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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE LAGUNA/SC Distribuída por dependência nos autos nº 040.07.001111-2 MARIO DE ABREU, brasileiro, casado, funcionário público, RG nº..., CPF nº 888.777.666-55, residente e domiciliado na Rua Florianópolis, nº 20, bairro Vila Moema, Tubarão/SC, vem à presença de vossa excelência, por seus advogados que esta subscrevem (documento incluso), propor os presentes EMBARGOS DE TERCEIRO em face de BEM MORAR LTDA, CNPJ nº..., com sede na Rua Hercílio Luz, nº 100, Centro, Florianópolis/SC e SUA MORADA LTDA, CNPJ nº..., com sede na Rua Machado Sales, nº 28, sala 05, Centro, Curitiba/PR, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir: 1. DOS FATOS

Embargos execução varios

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Page 1: Embargos execução varios

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA 2ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE LAGUNA/SC

Distribuída por dependência nos autos nº 040.07.001111-2

MARIO DE ABREU, brasileiro, casado, funcionário público, RG nº...,

CPF nº 888.777.666-55, residente e domiciliado na Rua

Florianópolis, nº 20, bairro Vila Moema, Tubarão/SC, vem à presença

de vossa excelência, por seus advogados que esta subscrevem

(documento incluso), propor os presentes

EMBARGOS DE TERCEIRO

em face de BEM MORAR LTDA, CNPJ nº..., com sede na Rua Hercílio

Luz, nº 100, Centro, Florianópolis/SC e SUA MORADA LTDA, CNPJ

nº..., com sede na Rua Machado Sales, nº 28, sala 05, Centro,

Curitiba/PR, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir:

1.    DOS FATOS

O embargante adquiriu da empresa embargada

Bem Morar Ltda, dois imóveis, de matrículas nº 8895 e 8795

(documentos em anexo), ambos localizados na praia de Itapirubá, no

município de Laguna.

O negócio ocorreu de modo regular, tendo os

imóveis sido adquiridos a título oneroso, mediante a lavratura da

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competente escritura pública de compra e venda, no valor de R$

50.000,00 (cinquenta mil reais) cada imóvel.

Antes da realização do negócio, o embargante, por

cautela, retirou as certidões de matrícula atualizadas dos imóveis,

verificando a inexistência de quaisquer irregularidades.

Ademais, no ano de 2006, após a efetiva aquisição

dos imóveis, o embargante efetuou a transferência das propriedades

para o seu nome no Cartório de Registro de Imóveis da cidade de

Laguna/SC.

Desde então, o senhor Mario de Abreu tem a posse

efetiva dos terrenos, utilizando-os sem restrições, tendo inclusive

cercado os mesmos.

Entretanto, em fevereiro do presente ano, tendo a

intenção de construir uma casa em um dos terrenos e vender o

outro, o embargante foi surpreendido ao retirar as certidões de

matrícula atualizadas e verificar a existência de uma restrição

judicial de sequestro incidente sobre os seus bens.

Tal restrição é proveniente da Ação Cautelar

Incidental, autos nº 040.07.001111-2, que tramita na 2ª Vara Cível

da Comarca de Laguna/SC.

A Ação Cautelar Incidental supramencionada

refere-se à Ação Declaratória, autos nº 040.05.002222-3, em que se

disputa a propriedade dos imóveis adquiridos posteriormente pelo

autor. O objeto desta ação é a sobreposição de lotes, discutida pelas

empresas Bem Morar Ltda e Sua Morada Ltda.

2.    DO DIREITO

Dispõe o Código de Processo Civil, em seu artigo

1.046, “caput" e §1º que:

Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos.

§ 1º Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor.

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Dessa forma, sendo o embargante, tanto senhor

como possuidor, fica configurado o seu interesse na Ação Cautelar

mencionada anteriormente, que gerou o sequestro de seus bens.

Igualmente, deve-se considerar o disposto no

artigo 1.051 do Código de Processo Civil, com a finalidade de retirar

a restrição imposta aos terrenos do embargante:

Art. 1.051. Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição em favor do embargante, que só receberá os bens depois de prestar caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam afinal declarados improcedentes.

Quanto ao assunto, já decidiu o Tribunal de Justiça

do Estado de São Paulo:

Embargos de terceiros - Imóvel adquirido por escritura de venda e compra, não registrada, antes do registro da penhora - Embargos de terceiros procedentes - Recaindo a penhora, em executivo fiscal. sobre imóvel adquirido por contrato de compra e venda não registrado, cabível a oposição de embargos de terceiro para afastar a penhora sobre o imóvel anten.orm.ente [sic] adquirido. (Embargos de Terceiros 0065777-30.2003.8.26.0000, 11ª Câmara de Direito Público, Relator: Luis Ganzerla, Julgado em: 11/08/2008)

Na jurisprudência acima, percebe-se que, mesmo

não tendo sido registrada a escritura de compra e venda, afasta-se

qualquer restrição quando se trata de adquirente de boa-fé. Ora

Excelência, o embargante tomou todas as precauções e efetuou os

registros devidos, motivos pelos quais seus pedidos devem ser

acolhidos.

3.    DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) Sejam os presentes embargos recebidos, após a

distribuição por dependência a esse Juízo, com liminar determinando

a retirada da restrição judicial de sequestro imposta aos bens do

embargante;

b) Sejam os embargados citados para, no prazo de

10 (dez) dias, contestar a presente, nos termos do artigo 1.053 do

Código de Processo Civil, sob pena do artigo 803 do mesmo diploma

legal;

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c) Ao final, seja a ação julgada procedente, com a

condenação dos embargados em custas processuais e honorários

advocatícios, nos termos do artigo 20, § 3º do Código de Processo

Civil;

i) Sejam deferidos todos os meios de provas em

direito admitidos, especialmente o depoimento pessoal do

embargante e as provas testemunhais, conforme rol abaixo descrito;

Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta

mil reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Tubarão, 20 de outubro de 2011.

_______________________________NOME DO ADVOGADO

OAB/SC

ROL DE DOCUMENTOS

Procuração

Matrículas dos imóveis (2006 e 2011)

Escritura pública de compra e venda

EXCENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA .... ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE ....

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EMBARGOS DE TERCEIRO

APENSO AO PROC. ....

OFÍCIO EXECUÇÃO

........................................................ (qualificação), portador da Cédula de

Identidade/RG nº ...., e sua mulher .... (qualificação), portadora do Título Eleitor

nº ...., Seção ...., casados sob o regime da comunhão de bens, inscritos em conjunto

no CPF/MF sob nº ...., residentes e domiciliados na Rua .... nº ...., vêm muito

respeitosamente perante V. Exa. para opor os presentes

EMBARGOS DE TERCEIRO,

em face do ...., instituição financeira inscrita no CGC/MF nº .a de seu representante

legal constituído nos autos epigrafados, da AÇÃO DE EXECUÇÃO em que o ora

Embargado move contra .... e ...., ambos qualificados nos autos referidos, na

conformidade dos arts. 1046 e seguintes do Código de Processo Civil, pelos motivos

de fato e direito conforme adiante segue:

Os Embargantes são senhores e legítimos possuidores do imóvel constante de casa

e terreno, localizado na Rua ...., matriculado no Cartório de Registro de Imóveis

desta Comarca, sob nº .... e Registro nº ...., adquirido de .... e sua mulher, conforme

faz prova a inclusa certidão do Cartório do Registro de Imóveis desta Comarca.

Tendo a Embargante adquirido dito imóvel em fins do ano de .... e recebido a

escritura definitiva de Compra e Venda em ...., lavrada no .... Cartório de Notas

desta Comarca, livro ...., fls. ...., ou seja, anteriormente à efetivação do auto de

penhora que ora grava o imóvel, cuja primeira praça já designada para o próximo

dia .... do corrente, que se pretende embargar.

Da mesma forma, por ocasião do registro no cartório competente, não se verificava

qualquer ônus sobre o referido imóvel que obstasse o efetivo registro, isto em ....,

vez que a penhora se realizou em ...., tudo conforme faz prova os documentos ora

anexados.

Assim sendo, por força da ação executiva que nesse E. Juízo move o ora

Embargado, ...., através de sua agência local, em face da executada, ...., e outro,

processo nº .... - .... Ofício, sofreu a Embargante penhora de bens de sua

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propriedade, conforme documento anexado.

A violência sofrida pela Embargante é evidente, razão por que não participa, em

hipótese alguma, da menciona execução, portanto, os presentes embargos são

cabíveis para excluir da penhora o referido bem, considerando-se, também, que os

executados possuem outros bens competentes para garantir dita execução.

Face ao exposto, é presente ante V. Exa. para requerer, em vista da prova

documental apresentada, seja deferida liminarmente a manutenção da posse do

imóvel, bem como a citação do Embargado, para no prazo legal contestar os

presentes embargos, requerendo-se sejam os mesmos recebidos e afinal julgados

provados, protestando por todos os meios de prova em direito admitidos. Dando-se

à causa o valor de .... (....).

Termos em que, com os doc. juntos,

Pede deferimento.

...., .... de .... de ....

EMBARGOS DE TERCEIROS  Artigo 1046 – CPC Os embargos de terceiros são uma ação proposta por terceiro em defesa de seus bens contra execuções alheias. Requisitos

a) Para figurar no pólo ativo é o terceiro que não figurou no processo. Quem figura na demanda não pode opor embargos de terceiros. b) Sofrer apreensão dos bens sob a rubrica turbação ou esbulho ArrestoApreensão judicial de bens indeterminados do devedor SeqüestroApreensão judicial de bem determinado do devedor, objeto dos litígios da ação Alienação judicialÉ o bem que se encontra com inscrição de gravame e, por esse motivo, não pode ser vendido para terceiro. ArrrecadaçãoRecolhimento de bens da pessoa ausente, quando for aberta a sucessão provisória. 

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ArrolamentoÉ a indicação, por meio de um rol, de todos os bens pertencentes a uma pessoa InventárioSão os bens deixados pelo “de cujus” PartilhaDivisão dos bens entre os herdeiros. ObservaçãoOs embargos de terceiros tem por objetivo desconstituir o ato judicial abusivo, restituindo as coisas ao estado anterior. Co-apreensão impugnada. FinalidadeOs embargos de terceiro visam a proteger tanto a propriedade como a posse e podem fundamentar-se quer em direito real, quer em direito pessoal, dando lugar apenas a uma cognição sumária sobre a legitimidade, ou não, da apreensão judicial. Em outras palavras, a lide refere-se apenas a exclusão ou inclusão da coisa na execução e não a direitos que caibam ao terceiro sobre a coisa. Legitimidade ativa dos embargos de terceiro. É aquele que não sendo parte do processo, sofre turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial. Legitimidade passivaÉ o exeqüente (Devedor) e as vezes, o executado (devedor), quando a nomeação de bens partir dele.  Valor da causaDeve ser os dos bens pretendidos e não o valor dado a causa onde foram eles objeto de apreensão judicial. Esse valor não poderá superar o valor do débito. A competência para o processamento e o julgamento dos embargos de terceiroÉ do juiz que ordenou a apreensão, isto é, do magistrado que expediu o mandado de penhora de apreensão judicial. Endereçar para o juiz do processo de execução OportunidadeA oportunidade para interposição dos embargos de terceiro ocorre a qualquer tempo do curso da execução, desde a determinação da apreensão judicial até 05 (cinco) dias depois da arrematação, adjudicação, ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Quando o bem for penhorado, não tem prazo para opor embargos de terceiros, O legislador determina que o prazo começa a partir do bem penhorado, terá 9 dias para opor embargos de terceiros após a adjudicação, arrematação, sem a assinatura da carta de arrematação. Julgamento e recursoA decisão que julga os embargos de terceiros Poe fim a um processo incidente, mas de objeto próprio. Por esse motivo, termina com a sentença. O recurso é a apelação, que terá apenas efeito devolutivo no caso de improcedência. Artigo 500, Inciso V – CPC, enquanto efeito devolutivo, execução provisória , enquanto o recurso sobe, será executado provisoriamente 

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ProcedimentoO procedimento dos embargos de terceiros é semelhante as das ações possessórias, podendo haver até justificação sumária da posse com possibilidade de reintegração liminar em favor do embargante. Distribuída a inicial, o embargado deve ser citado para apresentar sua defesa. Pode haver julgamento de plano nos casos julgados a revelia, quando as questões forem unicamente de direito, ou quando as provas forem puramente documentais.

..................

Advogado OAB/...

EMENTA: EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE CONTRA CREDOR. INEXISTÊNCIA. BOA-FÉ DO ADQUIRENTE. - Nos termos do art. 1.046 do Estatuto Processual, aquele que, sendo estranho ao processo, sofrer esbulho ou turbação na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, poderá requerer lhes sejam manutenidos ou restituídos por meio da ação de embargos de terceiro. (TRF4, AC 5003879-63.2010.404.7102, Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Jorge Antonio Maurique, D.E. 05/07/2012)

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5055042-54.2011.404.7100/RSRELATOR : LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCHAPELANTE : UNIÃO - FAZENDA NACIONALAPELADO : VOLNEI PEREIRA LOPESADVOGADO : LURDES TOMAZI

EMENTA

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE TERCEIRO. VEÍCULO. ART. 185 DO CTN. FRAUDE À EXECUÇÃO. BOA-FÉ DO ADQUIRENTE. ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIA DE RESTRIÇÃO NO DETRAN.

1. Em observância do REsp nº 1.141.990, submetido ao regime dos Recursos Repetitivos, que afastou a aplicação da Súmula nº 375 do STJ às execuções fiscais, a caracterização da fraude à execução depende do implemento das seguintes condições: a) Se a alienação foi efetivada antes da entrada em vigor da LC n.º 118/2005 (09.06.2005) presume-se em fraude à execução se o negócio jurídico sucedesse a citação válida do devedor; b) posteriormente à 09.06.2005, consideram-se fraudulentas as alienações efetuadas pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa.

2. A presunção de fraude do art. 185 do CTN pode ser afastada pela parte prejudicada, por meio de embargos de terceiro, cabendo ao adquirente demonstrar a sua boa-fé, por não ter conhecimento da existência da execução ou da inscrição em dívida ativa.

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3. Tratando-se de alienação de veículo, cuja propriedade se transfere pela simples tradição, a inexistência de ônus e restrições pendentes no DETRAN na data da venda torna patente a boa-fé do terceiro.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 22 de maio de 2012.

Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH Relatora

Documento eletrônico assinado por Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH, Relatora, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 4965303v6 e, se solicitado, do código CRC 9B129B7F. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Luciane Amaral Corrêa Münch Data e Hora: 23/05/2012 14:14

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5055042-54.2011.404.7100/RSRELATOR : LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCHAPELANTE : UNIÃO - FAZENDA NACIONALAPELADO : VOLNEI PEREIRA LOPESADVOGADO : LURDES TOMAZI

RELATÓRIO

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Volnei Pereira Lopes opôs embargos de terceiro em face da Fazenda Nacional, requerendo a desconstituição da restrição de transferência efetivada via Renajud sobre o automóvel Fiat Tempra IE, placas ICE-0544, alegando ter adquirido o bem de boa-fé, tendo o devedor lhe outorgado procuração em 29.08.2005, quando da quitação do preço, o que atesta o negócio realizado e que, na época, não constava qualquer restrição registrada no DETRAN. Apontou ter obtido decisão favorável em embargos de terceiro que tramitou perante a Justiça Estadual, determinando a desconstituição da penhora sobre o mesmo veículo.

Sobreveio sentença julgando procedente o pedido para determinar o levantamento da restrição efetuada no Renajud sobre o automóvel Fiat Tempra IE, placas ICE-0544. A Fazenda Nacional foi condenada ao reembolso das despesas processuais e ao pagamento de honorários advocatícios de 10% sobre o valor da causa (10% de R$ 6.000,00), a ser corrigida pela variação da TR, mais juros de 0,5% ao mês (art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09), desde o ajuizamento dos embargos.

Recorreu a Embargada, afirmando que a transferência de bens após a inscrição em dívida ativa configura fraude à execução, independentemente de haver qualquer registro de penhora e de ser provada a má-fé do adquirente, consoante já decidiu o Superior Tribunal de Justiça em sede de recurso julgado na sistemática do art. 543-C do CPC.

Com contrarrazões, vieram os autos a esta Corte para julgamento.

É o relatório.

VOTO

Dispõe o art. 185 do CTN, com redação anterior a determinada pela Lei Complementar nº 118, que se presume fraudulenta a alienação de bens pelo sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito em dívida ativa em fase de execução. A interpretação feita deste dispositivo, até a edição da referida norma complementar, exigia anterior citação do devedor para a configuração da fraude, visto que é nesse momento que a ação de execução ganha publicidade.

No entanto, com a mudança introduzida no precitado artigo pela Lei Complementar nº 118, de 09.02.2005, a citação não é mais condição necessária para a configuração de fraude à execução. Com a nova redação, a lei passou a estabelecer como presunção de fraude apenas a existência de crédito

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regularmente inscrito como dívida ativa, não mencionando a existência de um processo de execução.

Esta Turma vinha entendendo que o reconhecimento da fraude à execução dependia do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Assim, no que dizia respeito a terceiros, o marco a ser considerado para a configuração de fraude à execução era a averbação da constrição, não se impondo ao adquirente de boa-fé o conhecimento do processo executivo simplesmente pela citação daquele que figura no pólo passivo da execução fiscal. Tal entendimento tinha por base a Súmula de n.º 375 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

Contudo, em Recurso Repetitivo, o STJ afastou a aplicação da Súmula nº 375 às Execuções Fiscais. O julgado restou assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO FISCAL. ALIENAÇÃO DE BEM POSTERIOR À CITAÇÃO DO DEVEDOR. INEXISTÊNCIA DE REGISTRO NO DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO - DETRAN. INEFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO. INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA. ARTIGO 185 DO CTN, COM A REDAÇÃO DADA PELA LC N.º 118/2005. SÚMULA 375/STJ. INAPLICABILIDADE.1. A lei especial prevalece sobre a lei geral (lex specialis derrogat lex generalis), por isso que a Súmula n.º 375 do Egrégio STJ não se aplica às execuções fiscais.2. O artigo 185, do Código Tributário Nacional - CTN, assentando a presunção de fraude à execução, na sua redação primitiva, dispunha que:"Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa em fase de execução.Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados pelo devedor bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida em fase de execução ."3. A Lei Complementar n.º 118, de 9 de fevereiro de 2005, alterou o artigo 185, do CTN, que passou a ostentar o seguinte teor:"Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita."4. Consectariamente, a alienação efetivada antes da entrada em vigor da LC n.º 118/2005 (09.06.2005) presumia-se em fraude à execução se o negócio jurídico sucedesse a citação válida do devedor; posteriormente à 09.06.2005, consideram-se fraudulentas as alienações efetuadas pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa.5. A diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude fiscal justifica-se pelo fato de que, na primeira hipótese, afronta-se interesse privado, ao passo que, na segunda, interesse público, porquanto o recolhimento dos tributos serve à satisfação das necessidades coletivas.6. É que, consoante a doutrina do tema, a fraude de execução, diversamente da fraude contra credores, opera-se in re ipsa, vale dizer, tem caráter absoluto, objetivo, dispensando o concilium fraudis.

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(FUX, Luiz. O novo processo de execução: o cumprimento da sentença e a execução extrajudicial. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 95-96 / DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 278-282 / MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 210-211 / AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 472-473 / BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 604).7. A jurisprudência hodierna da Corte preconiza referido entendimento consoante se colhe abaixo:"O acórdão embargado, considerando que não é possível aplicar a nova redação do art. 185 do CTN (LC 118/05) à hipótese em apreço (tempus regit actum), respaldou-se na interpretação da redação original desse dispositivo legal adotada pela jurisprudência do STJ".(EDcl no AgRg no Ag 1.019.882/PR, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 06/10/2009, DJe 14/10/2009)"Ressalva do ponto de vista do relator que tem a seguinte compreensão sobre o tema: [...] b) Na redação atual do art. 185 do CTN, exige-se apenas a inscrição em dívida ativa prévia à alienação para caracterizar a presunção relativa de fraude à execução em que incorrem o alienante e o adquirente (regra aplicável às alienações ocorridas após 9.6.2005);".(REsp 726.323/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 04/08/2009, DJe 17/08/2009)"Ocorrida a alienação do bem antes da citação do devedor, incabível falar em fraude à execução no regime anterior à nova redação do art. 185 do CTN pela LC 118/2005".(AgRg no Ag 1.048.510/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19/08/2008, DJe 06/10/2008)"A jurisprudência do STJ, interpretando o art. 185 do CTN, até o advento da LC 118/2005, pacificou-se, por entendimento da Primeira Seção (EREsp 40.224/SP), no sentido de só ser possível presumir-se em fraude à execução a alienação de bem de devedor já citado em execução fiscal".(REsp 810.489/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 23/06/2009, DJe 06/08/2009)8. A inaplicação do art. 185 do CTN implica violação da Cláusula de Reserva de Plenário e enseja reclamação por infringência da Súmula Vinculante n.º 10, verbis: "Viola a cláusula de reserva de plenário (cf, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte."9. Conclusivamente: (a) a natureza jurídica tributária do crédito conduz a que a simples alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, pelo sujeito passivo por quantia inscrita em dívida ativa, sem a reserva de meios para quitação do débito, gera presunção absoluta (jure et de jure) de fraude à execução (lei especial que se sobrepõe ao regime do direito processual civil); (b) a alienação engendrada até 08.06.2005 exige que tenha havido prévia citação no processo judicial para caracterizar a fraude de execução; se o ato translativo foi praticado a partir de 09.06.2005, data de início da vigência da Lei Complementar n.º 118/2005, basta a efetivação da inscrição em dívida ativa para a configuração da figura da fraude; (c) a fraude de execução prevista no artigo 185 do CTN encerra presunção jure et de jure, conquanto componente do elenco das "garantias do crédito tributário"; (d) a inaplicação do artigo 185 do CTN, dispositivo que não condiciona a ocorrência de fraude a qualquer registro público, importa violação da Cláusula Reserva de Plenário e afronta à Súmula Vinculante n.º 10, do STF.10. In casu, o negócio jurídico em tela aperfeiçoou-se em 27.10.2005 , data posterior à entrada em vigor da LC 118/2005, sendo certo que a inscrição em dívida ativa deu-se anteriormente à revenda do veículo ao recorrido, porquanto, consoante dessume-se dos autos, a citação foi efetuada em data anterior à alienação, restando inequívoca a prova dos autos quanto à ocorrência de fraude à execução fiscal.11. Recurso especial conhecido e provido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução STJ n.º 08/2008.(REsp nº 1.141.990 - PR - Relator Ministro Luiz Fux - Dje 19/11/2010 - grifos meus)

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Desta forma, adotando o mencionado precedente, impõe-se fazer a seguinte diferenciação:

a) Se a alienação foi efetivada antes da entrada em vigor da LC n.º 118/2005 (09.06.2005) presume-se em fraude à execução se o negócio jurídico suceder a citação válida do devedor;

b) posteriormente à 09.06.2005, consideram-se fraudulentas as alienações efetuadas pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa.

A aplicação do dispositivo, contudo, não é automática, devendo ser examinada casuisticamente, podendo a presunção de fraude pode ser afastada quando o terceiro comprovar de forma inequívoca a sua boa-fé. Nesse sentido, colaciono trecho do voto proferido nos Embargos de Declaração em AC Nº 2007.72.05.004561-2/SC, Rel. Des. Federal Joel Ilan Paciornik, decisão unânime, publicada no D.E. de 09.06.2011, o qual adoto também como razões de decidir:

Não obstante o lapidar pronunciamento do STJ, a questão atinente ao alcance e à natureza da presunção de fraude à execução reclama investigação sob diversos aspectos, a começar pelas diferenças entre a fraude contra credores e a fraude à execução. Há de se ressaltar que o art. 185 do CTN conserva a essência do instituto da fraude à execução, acrescentando-lhe, porém, notas próprias.A fraude contra credores consiste em um defeito do negócio jurídico, caracterizado pelo resultado antijurídico da declaração de vontade. O seu reconhecimento depende da prova do dano efetivo (eventus damni), da insolvência do devedor e do concerto realizado entre as partes do negócio jurídico acerca do estado de insolvência (consilium fraudis).

Já a fraude à execução possui a natureza de instituto processual, uma vez que, além de afetar o interesse do credor, abala a efetividade da atividade jurisdicional, à medida em que frustra os meios executórios. No regime do CPC, resta configurada tão somente pela litispendência, operando-se a presunção do intuito fraudatório do ato de alienação ou oneração. Assim, não se perquire o dano efetivo, o concerto entre as partes ou a insolvência do devedor; a mera litispendência faz presumir a fraude à execução. Essa é a distinção fundamental entre os dois institutos, assinalada por Araken de Assis:

Assim, a aquisição despida de vício pressupõe a ausência de vontade (consilium fraudis), para excluir a ocorrência de fraude contra credores, e de litispendência, para tolher a fraude à execução. Se, contudo, o ato recair sobre o patrimônio do obrigado na constância de algum processo, observada a necessária publicidade e a tipicidade, não há dúvida que ocorre fraude.(...)A idéia de frustração dos meios executórios substitui, à luz do art. 593, a de insolvência, que, na fraude contra credores, se afigura conseqüência jurídica do negócio suspeito. É que, nesta espécie de fraude, impende verificar a existência do dano. No âmbito da fraude contra a execução, ao invés, dispensável se revela a investigação do estado deficitário do patrimônio, bastando a inexistência de bens penhoráveis. Daí a noção mais adequada de frustração dos meios executórios.(Manual da execução, 11ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006/2007, p. 249) grifei

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O negócio jurídico realizado em fraude contra credores é anulável mediante ação própria do prejudicado, enquanto que o ato em fraude à execução é suscetível de declaração de ineficácia no bojo do processo executivo. Em outras palavras, o negócio continua válido entre as partes, mas o bem alienado ou onerado de forma fraudulenta permanece sujeito ao processo executivo, como se ainda pertencesse ao patrimônio do devedor.

A idéia corrente de que o regramento legal da fraude à execução institui uma presunção absoluta, não admitindo prova em contrário, mostra-se equivocada. Entendo que a expressão in re ipsa, empregada para definir a fraude à execução, significa apenas que a fraude é demonstrada pelo próprio ato de alienação, afastando-se qualquer cogitação a respeito dos requisitos próprios da fraude contra credores. Conquanto a noção básica de fraude - manobra engendrada com o objetivo de prejudicar credor - inspire os dois institutos, a semelhança se esgota aí. A natureza jurídica e os pressupostos legais são diversos, cabendo assinalar que a fraude contra credores exige a prova desses requisitos, ao passo que a fraude contra a execução firma-se com base em presunção.

As presunções constituem técnicas normativas, que ora se relacionam com a formulação de regras de direito material (presunção absoluta), ora condizem com questões probatórias (presunções relativas e simples). A rigor, a presunção absoluta consiste em uma norma de direito material que faz remissão a outra norma. Leonardo Sperb de Paola, em obra fundamental sobre a matéria, elucida o conceito dessa espécie de presunção:

Hodiernamente, a doutrina é unânime ao conferir caráter substancial às presunções legais absolutas, isto é, ao considerá-las como verdadeiras regras de fundo, que, assim como as demais, dispõem sobre a conduta humana. Recusa-se-lhes caráter probatório. A idéia de presunção, na forma exposta no tópico anterior, repita-se, restringe-se às razões da edição da norma. (...)Encaradas sob o prisma normativo, as presunções absolutas são regras não-autônomas remissivas e, mais raramente, restritivas. Em face de uma norma completa, cria-se outra, cuja hipótese vincula-se ao mandamento da primeira. A norma remissiva não tem uma existência jurídica independente, ou seja, ela só adquire sentido jurídico uma vez 'incorporada' à norma à qual fez remissão, ou melhor, aplicada em conjunto com ela". (...)(...)Por todo o exposto, percebe-se como é errôneo afirmar-se que as presunções legais absolutas diferenciam-se das relativas, porque aquelas, ao contrário destas, não admitem prova em contrário. Ora, as presunções legais absolutas nada têm a ver com matéria probatória. Trazem regras de Direito material. Não se busca, por intermédio delas, provar-se, através de um indício, a existência de um fato desconhecido, como se dá com as presunções legais relativas.(Presunções e ficções no direito tributário, Belo Horizonte, Del Rey, 1997, p. 61-62) grifei

Dadas essas premissas, depreende-se que as normas de regência da fraude à execução instituem presunção relativa, diante do seu evidente caráter probatório. Elas não impõem uma conduta às partes, mas estabelecem "um critério de julgamento sobre a existência de determinados fatos. É nesse sentido - de não haver uma conduta prescrita às partes -, e somente nele, que se afirma que uma das especificidades da presunção relativa está no fato dela ter como destinatário principal o magistrado" (obra citada, p. 69). O art. 593 do CTN, ao estabelecer que a fraude resta demonstrada pela ocorrência dos fatos descritos nos seus três incisos (pendência de ação fundada em direito real, ajuizamento de demanda contra o devedor capaz de reduzi-lo à insolvência e demais casos expressos em lei), versa sobre o objeto da prova (e não o ônus da prova). Embora a doutrina qualifique como absoluta a presunção de fraude quando a penhora está registrada, constata-se que o cerne da questão é meramente probatório. Na verdade, o registro da penhora consiste justamente na prova da fraude de qualquer transação posterior, diante da publicidade erga omnes da constrição judicial. A

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presunção que se afirma ser absoluta diz respeito ao fato - a fraude - e não ao teor de norma de direito material.

Outrossim, a estrutura normativa das regras que dispõem sobre a presunção relativa é distinta daquela anteriormente referida acerca da presunção absoluta, segundo o escólio de Leonardo Sperb de Paola:

Conforme já foi assentado, as presunções legais absolutas enquadram-se como normas substanciais. Em regra, como normas de remissão, compõem a estrutura de normas de conduta. Dá-se o mesmo com as presunções legais relativas? Não. Essas presunções não ampliam nem restringem o âmbito de aplicação de um regime jurídico traçado em outra norma, não se caracterizando, portanto, nem como normas remissivas nem como normas restritivas. A norma que institui uma presunção legal relativa fornece ao magistrado um critério para verificar se ocorreu, ou não, o pressuposto de incidência de uma outra norma. Há, desta forma, uma norma de estrutura hipotética ("dado X, deve ser Y) e outra norma que estabelece, salvo prova em contrário, um índice, um signo, que permite aferir a existência de X. Por conta de tal norma, e à falta de prova em contrário, o magistrado, demonstrada a existência de Z (o signo), deverá considerar provada a existência de X.Como se percebe, a presunção legal relativa não impõe nenhum dever para as partes litigantes. Quem dela se beneficia, tem o ônus de provar a existência de Z, também podendo provar diretamente, sem recurso à presunção, a existência de X. À parte contrária, caracterizado o pressuposto da presunção, cabe demonstrar, com outras provas, que, no caso concreto, Z não leva a X.O próprio magistrado, nos limites de seus poderes instrutórios, poderá constatar que, mesmo caracterizado o pressuposto da presunção, há provas em contrário mais fortes que a infirmam no caso concreto. Em outras palavras, ele mesmo pode destruir a força de convicção gerada pela presunção. Mas, quando tal não ocorrer e nem a parte interessada apresentar provas em sentido contrário ao apontado pela presunção, deverá ele, ao julgar a causa, admitir, por força da norma presuntiva, a existência do fato desconhecido que está descrito na hipótese da norma substancial. (obra citada, p. 67-68)

Postas, em breves palavras, as bases teóricas da presunção relativa, passo a comentar os preceitos do art. 185 do CTN e expor a casuística sobre a matéria. De acordo com o dispositivo legal, a fraude está configurada tão somente pelo ato do devedor alienar ou onerar bens ou rendas após a inscrição do crédito tributário em dívida ativa (caput), sem reservar outros bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida (parágrafo único), presumindo-se o intuito de lesar o interesse da Fazenda Pública e de frustrar os meios executórios. Assim, não compete à exequente comprovar a inexistência de outros bens penhoráveis, tomando-se como certa a incapacidade de pagamento pela falta de bens livres para nomear a penhora. Obviamente que, pretendendo o executado livrar o bem alienado da declaração de ineficácia do negócio jurídico, o ônus da prova lhe compete.

A regra do art. 185 do CTN dispensa qualquer questionamento acerca do conluio entre os que participaram do ato negocial com o propósito de frustrar o pagamento da dívida (consilium fraudis), pois a alienação já é suficiente para tornar presumida a fraude. É absolutamente correto afirmar que o consilium fraudis é irrelevante na fraude contra a execução, diferentemente do que pressupõe a fraude contra credores; todavia, o fato de a norma não impor tal investigação não permite a ilação no sentido de que o ânimo fraudulento é presumido de forma absoluta. Com a vênia das opiniões em contrário, não resta dúvida de que a presunção em tela é relativa, uma vez que a fraude decorre de um fato desconhecido, cuja ocorrência é exteriormente manifestada pela alienação ou oneração de bens ou rendas. O fato presuntivo, que deve ser provado pela Fazenda Pública, evidencia a fraude, mas o seu efetivo acontecimento é incerto, razão pela qual a prova em contrário é plenamente admissível. A doutrina de Araken de Assis converge para esse entendimento:

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No entanto, a questão recebeu solução diversa através da nova redação do art. 185 do CTN, derivada da LC 118, de 09.02.2005, segundo o qual se presumirá fraudulenta a alienação ou a oneração de bens ou rendas "por crédito regularmente inscrito como dívida ativa", ressalva feita à inexistência de insolvência (art. 185, parágrafo único, do CTN). Por conseguinte, neste caso particular, à diferença do regime geral, opera a presunção, obviamente relativa, desde a inscrição, prescindindo-se do ajuizamento da demanda e, a fortiori, da citação do devedor para o negócio dispositivo se revelar ineficaz perante a Fazenda Pública. (obra citada, p. 259) grifei

Nessa senda, a questão atinente ao consilium fraudis pode ser aventada pela parte prejudicada, por meio da ação de embargos de terceiro. Cabe ao adquirente do bem demonstrar que agiu de boa-fé, porquanto não era possível ou não era necessário saber da existência da execução ou da inscrição em dívida ativa. Note-se que há julgados afirmando, a par da presunção juris et de jure do art. 185 do CTN, a atenuação da regra nos casos em que deve ser protegida a boa-fé do terceiro. Ora, aceitar que o terceiro adquirente alegue a ausência de ajuste fraudulento entre as partes nada mais é do que admitir a prova em contrário da fraude à execução. Há de se frisar, contudo, que a alegação de boa-fé somente é admissível senão houver averbação ou registro da penhora; a partir do momento em que se dá a publicidade da constrição judicial, é inegável que o adquirente agiu de má-fé.

Em se cuidando de bens imóveis, a escritura pública sinaliza que o negócio observou as formalidades legais, já que, desde a vigência da Lei nº 7.433/1985, as partes precisam apresentar as certidões fiscais, de feitos ajuizados e de ônus reais, prescindindo-se a transcrição do seu teor, embora o tabelião seja obrigado a manter, em cartório, o original ou a cópia das referidas certidões. Todavia, se as partes declararam, por ocasião da lavratura da escritura, que dispensam a apresentação de certidões fiscais e de feitos ajuizados, o adquirente do imóvel deve provar que tomou as precauções necessárias para a realização do negócio, demonstrando a impossibilidade de ter conhecimento da pendência de execução fiscal (antes da LC nº 118/2005) ou da inscrição em dívida ativa (após a LC nº 118).

Pode-se considerar de boa-fé, objetivamente, o comprador que adotou as mínimas cautelas para a segurança jurídica da sua aquisição. Quando o negócio de compra e venda ocorreu entre o devedor e o terceiro, a prova deve ser contundente, mormente se não houver escritura pública. A situação é peculiar, porém, na hipótese de sucessivas alienações do imóvel mediante compromissos de compra e venda, em que se mostra desarrazoado exigir que o adquirente tenha conhecimento da pendência de execução fiscal ou dívida ativa em nome de quem não fez parte do negócio. O ato fraudulento deve ser realizado pelo próprio executado, jamais por terceiro relativamente ao processo, cuja boa-fé deve ser tutelada. Cabe acrescentar, ainda, que o registro do compromisso de compra e venda de imóvel não é requisito para a ação de embargos de terceiro, consoante a Súmula nº 84 do STJ.

Por sua vez, a alienação de veículos envolve circunstâncias jurídicas e negociais diversas. A propriedade se transfere pela simples tradição e a formalização do negócio de compra e venda requer a apresentação de documento fornecido pelo DETRAN, que indica a eventual existência de ônus ou restrições pendentes sobre o veículo. Essa é a cautela de praxe que o homem médio toma ao adquirir um veículo, não integrando o modo usual dos atos negociais a pesquisa quanto à existência de execuções fiscais ou a apresentação de certidões negativas de débito. Isso significa que, não obstante haja penhora do bem móvel, se não constar qualquer restrição no registro do veículo no DETRAN, torna-se patente a boa-fé do terceiro.

Por fim, impende ressaltar que, no processo executivo, prevalece a presunção de fraude, cabendo ao juízo declarar a ineficácia do negócio jurídico, desde que sejam comprovados os requisitos do art. 185 do CTN. O disposto na Súmula 375 ("O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro

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adquirente") deve ser interpretado cum grano salis, admitindo-se sua aplicação em embargos de terceiro, mas não no executivo fiscal. Como antes explicitado, à Fazenda Pública basta provar a alienação ou oneração do bem após a citação ou a inscrição em dívida ativa para que se caraterize a fraude à execução. A discussão sobre a boa-fé do adquirente deve ser travada em embargos de terceiro, competindo o ônus da prova exclusivamente ao autor, já que se trata de fato constitutivo do seu pedido. Evidentemente que a embargada pode afastar a boa-fé do terceiro, apresentando provas de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Em suma, a presunção de fraude, por ser relativa, pode ser objeto de controvérsia em ação própria.

No caso dos autos, o Embargante alegou ter adquirido o veículo Fiat Tempra I.E, ano 1994, modelo 1995, em 04.08.2005, pagando duas parcelas, uma de R$ 4.000,00 e outra de R$ 2.605,00. Juntou aos autos procuração (evento 1, ANEXOS PET INI5) do Executado nomeando-o procurador para vender o veículo, assinada em 29.08.2005, e Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo, emitida em 31.08.2005, em nome do Executado. Trouxe ainda cópias de documentos da ação de embargos de terceiro movidos na Justiça Estadual, no qual o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul afastou a ocorrência de fraude à execução.

Embora o Executado João Francisco Machado tenha tomado ciência da execução em 14.10.2003, evidenciando seu intuito em fraudar a execução ao realizar a alienação em agosto de 2005, não há nenhum elemento nos autos que indique conhecimento da execução por parte do terceiro embargante. Com efeito, o pedido de penhora sobre o veículo somente foi feito em 2009, inexistindo qualquer restrição a ele na data da venda. Saliento que se trata de veículo com dez anos de uso na data da alienação, com baixo valor de mercado, não justificando maiores cautelas por parte do adquirente. Assim, deve ser mantida a bem fundamentada sentença, da qual colaciono o seguinte trecho:

É que meditando com maior profundidade sobre o tema, percebi não ser razoável ou proporcional exigir-se que o comprador de um automóvel com 10 anos de uso e valor de mercado que não chega a R$ 6.000,00 empreendesse uma ampla investigação da situação patrimonial do alienante.

Com efeito, no momento em que a venda realizou-se após a citação do devedor, poderia o exeqüente, valendo-se da isenção que detém face aos emolumentos cartorários, averbar a penhora junto ao registro imobiliário (no caso, do Detran), para presunção absoluta de conhecimento da constrição por terceiros (art. 615-A do CPC, caput e §3º). Se, de um lado, é preciso salvaguardar o crédito tributário de manobras que visem a esvaziar o patrimônio do devedor; de outro, também é preciso garantir a tutela da boa fé de quem compra bem de reduzido valor sem ter condições de conhecer o gravame do bem adquirido.

Não se está falando, no caso, de aquisição de vultoso patrimônio imobiliário, ou de automóvel de luxo, mas de um Fiat Tempra 1995. As cautelas exigíveis devem ser proporcionais ao tamanho do patrimônio transferido, sob pena de engessarmos em demasia os atos negociais praticados pelos cidadãos em geral em sua vida de relação e negarmos aplicação ao princípio da presunção de boa-fé.

Nesse contexto, a invocação do art. 185 do CTN (que erige a presunção fraudulenta da alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para

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com a Fazenda Pública por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa) para fundamentar o pedido de reconhecimento de fraude à execução deve também ser analisada sob a luz do art. 5º, inc. XXII, da CF/88. O direito constitucional de propriedade deve persistir como vetor dirigente da regra de direito material tributário que moldura a fraude à execução fiscal, conduzindo-a a não incidir sobre o terceiro adquirente de boa-fé para evitar que ele seja injustamente penitenciado com a perda do seu patrimônio.

Direito não é somente algo que se sabe, mas também o que se sente. É preciso cautela ao aplicar regras jurídicas com a potencialidade de virem a se tornar verdadeiras armadilhas que resultam no despojamento de propriedade de pessoas humildes que agem de boa-fé por simplesmente vivenciar as situações do cotidiano, como a compra e venda de veículo automotor (bem) usado.

Neste ponto, é de ser destacado as conclusões do acórdão proveniente do TJ-RS:

'(...)Outrossim, não há qualquer elemento probatório que demonstre a má fé na aquisição do veículo pelo autor/embargante, cujo ônus probatório era da embargada. A simples aquisição do bem após a propositura da ação executiva, por si só, não denota agir malicioso, nem fraude à execução.Frise-se, ainda, que não restou evidenciada nenhuma relação de parentesco ou amizade entre o demandante e o executado no feito apenso. Ademais, verifico que o automóvel nem mesmo restou localizado para concretização do ato de constrição (fl. 88 verso) e que o autor e o executado, inclusive, residem em municípios diversos (fl. 02 e fls. 27/28 do apenso).Dessa forma, s.m.j, entendo mereça ser provido o apelo, porquanto, na esteira do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, inclusive sumulado no verbete de nº 375, o reconhecimento da fraude à execução depende de registro da penhora do bem alienado ou da prova da má fé do terceiro adquirente, o que não se verificou no caso em tela.Logo, ainda que a alienação do bem tenha sido realizada após o ajuizamento da ação executiva movida contra o Sr. João Francisco Machado, isso, por si só, não basta para afastar a boa-fé do terceiro adquirente.(...)Destarte, a aquisição pelo terceiro embargante é válida, não sendo alcançada por eventual fraude praticada pela parte executada no feito em apenso.'

De todo o exposto, tenho que a regra do art. 185 do CTN merece interpretação conforme à Constituição Federal de 1988, para firmar o alcance constitucional da sua aplicação, em respeito ao direito de propriedade (art. 5º, inc. XXII, da CF/88), apenas para as situações em que fique demonstrado que o terceiro adquirente agiu de má-fé ou que deixou de adotar as cautelas mínimas necessárias que o levariam a concluir pela existência da constrição judicial sobre o bem adquirido, como, v.g., consultar o registro da penhora no órgão competente, nos termos da sumula 375 do STJ.

Assim, face às circunstâncias do caso concreto, e após submetê-lo à cognição exauriente própria da sentença, entendo não aplicável à situação ora em análise a orientação firmada pela Corte Superior no Resp nº 1.141.990-PR.

Desta forma, não se aplicando à situação dos autos a orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 1.141.990, deve ser mantida a sentença.

Prequestionamento

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Saliento, por fim, que o enfrentamento das questões apontadas em grau de recurso, bem como a análise da legislação aplicável, são suficientes para prequestionar junto às instâncias superiores os dispositivos que as embasam. Deixo de aplicar os dispositivos legais tidos como aptos a obter pronunciamento jurisdicional diverso do que até aqui foi declinado. Dessa forma, evita-se a necessidade de oposição de embargos de declaração tão-somente para esse fim, o que evidenciaria finalidade procrastinatória do recurso, passível de cominação de multa (artigo 538 do CPC).

Dispositivo

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação.

Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH Relatora

Documento eletrônico assinado por Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH, Relatora, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 4965302v11 e, se solicitado, do código CRC B738F8A5. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Luciane Amaral Corrêa Münch Data e Hora: 23/05/2012 14:14

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 22/05/2012APELAÇÃO CÍVEL Nº 5055042-54.2011.404.7100/RSORIGEM: RS 50550425420114047100

RELATOR : Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCHPRESIDENTE : OTÁVIO ROBERTO PAMPLONAPROCURADOR : Dr(a)RICARDO LENZ TASCHAPELANTE : UNIÃO - FAZENDA NACIONALAPELADO : VOLNEI PEREIRA LOPESADVOGADO : LURDES TOMAZI

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Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 22/05/2012, na seqüência 48, disponibilizada no DE de 10/05/2012, da qual foi intimado(a) UNIÃO - FAZENDA NACIONAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS.

Certifico que o(a) 2ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO.

RELATOR ACÓRDÃO

: Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH

VOTANTE(S) : Des. Federal LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH: Des. Federal OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA: Des. Federal RÔMULO PIZZOLATTI

MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA Diretora de Secretaria

Documento eletrônico assinado por MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA, Diretora de Secretaria, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 5038428v1 e, se solicitado, do código CRC AF6701BA. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Maria Cecília Dresch da Silveira Data e Hora: 22/05/2012 15:35