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CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 63, p. 575-591, Set./Dez. 2011 575 Sonia K. Guimarães EMPREENDEDORISMO INTENSIVO EM CONHECIMENTO NO BRASIL Sonia K. Guimarães * Uma das surpresas da “nova economia” é o número crescente de micro, pequenas e médias empresas intensivas em conhecimento, assim como, de “cientistas-empreendedores” em eco- nomias periféricas, que, até recentemente, careciam de capacidade inovativa como, China e India (Saxenian, 2008). O Brasil enfrenta grandes desafios para integrar-se ao novo paradigma de desenvolvimento, se comparado a seus pares. Apesar disso, empresas intensivas em conhe- cimento despontam aqui de forma crescente. O artigo analisa resultados de uma pesquisa rea- lizada entre micro, pequenas e médias empresas intensivas em conhecimento, localizadas em parques tecnológicos, nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os dados eviden- ciam que, mesmo restritas, observam-se algumas mudanças positivas na configuração do mo- delo empresarial no segmento investigado. Conclui-se, portanto, que as barreiras existentes não são intransponíveis, e o aprendizado já adquirido parece indicar que há possibilidades promissoras para as pequenas e médias empresas inovadoras, no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: pequenas e médias empresas intensivas em conhecimento, cientista-empreen- dedor, inovação, desenvolvimento econômico, sociedade do conhecimento. DOSSIÊ INTRODUÇÃO As transformações científicas, tecnológicas, econômico-sociais e culturais experimentadas nas últimas décadas (resultado de uma conjuga- ção de fatores como, influência dos paradigmas digital, da biotecnologia e da nanotecnologia, li- beração dos mercados e globalização), têm sido descritas e analisadas ad nauseum, pelo caráter revolucionário e extensivo nelas contido e pelas implicações sociais decorrentes. Tais transformações impactam valores e orientações até então hegemônicos, como a con- cepção sobre crescimento econômico, relação entre produção do conhecimento e inovação, o fenômeno do cientista-empreendedor ou da pe- quena empresa intensiva em conhecimento. Esse último fenômeno tem sido considerado por al- guns analistas como a novidade da economia ca- pitalista atual (Cf. Neff; Wissinger,; Zukin, 2005). As pequenas e médias empresas (até 49 e 249 empregados, respectivamente) intensivas em conhecimento têm sido consideradas como agen- tes relevantes na produção da inovação (Cf. Whittaker, 2009), contrariando a ideia prevalente, na maior parte do século XX, de que as grandes firmas eram, de fato, as forças-chave da inova- ção e, em consequência, do desenvolvimento capitalista. As grandes empresas tendem a se- guir a trajetória usual da empresa: em uma eco- nomia em que predomina estabilidade e baixo grau de incerteza, as grandes empresas têm mai- or grau de eficiência, obtendo retornos do in- vestimento em P&D; entretanto, o aumento do risco pode resultar em processo de inércia que tenderia a limitar o desenvolvimento de inova- ções radicais. As pequenas empresas, por sua vez, em virtude de suas trajetórias diversificadas e por enfrentarem competição mais intensa, ten- dem a arriscar mais e a lidar melhor com a in- certeza e a diversidade, o que contribuiria para levá-las a percorrer o caminho da produção de inovações. Nesse sentido, como afirmam Ruzzier et al . (2006), a percepção sobre o papel das peque- * Doutora em Sociologia. Professora do Departamento de Sociologia e do PPG Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora 1B CNPq. Av. Bento Gonçalves 9500. Cep: 91509-000. Porto Alegre - RGS - Brasil. [email protected]

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Sonia K. Guimarães

EMPREENDEDORISMO INTENSIVO EM CONHECIMENTONO BRASIL

Sonia K. Guimarães*

Uma das surpresas da “nova economia” é o número crescente de micro, pequenas e médiasempresas intensivas em conhecimento, assim como, de “cientistas-empreendedores” em eco-nomias periféricas, que, até recentemente, careciam de capacidade inovativa como, China eIndia (Saxenian, 2008). O Brasil enfrenta grandes desafios para integrar-se ao novo paradigmade desenvolvimento, se comparado a seus pares. Apesar disso, empresas intensivas em conhe-cimento despontam aqui de forma crescente. O artigo analisa resultados de uma pesquisa rea-lizada entre micro, pequenas e médias empresas intensivas em conhecimento, localizadas emparques tecnológicos, nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os dados eviden-ciam que, mesmo restritas, observam-se algumas mudanças positivas na configuração do mo-delo empresarial no segmento investigado. Conclui-se, portanto, que as barreiras existentesnão são intransponíveis, e o aprendizado já adquirido parece indicar que há possibilidadespromissoras para as pequenas e médias empresas inovadoras, no Brasil.PALAVRAS-CHAVE: pequenas e médias empresas intensivas em conhecimento, cientista-empreen-dedor, inovação, desenvolvimento econômico, sociedade do conhecimento.

DO

SS

INTRODUÇÃO

As transformações científicas, tecnológicas,econômico-sociais e culturais experimentadasnas últimas décadas (resultado de uma conjuga-ção de fatores como, influência dos paradigmasdigital, da biotecnologia e da nanotecnologia, li-beração dos mercados e globalização), têm sidodescritas e analisadas ad nauseum, pelo caráterrevolucionário e extensivo nelas contido e pelasimplicações sociais decorrentes.

Tais transformações impactam valores eorientações até então hegemônicos, como a con-cepção sobre crescimento econômico, relaçãoentre produção do conhecimento e inovação, ofenômeno do cientista-empreendedor ou da pe-quena empresa intensiva em conhecimento. Esseúltimo fenômeno tem sido considerado por al-guns analistas como a novidade da economia ca-pitalista atual (Cf. Neff; Wissinger,; Zukin, 2005).

As pequenas e médias empresas (até 49 e249 empregados, respectivamente) intensivas emconhecimento têm sido consideradas como agen-tes relevantes na produção da inovação (Cf.Whittaker, 2009), contrariando a ideia prevalente,na maior parte do século XX, de que as grandesfirmas eram, de fato, as forças-chave da inova-ção e, em consequência, do desenvolvimentocapitalista. As grandes empresas tendem a se-guir a trajetória usual da empresa: em uma eco-nomia em que predomina estabilidade e baixograu de incerteza, as grandes empresas têm mai-or grau de eficiência, obtendo retornos do in-vestimento em P&D; entretanto, o aumento dorisco pode resultar em processo de inércia quetenderia a limitar o desenvolvimento de inova-ções radicais. As pequenas empresas, por suavez, em virtude de suas trajetórias diversificadase por enfrentarem competição mais intensa, ten-dem a arriscar mais e a lidar melhor com a in-certeza e a diversidade, o que contribuiria paralevá-las a percorrer o caminho da produção deinovações. Nesse sentido, como afirmam Ruzzieret al. (2006), a percepção sobre o papel das peque-

* Doutora em Sociologia. Professora do Departamento deSociologia e do PPG Sociologia da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul. Pesquisadora 1B CNPq.Av. Bento Gonçalves 9500. Cep: 91509-000. Porto Alegre -RGS - Brasil. [email protected]

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nas empresas tem sido alterada: se, no passado, eramvistas como vítimas, hoje, são vistas como players.

Por outro lado, como observou Saxenian,pequenas economias periféricas, como Israel eTaiwan, ou economias que até recentemente ca-reciam de capacidade inovadora, como China eÍndia, transformaram-se em polos dinâmicos eminiciativas empreendedoras e inovadoras (Cf.Saxenian, 2008).

O crescimento do empreendedorismo in-tensivo em conhecimento nos países emergen-tes está também associado à descentralizaçãomundial da P&D, o que foi possível, em grandeparte, graças às tecnologias da informação e co-municação (TICs). A publicação Science andEngineering Indicators (National Science Board,2010), dos Estados Unidos, mostra o novo maparelativo à P&D, em dimensão mundial: em 2007,América do Norte e União Europeia eram res-ponsáveis por 63% de US$ 1,1 trilhão de inves-timentos mundiais na área, percentual inferioraos 71% que detinham, em 1996. Os países daÁsia, do Pacífico, principalmente China, Japão eCoreia, cresceram, no período, de 24% para 31%.A América Latina tem uma participação aindapouco expressiva em investimentos em P&D,participando apenas com 2.6%.

A despeito da baixa participação da Amé-rica Latina, o Brasil poderia integrar a lista deeconomias emergentes que apresentam númerocrescente de micro, pequenas e médias empresasintensivas em conhecimento, assim como, de “ci-entistas-empreendedores”. Por ser um fenômenorelativamente recente, em uma economia que seressente da cultura de inovação, torna-se neces-sário conhecer melhor a forma como está se pro-cessando o fenômeno que expressa uma mudan-ça econômico-cultural na realidade brasileira.

Este artigo apresenta resultados de pes-quisa realizada entre micro, pequenas e médiasempresas intensivas em conhecimento, localiza-das em parques tecnológicos, nos estados do RioGrande do Sul e de Santa Catarina (vide deta-lhes sobre a metodologia adiante). O objetivo éinvestigar a forma como tais empresas se inse-

rem no novo paradigma econômico-tecnológico,identificando agentes sociais relevantes para odesenvolvimento do processo de geração da ino-vação, destacando dificuldades e oportunidades.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA

Segundo especialistas, crescimento ecompetitividade no âmbito econômico depen-dem, hoje, menos dos custos dos fatores clássi-cos de produção – terra, capital e trabalho – oude alguma vantagem tecnológica, mas, sobretu-do, do conhecimento,1 a verdadeira matéria pri-ma capaz de gerar ideias novas (Cf. Romer, 1986).Romer, o renomado economista Americano, afir-ma que “The emerging economy is based on ideas

more than objects…” (Time Magazine, 1997). Oconhecimento seria responsável por mais dametade do PIB dos países desenvolvidos (Cf.OCDE apud Cavalcanti; Gomes, 2001), e a ino-vação2 – sempre que houver utilização de recur-sos com agregação de valor – torna-se a base docrescimento econômico. Isso porque os bens eserviços que dinamizam a produção o fazem atra-vés de transmissão ou condensação e incorpora-ção de informação – em indústrias financeira ecultural, comércio, serviços administrativos, in-dústria de medicamentos e sementes geneticamen-te modificadas –, em que o principal valor agre-gado ao produto final contém baixo ou inexistentecomponente material, fenômeno que alguns de-nominam “desmaterialização da produção”.

As indústrias produtoras de bens e servi-ços imateriais dependem de permanente inova-ção, e seu valor é avaliado considerando-se a

1 “Conhecimento: conjunto de afirmações organizadas so-bre fatos ou ideias, apresentando julgamento racional ouresultados experimentais, transmitidos aos demais atra-vés de algum meio de comunicação, de alguma forma sis-temática” (Bell, 1973, p.173, traduzido pela autora).

2 O Manual de Oslo – documento publicado pela OCDE jun-tamente com a Eurostat, em 1992 (outras edições se segui-ram, ampliando e aperfeiçoando as diretrizes inicialmentepropostas), define inovação tecnológica como “theimplementation/adoption of new or significantly improvedproduction or delivery methods. It may involve changesin equipment, human resources, working methods or acombination of these.“ (OECD, 1996, p.9).

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potencialidade de criar novos bens e serviçosaceitos pelo mercado.

Face à relevância do conhecimento e da ino-vação, considerados como fatores cruciais paraalavancar o crescimento econômico, ganha forçao argumento que sustenta a interdependência en-tre ciência e tecnologia, universidade e empresa.A interdependência entre ciência e tecnologiaocorre desde o início do século XX, quando dosurgimento de indústrias como as de eletricida-de, química e farmacêutica. Sustentava-se, en-tretanto, que conhecimento e inovação eram pro-cessos isolados. O desenvolvimento técnico eraconcebido como resultado de um processo line-ar (science-push), com origem no conhecimentogerado no âmbito da pesquisa básica (laborató-rio) e que, uma vez desenvolvido, chegava àempresa que o transformava em bens destina-dos ao mercado. A empresa era considerada umator externo à dinâmica dos sistemas de C&T decada país (Cf. Viotti, 2008).

A perspectiva neo-schumpeteriana chamoua atenção para o caráter social e sistêmico-interativo do processo de inovação, concebidocomo uma rede de relações entre agentes sociais,incluindo relações interempresas, entre institui-ções de ensino e pesquisa, com a existência deinfraestrutura pública e (ou) privada, economianacional e internacional, assim como aspectos só-cio-histórico-culturais locais, em que se incluem,dentre outros, características organizacionais, le-gais e normativas (Freeman, 1991; Lundvall, 1992).

Características próprias das novas áreasde conhecimento favorecem a emergência donovo paradigma, em razão da potencialidadecomercial imediata de algumas tecnologias, comoocorre, por exemplo, com a engenharia genética– a intervenção sobre genes de organismos vivoscom o objetivo de modificá-los – e a produçãode medicamentos.

A ideia de interação entre universidade eempresa materializou-se, entre outros aspectos,no conceito de parques tecnológicos (e incuba-doras), alguns deles localizados junto a universi-dades e (ou) centros de pesquisa.

Nos anos do pós-II Guerra, surgiram, nosEstados Unidos, experiências bem sucedidas deinteração entre cientistas empreendedores, uni-versidade e outros atores sociais, como DavidHewllet e William Packard, egressos da Univer-sidade de Stanford e criadores da hoje grandeempresa Hewllet & Packard. O Stanford Indus-trial Park é uma dessas experiências, que estevena gênese da sociedade informacional, confor-me destaca Castells (1996), tornando-se um mo-delo, imitado mundialmente. Criado em 1951,foi localizado junto ao campus da Universidadede Stanford, no estado da Califórnia – à época,região sem tradição industrial, cuja principal fontede renda era, até então, a agricultura. Sua cria-ção teve como objetivo tentar manter, na região,pessoal qualificado com formação em engenha-rias e ciências exatas, aproximando universida-de e empresas com o objetivo de estimular ageração de inovação (Cf. Audy; Spolidoro, 2008).

Alguns fatores teriam sido cruciais para osucesso desse empreendimento, como a localiza-ção do Stanford Research Park no campus daUniversidade de Stanford, o que facilitou ainteração entre professores e alunos com empre-sários e pesquisadores de empresas instaladas noparque tecnológico; a existência de políticas go-vernamentais que financiavam empresas de seto-res “portadores de futuro”, como o setor da enge-nharia da computação; a legislação ajustada parafacilitar a abertura e o fechamento de empresas; aexistência de uma indústria de capital de riscoconsolidada (Cf. Audy; Spolidoro, 2008).

Algo similar ocorreu na chamada Rota 128,em torno de Boston e Cambridge, no estado deMassachusetts – região, então, em declínio eco-nômico –, onde se localizavam importantes campi

universitários, entre os quais o do MassachusettsInstitute of Technology (MIT). Empresas liga-das aos setores de eletrônica (computadores, in-teligência artificial) e biotecnologia floresceramna região, financiadas em boa parte pelo Depar-tamento de Defesa do país.

A partir de então, o modelo de parquestecnológicos foi adotado em diferentes países,

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como alternativa de desenvolvimento econômi-co baseado na inovação.

À medida que a teoria da inovação avan-ça, identificando o processo inovador como umprocesso de aprendizado, salienta-se a impor-tância da interação com outros atores para quetal aprendizado ocorra, aliando-se elementos doambiente externo com as capacidades da em-presa. Apesar da manutenção da empresa comolócus da produção de inovação, o papel do am-biente inovador ganha importância. Destacam-se, como agentes relevantes, o Estado, comoincentivador para a criação de ambientes inova-dores, e a universidade, como produtora de co-nhecimento e formadora de recursos humanosqualificados para atuação nas empresas (Cf.Dagnino, 2003).

Conforme já foi referido, estudos evidenci-am que a transferência do conhecimento, desde olaboratório para a empresa até ao mercado, não éautomática, mas constitui-se em processo comple-xo, cercado de riscos e incertezas, que tendem a sermaiores no caso de algumas novas áreas, como abiotecnologia, por exemplo. Por essa razão, o pro-cesso de inovação bem sucedido supõe a formaçãode redes de cooperação capazes de promover ainteração entre os agentes-chave do processo: nonível acadêmico-científico, a busca de competênci-as multidisciplinares e de interações com atores ex-ternos, como empresários, políticos e investidores;no nível da empresa, a necessidade de cooperaçãocom o mundo acadêmico na busca de conhecimen-to e soluções, bem como com outras empresas eorganizações. A figura do cientista empreendedor(surgimento das start-ups) torna-se, nessas condi-ções, um agente importante para estabelecer o eloentre o bem intangível (produção de conhecimen-to) e a criação da inovação e sua disponibilizaçãopara o mercado. Tais iniciativas exigem apoios e so-luções que não são apenas financeiros, mas tambéminstitucionais3 (Cf. Viotti, 2008).

A seção a seguir apresenta alguns aspec-tos que desafiam a realidade brasileira no con-texto do novo paradigma da inovação e do de-senvolvimento econômico-social do presente.

BRASIL

São bem conhecidos os desafios enfrenta-dos pela realidade brasileira atual para ajustar-se ao novo cenário econômico mundial, em quea inovação é a chave para o crescimento. Taisdificuldades são evidenciadas na comparação dopaís tanto com economias altamente industriali-zadas, quanto na comparação com os chamadospaíses emergentes, como Índia e China (Cf. Viotti,2008; Erber, 2010).

Vários fatores contribuem para tal defa-sagem, entre os quais a trajetória tecnológica quecaracterizou a formação do parque industrialbrasileiro, baseada no modelo de industrializa-ção substitutiva de importações, sustentada peloprotecionismo que não incentivava o desenvol-vimento de uma cultura de inovação.

Há consenso, hoje, em considerar os dis-pêndios em C&T como fatores cruciais para o de-senvolvimento baseado em setores intensivos emconhecimento. Países que detêm a liderança emP&D, como Estados Unidos, Japão, Alemanha,França, por exemplo, apresentaram, no ano de2008, dispêndio em P&D superiores a 2,5% doPIB (no Japão foi de 3,44%). No Brasil, conside-rando-se o gasto público (governo federal e go-vernos estaduais) e o gasto empresarial (empre-sas públicas e privadas) em C&T, comparando-seos anos 2000 e 2008 temos, além de um valorbem abaixo do recomendado, crescimento pra-ticamente inexistente.

Como mostra a Figura 1,4 em 2000, os gas-tos públicos em P&D, como percentual do PIBforam de 0,55%, enquanto os gastos privadosforam de 0,47%, totalizando 1,02% (US$17.9

3 O caso do Brasil é ilustrativo: o país avançou na produçãode conhecimento; em 2008, contribuía com 2.2% da pro-dução científica mundial, ocupando a 13ª posição noranking mundial.

4 BRASIL - Ministério de Ciência e Tecnologia. Indicadores deC&T. 2010. Disponível em: www.mct.gov.br/index.php/content/view/740.html?execview= Acesso em: 30 ago. 2011.

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bilhões). Em 2008, o dispêndio público chegoua 0,59% do PIB (R$ 26.900 bilhões) e os gastosprivados alcançaram 0,50% totalizando (US$23.013bi) 1,09% do PIB. Constata-se que, noperíodo de quase uma década, a taxa média decrescimento anual do dispêndio em C&T foi in-significante – 0,07%. Contudo, no mesmo perí-odo, a média de crescimento do PIB foi de 3,2,tendo sido especialmente expressiva nos anos de2007 (6,09) e 2008 (5,16) (Cf. BRASIL, 2011).

Os dados apontados acima se refletem nacarência de pessoal qualificado, em especial naárea de P&D, sobretudo, na área de ciências exa-tas e engenharia, fator indispensável para o de-senvolvimento de setores intensivos em conhe-cimento (Cf. Lugones; Suarez, 2007).

Desde o final dos anos 1990, o país temtido como foco alterar esse quadro, com o objeti-

vo, entre outros, de promo-ver a transferência de co-nhecimento científico e (ou)tecnológico, visando ao de-senvolvimento de capacida-de tecnológica inovadoranas empresas, tendo emvista também a inserçãotecnologicamente qualifi-cada do Brasil no mercadointernacional. Políticascomo a dos Fundos

Setoriais de Ciência e

Tecnologia, visando ao de-senvolvimento da pesqui-sa nos setores público eprivado, incluindo o fo-mento à parceria entre uni-versidade ou instituiçõesde pesquisa e o setor pro-dutivo, com apoio à inova-ção nas micro e pequenasempresas, bem como à cri-ação de incubadoras e par-ques tecnológicos (Cf. Mo-rais, 2008).

Resumidamente,pode-se indicar uma série de incentivos para pre-encher os propósitos acima referidos. Em maiode 2000, foi criado o Projeto Inovar, com o obje-tivo de financiar pesquisadores para atuarem emempresas de base tecnológica, através do Pro-

grama de Apoio à Pesquisa em Empresas

(PAPPE). Em novembro de 2003, foi lançado odocumento Diretrizes de Política Industrial,

Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), ba-seado na concepção de integração do sistemaprodutivo com inovação tecnológica ecompetitividade no mercado exterior. Nele, des-tacam-se como linhas de ação: 1) a inovação edesenvolvimento tecnológico; 2) a inserção ex-terna; 3) a modernização industrial. Por apre-sentarem fortes déficits comerciais e serem in-tensivas em tecnologia, foram definidas comoáreas estratégicas as de: a) semicondutores; b)

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software; c) bens de capital; d) fármacos e me-dicamentos. Em dezembro de 2004, foi promul-gada a Lei de Inovação, inspirada pelo Bayh-

Dole Act norte-americano e pela lei francesa deinovação, visando a estimular a participação deuniversidades e institutos de pesquisa públicosna produção de inovação. A lei regulamenta atransferência de tecnologias dessas instituiçõespara empresas privadas, referindo-se explicita-mente ao apoio a “ações de empreendedorismotecnológico”, ao mesmo tempo em que altera abase jurídica, liberando as instituições de C&Tpara realizarem contratos remunerados comempresas incubadas, para uso de seus laborató-rios (Cf. Morais, 2008; Viotti, 2008).

A Lei nº 11.196, de novembro de 2005, achamada Lei do Bem, instituiu incentivo fiscalàs empresas que desenvolvem pesquisatecnológica e contratam pesquisadores. Outrosprogramas e mecanismos de crédito e subven-ções têm sido criados recentemente, como a ca-pitalização de fundos de investimento (venture

capital, capital semente) em empresas inovado-ras. Em maio de 2008, foi instituída a Política de

Desenvolvimento Produtivo que privilegia áreasestratégicas como as TICs, a Nanotecnologia, aBiotecnologia, a Energia Nuclear, dentre outras.No que se refere às tecnologias de informação ecomunicação, o objetivo é de posicionar o Brasilcomo produtor e exportador relevante desoftwares e serviços de TI (Cf. BRASIL, 2009).

Entretanto, as deficiências acima referi-das não são os únicos fatores a afetar o desen-volvimento do país. Outros fatores igualmenteimportantes inibem o bom funcionamento denegócios, como os apontados pela publicação daInternational Finance Corporation (IFC, 2011),5

que avaliou o desempenho do Brasil quanto apráticas que contribuem para promover a reali-

zação de negócios. Em termos gerais, o país foiavaliado na 127ª posição, dentre 183 economias,entre elas, México, China e Argentina, que seencontram, respectivamente, nas posições 5ª, 79ªe 115ª. No que se refere à variável “iniciar umnegócio” (número de dias necessários para abrirum negócio), a informação é de 120 dias para oBrasil, enquanto na China são 38 dias, na Índia29, na Argentina, 26 e no México 9 dias. Quantoà variável “acesso a crédito”, o Brasil está em 89ºlugar, comparado com China e Argentina, em65º, Índia e México, em 32º e 46º, respectiva-mente; quanto à variável “negócios além-fron-teiras/internacionalização”, Brasil está em 114ºlugar, a China em 50º e o México 58º; quanto a“encerrar um negócio”, Brasil posiciona-se na132º lugar, enquanto o México está em 23º lu-gar, a China, em 68º e a Argentina em 77º lugar.

Em documento da OCDE, que apresentaíndices construídos para medir o grau de obstá-culos ao empreendedorismo, em uma escala de0 a 6, o Brasil registra 1.97, enquanto, na zonado Euro, o índice era 1.37 (OCDE, 2008).

Conforme indicam os dados, o Brasil apre-senta um contexto pouco estimulante para aemergência de empreendimentos, como peque-nas e médias empresas, comparando-se não ape-nas a países da OCDE e aos BRICs, mas tambéma alguns países da América Latina.

Por outro lado, as instituições brasileiras– como as de crédito, por exemplo – estão pou-co preparadas para lidar com segmentos e as-pectos imateriais, como software, marcas einternacionalização de ativos.

Diferenciando as situações nacionais –países maduros e seus “sistemas de inovação” epaíses em processo de catching up e “sistemasde aprendizado” –, Viotti constatou, utilizandouma série de indicadores, que o sistema de apren-dizado brasileiro, na primeira metade da décadade 1990, poderia ser caracterizado como passi-vo, em oposição ao da Coreia que, na mesmaocasião, foi identificado como ativo (Viotti apud

Erber, 2010, p. 56). Dez anos após, em estudosemelhante, o mesmo autor juntamente com

5 O relatório anual Doing Business Report apresenta a avali-ação de 183 economias de todos os continentes, atravésda mensuração de nove variáveis consideradas fatores quecontribuem para facilitar a realização de negócios. As vari-áveis consideradas são: “iniciar um negócio”, “liberaçãopara construção”, “registro de propriedade”, “acesso a cré-dito”, “proteção a investidores”, “pagamento de taxas”,“negócios além-fronteiras”, “garantia de contratos” e “fe-char um negócio”.

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coautores, afirmava ser “relativamente pobre odinamismo do processo de inovação da indús-tria brasileira” e que “o aprendizado passivo pa-rece ser dominante entre as empresas industri-ais brasileiras.” (Viotti; Baessa; Keller apud Erber,2010 p. 21, 56), indicando progresso praticamen-te inexistente na área.

Apesar do baixo desempenho tecnológicobrasileiro, verificam-se avanços em algumas áre-as, como agricultura, aeronáutica e exploração depetróleo em águas profundas. Dados comparados,relativos aos anos de 2000 e 2005, indicam quegastos médios por empresa aumentam entre pe-quenas e grandes empresas, na mesma proporção(80%) e a metade desse percentual entre as médi-as empresas (Grynzpan apud Erber, 2010, p. 63).

AS EMPRESAS INTENSIVAS EM CONHECI-MENTO INVESTIGADAS

Metodologia

Os dados utilizados neste artigo são extra-ídos de uma pesquisa mais abrangente que in-vestigou 81 empresas localizadas em incuba-doras e em parques tecnológicos situados emcampi universitários, no Rio Grande do Sul(UFRGS, PUC-RS, Unisinos, UCS) e em SantaCatarina (UFSC), escolhidas pelas experiênciasde cooperação entre universidade e empresa. Apesquisa de campo realizou-se a partir de umsurvey com a aplicação de questionário elabora-do com base no instrumento utilizado pelo IBGEpara a PINTEC – 2005,6 adaptado aos objetivos

da pesquisa. A aplicação dos questionários foiantecedida por pesquisas qualitativas anteriores(Cf. Guimarães; Azambuja, 2010; Guimarães et

al., 2010; Blanco, 2009).7

Buscando maior homogeneidade de con-dições no que se refere às unidades de análise, opresente artigo baseia-se nos dados fornecidospelas empresas instaladas nos parquestecnológicos investigados, no Rio Grande do Sul(TecnoPuc e Polo de Informática da Unisinos) eem Santa Catarina (Parque Alfa). Os informan-tes foram os empresários responsáveis pelasempresas investigadas. Todas as empresas de quese teve conhecimento na pesquisa exploratóriados parques foram contatadas, obtendo-se per-missão para aplicação de questionários em 36empresas que foram as investigadas (as recusasforam justificadas pelo caráter sigiloso das ino-vações em desenvolvimento). Os questionáriosforam aplicados apenas em empresas que já esti-vessem, há pelo menos um ano, operando nosparques, no período de aplicação – de fevereirode 2009 a fevereiro de 2010. A análise dos dadosrealizou-se com o auxílio do software SPSS.

Análise dos dados

Como já foi referido acima, o crescimentodo número de pequenas e médias empresas ino-vadoras é um fenômeno relativamente novo, queganha destaque nas décadas finais do século XX.Os conceitos de inovação utilizados neste estu-do referem-se à inovação de produto e de pro-cesso, tendo-se utilizado a conceituação propos-ta no Manual de Oslo (OECD, 1996), que é tam-bém seguida pela PINTEC/2005. Quanto à ino-vação de produto, ela se refere à introdução nomercado de um bem ou serviço tecnologicamentenovo (as características básicas diferem signifi-cativamente dos produtos já produzidos pelaempresa), ou substancialmente aprimorado (me-lhor desempenho ou um menor custo, através

6 PINTEC/2005 é a primeira versão (a PINTEC iniciou em1998) a trazer resultados para segmentos do setor de ser-viços com alta intensidade tecnológica: telecomunicações,informática e pesquisa e desenvolvimento. Com isso, apesquisa, antes denominada Pesquisa Industrial de Ino-vação Tecnológica, passou a ser chamada de Pesquisa deInovação Tecnológica. A PINTEC adota os critérios doManual de Oslo, cujo objetivo é o de oferecer instrumen-tos capazes de identificar e mensurar os dados sobre ino-vação, visando a melhor avaliar e interpretar aquele pro-cesso (implementação de inovações nas empresas, moti-vação, tipos de inovação, implicações para o desempenhodas empresas, incentivos e barreiras à inovação), em con-sonância com a relevância atribuída à inovação para o cres-cimento da produtividade e competitividade econômicas.

7 Para maiores detalhes, consulte Guimarães et al. 2010, dis-ponível em http://www.ufrgs.br/ppgsocio.

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da utilização de matérias-primas ou componen-tes de maior rendimento) (IBGE, 2007). Quantoà inovação de processo, “refere-se à introduçãode tecnologia de produção nova ou significativa-mente aperfeiçoada, assim como de métodosnovos ou substancialmente aprimorados de ofer-ta de serviços ou para manuseio e entrega deprodutos.” (IBGE, 2007, p.13).

As empresas investigadas (36 empresas)podem ser classificadas nas categorias micro,pequena e média, sendo que a medianacorrespondia, em dezembro de 2008, a 30 pes-soas ocupadas; o número menor de empregadosencontrado foi de dois, e o maior de 180 empre-gados. Dezenove empresas investigadas envolvi-am-se com a produção de bens, e as demais (17empresas) com serviços. A quase totalidade de-las possuía capital controlador nacional, e os prin-cipais mercados eram: nacional (22 empresas) eestadual e regional (11 empresas).

A classificação “empresas inovadoras” atri-buída às empresas investigadas é sustentada peloseu desempenho: 31 empresas (86,1%) respon-deram ter lançado produto (bem ou serviço)novo ou significativamente aperfeiçoado, no pe-ríodo de 2006-2008. Esse desempenho contrastacom o desempenho das empresas que empre-gam até 249 empregados, investigadas pelaPINTEC 2008, cujo desempenho inovador (deproduto ou processo) correspondia a 37,8% dasempresas investigadas (Cf. IBGE, 2010). O de-sempenho inovador das empresas por nósinvestigadas era esperado, considerando-se queelas, localizadas em parques tecnológicos, têmcompromisso contratual com a inovação.

Referindo-se ao principal produto inova-dor (bem ou serviço) lançado pelas empresas,dentre 31 respostas válidas, a maior parte delasindicou como sendo novo para o mercado naci-onal, mas já existente no mercado mundial (10empresas) e como novo para o mercado mundi-al (9 empresas); 12 empresas informaram ser oprincipal produto novo para o mercado local (8empresas) e novo para a empresa (4 empresas).Quanto à característica das inovações indicadas

pelas empresas, destacam-se as relacionados aodesenvolvimento de software: software e siste-mas não-customizados e software e sistemascustomizados (9 e 5 empresas, respectivamen-te); componentes e peças e equipamentos paraindústrias (6 empresas).

Comparando-se o principal produto ino-vador lançado e o principal produto em termosde faturamento (maior impacto no total de ven-das líquidas internas nas empresas investigadas),constata-se que os produtos indicados como ino-vadores são também o principal produto quantoa faturamento (correspondendo a 40% ou maisdo faturamento), ou seja, software e sistemasnão-customizados, software e sistemascustomizados e componentes, peças e equipa-mentos para indústrias (10, 8 e 6 empresas, res-pectivamente, dentre 36 respondentes). Essedado reforça a classificação das empresasinvestigadas como empresas inovadoras bemsucedidas, visto que os produtos inovadores de-senvolvidos têm maior impacto no total de suasvendas líquidas internas.

Outro dado que caracteriza a empresacomo inovadora é o período de permanência do

8 Não apresentou produto tecnologicamente novo ou subs-tancialmente aperfeiçoado.

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principal produto no mercado, com as mesmasespecificações. A maioria das empresasinvestigadas (18) respondeu ser o período depermanência no mercado de até 3 anos. Essesresultados sugerem que o produto principal ne-cessita ser transformado e aprimorado de formarecorrente e contínua, visto que a competitividadedas empresas depende do esforço para inovar.Esse comportamento pode ser considerado umanovidade na realidade das empresas brasileiras.

Em relação à inovação de processo, den-tre as 33 empresas que responderam positiva-mente, 20 afirmaram ter re-alizado inovação já existen-te para o setor no Brasil(novo apenas para a empre-sa) e 13 afirmaram ter de-senvolvido processo novopara o mercado nacional.Referindo-se à principal ino-vação de processo, dentre 24respondentes, o número deempresas que afirma sê-lonovidade para a empresa éproporcionalmente maior(16), enquanto sete empre-sas afirmam ser o processonovo para o mercado nacio-nal. Os tipos de inovações mais mencionados en-tre os 24 respondentes foi: “procedimentosorganizacionais e métodos para controle de quali-dade, produtividade e manutenção” e “processoscom a finalidade de desenvolver um bem ou ser-viço”. Em termos técnicos, as respostas sobre anatureza da inovação concentraram-se nas cate-gorias “aprimoramento de um processo já exis-tente” (13 empresas) e “novo para a empresa” (11empresas), dentre as 24 respostas válidas.

A maioria das empresas (24 empresas), den-tre respostas válidas, informou que o desenvolvi-mento de atividades inovadoras em geral (produtoe de processo) realizou-se em cooperação9 com

outras instituições, empresas ou organizações.Vinte seis empresas declararam ter estabelecidopelo menos uma forma de cooperação com uni-versidades, sendo que sete delas participaramem atividades de P&D com universidades e ins-titutos científicos; 13 empresas indicaram coo-peração com clientes e fornecedores, em ativi-dades de P&D. Sobre o grau de importância des-sas parcerias, foram consideradas de alta e mé-dia importância as parcerias com a universidade(21 empresas) e com clientes e fornecedores (17empresas).

Os dados acima evidenciam a relevânciaatribuída pelas empresas investigadas à coope-ração com outros parceiros para a geração dainovação. Eles sugerem que as empresas estãoem sintonia com as exigências do processo deinovação nas condições atuais, o qual, pela suacomplexidade, requer a integração a redes deinteração, em especial, relação mais próximaentre ciência e tecnologia (universidade e cen-tros de pesquisa com empresas) – prática até re-centemente pouco usual no Brasil –, bem comocooperação ente empresas (clientes e fornece-dores). As relações entre empresas e clientes,especialmente no que se refere a firmas que re-querem soluções de serviços empresariais inten-sivos em conhecimento, são potencializadas como emprego das Tecnologias da Informação e Co-

9 Neste caso, “cooperação para a inovação” corresponde àparticipação em projetos de P&D e outros projetos, semimplicar, necessariamente, benefícios monetários imedia-tos para as partes.

sairecrapsàodíubirtaaicnâtropmieduarG-2alebaT

soriecraP

aicnâtropmI

atlA aidéM axiaBoãN

etnavelerlatoT

serodecenroF 8 5 2 9 42

setnerrocnoC 2 7 5 9 32

opurgodaserpmeartuO 3 0 0 7 01

airotlusnocedsaserpmE 3 5 5 7 02

esedadisrevinUasiuqsepedsotutitsni

01 11 1 3 52

uo/eocigólonceteuqraParodabucni

21 6 2 4 42

lanoissiforpoãçaticapaCacincétaicnêtsissae

4 7 3 1 42

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municação (TICs). Conforme Kubota (2006,p.45), a constituição de um mercado de troca deinformações, baseado em interação em temporeal de produtores e consumidores de informa-ção, apresenta como resultado “interações indi-

vidualizadas entre o consumidor – que busca

soluções específicas ou conhecimento genérico

para transformar o próprio conhecimento tácito

em inovação – e fornecedor”.

Quanto a outras importantes mudançasestratégicas e organizacionais, dentre 36 respos-tas válidas, destaca-se o número expressivo deempresas (20) que declararam ter implementadosignificativas mudanças na estratégia corporativa,técnicas avançadas de gestão da produção, dainformação e ambiental (19) e significativas mu-danças na estrutura organizacional (17). Essesdados sugerem que as empresas investigadas, talcomo ocorre, em geral, com empresas inovado-ras, tendem a adotar mudanças organizacionais,como novas formas de gestão, novos conceitos emétodos de gerenciamento e marketing.

Constatou-se que as empresas investigadasapresentam percentual elevado de inovação secomparado com o percentual observado pelaPINTEC 2008 (IBGE, 2010), considerando-seapenas o conjunto das micro, pequenas e médi-as empresas. Entretanto, o caráter inovador dasempresas por nós investigadas não foge ao quetem sido constatado por outros estudos: a maio-ria das empresas inovadoras investigadas seguetrajetória próxima da imitação ou da inovaçãoincremental, sem alcançar a mundial. A inova-ção incremental ou por imitação, ocorre por ab-sorção e adaptação de tecnologias, cuja origemse encontra, na maioria das vezes, no exterior.Essa característica pode refletir, em parte, o cha-mado “market emptiness” – ausência, no merca-do, de produtos de melhor qualidade e menorcusto – o que torna fácil reconhecer a oportuni-dade para a inovação, mas que pode constituir-se em limitação, ao obscurecer possibilidades deinovação radical. A inovação incremental é ca-racterística de países em processo de catching

up, resultando, muitas vezes, da ausência de um

valor cultural e, em consequência, de condiçõesdesfavoráveis a um ambiente verdadeiramenteinovador.10 Incluem-se também fatores como au-sência de uma cultura inovadora e baixo investi-mento em P&D, conforme foi acima referido.

O nível de escolaridade dos empresários éoutro aspecto que poderia contribuir para expli-car o tipo de inovação da maioria das empresasinovadoras brasileiras. Em outra pesquisa pornós realizada, constatou-se que as poucas tenta-tivas de inovação radical encontradas ocorreramem empresas cujos empresários possuíam for-mação pós-graduada (PhD) e experiências aca-dêmicas e de inovação no exterior, sugerindo apossibilidade de haver uma relação positiva en-tre as variáveis em questão.

Entretanto, mesmo não alcançando a fron-teira do conhecimento, a inovação gerada pela imi-tação ou através da combinação de conhecimentojá existente exige das empresas conhecimento ci-entífico, conhecimento tácito e capacidadeinstitucional e, por isso, deve ser reconhecida comoum dado relevante em termos de avanço para odesenvolvimento do potencial inovador.

Quanto à atividade de Pesquisa e Desen-volvimento (P&D),11 destaca-se o número de em-presas pesquisadas que responderam ter desen-volvido, no período em estudo, atividades de P&D:dentre 32 respostas válidas, 24 empresas afirma-ram realizar atividades internas contínuas de P&D.A atividade contínua de P&D, no Brasil, tem sidouma prática pouco usual, em especial, em em-presas privadas. Parece estar ocorrendo uma mu-dança de comportamento, resultado de uma res-posta positiva aos incentivos governamentais, emespecial no que se refere à implementação de in-cubadoras e parques tecnológicos como lócus quefavorece a produção da inovação.

10 No caso do Brasil, como já referido, cabe considerar ainfluência do modelo de industrialização baseado na subs-tituição ou imitação de importações, que não favoreceu ainovação.

11 No survey, a definição de atividade de P&D utilizada pelaPINTEC 2005 é: “... trabalho criativo, empreendido de for-ma sistemática, com o objetivo de aumentar o acervo deconhecimentos e o uso destes conhecimentos para desen-volver novas aplicações, tais como produtos ou processosnovos ou tecnologicamente aprimorados” (IBGE, 2007, p.13).

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Ao indicar o grau de importância de dife-rentes fontes de informação empregadas para odesenvolvimento da inovação, dentre 36respondentes, 33 empresas indicaram a ativida-de de P&D como de importância alta e média(24 e 7, respectivamente). Também foram con-sideradas como de alta e média importância aaquisição de máquinas e equipamentos (28 em-presas), fornecedores de máquinas, equipamen-tos, componentes ou softwares (25 empresas);treinamento (23 empresas).

Quanto às atividades internas de P&D de-senvolvidas, os tipos mais mencionados foram: “es-tudo e desenvolvimento de técnicas, metodologiase softwares” (17 empresas) e “gestão e captaçãode informações” (9 empresas).

O desenvolvimento de atividades de P&Dem uma empresa é relevante, por estimular oprocesso de pesquisa, o que tende a aumentarsignificativamente as oportunidades de inovaçãobem sucedidas, favorecendo a participação nomercado. Essa parece ser também a percepçãodas empresas respondentes. Considerando osimpactos das inovações de produtos (bens ouserviços) e processos implementados, os itens“melhoria da qualidade dos bens e serviços” e“manter a participação da empresa no mercado”concentraram as respostas dos que considera-ram de “alta e média importância” (34 e 33 em-presas, respectivamente). Observa-se ainda umnúmero representativo de respostas que indica-ram os itens “ampliar a gama de bens ou servi-

ços ofertados” e “ampli-ar a participação da em-presa no mercado” (29 e27 empresas, respectiva-mente). A preocupaçãocom o desempenho nomercado (em que se in-clui “melhoria da quali-dade dos bens e servi-ços) é revelada entre ositens mais indicados,quando as empresas ava-liam o impacto das ino-

vações. É interessante notar que o número deempresas que indicaram importância alta e mé-dia das inovações para a redução de custos deprodução e do trabalho é menos significativo (16e 15 empresas, respectivamente, responderampositivamente, dentre 36 respostas válidas), doque o das que indicaram “abrir, manter e ampli-ar a participação empresa no mercado”. Ou seja,para a maioria das empresas respondentes, asinovações não visam ao rebaixamento de custos,mas, sobretudo, a melhor qualidade dos bens ouserviços (34 empresas atribuíram alta e médiaimportância a esse item).

Contudo, o êxito das atividades de P&Ddepende, em grande parte, do nível de qualifica-ção científica – número de mestres e doutores –das pessoas envolvidas. Observou-se númeropouco expressivo de pós-graduados (mestres edoutores) ocupados em atividades internas deP&D nas empresas investigadas: dentre 35respondentes, apenas 4 empresas empregavamdoutores (total de 7 doutores) e 21 afirmaramter mestres como empregados. A hipótese erade que, em se tratando de empresas localizadasem campi universitários, esse número pudesseser maior.

Os dados revelados pela pesquisa sobre apresença de mestres e doutores em atividadesinternas de P&D corroboram as evidências jáapontadas em outros estudos realizados no Bra-sil, como o estudo do Centro de Gestão e Estu-dos Estratégicos (CGEE, 2010), que realiza uma

sadagerpmeoãçamrofniedsetnofsàodíubirtaaicnâtropmieduarG-3alebaToãçavoniedotnemivlovnesedoarap

oãçamrofniedsetnoFoarapsadagerpme

oãçavoniadotnemivlovnesedatlA aidéM axiaB

oãN-neseduevlov

latoT

D&PededadivitA 52 8 1 2 63

D&PedanretxeoãçisiuqA 2 3 5 52 53

erawtfosedoãçisiuqA 21 6 7 11 63

esaniuqámedoãçisiuqAsotnemapiuqe

51 31 5 3 63

otnemanierT 61 7 6 7 63

sartuoelairtsudniotejorPsacincétseõçaraperp

5 2 4 52 63

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detalhada pesquisa sobre os pós-graduandos en-tre 1996 e 2006. O estudo evidencia que, dentreos doutores titulados no Brasil no período de1996-2006, empregados em 2008, 80% estavamempregados como “profissionais do ensino”, oque demonstra o baixo aproveitamento de mes-tres e doutores em atividades ocupacionais dis-tintas das acadêmicas propriamente ditas. Essefato tende a ter implicações tanto nas interaçõesentre empresas e universidades quanto na práti-ca de pesquisa e, consequentemente, no desem-penho das empresas quanto à produção de ino-vações baseadas em conhecimento científico (Cf.Gibbons; Johnston apud Velho, 2007).

Segundo Velho (2007), estudos recentessugerem a existência de relação positiva entre onúmero de doutores envolvidos em P&D na em-presa e output tecnológico. Essa pode ser umadas explicações para o fato de que as inovaçõesdesenvolvidas pelas empresas investigadas nãoultrapassam o nível incremental, destinada aomercado nacional.

Contudo, o baixo número de pesquisado-res nas empresas pode refletir tanto ausência dereconhecimento do caráter estratégico do conhe-

cimento para o avanço dos negócios, quanto apreparação pouco adequada dos cientistas paraoperarem em atividades de P&D.

No que se refere a depósito de patente,12 agrande maioria das empresas respondeu negati-vamente sobre a solicitação de depósito de pa-tente (30), ou utilização de patente de invenção(33), de registro de desenho industrial (35), di-reitos autorais (32), segredo industrial (27),criptografia e (ou) proteção por software (35).Quanto a mecanismos de proteção da inovação,a utilização de marcas foi o mais indicado, com20 empresas respondendo positivamente.

O tipo de inovação (incremental) de pro-dutos e serviços das empresas investigadas tendea restringir o mercado, em especial o de exporta-ção. Quando se examina o mercado principal dasempresas investigadas, tanto produtoras de benscomo de serviços, a maioria (22 casos em 36) afir-ma ser o nacional, sendo que 11 empresas indica-ram o estadual e o regional como principal mer-cado. Considerando-se a promulgação pelo gover-no de uma série de incentivos com o objetivo deposicionar o Brasil como produtor e exportadorde inovações, observa-se que esse esforço ainda

não produziu os resultados esperados.No que se refere à exportação, ela é

considerada uma das características quedistingue a empresa inovadora das não-inovadoras, visto que as empresas que ino-vam tendem a contar com maior chancede sucesso no mercado externo, o que, porsua vez, tende a contribuir como fonte deinformação e estímulo para aperfeiçoar ainovação existente. Por exemplo, atravésde exigências técnicas em relação ao pro-duto, estabelece-se um círculo virtuoso quefavorece a empresa.

As bases da Política Industrial,Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE)

saserpmesalepsadaticilosoãçetorpedsopiT-4alebaT

oãçetorpedopiT N latotod%

lisarBonetnetaP 5 9,31

roiretxeonetnetaP 1 8,2

oãçnevniedetnetaP 3 3,8

edadilituedoledomedetnetaP 4 1,11

lairtsudniohnesededortsigeR 1 8,2

sacraM 02 6,55

siarotuasotieriD 4 1,11

ohnesedonedadixelpmoC 5 9,31

lairtsudniodergeS 9 0,52

soerbosaçnarediledopmeTseroditepmoc

6 7,61

seõçavoniedoãçetorpedodotéM 5 9,31

edsotartnocuo/esodrocAedadilaicnedifnoc

2 6,5

erawtfosropoãçetorpuo/eaifargotpirC 1 8,2

12 O “depósito de patente”, apesar de ser um indica-dor utilizado por órgãos oficiais, é considerado poralguns estudiosos como de baixa utilidade: em áre-as como a de software, a concessão de patente é, emgeral, mais demorada do que a vida do produto. Poroutro lado, no Brasil, o processo de concessão depatente é muito demorado, burocratizado e caro, oque desestimula possíveis interessados.

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foram divulgadas no final de 2003, definindocomo objetivo: “aumento da eficiência da estru-tura produtiva, aumento da capacidade de ino-vação das empresas brasileiras e expansão dasexportações” (BRASIL, 2003, p.2). Algumasações nessa direção já foram implementadas,como a marca BrBiotec, criada para reforçar aidentidade e o desempenho das firmas brasilei-ras, globalmente, na área da Biotecnologia.

Os dados do survey em análise mostramum número muito baixo de empresas que afir-maram ter exportado, em 2008: são 6 empresas,dentre 10 respostas válidas (considerando-se as36 respondentes). A resposta que apresenta re-sultado estatístico mais significativo é a que in-dica a exportação de “produtos tecnologicamentenovos ou significativamente aprimorados para omercado mundial”. A constatação corrobora atese de Negri (2005) de que as inovações de ní-vel nacional ou mundial exercem maior influên-cia na inserção das empresas em mercados in-ternacionais, em comparação com as inovaçõesque ocorrem apenas no nível da empresa.

O baixo grau de internacionalização daspequenas e médias empresas inovadoras brasi-leiras foi também observado no setor debiotecnologia. Pesquisa realizada em 2008, entre252 empresas, constatou que apenas 11,2% dosrespondentes declararam manter atividade ex-portadora constante, enquanto 22,4% a manti-nham ocasionalmente (Cf. BioMinas, 2009).

Estudos demonstram que há estreita rela-ção entre exportação e inovação intensiva em co-nhecimento. As empresas que exportam benefi-ciam-se da transferência de conhecimento e dacultura empresarial de outras empresas e países;ao mesmo tempo, para garantir competitividadeem mercados externos, tendem a investir maisem P&D e em qualificação de mão de obra.

Segundo Tironi e Cruz (apud Erber, 2010), asempresas exportadoras teriam 3,5 vezes mais chancesde inovar de modo radical do que uma empresa vol-tada para o mercado estadual ou regional.

Os dados sobre cooperação das empresasindicam mudança relevante no seu comporta-

mento, considerando a baixa tradição existente,sobretudo nas privadas, de cooperação com uni-versidades e institutos de pesquisa, instituiçõesque podem constituir-se em parceiras estratégi-cos na busca de novos conhecimentos e que per-mitam avançar na natureza da inovação.

Ao apontar os fatores que dificultam a ino-vação, as empresas investigadas indicaram comosendo de alta e média importância: elevados custosda inovação (23); escassez de fontes apropriadas definanciamentos (21); riscos econômicos excessivos(16). Em um momento de razoável disponibilidadede recursos governamentais para a inovação, sur-preende a indicação de “escassez de financiamen-tos” como fator que dificulta a inovação.

No caso do Brasil, há mecanismos nas áreasde crédito e subvenções para atender às necessi-dades das micro e pequenas empresas inovado-ras, como os programas Pró-Inovação e Pappe,programas Juro Zero, Cooperação Finep/Sebrae/ICTs, Subvenção a Empresas e a concessão desubvenção para a contratação de pesquisadoresnas empresas (Morais, 2008, p.99-100). O presi-dente da Finep (Financiadora de Estudos e Pro-jetos), na época Luís Manuel Rebelo Fernandes,declarou, em entrevista ao jornal Folha de S. Pau-

lo (edição de 12.09.2009) que fora destinado R$ 41bilhões, através do Ministério de Ciência eTecnologia (MCT), para aquele tipo de investimen-to e que boa parte do recurso não fora utilizado.

Os dados da amostra relevam que a fonteprincipal de financiamento para as inovações nasempresas investigadas são recursos próprios:dentre 34 empresas respondentes, 20 declara-ram arcar elas próprias com 100% dos recursosinvestidos em suas atividades inovadoras; 10 in-formaram utilizar-se de recursos públicos, po-rém, 7 delas os utilizaram em valores de apenasaté 20% do total; apenas 2 empresas utilizam-sede valor maior do que 50% dos recursos neces-sários à inovação.

Vários fatores podem ter contribuído paraexplicar esse resultado: ausência de pesquisado-res (mestres e doutores) nas empresas, falta deconsultoria adequada, falta de capilaridade das

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agências de fomento, assim como temor deendividamento por parte dos empresários, emrazão dos altos juros na economia brasileira, outemor de possíveis imposições por parte dosfinanciadores, o que restringiria a “autonomia” daqual muitos empresários se gabam de desfrutar.

CONCLUSÕES

O argumento desenvolvido neste artigo éque são observadas, nas últimas décadas, mudan-ças significativas no paradigma econômico, susten-tadas, em grande parte, pelas revoluções dastecnologias da informação e comunicação, dabiotecnologia, nanotecnologia e ciências cognitivas.Esse fato contribui para a crescente ampliação domercado e da demanda por setores intensivos emconhecimento, e impõe novas bases para o desen-volvimento e o crescimento econômico. O Brasilenfrenta grandes desafios para se integrar ao novomodelo, se comparado a seus pares – países deeconomia emergente, em especial, China e Índia –, em razão de diversas deficiências. Entre elas, des-tacam-se a carência de educação de qualidade e depessoal qualificado em áreas tecnológicas, exigên-cias cruciais para o desempenho das novas ativida-des da chamada “economia do conhecimento”, alémda cultura acadêmica e empresarial, e de valoressociais, em geral voltados para a inovação, assimcomo de instituições (dentre outras, financeiras,legais, tributárias e de negócios em geral) ajustadasàs demandas do novo contexto.

O Estado, desde o final dos anos 1990, temrealizado grande esforço buscando incentivar aaproximação entre ciência e tecnologia através depolíticas estimuladoras do envolvimento de em-presas nesse processo. O resultado desse esforçoparece surtir efeitos, ainda que de forma muitolenta, visto que é possível observar mudanças naconfiguração do modelo empresarial brasileiro,em especial no que se refere a pequenas e médiasempresas no setor intensivo em conhecimento,conforme sugerem os dados analisados.

O elevado percentual de inovação (ainda que

de natureza incremental) introduzido pelas empre-sas investigadas sugere que sua localização em par-ques tecnológicos, situados em campi universitári-os, pode tê-las influenciado positivamente, cumprin-do os objetivos para os quais foram criados.

Os dados sugerem também que, em geral,os principais produtos inovadores em número sig-nificativo de empresas investigadas foram bem su-cedidos comercialmente, visto que constituem tam-bém o principal produto quanto a seu faturamentolíquido. Por outro lado, a presença significativa deatividades de P&D nas empresas investigadas, como objetivo de produzir conhecimento a ser aplica-do na produção de bens e serviços, bem como aimportância que lhe é atribuída, constitui uma no-vidade, no Brasil, considerando-se a ausência detradição dessas atividades mesmo em se tratandode grandes empresas, tanto nacionais quanto es-trangeiras. Por outro lado, o foco em P&D entre asempresas investigadas favoreceu a presença de ar-ranjos cooperativos, como redes de interação, in-cluindo relações entre universidade e empresa eentre empresas e clientes e fornecedores, permi-tindo o acesso e identificação de informação e re-cursos necessários ao desempenho de suas ativida-des inovadoras. Constatou-se que o esforço parainovar incorporou-se à prática das empresas, cons-tituindo-se em atividade recorrente e contínua. Essecomportamento foge à tradição da realidade dasempresas brasileiras.

No entanto, persistem, no Brasil, dificul-dades que terão que ser vencidas talvez no médioprazo. Dentre as mais prementes estão: a carên-cia de pessoal qualificado, sobretudo, na área deciências exatas e engenharia; o baixo investimen-to em CT&I; as características de certas institui-ções brasileiras – como as de crédito, por exem-plo – que estão pouco preparadas para lidar comsegmentos e aspectos imateriais, como softwares,marcas e internacionalização de ativos; e os fato-res inibidores do bom funcionamento de negóci-os, como os apontados pela publicação Doing

Business Repor - Making a difference for

entrepreneurs (World Bank & International FinanceCorporation, 2011). Não se pode também deixar

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de fazer referência ao modelo de produção aca-dêmica no Brasil, excessivamente distanciado dosproblemas relacionados à inovação.

A pesquisa sociológica tem muito a contri-buir nessa área, buscando analisar de forma maisapurada esse processo. Sabe-se que os processosde inovação diferem muito de setor para setorquanto a desenvolvimento, taxa de mudançatecnológica, interações e acesso ao conhecimen-to, assim como em termos de estruturasorganizacionais e fatores institucionais. Algunssetores são caracterizados por rápidas mudançase inovações radicais, outros por mudanças meno-res e incrementais. Por exemplo, no setor debiotecnologia, as pequenas e médias empresas sãoatores relevantes, competindo, cooperando ousendo adquiridas com as grandes empresas. Oprocesso de inovação, nesse setor, está submeti-do a regulamentações e demandas institucionais.No setor de software, a inovação se desenvolve tantona produção padronizada como na personalizada.Nesse caso, observa-se maior interação entre usuá-rio e produtor, assim como entre as redes global elocal, assim como grande mobilidade de recursoshumanos qualificados (Cf. Malerba, 2005).

Finalmente, cabe deixar claro que a pro-dução de inovações resulta de uma articulaçãocomplexa e não-linear de competências específi-cas. Como bem afirmou Viotti (2008), não hámedidas políticas ou modelos internacionais apriori definidos como capazes de responder ade-quadamente à questão sobre produção de inova-ção. Aplicar o conhecimento científico, na maio-ria das vezes, demanda adaptações e soluções dedifícil encaminhamento e que dependem de apoiosinstitucionais que não são apenas financeiros. Aempresa, considerada como agente central da ino-vação, é apenas uma parte de um sistema maisamplo, constituído por uma rede de relações en-tre agentes sociais, própria de um país ou região(incluindo relações entre empresas e entre insti-tuições de ensino e pesquisa), pela existência deuma infraestrutura pública e (ou) privada, pelaeconomia nacional e internacional, assim comopor aspectos sócio-histórico-culturais locais, em

que se incluem, dentre outros, as característicasorganizacionais, legais e normativas (Cf. Freeman,1991; Lundvall, 1992).

Nesse sentido, embora os dados apontem parao fato de que o ambiente brasileiro ainda se ressentede uma verdadeira cultura inovadora, também pa-recem sugerir que as barreiras existentes não sãointransponíveis, e o aprendizado já adquirido pare-ce indicar que há possibilidades promissoras.

(Recebido para publicação em 10 de setembro de 2011)(Aceito em 03 de dezembro de 2011)

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Sonia K. Guimarães - Doutora em Sociologia. Professora Titular do Departamento de Sociologia e do Programade Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora 1B CNPq.PhD em Sociologia pela London School of Economics and Political Science, Universidade de Londres, comestágio pós-doutoral na Sloan School of Management, MIT, Cambridge Ma., Estados Unidos. Coordena oGrupo de Pesquisa/UFRGS/CNPq Trabalho na Sociedade Contemporânea (www.ufrgs.br/ppgsocio). Autorade vários artigos em periódicos indexados nacionais e internacionais (a maioria sob o sobrenome Larangeira),em especial sobre transformações no trabalho na área de serviços (bancos e telecom), reestruturação produtivae sindicatos. Suas investigações no presente estão voltadas para o estudo de pequenas e médias empresasintensivas em conhecimento.

INTENSIVE ENTREPRENEURSHIP INKNOWLEDGE IN BRAZIL

Sonia Maria Karam Guimarães

One of the surprises of the “new economy” is aincrease number of micro, small and median sizebusinesses intensives in knowledge, as well as thenumber of “entrepreneur-scientists” in peripheraleconomies, that until recently lacked innovationcapability like in China, India (Saxenian 2008). Brazilfaces great challenges to integrate itself to the newdevelopment paradigms, compared to its pares. Despitethat intensives knowledge companies emerge everfaster over here. The article analyses the results of aresearch conducted among intensive in knowledgemicro, small and median size businesses, placed inthe technological park of the states of Rio Grande doSul & Santa Catarina. The data show that even limited,it is observed some positive changes in theconfiguration of businesses models in the investigativesegments. Conclusion, thus the barriers in existenceare not insurmountable, and the knowledge alreadylearned seems to indicate processing possibilities toinnovating small and median size businesses, in Brazil.

KEY WORDS: innovating small and median sizebusinesses, entrepreneur-scientists, innovation,knowledge society.

ENTREPRENARIAT INTENSIF DESCONNAISSANCES AU BRÉSIL

Sonia Maria Karam Guimarães

L’une des surprises de la “nouvelle économie”est le nombre croissant de micro, petites et moyennesentreprises intensives en connaissance, telles quecelles de “scientifiques-entrepreneurs” dans leséconomies périphériques qui, jusqu’à présent, n’étaientpas capables d’innover comme en Chine et en Inde(Saxenian, 2008). Le Brésil se trouve face à d’énormesdéfis pour s’intégrer au nouveau paradigme dedéveloppement, si on le compare à ses pairs. Malgrétout, les entreprises intensives en connaissancesurgissent ici de plus en plus. L’article analyse lesrésultats d’une recherche faite auprès de micro, petiteset moyennes entreprises intensives en connaissancelocalisées dans des parcs technologiques des États deRio Grande do Sul et de Santa Catarina. Les donnéesmettent en évidence que, même s’ils sont encore limités,on peut observer des changements positifs dans laconfiguration du modèle entrepreneurial du domaineétudié. On en arrive donc à la conclusion qu’on peutdépasser les barrières qui existent et l’apprentissageacquis semble indiquer qu’il y a des possibilitésprometteuses pour les petites et moyennes entreprisesinnovatrices au Brésil.

MOTS-CLÉS: petites et moyennes entreprises intensivesen connaissance, scientifique, entrepreneur, innovation,développement économique, société de la connaissace.

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