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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 1839
EMERGÊNCIA DE CULTURAS DE GESTÃO DEMOCRÁTICA EM CAXIAS DO SUL/ RS: ENTRE PRESCRIÇÕES
E PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO (1983-2004)1
Mônica de Souza Chissini2
Considerações Iniciais
Este trabalho apresenta um recorte de pesquisa para dissertação inscrita no campo da
História da Educação que versa sobre os itinerários de democratização da Rede Municipal de
Ensino de Caxias do Sul/RS, entre os anos de 1983 e 2004. O presente artigo utiliza os
conceitos de gestão democrática, práticas e culturas escolares com o objetivo de explicitar
alguns dos percursos de pesquisa sobre o processo de democratização da rede de ensino de
Caxias do Sul/RS. Além disso, busca-se verificar que aproximações e distanciamentos podem
ser evidenciados entre previsões legais e práticas de gestão democrática no contexto
educacional desse município. Desse modo, objetiva-se apresentar uma história da
emergência de culturas de gestão escolar democrática atinente ao referido contexto.
Ancorado na perspectiva da História Cultural, este trabalho subsidia-se a partir dos
estudos de cultura escolar de Antonio Viñao Frago (1995), de práticas em Michel de Certeau
(1985,2014), além da noção de culturas da escola de Agustín Escolano Benito (2005).
Partindo da compreensão de cultura como um conjunto de práticas e significados partilhados
e negociados pelos sujeitos de um determinado contexto, este texto busca apresentar
possíveis entrelaçamentos entre alguns elementos da política educacional nas instâncias local
e nacional e as culturas que emergem no contexto da rede de ensino em análise. Assim,
atenta-se para as relações entre as previsões legais, as quais propõem novas condutas e
organização das instituições escolares, e suas implicações na esfera prática educacional.
A pesquisa que subsidia a escrita deste artigo utiliza a metodologia da análise
documental e da História Oral. Para tanto, a operacionalização da pesquisa se dá pela análise
documental histórica, buscando-se nos documentos indícios do passado, o qual embora
1 Agradecimentos a Dra. Terciane Ângela Luchese pela orientação na trajetória de pesquisa para dissertação que permite a escrita deste trabalho. Agradecimentos também ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul e à CAPES, pela concessão de bolsa/taxa.
2 Mestranda em Educação pela Universidade de Caxias do Sul. Programa de Pós-Graduação em Educação. E-Mail: <[email protected]>.
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jamais possa ser abarcado em sua totalidade, como alerta Terciane Ângela Luchese (2014),
pode ser, em parte, evidenciado a partir dos vestígios em fontes orais e escritas utilizadas e
construídas na pesquisa. A respeito da escrita historiográfica, cabe reconhecer que tal
operação está subjacente ao historiador e à submissão das fontes e dos indícios que ali
emergem ao seu olhar que seleciona, tece as relações e narra uma versão possível da história
que investiga. Portanto, entende-se o trabalho com os documentos na perspectiva de Luchese
(2014), quando aponta que “os documentos tomados como produções humanas, como
indícios, como construções instituidoras de sentidos e significados precisam ser montados e
desmontados e nesse processo emergem categorias de análise e delas subcategorias”
(LUCHESE, 2014, p.150). Assim, o corpus empírico é investigado com vistas à construção de
categorias e subcategorias no âmbito de culturas de gestão democrática na Rede Municipal de
Ensino de Caxias do Sul/RS.
Os procedimentos metodológicos da pesquisa anunciada envolveram a construção do
campo empírico a partir do levantamento de documentos tais como leis, entrevistas
disponíveis em Acervos de Memória de arquivos da cidade, registros anuais de atividades e
planos de trabalho da rede. Além disso, realizaram-se entrevistas cujas transcrições
registram o testemunho de sujeitos implicados no contexto da rede de ensino, especialmente
entre os anos de 1983 e 1996. Os procedimentos para a realização das pesquisas, na
perspectiva da História Oral, iniciaram pela busca de sujeitos que estavam implicados nos
documentos levantados ou que eram referidos por diversos docentes como profissionais
comprometidos com a rede de ensino no recorte temporal referido. Assim, estabeleceu-se
contato com esses sujeitos atuantes no contexto investigado, com a posterior realização de
entrevistas semiestruturadas, após a devida apresentação do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido que expunha os objetivos da pesquisa. Posteriormente, a pesquisa procedeu
com a entrega de transcrições e devolutivas tendo, por fim, o aval dos sujeitos para utilização
das informações disponibilizadas em tais documentos. Logo, além da pesquisa utilizar
documentos advindos de entrevistas disponíveis no Acervo de Memória do Arquivo Histórico
do município, dados foram construídos através das entrevistas que registram o testemunho
de gestores, assessores e professores da RME3 que estavam em exercício na época anunciada.
Essas entrevistas complementam o corpus para análise, o que possibilitou o adensamento da
pesquisa e aproximações da pesquisa quanto a alguns dos modos de fazer gestão educacional,
os quais não estavam presentes nos documentos escritos tampouco nos textos legais.
3 Utiliza-se a abreviação RME para referir-se à Rede Municipal de Ensino em questão neste trabalho.
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Portanto, este artigo tem por objetivo apresentar elementos da pesquisa que vem
contribuindo para constituir parte de uma possível história das culturas de gestão
democrática no contexto de Caxias do Sul/RS, especialmente entre os anos de 1983 e 1996.
Assim, busca-se apontar para algumas práticas que foram sendo apropriadas pelos sujeitos a
partir das previsões legais, ou mesmo antecedendo-as.
Sobre Previsões Legais e Culturas Escolares
Inscrito na História Cultural, o trabalho opera com o suporte teórico dos conceitos de
cultura escolar em Antonio Viñao Frago (1995), de culturas da escola em Agustín Escolano
Benito (2005), enfocando-se a terceira categoria, relativa às normas, além da concepção de
práticas em Michel de Certeau (1985,2014).
A noção de culturas escolares de Viñao Frago (1995), compreendidas em sua
multiplicidade, orienta a concepção de culturas de gestão democrática que propõe este
trabalho. Viñao Frago (1995) propõe um alargamento da noção de cultura escolar, na qual se
admite que todos os elementos que fazem parte da instituição escolar sinalizam para sua
cultura, como faz em sua emblemática afirmação, na qual atenta que “la cultura escolar es
toda la vida escolar” (VIÑAO FRAGO, 1995, p.69). Nesse sentido, dentre os diversos
elementos constitutivos da cultura escolar, este trabalho enfatiza a relevância da análise de
culturas de gestão democrática a partir da noção de práticas que podem ser evidenciadas no
contexto investigado, visto que também integram a vida escolar e educacional. Outrossim, o
deslocamento da cultura escolar, no singular, para a perspectiva de múltiplas culturas
escolares, no âmbito plural, é significativo neste trabalho para pensar cultura(s),
subsidiando-se na noção de culturas da escola de Escolano Benito (2005). Pesquisando o
contexto educacional da Espanha, Escolano Benito (2005) divide as culturas da escola em
três, sendo a primeira relativa ao cotidiano da docência, a segunda relativa à produção do
conhecimento pedagógico e a terceira relativa às normas ou à cultura política e as
implicações práticas de tais prescrições no contexto educacional. A categoria das normas
levantada por Escolano Benito (2005) contribui para a investigação no âmbito das
prescrições legais neste trabalho, embora não se restrinja às normas educacionais e seus
efeitos. Pelo contrário, este trabalho busca atentar para as práticas dentro do contexto da
RME de Caxias do Sul/RS, apontando que há consonâncias e dissonâncias atinentes aos
ordenamentos legais.
Nesse sentido, buscam-se indícios quanto aos modos de fazer gestão democrática,
considerando esses modos de fazer constitutivos de práticas, as quais norteiam essa pesquisa.
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A concepção de práticas neste trabalho orienta-se na perspectiva de Certeau (1985, 2014)
dada sua problematização quanto à utilização e ao consumo. Certeau (1985) apresenta em
seu arcabouço teórico a possibilidade de investigar o que os sujeitos fazem com o que é dado,
buscando compreender como operam os sujeitos e como produzem suas próprias formas de
uso, a partir do que está estabelecido (CERTEAU, 2014). Ainda, Certeau (1985) aponta que se
é e se fala a partir de um lugar, e atenta que cada lugar tem sua rede de representações. Logo,
na Educação, sujeitos ocuparam e seguem ocupando esse lugar no qual circulam
representações as quais atuam tanto nas negociações de identidades quanto nos modos de
fazer. O olhar para a RME de Caxias do Sul e o processo de democratização da época neste
trabalho está circunscrito na perspectiva de Certeau (1985) com vistas a compreender “como
nos servimos dos sistemas de representações” (CERTEAU, 1985, p.05). Desse modo, este
trabalho analisa culturas de gestão democrática a partir do lugar da rede de ensino,
atravessada pelas conjunturas políticas e contingências de espaço-tempo sem perder de vista
os sujeitos e os modos de fazer desses recortes em que estão inscritos. Assim, a concepção de
sujeito neste trabalho é de um sujeito produtor, o qual não é mero receptáculo de regulações,
mas, pelo contrário, é criativo e produz seus modos de fazer a partir, ou para além, dos
ordenamentos e representações circulantes.
O Município de Caxias do Sul/RS e a Rede de Ensino: Itinerários Políticos e eEducacionais
Em vista da análise da Rede de Ensino de Caxias do Sul/RS neste trabalho, apresenta-
se uma breve contextualização da cidade. O Município de Caxias do Sul está localizado no
nordeste do estado do Rio Grande do Sul. A cidade ocupa uma área de 1.652,308 km² e tem
uma população estimada em 479.236 habitantes, conforme estimativa do IBGE4 em 2016. É a
segunda maior cidade do RS, destacando-se no pólo metal-mecânico brasileiro, e apresenta
ampla Rede Municipal de Ensino que atende 85 escolas, as quais atuam na Educação Infantil,
no Ensino Fundamental, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), além da Educação
Especial. O Portal da Educação da RME5 aponta que o número de professores na rede é de
aproximadamente 3.000 enquanto o número de alunos é de 40.ooo.
Dalla Vecchia, Herédia e Ramos (1998) realizaram pesquisa sobre a trajetória da rede
de ensino de Caxias do Sul a partir de documentos escritos e de outros oriundos de
4 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=430510> Acesso em: 19 mar. 2017.
5 PORTAL DA EDUCAÇÃO < http://educacao.caxias.rs.gov.br/course/view.php?id=43>. Acesso em: 15 mar. 2017.
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testemunhos de entrevistas com docentes da rede em diferentes períodos. Esse estudo
resultou em um panorama que contempla décadas de atuação da RME de Caxias do Sul e no
qual são evidenciados alguns de seus itinerários, especialmente entre os anos 40 e 90 do
século XX. Além disso, dados estatísticos de fontes diversas tais como registros da Secretaria
de Educação da cidade foram publicados na obra das autoras e permitem elucidar
especificidades nesses diferentes períodos e gestões. Pautando-se nos dados divulgados por
Dalla Vecchia, Herédia e Ramos (1998), verifica-se que o número de professores da rede veio
aumentando significativamente, especialmente entre os anos 80 e 90 do século XX. Em 1980
o número total de professores da rede era de 606. Em 1990, o número de docentes duplicou
para 1.324 e em 1991 estimava-se o número de professores na rede municipal em 1.517.
(DALLA VECCHIA; HERÉDIA; RAMOS, 1998, p. 217). Além disso, Dalla Vecchia, Herédia e
Ramos (1998) apresentam o número de estudantes da rede municipal de Caxias do Sul no
mesmo período, quando havia, em 1980, um total de 9.254 estudantes, aumentando para
15.926 em 1990 e duplicando em relação aos anos 80 já em 1991, quando passou a registrar
18.365 estudantes. Logo, os números indicam o crescimento da rede de ensino ao longo dos
anos 80 e 90, embora esse viesse ocorrendo desde a década de 60.
A pesquisa de Dalla Vecchia, Herédia e Ramos (1998) sinaliza que a rede de ensino, até
os anos 70, apresentava grande parte de suas instituições escolares na área rural, o que se
inverteu a partir dos anos 70, dado o êxodo rural na região. Assim, a demanda por escolas em
zonas urbanas teria aumentado em face de mudanças relacionadas a fatores socioeconômicos
como a própria transição de atividades produtivas rurais para a crescente atividade industrial
no município em vista da urbanização e da ampliação do setor industrial na cidade. A área
urbana passara também a ampliar os serviços prestados à população no âmbito social e
educacional, o que propulsionava a busca pelo acesso a esses serviços e melhores condições
de vida. Por outro lado, o próprio deslocamento populacional veio a requerer construções de
escolas e ampliação de vagas nas áreas urbanas de modo a atender as comunidades, muitas
das quais vinham se expandindo e constituindo novos bairros na cidade. É nesse período,
nos anos 70, que a mantenedora da rede deixa de ser chamada de Diretoria Municipal de
Instrução e passa a ser nomeada Secretaria Municipal de Educação.
Assim, coube à rede de ensino do município adaptar-se para atender as novas
configurações sociais e administrar o gradativo esvaziamento de algumas das escolas rurais
enquanto multiplicavam-se as solicitações para abertura de vaga na área urbana. Dalla
Vecchia, Herédia e Ramos (1998) apontam que a participação das famílias de alunos na
escola também passara por reconfigurações. Se nas décadas anteriores às de 70 os pais dos
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alunos envolviam-se mais com a escola, tanto em suas atividades como na própria
manutenção de sua estrutura física, nos anos 80 a aproximação deriva de outros objetivos. A
presença dos pais na escola se destinava, para além da demanda das vagas, à busca de
garantia por segurança e acesso à instituição.
Neste período a escola municipal se dispôs a orientar os alunos para o trânsito, para as questões da saúde, para questões de segurança, mas este tipo de orientação não afetou a participação dos pais que era mínima. A visão da escola, para os pais, era a de que os alunos deveriam estar num lugar seguro para aprender a ler, escrever e contar (DALLA VECCHIA; HERÉDIA; RAMOS, 1998, p.183).
O apontamento das autoras sinaliza para significados que eram atribuídos à escola,
como o lugar para aprender as habilidades de leitura e escrita bem como das operações
matemáticas. Ainda não se percebia a instituição escola tal como um espaço de formação ou
relacionado à cidadania. No entanto, já havia preocupação com o acesso e com a segurança
de modo a garanti-lo.
O ano de 1983 trouxe significativas mudanças para a cidade quando o prefeito Victório
Trez assumiu a gestão municipal e propôs novas agendas locais. Nesse período, a professora
estadual Marta Gobbato foi convidada a assumir a gestão da RME de Caxias do Sul e passou a
ocupar-se com questões tal como a organização da rede, além da qualificação de seus
docentes.
Além disso, é também no ano de 1983 que ocorreu o I Simpósio Municipal de
Educação6, o qual tinha por temática as relações entre escola e comunidade. A transcrição do
evento, disponível no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA), de
Caxias do Sul/RS, sinaliza para a presença de diversos segmentos tais como pais envolvidos
com o Círculo de Pais e Mestres (CPMs), discentes, docentes, entre outros. Os sujeitos que
protagonizaram as falas neste evento são: um representante do Círculo de Pais e Mestres, um
professor da Associação dos Docentes da instituição de ensino superior da cidade, a
Universidade de Caxias do Sul (UCS), além dos representantes dos partidos PMDB e PT de
Caxias do Sul à época. Atenta-se para o fato de que o registro do evento (1983) traz diversos
elementos que vem a confirmar a demanda de democratização da escola no município.
Dentre as reivindicações feitas, solicitou-se maior oportunidade de integração escola-
comunidade. Além disso, foi trazida a questão das eleições para diretores com a participação
6 CAXIAS DO SUL (RS). Secretaria Municipal de Educação. EDUCAÇÃO – I Simpósio Municipal de Educação. Palestra transcrita, AHMJSA, 1983, p.1-8.
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da comunidade escolar como um item a ser preconizado pela gestão da Secretaria de
Educação vigente no período.
É possível identificar marcos de democratização da rede de ensino na referida gestão de
Marta Gobbato a partir de Dalla Vecchia, Herédia e Ramos (1998). Além disso, em entrevista
disponível no Acervo de Memória do AHMJSA, a antiga gestora Marta Gobbato7 (2006) trata
do período em que esteve à frente da Secretaria de Educação de Caxias do Sul (1983-1985).
Em seu depoimento, Gobbato explicou ter buscado atender algumas das demandas feitas
pelas comunidades escolares com vistas a reorganizar a rede e qualificar os docentes. Logo,
tanto a pesquisa de Dalla Vecchia, Herédia e Ramos (1998), como a entrevista de Gobbato
(2006) e outras fontes orais advindas de entrevistas realizadas na pesquisa em questão
sinalizam para efetivas contribuições na gestão Gobbato para a reorganização da rede. Dentre
as contribuições, destacam-se a formalização do ingresso para a docência com o início da
realização de concursos, a discussão de formas mais democráticas de ingresso e fomento de
encontros pedagógicos com vistas à qualificação docente. Por fim, destaca-se também a
conquista das eleições para diretores de escola na rede municipal, com a participação da
comunidade escolar, a qual foi promulgada pela Lei nº 2.888, em 26 de junho de 1984, em
Caxias do Sul. É no artigo 2 que consta o envolvimento do colegiado e, portanto, de
representantes da comunidade escolar: “a) pelos professores e funcionários em exercício na
unidade escolar; b) representação dos Pais de Alunos da Unidade escolar; c) por uma
representação de alunos” (CAXIAS DO SUL, 1984). Logo, pode-se evidenciar que as
demandas presentes no I Simpósio Municipal de Educação (1983) relativas à participação da
comunidade escolar no processo de escolha do Diretor de Escola foram atendidas e
concretizadas um ano depois, o que configura um marco democrático na gestão da rede em
análise.
Emergência de Culturas de Gestão Democrática na RME de Caxias do Sul/RS
A gestão democrática no âmbito educacional é um conceito que implica em noções
abrangentes, as quais podem ser concebidas a luz de diferentes perspectivas. Além disso, ao
tratar de gestão educacional ou gestão escolar, categorias podem ser tomadas a priori ou
emergirem após construção da empiria, esse último caso correspondendo ao referencial
teórico-metodológico deste trabalho. De qualquer modo, algumas concepções de gestão
democrática são abordadas a luz de estudiosos do tema. Ao analisar as políticas educacionais
7 GOBBATO, Marta. Entrevista transcrita. Educação em Caxias do Sul – 1983-1988. Entrevistada por Sônia Storchi Fries, AHMJSA, 2006, p.1-4.
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e a democratização da gestão no cenário brasileiro, Luiz Fernandes Dourado (2006) propõe
entender a gestão democrática tal como:
[...] processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do “jogo” democrático [...]” (DOURADO, 2006, p. 79).
Logo, a perspectiva de Dourado (1998) de gestão democrática destaca-se quando essa
pressupõe a multiplicação de espaços nos quais se possa participar e aprender a “jogar” o
jogo democrático. Nesse sentido, atenta-se para o fato de que a pesquisa sobre Culturas de
Gestão democrática na RME de Caxias do Sul permitiu verificar a efetiva abertura de espaço
para participação e a consequente visibilidade de muitos dos sujeitos da Educação no
contexto investigado. Desse modo, vê-se na gestão democrática a possibilidade de trânsito e
participação de mais sujeitos implicados no contexto educacional, seja na condição de
docente, discente, familiar ou funcionário, nos processos de decisão e configuração de leis e
normas que o regulam. Apesar disso, ressalta-se que entre normas e práticas há margem
para a arte de “dar golpes” (CERTEAU, 1985). Entre o que se propõe e o que se faz operam-se
aproximações e distanciamentos no âmbito das práticas, as quais podem ser de ordem tática
(CERTEAU, 1984), quando fugidias em relação à regulação que quer ordená-las. A própria
ruptura com modelos centralizados de governo para modelos menos verticais e mais
participativos pode ser vista nessa perspectiva de subversão ao romper com prescrições
conservadoras e centralizadas.
No que tange a gestão educacional, observa-se que a concepção de administração
centralizada, antes perseguida como modelo no contexto brasileiro, da década de 30 quando
no fôlego desenvolvimentista, e mesmo em décadas subsequentes, quando a burocratização
administrativa começou a ser mais amplamente discutida, foi sendo paulatinamente
rejeitada. Com a emergência de um viés de gestão histórico-crítico, a administração escolar
burocrática e verticalizante é problematizada, inaugurando outros modos de significar e fazer
gestão escolar. André Antunes Martins (2010) aponta para a ruptura da visão tecnicista e
funcional atrelada à administração enquanto fortalece-se uma perspectiva de participação
social nos processos de gestão. No contexto brasileiro, esse período corresponde ao fim do
regime militar e à redemocratização do Estado e suas relações com a sociedade civil. Nessa
conjuntura ocorre essa transição nos modelos de gestão educacional, como também aponta a
tese de Viviane Klaus (2011), de um modelo administrativo, mais tecnicista, para um modelo
de gestão voltado para concepções de qualificação e desenvolvimento. Esse deslocamento
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torna-se bastante evidente ao final dos anos 80 e no início dos nos 90 também nas políticas,
tendo em vista a proliferação de leis que asseguram os princípios da gestão democrática.
Dentre elas, estão a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, nº
8069/90 bem como a Lei de Diretrizes e Bases nº 9394, de 1996, que preveem a participação
da comunidade escolar na gestão da escola. Ademais, despontam essas leis em consonância
com ordenamentos internacionais como sinaliza Oliveira (1997) ao afirmar que:
a maioria das propostas em âmbito federal, estadual e municipal apresentam aspectos convergentes com o conjunto de princípios acordados na Conferência Mundial de Jontiem, na Tailândia e na Declaração de Nova Delhi de dezembro de 1993 (OLIVEIRA, 1997, p. 10).
Logo, pontua-se que a emergência dos princípios de gestão democrática fortaleceu-se
no Brasil em vista de rupturas de modelos e de acolhimento de demandas sociais,
reconhecendo-se também as articulações dessas políticas com agendas internacionais.
Da mesma forma que se buscou a descentralização da administração pública no âmbito
nacional no cenário pós-regime militar, com resultados perceptíveis na Constituição Cidadã,
de 1988, evidenciou-se abertura democrática no contexto de Caxias do Sul/RS. Para tanto,
destaca-se a promulgação da Lei Orgânica do Município de Caxias do Sul, em 1990, que
trata, no parágrafo relacionado à Educação, de assegurar a gestão democrática nos espaços
escolares. Além disso, destaca-se o processo de discussão e criação de Conselhos Municipais,
dentre eles o Conselho Municipal de Educação, pela Lei nº 3.930 de 11 de dezembro de 1992,
a qual publicava as atribuições do Conselho, integrado por representantes de segmentos
diversificados relacionados ao contexto educacional da cidade.
A democratização nas políticas educacionais no âmbito da RME de Caxias do Sul/RS
pode ser observada especificamente em algumas gestões, que passaram a priorizar questões
tais como a qualificação docente, a organização da rede e o acesso à educação. Logo, em
Caxias do Sul a gestão da professora Marta Gobbatto (1983-1985) evidencia movimentos de
democratização na rede de ensino, destacando-se especificamente neste trabalho: 1) a busca
em assegurar a participação da comunidade escolar nas Eleições de Diretor, com a Lei
Municipal 2.888 de 1984; 2) esforços para democratizar o ingresso ao magistério municipal,
tendo em vista concursos que passaram a ser realizados para tanto 3) a realização de
Semanas da Educação, que vinham servindo de espaço de qualificação docente, mas também
de discussão dos entraves educacionais na época. Para a professora Jaqueline Bernardi
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(2017)8, uma das entrevistadas da pesquisa que fomenta este artigo, esses encontros foram
também marcos democráticos, haja vista as pautas educacionais e a presença de
representantes de diversos segmentos da comunidade para discussão da Educação no
município.
Sobre a trajetória da professora Marta Gobbato, destaca-se que a antiga gestora fora
cedida pelo Estado do Rio Grande do Sul para gerir a Educação Municipal. Dada essa
conjuntura, Gobbato (2006) considera que sua gestão teria sido atravessada pelo contexto do
magistério estadual. Em vista disso, ela avalia que houve certa influência das pautas de luta
para a qualificação do magistério estadual do Rio Grande do Sul, nos anos 80, na sua gestão e
nos encaminhamentos que fizera ao longo dos três anos em que permanecera na rede, entre
1983 e 1985.
A gestão Gobbato (1983-1985) iniciara nos últimos anos de um contexto nacional de
regime conservador militar e finaliza quando o Brasil passava por um processo de
redemocratização política. Percebe-se que a pauta democrática esteve presente na RME de
Caxias do Sul, visto os indícios de ações democráticas que antecederam a promulgação da
Constituição Federal de 1988. Entretanto, o princípio da gestão democrática, presente no
Artigo 206, inciso VI passa a estar previsto nas leis municipais somente quando estendido
pela já antes referida Lei Orgânica Municipal de Caxias do Sul, especificamente nos artigos
174 e 175. Além disso, o artigo 177 prevê a participação da comunidade escolar ao preconizar
que:
Será assegurado aos pais, professores, alunos e funcionários organizarem-se paritariamente, em todos os estabelecimentos de ensino, através de associações, grêmios ou outras formas, buscando participar e apoiar a escola. [...] Os diretores das escolas públicas municipais serão escolhidos, mediante eleição direta e uninominal, pela comunidade escolar, na forma da lei. (CAXIAS DO SUL, 1990 , p.67).
A presença do artigo 177 na Lei Orgânica Municipal (1990) sinaliza para busca de
garantias da participação da comunidade escolar, o que pode ser evidenciado como prática
efetivada na gestão da RME de Caxias do Sul pelo professor Odir Ferronatto, mesmo antes de
1990. Com a vitória nas eleições municipais de 1985 por parte de Mansueto Serafini, a
Prefeitura inicia um novo período administrativo. Com a transição, o então novo prefeito
Mansueto Serafini convidava o professor Odir Ferronatto para assumir a gestão da Secretaria
de Educação e Cultura (SMEC), mantenedora a qual tinha sob sua responsabilidade duas
8 BERNARDI, Jaqueline M. Entrevista transcrita [jan. 2017]. Entrevistadora: Mônica de Souza Chissini. Caxias do Sul, RS: 2017. Entrevista realizada para pesquisa sobre Culturas de gestão democrática em Caxias do Sul (RS).
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grandes pastas: da Educação e da Cultura, embora os documentos da pesquisa apontem
também que as atividades de desporto também estivessem vinculadas a SMEC.
Entrevistados da pesquisa para dissertação que subsidia este artigo apresentam relatos
de que Ferronatto, de forma bastante arrojada, teria visitado as dezenas de escolas do
município, com o fim de conhecer os contextos das escolas e que necessidades as
comunidades escolares tinham naquele período. Ferronatto, gestor da SMEC entre os anos de
1986 e 1992 e, posteriormente, entre os anos de 1993 e 1994, é um dos sujeitos entrevistados
da pesquisa. Ferronatto9 (2017) elucida, em sua entrevista, diversos elementos que
evidenciam mudanças quanto aos modos de fazer gestão educacional no contexto da rede de
ensino de Caxias do Sul/RS ao longo de sua atuação como Secretário de Educação. As
práticas evidenciadas por Ferronatto (2017), dentre outros sujeitos entrevistados, atuantes na
rede no período investigado, sinalizam para uma ruptura em relação às práticas de gestões
anteriores. Além disso, os modos de fazer das gestões Ferronatto (1986-92 e 1993-94) são
fortemente marcados pelo diálogo e pela democratização das relações entre mantenedora e
escolas, assessores pedagógicos e docentes, Secretário e magistério municipal. Dentre
documentos levantados disponíveis no AHMJSA destacam-se Relatórios anuais de atividades
da SMEC10 nos quais é perceptível o fomento à qualificação docente e à participação ao longo
da gestão Ferronatto. Nesses relatórios é possível verificar uma relação completa de
atividades realizadas, e suas respectivas temáticas, promovidas pela mantenedora, muitas
das quais tinham por objetivo a qualificação docente. Dentre as atividades registram-se
visitas regulares às escolas municipais pelos assessores pedagógicos, cursos, seminários e
simpósios, os quais, em diversas ocasiões finalizavam com abertura para debate e
encaminhamento de ações pedagógicas para a rede. Ainda, no Relatório final de ações
pedagógicas de 1989 a 199211, também disponível no AHMJSA, referente à gestão de Odir
Ferronatto, justifica-se que “com referência à valorização do profissional, a Secretaria
Municipal de Educação e Cultura teve como princípio básico o planejamento participativo”
(CAXIAS DO SUL, 1989-92). De fato, as narrativas da História Oral que constituem a empiria
da pesquisa apontam para a abertura de participação para o planejamento e a coordenação
do ensino municipal, em especial nos anos de 1989 a 1996, haja vista mudanças tais como: a
9 FERRONATTO, Odir M. Entrevista transcrita [jan. 2017]. Entrevistadora: Mônica de Souza Chissini. Caxias do Sul, RS: 2017. Entrevista realizada para pesquisa sobre Culturas de gestão democrática em Caxias do Sul (RS).
10 CAXIAS DO SUL (RS). Relatório anual de atividades desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura no Biênio 89-90. Disponível no Arquivo Público do AHMJSA, 1991.
11 CAXIAS DO SUL (RS). Relatório final de ações pedagógicas da Secretaria Municipal de Educação e Cultural. 1989-1992. Disponível no Arquivo Público do AHMJSA.
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ruptura do modelo de gestão da SMEC até então sempre ocupado pelo magistério estadual
com o convite exclusivo para professores do magistério municipal para assessorar a SMEC.
Além disso, são evidentes os esforços dos Secretários e Assessoras vigentes no período
em dialogar com as escolas e comunidades escolares. É possível verificar ações tais como
frequentes visitas de assessores nas escolas e de professores na Secretaria, receptividade na
SMEC aos docentes, em um período marcado por mudanças no espaço físico da
mantenedora, que derrubou suas paredes internas e deu acesso direto ao Secretário e
Assessoras, desde que respeitado o tempo de fila de espera. Outros elementos de gestão
democrática que se pode observar são a organização do quadro de professores, a
implementação de um sistema mais democrático de remoção por tempo de serviço, além da
aplicação de questionários que eram oferecidos pela SMEC às escolas com o objetivo de
avaliar o desempenho da própria Secretaria, que, com isso, buscava indicadores para
qualificar sua operacionalização e contribuir para a qualidade de ensino e capacitação
docente. Essas são algumas das inúmeras práticas que puderam ser evidenciadas em
documentos escritos e orais da pesquisa e muitas das quais sinalizam para culturas de gestão
democrática.
Ainda, no que se refere à ênfase na qualificação dos docentes, observa-se,
principalmente a partir dos testemunhos, que os professores solicitavam cursos e simpósios
às assessoras conforme as necessidades que emergiam de seus contextos, e essas temáticas
são observáveis nos relatórios da SMEC. Novamente, documentos orais e escritos - tanto as
entrevistas realizadas com antigos gestores, assessores e professores da rede quanto os
relatórios de atividades da SMEC, disponíveis no AHMJSA - registram essas tessituras entre
demandas e concretização de eventos com pautas voltadas para o ensino e a aprendizagem, a
leitura e o planejamento pedagógico.
Ferronatto deixaria a gestão da Secretaria antes de completar os três anos previstos
para sua segunda gestão e a Secretaria teria ainda dois gestores da Educação na
administração do então prefeito Mário David Vanin. Em 1997 o Município passaria por nova
transição política, quando Caxias do Sul passava a ser administrada pelo prefeito Pepe
Vargas, eleito pela Frente Popular (PT-PPS-PSB-PCdoB-PV). Entre 1997 e 2000 e,
posteriormente, quando reeleito e deu continuidade à sua administração entre 2001 e 2004,
Pepe Vargas capitaneara uma gestão municipal na perspectiva da Administração Popular. O
período foi marcado pelo convite ao envolvimento da população em processos de decisões
quanto ao destino de recursos após levantamento de necessidades das comunidades da
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cidade, processo chamado de Orçamento Participativo, e percorreria outros caminhos de
gestão democrática.
No âmbito da RME de Caxias do Sul/RS, testemunhos da pesquisa apontam para
transições nas configurações educacionais, dentre elas o convite a novos sujeitos para compor
a assessoria e Secretaria de Educação e mudanças quanto aos princípios orientadores nas
próximas gestões. De qualquer modo, tendo em vista que a empiria da pesquisa demandou
maior ênfase aos anos entre 1983 e 1996, não se adentrou nos itinerários educativos de 1996
e 2004. Portanto, encerra-se brevemente com a sinalização de que as políticas do período,
como o já citado Orçamento Participativo, evidenciam relativo amadurecimento na
perspectiva democrática do Município de Caxias do Sul bem como em aspectos da rede de
ensino.
Considerações Finais
Observa-se que, embora existam conflitos e tensões em face das relações de poder, há
indícios de apropriações dos sujeitos que exercem práticas criativas, constituindo essas,
diferentes modos de fazer que, menos protocolares, constituem novas culturas de gestão
democrática no contexto da Rede Municipal de Caxias do Sul/RS.
Considerações parciais a partir da pesquisa permitem apontar para a presença de
esforços para a democratização no contexto de Caxias do Sul/RS, além de efetivação de
práticas democráticas na rede, muitas das quais ocorreram previamente à promulgação da
Constituição Federal de 1988. Na continuidade da pesquisa busca-se analisar tais práticas de
gestão escolar democrática, buscando elucidar alguns dos significados partilhados e práticas
de gestão educacional no contexto de democratização da RME de Caxias do Sul, os quais
constituem culturas de gestão democrática no recorte específico.
Além disso, os registros de atividades realizadas em algumas das gestões da rede de
ensino e o testemunho dos sujeitos entrevistados, analisados de forma articulada,
permitiram que se visibilizassem muitas práticas, as quais não estavam registradas nos
Arquivos Públicos ou internos da RME. Tendo em vista a produção de modos próprios de
fazer gestão democrática - nas idas e vindas entre assessores e docentes, nos encontros entre
comunidades escolares, na potência das interlocuções dos eventos subsidiados, na escuta e na
busca por qualificação docente e participação democrática - percebem-se tessituras e
apropriações que vão, por vezes, além do que prescreve a legalidade. Embora se aproximem
do princípio maior de gestão democrática previsto na forma da lei na Constituição Federal de
88 e na própria Lei Orgânica do Município, de 1990, que passou a prever a gestão
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democrática nos espaços escolares do Município, observa-se produção para além das
previsões. Assim, pode-se apontar que muitas vezes as práticas precederam a emergência das
peças legais referidas. Portanto, ora tem-se o mero consumo, na perspectiva de Certeau
(2014), ora tem-se o aparente protagonismo e ineditismo de alguns contextos educacionais
como o de Caxias do Sul/RS, de produção para além do consumo, o qual movimentou esse
percurso investigativo. Afinal, os caminhos desta pesquisa permitem verificar a emergência
de práticas de gestão democrática estabelecidas nas relações de forma mais horizontal e
menos vertical.
Referências
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