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22 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente saindo da sala?
The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23
Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de direitos
humanos universais inalienáveis que devem ser protegidos e respeitados.
No entanto, não há tanto consenso sobre como as empresas devem abordar
um tema que até recentemente era visto apenas como um dever do estado.
Com o aval dos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas
e Direitos Humanos, as empresas começaram a reconhecer que elas
também têm um papel importante em assegurar que suas atividades não
impactem de forma adversa os direitos humanos. Melissa Castillo Spinoso,
Analista de Investimentos em Sustentabilidade, destaca o caso de negócios
pela proteção dos direitos humanos e explica como a RobecoSAM avalia a
abordagem das empresas com relação às questões de direitos humanos.
Há muitos anos, a responsabilidade das empresas
quanto ao respeito pelos direitos humanos tem sido
uma questão incômoda. Embora as empresas há muito
já conheçam as normas trabalhistas internacionais,
tais como a Declaração da Organização Internacional
do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais
no Trabalho (ver Quadro), até recentemente as
empresas não se davam conta da relevância de um
conceito mais amplo de direitos humanos para as
suas atividades de negócios. Tudo isso começou a
mudar após junho de 2011, quando o Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou os
Princípios Orientadores para Empresas e Direitos
Humanos (“Princípios Orientadores”, ver Quadro),
que esclareceu o dever do estado de proteger os
direitos humanos e o dever corporativo de respeitá-
los. No entanto, muitas empresas ainda estão no
processo de entender como essa nova estrutura é
relevante para os resultados, e também como e
onde elas devem estar concentrando seus esforços
quando se trata de garantir que suas atividades não
tenham impacto adverso sobre os direitos humanos.
Melissa Castillo Spinoso
Analista de Investimentos
em Sustentabilidade
24 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Estruturas de negócios e dos direitos humanosNos últimos 20 anos, foram lançados vários marcos e iniciativas nacionais e transnacionais oferecendo orientações
sobre como as empresas devem abordar questões sobre direitos humanos associadas às suas atividades de
negócios. Segue abaixo um breve resumo das iniciativas mais importantes para empresas e direitos humanos:
Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho:
Adotada em 1998, a declaração estabelece o compromisso dos membros da ONU de respeitar e
promover os quatro princípios fundamentais: o direito à liberdade de associação e acordos coletivos,
a eliminação do trabalho forçado, a abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação no
local de trabalho. A Declaração garante ainda que esses direitos são universais e se aplicam a todas
as pessoas em todos os países, independentemente do nível de desenvolvimento econômico.
Abordagem Ruggie: Em 2008, o Representante Especial para Empresas e Direitos Humanos na ONU, John
Ruggie, propôs o marco “Proteger, Respeitar e Remediar” esclarecendo os papéis das empresas quando
se trata de salvaguardar os direitos humanos, estabelecendo as bases para adoção, três anos depois, dos
Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos. A abordagem é baseada
em três princípios fundamentais: o dever do estado de proteger contra violações dos direitos humanos por
parte de terceiros − incluindo empresas − através de políticas adequadas, regulamentação e adjudicação;
a responsabilidade corporativa de respeitar os direitos humanos e de abordar impactos adversos que
ocorrem; e a importância de dar soluções eficazes para as vítimas de violações dos direitos humanos.
Princípios Orientadores da ONU para Empresas e Direitos Humanos: Subscrita em 2011 pela Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas e com base na Abordagem Ruggie, esses Princípios Orientadores servem de base para
o desenvolvimento de políticas e normas sobre empresas e direitos humanos. Como as diretrizes internacionais
mais respeitadas para lidar com temas de direitos humanos, os Princípios Orientadores das Nações Unidas e a
Abordagem Ruggie, na qual eles se baseiam, são frequentemente citados ou incorporados em regulamentos,
políticas e princípios adotados por governos, empresas, organizações internacionais e associações corporativas.
Planos Nacionais de Ação (NAPs): Como parte das responsabilidades do estado de implantar os “Princípios
Orientadores”, o grupo de trabalho da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos pediu a todos os países que
desenvolvam e implantem um Plano Nacional de Ação (ou National Action Plan - NAP) sobre empresas e
direitos humanos. Os NAPs foram criados para serem uma estratégia política, refletindo a responsabilidade
do estado de proteger contra violações dos direitos humanos relacionadas às empresas. Dez países já
desenvolveram NAPs, e outros 19 se comprometeram ou estão em processo de implantação de um NAP.
Princípios do Equador: Lançados em 2003, os Princípios do Equador são um marco de gestão
de riscos para ajudar instituições financeiras a avaliar e gerenciar riscos ambientais e sociais ao
decidirem sobre financiamento de projetos. Esse marco visa proporcionar um padrão mínimo de due
dilligence para tomada de decisões sobre risco. Os Princípios do Equador III, que entraram em vigor
em 2013, referiam-se especificamente à importância de respeitar os direitos humanos, com base
em itens descritos nos “Princípios Orientadores”, quando da tomada decisões sobre financiamento.
Atualmente, 85 instituições financeiras em 35 países já adotaram os Princípios do Equador1.
UK Modern Slavery Act: Promulgada em 2015, a Lei sobre Escravidão Moderna (ou Modern Slavery Act) foi
a primeira legislação nacional desse tipo. A lei exige que as empresas que operam no Reino Unido e que
tenham receita anual de pelo menos 36 milhões de libras publiquem uma “declaração sobre escravidão e
tráfico humano” como parte de seus relatórios anuais, detalhando as medidas que tomaram para assegurar
que abusos de direitos humanos e escravidão não ocorram em suas operações ou na cadeia de suprimentos.
1 http://www.equator-principles.com/
The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 25
Ao identificar por quais riscos elas podem ser responsabilizadas, as empresas obtêm uma melhor compreensão dos riscos para os negócios relacionados aos direitos humanos que sejam relevantes para os seus resultados.
Atualmente, o estudo de caso para direitos
humanos é principalmente motivado pela
mitigação de riscos ou uma abordagem de gestão
de riscos, em vez de por uma oportunidade ou
uma abordagem voltada à geração de valor.
No entanto, é importante observar que o risco de
direitos humanos significa coisas diferentes para
diferentes “players”. Do ponto de vista das Nações
Unidas, os riscos de direitos humanos para uma
empresa referem-se aos riscos que suas operações
representam aos direitos humanos: em outras
palavras, riscos para as pessoas. Do ponto de vista
da empresa, contudo, riscos de direitos humanos
têm sido tradicionalmente vistos como os riscos
que incidentes relacionados aos direitos humanos
podem representar para a própria empresa.
Obviamente, esses são dois lados da mesma moeda,
e quanto mais essas perspectivas diferentes, porém
complementares, estiverem alinhadas, maior será o
estudo de caso pelo respeito aos direitos humanos.
Ao identificar quais riscos elas podem causar às
pessoas ou por quais elas podem ser responsabilizadas,
as empresas obtêm uma melhor compreensão dos
riscos para os negócios relacionados aos direitos
humanos que sejam relevantes para os seus
resultados. Esses riscos para os negócios geralmente
se enquadram em uma de três grandes categorias:
Risco operacional: Possivelmente o mais
óbvio dos riscos para os negócios relacionados
aos direitos humanos, os riscos operacionais
incluem atrasos ou cancelamento de projetos,
reclamações da comunidade, aumento da
dificuldade para obter ou renovar licenças, ou
perda da licença de operação, entre outros.
Risco à reputação: O envolvimento das
empresas em violações dos direitos
humanos é muitas vezes acompanhado
por repercussões negativas na mídia, que
podem resultar em boicotes de consumidores,
perda de valor da marca, ou dificuldade
em atrair novos talentos, entre outros.
Adicionalmente, a reputação de uma empresa
pode ser prejudicada como resultado de
uma violação, suposta ou percebida, dos
direitos humanos, independentemente
de tal violação ter ou não ocorrido.
Riscos legais: A não observação dos direitos
humanos também pode ter implicações legais
para as empresas. Isso inclui longas ações
judiciais ou multas punitivas decorrentes da
aplicação pelo governo de leis nacionais,
tais como a Lei sobre Escravidão Moderna,
do Reino Unido (ver Caixa). Com relação à
legislação interna, é importante observar que
há discussões em andamento para introduzir
um instrumento juridicamente vinculativo
que insere a proteção dos direitos humanos
no direito internacional, responsabilizando
as empresas por suas atividades, e que
representa um possível risco regulatório novo
que as empresas devem acompanhar de perto.
Todos esses riscos podem afetar diretamente os
resultados de uma empresa ao impactarem os
principais geradores de valor, tais como lucratividade
através do aumento dos custos, gerando margens mais
baixas, ou através da perda de receita. Eles também
podem prejudicar as perspectivas de crescimento da
empresa em novos mercados ou aumentar seu perfil de
risco. Por fim, todos esses aspectos influenciarão o valor
de uma empresa e sua atratividade para investidores.
Estudo de caso para direitos humanos
26 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Respeitar os direitos humanos pode levar a um melhor relacionamento com stakeholders, melhor reconhecimento da marca e a um ambiente de negócios que proporcione maior certeza às empresas.
Mas não se trata apenas de riscos...Embora seja mais difícil quantificar os impactos positivos
que as políticas de direitos humanos das empresas têm
sobre os lucros, é importante ter em mente que respeitar os
direitos humanos pode levar a melhores relacionamentos
com os “stakeholders”, tais como governos e comunidades,
melhor reconhecimento da marca e em médio ou
longo prazo, conseguir um ambiente de negócios
que proporcione maior segurança às empresas.
Além disso, a ascensão do consumidor socialmente
consciente que cada vez mais decide comprar produtos que
tenham sido produzidos com responsabilidade representa
uma oportunidade de mercado, favorecendo empresas
comprometidas com os direitos humanos. Alguns exemplos
disso são as práticas de comércio justo que defendem
salários justos para produtores, bem como melhores
normas sociais e ambientais. De acordo com a American
Marketing Association, a Geração Y (“Millennials”)
representa USD 2,45 trilhões em poder de compra, e
70% deles estão dispostos a gastar mais em marcas que
apoiem causas que sejam importantes para eles.2
Por fim, um dos ativos mais importantes para uma
empresa − o capital humano − também pode ser
positivamente afetado através do aumento no
envolvimento dos funcionários e da produtividade,
assim como a melhor retenção e atração de talentos,
em especial em termos da Geração Y, que busca
empregadores com foco no tripé da sustentabilidade.
De acordo com o relatório Millennial Impact Report de
2014, mais de 50% dessa geração foi influenciada
para aceitar um emprego com base no envolvimento
da empresa com as causas que eles apoiam.3
2 American Marketing Association. https://www. ama.org/publications/ MarketingNews/Pages/ millennial-demand-forsocial- responsibilitychanges- brand-strategies. Aspx
3 The 2014 Millennial Impact Report. http://fi.fudwaca. com/mi/files/2015/04/ MIR_2014.pdf
A RobecoSAM acredita que sólidas práticas de direitos
humanos contribuem para o valor em longo prazo, e
que investidores que escolherem empresas mais bem
equipadas para prevenir e gerir riscos provenientes
de impactos negativos de direitos humanos podem
maximizar o retorno em longo prazo, aproveitando
os benefícios positivos mencionados anteriormente.
Da mesma forma, investidores institucionais e
fundos de pensão em especial, começaram a aplicar
parâmetros de direitos humanos em suas carteiras. Por
exemplo, em fevereiro passado, o fundo de pensão do
governo norueguês (USD 700 bilhões) publicou uma
nova política de direitos humanos, na qual descrevia
sua expectativa para as empresas se integrarem às
políticas de direitos humanos e reportarem avanços;
o fundo também afirma sua intenção de se desfazer
de investimentos em empresas que regularmente
ignoram ou deixam de respeitar os direitos
humanos. Da mesma forma, em setembro último,
o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB-
USD 221,1 bilhões), anunciou que havia adicionado
direitos humanos como um dos quatro focos para
se envolver com as empresas em que investe.
Nesse sentido, a RobecoSAM adotou os Princípios
Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios
e Direitos Humanos e tem como objetivo
identificar quais empresas têm um compromisso
ativo em respeitar os direitos humanos em seus
negócios e relacionamentos de negócios.
O critério de direitos humanos na Avaliação de
Sustentabilidade Corporativa da RobecoSAM (CSA) é
composto por três componentes principais, descritos
na Figura 1: compromisso com direitos humanos,
due diligence e avaliação de direitos humanos,
e reporte sobre direitos humanos. Esse critério é
complementado pela Análise de Mídia e Stakeholders
(Media & Stakeholder Analysis - MSA), que monitora
se fontes de notícias externas ou outras organizações
reportam violações possíveis ou reais dos direitos
humanos pelas empresas que poderiam ter um
impacto negativo em sua reputação ou resultados, e
como as empresas responderam à esses incidentes.
A abordagem da RobecoSAM para avaliar direitos humanos
Sólidas práticas de direitos humanos contribuem para gerar valor no longo prazo.
The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 27
Compromisso com os direitos humanosDe acordo com a abordagempios Ruggie (ver Quadro),
um compromisso de respeitar os direitos humanos
deve estar contido na política das empresas. Portanto,
pedimos às empresas que nos enviassem suas atuais
políticas de direitos humanos, ou descrições detalhadas
de seus compromissos de respeitar os direitos humanos
e de que forma os direitos humanos estão incorporados
em suas atividades. Mencionar a participação em
iniciativas globais, tais como o Pacto Global ou outras
iniciativas específicas do setor, não foi considerada
como substituta de uma política global dos direitos
humanos. Uma política abrangente deve incluir pelo
menos os três seguintes elementos fundamentais:
• um compromisso explícito de respeitar todas
as normas de direitos humanos reconhecidas
internacionalmente − tais como a Declaração Universal
dos Direitos Humanos e a Declaração da OIT sobre
os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho
• um esboço daquilo que a empresa espera
de seus funcionários, parceiros de negócios
e outros stakeholders quando se trata
de respeito aos direitos humanos
• informações sobre como a empresa planeja
implantar seu compromisso. 4
Também avaliamos empresas em termos de
o quanto a política de direitos humanos delas
cobriam as atividades diretas da empresa, os
segmentos “downstream” e “upstream” da
cadeia de valor e joint ventures. A fim de atribuir
pontos para essa pergunta, solicitamos que as
empresas fornecessem documentação de apoio.
Due diligence e avaliação de direitos humanosA abordagem Ruggie também recomendam que as
empresas realizem uma due dilligence sobre direitos
humanos a fim de identificar, prevenir, mitigar e
assumir responsabilidade sobre como tratam seus
impactos adversos sobre os direitos humanos. Assim,
essa questão avalia como as políticas de direitos
humanos das empresas se traduzem em ações reais.
Perguntamos se, nos últimos três anos, as empresas
haviam ou não feito uma due dilligence sistemática.
Pedimos também que as empresas quantificassem o
quanto dos seus negócios haviam sido avaliados em
termos de questões de direitos humanos e divulgassem
qual percentagem das atividades da empresa foi
definida como estando em risco. Então, pedimos que as
empresas indicassem para qual percentual dessas áreas
de risco foram desenvolvidos planos de mitigação.
Por último, pedimos que as empresas informassem
quais grupos vulneráveis, tais como crianças, mão
de obra migrante ou grupos indígenas, foram
identificados através desse processo de avaliação
e que fornecessem informações corroborativas.
4 UN Global Compact, https://www.unglobalcompact.org/docs/issues_doc/human_rights/Resources/HR_Policy_Guide_2nd_Edition.pdf
Figura 1: Estrutura da RobecoSAM para avaliar políticas de direitos humanos das empresas
Fonte: RobecoSAM
MSA de Direitos Humanos
Compromisso com os Direitos Humanos
Reporte sobre Direitos Humanos
Due Diligence e Avaliação de Direitos Humanos
Um compromisso de respeitar os direitos humanos deve estar contido na política das empresas.
28 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Os resultados descritos nas páginas seguintes baseiam-se em 867 empresas que participaram da Avaliação
de Sustentabilidade Corporativa 2016. Uma análise comparativa do critério total de pontuação por região
geográfica e por grupo setorial (usando grupos setoriais da GICs) proporciona insights interessantes
sobre como as empresas em diferentes regiões e setores abordam as questões de direitos humanos.
Conclusões a partir dos dados de 2016
Figura 2: Pontuação* média do critério de direitos humanos por região
Fonte: RobecoSAM
Região Europa África América do Norte América Latina Ásia-Pacífico *Pontuação entre 0 e 100
58
62
56
67
61
Reporte sobre direitos humanosA transparência é importante para desenvolver
confiança com clientes, investidores e comunidades.
Ajuda também os investidores a entender o avanço
dos esforços da empresa, os riscos potenciais
que enfrenta e permite-lhes responsabilizar
as empresas por seus compromissos.
Portanto, essa questão premia aquelas empresas que
têm uma abordagem transparente para comunicar seus
esforços, conquistas e resultados de sua due dilligence
sobre a questão dos direitos humanos. Comunicados
públicos das empresas não deveriam ficar limitados a
apenas mencionar grandes temas, mas deveriam sim
fornecer informações detalhadas sobre uma série de
tópicos associados à política de direitos humanos e
sua implantação. Idealmente, comunicados públicos
devem incluir o compromisso da empresa, o processo
de identificação e mitigação de riscos associados aos
direitos humanos, o número de locais com planos
de mitigação, as principais questões identificadas,
os grupos vulneráveis identificados e as medidas de
remediação em casos em que ocorram violações. A transparência é importante para desenvolver confiança com clientes, investidores e comunidades.
Pontuação Global Média:
60
The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 29
5 United Nations Human Rights Office of the High Commissioner (2016). http://www.ohchr.org/EN/ Issues/Business/Pages/ NationalActionPlans.aspx
6 Eckert, Vanina (2016). The French Attempt to Legalize Human Rights Due Diligence: Is France leading the European Union in Business and Human Rights? https://lup.lub.lu.se/ student-papers/search/ publication/8893265
7 United Nations Human Rights Office of the High Commissioner (2016). http://www.ohchr.org/EN/ Issues/Business/Pages/ NationalActionPlans.aspx
8United States Government website for human rights (2016). http://www. humanrights.gov/dyn/ issues/business-andhuman- rights/nationalaction- plan.html
Figura 3: Pontuação média do critério de direitos humanos por grupo setorial
Fonte: RobecoSAM
Concessionárias de Serviços Públicos
Produtos Domésticos e Pessoais
Serviços de Telecomunicações
Bancos
Materiais
Hardware e Equipamentos de Tecnologia
Serviços Comerciais e Profissionais
Automóveis e Peças
Semicondutores e Equipamentos Semicondutores
Seguros
Bens de Capital
Pontuação média
Energia
Serviços ao Consumidor
Alimentos, Bebidas e Tabaco
Varejo de Alimentos e Produtos Básicos de Consumo
Transportes
Bens de Consumo Duráveis e Vestuário
Software e Serviços
Farmacêutica, Biotecnologia e Ciências da Vida
Finanças Diversas
Serviços Imobiliários
Mídia
Equipamentos e Serviços de Saúde
Varejo
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Pontuação Média
62
61
61
61
60
63
64
65
65
66
58
58
57
57
57
58
59
60
60
57
56
54
54
53
53
A Europa lideraEmpresas europeias obtiveram as maiores pontuações
médias. Em nível de país, a Espanha lidera a região,
seguida pelos Países Baixos, França e Finlândia.
Isso não chega a ser uma surpresa, com a Europa
liderando na criação de Planos de Ação Nacionais
(NAP, ver Quadro). Dos dez países que desenvolveram
NAPs, nove são europeus5. Espanha, Finlândia e
Países Baixos já têm um NAP preparado, e a França
está defendendo a criação de uma due dilligenge
obrigatória de direitos humanos em nível da UE.6
A América Latina segue, com a Colômbia
ocupando o 10º lugar, com um NAP implantado,
e Argentina, Chile, Guatemala e México já
estão em processo de desenvolver o seu.7
Em nossa amostra de dados, a região da África é
basicamente composta por empresas sul-africanas. A
África do Sul é um daqueles países em que as Instituições
Nacionais de Direitos Humanos (NHRI, na sigla em inglês)
e/ou a sociedade civil já avançaram no desenvolvimento
de um NAP: em março de 2015, a Comissão Sul-Africana de
Direitos Humanos e o Instituto Dinamarquês dos Direitos
Humanos desenvolveram um Guia do País sobre Direitos
Humanos e Empresas para melhorar as práticas de direitos
humanos das empresas que operam na África do Sul.
Empresas norte-americanas estão atrasadas em
termos da integração dos direitos humanos em seus
processos e políticas corporativas. Isso poderá mudar
em breve, à medida que os Estados Unidos estão em
processo de desenvolver um NAP visando estabelecer
parcerias com empresas americanas para promover
uma conduta de negócios responsável e transparente.8
Por fim, a região Ásia-Pacífico teve a menor
pontuação média do critério, com a Tailândia
recebendo a pontuação mais alta na região, e
Qatar, China e Indonésia na extremidade oposta.
30 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Concessionárias de serviços lideram enquanto varejistas ficam para trásEm nível de indústria, as concessionárias de serviços
lideram. Os riscos associados a direitos humanos para
as concessionárias de serviços vêm principalmente dos
direitos trabalhistas e de possíveis impactos a grupos
vulneráveis (por exemplo, populações indígenas),
uma vez que seu grande volume de ativos fixos pode
afetar grandes extensões povoadas. Além do mais, o
setor de concessionárias é altamente regulamentado,
com concessionárias do setor privado muitas vezes
competindo com concessionárias de serviços estatais
para obter licença de operação, proporcionando a
elas um incentivo importante para incorporar as
questões públicas em seus processos de gestão.
A indústria varejista está atrasado em relação às demais
indústrias. Trata-se de um setor muito diversificado,
englobando varejistas tradicionais baseados em
loja física ou on-line, lojas especializadas e lojas de
departamento e distribuidores. Muitos têm uma cadeia
de suprimentos complexa e alguns já alcançaram
excelentes progressos abordando questões da cadeia
de suprimentos, mais especificamente no setor de
vestuário (seguindo a tendência da indústria têxtil e dos
fabricantes de artigos esportivos). No entanto, muitos
varejistas não têm nem buscam contato direto com os
fabricantes originais, não aceitando a responsabilidade
por problemas relacionados à fabricação, tais como
salários e condições de trabalhadores nas fábricas
da cadeia de suprimentos e muitas vezes trocam de
fornecedores na busca constante por locais com menor
custo de produção. Algumas indústrias de produtos
têm crescente conscientização de consumidores sobre o
impacto social de mercadorias baratas – e novamente,
o setor de vestuário tem feito progressos – entretanto,
não é raro que decisões de compra sejam tomadas
exclusivamente por questão de preço e qualidade.
Com alguns poucos varejistas tentando desafiar esse
cenário e até mesmo transformar o varejo responsável
numa vantagem competitiva para a marca, esperamos
ver algum avanço em transparência e compromisso
ao abordarmos os direitos trabalhistas. Contudo,
provavelmente esse será um avanço inconsistente e lento,
a menos que haja uma grande mudança em termos da
ênfase do consumidor pelo baixo preço a qualquer custo.
Cobertura do compromisso de direitos humanosComo mostrado na Figura 4, as empresas têm
implantado, de forma proativa, políticas que cobrem
suas próprias atividades e cadeias de valor. No entanto,
a cobertura para joint-ventures continua fraca em todas
as regiões. Um total de 86% das empresas participantes
têm um compromisso com direitos humanos em vigor,
e apenas 66% têm uma política satisfatória de direitos
humanos (que contenha os três elementos-chave
descritos anteriormente) cobrindo suas atividades
diretas. 60% das empresas participantes têm políticas
de direitos humanos que cobrem a cadeia de valor,
e apenas 24% das empresas têm políticas de direitos
humanos que se estendem às suas joint-ventures.
Mais uma vez, a Europa lidera o grupo, com 93%
das empresas participantes tendo um compromisso
em vigor e com 77% das empresas tendo cobertura
satisfatória para as suas atividades diretas, 75% para
a sua cadeia de valor e 39% para as joint-ventures.
Figura 4: O que cobrem as políticas de direitos humanos das empresas?
Política em vigor Atividades Diretas Cadeia de Valor Joint Ventures
Fonte: RobecoSAM
100%
80%
60%
40%
20%
0
Mundo América do Norte Europa América Latina Ásia-Pacífico África
86
6660
24
78
61 61
16
93
77 75
39
79
6357
22
86
60
48
15
74
53
4237
The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 31
Due Diligence e AvaliaçãoUm Compromisso com Direitos Humanos é um bom
primeiro passo, mas não o suficiente para ajudar
investidores a entender o quão bem as empresas têm
incorporado práticas de direitos humanos às normas
e processos corporativos. À medida que analisamos
mais a fundo, é possível ver que 66% das empresas
realizam due dilligence e apenas 64% avaliaram,
nos últimos três anos, quais das suas atividades
de negócios estão expostas às questões de direitos
humanos. Dentre as empresas que identificaram
grupos vulneráveis a violações dos direitos humanos,
os três grupos principais citados foram: crianças
(citadas por 46% das empresas) povos indígenas
(26%), e mão de obra migratória (27%). 48% das
empresas citaram outros grupos vulneráveis, tais
como mulheres e minorias religiosas, entre outros.
A transparência nos relatórios sobre direitos humanos ainda é um desafio Das 744 empresas que têm uma política de
direitos humanos em vigor, 73% a disponibilizaram
publicamente. Ainda assim, das 575 empresas que
avançaram em due dilligence, apenas 37% divulgam
publicamente os resultados desse processo. Apenas
39% das empresas que identificaram possíveis questões
de direitos humanos e grupos vulneráveis divulgaram
publicamente essa informação, e das empresas que têm
planos de mitigação em vigor, apenas 14% reportam
o número de locais que contêm planos de mitigação.
Das 203 empresas que adotaram ações de remediação
para compensar impactos negativos de direitos
humanos, apenas 26% informaram esse fato. Por fim,
233, ou 27% das 867 empresas participantes, não
reportam questões associadas aos direitos humanos.
Um Compromisso com Direitos Humanos é um bom primeiro passo, mas não o suficiente para ajudar investidores a entender o quão bem as empresas têm incorporado práticas de direitos humanos às normas e processos corporativos.
27% das empresas participantes não divulgam publicamente nenhuma informação sobre questões relacionadas aos direitos humanos.
Figura 5: Empresas que realizam avaliações de sua exposição às questões de direitos humanos
Sim Não Nenhuma informação
25%
11%
64%
Fonte: RobecoSAM
Figura 6: Empresas reportando sobre questões de direitos humanos
100%
80%
60%
40%
20%
0
Política de direitos humanos em vigor
Realização de processo de due
diligence
Questões dedireitos humanos e grupos
vulneráveis identificados
Número de locais com planos de mitigação
Medidas de remediação tomadas
Divulgam publicamente questões associadas aos direitos
humanos
201
543
365
210
225
145
243
40
150
53
233
634
Número de empresas reportando Número de empresas não reportando
Fonte: RobecoSAM
32 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017
Bancos lideram em termos de transparênciaDe acordo com dados da RobecoSAM, os bancos
são o setor que melhor reportam sobre direitos
humanos. Isso reflete os esforços dos bancos para
recuperar a confiança dos stakeholders e alcançar
as expectativas em termos de conformidade,
ética e boa governança. Isso também está em
linha com a crescente adoção dos Princípios de
Investimento Responsável e o reconhecimento
da importância de considerar os impactos do
financiamento sobre os direitos humanos, de acordo
com os Princípios do Equador III (ver Quadro).
As empresas têm enorme poder para avançar nas
questões dos direitos humanos. O estudo de caso
torna-se ainda mais atraente quando consideramos
que 69 das 100 principais entidades econômicas
do mundo são empresas, e não países, e que as
10 maiores empresas juntas faturam mais do que
a maioria dos países do mundo somados.9
A pontuação média em 2016 neste critério (60/100)
é ainda um tanto baixa, tendo, por um lado, poucas
empresas liderando e contando com processos
plenamente integrados e, por outro, muitas
empresas lutando para integrar seus mecanismos
existentes numa abordagem holística coordenada.
Todavia, se colocarmos em perspectiva, podemos dizer
que as empresas em geral adotaram rapidamente
os Princípios Orientadores desde seu endosso em
2011. A maioria já respondeu criando políticas e
compromissos, e muitas realizaram pelo menos uma
due diligence e avaliação parcial de seus impactos
potenciais ou reais sobre os direitos humanos. A
divulgação ainda é fraca, uma vez que as empresas
temem as consequências de uma maior transparência,
tais como responsabilização e danos à reputação.
Muitos desafios ainda permanecem, mas aquela
questão incômoda está lentamente sendo
abordada. O paradigma está mudando rumo a uma
estrutura bem definida que espera que as empresas
desempenhem um papel mais proativo no respeito
aos direitos humanos. Stakeholders e investidores
em particular querem entender melhor como as
empresas estão administrando e mitigando seus riscos
relacionados aos direitos humanos e, assim, exigem
maior transparência. E, por fim, as empresas agora
começam a reconhecer um caso de negócio mais
atraente para os direitos humanos - um que vai além
da conformidade com novas regulamentações, tais
como o Modern Slavery Act do Reino Unido, até uma
que reconhece os benefícios que sólidas práticas de
direitos humanos podem trazer para os resultados
financeiros de uma empresa. Isso, por sua vez, acabará
por gerar externalidades positivas que proporcionarão
às empresas um ambiente operacional mais estável.
A RobecoSAM continuará incentivando as empresas a
implantarem políticas de direitos humanos por meio
da nossa Avaliação de Sustentabilidade Corporativa.
Ao desenvolvermos perguntas que capturem os
aspectos mais relevantes de direitos humanos para
empresas e investidores, e ao nos envolvermos com
as empresas por meio de solicitações de feedback,
podemos destacar a importância e os benefícios de
termos políticas e processos de direitos humanos.
Finalmente, continuaremos a nos comunicar
com empresas sobre melhores práticas e a criar
pesquisas relevantes que proporcionem às empresas
oportunidades de aprendizagem para melhorar seu
desempenho e para melhor entender onde elas
estão posicionadas em relação aos seus pares.
Conclusões e perspectivas
As empresas têm enorme poder para avançar nas questões dos direitos humanos.
9 Global Justice Now (2016) http://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-biggest-corporations-make-more-money-most-countries-world-combined