34
EMPREENDER POR NECESSIDADE: “O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo. MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA 2012

Empreender Por Necessidade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Uma monografia para conclusão de curso de Especialização.

Citation preview

Page 1: Empreender Por Necessidade

EMPREENDER POR NECESSIDADE:

“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.

MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA

2012

Page 2: Empreender Por Necessidade

EMPREENDER POR NECESSIDADE:

“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.

Monografia apresentada à Universidade Federal de São João

del Rei como parte das exigências do curso de Pós Graduação

em Educação Empreendedora, para a obtenção do título de

“Especialista”.

Orientador

Prof. MÁRCIO EDUARDO SILVEIRA

“Todas as informações contidas neste trabalho são de inteira responsabilidade do autor”

SÃO JOÃO DEL REI

MINAS GERAIS – BRASIL

2012

Page 3: Empreender Por Necessidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEAD

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

EMPREENDER POR NECESSIDADE:

“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.

FOLHA DE APROVAÇÃO

ALUNA: MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA

PROFESSOR ORIENTADOR: MARCIO E. SILVEIRA Aprovado em: ____ de _______________ de ___________ Banca examinadora Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ SÃO JOÃO DEL REI - MG MAIO / 2012

Page 4: Empreender Por Necessidade

AGRADECIMENTOS:

Inicialmente lançando reconhecimentos à família; à própria infância e adolescência

viradoras (por veemente necessidade), onde houve convivência com personagens que “deram

aula” de sobrevivência; aos “Viradores” que direta ou indiretamente inspiraram e

participaram desse trabalho; aos tantos professores por fazerem a diferença; à Universidade

Aberta do Brasil (polo SJBV-SP) por encurtar distâncias; ao estado de Minas Gerais e à

Universidade Federal de São João del Rei - núcleo de coordenação do curso, colegas de

classe, tutores Luiz A. Cruz e Cléia M. Silva e orientador Márcio E. Silveira, que

oportunizaram a empreitada. Ao Professor Doutor “Bezamat de Souza Neto” por

desacortinar o mundinho deste trabalhador que geralmente empreende às canhotas.

“Bizuca”, ao desenformá-lo, lança mão da palavra “Virador” com que o denomina, e

tempera com poesia esta quase transgressão!

Page 5: Empreender Por Necessidade

CORRÊA, M. C. S. P. EMPREENDER POR NECESSIDADE: “O Virador” - estudo de caso

em São João da Boa Vista; São Paulo. Monografia (Especialização em Educação

Empreendedora) – Universidade Federal São João del Rei, MG. p. 33. 2012.

RESUMO: Esta monografia analisa um empreendedorismo adaptado à dura realidade

brasileira, assim como a árdua trajetória do “Virador”, um profissional mirado pelas lentes

capitalistas como sendo um empreendedor desqualificado pelo excesso de pragmatismo, com

atividades às vezes paralegais, digno de permanecer nos “terreiros” da sociedade. Aqui,

pretende-se penetrar ao universo deste público peculiar pouco visível às políticas públicas,

por vezes tão abandonado que parece ter sido “criado por lobos”. É um profissional

comumente denominado autônomo, roceiro, fazedor de “bicos”, pequeno comerciante,

trabalhador “por conta”; de tão corriqueiro ainda é pouco vislumbrado nos meios

acadêmicos, e empreende por suplicante necessidade, contudo empreende. Esbrange seus

“tentáculos” para melhorar a condição social da comunidade adjacente, e para isso é mais

eficiente que manuais de auto ajuda, por ser ele mesmo sua própria auto ajuda . O trabalho

aponta também uma reflexão para que educadores estejam mais translúcidos em relação a seu

alunado, levando-o a extravasar o “demoninho virante” adormecido em si: sua criticidade,

iniciativa, autonomia, criatividade, protagonismo, “coopetição”, sustentabilidade e outras

características básicas, na longa e sonolenta gestação escolar. Trata-se de uma perspectiva

educacional includente, com real possibilidade de ascensão social a ser conquistada pelos

entes envolvidos, ao gerar potenciais empregadores em vez de meros ocupantes de empregos.

O tema é abordado em detalhes pelo pesquisador “Professor Doutor Bezamat de Souza Neto”

como um estilo de sobrevivência escancarado na sociedade brasileira, onde tem se debruçado

com aprofundamento e seriedade devidos. O termo “Virador” contempla indivíduos que

conseguem dar um desvio súbito na rota original de suas vidas, de forma perpendicular,

melhorando sua condição financeira e sociocultural, e consequentemente da família a que

pertencem, valendo-se empiricamente das características carregadas de ônus e bônus deste

“empreendedorismo adaptado”, e dos talentos especiais que possuem em alguma área

profissional específica. O Virador geralmente é também um fazedor.

Palavras chave: Educação Empreendedora / Empreendedorismo por necessidade / “Virador”.

Page 6: Empreender Por Necessidade

LISTA DE TABELAS:

TABELA 1: Sexo; tipo de necessidade desencadeante ao empreendedorismo;

apoio familiar; auxílio escolar; percurso anterior..............................................

26

TABELA 2: Apoio Governamental e envolvimento emocional com o empreendimento.....................................................................................................

26

TABELA 3: Localidade de atuação...................................................................

26

TABELA 4: Formalização (CNPJ) .....................................................................

26

Page 7: Empreender Por Necessidade

SUMÁRIO:

RESUMO.............................................................................................................. I

LISTA DE TABELAS.......................................................................................... II

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 7

2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 12

2.1 Educação Empreendedora e o Virador”................................................. 12

2.2. O que mais existe sobre o assunto ............................................................ 15

3 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA........... 20

3.1 Objetivo geral.............................................................................................. 20

3.2 Objetivos específicos.................................................................................... 20

4 METODOLOGIA........................................................................................... 21

4.1 Tipo de pesquisa.......................................................................................... 21

4.2 Objeto de estudo e amostragem................................................................. 21

4.3 Coleta dos dados.......................................................................................... 22

5 ANÁLISE DE DADOS:................................................................................. 23

5.1 Análise dos resultados encontrados em relação aos objetivos e ao

referencial teórico já existente...........................................................................

23

5.2 Dados obtidos sobre a amostragem pesquisada........................................ 25

5.3 Análise dos resultados encontrados, expressos em tabelas....................... 26

6 CONCLUSÃO................................................................................................. 27

6.1 Sugestões para futuras pesquisas............................................................... 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 30

ANEXOS............................................................................................................. 31

Page 8: Empreender Por Necessidade

7

1. INTRODUÇÃO:

Levando-se em conta o atual contexto sociocultural e econômico do País, e o grau de

escolarização formal da grande maioria populacional, a proposta do famoso “bom jeitinho

brasileiro” torna-se bem mais realista que o empreendedorismo tradicional, formando com

ele um dualismo binário (mas talvez possam se amalgamar em algum ponto futuro).

O empreendedorismo por necessidade trata-se de um importante “meio de vida”, uma

forma de provisão individual e familiar. Tem o foco empreendedor na distribuição equitativa,

e não na concentração de riquezas, dando um viés libertador a comunidades politicamente

esquecidas.

Para o Brasil realmente galgar seu posto merecido na economia internacional: pelo

tamanho “continental”, pela extensa faixa litorânea, localização geográfica, condições

climáticas favoráveis a energias renováveis, população multicultural e outros, realmente há

necessidade de estimular nos educandos formados primordialmente em escolas públicas,

postura empreendedora (mesmo que adaptada) desde tenra idade.

O professorado necessita lapidar em si mesmo, postura inerente a um ideal de

educação ao empreendedorismo, para que possa realizar esta empreitada, instrumentalizando

assim os trabalhadores futuros para geração de renda de forma autônoma e associativa,

criando empregos e movendo a economia local.

É possível despertar características voltadas a este empreendedorismo social, que

requer sumariamente autonomia, iniciativa, criatividade, protagonismo, criticidade,

sustentabilidade e “coopetição”, dentre outros requisitos básicos. Os bancos escolares ainda

não se comprometeram em remodelar-se para atender a esta demanda.

Muitos destes empreendedores adaptados atuais obtiveram pouco auxílio ao longo do

período escolar, necessitando adquirir “na raça” e por ensaio e erro, parte desses requisitos

empreendedores primordiais, pois se trata daquela criatura que transcende o simples

caminhar natural e passa a “nadar compulsoriamente na ocasião em que sente a água tocar-

lhe as nádegas”.

O indivíduo que foi educado para ser autônomo é aquele pragmático, um fazedor

mesmo com pouco auxílio; o ser humano que demonstra grande iniciativa corre atrás de

oportunidades, não aguardando baterem-lhe à porta; alguém criativo o bastante, procura algo

novo, alguma lacuna que se transformará num nicho de mercado.

A pessoa protagonista atua ativamente na comunidade onde vive, criando com

naturalidade uma rede de relacionamentos a gerar empoderamento (alarga a parcela de poder

Page 9: Empreender Por Necessidade

8

daquele grupo); quem tem desenvolvida sua criticidade, não se deixar levar por espertalhões,

se afasta de dívidas impagáveis, age com raciocínio lógico, evitando rompantes emocionais.

Um estilo de vida sustentável requer equilíbrio (responsabilidade social) num

pentágono onde primeiramente, novas relações com o planeta buscam qualidade às formas de

vida nele presentes; em segundo lugar, os impostos, se bem aplicados, estarão a beneficio do

País; em terceiro plano, há que se atuar paralelamente na comunidade circundante; em quarto

lugar, os colaboradores necessitam atenção especial; por fim, uma parcela de vantagens deve

logicamente atingir o “Virador” e familiares.

Na elucidação do termo “coopetição”, tem-se algo que compreende uma modalidade

empreendedora onde a eficiência torna-se coletiva: cooperar na rede de relacionamentos para

competir fora dela, um novo paradigma comercial que sugere inovações técnicas,

econômicas e gerenciais, transcendendo o lucro financeiro em si, ditado pelo neoliberalismo,

e focando o lucro social: perder individualmente hoje para ganhar coletivamente amanhã.

Coopetição compreende “Arranjos Produtivos Locais”, formulando novas políticas

para estar compatíveis com o mercado, criando outros modelos de trabalho, produção e

produtos; se ajustando às exigências de um comércio planetário, sem arcar sozinhos com

custos (e incertezas) vultosos acarretados por tal empreitada.

Nos “Arranjos Produtivos Locais”, cada ente contribui para o grupo, com suas

competências essenciais: sua diferenciação, talento ou vocação. É um caminho mais seguro

para empreendedores se desenvolverem numa concorrência acirrada e de avançada

tecnologia. Segundo consta do Caderno Impresso “Educação Empreendedora e Redes de

Cooperação”, (2011, p. 12):

Por mais paradoxal que pareça, a competição atual aponta para a

cooperação entre os vários atores. E hoje, adiantamos, cooperar para

competir é o mote e a palavra é coopetição. E disso tudo surge uma nova

visão do empreendedorismo, na medida em que o comportamento

empreendedor dos atores é que vai ditar os rumos e apontar caminhos, como

veremos.

Obviamente, nem todo empresário se faz suficientemente empreendedor, há os casos

em empresas familiares com sucessão hereditária, e também pessoas desavisadas; contudo

para o empresário que pouco empreende o risco de falência é imenso, potencialmente maior,

por ele apresentar baixo grau de envolvimento com o empreendimento em questão.

O empreendedor por necessidade não é obviamente inferior ao empreendedor por

oportunidade (tradicional), e igualmente, pode atuar em qualquer área mercadológica, o

Page 10: Empreender Por Necessidade

9

diferencial é que ele geralmente dispõe de bem menos apoio financeiro e conhecimentos

teórico-administrativos, e mesmo assim consegue dar um revés em sua vida, passando a tocá-

la com a maior autonomia possível, vencendo percalços.

O “Virador” é aquela pessoa a qual jamais chegou aos ouvidos a expressão “ócio

digno”, sendo que ócio somente se torna digno à elite neoliberal, para o pragmático fazedor é

uma verdadeira “ indigna vagabundagem” (segundo os olhares “evoluídos”).

Ele não se economiza, nem desiste diante das adversidades (que surgirão com

certeza), driblando os obstáculos em vez de esconder-se deles, para tentar aproximar-se ao

máximo de seu sonho: mais que uma utopia, é uma espécie de “vedanta” relacionada ao

pentágono anteriormente citado.

Interpretando um dos principais especialistas no assunto a ser abordado, e o teórico

primordial ao qual se pretende aprofundar para elaboração esta pesquisa: “Souza Neto”, o

empreendedor social brasileiro é um “Virador”, no sentido de quem “se vira” com ginga,

agilidade, resiliência, improvisação e solidariedade ao clã.

O “Virador” não se adequa ao modelo acrítico importado do estrangeiro e abordado

por diversos cursos na área de empreendedorismo, cursos estes que o vêem de forma

enviesada, pelo fato de não se enquadrar geometricamente à sua cartilha, onde alguém parece

ter nascido predestinado a tal, numa diagramação com “veia empreendedora” inata. O teórico

“Souza Neto” esclarece (2008, p.19):

Tentaremos então contribuir com especificidades que contextualizem o nosso

virador – que tanto pode ser um artesão, um camelô, um dono de uma

bodega qualquer, um autônomo, um desempregado ou um assalariado sem

carteira, enfim, aquele que “se vira” – que difere, por razões sócio-histórica

e cultural, dos clássicos tipos – conforme o modelo taxionômico do

pensamento empreendedor – do hemisfério norte. Caminharemos no sentido

de que nenhuma tipologia é suficientemente completa a ponto de cobrir

todos os tipos de empreendedores. Cada caso pode ser considerado único.

Entretanto, elas provêem uma base para a compreensão dos pontos de

apoio, bem como dos valores e do pensamento dos empreendedores, e as

linhas para a compreensão da consistência comportamental geral desses

atores, na medida em que devemos contextualizar o ambiente ao qual aquele

está inserido.

Complementando os estudos teóricos com uma pesquisa de campo transversal a ser

realizada com doze empreendedores sociais no Município de São João da Boa Vista - SP,

pretende-se aqui descobrir peculiaridades relacionadas a eles, e compará-las à revisão

bibliográfica, através de observações em loco, entrevistas detalhadas e questionários de

coleta de informações (anexos 1 e 2).

Page 11: Empreender Por Necessidade

10

Encontramos pequenos empreendimentos distribuídos no entorno de qualquer quintal,

empregando mão de obra familiar e comunitária, e oferecendo a muitos jovens sua chance da

primeira empreitada profissional (sem exigência de experiência anterior).

São pontos comerciais que oferecem treinamento em serviço, e facilitam a vida da

população circundante numa intimidade serena; questões que somente se tornam realidade

graças à coragem (e à generosa dose de loucura) destes quase heróicos “Viradores”, visto que

recebem rareado apoio do poder público durante todo seu trajeto.

A dádiva em “toneladas” vinda das políticas públicas nas três esferas, é a famosa e

temida burocracia, que evita tratamento desigual aos desiguais (aquela democrática

equidade), onde microempreendedores carecem conhecimentos administrativos globais que

não têm como possuir.

As esferas governamentais se recusam a correr riscos com o “Virador”, exigindo

garantias que nem sempre ele consegue fornecer; todavia quando, com virações sucessivas

este público evolui, ou ao menos se mantém atuante no mercantilismo do séc. XXI, saltam

(esganadamente) em busca dos resultados tributários.

Um trabalhador autônomo que se estabelece, montando seu pequeno negócio num

canto improvisado, e após determinado tempo inicia a regularização da empresa para sair da

informalidade, se depara com uma gama de passos a ser percorridos; e ao conseguir por fim o

CNPJ, surgem-lhe rotinas novas.

Formalizando a empresa, há documentações mensais a serem entregues, que requerem

gastos extras com variados impostos e taxas; e despesas com os serviços de um contador de

confiança, pois passa a receber boletos para depósito bancário de inúmeros sindicatos e

outras entidades, que para os mais ingênuos se tornam verdadeiras extorsões.

Apenas uma guia enviada com pequeno erro de cálculo, ou inadvertidamente por um

sistema e não outro (tipo SIMPLES) aos órgãos coletores de impostos e taxas, mesmo

estando paga, gera multa sobre multa (enquanto circula burocraticamente) que pode

endividar e macular o nome do empreendedor.

Os órgãos coletores de impostos geralmente não tratam o “Virador” como verdadeiro

cliente que o é. Muitas instituições bancárias, inclusive públicas, caem como “abutres” a

atormentar o novo portador de CNPJ, tentando levá-lo a crer na imprescindibilidade de se

contrair dívidas, para poder estar atuante.

Aqui, procura-se respostas para questões que possam desanuviar o “habitat” do

empreendedor social, como: Ramo empresarial que administra e tempo estimado;

necessidades que o desencadearam; principais dificuldades e sucessos enfrentados;

Page 12: Empreender Por Necessidade

11

características suas que levam ao bom desempenho ou atrapalham o empreendimento;

porcentagem estimada da renda do empreendimento em relação à renda familiar total.

Serão observadas as horas semanais trabalhadas, funções exercidas, auxílio familiar

(estilo de vida ecológico); o grau de escolaridade, e se obtiveram professores que

contribuíram em sua formação empreendedora; o percurso empreendedor - outras tentativas

(etnografia); a saída da informalidade (se ocorreu) e após quanto tempo; apoio

governamental (cursos, financiamentos, incentivos municipais); como o “Virador” julga que

a escola pode auxiliar na formação empreendedora; discorrer livremente sobre o

empreendimento.

Espera-se também com a pesquisa, para a sensibilização do público leitor, justamente

fazer com que após a leitura, se passe a direcionar o olhar com atenção mais esmerada ao

empreendedor social, conseguindo a partir de então, melhor compreendê-lo; gerando pouco a

pouco, uma cultura de valorização deste “esteio” de comunidades carentes.

Almeja-se que os leitores ajam em relação ao público “Virador”, a partir da humilde

contribuição deste material, da mesma maneira que geralmente ocorre durante uma visita a

um espetáculo circense, onde fica-se com o olho direito nas atrações do palco e com o olho

esquerdo nas adjacências da tenda, capturando cada detalhe que obviamente encontra-se

alheio ao espetáculo em si, não devendo ser explicitado ao público desatento, sendo que este

acaba por perder o melhor da festa, lá nos bastidores.

Page 13: Empreender Por Necessidade

12

2. REVISÃO DA LITERATURA:

2.1 Educação Empreendedora e o “Virador”:

Souza Neto (2008) deu origem a esta “viagem” ao dialogar com tantos outros

teóricos, para situar o “Virador” como aquele trabalhador que “se vira” para ganhar a vida

com engenhosidade. Aqui o autor estuda amostragens de produtores rurais, pequenos

comerciantes e prestadores de serviço em periferias e favelas. Trata-se do empreendedor por

necessidade de sobrevivência, em contrapartida ao tradicional empreendedor por

oportunidade de negócios.

O autor discorre sobre o surgimento do termo empreendedorismo em esferas formais

na literatura especializada de influência estrangeira, e cita pesquisas sérias como o Global

Entrepreneurship Monitor (GEM) que chegou a situar o Brasil em 1º lugar mundial em

empreendedorismo por necessidade e 16º em empreendedorismo por oportunidade, gerando

certo alvoroço e desconforto nos meios acadêmicos.

A capacidade de assumir riscos calculados foi encontrada pelo autor em toda a

literatura especializada, como uma das principais características do empreendedor, contudo

ele próprio não dá a esse e outros perfis importância exagerada, pois crê que não há um perfil

clínico de empreendedor.

Muitos dos traços empreendedores são inúteis e enganosos por serem limitados

diante da diversidade de “Viradores”, que iniciam perplexidades produtivas, habitando os

subterrâneos econômicos e são seres muitas das vezes considerados “atrasados”, que pouco

merecem o olhar dito acadêmico por serem “incapazes” segundo certos manuais.

O autor prefere deixar que o “Virador” e sua comunidade falem, explicando por si

mesmos as regras de seu universo social, pois até mesmo o empreendedor tradicional assume

na literatura caráter transdisciplinar.

Cada área acadêmica enfoca o empreendedorismo segundo suas próprias convicções;

que numa abordagem mais ampla, extrapola o âmbito econômico e torna-se uma visão de

mundo ou estilo de vida, todavia os métodos para discorrê-lo costumam apresentar o mínimo

de subjetividade ou poesia, tentando assim induzir a maior credibilidade.

De acordo com o autor, há o mito romântico e estereotipado do homem de poder e

sucesso, estampado em capas de revistas especializadas, que povoa o universo

empreendedor: com “disposição para o trabalho, energia e engenhosidade, alegria de se

exercitar, com maximização de lucros”, dentre outros mirabolantes e inalcançáveis atributos.

Page 14: Empreender Por Necessidade

13

Segundo o teórico, o homem que age por necessidade, qualquer que seja ela, passa a

inventar outros programas vitais, e galga status mais racional, transcendendo o impulso da

necessidade em si, pois como fruto de seu meio tem desenvolvimento contínuo, sendo que

condições econômicas, socioambientais e políticas propiciam ou não o surgimento e

crescimento do “Virador”.

Provavelmente há sim um ambiente que propicie o empreender, e segundo o

“Processo Visionário de Filion”, a aquisição de autoconhecimento deve ser contida nele, pois

seu empreendimento torna-se uma extensão de si próprio: o que se sabe fazer melhor será o

seu diferencial, sua “marca”.

A rede de relações do “Virador” inclui família, contatos sociais e material teórico; o

direcionamento de tempo para conhecer aspectos fundamentais do setor em que se pretende

atuar; a capacidade “contaminativa” de suas idéias e envolvimento passional; canalizando

energia para atingir objetivos, trarão solo fértil ao ambiente citado.

O método alemão de Criação de Empresas e Formação de Empresários / Competência

Econômica pela Formação de Empreendedores (CEFE) procura promover, sustentar e

expandir negócios, num treinamento participativo com simulações do dia a dia, num aprender

fazendo ou prática refletida; desenvolvendo e fortalecendo a competência empreendedora,

tornando comunidades menos amorfas.

O método trata-se de um fio condutor para clarear objetivos e especializar o futuro

empreendedor a fim de alcançá-los, diminuindo o grau de incertezas. A princípio, ao facilitar

a atividade empreendedora, propicia-se desenvolvimento econômico.

O ICCAPE – Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor em parceria

com o CEFE, desenvolve projetos no Brasil com as devidas adaptações às peculiaridades de

cada localidade atendida e faz adequações às expectativas dos beneficiários, com jogos e

dinâmicas de grupo, confecção de planos de negócios, planejamento de ações a longo prazo,

explicitação da interdependência dos vários atores institucionais numa determinada

localidade a interagir com o empreendedor.

Interagem banqueiros, poder público e entidades promotoras de desenvolvimento

(tipo SEBRAE, agências municipais de desenvolvimento), contudo muitas capacitações

chegam num pacote pedagógico fechado e com todas as implicações que isso possa gerar.

Os relatórios de pesquisa GEM investigam a relação entre o fomento do

empreendedorismo e o desenvolvimento econômico, e estudam mecanismos de

empreendimentos por necessidade e também por oportunidade.

Page 15: Empreender Por Necessidade

14

Constatou-se que locais com níveis de desenvolvimento baixo, pequena cobertura em

seguridade social e mercado de trabalho pouco dinâmico, tendem a apresentar taxas maiores

de empreendedorismo por necessidade, alavancando economias locais devido a seu notável

potencial; todavia, a regra nem sempre se aplica ao empreendedorismo tradicional.

O GEM aponta no Brasil, grande potencial empreendedorístico. Empreender na

condição brasileira é algo tão diverso, que cada caso centra-se nele mesmo; são perfis e

fronteiras se entrelaçando numa plasticidade infinda.

Por meios discretos numa espiral, esquemas de assimilação sofrem acomodações, e

aí encontra-se o cerne de como muitos brasileiros de classes populares passam a evoluir

“empreendedologicamente”, visto que o foco não encontra-se naquele que empreende, mas

em como empreende, e traços típicos desse pessoal podem ser treináveis e repetíveis,

passíveis então dessa evolução (e educação).

O autor pesquisado enfatiza que o “por que” empreender ainda carece alforriar-se de

olhares ditos teóricos e adquirir a brasilidade de “porteira fechada”, com direito a

peculiaridades locais e traços cosmopolitas.

Na alma desse brasileiro às “avessas”, por vezes sobrevivente macunaímico,

considerado indolente por não ter no trabalho um fim em si, mas um meio de sobrevivência,

há obstáculos que impedem ventos modernosos ao País pela perspectiva de pensadores do

hemisfério norte. Contrasta-se com o nosso “Virador” nesse cenário, de forma absolutista

(país pobre deve ser máquina de trabalho rústico).

De acordo com o teórico, o homem ibérico costuma ser avesso ao trabalho braçal, seu

status e dignidade se relacionam mais ao ócio que à ocupação, preferindo contemplar a

produzir, buscando “enricar” por outros braços e mãos calejadas (o sul).

Os Jesuítas inseriram o brasileiro (gentalha) ao mundo do trabalho de forma senhoril;

e com o negro surge o escravo de aluguel, pois é a ele que se ensina ofícios, por seu desvalor

(do ofício), e hoje o negro ainda carrega esse fardo sem compadrio numa sociedade

amplamente desigual que segue competindo em desigualdade de condições (cérebros fortes

se sobressaindo a braços fortes).

Com plena consciência de si, o “Virador” persiste na luta por sobrevivência e se auto

inclui na sociedade racional excludente; improvisa para suportar a imposição social e superar

normas tradicionais. Não é apenas a condição econômica do país que leva-o a essas

alternativas de ocupação, mas fatores que ainda necessitam mais estudos, todavia em nossa

sociedade, trabalho por necessidade é algo histórico. Eis aí o traço irrequieto do “Virador”.

Page 16: Empreender Por Necessidade

15

Esclarece o autor que a capacidade de gerar o próprio emprego é uma libertação, e

tática de experiências exitosas por parte do “Virador”, independente de opiniões

constrangidas da elite neoliberal, por tê-lo como indisciplinado.

O “Virador” abusa dessa atividade meio, e mesmo “pisando descalço” pode

incorporar algumas das artificialidades acadêmicas aqui e acolá, com algum treinamento,

capacitação, vinhetas na mídia; contanto que sejam numa perspectiva libertadora, pois já

encontra-se bastante amarrado por si só.

2.2 O que mais existe sobre o assunto:

Maslow (1988) criou a pirâmide das necessidades, onde há uma hierarquia:

primeiramente devem ser satisfeitas as necessidades fisiológicas de um indivíduo (água, ar,

alimento, repouso); para posteriormente se satisfazer as necessidades de segurança (abrigo,

recuo diante do perigo); de amor e participação (pertencimento, vida social); de estima (ser

reconhecido); de realização (alcançar os objetivos almejados); de conhecimento e

compreensão (curiosidade, pesquisa); e no topo piramidal há as necessidades estéticas (busca

pelo belo).

Todas as necessidades citadas são consideradas básicas por Maslow, porém se

manifestam hierarquicamente, com a primordial satisfação daquelas de ordem inferior.

Satisfeita uma necessidade, imediatamente surgem outras, até se alcançar o topo da pirâmide.

Segundo ele, o comportamento humano pode ser motivado pela satisfação dessas

necessidades biológicas, sem contudo estar apenas relacionado a privação, necessidade e

reforçamento.

Olave & Amato Neto (2001) analisam a necessidade das micro e pequenas empresas

atuarem associativamente, com possibilidade de troca e ajuda mútua para sobrevivência e

competitividade, num mercado de mudanças rápidas que aceleram a obsolência, com muita

flutuação de mercado e diluição de fronteiras, tensões políticas, trabalhistas e legislativas,

onde os custos de transação, por vezes vão além ao custo de produção.

Alguns requisitos essenciais para o nascimento e desenvolvimento de redes

empresariais são a cultura de confiança; de competências essenciais de cada parceiro; cultura

da tecnologia de informação, vital para a implantação e desenvolvimento de redes flexíveis.

Combinar diferenciação (vocação / talento), custo reduzido de operações, devido à

Page 17: Empreender Por Necessidade

16

otimização dos recursos, habilidades individuais que a ação conjunta possibilita, é o mote

nesse modelo organizacional.

Abreu (2002) propõe um método de ação que desenvolva “Redes Dinâmicas em

Aglomerados (clusters)” para empreendedorismo artesanal na região de São João Del Rei,

MG; inicia-se pelo aproveitamento de oportunidades locais, para formação de arranjos

setoriais e territoriais do público empreendedor, aplicando pressupostos da pesquisa-ação

com tomada de conhecimento da realidade para então modificá-la.

Fatores históricos e contemporâneos incrementam os aglomerados produtivos na

atividade artesanal; ganhos em escala devido a intercâmbios, alianças e parcerias propiciam

uma rede dinâmica e flexível que multiplica esforços e disparam ganhos; fortalecem os atores

envolvidos e são fonte de empregos, salários e impostos, porém requerem instrumentos

articulatórios que façam face à dinâmica do sistema capitalista.

Souza Neto (2003), com a história do pensamento empreendedor, usa o termo francês

“entrepeneur” para designar aquele que inova, detecta oportunidades e faz compras para

revenda, visando lucro e correndo riscos. O comportamento empreendedor, de tão complexo,

tornou-se campo de estudos transdisciplinares.

O pioneiro em capacitar tais comportamentos foi MC Clelland; que detectou valores

socioculturais e religiosos (inspirado por Max Weber) sobre atitudes empreendedoras e

padrão de excelência internalizado, novidade para a época.

Segundo Souza Neto (2003), MC Clelland relacionou progresso econômico à cultura

da necessidade de realização, onde se alcança conquistas difíceis ou façanhas, sendo

“fazedor” pelo poder, por amor, reconhecimento ou lucro. Criou bases para treinamento da

motivação ao êxito, aplicável em situações empresariais, embora crê ser o espírito

empreendedor aplicável em qualquer esfera do mundo social.

No Brasil, o termo surgiu nos meios acadêmicos para nomear estudos sobre criação

de negócios e também para um público trabalhador: administradores, técnicos, políticos,

microempresários e até desempregados. Surgiu também de atividades ligadas a programas

governamentais conectadas a órgãos públicos trabalhistas e ações sociais.

Filion (2004) salienta que estudantes universitários têm consciência de que um

emprego não explorará todo seu potencial se não lhe permitir ser intraempreendedor – agindo

como se a empresa fosse dele; porém necessitam de um plano de trabalho ou negócios, que

lhes dê pontos de referência para checagens e avaliações, para “ler” o mercado e usar

gerenciamento e marketing.

Page 18: Empreender Por Necessidade

17

Estudando erros e garantindo acertos de forma sistêmica, o intraempreendedor auxilia

no desenvolvimento de produtos, na prestação de serviços ou criação de empresas, e abrange

coerência pessoal com equilíbrio vital (A sua idéia é compatível com o seu estilo de vida?).

Usar novas tecnologias faz a diferença, mas o espírito empreendedor que inicia

mudanças, assume riscos e inova, lança a divisa entre fracasso e sucesso.

O agrupamento em cooperativas, interação com pessoas em torno de diferentes

atividades (network), traz o fiel da balança entre independência e necessidade de

comunicação, entre exigir de si próprio e delegar tarefas de forma harmônica, trata-se do

sistema de vida ecológico unindo sucesso e felicidade na avenida empreendedora escolhida.

Aprender continuamente e acumular experiências na área pretendida, para detectar

oportunidades e nichos de negócios, enfatizando a concepção e visão de projetos com

sistemas de acompanhamento e supervisão; ser generalista e planejar a longo prazo; tomar

decisões estratégicas circulando informações; e saber selecionar colaboradores, são boas

características para o microempreendedor, porém analisar os clientes e diversificá-los,

acompanhando o volume de negócios e rentabilidade, é vital para se avançar.

O trabalhador autônomo, assim como o tecnoempreendedor (inventor) geralmente só

recebe ajuda ocasional, e o agir sozinho privilegia a relação com os clientes e a ecologia

pessoal. Disciplina, gestão e aprendizagem constante mantêm sua motivação e produtividade;

ele opta pela modalidade ou é empurrado a ela devido ao estreitamento do mercado.

O terceiro setor (sem fins lucrativos), detêm empreendedores engajados criando

programas e inovando, para preencher lacunas governamentais. Optar pela ética, economia

sustentável e responsabilidade social em vez da esperteza, faz a diferença no balanço dos

resultados.

Silva & Souza Neto (2006) enfocam o terceiro setor também como fonte de diversas

iniciativas empreendedoras, pois sempre um novo conhecimento gera novas idéias, que

geram novos negócios. Abordam um caso envolvendo moradores e ex-moradores de rua,

numa iniciativa social com o objetivo de gerar trabalho e renda, e contribuem para melhor

compreensão sobre como se efetiva o empreendedorismo alavancado pela sociedade

organizada.

A Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitavel de Belo

Horizonte, é analisada a partir de conceitos da Teoria da Firma, assim como o espírito

empreendedor de seus principais gestores e os impactos socioeconômicos decorrentes, numa

análise racional, levando em conta não só as expectativas de resultados, mas o contexto

social que foca a defesa de minorias, do meio ambiente e dos direitos humanos.

Page 19: Empreender Por Necessidade

18

As associações nascem de um ato político alavancado por pessoas com valores,

convicções e motivações que potencializam oportunidades, rompendo com a prática

meramente assistencialista governamental para colocar o setor público também como

parceiro dos empreendedores.

Souza (2006) analisa como os empreendedores participam de processos de formação

em empreendedorismo, e como transferem para a prática os novos conhecimentos adquiridos

em gestão; estuda suas demandas por qualificação e como valorizam novas competências,

que auxiliados pelo SEBRAE, participam de um programa de fortalecimento da capacidade

empreendedora através de treinamentos.

Os resultados do trabalho apontaram que a capacitação para empreender com

qualidade, que traz conteúdos de interesse e utilidade prática, é bastante valorizada pelos

cursistas, por trazer ganhos financeiros aos negócios, e por fortalecer sua autonomia,

confiança e auto-realização, principalmente em relação ao público feminino.

O foco da pesquisa empírica centra-se em como esse público está aprendendo a

empreender, e discutir estratégias educacionais que instrumentalizem o trabalhador a

conquistar cidadania econômica e bem estar social para si e sua comunidade.

Silva (2007) vem delinear o percurso do empreendedorismo no Brasil e situa o

“Virador” neste contexto, colhendo uma amostra desse trabalhador na cidade de Santa Rita

do Sapucaí, MG, para melhor compreendê-lo.

Seu método constitui-se em colher a amostragem por indicações imparciais e

convidá-los a relatar sua experiência em empreender, num questionário com treze questões.

Os resultados foram expressos em tópicos.

As informações mais relevantes sobre a conclusão de sua pesquisa, é que os

“Viradores” entrevistados (majoritariamente femininos) estavam empreendendo com a

necessidade de agregar renda à família, suplementando para aquisição de bens, e não apenas

sobrevivendo. Concluiu também que os entrevistados não se sentiam discriminados

(incomodados) por serem trabalhadores informais.

Dornelas (2008) ressalta que ao identificar, avaliar e implementar novas

oportunidades de negócios, as ideias (que nem sempre precisam ser únicas) devem ser

compatíveis com as janelas de oportunidades (elas sim acabam sendo únicas), para que sejam

transformadas num produto ou serviço.

Para as ideias florescerem e se tornarem oportunidades, deve-se priorizar o ambiente

empreendedor; ao diagnosticar uma oportunidade tentadora, faz-se necessário analisar o

Page 20: Empreender Por Necessidade

19

mercado, o retorno financeiro, as vantagens competitivas, o comprometimento da equipe de

trabalho e questões socioambientais.

Para criação de banco de oportunidades, deve-se registrar as ideias / oportunidades

ainda não implantadas; estipular um tempo para que a equipe possa trabalhar, identificando

potenciais oportunidades; promover eventos diversos para geração de novas ideias; oferecer

reconhecimentos à equipe quando elas surgem; despender recursos financeiros para fomento

de projetos e sua viabilidade; criar estratégias de avaliação de ideias / oportunidades e

premiar as mais viáveis.

Souza Neto (2009), ao analisar Max Weber, constata que este tinha razão em afirmar

que muito da diferença no desenvolvimento econômico encontra-se na cultura. As esferas

culturais racionais são diversas e com as devidas especificidades, que levam a dominar ou ser

dominado, conforme um controle mais ou menos racionalizado do mundo.

É numa tensão constante da revolução de consciência, que se consegue conquistas ou

se obtém obstáculos a impedir uma população de se tornar “moderna”, como o caso de nosso

empreendedorismo social, considerado ainda “retrógrado”.

A ideia protestantista da profissão como vocação dignificante, atrela-se ao

desempenho diferencial como um fim em si, para maior eficiência. Exige-se coerência nos

valores em locais distintos, implicando uma prática social uniforme que pouco condiz com o

“se virar”, mais inclinado ao catolicismo. O poder de crítica de si próprio e das tradições em

que se está envolto, talvez constituiria essa modernidade que se contrapõe ao nosso “atraso”.

Perante o relatado na revisão bibliográfica, esse trabalho se justifica para referendar

tópicos existentes, incluir outros e analisar contraposições. A teoria abrange a origem do

termo empreendedorismo, o estilo “virador”, a pirâmide de necessidades, vantagens de

cooperativas e seus métodos de ação, o intraempreendedor, tecnoempreendedor e terceiro

setor, o ramo empresarial compatível com estilo de vida, cursos de formação, análise de

amostragem, idéias compatíveis com janelas de oportunidade, a cultura fazendo diferença no

desenvolvimento econômico. A fatia pesquisada transversalmente em campo foca apenas o

profissional “Virador”.

Page 21: Empreender Por Necessidade

20

3. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA:

O intuito principal da pesquisa é aprofundar um pouco mais os conhecimentos

relacionados ao cotidiano do profissional “Virador”, para que ao menos uma parcela dos

educandos de escolas públicas, passem a beneficiar-se de uma educação voltada ao

empreendedorismo.

3.1 OBJETIVO GERAL:

Desvendar parte dos meandros do empreendedorismo social (por necessidade), e

consequentemente, também algumas sinuosidades relacionadas ao profissional “Virador”,

analisando a pertinência da educação formal em abranger o empreendedorismo.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

3.2.1 Proceder a um aprofundamento teórico (pesquisa bibliográfica) sobre

empreendedorismo como fonte de renda e subsistência, principalmente relacionado à

modalidade social;

3.2.2 Realizar pesquisa de campo transversal com uma amostragem de empreendedores por

necessidade no Município de São João da Boa Vista, S.P. (12 “Viradores”);

3.2.3 Adentrar o universo dessa amostragem para descobrir peculiaridades como: ramo

empresarial e duração do empreendimento; necessidades que os levam a empreender nesta

região específica; principais dificuldades e sucessos; características pessoais que auxiliam ou

atrapalham o empreendimento; porcentagem estimada de renda do empreendimento em

relação à renda familiar total; horas semanais trabalhadas, funções que desempenha,

recebimento de auxílio familiar; grau de escolaridade e influência de professores, percurso

empreendedor – outras tentativas; saída (ou não) da informalidade; apoio governamental, e

outras peculiaridades;

3.2.4 Comparar os dados obtidos na coleta de dados com aqueles encontrados no referencial

teórico, e traçar um paralelo entre eles, na tentativa de enriquecê-los.

Page 22: Empreender Por Necessidade

21

4- METODOLOGIA:

4.1 Tipo de pesquisa:

O trabalho foi desencadeado por estudos iniciados com duas disciplinas relacionadas

ao curso “Educação Empreendedora”: Pedagogia Empreendedora, e Educação

Empreendedora e Redes de Cooperação, onde surge o pragmático empreendedor social, com

as mais variadas “fazeções”.

Houve posterior aprofundamento teórico, aprimorando a temática do

empreendedorismo; portanto, parte desta monografia se constitui em pesquisa bibliográfica,

incluindo principalmente títulos relacionados ao empreendedorismo por necessidade.

Para a coleta de dados, foi realizada uma pesquisa de campo transversal, no período

de outubro a dezembro de 2011, com uma amostragem de doze “Viradores” do Município de

São João da Boa Vista, SP.

A pesquisa se constituiu em visitas aos estabelecimentos dos empreendedores e afins

(previamente agendadas), com utilização de observações sistemáticas, entrevistas e

preenchimento de questionários pelo pesquisador (anexo 1), para esclarecer peculiaridades

referentes a essa modalidade de trabalho.

Todos os participantes assinaram uma autorização (anexo 2), onde foram esclarecidos

os objetivos do projeto, e receberam garantias de manutenção de sigilo sobre a identidade dos

voluntários. Para sua privacidade, os mesmos não serão identificados, excluindo-se quaisquer

danos financeiros ou de outra natureza.

A escolha da amostragem se deu pelo critério de intimidade do pesquisador para com

os “Viradores”, elencados no círculo de vizinhança e amizade, pessoas conhecidas,

estabelecimentos freqüentados cotidianamente por ele, assim como por grau de parentesco.

4.2 Objeto de estudo e amostragem:

Procurou-se desvendar o perfil do “Virador”: ramo empresarial e tempo de atuação;

necessidades que o levaram a empreender; dificuldades e sucessos; características positivas e

negativas; porcentagem de renda do empreendimento relacionada à renda familiar geral;

horas trabalhadas, funções, auxílio familiar; escolaridade e contribuição de professores.

Page 23: Empreender Por Necessidade

22

Verificou-se o percurso empreendedor; saída da informalidade (se ocorreu); algum

apoio governamental (cursos, financiamentos, incentivos municipais); como julga que a

escola pode auxiliar na formação empreendedora; envolvimento emocional com o

empreendimento.

O universo da amostragem se constituiu de 12 “Viradores” com idades variando entre

25 e 67 anos; 75% do sexo masculino e 25% feminino; atuando em prestação de serviços,

produção com venda e apenas vendas de produtos; com tempo de atividade entre 3 a 53 anos.

4.3 Coleta dos dados:

Os dados foram coletados inicialmente por intermédio de observações sistemáticas

com anotações em forma de rascunho, no próprio ambiente de trabalho dos voluntários;

sucedendo-se pelas entrevistas, sendo que os dados mais significativos foram vinculados ao

questionário (vide anexos), os dados restantes foram memorizados ou anotados à parte,

também em forma de rascunho.

Parte dos dados coletados através das observações sistemáticas, entrevistas e através

do questionário, não puderam ser tabulados em termos de porcentagem devido à diversidade

de opiniões dos “Viradores”. A parcela principal e mais significativa para a pesquisa, dentre

aqueles itens não tabulados, foi devidamente descrita no capítulo 5 desta monografia.

Os dados que foram tabulados estão codificados em tabelas próprias (figura 1),

também expostos no capítulo 5, e indicam as porcentagens relacionadas à coleta realizada

junto ao grupo de entrevistados – os 12 “Viradores” que aceitaram participar da pesquisa.

Page 24: Empreender Por Necessidade

23

5 – ANÁLISE DE DADOS:

5.1 Análise dos resultados encontrados em relação aos objetivos, e ao referencial

teórico já existente:

Objetivando desvendar o empreendedorismo social e o “Virador”, através de pesquisa

de campo transversal com uma amostra de 12 indivíduos no Município de São João da Boa

Vista, SP, apurou-se que 25% atuam em localidades tanto rurais quanto urbanas; 25% em

urbana central; 42% em urbana periférica; 8% são etinerantes (sem ponto fixo). Foi

constatado, como já consta do material teórico, o quanto esse público é diverso entre si, com

inúmeras peculiaridades; Souza Neto (2008).

Constatou-se que nesta região específica, a maioria empreende por necessidade de

sobrevivência e subsistência: geração de renda familiar, coincidindo com o apurado na

pesquisa bibliográfica, Souza Neto (2008); e onde as necessidades se manifestam

hierarquicamente, com a primordial satisfação daquelas de ordem inferior; Maslow (1988).

Apurou-se também outras necessidades: de realização pessoal e financeira – ambição

(mudança de classe social); e a busca de autonomia correndo riscos calculados, conforme já

encontrado na pesquisa bibliográfica, embora fossem necessidades diversas das aqui

encontradas.

O sexo dos voluntários desta pesquisa é predominantemente masculino, e na pesquisa

bibliográfica estudada, há predominância do sexo feminino, a necessidade predominante lá

foi de agregar renda à família, suplementando para aquisição de bens; Silva (2007).

Dos entrevistados, 58% já tiveram outras tentativas empreendedoras e 42% trabalham

no primeiro empreendimento, contam com idades variando entre 25 e 67 anos; atuando em

prestação de serviços, produção com venda e apenas vendas; com tempo de atividade entre 3

a 53 anos, sendo três quartos dos entrevistados, do sexo masculino. Nas entrevistas, todos

afirmam que analisar os clientes e diversificá-los, acompanhando o volume de negócios e a

rentabilidade, é vital para se avançar; Filion (2004).

A escolaridade vai do fundamental incompleto (4ª série) ao superior completo; 33%

receberam auxílio de professores por vias indiretas e 67% nunca receberam; diretamente não

houve apoio. Conforme a pesquisa bibliográfica, cursos de capacitação são valorizados por

eles, mas carecem de estratégias educacionais que o instrumentalizem; Souza (2006).

Page 25: Empreender Por Necessidade

24

As características pessoais que auxiliam o empreendedor (segundo entrevista) são:

garra, assiduidade, determinação, adaptabilidade, força de vontade, liderança, honestidade,

conhecimento técnico, disposição ao trabalho árduo, objetividade, inquietude, fé e esperança,

persistência, gentileza, tranqüilidade, sociabilidade, animação, responsabilidade, pensamento

positivo, calma e paciência, amabilidade, organização, e sistematização (propensão ao

trabalho metódico).

As características que o atrapalham são: dificuldade em delegar funções, as

administrativas e com mudanças tecnológicas, estresse, ingenuidade, timidez, ansiedade,

irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência. Na literatura há características

empreendedoras positivas similares às elencadas, todavia as depreciativas, apesar dos

próprios “Viradores” julgá-las importantes para tomada de consciência, são pouco citadas e

bem vagas; Souza Neto (2008).

A porcentagem de renda do empreendimento em relação à renda familiar total varia

de 50 a 100%. A carga horária semanal varia de 40 a 80 horas, em polivalência de funções:

tanto técnicas, quanto administrativas; 83% recebem contribuição familiar no

empreendimento e 17% atuam individualmente. Os dados reforçam o alto índice de

necessidade de sobrevivência e subsistência dos “Viradores”, encontrado na literatura; Souza

Neto (2008).

Do grupo analisado, 25% são formalizados (com CNPJ) desde o início, 25% se

legalizaram posteriormente, 17% estão tentando regularizar, 17% pretendem continuar na

informalidade, 8% voltaram à informalidade, 8% utilizam CNPJ de firma anterior.

Apoio governamental: empréstimo no banco do povo - 17%; procuraram auxílio e

não consideraram viável -33%; nunca procuraram auxílio algum (portanto, não obtiveram) -

50%. Segundo o material teórico, a consciência leva a conquistas ou traz obstáculos para um

povo ser “moderno”, como nosso empreendedorismo social “retrógrado”; Souza Neto (2009).

Todo o grupo julga que a escolarização formal deve auxiliar ao empreendedorismo de

alguma maneira, embora não saiba exatamente como; 67% está satisfeito e orgulhoso perante

seu empreendimento, 25% aparenta resignação e 8%, apreensão por risco iminente de

falência. De acordo com a literatura, o fato das micro e pequenas empresas poderem atuar

associativamente possibilita trocas e ajuda mútua para sobrevivência e competitividade, há

ganhos em escala devido a intercâmbios, alianças e parcerias, que propiciam uma rede

dinâmica e flexível que multiplica esforços e disparam ganhos; Olave & Amato Neto (2001);

Abreu (2002).

Page 26: Empreender Por Necessidade

25

5.2 Dados obtidos sobre a amostragem pesquisada:

Dentre os “Viradores” pesquisados, 75% empreendem por absoluta necessidade de

sobrevivência e subsistência; e 25% declararam outras necessidades: de realização pessoal e

financeira (ambição) e busca de autonomia profissional, correndo riscos calculados.

As dificuldades se relacionam principalmente ao convívio com clientes e

colaboradores, tributos, grau elevado de responsabilidade e desgaste físico, administração,

falta de apoio técnico e financeiro, perdas ou medo de perder o que investiu. Os sucessos

estão relacionados e ao lucro monetário (mudança de classe social), melhorias à família,

autonomia e independência, liberdade por ser o próprio patrão, reconhecimento social.

Características positivas elencadas: garra, assiduidade, determinação, adaptabilidade,

força de vontade, liderança, honestidade, conhecimento técnico, disposição ao trabalho

árduo, objetividade, inquietude, fé e esperança, persistência, gentileza, tranqüilidade,

sociabilidade, animação, responsabilidade, pensamento positivo, calma e paciência,

amabilidade, organização, sistematização (propensão ao trabalho metódico).

Características negativas apontadas pelo grupo: dificuldade em delegar funções,

dificuldades administrativas e com mudanças tecnológicas, estresse diante de problemas

novos, ingenuidade, timidez, ansiedade, irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência.

A porcentagem de renda do estabelecimento aplicada à família varia de 50 a 100%; a

escolaridade vai do fundamental incompleto (4ª série) ao superior completo. São atuantes em

localidades tanto rurais quanto urbanas: 25%, urbana central: 25% , urbana periférica: 42%,

etinerante (sem ponto fixo): 8%. A carga horária semanal varia de 40 a 80 horas, em

polivalência de funções: tanto técnicas, quanto administrativas.

Dos entrevistados, 83% recebem contribuição familiar no empreendimento (alguns

têm funcionários também) e 17% atuam individualmente. Deles, 33% receberam auxílio de

professores por vias indiretas e 67% nunca obtiveram apoio; diretamente não houve nenhum

caso relatado de contribuição no ensino regular (0%).

Diante do grupo em estudo, 58% já tiveram outras tentativas empreendedoras

(infrutíferas) e 42% trabalham no primeiro empreendimento; 25% são formalizados (com

CNPJ) desde o início; 25% se legalizaram posteriormente; 17% estão tentando se regularizar

(dizem); 17% pretendem continuar na informalidade, sentindo-se confortáveis assim; 8%

voltaram à informalidade por questões administrativas; 8% utilizam CNPJ de firma anterior.

Apoio governamental: empréstimo no banco do povo - 17%; procuraram auxílio e não

consideraram viável -33%; nunca procuraram auxílio algum (portanto, não obtiveram) - 50%.

Page 27: Empreender Por Necessidade

26

A totalidade dos entrevistados (100%) julgam que a escolarização formal pode

auxiliar o empreendedorismo; 67% demonstram satisfação e orgulho (integridade) perante

seu empreendimento, 25% demonstram resignação e 8% demonstram apreensão por risco

iminente de falência.

5.3 Análise dos resultados encontrados, expressos em tabelas:

Tabela 1: Sexo; tipo de necessidade desencadeante ao empreendedorismo; apoio familiar;

auxílio escolar; percurso anterior:

Masculino Feminino 75% 25%

Necessidade de sobrevivência Outras necessidades 75% 25%

Apoio familiar Atuação individual 83% 17%

Outras tentativas (infrutíferas) Primeiro empreendimento 58% 42%

Auxílio escolar indireto Nenhum auxílio (mesmo que indireto) 33% 67%

Auxílio escolar direto Viabilidade de apoio empreendedor escolar 0% 100%

Tabela 2: Apoio Governamental e envolvimento emocional com o empreendimento:

Tabela 3: Localidade de atuação:

Rural e urbana Urbana central Urbana periférica Etinerante (sem ponto fixo)

25% 25% 42% 8% Tabela 4: Formalização (CNPJ): Formalizados

desde o início

Formalização posterior

Tentando se formalizar

Informal Voltou à informalidade

Utiliza CNPJ

de empresa anterior

25% 25% 17% 17% 8% 8%

Financiamento Banco do Povo

Procurou auxílio, porém não considerou viável

Nunca procurou auxílio

17% 33% 50% Satisfação e orgulho Resignação Apreensão pelo risco

iminente de falência 67% 25% 8%

Page 28: Empreender Por Necessidade

27

6 – CONCLUSÃO:

O objetivo geral do curso “Educação Empreendedora” (educar para se empreender),

pode ser considerado amplamente alcançado, devido à aquisição de aprendizagens

específicas na área de empreendedorismo social e todo seu pragmatismo, não contempladas

em cursos relacionados especificamente à pedagogia tradicional.

No ano de 2011, valendo-se dos conhecimentos adquiridos neste curso,

principalmente relacionados ao empreendedorismo por necessidade, ao alfabetizar uma turma

de seis anos de idade, trabalhou-se conceitos ligados ao tema, de maneira transversal,

desenvolvendo características empreendedoras positivas.

O tema foi explorado principalmente nas aulas de arte, educação física, e durante o

desenvolvimento da função semiótica (jogo simbólico, faz-de-conta). Ao utilizar brinquedos

tradicionais e sacos com sucata, brincou-se de montar inúmeros empreendimentos como: lava

rápido, salão de beleza, fazendinha, sorveteria, creche, mercadinho e outros.

Dentre as características pessoais, o poder de liderança, estima pessoal, autonomia,

“coopetição”, iniciativa, respeito irrestrito à diversidade, protagonismo, dentre outras, foram

incentivadas e reforçadas num espírito de brincadeira e nas atividades diárias, sendo que os

alunos mais “levados” durante as aulas tradicionais (contudo não os “desajustados”), foram

justamente os que se sobressaíram nestas atividades.

Ainda não haviam sido estudadas as características negativas, que segundo os

próprios “Viradores”, os depreciam. São elas: timidez, ansiedade, dificuldade em delegar

funções, estresse, ingenuidade, dificuldades administrativas e com mudanças tecnológicas,

irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência.

Obviamente, parte dessas características negativas são passíveis de estudos em sala de

aula, em qualquer faixa etária, principalmente para tomada de consciência das mesmas por

parte dos educandos (autoconhecimento), facilitando então, a possibilidade de evitá-las,

inibi-las ou até mesmo extingui-las (lembrando-se que crianças “levadas” se sobressaem).

Atitudes e estratégias simples durante o próprio decorrer das aulas podem fazer a

diferença para que crianças e adolescentes adquiram o autoconhecimento e a confiança

necessária para gerar no futuro, o seu próprio “ganha pão”, que possivelmente passará a

estender também aos “seus”, como já o fazem diversos pais (de alunos) “Viradores”.

Devido à quantidade de material teórico sobre empreendedorismo social, que passou a

ser publicada, a lógica aponta para um novo olhar a este público miscelâneo: futuramente

poderá ser ele a dominar os holofotes do mercantilismo em sociedades em desenvolvimento.

Page 29: Empreender Por Necessidade

28

O “Virador”, com personalidade irrequieta, todo “godê”, não aceita cabresto de

coronelismo; é consciente de si e luta autonomamente, improvisando contra a imposição

social. Ao atuar por necessidade de sobrevivência, detém a capacidade de gerar o

próprio emprego e se liberta desta elite neoliberal que tenta enquadrá-lo num molde

preconfeccionado.

O olhar (passional) para o empreendedorismo social, até então quase despercebido,

passou a assumir um caleidoscópio de possibilidades; e a responsabilidade do professor para

contribuir nesse processo é imensa, totalmente pertinente, possibilitando a formação de uma

sociedade mais apta em competir equilibradamente e com menor desigualdade.

Durante as entrevistas com os “Viradores”, ao serem levados à reflexão sobre seu

histórico empreendedor, vários deles expuseram seus sentimentos em algum momento do

diálogo, devido a tamanha carga emocional impregnada no seu “negócio”, demonstrando

assim, extremo orgulho para com “sua cria”.

Ante os entrevistados, a maioria manifestou sensação de abandono pelas políticas

públicas: há Agências de Desenvolvimento; Bancos do Povo; SEBRAE; existem cursos

específicos, contudo a inadequação à prática cotidiana e às peculiaridades desses

trabalhadores ainda impera.

Constatando-se que os “Viradores” praticamente não receberam educação escolar

voltada ao empreendedorismo, e que sentem a deficiência teórica emperrando parte do

empreendimento que dirigem, então a escola pública necessita espanar os resquícios da época

ditatorial, onde a passividade do alunado era premiada.

Talvez o cotidiano escolar possa ser o melhor fortalecedor para as futuras “fazeções”

do empreendedor social, pois assim como a prática sem apoio teórico algum, não vai além da

“fazeção”, nossa teoria em sala de aula, se não atinge um objetivo prático, não passa também

de mera “falação”.

6.1 Sugestões para futuras pesquisas:

De acordo com os resultados alcançados neste trabalho, pode-se citar as seguintes

sugestões para futuras pesquisas nesta área:

Page 30: Empreender Por Necessidade

29

6.1.1 Pesquisar as condições em que alguns “Viradores” mais rudimentares se encontram,

após terem se estabelecido como “Empreendedores individuais”, adquirindo seu CNPJ

(mudanças positivas e negativas ocorridas com a formalização).

6.1.2 Analisar se as necessidades dos “Viradores” se modificam ao longo do tempo de

empreendimento, passando de necessidade de sobrevivência a outras mais elevadas,

baseando-se na “Pirâmide das Necessidades” (Maslou, 1988). Avaliar se as condições de

gênero (masculino / feminino) interferem nos tipos de necessidades que desencadeiam o

empreendedorismo num determinado grupo social.

6.1.3 Pesquisar “Viradores” que não foram bem sucedidos, e acabaram por abandonar o

empreendimento (tipo falência), relacionando-se à educação formal (escolaridade) e a

presença ou ausência de cursos específicos (de profissionalização).

Page 31: Empreender Por Necessidade

30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU J. C., Estratégia e Oportunidades Locais: um estudo sobre rede dinâmica em aglomerados de empreendedores de base artesanal. 349 f. Tese (doutorado) COPPE/ UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2002. ANDRADE M. J. N.; GUIMARÃES B. M. M.; DAMIANO G. A., Metodologia de Pesquisa em Educação. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2011. DORNELAS J. C. A., Empreendedorismo Corporativo. Como ser empreendedor, inovar e se diferenciar na sua empresa. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Elsevier, p. 85 – 99, 2008. FILION L. J.; DOLABELA F. (Orgs.), Boa Idéia! E agora? São Paulo, Cultura Editores Associados, p. 17 - 29, 2004. MASLOW A., Teoria Humanista. In: PILETTI N., Psicologia Educacional, Ed. Ática Didático, p. 67- 70, 1988. OLAVE M. E. L. & AMATO NETO J., Redes de Cooperação Produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. In: Gestão & Produção, v. 8, n. 3, p. 289-303, dez. 2001. SILVA M. S., O “virador”: estilo de sobrevivência do empreendedor brasileiro. Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, Brasil, v. 7, n.1, p. 62 – 71, 2007. SILVA G. M.; SOUZA NETO B., Reflexões ao entorno de uma rede de mercado de empreendimentos de base social e a Teoria da Firma: o caso ASMARE. In: XIII. SIMPEP, Bauru, SP, Brasil, 2006. SOUZA M. B., Educação e Empreendedorismo. Qualificação de empreendedores no Arranjo Produtivo Local de Tobias Barreto/SE. Revista da Fapese, v. 2, n.2, artigo 7, p. 109-128, Sergipe, Brasil, jul./ dez. 2006. SOUZA NETO B.; CARDOSO M. E., Pedagogia Empreendedora. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2010. SOUZA NETO B., Revista EMPREENDEDOR, nº 109, p. 51-52, Novembro de 2003. SOUZA NETO B., Contribuições e elementos para um metamodelo empreendedor brasileiro: O empreendedorismo de necessidade do “virador”. Ed. Blucher Acadêmico. São Paulo, S.P., Brasil, 2008. SOUZA NETO B., Max Weber e o “espírito” do empreendedorismo brasileiro. Revista de Gestão e Empreendedorismo, v. 1, n. 1, p. 21-29, 2009. SOUZA NETO B., Educação Empreendedora e Redes de Cooperação. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2011.

Page 32: Empreender Por Necessidade

31

ANEXO 1

Autorização: Eu, _______________________________________________________________________, CPF nº ___________________________________, autorizo a realização da pesquisa

relacionada ao empreendedorismo, proposta de acordo com os seguintes termos: O projeto

tem como tema “EMPREENDER POR NECESSIDADE: o “Virador”. Trata-se de uma

pesquisa de campo transversal para coleta de dados relacionados ao empreendedorismo

social, para a aquisição do título de especialista pela UFSJ - MG. O estudo empregará o

método da entrevista durante visita ao estabelecimento, com aplicação de questionário. Não

haverá danos financeiros ou de qualquer outra ordem ao voluntário, e sua identidade será

mantida em sigilo e privacidade.

São João da Boa Vista, SP, ________/________/ 2011. Assinatura do voluntário: ___________________________________________________________

Page 33: Empreender Por Necessidade

32

ANEXO 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOAO DEL-REI

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL- POLO S.J.B.V.

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA

Coleta de informações para análise de dados sobre o empreendedorismo por necessidade:

Amostragem de “Viradores” no Município de São João da Boa Vista, SP.

“Virador” nº __________ Ramo empresarial: ___________________________________________________________ Tempo de atuação:___________________________________________________________ Necessidades que desencadearam o empreendimento: _______________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Principais dificuldades e sucessos neste percurso: __________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Quais de suas características levam ao bom desempenho ou atrapalham o empreendimento? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Porcentagem estimada da renda do empreendimento em relação à renda total da família: ___________________________________________________________________________

Page 34: Empreender Por Necessidade

33

Horas semanais trabalhadas, funções desempenhadas e auxílio familiar: _________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Grau de escolaridade: _________________________________________________________ Houve professores que contribuíram para a formação empreendedora?__________________

___________________________________________________________________________ Percurso empreendedor (outras tentativas): ________________________________________ ___________________________________________________________________________ Saída da informalidade (se ocorreu) quando e como :________________________________ ___________________________________________________________________________ Apoio governamental (cursos, financiamento, incentivos municipais): __________________ ___________________________________________________________________________ Como julga que a escola pode auxiliar na formação empreendedora?___________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Discorra sobre seu empreendimento: _____________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________