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8/18/2019 Elites Políticas Limoeirenses Estratégias e Discursos Para Novos Espaços de Atuação e Poder (1934 – 1972)
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Elites Políticas Limoeirenses: Ações e Discursos rumo a umaconsolidação. (1930- 1945)
Cintya Chaves*
Resumo: Este trabalho tem como proposta discutir as ações e os discursos que legitimaram ederam ordem e significado a um processo político desempenhado por uma família Limoeirense,no caso, a família Chaves, em prol de consolidar os espaços que já tinham conquistado e que possibilitavam oportunidades singulares em relação aos outros sujeitos. O mesmo aindavislumbra estratégias que esta família articulou em prol de ampliar estes espaços, com oobjetivo de cada vez mais serem detentores do poder político não só municipal, mas tambémestadual. Para isto, foram utilizados como fontes cartas pastorais, bem como outros documentosde caráter eclesiásticos, livros memorialísticos, entrevistas e acervos orais.
Palavras- Chave: Elite, Cultura Política, meios de poder.
Prelúdio
As presentes linhas, e as que hão de vir, ensaiam estudar o protagonismo das
elites políticas de Limoeiro do Norte, traduzido através da atuação de uma família, que
tem por sobrenome, Chaves, no período de 1930 a 1945.1 Este caráter ensaístico
“revela-se” pelo fato de esta pesquisa estar em sua fase inicial. Não obstante a maior
parte das fontes já estarem catalogadas e, minimamente, inventariadas, nem todas foram
contempladas pelo o processo de análise. Além disto, as problematizações bem como as
reflexões acerca do objeto, se encontram em etapa de maturação.
Mesmo sabendo de todas as ressalvas que a historiografia possui ao termo elite,
e das implicações do fazer historiográfico, as lacunas, as seleções dos fatos, o dito e o
não dito, a escrita acerca do objeto, este trabalho, almeja contribuir para a historiografia
cearense a respeito do estudo das elites locais e da proficiência deste conceito, como
chave de leitura para o historiador.
Nesse sentido, é importante esclarecer a compreensão deste estudo no que diz
respeito ao termo elite:
* Mestranda em História e Culturas pela Universidade Estadual do Ceará, integrando a linha de pesquisa,
Memória, Oralidade e Cultura Escrita. Bolsista CAPES. Este artigo é fruto de pesquisas prévias no processo de elaboração da dissertação intitulada, Elites Políticas Limoeirenses: estratégias e discursospara novos espaços de atuação e poder (1934 – 1972), sob a orientação do Prof. Dr. William JamesMello. 1
No tocante a seleção espacial para este trabalho, o município de Limoeiro se situa na região do BaixoJaguaribe, estado do Ceará. Quanto ao recorte temporal, de 1930 a 1945 se justifica essencialmentedevido ao caráter inicial da pesquisa.
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2
[...] O termo elite corresponde a “minoria que dispõe, em uma sociedadedeterminada, em um dado momento, de privilégios decorrentes de qualidadesnaturais valorizadas socialmente (por exemplo, a raça, o sangue etc.) ou dequalidades adquiridas (cultura, méritos, aptidões, etc.)”. O termo pode
designar tanto o conjunto, o meio onde se origina a elite (por exemplo, aelite operária, a elite da nação), quanto aos indivíduos que a compõem, ouainda a área na qual se manifesta sua preeminência plural, a palavra“elites” qualifica todos aqueles que compõem o grupo minoritário que ocupaa parte superior da hierarquia social e que se arrogam, em virtude de suaorigem, de seus méritos, de sua cultura ou de sua riqueza, o direito de dirigire negociar as hierarquia social e que se arrogam, em virtude de sua origem,de seus méritos, de sua cultura ou de sua riqueza, o direito de dirigir enegociar as questões de interesse da coletividade [...] (BUSINO, APUDHEINZ, 2006)
Sobre o estudo das elites2, compreende-se ainda que os indivíduos não são elites, mas
estão como elites, portanto, a condição básica das análises da elite apresenta-se nadimensão de que esta possui um caráter eminentemente posicional, tanto de poder
quanto de status.
Para tanto, a ampliação de poderes, dentre as muitas possibilidades, proporciona
ao indivíduo ou aos indivíduos, novos contatos na esfera, no caso política, tendo como
estratégia a constituição de um grupo cada vez mais coeso, pelo menos é o que se é
demonstrado socialmente, diante da ação política e ideológica. Vale ressaltar que esta
ideia de transmitir, de se apresentar socialmente como um grupo coeso, tem como
propósito fundamental, o de demonstrar para a sociedade, em especial no caso das elites
políticas, para a população votante, como o grupo mais equilibrado, como a melhor
opção de governo para a comunidade.
No caso, dos Chaves, eles usaram e ainda usam através da produção de livros de
memória, a ideia de família unida, da hereditariedade, ou seja, que vem do sangue, “o
dom” que os membros desta família possuem para administrar politicamente os cargos
públicos. Assim, a elite é um grupo; apesar de estar composta de indivíduos, ela se
comporta como grupo. (BORGES, 2011).
2
Sobre a teoria das elites atribui-se aos italianos Vilfredo Pareto (1848-1923); Gaetano Mosca (1858-1941), principalmente, mas também ao alemão Robert Michels (1876- 1936), o “mérito” de suaformulação.
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“Rastros Impressos”: Conhecendo os Personagens
Um irmão de Sindulfo e do Pe. Climério, Leonel Chaves, que morreu em1919, tornou-se deputado, dando cobertura estadual, em Fortaleza, ao
domínio dos Chaves, em Limoeiro. [...] Além da dominação cartorial, osChaves controlavam, muitas vezes, através dos vigários da paróquia, o poder eclesiástico. [...] (LIMA, 1997: 322- 323)
Judite Chaves, José Gondim Chaves e Franklin Chaves são irmãos e filhos de
Sindulfo Freire Chaves e de Dulcinéia Gondim Chaves. O pai destes foi agropecuarista,
gerente dos bondes de burros, em Fortaleza e prefeito de Limoeiro nos anos de
1933/1934. A mãe foi professora. Judite Gondim Chaves casou-se em 1924 com
Custódio Saraiva Menezes, que de 1935 a 1936 exerceu o seu primeiro mandato como
prefeito eleito de Limoeiro, e o seu segundo mandato durante oito anos de governo,1937 a 1945, como interventor. Assim, Judite passaria a se chamar Judite Chaves
Saraiva. Esta foi indicada pelo padre Manoel Caminha Freire de Andrade, conseguindo
a liderança da Liga Eleitoral Católica: “Durante várias décadas, dona Judite comandou
com sabedoria e equilíbrio, o seu grupo político, elegendo vários prefeitos e dezenas de
vereadores”. (NUNES, 2006: 32 - 40).
Ao observarmos o jogo político, nota-se que a prefeitura de Limoeiro, durante a
maior parte do período varguista, esteve sob o mando da família Chaves, do sogro parao genro, e com outros membros da família e aliados muito próximos compondo a
bancada de vereadores. Destarte, percebemos uma elite atuando na arena política de
Limoeiro. Mas será que se tratava de um grupo qualquer? Qual o lugar social que a
família Chaves já ocupava? Quais estratégias esse grupo traçou? Conforme Lauro de
Oliveira Lima:
[...] Com a instalação da vila (1873), intensifica-se a liderança dos Chaves,
(São João), com a nomeação de Serafim Tolentino Freire Chaves, tabelião e, posteriormente, comandante da Guarda Nacional. [...] Permaneceu comolíder até 1914, quando faleceu. [...] O controle do poder, na comunidade,oscilava sempre entre os detentores da burocracia (sobretudo os cartórios) eos mercadores enriquecidos. [...] (LIMA, 1997: 318.)
Para Oliveira Lima, Serafim Tolentino Chaves foi o patriarca dos Chaves, referindo-se
ao fato deste ter sido o primeiro tabelião de Limoeiro. O tabelionato se constituiu
relevante para que sua família se estabelecesse politicamente, por ser um importante
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componente de integração da matriz de poder 3 da época para se instituir como uma
elite, como o próprio Oliveira evidencia. É necessário entender que o cartório
possibilitava ações políticas que fortaleciam o controle centralizador da família Chaves:
[...] O cartório jamais perdeu seu valor instrumental na manipulação dosalistamentos (aquisição do título de eleitor), de modo que, através dele, osChaves, mesmo fora do poder, no Estado, continuavam a fraudar as eleiçõesem Limoeiro, de fato que estourou, finalmente, na gestão de dona Judith,quando um juiz mandou proceder a uma devassa. [...] (LIMA, 1997: 338)
Apesar da oscilação por alguns períodos do domínio exercido pelos Chaves à frente da
administração municipal, constata-se que os mesmos, por décadas, por meio de Sindulfo
Freire Chaves, filho de Tolentino Chaves, e os netos, José e, em especial, Judite e
Franklin Chaves, filhos de Sindulfo, ocuparam no panorama limoeirense um controle,
como já mencionado, não somente se estabelecendo, mas se consolidando, haja vista
deterem o poder desde a emancipação do município.
Segundo o historiador João Rameres Régis, nesses primeiros anos da década de
1930, os Chaves estavam retomando a posição de mando, abalado com o evento da
Revolução. Nesse sentido, juntamente com esta restabilização, a família ajustou e ao
mesmo tempo ratificou uma cultura política:
[...] Na década de trinta, mudou-se para a casa onde morou cinquenta ecinco anos, [...] Nela Judite e Custódio comemoraram as Bodas de Prata, as
Bodas de Ouro; [...] Muitos outros eventos pôde-se registrar, tais como: festas religiosas, natais, [...], recepções e comemorações políticas. (FEIJÓ,2006: 28)
Escrito por Lirete Saraiva, filha de Dona Judite, em homenagem ao centenário de sua
mãe, esse trecho se torna revelador no que diz respeito ao dia-a-dia do ambiente mais
“íntimo” constituído por esses agentes. Ou seja, nota-se que a casa de Judite se
configurava como um espaço aglutinador da elite, em que os eventos da margem
política como festejos, recepções realizavam-se em sua casa. Assim, nesta passagem
3 É necessário compreendermos que o conceito de Elite é variável, o que entendemos ser elite nacontemporaneidade não se relaciona da mesma forma com o que foi entendido no passado. O termomatriz de poder está relacionado ao termo, meios de poder, que possuem uma proporção dinâmica, ouseja, os meios de poder utilizados por uma elite no Império, na maioria das vezes não são os mesmosutilizado pela Elite, da ou na República. No caso, da família Chaves o comando do cartório se tornoumeio que “transcendental” aos anos, sendo, portanto um meio de poder para se estabelecer e se consolidarnas diversas esferas sociais, em especial na área da política, em meio as supostas “rupturas”, na
perspectiva do macro, como por exemplo, a Revolução de 1930.
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pode-se conjecturar que a casa foi instrumentalizada e instituída como um lugar da
prática política dos Chaves, onde o público e o privado, em uma relação de
entrelaçamento, mutuamente serviam para nutrição da força de ambas as dimensões.
Outra filha de Judite, Lenira Saraiva, declara:
[...] Em nossa casa, os mais humildes se sentiam amados e respeitados porela e, os mais abastados, inclusive as lideranças políticas sentiam-se àvontade no meio de tamanha disponibilidade de dona Judite. Confesso que,quando era adolescente, me cansava e até reclamava de ter que sersimpática para toda aquela gente. Nossa casa assemelhava-se a um lugar
público, onde tudo era de todos. [...] ( CASTRO, 2006: 31-32)
Em sua narrativa permeada por afetividade devido aos laços de parentesco, Lenira
Saraiva, “representa” a casa como um recinto em que a população se sentia à vontade para se achegar com os seus anseios. Ainda faz conhecer como tão bem Judite
articulava esse espaço concebendo-o como ponto de intersecção para os diferentes
grupos sociais. É de suma importância se perceber a força simbólica desse gesto, tanto
de congregar os mais humildes, como os da mais alta renda em seu lar, convivendo com
os diferentes grupos necessários para a manutenção e fortalecimento do poder da sua
família política.
Usando a imaginação histórica tem-se a impressão de que nessa época todas as
ações, assim como as idealizações políticas, perpassavam a atmosfera da casa do
prefeito.4 Deve-se refletir ainda que tal ação era uma estratégia política que visava
estabelecer laços de confiança tanto com os “dominantes” como com os “dominados”,
pois a elite instituiu certos códigos para que assim pudesse estabelecer o seu domínio,
em especial sobre a população. (HALEVY, 1982:11).
Este proceder de Judite Chaves tornava consistentes os atos sociais e políticos,
atribuindo, portanto, sentidos e significados aos processos políticos, isto é, essa relação
próxima em especial com o povo tornava bem mais fácil a concretização de seus
interesses e do seu cônjuge Custódio Saraiva, como do seu grupo em si. Assim, a
conduta desta “família política”, tinha como consequência o êxito dos seus candidatos
preferidos:
[...] Os votos que ela conquistava eram mais dela do que do própriocandidato. Tratavam-se de votos de amizade, conquistados carinhosamenteao longo do tempo, entre ela e o eleitor. Um pedido de dona Judite aos seus
4 Pode-se hipoteticamente até pensar que talvez essa casa fosse usada mesmo quando a prefeitura nãoestava nas mãos dos Chaves.
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amigos e compadres era mais do que uma ordem. Mamãe, no meu modo dever, foi a pessoas mais querida e conhecida na região jaguaribana, na épocaem que viveu. Também pudera, em nossa residência, costumava recebertodos com muito carinho e atenção, oferecendo um cafezinho, uma merenda,um sorriso, um assento, um almoço, uma palavra amiga, um conselho, umadica, enfim, tudo aquilo que a pessoa desejasse. É preciso notar que, estas
boas ações, ela as realizava em todas as épocas, independentemente do período de eleição. [...] (CASTRO, 2006: 31)
É interessante compreender que um dos aspectos “sutis” das estratégias utilizadas pela
elite consistia na troca de vantagens por votos. Esses benefícios não correspondiam
somente aos bens materiais como dar empregos ou até mesmo moradias, mas também
em aspectos imateriais como tratamento privilegiado pelas autoridades seja bem “antes”
da eleição, como no próprio período, intuindo que os eleitores se sentiriam “na
obrigação moral (ou achariam que era de seu interesse) votar nos doadores – ou até detrabalhar em favor do partido doador.” (HALEVY, 1982: 20- 21)
A este respeito, vale enfatizar os vínculos que se estabeleciam. Eles integram
uma cultura política e ou uma moldura cultural no qual os diferentes atores sociais se
movimentavam e estavam inseridos. Esses vínculos, provavelmente, eram mais
permanentes, duradouros, e extrapolavam o período eleitoral que é mais fugaz, embora
essas estratégias visassem sempre à vitória nos pleitos.
A fidelidade dos indivíduos também se compunha importante para as disputas
sociais, seja com os adversários nos mais diversos temas, desde a possibilidade de
adquirir um lugar num órgão público para um correligionário, ou até mesmo o controle
das organizações sociais que se criavam no município. O fato é que, nessa relação de
um pedido de Judite aos seus amigos e compadres ser mais que uma ordem,
perpassaram noções e sentidos que foram inteligíveis aos que atuavam nesse processo.
A esse respeito Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro afirmam:
[...] No nosso entender, a noção de cultura política refere-se ao conjunto deatitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado a um processo
político, pondo em evidência as regras e pressupostos nos quais se baseia ocomportamento de seus atores [...] (KUSCHNIR &CARNEIRO, 1999: 1-33).
Existiu uma relação bem demarcada entre os agentes envolvidos na tessitura
política deste período, em Limoeiro. Essa obediência dos amigos à Dona Judite é bem
típica da política mandonista, que para José Murilo de Carvalho:
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[...] Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadasde poder. O mandão, o potentado, o chefe, ou mesmo o coronel comoindivíduo, é aquele que, em função do controle de algum recurso estratégico,em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio pessoal earbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade
política. O mandonismo não é um sistema, é uma característica da política
tradicional. [...] (CARVALHO, 1997)
Esses amigos eram “privilegiados”, como afilhados, obtendo a proteção de Dona Judite.
Nessa peça, cada um possuía o seu papel bem definido, pois a lógica da gratidão com
relação aos favores recebidos e a proteção, elementos de uma relação duradoura e de
vínculos instituídos na tradição política, que os mesmos se beneficiavam, era o fato de
ceder o seu voto para os candidatos apoiados por dona Judite, intitulada por Lauro de
Oliveira Lima como “mulher de cabelo na venta”:
[...] É preciso destacar um personagem que atuou na vida política de Limoeiro, de forma contundente: dona Judith Chaves, mulher de “cabelo naventa”, esposa de Custódio Saraiva. Era chamada de “Coronel de Saia”.[...] Dona Judith era o cacique que se misturava com seus cabras como
Maria Moura do romance de Rachel de Queiroz. Querida por seuscorreligionários, odiada pelos adversários, pairava acima da maledicênciamunicipal. (LIMA, 1997: 333 – 334)
Dona Judite foi descrita, como quem exercia o poder político, usando dessas
relações de dependências, desses mecanismos de aquisição e de reprodução do poder político, características de uma política tradicional, que burlou os anos.
É importante destacar que a centralidade do poder da família Chaves recaia
principalmente na ação de Judite e de Franklin Chaves, tanto ao assumirem postos
importantes, como na elaboração de estratégias políticas para a permanência do seu
grupo no poder. Vale salientar, que quando se fala de grupo pode-se pensar também a
família na dimensão política, do parentesco que se estabelece para além da
consanguinidade. Há códigos que são partilhados pelo grupo, daí deve ser consideradatambém a dimensão simbólica do poder.
Assim, a partir da década de 1930, os Chaves terão duas figuras que se
destacarão em detrimento dos outros membros da família. São estes, Judite Chaves,
abordada nesta pesquisa e Franklin Chaves, seu irmão, que nesta oportunidade não foi
praticamente citado, mas outros “capítulos” serão editados e reeditados a respeito dos
rastros impressos pela família Chaves.
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Década de 1930: articulações quanto aos “novos” espaços de atuação
e poder
A LEC [...] liderada por Dona Judite [...], no caso de Limoeiro do Norte,tornou-se tão forte no Ceará que chegou a eleger um governador, no caso, o
Dr. Menezes Pimentel. A partir daquela fase política cearense, dona Judite revelou-se a liderança política mais forte da cidade de Limoeirodo Norte, conseguindo eleger vários prefeitos municipais, dentre eles, oseu irmão José Gondim Chaves. [...] as eleições de dois de Dezembro de1945, [...] nesta ocasião que Franklin Chaves, irmão de Dona Judite,começou a sua brilhante participação na política do Ceará, elegendo-sedeputado estadual por sete legislaturas seguidas. (NUNES, 2006: 32 - 40)
Antonio Pergentino Nunes, autor deste trecho, é escritor memorialista de
Limoeiro do Norte e foi, “pode-se dizer que ainda é,” integrante político do grupo
Chaves. Este fragmento de sua autoria fornece indícios quanto aos meios de poder
utilizados pela família Chaves pós década de 1930. A fonte “sugere” que a partir da
Liga Eleitoral Católica - LEC5 as práticas políticas da família Chaves foram
intensificadas em Limoeiro, e que a liderança exercida por um de seus membros, neste
citado partido, possibilitou oportunidades de acessos a outros cargos tidos social e
politicamente como mais importantes.
A ascensão da família Chaves a cargos que conferem ao indivíduo a ideia de
prestígio, (MILLS, 1968), caracterizada por assumir postos de liderança, bem como
cargos de caráter institucional, sócio culturalmente considerados como valorosos e
respeitáveis, como por exemplo, em instituições educacionais e de saúde, no caso dos
Chaves6, foi uma das estratégias e ou táticas, dependendo do lugar de referência no qual
visualizamos esta família. Segundo Michel de Certeau a “estratégia” seria articulada
pelos produtores, um sujeito de querer e poder, e se apoia no lugar, “[...] as estratégias
escondem sob cálculos objetivos a sua relação com o poder que os sustenta, guardado pelo lugar próprio ou pela instituição [...]” (CERTEAU, 1994: 46 - 47).
5 A Liga Eleitoral Católica, LEC, se estabeleceu como um movimento de grande relevância para o Ceará.
Criada em 16/12/1932, era mais uma das estratégias encontrada pela Igreja de se restabelecer nasociedade a confessional e garantir a não extinção dos princípios cristãos como também abalizar sua
presença como instituição.6 Judite, juntamente com Franklin, com comerciantes e coronéis da cera de carnaúba, criaram a Sociedade
Pró Rural atualmente conhecida como Escola Normal Rural de Limoeiro, na época do integralismo, 1934.Assume a posteriori a presidência da Maternidade São Raimundo, criada em 1942, devido a chegada da
Diocese na cidade, e na década de 1960 torna-se Diretora Administrativa da Escola Normal Rural (1962/1970).
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Nesse sentido, no âmbito de Limoeiro, os Chaves são estes sujeitos do querer e
do poder, respaldados pelos cargos institucionais, o lugar; que possibilitou acessos
outros e, experiências, tidas como socialmente importantes, que os demais Limoeirenses
não tiveram oportunidades de desfrutar. No que diz respeito às táticas, Certeau explica
que elas se caracterizam pelo “o não lugar”. Do ponto de vista deste estudo, este
conceito não pode ser aplicado na íntegra, pois apesar de, os Chaves, quando
relacionados com os atores que administraram a política nacional, serem agentes
comuns, produzindo táticas, inventando o cotidiano, o lugar municipal que eles
detinham, ainda foi suporte de apoio. Assim, o termo, tática, não é pensado em sua
probidade, conforme a perspectiva do autor referido.
A grande questão é que agregado aos cartórios o grupo foi articulando novos
espaços de atuação e poder e isto possibilitou a personificação deste, e de seu
sobrenome em variadas instâncias, no processo de disputa pela memória.
Alguns indicativos, levam a crer que o controle da Liga Eleitoral Católica
permitiu aos Chaves um maior contato com Menezes Pimentel:
A Comissão conseguiu, de pronto, do Interventor Francisco Menezes
Pimentel , os outros cem contos de réis em apólices do Estado, mercê do prestígio político de seus integrantes. ( BRANCO, 1997: 178)
A epígrafe citada refere-se à disputa pela instalação da Diocese no vale do Jaguaribe,
por volta de 1936. As cidades que integravam esta disputa eram Russas, Aracati e
Limoeiro do Norte, destacada pelos memorialistas e pelo discurso da própria elite que
liderava o comitê, como a cidade menos cotada para tal empreitada. Esta comissão que
o trecho aborda foi integrada por Hercílio da Costa Silva, Gaudêncio Ferreira de Freitas,
Custódio Saraiva Menezes e Odilon Odílio Silva. Nesta corrida em busca da instalação
da Diocese, em 1938, Limoeiro do Norte conseguiu ganhar, e um dos grandes
ressentimentos em especial dos indivíduos russanos envolvidos neste processo é o fato
da Comissão ter conseguido uma parte do dinheiro necessário para instalação devido “a
seu prestígio político”.
Por esta epígrafe percebe-se que a relação com o interventor era de proximidade.
O fato de Menezes Pimentel, também eleito pela LEC, ter cedido a Limoeiro, não
obstante a disputa pela Diocese incluir outros dois municípios do vale do Jaguaribe,
pode possibilitar estabelecer a hipótese de que a Liga Eleitoral Católica em Limoeiro se
destacou em detrimento a essas outras localidades.
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A conquista da Diocese foi mediada fundamentalmente pelas relações políticas
já empreendidas pelo grupo, sendo, portanto, utilizada por estes como uma maneira de
mostrar para a sociedade limoeirense a eficácia dos seus líderes, em especial de
Custódio, que integrava a comissão. Assim, no âmbito do discurso foi muito bom para
esta elite; foi uma vitória política, pois em cima disto, dentre outras ações, como já o
controle da prefeitura, eles efetivaram sua estabilização no pós 1930.
Para além do âmbito do discurso a conquista da Diocese foi um grande
empreendimento das elites políticas locais, foi um “ganho”. Pode-se conjecturar que era
um sonho da elite transformar a localidade em uma cidade grande , “[...] Limoeiro
daquele tempo era quase nada comparada com Aracati e Russas. [...]” ( BRANCO,
1997: 178). Os componentes que integravam a Comissão sabiam que com a presença da
Diocese despontariam uma série de empreendimentos7 urbanos e de vantagens para
Limoeiro tendo como consequência também, ganhos políticos no que diz respeito tanto
a novos espaços de atuação, como a uma esfera de contatos mais ampla, bem como a
personificação dos indivíduos que estavam no poder, no caso, eles próprios.
A indicação de Judite Chaves para ser líder da LEC deve-se ao fato da relação
que a família já cultivara com a Igreja Católica, desde o advento Imperial. Segundo o
memorialista Lauro de Oliveira Lima, a família Chaves detinha o poder eclesiástico, e
os padres que em algum momento se “rebelavam” contra o grupo eram normalmente
transferidos de Limoeiro.
Observa-se que a liderança da Liga Eleitoral Católica na década de 1930 foi
fundamental para a família se estabelecer e eleger seus candidatos, como por exemplo,
José Gondim Chaves, prefeito de Limoeiro, Franklin Chaves, vereador, e Custódio
Saraiva. Os dois primeiros irmãos de Judite Chaves, e o último esposo, que inclusive foi
nomeado interventor do município por Menezes Pimentel.
Assim, a Liga Eleitoral Católica foi um dos principais meios de poder utilizado pelo grupo Chaves, na década de 1930, podendo ser percebido como um grande passo
rumo a uma consolidação e ratificação no universo político devido à ampliação de
poderes, que dentre as muitas possibilidades, proporciona aos indivíduos, novos
contatos nesta esfera.
7 A este respeito à Comissão estava certa, pois umas séries de edificações foram sendo efetuadas, como a
Maternidade em 1942, o Ginásio Diocesano também em 1942, a Comarca em 1946, o Patronato SantoAntônio dos Pobres, o Tiro de Guerra e o Seminário em 1947, Liceu de Artes e Ofícios e a Rádio Vale em1953, entre tantos outros empreitadas arquitetônicas.
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Efetivamente os acessos e oportunidades da família na esfera política foram
expandidos e mesmo com o fechamento da LEC, o poder político se mantém na família.
Não obstante o término da ditadura, eles retornam como partido, sob as vestes do PSD.
Assim, esta família vai se metamorfoseando até certo ponto, pois conserva em sua
política um tradicionalismo exacerbado, e consegue atuar por vários anos na política
Limoeirense, chegando a içar cargos políticos até de âmbito estatal.
Considerações Finais
O estudo das Elites é mais uma forma de leitura da dinâmica social. Entretanto,
não dá para ignorar que estes sujeitos da sociedade, que são minoria, usufruem, de
modo geral, de acessos, de prestígio, de dinheiro e poder, (MILLS, 1968:17), que uma
maioria não se beneficia.A História que inerentemente possui em seu bojo a denúncia, a problematização,
a desconstrução de retóricas, busca traduzir e entender os sentidos e os significados que
fomentaram um passado a luz de questões do presente. Nesta relação passado e presente
sabe-se que não há uma linha que determine o fim de um, para que se inicie o outro.
Assim, as diversas questões sociais, por vezes inquietantes neste “presente”, que é
permeado por implicações decorrentes de um “passado”, foram construídas
historicamente e são remontadas a partir do lugar e da época em que os indivíduosatuam.
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