Empresariado Como Ator Político No Brasil Balanço Da Literatura e Agenda de Pesquisa

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 28: 131-146 JUN. 2007

    RESUMO

    Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 28, p. 131-146, jun. 2007

    Wagner Pralon Mancuso

    O EMPRESARIADO COMOATOR POLÍTICO NO BRASIL:

    BALANÇO DA LITERATURA E AGENDA DE PESQUISA

    Recebido em 3 de março de 2007.Aprovado em 16 de junho de 2007.

     Este artigo apresenta, em primeiro lugar, um balanço da produção acadêmica sobre o empresariado como

    ator político no Brasil. A idéia é argumentar que, desde a década de 1950 até hoje, uma parte importante

    desta literatura estrutura-se em torno de um debate fundamental: o empresariado que opera no Brasil é um

    ator político “forte” ou “fraco”? Em segundo lugar, este artigo propõe uma agenda de pesquisas sobre o

    tema. Para isto, levanta questões que, tomadas em conjunto, formam um roteiro abrangente para o estudo da

    matéria. A exposição do roteiro servirá para identificar elementos que podem ser explorados pela comuni-

    dade de cientistas sociais interessados no assunto em destaque.

    PALAVRAS-CHAVE: empresariado; burguesia; poder ; corporativismo.

    I. INTRODUÇÃO

    É vasta a produção acadêmica sobre oempresariado como ator político no Brasil. Hádécadas, o tema tem sido objeto de artigos, dis-sertações, teses e livros publicados por cientistassociais brasileiros e estrangeiros. Trabalhos so- bre a matéria têm sido apresentados com freqüên-

    cia em eventos, como os encontros anuais daAssociação Nacional de Pós-Graduação e Pesqui-sa em Ciências Sociais (Anpocs) e os encontros bianuais da Associação Brasileira de Ciência Polí-tica (ABCP). O workshop “Empresa, Empresári-os e Sociedade”, que já foi realizado cinco vezesem diversas universidades do país, é um evento bianual dedicado exclusivamente ao estudo doempresariado, no qual são apresentadas dezenasde trabalhos sobre o assunto, muitos deles focali-zando a ação política deste importante segmentosocial.

    A proposta deste artigo, diante de tal produçãoacadêmica, é realizar uma dupla tarefa: em pri-meiro lugar, apresentar um balanço da literaturasobre o tema; em segundo lugar, propor uma agen-da de pesquisas sobre a atuação política doempresariado no Brasil.

    A primeira seção do artigo apresenta o balançoda literatura. A idéia é argumentar que, desde adécada de 1950 até hoje, uma parte importantedesta literatura estrutura-se em torno de um de- bate fundamental: o empresariado que opera no

    Brasil é um ator político “forte” ou “fraco”?

    A segunda seção do artigo levanta questões que,tomadas em conjunto, formam um roteiroabrangente para o estudo do empresariado comoator político. A exposição do roteiro servirá paraidentificar elementos que podem ser explorados pela comunidade de cientistas sociais interessa-

    dos na temática em destaque.II. UM BALANÇO DA LITERATURA

    O trabalho diário da mídia mostra que, em di-versas esferas e instâncias, o poder público brasi-leiro é permeável a pressões empresariais pontu-ais em defesa de benefícios particulares, por meiode corrupção, rent seeking1 etc. Não é nesse sen-tido particular que a literatura tem divergido his-toricamente acerca da força do empresariado comoator político no Brasil. Ao contrário, existe umamplo consenso em torno deste diagnóstico.

    A divergência instala-se a partir do momentoem que um ator político “forte” é definido comoaquele cujos interesses coletivos são refletidos sis-tematicamente pelas decisões não-ilegais do po-der público. Argumentamos que é possível identi-ficar cinco “ondas” de trabalhos na literatura, des-

    1  “ Rent seeking é o uso de recursos por um ator para obter  privilégios especiais por meio do processo político. O ganhoobtido pelo ator é menor do que o prejuízo resultante paraa sociedade” (TULLOCK, 1993).

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    de a década de 1950 até os dias de hoje – a visão predominante so bre a fo rça po lí ti ca doempresariado nas obras que formam uma onda équestionada pela visão prevalecente nas obras quecompõem a onda posterior (ver Tabela 1)2.

    É importante estabelecer, desde logo, que o presente artigo não pretende cobrir toda a litera-tura relevante sobre o empresariado como ator 

     político no Brasil. O balanço da produção acadê-mica apresentado aqui é feito a partir de um “fiocondutor” estabelecido previamente: o debate so- bre o grau de “força” política do empresariado no país. Portanto, as obras que não estão ligadas di-retamente a este debate não são tratadas neste ar-tigo. Este propõe uma linha de interpretação daliteratura sobre o tema. Outras linhas de interpre-tação diferentes podem ser propostas.

    TABELA 1 – ONDAS, TEMAS E AUTORES

    2 O insight  para essa abordagem à literatura ocorreu duran-te a argüição da Professora Eli Diniz na defesa pública deminha tese de doutorado, em outubro de 2004. Sou-lhegrato por isso.

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    FONTE: o autor.

    O ponto de partida adotado neste artigo é aobra de autores como Hélio Jaguaribe Gomes de

    Mattos (1958) e Nélson Werneck Sodré (1958),então ligados ao Instituto Superior de EstudosBrasileiros (ISEB) e que, no final dos anos de 1950e no início dos anos de 1960, afirmavam que oempresariado industrial, de grande porte e de ca- pital nacional, era um ator suficientemente forte para liderar uma aliança com os trabalhadores ur- banos organizados pela revolução “nacional e de-mocrática” contra o latifúndio, no plano interno,e contra o imperialismo, no plano externo.

    Desde o início dos anos de 1960 (principalmenteapós o golpe militar de 1964) e durante toda a dé-

    cada de 1970, uma série de autores passou a argu-mentar que a aliança revolucionária defendida pe-

    los isebianos era inviável, posto que a burguesiaindustrial brasileira: (i) era fraca; (ii) não desejavater o proletariado organizado como parceiro políti-co; (iii) não opunha-se ao latifúndio; (iv) não eranacionalista; (v) não era antiimperialista; (vi) con-tentava-se em ser sócia menor da aliança trípliceque, além dela, também envolvia o Estado e o capi-tal internacional. Dentre os autores representativosdesta segunda onda, destacam-se: FernandoHenrique Cardoso (1965; 1971; 1972); Celso Fur-tado (1965); Caio Prado Júnior (1966); LucianoMartins (1968); Luiz Carlos Bresser-Pereira (1974);

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    Florestan Fernandes (1976).

    Uma terceira onda de trabalhos surgiu a partir do final da década de 1970, ao longo da década de1980 e na primeira metade da década de 1990.

    Uma parte desses trabalhos focalizou a demons-tração de força do grande empresariado brasileiroque, inicialmente, com a campanha contra aestatização (CRUZ, 1978) e, posteriormente, coma campanha pela redemocratização (PAYNE,1994), iniciou e prosseguiu o rompimento com o bloco que subiu ao poder com o golpe de 1964.

    Outra parte desses trabalhos sustentava que,não obstante aos inquestionáveis limites estrutu-rais da burguesia industrial brasileira, os industri-ais realizaram uma atuação política intensa e, muitas

    vezes, bem-sucedida, ao longo de todas as fasesdo processo de industrialização, tanto na vigênciado regime democrático quanto na vigência de re-gimes autoritários – Estado Novo e ditadura mili-tar (DINIZ & BOSCHI, 1978; LEOPOLDI, 1984).Além de vigorosa, a atuação política da indústriatambém foi bastante flexível, pois o setor soubeutilizar-se simultaneamente dos diferentes canaisdisponíveis, como os órgãos de classe (ou seja,as entidades dos sistemas corporativo eextracorporativo), os “anéis burocráticos”3  e oscontatos pessoais diretos com os tomadores de

    decisão. A criação de um sistema híbrido de re- presentação de interesses – reforçado nas déca-das de 1980 e de 1990, com formas novas deorganização empresarial, como os Institutos Li- berais, o Pensamento Nacional das Bases Empre-sariais (PNBE) e o Instituto de Estudos para oDesenvolvimento Industrial (IEDI) – foi o resul-tado da grande capacidade de adaptação e de ino-vação demonstrada pelos industriais (DINIZ &BOSCHI, 1979; 1993; 1997; DINIZ, 1992).

    Ainda outros trabalhos pertencentes à terceiraonda defendiam a tese de que o grande empresariado

    que opera no Brasil soube atuar unido e mostrar toda sua força política em momentos-chave comoa deposição do Presidente João Goulart, em 1964, para a instauração do regime militar (DREIFUSS,1981), e a Assembléia Nacional Constituinte, em1987 e 1988 (DREIFUSS, 1989).

    As obras que formam as três primeiras ondasda literatura, cuja essência acabamos de sinteti-zar, são obras extremamente influentes, ampla-mente conhecidas e debatidas, podendo ser con-sideradas como estudos “clássicos”, embora di-vergentes, sobre a temática em foco neste artigo.As obras que compõem as duas últimas ondas daliteratura são mais recentes, menos conhecidas, por isso, dedicaremos um espaço maior à exposi-ção de suas idéias centrais, bem como ao con-

    traste entre elas.A quarta onda de trabalhos sobre o

    empresariado como ator político no Brasil, for-mada basicamente por obras de brasilianistas,começa na segunda metade da década de 1990 eestende-se até hoje.

    De fato, uma série de trabalhos recentes(SCHNEIDER, 1997a; 1997b; 1998; 2002; 2004;WEYLAND, 1998a; 1998b; 2001; KINGSTONE,2001; DOCTOR, 2002; POWER & DOCTOR,2002) afirma que, no Brasil, o empresariado apre-

    senta uma dificuldade crônica de constituir e man-ter ações coletivas em torno de propostasunificantes4, tanto em âmbito intra-setorial (istoé, em cada setor da economia, tomado separada-mente) quanto em âmbito intersetorial (isto é, nocaso dos diferentes setores da economia, toma-dos como um todo)5.

    Essa deficiência de ação coletiva seria a causa principal da fraqueza política do empresariado noBrasil, ou seja, de sua incapacidade de influenciar o poder público para tomar decisões abrangentes quefavoreceriam a operação da iniciativa privada no

     país. A fraqueza política do empresariado, por suavez, o incapacitaria a exercer o papel de liderança3  Cardoso (1975) criou o conceito de “anel burocrático”

     para designar uma forma de interação do setor públicocom o setor privado durante os governos militares. Se-gundo Cardoso, a burguesia industrial não participou di-retamente, sob o regime militar, da “fração dirigente dotopo do aparelho de Estado”, círculo restrito aos própri-os militares e aos tecnoburocratas. No entanto, os gran-des empresários do setor industrial participaram de deci-sões do Estado por meio dos “anéis burocráticos”, alian-ças momentâneas que os uniam a burocratas de agênciasgovernamentais e/ou a administradores de empresas pú-

     blicas, em torno de questões específicas.

    4  Como veremos adiante, as propostas unificantes têmduas características essenciais. Em primeiro lugar, desper-tam elevado grau de interesse em grande quantidade deempresas. Em segundo lugar, criam forte convergência en-tre as empresas interessadas – seja a favor das propostas,seja contra elas (SMITH, 2000).

    5  Neste artigo, a expressão “setor econômico” designa aárea geral de atuação de uma empresa (por exemplo: indús-tria, comércio, agricultura, transporte) e a expressão “cate-

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    que deveria assumir, principalmente, a partir domomento em que o antigo modelo de desenvolvi-mento liderado pelo Estado entrou em crise e emque um novo modelo de desenvolvimento emergiuem seu lugar, modelo em que o papel de protago-nista é reservado para a iniciativa privada.

    Os defensores da tese da fraqueza política sãounânimes em atribuir ao sistema corporativista derepresentação de interesses, em grande medida, aresponsabilidade pela mencionada deficiência deação coletiva e, como conseqüência, pela própriadebilidade política.

    Em que consiste, porém, o sistema chamadode corporativista? Esse sistema foi instituído noBrasil pela legislação sindical da década de 1930,sob o governo de Getúlio Vargas, como o sistema

    oficial para a intermediação dos interesses dos ato-res emergentes no novo cenário político do país – os empresários e os trabalhadores urbanos. Criadohá mais de 70 anos, o sistema corporativista sub-siste até hoje, tendo passado por modificações im- portantes, sem, no entanto, ter perdido seus traçosfundamentais. No que tange às alterações, a cons-tituição de 1988 suprimiu os mecanismos que, aolongo do período anterior, permitiram que o gover-no federal exercesse controle direto sobre o siste-ma corporativista, como a exigência de autoriza-ção prévia para a fundação de sindicatos, o poder 

    de intervir nas eleições para postos de liderança e afaculdade de interferir no funcionamento cotidianodas entidades. As mudanças trazidas pela constitui-ção de 1988 resultaram, portanto, na ampliação daautonomia das entidades do sistema corporativo.Por outro lado, a constituição manteve a unicidadesindical e a contribuição sindical. A manutençãodestes dois institutos explica a sobrevivência daestrutura corporativista até os nossos dias.

     No que di z re spei to à or ganização doempresariado, a unicidade sindical consiste ematribuir a somente um sindicato patronal o statusde representante oficial dos interesses das firmasque realizam atividades econômicas idênticas, si-milares ou conexas – constituindo assim uma

    mesma categoria econômica – e que estão situa-das na região abarcada pela entidade6. Os sindi-catos patronais podem ter abrangência municipal,intermunicipal, estadual, interestadual ou nacio-nal. Eles formam o alicerce da estruturacorporativista, que é composta ainda por organi-zações de grau superior. Na esfera imediatamentesuperior à dos sindicatos, estão as federações, quereúnem sindicatos de empresas que atuam namesma categoria ou no mesmo setor. Na cúpulada estrutura corporativa, situam-se as confedera-ções, que reúnem federações empresariais.

    A filiação das empresas aos sindicatos patro-nais é voluntária. Filiando-se a eles, as empresashabilitam-se a receber os serviços que as entida-des prestam exclusivamente aos associados. En-

    tretanto, o pagamento da contribuição sindical – amplamente conhecida como “imposto sindical” – não é voluntário, uma vez que é devido por to-das as empresas aos sindicatos que as represen-tam. A contribuição sindical devida pelas empre-sas varia conforme o capital que possuem. A con-tribuição sindical responde pela sustentação finan-ceira de todos os níveis da estrutura corporativista,uma vez que a contribuição paga por uma empre-sa é distribuída entre o sindicato (60%), a federa-ção (15%) e a confederação (5%) que a represen-tam. Os 20% restantes vão para a “Conta Especi-

    al Emprego e Salário” do governo federal.Segundo os expoentes da tese da fraqueza polí-

    tica, as regras do sistema corporativista dificultama ação coletiva do empresariado em torno de pro- postas unificantes por duas razões: (i) porque en-gendram entidades setoriais de grau superior, cujoslíderes não são representativos e (ii) porque não prevêem uma entidade de cúpula multissetorial.

    Por que líderes de pouca ou nenhuma expres-são chegam a ser escolhidos pelas entidadessetoriais de grau superior? Porque, graças à legis-lação corporativista, associações de grau inferior que possuem importância econômica muito dife-rente, de fato, obtêm importância equivalente, de

     jure, na vida política interna das associações degrau superior. Ou seja, nos processos eleitoraisdas associações de grau superior, a legislaçãocorporativista iguala o peso de associações eco-

    goria de atividade econômica” designa o segmento específi-co do setor em que uma empresa atua (por exemplo: indús-tria automobilística, indústria de alimentos, indústria de

     bebidas, dentre outros; comércio atacadista, comércio va-rejista, dentre outros; agricultura de café, agricultura desoja, agricultura de cana-de-açúcar, dentre outros; trans-

     porte rodoviário de carga, transporte rodoviário de passa-geiros, dentre outros).

    6 A unicidade sindical é garantida pelo artigo 8º, inciso II,da Constituição brasileira. As regras que regem a organiza-ção sindical no Brasil estão reunidas sob o título V (artigos511-610) da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

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    nomicamente pouco relevantes ao peso de asso-ciações economicamente mais expressivas. Des-te modo, por exemplo, na eleição dos líderes dasconfederações setoriais nacionais, as federaçõesde estados menos importantes para o setor repre-sentado – que são numerosos – possuem pesoequiparável ao peso das federações dos estadosmais importantes – que são poucos. O mesmoocorre, antes, na eleição dos líderes das própriasfederações estaduais, em que sindicatos de muni-cípios e categorias econômicas de pequena im- portância relativa – que são muitos – têm o mes-mo peso que os sindicatos de municípios e cate-gorias econômicas mais importantes – que são poucos. Assim, a escolha para a liderança das en-tidades nacionais geralmente recai sobre empre-sários de pequeno porte, que atuam em categori-as econômicas de importância marginal, e que provêm de estados e regiões menos desenvolvi-das, em vez de incidir sobre os principais empre-sários das categorias econômicas mais pujantes edos estados e regiões mais desenvolvidos do país.Estes líderes eleitos, de pouca expressão, não pre-cisam esforçar-se para atrair, conquistar e manter membros ativos e contribuintes para a entidade, posto que, como foi visto acima, a manutençãofinanceira da entidade já está assegurada pelo im- posto sindical, outra regra do sistema. Desta for-ma, a distorção introduzida pela legislação

    corporativista exerce um efeito direto e negativosobre a representatividade dos líderes das entida-des nacionais, justamente porque os empresáriosmais importantes não se vêem representados na-queles líderes. A falta de representatividade doslíderes das entidades nacionais do sistemacorporativista patronal reduziria a credibilidade, aimportância e a eficácia dessas entidades comoorganizadoras da ação coletiva em torno de de-mandas unificantes na esfera intra-setorial.

    Os autores também apontam que a legislaçãocorporativista não prevê a criação de uma entida-de multissetorial de cúpula. Essa entidade poderiaser o fórum adequado para a formação de con-sensos em torno de políticas públicas capazes detornar a economia nacional mais eficiente. A enti-dade poderia servir ainda como contrapeso à bus-ca de interesses setoriais exclusivos, assim como poderia servir para potencializar o poder da ação política do empresariado. Entretanto, uma tal en-tidade não existe. E a inexistência de uma entida-de multissetorial de cúpula indica, para aquelesautores, que o empresariado brasileiro, como um

    todo, é desarticulado. Esta desarticulação reitera, portanto, a incapacidade empresarial de ação co-letiva em torno de demandas unificantes, agora,de maneira intersetorial.

    A quinta e a última ondas abrangem trabalhos publicados ao longo da década de 2000 (OLIVEI-RA, 2003; MANCUSO, 2004; 2007; MANCUSO& OLIVEIRA, 2006). Esses trabalhos colocamem questão algumas idéias centrais das obras queformam a onda anterior: em primeiro lugar, a idéiade que o empresariado no Brasil é incapaz de açãocoletiva; em segundo lugar, a idéia de que ocorporativismo é a causa principal desta incapa-cidade.

    Os trabalhos da quinta onda mostram que oempresariado que atua no Brasil, efetivamente,

    empenhou-se em um notável processo de organi-zação e de mobilização ao longo da década de1990. Essa ação coletiva decorreu da confluênciade um processo de natureza econômica e outro processo de natureza política7.

     No que se refere ao processo de natureza eco-nômica, é importante levar em conta que a déca-da de 1990 acarretou uma profunda mudança noambiente em que o empresariado atuava no Bra-sil. A causa dessa mudança foi a inflexão liberal na política de estabilização econômica do país, cuja

    implementação remonta ao início do governoCollor (1990), e teve como objetivo enfrentar acrise que atingiu o Brasil desde o começo da dé-cada de 1980 até a primeira metade da década de1990, tendo a inflação descontrolada como sinto-ma mais notável.

    Um elemento-chave da inflexão liberal foi aampliação da abertura da economia brasileira aocomércio internacional, processo que envolveudois movimentos concomitantes. O primeiro foium movimento de abertura “para dentro”, queresultou em grande expansão da concorrência no

    mercado interno, em decorrência do crescimentodo volume de produtos importados. Tal cresci-mento foi favorecido pela queda de barreirastarifárias e não-tarifárias às importações, assimcomo pela sobrevalorização do real, que persistiudesde a implantação da nova moeda, em meadosde 1994, até o princípio de 1999. O outro movi-mento foi de abertura “para fora”, marcado pela

    7  Este parágrafo e os seguintes são baseados em Mancuso(2007) e Mancuso e Oliveira (2006).

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    meta de conquistar mercados novos no exterior.“Exportar ou morrer”: assim o PresidenteFernando Henrique Cardoso expressou essa meta,de forma lapidar, no discurso de posse de SérgioAmaral como Ministro do Desenvolvimento, daindústria e do comércio exterior, em meados deseu segundo governo.

    A década de 1990 também foi marcada peloenvolvimento do Brasil em vários processos denegociações internacionais, dentre os quais des-taca-se o processo de negociação da Área de Li-vre Comércio das Américas (ALCA). Se aprova-da, a ALCA significaria um segundo choque deliberalização comercial, cujo impacto dificilmente pode ser subestimado.

    Esses eventos de natureza econômica – a aber-

    tura comercial efetivamente realizada e a perspec-tiva de uma abertura ainda maior, por meio de ne-gociações internacionais, sobretudo a da Alca – ti-veram importância fundamental para despertar umgrande processo de organização e mobilização po-lítica do empresariado brasileiro. No plano interno,o desafio da concorrência erigiu a competitividadeao patamar de objetivo prioritário a ser perseguido pelas empresas. Assim, a redução do custo Brasiltornou-se a bandeira sob a qual o empresariadocongregou-se. Custo Brasil é a expressão que pas-sou a resumir o conjunto de fatores que prejudi-

    cam a competitividade das empresas do país diantede empresas situadas em outros países. No planoexterno, o empresariado criou a Coalizão Empre-sarial Brasileira (CEB), entidade multissetorial for-mada para participar de processos de negociaçãointernacional em curso – como foi o caso da Alca.Entretanto, o processo de organização e mobilizaçãodo empresariado brasileiro na década de 1990 nãodeve ser interpretado como um desdobramentoespontâneo do processo de natureza econômica.O processo econômico pode ser tomado como umacausa necessária, mas não suficiente, para a referi-

    da mudança de postura do empresariado. É preci-so destacar também a ação política intencional, que permitiu os avanços em termos de organização emobilização.

    A Confederação Nacional da Indústria (CNI)exerceu um papel central de liderança política naorganização e mobilização do empresariado, tantono movimento pela redução do custo Brasil quan-to na criação da CEB. Além de intensa, amobilização empresarial obteve um índice eleva-do de sucesso político (OLIVEIRA, 2003;

    MANCUSO, 2004; 2007). Ora, a CNI é a entida-de de cúpula do sistema corporativista de repre-sentação dos interesses da indústria. Curioso é que justamente o corporativismo é tido pelos autoresda quarta onda como o maior responsável pelasuposta incapacidade de ação coletiva doempresariado do país, tanto no plano intra-setorialquanto no plano intersetorial.

    Os trabalhos da quinta onda mostram que a ini-ciativa da CNI ocorreu mesmo sem ter havido qual-quer mudança significativa no modelo de funcio-namento do sistema corporativista de representa-ção de interesses. A mudança que aconteceu foiuma mudança de contexto, posto que a vigência deum ambiente empresarial mais competitivo, em fun-ção da abertura econômica, serviu como fator 

    indutor da mobilização em relação ao tema do cus-to Brasil. A perspectiva de um aprofundamento ain-da maior da abertura comercial desenhava-se comas negociações da ALCA. Diante da mudança decontexto e dispondo dos recursos procedentes dos pi lares tradicionais do si stema, a es truturacorporativista mostrou-se capaz de assumir o pa- pel do “empreendedor político” – ou seja, o ator que decide, por conta própria, assumir o custo ne-cessário para deflagrar e organizar a ação coletiva,com vistas à provisão do benefício desejado por todos (HARDIN, 1982; MOE, 1988).

    III. UM ROTEIRO PARA PESQUISAS

    É muito amplo o campo aberto para os pesqui-sadores interessados em contribuir para o estudodo empresariado como ator político no Brasil. Nestaseção, levantamos sete questões fundamentais queformam um roteiro para o estudo da matéria. Asquestões apresentadas a seguir admitem uma gran-de variedade de respostas, como ilustra a Tabela 2.As respostas dadas às questões ajudam a definir o perfil da pesquisa a ser realizada. Uma pesquisa podelevar em conta todas as questões ou apenas algu-mas delas. As questões são compatíveis com di-versos recortes históricos, diferentes abordagensteóricas e opções metodológicas variadas. Assimcomo o balanço da literatura realizado na seção an-terior, este roteiro não é completamente exaustivo.É possível traçar roteiros alternativos, formados por questões diferentes.

    A idéia da seção é definir uma agenda de pes-quisa, apontando caminhos que poderiam ser tri-lhados por estudiosos dedicados ao tema. O tra- balho de vários pesquisadores ao longo dessescaminhos permitirá o acúmulo de conhecimento

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    sobre a ação política do empresariado no país.

    As questões são as seguintes:

    1) Quais são os atores focalizados?

    2) Quais são os alvos desses atores?3) Que decisões despertam o interesse desses

    atores?

    4) Em que momentos ocorre a atuação políti-ca?

    5) Qual é a forma da atuação política?

    6) Quais são os fins da atuação política?

    7) Quais são os resultados da atuação políti-ca?

     III.1. AtoresA primeira coluna da Tabela 2 apresenta cinco

    critérios que ajudam a definir, com precisão, o(s)ator(es) focalizado(s) nas pesquisas.

    Um critério é o número de atores. A ação polí-tica empresarial pode ser exercida por vários ato-res, desde o indivíduo isolado até as mais diver-sas espécies de coletividade. A grande maioria dostrabalhos sobre o tema tem focalizado a ação po-

    lítica de conjuntos de empresários. Há um grandeespaço para pesquisas que estudem em profundi-dade as atividades políticas desempenhadas por empresas tomadas individualmente (por exemplo,uma pesquisa sobre as atividades desempenhadas por empresas como a AmBev, a Souza Cruz etc.).

    Outro critério é a área de atuação. É muito im- portante que as pesquisas cubram a ação políticade empreendedores que realizam as mais diversasatividades. As pesquisas podem abordar, por exem- plo, a mobilização política de empresas que perten-cem aos mesmos setor e categoria econômica (por exemplo, industriais do ramo têxtil, agricultores decana-de-açúcar, transportadores aéreos de passa-geiros etc.). Outras pesquisas podem tratar da atu-ação política de empresas pertencentes ao mesmo

    setor, mas a categorias econômicas diferentes (por exemplo, industriais de todos os elos da cadeia pro-dutiva de veículos automotores; transportadores de passageiros e de cargas por via terrestre etc.). Ostrabalhos podem analisar ainda a ação política cole-tiva de empresas ligadas a setores econômicos di-versos (por exemplo, a união em defesa da refor-ma tributária de empresários dos setores industrial,comercial, agrícola, financeiro e de transportes,dentre outros).

    TABELA 2 – QUESTÕES ANALÍTICAS

    FONTE: o autor.

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    A localização geográfica é mais um critério que pode ajudar na definição dos atores a serem foca-lizados. Pesquisas interessantes podem ter comoobjeto a mobilização política de empresários situ-ados em um mesmo município ou em municípiosvizinhos (por exemplo, a mobilização empresarialem municípios de pequeno porte; a mobilizaçãodo empresariado local pela criação de consórciosintermunicipais de desenvolvimento etc.). Damesma forma, as investigações podem abordar aatuação de empresários localizados em um mes-mo estado ou região (por exemplo, a atuação em- presarial com vistas à criação ou à reforma deagências regionais de desenvolvimento, como aAgência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA)ou a Agência de Desenvolvimento do Nordeste(Adene); a atuação política dos agricultores de umestado atingido por fenômenos naturais como se-cas, enchentes etc.). Finalmente, a atenção podeser dedicada ao estudo da ação política empresa-rial em âmbito nacional ou internacional (por exem- plo, a ação de empresários de todo o país em de-fesa da redução das taxas de juros ou em defesado investimento federal em infra-estrutura; a açãocomparada de empresários brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios interessados em proces-sos de negociação internacional como o Mercosuletc.).

    O porte das empresas também é um critériointeressante para a definição dos atores estuda-dos. Há muito espaço, por exemplo, para pesqui-sas sobre a organização e a luta política dosmicroempresários e/ou dos empresários de peque-no e médio portes. Por outro lado, pesquisas degrande relevância podem ser conduzidas sobre amobilização política dos empresários que lideramos segmentos em que atuam. As classificaçõessetoriais publicadas periodicamente por revistasespecializadas podem ser extremamente úteis nestecaso.

    Finalmente, é possível mencionar o critério daorigem do capital das empresas. É oportuno quedesenvolvam-se pesquisas voltadas para a com- preensão de como atuam politicamente, no Brasil,as empresas de capital externo, de diversas naci-onalidades. A atuação política dessas empresastambém pode ser analisada vis-à-vis à atuação dasempresas de capital nacional.

    Os critérios mencionados acima podem ser conjugados para definir ainda com mais precisãoo objeto das pesquisas. Por exemplo, uma pes-

    quisa pode focalizar a ação política doempresariado industrial paulista de grande porte,ligado a empresas multinacionais. Outra pesquisa pode tratar da ação política, na esfera federal, dasgrandes redes multinacionais do setor de super-mercados (Carrefour, Wal-Mart etc.). Em resu-mo, importa enfatizar que é vastíssimo o univer-so de atores empresariais, cuja mobilização políti-ca pode tornar-se matéria de investigação acadê-mica. Este universo fascinante deve ser explora-do em todos os seus quadrantes.

     III.2. Alvos

    O conjunto de decisões do setor público quesão capazes de interferir sobre a atividade do se-tor privado é muito abrangente. A percepção deque tais decisões importam para o desempenho

    das empresas que comandam é o motivo que im- pulsiona os empresários a mobilizarem-se duran-te os processos decisórios, para promoverem seusinteresses.

    Grande parte das decisões relevantes para osempresários que operam no país é tomada pelosetor público nacional. Portanto, os pesquisado-res têm um largo campo de estudo na atuação política do empresariado diante dos três poderes,nas esferas federal, estadual e local.

    Há pouquíssimos trabalhos no Brasil sobre a

    ação empresarial diante dos poderes Executivo,Legislativo e Judiciário, tanto na esfera estadualquanto na esfera local. Assim, ainda há muito queser feito junto aos governos estaduais e às prefei-turas (seja na cúpula do governo, das secretarias,das fundações, das autarquias, das empresas pú- blicas e das sociedades de economia mista; sejano funcionalismo de menor escalão); às assem- bléias legislativas e às câmaras de vereadores (nonível da Presidência, da Mesa Diretora, do Colé-gio de Líderes, das comissões permanentes e tem- porárias, de cada parlamentar e do funcionalismo

    das casas) e aos juizados localizados nos estadose municípios.

    Comparativamente, existem mais estudos so- bre a ação política do empresariado diante dos poderes Executivo e Legislativo, na esfera fede-ral. Mesmo assim, ainda há muito espaço para in-vestigações sobre a atuação dos empresários jun-to ao governo federal (novamente, tanto na cúpu-la da Presidência, dos ministérios, das secretari-as, das fundações, das autarquias, das estatais etc.,quanto no funcionalismo de menor escalão) e junto

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    às Casas do Congresso Nacional (Câmara dosDeputados e Senado Federal). Um caminho pro-missor, e pouco explorado, é o estudo da atuaçãoempresarial frente ao Poder Judiciário federal (por exemplo, uma pesquisa muito interessante pode-ria ser feita sobre as Ações Diretas deInconstitucionalidade (Adins) propostas pelas con-federações sindicais e pelas entidades de classede âmbito nacional).

    Decisões tomadas por órgãos do setor públi-co de outros países também podem interferir so- bre a atividade econômica de empresas localiza-das no Brasil. É o que ocorre, por exemplo, quan-do interpõem-se barreiras tarifárias ou não-tarifárias às exportações nacionais. É importantedesenvolver estudos sobre a mobilização empre-

    sarial que ocorre nesses casos.Outras vezes, as decisões que afetam a ativi-

    dade das empresas situadas no Brasil são toma-das em órgãos internacionais (como a Organiza-ção Mundial do Comércio) ou em acordos bilate-rais ou multilaterais. Também é oportuno investi-gar a atuação empresarial que visa a estas deci-sões.

     III.3. Decisões

    O cientista político norte-americano TheodoreLowi (1964) mostrou que a natureza da política

     pública (isto é, a natureza da policy) ajuda a pre-ver não somente a identidade e a variedade dosinteresses que irão mobilizar-se no processodecisório, mas também o grau de intensidade doconflito que eventualmente prevalecerá entre osinteresses envolvidos na decisão (isto é, a politics).

    Lowi sugeriu que as políticas públicas podemser classificadas, quanto à natureza, em três tiposgerais: distributivas, regulatórias e redistributivas.

    As políticas distributivas favorecem clientelasespecíficas. Como elas são facilmente

    multiplicáveis, vários interesses diferentes podemser atendidos simultaneamente. Desta forma, pre-domina na “arena” distributiva uma relação poucoconflituosa, de “não-interferência mútua” entre osinteresses que dirigem-se aos tomadores de deci-são. Inspirado na tipologia de Lowi e focalizandoexclusivamente as políticas que interessam aoempresariado, Smith (2000) designou este tipo de polí tica pública como polí tica “par ticular”( particularistic issues). Políticas “particulares” provocam um alto grau de interesse no pequeno

    número de empresas beneficiadas e um baixo graude interesse na maioria das outras empresas, pou-co afetadas pelas decisões. Pesquisas interessan-tes podem ser desenvolvidas sobre a mobilizaçãoempresarial por políticas deste tipo, que desper-tam interesses diferentes, mas não-conflitantes(por exemplo, o lobby das empresas de uma cate-goria determinada por benefícios tributários ex-clusivos).

    As políticas regulatórias estabelecem de for-ma clara tanto os atores favorecidos quanto osatores desfavorecidos. Elas diferem, portanto, das políticas distributivas, que estabelecem com cla-reza apenas os “clientes” favorecidos. A políticaregulatória sobre a qual Lowi mais detém-se é a política tarifária do comércio externo nos Esta-

    dos Unidos, a partir de 1962, que estabelece cla-ramente os atores prejudicados (os antigos beneficiários da distribuição “fácil” de tarifas pro-tecionistas) e os atores favorecidos (os novos beneficiários do comércio mais livre). Ao contrá-rio das políticas distributivas, as políticasregulatórias tendem a gerar relações conflituosas.Atores afetados de forma semelhante pela políticaregulatória podem formar coalizões e lutar contraos atores com interesses diferentes dos seus.Smith chama este tipo de política de “conflitiva”(conflicting issues). Elas provocam um alto grau

    de interesse em várias empresas. As empresasmuito interessadas na questão dividem-se em re-lação à proposta: algumas a favorecem; outras acontrariam. Neste caso, portanto, os interessessão diferentes e conflitantes. Decisões deste tipotambém precisam ser investigadas.

    As políticas redistributivas afetam a alocaçãoda propriedade, da riqueza ou da renda. O efeitodas políticas redistributivas pode atingir igualmentetoda uma classe social – de um lado, a classe dosmoney providers; de outro lado, a classe dos servicedemanders. É o que ocorre, por exemplo, quando

    institui-se a tributação progressiva ou um impos-to sobre grandes fortunas. Smith considera queas políticas redistributivas geralmente são políti-cas “unificantes” (unifying issues), pois: (i) des- pertam um grau elevado de interesse entre muitasempresas; (ii) a maioria significativa das empre-sas interessadas compartilha a mesma posição. Neste caso, os interesses empresariais usualmen-te são semelhantes. Assim como as políticasregulatórias – às vezes, ainda mais do que aquelas –, as políticas redistributivas tendem a gerar rela-

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    ções conflituosas entre os interesses implicados.Mas os interesses empresariais, habitualmente,estão reunidos no mesmo lado do conflito.

    Há muito espaço para pesquisas sobre a ativi-

    dade política empresarial com vista aos diversostipos de decisões.

     III.4. Momentos da ação política

    A ação política do empresariado distribui-se aolongo de diversos momentos e, em todos eles,merece ser atentamente pesquisada.

    A ação empresarial remonta ao momento emque é feita a escolha dos indivíduos que participa-rão na tomada de decisões, pelo lado do setor  público8 . Uma maneira de intervir nesta escolha éatuar junto aos partidos políticos quando estes

    definem os candidatos que lançarão às eleições para os cargos do Executivo e do Legislativo, nasesferas federal, estadual e municipal. Nesta oca-sião, o empresariado tem duas opções: apoiar can-didatos oriundos de suas próprias fileiras e/oudefender candidatos afinados com as suas posi-ções. Vale a pena lembrar, como exemplo, que JoséAlencar Gomes da Silva, eleito Vice-Presidente daRepública pelo Partido Liberal de Minas Gerais(hoje no Partido Republicano Brasileiro do mes-mo estado), é um grande empresário da indústriatêxtil. Além disso, os três últimos ocupantes da

    Presidência da Confederação Nacional da Indús-tria são (ou foram) membros do Poder Legislativofederal: o ex-Presidente Carlos Eduardo MoreiraFerreira foi Deputado Federal pelo Partido da Fren-te Liberal (PFL) de São Paulo, na legislatura 1999-2003; o ex-Presidente Fernando Luiz GonçalvesBezerra foi Senador pelo Partido Trabalhista Bra-sileiro (PTB) do Rio Grande do Norte, entre 1999e 2007; o atual Presidente, Armando de QueirozMonteiro Neto, é Deputado Federal pelo PartidoTrabalhista Brasileiro (PTB) de Pernambuco.

    A contribuição para campanhas eleitorais éoutra maneira pela qual os empresários intervêmna escolha dos indivíduos que participam na to-mada de decisões. No Brasil, as entidades de classee as entidades sindicais são proibidas de oferecer contribuições de campanha para partidos políti-

    cos ou candidatos a cargos eletivos (Lei n. 9 504/97, artigo 24, inciso VI). Por essa razão, as con-tribuições de campanha são um instrumento dis- ponível para os empresários em base individual,assim como para suas empresas. A contribuição para campanhas eleitorais é um assunto ampla-mente explorado pela literatura internacional so- bre a atuação política do empresariado. Em con-traste, a questão das contribuições de campanhaainda é pouco estudada no país, apesar da granderelevância do tema e do esforço notável de alguns pesquisadores (há uma coletânea de estudos aca-dêmicos sobre financiamento de campanhas elei-torais em TRANSPARÊNCIA BRASIL, s/d). Aescassez de trabalhos sobre a matéria no Brasilestá associada à pobreza dos dados disponíveis.Existe uma convicção generalizada de que as in-formações prestadas pelos partidos políticos aostribunais eleitorais são pouco confiáveis. O pro-gresso do conhecimento neste campo depende demais e melhores informações sobre as fontes derecursos de partidos e candidatos, o que, por suavez, depende do aperfeiçoamento da legislaçãosobre financiamento de campanhas eleitorais, as-sim como do aprimoramento da fiscalização.

    Além de apontar candidatos a cargos eletivose contribuir para campanhas eleitorais, os empre-sários também sugerem ou vetam nomes para

    cargos de indicação em ministérios, secretarias,fundações, autarquias, empresas estatais, institui-ções públicas de financiamento da produção (por exemplo, Banco do Brasil, Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social etc.), agên-cias reguladoras etc.

    Uma vez definidos os participantes do proces-so de tomada de decisão, novos momentos abrem-se para a ação política do empresariado. Estesmomentos correspondem aos estágios que for-mam o ciclo decisório propriamente dito9. Estesestágios variam de acordo com as instâncias em

    que as decisões são tomadas. Quando a instânciaé, por exemplo, o Poder Legislativo federal, o ci-clo decisório abrange os seguintes estágios: a for-mulação das proposições analisadas pelo parlamen-to; a discussão das proposições no âmbito das

    8 Alguns indivíduos que participam das decisões pelo ladodo setor público são selecionados mediante concurso. Nes-te caso, a intervenção do setor privado no processo deescolha é mais difícil.

    9  Howlett e Ramesh (2003) sugerem que o ciclo decisóriodas políticas públicas seja analiticamente dividido em cin-co estágios: formação da agenda; formulação; tomada dedecisão; implementação; avaliação.

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    comissões e/ou do plenário da Câmara dos Depu-tados ou do Senado Federal; a votação das propo-sições discutidas; dependendo do tipo de proposi-ção, o pronunciamento do Presidente da Repúbli-ca sobre o texto aprovado, assim como a votaçãodos parlamentares sobre vetos eventualmente in-terpostos pelo presidente. A articulação dos inte-resses empresariais pode ocorrer em qualquer umdos estágios mencionados da produção legislativa.

    A ação política do empresariado também es-tende-se ao momento que sucede a tomada dedecisão propriamente dita. Em primeiro lugar, émuito comum a mobilização dos empresários paraintervir na fase de regulamentação ouimplementação das decisões tomadas. A regula-mentação usualmente é feita por meio de atos,

     portarias, circulares, notas técnicas e vários ou-tros mecanismos à disposição da burocracia doPoder Executivo. Em segundo lugar, sempre existea possibilidade de recurso ao Poder Judiciário,quando o segmento considera uma decisão lesivaaos seus direitos.

    Por todo o exposto, torna-se patente que a açãodo empresariado é multifacetada, e distribui-se aolongo de diversos momentos relevantes. Pesqui-sas de grande interesse podem investigar a atua-ção empresarial em vários desses momentos ouconcentrar a atenção em algum deles, especifica-

    mente.

     III.5. Forma da ação política

    A interação de empresários com o setor público pode assumir uma forma degenerada. É o que acon-tece quando está em jogo a obtenção de vantagens

    ilícitas para ambas as partes; quando empresáriosconcedem dinheiro e/ou outros benefícios aostomadores de decisão, em troca de diversos tiposde recompensas ilegais. Naturalmente, detectar einvestigar episódios como esses, assim como pu-nir os seus culpados, são atitudes da maior impor-tância para a defesa do interesse público. A mídia brasileira tem oferecido uma contribuição valiosaneste sentido, ao denunciar e acompanhar diaria-mente numerosos eventos de corrupção. No en-tanto, a análise da interação ilícita entre empresári-os e o setor público não precisa ser monopólio dos

     jornalistas. Os cientistas sociais podem tratar destefenômeno em suas pesquisas.

    Por outro lado, a parcela não-ilegal da interação público-privado também oferece um terrenofertilíssimo para a investigação acadêmica, umterreno muito mais acessível e que ainda perma-nece relativamente inexplorado.

    A Tabela 3 apresenta alguns exemplos de ativida-des que podem ser realizadas pelos empresários emdefesa dos seus interesses. O estudo das técnicas,táticas e estratégias empresariais de ação política é

    mais um campo aberto para os pesquisadores.

    FONTE: o autor.

    TABELA 3 – POSSÍVEIS AÇÕES DOS EMPRESÁRIOS EM DEFESA DE SEUS INTERESSES

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     III.6. Fins e resultados da ação política

    Basicamente, a atuação política doempresariado pode visar a dois fins opostos: em primeiro lugar, mudar o status quo para melhor,

    tanto quanto possível (atitude ofensiva). Em se-

    gundo lugar, impedir a piora do status quo, tantoquanto possível (atitude defensiva).

    Assim, as decisões do setor público podemser classificadas em quatro categorias, do ponto

    de vista dos agentes privados, como mostra aTabela 4.

    TABELA 4 – DECISÕES E STATUS QUO

    FONTE: o autor.

    Um sucesso político pode ser definido como aconvergência entre o teor da decisão e a posiçãoempresarial. Por sua vez, um insucesso consistena divergência entre o teor da decisão e a posiçãoempresarial.

    O empresariado pode colher dois tipos dife-rentes de sucesso. O ganho ocorre quando oempresariado postula uma decisão que muda ostatus quo para melhor, e esta decisão é tomada pelo setor público. O alívio ocorre quando oempresariado opõe-se a uma decisão que levaria à piora do status quo, e esta decisão não é tomada.

    Por outro lado, os empresários também po-dem colher dois tipos diferentes de insucesso. A perda acontece quando o empresário luta contrauma decisão que mudará o status quo para pior,mas a decisão é tomada mesmo assim. A frustra-ção é um tipo de insucesso político que ocorrequando o empresariado defende uma decisão quemudaria o status quo para melhor, mas a decisãonão é tomada.

    Os indicadores de sucesso político utilizáveisem pesquisas empíricas podem ser classificados

    em dois tipos: os indicadores baseados em im- pressões e os indicadores baseados em resulta-dos10.

     No caso dos indicadores baseados em impres-sões, o pesquisador pode empregar três fontesdiferentes de informação. Pode utilizar, por exem- plo, a avaliação que o empresário faz a respeito de

    seu próprio sucesso em episódios de decisão po-lítica. Ele também pode recorrer à avaliação dotomador de decisão sobre o grau de sucesso obti-do pelo empresariado. O pesquisador pode aindausar como indicador de sucesso a avaliação que éfeita por observadores experientes e familiariza-dos com o contexto em que as decisões ocorrem. Nas três circunstâncias, ele relata a avaliação queé feita por outros indivíduos.

     No caso dos indicadores baseados em resulta-dos, o papel reservado para o pesquisador é mui-to maior. Para apontar a presença ou a ausência

    de sucesso político, o pesquisador verifica o con-teúdo efetivo da deliberação tomada e o coteja coma posição empresarial, em vez de valer-se sim- plesmente das impressões manifestadas pelo pró- prio ator, pelo tomador de decisão ou por experts.

    Mensurar o grau de sucesso político doempresariado e avaliar o tipo predominante desucesso (ou insucesso) são desafios fascinantesque colocam-se para os cientistas sociais. Pes-quisas que encarem esses desafios podem pro- porcionar uma resposta empiricamente fundamen-tada para uma questão central da literatura sobrea relação entre o empresariado e o poder públicoem democracias capitalistas: o empresariado real-mente ocupa uma posição política privilegiada, emdecorrência da dependência estrutural do Estado,e da sociedade como um todo, em relação ao ca- pital (MILIBAND, 1969; 1989; LINDBLOM &DAHL, 1976; LINDBLOM, 1977; 1980; 2001;OFFE & WIESENTHAL, 1984; PRZEWORSKI& WALLERSTEIN, 1988)? Ou tal supremacia nãoexiste, podendo o poder político do empresariadovariar de caso para caso, ao longo do tempo e de

    10  Uma ampla discussão sobre esse tópico pode ser en-contrada no terceiro capítulo de nosso livro (MANCUSO,2007).

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    um lugar para o outro (VOGEL, 1987; 1989;1996)?

    IV. COMENTÁRIOS FINAIS

    Ao iniciar o seu trabalho, um pesquisador de-cidido a estudar a ação política do empresariadono Brasil enfrenta, simultaneamente, dois grandesdesafios: em primeiro lugar, conhecer o que foifeito até então pelos colegas que o antecederam;em segundo lugar, definir o perfil de sua própria pesquisa, de modo a situá-la diante do conheci-mento que já foi produzido.

    Este artigo oferece uma contribuição em ambasas frentes. A Tabela 1, apresentada na primeiraseção, reconstitui e sintetiza um longo debate, tra-vado há décadas, acerca da força (ou fraqueza)

     política do empresariado que atua no país. Por-tanto, a primeira seção do artigo recorta a vastaliteratura existente, focalizando as obras referen-tes ao debate mencionado e propondo uma inter-

     pretação deste debate. Como foi dito, a seção nãoaborda toda a literatura relevante. Além disso, po-dem ser propostas outras interpretações para omesmo debate. Apesar destes limites, a primeiraseção pode ser útil para orientar o investigador interessado em dirigir seus esforços para o enri-quecimento desta discussão.

    Por sua vez, a Tabela 2 apresentada na segun-da seção, identifica questões utilizáveis para de-terminar a natureza de novas pesquisas sobre otema. Essa tabela também proporciona possíveisrespostas para as questões cruciais que foram le-vantadas. Desta forma, a segunda seção do artigoaponta uma série de caminhos promissores paranovos estudos empíricos sobre a atuação políticaempresarial.

    A mensagem deste artigo pode, então, ser re-sumida da seguinte maneira: nosso campo de es-tudos possui uma história respeitável e, hoje, con-tinua bem vivo, em expansão!

    Wagner Pralon Mancuso ([email protected]) é Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo(USP) e Professor do Curso de Gestão de Política da mesma instituição.

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    O EMPRESARIADO COMO ATOR POLÍTICO NO BRASIL

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    OUTRA FONTE

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 28: 259-263 JUN. 2007

     

    THE ENTREPRENEURIAL SECTOR AS A POLITICAL ACTOR IN BRAZIL: ANINVENTORY OF THE LITERATURE AND A RESEARCH AGENDA

    Wagner Pralon Mancuso

    This article presents, in the first place, an inventory of academic production on the entrepreneurialsector as a political actor in Brazil. We intend to argue that since the early 1950s and until the present, an important part of this literature is centered around a fundamental debate: whether theBrazilian entrepreneurial class should be considered a “weak” or a “strong” political actor. In thesecond place, we propose a research agenda on the issue. For such purposes, we raise issues that,when taken together, provide a wide-ranging script for study on the topic. In expounding this script,we identify elements that can be explored by the community of social scientists that have interest inthe issue.

    KEYWORDS: entrepreneurial sector; bourgeoisie; corporatism.

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 28: 267-271 JUN. 2007

     

    L’ENTREPRENEUR COMME ACTEUR POLITIQUE AU BRÉSIL: FAIRE LE POINT SUR LA LITTÉRATURE ET LES PROJETS DE RECHERCHE

    Wagner Pralon Mancuso

    D’abord, cet article fait le point sur la production académique concernant l’entrepreneur commeacteur politique au Brésil. D’abord, depuis les années 1950 jusqu’à nos jours, une part importante decette littérature est centrée sur une question essentielle : l’entrepreneur qui opère au Brésil est-il unacteur «fort» ou «faible»? Ensuite, cet article propose un agenda de recherches sur le thème. A ceteffet, il soulève des questions qui, globalement, forment un important scénario pour l’étude de cettematière. L’exposé de ce scénario servira à identifier des éléments pouvant être exploités par lacommunauté de scientifiques sociaux qui s’y intéressent.

    MOTS-CLÉS: entrepreneurs; bourgeoisie; pouvoir; corporativisme.

    * * *