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P06 Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia
Atas Proceedings
ISBN 978-989-8550-19-4
3160 | ESADR 2013
P06 · Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia
CoordenadoresBenjamin Alvino de Mesquita (UFMA / PPGPP / PPGDSE) [email protected]é de Ribamar Sá Silva (UFMA / PPGPP / PPGDSE) [email protected]
Discutir a dinâmica econômica recente da Amazônia, apontando as mudanças ocorridas pela atuação das empresas globais.
No desenvolvimento da Amazônia, sobressaem-se a grande empresa e o Estado. Os instru-mentos de base fiscal e monetária continuam sendo a marca na atração de mega investi-mentos. Na ditadura, dois elementos lideravam: a pecuária extensiva e a instalação da ZPE de Manaus. Hoje são os projetos do PAC e as empresas globais que lideram o processo. Em ambos, a marca é o financiamento público e o caráter predatório dos empreendimentos. Mudanças significativas ocorrem, mas com exclusão social e destruição da biodiversidade.
Abrir o debate sobre a ação do grande capital na Amazônia, que implica devastação ambien-tal e a ampliação da crise social.
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CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA REGIÃO
PERIFÉRICA DA AMAZÔNIA: TOCANTINS
NILTON MARQUES DE OLIVEIRA Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Professor do Curso de Economia da UFT/ Palmas-TO. Rua da Faculdade, 2550 -
Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail: [email protected]
UDO STRASSBURG Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste). Professor do Curso de Ciências Contábeis da UNIOESTE/ Cascavel – PR. Rua da Faculdade, 2550. Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail:
PABLYNE DE FARIAS SANTOS Acadêmica em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Tocantins e Integrante do Grupo
PET-Economia-UFT. Rua L0 15 Plano Diretor Norte – Palmas-TO. CEP: 77.000-000 E-mail: [email protected]
RESUMO O objetivo central desse artigo foi analisar indicadores de desenvolvimento socioeconômico em uma Região Periférica da Amazônia do Estado do Tocantins, na primeira década do século XXI. Os dados utilizados são oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Governo do Estado do Tocantins, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Utilizando dados como índice de natalidade, índice de mortalidade bruta e infantil, Índice de Desenvolvimento Humano, taxa de alfabetização, taxa de fecundidade, Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Os resultados sugerem que o Estado do Tocantins ocupa posição mediana em desenvolvimento socioeconômico na região Norte, tendo apresentado evolução em alguns indicadores, mas ainda tem muito que avançar para chegar ao padrão satisfatório de desenvolvimento econômico. PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento Socioeconômico - Região Amazônica – Desenvolvimento Humano
CHARACTERIZATION INDICATORS OF SOCIOECONOMIC DEVELOPMENT IN REGION OF PERIPHERAL AMAZON:
TOCANTINS
ABSTRACT: The central objective of this paper is to characterize the indicators of socioeconomic development in the state of Tocantins, a peripheral region of Amazon, in the first decade of this century. The used data are from Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics), the State of Tocantins, and the United Nations Development Program (UNDP). Used data were birth rate, crude death rate and infant, Human Development Index, literacy rate, fertility
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rate, and Gross Domestic Product (GDP) per capita. Results suggest that State of Tocantins occupies the median position in socioeconomic development in the Brazilian North region and showed progress on some indicators but still has long way for reaching satisfactory standard of economic development.
KEYWORDS: Socioeconomic Development - Amazon region - Human Development
INTRODUÇÃO O objetivo central desse artigo é uma caracterização dos indicadores de
desenvolvimento socioeconômico em uma Região Periférica da Amazônia do Estado do
Tocantins no início da década do século XXI, fazendo uma comparação entre seus
indicadores e os da Região Norte e Brasil.
A justificativa deste artigo se deve ao fato de existirem poucos estudos sobre
essa região específica do território brasileiro. Desta forma, este contribui para a análise
de seus indicadores econômicos, conhecendo as reais necessidades da população
tocantinense.
A hipótese elementar que norteia este artigo se centra em dados econômicas e
sociais do estado do Tocantins, levando em conta seu crescimento e desenvolvimento
apresentados na década de 2000. Tocantins é resultado histórico particular do processo
de desenvolvimento capitalista brasileiro, bem como da expansão da fronteira agrícola
na Amazônia, não sendo um espaço isolado, mas sim parte integrante e interdependente
da economia capitalista.
Visando a compreender o crescimento econômico desse estado, a questão que
move esse trabalho é: será que o crescimento econômico do mais novo Estado da
Federação do Brasil está se revertendo em bem-estar social e acesso à educação, saúde,
saneamento e emprego para a população do Tocantins?
Tocantins é um dos estados brasileiros que tem apresentado o mais intenso
processo de crescimento, tanto demográfico quanto econômico, com taxas bem
superiores às médias nacionais. O movimento migratório, ainda em processo contínuo,
torna claro que o Estado e a cidade de Palmas vêm atraindo populações das regiões
vizinhas.
A população do Estado teve um crescimento médio de 22,5% no período de
2000 a 2010 e no Produto Interno Bruto foi o Estado que mais cresceu no acumulado
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entre 2002 e 2010, 74,2% (IBGE 2012). Quanto à criação de emprego formal, em 2000,
o Estado contava com 106.040, em 2011, esse número passou para 242.769, um
crescimento de mais 128% (MTE, 2012).
Para que se possa fazer uma comparação entre os diferenciais de
desenvolvimento entre países, regiões e estados é necessário analisar variáveis como
renda per capita, nível de educação em geral, taxa de mortalidade infantil, saneamento
básico, taxa de crescimento populacional, entre outras variáveis que serão discutidas
neste trabalho.
Trabalhos semelhantes foram feitos por Santos et al. (2010), que analisaram os
indicadores econômicos e sociais para o Estado de Mato Grosso do Sul. Os resultados
encontrados evidenciaram que o Mato Grosso do Sul ocupa posição de destaque em
desenvolvimento socioeconômico na região Centro-Oeste, tendo o segundo melhor
Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas do Distrito Federal. Quando
comparado à média da região Centro-Oeste e ao Brasil, foram verificadas em Mato
Grosso do Sul as menores taxas de fecundidade e mortalidade infantil e a maior
esperança de vida ao nascer.
Todos os indicadores anteriores podem ser sintetizados pelo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH)1, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
Destarte, é relevante o estudo sobre os indicadores socioeconômicos, que podem
evidenciar se o Estado e a sociedade estão investindo na melhoria da qualidade de vida
da sua população. Há de se considerar que o Estado do Tocantins está ainda com uma
economia em formação, mas apresenta um potencial econômico especialmente em sua
capital, Palmas.
Em relação ao crescimento econômico de Palmas, ele segue o mesmo
desempenho apresentado pelo Estado, pois teve um crescimento médio de 14,4% do
Produto Interno Bruto entre 2000 a 2010 (IBGE, 2012).
1 O IDH varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano). As três variáveis analisadas são saúde, educação e renda. O IDH está dividido em quatro categorias, que são: 1) Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento humano muito alto, 2) o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento (do qual o Brasil faz parte), o terceiro grupo é o de médio e 4) os 25% piores, os de baixo desenvolvimento humano (PNUD, 2011).
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Isso posto, este artigo está dividido em 6 seções, além desta introdução, na seção
2 trata-se da caracterização histórica do Tocantins. A seção 3 descreve o referencial
teórico, a seguir os procedimentos metodológicos. A seção 5 apresenta a análises dos
indicadores socioeconômicos de desenvolvimento do Tocantins. As considerações finais
sumarizam o trabalho.
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DO TOCANTINS
A história do Estado do Tocantins remonta ao período da independência do
Brasil. De acordo com Duarte et al. (2010), para facilitar a administração, a aplicação da
justiça e, principalmente, incentivar o povoamento e o desenvolvimento da navegação
dos rios Araguaia e Tocantins, criou-se um Alvará, o qual dividiu a Capitania de Goiás
em duas comarcas (regiões) ou o que hoje poderíamos chamar em tese de municípios: a
Comarca do Norte e a Comarca do Sul.
Este ato, segundo Barbosa et al. (2004), marcou, definitivamente, a desarmonia
entre o Norte e o Sul de Goiás. Grande defensor dos interesses regionais, o
desembargador Joaquim Theotônio Segurado foi nomeado administrador, tornando-se
um dos precursores da emancipação do Estado do Tocantins.
As justificativas para a separação do norte do centro-sul de Goiás eram, para
Segurado, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica. Nesse sentido, a
porção Norte, segundo Parente (1999), “estava desde o início isolada por medidas
legais, como também pela posição geográfica não apropriada à produção agrícola para
outros centros consumidores”, o que não deixou de ser verdade, pois a riqueza se
concentrava na porção sul de Goiás, em detrimento da Região Norte.
Os debates que visavam à emancipação do Estado voltaram na década de 70
após inúmeras lutas do movimento separatista, porém não havia interesse e nem
recursos para a criação de um novo Estado.
O Estado do Tocantins foi criado pela Assembleia Nacional Constituinte, no
artigo 13 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição da
República Federativa do Brasil, promulgado em 05 de outubro de 1988. E, assim, o
norte de Goiás consegue a emancipação e passa a se chamar Tocantins.
Conforme visto, a divisão do Estado foi uma reivindicação antiga da população
do antigo norte goiano, mas poucas transformações socioeconômicas ocorreram na
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década de 90, pois o Estado ainda estava consolidando os investimentos em
infraestrutura básica, tanto na recém-inaugurada capital Palmas, como também em
outras cidades.
O crescimento econômico e a urbanização do Tocantins de fato só vieram a
acontecer na década de 2000. Os setores produtivos passam por um processo de
expansão que poderá fazer com que assuma uma posição mais relevante no cenário
nacional nos próximos anos. De modo geral, tanto o Tocantins como a cidade de Palmas
têm experimentado forte crescimento econômico desde a sua criação, apresentando uma
série de oportunidades nos setores primários, de transformações e de serviços.
Algumas dessas oportunidades são: a construção da Ferrovia Norte-Sul e a
construção da Usina Luís Eduardo Magalhães (902,5 MW), em Lajeado. Há
possibilidade também de investimento na Hidrovia Tocantins, que permitirá o
escoamento de 56 milhões de toneladas de grãos e de insumos, interligando as regiões
Norte e Centro-Oeste.
AS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesta seção, serão apresentadas algumas teorias sobre desenvolvimento.
Cumpre, então, resgatar alguns conceitos. Para tanto, reporta-se inicialmente à
definição de Kuznetz (1983), para quem o desenvolvimento é, na sua essência, um
processo de crescimento econômico acompanhado pela melhoria do padrão de vida da
população, bem como por alterações fundamentais na estrutura de sua economia.
Em seu trabalho seminal “Economic Growth and Income Inequality” (1995),
Kuznetz estudou o desenvolvimento de diversos países. Verificou que países muito
pobres, com renda per capita muito baixa, apresentavam índices de Gini menos
desiguais que os países que haviam iniciado seu processo de desenvolvimento. Cunhou
o termo que ficou conhecido como a “lei de kuznetz”, segundo a qual, no processo de
desenvolvimento dos países, é inevitável que os países subdesenvolvidos apresentem
uma fase durante a qual as desigualdades de renda se acentuam para, depois, com o
desenvolvimento, entrarem em uma fase em que as desigualdades de renda diminuem
até chegar a um índice mais igualitário, como o dos países desenvolvidos. Isto significa
que este processo de crescimento econômico apresenta uma curva em forma de U
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invertido para a relação índice de desigualdade de renda e taxa de crescimento da renda
per capita.
Para Hirschman (1961) e Furtado (1987), o desenvolvimento depende de vários
fatores, entre eles: i) passado histórico; ii) situação geográfica; iii) população; iv)
cultura; v) extensão territorial; e vi) recursos naturais.
Ainda, Furtado (1986) complementa dizendo que o crescimento econômico se
relaciona apenas com o aumento da produção real, não modificando as funções de
produção. O desenvolvimento econômico se relaciona com crescimento econômico,
porém representa muito mais que um simples crescimento, alterando uma estrutura mais
complexa, as formas sociais e econômicas de divisão do trabalho social, satisfazendo as
necessidades coletivas.
Hirschman (1961) conceitua desenvolvimento econômico como um
acontecimento amplo que, em sua ocorrência, implica elevação dos níveis qualitativos
de vida. Para alcançar essa qualidade de vida, alguns prerrequisitos são fundamentais: a)
recursos naturais; b) fontes geradores de energia; c) existência de recursos humanos
devidamente qualificados; d) capacidade administrativa; e e) tecnologias.
Outra teoria é do crescimento cumulativo ou de causação circular cumulativa
desenvolvida por Myrdal (1968). Nessa teoria, ele usa esse conceito para falar de um
ciclo virtuoso ou vicioso, que tanto pode ocorrer de forma ascendente quanto
descendente, ou seja, uma sequência de fatos que desencadeiam outros fatos de forma
cumulativa e propulsora. Ele utiliza esse conceito tanto no campo econômico quanto no
campo social.
Segundo Myrdal (1968), a expansão na produção de um centro urbano gera
benefícios a localidades adjacentes, pois emprega grande quantidade de trabalhadores,
estimulando o mercado de bens de consumo. Diz ainda que as desigualdades regionais
se agravam quanto mais pobre for o país e que, quanto maior o nível de
desenvolvimento, mais fortes são os efeitos propulsores, tendo em vista as condições
sociais e econômicas de que dispõem os países mais ricos.
A Teoria dos Polos de Crescimento, desenvolvida por François Perroux prega a
concentração dos investimentos para um melhor aproveitamento dos efeitos de
encadeamento. Perroux (1978) argumenta que o ponto de partida para desencadear o
processo de crescimento é pela inserção de uma indústria motriz que tenha capacidade
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de difundir os efeitos de encadeamento em direção às atividades polarizadas. Tal
inserção dentro de um sistema regional suscitará efeitos positivos e negativos à região
receptora. À medida que tais efeitos vão se concentrando, a atividade motriz se tornará
um polo propulsor da economia da região. O desenvolvimento dependerá do nível e da
qualidade dos efeitos positivos e negativos.
Não é intenção deste artigo estender as definições de desenvolvimento, o intuito
é apresentar algumas teorias que fundamentam o crescimento e o desenvolvimento de
um país. A seguir, serão apresentados os procedimentos metodológicos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para este trabalho, foram utilizadas publicações do IBGE, do Governo do Estado
do Tocantins, além de outras fontes, como PNUD, sites e livros.
Para a caracterização do Estado do Tocantins, foi feita uma ampla revisão de
literatura com o objetivo de conhecer a região em análise. Esse processo se faz
imprescindível, visto que, para fazer uma análise das características de determinada
região, é necessário que se conheça bem a área de estudo.
Para fazer a caracterização socioeconômica, foi feita uma coleta de dados sobre
renda, população, mortalidade infantil e analfabetismo para o Brasil, região Norte e,
especificamente, o Estado do Tocantins.
A região Norte do Brasil tem cerca de 3.853.575,6 km² de área, o correspondente
a aproximadamente 45,3% de todo o território brasileiro. Da extensão territorial da
Região Norte, cerca de 7,2% pertence ao estado do Tocantins, 277.621,9 km² (Tabela
1).
TABELA 1 - Área e Densidade demográfica do Brasil, da Região Norte e do Estado do Tocantins
Área total das unidades territoriais (km²) Participação (%) Brasil 8.502.728,3 - Norte 3.853.575,6 45,3
Tocantins 277.621,9 7,2 Fonte: IBGE - Censo Demográfico (2010).
O Estado tem 139 municípios, uma população de 1.373.551 habitantes (2010),
taxa de urbanização de 85,9% e densidade demográfica de 4,95 hab/km². A capital do
Estado é Palmas, com uma população de 223.817 mil habitantes. O Estado tem como
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principais bacias hidrográficas, os Rios Tocantins e Araguaia, uma malha viária cerca
de 5 mil km de estradas pavimentadas, sendo a distância entre os pontos extremos no
sentido Norte-Sul de 899,5 km e no sentido Leste-Oeste de 615,4 km. Conta com um
potencial agrícola de 16 milhões de hectares de solos agricultáveis e sua vegetação é
composta por 87% de Cerrado e 13% de Floresta Amazônica (IBGE, 2010).
ANÁLISES DOS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DE DESENVOLVIMENTO DO TOCANTINS
A Tabela 2 apresenta a população total, urbana e rural para o Brasil, Região
Norte e para o Estado do Tocantins, no período de 2000 a 2010. A conclusão simples
desta tabela é a predominância da população urbana para os três entes federativos.
TABELA 2 – População Total - Urbana e Rural residente (mil pessoas) do Brasil, Região Norte e Estado do Tocantins, entre 2001 e 2010.
Ano (*) Brasil Norte Tocantins
Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural 2001 170955 143378 27577 9830 9486 344 1194 850 344 2002 173501 145913 27588 10200 9870 330 1211 881 330 2003 175954 148256 27698 10611 10275 336 1228 893 336 2004 181687 150689 30998 14300 10567 3734 1244 889 355 2005 183881 152138 31743 14573 10909 3665 1260 896 364 2006 186021 154751 31269 14838 11293 3545 1275 945 331 2007 188029 156763 31266 15085 11616 3469 1289 948 342 2008 189953 159095 30858 15327 11953 3374 1303 974 329 2009 191796 161041 30755 15555 12125 3430 1316 979 337 2010 190721 160879 29842 15865 11663 4202 1383 1090 293
Fonte: IBGE (2010) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (*) estimativas anos: 2001 a 2009 Complementado a análise, a Tabela 2 apresenta a taxa de urbanização anual para
os mesmos segmentos. Em 2000, o país apresentava uma taxa de urbanização de
81,35%, que aumentou para 84,35% em 2010. A taxa de urbanização da Região Norte
entre os anos de 2000 e 2010 passa de 69,9% para 73,5%. Para o Estado do Tocantins,
ela passou de 74,3% em 2000 para 78,8%. O Tocantins apresenta urbanização superior à
da Região Norte, porém inferior à do Brasil.
Evidencia-se, portando, que o país, como um todo, está mais urbanizado, e a
população vivendo em áreas rurais está diminuindo cada vez mais. Esta desruralização
pode estar relacionada com a mecanização intensiva da agricultura no campo e/ou com
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as ofertas de serviços públicos como educação, saúde, emprego, renda, qualidade de
vida que as cidades podem oferecer à sua população.
TABELA 3 – Taxa de Urbanização do Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a 2010 Ano Brasil Norte Tocantins 2000 81,33 69,92 74,31 2001 83,87 73,37 71,19 2002 84,10 74,91 72,75 2003 84,26 75,32 72,72 2004 82,94 73,90 71,46 2005 82,74 74,86 71,11 2006 83,19 76,11 74,12 2007 83,37 77,00 73,55 2008 83,75 77,99 74,75 2009 83,96 77,95 74,39 2010 84,35 73,51 78,81
Fonte: IBGE / Censos Demográficos 2000 e 2010 Quanto mais a população cresce, maiores serão as demandas para atender à suas
necessidades básicas e melhorar os indicadores de desenvolvimento (SOUZA, 2005).
Para tanto, é necessário calcular as taxas de crescimento populacional. A Tabela 4
apresenta a essa taxa para o Brasil, Região Norte e o para Estado do Tocantins, entre
2001 e 2010. Tocantins apresentou uma taxa de crescimento anual de 1,34, superior à
taxa do Brasil, que foi de 1%, mas inferior à da Região Norte, de 1,88%.
TABELA 4 - Taxa de Crescimento Populacional: Brasil, Região Norte e Tocantins – 2001 a 2010.
Ano Brasil Norte Tocantins 2001-2010 1,00 1,88 1,34
Fonte: IBGE (2010) A Tabela 5 apresenta para os mesmos entes federativos a taxa de natalidade, que
compreende o número de nascidos vivos por 1000 habitantes, de 2000 a 2008. O Estado
do Tocantins apresentou uma taxa de natalidade de 26,9 em 2000, que se reduziu para
20,5 em 2008, uma diferença de 6,4, superior à da Região Norte, de 5,6, e do Brasil, de
4,8. O Estado do Tocantins apresenta uma taxa menor que a da Região Norte, mais essa
taxa é superior se comparada à nacional. Observa-se que essa taxa vem se reduzindo
durante os anos analisados. A maior redução ocorreu no Estado do Tocantins em que a
taxa passou de 26,9 nascidos vivos por 1000 habitantes em 2000 para 20,5 em 2008.
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TABELA 5 – Taxas de Natalidade para Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a 2008 Ano Brasil Norte Tocantins
2000 21,2 28,8 26,9 2001 20,1 27,5 25,8 2002 19,5 26,5 24,6 2003 18,8 25,3 23,4 2004 18,5 24,2 22,4 2005 17,7 22,6 21,4 2006 17,1 21,7 20,5 2007 16,6 21,3 18,4 2008 16,4 23,2 20,5
Fonte: IBGE / Projeções demográficas preliminares (2010).
No que se refere à esperança de vida ao nascer, a Tabela 6 apresenta a evolução
dos anos de expectativa de vida ao nascer, distribuída por gênero. Nos três entes
federativos, a mulher apresentou maior expectativa em relação ao homem, mas houve
significativa melhora tanto para homem quanto para mulheres, o que indica uma
sensível melhora na qualidade de vida dos brasileiros.
TABELA 6 – Esperança de Vida ao nascer: Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a
2009 Ano Brasil Norte Tocantins
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher 2000 66,7 74,4 66,8 72,4 67,2 71,3 2001 67,1 74,7 67,1 72,7 67,4 71,6 2002 67,4 75 67,4 73 67,7 72 2003 67,7 75,3 67,7 73,3 68 72,3 2004 68 75,6 68 73,7 68,3 72,6 2005 68,4 75,9 68,2 74 68,5 73 2006 68,7 76,2 68,5 74,3 68,8 73,3 2007 68,8 76,4 68,8 74,6 69,1 73,6 2008 69,3 76,8 69,1 74,9 69,3 73,9 2009 69,6 77,1 69,3 75,1 69,6 74,2
Fonte: IBGE / projeções demográficas preliminares (2010).
Para a taxa bruta de mortalidade (por 1.000 habitantes), verifica-se, na Tabela 7,
que o Estado do Tocantins apresenta taxa maior que a da Região Norte em todos os
anos analisados, porém, essa taxa é menor em relação à média nacional. Nota-se uma
regressão dessa taxa ao longo dos anos, que pode estar relacionada diretamente com as
variáveis melhor alimentação, melhores condições de saneamento básico, entre outras.
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TABELA 7 – Taxa Bruta de Mortalidade para Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 - 2008
Ano Brasil Norte Tocantins 2000 6,4 5,3 5,9 2001 6,3 5,2 5,9 2002 6,3 5,1 5,8 2003 6,2 5 5,7 2004 6,2 5 5,7 2005 6 4,9 5,6 2006 6 4,9 5,6 2007 6 4,8 5,5 2008 6,1 4,8 5,1
Fonte: IBGE / Projeções demográficas preliminares (2010).
Em relação ao saneamento básico ligado à rede geral de esgoto ou fossa séptica,
com água proveniente de rede geral de abastecimento e lixo coletado direta ou
indiretamente pelos serviços de limpeza, verificou-se no país aumento de 56,5 % em
2000 para 61,8% em 2010. Nas cidades com até cinco mil habitantes, as taxas passaram
de 21,7% em 2000 para 30,8% em 2010. Já nas cidades com mais de 500 mil habitantes,
os percentuais eram de 79,7% em 2000, subindo para 82,5% em 2010 (IBGE, 2011).
Analisando os dados para a Região Norte, apenas 22,4 % dos domicílios tinham
condições adequadas de saneamento básico em 2010, enquanto no Sudeste a proporção
era de 82,3%. Para o estado do Tocantins, essa percentagem sobe para cerca de 25% de
saneamento básico. Pode-se concluir que ainda é precário o saneamento básico no país
como um todo e mais crítico ainda na Região Norte do Brasil.
Analisando a Taxa de mortalidade infantil, Tabela 8, verifica-se que o Estado
apresenta a mais elevada taxa se comparada com a da região Norte e com a do Brasil.
No Tocantins, no ano de 2007, para cada mil nascidos vivos, 27,3 vêm a óbito. Na
região Norte e no Brasil, para cada mil nascidos vivos, no ano de 2007, 25 e 24,3 vêm a
óbito, respectivamente. Pode-se notar uma redução da taxa de mortalidade infantil nos
anos seguintes, 2009 e 2010, tanto no Estado quanto na grande região e na federação.
De 2007 para 2009, há uma redução de 6,9% na taxa de mortalidade infantil do
Tocantins, de 5,9 para a região Norte e de 5,5 na taxa de mortalidade infantil nacional.
Essa redução pode ser atribuída ao aumento dos níveis de liberdades políticas e
individuais e ao nível de educação feminina.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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TABELA 8 - Taxa de mortalidade infantil para Brasil, Região Norte e Tocantins por 1.000 nascidos vivos: 2000 e 2009.
Ano Brasil Norte Tocantins 2000 30,1 - - 2001 29,2 - - 2002 28,4 - - 2003 27,5 - - 2004 26,6 - - 2005 25,8 - - 2006 25,1 - - 2007 24,3 25 27,3 2008 23,3 24,2 26,4 2009 22,5 23,5 25,6
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica, Projeto UNFPA/BRASIL (BRA/02/P02) - População e Desenvolvimento, Sistematização das medidas e indicadores sociodemográficos oriundos da projeção da população por sexo e idade, por método demográfico, das Grandes Regiões e Unidades da Federação, para o período 1991-2030. Fazendo-se uma análise da taxa de fecundidade de acordo com a situação do
domicílio rural ou urbano, podemos observar que, de 2007 a 2009, a Região Norte
apresentou as maiores taxas de fecundidade, principalmente na área rural, seguida de
Tocantins e Brasil. Esse indicador também pode ser relacionado diretamente ao nível de
educação feminina e às políticas de conscientização governamental (Tabela 9).
TABELA 9 - Taxa de fecundidade total por situação do domicílio Brasil, Região Norte e Tocantins: 2000 e 2009.
Ano Brasil Norte* Tocantins** Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural
2000 2,38 2,18 3,49 - - - - - - 2001 2,33 2,18 3,42 - - - - - - 2002 2,26 2,11 3,25 - - - - - - 2004 2,13 1,96 3,14 - - - - - - 2005 2,06 1,93 3,02 - - - - - - 2006 1,99 1,86 2,86 - - - - - - 2007 1,95 1,81 2,74 2,6 2,36 3,61 2,26 2,4 2,87 2008 1,89 1,75 2,4 2,37 2,14 3,39 2,07 1,99 2,53 2009 1,94 1,81 2,73 2,51 2,23 3,47 2,6 2,24 3,23
Fonte: IBGE (2010) Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Gerência de Estudos e Análises das Dinâmicas Demográficas. (*) (**) Não há dados disponíveis para a Região Norte e Tocantins entre 2000 e 2006.
Quando se observa o nível de instrução, Tabela 10, o Estado do Tocantins
apresenta as menores taxas percentuais de alfabetização quando comparado à região
Norte e ao Brasil. No ano de 2007, as taxas de alfabetização para homens e mulheres no
Estado do Tocantins eram de 84,3 e 87,2, respectivamente. Para a região Norte, a taxa
de alfabetização, em 2007, era de 90 para mulheres e de 88,3 para os homens. E no
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Brasil, as taxas para homens e mulheres eram, respectivamente, 89,8 e 90,2. Pode-se
observar, também, redução na taxa de alfabetização para mulheres do ano de 2007 para
o ano de 2008, tanto na Região Norte quanto no Estado do Tocantins. No Brasil, essa
taxa foi mantida nos dois anos, porém, houve aumento da taxa de alfabetização tanto
para homens quanto para mulheres dos anos de 2007 a 2009 no Estado, na Região Norte
e no País.
TABELA 10 - Taxa de alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais de idade por sexo Brasil, Região Norte e Tocantins: 2001 e 2009.
Ano Brasil Norte * Tocantins** Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
2001 87,5 87,7 - - - - 2002 88 88,3 - - - - 2003 88,3 88,6 - - - - 2004 88,4 88,8 - - - - 2005 88,7 89,2 - - - - 2006 89,4 89,9 - - - - 2007 89,8 90,2 88,3 90 84,3 87,2 2008 89,8 90,2 88,8 89,7 84,5 86,8 2009 90,2 90,4 88,6 90,3 85,1 87,9
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/2009. (*) (**) Não há dados disponíveis para a Região Norte e Tocantins entre 2001 e 2006.
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 mostra que o Brasil faz parte do
seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011,
segundo os dados recalculados para a nova base deste ano. No caso brasileiro, esta
evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da
dimensão saúde – medida pela expectativa de vida – responsável por 40% da alta. As
outras duas dimensões que compõem o IDH, educação e renda, corresponderam, cada
uma, a cerca de 30% desta evolução (PNUD, 2011).
TABELA 11 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o Brasil, Região Norte e Tocantins: 2000, 2005 e 2010.
Ano Brasil Região Norte Tocantins 2000 0,665 0,727 0,710 2005 0,692 0,766 0,756 2010 0,715 0,787 0,766
Fonte: PNUD, 2010 – Relatório de Desenvolvimento Humano; IBGE (2010) e Ipea (2010. A Tabela 11 apresenta os dados do IDH do período de 2000, 2005 e 2010. Em
2000, o País apresentava um IDH de 0,665, avançando para 0,718, após uma década.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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Para a Região Norte, esse índice que era de 0,727, tendo subido para 0,787 em 2010. Já
para o Estado do Tocantins, ele subiu de 0,710 em 2000 para 0,766 em 2010.
Pode-se inferir que o país está avançando nos indicadores sociais e econômicos,
tanto na Região Norte quanto no Estado do Tocantins, revertendo-se esse avanço em
qualidade de vida e bem-estar social.
Partindo para análises de rendimento, verifica-se que o PIB do Estado do
Tocantins em 2010 representa cerca de 0,46% do PIB nacional e aproximadamente
8,56% do PIB da Região Norte, enquanto a Região Norte representa cerca de 5,34% do
PIB nacional (Tabela 12).
TABELA 12 – Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado (1.000.000 R$) para o Brasil, Região Norte e Tocantins.
2007 2008 2009 2010 Brasil 2661345 3032203 3239404 3770085 Norte 133578 154703 163208 201511
Tocantins 11094 13090 14571 17240 Fonte: IBGE – Contas Regionais (2010).
O PIB per capita tem sido utilizado como principal indicador de crescimento
econômico. No ano de 2009, o PIB per capita do Tocantins foi maior que a média da
Região Norte, respectivamente, 11278 e 10626, porém é inferior à média nacional, de
16918 (Tabela 13).
TABELA 13 – PIB per capita a preços de mercado para o Brasil, Região Norte e Tocantins -2007 a 2009
2007 2008 2009 2010 Brasil 14465 15992 16918 19016 Norte 9135 10216 10626 12701
Tocantins 8921 10223 11278 12461 Fonte: IBGE (2010) A Tabela 13 apresenta o PIB per capita para o Brasil, Região Norte e Estado do
Tocantins entre 2007 e 2010. No acumulado, o país teve um crescimento de 31,46%, a
Região Norte, de 39,04%, e o Estado do Tocantins apresentou a melhor taxa, 39,53%.
Quando se calculou a taxa média anual, o Estado do Tocantins apresentou uma taxa de
3,07, a Região Norte, de 3,0%, e o Brasil, uma taxa de 2,52%.
Esse crescimento do PIB per capita no Estado do Tocantins pode ser atribuído às
obras na área de infraestrutura, como, por exemplo, os avanços nas obras da ferrovia
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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norte-sul, à expansão da fronteira agrícola no Estado, aos investimentos em hidrovia e
na Rodovia Belém-Brasília.
Segundo dados do IBGE (2010), o Estado do Tocantins no período de 2002 – 2010
apresentou o maior crescimento em volume, com uma média anual de 14,2% e de
74,2% no acumulado. A média nacional de crescimento ficou em 7,5% em relação a
2009 e em 37,1% no acumulado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo central deste estudo foi analisar os indicadores de desenvolvimento
socioeconômico do Estado do Tocantins, fazendo uma comparação com a média
nacional e com a Região Norte, considerando o contexto histórico do Estado.
Algumas considerações sobre os indicadores evidenciam que tanto o Brasil
como o Estado do Tocantins estão mais urbanizados, apresentando uma taxa de 84,3% e
78,7% de urbanização, respectivamente. O Estado apresentou uma taxa de crescimento
anual de 1,34, superior à taxa do Brasil, que foi de 1%, mas inferior à da Região Norte.
A taxa de natalidade passou de 26,9 em 2000 para 20,5 em 2008. A expectativa de vida
aumentou nos três entes analisados.
O IDH verificado no país era de 0,665 em 2000, após uma década, ele avançou
para 0,718. Para a Região Norte, esse índice, que era de 0,727, subiu para 0,787 em
2010. Já para o Estado do Tocantins, ele subiu de 0,710 em 2000 para 0,766 em 2010.
Ao analisar o PIB do Tocantins no período de 2002 – 2010, nota-se que ele
apresentou o maior crescimento, 74,2% no acumulado. A participação do PIB do
Estado do Tocantins em 2010 representa cerca de 0,46% do PIB nacional e cerca de
8,56% do PIB da Região Norte, enquanto que a Região Norte representa cerca de 5,34%
do PIB nacional. Como relação ao PIB per capita, o Estado do Tocantins apresentou
uma taxa de crescimento média anual de 3,07, a Região Norte, de 3,0%, e o Brasil, de
2,52%. Portanto, o Estado do Tocantins apresentou o melhor desempenho.
Os dados apresentados permitem observar que o Estado do Tocantins ocupa
posição mediana em desenvolvimento socioeconômico na região Norte. Houve
melhoras em alguns indicadores, mas ainda há muito que avançar para chegar a um
padrão satisfatório de desenvolvimento econômico.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
16
Aceita-se a hipótese de que o Estado do Tocantins seja resultado histórico do
processo de desenvolvimento capitalista brasileiro, bem como da expansão da fronteira
agrícola na Amazônia, que não é um espaço isolado, mas sim parte integrante e
interdependente da economia capitalista. Quanto ao questionamento levantado, pode-se
inferir que a mais nova unidade federativa do Brasil está, de forma ainda limitada,
investindo na qualidade de vida da sua população. Este trabalho não esgota o assunto
aqui tratado, recomendando-se que seja feito para outras regiões do País.
(acesso em: 20 de novembro de 2012). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
17
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
1
A EMPRESA VALE E A PRODUÇÃO DE ESPAÇO NO "MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL" NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA1 WELBSON DO VALE MADEIRA 2
RESUMO Analisa-se neste artigo como empresas globais podem reorganizar sua dinâmica de produção de espaço com base na noção de desenvolvimento sustentável, tomando-se como referência a atuação da empresa Vale S.A na Amazônia brasileira. Na primeira parte discute-se a importância da organização do espaço em modelos de desenvolvimento econômico e a noção de produção de espaço. Em seguida são apresentadas as formas predominantes de organização do espaço nos planos de desenvolvimento da Amazônia brasileira, com ênfase no chamado modelo de desenvolvimento sustentável. Na terceira parte, analisa-se o enraizamento da Vale na Amazônia e algumas estratégias dessa empresa para obter ganhos econômicos e sociais a partir da noção de desenvolvimento sustentável. Argumenta-se, ao final, que a noção de desenvolvimento sustentável e suas respectivas políticas viabilizam novas formas de produção capitalista de espaço, além das concebidas inicialmente por autores da Economia Política e da Geografia Política. PALAVRAS-CHAVE: Produção de Espaço; Desenvolvimento Sustentável; Amazônia; Vale S.A.
THE VALE COMPANY AND PRODUCTION OF SPACE IN THE SUSTAINABLE DEVELOPMENT MODEL IN BRAZILIAN AMAZON
ABSTRACT This article analyzes how global companies can reorganize its dynamics of production of space considering the notion of sustainable development, taking as reference the Vale Company and its proceeding in the Brazilian Amazon. In the first part is under discussion the importance of organization of space in economic development model, and the notion production of space. After that, are submitted predominant forms of organization of space in the development plan to Brazilian Amazon, with emphasis to named sustainable development model. In the third part, there is a review around Vale Company and its incrustation in the Amazon, and some company strategies in order to gain economic and social values, through sustainable development notion. Finally, the Author defends that sustain able development notion, and its correspondent policies, permits new forms of capitalist production of space, besides those initially thought by Authors of Political Economy and Political Geography. KEY-WORDS: Production of Space; Sustainable Development; Amazônia; Vale Company.
1 Este artigo é resultado de pesquisas de doutorado no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (Brasil), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA. 2 Doutorando em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, na Universidade Federal do Pará; Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão. [email protected].
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2
1 – INTRODUÇÃO
A partir de debates sobre a conveniência de intervenções estatais na economia,
logo após a Segunda Guerra Mundial consolidaram-se importantes concepções de
desenvolvimento econômico e de sua possibilidade. Entre os desdobramentos desse
processo, afirmaram-se teorias que advogaram a necessidade de os governos
estabelecerem organizações racionais do espaço para reduzir as disparidades regionais.
No Brasil, as teorias de referência para organizar o espaço manifestaram-se de
forma mais direta a partir da década de 1970, por meio de p lanos de desenvolvimento
econômico. Na Amazônia basearam-se inicialmente em um dito modelo amazônico de
desenvolvimento, segundo o qual a região deveria ser mais ocupada, tendo por
referência a teoria das vantagens comparativas e a teoria dos polos de crescimento.
Por outro lado, como alternativa aos planos da década de 1970 e em função de
transformações na economia mundial e da impossibilidade do governo brasileiro manter
financiamentos de grandes projetos, a partir da década de 1990 foram apresentados dois
pretensos novos modelos de desenvolvimento. O primeiro, dito de inserção competitiva,
materializou-se nos planos plurianuais (PPAs) 1996-1999 e 2000-2003, cujas políticas
foram centradas em eixos nacionais de integração e desenvolvimento. O segundo, dito
de desenvolvimento sustentável, começou a ser formalmente construído em 2003, e
manifestou-se na Amazônia por meio do Plano Amazônia Sustentável, em 2008, e do
Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal, em 2010.
Nota-se que nas três gerações de planos de desenvolvimento apresentados para a
Amazônia a Vale S.A. cumpriu funções centrais. No “modelo amazônico”, coube à
empresa ser a coluna vertebral do Programa Grande Carajás (PGC), voltado para
exportação de minério de ferro. No “modelo de inserção competitiva”, articulou suas
atividades aos eixos nacionais de integração. Por fim, no dito “modelo de
desenvolvimento sustentável” está articulando suas atividades a projetos do governo, e
readequando algumas de suas práticas e discursos.
Neste artigo, portanto, apresenta-se a trajetória da empresa Vale S.A. na
Amazônia, com ênfase na fase relativa ao “modelo de desenvolvimento sustentável”,
para discutir as noções de desenvolvimento geográfico desigual e produção de espaço.
Após essa introdução mostram-se formas de organização do espaço em alguns
modelos de desenvolvimento econômico, e para analisar este aspecto são apresentadas
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
3
as noções de desenvolvimento geográfico desigual e produção de espaço. Na segunda
parte, apresentam-se aspectos gerais dos planos desenvolvimentistas para a Amazônia a
partir da década de 1970, ressaltando-se a noção de desenvolvimento sustentável e as
políticas públicas e empresariais baseadas na mesma. Em seguida, analisa-se o
enraizamento da Vale na Amazônia, conflitos relacionados a este processo e estratégias
dessa empresa para obter legitimação social e ganhos econômicos a partir da noção de
desenvolvimento sustentável. Na última parte, a guisa de conclusão geral, destaca-se
que o “modelo de desenvolvimento sustentável” viabilizou novas alternativas de
produção de espaço além das identificadas inicialmente por autores dos campos da
Economia Política e da Geografia Política.
2 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
As políticas de organização do espaço com o objetivo de favorecer o
desenvolvimento econômico praticamente começaram logo após a Segunda Guerra
Mundial, e basearam-se essencialmente em teorias neopositivistas. Na Economia
manifestaram-se em concepções inspiradas no keynesianismo, destacando-se as
chamadas teorias de desenvolvimento regional. Na Geografia destacam-se as
concepções da chamada Nova Geografia.
Como parte das teorias de desenvolvimento regional, a teoria dos polos
provavelmente foi a mais importante (Souza, 2005; Lima, 2009). De acordo com esta
teoria, o crescimento econômico tende a ser irregular e concentrado em determinados
pontos, sendo necessário o Estado intervir para minimizar problemas decorrentes desta
situação (Perroux, 1977; Boudeville, 1969; Hirschman, 1977). Já a Nova Geografia
apresentou modelos estatísticos, derivados essencialmente da Economia, voltados para
“racionalizar” o uso do espaço (Moraes, 2007). Para Corrêa (1991), esta corrente
cumpriu essencialmente um papel ideológico no processo de expansão capitalista a
partir da década de 1950, na justificativa de novos arranjos espaciais demandados pelo
capital.
Em contraposição às teorias neopositivistas, a partir da década de 1960
começaram a vir à tona interpretações sobre desenvolvimento e espaço nos campos da
Economia Política e da Geografia Política. Basearam-se principalmente no método
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4
materialista dialético, e podem ser identificadas contribuições de autores da “tradição
marxista britânica”, do “neomarxismo” e da tradição marxista francesa (Soja, 1993).
Segundo Soja (1993), nas contribuições anglófonas verificam-se tentativas de
explicar “os efeitos empíricos do desenvolvimento geográfico desigual (...) através de
suas fontes geradoras nas estruturas, práticas e relações organizacionais que constituem
a vida social” (Soja, 1993, p. 66). Já na “tradição francesa”, destaca-se o pioneirismo de
Lefèbvre, para quem a espacialidade no capitalismo é caracterizada pela “produção e
reprodução peculiares de um desenvolvimento geográfico desigual, através de
tendências simultâneas para a homogeneização, a fragmentação e a hierarquização”
(Soja, 1993, p.65).
Para Lefèbvre, de acordo com Moreira (2012), o espaço está articulado à
infraestrutura e à superestrutura, e tem a mesma importância teórica que essas noções.
Na infraestrutura, manifesta-se por meio de objetos espaciais, como usinas hidrelétricas,
ferrovias, rodovias etc. Na superestrutura, por meio de instituições políticas que
interferem nos arranjos espaciais3.
Além de concordar com Lefèbvre em vários aspectos, Harvey (2004) ressalta a
relação entre produção de espaço e crise, e conclui que “a produção e a reconfiguração
de relações espaciais oferecem um forte meio de atenuar, se não resolver, a tendência de
formação de crises no âmbito do capitalismo” (Harvey, 2004, p. 78). A propósito,
destaca que “foi principalmente com o deslocamento espacial e temporal que o regime
fordista de acumulação resolveu o problema da superacumulação no decorrer do longo
período de expansão do pós-guerra” (Harvey, 2010, p. 173).
Harvey (2010) avalia que no início da década de 1970, articulando-se ao fim do
fordismo-keynesianismo, começou um novo ciclo de “compressão do tempo-espaço”,
configurando-se o que pode ser considerada uma “condição pós-moderna”. Nesta fase
podem ser verificadas importantes transformações nos processos produtivos,
principalmente em função do ritmo das inovações tecnológicas e da possibilidade de se
produzir de uma maneira geograficamente dispersa, e são estabelecidos novos
referenciais de regulamentação econômica, política e espacial. O autor destaca, 3 Henri Lefèbvre analisou a importância do espaço nas relações capitalistas em várias obras. Conforme Moreira (2012), essa discussão específica, relacionando espaço com as categorias infraestrutura e superestrutura pode ser encontrada em Lefèbvre, H. (1973). A re-produção das relações de produção, Porto, Publicações Escorpião.
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5
entretanto, que “as práticas temporais e espaciais (...) sempre exprimem algum tipo de
conteúdo de classe ou outro conteúdo social, sendo muitas vezes o foco de uma intensa
luta social” (Harvey, 2010, p. 218).
Para viabilizar a produção de espaço, a intervenção do Estado se torna decisiva,
pois: A capacidade tanto do capital como da força de trabalho de se moverem, rapidamente e a baixo custo, de lugar para lugar, depende da criação de infraestruturas físicas e sociais fixas, seguras e, em grande medida, inalteráveis. A capacidade de dominar o espaço implica na produção de espaço (Harvey, 2005, p. 147).
Como Harvey (2004; 2005), Smith (1990) avalia que a diferenciação do espaço
geográfico, em nível de mundo e de regiões de um país, representa uma necessidade
cada vez maior do capital para amenizar suas crises. Quanto aos espaços em que o
capital acaba por se localizar, avalia que: The increased mobility of capital into and out of production, and the steady emancipation of industry from natural constraints, it is wage-rate differentials and to a lesser extent the extant pattern of labour skills which determine the actual locale toward which capital flows and concentrates (Smith, 1990, p. 146)
Referenciando-se em concepções marxistas, Santos (2002), considera o espaço
“como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações”
(Santos, 2002, p. 21). O sistema de objetos equivale ao conjunto de forças produtivas, e
o sistema de ações ao conjunto de relações sociais de produção. Ambos os sistemas são
“igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao
lugar e aos seus habitantes” (Santos, 2002, p. 63).
Sobre a articulação entre tempo e espaço, Santos (2008) identifica cinco grandes
períodos na história mundial, com diferentes espacialidades. Conclui que estamos no
“período tecnológico”, iniciado logo após a segunda guerra mundial e acelerado a partir
da década de 1990. No atual contexto, devido ao salto no desenvolvimento tecnológico,
“a distinção entre lugar e região passa a ser menos relevante do que antes, quando se
trabalhava com uma concepção hierárquica e geométrica onde o lugar devia ocupar uma
extensão do espaço menor que a região” (Santos, 2002, p. 166).
Na mesma linha de Harvey (2005), Santos (1980) ressalta o papel do Estado, e
avalia que este não é um “intermediário passivo”, está sujeito a diversas influências
externas e é “o único intermediário possível entre o modo de produção em escala
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
6
internacional e a sociedade nacional” (Santos, 1980, p.181). Portanto, “a reorganização
de um subespaço sob a influência de forças externas depende sempre do papel que o
Estado exerce”, e este aparece como “fator por excelência de elaboração do espaço”
(Santos, 1980, p. 183).
Corroborando a pertinência das análises inspiradas no marxismo acerca da relação
entre desenvolvimento econômico e organização do espaço, e em particular as
percepções de Smith (1990), Harvey (2004; 2005; 2010) e Santos (1980; 2002; 2008),
tem-se que a partir da década de 1970 foram estabelecidas políticas para “organizar” o
espaço no Brasil a partir de planos desenvolvimentistas. Estes, por sua vez, basearam-se
em modelos econômicos inspirados no keynesianismo e na Nova Geografia. É essa a
questão mostrada a seguir, tomando-se como referência os planos desenvolvimentistas
apresentados para a Amazônia brasileira a partir da década de 1970.
3 – PLANOS DE DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA
AMAZÔNIA
O início dos planos de desenvolvimento que pretendiam contribuir para organizar
o espaço no Brasil ocorreu paralelamente à desarticulação do fordismo-keynesianismo e
ao início de uma nova crise na economia mundial. Da década de 1970 em diante esses
planos foram centrados sucessivamente em políticas para consolidar polos de
crescimento, eixos nacionais de integração e zoneamentos ecológico-econômicos
(ZEE).
No caso da Amazônia podem ser identificados três grupos de planos
desenvolvimentistas: o primeiro, relativo ao II Plano de Desenvolvimento da Amazônia
(II PDA, 1975 – 1979) e ao Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da
Amazônia (POLAMAZÔNIA); o segundo, ao Programa Brasil em Ação (PPA 1996 –
1999) e ao Programa Avança Brasil (PPA 2000 – 2003); o terceiro, ao Plano Amazônia
Sustentável (2008) e ao Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal
(2010).
No início da primeira etapa dos planos desenvolvimentistas no Brasil verificava-
se a necessidade de empresas europeias, estadunidenses e japonesas se expandirem
rumo à periferia capitalista, aumento da demanda por determinadas matérias-primas e
crise fiscal em vários países. Diante dessa dinâmica o governo brasileiro apresentou o II
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Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), e com base no mesmo decidiu aumentar
os investimentos públicos, abrir ainda mais a economia brasileira para o capital
estrangeiro e atraí- lo para associações com empresas estatais (Brasil, 1975; Reichstul &
Coutinho, 1983; Castro & Souza, 1985).
Além dos aspectos gerais indicados no II PND, os planos na Amazônia
vincularam-se ao que o governo denominou de modelo amazônico de desenvolvimento
(SUDAM, 1976; Brasil, 1981). Referido modelo materializou-se no II PDA e no
POLAMAZÔNIA, e por sua indicação foi demarcada uma área para implementar o
Programa Grande Carajás (PGC) 4, que abarcou partes dos atuais Estados do Pará,
Tocantins e Maranhão.
De forma imediata, o PGC foi uma continuação do Programa Minério de Ferro
Carajás (PMFC), iniciado pela então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) em 1980.
Com o PMFC pretendia-se extrair minério de ferro na Serra dos Carajás (Estado do
Pará), estabelecer uma planta industrial para beneficiar o ferro e criar e operar a Estrada
de Ferro Carajás (EFC), ligando as minas de ferro ao porto de Ponta da Madeira, no
Estado do Maranhão5. O programa partiu da avaliação de que diante do aumento da
demanda mundial por produtos básicos, deveria haver um maior aproveitamento dos
recursos minerais, hidrelétricos, florestais e territoriais na parte oriental da Amazônia
(Brasil, 1981).
Em função da recessão econômica que atingiu a economia mundial a partir da
década de 1980, entretanto, os sucessivos governos começaram a alterar os planos
desenvolvimentistas até então implementados no Brasil, e adotaram medidas para
adaptar o país à nova ordem mundial. Assim, inaugurando a segunda etapa dos planos
desenvolvimentistas, foi apresentado o Plano Plurianual (PPA) 1996 – 1999, que do
ponto de vista espacial materializou-se na proposta de consolidar eixos nacionais de
integração e desenvolvimento. Segundo o então governo, estes eixos seriam as bases de
um “modelo de inserção competitiva” (Brasil, 2000; Acselrad, 2001; Mello, 2003).
Continuando o PPA anterior, o PPA 2000 – 2003 priorizou a modernização das
telecomunicações, do sistema de energia e dos transportes. Neste último caso, por meio
4 O PGC foi instituído pelo Decreto-Lei 1.813, de 24/11/1980. Passou a contar com 25% dos fundos públicos destinados ao POLAMAZÔNIA, e com sistemas particulares de financiamento e isenções fiscais (Brasil, 1981; Monteiro, 2004). 5 A EFC foi inaugurada em 1985, e no ano seguinte começou a exportação de minério de ferro pela CVRD a partir do Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, Estado do Maranhão.
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da criação de corredores multimodais, interligando rodovias, ferrovias, hidrovias, portos
e aeroportos (Brasil, 2000; Nepstad, 2000). Para a Amazônia foram apresentados 40
grandes projetos, voltados principalmente para favorecer exportações (Brasil, 1996;
Becker, 1999).
Na terceira etapa dos planos desenvolvimentistas, a partir de 2003, começou a ser
apresentado o que os governos desde então chamam de modelo de desenvolvimento
sustentável. Está sendo argumentado que este deve partir do pressuposto de que os
modelos anteriores levaram a Amazônia a uma progressiva articulação a um espaço
extra-regional e desestruturaram atividades econômicas locais. Portanto, é necessária a
“revisão do conceito de organização do espaço geográfico e das bases conceituais e
metodológicas que a referenciam” (Brasil, 2010, p. 7). Com este objetivo foram
apresentados o Plano Amazônia Sustentável (PAS) e o Macrozoneamento Ecológico-
Econômico da Amazônia Legal (MacroZEE).
O novo dito novo modelo de desenvolvimento baseia-se principalmente em
formulações originadas no âmbito da Organização das Nações Unidas, por meio da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Para esta
comissão todos os países deveriam ter como meta atender as “necessidades do presente
sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas”
(Brundtland, 1991, p.9).
Alinhada às idéias neoliberais, a CMMAD defende que para viabilizar o
desenvolvimento sustentável é conveniente o fim das formas tradicionais de soberania
nacional, e que as empresas multinacionais têm um papel decisivo, “sobretudo à medida
que os países em desenvolvimento possam depender mais de capital social estrangeiro”
(Brundtland, 1991, p. 20). O Banco Mundial, por sua vez, além de referendar as
concepções da CMMAD, argumenta que: A determinação de valores às propriedades agrícolas, minérios, rios, oceanos, florestas e biodiversidade, bem como concessão de direitos de propriedade, oferecerão aos governos, indústria e indivíduos o incentivo suficiente para gerenciá-los de forma eficiente, inclusiva e sustentável (World Bank, 2012, p. 1).
Como salienta Redclift (2006, p. 51), “a re-emergência da economia de mercado
(...), com as quais a sustentabilidade é associada, claramente marca um divisor de águas
para a política ambiental”. Ratificando essa interpretação, no caso do Brasil, a partir da
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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década de 1990 começaram a ser estabelecidos diversos instrumentos econômicos6 para
supostamente favorecer a conservação de recursos naturais.
Sob influência do Banco Mundial, por exemplo, e como resultado de reuniões dos
sete países mais ricos do mundo (G-7), foi estabelecido o Decreto 563/92, conhecido
como Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil (PPG-7), que
apresentou como um dos principais objetivos “demonstrar a viabilidade de harmonia
entre desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente” (Brasil, 1996, p. 8).
Ao Banco Mundial coube administrar o Rainforest Trust Fund, vinculado ao PPG-7,
escolha dos doadores do fundo e organização das reuniões do programa, neste caso com
o governo brasileiro (Brasil, 1996).
Como desdobramento de políticas relacionadas ao meio ambiente, parte da
Amazônia consolidou-se como uma grande unidade de conservação. Ao final de 2010,
43,9% do território da região faziam parte do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação ou de Territórios de Ocupação Tradicional (TOT), entendidos como as
terras indígenas ou quilombolas (Borges, et. al, 2007; Veríssimo et. al., 2011). Neste
quadro, complexificado a partir do PPA 1996-99, foram apresentados o PAS e o
MacroZEE.
O PAS começou a ser construído em 2003, e tem como objetivos declarados
consolidar o modelo de desenvolvimento sustentável, combater os processos de
degradação ambiental e estabelecer diretrizes para ordenamento territorial e gestão
ambiental (Brasil, 2008). É argumentado que as populações da Amazônia podem ter
maiores ganhos a partir de uma produção sustentável, mas para isso é necessário
melhorar a infraestrutura na região - justificando-se assim a articulação do PAS com os
eixos nacionais de integração (Brasil, 2008).
O MacroZEE foi definido como instrumento de orientação para a formulação e
espacialização das políticas públicas de desenvolvimento, ordenamento territorial e
meio ambiente. Para tanto, foi decidida sua articulação com os zoneamentos ecológico-
econômicos dos Estados e municípios, e estabelecidas dez unidades territoriais, que,
segundo o governo, compatibilizarão desenvolvimento econômico e conservação
ambiental (Brasil, 2010).
6 O argumento neoliberal acerca da perspectiva dos instrumentos econômicos é o seguinte: os incentivos são baseados em mecanismos de preços, e com os mesmos “agentes privados reagirão, na margem, modificando suas atitudes para interiorizarem aqueles incentivos e continuarem maximizando seus lucros ou sua utilidade” (Riva et al. 2007, P. 28).
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Diante do crescimento da importância da noção de desenvolvimento sustentável,
as grandes empresas presentes na Amazônia estão reorganizando suas formas de atuar
na região, como é possível verificar no caso da empresa Vale S.A.
4 – A VALE E A PRODUÇÃO DE ESPAÇO NA AMAZÔNIA
Fundada pelo governo brasileiro em 1943, com o nome de Companhia Vale do
Rio Doce (CVRD) 7, a Vale está presente em mais de 30 países. Atua principalmente
nos segmentos de mineração (ferro, manganês, níquel, cobre, cobalto, potássio, ouro),
logística, energia e siderurgia, e é uma das maiores empresas produtoras de minério de
ferro do mundo (Vale, 2011; 2012).
Para a mineração no Brasil a Vale dispõe de uma área de 660.715 hectares de
terras, concedidas pelo governo por tempo indeterminado. Considerando outras
atividades e áreas de proteção sob sua responsabilidade, o território da Vale alcança
6,07 milhões de hectares (Vale, 2013), e é monitorado com base no Sistema de
Informação Geográfica (SIG), subdividido em SIG territorial, SIG Ferrovias, SIG
florestas, Sistema de Detecção de Incêndios (SDI) e Sistema de biodiversidades (Vale,
2011; 2012).
Na Amazônia o enraizamento da Vale praticamente começou com o Programa
Grande Carajás, e hoje é materializado na exploração de quatro minas de ferro, uma
ferrovia de 892 km, com concessão até 2027, um complexo portuário, reservas
ambientais e usinas de produção de energia. Destaca-se, neste último caso, a
propriedade de 30% da usina hidrelétrica de Estreito, no Estado do Maranhão, que
começou a operar em março de 2013, e 9% do consórcio Norte Energia, criado para
implantar e operar a usina de Belo Monte (Estado do Pará), cujo início do
funcionamento está previsto para 2015 (Vale, 2012; 2013a).
Beneficiando-se da infraestrutura criada ou projetada pelo governo federal, desde
a segunda metade da década de 1990 a Vale está expandindo seus negócios, podendo-se
destacar o Programa Capacitação Logística Norte, do qual fazem parte o aumento da
produção de ferro, duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), novo ramal
7 A privatização da CVRD foi objeto de polêmicas e dezenas de ações judiciais, que se arrastam até a atualidade. Em 2012, por exemplo, restavam 69 ações questionando a legalidade da desestatização da empresa (Vale, 2013b). A partir de 1998 a CVRD passou a ser denominada simplesmente Vale.
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ferroviário ligando as minas à EFC e expansão do complexo portuário de Ponta da
Madeira (Vale, 2011; 2012; 2013a).
A Vale reconhece que a expansão de suas atividades tem levado ao aumento da
emissão de diversos poluentes, como os óxidos de Enxofre (SOx) e de Nitrogênio
(NOx), mas considera que “essas substâncias não têm efeito global e seus impactos na
qualidade do ar ocorrem em função das concentrações e condições locais” (Vale, 2011,
p. 13). Em relação à água, é admitido que a captação da mesma no processo de
mineração é maior do que sua necessidade de consumo, mas é ressaltado que este
procedimento é “autorizado por instituições estaduais responsáveis pela gestão dos
recursos hídricos” (Vale, 2013b, p. 87).
Todavia, há diversas denúncias em contraposição aos argumentos da Vale S.A.
Segundo a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (2012), por exemplo, em
2010 as atividades da empresa na Amazônia tiveram impactos em uma área de 741,8
km², por conta principalmente de desmatamentos e emissões de poluentes, inclusive os
produzidos por empresas terceirizadas e parceiras. Além disso, há registros de dezenas
de representações na Justiça contra a empresa, nos estados do Pará e Maranhão.
Em uma das representações é informado que a Vale teria reconhecido a
possibilidade de suas atividades estarem gerando “partículas totais em suspensão” acima
do determinado legalmente, na cidade de São Luís (Justiça nos Trilhos, 2010). Outra
representação é relativa aos atropelamentos na Estrada de Ferro Carajás. Conforme o
processo: A Estrada de Ferro Carajás corta 25 municípios em seus 892 quilômetros, possuindo 725 travessias, ou seja, pontos em que há passagem de pessoas, animais e/ou veículos. A maior parte dessas travessias não é subterrânea e nem aérea, gerando elevados riscos de acidentes. Existem 94 localidades, entre povoados, vilas e cidades, na faixa de 1.000 metros com eixo na Estrada de Ferro Carajás. O intenso fluxo de pessoas, somadas a ausência de mecanismos de proteção e sinalização fazem com que a cada mês 1 (uma) pessoa, em média, morra atropelada pelos trens operados pela Vale S.A. (Justiça Nos Trilhos, 2010, p. 71).
Também a duplicação da EFC é objeto de uma Ação Civil Pública, articulada pela
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. É alegado que há vícios no licenciamento
ambiental do referido empreendimento, e que este pode levar a danos irreversíveis a
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dezenas de comunidades afetadas de forma direta ou indireta pela Vale (Poder
Judiciário, 2012).
Como forma de reagir aos conflitos com grupos organizados, a Vale tem adotado
novas estratégias de relacionamentos com diversas comunidades que sofrem seus
impactos, com práticas que afirma serem socialmente adequadas e com referência na
noção de desenvolvimento sustentável, e as alia a uma “forte estratégia de marketing”
(Vale, 2013). Nessa perspectiva, por exemplo, tenta absorver trabalhadores e
fornecedores de produtos e serviços da região, opera um trem de passageiros na EFC e
patrocina atividades nas áreas de cultura, educação e esportes. Além disso, após o
governo apresentar o PAS, a empresa apresentou o seu Plano de Ação em
Sustentabilidade, baseado em indicadores de geração de resíduos perigosos, captação de
água, consumo de energia direta, reuso de água, consumo de energia indireta e emissões
de gases causadores do efeito estufa. Com essas práticas, a empresa se considera
credenciada para participar de “iniciativas globais como o Pacto das Nações Unidas, o
Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) e o Fórum Global da
Sustentabilidade da Indústria da Mineração (Vale, 2012, p. 15).
Ao mesmo tempo, em função de riscos relativos às mudanças climáticas
mundiais, a Vale avalia que: Tem a oportunidade de criar novos produtos, negócios e serviços em novos mercados criados pelas mudanças climáticas. Produtos contemplados nessa oportunidade abrangem o desenvolvimento de novos negócios em energias renováveis e novos negócios florestais. (Vale, 2013b, p. 191)
Na perspectiva de lucrar com os “negócios florestais”, a Vale busca ainda
“agregar valor” às áreas de reservas florestais sob sua responsabilidade, principalmente
a partir da quantificação e precificação da estocagem e seqüestro de CO2. Como
desdobramento dessa política foi criado o Projeto Carbono do Vale Florestar, que
negocia créditos de carbono em bolsas de valores (Vale, 2013b). Articulando-se a este
projeto, a Vale toma como referência em seus negócios o índice de carbono eficiente
(ICO2) e o índice de liderança do carbon disclosure project (CDLI), e foi a primeira
mineradora no Brasil a ingressar no índice de sustentabilidade empresarial (ISE), da
Bolsa de Valores de São Paulo (Vale, 2011).
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Para a Vale S.A. os índices relacionados à sustentabilidade ambiental e a
responsabilidade social, bem como as certificações de produtos e serviços como
ambientalmente e socialmente adequados, são importantes na medida em que “questões
de sustentabilidade recebem atenção crescente de investidores para o sucesso financeiro
das empresas a longo prazo” (Vale, 2011, p. 7).
Portanto, pode-se afirmar que a Vale S.A está aproveitando o “modelo de
desenvolvimento sustentável” para expandir seu domínio na Amazônia. De forma
direta, a empresa se beneficia da infraestrutura criada para supostamente viabilizar o
dito modelo de desenvolvimento sustentável. Indiretamente, beneficia-se por negociar
títulos relativos a “serviços ambientais” e valorizar suas marcas por meio de
certificações e intenso trabalho de marketing.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para as atividades produtivas das grandes corporações é fundamental que o Estado
“organize” o uso do espaço (Harvey, 2004, 2005, 2010; Smith, 1991; Santos, 1980,
2002, 2008; Soja, 1993; Moreira, 2012). Por outro lado, analisando-se o caso da
Amazônia brasileira, verifica-se que as políticas de ordenamento territorial têm
reforçado a tendência de desenvolvimento geográfico desigual, por meio da
concentração de obras de infraestrutura e incentivos a grandes projetos econômicos.
Na Amazônia brasileira as três gerações de planos de desenvolvimento econômico
materializaram-se, sucessivamente, em políticas centradas em polos de crescimento,
eixos nacionais de integração e desenvolvimento e zoneamento ecológico-econômico
(ZEE). Atualmente verifica-se a coexistência de aspectos dos três “modelos”. Os polos,
em termos de centros industriais e urbanos, por exemplo, estão sendo compatibilizados
com políticas para consolidar eixos de integração.
Ocorre que as políticas relacionadas ao pretenso novo modelo de desenvolvimento
econômico apresentam algumas particularidades importantes. Como se procurou
demonstrar, no caso da Vale S.A., por exemplo, as políticas baseadas na noção de
desenvolvimento sustentável favorecem a adoção de determinadas práticas e do discurso
de que a empresa tem responsabilidade social e ambiental. Esse fato, por sua vez,
contribui para novas possibilidades de ganhos econômicos e para dar uma aparência de
legitimidade às atividades da empresa na Amazônia.
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Constata-se que a Vale S.A. mantém as formas de expandir seu domínio na
Amazônia iniciadas na década de 1980. A duplicação da Estrada de Ferro Carajás, a
consolidação de um sistema multimodal de transportes e a articulação da empresa aos
eixos nacionais de integração são referências neste sentido. Ao mesmo tempo, com o
pretexto de referenciar-se no “desenvolvimento sustentável”, a Vale pode atuar com
menor intermediação direta do Estado, assegurar explorações futuras de recursos
naturais, criar barreiras à concorrência e obter ganhos em mercados especulativos, com
títulos que certificam a alegada responsabilidade ambiental da empresa. Não menos
importante, na medida em que a Vale S.A. impõe padrões organizacionais e de
qualidade, programas como os de desenvolvimento de fornecedores e produtos e
serviços, e os de formação de mão-de-obra local, resultam em novas formas de domínio
na região.
Conclui-se que as noções iniciais de produção de espaço e desenvolvimento
desigual, indicadas neste artigo, continuam válidas para entender importantes elementos
do capitalismo contemporâneo. Ajudam a analisar, por exemplo, características dos
novos grandes projetos econômicos na fase da “globalização” e as políticas de
ordenamento territorial. Por outro lado, percebe-se também que algumas contribuições
nos campos da Economia Política e da Geografia Política precisam ser requalificadas
para o atual contexto da economia mundial. Prova disso é o fato de que as políticas
associadas à noção de desenvolvimento sustentável fomentam desigualdades e
contribuem para novas situações de domínio econômico e social por parte de grandes
corporações. E, portanto, para novas possibilidades de produção capitalista de espaço.
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Atas Proceedings | 3197
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
1
OS GRANDES PROJETOS DE INVESTIMENTOS NA AMAZONIA E AS TRANSFORMAÇOES AGRÁRIAS.
Prof. Dr. Benjamin Alvino de Mesquita
Departamento de Economia – Universidade Federal do Maranhão (UFMA) - Maranhão - Brasil.
Daniele de Fátima Amorim Silva Graduanda em Ciências Econômicas - Universidade Federal do Maranhão (UFMA) -
Maranhão – Brasil [email protected]
Ricardo Vituriano Silva
Administrador – Faculdade do Estado do Maranhão – Maranhão – Brasil [email protected]
Valderiza Barros
Pedagoga – Ministério Público Federal - Maranhão – Brasil [email protected]
RESUMO: O avanço geométrico de monocultura e da pecuária, em áreas do Centro-Oeste e da Amazônia, impactou sobremaneira esses locais. Sobram denúncias no aspecto socioambiental, emprego e no controle do território, traduzido em queda na produção de alimentos e transformação do perfil produtivo regional/local. Na Amazônia atual os agentes responsáveis por essas transformações do setor agrário não se restringem ao agronegócio da soja,eucalipto,dendê ou da pecuária empresarial ,também outras atividades econômicas contribuem para essas mudanças. As obras de infraestrutura do PAC, a ampliação dos mega projetos do setor extrativo-metalúrgico e o avanço de monocultivos são peças fundamentais para se compreender as transformações, particularmente na área objeto de intervenção e no seu entorno. A presença de grandes projetos na ocupação da Amazônia foi/é a opção que o estado brasileiro escolheu na implantação deste projeto de desenvolvimento que exclui mais do que inclui. O custo para a sociedade são incomensuráveis e impagáveis, no entanto, as criticas parecem não surtir efeitos e os resultados para a maioria estão revelados nos precários indicadores socioeconômicos e ambientais divulgados sistematicamente pela mídia. A pesquisa (resultado preliminar) propõe analisar que o avanço das monoculturas e dos grandes projetos de investimentos constitui nos agentes propulsores destas mudanças na Amazônia.
Palavras-chave: Grandes projetos de investimentos, monocultura, Amazônia, transformação agrária, conflitos socioambientais.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
2
ABSTRACT:
The advance of monoculture geometric and livestock in areas of the Midwest and Amazon, greatly impacted these sites. Complaints abound in environmental aspect, employment and control of territory, translated into decline in food production and transformation of regional productive profile / Current Amazon local. The agents responsible for these changes in the agricultural sector are not limited to soybean agribusiness, eucalyptus, palm oil or livestock enterprise, other economic activities also contribute to these changes. The infrastructure works of the PAC, the expansion of mega-projects in the extractive sector and metallurgical breakthrough monocultures are fundamental to understand the changes, particularly in the area object of intervention and its surroundings. The presence of large projects in the Amazon occupation was / is the option we chose the Brazilian state in the implementation of this development project that excludes more than it includes. The cost to society are immeasurable and priceless, however, the critics do not seem to have an effect and the results for most are revealed in precarious socioeconomic and environmental indicators systematically disseminated by the media. The survey (preliminary result) proposes to analyze the spread of monocultures and large investment projects is the propellants of these changes in the Amazon
Keywords: Large investment projects, monoculture, Amazon, agrarian transformation, environmental conflicts.
1 INTRODUÇÃO
Uma análise mesmo que superficial do setor agrário revela que as
transformações da agricultura brasileira são muitas e diferenciadas qualquer que seja o
aspecto, o que acentua ainda mais o seu caráter heterogêneo e diversificado. Para cada
região do país o setor agropecuário na sua concepção mais ampla visto de forma
sistêmica assume papéis variados e perfis diferenciados. A razão disto se encontra no
cenário internacional favorável de crescente demanda por commodities agrícola o que
possibilitou uma melhor rentabilidade na atividade acompanhada por uma expansão em
algumas áreas sem precedentes, particularmente de grãos e carne. O avanço geométrico
de monocultura e da pecuária, em áreas do Centro-Oeste e da Amazônia, impactou
sobremaneira esses locais. A cada recorde de safra, outros recordes são conquistados
nas exportações e na obtenção de dólares para bancar as importações, inclusive de
alimento. Embora o saldo seja amplamente favorável e as importações preocupam e
denuncia uma ausência de política para o setor. Se o comportamento do setor em
termos macroeconômico desempenhou funções relevante para assegurar o crescimento
econômico, emprego e renda, ele também tem proporcionado outros impactos nem
sempre positivos em termos microrregional, no desenvolvimento local. Em muitos
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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destes locais sobram denúncia nos aspectos socioambientais e na questão do emprego e
também da substituição da agricultura de alimentos, traduzido em queda e
transformação do perfil produtivo regional/local.
Na Amazônia atual os agentes responsáveis por essas transformações do setor
agrário não se restringem ao agronegócio da soja,eucalipto,dendê ou da pecuária
empresarial ,também outras atividades econômicas contribuem para essas mudanças. As
obras de infraestrutura do PAC, a ampliação dos mega projetos do setor extrativo-
metalúrgico e o avanço de monocultivos são peças fundamentais para se compreender
as transformações, particularmente na área objeto de intervenção e no seu entorno. A
presença de grandes projetos na ocupação da Amazônia foi/é a opção que o estado
brasileiro escolheu na implantação deste projeto de desenvolvimento que exclui mais do
que inclui. O custo para a sociedade, particularmente a local, como se são
incomensuráveis e impagáveis, no entanto, as criticas parecem não ter surtido efeitos e
os resultados para a maioria está aí presente no dia a dia de todos e revelados nos
precários indicadores socioeconômicos e ambientais divulgados sistematicamente pela
mídia.
Quando se fala de Grandes Projetos de investimento na Amazônia estamos
pensando em mega estruturas produtivas, poderosa política e financeiramente, voltada a
atividades extrativas, concessões publicas e/ou manufatureiras e que se caracterizam
pela escala geométrica de produção, abrangência de atuação e controle de mercado onde
se insere, e também, pela barganha política/financeira que fazem na aquisição de
concessão de direitos a longo prazo sobre o território a ser explorado e de benesses
fiscais para sua instalação.
A estrutura de apresentação do trabalho contempla além da introdução e
conclusão as seguintes partes: na seção dois se faz uma breve análise das
transformações ocorridas no interstício dos censos agropecuários de 1996 e 2006, no
que se refere ao acesso e uso da terra e ocupação da força de trabalho destacando o
papel da agricultura familiar e também o perfil modesto deste setor e as possibilidades /
potencialidades de inserção na ampliação da oferta interna de produtos que lhes dizem
respeito. Em seguida ( seção 3) aborda-se o cenário da economia regional em termos
setoriais e sua dinâmica recente,bem como a importância que assume determinadas
3200 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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atividades ( extrativa) nas contas regionais. Por último se analisa a presença dos grandes
projetos na Amazônia e seus impactos socioeconômicos e ambientais.
2 AS MUDANÇAS NO ACESSO E USO DA TERRA, NA OCUPAÇÃO DA
FORÇA DE TRABALHO E NO PERFIL PRODUTIVO
2.1 Acesso e uso da terra e a ocupação da força de trabalho
A área total da Amazônia (região Norte) é aproximadamente de 3.855 mil
km², mas a área cadastrada agrícola é de 555.358 km² (16,6% da área brasileira) e os
estabelecimentos somam 475.778 (9,2% do Brasil) . Essa área da Amazônia tradicional
é superior a vários países da Europa ou América Latina juntos (daria para caber várias
Penínsulas Ibéricas). Os Estados como o Amazonas e Pará ocupam áreas gigantescas
respectivamente 1,5 milhão de km² e 1,2 milhão de km².
O acesso à terra mesma na Amazônia continua sendo um problema e uma
vergonha nacional, considerado 100 ha como um modulo rural para Amazônia, veja que
número de minifúndio (em 2006) é enorme 335 mil ou 74% do total, mas a área dos
mesmos é de apenas17% do total, enquanto que os latifúndios (+1000 ha), embora
sejam 8.467 (1,8%) se apropriam de 27000 km², o que representa três vezes a área de
Portugal.
Tabela 1 – Distribuição do Número e Área dos Estabelecimentos Agropecuários por estratos de área na Amazônia (1995 e 2006)
Fonte: Censo Agropecuário – IBGE
Os dados do IBGE apresentados nos quadros a seguir oferecem um panorama
geral da estrutura fundiária, utilização da terra, pessoal ocupado e valor da produção,
segundo o tipo de Agricultura Familiar (AF) ou Patronal. Na Amazônia a AF representa
1995 % 2006 % 1995 % 2006 %Menos de 10 ha 134.803 30,2 126.532 26,6 485.318 0,8 361.729 0,710 - 100 217.097 48,7 229.105 48,2 8.700.578 14,9 9.338.721 16,8100 - 200 50.314 11,3 48.432 10,2 6.264.281 10,7 5.980.191 10,8200 - 1000 33.333 7,5 32.086 6,7 12.595.567 21,6 13.036.155 23,51000 ha e mais 8.023 1,8 8.467 1,8 30.313.137 51,9 26.818.968 48,3Total 446.175 100,0 475.778 100,0 58.358.880 100,0 55.535.764 100,0
Tamanho do Estabelecimento
agrícola (ha)
Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares)
Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades)
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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87% dos estabelecimentos e 31,4% da área total cadastrada, sendo relevante (número
absoluto e relativo) em todos os Estados, em particular no Amazonas (93%) e Pará
(89%). No quesito área apropriada cabe a Rondônia com (40%) e Pará (31%). A
agricultura patronal com 62.674 estabelecimentos e uma área de 38,1 milhões de
hectares mostra quem efetivamente se apropria da parte do leão, ou seja, embora seja
apenas 13% dos estabelecimentos, abarca 68,6 % da área. Na Amazônia há 1,6
milhões de pessoas ligadas a agricultura, sendo que 84% estão na AF e 16% na
agricultura patronal. No Tocantins é onde a agricultura patronal tem maior
representatividade (30,5%), nos demais estados essa participação é inferior a 20%. Três
estados: Amazonas, Pará e Rondônia representam 82% de toda força de trabalho
regional nesta categoria (AF).
Tabela 2 – Região Norte: Número de Estabelecimentos agropecuários, área e pessoal ocupado na agricultura familiar e não familiar (2006)
Percebe-se também que um número elevado de pequenos produtores
( estabelecimentos ), em 2006, se encontra na faixa inferior a 200 ha (85%), antes era
90,2%. No intervalo inferior a 10 ha esse percentual (de número) é de 26,6% e de 1,8%
para aquele superior a 1000 ha. Este por sua vez retém cerca de 50% das áreas dos
estabelecimentos (AE), enquanto aqueles (pequenos) ficam apenas com 0,7%,
respectivamente 26.818.968 ha e 361.729 ha. No Pará, Amapá e Tocantins essa
distorção ainda é maior. Este agravamento do acesso a terra vem de longa data, mas o
próximo censo deve mostrar uma tendência de concentração ainda maior por conta do
avanço recente dos monocultivos de dendê, eucalipto e soja. Além disso, a ausência do
estado na regulamentação e controle da terra tem facilitado a grilagem de terra publica,
ademais as obras do PAC I e II baseados em obras de infraestrutura deve também
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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facilitar esse processo de ocupação desordenada que acompanha a implantação desta
obras de rodovias, ferrovias, gasoduto e hidroelétrica em andamento na Amazônia.
A utilização da terra consolida no período militar via pecuária extensiva e
extrativismo predatório de madeira, continua sem grandes mudanças neste último censo
agropecuário (2006), mas novos atores se juntam aos antigos em função da entrada de
grandes grupos nacionais e internacionais na exploração de monocultivos de soja, dendê
e eucalipto. Em linhas gerais a pecuária fica com quase a metade da área ( 8,5%), as
culturas perene e temporária com 7% e o plantio de matas com 0,47%, abaixo da média
nacional. A relação entre área de pastagem e de lavoura é muito desigual chega a ser
em média de 1 para 14. Observa-se também um fato curioso na Amazônia, há uma
equivalência entre as áreas com cultura permanente e temporária fato que não se registra
no Brasil e nem em outras regiões.
A agricultura permanente se destaca em nos estados do Amazonas, Pará e
Rondônia, sendo que nestes dois últimos, suas áreas ultrapassara agricultura temporária.
Em termos de área ocupada com lavoura temporária novamente aparecem Amazonas,
Pará, seguido pelo Tocantins. A pastagem natural é muito importante no Tocantins e um
pouco no Pará, e a plantada, sobretudo, no Pará seguido por Tocantins e Rondônia.
Registra-se ainda uma área modesta com a silvicultura (256 mil hectares) concentrada
no Amapá (38% ) e no Pará (26%).
Tabela 3 – Utilização da terra nos estabelecimentos por tipo de ocupação (em hectares)
A cada censo concluído se percebe que o numero de pessoa ocupado na
agricultura diminui, entre o penúltimo e último, essa queda foi de quase de 5 milhões
no Brasil e na Amazônia foi a maior dimensão de mão de obra que se encontra no
Nordeste (responsável e membros não remunerados) continua sendo o mais
Atas Proceedings | 3203
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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representativo em termos relativo e absoluto, respectivamente, Brasil e Amazônia. Mas
os com laços de familiar (assalariado permanente e temporário), em numero absoluto é
relevante. chama atenção ainda o numero de criança trabalhando cerca de e
respectivamente Brasil e Amazônia, cerca de 13 da força de trabalho local e a queda
vertiginosa das categorias parceiros e arrendatário. Deste contingente, 26% residiam
nos estabelecimentos do Brasil e Norte, alcançava 39%. Essa distribuição quantitativa e
qualitativa de cada modalidade de ocupação especificada pelo censo é função do
formato de agricultura que prevalece na região, monocultivo e pecuária tem um perfil
de ocupação, a agricultura da cesta básica tem outra, isso também se aplica a questão da
produtividade e o vinculo formal de emprego desta mão de obra que é diretamente
correlacionada com o pacote tecnológico adotado. Na região de soja ou eucalipto tem
um perfil na de mandioca, extrativismo e feijão tem outra bem diversa. Na Brasil a
media é de 35% no Norte é quase 2/3 deste total.
2.3 Aspectos sobre o perfil produtivo e possibilidades
O potencial produtivo da Amazônia, ainda está para ser explorada, com exceção
do uso dado a pecuária de baixa produtividade (menos de uma unidade de animal por
hectares) que absorve mais de 26 milhões de hectares, o restante da terra utilizada
produtivamente, isto é, em culturas permanente e temporária é irrelevante 3 milhões e
800 mil hectares. A área ocupada com alimentos básicos, arroz milho,feijão e mandioca
;fruticultura e mesmos com matéria-prima industrial – juta ,cacau, pimenta, soja
,algodão,cana,seringueira, eucalipto e palma africana (dendê) tem pouca
representatividade seja em área e/ou dimensão da produção(volume).Um numero
reduzido de atividade da agropecuária em geral tem representatividade regional, é o
caso da produção de leite ( Rondônia),bovino (carne),mandioca açaí e soja(Pará),peixe
e soja (Tocantins).
Maioria destes produtos perdem espaço físico (hectares) e econômico em suas
economias e/ou foram substituídos por outras atividades é o caso da seringueira, cacau,
pimenta, arroz, peixe e outros produtos da cesta de alimentação. Apenas um número
reduzido destes produtos tem ultimamente avançado, caso da soja ,eucalipto e
dendê.Ou seja, deixa de ser diversificada para se tronar especializada e homogênea.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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Tabela 4 - Região Norte: valor da produção e quantidade produzida de produtos agropecuários selecionados (2006)
Cruzando os dados do valor da produção, em cada estado, com o tipo de
atividade e a forma de organizar a produção (familiar e patronal) constata a importância
da dupla arroz e mandioca, seguido por leite de vaca, criação de pequenos animais
milho e café Do total do valor, cerca de 70% é gerado na agricultura familiar e o Pará
participa com 57% dele seguido de longe por Rondônia e Amazonas. Do lado patronal
(R$ 2.078.981) o Pará representa 49%, seguido pelo Tocantins.
Tabela 4 - Região Norte: valor da produção e quantidade produzida de produtos agropecuários selecionados (2006)
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Um confronto de dados relacionados a tais atividades na Amazônia, entre 1990 e
2010, permite checar como esse perfil tem evoluído. Em 1990 a produção de arroz,
milho, feijão e mandioca era de 5 milhões toneladas ou 15% da nacional, vinte anos
depois representa 21%.
Comparação de duas culturas muito diferente - mandioca e soja – a primeira
estabelecida secularmente na área, à outra introduzida no final de século vinte, dar para
perceber as dinâmicas de cada uma e o que isso pode acarretar em um futuro próximo.
Gráfico 1 – Evolução da área plantada de soja e mandioca na região norte entre 2000 e 2011 (2002=100)
Fonte: Produção Agrícola Municipal/IBGE
A mandioca ainda é a cultura mais importante da agricultura da Amazônia e os
produtores familiares com menos de 50 hectares produzem 80% e os 20% restante fica
por canta daqueles com área superior a 50 hectares.
Para a soja o perfil é bem diferente, esses pequenos produtores com menos de
50 há não tem relevância e sim aqueles com mais de 50 há (94%). Na Amazônia Legal
48% da soja produzida vem de produtores com área superior 1000 ha sendo que para o
Maranhão o nível de concentração ainda é maior, 64% em 2006 (Mesquita, 2009).
A tradução deste quadro modesto do valor da produção, apoiado na agricultura
familiar é expresso no tamanho absoluto e relativo que o PIB Agrícola na economia
regional. A participação é declinante sai de 13% para 11,3% (2010). A economia mais
importante da região, o Pará, perde posição tanto nacionalmente (3,4% para 2,7%),
regionalmente (39,1% para 27,4%) quanto internamente (12,5% para 6,6%) entre 2002
e 2010, conforme os IBGE (2012). Mas Roraima e Amazonas aumento sua posição no
3206 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
10
setor, isto de certa forma explica a irrelevância das exportações agrícolas para a região e
o perfil concentrado que assume o Pará que responde por 50 % das mesmas.
Mas por outro lado percebe-se também que alguns dos principais produtos da
pauta de exportação e importação como carnes, grãos, celulose dendê pescado arroz
estão presentes e em expansão na Amazônia.
Nas exportações o Brasil de acordo com dados MDIC está entre os primeiros
produtores e exportadores de alimentos do mundo. É o primeiro produtor mundial de
açúcar,café e suco de laranja e também primeiro exportador deste produtos e da soja e
carne de frango.Na produção de carnes,óleo e farelo de soja e milho, e também na sua
exportação, o Brasil está entre o segundo e quarto lugar.
Por conta deste bom desempenho o setor tem sido um dos principais
componentes pelo crescimento das exportações dos últimos 15 anos. Dez complexos
agroindustriais com destaque para soja, carne, café, celulose, laranja, fumo, açúcar e
álcool dentre outros concentram mais de ¾ destas exportações. O destino das mesmas se
direciona nestes últimos anos para China, embora a CEE e USA atenha ainda
participação importante, mas declinante (Mesquita & Mesquita 2013).
Por outro lado embora possa parecer estranho, o Brasil também é um grande
importador de produtos agrícola e de forma crescente. De acordo com MDIC, em 2011
essa conta chegou a US$ 11,6 bilhões, e ,entre os anos 2006 e 2011, as importações
saem de US$ 4,5 bilhões para US$ 11,6 bilhões1, ou seja,um crescimento anual
preocupante de 21,1%.
A pauta da balança comercial de produtos agrícolas (importados e exportados) é
bem diversificada, são centenas de produtos, mas como dissemos anteriormente alguns
complexos/produtos concentram a pauta de exportação e também de importação.
Segundo dados da Secex/MDIC, poucos produtos, em 2011, concentram 78% e os
demais o restante (22%). Os principais desta pauta atual é trigo (22%), pescados (10%),
bebidas (6%), malte (5%), frutas fresca (4%), arroz (4%), lácteos (3%), azeite de oliva
(3%), carnes (3%), cacau e produtos (3%), rações (2%), algodão (2%), alho (2%), óleo
de dendê ou palma (2%), farinha de trigo (1%) e álcool (0,01%).
1 Entre os anos 2006 e 2011, as compras subiram de US$ 4,5 bilhões para US$ 11,6 bilhões, a razão esta na elevação dos preços dos importados e os exportados, o trigo, por exemplo elevou-se de 32% no último ano e, entre 2006 e 2011, a elevação chegou a 110% .
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Os tipos de produtos que importamos e exportamos quase todos passivo de
produção e expansão em qualquer parte do país, sendo que quatro deles, a Amazônia
tem tradição na sua produção, que é o caso de pescado, carnes, cacau e óleo de dendê.
Tais produtos aqui se poderia sem grandes transtorno aumentar a oferta e, portanto,
substituir importação e por consequência transferir a economia local a renda e emprego
hoje gerado na Ásia, países ricos e MERCOSUL.
A atual balança comercial da Amazônia é modesta, na presente década
20000/2010, o saldo é superavitário e poderia ser melhor se houvesse uma política
propositiva que atuassem no sentido de diversificar a pauta a atual de exportação
agrícola, concentrado em um reduzido numero de produto in natura e substituíssem
importação em áreas onde reconhecidamente Amazônia detém vantagens comparativa
tais como na produção de pescado, carnes, cacau, dendê, pimenta e fibras.
O óleo de palma é uma importante commodity do mercado global seu comércio
atingiu US$ 28,5 bilhões em 2010 e sua oferta é dominada por dois países asiáticos
Indonésia (50%) e Malásia (37%), eles e também a Colômbia são os maiores
fornecedores desta matéria-prima para o Brasil.
A produção interna, realizada no Pará é insuficiente. Nos últimos anos o governo
lançou um programa especial com objetivo de torna-se autossuficiente e gerar
excedentes exportáveis de forma a suprir a demanda interna crescente voltada para as
metas do programa de biocombustível (biodiesel) e da indústria em geral (inclusive de
cosmético). Apesar disso o Brasil continua sendo grande importador, em 2011 gastou
quase meio bilhão de dólares (US$ 461,5 milhões).
Em função do boom das commotidies (Ottati & Mesquita, 2013), decorrentes da
demanda chinesa, as exportações brasileiras têm dados saltos importantes,
particularmente no item de bens não elaborados, aqueles derivados da mera exploração
de recursos naturais, grãos e minérios, tendo a Amazônia assumido um papel relevante
neste sentido, com destaque para o Pará e Maranhão, onde a indústria extrativa e
transformação desempenham funções cada dia mais importantes em suas balanças
comerciais. Os produtos não elaborados desta pauta são de minério de ferro, cobre,
manganês e grãos de soja, já os elaborados que agregam algum valor são ferro gusa,
alumínio e alumina. Observando a pauta de exportação deste dois estados nota-se uma
extrema concentração da pauta e de destino o que deixa tais economias numa situação
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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vulnerável e de alerta, basta ver o que aconteceu em 2008 quando os compradores
adiaram suas compras de minério de ferro e gusa, imediatamente a Vale e as guseiras de
Açailândia e Marabá demitiram centenas de funcionários.
Na Amazônia, as exportações cresceram 16,4% entre 2000 e 2010, sendo que
somente os produtos básicos registraram expansão de 25%, alcançando US$10,3
bilhões, o que representa mais de 68% das exportações totais. Por outro lado, o
crescimento registrado pelos bens industrializados foi três vezes menor. Dentre os
estados, o Tocantins cresceu 45,1% e o Amazonas apenas 3,8%. Chama-se atenção para
o perfil do Pará e sua participação nas exportações regionais. Ser for levado em
consideração as exportações por fator agregado, a participação dos bens industrializados
recuou para 27% em 2010 (antes 55,5% em 2000) e os produtos básicos
(essencialmente commodities vegetais e minerais) tiveram aumento de participação,
saindo 44,5% para 73%. Trata-se de um fator preocupante, pois houve de certa forma
uma concentração das exportações deste estado na Amazônia, saindo de 73,5% em 2000
para 84,9% em 2010, sobretudo pelo elevado crescimento dos produtos básicos.
3 NOTAS SOBRE A ECONOMIA REGIONAL EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS
A maior parte dos indicadores macroeconômicos da economia regional revela
que a mesma vem passando por transformação importante no seu perfil econômico
social, demográfico ambiental com consequências nem sempre desejáveis a maioria da
população. A razão disso se encontra no formato escolhido pelo estado e o capital e pela
estratégia de desenvolvimento implementada por estes entes ao logo destas ultimas
décadas.
A primeira constatação é que o crescimento econômico, aqui entendido com taxa
de expansão real do PIB vem ocorrendo de forma continua e superando inclusive a do
país. Isto permitiu que a Amazônia galgasse uma posição relativa melhor embora ainda
muito modesta ao longo de várias décadas. A participação do PIB de 3,8% em (1985)
para 5,3% (2010). Tomando como referência a década de noventa e a atual percebe-se
que na primeira década, o incremento foi de 4,8% ao ano e de 5,9% a.a, entre
2000/2010. Entre 1991 a 2010 a taxa de crescimento anual foi de 5,2%, ou seja, todas
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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acima da brasileira e de outras regiões, a exceção e o Centro-Oeste que tem desempenho
melhor. Os estados que mais cresceram em igual período foram, o Amazonas e Amapá
nos anos noventa, e Rondônia, Amazonas, Amapá e Tocantins no século XXI. A
economia do Pará foi a que menos cresceu no período 3% e 5,2% respectivamente,
apesar de ser a economia mais importante em termos de tamanho do PIB na Amazônia.
Se houve este avanço positivo do PIB regional na economia brasileira,
setorialmente percebe-se que a posição relativa do PIB setorial na Amazônia teve pouca
alteração, isso pode se vista na serie histórica antiga das Contas Regionais (1985 a
2005), quanto na recente de 2002 a 2010 (ver tabela).
Tabela 5 - Participação no valor adicionado bruto a preços básicos (%), por atividades econômicas (série antiga, 1985=100 e série nova, 2002=100)
Fonte: Contas Nacionais/IBGE
A agricultura varia de 16,4% em 1985 (em media) a 11,3% em 2010, a indústria
de 31,8% para 23,2% e os Serviços saíram 53,8% para 65,5 no mesmo período.
Na série nova a variação também não foi significativa, veja que em 2005 a
agricultura detinha 12,5% e em 2010 fica nos 11,3% deste valor adicionado bruto.A
indústria em igual período ganha 1,4 ponto percentuais sai de 21,8% para 23,2% e o
serviço quase não muda sai de 65,7% para 65,5%.
Por outro lado, o cálculo da taxa de crescimento real por setor mostra que
atividade tem dado a dinâmica recente. Nota-se que, seja no plano macro ou setorial, a
economia da Amazônia cresceu no período analisado (2002/10) mais do que a economia
brasileira. Enquanto a região Norte cresce 5,5% o Brasil fica com 3,9% ao ano (a.a),
setorialmente isso se repete. Mas o que chama atenção foi a vigor da taxa do setor
industrial (7,7%) e o pouco dinamismo da agricultura (2,7%.). No Brasil essas taxas
foram de 1,1% e 4,4% respectivamente. O que explica esse crescimento da indústria
regional foi a espetacular expansão da indústria extrativa, em 21, 9%, neste ramo se
encontra os grandes projetos, diga-se de passagem, liderado pelo Pará, que decorreu do
boom das commodities traduzido na balança comercial da região.
1985 1990 1995 2000 2005 2010Agropecuária 16,4 11,6 10,0 7,6 12,5 11,3Indústria 31,8 23,7 27,0 29,5 21,8 23,2
Indústria extrativa 10,8 3,5 3,2 5,4 1,7 4,0Indústria de transformação 11,3 11,9 11,8 11,3 10,2 8,8
Serviços 53,8 64,4 62,3 63,0 65,7 65,5
Atividades econômicasSérie antiga 1985=100 Série nova 2002=100
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3.1 As atividades dinâmicas deste processo
Pelo que foi visto anteriormente são poucas as atividades que nestes últimos
anos tem avançado em termos de novos investimentos que se traduza em aumento da
capacidade produtiva, isto se deve em parte pelo cenário econômico pos crise de 2008
que ao afetar o cenário de crescimento da economia mundial e acaba por repercutir
internamente na economia principalmente, em atividades que antes tinha no crescimento
da demanda externa seu foco de sustentação. Assim a crise Americana ao diminuir o
ritmo de crescimento das demais economias, inclusive da China, forçou uma
reorganização interna e uma mudança de estratégia que complemente esse novo cenário.
Gráfico 2 – Evolução do PIB da América do Norte, China, Brasil e Amazônia entre 2002 e 2011
Fonte: Banco Mundial e IPEA
Paralelamente a essa estratégia de investimento em infraestrutura que coroa a
volta do estado, como mentor de uma proposta de desenvolvimento de médio e longo
prazo ,Estado Brasileiro fez/faz um esforço tremendo elegendo determinado setores e
atividades para se contrapor a este cenário recessivo que se alastra pelo mundo
afora,com ênfase nos países europeus. A estratégia é continuar priorizando o
investimento público direto e de empresas estatais, atrair o capital privado para setores
de exportação e de infraestrutura. É o que os governos Lula e Dilma vêm fazendo e
intensificando com seus planos de governos. Os investimentos mais importantes estão
no âmbito do PAC1 (2007-2010) e PAC2 (2011 2014), nas obras da Copa do Mundo e
Olimpíadas. O orçamento do PAC 1 foi de R$ 503,1 bilhões, sendo que R$ 411,6
bilhões (82% do total) voltado a infraestrutura física com destaque para os
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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investimentos em energia elétrica2 (62,5%) desse volume. Em segundo lugar, os
investimentos nas áreas social e urbana (35,5%), traduzidas em saneamento e habitação,
o restante, 2% em infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e
aeroportos. O PAC2, o principal pilar da campanha da Dilma Roussef, mantém a
proposta anterior, isto é, priorizando os antigos eixos alterando apenas o volume
alocados. Dentre os eixos, a Energia continuou com a maior participação (48,3%),
seguido por Minha Casa, Minha Vida (29%) e Transportes (10%). Os eixos Cidade
Melhor, Água e Luz para Todos e Comunidade Cidadã somaram R$110,7 bilhões, ou
11,6%.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) lançado no último Governo
Lula é uma coleção de projetos focados, sobretudo, para a infraestrutura Logística,
energética e urbana e social que estavam represadas, em função de demandas não
atendidas pelo capital e nem pelo governo deste o sepultamento do estado
desenvolvimentista nos anos oitenta. Governo da Dilma reforça setores competitivos
intensivos de recursos naturais, como os de commodities já que a indústria
manufatureira está em franco declínio. A aposta então é continuar nas commodities
agrícolas e não agrícola conforme já vinha fazendo anteriormente com sucesso, que é
comandada eficazmente pelo capital privado, nacional e internacional. É aqui que
Amazônia tem se inserido rapidamente e contribuído com as contas externas do país,
apesar da pouca expressão (2%) de sua balança comercial. De um lado com os minérios
do Pará e Amapá, e de outro com os complexos da agricultura de exportação ( soja,
dendê, eucalipto e carne) todos amparados na manutenção da demanda chinesa. Essas
são, portanto, as vertentes atuais para onde se direcionam os montantes mais
significativos de investimentos, naturalmente mais público do que privado.
Os investimentos públicos diretos estão alocados em um conjunto de obras
públicas relacionadas a infraestrutura ,particularmente na área energia ( geração e
transmissão), logística e construção de estrada. Indiretamente o estado também está
atuando via empresas estatais e sistema estatal de financiamento. O BNDES é o ator
principal que banca o financiamento de centenas de projetos ligados tanto a
infraestrutura como outros de cunho empresarial – indústria de celulose, aciarias e
expansão de plantio de monoculturas.
2 Belo Monte, a de Santo Antônio e a de Jirau são os principais destaques.
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Do lado da iniciativa privada os investimentos, em termos gerais, passam pela
logística, implantação de indústria e expansão da área de atuação nos diferentes
complexos que atuam na Amazônia. Por exemplo, algumas iniciativas já em andamento
e outras anunciadas tem especificidades que mudam de atividade para atividade.
No complexo mineral os investimentos vão nesta direção (guseiras, aciarias,
cimento e calcário), do complexo celulose (plantio de floresta, fabrica), na logística
(duplicação de ferrovia, construção e ampliação de complexos portuários), complexo
soja (compra de terra, ampliação de área, indústria de beneficiamento) e no complexo
do dendê (bicombustível) as ações acompanham aquela da soja (compra de
terra,ampliação de área ,indústria de beneficiamento).As fontes de financiamentos são
diversas inclusive estatal (BNDES), mas também própria e de bancos e fundos de
investimentos.Vale, Petrobras, Suzano, Agropalma, Bung Cargill, são algumas das
grandes empresas presente nestes complexos instalados na Amazônia..
4 GRANDES EMPRESAS E CONFLITOS SOCIOECONÔMICO E
AMBIENTAIS
O avanço do capital seja qual for a atividade ou localização gera desigualdade
sócio-espacial, constitui num elemento de desapropriação e de (re) organização do
território onde atuam e no seu entorno. Por sua vez o grau desta diferenciação está
associada a dimensão física deste capital, a característica do processo produtivo ( se
menos ou mais intensivo de trabalho), o tipo de mercado em que se insere e o grau de
organização desta sociedade. As experiências históricas de vários locais da Amazônia
apontam nesta direção e poderia servir de alerta para os novos mega projetos em
implantação pelo PAC 1 e 2 e pela iniciativa privada. Dezenas de municípios grandes,
médios e pequenos em toda Amazônia, ao longo das últimas três décadas, se
confrontaram com essa situação. São Luis, Santa Inês, Açailandia, Imperatriz no
Maranhão, Carajás, Marabá, Tucurui, Paraupebas, Paragominas, Santarém, Curiopolis,
Barcarena, Belém (no Pará), Macapá, Jarí no Amapá; Palmas, Manaus, Porto Velho,
Rio Branco, Porto Velho. O denominador comum em todos foi a presença de grandes
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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investimentos estatais e privado que supostamente ocasionaria no município e entorno
efeitos multiplicadores sobretudo na geração e apropriação de renda e no emprego.
Seguramente os grandes projetos de investimentos, públicos e privados do poste
do projeto JARI (AP/PA), ICOMI (AP), ALBRAS (PA), ALUMAR (MA), ALCOA3.
em Juriti (PA), MRN4 em Oriximiná (PA) , Viena Açailandia (MA), SUZANO-
imperatriz(MA), Exploração da mina da Vale em Carajás (PA), Eclusa do Rio
Tocantins (TO); Complexo da CARGILL em Santarém, hidroelétrica de Santo Antonio,
JIRAU dentre outros, foram os principais atores desta ampliação do déficit de demandas
coletivas, não atendidas e amplificadas em função de estratégia equivocadas de
desenvolvimento regional e, no entanto pouco fizeram para minorar esse perfil.
As questões das demandas coletivas, isto é, aquelas voltadas ao atendimento de
serviços básicos – como educação saúde, saneamento básico energia elétrica, embora
seja mais visível no urbano, ela é mais grave no rural. Mas isso é apenas um lado da
questão, dado que outras relacionadas à geração de emprego e renda são construídas
aleatoriamente e se baseia em numa atuação pontual e especifica para o atendimento de
determinada demanda que atingem um número insignificante de pessoas.
A maioria dos municípios brasileiros e na Amazônia não e diferente, vive um
quadro de penúria, a demanda por serviço público está sempre reprimida, com a
chegada de projeto nos moldes descrito anteriormente, potencializa essa situação em
função do movimento migratório que se estabelece no local provocando assim um
colapso da oferta existente.
Em muitos municípios só a expectativa da implantação de um investimento desta
monta é suficiente para (des) estruturar o mercado de trabalho, terra e a estrutura
produtiva local e consequentemente criar e/ou ampliar um quadro de demanda não só
por serviço básicos, já carente, em função da demanda reprimida a décadas, como
outros conjunturais com a especulação imobiliária,alugueis,desabastecimento de bens e
serviços que se traduz em inflação afetam a todos.Em praticamente todas essas cidades
isto ocorreu em menor ou maior escala. Quanto menor a dimensão da economia frente
aos investimentos previstos e/ou realizados maior será os efeitos. São Luis do Maranhão
com o projeto Alumar, Marabá (PA) com os investimentos das guseiras e da Mina de
3 Um Grande Projeto de exploração de bauxita, da ALCOA, em funcionamento (2009) que ocasionou grandes impactos nas comunidades em seu entorno. 4 Exploração de bauxita pela Mineração Rio do Norte – MRN, no município de Oriximiná-PA, em 1979.
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ferro são exemplos de um passado recente e Porto Velho, Pará, Amazonas com das
mega hidroelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antonio retratam as consequências
que um investimento desta envergadura pode ocasionar. A mídia, pesquisas acadêmicas
de Universidades regionais e outros estudos (Mesquita, Imesc, Barros, Ufma, Lima)
relatam essas e outras correlações. Mostram, por exemplo, que há uma melhoria (as
vezes passageira ) no âmbito meramente econômico, visto pelo incremento do PIB ou
da renda per capita em tais localidades, mas outros indicadores sociais e ambientais não
seguem tendência parecida,e, as vezes, são piores ou são semelhantes a outros
municípios fora da influencia de tais projetos.
Por outro lado, dependendo do tipo de atividade e da escala que esses projetos
atuam outras questões (fora do âmbito urbano) como a ambiental emergem de tal forma
que exigem compensações ambientais complexas que nem sempre são cumpridas e/ou
efetivada. Exemplos clássicos destes problemas são as linhas de transmissão de energia
que cruzam aldeias indígenas, áreas de povos e comunidades tradicionais5 e extrativistas
em toda Amazônia; Barragens/lago das hidroelétricas que solapam dezenas de milhares
de hectares e excluem milhares de pequenos produtores, pescadores e grupos indígenas;
Além de gasodutos, ferrovias e maciço florestais (florestas plantadas).
Essas obras são conduzidas por empresas gigantescas, publicas (ferrovia Norte-
Sul, Eletronorte e Petrobras) e privadas (Vale, Suzano, Agropalma, Alcoa, Camargo
Correia, EBX, Odebrecht) que passam como se fossem um tsunami sobre tudo e todos
se importando apenas com seus interesses. Desta forma só o enfrentamento e o embate
político e/ou jurídico tem surtido efeito na defesa dos direitos seculares destes povos e
comunidades tradicionais e pequenos produtores de alimentos que estão na sua rota. Os
conflitos contra as grandes empresas, como Suzano, Vale Alumar, Alcoa, Eletronorte e
outros grandes grupos constituem numa luta muito desigual e permanente dado à lógica
capitalista que dirige esse empreendimento e população impactada. O produto disso é a
organização deste espaço de reprodução e a dispersão de grupos sociais ali presente.
5 O Decreto 6.040 de 07 de fevereiro de 2007, em seu art. 3º, inciso I, assim definiu povos e comunidades tradicionais: I - Povos e Comunidades Tradicionais:grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;
Atas Proceedings | 3215
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19
O processo de desterritorização corriqueiro nestes locais, objetos de instalação
de grandes projetos, assume diferentes feições, a mais usada é a retirado do seu
território original sob forma de indenização e o seu remanejamento para áreas distantes
e a proibição de acesso aos bens comuns, antes livres a reprodução destes grupos como
lagos, mangues, campos e florestas, no Maranhão e Pará essas táticas foram muito
utilizadas, a Base Alcântara (em Alcântara), a Alumar e Vale ( em São Luis) fizeram
isso com apoio do município e governo do estado nos anos 80. Outra forma é “limpeza
ou cercamento” de áreas decorrentes de grilagens e compra de grandes extensão de
terras publicas e privadas que expropriam os residentes históricos sem direito a uma
nova área para sua reprodução.
Embora algumas empresas façam acordo com as comunidades expropriadas e o
ministério público, o prejuízo desta atuação ilegítima tem sido um passivo ambiental
impagável e não recuperável para toda sociedade, dado que uma vez perdida a
biodiversidade decorrentes dos processos de intervenção destes empreendimentos não
há retorno. O desmatamento é apenas um lado desta questão, o mais explorado
midiaticamente, mas a questão da perda (e pirataria) da biodiversidade é seguramente
mais importante, no entanto, não é sequer objeto de uma política de estado que mude a
rota atual de descompromisso com a natureza e o país. Se a dimensão já atingida pelo
desmatamento chama atenção e clama por uma nova e eficaz política de seu combate, o
mesmo poder-se-ia fazer com relação a biodiversidade , mas não se faz.
Segundo o INPE (2013) nos últimos 15 anos (1995 a 2010) a taxa de
crescimento de desmatamento na Amazônia foi negativa (–6,9 %), a queda mais
significativa se registrou no Tocantins (-16 %), seguido de Roraima (-13,9%), mas
cresceu no Amapá (11,7%).Pará e Roraima respondem por 81,3% deste desmatamento.
O total acumulado, entre 1995 a 2010 é de 16.412.200 de hectares, deste todo o Pará
fica com 9 milhões e 500 mil hectares e Roraima com 3 milhões e 800 mil
hectares.Conforme mostra os dados em 2010 apesar de todo esforço e pressão interna e
externa,ainda se desmatou mais de meio milhão de hectares.(541 mil km²) dos quais
mais da metade o Pará.
Inúmeras variáveis estão por trás desta dinâmica (Mesquita, 2009), de ordem
externa e interna, conjunturais e estruturais. Uma lista longa poderia ser feita, mas nesta
não poderiam ficar ausentes, a abertura e asfaltamento de estradas, construção de
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ferrovias e oleodutos, linhas de transmissão de energia, mineração formal e
clandestina,extração de madeira, a agricultura temporária e permanente e ,naturalmente
a pecuária extrativa. Ademais a ausência do estado na ação de política e seu
monitoramento também não podem ser esquecidos. Até o final do século passado a
pecuária extensiva foi inegavelmente a grande vilã deste processo, embora outros como
a agricultura itinerante e a extração de madeira também tenha contribuído para aquele
quadro caótico de então. Mais recentemente os monocultivos de soja, eucalipto e dendê
entram nesta farra, assim como a produção clandestina de carvão vegetal para as
empresas de gusa do polo de Açailandia e Marabá , para se ter uma ideia ,o Maranhão e
o Pará se tornam,num curto espaço de tempo os maiores produtores de ferro gusa e
carvão tendo matas nativas como fonte de matéria-prima.( Mesquita, 2012).
No século 21 na fase inicial assiste-se uma guinada na expansão de diversas
commodities, como a soja, dendê, eucalipto e pastagem plantada. Antes (1990/2000) o
boom foi do carvão, a oferta salta de 76 mil para 479 mil toneladas, depois se estagna.
O salto da soja ocorre entre 2000 a 2005, saindo de 73 mil para 514 mil ha plantados, o
que representa um crescimento de 14,9%. Quanto à participação na lavoura temporária
regional salta de 3,5% para 26,8%. Os estados que contribuem para esse feito são Pará
(25,6%), Rondônia (22,7%) e Tocantins (16,6%). Quanto à pastagem ela cresce menos
(3,5%), mas os estados que contribuem para esse feito são Rondônia, Acre e Amazonas.
Os avanços do eucalipto e dendê também são importantes (Mesquita & Mesquita,
2013), embora tenha área ainda pequena para a grandeza da Amazônia e alguns estados
como o Pará e o Amapá a expansão destas culturas nos últimos anos, por conta de
programas lançados e financiados pelo BNDES e BB tem avançado rapidamente,
inclusive sobre a agricultura familiar.
5 CONSIDERAÇOES FINAIS
O que ainda se pode dizer sobre esse modelo econômico de desenvolvimento em
vigor na Amazônia brasileira que privilegia grupos poderosos e deixa a população a
mercês das forças de mercado? Porque mudanças estruturais, como a mera a
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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distribuição da terra, o acesso aos recursos naturais, a geração de emprego e distribuição
de renda, o acesso a serviço públicos elementares como a saúde, educação e
saneamento, são ainda tão difíceis de alcançar numa região tão rica em recursos naturais
e com tanta terra disponível? Não há uma resposta simples ela é de natureza política.
Trata-se de uma concepção de intervenção (equivocada e superada) que supõe ser a
presença de grandes investimento a saída mais rápida a superação do estagio de
subdesenvolvimento, a entrada no progresso e, portanto, do crescimento sustentável de
longo prazo.
O extrativismo tradicional baseado nos recursos naturais da coleta de
especiarias, na caça e pesca sempre esteve presente na Amazônia e funcionou
adequadamente enquanto a demanda era modesta e restrita a uma minoria de
endinheirados e se organizava em torno do capital mercantil. Essa forma de reprodução
baseada na exploração abundante e sustentável destas atividades foi a principal fonte de
renda da população rural apesar da exploração em que estava submetido pelos diferentes
elos desta cadeia comercial.Mas como a pressão demográfica era mínima e o acesso aos
recursos naturais eram livres esses verdugos estavam na compra e venda a sua
reprodução se efetivava sem maiores problemas.
Hoje a economia da Amazônia continua fundamentada no extrativismo, mineral
e dos monocultivos, só que ela assume outro formato e têm outros atores que lhe
exploram isso a torna insustentável e excludente.
O modelo atual de desenvolvimento sustentado em grandes empreendimentos,
isentos de impostos voltados a mercado externo, intensivo de capital e demandadores e
imobilizadores de extensas áreas territoriais é tremendamente excludente, porque cria
expectativa que não se viabiliza e aprofunda a exclusão social. Se seus impactos são
mínimos na economia local, nos aspectos socioambientais são enormes, resultando daí
um aprofundamento das diferenciações socioespaciais, que o próprio estado, mentor e
financiador deste modelo, não impede e ainda contribui para esse quadro se agrave,
dado que ao atender as demandas iniciais de infraestrutura para locais específicos deste
grandes projetos, deixa outras demandas coletivas em aberto em outras regiões.
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22
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009). Censos Agropecuários. (documento online). Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo2.asp?e=v&p=CA&z=t&o=11> (acesso em 25 julho de 2012).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012). Contas regionais. (documento online). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2010/default_xls_2002_2010_zip.shtm)> (acesso em: 2 agosto de 2013).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012). Censo Demográfico 2010. (documento online) <http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/cd2010universo.asp?o=5&i=P)> (acesso em: 2 de agosto
Mesquita, Benjamin Alvino de. (2008). Desenvolvimento recente do Maranhão: uma análise do crescimento do PIB e perspectivas. (documento online http://www.imesc.ma.gov.br/index.php).
Mesquita, Benjamin Alvino de. (2010). A nova intervenção governamental,a divida
publica e o impasse no desenvolvimento regional da Amazônia Brasileira . Revista de
Políticas Publicas,numero especial, 30(3) 85-94.
Mesquita, Benjamin Alvino de. (2011). Notas sobre a dinâmica econômica recente em área periférica: as mudanças na estrutura produtiva do Maranhão. (documento online http://www.ipea.gov.br/code/chamada2011/pdf/area4/area4-artigo33.pdf).
2
INTRODUÇÃO
O movimento crescente da demanda internacional por alimentos, na última década,
coincide com a vigência de políticas econômicas favoráveis ao livre comércio. Esse
aumento de demanda representa também maior necessidade de produtos agrícolas usados
como matéria prima, a exemplo da soja e do milho, produzidos principalmente nos países
não desenvolvidos. Considerando-se esse contexto internacional, este artigo busca destacar
a presença do grande capital na Amazônia Legal brasileira, através da observação do
avanço de uma das atividades que compõem o chamado agronegócio, a produção de soja,
contrapondo-se o comportamento da produção de dois alimentos básicos na região, o arroz
e o feijão. Esta análise é feita a partir de dados estatísticos produzidos por órgãos oficiais
do Estado brasileiro, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada e Companhia Nacional de Abastecimento.
Ressalta-se que a maior abertura comercial operada pelo governo brasileiro,
particularmente, ao longo da década de 1990, tem significado vários efeitos para o mundo
rural, de um modo geral, mas, em particular, tem gerado impactos no ordenamento das
atividades econômicas, com implicações ambientais, na Amazônia brasileira, em função da
rápida expansão das áreas destinadas à produção de commodities, cuja finalidade é
responder aos impulsos da demanda externa. Os impactos mais imediatos se traduzem na
destruição de grande parte das áreas de floresta e na desarticulação dos sistemas
tradicionais de produção de alimentos.
Com a atual crise econômica mundial, iniciada em 2008 e que hoje atinge de forma mais
aguda a União Europeia, coloca-se a possibilidade de contração da demanda externa pelas
commodities brasileiras, em especial a soja. Do mesmo modo, potencializam-se as
consequências sociais da desagregação da agricultura familiar, produtora de alimentos
básicos e detentora de saberes e práticas tradicionais que lhe conferem identidade e espaço
na conformação da cultura brasileira.
3
O AGRONEGÓCIO DA SOJA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Ao longo da última década do século XX, o crescimento da demanda internacional por
agrícolas deu-se num contexto de forte pressão para adoção, por parte dos países não
desenvolvidos, de políticas econômicas favoráveis ao fortalecimento do livre comércio. A
produção para responder a esse aumento de demanda exige também aumento na oferta
tanto dos grãos usados como matéria prima para fabricação de ração animal, quanto
daqueles utilizados para a produção dos chamados agrocombustíveis.
Ocorre que a produção desses produtos ocorre, em sua maioria, nos países periféricos.
Assim, no contexto em que se verifica o aumento da demanda e a consequente expansão da
produção, surge o risco de perda de espaço físico das culturas alimentares, em favor dos
monocultivos de grãos e de outras commodities, para abastecimentos do mercado
internacional.
Mesquita (2008) observa que a política neoliberal no Brasil foi nitidamente direcionada
para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração
mineral, especialmente na Amazônia. No momento em que a política de desenvolvimento
regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na Amazônia a avançou de forma
seletiva. Conforme destaca o mesmo autor, a partir da década de 1990, a dinâmica da
economia regional já não dependia fundamentalmente da ação estatal, encontrando-se mais
fortemente vinculada à lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de
commodities. Assim, tanto num momento anterior quanto a partir da década de 1990, a
pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se diferenciar das demais atividades,
especialmente as baseadas na unidade familiar de produção.
Em seu conjunto a Amazônia brasileira, passou por significativas alterações nos diversos
aspectos (ambientais, demográficos, econômicos e sociais) ao longo da segunda metade do
século XX. Aquilo que os planejadores consideravam um “vazio demográfico”
transformou-se num cenário onde surgiram grandes, médias e pequenas cidades. A
dinâmica e o perfil da produção não mais se definem somente pelas atividades extrativistas,
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
1
PARTICULARIDADES DA PRESENÇA DE EMPRESAS GLOBAIS
NA AMAZÔNIA DIANTE DA CRISE ATUAL
JOSÉ DE RIBAMAR SÁ SILVA Economista, Mestre em Economia Rural, Doutor em Políticas Públicas. Professor
Associado do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão, Brasil. [email protected]
RESUMO O modelo econômico dominante na Amazônia assenta-se na exploração de recursos naturais por grandes grupos empresariais para abastecer o mercado internacional. Esse modelo avança sobre os sistemas tradicionais de produção de alimentos praticados pelos diversos povos que habitam da região. O atual cenário de crise mundial afeta diretamente os interesses dos grupos empresarias ligados a produção de commodities e, pelo caráter específico de seus efeitos sobre as economias locais, poderá produzir impactos diversos para o conjunto dos estados que integram a chamada Amazônia Legal. O presente estudo é feito no âmbito do Projeto Desenvolvimento Agrícola da Amazônia Legal (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas/UFMA), analisando-se dados estatísticos produzidos por órgãos oficiais do Estado brasileiro, como IBGE e Conab. Observa-se que, desde a década de 1990, a abertura comercial tem produzido fortes impactos, sobretudo, na Amazônia brasileira, em função não só da extração de minério de ferro, mas da expansão das áreas destinadas à produção de commodities. Assim, estrutura-se a exposição do trabalho partindo de uma caracterização a região amazônica e de suas atividades econômicas; em seguida destacam-se as especificidades do vínculo entre os grandes projetos na Amazônia e o circuito global de acumulação do capital; finalmente, busca-se evidenciar que seus os impactos imediatos da ação das grandes empresas são a destruição da floresta e a desarticulação dos sistemas tradicionais de produção de alimentos, mas que, com a atual crise econômica mundial que hoje atinge de forma mais aguda a União Europeia, a potencial redução de demanda pelas commodities brasileiras poderá abrir possibilidades de fortalecimento dos sistemas de produção de alimento. PALAVRAS-CHAVE: Commodities; Segurança alimentar; Amazônia; Crise global.
3
O AGRONEGÓCIO DA SOJA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Ao longo da última década do século XX, o crescimento da demanda internacional por
agrícolas deu-se num contexto de forte pressão para adoção, por parte dos países não
desenvolvidos, de políticas econômicas favoráveis ao fortalecimento do livre comércio. A
produção para responder a esse aumento de demanda exige também aumento na oferta
tanto dos grãos usados como matéria prima para fabricação de ração animal, quanto
daqueles utilizados para a produção dos chamados agrocombustíveis.
Ocorre que a produção desses produtos ocorre, em sua maioria, nos países periféricos.
Assim, no contexto em que se verifica o aumento da demanda e a consequente expansão da
produção, surge o risco de perda de espaço físico das culturas alimentares, em favor dos
monocultivos de grãos e de outras commodities, para abastecimentos do mercado
internacional.
Mesquita (2008) observa que a política neoliberal no Brasil foi nitidamente direcionada
para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração
mineral, especialmente na Amazônia. No momento em que a política de desenvolvimento
regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na Amazônia a avançou de forma
seletiva. Conforme destaca o mesmo autor, a partir da década de 1990, a dinâmica da
economia regional já não dependia fundamentalmente da ação estatal, encontrando-se mais
fortemente vinculada à lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de
commodities. Assim, tanto num momento anterior quanto a partir da década de 1990, a
pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se diferenciar das demais atividades,
especialmente as baseadas na unidade familiar de produção.
Em seu conjunto a Amazônia brasileira, passou por significativas alterações nos diversos
aspectos (ambientais, demográficos, econômicos e sociais) ao longo da segunda metade do
século XX. Aquilo que os planejadores consideravam um “vazio demográfico”
transformou-se num cenário onde surgiram grandes, médias e pequenas cidades. A
dinâmica e o perfil da produção não mais se definem somente pelas atividades extrativistas,
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e sim por amplo leque atividades capitalistas, nas quais os níveis de especialização
atingidos alteram substancialmente a relação capital e trabalho. O ritmo do crescimento
econômico destaca-se por superar a média nacional, no entanto, a natureza desse
crescimento não proporciona a distribuição de seus resultados positivos para o conjunto da
população. Ao contrario, grande contingente dessa população fica fora desse
“desenvolvimento”, cuja face oposta se expressa numa a crise social (no campo e na
cidade) e numa crise ambiental, fenômeno desconsiderado tanto pelos planejadores dos
governos militares do passado quanto pelos mecanismos de funcionamento do livre
mercado, que é o caso da recente expansão do agronegócio de um geral e, em particular, do
monocultivo de soja, como se procura destacar no presente trabalho.
A expansão da plantação de soja no Brasil no período que vai de meados da década de 1990
até meados da década de 2000, foi mais acentuada em direção a Amazônia Legal,
destacadamente em termos de extensão da área ocupada, nos estados do Mato Grosso, do
Tocantins e do Maranhão.
Essa tendência de avanço da atividade monocultivadora de soja das tradicionais áreas
produtoras no sul e no sudeste do Brasil para os estados que integram a Amazônia Legal,
pode ser percebida de forma mais nítida quando se amplia o espaço temporal de
observação. Se tomamos como início do período a metade da década de 1970, podemos
observar que apenas o estado do Mato Grosso produzia soja, na Amazônia Legal. Somente,
em meados da década seguinte é que a produção de soja surge nos estados do Maranhão
(safra de 1984/1985) e de Rondônia (safra de 1985/1986), porém, neste último, totalizando
uma modesta extensão de área para os padrões das monoculturas, e no primeiro, ocupando
a parte do estado em que há predominância do bioma Cerrado.
No ano de 1988 foi criado o estado do Tocantins, o que fez constar nas estatísticas oficiais a
produção de soja que ocorria naquela área antes pertencente ao estado de Goiás, onde a
atividade se desenvolvia desde a década de 1970. Na safra de 1997/1998, aparecem os
primeiros dados sobre a plantação de soja no Pará e nos anos seguintes, nos demais estados
da região Norte. O gráfico a seguir ilustra esse avanço da área ocupada para a produção de
soja na Amazônia Legal.
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Gráfico 1. Soja: expansão da área plantada na Amazônia Legal (1976 – 2010)
Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.
Considerando que o Mato Grosso é o estado onde a produção de soja vem se
desenvolvendo há muito mais tempo na Amazônia Legal, tornando-o um dos principais
produtores no país, vamos visualizar a expansão dessa atividade apenas nos demais estados,
para que se evidencie como essa expansão no bioma Amazônia coincide com o aumento da
demanda internacional por alimentos e com as políticas de abertura comercial no Brasil.
Como se observa, é a partir da década de 1990 que há uma ascensão contínua e marcante
das curvas que representam o tamanho das áreas ocupadas pela produção de soja nos
estados da Amazônia Legal. Em seu conjunto, esses estados totalizam 1,2 milhão de
hectares plantados, excluído o estado de Mato Grosso. Com este, a área plantada se eleva
para 7,5 milhões de hectares, o que dá a magnitude de sua participação na atividade perante
os demais estados.
-
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
mil
hect
ares
RR
RO
AC
AM
AP
PA
TO
MA
MT
AMAZ. LEGAL
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6
Gráfico 2. Soja: expansão da área plantada na Amazônia Legal menos Mato Grosso (1976 – 2010)
Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.
Quando tomamos as taxas de crescimento da área plantada nos estados da Amazônia Legal,
podemos identificar um ritmo bastante forte do avanço da soja na região. Considerando a
safra 2000/2001 com ponto de referência, ao final uma década a área incorporada à
atividade variou mais que o dobro da área inicial. Praticamente, em todos os estados houve
saldo positivo das variações anuais. Apenas os estados de Roraima e Tocantins
apresentaram variação negativa em mais que dois anos da série.
Postos em perspectiva comparativa com os demais estados produtores de soja no país
(gráfico 4), os estados da Amazônia Legal apresentam taxas anuais de incorporação de
novas áreas bem mais elevadas. Naqueles estados, a taxa positiva mais alta não atingiu mais
que 40%, situando-se o maior número de casos positivos no período em aproximadamente
10% ao ano.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Gráfico 3. Soja: variação percentual da área plantada na Amazônia Legal (2001 – 2011)
Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.
Gráfico 4. Soja: variação percentual da área plantada nos demais estados produtores (2001 – 2011)
Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.
-200
-100
0
100
200
300
400
500
RR RO AM PA TO MA MT
2002/2001
2003/2002
2004/2003
2005/2004
2006/2005
2007/2006
2008/2007
2009/2008
2010/2009
2011/2010
-50,0
-40,0
-30,0
-20,0
-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
2002/2001
2003/2002
2004/2003
2005/2004
2006/2005
2007/2006
2008/2007
2009/2008
2010/2009
2011/2010
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Uma comparação entre todos os estados produtores de soja no país, considerando o
acréscimo verificado no final do período (safra 2010/2011) sobre o momento inicial (safra
2000/2001), evidencia que na Amazônia Legal o ritmo da expansão foi muito mais intenso,
destacando-se os estados de Roraima (3.600%) e, principalmente, Pará (14.871%). Ainda
que em termos absolutos as áreas nesses estados (respectivamente, 3,7 mil e 104,7 mil
hectares) sejam muito inferiores à área utilizada no Mato Grosso (6,4 milhões de hectares)
ou mesmo de Maranhão (518 mil hectares) e Tocantins (404 mil hectares), o ímpeto da
expansão é bastante preocupante, tendo em vista a fragilidade da regulação estatal na região
no que se refere ao controle de desflorestamento e, sobretudo, que esses estados situam
dentro da floresta amazônica propriamente dita.
Gráfico 5. Soja: variação percentual da área plantada no Brasil no período 2001 – 2011.
Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.
518,
7
62,2
65,3
69,2
56,9
59,5
26,6
62,9
133,
8
37,5
57,5
73,1
120,
9
3.600,0
429,
2 14.871,4
513,
2
146,
8
105,
1
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Esse movimento significou que foram incorporados à sojicultura, 308,2 mil hectares no
Maranhão; 338,7 mil hectares no Tocantins e aproximadamente 3,3 milhões de hectares, no
estado de Mato Grosso. Essa atividade tem se desenvolvido, portanto, com base na
incorporação de extensas áreas de terra. Mesmo já tendo como ponto de partida a grande
propriedade, por lidar com mercadoria negociada no mercado internacional, a atividade
pode representar um duplo movimento no que se refere ao controle da terra: por um lado,
acirrar ainda mais a concentração da propriedade entre os produtores especializados ou, por
outro lado, diante da necessidade de flexibilização de custos e redução de riscos, incorporar
temporariamente pequenas (porém muitas) áreas de terras, sob a forma de arrendamento ou
parceria. Ao longo do período em foco (1996 a 2006), os grandes estabelecimentos
passaram de 91,6% para 93,9%, enquanto os pequenos estabelecimentos reduzem de 2,9%
para 0,4% sua representação no universo dos produtores.
Gráfico 6. Soja: Variação na distribuição do tamanho do produtor na Amazônia Legal (1996 e 2006).
Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.
Conforme se pode depreender da tabela a seguir, nos dois momentos considerados, a maior
concentração de unidades produtoras de soja na Amazônia Legal encontra-se no estado do
Mato Grosso (84,5%, em 1996, e 79,8%, em 2006). Em comparação com o conjunto do
Pequeno 2,9% Médio
5,5%
Grande 91,6%
Pequeno 0,4%
Médio 5,8%
Grande 93,9%
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país, os produtores de soja na Amazônia Legal correspondiam a 1,3% em 1996, passando a
2,1%, em 2006. Considerando-se apenas os grandes estabelecimentos, esses percentuais
passam 6% para 7,5%, respectivamente. A evolução numérica dos grandes
estabelecimentos produtores de soja, no Brasil, foi de 18,3% (tendo o número total
diminuído 11,2%), enquanto que na Amazônia Legal foi de 46%, tendo o número total
crescido 42,5%. No Mato Grosso também estão localizados 80,6% dos grandes
estabelecimentos da região. Ainda que no estado de Rondônia tenha se observado a maior
variação nesse segmento (589,4%) e no Maranhão tenha sido de 88%, foi no Mato Grosso
que, com uma variação de 31,2%, ocorreu o acréscimo absoluto mais significativo no
segmento: 833 novos grandes estabelecimentos produtores de soja.
Tabela 1 – Soja: Número de produtores na Amazônia Legal, segundo o tamanho (1996 e 2006).
UF 1996 2006
Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande
Brasil 242.991 57.203 136.533 49.255 215.742 38.748 118.708 58.286
Amazônia 3.251 93 180 2.978 4.632 17 267 4.348
Acre 14 0 5 9 2 0 0 2
Amapá 0 0 0 0 3 0 0 3
Amazonas 21 14 6 1 1 0 1 0
Maranhão 184 36 15 133 253 0 3 250
Mato Grosso 2.746 8 64 2.674 3.698 3 188 3.507
Pará 138 15 60 63 88 2 6 80
Rondônia 68 16 26 26 251 12 66 173
Roraima 25 0 0 0 9 0 0 9
Tocantins 55 4 47 47 327 0 3 324
Fonte: IBGE - Censos Agropecuários 1996 e 2006.
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Como se observa, o segmento de pequenos produtores vem se reduzindo
significativamente. Em alguns estados eles nem existiam no início do período e reduziram-
se fortemente em todos os estados onde existiam antes, chegando a desaparecer no
Amazonas, no Tocantins e no Maranhão.
Considerando-se a produção obtida, destaca-se que a região respondia por 22,2% do total
do país, no início do período em foco. Ao final, essa participação subiu para 39,3%,
registrando-se um crescimento de 253,3%, ao passo que a produção total aumentou 99,3%.
Os estabelecimentos situados no Mato Grosso correspondiam a 87,3% do total da
Amazônia, assim como representavam 88,2% da produção, no ano de 2005. O Maranhão
aparece na segunda posição, tanto em relação à área plantada quanto à produção da soja. A
área ocupada aumentou 324,3% e produção cresceu 513,9%, no período considerado. Os
estados de Tocantins e Rondônia apresentaram, respectivamente, a terceira e a quarta
maiores áreas e quantidades produzidas na Amazônia Legal. Entretanto, destaca-se que foi
nestes estados onde houve maior ritmo de avanço da monocultura de soja: a incorporação
de áreas ao plantio variou 1.665,9% no Tocantins e 1.572,8% em Rondônia; a produção foi
acrescida, nesses estados, de 2.382,3% e 2.060%, respectivamente.
Os números acima indicam a velocidade de expansão dos empreendimentos monocultores
de soja nos diversos estados que compõem a Amazônia Legal. Na seção seguinte vamos
observar o desempenho das atividades de base familiar relacionadas à produção de
alimentos básicos.
A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS BÁSICOS NA AMAZÔNIA
Busca-se aqui estabelecer uma comparação entre a expansão da produção de soja e a
variação da produção de alimentos básicos, representados para fins deste artigo pelo arroz e
pelo feijão.
Ao contrário da soja, o arroz é produzido, caracteristicamente, com a finalidade de atender
ao mercado consumidor interno. Embora existam diversos empreendimentos tipicamente
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capitalistas, ou seja, reúnem no processo de produção os elementos que garantem a
obtenção do lucro, com emprego de trabalho assalariado, propriedade privada dos meios de
produção e destinação da produção para o mercado, o fato é que, no conjunto da Amazônia
Legal (e do país), a grande maioria dos produtores de arroz trabalha com o fito de garantir,
primordialmente, a reprodução de suas condições materiais de existência. Evidente que essa
situação não significa que a produção obtida por esses produtores de base familiar não
tenha um caráter mercantil.
Conforme pode ser observado no gráfico 2, ao longo do período em foco (1996 a 2006) e
inversamente ao caso da soja, os grandes estabelecimentos decresceram de 28% para 26% e
grupos dos pequenos estabelecimentos representou uma diminuição ainda maior, passando
de 51% para 45%, enquanto o segmento médio aumentou sua participação de 21% para
29% do total de produtores.
Gráfico 7. Arroz: distribuição dos produtores na Amazônia Legal, segundo o tamanho (1996 e 2006).
Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.
No caso do Maranhão, observa-se o estado destaca-se quanto à quantidade de produtores de
arroz. No início do período considerado, o número de produtores maranhenses representava
60% dos estabelecimentos da Amazônia Legal e 27,8% do conjunto do país. Ao final do
período essa participação havia aumentado, respectivamente, para 64,5% e 33,8%. Porém,
esse acréscimo relativo não advém de um aumento na quantidade de produtores de arroz.
Pequeno 51%
Médio 21%
Grande 28%
Pequeno 45%
Médio 29%
Grande 26%
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Tanto no conjunto do país quanto na Amazônia Legal houve uma diminuição significativa
no número de produtores: no Brasil a queda foi 61,2%, na Amazônia Legal foi 56,6% e no
Maranhão foi de 53,2%. Embora tenha caído a uma taxa menor que a da região e a do país,
no Maranhão a redução absoluta foi alarmante, correspondendo a 137,5 mil unidades
produtivas. O maior impacto dessa redução registra-se entre o segmento dos pequenos
estabelecimentos (61,5%), enquanto os médios foram reduzidos em 18,1% e os grandes em
34,3%. Isso significa que aproximadamente 122 mil pequenos produtores de arroz
deixaram de existir somente no estado do Maranhão entre a final do século XX e início do
século XXI, como se pode verificar na tabela 3.
Tabela 2 – Arroz: número de produtores na Amazônia , segundo o tamanho (1995 e 2005)
UF 1995 2005
Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande
Brasil 927.536 437.633 281.446 208.457 357.813 176.594 106.033 75.186
Amazônia 430.199 220.879 89.611 119.709 186.655 84.400 53.171 49.084
Acre 11.653 810 2.699 8.144 6.752 813 1.620 4.319
Amapá 132 11 26 95 129 5 7 117
Amazonas 2.877 1.112 834 931 895 122 250 523
Maranhão 258.482 198.436 31.474 28.572 121.000 76.460 25.773 18.767
Mato
Grosso
24.753 3.037 8.284 13.432 5.882 421 2.051 3.410
Pará 67.987 7.197 26.281 34.509 24.515 2.835 11.457 10.223
Rondônia 37.855 8.506 13.712 15.637 12.013 2.280 5.614 4.119
Roraima 2.767 69 110 2.588 1.411 66 68 1.277
Tocantins 23.693 1.701 6.191 15.801 14.058 1.398 6.331 6.329
Fonte: IBGE - Censos Agropecuários 1996 e 2006
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Considerando-se a área plantada, no início do período estudado, observa-se que os 783,7
mil estabelecimentos situados no Maranhão corresponderam a 43,2% do total da Amazônia
Legal, ficando o estado do Mato Grosso com 23,3% da área. Porém, no que se refere à
produção obtida, essa distância se reduz bastante, cabendo Maranhão produzir 33,5%ao e
ao Mato Grosso, 26,8%. Ao final do período, inverte-se a situação da área plantada, com o
Mato Grosso representando 41,7% e o Maranhão, 26,1%. Assim, a produção obtida em
Mato Grosso correspondeu a 51,2% da produção da região, enquanto o Maranhão
contribuiu com apenas 15,2%.
Chama a atenção o movimento descendente na área plantada com arroz no estado do
Maranhão relativamente ao conjunto da Amazônia Legal, refletindo a queda acentuada no
número de produtores, já apontada na tabela anterior.
Tabela 3 – Arroz: área plantada e quantidade produzida na Amazônia (1995 e 2005)
UNIDADE Área Plantada (Ha) VAR.
(%)
Produção (Ton) VAR.
(%) 1995 2005 1995 2005
Brasil 4.420.677 3.999.315 - 9,5 11.226.064 13.192.863 17,5
Amazônia Legal 1.815.183 2.049.071 12,9 2.839.336 4.418.026 55,6
Acre 35.459 27.251 - 23,1 51.272 31.561 - 38,4
Amapá 1.010 3.264 223,2 738 4.006 442,8
Amazonas 5.798 12.251 111,3 6.538 16.843 157,6
Maranhão 783.703 534.544 - 31,8 951.579 673.291 - 29,2
Mato Grosso 422.803 855.067 102,2 762.327 2.262.863 196,8
Pará 233.907 298.552 27,6 337.758 631.724 87,0
Rondônia 148.545 95.539 - 35,7 262.436 214.808 - 18,1
Roraima 15.675 23.435 49,5 49.540 119.401 141,0
Tocantins 168.283 199.168 18,4 417.148 463.529 11,1
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal
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Gráfico 8. Arroz: evolução da área plantada na Amazônia (1995 – 2005)
Fonte: Elaborado a partir dos dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE 1995 e 2005.
Talvez de modo mais acentuada que o arroz, o feijão é produzido por unidades familiares
visando ao atendimento do mercado consumidor interno. Por definição, essas unidades
familiares trabalham em garantia de sua reprodução, destinando para comercialização
aquilo que produzem além das necessidades de consumo direto, porém, de modo geral, o
“excedente” corresponde à possibilidade de aquisição de outros itens de subsistência do
grupo familiar.
No gráfico a seguir pode-se observar que, ao longo do período 1996/2006, a exemplo dos
produtores de arroz, os grandes estabelecimentos produtores de feijão decresceram sua
representação, de 27% para 24%. No grupo dos pequenos estabelecimentos registrou-se a
diminuição a um ritmo mais brando, passando de 47% para 46%. Por sua vez, o segmento
médio cresceu de 26% para 30 % do total de produtores, num movimento muito próximo
do que ocorreu com os produtores de arroz desse segmento.
-50
0
50
100
150
200
250
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Gráfico 9. Feijão: distribuição dos produtores na Amazônia, segundo o tamanho (1996 e 2006).
Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.
Mais uma vez pode-se perceber o destaque do estado do Maranhão, agora no que se refere à
quantidade de produtores de feijão. No início do período considerado, neste estado
encontravam-se 43,9% dos estabelecimentos da Amazônia Legal e ao final do período essa
participação havia aumentado 66,2%. Outra vez, o acréscimo relativo não resultou de um
aumento na quantidade de produtores e sim de uma redução no conjunto, tanto do país
quanto da Amazônia Legal.
A diminuição, aliás, foi bastante significativa, correspondendo a 24,7% no Brasil, a 46,6%
na Amazônia Legal e a 40,2% no Maranhão. A queda absoluta no Maranhão foi 33 mil
unidades produtivas, sendo a grande maioria (30,8 mil) no segmento de pequenos
produtores, onde a redução correspondeu a mais da metade do número registrado no início
do período. A tabela a seguir mostra esse movimento entre os produtores de feijão.
Pequeno 47%
Médio 26%
Grande 27%
Pequeno 46%
Médio 30%
Grande 24%
Atas Proceedings | 3233
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
17
Tabela 4. Feijão: número de produtores na Amazônia, segundo o tamanho (1995 e 2005)
UF 1995 2005
Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande
Brasil 2.177.120 1.199.739 711.361 266.020 1.638.519 1.015.771 469.711 153.037
Amazônia
Legal
187.502 88.889 48.508 50.105 100.125 46.313 29.866 23.946
Acre 8.480 728 2.218 5.534 5.084 871 1.341 2.872
Amapá 161 36 75 50 104 18 39 47
Amazonas 5.499 3.002 1.828 669 2.747 1.849 422 476
Maranhão 82.370 61.461 10.572 10.337 49.247 30.662 10.424 8.161
Mato Grosso 8.630 1.584 3921 3125 2.642 413 1.090 1.139
Pará 41.466 10.954 15.132 15.380 21.519 7.962 7.833 5.724
Rondônia 35.466 10.434 13.170 11.862 13.797 3.672 6.349 3.776
Roraima 936 250 55 631 490 108 45 337
Tocantins 4.494 440 1.537 2.517 4.495 758 2.323 1.414
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Tabela 5 – Feijão: área plantada e quantidade produzida na Amazônia (1995 e 2005)
UNIDADE Área Plantada (Ha) VAR.
(%)
Produção (Ton) VAR.
(%) 1995 2005 1995 2005
Brasil 5.366.321 3.965.847 - 26,1 2.946.168 3.021.641 2,6
Amazônia Legal 395.597 293.490 - 25,8 210.622 214.380 1,8
Acre 12.606 16.306 29,4 7.022 4.448 - 36,7
Amapá 225 1.072 376,4 95 682 617,9
Amazonas 3.790 6.335 67,2 2.944 5.768 95,9
Maranhão 118.023 78.025 - 33,4 42.007 35.682 - 15,1
Mato Grosso 37.129 42.244 13,8 23.220 66.122 184,8
Pará 89.258 72.781 - 18,5 50.976 56.372 10,6
Rondônia 123.682 63.032 - 49,0 81.007 33.089 - 59,2
Roraima 2.083 1.000 - 52,0 625 658 5,3
Tocantins 8.801 12.695 44,2 2.726 11.559 44,2
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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Gráfico 10. Feijão: variação percentual da área plantada na Amazônia (1995 – 2005).
Fonte: Elaborado a partir dos dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE 1995 e 2005.
Em termos de área plantada, considerando-se o início do período estudado, os estados de
Rondônia (123 mil hectares) e Maranhão (118 mil hectares) responderam por mais de 60%
do total da Amazônia Legal. Ao final do período, a concentração se deu entre os estado do
Maranhão (78 mil hectares) e do Pará (72,8 mil hectares), que juntos representaram 51,4%
da área total.
Do mesmo modo que no caso do arroz, chama a atenção o movimento descendente na área
plantada com feijão na Amazônia Legal, tendo ocorrido em 4 dos 9 estados da região,
entanto, essa queda parece ter sido compensada por aumento de produtividade, de modo
que, ao final a produção se manteve estável, com ligeiro aumento do volume produzido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se observa nos dados expostos acima, existe uma coincidência entre o avanço do
agronegócio da soja e a redução da área utilizada para produção de alimentos básicos em
alguns estados da Amazônia Legal. Não é possível afirmar, categoricamente, que há uma
relação de causa e efeito. Os dados disponíveis permitem uma considerável indicação,
porém não são suficientes para uma percepção conclusiva. Há que se levar consideração um
-100-50
050
100150200250300350400
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
19
conjunto de fatores num contexto histórico peculiar da inserção da Amazônia no circuito de
reprodução do capital em escala mundial.
Ao fortalecer atividades vinculadas ao mundo das commodities, constituído por oligopólios
e voltados a uma lógica externa à região, a dinâmica atual da região contribui para agravar
a dominação e o controle de poucos sobre a terra e o trabalho. A agricultura tradicional da
região encolheu visivelmente. A soja avançou bastante respondendo a um estímulo da
demanda externa. Foi essa demanda ponto de partida para determinar o ritmo e a dimensão
desse crescimento. Os alimentos básicos, no entanto, permanecem estagnados, seja em
termos de produtividade ou da produção física. As empresas globais associadas a esse
movimento de resposta à demanda externa, através dos grandes projetos em curso,
apresentam elevada capacidade de interferência nos contextos locais onde atuam. O caráter
dessa interferência abrange um vasto conjunto de aspectos que, de um lado, representam a
geração de determinada massa de emprego e de renda e, de outro lado, provocam resultados
diretos e indiretos, que vão desde a devastação da cobertura vegetal e a degradação das
condições gerais de equilíbrio dos ecossistemas locais até a desarticulação do modo de vida
e, em particular, das formas de produção material das populações atingidas.
Assim, são diversas as implicações dessa dinâmica, atingindo aspectos relativos à
distribuição da renda, acesso a terra, segurança alimentar. É ilustrativo, por exemplo, o fato
de que dos quatro estados brasileiros que apresentavam mais de 60% dos domicílios em
situação de insegurança alimentar em meados da década de 2000, dois (Roraima – 68,7% e
Maranhão – 69,1%) situam-se na Amazônia Legal. Nesse cenário, ampliam-se ainda mais
os grandes desafios a serem enfrentados no continente latino-americano no sentido da
promoção das condições de existência da população.
Nisso residem algumas das particularidades da presença das empresas globais na
Amazônia: seus vínculos com o processo de acumulação em escala global se operam a
partir de uma lógica perversa de exploração dos recursos e de expropriação dos meios de
produção dos produtores diretos, com base em relações de produção arcaicas e desumanas,
mas que são funcionais para garantir o máximo lucro do grande capital. O aprofundamento
da crise atual pode ter efeitos positivos para os sistemas locais de produção de alimentos.
3236 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
20
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Acedido em 3-03-2013).
Glass, V; Milani, A; Monteiro, M; Pimentel, S. (2008). O Brasil dos agrocombustíveis –
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mundial do trabalho. Revista Pegada (on-line) 9, 1. Disponível em
www.revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article. (Acesso em: 26 fevereiro 2013).
Atas Proceedings | 3237
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
DEMANDA POR INVESTIMENTO, DINÂMICA TERRITORIAL E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
O CASO PAPL-MA DEZ ANOS APÓS
BENJAMIN ALVINO DE MESQUITA, Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão - Brasil. [email protected]
JOÃO GONSALO DE MOURA, Professor Associado do Departamento de
Economia da Universidade Federal do Maranhão - Brasil. [email protected]
EUNICE PARAGUASSU MOURA, Professora da Universidade Ceuma em São Luís – Maranhão - Brasil. eunice. [email protected]
RESUMO: O trabalho tem como objetivo analisar a principal política delineada no início do século atual com a finalidade de alcançar um padrão mais elevado de desenvolvimento socioeconômico no estado do Maranhão - Brasil, com ênfase no papel do setor público enquanto indutor da alocação de recursos e do desenvolvimento regional. Faz-se uma análise inicial da percepção que tomou lugar a partir da última década do século XX, baseada no conceito de arranjo produtivo local. Em seguida são explicitados alguns principais erros e acertos cometidos, bem como algumas reflexões adicionais sobre iniciativas que visem alavancar o desenvolvimento local.
PALAVRAS-CHAVE: Investimento, desenvolvimento regional, dinâmica territorial.
ABSTRACT: The study aims to examine the main policy outlined at the beginning of the current century with the purpose of achieving a higher standard of socio-economic development in the State of Maranhão-Brazil, with emphasis on the role of the public sector while resource allocation and inducer of regional development. A initial analysis of perception that took place from the last decade of the 20th century, based on the concept of local productive arrangement. Then, there are explained some key mistakes and successes, as well as some additional reflections on initiatives aimed at leveraging local development. KEY-WORDS: Investment, regional development, territorial dynamics.
1. Introdução
Uma nova percepção do processo de desenvolvimento regional, associada a uma
nova concepção a respeito do papel das políticas públicas como indutoras da alocação
de recursos para investimento em um determinado território, representa uma importante
transformação posta em evidência por ocasião da última passagem de século. Esse novo
3238 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
contexto resultou em implicações significativas para os gestores de instituições
governamentais e não governamentais no decorrer da primeira década do século XXI.
Tal mudança de percepção ocorre como um fenômeno resultante da publicação
de vários estudos, desde meados da última década do século XX, sugerindo a reativação
do papel ativo do Estado pelo exercício pleno da sua função de planejador, aliado ao
envolvimento de um grupo mais amplo de atores oriundos das esferas social e
econômica.
Na verdade, esta última característica mencionada acima, dando conta de uma
maior amplitude de atores envolvidos no processo de desenvolvimento regional, serve
para deixar evidenciada a natureza sistêmica (maior integração e abrangência) que passa
a ser requerida na compreensão das condições que podem sustentar a elevação do
padrão de vida em uma região (Montero, 2001).
No caso da nova concepção a respeito do papel das políticas públicas indutoras
de investimento, a atenção fica centrada na necessidade de inclusão de novos
instrumentos de intervenção que devem ser condizentes com um anglo de visão mais
amplo, incluindo os fatores locais como elementos que demandam iniciativas
diferenciadas para as diferentes regiões (Teixeira & Ferraro, 2009).
Clama-se então por uma presença mais ativa do poder público no exercício de
um papel que, nas economias de mercado, costuma ser quase que totalmente destinado
ao sistema de preços. Agora, seria o caso do Estado indicar prioridades para a alocação
de recursos, envolvendo-se em maior intensidade na forma de planejador. Além disso,
haveria espaço para uma concepção voltada para a recomendação de políticas mais
participativas e abrangentes, tomando como referência as especificidades das regiões,
tanto no que se refere às atividades produtivas, como no que se refere aos próprios
indivíduos (Cassiolato & Lastres, 2003).
Como alguns países, entre eles o Brasil, viveram épocas de significativa
presença do Estado como planejador, sobretudo nas décadas de 50, 60 e 70 do século
XX, torna-se importante esclarecer que já não se tratava de um resgate das políticas
postas em prática àquela época. Até mesmo pelo fato daquelas iniciativas não haverem
logrado êxito ao ponto de romper com as amarras ao subdesenvolvimento no seu
sentido mais amplo. Assim, diante dessa nova percepção do papel do Estado como
indutor do desenvolvimento, novas alternativas de ação deveriam ser selecionadas.
Atas Proceedings | 3239
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
Ou seja, havia a possibilidade de transformar em acertos alguns dos equívocos
cometidos em iniciativas anteriores, que foram baseadas principalmente na concessão
de incentivos fiscais para a atração e implantação de grandes empreendimentos
industriais, como se tornou notório em alguns casos ocorridos no nível das unidades da
federação, sendo o Maranhão um exemplo típico (Haddad, 2003).
Mas também não é o caso de afirmar que as políticas do passado não tenham
sido importantes para aumentar a capacidade produtiva e a produtividade da economia.
Ao contrário, trata-se apenas da necessidade de esclarecer que as mesmas deveriam ter
sido acompanhadas por outras iniciativas que pudessem potencializar os resultados
esperados, principalmente quando da ampliação da abrangência dos seus impactos. Por
exemplo, as intervenções poderiam ter sido bem mais específicas, quando da sua
execução, destinando maior atenção às especificidades locais.
Dessa forma, diante desse novo contexto, o objetivo deste trabalho é analisar, à
luz dessa nova visão, as principais iniciativas adotadas recentemente no âmbito da
economia maranhense com vistas à obtenção de um padrão mais acelerado de
desenvolvimento, enfatizando o papel do setor público enquanto importante indutor da
alocação de recursos, sobretudo dos investimentos públicos e privados.
Para alcançar o objetivo proposto, além desta introdução, na seção 2 será
apresentada, com maior grau de detalhamento, a nova percepção que tomou lugar a
partir da última década do século XX; deixando para a seção 3 uma breve discussão
sobre o novo modelo de pensamento resultante, baseado no conceito de arranjo
produtivo local. Na seção 4 apresentaremos a forma e conteúdo das políticas de
desenvolvimento delineadas recentemente em nível de Maranhão, explicitando alguns
pontos positivos e negativos, em sintonia com as prescrições oriundas do modelo
apresentado. Finalmente, na seção 5 procuraremos propor algumas reflexões adicionais
sobre o padrão de desenvolvimento local no início do século atual.
2. Desenvolvimento Regional
Dando continuidade à percepção do processo de desenvolvimento regional
discutida acima, pode-se dizer que, em primeiro lugar, havia uma mudança de
concepção, substituindo a noção de apoio individual pela noção de apoio coletivo;
3240 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
deixando de promover a ação isolada para promover a ação conjunta; retirando do foco
a vantagem competitiva espúria para focalizar a vantagem competitiva duradoura;
substituindo a concorrência hostil pela a ação cooperativa; enfim, deixando de objetivar
apenas o crescimento para ter como meta central o desenvolvimento socioeconômico
das regiões (Cassiolato & Lastres, 2003).
Em segundo lugar, algo que também faz dessa nova percepção uma vertente
solidificada é o fato de atribuir ao conhecimento à função de alicerce da inovação. Isto
significa que a criação, absorção e aplicação do insumo conhecimento aos processos
produtivos constitui a causa mais expressiva das inovações, que, na dinâmica do sistema
econômico, representa o motor do desenvolvimento.
Essa vertente ainda traz consigo o reconhecimento de que os processos
inovativos são responsáveis diretos pela obtenção de vantagens competitivas
duradouras. O processo inovativo, verdadeiramente, promove sustentabilidade aos
negócios estabelecidos numa região, constituindo o foco central, ou objetivo maior de
qualquer política destinada a alcançar o chamado desenvolvimento sustentado.
Mas há que se chamar atenção para o fato de que não se trata apenas de inovação
na forma mais usual que normalmente este termo é tratado. Ao contrário, trata-se agora
de algo mais amplo, não necessariamente aliado á descoberta de algo totalmente novo.
Ao contrário, admite-se agora um conceito mais abrangente para o reconhecimento da
presença de processos inovativos. Compreende-se que a inovação se reflete na
incorporação de conhecimentos aos processos, produtos, formas de negociação,
métodos de divulgação, etc., mesmo quando tais conhecimentos não representam uma
novidade para outros participantes do mercado (Cassiolato et al., 2008).
Também o próprio significado do termo conhecimento se torna algo mais amplo,
passando a abranger tanto as formas codificadas como as formas não codificadas. Além
disso, um dos elementos mais importantes a ser destacado passa a ser o fato de se
reconhecer que, normalmente, os produtores de bens e serviços específicos estão
localizados em determinadas regiões, e que as inovações resultam, na verdade, das
interações e aprendizagem entre os agentes locais (Amaral Filho, 2009).
Por fim, convém ainda mencionar que a visão aqui tratada ratifica seu caráter de
maior amplitude quando reconhece diferentes níveis de relação / entrelaçamento /
dependência entre os produtores, bem como entre estes e o mundo que os cerca. Permite
Atas Proceedings | 3241
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
que sejam incorporadas as formas mais complexas de interação, bem como as mais
precárias e toda a planície que separa estes dois extremos; ficando o tipo específico de
interação vigente em cada caso dependente dos contextos econômico, social,
institucional e político que caracterizam o ambiente (Cassiolato & Lastres, 2003).
Ou seja, o nível de entrelaçamento e cooperação entre produtores, bem como
entre estes e os demais agentes, determina a capacidade de criação, acumulação e
incorporação de conhecimento. Como consequência, determina também o grau em que
se estabelecem os processos de aprendizagem e inovação. Na medida em que tais
aspectos evoluem, a capacidade inovadora se desenvolve, com os benefícios resultantes.
Contudo, não se pode esquecer que as especificidades presentes em cada território
(territorialidade) exercem forte influência sobre a mencionada capacidade.
Dessa forma, pode-se dizer que, diante daquilo que foi exposto acima, o
potencial competitivo de uma região depende da presença de um conjunto de
instituições que promovam a difusão do conhecimento e, por conseguinte, da inovação
entre produtores de bens se serviços (Teixeira & Ferraro, 2009).
Fica então mais evidente qual seria o principal papel do Estado, bem como das
instituições que têm como finalidade promover o desenvolvimento, qual seja: estimular
a cooperação entre agentes, organizando e harmonizando as suas ações para que possam
se viabilizar e potencializar os processos de aprendizado e inovação. Uma vez que o
Estado e as instituições promotoras do desenvolvimento ajam com este intuito, estarão
criadas as condições para o estabelecimento das chamadas vantagens competitivas
duradouras, garantindo oxigênio e sobrevida para os negócios instalados em uma
determinada região.
Quando esta análise é transportada para um caso real, como a economia do
estado do Maranhão - Brasil, a principal característica que deve ser observada é o fato
de se tratar de uma economia baseada em um conjunto de aglomerações de micro e
pequenos produtores, com uma significativa parcela das unidades produtivas marcada
pela informalidade. Uma das principais razões que sempre intensificaram a dificuldade
de desenvolvimento dessa economia pode ser atribuída, exatamente, á ausência dos
principais elementos ressaltados nesta seção, por exemplo: dificuldades de
aprendizagem e inovação, a falta de cooperação entre agentes, etc. Este cenário tem
encurtado a sobrevivência dos pequenos negócios e inibido o desenvolvimento local.
3242 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
3. Desenvolvimento com Foco em APL
Incorporando as ideias apresentadas na seção anterior, foi desenvolvida no Brasil
uma concepção teórica visando organizar mais acuradamente as mesmas para confrontá-
las com a realidade do ambiente econômico vigente no País. Foi lançada então a
definição do que passou a ser largamente conhecido no Brasil como arranjo produtivo
local (APL). Para dar conta de toda a amplitude de possibilidades inseridas na nova
percepção do processo de desenvolvimento regional, este termo abrange um grau de
complexidade que vai além do que a primeira vista possa parecer (Amaral Filho 2009;
Cassiolato et al., 2008).
Tomando como referência a versão desenvolvida no Brasil pela Rede Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist):
Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (Cassiolato & Lastres, 2003).
Diante do conceito acima apresentado, três elementos devem estar presentes nas
políticas. O primeiro deles é perceber que um dos principais aspectos ressaltados é
diversidade de atores envolvidos. Deste modo, as políticas com foco em APLs
necessitam considerá-los, pois, caso contrário, corre-se o risco de criar estímulos apenas
para grupos específicos, como costuma ocorrer nas versões tradicionais das políticas de
desenvolvimento, deixando de lado os principais elementos que garantiriam a presença
de uma nova concepção, aderindo às velhas iniciativas que não lograram êxito.
Algumas inciativas brasileiras que visavam a formatação de políticas estaduais
de promoção de APLs, o termo arranjos produtivos locais foi confundido com formas
singulares de aglomerações de produtores, gerando comumente alguma confusão com a
formatação denominada cluster (Ferreira Jr, et al, 2008).
Atas Proceedings | 3243
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
O segundo elemento a ser ressaltado, ainda em consonância com o conceito
acima apresentado, e com os próprios argumentos apresentados na seção anterior, é o
papel do Estado. Caberia ao mesmo criar as condições para a vigência de um maior grau
de entrelaçamento / interdependência e cooperação entre empresas, bem como entre as
mesmas e os demais atores pertinentes, de modo a intensificar a capacidade de criar,
acumular, difundir e incorporar conhecimento para acelerar os processos de
aprendizagem e inovação (Teixeira & Ferraro, 2009).
As possibilidades das políticas alcançarem os resultados esperados aumentariam
significativamente quando o foco das mesmas estiver direcionado à mobilização do
conjunto de atores pertinentes, em cada arranjo, com a finalidade de que as unidades
produtivas possam então gerar, assimilar e colocar em uso um conjunto de
conhecimentos. Seria necessário então um maior grau de envolvimento de todos os
agentes, não apenas na fase de execução das políticas, mas, sobretudo, nas fases de
elaboração e avaliação das mesmas.
Por fim, o terceiro elemento a ser destacado é a ênfase no local. Trata-se aqui de
reconhecer que as atividades produtivas e inovativas se diferenciam temporal e
espacialmente. Deste modo, passa a ser desejável que, no âmbito da elaboração e
execução das políticas de desenvolvimento, sejam delineadas ações específicas para
arranjos específicos, dadas as relações e condições singulares existentes em cada um,
sejam as mesmas provenientes de fatores históricos, econômicos, sociais, culturais,
políticos, entre outros (Cassiolato et al., 2008).
Portanto, a adoção desta concepção difundida no Brasil pela RedeSist exige a
compreensão de que os processos produtivos e inovativos constituem aspectos de
natureza sistêmica, na media em que os mesmos resultam das interações de diferentes
atores e competências. O grande desafio do Estado (enquanto planejador) seria
harmonizar as ações coletivas, gerando sinergias capazes de alavancar os processos de
aprendizagem e inovação. Com isto, estariam sendo criadas vantagens competitivas
duradouras para os negócios, principalmente em se tratando de ambientes formados por
empreendimentos de micro e pequeno porte.
Diante do exposto, e até mesmo como forma de não correr o risco de abandonar
o foco central deste trabalho, cabe agora uma reflexão sobre o delineamento das
políticas baseadas no conceito de arranjos produtivos locais em nível de Maranhão.
3244 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
4. O Modelo de Desenvolvimento Proposto para o Maranhão
Uma política de desenvolvimento com foco em APL foi elaborada e assumida
pelo governo estadual no ano de 2003. A principal finalidade de ter uma inciativa
diferente das políticas anteriores seria mudar o foco dos instrumentos até então
utilizados para alavancar o desenvolvimento local, e que não haviam trazido os
resultados esperados, para a nova concepção que se apresentava. Foi criado então o
Programa de Promoção e Desenvolvimento de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais
do Estado do Maranhão (PAPL).
As principais políticas até então adotadas no Maranhão foram estabelecidas à
base da concessão de incentivos fiscais para atrair grandes unidades produtivas
individuais, geralmente exportadoras. A lógica do novo modelo se diferenciava bastante
do velho modelo quando previa um conjunto de ações mais abrangentes, privilegiando
aglomerações de micro e pequenos produtores, enfatizando um conjunto de atividades já
presentes na economia do referido estado (Haddad, 2003).
As ações previstas não estariam restritas apenas ao incentivo a um grupo
específico de unidades produtivas, ou à produção de um produto específico, mas, seriam
muito mais abrangentes. No caso de um determinado arranjo produtivo, todo o conjunto
de produtos / serviços que dizem respeito às diversas etapas necessárias para a
viabilização da produção deveriam ser contempladas. No caso, etapas como insumos,
comercialização, design, marketing, etc., não poderiam ser esquecidas. Além disso, as
especificidades do espaço geográfico onde estavam inseridas as unidades produtivas
demandariam iniciativas diferenciadas.
A presença de um grande número de atividades no Maranhão,
constituídas principalmente por um conjunto de aglomerações regionais de pequenos
produtores, requeria um desenho de políticas que estimulassem a troca de conhecimento
e experiências, dando margem à potencialização do processo de aprendizagem coletiva.
O benefício resultante seria o estímulo à inovação e, como consequência, o
desenvolvimento sustentado.
Na verdade, o desenvolvimento sustentado é sempre o objetivo balizador de
todas as políticas delineadas pelo poder público, sendo ainda mais premente em regiões
Atas Proceedings | 3245
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
com indicadores relativamente mais desfavoráveis, como é o caso do estado do
Maranhão. Portanto, a mudança em vista se daria na concepção, foco e direcionamento
das políticas, e não exatamente nos seus objetivos.
Considerando a abrangência territorial e populacional que as aglomerações
produtivas preexistentes no estado terminam por envolver, iniciativas direcionadas às
mesmas, sob uma perspectiva sistêmica, causariam grandes repercussões nos
indicadores estaduais (Haddad, 2003).
Entre os indicadores que deveriam ser afetados, a maior ênfase era dada ao
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Embora em um segundo momento, com a
troca natural de governantes, embora se mantendo como ponto fundamental da política
desenvolvimentista, as mesmas políticas passaram a ser vislumbradas muito mais como
instrumento para a redução das desigualdades regionais e sociais dentro do referido
estado (Moura et al. 2010).
Deve-se enfatizar também que a visão de envolvimento de diversos atores no
processo de desenvolvimento não ficou esquecida no âmbito da política preparada para
a economia maranhense. A formação de parcerias entre o governo estadual e diversas
instituições foi uma dos aspectos mais evidentes do PAPL. Na verdade, a presença de
todos esses atores consolidava a visão sistêmica do processo, na medida em que previa
um conjunto de ações integradas para viabilizar os objetivos. Na lista de parceiros no
PAPL, constava:
i) Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae
ii) Banco do Brasil
iii) Caixa Econômica Federal
iv) Banco do Nordeste do Brasil
v) Banco da Amazônia
vi) Universidade Federal do Maranhão
vii) Universidade Estadual do Maranhão
viii) Embrapa
ix) Centro Federal de Ensino e Tecnologia do Maranhão
x) Federação das Indústrias do Estado Maranhão
xi) Federação da Agricultura do Estado do Maranhão
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
xii) Federação do Comércio do Estado do Maranhão
xiii) Federação das Associações de Municípios do Estado do Maranhão
xiv) Ministério da Ciência e Tecnologia
xv) Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio
xvi) Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada
Para efeito de complementação de algumas informações importantes sobre a
lista de parceiros apresentada acima, convém que sejam feitos alguns esclarecimentos
adicionais:
a) O governo estadual se fazia representar oficialmente no Programa por meio
da Gerência Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão (GEPLAN);
b) Entre as parcerias estabelecidas, o caráter mais formal da participação de
cada órgão ficou evidente apenas entre Sebrae e Governo do Maranhão, que
celebraram um convênio nesse sentido;
c) Embora a lista seja bastante extensa, muitos dos organismos citados nunca
tiveram participação efetiva em qualquer atividade. Outros, embora
cooperando, não desenvolveram programas específicos para APLs.
Embora seja possível reconhecer que se tratava de uma lista composta pelas
instituições necessárias, isto não significa que se trate exatamente daquelas instituições
que, de fato, assumiriam seu papel no Programa. Dada a própria amplitude da relação de
participantes, seria quase que totalmente previsível um cenário com maior empenho de
alguns, e menor empenho de outros.
Além disso, convém esclarecer que, embora constasse na lista de órgãos
apoiadores o nome de muitas instituições portadoras de funções que se afinavam
perfeitamente com as linhas traçadas, e para as quais foram designadas pelo Programa,
as mesmas poderiam não estar dotadas de recursos (materiais, humanos, financeiros,
etc.) para dar conta de iniciativas tão amplas, uma vez que, por exemplo, a abrangência
geográfica dos APLs coincidia, praticamente, com o mapa geográfico estadual, além de
tratar com as mais diferentes atividades produtivas.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
Ao mesmo tempo, poderiam ainda surgir situações em que algumas instituições
parceiras pudessem até estar de posse dos recursos necessários, mas, talvez, não
estivessem compreendendo o seu papel no âmbito das ações integradas, o que
acarretava um nível de envolvimento não condizente com a grandeza da missão
atribuída a cada uma das mesmas.
Como principal ator, a participação do governo estadual no Programa assume
um papel de catalisador (estímulo, incentivo) e mediador (facilitador da cooperação) o
que transformava o mesmo no ator responsável pela tarefa de envolver os parceiros,
visando produzir a necessária harmonia na execução das ações. Mas tal tarefa seria um
tanto árdua, pois, assim como não seria um ato simples virar o jogo da falta da
cooperação direta entre os produtores, talvez ainda mais difícil fosse cumprir a sua
missão de envolver todas as instituições parceiras.
Além disso, um conjunto de fatores exógenos relacionados a mudanças
extemporâneas no cenário político do Maranhão vieram a interferir negativamente na
possibilidade do governo local cumprir com desenvoltura a tarefa que lhe era atribuída,
no caso, a de ator principal. Portanto, depois de transcorridos alguns anos da elaboração
e execução do PAPL, algumas intempéries surgiram no Maranhão, quais sejam:
i) Alterações nos fundamentos da economia que serviram de base para
justificar as políticas estaduais de apoio aos APLs;
ii) Quase nenhum envolvimento efetivo por parte de algumas das instituições
parceiras com as políticas de apoio aos APLs;
iii) Trocas recorrentes nas correntes políticas que dominam o governo estadual,
com cada uma das correntes se sentindo na obrigação de abortar
planejamentos elaborados pela outra corrente;
iv) Conflitos entre esferas de governo, com a necessidade de adaptação da
concepção local de apoio aos APLs em relação ao enfoque adotado pelo
governo federal.
Portanto, embora a lista de intempéries acima mostre poucas ocorrências, as
mesmas foram suficientes para que, mais uma vez, uma concepção bem elaborada e
adequada à realidade maranhense não pudesse ser levada adiante. Com isto o Maranhão
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
retoma sua velha política de desenvolvimento baseada em incentivos fiscais,
desconectada da realidade dos negócios e das instituições presentes no estado,
conseguindo apresentar apenas algumas pequenas ilhas de progresso no território, e sem
nenhuma sustentabilidade em termos de longo prazo.
5. Reflexões para o Futuro
Diante das reflexões que foram explicitadas acima, pode-se dizer que as políticas
de promoção de APLs parecem muito centradas nos seus objetivos finais, focadas
secundariamente nos meios necessários para, verdadeiramente, alavancar os arranjos
produtivos identificados no estado, promovendo assim um padrão de desenvolvimento
regional sustentado. Diante disso; podemos enumerar alguns gargalos a serem
removidos, quais sejam:
i) Pensar em políticas de desenvolvimento que sejam muito mais abrangentes
do que as políticas que visam apenas o crescimento econômico;
ii) Incluir as especificidades locais na política de desenvolvimento, envolvendo
todas as regiões, ampliando o leque de atividades econômicas e, sobretudo,
a amplitude da população;
iii) Prezar pelo envolvimento de todos os atores no planejamento das políticas,
de modo que a mesma reflita melhor os desejos da sociedade e, além disso,
as ações delineadas sejam executadas através de uma visão sistêmica do
processo, de modo organizado e harmônico.
iv) Cobrar de todos os atores envolvidos o fiel cumprimento de suas
responsabilidades, de modo que determinadas ações não fiquem
prejudicadas;
v) Difundir as vantagens e a importância de tais políticas entre os produtores,
divulgando mais intensamente os benefícios da ação conjunta e da
cooperação, de modo a gerar os resultados esperados;
vi) Tornar a execução das políticas um compromisso das instituições, e não
apenas um desejo dos dirigentes de plantão;
Atas Proceedings | 3249
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
vii) Tornar presente, entre indivíduos e instituições, a cultura do
empreendedorismo, vencendo o conformismo que é característico de
algumas regiões mais atrasadas.
Com a lista de intempéries anteriormente apresentadas, e diante da lista de
reflexões propostas acima, fica evidente que o PAPL representava um programa bem
elaborado e adequado ao desenvolvimento socioeconômico de regiões com as
características do estado do Maranhão. Em termos de planejamento, pura e
simplesmente, o estado maranhense deu uma lição de como o poder público tem um
papel relevante e como o mesmo possui um papel viável para promover o
desenvolvimento regional.
No entanto, além de reconhecer a importância do planejamento local para o
desenvolvimento econômico e social, é preciso ir além, evitando que as trocas de poder
possam gerar um clima de paralisia, ou mesmo grandes reviravoltas no âmbito da
execução de políticas públicas. Algo que é planejado para ser prioritário não pode,
repentinamente, ser relegado a um patamar inferior, como se não houvesse sido
decidido nas instâncias de poder, ou mesmo sem explicar aos parceiros porque já não
são mais convidados para levar adiante aquela empreitada.
Para evitar situações infelizes como esta, faz-se necessário também promover
mudanças nas instituições locais para que a esfera política não inviabilize iniciativas
importantes como o PAPL. Neste sentido, seria desejável dispor de uma estrutura
institucional que tratasse as políticas públicas como políticas de Estado, e não como
meras políticas de governantes. Uma vez propostas, discutidas, e aprovadas; as políticas
públicas não poderiam ficar sujeitas ao gosto do governante de plantão.
Quando uma política pública passa por todas as etapas mencionadas no
parágrafo anterior, e este foi o caso do PAPL, que teve, desde a sua elaboração, uma
natureza extremamente participativa ao envolver tantos atores e instituições locais, os
interesses da sociedade passam a ser inteiramente incorporados nas mesmas. Neste caso,
não restaria ao poder público outra iniciativa que não levar até o fim a sua missão de
colocar em prática os anseios da sociedade. Não foi o que houve no Maranhão,
principalmente quando se elegeu um novo governo em 2006, e principalmente com a
mudança drástica, fora da esfera política (na esfera judicial) cerca de dois anos após.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
Mas como vimos, também houve problemas de outra natureza, como a ausência
de algumas instituições parceiras, conflitos entre esferas de governo, etc. Ao longo do
texto ficou evidente que alguns problemas surgiram pelo caminho, o que se torna até
mesmo natural. O que não é mesmo natural é não tentar saná-los e, principalmente,
tentar utilizá-los para não levar adiante uma tentativa tão adequada para amenizar a
carência de investimento e promover o desenvolvimento local.
Passados dez anos desde o seu lançamento, pode-se dizer que as propostas
concebidas no PAPL continuam atuais. Falta apenas uma decisão política para retomá-
las e seguir um caminho mais propício para alavancar, definitivamente, um processo de
desenvolvimento sustentado na economia maranhense.
6. Considerações Finais
Entre erros e acertos decorrentes da penetração de políticas de promoção de
arranjos produtivos locais no estado do Maranhão ainda é possível enumerar alguns
fatores que indicam a possibilidade de haver um saldo positivo ao longo desse processo.
Embora não tenha sido integralmente posto em prática, e em certo momento totalmente
abandonado, houve um período de intenso envolvimento de muitos órgãos e instituições
estaduais com o PAPL, deixando um legado (Moura, et al, 2010).
Um primeiro ponto a ser destacado é uma perceptível inclinação dos atores e das
instituições locais para o trabalho em conjunto, ou em parceria. Quer seja nos projetos
com a nomenclatura de APL, ou em todos os demais, instituições como o Sebrae
prezam pela ação coordenada de diversos órgãos, aglutinando esforços em torno de
resultados comuns.
Um segundo destaque fica por conta da maior compreensão e divulgação das
potencialidades locais, uma vez que foi deito um amplo trabalho nesse sentido,
principalmente em regiões que até então despertavam pouco interesse aos próprios
agentes econômicos do próprio Maranhão. Todos puderam ficar mais cientes das
vocações naturais de cada região específica do território maranhense, e até mesmo de
atividades que sequer eram difundidas, aproximando as mesmas das instituições que, de
fato, deveriam lhe prestar apoio.
Atas Proceedings | 3251
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
O terceiro ponto em destaque, com a participação e o envolvimento de diversas
instituições apoiadoras, os micro e pequenos produtores de bens e serviços tiveram a
oportunidade de ter à sua disposição um canal aberto para externar as suas demandas e
dificuldades, bem como conseguir alguns benefícios, mesmo que marginais, que de
outra forma não teriam conseguido.
O quarto ponto é o fato de algumas entidades como sindicatos, associações,
cooperativas estarem diretamente envolvidos nesse processo e, por conta disso, houve
um fortalecimento do papel dessas entidades representativas, contribuindo para
melhorar e equilibrar a correlação de forças nas definições de políticas públicas para o
desenvolvimento local, contribuindo assim para que as mesmas pudessem se tornar
mais expressivas no seu aspecto participativo.
Finalmente, no seio das políticas em análise, o poder público, nas suas esferas
mais descentralizadas, como em nível de estados e municípios, passou a vislumbrar
novos papéis a serem desempenhados, principalmente no que se refere à recuperação,
por um novo modo de agir, da sua influência sobre a alocação dos recursos produtivos.
Portanto, embora possam ser ressaltadas algumas deficiências de compreensão
dos termos, falhas na escolha do público alvo, desarmonia nas ações de algumas
instituições, paralisia por parte do setor público, dentre outras; não há como voltar atrás
na questão do poder que as instituições passaram a percebem que possuíam,
principalmente no entendimento de que um conjunto de iniciativas que visem a ação
isolada de um órgão costuma não produzir efeitos esperados.
Enfim, após a noção de APL ter sido introduzida no âmbito da política estadual,
as instituições se tornaram mais conscientes da necessidade de agir de modo
sincronizado. O fato de haver um diálogo constante entre as mesmas, até mesmo por
conta de instâncias burocráticas que foram criadas, já constitui algo que promove uma
constante troca de informações, conhecimentos e experiências; viabilizando assim o
plantio de uma semente para a inovação, desencadeando assim a construção de um novo
desenvolvimento.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
REFERÊNCIAS
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. São Luís/MA, janeiro 2010. (NOTA TÉCNICA 7/MA). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. TEIXEIRA, F. & FERRARO, C. (2009). Aglomeraciones productivas locales em Brasil, formación de recursos humanos y resultadosde la experiência CEPAL – SEBRAE. Serie Desarrollo Productivo № 186. Santiago de Chile: CEPAL.
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Atas Proceedings | 3255
1
UMA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO NO ESTADO DO MARANHÃO
ADRIANA CRISTINA RABELO DA SILVA1
RESUMO O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no contexto do Novo-Desenvolvimentismo evidencia a tentativa de retomada do Estado como agente indutor dos investimentos na economia, apresentando como meta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 5,0% ao ano, entre 2007 e 2010, através da adoção de medidas como: investimentos em infraestrutura, estímulo ao crédito e ao financiamento, melhorias do ambiente do investimento, desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e realização de medidas fiscais de longo prazo. Entretanto, durante o período, a participação das taxas de investimento no crescimento econômico do Brasil se mostrou incipiente. No Estado do Maranhão, o montante de recursos previsto pelo PAC é irrisório quando comparado a outras unidades da federação, correspondendo a apenas 2,7% do total. Com a perspectiva keynesiana de que o crescimento econômico depende da realização de investimentos, este estudo se propõe a investigar o desempenho do PAC no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Para esta investigação este artigo recorre à análise de documentos oficiais do Programa, assim como às fontes de dados secundários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC). Para sua abordagem, inicialmente apresenta-se o retrospecto histórico da intervenção estatal na economia brasileira contemporânea; em seguida apresenta-se o PAC, destacando-se suas metas e áreas de atuação; finalmente evidencia-se como a atuação do PAC durante o quatriênio foi incipiente e se resumiu à realização de obras de baixos impactos para a economia maranhense, o que evidencia a pífia contribuição do Programa para as taxas de crescimento do Estado. Palavras-chave: PAC; atuação estatal; Maranhão; desempenho. ABSTRACT The launch of the Growth Acceleration Program (PAC) in the context of the New-Developmentalism shows the attempted recovery of the State as a promoter of investment in the economy, with a target growth of Gross Domestic Product (GDP) by 5.0 % per year between 2007 and 2010, through the adoption of measures such as investment in infrastructure, promotion of credit and financing, improvement of investment environment, relief and improvement of the tax system and conducting long- 1 Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Campus do Bacanga, Av. dos Portugueses - s/n, CEP 65085-580 São Luís, Maranhão, Brasil [email protected]
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2
term fiscal measures. However, during the period, the participation rates of investment in Brazil's economic growth showed incipient. In the state of Maranhão, the amount of resources provided by the PAC is negligible when compared to other units of the federation, representing only 2.7% of the total. With the Keynesian perspective that economic growth depends on investments, this study aims to investigate the performance of PAC in the state of Maranhão, between 2007 and 2010. For this research this article refers to the analysis of official documents of the Programme, as well as the sources of secondary data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the Institute for Socioeconomic Studies Maranhense and Cartographic (IMESC). For your approach, initially shows the historical retrospect of state intervention in contemporary Brazilian economy, then presents the CAP, focusing on their goals and areas; finally reveals itself as the performance of the CAP during the quadrennium was incipient and summarized the execution of works of low impacts to the economy of Maranhão, which shows the insignificant contribution of the Programme to the growth rates of the state. Keywords: PAC; state action, Maranhão; performance.
1. INTRODUÇÃO
O Estado brasileiro assumiu distintas atuações no decorrer do seu processo
histórico. Entre 1930 e 1980 assistiu-se a um período denominado Nacional
Desenvolvimentista, em que o Estado interveio principalmente no plano econômico. A
partir desta época até finais do século XX, observaram-se dois momentos: a década
perdida de 1980 marcada pela crise da dívida externa, com baixas taxas de crescimento
econômico e elevada inflação, em que o planejamento estatal se encontrava
desarticulado, com a criação apenas de planos de estabilização (Almeida, 2006); e a
década de 1990 marcada pela estratégia neoliberal, que propugnava o Estado mínimo e
defendia o livre mercado.
Já nos anos 2000, depois de sanada a preocupação com a estabilidade
inflacionária tal como prevaleceu no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC),
surgiu o Novo Desenvolvimentismo, que propugnava a constituição de um Estado com
capacidade de regular a economia, sendo esta constituída por um mercado forte, cuja
concorrência regulada se mostraria capaz de abrigar produtores pequenos, médios e
grandes; e um sistema financeiro funcional, com preferência pela esfera industrial e
comercial, em detrimento da especulativa (Sicsú et al., 2005).
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Nesse contexto, em 2007 o Governo Federal lançou o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), com vistas a equacionar os gargalos em infraestrutura existentes
no Brasil, promovendo a obtenção de taxas de crescimento econômico mais elevadas.
Com esse Programa, observa-se, pois, a tentativa de retomada do Estado como agente
orientador dos investimentos, após um longo período em que sua atuação possuía como
objeto central a estabilidade inflacionária.
Com a perspectiva keynesiana de que o crescimento econômico depende da
realização de investimentos, este estudo se propõe a investigar o desempenho do PAC
no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Para isto, é composto de três seções, além
desta introdução. Na primeira será feito o retrospecto histórico da intervenção estatal na
economia brasileira contemporânea; na segunda seção apresenta-se o PAC, destacando-
se suas metas e medidas, assim como algumas concepções de diferentes autores sobre
sua atuação; na terceira será apresentado o desempenho do Programa na economia
maranhense e por fim, são esboçadas algumas conclusões encontradas com este estudo.
2. RETROSPECTO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DO ESTADO NA
ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
No período compreendido entre 1930 e 1945, conhecido como Era Vargas,
assistiu-se à crescente intervenção do Estado na economia brasileira, ao forte
nacionalismo econômico e a várias proibições ao capital estrangeiro. Com a Crise de
1929 e a consequente derrocada do café, a industrialização foi impulsionada através da
condução do Estado, sendo adotada inicialmente a estratégia de controle cambial e em
seguida, a de substituição de importações. Assim, segundo Sallum Júnior (2003, p. 35),
o Estado desempenhava o papel de núcleo organizador da sociedade e funcionava como
alavanca para a construção de um capitalismo industrial, integrado nacionalmente, mas
dependente do capital externo, através de um modelo de substituição de importações.
Esse Estado Nacional Desenvolvimentista prevaleceu até os anos de 1970, sendo
a década seguinte considerada um período de “aprendizagem dolorosa” (CEPAL, 2000),
marcada por avanços na direção da redemocratização política, mas também por uma
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crise econômica, decorrente da incapacidade do Brasil em honrar os pagamentos da
dívida externa. Assim, durante a Nova República (1985 - 1989) foi instituída uma série
de medidas que versavam sobre a maior participação popular, como as eleições diretas
para a Presidência da República e para as capitais, assim como o direito a voto dos
analfabetos e a liberdade de organização partidária, além de outras nessa direção. Com
isso, esse período foi caracterizado como um arranjo político no qual vários segmentos
sociais puderam lutar por seus interesses com grande liberdade de ação e organização
(Sallum Júnior, 2003, p. 39).
Nesse contexto, tais mudanças culminaram na promulgação da Constituição de
1988 (CF-88), que possibilitou a ampliação do poder de ação do Legislativo, do
Judiciário e do Ministério Público nos processos de decisão governamental; transferiu
parte da base material para exercer o poder (impostos e autonomia financeira) da União
para Estados e municípios; ampliou a proteção social para todos; definiu alguns deveres
sociais do Estado; além de possibilitar que os cidadãos pudessem exigir a realização
desses deveres perante o poder público (idem). Ainda no que tange às medidas
impostas pela CF-88 destacaram-se a maior restrição ao capital estrangeiro, o aumento
da atuação das empresas estatais e o maior controle do Estado sobre o mercado, o que
mostra sua inclinação a um Desenvolvimentismo Democratizado (ibidem).
Diante desse ambiente de instabilidade econômica, em documento para sua
superação na América Latina e Caribe, a CEPAL (2000) propugnava que era preciso,
[...] por um lado, fortalecer a democracia e, por outro, ajustar as economias, estabilizá-las, incorporá-las numa mudança tecnológica mundial intensificada, modernizar os setores públicos, aumentar a poupança, melhorar a distribuição de renda, implantar padrões mais austeros de consumo, e fazer tudo isso no contexto de um desenvolvimento sustentável em termos ambientais. (p. 892)
Destarte, para superar a crise do Estado, o Governo Sarney - marcado por
crescente instabilidade econômica e fragilidade política - tentou adotar estratégias
desenvolvimentistas, tal como no passado, porém não encontrou um ambiente externo
favorável, já que ao contrário de aumentar os capitais estrangeiros no país, fez com que
houvesse uma saída grande destes. Além do mais, tais estratégias não levavam em
consideração a perda de autoridade política do Estado e a maior autonomia das classes
populares, que passaram a realizar manifestações que acabavam por impor certos limites
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5
à ação estatal. Nesse ambiente de fragilidade política, a elite econômica brasileira
passou a se opor ao intervencionismo, exigindo a desregulamentação dos mercados, a
privatização de empresas do Estado e uma maior abertura para o capital externo, o que
se constituiu enquanto um avanço das ideias neoliberais. Assim, no governo Collor
(1990 – 1992) observou-se uma postura antiestatal e internacionalizante, rompendo com
as estratégias adotadas nos governos anteriores.
A partir desse marco histórico, FHC assumiu a presidência do país em 1995,
rompendo com qualquer característica ainda existente do período varguista e dando
continuidade ao liberalismo econômico, cujas medidas adotadas visavam reduzir a
participação do Estado na economia, assim como aumentar o grau de abertura comercial
e financeira, o que fez com que as mudanças observadas tanto com relação à estrutura
produtiva e tecnológica, quanto financeira, não encontrassem precedentes na história do
país (Franco, 1998).
Nesse sentido, Franco (1998, p. 44) afirmou que a abertura seria a base para a
construção de um modelo de crescimento para o futuro, pois permitiria que o Brasil
elevasse qualitativamente o padrão de vida da sociedade, já que o modelo de
substituição de importações ocasionava a concentração de renda e a estagnação da taxa
de crescimento da produtividade. Ainda segundo esse autor, a responsabilidade pelo
crescimento econômico, a partir desse período, deveria ser deixada a cargo do setor
privado, já que a esfera pública não teria mais capacidade de originar investimentos na
magnitude dos observados antes de 1983.
A sucessão presidencial, em 2002, foi marcada pela ascensão de Lula, cujo
primeiro mandato apresentou como tarefa primordial o dever de “arrumar a casa” e, o
segundo, foi caracterizado pela adoção de uma estratégia Liberal Desenvolvimentista,
em que o objetivo não foi reconstruir o Estado empresarial, mas reformar o Estado
brasileiro para permitir o estímulo ao desenvolvimento privado e à equidade social.
Cabe destacar que tal estratégia adotada durante o segundo governo petista
remete ao documento da CEPAL (2000), que indicava alguns princípios a serem
adotados com vistas à superação da crise - dos anos 1980 - através da transformação das
estruturas produtivas. No que tange à ação estatal, o documento propugnava que o
intervencionismo deveria ser reformulado em relação às décadas anteriores, possuindo
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como prioridade o fortalecimento de uma competitividade baseada na incorporação do
progresso técnico, visando promover níveis razoáveis de equidade (p. 898).
Nesse contexto, foram adotadas algumas estratégias com vistas à organização de
um projeto nacional desenvolvimentista que, segundo Bielschowsky (2012) foram as
seguintes: crescimento com redistribuição de renda através do consumo de massa;
investimentos em infraestrutura, consolidados no PAC; e a inovação.
Entretanto, Paulani (2008) afirma que o primeiro governo Lula foi marcado pela
continuação da política neoliberal e de abertura financeira adotada desde 1990, pelo
controle inflacionário e por uma política de altas taxas de juros e, no segundo mandato,
com o lançamento do PAC não se observou nenhuma mudança nessa política
econômica, mas sim a permanência da concepção tecnicista2 de crescimento da
economia.
Nesse aspecto, destaca-se a visão diametralmente oposta de Faria (2010), ao
afirmar que o êxito da mudança do papel do Estado foi evidenciado a partir da adoção
de políticas anticíclicas (como o PAC) para o enfrentamento da crise de 2008.
Entretanto, cabe destacar que a reorientação do papel do Estado, resgatando o
planejamento de longo prazo e sua maior participação nas diversas atividades
econômicas, não se deu nos moldes do Estado desenvolvimentista observado no
passado, uma vez que, segundo Faria (2010, p.77), a globalização financeira observada
nas últimas duas décadas constituiu um expressivo poder privado concentrado nas mãos
de poucas empresas transnacionais de modo jamais observado anteriormente, o que
dificulta a elaboração e execução de políticas públicas efetivas.
A esse novo período, denominado Novo-Desenvolvimentismo, cabe destacar as
seguintes funções a serem desempenhadas pelo Estado: a capacidade para regular a
economia, estimulando um mercado forte e um sistema financeiro a serviço do
desenvolvimento e não das atividades especulativas; fazer a gestão pública com
eficiência e responsabilidade perante a sociedade; implementar políticas
macroeconômicas defensivas e em favor do crescimento; adotar políticas que estimulem
a competitividade industrial e melhorem a inserção do país no comércio internacional; e
2 De acordo com essa concepção, bastava que se alcançasse a estabilidade macroeconômica e que o país possuísse um ambiente favorável aos negócios que estaria garantido o crescimento sustentado (Paulani, 2008, p. 2)
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adotar um sistema tributário progressivo, visando reduzir as desigualdades de renda
(Mattei, 2011, p.11).
A partir desse breve retrospecto sobre a atuação do Estado na economia
brasileira, observa-se que a criação de um programa como o PAC se constitui enquanto
uma tentativa de retomada do Estado na economia, através da realização de funções que
possuem como meta promover o crescimento do país a taxas mais elevadas.
3. O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO
Um dos gargalos existentes no Brasil diz respeito à sua infraestrutura: as
estradas possuem condições precárias, os portos são caracterizados pela baixa
profundidade, o que torna o transporte por esse meio mais lento e dispendioso, as
ferrovias não evoluíram e a crise aérea recente fez com que os aeroportos diminuíssem
sua eficiência. Diante desse cenário, a precariedade da logística brasileira acarreta
custos excedentes ao produtor, o que torna os preços dos produtos nacionais mais
elevados, ocasionando, com isso, a perda de competitividade no comércio mundial.
Com vistas a solucionar tal entrave ao crescimento econômico, o Governo
Federal lançou, em janeiro de 2007, o PAC, caracterizado por ser um conjunto de
políticas econômicas, orientadas para o período 2007-2010. Com isso, observa-se a
retomada do papel do Estado na economia, agindo como orientador dos investimentos,
realizando obras em infraestrutura que ocasionam efeitos de transbordamento para os
demais setores.
Com recursos que contemplam todas as regiões do país, sendo os maiores
volumes destinados ao Sudeste e ao Nordeste, o Programa apresentou como meta, o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 5,0% ao ano. No que tange à
sua atuação destacam-se cinco grandes blocos: investimento em infraestrutura, estímulo
ao crédito e ao financiamento, melhoria do ambiente do investimento, desoneração e
aperfeiçoamento do sistema tributário e realização de medidas fiscais de longo prazo.
O aumento dos investimentos na área de infraestrutura apresentou como
objetivos: a eliminação dos gargalos existentes que restringiam o crescimento
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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econômico; a redução dos custos e aumento da produtividade das empresas; o estímulo
ao investimento privado; e a redução das desigualdades regionais no Brasil.
Já as medidas de estímulo ao crédito e ao financiamento possuíam como
objetivo o aumento do volume de crédito, principalmente do habitacional e o de longo
prazo para investimentos em infraestrutura. Como medidas a serem adotadas com o
Programa, destacaram-se: a concessão pela União de crédito à Caixa Econômica Federal
para aplicação em saneamento e habitação; ampliação do limite de crédito do setor
público para investimentos em saneamento ambiental e habitação; criação do Fundo de
Investimento em Infraestrutura com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS); a elevação da liquidez do Fundo de Arrendamento Residencial; a
redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP); e a redução dos spreads do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (Brasil, 2007).
Quanto à melhora do ambiente de investimentos, o PAC incluiu medidas com a
finalidade de facilitar a implantação de investimentos em infraestrutura, principalmente
no que tange à questão ambiental, de aperfeiçoamento do marco regulatório e do
sistema de defesa da concorrência, assim como de incentivo ao desenvolvimento
regional através da recriação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE (idem).
Em se tratando da desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário, o PAC
propôs medidas de desoneração do investimento, principalmente em infraestrutura e
construção civil, com o objetivo de estimular o investimento privado, assim como
também incluiu medidas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e ao
fortalecimento das micro e pequenas empresas. Dentre as medidas a serem adotadas,
destacaram-se: a recuperação acelerada dos créditos do PIS e COFINS em edificações
(de 25 para 24 meses); a desoneração de obras de infraestrutura (suspensão da cobrança
de PIS/COFINS para novos projetos); a desoneração dos fundos de investimento em
infraestrutura (isenção de IRPF); o programa de incentivos ao setor de TV Digital
(isenção de IPI, PIS/COFINS e CIDE); o programa de incentivos ao setor de
semicondutores (isenção de IRPJ, IPI, PIS/COFINS e CIDE); o aumento do valor de
isenção para microcomputadores (de R$2,5 mil para R$4,0 mil); e a desoneração da
compra de perfis de aço (redução do IPI de 5% para zero). O PAC propôs ainda, quanto
ao aperfeiçoamento do sistema tributário, o aumento do prazo de recolhimento das
Atas Proceedings | 3263
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
9
contribuições (previdência do dia 2 para o dia 10 e PIS/COFINS do dia 15 para o dia
20) (ibidem).
Quanto às medidas fiscais de longo prazo, o PAC incluiu propostas direcionadas,
com destaque para o controle das despesas de pessoal, a criação da Política de Longo
Prazo de valorização do salário mínimo e a instituição do Fórum Nacional da
Previdência Social, incluindo ainda medidas de aperfeiçoamento da gestão pública
(ibidem).
Com medidas que contemplam desde a realização de obras em infraestrutura até
políticas de valorização do salário mínimo, o lançamento do PAC envolveu grande
ceticismo quanto ao alcance de suas metas e realização efetiva de suas propostas: os
céticos compartilhavam da opinião de que o montante de investimentos era insuficiente
para corrigir os grandes gargalos em infraestrutura existentes no país, afirmando que
seus impactos no crescimento do PIB seriam residuais. Já aqueles que possuem uma
opinião mais otimista em relação a esse conjunto de políticas econômicas, afirmam que
essa mudança de rumo na atuação estatal é positiva, pois mostra a preocupação do
Estado com a taxa de investimento do país, que é uma variável de grande importância
econômica, já que ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores, colaborando
para o melhor desempenho da economia.
Inicialmente foram previstos investimentos na ordem de R$503,9 bilhões, sendo
R$67,8 bilhões da competência do Orçamento Geral da União e R$436,1 bilhões das
Estatais federais e do setor privado sendo que, desse montante de recursos, 54,5%
destinava-se à infraestrutura energética (com vistas à geração e transmissão de energia
elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, combustíveis renováveis e gás
natural); 33,9% à área social e urbana (para a realização de investimentos nas áreas de
habitação, saneamento, recursos hídricos, metrôs e do Programa Luz para todos); e
11,6% à logística (com a finalidade de construir e expandir rodovias, portos, aeroportos,
hidrovias e ferrovias) 3 (Tabela 1), o que mostra a preocupação do Estado em resolver o
problema de energia existente no Brasil, já que a previsão era a de que mais da metade
do orçamento do PAC fosse direcionado para essa área.
3 Cabe ressaltar que em 2009 novos empreendimentos foram incluídos na proposta do PAC, elevando o montante de investimentos para R$646 bilhões a serem realizados até 2010, sendo que esse aumento correspondeu à elevação de: R$37,7 bilhões no setor de logística, R$20,2 bilhões no setor energético e R$84,2 bilhões no social e urbano.
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10
Tais recursos contemplavam todas as regiões do país, cujos maiores volumes
destinavam-se à região Sudeste – devido à grande saturação da infraestrutura existente,
e à região Nordeste (onde o Estado do Maranhão está inserido) – já que apresenta
condições de precariedade muito agravadas.
Tabela 1: Distribuição percentual do orçamento inicial do PAC, por regiões do Brasil.
Área Logística Energética Social e Urbana TotalNorte 1,3 6,5 2,4 10,1Nordeste 1,5 5,8 8,7 16,0Sudeste 1,6 16,0 8,3 25,9Sul 0,9 3,7 2,8 7,4Centro Oeste 0,8 2,3 1,7 4,8Nacional 5,6 20,2 10,0 35,8Total 11,6 54,5 33,9 100,0
Fonte: Ministério das Cidades
Assumindo uma posição crítica quanto à distribuição regional do orçamento do
PAC, Domingues et al. (2009) afirmam que a efetivação dos projetos previstos pelo
Programa poderia aumentar as desigualdades já existentes entre as regiões, já que o
montante de investimentos era diferenciado para cada área, sendo essa opinião
compartilhada por Leitão (2009) ao afirmar que
[...] o PAC corrobora a tradição do Estado brasileiro em atuar no território: sem plano, recheados de discursos deslocados da prática a que efetivamente se propõem, e das motivações em que de fato se baseiam. Esses mecanismos conformam a tradição da ação estatal no país no campo do desenvolvimento territorial e corroboram a tendência à reprodução de desigualdades regionais e sociais, e em última instância, à fragmentação do espaço nacional via investimentos de caráter espacialmente seletivo. (p. 230)
Com relação às medidas propostas pelo Programa, Kupfer (2007) afirma que não
podem ser encaradas como uma estratégia efetiva de crescimento econômico, já que se
constituem de uma compilação de ações que já haviam sido previstas por diversos
Ministérios e de investimentos que também já haviam sido anunciados pelas estatais.
Com uma avaliação semelhante, Leitão (2009) afirma que o Programa se constitui “...
de projetos que em grande medida estavam na “prateleira” dos órgãos de governo”
(Leitão, 2009, p. 221). Bedê (2008, p.39) corrobora com essa assertiva ao afirmar que
existem medidas anunciadas pelo Programa que já haviam sido adotadas antes do seu
anúncio ou que estavam em discussão no Congresso Nacional há bastante tempo, como
Atas Proceedings | 3265
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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a ampliação da oferta de crédito na economia, a redução da taxa de juros de longo
prazo, a redução dos spreads do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), a depreciação acelerada dos investimentos, a correção acelerada do
imposto de renda das pessoas físicas, a extinção da Rede Ferroviária Federal Sociedade
Anônima (RFFSA) e da Franave Companhia de Navegação do Rio São Francisco, além
do combate a fraudes da Previdência.
Assim, o autor afirma que as medidas previstas pelo Programa são tímidas e
pontuais e não contemplam ações mais contundentes sobre outras variáveis que afetam
o crescimento econômico, como a redução dos juros e dos impostos, a desvalorização
do câmbio, a realização de investimentos em mão de obra e a criação de um ambiente
favorável a inovações (Bedê, p.37), afirmando que o impacto mais positivo do PAC é
psicológico gerado com o próprio lançamento do programa.
No entanto, cabe destacar que apesar das várias críticas feitas ao Programa,
deve-se considerar que uma política em que o Estado prioriza investimentos em
infraestrutura ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores da economia,
colaborando para a obtenção de níveis mais elevados de crescimento econômico.
Nesse sentido, segundo Ricardo et al. (2008), “... o papel dos investimentos
públicos é criar nas regiões atrasadas atividades econômicas, com dinâmicas próprias
que tenham efeito multiplicador e/ou de transbordamento sobre as demais”. Para
corroborar, Domingues et al. (2009) afirmam que obras estruturantes nas áreas de
energia, transporte, comunicação, saneamento, etc., ocasionam efeitos positivos
imediatos sobre a produtividade dos investimentos privados, viabilizando retornos
maiores e novos projetos.
Nesse aspecto, Mesquita (2008) afirma que com o PAC e a atuação recente do
BNDES,
[...] o Governo Federal voltou a atuar de forma propositiva, induzindo e efetivando investimentos indispensáveis e fundamentais para assegurar níveis de investimento importantes que se consubstanciarão provavelmente num crescimento econômico mais efetivo do obtido entre os anos oitenta e noventa (p.47).
Entretanto, o que se observou ao longo do período de implementação do PAC
foi a baixa participação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) nas taxas de
crescimento do PIB brasileiro – enquanto este indicador correspondeu a 6,1% em 2007;
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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5,2% em 2008; -0,6% em 2009; e 7,5% em 2010, a participação da taxa de investimento
nesses resultados correspondeu a 1,3%; 1,6%; -4,5%; e 3,8%4, respectivamente.
A análise dos dados evidencia que apenas no ano de 2010 a FBKF contribuiu
fortemente para os resultados alcançados da taxa de crescimento do país, com a adoção
de medidas anticíclicas pelo Governo Federal, como o aumento da oferta de crédito
através da intermediação dos bancos públicos, ampliando também as linhas de
financiamento habitacional; as isenções fiscais sobre materiais de construção; a
continuidade e ampliação dos investimentos públicos em infraestrutura do PAC e em
habitação popular – através do Programa Minha Casa Minha Vida, inserido na proposta
do PAC; além da realização de investimentos para a Copa Mundial de Futebol de 2014
e para as Olimpíadas de 2016. Assim, observa-se que a atuação do PAC colaborou
positivamente para a recuperação econômica do país ao longo de 2010. Entretanto, cabe
destacar que o exame do desempenho do Programa no âmbito federal está fora do
escopo deste trabalho, cuja análise é dedicada apenas à sua performance no Estado do
Maranhão.
4. O DESEMPENHO DO PAC NO ESTADO DO MARANHÃO
O Maranhão é considerado um dos Estados mais pobres do país, com cerca de
1,6 milhão de domicílios abaixo da linha da pobreza5 e com o maior déficit habitacional
do país (cerca de 544 mil domicílios, segundo o Governo do Estado do Maranhão,
2012) em 2010, cuja desigualdade social e concentração de renda são marcantes. Possui
cerca de 6,7 milhões de habitantes, cuja economia é considerada uma das mais abertas
ao mercado externo do país.
Ao longo da última década (2000-2010) seu desempenho econômico apresentou
momentos distintos, dos quais se pode citar: o forte dinamismo entre 2003 e 2007 que,
segundo foi decorrente do maior aproveitamento do potencial agroexportador do
4 Dados extraídos do Ipeadata, referindo-se à contribuição da formação bruta do para o crescimento do PIB, disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em: 15 mar 2013. 5 Segundo o Censo Demográfico 2010 e através da classificação adotada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, cujo rendimento mensal per capita corresponde a até R$140,00
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Estado, principalmente no escoamento das commodities minerais e agrícolas, assim
como do aumento das transferências federais para os Governos estaduais e municipais e
da expansão do crédito público e privado; o biênio 2008-2009, marcado por uma
desaceleração em 2008 e forte queda em 2009, reflexo da crise internacional, que
ocasionou a redução das exportações do Estado; e o ano de 2010, caracterizado pela
recuperação da trajetória de crescimento da economia maranhense, em decorrência,
principalmente, da adoção do conjunto de políticas anticíclicas adotadas pelo Governo
Federal, com vistas a estimular o mercado interno (Gráfico 1).
18.48321.605
25.33528.620
31.60638.487 39.855
45.256
4,33
8,97
7,34
5,50
9,00
4,40
-1,73
8,70
-2,00
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Valores Correntes Variação Real
Gráfico 1. Evolução do PIB do Estado do Maranhão, em R$ milhões correntes e taxa de crescimento, entre 2003 e 2010. Fonte: IMESC/ IBGE. Elaboração: Matos (2012). Inserido no último triênio da série, o montante de investimentos previsto pelo
PAC correspondente a R$13,6 bilhões para o Estado, se mostrava capaz de contornar
alguns dos entraves ao desenvolvimento econômico local – frágil base produtiva, baixa
produtividade, precária infraestrutura e baixo nível de investimento que prevaleceu
durante seu processo histórico, além da elevada concentração de renda (Mesquita &
Paula, 2008) -, segundo o Governo Estadual, pois garantiriam o aumento do PIB e das
condições de vida da população, através do aumento do número de empregos e a
consequente elevação da renda no Maranhão.
Entretanto, do montante de recursos previsto pelo PAC, apenas 2,7% foi
destinado ao Estado, cujo maior volume de recursos direcionava-se à área de
infraestrutura energética (51,1%), seguido da área social e urbana (37,2%) e logística
(11,7%), respectivamente (Gráfico 2), evidenciando, portanto, que o foco do Programa
não se centrou na superação dos grandes gargalos existentes no Estado.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
14
11,7
51,1
37,2LogísticaEnergéticaSocial e Urbana
Gráfico 2: Distribuição percentual dos recursos previstos pelo PAC, entre 2007 e
2010, para o Estado do Maranhão, segundo a área beneficiada (logística, energética e social e urbana). Fonte: CGPAC – 11º Balanço. Elaboração própria.
Mesquita (2008) considera que o volume de recursos destinado ao Estado é
insignificante e se resume a poucas obras, afirmando que o impacto dos pequenos e
pontuais investimentos do Programa no crescimento econômico do Maranhão é mínimo.
Já Moura & Moura (2011, p. 121) consideram expressivo o montante de investimentos
destinado à economia maranhense, afirmando que a previsão é de que sejam
evidenciados grandes benefícios com o PAC, mas para a maior potencialização dos
resultados, deve-se incorporar ao Programa ações como incentivos à inovação, à
qualificação, à pesquisa e desenvolvimento, além da mudança no perfil de participação
das esferas regionais de poder, que devem deixar de lado a condição exclusiva de
parcerias em determinadas obras, para se colocar numa condição de
complementaridade, delineando políticas próprias que intensifiquem o desenvolvimento
de suas atividades.
É interessante destacar o pífio desempenho do PAC no Estado entre 2007 e
2010, já que apenas 44,1% do orçamento previsto foram realmente efetivados. Dos
quase R$ 6 bilhões executados pelo Programa no Maranhão, 56,9% foi gasto na área
social e urbana, 22,9% em logística e 20,2% em energética, respectivamente (Gráfico
3).
Atas Proceedings | 3269
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
15
22,9
20,256,9LogísticaEnergéticaSocial e Urbana
Gráfico 3: Distribuição percentual dos investimentos realizados pelo PAC no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Fonte: CGPAC. Elaboração própria.
Cabe destacar que as obras realizadas na área de infraestrutura logística se
resumiram à manutenção e sinalização de ferrovias, à realização de estudos para a
construção de rodovias, à recuperação do berço 102 do Porto do Itaqui, à duplicação do
acesso ao referido porto e à construção do trecho norte da Ferrovia Norte Sul,
beneficiando os Estados do Maranhão e Tocantins.
Do previsto para a área de infraestrutura energética, foram efetivados: a Brasil
Ecodiesel (R$54,6 milhões), as Usinas Termelétricas a óleo Nova Olinda (R$241,3
milhões) e Tocantinópolis (R$247,4 milhões), a criação de linhas de transmissão de
energia elétrica em São Luís (R$60,5 milhões), assim como de interligação Norte-
Nordeste (R$532,7 milhões) e a subestação Miranda (R$77,3 milhões).
Em se tratando dos investimentos em infraestrutura social e urbana, que versam
sobre a realização de melhorias nas condições de saneamento e habitação, o maior
volume de recursos foi efetivado na forma de empréstimos para pessoa física,
totalizando R$2,5 bilhões, seguido de R$ 492,1 milhões para urbanização e provisão
habitacional, R$7,6 milhões para saneamento e R$894,3 milhões em empreendimentos
de caráter exclusivo, com a conclusão de 249 mil ligações no Programa Luz para Todos
e o investimento de R$ 2 milhões na revitalização de bacias.
Do orçamento previsto para urbanização e provisão habitacional, apenas 1,6%
foi realmente efetivado no Estado, beneficiando apenas os municípios de Bacabal,
Buriticupu, Caxias, Codó, Matões do Norte, Primeira Cruz, Santa Luzia, São José de
Ribamar, Tuntum e Viana.
Assim, evidencia-se que o desempenho do PAC no Maranhão entre 2007 e 2010
ficou muito aquém do esperado, se resumindo à realização de obras com baixos
impactos para a economia local. Nesse sentido, apesar do ano de 2010 ter sido marcado
3270 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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por uma retomada da trajetória de crescimento econômico do Estado ao patamar
observado antes da crise econômica internacional, impulsionada pela execução das
obras do PAC, estas não foram realizadas num ritmo acelerado o suficiente para que
todo o investimento previsto saísse de fato do papel, fazendo com que fossem
postergados e incluídos na proposta da segunda versão do Programa, o PAC 2.
5. CONCLUSÃO
No atual contexto do Novo Desenvolvimentismo, no qual se observa a tentativa
de retomada de intervenção do Estado na economia brasileira, após longo período em
que sua atuação versava sobre a estabilidade inflacionária, o Governo Federal lançou o
PAC, com a meta de que o país exibisse taxas de crescimento em torno de 5,0% a.a.
entre 2007 e 2010, cujas medidas centrais focavam na realização de investimentos em
infraestrutura, no estímulo ao crédito e ao financiamento, na melhoria do ambiente do
investimento, na desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e na realização de
medidas fiscais de longo prazo.
O lançamento do Programa envolveu grande ceticismo quanto ao alcance de
suas metas e realização efetiva de suas propostas, já que para alguns autores o montante
de investimentos previsto, de R$503,9 bilhões, era insuficiente para corrigir os grandes
gargalos em infraestrutura existentes no país, assim como sua distribuição poderia fazer
com que se agravassem as desigualdades regionais. Já outros autores, cuja opinião se
mostrava mais otimista em relação ao PAC, afirmavam que essa mudança de rumo na
atuação estatal era positiva, pois evidenciava a preocupação do Estado com a taxa de
investimento do país, que é uma variável de grande importância econômica, já que
ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores, colaborando assim, para o
melhor desempenho da economia.
O que se observou no final do período de vigência do PAC, entretanto, foi a
baixa participação da FBKF nas taxas de crescimento do PIB entre 2007 e 2010, à
exceção do último ano, cuja adoção de políticas anticíclicas com vistas a estimular o
mercado interno – de onde se destaca a continuidade e ampliação dos investimentos
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públicos em infraestrutura do PAC e em habitação popular – através do Programa
Minha Casa Minha Vida - colaborou para que a participação da taxa de investimento no
crescimento econômico fosse bastante significativa - enquanto o PIB cresceu a 7,5% em
2010, a representatividade da FBKF nesse resultado foi equivalente a 3,8%, segundo o
Ipeadata.
No caso do Maranhão, o montante de recursos previsto pelo PAC se mostrou
bastante incipiente quando comparado a outras unidades da federação, correspondendo
a apenas 2,7% do total. Do orçamento previsto, a prioridade com os investimentos em
infraestrutura energética, correspondente a 51,1% do orçamento total previsto para o
Estado, mostrou certo grau de descompromisso do Programa com o desenvolvimento
local, já que o Maranhão é caracterizado por grandes bolsões de pobreza, com elevado
déficit habitacional e onde grande parcela dos domicílios ainda carece de condições
adequadas de saneamento e abastecimento de água, necessitando, portanto, de maiores
investimentos nessas áreas.
Em se tratando da efetividade das propostas previstas para o Estado, o
desempenho do PAC ficou muito aquém do esperado, já que apenas 44,1% do
orçamento previsto foi realmente executado e se resumiu à realização de obras de
baixos impactos para a economia maranhense, como a manutenção e sinalização de
rodovias; a realização de estudos para a construção de rodovias; a duplicação do acesso
ao Porto do Itaqui e a recuperação do berço 102; a construção do trecho norte da
Ferrovia Norte Sul; a Brasil Ecodiesel; as Usinas Termelétricas a óleo Nova Olinda e
Tocantinópolis; a criação de linhas de transmissão de energia elétrica em São Luís,
assim como de interligação Norte-Nordeste e a subestação Miranda; e a urbanização e
provisão habitacional nos municípios de Bacabal, Buriticupu, Caxias, Codó, Matões do
Norte, Primeira Cruz, Santa Luzia, São José de Ribamar, Tuntum e Viana.
É interessante destacar que, do orçamento executado do PAC no Maranhão, o
maior volume foi realizado na forma de empréstimo para pessoa física (R$2,5 bilhões),
direcionado ao segmento de habitação, cujo desempenho foi de grande importância, no
ano de 2010, para a retomada da trajetória de crescimento econômico do Estado ao
patamar observado antes de irromper a crise econômica internacional.
Destarte, apesar de a construção civil ter desempenhado um papel importante na
economia do Estado nos últimos anos, em que os investimentos do PAC foram
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relevantes, principalmente no ano de 2010, a baixa efetividade de suas propostas fez
com que o Programa, já envolto de grande ceticismo no Estado apresentasse um baixo
desempenho, de onde se pode inferir que sua participação nas taxas de crescimento
econômico do Estado do Maranhão tenham sido residuais durante o quatriênio, apesar
da sua maior relevância no ano de 2010, sendo esta pesquisa tema de trabalhos futuros.
6. AGRADECIMENTOS
A autora agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) pelo financiamento desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
O GRANDE CAPITAL NA AMAZÔNIA MARANHENSE E SEUS EFEITOS SOBRE AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DA
POPULAÇÃO: O CASO DE BURITICUPU – MARANHÃO.
NEEMIAS RODRIGUES LACERDA1 (1) Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão, mestrando do
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDSE) da UFMA, Professor do Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão/Campus Bacabal. E-mail: [email protected].
RESUMO O artigo busca mostrar que no contexto da atual fase de expansão capitalista, notadamente marcada pela internacionalização econômica, financeira e tecnológica, desenvolve-se em situação ainda mais perversas para as condições socioeconômicas da população da região denominada de Amazônia Maranhense ou “Pré-Amazônia”. O interesse do grande capital sobre a Amazônia não é uma novidade. Entretanto as formas que esse capital tem tomado na mais recente fase de expansão tem sido ainda mais perversa para as condições socioeconômicas da população em questão, em função do tipo de atividade de cada grupo e das técnicas aplicadas na exploração dos recursos. O trabalho analisa o caso do município de Buriticupu, onde se observa materializado a apropriação privada dos recursos naturais e sociais por essas grandes empresas e o agravamento das desigualdades socioeconômicas. Discute ainda os efeitos da atuação das grandes empresas na Pré-Amazônia, mesorregião Oeste do Maranhão, com especial destaque para o município de Buriticupu, que teve sua história ligada as aldeias indígenas (que ainda representam cerca de 11% do território) e a antigas ocupações de trabalhadores sem-terra. O trabalho busca expor, de maneira sintética, em forma de artigo o que representou, do ponto de vista socioeconômico, a chegada das grandes empresas para as comunidades da região em questão. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia, desenvolvimento socioeconômico, grande capital. P6 - Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende analisar como a atuação do grande capital nas
atividades do agronegócio, particularmente nas áreas de biocombustíveis e grãos, tem
repercutido nas questão socioeconomicas e ambientais na Amazônia, uma vez que os
dois aspectos estão intimamente relacionados, especialmente numa região onde as
atividades produtivas basicamente se desenvolvem apartir do potencial natural. O
incremento do desmatamento traz impactos significativos para as áreas tradicionalmente
voltadas a produção de alimentos básicos como é o caso da Amazônia. A presença do
grande capital na Amazônia não é um fato novo. Há experiencias de investimentos do
capital internacional na região no início de século XX, em 1923 já se registra a atuação
da Ford Motor Company na utilização extensas glebas de terras para a plantação de
seringueiras no estado do Pará, sem falar no ciclo da borracha no final do século XIX. O
avanço da agricultura capitalista continuou nos anos de 1970, entretanto, na Amazônia a
presença mais intensa dos grupos nacionais e internacionais ligados a essa forma de
agricultura ainda é recente e ganha relevância especialmente no século atual em razão
dos fatores de externos, como a elevação das taxas de crescimento das economias
chamadas emergentes, em especial a China, associada a facilidades internas, como os
incentivos fiscais e o financiamento público.
Essa atuação do grande capital sobre a Amazônia não deixa intacta a realidade
socioeconomica regional. Ela se revela nociva para os aspectos socioeconomicos e
ambientais, tornando cada vez mais dificil conciliar a agricultura familiar de
subsistencia voltada para a produção de alimentos básicos para a população com a
agricultura capitalista monocultora voltada para a produção de grãos e matérias-primas
industriais para exportação. A redução da produção de alimentos básicos da população
local, como o arroz e a mandioca, verificada neste cenário atual de expansão, coloca em
xeque uma dieta milenar herdada de comunidades tradicionais e povos indígenas, cuja face
se traduz em um número significativo da população abaixo da linha de pobreza. Outro
aspecto, não menos grave é a questão da (in)segurança alimentar que de agrava com a
substituição de alimentos por matérias-primas industriais direcionada ao mercado
internacional. A experiencia do municipio de Buriticupu, inserido na parte leste da
Amazônia, traduz de forma precisa esse processo e revela a face sombria da inserção da
região no locus privilegiado do agronegócio.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
2. INTERNACIONALIZAÇÃO ECONOMICA E A AMAZÔNIA
Ao se pensar na promoção do desenvolvimento socioeconômico de uma região,
torna-se necessário pensar sobre as possibilidades e limites dos projetos que venham a
ser sugeridos. Para alguns autores o desenvolvimento é uma ilusão, uma “armadilha
ideológica”, onde se constata que dificilmente um país mudará sua posição dentro dessa
hierarquia internacional. Só em alguns casos excepcionais isso pode ocorrer. (Arrighi,
1997). O mesmo afirma: As oportunidades de avanço econômico, tal como se apresentam serialmente para um Estado de cada vez, não constituem oportunidades equivalentes de avanço econômico para todos os Estados (...) porque se baseia em processos relacionais de exploração e processos relacionais de exclusão que pressupõem a reprodução contínua da pobreza da maioria da população mundial (Arrighi, 1997, p.217).
Com base na analise de realidades concretas, alguns pesquisadores tem apontado
para as impossibilidades históricas da generalização do desenvolvimento em escala
global. Um dos mais reconhecidos no Brasil é Celso Furtado. Analisando várias
contradições do sistema capitalista, o mesmo conclui que a distancia que separa os
países centrais dos chamados periféricos, ao invés de diminuir, tende a aumentar. Com
base nessas análises e outras considerações, conclui:
(...) a hipótese de generalização, no conjunto do sistema capitalista, das formas de consumo que prevalecem atualmente nos países cêntricos, não tem cabimento dentro das possibilidades evolutivas aparentes desse sistema... Temos assim a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável. (Furtado, 1974, p.75).
Na atual fase do capitalismo, marcada pela internacionalização econômica,
financeira e tecnológica, popularmente chamada de globalização, características que
passaram a ser cada vez mais nítidas após Segunda Guerra Mundial, e vistas como uma
das características da fase do capitalismo denominado de tardio (Mandel, 1985), o poder
de decisão das escalas nacionais sobre os espaços nacionais, ficou ainda mais frágil.
Ainda mais ao se considerar países de dimensões continentais, como é o caso do Brasil.
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Essas transformações, nas palavras de Mandel, permitiram um “novo salto para
a concentração de capitais e a internacionalização da produção” (Mandel, 1985).
Ficaram cada vez mais nítidas as forças produtivas se sobrepondo ao controle do
Estado. A internacionalização da produção atua no sentido de diminuir o poder do
Estado para que o fluxo de mercadorias, capitais, pessoas, entre outras coisas possam
fluir livremente. Os efeitos das transformações do capitalismo mundial são facilmente
visualizadas na região amazônica. A região também se apresenta como um recorte
espacial dessa generalização apontada pelos autores citados anteriormente.
A analise dos efeitos da internacionalização economica na Amazônia Legal1,
carece, de forma introdutória, de uma consideração sobre o processo de ocupação da
mesma, uma vez que esse processo está ligado a ação estatal promovendo
gradativamente acesso para o grande capital dos recursos naturais da região. A
ocupação da Amazônia fornece um bom exemplo da produção e reprodução do espaço
produtivo. Na valorização produtiva do espaço é preciso viabilizar a reprodução das
condições de produção e nelas entram as práticas geralmente realizadas pelo Estado ou
por grandes corporações (Corrêa, 2008).
As políticas territoriais na Amazônia durante o regime militar passaram a
considerar a região como um espaço de fronteira em pelo menos três sentidos: político,
populacional e do capital. No sentido político, a região compreenderia as áreas da
soberania formal do Estado brasileiro, mas que ainda não estava efetivado. Seriam as
fronteiras com os outros sete países que integram a Amazônia Internacional: Bolívia,
Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território além-mar
da França). Conquistar a Amazônia, portanto, implicaria em estabelecer as bases para o
exercício efetivo do poder do Estado nas áreas fronteiriças.
No sentido populacional a região representava a área de destino dos fluxos
migratórios que saiam do Nordeste e Centro-sul que, na visão dos governos militares, já 1 Trata-se de uma região de planejamento apesar da consideração dos elementos naturais na sua configuração. Em 1953, criou-se a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), por meio da Lei 1.806 de 06 de janeiro de 1953, órgão federal que coordenaria os planos governamentais para a região, iniciando o planejamento regional para a Amazônia. A mesma lei definiu a região que passou a ser denominada Amazônia Brasileira, abrangendo os estados do Amazonas e Pará, os então territórios do Acre, Amapá, Guaporé (hoje Rondônia) e Rio Branco (hoje Roraima), além do oeste do Maranhão (a oeste do meridiano 44ºW), norte do Goiás (ao norte do paralelo 13ºS, hoje o Tocantins) e Mato Grosso (ao norte do paralelo 16ºS). Em 1966, a Lei 5.173 de 27 de outubro 1966, extinguiu o SPVEA e criou Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), redefinindo a Amazônia Brasileira, incorporando o estado do Mato Grosso e a parte oeste do estado do Maranhão (a oeste do meridiano 44ºW) e passando a denominá-lade Amazônia Legal.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
experimentavam um excedente populacional. E no sentido de espaço de fronteira do
capital, a região serviria para atrair os investimentos transnacionais e nacionais para a
agropecuária, mineração e indústria. Era papel, então da SUDAM transformar a região
da Amazônia Legal no espaço dos investimentos advindos dos recursos públicos e
também privados viabilizados pela isenção fiscal ou empréstimos subsidiados.
O processo de conquista da região amazônica se deu a partir de dois vetores de
ocupação: um ocidental e outro, oriental, acabando por produzir uma diferenciação cada
vez mais acentuada entre essas duas partes. A parte ocidental2, ainda apresenta
paisagens naturais pouco alteradas. As mais sensíveis modificações estão associadas ao
eixo viário que interliga o Brasil central e o Acre passando por Rondônia. O
desmatamento dessa área se relaciona à expansão da fronteira agrícola. Apresenta
também certo grau de antropismo as áreas próximas a Manaus.
O vetor oriental3 se estruturou a partir da década de 1960, pelo eixo viário Belém
– Brasília e nas décadas posteriores pela exploração mineral em Carajás, que levou a
implantação da logística para essa finalidade: construção da estrada de ferro Carajás,
porto do Itaqui, em São Luís no Maranhão e a hidrelétrica de Tucuruí no Pará. O
povoamento por esse vetor se deu com núcleos de intensa alteração das paisagens
naturais.
A ocupação esteve ligada a ação do governo brasileiro durante os anos do
regime militar, principalmente após o ano de 1970, por meio do Projeto de Integração
Nacional (PIN), justificado supostamente pela necessidade de “levar os homens sem
terra do Nordeste para as terras sem homens da Amazônia”.
As chamadas frentes pioneiras se dão com iniciativas oficiais e particulares de
colonização de novas áreas. As políticas territoriais, com base nessas frentes, na
Amazônia, destacadamente nas décadas de 1960 e 1970, tornam os agricultores
proprietários de terras e, com raras exceções, a produção é voltada para o mercado. A
terra transforma-se numa mercadoria que passa a ser violentamente disputada. Introduz-
se com essas frentes, os mecanismos de valorização fundiária e especulação,
característicos do mercado de terras capitalista. Além disso, no caso em questão, não
houve preocupação com o ambiente natural. A falta de consideração com as questões
ambientais trouxe suas consequências, mesmo porque não há como se eximir deles. 2 Formada pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, 3 Área que corresponde aos estados do Pará, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e o oeste do Maranhão.
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Nenhuma política territorial escapa de repercussões ambientais, uma vez que sempre diz respeito a como homens e as mulheres são movimentados a se organizarem no espaço e assim organizá-lo (Costa, 2011, p. 87).
É possível se identificar, assim, pelo menos dois padrões de organização do
espaço geográfico amazônico, que acabou por produzir, ou reforçar as diferenças nas
paisagens atuais na região: o padrão de organização espacial rio-varzea-floresta e o
padrão estrada-terra firme-subsolo (Gonçalves, 2008).
Cada um desses padrões foi sendo criado ao longo da formação sociogeográfica do mundo moderno e contemporâneo e é a materialização, na Amazônia, dos conflitos de interesses entre diferentes segmentos e classes sociais que, estando ou não localizados na região, imprimiram suas marcas (grafias) a essa terra (geo), geografando-a. (Gonçalves, 2008, p. 79).
As transformações em curso na Amazônia Legal, não devem ser consideradas
apenas reflexo da globalização. A dinâmica do final do século XX trouxe grandes
transformações na estrutura da região, que geram uma tendência a alteração de seu
papel no cenário nacional e internacional (Becker, 2009). Há duas características que se
destacam em relação a ocupação da Amazônia Legal: o primeiro trata-se do padrão
linear da ocupação, que seguiu os eixos de integração terrestres e fluviais, onde se
concentram os investimentos públicos e privados e onde a concentração da população é
maior e, portanto, a pressão sobre o ambiente é mais forte em termos de desmatamento
(Becker, 1998). O segundo, a formação de um grande arco de povoamento
acompanhando a borda da floresta. Sobre esse grande arco afirma: Por ter sido a grande área de expansão da fronteira, onde se sucedeu durante décadas, abrindo novos espaços, a reprodução do ciclo expansão da pecuária/exploração da madeira/desflorestamento/queimada, este grande arco povoado passou a ser denominado “Arco do Fogo”, ou “do Desmatamento”, ou “de Terras Degradadas”. Hoje, é ainda no contato deste arco com a floresta que se concentra o desmatamento na Amazônia. (Becker, 2009, p. 76).
Até por volta de meados da decada de 1980, as atividades agropecuárias voltadas
para a produção capitalista, que foram incentivados pela SUDAM eram restritos na
Amazônia, predominava a agricultura familiar e suas atividades relacionadas
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
extrativismo da madeira, castanha e pesca (Mesquita, 2009). A opção do Estado
Brasileiro pela ocupação e integração privilegiando pelo grande capital prejudicou a
produção familiar e produziu mudanças na organização da produção em termos
espaciais e estruturais que continua em andamento até a presente data.
3. EFEITOS DO GRANDE CAPITAL NA AMAZÔNIA SOBRE AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS
A maior abertura comercial, a partir da década de 90, acarretou grandes
transformações na configuração socioespacial na Amazônia brasileira, como
decorrência da produção de commodities. Consequentemente, isso acabou gerando
impactos no ordenamento das atividades econômicas da Amazônia com implicações
ambientais e sociais, em virtude da rápida expansão das áreas destinadas à produção de
commodities, cuja função foi atender a demanda externa.
Ao longo das últimas décadas, o crescimento da demanda internacional por
produtos agrícolas ocorreu num contexto de grande pressão para que os países
emergentes adotassem políticas econômicas favoráveis ao livre comércio.
Logicamente, para atender essa demanda crescente, foi necessário o aumento da oferta
desses produtos e, por conseguinte, culturas alimentares foram impactadas
negativamente, em favorecimento dos monocultivos de grãos e de outras commodities
para o abastecimento do mercado internacional. A TABELA 1 abaixo esse impacto.
TABELA 1 - Área plantada de arroz e soja na Amazônia Legal entre 1995 e 2010 (%).
Brasil e Unidades da
federação
Área plantada Arroz Área plantada Soja
1995 2000 2005 2010 1995 2000 2005 2010 Brasil 9,62 8,13 6,9 4,7 25,46 30,05 40,42 39,52 Rondônia 27,6 28,1 24,73 14,98 0,84 3,44 19,49 26,95 Acre 32,94 27,49 23,17 14,7 - - 0,05 0,09 Amazonas 9,29 11,63 7,43 3,31 - 0,71 1,37 0,13 Roraima 45,09 42,65 40,46 44,43 - - 22,44 4,01 Pará 25,06 27,11 28,12 15,99 - 0,2 6,44 10,77 Amapá 20,19 14,36 22,15 17,23 - - - - Tocantins 57,47 51,27 28,99 20,77 6,91 19,97 51,71 53,13 Maranhão 39,6 39,45 33,29 27,84 4,43 14,72 23,17 28,66 Mato Grosso 12,22 14,76 9,53 2,51 67,6 61,23 68,2 66,38
Fonte: IBGE, 2013.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
A analise da TABELA 1 anterior evidencia exatamente esse movimento. Nota-se
que as áreas de cultivo de arroz (alimentos básicos) sofreram nitidamente uma redução,
enquanto que as áreas de cultivo de soja, ampliaram-se, com execessão dos estados do
Amazonas, Roraima.
Pode se observar que a política neoliberal no Brasil foi notadamente direcionada
para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração
mineral, essencialmente na Amazônia (Mesquita, 2009). No momento em que a política
de desenvolvimento regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na
Amazônia avançou de forma seletiva. Sendo assim, segundo o mesmo autor, foi a partir
da década de 1990, que a dinâmica da economia regional já não dependia
fundamentalmente da ação do Estado, encontrando-se mais fortemente vinculada à
lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de commodities. Dessa
forma, a partir daquela década, a pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se
diferenciar das demais atividades, especialmente as baseadas na unidade familiar de
produção.
De um modo geral, a Amazônia passou por significativas alterações nos diversos
aspectos, sejam eles ambientais, sociais ou demográficos. Grandes, médias e pequenas
cidades surgiram naquilo que os planejadores chamaram de vazio demográfico. A
dinâmica produtiva não se limita mais somente pelas atividades extrativistas, pois um
grande leque de atividades capitalistas se faz presente, de modo que há substancial
alteração na relação capital-trabalho. As alterações ambientais associam-se ao
desflorestamento (GRÁFICO 1).
GRÁFICO 1: Desflorestamento bruto acumulado na Amazônia Legal (km²)
Fonte: IBGE, 2013.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
Ao se analisar o desflorestamento nas últimas décadas, partindo dos dados do
IBGE/INPE, é possível chegar a algumas constatações, do ponto de vista de sua
espacialização, mesmo que de forma preliminar. Primeiro, apesar do desflorestamento
bruto ter aumentado (conforme gráfico 1), o mesmo se concentrou em áreas já
desflorestadas, a uma distancia de aproximadamente 100 Km das principais rodovias.
Uma rede de transporte é fundamental para que amplas áreas sejam mobilizadas
para as atividade econômicas, por isso, em linhas gerais, as áreas de expansão da
fronteira agropecuária situam-se nos eixos das principais rodovias que cortam a
Amazônia Legal: a BR-364, a BR-163, a Transamazônica, a Belém-Brasília e as
rodovias estaduais PA-150 e MT-138. Segundo, as áreas pouco atingidas pelas rodovias
apresentam taxas de desmatamento mais baixas e até certo ponto ainda estáveis e por
último, as áreas fortemente afetadas pelas rodovias na parte leste da Amazônia, são
aquelas que apresentam os mais elevados índices de desflorestamento. Nota-se, pela
analise do gráfico 2 que ocorre uma redução, entre 2005 e 2010, indicando que o
desmatamento não avaçou para novas áreas, entretanto, é bom destacar que estados
Rodônia e Mato Grosso tiveram uma redução mais expressiva em relação a expansão do
desflorestamento para novas áreas, mas são estados já quase que integralmente voltados
para a pecuária e produção de grãos.
GRÁFICO 2:Taxas estimadas de desflorestamento bruto anual em relação à área total das Unidades da Federação que formam a Amazônia Legal (%)
Fonte: IBGE, 2013.
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Apesar do ritmo de crescimento econômico bastante significativo, o mesmo não
permite que haja melhor distribuição dos resultados para a maioria da população. Pelo
contrário, grande parte dela fica à margem desse desenvolvimento, cuja face oposta se
expressa numa crise social e numa crise ambiental desconsiderados pelos mecanismos
de funcionamento de mercado, particularmente o agronegócio, vinculado às atividades
de soja, eucalipto, dendê e pecuária.
O crescimento do agronegócio ao burlar constantemente a legislação ambiental
se apóia fortemente no financiamento público, notadamente, Banco do Brasil e BNDES
e pela demanda externa de países emergentes, como a China. Consequentemente, isso
precariza as condições de vida da população local, o que acaba contribuindo para a
queda de produção de alimentos, além de gerar vulnerabilidade e exclusão social. Isso
significa que apesar da Amazônia estar inserida num contexto de globalização, os
investimentos são realizados em indústrias extrativistas, intensivas em capital e que
pouco agregam a economia local, porque estão voltadas principalmente para o mercado
externo (Mesquita, 2011).
Sendo assim, este cenário reforça a funcionalidade da economia, a qual a
Amazônia está inserida, no caso, ao suprimento dos mercados globais de commodities
minerais, metálicos e agrícolas (proteína animal e vegetal, em especial). Dessa forma, a
economia brasileira e amazônica se posiciona na inércia de um atrativo mercado global
de commodities, com forte protagonismo do capital financeiro, incluindo o
especulativo. Notoriamente, esse processo impacta desfavoravelmente a produção de
alimentos no país
4. O CASO DE BURITICUPU NO MARANHÃO COMO MANIFESTAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO GRANDE CAPITAL SOBRE A AMAZÔNIA.
As terras que hoje configuram o município de Buriticupu eram habitadas pelos
Guajá e Tupi-Guarani, a que se juntaram os Guajajara, na década de 1940. O local fazia
parte do município de Santa Luzia (Aguiar, 2005). O nome do lugar se refere ao grande
número de plantas de duas espécies – buriti e cupuaçu – nas margens do Rio Buriticupu,
afluente do rio Pindaré. Buriticupu está às margens da BR-222, que liga o interior a São
Luís. Fica a 405 quilômetros da capital. A Estrada de Ferro Carajás tem um trecho de
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
34,8 quilômetros de trilhos que atravessa o município, passando a 12 quilômetros da
área urbana, e possui parada na localidade de Presa de Porco.
Essas informações que, aparentemente parecem apenas descreverem a situação
geográfica municipal, serve para sinalizar os interesses econômicos que giram em torno
do município. O crescimento econômico experimentado pelo município esteve sempre
associado a extração da madeira e agropecuária. Da década de 1970 aos dias atuais o
município experimentou um crescimento econômico e populacional expressivo, com
base no interesse pelo extrativismo florestal desenvolvido junto com a pecuária.
Buriticupu já é o 15º maior município, em termos populacionais do Maranhão (Ibge,
2000), entretanto as condições de vida continuam muito abaixo do esperado. Segundo
dados do PNUD o IDH-M do município é de 0, 595, inferior a média do nordeste que é
de 0,610. Dos 217 municípios do Maranhão, Buriticupu ocupa a 71ª colocação (Pnud,
2000). Essa realidade não é exclusividade de Buriticupu. Boa parte dos municípios que
integram esse chamado “Eixo de Integração Nacional”, localizados na pré-Amazônia
maranhense, ou mesmo na Amazônia, vivem a mesma situação. Isso para não falar em
outros casos em outras regiões.
Nos anos 1970, atraídos pelo Projeto Pioneiro de Colonização de Buriticupu, na
gestão do governador Pedro Neiva de Santana (Aguiar, 2005). Pequenos produtores
rurais sem terra de outras regiões do Maranhão e do Brasil, que eram explorados por
grandes latifundiários, foram trazidos para dar início ao Projeto Pioneiro de
Colonização. O interesse na região era o extrativismo florestal, que se desenvolveu
junto com a pecuária. Buriticupu viveu muitos conflitos de terra, intensificados no fim
da década de 1980, antes da conquista da autonomia municipal, em 1994. O município
foi um dos primeiros no Maranhão a ter fazendas ocupadas por trabalhadores sem-terra.
Atualmente possui dez assentamentos rurais, que totalizam mais de 123 mil hectares
(48% do território local) e têm 87% dos 4.188 lotes ocupados.
A extração da madeira ainda é a principal atividade econômica de Buriticupu. Às
margens da BR-222, funcionam cerca de 40 estabelecimentos industriais, comerciais e
de serviços ligados à exploração madeireira, segundo o estudo realizado pela vale e
publicado com o título Um olhar sobre Buriticupu - Maranhão. O município apresenta
um dos maiores índices de desflorestamento do estado do Maranhão, 71% de sua área já
desmatada (Inpe, 2013) e, por não ter mais suporte para obtenção de matéria-prima para
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as atividades madeireiras, tornou-se foco de pressão sobre a Reserva Biólogica do
Gurupi e as áreas indígenas situadas a oeste e noroeste do estado do Maranhão.
Essas informações socioeconomicas evidenciam com clareza a rede de interesses
em torno do municipio de Buriticupu, o que na realidade não se trata de interesse estrito
sobre o municipio e sim sobre toda a mesoregioão oeste do Maranhão que tem, de
maneral geral, as mesmas caracteristicas socioeconomicas.
4. CONCLUSÕES
Mesmo em caráter provisório creio que com essas considerações é possível
concluir que as transformações produtivas que ocorre na Amazônia Legal é decorrente,
principalmente, da sua integração com o comércio internacional, impulsionadas,
sobretudo, pelas políticas neoliberais a partir da década de 90 e pelas políticas de cunho
estatal, sobretudo, no que se refere ás políticas de financiamento ao agronegócio. Dessa
forma, contribui para que ocorra um desenvolvimento intrarregional desigual entre os
Estados Amazônicos, uma vez que, as atividades produtivas ligadas ao agronegócio não
possuem a mesma dinâmica em determinadas localidades, o que acaba impactando
negativamente a agricultura familiar, marginalizando os pequenos produtores e
excluindo-os desse processo de globalização e retirando deles a sua sobrevivência.
Diante da maior inserção da região Amazônica ao cenário internacional, é
possível identifica as transformações relativas ao perfil produtivo dos Estados da
Amazônia Legal, impactando desfavoravelmente a dinâmica da agricultura familiar. Se
antes eram as atividades extrativistas que caracterizavam o perfil produtivo daqueles
estados, atualmente a dinâmica é decorrente de atividades ligadas ao agronegócio,
especialmente à cultura de soja e à pecuária. Nota-se uma redução bastante significativa
da cultura do arroz na Amazônia Legal em detrimento da expansão da soja nos
respectivos Estados, elucidando que o grande capital passa a financiar e a determinar os
ditames produtivos na região. Logicamente, que esse processo não é benéfico para a
Amazônia, pois esse fenômeno não considera as especificidades locais o que acaba por
reforçar as desigualdades já existentes no desenvolvimento intrarregional.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Isaias Neres. (2005). Buriticupu: sua história, geografia e características gerais – do antigo Projeto de Colonização ao progressista município maranhense. Gráfica e Editora Tauá (2ª. ed.) São Luís. ARRIGHI, Giovanni. (1997). A ilusão do desenvolvimento. Ed. Vozes, Petrópolis - Rio de Janeiro. ATLAS do Desenvolvimento Humano. PNUD. (2000) Disponível em http://www.pnud.org.br/atlas/tabelas/index.php, acessado em 30/06/2013. BECKER, Bertha K. (1998). A especificidade do urbano na Amazônia (Mímeo). Brásília, Secretaria de Coordenação da Amazônia/MMA, Brasília. ________. (2009). Amazônia: Geopolítica na virada do III milênio. Ed. Garamond, Rio de Janeiro. CORRÊA, Roberto Lobato. (2008). Espaço: um conceito chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias de. Et all (org.). Geografia: conceitos e temas. Ed. Bertrand Brasil (11ª ed.), Rio de Janeiro. COSTA, Jodival Maurício da. (2011). Atualidade das políticas territoriais na Amazônia Oriental: questões sobre meio ambiente e ordenação territorial em Carajás. In: NETO, Joaquim Shiraishi. Et all (org.). Meio Ambiente, Território e Práticas Jurídicas: enredos em conflitos. EDUFMA, São Luís. FURTADO, Celso. (1974). O Mito do Desenvolvimento econômico. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. (2008). Amazônia, Amazônias. Ed. Contexto (2ª. ed.), Rio de Janeiro. IBGE. Sistema de Recuperação Automática SIDRA. (2013). Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/carto.asp?func=imp&z=t&o=10&i=P (acesso em 7 de julho de 2013). MANDEL, Ernest. (1985). Capitalismo tardio. Ed. Nova Cultural, São Paulo. MESQUITA, Benjamin Alvino de. (2011). Conflitos territoriais na Amazônia na “Era do capital. In: NETO, Joaquim Shiraishi. Et all (org.). Meio Ambiente, Território e Práticas Jurídicas: enredos em conflitos. EDUFMA, São Luís. _________, Benjamin Alvino de. (2009). Demanda por alimentos e as consequências na Amazônia brasileira “sucesso” do agronegócio e tragédia do desmatamento. In: 12ª Encuentro de Geógrafos de América Latina; Montevidéu, Uruguai (on line). Disponível
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
em http://egal2009.easyplanners.info/area07/7584_Mesquita_Benjamin_Alvino_de.pdf (acesso em: 5 de julho 2013).
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
1
Novos Investimentos no Maranhão: um cenário desenvolvimentista?
Msc. Fabiana Araujo Diniz. Bolsista CAPES. Doutoranda em
Desenvolvimento Regional e Urbano (DRU). Programa de Pós Graduação em
Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Endereço eletrônico: [email protected]
Mini-Curículo: Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal
do Maranhão (2006) e mestrado na área de Desenvolvimento Regional e Urbano
(Formação Sócio Espacial: Mundo/Brasil/Regiões) pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2009). Atualmente é Doutoranda na área de Desenvolvimento Regional e
Urbano (Formação Sócio Espacial: Mundo/Brasil/Regiões) pela Universidade Federal
de Santa Catarina (2012-2016). Atuando principalmente nos seguintes temas: Economia
Brasileira e Economia Regional.
3290 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
2
NOVOS INVESTIMENTOS NO MARANHÃO: UM CENÁRIO
DESENVOLVIMENTISTA?
Resumo: Este artigo se propõe analisar o atual desenvolvimento econômico do Estado
do Maranhão, com as novas promessas de investimentos que ocorrerão entre os anos de
2010 a 2016. Para tanto é necessário resgatar o pensamento de Celso Furtado sobre
desenvolvimento e planejamento regional, esta abordagem irá permitir visualizar o atual
estágio econômico e social do Nordeste e do Estado do Maranhão, com seus entraves e
possíveis avanços, inseridos em uma perspectiva desenvolvimentista.
Palavras-chave: Maranhão, Nordeste, Novos Investimentos, “novo
desenvolvimentismo”.
1 Introdução
Ao longo dos anos 1930-1980 a concentração industrial brasileira na região
Sudeste proporcionou à região Nordeste um dos principais entraves para seu
desenvolvimento, gerando grandes desigualdades econômicas e sociais. Neste período
observou-se no modelo nacional desenvolvimentista, o foco era consolidar o processo
de industrialização, assim o Estado era o promotor do desenvolvimento, mas não
transformador das relações da sociedade e muito menos redutor das desigualdades
regionais.
O Brasil do século XX foi desenvolvimentista, mas também um grande agente
da concentração regional e de renda, não houve um Estado do bem-estar social, e as
desigualdades tanto regionais como econômicas e sociais só acentuaram. No século XXI
o Brasil ensaia novamente um modelo desenvolvimentista, principalmente com avanços
em setores importantes da indústria e da sociedade. Neste sentido, para dar um enfoque
teórico, será apresentado os pilares desta nova corrente do desenvolvimentismo e seu
desenvolvimento histórico no Brasil, fazendo uma distinção do “nacional
Atas Proceedings | 3291
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
3
desenvolvimentismo” e da ortodoxia convencional, objetivando elencar as
características deste “novo desenvolvimentismo”. A abordagem teórica dos principais
pensadores do “novo desenvolvimentismo”, sobretudo com uma estratégia nacional de
desenvolvimento são as referências para um projeto Nacional de Desenvolvimento.
Dados recentes da região Nordeste demonstram uma sensível melhoria na
economia e no aspecto social, retirando progressivamente a imagem nordestina como
apêndice do desenvolvimento nacional. A mudança histórica do papel do Estado da
economia brasileira no século XXI (anos 2000), com o “novo desenvolvimentismo”
revela melhorias e redução das desigualdades, entretanto ainda há um longo período a
percorrer. As novas políticas nacionais devem também atender as políticas de
desenvolvimento regional, sobretudo na região Nordeste.
O Maranhão considerado um dos estados mais pobres da federação, com os
índices mais baixos de desenvolvimento, ensaia seu crescimento econômico e social,
através das promessas de novos investimentos no período de 2010 a 2016. Estes novos
investimentos compreende o complexo Minerometalúrgico (na região oeste –
Açailândia, imperatriz e Santa Inês), o Agronegócio (na região Sul – Balsas e Riachão)
e as Indústrias de Alumínio, minério de ferro e de petróleo (na região norte, em torno de
São Luís).
O objetivo do artigo é investigar via pensamento “novo desenvolvimentista” e
políticas regionais para o Nordeste propostas por Celso Furtado, que também
influenciam sobremaneira este novo pensamento de desenvolvimento brasileiro, se o
que está acontecendo no Brasil e no Maranhão é uma nova fase desenvolvimentista. E a
partir desta análise perceber os limites teóricos e práticos desde novo pensamento, e,
sobretudo, como objetivo maior verificar os possíveis entraves e avanços da economia
maranhense diante desta nova fase da economia brasileira, que no Maranhão se
manifesta com as promessas de novos investimentos.
Este artigo além da introdução e conclusão terá 4 seções, o debate teórico “novo
desenvolvimentista” será discutido na segunda seção deste artigo. Na seção 3, faz-se um
resgate do pensamento de Celso Furtado das políticas de desenvolvimento para o
Nordeste. Por fim, nas seções 4 e 5, e como objetivo maior, tratará do desenvolvimento
econômico e social do Maranhão dentro de uma perspectiva histórica (Formação
Economia e Social do Maranhão), e no período atual com advento dos novos
3292 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
4
investimentos. Para tanto, foi realizado uma atualização de dados sobre os
investimentos preteridos, o produto interno bruto e indicadores sociais. Será realizada
uma análise para verificar que se os investimentos em curso no Estado do Maranhão
representam um modelo “novo desenvolvimentista” em curso.
2 Estado e o “novo desenvolvimentismo”
A análise do desenvolvimento econômico e social no Brasil deve ter como base
estrutural uma relação entre o Estado e o desenvolvimento, em que participação ativa do
Estado (Estado-nação) é premissa para o desenvolvimento econômico.
Para a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) o caso
brasileiro é considerado um dos mais bem-sucedidos projetos latino-americano de
desenvolvimento nacional, no período de 1930 a 1960, o Estado foi um fator de
desenvolvimento econômico e social, com taxas elevadas de crescimento econômico. O
Brasil altera sua estrutura econômica por meio do pensamento desenvolvimentista
saindo de uma base agrário-exportadora para uma base urbano-industrial.
Neste período o “desenvolvimentismo” ou “nacional desenvolvimentismo”
tinham com influências diretas três correntes teóricas: a teoria econômica clássica
(Adam Smith e Marx), a macroeconomia (Keynes e Kalecki) e a teoria estruturalista
latino americana, que foram as inspirações para a formulação das estratégias nacionais
de desenvolvimento, tendo com pilares a proteção da indústria nacional e a promoção da
poupança forçada do Estado. O objetivo não era substituir o mercado, pelo Estado, mas
sim fortalecer o Estado e dar condições para as empresas se inserirem no mercado
competitivo, com inovação e investimentos.
A partir dos anos 70 com o processo de globalização, o Estado entre em crise
(baixo crescimento econômico, elevado desemprego, aumento da inflação) e as
reformas neoliberais orientado para o mercado e Estado mínimo foi o remédio
receitado. Na década de 1980, o receituário da ortodoxia convencional e as reformas
institucionais neoliberais, levaram o Brasil ao auge da crise da dívida com altas taxas de
inflação.
Historicamente a participação do Estado no Brasil se torna um desafio na década
de 1990 e se constatou que estas reformas eram inviáveis e que era urgente a reforma ou
Atas Proceedings | 3293
Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
5
reconstrução do Estado no sentido de ampliar a função do Estado em garantir os direitos
sociais e promover a competividade do seu país.
O próprio fracasso das políticas neoliberais foi um impulso para renascer o
“novo desenvolvimentismo”, mas agora como uma estratégia nacional de
desenvolvimento, reforçando a ideia de Estado-nação e objetivando principalmente a
rejeição das reformas ditada pelos países ricos de cunho neoliberal (ortodoxia
convencional) que tornava o Brasil em uma situação de dependência.
As diferenças entre o discurso do novo desenvolvimentismo com o antigo-
desenvolvimentismo e a ortodoxia convencional, permite visualizar os pontos centrais
desta nova proposta de desenvolvimento. Enquanto que no antigo-desenvolvimentismo
(nacional desenvolvimentismo) o Estado tinha a função de provedor total do
desenvolvimento (poupança forçada e investimento das empresas), era protecionista e
pessimista, a indústria era infante e tinham complacência com a inflação, no “novo
desenvolvimentismo” o Estado tem papel subsidiário fortalecendo o Estado e
promovendo mercado, direciona suas exportações para exterior com produtos de alto
valor agregado e taxas de câmbio administrada e desvalorizada com uma indústria
agora madura, tendo um crescimento econômico sem se basear em demanda e déficit
público e não tem tolerância com a inflação (BRESSER-PEREIRA, 2006)
Recentemente, mais precisamente nos anos 2000, se percebe que os resultados
das políticas atuais, sobretudo as monetárias e fiscais de cunho heterodoxo (menos
rígida) tem se revelado menos restritiva, mesmo que haja a defesa por alguns autores de
que não há ruptura do modelo neoliberal 1. Entretanto, sobretudo no atual governo
Dilma há uma mudança em que coloca o Estado com propagador do crescimento
econômico. Ensaia-se uma nova estratégia de desenvolvimento, com o ressurgimento de
estratégias neste atual momento desenvolvimentista, mesmo que ainda não sejam
satisfatórias.
Para Bielschowsky (2012), a melhoria do bem-estar da população brasileira nos
anos recentes é resultado das tentativas de implantar o “novo desenvolvimentismo”
contemplando de forma integrada a dimensão econômica e social. O autor elenca três
frentes de expansão do crescimento econômico, ou melhor, três “motores do
1 Para Gonçalves (2011) no governo Lula (2003-2010) houve mais continuidade das políticas ortodoxas, do que ruptura destas políticas neoliberais. Pois os eixos estruturantes do Nacional-desenvolvimentismo foram invertidos (Nacional-desenvolvimentismo às Avessas).
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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investimento”: mercado interno de produção e consumo de massa, Infraestrutura
(produtiva e social) e recursos naturais, que dependerá diretamente no plano externo dos
desdobramentos da crise, e no plano interno da estratégia e as políticas aqui empregadas
com foco na inovação tecnológica e na ampliação de encadeamentos produtivos
internos. E para que não haja desperdício do potencial de produtividade neste “novo
desenvolvimentismo” é necessário ir além da macroeconomia para o crescimento e
competitividade, se faz necessário incluir a esfera da transformação produtiva pela via
do investimento e da inovação.
No campo social, Fagnani (2013), coordenador da rede Plataforma Política
Social, revela que a melhoria nos rendimentos das famílias é umas das causas do
crescimento econômico e da redução das desigualdades.
Fonseca, Cunha e Bichara (2012) também corroboram com o desempenho
recente da economia que se aproxima de uma nova fase desenvolvimentista e realizam
uma análise conjuntural no governo Lula (2003-2010) que sinaliza tal perspectiva “novo
desenvolvimentista” de forma positiva.
O ponto central do “novo desenvolvimentismo” é possibilitar ao Estado, via
estratégias nacional de desenvolvimento (processo histórico de acumulação e aumento
de produtividade), romper de forma definitiva com os resquícios neoliberais de política
econômica, sobretudo com o individualismo de mercado. No campo social, deve-se
revigorar o pensamento de Celso Furtado, sobretudo no que se refere à eliminação da
concentração de renda e consumo, e no seu lugar maior equidade de consumo e renda.
3 Desenvolvimento regional: uma política desenvolvimentista para o Nordeste
O pensamento de Celso Furtado pode ser retratado em duas análises históricas e
marcantes no desenvolvimento econômico do Nordeste. O primeiro período,
caracterizado pelo sentimento nacional-desenvolvimentista do período JK com o Plano
de Metas, o Brasil tentava construir uma identidade nacional através da produção de
bem duráveis impulsionadas pela indústria automobilística, neste mesmo período o
próprio Celso Furtado coordena um Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste (GTDN), e sonhava com um Estado desenvolvimentista para o Nordeste com
atuação forte do Estado e neste anseio foi criada a SUDENE, que tinha como principal
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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objetivo tirar o atraso econômico do Nordeste, sobretudo com o problema da seca
(1958) que para ele tinha uma raiz na organização socioeconômica estruturada no
semiárido, e não na seca em si.
O segundo momento o Brasil foi marcado pala crise dívida (1980), subordinando
a economia brasileira ao capital estrangeiro e reduzindo drasticamente a possibilidade
de identidade nacional que acentuou sobremaneira as desigualdades regionais.
A partir destas duas vivências históricas brasileiras Celso Furtado escreve uma
obra muito cara para o planejamento regional do Brasil: Uma política de
desenvolvimento econômico para o Nordeste. A ideia força desta obra nos orienta para
um desenvolvimento nacional em que o desenvolvimento da economia regional deve
está imbricados e andar juntos. Não é possível entender nem o Nordeste nem o Brasil
sem levar em conta que o primeiro sintetiza as contradições do segundo, em grau
elevadamente dramático (FURTADO, 1981:13).
Este trabalho tinha como premissa principal o desenvolvimento nacional
partindo da redução das desigualdades regionais, o que implica diretamente a região
Nordeste. Ou seja, o fim dos exclusivismos regionais deve ser o primeiro passo para
uma proposta de desenvolvimento econômico, pois o Nordeste não pode ser
considerado um apêndice do desenvolvimento brasileiro, a industrialização nordestina
não pode ser um prolongamento do desenvolvimento industrial do Centro-Sul.
As disparidades regionais são permeadas por dessimetrias entre duas regiões:
Centro-sul e Nordeste, tendo com fator principal a concentração de renda (concentração
de gastos em consumo) que possui projeções no setor agropecuário, por exemplo,
estando à margem do processo de integração nacional, havendo desníveis de
produtividade entre estas duas regiões, o setor agrícola acumula atraso, declinando sua
produtividade tanto com respeito ao setor industrial como relativamente à agricultura de
exportação e pecuária (FURTADO, 1981).
Em suma, as relações entre as duas regiões se desenvolve de forma a acentuar a
dependência do Nordeste, pois o mercado nordestino vem sendo um complemento do
mercado Centro-Sul e os investimentos industriais são subordinados à lógica da
economia Centro-Sul, tendo como consequência direta a herança pobre e
subdesenvolvida da região nordeste.
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O que deve ser percebido com urgência é que o atraso da região Nordeste
dificultava o desenvolvimento econômico em âmbito nacional, pois gera desigualdades
e assimetrias econômicas e sociais.
A transferência maciça de recursos para a região pelo menos por um decênio,
introduzir modificações estruturais que reproduzam melhoras sensíveis nas condições
de vida e na capacidade de iniciativa da massa trabalhadora e aumentar de forma
substancial a participação do Nordeste na atividade industrial do país são os três eixos
de ação que podem transformar o Nordeste, segundo Furtado (1981). Estes três planos
devem agir conjuntamente, um complementando o outro simultaneamente.
Furtado (1984: 22, grifo nosso) sentencia que:
No caso brasileiro e, mais particularmente, no nordestino, a estrutura
agrária é o principal fator causante da extremada concentração de
renda no conjunto da economia. Não tanto porque a renda seja mais
concentrada no setor agrícola do que no conjunto das atividades
produtivas. Mas pelo fato de que, não havendo no campo nenhuma
possibilidade de melhora das condições de vida para a massa
trabalhadora, a população rural tende a se deslocar para as zonas
urbanas, congestionando nestas a oferta de mão de obra não
especializada. A sobreurbanização que se observa no Nordeste é uma
das consequências negativas de sua atual estrutura agrária.
A melhora das condições da massa trabalhadora, parte primeiramente de modificar a
estrutura agrária, ou seja, incorporar a classe rural no processo de desenvolvimento. Os
minifúndios e os latifúndios e sua estrutura dominadora e exploradora são raízes
históricas que devem ser arrancadas em prol do crescimento do homem do campo,
utilizando sua capacidade de trabalho e que seja possível absolver novas técnicas e se
capitalizar. O homem do campo como ator político ativo e não apenas como força de
trabalho. (FURTADO, 1981:17)
É importante perceber o aspecto histórico-estrutural da formação do
desenvolvimento do Nordeste, o caráter inicial da colonização do Brasil contribui pra
desigualdade no Nordeste, principalmente na questão fundiária, dado a produção de
commodities para exportação em grandes latifúndios.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Furtado (1984:27, grifo nosso) alerta também:
Não basta modificar a estrutura agrária; também é indispensável
redirecionar o processo de industrialização (...) maior integração da
industrial regional e vinculá-la progressivamente ao mercado local.
Isto exige que se estabeleça um regime de reserva de mercado para as
indústrias que se localizem na região e adotem opções tecnológicas
compatíveis com uma ampla criação de emprego. Indústrias com uma
orientação tecnológica também poderão localizar-se na região, mas
não há razão para que se beneficiem de estímulos oficiais. O sistema
de subsídios deverá ser posto a serviço do desenvolvimento do
mercado local e da homogeneização social.
O aumento da participação da indústria nordestina no Brasil deve se dirigir para a
redução do estilo centralizador da indústria nacional (Centro-Sul), sobretudo com a
descentralização da indústria manufatureira e aumentando participação do Nordeste na
atividade manufatureira. Para atuar nos desníveis regionais de desenvolvimento é
necessária uma planificação das dimensões continentais do país orientada para
localização de atividades industriais. Essa descentralização favorecerá os grupos
nacionais e reduzirá a participação das indústrias estrangeiras.
No século XX, o desenvolvimento é determinado historicamente por uma herança
desenvolvimentista e conservadora entre 1920-1980 em que acentuou as desigualdades
social e regional, que são aspectos históricos embrincados na realidade brasileira. Para
Bacelar (2003:1),
(...) o que caracterizava o Estado brasileiro neste período (1920-1980)
era o seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e
autoritário. Não era um Estado de Bem-Estar Social. O Estado
conservador que logrou promover transformações fantásticas sem
alterar a estrutura de propriedade, por exemplo.
Nos anos 2000, as ideias do pensamento de Celso Furtado para o
desenvolvimento do Nordeste são vivas, e neste novo cenário em que o
desenvolvimentismo aparece agora com o “novo desenvolvimentismo”, é importante
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colocar o desenvolvimento da região Nordeste como parte integrante das estratégias
nacionais desenvolvimento, apontando avanços e os entraves, sobretudo por se tratar da
região menos desenvolvida. Ou melhor, se faz necessário resgatar o sonho do Celso
Furtado de trazer o Estado desenvolvimentista para o Nordeste.
É urgente a formulação de uma política nacional de desenvolvimento regional
inserida no âmbito do “novo desenvolvimentismo” no sentido que a presença ativa e
articulada do Estado. É fundamental para integração das diversas regiões do País, ou
melhor, é tarefa do Estado subordinar à dinâmica econômica regional a consolidação da
integração nacional principalmente no sentindo de aumentar a participação da região
nordeste na produção industrial via desconcentração da dinâmica territorial do País.
O combate das desigualdades sociais deve partir em nível nacional, mas também
de forma inter-regional. Os programas sociais do Governo Federal, como: Bolsa
Família, Minha Casa Minha Vida (retomada da construção civil), Políticas Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR) e Recriação da SUDENE aplicados desde 2003 têm
impactado de forma positiva na redução das desigualdades, porém ainda é muito
pequena diante da grande demanda da região Nordeste. Segue alguns dados
elucidativos.
Dados das contas regionais do IBGE (2010) apontam que a Região Nordeste, em
2009, atingiu a maior participação da série desde 2002, 13,5%, mesmo que o
crescimento ainda seja quase o mesmo dos anos anteriores, mantendo-a no mesmo
patamar em 2010, como segue na tabela abaixo:
Tabela 1 Participação percentual das Grandes Regiões no Produto Interno Bruto – 2002 a 2010
Fonte: IBGE, contas nacionais 2010.
O PIB per capita da região Nordeste em 2009 atingiu a maior participação da
série desde 2002, com segue na tabela 2:
Grandes Regiões
Participação percentual no Produto Interno Bruto (%) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Norte 4,7 4,8 4,9 5,0 5,1 5,0 5,1 5,0 5,3
Nordeste 13,0 12,8 12,7 13,1 13,1 13,1 13,1 13,5 13,5 Sudeste 56,7 55,8 55,8 56,8 56,4 56,0 56,0 55,3 55,4
Sul 16,9 17,7 16,6 16,3 16,6 16,6 16,6 16,5 16,5 Centro-oeste 8,8 9,0 9,1 8,9 8,7 8,9 9,2 9,6 9,3
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Tabela 2: PIB Estadual per capita - R$ de 2000 (mil) Região 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Região Centro-oeste 8,77 8,93 9,35 9,20 9,23 10,21 10,55 10,80
Região Norte 4,19 4,22 4,51 4,56 4,74 5,23 5,29 5,13
Região Nordeste 3,23 3,18 3,31 3,47 3,58 3,86 3,88 3,94
Região Sul 7,98 8,35 8,56 8,32 8,40 9,48 9,45 9,33
Região Sudeste 9,25 9,07 9,46 9,75 10,04 11,03 10,96 10,70
Fonte: IBGE, organizado por IPEADATA.
No recente seminário do BNDES sobre o Nordeste, Bacelar (2013) traça as
tendências recentes e novas perceptivas para região Nordeste. Neste trabalho verificam-
se mudanças no ritmo e no padrão de crescimento econômico e alterações no quadro
social na região Nordeste.
Melhorias da renda, na taxa de crescimento do PIB, atração de investimentos
públicos e na infraestrutura (PAC), crescimento do emprego formal na construção civil
e maior participação da indústria de transformação no Nordeste, são reflexo da mudança
do padrão de crescimento do Brasil (BACELAR, 2013).
Os investimentos tendem a mudar o perfil produtivo com maior peso da
indústria e novos setores. O Gráfico 1, a seguir, demonstra um crescimento significativo
na indústria de transformação na Região Nordeste.
Gráfico 1: PIB Estadual - indústria - transformação - valor adicionado - preços
básicos - R$ de 2000 (mil) - 2002 a 2009 Fonte: IBGE, organizado por IPEADATA.
3300 | ESADR 2013
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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No âmbito social, e seguindo o pensamento social de Celso Furtado da
eliminação da concentração de renda e consumo, e, também da proposta “novo
desenvolvimentista”, Bacelar (2013) faz uma analise comparando Brasil e Nordeste,
com redução da pobreza e desigualdades no Brasil, ao verificar: um aumento nos
rendimentos médios; queda da mortalidade; melhoria da escolaridade média e taxa de
analfabetismo.
É importante verificar que no estudo realizador por Bacelar (2013), a autora
elenca algumas mudanças importantes da base produtiva nordestina, sobretudo com um
novo perfil industrial com novos segmentos, como por exemplo, o avanço de segmentos
ligados ao consumo popular e o avanço da integração na moderna base produtora de
grãos do país (cerrados do NE), acompanhadas pelo crescimento das APLs e pequenos e
micro empreendimentos, e a presença na energia eólica como matriz energética.
O discurso e imagem do Nordeste se alteram: do “nordeste coitadinho” para o
nordeste de potenciais em busca de novos investimentos, o Brasil revisita o Nordeste
(reduz visão de “região problema” e é visto como região em desenvolvimento)
(BACELAR, 2013).
Entretanto, é necessário analisar os possíveis entraves. O primeiro é de ordem
nacional, a economia brasileira vem desacelerando com a redução do PIB acompanhada
com a redução do nível de investimentos e consumo. Além deste cenário da conjuntura
brasileira, na região Nordeste os principais entraves estão ligados à crise federativa
(redefinição do FPE e reformulação do ICMS) a reconcentração produtiva (região
sudeste, sul e centro-oeste), baixo investimento em infraestrutura (rodovias e ferrovias),
modesta presença de atividades tecnológicas, pequenos gastos em ciência e tecnologia,
assinala Bacelar (2013).
Diante deste estudo, o que deve retomar de forma imediata é realização de
políticas regionais inseridas nas políticas nacionais de desenvolvimento, atendendo a
matriz teórica do pensamento de Celso Furtado e dos anseios do “novo
desenvolvimentismo”, crescimento econômico e maior justiça social. O
desenvolvimento de um projeto Nacional é requisito principal, pois não é possível
pensar o Nordeste, sem pensar o Brasil.
Seguindo a leitura de Celso Furtado sobre a interpretação da questão regional
para superação das desigualdades, devemos realizar uma análise que parta
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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primeiramente das especificidades de cada região, e, sobretudo, enfatizar um processo
mais amplo, para além da questão econômica, e que responda as lacunas sociais. O
enfoque as análises histórico-estruturais são importantes para que não se afirme
mudanças repentinas em dados sociais, sem prévia consulta histórica.
4 A Formação Econômica e Social do Maranhão: Enfoque Histórico-Estrutural
No sentido de não ter uma falsa percepção das mudanças econômicas sociais do
Maranhão, faz-se necessário recorrer ao processo histórico e estrutural da Formação
Econômica e Social Maranhense, que pode ser entendida por quatro fases distintas, a
saber:
A primeira fase é caracterizada pela integração ao modelo-primário exportador
(1755-1889) com o sistema colonial português através da Companhia do Grão-Pará e
Maranhão, superando um século de atraso com a exportação para Europa de: algodão,
arroz, couro e açúcar. De acordo com Furtado (2001) a economia maranhense se integra
à economia açucareira a partir da periferia pecuária. Este momento só foi possível
devido aos surtos momentâneos das exportações de algodão e arroz nos Estados Unidos.
No século XIX, a economia maranhense é marcada pelo avanço das platations
(sistema agrícola baseado na monocultura de exportação, com latifúndios e mão de obra
escrava) de algodão e cana-de-açúcar que condicionaram o expressivo crescimento
populacional. De acordo com Arcangeli (1987) a decadência deste surto decorre da
retomada da economia Europeia e dos Estados Unidos no mercado internacional.
A segunda fase (1890-1940) é marcada pela desarticulação do sistema de
plantations e os surtos de crescimento da indústria têxtil influenciados pela abolição da
escravidão. Os ciclos de plantations foram substituídos pela pecuária extensiva e
agricultura familiar. O desenvolvimento da indústria têxtil, sobretudo na década de
1940, representou 70% das exportações maranhenses, entretanto nesta mesma época já
se verificava o atraso e processo de decadência desta indústria em relação à região
centro-sul devido à modernização e barateamento dos custos de transportes da produção
têxtil do Centro-Sul.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural
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Na terceira fase podemos relatar a integração comercial maranhense à economia
nacional, que se desenvolve entre 1940-1970, marcada pelo fim do setor têxtil no
Maranhão e a importância comercial do extrativismo.
No início da década de 1940 a extração de babaçu e as plantações arroz irrigado
e sequeiro tiveram uma importância salutar na economia maranhense. Porém no final da
década de 1970, a baixa produtividade destas duas culturas levou à sua decadência. Esta
decadência foi originária do desenvolvimento tecnológico na região sul do país (o
cultivo do babaçu era realizado de forma extrativista e em grandes extensões
territoriais), na Argentina e Uruguai e o barateamento dos óleos de soja e de palma.
A quarta fase relaciona-se ao contexto histórico nacional com a implantação do
II PND (governo Geisel, 1974-1978) que no Maranhão se transfigurou no Projeto
Carajás, com a implantação da Vale do Rio Doce e da ALUMAR em São Luís. Dessa
forma, nesta fase (1970) o Maranhão integra-se à economia nacional. No final da
década de 1970, no sul do Maranhão desenvolve-se uma agricultura graneleira
mecanizada (milho, arroz, algodão e, sobretudo a soja) que nos anos seguintes se
expande para o leste do Estado (Chapadinha e baixo do Parnaíba).
No período mais recente, para Holanda & Paula (2011) a década de 1980,
mesmo com a crise econômica e fiscal no Brasil (crise da dívida), o Maranhão
continuou com a produção mineral e a pecuária extensiva com índices positivos no nível
de renda (8,3% a.a.), com novas commodities (soja e eucalipto), observa-se a reinserção
do Maranhão no mercado externo não havendo a não a construção de um modelo de
desenvolvimento sustentável. Somente na década de 1990 que o impacto econômico foi
sentido com o esgotamento dos ciclos de investimentos (Vale-Carajás, Alumar e Porto
do Itaqui) e crise fiscal originária do ajuste fiscal pré-plano Real (1993-1994).
Todo esse processo histórico da formação econômica e social maranhense é
marcado por uma descontinuidade, como dizia Rangel (2008, p.58), o Maranhão foi a
“terra do que já teve”. Além das fábricas de fiação e tecelagem, inclusive lã, meias e
cânhamo, tínhamos tido até fábricas de fósforos e pregos, raros no Brasil. Estas
descontinuidades serão de fundamental importância para levantar as bases estruturais ao
desenvolvimento recente (anos 2000) da economia maranhense, marcadas pelas
promessas de novos investimentos.
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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5 Novos investimentos no Maranhão: Um cenário desenvolvimentista?
De acordo com a Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (RENAI),
os novos investimentos no Estado do Maranhão estão ligados a três setores são eles:
Complexo Minerometalúrgico (na região oeste – Açailândia, imperatriz e Santa Inês),
o Agronegócio (na região Sul – Balsas e Riachão) e as Indústrias de Alumínio,
minério de ferro e de petróleo (na região norte, em torno de São Luís). O montante
total destes investimentos é estimado em mais de R$ 100 bilhões (três vezes o PIB atual
do Estado) entre recursos públicos e privados. O projeto de maior envergadura é o da
Petrobrás, com a Refinaria Premium I, que já está em andamento, no município de
Bacabeira, avaliada por US$ 20 bilhões. Outros projetos importantes e significativos são
a Suzano Papel e Celulose que investe US$ 1,8 bilhão para produzir 1,3 toneladas de
celulose de eucalipto por ano. Em Açailândia, a Aciaria Gusa Nordeste levanta uma
indústria de R$ 300 milhões para fabricar 600 mil toneladas de tarugos de aço por ano.
De acordo com o IMESC (2010) verificou-se uma aceleração recente em suas
taxas de crescimento econômico nos últimos anos no Estado do Maranhão. Números
relacionados à produção e emprego vêm mostrando aceleração nos anos recentes no
Maranhão. Este cenário nos revela uma melhoria em muitos indicadores econômicos no
Maranhão, e que poderão se elevar com os novos investimentos na ordem de R$ 66
bilhões anunciados para o período 2010-2016, como nos mostra o Tabela 3 abaixo:
Tabela 3: Investimentos em andamento e planejados – Estado do Maranhão (2010-
2016) Investimentos em andamento e Planejados Total (em
%)
Petroquímica 52,7
Logística 20,1
Geração e distribuição de energia 8,9
Minero-Metalúrgico 8,3
Reflorestamento, Papel e Celulose. 5,6
Açúcar e Álcool, Biodiesel e óleos Especiais. 1,9
Outros 2,4
Fonte: IMESC/ Indicadores de Conjuntura jan./mar 2010
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As tendências econômicas e sociais que impulsionam o desenvolvimento do
Estado do Maranhão são positivas, porém ainda existem muitos entraves. A evolução
positiva do PIB do Maranhão a preços correntes em relação ao Nordeste e Brasil, na
tabela 4, sinaliza uma evolução no que diz respeito ao desenvolvimento econômico do
Estado.
Tabela 4: Produto Interno Bruto a preços correntes, do Brasil, Nordeste e Maranhão – 2006 – 2010.
Abrangência Geográfica
Produto Interno Bruto a preços correntes (1 000 000 R$)
2006 2007 2008 2009 2010 Brasil 2 369 484 2 661 345 3 032 203 3 239 404 3 770 085
Nordeste 311 104 347 797 397 500 437 720 507 502 Maranhão 28 620 31 606 38 486 39 855 45 256
Fonte: IBGE
A tabela 5 demonstra o percentual das atividades que compõe o PIB do
Maranhão apontando um pequeno crescimento no setor de serviços e agropecuário.
Tabela 5: Participação das Atividades no Valor Adicionado Bruto do Maranhão - 2006 – 2010
Atividades
Participação por setores (%)
2006 2007 2008 2009 2010 Agropecuária 16,6 18,6 22,2 16,6 17,2
Indústria 19,6 17,9 16,9 15,4 15,7 Serviços 63,8 63,5 60,9 68,1 67,1
Fonte: IBGE
A distribuição por atividade econômica na indústria, na tabela 6, revela um
maior destaque de crescimento no setor da construção civil impulsionada pelas políticas
habitacionais do Governo Federal e indústria extrativa mineral influenciada pelo
aumento da produção de minério de ferro e minerais não-metálicos.
Tabela 6: Participação do setor da Indústria no valor adicionado bruto do Maranhão – 2006 – 2010.
Maranhão
Participação no valor adicionado bruto (%)
2006 2007 2008 2009 2010 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Indústria 19,6 17,9 16,9 15,5 15,7 Indústria extrativa mineral 1,75 1,29 2,73 2,11 2,42
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Indústria de transformação 9,50 8,10 5,87 3,83 3,31 Construção 5,98 6,37 6,44 7,29 7,76
Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana.
2,35
2,10
1,83
2,12
2,21
Fonte: IBGE
Entretanto, ao contrário da tendência do Nordeste (ver gráfico 1), a queda da
indústria com valor adicionado, a indústria de transformação no Maranhão, é algo
preocupante. Esta queda tem um vínculo direto com a especialização da pauta
exportadora do Maranhão em commodities agrícolas e minerais (milho, soja, minério de
ferro, alumínio, alumina, ouro ferro-gusa) que chegam a 95% das exportações
maranhenses. Para Furtado (2000:101) essa especialização que liga-se diretamente à
demanda externa e à atividade interna primária, elas estão destituídas de toda
capacidade transformadora direta da estrutura produtiva do país onde se localizam.
É necessário romper com dependência que o Maranhão tem com o comércio
internacional, e criar um mercado interno (local e regional), que também possa
diversificar sua matriz produtiva e desconcentrar o desenvolvimento em direção a
regiões mais pobres. Furtado (1984:26) já orientava para esta mudança:
Para que o processo de industrialização seja não apenas um “motor”
do crescimento, mas também um instrumento de homogeneização
social é necessário que essa industrialização se vincule amplamente ao
mercado regional. Isso não significa que não possam existir indústrias
primariamente ligadas ao mercado externo à região, mas sim, que no
seu conjunto as atividades industriais reflitam as condições
socioeconômicas do Nordeste.
A principal ação é a reforma agrária, ou seja, a estrutura agrária também deve
ser reestruturada:
Essa nova estrutura agrária deverá ser instrumento de uma política
econômica que tenha como principal objetivo dar elasticidade à oferta
de consumo popular. Nas condições estruturais que atualmente
prevalecem, os recursos de crédito oficial tendem a favorecer a
produção de excedentes utilizados fora da região, ou são absorvidos
pela intermediação e canalizados para fora da agricultura. É necessário
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que se compreenda que as consequências antissociais da política de
crédito subsidiado são reflexos da estrutura agrária, que surgiu
historicamente vinculada a mercados externos. No quadro desta
estrutura a pobreza dos que trabalham a terra transforma-se em fonte
de renda dos grandes proprietários e dos intermediários. O objetivo
terá que se dotar a região de uma estrutura agrária que favoreça e
elevação da renda real da massa dos agricultores e os estimule a
investir e absorver avanços técnicos. Se não se satisfazem esses
requisitos estruturais, torna-se impraticável uma verdadeira política de
desenvolvimento, ou melhor, as políticas de fomento agrícola tendem
rapidamente a degenerar em políticas de criação de excedentes em
benefícios de grupos privilegiados. (FURTADO, 1984:23/24)
A vulnerabilidade da economia maranhense em se especializar em commodities
situa-se sobremaneira nas oscilações do mercado internacional. A crise financeira
internacional de 2008 teve consequências negativas no mercado de trabalho
maranhense.
Conforme dados do Ministério do Trabalho (CAGED) em 2008 foram extintos
mais de 6,6 mil empregos na agricultura, silvicultura, indústrias metalúrgicas e
mecânicas, e no setor de serviços, em 2009 foi caracterizado por forte concentração de
desligamentos, com 8,1 mil demissões (HOLANDA & PAULA, 2011).
O “novo desenvolvimentismo” sinaliza um desenvolvimento industrial pautado
da diversificação de produtos industrializados com alto valor agregado. A exploração de
recursos naturais pode ser um primeiro passo, para agregação de valor, porém sem um
Estado Nacional forte, não haverá um direcionamento do desenvolvimento nacional e
regional.
No que se refere à Infraestrutura os novos investimentos têm direcionado para
um conjunto intermodal de transportes (ferrovias, rodovias e hidrovias), articulado com
o complexo portuário do porto do Itaqui e Ponta da Madeira (base naval). Também é
favorecido pela integração de três rodovias: Norte-Sul, Carajás e Transnordestina. A
expansão do porto do Itaqui, um dos portos mais importantes do Brasil, pela
proximidade com o canal do Panamá e mercados Europeus e Asiático, é um dos
investimentos mais importantes.
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Entretanto, o fluxo maior desde conjunto intermodal de transportes tem
favorecido a produção de commodities agrícolas e minerais, que representam um
enclave econômico para região, sobretudo porque respondem massivamente a pauta
exportadora do estado. A “Mapitoba” (acrônimo para o enclave econômico agrícola nas
regiões entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) é um exemplo típico, produção
voltada para o mercado externo, ou seja, não gera renda interna.
A qualificação de mão de obra e à capacitação de fornecedores, é um grande
obstáculo a ser enfrentado, pois o Estado tem os piores índices educacionais do Brasil, a
taxa de analfabetismo da população com mais de 15 anos é de 19,09%, o dobro da
média nacional 9,70% (IPEA, 2012).
E não para por aqui, o nível de renda também acompanha tal patamar, a renda
per capita é a última entre os Estados brasileiros. O Maranhão, menor PIB per capita
brasileiro, apesar de ter registrado o 16o maior PIB brasileiro em 2010, tem a décima
maior população brasileira. (IBGE, 2010)
O mercado de trabalho possui um entrave estrutural, no sentido que a criação de
emprego acontece no momento da instalação e construção dos projetos, mas na fase de
operação, os trabalhadores não são incorporados aos novos empreendimentos, é o que
acontece na Hidroelétrica do município de Estreito (MA). Para Holanda & Paula
(2011:71-72): há uma grande discrepância entre a geração de empregos na fase
instalação e na fase de operação. Com efeito, enquanto são esperados
a geração de cerca 223 mil postos de trabalho nas fases de instalação
dos projetos, a fase de operação deverá assegurar tão somente a
geração de cerca de 9 mil postos de trabalho.
De acordo com o estudo realizado pelo IPEA (2011) e Situação Social nos
Estados – Maranhão (IPEA, 2012) segue abaixo dados elucidativos de cunho social.
O Nordeste e o Maranhão possui a renda domiciliar per capita abaixo da
nacional (Brasil: 631,71; Nordeste: 395,48 e Maranhão 340,08), mas o crescimento da
renda média foi bem maior que o nacional, como segue na tabela 7.
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Tabela 7: Renda média por região no período de 2004-2009 (em R$)
Fonte: IPEADATA
No período de 2004 a 2009, a redução do percentual das pessoas que vivem em
extrema pobreza (daqueles que auferem uma renda per capita inferior a R$ 67,07) no
Nordeste foi pouco menor do que a do Brasil, mas no Maranhão foi mais acentuada,
como demonstra a tabela 8.
Tabela 8: Renda per capita (%) por região no período de 2004-2009 Região Renda per capita (%) 2004 Renda per capita (%) 2009 Var. (%)
Brasil 8% 5% -42%
Nordeste 19% 11% -40%
Maranhão 27% 13% -47%
Fonte: IPEADATA
A diminuição da pobreza extrema no Nordeste foi responsável por 58% da
queda nacional. O Maranhão foi responsável por 20% da queda do Nordeste, 12% da
queda nacional. O rendimento médio do trabalho (salário), em out. 2009, foi R$
1.116,39 no Brasil, R$ 743,56 no Nordeste e R$ 734,52 no Maranhão, bem abaixo da
média nacional.
Enquanto a extrema pobreza e a renda média diminuíram nas zonas urbanas no
Maranhão, na zona rural os índices são alarmantes. A extrema pobreza na zona rural
maranhense em 2009 chega a 27,86%, contra 20,44% no Nordeste e 12,64% no Brasil.
No Maranhão, as desigualdades de renda média aumentaram. A renda domiciliar
per capita da zona rural teve um crescimento de 22,8% – passando de R$ 162,75 em
2001 para R$ 198,78 em 2009 –, enquanto o aumento na zona urbana foi de 51,7%.
Os programas sociais e de infraestrutura do Governo Federal no Maranhão ainda
são insuficientes para reduzir a pobreza no campo, as condições de vida da população
urbana e rural são delicadas.
Região Renda média (2004) Renda média (2009) Var. (%)
Brasil 495 635 28%
Nordeste 286 398 39%
Maranhão 251 343 37%
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Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06
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Para o pensamento “novo desenvolvimentista” a redução das desigualdades,
sobretudo da pobreza, é um fator importante, defendida também por Celso Furtado, pois
possibilita o crescimento econômico com maior justiça social. No caso do Maranhão
observam-se poucos efeitos desencadeadores em função da redução das desigualdades.
Os novos investimentos são de grande magnitude, porém os efeitos
multiplicadores se desenvolvem a passos lentos, existem muitos entraves econômicos e
sociais, refletindo também a realidade brasileira e, sobretudo da região Nordeste. O
grande desafio do Maranhão no âmbito do “novo desenvolvimento” brasileiro está em
articular os novos investimentos como ações políticas e econômicas que proporcionem
maior justiça social, por meio da maior diversificação produtiva e criando espaços para
um mercado regional e local, que possibilite esta justiça social via aumento do número
de empregos.
O “novo desenvolvimentismo” no Brasil tem como essência a atuação ativa do
Estado com o objetivo de fortalecer o mercado por meio de uma estratégia nacional de
desenvolvimento. Não dá para deixar o Nordeste, e mais especificamente o Maranhão,
com apêndice desde desenvolvimento, pois formam um todo orgânico, no âmbito
econômico, social e político.
É urgente a formulação de uma política nacional de desenvolvimento regional
inserida no âmbito do “novo desenvolvimentismo” no sentido que a presença ativa e
articulada do Estado, são fundamentais para integração das diversas regiões do País, ou
melhor, é tarefa do Estado subordinar à dinâmica econômica regional a consolidação da
integração nacional principalmente no sentindo de aumentar a participação da região
Nordeste na produção industrial via desconcentração da dinâmica territorial do País.
Pensar no desenvolvimento econômico e social Maranhão é pensar em um “novo
desenvolvimentismo”, sobretudo com as promessas de novos investimentos em solo
maranhense, acompanhados com aumento do crescimento econômico e
desenvolvimento econômico e social com a redução das desigualdades sociais, tendo o
Estado o grande facilitador através de políticas desenvolvimentistas.
6 Conclusões
A ênfase dada neste trabalho ao ensaio teórico “novo desenvolvimentista” se
justifica, pois os anos 2000 são tanto para o Brasil como para o Maranhão, um período
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de mudanças econômicas e sociais, se comparadas com a década anterior. Tomar como
referência esta perspectiva permitiu elencar os principais pontos para um Projeto
Nacional de Desenvolvimento, ou melhor, possibilitando verificar quais estratégias
nacionais de desenvolvimento devem ser realizadas e seus entraves.
A política de desenvolvimento para o Nordeste, proposta por Celso Furtado,
alerta para inclusão da região Nordeste nas pautas das políticas do desenvolvimento
nacional. O desenvolvimento nacional não pode colocar a região Nordeste com um
apêndice das políticas do Estado brasileiro, é necessário integrar todo território
nacional, sobretudo com maior participação da indústria do Nordeste. Este deverá ser
um dos pilares do “novo desenvolvimentismo”.
As disparidades regionais e de renda, só emperram o desenvolvimento das
regiões pobres e também o desenvolvimento brasileiro. A concentração industrial na
região Sudeste ainda é um fator que eleva os desequilíbrios regionais, sobretudo na
região mais pobre do Brasil, o Nordeste.
As análises efetuadas dos dados recentes demonstram um Nordeste menos
desigual e com crescimento econômico, porém ainda não se verifica um patamar de
desenvolvimento econômico efetivo, é urgente uma melhor qualidade destes dados, que
permita a redução das dessimetrias regionais.
Os dados sobre produção e a realidade social contribuíram para se pensar em um
“novo desenvolvimentismo”, são tentativas de se chegar a um projeto de Nação com
maior justiça social.
A nova perspectiva desenvolvimentista não pode focar apenas em políticas
macroeconômicas, deve-se primar também por uma relação multidimensional do
desenvolvimento, como políticas sociais, que reduzem as desigualdades regionais. A
questão social não deve está desvinculada da questão econômica, ela deve incorporá-la.
Olhar para o Maranhão, neste momento, com as promessas dos novos
investimentos, é ter uma percepção do território e nele buscar as principais variáveis que
viabilizem um novo desenvolvimento brasileiro. Não é admissível olhar o Brasil por
uma média nacional, e ver o Maranhão com um apêndice do desenvolvimento nacional,
sobretudo porque nestes territórios temos uma diversidade regional já posta.
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Pelo exposto no artigo constata-se que a concentração dos novos investimentos
tende a aprofundar as tendências de especialização em commodities da economia
maranhense, e não configuram em um cenário desenvolvimentista.
A concentração dos novos investimentos (públicos e privados) no Maranhão em
commodities agrícolas e minerais revela um aumento progressivo na participação do
PIB e na renda, como já foi constatado nos dados expostos neste trabalho. Este aumento
não é garantia para o dinamismo industrial com efeitos que possam se propagar para
zona urbana, e, sobretudo para zona rural, com geração de empregos e dinamização da
economia local. As commodities agrícolas e minerais devem deixar de representar a
grande massa das exportações do estado e ser integradas ao mercado local e regional via
diversificação produtiva com maior valor agregado, para que a maldição dos produtos
naturais não transforme o Maranhão definitivamente em enclave econômico e social,
que é o atual estágio da economia do estado. A redução da participação da indústria
maranhense na indústria de transformação é algo que deve ser revertido, pois este setor
industrial é o pilar principal do desenvolvimento econômico, defendido por Celso
Furtado e também pelos teóricos “novos desenvolvimentistas” como para Celso
Furtado.
Em suma, a maior justiça social no Maranhão partirá primeiramente da
restruturação agrária, no sentido de incorporar a massa trabalhadora rural ao
desenvolvimento em curso, através da diversificação produtiva agrícola (produção de
alimentos). Mas também é indispensável redirecionar o processo de industrialização
com maior integração da industrial regional e vinculá-la progressivamente ao mercado
local e regional, como alertava Furtado na sua proposta política de desenvolvimento
para o Nordeste, que é tão cara para o pensamento desenvolvimentista.
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Ignácio Rangel, Coleção Ignácio Rangel, Volume 2. São Luís: IMESC, 2008.
RENAI/MIDIC, O Maranhão e a nova década.
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