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- 186- PONTO 11° - 30 a LIÇÃO EMBOABAS E PAULlSTAS Desde o seculo XVII, surgira no Brasil o senti- mento nativista , Os reinóis eram antipatizados, principalmente pelos mamalucos de São Paulo, que, peritos nas batidas do sertão, á caça dos escravos indios, se sen- tiram depois excitados como os portugueses, pela febre do ouro, ante a descoberta das primeiras ja- zidas. Os bandeirantes da escravidão vermelha e dos garimpos não viam com bons olhos aos portugueses senhores dos sertões que eles haviam desbravado com tantos perigos; antes cobriam-nos de sarcasmos e alcunhas. tais como o de emboabas (a palavra que, diz Th. Sampaio, significa agredir-provocar), nome pelo qual eram os Lusitanos conhecidos em língua geral pelos gentios do Espirito Santo, e exten- sivo a todos forasteiros lusos na região das minas. Essa animosidade etnica, incitada, porém, de parte a parte, menos pelo espirito de amor ao solo do Brasil do que ás riquezas nele contidas, explodiu sob a fórma do movimento rebelde chamado dos Emboabas. Tendo chegado ao conhecimento de Portugal a notícia das descobertas das jazidas aurif'eras, logo se operou o exodo de aventureiros lusos, verdadeiras levas de forasteiros, em demanda da nova Colchida maravilhosa. Os Paulistas não disfarçaram seu ressentimento, e os reinóis foram tratados com prepotencia e des- prêso, o que gerou a irrupção dos odios concentrados. provocada por um incidente minimo.

EMBOABAS E PAULlSTAS · 2019-09-24 · 9 de Novembro de 1709, de São Paulo e Minas do Ouro - da capitania do Rio de Janeiro. Por seu governador, foi nomeado, em 1709, o mesmo Antonio

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Page 1: EMBOABAS E PAULlSTAS · 2019-09-24 · 9 de Novembro de 1709, de São Paulo e Minas do Ouro - da capitania do Rio de Janeiro. Por seu governador, foi nomeado, em 1709, o mesmo Antonio

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PONTO 11°- 30a LIÇÃO

EMBOABAS E PAULlSTAS

Desde o seculo XVII, surgira no Brasil o senti-mento nativista ,

Os reinóis eram antipatizados, principalmentepelos mamalucos de São Paulo, que, peritos nasbatidas do sertão,á caça dos escravos indios, se sen-tiram depois excitados como os portugueses, pelafebre do ouro, ante a descoberta das primeiras ja-zidas.

Os bandeirantes da escravidão vermelha e dosgarimpos não viam com bons olhos aos portuguesessenhores dos sertões que eles haviam desbravadocom tantos perigos; antes cobriam-nos de sarcasmose alcunhas. tais como o deemboabas (a palavraque, diz Th. Sampaio, significa agredir-provocar),nome pelo qual eram os Lusitanos conhecidos emlíngua geral pelos gentios do Espirito Santo, e exten-sivo a todos forasteiros lusos na região das minas.

Essa animosidade etnica, incitada, porém, departe a parte, menos pelo espirito de amor ao solodo Brasil do que ás riquezas nele contidas, explodiusob a fórma do movimento rebelde chamado dosEmboabas.

Tendo chegado ao conhecimento de Portugal anotícia das descobertas das jazidas aurif'eras, logo seoperou o exodo de aventureiros lusos, verdadeiraslevas de forasteiros, em demanda da nova Colchidamaravilhosa.

Os Paulistas não disfarçaram seu ressentimento,e os reinóis foram tratados com prepotencia e des-prêso, o que gerou a irrupção dos odios concentrados.provocada por um incidente minimo.

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Os Portugueses se constituindo exclusivos mer--cadores daqueles sertões. tudo vendiam a preçosexorbitantes.

O rompimento se deu no Caeté, por causa de ummosquete pertencente a um português, tratado bru-talmente.

Contra isso, protestou seu compatricio ManuelNunes Vianna, poderoso e ricoemboaba, senhor defazendas â margem do Carinhanha, dextro na guerracontra os indios.

Em fins de 1708, começaram os Paulistas a ar-mar-se e arregimentar-se, certos de que o trono e alegislação portuguesas não lhes dariam ganho decausa.

Manuel Nunes Vianna foi então escolhido chefedo movimento dos Portugueses, fartos de suportarem silêncio a arrogancia e insultos dos garimpeiros eos capitães de mato Paulistas.

Jáse haviam ferido os primeiros encontrosá mãoarmada entre grupos adversarios, quando na opu-lenta região aurifera do Rio das Velhas um portuguêsfoi morto pelos escravos indios de um paulista, na vi-sinhança do já chamado rio das Mortes.

Em consequencia disso, travou-se uma ação emque osEmboabas, pela exiguidade numerica, saíramvencidos.

Pedidos, porém, reforços a Nunes Vianna, acudiu-lhes êste de pronto com um contingente de mil ho-mens, do comando de Bento do Amaral Coutinho.

Após a ação, haviam os Paulistas se concentradonum capão abrigado, á margem do rio das Mortes,onde, de surpreza, se viram cercados por todos oslados pela tropa de Amaral Coutinho.

Depuzeram os Paulistas as armas, com a condi-ção de lhes serem poupadas as vidas sob juramentodo chefe vencedor, que, entretanto, não cumpriu apalavra dada aos vencidos, pois, uma vez desarma-

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dos, mandou-os passar, um a um, a fio de espada, sóescapando os poucos que lograram fugir, atraves-sando o rio.

Esse morticinio verificou-se no, por isso, cha-mado Capão da Traição,local, depois, conhecido porMatosinhos, nas proximidades de São João del Rei.

Orgulhosos com a vitória, os Portugueses procla-maram governador das minas a Manuel Nunes Vian-na, que, em pouco, restabeleceu a ordem e adminis-trou com bom senso.

Bento do Amaral Coutinho e frei Francisco deMenezes, que representaram papel saliente na lutados Emboabas, nos anos seguintes de 1710 e 1711,prestaram ainda assinalados serviços em defesa dacidade do Rio de Janeiro, por motivo das invasõesfrancesa de Duclerc e Duguay-Trouin.

Deante dos sucessos ocorridos na região das mi-nas, o governador e capitão-mór do Rio de Janeiro,d. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre, quetinha jurisdição sôbre as minas, partiu logo para olocal da ação, mas ao seu encontro marchou NunesVianna, que, em Congonhas, lhe embargou a passa-gem, e o intimou a retroceder.

Foi, assim, Nunes Vianna o primeiro ditador emnossa história patria.

D. Fernando de Lencastre recolheu-se, então, aSão Paulo, onde tratou de aumentar suas fôrças, paraatacar osErnboabas,desistindo, porém, desse intento,em vista de, logo após, haver chegado o novo gover-nador do Rio de Janeiro, que foi Antonio de Albu-querque Coelho de Carvalho.

Dirigindo-se este ás Minas, foi sua autoridade,.sem relutancia, reconhecida por Nunes Vianna.

Concedido o indulto geral, seguiu para São Pauloonde lavrava grande descontentamento.

De regresso aos lares, os Paulistas, batidos, ha-viam sido recebidos com desprêzo pelas proprias

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mães, esposas e filhas, que os estimulavam a retomaras armas e vingar a afronta sofrida com a expulsãodas regiões auriferas.

Arregimentaram-se de novo sob o comando emchefe de Amador Bueno da Veiga e remarcharampara as minas.

Em Taubaté, o governador do Rio procurou de-movê-los desse proposito, mas nada tendo conseguido,depois de avisar osEmboabas dos riscos que corriam,regressou á sede da capitania.

Durou a luta varios dias, sendo o número dosPaulistas muito superior ao dos Portugueses.

Entretanto, á notícia dos esforços do Rio de Ja-neiro, retiraram-se os Paulistas, durante a noite.

Buscaram, porém, aprestar nova expedição deataque ás minas, quando a metropole solucionou emdefinitivo o caso entre reinóis e Paulistas, elevando aregião do ouro á categoria de govêrno e jurisdição áparte, com o desmembramento pela carta régia de9 de Novembro de 1709, de São Paulo e Minas doOuro - da capitania do Rio de Janeiro.

Por seu governador, foi nomeado, em 1709, omesmo Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho,que procedeu com grande tino politico e administra-tivo, conseguindo obter o juramento de submissãodefinitiva, prestado por Nunes Vianna.

Em compensação aos serviços prestados indi-retamente pelos bandeirantes paulistas, como fun-dadores dos primeiros nucleos de povoamento dosertão brasileiro, resolveu dom João V elevar a entãovila de São Paulo á categoria de cidade, pela cartarégia de 24 de Julho de 1711.

A perda das minas dos rios das Velhas e dasMortes levou os Paulistas, como compensação, a pro-curarem a zona ocidental do Brasil, ainda quasi detodo inexplorada.

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Assim foi que, em 1719, Paschoal Moreira Cabraldescobriu ricas jazidas minerais em Mato Grosso; eem 1723, um filho deAnhangoéra,Bartholomeu Pe-reira da Silva, devassou as lavras de Goiás.

QUADRO SINOTICO

Emboabasera o alcunha dado por escarneo aosPortugueses pelos Paulistas, em fins do seculo XVII.

Os reínóis, com a descoberta das minas, entra-ram a concorrer com os de São Paulo na explora-ção das lavras, a ponto de monopolizar o comércio,até se apoderarem da região aurifera.

O chefe dos Portugueses foi Manuel NunesVianna.

A guerra rebentou em fins de 1708.

O primeiro encontro de Bento do Amaral Cou-tinho, á frente de mil homens, deu-se junto ao rio dasMortes, depois chamadoCapão da Traição,onde ochefe português mandou degolar os Paulistas.

Nunes Vianna foi aclamado governador das mi-nas, e chefe militar com toda a autoridade no go-verno do rei d , Fernando de Lencastre.

Amador Bueno da Veiga, á frente de numerosoexército, marchou contra o inimigo com quem com-bateu varios dias, sem resultado.

O governo da metropole poz fim á luta, creando,pela carta régia de 9 de ~[ovembro de 1709, a capi-tania de São Paulo e Minas de Ouro, desagregada dado Rio de Janeiro; e elevou a vila de São Paulo á ca-tegoria de cidade, em virtude da carta régia de 24de Junho de 1711.

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TRAÇOS BIOGRAFICOS

Bento do Amaral Coutinhofoi o comandante dacompanhia de estudantes por ocasião da primeira in-vasão frnuccsa de João Francisco Duclerc (1710).Perto do morro do Destêrro, bateu-se heroicamente,assim como frei Francisco de Menezes.

Na segunda invasão, de Duguay-Trouin, (1711),Amaral Coutinho prestou tambem excelentes ser-viços.

A 23 de Setembro desse ano, quando voltava deum reconhecimento á fortaleza de São João, encon-trou perto dalagôa da Sentinela, no porto de junçãodos caminhos de Matacavalos eCapueruçú, (hojerua Frei Caneca), duas companhias de granadeirosfranceses, que foram logo atacadas; mas acudindooutras duas, do comando dos capitães Brugnon eCheridan, foram os nossos destroçados, e Amara!Coutinho, que dois dias antes recebera a patente demestre de campo, morreu em combate. (Rio-Branco,Ephemerides Brasileiras,pág. 459.)

POt\TO 11° - 31a LIÇÃO

MASCATES E PERNAMBUCA~OS

Em 1710, irrompeu na capitania de Pernambuco,sendo governador Sebastião de Castro e Caldas, outromovimento nativista, entre os senhores de engenho,pertencentes á aristocracia brasileira, com residen-cia em Olinda, e os negociantes portugueses, que ha-bitavam o Recife, e eram pelos primeiros alcunha-dos, por menospreso, demascates(vendedor ambu-lante) .