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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
ANDRE ROBERTO BECHER
ELITES PARLAMENTARES E USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO
MONITORAMENTO DA POLÍTICA PARANAENSE: UMA AVALIAÇÃO
DO PROGRAMA VIGILANTES DA DEMOCRACIA (2007-2011)
CURITIBA
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
ANDRÉ ROBERTO BECHER
ELITES PARLAMENTARES E USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO
MONITORAMENTO DA POLÍTICA PARANAENSE: UMA AVALIAÇÃO
DO PROGRAMA VIGILANTES DA DEMOCRACIA (2007-2011)
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, para conclusão do curso e obtenção do grau de Bacharel.
Orientador: Profº. Dr. Sérgio Soares Braga
CURITIBA
2010
AGRADECIMENTOS
Sou grato primeiramente a Deus por todas as condições a mim oferecidas e
por seu intermédio nas oportunidades que se abriram em minha vida.
Fica minha gratidão a Universidade Federal do Paraná, e por toda a estrutura
proporcionada nesses anos de curso, em especial ao curso de graduação em
Ciências Sociais por ter propiciado meu amadurecimento intelectual e pessoal.
É importante destacar que é sempre difícil tentar listar todas as pessoas a
quem somos afetivamente e intelectualmente gratos, mas o prazer em nomear é
sempre maior do que o risco de esquecer. Agradeço em especial ao professor
Sérgio Braga pela disponibilidade, incentivo e pelo senso crítico na real orientação
acerca deste trabalho. Certamente, sem sua dedicação e compromisso não teria
sido possível concluir este trabalho.
A toda minha família que esteve sempre presente comigo. Agradeço a meus
avós, tios e primos pelo apoio em todos os aspectos e por sempre confiarem na
minha capacidade. Fica minha lembrança nesse momento ao meu querido “Vô
Darcy”, já falecido, mas que com certeza ficaria muito contente com esse momento
de conclusão da faculdade. Aos meus pais, Beto e Edna, pelo amor e pela liberdade
de escolha em minhas decisões. Destaco também a companhia sempre alegre do
meu irmão, Arthur. Esse clima familiar me proporcionou sempre uma estabilidade
em minha vida.
Aos professores do curso, pelas boas aulas e contribuições intelectuais
proporcionadas e a todos os meus colegas de curso, sem as quais o percurso
acadêmico não seria tão prazeroso. Fica meu agradecimento a todos os integrantes
do Grupo de Pesquisa pela ajuda nas diversas atividades. Destaco também a
Federação das Indústrias do Paraná, em especial na pessoa do Marinho, pela
confiança no projeto Vigilantes da Democracia.
Por fim termino agradecendo a todos os meus amigos, que se mostraram tão
próximos e depositaram em mim a confiança necessária para seguir perseverante
em busca de meus objetivos.
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RESUMO
O objetivo deste trabalho é empreender uma reflexão sobre a relação entre o uso da internet, o comportamento das elites paranaenses e os processos de representação política nos quais estão envolvidas com base na experiência do projeto Vigilantes da Democracia, resultante do convênio entre a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e a UFPR. Após uma reflexão geral sobre o tema, buscaremos efetuar um breve exame do projeto Vigilantes e analisar os potenciais da internet de agregar transparência ao processo político do Paraná, utilizando a base de dados produzida durante a realização do projeto para: a) traçar o perfil das elites políticas monitoradas a partir das informações disponibilizadas na Web; b) elaborar uma caracterização geral dos padrões de uso das novas tecnologias pelas elites parlamentares do Paraná (senadores, deputados federais e deputados estaduais) na legislatura compreendida entre os anos 2007 e 2011. Nossa hipótese básica é a de que a internet já se tornou um importante recurso auxiliar na atuação as elites parlamentares, inclusive com uma relativamente ampla adesão às redes sociais por parte destes atores, embora sem dar lugar a experiências inovadoras de participação e mobilização políticas que alterem significativamente a relação dos parlamentares com a opinião pública e os cidadãos de uma maneira geral.
Palavras-chave: representação política; elites políticas e novas tecnologias; elites parlamentares do Paraná; monitoramento dos eleitos; Vigilantes da Democracia.
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SUMÁRIO
Pág.
Introdução 6
1. Internet, democracia e representação política 11
2. O Programa de Avaliação e Monitoramento dos Eleitos: histórico e características básicas 23
3. Perfil sociopolítico e accountability virtual das elites parlamentares do Paraná (2002-2010) 293.1. O universo empírico de pesquisa e a metodologia empregada 313.2. Perfil social e biográfico das elites parlamentares 363.3. Trajetória política das elites parlamentares 413.4. Comportamento político e uso da web pelas elites parlamentares 453.5. Um índice de transparência e accountability das elites parlamentares 47
4. Representantes Web 2.0? As elites parlamentares paranaenses e as novas tecnologias 50
Conclusões 54
Referências bibliográficas 56
5
5
Introdução
Nos últimos anos diversos autores têm chamado a atenção para o fato de
que, com os avanços tecnológicos dos últimos anos, a internet tem se tornado uma
importante fonte de informação para o estudo das elites políticas e também pode
tornar-se uma ferramenta de comunicação e interação entre representantes e
representados (WARD, 2005; BRAGA & NICÓLAS, 2008; CHADWICK, 2009;
NICÓLAS, 2009). Entretanto, apesar da existência de um número significativo de
estudos sobre o impacto e os usos da internet no meio político, poucos buscam
avaliar o quanto o recrutamento e o perfil sociopolítico das elites podem influenciar
as formas de uso da internet, ou ao menos relacionar de alguma forma o uso das
novas tecnologias com as características “societais” dos atores políticos. Os estudos
que buscam avaliar de maneira mais sistemática a relação entre internet e elites
parlamentares (CARDOSO E MORGADO, 2003; MARQUES, 2007, outros), tendem
a colocar as questões referentes ao recrutamento e perfis sociais das elites de forma
subsidiária, concentrando-se em questões relacionadas à comunicação política. Por
outro lado, embora exista um corpo razoável de estudos sobre o recrutamento e o
perfil sociopolítico dos parlamentares em esfera internacional, e das elites
parlamentares brasileiras em particular, são escassos os estudos que buscam
avaliar o uso que tais atores fazem da web, bem como o uso que pode ser feito das
novas tecnologias para avaliar e monitorar a ação política dos representantes
eleitos.
O objetivo principal desta pesquisa é analisar as relações entre elites políticas
e internet tendo por base nossa participação no projeto Vigilantes da Democracia, do
qual fomos integrantes, numa primeira etapa, e posteriormente coordenador de
pesquisa entre os meses de abril de 2008 a novembro de 20101. Procuraremos
efetuar uma breve descrição e avaliação do programa e utilizar a base de dados
produzida durante nossa pesquisa para realizar um mapeamento do perfil
1 Resultado de um convênio firmado entre a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e a UFPR, o Sistema de Avaliação e Monitoramento dos Eleitos pelo Estado do Paraná teve início em outubro de 2007 e sofreu várias modificações ao longo do período. Atualmente, denomina-se Vigilantes da Democracia e está hospedado no website: http://www.vigilantesdademocracia.com.br/ (ultimo acesso: novembro de 2010).
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sociopolítico das elites parlamentares do estado do Paraná que exerceram o
mandato entre os anos de 2007 e 2011 (respectivamente da 16ª legislatura da ALEP
e 53ª legislatura da Câmara dos Deputados e do Senado), cotejando esse estudo
com as várias dimensões do uso da web pelos mesmos. Sendo assim, a pesquisa
que pretendemos empreender tem como foco principal integrar os trabalhos de
recrutamento parlamentar e elites políticas, aos estudos dos usos da internet pelos
parlamentares paranaenses. São três as principais justificativas para a feitura deste
estudo: (i) os recursos disponibilizados na internet como os sites institucionais das
casas legislativas e as próprias páginas pessoais dos parlamentares, se tornaram
uma fonte significativa e relativamente confiável para a análise das formas de
recrutamento das elites; (ii) as ferramentas virtuais se tornaram uma grande aliada
do eleitor na busca de conhecimento sobre as figuras parlamentares, assim como,
uma forma de accountability do político; e (iii) a difusão progressiva das novas
tecnologias bem como das “ferramentas web 2.0” que propiciarão uma maior
interatividade entre emissor e receptor dos processos de comunicação, tenderão a
estreitar os vínculos de representação entre elites dirigentes e cidadão comum,
abrindo-se mais espaços portanto para que estes monitorem e avaliem as ações
daqueles.
Para concretizar tal estratégia de pesquisa, empreendemos um relato do
programa Vigilantes da Democracia e das principais ações desencadeadas até o
presente momento, assim como uma análise de várias dimensões do funcionamento
da 16ª legislatura da Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP) a partir das bases de
dados coletadas durante a realização do projeto. Pretendemos com a análise destes
dados responder às seguintes indagações: (i) as informações apresentadas pelos
sites institucionais e pelas páginas pessoais das elites políticas analisadas são
fontes significativas para estudos de recrutamento e do perfil dos senadores,
deputados federais e estaduais do Paraná?; (ii) como as elites políticas analisadas
tem usado as NTIC’s ?; (iii) o uso da internet tem algum tipo de relação com as
características das elites políticas analisadas?
Com efeito, mesmo já havendo um corpo razoável de estudos sobre o
impacto e os usos da internet no meio político, são escassos os trabalhos que
buscam avaliar como as formas de recrutamento e o perfil sociopolítico das elites
podem influenciar as maneiras de uso, formas de interação e comunicação das
7
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elites políticas com o cidadão comum. O objetivo desta monografia é buscar articular
essas duas dimensões da ação política dos atores parlamentares, aprofundando e
dando continuidade a uma linha de investigação iniciada por alguns estudos
anteriores (CARDOSO & MORGADO, 2003; WARD & LUSOLI, 2005).
Esse trabalho tem como referência básica, além de nossa pesquisa efetuada
ao longo desses meses no projeto Vigilantes da Democracia, os debates travados
no âmbito de nosso grupo de pesquisa e o estudo desenvolvido por Braga e Nicolas
(2008), onde os autores constroem um perfil sociopolítico das elites parlamentares
estaduais brasileiras e cotejam essa avaliação aos usos das tecnologias de
informação e comunicação disponibilizadas por essas elites políticas. Nesse artigo
em referência, Braga e Nicolas além de avaliarem o uso das tecnologias, constroem
um perfil sociopolítico das elites parlamentares fazendo uso do método
prosopográfico. Tal perspectiva de análise é semelhante à pesquisa aqui
desenvolvida, que busca determinar características recorrentes no uso da web pelas
elites políticas, além de mensurar e avaliar os recursos disponíveis na Web para a
caracterização do perfil sociopolítico de determinado segmento das elites, no caso,
os integrantes das elites parlamentares do estado do Paraná que exerceram
mandato entre os anos de 2007 e 2011.
A aproximação dos estudos de perfil com o uso da internet tem como
preocupação mais geral a de examinar se as características socioeconômicas,
posições partidárias, ideológicas e formas de atuação dos parlamentares se
mostram de alguma forma relacionadas aos comportamentos das elites no uso da
internet. Com efeito, trabalhos recentes sobre elites tem chamado a atenção para o
fato de que determinadas características de perfil podem influenciar
significativamente algumas dimensões do comportamento dos parlamentares
(MARENCO, 2000; PERISSINOTTO, COSTA & TRIBESS, 2009). Segundo
Perissinotto, Costa e Tribess (2009), o estudo das características das elites pode ser
um primeiro passo para o entendimento de como essa elite se comporta
politicamente: “(...) pesquisar as origens sociais e econômicas da elite política é um
primeiro passo importante para a análise completa do comportamento político dos
membros desse grupo” (PERISSINOTTO, COSTA & TRIBESS, 2009).
Nosso universo de análise consiste principalmente nos 3 senadores, 36
deputados federais e 66 deputados estaduais empossados durante os anos de 2007
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e 2011 no Paraná, até o mês de novembro de 2010, data término da coleta de
dados. Em nossa pesquisa pretendemos avaliar comparativamente três
características dos deputados federais e estaduais do Paraná: (i) perfil social e
biográfico dos parlamentares; (ii) trajetória política, partidária e ideológica; e (iii)
comportamento do parlamentar no uso da internet.
A primeira dimensão de análise, que se refere ao perfil social e biográfico dos
parlamentares, pretende abranger características do perfil socioeconômico das elites
e definir um padrão ou padrões para as elites parlamentares. A segunda dimensão
de nossa análise é o tratamento dos dados sobre a trajetória política dos
parlamentares, buscando determinar as características principais das elites
parlamentares, no que se refere as suas posições políticas ideológicas. Por fim, a
terceira dimensão da análise refere-se a alguns/diversos aspectos do
comportamento político e uso da internet pelos membros das elites parlamentares
do Paraná, objetivando determinar quais os usos e conteúdos dos websites de cada
um dos parlamentares analisados. Tal dimensão busca averiguar como e de que
forma as elites políticas se comportam no ambiente digital, quais os graus de
informação de suas páginas virtuais, e quais as formas de interação com o eleitor.
No que se refere às fontes utilizadas para a pesquisa, na análise dos
deputados federais e estaduais paranaenses foram utilizados para identificar as
características do perfil socioeconômico e político, dados fornecidos pelos
parlamentares às casas legislativas, as biografias constantes nos websites pessoais
dos parlamentares, bem como a base de dados que coletamos no programa
Vigilantes da Democracia.
O trabalho que pretendemos desenvolver será dividido nos seguintes
capítulos.
No primeiro capítulo intitulado “Internet, democracia e representação política”
elaboramos uma reflexão geral sobre a relação entre estes três fenômenos que
servirá como pano de fundo da análise efetuada a seguir. O objetivo dessa reflexão
é o de definir algumas variáveis e problemas de pesquisa sobre as elites,
procurando demonstrar como os estudos sobre as elites políticas podem se
aproximar dos estudos sobre os usos da internet.
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No segundo capítulo, intitulado “O Programa de Avaliação e Monitoramento
dos Eleitos: histórico e características principais”, procuraremos efetuar uma breve
descrição do programa Vigilantes da Democracia, buscando enfatizar como o uso da
internet foi uma ferramenta de fundamental importância para a realização dos
trabalhos do programa, assim como formulando alguns problemas que serão
retomados em seguida. Além disso, buscaremos contrastar brevemente
características do Vigilantes com a de outros programas de natureza análoga que
patrocinados por outras instituições brasileiras.
Em seguida, no terceiro capítulo intitulado: “Accountability virtual e perfil
sociopolítico das elites parlamentares do Paraná (2007-2011)” desenvolveremos
uma sistematização dos dados coletados, procurando ainda construir alguns
indicadores quantitativos e qualitativos para a avaliação e mensuração das
informações disponíveis na Web para o monitoramento de tais atores.
No quarto capítulo, denominado: “Representantes Web 2.0? As elites
parlamentares paranaenses e as e novas tecnologias”, efetuaremos um
mapeamento mais aprofundado dos usos da internet pelas elites políticas
analisadas. Através desse traçaremos os tipos característicos de usos das
ferramentas virtuais, definindo padrões de comportamento dessas elites frente à
internet.
Por fim, sublinhe-se que esse trabalho se insere numa linha mais atualizada
dos estudos de recrutamento e perfil das elites, que tenta correlacionar questões
referentes ao perfil das elites com outras áreas do conhecimento da ciência política,
buscando responder de forma mais sistemática e menos descritiva, quais os
aspectos relevantes sobre os perfis e quais as implicações destes para o
comportamento das elites. Além disso, essa pesquisa se insere dentro de uma
investigação mais ampla ora em andamento no Grupo de Estudos Democracia e
Novas Tecnologias da UFPR, sobre o uso da web pelos parlamentares pelos
deputados federais e estaduais paranaenses na 16ª legislatura.
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1. Internet, Democracia e Representação Política
A Internet vem impactando o mundo em seus vários segmentos e se tornou
alvo de estudos no sentido de compreender até que ponto este fenômeno é
responsável pelo aparecimento de novos padrões de sociabilidade. Manuel Castells
apresenta-nos em A Galáxia Internet (CASTELLS, 2003), não só a grande dimensão
que a internet teve em sua recente história, como também as grandes virtudes que
fazem dela o principal fator de transformação cultural do séc. XXI. É perceptível
nessa obra como há uma nova sociabilidade baseada numa dimensão virtual que
gera novas percepções de tempo e o espaço. O autor chama a atenção para o fato
de que internet é mais utilizada por parte dos políticos como uma recurso de
exibição e de marketing, de certa forma reproduzindo outras mídias no espaço
virtual, do que como um espaço de verdadeira e útil informação. Castells denomina
isso de “política informacional” organizada mais em torno da construção de imagem
e não tanto do conteúdo. Falando em política, no sentido de participação e
cidadania, a internet desempenha um papel fundamental, pois favorece sempre a
comunicação e é sempre capaz de mostrar algo que nunca foi visto. Castells é
otimista no sentido de dizer que a internet tem um potencial comunicativo que
permite a liberdade de expressão e propicia a circulação de valores e ideias,
contribuindo para um avanço democrático. Castells menciona ainda o potencial
democratizante da Internet. Ela acaba se tornando uma ferramenta e uma forma
organizacional que distribui informação, poder, geração de conhecimento e
capacidade de interconexão com várias esferas (CASTELLS, 2003: 220).
A Internet desde os meados dos anos 1990 vem sendo objeto de vasta
literatura, abordando seus impactos nas várias dimensões dos sistemas políticos
contemporâneos, especialmente os sistemas políticos democráticos. Nos países de
democracia mais institucionalizada e estável, onde a reflexão sobre o tema está
mais avançada, há um grande e crescente campo de estudos e pesquisas sobre os
impactos das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) em geral, e
a internet em particular, nestes sistemas políticos (CHADWICK, 2009).
Não se pode afirmar com convicção que no caso brasileiro especificamente, a
reflexão sobre as relações entre internet e política ou, de modo mais específico,
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sobre os impactos do uso das NTICs no sistema político seja um campo ainda
incógnito (na medida em que já existem vários trabalhos esparsos sobre a temática).
Porém, não podemos deixar de constatar que o número e o padrão de
sistematicidade metodológica das pesquisas produzidas na América do Sul e,
especialmente, no Brasil, ainda estão longe de comparar-se aos existentes em
países de democracia mais institucionalizada e estável. Há ainda certo consenso
entre especialistas que tratam do tema na atualidade, que o ponto de partida para
qualquer análise mais sistemática sobre o tema, não deve ser pautado pela pergunta
sobre se realmente o uso destas tecnologias está se expandido, mas sim que
impacto efetivo estão provocando nas múltiplas dimensões do funcionamento dos
sistemas políticos (NICOLAS, 2009).
A partir da reflexão desses autores, assim como em virtude de nossa
participação direta no Sistema de Avaliação e Monitoramento dos Eleitos,
conduzimos nosso estudo de forma a nos concentrar na reflexão sobre as relações
entre as NTICs e os processos de representação política, especialmente sobre o uso
feito dos recursos propiciados pela Internet. A partir da participação em frentes de
pesquisa concentramos nosso foco em um tema razoavelmente pouco explorado; o
do uso da Internet pelos membros das elites parlamentares do estado do Paraná,
em particular, e do problema teórico mais geral dos impactos e conseqüências
trazidas pela Internet nos processos de representação política, caracterizando
características do perfil socioeconômico dos candidatos e tipo de uso da Internet.
O trabalho se insere no contexto da proliferação dos estudos que analisam a
relação entre as NTICs e os processos de representação política (em geral) e as
repercussões da internet sobre o comportamento das elites parlamentares (em
particular) sob a ótica mais estrita da sociologia e da ciência política.
Devemos preliminarmente colocar que os estudos que analisam a relação
entre internet e política abrangem um campo de atuação cada vez mais amplo.
Nesse sentido, existe desde meados da década de 1990 pelo menos um largo
debate na literatura internacional polarizado por “ciberpessimistas”, “ciberotimistas” e
“cibercéticos”, segundo o tipo de avaliação que cada uma destas vertentes faz sobre
a amplitude dos impactos das TICs no funcionamento dos sistemas políticos
democráticos (NORRIS, 2001). Pippa Norris defende a ideia que a internet vai tornar
possível um “sistema político virtual”, onde os atores e as instituições integrantes do
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12
“mundo real” transferirão progressivamente suas atividades para o mundo virtual.
Esse novo “sistema” pode ser uma via para articular de forma mais competente a
estreita interação entre elites políticas e os cidadãos médios, dando ênfase aos mais
politizados. Tal “sistema político virtual” pode estimular a incorporação de novos
atores ao sistema político dinamizando a democracia em direções mais
participativas e ampliadas.
José Eisenberg (EISENBERG, 2003) relata que a internet produzirá impactos
sobre a Política e que poderá promover a ampliação da democratização nas
sociedades contemporâneas, embora acredite precoce a Internet solucionará
problemas de legitimidade das democracias modernas, tais como desgastes dos
partidos e apatia eleitoral. Os impactos devem ser percebidos a partir da disputa
pelo controle e apropriação dos recursos da Internet como mídia; e as
características diferenciadas da Internet em relação a outros meios de comunicação
com o intuito de promover novas formas de atividade política e deliberação pública.
Segundo o autor, as características presentes na Internet são potencialmente
democratizantes, o que a diferencia de outras mídias. Todo cidadão que esteja
conectado, pode se tornar um produtor e disseminador de informações, o que já
diferencia a internet de outras mídias convencionais, onde é apenas um receptor de
informações. O distanciamento espacial promove uma ampliação do poder de
participação política do cidadão, propiciando uma desterritorialização das relações
políticas. A Internet, segundo Eisenberg exige uma competência cognitiva para
acessá-la. Quem não possui tal habilidade, torna-se excluído, o que é uma limitação
à característica democratizante dessa mídia. Por sua vez, a alta capacidade de
interação propiciada pela Internet é a principal característica potencialmente
democratizante, segundo ele.
Wilson Gomes (2005) ainda destaca que a ligação entre democracia e
participação civil na política possui diferentes ênfases, cada uma delas portando um
específico repertório de conseqüências teóricas e práticas. O autor sustenta ainda
cinco graus de participação popular proporcionados pelas ferramentas da internet. O
primeiro grau diz respeito da disponibilidade de informação e na prestação de
serviços públicos pela rede, onde as TICs e ciberespaço seriam meios democráticos
na medida que circulam informações de governo e melhoram a prestação de
serviços públicos. No segundo tem base no emprego das TICs para colher a opinião
13
13
pública e utilizar esta informação para a tomada de decisão política. O terceiro grau
é caracterizado pelos princípios da transparência e da prestação de contas
(accountability), gerando uma maior permeabilidade. A “democracia deliberativa”
caracteriza o quarto grau, que consiste na participação civil nos negócios públicos,
definindo práticas mais sofisticadas de participação democrática. No último grau, as
TICs tem por finalidade retomar o antigo ideal de democracia direta, onde a decisão
estaria centrada não em uma esfera representativa, mas nas mãos dos cidadãos.
“Em suma, apesar das enormes vantagens aí contidas, a comunicação on-line não garante instantaneamente uma esfera de discussão pública justa, representativa, relevante, efetiva e igualitária. Na internet ou “fora” dela, livre opinar é só opinar. Além disso, com o predomínio de democracias digitais de primeiro grau, os sites partidários são em geral meios de expressão de mão única, e os sites governamentais se constituem como meios de delivery dos serviços públicos mais do que formas de acolhimento da opinião do público com efeito sobre os produtores de decisão política. Assim, se por um lado, a internet permite que eleitores forneçam aos políticos feedbacks diretos a questões que eles apresentam, independentemente dos meios industriais de comunicação, por outro lado, não garantem que este retorno possa eventualmente influenciar a decisão política” (GOMES, 2005, p.221).
A partir de um balanço sobre o uso da NTICs pelos órgãos parlamentares e
pelos representantes podemos fazer uma reflexão sobre três questões que merecem
destaque sobre os impactos da internet nas democracias representativas.
Primeiramente, a internet pode ser um fator potencial de aumento da transparência
nas candidaturas e eleições e na no monitoramento dos parlamentares após a
realização dos pleitos eleitorais. Segundo Setala e Gronlund (2006) as NTICs têm
certas características únicas que podem alterar os fluxos de comunicação e
informação entre os vários atores participantes dos sistemas políticos no sentido de
tornar mais transparentes as informações sobre os diversos atores que nele
interagem. Em segundo lugar, a internet pode ser mais que um instrumento de
conhecimento, mas controle e monitoramento de elites políticas pelos cidadãos. Por
fim, a internet pode ser um mecanismo de interação não só do político com o
cidadão, mas também com órgãos governamentais e entre políticos.
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14
Stephen Ward, Wainer Lusoli e Rachel Gibson fizeram uma investigação
sobre fatores que ajudam a explicar padrões das atividades on-line dos
parlamentares (WARD & LUSOLI, 2005; LUSOLI, WARD & GIBSON, 2006). A
internet pode facilitar mudanças em dimensões das relações de representação
política. A relação dos parlamentares com sua base eleitoral, onde as TICs podem
ser usadas para melhorar a eficiência e profissionalismo do relacionamento dos
parlamentares com seus eleitores. Outro ponto é a relação dos parlamentares com
os partidos: as novas TICs podem ampliar o potencial para alterar o equilíbrio das
relações entre os partidos e os representantes, onde certos recursos fornecidos
pelos parlamentares possibilitam uma postura mais independente dos políticos em
relação às direções partidárias. Cabe mencionar ainda as estratégias e agendas de
campanhas, onde parlamentares poderiam desenvolver com mais autonomia as
suas próprias estratégias de campanhas on-line recolhendo opiniões ou
incentivando o público a fornecer apoio, o que favorecerá a inclusão de novos temas
na agenda das campanhas eleitorais.
A moderna teoria de democracia e da representação política formulou
proposições importantes que merecem destaque. Em primeiro lugar, as ideias
desenvolvidas especialmente por Adam Przeworski, Susan Stolkes e Bernard Manin
(PRZEWORSKI, STOLKES E MANIN, 1999), segundo as quais as eleições são
mecanismos tênues de criação de vínculos de representação entre as elites
dirigente-governantes e os cidadãos comuns, de quem os primeiros afirmam ser os
legítimos “representantes”. Decorrente disso é de fundamental importância que as
modernas democracias que se auto-imputam “representativas” desenvolvam
instrumentos e mecanismos institucionais não só para assegurar que a relação de
representação entre governantes e governados se mantenha ao longo do exercício
do mandato, mas que ampliem os graus ou níveis de representatividade vigentes
num dado sistema político democrático, desenvolvendo mecanismos institucionais e
comunicacionais que agregam accountability e responsividade aos atores que fazem
parte dos sistemas políticos democráticos.
Em segundo lugar, podemos destacar as contribuições de Luiz Felipe Miguel,
para quem é necessário agregar outras “dimensões” à ideia de representação
política além da mera escolha dos governantes em pleito eleitorais (MIGUEL, 2000,
2003) e que uma reflexão sobre os sistemas de mídia e o emprego das NTICs é de
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15
fundamental importância para a compreensão do funcionamento de qualquer
sistema político democrático. Sendo assim, para o autor é importante agregar outras
“dimensões” ao fenômeno da representação política, como a eleição de
representantes, a escolha dos atores encarregados de formar a agenda pública e os
agentes capazes de determinar a formulação de preferências daqueles indivíduos
que se encontram na base menos favorecida da escala de estratificação social.
Luiz Felipe Miguel nos conduz a uma concepção mais ampliada de
representação, que não abrange apenas mecanismos institucionais de escolha e de
geração de accountability, mas também distribuição de recursos e escolha de atores
autorizados a comandar a formulação de agenda e de formação de preferências que
ocorrem no processo decisório. Para ele buscar entender os meios de comunicação
como esfera de representação política é entender esse espaço como lugar
privilegiado de disseminação das diferentes perspectivas e projetos dos grupos em
conflito na sociedade. O bom andamento das instituições representativas, portanto,
se daria à medida que são apresentadas as vozes dos mais variados grupos
políticos, permitindo que o cidadão tenha acesso a valores e preferências múltiplas
que direcionam as correntes políticas em competição e possa formar sua própria
opinião política. É o que se pode chamar de "pluralismo político" da mídia. (MIGUEL,
2003).
Nesse sentido, a internet pode ser considerada uma nova mídia que tem
como conseqüência criar canais alternativos de comunicação de massa, através de
um contato muito mais dinâmico e direto, permitindo a recepção, alteração e
redistribuição das informações, o que por natureza descentraliza as fontes de
informação (CARDOSO & MORGADO, 2003). Nessa medida a internet tem influído
na política em quatro aspectos principais: (i) representação; (ii) participação; (iii)
accountability; e (iv) comunicação. Esses quatro aspectos tem colocado a internet
numa posição de destaque nas discussões sobre as novas tecnologias e formas de
influência na política.
Primeiramente trataremos das questões referentes à representação. As
democracias modernas segundo Michels (1982) carecem de representação, já que
seria impossível que consultássemos todos os cidadãos nos momentos de tomada
de decisão. Para tal representação elegem-se indivíduos que serão os
representantes diretos do povo dentro do Estado. Essa eleição é feita dentro de
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16
requisitos específicos, dependendo dos modelos de governo, sistemas eleitorais,
fórmulas de eleição. Entretanto, independentemente dos modelos institucionais
vemos, pelos estudos sobre a composição dos parlamentos e suas formas de
recrutamento, que os indivíduos que compõe esses órgãos de representação
acabam por se constituir com características, origens e ideologias específicas e
diferentes do cidadão ordinário, pelo que se convencionou falar que os indivíduos
que compões os parlamentos fazem parte de uma elite política. Por natureza as
formas de recrutamento das elites impedem a inserção de alguns agentes e
privilegia a entrada, nos cargos políticos, de indivíduos que acumulam a maior
quantidade de recursos ou as características mais valorizadas no ambiente social. O
problema da eficácia e da qualidade das formas de representação surge quando
temos uma elite política que não reverbera adequadamente os anseios da
sociedade, ou quando não existe uma identificação entre os representantes e sua
população. Para Cardoso e Morgado (2003) a maneira pela qual os representantes
se pautam frente à sociedade influi de maneira direta na qualidade da
representação. Em decorrência desses problemas de representação os autores
afirmam que a internet surge pode se configurar como resposta para a possível crise
de representatividade das democracias, contribuindo para aproximar as elites
dirigentes e cidadãos comuns e para o aumento da qualidade da delação de
representação. Ainda segundo os autores, a internet pode ser considerada um novo
impulso para uma democracia pautada nos mecanismos de participação e inserção
dos cidadãos, isso seria possível através dos meios disponibilizados pela rede que
abrem aos indivíduos a possibilidade de deliberar sobre as decisões políticas, cria
redes de debates, interferir nas formas de decisão política, em condições de
igualdade e num ambiente propício para a emergência de um “sistema político
virtual2” e na geração de uma democracia representativa mais participativa. Segundo
Cardoso e Morgado, essa democracia digital permite que os cidadãos tenham um
acesso mais direto às elites políticas, sem qualquer tipo de mediação, podendo
buscar informações, partilhar opiniões, discutir. Os autores acabam afirmando que
as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação poderiam até mesmo
2 Conceito criado por Norris (2001) estabelece como parâmetros para a ‘democracia digital’ um sistema de governo que considere as novas tecnologias de informação e comunicação sem deixar de lado elementos essenciais da democracia liberal como: eleições limpas e livres, condicionantes por uma opinião pública isenta e pluralista, precedida de diversidade partidária, com alternância de poder, e fundamentada em governos que assegurem as liberdade de individuais.
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17
contribuir para uma nova função de representação política, algo que ultrapassa a
simples delegação de atribuições e torna a atividade política mais participativa e
responsiva para a sociedade. Em suma, a internet, segundo Cardoso e Morgado,
tem estreitado os laços entre representantes e representados, redefinindo e
reestruturando o funcionamento dos sistemas democráticos, e formalizando uma
nova faceta para as democracias representativas.
Outro indício que proporciona a internet um papel de destaque frente à
política seria a sua função de accountability. Um órgão representativo que privilegia
a transparência de suas ações tem na internet um meio propício para sua
efetivação. Segundo Cardoso e Morgado, a accountability é uma condição
extremamente importante para o fortalecimento das instituições e para a legitimidade
da tomada de decisão pelas elites políticas, sendo a internet fonte responsável pelo
incremento dessas funções. Para os autores, a internet possibilita que diferentes
tipos de informação sejam vinculados, seja nas páginas institucionais das casas
legislativas e nos próprios sites dos políticos, “(...) permitindo uma maior abertura
dos parlamentos aos cidadãos.” (Cardoso & Morgado, 2003, p. 6).
Para Nicolás (2009), a accountability tem importância essencial para o
aprofundamento da democracia, pois proporciona aos cidadãos a possibilidade de
terem informações sobre os políticos, decisões, e comportamentos durante todo o
processo de deliberação, fazendo com que assuntos referentes ao interesse público
sejam publicizados a um público mais amplo.
Sendo assim, também é de fundamental importância para o aprofundamento da democracia e para a agregação de accountability aos sistemas políticos que tais informações estejam disponíveis online, pois isso permite aos cidadãos ter acesso às informações não apenas sobre quem decide, mas também sobre o que se decide, o seja, como os membros do parlamento estão se comportamento durante o processo deliberativo sobre políticas governamentais e assuntos de interesse público (Nicolás, 2009, p.70).
A questão da accountability também é discutida por Braga e Nicolás (2009).
Segundo os autores o ambiente virtual é um dos principais fatores de estreitamento
das relações entre representantes e representados, além disso, eles avaliam que
tais ferramentas são essenciais na promoção da accountability dos políticos e do
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próprio sistema. Os autores enfatizam a posição de que a internet tem se tornado
uma ferramenta de controle e monitoramento dos órgãos legislativos, importante no
conhecimento e estudo das elites dirigentes, tanto pelo público especializado como
pela população em geral.
(...) as ferramentas utilizadas pela internet, desde que adequadamente utilizadas, podem ser um importante instrumento não só de conhecimento das elites dirigentes pelos pesquisadores e pelo público especializado, mas também de controle e monitoramento de tais atores e da esfera pública de uma forma geral pelos cidadãos e não apenas dos órgãos legislativos (Braga & Nicolás, 2008, p.3).
. Neste mesmo sentido Braga e Nicolás (2010) afirmam que a accountability
tem grande influência no aprofundamento da democracia, já que, com tal instituto a
população tem a possibilidade de conhecer seus políticos e as decisões por eles
tomadas.
Sendo assim, também são de fundamental importância para o aprofundamento da democracia e para a agregação de accountability aos sistemas políticos que tais informações estejam disponíveis online, pois isso permite aos cidadãos ter acesso a informações não apenas sobre quem decide, mas também sobre o que se decide, ou seja, como os membros do parlamento estão se comportando durante o processo deliberativo sobre políticas governamentais e assuntos de interesse público. (Braga & Nicolás, 2010, p. 12)
Norris (2001) aprofunda ainda mais essa idéia, dizendo que as formas de
desenvolvimento tecnológico influenciam diretamente o comportamento das elites, e
principalmente como as organizações políticas prestarão seus serviços e
informações. Sendo assim, a relação entre elites, internet e accountability geraria
uma responsabilidade dos agentes públicos em prestar esclarecimentos de suas
decisões, disponibilizando todas as informações necessárias para a compreensão
do cidadão
Além das questões de representação e accountability podemos destacar uma
terceira influência da internet sobre a política, que seria a participação. Para Norris
(2001) a Internet poderia ampliar a participação dos cidadãos na vida pública,
19
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acabando com alguns dos entraves existentes na política e no engajamento cívico. A
autora afirma que a internet teria a capacidade de auxiliar grupos e pessoas que
estão fora dos campos de atuação da política tradicional, facilitando a capacidade
dos cidadãos em: obter informações sobre seus eleitos, discutir problemas da
comunidade, mobilizar grupos, criar redes de discussões, pressionar seus
representantes, e até mesmo reivindicar.
The Internet may broaden involvement in public life by eroding some of the barriers to political participation and civic engagement, especially for many groups currently marginalized from mainstream politics, facilitating the ability of citizens to gather information about campaign issues, to mobilize community networks, to network diverse coalitions around policy problems, and to lobby elected representatives (Norris, 2001, p. 2).
Talvez o último aspecto a ser ressaltado na relação elites políticas e uso da
internet é a questão da comunicação e interação. São diversos os estudos que
tratam desse tema (CASTELLS, 2003; CUNHA, 2005; EISENBERG, 2003; FERBER
et. al. 2007), aliás, poderíamos afirmar que boa parte dos trabalhos que tratam da
internet tem como objetivo explicar seus impactos na comunicação.
É inegável que a internet inseriu dentro das formas de comunicação uma
maneira mais dinâmica e ativa de se comunicar. Estamos falando de uma nova
mídia que possibilita ao receptor da informação a capacidade de interagir. Para
Cardoso e Morgado (2003), a comunicação digital possibilita um maior
processamento de informações, com uma velocidade maior, além de permitir uma
combinação dos elementos textuais, visuais e de áudio.
Outro aspecto ressaltado pelos autores seria que a internet possibilita que os
parlamentares construíam sua própria identidade, através de conteúdos escritos,
símbolos, imagens, sem a necessidade de se remeterem as mídias tradicionais, e
tão pouco ter que tomar contato direto com o eleitor. Nas páginas virtuais podemos
criar a figura do parlamentar, demonstrar suas atitudes, direcionar seus
posicionamentos, através das ferramentas disponibilizadas pela internet.
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(...) com o uso de novas mídias, como Websites pessoais, listas de e-mails e blogs de políticos, substituindo progressivamente, com cada vez mais eficácia, antigas formas de organização das campanhas eleitorais, fundadas basicamente no contato físico do parlamentar com o eleitor e no uso de mídias tradicionais, como a televisão, publicações impressas e assim sucessivamente (Braga; França; Cruz; 2007 p.220).
Para um parlamentar construir sua imagem através de um meio de
comunicação tradicional, ele teria que ser parte do conteúdo que esse meio de
comunicação geraria, ou seja, estar na pauta do jornal, da televisão, do rádio.
Através das mídias tradicionais o parlamentar não tem a capacidade de criar sua
imagem por conta própria, não pode vincular seus próprios conteúdos, não pode
produzir sua identidade visual, tendo que esperar um posicionamento do meio de
comunicação. Com a internet é o próprio parlamentar que faz isso, de forma simples,
com baixo custo e com certo retorno.
Com o aparecimento das novas mídias eletrônicas, o controle da informação está nas mãos do receptor, ativo na procura da informação, capaz de editar e listar as suas próprias fontes. Na internet os receptores podem produzir informação. “Os indivíduos ou grupos tem agora ao seu dispor um meio mais fácil, menos dispendioso para trocar informações com outros autores numa base local, nacional, ou global” (Cardoso & Morgado, 2009, p. 4).
Como podemos constatar pelo posicionamento da literatura, a internet tem um
papel fundamental na reestruturação de elementos importantes da política, sejam
eles relacionados às formas de contato dos eleitores e eleitos, nas questões
relacionadas à prestação de informações acerca da atividade política ou até mesmo
nos aspectos referentes à comunicação. Esses novos meios proporcionados pela
internet refletem de forma significativa na política, diante dessa condição e da
constatação que o uso da internet se universalizou dentro do meio político,
escolhemos a internet como uma forma de comprovar a existência entre origens
sociais e comportamento político.
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Postos estes parâmetros mais gerais, podemos adentrar na análise das
características do programa Vigilantes da Democracia, assim como por alguns de
seus resultados produzidos até agora pelo mesmo.
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2. O Programa de Avaliação e Monitoramento dos Eleitos:
histórico e características básicas.
O Sistema de Monitoramento dos Eleitos é um processo contínuo de
acompanhamento e apreciação do comportamento dos representantes eleitora para
os cargos executivos e legislativos nos níveis federal e estadual no Estado do
Paraná. Atualmente está hospedado no site:
http://www.Vigilantesdademocracia.org.br, vinculado à Rede de Participação
Política3: http://www.redeempresarial.org.br/ (último acesso: dezembro de 2010).
Esse projeto é executado desde 2007, dentro das atividades do convênio
firmado entre a Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), por meio Rede de
Participação Política e a Universidade Federal do Paraná, através de um grupo de
pesquisadores do curso de Ciências Sociais. Com efeito, embora já existam diversos
sites governamentais que propiciam informação sobre os políticos (site do Senado,
da Câmara, sites das Assembléias, etc.), partiu-se do pressuposto de que o custo de
obter esta informação para a população em geral é muito alto, devido à
complexidade da linguagem, à falta de tempo de acessá-los, e até pela falta de
conhecimento. Por este motivo, vem surgindo nos últimos meses uma série de
experiências organizadas por ONGs, pela academia, dentre outros atores, destinado
a monitorar e a acompanhas a atuação de suas elites dirigentes4.
Nesse contexto, o sistema de avaliação e monitoramento dos eleitos articula-
se a uma série de outras iniciativas vinculadas à Rede de Participação Política, esta
último um projeto vinculado à FIEP e à FACIAP e destinado a promover propostas
3 A Rede de Participação Política é uma iniciativa apartidária criada para promover a articulação da sociedade por meio de ações sintonizadas com outras iniciativas do setor empresarial no âmbito nacional. Um de seus principais propósitos é estimular toda a sociedade a participarem continuamente da política. A iniciativa surge como espaço democrático para discussão e proposição de mudanças na relação entre a sociedade e o Estado, utilizando-se de vários meios de comunicação - em especial a Internet: http://www.fiepr.org.br/redeempresarial/ (último acesso em: novembro de 2010). 4 Dentre estes programas podemos destacar o projeto Excelências, da Transparência Brasil (http://www.excelencias.org.br/), o site Meu Deputado (http://www.meudeputado.org/), o projeto Congresso Aberto (http://www.congressoaberto.com.br/), o Observatório Social de Maringá (http://www.sermaringa.org.br/), para citar apenas os mais conhecidos (último acesso a todos os sites: novembro de 2010) . Para um levantamento recente dessas práticas em nível internacional cf. o trabalho de Tiago Peixoto (PEIXOTO, 2010).
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de engajamento cívico do cidadão e de desenvolvimento local. O programa
Vigilantes da Democracia através do monitoramento dos eleitos acaba tornando-se
um canal de informação e participação que permite sistematizar a informação
dispersa sobre o comportamento dos políticos e contribui no processo de escolha
dos governantes, através da percepção e análise das atividades parlamentares.
Esse projeto tem como base e foco de análise o acompanhamento
sistemático das atividades políticas e do comportamento parlamentar dos 54
deputados estaduais, dos 30 deputados federais e dos 3 senadores representantes
do Estado do Paraná nas sessões legislativas durante o período 2007-2011, além do
governador do Estado e do presidente da República. São monitorados ao todo os 89
representantes eleitos em 2006 (presidente, governador, senadores, deputados
federais e deputados estaduais). Por sua vez, cada representante eleito tem uma
página no site.
O objetivo geral do projeto é monitorar as atividades dos parlamentares
paranaenses entre os anos de 2007 a 2011, nos quais está em funcionamento a 16ª
Legislatura da Assembléia Legislativa do Paraná, a 55ª Legislatura da Câmara dos
Deputados, e a 53ª Legislatura do Senado Federal. Tal monitoramento acontece
mediante ao trabalho conjunto do Grupo de pesquisadores da UFPR com a Rede de
Participação Política, vinculada à Federação das Indústrias do Estado do Paraná
(FIEP).
De acordo com o plano de trabalho do projeto, a premissa que orientou a
organização do programa foi a de que nos sistemas de governo presidencialistas,
geralmente as atenções do eleitorado se voltam para os postulantes a cargos
executivos por ocasião dos pleitos eleitorais e também durante o período
governamental. Essa tendência é ainda mais acentuada em sistemas políticos como
o brasileiro, onde os chefes dos Executivos são eleitos “plebiscitariamente” por voto
direto, num pleito que tende a colocar em segundo plano os partidos políticos e a
escolha de postulantes aos cargos legislativos.
Entretanto, com a consolidação de nossa democracia, os órgãos legislativos e
os partidos políticos tendem a adquirir uma importância cada vez maior no processo
de governo. Portanto, as eleições para os órgãos parlamentares federais (Senado
Federal e Câmara dos Deputados) e estaduais (Assembléias Legislativas) são tão
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ou mais importantes do que os pleitos para os cargos executivos (presidência da
República e governos estaduais).
Sendo assim, é de fundamental importância para o exercício da cidadania que
a opinião pública e a sociedade civil de uma maneira geral acompanhem
sistematicamente o que ocorre nos órgãos parlamentares e monitore o
comportamento político dos deputados e senadores que compõem tais órgãos.
Ainda de acordo com seus elaboradores, esse acompanhamento, por sua
vez, teria como objetivo contribuir indiretamente para a redução da corrupção no
sistema político brasileiro e para a melhoria da qualidade de nossos políticos, pois o
maior fortalecimento do Poder Legislativo no processo de governo aumenta a
probabilidade de decisões negociadas e mais democráticas, minimizando as
chances de tomadas de decisões unilaterais, sem consulta à sociedade e aos
interesses envolvidos.
Assim, justificaria-se amplamente um projeto de monitoramento da atuação
dos representantes eleitos pelo estado do Paraná nos vários níveis em que se
estrutura a representação política (Assembléia Legislativa, Câmara dos Deputados,
Senado Federal). O acompanhamento sistemático desta atuação dos parlamentares
certamente contribuiria para o fortalecimento e institucionalização da democracia
brasileira em escala subnacional e para a melhoria da qualidade dos políticos. Mais
importante ainda, o interesse de tal monitoramento não é meramente acadêmico,
mas visa a contribuir de forma efetiva com sugestões para a melhoria do
desempenho de tais órgãos e para uma melhor divulgação junto à população das
iniciativas dos políticos que contribuam para o desenvolvimento social, econômico e
político de nosso estado.
Segundo os autores do projeto “O trabalho de Monitoramento é objetivo, não
envolvendo juízos de valor nem admitindo qualquer tipo de viés ideológico ou
partidário. Essa equipe de pesquisadores da UFPR recolhe notícias publicadas
numa série de órgãos de comunicação previamente selecionados, assim como nos
sites da Câmara de Deputados, Senado e Assembléia Legislativa do Paraná. Essas
notícias são classificadas em algumas categorias de monitoramento dos
parlamentares. Entre elas: Medidas Estratégicas Prioritárias, Reformas, Gestão da
Máquina Pública, Respeito pelo Eleitor entre outras”.
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Cada site oferece ainda, informação sobre o perfil social e trajetória política do
político. Além disso, é possível encontrar informações sobre o total de votos
recebidos, a soma das despesas e bens declarados na campanha, assim como as
cidades que comportam sua base eleitoral. É importante fazer referência também,
que são disponibilizadas no site informações sobre Projetos de Lei apresentados
pelos parlamentares, e se estes foram aprovados, rejeitados ou ainda tramitam nas
Casas Legislativas. Encontra-se ainda a relação das presenças e faltas dos políticos
referente às sessões em Plenário, sem falar na divulgação da prestação de contas
dos gastos de exercício do cargo parlamentar.
A presença desses recursos nas páginas dos parlamentares pode ser
ilustrada pela figura abaixo:
Figura 1: Exemplo de Perfil no Vigilantes da Democracia
Também cabe ressaltar que cada monitorado em sua página virtual no
Vigilantes possui um link para enviar mensagens. Qualquer pessoa que acessar ao
site pode enviar comentários sobre a atuação do monitorado, baseando-se no
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conteúdo que o site disponibiliza sobre a atuação daquele político. Estes serão
publicados automaticamente pelo sistema e visíveis nos sites dos políticos.
Além disso, cada monitorado possui no perfil e-mail e website pessoal. Esta
informação é disponibilizada caso os internautas desejem entrar em contato
pessoalmente com o monitorado. O site acaba se tornando uma ferramenta que
também pode ser um elo entre representante e representado, afinal, várias
informações são fornecidas para que o cidadão tenha subsídio sobre o que o
parlamentar está realizando enquanto em seu exercício de mandato. Através do site
o eleitor pode saber como é a atuação do político e caso tenha interesse, pode se
comunicar com o parlamentar, através das informações que são vinculadas no
Vigilantes.
Nestes três anos de funcionamento regular, um aspecto positivo do projeto foi
à penetração do mesmo na mídia estadual e mesmo nacional e junto ao publico
mais informado (segmentos das elites políticas e empresariais, diversos segmentos
formadores de opinião) que já consideram o site Vigilantes da Democracia como
uma importante referência para o acompanhamento do processo político do Paraná.
A equipe de pesquisadores da UFPR, durante estes anos, obteve ainda um
acumulo razoável de know how na alimentação do portal e na elaboração de uma
base de dados sobre a atuação parlamentar dos políticos do Paraná. Estes dados se
encontram disponíveis numa linguagem simples aos cidadãos no site do projeto.
Todas estas informações relevantes para que os cidadãos possam ter um
conhecimento sobre a atuação do político durante o período legislativo.
Sem dúvida que o trabalho efetuado até agora, somado ao fato de estarmos
vivendo um ano eleitoral, foram os responsáveis por consideráveis índices de visitas
ao site. Entretanto, além desses aspectos positivos do projeto, verificamos outros
pontos que poderiam ser melhor trabalhados e fortalecidos nas etapas posteriores
do mesmo. Apenas a título de exemplo, observamos que os resultados do projeto de
“Vigilantes da Democracia” ainda não se articulam, por um lado, de maneira
sistemática com iniciativas que visem uma ampliação da educação política e da
participação dos cidadãos do estado. Diante dessas constatações, se faz necessário
ampliar o presente monitoramento dos políticos do estado para que a participação
política e a educação cívica estejam mais próximas à realidade dos cidadãos.
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Por fim, durante o período de pesquisa a equipe coletou e sistematizou dados
sobre várias dimensões da atividade das elites partidárias e dos políticos
paranaenses, dentre as quais destacamos as seguintes: a) perfil sociopolítico e
composição social dos órgãos legislativos; b) produção legal da 16ª legislatura e
“agenda legislativa da indústria”; c) uso da internet pelas elites políticas do Paraná;
d) votações nominais realizadas durante a 16ª legislatura; e) acompanhamento das
sessões da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) e produção de boletins
semanais resumindo as sessões da mesma; f) aplicação de questionários aos
parlamentares sobre questões polêmicas discutidas na conjuntura, especialmente
durante a construção do Portal da Transparência, em agosto de 2009; g)
repercussão da atuação dos parlamentares na mídia escrita e nos órgãos de
imprensa.
Todas estas frentes de pesquisa redundaram na organização de uma ampla
base de dados e de um acúmulo de experiência que será usado pelos
pesquisadores durante a continuidade do projeto, procurando efetuar análises
longitudinais do processo decisório na ALEP bem como análises de conjuntura a fim
de municiar o público da Rede de Participação e a opinião pública com informações
simultâneas sobre o desempenho das elites e dos órgãos parlamentares que atuam
no Paraná.
Nos capítulos seguintes utilizaremos dois elementos da base de dados para
ilustrar as atividades do sistema de monitoramento: a) as informações
disponibilizadas na internet sobre o perfil das elites políticas e a acountability dos
órgãos legislativos; b) as informações sobre uso das novas tecnologias e das redes
sociais pelos parlamentares.
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3. Perfil sociopolítico e accountability virtual das elites parlamentares do Paraná (2007-2010).
O primeiro aspecto que devemos levar em consideração portanto sobre o
desempenho dos parlamentares é seu perfil social e político. Assim, o objetivo deste
capítulo é apresentar os resultados da primeira dimensão de nossa pesquisa sobre o
uso da internet pelas elites parlamentares paranaenses empreendida no âmbito do
programa Vigilantes da Democracia. A partir deste objetivo de ordem geral,
desenvolvemos os seguintes objetivos específicos, seguindo metodologia
desenvolvida em nosso grupo de pesquisa: (i) elaborar um indicador quantitativo
para avaliar o grau de disponibilidade das informações necessárias à caracterização
dos perfis sociopolíticos dos parlamentares nas casas legislativas, desenvolvendo
metodologia aplicada em outros estudos (BRAGA & NICOLÁS, 2008; NICOLÁS,
2009); (ii) efetuar uma primeira análise exploratória dos websites pessoais dos
políticos paranaenses a partir de uma versão adaptada do modelo desenvolvido por
Andy Williamson (2009) para a análise dos MPs ingleses.
A partir da aplicação dessa metodologia chegamos a duas conclusões gerais:
(i) a disponibilidade de informações sobre perfil socioeconômico e comportamento
político é bastante desigual entre os diferentes segmentos das elites parlamentares
paranaenses, destacando-se os senadores e portal do Senado Federal como
aqueles que promovem um maior grau de accountability; (ii) a pouca quantidade de
mecanismos de participação e de interação política nos websites dos políticos
paranaenses, em comparação com outras dimensões de sua atividade política.
Assim sendo, procuraremos neste capítulo concretizar algumas idéias
expostas no capítulo 1 da presente monografia, na medida em que procuraremos
avaliar os potencias da internet de incidir sobre as várias dimensões das relações
de representação que se estabelecem entre as elites parlamentares e o cidadão
comum. Com efeito, conforme observado por alguns autores cujas contribuições
constituem o pano de fundo mais geral do presente texto (NORRIS, 2001; WARD
& LUSOLI, 2005), e conforme observado em outros trabalhos (BEETHAM, 2006;
BRAGA, 2007A; 2007B), as ferramentas utilizadas pela internet, desde que
adequadamente utilizadas, podem ser um importante instrumento não só de
conhecimento das elites dirigentes pelos pesquisadores e pelo público
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especializado, mas também de controle e monitoramento de tais elites políticas e
da esfera pública de uma maneira geral pelos cidadãos, estreitando assim os
vínculos de representação política entre estes atores (NICOLÁS, 2009).
Para cumprir estes objetivos, organizaremos nossa exposição da seguinte
forma: (i) inicialmente, definiremos o universo empírico pesquisado, bem como
esclareceremos alguns aspectos da metodologia empregada em nossa pesquisa; (ii)
em seguida, avaliaremos as informações contidas nos websites nas casas
legislativas examinadas sobre o “perfil social” dos parlamentares, tantos de seus
“atributos inatos”, quanto de seus atributos “adquiridos”; (iii) em terceiro lugar,
avaliaremos as informações disponíveis nos websites das casa parlamentares sobre
a trajetória política pregressa dos deputados e senadores, ou seja, sobre sua
atuação ou “socialização” política antes de assumirem os mandatos nas casas
legislativas na legislatura em tela; (iv) em quarto lugar, avaliaremos as informações
disponíveis nos websites das casas legislativas sobre aqueles itens mais
relacionadas ao “comportamento político” dos parlamentares, tanto aqueles que
podem ser acessados diretamente pelo cidadão-internauta através dos perfis
individuais dos mesmos disponíveis nos sites das casas de representantes, quanto
àquelas que estão acessíveis indiretamente através dos portais dos órgãos
parlamentares; (v) por fim, na segunda parte no capítulo seguinte, analisaremos
brevemente o uso que os deputados e senadores fazem da Web, cotejando os
resultados de nossa pesquisa com os de outros estudos.
Sublinhe-se por fim que, conforme explicitamos anteriormente, como resumo
das análises efetuadas em cada item buscaremos elaborar um indicador quantitativo
das informações disponíveis sobre as elites parlamentares em cada casa legislativa.
O objetivo de tal procedimento, estritamente associada às nossas atividades no
programa de avaliação e monitoramento dos eleitos, é construir um indicador
objetivo e sintético que nos possibilite o acompanhamento regular da atualização da
disponibilidade de tais informações nos websites parlamentares, assim como a
elaboração de estudos longitudinais futuros analisando as várias dimensões do
emprego da internet pelos membros das elites parlamentares examinados. Tal
indicador pode ser tomado também, indiretamente, como um “índice de
transparência” de cada casa legislativa no tocante à disponibilização de informações
sobre as elites parlamentares que nelas atuam, possibilitando assim uma apreensão
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mais concisa dos potenciais de accountability existente sobre estes atores nos
websites das casas legislativas examinadas.
3.1 O universo empírico de pesquisa e a metodologia empregada: os
senadores, deputados federais e estaduais do Paraná (2007-2011).
Algumas características do universo empírico de nossa pesquisa estão
sintetizadas na tabela a seguir. Dados os objetivos de nossa pesquisa, utilizamos
exclusivamente as fontes disponíveis nos websites das casas legislativas para
coletar as informações analisadas neste texto, já que nosso objetivo básico não é
elaborar um perfil das elites parlamentares examinadas em si mesmas, mas avaliar
e mensurar, numa primeira aproximação, o uso que tais atores fazem da internet
bem como as informações nela disponíveis para o estudo destas elites, tendo em
vista os objetivos anteriormente mencionados do programa Vigilantes da
Democracia.
A distribuição agregada dos parlamentares por partidos políticos no período
da pesquisa e coleta de dados é dada pela tabela abaixo5.
Tabela 1: Distribuição partidária dos deputados e senadores (Paraná)(novembro de 2010)
Dep Fed. Dep Est. Senadores Total N % N % N % N %PMDB 8 22,2 18 27,3 0 ,0 26 24,8PSDB 4 11,1 11 16,7 2 66,7 17 16,2PT 4 11,1 8 12,1 0 ,0 12 11,4DEM 6 16,7 5 7,6 0 ,0 11 10,5PDT 2 5,6 6 9,1 1 33,3 9 8,6PP 3 8,3 4 6,1 0 ,0 7 6,7PR 4 11,1 1 1,5 0 ,0 5 4,8PPS 1 2,8 3 4,5 0 ,0 4 3,8
5 Os dados sistematizados na tabela abaixo se referem ao período compreendido entre os meses de janeiro de 2007 e novembro de 2010, depois do encerramento da campanha eleitoral de outubro.
31
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PTB 1 2,8 3 4,5 0 ,0 4 3,8Falecido/PMDB 1 2,8 1 1,5 0 ,0 2 1,9PSB 0 ,0 2 3,0 0 ,0 2 1,9PSC 2 5,6 0 ,0 0 ,0 2 1,9PMN 0 ,0 1 1,5 0 ,0 1 1,0PRB 0 ,0 1 1,5 0 ,0 1 1,0PV 0 ,0 1 1,5 0 ,0 1 1,0Sem partido 0 ,0 1 1,5 0 ,0 1 1,0 TOTAL 36 100,0 66 100,0 3 100,0 105 100,0
Fonte: Base de Dados Vigilantes da Democracia
A tabela representa o universo nosso universo dos monitorados nos órgãos
legislativos em escala federal e estadual6. Nossa pesquisa abrangeu ao todo 109
políticos sendo 1 presidente da República, 2 governadores empossados, 3
senadores, e 36 deputados federais e 55 estaduais que assumiram o mandato ao
longo da legislatura. Pelos dados, podemos observar que a maior bancada partidária
ao longo da legislatura foi o PMDB, liderado pelo governador reeleito Roberto
Requião (2002-2006; 2007-2011), o que reflete a força política do partido no estado.
Seguem-se o PSDB (16,2%), o PT (11,4%) e o DEM (10,5%) com o maior número
de parlamentares empossados ao longo da legislatura, sendo que este último partido
contou com a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados sem eleger no
entanto nenhum senador.
No que se refere à distribuição por espectro ideológico e “tipo de partido”,
seguindo indicações de Braga e Nicolás (2008), classificamos os partidos em seis
tipos de agremiações relevantes, seguindo mais ou menos os critérios adotados pela
literatura que estuda o sistema partidário nacional (RODRIGUES, 2002), assim
como o grau de coerência do comportamento padrão dos partidos em relação a
sucessivos governos na cena política nacional. Estes tipos de partidos são os
seguintes: (1) Partidos Fisiológicos de Centro (PFC): são aqueles partidos que não
se colocam em nenhum extremo do espectro político e cuja postura em relação aos
sucessivos partidos é pouco coesa, oscilante, ou difícil de caracterizar. Exemplos
desses partidos são o PMDB e o PL/PRB/PR; (2) Como Partidos Fisiológicos de
6 Incluímos em nossa base de dados também o presidente da República Luis Inácio Lula da Silva e os dois governadores que exerceram o mandato no período. Entretanto eles não serão incluídos na análise feita a seguir, que abrange apenas os membros das elites parlamentares. Também excluímos de nossa tabela o deputado Alisson Wandscheer (PPS), que assumiu o mandato em lugar de Felipe Lucas (PPS) por um curto período, em virtude da dificuldade de encontrarmos informações relevantes sobre a atuação e a trajetória política prévia do parlamentar.
32
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Direita (PFD), por exemplo, classificaremos o PTB, e o PP, partidos que apresentam
uma postura ideológica geral mais conservadora, mas que não são facilmente
identificáveis com as linhas programática e as facções anti e pró-governo que
polarizam o debate político; (3) Partidos Fisiológicos (ou populistas) de Esquerda
são o PDT e o PSB; (4) Partidos Programáticos de Direita (PPD) são aqueles
partidos tradicionalmente incluídos no campo ideológico mais conservador e que
apresentam uma postura ideológico-programática mais definida, sendo mais fácil de
classificá-los num gradiente “governo” X “oposição” Inserimos nessa rubrica o antigo
PFL, atual DEM, embora a própria mudança de sigla em virtude de uma derrota nas
urnas coloque problemas à sua caracterização como um partido “programático”; (5)
Partidos Programáticos de Centro (PPC) são o PSDB e o PPS; (6) Partidos
Programáticos de Esquerda (PPE) são o PT, o PSOL, o PCdoB e o PV.
Como esclarecem os autores, “o objetivo de tal tipologia é tentar estabelecer
uma classificação um pouco mais matizada que a tradicional classificação por
espectro ideológico (“esquerda”, “centro”, “direita”) empregada por alguns analistas
do sistema partidário nacional (FIGUEIREDO E LIMONGI, 1999; RODRIGUES,
2006)” (op. cit., p. 128).
Os dados sobre a distribuição partidária encontram-se resumidos na tabela
abaixo7
Tabela 2: Distribuição das elites parlamentares do Paraná (2007-2010)(por tipo de partido e ideologia)
Estadual Federal Total
N % N % N %
Campo ideológico
Esquerda 18 27,3% 7 17,9% 25 23,8%
Centro 33 50,0% 16 41,0% 49 46,7%
Direita 15 22,7% 16 41,0% 31 29,5%
Tipo de partido
7 Nas tabelas seguintes, agregamos os deputados e senadores na coluna “nacional”, e os deputados estaduais estão representados na coluna “estadual”, enquanto nos gráficos conservamos a divisão entre deputados estaduais, federais e senadores. Isso se deve ao duplo objetivo da análise efetuada a seguir que é o de ora contrastar as características ou atributos dos membros das elites políticas em escala federal e estadual, ora o de mensurar o grau de transparência disponível na internet sobre os três segmentos das elites parlamentares do Paraná.
33
33
PFC 19 28,8% 9 23,1% 28 26,7%
PPC 14 21,2% 7 17,9% 21 20,0%
PFD 10 15,2% 10 25,6% 20 19,0%
PPE 9 13,6% 4 10,3% 13 12,4%
PFE 9 13,6% 3 7,7% 12 11,4%
PPD 5 7,6% 6 15,4% 11 10,5%
66 100,0% 39 100,0% 108 100,0%
Fonte: Base de Dados Vigilantes da Democracia
No que se refere às variáveis ideologia e “tipo de partido”, também podemos
verificar um predomínio dos partidos “fisiológicos” e de “centro” em ambos os níveis
de representação política do estado, com as agremiações de esquerda mais
fortemente representadas na Assembléia Legislativa do Paraná do que na esfera
federal. Deve-se sublinhar ainda o baixo índice de migração partidária ao longo da
legislatura: dos 108 políticos monitorados, apenas 10 (9,3%) mudaram de partido,
uma taxa inferior à observada em períodos anteriores8.
Em relação ao objeto de nossa pesquisa propriamente dito, ou seja, o padrão
de uso da web pelos parlamentares uma primeira aproximação é dada pela tabela
abaixo:
Tabela 3: Uso da web pelos parlamentares paranaeneses (2007-2010)
Estadual Federal Total N % N % N %
Tem website?Sem website 12 18,2 5 11,9 17 15,7 Com website 49 74,2 36 85,7 85 78,7 Fora do ar 5 7,6 1 2,4 6 5,6
Tipo de websiteSem website 12 18,2 6 14,3 18 18,5 Website pessoal 52 78,8 32 76,2 82 75,9 Website institucional 1 1,5 2 4,8 3 2,8 Blog 1 1,5 2 4,8 3 2,8
8 Os 10 parlamentares paranaenses que mudaram de partido ao longo da legislatura foram: FLÁVIO ARNS (PT→PSDB); AIRTON ROVEDA (PPS→PR); RATINHO JUNIOR (PPS→PSC); ÍRIS SIMÕES (PTB→PR); TAKAYAMA (PMDB→PAN→PTB→PSC); CARLOS SIMÕES (PTB→PR); FABIO CAMARGO (PFL→PTB); GERALDO CARTÁRIO (PMDB→PDT); MAURO MORAES (PMDB→PSDB); MARIO ROQUE (PSB→PMDB). Embora ainda alto, o índice é bastante inferior ao observado em legislaturas anteriores.
34
34
Email/formulárioSem email 4 6,1 0 ,0 10 9,3 Com email/formulário 62 93,9 36 100,0 98 90,7 66 100,0 39 100,0 105 100,0
Fonte: Vigilantes da Democracia
A tabela acima nos fornece uma “primeira aproximação” sobre um dimensão
fundamental das atividades desenvolvidas durante o programa Vigilantes da
Democracia, que foi o do uso dos recursos da internet por parte das elites
parlamentares monitoradas, fornecendo informações sobre o uso de websites pelos
parlamentares dos dois níveis de representação e sobre o tipo de presença online
privilegiado por cada um deles.
Com efeito, estes dados nos permitem começar a coletar evidências sobre a
existência de padrões distintos de uso da web pelas elites parlamentares de ambos
os níveis de representação (com os deputados estaduais com menor presença on-
line), observando ainda a ampla presença dos senadores, deputados federais e
deputados estaduais paranaenses na web ao longo da última legislatura: dos 105
parlamentares empossados ao longo do período apenas 15 (15,7%) não utilizaram
websites ao longo da legislatura, enquanto praticamente a totalidade deles
disponibilizou e-mail para contato, seja no site das casas legislativas, seja em seus
websites pessoais. Por sua vez, o recurso predominantemente usado pelas elites
parlamentares paranaenses para se comunicar com o eleitor foram os websites
pessoais, em detrimento de outras ferramentas tais como os websites institucionais
e os blogs. Veremos mais à frente no entanto que mecanismos “web 2.0” de
relacionamento com o eleitor, tais como twitter, facebook e Orkut estão se difundindo
intensamente entre os parlamentares, sem entretanto desalojar os websites
pessoais como uma fonte importante de informação sobre a atuação destes atores.
Uma vez delimitado o universo empírico da pesquisa e caracterizado o padrão
mais geral de presença online dos parlamentares, nossa metodologia de
monitoramento dos políticos consistiu dos seguintes passos básicos: (i) em primeiro
lugar, examinamos os websites dos parlamentares e dos órgãos legislativos
monitorados e as informações individuais neles contidas sobre cada parlamentar, a
fim de verificar se havia nestes websites ou portais informações: sobre o perfil social
35
35
(atributos inatos e adquiridos)9 das elites parlamentares, sobre a socialização ou
trajetória política prévia e sobre variáveis que pudessem avaliar seu “comportamento
político”, dentro e fora dos órgãos parlamentares; (ii) a segunda dimensão de nossa
metodologia consistiu numa análise de conteúdo dos websites dos deputados e
senadores mencionados, utilizando algumas categorias básicas empregadas em
outros estudos empreendidos recentemente em democracias parlamentares mais
institucionalizadas e mencionados mais à frente.
A partir dos dados do universo de pesquisa definido na Tabela 1
construímos uma planilha com todos os parlamentares atuantes nas casas
legislativas, bem como com as freqüências das variáveis pesquisadas nos
sites legislativos dos diversos órgãos parlamentares, abrangendo
informações sobre perfil social, trajetória política e comportamento
parlamentar.
No tocante à análise dos websites legislativos, procuraremos utilizar como
parâmetro para a avaliação das informações disponíveis sobre as elites
parlamentares a ficha para acompanhamento da atuação parlamentar que
elaboramos em nosso grupo de pesquisa e que foi também utilizada em outros
estudos (BRAGA & NICOLÁS, 2008). Assim procedemos porque, a nosso ver,
essa dimensão mais “informacional” do uso da web pelos atores políticos tem sido
frequentemente subestimada nos estudos sobre o uso da internet por parte dos
vários segmentos das elites políticas os quais, geralmente influenciados pela
problemática da “comunicação política” tendem a se concentrar mais nos
mecanismos de “participação e interação” política disponibilizados pela internet,
subestimando frequentemente essa dimensão informacional, também relevante
para uma maior compreensão da atuação das elites parlamentares sob uma ótica
mais próxima à ciência política.
3.2. Perfil social e biográfico dos deputados federais e estaduais.
Portanto, a primeira dimensão de nossa análise consistiu na formação de uma
base de dados para averiguar o grau de presença nos websites nos órgãos
legislativos de informações que nos permitam identificar os “atributos inatos” e
9 Para a distinção entre atributos inatos e adquiridos, cf. o trabalho de Susanne Keller (1967).
36
36
“adquiridos” dos deputados estaduais, federais e senadores, a fim de subsidiar o
programa de monitoramento e possibilitar análises comparativas futuras. Como
variáveis importantes para a identificação dos “atributos inatos” das elites
parlamentares (ou seja, aqueles atributos que independem dos processos de
socialização e de adaptação diferenciais dos quais foram objetos e agentes os
próprios deputados a partir da data de seu nascimento), podemos mencionar as
seguintes: nome e profissão dos pais ou chefes de família; data de nascimento; cor
da pele e local de nascimento. Como “atributos adquiridos” pelos parlamentares a
partir de seu contato com as primeiras agências de socialização na infância
podemos mencionar: religião, escolaridade, estado civil e atividades profissionais.
Como observamos anteriormente, tais variáveis via de regra são utilizadas nos
estudos sobre elites políticas por pesquisadores que visam apreender as
características de tais atores, bem como para monitorar de maneira mais sistemática
sua atuação política.
Todas estas são informações relevantes para o conhecimento de quem
decide, ou seja, as características dos atores que tomam as decisões nos órgãos
parlamentares, assim como apreender a dimensão mais “societal” da atividade
política destes atores (CODATO E PERISSINOTTO, 2010), e devem estar presentes
em um programa de monitoramento que sirva para avaliar o grau de transparência e
de “accountability” das casas legislativas e das elites parlamentares nele atuantes.
As médias dos índices de desempenho das informações sobre o perfil social dos
deputados são dadas pelo gráfico abaixo. Foram desconsiderados na composição
do indicador aqueles itens cuja freqüência observada fosse próxima de zero.
Gráfico 1: Informações sobre o perfil social nos websites parlamentares
(atributos inatos e adquiridos)
37
37
Fonte: Vigilantes da Democracia
Podemos verificar inicialmente a existência de uma distribuição bastante
desigual da presença de informações sobre os perfis parlamentares dos deputados
federais, estaduais e senadores. Com efeito, o segmento da elite parlamentar que
apresentou melhor desempenho no tocante à disponibilização de informação sobre
seu perfil social foram os senadores (75,0%), seguidos dos deputados federais
(67,6) e dos deputados estaduais (53,5%). Apenas a título de ilustração da forma
como construímos os índices, podemos ilustrar desempenho diferente da variáveis
pela tabela abaixo, onde podemos verificar que as casas legislativas e websites
parlamentares apresentam desempenho diferente no tocante aos itens: fotografia,
escolaridade, instituição em que se formou e informações sobre ensino superior,
todas elas com informações satisfatórias acima da média. Por sua vez, ambas
apresentam um baixo desempenho no tocante à disponibilização de informações
sobre ascendentes, excetuando a Câmara dos Deputados, que apresentou um
percentual elevado de informações sobre os nomes dos pais dos deputados,
informação importante para traçar a “genealogia política” dos mesmos.
Tabela 4) Informações sobre perfil social nos websites parlamentares
Dep Fed Dep. Est. Senadores Total
N % N % N % N %
I) PERFIL SOCIAL
Tem foto? 36 100,0 61 92,4 3 100,0 100 95,2
38
38
Informa chefe de família? 34 94,4 18 27,3 2 66,7 54 51,4
Profissão do chefe de família? 5 13,9 9 13,6 2 66,7 16 15,2
Escolaridade dos pais? 2 5,6 2 3,0 0 ,0 4 3,8
Informa data de nascimento 36 100,0 66 100,0 3 100,0 108 100,0
Local da nascimento? 36 100,0 64 97,0 3 100,0 103 98,1
Informa religião? 5 13,9 9 13,6 1 33,3 15 14,3
Informa estado civil? 15 41,7 53 80,3 3 100,0 71 67,6
Is/escolaridade? 33 91,7 48 72,7 3 100,0 84 80,0
Is/instituição de ens. Sup. 31 86,1 32 48,5 3 100,0 66 62,9
Is/ano de formatura/ 27 75,0 9 13,6 1 33,3 37 35,2
Is/atividades profissionais 32 88,9 53 80,3 3 100,0 88 83,8
36 100,0 66 100,0 3 100,0 105 100,0
Fonte: Vigilantes da Democracia
A partir dos dados constantes nessa tabela podemos apreender algumas
características das elites parlamentares paranaenses em escala nacional e
estadual. Em primeiro lugar, o caráter mais elitizado da representação política em
nível federal, na medida em que existe apenas um parlamentar de cor de pele
parda e nenhuma representante do sexo feminino na bancada federal do Paraná.
Apenas no legislativo estadual paranaense temos 4 representantes do sexto
feminino e 3 representantes de cor parda, revelando o caráter mais diversificado
da representação na ALEP. Uma surpresa positiva da pesquisa realizada durante o
período de monitoramento foi o elevado grau de informação disponível sobre as
atividades profissionais exercidas pelos parlamentares (83,8%), um índice superior
ao observado em pesquisas anteriores (BRAGA & NICOLÁS, 2008), indicando
assim que a tendência dos parlamentares de migrarem para as plataformas virtuais
está agregando valor no tocante à disponibilização de informações sobre estes
atores. Por outro lado, há poucas informações sobre a ascendência dos políticos,
dado que os parlamentares tendem a omitir em seus perfis informações sobre seus
ascendentes e as casas legislativas não buscam suprir estas deficiências, com
exceção da Câmara dos Deputados, que fornece um elevado percentual de
informações sobre quem são os pais dos deputados federais, sem entretanto
entrar em maiores detalhes. Em relação aos índices de localismo, as informações
também são semelhantes, com um índice de localismo e interiorização
39
39
ligeiramente superior dos deputados estaduais, sendo a representação federal
mais cosmopolita.
No tocante aos atributos adquiridos, algumas evidencias coletadas em nossa
planilha de monitoramento estão sistematizados na tabela abaixo:
Tabela 5: Perfil social dos deputados a partir da web (adquiridos x nível de representação)
Estadual Federal Total N % N % N %
ReligiãoSem informação 58 87,9% 33 84,6% 79 75,2%Católica 5 7,6% 2 5,1% 7 6,7%Evangélico 3 4,5% 3 7,7% 6 5,7%Judaica 0 ,0% 1 2,6% 1 1,0%
Estado civilSolteiro 3 4,5% 1 2,6% 4 3,8%Casado 46 69,7% 15 38,5% 61 58,1%Divorciado 3 4,5% 1 2,6% 4 3,8%Outros 1 1,5% 0 ,0% 1 1,0%Sem informação 13 19,7% 22 56,4% 35 33,3%
EscolaridadeOutros 22 33,3% 6 15,4% 28 26,7%Tem curso superior 44 66,7% 33 84,6% 77 73,3%
Estudou em universidade pública?Outros 51 76,3% 18 46,2% 68 64,8%Sim 15 22,7% 21 53,8% 36 34,3%
Status ocupacional (Marenco, 2006)Profissões liberais 23 34,8% 15 38,5% 35 33,3%Empresários 26 39,4% 15 38,5% 41 39,0%Professores etc. 5 7,6% 4 10,3% 9 8,6%Funcionários públicos 7 10,6% 1 2,6% 8 7,6%Trabalhadores braçais 1 1,5% 0 ,0% 1 1,0%Outras, S/I 4 6,1% 4 10,3% 8 7,6% 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%
Fonte: Base de dados Vigilantes da Democracia
No tocante aos atributos adquiridos, há pouquíssima informação sobre a
religiosidade dos parlamentares, um tipo de informação que tende a ser omitido
pelos políticos em seus perfis e não suprido pelas instituições das quais fazem
parte. Essa concepção de representação é bastante diferente da que existe, por
exemplo, em países como os EUA onde é comum os parlamentares ostentarem
sua religiosidade em seus websites, não considerando a religião apenas um
“assunto privado” concepção que tende a predominar no caso brasileiro. Ainda em
40
40
relação a este ponto, observa-se novamente o caráter mais “elitizado” da
representação na esfera federal, com um índice mais elevado de parlamentares
que freqüentou curso superior e que teve oportunidades de se formar escola
pública.
3.3 Trajetória política dos deputados federais e estaduais.
Nesse segundo item do trabalho procuraremos avaliar o grau de presença de
informações sobre a trajetória ou socialização política pregressa dos deputados e
senadores. Como afirmam Braga e Nicolás (2008), “nos estudos sobre
recrutamento, via de regra a categoria de “socialização política” é empregada para
designar itens relacionados à atividade política dos parlamentares antes do exercício
do mandato parlamentar (Marenco, 2000, 2007)” (Op. Cit., p. 148). A partir das
variáveis contidas na ficha do Vigilantes, incluímos na dimensão “trajetória política”
dos parlamentares itens tais como: “informações satisfatórias” (IS) sobre via de
entrada na política; informações satisfatórias sobre período de entrada na política;
local de entrada na política; qual o primeiro mandato parlamentar exercido;
destaques para mandatos legislativos anteriormente exercidos; IS sobre cargos
administrativos anteriormente ocupados; informações sobre vínculos com
associações ou “capital social”, e outras variáveis relevantes empregadas em
estudos sobre recrutamento e perfil sociopolítico das elites parlamentares.
Assim como em outros estudos efetuados no âmbito de nossa equipe de
pesquisa, derivamos como corolário do trabalho de coleta de dados um indicador
que consiste no percentual de informações contidas sobre os parlamentares nos
sites legislativos sobre aquelas variáveis que possuem percentual de presença
relevante nos sites. Optamos por não inserir nenhum fator de ponderação em nosso
índice, com o objetivo de simplificar o processo de análise de dados. O desempenho
de cada segmento das elites parlamentares paranaenses em relação às informações
sobre a trajetória política de seus parlamentares é resumido pelo gráfico abaixo:
Gráfico 2: Informações sobre a trajetória política nos websites
41
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Fonte: Base de dados Vigilantes da Democracia.
Como no item anterior sobre o perfil social, também podemos observar uma
ligeira diferença na disponibilização de informações no tocante a este quesito, com
a os deputados federais apresentando melhor desempenho em relação aos
senadores e deputados estaduais.
Também no tocante a este item os dados obtidos a partir dos websites das
casas legislativas nos permitem apreender algumas diferenças entre os diversos
subgrupos das elites. Para os fins desta análise importa-nos caracterizar
rapidamente “de onde vem” e “para onde vão” as elites parlamentares
paranaenses, seguindo mais uma vez o procedimento de desenvolver e adaptar
metodologias desenvolvidas em outros estudos, a fim de possibilitar um diálogo
com os resultados obtidos em outras unidades da federação, que procuraremos
empreender posteriormente (ANASTASIA, 2005).
Em relação à primeira indagação, a tabela abaixo nos auxilia a responder a
pergunto sobre as trajetórias políticas dos membros do parlamento paranaenses
em nível nacional e regional:
Tabela 6: Trajetória política anterior das elites parlamentares paranaenses
42
42
Estadual Federal Total N % N % N % 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%
Período de entrada na política1945-1964 1 1,5% 1 2,6% 2 1,9%1964-1985 18 27,3% 9 23,1% 27 25,7%1985-1989 12 18,2% 10 25,6% 22 21,0%1989-2000 25 37,9% 11 28,2% 36 34,3%2000- 10 15,2% 6 15,4% 16 15,2%
Entrada mesmo local de nascimento?Local diferente 22 33,3% 11 28,2% 33 31,4%
Mesmo local de nasc. 44 66,7% 28 71,8% 72 68,6%Ocupou cargo legislativo?
Não 11 16,7% 5 12,8% 16 15,2%Sim 55 83,3% 34 87,2% 89 84,8%
Legislatura atual1 13 19,7% 7 17,9% 20 19,0%2 11 16,7% 8 20,5% 19 18,1%3 15 22,7% 6 15,4% 21 20,0%4 5 7,6% 7 17,9% 12 11,4%5 12 18,2% 7 17,9% 19 18,1%Mais de 5 10 15,2% 4 10,3% 14 13,3%
Ocupou cargo administrativo?Não 26 39,4% 18 46,2% 44 41,9%Sim 40 60,6% 21 53,8% 61 58,1%
N/filiações partidárias1 32 48,5% 11 28,2% 43 41,0%2 10 15,2% 6 15,4% 16 15,2%3 14 21,2% 8 20,5% 22 21,0%4 7 10,6% 3 7,7% 10 9,5%5 2 3,0% 4 10,3% 6 5,7%Mais de 5 2 4,5 4 29,3 6 16,9
Total 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%
Fonte: Base de dados Vigilantes da Democracia
Pela tabela, podemos observar que as elites parlamentares do Paraná
apresentam semelhanças mas também algumas diferenças entre si. Em relação às
semelhanças, podemos destacar o relativamente baixo grau de renovação política
das elites, assim como o elevado grau de endogenia, com mais de 80% dos
parlamentares de ambas as casas legislativas sendo recrutados no mesmo estado
em que foram eleitos. Em relação às diferenças, destacamos o maior número de
filiações partidárias dos deputados federais e senadores, que apresentam ainda
maior longevidade política e um padrão mais diversificado de carreira, ocupando
simultaneamente cargos legislativos e executivos.
No tocante à segunda parte da pergunta “Para onde vão os parlamentares”
um início de resposta nos é dada pela tabela abaixo:
43
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Tabela 7: Destino político das elites parlamentares paranaenses
Estadual Federal Total N % N % N %
Candidato as eleições de 2010?Não 9 13,6 5 12,8 14 13,3
Sim 57 86,4 34 87,2 91 86,7
Cargo para o qual se candidatouDeputado estadual 54 81,8 0 ,0 54 51,4
Deputado federal 2 3,0 29 74,4 31 29,5
Exerce mandato de prefeito 0 ,0 1 2,6 1 1,0
Falecido 1 1,5 1 2,6 2 1,9
Governador 0 ,0 1 2,6 1 1,0
Inelegível 2 3,0 0 ,0 2 1,9
Não se candidatou 6 9,1 3 7,7 9 8,6
Prefeito 1 1,5 0 ,0 1 1,0
Senador 0 ,0 2 5,1 2 1,9
Vice-governador 0 ,0 2 5,1 2 1,9
Destino políticoReeleito 39 59,1 21 53,8 60 57,1
Não-reeleito 17 25,8 13 33,3 30 28,6
Outros 10 15,2 5 12,8 15 14,3
Variação de votaçãoDiminuição 29 43,9 16 41,0 45 42,9
Aumento 31 47,0 18 46,2 49 46,7
Outros/sem informação 6 9,1 5 12,8 11 10,5
Total 66 100,0 39 100,0 105 100,0
Fonte: Base de dados Vigilantes da Democracia
A tabela acima ilustra o alto grau de endogeneidade e de profissionalização
das elites políticas paranaenses: dos 105 políticos monitorados, 91 (86,7%) foram
candidatos a algum cargo eletivo no pleito de outubro de 2010. Entretanto, as taxas
de reeleição são significativamente menores que o grau de ambição política dos
parlamentares, na medida em que apenas 57,1% deles foram reeleitos, taxa
ligeiramente superior no caso dos deputados estaduais. Outro dado digno de nota é
que um percentual significativo dos políticos do Paraná teve uma queda em sua
votação em relação ao pleito anterior, evidenciando que, ao contrário do aparentado
pela alta taxa de reeleição, o eleitorado paranaense não foi inteiramente indiferente
às denúncias de corrupção veiculadas por órgãos da imprensa ao longo da
legislatura.
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44
3.4. Comportamento político e uso da Web pelos deputados federais e
estaduais paranaenses.
Por fim, um último nível de análise para ilustrar o trabalho realizado ao longo
do monitoramento, que foi um levantamento efetuado nos websites das casas
legislativas das regiões sul e sudeste do Brasil sobre o comportamento político dos
parlamentares paranaenses. Nesse sentido, aplicamos uma metodologia para
apreender a accountability disponibilizada nas casas legislativas a partir das
informações contidas nos websites das casas legislativas examinadas que, embora
aparentemente triviais, são de fundamental importância para agregar transparência
e accountabily aos trabalhos parlamentares (NORRIS, 2001; BEENTHAM, 2006).
Assim, efetuamos um levantamento de 66 variáveis presentes nas regiões
sul e sudeste do Brasil agrupando-os nas seguintes dimensões:
1) INFORMAÇÃO: SOBRE DEPUTADO VIA PERFIL: São recursos
presentes nos websites de políticos e que podem ser acessados diretamente
através dos perfis dos parlamentares no web site da casa legislativa, o que nos
permitem uma maior conhecimento sobre estes atores, estimulando um primeiro
contato do internauta com o web site parlamentar.
2) INFORMAÇÃO: SOBRE PARLAMENTAR VIA WEBSITE: São as mesmas
informações anteriores, mas que podem ser acessadas através do website da
instituição. Nesse item estão contempladas informações como a facilidade de
acesso às votações nominais, facilidade de acesso a presença em plenário,
acesso a tramitação de leis e outras proposições, informações sobre os cargos
ocupados pelo parlamentar na Casa, se há informações sobre as proposições de
emendas ao orçamento e ainda emendas de cada parlamentar ao orçamento, se é
fácil acessar as proposições aprovadas pelo deputado ou senador, acessibilidade
a verbas indenizatórias, cadastro para acompanhamento das atividades realizadas
pelo parlamentar, e o número do gabinete do deputado. Fazem parte desse item
onze variáveis.
3) ACCOUNTABILITY E PORTAL DA TRANSPARÊNCIA: São recursos que
demonstram a prestação de contas dos parlamentares, tais como se apresenta o
número de funcionários lotados no gabinete de cada deputado, se apresenta o
nome e o vencimento desses funcionários, salário do parlamentar, verbas de
ressarcimento, dentre outras variáveis.
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45
4) COMUNICAÇÃO MENOS INTERATIVA: Consideramos como
comunicação menos interativa os recursos de comunicação das mídias tradicionais
como transmissão ao vivo de rádio e TV via web e informativo da casa digitalizado.
Serviço de ―clipping‖, e prestação de contas do orçamento das Assembleias. São
informações que o cidadão não tem possibilidade de interagir diretamente, por
exemplo, não pode postar comentários.
5) COMUNICAÇÃO MAIS INTERATIVA: Participação, mídias sociais e
―falas cidadãs‖: São dispositivos que permitem a manifestação dos discursos e
formas de expressão dos internautas através de diversas ferramentas, tais como
postagens, envio de fotos e vídeos. Possibilidade de participar de enquetes, de
comentar notícias, enviar e-mails e participar de salas de bate-papo.
6) REDES SOCIAIS: Redes virtuais de participação horizontal,
principalmente de relacionamento como: twitter, facebook, orkut, myspace, sônico;
redes profissionais como (linkedin) e acervo de vídeos no youtube ou de imagens
no flick.
Destas variáveis sobre comportamento político dos parlamentares, constantes
da base de dados biográfica podemos derivar os gráficos abaixo, que ilustram o grau
de disponibilidade de informações relevantes para o estudo do comportamento
políticos dos parlamentares nas casas legislativas, tanto através da visita aos perfis
parlamentares dos próprios deputados, quando através da visita aos websites das
casas legislativas. Para simplificar a exposição, unificamos no gráfico abaixo tanto
as informações que podem ser acessadas diretamente a partir dos websites quanto
informações que podem ser acessadas indiretamente, a partir dos portais das casas
legislativas, desconsiderando aquelas variáveis para as quais os percentuais fossem
nulos ou próximos de zero.
Gráfico 3: Comportamento político das elites parlamentares nas casas legislativas
46
46
Fonte: Base de dados Vigilantes da Democracia
Os dados acima indicam o grau de informação disponível sobre o
comportamento dos parlamentares a partir de seus perfis contidos nos sites
legislativos.
Enfim, em uma análise geral de toda a planilha elaborada para esta análise
empírica, separada em cinco partes, com um total de 66 variáveis, obtemos um
resultado geral quanto à qualidade dos websites analisados quanto aos recursos
democráticos digitais. Assim, dos nove site analisados, o que apresenta o maior
número de recursos é o site da Câmara dos Deputados (87,9%), seguido do Senado
Federal (69,7%), e com o pior desempenho a ALEP (22,5%).
3.5. Um índice de transparência das informações sobre as elites
parlamentares paranaenses na Web.
Dando continuidade a análise sintetizar as informações coletadas através da
internet que se corporificam na composição de um indicador sintetizando os dados
anteriormente apresentados. A composição desse indicador será feita através da
simples agregação dos percentuais de informação contidos sobre as elites
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parlamentares brasileiras e paranaenses. Assim, podemos elaborar um gráfico
consolidando as informações existentes sobre o perfil social, a trajetória política, o
comportamento parlamentar e grau de transparência e accountability da ação dos
parlamentares constantes nas casas legislativas e nos websites parlamentares do
Paraná e Brasil..
Gráfico 4: Índice de transparência das elites parlamentares do Paraná
Observamos pelo gráfico o maior desempenho dos deputados federais,
seguido pelos senadores e deputados estaduais, os quais apresentam um
desempenho abaixo da média. Por fim, podemos encerrar a análise da primeira
dimensão do uso da Web pelas elites parlamentares brasileiras e paranaenses
esclarecendo que as considerações acima foram uma tentativa inicial de efetuar
um primeiro mapeamento da maneira pela qual as elites parlamentares
examinadas estão utilizando a internet e do tipo de informação que pode ser
encontrado nessas fontes. Observamos que, salvo em um outro website
parlamentar isolado, ainda resta muito caminho a percorrer para que a internet se
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constitua numa fonte sistemática para o estudo das elites políticas, de natureza
análoga a das demais, para não dizer de comunicação e interação entre
representantes e opinião pública, sendo que no Paraná este problema se
apresenta ainda com mais intensidade que os demais estados. Sendo assim, é
indispensável que os analistas políticos e pesquisadores sobre as elites em geral e
as elites parlamentares em particular desenvolvam instrumentos para avaliar e
monitorar a quantidade e a qualidade das informações disponíveis em tais
websites, para que estes divulguem informações sistemáticas e transparentes
sobre os políticos, e não se convertam apenas em uma espécie de outdoor virtual
dos deputados e senadores produzidos por seus assessores legislativos e que
agregue pouco valor às pesquisas sobre as elites e sistemas políticos e deixe de
ser um instrumento de maior controle do cidadão-internauta sobre estas próprias
elites.
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4. Representantes web 2.0? As elites parlamentares
paranaenses e as novas tecnologias.
Por fim, outra frente de pesquisa a que se dedicou o projeto de
monitoramento foi a do acompanhamento e do uso da internet pelos parlamentares,
também desenvolvendo as contribuições e outros autores e a proposta inicial de
trabalho do projeto. Isso porque consideramos que esta é um aspecto de
fundamental importância da atividade dos parlamentares na medida em que, como
foi dito na introdução, a internet pode agregar valor a algumas dimensões básicas da
atividade destes atores, tais como informação, accountability, participação e
mobilização. Aqui também buscamos desenvolver aspectos da proposta inicial do
projeto, ampliando e desenvolvendo os insights metodológicos efetuados
anteriormente no âmbito de nosso grupo de pesquisa.
Isto posto, podemos agora adentrar na análise do uso dos websites dos
parlamentares pesquisados. Como já foi referendado, já há uma ampla bibliografia
sobre o uso da internet em geral (WARD & LUSOLI, 2005)., e dos websites em
particular, pelos membros das elites parlamentares de países de democracia mais
institucionalizada e estável10. Entretanto nessa analise prévia não pretendemos
aprofundar questões teóricas levantadas por estes trabalhos, principalmente no
que se refere aos potenciais dos websites. Temos o intuito de apresentar
resultados de nossa pesquisa, procurando coteja - lá com os obtidos por pesquisas
mais sistemáticas ocorridas em países de democracia mais institucionalizada.
A este respeito, devemos destacar as contribuições efetuadas pelo estudo de
Andy Williamson produzido para a Microsoft em convênio com a Hansard Society
(Williamson, 2009) sobre os deputados da Câmara dos Comuns inglesa, que busca
fornecer dados e dialogar com metodologias mais robustas para a análise do uso da
internet pelos MPs ingleses. O estudo consiste basicamente num survey aplicado a
168 deputados (aproximadamente 26% do total de 630 parlamentares da Câmara
dos Comuns) e numa tentativa de mapeamento das representações dos deputados
sobre a internet a partir da metodologia dos grupos focais.
10 Dentre estes estudos podemos destacar, além dos já citados, os trabalhos de Ward & Lusoli, 2005; Allan, 2006; Setala & Gronlund, 2006; Ward & Vedel, 2006; Lusoli, Ward & Gibson, 2006; Roy, 2007 e Viegas D’Abreu, 2007.
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Nesse sentido, o autor busca mapear o uso das ferramentas da internet pelos
parlamentares da Câmara Baixa britânica a partir de 10 variáveis agrupadas num
gradiente de ferramentas e de recursos “mais passivos” e “menos interativos” até os
“mais participativos” e “mais interativos”. O grau de intensidade dos diferentes tipos
de instrumentos possíveis de ser utilizados via Web pode ser esquematizado pelo
seguinte quadro (Williamson, 2009, p 5).
Quadro 2: Graus de participação no WP a partir de Williamson (2009)
Para facilitar o cotejo almejado nesse texto com outros estudos mais
recentes, procuramos em nossa pesquisa empreender uma análise de conteúdo dos
websites dos parlamentares do Brasil e do Paraná adaptando as categorias
utilizadas em outros estudos que empreendemos sobre o uso da Web pelos
candidatos a vereador no Brasil (BECHER etc. al, 2008). Quanto à forma e
características dos websites podemos identificar quatro padrões principais: o outdoor
virtual; o outdoor personalizado; sites que primam pela ênfase na atividade
parlamentar; e sites que primam pela comunicação.
O outdoor virtual é aquele website que dá destaque a figura do político e de
suas atividades, sejam políticas ou não. Estas páginas tem como principal
característica a promoção da imagem do político como individuo, desvinculado de
questões partidárias, e com pouca prevalência para a atividade do mesmo como
agente público. O outdoor partidarizado é um website que se tem como principal
característica a vinculação do político com sua agremiação partidária. As políticas
defendidas pelo partido e no partido têm grande destaque, nestas páginas a legenda
sempre fica em destaque, e muitas vezes a figura do político se confunde com a
figura do partido. Os sites que dão ênfase a atividade parlamentar, são os
ambientes virtuais onde há grande destaque para as atividades do político no meio
parlamentar, seja na proposição de leis, discursos, ou atividades do deputado. E por
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último, temos os websites que dão grande ênfase à comunicação. Estas páginas
demonstram grande quantidade e diversidade de conteúdo, mas nem sempre
vinculados a atuação do político. Seguem abaixo os percentuais encontrados:
Abaixo apresentaremos algumas evidências sobre o uso de websites pelos
deputados e senadores do Brasil e do Paraná.
Tabela 8) Uso da web pelas elites parlamentares paranaenses
Estadual Federal Total N % N % N %
Site forma
Sem website 17 25,8% 7 17,9% 24 22,9%
Outdoor virtual personalizado 28 42,4% 7 9,9% 35 40,0%
Outdoor virtual partidarizado 5 7,6% 5 12,8% 10 9,5%
Outdoor virtual/atividade parlamentar 0 0,0& 5 9,5% 5 21,0%
Comunicação e informação 2 3,0% 3 7,7% 5 4,8%
Websites 2.0 14 21,2% 17 36,5% 31 21,0%
Site conteúdo
Sem website 17 15,8% 7 17,9% 24 22,9%
Clientelismo/constituency service/ 18 40,9% 8 22,2% 38 36,2%
Ênfase na atividade parlamentar 17 25,8% 14 35,9% 31 29,5%
Ênfase na atividade do partido 7 10,6% 5 12,8% 12 11,4%
Ênfase em interesses setoriais 5 5,3% 0 ,0% 5 5,3%
Maior densidade ideológica e programática 2 3,3% 5 11,1% 10 16,4%
Uso de mídias sociais
Não 23 34,8% 8 20,5% 31 29,5%
Sim 43 65,2% 31 79,5% 74 70,5%
Total 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%
Fonte: Vigilantes
Fazendo uma análise dos dados podemos observar que no que se refere à
forma de apresentação dos sites os deputados estaduais apresentam uma forma
mais individualizada de representação, com o predomínio dos sites de outdoor
personalizados (42,2%), seguidos dos sites que privilegiam a ênfase da atividade
parlamentar (21,2%). Já no tocante aos representantes em nível nacional
verificamos maior presença de parlamentares Web 2.0 (36,5%) seguido dos sites
de outdoor partidarizados (12,8%).
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No constante ao conteúdo dos websites, os deputados estaduais tem um
predomínio de websites que privilegiam as políticas localistas (40,9%) seguido dos
websites com ênfase na atividade parlamentar (25,8%), enquanto em nível nacional
dá-se o contrário. Tais resultados podem ser justificados por elementos
institucionais da política estadual paranaense, já que podemos supor que a eleição
para deputado estadual envolve mais ênfase em políticas localistas, o faz com que
os parlamentares prestem contas de suas atividades frente à população, a fim de
determinar suas atuações dentro do parlamento. Tais características demonstram
que a maneira com a qual o parlamentar brasileiro se mostra para o grande público
não é bem definida, passando de um parlamentar localista para padrões de
websites com ênfase a atividade.
No que se refere à utilização de novas mídias e redes sociais, os deputados
federais são com 79,5% dos parlamentares e com os deputados estaduais apenas
com 65,2%. No Paraná apenas uma pequena parte dos parlamentares que fazem
uso de novas mídias 25,2% tem como a ferramenta mais utilizada o YouTube, e
boa parte dos mesmos (62,1%) já dispõe de twitter fazendo com que o eleitor tenha
acesso a mais informações sobre a atuação do parlamentar. Já em nível federal
observamos um faz um uso mais intenso dessas novas mídias, com 76,9% de
deputados “twitteiros” e 43,6% fazendo uso do youtube e Orkut (48.7%).
Tabela 10: Uso de mídias sociais nos websites das elites parlamentares
Estadual Federal Total N % N % N % 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%twitter 41 62,1% 30 76,9% 71 67,6%youtube 17 25,8% 17 43,6% 34 32,4%FACEBOOK 16 24,2% 18 46,2% 34 32,4%orkut 34 51,5% 19 48,7% 53 50,5%myspace 1 1,5% 0 ,0% 1 1,0%sonico 1 1,5% 0 ,0% 1 1,0%delicious 66 100,0% 39 100,0% 105 100,0%linkedin 66 100,0% 38 97,4% 104 99,0%
Basede dados Vigilantes da Democracia
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Conclusões
Através dessa análise parcial podemos encerrar esta monografia enunciando
de maneira sistemática algumas conclusões gerais e inferências dos dados
anteriormente apresentados.
Com efeito, as conclusões parciais demonstram que existe a necessidade do
aprofundamento das formas de avaliação do uso da Web pelas elites políticas,
principalmente no que se refere às formas de accountability e monitoramento, o que
por si só geraria um aumento da eficiência e da transparência das atividades
desenvolvidas pelos parlamentos. Além disso, existe a necessidade de uma
aplicação dos meios e espaços de participação e interação dos eleitores com seus
eleitos, a fim de criar uma democracia que uso os meios virtuais como uma
ferramenta de inclusão dos agentes no meio político.
Vimos também que a maior parcela dos websites não foi usada mecanismo de
“interação, de participação ou para criar vias de deliberação com o cidadão-
internauta, mas sim foram utilizados como “outdoors virtuais” dos candidatos a fim
de exibir mecanismos “top down” de divulgação de propostas de candidatos.
Quanto ao seu conteúdo, a maioria dos websites foi utilizada como
mecanismo de divulgação e difusão de políticas mais localizadas e voltadas para a
transferência de recursos e execução de obras e serviços em comunidades locais,
numa prática que, somada à ostentação da personalidade individual do candidato
nos sites, podemos qualificar como “clientelista”. Entretanto, não devemos inferir
daí que o tipo de websites “clientelista” (outdoor virtual personalizado com ênfase
em políticas locais) tenha sido o tipo dominante entre todos os políticos. Como
vimos, tais tipos de websites estavam desigualmente distribuídos pelas diferentes
legendas partidárias.
Como problemas não resolvidos e uma agenda de pesquisa que deriva da
análise efetuada anteriormente, podemos destacar: a) A necessidade de refinar e
tornar mais objetivos os critérios para análise de conteúdo dos websites, a fim de
agregar novos elementos à análise de conteúdo além dos empregados acima; b) A
necessidade de incorporar outras variáveis, a fim de verificar se o uso diferenciado
dos tipos de websites pelos diferentes candidatos se relaciona com outras variáveis
tais como escolaridade, gastos de campanha, patrimônio e estrato social; c) A
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necessidade de elaborar testes estatísticos mais sofisticados e modelos causais
mais precisos a fim de verificar os determinantes do uso diferencial dos websites
por subgrupos de candidatos; d) Por fim, devemos destacar a necessidade de
aplicar mecanismos mais sofisticados de análise qualitativa de conteúdo de
websites a fim de relacionar as mensagens substantivas difundidas por este veículo
com outras dimensões da atividade e do comportamento políticos dos atores
observados.
São estes alguns dos principais problemas de pesquisa que, a nosso ver,
derivam da análise efetuada acima bem como da ampla massa de informações que
coletamos e armazenamos durante nossa investigação.
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