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JESUÍTAS BRASIL

Em Companhia - Informativo da Companhia de Jesus no Brasil

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16ª Edição (Especial) | Julho 2015

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  • JESUTAS BRASIL

  • 4 5Em Em

    sumrio edio esPeCiAL | ANO 2 | juLHO 2015

    EditorialCelebrando Santo Incio de Loyola

    CalEndrio litrgiCo

    Companhia dE jEsus pErEgrinos Em missoDe Loyola a Manresa: Peregrinando como Incio

    EspECialQuem foi Incio de Loyola?

    6

    7

    8

    12

    Por meio daauto-observao, ele passou a notar que as ambies mundanas lhe causavam alegrias efmeras, meros prazeres, ao passo que a entrega a Jesus Cristo lhe enchia o corao de uma alegria duradouraPe. Joo Quirino Weber, assistente espi-ritual da direo do Colgio Catarinense, orientador de exerccios espirituais, assessor da CVX e escritor

  • 4 5Em Em

    EmJESUTAS BRASIL

    ExpEdiENtE EM COMPANHIA uma publicao mensal

    dos Jesutas do Brasil, produzida pelo Ncleo

    de Comunicao Integrada (NCI)

    ContAto [email protected]

    www.jesuitasbrasil.com

    diretor editoriALIr. Eudson Ramos

    editorA e JornAListA resPonsVeLSilvia Lenzi (MTB: 16.021)

    redAoJuliana Dias

    diAgrAmAo e edio de imAgensDimas Oliveira

    FotosBanco de imagens / Divulgao

    Dimas Oliveira

    Loyola University de Chicago (EUA) - pg. 22

    Center for International Forestry Research (CI-

    FOR) - pg. 20

    A equipe do NCI agradece os jesutas que cola-

    boraram nessa edio especial.

    o ministrio dE unidadE na igrEja santa sIncio de Loyola e a fundao da Companhia de Jesus

    goVErnoCompanhia de Jesus: uma Ordem ativa e inovadora

    promoo da justia E ECologiaInspirados pela mstica inaciana

    EduCaoSanto Incio e a educao

    sErVio da FIncio de Loyola: santo dos tempos novos

    16

    18

    20

    22

    24

    InformatIvo dosJesutas do BrasIl

  • 6 7Em Em

    Mais uma vez, estamos celebrando Santo Incio de Loyola. O

    dia 31 de julho data significativa para ns, jesutas, para vrias

    congregaes religiosas de inspirao inaciana e para muitos lei-

    gos que realizam sua misso atravs da Companhia de Jesus.

    Desde o dia 16 de novembro de 2014, somos uma nica Pro-

    vncia Jesuta no Brasil. A criao da nica provncia fruto de

    muita escuta dos apelos de Deus, de reflexo, de discernimento,

    de partilha e de tomada de decises. Por ocasio da Festa de Santo

    Incio, somos convidados a agradecer por todo bem que a Com-

    panhia de Jesus realizou no Brasil at hoje e a pedir para que ,

    como um nico corpo apostlico, com renovado ardor apostli-

    co e com fidelidade criativa, luz da espiritualidade inaciana e

    atentos aos apelos de Deus, continuemos a bonita misso que o

    Senhor nos confia como Companheiros e Amigos no Senhor.

    Celebrar a festa de Santo Incio nos leva, como servos humildes

    de Cristo, a agradecer a Deus pelo dom que o carisma inaciano na

    vida da Igreja e na vida de tantas pessoas em particular. Tudo dom

    e graa. Assim como Incio e os primeiros companheiros busca-

    vam unicamente fazer a vontade de Deus, assim tambm ns, hoje,

    jesutas e colaboradores, somos chamados a sermos fiis a Cristo,

    colocando-nos inteiramente a servio da Igreja e da humanidade.

    Como nico corpo apostlico, queremos ir ao encontro das

    pessoas que vivem nas fronteiras da humanidade, s margens da

    sociedade e que perderam a esperana crist. Queremos partilhar

    nossos recursos materiais e humanos, colaborando com outras

    entidades afins, colocando-os a servio da vida e da misso. Aci-

    ma de tudo, queremos ser presena de esperana, de reconcilia-

    o e de testemunho da Alegria do Evangelho. Para isso, implora-

    mos ao Senhor o seu amor e a graa de sermos prontos e diligentes

    em cumprir sua Santssima Vontade (EE 234).

    Que Deus nosso Senhor, pela intercesso de Santo Incio,

    nos abenoe e envie sobre ns a fora do Esprito, mantendo-

    -nos unidos a Cristo e misso que Ele nos confia, levando a Boa

    Nova a todos os povos.

    editoriAL

    CeLebrAndo sAnto inCio de LoyoLA

    Pe. Joo renato eidt, SJProvincial dos Jesutas do Brasil

    Celebrar a festa de santo InCIo nos leva, Como servos humIldes de CrIsto, a agradeCer a deus pelo dom que o CarIsma InaCIano na vIda da Igreja e na vIda de tantas pessoas em partICular. tudo dom e graa.

  • 6 7Em Em

    CALendrio LitrgiCo

    So Bernardino Realino, presbtero

    So Joo Francisco Rgis, presbtero

    So Francisco de Jernimo, presbtero

    Bem-aventurado Juliano Maunoir, presbtero

    Bem-aventurado Antnio Baldinucci, presbtero

    Bem-aventurado Incio de Azevedo

    e companheiros mrtires

    Santo Incio de Loyola, presbtero e Fundador da

    Companhia de Jesus

    em tudo amar e servir.

    calendrio litrgicoPrprio da Companhia de Jesus JuLHo

    DIA 2

    So Leo Incio Mangin, presbtero e mrtir

    Santa Maria Zhu Wu e companheiros mrtires

    DIA 9

    DIA 17

    DIA 31

  • 8 9Em Em

    ComPAnHiA de Jesus pErEgriNOs Em missO

    de LoyoLA A mAnresA: pErEgriNANdO cOmO iNciO

    LoyoLA

    esPAnHA

    esPAnHA

    FrAnA

    reino unido

    itLiA

    PortugAL

    mAnresA

    ViVer A eXPerinCiA de inCio

    Em 1521, enquanto defendia da invaso francesa a cidade de Pamplona, Navarra (Espanha), Incio de Loyola foi ferido na perna por uma bala de canho. Esse fato obrigaria o jovem, que at ento era agitado e vai-

    doso, a recolher-se para que pudesse recuperar-se. Assim,

    nesse perodo, Incio passa por uma transformao espi-

    ritual que o leva a sua converso.

    No ano seguinte, j recuperado, Incio de Loyola deci-

    de abdicar de seu estilo de vida e iniciar uma peregrinao

    de Loyola a Manresa. Durante o percurso, de cerca de 700

    grupo de australianos percorrendo o Caminho inaciano em setembro de 2013 (fonte: ignatiancamino.com)

  • 8 9Em Em

    Quando Incio decidiu fazer a peregrinao, sua famlia ficou preocupada. Por isso, antes de iniciar seu caminho, ele pede a proteo de Nossa Senhora de Aranzazu.

    O Caminho Inaciano comea no Santurio de Loyola, casa onde Incio nasceu, em 1491. Com o desejo de conhecer mais de perto a vida do fundador da Companhia de Jesus, turistas e peregrinos procuram o local.

    Os 700 quilmetros percorridos por Incio, em 1522, servem como inspirao para milhares de peregrinos nos dias de hoje

    LoyoLA

    ArAntzAzuzumrrAgA ArAiA ALdA geneViLLA LAguArdiA nAVArrete

    quilmetros, ele tem um encontro profundo com Deus.

    Aps dois meses de peregrinao, Incio conclui o itine-

    rrio ao chegar, em 21 de maro de 1522, a Manresa, local

    onde iniciaria um retiro espiritual de 10 meses, perodo

    em que escreveria os Exerccios Espirituais.

    Hoje, o Caminho Inaciano, como conhecido o per-

    curso, rene centenas de peregrinos todos os anos. Com

    27 etapas, a peregrinao inicia-se na casa natal de Santo

    Incio, em Loyola, e atravessa o Pas Basco, La Rioja, Na-

    varra, Arago e Catalunha. O trajeto, no sentido contr-

    rio ao do famoso Caminho de Santiago, um convite a

    todos que desejam viver a experincia de Incio.

  • 10 11Em Em

    Logroo

    ALCAnAdre

    CALAHorrA

    ALFAro

    tudeLA ALAgn

    zArAgozA

    Fuentes de ebro

    Daqui a sete anos, mais precisamente em 2022, a Compa-

    nhia de Jesus celebrar os 500 anos da peregrinao de Incio

    de Loyola. Com o intuito de impulsionar e potencializar a espi-

    ritualidade inaciana, foi criado o site caminoignaciano.org,

    que traz informaes sobre o percurso. Alm disso, em 31 de

    julho de 2015, dia de Santo Incio de Loyola, o Caminho Ina-

    ciano celebrar seu primeiro Ano Jubilar, que ser

    encerrado em 2016, na mesma data.

    manresa, particularmente, foi especial para mim, pois um dos lugares em que baixar cova no significa morrer, seno encontrar o local em que incio obteve graas divinas, particulares e abun-dantes, e, quem sabe, tambm as contrair. naquele local, baixar cova significa entregar o esprito em orao, na esperana de que deus tambm a nos fale como falou ao santo de loyola no comeo de seu processo de converso.

    Ir. Marcos Epifanio Barbosa Lima, SJJesuta realizou a peregrinao em janeiro de 2013

    gALLur

    Segundo relato em sua autobiografia, durante o percurso entre Gallur e Alagn, Incio encontra um muulmano e os dois discutem questes relacionadas religio. Nesse momento, Deus mostrou-se presente e ambos seguiram caminhos distintos aps a discusso.

    Vista de montserrat durante o caminho na descida em direo a manresa.

  • 10 11Em Em

    ComPAnHiA de Jesus pErEgriNOs Em missO

    buJArALoz

    CAndAsnos FrAgA LLeidA Verd iguALAdA

    montserrAtCerVerAPALAu dAngLesoLA

    VentA desAntA LuCA

    Montserrat, pelo conjunto de rochas forMa uMa Montanha intrigante, que parece uM castelo de areia feito por deus eM sua infncia. dimas oliveira

    mAnresA

    Em 21 de maro de 1522, Incio chega a Manresa, onde abrigou-se em uma cova, vivendo como eremita e mendigo. No local, ele escreveria os Exerccios Espirituais.

    percorrer o Caminho inaciano sozinho e passar em lugares desconhecidos fez com que eu sentisse a presena real de deus em toda a jor-nada. o ponto alto foi o de conhecer montser-rat, que, pelo conjunto de rochas, forma uma montanha intrigante, que parece um castelo de areia feito por deus em sua infncia. Eu espero poder refazer essa experincia sem-pre que puder, pois a peregrinao esconde muitos tesouros nos lugares, nas pessoas que encontramos e em ns mesmos.

    Dimas Oliveira, designer do Ncleo de Comu-nicao Integrada Jovem realizou a peregrinao entre os meses de janeiro e fevereiro de 2015

  • 12 13Em Em

    O fuNDADOr DA COMPANhIA DE JESuS NASCEu NO CAStELO DE

    LOyOLA, EM AzPEItIA, rEGIO bASCA AO NOrtE DA ESPANhA, EM

    1491. fILhO DE fAMLIA CrISt DA NObrEzA rurAL, O CAuLA DE

    13 IrMOS E IrMS fOI bAtIzADO COMO IIGO. MAIS tArDE, ENtrE-

    tANtO, MuDArIA SEu NOME, PASSANDO A ASSINAr INCIO.

    esPeCiAL

  • 12 13Em Em

    Ambicioso das altas cortes de en-to, desde jovem, Incio parecia saber o que queria, conta Pe. Joo Quirino Weber, assistente espiritual da

    Direo do Colgio Catarinense, orien-

    tador de Exerccios Espirituais, asses-

    sor da CVX e escritor. Assim, em 1506,

    quando tinha aproximadamente 15

    anos, colocou-se a servio de Juan Ve-

    lzquez de Cullar, ministro do Tesouro

    Real durante o reinado de Fernando de

    Arago. Aos cuidados do seu protetor,

    Incio recebeu esmerada formao,

    aprimorou sua cultura e tornou-se ex-

    mio cavaleiro, mostrando inclinao

    pelas aventuras militares.

    Mas, para melhor descrev-lo nessa

    poca, vale recorrer sua autobiografia,

    na qual ele relata que, at os 26 anos de

    idade, tinha sido um homem entregue

    s vaidades do mundo. Isso nos reme-

    te a 1517, quando Juan Velzquez cai em

    desgraa e Incio passa a servir ao du-

    que de Njera e vice-rei de Navarra, An-

    tnio Manrique, participando de vrios

    combates militares.

    Em 20 de maio de 1521, ao tentar,

    sem sucesso, proteger Pamplona (capi-

    tal de Navarra) dos invasores franceses,

    Incio ferido por uma bala de canho

    que, alm de partir sua perna direita,

    deixa a esquerda com leses. O feri-

    mento foi, certamente, um momento e

    uma condio para que Incio desse um

    salto qualitativo em sua vida, ressalta

    Pe. Quirino. O fato foi causado pelos

    homens, mas a fora interior foi a graa

    que o iluminou e o fortaleceu para mu-

    dar radicalmente o rumo de sua vida.

    Devemos lembrar que Incio era uma

    pessoa de f, que foi recebida no seio de

    sua famlia e de sua poca.

    Desse modo, o ponto fundamental

    para a converso de Incio foi a leitura

    da Vida de Jesus Cristo, escrita por Lu-

    dolfo da Saxnia, e de uma coletnea

    da Vida dos Santos. Como no castelo

    de Loyola no havia livros de Cavala-

    rias, para ocupar-se, Incio lia o que

    lhe ofereciam. Foi aps o contato com

    esses livros religiosos que ele comeou

    a perceber, com ateno e pacincia,

    as diferentes ressonncias em seu co-

    rao, comenta Pe. Quirino. Por meio

    da auto-observao, ele passou a notar

    que as ambies mundanas lhe causa-

    vam alegrias efmeras, meros prazeres,

    ao passo que a entrega a Jesus Cristo lhe

    enchia o corao de uma alegria dura-

    doura. Essa consolao foi, para Incio,

    um sinal de Deus, diz o jesuta.

    J recuperado e com o forte desejo de

    mudanas em sua vida, Incio decidiu

    partir rumo a Jerusalm. Saindo de Loyo-

    la, ele seguiu em peregrinao para Mont-

    serrat. No caminho, doou suas roupas de

    fidalgo a um pobre, passando a usar trajes

    mais rsticos. A espada tambm foi dei-

    xada no altar da Igreja de Nossa Senhora

    Quem foiINCIO DELOyOLA?

  • 14 15Em Em

    de Montserrat, aps uma noite de orao.

    Em Manresa, Incio abrigou-se em

    uma cova. Vivendo como eremita e

    mendigo, passou as mais duras neces-

    sidades. Mas seu objetivo era maior:

    queria ter tranquilidade para fazer ano-

    taes em um caderno que, mais tarde,

    transformar-se-ia no livro dos Exer-

    ccios Espirituais, o mais importante

    de seu legado. Incio foi aprendendo,

    como um menino de escola, as novas

    lies de vida. Constatava e registrava

    com muita lealdade o que estava viven-

    ciando. Foi um processo de honesto

    discernimento espiritual. Com genero-

    sidade, assumiu todas as consequn-

    cias da nova vida, diz Pe. Quirino.

    ForA mobiLizAdorA

    Aps deixar sua vida de eremita em

    Manresa, Incio seguiu em sua longa

    peregrinao at Jerusalm, onde perma-

    neceu por um tempo. De volta Europa,

    sofreu perseguies e incompreenses.

    Essas experincias fazem-no perceber

    que era necessrio estudar para melhor

    ajudar os outros. A cidade escolhida para

    dedicar-se aos estudos de Filosofia e Te-

    ologia foi Paris (Frana), onde conseguiu

    agrupar colegas a quem passou a chamar

    de companheiros ou amigos no Senhor.

    Esse foi o primeiro esboo do que seria

    a Companhia de Jesus, conta Pe. Paulo

    Lisba, orientador espiritual e vigrio da

    Parquia So Lus Gonzaga, em So Pau-

    lo. Creio poder afirmar que, mais do que

    fora interna, o que mobilizou Incio

    convertido a procurar e a ir s pessoas de

    seu entorno foi a graa prpria daquela

    sua mudana: sair de um egosmo arrai-

    gado, cheio de vaidades, para um desejo

    que crescia de dentro para fora de ser

    para os outros, ou seja, ajudar as almas,

    em sua linguagem mais familiar.

    Em 15 de agosto de 1534, na capela

    de Montmartre, em Paris, Incio e seis

    companheiros Francisco Xavier, Pedro

    Fabro, Afonso Bobadilha, Diogo Lanez,

    Afonso Salmeiro e Simo Rodrigues

    fazem votos de dedicarem-se ao bem

    dos homens, imitando Cristo, peregrinar

    a Jerusalm e, caso no fosse possvel, ir

    apresentar-se ao Papa, com o objetivo de

    colocarem-se disposio do Pontfice.

    Um ano depois, os votos so renovados

    por eles e mais trs outros companhei-

    ros Cludio Jaio, Joo Codure, Pascsio

    CrEIO PODEr AfIrMAr QuE, MAIS DO QuE fOrA INtErNA, O QuE

    MObILIzOu INCIO CONvErtIDO A PrOCurAr E A Ir S PESSOAS DE

    SEu ENtOrNO fOI A GrAA PrPrIA DAQuELA SuA MuDANA: SAIr

    DE uM EGOSMO ArrAIGADO, ChEIO DE vAIDADES, PArA uM DESEJO

    QuE CrESCIA DE DENtrO PArA fOrA DE SEr PArA OS OutrOS, Ou

    SEJA, AJuDAr AS ALMAS, EM SuA LINGuAGEM MAIS fAMILIAr.

    A conversoCinco fatores determinantes no processo de converso de Incio:

    As leituras religiosas e piedosas que ele mesmo comeou a trazer sua vida.

    A introspeco prolongada durante a convalescena, que o fez descobrir

    as moes ou movimentos espiritu-

    ais no mais ntimo de si mesmo.

    Pe. Paulo Lisba, orientador espiritual e vigrio da Parquia so Lus gonzaga, em so Paulo

    esPeCiAL

  • 14 15Em Em

    Broet. Nascia ali o que viria ser a Compa-

    nhia de Jesus, conhecida tambm como

    a Ordem dos Jesutas.

    Por meio da bula Regimini militan-

    tis Ecclesiae, a Companhia de Jesus foi

    aprovada oficialmente pelo Papa Paulo

    III, em 27 de setembro de 1540. O maior

    e mais eficaz dos legados de Incio fo-

    ram os Exerccios Espirituais, que ele

    soube passar to bem ao grupo dos pri-

    meiros jesutas. Ele chegou a coloc-los

    como experincia necessria para todo

    candidato que quisesse entrar na Or-

    dem, ressalta Pe. Paulo. At hoje, os EE

    fazem parte do longo processo de for-

    mao dos jovens antes de serem acei-

    tos definitivamente na Ordem. A meu

    ver, essa experincia foi e continua sen-

    do o que marca a vida de todo jesuta e

    que lhe d a identidade como religioso

    na Igreja de todos os tempos.

    Em 1541, Incio foi eleito o primeiro

    Superior Geral da Ordem, passando a vi-

    ver em Roma (Itlia). Dedicou-se fun-

    o preparando e enviando os jesutas

    ao mundo todo, servindo Igreja e escre-

    vendo as Constituies da Companhia

    de Jesus. Em 31 de julho de 1556, muito

    debilitado, Incio morre em Roma.

    Segundo Pe. Paulo, o livro das Cons-

    tituies, elaborado com muito amor

    e ardor, outro grande legado deixa-

    do por Incio. As linhas orientadoras

    do documento, muito bem pensadas e

    escritas sob a inspirao da Sabedoria

    do Esprito, no foram corrigidas, mas

    apenas retocadas em alguns pontos ao

    longo dos quase cinco sculos da Com-

    panhia de Jesus. Isso reflete muito bem

    o carisma inaciano, diz o jesuta.

    Consequncia dos dois legados cita-

    dos anteriormente, Pe. Paulo acrescenta

    que a maneira de amar e sentir a Igreja,

    como esposa de Cristo Nosso Senhor e nos-

    sa me, a Igreja Hierrquica (EE 353), ou-

    tra herana deixada por Incio. Acredito

    que so esses trs principais legados que

    conservam o carisma de Incio intacto.

    At mesmo durante a supresso da Com-

    panhia de Jesus pela Igreja Catlica, entre

    1773 e 1814, no se conseguiu apag-los

    dos coraes que se propuseram a lutar

    para que o Nome de Jesus fosse glorifica-

    do, acima de tudo, conclui.

    Fontes | Livros: Autobiografia Escritos de San-

    to Incio O Relato do Peregrino e O Caminho

    do Peregrino, ambos das Edies Loyola.

    A vontade nova e to estranha de seguir mais de perto a Jesus, que foi

    aparecendo ao ler a vida de santos,

    como a de So Francisco.

    A firme resoluo de ir e ficar em Jerusalm, para seguir os passos de

    Jesus, aps recuperar-se dos feri-

    mentos da bala de canho.

    Os Exerccios Espirituais realizados em Manresa,

    em muita orao

    e penitncia, e

    que, praticamente,

    fecharam esse j

    longo processo de

    converso.

  • 16 17Em Em

    I N C I O D E L O y O L a

    E a f u N D a O D a

    C o m p a n h i a d e J e s u s

    Pe. Jos Andrs FAyos FLorent, SJ

    O ministriO de unidade na igreja santa s

    Ilustrao deCarlos Saenz de Tejada

    (1897 - 1958)

  • 16 17Em Em

    Em junho de 1539, em Roma (It-lia), Incio de Loyola e nove com-panheiros sacerdotes decidiram fundar uma Ordem religiosa: a Compa-

    nhia de Jesus. A 27 de setembro do ano

    seguinte, o Papa Paulo III aprovaria a

    Frmula, ou Regra, da Companhia, que

    comearia a existir oficialmente. Por

    que ele fez isso? Qual foi sua motivao?

    No comeo de sua converso, nem

    de longe Incio imaginou que iria fundar

    uma Ordem religiosa. Pensava apenas na

    sua prpria santidade: fazer penitncia de

    seus pecados, imitar os Santos, ser santo.

    Mas, logo que inicia sua peregrina-

    o, vai aparecendo no seu corao um

    desejo: ajudar as almas. esse objetivo

    que o leva a estudar. Depois, tambm

    buscaria ganhar outros jovens que qui-

    sessem seguir seu caminho e seu obje-

    tivo. Ajudar os outros, transmitir-lhes a

    alegria de conhecer e seguir Jesus, dei-

    xando as riquezas e honras deste mun-

    do. isso que Incio fez.

    Em Paris (Frana), encontrou com-

    panheiros que aderiram totalmente a

    seu projeto: Pedro Fabro e Francisco

    Xavier foram seus colegas de quarto na

    universidade. Eles seriam seus mais fiis

    discpulos e seguidores. Outros seis for-

    mariam com eles o grupo de dez sacer-

    dotes, de vasta cultura e profunda pieda-

    de, que queriam dedicar sua vida a Deus.

    Eles fizeram voto de viver em pobreza e

    castidade e de ir a Jerusalm para gastar

    sua vida em proveito das almas.

    No conseguindo viajar a Jerusalm, vo a Roma para coloca-

    rem-se disposio do Papa Paulo III. Ele lhes dir o que devem

    fazer e aonde ir. Incio, que tinha sido perseguido pelas autorida-

    des da Igreja, mantm, contudo, atitude de profunda f com res-

    peito pessoa do Papa. Ele o representante de Cristo e a palavra

    dele a manifestao da vontade de Deus.

    At a, no h nenhum projeto de formar uma Ordem religio-

    sa. Apenas formam um grupo de amigos, que andam juntos para

    ajudar os outros na vida espiritual. Mas...

    O Papa aceita sua oferta e pede para trabalharem em Roma. Tor-

    nam-se conhecidos pela cincia (telogos pela Universidade de Paris)

    e por suas virtudes (vivem pobremente, no cobram nada pelos seus

    ministrios e dedicam-se a pregar a palavra de Deus e ajudar os po-

    bres). Chovem, ento, os pedidos de reis e bispos para irem a seus do-

    mnios. No demora muito e so enviados a Siena e a outras partes da

    Itlia. O grupo comea a se dispersar.

    Estamos no incio de 1539. o momento da grande delibera-

    o. O que fazer? Manter a unio do grupo ou dispersar-se, indo

    cada um para onde for enviado? Acabaria, assim, a unio desse

    grupo que durante dez anos viveu e trabalhou junto?

    Seria longo descrever o discernimento. O certo que descobrem

    ser a vontade de Deus permanecerem juntos. E, para selar essa unio,

    ser tambm necessrio fazer um voto de obedincia a um deles.

    Isso significa tornar-se uma Ordem religiosa com os trs votos de

    castidade, pobreza e obedincia , alm disso, precisariam da apro-

    vao do Papa, que aconteceria a 27 de setembro de 1540.

    Por meio de dificuldades e contradies, Deus foi guiando Incio

    para seu objetivo. No o dele, mas o de Deus. Fundar a Companhia de

    Jesus, aceitar novos companheiros e espalhar-se por todo o mundo

    conhecido daquele tempo ajudando as almas.

    Pe. Jos Andrs Fayos Florent, SJ administrador paroquial da Parquia Santo Incio de Loyola, em Teresina (PI).

    por meIo de dIfICuldades e ContradIes, deus foI guIando InCIo para seu objetIvo. no o dele, mas o de deus. fundar a CompanhIa de jesus...

    santo incio de loyola entre so pedro Fa-bro e so Francisco Xavier, aps pronunciarem os votos religiosos na igreja de montmartre, em paris, a 15 de agosto de 1534.

  • 18 19Em Em

    Os primeiros jesutas pre-gando, ensinando as crian-as , ouvindo confisses e celebrando a Eucaristia.A igreja a antiga igreja de Santa Maria della Strada .Ilustrao de Peter Paul Rubens (1577 - 1640).

    ComPAnHiA de Jesus gOvErNO

  • 18 19Em Em

    cOmpANHiAdE jEsus:uMa OrDEM atIvaE INOvaDOra

    pE. danilo mondoni, SJ

    Examinando sua experincia inte-rior, Incio progressivamente che-gou convico de que Deus lhe fa-lava por meio dela. Aprendeu que meditar

    e contemplar orar com tudo o que se :

    inteligncia, memria, imaginao, vonta-

    de e afetividade. Seus Exerccios Espirituais

    tm por objetivo ajudar as pessoas a entrar

    nelas mesmas para descobrir a a ao di-

    vina, a conduzi-las em um caminho espiri-

    tual de acordo com seus dons e sua perso-

    nalidade; so a base da espiritualidade e da

    teologia da Companhia de Jesus e a matriz

    de suas Constituies documento que re-

    gula o funcionamento da Ordem religiosa.

    Por sua intuio mstica e pela ex-

    perincia prpria das necessidades

    da Igreja, Incio insistiu na atividade

    apostlica como marca essencial da

    vocao jesutica. Nesse sentido, as

    Constituies da Companhia de Jesus

    no so uma coleo de decretos e re-

    gras, mas apresentam um conjunto de

    objetivos e ideais. Assim como os Exer-

    ccios, repousam na hiptese de um

    crescimento psicolgico e espiritual;

    manifestam, ao mesmo tempo, firme-

    za e suavidade, em dosagem jurdica

    que permite Companhia adaptar-se s

    circunstncias, conservando sua iden-

    tidade. Teologicamente, a obra supe a

    compatibilidade do Cristianismo com o

    que a cultura oferece de melhor.

    A Companhia de Jesus uma Ordem

    inovadora e ativa. As inovaes provm da

    finalidade apostlica e das exigncias fun-

    damentais de uma Ordem ligada ao Papa:

    A santificao dos outros situa-

    -se no mesmo plano da santifi-

    cao pessoal.

    Empenho pelo progresso espiritu-

    al dos fiis em todas as formas de

    ministrio da Palavra.

    Mobilidade de todos os membros.

    Adaptao aos diversos ambientes.

    Governo centralizado: Padre Geral

    e Provinciais.

    as constituies da coMpanhia de jesus no so uMa coleo de decretos e regras, Mas apresentaM uM conjunto de objetivos e ideais.

    Dessas exigncias, derivam as no-

    vidades da estrutura e da formao dos

    membros:

    Classes ou graus: professos (quar-

    to voto solene em relao s mis-

    ses), coadjutores espirituais (pa-

    dres) e temporais (irmos).

    Longa formao: residncias pr-

    prias e estudos em universidades.

    O ministrio teolgico, a tarefa edu-

    cativa, a preocupao com a justia e o

    dilogo inter-religioso so as priorida-

    des e as perspectivas mais importantes

    que se apresentam aos jesutas.

    A educao o meio por excelncia de

    esclarecer as conscincias e de armar as

    vontades para o servio ao bem comum

    na fidelidade ao Deus revelado por Jesus

    Cristo. Trata-se de procurar educar a tota-

    lidade da pessoa: psicolgica, moral, espi-

    ritual, intelectual e profissionalmente.

    Em meio ao pluralismo e fragmen-

    tao de valores, importa dar acesso in-

    teligncia das coisas de Deus e tradio

    crist mais vigorosa, questionar as razes

    culturais e intelectuais da injustia e edu-

    car para a cultura da responsabilidade e

    do sentido da solidariedade, enfim con-

    tribuir para que a humanidade encontre o

    melhor caminho de preservar e promover

    a vida em todas as suas dimenses bus-

    car Deus em todas as coisas e participar

    da luta por um mundo mais justo.

    Pe. danilo mondoni, SJ professor associado da FAJE (Faculdade Jesuta de Filosofia e Teologia), professor de Histria do Cristianismo na Faculdade de So Ben-to e editor assistente de Edies Loyola

  • 20 21Em Em

    ComPAnHiA de Jesus prOmOO dA justiA E EcOLOgiA

  • 20 21Em Em

    O grande legado de Incio para a humanidade foi seu incansvel esforo em se colocar a servio das pesso-as. Nutria grande desejo de ajudar as almas. A partir de sua prpria experincia de converso, foi sistematizando

    sua relao com Deus e deixando-se conduzir por Ele.

    Mergulhando no mais profundo do seu interior, Incio foi

    capaz de ir descobrindo qual a misso do ser humano neste

    mundo: O homem criado para louvar, reverenciar e servir

    a Deus Nosso Senhor e mediante isto salvar sua alma (EE,

    Princpio Fundamento, n 23). Incio vivenciou a criao do

    universo pelo Verbo: como tudo vem de Deus Vivo pela sua

    ao criadora, e como tudo volta sua origem pelo Verbo en-

    carnado. Em sua busca incansvel, vai tomando conscincia

    de que o ser humano ser plenamente humano medida que

    for capaz de estabelecer relaes justas com o Absoluto, com

    seu semelhante e com a natureza.

    Portanto, desqualificar este mundo para tentar viver em

    outro uma grande alienao. Do ponto de vista cristo, o ser

    humano e suas realizaes consistem, em primeiro lugar, em

    situar-se com liberdade e responsabilidade no mundo com

    Deus, co-criador e corresponsvel pela obra da criao, de-

    fendendo e protegendo a vida em todas as suas dimenses.

    O Reino de Deus no cai do cu, nunca produto de foras

    celestiais capazes de prescindir de uma atuao humana.

    Vivendo h mais de 15 anos na Amaznia, sinto-me cons-

    tantemente interpelado a vivenciar a experincia de Deus na

    criao a sabedoria dos povos originrios, as belezas das flo-

    restas, dos rios, das aves so um convite a contemplar as mara-

    vilhas do Criador. A preservao da Amaznia uma batalha que

    a humanidade no pode perder e a Companhia de Jesus deve lutar

    por essa causa. Devemos contribuir para a misso da Compa-

    nhia universal para promover relaes justas com a criao

    (Pe. Adolfo Nicols, Superior Geral da Companhia de Jesus).

    Estamos em uma encruzilhada. Diante de uma crise civi-

    lizacional: ambiental, econmica, poltica, de relaes e de

    valores. Acredito que a inspirao da mstica Inaciana, vivida

    em sua totalidade e abrangncia, pode nos ajudar a colocar

    em prtica outro mundo possvel, pode nos religar com a ter-

    ra, nos levar a refletir e a pensar em um projeto societrio, de

    valores, de relaes e de cultura da vida. Relao com as ou-

    tras formas de vida, com a terra, com a gua, com a Natureza.

    Relao comigo e com os outros, com o Outro. O social e o

    espiritual. Conceito cclico do tempo e dos ciclos da Nature-

    za, o equilbrio. Questionar o conceito do desenvolvimento

    enquanto crescimento econmico e linear.

    Com o passar dos anos, todo esse legado de Incio foi sendo

    incorporado pela Companhia de Jesus. Deu nossa Ordem reli-

    giosa a arma da vontade disciplinada e a estratgia de abran-

    gncia mundial, que h mais de quatrocentos anos a tem con-

    duzido com bom xito. Com ele, as fileiras dos santos de todos

    os homens e mulheres escolhidos por Deus, foram acrescidas

    por um santo da vontade, por um pecador que achou seu ca-

    minho para Deus, porque sua vontade era procurar Deus; por

    algum que foi coroado com o halo da santidade porque lutou

    por ela com todas as suas foras.

    Mesmo depois de tantos anos, ele ainda representa com

    perfeio o ideal, o tipo moderno do homem da fora da vonta-

    de tipo que, desde ento, tornou-se caracterstico de organi-

    zao do esforo humano. Sua inspirao tem sido ajuda para

    inmeras pessoas que desejam alcanar a liberdade de esprito,

    atravs da conscincia do significado de sua existncia, discer-

    nindo o que mais a conduz para a vida em plenitude.

    Concluindo, o segredo de sua permanncia est no fato

    de que a vontade humana escolhe um objetivo fora do tempo

    e do espao, no reino do esprito. A obra de Incio sobreviveu

    na terra porque aspirava ao cu, sobreviveu no tempo porque

    lutava pela eternidade.

    Em tudo amar e servir!

    Pe. Paulo tadeu barausse, SJ presbtero de Apoio da rea Missionria Santa Margarida de Cortona, em Manaus (AM)

    o grande legado de incio para a huManidade foi seu incansvel esforo eM se colocar a servio das pessoas

    pE. paulo tadEu BaraussE, SJ

    inspirados pelamstica inaciana

  • 22 23Em Em

    Escultura de Santo Incio na Loyola university, em

    Chicaco (EUA)

    ComPAnHiA de Jesus EducAO

    Foto

    : Nat

    alie

    Bat

    tagl

    ia

  • 22 23Em Em

    Santo Incio de Loyola no fundou uma Ordem religiosa para trabalhar com Educao. Inicialmente, a vocao jesuta foi concebida para discorrer por vrias terras. No entanto, o perodo de estudos do fundador, entre 1528 e

    1535, na Frana, foi to positivo que tudo o que a Companhia

    de Jesus faz tem uma estrutura pedaggica interna, uma in-

    teno formativa e uma dimenso intelectual.

    Estudar deu a Santo Incio melhores condies de sis-

    tematizar e partilhar a sua experincia espiritual de con-

    verso. Ele gostou do modus parisienses porque proporcio-

    nava aos alunos um itinerrio personalizado e progressivo.

    Os estudos em Paris influenciaram o modo de conceber o

    livro dos Exerccios Espirituais (EE), que o roteiro para o

    retiro de trinta dias.

    Apostolicamente, Santo Incio e seus primeiros companhei-

    ros quiseram dedicar-se ao ministrio instrudo da Palavra de

    Deus com inteno formativa, tendo nos EE seu melhor meio

    de ajudar as pessoas. Bem cedo, porm, perceberam a impor-

    tncia de abrir colgios e universidades para a formao integral

    da pessoa humana. Por isso, a Companhia de Jesus passou a ser

    identificada com Educao, formando, nas letras e no esprito,

    homens e mulheres competentes, conscientes, compassivos e

    comprometidos com os outros, principalmente os mais pobres.

    Se as universidades nasceram na Idade Mdia, os ciclos de

    estudos anteriores foram organizados a partir da fundao do

    primeiro colgio jesuta (Messina, Itlia, 1548). Em outras pa-

    lavras, a Educao Bsica nasceu com a Companhia de Jesus.

    O Colgio Romano do sculo XVI, por exemplo, s mais tarde

    deu origem Universidade Gregoriana. Georgetown Universi-

    ty, em 1789, ilustra bem a evoluo da escolaridade influen-

    ciada pelos colgios jesutas. Aos poucos, o curso completo

    de sete anos deu origem a dois ciclos complementares: um,

    para alunos de 14/15 a 17/18 anos; e outro, para os primeiros

    estudos universitrios. Nos Estados Unidos, atualmente,

    existe o High School de quatro anos (no Brasil, o Ensino M-

    dio dura trs anos) e o College (bacharelado universitrio de

    quatro anos). Na Amrica, o colgio mais antigo em funcio-

    namento o San Bartolom, em Bogot, Colmbia, fundado

    em 1604, e, no Brasil, o Colgio So Lus, em So Paulo, que

    completa 150 anos em 2017.

    No final do sculo XVI, surgiu a Ratio Studiorum. Trata-se

    de um manual sistemtico de procedimento pedaggico e or-

    ganizao do currculo e da aprendizagem. Foi amplamente

    adaptada segundo as circunstncias de tempos, lugares e pes-

    soas, inspirando o apostolado educativo dos jesutas at hoje.

    Aplicando aos colgios e universidades a pedagogia inaciana

    dos EE e o modus parisiensis, a Ratio proporcionou excelncia

    em educao, realizando a misso da Companhia de Jesus nas

    suas comunidades educativas.

    Se Santo Incio visitasse os nossos colgios hoje, percebe-

    ria como eles esto em sintonia com a viso do Papa Francis-

    co, que quer a Igreja nas fronteiras e no em laboratrios,

    onde tudo pode ser controlado de antemo. E esse o convite

    do Rei Eterno (EE 95): segui-Lo nas lutas do dia a dia e partici-

    par com Ele nas vitrias.

    Pe. eduardo Henriques, SJ assistente espiritual no Colgio Antnio Vieira e reitor do Santurio Nossa Senhora de Ftima, em Salvador (BA)

    sAnto inCio e A eduCAoPe. eduArdo HenriQues, SJ

    tudo o que a coMpanhia de jesus faz teM uMa estrutura pedaggica interna, uMa inteno forMativa e uMa diMenso intelectual

  • 24 25Em Em

    pE. adroaldo palaoro, sj

    inCio dEloYola:SaNtO DOS tEMPOSNOvOS

    ComPAnHiA de Jesus sErviO dA F

  • 24 25Em Em

    Foi num contexto assim que o pe-regrino Incio de Loyola, sozinho e a p pelos caminhos da Europa, situa-se nas fronteiras da humanidade

    em busca da comunho universal.

    Depois de cinco sculos, Santo In-

    cio continua sendo uma figura nica e

    paradigmtica. O marcante nele est no

    fato de ter sido capaz de situar-se, de

    maneira original, no contexto das mu-

    danas de seu mundo e de seu tempo.

    Ele considerado o santo dos tempos

    novos que despontavam perante seus

    olhos deslumbrados.

    O itinerrio da sua vida foi um pro-

    cesso constante de leitura orante da re-

    alidade. Por isso, Incio foi um homem

    de sntese num mundo em mudana e

    at contraditrio, pois ele assumiu com

    abertura total, sem preconceitos, sem

    nostalgias estreis, a mudana de tem-

    po que lhe coube viver. Isso lhe abriu

    horizontes culturais novos, nos quais

    deixaria sua marca original.

    A grande originalidade da histria

    e da vida de Incio no a sua atitu-

    de diante do que estava ocorrendo no

    mundo, mas a que aconteceu dentro

    dele. Sua principal contribuio his-

    em todo momento histrico, quando a Igreja e a sociedade so sacudidas por grandes mudanas, surgem homens e mulheres que rompem com es-quemas e seguranas envelhecidos e deixam-se conduzir pelo esprito ao deserto, s margens, s fronteiras... Fugindo de um ambiente e de uma ordem asfixiante.

    tria da humanidade no o que pesso-

    almente ele realizou em suas atividades

    de apostolado e de governo, ou sua obra

    exterior mais conhecida a Companhia

    de Jesus, mas a descoberta de seu mun-

    do interior e, atravs dela, a descoberta

    desse continente sempre inexplorado e

    surpreendente que o corao de cada

    ser humano, onde acontece o mais im-

    portante e decisivo em cada pessoa.

    A bala que o feriu na batalha de Pam-

    plona no transpassou somente sua

    perna; atravessou, tambm, de modo

    igualmente profundo e traumtico, todo

    o mundo de ambies e sonhos de con-

    quistas que havia perseguido e fantasiado

    at aquele momento. Todo um sistema de

    ideais se v, desse modo, derrubado.

    Um castelo interior desmorona-se ao

    mesmo tempo em que comea a surgir

    outro edifcio humano nunca imaginado,

    seduzido pela pessoa de Jesus Cristo, que,

    a partir de agora, ocupar a tela inteira de

    sua vida. As velhas fronteiras geogrficas

    e polticas pelas quais Incio lutou apai-

    xonadamente sero substitudas por ou-

    tras, aquelas do corao humano.

    Enquanto seus contemporneos

    aventuravam-se na descoberta de novas

  • 26 27Em Em

    terras, seu descobrimento no menos importante ou de me-

    nor alcance humano que o daqueles. Sem rudo, galees, di-

    nheiro, plvora, armas, sangue e violncia, Incio abrir cami-

    nhos nesse continente interior, prprio e de cada ser humano,

    deixando-se conduzir e observando como conduzido.

    Caminhar de surpresa em surpresa, em sua nova hist-

    ria, apoiando-se sempre na interrogao evanglica que no

    lhe sair mais dos lbios e do corao, e com a qual ir abrin-

    do, como uma chave mestra, os captulos desconhecidos de

    sua vida: Quid agendum? (Que devo fazer?).

    Inserido apaixonadamente em seu tempo e em seu mun-

    do, Incio, de nenhuma maneira, estava preocupado em pro-

    por uma nova doutrina teolgica, nem uma ideologia e/ou

    nova moral. Ele encontrou experimentalmente sua maneira

    pessoal de mergulhar na aventura do esprito, sistematizou o

    mtodo e o props a outros (Exerccios Espirituais). O central

    de sua proposta no consiste no contedo doutrinal, mas nas

    indicaes prticas do mtodo de exerccio para tocar, ativar,

    assumir e fortalecer as estruturas profundas da pessoa e, as-

    sim, dar novo sentido prpria existncia.

    Os Exerccios Espirituais constituem-se como um caminho

    a percorrer, uma maneira vital de dispor-nos inteiramente ao

    do Esprito (deixar-nos conduzir por Ele), que nos transforma e

    liberta o nosso corao de todo desejo desordenado para buscar,

    encontrar e realizar a vontade de Deus na nossa prpria vida.

    Os EE so uma escola de orao, de escuta, na qual so-

    mos convidados a descobrir Deus e seu projeto, ajudando a

    nos conhecer mais a fundo, em nossas luzes e sombras. Os EE

    tm sido uma riqueza na vida da Igreja, uma proposta que j

    ajudou uma infinidade de pessoas a se libertar de tudo o que

    lhes trava viver mais intensamente, ganhando profundidade,

    sentido e compromisso em suas vidas.

    A presena inspiradora e original de Incio em seu tempo

    e em seu mundo pode nos ajudar, atravs dos Exerccios Es-

    pirituais, a nos situar melhor e mais lucidamente no nosso.

    Vivemos um contexto social e cultural no qual se constata um

    modo de vida que no favorece o contato profundo consigo

    mesmo, com os outros, com o Criador.

    Vivemos a era do vazio, tempos de inrcia e passividade,

    em que a superficialidade apresenta-se como ideal de vida e

    as grandes aspiraes reduzem-se ao consumismo e ao narci-

    sismo. Tudo convida ao descompromisso e mediocridade. A

    vida ps-moderna apresenta-se cada vez mais como um cami-

    nho sem meta, um vagar deriva, sem horizontes. Essa desar-

    monia interna exteriorizada gerando uma desarmonia na

    relao com os outros, com a natureza e com o Criador.

    nesse contexto de profunda desarmonia que a pedagogia

    dos Exerccios Espirituais revela sua atualidade e sua fora trans-

    formadora. Como Pedagogia da Interioridade, ela reacende o mo-

    vimento de busca da harmonia, fecunda o esprito criador, abre

    espao para o novo, nos faz garimpeiros do ouro escondido nas

    cavernas profundas. Portanto, uma pedagogia humanizadora.

    A originalidade dos Exerccios Espirituais encontra-se na

    aventura da re-descoberta do mundo interior, esse mundo des-

    conhecido e surpreendente, onde acontece o mais importante

    e decisivo de cada pessoa. Eles revelam que toda pessoa possui

    dentro de si uma profundidade que seu mistrio ntimo e pes-

    soal. Por isso, viver em profundidade significa entrar no mago

    da prpria vida, descer at as razes da prpria existncia e che-

    gar corrente subterrnea de gua viva, de desejos...

    Essa interioridade um modo de ser, uma atitude de base

    a ser vivida em cada momento e em todas as circunstncias.

    Mesmo nas atividades cotidianas mais simples, a pessoa que

    criou espao para a interioridade mostra-se centrada, serena

    e cumulada de paz, caminhando junto com os outros na mes-

    ma direo que aponta para a Fonte de vida e de eternidade.

    A partir da interioridade, tudo se transfigura, tudo tem sen-

    tido, tudo vem carregado de venerao e sacralidade. Viver a

    interioridade desenvolver a prpria capacidade de contem-

    plao, de compaixo, de assombro, de escuta das mensagens e

    dos valores presentes no mundo nossa volta. Uma interiori-

    dade desvelada que move a pessoa a ser presena inspiradora e

    comprometida com a transformao do seu mundo.

    Pe. Adroaldo Palaoro, SJ diretor do CEI-Jesutas (Centro de Espiritualidade Inaciana)

    os exerccios espirituais so uMa escola de orao, de escuta, na qual soMos convidados a descobrir deus e seu projeto, ajudando a nos conhecer Mais a fundo, eM nossas luzes e soMbras.

    ComPAnHiA de Jesus sErviO dA F

  • 26 27Em Em

  • p A r A m A i O r g L r i A d E d E u sA d M A J O R E M d E I G l O R I A M