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EM C ü X r DA Defenda af é cristã com razão e precisão P refácio D e L ee S trobel WTLLIAM LANE CRAIG A utor do B est - seller A pologética C ontemporânea

Em Guarda - William Lane Craig

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  • EM C X r DA

    Defenda a f crist com razo e preciso

    P r e f c i o D e L e e S t r o b e l

    W TLLIAM L A N E C R A IGA u t o r d o B e s t - s e l l e r A p o l o g t i c a C o n t e m p o r n e a

  • RDA

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Craig, W illiam LaneF.m guarda: defenda a t crist com razo e preciso / W illiam Lane Craig;

    traduo Marisa K. de Siqueira Lopes. So Paulo: Vida JNova, 2011.

    Ttulo original: On guard: defending your faith with reason and precisioit. ISBN 978-85-275-0470-9

    1. Apologtica I. Ttulo.

    11-09790 COD-239

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Apologtica : Doutrina crist 239

  • uXEM GUARDA

    Defenda a f crist com razo e preciso

    W ILLIAM LANE CRAIG

    Traduo

    Marisa K. A. de Siqueira Lopes

    VIDA NOVA

  • Copyright 2 0 10 de W illiam Lane Craig Ttulo do original: On GuardTraduzido da edio publicada pela David C. Cook, 4050 Lee Vance View Colorado Springs, CO 80918 LUA

    1 .* edio: 2011 Reimpresso: 2012

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIOE' VIDA NOVA, Caixa Postal 21266, So Paulo, SP, 04602-970 www.vidanova.com. br

    Proibida a reproduo por quaisquer meios (mecnicos, eletrnicos, xerogrficos, fotogrficos, gravao, estocagem em banco dc dados, etc.), a no ser em citaes breves, com indicao de fonte.

    ISBN 978-85-275-04"9-0

    Printed in Brazil / Impresso no Brasil

    S u p e r v is o Ed i t o r i a l

    Marisa K. A. de Siqueira Lopes

    C o o r d e n a o E d i t o r i a l

    jonas Madureira

    R k.v is o

    Arkh Editorial

    C o o r d e n a o d e P r o d u o

    Srgio Siqueira Moura

    R e v is o d e P r o v a s

    Ubevaldo G. Sampaio

    D i a g r a m a o

    Luciana Di Iorio

    C PA

    Amy Kiechlin

    I m a g e m d a C a pa

    iStotockphotos, royaly-free

    Todas as citaes bblicas, salvo indicaao contrria, foram extradas da verso Almeida Sculo 21 publicada no Brasil com todos os direitos reservados por Sociedade Religiosa Edies Vida Nova.

  • Aos defensores

  • SU M A R IO

    Prefcio por Lee Strobel 9

    1. O que apologtica? 13

    2. Que diferena faz se Deus existe? 31

    3. Por que as coisas existem? 59

    Interldio pessoal: a jornada de f dc um filsofo (Parte 1) 73

    4. Por que o universo comeou? 79

    5. Por que o universo est precisamente ajustado

    com a vida? 115

    6. Podemos ser bons sem Deus? 139

    7. E o que dizer do sofrimento? 163

    Interldio pessoal: a jornada de f de um filsofo (Parte 2) 195

    8. Quem toi Jesus? 203

    9. Jesus ressuscitou dos mortos? 243

    10. Jesus o nico caminho que leva a Deus? 293

  • 1PREFACIO

    P O R LEE S T R O B E L

    Em minha opinio, W illiam Lane Craig est entre os melhores defensores da f crist

    de sua gerao. Com ttulos de doutorado em filosofia e teologia,i uma mente aguada

    rdsiva, e um corao apaixonado de um evangelista,^ele viaja pelo mundo afora para

    debates com atestas ardentes e articulados. Invariavelmente, os argumentos desses ate

    stas murcham em face das evidncias afirmativas de Craig a favor da existncia de um

    Criador e da verdade da f crist.

    Por exemplo, em 2009 ele debateu com Christopher Hitchens, autor do

    campeo de vendas God is not Great [Deus no grande] e um dos chamados quatro cavaleiros do novo atesmo. Craig construiu uma impressionante argu

    mentao em favor da existncia de Deus uma argumentao que Hitchens no

    conseguiu refutar e ao mesmo tempo exps com habilidade a retrica vazia de

    Hitchens. Sabe qual foi o resultado? Veja como um comentarista atesta resumiu o even

    to: Francamente falando, Craig deu uma surra em Hitchens, como quem repreende

    uma criana tola.

    Encontrei Craig pela primeira vez h alguns anos, quando um amigo meu, que era

    um orador de mbito nacional ligado organizao American Atheists, Inc, me disse:

    No seria incrvel se pudssemos fazer uma defesa do atesmo e o pessoal do seu lado

    pudesse fazer uma defesa do cristianismo, e deixssemos que a platia decidisse por si

    mesma?.

    Agarrei na hora essa oportunidade. V e me traga o melhor defensor do atesmo

    que voc conseguir o seu melhor e mais brilhante atesta, disse eu. Vou encontrar

    o mais forte e incrvel defensor do cristianismo e assim teremos um duelo de mentes!.

  • Os atestas escolheram Frank Zindler, colega da renomada ates

    ta Madalyn Murray 0 Hair e ex-professor de geologia e biologia.

    Para defender o cristianismo, escolhemos W illiam Craig.

    A imprensa embasbacada pelo fato de que a igreja no es

    tava com medo de confrontar as mais duras objees por parte dos

    cticos rapidamente espalhou a notcia. Logo comecei a receber

    ligaes de estaes de rdio do pas inteiro. Podemos transmitir

    esse debate ao vivo?, eles me perguntaram. Lgico, disse eu. Para

    nosso espanto, logo tnhamos 117 estaes de rdio para fazer a

    transmisso, de costa a costa.

    Na noite do debate, o trfego ficou congestionado cm volta da

    igreja. Quando abrimos as portas, as pessoas correram para garantir

    seus lugares. Quando foi a ultima vez que voc viu algum correndo

    para entrar em uma igreja? No total, tivemos 7 ^78 pessoas presentes ao evento. A atmosfera estava eletrizada!

    Craig abriu sua participao apresentando cinco poderosos ar

    gumentos em favor de Deus e do cristianismo. Primeiro argumento,

    a criao do universo claramente aponta para um Criador (Tudo

    que comea a existir tem uma causa; o universo comeou a existir,

    logo o universo tem uma causa). Segundo argumento, a incrvel

    sintonia do universo desafia a coincidncia e d mostras do trabalho

    habilidoso de um designer inteligente. Terceiro argumento, os valo

    res morais objetivos so uma prova de que existe um Deus, uma vez

    que somente ele poderia estabelecer um padro universal de certo

    e errado. Quarto argumento, as evidncias histricas cm favor da

    ressurreio entre elas o sepulcro vazio, o relato de testemunhas

    oculares e a origem da f crist estabelecem a divindade de Jesus.

    E quinto argumento, Deus pode ser conhecido e experimentado de

    forma imediata por aqueles que o buscam.

    A despeito dos repetidos desafios de Craig, Zindler tropea em

    defender positivamente o atesmo. Em vez de defend-lo, ele acusa

    va que a evoluo biolgica anuncia a morte do cristianismo; que

    no havia evidncias convincentes de que Jesus de fato existira; e

    E m G i vR

  • que a existncia do mal um argumento que contraria a existncia

    de Deus.

    Para espanto da audincia, Craig prontamente usou os prprios

    argumentos de Zindler contra ele mesmo. Apontou que se a evo

    luo de fato existiu, a despeito de todas as difceis probabilidades

    contrrias, ento ela s pode ter sido um milagre, e, sendo assim,

    seria mais uma evidncia em favor da existncia de Deus!

    Quanto existncia do mal no mundo, Craig disse: Jamais

    foi demonstrada qualquer inconsistncia lgica entre os dois enun

    ciados Deus existe e o mal existe . Alm disso, ele acrescentou,

    em um sentido mais profundo a presena do mal na verdade de

    monstra a existncia de Deus, pois sem Deus no haveria qualquer

    fundamento [moral] para chamar aigo de mal.

    Ao final de duas horas de debate, pedimos que a audincia vo

    tasse. Uma porcentagem de 82 por cento dos atestas, agnsticos

    e outros no cristos concluram que a evidncia apresentada em

    favor do cristianismo fora a mais convincente. E veja s isto: qua

    renta e sete pessoas chegaram ao debate como ateus, e aps ouvir

    os dois lados, foram embora acreditando na existncia de Deus. E

    mais, nem uma pessoa sequer se tornou um ateu. A afirmao de

    que os cristos tm uma vantagem injusta no mercado de ideias era

    impressionante: Ns temos a verdade do nosso lado!Pode ser que voc nunca debata com um ateu. No entanto, a

    Bblia diz em 1 Pedro 3.15 que todos os cristos devem estar preparados para explicar a razo da sua f, por que acreditam naquilo em

    que acreditam e isso deve ser feito como Craig sempre faz, com

    mansido e respeito.

    Em um mundo em que a mdia vive tocando trombetas para as

    alegaes dos cticos, batendo recordes de venda com livros de hawk-

    -atesmo, e muitos professores universitrios parecem inclinados a

    destruir a f de jovens cristos, torna-se cada vez mais importante que

    todos ns sejamos capazes de articular os motivos pelos quais nossa

    f faz sentido. E por isso que este livro to absolutamente vital.

    S t r o b e l

  • Nestas pginas voc conhecer os argumentos mais convincentes cm favor do cristianismo. E nao somente isso, voc tambm descobrir como responder s objees mais conhecidas que costumam ser feitas a esses argumentos. Ver que este livro solidamente factual, encantadoramente pessoal e consistentemente prtico, e acima de tudo convincente em sua defesa do cristianismo.

    Portanto, devore este livro. Leia-o e releia-o. Sublinhe e destaque trechos dele. Faa anotaes nas margens. Estude-o e debata-o com seus amigos. Familiarize-se com sua lgica e ensinamentos. Feste alguns dos pontos que apresenta com seus amigos ateus. No final, eis a minha profecia do que acontecer: Voc sair dessas pginas fortalecido em sua f e muito mais confiante em compartilhar Cristo com as pessoas.

    Lee Strobel, ex-ctico e autor de lh e Case f o r Christ [Em defesa de Cristo] e TJje Case f o r the Real Jesus

    [Em defesa do Jesus real].

    u M l ; DA

  • C A P IT U L O 1

    O QUE A P O L O G T I C A ?

    Estai sempre preparados para responder a todo o que vos p ed ir

    i razo da esperana que h em vos (i Pe 3.15).

    Na igreja em que freqento, em Atlanta, sou professor de escola do

    minical de uma classe que se chama Defensores, na qual dou aulas

    para cerca de 100 pessoas, que variam de estudantes do segundo

    grau a adultos mais velhos. Falamos sobre os ensinamentos bblicos (doutrina crist) e sobre como defend-los (apologtica crist). As

    vezes as pessoas que no freqentam nossas aulas no entendem

    bem o que fazemos nelas. Certa vez, uma senhora muito educada,

    uma tpica dama do sul, ao ouvir que eu ensinava apologtica crist

    retrucou indignada: Jamais pediria desculpas por minha f!.

    Apologtica significa um a defesaA razo do equvoco cometido por essa senhora evidente: Apologtica, em ingls, soa como pedir desculpas. No entanto, a

    apologtica no a arte de pedir desculpas para algum por voc

    ser cristo! Ao contrrio, apologtica vem do grego apologia, que significa defesa, como a que se faz em um tribunal. A apologtica

    crist implica em fazer uma defesa em favor da verdade da f crist.

    A Bblia na verdade nos recomenda que tenhamos essa defe

    sa pronta para oferecer quele que nos pedir a razo de nossa f. Assim como dois competidores, numa partida de esgrima, apren

    dem a se desviar dos ataques, bem como a atacar o rival, ns tambm

    A p o l o g t i c a

    A palavra apologtica vem do grego apologia, que significa uma defesa, como a que se faz nos tribunais.A apologtica crist envolve fazer a defesa da verdade da f crist.

  • devemos estar sempre en ga rd e. A passagem de 1 Pedro 3.15 diz: Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a

    i razo da esperana que h em vs. Mas fazei

    Pa r a d i s c u t i r isso com mansido e temor.

    Por que mansido e respeito so essenciais quando estamos dialogando com pessoas que no so crists acerca daquilo em que cremos? Voc j viu algum cristo dialogar sem mansido e respeito?0 que aconteceu?

    Como voc costuma se sentir quando algum desafia aquilo em que voc cr, como cnsto, ou faz disso motivo de gozao?

    Note bem a atitude que devemos assumir quando estivermos fazendo a nossa defesa: Devemos ser mansos e respeitosos. A apologtica tambm a arte de no fazer o outro lamentar o fato de voc ser cristo! Po

    demos apresentar uma defesa da f crist sem nos tornamos defensivos. Podemos apresentar

    argum entos em favor do cristianismo sem nos tornarmos argum enta- tivos, ou seja, briguentos.

    Quando falo neste livro sobre a apresentao de argumentos em defesa da f crist de vital importncia que as pessoas entendam que com isso no quero dizer discusso, bate-boca. Jamais devemos bater-boca a respeito de nossa f com algum que no compartilhe

    dela. Isso apenas enfurece as pessoas e as afasta ainda mais. Como explicarei mais para frente, neste mesmo captulo, argumentar em

    termos filosficos no o mesmo que discutir ou ter uma troca dc palavras speras; argumentar apenas apresentar uma srie de enun

    ciados ou premissas que levem a uma concluso. E isso tudo.

    Ironicamente, quem tem bons argumentos na sustentao da sua f se torna menos inclinado a bate-bocas e a sair frustrado da discusso. J pcrcebi que quanto melhores fo

    rem meus argumentos, menos beligerante eu me torno. Quanto melhor for a minha defesa, menos preciso ficar na defensiva.i Se voc tem boas razes para aquilo em que cr e sabe as respostas para as perguntas e objees que algum que no cris

    to costuma fazer, no tem motivo para se exaltar. Pelo contrrio,

    voc perceber que estar calmo e confiante, mesmo quando estiver sob ataque, pois sabe que tem as respostas.

    n ism TiR

    14 5 * E m G i \r d \

  • Frequentemente participo de debates em universidades em tor

    no de temas como: Deus existe? ou Cristianismo versus atesmo. Durante a parte de perguntas e respostas, comum alguns estudan

    tes da audincia se levantarem e comearem a me atacar pessoal

    mente ou fazer um discurso agressivo. Percebi que minha reao a

    esses estudantes no de raiva, mas antes de me sentir simplesmente

    pesaroso pelo fato de eles estarem to perdidos, to confusos, Se

    voc tem boas razes para aquilo em que cr, ento, em vez de sentir

    raiva, sentir uma compaixo genuna pelos perdidos, que em geral

    esto to desorientados. A boa apologtica envolve falar a verdade

    em amor (Ef 4.1 5).

    A apologtica bblica?Algumas pessoas pensam que a apologtica no bblica. Elas dizem

    que voc deve apenas pregar o evangelho e deixar que o Esprito

    Santo faa a sua parte! No entanto, acredito que o exemplo de Jesus

    e dos apstolos afirma o valor da apologtica. Jesus apelava para m i

    lagres e cumprimento das profecias para provar que suas alegaes

    eram verdadeiras (Lc 25.2527; Jo 14.11). E os apstolos? Ao falar

    para outros judeus, eles apelavam para o cumprimento das profe

    cias, para os milagres de Jesus e especialmente para a ressurreio

    a fim de provar que Jesus era o Messias. Tomemos, por exemplo, o

    sermo de Pedro no dia de Pentecostes, registrado no segundo ca

    ptulo de Atos. No versculo 22, ele apela para os milagres de Jesus.

    Nos versculos 25-31, ele apela para o cumprimento da profecia. No

    versculo 32, ele apela para a ressurreio de Cristo. Por meio desses

    argumentos os apstolos procuravam mostrar aos outros judeus que

    o cristianismo era verdadeiro.

    Ao falar para os que no eram judeus, os apstolos procuravam

    demonstrar a existncia de Deus por meio da sua obra na nature

    za (At 14.1"7). Em Romanos 1, Paulo afirma que apenas com base

    na natureza todo homem pode saber que Deus existe (Rm 1.20).

    Paulo tambm apelava para as palavras de testemunhas oculares da

    O Q U E / Y P O L O G t T ' > ' S *

  • ressurreio de Jesus para mais uma prova de que o cristianismo era

    verdadeiro (ICo 1S.3-8).

    Fica, portanto, claro que tanto Jesus quanto os apstolos no

    ser que alguns no apreciem essa metfora militar, mas a verdade

    que uma tremenda luta pela alma das pessoas est sendo travada

    exatamente agora. Esse esforo dc guerra no tem matizes somente

    polticas. Traz tambm em si uma dimenso religiosa e espiritual.

    fera pblica. Os chamados novos atestas, representados por pessoas

    como Sam Harris, Richard Dawkins e Christopher Hitchens so

    ainda mais agressivos. Fies pretendem riscar totalmente do mapa

    qualquer forma de religio.

    A sociedade ocidental j se tornou uma sociedade ps-crist. A

    crena em um Deus genrico ainda regra geral, mas crer em Jesus

    Cristo hoje politicamente incorreto. Quantos filmes produzidos

    por Hollywood retratam cristos de forma positiva? Em vez disso,

    quantas vezes j no vimos nesses filmes os cristos sendo retratados

    como viles superficiais, preconceituosos e hipcritas? Como a cul

    tura de hoje v os cristos que creem na Bblia?

    / temiam dar evidncias em favor da verdade

    daquilo que proclamavam. Isso no quer d i

    zer que eles no confiavam no Ksprito Santo

    para trazer as pessoas a Cristo. Antes, confia

    vam que o Esprito usava os argumentos e as

    evidncias deles para fazer isso.

    Por que a apologtica importante?E de vital importncia que os cristos de hoje

    sejam treinados em apologtica. Por qu? Per-

    mita-me oferecer trs razes para isso.

    1. Para in fluenciar a cultura. Iodos j ouvimos falar da chamada batalha cultural que acontece hoje na sociedade ocidental. Pode

    Os secularistas tm a tendncia de eliminar do mapa a religio da es-

    11 S P 1 U m G a r o a

  • O quadrinho acima retrata dc forma pungente a percepo

    que a elite cultural da sociedade americana tem hoje dos cristos:

    estranhas curiosidades a serem observadas com espanto por pessoas

    normais. Mas observe bem, eles tambm sao considerados perigosos. Eles no devem ter acesso a posies de influncia na sociedade.

    Talvez seja por isso que eles no chegam nem mesmo a ser cotados

    para possveis cargos.

    Por que essas consideraes acerca da cultura so importantes?

    Por que ns, cristos, no podemos apenas seguir a Cristo e ignorar

    o que acontece na cultura que nos rodeia?, Por que apenas no pre

    gamos o evangelho para esse mundo sombrio, as portas da morte?

    A resposta porque o\evangelho nunca ouvido em isolamento. Ele sempre ouvido em contraste com o pano de fundo da cultura )

    na qual nascemos e fomos criados. Algum que tenha sido criado em

    uma cultura que olhe para o cristianismo com simpatia sera aberto

    ao evangelho de um modo que outra pessoa, criada em uma cultura

    secular, no ser. No caso de pessoas inteiramente secularizadas, dizer

    para crer em Jesus como dizer para acreditar em fadas e duendes! E

    assim absurda que a mensagem de Cristo soa aos seus ouvidos.

    Para perceber a influncia que a cultura tem na forma como

    pensamos, imagine o que voc pensaria se um seguidor da religio

    hindu ou um Hare Krishna, com sua cabea raspada e aquela roupa

    O Q l L I A P O L O G T I C A ? 5 * 17

  • S e c u l a r i s m o

    Secularismo uma cosmoviso que no abre espao para o sobrenatural: no cr em milagres, nem na revelao divina, nem em Deus.

    alaranjada, abordasse voc em um aeroporto ou shopping center e

    lhe oferecesse uma flor, e convidasse voc a se tornar um seguidor

    de Krishna. Um convite como esse provavelmente soaria bizarro a

    seus ouvidos, uma aberrao, talvez at um pouco engraado. Agora

    pense em como haveria uma reao completamente diferente se essa

    mesma pessoa abordasse algum em Deli, na ndia! Por ter sido

    criado na ndia, possvel que ele levasse esse convite muito a srio.

    Se essa tendncia de cair no secularismo geral hoje, nos Estados

    Unidos, o que nos espera amanh j est evidente na Europa de

    hoje. A Europa ocidental se tornou uma sociedade to secularizada

    que difcil at mesmo ter hoje uma chance justa de ser ouvido. Em

    conseqncia disso, missionrios precisam trabalhar anos a fio para

    ganhar meia dzia de convertidos por l. Depois de ter vivido na

    Europa por 13 anos, em quatro pases diferentes, posso dar meu tes

    temunho pessoal do quanto difcil para as pessoas dali responder

    mensagem de Cristo. Ao falar em universidades por toda a Europa,

    percebi que a reao dos estudantes era em geral de espanto diante

    do que eu dizia. Segundo o pensamento que eles tm, o cristianismo coisa d e mulheres idosas e crianas. Afinal, o que esse senhor, com dois ttulos d e doutorado d e universidades europeias, est faze?ido aqui, defendendo a verdade da f crist com argum entos para os quais no temos respostas?

    Certa vez, quando estava fazendo uma palestra em uma uni

    versidade da Sucia, um estudante me perguntou, durante a sesso

    de perguntas e respostas, logo depois da minha preleo: O que

    voc est fazendo aqui? . Completamente espantado, eu respondi:

    Fui convidado pelo Departamento de Estudos Religiosos para dar

    essa palestra . No isso que estou querendo dizer, insistiu ele.

    Voc no percebe o quanto tudo isso e estranho? Quero saber o

    que motiva voc pessoalmente a vir aqui lazer isso. Suspeito que ele

    nunca havia conhecido um filsofo cristo na vida na verdade,

    um importante filosofo sueco me disse que no havia filsofos cris

    tos em nenhuma universidade da Sucia. Aquela pergunta me deu

    i l 5 * E m G c a r d a

  • a oportunidade de compartilhar com aquela estudante a histria de como eu me converti.

    O ceticismo \nas universidades europeias algo to profundo que quando falei sobre a existncia de Deus, na Universidade do Porto, em Portugal, os estudantes (segundo me informaram depois) chegaram a ligar para o Instituto de Filosofia da Universidade de

    Louvain, na Blgica, ao qual sou afiliado, para saber se eu era um impostor! Eles acharam que eu era um embuste! Eu simplesmente

    no me adequava ao esteretipo que eles faziam de um cristo.Se o evangelho deve ser ouvido como algo intelectualmente

    vivel por mulheres e homens que pensam, ento vital que ns, cristos, moldemos nossas culturas de tal forma que a f crist no

    possa ser descartada como mera superstio. nesse ponto que entra a apologtica crist. Se os cristos puderem ser treinados para

    fornecer slidas evidncias daquilo em que creem e boas respostas para as perguntas e objees dos incrdulos, ento a imagem que se tem dos cristos vai pouco a pouco mudar. Os cristos passaro a

    ser vistos como pessoas inteligentes e preparadas, a serem levadas a srio, e no meros fanticos ou palhaos. E o evangelho ser uma opo concreta para essas pessoas seguirem.

    No estou dizendo com isso que as pessoas se tornaro crists por causa de bons argumentos e evidncias. Antes, estou dizendo que argumentos e evidncias ajudaro a criar uma cultura na qual a f crist seja visto como algo razovel. E aju

    daro tambm a criar um ambiente em que as pessoas estaro abertas ao evangelho., Portanto, ter uma boa formao em apologtica uma maneira de vital importncia de ser sal e luz nas culturas ocidentais de hoje em dia.

    2. Para fo r ta le cer os que creem . Os benefcios da apologtica em sua vida pessoal como cristo so imensos. Vou mencionar trs deles. Primeiro,, saber em que e porque voc cr vai lhe dar mais confiana na hora de compartilhar sua f. Vejo isso acontecer o tempo todo, nas universidades, quando participo de

    O Q I E E A P O L O G E T i r \ >

  • debates pblicos com professores que no so cristos. M inha experincia mostra que, embora esses professores universitrios sejam

    muito bem preparados em sua rea de especializao, eles praticamente no tm a mais remota ideia no que diz respeito s evidncias do cristianismo. A posio crist nesses debates em geral est to na

    frente da posio dos no cristos que estudantes incrdulos geralmente reclamam que o debate foi uma armao preparada para desmoralizar a posio contrria ao cristianismo! Mas a verdade que procuramos trazer os melhores oponentes para os debates, e eles em geral so escolhidos pelo prprio grupo de ateus das universidades.

    J os estudantes cristos, ao contrario, saem desses debates com

    o peito cheio de orgulho por serem cristos. Certa vez um estudante canadense me disse apos um debate: Mal posso esperar para compartilhar a minha f em Cristo!. Pessoas que no so treinadas na apologtica costumam ter medo de compartilhar sua f ou falar de Cristo por temerem que algum lhes faa alguma pergunta. Mas

    quem souber as respostas para essas perguntas no ter medo de entrar na caverna dos lees na verdade, vai at gostar disso! Um bom treinamento em apologtica ajudar a transform-lo em algum que testemunha a Cristo sem medo e com ousadia.

    O segundo benefcio que a apologtica tambm poder ajud- -lo a manter sua f em tempos de dvidas e tribulaes. As emoes

    s levaro voc at certo ponto; dali para frente voc precisar de algo mais substancial. Quando fao palestras em igrejas pelo pas afora,

    costumo encontrar pais que me dizem: "Ah se voc tivesse vindo aqui dois ou trs anos atrs! Nosso filho tinha uma serie de perguntas sobre a f crist e no sabamos respond-las. Hoje

    ele est afastado dos caminhos do Senhor. Na verdade, parece haver mais e mais relatos de pessoas que esto abandonando a f crist.

    Um misnistro cristo, na Universidade de Stanford, recentemente

    me contou que 40 por cento dos estudantes cristos de segundo grau, que pertencem a grupos de jovens de igrejas, vo se afastar das

    ______________________ Pa r a d i s c u t i r

    Por que voc acha que tantos estudantes abandonam a f durante ou logo depois do Segundo grau? A quem ou o que devemos culpar por isso?

  • igrejas totalmente depois de formados. Estamos falando de 40 por

    cento! O que est acontecendo no que eles estejam perdendo a f no ambiente hostil das universidades. Ao contrrio, muitos deles j rinham abandonado a f quando ainda participavam de um grupo de jovens, mas continuaram deixando-se levar at que estivessem

    fora do alcance da autoridade dos pais.

    Em minha opinio, a igreja est realmente falhando com esses jovens. Em vez de fornecer a eles um bom treinamento na defesa da f crist, ns ficamos envolvidos em lhes proporcionar experincias de louvor carregadas de emoo, ficamos nos preocupando com suas

    necessidades e em entret-los. No toa que eles se tornam presas fceis para um professor que racionalmente ataca a sua f. No segundo grau e na faculdade, os estudantes so bombardeados com todo tipo de filosofia no crist combinada com um avassalador relativismo e ceticismo, lemos que preparar nossos jovens para essa guerra.

    Como temos coragem de envi-los desarmados para essa zona de guerra intelectual? Os pais devem fazer mais do que apenas levar seus filhos igreja e ler histrias da Bblia para eles. Pais e mes precisam

    ser bem treinados em apologtica para que sejam capazes de explicar aos filhos, desde pequenos e cada vez com maior profundidade, porque cremos naquilo que cremos. Honestamente falando, acho difcil de entender como casais cristos, nesses tempos em que vivemos, podem correr o risco de trazer filhos ao mundo sem terem recebido um bom treinamento em apologtica como parte de seu ofcio de pais.

    E evidente que a apologtica no garante que voc e seus filhos vo manter a f. Existem muitos outros fatores de carter moral e

    espiritual que tambm influenciam nessa questo. Alguns dos web- sites atestas mais eficazes trazem ex-cristos que sabiam apologtica e ainda assim abandonaram a f. Mas se voc olhar bem de perto os

    argumentos que eles usam para justificar o abandono da f ver que em geral so argumentos fracos e confusos. Recentemente acessei um website em que uma pessoa fornecia uma lista de livros que a tinha persuadido de que o cristianismo no fazia sentido e em seguida, dizia que esperava ter a oportunidade de l-los algum dia!

    \

    R j ATI VI SM O

    Relativismo a viso de que algo relativo, e no absoluto. Ou seja, aquilo que est sendo questionado (a verdade, um valor moral, uma propriedade) s o que em relao outra coisa. Por exemplo, ser rico algo relativo. Em relao a muitos norte-americanos, voc provavelmente no rico. Mas em relao s pessoas do Sudo,voc extraordinariamente rico! Por outro lado, o fato de que o Brasil ganhou a Copa de 2002 no apenas relativamente verdade. absolutamente verdade que o Brasil ganhou a Copa. Muitas pessoas acreditam que princpios morais e crenas religiosas so, na melhor das hipteses, verdades relativas: como elas costumam dizer, so verdade para voc, mas no para mim.

    E \ P O I C K , L T I 21

  • Ironicamente, algumas dessas pessoas assumem posturas mais radi

    cais como dizer, por exemplo, que Jesus jamais existiu e que

    exigem uma dose maior de f do que a viso conservadora que um

    dia elas tiveram.

    Porm, embora a apologtica no seja garantia de nada, ela pode ajudar. Nas minhas viagens tambm j encontrei pessoas que esta

    vam a ponto de abandonar a f, mas se reaproximaram dela aps ter

    lido um livro de apologtica ou assistido a um debate. Recentemente

    tive o privilgio de dar uma palestra na Universidade de Princeton

    sobre os argumentos em favor da existncia de Deus. Depois da

    palestra, um jovem se aproximou, querendo conversar comigo. Ten

    tando segurar as lgrimas, ele me confessou que uns dois anos atrs

    ele estivera lutando com muitas dvidas e a ponto de abandonar sua

    f. Ento algum lhe mandou um vdeo de um dos meus debates.

    Ele me disse: Aquele vdeo me livrou de perder a f. No tenho

    como lhe agradecer por isso.

    E eu disse a ele: Foi o Senhor que livrou voc de perder a f.

    Sim, ele retrucou, mas ele usou voc para isso. No tenho pala

    vras para lhe agradecer. Ento, eu disse a ele o quanto estava entu

    siasmado com aquilo e lhe perguntei de seus planos para o futuro.

    '= E m Gr

  • Eu me formo este ano e tenho planos de entrar para o seminrio.

    Quero ser pastor. Glria a Deus pela vitria na vida desse rapaz! Quando se est passando por um perodo difcil e Deus parece distante, a apologtica pode ajudar a pessoa a se lembrar de que sua f no est baseada em emoes, e que, portanto, necessrio permanecer firme na f.

    Finalmente, o terceiro benefcio que o estudo da apologtica far de voc uma pessoa mais profunda e interessante. A cultura ocidental to incrivelmente superficial hoje em dia, tem fixao por celebridades, entretenimento, esportes e conforto pessoal. Estudar apologtica far voc deixar tudo isso de lado e ir busca das questes

    mais profundas sobre a existncia e a natureza de Deus, a origem do universo, a fonte dos valores morais, o problema do mal e do sofrimento e assim por diante. medida que for buscando respostas para essas questes, voc mesmo vai sendo transformado

    e se tornar uma pessoa mais profunda e bem preparada. Aprender a pensar de forma lgica e a analisar o que outras pessoas falam. Em vez de dizer timidamente, eu me sinto dessa forma sobre tal assunto. Veja bem, s minha opinio, ser capaz de dizer: fEis o que eu penso de tal assunto e essas so minhas razes para pensar assim.... Como cristo, voc comear a apreciar com mais profundidade as verdades crists sobre Deus e o mundo, e a perceber como todas elas

    se encaixam para formar uma cosmoviso crist.3. Para ganha r os incrdulos. Muita gente concorda com o que

    eu disse sobre o papel da apologtica para reforar a f dos cristos, mas negam que ela seja de alguma utilidade para ganhar os incrdulos para Cristo. Costumam dizer: Ningum vem a Cristo atravs de argumentos!

    At certo ponto acredito que essas pessoas so meras vtimas de falsas expectativas. Quando algum se d conta dc que apenas uma minoria dos que ouvem o evangelho o aceita e passa a crer em Jesus Cristo, no deveria nos surpreender o fato de que a maior parte

    das pessoas no se deixem convencer pelos argumentos e evidncias

    _ ___Pa r a d i s c u t i r

    Como a apologtica pode ajudar voc?

    E \ P O L O G T I C A ?

  • A p o s t o l o d o s

    ____________ C . I ICOS

    C.S. Lewis (1898-1963) rejeitou o cristianismo quando era adolescente, por motivos pessoais e razes intelectuais. l\lo entanto, quando era professor de ingls em Oxford, e tinha por volta de trinta anos, ele teve contato com escritores e amigos que ofereceram a ele razes convincentes em favor do tesmo e depois em prol do cristianismo. Ele ento se converteu e comeou a colocar seus talentos intelectuais e literrios a servio de articular e defender uma viso crist do mundo. Veio a ser um dos mais influentes apologistas cristos de sua gerao Seus livros j venderam mais de 100 milhes de cpias no mundo inteiro.

    apresentadas por cristos. Pela prpria natureza da questo, deveramos esperar que a maior parte dos incrdulos no se deixe convencer por nossos argumentos apologticos, assim como a maioria no

    se comove com a mensagem da cruz.E lembre-se, ningum sabe nada ao certo sobre os efeitos cumu

    lativos desses argumentos; como uma semente, que plantada e regada muitas vezes, de forma que nem sequer imaginamos. Assim, no devemos esperar que um incrdulo, j na primeira vez que ouvir nossa defesa apologtica da f, vai logo cair prostrado! lgico que ele vai relutar. Pense bem no que est em jogo para ele. Mas deve

    mos plantar e regar a semente, com pacincia, na esperana de que com o tempo ela floresa e d frutos.

    Pode ser que voc se pergunte: Mas por que devo me importar com essa minoria de uma minoria para quem a apologtica far efeito? . Primeiro, porque toda pessoa preciosa para Deus, algum

    por quem Cristo morreu. Assim como um missionrio que tem um chamado para uma obscura minoria tnica, o apologeta cristo tem a responsabilidade de alcanar essa minoria de pessoas que iro responder de forma positiva a argumentos e evidncias racionais.

    Em segundo lugar, essa minoria, embora modesta em termos numricos, tem grande influncia. Uma das pessoas dessa minoria

    foi, por exemplo, C. S. Lewis. Pense no impacto que a converso desse homem continua a ter at hoje! J percebi que as pessoas que respondem melhor aos meus argumentos apologticos so en

    genheiros, mdicos e advogados. So pessoas que esto entre as de maior influncia na formao de nossa cultura atual. Portanto, alcanar as pessoas dessa minoria trar uma grande colheita para o reino de Deus.

    De qualquer modo, a concluso geral de que a apologtica no eficaz no evangelismo simplesmente no verdade. Lee Strobel recentemente me contou que j perdeu a conta das pessoas que aceitaram a Cristo depois de terem lidos seus livros, The Case f o r '.hrist [Em defesa de Cristo] e lh e Case f o r Faith [Em defesa da f]. Minha experincia pessoal tambm mostra que a apologtica no

    24 r l A R D A

  • ineficaz no evangelismo. Continuo a ficar muito entusiasmado ao ver pessoas entregando suas vidas a Jesus atravs de apresentaes do

    evangelho combinadas com apologtica.Depois de uma palestra sobre os argumentos em favor da exis

    tncia de Deus ou da ressurreio de Jesus, s vezes encerro com uma orao de entrega de vidas a Cristo, e os cartes distribudos

    para comentrios sobre a palestra mostram as pessoas que de fato resolveram dar esse passo. H pouco tempo fiz um tour de palestras por vrias universidades do centro de Illinois, e fiquei muito entusiasmado quando descobri que quase todas as vezes que eu fazia uma palestra estudantes da platia haviam entregado sua vida a Jesus. Vi estudantes se converterem somente por ter ouvido uma

    defesa do argumento cosmolgico (do qual falarei neste livro)!Tambm tem sido incrvel ouvir histrias de pessoas que se

    aproximaram de Cristo depois de ter lido algo que escrevi sobre apologtica. Desde os ataques de 11 de setembro tenho tido oportunidade de participar de debates com apologetas do Isl em vrias universidades do Canad e dos Estados Unidos. Recentemente, num sbado bem cedinho, recebi um telefonema. A voz de um

    estrangeiro identificou-se do outro lado da linha: Al, quem fala Sayd al-Islam. Estou ligando de Om!. E comeou a me contar em sigilo que havia perdido a f no islamismo e tornara-se ateu. Mas agora que ele estava lendo vrias obras de apologtica crist que estava comprando pelo site da Amazon, ele viera a acreditar em Deus e estava prestes a entregar sua vida a Cristo.

    Ele se dizia impressionado com as evidncias em favor da res

    surreio de Jesus e havia me ligado porque tinha muitas perguntas que ainda precisavam de respostas. Conversamos por cerca de uma hora e senti que no fundo do corao ele j acreditava em Jesus; ele

    s estava sendo cauteloso e queria estar certo de que tinha todas as evidncias de que precisava antes de conscientemente dar o passo final. Ele explicou: Voc entende que eu no posso lhe dar meu nome verdadeiro. No meu pas eu preciso levar uma espcie de vida dupla, pois, do contrrio, eles me matam. Orei com ele para que

    A P O L O ( ; I I I C A ? 5 *

  • Deus continuasse a gui-lo para a verdade e ento nos despedimos.

    Voc consegue ter ideia do quanto meu corao estava agradecido

    por Deus usar esses livros e at a internet na vida desse homem? Po

    dem existir muitas histrias como essa e ns, evidentemente, jamais

    ouviremos a maioria delas.

    Quando a apologtica apresentada de forma convincente e, com sensibilidade, combinada apresentao do evangelho e a um

    testemunho pessoal, o Esprito de Deus fica feliz em us-la para

    trazer pessoas a Cristo.

    Com o tirar o m elhor proveito deste livroPretendo que este livro seja uma espcie de manual a fim de pre

    par-lo para cumprir o mandamento de 1 Pedro 3.15. Portanto,

    um livro para ser estudado, e no apenas lido. Voc encontrar nele vrios argumentos que apresentei na forma de passos muito fceis

    de memorizar. Ao expor um argumento, apresento uma razo (ou

    vrias) para se acreditar que cada passo do argumento verdade.

    A seguir, rebato cada uma das costumeiras objees apresentadas a

    cada passo do argumento e mostro como respond-las. Dessa forma

    voc j estar de antemo preparado para as possveis perguntas que

    encontrar quando for compartilhar sua f.

    Por exemplo, suponhamos que nosso argumento fosse o seguinte:

    1. Todos os homens so mortais.

    2. Scrates homem.

    3. Logo, Scrates mortal.

    Esse um argumento que chamamos de logicamente vlido.

    Isso eqivale a dizer que, se os passos 1 e 2 so verdadeiros, ento o

    passo 3, a concluso, tambm .

    A lgica uma expresso da mente de Deus (Jo 1.1). Ela descre

    ve como um ser supremamente racional raciocina. Existem somente

    cerca de nove regras bsicas de lgica. Desde que voc as siga, elas

    S * E m G u a r d a

  • garantem a voc que, se os passos do seu argumento forem verdadeiros, a concluso tambm sera. Dizemos, ento, que dos passos do

    argumento se segue logicam ente a verdade da concluso.Voc pode, ento, se perguntar: Os passos 1 e 2 do argumento

    apresentado so verdadeiros? Em apoio ao passo 1, podemos apresentar evidncias mdicas e cientificas em favor do fato de que todo

    homem mortal. Em apoio ao passo 2, podemos nos basear em

    evidncias histricas para provar que Scrates foi homem. Ao longo

    desse processo, podemos considerar quaisquer objees aos passos

    1 e 2 e respond-las. Por exemplo, alguem pode negar o passo 2

    por acreditar que Scrates no passava de uma figura mtica, que

    no existiu de fato. Nesse caso, teremos que demonstrar porque as

    evidncias sugerem que essa crena equivocada.

    Os passos 1 e 2 de um argumento so chamados premissas. Se voc seguir as regras da lgica e suas premissas forem verdadeiras,

    ento sua concluso necessariamente ser verdadeira tambm. Ora,

    um ctico convicto pode refutar qualquer concluso simplesmente

    refutando uma de suas premissas. Voc no tem como forar algum

    a aceitar a concluso se ele estiver disposto a pagar o preo de rejeitar

    uma das premissas., No entanto, o que voc pode fazer aumentar

    o preo de se rejeitar a concluso, fornecendo slidas evidncias da

    verdade das premissas.

    Por exemplo, a pessoa que rejeitar a segunda premissa do argu

    mento apresentado estar abraando um ceticismo em relao

    histria que a vasta maioria dos historiadores profissionais acharia

    infundado. Assim, essa pessoa at pode refutar a segunda premissa

    se quiser, mas pagar o preo de parecer um maluco. E alm disso

    dificilmente ela poder chamar de irracional algum que de fato

    a ceite a segunda premissa como verdadeira.Portanto, ao apresentar nossos argumentos apologticos para

    determinada concluso, nosso objetivo aumentar o mximo pos

    svel o preo de algum negar sua concluso. Nosso objetivo aju

    dar um incrdulo a ver o que lhe custar em termos intelectuais a

    - X

    P r e m i s s a

    Os passos de um argumento que levam concluso so chamados de premissas".

    O Q U E E A P O L O G T I C A ? ' S * 27

  • refutao da concluso. Mesmo que ele esteja disposto a pagar o preo, ele no mnimo ter que admitir que ns no somos obrigados a pag-lo, e com isso pode ser que ele pare de ridicularizar os cristos, acusando-os de serem irracionais ou de no ter razo para crerem naquilo que professam. E caso ele no esteja disposto a pagar o preo, pode ser ento que ele venha a mudar de ideia e aceite a concluso que apresentamos.

    Ao apresentar argumentos e evidncias neste livro, procurei ser simples sem ser simplista. Levei em considerao as objees mais fortes aos meus argumentos e propus respostas a elas. Em certos

    momentos, o contedo lhe parecer novo e difcil. Nessas horas, encorajo voc a ir devagar, um pedacinho por vez, pois assim fica mais fcil de digerir. Pode ser que tambm ajude formar um pequeno

    grupo para estudar o livro e discutir seus argumentos. E, por favor, no se sinta constrangido, caso discorde de mim cm certos pontos. Quero que voc pense com sua prpria cabea.

    Ao final da maioria dos captulos voc encontrar um quadro explicativo com um esboo do argumento apresentado no captulo. Vou explicar como esse quadro deve ser usado. O quadro tem um

    formato que traz o meu argumento do lado esquerdo, sob o ttulo Prs . No lado direito, sob o ttulo Contras trago as objees que

    podem ser levantadas contra aquele argumento por um oponente. As flechas traam os caminhos que podem ser percorridos por esses vrios prs e contras oferecidos. O propsito desse quadro ajud- -lo a visualizar o todo do argumento.

    Considere, por exemplo, o seguinte quadro: Do lado esquerdo temos a primeira premissa do argumento: Todos os homens

    so mortais . Seguindo a flecha voc encontrar a evidncia que e dada em apoio a essa premissa. No caso da primeira premissa, no temos nenhuma objeo a ela, e assim o lado dos Contras fica em branco. Logo abaixo, no lado dos Prs encontramos a segunda premissa: Scrates e homem . Nesse caso, os cticos

    costumam oferecer uma objeo, e assim voc encontrar no lado dos Contras a seguinte objeo: Scrates no passou de uma

    5 * E m G u a r d a

  • figura mtica . Seguindo a flecha que sai do quadrinho dessa obje

    o, voc encontrara a resposta para ela, que traz de forma sucinta as evidncias histricas em favor da real existncia de Scrates. Observe que fornecida apenas uma resposta bem abreviada; ler este quadro no elimina a necessidade de estudar a apresentao dos argumentos no texto do capitulo. Esse quadro serve apenas para ajuda-lo a visualizar o todo do argumento.

    EXEMPLO DE UM ESBOO DE ARGUMENTO

    Prs Contras

    1. Todos os homens sao mortais.

    Evidncias da biologia demonstram que os organismos humanos um dia morrem.

    2. Scrates homem.

    Tanto Plato quanto Aristteles se referem a Scrates como uma pessoa real.

    'Scrates no passou de

    uma figura mtica"

    3. Logo, Scrates mortal.

    O Q U E A P O L O G T I C A ? '= *

  • Voc no gostaria de ser capaz de defender sua f com inteligncia? Nao gostaria de ter alguns argumentos na ponta da lngua para apresentar a algum que diga que os cristos no tm bons motivos para crerem naquilo que professam? J no est cansado de se sentir intimidado por incrdulos? Se estiver, ento leia este livro! Estou feliz por voc t-lo escolhido e recomendo que esteja sempre en ga rd e", ou seja, pronto para dar a razo de sua esperana.

    5 * F m G u a r d a

  • C A PT U L O 2

    QUE D I F E R E N A FAZ SE DEUS EXISTE?

    Mas, quando p e n sa em tudo que as minhas mos haviam feito e em todo o esforo que empenhei

    no que realizei, perceb i que tudo era iluso; tudo foi como p ersegu ir o vento ( Ec 2 .11).

    Jan e eu estvamos morando na Blgica quando a Unio Sovitica e a cortina de fer

    ro caram. Foi uma poca incrvel para se filar nas universidades em toda a Europa,

    om um evento histrico dessa proporo, que estava mudando o mundo, acontecendo

    bem diante de nossos olhos. Em uma viagem para So Petersburgo (antiga Leningrado),

    logo aps a queda da cortina de ferro, visitei o famoso cosmlogo russo, Andrei Grib.

    Enquanto passevamos por um convento, admirando esplndidos tesouros do passado

    da Rssia czarista, perguntei a Andrei sobre a macia procura por Deus na Rssia, logo

    aps a queda do comunismo. Bem, ele me disse com forte sotaque russo, em mate

    mtica chamamos isso de prova por contradio. Pode-se provar que algo verdadeiro

    mostrando-se que o contrrio daquilo falso. Por setenta anos tentamos adotar o mar

    xismo ateu neste pas, e no funcionou. Por isso, todos chegaram concluso de que o

    oposto deve ser verdade!.

    Parte do desafio de fazer norte-americanos, e os ocidentais em geral, pensarem sobre

    Deus est no fato de que eles se acostumaram tanto com Deus que o tomam como algo

    certo. Jamais pensam em perguntar quais seriam as implicaes se Deus no existisse. O resultado disso a crena de que Deus irrelevante. No faz diferena se ele existe ou no.

    Portanto, antes de compartilhar com as pessoas as evidncias em favor da existncia

    de Deus, pode ser que seja preciso primeiro ajud-las a ver por que isso importa. Do

    contrrio, elas simplesmente nem ligaro. Ao mostrar a elas as implicaes do atesmo,

    podemos ajud-las a ver que a questo da existncia de Deus significa muito mais do

  • Reductio ad absurdum ou reduo ao absurdo uma forma de argumento que prova a veracidade de um enunciado pela demonstrao de que seu contrrio absurdo.

    O sentido tem a ver com importncia, o porqu de algo importar. 0 valor tem a ver com o bem e o mal, o certo e o errado. O propsito tem a ver com uma meta, uma razo para algo.

    O b j e t i v o v e r s u s s u b j e t i v o

    Objetivo tudo o que real e verdadeiro independente da opinio que algum tenha a seu respeito. H20 a frmula da gua um fato objetivo.

    Subjetivo tudo o que se reduz a uma questo de opinio pessoal. Dizer que o sabor baunilha mais gostoso do que o sabor chocolate algo subjetivo. Voc poder guardar bem esses termos lembrando-se que objetivo como um objeto que est realmente ali, na sua frente, ao passo que subjetivo como um sujeito ou uma pessoa de cuja opinio algo dependa.

    que um mero acrscimo de outro item em nosso repertrio pelo contrrio, uma questo que se encontra na prpria essncia do sentido da vida. Logo, diz respeito essncia de cada um de ns.

    A prova por contradio do professor Grib tambm conhecida como reductio a d absurdum (reduo ao absurdo). Esse rtulo bem apropriado quando se trata de atesmo. Muitos filsofos, como

    Jean-Paul Sartre e Albert Camus, j argumentaram que se Deus no existe, logo a vida absurda. Reconhecemos que nenhum deles fez prova em contrrio disso, ou seja, nenhum deles provou que Deus existe. Antes, eles concluram que a vida realmente absurda. No entanto, a anlise que fizeram da existncia humana nos mostra claramente as cruis implicaes do atesmo.

    O absurdo da vida sem Deus pode no provar que Deus existe,

    mas na verdade mostra que a questo da existncia de Deus a pergunta mais importante que algum pode se fazer. Ningum que conhea a fundo as implicaes do atesmo ousar dizer que tanto faz se Deus existe ou no.

    Quando uso a palavra Deus neste contexto, quero dizer o Criador do universo, o Deus onipotente e perfeito, que nos oferece a vida eterna. Se esse Deus no existisse, ento a vida seria absurda. Isso eqivale a dizer que a vida no teria sentido, valor ou propsito.

    Esses trs conceitos sentido, valor e propsito embora sejam intimamente relacionados, so distintos. Sentido tem a ver com significado, com o porqu algo importa. Valor tem a ver com o bem e o mal, o certo e o errado. Propsito tem a ver com a finalidade, com a razo de algo existir.

    M inha alegao que, se Deus no existir, ento sentido, valor e propsito so, em ltima anlise, meras iluses humanas. So coisas

    que s existem em nossa cabea. Se o atesmo for verdade, ento a vida de fato objetivamente sem sentido, sem valor e sem propsito, a despeito das crenas subjetivas que possamos ter em contrrio.

    Vale a pena destacarmos esse ponto, uma vez que ele to frequentemente mal compreendido. No estou dizendo que um ateu veja a vida como algo maante, sem sentido, ou que ele no tenha

    32 5 * F m G i ud a

  • valores pessoais, ou leve uma vida imoral, no tenha objetivos nem

    propsitos 11a vida. Ao contrrio, a vida seria insuportvel e impos

    svel de viver sem tais crenas. Meu ponto que, dado o atesmo, todas essas crenas no passam de iluses subjetivas: so meras aparncias de sentido, valor e propsito, muito embora, objetivamente alando, nada disso realmente exista. Se Deus no existir, nossas

    vidas so, em ltima anlise, destitudas de sentido, de valor e de

    propsito, no importa o quo desesperadamente nos agarremos a

    iluses em contrrio.

    O absurdo da vida sem DeusSe Deus no existir, tanto o homem quanto o universo esco ine

    vitavelmente fadados morte. O homem, como todos os demais

    organismos biolgicos, deve morrer um dia. Sem a esperana da

    imortalidade, a vida humana caminha apenas para a cova. A vida

    humana no passa de uma fasca na escurido infinita, uma fasca

    que aparece, emite uma trmula chama e se extingue para sempre.

    Portanto, todo mundo deve ficar tace a face com aquilo que

    Paul Tillich chamou de a ameaa do no ser. Pois, embora eu saiba

    que existo, que estou vivo, tambm sei que um dia no mais exis

    tirei, deixarei de existir, morrerei. Essa ideia atordoante e amea-

    adora: pensar que a pessoa que chamo de mim mesmo deixar de

    existir, e no mais ser!

    Lembro-me claramente da primeira vez que meu pai me expli

    cou que um dia eu morreria. De algum modo aquele pensamento

    nunca havia passado pela minha mente infantil. Quando ele me

    disse isso, fui tomado por um grande medo e uma tristeza profunda.

    F. embora ele ficasse me dizendo que isso ainda demoraria a acon

    tecer, aquilo no parecia importar para mim. Cedo ou tarde, o fato

    inegvel que eu iria morrer, e esse pensamento me oprimia.

    Com o passar do tempo, como acontece com todos ns, eu pas

    sei simplesmente a aceitar o faLo. iodos ns aprendemos a conviver

    com o inevitvel. Mas aquela percepo da minha infncia ainda me

    I [ -E? 5 II

  • U m h o m e m d i s s i ;

    AO L N 1V 1R S O

    STEPH 1:N G r a n e

    Um homem disse ao universo:

    Eu existo!

    Ento o universo respondeu:

    Mas esse fato no gerou para mim nenhum senso de obrigao.

    assombra. Gomo disse Sartre, uma vez perdida a eternidade, nao faz muita diferena se isso demorar muitas horas ou muitos anos.

    O prprio universo tambm encara a morte a seu prprio modo.

    Os cientistas nos dizem que o universo est se expandindo, e que as galxias estao cada vez mais se distanciando. medida que isso acontece, vai ficando cada vez mais frio, medida que se consome a energia. Um dia todas as estrelas se apagaro, e toda matria ser atrada por estrelas mortas e buracos negros. No haver mais luz, nem calor, nem vida; somente estrelas mortas e galxias expandin- do-se cada vez mais para dentro da escurido sem fim dos frios in

    tervalos do espao um universo em runas.No estou falando de fico cientfica: isso realm ente vai a con

    tecer, a menos que Deus intervenha. No s a vida de cada um de ns que est fadada a terminar um dia; toda raa humana e tudo que

    a civilizao humana j construiu e conquistou est fadado a ter o mesmo fim. Somos como prisioneiros condenados morte, aguar

    dando a inevitvel execuo da sentena. Nao h como escapar. No h esperana.

    E qual a conseqncia disso? Isso significa que a prpria vida se torna algo absurdo. Significa que a vida que temos no tem um sentido, nem valor nem propsito final. Vamos analisar cada um

    desses pontos.

    A

    Sem um sen tid o ltim oSe toda pessoa deixa de existir quando morre, ento, qut sentido ltimo h em viver? Ser que faz alguma diferena no final ter ou no sequer existido? Com certeza a vida de uma pessoa pode ser

    importante em relao a certos acontecimentos, mas qual o sentido ltimo de qualquer desses acontecimentos? Se tudo est fadado

    a se acabar, ento o que importa o fato de algum ter tido alguma influncia sobre determinados acontecimentos? Km ultima an

    lise, no tem a menor importncia.

    __ Pa r a n i N c i m n

    J sentiu alguma vez as trevas do desespero tomando conta de voc, a sensao de que sua vida no tem sentido? Como lidou com isso?

    34 * E m G l \r d a

  • A humanidade, portanto, no tem mais sentido do que um enxame de mosquitos ou um punhado de porcos, pois o final de

    todos o mesmo. O mesmo processo csmico cego, do qual eles resultaram, vai, no fim de tudo, trag-los de volta. As contribuies de um cientista para o avano do conhecimento humano, as pesquisas para aliviar a dor e diminuir o sofrimento, os esforos diplomticos para garantir a paz mundial, os sacrifcios feitos por pessoas de bem,

    em todo o mundo, para melhorar a sorte da raa humana tudo isso resultar em nada. E este o horror do homem moderno: por ele acabar em nada, ele nada .

    Porm, importante perceber que o homem precisa mais do que apenas imortalidade para sua vida fazer sentido. A mera durao da existncia no faz com que a existncia tenha um sentido. A nda que a

    Q u e d i f e r e n a f a z s e D e u s i x i s t e ? S *

  • Cite alguns personagens de filmes que exemplificaram o absurdo da vida. Como eles expressavam essa ideia de que a vida absurda?

    raa humana e o universo pudessem existir para sempre, se Deus no existisse, a existncia continuaria a no ter um sentido lrimo. Certa

    vez li uma estria de fico cientfica em que um astronauta foi aban

    donado em um estril pedao de rocha perdido no espao sideral.

    Ele trazia consigo dois frascos, um deles com veneno e o outro tinha

    uma poo que o faria viver para sempre. Ao perceber o futuro que o aguardava, ele tomou o frasco dc veneno. Mas, para seu horror, o

    pobre homem descobriu que havia tomado o frasco errado: ele tinha

    tomado a poo da imortalidade! E isso significava que estava conde

    nado a viver para sempre uma vida sem sentido, sem fim.

    Ora, se Deus no existir, nossas vidas so como a desse astro

    nauta. Poderamos viver para sempre e ainda assim vivermos uma

    vida completamente sem sentido. Mesmo se fossemos eternos, ain

    da assim perguntaramos para a vida: Afinal, e da?. Portanto, o homem no precisa apenas da imortalidade para que haja um sen

    tido ltimo para viver: ele precisa de Deus e da imortalidade. E se

    Deus no existir, ento ele no tem nem uma coisa nem outra.

    Logo, se Deus no existir a prpria vida se torna sem sentido. O homem e o universo

    ficam sem um sentido ltimo.

    Se a imortalidade no existe [ .. .] ento tudo permitido.

    Fdor Dostoivski

    Sem um valor ltimoSe a vida termina no tmulo, ento no faz a

    menor diferena se voc vive como um Stalin ou como madre Teresa de Calcut. Uma vez que seu destino no tem

    qualquer relao final com seu comportamento, voc pode perfeita

    mente viver como bem entender. Como disse certa vez Dostoivski:

    Se a imortalidade no existe [ .. .] ento tudo permitido.

    Os torturadores oficiais nas prises russas entendiam bem essa

    colocao. Veja o relato de Richard Wurmbrand, um pastor que foi

    torturado por sua f:

    E difcil acreditar na crueldade do atesmo quando no se

    cr na recompensa do bem ou na punio do mal. No h

    L m G u a r d a

  • motivo para ser humano. No h limites para as insondveis

    profundezas do mal que se encontram dentro do homem. Os

    torturadores comunistas costumavam dizer: No h Deus,

    no h outra vida, no h punio para o mal. Podemos fazer

    o que bem quisermos." Ouvi at mesmo um torturador dizer:

    Agradeo a Deus, em quem no acredito, por ter vivido para

    colocar para fora todo o mal que trago em meu corao. ' lc

    disse essas palavras em meio a uma inacreditvel brutalidade,

    enquanto torrurava prisioneiros.1

    Devido ao carter definitivo da morte, realmente no importa

    como se vive. Ento, o que dizer a algum que conclui que tambm

    pode viver como bem entender, do jeito que mais lhe agradar?

    Pode ser que algum diga que adotamos um padro de vida mo

    ral porque isso interessa a ns mesmos. Voc lava minhas costas, que

    eu lavo as suas! Mas isso claramente nem sempre e verdade: todos

    sabemos de situaes em que o interesse prprio se choca de frente

    com a moralidade. Ainda mais se voc for algum poderoso, como

    um Ferdinando Marcos, um Papa Doc Duvalier ou mesmo um

    Donald Trump; nesse caso, voc pode praticamente ignorar os

    ditados da conscincia e viver tranquilamente do jeito que bem

    entender.

    O historiador Stewart C. Easton resume bem essa questo,

    quando escreve: No ha nenhuma razo objetiva para cjue o ho

    mem tenha moral, a menos que a moralidade traga alguma recom

    pensa para sua vida em sociedade ou o laa sentir-se bem. Nao h

    nenhuma razo objetiva para qut o homem faa qualquer coisa, a

    menos que isso lhe traga algum prazer.

    Ri.hard W urmbrand, lt/ ,;.nva fo r Christ. Londres: Hodder & Stoughtor 1 % , p. 34. Publicado em porrugues sob o ttulo Torturado p o r a m o r a isto, pela Voz dos Mrtires.

    Stewart C. haston, lh e Western H entage. Nova Iorque: Holt, Rinehart, & Wnston,1966, p. 8 8.

  • Mas o problema fica ainda pior. Pois, mesmo deixando de la d s

    a imortalidade, se Deus no existir, ento no h um padro objeti

    vo do que seja certo ou errado. Somos todos confrontados com isso

    que , nas palavras de Sartre, a realidade nua e crua, a realidade sem

    valor da existncia. Nesse caso os valores morais so meras expres

    ses de gosto pessoal ou subprodutos da evoluo biolgica ou do

    condicionamento social.

    Afinal de contas, segundo a viso do atesmo, no h nada de

    especial nos seres humanos. Eles so meros subprodutos acidentais

    da natureza, que de forma relativa evoluram recentemente sobre

    uma partcula infinitesimal de poeira chamada planeta Terra, per

    dido em algum lugar desse universo hostil e sem propsito, e que

    esto fadados a perecer, individual e coletivamente, em um tempo

    relativamente curto. A avaliao que Richard Dawkins faz do valor

    do ser humano pode ser deprimente, mas por que, dado o atesmo,

    ele estaria errado quando diz que no final no h nenhum design,

    nenhum propsito, nenhum mal, nenhum bem, nada mais do que

    rena [...] Somos mquinas para a propagao

    relativos e subjetivos. Pense no que isso significa! Significa que

    impossvel condenar a guerra, a opresso, os crimes ou o mal.

    Citado em Lewis Wolpert, Six Im possib le Things b e fo r e Breakfasi New York: W. W. Norton & Co, 2008 p. 21^. Infelizmente, a referncia de Wolpert est

    equivocada. L^sa citac o parece ter sido extrada de Richard Dawkins, R iver o u t o f

    E den: a D arw in ian View o fL ife . Nova Iorque: Basic Books, 1996, p. 133 (publicado em portugus sob o ttulo O rio q u e saa d o Eden: um a viso d a rw in ia n a da

    vida, pela editora Rocco); e de outro escrito de Richard Dawkins, The Ultraviolet Garden, Palestra 4 das 7 Palestras do Royal Ins' tution Christmas, Londres, 1991. Agradeo a meu assistent Joe Gorra por traar a origem dessa referncia!

    de DNA [...] Essa a nica e exclusiva razo

    de cada ser vivo existir?3

    Em um mundo sem Deus, quem pode

    dizer quais valores so certos e quais so er

    rados? Nesse mundo no pode existir certo e

    errado, mas somente nossos juzos pessoais,

  • Tambm no se pode louvar a generosidade, o autossacrifcio nem

    o amor. Matar ou amar algum so coisas moralmente equivalentes.

    Pbis em um universo sem Deus, no h bem e mal h apenas a

    realidade nua c crua, a realidade sem valor da existncia, e no h

    ningum para dizer se voc est certo ou errado.

    Srm um p rop s ito ltim oSe a morte nos espera de braos abertos no fim da estrada, qual

    ento o propsito de viver? Fazemos tudo isso para nada? No h

    uma razo para a vida? E o universo, ser que algo absolutamente

    inril? Se o seu destino for acabar numa cova fria dos intervalos do

    espao sideral, a resposta deve ser uma s: sim, o universo algo

    intil. No tem um fim, um propsito. Os fragmentos desse univer

    so morto vo somente se expandir e se expandir para sempre.E o ser humano, ser que no h absolutamente nenhum pro

    psito para a raa humana? Ser que ela simplesmente desaparecer

    um dia, perdida no esquecimento de um universo indiferente? O

    escritor ingls H. G. Wells previu essa possibilidade. Em seu roman

    ce The Time M achine [A mquina do tempo], um de seus personagens faz uma viagem no tempo e chega ao futuro, para descobrir o

    destino do homem. Tudo o que ele encontra um planeta de cor

    prpura girando em volta de um gigantesco sol, um planeta mor

    to, exceto por uns poucos liquens e musgos. Os nicos sons so o

    murmrio do vento e o barulho do mar. Fora esses sons sem vida,

    o mundo se encontrava no mais completo e absoluto silncio. Silncio? Seria difcil descrever essa quietude, esse silncio retumbante.

    Todos os sons produzidos pelos seres humanos, o som dos animais,

    o canto dos pssaros, o barulho dos insetos, toda a agitao que d

    forma e substncia ao contexto de nossas vidas nada disso existia

    mais.4 E o viajante retorna no tempo.

    * H. G. Wells, lh e T im e M ach in e. Nova Iorque: Berkeley, 1957. Publicado em

    portugus sob o titulo A m qu in a d o tem po, pela editora Aifaguara.

    Q u d i F r rf . n ( . f a z s r . D i s f x i s t e ? 5 *

  • Mas retorna para qu? retorna apenas para uma frao anterior de tempo, para uma mesma agitao frentica e sem propsito

    em direo a esse esquecimento. Quando li o romance de Wcll pela primeira vez, eu ainda no era cristo, e me lembro de ter pensado. No, no p od e term inar assim! Porm, se Deus no existir, certamente term inar assim, quer essa ideia nos agrade ou no. Essa e a realidade de um universo sem Deus: no h esperana nem propsito.

    O que acontece com a humanidade como um todo tambm

    vale para cada um de ns, individualmente: estamos aqui sem nenhum propsito. Se Deus no existir, ento no h diferena qualitativa entre a vida humana e a vida animal. bem como o escritor

    de Eclesiastes colocou: O que acontece com os homens o mesmo que acontece com os animais; a mesma coisa acontece para ambos. Assim como um morre, morre tambm o outro. Todos tm o mesmo flego de vida. O homem no tem vantagem sobre os animais. T ido iluso. Iodos vo para o mesmo lugar; rodos so p e todos

    retornaro ao p (Ec 3 .19-20) .Nesse antigo livro que mais parece uma pea da literatura

    existencialista moderna do que um livro da Bblia o autor mostra

    O Z Y M A N D I A S

    P e r c y Bt s s h e S h e i r.Eir

    Encontrei um viajante de uma terra antiga Que disse: Duas imensas pernas de pedra e sem tronco Encontram-se fincadas nas areias no deserto. Perto delas,Meio afundado na areia, jaz um semblante despedaado. Cujo cenho carregado, lbios franzidos e frio sorriso de escrnioDizem que seu escultor leu bem essas paixes E que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,A mo que delas escarneceu e o corao que as alimentou.

    E no pedestal da esttua aparecem estas palavras:Meu nome Ozymandias, rei dos reis: Olhe para minhas obras, Poderoso, e sedesespere!Nada mais resta. Em torno da decadncia Daquele destroo colossal, nuas e sem fimAs areias solitrias e planas do deserto vo ao longe.

    40 2* E m l

  • i futilidade do prazer, da riqueza, da instruo, da fama poltica e da honra em uma vida fadada a morrer. Sabe qual o seu veredicto? Que grande iluso! Que grande iluso! Tudo iluso! (Ec 1.2). Se

    a vida termina com a morte, ento no temos um propsito ltimo

    para a vida.

    Mais que isso, mesmo que a vida no terminasse com a morte,

    sem Deus a vida ainda careceria de propsito. Pois o ser humano e o

    universo seriam meros acidentes do acaso, trazidos a uma existncia

    sem razo. Sem Deus o universo fruto de um acidente csmico, de

    uma exploso acidental. No h uma razo para que ele exista. E o

    ser humano uma aberrao da natureza, produto casual de matria

    mais tempo mais acaso. Se Deus no existir, ento voc no passa de

    um aborto da natureza jogado em um universo sem propsito para

    viver uma vida sem propsito.

    Portanto, se Deus no existir, isso significa que o ser humano e o

    universo existem sem um propsito uma vez que o fim de tudo

    a morte e que vieram a existir sem propsito algum, uma vez que

    so meras obras do acaso. Em sntese, a vicia algo completamente

    sem razo.

    Espero que voc comece a entender a gravidade das alternativas

    que temos diante de ns. Pois, se Deus existe, ento h esperana

    para o ser humano. Mas se Deus no existe, ento tudo que nos res

    ta o desespero. Como algum j escreveu com muita propriedade:

    Se Deus est morto, o homem tambm est.

    Vivendo em negaoLamentavelmente a maioria das pessoas no se d conta disso. Con

    tinuam a viver como se nada tivesse mudado. Recordo-me de uma

    estria contada por Nietzsche, um filsofo ateu do sculo xix, sobre

    um homem louco que, logo bem cedo invade a praa do mercado,

    com uma lanterna nas mos, gritando: "Estou procurando a Deus!

    Estou procurando a Deus! . Como muitos dos que estavam por ali

    no acreditavam em Deus, ele foi motivo de riso. Deus por acaso

    0 que acontece com os homens o mesmo que acontece com os animais; a mesma coisa acontece para ambos. Assim como um morre, morre tambm o outro. Todos tm o mesmo flego de vida. 0 homem no tem vantagem sobre os animais. Tudo iluso. Todos vo para o mesmo lugar; todos so p e todos retornaro ao p (Ec 3.19-20).

    Q l i m n ki \i \ i \/ ' i D i i m m m i ? ' 5* 41

  • est perdido?, as pessoas zombavam dele. Ou se escondeu? On

    quem sabe ele foi viajar ou se mudou para outro pas?. E riam dek s gargalhadas. Ento, escreve Nietzsche, o homem louco virou para

    eles e os fulminou com os olhos.

    Sabem onde est Deus?, gritou ele. Vou contar a vocs. Ns o matamos voc e eu. Somos todos assassinos dele.

    Mas como fizemos isso? Como fomos capazes de beber j

    oceano? Quem nos deu uma esponja para apagarmos o hori

    zonte? O que fizemos quando separamos a lerra do sol? Para onde ela caminha agora? [ ...] Para longe de todos os soisr

    Estamos afundando cada vez mais, para trs, para o lado. para frente, em todas as direes? Ser que ainda restou algo

    acima ou abaixo? Estamos vagando como que atravs de um

    nada infinito? No sentimos o hlito do espao vazio? Ele

    no est mais gelado? No so noites e mais noites que che

    gam o tempo todo? Ser que no ouvimos ainda um barulho sequer daqueles que cavam a cova onde esto enterrando

    Deus? [...] Deus est morto [ .. .] E fomos ns que o mata

    mos. C')ino ns, assassinos dos assassinos, vamos consolar a

    nos mesmos:

    Pa r a d i s c u t i r

    As pessoas que voc conhece esto dispostas a encarar as conseqncias do atesmo? Por que esto ou no esto?

    A multido olhava fixamente para o lou

    co, em silncio e espanto. Por fim, o homem

    jogou sua lanterna no cho. Cheguei cedo

    demais, disse ele. Esse tremendo evento

    ainda est acontecendo e at agora no chegou aos ouvidos dos homens.

    As pessoas ainda no haviam compreendido as conseqncias

    da morte de Deus; mas Nietzsche previu que um dia o homem

    moderno se daria conta das implicaes do atesmo e essa percepo

    Friedrich Nietzsche, lhe G Science, em The P o r ta b leN ietzsche, ed. e trad. W. Kaufmann. Nova Iorque: Viking, 1954, p. 95. Publicado em portugus sob o ttulo A ga ia cin cia , pela Companhia das Letr.

    42 5 * L m G r d a

  • iria lan-lo na era do niilismo da destruio de todo e sentido

    e valor da vida.

    A maior parte das pessoas ainda no reflete sobre as conseqn

    cias do atesmo e, assim, como a multido na praa do mercado,

    sem saber pelo mesmo caminho. Mas quando nos damos conta,

    assim como Nietzsche deu, das implicaes do atesmo, ento senti-

    os na carne a tremenda urgncia da pergunta que ele fez: Como

    s, assassinos dos assassinos, vamos consolar a ns mesmos? .

    A impossibilidade prtica do atesmo\ unica soluo que o atesmo pode oferecer e que encaremos de

    Frente o absurdo da vida e vivamos com bravura. Por exemplo,

    Berrrand Russell, filsofo britnico, acreditava que no tnhamos

    utra opo a no ser construir nossa vida sobre a firme fundao

    do mais obstinado e inflexvel desespero. Somente reconhecendo

    que o mundo de fato um lugar terrvel de se viver conseguiremos

    dies;ar a um bom termo com a vida. Camus disse que devemos

    reconhecer com honestidade o absurdo da vida e, ento, viver apai

    xonados um pelo outro.

    No entanto, o problema fundamental com essa soluo proposta

    esta no fato de ser impossvel viver de forma consistente e ao mesmo

    tempo ser feliz dentro da estrutura de uma cosmoviso como essa. Se

    voc viver consistentemente dentro dela, no ser feliz; se for feliz,

    por no viver de forma consistente segundo essa cosmoviso.

    Francis Schaeffer explicou bem esse ponto. Segundo ele, o ho

    mem moderno vive em um universo de dois andares. No andar de

    baixo est o mundo finito sem Deus; aqui, a vida absurda, como

    vimos. No andar de cima do universo existe sentido, valor e prop

    sito. Ora, o homem moderno vive no andar de baixo, pois acredita

    que Deus no existe. Mas no pode ser feliz em um mundo como

    esse; portanto, ele est sempre dando saltos de f para chegar ao

    andar de cima, em busca de sentido, valor e propsito, ainda que

    no tenha direito a nada disso, uma vez que no acredita em Deus.

    Q i r 11: i r i r r i - a i s i f ? 5 ^

  • ___________A l b e k t C a m u s ( i q ? 3 1 9 6 0 )

    Escritor existencialista francs. Uma vez que Deus no existe, Camus considerava a vida absurda. Para ele a vida no era apenas sem sentido, mas tambm distorcida e cruel. 0 suicdio a nica questo filosfica sria. A despeito do absurdo da vida, Camus era contra 0 suicdio e promovia a fraternidade entre os seres humanos.

    AU DAe DE CIMA

    DC(JS SENTIDO VALOR PROPSITO

    AUVfH WOMfMv e BAIXO

    ,1MUNDO FSICO

    Vamos olhar de novo, portanto, para cada uma dessas trs reas

    nas quais vimos o absurdo da vida sem Deus. Vamos ver como difcil viver cie forma consistente com uma cosmoviso atesta e ser feliz ao mesmo tempo.

    O sen tid o da v idaPrimeiro, vamos analisar a questo do sentido, j vimos que sem

    Deus a vida no tem sentido. No entanto, os filsofos continuam

    a viver como se a vida tivesse sentido. Por exemplo, Sartre argu

    mentava que a pessoa pode criar um sentido para a prpria vida ao

    escolher seguir certo curso de ao. Ele escolheu o marxismo.

    4 4 5* E m C \r i > \

  • Ora, isso totalmente inconsistente. No h consistncia em dizer que a vida objetivamente absurda e, depois, dizer que voc pode

    criar um sentido para sua vida. Se a vida de fato absurda, voc est preso no andar de baixo do universo. Tentar criar sentido para a vida representa dar um salto de f para o andar de cima. Sartre, contudo, nao possua qualquer base para um salto como esse. A proposta dele

    na verdade um exerccio para enganar-se a si mesmo. Pois na realidade o universo nao passa a ter sentido pelo simples fato de eu lhe atribuir um sentido. fcil perceber isso: Imaginemos que eu atribua um sentido ao universo c voc Ine atribua outro. Quem estar certo? A resposta, evidentemente, nenhum de ns. Pois o universo sem Deus continua objetivamente sem sentido, no importa como ns o conside remos. O que Sartre na verdade est dizendo

    e: Vamos f in g ir que o universo tem sentido. E isso no passa de enganar a si mesmo.

    A questo esta: Se Deus no existe, ento a vida objetivamente sem sentido; mas o ser humano no consegue viver de forma consistente com essa viso e ser feliz ao mesmo tempo, sabendo que a vida no tem sentido. Logo, para ser feliz, ele finge que a vida tem sentido. Mas essa atitude, evidentemente, totalmente inconsistente pois, sem Deus, o ser humano e o universo so totalmente destitudos de sentido.

    ______________________ Pa r a d i s c u t i r

    Conhece algum que pensa que pode criar

    seu prprio sentido para a vida? Em caso

    afirmativo, como voc poderia conversar

    com essa pessoa sobre o fato de essa

    crena fazer sentido?

    O valor da vidaPassemos agora para a questo do valor. E aqui que ocorrem as inconsistncias mais flagrantes. Em primeiro lugar, os humanistas ateus so totalmente inconsistentes em afirmar os valores tradicionais do amor e da irmandade entre os homens. Camus foi criticado com toda razo por defender de forma inconsistente tanto o absurdo da vida quanto uma tica de amor e valorizao do prximo. A viso de que no existem valores logicamente incompatvel com a afirmao dos valores do amor e do respeito ao prximo. Bertrand

    Q l e d i f e r e n a f a z s f D i:u s e x i s t e ? * 8 45

  • J e a n - P a u l S a r t r e ( 1 9 0 5 - 1 9 8 0 )

    Filsofo existencialista francs. A partir da declarao de Nietzsche de que Deus est morto, Sartre negou a existncia de quaisquer valores objetivos ou um sentido na vida a serem descobertos. Antes, alegava que cada um livre para inventar quaisquer valores e propsitos que queira. Ele lutou para conciliar essa aparente libertinagem com sua oposio ao nazismo antissemita.

    Russell tambm foi inconsistente, pois, embora fosse ateu, foi um franco crtico da sociedade, denunciando a guerra e as limitaes liberdade sexual. Russell admitiu que no poderia viver como se os valores ticos fossem simplesmente uma questo de gosto pessoal

    e que ele, portanto, achava que sua prpria viso "no era crvel. No sei a resposta, confessou ele.1

    A questo que, se Deus no existe, ento, no existe certo e errado objetivamente falando. Corno disse Dostoivski: Tudo permitido . Mas o ser humano no pode viver dessa forma. Ento,

    ele d um salto de f e afirma os valores de qualquer modo. E ao fazer isso, revela a inadequao de um mundo sem Deus.

    A realidade desse horror de um mundo destitudo de valor me

    atingiu com uma nova intensidade muitos anos atrs, quando assistia a um documentrio da b b c chamado The Gathering [O ajuntamento], Mostrava uma reunio de sobreviventes do Holocausto em Jerusalm, onde eles reencontraram amigos com quem h muito

    tempo tinham perdido contato e compartilharam suas experincias.

    Uma enfermeira, antiga prisioneira de guerra, contou como acabara sendo ginecologista em Auschwitz. Ela havia observado que as mulheres grvidas eram agrupadas pelos soldados, por orientao do Dr. Josef Mengele, e colocadas nas mesmas barracas. Com o

    Bertrand Russell, carta ao editor. The O b server [O observador], b de outubro de

    1 9 V .

    4 C . S* Em G i \r d a

  • passar do tempo, ela notou que no vira mais essas mulheres. Ento, comeou a perguntar: Onde foram parar as mulheres grvidas que moravam naquela barraca?, Voc no soube o que aconteceu com elas? , alguem respondeu. Dr. Mengele as usou para experincias de vivisseo

    Outra contou como Mengele havia suturado seus mamilos para que ela no amamentasse seu beb. O mdico queria saber quanto tempo um beb sobreviveria sem nutrio. Em desespero, a pobre mulher tentou manter o beb vivo dando-lhe pedacinhos de po molhado no caf, mas foi em vo. A cada dia o beb perdia peso,

    um fato que o Dr. Mengele monitorava com grande expectativa. Entao, uma enfermeira secretamente veio at essa mulher e lhe disse: Arrumei um jeito de tirar voc daqui, mas voc no pode levar o beb. Trouxe uma injeo de morfina para voc aplicar no beb para acabar com esse sofrimento. Quando a mulher protestou, a enfermeira insistiu: Olhe, seu beb vai morrer de qualquer jeito.

    Pelo menos voc se salvar. E assim essa me se viu levada a tirar a vida do propno filho. Dr. Mengele ficou furioso quando soube disso, pois havia perdido a sua cobaia, e comeou a procurar o beb entre os corpos para poder fazer uma ltima pesagem.

    Meu corao estava dilacerado com essas histrias. Um rabino sobrevivente sintetizou bem tudo isso quando disse que em Auschwitz

    era como se existisse um mundo em que os Dez Mandamentos fossem ao contrrio. A humanidade jamais vira tamanho inferno.

    E ainda assim, se Deus no existir, este mundo, em certo sentido, e Auschwitz: no existe certo e errado; todas as coisas so permitidas.

    Mas nao h ateu ou agnstico que consiga viver consistente-

    mente com essa viso. O prprio Nietzsche, que defendia a necessidade de ser viver alm do bem e do mal, rompeu laos de amizade com seu mentor, Richard Wagner, precisamente por discordar da viso antissemita do compositor e por seu notrio nacionalismo. Assim como Sartre, que escrevendo logo aps a Segunda Guerra Mundial, condenou o antissemitismo, afirmando que uma doutrina que leva a um extermnio em massa de pessoas no meramente

  • uma questo de opinio ou gosto pessoal, como qualquer outra. Em

    seu importante ensaio O existencialismo um hum anism o , Sartre se esfora em vo para fugir da contradio entre sua negao da exis

    tncia de valores preestabelecidos por Deus e seu premente desejo

    de afirmar o valor dos seres humanos. Como Russell, ele tambm

    no pde conviver com as implicaes de sua prpria negao de

    absolutos ticos.

    Como tambm no podem os chamados novos ateus, como

    Richard Dawkins. Pois embora ele afirme que no existe mal, nem

    bem, no existe nada, exceto uma profunda indiferena, Dawkins

    um moralista petulante. Ele condena veementemente atitudes como

    o assdio e abusos cometidos contra homossexuais, a doutrinao re

    ligiosa de crianas, a prtica de sacrifcios dos

    Incas, e a valorizao da diversidade cultural

    em detrimento dos interesses das crianas

    amish. Ele petulante a ponto de propor sua prpria verso alterada dos Dez Mandamen

    tos para orientar um comportamento moral,

    ao mesmo tempo em que se mantm incrivelmente alheio contradi

    o com seu subjetivismo tico.

    A grande verdade que ningum encontrar provavelmente um

    ateu que viva consistentemente segundo o seu proprio sistema de

    crenas. Pois um universo sem responsabilidade moral e destitudo

    de valor inimaginavelmente terrvel.

    O propsito da vidaPor fim, vamos analisar a questo do propsito da vida. Para aque

    les que negam que a vida tenha um propsito, a nica forma de

    ser feliz criando algum propsito para a vida o que eqivale

    a enganar a si mesmo, como vimos acontecer com Sartre ou

    Richard Dawkins The G od D elu sion . Nova Iorque: Houghton-M iflin, 2006,

    p. 23, 264, 313-317, 326, 328, 330. Publicado em portugus sob o ttulo Deus,um d e lr io , pela Companhia das Leitas.

    r*HA nlSrPTLB

    Por que voc supe que mesmo os ateus

    mais sagazes em geral no se importam

    se as ideias que sustentam sobre certo e

    errado forem inconsistentes?

    4 5* E m G i

  • 0 levando a sua viso at suas concluses lgicas. A tentao de jvestir os prprios e mesquinhos planos e projetos de significado

    jetivo e, assim, encontrar algum propsito para a vida, quase

    que irresistvel.Por exemplo, Steven Weinberg, ganhador do Nobel de fsica e

    reconhecidamente ateu, no encerramento de seu aclamado livro, TheFirst l m e Minutes [Os trs primeiros minutos], escreveu o seguinte:

    quase irresistvel para o ser humano acreditar que tem alguma relao especial com o universo, que a vida humana no , grosso modo, um resultado ridculo de uma cadeia de acontecimentos acidentais que remontam aos primeiros trs minutos, mas sim que fomos de alguma forma criados desde o incio [...] E muito difcil descobrir que tudo isso no passa de uma minscula parte de um universo assustadoramente hostil. O mais difcil ainda descobrir que o universo atual evolui a partir de uma condio inicial inexplicavelmente desconhecida, e tem pela frente uma futura extino em um frio indescritvel ou um calor intolervel. Quanto mais o universo nos parece compreensvel, mais parece sem propsito.

    Mas se no h nenhum consolo nos frutos da nossa pesquisa, ha ao menos algum consolo na pesquisa em si. Os homens e as mulheres no se contentam em se consolar com fbulas de deuses e gigantes, ou em confinar seus pensamentos nos afazeres cotidianos da vida; eles tambm constroem telescpios, satlites e aceleradores de partculas, e sentam-se em suas escrivaninhas por horas interminveis para encontrar um sentido para os dados que reuniram. O esforo para entender o universo uma das poucas coisas que eleva a vida humana acima do nvel da farsa, e lhe confere um pouco da graa tpica da tragdia.8

    Steven Weinbere, The First Ihree M inutes Londres: Andn Deutsch, ' ( r 7 ,1 S4-1 SV Publicado em portugus sob o ttulo Os trs p r im e ir o s m inu to s d o un i-

    rso , pela editora Gradiva.

  • H algo de estranho acerca da comovente descrio que Weinbeis faz do predicamento humano: tragdia no uma palavra neutra. Ela exprime uma avaliao da situao. Weinberg evidentemente enxerga uma vida dedicada pesquisa cientifica como algo que verdadeiramente tem sentido e, portanto, trgico que tal empenho louvvel v acabar em nada. Mas, se acreditarmos no atesmo, por que o esforo da cincia seria diferente de passar pela vida sem fazer nada? Uma vez que no h um propsito objetivo para a vida humana, nada do que faamos tem qualquer significado objetivo, por

    mais que isso, subjetivamente falando, nos parea importante ou nos seja estimado. Nada disso ter mais sentido do que fazer a dana das cadeiras no convs do Titanic.

    O predicam ento hum anoO dilema do homem moderno de fato terrvel. A cosmoviso do

    atesmo no suficiente para que viva uma vida feliz e consistente. O ser humano no pode viver de forma consistente se viver diante da perspectiva de uma vida sem sentido, sem valor e sem propsito finais. Se tentarmos viver de forma consistente com o atesmo,

    acabaremos profundamente infelizes. Se, ao contrrio, dermos um jeito de viver felizes com essa cosmoviso, ser somente se desmentirmos a nossa prpria cosmoviso.

    Confrontado com esse dilema, o homem moderno se debate em busca de uma sada.

    Em 1991, em um notvel discurso para a Academia Americana para o Avano da Cincia, Dr. L. D. Rue, ao ser confrontado com esse dilema do homem moderno, ousadamente defendeu a ideia de que nos enganemos por meio de alguma nobre mentira a pensar que ns e o universo ainda temos algum valor. Segundo ele: A lio que aprendemos nos ltimos dois sculos que a questo profundamente o relativismo intelectual e moral.

    Ele afirma que a conseqncia dessa descoberta que a busca por autorrealizao e a busca por uma coerncia social ruram. Isso

    50 S i Em G u a r d a

    P*** m s r r T i R

    Pense em algum filme que tenha visto

    recentemente. Se voc perguntasse ao

    personagem principal, Por que sua vida

    tem importncia, 0 que acha que ele diria?

  • ocorre porque na viso relativista a busca por autorrealizao se

    torna algo radicalmente privado: cada pessoa escolhe seu prprio

    conjunto de valores e sentido.

    E ento, o que fazer? Rue diz que, por um lado, existe a opo

    do hospcio: apenas buscamos a autorrealizao a despeito da coe

    rncia social. Por outro lado, existe a opo totalitria: o estado

    mpe a coerncia social custa da realizao pessoal. Se formos

    evitar essas duas opes, segundo ele, ento no temos outra opo

    a no ser abraar alguma nobre mentira que nos inspire a ir alm

    dos interesses prprios e voluntariamente buscar a coerncia social.

    Uma nobre mentira aquela que que nos ilude, nos engana, nos

    leva a ir alm dos prprios interesses, alm da famlia, da nao, [e]

    da raa. mentira por nos dizer que o universo est imbudo de va

    lor (o que uma grande fico), por fazer uma alegao de verdade

    universal (quando no h), e por me dizer para no viver pelos meus

    prprios interesses (o que evidentemente falso). No entanto, sem

    essas mentiras, no podemos viver.

    Esse o tenebroso veredicto proferido contra o homem moder

    no. Para sobreviver, ele tem que viver se enganando.

    A m inha histriaO absurdo da vida mais do que apenas uma questo acadmica. E

    algo que diz respeito essncia do nosso ser. Sei disso perfeitamente.

    Quando era adolescente senti profundamente a falta de sentido da

    vida e o desespero que isso provoca.

    Embora tenha crescido num lar repleto de amor, no ramos

    uma famlia que freqentava a igreja, nem mesmo ramos cristos.

    Porm, quando entrei na adolescncia, comecei a fazer as grandes

    perguntas existenciais: Quem sou eu?, Por que estou aqui?,

    Para onde vou?. Em minha busca por respostas comecei a fre

    qentar uma grande igreja de nossa comunidade. Em vez de respos

    tas, eu me deparei com um clube social, onde a obrigao se resumia

    a um dlar por semana de dzimo. Os outros estudantes da mesma

    Q t i n i i u u N v \ f a z s i D e u s e x i s t e ? 5 *

    N o b r e m e n t i r a

    Uma nobre mentira - aquela que nos ilude, nos engana, nos leva a ir alm dos prprios interesses, alm da famlia, da nao, [e] da raa.

    Dr. L. D. Rue

  • idade que faziam parte do grupo de jovens e se diziam cristos aos domingos viviam suas vidas para seu verdadeiro Deus, a popularida

    de, pelo resto da semana. Pareciam dispostos a qualquer coisa para

    serem populares.Aquilo realmente me incomodava. Eles se d izem cristos, mas

    v ivo a vida com mais d ecn cia do qu e eles, eu costumava pensar. Eu m e sin to to vazio p o r dentro. F. eles no se sen tem d iferen te. Apenas fin gem ser algo que no so. So apenas um bando d e h ipcrita s! F comecei a me sentir muito amargurado em relao igreja e s pesso. s que a freqentavam.

    Com o tempo passei a ter a mesma atitude em relao a todo

    mundo. N ingum rea lm en te a u tn tico , pensava eu. So todos um bando d e falsos, m ostrando suas mscaras pa ra o inundo, enquan to seu verdadeiro eu esta l, escond ido bem fundo, com m edo d e se mostrar e ser verdadeiro. Com isso, minha raiva e meu ressentimento se espalharam para todo mundo. Comecei a desprezar as pessoas; no que

    ria nada delas. No p reciso das pes