nomeadamente, os seus objectivos;

Solicitar o contributo dos entrevistados para o

sucesso do estudo;

Pedir, novamente, permissão para gravar a

entrevista;

Garantir a confidencialidade das informações

prestadas e o anonimato da identidade dos

participantes.

--------

A prática

da

leitura:

Recolher dados que permitam caracterizar o tipo de leitor e

grau de apetência pela leitura.

Recolher perceções/convicções dos alunos face à prática da

leitura.

Recolher representações dos alunos sobre a relevância da

leitura literária no seu desenvolvimento pessoal e escolar;

Obter dados para identificar motivações fundamentais para

a prática de leitura.

Solicitar aos alunos que se definam como

leitores;

Solicitar aos alunos que indiquem motivos para

de ler;

Pedir aos alunos que indiquem motivos que os

levam a ler.

Como exprimem o vosso gosto pela

leitura? És viciado, não gostas, gostas

pouco…

Com que frequência o fazem?

O que vos leva a ler um texto literário?

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Convicções

/perceções

sobre o texto

literário

Obter dados para identificar convicções/perceções dos

alunos sobre o texto literário;

Obter dados para analisar representações dos alunos sobre o

que define um texto como literário.

Pedir aos alunos que indiquem razões para gostar

de um texto literário, desde a aprendizagem à

estética, à mestria, à emoção que se retira da obra.

Pedir aos alunos que indiquem motivos que os

levam a ler uma obra literária.

O que é um texto literário?

Quais as razões que vos podem levar a

gostar de um texto literário?

O Papel

da

família: os pais

e a leitura

Obter informação para identificar atitudes perante a leitura e

comportamentos dos familiares diretos relacionados com o

gosto pela leitura;

Obter informação para caracterizar a importância atribuída à

leitura pela família.

Solicitar que falem sobre atitudes perante a

leitura e comportamentos de leitura dos pais/irmãos/

avós, ou com ela relacionados.

Com que frequência veem os vossos pais

a ler?

O que é que os vossos pais costumam

ler?

Costumam ouvir os pais/irmãos ler em

voz alta?

Costumam ouvir os pais falarem dos

livros que lêem?

Costumam ir com os vossos familiares a

livrarias e bibliotecas?

O papel

dos

pares

Recolher dados que permitam Identificar o papel dos pares

na formação de atitudes e comportamentos relacionados com a

leitura.

Solicitar que falem sobre os hábitos de leitura do

grupo de amigos.

Pedir que refiram atividades do grupo de amigos

relacionadas com a leitura.

No vosso grupo de amigos com que

frequência conversam sobre livros?

Com que frequência emprestam livros

uns aos outros?

Com que frequência discutem artigos de

jornais e revistas?

A escola:

o papel do

professor na

sedimentação

de hábitos de

leitura literária

Recolher informação para identificar explicações exógenas

para convicções/

comportamentos/interesses/atitudes/preferências de prática de

leitura, em contexto escolar;

Recolher informação que permita identificar métodos de

estudo do texto literário privilegiados pelos alunos, em sala de

aula;

Solicitar aos alunos que indiquem procedimentos

privilegiados ligados ao ato de ler um texto literário,

na sala de aula;

Pedir para falarem sobre os métodos/estratégias

de estudo do texto literário proposto pelo professor,

na disciplina de Português;

Quais as atividades que te levam a

compreender melhor um texto literário, na

aula de português?

A análise dos textos diminui o prazer da

leitura?

Ser obrigado a ler um determinado texto

literário diminui o prazer da leitura?

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Obter dados para identificar modos de ler o texto literário e

hábitos de leitura literária, na sala de aula.

Recolher reações dos alunos às estratégias/métodos de

leitura literária adotados pelos professores;

A leitura na aula é mais agradável

quando não têm de fazer fichas?

A forma como se estuda e ensina a

literatura na escola aumenta a vontade de

ler?

O fecho

da

entrevista

`Agradecer a colaboração prestada e reafirmar a

confidencialidade da identidade.

Agradecer a colaboração dos alunos pelas

informações prestadas, reafirmando a total

confidencialidade da identidade.

----------------

Quadro 3. Guião da entrevista realizada aos sujeitos participantes

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Fases da recolha

de informação

Técnicas e/ou

instrumentos

Participantes Tipo de informação recolhida Objetivos do estudo

Fase

preparatória:

Elaboração dos

instrumentos de

recolha de

informação

(1º trimestre de

2015)

Pilotagem do

questionário

Registo do

questionário no

sistema de

Monitorização de

Inquéritos em

Meio Escolar

(SEGE –

Ministério da

Educação)

*Investigadora

*Duas professoras e oito

alunos colaborantes na

pilotagem do questionário

*Validação da forma e do conteúdo do questionário

---------------------------

1ª Fase de

recolha de

informação

(2º trimestre de

2015)

Questionário com

questões fechadas

*Investigadora

*Alunos dos 7.º e 9.º anos

de escolaridade

*Dados biográficos e escolares;

*práticas culturais;

*atividades entre amigos ligadas à leitura;

*práticas de leitura dos familiares;

*comportamentos relacionados com a leitura entre familiares;

* Tipo de leitor;

* preferências literárias;

*motivações para a leitura;

*razões para gostar e não gostar de ler;

* representações dos alunos sobre o texto literário;

*Convicções dos alunos sobre os melhores métodos para o

estudo dos textos literários, na aula.

* procedimentos ligados ao ato de ler;

*pontos de atratividade de um texto literário;

*a influência do professor na sedimentação de hábitos de leitura;

*Problematizar o papel da escola na

formação do leitor literário;

*Caracterizar os aspetos da didática da

leitura valorizados pelos alunos;

*Caracterizar contextos críticos de

socialização para a leitura literária

experienciados pelos alunos, nomeadamente,

a família, a escola e o grupo de pares;

*Identificar algumas dimensões das práticas

de leitura literária dos alunos,

nomeadamente no que diz respeito aos seus

objetivos, objetos, frequência e contextos

privilegiados

2ª Fase de

recolha de

informação

(junho de 2015)

Entrevista

Focus group

*Investigadora

* Alunos dos 7.º e 9.º anos

de escolaridade

* perceções sobre leitura e representações face à leitura literária

na sala de aula;

*Convicções dos alunos sobre o texto literário;

*determinantes do gosto e da prática de leitor;

* pontos de atratividade de um texto literário;

* Informação sobre os métodos/estratégias de estudo do texto

literário proposto pelo professor, na disciplina de Português;

Quadro 4. Síntese das fases de recolha de informação

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5. Estratégias de análise de informação

Para Bogdan & Biklen, o investigador qualitativo aborda “o mundo de forma

minuciosa” (1994, p. 49) no sentido de ilustrar, de forma mais completa possível, as

situações e experiências dos sujeitos. Daí que todos os detalhes sejam importantes (Lüdke

& André, 1986). Observa-se, por isso, “uma enorme quantidade de informação descritiva

que necessita de ser organizada e reduzida (data reduction)” (Coutinho, 2011, p. 192) para

se proceder à descrição e interpretação do fenómeno em estudo. No entanto, convém

lembrar com Afonso que o tratamento da informação qualitativa é um processo bastante

“ambíguo, moroso e reflexivo, que se concretiza numa lógica de crescimento e

aperfeiçoamento” (2005, p. 118).

Tal como nos refere Creswell (2007), o procedimento de organização da informação

deverá ser estruturado através de um processo de codificação e de condensação de códigos

e, por último, representado em figuras, tabelas ou discussão.

Nesta linha de raciocínio, a abordagem à construção interpretativa consubstanciou-se

em três etapas: a) pré-análise; b) exploração do material e c) tratamento dos resultados,

inferência e interpretação (Bardin, 2009; Minayo, 2000). Numa fase de pré-análise, a fase

de organização, procurou-se “organizar o material, escolher os documentos a serem

analisados, formular hipóteses ou questões norteadoras, elaborar indicadores” (Coutinho,

2011, p. 193) que operacionalizassem e sistematizassem as ideias iniciais de forma a

conduzir a um esquema preciso de desenvolvimento da pesquisa (Bardin, 2009). Nesta

perspetiva, retomaram-se as questões e os objetivos norteadores da investigação e

elaboraram-se os indicadores que orientaram a interpretação final (Minayo, 2000). Numa

segunda fase, a da análise sistemática do texto, realizou-se a codificação e categorização da

informação. Por fim, numa terceira fase, dedicámo-nos ao tratamento dos resultados

brutos, seguido de inferência e interpretação. Isto é, as categorias foram utilizadas como

unidades de análise, e submetidas, no caso do inquérito por questionário, a operações de

estatística simples de forma a ressaltar as informações obtidas. Posto isto, dedicámo-nos à

inferência e interpretação dos dados (Bardin, 2009; Minayo, 2000).

Igualmente relevante para esta investigação foi a posição de Erickson (1989), citado

por Morgado (2012, p. 93), que entende a análise de dados como um processo de duas

tarefas primordiais, que, também, aqui foram consideradas. Na primeira, geraram-se

“afirmações através da indução”, o que levou a “um exame circunstanciado de todo o

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corpus de dados”. Na segunda, estabeleceu-se “uma base de evidência para as afirmações

que se” ambicionava efetivar (ibidem).

Não obstante, a análise implicou, sobretudo, o cruzamento e a interpretação das

informações fornecidas pelos alunos colaborantes, tal como foram na realidade vivenciadas

e percecionadas pelos mesmos.

Centrando-nos, agora, na questão dos procedimentos de análise da informação

adotados, deve referir-se que o corpus de análise (Vala, 1986) recolhido foi sujeito a dois

tipos distintos de análise. O primeiro, a análise estatística simples, “circunscrita aos dados

de natureza mais quantitativa, recolhidos através do questionário” (Morgado, 2012, p. 94).

Deste modo, os procedimentos de estatística descritiva (simples) proporcionaram “uma

primeira leitura contida nos dados” e possibilitaram não só a identificação do “típico e do

atípico”, como também a evidência de diferenças e relações entre os dados e, por fim,

forneceram “indicações acerca da dispersão, forma e estrutura da distribuição” dos mesmos

(Coutinho, 2005, p. 140).

O segundo, a técnica de análise de conteúdo e discursiva que, na ótica de Holsti

(1969), particularmente a primeira, é qualquer técnica que procure fazer inferências ao

mesmo tempo que identifica, objetiva e sistematiza características das mensagens.

Neste contexto, a informação foi organizada em torno de determinados tópicos,

temas-chave ou questões centrais (Symon & Cassel, 2004). Coube ao investigador

estabelecer, perante a informação recolhida, padrões e procurar a correspondência entre

duas ou mais categorias (Creswell, 2007).

Por seu turno, Stemler, (2001, cit in Esteves, 2006, p. 107), refere que “é uma técnica

sistemática e replicável para comprimir muitas palavras de texto em poucas categorias de

conteúdo, baseada em regras explícitas de codificação”.

A este respeito, Bardin afirma que “a categorização é um processo de tipo

estruturalista e comporta duas etapas” (2009, p. 146) que designa de “inventário” cujo

objetivo é “isolar os elementos” e “a classificação” onde estes são repartidos, na tentativa

de “impor uma certa organização às mensagens” (ibidem). O mesmo autor, acrescenta que

a categorização poderá envolver dois processos inversos (aplicados a esta investigação, não

deixando, porém, de se privilegiar o processo de «caixas»):

“É fornecido o sistema de categorias e repartem-se da melhor maneira possível

os elementos, à medida que vão sendo encontrados. Este é o procedimento por «caixas»

[…], aplicável no caso da organização do material decorrer diretamente dos

funcionamentos teóricos hipotéticos.

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97

O sistema de categorias não é fornecido, antes resultando da classificação analógica

e progressiva dos elementos. Este é o procedimento por «milha». O título conceptual de

cada categoria, somente é definido no final da operação”.

(op. cit., p. 147)

Em relação à análise de discurso, embora a análise das conversas seja tida como

ponto de partida, nesta investigação, o foco empírico situou-se mais no conteúdo da

conversa e no seu tema do que na organização linguística (Edwards & Potter, 1992).

Em suma, a análise de conteúdo consiste na análise e interpretação de material

empírico escrito, tendo como objetivo principal a sua redução. Neste sentido, “um dos seus

traços essenciais é a utilização de categorias, derivadas frequentemente de modelos

teóricos: as categorias são aplicadas ao material empírico, não necessariamente extraídas

dele, embora sejam repetidamente confrontadas com ele e, se necessário, modificadas”

(Flick, 2005, p. 193).

Assumindo que qualquer análise da realidade que cumpra os desígnios de um

paradigma interpretativo traduz uma forma de olhar a realidade, pode pensar-se, como o

fazem Fielding & Fielding (1986), que o investigador qualitativo pode interpretar de forma

enganadora os pontos convergentes e divergentes entre os dados recolhidos com métodos

muito diferentes entre si. Face a este argumento, revela-se essencial, para uma análise de

elevada qualidade, que o investigador tenha em consideração todas as evidências

necessárias e que na interpretação realizada pondere outras possíveis interpretações, pois,

tal como Lincoln & Guba (2003) advogam, não são os métodos que permitem “a verdade”,

mas antes os processos de interpretação. Deste modo, durante a interpretação dos dados, “é

preciso voltar atentamente aos marcos teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o

suporte e as perspetivas significativas para o estudo” (Coutinho, 2011, p. 196). Ora, nesta

fase, e em todo o processo investigativo, os referenciais teóricos estiveram sempre

presentes, uma vez que “a relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica é que

dará sentido à interpretação” (Bardin, 1997; Esteves, 2006 cit in Coutinho, 2011, p. 196). É

neste contexto que emerge o conceito de triangulação entendido como uma combinação de

pontos de vista, métodos e materiais empíricos diversificados susceptíveis de “constituírem

uma estratégia capaz de acrescentar rigor, amplitude e profundidade à investigação”

(Denzin & Lincoln, 2003, p.5 cit in Coutinho, 2008, p. 9).

Ora, no sentido de aumentar a credibilidade das interpretações realizadas, recorreu-se

à triangulação da teoria e, simultaneamente, para fomentar a confiança nas nossas

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98

interpretações, à triangulação metodológica – mais concretamente, à triangulação

intermétodos - o questionário e a entrevista em grupo semiestruturada (Denzin, 1989).

Por último, o recurso à triangulação surge da preocupação de se confrontarem as

diversas perspetivas e pontos de vista evidenciados pelos sujeitos, uma estratégia

frequentemente utilizada em estudos de caso de natureza qualitativa (Cohen & Manion,

1994; Bush, 2002; Bogdan & Biklen, 2007 Yin ([2005] 2010)). Ainda, porque pensamos

com Fieding & Schreier (2001) que

“(...) interrelating data from different sources is to accept a relativistic epistemology,

one that justifies the value of knowledge from many sources, rather than to elevate one

source of knowledge (or more accurately, perhaps, to regard one knowledge source as less

imperfect than the rest). Those taking an approach favourable to triangulation in

conventional terms are more likely to work from a perception of the continuity of all data-

gathering and data analysing efforts (…) They are more likely to regard all methods as both

privileged and constrained: the qualities that allow one kind of information to be collected

and understood close off other kinds of information”.

(Fielding & Schreier, p. 50)

6. Conclusão

O estudo que aqui se explana sobre a leitura literária, em ambiente escolar, adota o

design de um estudo de caso de indução analítica, em que a investigadora assume um

estatuto não participante.

Quando efetuámos este estudo, houve a necessidade de questionar a sua qualidade,

ou seja, de indagar sobre a sua credibilidade (trustworthiness), que numa investigação

qualitativa se encontra intimamente associada à veracidade, confiança e autenticidade dos

resultados.

Assim, numa investigação de essência qualitativa e interpretativa, em que se informa

este estudo de caso, problemas epistemológicos, tais como o do carácter científico da

própria pesquisa e o elevado grau de subjetividade a que um estudo desta natureza está

exposto, encontram-se, inevitavelmente, no epicentro das nossas preocupações, pois, se

alguns autores reconhecem vantagens ao estudo de caso, outros há, no entanto, que o

consideram uma abordagem metodológica pouco rigorosa, imprecisa, pobre em

objetividade e pouco credível em conclusões e generalizações (Pérez Serrano, 1998; Yin

([2005] 2010). Por outras palavras, questionam “a credibilidade das conclusões a que

conduz” (Coutinho, 2002, p. 231).

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99

A problemática da generalização, na investigação qualitativa, consiste no facto das

suas declarações se fazerem sempre para determinados contextos (Flick, 2004). Aliás, a

questão deve pôr-se mais em termos de transferibilidade para outros contextos, pois, de

acordo com Coutinho (2002), inspirada no pensamento de Guba & Lincoln (1994), de

Mertens, (1998) e de Stake (1995), na gíria da investigação qualitativa são usados termos

como transferibilidade ou generalização naturalística.

Por transferibilidade deve-se entender, não a reprodução dos resultados encontrados

(generalização) sob as mesmas condições mantidas em estudos anteriores, mas a

possibilidade de utilização dos procedimentos e resultados encontrados em situações

semelhantes, respeitadas as peculiaridades dos novos contextos (Valles, 1997).

Nesta perspetiva, o design deste estudo de caso visou tornar compreensível o caso

através da particularização, e para isso propuseram-se as questões que nos pareceram

relevantes, descrevemos o contexto e fizemos interpretações próprias ao caso, no sentido

de proporcionar ao leitor thick description (Stake, 1995) como forma de lhe possibilitar

uma experiência vicária, ou seja, que o leve a associar o que observou neste caso a

acontecimentos vividos por ele próprio, em outros contextos (ibidem). Na realidade,

pensámos com Moreira que “um estudo credível ilumina e explica de modo convincente e

inclusivo a situação estudada, estando esta interpretação sempre ancorada na evidência,

que deve ser de boa qualidade” (2005, p. 231).

Com efeito, a investigação qualitativa, inspirada “numa epistemologia subjetivista

que valoriza o papel do investigador/construtor do conhecimento” (Coutinho, 2011, p.

203), baseia-se na compreensão dos fenómenos e/ou indivíduos, centrando-se nas

características dos mesmos e focalizando-se nas suas perspetivas e pontos de vista. Neste

sentido, interessou-nos mais a compreensão e interpretação sobre como os factos se

manifestaram do que determinar causas para os mesmos (Pérez Serrano, 1998). Isto é,

houve o cuidado de interpretar a situação em estudo sob o olhar dos próprios participantes

– um grupo de 43 alunos do 3º ciclo do ensino básico. Logo, “a preocupação central não é

a de se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos

e sujeitos a eles podem ser generalizados” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 66). Deste modo,

relativizou-se a generalização em prol de um conhecimento aprofundado, construído a

partir de uma compreensão de situações particulares, isto é, “com insights sobre as

experiências pessoais dos intervenientes/ participantes (Latorre, Del Rincón & Arnal, 1996

cit in Coutinho, 2011, p. 204) que poderá servir de referência a outras situações e/ou

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100

contextos ou até fazer emergir novas teorias ou confirmar teorias pré – existentes (Yin,

1994).

De igual forma, na procura pela evidência de credibilidade, submetemos os

resultados da investigação “à aprovação dos construtores das múltiplas realidades em

estudo” (Lincoln & Guba, 1991, p. 296) através de (i) prolonged engagement; (ii) peer

debriefing e (iii) member checks (Lincoln & Guba, 1991).

Assim, procurou-se, ao longo do período de, aproximadamente, sete meses em que o

estudo se desenrolou, estabelecer uma relação de proximidade e de confiança com os

participantes para possibilitar uma maior e melhor compreensão do objeto de estudo.

Também, realizámos a pilotagem do questionário. Este foi submetido a uma consulta

– acordo de juízes – a uma investigadora especialista na área de conhecimento em que se

inscreve o presente estudo, com a qual se partilharam ideias e preocupações e,

posteriormente, experimentado por um conjunto de alunos não participantes no estudo.

Ainda, no início de cada entrevista em grupo, foi reiterada, sistematicamente, a

possibilidade de os participantes, se assim o quisessem, acederam à transcrição integral da

mesma e adicionar, excluir ou retificar as informações prestadas, se assim o desejassem.

Igualmente, se vincou a concessão da análise e interpretação dos dados fornecidos para

autenticação da representação das ideias/experiências/ sentimentos transmitidos.

Por último, as questões de natureza ética têm vindo, nos últimos anos, a ganhar

terreno na consciência dos investigadores sociais e/ou educacionais (Coutinho, 2008).

Com este pressuposto em mente, desenvolveu-se esta investigação, observando-se o

rigor ético que, de acordo com Bassey (1999, p. 73), deve regular-se por três princípios

básicos: o respeito pela democracia, pela verdade e o respeito pelas pessoas. Assim, partiu-

se para este estudo de investigação com o compromisso de confidencialidade para com os

relatos obtidos, assegurando-se o respeito pela privacidade de todos os colaboradores, o

direito ao anonimato e promovendo a confiança de todos os participantes. Estes foram

convidados a cooperar no estudo, conhecendo, desde o início, os seus objetivos, as fases da

investigação e os procedimentos de recolha da informação.

Desta forma, dá-se por concluído este capítulo dedicado ao estudo empírico. Em

seguida, debruçar-mos-emos sobre a análise dos dados reunidos.

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CAPÍTULO III

A LEITURA LITERÁRIA, EM CONTEXTO ESCOLAR: DADOS DOS

INQUÉRITOS

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103

1. Dados relativos ao inquérito por questionário

1.1. Leitura e a prática da leitura

No que diz respeito à leitura, é senso generalizado que a mesma nestas idades

acontece, essencialmente, por duas razões centrais: (1) por iniciativa pessoal, como forma

de lazer ou de aquisição de conhecimento para além do exigido pela escola; (2) por

obrigação, no âmbito dos conteúdos escolares. Assim, para obtenção de informação acerca

de atitudes e comportamentos dos estudantes perante a leitura e, de um outro ângulo, para

estabelecer a posição da leitura relativamente a outras atividades, começamos por conduzir

os alunos para um cenário hipotético (P. 5). Deste modo, solicitamos-lhes que, a partir de

uma lista de objetos, escolhessem três dos que levariam consigo, caso fossem para um sítio

isolado durante quinze dias. Os números apresentados no Quadro 5. mostram a

preferência por objetos relacionados com as Tecnologias de Informação e Comunicação.

Assim, sem surpresa, o telemóvel foi o objeto referido por um maior número de alunos do

7.º ano (17 do total), seguindo-se uma bola (14 do total), o que também não espanta, dada a

idade e a prevalência de elementos do sexo masculino, e o computador (13 do total). No

final da lista, surgem os livros (5 do total) e as revistas de entretenimento - social,

desporto, música, automóveis, culinária… (4 do total).

7.ºAno 9.º Ano

Telemóvel 17 12

Computador 13 13

Alguns livros 5 10

Televisão 6 6

Rádio 6 2

Mp3/Ipod/ipad 11 7

Revistas de entretenimento 4 1

Uma bola 14 7

Quadro 5. Objetos escolhidos pelos inquiridos para levar para um local isolado

Em relação aos alunos do 9.º ano, dos objetos apresentados no Quadro 5. destacam-

se, mais uma vez sem estranheza, o computador (13 do total) e o telemóvel (12 do total)

como os mais selecionados. Contrariamente ao observado no 7.º ano, os livros ocupam um

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104

lugar de maior destaque, tendo sido escolhidos por 10 dos 23 alunos que compõem a

amostra. Contudo, sendo a fiabilidade das respostas a este tipo de questões difícil de

estabelecer, não sabemos se esta preferência é resultado de um pressentimento da

desejabilidade social da resposta ou se retrata de facto a realidade. Seguem-se, em ex

aequo o Mp3/Ipod/iPad e uma bola (7 do total), o que também não surpreende, devido,

mais uma vez, à idade dos estudantes e ao facto da música, nestas idades, ter um papel

especial, inclusive em termos identitários. No fim da tabela, numa posição claramente

negativa, surgem o rádio (2 do total) e as revistas de entretenimento (1 do total).

Como se pode verificar, há uma desvalorização objetiva da leitura por parte dos

inquiridos do 7.º ano, cuja seleção mostra uma clara preferência por outras atividades,

insinuando uma atitude claramente desfavorável para com a leitura que, todavia, adquire

relativa significância à medida que se progride na escolaridade, como se comprova no

Quadro 5., não obstante o pouco interesse manifestado pela leitura de revistas de

entretenimento.

É, com efeito, evidente que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação

começam a “competir com os livros, os jornais e as revistas na ocupação dos tempos livres

dos jovens” (Lages, Liz, António & Correia, 2007, p. 244).

De certo modo, a informação obtida vai ao encontro da opinião da elite intelectual

que tem vindo a alertar para os problemas dos modernos meios de comunicação (Bloom,

2001; Steiner, 2005), frisando a ideia de que a cultura do ecrã ameaça a educação dos

jovens, pois afasta-os da leitura, especialmente a dos clássicos, aqueles que poderão

fortalecer os alicerces do ser cultural (Bloom, 2001; Calvino, 1994; Pennac, 1996). Talvez,

por isso, tenha chegado o momento de se pensarem novos modos de ler – os da ordem do

digital (Steiner: 2005). Aliás, de acordo com Lages, Liz, António & Correia (2007) existe

uma “nova geração de leitores, já apelidada de geração net, a qual não conta apenas com os

livros e jornais e revistas impressos, mas recorre cada vez mais a esses materiais e os

percorre no ecrã do computador” (Lages, Liz, António & Correia, 2007, p. 244).

Certo é que

“o livro perde o monopólio da leitura e da consagração dos valores civilizacionais,

mas não desaparecerá com as novas tecnologias se existirem intermediários atentos,

bibliotecas públicas pluriorientadas, formação permanente, bibliotecas escolares atraentes e

culturalmente actualizadas, comunidades interpretativas activas, círculos conviviais e redes

de sociabilidade que incluam nos seus temas de conversa as infindáveis narrativas dos

livros e não deixem confundir a realidade com esse magma circundante de imagens que

perdem irremediavelmente o seu referente real (…)”.

(Lopes & Antunes, 2001, p. 35)

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Centrando-nos agora nos livros, e como forma de perscrutar e aferir sobre o

panorama da leitura de livros, solicitamos a resposta à pergunta “Estás a ler, neste

momento, algum livro não escolar?” (P. 9). Os resultados são, indubitavelmente, bastante

esclarecedores. Mais de metade dos estudantes desta amostra revelou não estar a ler

nenhum livro à data da inquirição. Mais concretamente, 20 dos 23 alunos do 7.º ano e 17

dos 20 alunos do 9.º ano responderam “não” à pergunta 9. Esta realidade vem reforçar a

nossa apreensão sobre a fiabilidade dos dados que colocam os livros como terceira

preferência (para os alunos do 7.º ano) à pergunta 5.

7.º Ano 9.º Ano

Sim 3 3

Não 20 17

Quadro 6. Número de alunos que no momento da inquirição estava a ler um livro não

escolar

Para assegurar algum controlo sobre as respostas anteriores e também para construir

uma representação dos gostos e preferências dos alunos, até porque estas são variáveis

interessantes para a explicação dos hábitos e comportamentos de leitura, foi pedida a

identificação da obra que estava a ser lida. Novamente, as respostas surpreendem pela

negativa, pois apenas 1 aluno do 7.º ano de escolaridade e 1 aluno do 9.º conseguiram

nomear o título da obra que se encontravam a ler àquela data – Diário de um vampiro

banana e A culpa é das estrelas, respetivamente. Como se pode perceber, foram

mencionadas textos incluídos no género de romance, exibindo uma possível influência das

versões cinematográficas dos livros, e narrativas fantásticas, girando em torno de

personagens vampíricas, temática muito em voga e do agrado de alguns dos inquiridos

(Gráficos 1. e 2.).

Um outro indicador significativo das práticas de leitura é o número de livros que os

inquiridos dizem ter lido, num período de tempo limitado. Assim, questionamos os sujeitos

sobre a quantidade de livros não escolares lidos ao longo dos últimos 12 meses.

No caso dos do 7.º ano, nota-se que a maioria (16 do total) leu entre 1 a 3 livros não

escolares. Em contrapartida, 5 dos 23 alunos afirmam não ter lido nenhum ao longo do

último ano. É de salientar que apenas um individuo referiu ter lido, nos últimos 12 meses,

mais de dez livros.

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106

Continuando na senda da aferição de hábitos de leitura, e de acordo com o Quadro

7., regista-se entre os estudantes do ano de escolaridade mais avançado um ligeiro

decréscimo dos que afirmam ter lido 1 a 3 livros, 13 (do total), ao longo do último ano,

mas um ligeiro aumento nos que referem ter lido entre 4 a 10, exatamente 3 (do total). No

extremo, em consonância com o 7.º ano, está um aluno que afirma ter lido mais de dez

livros.

Número de livros, não

escolares

7.º Ano 9.º Ano

Nenhum 5 3

1-3 livros 16 13

4-10 livros 1 3

Mais de 10 livros 1 1

Quadro 7. Número aproximado de livros não escolares lidos pelos inquiridos

Surpreendentemente, confrontando o número de alunos dos 7.º e 9.º anos que afirma

ter lido 1 ou mais livros não escolares, ao longo dos últimos 12 meses, (18 e 17 do total,

respetivamente) com o número de alunos que levaria consigo para um local isolado um

livro - 10 e 5 do total, respetivamente (Quadro 5.), entrevê-se uma certa contradição. Ao

atribuírem primazia a outros objetos que não o livro, os alunos estão a preferir, consciente

ou inconscientemente, outras atividades à leitura.

Assim, não obstante a explicitação de se tratar exclusivamente de livros não

escolares, não podemos descurar a hipótese de alguns dos livros aqui considerados serem

livros lidos para a escola, porquanto estes adquirem uma importância considerável,

sobretudo, à medida que se progride na escolaridade. Efetivamente, por se tratar de obras

literárias de leitura integral obrigatória e, desta forma, requerem uma maior

disponibilidade de tempo e por serem, recorrentemente, objeto de avaliação, podem,

eventualmente, tornar-se mais presentes na memória dos inquiridos.

Faz, na verdade, sentido que, sendo “ el libro es el depósito permanente de la

sabiduría acumulada a lo largo de los siglos, el mejor instrumento de la educación hasta

ahora conocido, el verdadero vehículo transmisor de la ciência y el más idóneo difusor

universal de la información y de la cultura” (Pérez - Rioja, 1988, p. 116), a escola promova

atividades de natureza cultural e educativa, como feiras do livro, concursos literários,

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107

encontro com escritores, conferências, entre outras, para que, através de uma maior

convivência com o livro, se desenvolva um verdadeiro gosto pela leitura.

Na mesma linha da questão anterior, e reforçando a ideia de que as predileções de

cada aluno estabelecem variáveis curiosos para a explicitação dos hábitos e dos

comportamentos de leitura, perguntamos aos alunos o que, por iniciativa própria,

independentemente do trabalho escolar, costumam ler.

Justifica-se, neste momento, realçar, que tivemos o cuidado de assegurar que as

categorias utilizadas fossem reconhecidas, facilmente, pelos estudantes, pelo que se optou

pela terminologia mais usual de se mencionar os diferentes tipos de livros, jornais e

revistas.

As respostas acerca da frequência de diversos tipos de leitura (Gráficos 1. e 2.)

permitiram-nos identificar uma preferência por meios de informação especializada,

nomeadamente, sites de desporto, música, cinema… seguida de jornais ou revistas de

desporto, visto que são os materiais de leitura que os alunos leem “muitas vezes”.

Também, das respostas dadas à pergunta, ficámos a saber que os alunos apreciam a leitura

de livros de banda desenhada, bem como de jornais e revistas sobre música. Em

contrapartida, existe uma notória rejeição por alguns géneros, dado que a maioria dos

alunos mencionam que “nunca” ou “raramente” leem, por exemplo, géneros como teatro,

poesia, romance/novelas/contos, livros juvenis ou Biografias/Diários.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Diários e semanários de informação (por ex.: Público, Correio da Manhã…)

Jornais e revistas sobre música Jornais ou revistas de desporto

Jornais ou revistas de espetáculos (por ex.: Blitz) Revistas femininas e masculinas (por ex.: Caras, Bravo)

Ficção científica/Histórias com magia Poesia

Romance/novelas/conto Teatro

Policiais/espionagem Livros religiosos

Livros de banda desenhada Livros de culinária Livros de História Biografias/Diários

Livros juvenis Sites de informação, de desporto, música, cinema …)

Blogs Outra: qual?

Número de alunos

Muitas vezes Algumas vezes raramente Nunca

Gráfico 1. Frequência de diferentes tipos de leitura dos alunos do 7.º ano

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108

Em relação aos estudantes do 9.º ano (Gráfico 2.), a leitura de sites de informação,

de desporto, música, cinema … acontece, também, “muitas vezes” (10 do total), o mesmo

sucedendo com a leitura de jornais ou revistas de desporto (6 do total), embora com

números mais baixos do que os do 7.º ano. Contrariamente às constatações anteriores, à

medida que aumenta a idade, existe uma depreciação clara pela leitura de banda

desenhada. De facto, 10 dos inquiridos afirmam “nunca” ler banda desenhada e outros 9

“raramente” o fazem. Também, nos extremos, como “nunca” lidos encontramos, mais uma

vez, a título de exemplo, géneros literários como poesia e teatro em ex aequo (14 do total),

seguidos de perto por biografias/diários (10 do total), romance/novelas/conto (8 do total) e

livros juvenis (6 do total). Porém, observa-se que existe, nestas idades, um número mais

elevado de alunos que afirmam ler “algumas vezes”.

Nos dois níveis de escolaridade, os livros religiosos e os livros de culinária são,

claramente, minoritários.

À medida que se avança na idade, observa-se que géneros como Poesia,

Romance/novelas/conto, Teatro, Biografia/Diários, livros juvenis e de banda desenhada se

tornam os menos lidos e, consequentemente, os menos preferidos dos estudantes.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Diários e semanários de informação (por ex.: Público, Correio da Manhã…)

Jornais e revistas sobre música Jornais ou revistas de desporto

Jornais ou revistas de espetáculos (por ex.: Blitz) Revistas femininas e masculinas (por ex.: Caras, Bravo)

Ficção científica/Histórias com magia Poesia

Romance/novelas/conto Teatro

Policiais/espionagem Livros religiosos

Livros de banda desenhada Livros de culinária Livros de História Biografias/Diários

Livros juvenis Sites de informação, de desporto, música, cinema …)

Blogs Outra: qual?

Muitas vezes Algumas vezes raramente Nunca

Gráfico 2. Frequência de diferentes tipos de leitura dos alunos do 9.º ano

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Um olhar atento e estendido aos dados relativos à frequência de diferentes tipos de

leitura dos estudantes, conduz-nos à triste constatação de que subsiste uma imensa mancha

de categorias “nunca” ou “raramente” lidas, indiciando, desta forma, um valor ínfimo de

práticas de leitura dos inquiridos neste estudo, não obstante os materiais de leitura e/ou o

tipo de obra literária.

Tal como já demonstrámos noutro local, a leitura como uma prática regular,

automática e continuada não acontece dissociada das preferências e dos interesses dos

alunos, uma vez que ninguém faz nada de forma repetida e sistemática se não usufruir

dessa ação, mesmo sendo para satisfação de uma necessidade pessoal.

Não obstante os dados obtidos, não podemos deixar de considerar que as nossas

inclinações poderão ser condicionadas ou, de certa forma, moldadas pelas diferentes

formas de acesso aos materiais de leitura. Também, as diferenças na sua lisibilidade, os

diferentes objetivos de leitura, as significativas diferenças de preços (revistas, jornais,

livros …) podem originar diferentes práticas e, inclusivamente, diferentes modos de

relação com a leitura.

Por último, o gosto de ler é a atitude mãe das práticas e hábitos de leitura, por isso, à

escola cabe a tarefa de fazer de intermediário entre os livros e aqueles que, apesar de tudo,

os ignoram; a escola tem ao seu alcance numerosos meios, mas todos eles passam pela

motivação das crianças” (Sobrino, 2000, p. 75).

1.2. O Papel da leitura

Fazer ler é um objetivo pedagógico imediato e constante, dada a importância da

leitura, enquanto instrumento essencial na formação do ser humano, na modernização das

sociedades e, consequentemente, no combate à pobreza e à exclusão social. Reconhecendo

que as leituras dos jovens resultam de uma rede complexa de determinações, dizer

constantemente que ler é importante e necessário não basta para fazer leitores. Por

conseguinte, um dado essencial para este estudo é, sem dúvida, conhecer as motivações

apontadas pelos próprios alunos como razões principais para a leitura.

Não obstante o cenário, pouco animador, relativo à leitura e às suas práticas, os

dados apresentados nos gráficos seguintes são bastante elucidativos sobre a significância

que os nossos jovens leitores atribuem à leitura (Gráficos 3. e 4.).

Desta forma, ordenadas segundo uma ordem descendente de aplicabilidade,

reconhecida pelos estudantes, os dados mostram-nos que os alunos do 7.º ano (Gráfico 3.)

leem para (i) melhorar as suas capacidades de escrita (10 do total); (ii) saber como outras

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110

pessoas vivem ou sentem (8 do total); (iii) melhor compreender o mundo (8 do total) ou

(iv) conhecer as pessoas, as situações ou as épocas (8 do total). Ainda, há os que assumem

ler, em parte, para se inserirem no grupo de amigos (11 do total) e aqueles que associam a

leitura, também em parte, a um instrumento essencial para a descoberta do conhecimento

(10 do total) ou, até mesmo, do autoconhecimento (8 do total). Surpreendente é o número

de alunos que afirma que, no seu caso, a leitura não é divertimento (7 do total) ou mesmo,

não os ajudará na inserção no mundo laboral (5 do total).

0 2 4 6 8 10 12

…é uma ferramenta para a vida

…vai-me ajudar a encontrar trabalho

…ensina-me como outras pessoas vivem

ou sentem

…ajuda-me a compreender melhor o

mundo

…é divertido

…ajuda-me a descobrir o que preciso de

conhecer

…permite-me fugir às preocupações

…permite-me conhecer-me melhor

…Permite-me conhecer as pessoas, as

situações ou as épocas

…permite-me conhecer os autores e as

suas obras

…ajuda-me a melhorar as minhas

capacidades de escrita

…permite-me ter tema de conversa com

os meus amigos

Número de alunos

Aplica-se totalmente

Aplica-se em parte

Não se aplica muito

Não se aplica de todo

Gráfico 3. Motivos para a leitura reconhecidos pelos alunos do 7.º ano

Para os alunos do 9.º ano (Gráfico 4.) a leitura reveste-se de motivações,

ligeiramente, diferentes às das descritas anteriormente. Assim, também segundo uma

ordem descendente, ler para melhor compreender o mundo e para melhorar as capacidades

de escrita aplica-se totalmente, segundo os mesmos, em ex aequo, a 8 dos vinte alunos que

constituem a amostra do 9.º ano. Também, de acordo com os inquiridos, a leitura permite-

lhes conhecer as pessoas, as situações ou as épocas (7 do total).

Segundo as suas próprias palavras, a leitura é, embora em parte, uma ferramenta para

a vida (11 do total). Também em parte, os mesmos afirmam ler para (i) saber como outras

pessoas vivem ou sentem (10 do total), (ii) melhor compreender o mundo (10 do total) e

porque a leitura é um veículo importante para o conhecimento (10 do total).

Estranhamente, os alunos não consideram a leitura essencial para a inclusão no seu

grupo de amigos (9 do total) ou para o autoconhecimento (6 do total).

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111

Após a identificação das motivações dos estudantes para a leitura, foi-lhes pedido

que identificassem as frases que melhor exprimissem o seu gosto pela leitura . Assim, tanto

para os leitores do 7.º como para os do 9.º ano (Quadro 8.), o gosto pela leitura é periódico

– gostam de ler, mas apenas de vez em quando. Uma parte significativa dos alunos afirma

gostar pouco de ler, (8, no 7.º ano e 5, no 9.º ano). Um número muito próximo, (2 para o

7.º ano e 3 para o 9.º ano) retrata os que dizem não gostar de ler. Pelo contrário, quer no

7.º, quer no 9.º ano, 3 alunos referem gostar muito de ler e 1 confessa-se viciado em leitura.

7.º Ano 9.º Ano

Sou viciado na leitura 1 1

Gosto muito de ler 3 3

Gosto de ler de vez em quando 9 8

Gosto pouco de ler 8 5

Não gosto nada de ler 2 3

Quadro 8. Gosto pela leitura

Embora o livro não seja um objeto prioritário para os alunos (Quadro 5.), cremos, no

entanto, ser possível afirmar que, na generalidade, a maioria dos alunos gosta de ler, nem

que seja só de vez em quando, pelo que existe uma certa predisposição para a leitura que

Gráfico 4. Motivos para a leitura reconhecidos pelos alunos do 9.º ano

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112

deve ser explorada e estimulada, pois “one thing is certain, we shall not make indifferent

readers keener by going on about how important reading is” (Meek, 1986, p. 199).

Por diversas vezes afirmamos, em vários momentos da fundamentação teórica, que

gostar ou não de ler depende de um vasto leque de fatores relacionados com contextos de

leitura, motivações, objetivos, interesses, e outros aspetos característicos da personalidade

de cada leitor. Assim, no sentido de clarificar as razões que levam os estudantes (mesmo

aqueles que só leem às vezes) a gostar de ler, perguntamos-lhes diretamente “O que te leva

a ler?”.

Assim, para os alunos do 7.º ano as principais razões são a obtenção de novos

conhecimentos (8 do total), o desejo de se exprimir bem (5 do total), a diversão que a

leitura traz consigo (5 do total) e “ganhar capacidade de ler as legendas de filmes” (5 do

total).

Similarmente, os alunos do 9.º ano registam motivos relativos ao crescimento

intelectual (9 do total) e ao lado lúdico da leitura (9 do total). Segue-se o desejo de se

exprimir bem (5 do total). Também, aqui, se verifica que os restantes fundamentos ficam a

uma distância assinalável dos mais indicados.

Motivos para ler

7.º Ano

9.º Ano

O desejo de conhecer coisas novas 8 9

O desejo de me exprimir bem 5 5

Não querer ficar de fora nas conversas 0 0

O exemplo dos pais e familiares 3 4

Ganhar a capacidade de ler as legendas de filmes 5 3

A diversão que encontro na leitura 5 9

A influência dos professores 0 0

O exemplo dos amigos 0 1

Quadro 9. Motivos apontados para ler

Uma constatação óbvia, observável no Quadro 9., que contribuirá, certamente, para

a discussão do papel da família, dos professores e dos pares na consolidação de práticas de

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113

leitura, é que a influência destes, na sedimentação de hábitos de leitura, está muito longe de

ser decisiva, sendo que as motivações individuais se sobrepõem, indubitavelmente, ao

exemplo ou influência dos que se encontram mais próximos destes leitores.

Por outro lado, dos alunos que indiciaram gostar pouco ou nada de ler (Quadro 10.),

os motivos mais indicados, nos dois níveis de escolaridade, referem-se ao facto de os

inquiridos considerarem a leitura uma atividade aborrecida, demorada e de não

encontrarem livros que lhes agradem. Neste campo, o papel do professor poderá ser o de

orientação e aconselhamento de livros e/ou textos.

Na verdade, a maioria das causas apontadas, neste campo, remete para questões

motivacionais que podem, como já referimos noutros momentos, potenciar ou constranger

hábitos e, inclusivamente, modos de relação com a leitura.

Motivos para não gostar nada

ou gostar pouco de ler

7.º Ano

9.º Ano

É aborrecido 6 7

Cansa a vista 4 2

Faz-me dores de cabeça 4 1

Leva muito tempo 6 7

Não se aprende nada de novo 0 1

Ninguém me incentiva a ler 2 3

Nunca encontrei um livro que me agradasse 4 3

Sou obrigado a ler 0 1

Quadro 10. Motivos apontados para não gostar ou gostar pouco de ler

1.3. O Papel da família: os pais e a leitura

A promoção de hábitos de leitura é da responsabilidade de toda a sociedade.

Contudo, há instituições que a podem realizar de um modo mais efetivo e dinâmico – um

exemplo ilustrativo é a Família. De facto, a família é o berço ideal na formação de leitores.

Assim, é da responsabilidade dos adultos tornarem-se modelos, que as crianças

ambicionem retratar, em atividades de literacia familiar propícias ao contacto com a escrita

e ao fomento do gosto pela magia dos livros (Chall, 1983).

Desta forma, com o objetivo de aprofundar a sua relevância na construção e no

estímulo do gosto e da prática da leitura dos alunos, questionamo-los sobre determinados

comportamentos de leitura dos seus familiares ou com ela relacionados. Em relação aos

alunos do 7.º ano, o Gráfico 5. elucida-nos sobre se os comportamentos dos familiares se

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114

convertem em práticas de leitura consistentes e congruentes com o exemplo prestado aos

seus educandos.

Assim, segundo estes jovens, ver os familiares a ler é habitual. Mais concretamente,

9 dos 23 alunos referem ver “muitas vezes” os familiares a ler, enquanto 10 (do total) veem

“algumas vezes”. No entanto, no que se refere à frequência das interações verbais sobre a

leitura, o quadro é menos animador, visto que só 2 alunos (do total) afirmam ouvir, “muitas

vezes”, os familiares a falar dos livros que leram e 10 (do total) ouvem-nos “algumas

vezes”. Por outro lado, são em maior número os que afirmam “nunca” ou “raramente”

ouvir os seus familiares a ler em voz alta, 4 (do total) e 11 (do total), respetivamente.

Uma prática reveladora da importância atribuída à leitura é a frequência de

bibliotecas e livrarias. Também aqui os valores são muito análogos, 11 “nunca” ou

“raramente” (2 e 9 do total, respetivamente) acompanham os familiares a estes espaços,

enquanto que 12 fazem-no “algumas vezes” ou, mesmo, “muitas vezes” (8 e 4 do total,

respetivamente). Não podemos deixar de referir que a bibioteca, pública e escolar, é não só

um apoio, mas também um local insubstituível contra a resistência à leitura, constituindo

uma opção cultural e um complemento pedagógico muito valioso (Sá, 1994). Nesta lógica

de pensamento, a sua frequência deve ser estimulada por todos os agentes educativos como

forma de despertar e consolidar nos jovens o gosto e o hábito de leitura.

De acordo com a informação obtida, no Quadro 5., o livro não é um objeto

prioritário para muitos dos elementos desta amostra. Assim, tal como já fizemos em

determinados momentos da interpretação feita a propósito dos dados globais de algumas

questões deste questionário, equacionamos a hipótese de uma possível alteração dos factos

0 2 4 6 8 10 12

…ver os teus familiares

a ler.

… ouvir os teus familiares a ler em voz alta.

…ouvir os teus familiares a contar histórias

…ir com os teus familiares a livrarias e bibliotecas.

…ouvir os teus familiares falarem dos livros que leem.

Número de alunos

Muitas vezes Algumas vezes raramente Nunca

Gráfico 5. Comportamentos relacionados com a leitura entre os familiares dos alunos

do 7.º ano

Page 116: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

115

do Gráfico 5., em função de uma tendência voluntária de os embelezar com o propósito de

transmitir uma imagem mais favorável de si, e agora, dos familiares mais diretos.

Ainda neste campo, ouvir os familiares a ler em voz alta não é uma ocorrência tão

usual, pelo contrário, é algo que “raramente” acontece para 11 dos 23 alunos ou, até

mesmo, “nunca” para 4 dos estudantes.

Considerando que os hábitos sociais tendem a reproduzir-se e assumindo que

“a escola é provavelmente a instituição que mais faz ler as crianças e os jovens ( e

são as crianças e os jovens que mais leem e quem menos lê são os adultos; talvez mais

necessário do que pressionar a escola para fazer ler os alunos seria pressionar para que

houvesse uma educação de adultos que o fizesse”.

(Santos, 1995, p 23)

Ao que parece, não há, no global, uma grande diferença no valor das categorias entre

a amostra do 7.º e a do 9.º ano. Nesta última (Gráfico 6.), são 7 os alunos que afirmam ver

“muitas vezes” os familiares a ler e 8 os que os veem “algumas vezes”. Contudo, também

estes alunos só “algumas vezes” (8 do total) ouvem os familiares falar dos livros que leem

ou, inclusive, a contar histórias (7 do total). Mais, apenas 6 alunos referem ouvir “algumas

vezes” os familiares a ler em voz alta. Contrariamente, 10 dos inquiridos “raramente” os

ouvem ler em voz alta. Por fim, um elevado número de estudantes “nunca” ou “raramente”

vai a livrarias e a bibliotecas com os seus familiares, mais especificamente 2 e 9,

respetivamente.

Torna-se, desta forma, necessário incutir na família que o acesso fácil a livros é

importante no desenvolvimento do gosto pela leitura e, naturalmente, na eleição da leitura

como forma de lazer. Assim, o hábito de comprar livros para ter em casa e para ler pode

0 2 4 6 8 10 12

…ver os teus familiares a ler.

… ouvir os teus familiares a ler em voz

alta.

…ouvir os teus familiares a contar

histórias

…ir com os teus familiares a livrarias e

bibliotecas.

…ouvir os teus familiares falarem dos

livros que leem.

Muitas vezes Algumas vezes raramente Nunca

Número de alunos

Gráfico 6. Comportamentos relacionados com a leitura entre os familiares dos

alunos do 9.º ano

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116

ser um indicador da importância que na família é dada ao livro e, em consequência, à

leitura, pois, corroborando o pensamento de Michael Benton & Geoff Fox,

“encouraging children to buy books and develop their own mini-libraries is

important for, as most teachers know, whatever efforts schools make, there is no substitute

for books in the children’s home. Even in the age of video culture and rapidly changing

patterns of family life, home is still where youngsters are most likely to find the spare time

and the most conclucive places in which to read for pleasure” (1998, p. 33).

A promoção do gosto pela leitura, a aquisição e o desenvolvimento de hábitos de

leitura é, como já referimos em momentos anteriores, um processo contínuo que principia

na família e se perpetua na escola, ao longo do percurso escolar do estudante.

Nesta linha de raciocínio, uma outra prática reveladora da importância atribuída à

leitura pelos pais, e que pode servir para complementar a informação sobre os hábitos de

leitura, é o estímulo do gosto e da curiosidade por esta atividade. Este pode ser efetivado,

desde logo, através do contacto precoce com livros, adequados à idade da criança e aos

seus interesses, por um lado, e lendo-lhe ou contando-lhe histórias, desde o berço, por

outro. Neste sentido, perguntamos aos alunos se quando eram pequenos alguém lhes lia ou

contava histórias (Quadro 11.). As respostas são inequívocas, dado que a maioria dos

inquiridos, quer do 7.º quer do 9.º ano, respondeu afirmativamente. Em concreto, 16 e 15

alunos (do total), respetivamente.

7.º Ano

9.º Ano

SIM

NÃO

SIM

NÃO

16

4

15

5

Quadro 11. Quando eras pequeno alguém te lia ou contava histórias?

Quando questionados sobre quem lhes lia ou contava as histórias, também, nos dois

níveis de escolaridade, as respostas foram aproximadas, tendo os inquiridos atribuído,

inequivocamente, à figura maternal o papel principal, nesta ação (Quadro 12.), elegendo-

a, deste modo, como mediadora de leitura.

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117

7.º Ano 9.º Ano

Mãe 12 9

Pai 2 4

Pais 5 0

Avós 0 2

Quadro 12. Familiar que lia ou contava histórias

Novamente, para assegurar algum controlo sobre as respostas anteriores e também

para construir uma representação dos gostos e interesses dos alunos, foi pedida a

identificação das histórias ouvidas. Apenas alguns alunos conseguiram mencionar Contos

infantis, Contos e Fábulas e Contos Tradicionais, situação que desvalorizamos, dado o

período temporal de referência.

A atitude para com a leitura dos familiares, e os comportamentos a ela associados,

que descrevemos e podemos qualificar como, de uma forma geral, positiva, é de certo

modo, incoerente com alguns resultados que obtivemos referentes ao gosto e às práticas de

leitura dos alunos (Quadro 8.). De facto, segundo a comunidade científica da área, as

crianças que tiveram oportunidade de desenvolver hábitos de leitura na infância terão

maiores probabilidades de se tornarem bons leitores e leitores de prazer (Barthes, 1973;

Bloom, 2001; Magalhães, 2008; Sousa, 2007) e, por conseguinte, leitores literários, do que

as crianças cujo contacto com o universo dos livros foi ínfimo.

Assim, e tendo em consideração o referencial teórico que desenvolvemos no

primeiro capítulo, os alunos que (i) mais veem os seus familiares a ler, (ii) mais os ouvem

contar histórias (iii) e mais frequentam livrarias e bibliotecas com os pais, são alunos que,

potencialmente, leem mais (Quadro 7.). Talvez o facto de a maioria dos alunos da amostra

“nunca” ou “raramente” ouvir os familiares a ler em voz alta e uma grande parte “nunca”

ou “raramente” ouvir falar dos livros que os familiares leram, seja factor de distinção entre

aqueles que gostam de ler e os que não gostam ou gostam pouco de o fazer (Quadro 8.).

1.4. O papel dos pares: os amigos e as práticas de leitura

Juntamente com a escola e a família, os pares são um fator estruturante e importante

ao entendimento dos comportamentos e das atitudes de cada um perante a leitura, dado

que, nestas idades, os alunos “são particularmente atreitos à influência dos seus iguais em

idade na formação das atitudes e na configuração dos comportamentos, o que faz com que,

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118

por vezes, se constituam em unidades autónomas relativamente ao meio social imediato,

familiar ou escolar” (Correia, 2007, p. 113). Nesta lógica, a assunção de papéis sociais é

reforçada com a identificação do grupo, através de comportamentos e práticas comuns aos

pares com idades, interesses e valores semelhantes.

Assim, tendo em consideração as práticas relacionais dos jovens dos 7.º e 9.º anos,

tentamos encontrar algo que contribuísse para o desenvolvimento de hábitos de leitura,

visto que atividades desenvolvidas em conjunto, como mostrar ou emprestar livros ou falar

de textos lidos, podem exercer influência no outro e instigar a sua curiosidade e,

consequentemente, levar à leitura dos mesmos.

Assim, dirigimos a nossa atenção ao grupo de amigos, enquanto elemento de

referência na criação de hábitos de leitura, com o propósito de encontrar explicações para a

atitude perante a leitura.

Neste âmbito do relacionamento com os amigos, questionamo-los sobre práticas a ela

associadas.

No caso em concreto, 7.º ano, as atividades de leitura não são práticas comuns nas

vivências interpares dos inquiridos. No pólo positivo, apenas encontramos as conversas

sobre artigos de jornais e revistas, com 14 dos alunos a referir que o faz “algumas vezes”.

Somente 5 dos inquiridos admite conversar sobre livros, seguindo-se um número,

igualmente, reduzido daqueles que partilha, “algumas vezes”, a leitura de livros ou parte de

livros (3 do total). No extremo, observamos que os 23 alunos da amostra confessam

“nunca” escrever num blog criado pelo grupo. Esta situação poderá denunciar a primazia

de determinadas redes sociais, como Facebook, instagram, em detrimento de espaços de

partilha mais restritos e intimistas, como um Blog ou Fórum.

Gráfico 7. Atividades do grupo relacionadas com a leitura (alunos do 7.º ano)

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119

À semelhança dos alunos do 7.º ano, os números revelam, claramente, que ler não é,

para os inquiridos do 9.º ano, uma atividade preferencial para se desenvolver em grupo.

Efetivamente, 11 alunos admitem mesmo que “nunca” o fizeram e 9 acabam por confessar

que ler livros ou parte de livros, em conjunto, é uma atividade que “raramente” acontece

no seu ciclo de amigos. Da mesma forma, os dados corroboram que os estudantes

“raramente” conversam sobre livros (13 do total) e, inclusive, “raramente” emprestam

livros uns aos outros (10 do total).

Por outro lado, apenas 5 dos inquiridos conversam sobre livros, pelo menos

“algumas vezes”, e outros tantos afirmam emprestar, com a mesma frequência, livros aos

seus amigos. Mais uma vez, os alunos dão preferência (6 do total), pelo menos de vez em

quando, à discussão de artigos de jornais e revistas, no seio do grupo.

No extremo, em consonância com os dados do 7.º ano, escrever num blog, criado

pelo grupo, está longe de ter alguma associação com a leitura, pois, todos os inquiridos

assumiram “nunca” o fazer.

Estes dados, embora pouco animadores, são congruentes com as afirmações

prestadas pelos estudantes, ainda que a título particular, aquando da inquirição sobre a

frequência de diversos tipos de leitura, por isso, e no decurso desta, também, sobre as suas

preferências. Igualmente, nesse momento, apesar de individualmente, reiteramos, se

destacou a leitura de sites de desporto, música ou cinema como sendo a mais usual,

seguida da de jornais ou revistas de desporto (Gráficos 1. e 2.).

Gráfico 8. Atividades do grupo de amigos relacionadas com a leitura

(alunos do 9.º ano)

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120

Uma constatação óbvia, que contribuirá, certamente, para a discussão do papel dos

pares na consolidação de práticas de leitura, é que a influência destes, na sedimentação de

hábitos de leitura, está muito longe de ser decisiva, tal como já se tinha observado na

leitura do Quadro 9.

1.5. Representações dos alunos sobre o texto literário

1.5.1. Como os alunos definem um texto literário

Sabendo que os interesses e hábitos de leitura se desenvolvem e se consolidam

durante o período de escolaridade, não será, pois excessivo, sublinhar o papel decisivo

desempenhado pela escola enquanto espaço de ensino e aprendizagem. Torna-se, por isso,

importante reafirmar que a escola, entre outros ambientes educativos formais e informais,

desempenha um papel privilegiado na formação de sujeitos – leitores. É, portanto, neste

contexto, que o professor tem certamente a possibilidade de marcar ou fazer um leitor.

Desta forma, importa perceber como pode a escola, local de excelência de aprendizagem

da leitura literária, praticar e estimular uma pedagogia eficaz na leitura do texto literário. A

este respeito foram colocadas algumas questões no inquérito.

Assim, tal como o escultor necessita de conhecer a pedra para a esculpir, também o

leitor precisa de conhecer o tipo de texto que lê para o compreender e dele retirar sentido,

pois, concordamos com Cassany e outros estudiosos quando referem que

“la aproximación a un texto depende de varios factores: la comprensión de sus

significaciones, la comprensión de las convenciones literarias y de las técnicas que lo hacen

sustancialmente diferente de los textos escritos funcionales, y la apreciación de su valor

significativo y estético. Además, la competencia literaria debería desarrollar también las

habilidades de la expresión con la ampliación de recursos estilísticos que el alumno podrá

usar opcionalmente para utilizar la lengua como medio de expresión de vivencias e

sentimientos”

(Cassany, Luna & Sanz, 1994, p. 488).

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121

Neste contexto, solicitamos aos alunos que indicassem, de entre uma lista de

afirmações, três que, na sua perspetiva, traduzissem a essência do texto literário.

Parâmetros de classificação de um texto como literário

7.º Ano

9.º Ano

Um texto com um enredo bem construído 12 15

Poemas, contos, romances, teatro 11 11

Um texto que provoque emoções 10 9

Qualquer texto que aparece no manual escolar de Português 6 3

Qualquer texto que a professora de Português leva para a aula 5 0

Qualquer texto que esteja em livro 1 1

Os textos que encontro em sites sobre música/desporto/cinema 0 0

Quadro 13. Parâmetros de classificação de um texto como literário

Observando o Quadro 13., verificamos que a maioria dos alunos que constitui a

amostra tem uma opinião bem formada sobre a especificidade do texto literário. Assim,

constata-se que para a maioria dos alunos (12 do 7.º ano e 15 do 9.º ano) “ o enredo bem

construído” é a característica principal para a definição de um texto como literário, uma

opinião consonante com a de Spanos (1972) quando este reconhece o enredo como um dos

mais importantes elementos constitutivos do texto literário ou, ainda, nas palavras de

Rosenblatt ([1938] 2005) “the most important guiding fator”. Também, a maioria dos

alunos da amostra, 22 alunos dos que a constituem, revela conhecer a diversidade do

género literário ao destacar as formas de expressão literária que o compõem, como poesia,

narrativa e teatro. A construção do conhecimento acerca das estruturas dos diferentes tipos

de textos é fundamental “para que a compreensão não seja fruto do acaso, mas resultado de

uma atitude consciente de leitura, na medida em que se antecipam expectativas face a cada

novo texto” (GIPP, 2011, p. 11).

Por fim, um texto que provoque emoções foi, igualmente, uma das características do

texto literário reconhecida pelos inquiridos. Não obstante o valor da categoria ser, aqui,

ligeiramente inferior (10 do 7.º ano e 9 do 9.º ano), um número razoável de alunos

reconhece que o texto literário não é um mero “tipo” de texto, equiparável a qualquer outro

texto, mas antes um texto com um estatuto estético e cultural próprio (PPEB, 2009), cujo

poder reside, também, na sua estrutura emocional subjacente e na sua representação dos

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122

sentimentos, instintos e atitudes do ser humano, sendo essas que impelem o leitor a

realizar, uma leitura do mundo Rosenblatt ([1938] 2005). Por outras palavras, uma parte

dos estudantes compreende que se trata, enfim, de um texto revelador e depositário da

experiência humana.

1.6. A escola: o papel do professor na sedimentação de hábitos de leitura literária

1.6.1. Métodos de estudo dos textos literários, na aula de Português

Tal como já referimos anteriormente, a influência do professor na formação do leitor

literário é crucial e, se para alguns indivíduos pode não ser determinante, a verdade é que

para um grande número de alunos pode ter um papel decisivo.

Neste campo, no sentido de saber quais as atividades de leitura que, segundo os

alunos, facilitam o processo de compreensão de um texto literário em estudo na aula de

Português, solicitamos-lhes o seu grau de concordância sobre uma série de procedimentos

ou atividades realizadas, em aula, nesse sentido (Gráfico 9).

Assim, de acordo com o Gráfico 9., para a maioria dos alunos do 7.º ano, a melhor

forma de construir sentido textual é através da análise e das perguntas que o professor faz

no decurso do estudo do texto literário. Isto é, 7 alunos concordam totalmente que este é o

melhor procedimento, 12 (do total) concordam e 3 (do total) concordam em parte. Esta

situação revela uma certa dependência em relação ao papel de transmissor de

conhecimentos do professor, atitude que se acentua quando se observa que a segunda

melhor forma para entender um texto se centra, novamente, na figura do professor. Dito de

outro modo, 8 alunos concordam totalmente que compreendem melhor um texto quando

Gráfico 9. Atividades consideradas importantes para o estudo do texto

literário, na sala de aula (7.º ano)

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123

registam apontamentos à medida que o professor vai fazendo a análise e comentários do

texto, 7 (do total) concordam com este método e 6 alunos concordam em parte.

Mais, os inquiridos consideram que a realização das atividades propostas no manual,

após a leitura do texto literário, são preponderantes para o estudo do texto. Assim, 6 alunos

concordam totalmente com esta ação, seguem-se 9 que concordam e 6 que concordam em

parte. Esta eleição poderá ser correlato da centralidade que a utilização do manual escolar

deixa evidente, pois “a planificação das acções pedagógicas é frequentemente apoiada

neste recurso, as práticas pedagógicas têm a maior parte das vezes o manual como

referente primeiro e único” (Dionísio, 2000, p. 11).

Esta tendência de resposta dos estudantes poderá, também, estar associada ao estilo

de comunicação entre professores e alunos, na sala de aula, onde julgamos ser a

reprodução e a aceitação das ideias do professor sobre os textos literários o ponto central

na prática da leitura literária e onde se descura a criação de um discurso próprio, refletido e

informado construído a partir do debate da leitura e da aplicação de determinadas

estratégias interpretativas do próprio aluno-leitor. Aliás, é em direção a esta última que

alguns alunos se pronunciam, ao eleger a discussão, entre professores e alunos, promovida

pelos textos e sua interpretação como a melhor forma de os estudar, na aula. Efetivamente,

esta resposta vai ao encontro da opinião de Gerald Graff (2000) que afirma que esta

atividade deve ser frequentemente implementada, já que é um modo de orientar os alunos

na tarefa de interpretar um texto literário. Neste sentido, 6 alunos (do total) concordam

totalmente com este procedimento, 8 (do total) concordam e 6 (do total) concordam em

parte. Na perspetiva de Cosson (2014), é esta prática de ler e discutir os textos que deve

constituir qualquer aula de literatura, uma aula “em que se promove uma interação com os

textos literários. Uma interação que leva o aluno a conhecer e até fazer do texto literário

uma referência em sua vida” (Cosson, 2014, p. 115).

Não podemos deixar de realçar, embora com uma variação díspar em concordância,

algumas opções dos alunos que, no nosso entender, ilustram bem a importância que os

mesmos, timidamente, começam a atribuir ao seu papel como leitores de um texto,

elegendo atividades como a apresentação oral de trabalhos e o estudo dos textos em grupo.

Neste campo, os alunos estão em sintonia com Cosson (2014), influenciado pelos

pressupostos de Harvey Daniels (2002), que defende a atividade de leitura independente

em que os grupos se reúnem para discutir a leitura de uma obra como “um dos mais bem -

sucedidos e certamente um dos mais conhecidos modelos de círculos de leitura” (Cosson,

2014, p. 140).

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124

Relativamente aos alunos do 9º ano, Gráfico 10., não se observam muitas alterações

ao cenário anteriormente descrito.

Assim, tal como os do 7.º, um número significativo de inquiridos do 9.º ano concorda

que o método mais eficaz para a compreensão de um texto é a análise e/ou comentários que

o professor faz dos textos e, concomitantemente, os apontamentos que dai derivam.

Especificamente, 5 alunos concordam totalmente com o anteriormente referido, 12 (do

total) concordam e 3 (do total) concordam, mas só em parte. Também, referem que para a

construção de sentido textual é fundamental a orientação do professor, porém,

materializada nas perguntas e análise que o mesmo faz do texto. Este universo traduz-se

em: 6 alunos que concordam totalmente, 8 alunos que concordam e 5 que concordam em

parte. A prevalência de uma resposta orientada para a figura do professor, tal como

anteriormente observado, pode, eventualmente, resultar do facto de estes estudantes não

terem vivido experiências de leitura, em sala de aula, nas quais o professor estimula uma

relação autónoma e pessoal com o texto, proporcionando ao aluno a reflexão sobre as suas

vivências, as suas inquietações e, mesmo, os seus pressupostos.

A leitura literária não tem apenas um caminho e o diálogo da leitura pode ser

iniciado de várias formas. Da mesma maneira, “esse diálogo pode ser efetivado por meio

de várias atividades (…) ‘que’ podem contribuir para o diálogo da leitura literária”

Gráfico 10. Atividades consideradas importantes para o estudo do texto literário, na

sala de aula (9.º ano)

Page 126: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

125

(Cosson, 2014, p. 97). Assim, tendo a prática da análise uma vasta gama de atividades, é

fundamental, no contexto de formação do leitor literário, que o professor interiorize que

“após a leitura da obra, o processo de leitura literária precisa ser complementado

com práticas que levem a uma maior interação com a exploração de suas características,

uma explicitação da construção de seus sentidos, uma compreensão de sua constituição

estética, uma interpretação, enfim, que garanta a apropriação daquele texto como parte do

letramento literário” (idem, p. 126).

A continuação da análise do gráfico, em ordem descendente, mostra-nos a convicção

de que interação entre o professor e os alunos é a melhor prática para a compreensão de um

texto na aula de Português. Embora menos significativos, os valores das categorias

mostram-nos que 5 alunos concordam totalmente com o exposto, 9 concordam e 3

estudantes concordam em parte. Esta posição dos alunos está em sintonia com os preceitos

de Murphy e outros estudiosos (2009) que consideram o debate fundamental para a

compreensão dos textos, desde que este seja um meio para se alcançar um fim. Com efeito,

Cosson (2014, p. 126) deixa bem claro que “discutir em sala de aula implica que os alunos

falem uns com os outros, que exponham a sua posição sobre o assunto e ouçam a posição

do outro, que interajam entre si e com o professor”.

Seguem-se, tal como para a faixa etária inferior, a ideia de que estudando os textos

em grupo (4 alunos concordam totalmente, 8 concordam e 5 concordam em parte) e

apresentando trabalhos oralmente se compreende melhor um texto literário (2 concordam

totalmente, 8 concordam e 4 concordam em parte). Com efeito, Cardório (2001, p. 50)

menciona, justamente, que “em grupo, os alunos podem ler e debater acerca do que leram.

Esta situação leva-os a compreender as ideias do texto e fomenta-lhes o espírito crítico ao

terem de defender a sua opinião”. Mais, Brabham e Villaume sublinham que um leitor

competente é aquele que controla “o seu processo de leitura” e constrói “ativa e

cuidadosamente o sentido” do que lê (Brabham & Villaume, 2000, p. 278).

Não podemos deixar de mencionar o facto de um grande número dos respondentes

que constituem a amostra deste estudo (19 dos 43 elementos) revelar que discorda

totalmente que pesquisar sobre os textos e o autor na Internet possa melhorar a

compreensão de um texto, enquanto 17 dos inquiridos concordam, embora em parte, que

esta é uma ação facilitadora de construção de sentido(s) e, apenas, 7 (do total) concordam

com a atividade supracitada. Dois fatores podem ser aduzidos para explicar este facto. Por

um lado, e talvez o mais óbvio, a pouca autonomia dos alunos em consequência de rotinas

procedentes de uma pedagogia da dependência (Vieira, 1998). Por outro, a tendência de se

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126

desvalorizar, em contexto escolar, o modo de ler intertexto-autor (Cosson, 2014, p. 78) que

se trata, no fundo, “do investimento que o leitor faz na biografia intelectual do escritor, na

sua formação cultural e no rastro sutil que as leituras de outros textos deixaram na

elaboração de sua obra” (idem).

Tomando como aceite que

“talvez uma das principais falhas de uma pedagogia convencional, da depência, seja

o afastamento generalizado dos alunos relativamente ao saber e ao processo de

ensino/aprendizagem, inerente a uma concepção do aluno como consumidor passivo, e não

consumidor crítico e construtor criativo do saber”

(Vieira, 1998, p. 37),

a nossa preocupação ao expormos estes resultados é a de algum modo podermos

sugerir que

“(…) só uma pedagogia para a autonomia pode contrariar esse afastamento,

contribuindo para desenvolver alunos mais responsáveis e motivados, com um papel

pedagógico reforçado, com poder discursivo, alunos que aprendem a aprender e que

mantêm uma postura reflexiva face ao processo de ensino/aprendizagem da língua” (Idem,

p. 40).

1.6.2. Métodos e estratégias de leitura literária, na aula de Português

Como já referimos, noutro contexto, é através da interação dinâmica do leitor com o

texto, numa determinada situação de leitura que a compreensão na mesma se efetiva e o

texto literário emerge: “Le texte ne devient ouevre que dans l’interaction entre texte et

récepteur” (Ricoeur, 1983, p. 117). Desta forma, a presunção de que neste processo uma

das pedras angulares da construção de sentidos é, indiscutivelmente, o leitor justificou as

questões sobre atividades e estratégias de leitura de um texto literário acionadas pelos

alunos.

Com efeito, no ato de leitura literária, cabe ao leitor um papel ativo e determinante na

construção de sentidos. É justamente por esta razão que Manguel confessa que tal como,

certamente, “sucede com todos os leitores, ‘percebeu’ que o ‘seu’ papel era o principal e

que a existência da história dependia da ‘sua’ recetividade e interpretação crítica (Manguel,

2010a, p. 39), sem as quais, aliás, o texto permaneceria para sempre um conjunto de

marcas sillenciosas (Manguel, 1998 apud Baleiro, 2011). Na verdade, esta ideia é

corroborada por Eco (1993 apud Baleiro, 2011) que considera o leitor indispensável à

existência do texto, não só ao nível da mensagem recebida, como também ao nível da

(re)construção do mesmo.

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127

Assim, com o intuito de percebermos como a amostra deste estudo se envolve com o

objeto para o compreender, para o interpretar, para selecionar os conteúdos de que se vai

apropriar, estendendo o seu conhecimento e desenvolvendo a sua afetividade,

questionamo-la sobre a frequência com que ativa determinados comportamentos e

estratégias de leitura de um texto literário.

Neste campo, de acordo com os dados dos Gráficos 11. e 12., destacamos os factos

significativos:

1) Os resultados demonstram de uma forma clara que a maioria dos inquiridos não

só lê o texto indicado pelo professor, na disciplina de Português, como também não desiste

de o fazer se, durante esse processo, se deparar com algumas dificuldades, nomeadamente,

na compreensão de um parágrafo, de um verso, de uma estrofe, entre outras.

Concretamente, 30 dos 43 inquiridos referiram que nunca ou raramente lhes aconteceu não

ler um texto indicado pelo professor ou, para 27 dos respondentes, face aos obstáculos,

desistir de o fazer. No entanto, se tivermos em linha de conta os resultados globais, não é

prática generalizada a leitura integral do mesmo. Com efeito, da totalidade dos estudantes,

22 afirmam que o fazem apenas algumas vezes. Concretamente, 14 dos alunos do 7.º ano

(Gráfico 11.) e 8 dos estudantes que compõem a amostra do 9.º ano (Gráfico 12.)

mencionam que a leitura na íntegra de um texto sucede, simplesmente, em algumas

ocasiões. Particularmente notório é, também, o número dos que afirmam ler o texto várias

vezes. Com efeito, esta situação verifica-se algumas vezes para 18 dos respondentes (11

alunos do 7.º ano e 7 do 9.º ano). A mesma tendência é observada em 7 alunos da amostra

(4 do 7.º ano e 3 do 9.º ano), mas, agora, sucedendo sempre ou quase sempre.

2) Uma deambulação pelos dados dos gráficos supra permite-nos dizer que a maioria

dos respondentes não ativa determinadas estratégias no processo de interpretação de um

texto literário. Na leitura dos resultados, induz-se uma conclusão generalista: os alunos não

estabelecem uma relação crítica e pessoal com o texto literário. Aliás, já em momentos

anteriores se constatou uma certa predileção por rotinas procedentes de uma pedagogia da

dependência (Vieira, 1998) e de orientações interpretativas veiculadas pelos professores

(Gráficos 9. e 10.). Assim, é curioso notar, em ordem descendente, que os inquiridos do

7.º ano (Gráfico 11.) nunca ou raramente: (i) dão atenção aos elementos paratextuais (12

do total); (ii) sublinham expressões e/ou fazem anotações nas margens do texto (9 do

total); (iii) procuram palavras desconhecidas, no dicionário (8 do total) e (iv) registam

incompreensões, dificuldades, dúvidas para apresentar em aula (5 do total). Estranhamente,

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128

estas estratégias são, apenas, acionadas periodicamente por um número igualmente

reduzido de alunos.

Idêntica a leitura da informação relativa aos inquiridos do 9.º ano (Gráfico 12.).

Assim, no extremo, e seguindo em linha descendente, registam-se as estratégias nunca ou

raramente ativadas: (i) procurar palavras desconhecidas, no dicionário (10 do total); (ii)

registar incompreensões, dificuldades, dúvidas para apresentar em aula (7 do total) e (iii)

sublinhar expressões e/ou fazer anotações nas margens do texto e dar atenção aos

elementos paratextuais (ex aequo, 5 do total). Mais uma vez, a surpresa perante a

significância dos resultados referentes às estratégias utilizadas somente algumas vezes: (i)

registar incompreensões, dificuldades, dúvidas para apresentar em aula e dar atenção aos

elementos paratextuais (ex aequo, 10 do total); (ii) procurar palavras desconhecidas no

dicionário e sublinhar expressões e/ou fazer anotações nas margens do texto (ex aequo, 7

do total).

A apropriação de um texto só se consubstancia quando há compreensão do mesmo.

Para isso, é necessário que o aluno seja capaz de interagir com o universo textual e de se

apropriar de estratégias para a construção de sentidos. O que de mais significativo há nos

dois gráficos (11. e 12.) é, porém, que os respondentes não estão a pôr em prática estes

processos. Nesta perspetiva, o professor tem a responsabilidade de auxiliar o aluno na

adaptação de estratégias, de forma a fortalecer a relação efetiva entre o aluno e o texto,

ajudando-o na construção do seu percurso enquanto leitor e construtor da sua autonomia e

conhecimento, uma vez que “o perfil do leitor competente desenha-se, então, a partir das

tarefas em que se envolve e estratégias a que recorre no momento de ler” (Sousa, 1989, p.

51).

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129

É com efeito evidente a necessidade de se trabalhar com os alunos as estratégias de

leitura literária, com a intenção de lhes proporcionar a perceção de que ao utilizá-las, estes

poderão desenvolver as múltiplas possibilidades de construção de significado do texto.

Contudo, e de acordo com Nunes (2003), os alunos não devem conformar-se, em

exclusivo, com o que o professor propõe quanto às estratégias de leitura. Segundo o autor,

os estudantes devem ter o seu próprio espaço para darem as suas opiniões e

Gráfico 11. Métodos e estratégias de leitura de um texto literário, na disciplina de

Português – 7.º Ano

Gráfico 12. Métodos e estratégias de leitura de um texto literário, na disciplina de

Português – 9.º Ano

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compartilharem a leitura, caso contrário, tornam-se alunos sem voz, seguindo apenas a

leitura dos outros.

3) Forçoso se torna, pois, dizer, como já, aliás, abundantemente referimos, que é

tendência a desvalorização de se discutir com o professor e/ ou colegas dificuldades e/ou

conclusões de leitura. De facto, a maioria dos estudantes da amostra deste estudo admite

que é algo que apenas ocorre algumas vezes (22 dos 43 alunos) e 9 alunos (do total)

assumem, mesmo, que esta é uma situação que nunca ou raramente acontece. Esta

constatação não surpreende, uma vez que vai ao encontro da informação já mencionada

nos Gráficos 9. e 10.. Certo é que a competência literária se vai formando progressimente

e com o apoio do professor, pelo que trabalhar convenientemente os textos literários,

fomentando a construção de sentidos, facilita a configuração de outros olhares e a

convalidação de valores que asseguram, numa perspetiva dinâmica de Futuro, a coesão

social (GIPP, 2011).

1.7. A polinização do gosto da leitura literária

1.7.1. Motivos para gostar de um texto literário

Como é evidente, há outros fatores, para além dos expostos, que condicionam o

grau de envolvimento do aluno com o texto. O seu nível de comprometimento com a

leitura encontra-se, como já referimos, intimamente associado aos seus conhecimentos

prévios, à relevância das tarefas propostas, ao seu índice de engagement na construção de

sentidos e, particularmente, à sua motivação para a leitura do mesmo. Com efeito, a criação

de contextos promotores de leitura e a própria seleção dos textos é fundamental para que

exista sucesso na receção e na compreensão dos mesmos, dado que o texto literário

apresenta características que o afastam dos outros textos. Neste âmbito, questionamos os

alunos sobre os motivos que os podem levar a gostar de um texto literário.

Assim, inquidos acerca das razões que os podem levar a gostar de um texto, os

estudantes forneceram as respostas descritas nos gráficos 13. e 14.

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131

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

O título do texto

Os primeiros parágrafos do texto

O assunto/o tema do texto

As personagens

A linguagem utilizada pelo texto

O grau de complexidade das ideias do texto

A extensão do texto

O que o professor diz sobre o texto

As atividades realizadas após a leitura do texto

Número de alunos

sempre/ quase sempre

muitas vezes

algumas vezes

Nunca/ raramente

Gráfico 13. Razões para gostar de um texto literário (7.º ano)

Num primeiro olhar, observamos que “o assunto/o tema do texto” é indicado por

uma larga maioria dos inquiridos como uma das razões que, muitas vezes ou sempre/quase

sempre, os leva a gostar de um texto. Outro dado a registar é o facto de dezassete dos

estudantes afirmarem que “as personagens” estão, muitas vezes ou sempre/quase sempre,

relacionadas com a emergência do seu gosto de ler um texto literário. Da mesma maneira,

a “linguagem utilizada pelo texto”, e “o grau de complexidade das ideias do texto” são

motivos reconhecidos por um número significativo de alunos para, muitas vezes ou

sempre/quase sempre gostar de um texto.

Em oposição, a primeira conclusão que tiramos destes dados é que a “extensão do

texto” nunca/raramente “tem significância na afetividade por um texto, embora alguns

respondentes (9 do total) admitam que “algumas vezes” esta pode levá-los a apreciar um

texto.

Na mesma linha, encontram-se “os primeiros parágrafos do texto” que, segundo 6

dos inquiridos, nunca ou raramente os leva a gostar de um texto. O mesmo se verifica para

oito dos inquiridos, mas, neste caso, com uma maior periocidade (algumas vezes).

Um aspeto relevante, embora contraditório, uma vez que, como vimos na análise das

respostas à questão 17 do questionário, as opiniões e comentários do professor são muito

valorizados, é o facto de não só “o que o professor diz sobre o texto”, como também “as

atividades realizadas após a leitura do texto”, de acordo com um número significativo de

inquiridos, “nunca/raramente” ou apenas “algumas vezes” os incentivar a gostar de um

texto. Esta situação poderá decorrer do facto de o professor privilegiar o ensino do texto,

em vez de promover o hábito, a habilidade e o gosto de ler. Com efeito, Eco, citado em

Page 133: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

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Millán (2002, p. 52), alerta para esta necessidade, afirmando, inclusive, que a leitura

precisa de prática, de rotina e que a mesma não se promove sem esforço nem sacrifício:

“el habito que engendra mania (esa palabra que los griegos utilizaron para designar a

la pasión erótica) no se inculca sin esfuerzo – una palabra desconocida en los actuales

métodos de enseñanza-, y sin una ética del trabajo hoy por hoy ignorada. De seguir así,

acabará confirmándose la predicción de Borges, en La Biblioteca de Babel, de una

Biblioteca perdurable pêro inútil”.

Neste processo, e corroborando as palavras de Nóvoa (1992), pensamos que será

necessária uma nova atitude pedagógica que exigirá do professor um desenvolvimento

profissional com base numa formação que “passa pela experimmentação, pela inovação,

pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. E por uma reflexão crítica sobre a sua

utilização” (Nóvoa, 1992, p. 28).

Continuando a análise e interpretação dos dados relativos das razões para gostar de

ler um texto, repararmos que dos motivos que podem levar (muitas vezes ou sempre/quase

sempre) os alunos, agora do 9.º ano, a gostar de um texto literário (Gráfico 14.) se

destacam, em ordem descendente, três motivos: (i) “o assunto/o tema do texto (18 alunos);

(ii) a linguagem utilizada pelo texto (12 alunos) e (iii) “as personagens” (11 alunos).

Por outro lado, é forçoso constatar que, numa linha muito próxima à dos alunos do

7.º ano, “o grau de complexidade das ideias do texto”, bem como “a extensão do texto”

nunca ou raramente levam estes estudantes (10 do total em ex aequo) a gostar de um texto.

Com efeito, a posição expressa pelos alunos vai no sentido da posição das autoras Ana

Magalhães e Isabel Alçada quando estas afirmam que

Gráfico 14. Razões para gostar de um texto literário (9.º ano)

Page 134: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

133

“poderemos até ser levados a considerar que em alguns casos um texto rico, com

palavras difíceis, se for bem trabalhado na aula, pode tornar-se mais aliciante para os alunos

do que um texto mais fácil. Mas na leitura individual, solitária, isto só é verdade para

crianças excepcionais. A maioria, face ao texto, pode sentir-se até agredida por muitos

obstáculos inultrapassáveis”.

(Magalhães & Alçada, 1988, p. 42)

Também, “o que o professor diz sobre o texto” (9 alunos) e “as atividades realizadas

após a leitura do texto” (9 alunos) nunca ou raramente contribuem para a atratividade da

sua leitura. Se bem que, tal como referenciado no Gráfico 14., um número significativo de

inquiridos admita que de vez em quando pode acontecer, em concreto, 10 e 8 alunos,

respetivamente. Talvez por isto nos Programas de Português, 2009, se preconize que ler

não se pode restringir à prática exaustiva de análise, seja de excertos, seja mesmo de obras

integrais. Contrariamente, em vez de leituras que se prolongam em minuciosas e repetidas

análises, de um formalismo de duvidosa eficácia, há que proporcionar aos alunos

experiências de leitura intelectual e efetivamente estimulantes (PPEB, 2009).

Não será, com certeza, fácil de determinar os motivos subjacentes a esta situação.

Acreditamos, contudo, que é urgente perspetivar-se a leitura literária como prática

complexa que é e distanciá-la “de concepções simplistas e redutoras que identifiquem

compreensão leitora com paráfrase de informação textual, ou com recolecção

unidireccional de ideias plasmadas nos textos pelos seus autores; urge, em alternativa,

estimular a construção de sentidos textuais, por parte do leitor” (Pimenta, 2005, p. 12).

Devemos, por outro lado, nos questionar se, na escola se tem investido num trabalho

que, de modo caleidoscópico, não só melhore a generalidade das práticas escolares da

leitura literária, mas também fomente o gosto por esta atividade. Enfim,

“cabe ao professor (coitado do professor, a quem hoje tudo se pede!) fazer uma

selecção criteriosa dos livros a explorar, de acordo com os alunos que tem, mas para tal

deverá dispor de condicões imprescindíveis – uma formação adequada, uma razoável

biblioteca escolar, ou colaboração efectiva com a Biblioteca Municipal, e permanente

actualização”.

(Luísa Ducla Soares, 2002, p. 83)

Outros elementos existem, porém, que nos podem ajudar a aquilatar sobre

procedimentos pedagógicos mais adequados para motivar os jovens para a leitura dos

denominados textos literários, especialmente, sobre métodos que, na ótica dos alunos,

favorecem um encontro afetivo, cultural e intelectual entre os leitores e os textos.

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134

Neste sentido, observemos, agora as respostas à questão 20 do questionário

(Quadros 14. e 15.), na qual os estudantes registaram o seu grau de concordância com uma

listagem de afirmações.

7.º Ano

Discordo

Totalmente

Concordo em

parte

Concordo/

Concordo

Totalmente

A análise dos textos diminiu o prazer

da leitura.

9

7

7

A forma como se estuda e ensina a

literatura na escola aumenta a vontade

de ler.

5

8

10

Ser obrigado a ler o texto diminui o

prazer da leitura.

4

5

14

Gosto mais dos textos que se

relacionam comigo e com a minha

vida.

2

5

16

A leitura na aula é mais agradável

quando não tenho de fazer fichas.

2

8

13

Nas aulas de Português, deveria

ser dada uma explicação objetiva do

que é “literatura”.

7

10

6

Gosto mais dos textos quando há

menos trabalho de gramática.

8

6

9

O meu interesse aumenta quando o

texto de teatro é representado.

3

1

19

Quadro 14. Grau de concordância com atividades e métodos de leitura – 7.º ano

A primeira observação que este quadro suscita é que um número bastante expressivo

de estudantes, 19 concretamente, é perentório na sua concordância com a afirmação “o

meu interesse aumenta quando o texto de teatro é representado”. Neste sentido, somos de

opinião que as atividades, em sala de aula, devem ser o mais diversificadas possível, não só

como fator de motivação, mas também para envolver a prática de diferentes capacidades.

Outro aspeto a pôr em evidência é que 16 dos respondentes estão em harmonia com o

facto de apreciarem mais os textos que se relacionam com eles ou com a sua vida. Este

ponto de vista vem corroborar a opinião de alguns estudiosos que afirmam que os alunos

ao serem obrigados a ler textos tão afastados das suas experiências e conhecimentos podem

ver aumentada a sua sensação de frustração, inferioridade e mesmo incapacidade. “Por

isso, precisamos de escolher textos que possam não pertencer ao cânone literário, mas que

reflitam as vidas e os interesses dos nossos alunos” (GIPP, 2011, p. 20).

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135

Um terceiro elemento caracterizador da opinião dos alunos é o número daqueles que

subscrevem que ser obrigado a ler um determinado texto diminui o prazer da leitura, 14

alunos, em concreto. E se repararmos nos dados referentes a “A leitura na aula é mais

agradável quando não tenho de fazer fichas” vemos que, embora agora mais repartido, o

número dos que estão em concondância prevalece para mais de metade dos estudantes (13

do total). De facto, a opinião dos estudantes é coerente com os preceitos de Yunes (1984,

p. 22) quando refere que, na escola, “segunda oportunidade de relacionamento do livro

com o leitor, leitura é imposição, avaliação; neste âmbito, a leitura que se proporia como

prazer, se realiza como dever”.

Também, somos impelidos a afirmar com Coelho (1980) que na escola se valoriza

pouco as dimensões simbólica e estética que sustentam o prazer de ler, constituindo-se esta

falha, como um dos principais entraves ao enraizamento da leitura como prazer de ler.

Desta massa de informação e números, destacamos, ainda, quatro factos importantes:

(1) a irrelevância, para grande parte dos alunos, de uma explicação objetiva, na aula de

Português, do que é “literatura” (17 alunos); (2) a análise dos textos não diminui o prazer

da leitura (16 alunos); (3) o trabalho de gramática não interfere com o gosto dos alunos

pelos textos (14 alunos) e (4) a forma como se estuda e ensina a literatura, na escola, não

aumenta a vontade de ler (13).

Centrando-nos, particularmente, neste último aspeto, não podemos deixar de referir,

correndo o risco de nos repetirmos, que o objetivo fulcral da escola deverá ser

“ensinar a ler. Ler sem que passe despercebido o mais importante, e às vezes é

pormenor que parece uma coisinha de nada. Ler, despindo cada palavra, cada frase,

auscultando cada entoação de voz para perceber até ao fundo a beleza ou o tamanho do que

se lê. É também de interesse primário levar os rapazes a amar as palavras… Ora, para amar

as palavras e para, a seguir, amar a leitura, é aconselhável, como disse La Palice, não fazer

desamar as palavras, nem fazer desamar a leitura”.

(Sebastião da Gama, 1993, p. 48)

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136

Se atentarmos, agora, no Quadro 15.. alusivo à informação dos alunos do 9.º ano de

escolaridade, notaremos que não existe uma divergência indicativa nos valores apurados

em comparação com os do 7.º ano.

9.º Ano

Discordo

Totalmente

Concordo

em parte

Concordo/

Concordo

Totalmente

A análise dos textos diminiu o

prazer da leitura.

10

6

4

A forma como se estuda e ensina

a literatura na escola aumenta a

vontade de ler.

7

11

2

Ser obrigado a ler o texto diminui

o prazer da leitura.

3

2

15

Gosto mais dos textos que se

relacionam comigo e com a minha

vida.

2

1

17

A leitura na aula é mais agradável

quando não tenho de fazer fichas.

0

3

17

Nas aulas de Português, deveria

ser dada uma explicação objetiva

do que é “literatura”.

4

11

5

Gosto mais dos textos quando há

menos trabalho de gramática.

4

5

11

O meu interesse aumenta quando

o texto de teatro é representado.

1

3

16

Quadro 15. Grau de concordância com atividades e métodos de leitura – 9.º ano

Dele destacamos os traços mais marcantes. Assim, verificamos que, por ordem

decrescente:

(1) Estes estudantes, tal como os do 7.º ano, gostam mais dos textos que se

relacionam consigo e com a sua vida e a leitura, na aula, é mais aprazível quando não há

espaço para a realização de fichas (10 alunos, ex aequo). Posição em tudo semelhante à de

Silva (1981, p. 45), quando afirma que “é relevante o facto da leitura se ligar intimamente

ao projeto educacional e à própria existência do indivíduo”;

(2) O interesse dos alunos pelo texto de teatro é maior quanto este é representado (16

alunos);

(3) A obrigatoriedade de leitura de um texto diminui o prazer desta prática (15

alunos);

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137

(4) Os textos tornam-se mais atrativos quando existe menos exploração gramatical

(11 alunos).

Por outro lado, e em função do seu grau de discorcância/ concordância em parte com

as declarações assinaladas, ficamos a saber que o que menos atrai os respondentes para a

leitura é a forma como se estuda e ensina a literatura, na escola. Esta indicação é, de resto,

consentânea com o exposto no Gráfico 14.

Conquanto, e igualmente por ordem decrescente, a análise dos textos não diminui o

prazer da leitura (16 alunos), mas, na verdade, não promove a sua prática, tal como temos

vindo a comprovar ao longo deste estudo empírico, e a explicação objetiva do que é

“literatura” é dispensável (15). É, justamente, neste quadro que se nos afigura legítimo

afirmar, como já o fizemos em momentos anteriores, que a formação do leitor literário

implica o reconhecimento das especificidades da literatura, conquanto esta é uma forma

cultural diferenciada e única que “exige atuações específicas por parte do leitor na sua

apropriação (…) o signo literário alimenta-se da ambiguidade, da opacidade, da

plurissignificação, da mesma forma que pede modos de aproximação compatíveis com tal

natureza para ser experimentado em suas múltiplas possibilidades” (Oberg, 2014, p. 204).

Em jeito de conclusão, e revisitando o enquadramento teórico, uma leitura global

possível de realizar sobre esta informação remete-nos para o facto de a leitura literária, em

contexto escolar, ser marcada por exigências dos professores que querem mensurá-la de

todas as formas, seja através de fichas de leitura, seja através de resumos ou de análise de

obras lidas, que servem de pretexto para a memorização de regras gramaticais ou

conteúdos fragmentados, reproduzindo apenas superficialmente o sentido do próprio texto.

Efetivamente, estas práticas sufocam a descoberta da leitura por prazer, inibem o

aluno e o ato de ler passa a ser compreendido pelos alunos como uma obrigação.

Seguidamente, procedermos à análise e interpretação dos dados relativos ao inquérito

por entrevista.

2. Dados relativos ao inquérito por entrevista

A análise que se realizará em seguida foi concebida a partir dos dados recolhidos através de

uma entrevista em grupo (focus group) semiestruturada realizada aos alunos dos 7.º e 9.º anos de

escolaridade do ensino básico, em quatro momentos distintos.

Este instrumento de recolha de informação norteou-se, sobretudo, por quatro objetivos

capitais: (1) Recolher informação para identificar pontos de atratividade da leitura literária; (2)

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138

Obter elementos para analisar a influência de pais, professores e pares na formação de atitudes e

comportamentos relacionados com a leitura; (3) Obter dados para caracterizar aspetos da didática

da leitura valorizados pelos alunos e (4) Obter informação para identificar algumas dimensões das

práticas de leitura literária dos alunos, nomeadamente no que diz respeito aos seus objetivos,

objetos, frequência e contextos privilegiados.

As entrevistas foram tratadas, no seu conjunto, com recurso à técnica de análise de

conteúdo, tendo-se utilizado o método de categorização e codificação de dados subscrito

por Bardin (1997), visando o processo de descrição e interpretação.

Queremos reafirmar que foram tomados os cuidados e as exigências necessárias para

garantir a validade e a fiabilidade da entrevista.

Não obstante, os esforços encetados para se estabelecer uma relação de proximidade

e de confiança com os inquiridos, de forma a se criar um ambiente de descontração e de

empatia, foram, em certa medida, frustrados, devido, principalmente, à timidez de muitos

estudantes, ao comportamento bastante perturbador e irresponsável de alguns e, ainda, ao

cansaço físico e psicológico de outros. Aliás, esta série de constrangimentos obrigou ao

termo prematuro da inquirição aos alunos do 9.º ano de escolaridade, situação que

condicionou a obtenção de informação quantitativa e, particularmente, significativa para os

propósitos deste estudo.

Aliás, na globalidade, as respostas autónomas com um registo reflexivo e crítico

sobre o tema inquirito foram exíguas, tendo a maioria dos entrevistados recorrido ao uso de

monossílabos – sim, não.

Desta forma, apesar da existência de um guião estruturado, houve necessidade de, no

decorrer da entrevista, se explorarem outros percursos.

2.1. A prática de leitura e as suas circunstâncias

Tal como já referimos noutros momentos, a leitura, nestas idades acontece,

essencialmente, por duas razões centrais: (1) por iniciativa pessoal, como forma de lazer ou

de aquisição de conhecimento para além do exigido pela escola; (2) por obrigação, no

âmbito dos conteúdos escolares.

De facto, tal como se constatou com a interpretação dos resultados de algumas

questões do inquérito por questionário, a leitura do Quadro 16. permite-nos observar uma

atitude, em certa medida desfavorável para com a leitura e que, entre os jovens do sétimo

ano, poucos são os hábitos de leitura e, na maioria das vezes, acontecem só

periodicamente.

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139

Os gostos e as preferências observados revelam uma contradição em relação aos

dados do inquérito. Se no inquérito géneros como romance/novelas/contos, livros juvenis

ou biografias eram claramente rejeitados (Gráfico 1), agora assumem destaque como

sendo os preferidos das escolhas dos estudantes.

Para estes jovens leitores do 7.º ano (Anexos 8 e 9) a leitura é uma atividade que

deve ser feita num local íntimo, tranquilo, relaxante, como em casa ou na praia. Segundo

as suas palavras,

“…nós na sala de aula, nós somos aquela coisa de estar ali calados, de estar ali a

ler assim, e a professora é assim: “ah! Já te mexeste, já foste! Nós em casa não” (A10).

Efetivamente, “Na praia, por exemplo, pois “…nós estamos com mais calma e

gostamos mais desse sítio, por exemplo, e temos mais interesse em ler… estamos com a

mente mais vazia e… estamos para relaxar” (A1 ).

O facto de preferirem contextos de leitura mais descontraídos, a verdade é que estes

alunos reconhecem que “o local tem incentivo …mas …eu acho que se tu não gostasses do

livro não era o local que te ia fazer gostar do livro…” (A11).

Por outro lado, não obstante os dados recolhidos nas entrevistas aos alunos do 9.º ano

serem pouco significativos (Anexos 10 e 11), pelos motivos já expostos, observamos que

embora haja um reconhecimento da leitura como uma prática significativa, pois, segundo

as suas palavras, “ficamos com melhor vocabulário”, “ aprendemos coisas melhores sobre

a vida“(A9, A10 – Anexo 11) e “pode-se conhecer outros locais” (A9, Anexo 11), a

verdade é que a sua atitude é de alguma forma contrariada pelas respetivas prátivas: “ nós

não lemos tanto…”; “ muito pouco” Eu não leio nada ”(A1, A8, A4, respetivamente,

Anexo 11) e “ Eu leio de vez em quando”(A2, Anexo 11).

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140

Quadro 16. Dimensões das práticas de leitura literária dos alunos - objetos, frequência, preferências e contextos privilegiados de leitura

Categoria Subcategoria Indicadores no discurso dos alunos – 7º Ano

Hábitos de leitor

Não ter o hábito de ler

Ler poucas vezes

Ler periodicamente

A12“… que eu não estou muito habituado a ler."

A7: Nada…”

“A9: Eu também não…”

“A2: . … nós não lemos muito…”

“A9: Eu também não…”

Eu gosto mais de ler às vezes

“A7: Eu gosto de vez em quando…”

Atitudes para com a

leitura

Atitude desfavorável

Atitude favorável

“Nós não gostamos… “

“A5:Eu não gosto de ler.… “

“A5: Eu não gosto de nada…”

“A5: Eu não gosto muito.”

“A4:Não gosto de ler…”

“A4: Eu gosto de livros …Eu pego num livro.”

“A1: Eu gosto mais de ler às vezes porque ler é bom não é?

Objetos/

Preferência de leitura

Revistas e jornais

Livros juvenis

Tipologias textuais:comédia,

aventuras, romances,

biográficos

“ “A11: Revistas… por exemplo a “Bravo””

“A1:Livros mesmo…”

“A1: Livros juvenis… Preferia muito mais um livro do que uma revista…”

“A9: Comédia… romances…”

“ …com a vida das outras pessoas… há muito autores que escrevem sobre a vida deles”

“A2: De textos… como é que eu hei de explicar…Do amor…”

“A3: Sim… de romances e assim… gosto mais de ação…”

“A4: De aventura…”

Contextos privilegiados Fora da escola:

Locais descontraídos;

Em casa; praia

“A1: Da praia sim… nós estamos com mais calma e gostamos mais desse sítio, por exemplo, e temos

mais interesse em ler…”

“ (na praia) “A1: Estamos com a mente mais vazia …”

“…na praia estamos mais calmos e não estamos distraídos com alguma coisa… “

“…Nós em casa podemos estar ali… um lugar onde nós gostarmos…”

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2.1.1. Perceções sobre a atratividade da leitura literária, em contexto escolar

Não nos cansamos de afirmar que é imprescindível ensinar a ler os diferentes

géneros literários e, em consequências, as diversas tipologias. O trabalho de formação do

leitor literário implica, como já referimos, o reconhecimento das especificidades da

literatura e da leitura literária. Logo, é importante perceber se o aluno conhece o tipo de

texto que lê para que melhor o possa compreender e dele retirar sentido. Com efeito,

concordamos com o pensamento de Cassany e de outros estudiosos (1994) quando

afirmam que a aproximação a um texto depende de vários factores, entre os quais a

compreensão das características que o fazem significativamente diferente de outros

textos escritos.

Assim, a leitura global dos resultados obtidos (Tabela 1., Anexo 5) sugere-nos

que, e ao contrário do que apontavam alguns dos resultados do inquérito, a maioria dos

alunos tem algumas dificuldades em elencar as particularidades de um texto literário,

reconhecendo, unicamente, que se trata de um texto com uma linguagem própria, mais

complexa, metafórica que não se insere no seu quotidiano.

Não obstante estas dificuldades, os alunos reconhecem ao ler um texto literário sai

do seu lugar-comum e é transportaado para um outro contexto nunca antes visto e

imaginado. Nesta lógica, o leitor é levado à leitura do mundo e de si mesmo,

enveredando por um caminho sedutor e enigmático, onde, segundo as suas palavras,

poderá não só desenvolver a imaginação e estimular a mente, mas também obter

conhecimento.

No fundo, os inquiridos assumem que o texto literário, pela sua dimensão

simbólica e de representação, favorece “um diálogo mais complexo e mais rico com a

experiência pessoal do aluno, alargando as suas experiências, despertando a sua

curiosidade e ampliando o seu conhecimento do mundo e dos outros” (PPEB, 2009, p.

137).

Repara-se, por outro lado, que a obrigatoriedade de leitura dos textos impostos pelo

professor, é um dos motivos mais apontados para não ler ou não gostar de ler um texto

literário, juntamente com o facto de estes versarem sobre temas desinteressantes e

desajustados à sua idade - “… são livros muito crianças e nós já gostamos de coisas

mais… adultas…” , “eu acho que é mau ser uma obrigação…” .

Talvez seja este o motivo para que os alunos não perpetuem hábitos de leitura e

optem por outras atividades.

Por outro, são também vários os motivos apontados para ler ou gostar de ler uma

obra literária. Para que isso aconteça é importante, essencialmente, o assunto do texto, ou

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seja, “…depende do que seja o conteúdo do livro” (A7), “depende dos temas…” (A1)

que deve ir ao encontro dos seus interesses, das suas preferências e das suas vivências,

enfim, “… um texto que nós achemos mais interessante é claro que vamos ter mais gosto

em ler, mais prazer de ler…” (A3).

Da mesma maneira, no que se refere aos alunos do 9.º ano, também a leitura é

fonte de conhecimento e não só os ajuda a compreender melhor o mundo e a conhecer

outros locais, como também os ajuda a melhorar a sua capacidade de expressão,

designadamente, a nível vocabular - “aprendemos coisas melhores sobre a vida…”, “….

Ficamos com melhor vocabulário” (A10, Anexo 10), ” pode-se conhecer outros locais”

(A9, Anexo 11).

Mais, o facto de se tratar de uma obrigação, uma imposição é motivo para justificar

a sua atitude desfavorável face à leitura do texto literário. Não obstante, um tema

interessante poderá cativá-los para a leitura da obra literária.

2.1.2. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados

pelos alunos: A Escola

Um fator importante apontado por Colomer & Camps (2002) nas práticas pedagógicas

que remetem à leitura literária é o da ambiguidade na definição dos objetivos dados aos

textos literários pela escola que, por um lado insiste para que os alunos adquiram prazer na

atividade de leitura e, por outro, a converte em ponto de partida para exercícios e trabalhos

escolares, quando o que se pretende com a leitura literária é o desenvolvimento de “práticas

interpretativas que articulem a atividade compreensiva, de análise e de apreciação, com a

dimensão social e cultural dos textos” (PPEB, 2009, p. 146).

Neste âmbito, ao debruçarmo-nos sobre os aspetos da didática valorizados pelos

alunos (Tabela 2., Anexo 6), verificamos que, tal como anteriormente descrito, no estudo de

um texto literário, na aula de Português, predominam atividades como: leitura do texto

seguida de um questionário oral individual; ditado das respostas do questionário; leitura de

texto seguida de realização de fichas de teor gramatical e análise textural e respetivo

questionário do manual escolar. Sobre estas, os alunos têm uma posição bem vincada – são

atividades aborrecidas, rotineiras que os obrigam a ler diversas vezes o texto e que lhes

retiram o prazer da leitura -“Perde a piada de estarmos a ler e a responder perguntas… até

pode ser interessante o texto, não é?, mas quando vem as perguntas… eu acho que estraga

sempre um bocado…” (A6).

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As atividades de leitura, na escola, guiadas desta forma, servem o único propósito de

confirmar se o aluno descodifica o texto e não se ele o compreende, o interpreta e dialoga

com ele.

Estas não favorecem a interação texto – leitor, uma vez que não contemplam que o

texto necessita do leitor para lhe atribuir sentidos – sentidos que se estabelecem por meio de

mecanismos de interpretação que o leitor usa e devem ser desenvolvidos na escola. Na

realidade, se o leitor do texto literário deve, por um lado, exercer a atividade de ler em

liberdade, sem constrangimentos nem imposições, também deve ter, por outro,

conhecimentos básicos suficientes, oriundos do campo dos estudos literários, que lhe

permitam estabelecer, com autonomia, uma relação dialógica entre si e qualquer obra de arte

literária.

Pois bem: onde estão os leitores num ambiente assim? Considerando que o texto

literário é plurissignificativo, que guarda uma multiplicidade de sentidos, não deveria

receber uma abordagem que não considerasse essa especificidade. A subjetividade da

linguagem literária deixa de ser explorada quando este tipo de atividades de compreensão se

multiplica e universalizam, no espaço escolar. É nesta linha de reflexão que emerge a

proposta de Soares (2006, p.43) que afirma que

“os objetivos de leitura e estudo de um texto literário são específicos a este tipo de

texto, devem privilegiar aqueles conhecimentos, habilidades e atitudes necessários a

formação de um bom leitor de literatura: a análise do gênero texto, dos recursos de

expressão e de recriação da realidade, das figuras autor-narrador, personagens, ponto de

vista (no caso da narrativa), a interpretação de analogias, comparações, metáforas,

identificação de recursos estilísticos, poéticos, enfim o estudo daquilo que é textual e

daquilo que é literário”.

De facto, a leitura literária é marcada por exigências dos professores que querem

mensurá-la de todas as formas, seja através de fichas de leitura, seja através de resumos

ou de análise de obras lidas, que servem de pretexto para a memorização de regras

gramaticais ou conteúdos fragmentados, reproduzindo apenas superficialmente o sentido

do próprio texto. Como refere Dionísio (2004, p.72):

“ [...] o leitor de literatura construído pelas práticas de escolarização […] é aquele

que não existe enquanto construtor de sentidos, mas sim enquanto assimilador de

sentidos apresentados pelos outros; é aquele para quem o texto se apresenta como um

amontoado de factos retóricos, diegéticos e poéticos que, esvaziados de qualquer valor

significativo, se têm simplesmente de assinalar e reconhecer em situações futuras,

concretamente, nos testes e nos exames”.

Na verdade, o incentivo que é dado à leitura remete precisamente para a ideia de

ler para ter sucesso escolar, pois, “quando os professores nos mandam ler dizem assim

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que nós devemos também ler em casa com mais frequência que nos vai ajudar para o

teste…” (A2).

Efetivamente, as propostas que os alunos fazem, incluindo as dos do 9.º ano, vão,

de certa forma, ao encontro das apresentadas por estudiosos referenciados no nosso

quadro teórico. Assim, a leitura em voz alta, debates e discussão de ideias e leitura

efetuada por um leitor competente são exemplos de atividades que estes estudantes

gostavam de ver implementadas, na sala de aula, pois “quando nós fazemos o diálogo

estamos numa conversa aberta, trocamos as nossas opiniões e eu acho que isso tem mais

interesse …” (A4). Também, “podemos sempre trocar ideias… e assim percebemos

porque é que estávmos a pensar mal, ou isso assim…” (A8, Anexo 11).

Efetivamente, não é expectável uma interpretação definitiva de um texto literário

dos nossos alunos. Todavia, devemos usar o texto como base para a discussão,

controvérsia e pensamento crítico, na sala de aula.

2.1.3. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados

pelos alunos: O grupo de pares.

Tal como já refimos em outros momentos, juntamente com a escola e a família, os

pares são um fator estruturante e importante ao entendimento dos comportamentos e das

atitudes de cada um perante a leitura, sendo a assunção de papéis sociais reforçada com a

identificação do grupo, através de comportamentos e práticas comuns aos pares com

idades, interesses e valores semelhantes.

Assim, constatamos que a sua influência na sedimentação de hábitos de leitura está

muito longe de ser decisiva e que ler não é uma atividade preferencial para se

desenvolver em grupo (Anexos 8, 9, 10, 11). Aliás, estes jovens preferem outras

atividades como jogar futebol ou jogos de computador. Da mesma forma, os dados

mostram que os estudantes não conversam sobre livros e, inclusive, só excecionalmente

oferecem ou emprestam livros uns aos outros, pois “fala-se mais sobre séries

televisivas” (A2) 1.º grupo, assim como “já foi tempo em receber livros!” (A5) 2.º

grupo.

Não podemos deixar de assinalar que, contrariando a tendência, dois alunos do 9.º

ano (A3 e A9, Anexo 11) referiram que têm um clube de leitura onde discutem as

leituras que fazem e trocam livros. Curiosamente, foram estes que referiram gostar de ler

e que o fazem com regularidade.

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2.1.4. Contextos críticos de socialização para a leitura literária experienciados

pelos alunos: A família

Como mencionamos no nosso enquadramento teórico, a propósito das atitudes face à

leitura, faz sentido supor que quem lê foi mais exposto a esta prática, em família.

Efetivamente, um dos fatores preponderantes para a iniciação da leitura é o facto de as

crianças observarem os pais a ler. Neste sentido, “os pais são os modelos privilegiados dos

seus filhos, transmitindo-lhes hábitos e práticas que condicionam os seus gostos e

comportamentos. A leitura, como comportamento eminentemente social, não foge a esta

influência.” (Cruz, Ribeiro & Viana, 2012, p. 20), pelo que os pais, devem, evidentemente,

ser eles próprios leitores.

Neste âmbito, e de acordo com o Quadro 19, constatamos que, no geral, a atitude

para com a leitura dos familiares, e os comportamentos a ela associados, é, de uma forma

geral, positiva. De facto os pais leem, embora com alguma periocidade. Aliás, alguns

destes alunos cresceram num ambiente privilegiado de leitura, ouvindo e vendo ler quer

livros quer revistas ou jornais (Anexos 8, 9, 10 e 11)

De facto, segundo a comunidade científica da área, as crianças que tiveram

oportunidade de desenvolver hábitos de leitura na infância terão maiores probabilidades de

se tornarem bons leitores e leitores de prazer (Barthes, 1973; Bloom, 2001; Magalhães,

2008; Sousa, 2007) e, por conseguinte, leitores literários, do que as crianças cujo contacto

com o universo dos livros foi ínfimo.

Contudo, os resultados obtidos quer pelo questionário, quer pela entrevista não

corroboram estes estudos. Talvez o choque de gerações seja, agora, mais acentuado e as

preferências dos adultos não se reflitam na dos jovens adolescentes. Com efeito, eles

próprios afirmam que “eles escolhem sempre os livros que eles mais gostam e não pensam

em nós, ou seja, eles só pensam neles praticamente. “

Por fim, perante este quadro, resta-nos reforçar que “tanto as crianças como as

famílias como as escolas e, sobretudo as crianças, têm a ganhar e muito com uma relação

mais estreita, com uma colaboração em parceria, com uma relação feita de confiança

mútua” (Miguéns, 2005, p. 9-10).

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Quadro 17. Os pais e a leitura – comportamentos relacionados com a leitura entre os familiares diretos

Categoria Subcategoria Indicadores no discurso dos alunos – 7º ano

Hábitos de leitura

Ler com regularidade

Ler periodicamente

“…a minha mãe está sempre a ler…”

“A2:A minha mãe está sempre a ler

“A11::A minha tia está sempre a ler…”

“a minha avó é praticamente das únicas pessoa na minha família que lê.. lê muitos

livros”

“A3: A minha mãe. (lê)“

“A1: A minha mãe…”

A2: A minha mãe…

“A4: O meu pai e a minha mãe…”

“…A minha avó às vezes lê… “

Atitudes /comportamentos de

leitura de pais, irmãos avôs

Ler histórias na

infância

Falar dos livros lidos

“A6: Sim, quando era para dormir, então aí adormecia logo…”

“A1: Liam, liam… aqueles para crianças…”

“A4: Ouvir os meus familiares a falarem dos livros que leem…”

Promoção de hábitos de leitura

Assunto/tema do livro

Curiosidade

despertada pelo título

Desinteresse pelas

sugestões/preferências

dos pais

…depende do conteúdo. Se nós gostarmos do que eles estão a ler…

… “A2: Dependo do título…Se virmos o título e gostarmos… se nos der curiosidade…”

“A4: Eu estou a ler uma coisa porque foi o meu pai que escreveu… vários livros da sua

editora antiga…”

“…Nunca gosto das ideias que eles dão.”

“.. Porque eles escolhem sempre os livros que eles mais gostam e não pensam em nós,

ou seja, eles só pensam neles praticamente. “

“Olha, tu devias ler este livro” e diz-me assim… tipo, um bocado do conteúdo do livro, e

eu só por causa de uma coisinha que ela diga, penso logo que o livro é uma seca

porque….”

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3. Principais conclusões da investigação

A apresentação das principais conclusões e dos contributos da investigação implica a

prolixidade de factos e comentários já elaborados ao longo do nosso texto. Por

conseguinte, procuraremos restringir essas duplicações e limitar-nos-emos às conclusões

mais pernitentes.

Deste modo, na génese deste estudo achou-se, sobretudo, o interesse, quer pessoal quer do

ponto de vista do conhecimento em supervisão pedagógica, em compreender as perceções dos

alunos acerca da leitura literária, em sala de aula. Como tal, o seu sentido rumou em direção a um

maior conhecimento sobre o que dificulta e/ou facilita, em contexto escolar, a formação de leitores

literários.

De facto, foi neste sentido que se procurou conceder a este texto um carácter

informativo, que partisse da análise das vivências e representações dos alunos, e que

promovesse a discussão/reflexão sobre o fenómeno da leitura literária, em contexto

escolar, concretamente, na aula de Português.

Foi, de resto, desta curiosidade que emergiram as duas questões centralizantes desta

investigação: (1) Quais as perceções dos alunos acerca da leitura literária, em sala de aula?

(2) O que dificulta/facilita, em contexto escolar, a formação de leitores literários?

Neste sentido, delinearam-se os seguintes objetivos: (1) problematizar o papel da

escola na formação do leitor literário; (2) caracterizar os aspetos da didática da leitura

valorizados pelos alunos; (3) Caracterizar contextos críticos de socialização para a leitura

literária experienciados pelos alunos, nomeadamente, a família, a escola e o grupo de pares

e (4) Identificar algumas dimensões das práticas de leitura literária dos alunos,

nomeadamente no que diz respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos

privilegiados.

Desta forma, partimos para este estudo motivados, por um lado, pela convicção de

que a formação de leitores literários se configura à luz de um quadro antropológico que vai

evoluindo em função dos hábitos e das práticas culturais contemporâneas a cada leitor. Por

outro, que a literatura promove o saber e atua sobre o aluno leitor como uma atividade

crítica e reflexiva, permitindo-lhe uma transformação libertadora e subversiva. Também,

de que “a formação literária ajuda a desenvolver uma capacidade analítica que ultrapassa o

julgamento da obra de arte literária” (Ceia, 2002, p. 11), tornando, desta forma, o aluno

mais apto a julgar os seus próprios valores.

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De facto, vimos que através da leitura literária o aluno acede não só ao conhecimento

do mundo, como também ao mundo do conhecimento e, fundamentalmente, vivencia a

tensão transformadora que essa experiência lhe pode proporcionar, pois, tal como refere

Fish, o texto literário é “an experience; it occurs; it does something; it makes us do

something” (1980, p. 32).

Efetivamente, constatamos que os textos literários favorecem um diálogo mais

complexo e mais rico com a experiência pessoal do aluno, ampliando as suas experiências,

estimulando a sua curiosidade e aumentando o seu conhecimento do universo e dos outros.

Tal como não deixa de chamar a atenção Lazar (1993), o texto literário expõe os alunos a

temas complexos e a formas não esperadas da língua. Esta exposição aviva as emoções do

aluno, tornando-o mais sensível aos problemas dos outros, mais atento a outras realidades e

consciente do seu papel de agente transformador do mundo em que vive.

Na realidade, percebemos que não só a leitura literária deve ser estimulada, mas

também os textos devem surpreender pela originalidade das histórias e pela relação que

estabelecem com a realidade e os interesses dos alunos, como forma de fomentar e

promover o seu gosto pela leitura.

Com efeito, verificamos que a leitura literária é um processo holístico complexo

onde diferentes variáveis contextuais interagem de um modo que “we may never

understand” (Rabinowitz, 1987, p. 1012).

É senso geral que a escola é o lugar por excelência de todas as leituras, o lugar onde

o aluno aprende a ler, não como um fim em si mesmo, mas como um meio de

compreender, de conhecer, de se relacionar consigo próprio e com os outros. Não obstante,

e considerando o primeiro objetivo do nosso estudo – problematizar o papel da escola na

formação do leitor literário, a análise dos dados revelou que, na escola, a maioria dos

alunos não lê por prazer ou porque gosta, mas porque a leitura é uma imposição como

tarefa escolar para ser avaliada cuja validade é a relativa ao tempo que durar a escola. Isto

significa que para se fomentar o hábito e o gosto pela leitura, esta tem de ocorrer num

espaço de maior liberdade possível, onde se respeitem os interesses e gostos de cada

estudante. Para isso, é necessário que na escola se desenvolvam ambientes favoráveis à

leitura, que não associem o livro exclusivamente ao estudo, em encontros

descomprometidos ou em função de decisões pessoais, pois para estes jovens alunos a

leitura é uma atividade que se faz, preferencialmente, em ambientes tranquilos, sem

pressão nem obrigação.

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Na realidade, os alunos revelam alguma apetência para a leitura, nem que seja só de

vez em quando, principalmente os mais jovens, pelo que à escola compete estimular e

explorar essa predisposição.

Mais, quando se fala de formação de leitores literários, não podemos descurar o

papel do professor. Este é um dos mais importantes mediadores de leitura e a sua função é

orientar os alunos, dando-lhes a conhecer os textos e permitindo-lhes usufruir, na

plenitude, das diversas leituras consentidas pelo texto literário. Porém, como se constatou,

muitos dos nossos inquiridos não gostam de ler, em ambiente escolar, porque os textos não

são do seu interesse e não lhes despertam o prazer, no momento da leitura. Note-se, no

entanto, que as orientações de gestão do Programa de Português do Ensino Básico, 2009,

permitem à escola, na figura do professor de Português, uma considerável liberdade de

movimentos na criação de oportunidades potenciadoras de diferentes e significativas

experiências dos alunos, no contacto com os textos literários. Por conseguinte, este tem

autonomia, embora condicionada, na consolidação e reorientação das predisposições e

práticas dos alunos, fomentando o contacto com o livro, facilitando a sua consulta, na

biblioteca escolar, e facultando o acesso não só a uma diversidade textual, mas também aos

seus distintos suportes – escritos, orais, visuais e digitais.

Nesta linha de pensamento, considerando que o ambiente educativo influencia a

qualidade das aprendizagens, é inegável a importância das condições criadas, na escola,

para a obtenção de resultados positivos, neste contexto, no âmbito da Educação Literária.

Na prática, gostar de ler a um nível que leve a optar por ler em detrimento de outras

atividades vistas bem mais interessantes não é resultado de determinação biológica. Pelo

contrário, “o gosto aprende-se, muda-se, cria-se, ensina-se” (Viana, 2012, p.14) e a escola

constitui um dos contextos de mediação privilegiados. Por conseguinte, se é,

essencialmente, a escola que possibilita ao aluno conhecer a literatura, então a tarefa de

ensinar a ler uma obra literária e a gostar de o fazer deve ser enfrentada.

No decurso do segundo objetivo do nosso estudo – caracterizar os aspetos da didática

da leitura valorizados pelos alunos, concluímos que é necessário converter a atual prática

pedagógica, vista pelos alunos como limitada, enfadonha e repetitiva, numa modalidade

que os leve a sentirem-se parte do processo transformador, crítico e inesgotável de saberes

e poderes, que é a prática da leitura literária, e a sentirem-se estimulados e envolvidos na

construção significativa do sentido de um texto. Pois, não basta aprender a ler, é

imprescindível aprender com o que se lê: é essencial interpretar os conteúdos e dar-lhes

significado, para que a leitura, enquanto exercício de inteligência, exerça o seu papel.

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Sabemos, por experiência, que a leitura literária, na aula, é marcada por exigências

dos professores que querem mensurá-la de todas as formas, seja através de fichas de

leitura, onde se reproduz apenas superficialmente o sentido do próprio texto, seja através

de questionários que servem de pretexto para a memorização de regras gramaticais ou

conteúdos fragmentados. Consequentemente, de entre as metodologias adotadas pelo

professor, na aula de português, são poucas as privilegiadas pelos alunos, que embora

ainda muito dependentes do seu conhecimento, começam já, ainda que timidamente, a

mostrar-se saturados da rotina da leitura seguida de questionários, orais ou escritos. Desta

forma, e de acordo com as preferências dos alunos, elencamos as mais escolhidas: leitura

em voz alta, apresentação oral de trabalhos, estudo dos textos em grupo, debate sobre os

assuntos promovidos pelos textos e sua interpretação e debate com o professor e/ou

colegas sobre as dificuldades e/ou conclusões de leitura.

Embora as características do texto influenciam o processo de leitura, na medida que

diferentes tipos de textos solicitam diferentes atitudes de leitor, é ao leitor “que cabe o

papel principal e mais ativo de adaptação” a esse processo (Sequeira, 1989, p.54), uma vez

que é ele quem produz o sentido do que lê (Manguel, 1998). Neste âmbito, o professor

deve criar um bom ambiente de leitura, com um propósito bem definido, que possibilite ao

aluno ativar o seu conhecimento do mundo, fazer previsões, formular questões, rever

informações, resumir, destacar as ideias principais, responder a perguntas sobre o que leu e

construir interpretações. Este cenário exige um leitor crítico, ativo, um leitor conhecedor

do seu papel e não um passivo e, ainda, muito dependente da transmissão de

conhecimentos do professor, como o da amostra deste estudo.

Sabe-se que a aquisição e o desenvolvimento de hábitos de leitura é um processo

contínuo que principia na família e se perpetua na escola. Mais, a cooperação entre a

escola e a famíla é um desafio para formar crianças leitoras, uma vez que o

desenvolvimento de interesses e hábitos se faz num processo constante que começa na

família, se reforça na escola e continua ao longo da vida do aluno por meio das influências

recebidas do seu ambiente cultural.

Assim, no que concerne ao terceiro objetivo do nosso estudo – caracterizar contextos

críticos de socialização para a leitura literária experienciados pelos alunos, nomeadamente,

a família, a escola e o grupo de pares, a pesquisa mostrou que, embora a atitude para com a

leitura dos familiares destes alunos, e os comportamentos a ela associados, sejam, de certa

forma positivos, esta não é consentânea à promoção de uma atitude favorável à leitura.

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De igual modo, quando dirigimos a nossa atenção para o grupo de amigos,

constatamos que a sua influência na sedimentação de hábitos de leitura está muito longe de

ser decisiva, pois ler não é a atividade preferencial para se desenvolver em grupo.

A investigação permitiu, igualmente, em relação ao quarto objetivo – identificar

algumas dimensões das práticas de leitua literária dos alunos, nomeadamente, no que diz

respeito aos seus objetivos, objetos, frequência e contextos privilegiados, perceber que os

estudantes reconhecem os contributos da leitura literária para o seu desenvolvimento

pessoal. Segundo estes, ela amplia as suas experiências, estimula a sua curiosidade, a sua

mente e aumenta o seu conhecimento do universo e dos outros. Contudo, as evidências

mostraram que esta perceção não se reflete nas suas práticas, designadamente na escola,

onde os textos são encarados como desinteressantes e distantes das suas experiências.

Aliás, a leitura não é a forma de lazer preferida dos inquiridos. Contudo, estes acabam por

admitir que, mesmo que pontualmente, gostam de ler textos do seu agrado, em ambientes

tranquilos, sem pressão ou imposição, como em casa ou na praia.

Por último, gostaríamos de concluir, afirmando que é o prazer de ler que impulsiona

e faz permanecer viva a leitura literária e, sobretudo, que “o leitor contemporâneo e a

leitura que hoje se faz têm perfis diferentes daqueles com que idealmente a escola vem

trabalhando há décadas” (Rocco, 2013, p. 41), pelo que é urgente um reflexão sobre

algumas práticas pedagógicas.

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CAPÍTULO IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Conclusão

Impõe-se, neste epílogo, contemplar o conhecimento que este trabalho de

investigação permitiu adquirir, não negligenciando, porém, as limitações e

constrangimentos que se lhe acharam, da mesma forma, associados.

Começamos por recordar que iniciámos este trabalho com a motivação de de

compreender as circunstâncias que explicam a relação dos alunos do 3.º ciclo do Ensino

Básico com a leitura literária. Deste modo, reafirmamos que o acesso a este conhecimento

foi seguramente o aspeto mais compensador deste trabalho, pois as conclusões que

obtivemos ofereceram-nos um conjunto de informações sobre as características salientes

das experiências da prática da leitura literária, em contexto escolar, de um conjunto de

alunos do Ensino Básico. Dados estes que eventualmente, poderemos transportar para a

sala de aula, comparando-os ou prevendo-os.

Temos a ousadia de apresentar aqui uma sugestão que poderia ser interessante e útil

para o sucesso das práticas docentes e, consequentemente, para o trabalho de formação de

leitores literários, em contexto escolar. Esta remete para a obrigatoriedade de um

aprofundamento de estudos e perspetivas de trabalho na área da leitura literária, assim

como de uma atualização face a novas orientações curriculares e documentos

programáticos, quer para os docentes em funções há mais tempo, quer para os recém

formados. Conquanto, face às constantes renovações e contributos teóricos de diferentes

fontes, nesta área específica, é imperioso priorizar a formação pós-graduada e contínua dos

professores. Com efeito, seria muito importante que os professores pudessem dispor de

uma oferta formativa periódica e contínua, capaz de os dotar de informação sobre textos,

obras, autores, guiões de leitura, estratégias de trabalho tratamento de géneros ou

tipologias textuais. “Na realidade, os docentes necessitam não apenas de material mas,

também, dos instrumentos críticos e do aparato técnico necessário à didatização dos textos

literários” (Custódio, 2012, p. 107).

No que concerne aos constrangimentos e limitações do estudo, começamos por

afirmar que este foi um percurso de descoberta e cada obstáculo um verdadeiro desafio às

nossas próprias capacidades.

Também, a escassez de tempo deste estudo impossibilitou-nos uma exploração mais

detalhada dos resultados obtidos, além de ter sido um entrave para a inclusão de um maior

número de participantes nesta investigação. Com efeito, a dimensão da amostra é bastante

reduzida, para que possa ser representativa. Efetivamente, por se tratar de uma amostra de

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conveniência, os dados alcançados não são generalizáveis ao universo estudantil do 3.º

ciclo do Ensino Básico, uma vez que nos restringimos a um segmento de alunos a

frequentar os 7.º e 9.º anos de escolaridade. Uma opção que não torna possível a

«generalização empírica» (Hammersley, 1992) dos resultados.

Também, as nossas duas fontes de dados: o inquérito por questionário e por

entrevista. Primeiro, no inquérito por questionário, só foram oferecidas perguntas fechadas.

Segundo, no inquérito por entrevista verificamos uma série de constrangimentos:

acanhamento, falta de iniciativa, muita irriquietude, irresponsabilidade, cansaço – que,

inevitavelmente, condicionou o rumo da entrevista, a quantidade e, inclusive,a qualidade

dos dados e nos tornou, de certo modo, mais dependentes dos dados do inquérito.

É importante que tenhamos um certo grau de ceticismo no que concerne aos

resultados revelados pelo questionário e pela entrevista, tendo em conta que a fiabilidade

das respostas pode estar subvertida, porquanto nunca se tem a garantia total da honestidade

das mesmas, dado que nunca saberemos se são o efeito do pressentimento da

desejabilidade social da resposta ou se correspondem, de facto, à realidade dos

respondentes.

Reconhecendo que este nosso trabalho não permite conclusões ou respostas

definitivas, consideramos, contudo, que poderá dar algum contributo para a reflexão e

futuras investigações em torno desta área específica.

Mais, acreditamos que os resultados alcançados poderão ser um apoio à

implementação de futuras investigações na área, bem como poderão ser úteis para os

professores de Português na definição de estratégias de leitura literária, na sala de aula.

Em relação ao quadro concetual teórico a que recorremos, sentimos que, embora

relevante, ele constitui apenas uma pequena parcela de uma já considerável bibliografia

neste campo. Contudo, tivemos o cuidado de referenciar autores de mérito reconhecido no

âmbito desta investigação.

Assim, terminado que está o presente trabalho de investigação, importa, novamente,

salientar o importante contributo que o mesmo nos trouxe não só a nível profissional, mas

também a nível pessoal.

Por fim, resta-nos a convicção de que “investigar exige que os professores assumam

um posicionamento crítico face à educação e daí façam depender as suas escolhas, o que

não é fácil quando a realidade escolar tende a normalizar o seu pensamento e acção,

silenciando a crítica e penalizando o inconformismo” (Vieira, Moreira, Barbosa, Paiva &

Fernandes, 2010, p. 211).

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ANEXOS

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Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

Questionário

Este questionário tem como objetivo recolher dados sobre representações e perceções dos

alunos acerca da leitura literária, e integra-se no desenvolvimento de uma dissertação de Mestrado em

Educação - área de especialização de Supervisão Pedagógica na Educação em Línguas, designada “A

leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico.”

Desde já agradeço a tua colaboração.

Os dados são confidenciais.

Elisabete Alves

1. Que idade tens?

_____ 12 anos

_____ 13 anos

_____ 14 anos

_____ 15 anos

_____ 16 anos

_____ outra. Qual?_____

2. Sexo

______ Feminino

______ Masculino

3. Que ano frequentas?

______ 7.º ano

______ 9.º ano

4. É a primeira vez que frequentas este ano de escolaridade?

______ Sim

______ Não

5. Imagina, para começar, que te diziam que ias ficar, fora de casa, num sítio isolado durante 15

dias. Que objetos levavas contigo? (PODES ESCOLHER ATÉ 3 RESPOSTAS)

_____ Telemóvel

_____ Computador

_____ Alguns livros

_____ Televisão

_____ Rádio

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Gostaríamos de te colocar algumas questões sobre ti e a tua

família

Page 179: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

178

_____ MP3/iPod/iPad

_____ Revistas de entretenimento (social, desporto, música, automóveis, culinária…)

_____ Uma bola

_____ Outro: qual? ________

6. No teu grupo de amigos com que frequência acontece o seguinte: (EM CADA LINHA,

ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

Nunca

Raramente Algumas

vezes

Muitas

vezes

Conversar sobre livros

Emprestar livros uns aos outros

Discutir artigos de jornais e revistas

Ler livros ou parte de livros (romances, poesia, …)

Escrever num blog criado pelo grupo

7. Com que frequência acontece, ou aconteceu, na tua vida …(EM CADA LINHA, ASSINALA

COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE]

Nunca Raramente Algumas

vezes

Muitas

vezes

…ver os teus familiares a ler.

… ouvir os teus familiares a ler em voz alta.

…ouvir os teus familiares a contar histórias

…ir com os teus familiares a livrarias e bibliotecas.

…ouvir os teus familiares falarem dos livros que leem.

8. Quando eras pequeno alguém te contava ou lia histórias?

_____Não

_____Sim: Quem? _________________ Que histórias? ___________________________

9. Estás a ler, neste momento, algum livro não escolar?

_____ Não

_____ Sim : Qual?_________

10. Quantos livros não escolares, mais ou menos, leste ao longo dos últimos 12 meses?

_____ Nenhum

_____ 1-3 livros

_____ 4-10 livros

_____ Mais de 10 livros

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11. Hoje em dia, por tua iniciativa, independentemente do trabalho escolar recomendado, lês:

(EM CADA LINHA , ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

Nunca Raramente Algumas

vezes

Muitas

vezes

Diários e semanários de informação (por ex.:

Público, Correio da Manhã…)

Jornais e revistas sobre música

Jornais ou revistas de desporto

Jornais ou revistas de espetáculos (por ex.: Blitz)

Revistas femininas e masculinas (por ex.: Caras,

Bravo)

Ficção científica/Histórias com magia

Poesia

Romance/novelas/conto

Teatro

Policiais/espionagem

Livros religiosos

Livros de banda desenhada

Livros de culinária

Livros de História

Biografias/Diários

Livros juvenis

Sites de informação, de desporto, música, cinema …)

Blogs

Outra: qual?_________________

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180

12. Como sabes, as pessoas leem por diversos motivos. Em que medida as seguintes frases se

aplicam a ti? (PARA CADA FRASE, ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

Ler… Não se

aplica de

todo

Não se

aplica

muito

Aplica-se

em parte

Aplica-se

totalmente

…é uma ferramenta para a vida

…vai-me ajudar a encontrar trabalho

…ensina-me como outras pessoas

vivem ou sentem

…ajuda-me a compreender melhor o

mundo

…é divertido

…ajuda-me a descobrir o que preciso

de conhecer

…permite-me fugir às preocupações

…permite-me conhecer-me melhor

…Permite-me conhecer as pessoas, as

situações ou as épocas

…permite-me conhecer os autores e

as suas obras

…ajuda-me a melhorar as minhas

capacidades de escrita

…permite-me ter tema de conversa

com os meus amigos

13. Qual das seguintes frases exprime melhor o teu gosto pela leitura (ESCOLHE APENAS

UMA RESPOSTA)

_____ Sou viciado na leitura

_____ gosto muito de ler

_____ gosto de ler de vez em quando

_____ gosto pouco de ler (PASSA À PERGUNTA 17)

_____ não gosto nada de ler (PASSA À PERGUNTA 17)

14. Que é que te leva a ler? (PODES ESCOLHER ATÉ 3 RESPOSTAS)

_____ O desejo de conhecer coisas novas

_____ O desejo de me exprimir bem

_____ não querer ficar de fora nas conversas

_____ O exemplo dos pais e familiares

_____ Ganhar capacidade de ler as legendas de filmes

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_____ A diversão que encontro na leitura

_____ A influência dos professores

_____ O exemplo dos amigos

15. Porque é que não gostas ou gostas pouco de ler? (ESCOLHE ATÉ 3 RESPOSTAS)

_____ É aborrecido

_____ Cansa a vista

_____ Faz-me dores de cabeça

_____ Leva muito tempo

_____ Não se aprende nada de novo

_____ Ninguém me incentiva a ler

_____Nunca encontrei um livro que me agradasse

_____ Soou obrigado a ler

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16. O que é para ti um texto literário? (PODES ESCOLHER ATÉ 3 RESPOSTAS)

_____ Qualquer texto que aparece no manual escolar de Português

_____ Qualquer texto que a professora de Português leva para a aula

_____ Um texto que provoque emoções

_____ Um texto com um enredo bem construído

_____ Qualquer texto que esteja em livro

_____ Poemas, contos, romances, teatro

_____ Os textos que encontro em sites sobre música/desporto/cinema

17. Compreendes melhor um texto em estudo na aula de Português, quando …

(PARA CADA FRASE, ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

Discordo

totalmente

Concordo

em parte

Concordo Concordo

totalmente

…o professor analisa e/ou comenta o

texto e os alunos tomam

apontamentos.

… o professor e os alunos debatem

assuntos promovidos pelos textos e a

sua interpretação.

…a análise do texto faz descobrir o

seu sentido escondido.

…fazes pesquisa sobre os textos e o

autor na internet .

…os alunos apresentam trabalhos

oralmente.

…os alunos trabalham os textos em

grupo na aula.

…os alunos realizam as atividades

propostas no manual após a leitura do

texto literário.

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

Gostaríamos, agora, que respondesses a algumas perguntas sobre a tua experiência

escolar

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18. Quando tens de ler um texto indicado pelo professor, na disciplina de português, com

que frequência te acontece o seguinte (PARA CADA FRASE, ASSINALA COM X

APENAS UMA POSSIBILIDADE)

nunca/

raramente

algumas

vezes

muitas

vezes

sempre/

quase

sempre

Não ler o texto

Desistir quando não entendes alguma

coisa (um verso, uma estrofe, um

parágrafo, etc.).

Discutir com o professor e/ou os colegas

dificuldades e/ou conclusões de leitura.

Dar atenção aos elementos paratextuais

(capa, contracapa, prefácio, introdução,

epígrafe …).

Ler o texto várias vezes.

Leio o texto integralmente.

Ler resumos do texto, quando existem.

Procuro palavras desconhecidas no

dicionário.

Registar incompreensões, dificuldades,

dúvidas, para apresentar em aula.

Sublinhar expressões e/ou fazer

anotações nas margens do texto.

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19. Quais as razões que te podem levar a não gostar de um texto. (PARA CADA FRASE,

ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

nunca/

raramente

algumas

vezes

muitas

vezes

sempre/

quase

sempre

O título do texto

Os primeiros parágrafos do texto

O assunto/o tema do texto

As personagens

A linguagem utilizada pelo texto

O grau de complexidade das ideias do

texto

A extensão do texto

Ser obrigado a ler o texto.

O que o professor diz sobre o texto

As atividades realizadas após a leitura

do texto

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20. Indica o teu grau de concordância com as seguintes afirmações

(EM CADA LINHA; ASSINALA COM X APENAS UMA POSSIBILIDADE)

Discordo

totalmente

Concordo

em parte

Concordo Concordo

totalmente

A análise dos textos diminui o prazer da

leitura.

A forma como se estuda e ensina a

literatura na escola aumenta a vontade de

ler.

Gosto mais dos textos que se relacionam

comigo e com a minha vida.

A leitura na aula é mais agradável quando

não tenho de fazer fichas.

Nas aulas de português, deveria ser dada

uma explicação objetiva do que é

«literatura».

Gosto mais dos textos quando há menos

trabalho de gramática.

O meu interesse aumenta quando o texto

de teatro é representado.

Chegaste ao fim!

Muito obrigada pela tua ajuda!

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Anexo 4

Monotorização de Inquéritos em Meio Escolar: Inquérito nº 0493000002

[email protected]

04-06-2015

Para: [email protected], [email protected]

Exmo(a)s.Sr(a)s.

O pedido de autorização do inquérito n.º 0493000002, com a designação A leitura

literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do ensino básico.,

registado em 18-05-2015, foi aprovado.

Avaliação do inquérito:

Exmo.(a) Senhor(a) Dr.(a) Elisabete Maria Teixeira Alves Venho por este meio

informar que o pedido de realização de inquérito em meio escolar é autorizado uma vez

que, submetido a análise, cumpre os requisitos, devendo atender-se às observações

aduzidas.

Com os melhores cumprimentos

José Vítor Pedroso

Diretor-Geral

DGE

Observações:

a) A realização dos Inquéritos fica sujeita a autorização das Direções dos

Agrupamentos de Escolas do ensino público a contactar para a realização do

estudo. Merece especial atenção o modo, o momento e condições de aplicação dos

instrumentos de recolha de dados em meio escolar, porque onerosos e inquirindo

sobre matérias de alguma sensibilidade pessoal, devendo fazer-se em estreita

articulação com a Direção do Agrupamento. B) Deve considerar-se o disposto na

Lei nº 67/98 em matéria de garantia de anonimato dos sujeitos, confidencialidade,

proteção e segurança dos dados, sendo necessário solicitar o consentimento

informado e esclarecido do titular dos dados. No caso presente de inquirição de

alunos menores (menos de 18 anos) este deverá ser atestado pelos seus

representantes legais. As autorizações assinadas pelos Encarregados de Educação

devem ficar em poder da Escola/Agrupamento ao qual pertencem os alunos. Não

deve haver cruzamento ou associação de dados entre os que são recolhidos pelos

instrumentos de inquirição e os constantes das declarações de consentimento

informado. C) De modo a não identificar ou tornar identificáveis os sujeitos, os

dados recolhidos no “focus group” devem ser transcritos para grelha própria

construída para o efeito, registando-se os dados com papel e caneta, em presença

dos inquiridos/ entrevistados; não podem ser utilizados meios audiovisuais,

nomeadamente gravações ou vídeos. Informa-se ainda que a DGE não é

competente para autorizar a realização de estudos/aplicação de inquéritos ou outros

instrumentos em estabelecimentos de ensino privados e para realizar intervenções

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educativas/desenvolvimento de projetos e atividades/programas de

intervenção/formação em meio escolar e junto de alunos em contexto de sala de

aula, dado ser competência da Escola/Agrupamento.

Pode consultar na Internet toda a informação referente a este pedido no

endereço http://mime.gepe.min-edu.pt. Para tal terá de se autenticar fornecendo os dados

de acesso da entidade.

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Anexo 5

Tabela 1. Perceções sobre a leitura literária, em contexto escolar

Categoria Subcategoria Indicadores no discurso dos alunos – 7.º ano

Definição de texto literário

Texto com linguagem

complexa

Texto com Palavras

desconhecidas fora do

uso quotidiano dos

alunos

Texto com linguagem

metafórica

Texto com uma

estrutura própria

“A1: …o literário contém palavras mais complexas, por exemplo.”

“A1: Palavras que nós não conhecemos e que não usamos muito no nosso dia a dia e

A1: “palavras…significam uma coisa diferente daquilo que estamos…. pensamos “

“…Depende da estrutura.”

Motivos para ler ou gostar de

um texto literário, em

contexto escolar

Liberdade de escolha

textual

Leitura como opção

pessoal

Textos relacionados

com a realidade dos

alunos

Assunto/tema do texto

Interesses

/preferências dos

alunos

Complexidade

“…nós gostamos de ter a nossa própria opção… “

“ler obrigado é uma coisa… agora ler porque nós gostamos é outra…”

“Exato. Gostamos mais de ler coisas que se relacionem connosco.”

“A1: Gostamos mais das coisas da realidade.”

“A2: Acho que prefiro ler livros que contêm a realidade do que… isso”

“…se tem a ver comigo também gosto de ler”

“A7: …depende do que seja o conteúdo do livro. “

“Depende do conteúdo do livro…”

“A1: Depende dos temas…”

“depende dos conteúdos que tiver o livro…”

“A3: Depende do tema…”

“Pode ser o tema”

“A1: Sim, do que nós gostamos, sim.”

“A4: Gostarmos do texto.”

“A3:: Tem de ser de um tema que nós gostamos… que nós achamos interessante.”

“A3: Sim…Se for um texto que nós achemos mais interessante é claro que vamos ter

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190

vocabular

Obrigatoriedade

Sucesso na avaliação

mais gosto em ler, mais prazer de ler…”

“A4: Mas isso por vezes também nos desperta interesse saber o que é que as palavras

querem dizer…”

“A4: Eu acho que ser obrigado também pode ser bom, porque nós podemos não

conhecer o livro e depois de ler o livro podemos gostar e se não fossemos obrigados

nunca o liamos… “

“A2: … quando os professores nos mandam ler dizem assim “que nós devemos também

ler em casa com mais frequência que nos vai…Ajudar para o teste…”

“A3: … quando o professor fizer a avaliação vamos ler melhor… “

Motivos para não ler ou não

gostar de um texto literário,

em contexto escolar

Obrigatoriedade

Oferta desinteressante

Textos desajustados à

idade

Texto demasiado

fantasioso

Preferir

outras

atividades

“A1: Eu não gosto de ler os que são obrigatórios…”

“A8: Somos obrigados a ler…”

“A8:Eu acho que é mau ser uma obrigação… deveria ser por gosto…”

“A1: Somos obrigados… nós gostamos de ter a nossa própria opção… “

“A1: Ó “stora” aí é que está: nós não gostamos é de ser obrigados a ler coisas que não

gostamos.

“A1: Nós somos obrigados a ler.

“A5: …estamos a dar uma coisa de que nós não… É um texto sem piada, sem

divertimento… sem razão.”

Eu… ninguém gosta dos livros que o ministério do ensino escolhe, acham que são livros

que não tem interesse…”

“… são livros muito crianças e nós já gostamos de coisas mais… adultas…”

“eles fazem os livros e pensam que nós ainda somos aquelas crianças que não entendem

as coisas… “

“…. Nós não gostamos de coisas assim muito fictícias…”

… nunca nos tinham mandado ler um livro. “

Estamos a jogar um vídeo jogo, estamos no computador a fazer outra coisa qualquer que

sejas mais… como nesta idade… ou estamos no telemóvel a escrever mensagens ou a

ver vídeos, e nós assim deixamos basicamente a leitura de lado só porque estamos a

fazer essas coisas…”

“A5 Porque acho que há muitas coisas que são melhores que ler.”

“só que às vezes também há outras coisas que pode ou não ser mais importante. “

“A12: Por exemplo, se eu tiver um livro à minha frente e se tiver uma consola de jogos

eu escolho a consola de jogos. “

“A7: Porque é cansativo…”

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191

Cansativo

Falta de hábito

Falta de

interesse

/vontade

Surgimento de

novas

atividades

Extensão do

texto

Aborrecimento

Pouca

disponibilidade

temporal

Complexidade

do vocabulário

Complexidade

das ideias

““… que eu não estou muito habituado a ler.

"E depois não temos aquela vontade de ler…

““…Eu às vezes dá-me vontade de ler, leio o livro dois dias e perco logo o interesse…”

“A9: Mas por vezes também não… por exemplo, na minha opinião se surgem coisas

novas as pessoas querem experimentá-las e com isso vai deixar de ler”

“A2: Por exemplo se tiver 200 páginas tudo bem, agora 500 não…”

“pode ser se é muito grande ou muito pequeno…”

“…é mesmo aborrecido.”

?”,” mas às vezes, o tempo que nós estamos a ler podemos precisar de fazer outras coisas

mais importantes. “

“A3: Há uns que nós até ficamos pasmados com o vocabulário e assim…”

“A3:Quando se torna muito difícil nós também não gostamos do texto…”

“A9:Sim…Porque não vamos perceber e depois não queremos ler mais…”

Importância da leitura

literária na formação do aluno

leitor

Obtençao de

conhecimento

Estímulo

mental/criatividade

Desenvolver a

imaginação

Atualização de

conhecimentos

“nós vermos a realidade e conseguirmos aprender mais.”

“: e para ter conhecimentos.”

“A2: e para ter conhecimentos.”

“A9:: Para conhecer coisas novas..”

“A3: Termos mais criatividade… “

“A1: Para estimular a mente”

“A8: Imaginação…”

“A1: Para estarmos atualizados…”

“A10: Para desenvolvermos o vocabulário…”

… falar com outras expressões…”

“A8: A leitura é importante, para nós, ainda para mais que agora ainda estamos a

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192

Melhorar o

vocabulário/expressão

oral

Conhecer outras coisas

Conhecer pessoas,

situações, épocas

Autoconhecimento

Modelar

comportamentos

Distinguir entre o certo

e o errado

aprender, por causa do nosso vocabulário futuramente

“A9:: Para conhecer coisas novas..”

Transmitindo através de palavras, coisas sobrenaturais, ou naturais, mas que nós não

temos muita vontade de descobrir… não temos capacidade de pensar e o autor escreveu

no livro e nós adaptamos à nossa cabeça.”

“A4: Por vezes os livros ensinam-nos ou falam de coisas que acontecem na vida real…

e ensinam-nos como fazer melhor… lições de moral…”

“A4: .é importante porque aprendemos coisas das pessoas…”

“A3: Sim…. caminho que devemos seguir…”

“A9:Sim. Pode-nos permitir sermos melhores pessoas…”

“ Para não cometermos os erros que se calhar aquelas pessoas que estão no livro

cometeram…”

“A9: A ser uma pessoa melhor.”

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193

Anexo 6

Tabela 2. Aspetos da didática da leitura literária valorizados pelos alunos

Categoria

Subcategoria Indicadores no discurso dos alunos – 7º ano

Metodologias/atividades

privilegiadas ligadas ao ato de

ler um texto literário, na sala

de aula.

Leitura em voz alta

Debates/discussão de

ideias

Leitura por um bom

leitor

“A6: Ler oralmente”

“A4: Uma pessoa ler aquele texto…Ler em voz alta…”

“A4: Porque discutimos as nossas opiniões…”

“A4: Através dos outros leva-nos a nós também a percebermos o texto se tivermos uma

ideia errada…”

“A4: Mas na minha opinião… como minha opinião, o que ajuda mais é nós fazermos

debates sobre a opinião de cada um…”

“A4: (debate) …E conseguirmos perceber o que nós percebemos do texto e o que os

outros também perceberam… “

“A4: Sim… quando nós fazemos o diálogo estamos numa conversa aberta, trocamos as

nossas opiniões e eu acho que isso tem mais interesse …”

“A10: A maneira como é lido…Por uma pessoa..pelos leitores… que pode ser pela

professora ou por um colega nosso que tenha uma capacidade de ler o texto “

Atividades de estudo do de

um texto literário, na aula de

Porutguês

Leitura seguida de

questionário oral

individual

Ditado de respostas

Leitura e Exercícios

gramaticais

Análise textual

/questionário

“A2: Lemos o texto e a professora faz perguntas um a um …”

“A9: e dita as respostas para nós escrevermos…às vezes não escrevo…. É uma seca”

“A9: De resto é ler, fazer gramática..”

“Temos que ler para …. À aula analisarmos o texto e respondermos às perguntas…”

Às vezes há textos com vocabulário mais difícil, como os da nossa professora nos

manda… pegamos num lápis, sublinhamos as palavras para depois em casa ir ao

dicionário…”

“…os exercícios que estão no manual…”

“A6:j”á estávamos mentalizados que se é Português vamos ter que ler… ler, escrever

mas principalmente ler…e fazer as fichas do livro…seca…”

“A12: É quase sempre a mesma coisa… “

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194

Sublinhar palavras

desconhecidas

Relização do

questionário do manual

Ler várias vezes o texto

para responder ao

questionário

“A5: É tudo uma seca… e sempre a mesma coisa … ler o texto e fazer a ficha de

leitura…”

“A9: e dita as respostas para nós escrevermos…às vezes não escrevo…. É uma seca”

“A12: algumas respostas parecem todas iguais…”

“A4: Sim… quando nós fazemos o diálogo estamos numa conversa aberta, trocamos as

nossas opiniões e eu acho que isso tem mais interesse do que estarmos a fazer fichas sem

perceber nada…”

“A4: Mas na minha opinião… como minha opinião, o que ajuda mais é nós fazermos

debates sobre a opinião de cada um…”

A3: Sim, sim…

“A4: E conseguirmos perceber o que nós percebemos do texto e o que os outros também

perceberam… “

Convicção sobre as

metodologias de estudo de um

texto literário adotadas, na

aula.

Atividades rotineiras e

aborrecidas

Repetição de conteúdos

Retiram o prazer da

leitura

Ler várias vezes o texto

para responder ao

questionário

“A6: Perde a piada de estarmos a ler e a responder perguntas… até pode ser

interessante o texto, não é?, mas quando vem as perguntas… eu acho que estraga sempre

um bocado…”

“A9 A minha colega estava a dizer que diminuía o gosto dela pela leitura, só por causa

de ter mais perguntas e isso obriga-nos a ler outra vez, a escrever melhor e isto tira um

bocado aquela… aquela…”

“A3: O prazer…Aquele prazer…O sabor…”

“A3: Sim. Quando lemos o texto, se soubermos a estrutura do texto e assim, as

perguntas… nós já vamos saber onde elas se encontram e não vamos ter a necessidade de

ler outra vez tudo… “

“A3: Se compreendermos o texto, as perguntas não têm… mas se nós não

compreendermos bem as perguntas… torna-se mais aborrecido…”

“A5: As perguntas ainda aterram…Se nós não gostarmos e se tivermos que ler outra vez

ainda ficamos a gostar menos…”

Promoção de hábitos de

leitura literária

Incentivo à leitura para

o sucesso escolar

“A2: … quando os professores nos mandam ler dizem assim “que nós devemos também

ler em casa com mais frequência que nos vai…Ajudar para o teste…”

Page 196: Elisabete Maria Teixeira Alves - Universidade do Minho...Elisabete Maria Teixeira Alves julho de 2016 A leitura literária em contexto escolar: um estudo com alunos do 3º ciclo do

195

Anexo 7

Tabela 3. Convicção dos alunos sobre procedimentos adotados, na aula, para o estudo de um texto literário

Categoria Subcategoria Indicadores no discurso dos alunos – 7.º ano

Procedimentos adotados pelo

professor para o estudo de um

texto literário, na aula de

Porutguês

Leitura seguida de

questionário oral individual

Ditado de respostas

Leitura e Exercícios

gramaticais

Análise textual

/questionário

Sublinhar palavras

desconhecidas

Relização do questionário

do manual

“A2: Lemos o texto e a professora faz perguntas um a um …”

“A9: e dita as respostas para nós escrevermos…às vezes não escrevo…. É uma seca”

“A9: De resto é ler, fazer gramática..”

“Temos que ler para …. à aula analisarmos o texto e respondermos às perguntas…”

Às vezes há textos com vocabulário mais difícil, como os da nossa professora nos manda…

pegamos num lápis, sublinhamos as palavras para depois em casa ir ao dicionário…”

“…os exercícios que estão no manual…”

“A6:j”á estávamos mentalizados que se é Português vamos ter que ler… ler, escrever mas

principalmente ler…e fazer as fichas do livro…seca…”

“A12: É quase sempre a mesma coisa… “

“A5: É tudo uma seca… e sempre a mesma coisa … ler o texto e fazer a ficha de leitura…”

“A9: e dita as respostas para nós escrevermos…às vezes não escrevo…. É uma seca”

“A12: algumas respostas parecem todas iguais…”

“A4: Sim… quando nós fazemos o diálogo estamos numa conversa aberta, trocamos as

nossas opiniões e eu acho que isso tem mais interesse do que estarmos a fazer fichas sem

perceber nada…”

“A4: Mas na minha opinião… como minha opinião, o que ajuda mais é nós fazermos

debates sobre a opinião de cada um…”

A3: Sim, sim…

“A4: E conseguirmos perceber o que nós percebemos do texto e o que os outros também

perceberam… “

Convicção sobre metodologias de

estudo de um texto literário, na

Atividades rotineiras e

aborrecidas “A6: Perde a piada de estarmos a ler e a responder perguntas… até pode ser interessante o

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196

aula.

Repetição de conteúdos

Realização de

debates/discussão de ideias

Leitura seguida de

questionário

Ler várias vezes o texto

para responder ao

questionário

texto, não é?, mas quando vem as perguntas… eu acho que estraga sempre um bocado…”

“A9 A minha colega estava a dizer que diminuía o gosto dela pela leitura, só por causa de

ter mais perguntas e isso obriga-nos a ler outra vez, a escrever melhor e isto tira um bocado

aquela… aquela…”

“A3: O prazer…Aquele prazer…O sabor…”

“A3: Sim. Quando lemos o texto, se soubermos a estrutura do texto e assim, as perguntas…

nós já vamos saber onde elas se encontram e não vamos ter a necessidade de ler outra vez

tudo… “

“A3: Se compreendermos o texto, as perguntas não têm… mas se nós não compreendermos

bem as perguntas… torna-se mais aborrecido…”

“A5: As perguntas ainda aterram…Se nós não gostarmos e se tivermos que ler outra vez

ainda ficamos a gostar menos…”

Promoção de hábitos de leitura

literária

Incentivo à leitura para o

sucesso escolar

“A2: … quando os professores nos mandam ler dizem assim “que nós devemos também ler

em casa com mais frequência que nos vai…Ajudar para o teste…”

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197

Anexo 8

Transcrição da entrevista realizada ao primeiro grupo dos alunos do 7.º ano

Professora: Boa tarde.

Coro: Boa tarde.

Professora: Mais uma vez obrigada por participarem neste estudo. Tal como eu já

vos referi noutras ocasiões, tudo o que disserem é confidencial e o vosso nome não vai ser

referido em nenhuma parte deste estudo.

Aluno 1: Sim, a professora já nos tinha dito.

Professora: Gostaria de vos relembrar que este trabalho tem como principal objetivo

a compreensão das circunstâncias que explicam a vossa relação com a leitura literária, para

tentar perceber o que dificulta/facilita a formação de leitores literários, na escola.

Turma: Okey!

Professora: Posso, então, gravar?

Coro: Pode.

Aluno 1 : bora lá.

Professora: Vou fazer-vos uma pergunta muito simples e direta. Gostam de ler?

A2: .Nós não gostamos… nós não lemos muito…

A3: Nós não lemos muito.

A4:Não gosto de ler…

Professora: E os vossos amigos leem, costumakmm falar sobre isso?

A3: Não … falamos de outros assuntos sem ser…Mais interessantes…

Professora: Falam de outros assuntos mais interessantes.

A3: Exato.

A1: Porque eu acho que ler… nós não falamos de ler porque o ler não está em cima

da nossa vida, gostamos mais de outras coisas como o futebol ou…

A5: Lá está…

A 6: Televisão…

A7: Ou raparigas…

A1: E não falamos sobre isso…

A7: É verdade… é mentira?

A1: Não, é verdade.

Professora: Então digam-me… não gostam de ler…não gostam de ler… de uma

forma geral? Não gostam de ler nada?

A7: Nada…

A8: Nadinha…

A9: Eu também não…

Professora: Ou algumas coisas vocês até dizem: “eu até gosto de ler isto… não gosto

é de ler aquilo…”

A1: Ah, eu leio.

A7: Eu não. Eu falo por mim, depende do que seja o conteúdo do livro.

Professora: Ah!, então quando vocês dizem: “eu não gosto de ler”, não é bem assim,

não é bem verdade, não é?

A9: Sim, não é “Não gosto…”

Professora: No fundo vocês até gostam de ler, não é assim?

A1: Sim, do que nós gostamos, sim.

Professora: Então do que é que vocês gostam de ler?

A10:: Ó…

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198

Professora: Podem dizer…

A9: Comédia… romances…

Professora: … o que é que vocês compram? O que é que vocês comprariam para ler?

A11: Revistas… por exemplo a “Bravo”

A1:Livros mesmo…

Professora: Que tipo de livros, o que é que gostam de ler?

A2: O jornal…

A8: Eu não gosto…

Professora: Livros… de que género?

A1: Eu gosto…

A2: Eu comprava…

A1: Livros juvenis… Preferia muito mais um livro do que uma revista…

A12: Revistas… há quem goste de revistas

A2: O jornal... o jornal…Há quem compre…

Professora: Então digam-me uma coisa: vocês já admitiram… já admitiram que

afinal que quando dizem que não gostam de ler, não corresponde bem àquilo que vocês

quereriam dizer, mas sim “eu não gosto de ler algumas coisas. Há outras que eu gosto de

ler.” Isso também se aplica, por exemplo, à aula de Português? Quando têm que ler na

aula?

A1: Sim. Eu não gosto de ler…

A2: Depende.

A1: Eu não gosto de ler os que são obrigatórios…

Professora: Não gosta de ler os livros que são obrigatórios, porquê?

A5: Para a leitura aqui da escola…

A1: Somos obrigados… nós gostamos de ter a nossa própria opção…

Professora: Gostam de ter a vossa própria… Se eu lhe disser ““vai ter que ler este

livro!”, Não vai gostar desse livro?

A1: Não…Não… não é …

A2: Professora, com obrigação… ler obrigado é uma coisa… agora ler porque nós

gostamos é outra…

A1: Eu… ó professora, eu acho que ninguém gosta dos livros que o ministério do

ensino escolhe, acham que são livros que não tem interesse…

A2: Exatamente…

A3: Que são livros muito crianças e nós já gostamos de coisas mais… adultas…

A1: Não tem nada a ver…

Professora: Ah!

A5: Não, não é bem isso, mas por exemplo, romances e assim… que mais ou menos,

tipo isso ou desportivo… gostamos mais disso do que tipo dos livros que a escola dá que é

mais tipo desenhos animados

Professora: Desenhos animados?

A5: Mais ou menos…

A1:Não são realistas…

Professora: Acham que o que têm de ler, que são obrigados a ler na sala, não está

muito relacionado com a vossa vida, convosco?

A1: Exato. Gostamos mais de ler coisas que se relacionem connosco.

Professora: Gostavam mais de ler coisas que se relacionassem mais convosco. Então,

o facto de eu dizer assim: “Olhe, tem que ler este livro”, vocês acham que estão a ser

obrigados a ler esse livro e deixam de o ler porque se sentem obrigados… a ler?

A7: Não.

A8: Não.

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199

Professora: Deixam de gostar de um livro só porque foi a professora que disse que

tinham que o ler?

A1: Não.

A2: Não.

A1: Depende do conteúdo do livro…

A12: Pois…

Professora: Certamente já… então já vos aconteceu… vocês começarem a ler um

livro só porque foram obrigados, como vocês dizem, mas depois então chegaram à

conclusão de que até…

A1: Gostámos…

Professora: Gostaram… Já vos aconteceu alguma vez isso?

A1: Sim, sim.

A6:Já.

A5: Não.

Professora: Não? Nunca aconteceu? Nunca gostou de nenhum livro que fosse… que

tivesse que ler porque a professora ou o professor, não importa…

A5: Nunca tive que ler livros até agora. A não ser um… só tivemos que apresentar

nossa escolha na escola de baixo…

A9: Uma apresentação… nós nunca tínhamos feito… nunca nos tinham mandado ler

um livro.

Professora: Nunca leu um livro e fora da escola? Nunca ninguém lhe ofereceu um

livro?

A5: Não, never…

Professora: E em casa… a vossa família…. Pais, irmãos, não costumam ler

A1: Sim, a aminha mãe ..

A12: Revistas … quando está no cabeleireiro….

A5: Em casa nem nada…Foi a professora a primeira vez…

A11: No café … a bola… o meu pai … mas …

Professora: Sim, e livros…. Uum texto literário….

A5: Não.

Professora: Sabem o que é um texto literário…

A1: Sim.

A5:Não.

A12: Não.

Professora:Quem é que sabe o que é um texto literário?

A12: Claro que sabemos… Estamos na brincadeira. Acho eu…

Professora: Então o que é que é um texto literário?

A11: Então diz.

A12: O que é? É assim, é um texto…

A9: Não sabia que um texto literário era um texto….

A8: Letras, palavras…Feito pelo autor…

Professora: Sim…

A7: E que é para a nossa idade.

A6: Que seja para nós…

Professora: E qual é a diferença entre um texto literário e um não literário?

A1: Porque o literário contém palavras mais complexas, por exemplo.

Professora: A linguagem é diferente num texto literário?

A1: Sim.

Professora: O que é que isso de palavras mais complexas?

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200

A1: Palavras que nós não conhecemos e que não usamos muito no nosso dia a dia e

significam uma coisa diferente daquilo que estamos…. pensamos

A2: Depende da estrutura.

Professora: Estrutura? Que tipo de estrutura é que tem que ter um texto para ser

considerado literário?

A1: Um texto poético ou …

A2: narrativo

Professora: Por exemplo… um texto poético, um texto narrativo… mais? Todos

concordam com a colega?

Turma: Sim.

Professora: E é só isso que faz de um texto, um texto literário?

A3:Também é fictício…

Professora: Então… é fictício…

A1: Lá está. Nós não gostamos de coisas assim muito fictícias…

A1: Gostamos mais das coisas da realidade.

Professora: Mais da realidade como? O que é que quer dizer com isso?

A2: Acho que prefiro ler livros que contêm a realidade do que… isso

A5: É a tua interpretação… tu é que estás…

Professora: O que me está a querer dizer então é que, para si, a leitura faz sentido

quando ela tem a ver com a sua vida, com a sua realidade …consigo… é isso?

A1: Não. Não tem de ser a ver comigo mas se tem a ver comigo também gosto de ler

mas se tiver que ver, por exemplo, com a vida das outras pessoas… tipo, há muito autores

que escrevem sobre a vida deles e eu acho que é interessante nós vermos a realidade e

conseguirmos aprender mais.

Professora: Então está-me a dizer que a literatura então … a literatura, a leitura é

importante.

A1: É.

A2: Sim.

Professora: E porque é que acham que é importante?

A1: Para estimular a mente

A2: e para ter conhecimentos.

A7: Exatamente.

A9: Mas por vezes também não… por exemplo, na minha opinião se surgem coisas

novas as pessoas querem experimentá-las e com isso vai deixar de ler. Só se gostar

muito… pelo menos eu…

A12: Pois é professora… eu também não sei se…

A12: Por exemplo, se eu tiver um livro à minha frente e se tiver uma consola de

jogos eu escolho a consola de jogos.

A1: Eu não.

Professora: Porque é que escolhe a consola de jogos?

A12: Porque gosto mais de jogar que já… tipo, que é um vício do que ler… que eu

não estou muito habituado a ler.

A1: Lá está… para leres tinhas que estar habituado desde início…

A4: Desde bebé.

A12: Eu às vezes dá-me vontade de ler, leio o livro dois dias e perco logo o

interesse…Mas por exemplo, se for um livro sobre um jogo, eu leio. Está a perceber?

Professora: Por um lado está, de certa forma… está…está a dizer que …

A1: Depende dos temas…

A12: Não estou a dizer que não gosto de ler… só estou a dizer que…

A1: Lá está…

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201

Professora: Concorda com a sua colega…

A1: Lá está… concordas comigo… depende dos conteúdos que tiver o livro…

Professora: ok!

Professora: O que significa que vocês continuam a gostar de ler.

A2: Sim…

A1Sim.

A5: Não.

Professora: Só que gostam de ler coisas diferentes e que gostam de ler coisas que

tenham a ver convosco, que, de alguma forma… de alguma forma vos diga alguma coisa,

não é?

Turma: É, é.

Professora: E em criança, quando eram pequeninos… alguém que vos

contavahistórias?

A5: Nopes!

A10: Também não…

Professora: Quando eram pequeninos…

A5: Não, não…

A6: Sim, quando era para dormir, então aí adormecia logo…

Professora: Não se recordam quando eram mais…

A6: Quando me diziam a primeira palavra já estava a dormir… Quando começavam

a ler eu começava logo a…(aluno faz som de ressonar)

Professora: Então nenhum de vós tinha o pai ou a mãe quando eram mais

pequenos…

A9: Não.

A11Não.

A5: Eu vejo televisão… eu vejo televisão para adormecer… que era para não ganhar

pesadelos… a ver televisão…

A1: Liam, liam… aqueles para crianças…

Professora:Aqueles para crianças…

A7: Eu nem quando era pequeno… acho eu… porque eu sempre fui muito bom para

dormir… quando me apetece durmo logo…

Professora: Então digam-me uma coisa: e vocês costumam ver os vossos pais, os

vossos familiares a ler?

A5: Não.

A1: Sim, sim…A minha mãe… a minha mãe está sempre a ler…

A12:A minha mãe nunca tem tempo… está sempre a trabalhar…

A2:A minha mãe está sempre a ler… o problema agora é que ela está

desempregada…

A7: A minha avó às vezes lê… está na sanita…

A9:A minha mãe lê a “Lux”.

Professora: E olhem, quando vocês veem os vossos familiares a ler, vocês sentem

curiosidade sobre o que eles estão a ler?

A1: Sim.

A2: Quando sou obrigado?

Professora: Não. Quando veem…

A2:Ah!, não, não… quando sou obrigado… (impercetível)

A1: Lá está professora, depende do conteúdo. Se nós gostarmos do que eles estão a

ler… por exemplo, vemos o título e gostarmos temos curiosidade, se não gostarmos não

temos…

A2: Isso. Depende do título.

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202

A12: Eu não… eu não lia as revistas cor-de-rosa…

A2: Dependo do título…Se virmos o título e gostarmos… se nos der curiosidade…

A1: Só que o título pode não ter nada a ver com o texto que está dentro do livro…

A4: Pois, o texto…

A2: Mas normalmente tem…

A1: Mas sabes que podes… por exemplo, há um livro que é o “Se eu ficar” que é um

título que eu li, o título não tem nada a ver com o texto.

A2: Pois não….

Professora: Então repare… pegando aí no título, que vocês falaram aí do título…

depois. Quando vocês querem escolher algo para ler, querem escolher um livro, então o

que é que vos leva a escolher determinada coisa, determinado livro, determinada obra?

A7: Primeiro a capa…

A1: A capa, o título…O título, mas também ver os índices…

A2: As páginas… se tiver muitas já não quero…

A3: Também não…

A7 Mas a capa é o principal… eu acho que é o principal…

A8: Exato…

A12: Eu acho que a capa é que chama a atenção… A capa é que cria mais

curiosidade..

A2: Por exemplo se tiver 200 páginas tudo bem, agora 500 não…

Professora: Então se tiver… se for um livro muito extenso vocês já não…

A2: Por exemplo, o “Pato Donald”… só estou a dar um exemplo… o “Pato Donald”

tem 20 páginas ou nem isso e eu não gosto… só por ser pequeno não quer dizer que

gostamos…

A5: Fala por ti…

A9: Eu não acredito que tu lês o “Pato Donald”…

A2: Não. Estou a dar um exemplo…

A8: É bem fixe…

A1: Eu estou a ler um livro, não é? Mas, por exemplo, o título não tem muito a ver

com o tema que está dentro do livro.

Professora: E o facto de… e o que é que a levou a escolher esse livro?

A1: O conteúdo… não tem a ver com o título.

Professora: E como é que teve… como é que chegou ao conteúdo?

A1: Por ouvir falar…Porque familiaresmeus disseram-me e eu gosto do tema e

portanto eu decidi ler o livro…

Professora:Ah!, então repare… eu há pouco tinha-vos perguntado se os vossos

familiares, se é hábito os vossos familiares … lerem.…

A1: É. Eu disse que sim…

A5:A minha não…

A2: Eu também disse que a minha mãe passa… quase o tempo todo a ler…

Professora: Então significa que… saúde… significa que algumas das escolhas que

vocês fazem de leitura tem a ver com a influência dos vossos familiares, não é? E os

amigos também ajudam…

A6:: Não...

A5: Eu digo sempre que não…

Professora: E porque diz…

A5: Nunca gosto das ideias que eles dão.

Professora: E porque é que não gosta?

A5: Porque eles são burros…

Professora: Porque é que não gosta?!

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203

A2: : Porque, quando ela, a minha mãe começa a falar já estou a ver que vai ser uma

seca o livro… ela diz: “Olha, é este o título e eu (aluno faz cara de enfado)Deus me

livre….

Professora: Olhe, e o facto de… então significa que…

A2: Porque eles escolhem sempre os livros que eles mais gostam e não pensam em

nós, ou seja, eles só pensam neles praticamente.

(impercetível)

Professora: Olhe, e nunca aconteceu por exemplo, os vossos pais ou familiares…

eles estão a ler e nunca aconteceu trocarem impressões, falarem sobre o que eles estão a

ler?

A1: Já.

A2:Às vezes…

Professora: Já… de falarem e em algum momento eles vos disseram: “Olha, este

livro é bom, vocês deveriam ler porque…

A7:: É adequado….

Professora: Porque vos vai ajudar a conhecer determinadas coisas…

A1: Isso sim…

Professora: Já aconteceu isso?

A1: Sim.

Professora: E vocês acabaram, por influência dos pais… dos pais ou dos familiares,

acabaram por ler esses livros?

A11::A minha tia está sempre a ler…

A5: Não.

A1: Sim.

A2: Alguns.

A11: Porque… por exemplo, a minha avó é praticamente das únicas pessoa na minha

família que lê… tipo… lê muitos livros… às vezes está a trocar impressões com os meus

familiares e ela diz-me assim: “Olha, tu devias ler este livro” e diz-me assim… tipo, um

bocado do conteúdo do livro, e eu só por causa de uma coisinha que ela diga, penso logo

que o livro é uma seca porque….

Professora: Porque?

A11: A minha avó … tirou o 1º ano…por isso…o que ela diz…oh!

Professora: E nunca… então desiste facilmente só porque há um ou outro aspeto que

a avó diz sobre o livro e diz: “ah, afinal não vou gostar, é uma seca”?

A11: Sim…

Professora: Nunca aconteceu você seguir o conselho dela e optar até por ler?

A11: Não. Que eu me lembre não…

Professora: E outro livro que ela não tenha lido mas que lhe tenha dito assim: “Olha,

não gostas deste, este ainda não é muito adequado à tua idade mas talvez gostes deste?” Já

aconteceu isso?

A11: Já… acho que sim.

Professora: E seguiu o conselho dela?

A11: Sim, acho que houve um livro que ela me comprou e tudo e eu fui ler e li o livro

todo mas eu não me lembro agora…

Professora: Olhe e há outras pessoas para além da família que pode ter influência

naquilo que vocês leem?

Turma: Não.

Professora: Não?

Turma: Não.

A2: Sim, amigos…

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204

Professora: Os amigos… Costumam falar com os amigos sobre obras…

A5: Não, não.

A1: Às vezes…

A5: Daqui não é de certeza.

Professora: Depende dos amigos… que tipo de amigos… com que tipo de amigos é

que vocês têm esse tipo de conversa? Sobre o falar de livros, o falar de…

A5: Ninguém…

A8: Quando não temos nada para fazer…

A2: Por exemplo, eu conheço pessoas que não gostam de ler nem se interessam nada

por livros e também conheço pessoas que têm os mesmos gostos que eu por livros…

Professora: E então acabam sempre por conversar sobre aquilo que vão lendo, vão

trocando impressões sobre isso, não é? E já alguma vez trocaram…

A5: : Não.

Professora: Algum desses amigos lhe emprestou livros…

A1: Sim, muitas vezes.

Professora: Acontece com frequência?

A1: Sim.

Professora: E por exemplo, na escola? Na escola não há ninguém que vos influencie

a ler?

A5: Não.

A12: Não…

A4: A não ser as professoras, porque de resto não.

Professora:Ah!, a não ser os professores…

A4: Os de Português porque de resto não...

Professora: Só os de Português?

A4: E os de História…

A5: Não me incentivam em nada… não…

A6: Não.

Professora: Então o professor de Português incentiva a ler… e incentiva a ler de que

forma? Como é que o professor incentiva a ler?

A5: É esse o problema, não incentiva…

Professora: Não incentiva? Porque é que você diz que não incentiva?

A5: Porque não.

Professora: Diga-me lá. “Porque não” não é resposta…

A1: Nós somos obrigados a ler. Por exemplo, ó “stora”… eu vou-lhe explicar…

A2: E não…

A1: Sim!

A12: Se quiseres fechas o livro…

A1: Sim mas, por exemplo, imagina… a professora manda-te… tens que apresentar

este livro, tens que o ler durante as férias porque quando começar a escola tens que o

apresentar..

A5: Não.

A1: Vais ter que o ler para o apresentar, a não ser que vás à internet ver os

resumos…

A5: Não… não…

Professora: Então digam-me uma coisa…

A1: Ó “stora” aí é que está: nós não gostamos é de ser obrigados a ler coisas que não

gostamos. Por exemplo, a nossa professora costumava dizer: “Leiam um livro à escolha…”

Por exemplo, ó “stora”, a nossa professora de Português mandava-nos fazer um trabalho de

férias que era: tínhamos que ler um livro e apresentá-lo. Se a professora dissesse “leiam um

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livro à vossa escolha… dizem-me o nome” e por exemplo a professora estudava um

bocado de cada livro e depois quando nós fossemos apresentar, tudo bem… mas se a

professora nos obrigasse a ler a todos o mesmo livro, todos a mesma coisa e a fazer todos a

mesma apresentação eu acho que ninguém… metade da turma não ia ler porque não

gostava.

A2: Eu acho que não… se fossemos obrigados ninguém ia dizer não.

A9: : Sim, mas acabavam todos por ler porque eram obrigados.

Turma: Sim.

A1: Não.

Professora: E o facto de serem… de ter que ser faz com que o livro deixe de ter

qualidade? Faz com que vocês deixem de gostar daquele livro?

A1: Não é bem disso… é mais da professora obrigar-nos a ler um livro de que nós

não sabermos…

A4: Mas isso não deixa de ser uma boa ideia… ela escolheu vários textos à sorte para

nós e meteu-me logo o mais difícil e tal… e foi, é verdade…

A12: Não, não… o teu texto até era mais fácil… tu é que…

A11: Pois era… o teu era bué de fácil...

Professora:Shhhh… ó senhores…

A12: : Foi mesmo… “Lágrima de preta” foi o meu… esse é que foi o mais difícil…

A11: Nem foi o teu…

A12: E foi…

Professora: Ó senhores, estamos a dispersar…

A9:: Até foi uma boa ideia porque assim não se torna tao enjoativo estar sempre a ler

o mesmo texto.

Professora: Quando estudam um texto na aula … que tipo de atividades …. Tarefas

ajudam a compreender o texto?

A1: Não… posso falar?

Professora: Diga…

Turma: Ó “stora” por exemplo, eu falo por mim, a professora podia dar o mesmo

texto a toda a gente, se eu gostasse do conteúdo do texto eu continuava sempre a lê-lo para

o apresentar… por exemplo, se a professora desse um texto diferente a toda a gente e eu

não gostasse do texto, era obrigada a lê-lo na mesma, mas por exemplo, se fosse à nossa

escolha, é obvio que eu não ia escolher aquele texto se tenho outros que podia escolher e

que me fizessem gostar do livro…

Professora: Então para si seria mais interessante…

A1: Se professora nos deixasse fazer o livro à nossa escolha…

Professora: Já percebi… continuando quais as atividades que vos ajudam a

compreender melhor um texto, na aula?

A6:: Eu na minha opinião … hoje tivemos aula de Português e fomos todos para a

aula e já estávamos mentalizados que se é Português vamos ter que ler… ler, escrever mas

principalmente ler…e fazer as ficha do livro…seca…

A12: É quase sempre a mesma coisa…

A2: Nós somos obrigados a ler mas se levarmos para trabalho de casa… um trabalho

de casa que é fazer o trabalho de um livro, não é como ela disse que, se a professora nos

der um livro de que não gostares vais parar de ler…

A1: Não… não foi isso que eu disse… vais ler por obrigação…

A2: Já falaste, deixa-me acabar… ela vai ler mas com menos incentivo… não está

tão incentivada…

A1: Lá está… é como tu. Por exemplo, a professora mandava-te um livro… imagina,

tu gostas de desporto, a professora mandava-te um livro de desporto…

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A2: Eu aí já tinha incentivo…

A10: É assim, nós na sala de aula, nós somos aquela coisa de estar ali calados, de

estar ali a ler assim, e a professora é assim: “ah, já te mexeste, já foste”, nós em casa não.

Nós em casa podemos estar ali… não, em casa não, não digo em casa… onde nós

estivermos, se nós levarmos um livro para um lado onde nós gostarmos, por exemplo,

estarmos numa cama… numa cama daquelas…

A4: : Da praia, por exemplo…

A1: Da praia sim… nós estamos com mais calma e gostamos mais desse sitio, por

exemplo, e temos mais interesse em ler…

Professora: Então…

A1: Estamos com a mente mais vazia e estamos…

A4: Lá está…

A1: Para relaxar…

A5: “Lá está”, não tens outra palavra no teu vocabulário?

Professora: Então significa que o local onde vocês leem também influencia o

gostar…

A1: Sim… por na escola a cadeira, a professora…Nós virámo-nos um bocadinho

para trás…

A4: És tudo todos os dias… se calhar vemos menos incentivados… mas se for na

praia estamos mais calmos e não estamos distraídos com alguma coisa…

A5: Eu não concordo, lá está… vou dar o exemplo dele… por exemplo, se ele fosse

para a praia eu acho que ele não ia estar a ler um livro…

A11: O local também tem incentivo mas eu não concordo contigo. Eu acho que se tu

não gostasses do livro não era o local que te ia fazer gostar do livro… porque não é o local

que te vai fazer gostar do livro…

Professora: OK… ó senhores, já percebi o vosso ponto de vista…Olhe, vamos

lá…em relação às atividades…

A2: :Uma coisa é certa, é que quando os professores para trabalho de casa mandam

ler um texto apenas, a maioria não lê.

A5: Ninguém lê…

Professora: E porque é que não leem? A vossa reação é sempre essa?

A7: Sim, porque nós não queremos ler…

A1: Não, não é por não querermos ler… lá está, por exemplo, eu falo por mim, teria

que ver o conteúdo para ver se ia gostar do texto ou não. Por exemplo, se fosse um texto

em que…por exemplo, nós somos do 7º ano, eles fazem os livros e pensam que nós ainda

somos aquelas crianças que não entendem as coisas… claro que tem os textos mais difíceis

mas também metem textos com muita fantasia… eu acho por exemplo, metem livros de

fazer magia e não sei o quê e eu acho que isso é…

A2: Não… Posso falar? Posso dar a minha opinião? Se eles fazem esses livros é

porque tem o conteúdo… por exemplo de fantasia, eles fazem os livros com fantasia, não

vão fazer de policiais, de verdadeiros… mas tu, por exemplo, és criança, és o quê? Uma

adulta? És uma adolescente mas eles fazem os livros com o conteúdo certo…

A1: Mas lá está… tu gostas de magia e assim?

A2: Se eu gostar de magia gosto…

A1: Lá está… tens que gostar do conteúdo…

A4: Mas por isso é que há vários textos… não há só magia…

A3: Não há só magia nem fantasia…

A1: Mas no texto literário é mais história…

A2: e fantasia… tu quando eras criança não gostavas de ver programas com

fantasia? A3: Depende da idade…

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A1: Lá está…

A5: “Lá está!”… lá está ela…

A1: Na escola, por exemplo, nas básicas e na escola primária eles metem os mesmos

textos que nós temos agora, por exemplo, fantasia. Nós daqui mais para à frente vamos dar

textos adequados mais à nossa idade, mas eu acho, por exemplo, nós agora estamos no 7º

ano mas eles dão muitos textos com fantasia.

A7: Pois porque tu não estás… eles dão esses textos e tu achas que não gostas mas

eles acham que nós gostamos. É isso que estás a dizer?

A1: Lá está… eles pensam… ó professora, na cabeça deles, eles pensam que nós

ainda somos crianças e que gostamos daquelas coisas que nós víamos antes… mas eles

também têm que ter a consciência que nós também evoluímos, que nós crescemos, nós não

vamos estar sempre a gostar da mesma coisa. Por exemplo, se eles pusessem textos com

menos fantasia e mais a ver com a realidade…

Professora: Mais adequados à vossa idade… é isso?

A1: Exato… eu acho que nós íamos gostar muito mais de ler esses textos porque

também, tem a ver com a nossa idade e com a nossa realidade do que ler estes textos que

nós sabemos que são fantasia e de quando nós eramos mais pequenos.

A9: Daqui a bocado vai dizer que não tens 12 anos…

Professora: … ó senhores… acalmem lá… vamos mudar de assunto e na aula o

trabalho, as atividades feitas na aula, ajudam a compreender melhor o texto?

A1: Sim…

A2: Depende.

Professora: Depende do quê?

A2: Depende… porque… vira-te para a frente ó tu de amarelo…

A7: Eu tenho nome…

A1: Ajudam para o teste, mas…

Professora: Mas…

A1: Mas … se a professora fizer perguntas muito diferentes no teste já não ajuda …

porque no fundo… perceber, quer dizer… maior parte das vezes só sei as respostas das

perguntas...tu sabes como é que é…

A5: É tudo uma seca… e sempre a mesma coisa … ler o texto e fazer a ficha de

leitura…

Professora: Não fazer outro tipo de atividades? Trabalho de grupo, pares…?

A1: Este ano não fizemos nada…

A2: Lemos o texto e a professora faz perguntas um a um …

A9: e dita as respostas para nós escrevermos…às vezes não escrevo…. É uma seca

A12: algumas respostas parecem todas iguais…

Professora: Não discutem, na turma, discutir no sentido de falar, sobre as ideias do

texto, com a professora ou com os colegas?

A1: Não, muito raro…

A2: Aconteceu uma vez que ninguém percebeu … afinal… aquele texto… sabem

A5: never!

A12: Ninguém percebeu patavina!

A1: A professora explicou depois … contou a história…acho já não me lembro

muito…

A2: foi…foi

A9: De resto é ler, fazer gramática..

Professora: Ficam a gostar do texto, depois desse trabalho…

A1:Raro

A5: Nunca

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A2: Mas pró teste…. É mais fácil…

A1: sim… mas… ó stora… gostar …

Professora: Ok! A análise do texto diminiu o prazer da leitura) É isso?

A1: Sim, eu concordo

A2: Sim

A3: eu também

Professora: Todos concordam?

A8: Sim, porque nós sabemos a análise do texto já vamos saber o que é que o texto

contém, logo já não vamos ter tanto interesse em ler uma coisa que…

A5: vamos ter…

A8: porque já sabemoso conteúdo…

A3: se a professora explicar a parte mais… a parte que vai ter mais interesse … por

exemplo,

A1: Lá está

A5: Tu e o lá está!

Professora: O que é que vocês entendem por “análise do texto”?

A1: É fazer … tipo… o resumo…

A2: o resumo…

A7: O resumo não, porque isso fica mal e depois já não temos nada de interesse…

Professora: Já estão cansados, também já é um pouco tarde, muito obrigada pela

vossa colaboração…ficamos por aqui…

Turma: Ok!

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Anexo 9

Transcrição da entrevista realizada ao segundo grupo dos alunos do 7.º ano

Professora: Bom dia

Turma: Bom dia…

Professora: Digam-me uma coisa vocês gostam de ler? Os vossos familiares… e

quando digo familiares, pessoas que estão em contacto, vivem mais convosco, os pais, os

avós, os irmãos… É frequente vocês verem os vossos familiares a ler?

A1: Sim.

A2:Sim…

A3: A minha mãe.

Professora: Sim? E é normal? E quando vocês veem o vosso pai, a vossa mãe…

normalmente quem é que tem hábitos de leitura lá em casa?

A1: A minha mãe…

A2: A minha mãe…

A4: O meu pai e a minha mãe…

A5: Ninguém…

A1:Eu…

A6: A minha mãe não sabe ler e o meu irmão está na faculdade.

Professora: E gosta de ler o seu irmão?

A6: Os livros que lhe mandam, sim.

Professora: Os livros que lhe mandam… Olhem, e quando vocês veem os vossos

pais a ler o que é que eles leem? Que tipo de coisas é que os vossos pais costumam ler?

A7: O jornal.

Professora: O jornal…

A8:Revistas…

Professora: Revistas… Que tipo de revistas?

A8: A Maria.

Professora: A Maria, mais?

A9: A Caras…

Professora: A Caras, mais? E mais? O que é que eles costumam ler mais?

A10: Ler livros com lições de moral, a minha mãe… o meu pai lê o jornal.

Professora: O seu pai lê o jornal e a sua mãe gosta de ler livros com lições de

moral… E que tipo de livros são esses? Recorda-se assim de algum em concreto?

A10: Sim. É o que ela está a ler agora que é A Força das Palavras, que é o que ela

está a ler agora…

Professora: A Força das Palavras… E por exemplo, eles quando estão a ler,

costumam comentar convosco aquilo que leram?

A10: Sim.

A1:Sim.

A4:Só o meu pai.

A3:Às vezes…

A11:Mais ou menos…

A7:O Jornal, sim…

Professora: E quando se trata… para além de ser artigos que eles leem no jornal, nas

revistas…

A4:Turma: O meu pai faz artigos…

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Professora: Também faz? Escreve artigos? E por exemplo, quando eles acabam de

ler discutem convosco aquilo que… o assunto do livro?

A4: Sim…

A1:Sim…

A7:Depende …Só do jornal… só no jornal…

Professora: Só o jornal?

Professora: Você pergunta e o seu familiar diz do que é que se trata. E alguma vez

aconteceu os vossos pais ou vossos familiares, os vossos irmãos, não importa, terem ligo

alguma coisa e depois vocês acabarem por ir ler… eles tiveram influência…

influenciaram-vos e depois vocês acabaram por ir ler?

A4: Sim.

A7:Não.

A1Sim.

Professora: Sim? E o que é que foi… Quando é que aconteceu isso e como é que

aconteceu isso?

A11: Foi assim: o meu irmão estava a ler um livro e então ele todos os dias ele dizia-

me. Então ele chegou a meio cansou-se, não quis ler e então eu queria acabar a história,

não é?, e comecei a ler.

Professora: E começou a ler porquê? Há alguma coisa que o seu irmão lhe disse

acerca do livro que lhe despertou a atenção?

A11: Sim.

Professora: É? E então teve curiosidade e foi ler.

A11: Sim.

Professora: E depois disso, teve curiosidade em ler outras coisas? Por exemplo desse

autor?

A11: Não.

Professora: Nunca mais teve curiosidade em ler?

A11: Não.

Professora: Olhem, e é só os amigos… é só os familiares que vos influenciam a ler?

A10: Não.

A9:Não. Os professores. Eles mandaram-me ler um livro e os meus familiares

perguntaram-me do que é que o livro falava.

A4:Eu tenho várias pessoas conhecidas ligadas ao teatro, à poesia, à escultura, à

imagem…

Professora: E essas pessoas têm alguma influência no gosto que você tem, ou não,

em ler? Eles influenciam?

A4: Têm, claro.

Professora: E na escola? Há alguém que vos influencie, alguém que vos leva a gostar

de ler alguma coisa?

A5: Não.

A3: Os amigos…

A2: Só os amigos que leem alguma coisa…

Professora: Os amigos?

A6:: Eu tinha um amigo que me deu um livro nos meus anos…

Professora: E você leu o livro?

A6: Estou a ler ainda…

Professora: Está a gostar?

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A6: Sim.

Professora: E então é só os amigos que… que… então, quando estão num grupo de

amigos costumam falar sobre as leituras que fazem, costumam trocar livros, por

exemplo…

A5: Não.

A7: Não.

A2: Mais ou menos…

A5: Só de futebol…

A4: Eu estou a ler uma coisa porque foi o meu pai que escreveu… vários livros da

sua editora antiga…

Professora: Hummm. E mais? Mais alguém está a ler mais alguma coisa, para além

do que têm que ler para a escola?

A5: Eu estou a ler um livro mas é sobre futebol.

Professora: Mas é um livro, não é?, e como é que… o que é que o levou a ler?

A5: O que é que me levou a ler? A minha mãe disse que eu devia parar de jogar

tantos jogos e começar a ler. Então eu fui a uma loja e comprei um livro… e estive a

escolher, e a ver livros e pronto…

Professora: E acabou por escolher um que tem a ver com aquilo que você gosta que

é futebol. E está a gostar do livro?

A5: Estou.

Professora: Então digam-me uma coisa: o que é que vos leva a ler? Quando vocês

têm que ler alguma coisa, o que é que faz? O que é que…

A4: Ouvir os meus familiares a falarem dos livros que leem…

Professora: Leem por influência dos familiares, mais?

A1: Para estarmos atualizados…

A10: Para desenvolver-mos o vocabulário…

A9:: Para conhecer coisas novas..

Professora: Para conhecer coisas novas… a leitura permite-nos conhecer coisas

novas?

A1:Sim…

A2:Algumas sim, outras não…

A3: Termos mais criatividade…

A8: Imaginação…

Professora: Permite-nos imaginar… Como é que a leitura… o vosso colega disse ali

que a leitura… que lê porque acha que consegue conhecer coisas novas… Como é que a

leitura nos permite conhecer coisas novas?

A4: Transmitindo através de palavras coisas sobrenaturais, ou naturais, mas que nós

não temos muita vontade de descobrir… não temos capacidade de pensar e o autor

escreveu no livro e nós adaptamos à nossa cabeça.

Professora: Então digam-me: porque é que é importante ler? Porque é que é

importante a leitura? Turma: A11: Para lermos melhor.

A1:Sim.

A9:Sim.

A6: Sim.

A8: O vocabulário…

A10:Ficamos atualizados…

Professora: Aumenta o vocabulário, ficamos atualizados… quando diz, ficamos

atualizados quer dizer o quê?

A3: Descobrimos coisas novas…

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A4: Por vezes os livros ensinam-nos ou falam de coisas que acontecem na vida

real… e ensinam-nos como fazer melhor… lições de moral…

A3: Sim…. caminho que devemos seguir…

A9:Sim. Pode-nos permitir sermos melhores pessoas…

A1: Para não cometermos os erros que se calhar aquelas pessoas que estão no livro

cometeram…

A9: A ser uma pessoa melhor.

Professora: Então vocês gostam de ler? Há alguém aqui quem não goste de ler?

A5: Eu não gosto muito.

Professora: Não gosta muito. E porque é que não gosta muito?

A5 Porque acho que há muitas coisas que são melhores que ler.

Professora: Olhe mas… e que coisas são essas que são melhores que ler?

A5 Jogar futebol…Comer…Fazer as coisas que mais gostamos…

Professora: E mais? Quem é que não gosta mais de ler?

A7: Eu também…

A8:Eu.

Professora: Mas não gostam ou que gostam de ler assim de vez em quando?

A7: Eu gosto de vez em quando…

A5:Eu não gosto de ler.… é mesmo aborrecido.

A4: Eu gosto de livros …Eu pego num livro.

A1: Eu gosto mais de ler às vezes porque ler é bom não é?, mas às vezes, o tempo

que nós estamos a ler podemos precisar de fazer outras coisas mais importantes.

A2:Por vezes ler pode-nos afastar do mundo exterior.

Professora: Pode afastá-lo do mundo exterior em que medida?

A2: Muda-nos as ideias…Os amigos, as… coisas …Conviver.

Professora: Ao ler deixa de conviver?

A1 Faz mais sentido ser com o telemóvel… parar de conviver. Com o telemóvel é

que se para mais de conviver.

Professora: OK. Então digam-me uma coisa: até agora nós falamos assim de um

modo geral, não é? Falamos da leitura, da importância da leitura. Todos concordamos que

a leitura é importante?

Turma: Sim.

A4:Sim.

Professora: Porque é que é importante?

A3: Em alguns aspetos sim.

Professora: E em que alguns aspetos são esses?

A3: Permite-nos por exemplo, se lermos em casa, na escola adquirir mais … falar

com outras expressões…

A4: A leitura é importante porque aprendemos coisas das pessoas…

Professora: E ler um texto literário? O que é que é um texto literário?

A4: É um texto artístico…

A1: Pode ser um texto poético…

A10 Pode haver o texto poético, dramático…

Professora: E o texto poético, o texto dramático não são textos literários? Já alguma

vez alguém vos explicou o que é que é um texto literário?

A11: Não.

A10: Não.

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Professora: E vocês acham que seria importante… eu quando… no início do ano que

alguém vos diga o que é um texto literário e quais são as características de um texto

literário?

A1: Sim.

A2: Sim.

A6: Se isso saísse no teste…

Professora: Só se saísse no teste?

A6: Ou se alguém tivesse muita curiosidade…

Professora: Então digam-me: na aula de Português quais são os textos que vocês

mais gostam?

A4: O poético…O poético…

A2: Dramático…

Professora: OK. Então digam-me outra coisa: quando vocês estão a estudar um

texto, um texto literário na aula… Diga?

A9: Desculpe. Ele está a dar-me com os pés.

A8: Eu? Não, não estou.

Professora: Olhe, é assim: eu vou pedir que saiam… eu alertei no início que estão

aqui se quiserem, não é? Isto é facultativo, é voluntário… não querem estar mais saiam…

regressam à sala …

Professora:… alguma vez aconteceu a professora dizer “Nós vamos estudar este

texto.” Já alguma vez aconteceu vocês não lerem o texto que a professora mandou?

A5: Sim.

A4: Não.

A9: Sim.

Professora: Porquê?

A9: Li só o primeiro capítulo.

Professora: Leram só o primeiro capítulo. Porquê?

A5: Porque não gostámos…

A9:Porque tínhamos que estudar para outras coisas…

A7: Porque é cansativo…Temos que ler para depois sabermos também quando

chegarmos à aula analisarmos o texto e respondermos às perguntas…

Professora: Têm que ler para quando chegarem à aula analisar o texto…

A6: Se a professora fizer perguntas…

A7: Pois…

Professora: Para a professora se fizer perguntas… por isso vocês leem sempre?

A5: Não.

A1:Sim.

A7:Não.

A8: Somos obrigados a ler…

Professora: São obrigados… leem porque são obrigados a ler, é isso?

A8: Sim.

A11: Sim.

A4: Não.

Professora: Leem sempre porque são obrigados a ler…

A8: Se forem textos que eu não gosto… sim.

A3: Se forem textos… como o meu colega disse… se forem textos que eu não gosto

também tenho que ler porque sou obrigado, agora se forem textos que eu gosto eu leio

mesmo por querer.

Professora: E vocês gostam de todos os textos que a professora traz para a aula?

A5: Não.

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214

A1: Não.

A2: Não.

A3: Depende do tema…

Professora: Não? E quais são os temas que… quais são os textos que vocês dizem

assim: “Eu não gosto disto”.

A5: Eu não gosto de nada…

A2: De textos… como é que eu hei de explicar…Do amor…

A3: Sim… de romances e assim… gosto mais de ação…

A4: De aventura…

Professora: Por exemplo, este ano na aula de Português…

A4: Lemos o Cavaleiro da Dinamarca

Professora: Deram o Cavaleiro da Dinamarca… E gostaram?

A4: Sim.

Professora: E outros textos que tenham visto e não tenham gostado?

Professora: Então digam-me: quando vocês estão a analisar, a estudar um texto…

não é analisar… quando vocês estão a estudar um texto literário na aula, o que é que faz

com que vocês compreendam melhor aquele texto?

A1: Gostarmos…

Professora: Será pelo facto do professor analisar e cometar o texto e vocês tomarem

apontamentos, escreverem as informações sobre aquele texto, facilita a compreensão do

texto? Ajuda a que vocês percebam aquele texto?

A1: Ajuda…

A5: Eu acho que não…

A3: Se nós lermos o texto com atenção e lermos oralmente…

Professora: Ah!, primeiro têm que ler antes com atenção e só depois conseguem

perceber a análise que a professora faz?

A3: Sim.

Professora: Mas ajuda a compreender melhor? Não? A colega está-me ali a dizer que

não. Porque é que não ajuda?

A6: Mais ou menos, professora.

Professora: E porquê mais ou menos?

A6: Às vezes ajuda mas outras vezes não ajuda.

Professora: Então o que é que vocês acham que vos ajuda, dentro da sala de aula, a

perceber melhor um texto literário?

A6: Ler oralmente

A4: Uma pessoa ler aquele texto…Ler em voz alta…

Professora: Quando vocês estão a ler em voz alta… diga, desculpe? Não ouvi…

A11: Uma pessoa que leia tudo que leia bem…Por exemplo, um texto poético… um

colega meu leu muito bem um texto poético e é agradável ouvi-lo.

Professora: É agradável ouvir quando as pessoas leem bem, por exemplo um texto

poético, quando conseguem transmitir bem através da leitura o texto que estão a ler. É

isso?

A11: Sim.

A10: Conseguimos entrar melhor no texto.

Professora: Conseguem entrar no texto… então a leitura na aula… por exemplo, uma

das coisas que faz com que vocês compreendam melhor os textos é a leitura em voz alta.

Isso facilita a compreensão?

A4: Acho que sim.

A6: Sim.

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215

Professora: E mais? E por exemplo, se o professor e os alunos debaterem os assuntos

que são promovidos pelos textos e a sua interpretação. Isso ajuda a perceber melhor?

A4: Sim, ajuda.

A3: Sim.

Professora: Ajuda? E porque é que ajuda?

A4: Porque discutimos as nossas opiniões…

A1: Pois…

A4: Através dos outros leva-nos a nós também a percebermos o texto se tivermos

uma ideia errada…

Professora: Ah!, o facto de trocarem impressões, não é?, não só com o professor mas

também com os outros colegas ajuda a que vocês percebam, não só melhor a vossa ideia e

consigam perceber uma ideia que à primeira vista, não é?, não tenham percebido logo

muito bem.

A11: Sim.

Professora: E quando o professor analisa… faz a análise e faz perguntas isso ajuda a

que vocês consigam perceber melhor a ideia, o sentido do texto?

A5: Não.

A7: Não.

Professora: Não ajuda o facto do professor fazer perguntas sobre o texto, analisar o

texto…

A7: Se nós não percebermos o texto…

A5: Não vale a pena…

A9: Se nós não percebermos o texto não sabemos responder…

A3: Eu acho que sim… para respondermos, nós precisamos de ir ao texto e ler outra

vez e já ficamos a perceber.

Professora: Então, se não percebem uma primeira vez…

A3: Lemos a segunda…

Professora: Leem a segunda vez… e isso ajuda mais? O facto de vocês repetirem a

leitura ajuda mais do que ser o professor a fazer perguntas sobre o texto e analisar o

próprio texto?

A3: Sim, sim.

A6: Sim.

A1: Quando nós temos o texto bem compreendido claro que se o professor fizer

perguntas é mais fácil para nós…

Professora: O que é que mais pode ajudar a que vocês percebam, dentro da sala de

aula, um texto literário?

A4: Gostarmos do texto.

Professora: Gostar do texto…

A10: A maneira como é lido…Por uma pessoa..pelos leitores… que pode ser pela

professora ou por um colega nosso que tenha uma capacidade de ler o texto com…

expressar-se bem, para nós ficarmos com uma ideia mais concreta do que fala o texto.

Professora: Aqui o vosso colega disse que ajuda… para que vocês consigam

perceber bem o texto ajuda vocês “gostarem do texto”. O facto de vocês gostarem do que

estão a ler ajuda a que percebem melhor e compreendam melhor a ideia, o assunto, do

próprio texto?

A4: Sim. Porque se nós gostarmos vamos estar mais atentos, mais concentrados a ler

o texto.

Professora: E então, o que é que faz com que vocês não gostem na aula de um texto

dado pelo professor?

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A4: Pode ser o tema, pode ser se é muito grande ou muito pequeno…

Professora: O tema…, a própria extensão do texto… significa que se for um texto

demasiado longo, à partida vocês não gostem?

A5: Não.

A4: Se for um texto mal escrito…

Professora: Um texto mal escrito… e o que é para si um texto mal escrito?

A4: Para mim é um texto que não tem estrutura, que não fala bem das coisas, as

coisas que é o tema…

Professora: Que não explique bem o tema, não é? Que não desenvolva bem o tema…

A4: Exatamente. Que não seja mais…

Professora: Que não está adequado…

A3: À nossa idade…

Professora: E vocês acham que costumam ler muitos textos na aula que não estão

adequados à vossa idade?

A1: Não.

A2: Não.

Professora: Não? Estão todos adequados?

A3: Sim.

A4: Sim.

A7: Às vezes há textos com vocabulário mais difícil, como os da nossa professora

nos manda… pegamos num lápis, sublinhamos as palavras para depois em casa ir ao

dicionário…

Professora: E vocês têm esse hábito de, quando têm que trabalhar um texto pedido

pelo professor, para melhor perceberem sublinham, vão ao dicionário ver as palavras que

não percebem?

A5: : Não. eu não.

Professora: E em relação à pesquisa? Acham que se fizerem pesquisa sobre o autor

conseguem depois perceber melhor esse texto?

A8: Sim.

A7: Sim.

Professora: Sim? E a própria professora dentro da sala de aula vos aconselha a fazer

isso?

A9: Não.

A4: Às vezes.

A3: Não costuma muito.

Professora: Não?

A4: Só se for quando fazemos trabalho de grupo …Ainda há pouco fizemos um

trabalho sobre isso… autores.

A2: E dá-nos a bibliografia…

Professora: E acham que o facto de terem feito esse trabalho ajudou a perceber

melhor o texto que foram depois estudar?

A3: Sim.

A4: Sim. Compreendemos as expressões…

Professora: E é sempre pedido que vocês façam esse trabalho?

A1: Não.

A9: Não.

Professora: E vocês…

A4: Nós é que tomamos essa iniciativa…

Professora: Tomam essa iniciativa porque sabem que…

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217

A4: Que nos vai ajudar a perceber melhor…

Professora: Então há mais alguma coisa que se fosse feito na aula ou fora da aula vos

iria ajudar a perceber melhor os textos que têm que estudar na aula de Português?

A4: Sim.

A3: Sim.

Professora: E que coisas são essas?

A11: Nós já percebemos do que fala… nós já sabemos… por exemplo, um desporto,

nós já sabemos o que o desporto é…Em que consiste…E depois no texto vamos falar desse

desporto, nós podemos responder às perguntas mais facilmente.

Professora: E como é que você pode então saber isso?

A11: Praticando…

A10: Lendo resumos…

A11:Saber de desporto…

A4: Tentar saber mais sobre esse tema …Pesquisar…

Professora: Pesquisar…

A3: E também quando um professor numa aula indica o texto que vamos ler nas

seguintes aulas, em casa lermos esse texto, para quando estivermos a ler na aula

conseguirmos compreender melhor.

Professora: Conseguem compreender melhor…

A3: Sim.

Professora: Então dignifica, por aquilo que vocês me estão a dizer, que todos os

textos, o texto literário… agora estamos a falar do texto literário, todos os textos que vocês

costumam ler dentro da sala de aula, todas as atividades que fazem, leem o texto e depois

fazem fichas… costumam fazer… ler o texto e fazer fichas depois, por exemplo, as que

estão no manual…

A1: Sim, os exercícios que estão no manual…

Professora: E isso ajuda? Ajuda a compreender?

A1: Sim.

A2: Sim, se tivermos antes compreendido bem o texto ajuda.

Professora: E depois de estudarem aquele texto, vocês têm vontade, por exemplo, de

ir ler textos, ou daquele autor ou outro tipo de textos… ficam com essa vontade?

A5: Não.

A7: Raramente.

Professora: Raramente?

A4: Se gostarmos do autor…

A1: Se esse autor ficar na nossa cabeça… sim…

A3: O autor pode falar de vários temas e nós gostamos de algum deles…

Professora: Então nunca aconteceu, por exemplo, vocês estarem a ler… a estudar um

texto na sala de aula, e depois ficarem tão motivados, gostaram tanto de ler o texto que

resolveram, mesmo não sendo obrigatório, não sendo a professora a mandar, resolveram

por exemplo ir à biblioteca ver se tinha lá aquele livro, ou então pedir ao pai ou à mãe

comprar esse livro. Isso nunca vos aconteceu?

A5: A mim não.

A4: A mim, por exemplo, já aconteceu ler um texto na aula, gostei muito, e depois

quando vou com os meus familiares no carro contar-lhes o texto…

Professora: Então costumam falar dos textos que falam na escola com os pais?

A4: Ah, sim. Eu falo muitas vezes. Os meus pais têm uma carrada de livros em casa,

por causa da livraria antiga do meu pai e o meu pai diz assim: “Leste este livro? Então eu

tenho-o ali, vai busca-lo que é para eu ler”.

Professora: E você gosta de ler? Gosta sempre de ler aqueles livros?

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A4: Às vezes, depende do tema…

Professora: E por exemplo, aqui na escola. Já alguma vez em conversa, por exemplo,

com um professor, não tem que ser obrigatoriamente com o professor de Português, em

conversa com um professor, em conversa com um funcionário… em conversa ou mesmo

em atividades promovidas pela própria escola, pela biblioteca, já tiveram curiosidade, por

vossa iniciativa ir ler alguma coisa porque gostaram de uma atividade, porque gostaram de

algo que o professor disse na aula…

A11: Eu já tive a curiosidade mas não foi do professor ter dito na aula mas foi, por

exemplo, de um desporto que eu gosto, saber mais… conseguir para além do que eu já

adquiri… do que eu já sei, adquirir mais informação.

Professora: Ler mais. Mas em relação à leitura, em relação ao texto literário, nunca

aconteceu vocês assim: “Olha, eu gostei desta atividade que a escola promoveu. Se calhar é

interessante e vou por isso tentar ler mais alguma coisa sobre este autor. Nunca aconteceu

isso?

A1: Não.

Professora: Nunca aconteceu por exemplo, depois de terem feito uma série de

exercícios sobre um determinado texto na aula de Português terem ficado tão curiosos com

aquele autor, com aquele texto que resolveram… que disseram assim “Vou experimentar

agora ler outro texto deste autor”

A2: Não.

A4: A mim já.

A9: Turma: Por vezes nem tempo temos… temos que fazer os trabalhos de casa,

estudar… e às vezes como praticamos desporto… estudar para os testes…

Professora: Significa que o facto de terem muitas atividades, para além das

atividades que têm na escola, por vezes também não facilita a que vocês sintam mais

vontade de ler?

A4: Não. Isso acontece ter mais vontade de ler, por exemplo, nas férias… estou em

casa…

Professora: Nas férias. Costumam fazê-lo?

A3: Nós nas férias também… nós dos muitos textos que falámos e gostámos é a

partir das aulas de Português que a professora fala e nós gostamos do texto. E nós também

em casa se não formos ler um texto também nunca vamos saber se gostamos do autor…

Professora: Então significa que de alguma forma, não é?, através de alguma coisa

que o professor na aula vos vai dizendo sobre determinado autor, através do trabalho que

vocês vão fazendo sobre determinados autores faz com que vocês depois, quando têm mais

disponibilidade até tenham vontade de ir ler alguma coisa.

A8: Mas também às vezes há falta de vontade pelas pessoas. Eu muitas vezes

apetecia-me ler várias obras e de repente digo assim: “Espera. Eu estou a fazer esta coisa

porque é que eu vou-me dar ao trabalho de interromper só para ler um livro”?

Professora: “Só para ler um livro”? Então acha que o ler é secundário? Primeiro tem

outras coisas mais importantes do que a leitura? A leitura não é assim tao importante ao

ponto de achar que…

A8: A leitura é importante, para nós, ainda para mais que agora ainda estamos a

aprender, por causa do nosso vocabulário futuramente… só que às vezes também há outras

coisas que pode ou não ser mais importante.

A11:Mas ó professora, sabe aquela vontade que de repente nós temos assim de… que

nós estamos com vontade de ler mas nós dizemos assim: “Nós estamos a fazer isto para é

que vamos ler?” percebe professora? Estamos a jogar um vídeo jogo, estamos no

computador a fazer outra coisa qualquer que sejas mais… como nesta idade… ou estamos

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no telemóvel a escrever mensagens ou a ver vídeos, e nós assim deixamos basicamente a

leitura de lado só porque estamos a fazer essas coisas…

Professora: Essas coisas são divertidas não é?

A11: Sim.

Professora: Vocês acham que jogar futebol, jogar jogos no computador, isso vos dá

prazer…

A11: Sim.

Professora: Um texto literário não vos dá esse prazer? Não poderão ter o mesmo

prazer?

A11: Não.

A10: Não tem nada a ver…O divertimento…

Professora: Não vos dá divertimento… um texto literário não vos pode trazer

divertimento?

A1: Se for de alguma coisa que nós gostamos… dá sim.

Professora: Então, se for algo selecionado por vós, algo que vocês tenham

escolhido… que é um tema que vocês gostam… aí a leitura do texto literário já é

agradável?

A4: : É. Pelo menos na minha opinião é.

Professora: Então, para ser agradável a leitura de um texto literário…

A3:: Tem de ser de um tema que nós gostamos… que nós achamos interessante.

Professora: Tem que ser um tema que vocês acham interessante. Então, na aula de

Português, vocês disseram que gostaram de todos os textos literários que leram na aula de

Português. Então todos os textos têm temas que são do vosso agrado.

A1: Alguns… alguns…

A2: Neste momento, dos que demos, sim, pelo menos para mim.

A4: Só nos poéticos e nos dramáticos…

A3: Sim.

A5: O tema era aborrecido e …

Professora: O que é um texto aborrecido?

A3: Pode ser extenso faz com que nós não gostamos…

Professora: O facto de ser extenso faz com que vocês não gostem…

A5: E depois não temos aquela vontade de ler… estamos a dar uma coisa de que nós

não… É um texto sem piada, sem divertimento… sem razão.

Professora: E os textos que vocês têm que ler na aula… o texto literário que vocês

têm que ler na aula são poucos os textos que têm essas… todas essas características que

vocês gostam?

A9: Sim.

A8:Sim.

A7:As pessoas que fazem esses textos também sabem, mais ou menos, que para a

nossa idade o que nos diverte, o que nós gostamos…

Professora: Acham que quem escolhe os textos têm… têm…

A4: Têm essa noção.

Professora: Têm essa noção, têm esse cuidado de escolher coisas que estão

direcionadas para a vossa idade, para o vosso gosto literário?

A7: É, não é? Eu vou assim e disse assim uma vez: “Ah!, vou ler estes poemas aqui

do 6º ano” eu li aquilo e aqueles poemas pareciam para bebés, porque realmente, do 7º ano,

os poemas da dimensão… as palavras que são… dos poemas, as coisas que os autores nos

querem transmitir são completamente diferentes dos poemas do 6º ano. Os poemas do 6º

anos são mais “Olha ali a minhoquinha…” bla bla bla e assim… e nos…

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Professora: Acham que nem sempre os textos escolhidos retratam… têm a ver com a

vossa idade… às vezes sentem que quem escreve, quem escolhe os textos pensam que

vocês ainda são… são demasiado jovens?

A7: Ainda não estão desenvolvidos…

Professora: E isso acontece agora também no 7º ano?

A4: Não…

A7:Alguns…

Professora: Alguns textos..

A3: Há uns que nós até ficamos pasmados com o vocabulário e assim…

A4: Mas isso por vezes também nos desperta interesse saber o que é que as palavras

querem dizer…

Professora: Então pode despertar… para vocês o facto da linguagem ser mais

complexa desperta-vos o prazer para a leitura, se for ao contrário já perde o interesse?

A4: Não. São coisas que nós já sabemos, já temos o conhecimento…

A7: Depende…

A7: São mais abebezadas…

Professora: E vocês não gostam disso… Isso afasta-vos um pouco da leitura…

A7: Não… nós já passamos dessa idade…

A8: Pois…

A6: Sim…

A7: Já passámos por essa fase… está certo que agora não estamos tão…

A1: Pois… a Branca de Neve, os Três Porquinhos

A3:Quando se torna muito difícil nós também não gostamos do texto…

A9:Sim…Porque não vamos perceber e depois não queremos ler mais…

Professora: OK… todas as atividades que são feitas na aula ajudam a que vocês

compreendam melhor um texto literário.

A1: Sim.

Professora: Todas sem exceção? Ou há uma que ajuda mais do que a outra?

A4: Mas na minha opinião… como minha opinião, o que ajuda mais é nós fazermos

debates sobre a opinião de cada um…

A3: Sim, sim…

Professora: E vocês costumam fazer com frequência debates?

A4: E conseguirmos perceber o que nós percebemos do texto e o que os outros

também perceberam…

A3: Sim…

Professora: A troca de ideias é aquilo que vocês acham que ajuda mais. Mais do que

estarem a fazer fichas que vêm no manual?

A4: Sim.

Professora: Ou que a professora dá?

A4: Sim… quando nós fazemos o diálogo estamos numa conversa aberta, trocamos

as nossas opiniões e eu acho que isso tem mais interesse do que estarmos a fazer fichas

sem perceber nada…

Professora: Então digam-me: o facto de compreenderem um texto, faz com que

vocês tenham vontade de ler mais textos daquele género e de ler mais coisas sobre aquele

autor, ou outros autores?

A1:Sim.

A2:Sim.

Professora: OK. Então digam-me agora outra coisa para concluirmos. Até que ponto

vocês concordam com estas afirmações. “A análise dos textos literários… a análise de um

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texto literário diminui o prazer da leitura”. O facto de vocês, quando estão na aula, lerem o

texto, responderem a perguntas sobre o texto, fazendo exercícios de gramática sobre o

texto, isso faz com que vocês tenham menos vontade de ler o próprio texto ou outros

textos?

A2: Depende do texto…

A9: É…

A3: Sim…Se for um texto que nós achemos mais interessante é claro que vamos ter

mais gosto em ler, mais prazer de ler…

Professora: Se vocês já gostarem daquele texto, o facto de fazerem uma análise… de

fazerem trabalhos de análise sobre o texto, não faz com que vocês sintam ou percam a

vontade de ler aquele texto ou outros textos?

A6: Eu acho que perco…

Professora: E porque é que acha que perde o prazer?

A6: Perde a piada de estarmos a ler e a responder perguntas… até pode ser

interessante o texto, não é?, mas quando vem as perguntas… eu acho que estraga sempre

um bocado… mas essa é a minha opinião…

A7: Pois é…Mas isso também depende do aluno, de que cada um é… se tem uma

capacidade melhor de perceber o que o texto fala, ou se não consegue perceber tão bem o

texto…

Professora: E então…

A4: Já que para os alunos que não conseguem perceber tão bem o texto é mais difícil

as perguntas de interpretação… para os alunos que já têm uma ideia do texto fazem as

perguntas de interpretação com uma maior facilidade… isso é o que eu acho…

Professora: E isso não interfere então com o gosto que eles têm de ler aquele texto

literário e não vai interferir posteriormente na leitura que eles possam fazer de outros

textos?

A9: Interfere… porque, eu ia dizer ao… mas a Joana… aiii… desculpe professora…

Professora: Não faz mal, não faz mal…

A9 A minha colega estava a dizer que diminuía o gosto dela pela leitura, só por causa

de ter mais perguntas e isso obriga-nos a ler outra vez, a escrever melhor e isto tira um

bocado aquela… aquela…

A3: O prazer…Aquele prazer…O sabor…

Professora: O sabor da leitura, o prazer de ler sem estar depois com a preocupação

de responder às perguntas…

A3: Sim. Quando lemos o texto, se soubermos a estrutura do texto e assim, as

perguntas… nós já vamos saber onde elas se encontram e não vamos ter a necessidade de

ler outra vez tudo…

A2: Sim, sim, isso sim…

Professora: Então acham que muitas das questões que vocês fazem após lerem um

texto literário que seriam desnecessárias… estarem depois a fazer novamente…. a

responderem novamente àquelas perguntas e que isso acaba depois por estragar um

bocadinho o gosto que tiveram pela leitura do texto…

A3: Se compreendermos o texto, as perguntas não têm… mas se nós não

compreendermos bem as perguntas… torna-se mais aborrecido…

A9: Mas diminui sempre…

A5: As perguntas ainda aterram…Se nós não gostarmos e se tivermos que ler outra

vez ainda ficamos a gostar menos…

A7:É isso…

Professora: E aqui: “Ser obrigado a ler o texto diminui o prazer da leitura”

A1: Sim.

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A5: É lógico…

A7: Sim, sim, sim.

A8:Eu acho que é mau ser uma obrigação… deveria ser por gosto…

Professora: Então o facto de a professora dizer: “Está aqui… hoje vamos ler…

vamos começar o estudo deste texto literário”, por exemplo, o Rei daHelíria. Só o facto da

professora dizer: “Vão ter que ler este… o primeiro capítulo. Até 2ª feira têm que ler o

primeiro capítulo”

A1: Ah, sim…Isso não diminui o prazer porque é algo que a professora nos indicou

porque pensa que é para o nosso bem…

A4: Eu acho que ser obrigado também pode ser bom, porque nós podemos não

conhecer o livro e depois de ler o livro podemos gostar e se não fossemos obrigados nunca

o liamos…

Professora: Então isso de às vezes a professora obrigar a ler acaba por ser uma boa

coisa.

A4: Sim.

A5:Não.

A4: A professora não obriga… indica.

Professora: Vocês… há quem goste de ler de vez em quando, há quem não tanto de

ler, mas quando vocês têm que trabalhar o texto literário na aula, vocês gostam de o fazer?

A4: Sim.

Professora: Acham que é importante esse trabalho que é feito dentro da sala de aula

com o texto literário?

A3: Sim, quando os professores nos mandam ler é porque acham que nós… que vai

ser importante para nós.

Professora: E o que é que… os professores acham que vai ser importante para vocês.

E o que é que vocês acham? É importante ler o texto literário na aula? O texto literário tem

importância para vós? É importante?

A2: Sim. Porque também quando os professores nos mandam ler dizem assim “que

nós devemos também ler em casa com mais frequência que nos vai…Ajudar para o teste…

A3: Não. Vamos conseguir ler melhor quando o professor fizer a avaliação vamos ler

melhor…

Professora: Então, uma das coisas que influencia, que vos leva a ler o texto literário

é a vossa preocupação com a avaliação?

A4:Não.

A8: Não.

A3: Pode ser…

Professora: Ou é o prazer que têm a ler aquele texto?

A4: Para mim é as duas coisas: a avaliação e o prazer de ler.

A6: É o prazer em ler o texto…

Professora: OK. Está bom. Muito obrigada.

Turma: De nada.

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Anexo 10

Transcrição da entrevista realizada ao primeiro grupo dos alunos do 9.º ano

Professora: Olá, boa tarde!

Turma: Boa tarde

Professora: Quando vocês estavam com os vossos amigos ou quando estão num

grupo de amigos, sobre o que é que costumam conversar. Que tipo de conversas é…

A1: Jogo.

A2: Ah, isso é uma coisa muito vulgar.

A2: Normalmente fala-se mais sobre séries televisivas…

A1: Ou não…

Professora: Falam sobre séries televisivas…

A1: Jogos…

A3:jogos de computador…

A4:Ou de raparigas…

A5: Ou até de futebol…

A6: Ou de rapazes…

A7: Ou de séries…

A2: Já disse.

A7:Novidades…

Professora: E livros? E

A1: nós não lemos tanto…

Professora: Mas leem?

A8: Muito pouco

A9: Eu leio, gosto muito de ler

A10: Raríssimo, só se for a bola!

Professora: E os vosso amigos? Não leem ?

A1: Não… acho que não… sei lá…

A9: Sim.

Professora: Não gostam de livros…revistas, jornais, pode ser na Internet….

A3: Não.

A9: Eu gosto…

A1: É pá… ó professora… esta a dar-me pontapés… ó burro!

Muito barulho, confusão, falam todos ao mesmo tempo, gargalhadas, torna-se

impercetível o discurso

A1: Perca de tempo…

A4: Oh! Burro, perca é um peixe!

A9: (impercetível) que eu li, li “A culpa é das estrelas”…

A8: É verdade. É conforme os livros. Há livros interessantes.

A5: Não, não acho.

A4: A ……..não se calava com o livro.

A6: Depende do escritor…

Professora: Desculpem, não consigo ouvir, assim não.

A6: impercetível

(Os launos estão muito agitados.Alguém diz nome de um livro em inglês mas devido

aos comentários dos colegas, não dá para perceber o nome do livro)

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Professora: Não consigo perceber … Relembro-vos que a vossa colaboração é

totalmente voluntária. Se não quiserem continuar, por favor digam e terminamos a

entrevista. Assim, com esta confusão não consigo assim não é possível…

Turma: Desculpe, professora.

Professora: OK! Independentemente de uns gostarem de ler menos, de outros

gostarem de ler mais, de existir algumas coisas que gostam de ler e outras não, a leitura é

importante?

A9: É.

A10: muito

Professora: Acham a leitura importante porquê?

A9: Porque ficamos com melhor vocabulário.

A4: Otário! Estás a chagar-me!

A1: Vai pró XXXX

A10: aprendemos coisas melhores sobre a vida…

Professor: Por favor! Assim não dá!

Os alunos continuam muito agitados, ouve-se muito barulho, torna-se impercetível

Professora: OK! Não dá. Muito obrigada pela vossa colaboração, mas vamos ficar

por aqui

A9: Mas… ó stora… calem-se…

A10: Vamos continuar…

Professora: Mais uma vez, muito obrigada. Terminamos.

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Anexo 11

Transcrição da entrevista realizada ao segundo grupo dos alunos do 9.º ano

Professora: OK, então vamos lá. Vocês costumam ver os pais, irmão a ler? Qualquer

tipo de leitura.

A1: Jornais? A minha mãe lê muitos jornais. Conta?

A2:Muitas vezes…O meu irmão lê muitas vezes banda desenhada.

A3: Não. Eu sou o único que lê.

Professora: Olhem, e acontece muitas vezes, os vossos familiares partilharem

informação, discutirem convosco informação convosco acerca do que eles estão a ler?

A4: Sim… futebol…

A1:Normalmente, sim…

A3: Às vezes…

A5:Não…

A6: Às vezes…

Professora: E que tipo de coisas é que vocês veem os vossos familiares a ler?

A7: Livros.

A8: Banda desenhada.

A1: Jornal…

A9: De tudo…

A10: Revistas…

Professora: De tudo um pouco. E costumam discutir com eles, independentemente

de ser um livro, uma revista, banda desenhada… não importa propriamente o tipo de

leitura que é feita, mas costumam discutir, trocar impressões com eles?

A1: Sim…

Professora: Já aconteceu alguma vez, vocês por exemplo, o pai, a mãe, o irmão

estarem a ler um livro e vos influenciou de tal forma que vocês tiveram vontade e

acabaram por ler também esse livro?

A3: Sim.

A9:Sim.

A10:Não. Não me recordo de ter acontecido.

Professora: Porque é que nunca aconteceu? Se vocês… se… o que é que tinha de

especial, ou o que é que não tinha para vocês não sentirem vontade de ler?

A4:Dá trabalho ler… não gosto... são temas diferentes…

A10: São temas que não me agradam…

A6: O livro é muito grande…

Professora: A grande dimensão do livro faz com que vocês não queiram ler?

A6: Sim…

A10: São temas diferentes que não têm interesse.

Professora: Olhem, e com os amigos. É normal vocês verem os amigos a ler?

A1: Não.

A3: Às vezes…

A4: As raparigas…

Professora: Não tem que ser obrigatoriamente livros… pode ser…

A9: A X… Temos um clube nós… temos um clube de leitura…

Professora: Vocês têm um clube de leitura…

A 4:A sério?

A9: Sério…

Professora: E vocês discutem as leituras que fazem?

A9: Eu tenho as regras em casa…

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A3: Às vezes…

Professora: Têm o hábito de trocarem livros, por exemplo…

A9: Sim…A trocar livros às vezes…

Professora: A emprestar livros umas às outras…

A7: Sim.

Professora: Oferecem livros…

A4: Oferecer? Eu não ofereço nada disso…

Professora: É normal, por exemplo, um amigo faz anos, o familiar faz anos, é usual

oferecerem livros?

A8: Sim.

A3:Depende da pessoa…

Professora: E também receberem? Também recebem livros?

A4: Não.

A8:Sim.

A5:Já foi tempo em receber livros.

Professora: Já foi tempo? Quando eram mais novinhos recebiam livros?

A5: Sim.

Professora: E liam os livros que recebiam?

A5: Não.

A9:Sim.

A7:Eu tenho lá uma estante de livros que recebia no Natal…

A3: Eu leio…

A1: Depende…

(impercetível… falam todos ao mesmo tempo)

Professora:Por favor!, Sem barulho, todos ao mesmo tempo não! Já aconteceu por

exemplo receberem um livro e depois gostarem tanto desse livro que foram e compraram

um outro desse meso autor?

A3: Sim.

A9:Sim.

A1: Não, nunca me aconteceu.

A9: A Guerra dos Tronos…

Professora: Olhem… então digam-me agora… digam-me uma coisa: alguns gostam

de ler mais, outros gostam de ler menos, alguns são viciados em leitura, outros gostam de

ler de vez em quando…

A2: Eu leio de vez em quando…

Professora: Há um ou outro que não gosta mesmo nada de ler.

A5: Eu…

A4: idem

Professora: Mas, independentemente da opinião que nós possamos ter, ou do gosto,

melhor dizendo… do gosto que nós possamos ter acerca da leitura, a leitura é importante?

A1: Sim.

Professora: Ler é importante?

A2: É.

Professora: Porquê?

A3: Para conhecer…

A6:Aumenta o nosso vocabulário…É mais por causa disso…

A7:Mais conhecimento…

A9: Pode-se conhecer outros locais…

Professora: Outros locais…

A9::Informações sobre o mundo…

Turma: A8:

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A7: O mundo exterior…

A2: Depende dos livros…o conteúdo do livro…

Professora: O que é que o livro tem que ter para vocês aprenderem alguma coisa

sobre vocês?

A2: Tem que falar sobre a escola ou algo do género. Falar de algo… real…

Professora: Falar da vida real…

A10: Falar sobre a vida de alguém…

Professora: Algo relacionado com as vossas vivências… é isso?

A10: Sim.

A5: Nunca encontrei um livro assim…

A10 :Eu leio quando não tenho mais nada para fazer…

A6: Sim, a maior parte das vezes…

Professora: Olhem, digam-me uma coisa: o que é que vocês acham… as pessoas

leem por diversos Vocês leem porquê?

A3: Porque é interessante.

A4:Porque os meus pais me obrigam…

(inaudível … muito ruído….conversas paralelas…confusão…)

Professora: Meninos, Então? Não acredito nisto! Vocês também?

A1: Ó stora…. Sabe…. Estamos cansados…. Tivemos testes…

A 5 É e amanhã ….

A1: Vamos ter de matemática…. É muito importante… ´eo último …sabe….

A5: Preciso de tirar positiva…. Ou … sabe…. Vou pró exame…. E

leitura é mais… e o que é para vocês a leitura mais adequada a vós?

Professora: Ok! Vamos avançar, só mais dusas questões

(inaudível …. Confusão…)

Professora: Pode ser? Vamos ver agora em contexto escolar… na escola. É

importante a leitura na escola?

A5: Não. É obrigatória…

A4:Pois…

Professora: É obrigatório? Então significa que na escola vocês só leem,

independentemente da disciplina, porque são obrigados?

A4: Sim.

A5:Claro …Basicamente…

A9: Não.

A10: Depende. Mas por exemplo, se for um trabalho… se for para fazer um

trabalho…

A4: Eu tenho sempre curiosidade de ler, tipo… alguma matéria…

A7: Mas ler a matéria não é ler um livro…

A8: Ah!, isso não…

Professora: Olhem, e então digam-me uma coisa… e na aula de Português por

exemplo… olhem quando leem textos literários. O que é que serão textos literários? Que

características é que pode ter o texto literário?

A10: Conclusão…

A9:Histórias, fantasia…

A5:Não. Introdução, desenvolvimento e conclusão.

Professora: OK.. Nós vimos que a leitura é importante, qualquer tipo de leitura. Aqui

foram vários os que disseram que a leitura permite conhecer o mundo, permite ir buscar

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conhecimento, conhecer novas culturas, novas tradições. E o texto literário? A leitura do

texto literário é importante?

A5: Não.

Professora: Não é importante a leitura do texto literário? Não nos ajuda em nada a

leitura do texto literário?

A5 Não.

A4: Sim. Ensinou-me o que é “eufemismo”.

A6:E a “hipérbole”…

Professora: Só conseguiu perceber o que era um “eufemismo”… só conseguiu

perceber o que é um… olhem, então digam-me: quando vocês estão a ler um texto literário

na aula, as atividades que são feitas em torno desse texto ajudam a compreender o texto?

A9: Sim.

Professora: O que é que ajuda mais?

A4: Quando a professora dita os apontamentos.

A5: Sim.

A10:Sim. …Claramente… claramente…

Professora: Se a professora não fizer este trabalho de análise, em que ela analisa e

comenta…

A1: Era nega certinha…

Professora: Era difícil perceber, era difícil compreender…

A2: Era.

A3: Era… claro.

A4: Bastante…

A2: O professor tem que analisar primeiro. O professor primeiro analisa…

A9: Eu gostava mais de debate

A3: Podemos trocar ideias…

A9: Ideias… exato…

A7:Opiniões diferentes…

A8:E assim percebemos porque é que estávamos a pensar mal, ou isso assim…

A4: Basta a análise… Não.

Professora: Basta a análise?

A5: É melhor que sozinho… eu acho que é melhor que sozinho…

A8: Podemos sempre trocar ideias…

A3: Posso dizer uma coisa, stora?

Professora: Sim, claro

A3: Olhe, é assim, a stora desculpe… mas …. Amanhã…. eu …. Posso sair…

preciso de ir estudar… não percebi ainda umas coisa…

A3:Também… stora… desculpe…

A9: É chato… é o trabalho da stora!!!

Professora: Ok! Não há problema, meninos, já me ajudaram muito

A7: Oh! Sério? È um bocado “xunga”, mas

Professora: A sério, não há problema, muito obrigada pela vossa ajuda

A9: Obrigada stora… a sério… desculpe…

Professora: Não se preocupem , muito obrigada a todos!