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61 ARQTEXTO Uma análise de seis edifícios de habitação coletiva em Porto Alegre na década de 50. EMIL BERED: SEIS EDIFÍCIOS Eneida Ripoll Ströher Em 1949, formou-se em Porto Alegre a primeira turma do Curso de Arquitetura oriunda da Escola de Belas Artes. O Curso tinha uma forte vinculação aos preceitos e ideários modernistas e os arquitetos dela egres- sos pretendiam exercer a profissão dentro desses ideais. Encontraram um mercado de trabalho ainda muito conservador e com resistências à aceitação das propostas da arquitetura moderna. Tiveram que fazer concessões no sentido de conciliar seus objetivos adequando-os a uma realidade física local, a uma cidade tradicional, à aceitação por parte dos clientes da proposição de espaços inovadores, assim como à adoção de materiais e técnicas tradicionais. A arquitetura aqui produzida revela, além de referências corbusianas e da arquitetura carioca, também influências da arquitetura produzida no Uruguai. O intenso intercâmbio que havia entre professores e alunos dos cursos de Porto Alegre e de Montevidéu repercutiu na produção arquitetônica local. O arquiteto Emil Bered é um representante dessa geração formada na turma de 1949 e que na década de 50 começou a atuar em Porto Alegre, produzindo obras onde soube conciliar propostas radicais da arquitetura moderna à realidade existente. A preocupação com as questões formais e relativas a caráter e com- posição aparece claramente em depoimentos de arquitetos na época. De acordo com Bered: "A caracterização deste tipo de arquitetura identifica-se pela obediência que ela apresenta aos preceitos que regem a boa composição: planta livre, simples e bem definida, integração dos espaços externo e interno, vinculando estes princípios aos estabelecidos pelos nossos costumes e preferências artísticas". 1 O conteúdo deste trabalho é parte da dissertação apresentada para conclusão de mestrado na área de Teoria, História e Crítica da Arquitetura, PROPAR/UFRGS, 1998. Neste trabalho apresenta-se uma descrição e análise de seis edifícios de habitação coletiva projetados pelo arquiteto Emil Bered em parceria com os arquitetos Salomão Kruchin (todos) e Roberto Félix Veronese (Linck e Santa Teresinha).

EMIL BERED: SEIS EDIFÍCIOS - ufrgs.br Eneida.pdf · tabuleiro de xadrez, as marcações diferenciadas formam um jogo de saliências, cores e texturas no reboco, segundo três regras

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61 ARQTEXTO

Uma análise de seis edifícios de habitação coletiva emPorto Alegre na década de 50.

EMIL BERED:SEIS EDIFÍCIOS

Eneida Ripoll Ströher

Em 1949, formou-se em Porto Alegre a primeira turma do Curso deArquitetura oriunda da Escola de Belas Artes. O Curso tinha uma fortevinculação aos preceitos e ideários modernistas e os arquitetos dela egres-sos pretendiam exercer a profissão dentro desses ideais. Encontraram ummercado de trabalho ainda muito conservador e com resistências à aceitaçãodas propostas da arquitetura moderna. Tiveram que fazer concessões nosentido de conciliar seus objetivos adequando-os a uma realidade física local,a uma cidade tradicional, à aceitação por parte dos clientes da proposiçãode espaços inovadores, assim como à adoção de materiais e técnicastradicionais.

A arquitetura aqui produzida revela, além de referências corbusianase da arquitetura carioca, também influências da arquitetura produzida noUruguai. O intenso intercâmbio que havia entre professores e alunos doscursos de Porto Alegre e de Montevidéu repercutiu na produção arquitetônicalocal.

O arquiteto Emil Bered é um representante dessa geração formadana turma de 1949 e que na década de 50 começou a atuar em Porto Alegre,produzindo obras onde soube conciliar propostas radicais da arquiteturamoderna à realidade existente.

A preocupação com as questões formais e relativas a caráter e com-posição aparece claramente em depoimentos de arquitetos na época. Deacordo com Bered: "A caracterização deste tipo de arquitetura identifica-sepela obediência que ela apresenta aos preceitos que regem a boacomposição: planta livre, simples e bem definida, integração dos espaçosexterno e interno, vinculando estes princípios aos estabelecidos pelos nossoscostumes e preferências artísticas".1

O conteúdo deste trabalho é parte da dissertação apresentada paraconclusão de mestrado na área de Teoria, História e Crítica da Arquitetura,PROPAR/UFRGS, 1998. Neste trabalho apresenta-se uma descrição e análisede seis edifícios de habitação coletiva projetados pelo arquiteto Emil Beredem parceria com os arquitetos Salomão Kruchin (todos) e Roberto FélixVeronese (Linck e Santa Teresinha).

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EDIFÍCIO LINCK/1952Situado na Travessa Linck, número 55, em um cul-de sac, o edifí-

cio possui nove pavimentos, em terreno com grande declividade paraos fundos. Desenvolve-se em dois blocos, configurando dois aparta-mentos por andar, um voltado para a frente norte e outro para os fundos.Acessos, circulações e zonas de serviço unem as duas pernas de um "H",formando duas áreas internas de iluminação e ventilação.

O edifício ocupa o terreno de divisa à divisa, dispondo de umúnico plano de fachada tratada (Fig.1). Os elementos de composição2

representados nessa fachada distribuem-se em dois setores distintos: nabase recuada estão as entradas principal, de serviço e de carros (garagemno subsolo) - a parte posterior é ocupada por um apartamento idênticoao tipo. No corpo do edifício, volume superior, ficam representados osdormitórios e as salas com duas sacadas. Os elementos de arquiteturaque dão fechamento a estes volumes ficam representados no térreo, porpilotis soltos no primeiro plano, tendo como pano de fundo o acessoprincipal ao lado de painel de pastilhas de vidro de Saulo Gomes.

No volume superior, o plano da fachada é ressaltado em relaçãoàs paredes laterais da divisa, formando uma caixa saliente. Os pavimentossão fatias marcadas horizontalmente pelas lajes que definem planos eencontram as laterais da caixa. Os ambientes de estar e jantar e os trêsdormitórios são voltados para a fachada principal em um dosapartamentos e, no outro, para os fundos. Existe uma ambigüidade naexpressão formal das funções, sendo o estar, o jantar e um dos dormitóriosrecuados com sacada frontal e acabamento em gradil metálico, e osoutros dois dormitórios em volume avançado marcado por revestimentoem cor marrom. Portas e janelas possuem proteção de venezianas deenrolar. No bloco dos fundos, são abolidas as sacadas.

As plantas baixas dos apartamentos do pavimento-tipo (Fig. 3)são simétricas em relação a um corpo central, onde ficam localizadasas circulações social e de serviço (escadas e elevadores) e parte dasáreas de serviço. Salas e dormitórios alinham-se nas fachadas e ba-nheiros, cozinhas, dormitórios de empregada e áreas de serviço voltam-se para as duas áreas internas. Aparece na planta, como peculiar, umaparede que avança da cozinha e separa o ambiente de jantar. A função'costura' define uma peça, revelando um lado conservador da vidafamiliar gaúcha e, por outro lado, atendendo à legislação que estabeleciauma metragem mínima, de sete metros quadrados, para o quarto espaçoproposto, além dos três dormitórios.

A planta baixa do térreo (Fig. 2) desenvolve, no espaço corres-pondente ao apartamento da frente, um depósito cujo volume serve defundo para painel de azulejos, uma escada de acesso ao hall e portariae uma área coberta com marcação de pilotis com sinuoso desenho dejardineiras que se estendem para o interior, formando um jardim noespaço correspondente a uma área interna aberta. Acessos laterais dãopara a garagem no subsolo. No térreo, ao fundo, há a repetição doapartamento-tipo.

FIG. 3 Planta Baixa Pavimento Tipo Edifício Linck.

FIG. 2 Planta Baixa Térreo Ed. Linck.

Térreo1 - Hall2 - Portaria3 - Área coberta4 - Jardim5 - W.C.6 - Depósito7 - Ap. tipo8 - Terraço

FIG. 1 Foto Ed. Linck.6

Pavimento Tipo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar3 - Sala de jantar4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.7 - Área de Serviço8 - Vestiário9 - Copa-cozinha10- Dorm. Empregada11- Quarto de costura12- Sacada

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EDIFÍCIO REDENÇÃO/1954Situado na Rua República, 21, esquina Av. João Pessoa, com

nove pavimentos mais o térreo, duas fachadas voltadas para via pública.A fachada da João Pessoa tem orientação solar nordeste, e a daRepública, sudeste.

O edifício desenvolve-se em bloco compacto, em formato de "L",com uma área interna aberta. O volume, um pouco mais alto e maissaliente em relação às divisas na esquina, recua na terça parte dafachada da República, voltando ao alinhamento.

Os elementos de composição distribuem-se no corpo do edifícioe são representados nas fachadas (Fig. 4) pelas salas e dormitórios e,na base, com pé-direito alto e a ampla área coberta com pilotis, hallcom entrada social, entrada lateral de serviço e, dando fechamento aoconjunto, encostado na divisa lateral, uma área para loja.

Os elementos de arquitetura, claramente definidos no térreo comouma mureta de pedra que contorna parte do edifício, os pilotis, asesquadrias que dão fechamento ao hall, um painel de cerâmica quemarca a transição da área social para a entrada de serviço e a esquadriada loja, justapõem-se até a divisa. No corpo do edifício, os elementosde arquitetura são condicionados por uma grelha quadrangular definidapela divisão interna das peças e pelas lajes de entrepiso. Como em umtabuleiro de xadrez, as marcações diferenciadas formam um jogo desaliências, cores e texturas no reboco, segundo três regras diferentes,em três setores do edifício. Na fachada da rua da República, além dafaixa vertical lisa, duas soluções; na da rua José do Patrocínio outra,guardando elas entre si elementos moduladores de referência. Asesquadrias são semelhantes, todas com proteção de venezianas.

As plantas baixas do pavimento-tipo (Fig. 5) contêm três aparta-mentos de três dormitórios: um voltado para a rua José do Patrocínio,um na parte saliente e outro na recuada da rua da República. Nos doisapartamentos da esquina, as salas e dormitórios estão todos voltadospara as vias públicas, as demais peças são iluminadas e ventiladas porpoço interno ou faixa livre na divisa do lote. O terceiro apartamentopossui um dormitório voltado para dentro, juntamente com os serviços.O edifício possui três elevadores e as circulações públicas, social e deserviço, não ficam completamente isoladas.

Na planta do pavimento térreo (Fig. 6), praticamente ocupandotodo o lote, os elementos de composição distribuem-se a partir de umaloja que estabelece a transição com o vizinho no lado da República,justaposta a ela a entrada de serviço e a sala dos transformadores; aofundo, apartamento do zelador que se conecta com portaria e esta como hall de acesso social e elevadores; ampla área com pilotis, onde sesitua escada de acesso embutida na mureta de pedra da base quemargeia o hall e rampa de acesso ao subsolo com garagem.

FIG. 4 Foto Ed. Redenção.

FIG. 5 Planta Baixa Pav. Tipo Ed. Redenção.

Pavimento Tipo1 - Vestíbulo2 - Sala estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório

5 - Banheiro6 - W.C.7 - Área de serviço8 - Despensa

Térreo1 - Vestíbulo2 - Sala estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.

FIG. 6 Planta Baixa Térreo Ed. Redenção.

7 - Hall8 - Portaria9 - Área Coberta10 - Loja11 - Medidores

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EDIFÍCIO SANTA TERESINHA/1954Situado na Rua Santa Teresinha com Rua Jerônimo de Ornelas,

em terreno de forma irregular, plano, tendo a esquina um ângulo aber-to, obtuso, e possuindo cinco pavimentos com três apartamentos porandar. A fachada da rua Santa Teresinha, onde fica situada a entradaprincipal, tem orientação solar nordeste.

O edifício desenvolve-se em dois blocos bem definidos (Fig. 9),unidos por um terceiro, a circulação pública, indo os dois até a divisaoeste e o voltado para a rua Santa Teresinha, até a divisa norte. Entreblocos e divisa norte, áreas de iluminação e ventilação. Os dois blocosprincipais de apartamentos possuem entre si um desnível de meiopavimento.

Os elementos de composição representados no bloco voltadopara a rua Jerônimo de Ornelas são: as garagens, na base, e as salase dormitórios dos apartamentos que se sobrepõem a estas. Na fachadada rua Santa Teresinha, o bloco tem a base marcada pela lateral dasgaragens e pavimentos superiores, onde se desenvolvem salas e gabine-tes. O bloco central de circulação articula a bi-polaridade volumétrica erelaciona, através do hall, elevador e escadas, os desníveis dos diversosapartamentos, sendo o bloco mais alto dos três. O bloco voltado para arua Santa Teresinha, encostado na divisa, possui altura intermediária, eo térreo tem meio pé-direito acima do nível da rua. Na fachada, estãorepresentados os dormitórios e salas.

O edifício possui todo o térreo recuado em relação aos outrospavimentos, sendo que na fachada sul, as garagens estão no limite dolote e os pavimentos superiores projetam-se sobre a calçada. Dos edifí-cios estudados, é o único que não possui térreo com pilotis e aparece atentativa de uma marcação de pilares nas garagens, onde é forçadauma situação de modulação que não corresponde exatamente às divi-sões internas. O tratamento da fachada acima das garagens asseme-lha-se ao do edifício Redenção, com barras horizontais e marcação doselementos de composição que expressam suas posições na organizaçãoda planta, através de malha quadrangular definida pelas lajes e paredesinternas. Sacadas definem as zonas de estar.

FIG. 9 Foto Ed. Santa Teresinha.

FIG. 7 Planta Baixa Térreo Ed. Santa Teresinha.

Térreo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.

FIG. 8 Planta Baixa Pav. Tipo Ed. Santa Teresinha.

Pavimento Tipo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar/jantar3 - Gabinete4 - Cozinha5 - Dormitório

7 - Área de serviço8 - Despensa9 - Área Coberta10 - Hall11 - Garagem

6 - Banheiro7 - W.C.8 - Área de serviço9 - Despensa10 - Sacada

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Na fachada da rua Santa Teresinha, a lateral do bloco da esqui-na é praticamente cega, possuindo somente pequenas aberturashorizontais. O acesso central é marcado por esquadria vertical queenfatiza a separação dos blocos, sem interrupções de outros elementosnos cinco pavimentos. Marcando e protegendo a entrada do edifício,uma laje com furo de desenho caprichoso “morde” o bloco da esquina.O bloco final da Santa Teresinha avança acompanhando o terreno emângulo e tem tratamento com base recuada e revestida de pedras eandares superiores, onde a salas são marcadas com sacadas e asesquadrias dos dormitórios ficam relacionadas através de contornosaliente que as une.

A planta baixa do pavimento térreo (Fig. 7) é composta pelasgaragens no bloco da esquina, mesmo nível do acesso principal, e,meio pé-direito acima, no outro bloco, dois apartamentos de dois dor-mitórios voltados um para o interior do terreno e outro para a rua SantaTeresinha. Nos pavimentos-tipo (Fig. 8), em cima das garagens, amploapartamento de três dormitórios, salas e gabinete e, no bloco meiopavimento acima, um apartamento de dois e um de três dormitórios.Um único apartamento não possui entrada de serviço independente.

EEDIFÍCIO AMAZONAS/1954Situado na Rua Venâncio Aires, 515, com cinco pavimentos-tipo

mais o térreo, em terreno com formato irregular de cachimbo. Frentenoroeste, 11m de largura.

O edifício desenvolve-se em dois blocos, configurando doisapartamentos por andar, um voltado para a frente e outro para o fundodo lote, ligados por uma ala de circulação e serviços. A planta dopavimento tem o formato de um "U", com uma área central de iluminaçãoe ventilação.

O edifício ocupa o terreno de divisa à divisa, dispondo de umúnico plano de fachada tratada (Fig.10).

Os elementos de composição representados nessa fachadadistribuem-se em dois setores distintos: na base recuada, com pé-direitomais alto, estão as entradas social e de serviço juntas, o volume da áreadestinada à loja e, na entrada da garagem, um vazio. No corpo doedifício, volume superior, ficam representados os dormitórios e a salas.

Os elementos de arquitetura que dão fechamento a estes volu-mes também revelam a distinção entre os dois setores. No térreo, emplano à frente, soltos, dois pilotis, alinhados externamente às paredeslaterais. O pavimento térreo possui pé-direito maior e uma laje cortahorizontalmente a fachada, avança em relação ao plano da mesma,suspensa entre os pilares, dividindo horizontalmente a altura total dovão. Esquadrias metálicas com vidro dão fechamento às funções.

No bloco superior, os pavimentos-tipo têm sua marcação atravésdas lajes salientes que encontram as laterais do edifício no mesmo plano,configurando cada andar como uma barra horizontal tratada. Essa barraé dividida em duas, uma contendo as esquadrias e, nesta, têm expressão

FIG. 10 Foto Edifício Amazonas.

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as paredes internas, que avançam revelando os elementos de composição(não constavam do projeto original) e uma barra/peitoril em cor diferente,que se estende de lado a lado e na qual fica marcada a área de estarcomo um volume saliente.

As esquadrias dos dormitórios têm proteção de veneziana e, nasala, há somente esquadria metálica com vidro. Existe um deslocamentohorizontal, de pavimento para pavimento, das esquadrias e dos panosde paredes, criando um jogo de ordem exclusivamente estética.

O acabamento superior do edifício dá-se por uma barra horizontalcontínua com a mesma altura dos peitoris.

As plantas baixas do pavimento-tipo (Fig. 11) são distribuídas comum apartamento de três dormitórios para a frente, sendo dois para arua, e o outro e o banheiro dando para a área interna. Sala de estar ejantar têm abertura para a frente e ligação com a cozinha, esta voltadapara o interior, assim como as demais dependências de serviço. Paredesolta divide a sala, definindo um espaço para o vestíbulo e protegendo ojantar. Aparentemente uma esquadria ou divisória leve separa a sala dacozinha.

O apartamento de fundos, menor, com dois dormitórios, possui asala e os dormitórios na fachada dos fundos e banheiro e serviços voltadospara a área central de ventilação.

O pavimento térreo (Fig. 12) possui, centralizada e em segundoplano em relação a dois pilares, uma área de loja, ladeada por entradapara garagem e pelo acesso aos apartamentos, tendo também umapartamento de dois dormitórios ao fundo. Em área externa ao blocoedificado principal, fundo do lote, localiza-se um espaço coberto paracarros e, na parte mais estreita do terreno, o apartamento do zelador.

EDIFÍCIO RIO GRANDE DO SUL/1958Situado na Rua Vinte e Quatro de Outubro, 622/664, em terreno

de forma retangular, frente sudeste. O edifício possui 11 pavimentos-tipo. O volume edificado desenvolve-se afastado das divisas nopavimento-tipo e, no pavimento térreo, justaposto à divisa oeste. Écaracterizado por dois prismas de base retangular, um corpo maior ao

Fig 12 Planta Baixa Pav. Térreo - Ed Amazonas.

Tér reo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.

7 - Hall8 - Portaria9 - Área Coberta10 - Loja11 - Garagem

Fig. 11 Planta Baixa Pav, Tipo - Ed. Amazonas.

Pavimento Tipo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório

5 - Banheiro6 - W.C.7 - Área de Serviço8 - Despensa

FIG. 13 Planta Baixa Pav. Tipo Ed. Rio Grande do Sul.

Pavimento Tipo1 - Vestíbulo2 - Sala Estar3 - Sala de jantar4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.

7 - Área de serviço8 - Lavanderia9 - Copa/cozinha10 - Dorm. Empregada11 - Gabinete

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fundo, onde a massa edificada é predominante em relação às abertu-ras e uma "caixa de vidro" à frente, cortada por vigas-floreiras que definemos pavimentos (Fig. 14). É como se o volume de esquadrias saísse dovolume fechado ao fundo, criando dois tratamentos distintos. A sala ficarepresentada enfaticamente no volume principal. Um quadro salientecontorna, duas a duas, as esquadrias da fachada lateral leste, como jáusado no tratamento dado à fachada do edifício da rua Santa Teresinha.

A base do edifício, recuada, mostra um outro tratamento, eviden-ciando os pilares. De um lado do terreno, espaço para lojas fecha alateral oeste e projeta-se lateralmente para fora do volume principal e,de outro, entrada de carros permanece sob o volume edificado. Doismódulos de estrutura condicionam o hall e entrada social e um terceiromódulo, mais um espaço para loja.

Os principais elementos de arquitetura da fachada transmitem asensação de leveza e horizontalidade pela viga-floreira e esquadriastripartidas horizontalmente, contínuas, que encobrem a estrutura verticaldo edifício. No térreo, os pilares têm uma marcante expressividade. Ocoroamento do edifício é feito pelo volume do fundo, um pouco maisalto que o frontal.

A planta baixa do pavimento-tipo (Fig. 13) representa um único eamplo apartamento por andar. A circulação pública dá-se em um nú-cleo central com escada, um hall e elevador de serviço e um hall eelevador social. As três áreas - social, íntima e serviço - estão perfeita-mente delineadas. Os três dormitórios são voltados para o fundo dolote, com orientação norte, o serviço orientado para oeste, e o socialpossui sala de estar, jantar e lavabo para o sul, tendo ainda gabineteorientado para leste. Um desenho no piso da sala, define juntamentecom pilares, áreas de utilização do espaço. Vista ampla sobre o parqueem frente é patrocinada pelos três lados com esquadrias na sala.

A proposta volumétrica e de tratamento compositivo dos elemen-tos é bastante diferente dos outros exemplares estudados, ficando maissutil, no caso, a malha quadrangular definida pelos elementos decomposição e definindo uma tipologia de base maior, de medianeira àmedianeira, com torre solta no meio do terreno.

No pavimento térreo (Fig. 15), dois quintos da fachada são ocu-pados por lojas, que vão de frente a fundos no bloco edificado, umaencostada na divisa. Mais dois quintos são ocupados para o acessosocial, com hall de elevador e portaria, tendo ao fundo escada, hall deserviço e apartamento do zelador. O último quinto é um vão recuadocom passagem para os fundos, onde fica situada a garagem, em corpoisolado do edifício. Essa passagem permite acesso lateral à entrada deserviço. Em cima da área de garagem há amplo espaço de terraçotratado até o fundo do lote.

FIG. 14 Foto do Ed. Rio Grande do Sul.

FIG. 15 Planta Baixa Pav. Térreo - Ed. Rio Grande do Sul.

Tér reo1 - Hall2 - Portaria3 - Medidores4 - Loja5 - W.C.6 - Sala

7 - Cozinha8 - Banheiro9 - Dormitório10 - Área Coberta11 - Garagem

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EDIFÍCIO PORTO ALEGRE/ 1959Situado na Rua Duque de Caxias, 1594, esquina Jerônimo Coelho,

com doze pavimentos-tipo, em terreno com formato irregular,aproximadamente triangular. Fachada voltada para a Jerônimo Coelho,com orientação solar norte.

O edifício desenvolve-se ocupando as divisas, voltado para asduas ruas, condicionado por um eixo que passa pelo vértice do ânguloagudo do terreno e distribui simetricamente os quatro apartamentos doandar-tipo. No térreo, o mesmo eixo condiciona a disposição doselementos de composição.

O edifício possui, assim, duas fachadas (Fig. 16) para a via públi-ca, tratadas da mesma maneira. O fechamento lateral das duas fachadas- uma terceira fachada - corta o vértice do triângulo com dois planosperpendiculares a cada via pública.

Os elementos de composição representados nas fachadas distri-buem-se em dois setores distintos: na base recuada, marcada por muretade pedra que contorna o terreno e por pé-direito mais alto, estão aentrada social pela rua Duque de Caxias e a de serviço pela rua JerônimoCoelho. Uma área externa com pilotis, um volume de forma curva con-tendo os acessos, vestíbulo e lojas nas divisas com os lotes lindeirossucedem-se sob o corpo do edifício. O outro setor, representado pelovolume principal do edifício, possui as zonas íntima e social com idênti-ca representação na fachada. A área de serviço possui fechamento comelementos vazados, assim como parte das sacadas no topo do edifício.Um banheiro de serviço tem sua marcação em painel retangular compequena janela. Pequeno desnível nas fachadas permite identificar cadaapartamento.

Os elementos de arquitetura são definidos no pavimento térreopelo pilotis, soltos no espaço aberto ou conectados às esquadrias daslojas pela mureta de pedra com gradil que contorna o terreno e pelovolume curvo, parte inferior em alvenaria revestida com elementoscerâmicos, parte superior em esquadria com vidro. Pelo lado da ruaJerônimo Coelho, surge mais um pavimento devido à inclinação acen-tuada da rua, definindo o acesso para as garagens, semi-enterradas,no muro de pedra.

Uma malha quadrangular, não totalmente explícita, rege a com-posição dos elementos de arquitetura nos blocos edificados.

Nas duas maiores fachadas, simétricas, as vigas têm um papelimportante no conjunto, marcando horizontalmente o bloco, juntamentecom os peitoris. Os topos das paredes, às vezes alargados, da divisãointerna, fazem-se presentes acima do peitoril. O excepcional fica porconta dos painéis de elemento vazado e dos painéis onde fica inserida aesquadria de banheiro. Os outros elementos repetem-se. A fachadaformada pelo encontro dos dois blocos possui dois planos perpendicu-lares às ruas e é a que marca melhor o prédio em função do ângulo devisão mais favorável. Ela é composta por sacadas com peitoris horizon-tais contínuos que unem os dois blocos e metade de suas áreas abertas

FIG. 16 Foto Ed. Porto Alegre.

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é semi-fechada por painéis de elementos vazados, organizados semprea partir do eixo que divide o ângulo agudo do terreno, simetricamente.Essa fachada concentra a atenção visual pela angulação "dramática" epela simplificação da composição dos elementos de arquitetura, reduzidosa uma menor complexidade geométrica em relação às outras duas fa-chadas.

Pela extraordinária posição na malha urbana, configuração doterreno e situação de implantação, o prédio até hoje se sobressai comoforte elemento que estrutura aquela esquina da cidade.

As plantas baixas do pavimento-tipo (Fig. 17) são resolvidas apartir do eixo divisório, como se os retângulos formados por apartamen-tos dois a dois sofressem uma compressão para se acomodarem aoângulo.

As plantas dos dois apartamentos situados na parte que faz divisacom lotes vizinhos sofrem um recuo em relação aos outros dois, que seprojetam na esquina. A área da escada possui uma localização central,assim como os dois elevadores. Não existe distinção entre circulaçõesde serviço e social. Os apartamentos da esquina são de dois dormitórios,os outros dois de um dormitório. Os apartamentos de um dormitóriopossuem suas áreas de serviço voltadas para um poço interno. A divisãointerna dos apartamentos permite acessos diferenciados para as áreassocial e de serviço, independentes em todos os apartamentos.

A planta baixa do térreo (Fig. 18) é definida por uma faixa delojas encostada na divisa, cujo fechamento é feito por paredes paralelasàs divisas. A partir desse fechamento, surge um volume cujas paredesrecuadas, paralelas às ruas nas duas fachadas, encontram-se formandouma curva que contém os transformadores, elevadores, hall de entradae escada e articula os elementos das duas fachadas, construindo a es-quina no térreo, com marcante presença. Jardineiras com formas irregu-lares completam o paisagismo e ajudam a definir os acessos.

Tér reo1 - Hall2 - Portaria3 - Depósito4 - Transformador5 - Banheiro6 - Play-ground7 - Loja

FIG. 18 Planta Baixa Pav. Térreo - Ed. Porto Alegre.

Pavimento tipo1 - Vestíbulo2 - Sala estar/jantar3 - Cozinha4 - Dormitório5 - Banheiro6 - W.C.7 - Área de Serviço8 - Despensa

FIG. 17 Planta Baixa Pav. Tipo - Ed. Porto Alegre.

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SÍNTESE ANALÍTICA DOS EDIFÍCIOS ESTUDADOS

Estabelecendo-se uma análise comparativa entre os edifíciosestudados, verifica-se que alguns Elementos de Arquitetura predominame se repetem, caracterizando uma linguagem arquitetônica. O arranjodesses elementos segue uma ordenação segundo regras que, em algunscasos, são detectadas explicitamente e, em outros, de maneira mais sutil.

De uma maneira geral, os edifícios são volumetricamente com-postos por um bloco superior com apartamentos sobre um térreo recua-do. A composição dos elementos de arquitetura está condicionada auma malha quadrangular que rege a sua distribuição no plano da fachadano bloco superior e se estende às reentrâncias do pavimento térreo.

As divisões internas dos apartamentos ficam explicitadas nas fa-chadas, através dos topos das paredes e das lajes de entrepiso, dentroda malha condicionadora. Segundo o próprio Bered, havia uma preocu-pação com a modulação funcional/estrutural para adequar plantas-tipocom térreo e garagens. Pastilhas e elementos cerâmicos com cores dife-renciadas marcam setores e volumes dentro da malha quadrangular quecondiciona cada situação específica. Marcações e reentrâncias no rebo-co criam jogos compositivos nos edifícios mais simples.

No edifício Porto Alegre aparecem, como novo elemento, as vigasdos pavimentos, marcadas com cor diferente das lajes, tambémexplicitadas na fachada. Também nova é a solução de fechamento dasáreas de serviço e sacadas com elementos vazados.

No edifício Rio Grande do Sul, a marcação é feita por floreirassalientes que, em cada pavimento, definem uma volumetria, emcontraponto às esquadrias, bem como um ritmo horizontal entre cheios(floreiras) e vazados (esquadrias), em solução que foge a dos outrosedifícios estudados.

Uma base de pedra condiciona, em alguns casos, o acesso aohall do edifício a um nível mais elevado, enquanto a área de lojas dispensaesta solução, possuindo pé-direito maior. Esta base de pedra, que poderiaser uma referência aos antigos porões, marca as garagens em dois casosdos edifícios estudados.

O forro do pavimento térreo com ausência de vigas aparentes e,em situações especiais, a marquise cortando o pé-direito e presa somen-te aos pilotis, marcam o acesso ao edifício. Pilares, de secção ovaladaou circular, aparentes no térreo, antecedem, em geral, painel leve emodulado que dá fechamento ao hall.

No caso do edifício Santa Teresinha, o único que não possui pilotis,é interessante notar a preocupação em forçar essa solução através damarcação de pilares com secção de meia circunferência embutidos naalvenaria e com uma modulação que não reflete a distribuição funcionalinterna. Pequena saliência do bloco dos pavimentos-tipo permite umamarcação em pedra na alvenaria do térreo.

De uma maneira geral a volumetria dos edifícios fica definida notérreo pela área livre com pilotis, o hall, as lojas e os acessos às garagens,nos fundos ou subsolo. No bloco superior, há a preocupação de que

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compareçam na fachada principal apenas áreas de dormitórios ou salas.Exceção feita ao edifício Porto Alegre, onde um banheiro tem umamarcação especial, assim como área de serviço. No Rio Grande do Sul,um banheiro social comparece no volume mais recuado da fachada etem uma esquadria ampla, semelhante a de ambientes de estar.

A organização dos espaços e funções internas segue algumasregras claras. O arquiteto demonstra uma preocupação de que algunselementos de composição, como por exemplo cozinhas, jamais compa-reçam no volume principal. Na distribuição espacial das áreas íntimas,sociais e de serviço, preocupa-se com independência de circulações eresolve, como no caso do edifício Redenção, com a ampliação do númerode elevadores. Apartamentos com áreas pequenas, como as do edifícioPorto Alegre, são privilegiados com acessos de serviço independentes.As questões funcionais são solucionadas com cuidados especiais, tendocomo conseqüência plantas resolvidas de modo a permitir independênciaentre áreas sociais, íntimas e de serviço.

As relações entre os elementos de composição, que no formulá-rio moderno almejavam uma otimização na utilização dos espaços, assimcomo liberdade de pés-direito duplos, terraços jardins, apartamentosdúplex e serviços comuns, não tiveram aceitação por parte dosemprendedores e da população local. O térreo livre com pilotis teve,aqui, uma interpretação onde a imagem da modernidade concretizava-se no artifício de recuo de funções, permitindo a visão dos pilares soltose do teto liso. Essa visão em seguida é contradita pela colocação, emplano imediato, de lojas, apartamento do zelador ou apartamento-tipoao fundo.

A composição volumétrica geral dos edifícios demonstra umadefinição perfeita dos blocos como unidades. O exemplo do edifícioSanta Teresinha é marcante, onde três volumes principais articulam-se eprocuram uma adaptação à forma do terreno.

Em termos volumétricos, os edifícios residenciais estudados defi-nem uma tipologia que pode ser descrita por uma base menor compilotis aparentes à frente, de fechamento recuado, que suporta um cor-po denso, um paralelepípedo regular condicionado por uma malhaquadrangular aplicada nos planos verticais das fachadas principais. Nasdivisas, mesmo que mais recuadas e menos perceptíveis, as paredeslaterais descem até o solo. Esta solução aparece no bloco da frente oufachada principal dos edifícios Linck e Amazonas, sendo que, no blocodos fundos, o apartamento-tipo ocupa o térreo, indicando uma conti-nuidade volumétrica. Essas soluções caracterizam tipicamente constru-ções modernas em malha urbana tradicional, ou seja, as propostas doedifício moderno adaptados à cidade figurativa3.

Os programas dos edifícios de Porto Alegre refletiam a condiçãode residências unifamiliares sobrepostas, e a otimização espacial pro-posta por Le Corbusier estava bastante distante desta realidade,condicionados como estavam aqui a terrenos relativamente estreitos eentre medianeiras.

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Fig. 19 Tipologia e Malha Ordenadora - Ed. Amazonas e Linck.

O tratamento das fachadas, condicionado por malhaquadrangular, que no trabalho de Le Corbusier possuía uma profundi-dade em função das sacadas, no caso das obras aqui estudadas, muitasvezes, era produto somente de um desenho de reentrâncias e saliênciasno reboco das fachadas, em uma reinterpretação da linguagemcorbusiana, numa versão planimétrica.

A postura dos arquitetos da época - que era de renovação daarquitetura vigente - seguia os preceitos corbusianos do ponto de vistavisual, adaptando-os a outra realidade. Os arquitetos enfrentavam difi-culdades para convencer os clientes da importância dos pilotis no térreo,pois esta solução implicava em perda de índice construtivo.

Conforme as ilustrações 19 e 20, consegue-se deduzir a partir dequatro dos seis edifícios um tipo4 comum: paralelepípedo regular sobrepilotis. No edifício Porto Alegre e no Redenção, é possível verificar asobreposição de dois tipos base.

Os edifícios estudados estão todos colados às divisas,condicionando substancialmente a relação edifício & entorno urbano,tornando o edifício uma fatia de um conjunto e não uma peça solta.

Essa tipologia coloca cada prédio numa relação amigável com amorfologia urbana convencional pois, pensados como soluções que po-deriam ser repetidas, como tipos residenciais, os volumes, sempre bemdefinidos, teriam permitido, dentro de uma mesma linguagem, dar umacontinuidade bem estruturada à malha urbana, sem vazios; um térreosempre mais alto e uma retícula quadrangular nas fachadas que serviriade elemento condicionador para as próximas edificações a seremconstruídas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A influência dos mestres da primeira geração de modernistas éum fato geral e inegável que atingiu diretamente os arquitetos porto-alegrenses, tendo Le Corbusier um papel preponderante.

Em depoimento da época à revista O Globo5, os arquitetos locaisexpressam o sentimento de que a arquitetura contemporânea possuíabases universais e, como tal, deveria ser desenvolvida aqui, considerando-se características de clima e cultura específicas. Os princípios ligados aoracionalismo, à composição segundo eixos ortogonais e à procura deaperfeiçoamento da idéia original faziam parte das propostas.

A década de 50 foi de muitas lutas para os arquitetos que tenta-vam consolidar a posição da arquitetura moderna em Porto Alegre. Natentativa de articular projetos modernistas à situação de cidades figura-tivas, lotes bem definidos, medianeiras construídas, tiveram que conciliaropostos.

Emil Bered é um arquiteto que soube trabalhar bem estaambigüidade, levando as propostas do urbanismo e da arquiteturamoderna a uma cidade com conformação nitidamente figurativa. A difícil

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implantação de edifícios pensados para serem vistos como objetos soltosem áreas sem limites, teve que sofrer uma adequação à cidade, permitindouma solução dentro dos critérios aceitos para a obra moderna.

Nesse sentido, Bered coloca suas preocupações, que envolviamtanto o jogo de volumes com uma determinada intenção plástica, semformalismos exagerados, quanto os aspectos relativos à orientação solar,topografia, etc. Demonstrava, também, uma preocupação com a regu-laridade das plantas baixas, para não incorrer em plantas com muitasreentrâncias e saliências, o que incidiria em elevação dos custos da obra.Nas suas obras não havia lugar para o ornamento: os elementos dearquitetura deveriam expressar uma necessidade autêntica.

O arquiteto soube usar com critério os elementos de arquiteturaem composições ao mesmo tempo simples e inovadoras, procurandorevelar, através da expressão externa da edificação, o seu caráter funci-onal. Nos prédios de habitação coletiva soube também conciliar osinteresses dos clientes com a realidade sócio-cultural de Porto Alegre,sem deixar de realizar uma arquitetura de qualidade.

NOTAS:1. BERED, Emil. Muito Edifício Pouca Arquitetura. Revista 'O Globo', 1958, p.49.2. Elementos de Composição e Elementos de Arquitetura:

“Nada mais sedutor que a Composição. É o verdadeiro domínio do artista sem mais limites nem fronteiras que o impossível. Oque é compor? É colocar juntas, soldar, unir, as partes de um todo. Estas partes, por sua vez, são os Elementos de Composição.Assim como vocês (os alunos) realizarão suas concepções com paredes, aberturas, abóbadas, tetos - todos eles Elementos deArquitetura - assim vocês estabelecerão sua composição com dormitórios vestíbulos, acessos e escadas. Estes são os Elementosde Composição." Guadet, Julien, citado por MARTÍNEZ, A. Corona. Ensayo sobre el Proyecto. Buenos Aires: CP67, Segundaedição, 1991, p. 179.

3. A concepção morfológica das cidades traçadas dentro dos preceitos urbanísticos tradicionais caracteriza a 'cidade figurativa' e éo contraponto da 'cidade funcional', baluarte do moderno urbanismo.

4. “O tipo se configura assim, como um esquema deduzido mediante um processo de redução de um conjunto de variantes à umaforma base ou esquema comum. O tipo é um modo de organização do espaço e de prefiguração da forma e em conseqüência serefere sempre a uma concepção histórica do espaço e da forma, ainda que se admita que tais concepções mudam com odesenvolvimento histórico da cultura". ARGAN, Giulio Carlo. Tipologia. Summarios, n.79, julho 1984.

5. ‘Muito Edifício Pouca Arquitetura'. Revista 'O Globo', p.46-51, 1958.6. Todas as ilustrações (fotos e desenhos) pertencem aos arquivos da autora.

FIG.20 Tipologia e malha orientadora - Ed. Porto Alegre e

Eneida Ripoll Ströher

Arquiteta formada na Fac. de Arquitetura da UFRGS em 1967.Mestra na área de Teoria, História e Crítica da Arquitetura peloPROPAR/UFRGS, 1998.