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Empoderando-se MAXWELL DOS SANTOS

Empoderando-se

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A luta de uma jovem por um parto humanizado. Débora é uma estudante de Publicidade e Propaganda, que em pouco tempo sofre dois reveses: a morte de sua mãe e seu irmão num atropelamento e a descoberta da traição de seu namorado com a melhor amiga. Envolve-se com Fábio, colega de faculdade e dessa relação, ela tem uma gravidez não planejada. Ela o dispensa, mas o rapaz ameaça se jogar da ponte. Débora leva Fábio para casa e acalenta o sonho de ter um parto humanizado, onde ela será a protagonista do processo. Nem todos pensam como ela. Principalmente, os obstetras de mentalidade hospitalocêntrica e medicamentosa.

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Maxwell dos Santos

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Copyleft 2015 Maxwell dos Santos

Alguns direitos reservados.

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(27)3100-8333

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação(CIP),

Ficha Catalográfica feita pelo autor

S237v Santos, Maxwell dos, 1986-

Empoderando-se / Maxwell dos Santos. – Vitória: Do Autor, 2015. 64 p.; 12 x 18 cm.

ISBN 978-1519463494

1.Contos Brasileiros. 2. Literatura infanto-juvenil I.Título. II. Autor

CDD: B869.4 CDU: 869.0(81)

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Para Carolinie Figueiredo e Samara Felippo

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Os braços de uma mãe são feitos de ternura e os filhosdormem profundamente neles.

Victor Hugo, escritor francês (1802-1885)

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u, minha mãe e Pedrinho, meu irmão, fo-mos à Pizzaria Nonna Giovanna, na Matada Praia, para comemorar meu aniversário

de 21 anos. Falei com mamãe:E

– Mamãe, faz um tempão que eu não comopizza.

– Jura, Débora?– É verdade. A última vez que fui comer uma

pizza foi no meu aniversário, no ano passado,numa pizzaria, em Bairro de Fátima, com meusamigos.

– Cadê o Leonardo? Ele ficou de vir.– O Léo não virá. Ele me disse por mensagem

que tava agarrado no texto do TCC e precisavaapresentá-lo ao seu orientador na faculdade aindaesta semana.

– Já reparou que ele tem dado várias desculpaspra não te encontrar? Concordo que às vezes, aagenda da gente seja apertada, mas deixar de

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participar do aniversário da namorada, aí édemais.

– Mamãe, para de implicar com o Leonardo.Ele só tá atribulado nesse semestre por conta doTCC.

– O Leonardo nunca me inspirou confiança.Você é tão inocente…

– O que você tá insinuando, mamãe?– Nada, Débora. Só devaneios.O garçom trouxe a pizza maracanã de calabresa

e a Coca Cola de dois litros. Cortei uma fatia dapizza e servi a Pedrinho.

– Se quiser mais pizza, é só pedir pra mim, támeu bem? – falei.

– Sim, Débora – respondeu Pedrinho, com apizza na boca.

Ao terminarmos a pizza, mamãe passou nocaixa, pagou a conta e fomos para o carro. Voltá-vamos para casa. Antes, paramos no Posto 3 Ir-mãos, próximo à Ufes para abastecer. De repente,um Camaro amarelo e um Mustang vermelho, emaltíssima velocidade, invadiram o posto,atropelando eu, mamãe, meu irmão, que haviasaído do posto de conveniência onde comprouguloseimas e Paulo César, o frentista.

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Com a violência do atropelamento, Pedrinhofoi arremessado a uma distância de 5 metros doposto. O frentista, Paulo César, morreu na hora.Seu Ítalo, o dono do posto, acionou o Samu, oCorpo de Bombeiros e a Polícia Militar. Váriasambulâncias chegaram ao local.

Eu, Pedrinho e mamãe fomos levados para oHospital Pedro Feu Rosa. Mamãe não resistiu aosferimentos e morreu dentro da ambulância. Tivefraturas no braço esquerdo e a perna direita sofreuluxação. Joelma, minha tia, me fez companhia.

– O que aconteceu? Por que eu tô aqui? – per-guntei, ainda um pouco tonta.

– Você, sua mãe e o Pedrinho foram atropela-dos num posto de gasolina – respondeu Joelma.

– Cadê mamãe e o Pedrinho? – perguntei.– Sua mãe está com o Senhor e seu irmão tá

internado em estado gravíssimo – respondeu Jo-elma, chorando.

– Meu Deus, por que fez isso comigo? Me tirouas pessoas mais caras da minha vida. Por que, meuPai? Por quê? – gritei, pondo as mãos no rosto –Eu queria ter morrido junto com eles.

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– Não fala isso nem de brincadeira, meu amor.Você é o meu tesouro. Eu te amo muito – disse tiaJoelma.

– Eu também te amo – respondi, abraçando tiaJoelma.

No dia seguinte, Pedrinho teve a morte ence-fálica declarada. Eu e tia Joelma autorizamos aretirada dos órgãos para transplante. Os corpos demamãe e Pedrinho foram velados na capela doCemitério Além do Rio Azul. O clima era detristeza e revolta. Não saía do caixão onde estavamamãe.

– Mamãe, mamãe querida. Volta pra mim, porfavor – chorava, acariciando seu rosto gélido einerte.

Janderson, meu ex-padrasto e pai de Pedrinho,apareceu de supetão e se aproximando de mim,disse:

– Débora, meus sentimentos.– O que você tá fazendo aqui? Peço, por favor,

que se retire daqui e respeite a minha dor – disse,subindo o tom da voz.

– Eu vim prestar minha solidariedade – res-pondeu Janderson, hipocritamente.

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– Solidariedade? Alguma vez na sua vida, vocêsoube ser solidário com alguém? Desde que teconheço, sempre vi um homem egoísta, mes-quinho e ávido por dinheiro. Nunca amou ma-mãe, mas a vida cheia de luxos que ela te dava.Você ama coisas e usa pessoas. Você discriminou emaltratou seu filho e meu irmão por ele terSíndrome de Down e vem aqui dizer que é solidá-rio com a minha dor? A quem você quer enganar,cara? Sai daqui agora, senão vou chamar o se-gurança – gritei.

– Eu tô arrependido – respondeu Janderson.– Qual foi a parte do sai daqui que você não

entendeu? Me deixa em paz! - gritei, empurrandoJanderson.

Às 14 horas, os corpos de Pedrinho e de mamãesaíram da capela e foram sepultados às 14:30. Oscaixões desceram sob aplausos.

Alguns dias depois, participei de uma cami-nhada com meus parentes, os parentes do frentistaPaulo César e amigos, pedindo paz no trânsito ecobrando mais empenho nas investigações, poissentíamos que estavam muito lentas e osassassinos, filhos de famílias abastadas, estavamsoltos. A caminhada saiu da Rodovia Serafim

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Derenzi, em Joana D’arc, passou pela AvenidaMaruípe e foi para a Avenida Fernando Ferrari e láfizemos orações.

Após isso, Viviane, a viúva de Paulo César, fezum discurso:

– Meu peito tá sangrando. Minha vida já não émais a mesma desde que o Paulo César morreu.Eu e minhas filhas passamos necessidades, oaluguel da casa onde a gente mora tá atrasado e adona me deu prazo até hoje pra quitar a dívida,senão vai botar nossas coisas no lado de fora. Odono do posto não deu assistência alguma. Aindanão pagaram pra gente os direitos trabalhistas doPaulo César. Ninguém da família dos atropela-dores ou eles mesmos apareceu pra perguntar se agente tá precisando de alguma coisa. Já faz mais deum mês da morte de três vidas nesse posto. As in-vestigações não andam e os assassinos tão soltos.São pessoas ricas e influentes. Se fosse o PauloCésar que tivesse atropelado e matado esses doisrapazes, ele, coitado, já tava atrás das grades.

Eu também falei:– Saí há poucos dias do hospital. Tô aqui

com o braço enfaixado e de muletas. Nunca maisverei meu irmãozinho e minha mãe, que eu tanto

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amo. Duas vidas foram arrancadas daqui por causado desejo egoísta de dois moleques que encherama cara e pegaram seus carros e dirigiramperigosamente, assumindo consciente e de-liberadamente o risco de produzir o resultado.Nada vai trazê-los de volta. A dor é grande demais.

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eu olhar ainda era triste e vazio. Estavavisivelmente arrasada. Ainda não meconformava com a morte de mamãe e

do meu irmão. Como terapia para tentar superaressa dor, me esmerava cada vez mais nos estudos, afazer perguntas nas aulas e fora delas. Tudo quefazia, lembrava Pedrinho e mamãe.

MEra uma dor difícil de cicatrizar e que somente

Deus, com Seu bálsamo, poderia sarar. Quis jogartudo para o alto e desistir. Mas percebi que a vidacontinua, na esperança de rever os meus na glóriados céus.

Voltava do estágio na agência de publicidadeClio e Calíope, no setor de criação e naquelanoite, fui me encontrar com Leonardo, morenoclaro, olhos verdes, musculoso e careca, na RuaConstante Sodré, mas o vi agarrado aos beijos naportaria do prédio onde ele morava com uma loiraalta e malhada chamada Tatiana, a quem julgavaser minha melhor amiga. Ao ver essa cena,

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comecei a chorar e saí correndo. Leonardo, namaior cara-de-pau, foi atrás de mim, dizendo:

– Peraí, Débora! Eu posso explicar…– Eu vi tudo, Leonardo! – respondi, gritando e

chorando muito – Vai me explicar o quê? Bem queminha saudosa mamãe e minhas amigas falaramque você é um conquistador barato, um hedonista,mas eu, idiota, tava apaixonada, eu te amava deverdade e é assim que você me retribui? Com umatraição? Por que não disse que não queria mais?Assim eu sofreria menos. Seja feliz com ela, porqueo amor entre nós dois acabou. Toma aqui o anelde compromisso fajuto e esquece que eu existo.

– Volta aqui, Débora – falou Leonardo.– Vá pro inferno! – gritei.Será que eu, com 21 anos, cabelo ruivo e liso,

olhos verdes, busto generoso, rosto sardento, 65quilos distribuídos em 1,65 m, sou uma mulherfeia? O que amiga fura-olho da Tatiana tem o queeu não tenho.

Há poucos dias, minha mãe e meu irmãomorreram num acidente automobilístico provo-cado por dois moleques bêbados. A traição doLeonardo foi outro golpe para mim.

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Chegando ao meu apartamento, na Rua AleixoNetto, na Praia do Canto, fui à despensa, pegueiuma garrafa de Absolut e a tomei para esquecer oque ocorreu e de tanto beber, desmaiei no chão.

No dia seguinte, acordei com uma ressaca ter-rível. Fui para a cozinha tomar o café e senti queele não tinha gosto. Em meus olhos, havia umanuvem de lágrimas. Parecia que nada fazia maissentido em minha vida. Meu mundo caiu.

Mais tarde, liguei para minha melhor amiga ecolega de faculdade, Marianna, 21 anos, morenaclara, pequenininha (um metro e cinquenta e três),olhos e cabelos castanhos lisos, com franjinha edemonstrava sua empatia com as pessoas por suavoz doce e melodiosa.

– Oi, Marianna. Que bom poder falar comvocê.

– Oi, Débora. Por que você não foi à aula hoje?– Ontem, meu dia terminou péssimo. Flagrei o

Leonardo me traindo com a Tatiana na porta doprédio dele. Pra esquecer o que passou, tomei umagarrafa de vodca, capotei e acordei com umaressaca monstra.

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– Ai, meu Deus! O Leonardo sempre foi umgalinha e nunca levou nenhum caso a sério. Ai,amiga, se você tivesse escutado meus conselhos…

– É verdade, Marianna. Eu tava cega de paixão,achando que por trás de seus toques, houvesse umrecalque seu ou um amor não correspondido poraquele cachorro. Me perdoa, amiga.

– Imagina, meu bem. Já passou. Bola pra frente.Amanhã, quero te encontrar irradiando alegria,correndo atrás de mim pra contar os bafões.

– Irei amanhã à faculdade. De hoje em diante,tô em hiato indefinido pro amor.

– Você vai encontrar um carinha que te mereça.– Deus te ouça.– Débora, eu tenho que desligar. Tô com sono.

Um beijo.– Um beijo, minha linda.

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o dia seguinte, fui à UniBraga (CentroUniversitário Rubem Braga), em JardimCamburi, onde fazia o sexto semestre de

Publicidade e Propaganda. Cheguei atrasada à aulade Produção Publicitária para Rádio, ministradapelo professor Daniel Barreto, que falava aosalunos:

N– Pra próxima aula, vocês vão trazer o roteiro de

um spot de 30 segundos numa folha à parte pramim. Pode ser individual ou em dupla.

Eu era péssima em redação, mas no designgráfico, modéstia à parte, sou muito boa. Na tur-ma, só tinha uma pessoa que poderia me ajudar:Fábio, 21 anos, com feições indígenas, 1,70 m, ma-grinho, olhos castanhos e cabelos pretos e lisos.Ele é o crânio nos textos e é primo de Marianna.Nas horas vagas, gostava de escrever contos e crôni-cas. No corredor da faculdade, conversei com ele:

– Fabinho, meu anjo, preciso de um favor seu.– O que você tá precisando, Débora?

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– Vamos fazer o roteiro juntos? Não fui muitobem na última prova e preciso tirar pelo menossete nesse trabalho pra não ficar de prova final.

– Topo fazer o trabalho com você. Onde a gentese encontra?

– Eu moro na Praia do Canto, na Rua AleixoNetto, Edifício Michelangelo, apartamento 304.Passa lá amanhã, às quatro e meia da tarde. Vocême ajuda, lancha comigo e a gente vai junto prafaculdade. Nos vemos amanhã.

– Tá bom.Depois, fui à cantina, pedi pão de queijo e um

cappuccino. Vi Marianna, dei-lhe um beijo e co-meçamos a conversar:

– Oi, Marianna.– Oi, Débora – respondeu Marianna, me abra-

çando calorosamente.– Vou fazer o trabalho do professor Daniel com

o Fábio. Ele é fera na produção de textos. Essetrabalho é o meu garante pra passar direto nadisciplina.

– E eu, que tenho um fichamento de um textode Adorno pra entregar àquela benção da Miriam,que tá ministrando Antropologia Cultural. Pra va-riar, ela quer o trabalho manuscrito.

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– Que horror! É um método antiquado. A Mi-riam tá tratando a gente como alunos de quintasérie.

– Ela posa de moderninha e libertária, mas seusmétodos são da escola tradicional. Não aceita sercontestada em sala de aula, colocando-se como se-nhora absoluta das verdades. Cazuza já dizia: “tuasideias não correspondem aos fatos”.

– E manda a gente se recolher à nossa insig-nificância de acadêmicos de Comunicação, porqueela é pós-doutora na Universidade de Paris. Gran-des merdas.

– De que vale ser pós-doutora e não dar bomdia ao porteiro do prédio onde mora? Há teste-munhas.

– Além de autoritária, Miriam nutre um dis-curso de ódio à cultura de massa.

– Ela só gosta daquilo que é cult. Odeia tudoque tenha cheiro de manifestação popular. Deusme defenda!

– Queria pedir cancelamento dessa disciplina,mas já passou o prazo. Fiz a matrícula, porque oWellington, aquele monumento em forma de bofe,seria o responsável pela cadeira. Por causa de umabriga com a coordenadora do curso, ele foi

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demitido e a jararaca da Miriam tá ministrando amatéria.

– É tenso, Débora.Na tarde do dia seguinte, Girlaine, a doméstica,

foi ao meu quarto e disse:– Débora, o Fábio chegou. Ele tá na sala.– Tá bom. Já tô indo.Saí do quarto e fui à sala. Fábio divertia-se com

o seu tablet Android, jogando Angry Birds, en-quanto me esperava. Me aproximei dele e disse:

– Boa tarde, Fábio. Que bom que você chegou.Vamos pra cozinha?

– Vamos – respondeu Fábio, saindo do sofá.Entre um misto quente e outro, pusemos a ca-

beça para funcionar. Fábio falou:– Débora, quando tava a caminho daqui, eu

pensei em fazer um spot do Franguinho da TiaBeth.

– Como seria isso?– Um diálogo de amigas a respeito de comer

frango assado no almoço de domingo, mas nãoquerem saber de cozinhar. Entra a intervenção dolocutor, falando do Franguinho da Tia Beth e nofim, vem a assinatura com endereço e telefone.

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– Perfeito! Eu adoro frango assado! A pro-pósito, essa Tia Beth é real ou é produto de suafértil imaginação?

– A Tia Beth é real, Débora. Ela tem uma loji-nha em São Cristóvão, onde eu moro. Tenho ocartão dela.

—Maravilha! Que vozes serão utilizadas na peça?– No diálogo, duas vozes femininas. A inter-

venção terá uma voz masculina.– Na assinatura, é preciso incluir o nome da

marca, slogan e telefone para pedidos. Abre seulaptop e mete bronca nesse roteiro, gato!

Ao chegar à UniBraga, fui à coordenação deComunicação Social e coloquei o trabalho no es-caninho do professor. Depois, passe pela carteirade Fábio e falei:

– Fábio, valeu mesmo pela ajuda. Você salvou aminha vida, cara. Você é o máximo!

Dei um beijinho no rosto de Fábio. Os colegasmais espirituosos fizeram gracejos. Aproveitei aoportunidade para transmitir um recado:

– Galera, domingo, vai rolar uma festa lá nomeu apê. Open bar, uma ova! O lance agora é allinclusive! Comes e bebes à vontade. Vai custar R$

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70,00. Quem tiver afim, é só me dar o dinheiro atésexta-feira, valeu?

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hegou o dia da festa no meu apê. Entreino banheiro, tomei um banho, me enroleino robe, fui para o quarto, tirei o robe,

coloquei um vestido florido, calcei umarasteirinha, me maquiei, pus meus brincos deargolas e muitas pulseiras e me perfumei comBiografia, da Natura.

CÀs 20 horas, os convidados chegaram. Os co-

mes e bebes rolaram como prometido: Red Label,Absolut, Big Apple, cerveja Budweiser, sucogummy, caipirinha, pau na coxa (vinho batido comleite condensado), enroladinhos, canapés, quibes,esfirras, pasteizinhos, sem contar a tábua de frios,com vários tipos de queijos, presuntos, palmitos eazeitonas.

Mudei radicalmente meu comportamento apóster sido traída por Leonardo: abandonei a igreja,passei a me vestir de forma mais provocante e meenvolver em relacionamentos breves e tratarfriamente os homens, enxergando-os como objetosdescartáveis. Fiquei pessimista e cética diante de27

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tudo e de todos. Acreditava que menina boazinhasó se dava mal e que os homens eram todoscanalhas.

Na festa, as pessoas bebiam por todos os lados,com copos espalhados por todo o apartamento.Formou-se uma rodinha de meninos e meninas.Eu estava no meio dela, bebendo minha cerveja.Douglas, um colega de faculdade, moreno alto,musculoso e olhos verdes, se aproximou de mim edisse:

– E aí, Débora. Pode ser ou tá difícil?– Ah, Douglas, vai te catar! – disse, empurran-

do Douglas.– Ô menina mal-humorada. Não sabe levar

nada na brincadeira – protestou Douglas.Leonardo, meu ex-namorado, entrou na festa

de bicão, aproximou-se de mim e tentou me beijar,mas o empurrei e ele bateu contra a parede.

– Como você entrou aqui? Fora da minha casa,seu verme! – gritei.

– Vim aqui pra te pedir uma nova chance –alegou Leonardo.

– Acabou, Leonardo! Vai embora e não meprocure mais! – gritei outra vez, empurrando meuex para a porta.

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Os convidados vaiaram Leonardo, que saiu domeu apartamento. O som alto tocava We foundlove, de Rihanna. Bebi cerveja, como se nãohouvesse amanhã. Daqui a pouco, estava bêbada eme insinuei para o Fábio, me sentando em seucolo:

– Fábio, meu tchutchuco, você tem namorada?– Não.– Você é virgem?– Sim.– Seu lindo! Vamos pro meu quarto, porque

hoje vou te fazer homem. Hoje, você vai ser meu eeu, serei sua.

Fomos para o quarto e tranquei a porta comchave. Ele disse:

– Espero que ninguém nos flagre.– Relaxa. A gente vai brincar um pouco – res-

pondi, com um sorriso malicioso.Fábio tinha uma respiração ofegante. Seu co-

ração parecia que saltaria a qualquer momento.– Nossa, como você tá vermelho – reparei,

beijando Fábio na boca.Tirei minha roupa, assim como Fábio tirou a

dele. Subi por cima dele e beijei sua boca. Nessahora, nossos corpos interligados atingiram o pra-

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zer. Um desejo incontrolável tomava conta da gen-te. Vimos o céu, as estrelas, a Via Láctea e o Cos-mos. Aquele momento foi o melhor de nossas vi-das. Tudo conspirava a nosso favor: não havia nin-guém para nos importunar. Nos amamos intensa-mente em quatro paredes. A janela estava aberta elá fora, a Lua estava cheia, sendo testemunha ecúmplice.

Conversei com Fábio:– Agora, ninguém mais vai duvidar da sua mas-

culinidade… meu garanhão.– É mesmo. Me sinto o cara mais sortudo do

mundo.– Você me promete duas coisas: A primeira é

que você vai se guardar só pra mim e a segunda,que você não vai contar pra ninguém o queocorreu aqui, tá?

– Pode deixar, Débora.

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or causa da bebedeira, perdi a hora de ir para afaculdade e dormi até o meio-dia.P

Fui para a cozinha comer um suculento filécom fritas acompanhado de arroz, feijão e salada.Girlaine comia comigo. A caixinha de som, comum pendrive ligado, tocava a música Princesinha, deLucas Lucco.

– Girlaine, na boa, como é que você aguentaouvir uma música de tão mau gosto? São as mes-mas histórias do homem que vai pra balada caçaruma mulher. Parece aqueles documentários doAnimal Planet, onde os leões caçam as zebras. Osrefrões grudam que nem chiclete no ouvido dagente. Essas letras são machistas e tratam a mulhercomo objeto à sua disposição – falei, num tom deirritação.

– Débora, cada um tem o seu gosto e eu tenhoo meu. Se você não gosta, não posso fazer nada –respondeu Girlaine.

– Como dizia Carlos Imperial, existe o meugosto e o mau gosto – respondi.31

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– Você deveria ser mais tolerante com as es-colhas das pessoas, Débora – falou Girlaine.

Saí da cozinha deixando a doméstica no vácuo.Fui ao banheiro, escovei os dentes, limpei a boca,peguei a mochila que estava na cadeira e saí para aClio e Calíope.

No fim da tarde, mandei uma mensagem viaWhatsApp para Marianna, convidando-a para agente comer frango à passarinha e colocar a con-versa em dia. Na cozinha, pus os pedaços de frangona fritadeira, enquanto aguardava Marianna. Empoucos minutos, ela chegou e bateu a porta. Abri aporta para atendê-la e disse:

– Oi, Marianna. Vamos entrar?Tirei uma porção de frango da fritadeira e pus

num recipiente com papel toalha para que nóscomêssemos, enquanto colocava outra porção parafritar. Abri a geladeira e peguei a Fanta uva e a pusna mesa.

– Débora, você tá melhor? - perguntou Mariana,afagando minhas mãos.

– Mari, eu tento levar a vida da melhor formapossível, tentando me manter sempre ocupada.Mas não consigo arrancar do meu coração a sau-dade que tenho do Pedrinho e da mamãe. Eu os

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amava muito – respondi, chorando no colo deMarianna.

– Não fica assim não, amiga. Um dia, vocês vãose encontrar – respondeu Marianna, me abra-çando.

– Já superou a dor da traição do Leonardo?– Há um velho ditado que diz "águas passadas

não movem moinhos. Não consigo sentir raiva,mas pena dele. Soube por alto que o relaciona-mento dele com a Tatiana vai de mal a pior. Tododia, eles brigam e os vizinhos não conseguem dor-mir. Tudo por causa do ciúme doentio dela e deseus ataques de histeria. Vamos comer o frangui-nho, senão ele esfria.

– Nunca vi uma mulher tão barraqueira como aTatiana. Mas Leonardo também colheu o queplantou, com aquela pinta de conquistador barato.

– Você sabia que a Tatiana tá grávida? O quemais me preocupa nela é o fato dela ter mais umade suas crises de histeria e sofrer um aborto.

– Que horror, vira essa boca para lá, Débora.Deixa de ser recalcada. Isso não combina comvocê. Eu acho que você, por não ter se deitadocom Leonardo, tá morrendo de inveja por não es-perar um filho dele e taí no recalque, né? Confes-

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sa, Débora, você tava louquinha pra ter uma noitede amor com Leonardo, ter um filho e se casarem,mas na hora H, você vacilou e ele foi procurar Ta-tiana e…bingo! Ela ficou grávida.

– O que quis dizer é que Tatiana tem que tercuidado com essas crises de fúria nesses primeirostrês meses de gravidez, que são os mais críticos.Apesar de tudo, eu tenho pena dela.

– Tô pensando em ir pro sítio dos meus avósnesse fim de semana e queria que você fosse juntocomigo. Já combinei com Fábio me levar de carro.Só falta você.

– Claro que topo ir contigo. Você acha que euvou ficar aqui esperando a morte chegar? Precisosair, me socializar. É bom pra alma.

– Que bom, Débora. Vi que consegui levantarsua autoestima.

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ui com Marianna para o sítio de seus avósem Marechal Floriano. Fábio veio conosco.Encantamo-nos com a visão de vacas, bois e

bezerros e cavalos pastando nas fazendas àsmargens da BR 262, entre Viana e Domingos Mar-tins. Era uma propriedade de dez hectares, comvários pés de manga, cajá, maracujá, mamão, li-mão, um chiqueiro com dez porcos, um galinheirocom um galo reprodutor e quinze galinhas caipi-ras.

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Em poucos minutos, o carro dirigido por Fábiochegou ao sítio de seu Genésio, o avô de Mari-anna. A alegria tomou conta daquele vovô, ao versua neta.

– Marianna, que bom te ver de novo – disse seuGenésio, abraçando-a.

– Eu também me sinto feliz de te encontrar,vovô. Vim aqui pra descansar alguns dias. Quandovenho pro interior, me sinto no céu e me esqueçodos problemas da vida e da rotina frenética da ci-dade grande. Após operar a hérnia, o senhor já se35

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sente melhor? – perguntou Marianna, afagando asmãos do avô.

– Sim, Marianna. Eu já me sinto melhor, comdisposição pro que der e vier – comentou seu Ge-nésio – Vamos entrar pra comer, Marianna. Daquijá sinto o cheiro da galinha ensopada.

Entramos na casa. Dona Zilmária, 70 anos,branca, baixa, um pouco acima do peso e avó deMarianna, terminava de fazer o almoço: galinhacaipira ensopada com batata e quiabo, macarrão,arroz, feijão e salada. Para refrescar, um suquinhode cajá. Quando viu a neta, fica contente e aabraçou.

– Vovó, a senhora não tem noção de quantotempo esperei pra revê-la novamente e comer essagalinha caipira ensopada com batata e quiabo. Asenhora tem mãos divinas – disse Marianna, abra-çando dona Zilmária.

– Obrigada, Marianna. Quando a gente faz ascoisas de coração, tudo fica melhor – respondeudona Zilmária.

– Ai, vovó, galinha caipira é tudo de bom. Émuito mais gostosa, porque é criada solta no ter-reiro na base do milho, bem ao contrário da gali-nha de granja, em escala industrial, é criada confi-

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nada e recebe horrores de hormônios pra ganharpeso e ser abatida em menos tempo. É a lógicacapitalista do resultado a todo custo – comentouMarianna.

– É vero, minha filha – respondeu dona Zil-mária.

O almoço seguiu harmonioso, onde cada um seserviu com o que quis. Meu celular tocou e atendi:

– Ei, Mabel. Como é que você vai, minha flor?– Vou muito bem. Ganhei uma bolsa pra Jor-

nalismo pelo ProUni na UniBraga.– Que legal, Mabel! Parabéns.– Débora, você tá aonde?– Tô aqui acompanhando Marianna, no sítio

dos avós dela, em Marechal Floriano. É um mi-lagre que meu celular esteja pegando na zona rurale você tenha conseguido falar comigo. Chegueiaqui e só volto domingo à noite.

– Aí, Débora, ficou sabendo que Leonardo eTatiana tiveram uma briga feia e por causa disso,ela sofreu um aborto?

– Meu Deus, eu temia que isso pudesse acon-tecer. Como que foi isso, Mabel?

– Foi por causa dos ciúmes da Tatiana, porachar que Leonardo tava lhe traindo. Quando ele

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chegou em casa, a briga começou. Tatiana fez ummonte de acusações. Leonardo se defendeu.Tatiana pegou um vaso e atirou contra Leonardo,que se esquivou. Tatiana pegou um punhal e foidetida por Leonardo. Então ela viu que seu vestidotava manchado de sangue. Leonardo saiu de casa edeixou Tatiana sozinha.

– Sinto muito pela Tatiana. Ela deve tá muitoarrasada. Perder um filho nessa situação não ébrincadeira!

– Não mesmo, amiga. Um beijo.– Outro, meu amor.De madrugada, eu e Fábio fomos ao paiol e

trancamos a porta. Eu disse:– Eu tenho uma surpresinha pra você.– O que é?– Tire as calças e a cueca e feche os olhos.– OK.Abaixei minha calcinha e subi por cima dele.– A primeira vez foi gostoso e decidi repetir a

dose. Você é bom no que faz – disse ao pé do ou-vido de Fábio.

– É tão bom sentir o calor dos seus braços.Quando estou com você, me sinto no céu – res-pondeu Fábio.

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– Eu te abri os portões do paraíso, onde te fizhomem e você me fez mulher. Vamos viver essemomento intensamente – falei.

Mais uma vez, nossos corpos se uniram, numatroca de fluídos e carícias. Os astros pareciam girarem torno de nós.

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ram dez horas da noite. Havia chegado deviagem após pegar um trânsito engarrafadona BR-262, em virtude de um protesto de

moradores de Nova Rosa da Penha por causa dosconstantes atropelamentos. Eu via debaixo dascobertas o filme O Espetacular Homem Aranha.

EO interfone tocou. Levantei, atendi o interfone,

abri a porta, peguei o elevador e quando cheguei àportaria de meu prédio, vi um cenário digno deum filme de terror. Tatiana estava toda esfarrapadae ensanguentada.

– Tatiana! Quem fez isso com você? – perguntei,horrorizada

– Débora, por favor, me ajuda. O Leonardoquer me matar! Me perdoa por ter te traído – disseTatiana, desesperada.

Naquela hora poderia ter dito: “E eu com isso?Quero mais que você se exploda, sua cadela etalarica dos infernos. Por mim, você e Leonardodeveriam morrer abraçados”. Independente dosdefeitos da Tatiana, eu não suporto violência con-

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tra a mulher. Aliás, não suporto nenhum tipo deviolência. Estava reconstruindo minha vida e nãofazia sentido alimentar ressentimentos.

– Eu tô assustada com o que você me contou.Se quiser, pode ficar por uns tempos aqui em casa– falei, fazendo um carinho em Tatiana.

De madrugada, vi Tatiana desmaiada no tapeteda sala. Fui à cozinha, preparei uma água comaçúcar para ela e lhe dei. Recomposta, contou oque aconteceu:

– Meu tio ligou pra mim, dizendo que meuspais foram assassinados na porta da casa deles eque os corpos deles tão no DML pra eu reco-nhecer. Perdi o meu chão, Débora. Não sei o quevou fazer da minha vida.

– Meu Deus, onde é que nós vamos parar? Eulamento muito pelos seus pais.

– Débora, o que eu vou fazer da minha vida?– Não fica assim não, amiga. Você perdeu seus

pais, mas eu vou ficar do seu lado pra sempre –falei, abraçando Tatiana e enxugando suas lágri-mas.

Acompanhei Tatiana ao DML, localizado a al-guns quarteirões dali, no Barro Vermelho. Um deseus parentes contou à Tatiana que foi Leonardo,

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meu ex-namorado e ex dela, o autor do duplo ho-micídio. Ela se revoltou, gritando e debatendo-seno chão:

– Maldito! Desgraçado! Esse verme matou meuspais. Por que não me matou? Por que tinha quematar as pessoas mais importantes da minha vida?Eu juro que eu vou matar ele!

Um investigador da Polícia Civil ouviu a con-versa e comentou:

– Leonardo morreu num acidente de moto naEstrada Laranjeiras/Jacaraípe. Ele bateu a motonum caminhão. Eu acabo de chegar de lá. O corpodele deve chegar daqui a alguns minutos.

– Se ferrou, otário. Quero mais é que ele ardaeternamente no inferno! Agora deve tá no colo docapeta, padecendo pelos erros que cometeu aquina Terra. Essa praga não foi parida, foi chocada emum ninho de abutres. Tá explicado porque eletinha esse gênio. Mas tudo que queria era ter meuspais de volta. Meu Deus, porque, meu Pai? - gritouTatiana.

– Eu ainda custo a crer que Leonardo fossechegar a esse ponto de matar – comentei.

Em alguns minutos, chegou o rabecão da Po-lícia Civil, trazendo o corpo de Leonardo, que foi

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direto para a geladeira. Os corpos de Orlandino eJaneide, os pais de Tatiana, estavam em macas se-paradas. Tatiana fez o reconhecimento dos corpos.

Horas mais tarde, ocorreu o velório deles.Havia uma multidão que estava ali para prestar aúltima homenagem. Tatiana não saía perto docorpo de sua mãe. Ela não parava de chorar. Oscorpos foram enterrados no Cemitério de SantoAntônio.

No início da noite, tive ânsia de vômito e ton-tura ao sentir um cheiro de carne assada vindo doapartamento vizinho.

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oda vez que eu sentia cheiro de fritura oualgum perfume mais forte, enjoava e vo-mitava. Meus seios aumentaram de ta-

manho, sentia formigamento neles, tinha manchasno rosto e minha menstruação estava atrasada.

T Comentei isso com Marianna, num almoço

aqui em casa:– Marianna, a minha menstruação tá atrasada e

tô enjoada.– Você teve relações com alguém, Débora?– Transei com Fábio por duas vezes. A gente

ficou sem camisinha e me esqueci de tomar a pí-lula.

– Sua louca! Como é que você fica com o ca-rinha sem camisinha? Você pode tá grávida!

– Eu não tô pronta pra ser mãe. Ainda tenhomuita coisa pra fazer, como me formar, conseguirum emprego, fazer uma pós, arrumar um cara le-gal, noivar, casar e só depois, ter filhos.

– Procure sua ginecologista. Ela vai te indicarum exame de gravidez.

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Após o almoço, escovei os dentes, limpei aboca, peguei a mochila que estava na cadeira eparti de moto para a agência. A todo momento,acariciava a barriga, num movimento inconsciente.

“Isso não pode tá acontecendo, não comigo”,pensei.

No fim da tarde, peguei o guia de meu plano desaúde e abri na seção de ginecologia e obstetrícia,na cidade de Vitória. Apareceu no nome da Dra.Ângela Costa Cruz. Liguei para o consultório:

– Olá, boa tarde. Com quem eu falo?– Quem fala é a Juliane, do consultório da

doutora Ângela. Em que posso servi-la?– Eu quero marcar uma consulta com a Dra.

Ângela.– Pra qual dia?– É possível pra amanhã?– Bem, ela tem horário disponível só às 19 ho-

ras. Manhã e tarde estão lotados.– Pra mim tá bom. Pode marcar.– Está marcado.– Obrigada, viu? Tchau.– Disponha.No dia seguinte, eu estava no consultório da

Dra. Ângela, sentada na recepção, esperando ser

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atendida. Enquanto isso, lia A Guerra dos Tronos.As demais pacientes liam as revistas de fofocas. Derepente, ouvi Juliane me chamar:

– Débora, a Dra. Ângela tá te aguardando.– Desculpe, é que eu tava distraída com a lei-

tura do livro.Acompanhada de Juliane, fui até o consultório

da Dra. Ângela e nele entrou. Aparentava ter 30anos, morena, cabelo preto preso com um coque,olhos castanhos. Ela estava sentada meaguardando.

– Boa noite. Você que é Débora? – perguntouDra. Ângela.

– Sou eu, sim – respondi.– O que te traz aqui? – perguntou Dra. Ângela.– Doutora, a minha menstruação tá atrasada,

fico enjoada ao sentir cheiro de fritura ou um per-fume mais forte e os meus seios aumentaram detamanho – eu disse.

– Veja bem, com minha experiência em gine-cologia e obstetrícia, há fortes indícios de umagestação. Deite-se na maca, que eu vou fazer umultrassom pra constatar – respondeu Dra. Ângela.

Fiquei gelada. Perguntei a mim mesma comoisso podia ter acontecido. Seguindo a orientação

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da ginecologista, me deitei na maca. Dra. Ângelafez a ultra em mim e disse:

– Débora. Meu diagnóstico está correto. Vocêestá grávida de cinco semanas.

Nessa hora, entrei em desespero e chorei.– Meu Deus! E agora? - perguntei.– Agora, você vai ter que encarar a realidade.

Você vai ser mãe. Parabéns – respondeu a doutora.Tive outra crise de choro. Ângela ligou para

Juliane:– Juliane, por favor, faça uma água com açúcar

para a paciente Débora.– Sim, Dra. Ângela.Juliane foi à copa, preparou um copo de água

com açúcar e o deu para mim.Ao chegar, vi Fábio na portaria do meu prédio.

Quando o portão da garagem se abriu e eu entreicom minha moto, ele disse:

– Débora, Débora!– Oi – respondi, asperamente – Eu tô com

pressa.Fábio tirou um buquê de flores, deu para mim

e falou:– Você é o amor da minha vida, o sol da minha

manhã, não sei viver sem seu calor. Aquele mo-

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mento que tivemos juntos foi maravilhoso. Ficacomigo.

– O que rolou entre nós só foi um passatempo,um pente-rala. Tô arrependida de ter ficado comvocê. Eu nunca te amei. Só tive um desejo. Nareal, eu tava chapadaça, não falava nada com coisanenhuma – respondi, falando alto e jogando asflores no chão.

– E o beijo que você me deu? E as carícias quevocê me fez? Eu tô apaixonado por você – respon-deu Fábio, desesperado.

– Eu não quero nada com você. Para comessa cantilena de frases bregas. Vai embora e meesquece, tá? - gritei.

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ive um pesadelo terrível na noite passada,onde Fábio se atirou na ponte e morreupor descreditar da vida e eu era um dos

motivos. Via várias pessoas me acusando eapontando o dedo para mim, me acusando deprovocar a desgraça.

TMarianna, desesperada, me mandou mensa-

gem:“Débora, pelo amor de Deus, vai pra Terceira

Ponte urgente. O Fábio tá ameaçando se jogar. Per-deu o emprego, o seu amor e o irmão dele foiassassinado por dívidas de drogas”.

Desesperada, peguei a moto e pilotei até o vãocentral da Terceira Ponte, gritei e puxei Fábio pelobraço:

– Fabinho, pelo amor de Deus, não faz isso. Éum caminho sem volta! Eu sei de tudo. AMarianna me mandou mensagem, dizendo quevocê queria se matar, porque te mandaram emborada empresa, seu irmão foi assassinado por causadas drogas e eu te desprezava. Se você caisse dessa49

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ponte, o remorso me atormentaria pelo resto davida e uma criança ficaria órfã de pai – falei.

– Órfã de pai? – perguntou Fábio, ainda sementender nada.

– Eu vou ser mamãe e você vai ser papai. Sim-ples assim – disse, acariciando a barriga.

Vi descer uma cachoeira de lágrimas no rostode Fábio.

– Nunca vi ninguém me amar assim de verdadecomo você. Eu te peço perdão por ter ferido seussentimentos. Quero ter você do meu lado – disse,chorando e abraçando Fábio.

– Na moral? – perguntou Fábio, ainda cético.– Claro, seu bobo. Nunca falei tão sério em

minha vida como agora. Você vai pra minha casaagora –respondi, dando um beijo na boca de Fá-bio.

Alguns motoristas ovacionaram e aplaudiram acena, mas um motorista do Transcol mal-humo-rado reclamou:

– Até que horas vocês vão discutir a relação?– Até a hora que eu quiser – falei, levantando o

dedo para o motorista.No jantar, eu e Fábio conversamos:– Fábio, o que aconteceu com seu irmão?

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– Débora, meu irmão gêmeo, o Luan, erausuário de crack desde os 16 anos. Repetiu de anoe largou a escola. Mamãe tava desesperada, porqueele tava roubando as coisas dentro de casa etrocando por pedra. Além disso, o Luan cometiafurtos na vizinhança e devia mais de R$ 100 naboca de fumo. No auge do desespero, mamãeacorrentou meu irmão pra que ele não saísse prabuscar pedra. Aí, era pior, porque vinha a crise deabstinência e o Luan ficava muito violento. Os tra-ficantes deram o aviso: meu mano tinha até ontempra acertar o que devia na boca, do contrário, omatariam. Ele não tinha o dinheiro e pagou com avida

– Vocês tentaram arrumar uma clínica pra ele?– A gente lutou pra que o Luan fosse interna-

do, mas ele não queria saber de clínica nenhuma.Se falasse a respeito de internação, meu irmão ex-plodia de raiva.

– Como ele entrou nessa vida?– Foi no tempo de escola. Luan foi na pilha de

uns amigos da onça e começou a usar fristo.– O que é fristo?– Mistura de crack com maconha. Depois,

Luan passou a usar o crack puro.

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– Você perdeu o emprego?– Sim, Débora. Após o almoço, Heron, o dono

da empresa, fez uma reunião com os funcionários.Ele alegou dificuldades financeiras por causa daperda de várias concorrências públicas. O proprie-tário da loja havia lhe pedido o imóvel, porquealuguel tava atrasado e precisava ficar próximo dafilha, que tem leucemia. Disse que no dia seguinte,a loja seria fechada e estávamos despedidos.

– Que barbaridade! E seus direitos trabalhistas?– O Heron mandou voltar na segunda pra

buscar o dinheiro.– Tenho uma sugestão: pega esse dinheiro e

vamos juntos montar um bureau de design gráfico.– Vamos sim, Débora. Sempre tive o sonho de

ter um bureau. É o começo para montar umaagência de publicidade.

MESES DEPOIS, EU e Fábio abrimos um bureau dedesign gráfico numa loja perto do Triângulo dasBermudas. Estava com cinco meses de gestação.Feliz da vida, deixei cartões de visita do novonegócio nas lojas da Praia do Canto. No meio datarde, cheguei à loja e falei com Fábio:

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– Oi, meu bem. Eu tenho uma novidade pravocê. Fiz a ultra agora há pouco e vai ser um me-nino.

– Um menino. Eu vou ser pai de um menino –disse Fábio, com a cabeça inclinada na minhabarriga.

– Sim, Fábio. Estamos grávidos de um menino– respondi acariciando a cabeça de Fábio.

– Qual é o nome que a gente pode dar pra ele?– perguntei.

– José, Augusto, sei lá – titubeou Fábio.– José Augusto é um nome bacana. Taí, o nome

do nosso menino vai ser esse – decidi.Decidi que faria parto normal e em casa, após

ver vários vídeos de partos humanizados no You-Tube e ouvir relatos de amigas e conhecidas quepassaram por essa experiência.

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inco horas e trinta minutos. Fui aobanheiro tomar uma chuveirada quentepara relaxar. Repentinamente, uma dor

nas costas me incomodou. As dores aumentaram,fiz força descomunal e agachei. Minha bolsarompeu e gritei:

C– Fabinho, a bolsa estourou. O José Augusto tá

chegando ao mundo.Eu estava com dilatação total. Uma força es-

tranha ainda maior apoderou-se de mim. Às seisda manhã, dei à luz a José Augusto, no banheirodo apartamento. Fábio desabou no choro.

– Fabinho, eu sou a mulher mais feliz domundo. Hoje, nasceu o fruto do nosso amor. Lin-do, indiozinho igual a você – falou Débora, ama-mentando José Augusto.

– Meu filho é lindo, muito lindo – respondeuFábio, chorando e abraçando a mulher e o filho.

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Contudo, a placenta não “nasceu” e acompa-nhada de Girlaine, fui ao Hospital Santo Amaro.Conversei com Luísa, a recepcionista:

– Eu pari em casa às seis da manhã. Meu bebêtá com meu marido, mas minha placenta não“nasceu” e preciso de ajuda pra removê-la.

– Nasceu em casa? Não sei se podemos teatender – disse Luísa, em tom alto e debochado devoz.

Procurei a Maternidade Maria Ortiz. Depois dealguns minutos, fui admitida no estabelecimento.

– Cadê o seu bebê? – perguntou Dra. Beatriz, aobstetra daquele plantão.

– Ficou em casa com meu esposo – respondi.– Eu quero ver seu bebê. Ou você traz seu bebê,

caso contrário, chamo a polícia e abro um B.Ocontra você. Isso é crime, você e o bebê poderiammorrer. Você não sai desse hospital até ver essebebê. Meu plantão acaba às sete da noite e eu nãovou sair daqui até ver essa criança – ameaçou Dra.Beatriz.

Fui levada para uma sala. A médica puxou aplacenta pelo cordão umbilical, enquanto apertavaa barriga.

– Faça força pra sair – falou Dra. Beatriz.

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– Eu não aguento mais – gritei.– Eu vou te fazer uma curetagem no centro ci-

rúrgico pra tirar essa placenta – falou Dra. Beatriz.– Faça o que achar melhor – concordei.Quando me levantei da maca, vi uma poça de

sangue. Tive uma hemorragia.– Parto domiciliar é crime! Eu vou tirar o seu

útero – gritou Dra. Beatriz.A maca onde eu estava deitada e chorando

passou pela recepção do andar, antes de chegar aocentro cirúrgico.

A médica gritou para quem quisesse ouvir, emtom professoral:

- Isso aqui é um parto domiciliar, viu? É issoque acontece.

Durante o procedimento de remoção da pla-centa, as portas do centro cirúrgico ficaram aber-tas. Todos que passaram pelo corredor me viramde pernas abertas. Fui mais uma vez humilhadapela Dra. Beatriz:

– Se seu parto domiciliar não deu certo, vocêdeveria se virar e levar um médico até sua casa pratirar a sua placenta e não trazer problemas promeu hospital.

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O que a doutora não sabia é que filmei todas asconversas com uma câmera escondida.

SAÍ DO HOSPITAL, COM O desejo de esfolar viva edepois, trucidar a Dra. Beatriz com minhas pró-prias mãos, por todas as humilhações e ameaçasfeitas por ela. Só ficou na vontade, porque nãoqueria perder minha juventude numa cela fria eimunda, com detentas com cara de poucas amigas,vestir aquele uniforme de presidiária, apanhar dascarcereiras e comer marmita azeda.

Eu tinha um bebê que dependia de meus cui-dados, um esposo lindo e carinhoso e não queriame ver longe deles por causa de um desatino.

No carro, eu e Fábio conversamos:– Que bom ter saído daquele hospital. Se ti-

vesse ficado mais um pouco, teria cometido umassassinato.

– Por quê, meu amor?– Aquela doutorazinha, chamada Beatriz, falou

um monte de idiotices e me humilhou na frentede todo mundo naquele hospital. Ela ameaçouchamar a polícia, se eu não trouxesse nosso bebê,ameaçou arrancar meu útero e gritou que parto

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domiciliar era crime. Quando a digníssima médicaremoveu minha placenta, as portas do centro ci-rúrgico ficaram abertas. Todos me viram com aspernas escancaradas. Foi constrangedor demais.

- Miserável! Como ela pôde ser tão cruel?- Talvez pelo fato de considerar o parto como

um ato médico, quando na verdade, a mulher édona do seu parto e protagonista deste processo.Ela tá acostumada a lidar com o nascimento en-quanto evento hospitalar, cheio de intervençõesmédicas e medicamentosas.

– Qual é nome do hospital que você foi?– Maternidade Maria Ortiz.– Há exatos dois anos, minha prima perdeu a

bebezinha dela nesse açougue chamado hospital. – Meu Deus! Como foi isso?– A Úrsula, minha prima, deu entrada naquele

maldito hospital, em trabalho de parto. Ela foiexaminada e lhe informaram que deveria aguardara evolução do parto, mas não tinha dilatação. Oobstetra de plantão mandou fazer uma cesárea.Contudo, não havia anestesista no plantão do dia.Ela esperou por oito horas pelo anestesista danoite. Quando fizeram a cesárea, já era tarde. Obebê, que se chamaria Adrian, nasceu morto.

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– Quanto descaso! E o que aconteceu depois?– Nada. Tudo dantes no quartel de Abrantes.

Os processos que Úrsula moveu contra os médicosna justiça e no CRM tão parados. Ah, se fazem umtroço desses com uma filha de bacana.

– É babado e confusão, com uma gorda inde-nização por danos morais e os registros de médicoscassados. Doutora Beatriz e o hospital que secuidem. Isso não vai ficar assim. Eu vou buscarmeus direitos, custe o que custar!

Já no meu apartamento, amamentando JoséAugusto e vendo televisão, uma notícia no tele-jornal das 19 horas me chocou deveras: uma me-nina de 16 anos deu à luz na porta da Materni-dade Maria Ortiz, após ter o atendimento negadopor falta de vagas.

Ela ficou por uma hora e meia na calçada re-clamando de dores. Infelizmente, a criança nasceumorta e os bombeiros que trouxeram a moça naambulância, indignados, deram voz de prisão àDra. Beatriz, sim aquela doutorazinha ordinária,por omissão de socorro. Bem feito para ela!

Desliguei a TV, peguei o celular e liguei paraMarianna:

– Ei, Marianna, boa noite.

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– Débora, meu amor, meus parabéns. Fiqueisabendo que o José Augusto nasceu hoje em suacasa.

– Obrigada, querida. Acordei pra tomar umaducha, senti uma dor nas costas, a dor foi au-mentando, agachei e a bolsa rompeu. Em poucosminutos, meu príncipe havia chegado ao mundo.

– Que lindo!– O pós-parto não foi nada lindo. A placenta

não saiu e fui a um hospital pra removê-la, mas senegaram a me atender, porque dei à luz em casa.Fui em outro estabelecimento, onde sofrihumilhações da obstetra de plantão, a Dra. Bea-triz. Aquela vaca ameaçou chamar a polícia, casonão trouxesse meu bebê, disse que partodomiciliar era crime, me expôs ao ridículo, com aspernas escancaradas e as partes íntimas expostas.

– Você tem que denunciar isso. Na faculdade,tem uma professora que é âncora do CorreioNotícias 1a Edição? - Sim. Daqui a pouco, vai rolaruma defesa de TCC e ela tá na banca. Posso falarcom ela e sugerir essa pauta.

– Pode falar com ela. Qualquer novidade, vocême fala. O José Augusto tá querendo mamar.Quando puder, venha nos visitar. Um beijo.

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– Outro, Débora.

APÓS PASSAR A NOITE EM claro amamentando eacalentando meu bebezinho, fui para a cama eusufruí o sono dos justos. Ao meio-dia, meucelular tocou. Com voz de sono, atendi:

– Alô, que fala?– Meu nome é Yuri Nogueira. Sou pauteiro do

telejornal Correio Notícias 1a Edição. Recebi asugestão de pauta pela apresentadora. Nossoobjetivo é apresentar uma série de reportagenssobre as irregularidades da Maternidade MariaOrtiz. Queríamos fazer uma entrevista com você.

– Claro. Faço isso com o maior prazer.– Se você não quiser se identificar, a gente vai

respeitar.– Pra quê esconder o rosto? Eu tenho uma

denúncia grave contra uma das doutoras daqueleaçougue imundo e tenho as provas.

– Do que se trata?– Eu fui vítima de violência obstétrica pela Dra.

Beatriz, a obstetra daquele pardieiro. Meu crime:parir em casa.

– Então você teve um parto humanizado?

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– Sim, como eu havia planejado. Meu bebênasceu esbanjando saúde, mas minha placenta nãosaiu e busquei atendimento naquele lugar. Aquelamaluca com diploma ameaçou arrancar meu útero,gritou que parto domiciliar era crime e me expôsao ridículo diante de todos que passavam,deixando as portas do centro cirúrgico abertas,onde eu tava na maca de pernas abertas e minhaspartes íntimas expostas.

– Que provas você tem?– Vários vídeos com todas as humilhações da

Dra. Beatriz.– Maravilha! Você pode nos receber hoje às 16

horas?– Hoje não será possível, porque nesse horário,

vou levar o José Augusto ao pediatra pra fazer aprimeira consulta de rotina. Amanhã, no mesmohorário, posso recebê-los.

– De acordo. Amanhã, a equipe de reportagemvai à sua casa. Débora, muito obrigado pelaatenção e tenha uma boa tarde.

– Eu que agradeço. Até mais.Dito e feito, na tarde do dia seguinte, recebi a

equipe da TV Correio e relatei todas as humi-lhações sofridas na maternidade Maria Ortiz.

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Entreguei a repórter Tâmara Barbosa um pendrivecom os vídeos das agressões. A jornalista me disseque por determinação dos editores, a minha parteiria ao ar amanhã. Seja o que Deus quiser.

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Maxwell dos Santos nasceu em Vitória/ES em 1986e mora na referida cidade, no Bairro da Penha. É jor-nalista (MTE/ES 2605), escritor e roteirista audiovi-sual. Em 2012, publicou seu primeiro livro impresso,As 24 horas de Anna Beatriz. Em 2013, publicou os e-books Ilha Noiada e Melanie – uma história de amor esuperação e em 2014, publicou os e-books Amyltão Es-cancarado e Comensais do Caos, lançado posterior-mente em livro físico em janeiro de 2015. Em 2015,lançou o e-book e livro #cybervendetta.

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A luta de uma jovem por um parto humanizado.

Débora é uma estudante de Publicidade e Propaganda,que em pouco tempo sofre dois reveses: a morte desua mãe e seu irmão num atropelamento e a descoberta da traição de seu namorado com amelhor amiga.

Envolve-se com Fábio, colega de faculdade e dessa relação, ela tem uma gravidez não planejada. Elao dispensa, mas o rapaz ameaça se jogar da ponte.

Débora leva Fábio para casa e acalenta o sonho de terum parto humanizado, onde ela será a protagonistado processo.

Nem todos pensam como ela. Principalmente, osobstetras de mentalidade hospitalocêntrica emedicamentosa.