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Carlos Biasotti Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência) 2014 São Paulo, Brasil

EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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Carlos Biasotti

Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência)

2014

São Paulo, Brasil

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O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo (nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em 14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de São Paulo; medalha “Prof. Dr. Antonio Chaves”, etc.

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Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência)

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Carlos Biasotti

Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência)

2014

São Paulo, Brasil

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Sumário

I. Prefácio................................................................11

II. Dedicatória...........................................................13

III. Arma de Fogo (Lei nº 9.437/97; Lei nº 10.826/03: Estatuto do Desarmamento): Ementas..................15

IV. Casos Especiais...................................................73

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Prefácio

Constitui crime a posse irregular de arma de fogo, reza o art. 16 do Estatuto do Desarmamento.

Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz consigo arma de fogo, pôs a mira o legislador num alto objetivo: proteger direitos fundamentais do homem, como a vida e a incolumidade pessoal, com antecipar a punição de fatos que, segundo a lição da experiência vulgar, “conduzem à lesão de bens de valor supremo” (1).

Tem foros de axioma a afirmação do abalizado jurista José Duarte: “O porte de arma é sempre, potencialmente, perigoso” (2).

(1) Cf. Damásio E. de Jesus, Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44; Editora Saraiva; São Paulo.

(2) Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294; Editora Forense; Rio de Janeiro.

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A dúvida, porém, acerca da relação entre a arma apreendida e seu verdadeiro dono ou possuidor, impede a condenação do réu pela prática do delito do art. 16 do Estatuto do Desarmamento.

Em verdade, para justificar o decreto absolutório basta a dúvida razoável, porque esta, como a pedra que tomba do rochedo e pode mudar o curso do rio, é apta a desviar da cabeça do réu o gládio inflamado da Justiça Penal.

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Dedicatória

Em preito às suas raras qualidades de Magistrado

— probo, culto e operoso —, dedico este livrinho ao

eminente Desembargador Damião Cogan, de cujos

processos, na colenda 5a. Câmara de Direito Criminal

do Tribunal de Justiça, tive a honra de ser, por largo

tempo, o Revisor.

Nas votações, por seu magnífico senso judicante,

acompanhava-o as mais das vezes, ou quase sempre.

(Acrescentava, é certo, “cum grano salis” e muito à

puridade, que divergir de Sua Excelência — jurista de

escol, demais de atirador exímio — arguia temeridade

e imprudência, pois na fumaça da pólvora seria eu,

sem falta, implacavelmente vencido).

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Escrevo-lhe aqui o nome com respeito e particular

estima, como preconizam as leis da amizade. Afinal,

um bom amigo, conforme aquilo de escritor de grosso

calibre, “um bom amigo vale mais do que uma carabina” (3).

O Autor

(3) João Guimarães Rosa, Noites do Sertão, 7a. ed., p. 34; Editora Nova Fronteira; Rio de Janeiro.

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Ementário Forense (Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de Justiça: http://www.tjsp.jus.br).

• Arma de Fogo

(Lei nº 9.437/97;

Lei nº 10.826/03: Estatuto do Desarmamento)

Voto nº 893

Recurso em Sentido Estrito nº 1.096.471/0

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (*)

– Equidade é aquilo que a razão nos dita ser justo (Corrêa Telles; apud Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, vol. II, p. 480).

– Não pode o regulamento, que está para a lei como o acessório em relação ao principal, exceder-lhe os limites; se o fizer, passa por inconstitucional e, pois, será írrito e nulo.

–“À função do Juiz nenhuma outra sobreleva. Decerto que lhe não cabe julgar a lei deixando de aplicá-la por amor de sua própria opinião pessoal” (Orosimbo Nonato, in Rev. Forense, vol. 87, p. 263).

– O art. 10 da Lei nº 9.437, de 20.2.97, entrou em vigor após seis meses de sua promulgação. Portanto, a partir de 20.8.97, quem for achado na posse de arma de fogo, ainda não registrada no órgão competente, incidirá nas sanções do referido dispositivo legal.

(*) Cf. Art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).

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Voto nº 1598

Apelação Criminal nº 1.151.939/3

Art. 10 da Lei nº 9.437/97

– Ainda que o porte de arma de fogo seja inerente ao policial militar, está condicionado à licença da autoridade e ao registro no órgão competente, sob pena de infração do art. 10 da Lei nº 9.437/97.

Voto nº 1629

Apelação Criminal nº 1.151.433/4

Art. 10 da Lei nº 9.437/97

– O testemunho de parentes é sempre suspeito, porque a voz da natureza, ainda que involuntariamente, sói empanar o clamor da verdade (cf. Mittermayer, Tratado da Prova em Matéria Criminal, 1871, t. II, p. 128; trad. Alberto Antônio Soares).

– Equipara-se a confissão do réu à própria coisa julgada: “Confessio habet vim rei judicatae” (Farinácio).

– Ainda que lhe não pertença a arma de fogo, incide o sujeito na sanção penal, se a possuir ou guardar nas circunstâncias do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

Voto nº 1819

Apelação Criminal nº 1.172.095/5

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– A dúvida acerca da relação entre a arma apreendida e seu verdadeiro dono ou possuidor impede a condenação pela prática do crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, pois a prova incontroversa da autoria é pressuposto lógico da sentença que julga procedente a denúncia.

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Voto nº 1888

Apelação Criminal nº 1.162.139/4

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 180, § 1º, do Cód. Penal

– Difícil que é perscrutar o dolo do agente nos casos de receptação, que isto importaria devassar-lhe a própria consciência, deve-se inferir de sua personalidade e das circunstâncias do fato delituoso.

– Comete o crime do art. 180, § 1º, do Código Penal o comerciante que adquire grande cópia de mercadorias, em circunstâncias que evidenciam tratar-se de coisas de origem ilícita.

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

Voto nº 1951

Apelação Criminal nº 1.167.935/9

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– Para justificar o decreto absolutório basta a dúvida razoável, pois que esta, como a pedra que tomba do rochedo e muda o curso do rio, é apta a desviar da cabeça do réu o gládio inflamado da Justiça Penal.

– Nos casos de roubo, se a vítima não reconhece com precisão o acusado, que nega tê-lo cometido, nem a Polícia apreende em seu poder objetos que o façam presumir autor do crime, grande é a probabilidade de erro de imputação. A absolvição, aqui, será argumento de prudência.

– É fora de questão a ilicitude de proceder do indivíduo que, sem licença da autoridade, traz à cintura, mesmo sob a alegação de que necessária à defesa pessoal, arma de fogo de capacidade vulnerante: proíbe-o expressamente a Lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

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Voto nº 2046

Apelação Criminal nº 1.183.111/0

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 art. 44, § 2º, do Cód. Penal

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– A recusa do Magistrado em substituir por multa a pena privativa de liberdade imposta a infrator do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (porte ilegal de arma de fogo) não viola o Direito Positivo nem encontra os princípios informativos da Política Criminal; ao invés, haverá casos em que esta será a melhor solução, como resposta à cruzada nacional em pró do desarmamento da sociedade civil.

Voto nº 2100

Apelação Criminal nº 1.187.681/5

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 70 do Cód. Penal

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– Ainda que lhe não pertença a arma de fogo, incide o sujeito na sanção penal, se a possuir ou guardar nas circunstâncias do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Salvo prova cabal em contrário, é presunção humana que as coisas existentes numa casa pertençam a seu dono: o acessório segue o principal.

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Voto nº 2216

Apelação Criminal nº 1.202.241/0

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– Ainda que a detenha em caráter efêmero e precário, incorre nas penas do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 aquele que é achado com arma de fogo; pois, ao empregar a voz deter, o legislador levou a mira em “evitar a circulação clandestina de armas que podem criar situações de risco ao bem jurídico tutelado: a incolumidade pública” (cf. Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 114).

– Ao aplicar a sanção penal, não haverá esquecer ao Magistrado medir os golpes da lei e proporcionar o castigo ao delito, para que atenda a seu fim último: remédio para a falta de adaptação social do infrator.

Voto nº 2218

Apelação Criminal nº 1.197.935/5

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– Ainda que tenha seu registro, incorre nas penas do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 aquele que é achado com arma de fogo; pois, ao empregar a voz transportar, o legislador levou a mira em “evitar a circulação clandestina de armas que podem criar situações de risco ao bem jurídico tutelado: a incolumidade pública” (cf. Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 114).

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Voto nº 2538

Apelação Criminal nº 1.215.525/1

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– A liberdade de requerer das partes “não deve degenerar em abuso por forma a paralisar a marcha do processo, com o propósito de retardar a administração da justiça ou tumultuar a ordem processual” (Bento de Faria, Código de Processo Penal, 1960, vol. II, p. 210).

– É fora de questão a ilicitude de proceder do indivíduo que, sem licença da autoridade, traz à cintura, mesmo sob a alegação de que necessária à defesa pessoal, arma de fogo de capacidade vulnerante: proíbe-o expressamente a Lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

Voto nº 2653

Apelação Criminal nº 1.223.385/7

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– A posse de arma de fogo em casa, sem registro e com potencialidade lesiva, configura o crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Para sua configuração, o delito do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 não exige perigo concreto, senão a mera potencialidade ofensiva da segurança física dos cidadãos, direito que a Const. Fed. consagra e tutela (art. 5º, “caput”).

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Voto nº 2860

Apelação Criminal nº 1.242.985/5

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– A alegação de que o réu trazia a arma de fogo sob o banco de seu veículo e, pois, sem condições de usá-la de pronto, não lhe exclui o crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, porque possuir (mesmo sem portar) já integra a figura típica.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

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Voto nº 3103

Apelação Criminal nº 1.252.819/5

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– O verbo ceder, na acepção de entregar ou transferir a outrem (a posse ou o domínio) de arma de fogo, sem autorização legal, integra o núcleo do tipo do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97. Incorre, portanto, nas penas da lei aquele que entrega sua arma de fogo a terceiro, para que lha guarde, ainda que por breve lapso de tempo.

– Para a configuração do crime definido e punido pelo art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, não é mister a existência de perigo concreto; basta o abstrato. Damásio E. de Jesus tem, ao propósito, lição abalizada: “A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bens de valor supremo” (Crimes de Porte de Arma de Fogo e Assemelhados, 2a. ed., p. 16).

Voto nº 3135

Apelação Criminal nº 1.256.519/2

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 44, nº III, do Cód. Penal

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– O sistema vicariante, ou das penas substitutivas, adotado pelo Código Penal, pressupõe, além dos requisitos objetivos, méritos pessoais do sentenciado (art. 44, nº III).

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Voto nº 3151

Apelação Criminal nº 1.259.103/8

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– O simples empréstimo de arma de fogo, sem autorização legal, tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, empresta arma de fogo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Incorre nas penas do art. 340 do Cód. Penal o sujeito que, sabendo-a falsa, dá notícia de furto à autoridade policial, encarecendo-lhe a adoção de urgentes providências.

Voto nº 3217

Apelação Criminal nº 1.259.649/8

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– É fora de questão a ilicitude de proceder do indivíduo que, sem licença da autoridade, traz à cintura, mesmo sob a alegação de que necessária à defesa pessoal, arma de fogo de capacidade vulnerante: proíbe-o expressamente a Lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

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Voto nº 3218

Apelação Criminal nº 1.266.699/3

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 563 do Cód. Proc. Penal

– Conforme a lição da Doutrina e da Jurisprudência, é o interrogatório ato personalíssimo do Juiz e do réu. A ausência de Defensor, por isso, não lhe importa nulidade, máxime se nenhuma prova houve de prejuízo (art. 563 do Cód. Proc. Penal).

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A alegação de ter sido jurado de morte não exclui de crime o agente, se possuía a arma sem autorização legal. A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “O porte de arma é, sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294).

Voto nº 3327

Apelação Criminal nº 1.266.961/1

Art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97

– Incorre nas penas do art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97 o sujeito que efetua disparo de arma de fogo em lugar habitado. O tipo não requer perigo concreto, ou real, pois se trata de crime de perigo abstrato.

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Voto nº 3381

Apelação Criminal nº 1.271.823/3

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– A posse de arma de fogo em casa, sem registro e com potencialidade lesiva, configura o crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Para sua configuração, o delito do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 não exige perigo concreto, senão a mera potencialidade ofensiva da segurança física dos cidadãos, direito que a Const. Fed. consagra e tutela (art. 5º, “caput”).

Voto nº 3728

Apelação Criminal nº 1.305.321/8

Art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97; arts. 147 e 150 do Cód. Penal; art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil

– Incorre nas penas da Lei nº 9.437/97 (art. 10, § 1º, nº III) quem efetua disparo de arma de fogo em lugar habitado, ainda que a deflagração seja para o alto (“ad astra”), pois se trata de “infração que prescinde de perigo concreto, real, à incolumidade pública” (Damásio E. de Jesus, Crimes de Porte de Arma de Fogo e Assemelhados, 1999, p. 61).

–“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum” (art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil).

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Voto nº 3632

Apelação Criminal nº 1.297.351/8

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 3º, § 1º, do Dec. nº 2.222, de 8.5.97

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A posse de arma de fogo em casa, sem registro e com potencialidade lesiva, configura o crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Para sua configuração, o delito do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 não exige perigo concreto, senão a mera potencialidade ofensiva da segurança física dos cidadãos, direito que a Const. Fed. consagra e tutela (art. 5º, “caput”).

– Armas obsoletas, para os efeitos legais, são aquelas “fabricadas há mais de cem anos, sem condições de funcionamento eficaz e cuja munição está fora do comércio”. No arsenal das armas centenárias (e, pois, obsoletas) compreendem-se, por força, os mosquetes, os bacamartes, os arcabuzes, etc. Não é desse número, portanto, e está sujeita à obrigatoriedade do registro, a prosaica espingarda de carregar pela boca, vulgarmente conhecida por “pica-pau”.

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Voto nº 3868

Apelação Criminal nº 1.304.761/9

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 19 da Lei das Contravenções Penais

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Armas obsoletas, para os efeitos legais, são aquelas “fabricadas há mais de cem anos, sem condições de funcionamento eficaz e cuja munição não mais seja de produção comercial” (art. 3º, § 1º, do Dec. nº 2.222, de 8.5.97). No arsenal das armas centenárias (e, pois, obsoletas) compreendem-se, por força, os mosquetes, os bacamartes, os arcabuzes, etc. Não é desse número, portanto, e está sujeita à obrigatoriedade do registro, a pistola grande ou garrucha.

– A teoria do crime único, aplicável à hipótese de o agente, sem licença da autoridade, exercer a posse ou o poder material sobre mais de uma arma de fogo não tem lugar, se possuir também arma branca, porque nesse caso incorrerá em sanções cominadas em regimes legais diversos (art. 10 da Lei nº 9.437/97 e art. 19 da Lei das Contravenções Penais).

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Voto nº 4288

Apelação Criminal nº 1.341.539/6

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 157, § 1º, do Cód. Penal; art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

– De tanta importância é a palavra da vítima, na apuração do fato criminoso, que, se lhe não demonstrar o réu que se equivocou ou tem interesse em prejudicá-lo, pode servir de base para sua condenação.

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “O porte de arma é, sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294).

– O regime prisional fechado é, pelo comum, o que mais convém à personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário à disciplina social. Mas, desde que primário e de bons antecedentes, não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios malefícios do regime recluso, deferir-lhe o benefício do semiaberto (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).

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Voto nº 4568

Apelação Criminal nº 1.344.743/9

Art. 10, § 1º, nº II, da Lei nº 9.437/97; arts. 157, § 2º, nº II, e 180, “caput”, do Cód. Penal

– A palavra da vítima passa por excelente meio de prova e autoriza decreto condenatório, se em conformidade com os outros elementos de convicção reunidos no processado.

– O reconhecimento de concurso material entre os crimes previstos no art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal e art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 — na hipótese em que, para a prática do roubo, a grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo —, repugna à dogmática jurídica, por ferir de frente o princípio da consunção: o delito mais grave absorve o menor (“major absorbet minorem”).

– No crime de receptação (art. 180, “caput”, do Cód. Penal), impossível que é desvendar os segredos da alma humana, somente as circunstâncias do fato revelarão se o agente obrou, ou não, com dolo; delas apenas é que se poderá inferir se lhe era do conhecimento a origem ilícita da coisa adquirida em proveito próprio.

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Voto nº 4669

Apelação Criminal nº 1.352.117/2

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97; art. 44 do Cód. Penal

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “O porte de arma é, sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294).

– É fora de questão a ilicitude de proceder do indivíduo que, sem licença da autoridade, traz à cintura, mesmo sob a alegação de que necessária à defesa pessoal, arma de fogo de capacidade vulnerante: proíbe-o expressamente a Lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

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Voto nº 4899

Apelação Criminal nº 1.359.235/0

Art. 10, “caput” da Lei nº 9.437/97

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– Ainda que lhe não pertença a arma de fogo, incide o sujeito na sanção penal, se a possuir ou guardar nas circunstâncias do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Salvo prova cabal em contrário, é presunção humana que as coisas existentes numa casa pertençam a seu dono: “o acessório segue o principal”.

Voto nº 5043

Mandado de Segurança nº 451.764/7

Art. 5º da Lei nº 1.533/51; art. 120 do Cód. Proc. Penal

– Em caráter excepcional, por evitar dano de difícil reparação, admite-se mandado de segurança contra decisão impugnável mediante recurso ordinário.

– O proprietário de arma apreendida em poder de terceiro, que a detenha sem o seu consentimento, pode reavê-la à autoridade, mediante a apresentação do certificado de registro e autorização do Sinarm (art. 120 do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 5206

Apelação Criminal nº 1.356.297/6

Arts. 157, “caput”, 14, nº II, e 71 do Cód. Penal

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris” destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques, Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).

– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e justo, o sonho da liberdade.

– O argumento da embriaguez não aproveita ao infrator, exceto se completa e involuntária. A embriaguez voluntária, dispõe a lei que não elide a responsabilidade criminal do agente, porque não lhe exclui a imputabilidade (art. 28, nº II, do Cód. Penal).

– Em face das circunstâncias de que o réu era primário, menor de 21 anos ao tempo dos fatos, autor de roubo sem emprego de arma e condenado a pena de curta duração, andou bem o Magistrado em deferir-lhe, como estímulo à reeducação para a vida em sociedade, o benefício da suspensão condicional da pena.

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Voto nº 5230

Recurso em Sentido Estrito nº 1.385.571/2

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 12, nº III, do Dec. nº 2.222/97; art. 41 do Cód. Proc. Penal

– Ainda que tenha permissão permanente para a posse e uso de arma de fogo (“imunidade funcional”), não pode o policial militar transferir-lhe a propriedade sem autorização do órgão competente (art. 12, nº III, do Dec. nº 2.222/97; art. 14 da Portaria PM4-002/1.2/97); se não, incorrerá nas penas da lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– A denúncia que descreve fato criminoso e indica seu autor oferece base legítima (“fumus boni juris”) para a persecução penal em Juízo.

Voto nº 6015

“Habeas Corpus” nº 476.663-3/0-00

Arts. 16, nº IV, e 21 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal; art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– À luz da nova ordem constitucional instaurada no País, a regra geral é que se defenda o réu em liberdade. Consectário do princípio do estado de inocência (art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.), só por exceção deve o acusado responder preso ao processo.

– Flagrantemente inconstitucional o art. 21 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), não há denegar liberdade provisória ao infrator de seu art. 16 (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), se presentes os requisitos do art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal.

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Voto nº 6043

Apelação Criminal nº 406.182-3/0-00

Art. 10, § 3º, nº IV, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 44, § 3º, e 59 do Cód. Penal; art. 202 do Cód. Proc. Penal

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “O porte de arma é, sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294).

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Voto nº 6101

Apelação Criminal nº 319.554-3/0-00

Art. 10, § 3º, nº IV, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo)

– A dúvida acerca da relação entre a arma apreendida e seu verdadeiro dono ou possuidor impede a condenação pela prática do crime do art. 10, da Lei nº 9.437/97, pois a prova incontroversa da autoria é pressuposto lógico da sentença que julga procedente a denúncia.

– Para justificar o decreto absolutório basta a dúvida razoável, porque esta, como a pedra que tomba do rochedo e muda o curso do rio, é apta a desviar da cabeça do réu o gládio inflamado da Justiça Penal.

Voto nº 6952

Mandado de Segurança nº 910.734-3/0-00

Art. 14 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); Medida Provisória nº 229, de 17.12.2004; Medida Provisória nº 253, de 22.6.2005; art. 147 do Cód. Penal

– Em caráter excepcional, por evitar dano de difícil reparação, admite-se mandado de segurança contra decisão impugnável mediante recurso ordinário.

– Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança, 1957, p. 123).

– Poderá o juiz ordenar a restituição de coisa apreendida, se não existir “dúvida quanto ao direito do reclamante” (art. 120 do Cód. Proc. Penal).

– Não tem direito à restituição de arma de fogo apreendida o Delegado de Polícia aposentado que não prova ser-lhe o legítimo dono, como requer a lei (art. 120 do Cód. Proc. Penal), porque propriedade da Segurança Pública do Estado.

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Voto nº 6134

“Habeas Corpus” nº 496.261-3/5-00

Art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); Medida Provisória nº 229/04; Medida Provisória nº 253/05

– Remédio processual específico para a tutela das garantias e direitos fundamentais do indivíduo, é o “habeas corpus” instrumento idôneo para o exame da existência de justa causa para ação penal. Por seu rito sumário, entretanto, somente enseja o trancamento de inquérito ou ação penal quando salte aos olhos, desde logo, a atipicidade do fato arguido de criminoso ou a inocência do acusado (art. 647 do Cód. Proc. Penal).

– A apuração da responsabilidade criminal do réu é própria da instância penal do contraditório; transferi-la para a via heróica do “habeas corpus” seria decidir questão de mérito, atribuição privativa do Juízo da causa.

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (art. 14 da Lei nº 10.826/2003).

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Voto nº 6160

“Habeas Corpus” nº 843.550-3/8-00

Art. 14 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal; art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– À luz da nova ordem constitucional instaurada no País, a regra geral é que se defenda o réu em liberdade. Consectário do princípio do estado de inocência (art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.), só por exceção deve o acusado responder preso ao processo.

– Não há denegar liberdade provisória ao infrator de seu art. 14 da Lei nº 10.826/03 (porte ilegal de arma de fogo) se presentes os requisitos do art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal.

Voto nº 6177

“Habeas Corpus” nº 846.200-3/3-00

Arts. 16, parág. único, e 121 da Lei nº 10.826/03; art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal; art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– À luz da nova ordem constitucional instaurada no País, a regra geral é que se defenda o réu em liberdade. Consectário do princípio do estado de inocência (art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.), só por exceção deve o acusado responder preso ao processo.

– Flagrantemente inconstitucional o art. 21 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), não há denegar liberdade provisória ao infrator de seu art. 16 (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), se presentes os requisitos do art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal.

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Voto nº 6244

Recurso em Sentido Estrito nº 355.464-3/2-00

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal; art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– Nos Tribunais predomina hoje a inteligência de que, se ausentes os requisitos que lhe justificam a decretação da prisão preventiva, tem o réu o direito de defender-se em liberdade (art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal).

– A justiça, ao conceder liberdade provisória a réu acusado de porte ilegal de arma de fogo, não está subestimando a necessidade da repressão da delinquência nem fazendo tábua rasa do direito positivo, mas olhando ao intuito mesmo da lei, que reserva o “carcer ad custodiam” para aquelas hipóteses em que, extrema sua periculosidade e extraordinária a gravidade do delito que lhe é imputado, deva o réu manter-se apartado do convívio social.

– Todo ato criminoso é passível de repúdio, mas cumpre atender também ao preceito do art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

– Não há “perder de vista a presunção de inocência, comum a todos os réus, enquanto não liquidada a prova e reconhecido o delito” (Rui, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 42).

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Voto nº 6741

“Habeas Corpus” no 904.287-3/0-00

Art. 14 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); Medida Provisória nº 229, de 17.12.2004; Medida Provisória nº 253, de 22.6.2005; art. 147 do Cód. Penal

– Remédio processual específico à tutela das garantias e direitos fundamentais do indivíduo, é o “habeas corpus” instrumento idôneo para o exame da existência de justa causa para a ação penal. Por seu rito sumário, entretanto, somente enseja o trancamento de inquérito ou ação penal quando salte aos olhos, desde logo, a atipicidade do fato arguido de criminoso ou a inocência do acusado (art. 647 do Cód. Proc. Penal).

– A apuração da responsabilidade criminal do réu é própria da instância penal do contraditório; transferi-la para a via heroica do “habeas corpus” seria decidir questão de mérito, atribuição privativa do Juízo da causa.

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (art. 14 da Lei nº 10.826/2003).

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Voto nº 8530

Apelação Criminal nº 1.033.688-3/8-00

Arts. 12, “caput”, e 16, ns. III e IV, da Lei nº 10.826/03; art. 351 do Cód. Penal; art. 303 do Cód. Proc. Penal; art. 144 da Const. Fed.

– É superior a toda crítica a decisão que, firme em prova oral idônea, decreta a condenação do réu.

– A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 12, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

Voto nº 8941

Apelação Criminal nº 444.948-3/5-00

Art. 10, § 3º, nº IV, da Lei nº 9.437/97; art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– A dúvida acerca da relação entre a arma apreendida e seu verdadeiro dono ou possuidor impede a condenação pela prática do crime do art. 10 da Lei nº 9.437/97, pois a prova incontroversa da autoria é pressuposto lógico da sentença que julga procedente a denúncia.

– Para justificar o decreto absolutório basta a dúvida razoável, porque esta, como a pedra que tomba do rochedo e muda o curso do rio, é apta a desviar da cabeça do réu o gládio inflamado da Justiça Penal.

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Voto nº 8929

Recurso em Sentido Estrito nº 922.609-3/3-00

Arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/2003; arts. 41, nº I, e 43, nº I, do Cód. Proc. Penal

– A falta de apresentação de contrarrazões ao recurso da Justiça Pública não implica injúria do Direito, se não recebida ainda a denúncia. É que, até aí, não houve instauração da instância penal, e só esta obriga ao contraditório e à ampla defesa.

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/2003).

– Ainda que simples infortúnio, o recebimento de denúncia que não atende aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque, atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos imensos, muita vez irreparáveis (art. 41, nº I, do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 8981

Apelação Criminal nº 484.665-3/6-00

Art. 10, § 3º, nº III, da Lei nº 9.437/97 (Estatuto do Desarmamento); arts. 20, 21 e 107, nº IV, do Cód. Penal; art. 61 do Cód. Proc. Penal

– Feita em Juízo, tem a confissão do réu valor absoluto, porque estreme

de eventuais defeitos que a podiam viciar, como a coação moral. Rainha das provas (“regina probationum”) chamavam-lhe os velhos praxistas, e tal apanágio ainda lhe reconhece a jurisprudência dos Tribunais, pelo que autoriza a edição de decreto condenatório.

– É superior a toda a crítica a sentença que, baseada em prova segura, condena sujeito que, sem autorização legal, possui em casa “cangalha de balão” (suporte para os fogos de artifício), por se tratar de artefato explosivo (art. 10, § 3º, nº III, da Lei nº 9.437/97).

–“O desconhecimento da lei é inescusável” (art. 21 do Cód. Penal).

–“Todo homem deve saber do fundo do seu coração o que é certo e o que é errado” (Alberto Oliva, apud Ricardo Dip e Volney Corrêa Leite de Moraes Jr., Crime e Castigo, 2002, p. 3).

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

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Voto nº 9005

Recurso em Sentido Estrito nº 966.303-3/9-00

Arts. 12, 14 e 16 da Lei nº 10.826/2003; art. 147 do Cód. Penal; arts. 41, nº I, e 43, ns. I e III, do Cód. Proc. Penal

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/2003).

– São atípicas as condutas previstas nos arts. 12 e 16 da Lei nº 10.826/03 (posse ilegal de arma de fogo), praticadas no período chamado de “vacatio legis” indireta (31.8.04); pelo que, na hipótese, haverá falta de justa causa para a ação penal (cf. Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 199, p. 510; rel. Min. Arnaldo Esteves Lima).

– Ainda que simples infortúnio, o recebimento de denúncia que não atende aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque, atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos imensos, muita vez irreparáveis (art. 41, nº I, do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 9291

Recurso em Sentido Estrito nº 1.100.118-3/0-00

Arts. 12, 14, 16 e 32 da Lei nº 10.826/2003; art. 147 do Cód. Penal; arts. 41, nº I, e 43, ns. I e III, do Cód. Proc. Penal

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/2003).

– São atípicas as condutas previstas nos arts. 12 e 16 da Lei nº 10.826/03 (posse ilegal de arma de fogo), praticadas no período chamado de “vacatio legis” indireta (31.8.04); pelo que, na hipótese, haverá falta de justa causa para a ação penal (cf. Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 199, p. 510; rel. Min. Arnaldo Esteves Lima).

– Ainda que simples infortúnio, o recebimento de denúncia que não atende aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque, atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos imensos, muita vez irreparáveis (art. 41, nº I, do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 9331

Apelação Criminal nº 880.586-3/2-00

Arts. 41, nº I, e 386, nº III, do Cód. Proc. Penal; arts. 12, 14 e 16 da Lei nº 10.826/2003

–“Não é inepta a denúncia que descreve fatos que, em tese, apresentam a feição de crime e oferece condições plenas para o exercício de defesa” (Rev. Tribs., vol. 725, p. 517; rel. Min. Vicente Leal).

– Como a Medida Provisória nº 253/2005 prorrogou até “o dia 23 de outubro de 2005” (art. 1º) o prazo para a entrega de arma de fogo à Polícia Federal, ninguém, nesse trecho, poderá ser preso em flagrante por manter alguma sob sua guarda ou em depósito. Mas, o porte de arma de fogo, sem autorização legal, esse constitui crime (arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/2003).

– São atípicas as condutas previstas nos arts. 12 e 16 da Lei nº 10.826/03 (posse ilegal de arma de fogo), praticadas no período chamado de “vacatio legis” indireta (31.8.04); pelo que, na hipótese, haverá falta de justa causa para a ação penal (cf. Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 199, p. 510; rel. Min. Arnaldo Esteves Lima).

– Ainda que simples infortúnio, o recebimento de denúncia que não atende aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque, atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos imensos, muita vez irreparáveis (art. 41, nº I, do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 9784

Apelação Criminal nº 1.086.264-3/6-00

Art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/2003; arts. 156, 303 e 386, nº V, do Cód. Proc. Penal; art. 144 da Const. Fed.

– Feita em Juízo, tem a confissão do réu valor absoluto, porque estreme de eventuais defeitos que a podiam viciar, como a coação moral. Rainha das provas (“regina probationum”) chamavam-lhe os velhos praxistas, e tal apanágio ainda lhe reconhece a jurisprudência dos Tribunais, pelo que autoriza a edição de decreto condenatório.

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que possui arma de fogo com numeração raspada, sem justificá-lo (art. 16, parág. único, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

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Voto nº 9792

Apelação Criminal nº 841.390-3/2-00

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 12 e 35 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal

– Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e justifica edição de decreto condenatório.

– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).

– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).

– A causa de aumento de pena do art. 18, nº III, da Lei nº 6.368/76 (“decorrer de associação”), já não subsiste e, pois, não pode ser reconhecida à luz da nova Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), que previu a circunstância apenas como crime autônomo (art. 35).

– A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado já 2/5 — ou 3/5, se reincidente — e conspiram os mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).

– A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 12, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

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– Não incorre em censura a decisão que, por evitar “bis in idem” (que a consciência jurídica adversa a todo transe), considera a receptação crime-meio em respeito do porte ilegal de arma de fogo, crime-fim (art. 180, “caput”, do Cód. Penal e art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

– É escusado lembrar que, segundo o teor literal do art. 119 do Código Penal, “no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”.

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Voto nº 10.104

Apelação Criminal nº 1.182.668-3/0-00

Arts. 16, nº IV, e 33, § 4º, da Lei nº 10.826/03; art. 10 da Lei nº 9.437/97; arts. 12 e 14 da Lei nº 6.368/76; arts. 202, 563 e 566 do Cód. Proc. Penal; art. 5º, “caput”, da Const. Fed.

– A arguição de nulidade por falta de apreciação de teses da Defesa não prevalece contra a sentença cuja conclusão se mostre com elas inconciliável. É que “a sentença precisa ser lida como discurso lógico” (STJ; REsp nº 47.474/RS; 6a. Turma; rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro; DJU 24.10.94, p. 28.790).

– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).

– A posse de arma de fogo com numeração raspada tipifica a infração do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).

– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).

– Uma pena, para ser justa — escreveu o profundo Marquês de Beccaria —, deve ter somente o grau de rigor que baste a afastar os homens da senda do crime. “Perchè una pena sia giusta, non deve avere che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli uomini dai delitti” (Dei Delitti e delle Pene, § XVI).

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– A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado já 2/5 — ou 3/5, se reincidente — e conspiram os mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).

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Voto nº 10.147

Apelação Criminal nº 1.196.815-3/9-00

Arts. 202 e 303 do Cód. Proc. Penal; art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 33, “caput”, 33, § 4º, e 40, nº VI, da Lei nº 11.343/06; art. 144 da Const. Fed.

– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui para logo a ideia de tráfico (art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06).

– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).

– Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 185).

– A posse irregular de arma de fogo com numeração suprimida tipifica a infração do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: segurança pública (art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03).

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Voto nº 10.296

Apelação Criminal nº 993.07.007740-1

Arts. 14 e 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 12 e 16 da Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos); arts. 28 e 33 da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas); arts. 202, 383, 384, parág. único, e 617 do Cód. Proc. Penal

– Nenhum homem inocente, podendo falar, prefere o silêncio para defender-se de injusta acusação. Se permaneceu calado, ainda que direito seu garantido pela Constituição da República (art. 5º, nº LXIII), dificilmente se eximirá de juízo adverso.

– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).

– A posse de arma de fogo com numeração raspada tipifica a infração do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).

– Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 185).

–“O Tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença” (art. 617 do Cód. Proc. Penal).

–“Em apelação somente da Defesa, o Tribunal não pode agravar a situação do réu” (cf. Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 497).

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Voto nº 10.410

Apelação Criminal nº 993.04.024531-1

Art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal; arts. 14 e 16 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento)

– A posse irregular de “arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito” tipifica a infração do art. 16 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Configura crime único (e não concurso de infrações) a posse ilegal de duas ou mais armas de fogo, munições ou acessórios, porque um só o bem jurídico ofendido: a incolumidade pública (arts. 14 e 16 da Lei nº 10.826/03).

– No caso de posse conjunta de armas de fogo, munições ou acessórios de “uso permitido” e de “uso proibido ou restrito”, haverá apenas o crime mais grave (art. 16 da Lei nº 10.826/03), que, pelo princípio da consunção, absorverá o outro, menos grave (art. 14).

– Em obséquio ao princípio constitucional do estado de inocência, “não devem ser considerados como maus antecedentes, prejudicando o réu, processos em curso” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 209).

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Voto nº 10.447

Apelação Criminal nº 993.06.043804-2

Art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03; art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 5º, “caput”, e 144 da Const. Fed.

– A confissão judicial, por seu valor absoluto — visto se presume feita espontaneamente —, basta à fundamentação do edito condenatório.

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que possui arma de fogo com numeração raspada, sem justificá-lo (art. 16, parág. único, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

–“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).

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Voto nº 10.531

Apelação Criminal nº 993.08.005433-5

Art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 14 e 15 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal; art. 144 da Const. Fed.

– Incorre nas penas da Lei nº 9.437/97 (art. 10, § 1º, nº III) quem efetua disparo de arma de fogo em lugar habitado, ainda que a deflagração seja para o alto (“ad astra”), pois se trata de “infração que prescinde de perigo concreto, real, à incolumidade pública” (Damásio E. de Jesus, Crimes de Porte de Arma de Fogo e Assemelhados, 1999, p. 61).

– À luz do princípio da consunção, não há reconhecer concurso material, senão crime único, entre porte ilegal de arma de fogo e disparo em via pública, já que este pressupõe a posse da arma, com que o realiza (arts. 14 e 15 da Lei nº 10.826/03).

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 358).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

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Voto nº 10.797

Apelação Criminal nº 990.08.074315-5

Art. 14 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 14, nº II, e 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal; arts. 386, nº III, e 580 do Cód. Proc. Penal; arts. 5º, “caput”, e 144 da Const. Fed.

– Conforme a lição abalizada de E. Magalhães Noronha, “em nosso Código, não são puníveis os atos preparatórios” (...). Para nossa lei, só há tentativa quando há ato de execução” (Direito Penal, 2a. ed., vol. I, p. 155).

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que, sem licença da autoridade, mantém sob guarda arma de fogo, nada importando a inexistência de perigo concreto (art. 14 da Lei nº 10.826/03).

–“A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

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Voto nº 11.092

Apelação Criminal nº 993.08.041086-0

Art. 12 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 12 da Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos); art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas)

– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui para logo a ideia de trafico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).

– A posse clandestina de arma de fogo no interior de residência tipifica a infração do art. 12 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).

– Segundo a comum opinião dos doutores, o benefício da redução da pena (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06) não se defere senão ao traficante esporádico ou eventual, jamais ao que se associa para a prática do tráfico ilícito de drogas, porque é em especial contra esse que se levanta o braço implacável da lei.

– Fator de esclarecida e humana individualização da pena, será bem reduzi-la ao réu condenado por infração do art. 33 da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas), que satisfaça aos requisitos de seu § 4º.

– Temperar com a equidade o rigor da lei foi sempre timbre dos que distribuem justiça, como advertiu o insigne Carlos Maximiliano: “Hoje a maioria absoluta dos juristas quer libertar da letra da lei o julgador, pelo menos quando da aplicação rigorosa dos textos resulte injusta dureza, ou até mesmo simples antagonismo com os ditames da eqüidade. Assim, vai perdendo apologistas na prática a frase de Ulpiano — durum jus, sed ita lex scripta est — duro Direito, porém assim foi redigida a lei — e prevalecendo, em seu lugar, o summum jus, summa injuria — do excesso de direito resulta a suprema injustiça” (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 170).

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Voto nº 11.322

Apelação Criminal nº 993.07.021895-9

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 5º, “caput”, e 144 da Const. Fed.

– A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Inexiste quebra do preceito do “ne bis in idem” se o Magistrado fixa ao réu a pena-base além do mínimo legal, à conta de seus antecedentes desabonadores e defeituosa personalidade, exasperando--a depois pela nota da reincidência: que são diversas as causas dos aumentos.

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Voto nº 11.376

Apelação Criminal nº 993.05.066602-6

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 14 e 15 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal

– Incorre nas penas da Lei nº 10.826/03 (art. 15) quem efetua disparo de arma de fogo em lugar habitado, ainda que a deflagração seja para o alto (“ad astra”), pois se trata de “infração que prescinde de perigo concreto, real, à incolumidade pública” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 94).

– À luz do princípio da consunção, não há reconhecer concurso material, senão crime único, entre porte ilegal de arma de fogo e disparo em via pública, já que este pressupõe a posse da arma, com que o realiza (arts. 14 e 15 da Lei nº 10.826/03).

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

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Voto nº 11.436

Apelação Criminal nº 993.06.065113-7

Art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03; arts. 156, 303 e 386, nº V, do Cód. Proc. Penal; art. 144 da Const. Fed.

– Feita em Juízo, tem a confissão do réu valor absoluto, porque estreme de eventuais defeitos que a podiam viciar, como a coação moral. Rainha das provas (“regina probationum”) chamavam-lhe os velhos praxistas, e tal apanágio ainda lhe reconhece a jurisprudência dos Tribunais, pelo que autoriza a edição de decreto condenatório.

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que possui arma de fogo com numeração raspada, sem justificá-lo (art. 16, parág. único, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A invocação de causa excludente de culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa), atento seu caráter excepcional, requer prova plena e incontroversa, não basta que se alegue (art. 156 do Cód. Proc. Penal).

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Voto nº 11.438

Apelação Criminal nº 993.05.003371-6

Art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 202 e 303 do Cód. Proc. Penal

– A posse irregular de arma de fogo com numeração suprimida tipifica a infração do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Esta é também a opinião do insigne Damásio E. de Jesus: “A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

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Voto nº 11.630

Apelação Criminal nº 993.08.016290-5

Art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal; art. 61 do Cód. Proc. Penal

– Incorre nas penas do art. 10, § 1º, nº III, da Lei nº 9.437/97 o sujeito que efetua disparo de arma de fogo em lugar habitado, ainda que a deflagração seja para o alto (“ad astra”), pois se trata de infração que “não exige perigo concreto, real, à incolumidade pública” (Damásio E. de Jesus, Crimes de Porte de Arma de Fogo e Assemelhados, 2a. ed., p. 57).

– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

Voto nº 11.701

“Habeas Corpus” nº 990.09.044605-6

Art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03; art. 659 do Cód. Proc. Penal

– Dispõe o art. 659 do Cód. Proc. Penal que, se o Tribunal verificar ter já cessado a violência ou coação ilegal de que se queixa o paciente, lhe julgará prejudicado o pedido de “habeas corpus”.

–“Julga-se prejudicado o pedido, se à impetração sobreveio sentença condenatória” (STJ; HC nº 1.959-8; rel. Min. José Dantas; DJU 23.8.93, p. 16.585).

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Voto nº 11.723

Apelação Criminal nº 993.02.095931-9 Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 23, 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal

– O porte irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei das Armas de Fogo), independentemente de perigo concreto.

– A alegação de que o réu trazia consigo arma de fogo para defender-se de inimigos não opera como causa de exclusão da ilicitude, como ensina Damásio E. de Jesus (cf. Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., pp. 67-68). Ao demais, causa justificativa do delito, não merece acolhida a tese da legítima defesa que não tenha por si prova estreme de dúvida (art. 23, nº II, do Cód. Penal).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Para justificar o decreto absolutório basta a dúvida razoável, porque esta, como a pedra que tomba do rochedo e muda o curso do rio, é apta a desviar da cabeça do réu o gládio inflamado da Justiça Penal.

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

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Voto nº 11.817

Apelação Criminal nº 993.07.087001-0

Arts. 14, “caput”, e 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03; arts. 33, § 2º, alínea b, e 59 do Cód. Penal; art. 202 do Cód. Proc. Penal

– A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Esta é também a opinião do insigne Damásio E. de Jesus:“A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

– Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a condenado não reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.

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Voto nº 11.831

Apelação Criminal nº 993.07.042336-6

Arts. 14, “caput”, e 16, parág. único, IV, da Lei nº 10.826/03; art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal; art. 202 do Cód. Proc. Penal

– A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a infração do art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), independentemente de perigo concreto.

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Esta é também a opinião do insigne Damásio E. de Jesus: “A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

– Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a condenado não reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.

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Voto nº 12.040

Apelação Criminal nº 993.03.048532-8

Art. 10, § 4º, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal

– Trazer consigo, fora de casa, arma de fogo de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, configura o tipo previsto e punido pelo art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (atual art. 14, “caput”, da Lei nº 10.826/03).

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Ainda que tenha autorização permanente para a posse e uso de arma de fogo (“imunidade funcional”), ao policial militar é defeso adquiri-la sem permissão da autoridade, aliás incorrerá nas penas da lei (art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97).

– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).

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Voto nº 12.222

Apelação Criminal nº 993.06.134388-6

Art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03; arts. 33, § 2º, alínea b, e 44, § 2º, do Cód. Penal

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que, sem licença da autoridade, traz consigo, em via pública, arma de fogo com numeração suprimida, nada importando a inexistência de perigo concreto (art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento).

– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art. 202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o policial vem a Juízo para mentir.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Esta é também a opinião do insigne Damásio E. de Jesus: “A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

– Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a condenado não reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.

– Condenado à pena de 3 anos de reclusão por porte ilegal de arma de fogo (art. 16 do Estatuto do Desarmamento), tem direito o réu à aplicação de medida alternativa (art. 44, § 2º, 2a. parte, do Cód. Penal).

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Voto nº 12.401

Apelação Criminal nº 993.04.024246-0

Art. 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal

– A posse irregular de arma de fogo de uso proibido ou restrito tipifica a infração do art. 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97, independentemente de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Desclassificado o tipo penal para a cabeça do art. 10 da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo) — já que a Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento) lhe revogou o inc. IV do § 3º do art. 10 —, que cominava sanção de 2 a 4 anos de reclusão àquele que, achado na posse de arma de fogo, tivesse “condenação anterior por crime contra a pessoa, contra o patrimônio e por tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins” —, cumpre reajustar a pena privativa de liberdade do réu.

– Isto de alguém estar na posse de mais de uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública (art. 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97).

– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

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– Se de curta duração a pena privativa de liberdade, e cometido o crime sem violência, não é defeso ao Juiz determinar que o réu a cumpra sob o regime semiaberto, ainda que reincidente. O que lhe taxativamente proíbe a lei é conceder o benefício ao reincidente condenado a pena superior a 4 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).

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Voto nº 12.404

Recurso em Sentido Estrito nº 993.07.080403-3

Arts. 15 e 16 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); art. 69 do Cód. Penal

– Guarda-se de crítica a decisão que rejeita aditamento de denúncia por entender que o crime de disparo absorve o de posse de arma de fogo (arts. 15 e 16, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

–“O disparo de arma de fogo absorve o porte” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal de Desarmamento, 5a. ed., p. 89).

–“(...) o disparo de arma de fogo, em local público, configura crime mais grave do que simples posse ou porte, pois atinge a segurança pública, de forma que é crime-fim que absorve o crime-meio” (Rev. Tribs., vol. 791, p. 619; rel. Antonio Manssur).

– Aquele que, pelos idos de dezembro de 2004, possuía em sua residência arma de fogo, ainda que de uso restrito (art. 16 do Estatuto do Desarmamento), não incorreu em crime, em razão de “atipicidade temporária” ou “ausência de antijuridicidade dos crimes de posse ilegal ou irregular de arma de fogo” (cf. César Dario Mariano da Silva, Estatuto do Desarmamento, 3a. ed., p. 184).

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Voto nº 12.424

Apelação Criminal nº 993.04.017142-3

Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo); arts. 333, 109, nº V, e 115 do Cód. Penal; arts. 61, 386, ns. III e VI, do Cód. Proc. Penal

– A posse de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– Incorre em crime de corrupção ativa o sujeito que, por subtrair-se à voz de prisão em caso de flagrante delito, oferece ao policial indevida vantagem econômica (art. 333 do Cód. Penal)

– Em obséquio à maioridade senil, reduz-se de metade o prazo de prescrição se o criminoso era, na data da sentença, maior de 70 anos (art. 115 do Cód. Penal).

– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de exame ou deliberação.

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Casos Especiais (Reprodução integral do voto)

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.304.761/9 Comarca: São José do Rio Pardo Apelante: JB Apelado: Ministério Público

Voto nº 3868 Relator

– O simples porte de arma de fogo sem

autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

– Ao cominar pena àquele que, sem licença da

autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

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– Armas obsoletas, para os efeitos legais, são aquelas “fabricadas há mais de cem anos, sem condições de funcionamento eficaz e cuja munição não mais seja de produção comercial” (art. 3º, § 1º, do Dec. nº 2.222, de 8.5.97). No arsenal das armas centenárias (e, pois, obsoletas) compreendem-se, por força, os mosquetes, os bacamartes, os arcabuzes, etc. Não é desse número, portanto, e está sujeita à obrigatoriedade do registro, a pistola grande ou garrucha.

– A teoria do crime único, aplicável à hipótese

de o agente, sem licença da autoridade, exercer a posse ou o poder material sobre mais de uma arma de fogo não tem lugar, se possuir também arma branca, porque nesse caso incorrerá em sanções cominadas em regimes legais diversos (art. 10 da Lei nº 9.437/97 e art. 19 da Lei das Contravenções Penais).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da Vara Distrital de São Sebastião da Grama (Comarca de São José do Rio Pardo), condenando-o às penas de 1 ano de detenção e 10 dias-multa, por infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, e 10 dias-multa, por infração do art. 19 da Lei das Contravenções Penais, substituída a pena privativa de liberdade por prestação pecuniária fixada em um salário-mínimo, interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com o intuito de reformá-la, JB.

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Nas razões de recurso, apresentadas por diligente e culto patrono, requer, preliminarmente, a aplicação à espécie do benefício do art. 89 da Lei nº 9.099/95; no mérito, a admitir-se a procedência da acusação, argumenta que era força reconhecer no caso, hipótese de crime único e não concurso formal. Afirma ainda que, tratando-se de armas obsoletas, não lhes era de preceito o registro. Pleiteia, destarte, à colenda Câmara, tenha a bem ouvir seu clamor e despachá-lo de boa sombra (fls. 96/99). A douta Promotoria de Justiça respondeu ao recurso: repeliu a questão preliminar e, no mérito, propugnou a manutenção da r. sentença recorrida (fls. 101/105). A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em minucioso e abalizado parecer do Dr. José Eduardo Fernandes Casarini, opina pelo improvimento da apelação (fls. 116/119). É o relatório.

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2. O réu, de alcunha “José Branquinho”, foi chamado às barras da Justiça Criminal porque, no dia 21 de setembro de 2000, cerca de 17h35, na Rodovia SP-344, em Divinolândia, trazia consigo arma de fogo, sem autorização legal. Reza ainda a denúncia que portava também, fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade, uma faca e um punhal. Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo na forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 81/88 decretou a condenação do réu, o qual, insatisfeito com o desfecho da lide penal, comparece perante esta augusta Corte de Justiça, na expectativa de alcançar absolvição ou alívio para suas penas. 3. Pelo que respeita à matéria arguida “in limine”, carece de razão, “data venia”, a esforçada Defesa, pois à suspensão condicional do processo não faz jus autor de crimes em concurso formal, cujas penas excedam o limite de 1 ano. A lição de Julio Fabbrini Mirabete, referida pela r. sentença de Primeiro Grau, vem a ponto (fl. 83):

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“No caso de concurso material de crimes, só é possível a suspensão condicional do processo se, somadas as penas mínimas dos delitos, não superam elas, no total, o limite de um ano” (Juizados Especiais Criminais, 2000, p. 264).

Isto mesmo passa no âmbito pretoriano:

“A suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/95, é inaplicável aos crimes cometidos em concurso material, formal, ou em continuidade, se a soma das penas mínimas cominadas a cada crime, a consideração do aumento mínimo de 1/6, ou o cômputo da majorante do crime continuado, conforme o caso, ultrapasse o quantum de 1 ano” (Rev. Tribs., vol. 769, p. 537; rel. Min. Gilson Dipp).

Afasto, destarte, a matéria prejudicial. 4. No que toca ao mérito, improcede a argumentação da Defesa, expendida aliás com brilho. Com efeito, em seu interrogatório judicial, admitiu o réu, sem salvas nem rodeios, trazia armas consigo (fl. 54).

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Confirmaram-lhe as palavras os policiais que atuaram no caso. Inquiridos na instrução criminal, esclareceram que, ao revistá-lo, acharam em poder do réu três armas: “uma garrucha municiada com dois cartuchos, um punhal e uma faca” (fls. 67/68). Regularmente apreendidas (fl. 7) e submetidas à perícia, ficou-lhes comprovada a potencialidade nocente (fls. 9/11, 13/14 e 16/17). Assim, configurado o tipo do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, a condenação do apelante era inelutável. Ao cominar pena a todo aquele que, sem licença de autoridade competente, traz arma consigo, pôs em mira o legislador “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107). Tal proibição respeita diretamente a um dos princípios fundamentais proclamados pela Constituição Federal: “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas” (art. 144). Vem aqui a ponto o magistério da Jurisprudência:

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“A infração penal consistente no porte ilegal de arma de fogo, prevista no art. 10 da Lei nº 9.437/97, não exige, para sua configuração, a existência de um perigo concreto, uma vez que o bem jurídico tutelado é a segurança coletiva, um dos direitos fundamentais previsto expressamente no art. 5º, caput, da Const. Federal” (Rev. Tribs., vol. 766, p. 586; rel. Walter Guilherme).

5. Também a tese da Defesa — falta de tipicidade por tratar-se de arma obsoleta — não se mostra atendível. Obsoleta, na acepção empregada na lei (art. 3º), é a arma antiga e fora de uso. Na voz latina, “obsoletus” diz o mesmo que velho, caído em desuso (Saraiva, Dicionário Latino--Português, 9a. ed.; v. “obsoletus”). Nesse mesmo sentido o consignam os léxicos de nossa língua vernácula:

“Antiquado, obsoleto. Ambas estas palavras indicam coisa antiga, que decaiu do uso; mas a segunda acrescenta uma espécie de desprezo ou de ridículo” (J. I. Roquete, Dicionário dos Sinônimos; v. obsoleto).

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Armas obsoletas, para os legais efeitos, são aquelas “fabricadas há mais de cem anos, sem condições de funcionamento eficaz e cuja munição não mais seja de produção comercial” (art. 3º, § 1º, do Dec. nº 2.222, de 8.5.97). No rol das armas obsoletas entram, por força, os bacamartes da Campanha de Canudos (cf. Euclides da Cunha, Os Sertões, 1957, p. 273); os arcabuzes do Brasil-Colônia (cf. Vicente do Salvador, História do Brasil, 1965, p. 431); o fuzil da Guerra do Paraguai (cf. Visconde de Taunay, A Retirada de Laguna, cap. X), a escopeta e os mosquetes dos bandeirantes (cf. Belmonte, No Tempo dos Bandeirantes), etc. A arma apreendida em poder do réu — “uma garrucha, de dois canos, usada” (fl. 10) — não está, portanto, compreendida na categoria de armas obsoletas. Aliás, submetida à perícia, revelou potencialidade ofensiva (fl. 11); pelo que, constitui corpo de delito, ou prova da existência do crime. 6. Ao revés do que inculca o digno patrono do réu, não há falar, no caso, de crime único, senão concurso material.

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Não entra em dúvida que, para a hipótese de trazer o réu consigo mais de uma arma de fogo, tem lugar o reconhecimento de crime único, segundo jurisprudência deste Egrégio Tribunal (cf. Rev. Tribs., vol. 775, p. 612; rel. Roberto Midolla). No particular, as que o réu trazia consigo não eram todas armas de fogo, mas somente uma, que as mais eram armas brancas. Donde a capitulação diversa dos ilícitos: art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 e 19 da Lei das Contravenções Penais. Não lhe aproveita, portanto, o argumento da infração penal única. Fixou a r. sentença a pena do réu com moderação, metendo em conta as circunstâncias do art. 59 do Código Penal; substituiu a pena corporal (com bom critério, porque medida socialmente recomendável) por prestação pecuniária. Confirmo, destarte, a r. sentença que proferiu o distinto e culto Juiz Dr. Fábio Marques Dias. 7. Pelo exposto, rejeito a preliminar e nego provimento ao recurso.

São Paulo, 7 de junho de 2002

Carlos Biasotti Relator

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.151.433/4 Comarca: São Paulo Apelante: WCS Apelado: Ministério Público

Voto nº 1629 Relator

– O testemunho de parentes é sempre suspeito, porque a voz da natureza, ainda que involuntariamente, sói empanar o clamor da verdade (cf. Mittermayer, Tratado da Prova em Matéria Criminal, 1871, t. II, p. 128; trad. Alberto Antônio Soares).

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– Equipara-se a confissão do réu à própria coisa julgada: “Confessio habet vim rei judicatae” (Farinácio).

– Ainda que lhe não pertença a arma de fogo, incide o sujeito na sanção penal, se a possuir ou guardar nas circunstâncias do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

1. Da r. sentença proferida pelo MM. Juízo de Direito da 23a. Vara Criminal da Comarca da Capital, que o condenou à pena de 1 ano de detenção e 10 dias-multa, em regime aberto, sem “sursis”, por infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, apela para este Egrégio Tribunal, com o propósito de reformá-la, WCS. Alega, por seu digno patrono (o ilustre criminalista Dr. Boanerges Tessari), que a r. decisão apelada se equivocara “na análise do conjunto probatório” (fl. 148). Assevera que as armas apreendidas em seu poder não lhe pertenciam, mas a outrem. Pelo que, aguarda que esta colenda Corte lhe proveja o recurso para absolvê-lo (fls. 147/148). A douta Promotoria de Justiça apresentou contrarrazões, nas quais repele a pretensão da combativa Defesa e pleiteia a confirmação da r. sentença apelada (fls. 152/155).

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A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e terminativo parecer do Dr. Sólon Fernandes Filho, opina pelo improvimento da apelação (fls. 163/164). É o relatório. 2. Foi contra o apelante instaurada persecução criminal porque, no dia 22 de abril de 1998, pelas 21h30, na Rua Olhos do Coração, 91 (Jardim Antártica), nesta Capital, possuía, mantinha sob sua guarda, tinha em depósito e ocultava armas de fogo, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar. Consta que policiais civis procediam a diligências para esclarecer um homicídio, de que o apelante fora apontado como um dos autores, quando encontraram em seu poder três revólveres e uma pistola e, sobre isso, 37 cápsulas íntegras, calibre 38, e 22 cápsulas íntegras, calibre 38. Após dar-lhe voz de prisão, os policiais conduziram o réu à 2a. Delegacia do DHPP, onde foi autuado em flagrante delito. O processo discorreu em forma legal; ao cabo, foi o réu condenado.

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Agora, protestando inocência, impetra a esta egrégia Superior Instância absolvição. 3. A despeito, porém, dos bons esforços e dotes de espírito de seu advogado, a pretensão absolutória do réu não se mostra atendível, porquanto em desconformidade com a prova dos autos. De feito, a materialidade do crime está comprovada pelo auto de apreensão de fl. 14; a autoria, esta foi liquidada pela prova oral. Deveras, ouvido na Polícia, admitiu o réu, sem salvas nem rodeios, “estar na posse das quatro armas de fogo apreendidas” (fl. 7 v.). As testemunhas inquiridas na instrução criminal deram-lhe peso e relevo às palavras. Aníbal Pereira Sales Filho (fl. 105), agente policial, afirmou “coram judice” que as referidas armas foram apreendidas num guarda-roupa, na residência do réu. Acrescenta que ouviu dizer à própria mulher do réu que as armas lhe pertenciam. Pelo mesmo teor, as declarações de seu colega José Benedito Custódio (fl. 106).

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À vista de tais elementos de convicção, fora baldado todo o empenho por defender a tese da negativa de autoria. Os depoimentos que deram os pais do réu não se mostram suficientes para exculpá-lo. À uma, porque “o testemunho de parentes”, conforme advertiu o profundo Mittermayer, “só pode ser suspeito” (Tratado da Prova em Matéria Criminal, 1871, t. II, p. 128; trad. Alberto Antônio Soares, pois que:

“É muito possível que a voz da natureza, que na testemunha fala a favor do acusado, abafe a voz do dever: mesmo involuntariamente as preocupações de sua afeição podem fazê-lo desviar da verdade” (ibidem).

À outra, porque as declarações paternas se acham em rebeldia com as palavras dos policiais e do próprio apelante, que é réu confesso. Destarte, havendo admitido, em presença de curador, a responsabilidade do crime, o apelante mesmo lavrara contra si decreto condenatório. Daqui por que graves autores sempre tiveram em muito o valor da confissão:

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“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do acusado se equiparava à própria coisa julgada, como ensinava Farinácio: Confessio habet vim rei judicatae” (José Frederico Marques, Estudos de Direito Processual Penal, 1a. ed., p. 290).

4. O argumento da nobre Defesa — de que, embora apreendidas na casa do réu (e isso por indicação de sua mulher), as armas não lhe pertenciam — não colhe, “data venia”. A razão deu-a o abalizado parecer da Procuradoria Geral de Justiça (fl. 164), forte na lição da doutrina:

“O legislador, brasileiro, ao utilizar o verbo possuir, não está exigindo que o sujeito seja proprietário do objeto, contentando-se com a mera detenção material da coisa sem a devida autorização” (Luiz Flávio Gomes e William Terra de Oliveira, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 97).

A condenação do apelante respondeu, pois, à exata e escorreita análise que do conjunto probatório dos autos fez o culto e distinto Juiz Dr. João Pedro Bressane de Paula Barbosa.

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O réu no entanto é primário (fl. 49) e contava 19 anos ao tempo do crime (fl. 7). Por isso, nos termos do art. 44, § 2º, do Código Penal, substituo-lhe a pena privativa de liberdade por 10 dias-multa, no valor mínimo legal. 5. Pelo exposto, dou provimento parcial à apelação para substituir a pena privativa de liberdade do réu por 10 dias-multa, no valor mínimo legal (art. 44, § 2º, do Cód. Penal).

São Paulo, 17 de setembro de 1999

Carlos Biasotti Relator

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.266.699/3 Comarca: Orlândia Apelante: AAS Apelado: Ministério Público

Voto nº 3218 Relator

– Conforme a lição da Doutrina e da Jurisprudência, é o interrogatório ato personalíssimo do Juiz e do réu. A ausência de Defensor, por isso, não lhe importa nulidade, máxime se nenhuma prova houve de prejuízo (art. 563 do Cód. Proc. Penal).

– O simples porte de arma de fogo sem

autorização legal tipifica a infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência de perigo concreto.

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– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).

– A alegação de ter sido jurado de morte não

exclui de crime o agente, se possuía a arma sem autorização legal. A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “o porte de arma é, sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções Penais, 1944, p. 294).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da Vara Distrital de Morro Agudo (Comarca de Orlândia), condenando-o à pena de 1 ano de detenção, no regime semiaberto, além de 10 dias-multa, por infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com intuito de reformá-la, AAS. Alega, nas razões de recurso, fragilidade da prova da acusação. Argumenta que, segundo a denúncia, estava a arma de fogo “municiada com um cartucho”, ao passo que, no momento da apreensão, o cartucho “já tinha sido deflagrado”.

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Argui, ao demais, nulidade do interrogatório judicial, porque realizado sem a presença do Defensor. Argumenta, por fim, que a arma trazia-a consigo “para defender a própria vida”. Pleiteia, por isso, absolvição (fls. 160/162). Apresentou contrarrazões de recurso a douta Promotoria de Justiça: repeliu a pretensão da douta Defesa e propugnou a manutenção da r. sentença de Primeiro Grau (fls. 167/169). A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e circunspecto parecer do Dr. José Carlos Pereira, opina pelo improvimento da apelação (fls. 178/180). É o relatório. 2. De novo teve o réu de avir-se com a Justiça Criminal, porquanto, aos 29 de janeiro de 1999, noite velha, na Praça da Matriz, na cidade de Morro Agudo, portava uma arma de fogo (espingarda, tipo cartucheira), calibre 36, municiada com um cartucho, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

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Policiais militares, em patrulhamento ordinário pelo local, após revistar o réu, apreenderam-lhe a arma. Instaurada a persecução criminal, transcorreu o processo em forma legal; ao cabo, a r. sentença de fls. 134/138, acolhendo os termos do libelo, decretou a condenação do réu, o qual, inconformado, comparece perante esta augusta Corte de Justiça, em busca de absolvição. 3. Em que pese à dedicação e engenho de seu ilustre advogado, não se mostram atendíveis, “data venia”, os pleitos do réu. Pelo que respeita à preliminar suscitada — nulidade do processo pela ausência do defensor à audiência de interrogatório judicial do réu (fl. 161) —, improcede às inteiras. Em boa verdade, conforme a lição da doutrina e o magistério constante de nossos Tribunais, é o interrogatório ato personalíssimo do juiz e do réu: por isso, a ausência de defensor não lhe induz nulidade. Isto mesmo proclama o Colendo Superior Tribunal de Justiça: “É ato pessoal do juiz, não estando submetido ao princípio do contraditório” (Rev. Tribs., vol. 721, p. 534).

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Ao demais, embora o digno subscritor das razões de apelação não estivera presente ao interrogatório do réu, é certo que, à conta do defeito de idade, assistira-o outro causídico (fl. 68). Por fim, nulidade de ato processual apenas se declara, como o dispõe o art. 563 do Código de Processo Penal, em face da prova do prejuízo, ônus que tocava à Defesa e do qual se não desempenhou, no caso. Aliás, tal pormenor decai de momento e perde de importância porque — e bem o refutou o abalizado parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça —, “comprovado o porte clandestino da arma e sua eficácia na realização de disparos, pouco importa a existência de um cartucho deflagrado diante do perigo acarretado à incolumidade pública” (fls. 179/180). Afasto, por isso, a matéria prejudicial. 4. No que entende com o mérito, é força manter a r. decisão impugnada porque dirimiu à justa luz a controvérsia dos autos. Deveras, é fato superior a toda dúvida que o réu, no largo da matriz de Morro Agudo, foi achado com arma de fogo.

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Ele próprio o confessou em Juízo, sem salvas nem rodeios. O argumento-aríete da Defesa é que, apreendida a arma, municiada com cartucho íntegro, o laudo pericial atestara que estava “percutido e deflagrado” (fl. 27). Afigura-se-me, “data venia”, especioso o argumento. A razão é que — e isto mesmo observou a r. sentença de Primeiro Grau —, “a prova é robusta no sentido de que, na Delegacia de Polícia, quando da apresentação da espingarda e ao ser retirado o cartucho, a arma veio a disparar” (fl. 136). Os depoimentos dos policiais que detiveram o réu confirmaram, realmente, o incidente, i.e., o disparo da arma na Delegacia de Polícia (fls. 5/6). Também a alegação de que o réu portava arma para sua defesa não pode ser tomada ao sério. No caso que se julgasse ameaçado ou lhe corresse algum risco a vida, cumpria-lhe comunicá-lo à Polícia para as providências legais. A invocação de causa objetiva de exclusão de crime, com ser matéria que excepciona o direito positivo, requer, para ser reconhecida, prova inequívoca da existência do fato, sob pena de passar por simples confissão de autoria.

Page 97: EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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Por esta craveira têm decidido nossos Tribunais:

a) “A invocação do estado de necessidade ou de inexigibilidade de outra conduta apenas pode ser acolhida quando cumprida e exaustivamente comprovada nos autos a absoluta necessidade de delinquir para salvaguarda de direito próprio ou alheio, impossível de ser, por outra forma, eficazmente protegido” (JTACrSP, vol. 54, p. 221; rel. Silva Leme);

b) “Trazer consigo arma de fogo é sempre

potencialmente perigoso e, não sendo o indivíduo o responsável pela segurança pública, não lhe é dado armar-se para se defender (...). Escusar-se do porte de arma de fogo alegando estado de necessidade constitui explicação previsível, mas não satisfatória (...). Bem por isso, a prova do estado de necessidade, a cargo do réu, há de ser consistente e inequívoca” (Rev. Tribs., vol. 727, p. 529; rel. Renato Nalini).

5. Configurado o tipo do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, a condenação do apelante era inelutável.

Page 98: EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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Ao cominar pena a todo aquele que, sem licença de autoridade competente, traz arma consigo, pôs em mira o legislador “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107). Tal proibição respeita diretamente a um dos princípios fundamentais proclamados pela Constituição Federal: “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas” (art. 144). Vem aqui a ponto o magistério da Jurisprudência:

“A infração penal consistente no porte ilegal de arma de fogo, prevista no art. 10 da Lei nº 9.437/97, não exige, para sua configuração, a existência de um perigo concreto, uma vez que o bem jurídico tutelado é a segurança coletiva, um dos direitos fundamentais previsto expressamente no art. 5º, caput, da Const. Federal” (Rev. Tribs., vol. 766, p. 586; rel. Walter Guilherme).

Assim, porque insubsistente a alegação apresentada pelo réu, não havia senão julgar-lhe procedente a denúncia e condená-lo.

Page 99: EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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A pena, fixada no mínimo legal, tomadas em consideração as circunstâncias atenuantes da confissão espontânea e da menoridade relativa do réu, está correta e não sofre modificação. O regime prisional (semiaberto) era o que, de feito, convinha à espécie sujeita, como o justificou a r. sentença recorrida. Em suma: confirmo, por seus próprios e jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o distinto e culto Magistrado Dr. Luiz Cláudio Sartorelli. 6. Pelo exposto, rejeitada a preliminar de nulidade do processo, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 24 de agosto de 2001

Carlos Biasotti Relator

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.219.537/6 Comarca: Assis Apelante: JSA Apelado: Ministério Público

Voto nº 2535 Relator

– Ainda que relíquia de família, a posse de

arma de fogo em casa, sem registro e com potencialidade lesiva, configura o crime do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

– Isto de alguém estar na posse de mais de

uma arma de fogo, sem licença da autoridade, não constitui concurso de crimes, senão crime único, pois que um só o bem jurídico ofendido: a segurança pública.

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1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de Assis, condenando-o à pena de 1 ano de detenção, em regime inicial aberto, além de 10 dias-multa, no valor mínimo legal, por infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direito, consistente na prestação de serviços à comunidade, pelo prazo de 1 ano, apela para este Egrégio Tribunal, com o intuito de reformá-la, JSA. Alega, por seu distinto patrono, que a r. sentença apelada conquanto proferida com brilho, não rendera inteira homenagem ao Direito. Com efeito, em seu interrogatório judicial, esclareceu que as armas encontradas no interior de sua residência pertenciam ao seu pai, já falecido: guardava-as como relíquias, não como armas de ataque ou defesa. Pelo que, espera absolvição, como ato de justiça (fls. 70/71). Apresentou contrarrazões de recurso a digna Promotoria de Justiça: repeliu a pretensão da nobre Defesa e propugnou a manutenção da r. sentença de Primeiro Grau (fls. 73/74).

Page 102: EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em parecer exímio do Dr. Sebastião Bernardes da Silva, opina pelo improvimento do recurso (fls. 80/81). É o relatório. 2. Foi o réu submetido a processo porque, no dia 18 de setembro de 1998, pelas 10h, na Rua Judith Silva Carvalho, em Assis, possuía um revólver “Rossi”, calibre 32, e uma espingarda, tipo cartucheira, calibre 28, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Rezam os autos que policiais militares foram chamados a comparecer ao local dos fatos e, em busca domiciliar, apreenderam o revólver; a espingarda, essa foi apreendida noutra residência próxima. Após curso regular do processo, foi decidida a causa e condenado o réu nos termos da denúncia. Irresignado com o êxito da lide penal, manifestou recurso para esta colenda Corte de Justiça, suspirando por absolvição.

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3. Ao revés do que assevera o nobre Defensor, não merece crítica a r. sentença de Primeiro Grau, senão encômios, pois dirimiu a controvérsia entretida nos autos com estrita observância da prova e à luz dos melhores de direito. Na real verdade, é fora de dúvida que o réu tinha em depósito em sua residência armas de fogo, apreendidas regularmente pela Polícia (fls. 7/8). Que fossem aptas a efetuar disparos também não entra em questão, conforme o laudo de exame de fls. 26/27. A alegação do apelante, em seu interrogatório, de que as conservava como relíquias de família, conquanto piedoso argumento, não colhe, uma vez que, segundo observou a r. sentença de Primeiro Grau, não se trata de armas obsoletas (fl. 64 v.), mas de incontestável potencialidade ofensiva. 4. A certeza da posse das armas, regularmente apreendidas, torna insuscetível de crítica a condenação do recorrente pelo delito previsto no art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97.

Page 104: EMENTÁRIO FORENSE - Arma de Fogo - Doutrina e Jurisprudência

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O próprio réu, no interrogatório judicial, não teve mão em si que o não confessasse: “as armas descritas na denúncia e nos autos de apreensão de fls. 7/8 eram de meu pai e, com seu falecimento, ficaram para mim” (fl. 42). O laudo do Instituto de Criminalística afirmou--lhes a capacidade nocente. À derradeira, guardava-as o réu sem autorização legal. Praticou, assim, o delito definido e punido pelo art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97:

“A infração penal consistente no porte ilegal de arma de fogo, prevista no art. 10 da Lei nº 9.437/97, não exige, para sua configuração, a existência de um perigo concreto, uma vez que o bem jurídico tutelado é a segurança coletiva, um dos direitos fundamentais previsto expressamente no art. 5º, caput, da Const. Federal (Rev. Tribs., vol. 766, p. 586; rel. Walter Guilherme).

Muito embora duas as armas, responderá o réu por um só delito, afastado o concurso formal, pois singular a ação praticada, com ofensa a único bem jurídico: a segurança coletiva.

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Lição é esta que traz o insigne Luiz Flávio Gomes:

“Se a posse é exercida simultaneamente sobre todas as armas de fogo (em conjunto) numa unidade fática, teremos um crime único. A unicidade de contexto remete o agente a um único delito, pois a segurança pública foi lesionada de maneira pontual” (Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 156).

Isto mesmo passa no âmbito da Jurisprudência:

“A ausência de porte de arma é ilícito único. Não apresenta relevância, para caracterização do concurso de crimes, serem duas ou até mais as armas apreendidas na posse de alguém num mesmo momento, desde que não se cuide de arma proibida” (Rev. Tribs., vol. 775, p. 612; rel. Roberto Midolla).

A condenação do réu, a essa conta, era inevitável. Havendo-lhe fixado a douta Juíza a pena de 1 ano de detenção e pagamento de 10 dias-multa no valor mínimo legal e, substituído aquela por multa, nos termos do art. 44 do Código Penal, nisto mesmo deu a conhecer seu magnífico senso judicante.

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5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso e confirmo, por seus próprios e jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu a distinta e culta Juíza Dra. Flávia de Cássia Gonzales de Oliveira.

São Paulo, 9 de outubro de 2000

Carlos Biasotti Relator

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.07.049083-7 Comarca: Itanhaém Apelante: FLS Apelado: Ministério Público

Voto nº 11440 Relator

– Feita em Juízo, tem a confissão do réu valor

absoluto, porque estreme de eventuais defeitos que a podiam viciar, como a coação moral. Rainha das provas (“regina probationum”) chamavam-lhe os velhos praxistas, e tal apanágio ainda lhe reconhece a jurisprudência dos Tribunais, pelo que autoriza a edição de decreto condenatório.

– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que possui arma de fogo com numeração raspada, sem justificá-lo (art. 16, parág. único, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

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–“A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

– O erro sobre a ilicitude do fato, somente se inevitável isenta de pena o réu (art. 21 do Cód. Penal).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 3a. Vara Criminal da Comarca de Itanhaém, condenando-o à pena de 3 anos de reclusão, no regime aberto, e pagamento de 10 dias-multa, por infração do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), interpôs recurso de Apelação para este Egrégio Tribunal, no intuito de reformá-la, FLS. Nas razões de apelação, apresentadas por competente Procuradora do Estado, afirma que as provas reunidas no processado não eram aptas a dá-lo incurso em juízo de censura. Alega que a seu favor militava causa excludente de culpabilidade (erro inevitável sobre a ilicitude do fato); pleiteia, destarte, absolvição, na trilha do art. 386, nº V, do Código de Processo Penal (fls. 113/117).

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A douta Promotoria de Justiça ofereceu contrarrazões de recurso, nas quais propugnou a confirmação da r. sentença de Primeiro Grau (fls. 119/120). A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e abalizado parecer da Dra. Maria Alice Ferreira da Rosa, opina pelo improvimento do recurso (fls. 131/132). É o relatório. 2. Foi o réu chamado às barras da Justiça Criminal porque, em 20.3.2004, pelas 2h, na Av. Marginal, nesta Capital, possuía e portava arma de fogo — um revólver marca “Rossi”, calibre 38 —, com numeração suprimida, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Instaurada a “persecutio criminis in judicio”, transcorreu o processo em forma legal; ao cabo, a r. sentença de fls. 100/101 julgou procedente a denúncia. Inconformado, porém, com o êxito da causa--crime, vem o réu a esta augusta Superior Instância em busca de absolvição.

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3. Nada obstante o empenho da Defesa, a pretensão do réu não se mostra atendível, uma vez tem contra si o conjunto das provas reunidas no processado e a jurisprudência consagrada por nossos Tribunais de Justiça.

Em seu interrogatório judicial, tocado da força da verdade, admitiu a posse da arma (fl. 69); ajuntou, contudo, a modo de causa de exclusão da culpabilidade, que a utilizava para segurança pessoal, em serviço de vigilância. Regularmente apreendida (fl. 10) e submetida à perícia, ficou-lhe comprovada a potencialidade nocente (fls. 36/38).

Ora, feita em Juízo, a confissão passa por expressão irrefutável da verdade, pelo que lhe chama a doutrina rainha das provas (“regina probationum”).

Com efeito, segundo graves autores, a confissão prestada em Juízo tem força absoluta:

“Ora, a confissão livre é, sem contradição, prova a

mais peremptória, aquela que esclarece, convence e satisfaz, no mais alto grau, a consciência do Juiz: Omnium probationum maxima” (Cons. Vicente Alves de Paula Pessoa, Código do Processo Criminal, 1882, p. 157).

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Seu argumento, porém não afasta o crime, visto que portava arma de fogo contra a expressa disposição da lei, isto é, não lhe possuía o registro. O policial militar Paulo Rogério Casemiro, inquirido na fase de instrução do processo, acrescentou força à denúncia, com declarar que estava em patrulhamento ordinário e surpreendeu o réu na posse irregular de arma de fogo com número raspado (fl. 82). Ao cominar pena a todo aquele que, sem licença de autoridade competente, traz arma consigo, pôs em mira o legislador “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107). Pelo mesmo teor, a lição de Damásio E. de Jesus:

“A ratio legis reside exatamente nisso: para proteger direitos fundamentais do homem, como a vida, o legislador antecipa a punição a fatos que, de acordo com a experiência, conduzem à lesão de bem de valor supremo” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 44).

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Tal proibição respeita diretamente a um dos princípios fundamentais proclamados pela Constituição Federal: “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas” (art. 144). Vem aqui a ponto o magistério da Jurisprudência:

“Pratica o delito previsto no art. 16 da Lei nº 10.826/2003, o agente surpreendido na posse de arma de fogo de uso restrito sem a devida autorização, apta para efetuar disparos e com a numeração raspada” (Rev. Tribs., vol. 862, p. 575; rel. Francisco Orlando).

Ao demais — e aqui bate o ponto —, a invocação de tese excludente de culpabilidade, atento o seu caráter excepcional, reclama prova plena e incontroversa, de que entretanto não se desempenhou a Defesa como lhe cumpria (art. 156 do Cód. Proc. Penal).

O erro sobre a ilicitude do fato, somente se inevitável isenta o réu de pena (art. 21 do Cód. Penal). Das circunstâncias do caso não se extrai pudesse o réu desconhecer a proibição de portar arma de fogo sem autorização legal. Destarte, sua condenação era de preceito.

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A pena está correta: fixada no mínimo legal e substituída por restritiva de direitos. Merece, pois, confirmada em sua inteireza a r. sentença que proferiu, com lógicos e jurídicos fundamentos, o distinto e culto Magistrado Dr. Enoque Cartaxo de Souza. 4. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 30 de março de 2009

Des. Carlos Biasotti Relator

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL Recurso em Sentido Estrito nº 993.07.080403-3 Comarca: Itapecerica da Serra Recorrente: Ministério Público Recorrido: RNN

Voto nº 12.404

Relator – Guarda-se de crítica a decisão que rejeita

aditamento de denúncia por entender que o crime de disparo absorve o de posse de arma de fogo (arts. 15 e 16, nº IV, do Estatuto do Desarmamento).

–“O disparo de arma de fogo absorve o porte” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal de Desarmamento, 5a. ed., p. 89).

–“(...) o disparo de arma de fogo, em local público, configura crime mais grave do que simples posse ou porte, pois atinge a segurança pública, de forma que é crime-fim que absorve o crime-meio” (Rev. Tribs., vol. 791, p. 619; rel. Antonio Manssur).

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– Aquele que, pelos idos de dezembro de 2004, possuía em sua residência arma de fogo, ainda que de uso restrito (art. 16 do Estatuto do Desarmamento), não incorreu em crime, em razão de “atipicidade temporária” ou “ausência de antijuridicidade dos crimes de posse ilegal ou irregular de arma de fogo” (cf. César Dario Mariano da Silva, Estatuto do Desarmamento, 3a. ed., p. 184).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de Direito da 1a. Vara Criminal da Comarca de Itapecerica da Serra, rejeitando-lhe aditamento à denúncia que ofereceu contra RNN, por infração dos arts. 16 e 15 da Lei nº 10.826/03, na forma do art. 69 do Código Penal (porte e disparo de arma de fogo), interpôs Recurso em Sentido Estrito, no intento de reformá-la, o ilustre representante do Ministério Público. Nas razões de fls. 206/210, elaboradas com notável esmero pelo Dr. Salmo Mohmari dos Santos Júnior, afirma que, ao revés do que assentou o douto Magistrado, havia justa causa para o recebimento do aditamento da denúncia, porque “o réu já tinha a arma de fogo e, muito tempo depois, a disparou” (fl. 209). Pleiteia, destarte, o provimento do recurso para que seja a denúncia recebida na íntegra.

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Apresentou a nobre Defesa contrarrazões de recurso, nas quais repeliu a pretensão da combativa Promotoria de Justiça e propugnou a mantença da r. decisão de Primeiro Grau (fls. 218/222). O r. despacho de fl. 223 manteve, por seus próprios fundamentos, a r. decisão recorrida. A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e abalizado parecer da Dra. Eliana Maluf Sanseverino, opina pelo provimento do recurso (fls. 227/229). É o relatório. 2. O órgão do Ministério Público ofereceu denúncia contra o réu porque, no dia 20.12.2004, na Estrada do Shangrilá, em Juquitiba, efetuou disparos de arma de fogo no interior de sua residência e quintal. Consta ainda que o Ministério Público ofereceu aditamento à denúncia em 25.5.2009, para nela incluir também o delito de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei nº 10.826/03) em concurso material de crimes, porém o MM. Juízo de Direito rejeitou o aditamento à denúncia.

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Inconformado com o r. despacho que afastou a imputação de posse de arma de fogo, o Ministério Público veio com razões de recurso em sentido estrito, levando em mira modificá-lo. 3. Salvo o devido respeito, por sua dedicação e talento, ao digno subscritor do recurso (fls. 206/210), tenho por superior à crítica a r. decisão de Primeira Instância, visto que se conformou com a boa doutrina e a jurisprudência dos Tribunais. A douta Promotoria de Justiça propôs aditamento à denúncia para que respondesse o réu também pelo crime do art. 16, nº IV, da Lei nº 10.826/03 (posse de arma de fogo de uso restrito), não só pelo art. 15 (disparo de arma de fogo). O MM. Juiz de Direito, no entanto, contrapôs-se à pretensão ministerial, firme no argumento de que o crime de disparo absorvia o de posse de arma de fogo, já que ninguém disparava arma de fogo sem a tivesse consigo. Tal razão se mostra verdadeiramente cabal e, pois, atendível. A posse preexistente de arma de fogo é, com efeito, essencial para o ato de dispará-la, visto se trata de “conditio sine qua non”.

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A lição de Damásio E. de Jesus vem a ponto:

“O disparo de arma de fogo absorve o porte” (Direito Penal do Desarmamento, 5a. ed., p. 89).

Ainda:

“As duas infrações atingem igual bem jurídico (incolumidade pública), pertencente ao mesmo sujeito passivo (a coletividade), satisfazendo as exigências do princípio da consunção no conflito aparente de normas” (Idem, ibidem, p. 90).

Isto mesmo passa na esfera dos Tribunais:

“Não ocorre concurso material entre os crimes de porte ilegal e disparo de arma de fogo, devendo ser, nestes casos reconhecida a ocorrência da consunção, já que o primeiro delito constitui meio material para executar o segundo. Ademais, o disparo de arma de fogo, em local público, configura crime mais grave do que simples posse ou porte, pois atinge a segurança pública, de forma que é crime-fim, que absorve o crime-meio” (Rev. Tribs., vol. 791, p. 619; rel. Antonio Manssur).

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4. Mais um fundamento poderia acreditar e fortalecer a r. decisão impugnada, que rejeitou o aditamento à denúncia, e é que a data dos fatos — 20.12.2004 (fl. 2) — caiu sob o período de “atipicidade temporária” ou de “ausência de antijuridicidade dos crimes de posse ilegal ou irregular arma de fogo”, segundo o magistério do renomado penalista César Dario Mariano da Silva:

“Com efeito, entendemos que até o dia 23 de outubro de 2005 os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas não poderiam ser responsabilizados penalmente pela posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12), posse ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16, caput) ou posse de arma de fogo com numeração, marca ou sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado (art. 16, parág. único, inc. IV). Isso porque, até lá, poderiam entregá-la à Polícia Federal, nos termos do art. 32 do Estatuto, que teve o prazo prorrogado pela MP nº 253/2005, convertida na Lei nº 11.191, de 10 de novembro de 2005” (Estatuto do Desarmamento, 3a. ed., p. 184).

Em suma: sem embargo do esforço, diligência e talentos da mui digna subscritora das razões de recurso (fls. 206/210) e do primoroso parecer da Procuradoria Geral de Justiça (fls. 227/229), a decisão impugnada não oferece o flanco a censura;

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ao revés, bem considerada, serve a acrescentar a boa reputação jurídica de seu prolator, o distinto e culto Magistrado Dr. Luiz Fernando Migliori Prestes. 5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 14 de outubro de 2009

Des. Carlos Biasotti Relator

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