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No terraço do hotel, situado no ele- gante bairro madrileno de Salamanca, a vinha deu 150 quilos de uvas, para 10 garrafas Magnum (1,5 litros), de castas brancas e tintas. As garrafas serão leiloadas em Janeiro de 2019 para fins beneméritos. últimas No ranking dos 100 mais da Spectator ficaram três vinhos portugueses, o Warre Vintage Port (4º), Taylor Fladgate Port (23º) e o Casa Ferreirinha White Papa Figos em 72º Vitorino Nemésio ao nível de Pessoa “Tudo é sensacional em Nemésio” - poesia, romance, ficção, a crónica, mais as suas aulas na Faculdade de Letras de Lisboa, fazem dele uma figura incontornável da Cultura Lusófona, ao nível de Fernando Pessoa. Experts consideram o ro- mancista portuense ao mes- mo nível. A redescoberta destes dois autores surge no âmbito da Associação Portuguesa de Escri- tores e da Academia das Ciências de Lisboa - vinhos & tertúlias Número quinze • semestral newsletter • Director: Álvaro Vale nº 15 Out./ Nov./ Dez. 2018 Em Reguengos de Monsaraz Ervideira mais enoturismo As latadas de uvas no Hotel Wellington, em Madrid Um grande espaço de provas de vinhos e petiscos em 3.000 m2, junto à Adega, no lugar da Vendinha. Os jornalistas foram os pré-inaugurantes da nova sala, tendo provado 14 vinhos, incluindo os espuman- tes da água. À noite entraram os debutantes nestas andanças do enoturismo, um grupo de turistas finlandeses. 02 06 WINE ENTHUSIAST 2018 08 Raúl Brandão no patamar de Fernando Pessoa Ordem de Cister pioneira na agricultura 12 11 WINE SPECTATOR 2018 edição 16 Nove vinhos portugueses no top-100, com destaque para o Aveleda 2015 Follies em 11º lugar. O vencedor foi o Bogle 2015, tinto americano da Califórnia, da casta Zinfandel, a14 graus, com 90 pontos, ao preço de 12 dólares. Conhecidos entre o povo por “irmãos de Santa Maria”, os monges Cister desenvolveram em Alcobaça agricultura planificada numa área de 440 km2, articulada aos ofícios e ao ensino, resultando numa economia medieval integrada transversal aos estaleiros navais de Alfeizerão e Pederneira. 06

Em Reguengos de Monsaraz Ervideira mais enoturismo · estrangeiros, encaminhados para as provas e refeições do novo espaço, que demorou o tempo record a fazer - três meses- ,

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Page 1: Em Reguengos de Monsaraz Ervideira mais enoturismo · estrangeiros, encaminhados para as provas e refeições do novo espaço, que demorou o tempo record a fazer - três meses- ,

No terraço do hotel, situado no ele-gante bairro madrileno de Salamanca, a vinha deu 150 quilos de uvas, para 10 garrafas Magnum (1,5 litros), de castas brancas e tintas. As garrafas serão leiloadas em Janeiro de 2019 para fins beneméritos. últimas

No ranking dos 100 mais da Spectator ficaram três vinhos portugueses, o Warre Vintage Port (4º), Taylor Fladgate Port (23º) e o Casa Ferreirinha White Papa Figos em 72º

Vitorino Nemésio ao nível de Pessoa“Tudo é sensacional em Nemésio” - poesia, romance, ficção, a crónica, mais as suas aulas na Faculdade de Letras de Lisboa, fazem dele uma figura incontornável da Cultura Lusófona, ao nível de Fernando Pessoa.

Experts consideram o ro-mancista portuense ao mes-mo nível. A redescoberta destes dois autores surge no âmbito da Associação Portuguesa de Escri-tores e da Academia das Ciências de Lisboa - vinhos & tertúlias

Número quinze • semestral newsletter • Director: Álvaro Vale

nº 1

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Out

./ N

ov./

Dez

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Em Reguengos de Monsaraz

Ervideira mais enoturismo

As latadas de uvas no Hotel Wellington, em Madrid

Um grande espaço de provas de vinhos e petiscos em 3.000 m2, junto à Adega, no lugar da Vendinha. Os jornalistas foram os pré-inaugurantes da nova sala, tendo provado 14 vinhos, incluindo os espuman-tes da água. À noite entraram os debutantes nestas andanças do enoturismo, um grupo de turistas finlandeses. 02

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WINE ENTHUSIAST 2018

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Raúl Brandão no patamar de Fernando Pessoa

Ordem de Cisterpioneira na agricultura

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WINE SPECTATOR 2018

ediç

ão 1

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Nove vinhos portugueses no top-100, com destaque para o Aveleda 2015 Follies em 11º lugar. O vencedor foi o Bogle 2015, tinto americano da Califórnia, da casta Zinfandel, a14 graus, com 90 pontos, ao preço de 12 dólares.

Conhecidos entre o povo por “irmãos de Santa Maria”, os monges Cister desenvolveram em Alcobaça agricultura planificada numa área de 440 km2, articulada aos ofícios e ao ensino, resultando numa economia medieval integrada transversal aos estaleiros navais de Alfeizerão e Pederneira.

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A Ervideira lançou um grande espaço de enoturismo paredes-

meias com a Adega, em Requengos de Monsaraz, no

lugar da Vendinha.

Os jornalistas foram os pré-inaugurantes do novo espaço, e à noite do mesmo dia Duarte Leal e Nelson Rolo recebiam os

debutantes do novo espaço - um grupo de turistas finlandeses, devidamente encaminhados

para estas coisas do enoturismo, na envolvência do campo e do

mundo rural lusitano, onde nos esperam vinhos, azeites e petiscos,

à semelhança do que se faz na Holanda, onde diariamente,

a partir de Amesterdão ou de outras cidades, há inúmeras

excursões em direcção ao country da Holanda rural, nomeadamente

das queijarias ou dos centros de floricultura e dos moinhos, seja a Edam, seja a Gouda... quanto

ganharia o Alentejo se conseguisse captar levas de turistas, por

vezes perdidos no meio da Lisboa capital, ou pela Baixa pombalina

abarrotar pelas costuras. Praticamente inaugurado com a presença de duas dezernas de

jornalistas, o novo espaço da vinícola Ervideira situa-se resvés à Adega, onde tudo se passa, inclusive o já famoso Vinho Invisível de uvas

tintas, antes de chegar à mesa das provas, (e aos comensais, claro), acompanhado de um esmerado

serviço gourmet, isto é, uma série de petiscos à portuguesa que se

transformam num agradável almoço ou jantar.

A intenção de Duarte Leal da Costa, director-executivo, que agora começa a ter o seu filho Bernardo como braço-direito, é juntar um máximo de 25 pessoas no amplo espaço, complementado por uma grande esplanada ou varanda, que reflecte num conceito simples, prático e confortável o enoturismo da empresa, com a loja comercial a funcionar em simultâneo... até porque o espaço de Évora era já demasiado exíguo para as exigências e curiosidade dos

grupos estrangeiros. E é sempre mais vantajoso trazer os turistas para junto da Adega.

Uma prova de 14 vinhos, iniciada com espumantesNo dia do encontro com a imprensa, estava marcada para a noite uma prova com turistas finlandeses, alternada de comentários, perguntas, um replay, usado com antecedência e muita amizade e profissionalismo com escribas e fotógrafos, em que alguns aspectos científicos da produção vitivinícola foram sublinhados, que abarca as condições climatéricas, atmosféricas, as características do solo, o que forma o terroir das vinhas. Depois, tudo depende da forma como se tratam as videiras ao longo o ano, e já no final do Verão, em relação à vindima, esta é feita cada vez mais durante a noite, para evitar a fermentação prematura das uvas Antes da prova de vinhos, o engenheiro enólogo, Nelson Rolo, responsável pela produção guiou-nos na visita à Adega Ervideira, explicando a pari passu todas as etapas de uma das mais consagradas marcas vinícolas portuguesas. A grande novidade, é também o facto de ter havido partilhas na Família

Leal da Costa. Duarte ficou à frente da Ervideira empresa produtora vinícola, e seus irmãos continuarem apenas na qualidade de viticultores, fornecendo as castas de uvas.Na nova sala, pode observar-se ao centro a genealogia da família, da qual a matriarca, D. Maria Isabel, já com 90 anos (ainda conduz o seu automóvel diariamente), é trineta de D. Maria Luísa Godinho, pioneira dos vinhos. Embora, após a revolução de 1974, tivesse havido uma interrupção, na produção, levando mesmo Duarte Leal a afirmar, que a geração de seus pais não produziu vinhos devido evidentemente às complicações e dificuldades inerentes ao processo revolucionário. De modo, que, agora com seu filho Bernardo será a quinta geração a fazer vinho, desde o trisavô, Conde da Ervideira.Bernardo, neto de D. Maria Isabel Aboim Leal da Costa (1927), passará a ser a quinta geração da família a fazer vinhos, já que os pais de Duarte e seus irmãos, quase não fizeram vinho devido à turbulência social e ocupação de terras após a revolução de 1974, com a pressão política sobre os latifúndios. Em todo o caso, os tempos mudaram gradualmente, e a organização e mais-valias do sector vitivinícola tem garantido novos empregos, além

Em Reguengos de MonsarazQUINTA DA ERVIDEIRA: um grande espaço de provas de vinhos e petiscos em 3.000m2

reportagem

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dos trabalhadores rurais. O novo serviço de enoturismo abriu novos postos de trabalho, gente ligada á hotelaria e turismo, restauração e relações públicas, até porque o alvo são os frequentes grupos de vistantes estrangeiros, encaminhados para as provas e refeições do novo espaço, que demorou o tempo record a fazer - três meses- , e um custo de 250.000 euros. O projecto teve o apoio do programa Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior em 150 mil euros, e o restante pela Ervideira, sob a forma de reembolsamento de metade dessa verbaA Adega da Ervideira está aberta todo o ano, só não fechando (o novo espaço bem entendido), no Dia de Natal e Dia de Páscoa.. Não queremos receber mais do que 25 pessoas de cada vez , e nesta sala prova -se 10 a 14 vinhos de toda a gama. Embora a sala tenha capacidade ideal para receber 75 pessoas por dia, divididas por três turnos. Para o novo espaço, estima-se ao longo do ano uma média diária de 20 pessoas,

sendo a maioria estrangeiros (70 % ) e visitantes portugueses na ordem dos 30 %. Em 2017, a vinícola registou 12 mil visitantes, dos quais, 7 mil na Adega, e os restantes nas lojas de Évora e MonsarazPara o ano de 2018, empresa previa 2,4 milhões euros em volume de negócios. A Ervideira tem cerca de 160 hectares de vinhas, distribuídas por Reguengos de Monsaraz (30ha) e Vidigueira (130 ha)Durante a sessão, além do Espumante da Água , feito no mesmo sistema do já célebre Vinho da Água (fermentação de oito a nove meses nas águas do Lago Alqueva) , abriram-se garrafas centenárias, do bisavô, bem como um belíssimo licoroso e o a novidade Bio Nature, um vinho biológico, cujas uvas são fornecidas por um primos de Montemor-o-Novo.“Já não tenho nada, rigorosamente nada a ver com a produção... é toda responsabiliadde do Nelson Rolo. Outras considerações sobre as tradições familiares: “a minha mãe, que recebeu do meu avô a herdade”, sublinha, mas lembro que a geração dos meus pais

quase não poduziu vinhos dada a revolução. O que o meu avô fez, foi produzir e as vendas foram estritamente na região. Com a chegada da 5ª geração, “o Nelson será o professor do filho Bernardo. O ano passado adquiri isto aos meus irmãos para

dar continuidade, uma vez acabado o curso (referindo-se a Bernardo) .A marca sabe o que faz. Sobre as vindimas de 2018 decorreram na primeira semana de Setembro e foram interrompidas, “porque não havia maturação suficiente, ficamos apenas nas castas dos espumantes, embora o ano passado, estávamos a terminar as vindimas nesta altura. O problema foram as altas temperaturas nos finais de Julho, de 47 graus, o que provocou a queda entre 20 a 25 % na produção Ervideira. “Trata-se de um ano atípico”, diz por sua vez Nelson Rolo... todos os anos as bebidas de refrigerantes, coca-cola, e cervejas mantêm o seus índices... e só os vinhos têm esta razia”Observemos o Conde Ervideira na embalagem Magnum de 1,5 litros, uma série de 300 garrafas dos anos que hajam disponíveis, ao peço de 450 euros cada.As vindimas são feitas à noite até às 7 da manhã, seguindo as uvas de camião-frigorífico para a Adega. O resultado é transformar 1 milhão de quilos ou 900 mil toneladas de uvas em 600 ou 700 mil garrafas, e o excedente em vinho a granel. As castas são Touriga Franca, Touriga Nacional, Petit Verdot, Syrah, Viognet e Usruzinho, castas que não são fáceis de encontrar no Alentejo, e têm de ser trabalhadas”, sublinha o enólogo, na visita guiada. Passamos pela zona dos vinhos brancos, um compartimento à temperatura ambiente de 8 graus, e onde os vinhos fermentam a 15 graus.

À procura das grandes talhas do avô Mais ao lado, já no exterior da Adega, observamos uma fila de talhas, usadas no antigo processo de talha, uma técnica trazida pelos Romanos para a Península Ibérica. E Duarte Leal esclarece: “Estou a comprar as talhas do meu avô, mas adoraria recuperar

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Vinho da Água faz-se em todo o mundoAinda sobre o Vinho da Água, Duarte Leal esclarece: “faz-se por todo o

mundo... a pressão modifica a evolução do vinho, e a produção custa-nos 2,5 euros por garrafa, daí o diferencial entre o preço de 6 euros. O ano de 2017 foi mais seco com história... pois as uvas tiveram mais nivel de

maturação, enquanto em 2018 o vinho será mais baixo (em graduação). O Vinho Invisível, feito de uvas tintas, destina-se mais a jantares, com pratos

fortes de carne. “Na Bélgica foi bem apreciado, ou na feijoada no Brasil, à temperatura de 14 a 16 graus ou a 10 graus com sushi ! Começamos a vendê-lo no final de Março,e coincide com do Dia 1 de Abril, Dia das

Mentiras, numa alusão à invisibilidade do vinho!, tal a técnica apuradíssima deste vinho, feito de uvas tintas!

A Ervideira ainda é reponsável por toda a viticultura das vinhas, ou seja, o vinho é todo produzido com uva spróprias, na posse da família, embora

as vinhas estejam agora sob a gestão dos irmãos de Duarte Leal da Costa, após as partilhas de 2017. O Bio Nature é de vinhas de Montemor-o-Novo,

de uns primos, Paulo Centeno. O vinho lançado nesse dia, foi o Private Selection 2017, branco, estagiado em barricas de carvalho húngaro integrado na tropicalidade da casta Antão Vaz (90% da composição), Arinto (10%) para lhe dar alguma frescura; 2016,

Private Selection, o preço é de 17 euros, e em Janeiro passa a 19 euros.Entretanto, provou-se um tinto do bisavô, de 1928... “O meu pai abria

uma garrafa no Natal e na Páscoa e dizia: isto é a nossa história e da nossa família. Assim que abri, disse, isto é o aroma que tenho na cabeça há 30

anos “, realça Duarte

acção do carvalho francês) não se sobreponha ao sabor frutuoso!A Ervideira é das casas mais antigas do Alentejo a fazer espumantes e a primeira a ser certificada... e têm algumas dezenas de garrafas de vinhos do tempo do bisavô, portanto centenárias. O espumante da água é a versão em espumante do Vinho da Água, nas mesmas condições, de largos meses mergulhadas nas águas do Alqueva. O espumante é das bebidas mais versáteis e pode ser consumido todo o ano, comenta Rolo, referindo o Espumante Rosé 2015 (muito interessante e gostoso, na opinião do Correio dos Vinhos), com fermentação de 2,5 anos, das castas Alfrocheiro (80%) e Aragonez (20%). Durante esses dois anos e meio, o futuro vinho espumante

está sob leveduras, o método clássico, sem adição de açúcar (terá 1 grama residual), isto para os leitores menos entendidos sobre o mundo dos vinhos, e que além de apreciadores, gostem de ter algum conhecimento, e sobretrudo ter gosto pela leitura destas páginas. Aliás a espinha dorsal do texto é subordinada à sequência da prova dos vinhos feita pelos jornalistas, do que propriamente as técnicas de uma grande reportagem, que obedece por exemplo à pirâmide inversa. Neste caso, uma visita a novo espaço de enoturismo, no campo, longe das grandes cidades, a 200 kms de Lisboa. Então, procuramos respeitar a ordem do que lá se passou, ouvir o que o produtor e o enólogo têm para nos dizer.

Pisar ou não pisar as uvas a pé descalço !Ainda Duarte: “O vinho é uma engenharia alimentar até chegar ao ponto que se pretende. Por isso não acho apropriado pisar a pé descalço. Toda a nossa vindima é mecânica “Outro pormenor, é o uso de barricas de carvalho húngaro para manter o sabor da fruta. Cerca de 60 das barricas de carvalho húngaro destinam-se à marca Conde da Ervideira, de um total de 100 barricas adquiridas. As restantes 40, de carvalho francês destinam-se as outros vinhos. A opção pelo carvalho húngaro tem a particularidade de manter a componente da fruta do vinho, que respeita a elegância do vinho, e faz com que a madeira (pela

aquilo que a Revolução nos levou”, reportando-se às talhas grandes, de enormes dimensões, ficando aqui o recado para que a Ervideira possa juntar o velho património histórico. “De qualquer forma, o vinho da talha é muito difícil de fazer... precisa de muita gente, temperaturas de água fria e gelo para refrescar o processo”. Nós temos quatro esquemas de maturação, e o nosso foco é potenciar os aromas... através das castas Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira. Estes g3 simboliza as ânforas argelinas para castas mais fáceis... o Moreto e o Castelão, que amadurecem mais cedo!

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Quanto à certificação dos espumantes alentejanos, Duarte adianta: “como não havia regulamentação não se podia certificá-lo, então ultrapassámos barreiras burocráticas, inclusive a própria câmara de provadores não tinha experiência no assunto. Fomos preparando os 1º espumantes, porque havia demasiada cor. Eles precisavamde estar em contacto com a película das uvas... queremos deixar este conhecimento à 2ª fermentação....o rosé tem cor mais salamandra e menos rosada. E temos de saber ouvir os jornalistas, blogueres para se fazer melhor, obter-se uma cor diferente à medida dos desejos do consumidor”Obtido o espumante, foi colocado a seguir a 20 metros de profundidade do Lago Alqueva durante 9 meses à pressão de 4,5 bares, tanto dentro da garrafa, como no exterio., espumante feito das castas Arinto, Antão Vaz (uma casta tarnsversal em toda gama Ervideira, isto é dos 14 ou 15 vinhos) Alvarinho e Verdelho.

O vinho Bio Nature e agricultura biológicaA Ervideira é já empresa nº88 nas empresas saudáveis agrícolas... numa escala agro-pecuária empresarial de boas práticas, que pode incluir uma variada fileira de produtos ovos, flores, queijo, azeite... “O objectivo é ter uma empresa

saudável financeiramente. Existem vinhos com limpeza aromática, a ideia era puxar a gama para um patamar bastante elevado de qualidade...fomos à procura de uvas boas... não temos agricultura biológica, e tudo depende dos meus primos manterem o contrato, ...muitos aromas primários, simples, elegante, vinho novo!A agricultura biológica é muito restritiva, e para tal tem de ser um vinho com algum controle ( pouco sulfuroso); uma vinha que não é regada há dois anos, mas que a planta está adaptada, com um bom estado sanitário. “A ideia é fazer 26 mil garrafas ao preço de 12 euros”. A Sartiva certifica a agricultura biológica e o vinho, após o despiste de produtos foto-fármacos. A agricultuara convencional está dentro da protecção integrada... e a agricultura biológica ainda é mais limitativa... depois, no Inverno, as ovelhas pastam entre as vinhas, para comerem as ervas... um pormenor entre vários, conforme explica o anfitrião aos jornalistas.

Grande Prova Ervideira Voltando à prova, destacamos o 2015 Conde da Ervideira, antes Reserva, e posteriormente já designado por Vinho da Água, após o estágio de 8 meses no fundo Alqueva, composto de cinco castas: Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet,

“Fomos preparando o 1º espumante, porque havia demasiada cor... Eles precisavam de estar em contacto com a película das uvas... o rosé tem cor mais salamandra e menos rosada. E temos de saber ouvir os jornalistas,

blogueres para se fazer melhor, obter-se uma cor diferente à medida dos desejos do consumidor “

Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon (predominante).A propósito da casta Touriga Nacional, que só se cultivava no Dão e na Bairrada (zonas do centro norte de Portugal), e não era autorizada no Alentejo. “Fomos os primeiros usá-las e a casta acabaria por ser complemente desclassificada , como daquelas duas regiões... Toda a vida fizémos e nunca o dissemos a ninguém. No fundo este vinho sempre foi das castas Touriga Nacional e Alicante Bouschet” (casta que se dá muito bem no Alentejo).A fechar a prova de vinhos, prolongada durante duas horas, um vinho licoroso 2015, “um grande ano”, da casta Tinta Caiada, casta essa em desuso, mas que “nós continuamos a trabalhar”.

Este belo licoroso, vende 10 mil garrafasa 19 euros. A título de curiosidade, aTinta Caiada é conhecida em França por Carcajolo, e na Austrália por Bonvedro.Seguiu-se uma agradável refeição (alternativa aos almoços convencionais) à base de petiscos regionais, desde grão com bacalhau, cogumelos, pataniscas, saladas várias, antecedida uma saborosa sopa de legumes, e rematada por diversas sobremesas, com destaque para uma belissima Sericaia com ameixas de Elvas.

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Nove vinhos portugueses ficaram no ranking anual das 100 melhores compras (Best Buys) da revista americana Wine Enthusiast, que anualmente em Outubro lança a sua lista, das Melhores Compras do ano para um preço máximo de 15 dólares a garrafa. Para 2018 foram seleccionados 1500 vinhos engarrafados de 16 países (EUA, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Argentina, Chile, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Austria, Itália, Grécia, Bulgaria, Israel e Geórgia), envolvendo mais de 35 castas de uvas; no fundo aquilo que na viticultura é fundamental para um bom vinho, além do terreno em si, das características geológicas e do clima, que na globalidade constitui o terroir da vinha. Depois, vêm as condições atmosféricas, especialmente no Verão, que pode antecipar a vindima ou queimar as uvas a poucas semanas da apanha.

Além da Aveleda Follies da Bairrada, mais oito vinhos lusos ficaram no ranking, em 15º o Sogrape 2016 Silk & Spice Red, um tinto de 13 graus, de casta portuguesa tinta, com 90 pontos, ao preço de 13 dólares; em 22º o Quinta da Chocapalha, 2015 (região de Lisboa), tinto da casta castelão, a 13,5 graus, 91 pontos, 12 dólares; em 26º Provam 2017 Portal do Fidalgo Alvarinho (Vinho Verde), branco, 13 graus, da casta Alvarinho, 92 pontos, 15 dólares; em 30º Global Wines 2016 Q do E Encontro Bical, Bairrada, branco, a 12,5 graus, da casta Bical, 88 pontos, 8 dólares; em 37º Monte da Ravasqueira 2016 Superior Red ( Alentejano), tinto, das castas Touriga Nacional, Aragonez, Syrah e Alicante Bouschet, 90 pontos, 9 dólares; 48º Caves Aliança 2014 Aliança Red (Dão), tinto, 88 pontos, 10 dólares, a 13,5 graus; 59º Casa Agrícola Alexandre Relvas 2017 Herdade São Miguel, colheita seleccionada, branco , white (Alentejano), a 12,5 graus, 90 pontos, 15 dólares; 63º DFJ Vinhos 2014 Grand’ Arte Shiraz (Lisboa), tinto da casta Shiraz, a 13 graus, 90 pontos, ao preço de 15 dólares.

O vencedor para a melhor compra do ano foi o vinho americano da Califórnia, Bogle 2015 Old Vine Zinfandel, tinto a 14 graus, da casta Zinfandel, com 90 pontos , ao preço de 12 dólares, provado por Jim Gordon, jornalista especializado na indústria do vinho há mais de 30 anos, e contributing-editor da WE, antigo managing-editor da Wine Spectator durante 12 anos, e editor-chefe de dois livros da autoria de Dorling Kindersley, de Londres: Opus Vino e 1000 Great Everyday Wines.

No 2º o italiano Pizzolato 2016 Fields Brut ( prosecco) branco, da casta Glera branca, a 11 graus, 91 pontos, a 13 dólares, 3º Duck Pond

2017 Pinot Gris, de Oregon, EUA, branco a 13 graus, casta Pinot Gris, 91 pontos, 13 dólares; 4º Jean Luc Colombo 2016, França, tinto, 13,5 graus, casta Rhone style, 90 pontos, 12 dólares; 5º Golan Heights Winery 2016 Mount Hermon Red (Galilee), Israel, tinto a 13,9 graus, da casta Red Blend, 92 pontos, 13 dólares; 6º Spier 2017 Sauvignon Blanc (Stellenbosch), África do Sul, branco a 13,5 graus, 89 pontos, ao preço de 9 dólares

Nos 100º e 99 º lugares foram respectivamente para o Borsao 2016, Granacha (Campo de Borja) Espanha, um tinto de 14,5 graus da casta Granacha (Grenache), com 86 pontos, a 9 dólares; penúltimo, um vinho da Áustria, Zantho 207 Pink Rosé (Burgenland), a 11 graus, com 88 pontos, ao preço de 13 dólares.

Wine Enthusiast 2018 Melhor Compra (Best Buys)9 vinhos portugueses no top-100, o melhor lugar foi o 11º alcançado por Aveleda 2015 Follies Casa da Aguieira & Bairrada , do grupo Aveleda, um tinto de 13 graus, da casta Touriga nacional, com 92 pontos, ao preço de 13 dólares. O vencedor foi o vinho americano da Califórnia, Bogle 2015 Old Vine, tinto a 14 graus, com 90 pontos, 12 dólares.

Três vinhos portugueses ficaram no top-100 da revista americana Wine Spectator, ranking anual para os melhores vinhos a nível mundial. Foram eles, os Portos Warre Vintage Port, de 2106, em 4º lugar, com 98 pontos, ao preço de 98 dólares; em 23º o Taylor Fladgate Vintage Port, de 2016, com 98 pontos, a 120 dólares. E em 72º, o Casa Ferrerinha, Douro White Papa Figos, de 2016, com 90 pontos, a 18 dólares.

O vencedor foi o Sassicaia (Itália) produzido na Toscânia, um vinho tinto de 2015, a 14 graus, das castas Cabernet Sauvignon e Cabernet Franca, com 97 pontos, ao preço de 245 dólares. Este Sassicaia é produzido pela Tenuta San Guido, na região demarcada de Bolgheri, na Toscânia , e foi criado nos anos de 1920 pelo marquês Mario della Rocchetta, quando ainda era estudante em Pisa.

Wine Spectator 2018:Três vinhos portugueses no top-100

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vinhos & tertúlias

O romance “Mau Tempo no Canal” é considerado a obra-prima do escritor açoreano, que também se dedicou à poesia, à crónica e ao ensino universitário, uma série de facetas em que se desdobrava Vitorino Nemésio, sendo pretexto para evocações, tertúlias e reuniões gastronómicas. O seu programa na RTP foi um marco de comunicabilidade, e nos 40 anos desde que partiu, Vitorino foi homeageado pela Associação Portuguesa de Escritores, juntamente com a Academia das Ciências de Lisboa. Pretexto para um jantar tertúlia no Restaurante Clara Jardim ao Campo de Santana, em mais uma iniciativa literária de Luís Machado, autor das Conversas no Martinho da Arcada ou também a A Poesia Deve Servir-se Quente, no Bairro Alto dos Anos de 1980, entre várias outras tertúlias ou jantares-temáticos de homenagem a personalidades da literatura portuguesa - Fernando Pessoa, Miguel Torga, Natália Correia, Raul Brandão, alternadas com gastronomia e vinhos.Nemésio era um devotado à sua Universiadde de Coimbra, onde além dos estudos se dedidou à gitarra da Lusa-Atenas, pois que ele tocava viola... e tinha o compositor Berlioz (autor de Orfeo) como referência. José Manuel Mendes, presidente da APE referiu-se à “obra extraordinariamente rica” de Vitorino Nemésio, e lembrou o programa Se Bem Me Lembro, na TV, e a sua obra , na globalidade, que “o situa entre os nomes maiores da nossa ficção e da poesia, e da

nosa cultura”, reportando-se “ao testemunho daqueles que o tiveram como professor” na Faculdade de Letras de Lisboa.“Os muitos domínios em que as suas obras se exprimiu e divulgou, revelou-se sempre uma figura como poucas, singular no expressionismo e no simbolismo, as vanguardas que conheceu, designadamente em Bruxelas, com uma linguagem inconfundível”, sublinhou.Nemésio absorveu o legado dos Anos Vinte, desde Raúl Brandão, ou o século XIX de Alexandre Herculano, sobre quem fez a sua tese de doutoramento. “Nunca compreenderemos Herculano sem lermos Nemésio”, salientou. Além disso, “ele pertencia à grande poesia, que não tem pátria (...) um plano trans-temporal e trans--espacial, um certo sentido de açoreanidade... um espírito livre,

capaz de contorcer os academismos em voga, como só o seu grande romance “Mau Tempo no Canal”, ou na poesia em 4 volumes, de uma riqueza admirável”.A sessão abrira com Luís Machado que reportou-se à gastronomia açoreana, “uma cozinha caseira, relpeta de cheiros e aromas, bifes de espadarte, atum, galinha c/ limão, etc.”A mesa era um pretexto para unir a família, e os Pinheiro da Silva (os apelidos do pai do escritor) não eram excepção, e depois sobrava tempo para a aprendizagem muiscal, que marcava o espírito tertuliano de certas famílias das primeiras décadas do século XX, até “porque que o pai de Nemésio era músico da Filarmónica local, e o filho herdou esses dotes, tangendo viola”, que mais tarde viriam a fortalecer a sua ligação à guitarra

Nos 40 anos em memória de Vitorino Nemésio (1901-1978) Tertúlia evocando o romancista, poeta, cronista e professor universitário, homenagem da Associação Portuguesa de Escritores e da Academia das Ciências de Lisboa

Guitarristas do fado de Coimbra, José Ferraz de Oliveira, Manuel Borralho e Manuel Gouveia Ferreira.

Na mesa, Luís Machado, José Manuel Mendes, Artur Anselmo e António Valdemar

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de Coimbra , quando estudante da Universidade.António Valdemar, prestigiado jornalista e membro da Academia das Ciências de Lisboa, também açoreano, é considerado um grande biógrafo de Vitorino Nemésio, e na oportunidade sintetizou o Mau Tempo no Canal, no seguinte: “é o problema do arquipélago, a ligação das vária ilhas” (problema que na actualidade, com a aviação comercial, não se colocará como em 1944, ano da publicação do célebre romance nemesiano, dizemos nós Correio dos Vinhos), é “essa a mensagem do escritor”, sublinhou Valdemar, aludindo ao grande poeta, grande prosador, nas emissoras, Jornal de Notícias ou no jornal (revista) Observador. Depois reporta-se “às viagens ao pé da porta, começa pela Arrábida de Frei Agostinho da Cruz e acaba em São Miguel (Açores), e embora o livro seja de um ilha, é de todo o arquipélago, da diáspora açoreana”... Depois da notável síntese de José Manuel Mendes, levanta-se aqui uma interrogação: Não há mais dúvidas da dimensão de “Mau Tempo no Canal”, fazendo uma comparação com a figura de Fernando Pessoa.Festa Redonda: Amália Rodrigues e Dr. Machado SoaresDurante 30 e muitos anos, frequentei a casa de Amália (Rodrigues) e Berta Rosa Limpo (cantora lírica e autora do célebre livro gastronómico Pantagruel, mãe do cineasta Jorge Brum do Canto), que musicou dois poemas de Nemésio. Também Natália Correia (igualmente açoreana) ficou apaixonada por um poema de Vitorino, mais tarde Amália pediu a Alan Oulman (compositor nascido no Dafundo, Algés e ainda ligado à família Bensaúde) para musicar quatro poemas de Vitorino para as Décimas (Décimas de Sílvio e Silvana, do livro Festa Redonda). Foi Amália que o fez, e gravou a geração das Décimas e tive o privilégio de ouvir. Fernando Machado Soares, jurista e juiz, licenciado em Direito por Coimbra (intérprete do fado de Coimbra, e também poeta e compositor, que

muito influenciou a formação de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira) era uma das grandes alegrias de Vitorino Nemésio, ao interpretar o fado de Coimbra. Machado Soares era também açoreano, natural da Horta, Ilha do Faial.Nemésio, o professor da Faculdade de Letras igual ao comunicador da TelevisãoArtur Anselmo, presidente da Academia das Ciências, professor universitário na área dos Estudos Portugueses, antigo aluno de Vitorino Nemésio na Faculdade de Letras, em Filologia Românica contaria diversos episódios na Faculdade, onde Nemésio leccionava quatro disciplinas, e mais tarde na revista Observador,

onde Anselmo era director, e recebia antecipadamente as crónicas do ilustre colaborador e académico, para seguir os tramites da publicação, desde a revisão à maquetagem, para depois passar à impressão, um trabalho moroso e muito diferente da actualidade em que tudo é digital.“Após a minha formatura, dirigi o Observador na linha da Visão ou da Time. A experiência foi muito interessante,e apesar da censura, tínhamos a habilidade de cozinhar textos e aprendemos a viver com o que tínhamos, e Vitorino Nemésio contou para todos nós. Mostrarei dois ou três episódios, primeiro a paixão que ele tinha pelos cavalos, uma distração, ele era visita de amigos que tinham cavalos, a

Carlos Alberto Moniz canta “Um dia talvez”, texto de Vasco Pereira

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família Palha, e apaixonou-se por um tal cavalo... e o amigo disse-lhe: Ó Sr. Doutor, se quiser fique com o cavalo. Quando chegou a casa ficou apático. E D. Gabriela, mulher do nosso mestre e já na altura, na presença do comandante Manuel Nemésio (filho de Vitorino), mas porque estás tão triste? pois é, mas a gente podia pôr o cavalo na varanda!E Artur Anselmo, prosseguiu, já

no 2º apontamento: o elevador do prédio nunca funcionava, tínhamos que subir quatro andares a pé. Ele está tão triste, porque não perguntam pelo violão... Sr. Doutor esse violão... então ele foi buscar...Nesse tempo, a licenciatura era de cinco anos, e havia uma tese, Vitorino Nemésio seria o orientador de Anselmo. “Dava-lhe boleia, levava-o a casa, isto passa-se em 1970, estava a sair da

Faculdade. Ó Artur isto de a gente ser célebre... agora só porque apareço da Televisão, já me dão importância! Ele dava-se tão bem nas aulas como na Televisão, diria Anselmo, sobre o à vontade e poder comunicacional de Vitorino Nemésio.“Ele passeava no meio das filas das carteiras dos alunos, no chamado Seminário de fim de curso tinha uma grande familiaridade com os alunos, mas não havia intimidades a mais excepto com personagens femininas... uma das suas curiosidades era escolher flores para enviar às suas amigas. Esse Nemésio afável, bom conversador, não era diferente do professor, sempre carinhoso com os alunos.A minha impressão sobre a obra de Vitorino Nemésio quando me falaram, peguei num livro sobre Poesia dos Trovadores... e não há nada que não seja bom. É tudo sensacional !”E contou um episódio sobre a sua colaboração na revista Observador: ele dactilografava directamente à máquina, com poucas emendas e uma vez enviou-me uma carta: Meu caro Artur Anselmo... mas passo a chamar-me Vitorino Nemésio Pinheiro da Silva, não quero ser ingrato para com o meu pai... e mande lá pôr isso na tipografia... Bom, depois telefonei-lhe... Vc tem um nome... Ah pois é, olhe fica tudo como antes!. É uma figura extraordinária! Para mim, ainda é o mestre da Faculdade, cuja opinião era fundamental!” “Escolhi alguns traços característicos desta personalidade. Aprendi com ele a marca de deixar ficar aquilo do que falo. Uma última referência na Faculdade... ele dava as cadeiras de História da Cultura Portuguesa, História da Literatura Brasileira, História do Romantismo e orientação das licenciaturas... começava sempre a aula de pé, do Seminário, mas depois fugia (saía da sala)... não estou a perceber nada dizia um ou outro aluno... alguns alunos saíam. Tenho a imagem de ele ser um açor que voava por todo o arquipélago e voltava”, concluiu Artur Anselmo.

À mesa com NemésioNascido em Praia da Vitória (na Terceira, Açores) a infância e a adolescência de Vitorino Nemésio foram passadas na sua ilha natal, o que justifica o seu forte apego às origens.

As saudades dessa infância apelam (também) para memórias de uma cozinha caseira repleta de cheiros e aromas.

Num quadro fictício imaginamos então o nosso querido Vitorino Nemésio, sentado à beira -mar, numa bela praia de pescadores, a evocar pratos saborosos: sopa azeda, sopa do Espírito Santo, inhame com linguíça, bacalhau com favas, bifes de espadarte e de atum; naturalmente que (nesta descrição idealizada) o seu sentimento de açorianidade levaria a que enaltcesse também a cozinha de carne e de capoeira, dando merecido destaque à galinha de limão e à famosa alcatra, preparada em alguidar de barro e finalizado em fogão de lenha, servida com fatias de massa sovada. A terminar recordava ainda que aos Domingos, na casa dos avós, havia sempre lambarices --acompanhadas por um licor de tangerina --onde não faltavam os irresistíveis alfenins, o doce com vinagre, as cornucópias e as D. Amélias.

Estas iguarias açorianas, referidas são decerto conhecidas de o autor da Festa Redonda, contudo não sabemos as que realmente mereciam a sua preferência.

A mesa, naquelas primeiras décadas de um Portugal insular do século XX, era pretexto para unir a família Pinheiro da Silva. Ali, para além da partilha de afectos, provavam-se pitéus, contavam-se muitas histórias e ainda havia lugar para aprendizagens musicais. Não esqueçamos que o pai de Nemésio era músico da filarmónica local. Aliás o filho herdou esses dotes, tangendo viola.

A geografia gastronómica de Vitorino Nemésio leva-nos também a Coimbra , Montepellier, Bruxelas, S. Salvador da Bahia e naturalmente Lisboa, cidades onde passou e habitou. Contudo nos seus livros não há muitas referências às comidas por aí saboreadas. Não é de estranhar porque Nemésio era biqueiro no comer e no beber.

Definir com rigor os pratos que mais apreciava é como atravessar um canal em dia de nevoeiro. Nemésio, como já dissemos, não era bom garfo. Perante isto imaginem o nosso embaraço na escolha da ementa para a tertúlia de hoje. Depois de algumas hesitações optámos (exceptuando a entrada) por uma comida que, inspirada nos sabores açorianos, decerto nos vais deixar um sorriso nos lábios. Esperamos que assim seja. Bom apetite!

Luís Machado

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Um grupo de experts em Literatura Portuguesa

considera o romancista e dramaturgo Raúl Brandão

(1861-1930) ao mesmo nível de Fernando Pessoa (1988

-1935), poeta desdobrado em vários heterónimos -- Álvaro

de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo

Soares e uma das referências incontornáveis da cultura

portuguesa.A explicação mais plausível para o esquecimento de Raúl Brandão, autor de “Humús” (1917) e das peças “Jesus Cristo em Lisboa” (1927) e “ A Farsa” (1903, livro de carácter teatral, de cunho expressionista, e levado à cena em 2014 no Teatro Nacional D. Maria II) deve-se principalmente às múltiplas e constantes traduções pessonianas, enquanto que o escritor da Foz do Douro tem apenas duas únicas traduções : uma francesa e uma italiana. Tudo isto, numa conferência sobre o autor natural da Foz do Douro, realizada na Academia das Ciências de Lisboa. Ainda para mais, o facto de Brandão ser um antecessor do Teatro do Absurdo de Samuel Becket e Edward Albee, e “nem Becket, nem Albee leram Raúl Brandão”, realçou um dos conferencistas.Militar de carreira e colega de curso de Sidónio Pais na Escola do Exército, Brandão, antes porém,

frequentara o Curso Superior de Letras em Lisboa, acabando mais tarde em 1912 por se reformar no posto de capitão, altura em que já era um autor reconhecido, passando a dedicar-se inteiramemte à Literatura, e ter uma relação muito próxima com Teixeira de Pascoais, co-autor da peça “Jesus Cristo em Lisboa”, que embora estreada em 1928, envolta sob polémica, acabaria proibida. Segundo o jornalista António Valdemar o maior enigma é o facto de Fernando Pessoa ter ignorado a obra Humus e Raúl Brandão também ignorar Pessoa. “É uma falta de Pessoa, que só tem uma alusão a Raúl Brandão numa carta a João Gaspar Simões” (um dos principais estudiosos e biógrafos de Pessoa). Valdemar traçou uma retrospectiva da sociedade lisboeta e portuense do primeiro quartel do século XX, já que Raúl Brandão repartia a sua vida com temporadas em Lisboa, onde tinha casa na Rua Garcia da Horta à Lapa, e frequentando os cafés Martinho do Rossio e Brasileira do Rossio. No Porto, a sua livraria era a famosa Lello, local de encontros e tertúlias, além de estar evidentemente na sua Casa do Alto, em Nespereira Guimarães, velha casa senhorial do século XVI comprada em ruínas pelo autor em 1899, e reconstruída após o casamento, na cidade onde conhecera sua esposa.Para outros dois especialistas, a professora Isabel Cristina Mateus (Universidade do Minho) e José Manuel Vasconcelos, jurista, autor e investigador em Literatura, Brandão tem traços de Bertolt Bretch, e no Humus reinventa a linguagem, e é encarado como precursor do Teatro do Absurdo (Samuel Becket e Edward Albee, e também antecessor de Luigi Pirandello (autor de Seis personagens à procura de um autor).Para Isabel Cristina, Brandão e Pessoa são os dois grandes vultos da Cultura Portuguesa da primeira metade do século XX, senão de todo o seculo XX português. “Brandão foi um genial precursor do século XX, um das

Raúl Brandão ao mesmo nível de Fernando Pessoa e precursor de Samuel Becket e Edward Albee

vozes que soube ler com a precisão da ressonância magnética, numa época de desumanização, e que é um paradoxo actual. A escrita de Raúl Brandão fala de gente deixada na orla da vida, um escrita de força subversiva e que derruba muros”. Por seu turno, José Manuel Vasconcelos registou o facto de o autor de Humus ter lido Dostoiewsky e Nietzche. “E se Pessoa atingiu a dimensão foi pelas traduções no estrangeiro, que lhe deram a visibildade necessária. Se estivesse confinado à casa lusitana não teria o impacto. Quanto a Raúl Brandão, quase não está traduzido.... e no dia em que for traduzido e falado no estrangeiro, Brandão virá à superficie, ao nível dos grandes autores europeus... muitas décadas após a sua vivência”, comentou.Vasconcelos está a fazer uma estudo entre Raúl Brandão e Luigi Pirandello... “Este não sabia português e não terá lido a obra de Brandão!. E há coisas em Pirandello que são brandonianas... aquelas peças dos Anos de 1920, são coisas (como o expressionismo) que apareceram no início de século XX, muito antes de Pirandello e do expressionismo literário. E novamente se fala de literatura europeia, então, chegou a altura de darmos a Brandão o papel a que tem direito”! O investigador considera Humus “o cume da montanha”, na obra de Raúl Brandão, “e é necessário arranjar tradução para colocá-lo a um nível europeu que deveria ter”, concluiu.

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As ordens religiosas como precursoras do capitalismo,

a partir dos longínquos séculos XI e XII, assentes

em interessantes espaços territoriais arroteados,

através de uma agricultura já planeada e sofisticada, com

equipamento agro-industrial (heranças do Al- Andaluz) em consonância com as estações

do ano.

No caso da Ordem de Cister, com a sua retaguarda francesa da família de D. Afonso Henriques (Abade de São Hugo de Cluny e seu primo Bernardo de Claraval, todos pertencentes à família Borgonha), representava o ponto mais alto de uma economia rural monástica , articulada aos ofícios e misteres, e em última análise transversal à construção dos estaleiros navais de Alfeizerão e Pederneira ( portos locais assoreados ao longo do século XV), que forneceram navios para a tomada de Ceuta em 1415), como disse Rui Rasquilho, antigo director do Mosteiro de Alcobaça, historiador e diplomata, na apresentação do II Congresso Internacional dos Mosteiros Cistercienses, -e alusivo a Alcobaça e Coz. Este último, uma inesquecível surpresa que nos reporta a meados dos anos de 1990, quando, - no

Em Alcobaça e CozOrdem de Cister pioneira na agriculturauma economia medieval integrada

meio de silvas, oliveiras, estábulos e barracões abandonados, tapumes de zinco, - ao fazermos a manobra marcha-atrás descortinámos uma torre de igreja, em estilo barroco italiano, que nos fez espreitar entre o matagal, e surpreendentemente descobrir o Mosteiro de Coz, perdido no esquecimento, mantendo contudo intacto o património... apesar da dissolução das ordens religiosas em 1834. Todavia, até 1990, as antigas celas das monjas eram ainda usadas como pocilgas. Coisa absurda, para o mosteiro cisterciense de Santa Maria de Coz, homólogo feminino de Alcobaça fundado em 1279, mas aumentado no século XVI para alojar

devidamente as monjas cisterciensesFeita a marcha-atrás, parámos o carro e alguém nos disse que a chave do mosteiro estava à guarda do padre da igreja... e lá o foram chamar, para nos servir de cicerone, numa descoberta empolgante para um jornalista perdido naqueles caminhos, e que fizera a manobra para retomar a direcção de Alcobaça.Três grandes surpresas nos aguardavam: o esplendor e a beleza barroca da igreja quinhentista, contrastando com a ruína das celas, a sacristia forrada com painéis alegóricos à vida de São Bernardo de Claraval, o patrono de todos aqueles senhorios, e quem dera luz verde a seu primo D. Afonso Henriques, no século XII para construir a Abadia de Alcobaça, nos moldes da casa-mãe de Claraval (França).O padre lá nos explicou inclusive a cena da mãe de São Bernardo, grávida, ao questionar um eremitão, que ouvia por vezes um cão a ladrar no seu ventre, a que o eremita lhe respondeu, “o teu filho será uma pessoa importante de grande saber e de intervenção”... depois, damos com um quadro da pintora Josefa de Óbidos, enorme surpresa....E volvidos mais de vinte anos damos corpo a este texto memorialista, da reportagem recolhida, mas não concretizada... meramente por conjuntura profissional.Voltando à abertura do congresso, no coro da Igreja do Antigo

reportagem

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Mosteiro de Coz, a Ordem de Cister representava “um Estado dentro de outro Estado”, numa área de 440 km2, entre Alcobaça, Alfeizerão, São Martinho, Nazaré, Moel, Caldas e Óbidos, sítios tradicionais da boa fruta, doçaria, compotas, pastelaria, da boa agricultura, a que não eram alheios os saruis, sarois (os saloios, do árabe sarui, saroi), que se estabeleceram (e se tornaram conversos) pelo que naquelas zonas a agricultura árabe terá tido grande influência -- o pão saloio, vinho, azeite, frutas, frutos secos, uma panóplia agricola, pecuária e gastronómica.“Em meados do século XII, um grupo de monjes cistercienses estabeleceu-se próximo do lugar de Alcobaça e construiu gradualmente, a partir da serra e ao longo do rio um centro de tecido produtivo e financeiro. Tratou-se de um modelo de autonomia centralizada com eficiência agrícola, adaptado a um desenho agrário, proveniente da Borgonha, e aí experimentado desde o início da centúria de 100”, diria Rui Rasquilho, sem deixar de realçar uma afirmação de José Mattoso, presidente da comissão científica do primeiro congresso sobre Cister:

“Durante quase um século, de meados do século XII a meados do século XIII os cistercienses viveram em condições de grande pureza e austeridade, indiferentes aos valores correntes do mundo senhorial; as condições de abundância ou vantagens do exercício do poder”.

Diria que nessa época o universo não queria saber do tempo, vivia-se sobretudo o lado sagrado, a realidade universal, sublinharia o conferencista.Sobre a doação do território à Ordem de Cister, Rui Rasquilho reporta-se à transcrição de Frei Manuel dos Santos (monge cisterciense 1670-1740) na sua obra Alcobaça Ilustrada - Noticias e Historia dos Mosteyros et monges insignes Cistercienses da Congregaçam de Santa Maria de Alcobaça da Ordem de S. Bernardo nestes Reynos de Portugal et Algarves, Coimbra 1710.Para o historiador, a chancelaria só terá elaborado o documento do rei Afonso Henriques e sua mulher D. Mafalda doando as terras da sua herdade à Ordem de Cister através do Abade Prepétuo de Claraval D.

Bernardo (grão -mestre e fundador da instituição), após cuidadosas visitas ao espaço, de cavaleiros do rei e frades agrimensores, um ou dois anos antes da redacção da carta, das terras entre a serra e o mar, do termo de Óbidos ao de Leiria, para avaliar as aptidões para a lavoura, abundância de água disponível (a hidráulica dos cistercienses é uma ciência a considerar) , o valor da floresta e a funcional distância das pedreiras.Dado o sim, elaborou-se o textro cadastral e económico da carta de doação, tendo como limites Salir, Olmos, Aljubarrota, Adam, Coz Pederneira e Moel. A par da exegese monástica medieval , (...) estava implícito o povoamento e exercício agrário apoiado nos irmãos conversos, enquanto o cenóbio (convento) os soube atrair. Construíram-se moinhos, azenhas, fornos de pão, pisões, celeiros, eiras e lagares, explorou-se a floresta e as pedreiras. “Os cistercienses adaptaram o seu acervo às necessidades da vida ao longo da linha do Tempo”, adianta Rui Rasquilho, interrogando-se sobre o texto da doação que assinala agricultura, vinhas, casas, hortas e pomares”, e ignora a pesca? um documento tão minucioso não se refere ao mar interior -- a Lagoa da Pederneira, nem aos castelos que a defendem --Alfeizerão, D. Framondo e Alcobaça .... é que a serra das pescarias era então dos Crúzios de Coimbra (ordem de Santa Cruz, com origem na Bélgica), terá sido por esta razão? interroga-se o historiador.A partir do século XIV, D. Fernando I vai doar ao mosteiro a vila de foral real Paredes com os seus moradores pescadores e Patais, no meio do pinhal, com influência dos estaleiros de Alfeizerão e Pederneira para as frotas de Ceuta e do mar oceano, além da marinha mercante e de pesca. Com esta transversalidade económica, ficam estão estabilizados os 440 km2 do território continuado da Ordem de Cister. Nos séculos seguintes, prossegue a evolução técnica do seu equipamento agro-industrial para a produção de azeite e vinho.Séculos mais tarde, aquando da dissolução das ordens religiosas em 1834, “quando se procedeu aos inventários dos bens para a hasta pública, constatou-se que

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Rui Rasquilho, antigo director do Mosteiro de Alcobaça realçou a acção da Ordem de Cister para a economia, numa região de 440 km2

Amílcar Coelho, professor de Filosofia e especialista sobre o pensamento de São Bernardo.

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a contabilidade estava certa. Quintas, fazendas, pinhais, olivais, casas, moinhos, azenhas, lagares, tudo estava arrendado, sabendo-se a quem e qual o valor a pagar pelo contrato... quatro milhões, oitenta e quatro mil, oitocentos e quarenta e sete réis... entravam anualmente nos cofres de Santa Maria de Alcobaça”.“Oscilando na linha do Tempo, o cenóbio manteve sempre em paralelo o difícil mundo de Deus com o defeituoso mundo humano, ajustando a dialéctica entre o Universo e o tempo curto, fosse na escrita, no ensino, na arte gótica ou barroca... na política, tudo foi parceiro do arado”, comentaria Rui Rasquilho sobre a irmandade de Alcobaça, que ao longo de oito séculos teve 28 abades prepétuos, 18 administradores comendatários e 93 abades eleitos em cada três anos, só reeleitos em circunstâncias especiais.O pensamento de São Bernardo e a disciplina monásticaA organização dos monjes cistercienses (também conhecidos entre o povo por irmãos de Santa Maria) numa grande estrutura monástica conciliando a oração diária à actividade produtiva agrícola, aos ofícios e misteres, ao ensino, que resultaria num singular bastião económico da região, tudo baseado na personalidade de São Bernardo, conforme disse o professor e investigador em Filosofia, Amílcar Coelho.

Para este especialista no pensamento medieval, “ o que está por trás disto são as ideias de um homem extraordinário Bernardo de Claraval (Vale Claro, do francês): das cartas e sermões litúrgicos : (milhares de cartas e mais de 300 sermões de carácter mariano, entre os quais, o Sermão 36 do Cântico dos Cânticos), que à semelhança entre a verdade e a claridade - espelho e enigma, daí o perfil deste homem interessado no enigma das coisas, rigoroso de grande profundidade, habituou-se por si mesmo ver as coisas por um espelho como um enigma, como é que tu te preparas para ver isso?”... e as obras do fundador de Cister estão publicadas em castelhano, inglês e francês e não em português, mas existe um projecto para tal, sublinha o académico.O discurso de São Bernardo “é

filosófico ou teológico”. “Ele propôs pôr a Filosofia sob suspeita, e teve uma disputa com Pedro Abelardo em Paris, e venceu essa disputa”. “Mas quem fica para a História foram os académicos, e o seu pensamento é posto em equívocos”, explica Amílcar Coelho, que aponta uma hermenêutica de símbolos (ramo da filosofia que estuda a interpretação). “Naquela época chamava-se gnose, mas ele era céptico, e tudo tem de passar pelas práticas diárias, ou seja, os trabalhos; o acesso à verdade tem um preço, e o preço é que como um

processo pelo qual temos de mudar. Prática de si, são transfigurações do sujeito(transformações - espiritualização, um percurso que ele chamou ascética. Bernardo também chama aos monjes atletas estóicos, como Cristiano Ronaldo”, realça o universitário.O fundador de Cister, “diz que o homem se pode vincular a Deus, enquanto está na Terra, através de transfigurações (ou transformações). Para ele o mal é da honestidade humana, e o que é de mais importante no mundo é uma vontade boa (boa vontade, um termo kantiano). Bernardo instaura uma força de vontade que move montanhas, não é platónico, é pelo caminho da verdade, pela ascese e pelo trabalho”, conclui Amilcar Coelho

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Poças celebrou centenário em casa dos avós de Sophia de Mello Breyner... AndresenA vinícola Poças celebrou o centenário da sua fundação com um jantar na casa dos avós da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen (e do escritor seu primo, Ruben A. Leitão) , cuja família também ligada ao Vinho do Porto. A antiga casa da família Andresen pertence hoje à Universidade do Porto e sede do Jardim Botânico da cidade, uma escolha simbólica, que cruza lugares e experiências e mostra que o vinho fica bem entre cultura e família.

Celebrar 100 anos é também narrar histórias, tal como a narrada por Pedro Pintão, diretor de Marketing da Poças, durante a gala do centenário da empresa em Setembro....aludindo a uma foto antiga de família, nos 25 anos da Poças, há 75 anos.O jantar integrou-se nas actividades comemorativas ao longo de 2018, dos 100 anos da Poças e reuniu na antiga casa da escritora Sophia de Mello Breyner mais de uma centena de clientes, fornecedores e amigos da empresa, entre eles vários produtores do Douro. “Além de ser um local encantador, esta é também uma casa de família e com uma forte ligação à arte”, acrescentou Pedro Pintão, lembrando ainda que a família Andresen se dedicou igualmente ao comércio de Vinho do Porto. A associação à arte e à família tem sido, aliás, o fio condutor do programa cultural promovido pela Poças para celebrar o centenário, envolvendo artistas como os Capitão Fausto, Afonso Reis Cabral, Companhia de Teatro do Bolhão ou Bordalo II.O programa de celebração do centenário incluiu o lançamento de um Vinho do Porto com quase 100 anos, criado por Jorge Pintão, membro da família e atual enólogo

da casa, a partir de um blend de vinhos feitos pelo próprio fundador da Poças, o qual foi dado a provar no brinde da gala. Será também editado o livro “100 anos, 100 objectos”, projecto que nasceu da vontade de catalogar, preservar documentos e objectos dispersos sobre a história da empresa, encontrados durante os trabalhos de recuperação dos armazéns da empresa que deram lugar ao novo centro de visitas da Poças, recentemente inaugurado e localizado em Vila Nova de Gaia. A Poças nasceu em 1918, pelas mãos de Manoel Domingues Poças Júnior, bisavô de quatro membros da actual administração da empresa. Na posse da mesma família desde a fundação, é uma referência histórica no Vinho do Porto, mas tem também um percurso consolidado na produção de vinhos DOC Douro, gama que produz desde o início dos anos 90. A empresa possui três quintas no Douro e exporta cerca de 90% da sua produção. A família Andresen oriunda da DinamarcaOs antepassados de Sophia de mello Breyner chegaram a Portugal oriundos da Ilha Fohr, no arquipélago das Frísias, com Jaan Hinrich Andresen, cidadão da Dinamarca, que aos 14 anos, em 1840 pediu aos pais para embarcar num veleiro em viagem pela Europa, que aportaria ao

Porto. O jovem acabaria por ficar em terra, segundo a história narrada por Maria Alice Rios, no seu livro Famílias Tradicionais do Porto. Jan Hinrich não voltaria à sua terra e em poucos anos faria fortuna à base do Vinho do Porto. Aprendeu facilmente português, e quando em 1854 a Prússia anexou as Frísias, Jaan pediu a nacionalidade portuguesa a D. Fernando II de Saxe-Coburgo Gotha (marido de D. Maria II, e regente) que lhe concedeu a naturalização no Palácio de Sintra, passando a chamar-se João Henrique Andresen.As gerações seguintes consolidaram os negócios e a fortuna, e mais tarde comprariam a Quinta do Campo Alegre, onde a família viveu até aos Anos de 1940, altura em que a Universidade do Porto adquiriu a propriedade de 17 hectares. Então, já a quinta havia sido transformada em Jardim Botânico, hoje é dirigido por uma descendente da família, a arquitecta paisagista Teresa Andresen.Só a título de curiosidade, e citando o Diário de Notícias, o filho mais velho do jovem Jaan “casaria com uma senhora alemã, discípula do pintor Katzenstein”, e grande aficcionada por flores e plantas. Será esta dama alemã a plantar um jardim nos conformes e no estilo romântico da época. Foi também em Campo Alegre, que Sophia de Melo Breyner Andresen, poetisa e escritora passaria a sua infância.

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Nova Bohemia Porter, uma cerveja para aquecer o InvernoÉ tempo de descobrir novas cervejas. e a amais recente é a nova Bohemia Porter. O estilo Porter surgiu no séc. XVIII em Inglaterra e tornou-se popular na zoma portuária de Londres, nessa época com maior movimento dado o calado reduzido dos navios que seguiam o Tamisa rio acima: Então, os trabalhadores marítimos tomavam as suas cervejas, misturando as cervejas Ale com outras cervejas, com o objectivo de saborear cervejas mais escuras e intensas. Porter é um estilo clássico que está na origem das cervejas escuras, que são mais complexas, encorpadas e torradas.

A nova Bohemia Porter destaca-se pelo seu carácter maltado, com nuances de café e chocolate preto, obtido da harmonização de quatro maltes distintos. De cor escura e com uma espuma cremosa, acompanha na perfeição queijos curados e enchidos, sendo aconselhável beber esta Bohemia Porter a temperaturas mais altas (8 a 12ºC).

Norwegian Air voa em Março para o BrasilA transportadora escandinava aérea de low-cost estreia-se no mercado do Braisl em Março de 2019, com um voo entre Londres e o Rio de Janeiro, refere a revista Airway em artigo assinado por Ricardo Meier.

Singapura - Nova Iorque em 19 horasRealizado em Outubro, o voo comercial mais longo de sempre, sem interrupões, durou 19 horas, mais concretamente 18 horas e 50 minutos através da companhia Singapore Airlines num Airbus A350-900 ULR numa distância de 16.700 kms. No voo embarcaram 150 passageiros em apenas classes business e premium, sem classe económica ou turística, tendo dois pilotos comandantes e dois co-pilotos, e 17 tripulantes para cumprirem os requisitos das pausas de trabalho, refere o jornalista Rodrigo Barbosa, da Euronews.Segundo o Dinheiro Vivo (jornal digital de economia), citando o El Mundo, os bilhetes (ida e volta) custam 1.125 euros, e haverão três viagens semanais. Este voo, sem escalas, bateu o anterior record de voo, a partir de Dhoa (Qatar) a Aukland (Nova Zelandia), que percorrera os 14.535 kms em 16 horas e 23 minutos.

p enúltimas

TAAG: 80 anos de voosTudo começou com a fundação a DTA - Divisão dos Transportes Aéreos de Angola em 8 de Setembro de 1938, ou seja, logo a seguir à visita do então Presidente português Óscar Carmona a Angola, em vésperas da Segunda Guerra. Já nessa altura, a aviação comercial estava em grande boom, tanto em Angola como em Moçambique. No caso de Angola, o Aero Clube de Luanda fazia voos desde 1936 para Ponta Negra, no então Congo Francês (Brazzaville), onde chegavam os voos da Air France, com passageiros, correio e marcadorias, a única ligação aérea de Angola ao exterior, citando um artigo de Suzana Gonçalves, na revista Austral.Com o deflagrar da guerra, a DTA deixaria de fazer o referido voo, na sequência dos seus aviões serem alvejados. Advém um período de crise devido à falta de peças sobressalentes, elemento preponderante na manutenção dos aviões.Após 1945, a DTA teve grande crescimento no vasto território angolano com passageiros, carga e correio, participando na Linha Imperial Lisboa-Bolama-Luanda-Lourenço Marques. A partir de 1951 complementa o voo Lisboa-Lourenço Marques, para em 1953 aderir à IATA. Durante os Anos 60 e 70, até à independência (Novembro de 1975), a aviação comercial atingiu um grande desenvolvimento em Angola. Já em 1973, antes da independência, a DTA muda de nome para Transportes Aéreos de Angola-TAAG empresa pública com capitais mistos. Depois em 1980, sob a designação de Linhas Aéreas de Angola-TAAG, passa a voar para Paris, Moscovo, Roma, Rio de Janeiro voos regulares para São Tomé, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, passando também a operar para Joaneburgo, Harare, Windoek, Brazzavile, Kinshasa, além de internamente ligar Luanda a 19 destinos. Em 2009, inicia a rota Luanda-Dubai.

Os melhores vinhos do Alentejo em 2018Em Évora foram premiados os três melhores vinhos alentejanos referentes à 6ª edição do concurso “Melhores Vinhos do Alentejo” de 2018. Iniciativa da Confraria dos Enólogos do Alenetejo, o evento teve lugar no Hotel Mar d’Ar Muralhas, tendo sido distinguidos o Scala Coeli – Touriga Nacional tinto 2015, o Valcatrina by da Santos Lima – rosado 2017 e o Vidigueira – Grande Escolha branco 2016 com o Prémio Excelência. Foram ainda entregues 17 Medalhas de Ouro e 7 Medalhas de Prata. O júri de prova avaliou um total de 121 vinhos -- 87 tintos, 29 brancos e 5 rosados, produzidos na região por 50 vitivinicultores

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No fecho da ediçãoEnoturismo & desenvolvimento O sector do vinho português acabou por vencer o passado cinzento que remontava aos Anos Vinte, sobretudo por a sociedade portuguesa carecer de meios financeiros e de uma aristocracia arrojada capaz de entenderos Tempos Modernos e aproveitar a revolução nos transportes durante a década de 1920, juntamente com uma “coisa” chamada marketing e publicidade, então, mais ligada ao poder e à diplomacia. Por volta de 1930, os abastecimentos e o sector da distribuição alimentar modernizaram-se, mas o crash de 1929 provocara um rombo acima dos 60 % no comércio mundial. Passou a haver excesso de oferta e escassa procura. Então, os vinhos portugueses teriam de aguardar 50 ou 60 anos pela adesão à União Europeia, e mesmo assim pelo aparecimento dos países BRICS no final do século XX, que perceberam que tinham aqui uma alternativa mais barata e a mesma qualidade dos habituais produtores e fornecedores.É provável, que a verdadeira História comercial do vinho português, particularmente dos brancos e tintos de mesa, esteja por fazer. Mas seja como for, os últimos 20 anos são de grande sucesso para a vitivinicultura portuguesa (juntamente com a Espanha), ao conseguir romper monopólios e apresentar-se como produto de alta escola, também pelos microclimas do país e certos terroirs absolutamente especiais, como o caso de Pias, no concelho de Serpa.Ou a introdução no Alentejo (a região que mais produz vinho certificado engarrado do país, com 100 milhões de litros anuais) de certas castas como Syrah, Alicante Bouschet, Aragonez e Alvarinho, que relançaram todo aquele terrtório.Com este balanço, podemos dizer que o vinho português venceu o passado displicente e das indecisões, à semelhança de um famoso livro “A China vence o passado”, da autoria de José de Freitas, prestigiado jornalista, que em 1964 fizera uma viagem à China ao serviço do Diário Popular. Esta figura de retórica comparativa parece-nos bastante pertinente, já que foi essa mesma China, que volvidos 54 anos após a publicação do livro, viria a ter uma acção preponderante na ascensão e nas exportações do vinho português, além dos outros países BRICS.Contudo, o sucesso das exportações do vinho português só pode ser total, se houver alavancas de desenvolvimento regional para que surjam outras ofertas, como o enoturismo, captar grupos de turistas para visitarem herdades (mesmo de Inverno) e usufruírem do enoturismo, inclusive em estadias sob a forma de turismo rural. Um aeroporto a sul de Lisboa poderá multiplicar os visitantes às herdades, quintas e pequenas vilas do Alentejo. No caso do Montijo, após 20 anos de debate e indecisões, chegou-se recentemente à conclusão que existem inconveniências várias: primeiro pelas aves migratórias de grande porte, que ali passam o Inverno nos estuários do Tejo e do Sado; em segundo lugar, o problema do ruído e a zona urbana sobrevoada. Para não repetir modelo de Lisboa, a alternativa será o Campo de Tiro de Alcochete. Embora um pouco mais longe, o aeroporto pode ser feito por fases, e servido por shutlle, espécie de comboio rápido entre dois aeroportos: Portela e Alcochete... através de túnel no estuário como em Istambul, no Mar da Mármara, para o metropolitano local, o célebre projecto Marmaray, na distância de 14 kms, inaugurado em Outubro de 2013. Trata-se de um assunto já estudado, e resultante de um parceria entre o Japão e Turquia, que integrou tecnologia japonesa, financiado pelo Banco do Japão e pelo BEI (Banco Europeu de Investimentos), e que liga as duas margens (europeia e asiática) ao aeroporto internacional de Istambul. Este shutlle (vaivém) foi em 2001 sugerido para funcionamento entre Portela e o Montijo, mas poderá ser aplicado ao Campo de Tiro de Alcochete. Falamos na qualidade de jornalista de economia, que desde os anos de 1980 trabalhou vários dossiês de transportes, inclusive os temas Montijo e Beja, e também o projecto Marmaray. Seja como for, o vinho venceu o passado cinzento, e aguardemos mais um pouco para se descobrir as potencialidades várias do Alentejo, particularmente o enoturismo, como já estão a fazer outras regiões, especialmente, Sintra, Óbidos, Caldas da Rainha e Douro.

FICHA TÉCNICA - proprietário: A . Henriques do Vale; nº de contrib.:149010877; registado na ERC com o nº 125946; sede da redacção:Rua Oliveira Martins, nº2  / 3º Edo,  1000-212 Lisboa. direcção e redacção: Álvaro Vale; grafismo: Celina Botelho; [email protected]; www.correiodosvinhos.com; www.correiodosvinhosepetiscos.com

Álvaro Vale

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Em Madrid, hotel de 5 estrelas produz

vinho no terraçoParece extravagante, mas foi notícia no jornal diário madrileno ABC, na primeira semana de Outubro, após a vindima realizada no terraço do Hotel Wellington, situado no elegante e aristocrático bairro de Salamanca. Uma vinha em latadas deu na sua primeira vindima 150 quilos de uvas, dos quais se fizeram 10 garrafas Magnum (1,5 litros) de vinho ou vinhos das castas brancas Albarinho, Moscatel de Alexandria, Palomino, Macabero e Verdelho; e das tintas Tempranillo, Granacha tinta e tintoreira Monastrell. Como diz o autor da reportagem, o jornalista Adriano Delgado, “o terraço do hotel Wellington em Madrid, converteu-se num cenário com um vinho urbano de cinco estrelas numa ampla paisagem ´skyline´, sobre a capital” espanhola.Longe de ser um mero capricho, a iniciativa partiu do director do hotel, José Rodriguez Tarin, ao convidar o engenheiro agrónomo José Ramon Lissarague, professor da Escola Técnica Superior de Engenheiros Agrónomos, da Universidade Politécnica de Madrid, para dar corpo à ideia. O objectivo era também de reproduzir, em pequena escala, uma amostra da viticultura nacional”, comentaria ao diário madrileno o professor universitário, que dirige a investigação naquela universidade.A vinha em latada foi plantada em Março de 2016, em colaboração com o vinhateiro Fernando Ramirez Ganuza, actvidade exercida desde 1980, e que fundou em 1989 a sua quinta em Samaniego (na comarca de Rioja Alavesa) e empresa vitivinícola participada em 50% desde 2010 pela família Urtasun (proprietária do grupo imobiliário Sidercom). A iniciativa foi também a “forma de provar que não há qualquer prejuízo ou inconveniência sobre o cultivo da vinha numa grande

cidade”. O espaço das latadas ocupa 45 metros quadrados (m2), no sistema de vasos, em que o professor, apoiado dos seus alunos, estudou cuidadosamente a organização e o desenho inerentes à plantação das videiras.Esta primeira colheita seria levada para a adega em Rioja Alavesa para dar origem a dez garrafas Magnum (1,5 litros), onde o grupo de estudantes e professor acompanharam a vinificação.

Posteriormente, as garrafas serão leiloadas (Janeiro de 1919) para fins beneméritos, numa cerimónia organizada pela Fundação Wellington, e cuja receita se destina a uma ONG.Mas não ficam por aqui as incursões agrícolas do hotel, muito conhecido por ser o favorito de toureiros e aficcionados. É que o chefe da cozinha do hotel, Javier Librero tem também ali uma horta, onde cultiva legumes e hortaliças. No fundo, bem vistas as coisas, uma singela e oportuna operação de marketing ao vinho espanhol, o que revela uma sociedade onde o desenvolvimento, crescimento económico e criação de riqueza são inevitavelmente acompanhados de estudos e investigação de mérito, da qual a última etapa é a criatividade num ciclo ideal de sustentação económica.