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phamthu
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Embolia Pulmonar no Idoso
Mrcio Roberto Moraes de Carvalho
Dissertao de Mestrado submetida ao Programade Ps-graduao em Cardiologia, da Universidade Federal doRio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Cardiologia.
Orientadores:Prof. Glucia Maria Moraes de OliveiraProf. Maurcio da Rocha Pantoja
Rio de Janeiro
Maro de 2006
Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ
ii
Carvalho, Mrcio Roberto Moraes de Geografia da Sade na Faixa
Embolia Pulmonar no Idoso / Mrcio Roberto Moraes de Carvalho. Rio
de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2006.
xii, 76 f. : il. ; 31cm
Orientador: Glucia Maria Moraes de Oliveira e Maurcio da Rocha Pantoja
Dissertao (mestrado) UFRJ / Faculdade de Medicina, Programa de
Ps-graduao em Cardiologia, 2006.
Referncias bibliogrficas: f. 62-68
1. Embolia pulmonar Diagnstico. 2. Embolia pulmonar Epidemiologia.
3. Idoso. 4. Cuidados intensivos. 5. Pacientes internados. 6. Estudos
prospectivos. Tese. I. Oliveira, Glucia Maria Moraes de. II. Pantoja,
Maurcio da Rocha. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Medicina, Programa de Ps-graduao em Cardiologia. IV.
Ttulo.
iii
Embolia Pulmonar no Idoso
Mrcio Roberto Moraes de Carvalho
Orientadores:Prof. Glucia Maria Moraes de OliveiraProf. Maurcio da Rocha Pantoja
Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao em
Cardiologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessrios obteno do ttulo de Mestre em Cardiologia.
Aprovada por:
______________________________________________________________________Presidente da Banca:Prof. Aristarco Gonalves de Siqueira Filho Faculdade de Medicina da UFRJ
______________________________________________________________________Prof. Gladyston Luiz Lima Souto Faculdade de Medicina da UFF
______________________________________________________________________Prof. Luiz Augusto Feij Faculdade de Medicina da UFRJ
Rio de Janeiro
Maro de 2006
iv
minha mulher Silvana e aos meus filhos Felipe, Carolina e Joo Gabriel,
pela cumplicidade com as minhas metas.
Aos meus pais Roberto e Leena pelo incentivo incansvel.
Prof. Glucia Oliveira pelas inestimveis demonstraes de crena e amizade.
v
Agradecimentos
A Deus, nosso Senhor, meu pai e amigo de todas a horas.
A meu pai Roberto de Souza Carvalho, por no medir esforos no estmulo finalizao
desse trabalho.
A Felipe, Carolina e Joo Gabriel pela compreenso e solidariedade.
Ao Professor Maurcio Pantoja, por ter sido um aliado sincero nessa empreitada.
Ao Professor Waldemar Deccache, pelo entendimento de nossas intenes interiores.
Aos Professores Aristarco Gonalves de Siqueira Filho, Gladyston Luiz Lima Souto e
Luiz Augusto Feij, por aceitarem prontamente o convite para participarem da Banca
Examinadora.
A direo do Hospital Prontocor, especialmente ao Dr. Antonio Farias Neto, pela
generosidade em permitir o acesso aos dados de sua instituio.
A todos os que de alguma forma contriburam na elaborao deste trabalho.
viResumo
Embolia Pulmonar no Idoso
Mrcio Roberto Moraes de Carvalho
Orientadores:Glucia Maria Moraes de Oliveira
Maurcio da Rocha Pantoja
Resumo da Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao emCardiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitosnecessrios obteno do ttulo de Mestre em Cardiologia.
Introduo: A prevalncia da embolia pulmonar (EP) aumenta com a idade, pormpouco se conhece sobre os fatores associados ao bito no idoso internado.Objetivo: Descrever as caractersticas clnicas, propeduticas e o bito por emboliapulmonar na fase intra-hospitalar e nos primeiros seis meses aps a alta hospitalar,correlacionando-o com a mortalidade.Mtodos: O estudo avaliou uma coorte prospectiva de 43 pacientes, com idade superiora 65 anos, com diagnstico de embolia pulmonar, em pacientes internados em um centrode terapia intensiva clnico, no perodo compreendido entre maro de 2000 e maio de2004. Todos os pacientes com alta probabilidade clnica foram submetidos realizaodo dmero-D, eletrocardiograma, gasometria arterial, radiografia de trax, ecocardiogramatranstorcico e ecoDopller venoso dos membros inferiores. Para a confirmaodiagnstica utilizou-se um dos seguintes mtodos: ecocardiograma transesofgico,cintilografia pulmonar de ventilao-perfuso de alta probabilidade, angiotomografiahelicoidal ou angiorressonncia de trax. A associao com a mortalidade foi analisadapelo teste exato de Fisher e pelo teste t de Student, considerando-se 5% como nvel designificncia estatstica.Resultados: A mdia de idade foi de 809 anos (mx= 98, min= 65) e do APACHE 136,sendo 72% do sexo feminino. Todos os pacientes foram acompanhados por 6 meses. Amortalidade diretamente relacionada EP foi de 21%. Os demais bitos foram devido achoque sptico pulmonar, urinrio ou ditese hemorrgica. Houve associaoestatisticamente significativa com a mortalidade por EP: a presena de neoplasia(p=0,024), de acidente vascular enceflico (p=0,024), a presso sistlica inferior a100mmHg (p=0,005), nas primeiras 24 horas e o intervalo entre o incio dos sintomas ea internao (p=0,0001)Concluso: Nos idosos internados por EP, verificou-se que h associao significativacom a mortalidade: a presena de neoplasia, de acidente vascular enceflico, hipotenso, eintervalo entre o incio dos sintomas e a internao daqueles que evoluram para o bito.Palavras-chave: Embolia pulmonar - Diagnstico; Embolia pulmonar - Epidemiologia;Idoso; Cuidados intensivos; Pacientes internados; Estudos prospectivos
vii
Abstract
Pulmonary Embolism in Elderly
Mrcio Roberto Moraes de Carvalho
Orientadores:Glucia Maria Moraes de Oliveira
Maurcio da Rocha Pantoja
Abstract da Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao emCardiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitosnecessrios obteno do ttulo de Mestre em Cardiologia.
Background: The prevalence of pulmonary embolism increases with aging, but there islittle knowledge about associated factors in nosocomial elderly patients.Purpose: Describe the clinical, propaedeutic and death characteristics from pulmonaryembolism during the hospitalized period and after the first six months of follow upcorrelating with mortality.Methods: The study evaluated a prospective cohort composed with 43 patients over 65years with confirmed diagnosis of pulmonary embolism, admitted at a clinical ICU fromMarch 2000 to May 2004. All patients with high suspicion of pulmonary embolism hadordered a D-dimer, electrocardiography, measure of blood gas abnormalities, chestx-ray, transthoracic echocardiogram and lower limbs compression venous ultrasound.Transesophageal echocardiogram, ventilation-perfusion lung scan, dynamic helicalthoracic tomography or magnetic resonance angiography was used to confirm thediagnosis. Statistical association with mortality was performed through Fisher test, andStudents t test to compare the mean considering less than the 5% level statisticalsignificance.Results: The medial age was 809 years (max.= 98, min.= 65), the APACHE value was136, and 72% were women. All patients were followed through six months. The mortalityin consequence of pulmonary embolism was 21%. A significant correlation was observedwith mortality in cancer (p=0.024), stroke (p=0.024) systolic blood pressure less than100 mmHg (p=0.005), and the interval between the beginning of the symptoms andhospitalization (p=0.0001).Conclusions: In critical elderly patients admitted with pulmonary embolism, cancer, strokesystolic blood pressure less than 100mmHg and the interval between the begin of thecomplains and hospitalization demonstrated significant association with mortality.
Key words: Pulmonary embolism; Elderly; Mortality; Intensive care; In patients;Prospective studies
viiiSumrio
I. Resumo
II. Abstract
III. Lista de Tabelas
IV. Lista de Quadros
V. Lista de Abreviaturas
VI. Lista de Anexos
1. Introduo e Objetivo
2. Reviso de Literatura
2.1 Epidemiologia
2.2 Fisiopatologia
2.3 Diagnstico
2.4 Tratamento
3. Metodologia
3.1 Populao amostral
3.2 Mtodos
3.3 Procedimentos para coleta de dados
3.4 Tratamento estatstico
4. Resultados
5. Discusso
6. Concluses
Referncias bibliogrficas
Anexos
vi
vii
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xi
xii
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3
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62
69
ixLista de Tabelas
Tabela 1. Diagnsticos apresentados pelo grupo amostral na alta do CTI
Tabela 2. Distribuio da populao amostral, por faixas do APACHE II Score, na
internao no CTI
Tabela 3. Comorbidades na populao amostral no momento da internao no CTI
Tabela 4. Fatores de risco encontrados na populao amostral no momento da
internao no CTI
Tabela 5. Manifestaes clnicas avaliadas no ato de internao no CTI
Tabela 6. Diagnsticos eletrocardiogrficos encontrados na populao amostral na
internao no CTI
Tabela 7. Freqncia dos diversos diagnsticos radiolgicos na populao amostral
Tabela 8. Resultados do exame do dmero-D pelos trs mtodos utilizados na populao
amostral
Tabela 9. Resultados das enzimas de necrose miocrdica na populao amostral
Tabela 10. Resultados da gasometria arterial colhida no ato da internao sem
suplementao de Oxignio, na populao amostral
Tabela 11. Caractersticas identificadas pelo ecoDoppler venoso colorido
Tabela 12. Resultados da cintilografia pulmonar de ventilao e perfuso
Tabela 13. Alteraes ao ecocardiograma transtorcico
Tabela 14. Alteraes ao ecocardiograma transesofgico
Tabela 15. Aplicao da conduta teraputica para a EP
Tabela 16. Aplicao das medidas profilticas
Tabela 17. Associao entre as variveis estatisticamente significativas e o bito
28
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x
Quadro 1. Descrio temporal dos bitos
Lista de Quadros
46
xiLista de Abreviaturas
AGP - Angiografia pulmonar
Angio-TCH - Angiotomografia computadorizada helicoidal
APACHE - Acute Physiologic and Chronic Health Evaluation
BRD - Bloqueio do Ramo Direito
CK-mb - Creatino fosfoquinase frao MB
CPVP - Cintilografia pulmonar de ventilao e perfuso
CTI - Centro de terapia intensiva
DPOC - Doena pulmonar obstrutiva crnica
EDVC - EcoDoppler venoso colorido
EMEP - Estudo multicntrico de embolia pulmonar
EP - Embolia pulmonar
EPM - Embolia pulmonar macia
ETE - Ecocardiograma Transesofgico
ETT - Ecocardiograma Transtorcico
FVCI - Filtro de veia cava inferior
HAS - Hipertenso arterial sistmica
HNF - Heparina no-fracionada
HBPM - Heparina de Baixo Peso Molecular
ICC - Insuficincia cardaca congestiva
ICOPER - International Cooperative Pulmonary Embolism Registry
INR - International Normal Ratio
PIOPED - Prospective Investigation of Pulmonary Embolism Diagnosis
PaCO2
- Tenso parcial de Dixido de Carbono
PaO2
- Tenso parcial de Oxignio
STK - Estreptoquinase
TPTa - Tempo parcial de tromboplastina
TEV - Tromboembolismo venoso
TC - Tomografia computadorizada
TVP - Trombose venosa profunda
VE - Ventrculo esquerdo
VD - Ventrculo direito
(V/Q) - Ventilao / Perfuso
xiiLista de Anexos
69
70
74
76
Anexo A. Comisso de tica
Anexo B. Ficha de coleta de dados
Anexo C. Anlise estatstica
Anexo D. Fluxograma diagnstico
1
1. Introduo e Objetivo
Apesar de bem conhecida, sob aspectos clnicos e fisiopatolgicos, a Embolia
Pulmonar (EP) mantm-se com uma importncia diferenciada dentre as doenas de
maior gravidade. Sua apresentao freqentemente se revela com caractersticas
ambguas e de pouca expresso, conferindo-lhe uma grande quantidade de tcnicas
diagnsticas, com limitaes variadas em suas interpretaes, como bem caracterizada
pela Diretriz de Tromboembolismo Pulmonar da SOCERJ (SOCERJ 2000).
O tromboembolismo venoso (TEV) um grande desafio na rotina de trabalho do
generalista, do cirurgio, do cardiologista e do intensivista. Compreende um complexo
formado por dois aspectos: a Trombose Venosa Profunda (TVP) e a EP, podendo ser
entendidos como um estado patolgico, com um espectro de expresso clnica e
laboratorial diverso. Na atualidade, no ambiente de terapia intensiva que se procede
preferencialmente ao atendimento dessa nosologia sendo a sua incidncia ser nesse
local alm do dobro dos demais setores do hospital (29% vs 13%) (Aksamit 2001), fato
explicado pela freqente conjuno de comorbidades que predispem EP.
O TVP um grave problema de sade pblica, com uma incidncia anual,
segundo dados dos Estados Unidos da Amrica do Norte, que excede a 1:1000
habitantes (Goldhaber 2001a). Naquele pas ocorrem cerca de 250.000 novos casos
por ano, dos quais 17,5% falecem nos primeiros trs meses (Goldhaber 1998). O Estudo
Multicntrico de Embolia Pulmonar (EMEP), avaliando 727 pacientes com o
diagnstico confirmado de EP, registrou 138 bitos, sendo 18,1% do total ocorrido
nas primeiras 24 horas (Volschan et al. 2000).
Apesar da maior conscientizao das equipes mdicas quanto necessidade
da preveno e a praticidade na administrao de heparinas profilticas, a mortalidade
no tem se alterado de forma significativa desde a dcada de 80 (Heit 2002).
Os fatores de risco independentes para a EP incluem aspectos muitas vezes
concomitantes, como: idade avanada, sexo masculino, ocorrncia de cirurgia, trauma,
confinamento hospitalar, tratamento domiciliar com restrio deambulao e ainda,
doenas neoplsicas, doenas neurolgicas com alteraes motoras em extremidades,
2
cateter venoso central, marca-passo cardaco artificial transvenoso, trombose venosa
superficial, varicosidades venosas e, especialmente no sexo feminino, em concomitncia
com a gestao, uso de anticoncepcionais orais e a terapia de reposio hormonal
(Heit 2002). Dos pacientes que sobrevivem a um episdio de EP, 30% iro recorrer da
doena em 10 anos. (Heit et al. 1999).
A taxa de eventos tromboemblicos aumenta de forma marcante medida que a
populao envelhece, com uma incidncia de 1:10.000 em indivduos abaixo dos 40 anos,
para 1:1000 em pessoas com idade acima de 75 anos. Com o envelhecimento, a embolia
pulmonar assume a proporo maior das manifestaes do tromboembolismo venoso.
A incidncia de embolia pulmonar aumenta de 120:100.000 indivduos/ano, na faixa
etria de 65 a 69 anos para mais de 700:100.000 indivduos/ano na faixa etria acima
de 85 anos (Wilkerson e Sane 2002).
O alvorecer do terceiro milnio da era crist vem apresentar sociedade civil brasileira
e internacional uma experincia de convvio social indita na histria da humanidade: a
populao de idosos passar, em tempo breve, a corresponder cerca de 25% da
populao brasileira. Esta nova realidade que se delineia, j exige em nosso cotidiano
uma sistemtica de mudanas de comportamento no convvio social, econmico,
previdencirio, legal e finalmente na postura e treinamento dos servios de sade, para
a adequao a essa nova perspectiva (Poltica Nacional do Idoso, Lei 8.842 1994).
Ilustra esse novo perfil da populao brasileira a evoluo da pirmide populacional,
observada no perodo de 1970 a 2000, segundo a anlise dos dados dos respectivos
censos, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE (Censo 2000).
O presente estudo considera idoso todo indivduo com idade 65anos e concentra
sua ateno nas particularidades da EP na populao idosa, internada no centro de
terapia intensiva de um hospital secundrio, que no dispe de centro cirrgico e,
portanto, atende a pacientes com doenas clnicas. Analisa uma coorte prospectiva de
43 indivduos, com idade 65 anos e com o diagnstico de EP, num universo de 1492
pacientes desta faixa etria, por um perodo de 51 meses.
O estudo tem por objetivo descrever as caractersticas clnicas, propeduticas e o
bito por Embolia Pulmonar na fase intra-hospitalar e nos primeiros seis meses aps
alta hospitalar, correlacionando-os com a mortalidade.
3
2. Reviso de Literatura
2.1 Epidemiologia
O estudo da epidemiologia da EP apresenta dificuldades no que tange a limitaes
no diagnstico da afeco, devido s diversas formas de apresentao, que incluem a
possibilidade de ser integralmente assintomtica ou com quadros clnicos inespecficos,
sendo por vezes atribuda a outras doenas (Goldhaber 2001a). Os Estados Unidos da
Amrica tm uma taxa anual de 100:100.000 habitantes, sendo que essa incidncia
varia de 5:100.000 habitantes na faixa etria abaixo dos 15 anos de idade, para uma
expressiva taxa de 500:100.000 habitantes naqueles acima de 80 anos, ou seja 0,5%
ao ano. Do total de casos de TEV, um tero corresponde EP, enquanto que os dois
teros restantes incluem a TVP. Apesar do uso de anticoagulantes, a EP recorre nos
meses subseqentes aps um dado evento, numa taxa de 7% nos primeiros seis meses.
A mortalidade pode chegar a 12% aps um ms do primeiro diagnstico (White 2003).
Diversos estudos tm focado o perfil epidemiolgico da embolia pulmonar.
Silverstein et al.(1998) avaliaram os moradores da localidade de Olmsted County no
estado americano de Minnesota, arrolando 2218 casos diagnosticados como EP, entre
os anos de 1966 e 1990. A incidncia de casos confirmados foi de 7% a 30% do total de
bitos necropsiados. A incidncia foi de 1,2 casos por 10.000 habitantes, com uma clara
tendncia a se elevar com o aumento da idade. No Distrito de Brest, localizado no oeste
da Frana, com uma populao de 343.000 habitantes, a incidncia de EP foi de 0,6:1.000
habitantes, com um comportamento semelhante ao estudo anterior; ou seja, um
crescimento da incidncia com a elevao da faixa etria, tanto no sexo masculino
como no feminino (Oger 2000). Os pesquisadores do International Cooperative Pulmonary
Embolism Registry (ICOPER) (Goldhaber et al.1999) avaliaram 2.454 casos de EP,
ocorridos em 52 hospitais participantes, abrangendo sete pases, com o objetivo, entre
outros, de analisar as causa de mortalidade em 3 meses e identificar os fatores associados
ao bito. Nesse registro, o diagnstico foi estabelecido em 2110 (86%), pacientes por
meio de necropsia, cintilografia pulmonar com alta probabilidade, arteriografia pulmonar
4
ou ultrasom venoso associado alta suspeio clnica. A taxa geral de mortalidade em
trs meses foi de 17,4%, ou seja, 426 bitos em 2.454 casos de EP, incluindo 52 pacientes
no qual o seguimento foi perdido. Do total de mortes, 179 foram atribudas EP (45,1%),
70 a neoplasias (17,6%) e em 29 casos no houve informao sobre a causa mortis.
Diante do modelo de regresso mltipla, os fatores de importncia foram: idade >70
anos, neoplasia, insuficincia cardaca congestiva, doena pulmonar obstrutiva crnica,
hipotenso arterial sistmica, taquipnia e hipocinesia do ventrculo direito ao
ecocardiograma bidimensional (Goldhaber et al. 1999). Ainda que o ICOPER traduza
uma amostra de indivduos de origem ocidental, uma srie japonesa, de 53 casos
de EP, observou dados equivalentes, com uma taxa de mortalidade de 14%
(Nakamura et al. 2001).
Os pesquisadores brasileiros contriburam para o tema, apresentando em 2003 o
Estudo Multicntrico de Embolia Pulmonar, estudo que arrola 727 pacientes com idade
mdia de 68,9 15,8 anos, contando com 24 centros investigadores, incluindo o hospital
onde o presente estudo ocorreu. Teve como objetivo elaborar o perfil dos pacientes
admitidos em unidades de emergncia e terapia intensiva, no perodo compreendido
entre janeiro de 1998 e agosto e 2003. Aferiu uma mortalidade nas primeiras 24 horas
de 3,4% e intra-hospitalar de 19,5% (Volschan et al. 2000).
No perodo compreendido entre setembro 1999 e abril de 2001, o Registro Brasileiro
de Profilaxia da Trombose Venosa Profunda, publicado como Managing Venous
Thromboembolism in Latin American Patients: Emerging Results from Brazilian Registry,
avaliou 27.450 pacientes com uma idade mdia de 47 anos e uma relao entre homens
e mulheres de 3:4, em trs instituies de diferentes regies do pas: Salvador, So
Paulo e Rio de Janeiro.Os fatores de risco mais prevalentes foram: a idade>60 anos,
cirurgias de longa durao, anestesia geral e gravidez. A origem dos pacientes apresentou
a seguinte distribuio: 48,7% de clnicas cirrgicas, 34,5% de medicina interna e os
demais de origem gineco-obsttrica (Caiafa et al. 2002).
Outros elementos associados ao aumento da incidncia da EP so a sazonalidade,
com maior freqncia nos meses de inverno em relao aos de vero; e a origem tnica da
populao, apresentando maior freqncia entre os caucasianos e afro-americanos quando
comparada a hispnicos ou asiticos. Entretanto, em uma faixa varivel de 25% a 50% dos
casos de EP, no houve qualquer fator associado identificvel. Por fim, a mortalidade precoce,
5
aquela que ocorre seguida apresentao do quadro clnico, associa-se idade avanada,
ao cncer e presena de doena cardiovascular subjacente (White 2003).
2.2 Fisiopatologia
Fundamentos
O mbolo pulmonar habitualmente origina-se de trombos localizados no sistema venoso
profundo das extremidades inferiores, que migram pela circulao venosa at o leito vascular
pulmonar, gerando uma diversidade de sndromes clnicas. mbolos de pequena dimenso
alocam-se nas regies mais distais da circulao pulmonar, desencadeando sintomas locais
como a dor pleurtica, a tosse ou podem ser essencialmente assintomticos; de outro modo,
trombos maiores localizam-se no tronco da artria pulmonar ou nos ramos lobares, podendo
provocar graves repercusses hemodinmicas e morte.
Os fatores de risco primrios para a formao do trombo so: a estase venosa, a
leso endotelial e a hipercoagulabilidade, j de h muito descritas por Virchow (1856).
No idoso, a estase venosa pode originar-se de imobilizaes devido a fraturas,
especialmente do quadril e membros inferiores, de leso neuromotora, ou de outra
condio incapacitante. Outras causas de estase so: a elevao da presso venosa
pela insuficincia cardaca congestiva, as seqelas de eventos trombticos prvios, as
compresses extrnsecas por tumores plvicos, alm de estados de hiperviscosidade.
Freqentemente a maioria dos idosos exibe uma ou mais das condies citadas acima
(Berman e Arnsten 2003).
A resposta hemodinmica EP dependente do tamanho do mbolo, da doena
cardiopulmonar pr-existente e dos fatores neuro-humorais (Goldhaber, 2002). Alm de
um efeito oclusivo, a resistncia vascular pulmonar eleva-se pela hipxia gerada pelo
evento emblico agudo. Em pacientes que no apresentem doena cardiopulmonar
prvia, a presso mdia na artria pulmonar pode duplicar o seu valor, atingindo nveis
em torno de 40mmHg. Nveis mais elevados podem ser atingidos em pacientes que j
apresentem hipertenso arterial pulmonar, inclusive excedendo os nveis sistmicos. A
descompensao hemodinmica no se deve somente obstruo fsica do fluxo
sangneo, mas tambm aos efeitos humorais de fatores como a serotonina, liberada
das plaquetas; da trombina oriunda do plasma e da histamina tissular.
6
A elevao da ps-carga do ventrculo direito pode desencadear uma srie de eventos
deletrios que incluem: a dilatao e hipocinesia ventricular, a insuficincia valvar tricspide
pela dilatao anular e, por fim, a falncia ventricular direita. Esse processo fisiopatolgico
pode expressar-se aps uma latncia de at 24 horas, causando ao mdico a falsa percepo
de que o paciente encontra-se hemodinamicamente estvel. No obstante, hipotenso
refratria teraputica e parada cardiorrespiratria, pode ocorrer de forma abrupta.
Classicamente, a EP cria imbrglios hematose e difuso do dixido de carbono
nos pulmes. A hipoxemia e o aumento do gradiente alvolo-capilar de oxignio so as
anomalias mais freqentes das trocas gasosas. O espao morto total aumenta. Ocorre
um distrbio de ventilao e de perfuso caracterizado pelo redirecionamento do fluxo
das artrias ocludas para leitos intactos e pelo shunt de sangue venoso para a circulao
sistmica. A relao ventilao/perfuso (V/Q), que normalmente em torno de 1, diminui
de valor, devido a um aumento efetivo do espao morto (Wood 2002).
Do Envelhecimento e da Trombognese
Com o envelhecimento, h um intenso aumento na incidncia de eventos
tromboemblicos venosos ou arteriais (Goldhaber 2001a). A elevao dos nveis de
fibrinognio, dos fatores VII, IX e dos demais fatores da coagulao, sem o respectivo
aumento proporcional dos fatores anticoagulantes, parece ser um dos fatores que
fundamenta esse achado (Wilkerson e Sane 2002). Estudos recentes vm esclarecendo
o papel do controle gentico sobre as variaes etrias da expresso das protenas da
coagulao. O aumento da atividade plaquetria, da mesma forma que as mudanas
na anatomia vascular, tambm registrado nessa condio.
No idoso observa-se a elevao dos nveis sricos de interleucina 6 e da protena-
C reativa, indicando um estado inflamatrio intercorrente favorecedor da trombognese.
A despeito desse estado j bem conhecido, a maioria dos idosos no apresenta eventos
tromboemblicos. Assim, possvel que a hipercoagulabilidade adquirida com o envelhecimento
favorea a sobrevivncia do indivduo, pela inibio da angiognese tumoral (Wilkerson e
Sane 2002). A tendncia contempornea obesidade, conseqente s mudanas dos
hbitos alimentares e laborativos, vem elevando o risco de eventos tromboemblicos.
A taxa de eventos tromboemblicos aumenta de forma marcante medida que a
populao envelhece, desde uma incidncia de 1:10.000 em indivduos abaixo dos 40 anos
7
para 1:1000 em pessoas com idade acima de 75 anos. Com o aumento da faixa etria, a
embolia pulmonar assume a posio maior das manifestaes do tromboembolismo
venoso. Da mesma forma, outras manifestaes trombticas, como o infarto agudo do
miocrdio e o acidente vascular enceflico, tambm se tornam mais freqentes, pois
80% dos infartos fatais ocorrem em pacientes idosos (Wilkerson e Sane 2002). O sistema
venoso sofre alteraes, havendo uma diminuio do calibre da veia femoral comum, a
partir dos 60 anos (Roger et al. 2002). Portanto, uma rede complexa de fatores
hematolgicos, anatmicos e a associao com doenas trombognicas, tais como as
doenas cardiovasculares e as neoplasias, interagem de forma crescente, elevando de
forma marcante a incidncia do TEV, especialmente a EP na populao idosa.
Quanto coagulao humoral e plaquetria, observa-se, com o aumento da idade,
uma elevao progressiva dos nveis sricos de fibrinognio. Esse aumento perceptvel
desde os 18 anos at os 85 anos. Da mesma forma, os nveis de fibrinognio so
proporcionais ao risco de eventos cardiovasculares. So diversas as possibilidades causais
pelas quais o fibrinognio pode elevar o risco cardiovascular: o favorecimento da produo
de fibrina, da agregao plaquetria e elevao da viscosidade sangnea. Por outro lado,
o fibrinognio pode significar somente um marcador de uma maior atividade inflamatria, ao
invs de constituir um fator de risco per se (Tracy 2002). Os nveis de fibrinognio elevam-se
em resposta aos nveis de interleucina 6, que tm forte correlao com o envelhecimento.
Esse paralelismo entre o nvel srico de fibrinognio e a idade parece ser comum aos
mamferos. (Gulledge et al. 2001). Outro fator de coagulao - o V eleva seu nvel no soro a
uma taxa de 0,6% ao ano de vida. Alm dos nveis de fibrinognio, os do fator VIII associam-
se a sinais de doena cardiovascular no envelhecimento. O fator VIII, um reagente de
fase aguda, eleva-se com a idade, no diabetes, nas mulheres e nos indivduos de cor
negra. Os demais fatores da coagulao como os fatores IX e XIII aumentam com o
envelhecimento, enquanto que o fator X no se altera (Wilkerson e Sane 2002).
A ativao plaquetria acelera a gerao de trombina pela maior disponibilidade
de stios para a interligao de complexos de protrombina e tenase. Descreve-se a
reduo progressiva do tempo de sangramento em homens entre os 11 e 70 anos de
idade. As modificaes na bioqumica plaquetria, como a queda do limiar para agregao
quando expostas adenosina difosfato ou colgeno, entre outras, so diversas. O
elemento convergente tanto do comportamento da coagulao humoral quanto do plaquetrio,
8
do endotlio ou do sistema inflamatrio de forma genrica, uma ntida facilitao do
fenmeno trombose, tanto no sistema venoso quanto arterial (Wilkerson e Sane 2002).
Cabe ressaltar que um possvel benefcio desse comportamento pr-coagulante
do idoso possa conferir, nessa populao, uma vantagem na inibio da angiognese
(Mousa 2004).
O mecanismo pelo qual o cncer pode induzir trombose venosa j foi
extensivamente estudado e inclui a invaso, a compresso vascular pelo tumor e o
estado de hipercoagulabilidade freqentemente presente. As evidncias atuais indicam
para que a causa do estado hipercoagulante seja conseqente a um fator tissular. Podem-
se identificar nveis sricos de fator tissular duas a quatro vezes elevados alm do
aumento de fator VII ativado, peptdeo ativador de protrombina e complexos trombina-
antitrombina em uma diversidade de neoplasias. O excesso de fator VI atribudo a
uma liberao adicional do fator tissular pelas clulas tumorais, a partir de microvesculas
das clulas cancerosas e de macrfagos e moncitos ativados por estas. Apesar desse
conjunto de evidncias, no se estabeleceu, no entanto, nenhuma correlao entre os
nveis de marcadores de hipercoagulabilidade e a incidncia do tromboembolismo venoso
(Agnelli 1997). Isoladamente, o cncer eleva em 4,1 vezes o risco do desenvolvimento
de TEV e quando se adjunta quimioterapia, o risco eleva-se para 6,5 vezes. Em uma
srie avaliando 7000 pacientes com idade >65anos, Lee e Levine (2003) identificaram
as neoplasias mais relacionadas ao TEV: de ovrio, de crebro e de pncreas.
Das Alteraes Respiratrias
A hipoxemia explicada por diversos mecanismos. Ocorre quando do
redirecionamento de fluxo para unidades alvolo-capilares ss, havendo queda da relao
ventilao-perfuso (V/Q) normal. Respostas bronco-constritoras secundrias a efeitos
humorais, alm da perda de surfatante e hemorragia pulmonar, geram atelectasias e
so uma contribuio adicional reduo da relao V/Q.
O shunt existe quando o sangue venoso alcana a circulao arterial sistmica
sem perfundir as unidades alvolo-capilares pulmonares ventiladas. A incapacidade da
suplementao adicional de oxignio em corrigir a hipoxemia, conseqente EP, reflete a
existncia de um shunt direito-esquerdo. A instalao de ventilao mecnica com presso
positiva, na dinmica do atendimento clnico, freqentemente gera aumento adicional da
9
resistncia vascular pulmonar, podendo agravar o shunt pelo aumento do dbito dos shunts
intracardacos, conseqente elevao da presso atrial direita (Goldhaber e Elliot 2003).
Das Alteraes Hemodinmicas
No espectro de apresentao clnica da EP, a Embolia Pulmonar Macia (EPM)
responsabilizada pela metade das mortes na primeira hora de apresentao. A definio
anatmica da EPM compreende a obstruo de mais de 50% do leito vascular arterial
pulmonar ou a ocluso de duas ou mais artrias lobares. Tal definio no contempla a
combinao das dimenses emblicas e o status cardiopulmonar do indivduo. A
expresso dessa interao se faz sentir na perspectiva dos pacientes que evoluem com
choque e exibem uma mortalidade de 30%, que se eleva de forma assinttica para
70%, quando ocorre uma parada cardaca. Entretanto, a exata combinao entre o
status cardiopulmonar e a magnitude da embolia permanece ainda obscura (Wood 2002).
O sinal de alerta para um implemento to intenso da mortalidade nos pacientes
com EP tem sido imputado identificao da disfuno ventricular direita no paciente
aparentemente estvel. Todavia, esse ponto dicotmico ainda abriga um grupo de
pacientes com disfuno, mas com uma mortalidade ainda baixa. A identificao clnica
de sinais de gravidade, como a hipotenso arterial, pode vir a ser tardia, diante da
perspectiva de morte. Assim, talvez uma definio mais abrangente e adequada de
EPM, seja a que incorpore as manifestaes clnicas e laboratoriais, desde a hipotenso
arterial at uma eventual parada cardaca. A ocorrncia de sncope tambm pode ser
associada a essa percepo, uma vez que se pode atribu-la perda da conscincia
secundria hipotenso ou at mesmo parada cardaca. (Perrier 2001a).
A falncia cardaca advinda da EPM resulta das combinaes entre a majorao
do stress parietal, da isquemia do miocrdio ventricular direito e o declnio do dbito
sistlico do ventrculo esquerdo (VE). Modelos experimentais demonstraram que o
assentamento de material emblico no leito vascular arterial pulmonar resulta em
elevao da impedncia ao ventrculo direito (VD). A intensidade dessa situao
resultante no s da obstruo mecnica e do status cardiopulmonar; mas tambm de
fatores adicionais como a vasoconstrio pulmonar neurorreflexa, a liberao de fatores
humorais de plaquetas (serotonina e fator de ativao plaquetria), os fatores plasmticos
trombina e os peptdeos vasoativos C3a e C5a, fatores tissulares (histamina) e a
10
hipoxemia arterial sistmica. O acrscimo sbito da ps-carga do VD gera, portanto,
efeitos diversos nas funes de VD e VE (Wood 2002).
Ambos os ventrculos funcionam em srie no mbito da circulao corporal, porm
compartilham o mesmo septo e esto confinados em uma cavidade pericrdica, pouco
distensvel. O enchimento de VE dependente do dbito do VD e da mesma forma
estar reduzido pela diminuio de sua distensibilidade pelo deslocamento esquerda
do septo interventricular (efeito Bernheim inverso) (Baker et al. 1998). Num momento
inicial, a presso arterial sistlica poder-se- manter normal pela resposta adrenrgica
reflexa queda do dbito cardaco.
A perfuso do miocrdio do VD dependente do gradiente entre a presso arterial
sistmica mdia e a presso subendocrdica de VD. Sua demanda tissular de oxignio
eleva-se proporcionalmente ao acrscimo do stress parietal (Wood 2002). A conjuno
entre esse dois elementos resulta na isquemia do miocrdio de VD, a qual imputa-se
falncia ventricular direita na evoluo da EPM.
O edema agudo de pulmo um elemento controverso quanto sua interpretao
fisiopatolgica. O efeito Bernheim inverso (Braunwald 1997), j citado, tem sido utilizado
para justificar o aumento da presso capilar pulmonar diante de episdio de EP. Outra
justificativa apresentada por Manier et al. (1984), especulando por um edema pulmonar
causado pela hiperperfuso ou pelo aumento da permeabilidade da microcirculao
pulmonar.
2.3 Diagnstico
Avaliao inicial do paciente
O diagnstico de EP mantm-se um desafio estimulante para o mdico, apesar da
grande evoluo nos meios propeduticos, nos conhecimentos epidemiolgicos,
fisiopatolgicos e da diversidade de apresentaes clnicas da doena. Os sinais e
sintomas no so elementos de grande valor na definio diagnstica, porm apesar de
sua grande inespecificidade, no devem ser negligenciados, uma vez que so o grande
elemento de alarme para a condio. Incluem a dispnia, a dor torcica pleurtica, a
tosse, o edema de membros inferiores, a dor em panturrilha, os sibilos, a hemoptise, a
taquipnia, a taquicardia, os estertores pulmonares, a febre e a sudorese profusa.
11
No ambiente de terapia intensiva, os pacientes habitualmente exibem uma
diversidade de comorbidades que reduz a utilidade na valorizao dos sintomas da EP.
Infelizmente manifestaes singelas de edema de membros inferiores, taquicardia e
hipotenso podem ser as nicas manifestaes de um evento tromboemblico. Por outro
lado, a freqncia de situaes nas quais no h qualquer expresso clnica significativa
indica a necessidade de se manter um alto nvel de suspeita clnica, no cotidiano do
atendimento ao paciente crtico. De fato, a freqncia de pacientes na qual h confirmao
do diagnstico de EP a partir de uma suspeita clnica oscila de 25% a 33%.(Aksamit 2001);
isso implica em que a cada dez avaliaes em pacientes sintomticos com a suspeita de
EP, no mais que dois ou trs tero resultados positivos na pesquisa.
O diagnstico de EP no idoso apresenta-se com peculiaridades, impondo-lhe
dificuldades prprias, porque sintomas comuns afeco como a dispnia ou hemoptise
podem estar ausentes e esses pacientes, em especial, podem ignorar novos sintomas.
De uma forma geral, no se tem um aspecto clnico prprio para o idoso, entretanto
sinais de TVP podem ser encontrados em 35% dos casos (Stein et al.1991).
O estudo mais completo da avaliao da presena de embolia pulmonar em pacientes
com suspeita clnica elevada foi o Prospective of Investigation of Pulmonary Embolism
Diagnosis (PIOPED), no qual aferiu-se a partir de uma alta probabilidade clnica (80%-
100%) o percentual de confirmao angiogrfica (68%). Da mesma forma, quando a
probabilidade clnica era baixa (0-19%), a confirmao angiogrfica era igualmente
reduzida.(PIOPED 1990). Isso demonstra que a percepo clnica, ainda que aporte uma
grande inespecificidade, no deve ser de forma alguma dispensada na indicao do
diagnstico e que no se deve busc-lo apenas em quadros clnicos clssicos.
As sndromes clnicas nas quais a embolia pulmonar se manifesta podem ser
resumidas em trs:
Dispnia isolada
Dor pleurtica e hemoptise
Cor pulmonale agudo
No PIOPED, entre aqueles que no apresentavam qualquer manifestao
cardiovascular prvia, a hemoptise ou a dor pleurtica foram as formas isoladas de
apresentao clnica mais comuns, identificadas em 65% dos pacientes, alm de dispnia
isolada em 22% e cor pulmonale agudo em 8%.
12
Quanto presena isolada de sinais, a taquipnia (definida como freqncia
respiratria maior que 20 respiraes por minuto) ocorreu em 73% dos pacientes, enquanto
que os estertores pulmonares achavam-se em 51%, a taquicardia em 30%, a 4 bulha em
24% e a hiperfonese do componente pulmonar da 2 bulha em 23% da casustica.
Apesar da aparente riqueza de manifestaes clnicas, nenhum dos sintomas
comuns, no estudo PIOPED, foi capaz de prever o diagnstico ou a excluso angiogrfica
da EP. A possibilidade de predio diferencial da angiografia foi encontrada apenas nos
seguintes sinais: estertores pulmonares, 4 bulha e a hiperfonese do componente
pulmonar da 2 bulha. Portanto, na terapia intensiva, mesmo as manifestaes clnicas
mais singelas de EP devem despertar a suspeita clnica da condio, que segundo
Shoemaker et al. (2000) so:
Piora da hipoxemia ou hipercapnia intercorrentes no paciente em ventilao
espontnea;
Piora da hipoxemia ou hipercapnia intercorrentes no paciente sedado ou sob
ventilao mecnica;
Piora da dispnia, hipoxemia, queda da PCO2 em pacientes com doena pulmonar
obstrutiva crnica (DPOC) sabidamente hipercapnicos;
Febre de origem obscura;
Elevao sbita da presso arterial pulmonar ou da presso venosa central em
pacientes sob monitorizao hemodinmica.
No espectro de apresentao da EP, podem ser encontrados sinais de
assentamento de mbolo em ramos arteriais centrais, como sinais de cor pulmonale
agudo, hipotenso, cianose, sncope ou de embolismo perifrico como dor torcica,
hemoptise, tosse e dor pleurtica. A dor torcica de caracterstica pleurtica freqente,
e traduz a presena de mbolos distais rvore arterial pulmonar, provocando irritao
pleural. Pode ser acompanhada por infiltrao hemorrgica, inadequadamente referida
como infarto pulmonar (Perrier 2001a).
Nos pacientes idosos a avaliao dos sintomas pode se mostrar ainda mais difcil,
visto que o paciente pode ignor-los ou atribu-los a outras comorbidades, freqentemente
intercorrentes. De uma forma geral, todas as queixas clnicas so freqentes no idoso,
vitimado de EP, exceo da hemoptise (Stein et al.1991).
13
A grande variedade das manifestaes clnicas, sua inespecificidade e a
coincidncia no paciente hospitalizado com as doenas cardaca e pulmonar d embolia
pulmonar um conjunto rico de diagnsticos diferenciais que incluem (Goldhaber 1998):
Pneumonia
Pleuris
Pericardite
Doena pulmonar obstrutiva crnica
Sndrome coronariana aguda
Aortopatias agudas
Pneumotrax
Acidente vascular enceflico
Condroesternite
Fratura de costela
Probabilidade Clnica e Fatores de Risco
A avaliao clnica do paciente sob suspeita de EP considerada o eixo central da
avaliao diagnstica, sendo fundamental para selecionar subgrupos que sero submetidos
a testes de maior especificidade. Essa probabilidade poder ser emprica ou padronizada.
A avaliao emprica envolve dados de histria, exame fsico, alteraes
radiolgicas, eletrocardiogrficas, gasometria arterial, ecoDoppler venoso colorido dos
membros inferiores e ecocardiograma com Doppler. Se comparados aos resultados da
cintilografia pulmonar de ventilao/perfuso (CPVP), pode-se encontrar nos pacientes com
baixa probabilidade clnica, uma positividade de 15%; nos de probabilidade intermediria,
38% e nos de alta probabilidade clnica 79% (Kearon 2003). Na srie do PIOPED (1990),
essas cifras oscilaram em 9%, 30% e 68%, respectivamente. O elemento comum a essas
avaliaes a incidncia crescente do diagnstico de EP por meio da CPVP, na exata
medida do crescimento da probabilidade clnica. A avaliao padronizada corresponde a
uma srie de escores, oriundos de diversas publicaes que pretendem sistematizar o
diagnstico e classificar os pacientes em uma faixa de probabilidade clnica. Desses, o
sistema de escores de Geneva (Perrier 2001a) quando comparado ao de Wells et al. (2000)
mostrou-se, segundo Iles et al. (2003), capaz de determinar a probabilidade pr-teste para
EP, independente do nvel de experincia do mdico responsvel pela avaliao do
14
pacientes. Em suma, h evidncias suficientes de que a avaliao da probabilidade clnica
de EP, quer seja emprica ou padronizada por sistemas de escores, capaz de estratificar
os pacientes de acordo com a sua probabilidade de portarem EP (Perrier 2001a).
A populao idosa, quando acometida por um episdio de EP, no apresenta
sndromes clnicas freqentes que permitam uma especulao da sua probabilidade
clnica, especialmente aqueles com idade >70 anos (Stein et al.1991).
Em 1856, Rudolph Virchow props pela primeira vez que os fenmenos trombticos
fossem o resultado de uma ou mais das trs condies: dano endotelial, estase ou
hipercoagulabilidade do sangue. O avano do conhecimento fisiopatolgico veio
esclarecer que os elementos clnicos relacionados com a elevao do risco para o
desenvolvimento da doena tromboemblica estavam refletindo, por vezes de maneira
estrita, o processo fisiopatolgico per se (Anderson 2003). Outro aspecto relevante
que cerca de um quinto dos casos de EP tm um fator gentico predisponente
(Goldhaber e Elliot 2003).
Com o avano do conhecimento, os fatores de risco que se mostram
convincentemente relacionados EP so: a idade, a imobilizao prolongada, a neoplasia,
as cirurgias de grande porte, o politraumatismo e o traumatismo raquimedular, as fraturas
de bacia, joelho e ossos longos, a histria de tromboembolismo venoso prvio e a
insuficincia cardaca congestiva. Entretanto reconhecido que o valor de predio de
cada fator de risco no igual, devendo haver uma individualizao sistemtica quanto
associao dos fatores e o valor individual de cada um (Anderson 2003).
Aplicabilidade da Avaliao Diagnstica Complementar no Idoso
A Telerradiografia de Trax, o Eletrocardiograma e a Gasometria Arterial
A identificao de uma telerradiografia de trax normal til no diagnstico da EP
quando o paciente apresenta-se com dispnia, dor torcica pleurtica e taquicardia.
um elemento til no descarte do diagnstico diferencial, ainda que esses possam conviver
com episdios de EP. O exame normal menos freqente em pacientes idosos. O ICOPER
identificou que 82% dos pacientes >70 anos apresentavam telerradiografia de trax
anormal. Outras anormalidades listadas foram: a atelectasia, o infiltrado parenquimatoso,
a efuso pleural, a elevao do diafragma homolateral ao pulmo afetado (Berman e
Arnsten 2003).
15
O eletrocardiograma um dos exames iniciais a serem realizados em casos de
suspeita de EP, e tem sido amplamente estudado. til no s para o diagnstico de
EP, notadamente nos casos em que ela macia, mas tambm para excluir outras
doenas como as sndromes isqumicas coronarianas agudas e a pericardite. H de se
acentuar que as alteraes eletrocardiogrficas so precoces e transitrias, podendo estar
presentes somente nas primeiras 48 horas, o que implica que ele deve ser realizado precoce
e seriado, pois os achados eletrocardiogrficos geralmente desaparecem quando a disfuno
do VD retorna ao normal (Kearon 2003). Dados do PIOPED (1990) demonstram que as
alteraes eletrocardiogrficas so igualmente freqentes em todas as faixas etrias.
A gasometria arterial em vigncia da EP revela freqentemente hipoxemia, um
aumento do gradiente alvolo-capilar e alcalose respiratria. Nenhum desses dados
pode ser utilizado para diagnosticar ou descartar o diagnstico de EP. Isso particularmente
verdadeiro no paciente idoso, no qual h uma natural queda da presso parcial arterial de
oxignio e um aumento do gradiente alvolo-capilar de oxignio. A melhor aplicao da
gasometria arterial no paciente com a suspeita diagnstica de EP a orientao quanto
suplementao de oxignio ou intervenes no equilbrio cido-bsico.
Dmero-D
O dmero-D e o fragmento E correspondem aos dois fragmentos finais da lise completa
da fibrina, pela ao da plasmina na estrutura do cogulo. Sua aferio plasmtica utilizada
como exame de triagem para casos suspeitos de EP. Nveis elevados so aferidos em
praticamente todos os pacientes que apresentem: idade avanada, gestao, trauma,
doenas inflamatrias, neoplasias ou ps-operatrio recente (Bockenstedt 2003).
Diversos mtodos de identificao tm sido desenvolvidos com sensibilidades variadas,
desde quase 100% a 80%. Testes poucos sensveis (como a aglutinao do ltex ou de
hemcias) no devem ser utilizados para isoladamente excluir a EP (Bockenstedt 2003).
De uma outra forma, o teste ELISA, um ensaio imunolgico, exibe uma sensibilidade de
84,8% e uma especificidade de 68,8%, enquanto que na dosagem pelo Ltex, a sensibilidade
no maior do que 75%, com um nvel de especificidade semelhante (Moerloose e Prins 2001).
Entretanto, apesar de uma sensibilidade maior, o ELISA requer de 3 a 4 horas para ser
realizado. Considerando sua baixa especificidade, especialmente na presena de outras
doenas, seu uso fica de sobremaneira limitado no atendimento de emergncia.
16
A tcnica do Ltex vem sendo desaconselhada por seus resultados desapontadores
quanto sua reduzida sensibilidade, alm de uma grande variabilidade de interpretao
interobservador. Todavia, a possibilidade de um resultado mais imediato tem mantido a
tcnica como til no atendimento de emergncia, to afeito suspeita clnica de EP
(Moerloose et al.1999).
Diversas condies como o cncer, infeces ou doenas inflamatrias
acompanham-se com a formao de fibrina e sua degradao. A conseqncia de maior
relevncia a queda da especificidade e, portanto, do valor do dmero-D como exame
diagnstico em pacientes no ambiente hospitalar e com a concomitncia de outras doenas.
Outro elemento que reduz a especificidade do teste o avanar da idade, observando-se
um decrscimo progressivo da especificidade do dmero-D (Righini et al. 2000). Em uma
srie de pacientes com idade >70anos com suspeio diagnstica de EP, apenas alguns
pacientes apresentavam nveis de dmero-D normais (Tardy et al.1998). A utilidade do
dmero-D mostra, ento, inversamente proporcional idade (Berman e Arnsten 2003),
sendo de pouca utilidade para certificar o diagnstico de EP no idoso, porm sua
normalidade pode ser utilizada para descartar o diagnstico e orientar diagnstico
diferencial (Righini et al. 2000).
EcoDoppler Venoso Colorido dos Membros Inferiores
O EcoDoppler Venoso Colorido dos Membros Inferiores (EDVC) um exame de
grande acuidade diagnstica para os pacientes com trombose venosa profunda (TVP)
dos membros inferiores, local de origem preferencial dos trombos embolizados para o pulmo
(Goldhaber e Elliot 2003). A sensibilidade do exame est intimamente relacionada aos indcios
de EP e presena de sinais de TVP. Pacientes com EP e que no apresentem sinais de
TVP tm uma positividade ao EDVC, que oscila de 10% a 20%. No entanto, na presena de
manifestaes clnicas de TVP, essa se eleva para 50% (Fedullo e Tapson 2003).
O EDVC incorpora duas tcnicas ultra-sonogrficas: a ultra-sonografia em tempo real
e o Color-Doppler Flow. Na avaliao rotineira da presena de TVP, usa-se a compresso
dinmica das partes moles dos segmentos avaliados, habitualmente os membros inferiores.
Permite a discriminao entre as veias normais e as ocludas. Os segmentos trombosados
distinguem-se dos normais pela sua no-compreensibilidade. A avaliao do Doppler colorido
permite detectar o fluxo venoso espontneo normal e sua variao respiratria e, havendo
17
obstruo, a sua conseqente alterao (Aksamit 2001). A compressibilidade completa das
veias excluiu o diagnstico de TVP. Outros critrios diagnsticos tambm foram utilizados,
como: a ausncia de fluxo ao Doppler colorido, a perda da fase respiratria do fluxo sangneo
e o contraste espontneo intraluminal (Emmerich 2001).
A ausncia de anormalidades no EDVC incapaz de descartar o diagnstico de
EP. Cerca de 20% dos pacientes com suspeita de EP, mas com cintilografia pulmonar
ventilao/perfuso com critrios diagnsticos e EDVC normal, apresentam EP. Nesses,
habitualmente, h um trombo residual de difcil identificao (geralmente na panturrilha)
ou nenhum trombo. (Kearon et al. 1998a). Hull et al. (1983) demonstraram que a
freqncia de EP com identificao angiogrfica na ausncia de TVP pode chegar a
30%. Embora a origem dos mbolos geradores de EP predomine nos membros inferiores,
pode-se ter uma prevalncia de at 7% de EP sintomtica em portadores de TVP nos
membros superiores (Mustaf et al. 2003).
Uma vantagem operacional clara para o mtodo, quando aplicado em paciente
internado em centro de terapia intensiva, a facilidade de poder ser realizado beira do
leito, com interpretao imediata pelo examinador, alm de no oferecer risco ou toxidade.
A presena de anormalidades ao EDVC, ou seja, a presena de trombo nos plexos
venosos ou a no-compressibilidade, associada a um alto ndice de suspeita clnica
para EP, indicar o tratamento (Elliott 2001).
A sensibilidade no diagnstico de EP eleva-se com a idade. Em uma srie de 1029
pacientes avaliados com suspeita de EP, em 874 o EDVC foi diagnstico em 7% daqueles
com idade
18
presente, nos troncos centrais das artrias pulmonares. Pode tambm indicar o
diagnstico de EP, pela identificao de seus sinais indiretos, como a dilatao, a
disfuno ventricular direita, ou mesmo uma insuficincia valvar tricspide sem correlao
ao contexto cardiolgico do paciente.
Ainda que o mtodo exiba uma srie de vantagens potenciais, a literatura aponta
uma sensibilidade reduzida do ecocardiograma transtorcico (ETT) (50%), com uma
especificidade de 90% para a EP (Kearon 2003). O ecocardiograma transesofgico
(ETE), em contrapartida, oferece uma especificidade elevada (90%) para a identificao
de trombos nos troncos arteriais pulmonares (artria pulmonar, ramo direito e poro
proximal do ramo esquerdo) e uma sensibilidade ainda pouco determinada, mas que
fica em torno de 30% (Kearon 2003). Ainda que limitado em sua sensibilidade, o
ecocardiograma capaz de identificar em 40% desses pacientes, anormalidades no ventrculo
direito. No paciente internado em centro de terapia intensiva (CTI), que exiba instabilidade
hemodinmica, o ETT particularmente til na pesquisa etiolgica (Akasamit 2001), alm
de facilitar no diagnstico diferencial entre outras doenas como: o infarto agudo do
miocrdio, a disseco aguda da aorta e o tamponamento cardaco (Goldhaber 1998).
A identificao de hipocinesia da parede livre do VD, com uma mobilidade apical
normal (sinal de McConnell), um aspecto peculiar da ecocardiografia ao poder
sugerir o diagnstico de EP, mesmo na ausncia de trombos visualizados
(McConnell et al.1996).
observada uma associao entre a trombose venosa e a aterotrombose
(Prandoni et al. 2003). Na populao idosa, vtima freqente de eventos
aterotrombticos, o ecocardiograma ser sempre til no apoio diagnstico da EP,
especialmente naqueles com instabilidade hemodinmica e no diagnstico diferencial
das doenas intratorcicas; considerando-se que a morte imediata por EP esteja
intimamente relacionada ao choque obstrutivo ou o infarto de VD.
A grande prevalncia da disfuno ventricular direita no idoso alerta para a
impropriedade de se indicar sistematicamente a tromblise nesta populao, caso a
disfuno conviva com a estabilidade hemodinmica. Berman e Arnsten (2003) sugerem
que no idoso, sob suspeita de EP, o ecocardiograma no deve ser primordial no
diagnstico, mas um exame adjuvante, especialmente na estratificao da gravidade e
no diagnstico diferencial.
19
A Cintilografia Pulmonar de Ventilao / Perfuso
A cinti lografia pulmonar de venti lao/perfuso (CPVP) um teste
freqentemente utilizado para o diagnstico de EP, porm tem seu valor limitado na
concomitncia de outras doenas pulmonares ou na presena de insuficincia
respiratria que demande a assistncia ventilatria mecnica. Durante trs dcadas
ocupou o papel central na sistemtica diagnstica da EP e de grande valor quando
a sua interpretao definitiva (Fedullo e Tapson 2003). Na presena de uma CPVP
normal, a EP pode ser excluda e a anticoagulao dispensada (Elliott 2001). A
interpretao do CPVP atende a critrios padronizados pelo PIOPED que classifica
os resultados em: normal, inespecfico, baixa probabilidade, probabilidade
intermediria e de alta probabilidade (PIOPED 1990). Segundo os critrios desse
estudo marcante, 14% de seus casos foram classificados como de probabilidade
normal ou inespecfica e 30% como de alta probabilidade. Ainda que tais resultados
sejam teis para a orientao teraputica, a maioria dos casos (66%) situa-se nas
faixas de probabilidade baixa e intermediria, que no acrescentar na definio
diagnstica. Recentemente vem ganhando em importncia a classificao em trs
modalidades diagnsticas: alta probabilidade, baixa probabilidade e a no-
diagnstica, o que permite uma maior simplificao de sua interpretao (Perrier 2000).
Situaes clnicas intercorrentes como: doena pulmonar obstrutiva crnica,
insuficincia cardaca congestiva, bronquiectasias, pneumonia, doena pulmonar
intersticial e o cncer de pulmo to freqentes no idoso, podem dificultar o
diagnstico. Dados do PIOPED revelam que o valor preditivo positivo, a sensibilidade
e a especificidade so comparveis tanto na populao idosa quanto em pacientes
mais jovens (Berman e Arnsten 2003; Stein et al. 1991).
A Tomografia Computadorizada, Ressonncia Nuclear Magntica
e a Angiografia na Embolia Pulmonar
A Tomografia Computadorizada representa um avano notvel no diagnstico da EP.
Permite a visualizao direta do mbolo, com a identificao de anormalidades
parenquimatosas compatveis com o diagnstico, bem como a indicao de uma alternativa
diagnstica ao quadro clnico em investigao.
O mtodo dispe de uma sensibilidade varivel de 57% a 100%, alm de uma
20
especificidade na faixa de 78% a 100% (Fedullo e Tapson 2003). A tomografia tradicional
no um mtodo til para a avaliao de pacientes com suspeita de EP, pois no
permite a opacificao adequada das artrias pulmonares por meio de contraste, uma
vez que o tempo necessrio para a obteno completa da imagem (cerca de trs minutos)
por demais prolongado para que se mantenha a concentrao adequada do meio
contrastante na rvore arterial pulmonar. Tais dificuldades so contornadas com a
Angiografia Tomogrfica Computadorizada Helicoidal (Angio-TCH), na qual a imagem
pode ser adquirida durante a suspenso apenas de um ciclo respiratrio, um tempo em
torno de 20s. A imagem obtida pela rotao do detector ao redor do paciente,
demandando, um tempo relativamente curto (Rathbun et al. 2000).
Entretanto, a sensibilidade diferenciada do mtodo circunscreve-se aos embolismos
dos ramos da pulmonar ou dos ramos segmentares, que chega a 86%. Para os ramos
subsegmentares, a sensibilidade declina para 21% (Kearon 2003). A percepo dos
autores atualmente de que apesar de uma grande sensibilidade para trombos proximais,
a Angio-TCH limitada para a identificao de embolismos subsegmentares (30%)
(Mullins et al. 2000); em contraponto, o advento recente dos sistemas de multideteco
possibilita a melhor avaliao dos ramos subsegmentares (Perrier et al. 2001b). Os
mesmos autores alertam que esta forma de apresentao do embolismo corresponde a
20% dos casos de EP. Ainda que o imbrglio hemodinmico seja reduzido neste grupo,
sua recorrncia elevada, no se devendo subestim-la. Isto posto, sugere-se cautela
na excluso de EP, quando pela normalidade da Angio-TCH. A literatura afere em 5% a
incidncia de trombos na arteriografia pulmonar quando, tanto a Angio-TCH quanto a
CPVP e o EDVC forem normais (Perrier et al. 2001b). A tcnica de realizao do exame
inclui o uso do contraste iodado em infuso venosa contnua de 100ml a 150ml, a um
fluxo de 3ml/s a 4ml/s. Uma limitao tangvel desta tcnica na populao idosa o
eventual dano funo renal, freqentemente mencionado ao se justificar os riscos
arteriografia pulmonar. A Angio-TCH , portanto, um mtodo em evoluo quanto sua
posio na sistemtica diagnstica da EP. A identificao de trombos na rvore arterial
pulmonar diagnstica, porm a Angio-TCH normal de forma alguma capaz de excluir
o diagnstico, dada a sua baixa sensibilidade para trombos perifricos. (Perrier 2000).
A Ressonncia Nuclear Magntica tem sido bem menos avaliada em comparao
ao Angio-TCH, ainda que possa oferecer uma acuidade semelhante. Os resultados iniciais
21
no foram encorajadores, pela freqncia de artefatos causados pelos movimentos
respiratrios e pela concentrao inadequada de contraste na regio do trombo. Todavia,
em 1997, o desenvolvimento de novos equipamentos, associado a mtodos de infuso
do gadolinium (contraste magntico), vem permitindo uma melhor resoluo na aquisio
de imagem em apenas um ciclo respiratrio (Meaney et al. 1997).
A angiografia pulmonar (AGP) de h muito considerada o padro-ouro do
diagnstico da EP, alm de ser a nica modalidade diagnstica capaz de ser
suficientemente sensvel para identificar a presena de mbolos nas artrias pulmonares
subsegmentares, ainda que a sensibilidade nesse nvel tenha uma variao intra-
observador. A sensibilidade e a especificidade do mtodo no podem ser formalmente
avaliadas por se tratar de exame de referncia, entretanto avaliaes baseadas no
seguimento clnico aferiram a sensibilidade em torno de 98% e a especificidade na faixa
de 94% a 98% (Donkers-van Rossum 2001). Por ser um exame invasivo e depender
intensamente de equipamentos especiais e de recursos humanos diferenciados, a
angiografia pulmonar tem sido reservada para situaes especiais, quando o diagnstico
por mtodos no-invasivos no alcanado (Stein et al.1992).
As contra-indicaes relativas para o exame compreendem o risco de sangramento
e a insuficincia renal. Suas complicaes incluem arritmias, insuficincia renal,
hematomas inguinais e, eventualmente, a morte. Devido s peculiaridades do teste,
esse vem sendo evitado no paciente idoso, ainda que essa tendncia seja desprovida
de um maior fundamento. Devido mortalidade diferenciada da EP no idoso, os eventuais
riscos da AGP, nessa faixa etria, no devem impedir o seu procedimento, caso haja a
necessidade diagnstica (Berman e Arnsten 2003).
2.4. Tratamento
Apesar dos avanos tecnolgicos dos ltimos anos, a mortalidade geral da
EP ainda se encontra em uma faixa de 15% a 20% (Goldhaber et al.1999;
Volschan et al. 2000). O conhecimento de um conjunto de fatores de risco, situaes
corriqueiras e predisponentes como: idade avanada, cirurgias de grande porte, neoplasia,
imobilizao conseqente a fraturas e outras, permitem antever a probabilidade de EP
nesses indivduos (Kearon 2003). Portanto, como tanto a TVP como a EP raramente se
22
apresentam clnica ou laboratorialmente de maneira inequvoca e a abordagem preventiva
sempre ser de extrema valia (Goldhaber e Elliot 2003). Da mesma forma, a possibilidade
da EP de se apresentar primeiramente como macia, gerando instabilidade
hemodinmica, d teraputica um cunho emergencial (Geerts et al. 2001).
Preveno
A teraputica da EP compreende o tratamento e a preveno da TVP. Dessa forma
o tratamento mais efetivo para EP a preveno da formao do trombo no leito venoso
profundo. Vrios elementos farmacolgicos e mtodos mecnicos so capazes de reduzir
a formao do trombo e diminuir a mortalidade conseqente EP. Todavia, nenhuma
dessas estratgias foi capaz de reduzi-la ao extremo. Os regimes farmacolgicos de
maior efetividade para a preveno da TVP so aqueles que administram a heparina
no-fracionada (HNF) em baixas doses (5.000 unidade a cada 12 horas), a heparina de
baixo peso molecular (HBPM) ou o warfarin. Paradoxalmente, a importncia da preveno
da TVP e da EP no uma prtica sistemtica naqueles que exibem fatores
predisponentes. Caiafa et al. (2002), no Registro Brasileiro, avaliando 27450 pacientes
atendidos em trs hospitais tercirios brasileiros e com algum nvel de risco para o TEV,
constataram que 53,4% desses no receberam qualquer medida profiltica.
A HNF, via subcutnea na dose de 5.000 unidades a cada 12 horas, mostra-se
eficaz na reduo do risco de EP, no entanto sua recomendao circunscreve-se a pacientes
de risco moderado como aqueles submetidos a cirurgias gerais ou em pacientes clnicos,
incluindo os idosos hospitalizados portadores de doenas agudas (Bergman e Neubart 1996).
As heparinas de baixo peso molecular exibem vantagens adicionais em relao heparina
no-fracionadas; essas incluem uma maior biodisponibilidade e uma meia-vida maior, o
que permite que sejam administradas duas ou trs vezes por dia (Columbus
Investigators 2004). Ambas dispensam controle laboratorial. O warfarin, um composto
cumarnico, menos utilizado para a profilaxia de curta durao para a TVP, porque
apresenta em sua farmacodinmica um retardo em atingir seu efeito anticoagulante.
Necessita de controle ostensivo do seu efeito teraputico atravs de dosagens
freqentes do INR (International Normal Ratio). Apesar de associar-se freqentemente
a complicaes hemorrgicas, o uso crnico do warfarin bastante apropriado para
prevenir a formao de trombos (NIH Consensus Development 1986).
23
A preveno mecnica da TVP pode ser obtida com a utilizao de dispositivos de
compresso pneumtica ou pelo uso de meias elsticas. Os primeiros so to eficazes
quanto as HBPM na preveno de TVP das panturrilhas, tendo como contra-indicaes
ao seu uso a doena arterial perifrica e lceras de extremidades. As meias elsticas
proporcionam uma compresso externa dos membros inferiores progressivamente
menor da poro mais distal para a proximal. So efetivas na preveno da TEV
(Geerts et al. 2001).
Terapia medicamentosa
A utilizao de anticoagulantes capaz de diminuir a recorrncia de trombos,
prevenir a ampliao de trombos j existentes e reduzir a incidncia de EP em 60% a
70% (Collins et al.1986). Trata-se da principal estratgia teraputica da EP e deve ser
empreendida em todos os pacientes, com exceo daqueles que apresentem
sangramento, afeces intracranianas como hemorragias ou neoplasia. Todo paciente
sob o uso de anticoagulantes tem um risco majorado de sangramento, mas os idosos
so especialmente suscetveis a essa complicao Essa populao apresenta um risco
diferenciado de sangramento, mesmo aps o controle de qualquer eventual comorbidade.
Na pessoa idosa, freqentemente a terapia anticoagulante interrompida apesar
de ser indicada universalmente nos pacientes portadores de EP, incluindo o idoso
(Kuijer et al. 1999). Um menor uso de anticoagulantes no idoso pode ser um fator contributivo
para uma maior taxa de mortalidade nessa faixa etria. O tempo ideal do uso do
cumarnico ainda suscita controvrsias, aps tentativas de abrevi-lo de seis meses para
seis semanas, observou-se que a taxa de recorrncia era menor naqueles submetidos a
um perodo maior de tratamento (Schulman et al. 1995; Schulman et al. 1997).
A administrao parenteral da HNF comprovadamente capaz de prevenir a
recorrncia da EP e a morte. lcito administr-la j nas primeiras manifestaes clnicas
que indique a ocorrncia da doena. Devido ao efeito teraputico ser varivel entre os
indivduos, recomenda-se a monitorao sistemtica do Tempo Parcial de Tromboplastina
Ativado (TPTa) com a manuteno de uma razo em torno de duas vezes e meia o
padro (Hull e Pineo 2004).
As HBPM so atualmente preferidas s HNF, por serem seguras, efetivas e
dispensarem monitoramento laboratorial. Situaes como sangramentos graves,
24
trombocitopenia e osteoporose, so menos freqentes com as HBPM do que com a
heparina no-fracionada. Essa ainda que tenha estabelecido sua eficcia ao longo de
meio sculo, h uma tendncia atual em substituir o predomnio do seu uso pelo das
HBPM (Simonneau et al. 1997; Hull e Pineo 2004).
Quando o nvel teraputico atingido, inicia-se o anticoagulante oral. Eventualmente
pode-se utilizar anticoagulao prolongada com heparinas, habitualmente as de baixo
peso molecular, se houver recorrncia de trombos em vigncia de warfarin, situao
encontrada em portadores de neoplasias (Piccioli et al. 1996).
A administrao de warfarin deve superpor o uso da heparina por alguns dias,
porque a inibio das vias metablicas da vitamina K, alm de reduzir a disponibilidade
de fatores de coagulao, pode gerar trombose pela reduo dos nveis da protena C
(Crowther et al. 1999). O warfarin pode exibir interao medicamentosa com frmacos como
o alopurinol, a amiodarona, a cimetidina, a quinidina, os hipoglicemiantes orais, os antibiticos
e outros. Assim, feita um controle estreito do INR se faz necessrio, especialmente no
idoso, dada a sua maior sensibilidade aos efeitos do warfarin. (Gurwitz et al. 1992).
O perodo ideal de uso do anticoagulante oral desconhecido. A partir de um
primeiro episdio de EP, a recorrncia reconhecidamente maior quando o uso se
estende a apenas seis semanas, quando comparado h seis meses (Schulman et al. 1995).
Em situaes nas quais haja recorrncia da EP e da TVP, a anticoagulao
recomendada por um perodo longo e indefinido (Schulman et al. 1997). Na presena
de um fator de risco reversvel, a permanncia do anticoagulante oral por um perodo
maior que seis meses recomendada at o seu eventual controle.
O risco de sangramento no uso do warfarin diretamente proporcional intensidade
do seu efeito anticoagulante; a idade >80 anos aumenta esse risco, (Gurwitz et al. 1992)
principalmente quando h a concomitncia de doena neurolgica ou risco de quedas.
Terapia Tromboltica
De uma maneira diferente da heparina e do warfarin, cujo efeito essencial a
anticoagulao, os trombolticos agem pela dissoluo dos cogulos venosos e mbolos
pulmonares (Meneveau et al. 1993). Devido grande taxa de complicaes, esses
agentes so habitualmente reservados a pacientes que exibam instabilidade
hemodinmica conseqente EP macia. O objetivo da terapia tromboltica obter
25
a dissoluo rpida do trombo embolisado, e ento, reverter a disfuno ventricular
direita. A vantagem de administrar trombolticos em pacientes que apresentem
disfuno ventricular direita na ausncia de instabilidade hemodinmica
controvertida (Goldhaber et al. 1993).
Diversos agentes trombolticos como a uroquinase, a estreptoquinase (STK) e a
alteplase, mostraram efeito ltico semelhante na EP. A STK tem a vantagem de possuir
um custo menor, mas pode ser ineficaz em pacientes que tenham ttulos elevados de
anticorpos antiestreptococcus, devido a uma infeco recente. Apesar de ser bem
estabelecida a capacidade dos trombolticos em corrigir os distrbios hemodinmicos
da circulao pulmonar, seu efeito sobre a EP recorrente ou sobre a mortalidade de um
evento de EP macia ainda no foi bem estabelecido (Arcasoy e Kreit 1999).
O uso de agentes trombolticos est associado a um incremento de mais de trs
vezes no risco de sangramento, quando comparado com a teraputica anticoagulante
com a heparina. O sangramento maior, definido como uma hemorragia fatal, um
sangramento intracraniano ou um sangramento que requeira atendimento cirrgico ou
transfuso aferido em 12%, qualquer que seja o agente tromboltico usado. A ocorrncia
de sangramentos intracranianos oscila entre 1% a 2% e tende a ser mais freqente na
populao idosa, porm tais dados so baseados em estudos de trombolticos no infarto
agudo do miocrdio, que utilizaram doses maiores que as usadas na EP. Em geral, os
idosos recebem a medicao trombolticas numa proporo seis vezes menor que a
populao mais jovem, pelo receio de um sangramento grave (Weaver et al. 1991,
Gisselbrecht et al. 1996).
No idoso, a prevalncia de disfuno ventricular direita majorada pela presena
de doena cardaca e pulmonar. A maior controvrsia para o uso de trombolticos na EP
refere-se aos pacientes normotensos, com evidncias de disfuno do VD, que podem
representar 40% a 50% dos casos (SBC 2004). Nesse grupo, a tromblise melhorou a
perfuso na cintilografia pulmonar, a disfuno de VD no ecocardiograma e a resoluo
do trombo na arteriografia, mas no reduziu a mortalidade, quando comparada heparina
(Arcasoy e Kreit 1999). controversa a indicao de trombolticos quando
identificada isoladamente a disfuno de VD, na ausncia de instabilidade
hemodinmica (Kasper et al. 1997).
26
Intervenes Mecnicas
A insero de um filtro na veia cava inferior (FVCI) tem o objetivo de evitar que
mbolos migrem para os pulmes, pois predominantemente os mbolos originam-se
dos membros inferiores. A insero do FVCI eficaz na preveno da recorrncia da
EP e do bito a ela relacionado no perodo intra-hospitalar e a partir de ento. A incidncia
da recorrncia aps a instalao do filtro varia de 2,6% a 5,6%, sem nenhuma diferena
significativa entre os diversos modelos disponveis. As razes da recorrncia so: a
migrao do filtro na luz da cava inferior, a instalao inadequada, a formao de trombos
a partir do filtro, a filtrao inadequada do material emblico e a trombose da cava
proximal ao ponto de implantao (Decousus et al. 1998). Dessa forma se no houver
nenhuma inconvenincia, a anticoagulao deve ser mantida.
As indicaes para o implante do FVCI abrangem os pacientes com trombose
comprovada das extremidades inferiores, nos quais o uso do anticoagulante seja contra-
indicado, que tenham indicao para uma anticoagulao prolongada e que, no entanto,
apresentem uma complicao hemorrgica de maior importncia ou caso haja recorrncia
apesar de uma ao anticoagulante adequada, documentada por exames laboratoriais
(White et al. 2000).
A eficcia do uso prolongado do FVCI ainda incerta uma vez que esse no
interfere na formao de trombos nem no desenvolvimento da circulao colateral. Aps
um perodo de um ano, aps a insero do FVCI, no h reduo significativa na incidncia
de reinternao por EP (White et al. 2000). Em idosos que tenham sido submetidos insero
dos FVCI, a mortalidade em dois anos chega a atingir 50% (Walsh et al.1995), o que
traduz que o dispositivo seja usado em pacientes com uma srie diversa de comorbidades
(White et al. 2000). A morte relacionada ao implante do FVCI rara, ainda que situaes
como a migrao do filtro ou perfurao da cava inferior possam ocorrer, mas sem
conseqncias significativas. (Becker et al. 1992). Apesar de ainda no haver um
conhecimento devidamente sedimentado sobre o uso do FVCI e suas conseqncias,
em pacientes idosos nos quais freqentemente a anticoagulao est contra-indicada,
o dispositivo mostra-se como uma opo til e capaz de reduzir tanto a morbidade
quanto a mortalidade imediata (White et al. 2000).
27
3. Metodologia
3.1 Populao amostral
No perodo transcorrido entre maro de 2000 e maio de 2004 foram internados
1492 pacientes no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Prontocor, filial Lagoa,
com idade variando de 65 anos a 98 anos (mdia 80 9 anos).
Dessa populao de pacientes internados nesse perodo, foi selecionado um grupo
amostral de 43 indivduos com certeza diagnstica de embolia pulmonar, para se avaliar
a mortalidade da coorte e os fatores a ela associados. Trinta e um pacientes eram do
sexo feminino e 12 do masculino. A observao se iniciou na internao no CTI, sendo
os pacientes includos no estudo a partir do diagnstico de EP e findou aps seis meses
de acompanhamento, desde a alta hospitalar ou na eventualidade do bito. O tempo
mdio de internao no CTI foi de 15 17 dias (mnimo de 03 e mximo de 110 dias).
Durante o perodo foram identificadas 161 variveis de forma cotidiana e
concomitante ao atendimento. Desse total, foram consolidadas 30 variveis dicotmicas
e 4 contnuas, que ento foram submetidas avaliao de sua associao com a
mortalidade. A amostragem aferida fez parte do Estudo Multicntrico de Embolia Pulmonar
(EMEP); teve seu protocolo submetido avaliao do Comit de tica em Pesquisa do
Hospital Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob o nmero
054/04 sendo aprovado (Anexo A), segundo os termos da Resoluo n 196/96 do
Conselho Nacional de Sade.
Em todos os pacientes includos no estudo foi confirmado o diagnstico de EP no
CTI do Hospital Prontocor, e os demais pacientes internados na unidade exibiram um
universo de 20 diagnsticos diversos no momento da alta (Tabela 1).
28
3.2 Mtodos
A definio de idoso
No presente estudo o idoso foi definido como aquele indivduo com idade igual ou
superior a 65 anos, uma vez que esta faixa freqentemente adotada pelos autores da
literatura mdica.
A alta probabilidade clnica para o diagnstico de embolia pulmonar
Foram considerados como de alta probabilidade clnica, os pacientes que exibiam
as manifestaes clnicas definidas por Aksamit (2001): dor torcica; taquicardia
(freqncia cardaca acima de 100 batimentos por minuto); sncope; dispnia; taquipnia
(quando a freqncia respiratria elevava-se acima de 20 respiraes por minuto); tosse;
cianose; febre (com temperatura axilar acima de 38C); hipotenso (quando a presso
arterial sistlica achava-se
29
hemoptico. Tais caractersticas foram devidamente registradas em uma ficha de coleta
de dados (Anexo B).
A confirmao do diagnstico de embolia pulmonar
Os critrios diagnsticos acolhidos para EP neste estudo foram os utilizados no
estudo Multicntrico de Embolia Pulmonar (EMEP) (Volschan et al. 2000). A partir de
um quadro clnico de alta probabilidade de EP, os pacientes foram submetidos
confirmao diagnstica; utilizando-se um ou mais dos critrios a seguir:
1. Visualizao do trombo em artria pulmonar por meio de:
Angiografia pulmonar
Angiotomografia computadorizada do trax
Angiorressonncia do trax
Ecocardiograma bidimencional transtorcico ou transesofgico
2. Visualizao do trombo ou perda da compressibilidade de veias do sistema venoso
profundo atravs do EcoDoppler color venoso de membros inferiores, associada
suspeita clnica de embolia pulmonar.
3. Alta probabilidade de embolia pulmonar na cintilografia pulmonar de ventilao e
perfuso.
Critrio de incluso no estudo:
Indivduos idosos com Embolia Pulmonar confirmada a partir da internao no
Centro de Terapia Intensiva.
Critrio de excluso do estudo
Pacientes includos previamente no estudo, que porventura fossem re-internados
com a recidiva de embolia pulmonar.
Caractersticas Clnicas na Internao no CTI
O APACHE II
O APACHE II (Acute Physiologic and Chronic Health Evaluation) foi
calculado em todos os pacientes, sendo o seu valor anexado ao pronturio do
paciente (Knaus et al. 1985).
30
A avaliao propedutica
A partir da suspeita diagnstica baseada em uma alta probabilidade clnica, 43
pacientes tiveram o diagnstico de EP confirmado, com uma seqncia diagnstica que
compreendia submet-los : dosagem do dmero-D, eletrocardiograma, gasometria
arterial, telerradiografia de trax, ecocardiograma transtorcico e ecoDoppler venoso
colorido dos membros inferiores. Para a confirmao diagnstica, utilizou-se o
ecocardiograma transesofgico, a cintilografia pulmonar, a ventilao/perfuso, a
angiotomografia ou a angiorressonncia de trax.
Os fatores de risco para embolia pulmonar
Os fatores de risco para Embolia Pulmonar e as caractersticas clnicas registradas
foram: idade, ocorrncia de eventos tromboemblicos prvios, viagens terrestres ou
areas mais duradouras que cinco horas nos ltimos 7 dias, fraturas com imobilizaes
prolongadas (mais de 72 horas), terapia de reposio hormonal, uso de contraceptivos,
cor pulmonale crnico, tabagismo, neoplasias, insuficincia cardaca congestiva, doena
cerebrovascular, fibrilao atrial, hipertenso arterial sistmica, doena coronariana,
doena pulmonar obstrutiva crnica, diabetes mellitus, obesidade, insuficincia cardaca
diastlica, doena orovalvar, hipotiroidismo, taquiarritmias, uso de marca-passo definitivo,
doenas articulares, quadros demenciais e pneumopatias infecciosas. A ocorrncia de
fibrilao atrial foi registrada e considerada em conjunto quer fosse aguda, paroxstica
ou crnica e considerada para anlise se sua ocorrncia fosse conseqente ao episdio
emblico.
Exames laboratoriais
Dmero-D
Na totalidade dos casos, o dmero-D foi aferido atravs dos mtodos do Ltex
(36 casos), ELISA (06 casos) e a Tubidimetria, (em apenas 1 paciente). Os valores-
limite da normalidade so apresentados abaixo:
Mtodo da Aglutinao pelo Ltex: inferior a 0,5g/ml
Mtodo do Imunoensaio ELISA: de 68ng/dl a 494ng/dl
Mtodo da Turbidimetria: Valor inferior a 500mcg/dl
31
Enzimas cardacas
Os pacientes foram submetidos dosagem srica de enzimas creatinino-
fosfoquinase frao MB e da Troponina I, com os seguintes limites utilizados pelo
Laboratrio de Anlises Clnicas do Hospital Prontocor:
Creatinino-fosfoquinase frao MB: at 25UI/L, ou 6% da Creatinino-fosfoquinase total
Troponina I: menor que 0,4UI/dl
Eletrocardiograma
Foram consideradas como anormalidades ao eletrocardiograma compatveis com
o diagnstico de EP, as arrolados abaixo, com a ressalva de que a alterao
eletrocardiogrfica foi considerada para anlise, caso fosse entendida com conseqente
ao episdio de EP. Os eletrocardiogramas obtidos no seguimento dos pacientes no
foram considerados na anlise de dados.
Diagnsticos eletrocardiogrficos considerados como compatveis com o
diagnstico de EP:
1) Padro S1 Q3 T3 (Sinal de McGuinn-White) (Stein et al. 1991)
2) Inverso da onda T em precordiais direitas com ou sem alteraes do segmento
ST (supra ou infradesnivelamento)
3) Distrbio de conduo: Bloqueio do Ramo Direito (BRD) I a III graus
4) Desvio de eixo
5) Desvio do eixo eltrico para a direita com ou sem padro S1Q3
6) P pulmonale
7) Arritmias
a) Taquicardia sinusal (FC>100 bpm)
b) Arritmias atriais (fibrilao e flutter)
Gasometria arterial
A gasometria arterial estabeleceu o diagnstico de hipoxemia quando a tenso parcial
de O2 (PaO
2) esteve abaixo de 60mmHg. Nos casos em que foi necessria a suplementao
de oxignio, esta no foi interrompida para a coleta do sangue arterial. Foram consideradas
como valores normais da gasometria arterial as seguintes faixas adotadas pelo Servio de
Laboratrio e Patologia Clnica do Hospital Prontocor; para a PaO2 foram utilizados os
32
limites definidos segundo frmula de correo para a idade (David 2001):
Ph = 7,35-7,45
PaO2 = 100 - (0,43 x idade em anos) mmHg
PaCO2 = 35-45mmHg
Telerradiografia de trax
A telerradiografia de trax foi obtida em todos os pacientes e avaliada em sua
normalidade ou pela presena das seguintes anormalidades: atelectasia, infiltrado
pulmonar, derrame pleural, elevao de uma das hemicpulas diafragmticas ou a
oligoemia. Quando no foi alcanada nenhuma concluso diagnstica, o resultado foi
anotado como inespecfico (Stein et al. 1991).
Ecocardiograma bidimensional com Doppler
O ecocardiograma foi utilizado nas modalidades transtorcica e transesofgica e
teve como critrios diagnsticos: a visualizao de trombos nas cavidades direitas, nos
vasos arteriais pulmonares centrais ou a demonstrao de alteraes hemodinmicas
indiretas no ventrculo direito, que sugerissem embolia pulmonar. Estes parmetros,
ditos indiretos so: a dilatao, a disfuno ventricular direita ou uma regurgitao
tricuspdea grave (Kearon 2003), que aluda a hipertenso arterial sistlica na pulmonar
estimada, calculada pela equao abaixo (Oh 1989):
PAP = VRT x 4 + PAD
PAP Presso arterial sistlica na artria pulmonar
VRT Velocidade de regurgitao tricspide
PAD Presso no trio direito*
* Pode ser estimada observando a jugular interna beira do leito (faixa de variao entre 10mmHg e 14mmHg)
O ecocardiograma transtorcico foi realizado em todos os pacientes. A identificao
de uma frao de ejeo 40% definiu a presena de disfuno ventricular esquerda. A
frao de ejeo foi calculada atravs da equao abaixo:
Frao de Ejeo: Volume diastlico do VE Volume sistlico do VE
Volume diastlico do VE
VE Ventrculo Esquerdo
33
Volume ventricular estimado pelo mtodo de Teichholz atravs da medida dos
dimetros do ventrculo esquerdo (D) pelo modo M (Takemoto et al. 2003):
Volume = {7,0 (2,4+D) X D3 }
A modalidade transesofgica foi utilizada na complementao da transtorcica,
para a confirmao diagnstica.
EcoDoppler venoso colorido
O ecoDoppler venoso colorido dos membros inferiores foi realizado em 41 dos
pacientes, com o intuito de diagnosticar a trombose venosa profunda (TVP). Foram
considerados critrios diagnsticos de TVP: a presena de trombo no lmen venoso ou
a no-compressibilidade do segmento venoso estudado, atravs da compresso dinmica
das partes moles adjacentes.
Cintilografia pulmonar de ventilao e de perfuso
A cintilografia pulmonar foi considerada de alta probabilidade quando registrou a
presena de mais de dois defeitos de perfuso abrangendo, uma poro maior que
75% de um segmento, sem a devida alterao na fase de ventilao ou na telerradiografia
de trax, definindo uma alta probabilidade cintilografia para EP (PIOPED 1990).
Angiotomografia de trax
A angiotomografia foi realizada em 19 pacientes, sendo considerada diagnstica
quando identificou a presena de falhas na visualizao de pores da rvore arterial
pulmonar aps a injeo de contraste radiopaco em veia perifrica.
Angiorressonncia
Apenas um paciente foi submetido angiorressonncia e o critrio diagnstico de
EP foi a presena de trombo na rvore arterial pulmonar. O mtodo foi circunscrito a
1 paciente, que apresentou histria de alergia ao contraste iodado (Kearon 2003).
34
O diagnstico
Considera-se EP a partir de uma alta probabilidade clnica caracterizada por
manifestaes tambm arroladas no item 3.3 e definidas por Aksamit (2001), aliadas
comprovao diagnstica, segundo os critrios utilizados no EMEP (Volschan et al.
2000) e j descritos anteriormente.
O fluxograma diagnstico
A partir da internao no CTI, nos 1492 pacientes idosos admitidos no perodo de
observao, foi verificada a alta probabilidade clnica de EP de forma emprica, utilizando-se
as manifestaes clnicas definidas anteriormente (Aksamit 2001; Carvalho et al. 2005) e
esquematizadas no fluxograma diagnstico do Anexo D. Os critrios diagnsticos foram
aplicados e foi considerado como confirmado o diagnstico de EP quando fossem
identificados um ou mais critrios comprobatrios. Aps a verificao de sinais clnicos
que indicassem a probabilidade clnica do diagnstico de EP, de fatores de risco para a
EP e a excluso da possibilidade de um diagnstico alternativo mais pertinente, todos
os pacientes foram ento avaliados quanto ao eletrocardiograma, gasometria arterial e
radiogrfica de trax.
Para a confirmao diagnstica, utilizou-se inicialmente o ecoDoppler venoso
colorido e o ecocardiograma transtorcico. A partir da presuno do assentamento do
trombo, se nos vasos arteriais centrais (pela presena de hipotenso arterial, sinais de
sobrecarga ou disfuno de ventrculo