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ABIM 005 JV Ano XI - Nº 91 - Nov/17 “Embora os caminhos sejam diversos, não são poucas as pessoas que os confundem com atalhos, na esperança de encurtar a jornada e... vão se perder em cerrados abrolhos”. JHS

“Embora os caminhos sejam diversos, não são poucas as ... · Maçonaria tomou para si, em relação a sua simbologia e ritualística, diversos elementos de culturas antigas, como

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ABIM 005 JV Ano XI - Nº 91 - Nov/17

“Embora os caminhos sejam diversos, não são poucas as pessoas que os confundem com atalhos,

na esperança de encurtar a jornada e... vão se perder em cerrados abrolhos”.

JHS

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A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 33.154 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

Editorial

Mais do que difundir a cultura maçônica aos nossos diletos quase 29 mil leitores, através da publicação de artigos, criteriosamente,

selecionados, nossa Revista tem tido um papel importantíssimo, no que se refere ao estímulo ao estudo e à pesquisa. Em meio a esses dedicados pesquisadores, muitos vêm se descobrindo na arte de escrever e nos brindado com matérias de extrema relevância, colaborando com a excelência da produção deste periódico.

Vimos recebendo diversas mensagens expressando considerações e críticas quanto aos textos publicados, assim como elogios pelo altruísmo desse nobre trabalho de livrar os irmãos dos grilhões da ignorância. À guisa de uma gota no oceano, temos, humildemente, feito nossa parte, certos de que estamos fazendo parte da solução e não do problema.

Diante de um volume expressivo de matérias que nos são enviadas, buscamos, após prévia seleção, publicá-las a cada edição. Com isso, temos enriquecendo consideravelmente nossa Revista com abordagens de diferentes óticas sobre os temas mais diversos. Desde o Irmão com mais tempo, graus e títulos em nossa Ordem, até o mais novo Aprendiz recebem a mesma atenção, desde que seu texto seja relevante e possa influenciar, positivamente, na aquisição de conhecimento para os nossos leitores.

Com isso, nesta edição, como de praxe, selecionamos as matérias entendendo que as mesmas possam auxiliar nossos leitores em sua caminhada maçônica, na busca de ensinamentos. A exemplo, apresentamos um trabalho de autoria do irmão Lindomar Furniel, da Loja Maçônica Alpha e Ômega nº 3402, do Oriente Uberlândia – GOB-MG, com base em compilações da entrevista da jornalista da Assessoria de Imprensa da EMOP – Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, Sheila Sacks, ao ilustre Irmão Leon Zeldis, intitulado “A Maçonaria na Terra Santa”.

Já da lavra do Nobre Irmão Rogério Vaz de Oliveira, Relações Públicas e Especialista da História da Maçonaria, membro das Academias Maçônicas de Letras, do Rio Grande do Sul, e do leste de Minas, apresentamos um artigo de pesquisa histórica, sobre o “Herói dos Dois Mundos”, Giuseppe Garibaldi.

Compilamos um texto, que recebeu o título “As Cordas e os Nós na Maçonaria Simbólica”, com base no artigo “A Corda de 81 Nós – Uma Visão Operativa”, de autoria dos Irmãos Lincoln Gerytch, Sérgio K. Jerez e Ulisses Pereira da Silva Massad, membros da Loja Nova Esperança, 132 – Oriente de São Paulo – GLESP, publicado no site www.bibliot3ca.wordpress.com que, em muito, irá enriquecer o conhecimento de todos sobre o tema.

Confirmando com o que acima dissemos sobre a forma com que selecionamos as matérias, apresentamos um artigo intitulado “A Origem da Maçonaria”, um trabalho de pesquisa, muito bem elaborado, uma síntese do trabalho original, que nos foi enviada por seu autor, nosso Irmão Aprendiz Maçom Leonardo Becker Pavani, do Oriente de Araranguá-SC, pertencente à Loja Perseverança e Fidelidade nº 2968 – GOB-SC.

Agradecemos, penhoradamente, a participação de todos e continuem nos ajudando a fazer a nossa Revista Arte Real!

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A Origem da Maçonaria

A constituição do Grande Oriente do Brasil, no “caput”, de seu artigo primeiro, conceitua a Maçonaria como sendo uma “instituição

essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista”. Entre os incisos do parágrafo único, consta que a Maçonaria “proclama a prevalência do espírito sobre a matéria. Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade (CONSTITUIÇÃO, 2007:3).” Seus fins supremos são: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

A Inglaterra atingiu o auge do seu desenvolvimento durante o Século XVII, sendo favorecido pela monarquia, e pela unificação do país, realizada por Henrique VIII e Elizabeth I. A Inglaterra influenciou, em diversos setores, os demais países, não diferentemente aconteceu com a Maçonaria. A origem da Maçonaria Moderna que, segundo a escola do pensamento maçônico, chamada autêntica, deu-se na Inglaterra, em duas fases: a Maçonaria Operativa, formada pelas corporações, ou guildas de profissionais da arte da construção, depois, transformando-se na Maçonaria Especulativa, formada por Maçons Aceitos, os quais eram profissionais de outros setores da sociedade, na época, como filósofos, artistas, livres pensadores. Podemos citar, ainda, a influencia da Inglaterra na Maçonaria: a institucionalização da

Maçonaria Especulativa, pela formação da primeira potência maçônica do mundo, a Grande Loja da Inglaterra.

Para alguns, a linha de raciocínio para a origem da Ordem é simples: ela é tão antiga quanto sua história documentada. Da fundação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717 em diante, a Ordem tem sido franca em relação a sua existência, apenas, os métodos de reconhecimento mútuo têm sido afastado do olhar do

Henrique VIII da Inglaterra (1491 - 1547)

Leonardo Pavani

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público, mas podemos afirmar, através de documentos encontrados, que a instituição que, hoje, chamamos de Maçonaria, já era uma sociedade secreta antes do meio do século XVII, no entanto, as sociedades secretas, por definição, não publicam histórias oficiais.

Na literatura maçônica encontramos várias versões concretas para a origem da Ordem, juntamente com teorias e explicações fantasiosas, em meu entendimento, como a Maçonaria teria surgido através Adão, e, até mesmo, que Jesus era maçom. O que entendo e pude notar ser de comum acordo entre a maioria dos pesquisadores e escritores maçons, é que a Maçonaria tomou para si, em relação a sua simbologia e ritualística, diversos elementos de culturas antigas, como a Mesopotâmia (sumérios, caldeus, babilônicos), egípcia, persa e hebraica, e dos antigos mistérios: egípcios e gregos. Uma forte teoria que encontramos na literatura maçônica, especificamente no livro “A Chave de Hiram”, dos autores Christopher Knight e Robert Lomas, é que a Maçonaria e seus rituais se originam através da Ordem dos Pobres Soldados Companheiros de Cristo, hoje, conhecidos como Cavaleiros Templários. Acredita-se que parte do ritual maçônico tem influencia da Ordem dos Templários, especialmente a iniciação.

De fato, a verdadeira origem da Maçonaria, onde e quando iniciou é desconhecida.

É entendimento generalizado, quase que consensual no meio maçônico, que a Maçonaria que conhecemos hoje, dita Especulativa, teve sua origem através das corporações de ofício medievais, ou, guildas operativas dos pedreiros livres, os construtores responsáveis pelas grandes catedrais, mais especificamente, da Inglaterra e da Europa Ocidental. É fato que muitos autores reforçam essa tese, a qual se acredita que os construtores das catedrais góticas e de outros importantes edifícios da Europa organizavam-se em confrarias, possuíam rituais secretos e que guardavam, zelosamente, os segredos da arte da construção. A partir daí o ingresso dos Maçons Aceitos deu-se em grande número, em tal modo que passaram a ser em maior número que os de Maçons Operativos, estes, que com o tempo deixaram de existir. Em consequência à esse processo, teriam surgido, no século XVII, ou mesmo em fins do século XVI, lojas da Maçonaria Especulativa, cujos membros não possuíam nenhuma relação com a arte da construção, tendo seu ápice na fundação da Grande Loja Simbólica de Londres, através da união de quatro lojas londrinas.

O verdadeiro maçom é aquele que, de fato, busca a verdade e se esforça, ao máximo, dentro suas limitações física e intelectual, para lutar contra suas paixões, suas imperfeições e seus vícios, para aí sim, tornar-se um homem justo e ser reflexo de luz para a sociedade.

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A Maçonaria

na Terra SantaVivendo em Israel há mais de quarenta anos,

Leon Zeldis, cônsul honorário do Chile, em Tel Aviv, já ocupou o mais alto cargo da

Maçonaria Israelense. Ele assinala que não existe impedimento entre o Judaísmo e a Maçonaria. E mais: rabinos e hazanim (oficiantes cantores das sinagogas) pertencem à Ordem, e, na cidade de Eilat, no extremo Sul do país, na fronteira com o Egito, uma loja maçônica chegou a funcionar em uma sala da Yeshivah (escola religiosa para formação de rabinos). “A Maçonaria Israelense é um exemplo de convivência e tolerância”, destaca Zeldis, “o que procuramos mostrar é que é possível conviver, judeus e árabes, como irmãos.”

Nadim Mansour, árabe palestino, de religião cristã ortodoxa, foi empossado, em Tel Aviv, como o Grão-Mestre da Grande Loja do Estado de Israel, cargo que ocupou até o ano 2013. A Grande Loja de Israel teve já dois Grão-Mestres palestinos: Yakob Nazih, de 1933 a 1940, e Jamil Shalhoub, de 1981 a 1982. O Grão-Mestre Mansour nasceu em Haifa e se mudou para Acre, aos cinco anos de idade. Foi iniciado em 1971 na Loja “Akko”, da qual seu pai foi um dos fundadores, e, em 1980, tornou-se seu Venerável.

Nadim Mansour é, também, Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito. A presença de um maçom de origem árabe como Grão-Mestre, de uma Loja

Maçônica de judeus, é uma demonstração de que existe uma luz no final do túnel, e que a paz entre palestinos e judeus é possível sim! E não, somente, a paz, mas a fraternidade pode reinar entre árabes e judeus, como ocorre na Grande Loja de Israel.

A prova maior do compromisso dessa Grande Loja, com os princípios de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, pode ser vista no Selo (emblema) da mesma: a Cruz, a Lua quarto crescente e a Estrela de Davi estão juntas, simbolizando o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo. Da mesma forma, a Bíblia, o Alcorão e a Torah estão no Altar das Lojas, comprovando que todos os Irmãos, independente da fé professada, estão imbuídos do objetivo de trabalhar pela felicidade da humanidade.

A Grande Loja do Estado de Israel foi instalada em 20 de outubro de 1953, em Jerusalém.

Lindomar Furniel

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Porém, sua sede fica em Tel Aviv. A primeira Loja na região foi a Loja Rei Salomão Nº 293, filiada à Grande Loja do Canadá, e teve sua primeira reunião realizada nas chamadas pedreiras do Rei Salomão, no dia 07 de maio de 1873. Cinco anos antes havia ocorrido uma reunião no mesmo local, porém sem existir uma Loja regularmente constituída. Posteriormente a isso, houve outras Lojas na região, filiadas à extinta Grande Loja da Palestina.

Por um mundo melhor, existem várias maneiras de ajudar ao próximo. Ser maçom é uma delas. Para Leon Zeldis Mandel, 82 anos, Ex Grão-Mestre, Ex Soberano Grande Comendador, Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Maçonaria não melhora o mundo, mas os maçons, sim. Nascido na Argentina, Zeldis viveu no Chile, formou-se engenheiro têxtil nos Estados Unidos e fundou, em 1970, a primeira Loja Maçônica de Israel de língua espanhola. Escritor, poeta e conferencista, é autor de 15 livros e de mais de 150 artigos e ensaios publicados em diversos idiomas. Seus livros, “As Pedreiras de Salomão”, “Estudos Maçônicos” e “Antigas Letras” foram traduzidos para o português.

Residindo em Israel desde 1960, suas atividades como conferencista e profundo conhecedor da história da Maçonaria o levaram às principais cidades da Europa e do continente americano. No Brasil, participou do Congresso Internacional de História e Geografia Maçônica, realizada em Goiana, em 1995. Também, é membro honorário da Academia Maçônica de Letras de Pernambuco. Foi distinguido

como membro honorário dos Supremos Conselhos da Turquia, Itália, França e Argentina.

Em seu livro “Antigas Letras”, Zeldis defende alguns aspectos que devem mobilizar a atenção da Maçonaria no século XXI, no tocante a sua importante função na sociedade contemporânea. A ênfase na educação (laica e maçônica) é vital, segundo Zeldis, para melhorar a sociedade e o indivíduo. “A importância da educação está, precisamente, em adquirir a capacidade de julgar, categorizar, classificar e avaliar a qualidade da informação recebida, não somente pelo seu conteúdo textual, mas, também, do ponto de vista ético e teleológico”. A simples transferência de informações pode se constituir, na maioria das vezes, um armazenamento de conhecimentos que oprime e sobrecarrega o ser humano, impedindo-o de analisar e refletir sobre o essencial, escreve Zeldis. E cita o filósofo alemão Friedrich Krause (1781-1832), para quem a educação é algo que a grande parte das pessoas recebe, muitos transmitem, mas muito poucos têm. “O que equivale a dizer que muitíssimas pessoas sabem ler, porém são incapazes de reconhecer o que vale a pena ler”, conclui o autor.

Com dois mil membros, a Maçonaria em Israel foi oficializada em 1953, mas desde o século XIX os maçons estão na Terra Santa. Em 1873 foi instalada a primeira Loja regular em Jerusalém. Já, em 1890, outra loja foi constituída em Jaffa. Atualmente, setenta lojas funcionam em Israel, desde Naharía, ao norte, até Eilat, no extremo Sul do país, com um número apreciável de irmãos árabes (cristãos e muçulmanos), funcionando em seis idiomas, além do hebraico e do árabe.

Compilação extraída da entrevista realizada por Sheila Sacks, jornalista da Assessoria de Imprensa da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop). Também, escreve para o NOSSO JORNAL - RIO, uma publicação voltada para a comunidade judaica. Rio de Janeiro, RJ

LeonZeldis

GrandeLoja deIsrael

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Giuseppe Garibaldi

“Herói de Dois Mundos”“O Leão da Liberdade”

Giuseppe Garibaldi não nasceu na Itália, mas em Nice, na França, em 4 de julho de 1807, 31 anos após a Declaração da Independência

Americana. Não haveria local mais apropriado, um porto marítimo na costa mediterrânea, que sob as bênçãos de Poseidon, serviu de berço para o homem que iria viajar pelo mundo levando a mensagem de liberdade para os povos. Seus pais, genoveses, optaram pela nacionalidade italiana para o filho, em virtude da “jus sanguinis” (direito de sangue).

É, mundialmente, conhecido como “Herói de Dois Mundos”, por ter participado de conflitos na Itália e na América do Sul, dedicando sua vida à luta contra a tirania. Ainda menino, tornou-se marinheiro e conheceu a vida no mar. Aos 25 anos era capitão da Marinha Mercante. A proximidade com as ideias republicanas de Mazzini, um Carbonário, que acenava com o projeto de unificação da Itália, fizeram com que o jovem marinheiro iniciasse um flerte com os movimentos revolucionários, para a liberdade dos povos. Sua estreia não foi a melhor das experiências e lembranças. O fracasso da insurreição de Gênova, fez com que sua cabeça fosse posta à prêmio, obrigando sua fuga da Europa.

A bordo do navio Nautonnier, Garibaldi aportou, no final de 1835, no Rio de Janeiro. À sua frente estava o Pão de Açúcar, a Pedra da Gávea e o Corcovado, que mereceu registro em seu diário “[...] quando apareceu em volta de mim esta natureza luxuriante de que a

África e a Ásia só tinham dado uma fraca ideia, fiquei maravilhado com o espetáculo esplêndido que meus olhos contemplavam”. Acompanharemos seus passos em três momentos históricos – Garibaldi no Brasil, no Uruguai e na Itália.

O Império Brasileiro estava em ebulição, em especial a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, onde havia eclodido, há poucos meses, a Revolução Farroupilha. Enquanto na sua terra natal o movimento dos carbonários crescia, no Brasil, estava chegando a Maçonaria, com seus membros atuando e influenciando as lutas da humanidade por liberdade, como na Revolução Francesa e na independência de vários países latino-americanos, inclusive Estados Unidos e Brasil. Os maçons tremulavam a bandeira dos movimentos abolicionistas. Ouve-se que, ao norte dos Estados Unidos, montaram uma rede de fuga de escravos negros para o Canadá. Eram vagidos que ecoaram, também, por todas as províncias brasileiras.

Garibaldi chegou pouco depois da fundação da primeira Loja Maçônica no Rio Grande do Sul, que ocorreu no dia 23 de novembro de 1831, em Porto Alegre, com o nome de Loja Philantropia e Liberdade, tendo como seu primeiro Venerável Mestre, Bento Gonçalves da Silva, líder farrapo e com quem iria guerrear e entrar para história como Comandante da Frota Naval Farrapa.

Rogério Vaz de Oliveira

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Garibaldi foi “convocado” para unir-se aos revolucionários gaúchos e, conhecedor dos segredos dos mares, foi o “Almirante Farrapo”. Foi dele a façanha de transportar lanchões por terra, enganando os imperiais. Como empreendimento semelhante ao que preparavam os farrapos nos campos da costa rio-grandense, recorda a história antiga o que fez Antônio, depois da batalha de Actium. E, em tempos mais próximos, no século XV, o que praticou o sultão Mohamed II, quando fez transportar suas naves de Coregia ao Bósforo, numa extensão de dez milhas, através dos vales de Delma-Bagdgê.

As fontes sobre a sua iniciação e percurso maçônico são contraditórias. Segundo alguns, foi iniciado na Itália, filiando-se depois, em 1837, na loja irregular “Asilo (ou Refúgio) da Virtude”, do Rio de Janeiro; outros defendem que teria sido iniciado numa loja do Rio Grande do Sul, com o mesmo nome da loja do Rio de Janeiro (a loja “Asilo da Virtude”, do Rio Grande do Sul, foi fundada em 1833 e regularizada em 1840); outros, ainda, consideram que foi iniciado em 1844, em Montevidéu, na loja “Asilo de la Virtud”, loja irregular criada por norte-americanos exilados, sendo, depois, regularizado em 18 de agosto de 1844, na loja francesa “Les Amies de la Patrie”, fundada em 1827, regularizada pelo Grande Oriente de França, em 1844, e depois integrada ao Grande Oriente do Uruguai).

Mesmo em tempos de guerra, Eros - o Deus do Amor, lançou sua flecha, fazendo com que Garibaldi arrebatasse do pequeno povoado de Laguna, a jovem Ana Maria de Jesus Ribeiro, mulher guerreira, mãe e enfermeira, lutou, sempre, ao seu lado na América do Sul e na Europa; entrou para a história com o nome de Anita Garibaldi.

Pouco antes do fim da Guerra de Farrapos, foi dispensado por Bento Gonçalves de suas missões e mudou-se para o Uruguai e, em 1842, foi nomeado capitão da frota uruguaia, na luta contra o ditador argentino Juan Manoel Rosas. No ano seguinte, exerceu papel fundamental na defesa de Montevidéu, impedindo que a cidade fosse tomada pelos argentinos.

A guerra era o seu destino e sua vocação o transforma em “O Leão da Liberdade”.

Em 1848, Garibaldi voltou à Itália para combater os exércitos austríacos, na Lombardia, norte da Itália, e dar início à luta pela unificação italiana. Fracassou na tentativa de expulsar os austríacos e foi forçado a refugiar-se, primeiro na Suíça e, depois, em Nizza, hoje, Nice, sua terra natal. Visando conquistar Roma ao

papado, os liberais italianos marcharam contra aquela cidade e a tomaram. Garibaldi participou da campanha com um corpo de voluntários e foi eleito deputado na assembleia constituinte da República Romana.

Em março de 1862, surge como Soberano Grande Comendador do REAA do Grande Oriente de Palermo e, depois, pela unificação dos três Orientes existentes na Itália (Nápoles, Turim e Palermo), foi nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente da Itália, na reunião de Florença, realizada no período de 21 a 24 de maio de 1864. Em 1872, é nomeado Grão-Mestre Honorário “Ad Vitam” do Grande Oriente da Itália.

Contudo, os franceses e os napolitanos cercaram a cidade, visando a restabelecer a autoridade papal. A cidade capitulou em 1º de julho de 1849. Foi perseguido pelos exércitos franceses, espanhóis e napolitanos e, na fuga, morre sua amada Anita.

Caronte o barqueiro de Hades, responsável por levar as almas dos recém-mortos para o mundo dos mortos, acompanhou Garibaldi durante mais de setenta anos, carregou seus melhores amigos, seus filhos, porém a carga mais preciosa que o filho de Nix transportou, sem dúvida foi Anita. Sua pena é o exílio, em várias partes do mundo, a começar pela África, depois, nos Estados Unidos e no Peru.

Sua missão de Paladino da Liberdade não estava encerrada. Em 1854, voltou à Itália e participou da Segunda Guerra de Independência contra os austríacos. A Itália do Norte foi unificada. Seguiu para o Sul, onde conquistou a Sicília e o reino de Nápoles.

Vencedor, Garibaldi retira-se para sua casinha com algumas bolsas de sementes, na Ilha de Caprera, no Mar Mediterrâneo. Porém, nem mesmo a sua morte o desliga deste mundo. Em seus pedidos, deixou claro que gostaria de ser cremado, e que suas cinzas fossem misturadas à terra, simbolizando o nascimento de uma nova Itália.

Seu desejo, porém, foi ignorado, pois julgou-se que um líder tão importante não poderia sumir, mesmo após sua morte, em 1882, aos 74 anos. Foi enterrado no próprio jardim e sua casa entrou no mapa de peregrinos. Mas acredita-se que alguns seguidores mais radicais, determinados a seguir sua vontade, tiraram o corpo do caixão e o cremaram.

Surgindo, então, a Lenda que é contada pelos ilhéus, que nem mesmo Caronte e Nix juntos puderam apagar o “Herói de Dois Mundos” e “O Leão da Liberdade”.

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As Cordas e os Nós na Maçonaria Simbólica*

O maçonólogo e escritor belga Jean van Win acredita que a corda que utilizamos na decoração dos templos tenha sido introduzida

na Maçonaria Simbólica devido a um engano. Segundo ele, o uso a corda de nós espalhou-se pelo mundo, a partir da França, por um erro de tradução do abade Pérau, que, em 1742, publicou um livro intitulado “O Segredo dos Franco-Maçons”, baseado na obra “A Maçonaria Dissecada”, de Samuel Prichard, editada em 1730. Nela, Prichard afirma que dentre os equipamentos da Loja há o “Pavimento Mosaico, que é o piso da Loja, a Estrela Flamígera, que é seu Centro, e a Orla Dentada, que é a borda em torno dela”. Acontece que o abade traduziu, do inglês original para o francês, Pavimento Mosaico como Palácio Mosaico, Estrela Flamígera como Dossel Constelado de Estrelas e Orla Dentada por Borla Dentada. Com isso, as potências maçônicas que, por qualquer motivo, inspiraram-se direta ou indiretamente na tradição francesa, teriam assimilado o termo Borla Dentada.

Ainda, segundo Jean van Win, a adoção da corda como elemento na decoração dos templos teria vindo de uma tradição diferente: a partir do século XVI, era costume das mulheres nobres, ao enviuvarem, encimarem o brasão de seus maridos com

uma corda ornada com nós de amor, terminada em borlas pendentes. Isso – acrescido de uma eventual associação com o termo “filhos da viúva”, surgido nos rituais na mesma época – teria bastado para que se passasse, por extensão, a associar a Borla Dentada de Pérau a uma corda com nós e borlas em torno da Loja.

De todo modo, o fato é que as cordas com nós vêm sendo usadas, desde então, como ornamento nos templos, quadros ou tapetes de Loja maçônicos. Algumas Lojas utilizam nos seus quadros ou tapetes o número de nós conforme o grau representado. A maioria delas, no entanto, especialmente na Europa e América do Norte, adota a corda de 12 nós, que, como já mostramos, tem um significado relevante na história da geometria. Aqui cabe uma consideração: aceita-se, por seu caráter simbólico, que a corda maçônica, mesmo sendo aberta, tenha 12 nós, embora uma

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corda assim crie apenas 11 intervalos ou medidas entre os nós, o que não permitiria a representação de um triângulo retângulo. Ou seja, a rigor, a corda aberta em torno do templo, quadro ou tapete de Loja deveria ter 13 nós, perfazendo 12 medidas, para, desta forma, poder representar o triângulo pitagórico. Assim, quando fechada, os nós das extremidades poderiam ser sobrepostos, criando as condições para a criação do triângulo.

Diferentemente de outros países, no entanto, as potências do Brasil fizeram uma opção peculiar, adotando em suas Lojas a Corda de 81 nós, que, quando fechada, sobrepondo-se os extremos, formaria 80 intervalos. Logo, a ser observado o mesmo critério utilizado pelas Lojas do hemisfério Norte, dissociando a realidade do simbolismo, a corda maçônica brasileira poderia conter, apenas, 80 nós.

A exemplo da corda de 13 nós, a Corda de 81 nós, também, presta-se à criação de um triângulo retângulo. Seus catetos correspondem aos intervalos formados, respectivamente, por 16 e 30 nós, e, a hipotenusa, por intervalos de 34 nós (16+30+34=80 e 16²+30²=34²). Também, da mesma forma que a corda de 13 nós, a de 81 pode ser usada para criar triângulos equiláteros e isóceles e, assim sendo, quer sejam de 12 ou 80 nós quando fechadas, ou 13 e 81 quando abertas, geometricamente ambas as cordas expressariam o mesmo significado.

Os documentos históricos da maçonaria anteriores à criação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, denominados genericamente de Antigos Deveres, não fazem alusão a cordas e nós.

Já os rituais de 1904, publicados pelo Grande Oriente e Supremo Conselho do Brazil[6], mencionam apenas um cordão que forma, de distância em distância, nós emblemáticos (e) termina em uma borla pendente em cada um dos lados da porta de entrada. Conclui-se, desta forma, que o número de nós foi estipulado em data posterior à publicação dos rituais.

Não obstante, além das evidentes conotações geométricas, algumas referências podem ter sido determinantes para que o número de nós da corda adotada pela maçonaria brasileira fosse 81, quais sejam: o número mínimo de meses estipulado para que um maçom chegue ao grau 33; o total de graus da maçonaria francesa, em 1784; a quantidade de atributos da divindade, para o intendente dos edifícios; a idade do vigilante do perfeito e sublime maçom.

Além dessas, a inspiração para a adoção dos 81 nós pelas lojas brasileiras, talvez, possa ter advindo de Albert Pike, que escreveu em seu livro “O Pórtico

e a Câmara do Meio”, de 1872, o seguinte: “Ao redor de toda a parede, logo abaixo do teto, está pintada, nas Lojas francesas, um cordão ou corda com nós (la houppe dentelèe) de, aproximadamente, seis polegadas de diâmetro, com borlas pendendo em cada canto. Os nós são em número de oitenta e um. Não é usada nesta jurisdição.”

Quanto às borlas, nenhum documento foi encontrado que justificasse seu uso maçônico. Se foram, de fato, inspiradas no brasão das viúvas, serviriam, apenas, de arremate e adorno e, do ponto de vista operativo, não teriam qualquer significado.

Há, porém, uma hipótese plausível de que tenham existido marcadores de distância atados nas cordas junto aos nós ou em substituição a eles. Essa hipótese decorre da constatação de que algumas Correntes de Gunter adotavam pingentes de metal

presos em cada elo, de modo que o agrimensor soubesse, ao olhar um pingente, a que distância se encontrava com relação ao início da corrente. Isso evitava, especialmente nas distâncias maiores, o trabalho de contagem e recontagem de elos, que poderia levar a erros.

Ora, se é sabido que as cordas de nós foram aperfeiçoadas durante dezenas de séculos, é razoável imaginar-se que a solução dos pingentes fosse anterior à invenção das Correntes de Gunter. Assim sendo, da mesma forma que adotou as cordas com nós, não seria de se estranhar que a Maçonaria Simbólica tenha incorporado, também, os pingentes, transformando-os em borlas. Mas isso é, apenas, um palpite.

Para concluir, mesmo considerando que o uso da corda de nós pela Ordem possa, de fato, ter advindo do erro de tradução de Pérau, é inegável que essa “coincidência” foi extraordinariamente feliz, já que, à exceção da Pedra, nenhum outro utensílio operativo poderia ser considerado mais importante e tradicional.

Mas esses são, apenas, aspectos exotéricos relacionados à Corda de 81 nós. Muito mais se poderia falar sobre ela ao analisá-la sob outros prismas. É o que pretendemos fazer oportunamente…

*Compilação de trecho do trabalho “A Corda de 81 Nós – Uma Visão Operativa”, de autoria dos Irmãos Maçons Lincoln Gerytch, Sérgio K. Jerez e Ulisses Pereira da Silva Massad, membros da Loja Maçônica Nova Esperança, 132 – Oriente de São Paulo – GLESP.