Embrapa Clima Temperado - Gestão do Conhecimento

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    1/135

    Introduo

    AntnioHeberlarcioMagnani

    Organizaes comosistemas sociais

    complexos

    GESTO DOCONHECIMENTO

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    2/135

    INTRODUO GESTO DOCONHEC IMENTO

    Pelotas, RS2010

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro de Pesquisa Agropecuria de Clima TemperadoMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    3/135

    Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    E m b r a p a C l i m a T e m p e r a d oEndereo: BR 392 Km 78Caixa Postal 403, CEP 96001-970 - Pelotas, RSFone: (53) 3275-8199Fax: (53) 3275-8219 - 3275-8221Home page: www.cpact.embrapa.br

    C o m i t d e P u b l ic a e s d a U n i d a d ePresidente: Ariano Martins de Magalhes JniorSecretria-Executiva: Joseane Mary Lopes GarciaMembros :

    Ana Paula Schneid Afonso, Giovani Theisen, Luis Antnio Suita deCastro, Flvio Luiz Carpena Carvalho, Christiane Rodrigues Congro Bertoldi,Regina das Graas Vasconcelos dos Santos e Mrcia Vizzotto

    Suplentes : Beatriz Marti Emygdio e Isabel Helena Vernetti AzambujaNormalizao bibliogrfica: Daiane Schramm CRB-10/1881Editorao eletrnica: Oscar Castro e Lauro OliveiraCapa: Lauro Oliveira

    1 a ed i o1a impresso (2010): 300 exemplares

    To d o s o s d i r e i t o s r e s e r v a d o sA reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constituiviolao dos direitos autorais (Lei no 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao:

    Bibliotecria Daiane Schramm CRB-10/1881

    S587q Heberl, Antnio Luiz Oliveira

    Introduo gesto do conhecimento/ MarcioMagnani e Antnio Luiz Oliveira Heberl Pelotas:Embrapa Clima Temperado, 2010.

    136p.

    ISBN 978-85-61625-39-7

    1. Gestao do Conhecimento 2. . I. Magnani, Marcio. II.Ttulo.

    CDD 869.1

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    4/135

    Autores

    M a r c i o M a g n a n iEng. Agrn., Dr., pesquisador aposentado daEmbrapa Clima Temperado, Pelotas, RS,[email protected]

    Antnio Luiz O l ive i ra Heber lJornalista, Dr., pesquisador da

    Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS,[email protected]

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    5/135

    Apresentao

    Uma organizao no tem como comprar quilos deconfiana, metros quadrados de relacionamento ou litros decompetncia. Os ativos intangveis so construdos a partir docapital humano, do comportamento das pessoas nasorganizaes. Por isso, a fora destes ativos demorou um poucoa ser valorizada, porque se trata daquele conhecimento que estsendo amadurecido ou se consagrou na mente das pessoas, mashoje um dos fatores de grande ateno das novas organizaes.Felizmente, no mundo contemporneo h consenso de que nose pode desprezar ou negligenciar a fora da competncia pessoaldos trabalhadores, at porque as idias so as nicas forascapazes de refazer a vida das empresas ou mesmo ampliar a sua

    ao estratgica no mundo competitivo.

    Vivemos em plena era do conhecimento e da informao eser preciso valorizar a boa cultura organizacional, assentada noconhecimento que vai se articulando ao longo do tempo. O valordo capital humano, de suas habilidades e competncias,dificilmente pode ser objetivamente medido, eis que formatadode elementos intangveis, tcitos. Porm, no h dvidas que sofontes geradoras de formas especficas de realizar atividades, oque diferencia o produto ou resultado final, agregando valor.

    Cabe, sem dvidas, s empresas, utilizar e otimizar estesativos, favorecendo, por meio do clima organizacional, osurgimento de outras atitudes criativas, ou mesmo treinando,motivando e retendo os talentos que emergem no curso da vidaempresarial.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    6/135

    Este livro trata das empresas e suas competncias, massobretudo trata de pessoas. Resultado das reflexes de uma tesede doutoramento, defendida por Mrcio Magnani na UniversidadeFederal de Santa Catarina, a verso do livro aparece com o textode Antonio Heberl. Os autores abrem uma porta importante parase discutir um tema que precisa estar na ordem do dia das

    organizaes. De forma superlativa, deve ser debatido nasagendas das empresas do conhecimento, como a Embrapa. Porisso, ns, da Embrapa Clima Temperado, temos a satisfao depropor a todos os leitores uma cuidadosa reflexo sobre oassunto.

    Waldyr Stumpf Junior

    Embrapa Clima TemperadoChefe-Geral

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    7/135

    Sumrio

    Captulo 1 - A Era do conhecimentoCaptu lo 2 - As organizaes do conhecimentoCaptu lo 3 - Estratgias organizacionais

    9

    31

    61

    96

    107

    Re f e rnc i a sGlossr io

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    8/135

    consenso na literatura organizacional contempornea que,na era do conhecimento, os fatores crticos so as competnciasdos funcionrios, os relacionamentos internos e externos e, no

    mais o capital, os recursos naturais ou a mo-de-obra. A literaturaevidencia, ainda, que a competncia como ativo intangvel nopode ser estocada pela organizao, pois reside na cabea daspessoas e sai da empresa aps o expediente. Quando as pessoassaem de uma organizao, no so somente as suas habilidadesque so perdidas, mas tambm elementos como intuio,comprometimento, imagem, experincia e relaes formais einformais com clientes internos e externos.

    Da mesma forma como foram desenvolvidas ferramentasgerenciais adequadas ao contexto da poca industrial, novas

    ferramentas e processos esto sendo desenvolvidos para atenderas peculiaridades dos ativos da era do conhecimento. Mas, houveuma longa caminhada da humanidade para que se pudesse chegarat aqui. Para se ter ideia destes desdobramentos recorremos concepo da evoluo.

    Captulo I

    A Era do conhecim ento

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    9/135

    10 Introduo Gesto do Conhecimento

    A E v o l u o d a S o c i e d a d eA contextualizao histrica do desenvolvimento da

    humanidade, sob forma de ondas, foi concebida por Alvin Toffler(1980) e permite compreender as transformaes ocorridas nasociedade e nas organizaes. As mudanas demarcam fases da

    evoluo, as quais aconteciam de forma lenta, secularizada, e hojeso rpidas, revolucionrias. Elas se processam num amploespectro, desde a interao pessoal at os nveis cultural,religioso, poltico, organizacional, econmico e, principalmente,tecnolgico.

    Cada onda se refere forma de gerar riquezas. Na primeiraonda, a mudana determinada pelo incio da atividade daagricultura, h 10 mil anos. Nesta fase, a organizao a da famliae a riqueza vem da terra. O conhecimento no formal, porque aescola a casa, o rio, os campos, fatores bsicos da vida natural.

    A energia para o processo produtivo vem da fora braal e douso dos recursos naturais renovveis.

    A outra grande mudana no sistema de produo deriquezas comeou h 300 anos e denominada Era Industrial.Nesta fase, a humanidade passa de predominantemente agrcolapara uma civilizao de base industrial. A organizao fabril, aproduo passa a ser padronizada e h mais democratizao dainformao, com o surgimento dos correios e da imprensa. Aescola ganha lugar prprio e o sistema de produo de riquezaspassa a se basear nas indstrias e no comrcio de bens. Nesseperodo, surgem novas fontes de energia para o processoprodutivo, como o carvo, o petrleo e a eletricidade. Tambm marcante o desenvolvimento de tecnologias, como mquinas avapor, motores de combusto, ignio, compresso e eltricos.

    A terceira onda preconizada por Toffler (1980) denominadade sociedade ps-industrial, tambm conhecida como Era da

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    10/135

    11Introduo Gesto do Conhecimento

    Informao e do Conhecimento. Esta a fase atual, que comeounos pases que estavam no auge do seu desenvolvimentoindustrial, por volta de 1955. Cabe ressaltar que,contemporaneamente, estes diferentes estgios dedesenvolvimento da humanidade (ondas) coexistem. Algunslugares do planeta ainda so fortemente marcados pelas atividadesda explorao primria, enquanto outros pases continuam na eraindustrial e, outros, j esto plena era do conhecimento,caracterizada pelo desenvolvimento intenso das cincias e dastecnologias em geral.

    A era do conhecimento marca avanos significativos nossistemas organizacionais de gesto, acelerado o ritmo dasmudanas nos transportes e nas Tecnologias da Informao e daComunicao - TICs. As empresas desenvolvem produtoscustomizados, novas tecnologias de gesto empresarial, comviso sistmica. H forte valorizao do setor de servios e maiorconscincia sobre preservao ambiental. Nesta era, o sistemade produo de riquezas est baseado no conhecimento e nacriao de valor a partir dos ativos intangveis.

    O novo contexto social tem exigido avanos na cincia daadministrao. Novas tecnologias de gesto e novas disciplinascomo a de Gesto do Conhecimento, que se apoia terica emetodologicamente em cincias como administrao,comunicao, informao e outras disciplinas da rea dascincias humanas, como psicologia e sociologia, surgem para darconta da complexidade da criao de valor a partir dos ativosintangveis.

    A evoluo das organizaesAntes da Revoluo Industrial, o conceito de organizao

    no era objeto de estudos porque o trabalho artesanal era maisimportante, desenvolvido junto ao local de moradia. Asorganizaes surgiram, segundo Landes (1994), com a RevoluoIndustrial, que a passagem histrica da economia agrria, e

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    11/135

    12 Introduo Gesto do Conhecimento

    artesanal para a economia industrial mecanizada, que transformoua vida do homem. A fbrica surgiu como um novo elemento,exigindo locais especficos, normas de convivncia, deprodutividade e de controle. Para este autor, as relaes do homemcom seu ambiente de trabalho evoluram atravs dos tempos e,neste contexto, surgiram novos conceitos e teorias, sendo aadministrao a mais estudada.

    A lgica da administrao cientfica prevalecente na EraIndustrial, segundo os tericos organizacionais, consistia naminimizao dos tempos e movimentos necessrios paraproduzir, sendo a pontualidade e a confiabilidade as habilidadesexigidas aos trabalhadores. Esperava-se que eles fossem maisdisciplinados que capacitados. Essas caractersticas eram vitaispara a manuteno do emprego, de acordo com a administraocientfica de Taylor. Mais tarde, a economia industrializadadesenvolveu mais os aspectos da engenharia de produo. Destamaneira, as habilidades tcnicas especializadas, em processosespecficos da produo, foram as mais requisitadas, bem como

    as habilidades de superviso, (que foram) imprescindveis paragarantir o controle da produo.

    Atualmente, a humanidade est passando por um perodode grandes transformaes sociais, econmicas, polticas eculturais. A produo industrial de servio nasce da crescenteconvergncia de dois setores: o industrial, que incorpora osservios a seus clientes, e o de servios, que cada vez mais seindustrializa. O conhecimento passou a ser, assim, o maior geradorde riquezas e o mais importante fator de produo.

    Da mesma forma que nos perodos do Taylorismo e doFordismo, quando o sistema organizacional e de produo(daquela poca) exigia determinados atributos dostrabalhadores, as atuais organizaes, em funo dodesenvolvimento tecnolgico, concorrncia e exigncias dos

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    12/135

    13Introduo Gesto do Conhecimento

    clientes, precisam contar com profissionais altamente capacitadospara poderem competir no mercado.

    Vrios autores tratam da emergncia da Nova Economia edo papel essencial do conhecimento na sua configurao. Porexemplo, Drucker (1994) afirma que o conhecimento tornou-se ofator decisivo de produo, coexistindo, com fatores clssicoscomo: trabalho, capital e terra, porm os suplantando.

    Por outro lado, Stewart (1998) caracteriza a era doconhecimento a partir de trs fatores decisivos, que so oconhecimento e os relacionamentos internos e os externos organizao, e no mais o capital em si. Trata-se de outro capital,simblico, com olhos para os recursos naturais, a mo-de-obra eos complexos processos de gesto. O apologtico Pierre Levy(1998) apresenta a nova era no contexto da ao integrada dasnaes, regies, empresas e indivduos. Ele apresenta ascondies para navegar no mundo das novas tecnologias e, assim,sobreviver nestas novas formas de interao. Neste contexto que aparece mais fortemente a necessidade da gesto doconhecimento, seja tcnico, cientfico, comunicacional ourelacional.

    Muito mais do que ativos imobilizados, como equipamentos,instalaes e terra, Quinn (1992) considera que so as capacidadesintelectuais e de servio que contam efetivamente para se atingirresultados econmicos e de produo nas empresas modernas.

    Passa-se a observar o conhecimento como substituto

    definitivo de outros recursos, alando-o condio de fonte depoder da mais alta qualidade e classificando-o como a chave paraa mudana de poder, o que explica por que a luta pelo seu controletem se intensificado no mundo inteiro nas ltimas dcadas. oconhecimento que d base economia da Terceira Ondapreconizada por Toffler(1994).

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    13/135

    14 Introduo Gesto do Conhecimento

    O r g a n i z a o c o m o S i s t e m a S o c i a lEnquanto a Era Industrial enxergava o ser humano como

    uma pea nas engrenagens que moviam o processo produtivo, aEra do Conhecimento se baseia no homem, valorizando-o semdeixar de vislumbrar a qualidade e a otimizao dos processos(ANSOFF, 1990). Ao contrrio do que se possa supor, no soapenas as indstrias de software, computao e biotecnologiaou as tecnologias de informao e a Internet que integram a novaeconomia, observam as pesquisas de Cavalcanti e Gomes (2003).

    A capacidade de inovar, criar produtos e explorar novosmercados, assim como outras novas fontes de vantagenscompetitivas, aplicadas seja s indstrias e manufaturas, seja aocomrcio e agricultura, que d os contornos da economiabaseada no conhecimento. O que ocorre na nova economia odeslocamento do eixo da riqueza e desenvolvimento de setoresindustriais tradicionais intensivos em mo-de-obra, matria-prima e capital para setores cujos produtos, processos eservios so intensivos em tecnologia e conhecimento.

    Os novos indicadores comprovam a participao doconhecimento na economia mundial. Dados de relatrio publicadopela Organizao para a Cooperao e o DesenvolvimentoEconmico (OCDE) mostram que mais de 50% do PIB dos pasesdesenvolvidos resultaram do conhecimento, indicando, ainda,

    aumento de sua contribuio na gerao de riqueza paraorganizaes, regies e pases. E isso cresceu exponencialmentenos ltimos anos.

    Este crescimento atingiu os acomodados processosorganizacionais e sacudiu antigas verdades e crenas, no mais

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    14/135

    15Introduo Gesto do Conhecimento

    aplicveis na realidade da era do conhecimento. Na gestocontempornea so os ativos intangveis, constitudos peloconhecimento, que triunfam. Passam a ser disputadas tambmas redes relacionais e, os fatores que agregam valor sorganizaes, apesar da complexidade e dificuldade demensurao devido sua intangibilidade (EDVINSON; MALONE,1998; STEWART, 1998; SVEIBY, 1998).

    Diferentemente da era industrial, as organizaes doconhecimento so constitudas basicamente de estruturas deideias, no de capital. Portanto, possuem ativos sustentados peloseu potencial de criar novas estruturas de conhecimento,baseadas na capacidade do seu pessoal, de tal forma que postosestratgicos no processo de gesto passaram a ter um valor detroca nunca antes pensado na relao capital-trabalho. Osprofissionais passaram a ser disputados como ativos decisivospara o sucesso das empresas. A sada e admisso de certos postospodem, inclusive, movimentar as bolsas de valores.

    Estas tendncias mudaram o prprio conceito de empresae introduziram novos valores simblicos, relacionados sferramentas e processos de gesto, que modificaram aconfigurao do emprego. Na era industrial, os termos maisrecorrentes eram: tarefa, operao, mtodo, tempo e movimento.Contemporaneamente, as propostas para obteno de vantagemcompetitiva caminham na direo da gesto de competncias(HAMEL; PRAHALAD, 1990) gesto do capital intelectual,(STEWART, 1998) e gesto do conhecimento (DAVENPORT;PRUSAK, 1998). Percebe-se, nessas proposies, a nfase naspessoas como ativo determinante do sucesso organizacional. Por

    isso mesmo, os administradores passam a ter nos recursoshumanos algo muito mais decisivo do que simples ferramentas,facilmente substituveis. Passam a encarar as pessoas comoestratgias gerenciais e, aos poucos, os antigos recursoshumanos (RHs) do lugar gesto de pessoas. Isso no sedeu por acaso, mas, por necessidade.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    15/135

    16 Introduo Gesto do Conhecimento

    No que diz respeito ao comportamento dos trabalhadores,sejam operrios ou executivos, as cobranas tambm aumentaramno sentido de valorizar a inovao, a criatividade, o original e oimaginativo, ao mesmo tempo em que se desvaloriza a repetio,a cpia e o automatismo.

    Mesmo antes de se descobrir que o conhecimento umavarivel decisiva no processo competitivo, autores como Drucker

    (1994), Toffler (1980) e Quinn (1992) j se referiam chegada deuma nova economia ou sociedade do conhecimento. Ou seja,antes que se constatasse que o conhecimento , de fato, um dosmais valiosos fatores de produo e competio.

    O que se descobriu que, nas organizaescontemporneas o conhecimento tem valor na medida em que possvel transform-lo em produtos e servios. O conhecimento visto como algo que agrega valor, medida que se envolve, emespecial por meio das redes de relacionamento, na vida dasorganizaes. Ele fator determinante para que as empresas e as

    pessoas enriqueam o patrimnio dos mais diferentes valores,dentre os quais o prprio conhecimento, capaz de se reproduzire manter as organizaes competitivas. No toa que existemhoje expertos, muito bem pagos, que so caadores de talentos.Talentos que identificam talentos, para que as empresas no osdeixem escapar para a concorrncia.

    Na gesto contempornea, so os ativos intangveisconstitudos pelo conhecimento e pelas redes relacionais, osfatores que agregam valor s organizaes (EDVINSON;MALONE, 1998; STEWART, 1998; SVEIBY, 1998). A formulao de

    estratgias baseada no conhecimento deve iniciar pelo que Sveiby(2001) chama de recurso intangvel primrio, que acompetncia das pessoas. As pessoas podem usar suacompetncia para criar valor em duas direes, transferindo econvertendo conhecimento no ambiente externo, ou internamente,nas suas organizaes.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    16/135

    17Introduo Gesto do Conhecimento

    As transferncias externas envolvem relacionamentosintangveis com os clientes e fornecedores, formando a base dareputao ou imagem da empresa. Alguns dessesrelacionamentos podem ser convertidos em propriedades legaiscomo marcas registradas e nomes comerciais. O valor dessesbens intangveis principalmente influenciado pela maneira comoa empresa soluciona os problemas de seus clientes. Astransferncias internas esto ligadas aos processos explcitos deadministrao, s redes internas, cultura organizacional e scompetncias dos indivduos.

    Organizaes privadas ou pblicas de qualquer setorencontram-se inseridas num contexto globalizado de intensacompetitividade em que a necessidade de credibilidade e uma boaimagem perante seus pblicos exige habilidades administrativase aprimoramento das ferramentas de gesto.

    Embora as organizaes privadas tenham dado o pontapinicial na adoo de estratgias para administrar o conhecimento

    organizacional, as entidades pblicas, diante das ameaas eoportunidades que as rodeiam, buscam novas formas de lidarcom as presses legtimas de uma sociedade cada vez maisexigente. Isso talvez tenha acontecido porque, se no inovarem,as empresas pblicas tendem a perder prestgio com uma maiorrapidez, j que difcil desaparecerem.

    A par da exigncia da sociedade para a melhor performancedas empresas pblicas, constata-se um constrangimentogeneralizado e a competio acirrada por recursos financeiros.Como conseqncia, essas instituies esto se aperfeioando

    no processo de gesto, suportado por modernas ferramentasadministrativas.

    O insumo bsico para esta mudana tem sido o uso intensivode ferramentas de gesto do conhecimento e das tecnologiasassociadas sua criao, compartilhamento e armazenamento.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    17/135

    18 Introduo Gesto do Conhecimento

    Os benefcios, para o setor governamental, da adoo deestratgias da gesto do conhecimento podem ser bastantesignificativos, principalmente para aquelas organizaes em que o fator humano que detm conhecimento de importncia crticae estratgica para o futuro da empresa. o caso de organizaesde Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao -PD&I, onde a estruturado conhecimento essencial.

    Empresas, denominadas de organizao de conhecimentointensivo, caracterizam-se por possuir na rea operacionalprofissionais altamente qualificados, que utilizam seusconhecimentos e relacionamentos para produzir soluestecnolgicas que atendam expectativas dos clientes. Essasempresas funcionam de formas semelhantes, quer pertenam aosetor pblico ou privado e apresentam quatro grandes categoriasde participantes: o profissional, o gerente, o pessoal de suporte eo lder. Cada uma dessas categorias, segundo Sveiby (1998),desempenha papel importante, mas os profissionais so osfuncionrios mais valiosos em uma organizao do conhecimento.Em princpio, a partir de sua qualificao, eles so capazes de

    criar novos conhecimentos pois, so os verdadeiros criadoresde receita e/ou responsveis pelo conceito e credibilidade daorganizao. As empresas investem intensadamente na suaqualificao e capacitao e, como consequncia, so disputadosno mercado.

    O desenvolvimento da carreira desses profissionais segueum padro de ciclo de vida. A manuteno da estrutura etriacorreta uma questo importante para qualquer empresa, masprincipalmente para empresas de conhecimento. Para evitar queos profissionais, como um todo, atinjam o pice, Sveiby (1998)

    recomenda a manuteno de um mixetrio.

    O desafio que se coloca para essas organizaes o dedesenvolver estratgias para conseguir que seus ativosintangveis, constitudos pelas competncias advindas dosconhecimentos tcitos e explcitos, dos relacionamentos e a da

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    18/135

    19Introduo Gesto do Conhecimento

    experincia dos seus especialistas, continuem disponveis organizao aps suas aposentadorias.

    Neste sentido, a identificao dos fatores crticos desucesso e o estabelecimento de estratgias para reteno dascompetncias organizacionais se revestem de considervelrelevncia acadmica e prtica.

    At iv os In ta ng v e isRecentemente, a gesto do conhecimento se tornou assunto

    dominante na literatura organizacional. As comunidadesadministrativa e acadmica acreditam que, por meio dogerenciamento do conhecimento, as organizaes podem obtervantagens competitivas. A gesto do conhecimento, como umadisciplina emergente, apropria-se de conceitos, modelos, mtodose tcnicas desenvolvidos por outras disciplinas para formar as

    suas bases terico-metodolgicas. Esta interrelao comdiferentes disciplinas fica evidente quando nos aprofundamosnesta nova rea do conhecimento.

    Assim, a prtica da gesto do conhecimento tem sidoprofundamente influenciada pelo avano da nossa habilidade deprocessar informao e de comunicar, por meio de diferentesaparatos e tecnologias. O desafio se constitui em desenvolveruma abordagem coerente, ordenada, abrangente, sistmica esistemtica de gesto do conhecimento, a qual considere aconstante influncia recproca entre a estratgia da organizao,

    valores, capital humano e a infraestrutura de tecnologia deinformao, afirmam Terra e Angeloni (2003).

    A gesto do conhecimento , antes de tudo, oreconhecimento de que a informao e o conhecimento so ativoscorporativos valiosos, que precisam ser devidamente

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    19/135

    20 Introduo Gesto do Conhecimento

    compreendidos e gerenciados por meio de ferramentasapropriadas. Assim como a era industrial desenvolveu ferramentasgerenciais adequadas ao contexto da poca, novas ferramentasprecisam ser desenvolvidas para atender s peculiaridades dosativos da era do conhecimento. Afinal, como diz SVEIBY (1998), agesto do conhecimento a arte de criar valor alavancando osativos intangveis.

    Para um entendimento mais simples, Antunes (2000) defineativos diferenciando-os entre ativos tangveis e ativos intangveis,chamando de tangveis aqueles que tem existncia fsica e deintangveis segundos os que no possuem existncia fsica.

    Do ponto de vista monetrio, Sveiby (1998), Kaplan e Norton(1997) referem-se aos ativos intangveis como aqueles valores queaparecem de forma indireta no mercado, que a diferena entreo valor contbil e o valor de mercado efetivamente pago. Porexemplo, quando uma empresa nasce, ela j possui um certo valoragregado que seria o preo da organizao do negcio. Quandoela comea a interagir com o mercado, explica Requio (1998),conquistando clientes, divulgando sua marca, selecionando etreinando seu pessoal, investindo em P&D, entre outrosinvestimentos, alm de aumentar seu patrimnio tangvel, elapassa a adquirir cada vez mais ativos intangveis.

    Os ativos intangveis podem ser percebidos, tambm, comoaqueles que no possuem existncia fsica mas, assim mesmo,representam valor para a empresa. So tipicamente de longo prazoe de difcil avaliao. Edvinson e Malone (1998) utilizam a metforada rvore para melhor esclarecer os conceitos de ativos tangveise intangveis. Expressam que a parte area da rvore representaos ativos tangveis, pois visvel e possvel de se avaliar suaestrutura, sade, robustez e produo. Normalmente, nasorganizaes, estes aspectos so relatados pela contabilidade eevidenciados no balano patrimonial. Os ativos intangveisestariam representados pelas razes, parte subterrnea, novisvel, e cujas condies em que se encontram (solo, umidade,

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    20/135

    21Introduo Gesto do Conhecimento

    doenas etc.) so potencialmente favorveis ou desfavorveis,mas que, no entanto, no aparecem na contabilidade ou no balanopatrimonial.

    A riqueza das empresas formada por um conjunto muitoamplo de ativos, que Smith (2000) define como:

    a) monetrios: dinheiro, investimentos de curto prazo,

    contas a receber, estoques, matria-prima e produtos acabados,dentre outros;

    b) tangveis: terrenos, prdios (incluindo reformas),

    mquinas, equipamentos, laboratrios, veculos, dentre outros;e

    c) intangveis: direitos (acordos de distribuio earmazenagem, contratos com empregados e de servios, licenasganhas em licitaes), relacionamentos (distribuidores,empregados, clientes), propriedade intelectual (patentes, marcas,

    copyrights, softwares, slogans, vinhetas, trilhas sonoras).

    Assim, possvel pensar numa estrutura conceitual para oconhecimento humano nas organizaes. Stewart (1998) mostracomo tirar proveito desse conhecimento, que representa hoje oprincipal ativo, em lugar dos ativos financeiros, equipamentos erecursos naturais, como acontecia no modelo de empresa dasociedade industrial, em que o valor maior estava no fazer, fabricar,construir.

    A partir da categorizao do que seriam os ativos intangveis

    de uma organizao e da descrio da estrutura conceitual daorganizao do conhecimento da qual tais ativos fazem parte,podem ser estabelecidos critrios para sua mensurao. Os ativosintangveis, como visto anteriormente, podem ser categorizadosem: competncia dos funcionrios, estrutura interna e estruturaexterna (Sveiby,1998).

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    21/135

    22 Introduo Gesto do Conhecimento

    As empresas da era da informao investigam e gerenciamseus ativos intelectuais paralelamente a seus ativos financeiros,integrando-os a processos de negcios baseados no cliente,buscando inovao, flexibilidade, qualidade, melhoria de produtos,servios e processos que nascero da reciclagem de funcionrios,pelo uso adequado das tecnologias da informao e por meio deprocedimentos organizacionais e investimentos nas capacidadese competncias que produziro valor futuro.

    Sintetizando, os tradicionais ativos tangveis possuem valorde mercado expresso no balano patrimonial. So visveis, taiscomo recursos financeiros em espcie, contas a receber,computadores, espao fsico, ao passo que os chamados ativosintangveis no so visveis, mas perceptveis pelo mercado, comoa estrutura interna, da qual fazem parte as patentes, os conceitos,os modelos, os sistemas administrativos, os sistemas decomputadores e a estrutura externa, composta das relaes comclientes e fornecedores, tais como marcas, marcas registradas ea reputao ou a imagem da empresa. A competncia dofuncionrio envolve a capacidade de agir em diferentes situaespara criar tanto ativos tangveis como ativos intangveis.

    O que deve ficar claro que mais do que contribuir para avalorizao total da empresa, o conhecimento base de suaestrutura interna e externa, junto com os dois outros ativosintangveis, os clientes e fornecedores.

    Terra e Angeloni (2003) fazem uma reviso das principaisideias sobre Gesto do Conhecimento e constatam que osmodelos e perspectivas incluem os seguintes aspectos estruturais

    e prescritivos:a) tempo:o conhecimento no visto como um depsito,

    mas como um processo dinmico;

    b) tipos, formas: o conhecimento apresentado sobdiversas classificaes;

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    22/135

    23Introduo Gesto do Conhecimento

    c) espao social:a maioria dos autores reconhece que osnicos detentores do conhecimento so as pessoas, mas oconhecimento s se torna relevante no espao social ou na ao;

    d) contexto: a maioria dos autores concorda que fora docontexto no h significado;

    e) transformao e dinmica:a natureza prtica e prescritivada definio de conhecimento inclui conceito e prticas como:

    socializao, externalizao, combinao, internalizao,inventrio, auditagem, codificao, articulao, dilogo e reflexo;

    f) transporte e meio:este tema se refere infraestrutura dosprocessos dinmicos e transformadores, destacando os mtodose o como da gesto do conhecimento; e

    g) cultura do conhecimento: muitos autores enfatizam osaspectos de aprendizado e o impacto de diferentes culturas.

    Assim, as trs famlias de ativos intangveis, conformeFigura 1 , so compostas e definidas como:

    a) estrutura externa:que diz respeito ao cliente, relaescom fornecedores e imagem da empresa;

    b) estrutura interna: inclui patentes, conceitos, modelos,programas de computadores e sistemas de administrao, queso parte da empresa, e a competncia dos funcionrios:refere-se sua capacidade de ao.

    A superao do paradigma da era industrial para o da erado conhecimento erradamente associada aquisio detecnologias. Para Stewart (1998), desenvolver a cultura diante doconhecimento exige compromisso dos nveis superiores e adisseminao dos conceitos pelas diferentes camadas daestrutura, para que, assim, ocorra uma aceitao generalizada. Oautor sentencia que, sem estes fatores, o suporte da tecnologiade informtica nada vale.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    23/135

    24 Introduo Gesto do Conhecimento

    Conhecimentoexplcito

    Competnciapessoal

    Conhecimentotcito

    ATIVOS INTANGVEIS

    Relacionamen-to externo

    ORGANIZAO DOCONHECIMENTO

    Relacionamentointerno

    Clientes

    Fornecedores

    Marca

    ImagemSistemas

    administrativos

    Patentes

    SistemacomputacionalCulturaorganizacional

    Habilidades

    Para autores como Davenport e Prusak (1998), os fatoresque levam ao sucesso dos projetos do conhecimento so: culturaorientada para o conhecimento, infraestrutura tcnica eorganizacional, apoio da alta gerncia, vinculao ao valoreconmico ou setorial, orientao para processos, clareza de

    viso e comunicao, e mltiplos canais para a transferncia doconhecimento.

    Entretanto, Giacometti (2003) afirma que, se por um lado osclientes compram valor, por outro, so os funcionrios ecolaboradores quem os criam. A satisfao do cliente estintimamente ligada satisfao do funcionrio que produz ou

    Figura 1. Ativos intangveis das organizaes do conhecimento.Fonte: Magnani (2004)

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    24/135

    25Introduo Gesto do Conhecimento

    presta o servio. O valor do capital humano est nas suashabilidades, competncias, conhecimento, experincia e atitudes.Cabe empresa otimizar este ativo recrutando, treinando,motivando e retendo os melhores trabalhadores.

    A n a t u r e z a d o c o n h e c i m e n t o n a g e s t o d oconhec imen toAspectos sobre a criao, natureza, converso,

    disseminao, transferncia e armazenamento do conhecimentotm sido amplamente discutidos na literatura contemporneasobre gesto estratgica do conhecimento nas organizaes.

    A temtica sobre converso e natureza do conhecimentoficou mais conhecida com a obra de Nonaka e Takeuchi (1997)sobre A Criao do Conhecimento na Empresa, na qualapresentam o modelo de converso do conhecimento, sua

    natureza e diviso em conhecimento tcito e explcito.Entretanto, nas obras de Polanyi Personal Knowledge(1958) eThe Tacit Dimension (1966) que se obtm a base terica sobre aorigem do conceito de conhecimento tcito, considerado, para agesto do conhecimento, como o mais importante.

    A epistemologia de Maturana e Varela (1997) coloca oconhecimento como um fenmeno biolgico, implicando que paraentender a cognio necessrio partir da compreenso danatureza da vida. Por meio do conceito de autopoiesis, estesautores se propem a repensar toda a histria do conhecimento,

    centrando-a na ideia da autonomia dos sistemas vivos comosistemas cognitivos.

    A epistemologia autopoitica leva a uma percepofundamentalmente diferente quando se analisa o processo de inputdo sistema. Este inputrefere-se somente a dados, de carter

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    25/135

    26 Introduo Gesto do Conhecimento

    privado, uma noo que se assemelha com o conceito de Polanyi(1983) de conhecimento pessoal. Os sistemas autopoiticossoao mesmo tempo abertos e fechados a dados. So fechados informao e ao conhecimento, que devem ser interpretadosdentro do sistema. Os sistemas autopoiticosso autorreferidose, dessa forma, o mundo no tido como objetivo e esttico. Omundo construdo dentro do prprio sistema, impossibilitando,assim, a representao da realidade. Uma organizao passa aser vista como um grupo de indivduos que criaram entre si umemergente quadro de referncia em comum.

    A sua idia principal da autopoesis garante que aquilo queo homem observa como lhe sendo exterior no nada alm doque ele mesmo . No h separao entre produtor e produto, aunidade autopoitica contm o ser e o fazer, como modoespecfico de organizao. Sinaliza que a cincia se baseia emdesejos e interesses do observador. Os desejos e as emoessubsidiam as formulaes das questes investigativas.

    Seguindo a mesma linha interpretativa, Polanyi (1983)defende o contedo do conhecimento tcito em um contextofilosfico, quando rompe com as dicotomias tradicionais entremente e corpo, razo e emoo, sujeito e objeto, conhecedor econhecido. Assim, a objetividade cientfica no se constitui nanica fonte de conhecimento. Tambm Nonaka e Takeuchi (1997)se apropriam do conceito de Polanyi (1983) e o expandem, aodesenvolverem o modelo de converso do conhecimento em umaestrutura terica, indicando as dimenses epistemolgica eontolgica da criao do conhecimento organizacional. Nonakae Takeuchi (1997) e Von Krogh; Ichijo e Nonaka (2001), definem oconhecimento como uma crena verdadeira justificada.

    Baseando-se em Polanyi (1983), Sveiby (1998, p. 44) defineconhecimento como uma capacidade de agir que pode ou noser consciente. A nfase da definio est no elemento ao: umacapacidade de agir somente poder ser vista na prtica. Cadaindivduo tem que recriar sua prpria capacidade de agir por

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    26/135

    27Introduo Gesto do Conhecimento

    meio da sua experincia uma viso que similar aoconstrutivismo.

    De acordo com Bhatt (2000), somente por meio dosignificado que a informao encontra vida e se transforma emconhecimento. Sem significado, conhecimento informao oudado. A distino entre informao e conhecimento depende daperspectiva do usurio.

    J para Marakas (1999, p. 264), o conhecimento dependente do contexto, porque o significado est relacionados condies, ou seja, o conhecimento um significado feito pelamente.

    A epistemologia cognitivista considera as organizaescomo sistemas abertos, os quais desenvolvem conhecimentoformulando representaes cada vez mais precisas do mundo.Nesse sentido, quanto mais dados e informaes as organizaespuderem acumular, mais precisa ser esta representao. Assim,

    a epistemologia cognitivista correlaciona conhecimento comdados e informaes.

    Para se ter ideia deste contexto, autores como Davenport ePrusak (1998, p. 6) definem conhecimento como um mistura fluidade experincia condensada, valores, informao contextual eintuio, que permite avaliar e incorporar novas experincias einformaes.

    Enquanto isso, Stewart (1998), Sveiby (1998), Davenport ePruzak (1998) tratam o conhecimento no contexto da organizaocomo intangveis importantes. So unnimes em dizer que omundo est no limiar de uma nova era, na qual o conhecimento reconhecido como o principal ativo das organizaes, sendo achave para se atingir uma vantagem competitiva sustentvel. Afonte de riqueza e de competitividade, que at ento estavafortemente caracterizada pelos bens tangveis, como capitalfinanceiro e estruturas fsicas, passa a ser o prprio

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    27/135

    28 Introduo Gesto do Conhecimento

    conhecimento. Essa a grande diferena que temos tentado, ato momento demonstrar.

    Observa-se um consenso, entre os diversos estudiosos, deque o conhecimento reside na cabea das pessoas, resultado daexperincia humana e de suas reflexes, baseadas em crenas eexperincias que so ao mesmo tempo, individuais e coletivas.

    Nesse sentido que as atividades cognitivas humanaspresentes no contexto organizacional podem transformar ovolume de informao em conhecimento. Ou seja, a combinaoentre o sentido de contexto, da memria pessoal e do processocognitivo define a compreenso e aplicabilidade de umadeterminada informao, transformando-a em conhecimento. Todainterpretao de informaes, portanto, est baseada naexperincia no contexto e contm nuances das emoes.

    Nuances que, para Sveiby (1998, p. 47), so decisivas, poisa informao e o conhecimento so diferentes, v-los como

    semelhantes ou sinnimos uma distoro de todo o conceitode gesto de ativos intangveis.

    Observa-se que a informao serve de conexo entre dadose conhecimento e, por isso, a conceituao destes termos importante para o estabelecimento dos limites das aes e dasexpectativas de seus resultados. Davenport (1998) prope umcomparativo das principais caractersticas de dados, informaoe conhecimento, que pode ser visualizado no Quadro 1 .

    Estes diferentes tipos de conceitos sugerem que a gesto

    do conhecimento deve saber distinguir o que estratgico, emtermos de desenvolvimento de suas competnciasorganizacionais, para formalizar a base da memria dasorganizaes de conhecimento. Davenport e Prusak (1998)afirmam que dados so transformados em informao por meiode:

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    28/135

    29Introduo Gesto do Conhecimento

    a) contextualizao: sabe-se qual a finalidade dos dadoscoletados;

    b) categorizao: conhecem-se as unidades de anlise oucomponentes essenciais dos dados;

    c) clculo:os dados podem ser analisados matematicamente

    ou estatisticamente;

    d) correo:os erros so eliminados dos dados; e

    e) condensao:os dados podem ser resumidos para umaforma mais concisa.

    Fonte: Davenport (1998).

    Dados Informao ConhecimentoSimples informao sobre o

    estado do mundo

    Dados dotados de relevncia e

    propsito

    Informao valiosa da mente

    humana

    Facilmente estruturado Requer unidade de anlise Inclui reflexo, sntese, contexto.

    Facilmente obtido por mquinas Exige consenso em relao ao

    significado

    Difcil de estruturao

    Frequentemente quantificado Exige necessariamente a

    mediao humana

    De difcil captura em mquina

    Facilmente transfervel De difcil transferncia

    Frequentemente tcito

    Quadro 1. Diferenas entre dados, informao e conhecimento.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    29/135

    30 Introduo Gesto do Conhecimento

    Como se pode observar, o valor no est na informaoarmazenada, mas na criao do conhecimento de que ela podefazer parte, e que, para tanto, h necessidade de investimentopesado. Nesse sentido, Sveiby (1998) pensa que a soluo adotaruma noo radical de informao, j que ela desprovida designificado vale pouco.

    O conhecimento individual necessrio para o

    desenvolvimento da base do conhecimento organizacional,entretanto, o conhecimento organizacional no a simples somados conhecimentos individuais (BHATT, 2001).

    O conhecimento organizacional se forma por meio de umpadro nico de interaes entre tecnologias, tcnicas e pessoas,as quais no podem ser imitadas por outras organizaes, porqueestas interaes so exclusivas, resultantes da histria e culturada organizao. Entretanto, s mais recentemente, em funo dodesenvolvimento tecnolgico, do fenmeno da globalizao e dafranca concorrncia entre as organizaes, o conhecimentopassou a ser considerado o principal ativo intangvel e um dosmais importantes elementos estratgicos para o aumento dosnveis de competitividade de uma empresa.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    30/135

    Captulo II

    As organizaes do conhecimentoAs organizaes do conhecimento so constitudas

    basicamente de estruturas de conhecimento, no de capital.Portanto, tem o potencial de criar novas estruturas deconhecimento, baseadas em seu pessoal (KAPLAN & NORTON,1997).

    As organizaes do conhecimento podem ser caracterizadascomo aquelas que possuem a maioria dos funcionrios compostade profissionais qualificados e com alto nvel de escolaridade(ALVESSON, 2004). Os trabalhadores do conhecimento so ativosintangveis mais valorados do que os tangveis, estruturasexternas baseadas mais em fluxos de conhecimento geradospelos ativos intangveis do que pelos fluxos financeiros (SVEIBY,1998).

    Assim, nas organizaes de conhecimento, o saber umestoque de competncias, no um fluxo de informaes. Algumasatividades, nessas organizaes, concentram conhecimentoextensivo sem processar grande quantidade de informaescorrentes gerenciamento, consultoria, pesquisa edesenvolvimento, por exemplo. Uma empresa pode, entretanto,processar muita informao sem usar conhecimento (STARBUCK,

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    31/135

    32 Introduo Gesto do Conhecimento

    1992).

    As organizaes do conhecimento fazem uso intensivo dainformao. A tecnologia da informao utilizada incluiferramentas para trabalho em grupo, uma diversidade de meiosde comunicao, como correio eletrnico, intranet, redes internasde telefonia e de comunicao de dados, dentre outros.

    O modelo de gesto dessas empresas inclui,obrigatoriamente, um nmero reduzido de nveis hierrquicos eutiliza sempre, independentemente de seu organograma, otrabalho interfuncional (equipes, clulas, grupos de trabalho e desoluo de problemas). Em consequncia, o processo decisrio acentuadamente participativo, visando a facilitar a coleta, aassimilao e o aproveitamento do conhecimento (SERAFIMFILHO, 1999).

    A empresa tradicional pode ser considerada um conjuntode ativos fsicos, adquiridos por capitalistas responsveis por sua

    manuteno e que contratam pessoas para oper-los. Numaempresa voltada para o conhecimento, seus principais ativos sointangveis e o principal deles o intelectual. Por extenso, otrabalhador , essencialmente, a fonte bsica da formao dosaber na organizao do conhecimento. Trata-se de umacomposio de sua competncia com o suporte da tecnologia dainformao, segundo Stewart (1998).

    O profissional do conhecimento analisa dados einformaes, comunica-se intensivamente com os demaiscomponentes de sua equipe, possui conhecimentos globais do

    negcio e especializao em sua rea de atuao. Deste modo,conduz sua especialidade ao encontro dos objetivos do negcio.

    Nas organizaes de conhecimento intensivo, o modeloburocrtico no prevalece, cedendo lugar para um modelo flexvel,onde os relacionamentos so valorizados. Nelas, o conhecimento

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    32/135

    33Introduo Gesto do Conhecimento

    profissional de gerentes, pesquisadores e consultores profundamente permeado por um processo comum desocializao, no qual estes profissionais e seus clientes criamsolues finais em conjunto.

    Quando uma empresa formada em grande parte porprofissionais qualificados que utilizam sua criatividade parasolucionar problemas complexos ou para produo de inovaes,

    essa empresa opera de uma forma especial, o que reflete as forasque influenciam e controlam a organizao. Essas empresasfuncionam de forma semelhante, quer pertenam ao setor pblicoou privado (Sveiby, 1998). Entretanto, mais comum encontrartal desempenho no ambiente privado, dada a concorrncia e aflexibilidade administrativa desses ambientes, o que no comumem empresas pblicas.

    Nessas empresas, tambm denominadas de organizaesde conhecimento intensivo, a luta pelo poder ocorre entrerepresentantes de duas tradies de conhecimento: a profissionale a organizacional. Dentro dessas estruturas, a organizaoemprega quatro grandes participantes: o profissional, o gerente,o pessoal de suporte e o lder, conforme Figura 2.

    O pessoal de suporte

    O lderO profissional

    O gerente

    Competncia

    profissional

    Competncia organizacional

    Figura 2. Categorias de pessoal nas organizaes de conhecimento.Fonte: Sveiby (1998).

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    33/135

    34 Introduo Gesto do Conhecimento

    Observe-se que cada uma dessas categorias apresentacaractersticas que podem ser agrupadas como a seguir:

    a) especialistasso os funcionrios mais valiosos em umaorganizao do conhecimento, pois so capazes de criarconhecimentos novos. So os verdadeiros geradores dereceita e responsveis pelo conceito e credibilidade daorganizao;

    b) especialistas no gostam de regras que limitem sualiberdade individual, trabalhos rotineiros e burocracia;

    c) especialistas admiram pessoas mais especializadas queeles e desprezam as pessoas orientadas para o poder;

    d) especialistas no facilitam a vida dos lderes;

    e) lderes normalmente so ex-especialistas;

    f) lderes so pessoas importantes em uma organizao doconhecimento, na qual quase sempre existe mais de um;

    g) lderes nas organizaes de conhecimento bem-sucedidasso pessoas competentes tanto do ponto de vista

    profissional quanto organizacional;h) o papel do gerente funcional rebaixado nas organizaes

    do conhecimento, o que constitui uma diferenafundamental entre a empresa tradicional do setor deproduo e a organizao do conhecimento;

    i) o papel do gerente de equipe ou gerente de projeto muitoimportante numa organizao do conhecimento.Normalmente, eles so especialistas e tendem a ver seupapel de liderana como uma tarefa auxiliar para sua funoprofissional; e

    j) o pessoal de suporte auxilia tanto os profissionais quantoos gerentes.

    O desenvolvimento da carreira de um profissional segue umpadro de ciclo de vida. Segundo Sveiby (1998), a manuteno daestrutura etria correta uma questo importante para qualquer

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    34/135

    35Introduo Gesto do Conhecimento

    empresa, mas, principalmente, para empresas de conhecimento.Como estratgia para evitar que os profissionais, como um todo,atinjam o pice, o autor recomenda a manuteno de um mixetrio.Esta perspectiva da organizao, de possuir um mixetrio, vemao encontro do objeto de pesquisa que deu origem a este livro ecoloca, de antemo, os limites de uma organizao que no adotaperspectiva de gesto do conhecimento entre os seus ativosintangveis.

    Gesto do conhecimento e gesto da informaoGrandes investimentos foram realizados nos anos 90 para

    que competncias individuais pudessem ser convertidas emrepositrios de dados. A ideia era que informaes armazenadasnesses repositrios seriam compartilhadas com toda aorganizao. De fato, os fabricantes de tais softwaresde bancode dados atingiram tamanho sucesso que muitos gerentesacreditam que tais abordagens se tratavam de fato degerenciamento de conhecimento.

    necessrio, porm, fazer a devida diferenciao. Terra eAngeloni (2003) alertam para uma srie de aspectos relacionadoss diferenas entre gesto do conhecimento e gesto deinformao e a sua implicao direta na criao da memriaorganizacional, a partir da identificao das competnciasorganizacionais.

    Ser preciso que os gestores das empresas compreendamque o conhecimento algo a ser aplicado imediatamente numadeterminada direo produtiva e, portanto, um ativo ou recurso.J a informao o dado, o elemento que se no estiver amparadonum projeto de ao, simplesmente no funciona. Infelizmenteisso no facilmente entendido, classificado, compartilhado emedido. Tudo porque o conhecimento algo intangvel, invisvele difcil de imitar. A ampliao da base do conhecimento no amesma coisa que a ampliao da base de informao.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    35/135

    36 Introduo Gesto do Conhecimento

    Outro motivo de confuso tem levado adoo de muitasprticas e novas tcnicas de gesto, principalmente aquelasoriginadas da indstria de software, o que tm aumentado aconfuso entre gesto do conhecimento e gesto dainformao.

    Em funo da importncia atual da gesto do conhecimento,tm proliferado interpretaes equivocadas, aparecendo todo tipo

    de literatura, trabalhos de pesquisa, ferramentas e sistemascomputacionais como solues mgicas para a gesto doconhecimento. Pode-se inferir que esta situao decorre daausncia explcita de demarcao didtica e epistmica do que gesto do conhecimento e gesto da informao.

    Uma definio limitada de gesto do conhecimento estnormalmente associada implantao de sistemas de gesto einformao. A diferenciao nem sempre explicitada entre gestodo conhecimento e gesto da informao comea pela tarefacomplexa de definir conhecimento.

    Neste sentido, a principal diferena entre gesto doconhecimento e gesto da informao o papel do ser humano,seja como criador, transmissor, conversor ou usurio. No casoda informao, estas mesmas funes podem ocorrer seminfluncia ou participao direta humana.

    Na gesto do conhecimento, a explicitao do conhecimentotcito gera controvrsias, entretanto, aceito que no processode explicitao do conhecimento tcito h perdas, seja de

    profundidade, de contexto ou de qualidade.

    Na gesto do conhecim ento, a perspectiva hum ana m uito

    mais relevante, enquanto o foco da gesto da informao a

    m anipulao de dados e inform aes apoiados pela tecnologia

    da computao e inform ao.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    36/135

    37Introduo Gesto do Conhecimento

    H, ento, uma relao direta entre essas duas perspectivas,sendo preciso evidenciar a contribuio dos sistemas de gestode informao como suportes para a gesto do conhecimento. Agesto do conhecimento como uma disciplina emergente,segundo Syed (1997), depende da contribuio terica emetodolgica, alm da disciplinadora cincia da computao einformao, e tambm da psicologia, sociologia, administraoetc.

    Neste sentido, a gesto do conhecimento das organizaesviabiliza-se por meio da conjugao de um ferramental terico-metodolgico de outras disciplinas, o que ainda precisa seranalisado e demarcado por meio de suas implicaes.

    Assim, h que se distinguir se as ferramentas existentes nomercado esto voltadas para gesto do conhecimento ou paragesto da informao. Deve-se avaliar isso quando umaorganizao do conhecimento inicia o processo de gesto doconhecimento de sua memria organizacional, com base nascompetncias organizacionais.

    Do mesmo modo que importante distinguir gesto doconhecimento de gesto da informao, torna-se evidente anecessidade de identificar se os projetos que as empresas estoiniciando para gerir seus ativos intangveis so de gesto doconhecimento ou da informao.

    Os projetos de gesto do conhecimento tm como foco aspessoas, os aspectos culturais e estruturais da organizao, bem

    como o ambiente para criao e compartilhamento deconhecimentos, conforme Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001.Constatam esses autores que a gesto do conhecimento no tratada implementao de sofisticados sistemas de tecnologia dainformao, mas de processos de capacitao para a produodo conhecimento.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    37/135

    38 Introduo Gesto do Conhecimento

    Os mais bem-sucedidos projetos organizacionais, focandoo conhecimento, atentam, portanto, para uma sinergia significativaentre os fatores humanos, organizacionais, tcnicos eestratgicos. Por isso mesmo, na gesto do conhecimentoorganizacional as ferramentas tecnolgicas constituem a parteimersa do iceberg, pois sozinhas nada podem. Assim, imprescindvel trabalhar tambm a cultura organizacional, a partesubmersa do iceberg, o segmento complexo, onde as relaesnem sempre so de causa e efeito. Trata-se de ambiente constitudobasicamente por pessoas e suas respectivas emoes, valores ecrenas. Trabalhar a cultura , de longe, portanto, o maior desafioe requer investimento e dedicao.

    Para Mendes (2003), na gesto do conhecimentoorganizacional no se deve pressupor que a tecnologia podesubstituir o conhecimento humano; entretanto, a ponta do iceberg,ou seja, a tecnologia, igualmente importante como ferramentalpara disseminar e disponibilizar conhecimento.

    Assim, projetos de gesto do conhecimento estoessencialmente dirigidos aplicao dos conhecimentos daspessoas em benefcio da organizao, seja no aperfeioamentoda estrutura interna, no desenvolvimento de inovaes ou norelacionamento com clientes. Alguns autores, como Terra e Gordon(2002), afirmam que o termo projeto de gesto do conhecimentosequer deveria ser usado como se pertencesse mesma categoriade um projeto de tecnologia de informao ou gesto deinformao. Para eles, projeto de gesto do conhecimento deveter uma viso holstica e orgnica da empresa e abrangerdiferentes iniciativas de outras reas como gesto da informaoe tambm recursos humanos, estrutura organizacional,

    comunicao, etc. Neste sentido, os projetos de gesto doconhecimento esto mais associados ao ato de gerir,compartilhando, que significa estar em contnuo andamento ereprocessamento.

    Existem, ainda, procedimentos questionveis em projetos

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    38/135

    39Introduo Gesto do Conhecimento

    de gesto do conhecimento, como a nfase em quantificar atmesmo as informaes menos significativas e a obsesso pelasferramentas de medida e pressupostos excessivamentegeneralizados, com vistas a controlar o conhecimento. Essesprocedimentos acabam por descaracterizar os projetos comosendo de gesto do conhecimento, criando falsas expectativas ebarreiras consecuo dos objetivos.

    Neste sentido, Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) chamam aateno sobre as armadilhas que o conceito de gesto doconhecimento envolve, tais como:

    a) armadilha 1 - a gesto do conhecimento depende deinformaes facilmente detectveis e quantificveis;

    b) armadilha 2 - a gesto do conhecimento se dedica fabricao de ferramentas; e

    c) armadilha 3 -a gesto do conhecimento depende de umexecutivo do conhecimento.

    Ou seja, projetos de gesto de informao so maisfacilmente identificveis, organizados e menos complexos. So,principalmente, relacionados com objetivos tcnicos.

    Ferramentas para a gesto do conhec imentoAs novas tecnologias permitem desenvolver processos de

    agregao de valor/inteligncia s relaes e informaes noprocesso de gesto de conhecimento. Entre outras tecnologias,a Internet uma das responsveis pelo alto desempenho de

    tecnologia da informao. Com o aumento da capacidade deprocessamento/transferncia de informao e dados, esto sendoutilizadas e desenvolvidas de forma ainda mais intensa asferramentas de comunicao baseadas em imagem, voz e vdeo.

    As tecnologias de informao e comunicao,

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    39/135

    40 Introduo Gesto do Conhecimento

    particularmente as que emergem do crescimento da Internet e daWorld Wide Web, da utilizao dos navegadores (browsers) e docomrcio eletrnico, tm facilitado o desenvolvimento de novastecnologias em razo da reduo significativa dos custos deterceirizao e do aumento da cooperao entre empresas. AInternet e o comrcio eletrnico tm criado um potencial para ocrescimento das inovaes, principalmente em funo das quedasde custo e do acesso a redes abertas (LEMOS, 2003). Isso porqueas principais caractersticas que definem o papel das tecnologiasde informao e comunicao (TIC) no processo de inovaodizem respeito ao papel-chave dessas tecnologias, poraumentarem a velocidade da inovao, reduzirem os ciclos deprodutos e servios, atuarem na difuso mais rpida doconhecimento codificado e influenciarem a transformao doconhecimento cientfico em uma atividade mais eficiente e melhorarticulada com as atividades empresariais.

    O processo atual de transformao tecnolgica expande-se exponencialmente em razo de sua capacidade de criar umainterface entre campos tecnolgicos diversos, mediante uma

    linguagem digital comum, na qual a informao gerada,armazenada, recuperada, processada e transmitida. Ou seja, ocerne da transformao da revoluo atual refere-se stecnologias da informao, processamento e comunicao.

    Vrios autores tm realizado a classificao e sistematizaode ferramentas de gesto do conhecimento. Dentre eles, Carvalho(2000), analisando o mercado, classificou as ferramentas degesto do conhecimento da seguinte forma:

    Fer r amentas bas eadas na In t r ane t

    A intranet o ambiente de trabalho adequado para ocompartilhamento de informaes dinmicas e interligadas.Davenport e Prusak (1998) consideram as tecnologias baseadasna webmuito intuitivas, pois lidam facilmente com representaesdo conhecimento. De acordo com os autores, o conhecimento de

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    40/135

    41Introduo Gesto do Conhecimento

    uma rea costuma estar relacionado com o conhecimento de outrarea, e a estrutura hipertexto das tecnologias baseadas na webfacilita a movimentao de um conhecimento para outro.

    Os sistemas baseados na Intranet privilegiam a informaointerna organizao. Dessa forma, a Intranet est se tornandoum importante veculo de comunicao interna entre a empresa eo funcionrio. Tradicionalmente, essa comunicao passiva, no

    sentido de que a informao est disponvel na Intranet e ousurio deve ir busc-la. A estrutura de hipertexto da Internetauxilia esse processo, pois a navegao atravs dos linkspodecriar uma nova organizao dos conceitos. A Intranet umaferramenta adequada para sistematizar o conhecimento explcitoque se encontra disperso entre os departamentos da empresa.De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), o processo decombinao definido como o processo de conectar diferentesreas de conhecimento explcito.

    G erenc i ament o E l e t rn i co de Document os ( G ED)Os sistemas de GED so repositrios de importantes

    documentos corporativos e atuam como armazns doconhecimento explcito. Davenport e Prusak (1998) caracterizamos sistemas de GED como repositrios de conhecimento explcitoestruturado. Em muitas empresas, o gerenciamento dedocumento pode ser uma iniciativa de Gesto do Conhecimento.

    Os sistemas de GED contribuem para a organizao daenorme quantidade de documentos gerados por atividades deescritrios. A manipulao de documentos faz parte da realidade

    empresarial e cada documento uma fonte no estruturada deinformao que pode ser perdida quando mal organizada. Deacordo com Benett (1997), os sistemas de GED permitem umarecuperao mais eficiente, melhor segurana e controle de versodos documentos. Muitas das caractersticas dos sistemas de GED,como catalogao e indexao, foram herdadas dos tradicionaissistemas de recuperao da informao, que so amplamente

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    41/135

    42 Introduo Gesto do Conhecimento

    estudados na Cincia da Informao.

    Quando as competncias organizacionais encontram demaneira rpida e facil os documentos de que precisam, elas socapazes de investir seu tempo em trabalho efetivo. Da mesmaforma, quando as pessoas confiam na exatido e atualidade dasfontes de informao disponveis, a tomada de deciso pode serfeita com maior segurana, evitando a verificao cruzada com

    outras fontes e a conferncia de informaes.

    Sistemas de GED lidam apenas com o conhecimentoexplcito. Nonaka e Takeuchi (1997) definem combinao como oprocesso de sistematizao de conceitos em um sistema deconhecimento. Essa reorganizao de conceitos pode produzirnovos conhecimentos. Para estes autores, documentos somaneiras eficientes de realizar o intercmbio de conhecimentoentre indivduos. Relacionar conhecimento explcito exatamenteo que um sistema de GED faz. Portanto, essa categoria de softwareoferece amplo suporte ao processo de combinao deconhecimento, isto , converso de conhecimento implcito paraexplcito.

    Gerenciamento de contedo um outro nome para ossistemas de GED. O gerenciamento de contedo enfatiza aadministrao do contedo, independente da mdia na qual odocumento est disponvel, como fax, correio eletrnico,formulrios HTML, relatrios de computador, papel, vdeo, udioou planilhas.

    O gerenciamento de documentos mal implementado

    ocasiona a perda, o encaminhamento errneo e a falta deatualizao de documentos. Isso pode resultar em gasto dedinheiro, decises incorretas, multas no caso de documentoslegais, conflitos internos e perda de oportunidades de negciosou de solues de problemas. Um eficiente gerenciamento dedocumentos pode gerar reduo de custos para a empresa, almde diminuir o tempo de busca dos documentos por parte dos

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    42/135

    43Introduo Gesto do Conhecimento

    profissionais que lidam diariamente com informao eatualizaes constantes.

    A competitividade do mercado tem feito com que asempresas busquem formas mais flexveis de organizar suasatividades. As atividades dirias das empresas se tornam cadavez mais interdependentes, exigindo ambientes para odesenvolvimento do trabalho em equipe. Em vez de organizaes

    formais com hierarquias fixas, muitas empresas estodescobrindo a produtividade oferecida por grupos de trabalhogeograficamente dispersos que cooperam na resoluo deproblemas, os groupware.

    O groupwareconsiste no software projetado para auxiliargrupos de pessoas, geralmente distantes fisicamente, mas quetrabalham em conjunto. O groupwarese prope a aumentar acooperao e a comunicao interpessoal. Ao contrrio do focoestritamente tcnico de outras tecnologias de computao, ogroupwareapresenta fortes dimenses sociais e organizacionais.

    Um sistema de groupwareproporciona a plataforma idealpara a criao de aplicaes de colaborao. Uma aplicao decolaborao uma aplicao que facilita o compartilhamento deinformaes e o trabalho conjunto em projetos. Por suacaracterstica de tornar o trabalho em grupo e a comunicaoentre usurios mais efetiva, estas aplicaes devem serexecutadas sobre uma rede de computadores para aproveitar ainfraestrutura existente de troca de mensagens. Entre asaplicaes de colaborao mais comuns, destacam-se correioeletrnico, grupos de discusso, correio de voz, videoconferncia,centrais de suporte e atendimento a clientes.

    Ao analisarem as ferramentas de gesto, Carvalho e Ferreira(2001) constataram uma forte concentrao do suporte datecnologia da informao (TI) nos processos de externalizao ecombinao. Alm disso, foi observado que a TI lida melhor como conhecimento explcito do que com o tcito. Portanto, a melhoria

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    43/135

    44 Introduo Gesto do Conhecimento

    do suporte aos processos ligados ao conhecimento tcitoconstitui um desafio para TI. Com relao ao lado humano, osautores concluram que o conhecimento no pode ser gerenciadocomo algo independente das pessoas que o criaram e que outilizaro.

    As ferramentas de anlise so tecnologias amplamentedefinidas, as quais permitem a captura, o gerenciamento e ocompartilhamento do conhecimento. Como qualquer ferramenta,elas so desenhadas para facilitar o trabalho e permitir a aplicaoeficiente das tarefas para as quais foram desenvolvidas. Dentreas mais utilizadas no atual ambiente de negcios esto workflow,Decision Support System (DSS), Data mining, Text mining, Datawarehousing, Customer Relationship Management (CRM) eBenchmarking, como pode ser observado a seguir.

    OWorkflow o processo pelo qual tarefas individuaisconvergem para completar uma transao um processo denegcio bem definido dentro de uma organizao. Ele consistena automao de procedimentos e fluxo de servios, no qual

    documentos, informaes ou tarefas so passadas de uma pessoapara outra atravs de uma via controlada por regras eprocedimentos.

    A proposta doDSS a de ser um sistema para auxiliar osexecutivos do nvel ttico das corporaes no acesso sinformaes crticas do negcio, de forma rpida e segura,agilizando as questes relacionadas gesto e tornando aempresa cada vez mais competitiva.

    O D a t a m i n i n g o processo de descobrir, de formaautomtica ou semiautomtica, o conhecimento que estescondido na grande quantidade de dados armazenados embancos de dados. H vrias tarefas de Data mining, sendo quecada tarefa pode ser considerada como um tipo de problema, noqual se busca por um determinado tipo de conhecimento. Aferramenta vai alm de uma simples consulta a um banco dedados, no sentido de que permite aos usurios explorar e inferir

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    44/135

    45Introduo Gesto do Conhecimento

    sobre informaes teis a partir dos dados, descobrindorelacionamentos escondidos.

    Outro processo o T e x t m i n i n g , que visa a extrairconhecimentos de grandes volumes de texto (KDT - KnowledgeDiscovery in Texts), no conhecidos e de mxima abrangncia,usando-os para apoiar tomadas de deciso e/ou sumarizar textos(documentos, artigos de jornais, etc.). Esta ferramenta permiteaos usurios explorar grandes conjuntos de texto e realizarexperincias, descobrindo relacionamentos no universo textual.

    A tarefa doData warehousing semelhante, mas consisteno processo de coleta, organizao e armazenamento deinformaes oriundas de bases de dados diferenciadas,disponibilizando-as adequadamente para outros processos deanlise. um banco de dados orientado por assuntos integrados,no voltil, porm, varivel com o tempo, que utiliza ferramentasdestinadas a automatizar a extrao, filtragem e carga dos dados,tendo sido criado para apoio deciso. A tecnologia de datawarehousing considerada, pelos autores consultados, como a

    evoluo natural do ambiente de apoio deciso. Sua crescenteutilizao pelas empresas est relacionada necessidade dodomnio de informaes estratgicas para garantir respostas eaes rpidas, assegurando a competitividade em um mercadoaltamente disputado e mutvel.

    O CRM um produto de softwarepelo qual a empresa podeconhecer o perfil de seu cliente e, a partir da, fazer um trabalhodirigido de fidelizao de clientes. Divide-se em duas frentes, aoperacional e a analtica. O CRM operacional feito pelo contatodireto da empresa com o cliente (Call Center, mala direta, Internet,

    entre outros tipos de canais). J o CRM analtico feito por meiodos dados contidos nas bases gerenciais da empresa (datawarehouse).

    Outro servio o Benchmarking, um processo de gestode melhoria contnua, que mede produtos, servios e prticastomando como referncia os lderes do segmento de negcio da

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    45/135

    46 Introduo Gesto do Conhecimento

    organizao em anlise.

    Tambm com relao Internet, Fiates (2001) avalioualgumas ferramentas disponveis ou compatveis com a redemundial de computadores, objetivando verificar a contribuiopara aprendizagem organizacional. A escolha da Internet sejustificou, segundo a autora, pelo seu potencial para auxiliar osprocessos de captao, armazenamento e compartilhamento de

    informaes.

    Para Fiates (2001), embora a Internet seja um campo frtilpara o desenvolvimento de aplicativos e ferramentas, antes de seindicar uma delas para uma organizao, necessrio conhecersuas caractersticas e seu potencial para atender os desafios daorganizao. Esta recomendao est fundamentada nosaspectos de estrutura, poder, relacionamento, culturaorganizacional e dificuldade de explicitar o conhecimento tcitoque, muitas vezes, impem limitaes transferncia deinformaes e conhecimento.

    A Internet mostra-se como uma alternativa interessante parao desenvolvimento de organizaes de conhecimento, no s pelopotencial que ela possui mas, tambm, por sua facilidade deacesso, sendo, assim, uma alternativa que serve para qualquertipo de organizao, independente do setor ou porte. Entretanto,muitas organizaes acreditam que, mantendo o foco no pessoal,na tecnologia ou nas tcnicas, vo conseguir administrar oconhecimento.

    No assim to temtico, pois a gesto do conhecimento

    deve ser vista como uma disciplina eminentementemultidisciplinar, a qual se apoia terica e metodologicamente emoutras cincias como administrao, comunicao, informao,cincias sociais e humanas (BARROSO e GOMES, 1999).

    Alm disso, para muitas empresas, o gerenciamento do

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    46/135

    47Introduo Gesto do Conhecimento

    conhecimento tornou-se uma questo de acesso a formasparticulares de conhecimento, especialmente dados einformaes, que so ocultadas eletronicamente ou arquivadasem lugares definidos. Verifica-se tambm que as prticas degerenciamento do conhecimento so equivalentes, em algunscasos, apenas a um exerccio de armazenamento de dados ouexplorao de dados, como diz Coulson-Thomas (1997).

    O foco exclusivo no pessoal, na tecnologia ou nas tcnicas,no tornar uma empresa ou instituio capacitada para mantersuas vantagens competitivas. Converso entre dados e informao perfeitamente manipulvel atravs da tecnologia de informao.A converso de informao em conhecimento , sim, executadapor meio de atos sociais. Bhatt (2001) acredita que a gesto doconhecimento mais bem aplicada pela otimizao de tecnologiae subsistemas sociais.

    Esta perspectiva reflete uma tendncia contempornea quese configura no desenvolvimento de ferramentas da era doconhecimento, as quais, diferentemente da era industrial, estorecebendo propostas de convergncia disciplinar e de conjugaode ferramentas para poderem suportar sistemas cognitivos etecnolgicos complexos.

    Porm, nem sempre os sistemas esto preparados para osnovos desafios, como referem Barros e Fiod Neto (2001), quefalam da inadequao dos sistemas tecnolgicos de informaoem relao ao suporte s tarefas cognitivas complexas na fasedo projeto conceitual. Tal inadequao se revela, principalmente,quando a elaborao dos sistemas tem por base uma abordagemcom foco na tecnologia, em que o projeto de sistemas orientadopelos avanos da tecnologia da informao e por modelos terico-tcnico-formais dentro da aplicao. As ferramentas de apoio notm como orientao as dificuldades encontradas pelos tcnicos,que resolvem problemas utilizando esses sistemas. Entre outrasdificuldades, os autores citam a limitao para a captura doconhecimento tcito em funo de sua natureza (POLANYI, 1983).

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    47/135

    48 Introduo Gesto do Conhecimento

    O primeiro passo para o desenvolvimento de novasferramentas de suporte deveria se concentrar nas tarefascognitivas complexas para que elas sejam orientadas para oproblema. Barros e Fiod Neto (2001) alertam que, para tarefascognitivas complexas, ferramentas isoladas no so suficientes,e propem a utilizao - conjugao - de mltiplas ferramentasconforme as necessidades especficas de cada fase do projeto.

    Na dimenso tecnolgica, a convergncia da tecnologia dascomunicaes e da informtica - telemtica - tem viabilizado odesenvolvimento de vrias ferramentas para suporte da gestoda informao, constituindo-se, assim, como tecnologiashabilitadoras da nova economia.

    Talvez por isso Terra e Angeloni (2003) tenham constatadoque todas as ferramentas listadas como sendo de gesto doconhecimento so exercitadas na esfera da gesto da informao.Dessa forma, torna-se difcil identificar quais procedimentos asorganizaes devem produzir para realizar a gesto doconhecimento. Tambm difcil saber se os sistemas e asferramentas existentes so realmente de gesto da informao,ou se podem ser reduzidas, to somente, gesto da informao.

    As c o m p e t n c i a s o r g a n i z a c i o n a i sA apropriao dessa expresso, tanto no mundo empresarial

    quanto no acadmico, tem sido marcada como uma das maiscontroversas da administrao contempornea (FLEURY et al.,2001). A questo das competncias tornou-se altamente relevantenas teorias organizacionais. Embora a literatura seja extensa no

    tratamento dos conceitos e classificao de competncias, noexiste um conceito nico nem consenso sobre a sua definio. Otermo competncia permite subsidiar a compreenso dasorganizaes da era do conhecimento. Segundo Hamel e Prahalad(1990), Zarifian (2001) e Fleury e Fleury (2001), a competnciaindividual necessria, mas no suficiente para a organizaoser competente. A competncia organizacional somente se

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    48/135

    49Introduo Gesto do Conhecimento

    efetivar se os indivduos estiverem predispostos a compartilharas suas competncias individuais essenciais, com ascompetncias de seu grupo de colaboradores.

    Outro aspecto a considerar que o conceito de competncia,como se verifica na literatura organizacional, incorporanecessariamente o conceito de conhecimento, esse associado aoutras caractersticas pessoais e/ou organizacionais. O conceito

    de competncia traz a ideia subjacente de resultado, como saberfazer, aplicar, agir, resolver, etc.

    A competncia trata da transformao de conhecimentos,aptides, habilidades, interesse e vontade para se obterresultados prticos. O conceito de competncia relaciona-seintimamente com as tarefas desempenhadas pelo indivduo e como conceito de qualificao.

    A qualificao um conceito que se relaciona aosrequisitos da posio ou ao cargo do indivduo ou, ainda, ao

    conhecimento acumulado pelo indivduo ao longo dos anos. Partedestes conhecimentos pode ser classificada e certificada pelosistema educacional. O conceito de competncia relaciona-se como conceito de qualificao, mas procura ser mais amplo, referindo-se capacidade de a pessoa ter iniciativas, ir alm das atividadesprescritas, ser capaz de compreender e dominar novas situaesno trabalho, ser responsvel e ser reconhecida por isto, comoressalta Zarifian (2001). Nesse sentido, esse autor estabelece umadefinio focada na transformao da atitude social do indivduoem sintonia com o trabalho e a organizao na qual est inserido.

    A competncia, portanto, no se restringe a um acervo deconhecimentos adquiridos pelo indivduo. Trata-se da capacidadedas pessoas em assumir suas ideias e, com habilidade ajustaresse conhecimento s diferentes situaes encontradas noambiente de trabalho. Como recompensa, sempre pode ocorrer oreconhecimento.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    49/135

    50 Introduo Gesto do Conhecimento

    A competncia no se limita aos conhecimentos adquiridospelo indivduo ao longo de sua vida e tampouco encontra-seencapsulada na tarefa que este indivduo desempenha. Fleury eFleury (2001) mostram que as competncias so semprecontextualizadas, visto que os conhecimentos e o know-hownoadquirem statusde competncia a no ser que sejam comunicadose trocados. A rede de conhecimentos em que se insere o indivduo fundamental para que a comunicao seja eficiente e gerecompetncia. Com relao ao mbito organizacional, os autoresconceituam competncia como sendo o saber responsvel queimplica agregao de valor econmico para a organizao e valorsocial para o indivduo, conforme ilustra a Figura 3.

    Indivduo

    ConhecimentosHabilidades

    Atitudes

    social

    Organizao

    econmico

    saber agirsaber mobilizarsaber transferirsaber aprender

    saber engajar-se

    ter viso estratgicaassumir responsabilidade

    Agregar Valor

    Figura 3. Competncias como fonte de valor para o indivduo e para aorganizao.Fonte: Fleury (2002)

    H outro conceito de competncia que se baseia em trsdimenses - conhecimentos, habilidades e atitudes -, englobandono s questes tcnicas, mas tambm a cognio e as atitudesrelacionadas ao trabalho, conforme F i gura 4 . Neste caso,

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    50/135

    51Introduo Gesto do Conhecimento

    Figura 4. Dimenses da competncia.Fonte: Adaptado de Durand (1998).

    CONHECIMENTO

    Tcnica Destreza Saber como

    HABILIDADE

    COMPETNCIA

    ATITUDE Interesse Determinao Querer fazer

    Informao Saber o que fazer Saber porque fazer

    competncia diz respeito ao conjunto de conhecimentos,habilidades e atitudes necessrias consecuo de determinadopropsito. Durand (1998) acrescenta, ainda, que odesenvolvimento de competncias ocorre por meio doaprendizado individual e coletivo, envolvendo as trs dimensesdo modelo, isto , pela assimilao de conhecimentos, pelaintegrao de habilidades e pela adoo de atitudes relevantespara um determinado contexto organizacional.

    A importncia atual do conceito de competncia configura-se no fato de que as normas ISO 9001, verso 2000, tratam daidentificao do perfil de competncia, definido como acapacidade demonstrada pela pessoa para contribuir com asatisfao do cliente e melhora contnua dos processos dequalidade e eficincia nas organizaes (INTERNATIONAL,2003).

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    51/135

    52 Introduo Gesto do Conhecimento

    A competncia temporal e relativa, segundo Teixeira (2002),e, como o conhecimento no pode ser transmitido formalmenteou processado pelo computador, pessoal, segundo Polanyi(1983) e transferida pela prtica, conforme Sveiby (1998).

    Os cinco elementos da competncia, mutuamentedependentes, de acordo com Sveiby (1998), so os seguintes:

    a) conhecimento explcito:envolve conhecimentos de fatos e adquirido principalmente pelo texto, quase sempre pelaeducao formal;

    b) habilidade:a arte de saber fazer habilidade que envolveuma proficincia prtica - fsica e mental - e adquiridasobretudo por treinamento e condicionamento;

    c) experincia: adquirida principalmente pela reflexo sobreos erros passados;

    d)julgamento de valor:so percepes do que o indivduoacredita estar certo; e

    e) relacionamento social:rede social formada pelas relaesdo indivduo com outros seres humanos dentro de umambiente e cultura transmitidos pela tradio.

    Em se tratando do conceito em nvel organizacional, refere-se competncia como um conjunto de conhecimentos,habilidades, tecnologias, sistemas fsicos e gerenciais inerentesa uma organizao. Hamel e Prahalad (1990) acreditam que avantagem competitiva deriva de capacidades profundamenteenraizadas que esto por trs dos produtos de uma empresa. Por

    meio de aprendizado coletivo a organizao desenvolvecompetncias essenciais - core competence- difceis de seremimitadas.

    Diferencia-se uma competncia essencial de uma habilidadeverificando o valor percebido pelos clientes. Competncias

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    52/135

    53Introduo Gesto do Conhecimento

    essenciais seriam aquelas decorrentes de um conjunto dehabilidades que permitem s empresas entregar um benefciofundamental aos seus clientes.

    As competncias organizacionais so formadas peloconjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias ecomportamentos que uma organizao possui e conseguemanifestar de forma integrada na sua atuao, provocandoimpacto no seu desempenho e resultados.

    As diferenas de performance das organizaes podem serjustificadas, segundo Duysters e Hagedoorn (1996), por variveisindependentes relacionadas estrutura organizacional, estratgia de negcios adotada e s competncias essenciais decada uma delas, isto , forma como as organizaes gerenciamseus capitais do conhecimento (capital estrutural, intelectual, derelacionamento e ambiental). As competncias essenciais, quesupostamente devem ter uma influncia positiva na performance

    das empresas, dependem das competncias tecnolgicas, dashabilidades tcnicas e do conhecimento desenvolvido pelasempresas.

    Desta forma, as empresas se veem obrigadas a mapear edesenvolver as competncias de seus colaboradores, captarpessoas necessrias s estratgias de negcio formulada e, ainda,adotar a remunerao por competncias, de forma a reter o valiosocapital intelectual desenvolvido na organizao.

    Uma formulao de estratgias baseada no conhecimentodeve iniciar pelo recurso intangvel primrio (SVEIBY, 2001c),que a competncia das pessoas. As pessoas podem usar suascompetncias para criar valor em duas direes, transferindo econvertendo conhecimento externa ou internamente a suas

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    53/135

    54 Introduo Gesto do Conhecimento

    organizaes. As transferncias externas envolvemrelacionamentos intangveis com os clientes e fornecedoresformando a base da reputao (imagem) da empresa. Algunsdesses relacionamentos podem ser convertidos em propriedadeslegais como marcas registradas e nomes comerciais.

    O valor desses bens intangveis principalmenteinfluenciado pela maneira como a empresa soluciona os

    problemas de seus clientes. As transferncias internas estoligadas aos processos explcitos de administrao, redes internas,cultura organizacional e competncias dos indivduos. A partirde Sveiby (1994), estes ativos foram reconceituados e includosem teorias e sistemas aplicados de medio por outros autores,como Edvinson e Malone (1998), Kaplan e Norton (1997).

    A definio de gesto do conhecimento proposta por Sveiby(1998, p. 44) diz que a gesto do conhecimento a arte de criarvalor alavancando os ativos intangveis. Esta definio sintetiza

    o contedo e a importncia da gesto do conhecimento.

    C lass i f i cao de competnc iasFleury et al. (2001) relatam que a expresso competncia

    tem sido, ao mesmo tempo, uma das mais empregadas e uma dasmais controvertidas no jargo da administrao contempornea.Sua apropriao no mundo empresarial, assim como no ambienteacadmico, tem sido marcada por diferentes conceitos edimenses.

    A classificao proposta por Resende (2000), no Quadro2 , bastante abrangente e refere-se competncia individual e competncia organizacional. Nelas esto todos os atributos,requisitos e fatores que podem ser includos no conceito maisamplo de competncia. Entretanto, a classificao no pode aindaser considerada completa.

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    54/135

    55Introduo Gesto do Conhecimento

    Quadro 2. Categorias diversas de competncias individuais.

    Fonte: Resende (2000)

    Competncias Descrio

    Tcnicas

    So de domnio de alguns especialistas. Exemplo: saber como dirigir carretasconforme o tipo de carga competncia especfica de motoristas de transportede carga.

    Intelectuais Relacionadas com aplicao de aptides mentais. Exemplos: ter presena deesprito; ter capacidade de percepo e discernimento das situaes.

    Cognitivas

    Competncia que um nicho de capacidade intelectual com domnio deconhecimento.

    Exemplos: saber lidar com conceitos e teorias; saber generalizaes; saberaplicar terminologia e elaborar classificaes.

    Relacionais Que envolvem habilidades prticas de relaes e interaes. Exemplos: saberrelacionar-se em diversos nveis; saber interagir com diferentes reas.

    Sociais e polt icas Que envolvem simultaneamente relaes e participaes em sociedade.Exemplos: saber manter relaes e convivncias com pessoas, grupos,associaes; saber exercer influncia em grupos sociais para objetivos deinteresses de associaes, comunidades e regies.

    Didticopedaggicas

    Voltadas para educao e ensino. Exemplos: saber ensinar e treinar obtendoresultado de aprendizagem; saber tornar interessante as apresentaes; saberplanejar aulas de acordo com preceitos pedaggicos.

    Metodolgicas

    Competncias na aplicao de tcnicas e meios de organizao de atividades etrabalhos.

    Exemplos: saber organizar o trabalho da equipe; saber definir roteiros e fluxosde servios; saber elaborar normas de procedimentos.

    De lideranas

    Que renem habilidades pessoais e conhecimentos de tcnicas de influenciar econduzir pessoas para diversos fins ou objetivos na vida profissional ou social.Exemplos: saber obter adeso para causas filantrpicas; saber organizar econduzir grupos comunitrios.

    Com relao s competncias empresariais eorganizacionais, aquelas que so, segundo Resende (2000),aplicadas a diferentes objetivos e formas de organizao e gestoempresarial, so classificadas como:

    a) core competencesou competncias essenciais -principaiscompetncia de gesto empresarial, comuns a todas as

    reas ou a um conjunto delas. Exemplos: competnciaestratgica, competncia logstica;

    b) competncias de gesto:so competncias especficas donvel gerencial, de reas ou atividades fins e de apoio dasempresas. Exemplos: competncia de gesto de pessoas;competncia de gesto da qualidade;

  • 8/4/2019 Embrapa Clima Temperado - Gesto do Conhecimento

    55/135

    56 Introduo Gesto do Conhecimento

    c) competncias gerenciais: so capacitaes maisespecficas da competncia de gesto, compreendendohabilidades pessoais e conhecimentos de tcnicas deadministrao ou gerenciamento, de aplicao emsituaes de direo, coordenao ou superviso.Exemplos: capacidade de conduzir reunies de trabalhosprodutivas, saber administrar, convergir aes pararesultados comuns; e

    d) competncias requeridas pelos cargos: so ascompetncias gerais e especficas requeridas aosocupantes dos diversos cargos da empresa. Exemplos:saber dimensionar peas (inspetores, tcnicos oumecnicos de manuteno), saber classificar documentoscontbeis (auxiliar de tesouraria).

    Como se observa, no se pode desprezar a dimenso detoda equipe no processo produtivo. Em funo disso Zarifian(1999) prope cinco diferentes competncias numa organizao:

    a) competncias sobre processos: os conhecimentos sobreo processo de trabalho;

    b) competncias tcnicas: conhecimentos especficos sobreo trabalho que deve ser realizado;

    c) competncias sobre a organizao: saber organizar osfluxos de trabalho;

    d) competncias de servio: aliar a competncia tcnica aoquestionamento sobre o impacto que determinado produtoou servio ter sobre o consumidor final; e

    e) competncias sociais: saber ser, incluindo atitudes quesustentam os comportamentos das pessoas. O autoridentifica trs domnios dessas competncias: autonomia,responsabilizao e comunicao.

    Alm dessas competncias, pode-se encontrar outras, comoas propostas por Nisembaum (2000), que classifica ascompetncias