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EMAGIS EM PAUTA - emagis.com.br · prescricional da evicção fique enquadrado em uma norma geral, ... o art. 39 do CDC elenca práticas abusivas de ... lealdade e transparência

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Professores

Flávio BorgesJuiz Federal. Ex-Procurador da República. Ex-Procurador Federal/AGU.Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região (4ª lugar),Procurador da República (1ª lugar), Procurador da Fazenda Nacional (4ªlugar), Advogado da União, Procurador Federal e Procurador do MinistérioPúblico junto ao Tribunal de Contas.

Paulo Augusto Moreira LimaJuiz Federal. Mestre em Ciências Penais pela Universidade Federal deGoiás. Ex-Delegado de Polícia Federal. Aprovado nos concursos de JuizFederal da 1ª Região (7º lugar), Delegado de Polícia Federal, Promotor deJustiça do Mato Grosso do Sul (2º lugar) e Defensor Público do DistritoFederal.

Gabriel QueirozJuiz Federal. Pós-graduado pela Fundação Escola Superior do MPDFT.Ex-Promotor de Justiça do MPDFT. Ex-Procurador Federal/AGU. Ex-Assessor de Subprocurador-Geral da República. Aprovado nos concursosde Juiz Federal da 1ª Região, Juiz Federal da 5ª Região, Promotor deJustiça do MPDFT, Procurador da Fazenda Nacional e ProcuradorFederal.

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Índice

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Rodada 1Prof. Flávio Borges

PRETENSÃO DE REPARAÇÃO BASEADA NA GARANTIA DA EVICÇÃO. PRAZO

PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO.

Prof. Paulo Augusto Moreira Lima

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES CONTRA A HONRA DE PARTICULAR

SUPOSTAMENTE COMETIDOS DURANTE DEPOIMENTO PRESTADO À PROCURADORIA

DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

Prof. Gabriel Queiroz

CONCESSÃO DE SERVIÇOS AÉREOS. TRANSPORTE AÉREO. SERVIÇO ESSENCIAL.

CANCELAMENTO DE VOOS. DEVER DE INFORMAR AO CONSUMIDOR.

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Rodada 1Prof. Flávio Borges

Terceira Turma

PRETENSÃO DE REPARAÇÃO BASEADA NA GARANTIA DA EVICÇÃO. PRAZOPRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO.

A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se aoprazo prescricional de três anos.

A questão controvertida girou em torno dadefinição do prazo prescricional aplicável àpretensão de ressarcimento pela evicção. Uma vez que o ordenamento jurídico nãoprevê expressamente o prazo prescricional dapretensão indenizatória em decorrência daevicção, a questão é saber sobre a possívelincidência do prazo especial – três anos –insculpido no art. 206, § 3º, IV ou V, do CC/02,ou do prazo geral – dez anos – previsto no art.205 do mesmo diploma legal. A SegundaSeção, recentemente, se manifestou sobre otema no julgamento do REsp 1.360.969/RS(julgado em 10/8/2016, DJe de 19/9/2016),realizado pela sistemática dos recursosr e p e t i t i v o s , f i c a n d o a s s e n t a d o n o sfundamentos do acórdão que “não há maissuporte jurídico legal que autorize a aplicaçãodo prazo geral, como se fazia no regimeanterior, simplesmente porque a demandaversa sobre direito pessoal”. E mais, que “noatual sistema, primeiro deve-se averiguar se apretensão está especificada no rol do art. 206ou, ainda, nas demais leis especiais, para sóentão, em caráter subsidiário, ter incidência oprazo do art . 205”. Na esteira desseentendimento, convém salientar que agarantia por evicção representa um sistemaespecial de responsabilidade negocial, quei m p õ e a o a l i e n a n t e , d e n t r e o u t r a sconsequências, a obrigação de reparar asperdas e os danos eventualmente suportadospelo adquirente evicto. Daí se infere que,independentemente do seu nomen juris, anatureza da pretensão deduzida é tipicamente

d e r e p a r a ç ã o c i v i l d e c o r r e n t e d einadimplemento contratual, a qual, seguindo alinha do precedente supramencionado,submete-se ao prazo prescricional de trêsanos, previsto no art. 206, § 3º, V, do CC/02.REsp 1.577.229-MG, Rel. Min. NancyAndrighi, por unanimidade, julgado em8/11/2016, DJe 14/11/2016.

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Comentários

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça terminou por reproduzir umjulgamento proferido pela Segunda Seção da Corte, exposto em precedentesubmetido ao rito dos recursos repetitivos. O tema é bastante conhecidodaqueles que atuam na área do direito civil, dizendo respeito ao prazoprescricional para se ajuizar a demanda de evicção. De logo, é precisolembrar que a evicção significa a perda da propriedade ou da posse de umbem para um terceiro, em favor de quem foi proferida uma decisão judicial.

A título de exemplo, as coisas se passam assim: A vende um bem para B.Mas surge uma decisão judicial afirmando que o bem, na verdade, pertenciaa C. B, então, prejudicado, ajuíza contra A uma ação de evicção, pleiteandoperdas e danos.

A controvérsia sobre o prazo da prescrição dessa demanda surgiu a partir daomissão do Código Civil em contemplá-lo expressamente, o que deusurgimento a duas teses: a) o prazo prescricional, no caso, deveria ser ogeral, fixado em 10 anos, de acordo com o art. 205 do CC; b) o prazoprescricional deveria ser o de 3 anos, conforme a norma do art. 206, § 3º, IVou V, do CC, que trata da acão de enriquecimento sem causa ou daquela deresponsabilidade civil.

O STJ entendeu, ao fim, que não há mais lugar para que o prazoprescricional da evicção fique enquadrado em uma norma geral, sobretudoporque essa demanda revela, na verdade, uma típica ação deresponsabilidade civil, a ser resolvida com o pagamento de perdas e danos.Daí a conclusão pela aplicação do prazo trienal.

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Prof. Paulo Augusto Moreira Lima

Terceira Seção

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES CONTRA A HONRA DEPARTICULAR SUPOSTAMENTE COMETIDOS DURANTE DEPOIMENTO PRESTADO ÀPROCURADORIA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

Não compete à Justiça federal processar e julgar queixa-crime proposta por particularcontra particular, somente pelo fato de as declarações do querelado terem sidoprestadas na Procuradoria do Trabalho.

Tratou-se de conflito de competência negativoem razão da divergência entre Juízo federal eJuízo estadual para processar e julgar açõespenais privadas nas quais se buscava apurara prática dos crimes de calúnia e difamaçãopelos querelados, em depoimento prestadoem inquérito civil instaurado por ProcuradoriaRegional do Trabalho. Estando em análise nasqueixas-crime a prática de delitos contra ahonra, e não de falso testemunho, tampoucose vislumbrando nos autos indícios de que osdepoimentos prestados por quereladosperante o parquet trabalhista são falsos,estaremos diante de verdadeira relação entreparticulares e não haverá nenhum interesseou violação de direito que afete a União, demodo que a causa não se enquadrará emnenhuma das hipóteses do art. 109 daConstituição Federal e não incidirá, assim, aSúmula n. 165 do STJ, que assim dispõe:“compete a justiça federal processar e julgarcrime de falso testemunho cometido noprocesso trabalhista.” CC 148.350-PI, Rel.Min. Felix Fischer, por unanimidade, julgadoem 9/11/2016, DJe 18/11/2016.

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Comentários

Qual a competência para processar e julgar crime contra a honra decorrentede ofensas cometidas por particular contra particular em depoimentoprestado na sede da Procuradoria do Trabalho?

De início, cabe destacar que tal hipótese não se assemelha com aqueladescrita na Súmula 165 do STJ: compete a justiça federal processar e julgarcrime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.

Isso porque a Sumula 165 do STJ relata caso de falso testemunho, em quehá ofensa a interesse da União em zelar pela veracidade dos depoimentosprestados na Justiça Federal. Eis o motivo da competência federal.

De maneira diversa, no crime contra a honra de particular, ainda queprestado na Justiça do Trabalho ou na sede da Procuradoria do Trabalho,não há qualquer ofensa a bens, serviços ou interesses da União. Portanto,não incide o art. 109 da CF.

Em verdade, um particular ofende a honra de outro. O fato desse episódio tersido praticado no interior de prédio público, ainda que durante depoimentoprestado, não muda a questão da competência, a ser atribuída à JustiçaEstadual.

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Prof. Gabriel Queiroz

Segunda Turma

CONCESSÃO DE SERVIÇOS AÉREOS. TRANSPORTE AÉREO. SERVIÇO ESSENCIAL.CANCELAMENTO DE VOOS. DEVER DE INFORMAR AO CONSUMIDOR.

O transporte aéreo é serviço essencial e pressupõe continuidade. Considera-se práticaabusiva tanto o cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurançainequívocas como o descumprimento do dever de informar o consumidor, por escrito ejustificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer.

O debate diz respeito à prática no mercado deconsumo de cancelamento de voos porconcessionária de sem comprovação pelaempresa de razões técnicas ou de segurança.As concessionárias de serviço público detransporte aéreo são fornecedoras nomercado de consumo, sendo responsáveis,operacional e legalmente, pela adequadamanutenção do serviço público que lhe foiconcedido, não devendo se furtar à obrigaçãocontratual que assumiu quando celebrou ocontrato de concessão com o Poder Públiconem à obrigação contratual que assumerot ineiramente com os consumidores,individuais e (ou) plurais. Difícil imaginar,atualmente, serviço mais "essencial" do que otransporte aéreo, sobretudo em regiõesremotas do Brasil. Dessa forma, a ele seaplica o art. 22, caput e parágrafo único, doCDC e, como tal, deve ser prestado de modocontínuo. Além disso, o art. 39 do CDC elencapráticas abusivas de forma meramenteexemplificativa, visto que admite interpretaçãoflexível. As práticas abusivas também sãoapontadas e vedadas em outros dispositivosda Lei 8.078/1990, assim como podem serinferidas, conforme autoriza o art. 7º, caput, doCDC, a partir de outros diplomas, de direitopúblico ou privado, nacionais ou estrangeiros.Assim, o cancelamento e a interrupção devoos, sem razões de ordem técnica e desegurança intransponíveis, é prática abusivacontra o consumidor e, portanto, deve serprevenida e punida. Também é práticaabusiva não informar o consumidor, porescrito e justif icadamente, quando tais

cancelamentos vierem a ocorrer. A malhaaérea concedida pela ANAC é uma oferta quevincula a concessionária a prestar o serviçoconcedido nos termos dos arts. 30 e 31 doCDC. Independentemente da maior ou damenor demanda, a oferta obriga o fornecedora cumprir o que ofereceu, a agir comtransparência e a informar o consumidor.REsp 1.469.087-AC, Rel. Min. HumbertoMart ins, por unanimidade, julgado em18/8/2016, DJe 17/11/2016.

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Comentários

O texto acima está bem feito, razão pela qual pouco temos a acrescentar.

A questão é saber se as companhias aéreas podem cancelar vôos comanálise apenas no foco empresarial, ou seja, na análise lucrativa daoperação.

O objeto da demanda na origem era o seguinte (trecho do voto do Min.Relator): “O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ACRE ajuizou, naJustiça Estadual, ação civil pública contra a GOL LINHAS AÉREASINTELIGENTES S.A., pleiteando a condenação da companhia aérea emobrigação de não fazer para que esta, sem que haja razões técnicasrelevantes e intransponíveis, abstenha-se de cancelar voos para a cidade deCruzeiro do Sul, bem como divulgue informações precisas, claras e verídicasaos consumidores”.

Segundo se noticiou nos autos, a empresa cancelava vôos em períodos debaixa frequência, mas em altas temporadas, inclusive feriados, os vôos erammantidos. E isso sem a devida informação prévia.

Todas as instâncias, inclusive o STJ, entenderam que o comportamento dacompanheira área violou o art. 22 do CDC, na parte que trata da continuidadedos serviços públicos, bem os arts. 30 e 31 do CDC, que tratam do dever delealdade e transparência nas relações de consumo.

Afastou-se a alegação de que o Poder Judiciário não poderia determinar arealização de vôos perenes para “essa ou aquela localidade”, porque issoseria tarefa do Poder Executivo. Entendeu-se que o Poder Judiciário podesim velar pelo adequado e contínuo serviço público concedido, nos termos doart. 22 do CDC, até mesmo porque a malha aérea concedida pela ANAC éuma oferta que vincula a concessionária a prestar o serviço concedido nostermos dos arts. 30 e 31 do CDC

Em suma, expressou-se que a concessão pública, com seu interesse públicosubjacente, autorizaria decisões como a presente, na qual o interesse privadoda empresa não poderia se sobrepor ao daquela comunidade do norte dopaís, com difícil acesso.

Dispositivos legais:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, sãoobrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aosessenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, dasobrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas acumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

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Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculadapor qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos eserviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicularou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurarinformações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesasobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobreos riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtosrefrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.(Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009)

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