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1 DESIGUALDADES E DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE UMA POLÍTICA DE EMPREGO 1 Laís Abramo Especialista Regional em Gênero e Trabalho OIT 1. Introdução O mercado de trabalho brasileiro está marcado por significativas e persistentes desigualdades de gênero e raça e esse é um aspecto que deve ser levado em conta nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas em geral, e, em particular, das políticas de emprego, inclusão social e redução da pobreza. Este é o argumento fundamental deste texto. Ele se divide em duas partes. Na primeira se analisam alguns indicadores das desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. 2 Na segunda se apresentam algumas indicações sobre a necessidade de incluir as dimensões de gênero e raça nas políticas de emprego. A questão da equidade está no centro da Agenda de Trabalho Decente da OIT. Para a OIT Trabalho Decente significa um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem do seu trabalho. Trabalho decente significa também um trabalho livre de qualquer discriminação. Por discriminação se entende, tal como definido na Convenção no. 111 da OIT, que foi ratificada pelo Brasil em 1965, tratar as pessoas em forma diferenciada e menos favorável, a partir de determinadas características pessoais, tais como, entre outras, o sexo, a raça, a cor, a origem étnica, a classe social, a religião, as opiniões políticas, a ascendência nacional, que não estão relacionadas com os seus méritos e nem com as qualificações necessárias ao exercício do seu trabalho. Antes de entrar na exposição dos dados relativos ao mercado de trabalho é necessário assinalar que as desigualdades de gênero e raça no Brasil não são fenômenos que estão referidos a “minorias” ou a grupos específicos da sociedade. Pelo contrário, são problemas que dizem respeito às grandes maiorias da nossa sociedade: segundo os dados da PNAD 2001, as mulheres representam 42% da População Economicamente Ativa (PEA) no Brasil e os negros (de ambos os sexos) representam 45%. Somados, correspondem a 68% da PEA (55 milhões de pessoas). As mulheres negras, por sua vez, correspondem a 14 milhões de pessoas (18% da PEA) e, como resultado de uma dupla discriminação (de gênero e raça), apresentam uma 1 Texto elaborado para o Seminário Nacional: Política geral de emprego: Necessidades, opções, prioridades, OIT, Brasília, 9 e 10 de dezembro de 2004. 2 Microdados da PNAD 2001 e 2003.

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    DESIGUALDADES E DISCRIMINAO DE GNERO E RAA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO E SUAS IMPLICAES PARA A

    FORMULAO DE UMA POLTICA DE EMPREGO1

    Las Abramo Especialista Regional em Gnero e Trabalho

    OIT

    1. Introduo O mercado de trabalho brasileiro est marcado por significativas e persistentes desigualdades de gnero e raa e esse um aspecto que deve ser levado em conta nos processos de formulao, implementao e avaliao das polticas pblicas em geral, e, em particular, das polticas de emprego, incluso social e reduo da pobreza. Este o argumento fundamental deste texto. Ele se divide em duas partes. Na primeira se analisam alguns indicadores das desigualdades de gnero e raa no mercado de trabalho brasileiro.2 Na segunda se apresentam algumas indicaes sobre a necessidade de incluir as dimenses de gnero e raa nas polticas de emprego. A questo da equidade est no centro da Agenda de Trabalho Decente da OIT. Para a OIT Trabalho Decente significa um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condies de liberdade, equidade e segurana, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem do seu trabalho. Trabalho decente significa tambm um trabalho livre de qualquer discriminao. Por discriminao se entende, tal como definido na Conveno no. 111 da OIT, que foi ratificada pelo Brasil em 1965, tratar as pessoas em forma diferenciada e menos favorvel, a partir de determinadas caractersticas pessoais, tais como, entre outras, o sexo, a raa, a cor, a origem tnica, a classe social, a religio, as opinies polticas, a ascendncia nacional, que no esto relacionadas com os seus mritos e nem com as qualificaes necessrias ao exerccio do seu trabalho. Antes de entrar na exposio dos dados relativos ao mercado de trabalho necessrio assinalar que as desigualdades de gnero e raa no Brasil no so fenmenos que esto referidos a minorias ou a grupos especficos da sociedade. Pelo contrrio, so problemas que dizem respeito s grandes maiorias da nossa sociedade: segundo os dados da PNAD 2001, as mulheres representam 42% da Populao Economicamente Ativa (PEA) no Brasil e os negros (de ambos os sexos) representam 45%. Somados, correspondem a 68% da PEA (55 milhes de pessoas). As mulheres negras, por sua vez, correspondem a 14 milhes de pessoas (18% da PEA) e, como resultado de uma dupla discriminao (de gnero e raa), apresentam uma 1 Texto elaborado para o Seminrio Nacional: Poltica geral de emprego: Necessidades, opes, prioridades, OIT, Braslia, 9 e 10 de dezembro de 2004. 2 Microdados da PNAD 2001 e 2003.

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    situao de sistemtica desvantagem em todos os indicadores sociais e de mercado de trabalho considerados. Alm disso, necessrio assinalar que as desigualdades de gnero e raa so eixos estruturantes da matriz ou do padro de desigualdade social no Brasil, padro esse que est na raiz da permanncia e reproduo das situaes de pobreza e excluso social.

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    2. Desigualdades de gnero e raa no mercado de trabalho brasileiro Nesta seo, apresentaremos alguns dados sobre as desigualdades de gnero e raa no mercado de trabalho brasileiro, a partir de um processamento dos microdados da PNAD 2001 realizado pela OIT. a) A taxa de participao das mulheres no mercado de trabalho brasileiro continua

    aumentando, mas ainda est marcada por uma forte diferena em relao taxa de participao dos homens.

    A taxa de participao das mulheres no mercado de trabalho um indicador importante para analisar a evoluo dos nveis de igualdade de gnero existentes em uma sociedade. A insero no mercado de trabalho um indicador relevante de avano para as mulheres, j que constitui um fator cada vez mais importante para aumentar o seu grau de autonomia pessoal, assim como seus nveis de bem-estar (prprio e de suas famlias).

    A taxa de participao das mulheres no Brasil de 55%, uma cifra consideravelmente superior mdia latino-americana (49%), mas ainda inferior aos nveis de muitos dos pases desenvolvidos. Ainda que essa participao venha crescendo significativamente nas ltimas trs dcadas, ainda quase 30 pontos percentuais inferior taxa de participao masculina (82%). Esses dados refletem a dificuldade que um contingente importante de mulheres, especialmente as mais pobres e com menor escolaridade, entre as quais as negras esto sobrerepresentadas, ainda tm de enfrentar para poder entrar no mercado de trabalho. A diferena entre a taxa de participao de homens e mulheres diminui no perodo analisado (1990-2001): de 33 para 27 pontos percentuais. b) A taxa de participao das mulheres mais pobres e com menos escolaridade ainda

    muito inferior taxa de participao das mulheres mais escolarizadas. A taxa de participao das mulheres tem uma relao muito significativa com os seus nveis de escolaridade, indicador que, por sua vez, tambm est relacionado de forma significativa com a origem e a situao socioeconmica. O mesmo no acontece com os homens. As taxas de participao das mulheres mais pobres e com menos escolaridade so significativamente inferiores quelas observadas nos grupos de mulheres com rendimentos mdios e altos. Isso significa que as mulheres mais pobres e menos escolarizadas enfrentam importantes dificuldades adicionais para entrar no mercado de trabalho, como conseqncia, entre outros fatores, dos maiores obstculos que tm de enfrentar para compartilhar as responsabilidades domsticas, em particular o cuidado com os filhos. Essa situao se evidencia claramente nos dados analisados: as mulheres com at trs anos de estudo apresentam uma taxa de participao de 42%, e essa cifra se eleva a 82% (ou seja, 40 pontos porcentuais mais elevada) entre as mulheres com 15 anos e mais de estudo. Devido a essa diferena no comportamento das taxas de participao de homens e mulheres, tambm as desigualdades entre essas taxas variam muito de acordo com os nveis de escolaridade: na faixa de 0 a 3 anos de estudo, a diferena entre as taxas de participao de homens e mulheres de

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    55%, enquanto na faixa superior de escolaridade essa diferena se reduz a 9%. Isso significa que nesse nvel de escolaridade (ensino superior) a taxa de participao das mulheres se aproxima muito dos homens.

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    Por outro lado, as taxas de participao das mulheres negras so levemente superiores s taxas de participao das mulheres brancas (Grficos 2 e 3).

    Grfico 2

    Taxa de participao(1), segundo sexo e cor/raa Brasil 1992 - 2001

    Fonte: IBGE. PNAD 2001 Elaborao: OIT Nota: (1) Pessoas de 16 anos e mais

    Grfico 3Taxa de participao(1), segundo sexo e escolaridade

    Brasil 1992 - 2001

    Grfico 1 - Taxa de participao por sexo e raa/cor (2), 1992-2001

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

    Homens Brancos

    Mulheres Brancas

    Homens Negros

    Mulheres Negras

    pessoas de 16 anos ou mais, em todas as faixas de escolaridade

    Grfico 2 - Taxa de participao por sexo e escolaridade, 1992 e 2001

    8487 86

    89 91

    77

    8381

    88 89

    4651

    54

    68

    81

    42

    5155

    70

    82

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    Todos Homens

    Todas Mulheres

    1992 2001

    pessoas de 16 anos ou mais

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    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE.

    c) Melhora significativamente o perfil educacional da PEA, mas persistem importantes desigualdades de raa. Por outro lado, o nvel de escolaridade das mulheres claramente superior ao dos homens.

    Observa-se, no perodo analisado, um importante progresso nos nveis de escolaridade da Populao Econmicamente Ativa (PEA), com uma significativa diminuio da porcentagem de pessoas com menos escolaridade e um aumento nos nveis superiores de escolaridade. No conjunto da PEA, a porcentagem de pessoas com menos de quatro anos de estudo se reduziu de 35% para 24%, com menos de oito anos passou de 67% para 53% e com mais de oito anos cresceu de 33% para 47%. No entanto, observam-se diferenas importantes por gnero e raa. Ainda que esses avanos tenham beneficiado homens, mulheres, negros e brancos, eles no se distribuiram igualmente entre esses grupos. Pelo contrrrio, tenderam a reforar as disparidades existentes no comeo da dcada passada. Em relao a esse aspecto evidenciam-se claramente diferenas importantes entre os padres de discriminao e desigualdade entre homens e mulheres, negros e brancos, na sociedade brasileira. No caso das mulheres, observa-se que elas, no comeo dos anos 90, j tinham um perfil educacional claramente superior ao dos homens no conjunto da populao economicamente ativa e que essa diferena se acentuou ao longo da dcada (Tabela 1 e Grfico 4.) Essas caractersticas se repetem no interior de cada grupo racial: as mulheres brancas so mais escolarizadas que os homens brancos, e as mulheres negras so mais escolarizadas que os homens negros.

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    Escolaridade Todos Todas Todos Todos Homens Mulheres Homens Mulheres(em anos) Homens Mulheres Brancos Negros brancos brancas negros negras

    1992

    0 a 3 36 33 25 47 26 23 49 454 a 7 33 30 33 31 35 31 31 298 a 10 13 13 15 11 15 15 11 1111 a 14 13 17 18 10 16 21 8 1315 e mais 5 6 8 2 7 9 1 2

    2001

    0 a 3 27 21 17 34 18 14 37 304 a 7 30 26 27 30 30 24 32 298 a 10 17 17 18 16 19 17 16 1711 a 14 20 27 28 17 25 32 14 2115 e mais 6 9 11 2 9 12 2 3

    variao

    0 a 3 -10 -12 -9 -13 -8 -9 -12 -154 a 7 -3 -4 -6 0 -5 -7 0 -18 a 10 4 4 3 5 3 2 5 611 a 14 7 10 9 7 8 10 6 915 e mais 1 2 2 1 2 3 1 1

    (1) A tabela mostra a porcentagem de cada grupo de sexo e/ou raa em cada faixa de escolaridade(2) Todos homens e todas mulheres inclui pessoas de todas as categorias de cor/raa(3) A PNAD no inclui as populaes rurais de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.(4) "Negros" inclui todas as pessoas que se declararam "pardas" ou "pretas"Fonte : Microdados da PNAD, IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Tabela 1 - Perfil educacional da PEA de 16 anos de idade ou mais, por sexo, raa/cor, 1992 e 2001

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    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Por outro lado, tanto o padro da desigualdade racial quanto a sua evoluo na dcada so bastante diferentes. Ainda que o perfil educacional dos negros tambm tenha melhorado significativamente nesse perodo, eles partem de um patamar to inferior (com uma concentrao de quase 80% da populao nas duas faixas iniciais, ou seja, com at sete anos de escolaridade) que, mesmo com um progresso rpido na base da pirmide, sua estrutura continou fortemente concentrada nos estratos inferiores e muito rarefeita nos nveis superiores. Em 2001 a proporo de negros que se situava nas duas faixas iniciais de escolaridade se reduz a 64% (enquanto no caso dos brancos essa proporo era de 44%). Nas faixas superiores de escolaridade (11 a 14 e 15 anos e mais), a proporo de brancos e negros era, em 2001, respectivamente 39% e 19% (Grfico 5). Em outras palavras, a proporo de brancos com 11 anos e mais de escolaridade era, em 2001, 20 pontos percentuais superior proporo de negros com esse mesmo nvel de escolaridade.

    Grfico 3 - Perfil educacional da PEA, 16 anos ou mais, por sexo, 1992 e 2001

    36

    33

    13 13

    5

    27

    30

    17

    20

    6

    3330

    13

    17

    6

    21

    26

    17

    27

    9

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    2001 0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    Porcentagem da PEA em cada faixa de escolaridade Homens

    Mulheres

    1992 2001

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    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Mais preocupante ainda o fato de que essa defasagem entre o perfil educacional de negros e brancos aumentou, ao invs de diminuir, no perodo analisado, como pode ser observado na Tabela 1 e no Grfico 5. d) Aumenta a taxa de desemprego de homens, mulheres, brancos/as e negros/as. A taxa de

    desemprego das mulheres superior dos homens, e essa diferena se acentua na dcada. A taxa de desemprego dos negros superior dos brancos, e a dos jovens superior dos adultos.

    A taxa mdia de desemprego no Brasil, medida pela PNAD, variou entre 6% e aproximadamente 9% no Brasil entre 1992 e 2001. No entanto, essa mdia encerra amplas diferenas entre os grupos aqui considerados. As mulheres e os negros, em todos os anos, faixas etrias e de escolaridade apresentam sempre taxas de desemprego mais elevadas que os homens e os brancos. Por sua vez, a diferena entre a taxa de desemprego de homens e mulheres superior diferena entre a taxa de desemprego de negros e brancos (Tabelas 2, 3 e 4).

    Grfico 4 - Perfil educacional da PEA, 16 anos ou mais, por raa/cor, 1992 e 2001

    25

    33

    1518

    8

    17

    27

    18

    28

    11

    47

    31

    11 10

    2

    3430

    16 17

    2

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    2001 0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 emais

    Porcentagem da PEA em cada faixa de escolaridade Brancos

    Negros

    1992 2001

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    Todos Todas Todos Todos Homens Mulheres Homens MulheresHomens Mulheres Brancos Negros brancos brancas negros negras

    1992 3.6 5.2 3.9 4.8 3.3 4.8 4.1 5.81993 3.4 4.7 3.5 4.5 2.9 4.3 4.0 5.41995 3.4 4.8 3.7 4.4 3.1 4.5 3.8 5.11996 3.8 6.0 4.3 5.1 3.4 5.6 4.2 6.51997 4.2 6.9 4.9 5.9 3.8 6.3 4.7 7.61998 4.7 7.7 5.6 6.4 4.3 7.4 5.1 8.31999 5.3 8.4 6.0 7.3 4.7 7.7 6.0 9.32001 5.0 8.4 5.6 7.5 4.4 7.2 5.8 10.0

    (1) A taxa de desemprego a porcentagem de pessoas desempregadas na PEA da faixa etria selecionada(2) Todos homens e todas mulheres incluem pessoas de todas as categorias de cor/raa(3) A PNAD no inclui as populaes rurais de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.(4) "Negros" inclui todas as pessoas que se declararam "pardas" ou "pretas"Fonte : Microdados da PNAD, IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Ano

    Tabela 3 - Taxa de desemprego, por sexo e raa/cor, 1992-2001

    ( pessoas de 25 anos de idade ou mais, em todas as faixas de escolaridade)

    Todos Todas Todos Todos Homens Mulheres Homens MulheresHomens Mulheres Brancos Negros brancos brancas negros negras

    1992 5.2 7.8 5.7 6.9 4.7 7.2 5.9 8.61993 5.0 7.1 5.3 6.6 4.4 6.5 5.7 8.01995 5.0 7.0 5.4 6.4 4.6 6.4 5.4 7.91996 5.4 8.4 6.1 7.1 5.0 7.8 5.9 9.11997 6.0 9.6 6.9 8.2 5.5 8.9 6.6 10.71998 6.9 11.2 8.1 9.4 6.4 10.6 7.6 12.11999 7.7 11.9 8.6 10.5 6.9 10.9 8.6 13.12001 7.4 11.7 8.1 10.6 6.5 10.2 8.4 13.8

    (1) A taxa de desemprego a porcentagem de pessoas desempregadas na PEA da faixa etria selecionada(2) Todos homens e todas mulheres incluem pessoas de todas as categorias de cor/raa(3) A PNAD no inclui as populaes rurais de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.(4) "Negros" inclui todas as pessoas que se declararam "pardas" ou "pretas"Fonte : Microdados da PNAD, IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Ano

    Tabela 2 - Taxa de desemprego, por sexo e raa/cor, 1992-2001

    ( pessoas de 16 anos de idade ou mais, em todas as faixas de escolaridade)

  • 11

    A taxa de desemprego das mulheres superior dos homens e aumenta no perodo analisado: era de 7,8% em 1992 e se eleva a 11,7% em 2001. Para os homens essas cifras eram respectivamente 5,2% e 7,4%. Isso significa tambm que as diferenas entre as taxas de desemprego de homens e mulheres (ao contrrio do que acontece com as diferenas entre as respectivas taxas de participao) aumentam na dcada: em 1992, a taxa de desemprego feminina era 50% superior masculina e passa a ser 58% superior em 2001.

    Grfico 6 Taxa desemprego, por raa e sexo, 1992-2001

    INTRODUZIR GRAFICO 5

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Todos Todas Todos Todos Homens Mulheres Homens MulheresHomens Mulheres Brancos Negros brancos brancas negros negras

    1992 9.7 14.9 11.2 12.3 9.1 14.1 10.2 15.81993 9.5 14.0 10.9 11.7 9.2 13.2 9.8 14.91995 9.5 14.0 10.9 11.8 9.7 12.7 9.3 15.91996 10.1 15.6 12.0 12.6 10.0 14.9 10.2 16.51997 11.5 18.1 13.9 14.5 11.4 17.2 11.5 19.51998 13.6 21.9 16.6 17.3 13.3 21.0 13.8 23.01999 14.9 22.7 17.4 18.9 14.3 21.4 15.5 24.42001 14.5 22.2 16.4 19.2 13.6 19.9 15.4 25.0

    (1) A taxa de desemprego a porcentagem de pessoas desempregadas na PEA da faixa etria selecionada(2) Todos homens e todas mulheres incluem pessoas de todas as categorias de cor/raa(3) A PNAD no inclui as populaes rurais de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.(4) "Negros" inclui todas as pessoas que se declararam "pardas" ou "pretas"Fonte : Microdados da PNAD, IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Ano

    Tabela 4 - Taxa de desemprego, por sexo e raa/cor, 1992-2001

    ( pessoas de 16 a 24 anos de idade, em todas as faixas de escolaridade)

    1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 1

    PEA de 16 anos o mais, em todas as faixas de escolaridade

    8.6

    5.9

    4.7

    7.2

    Mulheres negras

    Mulheres brancas

    13.8

    10.2

    Homens brancos

    Homens negros8.4

    6.5

  • 12

    A taxa de desemprego dos negros superior dos brancos, e essa diferena tambm se acentua na dcada: em 2001, a taxa de desemprego dos negros (10,6%) era 31% superior dos brancos (8,1%). Em 1992, as taxas de desemprego de negros e brancos eram respectivamente 6,9% e 5,7%, o que expressa uma diferena menor: 21%. Como fica demonstrado pelas observaes anteriores, nesse caso, as desigualdades de gnero so mais acentuadas que as de raa, ou seja, a diferena entre as taxas de desemprego de homens e mulheres so superiores diferena entre as taxas de desemprego de brancos e negros. Em situao de especial desvantagem esto as mulheres negras, cuja taxa de desemprego em 2001 era de 13,8% (e se situava em um nvel 112,3% superior - ou seja, mais que o dobro - dos homens brancos). A relao entre escolaridade e empregabilidade no Brasil no perodo analisado bastante complexa: no se observa empiricamente nenhuma relao simples, direta ou inversa, entre as duas variveis. Tanto para os homens como para as mulheres, para os/as negros/as e os/as brancos/as a taxa de desemprego aumenta com a escolaridade at atingir um mximo na faixa de 8 a 10 anos de estudo e volta a declinar nas faixas de 11 a 14 e de 15 anos e mais, atingindo nessa ltima o seu ponto mnimo (Grfico 7).

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    As taxas de desemprego dos jovens (16 a 24 anos) so significativamente superiores s dos trabalhadores de 25 anos e mais, como pode ser visto na tabela 3.3: 13,6 % (jovens brancos do sexo masculino), 15,4% (jovens negros do sexo masculino), 19,9% (jovens brancas) e 25% (jovens negras). Os dados evidenciam que a taxa de desemprego das mulheres jovens brancas so significativamente superiores dos jovens do sexo masculino, tanto brancos como negros. Outra vez as jovens negras so as que se encontram em uma situao mais desfavorvel: uma em cada quatro est desempregada. e) Persistem importantes diferenciais de remunerao no mercado de trabalho brasileiro

    relacionadas ao sexo e raa/cor das pessoas.

    Grfico 7 - Taxa de desemprego, por raa/cor e escolaridade, 1992 e 2001

    4

    6

    9

    7

    3

    6

    8

    12

    9

    44

    9

    12

    8

    3

    7

    12

    16

    12

    4

    0

    5

    10

    15

    20

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 e mais 0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 e mais

    PEA de 16 anos ou mais, por faixas de escolaridadeTodos BrancosTodos Negros

    1992 2001

  • 13

    As diferenas de remunerao so uma das formas mais persistentes de desigualdade entre homens e mulheres e por isso so um tema central em quase todas as discusses relativas eliminao da discriminao no mundo do trabalho. Os dados da PNAD 2001 evidenciam de forma muito eloqente a persistncia de acentuadas desigualdades de rendimentos entre homens e mulheres, brancos e negros no mercado de trabalho brasileiro. A remunerao mdia das mulheres sistemticamente inferior dos homens em todas as faixas etrias consideradas e em todos os anos do perodo analisado. Por hora trabalhada, as mulheres recebem, em mdia, 79% da remunerao mdia dos homens (ou seja, 21% a menos). O mesmo acontece com os trabalhadores negros de ambos os sexos em relao aos brancos: eles recebem em mdia a metade (50%) do que recebem o conjunto dos trabalhadores brancos de ambos os sexos por hora trabalhada. Por sua vez, as mulheres negras recebem apenas 39% do que recebem os homens brancos (ou seja, 61% a menos). Por ms, essas diferenas so ainda mais acentuadas: as mulheres recebem em mdia 66% do que recebem os homens, os negros 50% do que recebem os brancos, e as mulheres negras apenas 32% do que recebem os homens brancos (Tabela 5).

  • 14

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Grfico 8 Renda mdia por hora trabalhada, por raa e sexo, 1992-2001 Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Tabela 5 Renda mdia por hora e por ms por sexo e raa/cor (Ocupados/as com 16 anos de idade ou mais)

    Renda/Medios Mulheres/Homens(Total)

    Negros/Brancos(Ambos os sexos)

    Mulheres Negras /Homens Brancos

    Por hora trabalhada1992 69 50 352001 77 49 38

    Por ms1992 57 50 292001 66 50 32

    1992 Todas 71 51 370 - 3 70 71 504 - 7 62 73 45

    8 - 10 65 70 4511 - 14 64 71 47

    15 ou mais 57 74 46

    2001 Todas 79 50 390 - 3 85 71 624 - 7 73 74 53

    8 - 10 69 73 5011 - 14 65 68 46

    15 ou mais 61 73 46

    "Negros" inclui todas as pessoas que se declaram "pardas" ou "pretas"A PNAD no inclui as populaes rurais de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e AmapFonte: Microdados da PNAD, IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Tabela 6- Renda por hora trabalhada por sexo, raa/cor e escolaridade,(Ocupados/as com 16 anos de idade ou mais)

    Escolaridade(anos)

    Mulheres/Homens(Total)

    Negros/Brancos(Ambos os sexos)

    Mulheres Negras /Homens Brancos

  • 15

    O perfil educacional mais elevado das mulheres deveria refletir-se em uma renda mdia mais alta que a dos homens. No entanto, isso no acontece. A renda das mulheres sistematicamente inferior renda dos homens com os mesmos nveis de escolaridade. Mais ainda. Ao contrrio do que se poderia esperar, as desigualdades de remunerao entre homens e mulheres aumentam, ao invs de diminuir, quanto maior o nvel de escolaridade (Tabela 6 e Grfico 8.). No ano 2001, enquanto o total das mulheres ocupadas recebia em mdia, por hora trabalhada, 79% dos rendimentos dos homens, essa proporo se reduzia a 65% entre os/as que tinham 11 a 14 anos de estudo e a 61% entre os/as que tinham 15 anos ou mais de estudo. Esse fato pode ser explicado em parte pelos efeitos da segmentao ocupacional, ou seja, a concentrao da grande maioria da fora de trabalho feminina, inclusive as de nvel universitrio, em um nmero reduzido de ocupaes e funes menos valorizadas no mercado de trabalho porque associadas s funes de cuidado (entre elas as professoras da pr-escola, do ensino fundamental e as enfermeiras). resultado tambm da discriminao direta e das maiores barreiras que as mulheres enfrentam em termos de ascenso e promoo.

    Grfico 9 Renda das mulheres por hora trabalhada como porcentagem da renda dos homens, por escolaridade, 1992 e 2001

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Por sua vez, as desigualdades raciais relativas remunerao do trabalho impressionam pela sua magnitude e persistncia. Em todos os anos da srie, a remunerao mdia dos negros jamais ultrapassa 51% da remunerao mdia dos brancos. A remunerao mdia das mulheres negras atinge no mximo 53% da renda mdia das brancas. A introduo da varivel anos de escolaridade na anlise dos diferenciais de rendimento de homens e mulheres, negros e brancos, fundamental para entender melhor a complexidade do problema. Se, no seu conjunto, os diferenciais de remunerao entre negros e brancos (de

  • 16

    ambos os sexos) so muito mais acentuados que os diferenciais de remunerao entre homens e mulheres, essa hierarquia se inverte ao introduzir a varivel anos de escolaridade, como pode ser observado no Grfico 10: comparando nveis similares de escolaridade, as mulheres brancas esto em uma situao de maior desvantagem em relao aos homens negros.

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Por outro lado, um dos argumentos mais freqentes para justificar os acentuados diferenciais de rendimento entre negros e brancos o fato de que o nvel de escolaridade dos trabalhadores negros no seu conjunto significativamente menor que o nvel de escolaridade dos trabalhadores brancos. Esse argumento, porm, no se sustenta se examinamos novamente os dados da Tabela 6 e do Grfico 11. Em cada uma das faixas de escolaridade, os rendimentos dos negros so sistematicamente inferiores aos dos brancos. Mesmo entre aqueles que tm estudos ps secundrios (11 a 14 e 15 anos e mais), os negros recebem aproximadamente 30% a menos que os brancos (nas mesmas faixas de escolaridade).

    Grfico 10 - Renda mdia* do trabalho, por faixas de escolaridade, 1992 e 2001

    0

    500

    1,000

    1,500

    2,000

    2,500

    3,000

    3,500

    0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 ou + 0 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 ou +

    Mulheres brancas

    Mulheres brancas Mulheres negras

    Mulheres negras

    Homens negros

    Homens negrosHomens brancos

    Homens brancos1992 2001

    (*) Reais de janeiro de 2002

  • 17

    Grfico 11 - Renda dos Negros de ambos sexos por hora trabalhada como porcentagem da renda dos Brancos de ambos sexos, por escolaridade

    (Ocupados/as com 16 anos de idade ou mais) INTRODUZIR GRAFICO 11

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    A gravidade da situao da mulher negra, vtima, como j se disse, de uma dupla discriminao (de gnero e de raa) evidencia-se uma vez mais ao examinar os dados relativos aos rendimentos do trabalho por nvel de escolaridade: entre os que tm 11 anos e mais de estudo elas recebem apenas 46% do que recebem os homens brancos por hora trabalhada (Grfico 12).

    Grfico 12- Renda das Mulheres Negras por hora trabalhada como porcentagem da renda dos Homens Brancos, por escolaridade

    (Ocupados/as com 16 anos de idade ou mais)

    Fonte: Elaborao OIT, a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    A incidncia da segmentao ocupacional e da discriminao direta nos diferenciais de rendimento entre homens e mulheres, negros e brancos se evidenciam uma vez mais nestes seguintes grficos.

    100 100 100 100 100

    71 73 70 71 74

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 - 3 4 - 7 8 - 10 11 - 14 15 oumais

    1992

    %

    100 100 100 100 100

    71 74 73 68 73

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 - 3 4 - 7 8 - 10 11 - 14 15 oumais

    2001

    Brancos(Ambos ossexos)

    Negros(Ambos ossexos)

    100 100 100 100 100

    6253 50 46 46

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 - 3 4 - 7 8 - 10 11 - 14 15 oumais

    2001

    Homens Brancos

    Mulheres Negras

    100 100 100 100 100

    50 45 45 47 46

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 - 3 4 - 7 8 - 10 11 - 14 15 oumais

    1992

    %

  • 18

    Qual a evoluo dos diferenciais de redimento por hora trabalhada entre homens e mulheres, negros e brancos? Aqui observam-se duas tendncias distintas. As desigualdades entre homens e mulheres se reduzem no perodo em oito pontos porcentuais: em 1992 as mulheres recebiam 71% dos rendimentos dos homens e em 2001 passam a receber 79%. Por outro lado, no se observa nenhuma alterao significativa nas desigualdades de rendimentos segundo a raa/cor das pessoas: em 1992 o rendimento mdio por hora trabalhada do total de ocupados negros (de ambos sexos) correspondia a apenas a metade do rendimento mdio dos ocupados brancos (de ambos sexos); a relao entre o rendimento mdio por hora trabalhada das mulheres negras tambm se mantm praticamente estvel entre 1992 e 2001, em um nvel muito baixo (passa de 37% a 39%).

    Grfico 16 Renda do trabalho dos negros como porcentagem da renda dos brancos, 1992-2001

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    f) A segmentao ocupacional por gnero e raa persiste e exerce uma forte influncia

    sobre os rendimentos e demais indicadores de qualidade de emprego de homens e mulheres, negros e brancos.

    A distribuio ocupacional de homens e mulheres, negros e brancos, muito diferenciada no mercado de trabalho brasileiro, indicando a persistncia e a reproduo de uma acentuada segmentao ocupacional de gnero e raa. Essa segmentao, por sua vez, uma das expresses mais claras de poderosos mecanismos de discriminao, j que est claramente relacionada, mais que a atributos tcnicos ou de escolarizao dos indivduos que conformam a

  • 19

    fora de trabalho, a construes culturais e sociais que atribuem lugares e valores diferenciados (e hierarquicamente definidos) ao trabalho realizado por mulheres e homens, negros e brancos. A segmentao ocupacional baseada no sexo e na raa/cor, por sua vez, um fator que tem grande influncia nos indicadores da qualidade do emprego de homens e mulheres, negros e brancos: nveis de remunerao, oportunidades de qualificao, treinamento e promoo, possibilidade de acesso a empregos formais e proteo social. A porcentagem de ocupaes precrias, informais e de baixa qualidade sobre o total do emprego no Brasil muito significativa: 57% (dados da PNAD elaborados pela OIT; nesse conjunto se incluem os assalariados sem carteira assinada, os ocupados na microempresa, os trabalhadores por conta prpria com exceo dos profissionais e tcnicos, os ocupados sem remunerao e os trabalhadores no servio domstico). Mas essas cifras tambm evidenciam importantes diferenas de gnero e raa. No ano 2001, enquanto a proporo de ocupaes informais e precrias sobre o total do emprego masculino era de 54%, para as mulheres essa cifra era de 61% (ou seja, 13% superior). Em termos de raa essas desigualdades so ainda mais acentuadas: foram classificadas como informais ou precrias 50,4% das ocupaes dos brancos (de ambos os sexos) e 65,3% das dos negros (de ambos os sexos), o que configura uma diferena de 29% (Tabela 7). Uma grande proporo da ocupao feminina se concentrava em 2001 nos segmentos mais precrios do mercado de trabalho: trabalhadores por conta prpria (com exceo dos profissionais ou tcnicos), servio domstico e ocupados sem remunerao. A porcentagem de mulheres ocupadas no servio domstico (18%) est entre as mais altas entre os pases latino-americanos. Se somamos a isso a porcentagem de ocupadas sem remunerao (15%), chegamos a uma cifra de 33%. Isso significa que um tero das mulheres que trabalham no Brasil ou no recebem nenhuma remunerao pelo seu trabalho ou esto ocupadas no servio domstico. Alm disso, do total de ocupadas no servio domstico, apenas 27% tm carteira assinada (ou seja, mais de 2/3 delas no esto registradas e no gozam dos benefcios previstos na legislao do trabalho, incluindo a licena-maternidade). Em todas essas formas precrias de ocupao as mulheres negras esto sobre-representadas em relao s brancas: a porcentagem das que esto empregadas no servio domstico 23,3%, e a de ocupadas sem remunerao de 17,5%, o que soma 40,8% (Tabela 8). Entre as trabalhadoras no servio domstico, 71,2% das brancas e 76,2% das negras no tm carteira assinada (Tabela 9).

  • 20

    Tabela 7

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Tabela 8 Trabalhadoras no Servio Domstico + Trabalhadoras sem Remunerao, 2001

    (porcentagens)

    Total Mulheres Mulheres brancas Mulheres negras

    Trabalhadoras sem remunerao 15,5 13,7 18,0

    Trabalhadoras no servio domstico 18,2 14,1 23,9

    Total 33,7 27,8 41,9 Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

    Todos Todas Todos Todos Homens Homens Mulheres MulheresHomens Mulheres Brancos Negros Brancos Negros Brancas Negras

    Assalariados sem carteira 21,7 13,2 15,6 21,4 17,7 26,4 12,5 13,9setor pblico 1,6 3,5 2,1 2,7 1,4 1,9 3,1 3,9empresas 5 6,8 4,6 5,9 5,9 6,6 7,0 4,8 4,3empresas agrcolas 6,2 1,1 2,4 6,2 3,7 9,1 0,6 1,8

    Servio domstico 0,9 17,8 6,3 9,8 0,7 1,0 14,0 23,3com carteira 0,4 4,6 1,8 2,5 0,3 0,5 4,0 5,5sem carteira 0,5 13,2 4,5 7,3 0,4 0,5 10,0 17,8

    Conta prpria (exceto prof/tec) 26,0 14,9 20,1 23,1 24,7 27,6 13,9 16,2Ocup. sem remunerao (1) 5,6 15,2 8,4 11,0 4,6 6,7 13,5 17,5Total ocupaes precrias 54,2 61,1 50,4 65,3 47,7 61,7 53,9 70,9

    Total de ocupados (2) 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0

    Tipo de ocupao

    Distribuio dos ocupados (16 anos e mais) por sexo e raa/cor: ocupaes informais e precrias (2001)

    Total

  • 21

    Tabela 9 Trabalhadoras no Servio Domstico, 2001

    (porcentagens)

    Total Mulheres Mulheres brancas Mulheres negras

    Com carteira assinada 25,9 28,5 23,8

    Sem carteira assinada 74,1 71,5 76,2

    Total 100 100 100

    Fonte: Elaborao OIT a partir dos microdados da PNAD/IBGE, processados especialmente para este trabalho.

  • 22

    QUADRO RESUMO

    INDICADORES DE DESIGUALDADES DE GNERO E RAA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO (2001)

    Perfil educacional

    O perfil educacional das mulheres mais elevado que o dos homens e essa diferena se acentua na dcada;

    64% dos negros e 44% dos brancos tem at 7 anos de escolaridade; 19% dos negros e 39% dos brancos tem 11 anos e mais de escolaridade; apenas 2% dos negros conseguem entrar na universidade; a defasagem entre o perfil educacional de negros e brancos aumentou entre 1992 e 2001.

    Taxa de participao a taxa de participao das mulheres no Brasil de 50,3%, em 2002, superior mdia latino-

    americana; a taxa de participao das mulheres tem aumentado significativamente, mas ainda inferior dos

    homens; os diferenciais entre as taxas de participao de homens e mulheres se reduzem na dcada; a taxa de participao das mulheres mais pobres e com menos escolaridade significativamente

    inferior a essa mdia, o que expressa as suas maiores dificuldades de insero no mercado de trabalho.

    Desemprego

    a taxa de desemprego das mulheres (11,7%) 58,1% superior dos homens (7,4%); a taxa de desemprego dos negros de ambos sexos (10,6%) 30,9% superior dos brancos de ambos

    sexos (8,1%); a taxa de desemprego das mulheres negras (13,8%) 112,3% superior dos homens brancos (6,5%); os diferenciais entre as taxas de desemprego de homens e mulheres, negros e brancos aumentaram

    entre 1992 e 2001. Desemprego juvenil entre os jovens, a taxa de desemprego dos negros e das mulheres significativamente superior taxa

    de desemprego dos brancos e dos homens; a taxa de desemprego dos jovens negros do sexo masculino de 15,4% (a dos jovens brancos

    13,6%); a taxa de desemprego das jovens negras chegava a 25% (e a das jovens brancas a 20%).

    Diferenciais de rendimento as mulheres recebem em mdia, por hora trabalhada, 79% do que recebem os homens. Por ms, essa

    proporo se reduz para 66%; a diferena entre as remuneraes mdias dos homens e mulheres aumenta, ao invs de diminuir, a

    medida em que aumenta o nvel de escolaridade; entre os que tm 15 anos ou mais de estudo, as mulheres recebem apenas 61% dos rendimentos masculinos por hora trabalhada;

    as diferenas de rendimentos entre homens e mulheres se reduzem 8 pontos porcentuais entre 1992 e 2001;

    os trabalhadores negros de ambos sexos recebem em mdia, por hora trabalhada, 50% do que recebem os trabalhadores brancos de ambos sexos;

    as mulheres negras recebem apenas 39% do que recebem os homens brancos por hora trabalhada; comparando negros e brancos com o mesmo nvel de escolaridade, os negros recebem sempre 30% a

    menos que os brancos por hora trabalhada; na faixa superior de escolaridade (15 anos e mais), as mulheres negras recebem menos da metade

    (46%) do que recebem os homens brancos por hora trabalhada; as diferenas salariais entre negros e brancos no se alteram entre 1992 e 2001.

    Informalidade e precarizao a proporo de mulheres que se concentra nas ocupaes precrias e informais (61%) 13% superior

    proporo de homens nessa mesma situao (54%); a proporo de negros (65,3%) em ocupaes precrias 29% superior proporo de brancos na

    mesma situao (50,4%); no caso das mulheres negras, essa proporo de 71%. Destas, 41% se concentram nas ocupaes

  • 23

    mais precrias e desprotegidas do mercado de trabalho: 18% so trabalhadoras familiares sem remunerao e 23% so trabalhadoras domsticas. No caso das mulheres brancas, essas porcentagens so, respectivamente, 13,5% e 14%, o que perfaz um total de 27,5%.

    Fonte: IBGE. PNAD 2001 Elaborao: OIT Obs.: Dados referem-se s pessoas de 16 anos e mais

  • 24

    2. Implicaes para as polticas de emprego Os dados analisados na seo anterior evidenciam a importncia de eliminar as desigualdades de gnero e raa no mercado de trabalho, como um dos elementos fundamentais de uma Agenda de Trabalho Decente e condio para a reduo da pobreza e do padro de desigualdade social vigente no Brasil. Mas o que significa incorporar as dimenses de gnero e raa s polticas de emprego? O que seriam, na atualidade, polticas de emprego com dimenso de gnero e raa no contexto brasileiro? Como formular e implementar polticas que no apenas contribuam para a gerao de emprego e trabalho decente, mas, que, alm disso, contribuam para promover a autonomia econmica das mulheres e reduzir as desigualdades atualmente existentes no m ercado de trabalho? Um elemento fundamental para incorporar a dimenso de gnero s polticas de emprego reconhecer as mulheres, em particular as chefes de famlia, como um sujeito e um grupo alvo fundamental destas polticas. Isso implica superar a viso habitual de que as mulheres, principais responsveis pelos cuidados com a casa e a famlia devido diviso sexual do trabalho vigente na nossa sociedade, no esto em condies de empregar-se a fundo no mercado de trabalho e, portanto, no podem ser consideradas mo de obra permanente e estvel, e continuam sendo vistas como um segmento no essencial e secundrio do mercado de trabalho. J no comeo dos anos noventa, a Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (OCDE) apontava os efeitos negativos deste tipo de viso, tanto para a eficincia das polticas pblicas de emprego e melhoria de renda, como para o objetivo de promoo da igualdade de gnero (OCDE, 1991).3 Coerentemente com essa viso, j em 1980, os governos dos pases da OCDE se comprometeram a implementar polticas de promoo do emprego feminino, afirmando que () en tanto que miembros iguales de la sociedad, los hombres y las mujeres deberan tener las mismas posibilidades de acceso a un empleo remunerado, cualesquiera que sean la tasa de crecimiento econmico y la situacin del mercado de trabajo. Esse compromisso implica desenvolver medidas concretas para facilitar a insero da mulher no mercado de trabalho e assegurar, no seu interior, a igualdade de oportunidades e de tratamento. Tambm estableceram que, para atingir esses objetivos, necessrio avaliar detidamente a evoluo da situao da mulher no mercado de trabalho, assim como examinar regularmente as polticas implementadas e modific-las quando for o caso para garantir a continuidade dos avanos no sentido da reduo das desigualdades de gnero (OCDE, 1991). A Unio Europia vem desenvolvendo uma importante experincia de integrao da dimenso de gnero s polticas de emprego, principalmente a partir da definio da Estratgia Europia de Emprego (1997) e da Estratgia Marco Comunitria sobre a igualdade entre homens e mulheres (2001-2005)4. Mais recentemente o tema vem sendo incorporado tambm nas instncias latino-americanas de integrao. O documento de Concluses e Recomendaes da 3 Sobre o questionamento da noo da mulher como fora de trabalho secundria ver tambm Abramo (2001), publicado no Brasil como Abramo, 2004. 4 Ver anlise a respeito em Mires (2004) e Abramo (2004).

  • 25

    XVa Reunio Regional Americana, de carter tripartite, organizada pela OIT em dezembro de 2002 em Lima, incluiu o compromisso com a elaborao e implementao de polticas de combate discriminao no emprego. O tema foi abordado tambm nas duas importantes Conferncias Regionais de Emprego realizadas em 2004, a primeira delas em Buenos Aires em abril e a segunda em novembro em Lima. Com efeito, na Declarao final da Conferncia Regional de Emprego do Mercosul, os Ministros do Trabalho afirmaram a necessidade da reduo substancial das diferenas de gnero, atravs da diminuio das disparidades entre homens e mulheres no mundo do trabalho e do impulso e coordenao de polticas de igualdade de oportunidades e de combate a todas as formas de discriminao. Por sua vez, na Declarao final da Conferncia Regional de Emprego da Regio Andina, os Ministros do Trabalho afimaram a necessidade de reduzir, em todos os pases da Comunidade Andina, as assimetrias existentes entre homens e mulheres no mundo do trabalho, assim como a necessidade de desenvolver polticas que permitam a crescente incorporao das mulheres ao trabalho digno e decente e de estabelecer polticas que combatam toda forma de discriminao. necessrio observar que em todas essas declaraes e compromissos polticos, o tema de gnero vem sendo mais abordado que o tema racial ou tnico. Vale assinalar no entanto, que este ltimo tambm consta da Declarao de Ministros do Trabalho da Regio Andina.5 Mas o que significa na prtica considerar as mulheres e os negros como sujeitos e grupos meta das polticas de emprego? Significa, em primeiro lugar, definir, como objetivo explcito das polticas de emprego, o aumento da taxa de participao e ocupao das mulheres, dando uma ateno especial situao das mulheres negras. Estar fora do mercado de trabalho, ou em uma situao definida como de inatividade econmica desde muito tempo deixou de ser uma opo desejvel para segmentos cada vez mais significativos da populao feminina brasileira e latino-americana. Os dados so muito eloqentes. Uma parcela cada vez maior da populao depende exclusivamente, ou em grande medida, dos rendimentos advindos do trabalho remunerado das mulheres. Com efeito, os dados da PNAD registram, entre 1992 e 2002, um aumento de 32% no nmero de domcilios chefiados por mulheres no Brasil: atualmente, no conjunto do pas, 25,5% dos domiclios so chefiados por mulheres (em 1992, essa proporo era de 19,3%). Nas reas urbanas essa proporo de 27,6% e nas reas metropolitanas chega a 31,2% (DIEESE, 2004). Ou seja, quase um tero das famlias brasileiras so chefiadas por mulheres e isso em geral, quer dizer que as mulheres so as nicas provedoras dessas famlias. Alm disso, em 90% dos domiclios com chefia feminina no existe um cnjuge6 que possa contribuir com um rendimento adicional ou dividir com a chefe de famlia as pesadas tarefas domsticas do cuidado infantil e dos demais afazeres cotidianos. Isso significa que esses domiclios esto muito mais vulnerveis tanto incidncia da pobreza quanto do trabalho infantil e/ou adolescente. Da a importncia que essas mulheres possam contar com oportunidades de

    5 Diz a Declarao: O Conselho Assessor de Ministros do Trabalho reconhece a importncia dos povos indgenas da regio andina e sua contribuio aos processos de produo nos quais esto refletidos os seus valores e seu particular tecido scio-cultural. Por isso, esse Conselho Assessor afirma que relevante para os pases andinos fortalecer a capacidade produtiva dos povos indgenas, reconhecendo o seu conhecimento tradicional associado ao uso dos recursos da biodiversidade, melhorando sua participao nos mercados nacionais e internacionais, respeitando seus direitos e valores ancestrais, ao mesmo tempo em que se consolidam os processos de consulta que facilitem a sua incluso no desenvolvimento e nas oportunidades de crescimento econmico que incorporam o objetivo trabalho. 6 Por cnjuge se entende um companheiro, qualquer que seja o seu estado civil formal.

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    trabalho decente e com polticas concretas que facilitem a superao dos vrios obstculos que elas enfrentam para alcanar este objetivo.

    Em segundo lugar, significa evitar que existam, na concepo e mecanismos de implementao dessas polticas, quaisquer elementos que possam restringir o acesso das mulheres. Durante muito tempo, a viso predominante na formulao das polticas de emprego na Amrica Latina foi de que elas deveriam estar dirigidas prioritria ou exclusivamente aos chefes de famlia, partindo da suposio de que estes so homens. Para as mulheres (especialmente as mais pobres e com baixa escolaridade e qualificao, muitas das quais so negras), assim como para os jovens, estariam reservadas medidas dirigidas a evitar ou retardar a entrada no mercado de trabalho. Trata-se de uma perspectiva muito questionvel, porque, por um lado, correlaciona de maneira indevida a situao das mulheres dos jovens, sem considerar as profundas diferenas existentes entre ambos os grupos da populao e da fora de trabalho. No caso dos jovens existe uma polmica aberta em relao a esse ponto. Uma das posies sustenta que mais conveniente adiar a sua entrada no mercado de trabalho, enquanto se promove a elevao de sua escolaridade e algum tipo de formao profisisional, o que diminuiria a presso da oferta de trabalho e criaria um cenrio mais propcio para uma insero posterior deste grupo em melhores condies (maior escolarizao e qualificao). A outra argumenta que, nos casos em que existe uma necessidade importante de complementao da renda familiar, ou ainda, em que a obteno de renda um fator importante para promover a desejada autonomia econmica dos jovens, o objetivo da elevao da escolaridade e da capacitao deveriam emprego estar acompanhados pelo esforo simultneo de abrir oportunidades de insero deste grupo no mercado de trabalho. A situao das mulheres totalmente diversa, como j assinalamos no pargrafo anterior. Por conseguinte, mant-las deliberadamente fora dos programas de emprego (ou dos grupos aos quais eles esto prioritariamente dirigidos) pode resolver de maneira circunstancial um problema, ao diminuir estatisticamente a taxa de desemprego aberto ou evitar que esta aumente. No obstante, este tipo de poltica no considera de forma devida a necessidade que as mulheres - em especial aquelas pertencentes s famlias mais pobres, uma grande proporo das quais so negras tm de trabalhar. Os dados citados no pargrafo anterior so por si s evidentes e demonstram a importncia crucial do trabalho das mulheres para a possibilidade da superao da pobreza em um nmero cada vez mais significativo de domiclios. O aumento das oportunidades de acesso ao trabalho remunerado e s possibilidades de gerao de renda constituem, portanto, um aspecto chave tanto para a autonomia econmica e pessoal das mulheres, quanto para o xito das polticas de erradicao da pobreza. Neste sentido, as polticas que deliberadamente procuram evitar ou atrasar esta insero esto contribuindo para a reproduo de uma situao de desigualdade de oportunidades e para o aumento ou a persistncia - da situao de pobreza numa porcentagem importante da populao brasileira.

    Em terceiro lugar significa introduzir, na formulao e nos mecanismos e processos de implementao dessas polticas, elementos ou medidas que estimulem e promovam a participao das mulheres em igualdade de condies com os homens, dando uma ateno especial situao das populaes afrodescendentes. importante desenvolver medidas dirigidas a diminuir as barreiras que as mulheres, em especial as mais pobres e as afrodescendentes, enfrentam para aceder a um trabalho, inclusive quando se trata de empregos temporrios ou de emergncia ou de apoio ao desenvolvimento de atividades produtivas independentes. Entre estas medidas esto: a) a definio de que a participao de mulheres e dos-as afrodescendentes entre os beneficirios desses programas e polticas seja pelo menos

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    proporcional sua participao na Populao Econmicamente Ativa (PEA)7; b) a ampla divulgao das polticas e programas existentes atravs de meios e em locais que sejam acessveis s mulheres; conhecida a importncia das redes sociais e comunitrias para a obteno de informao sobre as alternativas de emprego ou de desenvolvimento produtivo; muitas vezes as mulheres no esto includas nestas redes e isto dificulta ainda mais o acesso a estas oportunidades; c) promover a capacitao das mulheres, em ofcios e ocupaes no tradicionais e em nveis de superviso, dando uma ateno especial s mulheres negras; d) introduzir, nas polticas e programas de intermediao de mo de obra, uma preocupao especial com os segmentos discriminados no mercado de trabalho, entre eles as mulheres e os-as negros-as; e) promover a integrao entre os diversos mbitos das polticas ativas de mercado de trabalho: transferncia e melhoria de renda, capacitao e formao profissional, intermediao de mo de obra, acesso ao crdito e a outros recursos produtivos, programas de emprego temporrio e/ou de emergncia, que permitam s mulheres pobres irem construindo um projeto ocupacional e estruturando suas rotas de sada seja das situaes de pobreza (ou indigncia) seja da dependncia eterna dos programas assistenciais; f) considerar a necessidade de flexibilidade horria e de servios de apoio ao cuidado infantil durante o desenvolvimento destes programas; g) capacitar nos temas de gnero e raa os gestores pblicos e demais pessoas encarregadas tanto da formulao como da implementao, monitoramento e execuo dessas polticas e programas; h) introduzir, quando for possvel e pertinente, aes de empoderamento das mulheres e populaes afrodescendentes beneficirias e de sensibilizao de seus cnjuges e familiares com o objetivo de contribuir ao estabelecimento de relaes mais eqitativas e respeitosas em termos de gnero e raa.

    Em quarto lugar, significa formular e implementar politcas e programas especficos dirigidos s mulheres e s populaes afrodescendentes, ou a grupos determinados de mulheres e negros-as (mulheres chefes de famlia pobres e com baixa escolaridade, mulheres afro-descendentes e indgenas, mulheres jovens, etc. ) nos casos em que isso se justifique. Alm de promover a considerao das dimenses de gnero e raa, assim como a participao das mulheres e dos-as negros-as no conjunto das polticas ativas de mercado de trabalho, importante desenvolver tambm programas e polticas (de capacitao, acesso ao crdito, intermediao, emprego temporrio ou de emergncia, etc.) dirigidas especificamente s mulheres e aos-s negros-as ou a grupos de mulheres e negros-as em situao de especial desvantagem e discrminao no mercado de trabalho.

    Em quinto lugar, aumentar a escala destes programas e estabelecer mecanismos permanentes de monitoramento e avaliao. Frequentemente a abrangncia dos programas dirigidos s mulheres ou s populaes afrodescendentes muito reduzida. De acordo com as diretrizes de vrios documentos dos pases da OCDE e da Unio Europia (UE) as polticas e medidas de promoo da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no acesso ao trabalho no podem limitar-se a programas pilotos de curta durao e alcance restrito, mas devem ter certa ambio com relao ao seu alcance, a seu objetivo e aos recursos que se lhes destine.8 Alm disso, devem responder a uma viso integrada que articule aes distintas em vrios mbitos: o ensino fundamental, os sistemas de formao profissional, o cuidado infantil e com as pessoas de 3a idade e a infra-estrutura de servios pblicos, os programas de informao e

    7 Esse tipo de medida j vem sendo adotada em uma srie de polticas e programas implementados no Brasil, como por exemplo o PLANFOR (Plano Nacional de Formao Profissional, 1995-2002) e o PNQ (Plano Nacional de Qualificao) que, partir de 2003 substitui o PLANFOR como poltica pblica nacional de qualificao profissional. 8 Ver discusso a respeito em Abramo (2004) e Mires (2004).

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    intermediao de mo de obra e os programas de ao positiva que buscam modificar os sistemas de emprego. Devem, alm disso, incluir propostas concretas, objetivos quantificveis, indicadores e uma dotao adequada de recursos financeiros.

    Em sexto lugar, estabelecer sistemas permanentes de monitoramento e avaliao das polticas e programas: fundamental tambm dispor de dados desagregados por sexo e raa-cor, assim como de indicadores sensveis ao gnero e raa em todas as fases da elaborao, execuo, monitoramento e avaliao das polticas e programas, incluindo os diagnsticos que devem preceder ou fundamentar a sua formulao e os registros dos beneficirios/as, assim como dos resultados e impactos dos programas. Nestes diagnsticos, as diferenas e desigualdades de gnero e raa devem estar claramente identificadas para que seja possvel, posteriormente, avaliar sua diminuio ou aumento. Alm disso, necessrio desenvolver a capacidade de realizar anlises de gnero e raa a partir das estatsticas e indicadores existentes, o que supe uma formao e capacitao especfica na matria dos responsveis pela formulao, implementao, monitoramento e avaliao dessas polticas e programas.

    Em sntese, a incorporao das dimenses de gnero e raa uma poltica geral de emprego e ao conjunto das polticas ativas de mercado de trabalho, uma necessidade, no apenas para melhorar a situao das mulheres e dos-as negros-as no mercado de trabalho, como tambm para a construo de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente no Brasil. A reduo da pobreza s poder ser atingida na medida em que se eleve o nmero das pessoas, em cada famlia, que tenha acesso a um trabalho remunerado e decente. Considerando que a erradicao do trabalho infantil um objetivo nacional e da OIT, esse objetivo s poder ser atingido na medida em que se eleve a taxa de ocupao das mulheres e que melhorem as condies da sua insero do mercado de trabalho, tanto em termos de rendimentos, proteo social, acesso capacitao e formao profisisonal, como de ampliao dos servios e equipamentos de cuidado infantil e do estabelecimento de solues mais equitativas para a tarefa de compatibilizar o trabalho remunerado com as responsabilidades domsticas e familiares.

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    BIBLIOGRAFIA Abramo, Las, 2004. Incorporacin de la dimensin de gnero en las polticas de empleo: experiencias y desafos, in Abramo, L. Rangel, M. y Valenzuela, M.E. Polticas de empleo y superacin de la pobreza y la igualdad de gnero en Amrica Latina, Lima, OIT (no prelo).

    Abramo, Las, 2001. La insercin laboral de las mujeres en Amrica Latina: una fuerza de trabajo secundaria?, texto apresentado no Seminrio Cambios del Trabajo: Condiciones para un Sistema de Trabajo Sustentable, CEM, Santiago do Chile, 18-20 de abril del 2001.

    DIEESE, 2004.

    Mires, Lylian, 2004. Polticas de empleo e igualdad de gnero : la experiencia de la Unin Europea in Abramo, L. Rangel, M. y Valenzuela, M.E. Polticas de empleo y superacin de la pobreza y la igualdad de gnero en Amrica Latina, Lima, OIT (no prelo).

    OCDE, 1991 Polticas de mercado de trabajo en los noventa (Informes OCDE). Ministerio de Trabajo y Seguridad Social, Madri. OIT, 2003a. Superar la pobreza mediante el trabajo. Memria do Diretor Geral, apresentada 91. Conferncia Internacional do Trabalho. OIT, Genebra.

    OIT, 2003 b. La hora de la igualdad en el trabajo, OIT, Genebra.