Upload
vuongdung
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
EMPREENDEDORISMO FEMININO E MASCULINO NO BRASIL: UMA
QUESTAO DE GÊNERO
Milena Corrêa Ferrari1
Sheila Cristina Ferreira Leite2
Resumo: Considerando a participação das mulheres no mercado de trabalho, o
empreendorismo por necessidade e a questão de as mulheres ainda estarem ocupadas dos
cuidados domésticos; partindo de discussões sobre as desigualdades de gênero no mercado de
trabalho e a participação das mulheres no empreendedorismo, o artigo busca analisar taxas de
empreendedorismo feminino e masculino do Brasil, bem como verificar se empreendedorismo
feminino é maior em estados mais pobres. Foram utilizados dados do PIB estadual, do Índice
Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), e um índice de empreendedorismo por sexo
(IES) para cada estado; por meio da correlação de Person verificou-se o grau de associação
entre o IES, PIB, e IFDM. Os resultados apontaram menor participação da mulher no
empreendedorismo, havendo estados em que o índice de empreendedorismo feminino é maior
que o masculino quando o PIB é menor. Isso pode indicar empreendedorismo feminino por
necessidade, em que o empreendedor é o agente que busca sobrevivência frente alternativas
do mercado de trabalho, em função de carências no mercado formal, situação que afeta em
especial as mulheres, as quais precisam se inserir em um ambiente socialmente reconhecido
como masculino, como o empreendedor.
Palavras-chave: Empreendedorismo feminino, empreendedorismo masculino, desigualdades
de gênero, mercado de trabalho.
1 Introdução
A prática empreendedora é vista cada vez mais como fonte geradora de empregos,
renda e, portanto, desenvolvimento em um país, e muitos são os motivos que levam ao
empreendedorismo, seja como fonte alternativa ao desemprego, a aposentadoria ou a
oportunidade de abrir o próprio negócio. O empreendedorismo tem se popularizado em países
em desenvolvimento como o Brasil (GEM 2015), seja por características de oportunidade, ou
de necessidade, aspecto mais aparente em países com desemprego em ascensão e de má
distribuição de renda. Outra discussão importante tomada no trabalho foi referente às
diferenças do empreendedorismo feminino e masculino. O número de mulheres que
ingressam no empreendedorismo tem aumentado expressivamente, o que despertou interesse
em se discutir as motivações desse empreender e as diferenças entre homens e mulheres na
atividade. Destarte, pretendeu-se verificar a relação entre a taxa de empreendedorismo
feminino e masculino e o nível de crescimento/desenvolvimento dos estados do Brasil.
1 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia, pela Universidade Federal de Mato Grosso,
Campus Cuiabá-MT, Brasil. 2 Professora Doutora, da Faculdade de Economia, pela Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá-
MT, Brasil.
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Procuramos ao longo do trabalho responder a seguinte pergunta: Existe diferença entre a taxa
de empreendedorismo feminino e masculino associado ao nível de
crescimento/desenvolvimento dos estados brasileiros? A partir da literatura ter-se-á duas
hipóteses: A) a taxa de empreendedorismo feminino é menor que a taxa de empreendedorismo
masculino em todos os estados do Brasil; e B) Em estados com menor nível de
crescimento/desenvolvimento tem-se uma taxa de empreendedorismo feminino maior que em
comparação ao empreendedorismo feminino em estados mais ricos. Tal hipótese está
associada aos estados de menor grau de crescimento/desenvolvimento ofertar menores
oportunidades de trabalho assalariado a mulheres que, de maneira alternativa, procuram
empreender por necessidade.
2 Empreendedorismo na Literatura
Ao tratar do processo histórico das origens do empreendedorismo, a bibliografia,
(SCHUMPETER, 1982; KNIGHT, 1921) nos aponta que empreender é capacidade de tomar
iniciativas e correr riscos, a partir do reconhecimento de novas oportunidades, e a proposição
de inovações na tentativa de resolver gargalos, sejam eles econômicos ou sociais, que possam
promover a produção e distribuição não só de riquezas, mas de ideias e conhecimentos.
Schumpeter (1982), fazendo a distinção do mero capitalista, aquele que se adapta a
concorrência econômica, e empreendedor, diz que este é o agente inovador que, de forma
racional, transforma a ordem econômica existente a medida que introduz novos produtos e
serviços, cria novas formas de organização econômica, conferindo novos padrões de produção
e transformando as relações de trabalho existentes.
Weber (2002), procurou entender porque os protestantes eram os maiores detentores
do capital, compreendendo o capitalismo não somente do ponto de vista do modo de
produção, mas como uma cultura (“espírito”) com fundamentos simbólicos enraizados em
tradições religiosas, e que o tipo de educação puritana, favorecida pela esfera religiosa
protestante, levaram a escolhas de ocupações técnicas e empresariais. Seu conceito de ação
social, neste contexto a ação empreendedora, está ligado a ação inovadora do agente, a qual
tenta superar modos de vida e relações de trabalho tradicionais.
Reynolds (1991) nos chama atenção ao fato de que é relevante considerar o papel
social do empreendedorismo, visto ser uma ação que influencia no desenvolvimento da
sociedade. No entanto, é oportuno salientar que se por um lado o empreendedorismo
influencia o desenvolvimento, por outro lado ele também pode indicar problemas econômicos
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
de um país. Assim, torna-se importante ressaltar as motivações que levam o indivíduo a
empreender, seja por necessidade ou por oportunidade. O autor aponta que o empreendedor
por necessidade possui determinadas carências, como falta de inserção no mercado de
trabalho formal, o que reflete um desequilíbrio econômico, tanto individual quanto social. O
empreendedor por necessidade procura segurança e sobrevivência frente a falta de alternativas
no mercado de trabalho, o que o leva a trabalhar por conta própria, não sendo de fato uma
opção. O relatório do GEM 2015, aponta que o empreendedorismo por necessidade é mais
recorrente em país subdesenvolvidos, onde as rendas são mais baixas, e as oportunidades de
trabalho são mais escassas e insatisfatórias (GEM 2015).
Empreender por oportunidade está relacionada a capacidade de inovação e percepção
de nicho de mercado favorável ao desenvolvimento de estratégias percebidas através da
oportunidade de gerir o próprio negócio, portanto mais disposto a enfrentar riscos (Reynolds,
1991). O empreendedorismo por oportunidade, independe de vagas disponíveis no mercado
de trabalho, pois está relacionado a opção de empreender, tendo este tipo de empreendedor,
geralmente, nível mais alto de escolaridade (GEM, 2015).
3 A Mulher Empreendedora
Debates em torno de questões de gênero tem se intensificado no ambiente acadêmico,
em especial pela necessidade das demandas históricas que homens e mulheres estão sujeitos
nas relações de trabalho. Ao longo da história, as mulheres estiveram sujeitas a condições
subordinadas e por vezes excluídas dos espaços públicos (FONTENELE-MOURÃO, 2006),
tendo como principal atividade econômica o cuidado com o lar. O modelo de atribuição de
tarefas domésticas, a divisão social de trabalho, em que a atividade fora do lar era
exclusividade do homem, foi solidificado ao longo da história, constituindo condições de
inferioridade às mulheres em uma estrutura social dominada por homens, e consequentes
discriminações no mundo do trabalho. Mesmo que alguns eventos favoreceram a participação
da mulher no trabalho fora do lar, tais como como a Revoluções Industrial e Russa, e a
Grande Recessão (LEITE, 1994), bem como a Segunda Guerra Mundial, que exigiu grande
mobilização da mulher no mercado de trabalho para suprir a carência da mão de obra
masculina, ainda que a mulher fosse admitida no processo laboral fora do lar, este se dava em
condições de submissão e em atividades de baixa remuneração em relação aos homens.
Assim, a partir do século XX que a mulher tem oportunidade de se inserir de outras
formas no mundo do trabalho, e o Brasil acompanha esse cenário de desenvolvimento
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
econômico, político e social, e sua inserção no mercado de trabalho intensificou-se, junto a
importantes lutas das mulheres por direitos e igualdade de gêneros (PRIORI, 2002), porém
ainda historicamente em condições de inferioridade e acessibilidade diferentes, como na
questão do acesso à educação.
Com papel importante no desenvolvimento econômico de um país, o
empreendedorismo, até a década de 1970 foi considerado uma atividade preponderantemente
masculina, sendo que, a partir de então, houve considerável aumento da participação das
mulheres na economia, o que contribuiu para formação de uma identidade da mulher em
desenvolver atividades empreendedoras; entretanto, a literatura que versa sobre
empreendedorismo feminino ainda é escassa (BRUSH, COOPER, 2012). Dados demonstram
que aproximadamente 42% dos empreendedores eram mulheres (DE VITA, 2014), o que
representa importante motor para o crescimento econômico, em especial de países em
desenvolvimento, devido a promoção de trabalho produtivo, igualdade de gênero e
diminuição da pobreza. Em países desenvolvidos as mulheres são mais motivadas a
empreender por oportunidade, enquanto em países de economias em desenvolvimento são
mais propensas a empreender por necessidade (BRUSH; COOPER, 2012).
A partir da proposição de que gênero é um termo socialmente construído (SCOTT,
1998), a divisão do trabalho segundo o gênero se revelou uma construção social, e essa visão
do empreendedorismo em um contexto social reforça-se a divisão e atribuição de papéis no
mundo do trabalho, em especial nas relações de poder. A medida que se polariza as relações
em pressupostos binários (sexo), reproduzir-se-ão papeis subordinados, construídos
socialmente, das mulheres.
O empreendedorismo tem conotação masculina, visto que empreender por muito
tempo ficou restrito ao universo masculino, tendo sido empreendedores, geralmente, os
homens (AHL, 2006). Neste sentido, o empreendedorismo feminino, expressão que auxilia na
intenção de marcar a presença da mulher nesta atividade, vem carregada de estereótipos
adquiridos ao longo da história para marcar a divisão do trabalho entre homens e mulheres.
Estereótipos marcados pelo discurso dominante de que às mulheres compete o cuidado com
filhos, e se adequarem a arranjos sociais em que o homem é o provedor da família (AHL,
2006), que trabalha no âmbito do público, ficando as mulheres restritas ao privado.
4 Metodologia
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Esse estudo busca identificar se existe diferença entre a taxa de empreendedorismo
feminino e masculino associado ao nível de crescimento/desenvolvimento econômico dos
estados brasileiros. Para tanto escolheu-se três bases como fonte de dados da pesquisa. Uma
delas é a Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílio (PNAD) elaborada e publicada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Também foram utilizados dados da
Pesquisa de Produto Interno Bruto dos Munícipios do IBGE. E por último, utilizou-se o
Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) elaborado pela Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN).
Por se tratar de uma pesquisa amostral complexa, o tratamento para extração e análises
dos dados oriundos da PNAD seguiu os procedimentos propostos por Damico (2016),
baseando-se nas funções do pacote survey (LUMLEY, 2016) que consideram o desenho
amostral complexo. As variáveis chaves consideradas para esse estudo foram o estado de
residência (uf), o sexo (v0302), a ocupação declarada (v9029) de indivíduos que atuam em
empreendimentos de atividades não agrícola. A partir de tais variáveis foi criado um índice de
empreendedorismo por sexo (IES) que considera o percentual de pessoas por sexo de um
estado que se declararam como empreendedores para cada 100 pessoas que declararam serem
economicamente ativas por sexo. A equação (1) apresenta o cálculo:
Na literatura é apontado que em termos empíricos pessoas que se declaram como conta-
própria ou como empregador podem ser consideradas como empreendedoras (ABREU;
GRINEVICH, 2013). O IES é a razão entre o total de empreendedores e o total de pessoas que
declaram se enquadrar em algum dos tipos de ocupações consideradas pela PNAD, a saber,
empregado, trabalhador doméstico, conta própria, empregador, trabalhador não remunerado
membro da unidade domiciliar, outro trabalhador não remunerado e trabalhador na construção
para o próprio uso. É oportuno salientar que para cada estado da federação brasileira são
computados dois IES, um feminino e outro masculino. Considerando a disponibilidade dos
dados o IES foi mensurado para os anos de 2001 a 2009 e 2011 a 2014. Também
considerando a possibilidade de haver diferenças entre os grupos que compõem o conceito
empírico de empreendedor, realizou o cálculo da IES por grupo, a saber, empregador e conta-
própria, conforme equações (2) e (3):
Tendo em vista o objetivo de verificar a associação entre o empreendedorismo por sexo
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
e o processo de crescimento econômico e desenvolvimento dos estados do Brasil foi
necessário utilizar indicadores de tais processos. No tocante ao crescimento econômico foi
utilizado o PIB de cada estado divulgado pelo IBGE. Considerando os anos em que foram
computados o IES utilizou-se dados de 2001 a 2009 e 2011 a 2013, devido no momento de
elaboração do estudo não estar disponível dados de 2014. Para verificar a associação com o
desenvolvimento utilizou-se o IFDM. Ele segue metodologia semelhante ao IDH, porém é
adaptado a disponibilidade de dados e a realidade brasileira. Ainda, como o IFDM é
computado para cada município utilizou-se a médias dos IFDM dos municípios de cada
estado como o IFDM do estado. A averiguação se havia discrepâncias entre a média e a
mediana dos IFDM dos municípios de cada estado indicou que os valores das medidas eram
próximos. O IFDM estava disponível no período de 2005 a 2013.
Para a análise dos dados utilizou-se além do IES a análise de correlação de Pearson. A
relação entre o IES e os indicadores de crescimento/desenvolvimento foram realizadas para os
anos de 2007 e 2012, considerando o desempenho da taxa de crescimento do PIB. A escolha
do ano de 2007 se deu por ser considerado o ano de maior crescimento do PIB no período
entre 2001 e 2009. Enquanto, o ano de 2012 foi um ano de redução da taxa de crescimento do
PIB. É oportuno salientar que a análise dos coeficientes de Pearson será norteada pela
proposta de Dancey e Reidy (2006). Tais autores propõem que: r = 0,10 até 0,30 (fraco); r =
0,40 até 0,60 (moderado); r = ,70 até 1 (forte).
5 Resultados
No período de 2001 a 2014, observou-se que o empreendedorismo no Brasil
apresentou crescimento. Considerando dados das PNAD’s dos respectivos anos, teve-se que
em 2001, 15.717.564 declararam ter como ocupação conta-própria (82,57%) ou empregador
(17,43%). Enquanto que para o ano de 2014 teve-se 20.422.847 dos quais 83,05% declararam
como conta-própria e 16,95% como empregadores (IBGE, 2016). Confrontando a população
de empreendedores do Brasil no período analisado teve-se que houve um crescimento de
29,94% enquanto que a população brasileira apresentou uma variação positiva de 17,63%
passando de 172.742.372 habitantes em 2001 e 203.190.817 habitantes em 2014 (IBGE,
2016).
Identificando o comportamento da participação de mulheres e homens no percentual
de empreendedores tem-se que as mulheres têm menor participação em atividades
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
empreendedoras. Um resultado esperado dado que na literatura é apontado que as mulheres
são menos empreendedoras que os homens. Para o ano de 2001 do total de empreendedores
33,5% eram mulheres sendo que da população empreendedora feminina 86,32% eram conta-
própria. Analisando os homens tinha-se que 80,67% eram conta-própria. Ou seja, as mulheres
atuavam mais como conta-própria em comparação com os homens. Em 2014, da população de
empreendedores 35,33% eram mulheres, sendo que 86,10% conta-própria. Houve uma
pequena variação positiva da participação das mulheres no empreendedorismo, porém não se
nota nem mesmo igual variação em sentido oposto da mulher ser empregadora. Com respeito
aos homens notou-se que houve aumento do percentual de conta-própria passando a ser igual
a 81,39%. Tais resultados podem refletir a piora da situação econômica brasileira, com a
redução de postos de trabalhos formais.
A investigação do índice de empreendedorismo por sexo (IES) dado o estado indicou
existir expressivas diferenças entre os estados da federação brasileira. Ainda não é possível
pelas informações apresentadas na Figura 1 afirmar que existe um padrão de ocorrência do
IES relacionado aos estados.
Figura 1 – Evolução do índice de empreendedorismo por sexo por estado brasileiro no
período de 2001 a 2009 e 2011 a 2014.
Fonte: Resultados da pesquisa a partir dos dados do IBGE (2016).
Na Figura 1 em razão do número de observações, 27 no total, optou-se por apresentar
em destaque as informações dos 3 estados que apresentassem em 2014 o maior IES e os 3
estados que apresentassem os 3 menores IES. Observa-se um comportamento não esperado do
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
estado do Amapá no período de 2007 a 2010 nos IES conta-própria e empreendedor. É
oportuno salientar que o IES feminino versus masculino não apresentam semelhança no
tocante aos estados com maiores e menores indicadores, exceto para o caso de maiores IES de
empregadoras e empregadores. O valor do indicador que revela o número por categoria de
empreendedor e por empreendedor para cada 100 pessoas economicamente ativas apresenta
grande variabilidade. Buscando analisar o comportamento do IES em relação ao processo de
crescimento e desenvolvimento dos estados brasileiros, na Figura 2 apresenta-se a evolução
do PIB e do IFDM por estado.
Figura 2 – Evolução do PIB e do IFDM dos estados brasileiros no período de 2001 a 2013.
PIB IFDM
Fonte: IBGE (2016) e FIRJAM (2016)
A Figura 2a foi construída com duplo eixo em razão dos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro apresentarem grandes diferenças de magnitude de PIB frente aos demais estados de
federação. Confrontando os resultados do PIB com os resultados do IES apresenta expressiva
variabilidade não apresentando um padrão de que maior ou menor resultado acompanha o
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
comportamento do PIB. A exceção é com respeito aos resultados dos maiores IES para
empregadora e empregador que coincidiram em magnitude para mulheres e homens e também
podem apresentar relação com o volume do PIB dos estados. Na Figura 2b tem-se evolução
do IFDM por estado e encontra-se resultado semelhante a análise do PIB por estado. O IFDM
confrontado com os resultados dos IES não apresentam comportamento de semelhança, a
saber, maior ou menor IFDM associado a maior ou menor IES. A análise dos IES’s, Figura 1,
evidencia que, em geral, o IES feminino apresenta magnitude menor em comparação ao
masculino. No entanto, tendo em vista a hipótese 1 deste estudo, a saber, a taxa de
empreendedorismo feminino é menor que a taxa de empreendedorismo masculino em todos
os estados do Brasil, os resultados indicam que a hipótese não pode ser plenamente não
rejeitada. Na Figura 3, apresenta-se a diferença entre o IES por categoria para homens e
mulheres.
Figura 3 – Evolução da diferença dos IES masculinos e femininos por estado no período de
2001 a 2009 e 2011 a 2013:
Fonte: Resultados da pesquisa a partir de dados do IBGE (2016)
Os resultados para conta-própria, Figura 3, indicam um comportamento nos estados de
Piauí e Ceará, de existir maior IES feminino em comparação ao masculino. Para o estado do
Ceará observa-se que desde 2008 a tendência é que o IES conta–própria feminino se torne
menor que o masculino. Com respeito ao empregador não se observa tal comportamento. Os
resultados corroboram com o discutido na literatura, homens empreendem mais que mulheres.
Os resultados da análise de correlação para os anos selecionados, a saber, 2007 e 2012 são
apresentadas na Figura 4. Para o ano de 2007, Figura 4a, no caso dos IES das empregadoras e
empregadores há associação positiva de grau moderado a forte com as variáveis indicativas do
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
nível de crescimento e desenvolvimento. Apesar de ser um ano economicamente positivo não
se observa uma modificação expressiva do grau de associação entre os IES e a variável PIB.
Figura 4 – Matriz correlação do IES e o PIB, PIB per capita e o IFDM para o ano de 2007 e de 2012
2007 2012
Fonte: Resultados da pesquisa a partir dos dados do IBGE (2016) e FIRJAN (2016)
O ano de 2012, Figura 4b, representa um período de redução da atividade econômica
brasileira, porém acompanhando os demais anos analisados não observa-se expressivas
mudanças de comportamento dos IES e as variáveis de crescimento e desenvolvimento
econômico. Com relação aos resultados da Figura 4, pode-se aventar que assim como os
demais anos há um forte grau de associação entre os IES de empregadoras e empregadores.
Podendo indicar que um ambiente empreendedor pode estimular o empreendedorismo de
ambos os sexos. Ainda, para o ano de 2012 o IES de conta-própria feminino apresenta grau de
associação negativo fraco com o PIB per capita e IFDM.
Resultados apresentados na análise de correlação de Pearson indicam que não há
expressiva diferença entre os coeficientes de IES feminino e masculino com as variáveis de
crescimento e desenvolvimento econômico. Nota-se que a relação entre os IES de
empregadora e empregador apresentam maior associação com significância estatística com os
indicadores escolhidos. Em decorrência de tais resultados tem-se que a hipótese 2 deste artigo,
em estados com menor nível de crescimento/desenvolvimento tem-se uma taxa de
empreendedorismo feminino maior que em comparação ao empreendedorismo feminino em
estados da federação que mais ricos, não deve ser não rejeitada. Para conta-própria feminino
observa-se que o resultado vai de encontro com a hipótese, porém com associação fraca e
grau de significância estatística baixa.
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
6 Considerações finais
Este artigo buscou investigar o comportamento do Índice de Empreendedorismo por
Sexo (IES) e o seu relacionamento com indicadores de crescimento e desenvolvimento
econômico. Para tanto se propôs a construção do IES a partir de dados secundários e verificou
o grau de associação dele como o PIB, PIB per capita e o Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal (IFDM).
Os resultados revelaram que não é possível afirmar que a taxa de empreendedorismo
feminino é menor que a taxa de empreendedorismo masculino em todos os estados do Brasil.
Há estados em que se observou que o índice de empreendedorismo por sexo na ótica de conta-
própria para mulheres apresentou superior ao masculino. Também no tocante a hipótese de
estados com menor nível de crescimento/desenvolvimento tem-se uma taxa de
empreendedorismo feminino maior que em comparação ao empreendedorismo feminino em
estados da federação que mais ricos não se confirma. Por meio da análise de correlação
verificou-se que considerando o IES empreendedor não se encontra correlação com o PIB,
PIB per capita e IFDM. Ao se decompor o IES em conta-própria e empregador tem-se que
com respeito ao conta-própria feminino as correlações em relação ao IFDM vão de encontro
com a hipótese, porém a magnitude é fraca e com baixo grau de significância estatística. Para
o caso de empregador, encontrou-se tanto para mulheres quanto para homens correlações
positivas, de moderada a forte, estatisticamente significativas. Tal resultado com relação aos
empregadores leva a rejeição da hipótese proposta.
A análise de correlação para anos selecionados não apresentou diferenças de
comportamentos entre os IES femininos e masculino. Também não se nota, exceto para o caso
de IES referente a empregadora e empregador forte grau de associação estatisticamente
significativo para os IES de conta própria e empreendedor. Para o caso dos IES de
empregadoras e empregadores verificou-se a existência de correlação positiva, de moderada e
forte e significância estatística de média a forte com o IFDM e PIB per capita. Assim, pode-se
concluir que há relação positiva entre o PIB per capita e o IFDM e os empregadores. Também
é oportuno enfatizar o relacionamento positivo, forte e estatisticamente significativo entre o
IES de empregadora e empregador. Indicando que o aumento do empreendedorismo em um
dos gêneros relaciona positivamente com o grau de empreendedorismo do outro gênero.
Considerando a literatura e os resultados encontrados nesse estudo de menor grau de
empreendedorismo entre mulheres tem-se que um maior grau de empreendedorismo da
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
categoria empregador é associado a um maior grau de empreendedorismo da categoria
empregadora. Em grau moderado também verificou-se que há relação positiva entre o
empreendedorismo da categoria conta-própria feminino e masculino. Vale ressaltar que em
todos os anos investigados o IES referente a conta-própria feminino apresentou
relacionamento com o PIB per capita. O grau de associação para esse caso foi negativo, fraco
e com nível de significância estatística baixo. Tal comportamento foi diferente do IES conta-
própria masculino que não indicou para nenhum dos anos analisado a existência de grau de
associação com as variáveis indicadoras do crescimento e desenvolvimento; o que pode ser
indicativo de empreendedorismo feminino por necessidade, conforme aponta a literatura
(Reynolds, 1991).
Referências
BRUSH, Candida; COOPER, Sarah. Female entrepreneurship and economic development:
An international perspective. Entrepreneurship e Regional Development. V. 24, n 1-2, 2012.
DAMICO, Anthony. Analyze survey data for free. Disponível em : <
http://www.asdfree.com/>. Acesso em 10 set. 2016.
DE VITA, Luisa et Al. Women entrepreneurs in and from developing countries: Evidences
from the literature. European management Journal, v. 32, p. 451-460, 2014.
FONTANELE-MOURÃO, Tânia Maria. Mulheres no topo da carreira: flexibilidade e
persistência. Brasília, Secretaria Especial de Políticas para as mulheres, 92p, 2006.
GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR – GEM 2014. Empreendedorismo no Brasil
2014 – Relatório Executivo. Curitiba: IBQP, 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Pesquisa nacional por
amostra de domicílios: síntese de indicadores 2015, Coordenação de Trabalho e Rendimento.
- 2. ed. - Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
LEITE, Christina Larroude de Paula. Mulheres: muito além do teto de viro.. Editora: Atlas,
1994.
LUMLEY, Thomas. Survey: analysis of complex survey samples. R package version 3.31-2,
2016.
KNIGHT, Frank. Risk, Uncertainty, and Profit. Boston: Houghton Mifflin, 1921.
PRIORE, Mary Del. História das Mulheres no Brasil. Contexto. São Paulo, 2000
REYNOLDS, Paul. Sociology and Entrepreneurship: Concepts and Contributions.
Entrepreneurship Theory and Practice. Winter, p.47-69, 1991.
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
SCHUMPETER, Joseph a. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econômico. 4 Ed. São Paulo: Atlas, 1999.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Editora Martin
Claret, 2002.
Female and male entrepreneurship in brazil: a gender question
Abstract: Considering the participation of women on the labor market, the necessity
entrepreneurship and the fact that women are still neglected to domestic tasks; starting from
gender and inequality discussions and women engaged on entrepreneurship, the document
aims to analyze male and female entrepreneurship ratings in Brazil, and therefore the rates of
female entrepreneurship by necessity in poorer states. The research resorted on state gross
product and Firjan Development Index (IFDM). Also, an entrepreneurship index divided by
gender for each state (IES); through Person correlation it has been verified the association
degree between IES, gross domestic product and IFDM. The results led to a less significant
participation of women on entrepreneurship, yet with states where the index for female
entrepreneurship is more significant than men if the gross product is smaller, that may
indicate entrepreneurship by necessity, where the agent seeks to survive fronting different
alternatives towards the labor market. This could be led due to the lack of opportunities on the
formal market, situation which affects women more significantly than men, the dominant
figure on entrepreneurship.
Key Words: Women entrepreneurship, male entrepreneurship, gender inequalities, labor
market.