28
\R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 71, p. 159 - 186, nov. - dez. 2015 \ 159 ŽĂͲ&Ġ KďũĞƟǀĂ ŶĂƐ ZĞůĂĕƁĞƐ Empresariais: WĂƌąŵĞƚƌŽƐ ƉĂƌĂ Ž ĐŽŶƚƌŽůĞ ĚĂ ĂƟǀŝĚĂĚĞ ĚŽ ŝŶƚĠƌƉƌĞƚĞ ZĂĨĂĞů DĂŶƐƵƌ ĚĞ KůŝǀĞŝƌĂ Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Advogado. Pós-graduando pela Esco- la da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. SUMÁRIO: ϭ WĂƌƟĐƵůĂƌŝĚĂĚĞƐ ĚĂ /ŶĐŝĚġŶĐŝĂ ĚĂ ŽĂͲ&Ġ ŶŽƐ ŝǀĞƌƐŽƐ Ăŵ- ƉŽƐ EŽƌŵĂƟǀŽƐ Ϯ ŽĂͲ&Ġ Ğ ĂƐ ZĞůĂĕƁĞƐ ŵƉƌĞƐĂƌŝĂŝƐ ϯ ĂƚĞŐŽƌŝĂ ĚŽƐ ŽŶƚƌĂƚŽƐ ŵƉƌĞƐĂƌŝĂŝƐ Ğ ƐĞƵƐ ŽŶƚŽƌŶŽƐ 'ĞƌĂŝƐ ϰ K ŝƌĞŝƚŽ ŵƉƌĞ- ƐĂƌŝĂů ŶĂ >ĞŐĂůŝĚĂĚĞ ŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂů ϱ Ɛ &ƵŶĕƁĞƐ ĚĂ ŽĂͲ&Ġ ŶĂƐ ZĞůĂĕƁĞƐ ŵƉƌĞƐĂƌŝĂŝƐ ϲ ŽŶƚƌĂƉŽŶƚŽ K ZŝƐĐŽ /ŶǀĞƌƟĚŽ ĚĞ /ŶĞĮĐĄĐŝĂ ĚĂ ŽĂͲ&Ġ ϳ ŽĂͲ&Ġ sƵůŶĞƌĂďŝůŝĚĂĚĞ Ğ ŝŐŶŝĚĂĚĞ hŵ ŽƚĞũŽ EĞĐĞƐƐĄƌŝŽ ϴ ŽŶĐůƵ- ƐĆŽ KƐ ĂŵƉŽƐ EŽƌŵĂƟǀŽƐ ŶŽ ŽŶƚĞdžƚŽ ĚŽƐ WĂƌąŵĞƚƌŽƐ ĚĞ ƉůŝĐĂĕĆŽ ĚĂ Boa-Fé. ϭ WZd/h>Z/^ /E/E/ Kͳ& EK^ /sZ^K^ CAMPOS NORMATIVOS A ďŽĂͲĨĠ ŽďũĞƟǀĂ Ġ ŶŽƌŵĂ ƋƵĞ ŝŵƉƁĞ ĂŽƐ ƐƵũĞŝƚŽƐ ĚĞ ƵŵĂ ƌĞůĂĕĆŽ ŽďƌŝŐĂĐŝŽŶĂů Ƶŵ ĐŽŵƉŽƌƚĂŵĞŶƚŽ ŽďũĞƟǀĂŵĞŶƚĞ ĂĚĞƋƵĂĚŽ Ă ƉĂƌąŵĞƚƌŽƐ ĚĞ ůĞĂůĚĂĚĞ Ğ ŚŽŶĞƐƟĚĂĚĞ ĂƚĞŶƚŽ ĂŽƐ ŝŶƚĞƌĞƐƐĞƐ Ğ ă ůĞŐşƟŵĂ ĐŽŶĮĂŶĕĂ ĚĞƐƉĞƌƚĂĚĂ ŶĂ ĐŽŶƚƌĂƉĂƌƚĞ Ğ ĐŽůĂďŽƌĂƟǀŽ ŶĂ ƉĞƌƐĞĐƵĕĆŽ ĚŽƐ ĮŶƐ ĐŽŵƵŶƐ ĂůŵĞũĂĚŽƐ ĐŽŵ Ž ĂĐŽƌĚŽ ^ŝŶƚĞƟĐĂŵĞŶƚĞ ƉŽĚĞͲƐĞ ĂĮƌŵĂƌ ƋƵĞ Ġ Ƶŵ ĚĞǀĞƌ ĚĞ ĐŽŶƐŝĚĞƌĂĕĆŽ ƉĂƌĂ ĐŽŵ Ž alter 1 . Em meio a um cenário de releitura do direito privado à luz da nor- ŵĂƟǀĂ ĐŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂů ŝŵƉĂĐƚĂŶĚŽ ŝŶƚĞŶƐĂŵĞŶƚĞ Ă ƚĞŽƌŝĂ ĚĂ ŝŶƚĞƌƉƌĞƚĂ- 1 KhdK ^/>s ůſǀŝƐ ĚŽ A Obrigação como Processo. ZŝŽ ĚĞ :ĂŶĞŝƌŽ ĚŝƚŽƌĂ &'s ϮϬϬϲ Ɖ ϯϯ

Empresariais - Site - EMERJ...\R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 71, p. 159 - 186, nov. - dez. 2015 \ 159 } r& K i À v Z o Empresariais: W u } } } v } o À ] } ] v Z ( o D v µ

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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 71, p. 159 - 186, nov. - dez. 2015 159

Empresariais:

Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Advogado. Pós-graduando pela Esco-la da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.

SUMÁRIO: -

-

-

Boa-Fé.

CAMPOS NORMATIVOS

A

alter1.Em meio a um cenário de releitura do direito privado à luz da nor-

-

1 A Obrigação como Processo.

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2 -tos – entre eles, a boa-fé – atuarem em vários setores do ordenamento,

“A evolução histórica recente do direito civil brasileiro parece paradoxal e contraditória, pois caracterizada por duas ten-dências contrárias: a tendência de fragmentação das fontes

--

imposição de deveres ex vi lege ou mediante -, como a

da boa-fé, bons costumes, combate ao abuso e lesão, apenas (grifo nosso)

4

só pode ser bem compreendida se estudada à luz dos pressupostos que a

O primeiro fator a ser destacado é a importância do método siste-

por meio da qual o intérprete estabelece as conexões entre o enunciado

do caso concreto5.

-

-

2

2002, p. 57-87.

3 O Novo Direito Privado e a Proteção dos Vulneráveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 15.

4 -In

Novo Código Civil Brasileiro e Outros Temas:

5 -nal transformadora. 7. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 140.

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-6.

como um standard standard -

e probidade7.-

bonus pater familias -

8 --

9. É essa standards

pela simples razão de que os standards de comportamento

6 -

-

A Boa-Fé no Código Civil

7 MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado -vista dos Tribunais, 2000, p. 411.

8 SCHREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civildos danos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 39-41.

9 MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado, op. cit., p. 412-413.

-In: . Rio de Janeiro: Re-

-

standards

Revista Trimestral de Direito Civil

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Note-se -plicidade de standards

só com as demais normas que compõem o ordenamento como também

“a cláusula geral da boa-fé não atua unidimensionalmente,

peculiares a cada setor em que se desdobra a experiência ju- (grifo no original)

-

--

12

que devem ser observadas pelo operador do direito para a correta aplica-13.

--

ões-problemas que po-

Revista do Advoga-do

op. cit., p. 388-389.

In Estudos de Direito Privado e Processual Civil:

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-

a --

tuados14

15, a boa-fé permaneceu no substrato -

16. Não é demais relembrar que a

-17.

empresários que mais se evidencia a necessidade de aprofundamento no -

consumo18 -19.

14 MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado, op. cit., p. 117.

15 Ibidem, p. 110.

16 Ibidem, p. 209.

que for mais conforme à boa fé, e ao ver-

op. cit., p. 29-30.

Teoria Geral dos Contratos Empresariais, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 34.

-Contratos entre Empresas. São Pau-

-

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CONTORNOS GERAIS

São contratos empresariais20

ostentam o status -dades empresariais desenvolvidas por ambos21

-

-

22

escopo de lucro bilateral -liar23 -

por ele desenvolvida24. Enquanto nos contratos de consumo a busca pelo lucro recai apenas sobre o fornecedor, e nos contratos civis possui caráter

25.

de seus contratos, é certo que este procederá os cálculos necessários para

-

Paula Castello. Contratos entre Empresas, op. cit

Contratos entre Empresas, op. cit., p. -

, op. cit., p. 94-96).

Teoria Geral..., op. cit., p. 37-47.

23 Ibidem, p. 46.

BARBOZA, Heloisa Helena; BODIN DE MORAES, Maria Celina. República, v. III. Rio de Janeiro: Renovar, 2011, p. 8).

Teoria Geral..., op. cit., p. 47.

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26. O em-

custos de transação” que terá ao se relacionar com terceiros27. Tal cálculo

-28. Diante de tal cenário, torna-se evidente que:

-

sopesadas e ponderadas pelo intérprete, pois não estão di-vorciadas, em absoluto, do exercício dos direitos e das posi-

29

30, estes deverão ser pessoas experimentadas, que saibam atuar no mercado31

orientar32

33.-

Contratos entre Empresas, op. cit., p. 96.

Teoria Geral..., op. cit., p. 60.

op. cit., p. 42.

op. cit., p. 51.

Código Civil Interpretado..., v. III, op. cit., p. 8.

op. cit., p. 53.

O Novo Direito Privado..., op. cit., p. 156.

33 ZANCHIM, Kleber Luiz. Contratos Empresariais -

-

Teoria Geral..., op. cit., p. 119-120).

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34

risco contratual, ndependentemente da vontade

delas”35

-

36 -37.

-

mercado, inerente ao campo interempresarial, é um fator a ser considera-

4. O DIREITO EMPRESARIAL NA LEGALIDADE CONSTITUCIONAL

-

--

solidarista, afastando-se das lentes patrimonialistas e individualistas que --

34 LUPION, Ricardo. -

-Percurso. Centro Universitário

.

35 ZANCHIM, Kleber Luiz. Contratos Empresariais, op. cit., p. 134.

Teoria Geral..., op. cit., p. 136.

op. cit., p. 53.

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Primeiramente, deve-se tomar em conta que, a par da solidarie-38, de forma

liberdade na solidariedade”39.-

40.

41. Deve-se, sim, reconhe-

“o dever, imposto ao empresário, de observar, ao lado dos -

dos consumidores, da livre concorrência, do meio ambiente e

a função social da empresa atende, também, à tutela dos interesses dos empregados e de suas famílias que dela de-pendem para seu sustento, os quais deverão ser preservados

42

-43.

op. cit., p. 17.

Revista Trimestral de Direito Civil.

, op. cit., p. 32.

..., op. cit., p. 168).

Código Civil Interpretado..., v. III, op. cit., p. 6.

In: Na Medida da Pessoa Humana: estudos de

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ção da -

44.

-

comuns constantes do diploma.

-

-

--

45

46

47.

op. cit., p. vi.

Teoria Geral..., op. cit.-

standards próprios da op. cit., p. 22-23).

Teoria Geral..., op. cit., p. 120.

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busca da compreensão das cláusulas contratuais que se revele mais ade-

presariais, nas quais o escopo bilateral de lucro muitas vezes coloca o interesse individual dos contratantes em rota de colisão,

-48. Já

-49.

50 --

blemas, sendo reiteradamente executadas pelos comerciantes e chan-

-

também se comportem de acordo com esse modelo usual, o que amplia 51.

-

negócios empresariais e na colmatação de eventuais lacunas-

op. cit., p. 39.

op. cit. op. cit., p. 57.

Teoria Geral..., op. cit.op. cit., p. 22.

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-

standard 52,

e observadas está, primeiramente, em que suscitam uma

--

-

---

-

-54.

-

-Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais. São Paulo: Revista

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. A liberdade

âmbito de tais 55

abuso de direito Modernamente, compreende-se o abuso do direito como a descon-

-56, buscados esses na tábua de valores

passa a ser substancialmente limitada ( , remodelada) pelos valores existenciais57 -

-58

--

Contratos Empresariais, op. cit., p. 274). -

---

-

-

In -novar, 2013, p. 425-426.

In: Temas de Direito Civil, t. III. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 5.

op. cit., p. 42.

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-

-

-nhum ato poderá ser reputado ofensivo à boa-fé no campo comercial. Judith

contratual em pacto entre empresários. Tratava-se de contrato celebrado

o recebimento dos cartões, contendo cláusula de rescisão. No mesmo dia -

melhante ao primeiro, que, contudo, não previa expressamente o prazo de

59. Em razão disso, a distribuidora, que contava com a venda dos cartões para terceiros para que pudesse auferir recursos e adimplir sua

--

60.

de uma mesma moeda61 -

-op.

cit., p. 54-55.

-

op. cit., p. 37).

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intensidade dos deveres instrumentais impostos aos contratantes.

-

contratante. Ocorre que, no âmbito societário, também os administrado-res possuem um dever de conduta para com a sociedade que adminis-

62. Assim, não obs-

alter -

de forma que a apreensão relacional desses deveres resulta na, para que estes não

63.

---

por não realizá-la, devendo arcar com os riscos de contratar com base 64

o procedimento usualmente adotado é o da due diligence, consistente na

-

65. Tal expediente, embora não tenha o condão de

sua intensidade66

-

62 LUPION, Ricardo. ..., op. cit.., p. 145.

63 Ibidem, p. 142-143.

Teoria Geral..., op. cit., p. 140.

65 LUPION, Ricardo. ..., op. cit., p. 169-170.

op. cit., p. 43.

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67 -68, uma

vez que o dever de informar, nesse campo, não se confunde com o dever de aconselhamento69

--

cessárias à sua tomada de decisão70. Caberá então aos administradores da

-vidual da companhia administrada71

72.-

res laterais impostos pela boa-fé vincula os contratantes a comportamen-

73

--

namento reconhece fontes alheias à vontade das partes. Ademais, embora

-

-74.

Teoria Geral..., op. cit., p. 141. O Enunciado n. 27 da I Jornada de Direito Comercial do CJF

68 LUPION, Ricardo. ..., op. cit., p. 174.

op. cit., p. 366-367.

Teoria Geral..., op. cit., p. 141-142.

71 PARENTE, Flávia. O Dever de Diligência dos Administradores de Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 116 apud op. cit., p. 362-363.

72 LUPION, Ricardo. ..., op. cit., p. 172.

Teoria Geral..., op. cit., p. 122.

74 Ibidem, p. 126-131.

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a -

duta dos agentes econômicos

75

ser suportado por aquele que errou, e não pela sua contraparte76. Assim, no direito comercial, torna-se especialmente importante que a boa-fé não seja invocada como um meio de despir o agente econômico de sua sagaci-dade peculiar, autorizando comportamentos desconformes ao parâmetro do mercado77.

especialmente difundida em sistemas como o nosso, onde o

ao consumidor – é, no entanto, tão perigosa quanto o é a ten-tação oposta. Ou seja: o argumento de que a boa-fé compor-ta níveis diversos de intensidade corre o sério risco de tornar

-

um para com o outro.

É justamente aí, no campo das relações mercantis, tão sensível aos imperativos da globalização e da uniformização

op. cit., p. 23.

76 ROPO, Enzo. O Contrato. Coimbra: Almedina, 1988, p. 225 apud LUPION, Ricardo. .., op. cit.,

quem toma riscos deve suportar suas consequências” Contratos Empresariais, op. cit., p. 153).

Teoria Geral..., op. cit., p. 214.

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verdadeiramente inovadora. Ou não.”78

De fato, com o advento do CDC, os tribunais, inexperientes quanto

-

79 -

à -

80.-

contratos empresariais o modelo liberal clássico de contrato, caracterizado predomi-

--

81 -

intensidade dos deveres secundários, ou o reconhecimento de um maior -

espécie de controle

Teoria dos Contratos

op. cit., p. 31-33.

op. cit., p. 397-398.

Cosmos e Taxis -In A Reconstrução do Direito Privado

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-

82.

-

Aos empresários deve ser concedida autonomia para que possam

83.

-

84. O delineamento dessa questão passa pela correta compreensão do conceito de vulnerabilidade.

-

suppressio". Comentários ao acórdão no REsp 401.704/PR (rel. Min. Honildo Amaral de Mello Cas- In O Superior

. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 513-542, passim.

op. cit., p. 40.

-

.., op. cit., p. 176).

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-85.

A doutrina consumerista explica a vulnerabilidade como sendo -

ca86 i) técnica: ii)

-cos; iii

iv87.

isonomia, sendo necessário um tratamento diferenciado do contratan-88.

In

Direito Uerj 80 Anos: Direito Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015, p. 218-219.

-

-

O Novo Direito Privado..., op. cit

contratantes é economicamente vulnerável enquanto o outro é tecnicamente vulnerável) (SCHREIBER, Anderson. op. cit., p. 220).

-

do Consumidor, op. cit., p. 269).

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89. A questão foi bem percebida por Carlos Nelson Konder:

“Trazida do cenário da saúde pública, [a vulnerabilidade] foi -

cente doutrina a devolve à sua origem natal, restabelecendo e aprofundando o vínculo entre esse conceito e a inexorável fra-gilidade da condição humana. Nessa toada, diversos estudos foram publicados, dedicando-se à construção de mecanismos

-.

--

vulnerabilidade existencial

-mana. Por outro lado, a vulnerabilidade patrimonial -

à sua personalidade”91.-

cente, portanto, ao campo patrimonial, não afasta a tutela da vulnerabili-dade existencial. Essa vulnerabilidade pode decorrer tanto do fato de que,

-tura do contrato, como de que, em outros casos, os contratos se revelam

92.

humanismo, a vulnerabilidade humana será tutelada, prioritariamente, onde quer que se manifeste. Terão prece-

In: Na Medida da Pessoa Humana:Janeiro: Renovar, 2010, p. 83-84).

Revista Brasileira de Direito Civil,

-Revista de Direito do Consumidor

Autonomia Privada e Dignidade Humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 290-294.

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-93.

em regra, não há que se falar em tutela da vulnerabilidade existencial em contratos entre empresários.

-tural, o chamado empresário individual. O empresário individual exerce a empresa em nome próprio, respondendo ilimitadamente pelas obri-

com outros empresários94. Tal vulnerabilidade, no entanto, deve sempre --

tada aos empresários.O reconhecimento da vulnerabilidade existencial de um dos contra-

-

verdadeiro -95, é preciso recordar que a boa-fé

In: Temas de Direito Civil, t. III. Rio de

-

op. cit., p. 34.

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-

-

CDC96 -vel. Os deveres instrumentais imputados ao contratante não vulnerável se tornam -

Frise-se que -

provado estado de vulnerabilidade existencial.-

-

-

uma relação entre empresas e não houver uma situação de

o dever de informar, gerado pela boa-fé, terá muito menor in-tensidade do que na hipótese de a relação estar fundada em

-a -

nor espaço concedido à autonomia negocial estão em direta

simétrica ou assimétrica, subjacente à relação jurídica em causa. Quanto maior o peso da horizontalidade, maior será o espaço da autonomia negocial e com menor intensidade inci-

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diminuto será o espaço de exercício da autonomia, e mais for-temente serão irradiados os deveres e limites decorrentes da

97 (grifo nosso)

Com efeito, doutrina comercialista98

dos deveres anexos. Note-se que não há, em tese, qualquer impossibili-

O fato de tanto a vulnerabilidade existencial como a patrimonial

-res existenciais, a própria pessoa do contratante, impondo-se de forma

-

-

qualquer dos contratantes.Desse modo, é correta a conclusão da doutrina de que a vulnerabilida-

99.

Tepedino:

“não se pode banalizar a expressão jurídica da vulnerabilidade, obliquamente empregada para favorecer o pequeno empresá-

Jurisprudência Brasileira. Curi-

Contratos entre Empresas, op. cit., p. 128-136, 156-157.

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rio ou o acionista minoritário, mediante a invocação da hipos-

teorias maximalistas, acaba-se por perder a dimensão axioló- .

8. CONCLUSÃO: OS CAMPOS NORMATIVOS NO CONTEXTO DOS

do ca -

- Não

-

--fé. A doutrina aponta uma série de outros elementos que devem ser

101 102 103.

O intérprete deverá tomar em conta todos esses dados no momen---

papel central desempenhado pela boa-fé no direito privado, não como

para a co

op. cit., p. vi.

op. cit., p. 534.

Teoria dos Contratos, op. cit., passim.

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