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EMPREGADO DOMÉSTICO – INOVAÇÕES LEGISLATIVAS DA LEI COMPLEMENTAR 150 CAPÍTULO I PRINCIPAIS EVOLUÇÕES LEGISLATIVAS A categoria dos empregados domésticos tem como principais regulamentações legislativas, por primeiro, a Lei 5.859 de 11 de dezembro de 1972, regulamentada pelo Decreto 71.855/73. Referida lei teve como principais destaques, o fato de ter conceituado o empregador e o empregado doméstico, atribuindo à referida categoria alguns direitos, dentre os quais cita-se, a integração à previdência social e férias. Após isto, a Constituição Federal vigente, promulgada em 1988, quando foi tratar no seu artigo 7º. sobre direitos dos trabalhadores, fez aplicar à categoria dos domésticos alguns direitos previstos para a categoria dos empregados celetistas. Em referida ocasião, CF, foi ampliado à categoria dos domésticos as salário mínimo, irredutibilidade do salário, 13º. Salário, repouso semanal remunerado, férias com 1/3 de acréscimo, licença gestante, licença paternidade, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, aposentadoria. Pois bem, após longo período, no ano de 2013, veio nova alteração na CF, feita através da Emenda Constitucional nº 72. Referida EC ampliou aos domésticos mais alguns direitos previstos na CF, que antes se aplicava somente àqueles empregados celetistas, todavia, quase que a integralidade destes direitos ampliados em 2012, dependiam de regulamentação para sua completa e perfeita aplicação.

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EMPREGADO DOMÉSTICO – INOVAÇÕES

LEGISLATIVAS DA LEI COMPLEMENTAR 150

CAPÍTULO I

PRINCIPAIS EVOLUÇÕES LEGISLATIVAS

A categoria dos empregados domésticos tem como principais

regulamentações legislativas, por primeiro, a Lei 5.859 de 11 de dezembro

de 1972, regulamentada pelo Decreto 71.855/73.

Referida lei teve como principais destaques, o fato de ter

conceituado o empregador e o empregado doméstico, atribuindo à referida

categoria alguns direitos, dentre os quais cita-se, a integração à

previdência social e férias.

Após isto, a Constituição Federal vigente, promulgada em 1988,

quando foi tratar no seu artigo 7º. sobre direitos dos trabalhadores, fez

aplicar à categoria dos domésticos alguns direitos previstos para a

categoria dos empregados celetistas. Em referida ocasião, CF, foi ampliado

à categoria dos domésticos as salário mínimo, irredutibilidade do salário,

13º. Salário, repouso semanal remunerado, férias com 1/3 de acréscimo,

licença gestante, licença paternidade, aviso prévio proporcional ao tempo

de serviço, aposentadoria.

Pois bem, após longo período, no ano de 2013, veio nova alteração

na CF, feita através da Emenda Constitucional nº 72. Referida EC ampliou

aos domésticos mais alguns direitos previstos na CF, que antes se aplicava

somente àqueles empregados celetistas, todavia, quase que a integralidade

destes direitos ampliados em 2012, dependiam de regulamentação para

sua completa e perfeita aplicação.

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Estes direitos estendidos pela EC nº. 72, referidos acima, são:

Garantia de salário mínimo para quem ganha salário variável

Proteção conta retenção dolosa do salário

Jornada de trabalho de 08 horas diárias e 44 horas semanais

Horas extras com 50%

Redução de riscos contra acidentes

Reconhecimento das convenções coletivas

Proibição dos salários discriminatórios

Proibição de admissão discriminatória

Proibição de trabalho noturno, insalubre e perigoso ao menor de idade

Proteção contra despedida arbitrária

Seguro desemprego

FGTS

Adicional noturno

Salário família

Assistência gratuita a filhos de até 05 anos de idade

Seguro contra acidente de trabalho

Cabe aqui citar momento histórico ocorrido em 2013, já que

quando da ampliação dos direitos aqui referidos houve grande

movimentação política no Congresso Nacional, ampla divulgação pela

imprensa, sendo que tal alteração legislativa foi lida nos meios populares e

pela imprensa como a mudança de vida dos empregados domésticos, como

se a vida destes operários fossem se dividir em dois momentos, um antes e

outro depois da alteração legislativa. Aqueles mais poéticos ou políticos

chegavam a dizer que com a EC de 2013, os últimos escravos estavam

sendo retirados da senzala. Um verdadeiro exagero ao meu ver.

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E o tempo revela muito, por primeiro, porque a regulamentação

necessária desde 2013 somente veio à luz agora em 2015, e se fosse tão

caótica a situação dos domésticos como diziam os demagogos, não teria se

demorado tanto tempo. Em segundo, porque o tempo decorrido

demonstrou que a vida destes trabalhadores não mudou “da água para o

vinho”, como não mudará agora, embora evidentemente, melhorará em

termos de amparo legislativo.

Agora, a última evolução legislativa foi a publicação da Lei

Complementar nº 150, no Diário Oficial da União do dia 02 de Junho de

2015, que para surpresa de muitos, não apenas regulamentou aqueles

últimos direitos ampliados aos domésticos, como passou a reger

integralmente a matéria, inclusive revogando a Lei nº 5.859/72.

CAPÍTULO II

ALTERAÇÕES E INOVAÇÕES DA LEI COMPLEMENTAR 150

Considerando então que a categoria dos empregados domésticos

passou a ser regulamentada pela Lei Complementar nº 150/, vamos

verificar doravante como ficaram os direitos e deveres dos sujeitos desta

relação jurídica.

Conceituação: A lei complementar fez importante papel em definir

de uma vez por todas que o empregado doméstico assim se caracteriza

quando trabalhar por mais de 02 dias por semana para o empregador,

acabando com as incertezas que pairavam sobre o tema, quando

confrontados com os diaristas, ficando então definido agora que estes

últimos são aqueles que laboram por 01 ou 02 dias por semana.

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Trabalhado do menor: A nova legislação veda o trabalho do menor

de 18 anos nos serviços domésticos, em acatamento ao disposto na

Convenção 182 da OIT, da qual o Brasil é país membro.

Horário de trabalho: Foi fixado o limite de 08 horas de trabalho

diário e 44 horas semanais, igualando tais trabalhadores ao de outras

categorias gerais. Eventuais horas extras deverão ser remuneradas com

um acréscimo de 50% em relação ao preço da hora normal.

Compensação de horas de trabalho: De forma inteligente a

legislação possibilitou a instituição do regime de compensação de horas,

desde que por acordo escrito entre as partes, ocasião em que o excesso de

horas de um dia poderá ser compensado pela diminuição de outro.

Neste regime, numa redação um tanto confusa, a interpretação

que se pode fazer é que poderá ser levada ao regime de compensação de

horas mensal, até 40 horas, ou seja, as primeiras 40 horas extras mensais

podem fazer parte de um regime de compensação, dentro do próprio mês.

Se não compensadas tais 40 horas extras mensais, mas apenas parte

delas, o que sobrepujar deverá ser pago como hora extra.

Em relação as outras horas extras que superarem as primeiras 40

horas mensais, poderá ser compensado no período máximo de 01 ano.

Acredita-se que neste particular, em virtude da falta de clareza do

texto, ainda teremos que aguardar uma consolidação da jurisprudência.

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Dos intervalos do empregado morador: A lei foi sábia ao regular o

intervalo do trabalho do empregado doméstico, ficou definido que o tempo

de repouso, as horas não trabalhadas, os feriados e os domingos livres, do

empregado que mora no local de trabalho, mas que nele permaneça, não

será computado como horário de trabalho.

Trabalho em domingos e feriados: O trabalho realizado em tais

dias, desde que não compensados, serão pagos em dobro.

Jornada especial: De maneira inteligente, o legislador instituiu a

chamada jornada 12x36, onde o empregado pode trabalhar 12 horas por

dia (observado o intervalo para repouso e alimentação), descanso depois

por 36 horas, desde que celebrado por contrato escrito.

Serviços em viagem: Foi regulamentado o serviço do empregado

quando em viagem acompanhando o empregador. Esta situação deve estar

prevista em contrato escrito, e possibilita se computar apenas as horas

efetivamente laboradas, que poderão ser futuramente compensadas por

folgas em outros dias.

Este serviço realizado em viagens, será remunerado com um

acréscimo de 25% em relação a hora normal, que, todavia, também por

acordo escrito, poderá ser convertido, com o acréscimo, em banco de

horas.

Intervalo para refeição e descanso: Deverá haver um intervalo

para refeição e descanso de 01 a 02 horas, admitindo-se a redução para 30

minutos, por acordo escrito entre empregado e empregador.

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No caso do empregado morador, o intervalo poderá ser dividido em

02 períodos, desde que cada um deles não seja inferior a 01 hora, até o

limite de 04 horas ao dia.

Registro dos horários em cartão de ponto: O controle da jornada

de trabalho e intervalos deve ser feito por meio idôneo, seja manualmente,

mecanicamente ou eletronicamente.

Do horário e adicional noturno: Tal como ocorre na CLT, ficou

definido que o labor feito entre as 22 horas de um dia e as 05 horas do dia

seguinte é considerado noturno, e deve ser remunerado com o adicional

noturno de no mínimo 20% em relação a hora diurna.

Intervalo interjornada: Entre um dia de trabalho e outro, deve ser

respeitado um intervalo de pelo menos 11 horas.

Descanso semanal remunerado: É garantido o descanso semanal

preferencialmente aos domingos, além dos feriados.

Contrato a prazo determinado: Foi instituído o contrato de

experiência para o empregado doméstico, nos mesmos moldes do

empregado celetista.

Foi instituído ainda, o contrato a prazo determinado de até 02 anos,

para atender necessidade transitória e para substituição temporária de

empregado doméstico.

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Nesta modalidade contratual, por ocasião da rescisão contratual,

não é devido o aviso prévio.

Anotações em CTPS: O empregador é obrigado a anotar a CTPS do

empregado no prazo de 48 horas após o início do contrato, devendo

inclusive anotar eventual contrato a prazo determinado.

Férias anuais e sua divisão: As férias foram mantidas na base de

30 dias por ano, remuneradas com 1/3 de acréscimo, a cada 12 meses de

trabalho.

Ocorre ainda, em relação a tal tema, duas novidades, a primeira, é

que a critério do empregador, poderá ser fracionada em dois períodos,

desde que um deles não seja inferior a 14 dias. A segunda novidade, é que

o sistema de abono pecuniário das férias previsto na CLT, foi estendido

ao doméstico, logo, o empregado pode requerer ao empregador, 30 dias

antes do vencimento das férias, que 1/3 desta seja indenizado.

O empregado morador pode permanecer no imóvel durante as férias.

Descontos permitidos e proibidos: Não é permitido o desconto por

fornecimento de alimentação, vestuário, higiene, moradia, transporte,

hospedagem e alimentação em caso de viagem com o empregador.

É permitido o desconto de adiantamento salarial, e por contrato

escrito, valores referente a plano de saúde, seguro, previdência privada,

não podendo ultrapassar a dedução 20% do salário.

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Se a moradia ocupada pelo empregado for em local diverso daquele

onde presta serviço, poderá haver o desconto pelo fornecimento da mesma,

porém, com previsão em contrato escrito.

Vale transporte: O vale transporte já era direito inerente aos

domésticos,mas agora com a novidade de que pode ser concedido pelo

empregador em pecúnia.

FGTS: O FGTS é garantido ao empregado doméstico, aliás, é um dos

principais anseios da categoria, mas ainda, para virar realidade, teremos

que esperar mais um pouco, é que a lei em comento aduz que sua

obrigação se dará somente quando regulamentado pelo Conselho Curador

do FGTS.

O que já ficou definido quanto ao FGTS, é que a multa rescisória de

40% sobre o saldo do FGTS, para o caso de despedida, será efetuada mês a

mês, junto com o depósito mensal do próprio FGTS.

13º Salário: O 13º. Salário permanece com a regulamentação

anterior, nos termos da lei 4.090/62.

Aviso prévio: Tal como ocorre com os empregados celetistas, o aviso

prévio do empregado doméstico é de 30 dias para ao primeiro ano de

serviço, acrescidos de mais 03 dias por ano laborado, até o limite de 90

dias.

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Aplica-se durante o aviso prévio concedido pelo empregador, a

redução de 02 horas na jornada de trabalho, ou ainda, por opção, 07 dias

de corridos de faltas.

Licença maternidade e estabilidade gestante: A doméstica

gestante tem direito a licença maternidade por 120 dias, sem prejuízo do

salário e emprego. Além disto, é estável, até o 5º. mês após o parto.

Seguro desemprego: É garantido o seguro desemprego de 01

salário mínimo ao doméstico demitido, por até 03 meses.

Da dispensa por justa causa e rescisão indireta: Muito se

questionava se as modalidades de dispensa por justa causa e rescisão

indireta previstas na CLT se aplicavam aos domésticos, mas agora com a

nova lei complementar isto ficou pacificado, aplicando-se a tal categoria

integralmente os dispositivos celetistas nela repetido.

Do salário família: Foi estendido ao doméstico o direito ao salário

família, por filho menor de 14 anos de idade. Atualmente a cota do salário

família é de:

Para quem ganha até R$725,02 o valor de R$37,18 por filho.

Para quem ganha de R$725,02 até R$1.089,72, o valor de R$26,20 por

filho.

O valor pago pelo empregador é depois por ele compensado com a

contribuição previdenciária por ele devida.

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Do simples doméstico: Em 120 dias após a publicação da LC 150,

ou seja, em 01 de outubro de 2015, deverá sair regulamentação do

SIMPLES doméstico, que será um sistema de recolhimento das

contribuições previdenciárias e fiscal unificado e simplificado.

O que já se sabe sobre isto, é que o doméstico pagará sua

contribuição previdenciária na alíquota de 8% a 11% do seu salário; O

empregador, pagará 8%, mais 0,8% de contribuição previdenciária; e mais

8% e 3,2% de FGTS.

Em linhas gerais são estas as alterações e

inovações trazidas pela LC 150, um marco para a categoria dos

empregados domésticos.

Renato de Souza Sant’Ana

Advogado e Sócio Administrador de

Sant’Anna e Sant’Ana Advogados Associados

www.santanaadvogados.com.br

Avenida 13, 919, Centro, Barretos – SP.

Barretos, 28/07/15