Emprego Choque Montado EEE

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MINISTRIO DA DEFESA EXRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAO DO EXRCITO

O EMPREGO DO POLICIAMENTO MONTADO EM OPERAES DE CONTROLE DE DISTRBIOS CIVIS EM REA URBANA

POR

RODRIGO SILVA ABADIO 2 TEN QOPM / PMDF

Rio de Janeiro 2004

MINISTRIO DA DEFESA EXRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAO DO EXRCITO

O EMPREGO DO POLICIAMENTO MONTADO EM OPERAES DE CONTROLE DE DISTRBIOS CIVIS EM REA URBANA

POR

RODRIGO SILVA ABADIO 2 TEN QOPM / PMDF

Monografia apresentada Escola de Equitao do Exrcito como requisito parcial para a obteno do ttulo de especialista em Equitao, tendo como orientador o CAP CAV Csar Alves da Silva.

Rio de Janeiro 2004

RODRIGO SILVA ABADIO 2 TEN QOPM / PMDF

O EMPREGO DO POLICIAMENTO MONTADO EM OPERAES DE CONTROLE DE DISTRBIOS CIVIS EM REA URBANA

Monografia apresentada Escola de Equitao do Exrcito como requisito parcial para a obteno do ttulo de especialista em Equitao, tendo como orientador o CAP CAV Csar Alves da Silva.

Aprovada em

de

de 2004.

BANCA EXAMINADORA

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Dedico

o

presente

trabalho a minha famlia, sem a qual jamais estaria realizando esse sonho profissional e, antes de tudo, pessoal, o de ser um Espora Dourada.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeo a Deus por todas as conquistas e vitrias, sendo Ele o responsvel por tudo em minha vida; Ao meu Pai, que incansavelmente lutou para que hoje eu estivesse na Polcia Militar do Distrito Federal, sendo um elemento decisivo na conquista de meus sonhos; minha Me, mulher forte e companheira de todos os momentos, em que, com seu imensurvel apoio, jamais mediu esforos no sentido de auxiliar seus filhos em tudo o que fosse e possvel; s minhas irms, Daniela e Patrcia, que sendo, antes de tudo, verdadeiras amigas, sempre estiveram ao meu lado contribuindo e compartilhando nos momentos alegres e tristes; minha namorada, Aline, que, superando seu sentimento de saudade, manteve-se firme e companheira neste ano de conquista para ambos; Ao TC Jorge Dornelles Passamani, Comandante do RPMon e amigo, profissional inigualvel, que abraado causa da Corporao, permitiu e brigou para que hoje eu estivesse realizando esse curso; Polcia Militar do Distrito Federal, Corporao a que eu orgulhosamente perteno e sou fiel em quaisquer ocasies; Ao 1 TEN Fbio Augusto Vieira, amigo e meu primeiro instrutor de equitao, sendo uma das pessoas que mais me incentivou a abraar a causa da nobre arma de cavalaria; A todos os amigos e companheiros do RPMon; Ao 2 TEN Keldison Almeida de Souza, amigo e companheiro nessa jornada. Com suas atitudes, pude aprender a superar as dificuldades e me empenhar na realizao dos trabalhos do curso. Passada essa fase, com certeza somente nos restar relembrar os bons momentos vividos no Rio de Janeiro e cultivar uma amizade que se estender pelo resto de nossas vidas; Ao CAP PMPA Santos, que com sua experincia e tranqilidade, jamais se negou em auxiliar no que fosse preciso, se tornando em um amigo digno de toda confiana e lealdade; Ao demais companheiros de curso, CAP PMERJ Magno, Tenentes EB Da Rosa, Da Nova, Titan, Roberto, Silva Moreira, Alves Branco e TEN PMESP Freixo, amigos eternos e companheiros nos momentos alegres e tristes;

Aos Instrutores e Comando do EsEqEx, que com grande empenho e profissionalismo se propuseram a passar um pouco dos conhecimentos de equitao e de vida que possuem; Ao CAP CAV Csar Alves da Silva, Orientador do presente trabalho, agindo sempre com extrema pacincia, profissionalismo e camaradagem, no se furtando em nenhum de auxiliar em todos os sentidos; Ao CEL PMERJ Moraes, que com total esprito de camaradagem nos abriu as portas de sua Corporao, oferecendo para nos apoiar tudo aquilo que fosse possvel. Essas aes desprovidas de qualquer interesse, somente perpetuam a unio entre as corporaes policiais militares do Brasil, as fazendo mais fortes e, antes de tudo, ligadas por elos de amizade e companheirismo; Enfim, meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contriburam de uma forma ou de outra na conquista deste to almejado sonho.

O poder do administrador pblico, revestindo ao mesmo tempo o carter de dever para a comunidade, insuscetvel de renncia pelo titular. Tal atitude importaria fazer liberalidades com o direito pblico alheio, e o Poder Pblico no , nem pode ser, instrumento de cortesias administrativas. (Hely Lopes Meirelles, 2002)

RESUMO

O emprego do policiamento montado em operaes de Controle de Distrbios Civil em rea urbana. Assunto de fundamental importncia quando se fala em segurana pblica. No estado democrtico de direito em que hoje vive o pas, a preocupao dos rgos responsveis pela preservao da ordem pblica deve ser constante. A preparao para se atuar em todas as ocasies elemento imprescindvel, pois, desde a realizao de um simples policiamento ostensivo a de um repressivo, todos os quesitos tcnicos devem ser seguidos, no podendo haver excusas de qualquer espcie para se justificar equvocos que venham a redundar em prejuzos para o Estado, para a comunidade ou para o cidado em particular. Nesse sentido, seguir-se uma doutrina devidamente amparada pela legislao e adequada a cada caso, deve ser um objetivo perene para as polcias militares, o que inevitavelmente surtir os efeitos esperados, quais sejam, o de se cumprir a misso constitucional delegada a esses rgos, ou seja, a preservao da ordem pblica.

Palavras-chave: Segurana Pblica, Polcia Militar, Policiamento Montado e Controle de Distrbios Civis.

SUMRIO

1. Captulo I Introduo ........................................................................................................ 12 2. Captulo II Situao Geral ................................................................................................ 15 3. Captulo III - O papel da Polcia Militar nas Operaes de Controle de Distrbios Civis a luz da legislao ................................................................................................................. 21 4. Captulo IV A abordagem do emprego no campo ttico

................................................................................................................................................. 27 4.1. Conceitos bsicos ...................................................................................................... 28 4.2. Fatores que influenciam no comportamento do indivduo ........................................ 31 4.3. Causas dos distrbios civis ........................................................................................ 33 4.4. Aes que podem ser desencadeadas contra a tropa de choque ................................ 34 4.5. Prioridade no emprego dos meios .............................................................................. 37 4.6. A ordem unida da tropa de choque montada ............................................................. 40 4.7. O emprego conjunto da tropa montada com a tropa a p .......................................... 59 4.8. A rea urbana como local de atuao .................................................................................................................................... 60 5. Captulo V A abordagem do emprego no campo logstico ............................................. 63 5.1. Equipamentos utilizados pela tropa de choque montada ........................................... 63 5.1.1. Equipamentos para o policial .................................................................... 64 5.1.2. Equipamentos para o cavalo ..................................................................... 67 5.2. Procedimentos a serem adotados na atuao da tropa ............................................... 68 6. Captulo VI Concluso .................................................................................... ................73 7. Bibliografia

LISTA DE FOTOS

Foto n 01 Polcia Montada em Buenos Aires, Argentina. Fonte: Arquivo Pessoal; Fotos n 02 e 03 - Polcia Montada em Atenas, Grcia. Fonte: Arquivo Pessoal; Fotos n 04 e 05 Polcia Montada em Roma, Itlia. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 06 Polcia Montada em Nova Iorque, Estados Unidos da Amrica. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 07 - Polcia Montada em Assuno, Paraguai. Fonte: Arquivo Pessoal; Fotos n 08 e 09 - Polcia Montada em Londres, Inglaterra. Fonte: Arquivo Pessoal; Fotos n 10 a 16 Manifestao em Braslia, Distrito Federal. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 17 Capacete com viseira. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 18 Cotoveleira e ombreira. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 19 Cotoveleira e ombreira. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 20 Joelheira e caneleira. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 21 Colete protetor para o trax. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 22 Cacetete. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 23 Espada de policiamento. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 24 Mscara contra gases. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 25 Equipamento completo para o policial. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 26 Policial a cavalo com todo o material. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 27 Cabeada com viseira e protetor para o trax. Fonte: Arquivo Pessoal; Foto n 28 Cabeada Cotoveleira e ombreira. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 29 Peitoral com nvel de proteo. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 30 Joelheira e caneleira. Fonte: 3 Seo do RCR; Foto n 31 Queda de cavalo e cavaleiro durante operao. Fonte: Arquivo Pessoal.

LISTA DE FIGURAS

Figura n 01 Formao em Esquadra; Figura n 02 Peloto de Choque Montado; Figura n 03 Formao em Coluna por um; Figura n 04 Formao em Coluna por dois; Figura n 05 Formao em Coluna por trs; Figura n 06 Formao em Linha; Figura n 07 Formao em Batalha; Figura n 08 Formao em Fileira; Figura n 09 Abrir e unir fileiras;Formao em Coluna por um; Figura n 10 Formao em Cunha; Figura n 11 Escalo direita; Figura n 12 Escalo esquerda; Figura n 13 Formao em Losango; Figura n 14 Mudana de direo e converso; Figura n 15 Formao em Linha com apoios laterais; Figura n 16 Formao em Cunha com apoios laterais Figura n 17 Formao em Cunha com apoio central; Figura n 18 Escalo direita com apoio lateral; Figura n 19 Escalo esquerda com apoio lateral.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Art. artigo; CAP Capito; CAV Cavalaria CB Cabo; CDC Controle de Distrbios Civis; CFN Corpo de Fuzileiros Navais; CF 88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988; E Esquadra; EB Exrcito Brasileiro; EUA Estados Unidos da Amrica; n - nmero; p. Pgina; PM Polcia Militar; PMDF Polcia Militar do Distrito Federal; PMERJ Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro; PMESP Polcia Militar do Estado So Paulo; RCR Regimento Coronel Rabelo; Res. Reserva; RPMon Regimento de Polcia Montada; SD Soldado; SGT Sargento; TEN Tenente.

CAPTULO I

INTRODUO

Com a promulgao da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, estabeleceu-se no pas uma situao efetiva de estado democrtico de direito, em que, tem-se como caracterstica principal nessa conjuntura a liberdade de expresso em um sentido extremamente amplo, comparando-se com o regime que anteriormente vigia. Esse novo quadro encontra sua substncia no texto do art. 5, que assim diz:Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: ... IV livre a manifestao do pensamento, sendo vedado anonimato.

Com isso, abriu-se um espao significativo para que a sociedade pudesse manifestar suas insatisfaes acerca dos acontecimentos poltico, social e religioso do Brasil. Observando-se, ainda, a Carta Magna, pode-se constatar o acima exposto, estando legitimadas as reunies populares, encontrando no inciso XVI do mesmo artigo acima citado, que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente. Interpretando-se o texto acima colocado, fica clara a existncia de algumas restries, quais sejam: as reunies devem ser pacficas, sem armas, em locais abertos ao pblico, no devem frustrar uma outra reunio convocada anteriormente para o mesmo local e a autoridade competente deve ser avisada previamente a respeito do evento. Com a violao desses quesitos, surge, ento, uma situao tendente quebra da ordem pblica, pois, a interferncia por parte do Estado ser necessria, haja vista o descumprimento de um mandamento legal. Nesse contexto estabelecido, cabe Administrao intervir com o fito de restabelecer ou at mesmo manter a convivncia harmoniosa entre os cidados, utilizando-se dos meios de que dispe para faz-lo a todo custo. Nesse liame, a Polcia Militar (PM) surge como o primeiro

brao do Estado em condies de agir com preparo tcnico adequado frente ao distrbio desencadeado. Desse modo, a presente pesquisa tem com objetivo analisar o papel da PM nas operaes de Controle de Distrbios Civis (CDC) em rea urbana, utilizando-se o Policiamento Montado. Essa anlise buscar, primeiramente, verificar como as diversas instituies policiais militares do Brasil e do Mundo, incluindo-se a o Exrcito Brasileiro, vm empregando esse processo de policiamento, fazendo-se uma abordagem quanto doutrina utilizada e o emprego efetivo dessas tropas em operaes reais. Em seguida, sero expostas as circunstncias de emprego da PM, com especial ateno ao embasamento jurdico que calca essas aes, haja vista a sutileza e complexidade com que deve ser tratada qualquer operao desse tipo, observando-se isso de uma maneira geral, ou seja, do planejamento execuo propriamente dita. Ainda nessa linha, convm esclarecer que as exposies sero voltadas para o emprego da Cavalaria, pois, as especificidades relativas as suas aes jamais devem ser olvidadas, necessitando-se de muitos cuidados em sua utilizao, haja vista a fora de seu emprego e o impacto que o binmio homem-cavalo infunde na populao, fatos esses que poderiam desencadear uma situao de maior gravidade que a anterior, no sendo pertinente em nenhum momento afastar-se dos aspectos tcnicos imprescindveis utilizao desse processo. Vencida essa questo atinente ao amparo legal que norteia as atividades da cavalaria policial militar nas operaes de CDC, sero feitas consideraes sobre o emprego da tropa no campo da ttica, ou seja, sobre os aspectos tcnicos. Esses sero elencados no que diz respeito forma como a tropa deve atuar no terreno, observando-se algumas variveis, que vo desde o comportamento dos membros da fora adversa, at as peculiaridades do local em que ocorrer a operao, pontos esses que devem ser esmiuados exaustivamente no planejamento correspondente. A verificao minuciosa dessas nuances determinaro uma execuo consciente e controlada da misso, reduzindo ao mximo a probabilidade de equvocos que redundariam em transtornos nas esferas administrativa e judicial aos diversos escales empenhados, sendo esse um dos objetivos do preparo tcnico adequado. Realizando um trabalho conjunto e no menos importante, a logstica relativa ao assunto em epgrafe ser detalhadamente observada, sendo levantadas as medidas administrativas concernentes s operaes de CDC, pois, essas providncias a serem tomadas antes, durante e

depois da ao policial refletem diretamente no desempenho da tropa e no cumprimento da misso, ditando em grande parte o potencial de atuao do efetivo, haja vista a disposio dos meios condizentes e necessrios ao grau de preparo tcnico do grupamento. Com a anlise desses pontos, almeja-se atingir os objetivos anteriormente propostos, iniciando-se uma incansvel busca da excelncia em bem cumprir a misso constitucional destinada Polcia Militar, qual seja, a de preservao da ordem pblica nas respectivas Unidades Federativas. Para isso se faz imprescindvel a regulamentao dessas aes, criando-se uma doutrina formalmente estabelecida no mbito das Corporaes, circunstncia essa que traz o resguardo necessrio Administrao Pblica, aos policiais militares que estaro no front e, principalmente, s pessoas envolvidas no conflito no que diz respeito integridade fsica de cada um, pois, a preocupao em utilizar-se da tcnica mais conveniente e oportuna nesses casos extremos falam em muito da responsabilidade profissional que as Corporaes, movidas pelos seus administradores, tm com a sociedade brasileira.

CAPTULO II

SITUAO GERAL

Iniciando-se a presente pesquisa, que tem como objetivo verificar a real situao do emprego da tropa de choque montada em operaes de Controle de Distrbios Civis (CDC) em rea urbana, procurar-se- trazer neste captulo uma viso geral de como as polcias militares do Brasil esto trabalhando nessa seara. Buscar-se- demonstrar o preparo das cavalarias policiais no tocante s aes de CDC, observando-se as condies tcnica e logstica, bem como a doutrina de emprego. Dentro ainda do que estiver disponvel, sero vistas algumas organizaes policiais de outros pases, traando-se um comparativo do trabalho por eles desenvolvidos com o que aqui realizado. Antes de tudo, convm colocar a importncia da tropa montada nas aes de CDC, que com a utilizao do binmio homem-cavalo, no perde seu valor, mesmo com o constante desenvolvimento tecnolgico que ocorre no cenrio mundial no que concerne s atividades de segurana pblica. Sendo uma secular arma de guerra, o homem, juntamente com o cavalo, conquistou imprios por meio de hericas batalhas, em que, atravs da fora das cargas, por muitas geraes no houve tropa que fizesse p s aes da cavalaria ligeira. Com o advento das armas de fogo, viu-se seu poder reduzido, pois, a distncia conseguia-se atingir os soldados e suas montadas. Mesmo com isso, a cavalaria jamais perdeu sua fora de aniquilar as tropas inimigas. Um exemplo claro disso, guardando-se as devidas propores, est na necessidade que os rgos de segurana pblica possuem em ter sempre a mo uma tropa montada, que em muito representa nas operaes de CDC. Nessas aes, a cavalaria atua de maneira decisiva, pois, quando a tropa de choque a p no obtm xito na inteno de dispersar a fora adversa, a cavalaria entra como ltimo recurso, sendo ponto decisivo na continuidade ou no do estado de desordem. Com a simples entrada da tropa montada no cenrio do distrbio, os integrantes da turba podem vir a repensar sobre seus intuitos, cessando, assim, a perturbao. Se somente isso no se fizer suficiente, vrios so os recursos tcnicos disponveis para que se contenha a turba e provoque sua disperso.

Reconhecendo-se esses aspectos, muitos so os Estados que mantm em suas polcias uma cavalaria atuante, pois, com a conjuntura democrtica que domina o pas e o mundo, vrios so os eventos populares que se desdobram em graves distrbios civis, se fazendo, ento, necessria a presena desse processo de policiamento, que muitos julgam ser demasiadamente oneroso, todavia, seus benefcios cobrem com folga seus custos. Partindo-se desses pressupostos, passa-se a verificar como o Brasil, atravs de suas polcias militares, vem mantendo suas unidades de tropa montada, observando-se os principais aspectos no que tange atuao em operaes de CDC. Realizada uma pesquisa em vrios Estados da Federao, verificou-se um quadro negativo na organizao da maioria das unidades de cavalaria. Apesar de quase todos os Estados possurem em suas polcias militares uma unidade de tropa montada, pouco se observa de doutrina no que diz respeito ao emprego do processo montado nos diversos tipos de policiamento. Com algumas excees, no se tem manuais devidamente publicados que venham a consubstanciar a doutrina do processo montado. Restringindo-se ao tema da presente pesquisa, o emprego em operaes de CDC, verifica-se uma pior situao, no existindo no pas um manual devidamente publicado que traga o referido assunto tratado de maneira criteriosa e especfica. Essa situao demonstra uma certa despreocupao no que diz respeito ao melhoramento no preparo da tropa montada para as aes de CDC, assunto que deve ser objeto de grande ateno, haja vista o rigor com que deve ser conduzido, pois, so situaes extremamente delicadas e que requerem um preparo tcnico minuciosamente lapidado. Com exceo das polcias militares dos Estados do Acre, Amap, Rondnia e Tocantins, as demais possuem um efetivo de tropa montada, quer seja Regimento ou Esquadro. Entretanto, pouco se tem a respeito do emprego especfico em aes de CDC, predominando a prtica do policiamento ostensivo ordinrio, tipo de policiamento extremamente importante e que mantm a cavalaria nos diversos Estados, pois, a variedade de fundamentos contidos no processo de policiamento a cavalo, muitas vezes, faz com que a populao exija a presena dos conjuntos zelando por sua segurana. Em virtude disso, observando-se, ainda, outras variveis, tem-se a explicao do fato de a maioria dos polcias militares no estarem atentas ao emprego da cavalaria nas operaes de que trata o projeto em tela, exigindo isso uma srie de investimentos que em grande parte dos casos no esto disponveis para novas empreitadas.

Estando em destaque no quadro nacional, tm-se as polcias militares dos Estados de So Paulo, Minas Gerais e do Distrito Federal. Essas corporaes vm envidando esforos no sentido de proporcionar a seus policiais uma melhor qualificao para atuao em aes de CDC, pois, o cenrio scio-poltico de seus estados exige que a polcia militar esteja devidamente organizada para atuar em ocasies de grave perturbao da ordem. A Polcia Militar do Estado de So Paulo (PMESP), representada pelo secular Regimento 9 de julho, com sua inegvel experincia, a unidade que melhor representa a polcia montada do pas. Todo seu efetivo de policiamento se encontra teoricamente preparado para atuar em aes de choque, pois, o Curso de Tropa Montada ministrado na unidade assim os capacita. Tem-se essa exigncia haja vista o 9 de Julho ser uma das unidades que compe o Comando de Policiamento de Choque, comando esse que rene algumas unidades voltadas exclusivamente para atuar em operaes de CDC. Com relao doutrina seguida, tem-se o manual desenvolvido em 1995 pelo ento CAP Alberto Nubie Policastro, na ocasio do projeto monogrfico como requisito para o Curso de Aperfeioamento de Oficiais. Nesse trabalho esto inclusos todos os procedimentos, vistos de uma forma geral, desenvolvidos pelo 9 de Julho, servindo de base para a padronizao de aes na unidade. Com relao parte logstica, so utilizados somente os equipamentos bsicos de segurana, como capacete e colete balstico, sendo essa uma deficincia por no fornecer condies ideais de segurana aos policiais e cavalos. A Polcia Militar de Minas Gerais, com o Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes, tambm, com uma longa histria, um marco da cavalaria policial no Brasil, servindo de referncia para as demais corporaes. O emprego do policiamento montado, principalmente na capital do Estado, Belo Horizonte, bastante expressivo, em que, a sua utilizao est voltada, basicamente, para a preveno. No que tange ao emprego em aes de choque, no se tem aspectos relevantes que o diferencie das demais corporao, com exceo, da qualidade dos cavalos que compe o plantel da unidade. Hoje, a maioria dos animais da raa Brasileiro de Hipismo, que tem como caracterstica principal o porte e a calma, elementos essenciais para o emprego em operaes de CDC. Quanto ao material utilizado, tambm, no se observa qualquer inovao, sendo usadas as peas bsicas de encilhagem e proteo do policial. A Polcia Militar do Distrito Federal (PMDF), atravs do Regimento de Polcia Montada (RPMon), Regimento Coronel Rabelo (RCR), deu um importante passo, ministrando o

primeiro curso no Brasil voltado especificamente para especializar o policial da cavalaria na atuao em operaes de CDC, ministrando disciplinas que proporcionam ao homem uma viso geral da questo, tais como, noes de direito aplicado ao tema, higiene e socorros de urgncia, doutrina de direitos humanos, doutrina de distrbios civis, entre outras, sendo denominado como Curso de Operaes de Choque Montado. Para sua realizao, todas as corporaes policiais do pas foram consultadas a respeito de conhecimentos relativos ao assunto, sendo feito contato, tambm, com algumas organizaes de outros pases, no se obtendo qualquer resposta. Mesmo com a falta de experincias, os resultados obtidos foram extremamente satisfatrios, conseguindo-se aumentar a doutrina de choque da unidade e promover a aquisio de novos equipamentos de segurana para os policiais e cavalos. Feita essa anlise de como as unidades de cavalaria policial do Brasil vm empregando sua tropa em operaes de CDC, poucos destaques foram observados, faltando, na maioria dos casos, recursos financeiros s corporaes que possibilitem investir na melhoria desse processo de policiamento voltado para o Controle de Distrbios Civis. Com relao ao preparo das polcias montadas no cenrio mundial, pouco se conseguiu de informaes idneas a respeito dos trabalhos por eles desenvolvidos. No se chegou fontes oficiais que prestassem informaes seguras dos procedimentos por eles efetivados. Foram levantadas somente fotos de algumas tropas em atuao, em que, pouco se viu de diferente do modo como ocorre no Brasil. Em alguns casos, se observou a utilizao de materiais de proteo para o homem e cavalo, o que j potencializa de maneira relevante o poder de emprego da tropa montada. Sendo assim, tm-se abaixo algumas fotos demonstrando o acima colocado. Foto n 01 Polcia Montada em Buenos Aires, Argentina. Observa-se que os cavalos no utilizam qualquer equipamento de proteo e os policiais somente o capacete.

Fotos n 02 e 03 Atuao da Polcia Montada em Atenas, Grcia. Observa-se os cavalos munidos de protetores de chanfro com viseira e caneleiras. Os policiais se utilizam capacetes com viseira e coletes protetores de trax.

Fotos n 04 e 05 Polcia em Roma, Itlia. Cavalos com protetores de chanfro e policiais somente com capacetes com viseira.

Foto n 06 Nova York, Estados Unidos.

Foto n 07 Tropa Montada em Assuno, Paraguai. Cavalos sem qualquer material protetor e policiais com somente capacetes.

Fotos n 08 e 09 Treinamento realizado em Londres. Os cavalos so preparados para lidarem com fogo e variados tipos de objetos, condio essencial para o emprego em aes de CDC.

CAPTULO III

O PAPEL DA POLCIA MILITAR NAS OPERAES DE CONTROLE DE DISTRBIOS CIVIS A LUZ DA LEGISLAO

Iniciando-se esse importante captulo, que tem como principal objetivo justificar com base na legislao vigente o emprego da Polcia Militar nas operaes de CDC, convm seguir-se a Lei Mxima do pas, ou seja, a Constituio Federal de 1988 (CF 88), sendo ela a norma reguladora do Estado, ditando as responsabilidades e incumbncias dos diversos rgos da Administrao Pblica. Essa importncia se deve ao Princpio da Legalidade que rege os atos administrativos, no cabendo improvisaes ao bem querer dos agentes, pois, essas, geralmente, redundam em aes desastrosas, prejudicando como um todo a correta atuao do poder constitudo. Com isso, a CF 88 (1998), em seu art. 144, traz o seguinte:Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos: I polcia federal; II polcia rodoviria federal; III polcia ferroviria federal; IV polcias civis; V polcias militares e corpos de bombeiros militares. (...) 5 - s polcias militares cabem a polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica; aos corpos de bombeiros militares, alm das atribuies definidas em lei, incumbe a execuo de atividades de defesa civil; 6 - As polcias militares e corpos de bombeiros militares, foras auxiliares e reserva do Exrcito, subordinam-se, juntamente com as polcias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios; 7 - A lei disciplinar a organizao e o funcionamento dos rgos responsveis pela segurana pblica, de maneira a garantir a eficincia de suas atividades.

Com relao ao texto acima colocado, observa-se que alguns pontos merecem um maior destaque, levando-se em considerao a sua relevncia conceitual e interpretativa do ponto de vista legal, sendo esses determinantes para a atuao das polcias militares. O primeiro diz da Segurana Pblica, sendo o dever que o Estado tem de proporcionar Nao uma situao

harmnica de convivncia entre os cidados, no permitindo a ocorrncia de violaes da lei de toda espcie, sendo esse um dever intransfervel. Nesse contexto surge a Ordem Pblica, devidamente conceituada pelo Decreto n 88.177 (1983) nos seguintes termos:Art 2 - Para efeito do Decreto-Lei n 667, de 02 de julho de 1969, modificado pelo Decreto-Lei n 1.406, de 24 de julho de 1975, e pelo Decreto-Lei n 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e deste Regulamento, so estabelecidos os seguintes conceitos: 21) Ordem Pblica Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurdico da Nao, tendo por escopo regular as relaes sociais de todos os nveis, do interesse pblico, estabelecendo um clima de convivncia harmoniosa e pacfica, fiscalizado pelo poder de polcia, e constituindo uma situao ou condio que conduza ao bem comum.

Esse conceito engloba de maneira genrica as misses da PM, pois, traz de uma forma extremamente abrangente as responsabilidades que os constitucionalistas queriam incumbir s instituies policiais militares, quando citaram a respeito da preservao da ordem pblica. Complementando o conceito recentemente citado quanto s possibilidades de sua desordem, o mesmo artigo elabora, ainda, os seguintes conceitos:14 Grave Perturbao ou Subverso da Ordem Corresponde a todos os tipos de ao, inclusive as decorrentes de calamidade pblica, que por sua natureza, origem, amplitude, potencial e vulto: a) superem a capacidade de conduo das medidas preventivas e repressivas tomadas pelos Governos Estaduais; b) sejam de natureza tal que, a critrio do Governo Federal, possam vir a comprometer a integridade nacional, o livre funcionamento de poderes constitudos, a lei, a ordem e a prtica das instituies; c) impliquem na realizao de operaes militares; ... 25) Perturbao da Ordem Abrange todos os tipos de ao, inclusive as decorrentes de calamidade pblica que, por sua natureza, origem, amplitude e potencial possam vir a comprometer, na esfera estadual, o exerccio dos poderes constitudos, o cumprimento das leis e a manuteno da ordem pblica, ameaando a populao e propriedades pblicas e privadas. As medidas preventivas e repressivas neste caso esto includas nas medidas de Defesa Interna e so conduzidas pelos Governos Estaduais, contando ou no com o apoio do Governo Federal.

Conhecer tanto o conceito chave, como as situaes que o derrubam, tambm fundamental para que haja uma compreenso geral da questo, em que, a partir da se obter o condicionamento especfico no que tange aos conhecimentos necessrios a respeito da matria de que trata a presente pesquisa. No tocante significao de polcia ostensiva, o artigo segundo do Decreto n 88.177/83 cita que o policiamento ostensivo a ao policial, exclusiva das Polcias Militares em cujo emprego o homem ou frao de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manuteno da ordem pblica. Esse conceito

define de maneira categrica o que vem a ser a polcia ostensiva, delimitando no campo de sua atuao somente as polcias militares, no sendo, ento, pertinente que quaisquer outras instituies que no essas sequer tangenciem nessa seara, conforme o estabelecido no texto da legislao acima citada. Tem-se agora importante considerao acerca do 7 do art. 144 da CF 88, pois, o seu texto traz expressamente que a lei disciplinar a organizao e o funcionamento dos rgos responsveis pela segurana pblica, de maneira a garantir a eficincia de suas atividades. Todavia, aps a promulgao dessa Carta, nada foi institudo com o intuito de ditar normas reguladoras para a atividade dos rgos de segurana pblica, permanecendo, ainda, o DecretoLei n 667, de 02 de julho de 1969 e suas alteraes, sendo a ltima feita em setembro de 1983, com o Decreto n 88.177. Com base nesse fato, pode-se considerar que a preocupao dos legisladores em regular o exerccio de segurana pblica, atravs de seus rgos, est bastante diminuta, situao essa que tem como atual reflexo a desorganizao dessas instituies e em alguns casos um verdadeiro quadro de insegurana em determinadas Unidades da Federao. Longe de avaliar no cerne a problemtica dessa questo, o que levaria a uma fuga do tema proposto, cabe-se, ento, utilizar-se da referida norma para que se alcance os objetivos propostos. Nesse sentido, o Decreto-Lei n 677 (1969) diz o seguinte em seu art. 3:Art. 3 - Institudas para a manuteno da ordem pblica e segurana interna nos Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, compete s Polcias Militares, no mbito de suas respectivas jurisdies: a) Executar com exclusividade, ressalvadas as misses peculiares das Foras Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pelas autoridades policiais competentes a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manuteno da ordem pblica e o exerccio dos poderes constitudos; b) Atuar de maneira preventiva, como fora de dissuaso, em locais ou reas especficas, onde se presuma ser possvel a perturbao da ordem; c) Atuar de maneira repressiva, em caso de perturbao da ordem, precedendo o eventual emprego das Foras Armadas; d) Atender s convocaes do Governo Federal, em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave subverso da ordem ou ameaa de sua irrupo, subordinando-se ao Comando das Regies Militares para emprego em suas atribuies especficas de polcia militar e como participante da Defesa Territorial.

Estando transparente o rol de competncias atinentes s PM, procura-se, agora, delimitar o campo de atuao da tropa de choque. Antes, deve-se, ainda, esclarecer o que vem a ser manuteno da ordem pblica, havendo, entretanto, uma pequena alterao no texto da Constituio, trocando-se o termo manuteno por preservao, circunstncia essa que no

vem a alterar o perfeito entendimento do texto que se segue, extrado, tambm do art. 2 do Decreto n 88.177 (1983):19) Manuteno da Ordem Pblica o exerccio dinmico do poder de polcia, no campo da segurana pblica, manifestado por atuaes predominantemente ostensivas, visando a prevenir e/ou coibir a prtica de infraes penais e a dissuadir e/ou regular os eventos perturbadores da ordem, para garantir a coexistncia pacfica no seio da comunidade.

Com essas conceituaes, pode-se ter uma idia do que vem a ser a misso da Polcia Militar, observando-se suas responsabilidades dentro de um contexto geral. Mais especificamente, tm-se as situaes (alneas b e c) em que se exige uma atuao mais representativa e contundente da Administrao, momentos esses nos quais utilizar-se- as tropas de choque, que so grupamentos com preparo tcnico-profissional especfico nessas lidas, haja vista apresentarem variveis distintas das presentes em ocasies rotineiras de policiamento ostensivo geral, pois, na maioria dos casos, as pessoas que compem a fora adversa so cidados comuns envolvidos pelas circunstncias do contexto em que esto momentaneamente inseridos, longe de serem taxados como infratores contumazes, como ocorre em grande parte das ocorrncias policiais do dia-a-dia. Como em qualquer atuao policial militar, nas operaes de CDC o instituto Poder de Polcia, contedo amplamente discutido na doutrina do Direito Administrativo, embasa as aes discricionrias destinadas ao cumprimento da lei. Tm-se agora algumas definies do que vem a ser essas poucas palavras que em muito representam na preservao da conjuntura democrtica de um pas. Hely Lopes Meirelles (2002, p. 127), assim escreve:Poder de Polcia a faculdade de que dispe a Administrao Pblica para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefcio da coletividade ou do prprio Estado. ... Em linguagem menos tcnica, podemos dizer que o poder de polcia o mecanismo de frenagem de que dispe a Administrao Pblica para conter os abusos do direito individual. Por esse mecanismo, que faz parte de toda Administrao, o Estado detm a atividade dos particulares que se revelar contrria, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao desenvolvimento e segurana nacional.

Seguindo a mesma linha do autor anteriormente citado, Jos Cretella Jnior (1995, p. 542) diz que o Poder de Polcia pode ser entendido como a faculdade discricionria da Administrao de limitar, dentro da lei, as liberdades individuais em prol do interesse coletivo Com base nas concluses e estudos de doutrinadores renomados do direito brasileiro, a Administrao Pblica tem por obrigao combalir os indivduos que venham a extrapolar as

suas esferas individuais de direito, utilizando-se dos meios de que dispe, em que, na maioria dos casos, so as instituies policiais militares. Sendo assim, com essa norma taxativa e permissiva, pode-se, inclusive, utilizar-se do uso da fora nos casos em que houver essa necessidade. Essa taxao traz uma significao de poder-dever de agir do Estado, momento em que o atributo coercitivo do poder de polcia entra em tela, cabendo, assim, a avaliao das circunstncias do modo como ser utilizado o brao forte em prol da coletividade. Remetendo-se, novamente, a Meirelles (2002, p. 101, 134), tem-se a seguinte considerao:O poder-dever de agir da autoridade pblica hoje reconhecido pacificamente pela jurisprudncia e pela doutrina. O poder tem para o agente pblico o significado de dever para com a comunidade e para com os indivduos, no sentido de que quem o detm est sempre na obrigao de exercit-lo. ... O poder do administrador pblico, revestindo ao mesmo tempo o carter de dever para a comunidade, insuscetvel de renncia pelo titular. Tal atitude importaria fazer liberalidades com o direito pblico alheio, e o Poder Pblico no , nem pode ser, instrumento de cortesias administrativas. / A coercibilidade, isto , a imposio coativa das medidas adotadas pela Administrao, constitui tambm atributo do poder de polcia. Realmente, todo ato de polcia imperativo (obrigatrio para seu destinatrio), admitindo at o emprego da fora pblica para seu cumprimento, quando resistido pelo administrado. ... O tributo da coercibilidade do ato de polcia justifica o emprego da fora fsica quando houver oposio do infrator, mas no legaliza a violncia desnecessria ou desproporcional resistncia, que em tal caso pode caracterizar o excesso de poder e o abuso de autoridade nulificadores do ato praticado e ensejadores das aes civis e criminais para reparao do dano e punio dos culpados.

Dirimidos os itens conceituais de ordem legal que norteiam a atuao da Administrao Pblica nas ocasies da presente pesquisa, demonstra-se agora as misses de um policiamento especializado de choque, quais sejam: 1. Controle de distrbios civis em manifestaes pblicas; 2. Policiamento em eventos esportivos; 3. Reintegrao de posses (rea pblica ou privada); 4. Policiamento preventivo e repressivo em estabelecimentos prisionais. Conforme delimitao do tema do projeto, ser estudada somente a primeira situao, o controle de distrbios civis em manifestaes pblicas, restringindo-se ao ambiente urbano, local onde h sua maior ocorrncia. Esses eventos so de extrema complexidade e abarcam uma srie de questes e providncias com o intuito de guarnecer a atuao da tropa e, de um modo geral, a do Estado, primeiro responsvel no objetivo de preservar e restabelecer a convivncia harmnica no seio da comunidade. Para tanto, sero vistos, primeiramente, os quesitos de ordem ttica, que

engloba a preparao tcnica do grupamento de choque, evidentemente, trazendo-se essa observao em especfico para uma tropa de policiamento montado, o que requer uma srie de observaes, tendo-se em vista a incluso do elemento cavalo.

CAPTULO IV

A ABORDAGEM DO EMPREGO NO CAMPO TTICO

Vistos os aspectos relativos ao embasamento jurdico que cerceia as aes da Polcia Militar nas operaes de Controle de Distrbios Civis, ser realizada neste captulo uma abordagem do tema no que diz respeito ttica do emprego da tropa montada. Quando se fala em ttica, se fala da tcnica a ser adotada nas aes de CDC. O preparo tcnico-profissional das tropas de choque envolve uma srie de quesitos imprescindveis a sua atuao, em que, o bom cumprimento da misso, alcanando-se os resultados esperados, est proporcionalmente ligado assimilao dos procedimentos a serem adotados. Esses englobam desde o conhecimento da doutrina, at o papel de cada componente do grupamento nas circunstncias efetivas de emprego, ou seja, em situaes reais que exijam uma pronta interveno. Partindo-se desse pressuposto, convm analisar os seguintes tpicos: conceitos bsicos, os fatores que influenciam no comportamento do indivduo, as causas dos distrbios civis, as aes que podem ser desencadeadas contra a tropa de choque, a prioridade no emprego de meios, a ordem unida da tropa montada, o emprego conjunto da tropa montada com a tropa a p e a rea urbana como local de atuao. Para isso, em muito se seguir a doutrina da Polcia Militar do Distrito Federal, que, apesar de no possuir manuais devidamente publicados, se norteia pelas notas de aula (apostilas) que so utilizadas nos cursos de especializao relativos ao assunto. No Regimento de Polcia Montada ocorre periodicamente o Curso de Policiamento Montado, nos nveis oficiais, subtenentes/sargentos e cabos/soldados. Esse curso se destina a formar policiais militares para a prtica do policiamento montado ostensivo, em que, so ministradas vrias matrias, se destacando entre elas a ordem unida da tropa montada, pr-requisito fundamental para a atuao em CDC. Mesmo com os policiais do RPMon estando devidamente qualificados para exercerem o processo de policiamento a cavalo, o Comando da Unidade percebeu uma srie de deficincias relativas questo ttica da tropa de choque montada. Para tanto, no incio do corrente ano foi institudo o Curso de Policiamento de Choque Montado, ao pioneira no Brasil, pois, as polcias

militares dos demais Estados da Federao, tambm, no possuam, e nem possuem, um curso destinado exclusivamente para formar militares especialistas na atuao em operao de CDC. Sendo assim, doutrina que o Regimento j possua, agregaram-se os polgrafos do Batalho de Operaes Especiais da PMDF, o que permitiu a mescla de conhecimentos tcnicos, enriquecendo, assim, a doutrina de choque da Corporao, iniciando-se, tambm, estudos e experimentaes para o emprego conjunto dos dois processos, o choque a p e o montado.

1. CONCEITOS BSICOS Nesse item, sero utilizadas citaes das apostilas do curso acima detalhado e, ainda, do Manual de Controle de Distrbios Civis do Exrcito Brasileiro (EB), doutrina seguida pelas polcias militares do Brasil, sendo um ponto positivo no que tange uniformidade de conhecimentos, estando esses rgos direcionados para o mesmo horizonte, ou seja, utilizando-se da mesma linguagem tcnica.

a. Perturbao da Ordem A apostila da PMDF (2001, p. 07) traz que so todos os tipos de aes que comprometam, prejudiquem ou perturbem as organizaes sociais, pondo em risco as atividades e os bens pblicos e privados. Esse conceito sintetiza a denominao que foi dada ao termo no captulo anterior segundo a legislao citada, tratando de forma abrangente as situaes que venham a caracterizar uma desordem no estado de convivncia harmnica e pacfica dentro da sociedade. Faz-se importante observar os verbos utilizados nessa oportunidade (comprometer, prejudicar ou perturbar), enumerando trs ocasies genricas em que a autoridade utilizar-se- da faculdade discricionria, avaliando a convenincia ou no de utilizar-se da fora de que o Estado dispe para cessar a alterao da ordem.

b. Aglomerao

Segundo o Manual do EB (1973, p. 01), o grande nmero de pessoas temporariamente reunidas, agindo e pensando de forma isolada, podendo resultar de uma situao no provocada e de forma temporria.Com relao s aglomeraes, cita-se o exemplo de uma greve relmpago no transporte pblico, que para afetar ao mximo as pessoas que dela dependem no dia-a-dia, so realizadas nos horrios de pico. Com esse acontecimento, o acmulo de pessoas nas rodovirias e pontos de nibus ser efetivo, podendo desencadear uma srie de revoltas, tendentes ocorrncia de depredaes e outras desordens. O controle antecipado desses eventos se faz necessrios para que no se alastre, gerando uma grave perturbao da ordem.

c. Multido O mesmo Manual (1973, p. 01) coloca como uma aglomerao psicologicamente unificada por interesse comum, ou seja, caracteriza-se pelo pronome ns, podendo ser para fins de protesto ou solidrio. Tem-se como exemplo o pblico em um jogo de futebol, em que, geralmente, se observa duas torcidas simpticas a um ou a outro time. Cada uma se encontra psicologicamente unificada, sendo solidrias as suas equipes.

d. Manifestao De acordo com a mesma obra (1973, p. 01), tem-se que a demonstrao por pessoas reunidas de sentimento hostil ou simptico determinada autoridade ou a alguma

situao de carter poltico. Inmeros so os casos de manifestaes contra decises de cunha poltico. Essas situaes so potencialmente favorveis ao surgimento de um distrbio, pois, em nvel de hostilidade grande, existindo alguns de seus componentes devidamente orientados para iniciarem uma ao de desordem.

e. Turba O Manual de CDC do Exrcito (1973, p. 02), traz esse conceito como uma multido em desordem ou sob estmulo de intensa excitao ou agitao, perdendo o senso da razo e o respeito lei. A turba pode ser agressiva, predatria ou em pnico Sid Heal, Oficial Especialista Chefe (Res) do CFN dos EUA, e matria publicada na revista Military Review (2001, p. 58), cita o dramaturgo grego Eurpedes na obra Orestes, que em 408 AC colocou que turbas, em suas emoes, so como crianas, sujeitas s mesmas demonstraes de raiva e ataques. Os indivduos envolvidos nessa condio, geralmente, esto aptos a praticarem aes que em circunstncias normais jamais pensariam em faz-lo. Sendo assim, a ateno dos comandantes quanto a esse ponto deve ser constante, pois, conhecedores disso, devem trabalhar para que a atuao da tropa no venha a exacerbar essas reaes, principalmente, quando se fala do emprego do processo montado, sendo o cavalo, para muitos, motivo de elevado respeito, chegando a gerar um medo incontrolvel. Na condio de turba, a reao nessas propores de somente alguns indivduos pode se alastrar para os demais, agravando ainda mais o quadro j instalado. f. Tumulto

Visto pelo Manual do EB (1973, p. 01) como o desrespeito ordem levado a efeito por vrias pessoas em apoio a desgnio comum de realizar certo empreendimento, por meio de ao planejada a quem a elas se opor. Formado por um grupo de pessoas com objetivo predeterminado, sendo as aes devidamente planejadas para que no haja empecilhos na sua

consecuo. Tem-se um exemplo nas invases de prdios pblicos efetivadas pelo Movimento dos Sem Terra, que, enfrentando aqueles que se ope, as realizam de uma forma ou de outra.

g. Calamidade Pblica

De acordo com o mesmo manual (1973, p. 02), so as situaes de emergncia causadas por fatores anormais e adversos, resultando em grande prejuzo comunidade, privando esta do atendimento de suas necessidades e/ou colocando-a em risco. Geralmente so as ocorrncias geradas por fenmenos naturais, como inundaes, secas, fortes geadas, entre outras, provocando uma srie de reaes propcias ao acontecimento de distrbio, pois, na maior parte dos casos, o Estado no dispe de recursos para atender a todos. A diferenciao dos termos relativos reunio de pessoas de grande importncia para a definio da forma como se vai atuar. O emprego da tropa de maneira desproporcional situao pode agravar o evento, estando, ainda, uma das opes de resposta descartada, haja vista queima de etapas. Heal (2001, p. 62), no mesmo artigo, traz, ainda, o seguinte sobre o emprego da tropa nas diferentes situaes:A interferncia prematura contra uma multido pode vir a ocasionar problemas de ndole legal e ttica. ... Multides so apenas um ajuntamento de pessoas. ... Por outro lado, as turbas so beligerantes, provocativas e violentas. ... Multides requerem controle; turbas requerem interveno.

2. FATORES QUE INFLUENCIAM NO COMPORTAMENTO DO INDIVDUO A anlise desses fatores tem sua importncia na influncia que eles exercem nos indivduos que compem uma turba. Calcados nesses princpios, eles se julgam dispostos prtica da desordem, pois, acreditam que no esto ali indo de encontro s leis do Estado, e sim expressando-se em prol de seus direitos.

a. Anonimato: tem-se esse fator como um dos que mais influenciam os componentes da fora adversa no cometimento de aes contra a ordem, pois, pela situao de no serem reconhecidos, aproveitam o momento para expressar suas maiores frustraes ou cometer atos que em condies normais no fariam devido ao freio social. Dissolvido na turba, acobertado pelo anonimato, o indivduo poder perder o respeito prprio e em conseqncia julgar-se irresponsvel pelos seus atos. De acordo com Heal (2001, p. 59), os indivduos envolvidos assim agem: medida que indivduos aceitam as idias e aes do grupo, seus sentidos de identidade tendem a se ofuscar e passam ainda, a sentir maior empatia com a turba. Isto ento incentiva a queda das proibies sociais, pois o indivduo sente que, por no poder ser identificado individualmente, no ser acusado ou punido, no obstante o que fizer.

b. Contgio: com esse, os ideais se difundem e a influncia transmite-se entre os componentes das turbas, o que vem a atrair mais e mais pessoas. Heal (2001, p. 59) coloca que o contgio aumenta a vontade de adaptao e as pessoas se entusiasmam para imitarem as outras. c. Sugesto: permite que uns poucos utilizem a desinformao e ignorncia de muitos, sendo estes massa de manobra para que aqueles obtenham sucesso na investida de causar os transtornos pretendidos. Esses indivduos despercebidamente, introjetam as idias, impossibilitados, assim, de raciocinarem acerca delas ou at mesmo contest-las. Heal (2001, p. 59) cita o seguinte:O indivduo fica disposto a aceitar sugestes de qualquer pessoa que aparenta ter melhor entendimento da situao. Muitos na multido nem sabem das verdadeiras causas do problema e simplesmente aceitam as sugestes dos demais sem medir as conseqncias.

d. Novidade: aqui est presente a situao daqueles que no possuem uma perfeita compreenso dos desdobramentos que podem resultar de sua participao, pois, inebriados pela sensao de fazer algo de novo, somado ocasio de estarem indo de encontro s normas do Estado, no vislumbram a questo de forma sensata e cidad, pois, o desconhecido ou o novo faz com que o indivduo se comporte de forma diferenciada do seu habitual, aceitando de bom grado uma passageira mudana da rotina, reagindo de forma entusiasmada.

e. Nmero: com o elemento quantidade, essas pessoas se sentem dotadas de poder diante das circunstncias, o que de fato ser aumentado caso as autoridades constitudas no respondam de forma condizentes s infraes. Nesse fator, o preparo tcnico da tropa se mostra extremamente importante. O planejamento do modus operandi, estabelecendo-se o correto emprego dos meios disponveis, ser o elemento diferenciador, pois, quase que na totalidade dos casos, o nmero de componentes da fora adversa vai ser maior que o de policiais. f. Expanso de emoes reprimidas: com a congruncia dos fatores anteriormente mencionados, o indivduo acredita ser aquele o momento ideal para liberar as emoes contidas, expressando suas revoltas e frustraes relativas a sua vida em particular ou conjuntura do pas, de um modo geral. Heal (2001, p. 59) traz da seguinte forma:As turbas proporcionam uma vazo s frustraes e a raiva contidas, mesmo se a pessoa encontra-se apenas minimamente envolvida com o motivo por trs da situao. ... A motivao da turba faz com que o indivduo raciocine sobre suas aes at convencer-se de que estas so moralmente justificadas.

g. Imitao: a falta de senso crtico e conhecimento fazem com que muitos participem de turbas, simplesmente, por imitao, no sendo capazes de compreender o por qu daquilo, agindo como se fossem animais desprovidos de raciocnio, sendo, ento motivados por um desejo irremedivel de agir do modo como os outros esto agindo. Com a apresentao desses fatores, fica evidente que uma tropa de choque necessita de um alto preparo tcnico, pois, os indivduos que compem as turbas em sua grande maioria so cidados comuns contaminados pelo contexto em que esto inseridos. O conjunto desses fatores faz com que a situao se torne extremamente grave, momento esse que somente pode ser resolvido pela correta utilizao dos meios disponveis, no sendo pertinente jamais o uso de fora excessiva (desproporcional resistncia) ou abusos de poder, cabendo polcia cumprir sua misso. Cada componente da tropa deve estar ciente disso, no deixando se levar por

provocaes da fora adversa, pois, uma atitude impensada pode complicar ainda mais o quadro j instalado e comprometer a atuao da Administrao.

3. CAUSAS DOS DISTRBIOS CIVIS Aqui elenca-se, de uma forma geral, as causas dos distrbios civis, trazendo-se uma rea de abrangncia a ser verificada no que diz respeitos aos quadros social, econmico e poltico, surgindo, ainda, as situaes de calamidades pblicas e omisso ou falncia da autoridade constituda. a. Sociais: originam-se em eventos que envolvam questes de carter social, tais, como conflitos raciais, religiosos, excessos decorrentes de grandes comemoraes, acontecimentos desportivos ou quaisquer outras atividades relacionadas ao convvio em sociedade. b. Econmicas: todas aquelas provenientes da diferena econmica que escalonam as classes sociais, os pases, as regies de um pas, os empregados e empregadores, entre outras. c. Polticas: as discordncias em assuntos polticos, com teor essencialmente ideolgico, ocasionam conflitos que podem resultar em turbas fervorosas. d. Calamidade Pblica: as turbas geradas por essas causas, geralmente, so as mais difceis de se controlar, pois, os indivduos agem por instinto, no respeitando qualquer forma de interveno. e. Omisso ou falncia da autoridade constituda: em alguns casos, a completa omisso do Estado vem a gerar conflitos que se transformam em distrbios, pois, os indivduos,

pela ausncia da Administrao Pblica, acreditam que nada poder det-los em suas investidas e violaes, permanecendo, ento, impunes.

4. AES QUE PODEM SER DESENCADEADAS CONTRA A TROPA DE CHOQUE Vistos os conceitos bsicos necessrios a um entendimento geral da matria, tem-se neste tpico uma abordagem das aes que a tropa de choque pode sofrer em virtude de uma situao de distrbio civil. Com a compreenso da diferena que deve ser dada aos termos aglomerao, multido, manifestao, tumulto e turba, fica visvel que essa ltima pode ser facilmente estabelecida quando os membros que compem esses eventos, em sua totalidade ou maioria, passam a ter objetivos comuns, desejando manifestar suas intenes, sem, entretanto, analisar as conseqncias de seus atos. A transformao poder ser desencadeada pela alocuo convincente e vibrante de um lder popular, pelo aparecimento de uma pessoa de certa importncia para conduzir os membros da aglomerao ou pela realizao bem sucedida de um ato de violncia. J sendo visto no conceito correspondente os tipos de turbas, tem-se agora a explicao de cada uma, demonstrando sua importncia em se saber as diferenciaes. Turba em pnico: pelo estado em que se encontram, procuram fugir, pois,

dependem disso para garantir sua integridade fsica, ficando muitas vezes desprovidas de raciocnio, o que, inevitavelmente, as conduzem destruio. Bastante difcil de ser controlada tendo-se em vista o estado em que seus componentes se encontram, gerando, inclusive um certo risco para a tropa. Turba predatria: visa somente a prtica de saques e depredaes. H pouco tempo, viu-se como exemplo as que ocorrero na Argentina, sendo originadas pela crise econmica que assolou o pas, onde seus integrantes as praticavam para obterem alimentos. Turba agressiva: aquelas resultantes, geralmente, dos distrbios causados pela omisso ou falncia da autoridade constituda, pois, so motivados pela crena de que

permanecero impunes pelos seus atos, passando, ento, a praticar atos de violncia, tais, como linchamentos e outros decorrentes de conflitos raciais ou, ainda, rebelies de detentos. Com isso, pode-se ter uma noo da capacidade agressiva de uma turba, o que possibilita polcia estar devidamente preparada para responder s agresses com preparo tcnico especfico. Sero elencadas agora as principais aes que geralmente so desencadeadas contra a tropa. a. Improprios: xingamentos e agresses por palavras ou gestos de todas as formas. Com isso, a turba procura atingir o estado psicolgico dos policiais envolvidos na represso da desordem, esperando que esses agentes percam o controle tcnico que devem possuir na ao, agindo com violncia, fator esse que permitir aos agressores alegar justificativas para seus atos. Foto n 10 b. Lanamento de objetos: pedras, paus, garrafas, ovos e bombas caseiras. Esses so exemplos de objetos que podem ser arremessados pela turba em direo tropa. Para isso que se faz imprescindvel a utilizao de equipamentos de proteo individual.

Foto n 11

c. Ataques a pequenos grupos ou veculos: comuns de ocorrer em trminos de eventos esportivos, principalmente, partidas de futebol, se observando graves espancamentos. O ataque a veculos, tambm, ocorre com bastante freqncia, resultando em viaturas depredadas, nibus queimados, entre outros casos. Nas operaes de CDC, jamais devem ser deixadas viaturas sem uma guarnio por perto, o que ir impedir essas situaes.

d. Impulso de veculos ou objetos contra a tropa: no muito difceis de ocorrer, pois, a turba poder fazer com que veculos ou objetos variados, em chama ou no, cheguem at a tropa, causando grave perigo a seus integrantes. e. Emprego de fogo: situao comum na formao de barricadas, utilizando-se de pneus, veculos ou por outros meios. Ateando fogo dificultam ainda mais a ao da polcia. Uma outra varivel no uso do fogo, est no derramamento de lquido combustvel em direo tropa, aproveitando-se de desnvel no terreno. O uso de coquetis molotov, tambm, comum, sendo observada essa ttica nas turbas agressivas. f. Utilizao de arma de fogo: situao extrema de agresso, que deve

ser combatida na mesma proporo, todavia, com os cuidados inerentes para que se atinja somente os integrantes da turba que estejam portando o armamento. Nesse aspecto, os atiradores de elite devidamente postados devem ser acionados. g. Outras aes: pode, ainda, haver a utilizao de escudos humanos, tais como, mulheres, crianas ou idosos, dificultando a ao da tropa. Esto descritas neste tpico somente as principais agresses desencadeadas pela turba, existindo um sem nmero de possibilidades, as quais s vo depender da criatividade e ousadia dos integrantes da fora adversa.

5. PRIORIDADE NO EMPREGO DOS MEIOS Considerando que a tropa de choque sempre estar em menor nmero, com relao aos manifestantes, esta dever direcionar suas aes de maneira a evitar o confronto, posto que o resultado deste incerto. Desta forma, faz-se necessrio a adoo de procedimentos especficos, com vistas a desestimular as aes que podem ser desencadeadas contra a tropa. Quais sejam:

a. Vias de fuga: esto vinculadas ao principal objetivo da atuao do polcia nas operaes de CDC, que se resume em dispersar a turba. fundamental que todos os esforos sejam dispensados para que no ocorra qualquer confronto. Nesse sentido, as possibilidades de fuga so imprescindveis, devendo ocorrer antes de qualquer operao um reconhecimento prvio do local para que a tropa possa efetuar uma aproximao adequada e segura, alm de disponibilizar aos manifestantes o mximo de vias de fuga possveis e logicamente compatveis com a quantidade de manifestantes. Nas situaes de CDC em rea urbana, delimitao da presente pesquisa, a preocupao em se realizar um reconhecimento detalhado do local se torna ainda mais importante, pois, em algumas ocasies o local onde est ocorrendo o evento no dispe de vias de fuga propcias para a disperso da fora adversa, dificultando em muito o trabalho da polcia. No ambiente urbano so vrios os cenrios de atuao, podendo a tropa se deparar com uma manifestao ocorrendo em uma rua demasiadamente estreita e com poucas opes de fuga. Para tanto, o planejamento deve ser executado de maneira minuciosa e comedida, evitando-se ao mximo colocar em xeque a integridade fsica, tanto dos policiais como dos manifestantes. b. Demonstrao de fora: meio que tem como objetivo atingir

psicologicamente a turba. Envolve desde a disposio da tropa no terreno at a execuo das formaes de maneira disciplinada, o que dar uma idia de preparo e fora. Esses procedimentos devem ser executados o mais prximo possvel da turba, seguindo-se, evidentemente, os princpios de segurana, pois, essa etapa no se destina a iniciar um possvel confronto. Nesse ponto, a tropa de choque montada exerce grande impresso junto aos manifestantes no que tange a sua fora, pois, a utilizao do cavalo, com o efeito psicolgico que ele imprime, na maioria das vezes faz com que a turba repense a respeito de suas intenes infracionais. c. Ordem de disperso: necessria para que a turba tenha conhecimento do que ela dever fazer. Deve-se utilizar amplificadores de voz para que efetivamente a ordem seja ouvida pelos manifestantes. Ela deve ser clara, no podendo haver ameaas, desafios ou repreenses para com a turba, alm do que, aps a ordem de desocupao ser efetuada e caso esta no seja cumprida, novas providncias devero ser tomadas para que no se desmoralize a tropa.

Elemento essencial para que a Administrao trabalhe com o resguardo necessrio, caso a turba no obedea ordem dada. O comandante da operao jamais deve deixar de realizar tal procedimento, sendo, entretanto, uma medida com certa ambigidade, pois, nessa oportunidade os nimos podem ser acalmados ou acirrados, devendo nesse caso, ento, ser adotadas outras providncias, com certeza mais enrgicas e contundentes. Isso se justifica na inadmissibilidade de desmoralizao da tropa, fator que no deve, sequer, ser margeado, haja vista as conseqncias de agravamento do quadro, pois, a turba ganhar fora caso ela entenda que a atuao da polcia no far p as suas aes. d. Recolhimento de provas: esse procedimento deve ser adotado para que, posteriormente, a polcia possa justificar as aes que foram desencadeadas pela tropa de choque, esses que muitas deixam seqelas fsicas aos integrantes da turba, principalmente, quando se fala da utilizao da cavalaria. Para isso, uma equipe dever estar previamente escalada com a preocupao exclusiva de executar tal misso. e. Emprego de jatos de gua: recurso alternativo que surte bons resultados, inibindo em alguns casos a ao da turba. Na PMDF, o Batalho de Operaes Especiais utiliza-se desse recurso, adicionando gua um corante, o que facilita na identificao daqueles que compunham a turba, havendo, ainda, uma carga de efeito psicolgico, pois, os manifestantes imaginam que nessa gua adicionou-se um componente qumico qualquer danoso a sua sade, efeito similar ao que obtido com o emprego das granadas fumgenas. f. Emprego de agentes qumicos: evita o contato fsico da tropa com a turba. Um ponto importante a ser observado no momento de seu emprego diz respeito direo do vento, pois, todo o agente lanado contra a turba poder voltar contra a tropa. Dentro das possibilidades, seria importante que a tropa durante a sua utilizao estivesse munida de mscaras contra gases. A concentrao a ser lanada, tambm, deve ser tecnicamente verificada, haja vista os efeitos que podem ser provocados na turba. Baixas concentraes faro com que a multido se ponha em fuga, enquanto que as altas, podero causar, temporariamente, cegueira e outros transtornos, agravando ainda mais o quadro.

Uma das opes de armamento no-letal, em que, sempre se obtm bons resultados, conseguindo-se na maioria dos casos dispersar a turba. Exige um preparo tcnico especfico, no se tendo precedentes de utilizao por parte de uma tropa montada. g. Carga de cassetete: utilizada na maioria dos casos pela tropa de choque a p. Deve ser observado, sobretudo, o emprego ordenado e coeso da tropa, no podendo haver disperso nem to pouco, aes isoladas de seus integrantes. Ela deve ser rpida e segura. Possui grande efeito inibidor, pois, a turba tem plena conscincia que a tropa no hesitar em empregar efetivamente o cassetete. A tropa montada, tambm, poder utiliz-la, sendo bastante eficiente, devendo-se seguir os mesmos princpios tcnicos acima colocados. h. Deteno de lderes: a retirada dos lderes da turba tem como efeito desestruturar o movimento, pois, os agentes incentivadores no mais podero influenciar a massa. Misso dada ao Grupo de Busca e Captura, que poder ser apoiado por uma Esquadra de Busca e Captura. Deve ser feita, preferencialmente, aps uma Carga, momento em que o comandante da tropa determinar com observncia ao princpio da oportunidade, a execuo das prises. No emprego conjunto das tropas montada e a p, o Grupo de Busca e Captura ficaria a cargo dessa ltima, estando sempre em condies de atuar, cabendo a tropa montada apenas guarnecer essa ao. i. Carga de Cavalaria: a tropa agir coesa e coordenada, no podendo haver aes isoladas e muito menos precipitaes de um ou mais homens, comprometendo a coeso. O avano sobre a multido deve ser realizado atravs das formaes. A carga deve ser rpida e segura. A velocidade com que a multido se dispersar importante, pois dar menos tempo para os agitadores se reorganizarem. A tropa dever efetuar quantas cargas forem necessrias para a disperso dos manifestantes. j. Emprego de arma de fogo: ltimo recurso a ser utilizado pelo homem isolado, devendo todos os componentes da tropa ser previamente orientados pelo seu comandante acerca dos momentos exclusivos de seu emprego. Somente poder ser utilizada quando a turba estiver munida de armamento de fogo e na eminncia de atentar contra a vida do prprio policial

ou de terceiro. Todo cuidado deve ser tomado para que no sejam atingidos pelos disparos outros elementos da multido e para isso deve-se observar um bom campo de tiro. k. Atiradores de elite: Sempre que possvel sero posicionados em locais estratgicos e preferencialmente elevados, atuando somente mediante ordem, com o intuito de neutralizar indivduos que eventualmente disparem contra a tropa. So utilizados somente quando a tropa est sendo alvejada com disparos de arma de fogo realizados por algum integrante da turba. Para isso, todos o procedimentos de segurana devem ser seguidos, para que no sejam atingidas outras pessoas, situao que complicar ainda mais o evento.

Com a citao seqencial desses procedimentos, busca-se, antes de tudo, empregar a fora policial devidamente embasada em princpios tcnicos, esgotando quantas forem as possibilidades de ao, o que vem somente a resguardar sua atuao contra possveis transtornos administrativos e judiciais que porventura venha a ocorrer.

6. A ORDEM UNIDA DA TROPA DE CHOQUE MONTADA O adestramento da tropa montada em aes de CDC fator imprescindvel no fiel cumprimento da misso. Para tanto, os dois elementos que formam o binmio homem-cavalo devem estar devidamente condicionados s possibilidades de cenrio a serem encontradas nas ocasies dos distrbios. Com isso, na oportunidade do treinamento, se faz necessrio que sejam reproduzidos os quadros que sero enfrentados pelo policial e seu cavalo. A grande quantidade de pessoas, o movimento de carros, bandeiras, exploses, membros da turba se dirigindo contra a tropa so elementos adversos que contribuem para o insucesso. Tudo isso visto por um policial e cavalo despreparados demonstra que a tropa no foi devidamente adestrada, o que ser rapidamente percebido pelos componentes de uma turba. Munidos desse conhecimento, aumentase a probabilidade de confronto direto, o que, com certeza, trar uma srie de desdobramentos negativos para a tropa e fora adversa.

Com a convico disso, tem-se nesse captulo uma gama de procedimentos de ordem unida que somam em muito para o condicionamento da tropa montada, o que, em momentos de real emprego, refletir a preparao do grupamento, demonstrando sua fora de ao, fator esse que influi diretamente na inteno da turba de dar continuidade a seus intentos. Tomando-se por base, novamente, a doutrina da PMDF, sendo observadas as notas de aula (apostilas) do Curso de Policiamento Montado, nvel oficiais, do Regimento de Polcia Montada, sero apresentadas uma srie de procedimentos a serem seguidos, com o intuito de qualificar uma tropa montada para emprego em operaes de CDC. a. Conceitos bsicos Os conceitos que sero colocados logo abaixo, mostram de um modo bem simplista as denominaes das formaes e suas mudanas, no sendo necessrios movimentos complexos, haja vista o emprego da tropa montada exigir rapidez na execuo da figuras no momento efetivo de atuao. Assim traz a Doutrina do RCR (2001, p. 2)Evolues: So movimentos regulares pelos quais uma tropa hipo passa de uma formao para outra. A ordem e a coeso so condies essenciais nas evolues e os processos de execuo devem ser simples e rpidos. / Desenvolvimento: a passagem de uma formao em coluna para uma formao em linha. ter a frente maior que a profundidade. / Ruptura: a passagem de uma formao em linha para um em coluna. ter a frente menor que a profundidade. / Alinhamento: Tal manobra dever ser executada com o grupamento em batalha ou em duas fileiras. Ao comando de Base (o centro, a direita ou a esquerda), PERFILAR!, o cavaleiro determinado, da primeira fileira, ser o homem-base; os cavaleiros da primeira fileira voltaro suas cabeas para a direo dele, enquanto que os da segunda fileira cobrir com os respectivos testas de fila. Ao comando de FIRME!, os cavaleiros olharo para frente e retomaro a imobilidade.

b. Formas de comando e comando propriamente dito 1) Voz; 2) Gesto; 3) Apito; 4) Clarim; 5) Mensageiro.

O comando ser realizado da seguinte forma: Ateno Esquadra (Peloto, Esquadro ou Regimento); Base; Direo; Formao; Andadura; MARCHE!. c. Constituio bsica do peloto de choque montado e suas funes Aqui se destaca a composio bsica de um peloto de choque montado, enumerando o quantitativo, suas subdivises, o posto ou graduao dos policiais e suas respectivas funes. Essa formao, entretanto, pode variar de acordo com a doutrina de cada corporao ou dos meios de que dispe a unidade policial para determinado emprego. O Peloto de Choque Montado ser composto por 03 (trs) Esquadras, totalizando 19 (dezenove) Policiais Militares, assim distribudos: 1) Esquadra: a composio bsica de um peloto, contendo 01 (um) Sargento, 01 (um) Cabo e 04 (quatro) Soldados. A esquadra entra em forma por trs, em duas fileiras, com a distncia de um corpo de cavalo entre os cavalos da frente e os da retaguarda. Em cada fileira os cavaleiros conservaro um intervalo de, aproximadamente, 0,40 m de joelho a joelho. Este intervalo poder variar de acordo com a dimenso da rea de atuao da tropa.

Figura n 01

2) Peloto: formado por trs esquadras sob o comando de um Oficial (1 ou 2 Tenente), seguindo a formao das esquadras anteriormente citada. Se constitui no grupamento mnimo de emprego em operaes de choque, em que, se tem condies de emprego com um bom nvel de segurana, observando-se, evidentemente, as propores do evento.

Figura n 02

O Comandante do Peloto tem como funo comandar efetivamente o Peloto de Choque Montado, sendo o responsvel por todas as aes desenvolvidas pelos seus integrantes. Se posicionando retaguarda do grupamento, tem a possibilidade de vigiar a todos, orientando e fazendo as determinaes necessrias. Os sargentos so os responsveis pela execuo das ordens emanadas do comandante, correo e orientao da Esquadra sob seu comando, guardando a coeso do grupo, no permitindo jamais aes isoladas. O sargento mais antigo, ainda, tem a incumbncia de substituir o oficial em circunstncias eventuais, devendo deter o preparo para tal. Os cabos, subcomandam as Esquadras, auxiliando diretamente os Sargentos. Os soldados, responsveis pela execuo direta das ordens determinadas, devem preocupar-se, sobretudo, pela coeso de sua Esquadra e do Peloto. A condio de executores no os exime de deterem os conhecimentos tcnicos pertinentes ao. Para isso, devem ser devidamente instrudos quantos aos aspectos bsicos de emprego, estando, tambm, conscientes dos objetivos a serem alcanados. No constando da fonte utilizada, convm acrescentar-se um outro soldado formao com o intuito de auxiliar o oficial, estando sempre a seu lado, o guarnecendo em quaisquer eventualidades. O Esquadro de Choque Montado ser composto por 03 (trs) Pelotes completos, a comando de 01 (um) Capito.

d. Formaes bsicas Essas formaes englobam a grande maioria das necessidades de emprego, cabendo, se for o caso, improvisaes em benefcio do cumprimento da misso, pois, o elemento flexibilidade deve estar sempre em pauta para que se alcance os objetivos traados. 1) Coluna por um Os componentes se postam um atrs do outro, com a distncia de um corpo de cavalo, todavia, devem permanecer atentos para que, em alguns casos, no se permita a circulao de pessoas entres os conjuntos, diminudo, ento, esses intervalos. Ela utilizada para deslocamentos em vias de trfego intenso, locais estreitos, patrulhamento preventivo em locais com grande circulao de pessoas. Possui grande poder de penetrao, podendo ser utilizada por qualquer composio montada. Seus componentes devem estar sempre preocupados com os conjuntos que o seguem, evitando-se, assim, que haja possveis disperses. O comando : Coluna por um, MARCHE!.

Foto n 12 Figura n 03

2) Coluna por doisRefere-se a uma formao onde os integrantes do grupamento formaro em coluna por dois. uma formao de estrada e marcha que pode ser utilizada por qualquer composio montada. O comando : Coluna por dois, MARCHE!.

Figura n 04 3) Coluna por trsMuito utilizada para deslocamento em vias mais amplas e nas aes de CDC, quando o local de emprego no permitir uma formao com frente mais larga. Possui um bom poder de penetrao aliado ao forte impacto que causa, podendo ser colocada quando o efetivo do grupamento permitir uma formao consistente e representativa. a base para o desenvolvimento das outras formaes, sendo ideal para o uso em peloto. O comando : Coluna por trs, MARCHE!.

Figura n 05 4) Em linha Tem importante funo nas aes de CDC, sendo, inclusive a formao utilizada na Carga de Cavalaria, pois permite desenvolver uma frente ampla, causando grande impacto, tanto pela fora, abrangendo uma grande rea de cobertura, como pelo efeito psicolgico que traz aos componentes da turba. No aspecto ofensivo, permite conduzir a massa s vias de fuga existentes ou escolhidas. No defensivo, contm a massa e bloqueia os acessos a determinados locais. obtida a partir da formao em coluna por um, dois, trs ou em batalha. O comando : Em linha, MARCHE!.

Figura n 06

Foto n 13

5) Formao em BatalhaBastante empregada, possuindo grande fora de conduo de massas, pois, utiliza-se uma segunda fileira retaguarda como reforo, imprimindo, assim, grande efeito junto turba. A sua execuo depender apenas do efetivo disponvel. Preferencialmente deve ser executada partindo-se da formao em linha. O comando : Em batalha, MARCHE!.

Evoluo de Linha para Batalha.

Figura n 07

6)

Formao em Fileira

Formao que passa turba uma idia de maior efetivo, dissimulando-a e contribuindo para o enfraquecimento de suas intenes. A execuo dessa figura est ligada diretamente ao fator demonstrao de fora, visto anteriormente no tpico que tratou do emprego dos meios disponveis. Pode ser executada por qualquer composio, desde que haja efetivo suficiente. Inicialmente deve-se partir da formao em batalha, sendo dado o comando de Em fileira, MARCHE!, momento em que a primeira fileira do grupamento se projeta frente e obliquamente direita, enquanto que a segunda fileira faz o mesmo, entretanto, para a esquerda, se colocando alinhada com a primeira. Para se retornar formao inicial ser comandado Em duas fileiras, MARCHE!, em que o grupamento realizar o movimento inverso, voltando formao Em batalha.

Evoluo de Batalha para Fileira.

Figura n 08 7) Abrir e Unir Fileiras Tem por objetivo ganhar terreno de forma gradual, avanando-se pouco a pouco e conduzindo a massa para determinada via de escoamento, deixando, assim, a retaguarda livre para quaisquer necessidades. Estando a tropa na formao Em batalha, se comandar Abrir fileiras, MARCHE!, momento em a primeira fileira avanar, aproximadamente, 10m e far alto. Ao comando de Unir fileiras, MARCHE!, a segunda fileira tambm avana e fica a distncia de um corpo de cavalo da primeira, retornando formao Em batalha.

Ao comando de Unir fileiras, MARCHE!, a segunda se une primeira, ganhando o terreno avanado.

Terreno em que se avanou

Ao comando de Abrir fileiras, MARCHE!, a primeira avana, permanecendo a segunda no mesmo local.

Figura n 09 Evoluo da formao Abrir e unir fileiras partindo-se da formao Em batalha.

8) Formao em Cunha Pode ser usada tanto ofensiva como defensivamente. No primeiro caso visa dividir a massa, penetrando e separando a multido. Tem sua importncia nos distrbios em que dois grupos adversrios se confrontam. Defensivamente atende as situaes em que se faz necessrio conter a massa em ambas as direes. obtida a partir da formao em coluna por um, dois, trs, em linha ou em batalha. O comando : Em cunha, MARCHE!.

Observe que a 1 E encontra-se ao centro, formando a ponta da cunha. A 3 est postada direita e a 2 esquerda, formando as laterais da formao. O Comandante do Peloto vai no interior da cunha, podendo determinar o que for necessrio.

Figura n 10 Evoluo da formao Em linha para a formao Em cunha.

9)

Escalo direita

Ofensivamente visa dispersar, comprimir ou conduzir a massa para uma via de fuga localizada direita. Na ao defensiva tem por objetivo dirigir o fluxo da multido para uma direo, impedindo o acesso a determinado local. Pode ser desenvolvida a partir da formao em coluna por um, dois, trs, em linha ou em batalha. O comando utilizado : Escalo direita, MARCHE!.

Figura n 11 Evoluo da formao Em linha para a formao Escalo direita.

10) Escalo esquerda

Possui as mesmas observaes feitas na formao anterior, com o detalhe de remeter a turba para o lado esquerdo. O comando : Escalo esquerda, MARCHE!.

Figura n 12Evoluo da formao Em linha para a formao Escalo esquerda.

11) Em losango basicamente utilizada como formao defensiva, pois, o seu formato visa proteger determinado grupo, como por exemplo, um de busca e captura, possuindo boa capacidade de penetrao na massa. Tem a vantagem de poder guarnecer em todas as direes, proporcionando grande segurana aos elementos que estiverem em seu interior. Iniciada pela formao Em batalha, tem o comando de Em losango, MARCHE!.

Figura n 13 Evoluo da formao Em batalha para a formao Em losango.

12)

Mudana de direo e converso

As mudanas de direo se do sempre com a tropa seguindo um arco de 90. Para tal, o comandante diz a nova direo a ser seguida, em que, o grupamento realizar de maneira uniforme, sem perder a coeso e o alinhamento. O comando Direo direita (esquerda), MARCHE!. As converses so realizadas para se dar uma volta de 180, seguindo-se os mesmos princpios de coeso, uniformidade e alinhamento. O comando Converso direita (esquerda), MARCHE!.

Mudana de direo

Converso

Figura n 14 13) Carga de Cavalarialtimo recurso a ser utilizado pela tropa. Quando estiverem esgotados todos os meios disponveis, a carga surge como a derradeira soluo. Caracterizada pela sua fora e contundncia, promove uma disperso eficaz da turba. A deciso de se empreg-la deve ser bastante pensada, pois, os resultados que ela deixa na massa so, geralmente, expressivos, no tocante integridade fsica dos integrantes da turba. Deve ser empregada contra a multido, em que, os cavalos, estando com a andadura galope alongada ao mximo, sero lanados contra ela, fazendo com que haja uma rpida disperso. Pode ser realizada nas diversas formaes (com a exceo da Em losango), todavia, comumente feita a partir das formaes Em linha e Em batalha. Remetendo-se, novamente, ao texto da Apostila de Ordem Unida da PMDF (2001, p. 07), tem-se o seguinte:

uma manobra que visa dispersar aglomeraes. A carga no deve partir de mais de 60 m do objetivo para no perder a coeso, a fora e a impetuosidade. ... Estando o grupamento parado, ao passo ou ao trote, ser dada a ordem de Desembainhar, ARMAS!, ao final do qual os cavaleiros estaro de armas perfiladas. Ao comando de Preparar para Carga!, a tropa parte ou mantm-se ao trote, em direo massa ao mesmo tempo em que a arma (espada ou cassetete) colocada na posio de GUARDA-BAIXA. Ao comando de Carga!, a tropa responder, a um s brado, HIPO!, enquanto que cada integrantes do grupamento alarga o galope de sua montada, ao mximo possvel, sem perder a coeso, a fora, o alinhamento e a direo informada pelo Comandante da tropa. ... A Carga termina por um entrevero, ao fim do qual o Comandante reunir o efetivo, ao comando de Pela direita (esquerda), REUNIR!. Neste caso os cavaleiros avanam, em coluna por um, atrs do Comandante da tropa, ao galope e com as armas perfiladas, at o local onde teve

origem a Carga e entram em forma, sem a preocupao de seus lugares habituais. A tropa marchar ao passo, enquanto os cavaleiros, ao comando de A seus lugares, MARCHE! retornam aos seus respectivos lugares em forma. A carga deve ser rpida e segura. A velocidade com que a multido se dispersar importante, pois dar menos tempo para os agitadores se reorganizarem. A tropa dever efetuar quantas cargas forem necessrias para a disperso dos manifestantes.

Para bem ilustrar esse delicado procedimento, tem-se uma seqncia de fotos tiradas em uma manifestao ocorrida na Esplanada dos Ministrios, Braslia, sendo realizada uma carga com um efetivo reduzido de policiais, visando atingir um grupo determinado de componentes da turba:

Foto n 14 Incio da carga com os integrantes da turba j em disperso.

Foto n 15 Aproximao da tropa montada.

Foto n 16 Entrevero, com alguns manifestantes sendo atropelados pela carga. 14) Disperso em caso de surpresaOcorrer quando a tropa montada perder a coeso e se ver cercada pela turba, sendo impossvel no determinado momento restabelecer a formao. Com isso, ao comando de DISPERSAR!, os policiais, por si s, tomam qualquer direo, com o cavalo ao galope, procurando sempre o menor caminho para se chegar ao local previamente estabelecido pelo comandante no caso de se ocorrer tal procedimento. Chegando todos os conjuntos, novamente se entra na formao Em batalha, retornando, assim, com as aes contra a turba. O detalhe importante nesse procedimento est no prvio acerto do local em que vai ocorrer a nova reunio. Esse ponto deve ser localizado a, aproximadamente, 60 m da turba, para que a retomada ocorra no menor tempo possvel, pois, a disperso ir trazer massa uma idia de aparente vitria. Com esse sentimento, eles estaro mais motivados a continuarem em suas aes, sendo assim, um momento crtico para a tropa montada, cabendo-se, ento, uma rpida resposta, munida de mais fora e impetuosidade.

e. Formaes com reforo A utilizao das formaes com reforo possibilita maior fora de conteno, conduo e penetrao, pois a retaguarda e os flancos estaro devidamente cobertos. 1) Em linha com apoios laterais

Figura n 15 2) Em cunha com apoios laterais

Figura n 16 3) Em cunha com apoio central

Figura n 17

4) Escalo direita com apoio lateral

Figura n 18 5) Escalo esquerda com apoio lateral

Figura n 19 f. Comando por gestos Utilizados quando houver alguma impossibilidade da tropa ouvir os comandos de voz (utilizao de mscaras de proteo qumica e excesso de rudos). Com isso, devem ser devidamente treinados para que no haja interpretaes errneas por parte da tropa. Devem ser executados em trs tempos, vistos pela doutrina da PMDF (2001, p. 15) da seguinte forma:Advertncia: feita pela extenso do brao direito para cima, com a mo espalmada; Comando propriamente dito; Comando de alto: O Comandante ergue o brao direito, com o punho cerrado; Coluna por um: O Comandante ergue o brao direito, com punho cerrado e indicando o n 1, com o dedo indicador; Coluna por dois: O Comandante ergue o brao direito, com punho cerrado e indicando o n 2, com o dedo indicador e o dedo mdio; Coluna por trs: O Comandante ergue o brao direito, com punho cerrado e indicando o n 3, com os dedos indicador, mdio e anelar; Em fileira: O Comandante ergue o brao direito, com punho cerrado e indicando o n 4, com os dedos indicador, mdio, anelar e mnimo; Em linha: O Comandante estende o brao, direito ou esquerdo, lateralmente e na horizontal, conforme a posio desejada para a formao; Em cunha: O Comandante ergue o brao direito e fazendo movimento de rotao com a mo espalmada; Escalo direita: O Comandante ergue o brao direito, com a mo espalmada, formando um ngulo de 45, com o solo; Escalo esquerda: O Comandante ergue o brao esquerdo, com a mo espalmada, formando um ngulo de 45, com o solo; Execuo: Consiste no movimento do brao direito, com punho fechado, de cima para baixo, por duas vezes.

7. O EMPREGO CONJUNTO DA TROPA MONTADA COM A TROPA A P

A comunho de aes com diferentes processos de policiamento nos eventos de CDC so essenciais, pois, cada tropa possui seus pontos fortes e fracos no emprego em si. Com isso, essa unio de fora somente vem a somar para que a corporao cumpra com as suas responsabilidades. A tropa montada, com os diversos fundamentos positivos que possui, no completa as aes que devem ser desenvolvidas nas operaes de controle de distrbios civis. Deve-se observar, ainda, que aps seguir-se a gradao na utilizao dos meios de fora existentes, a cavalaria se encontra no ltimo degrau, sendo o derradeiro trunfo a ser lanado no cenrio de conflito, pois, a necessidade de se empreg-la significa que os outros recursos tticos j cessaram. Todavia, o trabalho conjunto surge como um elemento a mais no intuito de se evitar um agravamento do quadro instalado. Durante a atuao da tropa de choque a p, a montada pode desempenhar as funes de guarnecer os flancos e reforar a retaguarda do avano, evitando-se que integrantes da fora adversa escapem ao da polcia. Pode, ainda, acompanhar os grupos de busca e captura na ocasio de aes isoladas, permitindo, assim, uma capacidade de infiltrao pela fora no seio das manifestaes. Permite, tambm, uma maior visualizao devido ao fato dos policiais montados estarem em um patamar acima daqueles que esto a p, podendo prestar informaes importantes para a operao. Enfim, a tropa montada atuando como reforo, principalmente retaguarda, influi positivamente no contexto da atuao da tropa a p, estando estes conscientes que tero um nvel de proteo e fora elevado, o que lhes permite agirem com maior segurana e eficcia. J ao contrrio, ou seja, o reforo dado pela tropa a p durante a atuao da montada, proporciona bons resultados, pois, o policial a cavalo encontra empecilhos no que diz respeito, principalmente, a priso de infratores, visto que no se faz possvel apear no decorrer de uma ao para que se efetue esse procedimento. No tocante a isso, a tropa a p viria retaguarda cobrindo essa falta, podendo, tambm, proceder na coleta de provas e captura de elementos chaves no desenvolvimento das turbas. Com a abordagem desses pontos, visa-se, to somente, enumerar uma gama de fatores positivos concernentes ao trabalho conjunto das tropas montada e a p, o que ir influir no resultado final da misso, ou seja, cumprir com todos os quesitos previamente estabelecidos para que se restaure a ordem pblica atingida.

8. A REA URBANA COMO LOCAL DE ATUAO A grande maioria dos eventos que terminam por desencadear uma operao de controle de distrbio civil tem sua ocorrncia em centros urbanos. Em virtude disso que a presente pesquisa teve sua delimitao no emprego do policiamento montado em aes de CDC nesse cenrio, julgando ser a possibilidade mais pertinente. Visando demonstrar os principais aspectos da rea urbana como local de atuao da tropa de choque, alguns pontos de destaque sero elencados superficialmente com o intuito de se subsidiar os planejamentos que devem ocorrer, sendo previstas as variveis que venham a surgir e conseqentemente interferir no cumprimento da misso de restabelecimento da ordem afetada. Esses distrbios geralmente ocorrem durante o dia e em boas condies de clima. Quase sempre, os seus membros so homens comuns que se dirigem para tal ocasio sem a inteno de participarem de qualquer algazarra. Entretanto, contaminados pelo clima hostil de uns poucos, que se tornam lderes momentneos, acabam por contribuir no agravamento do quadro. Pouco se verifica a respeito de integrantes de turbas munidos de armas de fogo. Em geral, utilizam-se de pedras, garrafas, pedaos de ferro, ovos, verduras, entre outros. Em casos extremos podem fazer uso de bombas caseiras com pedaos de prego e vidro e coquetis molotov. Uma agravante para a atuao da polcia est na vantagem defensiva que a rea urbana proporciona aos manifestantes. Prdios, bancos de praa, postes, carros podem servir de abrigo ou cobertas, permitindo que os infratores se escondam ou fujam da ao policial. Os edifcios tambm podem servir de plataforma para que objetos sejam lanados contra a tropa, o que aumenta em muito sua vulnerabilidade. A proximidade com que se combate a fora adversa tambm dificulta a ao, no hav