155
P06 Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia Atas Proceedings ISBN 978-989-8550-19-4

Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

  • Upload
    dangque

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

P06 Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia

Atas Proceedings

ISBN 978-989-8550-19-4

Page 2: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3160 | ESADR 2013

P06 · Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia

CoordenadoresBenjamin Alvino de Mesquita (UFMA / PPGPP / PPGDSE) [email protected]é de Ribamar Sá Silva (UFMA / PPGPP / PPGDSE) [email protected]

Discutir a dinâmica econômica recente da Amazônia, apontando as mudanças ocorridas pela atuação das empresas globais.

No desenvolvimento da Amazônia, sobressaem-se a grande empresa e o Estado. Os instru-mentos de base fiscal e monetária continuam sendo a marca na atração de mega investi-mentos. Na ditadura, dois elementos lideravam: a pecuária extensiva e a instalação da ZPE de Manaus. Hoje são os projetos do PAC e as empresas globais que lideram o processo. Em ambos, a marca é o financiamento público e o caráter predatório dos empreendimentos. Mudanças significativas ocorrem, mas com exclusão social e destruição da biodiversidade.

Abrir o debate sobre a ação do grande capital na Amazônia, que implica devastação ambien-tal e a ampliação da crise social.

Page 3: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3161

1

CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA REGIÃO

PERIFÉRICA DA AMAZÔNIA: TOCANTINS

NILTON MARQUES DE OLIVEIRA Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Professor do Curso de Economia da UFT/ Palmas-TO. Rua da Faculdade, 2550 -

Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail: [email protected]

UDO STRASSBURG Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do

Paraná (Unioeste). Professor do Curso de Ciências Contábeis da UNIOESTE/ Cascavel – PR. Rua da Faculdade, 2550. Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail:

[email protected]

PABLYNE DE FARIAS SANTOS Acadêmica em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Tocantins e Integrante do Grupo

PET-Economia-UFT. Rua L0 15 Plano Diretor Norte – Palmas-TO. CEP: 77.000-000 E-mail: [email protected]

RESUMO O objetivo central desse artigo foi analisar indicadores de desenvolvimento socioeconômico em uma Região Periférica da Amazônia do Estado do Tocantins, na primeira década do século XXI. Os dados utilizados são oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Governo do Estado do Tocantins, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Utilizando dados como índice de natalidade, índice de mortalidade bruta e infantil, Índice de Desenvolvimento Humano, taxa de alfabetização, taxa de fecundidade, Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Os resultados sugerem que o Estado do Tocantins ocupa posição mediana em desenvolvimento socioeconômico na região Norte, tendo apresentado evolução em alguns indicadores, mas ainda tem muito que avançar para chegar ao padrão satisfatório de desenvolvimento econômico. PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento Socioeconômico - Região Amazônica – Desenvolvimento Humano

CHARACTERIZATION INDICATORS OF SOCIOECONOMIC DEVELOPMENT IN REGION OF PERIPHERAL AMAZON:

TOCANTINS

ABSTRACT: The central objective of this paper is to characterize the indicators of socioeconomic development in the state of Tocantins, a peripheral region of Amazon, in the first decade of this century. The used data are from Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics), the State of Tocantins, and the United Nations Development Program (UNDP). Used data were birth rate, crude death rate and infant, Human Development Index, literacy rate, fertility

Page 4: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3162 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

rate, and Gross Domestic Product (GDP) per capita. Results suggest that State of Tocantins occupies the median position in socioeconomic development in the Brazilian North region and showed progress on some indicators but still has long way for reaching satisfactory standard of economic development.

KEYWORDS: Socioeconomic Development - Amazon region - Human Development

INTRODUÇÃO O objetivo central desse artigo é uma caracterização dos indicadores de

desenvolvimento socioeconômico em uma Região Periférica da Amazônia do Estado do

Tocantins no início da década do século XXI, fazendo uma comparação entre seus

indicadores e os da Região Norte e Brasil.

A justificativa deste artigo se deve ao fato de existirem poucos estudos sobre

essa região específica do território brasileiro. Desta forma, este contribui para a análise

de seus indicadores econômicos, conhecendo as reais necessidades da população

tocantinense.

A hipótese elementar que norteia este artigo se centra em dados econômicas e

sociais do estado do Tocantins, levando em conta seu crescimento e desenvolvimento

apresentados na década de 2000. Tocantins é resultado histórico particular do processo

de desenvolvimento capitalista brasileiro, bem como da expansão da fronteira agrícola

na Amazônia, não sendo um espaço isolado, mas sim parte integrante e interdependente

da economia capitalista.

Visando a compreender o crescimento econômico desse estado, a questão que

move esse trabalho é: será que o crescimento econômico do mais novo Estado da

Federação do Brasil está se revertendo em bem-estar social e acesso à educação, saúde,

saneamento e emprego para a população do Tocantins?

Tocantins é um dos estados brasileiros que tem apresentado o mais intenso

processo de crescimento, tanto demográfico quanto econômico, com taxas bem

superiores às médias nacionais. O movimento migratório, ainda em processo contínuo,

torna claro que o Estado e a cidade de Palmas vêm atraindo populações das regiões

vizinhas.

A população do Estado teve um crescimento médio de 22,5% no período de

2000 a 2010 e no Produto Interno Bruto foi o Estado que mais cresceu no acumulado

Page 5: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3163

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

3

entre 2002 e 2010, 74,2% (IBGE 2012). Quanto à criação de emprego formal, em 2000,

o Estado contava com 106.040, em 2011, esse número passou para 242.769, um

crescimento de mais 128% (MTE, 2012).

Para que se possa fazer uma comparação entre os diferenciais de

desenvolvimento entre países, regiões e estados é necessário analisar variáveis como

renda per capita, nível de educação em geral, taxa de mortalidade infantil, saneamento

básico, taxa de crescimento populacional, entre outras variáveis que serão discutidas

neste trabalho.

Trabalhos semelhantes foram feitos por Santos et al. (2010), que analisaram os

indicadores econômicos e sociais para o Estado de Mato Grosso do Sul. Os resultados

encontrados evidenciaram que o Mato Grosso do Sul ocupa posição de destaque em

desenvolvimento socioeconômico na região Centro-Oeste, tendo o segundo melhor

Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas do Distrito Federal. Quando

comparado à média da região Centro-Oeste e ao Brasil, foram verificadas em Mato

Grosso do Sul as menores taxas de fecundidade e mortalidade infantil e a maior

esperança de vida ao nascer.

Todos os indicadores anteriores podem ser sintetizados pelo Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH)1, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD).

Destarte, é relevante o estudo sobre os indicadores socioeconômicos, que podem

evidenciar se o Estado e a sociedade estão investindo na melhoria da qualidade de vida

da sua população. Há de se considerar que o Estado do Tocantins está ainda com uma

economia em formação, mas apresenta um potencial econômico especialmente em sua

capital, Palmas.

Em relação ao crescimento econômico de Palmas, ele segue o mesmo

desempenho apresentado pelo Estado, pois teve um crescimento médio de 14,4% do

Produto Interno Bruto entre 2000 a 2010 (IBGE, 2012).

1 O IDH varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano). As três variáveis analisadas são saúde, educação e renda. O IDH está dividido em quatro categorias, que são: 1) Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento humano muito alto, 2) o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento (do qual o Brasil faz parte), o terceiro grupo é o de médio e 4) os 25% piores, os de baixo desenvolvimento humano (PNUD, 2011).

Page 6: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3164 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

Isso posto, este artigo está dividido em 6 seções, além desta introdução, na seção

2 trata-se da caracterização histórica do Tocantins. A seção 3 descreve o referencial

teórico, a seguir os procedimentos metodológicos. A seção 5 apresenta a análises dos

indicadores socioeconômicos de desenvolvimento do Tocantins. As considerações finais

sumarizam o trabalho.

CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DO TOCANTINS

A história do Estado do Tocantins remonta ao período da independência do

Brasil. De acordo com Duarte et al. (2010), para facilitar a administração, a aplicação da

justiça e, principalmente, incentivar o povoamento e o desenvolvimento da navegação

dos rios Araguaia e Tocantins, criou-se um Alvará, o qual dividiu a Capitania de Goiás

em duas comarcas (regiões) ou o que hoje poderíamos chamar em tese de municípios: a

Comarca do Norte e a Comarca do Sul.

Este ato, segundo Barbosa et al. (2004), marcou, definitivamente, a desarmonia

entre o Norte e o Sul de Goiás. Grande defensor dos interesses regionais, o

desembargador Joaquim Theotônio Segurado foi nomeado administrador, tornando-se

um dos precursores da emancipação do Estado do Tocantins.

As justificativas para a separação do norte do centro-sul de Goiás eram, para

Segurado, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica. Nesse sentido, a

porção Norte, segundo Parente (1999), “estava desde o início isolada por medidas

legais, como também pela posição geográfica não apropriada à produção agrícola para

outros centros consumidores”, o que não deixou de ser verdade, pois a riqueza se

concentrava na porção sul de Goiás, em detrimento da Região Norte.

Os debates que visavam à emancipação do Estado voltaram na década de 70

após inúmeras lutas do movimento separatista, porém não havia interesse e nem

recursos para a criação de um novo Estado.

O Estado do Tocantins foi criado pela Assembleia Nacional Constituinte, no

artigo 13 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição da

República Federativa do Brasil, promulgado em 05 de outubro de 1988. E, assim, o

norte de Goiás consegue a emancipação e passa a se chamar Tocantins.

Conforme visto, a divisão do Estado foi uma reivindicação antiga da população

do antigo norte goiano, mas poucas transformações socioeconômicas ocorreram na

Page 7: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3165

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

década de 90, pois o Estado ainda estava consolidando os investimentos em

infraestrutura básica, tanto na recém-inaugurada capital Palmas, como também em

outras cidades.

O crescimento econômico e a urbanização do Tocantins de fato só vieram a

acontecer na década de 2000. Os setores produtivos passam por um processo de

expansão que poderá fazer com que assuma uma posição mais relevante no cenário

nacional nos próximos anos. De modo geral, tanto o Tocantins como a cidade de Palmas

têm experimentado forte crescimento econômico desde a sua criação, apresentando uma

série de oportunidades nos setores primários, de transformações e de serviços.

Algumas dessas oportunidades são: a construção da Ferrovia Norte-Sul e a

construção da Usina Luís Eduardo Magalhães (902,5 MW), em Lajeado. Há

possibilidade também de investimento na Hidrovia Tocantins, que permitirá o

escoamento de 56 milhões de toneladas de grãos e de insumos, interligando as regiões

Norte e Centro-Oeste.

AS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Nesta seção, serão apresentadas algumas teorias sobre desenvolvimento.

Cumpre, então, resgatar alguns conceitos. Para tanto, reporta-se inicialmente à

definição de Kuznetz (1983), para quem o desenvolvimento é, na sua essência, um

processo de crescimento econômico acompanhado pela melhoria do padrão de vida da

população, bem como por alterações fundamentais na estrutura de sua economia.

Em seu trabalho seminal “Economic Growth and Income Inequality” (1995),

Kuznetz estudou o desenvolvimento de diversos países. Verificou que países muito

pobres, com renda per capita muito baixa, apresentavam índices de Gini menos

desiguais que os países que haviam iniciado seu processo de desenvolvimento. Cunhou

o termo que ficou conhecido como a “lei de kuznetz”, segundo a qual, no processo de

desenvolvimento dos países, é inevitável que os países subdesenvolvidos apresentem

uma fase durante a qual as desigualdades de renda se acentuam para, depois, com o

desenvolvimento, entrarem em uma fase em que as desigualdades de renda diminuem

até chegar a um índice mais igualitário, como o dos países desenvolvidos. Isto significa

que este processo de crescimento econômico apresenta uma curva em forma de U

Page 8: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3166 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

invertido para a relação índice de desigualdade de renda e taxa de crescimento da renda

per capita.

Para Hirschman (1961) e Furtado (1987), o desenvolvimento depende de vários

fatores, entre eles: i) passado histórico; ii) situação geográfica; iii) população; iv)

cultura; v) extensão territorial; e vi) recursos naturais.

Ainda, Furtado (1986) complementa dizendo que o crescimento econômico se

relaciona apenas com o aumento da produção real, não modificando as funções de

produção. O desenvolvimento econômico se relaciona com crescimento econômico,

porém representa muito mais que um simples crescimento, alterando uma estrutura mais

complexa, as formas sociais e econômicas de divisão do trabalho social, satisfazendo as

necessidades coletivas.

Hirschman (1961) conceitua desenvolvimento econômico como um

acontecimento amplo que, em sua ocorrência, implica elevação dos níveis qualitativos

de vida. Para alcançar essa qualidade de vida, alguns prerrequisitos são fundamentais: a)

recursos naturais; b) fontes geradores de energia; c) existência de recursos humanos

devidamente qualificados; d) capacidade administrativa; e e) tecnologias.

Outra teoria é do crescimento cumulativo ou de causação circular cumulativa

desenvolvida por Myrdal (1968). Nessa teoria, ele usa esse conceito para falar de um

ciclo virtuoso ou vicioso, que tanto pode ocorrer de forma ascendente quanto

descendente, ou seja, uma sequência de fatos que desencadeiam outros fatos de forma

cumulativa e propulsora. Ele utiliza esse conceito tanto no campo econômico quanto no

campo social.

Segundo Myrdal (1968), a expansão na produção de um centro urbano gera

benefícios a localidades adjacentes, pois emprega grande quantidade de trabalhadores,

estimulando o mercado de bens de consumo. Diz ainda que as desigualdades regionais

se agravam quanto mais pobre for o país e que, quanto maior o nível de

desenvolvimento, mais fortes são os efeitos propulsores, tendo em vista as condições

sociais e econômicas de que dispõem os países mais ricos.

A Teoria dos Polos de Crescimento, desenvolvida por François Perroux prega a

concentração dos investimentos para um melhor aproveitamento dos efeitos de

encadeamento. Perroux (1978) argumenta que o ponto de partida para desencadear o

processo de crescimento é pela inserção de uma indústria motriz que tenha capacidade

Page 9: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3167

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

de difundir os efeitos de encadeamento em direção às atividades polarizadas. Tal

inserção dentro de um sistema regional suscitará efeitos positivos e negativos à região

receptora. À medida que tais efeitos vão se concentrando, a atividade motriz se tornará

um polo propulsor da economia da região. O desenvolvimento dependerá do nível e da

qualidade dos efeitos positivos e negativos.

Não é intenção deste artigo estender as definições de desenvolvimento, o intuito

é apresentar algumas teorias que fundamentam o crescimento e o desenvolvimento de

um país. A seguir, serão apresentados os procedimentos metodológicos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para este trabalho, foram utilizadas publicações do IBGE, do Governo do Estado

do Tocantins, além de outras fontes, como PNUD, sites e livros.

Para a caracterização do Estado do Tocantins, foi feita uma ampla revisão de

literatura com o objetivo de conhecer a região em análise. Esse processo se faz

imprescindível, visto que, para fazer uma análise das características de determinada

região, é necessário que se conheça bem a área de estudo.

Para fazer a caracterização socioeconômica, foi feita uma coleta de dados sobre

renda, população, mortalidade infantil e analfabetismo para o Brasil, região Norte e,

especificamente, o Estado do Tocantins.

A região Norte do Brasil tem cerca de 3.853.575,6 km² de área, o correspondente

a aproximadamente 45,3% de todo o território brasileiro. Da extensão territorial da

Região Norte, cerca de 7,2% pertence ao estado do Tocantins, 277.621,9 km² (Tabela

1).

TABELA 1 - Área e Densidade demográfica do Brasil, da Região Norte e do Estado do Tocantins

Área total das unidades territoriais (km²) Participação (%) Brasil 8.502.728,3 - Norte 3.853.575,6 45,3

Tocantins 277.621,9 7,2 Fonte: IBGE - Censo Demográfico (2010).

O Estado tem 139 municípios, uma população de 1.373.551 habitantes (2010),

taxa de urbanização de 85,9% e densidade demográfica de 4,95 hab/km². A capital do

Estado é Palmas, com uma população de 223.817 mil habitantes. O Estado tem como

Page 10: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3168 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

principais bacias hidrográficas, os Rios Tocantins e Araguaia, uma malha viária cerca

de 5 mil km de estradas pavimentadas, sendo a distância entre os pontos extremos no

sentido Norte-Sul de 899,5 km e no sentido Leste-Oeste de 615,4 km. Conta com um

potencial agrícola de 16 milhões de hectares de solos agricultáveis e sua vegetação é

composta por 87% de Cerrado e 13% de Floresta Amazônica (IBGE, 2010).

ANÁLISES DOS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DE DESENVOLVIMENTO DO TOCANTINS

A Tabela 2 apresenta a população total, urbana e rural para o Brasil, Região

Norte e para o Estado do Tocantins, no período de 2000 a 2010. A conclusão simples

desta tabela é a predominância da população urbana para os três entes federativos.

TABELA 2 – População Total - Urbana e Rural residente (mil pessoas) do Brasil, Região Norte e Estado do Tocantins, entre 2001 e 2010.

Ano (*) Brasil Norte Tocantins

Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural 2001 170955 143378 27577 9830 9486 344 1194 850 344 2002 173501 145913 27588 10200 9870 330 1211 881 330 2003 175954 148256 27698 10611 10275 336 1228 893 336 2004 181687 150689 30998 14300 10567 3734 1244 889 355 2005 183881 152138 31743 14573 10909 3665 1260 896 364 2006 186021 154751 31269 14838 11293 3545 1275 945 331 2007 188029 156763 31266 15085 11616 3469 1289 948 342 2008 189953 159095 30858 15327 11953 3374 1303 974 329 2009 191796 161041 30755 15555 12125 3430 1316 979 337 2010 190721 160879 29842 15865 11663 4202 1383 1090 293

Fonte: IBGE (2010) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (*) estimativas anos: 2001 a 2009 Complementado a análise, a Tabela 2 apresenta a taxa de urbanização anual para

os mesmos segmentos. Em 2000, o país apresentava uma taxa de urbanização de

81,35%, que aumentou para 84,35% em 2010. A taxa de urbanização da Região Norte

entre os anos de 2000 e 2010 passa de 69,9% para 73,5%. Para o Estado do Tocantins,

ela passou de 74,3% em 2000 para 78,8%. O Tocantins apresenta urbanização superior à

da Região Norte, porém inferior à do Brasil.

Evidencia-se, portando, que o país, como um todo, está mais urbanizado, e a

população vivendo em áreas rurais está diminuindo cada vez mais. Esta desruralização

pode estar relacionada com a mecanização intensiva da agricultura no campo e/ou com

Page 11: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3169

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

as ofertas de serviços públicos como educação, saúde, emprego, renda, qualidade de

vida que as cidades podem oferecer à sua população.

TABELA 3 – Taxa de Urbanização do Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a 2010 Ano Brasil Norte Tocantins 2000 81,33 69,92 74,31 2001 83,87 73,37 71,19 2002 84,10 74,91 72,75 2003 84,26 75,32 72,72 2004 82,94 73,90 71,46 2005 82,74 74,86 71,11 2006 83,19 76,11 74,12 2007 83,37 77,00 73,55 2008 83,75 77,99 74,75 2009 83,96 77,95 74,39 2010 84,35 73,51 78,81

Fonte: IBGE / Censos Demográficos 2000 e 2010 Quanto mais a população cresce, maiores serão as demandas para atender à suas

necessidades básicas e melhorar os indicadores de desenvolvimento (SOUZA, 2005).

Para tanto, é necessário calcular as taxas de crescimento populacional. A Tabela 4

apresenta a essa taxa para o Brasil, Região Norte e o para Estado do Tocantins, entre

2001 e 2010. Tocantins apresentou uma taxa de crescimento anual de 1,34, superior à

taxa do Brasil, que foi de 1%, mas inferior à da Região Norte, de 1,88%.

TABELA 4 - Taxa de Crescimento Populacional: Brasil, Região Norte e Tocantins – 2001 a 2010.

Ano Brasil Norte Tocantins 2001-2010 1,00 1,88 1,34

Fonte: IBGE (2010) A Tabela 5 apresenta para os mesmos entes federativos a taxa de natalidade, que

compreende o número de nascidos vivos por 1000 habitantes, de 2000 a 2008. O Estado

do Tocantins apresentou uma taxa de natalidade de 26,9 em 2000, que se reduziu para

20,5 em 2008, uma diferença de 6,4, superior à da Região Norte, de 5,6, e do Brasil, de

4,8. O Estado do Tocantins apresenta uma taxa menor que a da Região Norte, mais essa

taxa é superior se comparada à nacional. Observa-se que essa taxa vem se reduzindo

durante os anos analisados. A maior redução ocorreu no Estado do Tocantins em que a

taxa passou de 26,9 nascidos vivos por 1000 habitantes em 2000 para 20,5 em 2008.

Page 12: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3170 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

TABELA 5 – Taxas de Natalidade para Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a 2008 Ano Brasil Norte Tocantins

2000 21,2 28,8 26,9 2001 20,1 27,5 25,8 2002 19,5 26,5 24,6 2003 18,8 25,3 23,4 2004 18,5 24,2 22,4 2005 17,7 22,6 21,4 2006 17,1 21,7 20,5 2007 16,6 21,3 18,4 2008 16,4 23,2 20,5

Fonte: IBGE / Projeções demográficas preliminares (2010).

No que se refere à esperança de vida ao nascer, a Tabela 6 apresenta a evolução

dos anos de expectativa de vida ao nascer, distribuída por gênero. Nos três entes

federativos, a mulher apresentou maior expectativa em relação ao homem, mas houve

significativa melhora tanto para homem quanto para mulheres, o que indica uma

sensível melhora na qualidade de vida dos brasileiros.

TABELA 6 – Esperança de Vida ao nascer: Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 a

2009 Ano Brasil Norte Tocantins

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher 2000 66,7 74,4 66,8 72,4 67,2 71,3 2001 67,1 74,7 67,1 72,7 67,4 71,6 2002 67,4 75 67,4 73 67,7 72 2003 67,7 75,3 67,7 73,3 68 72,3 2004 68 75,6 68 73,7 68,3 72,6 2005 68,4 75,9 68,2 74 68,5 73 2006 68,7 76,2 68,5 74,3 68,8 73,3 2007 68,8 76,4 68,8 74,6 69,1 73,6 2008 69,3 76,8 69,1 74,9 69,3 73,9 2009 69,6 77,1 69,3 75,1 69,6 74,2

Fonte: IBGE / projeções demográficas preliminares (2010).

Para a taxa bruta de mortalidade (por 1.000 habitantes), verifica-se, na Tabela 7,

que o Estado do Tocantins apresenta taxa maior que a da Região Norte em todos os

anos analisados, porém, essa taxa é menor em relação à média nacional. Nota-se uma

regressão dessa taxa ao longo dos anos, que pode estar relacionada diretamente com as

variáveis melhor alimentação, melhores condições de saneamento básico, entre outras.

Page 13: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3171

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

TABELA 7 – Taxa Bruta de Mortalidade para Brasil, Região Norte e Tocantins – 2000 - 2008

Ano Brasil Norte Tocantins 2000 6,4 5,3 5,9 2001 6,3 5,2 5,9 2002 6,3 5,1 5,8 2003 6,2 5 5,7 2004 6,2 5 5,7 2005 6 4,9 5,6 2006 6 4,9 5,6 2007 6 4,8 5,5 2008 6,1 4,8 5,1

Fonte: IBGE / Projeções demográficas preliminares (2010).

Em relação ao saneamento básico ligado à rede geral de esgoto ou fossa séptica,

com água proveniente de rede geral de abastecimento e lixo coletado direta ou

indiretamente pelos serviços de limpeza, verificou-se no país aumento de 56,5 % em

2000 para 61,8% em 2010. Nas cidades com até cinco mil habitantes, as taxas passaram

de 21,7% em 2000 para 30,8% em 2010. Já nas cidades com mais de 500 mil habitantes,

os percentuais eram de 79,7% em 2000, subindo para 82,5% em 2010 (IBGE, 2011).

Analisando os dados para a Região Norte, apenas 22,4 % dos domicílios tinham

condições adequadas de saneamento básico em 2010, enquanto no Sudeste a proporção

era de 82,3%. Para o estado do Tocantins, essa percentagem sobe para cerca de 25% de

saneamento básico. Pode-se concluir que ainda é precário o saneamento básico no país

como um todo e mais crítico ainda na Região Norte do Brasil.

Analisando a Taxa de mortalidade infantil, Tabela 8, verifica-se que o Estado

apresenta a mais elevada taxa se comparada com a da região Norte e com a do Brasil.

No Tocantins, no ano de 2007, para cada mil nascidos vivos, 27,3 vêm a óbito. Na

região Norte e no Brasil, para cada mil nascidos vivos, no ano de 2007, 25 e 24,3 vêm a

óbito, respectivamente. Pode-se notar uma redução da taxa de mortalidade infantil nos

anos seguintes, 2009 e 2010, tanto no Estado quanto na grande região e na federação.

De 2007 para 2009, há uma redução de 6,9% na taxa de mortalidade infantil do

Tocantins, de 5,9 para a região Norte e de 5,5 na taxa de mortalidade infantil nacional.

Essa redução pode ser atribuída ao aumento dos níveis de liberdades políticas e

individuais e ao nível de educação feminina.

Page 14: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3172 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

TABELA 8 - Taxa de mortalidade infantil para Brasil, Região Norte e Tocantins por 1.000 nascidos vivos: 2000 e 2009.

Ano Brasil Norte Tocantins 2000 30,1 - - 2001 29,2 - - 2002 28,4 - - 2003 27,5 - - 2004 26,6 - - 2005 25,8 - - 2006 25,1 - - 2007 24,3 25 27,3 2008 23,3 24,2 26,4 2009 22,5 23,5 25,6

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica, Projeto UNFPA/BRASIL (BRA/02/P02) - População e Desenvolvimento, Sistematização das medidas e indicadores sociodemográficos oriundos da projeção da população por sexo e idade, por método demográfico, das Grandes Regiões e Unidades da Federação, para o período 1991-2030. Fazendo-se uma análise da taxa de fecundidade de acordo com a situação do

domicílio rural ou urbano, podemos observar que, de 2007 a 2009, a Região Norte

apresentou as maiores taxas de fecundidade, principalmente na área rural, seguida de

Tocantins e Brasil. Esse indicador também pode ser relacionado diretamente ao nível de

educação feminina e às políticas de conscientização governamental (Tabela 9).

TABELA 9 - Taxa de fecundidade total por situação do domicílio Brasil, Região Norte e Tocantins: 2000 e 2009.

Ano Brasil Norte* Tocantins** Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural

2000 2,38 2,18 3,49 - - - - - - 2001 2,33 2,18 3,42 - - - - - - 2002 2,26 2,11 3,25 - - - - - - 2004 2,13 1,96 3,14 - - - - - - 2005 2,06 1,93 3,02 - - - - - - 2006 1,99 1,86 2,86 - - - - - - 2007 1,95 1,81 2,74 2,6 2,36 3,61 2,26 2,4 2,87 2008 1,89 1,75 2,4 2,37 2,14 3,39 2,07 1,99 2,53 2009 1,94 1,81 2,73 2,51 2,23 3,47 2,6 2,24 3,23

Fonte: IBGE (2010) Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Gerência de Estudos e Análises das Dinâmicas Demográficas. (*) (**) Não há dados disponíveis para a Região Norte e Tocantins entre 2000 e 2006.

Quando se observa o nível de instrução, Tabela 10, o Estado do Tocantins

apresenta as menores taxas percentuais de alfabetização quando comparado à região

Norte e ao Brasil. No ano de 2007, as taxas de alfabetização para homens e mulheres no

Estado do Tocantins eram de 84,3 e 87,2, respectivamente. Para a região Norte, a taxa

de alfabetização, em 2007, era de 90 para mulheres e de 88,3 para os homens. E no

Page 15: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3173

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

Brasil, as taxas para homens e mulheres eram, respectivamente, 89,8 e 90,2. Pode-se

observar, também, redução na taxa de alfabetização para mulheres do ano de 2007 para

o ano de 2008, tanto na Região Norte quanto no Estado do Tocantins. No Brasil, essa

taxa foi mantida nos dois anos, porém, houve aumento da taxa de alfabetização tanto

para homens quanto para mulheres dos anos de 2007 a 2009 no Estado, na Região Norte

e no País.

TABELA 10 - Taxa de alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais de idade por sexo Brasil, Região Norte e Tocantins: 2001 e 2009.

Ano Brasil Norte * Tocantins** Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

2001 87,5 87,7 - - - - 2002 88 88,3 - - - - 2003 88,3 88,6 - - - - 2004 88,4 88,8 - - - - 2005 88,7 89,2 - - - - 2006 89,4 89,9 - - - - 2007 89,8 90,2 88,3 90 84,3 87,2 2008 89,8 90,2 88,8 89,7 84,5 86,8 2009 90,2 90,4 88,6 90,3 85,1 87,9

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/2009. (*) (**) Não há dados disponíveis para a Região Norte e Tocantins entre 2001 e 2006.

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 mostra que o Brasil faz parte do

seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011,

segundo os dados recalculados para a nova base deste ano. No caso brasileiro, esta

evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da

dimensão saúde – medida pela expectativa de vida – responsável por 40% da alta. As

outras duas dimensões que compõem o IDH, educação e renda, corresponderam, cada

uma, a cerca de 30% desta evolução (PNUD, 2011).

TABELA 11 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o Brasil, Região Norte e Tocantins: 2000, 2005 e 2010.

Ano Brasil Região Norte Tocantins 2000 0,665 0,727 0,710 2005 0,692 0,766 0,756 2010 0,715 0,787 0,766

Fonte: PNUD, 2010 – Relatório de Desenvolvimento Humano; IBGE (2010) e Ipea (2010. A Tabela 11 apresenta os dados do IDH do período de 2000, 2005 e 2010. Em

2000, o País apresentava um IDH de 0,665, avançando para 0,718, após uma década.

Page 16: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3174 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Para a Região Norte, esse índice que era de 0,727, tendo subido para 0,787 em 2010. Já

para o Estado do Tocantins, ele subiu de 0,710 em 2000 para 0,766 em 2010.

Pode-se inferir que o país está avançando nos indicadores sociais e econômicos,

tanto na Região Norte quanto no Estado do Tocantins, revertendo-se esse avanço em

qualidade de vida e bem-estar social.

Partindo para análises de rendimento, verifica-se que o PIB do Estado do

Tocantins em 2010 representa cerca de 0,46% do PIB nacional e aproximadamente

8,56% do PIB da Região Norte, enquanto a Região Norte representa cerca de 5,34% do

PIB nacional (Tabela 12).

TABELA 12 – Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado (1.000.000 R$) para o Brasil, Região Norte e Tocantins.

2007 2008 2009 2010 Brasil 2661345 3032203 3239404 3770085 Norte 133578 154703 163208 201511

Tocantins 11094 13090 14571 17240 Fonte: IBGE – Contas Regionais (2010).

O PIB per capita tem sido utilizado como principal indicador de crescimento

econômico. No ano de 2009, o PIB per capita do Tocantins foi maior que a média da

Região Norte, respectivamente, 11278 e 10626, porém é inferior à média nacional, de

16918 (Tabela 13).

TABELA 13 – PIB per capita a preços de mercado para o Brasil, Região Norte e Tocantins -2007 a 2009

2007 2008 2009 2010 Brasil 14465 15992 16918 19016 Norte 9135 10216 10626 12701

Tocantins 8921 10223 11278 12461 Fonte: IBGE (2010) A Tabela 13 apresenta o PIB per capita para o Brasil, Região Norte e Estado do

Tocantins entre 2007 e 2010. No acumulado, o país teve um crescimento de 31,46%, a

Região Norte, de 39,04%, e o Estado do Tocantins apresentou a melhor taxa, 39,53%.

Quando se calculou a taxa média anual, o Estado do Tocantins apresentou uma taxa de

3,07, a Região Norte, de 3,0%, e o Brasil, uma taxa de 2,52%.

Esse crescimento do PIB per capita no Estado do Tocantins pode ser atribuído às

obras na área de infraestrutura, como, por exemplo, os avanços nas obras da ferrovia

Page 17: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3175

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

norte-sul, à expansão da fronteira agrícola no Estado, aos investimentos em hidrovia e

na Rodovia Belém-Brasília.

Segundo dados do IBGE (2010), o Estado do Tocantins no período de 2002 – 2010

apresentou o maior crescimento em volume, com uma média anual de 14,2% e de

74,2% no acumulado. A média nacional de crescimento ficou em 7,5% em relação a

2009 e em 37,1% no acumulado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo central deste estudo foi analisar os indicadores de desenvolvimento

socioeconômico do Estado do Tocantins, fazendo uma comparação com a média

nacional e com a Região Norte, considerando o contexto histórico do Estado.

Algumas considerações sobre os indicadores evidenciam que tanto o Brasil

como o Estado do Tocantins estão mais urbanizados, apresentando uma taxa de 84,3% e

78,7% de urbanização, respectivamente. O Estado apresentou uma taxa de crescimento

anual de 1,34, superior à taxa do Brasil, que foi de 1%, mas inferior à da Região Norte.

A taxa de natalidade passou de 26,9 em 2000 para 20,5 em 2008. A expectativa de vida

aumentou nos três entes analisados.

O IDH verificado no país era de 0,665 em 2000, após uma década, ele avançou

para 0,718. Para a Região Norte, esse índice, que era de 0,727, subiu para 0,787 em

2010. Já para o Estado do Tocantins, ele subiu de 0,710 em 2000 para 0,766 em 2010.

Ao analisar o PIB do Tocantins no período de 2002 – 2010, nota-se que ele

apresentou o maior crescimento, 74,2% no acumulado. A participação do PIB do

Estado do Tocantins em 2010 representa cerca de 0,46% do PIB nacional e cerca de

8,56% do PIB da Região Norte, enquanto que a Região Norte representa cerca de 5,34%

do PIB nacional. Como relação ao PIB per capita, o Estado do Tocantins apresentou

uma taxa de crescimento média anual de 3,07, a Região Norte, de 3,0%, e o Brasil, de

2,52%. Portanto, o Estado do Tocantins apresentou o melhor desempenho.

Os dados apresentados permitem observar que o Estado do Tocantins ocupa

posição mediana em desenvolvimento socioeconômico na região Norte. Houve

melhoras em alguns indicadores, mas ainda há muito que avançar para chegar a um

padrão satisfatório de desenvolvimento econômico.

Page 18: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3176 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Aceita-se a hipótese de que o Estado do Tocantins seja resultado histórico do

processo de desenvolvimento capitalista brasileiro, bem como da expansão da fronteira

agrícola na Amazônia, que não é um espaço isolado, mas sim parte integrante e

interdependente da economia capitalista. Quanto ao questionamento levantado, pode-se

inferir que a mais nova unidade federativa do Brasil está, de forma ainda limitada,

investindo na qualidade de vida da sua população. Este trabalho não esgota o assunto

aqui tratado, recomendando-se que seja feito para outras regiões do País.

(acesso em: 20 de novembro de 2012). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AJARA, César; BARBOSA, Jaci Gelabert; BEZERRA, Vera Maria D’Avila C.(1991). o Estado de Tocantins: reinterpretação de um espaço de fronteira. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, 53 (4): 5 – 48, outubro/dezembro, p 5 – 48. BARBOSA, Altair Sales; GOMES, Antônio Teixeira; NETO (2004). Amazônia e a Globalização. In: Amazônia: geopolítica na virada do III. Horieste. Geografia: Goiás-Tocantins. 2. ed. Goiânia: Editora da UFG, 2004. 270 p. DATASUS (2012). Anos de vida esperados, por ano, Segundo Região e UF. Disponível em: <tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2010/a11fb.htm>. (acesso em: 12 de março 2012) DATASUS (2012). Anos de vida esperados, por ano, Segundo Região e UF. Disponível em: <tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2010/a11mb.htm>. (acesso em: 12 de março 2012) DATASUS (2012). Número de nascidos vivos por 1.000 habitantes, por ano, segundo Região e UF. Disponível em: <tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2010/a07b.htm>. (acesso em: 12 março 2012). DATASUS (2012). Número de mortos por 1.000 habitantes, por ano, segundo Região e UF. Disponível em: <tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2010/a10b.htm>.(acesso em: 12 março 2012). DATASUS (2012). Proporção (%) de população urbana segundo Região e UF. Disponível em: <tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2010/a04ufb.htm>. (acesso em: 12 março 2012). IBGE (2012). Taxa de Alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais de idade por sexo. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1187&z=t&o=1&i=P>.(cesso em: 12 de março 2012).

Page 19: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3177

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

IBGE (2012). Área e Densidade Demográfica da unidade territorial. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1301&z=t&o=1&i=P>. (acesso em: 12 maço 2012) IBGE. Taxa de fecundidade total por situação de domicílio. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1163&z=t&o=1&i=P>. (acesso em: 12 março 2012). IBGE (2012). Taxa de mortalidade infantil, por 1.000 nascidos vivos. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1175&z=t&o=1&i=P>. (acesso em: 12 de maço 2012). IBGE (2012). População residente, por situação, sexo e grupos de idade. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=261&z=t&o=1&i=P>. (acesso em: 12 março de 2012). FURTADO, C. (1987). Teoria e política do desenvolvimento econômico. 11 ed. São Paulo: Nacional. _______________(1985). O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Círculo do Livro. HIRSCHMAN, A. O. (1985). Desenvolvimento por efeitos em cadeia: uma abordagem generalizada. In: SORJ, B. et al. Economia e movimentos sociais na América Latina. São Paulo: Brasiliense, p. 31-79. KUZNETS, S. (1955). Economic growth and income inequality. American Economic Review, v.45, p. 1-28. KUZNETS, S. S. (1983). Crescimento econômico moderno: ritmo, estrutura e difusão. São Paulo: Editora Abril (Coleção Os Economistas). JORNAL TRIBUNA DO PLANALTO. Tocantins: trajetória de crescimento. Disponível em: <www.tribunadoplanalto.com.br/tocantins/10604-tocantins-trajetoria-de-crescimento>. (acesso em: 18 abril de 2012). MYRDAL, Gunnar (1972). Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. 3. ed. Rio de Janeiro: Saga. MYRDAL, Gunnar (1968). Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas. 2ª Edição, Editora Saga: Rio de Janeiro. PARENTE, Temis Gomes (1999). Fundamentos históricos do estado do Tocantins. Goiânia: Ed. Da UFG. 109 p. PERROUX, François (1978). O conceito de pólo de crescimento. In: FAISSOL, S. Urbanização e regionalização: relações com o desenvolvimento econômico. 1. ed. Rio de Janeiro: IBGE.

Page 20: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3178 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2011). Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH). Disponível em < http://hdrstats.undp.org/en/indicators/103106.html (acesso em 27 de janeiro de 2013). SANTOS, R. F.; SCHLINDWEIN, M. M.; SILVA, A. B. M. E.(2010). Análise do nível de desenvolvimento socioeconômico do estado de Mato Grosso do Sul. In: 48 Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural - SOBER, Tecnologias, Desenvolvimento e Integração Social, Dourados-MS. SOUZA, Nali de Jesus de (2005). Desenvolvimento Econômico. 5º edição revisada. São Paulo: Atlas. TOCANTINS, Estado do. Produto Interno Bruto a Preços de mercado per capita do Brasil, segundo Grandes Regiões e Unidade de Federação – 1995-2009 (2012). Disponível em: www.seplan.to.gov.br/seplan/br/download/20111220195554-pib_per_capita_do_brasil.pdf (acesso em: 14 março 2012). TOCANTINS, Estado do. Produto Interno Bruto do Brasil a preços de mercado, Brasil, segundo Grandes Regiões e Unidade de Federação – 1995-2009 (2012). Disponível em: <www.seplan.to.gov.br/seplan/br/download/20111220175647- produto_interno_bruto_do_brasil.pdf>. (acesso em: 14 de março 2012).

Page 21: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3179

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

1

A EMPRESA VALE E A PRODUÇÃO DE ESPAÇO NO "MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL" NA AMAZÔNIA

BRASILEIRA1 WELBSON DO VALE MADEIRA 2

RESUMO Analisa-se neste artigo como empresas globais podem reorganizar sua dinâmica de produção de espaço com base na noção de desenvolvimento sustentável, tomando-se como referência a atuação da empresa Vale S.A na Amazônia brasileira. Na primeira parte discute-se a importância da organização do espaço em modelos de desenvolvimento econômico e a noção de produção de espaço. Em seguida são apresentadas as formas predominantes de organização do espaço nos planos de desenvolvimento da Amazônia brasileira, com ênfase no chamado modelo de desenvolvimento sustentável. Na terceira parte, analisa-se o enraizamento da Vale na Amazônia e algumas estratégias dessa empresa para obter ganhos econômicos e sociais a partir da noção de desenvolvimento sustentável. Argumenta-se, ao final, que a noção de desenvolvimento sustentável e suas respectivas políticas viabilizam novas formas de produção capitalista de espaço, além das concebidas inicialmente por autores da Economia Política e da Geografia Política. PALAVRAS-CHAVE: Produção de Espaço; Desenvolvimento Sustentável; Amazônia; Vale S.A.

THE VALE COMPANY AND PRODUCTION OF SPACE IN THE SUSTAINABLE DEVELOPMENT MODEL IN BRAZILIAN AMAZON

ABSTRACT This article analyzes how global companies can reorganize its dynamics of production of space considering the notion of sustainable development, taking as reference the Vale Company and its proceeding in the Brazilian Amazon. In the first part is under discussion the importance of organization of space in economic development model, and the notion production of space. After that, are submitted predominant forms of organization of space in the development plan to Brazilian Amazon, with emphasis to named sustainable development model. In the third part, there is a review around Vale Company and its incrustation in the Amazon, and some company strategies in order to gain economic and social values, through sustainable development notion. Finally, the Author defends that sustain able development notion, and its correspondent policies, permits new forms of capitalist production of space, besides those initially thought by Authors of Political Economy and Political Geography. KEY-WORDS: Production of Space; Sustainable Development; Amazônia; Vale Company.

1 Este artigo é resultado de pesquisas de doutorado no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (Brasil), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA. 2 Doutorando em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, na Universidade Federal do Pará; Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão. [email protected].

Page 22: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3180 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

1 – INTRODUÇÃO

A partir de debates sobre a conveniência de intervenções estatais na economia,

logo após a Segunda Guerra Mundial consolidaram-se importantes concepções de

desenvolvimento econômico e de sua possibilidade. Entre os desdobramentos desse

processo, afirmaram-se teorias que advogaram a necessidade de os governos

estabelecerem organizações racionais do espaço para reduzir as disparidades regionais.

No Brasil, as teorias de referência para organizar o espaço manifestaram-se de

forma mais direta a partir da década de 1970, por meio de p lanos de desenvolvimento

econômico. Na Amazônia basearam-se inicialmente em um dito modelo amazônico de

desenvolvimento, segundo o qual a região deveria ser mais ocupada, tendo por

referência a teoria das vantagens comparativas e a teoria dos polos de crescimento.

Por outro lado, como alternativa aos planos da década de 1970 e em função de

transformações na economia mundial e da impossibilidade do governo brasileiro manter

financiamentos de grandes projetos, a partir da década de 1990 foram apresentados dois

pretensos novos modelos de desenvolvimento. O primeiro, dito de inserção competitiva,

materializou-se nos planos plurianuais (PPAs) 1996-1999 e 2000-2003, cujas políticas

foram centradas em eixos nacionais de integração e desenvolvimento. O segundo, dito

de desenvolvimento sustentável, começou a ser formalmente construído em 2003, e

manifestou-se na Amazônia por meio do Plano Amazônia Sustentável, em 2008, e do

Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal, em 2010.

Nota-se que nas três gerações de planos de desenvolvimento apresentados para a

Amazônia a Vale S.A. cumpriu funções centrais. No “modelo amazônico”, coube à

empresa ser a coluna vertebral do Programa Grande Carajás (PGC), voltado para

exportação de minério de ferro. No “modelo de inserção competitiva”, articulou suas

atividades aos eixos nacionais de integração. Por fim, no dito “modelo de

desenvolvimento sustentável” está articulando suas atividades a projetos do governo, e

readequando algumas de suas práticas e discursos.

Neste artigo, portanto, apresenta-se a trajetória da empresa Vale S.A. na

Amazônia, com ênfase na fase relativa ao “modelo de desenvolvimento sustentável”,

para discutir as noções de desenvolvimento geográfico desigual e produção de espaço.

Após essa introdução mostram-se formas de organização do espaço em alguns

modelos de desenvolvimento econômico, e para analisar este aspecto são apresentadas

Page 23: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3181

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

3

as noções de desenvolvimento geográfico desigual e produção de espaço. Na segunda

parte, apresentam-se aspectos gerais dos planos desenvolvimentistas para a Amazônia a

partir da década de 1970, ressaltando-se a noção de desenvolvimento sustentável e as

políticas públicas e empresariais baseadas na mesma. Em seguida, analisa-se o

enraizamento da Vale na Amazônia, conflitos relacionados a este processo e estratégias

dessa empresa para obter legitimação social e ganhos econômicos a partir da noção de

desenvolvimento sustentável. Na última parte, a guisa de conclusão geral, destaca-se

que o “modelo de desenvolvimento sustentável” viabilizou novas alternativas de

produção de espaço além das identificadas inicialmente por autores dos campos da

Economia Política e da Geografia Política.

2 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

As políticas de organização do espaço com o objetivo de favorecer o

desenvolvimento econômico praticamente começaram logo após a Segunda Guerra

Mundial, e basearam-se essencialmente em teorias neopositivistas. Na Economia

manifestaram-se em concepções inspiradas no keynesianismo, destacando-se as

chamadas teorias de desenvolvimento regional. Na Geografia destacam-se as

concepções da chamada Nova Geografia.

Como parte das teorias de desenvolvimento regional, a teoria dos polos

provavelmente foi a mais importante (Souza, 2005; Lima, 2009). De acordo com esta

teoria, o crescimento econômico tende a ser irregular e concentrado em determinados

pontos, sendo necessário o Estado intervir para minimizar problemas decorrentes desta

situação (Perroux, 1977; Boudeville, 1969; Hirschman, 1977). Já a Nova Geografia

apresentou modelos estatísticos, derivados essencialmente da Economia, voltados para

“racionalizar” o uso do espaço (Moraes, 2007). Para Corrêa (1991), esta corrente

cumpriu essencialmente um papel ideológico no processo de expansão capitalista a

partir da década de 1950, na justificativa de novos arranjos espaciais demandados pelo

capital.

Em contraposição às teorias neopositivistas, a partir da década de 1960

começaram a vir à tona interpretações sobre desenvolvimento e espaço nos campos da

Economia Política e da Geografia Política. Basearam-se principalmente no método

Page 24: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3182 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

materialista dialético, e podem ser identificadas contribuições de autores da “tradição

marxista britânica”, do “neomarxismo” e da tradição marxista francesa (Soja, 1993).

Segundo Soja (1993), nas contribuições anglófonas verificam-se tentativas de

explicar “os efeitos empíricos do desenvolvimento geográfico desigual (...) através de

suas fontes geradoras nas estruturas, práticas e relações organizacionais que constituem

a vida social” (Soja, 1993, p. 66). Já na “tradição francesa”, destaca-se o pioneirismo de

Lefèbvre, para quem a espacialidade no capitalismo é caracterizada pela “produção e

reprodução peculiares de um desenvolvimento geográfico desigual, através de

tendências simultâneas para a homogeneização, a fragmentação e a hierarquização”

(Soja, 1993, p.65).

Para Lefèbvre, de acordo com Moreira (2012), o espaço está articulado à

infraestrutura e à superestrutura, e tem a mesma importância teórica que essas noções.

Na infraestrutura, manifesta-se por meio de objetos espaciais, como usinas hidrelétricas,

ferrovias, rodovias etc. Na superestrutura, por meio de instituições políticas que

interferem nos arranjos espaciais3.

Além de concordar com Lefèbvre em vários aspectos, Harvey (2004) ressalta a

relação entre produção de espaço e crise, e conclui que “a produção e a reconfiguração

de relações espaciais oferecem um forte meio de atenuar, se não resolver, a tendência de

formação de crises no âmbito do capitalismo” (Harvey, 2004, p. 78). A propósito,

destaca que “foi principalmente com o deslocamento espacial e temporal que o regime

fordista de acumulação resolveu o problema da superacumulação no decorrer do longo

período de expansão do pós-guerra” (Harvey, 2010, p. 173).

Harvey (2010) avalia que no início da década de 1970, articulando-se ao fim do

fordismo-keynesianismo, começou um novo ciclo de “compressão do tempo-espaço”,

configurando-se o que pode ser considerada uma “condição pós-moderna”. Nesta fase

podem ser verificadas importantes transformações nos processos produtivos,

principalmente em função do ritmo das inovações tecnológicas e da possibilidade de se

produzir de uma maneira geograficamente dispersa, e são estabelecidos novos

referenciais de regulamentação econômica, política e espacial. O autor destaca, 3 Henri Lefèbvre analisou a importância do espaço nas relações capitalistas em várias obras. Conforme Moreira (2012), essa discussão específica, relacionando espaço com as categorias infraestrutura e superestrutura pode ser encontrada em Lefèbvre, H. (1973). A re-produção das relações de produção, Porto, Publicações Escorpião.

Page 25: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3183

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

entretanto, que “as práticas temporais e espaciais (...) sempre exprimem algum tipo de

conteúdo de classe ou outro conteúdo social, sendo muitas vezes o foco de uma intensa

luta social” (Harvey, 2010, p. 218).

Para viabilizar a produção de espaço, a intervenção do Estado se torna decisiva,

pois: A capacidade tanto do capital como da força de trabalho de se moverem, rapidamente e a baixo custo, de lugar para lugar, depende da criação de infraestruturas físicas e sociais fixas, seguras e, em grande medida, inalteráveis. A capacidade de dominar o espaço implica na produção de espaço (Harvey, 2005, p. 147).

Como Harvey (2004; 2005), Smith (1990) avalia que a diferenciação do espaço

geográfico, em nível de mundo e de regiões de um país, representa uma necessidade

cada vez maior do capital para amenizar suas crises. Quanto aos espaços em que o

capital acaba por se localizar, avalia que: The increased mobility of capital into and out of production, and the steady emancipation of industry from natural constraints, it is wage-rate differentials and to a lesser extent the extant pattern of labour skills which determine the actual locale toward which capital flows and concentrates (Smith, 1990, p. 146)

Referenciando-se em concepções marxistas, Santos (2002), considera o espaço

“como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações”

(Santos, 2002, p. 21). O sistema de objetos equivale ao conjunto de forças produtivas, e

o sistema de ações ao conjunto de relações sociais de produção. Ambos os sistemas são

“igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao

lugar e aos seus habitantes” (Santos, 2002, p. 63).

Sobre a articulação entre tempo e espaço, Santos (2008) identifica cinco grandes

períodos na história mundial, com diferentes espacialidades. Conclui que estamos no

“período tecnológico”, iniciado logo após a segunda guerra mundial e acelerado a partir

da década de 1990. No atual contexto, devido ao salto no desenvolvimento tecnológico,

“a distinção entre lugar e região passa a ser menos relevante do que antes, quando se

trabalhava com uma concepção hierárquica e geométrica onde o lugar devia ocupar uma

extensão do espaço menor que a região” (Santos, 2002, p. 166).

Na mesma linha de Harvey (2005), Santos (1980) ressalta o papel do Estado, e

avalia que este não é um “intermediário passivo”, está sujeito a diversas influências

externas e é “o único intermediário possível entre o modo de produção em escala

Page 26: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3184 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

internacional e a sociedade nacional” (Santos, 1980, p.181). Portanto, “a reorganização

de um subespaço sob a influência de forças externas depende sempre do papel que o

Estado exerce”, e este aparece como “fator por excelência de elaboração do espaço”

(Santos, 1980, p. 183).

Corroborando a pertinência das análises inspiradas no marxismo acerca da relação

entre desenvolvimento econômico e organização do espaço, e em particular as

percepções de Smith (1990), Harvey (2004; 2005; 2010) e Santos (1980; 2002; 2008),

tem-se que a partir da década de 1970 foram estabelecidas políticas para “organizar” o

espaço no Brasil a partir de planos desenvolvimentistas. Estes, por sua vez, basearam-se

em modelos econômicos inspirados no keynesianismo e na Nova Geografia. É essa a

questão mostrada a seguir, tomando-se como referência os planos desenvolvimentistas

apresentados para a Amazônia brasileira a partir da década de 1970.

3 – PLANOS DE DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA

AMAZÔNIA

O início dos planos de desenvolvimento que pretendiam contribuir para organizar

o espaço no Brasil ocorreu paralelamente à desarticulação do fordismo-keynesianismo e

ao início de uma nova crise na economia mundial. Da década de 1970 em diante esses

planos foram centrados sucessivamente em políticas para consolidar polos de

crescimento, eixos nacionais de integração e zoneamentos ecológico-econômicos

(ZEE).

No caso da Amazônia podem ser identificados três grupos de planos

desenvolvimentistas: o primeiro, relativo ao II Plano de Desenvolvimento da Amazônia

(II PDA, 1975 – 1979) e ao Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da

Amazônia (POLAMAZÔNIA); o segundo, ao Programa Brasil em Ação (PPA 1996 –

1999) e ao Programa Avança Brasil (PPA 2000 – 2003); o terceiro, ao Plano Amazônia

Sustentável (2008) e ao Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal

(2010).

No início da primeira etapa dos planos desenvolvimentistas no Brasil verificava-

se a necessidade de empresas europeias, estadunidenses e japonesas se expandirem

rumo à periferia capitalista, aumento da demanda por determinadas matérias-primas e

crise fiscal em vários países. Diante dessa dinâmica o governo brasileiro apresentou o II

Page 27: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3185

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), e com base no mesmo decidiu aumentar

os investimentos públicos, abrir ainda mais a economia brasileira para o capital

estrangeiro e atraí- lo para associações com empresas estatais (Brasil, 1975; Reichstul &

Coutinho, 1983; Castro & Souza, 1985).

Além dos aspectos gerais indicados no II PND, os planos na Amazônia

vincularam-se ao que o governo denominou de modelo amazônico de desenvolvimento

(SUDAM, 1976; Brasil, 1981). Referido modelo materializou-se no II PDA e no

POLAMAZÔNIA, e por sua indicação foi demarcada uma área para implementar o

Programa Grande Carajás (PGC) 4, que abarcou partes dos atuais Estados do Pará,

Tocantins e Maranhão.

De forma imediata, o PGC foi uma continuação do Programa Minério de Ferro

Carajás (PMFC), iniciado pela então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) em 1980.

Com o PMFC pretendia-se extrair minério de ferro na Serra dos Carajás (Estado do

Pará), estabelecer uma planta industrial para beneficiar o ferro e criar e operar a Estrada

de Ferro Carajás (EFC), ligando as minas de ferro ao porto de Ponta da Madeira, no

Estado do Maranhão5. O programa partiu da avaliação de que diante do aumento da

demanda mundial por produtos básicos, deveria haver um maior aproveitamento dos

recursos minerais, hidrelétricos, florestais e territoriais na parte oriental da Amazônia

(Brasil, 1981).

Em função da recessão econômica que atingiu a economia mundial a partir da

década de 1980, entretanto, os sucessivos governos começaram a alterar os planos

desenvolvimentistas até então implementados no Brasil, e adotaram medidas para

adaptar o país à nova ordem mundial. Assim, inaugurando a segunda etapa dos planos

desenvolvimentistas, foi apresentado o Plano Plurianual (PPA) 1996 – 1999, que do

ponto de vista espacial materializou-se na proposta de consolidar eixos nacionais de

integração e desenvolvimento. Segundo o então governo, estes eixos seriam as bases de

um “modelo de inserção competitiva” (Brasil, 2000; Acselrad, 2001; Mello, 2003).

Continuando o PPA anterior, o PPA 2000 – 2003 priorizou a modernização das

telecomunicações, do sistema de energia e dos transportes. Neste último caso, por meio

4 O PGC foi instituído pelo Decreto-Lei 1.813, de 24/11/1980. Passou a contar com 25% dos fundos públicos destinados ao POLAMAZÔNIA, e com sistemas particulares de financiamento e isenções fiscais (Brasil, 1981; Monteiro, 2004). 5 A EFC foi inaugurada em 1985, e no ano seguinte começou a exportação de minério de ferro pela CVRD a partir do Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, Estado do Maranhão.

Page 28: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3186 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

da criação de corredores multimodais, interligando rodovias, ferrovias, hidrovias, portos

e aeroportos (Brasil, 2000; Nepstad, 2000). Para a Amazônia foram apresentados 40

grandes projetos, voltados principalmente para favorecer exportações (Brasil, 1996;

Becker, 1999).

Na terceira etapa dos planos desenvolvimentistas, a partir de 2003, começou a ser

apresentado o que os governos desde então chamam de modelo de desenvolvimento

sustentável. Está sendo argumentado que este deve partir do pressuposto de que os

modelos anteriores levaram a Amazônia a uma progressiva articulação a um espaço

extra-regional e desestruturaram atividades econômicas locais. Portanto, é necessária a

“revisão do conceito de organização do espaço geográfico e das bases conceituais e

metodológicas que a referenciam” (Brasil, 2010, p. 7). Com este objetivo foram

apresentados o Plano Amazônia Sustentável (PAS) e o Macrozoneamento Ecológico-

Econômico da Amazônia Legal (MacroZEE).

O novo dito novo modelo de desenvolvimento baseia-se principalmente em

formulações originadas no âmbito da Organização das Nações Unidas, por meio da

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Para esta

comissão todos os países deveriam ter como meta atender as “necessidades do presente

sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas”

(Brundtland, 1991, p.9).

Alinhada às idéias neoliberais, a CMMAD defende que para viabilizar o

desenvolvimento sustentável é conveniente o fim das formas tradicionais de soberania

nacional, e que as empresas multinacionais têm um papel decisivo, “sobretudo à medida

que os países em desenvolvimento possam depender mais de capital social estrangeiro”

(Brundtland, 1991, p. 20). O Banco Mundial, por sua vez, além de referendar as

concepções da CMMAD, argumenta que: A determinação de valores às propriedades agrícolas, minérios, rios, oceanos, florestas e biodiversidade, bem como concessão de direitos de propriedade, oferecerão aos governos, indústria e indivíduos o incentivo suficiente para gerenciá-los de forma eficiente, inclusiva e sustentável (World Bank, 2012, p. 1).

Como salienta Redclift (2006, p. 51), “a re-emergência da economia de mercado

(...), com as quais a sustentabilidade é associada, claramente marca um divisor de águas

para a política ambiental”. Ratificando essa interpretação, no caso do Brasil, a partir da

Page 29: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3187

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

década de 1990 começaram a ser estabelecidos diversos instrumentos econômicos6 para

supostamente favorecer a conservação de recursos naturais.

Sob influência do Banco Mundial, por exemplo, e como resultado de reuniões dos

sete países mais ricos do mundo (G-7), foi estabelecido o Decreto 563/92, conhecido

como Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil (PPG-7), que

apresentou como um dos principais objetivos “demonstrar a viabilidade de harmonia

entre desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente” (Brasil, 1996, p. 8).

Ao Banco Mundial coube administrar o Rainforest Trust Fund, vinculado ao PPG-7,

escolha dos doadores do fundo e organização das reuniões do programa, neste caso com

o governo brasileiro (Brasil, 1996).

Como desdobramento de políticas relacionadas ao meio ambiente, parte da

Amazônia consolidou-se como uma grande unidade de conservação. Ao final de 2010,

43,9% do território da região faziam parte do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação ou de Territórios de Ocupação Tradicional (TOT), entendidos como as

terras indígenas ou quilombolas (Borges, et. al, 2007; Veríssimo et. al., 2011). Neste

quadro, complexificado a partir do PPA 1996-99, foram apresentados o PAS e o

MacroZEE.

O PAS começou a ser construído em 2003, e tem como objetivos declarados

consolidar o modelo de desenvolvimento sustentável, combater os processos de

degradação ambiental e estabelecer diretrizes para ordenamento territorial e gestão

ambiental (Brasil, 2008). É argumentado que as populações da Amazônia podem ter

maiores ganhos a partir de uma produção sustentável, mas para isso é necessário

melhorar a infraestrutura na região - justificando-se assim a articulação do PAS com os

eixos nacionais de integração (Brasil, 2008).

O MacroZEE foi definido como instrumento de orientação para a formulação e

espacialização das políticas públicas de desenvolvimento, ordenamento territorial e

meio ambiente. Para tanto, foi decidida sua articulação com os zoneamentos ecológico-

econômicos dos Estados e municípios, e estabelecidas dez unidades territoriais, que,

segundo o governo, compatibilizarão desenvolvimento econômico e conservação

ambiental (Brasil, 2010).

6 O argumento neoliberal acerca da perspectiva dos instrumentos econômicos é o seguinte: os incentivos são baseados em mecanismos de preços, e com os mesmos “agentes privados reagirão, na margem, modificando suas atitudes para interiorizarem aqueles incentivos e continuarem maximizando seus lucros ou sua utilidade” (Riva et al. 2007, P. 28).

Page 30: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3188 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

Diante do crescimento da importância da noção de desenvolvimento sustentável,

as grandes empresas presentes na Amazônia estão reorganizando suas formas de atuar

na região, como é possível verificar no caso da empresa Vale S.A.

4 – A VALE E A PRODUÇÃO DE ESPAÇO NA AMAZÔNIA

Fundada pelo governo brasileiro em 1943, com o nome de Companhia Vale do

Rio Doce (CVRD) 7, a Vale está presente em mais de 30 países. Atua principalmente

nos segmentos de mineração (ferro, manganês, níquel, cobre, cobalto, potássio, ouro),

logística, energia e siderurgia, e é uma das maiores empresas produtoras de minério de

ferro do mundo (Vale, 2011; 2012).

Para a mineração no Brasil a Vale dispõe de uma área de 660.715 hectares de

terras, concedidas pelo governo por tempo indeterminado. Considerando outras

atividades e áreas de proteção sob sua responsabilidade, o território da Vale alcança

6,07 milhões de hectares (Vale, 2013), e é monitorado com base no Sistema de

Informação Geográfica (SIG), subdividido em SIG territorial, SIG Ferrovias, SIG

florestas, Sistema de Detecção de Incêndios (SDI) e Sistema de biodiversidades (Vale,

2011; 2012).

Na Amazônia o enraizamento da Vale praticamente começou com o Programa

Grande Carajás, e hoje é materializado na exploração de quatro minas de ferro, uma

ferrovia de 892 km, com concessão até 2027, um complexo portuário, reservas

ambientais e usinas de produção de energia. Destaca-se, neste último caso, a

propriedade de 30% da usina hidrelétrica de Estreito, no Estado do Maranhão, que

começou a operar em março de 2013, e 9% do consórcio Norte Energia, criado para

implantar e operar a usina de Belo Monte (Estado do Pará), cujo início do

funcionamento está previsto para 2015 (Vale, 2012; 2013a).

Beneficiando-se da infraestrutura criada ou projetada pelo governo federal, desde

a segunda metade da década de 1990 a Vale está expandindo seus negócios, podendo-se

destacar o Programa Capacitação Logística Norte, do qual fazem parte o aumento da

produção de ferro, duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), novo ramal

7 A privatização da CVRD foi objeto de polêmicas e dezenas de ações judiciais, que se arrastam até a atualidade. Em 2012, por exemplo, restavam 69 ações questionando a legalidade da desestatização da empresa (Vale, 2013b). A partir de 1998 a CVRD passou a ser denominada simplesmente Vale.

Page 31: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3189

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

ferroviário ligando as minas à EFC e expansão do complexo portuário de Ponta da

Madeira (Vale, 2011; 2012; 2013a).

A Vale reconhece que a expansão de suas atividades tem levado ao aumento da

emissão de diversos poluentes, como os óxidos de Enxofre (SOx) e de Nitrogênio

(NOx), mas considera que “essas substâncias não têm efeito global e seus impactos na

qualidade do ar ocorrem em função das concentrações e condições locais” (Vale, 2011,

p. 13). Em relação à água, é admitido que a captação da mesma no processo de

mineração é maior do que sua necessidade de consumo, mas é ressaltado que este

procedimento é “autorizado por instituições estaduais responsáveis pela gestão dos

recursos hídricos” (Vale, 2013b, p. 87).

Todavia, há diversas denúncias em contraposição aos argumentos da Vale S.A.

Segundo a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (2012), por exemplo, em

2010 as atividades da empresa na Amazônia tiveram impactos em uma área de 741,8

km², por conta principalmente de desmatamentos e emissões de poluentes, inclusive os

produzidos por empresas terceirizadas e parceiras. Além disso, há registros de dezenas

de representações na Justiça contra a empresa, nos estados do Pará e Maranhão.

Em uma das representações é informado que a Vale teria reconhecido a

possibilidade de suas atividades estarem gerando “partículas totais em suspensão” acima

do determinado legalmente, na cidade de São Luís (Justiça nos Trilhos, 2010). Outra

representação é relativa aos atropelamentos na Estrada de Ferro Carajás. Conforme o

processo: A Estrada de Ferro Carajás corta 25 municípios em seus 892 quilômetros, possuindo 725 travessias, ou seja, pontos em que há passagem de pessoas, animais e/ou veículos. A maior parte dessas travessias não é subterrânea e nem aérea, gerando elevados riscos de acidentes. Existem 94 localidades, entre povoados, vilas e cidades, na faixa de 1.000 metros com eixo na Estrada de Ferro Carajás. O intenso fluxo de pessoas, somadas a ausência de mecanismos de proteção e sinalização fazem com que a cada mês 1 (uma) pessoa, em média, morra atropelada pelos trens operados pela Vale S.A. (Justiça Nos Trilhos, 2010, p. 71).

Também a duplicação da EFC é objeto de uma Ação Civil Pública, articulada pela

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. É alegado que há vícios no licenciamento

ambiental do referido empreendimento, e que este pode levar a danos irreversíveis a

Page 32: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3190 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

dezenas de comunidades afetadas de forma direta ou indireta pela Vale (Poder

Judiciário, 2012).

Como forma de reagir aos conflitos com grupos organizados, a Vale tem adotado

novas estratégias de relacionamentos com diversas comunidades que sofrem seus

impactos, com práticas que afirma serem socialmente adequadas e com referência na

noção de desenvolvimento sustentável, e as alia a uma “forte estratégia de marketing”

(Vale, 2013). Nessa perspectiva, por exemplo, tenta absorver trabalhadores e

fornecedores de produtos e serviços da região, opera um trem de passageiros na EFC e

patrocina atividades nas áreas de cultura, educação e esportes. Além disso, após o

governo apresentar o PAS, a empresa apresentou o seu Plano de Ação em

Sustentabilidade, baseado em indicadores de geração de resíduos perigosos, captação de

água, consumo de energia direta, reuso de água, consumo de energia indireta e emissões

de gases causadores do efeito estufa. Com essas práticas, a empresa se considera

credenciada para participar de “iniciativas globais como o Pacto das Nações Unidas, o

Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) e o Fórum Global da

Sustentabilidade da Indústria da Mineração (Vale, 2012, p. 15).

Ao mesmo tempo, em função de riscos relativos às mudanças climáticas

mundiais, a Vale avalia que: Tem a oportunidade de criar novos produtos, negócios e serviços em novos mercados criados pelas mudanças climáticas. Produtos contemplados nessa oportunidade abrangem o desenvolvimento de novos negócios em energias renováveis e novos negócios florestais. (Vale, 2013b, p. 191)

Na perspectiva de lucrar com os “negócios florestais”, a Vale busca ainda

“agregar valor” às áreas de reservas florestais sob sua responsabilidade, principalmente

a partir da quantificação e precificação da estocagem e seqüestro de CO2. Como

desdobramento dessa política foi criado o Projeto Carbono do Vale Florestar, que

negocia créditos de carbono em bolsas de valores (Vale, 2013b). Articulando-se a este

projeto, a Vale toma como referência em seus negócios o índice de carbono eficiente

(ICO2) e o índice de liderança do carbon disclosure project (CDLI), e foi a primeira

mineradora no Brasil a ingressar no índice de sustentabilidade empresarial (ISE), da

Bolsa de Valores de São Paulo (Vale, 2011).

Page 33: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3191

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

Para a Vale S.A. os índices relacionados à sustentabilidade ambiental e a

responsabilidade social, bem como as certificações de produtos e serviços como

ambientalmente e socialmente adequados, são importantes na medida em que “questões

de sustentabilidade recebem atenção crescente de investidores para o sucesso financeiro

das empresas a longo prazo” (Vale, 2011, p. 7).

Portanto, pode-se afirmar que a Vale S.A está aproveitando o “modelo de

desenvolvimento sustentável” para expandir seu domínio na Amazônia. De forma

direta, a empresa se beneficia da infraestrutura criada para supostamente viabilizar o

dito modelo de desenvolvimento sustentável. Indiretamente, beneficia-se por negociar

títulos relativos a “serviços ambientais” e valorizar suas marcas por meio de

certificações e intenso trabalho de marketing.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para as atividades produtivas das grandes corporações é fundamental que o Estado

“organize” o uso do espaço (Harvey, 2004, 2005, 2010; Smith, 1991; Santos, 1980,

2002, 2008; Soja, 1993; Moreira, 2012). Por outro lado, analisando-se o caso da

Amazônia brasileira, verifica-se que as políticas de ordenamento territorial têm

reforçado a tendência de desenvolvimento geográfico desigual, por meio da

concentração de obras de infraestrutura e incentivos a grandes projetos econômicos.

Na Amazônia brasileira as três gerações de planos de desenvolvimento econômico

materializaram-se, sucessivamente, em políticas centradas em polos de crescimento,

eixos nacionais de integração e desenvolvimento e zoneamento ecológico-econômico

(ZEE). Atualmente verifica-se a coexistência de aspectos dos três “modelos”. Os polos,

em termos de centros industriais e urbanos, por exemplo, estão sendo compatibilizados

com políticas para consolidar eixos de integração.

Ocorre que as políticas relacionadas ao pretenso novo modelo de desenvolvimento

econômico apresentam algumas particularidades importantes. Como se procurou

demonstrar, no caso da Vale S.A., por exemplo, as políticas baseadas na noção de

desenvolvimento sustentável favorecem a adoção de determinadas práticas e do discurso

de que a empresa tem responsabilidade social e ambiental. Esse fato, por sua vez,

contribui para novas possibilidades de ganhos econômicos e para dar uma aparência de

legitimidade às atividades da empresa na Amazônia.

Page 34: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3192 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Constata-se que a Vale S.A. mantém as formas de expandir seu domínio na

Amazônia iniciadas na década de 1980. A duplicação da Estrada de Ferro Carajás, a

consolidação de um sistema multimodal de transportes e a articulação da empresa aos

eixos nacionais de integração são referências neste sentido. Ao mesmo tempo, com o

pretexto de referenciar-se no “desenvolvimento sustentável”, a Vale pode atuar com

menor intermediação direta do Estado, assegurar explorações futuras de recursos

naturais, criar barreiras à concorrência e obter ganhos em mercados especulativos, com

títulos que certificam a alegada responsabilidade ambiental da empresa. Não menos

importante, na medida em que a Vale S.A. impõe padrões organizacionais e de

qualidade, programas como os de desenvolvimento de fornecedores e produtos e

serviços, e os de formação de mão-de-obra local, resultam em novas formas de domínio

na região.

Conclui-se que as noções iniciais de produção de espaço e desenvolvimento

desigual, indicadas neste artigo, continuam válidas para entender importantes elementos

do capitalismo contemporâneo. Ajudam a analisar, por exemplo, características dos

novos grandes projetos econômicos na fase da “globalização” e as políticas de

ordenamento territorial. Por outro lado, percebe-se também que algumas contribuições

nos campos da Economia Política e da Geografia Política precisam ser requalificadas

para o atual contexto da economia mundial. Prova disso é o fato de que as políticas

associadas à noção de desenvolvimento sustentável fomentam desigualdades e

contribuem para novas situações de domínio econômico e social por parte de grandes

corporações. E, portanto, para novas possibilidades de produção capitalista de espaço.

Page 35: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3193

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acselrad, H. (2001). Eixos de articulação territorial e sustentabilidade do

desenvolvimento no Brasil, Projeto Brasil Sustentável e Democrático/FASE, Rio de

Janeiro.

Articulação Internacional dos atingidos pela Vale (2012). Relatório de

Insustentabilidade da Vale - 2012. Disponível em

<http//www.atingidospelavale.wordpress.com>. Acedido em 05-01-2013.

Becker, B. K. (1999). Os eixos de integração e desenvolvimento e a Amazônia. Revista

Território, v.4, n. 6. Jan./jun.

Borges, S. H. et. al. (2007). Uma análise Geopolítica do atual sistema de unidades de

conservação na Amazônia brasileira. Revista Eletrônica Política Ambiental, n.4.

Conservação Internacional, Belo Horizonte.

Boudeville, J. R. (1969). Los espacios econômicos. Editorial Universitaria de Buenos

Aires, Buenos Aires.

Brasil (1975). Senado Federal. II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974 – 1979).

Senado Federal, Brasília.

_____ (1981). Ministério das Minas e Energia. Programa Grande Carajás. Ministério

das Minas e Energia, Brasília.

_____ (1996). Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia

Legal. Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil. MMA,

Brasília.

_____ (2000). Presidência da República. Conhecendo mais sobre o Avança Brasil.

Disponível em <http://www.abrasil.gov.br/anexos>. Acedido em 02-07-2011.

_____ (2008). Presidência da República. Plano Amazônia Sustentável: diretrizes para o

desenvolvimento sustentável da Amazônia Brasileira, MMA, Brasília.

_____ (2010). Presidência da República. Macrozoneamento Ecológico-Econômico da

Amazônia Legal. Decreto 7.378, de 1º de dezembro de 2010. Disponível em

<http://www.mma.gov.br/zeeamazonia>. Acedido em 05-06-2012.

Brundtland, G. H (1991). (org.). Nosso futuro comum. Relatório da Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 2. ed. FGV, Rio de Janeiro.

Page 36: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3194 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Castro, A. B. & Souza, F. E (1985). A economia brasileira em marcha forçada. Paz e

Terra, Rio de Janeiro.

Corrêa, R. L. (1991). Região e organização espacial, 4. ed., Ática, São Paulo.

Harvey, D. (2004). O Novo Imperialismo, Loyola, São Paulo.

_______ (2005). A produção capitalista do espaço. 2. ed. Annablume, São Paulo.

_______ (2010). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança

cultural. 20. ed. Loyola, São Paulo.

Hirschman, A. O. (1977). Transmissão inter-regional de crescimento econômico.

Schwartzman, J. (org.). Economia regional: textos escolhidos. CEDEPLAR, Belo

Horizonte.

Justiça Nos Trilhos (2010). Não Vale. Revista eletrônica. Disponível em:

<http//www.justicanostrilhos.org> Acedido em 10-08-2012.

Lima, A. C. C & Simões, R. F. (2009). Teorias do desenvolvimento regional e suas implicações de política econômica no pós-guerra: o caso do Brasil. UFMG/CEDEPLAR, Belo Horizonte.

Mello, N. (2003). Contradições territoriais: signos do modelo aplicado na Amazônia.

Sociedade e Estado. v. 18, n. 1, Brasília, 339 – 360.

Monteiro, M. A. (2004). Amazônia: mineração, tributação e desenvolvimento regional,

Novos Cadernos NAEA, v. 7, n. 2, UFPA/NAEA, dez. 2004, Belém, 159-186.

Moraes, A. C. (2007) Geografia: pequena história crítica. 21. ed., Annablume, São Paulo.

Moreira, R. (2012). Geografia e práxis: a presença do espaço na teoria e na prática

geográficas. Contexto, São Paulo.

Nepstad, D. et. al. (2000). Avança Brasil: os custos ambientais para a Amazônia.

Gráfica e Editora Alves, Belém.

Perroux, F. (1977). O conceito de polo de crescimento. In. Schwartzman, J. (Org.).

Economia regional: textos escolhidos. CEDEPLAR, Belo Horizonte.

Poder Judiciário. Justiça Federal de Primeira Instância. Seção Judiciária do Maranhão.

Juízo Federal da 8ª Vara (2012). Processo 26.295-47.2012.4.01.3700. Autores:

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e outros. Réus: Vale S.A. e outros, São

Luís.

Page 37: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3195

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

Redclift, M. R. (2006), Os novos discursos da sustentabilidade. In. Fernandes, M.F. e

Guerra, L. (org.). Contra-Discurso do Desenvolvimento Sustentável. 2. ed. Associação

de Universidades Amazônicas, Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos

Amazônicos, Belém.

Reichstul, H. P. & Coutinho, L. G. (1983). “Investimento Estatal 1974 - 1980: Ciclo e

Crise.” In. Desenvolvimento Capitalista no Brasil. - n. 2., Belluzzo, L. G. M, Coutinho,

R. Brasiliense, São Paulo, 38 – 58.

Riva et. al. (2007). Instrumentos econômicos e financeiros para conservação ambiental

no Brasil: uma análise do estado da arte no Brasil e no Mato Grosso – desafios e

perspectivas. Disponível em www.socioambiental.org. Acedido em 30-06-2013.

Santos, M. (1980). Por uma geografia nova. Hucitec, São Paulo.

_____ (2002). A natureza do espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. Editora da

Universidade de São Paulo, São Paulo.

_____ (2008). Espaço e Método. 5. ed., Editora da Universidade de São Paulo, São

Paulo.

Smith, N. (1990). Uneven Development: nature, capital and the production of space.

Basil Blackwell, Oxford.

Soja, E. (1993). Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social

crítica. J. Zahar, Rio de janeiro.

Souza, N. J. (2005). Teoria dos polos, regiões inteligentes e sistemas regionais de inovação. Análise. v -16, n. 1, jan./jul. 2005, Porto Alegre, p. 87 – 112.

SUDAM (1976). II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1975-1979). SUDAM,

Belém.

Vale (2011). Relatório de Sustentabilidade – 2010, Vale, Rio de Janeiro.

_____ (2012). Projeto Ferro Carajás S11D: um novo impulso ao desenvolvimento

sustentável do Brasil. Vale, Rio de Janeiro.

_____ (2013a). Relatório anual 2012. Vale, Rio de Janeiro.

_____ (2013b). Relatório de Sustentabilidade - 2012. Vale, Rio de Janeiro.

Veríssimo, et al. (2011). Áreas Protegidas na Amazônia Brasileira: Avanços e Desafios,

Imazon; Instituto SocioAmbiental, Belém, São Paulo.

Page 38: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3196 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

World Bank (2012) O Banco Mundial insta os governos a pensarem verde para o

crescimento inclusivo. Comunicado de Imprensa, em 9 de maio de 2012. Disponível em

<http://www.worldbank.org/pt/news/2012/05/09/green-growth-press-release> Acedido

em 28-05-2012.

Page 39: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3197

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

1

OS GRANDES PROJETOS DE INVESTIMENTOS NA AMAZONIA E AS TRANSFORMAÇOES AGRÁRIAS.

Prof. Dr. Benjamin Alvino de Mesquita

Departamento de Economia – Universidade Federal do Maranhão (UFMA) - Maranhão - Brasil.

[email protected]

Daniele de Fátima Amorim Silva Graduanda em Ciências Econômicas - Universidade Federal do Maranhão (UFMA) -

Maranhão – Brasil [email protected]

Ricardo Vituriano Silva

Administrador – Faculdade do Estado do Maranhão – Maranhão – Brasil [email protected]

Valderiza Barros

Pedagoga – Ministério Público Federal - Maranhão – Brasil [email protected]

RESUMO: O avanço geométrico de monocultura e da pecuária, em áreas do Centro-Oeste e da Amazônia, impactou sobremaneira esses locais. Sobram denúncias no aspecto socioambiental, emprego e no controle do território, traduzido em queda na produção de alimentos e transformação do perfil produtivo regional/local. Na Amazônia atual os agentes responsáveis por essas transformações do setor agrário não se restringem ao agronegócio da soja,eucalipto,dendê ou da pecuária empresarial ,também outras atividades econômicas contribuem para essas mudanças. As obras de infraestrutura do PAC, a ampliação dos mega projetos do setor extrativo-metalúrgico e o avanço de monocultivos são peças fundamentais para se compreender as transformações, particularmente na área objeto de intervenção e no seu entorno. A presença de grandes projetos na ocupação da Amazônia foi/é a opção que o estado brasileiro escolheu na implantação deste projeto de desenvolvimento que exclui mais do que inclui. O custo para a sociedade são incomensuráveis e impagáveis, no entanto, as criticas parecem não surtir efeitos e os resultados para a maioria estão revelados nos precários indicadores socioeconômicos e ambientais divulgados sistematicamente pela mídia. A pesquisa (resultado preliminar) propõe analisar que o avanço das monoculturas e dos grandes projetos de investimentos constitui nos agentes propulsores destas mudanças na Amazônia.

Palavras-chave: Grandes projetos de investimentos, monocultura, Amazônia, transformação agrária, conflitos socioambientais.

Page 40: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3198 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

ABSTRACT:

The advance of monoculture geometric and livestock in areas of the Midwest and Amazon, greatly impacted these sites. Complaints abound in environmental aspect, employment and control of territory, translated into decline in food production and transformation of regional productive profile / Current Amazon local. The agents responsible for these changes in the agricultural sector are not limited to soybean agribusiness, eucalyptus, palm oil or livestock enterprise, other economic activities also contribute to these changes. The infrastructure works of the PAC, the expansion of mega-projects in the extractive sector and metallurgical breakthrough monocultures are fundamental to understand the changes, particularly in the area object of intervention and its surroundings. The presence of large projects in the Amazon occupation was / is the option we chose the Brazilian state in the implementation of this development project that excludes more than it includes. The cost to society are immeasurable and priceless, however, the critics do not seem to have an effect and the results for most are revealed in precarious socioeconomic and environmental indicators systematically disseminated by the media. The survey (preliminary result) proposes to analyze the spread of monocultures and large investment projects is the propellants of these changes in the Amazon

Keywords: Large investment projects, monoculture, Amazon, agrarian transformation, environmental conflicts.

1 INTRODUÇÃO

Uma análise mesmo que superficial do setor agrário revela que as

transformações da agricultura brasileira são muitas e diferenciadas qualquer que seja o

aspecto, o que acentua ainda mais o seu caráter heterogêneo e diversificado. Para cada

região do país o setor agropecuário na sua concepção mais ampla visto de forma

sistêmica assume papéis variados e perfis diferenciados. A razão disto se encontra no

cenário internacional favorável de crescente demanda por commodities agrícola o que

possibilitou uma melhor rentabilidade na atividade acompanhada por uma expansão em

algumas áreas sem precedentes, particularmente de grãos e carne. O avanço geométrico

de monocultura e da pecuária, em áreas do Centro-Oeste e da Amazônia, impactou

sobremaneira esses locais. A cada recorde de safra, outros recordes são conquistados

nas exportações e na obtenção de dólares para bancar as importações, inclusive de

alimento. Embora o saldo seja amplamente favorável e as importações preocupam e

denuncia uma ausência de política para o setor. Se o comportamento do setor em

termos macroeconômico desempenhou funções relevante para assegurar o crescimento

econômico, emprego e renda, ele também tem proporcionado outros impactos nem

sempre positivos em termos microrregional, no desenvolvimento local. Em muitos

Page 41: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3199

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

3

destes locais sobram denúncia nos aspectos socioambientais e na questão do emprego e

também da substituição da agricultura de alimentos, traduzido em queda e

transformação do perfil produtivo regional/local.

Na Amazônia atual os agentes responsáveis por essas transformações do setor

agrário não se restringem ao agronegócio da soja,eucalipto,dendê ou da pecuária

empresarial ,também outras atividades econômicas contribuem para essas mudanças. As

obras de infraestrutura do PAC, a ampliação dos mega projetos do setor extrativo-

metalúrgico e o avanço de monocultivos são peças fundamentais para se compreender

as transformações, particularmente na área objeto de intervenção e no seu entorno. A

presença de grandes projetos na ocupação da Amazônia foi/é a opção que o estado

brasileiro escolheu na implantação deste projeto de desenvolvimento que exclui mais do

que inclui. O custo para a sociedade, particularmente a local, como se são

incomensuráveis e impagáveis, no entanto, as criticas parecem não ter surtido efeitos e

os resultados para a maioria está aí presente no dia a dia de todos e revelados nos

precários indicadores socioeconômicos e ambientais divulgados sistematicamente pela

mídia.

Quando se fala de Grandes Projetos de investimento na Amazônia estamos

pensando em mega estruturas produtivas, poderosa política e financeiramente, voltada a

atividades extrativas, concessões publicas e/ou manufatureiras e que se caracterizam

pela escala geométrica de produção, abrangência de atuação e controle de mercado onde

se insere, e também, pela barganha política/financeira que fazem na aquisição de

concessão de direitos a longo prazo sobre o território a ser explorado e de benesses

fiscais para sua instalação.

A estrutura de apresentação do trabalho contempla além da introdução e

conclusão as seguintes partes: na seção dois se faz uma breve análise das

transformações ocorridas no interstício dos censos agropecuários de 1996 e 2006, no

que se refere ao acesso e uso da terra e ocupação da força de trabalho destacando o

papel da agricultura familiar e também o perfil modesto deste setor e as possibilidades /

potencialidades de inserção na ampliação da oferta interna de produtos que lhes dizem

respeito. Em seguida ( seção 3) aborda-se o cenário da economia regional em termos

setoriais e sua dinâmica recente,bem como a importância que assume determinadas

Page 42: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3200 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

atividades ( extrativa) nas contas regionais. Por último se analisa a presença dos grandes

projetos na Amazônia e seus impactos socioeconômicos e ambientais.

2 AS MUDANÇAS NO ACESSO E USO DA TERRA, NA OCUPAÇÃO DA

FORÇA DE TRABALHO E NO PERFIL PRODUTIVO

2.1 Acesso e uso da terra e a ocupação da força de trabalho

A área total da Amazônia (região Norte) é aproximadamente de 3.855 mil

km², mas a área cadastrada agrícola é de 555.358 km² (16,6% da área brasileira) e os

estabelecimentos somam 475.778 (9,2% do Brasil) . Essa área da Amazônia tradicional

é superior a vários países da Europa ou América Latina juntos (daria para caber várias

Penínsulas Ibéricas). Os Estados como o Amazonas e Pará ocupam áreas gigantescas

respectivamente 1,5 milhão de km² e 1,2 milhão de km².

O acesso à terra mesma na Amazônia continua sendo um problema e uma

vergonha nacional, considerado 100 ha como um modulo rural para Amazônia, veja que

número de minifúndio (em 2006) é enorme 335 mil ou 74% do total, mas a área dos

mesmos é de apenas17% do total, enquanto que os latifúndios (+1000 ha), embora

sejam 8.467 (1,8%) se apropriam de 27000 km², o que representa três vezes a área de

Portugal.

Tabela 1 – Distribuição do Número e Área dos Estabelecimentos Agropecuários por estratos de área na Amazônia (1995 e 2006)

Fonte: Censo Agropecuário – IBGE

Os dados do IBGE apresentados nos quadros a seguir oferecem um panorama

geral da estrutura fundiária, utilização da terra, pessoal ocupado e valor da produção,

segundo o tipo de Agricultura Familiar (AF) ou Patronal. Na Amazônia a AF representa

1995 % 2006 % 1995 % 2006 %Menos de 10 ha 134.803 30,2 126.532 26,6 485.318 0,8 361.729 0,710 - 100 217.097 48,7 229.105 48,2 8.700.578 14,9 9.338.721 16,8100 - 200 50.314 11,3 48.432 10,2 6.264.281 10,7 5.980.191 10,8200 - 1000 33.333 7,5 32.086 6,7 12.595.567 21,6 13.036.155 23,51000 ha e mais 8.023 1,8 8.467 1,8 30.313.137 51,9 26.818.968 48,3Total 446.175 100,0 475.778 100,0 58.358.880 100,0 55.535.764 100,0

Tamanho do Estabelecimento

agrícola (ha)

Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares)

Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades)

Page 43: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3201

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

87% dos estabelecimentos e 31,4% da área total cadastrada, sendo relevante (número

absoluto e relativo) em todos os Estados, em particular no Amazonas (93%) e Pará

(89%). No quesito área apropriada cabe a Rondônia com (40%) e Pará (31%). A

agricultura patronal com 62.674 estabelecimentos e uma área de 38,1 milhões de

hectares mostra quem efetivamente se apropria da parte do leão, ou seja, embora seja

apenas 13% dos estabelecimentos, abarca 68,6 % da área. Na Amazônia há 1,6

milhões de pessoas ligadas a agricultura, sendo que 84% estão na AF e 16% na

agricultura patronal. No Tocantins é onde a agricultura patronal tem maior

representatividade (30,5%), nos demais estados essa participação é inferior a 20%. Três

estados: Amazonas, Pará e Rondônia representam 82% de toda força de trabalho

regional nesta categoria (AF).

Tabela 2 – Região Norte: Número de Estabelecimentos agropecuários, área e pessoal ocupado na agricultura familiar e não familiar (2006)

Percebe-se também que um número elevado de pequenos produtores

( estabelecimentos ), em 2006, se encontra na faixa inferior a 200 ha (85%), antes era

90,2%. No intervalo inferior a 10 ha esse percentual (de número) é de 26,6% e de 1,8%

para aquele superior a 1000 ha. Este por sua vez retém cerca de 50% das áreas dos

estabelecimentos (AE), enquanto aqueles (pequenos) ficam apenas com 0,7%,

respectivamente 26.818.968 ha e 361.729 ha. No Pará, Amapá e Tocantins essa

distorção ainda é maior. Este agravamento do acesso a terra vem de longa data, mas o

próximo censo deve mostrar uma tendência de concentração ainda maior por conta do

avanço recente dos monocultivos de dendê, eucalipto e soja. Além disso, a ausência do

estado na regulamentação e controle da terra tem facilitado a grilagem de terra publica,

ademais as obras do PAC I e II baseados em obras de infraestrutura deve também

Page 44: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3202 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

facilitar esse processo de ocupação desordenada que acompanha a implantação desta

obras de rodovias, ferrovias, gasoduto e hidroelétrica em andamento na Amazônia.

A utilização da terra consolida no período militar via pecuária extensiva e

extrativismo predatório de madeira, continua sem grandes mudanças neste último censo

agropecuário (2006), mas novos atores se juntam aos antigos em função da entrada de

grandes grupos nacionais e internacionais na exploração de monocultivos de soja, dendê

e eucalipto. Em linhas gerais a pecuária fica com quase a metade da área ( 8,5%), as

culturas perene e temporária com 7% e o plantio de matas com 0,47%, abaixo da média

nacional. A relação entre área de pastagem e de lavoura é muito desigual chega a ser

em média de 1 para 14. Observa-se também um fato curioso na Amazônia, há uma

equivalência entre as áreas com cultura permanente e temporária fato que não se registra

no Brasil e nem em outras regiões.

A agricultura permanente se destaca em nos estados do Amazonas, Pará e

Rondônia, sendo que nestes dois últimos, suas áreas ultrapassara agricultura temporária.

Em termos de área ocupada com lavoura temporária novamente aparecem Amazonas,

Pará, seguido pelo Tocantins. A pastagem natural é muito importante no Tocantins e um

pouco no Pará, e a plantada, sobretudo, no Pará seguido por Tocantins e Rondônia.

Registra-se ainda uma área modesta com a silvicultura (256 mil hectares) concentrada

no Amapá (38% ) e no Pará (26%).

Tabela 3 – Utilização da terra nos estabelecimentos por tipo de ocupação (em hectares)

A cada censo concluído se percebe que o numero de pessoa ocupado na

agricultura diminui, entre o penúltimo e último, essa queda foi de quase de 5 milhões

no Brasil e na Amazônia foi a maior dimensão de mão de obra que se encontra no

Nordeste (responsável e membros não remunerados) continua sendo o mais

Page 45: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3203

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

representativo em termos relativo e absoluto, respectivamente, Brasil e Amazônia. Mas

os com laços de familiar (assalariado permanente e temporário), em numero absoluto é

relevante. chama atenção ainda o numero de criança trabalhando cerca de e

respectivamente Brasil e Amazônia, cerca de 13 da força de trabalho local e a queda

vertiginosa das categorias parceiros e arrendatário. Deste contingente, 26% residiam

nos estabelecimentos do Brasil e Norte, alcançava 39%. Essa distribuição quantitativa e

qualitativa de cada modalidade de ocupação especificada pelo censo é função do

formato de agricultura que prevalece na região, monocultivo e pecuária tem um perfil

de ocupação, a agricultura da cesta básica tem outra, isso também se aplica a questão da

produtividade e o vinculo formal de emprego desta mão de obra que é diretamente

correlacionada com o pacote tecnológico adotado. Na região de soja ou eucalipto tem

um perfil na de mandioca, extrativismo e feijão tem outra bem diversa. Na Brasil a

media é de 35% no Norte é quase 2/3 deste total.

2.3 Aspectos sobre o perfil produtivo e possibilidades

O potencial produtivo da Amazônia, ainda está para ser explorada, com exceção

do uso dado a pecuária de baixa produtividade (menos de uma unidade de animal por

hectares) que absorve mais de 26 milhões de hectares, o restante da terra utilizada

produtivamente, isto é, em culturas permanente e temporária é irrelevante 3 milhões e

800 mil hectares. A área ocupada com alimentos básicos, arroz milho,feijão e mandioca

;fruticultura e mesmos com matéria-prima industrial – juta ,cacau, pimenta, soja

,algodão,cana,seringueira, eucalipto e palma africana (dendê) tem pouca

representatividade seja em área e/ou dimensão da produção(volume).Um numero

reduzido de atividade da agropecuária em geral tem representatividade regional, é o

caso da produção de leite ( Rondônia),bovino (carne),mandioca açaí e soja(Pará),peixe

e soja (Tocantins).

Maioria destes produtos perdem espaço físico (hectares) e econômico em suas

economias e/ou foram substituídos por outras atividades é o caso da seringueira, cacau,

pimenta, arroz, peixe e outros produtos da cesta de alimentação. Apenas um número

reduzido destes produtos tem ultimamente avançado, caso da soja ,eucalipto e

dendê.Ou seja, deixa de ser diversificada para se tronar especializada e homogênea.

Page 46: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3204 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

Tabela 4 - Região Norte: valor da produção e quantidade produzida de produtos agropecuários selecionados (2006)

Cruzando os dados do valor da produção, em cada estado, com o tipo de

atividade e a forma de organizar a produção (familiar e patronal) constata a importância

da dupla arroz e mandioca, seguido por leite de vaca, criação de pequenos animais

milho e café Do total do valor, cerca de 70% é gerado na agricultura familiar e o Pará

participa com 57% dele seguido de longe por Rondônia e Amazonas. Do lado patronal

(R$ 2.078.981) o Pará representa 49%, seguido pelo Tocantins.

Tabela 4 - Região Norte: valor da produção e quantidade produzida de produtos agropecuários selecionados (2006)

Page 47: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3205

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

Um confronto de dados relacionados a tais atividades na Amazônia, entre 1990 e

2010, permite checar como esse perfil tem evoluído. Em 1990 a produção de arroz,

milho, feijão e mandioca era de 5 milhões toneladas ou 15% da nacional, vinte anos

depois representa 21%.

Comparação de duas culturas muito diferente - mandioca e soja – a primeira

estabelecida secularmente na área, à outra introduzida no final de século vinte, dar para

perceber as dinâmicas de cada uma e o que isso pode acarretar em um futuro próximo.

Gráfico 1 – Evolução da área plantada de soja e mandioca na região norte entre 2000 e 2011 (2002=100)

Fonte: Produção Agrícola Municipal/IBGE

A mandioca ainda é a cultura mais importante da agricultura da Amazônia e os

produtores familiares com menos de 50 hectares produzem 80% e os 20% restante fica

por canta daqueles com área superior a 50 hectares.

Para a soja o perfil é bem diferente, esses pequenos produtores com menos de

50 há não tem relevância e sim aqueles com mais de 50 há (94%). Na Amazônia Legal

48% da soja produzida vem de produtores com área superior 1000 ha sendo que para o

Maranhão o nível de concentração ainda é maior, 64% em 2006 (Mesquita, 2009).

A tradução deste quadro modesto do valor da produção, apoiado na agricultura

familiar é expresso no tamanho absoluto e relativo que o PIB Agrícola na economia

regional. A participação é declinante sai de 13% para 11,3% (2010). A economia mais

importante da região, o Pará, perde posição tanto nacionalmente (3,4% para 2,7%),

regionalmente (39,1% para 27,4%) quanto internamente (12,5% para 6,6%) entre 2002

e 2010, conforme os IBGE (2012). Mas Roraima e Amazonas aumento sua posição no

Page 48: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3206 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

setor, isto de certa forma explica a irrelevância das exportações agrícolas para a região e

o perfil concentrado que assume o Pará que responde por 50 % das mesmas.

Mas por outro lado percebe-se também que alguns dos principais produtos da

pauta de exportação e importação como carnes, grãos, celulose dendê pescado arroz

estão presentes e em expansão na Amazônia.

Nas exportações o Brasil de acordo com dados MDIC está entre os primeiros

produtores e exportadores de alimentos do mundo. É o primeiro produtor mundial de

açúcar,café e suco de laranja e também primeiro exportador deste produtos e da soja e

carne de frango.Na produção de carnes,óleo e farelo de soja e milho, e também na sua

exportação, o Brasil está entre o segundo e quarto lugar.

Por conta deste bom desempenho o setor tem sido um dos principais

componentes pelo crescimento das exportações dos últimos 15 anos. Dez complexos

agroindustriais com destaque para soja, carne, café, celulose, laranja, fumo, açúcar e

álcool dentre outros concentram mais de ¾ destas exportações. O destino das mesmas se

direciona nestes últimos anos para China, embora a CEE e USA atenha ainda

participação importante, mas declinante (Mesquita & Mesquita 2013).

Por outro lado embora possa parecer estranho, o Brasil também é um grande

importador de produtos agrícola e de forma crescente. De acordo com MDIC, em 2011

essa conta chegou a US$ 11,6 bilhões, e ,entre os anos 2006 e 2011, as importações

saem de US$ 4,5 bilhões para US$ 11,6 bilhões1, ou seja,um crescimento anual

preocupante de 21,1%.

A pauta da balança comercial de produtos agrícolas (importados e exportados) é

bem diversificada, são centenas de produtos, mas como dissemos anteriormente alguns

complexos/produtos concentram a pauta de exportação e também de importação.

Segundo dados da Secex/MDIC, poucos produtos, em 2011, concentram 78% e os

demais o restante (22%). Os principais desta pauta atual é trigo (22%), pescados (10%),

bebidas (6%), malte (5%), frutas fresca (4%), arroz (4%), lácteos (3%), azeite de oliva

(3%), carnes (3%), cacau e produtos (3%), rações (2%), algodão (2%), alho (2%), óleo

de dendê ou palma (2%), farinha de trigo (1%) e álcool (0,01%).

1 Entre os anos 2006 e 2011, as compras subiram de US$ 4,5 bilhões para US$ 11,6 bilhões, a razão esta na elevação dos preços dos importados e os exportados, o trigo, por exemplo elevou-se de 32% no último ano e, entre 2006 e 2011, a elevação chegou a 110% .

Page 49: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3207

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

Os tipos de produtos que importamos e exportamos quase todos passivo de

produção e expansão em qualquer parte do país, sendo que quatro deles, a Amazônia

tem tradição na sua produção, que é o caso de pescado, carnes, cacau e óleo de dendê.

Tais produtos aqui se poderia sem grandes transtorno aumentar a oferta e, portanto,

substituir importação e por consequência transferir a economia local a renda e emprego

hoje gerado na Ásia, países ricos e MERCOSUL.

A atual balança comercial da Amazônia é modesta, na presente década

20000/2010, o saldo é superavitário e poderia ser melhor se houvesse uma política

propositiva que atuassem no sentido de diversificar a pauta a atual de exportação

agrícola, concentrado em um reduzido numero de produto in natura e substituíssem

importação em áreas onde reconhecidamente Amazônia detém vantagens comparativa

tais como na produção de pescado, carnes, cacau, dendê, pimenta e fibras.

O óleo de palma é uma importante commodity do mercado global seu comércio

atingiu US$ 28,5 bilhões em 2010 e sua oferta é dominada por dois países asiáticos

Indonésia (50%) e Malásia (37%), eles e também a Colômbia são os maiores

fornecedores desta matéria-prima para o Brasil.

A produção interna, realizada no Pará é insuficiente. Nos últimos anos o governo

lançou um programa especial com objetivo de torna-se autossuficiente e gerar

excedentes exportáveis de forma a suprir a demanda interna crescente voltada para as

metas do programa de biocombustível (biodiesel) e da indústria em geral (inclusive de

cosmético). Apesar disso o Brasil continua sendo grande importador, em 2011 gastou

quase meio bilhão de dólares (US$ 461,5 milhões).

Em função do boom das commotidies (Ottati & Mesquita, 2013), decorrentes da

demanda chinesa, as exportações brasileiras têm dados saltos importantes,

particularmente no item de bens não elaborados, aqueles derivados da mera exploração

de recursos naturais, grãos e minérios, tendo a Amazônia assumido um papel relevante

neste sentido, com destaque para o Pará e Maranhão, onde a indústria extrativa e

transformação desempenham funções cada dia mais importantes em suas balanças

comerciais. Os produtos não elaborados desta pauta são de minério de ferro, cobre,

manganês e grãos de soja, já os elaborados que agregam algum valor são ferro gusa,

alumínio e alumina. Observando a pauta de exportação deste dois estados nota-se uma

extrema concentração da pauta e de destino o que deixa tais economias numa situação

Page 50: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3208 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

vulnerável e de alerta, basta ver o que aconteceu em 2008 quando os compradores

adiaram suas compras de minério de ferro e gusa, imediatamente a Vale e as guseiras de

Açailândia e Marabá demitiram centenas de funcionários.

Na Amazônia, as exportações cresceram 16,4% entre 2000 e 2010, sendo que

somente os produtos básicos registraram expansão de 25%, alcançando US$10,3

bilhões, o que representa mais de 68% das exportações totais. Por outro lado, o

crescimento registrado pelos bens industrializados foi três vezes menor. Dentre os

estados, o Tocantins cresceu 45,1% e o Amazonas apenas 3,8%. Chama-se atenção para

o perfil do Pará e sua participação nas exportações regionais. Ser for levado em

consideração as exportações por fator agregado, a participação dos bens industrializados

recuou para 27% em 2010 (antes 55,5% em 2000) e os produtos básicos

(essencialmente commodities vegetais e minerais) tiveram aumento de participação,

saindo 44,5% para 73%. Trata-se de um fator preocupante, pois houve de certa forma

uma concentração das exportações deste estado na Amazônia, saindo de 73,5% em 2000

para 84,9% em 2010, sobretudo pelo elevado crescimento dos produtos básicos.

3 NOTAS SOBRE A ECONOMIA REGIONAL EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS

A maior parte dos indicadores macroeconômicos da economia regional revela

que a mesma vem passando por transformação importante no seu perfil econômico

social, demográfico ambiental com consequências nem sempre desejáveis a maioria da

população. A razão disso se encontra no formato escolhido pelo estado e o capital e pela

estratégia de desenvolvimento implementada por estes entes ao logo destas ultimas

décadas.

A primeira constatação é que o crescimento econômico, aqui entendido com taxa

de expansão real do PIB vem ocorrendo de forma continua e superando inclusive a do

país. Isto permitiu que a Amazônia galgasse uma posição relativa melhor embora ainda

muito modesta ao longo de várias décadas. A participação do PIB de 3,8% em (1985)

para 5,3% (2010). Tomando como referência a década de noventa e a atual percebe-se

que na primeira década, o incremento foi de 4,8% ao ano e de 5,9% a.a, entre

2000/2010. Entre 1991 a 2010 a taxa de crescimento anual foi de 5,2%, ou seja, todas

Page 51: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3209

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

acima da brasileira e de outras regiões, a exceção e o Centro-Oeste que tem desempenho

melhor. Os estados que mais cresceram em igual período foram, o Amazonas e Amapá

nos anos noventa, e Rondônia, Amazonas, Amapá e Tocantins no século XXI. A

economia do Pará foi a que menos cresceu no período 3% e 5,2% respectivamente,

apesar de ser a economia mais importante em termos de tamanho do PIB na Amazônia.

Se houve este avanço positivo do PIB regional na economia brasileira,

setorialmente percebe-se que a posição relativa do PIB setorial na Amazônia teve pouca

alteração, isso pode se vista na serie histórica antiga das Contas Regionais (1985 a

2005), quanto na recente de 2002 a 2010 (ver tabela).

Tabela 5 - Participação no valor adicionado bruto a preços básicos (%), por atividades econômicas (série antiga, 1985=100 e série nova, 2002=100)

Fonte: Contas Nacionais/IBGE

A agricultura varia de 16,4% em 1985 (em media) a 11,3% em 2010, a indústria

de 31,8% para 23,2% e os Serviços saíram 53,8% para 65,5 no mesmo período.

Na série nova a variação também não foi significativa, veja que em 2005 a

agricultura detinha 12,5% e em 2010 fica nos 11,3% deste valor adicionado bruto.A

indústria em igual período ganha 1,4 ponto percentuais sai de 21,8% para 23,2% e o

serviço quase não muda sai de 65,7% para 65,5%.

Por outro lado, o cálculo da taxa de crescimento real por setor mostra que

atividade tem dado a dinâmica recente. Nota-se que, seja no plano macro ou setorial, a

economia da Amazônia cresceu no período analisado (2002/10) mais do que a economia

brasileira. Enquanto a região Norte cresce 5,5% o Brasil fica com 3,9% ao ano (a.a),

setorialmente isso se repete. Mas o que chama atenção foi a vigor da taxa do setor

industrial (7,7%) e o pouco dinamismo da agricultura (2,7%.). No Brasil essas taxas

foram de 1,1% e 4,4% respectivamente. O que explica esse crescimento da indústria

regional foi a espetacular expansão da indústria extrativa, em 21, 9%, neste ramo se

encontra os grandes projetos, diga-se de passagem, liderado pelo Pará, que decorreu do

boom das commodities traduzido na balança comercial da região.

1985 1990 1995 2000 2005 2010Agropecuária 16,4 11,6 10,0 7,6 12,5 11,3Indústria 31,8 23,7 27,0 29,5 21,8 23,2

Indústria extrativa 10,8 3,5 3,2 5,4 1,7 4,0Indústria de transformação 11,3 11,9 11,8 11,3 10,2 8,8

Serviços 53,8 64,4 62,3 63,0 65,7 65,5

Atividades econômicasSérie antiga 1985=100 Série nova 2002=100

Page 52: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3210 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

3.1 As atividades dinâmicas deste processo

Pelo que foi visto anteriormente são poucas as atividades que nestes últimos

anos tem avançado em termos de novos investimentos que se traduza em aumento da

capacidade produtiva, isto se deve em parte pelo cenário econômico pos crise de 2008

que ao afetar o cenário de crescimento da economia mundial e acaba por repercutir

internamente na economia principalmente, em atividades que antes tinha no crescimento

da demanda externa seu foco de sustentação. Assim a crise Americana ao diminuir o

ritmo de crescimento das demais economias, inclusive da China, forçou uma

reorganização interna e uma mudança de estratégia que complemente esse novo cenário.

Gráfico 2 – Evolução do PIB da América do Norte, China, Brasil e Amazônia entre 2002 e 2011

Fonte: Banco Mundial e IPEA

Paralelamente a essa estratégia de investimento em infraestrutura que coroa a

volta do estado, como mentor de uma proposta de desenvolvimento de médio e longo

prazo ,Estado Brasileiro fez/faz um esforço tremendo elegendo determinado setores e

atividades para se contrapor a este cenário recessivo que se alastra pelo mundo

afora,com ênfase nos países europeus. A estratégia é continuar priorizando o

investimento público direto e de empresas estatais, atrair o capital privado para setores

de exportação e de infraestrutura. É o que os governos Lula e Dilma vêm fazendo e

intensificando com seus planos de governos. Os investimentos mais importantes estão

no âmbito do PAC1 (2007-2010) e PAC2 (2011 2014), nas obras da Copa do Mundo e

Olimpíadas. O orçamento do PAC 1 foi de R$ 503,1 bilhões, sendo que R$ 411,6

bilhões (82% do total) voltado a infraestrutura física com destaque para os

Page 53: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3211

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

investimentos em energia elétrica2 (62,5%) desse volume. Em segundo lugar, os

investimentos nas áreas social e urbana (35,5%), traduzidas em saneamento e habitação,

o restante, 2% em infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e

aeroportos. O PAC2, o principal pilar da campanha da Dilma Roussef, mantém a

proposta anterior, isto é, priorizando os antigos eixos alterando apenas o volume

alocados. Dentre os eixos, a Energia continuou com a maior participação (48,3%),

seguido por Minha Casa, Minha Vida (29%) e Transportes (10%). Os eixos Cidade

Melhor, Água e Luz para Todos e Comunidade Cidadã somaram R$110,7 bilhões, ou

11,6%.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) lançado no último Governo

Lula é uma coleção de projetos focados, sobretudo, para a infraestrutura Logística,

energética e urbana e social que estavam represadas, em função de demandas não

atendidas pelo capital e nem pelo governo deste o sepultamento do estado

desenvolvimentista nos anos oitenta. Governo da Dilma reforça setores competitivos

intensivos de recursos naturais, como os de commodities já que a indústria

manufatureira está em franco declínio. A aposta então é continuar nas commodities

agrícolas e não agrícola conforme já vinha fazendo anteriormente com sucesso, que é

comandada eficazmente pelo capital privado, nacional e internacional. É aqui que

Amazônia tem se inserido rapidamente e contribuído com as contas externas do país,

apesar da pouca expressão (2%) de sua balança comercial. De um lado com os minérios

do Pará e Amapá, e de outro com os complexos da agricultura de exportação ( soja,

dendê, eucalipto e carne) todos amparados na manutenção da demanda chinesa. Essas

são, portanto, as vertentes atuais para onde se direcionam os montantes mais

significativos de investimentos, naturalmente mais público do que privado.

Os investimentos públicos diretos estão alocados em um conjunto de obras

públicas relacionadas a infraestrutura ,particularmente na área energia ( geração e

transmissão), logística e construção de estrada. Indiretamente o estado também está

atuando via empresas estatais e sistema estatal de financiamento. O BNDES é o ator

principal que banca o financiamento de centenas de projetos ligados tanto a

infraestrutura como outros de cunho empresarial – indústria de celulose, aciarias e

expansão de plantio de monoculturas.

2 Belo Monte, a de Santo Antônio e a de Jirau são os principais destaques.

Page 54: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3212 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Do lado da iniciativa privada os investimentos, em termos gerais, passam pela

logística, implantação de indústria e expansão da área de atuação nos diferentes

complexos que atuam na Amazônia. Por exemplo, algumas iniciativas já em andamento

e outras anunciadas tem especificidades que mudam de atividade para atividade.

No complexo mineral os investimentos vão nesta direção (guseiras, aciarias,

cimento e calcário), do complexo celulose (plantio de floresta, fabrica), na logística

(duplicação de ferrovia, construção e ampliação de complexos portuários), complexo

soja (compra de terra, ampliação de área, indústria de beneficiamento) e no complexo

do dendê (bicombustível) as ações acompanham aquela da soja (compra de

terra,ampliação de área ,indústria de beneficiamento).As fontes de financiamentos são

diversas inclusive estatal (BNDES), mas também própria e de bancos e fundos de

investimentos.Vale, Petrobras, Suzano, Agropalma, Bung Cargill, são algumas das

grandes empresas presente nestes complexos instalados na Amazônia..

4 GRANDES EMPRESAS E CONFLITOS SOCIOECONÔMICO E

AMBIENTAIS

O avanço do capital seja qual for a atividade ou localização gera desigualdade

sócio-espacial, constitui num elemento de desapropriação e de (re) organização do

território onde atuam e no seu entorno. Por sua vez o grau desta diferenciação está

associada a dimensão física deste capital, a característica do processo produtivo ( se

menos ou mais intensivo de trabalho), o tipo de mercado em que se insere e o grau de

organização desta sociedade. As experiências históricas de vários locais da Amazônia

apontam nesta direção e poderia servir de alerta para os novos mega projetos em

implantação pelo PAC 1 e 2 e pela iniciativa privada. Dezenas de municípios grandes,

médios e pequenos em toda Amazônia, ao longo das últimas três décadas, se

confrontaram com essa situação. São Luis, Santa Inês, Açailandia, Imperatriz no

Maranhão, Carajás, Marabá, Tucurui, Paraupebas, Paragominas, Santarém, Curiopolis,

Barcarena, Belém (no Pará), Macapá, Jarí no Amapá; Palmas, Manaus, Porto Velho,

Rio Branco, Porto Velho. O denominador comum em todos foi a presença de grandes

Page 55: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3213

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

investimentos estatais e privado que supostamente ocasionaria no município e entorno

efeitos multiplicadores sobretudo na geração e apropriação de renda e no emprego.

Seguramente os grandes projetos de investimentos, públicos e privados do poste

do projeto JARI (AP/PA), ICOMI (AP), ALBRAS (PA), ALUMAR (MA), ALCOA3.

em Juriti (PA), MRN4 em Oriximiná (PA) , Viena Açailandia (MA), SUZANO-

imperatriz(MA), Exploração da mina da Vale em Carajás (PA), Eclusa do Rio

Tocantins (TO); Complexo da CARGILL em Santarém, hidroelétrica de Santo Antonio,

JIRAU dentre outros, foram os principais atores desta ampliação do déficit de demandas

coletivas, não atendidas e amplificadas em função de estratégia equivocadas de

desenvolvimento regional e, no entanto pouco fizeram para minorar esse perfil.

As questões das demandas coletivas, isto é, aquelas voltadas ao atendimento de

serviços básicos – como educação saúde, saneamento básico energia elétrica, embora

seja mais visível no urbano, ela é mais grave no rural. Mas isso é apenas um lado da

questão, dado que outras relacionadas à geração de emprego e renda são construídas

aleatoriamente e se baseia em numa atuação pontual e especifica para o atendimento de

determinada demanda que atingem um número insignificante de pessoas.

A maioria dos municípios brasileiros e na Amazônia não e diferente, vive um

quadro de penúria, a demanda por serviço público está sempre reprimida, com a

chegada de projeto nos moldes descrito anteriormente, potencializa essa situação em

função do movimento migratório que se estabelece no local provocando assim um

colapso da oferta existente.

Em muitos municípios só a expectativa da implantação de um investimento desta

monta é suficiente para (des) estruturar o mercado de trabalho, terra e a estrutura

produtiva local e consequentemente criar e/ou ampliar um quadro de demanda não só

por serviço básicos, já carente, em função da demanda reprimida a décadas, como

outros conjunturais com a especulação imobiliária,alugueis,desabastecimento de bens e

serviços que se traduz em inflação afetam a todos.Em praticamente todas essas cidades

isto ocorreu em menor ou maior escala. Quanto menor a dimensão da economia frente

aos investimentos previstos e/ou realizados maior será os efeitos. São Luis do Maranhão

com o projeto Alumar, Marabá (PA) com os investimentos das guseiras e da Mina de

3 Um Grande Projeto de exploração de bauxita, da ALCOA, em funcionamento (2009) que ocasionou grandes impactos nas comunidades em seu entorno. 4 Exploração de bauxita pela Mineração Rio do Norte – MRN, no município de Oriximiná-PA, em 1979.

Page 56: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3214 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

ferro são exemplos de um passado recente e Porto Velho, Pará, Amazonas com das

mega hidroelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antonio retratam as consequências

que um investimento desta envergadura pode ocasionar. A mídia, pesquisas acadêmicas

de Universidades regionais e outros estudos (Mesquita, Imesc, Barros, Ufma, Lima)

relatam essas e outras correlações. Mostram, por exemplo, que há uma melhoria (as

vezes passageira ) no âmbito meramente econômico, visto pelo incremento do PIB ou

da renda per capita em tais localidades, mas outros indicadores sociais e ambientais não

seguem tendência parecida,e, as vezes, são piores ou são semelhantes a outros

municípios fora da influencia de tais projetos.

Por outro lado, dependendo do tipo de atividade e da escala que esses projetos

atuam outras questões (fora do âmbito urbano) como a ambiental emergem de tal forma

que exigem compensações ambientais complexas que nem sempre são cumpridas e/ou

efetivada. Exemplos clássicos destes problemas são as linhas de transmissão de energia

que cruzam aldeias indígenas, áreas de povos e comunidades tradicionais5 e extrativistas

em toda Amazônia; Barragens/lago das hidroelétricas que solapam dezenas de milhares

de hectares e excluem milhares de pequenos produtores, pescadores e grupos indígenas;

Além de gasodutos, ferrovias e maciço florestais (florestas plantadas).

Essas obras são conduzidas por empresas gigantescas, publicas (ferrovia Norte-

Sul, Eletronorte e Petrobras) e privadas (Vale, Suzano, Agropalma, Alcoa, Camargo

Correia, EBX, Odebrecht) que passam como se fossem um tsunami sobre tudo e todos

se importando apenas com seus interesses. Desta forma só o enfrentamento e o embate

político e/ou jurídico tem surtido efeito na defesa dos direitos seculares destes povos e

comunidades tradicionais e pequenos produtores de alimentos que estão na sua rota. Os

conflitos contra as grandes empresas, como Suzano, Vale Alumar, Alcoa, Eletronorte e

outros grandes grupos constituem numa luta muito desigual e permanente dado à lógica

capitalista que dirige esse empreendimento e população impactada. O produto disso é a

organização deste espaço de reprodução e a dispersão de grupos sociais ali presente.

5 O Decreto 6.040 de 07 de fevereiro de 2007, em seu art. 3º, inciso I, assim definiu povos e comunidades tradicionais: I - Povos e Comunidades Tradicionais:grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;

Page 57: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3215

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

19

O processo de desterritorização corriqueiro nestes locais, objetos de instalação

de grandes projetos, assume diferentes feições, a mais usada é a retirado do seu

território original sob forma de indenização e o seu remanejamento para áreas distantes

e a proibição de acesso aos bens comuns, antes livres a reprodução destes grupos como

lagos, mangues, campos e florestas, no Maranhão e Pará essas táticas foram muito

utilizadas, a Base Alcântara (em Alcântara), a Alumar e Vale ( em São Luis) fizeram

isso com apoio do município e governo do estado nos anos 80. Outra forma é “limpeza

ou cercamento” de áreas decorrentes de grilagens e compra de grandes extensão de

terras publicas e privadas que expropriam os residentes históricos sem direito a uma

nova área para sua reprodução.

Embora algumas empresas façam acordo com as comunidades expropriadas e o

ministério público, o prejuízo desta atuação ilegítima tem sido um passivo ambiental

impagável e não recuperável para toda sociedade, dado que uma vez perdida a

biodiversidade decorrentes dos processos de intervenção destes empreendimentos não

há retorno. O desmatamento é apenas um lado desta questão, o mais explorado

midiaticamente, mas a questão da perda (e pirataria) da biodiversidade é seguramente

mais importante, no entanto, não é sequer objeto de uma política de estado que mude a

rota atual de descompromisso com a natureza e o país. Se a dimensão já atingida pelo

desmatamento chama atenção e clama por uma nova e eficaz política de seu combate, o

mesmo poder-se-ia fazer com relação a biodiversidade , mas não se faz.

Segundo o INPE (2013) nos últimos 15 anos (1995 a 2010) a taxa de

crescimento de desmatamento na Amazônia foi negativa (–6,9 %), a queda mais

significativa se registrou no Tocantins (-16 %), seguido de Roraima (-13,9%), mas

cresceu no Amapá (11,7%).Pará e Roraima respondem por 81,3% deste desmatamento.

O total acumulado, entre 1995 a 2010 é de 16.412.200 de hectares, deste todo o Pará

fica com 9 milhões e 500 mil hectares e Roraima com 3 milhões e 800 mil

hectares.Conforme mostra os dados em 2010 apesar de todo esforço e pressão interna e

externa,ainda se desmatou mais de meio milhão de hectares.(541 mil km²) dos quais

mais da metade o Pará.

Inúmeras variáveis estão por trás desta dinâmica (Mesquita, 2009), de ordem

externa e interna, conjunturais e estruturais. Uma lista longa poderia ser feita, mas nesta

não poderiam ficar ausentes, a abertura e asfaltamento de estradas, construção de

Page 58: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3216 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

ferrovias e oleodutos, linhas de transmissão de energia, mineração formal e

clandestina,extração de madeira, a agricultura temporária e permanente e ,naturalmente

a pecuária extrativa. Ademais a ausência do estado na ação de política e seu

monitoramento também não podem ser esquecidos. Até o final do século passado a

pecuária extensiva foi inegavelmente a grande vilã deste processo, embora outros como

a agricultura itinerante e a extração de madeira também tenha contribuído para aquele

quadro caótico de então. Mais recentemente os monocultivos de soja, eucalipto e dendê

entram nesta farra, assim como a produção clandestina de carvão vegetal para as

empresas de gusa do polo de Açailandia e Marabá , para se ter uma ideia ,o Maranhão e

o Pará se tornam,num curto espaço de tempo os maiores produtores de ferro gusa e

carvão tendo matas nativas como fonte de matéria-prima.( Mesquita, 2012).

No século 21 na fase inicial assiste-se uma guinada na expansão de diversas

commodities, como a soja, dendê, eucalipto e pastagem plantada. Antes (1990/2000) o

boom foi do carvão, a oferta salta de 76 mil para 479 mil toneladas, depois se estagna.

O salto da soja ocorre entre 2000 a 2005, saindo de 73 mil para 514 mil ha plantados, o

que representa um crescimento de 14,9%. Quanto à participação na lavoura temporária

regional salta de 3,5% para 26,8%. Os estados que contribuem para esse feito são Pará

(25,6%), Rondônia (22,7%) e Tocantins (16,6%). Quanto à pastagem ela cresce menos

(3,5%), mas os estados que contribuem para esse feito são Rondônia, Acre e Amazonas.

Os avanços do eucalipto e dendê também são importantes (Mesquita & Mesquita,

2013), embora tenha área ainda pequena para a grandeza da Amazônia e alguns estados

como o Pará e o Amapá a expansão destas culturas nos últimos anos, por conta de

programas lançados e financiados pelo BNDES e BB tem avançado rapidamente,

inclusive sobre a agricultura familiar.

5 CONSIDERAÇOES FINAIS

O que ainda se pode dizer sobre esse modelo econômico de desenvolvimento em

vigor na Amazônia brasileira que privilegia grupos poderosos e deixa a população a

mercês das forças de mercado? Porque mudanças estruturais, como a mera a

Page 59: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3217

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

21

distribuição da terra, o acesso aos recursos naturais, a geração de emprego e distribuição

de renda, o acesso a serviço públicos elementares como a saúde, educação e

saneamento, são ainda tão difíceis de alcançar numa região tão rica em recursos naturais

e com tanta terra disponível? Não há uma resposta simples ela é de natureza política.

Trata-se de uma concepção de intervenção (equivocada e superada) que supõe ser a

presença de grandes investimento a saída mais rápida a superação do estagio de

subdesenvolvimento, a entrada no progresso e, portanto, do crescimento sustentável de

longo prazo.

O extrativismo tradicional baseado nos recursos naturais da coleta de

especiarias, na caça e pesca sempre esteve presente na Amazônia e funcionou

adequadamente enquanto a demanda era modesta e restrita a uma minoria de

endinheirados e se organizava em torno do capital mercantil. Essa forma de reprodução

baseada na exploração abundante e sustentável destas atividades foi a principal fonte de

renda da população rural apesar da exploração em que estava submetido pelos diferentes

elos desta cadeia comercial.Mas como a pressão demográfica era mínima e o acesso aos

recursos naturais eram livres esses verdugos estavam na compra e venda a sua

reprodução se efetivava sem maiores problemas.

Hoje a economia da Amazônia continua fundamentada no extrativismo, mineral

e dos monocultivos, só que ela assume outro formato e têm outros atores que lhe

exploram isso a torna insustentável e excludente.

O modelo atual de desenvolvimento sustentado em grandes empreendimentos,

isentos de impostos voltados a mercado externo, intensivo de capital e demandadores e

imobilizadores de extensas áreas territoriais é tremendamente excludente, porque cria

expectativa que não se viabiliza e aprofunda a exclusão social. Se seus impactos são

mínimos na economia local, nos aspectos socioambientais são enormes, resultando daí

um aprofundamento das diferenciações socioespaciais, que o próprio estado, mentor e

financiador deste modelo, não impede e ainda contribui para esse quadro se agrave,

dado que ao atender as demandas iniciais de infraestrutura para locais específicos deste

grandes projetos, deixa outras demandas coletivas em aberto em outras regiões.

Page 60: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3218 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

22

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009). Censos Agropecuários. (documento online). Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo2.asp?e=v&p=CA&z=t&o=11> (acesso em 25 julho de 2012).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012). Contas regionais. (documento online). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2010/default_xls_2002_2010_zip.shtm)> (acesso em: 2 agosto de 2013).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012). Censo Demográfico 2010. (documento online) <http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/cd2010universo.asp?o=5&i=P)> (acesso em: 2 de agosto

Mesquita, Benjamin Alvino de. (2008). Desenvolvimento recente do Maranhão: uma análise do crescimento do PIB e perspectivas. (documento online http://www.imesc.ma.gov.br/index.php).

Mesquita, Benjamin Alvino de. (2010). A nova intervenção governamental,a divida

publica e o impasse no desenvolvimento regional da Amazônia Brasileira . Revista de

Políticas Publicas,numero especial, 30(3) 85-94.

Mesquita, Benjamin Alvino de. (2011). Notas sobre a dinâmica econômica recente em área periférica: as mudanças na estrutura produtiva do Maranhão. (documento online http://www.ipea.gov.br/code/chamada2011/pdf/area4/area4-artigo33.pdf).

2

INTRODUÇÃO

O movimento crescente da demanda internacional por alimentos, na última década,

coincide com a vigência de políticas econômicas favoráveis ao livre comércio. Esse

aumento de demanda representa também maior necessidade de produtos agrícolas usados

como matéria prima, a exemplo da soja e do milho, produzidos principalmente nos países

não desenvolvidos. Considerando-se esse contexto internacional, este artigo busca destacar

a presença do grande capital na Amazônia Legal brasileira, através da observação do

avanço de uma das atividades que compõem o chamado agronegócio, a produção de soja,

contrapondo-se o comportamento da produção de dois alimentos básicos na região, o arroz

e o feijão. Esta análise é feita a partir de dados estatísticos produzidos por órgãos oficiais

do Estado brasileiro, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada e Companhia Nacional de Abastecimento.

Ressalta-se que a maior abertura comercial operada pelo governo brasileiro,

particularmente, ao longo da década de 1990, tem significado vários efeitos para o mundo

rural, de um modo geral, mas, em particular, tem gerado impactos no ordenamento das

atividades econômicas, com implicações ambientais, na Amazônia brasileira, em função da

rápida expansão das áreas destinadas à produção de commodities, cuja finalidade é

responder aos impulsos da demanda externa. Os impactos mais imediatos se traduzem na

destruição de grande parte das áreas de floresta e na desarticulação dos sistemas

tradicionais de produção de alimentos.

Com a atual crise econômica mundial, iniciada em 2008 e que hoje atinge de forma mais

aguda a União Europeia, coloca-se a possibilidade de contração da demanda externa pelas

commodities brasileiras, em especial a soja. Do mesmo modo, potencializam-se as

consequências sociais da desagregação da agricultura familiar, produtora de alimentos

básicos e detentora de saberes e práticas tradicionais que lhe conferem identidade e espaço

na conformação da cultura brasileira.

3

O AGRONEGÓCIO DA SOJA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Ao longo da última década do século XX, o crescimento da demanda internacional por

agrícolas deu-se num contexto de forte pressão para adoção, por parte dos países não

desenvolvidos, de políticas econômicas favoráveis ao fortalecimento do livre comércio. A

produção para responder a esse aumento de demanda exige também aumento na oferta

tanto dos grãos usados como matéria prima para fabricação de ração animal, quanto

daqueles utilizados para a produção dos chamados agrocombustíveis.

Ocorre que a produção desses produtos ocorre, em sua maioria, nos países periféricos.

Assim, no contexto em que se verifica o aumento da demanda e a consequente expansão da

produção, surge o risco de perda de espaço físico das culturas alimentares, em favor dos

monocultivos de grãos e de outras commodities, para abastecimentos do mercado

internacional.

Mesquita (2008) observa que a política neoliberal no Brasil foi nitidamente direcionada

para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração

mineral, especialmente na Amazônia. No momento em que a política de desenvolvimento

regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na Amazônia a avançou de forma

seletiva. Conforme destaca o mesmo autor, a partir da década de 1990, a dinâmica da

economia regional já não dependia fundamentalmente da ação estatal, encontrando-se mais

fortemente vinculada à lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de

commodities. Assim, tanto num momento anterior quanto a partir da década de 1990, a

pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se diferenciar das demais atividades,

especialmente as baseadas na unidade familiar de produção.

Em seu conjunto a Amazônia brasileira, passou por significativas alterações nos diversos

aspectos (ambientais, demográficos, econômicos e sociais) ao longo da segunda metade do

século XX. Aquilo que os planejadores consideravam um “vazio demográfico”

transformou-se num cenário onde surgiram grandes, médias e pequenas cidades. A

dinâmica e o perfil da produção não mais se definem somente pelas atividades extrativistas,

Page 61: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3219

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

1

PARTICULARIDADES DA PRESENÇA DE EMPRESAS GLOBAIS

NA AMAZÔNIA DIANTE DA CRISE ATUAL

JOSÉ DE RIBAMAR SÁ SILVA Economista, Mestre em Economia Rural, Doutor em Políticas Públicas. Professor

Associado do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão, Brasil. [email protected]

RESUMO O modelo econômico dominante na Amazônia assenta-se na exploração de recursos naturais por grandes grupos empresariais para abastecer o mercado internacional. Esse modelo avança sobre os sistemas tradicionais de produção de alimentos praticados pelos diversos povos que habitam da região. O atual cenário de crise mundial afeta diretamente os interesses dos grupos empresarias ligados a produção de commodities e, pelo caráter específico de seus efeitos sobre as economias locais, poderá produzir impactos diversos para o conjunto dos estados que integram a chamada Amazônia Legal. O presente estudo é feito no âmbito do Projeto Desenvolvimento Agrícola da Amazônia Legal (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas/UFMA), analisando-se dados estatísticos produzidos por órgãos oficiais do Estado brasileiro, como IBGE e Conab. Observa-se que, desde a década de 1990, a abertura comercial tem produzido fortes impactos, sobretudo, na Amazônia brasileira, em função não só da extração de minério de ferro, mas da expansão das áreas destinadas à produção de commodities. Assim, estrutura-se a exposição do trabalho partindo de uma caracterização a região amazônica e de suas atividades econômicas; em seguida destacam-se as especificidades do vínculo entre os grandes projetos na Amazônia e o circuito global de acumulação do capital; finalmente, busca-se evidenciar que seus os impactos imediatos da ação das grandes empresas são a destruição da floresta e a desarticulação dos sistemas tradicionais de produção de alimentos, mas que, com a atual crise econômica mundial que hoje atinge de forma mais aguda a União Europeia, a potencial redução de demanda pelas commodities brasileiras poderá abrir possibilidades de fortalecimento dos sistemas de produção de alimento. PALAVRAS-CHAVE: Commodities; Segurança alimentar; Amazônia; Crise global.

3

O AGRONEGÓCIO DA SOJA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Ao longo da última década do século XX, o crescimento da demanda internacional por

agrícolas deu-se num contexto de forte pressão para adoção, por parte dos países não

desenvolvidos, de políticas econômicas favoráveis ao fortalecimento do livre comércio. A

produção para responder a esse aumento de demanda exige também aumento na oferta

tanto dos grãos usados como matéria prima para fabricação de ração animal, quanto

daqueles utilizados para a produção dos chamados agrocombustíveis.

Ocorre que a produção desses produtos ocorre, em sua maioria, nos países periféricos.

Assim, no contexto em que se verifica o aumento da demanda e a consequente expansão da

produção, surge o risco de perda de espaço físico das culturas alimentares, em favor dos

monocultivos de grãos e de outras commodities, para abastecimentos do mercado

internacional.

Mesquita (2008) observa que a política neoliberal no Brasil foi nitidamente direcionada

para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração

mineral, especialmente na Amazônia. No momento em que a política de desenvolvimento

regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na Amazônia a avançou de forma

seletiva. Conforme destaca o mesmo autor, a partir da década de 1990, a dinâmica da

economia regional já não dependia fundamentalmente da ação estatal, encontrando-se mais

fortemente vinculada à lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de

commodities. Assim, tanto num momento anterior quanto a partir da década de 1990, a

pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se diferenciar das demais atividades,

especialmente as baseadas na unidade familiar de produção.

Em seu conjunto a Amazônia brasileira, passou por significativas alterações nos diversos

aspectos (ambientais, demográficos, econômicos e sociais) ao longo da segunda metade do

século XX. Aquilo que os planejadores consideravam um “vazio demográfico”

transformou-se num cenário onde surgiram grandes, médias e pequenas cidades. A

dinâmica e o perfil da produção não mais se definem somente pelas atividades extrativistas,

Page 62: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3220 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

e sim por amplo leque atividades capitalistas, nas quais os níveis de especialização

atingidos alteram substancialmente a relação capital e trabalho. O ritmo do crescimento

econômico destaca-se por superar a média nacional, no entanto, a natureza desse

crescimento não proporciona a distribuição de seus resultados positivos para o conjunto da

população. Ao contrario, grande contingente dessa população fica fora desse

“desenvolvimento”, cuja face oposta se expressa numa a crise social (no campo e na

cidade) e numa crise ambiental, fenômeno desconsiderado tanto pelos planejadores dos

governos militares do passado quanto pelos mecanismos de funcionamento do livre

mercado, que é o caso da recente expansão do agronegócio de um geral e, em particular, do

monocultivo de soja, como se procura destacar no presente trabalho.

A expansão da plantação de soja no Brasil no período que vai de meados da década de 1990

até meados da década de 2000, foi mais acentuada em direção a Amazônia Legal,

destacadamente em termos de extensão da área ocupada, nos estados do Mato Grosso, do

Tocantins e do Maranhão.

Essa tendência de avanço da atividade monocultivadora de soja das tradicionais áreas

produtoras no sul e no sudeste do Brasil para os estados que integram a Amazônia Legal,

pode ser percebida de forma mais nítida quando se amplia o espaço temporal de

observação. Se tomamos como início do período a metade da década de 1970, podemos

observar que apenas o estado do Mato Grosso produzia soja, na Amazônia Legal. Somente,

em meados da década seguinte é que a produção de soja surge nos estados do Maranhão

(safra de 1984/1985) e de Rondônia (safra de 1985/1986), porém, neste último, totalizando

uma modesta extensão de área para os padrões das monoculturas, e no primeiro, ocupando

a parte do estado em que há predominância do bioma Cerrado.

No ano de 1988 foi criado o estado do Tocantins, o que fez constar nas estatísticas oficiais a

produção de soja que ocorria naquela área antes pertencente ao estado de Goiás, onde a

atividade se desenvolvia desde a década de 1970. Na safra de 1997/1998, aparecem os

primeiros dados sobre a plantação de soja no Pará e nos anos seguintes, nos demais estados

da região Norte. O gráfico a seguir ilustra esse avanço da área ocupada para a produção de

soja na Amazônia Legal.

Page 63: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3221

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

Gráfico 1. Soja: expansão da área plantada na Amazônia Legal (1976 – 2010)

Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.

Considerando que o Mato Grosso é o estado onde a produção de soja vem se

desenvolvendo há muito mais tempo na Amazônia Legal, tornando-o um dos principais

produtores no país, vamos visualizar a expansão dessa atividade apenas nos demais estados,

para que se evidencie como essa expansão no bioma Amazônia coincide com o aumento da

demanda internacional por alimentos e com as políticas de abertura comercial no Brasil.

Como se observa, é a partir da década de 1990 que há uma ascensão contínua e marcante

das curvas que representam o tamanho das áreas ocupadas pela produção de soja nos

estados da Amazônia Legal. Em seu conjunto, esses estados totalizam 1,2 milhão de

hectares plantados, excluído o estado de Mato Grosso. Com este, a área plantada se eleva

para 7,5 milhões de hectares, o que dá a magnitude de sua participação na atividade perante

os demais estados.

-

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

mil

hect

ares

RR

RO

AC

AM

AP

PA

TO

MA

MT

AMAZ. LEGAL

Page 64: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3222 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

Gráfico 2. Soja: expansão da área plantada na Amazônia Legal menos Mato Grosso (1976 – 2010)

Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.

Quando tomamos as taxas de crescimento da área plantada nos estados da Amazônia Legal,

podemos identificar um ritmo bastante forte do avanço da soja na região. Considerando a

safra 2000/2001 com ponto de referência, ao final uma década a área incorporada à

atividade variou mais que o dobro da área inicial. Praticamente, em todos os estados houve

saldo positivo das variações anuais. Apenas os estados de Roraima e Tocantins

apresentaram variação negativa em mais que dois anos da série.

Postos em perspectiva comparativa com os demais estados produtores de soja no país

(gráfico 4), os estados da Amazônia Legal apresentam taxas anuais de incorporação de

novas áreas bem mais elevadas. Naqueles estados, a taxa positiva mais alta não atingiu mais

que 40%, situando-se o maior número de casos positivos no período em aproximadamente

10% ao ano.

Page 65: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3223

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

Gráfico 3. Soja: variação percentual da área plantada na Amazônia Legal (2001 – 2011)

Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.

Gráfico 4. Soja: variação percentual da área plantada nos demais estados produtores (2001 – 2011)

Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.

-200

-100

0

100

200

300

400

500

RR RO AM PA TO MA MT

2002/2001

2003/2002

2004/2003

2005/2004

2006/2005

2007/2006

2008/2007

2009/2008

2010/2009

2011/2010

-50,0

-40,0

-30,0

-20,0

-10,0

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

2002/2001

2003/2002

2004/2003

2005/2004

2006/2005

2007/2006

2008/2007

2009/2008

2010/2009

2011/2010

Page 66: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3224 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

Uma comparação entre todos os estados produtores de soja no país, considerando o

acréscimo verificado no final do período (safra 2010/2011) sobre o momento inicial (safra

2000/2001), evidencia que na Amazônia Legal o ritmo da expansão foi muito mais intenso,

destacando-se os estados de Roraima (3.600%) e, principalmente, Pará (14.871%). Ainda

que em termos absolutos as áreas nesses estados (respectivamente, 3,7 mil e 104,7 mil

hectares) sejam muito inferiores à área utilizada no Mato Grosso (6,4 milhões de hectares)

ou mesmo de Maranhão (518 mil hectares) e Tocantins (404 mil hectares), o ímpeto da

expansão é bastante preocupante, tendo em vista a fragilidade da regulação estatal na região

no que se refere ao controle de desflorestamento e, sobretudo, que esses estados situam

dentro da floresta amazônica propriamente dita.

Gráfico 5. Soja: variação percentual da área plantada no Brasil no período 2001 – 2011.

Fonte: Elaborado a partir de dados da CONAB. Disponível em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acesso em 2.mar.2013.

518,

7

62,2

65,3

69,2

56,9

59,5

26,6

62,9

133,

8

37,5

57,5

73,1

120,

9

3.600,0

429,

2 14.871,4

513,

2

146,

8

105,

1

Page 67: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3225

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

Esse movimento significou que foram incorporados à sojicultura, 308,2 mil hectares no

Maranhão; 338,7 mil hectares no Tocantins e aproximadamente 3,3 milhões de hectares, no

estado de Mato Grosso. Essa atividade tem se desenvolvido, portanto, com base na

incorporação de extensas áreas de terra. Mesmo já tendo como ponto de partida a grande

propriedade, por lidar com mercadoria negociada no mercado internacional, a atividade

pode representar um duplo movimento no que se refere ao controle da terra: por um lado,

acirrar ainda mais a concentração da propriedade entre os produtores especializados ou, por

outro lado, diante da necessidade de flexibilização de custos e redução de riscos, incorporar

temporariamente pequenas (porém muitas) áreas de terras, sob a forma de arrendamento ou

parceria. Ao longo do período em foco (1996 a 2006), os grandes estabelecimentos

passaram de 91,6% para 93,9%, enquanto os pequenos estabelecimentos reduzem de 2,9%

para 0,4% sua representação no universo dos produtores.

Gráfico 6. Soja: Variação na distribuição do tamanho do produtor na Amazônia Legal (1996 e 2006).

Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.

Conforme se pode depreender da tabela a seguir, nos dois momentos considerados, a maior

concentração de unidades produtoras de soja na Amazônia Legal encontra-se no estado do

Mato Grosso (84,5%, em 1996, e 79,8%, em 2006). Em comparação com o conjunto do

Pequeno 2,9% Médio

5,5%

Grande 91,6%

Pequeno 0,4%

Médio 5,8%

Grande 93,9%

Page 68: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3226 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

país, os produtores de soja na Amazônia Legal correspondiam a 1,3% em 1996, passando a

2,1%, em 2006. Considerando-se apenas os grandes estabelecimentos, esses percentuais

passam 6% para 7,5%, respectivamente. A evolução numérica dos grandes

estabelecimentos produtores de soja, no Brasil, foi de 18,3% (tendo o número total

diminuído 11,2%), enquanto que na Amazônia Legal foi de 46%, tendo o número total

crescido 42,5%. No Mato Grosso também estão localizados 80,6% dos grandes

estabelecimentos da região. Ainda que no estado de Rondônia tenha se observado a maior

variação nesse segmento (589,4%) e no Maranhão tenha sido de 88%, foi no Mato Grosso

que, com uma variação de 31,2%, ocorreu o acréscimo absoluto mais significativo no

segmento: 833 novos grandes estabelecimentos produtores de soja.

Tabela 1 – Soja: Número de produtores na Amazônia Legal, segundo o tamanho (1996 e 2006).

UF 1996 2006

Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande

Brasil 242.991 57.203 136.533 49.255 215.742 38.748 118.708 58.286

Amazônia 3.251 93 180 2.978 4.632 17 267 4.348

Acre 14 0 5 9 2 0 0 2

Amapá 0 0 0 0 3 0 0 3

Amazonas 21 14 6 1 1 0 1 0

Maranhão 184 36 15 133 253 0 3 250

Mato Grosso 2.746 8 64 2.674 3.698 3 188 3.507

Pará 138 15 60 63 88 2 6 80

Rondônia 68 16 26 26 251 12 66 173

Roraima 25 0 0 0 9 0 0 9

Tocantins 55 4 47 47 327 0 3 324

Fonte: IBGE - Censos Agropecuários 1996 e 2006.

Page 69: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3227

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

Como se observa, o segmento de pequenos produtores vem se reduzindo

significativamente. Em alguns estados eles nem existiam no início do período e reduziram-

se fortemente em todos os estados onde existiam antes, chegando a desaparecer no

Amazonas, no Tocantins e no Maranhão.

Considerando-se a produção obtida, destaca-se que a região respondia por 22,2% do total

do país, no início do período em foco. Ao final, essa participação subiu para 39,3%,

registrando-se um crescimento de 253,3%, ao passo que a produção total aumentou 99,3%.

Os estabelecimentos situados no Mato Grosso correspondiam a 87,3% do total da

Amazônia, assim como representavam 88,2% da produção, no ano de 2005. O Maranhão

aparece na segunda posição, tanto em relação à área plantada quanto à produção da soja. A

área ocupada aumentou 324,3% e produção cresceu 513,9%, no período considerado. Os

estados de Tocantins e Rondônia apresentaram, respectivamente, a terceira e a quarta

maiores áreas e quantidades produzidas na Amazônia Legal. Entretanto, destaca-se que foi

nestes estados onde houve maior ritmo de avanço da monocultura de soja: a incorporação

de áreas ao plantio variou 1.665,9% no Tocantins e 1.572,8% em Rondônia; a produção foi

acrescida, nesses estados, de 2.382,3% e 2.060%, respectivamente.

Os números acima indicam a velocidade de expansão dos empreendimentos monocultores

de soja nos diversos estados que compõem a Amazônia Legal. Na seção seguinte vamos

observar o desempenho das atividades de base familiar relacionadas à produção de

alimentos básicos.

A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS BÁSICOS NA AMAZÔNIA

Busca-se aqui estabelecer uma comparação entre a expansão da produção de soja e a

variação da produção de alimentos básicos, representados para fins deste artigo pelo arroz e

pelo feijão.

Ao contrário da soja, o arroz é produzido, caracteristicamente, com a finalidade de atender

ao mercado consumidor interno. Embora existam diversos empreendimentos tipicamente

Page 70: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3228 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

capitalistas, ou seja, reúnem no processo de produção os elementos que garantem a

obtenção do lucro, com emprego de trabalho assalariado, propriedade privada dos meios de

produção e destinação da produção para o mercado, o fato é que, no conjunto da Amazônia

Legal (e do país), a grande maioria dos produtores de arroz trabalha com o fito de garantir,

primordialmente, a reprodução de suas condições materiais de existência. Evidente que essa

situação não significa que a produção obtida por esses produtores de base familiar não

tenha um caráter mercantil.

Conforme pode ser observado no gráfico 2, ao longo do período em foco (1996 a 2006) e

inversamente ao caso da soja, os grandes estabelecimentos decresceram de 28% para 26% e

grupos dos pequenos estabelecimentos representou uma diminuição ainda maior, passando

de 51% para 45%, enquanto o segmento médio aumentou sua participação de 21% para

29% do total de produtores.

Gráfico 7. Arroz: distribuição dos produtores na Amazônia Legal, segundo o tamanho (1996 e 2006).

Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.

No caso do Maranhão, observa-se o estado destaca-se quanto à quantidade de produtores de

arroz. No início do período considerado, o número de produtores maranhenses representava

60% dos estabelecimentos da Amazônia Legal e 27,8% do conjunto do país. Ao final do

período essa participação havia aumentado, respectivamente, para 64,5% e 33,8%. Porém,

esse acréscimo relativo não advém de um aumento na quantidade de produtores de arroz.

Pequeno 51%

Médio 21%

Grande 28%

Pequeno 45%

Médio 29%

Grande 26%

Page 71: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3229

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

Tanto no conjunto do país quanto na Amazônia Legal houve uma diminuição significativa

no número de produtores: no Brasil a queda foi 61,2%, na Amazônia Legal foi 56,6% e no

Maranhão foi de 53,2%. Embora tenha caído a uma taxa menor que a da região e a do país,

no Maranhão a redução absoluta foi alarmante, correspondendo a 137,5 mil unidades

produtivas. O maior impacto dessa redução registra-se entre o segmento dos pequenos

estabelecimentos (61,5%), enquanto os médios foram reduzidos em 18,1% e os grandes em

34,3%. Isso significa que aproximadamente 122 mil pequenos produtores de arroz

deixaram de existir somente no estado do Maranhão entre a final do século XX e início do

século XXI, como se pode verificar na tabela 3.

Tabela 2 – Arroz: número de produtores na Amazônia , segundo o tamanho (1995 e 2005)

UF 1995 2005

Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande

Brasil 927.536 437.633 281.446 208.457 357.813 176.594 106.033 75.186

Amazônia 430.199 220.879 89.611 119.709 186.655 84.400 53.171 49.084

Acre 11.653 810 2.699 8.144 6.752 813 1.620 4.319

Amapá 132 11 26 95 129 5 7 117

Amazonas 2.877 1.112 834 931 895 122 250 523

Maranhão 258.482 198.436 31.474 28.572 121.000 76.460 25.773 18.767

Mato

Grosso

24.753 3.037 8.284 13.432 5.882 421 2.051 3.410

Pará 67.987 7.197 26.281 34.509 24.515 2.835 11.457 10.223

Rondônia 37.855 8.506 13.712 15.637 12.013 2.280 5.614 4.119

Roraima 2.767 69 110 2.588 1.411 66 68 1.277

Tocantins 23.693 1.701 6.191 15.801 14.058 1.398 6.331 6.329

Fonte: IBGE - Censos Agropecuários 1996 e 2006

Page 72: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3230 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Considerando-se a área plantada, no início do período estudado, observa-se que os 783,7

mil estabelecimentos situados no Maranhão corresponderam a 43,2% do total da Amazônia

Legal, ficando o estado do Mato Grosso com 23,3% da área. Porém, no que se refere à

produção obtida, essa distância se reduz bastante, cabendo Maranhão produzir 33,5%ao e

ao Mato Grosso, 26,8%. Ao final do período, inverte-se a situação da área plantada, com o

Mato Grosso representando 41,7% e o Maranhão, 26,1%. Assim, a produção obtida em

Mato Grosso correspondeu a 51,2% da produção da região, enquanto o Maranhão

contribuiu com apenas 15,2%.

Chama a atenção o movimento descendente na área plantada com arroz no estado do

Maranhão relativamente ao conjunto da Amazônia Legal, refletindo a queda acentuada no

número de produtores, já apontada na tabela anterior.

Tabela 3 – Arroz: área plantada e quantidade produzida na Amazônia (1995 e 2005)

UNIDADE Área Plantada (Ha) VAR.

(%)

Produção (Ton) VAR.

(%) 1995 2005 1995 2005

Brasil 4.420.677 3.999.315 - 9,5 11.226.064 13.192.863 17,5

Amazônia Legal 1.815.183 2.049.071 12,9 2.839.336 4.418.026 55,6

Acre 35.459 27.251 - 23,1 51.272 31.561 - 38,4

Amapá 1.010 3.264 223,2 738 4.006 442,8

Amazonas 5.798 12.251 111,3 6.538 16.843 157,6

Maranhão 783.703 534.544 - 31,8 951.579 673.291 - 29,2

Mato Grosso 422.803 855.067 102,2 762.327 2.262.863 196,8

Pará 233.907 298.552 27,6 337.758 631.724 87,0

Rondônia 148.545 95.539 - 35,7 262.436 214.808 - 18,1

Roraima 15.675 23.435 49,5 49.540 119.401 141,0

Tocantins 168.283 199.168 18,4 417.148 463.529 11,1

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Page 73: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3231

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

Gráfico 8. Arroz: evolução da área plantada na Amazônia (1995 – 2005)

Fonte: Elaborado a partir dos dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE 1995 e 2005.

Talvez de modo mais acentuada que o arroz, o feijão é produzido por unidades familiares

visando ao atendimento do mercado consumidor interno. Por definição, essas unidades

familiares trabalham em garantia de sua reprodução, destinando para comercialização

aquilo que produzem além das necessidades de consumo direto, porém, de modo geral, o

“excedente” corresponde à possibilidade de aquisição de outros itens de subsistência do

grupo familiar.

No gráfico a seguir pode-se observar que, ao longo do período 1996/2006, a exemplo dos

produtores de arroz, os grandes estabelecimentos produtores de feijão decresceram sua

representação, de 27% para 24%. No grupo dos pequenos estabelecimentos registrou-se a

diminuição a um ritmo mais brando, passando de 47% para 46%. Por sua vez, o segmento

médio cresceu de 26% para 30 % do total de produtores, num movimento muito próximo

do que ocorreu com os produtores de arroz desse segmento.

-50

0

50

100

150

200

250

Page 74: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3232 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Gráfico 9. Feijão: distribuição dos produtores na Amazônia, segundo o tamanho (1996 e 2006).

Fonte: Elaborado a partir de dados dos Censos Agropecuários de 1996 e 2006.

Mais uma vez pode-se perceber o destaque do estado do Maranhão, agora no que se refere à

quantidade de produtores de feijão. No início do período considerado, neste estado

encontravam-se 43,9% dos estabelecimentos da Amazônia Legal e ao final do período essa

participação havia aumentado 66,2%. Outra vez, o acréscimo relativo não resultou de um

aumento na quantidade de produtores e sim de uma redução no conjunto, tanto do país

quanto da Amazônia Legal.

A diminuição, aliás, foi bastante significativa, correspondendo a 24,7% no Brasil, a 46,6%

na Amazônia Legal e a 40,2% no Maranhão. A queda absoluta no Maranhão foi 33 mil

unidades produtivas, sendo a grande maioria (30,8 mil) no segmento de pequenos

produtores, onde a redução correspondeu a mais da metade do número registrado no início

do período. A tabela a seguir mostra esse movimento entre os produtores de feijão.

Pequeno 47%

Médio 26%

Grande 27%

Pequeno 46%

Médio 30%

Grande 24%

Page 75: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3233

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

Tabela 4. Feijão: número de produtores na Amazônia, segundo o tamanho (1995 e 2005)

UF 1995 2005

Total Pequeno Médio Grande Total Pequeno Médio Grande

Brasil 2.177.120 1.199.739 711.361 266.020 1.638.519 1.015.771 469.711 153.037

Amazônia

Legal

187.502 88.889 48.508 50.105 100.125 46.313 29.866 23.946

Acre 8.480 728 2.218 5.534 5.084 871 1.341 2.872

Amapá 161 36 75 50 104 18 39 47

Amazonas 5.499 3.002 1.828 669 2.747 1.849 422 476

Maranhão 82.370 61.461 10.572 10.337 49.247 30.662 10.424 8.161

Mato Grosso 8.630 1.584 3921 3125 2.642 413 1.090 1.139

Pará 41.466 10.954 15.132 15.380 21.519 7.962 7.833 5.724

Rondônia 35.466 10.434 13.170 11.862 13.797 3.672 6.349 3.776

Roraima 936 250 55 631 490 108 45 337

Tocantins 4.494 440 1.537 2.517 4.495 758 2.323 1.414

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Tabela 5 – Feijão: área plantada e quantidade produzida na Amazônia (1995 e 2005)

UNIDADE Área Plantada (Ha) VAR.

(%)

Produção (Ton) VAR.

(%) 1995 2005 1995 2005

Brasil 5.366.321 3.965.847 - 26,1 2.946.168 3.021.641 2,6

Amazônia Legal 395.597 293.490 - 25,8 210.622 214.380 1,8

Acre 12.606 16.306 29,4 7.022 4.448 - 36,7

Amapá 225 1.072 376,4 95 682 617,9

Amazonas 3.790 6.335 67,2 2.944 5.768 95,9

Maranhão 118.023 78.025 - 33,4 42.007 35.682 - 15,1

Mato Grosso 37.129 42.244 13,8 23.220 66.122 184,8

Pará 89.258 72.781 - 18,5 50.976 56.372 10,6

Rondônia 123.682 63.032 - 49,0 81.007 33.089 - 59,2

Roraima 2.083 1.000 - 52,0 625 658 5,3

Tocantins 8.801 12.695 44,2 2.726 11.559 44,2

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Page 76: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3234 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

Gráfico 10. Feijão: variação percentual da área plantada na Amazônia (1995 – 2005).

Fonte: Elaborado a partir dos dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE 1995 e 2005.

Em termos de área plantada, considerando-se o início do período estudado, os estados de

Rondônia (123 mil hectares) e Maranhão (118 mil hectares) responderam por mais de 60%

do total da Amazônia Legal. Ao final do período, a concentração se deu entre os estado do

Maranhão (78 mil hectares) e do Pará (72,8 mil hectares), que juntos representaram 51,4%

da área total.

Do mesmo modo que no caso do arroz, chama a atenção o movimento descendente na área

plantada com feijão na Amazônia Legal, tendo ocorrido em 4 dos 9 estados da região,

entanto, essa queda parece ter sido compensada por aumento de produtividade, de modo

que, ao final a produção se manteve estável, com ligeiro aumento do volume produzido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se observa nos dados expostos acima, existe uma coincidência entre o avanço do

agronegócio da soja e a redução da área utilizada para produção de alimentos básicos em

alguns estados da Amazônia Legal. Não é possível afirmar, categoricamente, que há uma

relação de causa e efeito. Os dados disponíveis permitem uma considerável indicação,

porém não são suficientes para uma percepção conclusiva. Há que se levar consideração um

-100-50

050

100150200250300350400

Page 77: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3235

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

19

conjunto de fatores num contexto histórico peculiar da inserção da Amazônia no circuito de

reprodução do capital em escala mundial.

Ao fortalecer atividades vinculadas ao mundo das commodities, constituído por oligopólios

e voltados a uma lógica externa à região, a dinâmica atual da região contribui para agravar

a dominação e o controle de poucos sobre a terra e o trabalho. A agricultura tradicional da

região encolheu visivelmente. A soja avançou bastante respondendo a um estímulo da

demanda externa. Foi essa demanda ponto de partida para determinar o ritmo e a dimensão

desse crescimento. Os alimentos básicos, no entanto, permanecem estagnados, seja em

termos de produtividade ou da produção física. As empresas globais associadas a esse

movimento de resposta à demanda externa, através dos grandes projetos em curso,

apresentam elevada capacidade de interferência nos contextos locais onde atuam. O caráter

dessa interferência abrange um vasto conjunto de aspectos que, de um lado, representam a

geração de determinada massa de emprego e de renda e, de outro lado, provocam resultados

diretos e indiretos, que vão desde a devastação da cobertura vegetal e a degradação das

condições gerais de equilíbrio dos ecossistemas locais até a desarticulação do modo de vida

e, em particular, das formas de produção material das populações atingidas.

Assim, são diversas as implicações dessa dinâmica, atingindo aspectos relativos à

distribuição da renda, acesso a terra, segurança alimentar. É ilustrativo, por exemplo, o fato

de que dos quatro estados brasileiros que apresentavam mais de 60% dos domicílios em

situação de insegurança alimentar em meados da década de 2000, dois (Roraima – 68,7% e

Maranhão – 69,1%) situam-se na Amazônia Legal. Nesse cenário, ampliam-se ainda mais

os grandes desafios a serem enfrentados no continente latino-americano no sentido da

promoção das condições de existência da população.

Nisso residem algumas das particularidades da presença das empresas globais na

Amazônia: seus vínculos com o processo de acumulação em escala global se operam a

partir de uma lógica perversa de exploração dos recursos e de expropriação dos meios de

produção dos produtores diretos, com base em relações de produção arcaicas e desumanas,

mas que são funcionais para garantir o máximo lucro do grande capital. O aprofundamento

da crise atual pode ter efeitos positivos para os sistemas locais de produção de alimentos.

Page 78: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3236 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

REFERÊNCIAS

Companhia Nacional de Abastecimento (2013). Levantamento de safra. (online document

http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=. Acedido em 2 - 03-2013).

Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.(2013). Modelo agroalimentar e

a produção dos agrocombustíveis: questões e impactos na Soberania e Segurança

Alimentar e Nutricional. (online document www4.planalto.gov.br/consea/documentos/,

Acedido em 3-03-2013).

Glass, V; Milani, A; Monteiro, M; Pimentel, S. (2008). O Brasil dos agrocombustíveis –

impactos das lavouras sobre a terra, o meio e a sociedade – soja e mamona. (online

document www.reporterbrasil.org.br/agrocombustiveis.pdf, Acedido em 30-03-2013).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2009). Sistema Ibge de recuperação

automática – Brasil: 1997-2008. (online document http://www.ibge.gov.br Acedido em 12-

05-2013)

Mesquita, B. A. (2008). Política de Desenvolvimento e Desigualdade Regionais: o caráter

seletivo e residual da intervenção governamental no Maranhão. Revista de Políticas

Públicas, 11(2), 27-54.

Silva, M.A.M. Produção de alimentos e agrocombustíveis no contexto da nova divisão

mundial do trabalho. Revista Pegada (on-line) 9, 1. Disponível em

www.revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article. (Acesso em: 26 fevereiro 2013).

Page 79: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3237

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

DEMANDA POR INVESTIMENTO, DINÂMICA TERRITORIAL E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL:

O CASO PAPL-MA DEZ ANOS APÓS

BENJAMIN ALVINO DE MESQUITA, Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão - Brasil. [email protected]

JOÃO GONSALO DE MOURA, Professor Associado do Departamento de

Economia da Universidade Federal do Maranhão - Brasil. [email protected]

EUNICE PARAGUASSU MOURA, Professora da Universidade Ceuma em São Luís – Maranhão - Brasil. eunice. [email protected]

RESUMO: O trabalho tem como objetivo analisar a principal política delineada no início do século atual com a finalidade de alcançar um padrão mais elevado de desenvolvimento socioeconômico no estado do Maranhão - Brasil, com ênfase no papel do setor público enquanto indutor da alocação de recursos e do desenvolvimento regional. Faz-se uma análise inicial da percepção que tomou lugar a partir da última década do século XX, baseada no conceito de arranjo produtivo local. Em seguida são explicitados alguns principais erros e acertos cometidos, bem como algumas reflexões adicionais sobre iniciativas que visem alavancar o desenvolvimento local.

PALAVRAS-CHAVE: Investimento, desenvolvimento regional, dinâmica territorial.

ABSTRACT: The study aims to examine the main policy outlined at the beginning of the current century with the purpose of achieving a higher standard of socio-economic development in the State of Maranhão-Brazil, with emphasis on the role of the public sector while resource allocation and inducer of regional development. A initial analysis of perception that took place from the last decade of the 20th century, based on the concept of local productive arrangement. Then, there are explained some key mistakes and successes, as well as some additional reflections on initiatives aimed at leveraging local development. KEY-WORDS: Investment, regional development, territorial dynamics.

1. Introdução

Uma nova percepção do processo de desenvolvimento regional, associada a uma

nova concepção a respeito do papel das políticas públicas como indutoras da alocação

de recursos para investimento em um determinado território, representa uma importante

transformação posta em evidência por ocasião da última passagem de século. Esse novo

Page 80: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3238 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

contexto resultou em implicações significativas para os gestores de instituições

governamentais e não governamentais no decorrer da primeira década do século XXI.

Tal mudança de percepção ocorre como um fenômeno resultante da publicação

de vários estudos, desde meados da última década do século XX, sugerindo a reativação

do papel ativo do Estado pelo exercício pleno da sua função de planejador, aliado ao

envolvimento de um grupo mais amplo de atores oriundos das esferas social e

econômica.

Na verdade, esta última característica mencionada acima, dando conta de uma

maior amplitude de atores envolvidos no processo de desenvolvimento regional, serve

para deixar evidenciada a natureza sistêmica (maior integração e abrangência) que passa

a ser requerida na compreensão das condições que podem sustentar a elevação do

padrão de vida em uma região (Montero, 2001).

No caso da nova concepção a respeito do papel das políticas públicas indutoras

de investimento, a atenção fica centrada na necessidade de inclusão de novos

instrumentos de intervenção que devem ser condizentes com um anglo de visão mais

amplo, incluindo os fatores locais como elementos que demandam iniciativas

diferenciadas para as diferentes regiões (Teixeira & Ferraro, 2009).

Clama-se então por uma presença mais ativa do poder público no exercício de

um papel que, nas economias de mercado, costuma ser quase que totalmente destinado

ao sistema de preços. Agora, seria o caso do Estado indicar prioridades para a alocação

de recursos, envolvendo-se em maior intensidade na forma de planejador. Além disso,

haveria espaço para uma concepção voltada para a recomendação de políticas mais

participativas e abrangentes, tomando como referência as especificidades das regiões,

tanto no que se refere às atividades produtivas, como no que se refere aos próprios

indivíduos (Cassiolato & Lastres, 2003).

Como alguns países, entre eles o Brasil, viveram épocas de significativa

presença do Estado como planejador, sobretudo nas décadas de 50, 60 e 70 do século

XX, torna-se importante esclarecer que já não se tratava de um resgate das políticas

postas em prática àquela época. Até mesmo pelo fato daquelas iniciativas não haverem

logrado êxito ao ponto de romper com as amarras ao subdesenvolvimento no seu

sentido mais amplo. Assim, diante dessa nova percepção do papel do Estado como

indutor do desenvolvimento, novas alternativas de ação deveriam ser selecionadas.

Page 81: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3239

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

Ou seja, havia a possibilidade de transformar em acertos alguns dos equívocos

cometidos em iniciativas anteriores, que foram baseadas principalmente na concessão

de incentivos fiscais para a atração e implantação de grandes empreendimentos

industriais, como se tornou notório em alguns casos ocorridos no nível das unidades da

federação, sendo o Maranhão um exemplo típico (Haddad, 2003).

Mas também não é o caso de afirmar que as políticas do passado não tenham

sido importantes para aumentar a capacidade produtiva e a produtividade da economia.

Ao contrário, trata-se apenas da necessidade de esclarecer que as mesmas deveriam ter

sido acompanhadas por outras iniciativas que pudessem potencializar os resultados

esperados, principalmente quando da ampliação da abrangência dos seus impactos. Por

exemplo, as intervenções poderiam ter sido bem mais específicas, quando da sua

execução, destinando maior atenção às especificidades locais.

Dessa forma, diante desse novo contexto, o objetivo deste trabalho é analisar, à

luz dessa nova visão, as principais iniciativas adotadas recentemente no âmbito da

economia maranhense com vistas à obtenção de um padrão mais acelerado de

desenvolvimento, enfatizando o papel do setor público enquanto importante indutor da

alocação de recursos, sobretudo dos investimentos públicos e privados.

Para alcançar o objetivo proposto, além desta introdução, na seção 2 será

apresentada, com maior grau de detalhamento, a nova percepção que tomou lugar a

partir da última década do século XX; deixando para a seção 3 uma breve discussão

sobre o novo modelo de pensamento resultante, baseado no conceito de arranjo

produtivo local. Na seção 4 apresentaremos a forma e conteúdo das políticas de

desenvolvimento delineadas recentemente em nível de Maranhão, explicitando alguns

pontos positivos e negativos, em sintonia com as prescrições oriundas do modelo

apresentado. Finalmente, na seção 5 procuraremos propor algumas reflexões adicionais

sobre o padrão de desenvolvimento local no início do século atual.

2. Desenvolvimento Regional

Dando continuidade à percepção do processo de desenvolvimento regional

discutida acima, pode-se dizer que, em primeiro lugar, havia uma mudança de

concepção, substituindo a noção de apoio individual pela noção de apoio coletivo;

Page 82: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3240 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

deixando de promover a ação isolada para promover a ação conjunta; retirando do foco

a vantagem competitiva espúria para focalizar a vantagem competitiva duradoura;

substituindo a concorrência hostil pela a ação cooperativa; enfim, deixando de objetivar

apenas o crescimento para ter como meta central o desenvolvimento socioeconômico

das regiões (Cassiolato & Lastres, 2003).

Em segundo lugar, algo que também faz dessa nova percepção uma vertente

solidificada é o fato de atribuir ao conhecimento à função de alicerce da inovação. Isto

significa que a criação, absorção e aplicação do insumo conhecimento aos processos

produtivos constitui a causa mais expressiva das inovações, que, na dinâmica do sistema

econômico, representa o motor do desenvolvimento.

Essa vertente ainda traz consigo o reconhecimento de que os processos

inovativos são responsáveis diretos pela obtenção de vantagens competitivas

duradouras. O processo inovativo, verdadeiramente, promove sustentabilidade aos

negócios estabelecidos numa região, constituindo o foco central, ou objetivo maior de

qualquer política destinada a alcançar o chamado desenvolvimento sustentado.

Mas há que se chamar atenção para o fato de que não se trata apenas de inovação

na forma mais usual que normalmente este termo é tratado. Ao contrário, trata-se agora

de algo mais amplo, não necessariamente aliado á descoberta de algo totalmente novo.

Ao contrário, admite-se agora um conceito mais abrangente para o reconhecimento da

presença de processos inovativos. Compreende-se que a inovação se reflete na

incorporação de conhecimentos aos processos, produtos, formas de negociação,

métodos de divulgação, etc., mesmo quando tais conhecimentos não representam uma

novidade para outros participantes do mercado (Cassiolato et al., 2008).

Também o próprio significado do termo conhecimento se torna algo mais amplo,

passando a abranger tanto as formas codificadas como as formas não codificadas. Além

disso, um dos elementos mais importantes a ser destacado passa a ser o fato de se

reconhecer que, normalmente, os produtores de bens e serviços específicos estão

localizados em determinadas regiões, e que as inovações resultam, na verdade, das

interações e aprendizagem entre os agentes locais (Amaral Filho, 2009).

Por fim, convém ainda mencionar que a visão aqui tratada ratifica seu caráter de

maior amplitude quando reconhece diferentes níveis de relação / entrelaçamento /

dependência entre os produtores, bem como entre estes e o mundo que os cerca. Permite

Page 83: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3241

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

que sejam incorporadas as formas mais complexas de interação, bem como as mais

precárias e toda a planície que separa estes dois extremos; ficando o tipo específico de

interação vigente em cada caso dependente dos contextos econômico, social,

institucional e político que caracterizam o ambiente (Cassiolato & Lastres, 2003).

Ou seja, o nível de entrelaçamento e cooperação entre produtores, bem como

entre estes e os demais agentes, determina a capacidade de criação, acumulação e

incorporação de conhecimento. Como consequência, determina também o grau em que

se estabelecem os processos de aprendizagem e inovação. Na medida em que tais

aspectos evoluem, a capacidade inovadora se desenvolve, com os benefícios resultantes.

Contudo, não se pode esquecer que as especificidades presentes em cada território

(territorialidade) exercem forte influência sobre a mencionada capacidade.

Dessa forma, pode-se dizer que, diante daquilo que foi exposto acima, o

potencial competitivo de uma região depende da presença de um conjunto de

instituições que promovam a difusão do conhecimento e, por conseguinte, da inovação

entre produtores de bens se serviços (Teixeira & Ferraro, 2009).

Fica então mais evidente qual seria o principal papel do Estado, bem como das

instituições que têm como finalidade promover o desenvolvimento, qual seja: estimular

a cooperação entre agentes, organizando e harmonizando as suas ações para que possam

se viabilizar e potencializar os processos de aprendizado e inovação. Uma vez que o

Estado e as instituições promotoras do desenvolvimento ajam com este intuito, estarão

criadas as condições para o estabelecimento das chamadas vantagens competitivas

duradouras, garantindo oxigênio e sobrevida para os negócios instalados em uma

determinada região.

Quando esta análise é transportada para um caso real, como a economia do

estado do Maranhão - Brasil, a principal característica que deve ser observada é o fato

de se tratar de uma economia baseada em um conjunto de aglomerações de micro e

pequenos produtores, com uma significativa parcela das unidades produtivas marcada

pela informalidade. Uma das principais razões que sempre intensificaram a dificuldade

de desenvolvimento dessa economia pode ser atribuída, exatamente, á ausência dos

principais elementos ressaltados nesta seção, por exemplo: dificuldades de

aprendizagem e inovação, a falta de cooperação entre agentes, etc. Este cenário tem

encurtado a sobrevivência dos pequenos negócios e inibido o desenvolvimento local.

Page 84: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3242 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

3. Desenvolvimento com Foco em APL

Incorporando as ideias apresentadas na seção anterior, foi desenvolvida no Brasil

uma concepção teórica visando organizar mais acuradamente as mesmas para confrontá-

las com a realidade do ambiente econômico vigente no País. Foi lançada então a

definição do que passou a ser largamente conhecido no Brasil como arranjo produtivo

local (APL). Para dar conta de toda a amplitude de possibilidades inseridas na nova

percepção do processo de desenvolvimento regional, este termo abrange um grau de

complexidade que vai além do que a primeira vista possa parecer (Amaral Filho 2009;

Cassiolato et al., 2008).

Tomando como referência a versão desenvolvida no Brasil pela Rede Sistemas

Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist):

Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (Cassiolato & Lastres, 2003).

Diante do conceito acima apresentado, três elementos devem estar presentes nas

políticas. O primeiro deles é perceber que um dos principais aspectos ressaltados é

diversidade de atores envolvidos. Deste modo, as políticas com foco em APLs

necessitam considerá-los, pois, caso contrário, corre-se o risco de criar estímulos apenas

para grupos específicos, como costuma ocorrer nas versões tradicionais das políticas de

desenvolvimento, deixando de lado os principais elementos que garantiriam a presença

de uma nova concepção, aderindo às velhas iniciativas que não lograram êxito.

Algumas inciativas brasileiras que visavam a formatação de políticas estaduais

de promoção de APLs, o termo arranjos produtivos locais foi confundido com formas

singulares de aglomerações de produtores, gerando comumente alguma confusão com a

formatação denominada cluster (Ferreira Jr, et al, 2008).

Page 85: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3243

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

O segundo elemento a ser ressaltado, ainda em consonância com o conceito

acima apresentado, e com os próprios argumentos apresentados na seção anterior, é o

papel do Estado. Caberia ao mesmo criar as condições para a vigência de um maior grau

de entrelaçamento / interdependência e cooperação entre empresas, bem como entre as

mesmas e os demais atores pertinentes, de modo a intensificar a capacidade de criar,

acumular, difundir e incorporar conhecimento para acelerar os processos de

aprendizagem e inovação (Teixeira & Ferraro, 2009).

As possibilidades das políticas alcançarem os resultados esperados aumentariam

significativamente quando o foco das mesmas estiver direcionado à mobilização do

conjunto de atores pertinentes, em cada arranjo, com a finalidade de que as unidades

produtivas possam então gerar, assimilar e colocar em uso um conjunto de

conhecimentos. Seria necessário então um maior grau de envolvimento de todos os

agentes, não apenas na fase de execução das políticas, mas, sobretudo, nas fases de

elaboração e avaliação das mesmas.

Por fim, o terceiro elemento a ser destacado é a ênfase no local. Trata-se aqui de

reconhecer que as atividades produtivas e inovativas se diferenciam temporal e

espacialmente. Deste modo, passa a ser desejável que, no âmbito da elaboração e

execução das políticas de desenvolvimento, sejam delineadas ações específicas para

arranjos específicos, dadas as relações e condições singulares existentes em cada um,

sejam as mesmas provenientes de fatores históricos, econômicos, sociais, culturais,

políticos, entre outros (Cassiolato et al., 2008).

Portanto, a adoção desta concepção difundida no Brasil pela RedeSist exige a

compreensão de que os processos produtivos e inovativos constituem aspectos de

natureza sistêmica, na media em que os mesmos resultam das interações de diferentes

atores e competências. O grande desafio do Estado (enquanto planejador) seria

harmonizar as ações coletivas, gerando sinergias capazes de alavancar os processos de

aprendizagem e inovação. Com isto, estariam sendo criadas vantagens competitivas

duradouras para os negócios, principalmente em se tratando de ambientes formados por

empreendimentos de micro e pequeno porte.

Diante do exposto, e até mesmo como forma de não correr o risco de abandonar

o foco central deste trabalho, cabe agora uma reflexão sobre o delineamento das

políticas baseadas no conceito de arranjos produtivos locais em nível de Maranhão.

Page 86: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3244 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4. O Modelo de Desenvolvimento Proposto para o Maranhão

Uma política de desenvolvimento com foco em APL foi elaborada e assumida

pelo governo estadual no ano de 2003. A principal finalidade de ter uma inciativa

diferente das políticas anteriores seria mudar o foco dos instrumentos até então

utilizados para alavancar o desenvolvimento local, e que não haviam trazido os

resultados esperados, para a nova concepção que se apresentava. Foi criado então o

Programa de Promoção e Desenvolvimento de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais

do Estado do Maranhão (PAPL).

As principais políticas até então adotadas no Maranhão foram estabelecidas à

base da concessão de incentivos fiscais para atrair grandes unidades produtivas

individuais, geralmente exportadoras. A lógica do novo modelo se diferenciava bastante

do velho modelo quando previa um conjunto de ações mais abrangentes, privilegiando

aglomerações de micro e pequenos produtores, enfatizando um conjunto de atividades já

presentes na economia do referido estado (Haddad, 2003).

As ações previstas não estariam restritas apenas ao incentivo a um grupo

específico de unidades produtivas, ou à produção de um produto específico, mas, seriam

muito mais abrangentes. No caso de um determinado arranjo produtivo, todo o conjunto

de produtos / serviços que dizem respeito às diversas etapas necessárias para a

viabilização da produção deveriam ser contempladas. No caso, etapas como insumos,

comercialização, design, marketing, etc., não poderiam ser esquecidas. Além disso, as

especificidades do espaço geográfico onde estavam inseridas as unidades produtivas

demandariam iniciativas diferenciadas.

A presença de um grande número de atividades no Maranhão,

constituídas principalmente por um conjunto de aglomerações regionais de pequenos

produtores, requeria um desenho de políticas que estimulassem a troca de conhecimento

e experiências, dando margem à potencialização do processo de aprendizagem coletiva.

O benefício resultante seria o estímulo à inovação e, como consequência, o

desenvolvimento sustentado.

Na verdade, o desenvolvimento sustentado é sempre o objetivo balizador de

todas as políticas delineadas pelo poder público, sendo ainda mais premente em regiões

Page 87: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3245

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

com indicadores relativamente mais desfavoráveis, como é o caso do estado do

Maranhão. Portanto, a mudança em vista se daria na concepção, foco e direcionamento

das políticas, e não exatamente nos seus objetivos.

Considerando a abrangência territorial e populacional que as aglomerações

produtivas preexistentes no estado terminam por envolver, iniciativas direcionadas às

mesmas, sob uma perspectiva sistêmica, causariam grandes repercussões nos

indicadores estaduais (Haddad, 2003).

Entre os indicadores que deveriam ser afetados, a maior ênfase era dada ao

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Embora em um segundo momento, com a

troca natural de governantes, embora se mantendo como ponto fundamental da política

desenvolvimentista, as mesmas políticas passaram a ser vislumbradas muito mais como

instrumento para a redução das desigualdades regionais e sociais dentro do referido

estado (Moura et al. 2010).

Deve-se enfatizar também que a visão de envolvimento de diversos atores no

processo de desenvolvimento não ficou esquecida no âmbito da política preparada para

a economia maranhense. A formação de parcerias entre o governo estadual e diversas

instituições foi uma dos aspectos mais evidentes do PAPL. Na verdade, a presença de

todos esses atores consolidava a visão sistêmica do processo, na medida em que previa

um conjunto de ações integradas para viabilizar os objetivos. Na lista de parceiros no

PAPL, constava:

i) Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae

ii) Banco do Brasil

iii) Caixa Econômica Federal

iv) Banco do Nordeste do Brasil

v) Banco da Amazônia

vi) Universidade Federal do Maranhão

vii) Universidade Estadual do Maranhão

viii) Embrapa

ix) Centro Federal de Ensino e Tecnologia do Maranhão

x) Federação das Indústrias do Estado Maranhão

xi) Federação da Agricultura do Estado do Maranhão

Page 88: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3246 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

xii) Federação do Comércio do Estado do Maranhão

xiii) Federação das Associações de Municípios do Estado do Maranhão

xiv) Ministério da Ciência e Tecnologia

xv) Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio

xvi) Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada

Para efeito de complementação de algumas informações importantes sobre a

lista de parceiros apresentada acima, convém que sejam feitos alguns esclarecimentos

adicionais:

a) O governo estadual se fazia representar oficialmente no Programa por meio

da Gerência Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão (GEPLAN);

b) Entre as parcerias estabelecidas, o caráter mais formal da participação de

cada órgão ficou evidente apenas entre Sebrae e Governo do Maranhão, que

celebraram um convênio nesse sentido;

c) Embora a lista seja bastante extensa, muitos dos organismos citados nunca

tiveram participação efetiva em qualquer atividade. Outros, embora

cooperando, não desenvolveram programas específicos para APLs.

Embora seja possível reconhecer que se tratava de uma lista composta pelas

instituições necessárias, isto não significa que se trate exatamente daquelas instituições

que, de fato, assumiriam seu papel no Programa. Dada a própria amplitude da relação de

participantes, seria quase que totalmente previsível um cenário com maior empenho de

alguns, e menor empenho de outros.

Além disso, convém esclarecer que, embora constasse na lista de órgãos

apoiadores o nome de muitas instituições portadoras de funções que se afinavam

perfeitamente com as linhas traçadas, e para as quais foram designadas pelo Programa,

as mesmas poderiam não estar dotadas de recursos (materiais, humanos, financeiros,

etc.) para dar conta de iniciativas tão amplas, uma vez que, por exemplo, a abrangência

geográfica dos APLs coincidia, praticamente, com o mapa geográfico estadual, além de

tratar com as mais diferentes atividades produtivas.

Page 89: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3247

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

Ao mesmo tempo, poderiam ainda surgir situações em que algumas instituições

parceiras pudessem até estar de posse dos recursos necessários, mas, talvez, não

estivessem compreendendo o seu papel no âmbito das ações integradas, o que

acarretava um nível de envolvimento não condizente com a grandeza da missão

atribuída a cada uma das mesmas.

Como principal ator, a participação do governo estadual no Programa assume

um papel de catalisador (estímulo, incentivo) e mediador (facilitador da cooperação) o

que transformava o mesmo no ator responsável pela tarefa de envolver os parceiros,

visando produzir a necessária harmonia na execução das ações. Mas tal tarefa seria um

tanto árdua, pois, assim como não seria um ato simples virar o jogo da falta da

cooperação direta entre os produtores, talvez ainda mais difícil fosse cumprir a sua

missão de envolver todas as instituições parceiras.

Além disso, um conjunto de fatores exógenos relacionados a mudanças

extemporâneas no cenário político do Maranhão vieram a interferir negativamente na

possibilidade do governo local cumprir com desenvoltura a tarefa que lhe era atribuída,

no caso, a de ator principal. Portanto, depois de transcorridos alguns anos da elaboração

e execução do PAPL, algumas intempéries surgiram no Maranhão, quais sejam:

i) Alterações nos fundamentos da economia que serviram de base para

justificar as políticas estaduais de apoio aos APLs;

ii) Quase nenhum envolvimento efetivo por parte de algumas das instituições

parceiras com as políticas de apoio aos APLs;

iii) Trocas recorrentes nas correntes políticas que dominam o governo estadual,

com cada uma das correntes se sentindo na obrigação de abortar

planejamentos elaborados pela outra corrente;

iv) Conflitos entre esferas de governo, com a necessidade de adaptação da

concepção local de apoio aos APLs em relação ao enfoque adotado pelo

governo federal.

Portanto, embora a lista de intempéries acima mostre poucas ocorrências, as

mesmas foram suficientes para que, mais uma vez, uma concepção bem elaborada e

adequada à realidade maranhense não pudesse ser levada adiante. Com isto o Maranhão

Page 90: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3248 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

retoma sua velha política de desenvolvimento baseada em incentivos fiscais,

desconectada da realidade dos negócios e das instituições presentes no estado,

conseguindo apresentar apenas algumas pequenas ilhas de progresso no território, e sem

nenhuma sustentabilidade em termos de longo prazo.

5. Reflexões para o Futuro

Diante das reflexões que foram explicitadas acima, pode-se dizer que as políticas

de promoção de APLs parecem muito centradas nos seus objetivos finais, focadas

secundariamente nos meios necessários para, verdadeiramente, alavancar os arranjos

produtivos identificados no estado, promovendo assim um padrão de desenvolvimento

regional sustentado. Diante disso; podemos enumerar alguns gargalos a serem

removidos, quais sejam:

i) Pensar em políticas de desenvolvimento que sejam muito mais abrangentes

do que as políticas que visam apenas o crescimento econômico;

ii) Incluir as especificidades locais na política de desenvolvimento, envolvendo

todas as regiões, ampliando o leque de atividades econômicas e, sobretudo,

a amplitude da população;

iii) Prezar pelo envolvimento de todos os atores no planejamento das políticas,

de modo que a mesma reflita melhor os desejos da sociedade e, além disso,

as ações delineadas sejam executadas através de uma visão sistêmica do

processo, de modo organizado e harmônico.

iv) Cobrar de todos os atores envolvidos o fiel cumprimento de suas

responsabilidades, de modo que determinadas ações não fiquem

prejudicadas;

v) Difundir as vantagens e a importância de tais políticas entre os produtores,

divulgando mais intensamente os benefícios da ação conjunta e da

cooperação, de modo a gerar os resultados esperados;

vi) Tornar a execução das políticas um compromisso das instituições, e não

apenas um desejo dos dirigentes de plantão;

Page 91: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3249

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

vii) Tornar presente, entre indivíduos e instituições, a cultura do

empreendedorismo, vencendo o conformismo que é característico de

algumas regiões mais atrasadas.

Com a lista de intempéries anteriormente apresentadas, e diante da lista de

reflexões propostas acima, fica evidente que o PAPL representava um programa bem

elaborado e adequado ao desenvolvimento socioeconômico de regiões com as

características do estado do Maranhão. Em termos de planejamento, pura e

simplesmente, o estado maranhense deu uma lição de como o poder público tem um

papel relevante e como o mesmo possui um papel viável para promover o

desenvolvimento regional.

No entanto, além de reconhecer a importância do planejamento local para o

desenvolvimento econômico e social, é preciso ir além, evitando que as trocas de poder

possam gerar um clima de paralisia, ou mesmo grandes reviravoltas no âmbito da

execução de políticas públicas. Algo que é planejado para ser prioritário não pode,

repentinamente, ser relegado a um patamar inferior, como se não houvesse sido

decidido nas instâncias de poder, ou mesmo sem explicar aos parceiros porque já não

são mais convidados para levar adiante aquela empreitada.

Para evitar situações infelizes como esta, faz-se necessário também promover

mudanças nas instituições locais para que a esfera política não inviabilize iniciativas

importantes como o PAPL. Neste sentido, seria desejável dispor de uma estrutura

institucional que tratasse as políticas públicas como políticas de Estado, e não como

meras políticas de governantes. Uma vez propostas, discutidas, e aprovadas; as políticas

públicas não poderiam ficar sujeitas ao gosto do governante de plantão.

Quando uma política pública passa por todas as etapas mencionadas no

parágrafo anterior, e este foi o caso do PAPL, que teve, desde a sua elaboração, uma

natureza extremamente participativa ao envolver tantos atores e instituições locais, os

interesses da sociedade passam a ser inteiramente incorporados nas mesmas. Neste caso,

não restaria ao poder público outra iniciativa que não levar até o fim a sua missão de

colocar em prática os anseios da sociedade. Não foi o que houve no Maranhão,

principalmente quando se elegeu um novo governo em 2006, e principalmente com a

mudança drástica, fora da esfera política (na esfera judicial) cerca de dois anos após.

Page 92: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3250 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Mas como vimos, também houve problemas de outra natureza, como a ausência

de algumas instituições parceiras, conflitos entre esferas de governo, etc. Ao longo do

texto ficou evidente que alguns problemas surgiram pelo caminho, o que se torna até

mesmo natural. O que não é mesmo natural é não tentar saná-los e, principalmente,

tentar utilizá-los para não levar adiante uma tentativa tão adequada para amenizar a

carência de investimento e promover o desenvolvimento local.

Passados dez anos desde o seu lançamento, pode-se dizer que as propostas

concebidas no PAPL continuam atuais. Falta apenas uma decisão política para retomá-

las e seguir um caminho mais propício para alavancar, definitivamente, um processo de

desenvolvimento sustentado na economia maranhense.

6. Considerações Finais

Entre erros e acertos decorrentes da penetração de políticas de promoção de

arranjos produtivos locais no estado do Maranhão ainda é possível enumerar alguns

fatores que indicam a possibilidade de haver um saldo positivo ao longo desse processo.

Embora não tenha sido integralmente posto em prática, e em certo momento totalmente

abandonado, houve um período de intenso envolvimento de muitos órgãos e instituições

estaduais com o PAPL, deixando um legado (Moura, et al, 2010).

Um primeiro ponto a ser destacado é uma perceptível inclinação dos atores e das

instituições locais para o trabalho em conjunto, ou em parceria. Quer seja nos projetos

com a nomenclatura de APL, ou em todos os demais, instituições como o Sebrae

prezam pela ação coordenada de diversos órgãos, aglutinando esforços em torno de

resultados comuns.

Um segundo destaque fica por conta da maior compreensão e divulgação das

potencialidades locais, uma vez que foi deito um amplo trabalho nesse sentido,

principalmente em regiões que até então despertavam pouco interesse aos próprios

agentes econômicos do próprio Maranhão. Todos puderam ficar mais cientes das

vocações naturais de cada região específica do território maranhense, e até mesmo de

atividades que sequer eram difundidas, aproximando as mesmas das instituições que, de

fato, deveriam lhe prestar apoio.

Page 93: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3251

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

O terceiro ponto em destaque, com a participação e o envolvimento de diversas

instituições apoiadoras, os micro e pequenos produtores de bens e serviços tiveram a

oportunidade de ter à sua disposição um canal aberto para externar as suas demandas e

dificuldades, bem como conseguir alguns benefícios, mesmo que marginais, que de

outra forma não teriam conseguido.

O quarto ponto é o fato de algumas entidades como sindicatos, associações,

cooperativas estarem diretamente envolvidos nesse processo e, por conta disso, houve

um fortalecimento do papel dessas entidades representativas, contribuindo para

melhorar e equilibrar a correlação de forças nas definições de políticas públicas para o

desenvolvimento local, contribuindo assim para que as mesmas pudessem se tornar

mais expressivas no seu aspecto participativo.

Finalmente, no seio das políticas em análise, o poder público, nas suas esferas

mais descentralizadas, como em nível de estados e municípios, passou a vislumbrar

novos papéis a serem desempenhados, principalmente no que se refere à recuperação,

por um novo modo de agir, da sua influência sobre a alocação dos recursos produtivos.

Portanto, embora possam ser ressaltadas algumas deficiências de compreensão

dos termos, falhas na escolha do público alvo, desarmonia nas ações de algumas

instituições, paralisia por parte do setor público, dentre outras; não há como voltar atrás

na questão do poder que as instituições passaram a percebem que possuíam,

principalmente no entendimento de que um conjunto de iniciativas que visem a ação

isolada de um órgão costuma não produzir efeitos esperados.

Enfim, após a noção de APL ter sido introduzida no âmbito da política estadual,

as instituições se tornaram mais conscientes da necessidade de agir de modo

sincronizado. O fato de haver um diálogo constante entre as mesmas, até mesmo por

conta de instâncias burocráticas que foram criadas, já constitui algo que promove uma

constante troca de informações, conhecimentos e experiências; viabilizando assim o

plantio de uma semente para a inovação, desencadeando assim a construção de um novo

desenvolvimento.

Page 94: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3252 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

REFERÊNCIAS

AMARAL FILHO, J. (2009). Sistemas e arranjos produtivos locais – SAPLs. Fortaleza – Rio de Janeiro: RedeSist. CASSIOLATO, J. R. & LASTRES, H. M. M. (2003). O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume & Dumará. CASSIOLATO, J. R.,LASTRES, H. M. M. & STALLIVIERI, F. (2008). Políticas estaduais e mobilização de atores políticos em arranjos produtivos e inovativos locais. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Arranjos produtivos locais: uma alternativa para o desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: e-papers. CASSIOLATO, J. R. & SZAPIRO M. (2003). Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume & Dumará. DONER, R. F. & HERSHBERG, E. (2001). Produção flexível e descentralização política nos países em desenvolvimento: afinidades eletivas na busca de competitividade?. In: GUIMARÃES, N. A. & MARTIN, S. (orgs.). Competitividade e desenvolvimento: atores e instituições locais. São Paulo: SENAC. GEPLAN. (2003). Programa de Promoção e Desenvolvimento de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais do Maranhão - PAPL. São Luís: Sebrae - MA. HADDAD, P. R. (2003). Arranjos e Sistemas Produtivos de Micro e Pequenas Empresas no Processo de Planejamento do estado do Maranhão. São Luís: Sebrae - MA. MONTERO, A. P. (2001). Sobrevivendo à globalização pela via de um novo desenvolvimentismo: a experiência de Minas Gerais. In: GUIMARÃES, N. A. & MARTIN, S. (orgs.). Competitividade e desenvolvimento: atores e instituições locais. São Paulo: SENAC. MOURA, J. G. et al. Mapeamento, metodologia de identificação e critérios de seleção para políticas de apoio nos Arranjos Produtivos Locais – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. São Luís/MA, maio 2009. (NOTA TÉCNICA 2/MA). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOURA, J. G. et al. Síntese dos Resultados, Sugestões e Recomendações. – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das

Page 95: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3253

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. São Luís/MA, janeiro 2010. (NOTA TÉCNICA 7/MA). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. TEIXEIRA, F. & FERRARO, C. (2009). Aglomeraciones productivas locales em Brasil, formación de recursos humanos y resultadosde la experiência CEPAL – SEBRAE. Serie Desarrollo Productivo № 186. Santiago de Chile: CEPAL.

Page 96: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3254 | ESADR 2013

Page 97: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3255

1

UMA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO NO ESTADO DO MARANHÃO

ADRIANA CRISTINA RABELO DA SILVA1

RESUMO O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no contexto do Novo-Desenvolvimentismo evidencia a tentativa de retomada do Estado como agente indutor dos investimentos na economia, apresentando como meta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 5,0% ao ano, entre 2007 e 2010, através da adoção de medidas como: investimentos em infraestrutura, estímulo ao crédito e ao financiamento, melhorias do ambiente do investimento, desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e realização de medidas fiscais de longo prazo. Entretanto, durante o período, a participação das taxas de investimento no crescimento econômico do Brasil se mostrou incipiente. No Estado do Maranhão, o montante de recursos previsto pelo PAC é irrisório quando comparado a outras unidades da federação, correspondendo a apenas 2,7% do total. Com a perspectiva keynesiana de que o crescimento econômico depende da realização de investimentos, este estudo se propõe a investigar o desempenho do PAC no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Para esta investigação este artigo recorre à análise de documentos oficiais do Programa, assim como às fontes de dados secundários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC). Para sua abordagem, inicialmente apresenta-se o retrospecto histórico da intervenção estatal na economia brasileira contemporânea; em seguida apresenta-se o PAC, destacando-se suas metas e áreas de atuação; finalmente evidencia-se como a atuação do PAC durante o quatriênio foi incipiente e se resumiu à realização de obras de baixos impactos para a economia maranhense, o que evidencia a pífia contribuição do Programa para as taxas de crescimento do Estado. Palavras-chave: PAC; atuação estatal; Maranhão; desempenho. ABSTRACT The launch of the Growth Acceleration Program (PAC) in the context of the New-Developmentalism shows the attempted recovery of the State as a promoter of investment in the economy, with a target growth of Gross Domestic Product (GDP) by 5.0 % per year between 2007 and 2010, through the adoption of measures such as investment in infrastructure, promotion of credit and financing, improvement of investment environment, relief and improvement of the tax system and conducting long- 1 Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Campus do Bacanga, Av. dos Portugueses - s/n, CEP 65085-580 São Luís, Maranhão, Brasil [email protected]

Page 98: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3256 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

term fiscal measures. However, during the period, the participation rates of investment in Brazil's economic growth showed incipient. In the state of Maranhão, the amount of resources provided by the PAC is negligible when compared to other units of the federation, representing only 2.7% of the total. With the Keynesian perspective that economic growth depends on investments, this study aims to investigate the performance of PAC in the state of Maranhão, between 2007 and 2010. For this research this article refers to the analysis of official documents of the Programme, as well as the sources of secondary data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the Institute for Socioeconomic Studies Maranhense and Cartographic (IMESC). For your approach, initially shows the historical retrospect of state intervention in contemporary Brazilian economy, then presents the CAP, focusing on their goals and areas; finally reveals itself as the performance of the CAP during the quadrennium was incipient and summarized the execution of works of low impacts to the economy of Maranhão, which shows the insignificant contribution of the Programme to the growth rates of the state. Keywords: PAC; state action, Maranhão; performance.

1. INTRODUÇÃO

O Estado brasileiro assumiu distintas atuações no decorrer do seu processo

histórico. Entre 1930 e 1980 assistiu-se a um período denominado Nacional

Desenvolvimentista, em que o Estado interveio principalmente no plano econômico. A

partir desta época até finais do século XX, observaram-se dois momentos: a década

perdida de 1980 marcada pela crise da dívida externa, com baixas taxas de crescimento

econômico e elevada inflação, em que o planejamento estatal se encontrava

desarticulado, com a criação apenas de planos de estabilização (Almeida, 2006); e a

década de 1990 marcada pela estratégia neoliberal, que propugnava o Estado mínimo e

defendia o livre mercado.

Já nos anos 2000, depois de sanada a preocupação com a estabilidade

inflacionária tal como prevaleceu no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC),

surgiu o Novo Desenvolvimentismo, que propugnava a constituição de um Estado com

capacidade de regular a economia, sendo esta constituída por um mercado forte, cuja

concorrência regulada se mostraria capaz de abrigar produtores pequenos, médios e

grandes; e um sistema financeiro funcional, com preferência pela esfera industrial e

comercial, em detrimento da especulativa (Sicsú et al., 2005).

Page 99: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3257

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

3

Nesse contexto, em 2007 o Governo Federal lançou o Programa de Aceleração

do Crescimento (PAC), com vistas a equacionar os gargalos em infraestrutura existentes

no Brasil, promovendo a obtenção de taxas de crescimento econômico mais elevadas.

Com esse Programa, observa-se, pois, a tentativa de retomada do Estado como agente

orientador dos investimentos, após um longo período em que sua atuação possuía como

objeto central a estabilidade inflacionária.

Com a perspectiva keynesiana de que o crescimento econômico depende da

realização de investimentos, este estudo se propõe a investigar o desempenho do PAC

no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Para isto, é composto de três seções, além

desta introdução. Na primeira será feito o retrospecto histórico da intervenção estatal na

economia brasileira contemporânea; na segunda seção apresenta-se o PAC, destacando-

se suas metas e medidas, assim como algumas concepções de diferentes autores sobre

sua atuação; na terceira será apresentado o desempenho do Programa na economia

maranhense e por fim, são esboçadas algumas conclusões encontradas com este estudo.

2. RETROSPECTO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DO ESTADO NA

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

No período compreendido entre 1930 e 1945, conhecido como Era Vargas,

assistiu-se à crescente intervenção do Estado na economia brasileira, ao forte

nacionalismo econômico e a várias proibições ao capital estrangeiro. Com a Crise de

1929 e a consequente derrocada do café, a industrialização foi impulsionada através da

condução do Estado, sendo adotada inicialmente a estratégia de controle cambial e em

seguida, a de substituição de importações. Assim, segundo Sallum Júnior (2003, p. 35),

o Estado desempenhava o papel de núcleo organizador da sociedade e funcionava como

alavanca para a construção de um capitalismo industrial, integrado nacionalmente, mas

dependente do capital externo, através de um modelo de substituição de importações.

Esse Estado Nacional Desenvolvimentista prevaleceu até os anos de 1970, sendo

a década seguinte considerada um período de “aprendizagem dolorosa” (CEPAL, 2000),

marcada por avanços na direção da redemocratização política, mas também por uma

Page 100: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3258 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

crise econômica, decorrente da incapacidade do Brasil em honrar os pagamentos da

dívida externa. Assim, durante a Nova República (1985 - 1989) foi instituída uma série

de medidas que versavam sobre a maior participação popular, como as eleições diretas

para a Presidência da República e para as capitais, assim como o direito a voto dos

analfabetos e a liberdade de organização partidária, além de outras nessa direção. Com

isso, esse período foi caracterizado como um arranjo político no qual vários segmentos

sociais puderam lutar por seus interesses com grande liberdade de ação e organização

(Sallum Júnior, 2003, p. 39).

Nesse contexto, tais mudanças culminaram na promulgação da Constituição de

1988 (CF-88), que possibilitou a ampliação do poder de ação do Legislativo, do

Judiciário e do Ministério Público nos processos de decisão governamental; transferiu

parte da base material para exercer o poder (impostos e autonomia financeira) da União

para Estados e municípios; ampliou a proteção social para todos; definiu alguns deveres

sociais do Estado; além de possibilitar que os cidadãos pudessem exigir a realização

desses deveres perante o poder público (idem). Ainda no que tange às medidas

impostas pela CF-88 destacaram-se a maior restrição ao capital estrangeiro, o aumento

da atuação das empresas estatais e o maior controle do Estado sobre o mercado, o que

mostra sua inclinação a um Desenvolvimentismo Democratizado (ibidem).

Diante desse ambiente de instabilidade econômica, em documento para sua

superação na América Latina e Caribe, a CEPAL (2000) propugnava que era preciso,

[...] por um lado, fortalecer a democracia e, por outro, ajustar as economias, estabilizá-las, incorporá-las numa mudança tecnológica mundial intensificada, modernizar os setores públicos, aumentar a poupança, melhorar a distribuição de renda, implantar padrões mais austeros de consumo, e fazer tudo isso no contexto de um desenvolvimento sustentável em termos ambientais. (p. 892)

Destarte, para superar a crise do Estado, o Governo Sarney - marcado por

crescente instabilidade econômica e fragilidade política - tentou adotar estratégias

desenvolvimentistas, tal como no passado, porém não encontrou um ambiente externo

favorável, já que ao contrário de aumentar os capitais estrangeiros no país, fez com que

houvesse uma saída grande destes. Além do mais, tais estratégias não levavam em

consideração a perda de autoridade política do Estado e a maior autonomia das classes

populares, que passaram a realizar manifestações que acabavam por impor certos limites

Page 101: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3259

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

à ação estatal. Nesse ambiente de fragilidade política, a elite econômica brasileira

passou a se opor ao intervencionismo, exigindo a desregulamentação dos mercados, a

privatização de empresas do Estado e uma maior abertura para o capital externo, o que

se constituiu enquanto um avanço das ideias neoliberais. Assim, no governo Collor

(1990 – 1992) observou-se uma postura antiestatal e internacionalizante, rompendo com

as estratégias adotadas nos governos anteriores.

A partir desse marco histórico, FHC assumiu a presidência do país em 1995,

rompendo com qualquer característica ainda existente do período varguista e dando

continuidade ao liberalismo econômico, cujas medidas adotadas visavam reduzir a

participação do Estado na economia, assim como aumentar o grau de abertura comercial

e financeira, o que fez com que as mudanças observadas tanto com relação à estrutura

produtiva e tecnológica, quanto financeira, não encontrassem precedentes na história do

país (Franco, 1998).

Nesse sentido, Franco (1998, p. 44) afirmou que a abertura seria a base para a

construção de um modelo de crescimento para o futuro, pois permitiria que o Brasil

elevasse qualitativamente o padrão de vida da sociedade, já que o modelo de

substituição de importações ocasionava a concentração de renda e a estagnação da taxa

de crescimento da produtividade. Ainda segundo esse autor, a responsabilidade pelo

crescimento econômico, a partir desse período, deveria ser deixada a cargo do setor

privado, já que a esfera pública não teria mais capacidade de originar investimentos na

magnitude dos observados antes de 1983.

A sucessão presidencial, em 2002, foi marcada pela ascensão de Lula, cujo

primeiro mandato apresentou como tarefa primordial o dever de “arrumar a casa” e, o

segundo, foi caracterizado pela adoção de uma estratégia Liberal Desenvolvimentista,

em que o objetivo não foi reconstruir o Estado empresarial, mas reformar o Estado

brasileiro para permitir o estímulo ao desenvolvimento privado e à equidade social.

Cabe destacar que tal estratégia adotada durante o segundo governo petista

remete ao documento da CEPAL (2000), que indicava alguns princípios a serem

adotados com vistas à superação da crise - dos anos 1980 - através da transformação das

estruturas produtivas. No que tange à ação estatal, o documento propugnava que o

intervencionismo deveria ser reformulado em relação às décadas anteriores, possuindo

Page 102: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3260 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

como prioridade o fortalecimento de uma competitividade baseada na incorporação do

progresso técnico, visando promover níveis razoáveis de equidade (p. 898).

Nesse contexto, foram adotadas algumas estratégias com vistas à organização de

um projeto nacional desenvolvimentista que, segundo Bielschowsky (2012) foram as

seguintes: crescimento com redistribuição de renda através do consumo de massa;

investimentos em infraestrutura, consolidados no PAC; e a inovação.

Entretanto, Paulani (2008) afirma que o primeiro governo Lula foi marcado pela

continuação da política neoliberal e de abertura financeira adotada desde 1990, pelo

controle inflacionário e por uma política de altas taxas de juros e, no segundo mandato,

com o lançamento do PAC não se observou nenhuma mudança nessa política

econômica, mas sim a permanência da concepção tecnicista2 de crescimento da

economia.

Nesse aspecto, destaca-se a visão diametralmente oposta de Faria (2010), ao

afirmar que o êxito da mudança do papel do Estado foi evidenciado a partir da adoção

de políticas anticíclicas (como o PAC) para o enfrentamento da crise de 2008.

Entretanto, cabe destacar que a reorientação do papel do Estado, resgatando o

planejamento de longo prazo e sua maior participação nas diversas atividades

econômicas, não se deu nos moldes do Estado desenvolvimentista observado no

passado, uma vez que, segundo Faria (2010, p.77), a globalização financeira observada

nas últimas duas décadas constituiu um expressivo poder privado concentrado nas mãos

de poucas empresas transnacionais de modo jamais observado anteriormente, o que

dificulta a elaboração e execução de políticas públicas efetivas.

A esse novo período, denominado Novo-Desenvolvimentismo, cabe destacar as

seguintes funções a serem desempenhadas pelo Estado: a capacidade para regular a

economia, estimulando um mercado forte e um sistema financeiro a serviço do

desenvolvimento e não das atividades especulativas; fazer a gestão pública com

eficiência e responsabilidade perante a sociedade; implementar políticas

macroeconômicas defensivas e em favor do crescimento; adotar políticas que estimulem

a competitividade industrial e melhorem a inserção do país no comércio internacional; e

2 De acordo com essa concepção, bastava que se alcançasse a estabilidade macroeconômica e que o país possuísse um ambiente favorável aos negócios que estaria garantido o crescimento sustentado (Paulani, 2008, p. 2)

Page 103: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3261

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

adotar um sistema tributário progressivo, visando reduzir as desigualdades de renda

(Mattei, 2011, p.11).

A partir desse breve retrospecto sobre a atuação do Estado na economia

brasileira, observa-se que a criação de um programa como o PAC se constitui enquanto

uma tentativa de retomada do Estado na economia, através da realização de funções que

possuem como meta promover o crescimento do país a taxas mais elevadas.

3. O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO

Um dos gargalos existentes no Brasil diz respeito à sua infraestrutura: as

estradas possuem condições precárias, os portos são caracterizados pela baixa

profundidade, o que torna o transporte por esse meio mais lento e dispendioso, as

ferrovias não evoluíram e a crise aérea recente fez com que os aeroportos diminuíssem

sua eficiência. Diante desse cenário, a precariedade da logística brasileira acarreta

custos excedentes ao produtor, o que torna os preços dos produtos nacionais mais

elevados, ocasionando, com isso, a perda de competitividade no comércio mundial.

Com vistas a solucionar tal entrave ao crescimento econômico, o Governo

Federal lançou, em janeiro de 2007, o PAC, caracterizado por ser um conjunto de

políticas econômicas, orientadas para o período 2007-2010. Com isso, observa-se a

retomada do papel do Estado na economia, agindo como orientador dos investimentos,

realizando obras em infraestrutura que ocasionam efeitos de transbordamento para os

demais setores.

Com recursos que contemplam todas as regiões do país, sendo os maiores

volumes destinados ao Sudeste e ao Nordeste, o Programa apresentou como meta, o

crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 5,0% ao ano. No que tange à

sua atuação destacam-se cinco grandes blocos: investimento em infraestrutura, estímulo

ao crédito e ao financiamento, melhoria do ambiente do investimento, desoneração e

aperfeiçoamento do sistema tributário e realização de medidas fiscais de longo prazo.

O aumento dos investimentos na área de infraestrutura apresentou como

objetivos: a eliminação dos gargalos existentes que restringiam o crescimento

Page 104: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3262 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

econômico; a redução dos custos e aumento da produtividade das empresas; o estímulo

ao investimento privado; e a redução das desigualdades regionais no Brasil.

Já as medidas de estímulo ao crédito e ao financiamento possuíam como

objetivo o aumento do volume de crédito, principalmente do habitacional e o de longo

prazo para investimentos em infraestrutura. Como medidas a serem adotadas com o

Programa, destacaram-se: a concessão pela União de crédito à Caixa Econômica Federal

para aplicação em saneamento e habitação; ampliação do limite de crédito do setor

público para investimentos em saneamento ambiental e habitação; criação do Fundo de

Investimento em Infraestrutura com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço (FGTS); a elevação da liquidez do Fundo de Arrendamento Residencial; a

redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP); e a redução dos spreads do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (Brasil, 2007).

Quanto à melhora do ambiente de investimentos, o PAC incluiu medidas com a

finalidade de facilitar a implantação de investimentos em infraestrutura, principalmente

no que tange à questão ambiental, de aperfeiçoamento do marco regulatório e do

sistema de defesa da concorrência, assim como de incentivo ao desenvolvimento

regional através da recriação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

(SUDAM) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE (idem).

Em se tratando da desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário, o PAC

propôs medidas de desoneração do investimento, principalmente em infraestrutura e

construção civil, com o objetivo de estimular o investimento privado, assim como

também incluiu medidas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e ao

fortalecimento das micro e pequenas empresas. Dentre as medidas a serem adotadas,

destacaram-se: a recuperação acelerada dos créditos do PIS e COFINS em edificações

(de 25 para 24 meses); a desoneração de obras de infraestrutura (suspensão da cobrança

de PIS/COFINS para novos projetos); a desoneração dos fundos de investimento em

infraestrutura (isenção de IRPF); o programa de incentivos ao setor de TV Digital

(isenção de IPI, PIS/COFINS e CIDE); o programa de incentivos ao setor de

semicondutores (isenção de IRPJ, IPI, PIS/COFINS e CIDE); o aumento do valor de

isenção para microcomputadores (de R$2,5 mil para R$4,0 mil); e a desoneração da

compra de perfis de aço (redução do IPI de 5% para zero). O PAC propôs ainda, quanto

ao aperfeiçoamento do sistema tributário, o aumento do prazo de recolhimento das

Page 105: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3263

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

contribuições (previdência do dia 2 para o dia 10 e PIS/COFINS do dia 15 para o dia

20) (ibidem).

Quanto às medidas fiscais de longo prazo, o PAC incluiu propostas direcionadas,

com destaque para o controle das despesas de pessoal, a criação da Política de Longo

Prazo de valorização do salário mínimo e a instituição do Fórum Nacional da

Previdência Social, incluindo ainda medidas de aperfeiçoamento da gestão pública

(ibidem).

Com medidas que contemplam desde a realização de obras em infraestrutura até

políticas de valorização do salário mínimo, o lançamento do PAC envolveu grande

ceticismo quanto ao alcance de suas metas e realização efetiva de suas propostas: os

céticos compartilhavam da opinião de que o montante de investimentos era insuficiente

para corrigir os grandes gargalos em infraestrutura existentes no país, afirmando que

seus impactos no crescimento do PIB seriam residuais. Já aqueles que possuem uma

opinião mais otimista em relação a esse conjunto de políticas econômicas, afirmam que

essa mudança de rumo na atuação estatal é positiva, pois mostra a preocupação do

Estado com a taxa de investimento do país, que é uma variável de grande importância

econômica, já que ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores, colaborando

para o melhor desempenho da economia.

Inicialmente foram previstos investimentos na ordem de R$503,9 bilhões, sendo

R$67,8 bilhões da competência do Orçamento Geral da União e R$436,1 bilhões das

Estatais federais e do setor privado sendo que, desse montante de recursos, 54,5%

destinava-se à infraestrutura energética (com vistas à geração e transmissão de energia

elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, combustíveis renováveis e gás

natural); 33,9% à área social e urbana (para a realização de investimentos nas áreas de

habitação, saneamento, recursos hídricos, metrôs e do Programa Luz para todos); e

11,6% à logística (com a finalidade de construir e expandir rodovias, portos, aeroportos,

hidrovias e ferrovias) 3 (Tabela 1), o que mostra a preocupação do Estado em resolver o

problema de energia existente no Brasil, já que a previsão era a de que mais da metade

do orçamento do PAC fosse direcionado para essa área.

3 Cabe ressaltar que em 2009 novos empreendimentos foram incluídos na proposta do PAC, elevando o montante de investimentos para R$646 bilhões a serem realizados até 2010, sendo que esse aumento correspondeu à elevação de: R$37,7 bilhões no setor de logística, R$20,2 bilhões no setor energético e R$84,2 bilhões no social e urbano.

Page 106: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3264 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

Tais recursos contemplavam todas as regiões do país, cujos maiores volumes

destinavam-se à região Sudeste – devido à grande saturação da infraestrutura existente,

e à região Nordeste (onde o Estado do Maranhão está inserido) – já que apresenta

condições de precariedade muito agravadas.

Tabela 1: Distribuição percentual do orçamento inicial do PAC, por regiões do Brasil.

Área Logística Energética Social e Urbana TotalNorte 1,3 6,5 2,4 10,1Nordeste 1,5 5,8 8,7 16,0Sudeste 1,6 16,0 8,3 25,9Sul 0,9 3,7 2,8 7,4Centro Oeste 0,8 2,3 1,7 4,8Nacional 5,6 20,2 10,0 35,8Total 11,6 54,5 33,9 100,0

Fonte: Ministério das Cidades

Assumindo uma posição crítica quanto à distribuição regional do orçamento do

PAC, Domingues et al. (2009) afirmam que a efetivação dos projetos previstos pelo

Programa poderia aumentar as desigualdades já existentes entre as regiões, já que o

montante de investimentos era diferenciado para cada área, sendo essa opinião

compartilhada por Leitão (2009) ao afirmar que

[...] o PAC corrobora a tradição do Estado brasileiro em atuar no território: sem plano, recheados de discursos deslocados da prática a que efetivamente se propõem, e das motivações em que de fato se baseiam. Esses mecanismos conformam a tradição da ação estatal no país no campo do desenvolvimento territorial e corroboram a tendência à reprodução de desigualdades regionais e sociais, e em última instância, à fragmentação do espaço nacional via investimentos de caráter espacialmente seletivo. (p. 230)

Com relação às medidas propostas pelo Programa, Kupfer (2007) afirma que não

podem ser encaradas como uma estratégia efetiva de crescimento econômico, já que se

constituem de uma compilação de ações que já haviam sido previstas por diversos

Ministérios e de investimentos que também já haviam sido anunciados pelas estatais.

Com uma avaliação semelhante, Leitão (2009) afirma que o Programa se constitui “...

de projetos que em grande medida estavam na “prateleira” dos órgãos de governo”

(Leitão, 2009, p. 221). Bedê (2008, p.39) corrobora com essa assertiva ao afirmar que

existem medidas anunciadas pelo Programa que já haviam sido adotadas antes do seu

anúncio ou que estavam em discussão no Congresso Nacional há bastante tempo, como

Page 107: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3265

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

a ampliação da oferta de crédito na economia, a redução da taxa de juros de longo

prazo, a redução dos spreads do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), a depreciação acelerada dos investimentos, a correção acelerada do

imposto de renda das pessoas físicas, a extinção da Rede Ferroviária Federal Sociedade

Anônima (RFFSA) e da Franave Companhia de Navegação do Rio São Francisco, além

do combate a fraudes da Previdência.

Assim, o autor afirma que as medidas previstas pelo Programa são tímidas e

pontuais e não contemplam ações mais contundentes sobre outras variáveis que afetam

o crescimento econômico, como a redução dos juros e dos impostos, a desvalorização

do câmbio, a realização de investimentos em mão de obra e a criação de um ambiente

favorável a inovações (Bedê, p.37), afirmando que o impacto mais positivo do PAC é

psicológico gerado com o próprio lançamento do programa.

No entanto, cabe destacar que apesar das várias críticas feitas ao Programa,

deve-se considerar que uma política em que o Estado prioriza investimentos em

infraestrutura ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores da economia,

colaborando para a obtenção de níveis mais elevados de crescimento econômico.

Nesse sentido, segundo Ricardo et al. (2008), “... o papel dos investimentos

públicos é criar nas regiões atrasadas atividades econômicas, com dinâmicas próprias

que tenham efeito multiplicador e/ou de transbordamento sobre as demais”. Para

corroborar, Domingues et al. (2009) afirmam que obras estruturantes nas áreas de

energia, transporte, comunicação, saneamento, etc., ocasionam efeitos positivos

imediatos sobre a produtividade dos investimentos privados, viabilizando retornos

maiores e novos projetos.

Nesse aspecto, Mesquita (2008) afirma que com o PAC e a atuação recente do

BNDES,

[...] o Governo Federal voltou a atuar de forma propositiva, induzindo e efetivando investimentos indispensáveis e fundamentais para assegurar níveis de investimento importantes que se consubstanciarão provavelmente num crescimento econômico mais efetivo do obtido entre os anos oitenta e noventa (p.47).

Entretanto, o que se observou ao longo do período de implementação do PAC

foi a baixa participação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) nas taxas de

crescimento do PIB brasileiro – enquanto este indicador correspondeu a 6,1% em 2007;

Page 108: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3266 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

5,2% em 2008; -0,6% em 2009; e 7,5% em 2010, a participação da taxa de investimento

nesses resultados correspondeu a 1,3%; 1,6%; -4,5%; e 3,8%4, respectivamente.

A análise dos dados evidencia que apenas no ano de 2010 a FBKF contribuiu

fortemente para os resultados alcançados da taxa de crescimento do país, com a adoção

de medidas anticíclicas pelo Governo Federal, como o aumento da oferta de crédito

através da intermediação dos bancos públicos, ampliando também as linhas de

financiamento habitacional; as isenções fiscais sobre materiais de construção; a

continuidade e ampliação dos investimentos públicos em infraestrutura do PAC e em

habitação popular – através do Programa Minha Casa Minha Vida, inserido na proposta

do PAC; além da realização de investimentos para a Copa Mundial de Futebol de 2014

e para as Olimpíadas de 2016. Assim, observa-se que a atuação do PAC colaborou

positivamente para a recuperação econômica do país ao longo de 2010. Entretanto, cabe

destacar que o exame do desempenho do Programa no âmbito federal está fora do

escopo deste trabalho, cuja análise é dedicada apenas à sua performance no Estado do

Maranhão.

4. O DESEMPENHO DO PAC NO ESTADO DO MARANHÃO

O Maranhão é considerado um dos Estados mais pobres do país, com cerca de

1,6 milhão de domicílios abaixo da linha da pobreza5 e com o maior déficit habitacional

do país (cerca de 544 mil domicílios, segundo o Governo do Estado do Maranhão,

2012) em 2010, cuja desigualdade social e concentração de renda são marcantes. Possui

cerca de 6,7 milhões de habitantes, cuja economia é considerada uma das mais abertas

ao mercado externo do país.

Ao longo da última década (2000-2010) seu desempenho econômico apresentou

momentos distintos, dos quais se pode citar: o forte dinamismo entre 2003 e 2007 que,

segundo foi decorrente do maior aproveitamento do potencial agroexportador do

4 Dados extraídos do Ipeadata, referindo-se à contribuição da formação bruta do para o crescimento do PIB, disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em: 15 mar 2013. 5 Segundo o Censo Demográfico 2010 e através da classificação adotada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, cujo rendimento mensal per capita corresponde a até R$140,00

Page 109: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3267

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

Estado, principalmente no escoamento das commodities minerais e agrícolas, assim

como do aumento das transferências federais para os Governos estaduais e municipais e

da expansão do crédito público e privado; o biênio 2008-2009, marcado por uma

desaceleração em 2008 e forte queda em 2009, reflexo da crise internacional, que

ocasionou a redução das exportações do Estado; e o ano de 2010, caracterizado pela

recuperação da trajetória de crescimento da economia maranhense, em decorrência,

principalmente, da adoção do conjunto de políticas anticíclicas adotadas pelo Governo

Federal, com vistas a estimular o mercado interno (Gráfico 1).

18.48321.605

25.33528.620

31.60638.487 39.855

45.256

4,33

8,97

7,34

5,50

9,00

4,40

-1,73

8,70

-2,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Valores Correntes Variação Real

Gráfico 1. Evolução do PIB do Estado do Maranhão, em R$ milhões correntes e taxa de crescimento, entre 2003 e 2010. Fonte: IMESC/ IBGE. Elaboração: Matos (2012). Inserido no último triênio da série, o montante de investimentos previsto pelo

PAC correspondente a R$13,6 bilhões para o Estado, se mostrava capaz de contornar

alguns dos entraves ao desenvolvimento econômico local – frágil base produtiva, baixa

produtividade, precária infraestrutura e baixo nível de investimento que prevaleceu

durante seu processo histórico, além da elevada concentração de renda (Mesquita &

Paula, 2008) -, segundo o Governo Estadual, pois garantiriam o aumento do PIB e das

condições de vida da população, através do aumento do número de empregos e a

consequente elevação da renda no Maranhão.

Entretanto, do montante de recursos previsto pelo PAC, apenas 2,7% foi

destinado ao Estado, cujo maior volume de recursos direcionava-se à área de

infraestrutura energética (51,1%), seguido da área social e urbana (37,2%) e logística

(11,7%), respectivamente (Gráfico 2), evidenciando, portanto, que o foco do Programa

não se centrou na superação dos grandes gargalos existentes no Estado.

Page 110: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3268 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

11,7

51,1

37,2LogísticaEnergéticaSocial e Urbana

Gráfico 2: Distribuição percentual dos recursos previstos pelo PAC, entre 2007 e

2010, para o Estado do Maranhão, segundo a área beneficiada (logística, energética e social e urbana). Fonte: CGPAC – 11º Balanço. Elaboração própria.

Mesquita (2008) considera que o volume de recursos destinado ao Estado é

insignificante e se resume a poucas obras, afirmando que o impacto dos pequenos e

pontuais investimentos do Programa no crescimento econômico do Maranhão é mínimo.

Já Moura & Moura (2011, p. 121) consideram expressivo o montante de investimentos

destinado à economia maranhense, afirmando que a previsão é de que sejam

evidenciados grandes benefícios com o PAC, mas para a maior potencialização dos

resultados, deve-se incorporar ao Programa ações como incentivos à inovação, à

qualificação, à pesquisa e desenvolvimento, além da mudança no perfil de participação

das esferas regionais de poder, que devem deixar de lado a condição exclusiva de

parcerias em determinadas obras, para se colocar numa condição de

complementaridade, delineando políticas próprias que intensifiquem o desenvolvimento

de suas atividades.

É interessante destacar o pífio desempenho do PAC no Estado entre 2007 e

2010, já que apenas 44,1% do orçamento previsto foram realmente efetivados. Dos

quase R$ 6 bilhões executados pelo Programa no Maranhão, 56,9% foi gasto na área

social e urbana, 22,9% em logística e 20,2% em energética, respectivamente (Gráfico

3).

Page 111: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3269

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

22,9

20,256,9LogísticaEnergéticaSocial e Urbana

Gráfico 3: Distribuição percentual dos investimentos realizados pelo PAC no Estado do Maranhão, entre 2007 e 2010. Fonte: CGPAC. Elaboração própria.

Cabe destacar que as obras realizadas na área de infraestrutura logística se

resumiram à manutenção e sinalização de ferrovias, à realização de estudos para a

construção de rodovias, à recuperação do berço 102 do Porto do Itaqui, à duplicação do

acesso ao referido porto e à construção do trecho norte da Ferrovia Norte Sul,

beneficiando os Estados do Maranhão e Tocantins.

Do previsto para a área de infraestrutura energética, foram efetivados: a Brasil

Ecodiesel (R$54,6 milhões), as Usinas Termelétricas a óleo Nova Olinda (R$241,3

milhões) e Tocantinópolis (R$247,4 milhões), a criação de linhas de transmissão de

energia elétrica em São Luís (R$60,5 milhões), assim como de interligação Norte-

Nordeste (R$532,7 milhões) e a subestação Miranda (R$77,3 milhões).

Em se tratando dos investimentos em infraestrutura social e urbana, que versam

sobre a realização de melhorias nas condições de saneamento e habitação, o maior

volume de recursos foi efetivado na forma de empréstimos para pessoa física,

totalizando R$2,5 bilhões, seguido de R$ 492,1 milhões para urbanização e provisão

habitacional, R$7,6 milhões para saneamento e R$894,3 milhões em empreendimentos

de caráter exclusivo, com a conclusão de 249 mil ligações no Programa Luz para Todos

e o investimento de R$ 2 milhões na revitalização de bacias.

Do orçamento previsto para urbanização e provisão habitacional, apenas 1,6%

foi realmente efetivado no Estado, beneficiando apenas os municípios de Bacabal,

Buriticupu, Caxias, Codó, Matões do Norte, Primeira Cruz, Santa Luzia, São José de

Ribamar, Tuntum e Viana.

Assim, evidencia-se que o desempenho do PAC no Maranhão entre 2007 e 2010

ficou muito aquém do esperado, se resumindo à realização de obras com baixos

impactos para a economia local. Nesse sentido, apesar do ano de 2010 ter sido marcado

Page 112: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3270 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

por uma retomada da trajetória de crescimento econômico do Estado ao patamar

observado antes da crise econômica internacional, impulsionada pela execução das

obras do PAC, estas não foram realizadas num ritmo acelerado o suficiente para que

todo o investimento previsto saísse de fato do papel, fazendo com que fossem

postergados e incluídos na proposta da segunda versão do Programa, o PAC 2.

5. CONCLUSÃO

No atual contexto do Novo Desenvolvimentismo, no qual se observa a tentativa

de retomada de intervenção do Estado na economia brasileira, após longo período em

que sua atuação versava sobre a estabilidade inflacionária, o Governo Federal lançou o

PAC, com a meta de que o país exibisse taxas de crescimento em torno de 5,0% a.a.

entre 2007 e 2010, cujas medidas centrais focavam na realização de investimentos em

infraestrutura, no estímulo ao crédito e ao financiamento, na melhoria do ambiente do

investimento, na desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e na realização de

medidas fiscais de longo prazo.

O lançamento do Programa envolveu grande ceticismo quanto ao alcance de

suas metas e realização efetiva de suas propostas, já que para alguns autores o montante

de investimentos previsto, de R$503,9 bilhões, era insuficiente para corrigir os grandes

gargalos em infraestrutura existentes no país, assim como sua distribuição poderia fazer

com que se agravassem as desigualdades regionais. Já outros autores, cuja opinião se

mostrava mais otimista em relação ao PAC, afirmavam que essa mudança de rumo na

atuação estatal era positiva, pois evidenciava a preocupação do Estado com a taxa de

investimento do país, que é uma variável de grande importância econômica, já que

ocasiona efeitos de transbordamento para outros setores, colaborando assim, para o

melhor desempenho da economia.

O que se observou no final do período de vigência do PAC, entretanto, foi a

baixa participação da FBKF nas taxas de crescimento do PIB entre 2007 e 2010, à

exceção do último ano, cuja adoção de políticas anticíclicas com vistas a estimular o

mercado interno – de onde se destaca a continuidade e ampliação dos investimentos

Page 113: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3271

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

públicos em infraestrutura do PAC e em habitação popular – através do Programa

Minha Casa Minha Vida - colaborou para que a participação da taxa de investimento no

crescimento econômico fosse bastante significativa - enquanto o PIB cresceu a 7,5% em

2010, a representatividade da FBKF nesse resultado foi equivalente a 3,8%, segundo o

Ipeadata.

No caso do Maranhão, o montante de recursos previsto pelo PAC se mostrou

bastante incipiente quando comparado a outras unidades da federação, correspondendo

a apenas 2,7% do total. Do orçamento previsto, a prioridade com os investimentos em

infraestrutura energética, correspondente a 51,1% do orçamento total previsto para o

Estado, mostrou certo grau de descompromisso do Programa com o desenvolvimento

local, já que o Maranhão é caracterizado por grandes bolsões de pobreza, com elevado

déficit habitacional e onde grande parcela dos domicílios ainda carece de condições

adequadas de saneamento e abastecimento de água, necessitando, portanto, de maiores

investimentos nessas áreas.

Em se tratando da efetividade das propostas previstas para o Estado, o

desempenho do PAC ficou muito aquém do esperado, já que apenas 44,1% do

orçamento previsto foi realmente executado e se resumiu à realização de obras de

baixos impactos para a economia maranhense, como a manutenção e sinalização de

rodovias; a realização de estudos para a construção de rodovias; a duplicação do acesso

ao Porto do Itaqui e a recuperação do berço 102; a construção do trecho norte da

Ferrovia Norte Sul; a Brasil Ecodiesel; as Usinas Termelétricas a óleo Nova Olinda e

Tocantinópolis; a criação de linhas de transmissão de energia elétrica em São Luís,

assim como de interligação Norte-Nordeste e a subestação Miranda; e a urbanização e

provisão habitacional nos municípios de Bacabal, Buriticupu, Caxias, Codó, Matões do

Norte, Primeira Cruz, Santa Luzia, São José de Ribamar, Tuntum e Viana.

É interessante destacar que, do orçamento executado do PAC no Maranhão, o

maior volume foi realizado na forma de empréstimo para pessoa física (R$2,5 bilhões),

direcionado ao segmento de habitação, cujo desempenho foi de grande importância, no

ano de 2010, para a retomada da trajetória de crescimento econômico do Estado ao

patamar observado antes de irromper a crise econômica internacional.

Destarte, apesar de a construção civil ter desempenhado um papel importante na

economia do Estado nos últimos anos, em que os investimentos do PAC foram

Page 114: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3272 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

relevantes, principalmente no ano de 2010, a baixa efetividade de suas propostas fez

com que o Programa, já envolto de grande ceticismo no Estado apresentasse um baixo

desempenho, de onde se pode inferir que sua participação nas taxas de crescimento

econômico do Estado do Maranhão tenham sido residuais durante o quatriênio, apesar

da sua maior relevância no ano de 2010, sendo esta pesquisa tema de trabalhos futuros.

6. AGRADECIMENTOS

A autora agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e

Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) pelo financiamento desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

Almeida, P. R. (2006). “A experiência brasileira em planejamento econômico: uma síntese histórica”. In: Giacomoni, J.; Pagnussat, J. L. (Org.). Planejamento e Orçamento Governamental. Fundação Escola Nacional de Administração Pública, Brasília, 193-228.

Bedê, M. A. (2008). O PAC e o crescimento econômico da economia brasileira. Revista Integração, 52, 33-41. Bielschowsky, R. (2012). Estratégia de desenvolvimento e as três frentes de expansão no Brasil: um desenho conceitual. Revista Economia e Sociedade, 21. CEPAL. (2000). “Transformação produtiva com equidade: A tarefa prioritária do desenvolvimento da América Latina e do Caribe nos anos 1990”. In: Bielschowsky, R. (Org.). Cinquenta Anos de Pensamento na Cepal. Record, v.2, Rio de Janeiro/São Paulo. Comitê Gestor do PAC (CGPAC). (2010). Balanço 4 anos 2007-2010. (documento online http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/noticias/pac/Pac_1_4.pdf, Acesso em 20-06-2013)

Domingues, E. P.; A. S. Magalhães e W. R. Faria. (2009). Infraestrutura, crescimento e desigualdade regional: uma projeção dos impactos dos investimentos do Programa de

Page 115: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3273

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

19

Aceleração do Crescimento (PAC) em Minas Gerais. Revista Pesquisa e Planejamento Econômico, 39, 121-158. Faria, G. (2010). “A reversão de um modelo predatório de estado”. In: Faria G. (Org.). O governo Lula e o novo papel do Estado brasileiro. Fundação Perseu Abramo, v.3, São Paulo, 9-23.

Franco, G.H. (1999). O desafio brasileiro: Ensaios sobre Desenvolvimento, Globalização e Moeda. Editora 34, São Paulo. Governo do Estado do Maranhão. (2012). Plano Estadual de Habitação de Interesse Social do Maranhão – Relatório Síntese. (documento online http://blogdopedrofernandes.files.wordpress.com/2012/06/relatorio-sintese_autorizado.pdf, Acesso em 15-04-2013) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2010). SIDRA, Banco de dados. Acesso em 10 abr 2013. Kupfer, D. (2007). Tem PPP no PPI do PAC. Valor Econômico (online). Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/kupfer070207.pdf> (acesso em: 2 março 2013). Leitão, K. O. (2009). A dimensão territorial do Programa de Aceleração do Crescimento: um estudo sobre o PAC no estado do Pará e o lugar que ele reserva à Amazônia no desenvolvimento do país. Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, Universidade de São Paulo. Matos, R. S. (2012). O segmento metal mecânico do Maranhão na década de 2000: Diagnóstico e Perspectivas Sob a Ótica das Teorias do Oligopólio e da Competitividade. Monografia de Graduação em Ciências Econômicas, São Luís-MA, Brasil, Universidade Federal do Maranhão. Mattei, L.(2009). “Gênese e agenda do “novo-desenvolvimentismo” brasileiro”. In: Anais do IV Encontro Brasileiro da Associação Keynesiana Brasileira, Rio de Janeiro. Mesquita, B. A. (2008). “Desenvolvimento econômico recente do Maranhão: uma análise do crescimento do PIB e perspectivas”. In: Cadernos IMESC-MA, v.7, Maranhão. Mesquita, B. A.; Paula, R.A.Z de. (2008). A dinâmica recente, impacto social e perspectivas da economia do estado do Maranhão – 1970/2008. In: Fórum BNB de Desenvolvimento: XIII Encontro Regional de Economia. Fortaleza. Moura, J. G.; Moura, E. P. (2011). “Investimentos em infra-estrutura e desenvolvimento: O caso do PAC no Maranhão”. In: Apolinário, V.; Silva, M. L. (Org.). Impactos do grandes projetos federais sobre os estados do Nordeste. Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 169-194.

Page 116: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3274 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

Paulani, L. (2008). Brasil delivery: servidão financeira e estado de emergência econômico, Boitempo, São Paulo. Ricardo, E. G.; Rodrigues, A. M.; Haag, Á. L. (2008). O Programa de Aceleração do Crescimento e o investimento público nas regiões. In: Cedeplar (org.). Anais do XIII Seminário sobre Economia Mineira. Universidade Federal de Minar Gerais, Belo Horizonte. Sallum Jr., B. (2003). Metamorfoses do Estado brasileiro no final do século XX. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 18 (52), 35-54.

Sicsú, J; Paula, L. F.; Michel, R. (2005). Novo-desenvolvimentismo: Um projeto nacional de crescimento com equidade social, Manole, Rio de Janeiro.

Page 117: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3275

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

O GRANDE CAPITAL NA AMAZÔNIA MARANHENSE E SEUS EFEITOS SOBRE AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DA

POPULAÇÃO: O CASO DE BURITICUPU – MARANHÃO.

NEEMIAS RODRIGUES LACERDA1 (1) Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão, mestrando do

Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDSE) da UFMA, Professor do Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia do

Maranhão/Campus Bacabal. E-mail: [email protected].

RESUMO O artigo busca mostrar que no contexto da atual fase de expansão capitalista, notadamente marcada pela internacionalização econômica, financeira e tecnológica, desenvolve-se em situação ainda mais perversas para as condições socioeconômicas da população da região denominada de Amazônia Maranhense ou “Pré-Amazônia”. O interesse do grande capital sobre a Amazônia não é uma novidade. Entretanto as formas que esse capital tem tomado na mais recente fase de expansão tem sido ainda mais perversa para as condições socioeconômicas da população em questão, em função do tipo de atividade de cada grupo e das técnicas aplicadas na exploração dos recursos. O trabalho analisa o caso do município de Buriticupu, onde se observa materializado a apropriação privada dos recursos naturais e sociais por essas grandes empresas e o agravamento das desigualdades socioeconômicas. Discute ainda os efeitos da atuação das grandes empresas na Pré-Amazônia, mesorregião Oeste do Maranhão, com especial destaque para o município de Buriticupu, que teve sua história ligada as aldeias indígenas (que ainda representam cerca de 11% do território) e a antigas ocupações de trabalhadores sem-terra. O trabalho busca expor, de maneira sintética, em forma de artigo o que representou, do ponto de vista socioeconômico, a chegada das grandes empresas para as comunidades da região em questão. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia, desenvolvimento socioeconômico, grande capital. P6 - Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da Amazônia

Page 118: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3276 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende analisar como a atuação do grande capital nas

atividades do agronegócio, particularmente nas áreas de biocombustíveis e grãos, tem

repercutido nas questão socioeconomicas e ambientais na Amazônia, uma vez que os

dois aspectos estão intimamente relacionados, especialmente numa região onde as

atividades produtivas basicamente se desenvolvem apartir do potencial natural. O

incremento do desmatamento traz impactos significativos para as áreas tradicionalmente

voltadas a produção de alimentos básicos como é o caso da Amazônia. A presença do

grande capital na Amazônia não é um fato novo. Há experiencias de investimentos do

capital internacional na região no início de século XX, em 1923 já se registra a atuação

da Ford Motor Company na utilização extensas glebas de terras para a plantação de

seringueiras no estado do Pará, sem falar no ciclo da borracha no final do século XIX. O

avanço da agricultura capitalista continuou nos anos de 1970, entretanto, na Amazônia a

presença mais intensa dos grupos nacionais e internacionais ligados a essa forma de

agricultura ainda é recente e ganha relevância especialmente no século atual em razão

dos fatores de externos, como a elevação das taxas de crescimento das economias

chamadas emergentes, em especial a China, associada a facilidades internas, como os

incentivos fiscais e o financiamento público.

Essa atuação do grande capital sobre a Amazônia não deixa intacta a realidade

socioeconomica regional. Ela se revela nociva para os aspectos socioeconomicos e

ambientais, tornando cada vez mais dificil conciliar a agricultura familiar de

subsistencia voltada para a produção de alimentos básicos para a população com a

agricultura capitalista monocultora voltada para a produção de grãos e matérias-primas

industriais para exportação. A redução da produção de alimentos básicos da população

local, como o arroz e a mandioca, verificada neste cenário atual de expansão, coloca em

xeque uma dieta milenar herdada de comunidades tradicionais e povos indígenas, cuja face

se traduz em um número significativo da população abaixo da linha de pobreza. Outro

aspecto, não menos grave é a questão da (in)segurança alimentar que de agrava com a

substituição de alimentos por matérias-primas industriais direcionada ao mercado

internacional. A experiencia do municipio de Buriticupu, inserido na parte leste da

Amazônia, traduz de forma precisa esse processo e revela a face sombria da inserção da

região no locus privilegiado do agronegócio.

Page 119: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3277

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

2. INTERNACIONALIZAÇÃO ECONOMICA E A AMAZÔNIA

Ao se pensar na promoção do desenvolvimento socioeconômico de uma região,

torna-se necessário pensar sobre as possibilidades e limites dos projetos que venham a

ser sugeridos. Para alguns autores o desenvolvimento é uma ilusão, uma “armadilha

ideológica”, onde se constata que dificilmente um país mudará sua posição dentro dessa

hierarquia internacional. Só em alguns casos excepcionais isso pode ocorrer. (Arrighi,

1997). O mesmo afirma: As oportunidades de avanço econômico, tal como se apresentam serialmente para um Estado de cada vez, não constituem oportunidades equivalentes de avanço econômico para todos os Estados (...) porque se baseia em processos relacionais de exploração e processos relacionais de exclusão que pressupõem a reprodução contínua da pobreza da maioria da população mundial (Arrighi, 1997, p.217).

Com base na analise de realidades concretas, alguns pesquisadores tem apontado

para as impossibilidades históricas da generalização do desenvolvimento em escala

global. Um dos mais reconhecidos no Brasil é Celso Furtado. Analisando várias

contradições do sistema capitalista, o mesmo conclui que a distancia que separa os

países centrais dos chamados periféricos, ao invés de diminuir, tende a aumentar. Com

base nessas análises e outras considerações, conclui:

(...) a hipótese de generalização, no conjunto do sistema capitalista, das formas de consumo que prevalecem atualmente nos países cêntricos, não tem cabimento dentro das possibilidades evolutivas aparentes desse sistema... Temos assim a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável. (Furtado, 1974, p.75).

Na atual fase do capitalismo, marcada pela internacionalização econômica,

financeira e tecnológica, popularmente chamada de globalização, características que

passaram a ser cada vez mais nítidas após Segunda Guerra Mundial, e vistas como uma

das características da fase do capitalismo denominado de tardio (Mandel, 1985), o poder

de decisão das escalas nacionais sobre os espaços nacionais, ficou ainda mais frágil.

Ainda mais ao se considerar países de dimensões continentais, como é o caso do Brasil.

Page 120: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3278 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Essas transformações, nas palavras de Mandel, permitiram um “novo salto para

a concentração de capitais e a internacionalização da produção” (Mandel, 1985).

Ficaram cada vez mais nítidas as forças produtivas se sobrepondo ao controle do

Estado. A internacionalização da produção atua no sentido de diminuir o poder do

Estado para que o fluxo de mercadorias, capitais, pessoas, entre outras coisas possam

fluir livremente. Os efeitos das transformações do capitalismo mundial são facilmente

visualizadas na região amazônica. A região também se apresenta como um recorte

espacial dessa generalização apontada pelos autores citados anteriormente.

A analise dos efeitos da internacionalização economica na Amazônia Legal1,

carece, de forma introdutória, de uma consideração sobre o processo de ocupação da

mesma, uma vez que esse processo está ligado a ação estatal promovendo

gradativamente acesso para o grande capital dos recursos naturais da região. A

ocupação da Amazônia fornece um bom exemplo da produção e reprodução do espaço

produtivo. Na valorização produtiva do espaço é preciso viabilizar a reprodução das

condições de produção e nelas entram as práticas geralmente realizadas pelo Estado ou

por grandes corporações (Corrêa, 2008).

As políticas territoriais na Amazônia durante o regime militar passaram a

considerar a região como um espaço de fronteira em pelo menos três sentidos: político,

populacional e do capital. No sentido político, a região compreenderia as áreas da

soberania formal do Estado brasileiro, mas que ainda não estava efetivado. Seriam as

fronteiras com os outros sete países que integram a Amazônia Internacional: Bolívia,

Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território além-mar

da França). Conquistar a Amazônia, portanto, implicaria em estabelecer as bases para o

exercício efetivo do poder do Estado nas áreas fronteiriças.

No sentido populacional a região representava a área de destino dos fluxos

migratórios que saiam do Nordeste e Centro-sul que, na visão dos governos militares, já 1 Trata-se de uma região de planejamento apesar da consideração dos elementos naturais na sua configuração. Em 1953, criou-se a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), por meio da Lei 1.806 de 06 de janeiro de 1953, órgão federal que coordenaria os planos governamentais para a região, iniciando o planejamento regional para a Amazônia. A mesma lei definiu a região que passou a ser denominada Amazônia Brasileira, abrangendo os estados do Amazonas e Pará, os então territórios do Acre, Amapá, Guaporé (hoje Rondônia) e Rio Branco (hoje Roraima), além do oeste do Maranhão (a oeste do meridiano 44ºW), norte do Goiás (ao norte do paralelo 13ºS, hoje o Tocantins) e Mato Grosso (ao norte do paralelo 16ºS). Em 1966, a Lei 5.173 de 27 de outubro 1966, extinguiu o SPVEA e criou Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), redefinindo a Amazônia Brasileira, incorporando o estado do Mato Grosso e a parte oeste do estado do Maranhão (a oeste do meridiano 44ºW) e passando a denominá-lade Amazônia Legal.

Page 121: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3279

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

experimentavam um excedente populacional. E no sentido de espaço de fronteira do

capital, a região serviria para atrair os investimentos transnacionais e nacionais para a

agropecuária, mineração e indústria. Era papel, então da SUDAM transformar a região

da Amazônia Legal no espaço dos investimentos advindos dos recursos públicos e

também privados viabilizados pela isenção fiscal ou empréstimos subsidiados.

O processo de conquista da região amazônica se deu a partir de dois vetores de

ocupação: um ocidental e outro, oriental, acabando por produzir uma diferenciação cada

vez mais acentuada entre essas duas partes. A parte ocidental2, ainda apresenta

paisagens naturais pouco alteradas. As mais sensíveis modificações estão associadas ao

eixo viário que interliga o Brasil central e o Acre passando por Rondônia. O

desmatamento dessa área se relaciona à expansão da fronteira agrícola. Apresenta

também certo grau de antropismo as áreas próximas a Manaus.

O vetor oriental3 se estruturou a partir da década de 1960, pelo eixo viário Belém

– Brasília e nas décadas posteriores pela exploração mineral em Carajás, que levou a

implantação da logística para essa finalidade: construção da estrada de ferro Carajás,

porto do Itaqui, em São Luís no Maranhão e a hidrelétrica de Tucuruí no Pará. O

povoamento por esse vetor se deu com núcleos de intensa alteração das paisagens

naturais.

A ocupação esteve ligada a ação do governo brasileiro durante os anos do

regime militar, principalmente após o ano de 1970, por meio do Projeto de Integração

Nacional (PIN), justificado supostamente pela necessidade de “levar os homens sem

terra do Nordeste para as terras sem homens da Amazônia”.

As chamadas frentes pioneiras se dão com iniciativas oficiais e particulares de

colonização de novas áreas. As políticas territoriais, com base nessas frentes, na

Amazônia, destacadamente nas décadas de 1960 e 1970, tornam os agricultores

proprietários de terras e, com raras exceções, a produção é voltada para o mercado. A

terra transforma-se numa mercadoria que passa a ser violentamente disputada. Introduz-

se com essas frentes, os mecanismos de valorização fundiária e especulação,

característicos do mercado de terras capitalista. Além disso, no caso em questão, não

houve preocupação com o ambiente natural. A falta de consideração com as questões

ambientais trouxe suas consequências, mesmo porque não há como se eximir deles. 2 Formada pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, 3 Área que corresponde aos estados do Pará, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e o oeste do Maranhão.

Page 122: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3280 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Nenhuma política territorial escapa de repercussões ambientais, uma vez que sempre diz respeito a como homens e as mulheres são movimentados a se organizarem no espaço e assim organizá-lo (Costa, 2011, p. 87).

É possível se identificar, assim, pelo menos dois padrões de organização do

espaço geográfico amazônico, que acabou por produzir, ou reforçar as diferenças nas

paisagens atuais na região: o padrão de organização espacial rio-varzea-floresta e o

padrão estrada-terra firme-subsolo (Gonçalves, 2008).

Cada um desses padrões foi sendo criado ao longo da formação sociogeográfica do mundo moderno e contemporâneo e é a materialização, na Amazônia, dos conflitos de interesses entre diferentes segmentos e classes sociais que, estando ou não localizados na região, imprimiram suas marcas (grafias) a essa terra (geo), geografando-a. (Gonçalves, 2008, p. 79).

As transformações em curso na Amazônia Legal, não devem ser consideradas

apenas reflexo da globalização. A dinâmica do final do século XX trouxe grandes

transformações na estrutura da região, que geram uma tendência a alteração de seu

papel no cenário nacional e internacional (Becker, 2009). Há duas características que se

destacam em relação a ocupação da Amazônia Legal: o primeiro trata-se do padrão

linear da ocupação, que seguiu os eixos de integração terrestres e fluviais, onde se

concentram os investimentos públicos e privados e onde a concentração da população é

maior e, portanto, a pressão sobre o ambiente é mais forte em termos de desmatamento

(Becker, 1998). O segundo, a formação de um grande arco de povoamento

acompanhando a borda da floresta. Sobre esse grande arco afirma: Por ter sido a grande área de expansão da fronteira, onde se sucedeu durante décadas, abrindo novos espaços, a reprodução do ciclo expansão da pecuária/exploração da madeira/desflorestamento/queimada, este grande arco povoado passou a ser denominado “Arco do Fogo”, ou “do Desmatamento”, ou “de Terras Degradadas”. Hoje, é ainda no contato deste arco com a floresta que se concentra o desmatamento na Amazônia. (Becker, 2009, p. 76).

Até por volta de meados da decada de 1980, as atividades agropecuárias voltadas

para a produção capitalista, que foram incentivados pela SUDAM eram restritos na

Amazônia, predominava a agricultura familiar e suas atividades relacionadas

Page 123: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3281

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

extrativismo da madeira, castanha e pesca (Mesquita, 2009). A opção do Estado

Brasileiro pela ocupação e integração privilegiando pelo grande capital prejudicou a

produção familiar e produziu mudanças na organização da produção em termos

espaciais e estruturais que continua em andamento até a presente data.

3. EFEITOS DO GRANDE CAPITAL NA AMAZÔNIA SOBRE AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS

A maior abertura comercial, a partir da década de 90, acarretou grandes

transformações na configuração socioespacial na Amazônia brasileira, como

decorrência da produção de commodities. Consequentemente, isso acabou gerando

impactos no ordenamento das atividades econômicas da Amazônia com implicações

ambientais e sociais, em virtude da rápida expansão das áreas destinadas à produção de

commodities, cuja função foi atender a demanda externa.

Ao longo das últimas décadas, o crescimento da demanda internacional por

produtos agrícolas ocorreu num contexto de grande pressão para que os países

emergentes adotassem políticas econômicas favoráveis ao livre comércio.

Logicamente, para atender essa demanda crescente, foi necessário o aumento da oferta

desses produtos e, por conseguinte, culturas alimentares foram impactadas

negativamente, em favorecimento dos monocultivos de grãos e de outras commodities

para o abastecimento do mercado internacional. A TABELA 1 abaixo esse impacto.

TABELA 1 - Área plantada de arroz e soja na Amazônia Legal entre 1995 e 2010 (%).

Brasil e Unidades da

federação

Área plantada Arroz Área plantada Soja

1995 2000 2005 2010 1995 2000 2005 2010 Brasil 9,62 8,13 6,9 4,7 25,46 30,05 40,42 39,52 Rondônia 27,6 28,1 24,73 14,98 0,84 3,44 19,49 26,95 Acre 32,94 27,49 23,17 14,7 - - 0,05 0,09 Amazonas 9,29 11,63 7,43 3,31 - 0,71 1,37 0,13 Roraima 45,09 42,65 40,46 44,43 - - 22,44 4,01 Pará 25,06 27,11 28,12 15,99 - 0,2 6,44 10,77 Amapá 20,19 14,36 22,15 17,23 - - - - Tocantins 57,47 51,27 28,99 20,77 6,91 19,97 51,71 53,13 Maranhão 39,6 39,45 33,29 27,84 4,43 14,72 23,17 28,66 Mato Grosso 12,22 14,76 9,53 2,51 67,6 61,23 68,2 66,38

Fonte: IBGE, 2013.

Page 124: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3282 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

A analise da TABELA 1 anterior evidencia exatamente esse movimento. Nota-se

que as áreas de cultivo de arroz (alimentos básicos) sofreram nitidamente uma redução,

enquanto que as áreas de cultivo de soja, ampliaram-se, com execessão dos estados do

Amazonas, Roraima.

Pode se observar que a política neoliberal no Brasil foi notadamente direcionada

para favorecer a expansão da produção de determinados grãos, da pecuária e da extração

mineral, essencialmente na Amazônia (Mesquita, 2009). No momento em que a política

de desenvolvimento regional foi enfraquecida, a modernização da agricultura na

Amazônia avançou de forma seletiva. Sendo assim, segundo o mesmo autor, foi a partir

da década de 1990, que a dinâmica da economia regional já não dependia

fundamentalmente da ação do Estado, encontrando-se mais fortemente vinculada à

lógica do livre comércio, através da dinâmica do mercado de commodities. Dessa

forma, a partir daquela década, a pecuária e a produção de grãos vão se destacar e se

diferenciar das demais atividades, especialmente as baseadas na unidade familiar de

produção.

De um modo geral, a Amazônia passou por significativas alterações nos diversos

aspectos, sejam eles ambientais, sociais ou demográficos. Grandes, médias e pequenas

cidades surgiram naquilo que os planejadores chamaram de vazio demográfico. A

dinâmica produtiva não se limita mais somente pelas atividades extrativistas, pois um

grande leque de atividades capitalistas se faz presente, de modo que há substancial

alteração na relação capital-trabalho. As alterações ambientais associam-se ao

desflorestamento (GRÁFICO 1).

GRÁFICO 1: Desflorestamento bruto acumulado na Amazônia Legal (km²)

Fonte: IBGE, 2013.

Page 125: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3283

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

Ao se analisar o desflorestamento nas últimas décadas, partindo dos dados do

IBGE/INPE, é possível chegar a algumas constatações, do ponto de vista de sua

espacialização, mesmo que de forma preliminar. Primeiro, apesar do desflorestamento

bruto ter aumentado (conforme gráfico 1), o mesmo se concentrou em áreas já

desflorestadas, a uma distancia de aproximadamente 100 Km das principais rodovias.

Uma rede de transporte é fundamental para que amplas áreas sejam mobilizadas

para as atividade econômicas, por isso, em linhas gerais, as áreas de expansão da

fronteira agropecuária situam-se nos eixos das principais rodovias que cortam a

Amazônia Legal: a BR-364, a BR-163, a Transamazônica, a Belém-Brasília e as

rodovias estaduais PA-150 e MT-138. Segundo, as áreas pouco atingidas pelas rodovias

apresentam taxas de desmatamento mais baixas e até certo ponto ainda estáveis e por

último, as áreas fortemente afetadas pelas rodovias na parte leste da Amazônia, são

aquelas que apresentam os mais elevados índices de desflorestamento. Nota-se, pela

analise do gráfico 2 que ocorre uma redução, entre 2005 e 2010, indicando que o

desmatamento não avaçou para novas áreas, entretanto, é bom destacar que estados

Rodônia e Mato Grosso tiveram uma redução mais expressiva em relação a expansão do

desflorestamento para novas áreas, mas são estados já quase que integralmente voltados

para a pecuária e produção de grãos.

GRÁFICO 2:Taxas estimadas de desflorestamento bruto anual em relação à área total das Unidades da Federação que formam a Amazônia Legal (%)

Fonte: IBGE, 2013.

Page 126: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3284 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Apesar do ritmo de crescimento econômico bastante significativo, o mesmo não

permite que haja melhor distribuição dos resultados para a maioria da população. Pelo

contrário, grande parte dela fica à margem desse desenvolvimento, cuja face oposta se

expressa numa crise social e numa crise ambiental desconsiderados pelos mecanismos

de funcionamento de mercado, particularmente o agronegócio, vinculado às atividades

de soja, eucalipto, dendê e pecuária.

O crescimento do agronegócio ao burlar constantemente a legislação ambiental

se apóia fortemente no financiamento público, notadamente, Banco do Brasil e BNDES

e pela demanda externa de países emergentes, como a China. Consequentemente, isso

precariza as condições de vida da população local, o que acaba contribuindo para a

queda de produção de alimentos, além de gerar vulnerabilidade e exclusão social. Isso

significa que apesar da Amazônia estar inserida num contexto de globalização, os

investimentos são realizados em indústrias extrativistas, intensivas em capital e que

pouco agregam a economia local, porque estão voltadas principalmente para o mercado

externo (Mesquita, 2011).

Sendo assim, este cenário reforça a funcionalidade da economia, a qual a

Amazônia está inserida, no caso, ao suprimento dos mercados globais de commodities

minerais, metálicos e agrícolas (proteína animal e vegetal, em especial). Dessa forma, a

economia brasileira e amazônica se posiciona na inércia de um atrativo mercado global

de commodities, com forte protagonismo do capital financeiro, incluindo o

especulativo. Notoriamente, esse processo impacta desfavoravelmente a produção de

alimentos no país

4. O CASO DE BURITICUPU NO MARANHÃO COMO MANIFESTAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO GRANDE CAPITAL SOBRE A AMAZÔNIA.

As terras que hoje configuram o município de Buriticupu eram habitadas pelos

Guajá e Tupi-Guarani, a que se juntaram os Guajajara, na década de 1940. O local fazia

parte do município de Santa Luzia (Aguiar, 2005). O nome do lugar se refere ao grande

número de plantas de duas espécies – buriti e cupuaçu – nas margens do Rio Buriticupu,

afluente do rio Pindaré. Buriticupu está às margens da BR-222, que liga o interior a São

Luís. Fica a 405 quilômetros da capital. A Estrada de Ferro Carajás tem um trecho de

Page 127: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3285

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

34,8 quilômetros de trilhos que atravessa o município, passando a 12 quilômetros da

área urbana, e possui parada na localidade de Presa de Porco.

Essas informações que, aparentemente parecem apenas descreverem a situação

geográfica municipal, serve para sinalizar os interesses econômicos que giram em torno

do município. O crescimento econômico experimentado pelo município esteve sempre

associado a extração da madeira e agropecuária. Da década de 1970 aos dias atuais o

município experimentou um crescimento econômico e populacional expressivo, com

base no interesse pelo extrativismo florestal desenvolvido junto com a pecuária.

Buriticupu já é o 15º maior município, em termos populacionais do Maranhão (Ibge,

2000), entretanto as condições de vida continuam muito abaixo do esperado. Segundo

dados do PNUD o IDH-M do município é de 0, 595, inferior a média do nordeste que é

de 0,610. Dos 217 municípios do Maranhão, Buriticupu ocupa a 71ª colocação (Pnud,

2000). Essa realidade não é exclusividade de Buriticupu. Boa parte dos municípios que

integram esse chamado “Eixo de Integração Nacional”, localizados na pré-Amazônia

maranhense, ou mesmo na Amazônia, vivem a mesma situação. Isso para não falar em

outros casos em outras regiões.

Nos anos 1970, atraídos pelo Projeto Pioneiro de Colonização de Buriticupu, na

gestão do governador Pedro Neiva de Santana (Aguiar, 2005). Pequenos produtores

rurais sem terra de outras regiões do Maranhão e do Brasil, que eram explorados por

grandes latifundiários, foram trazidos para dar início ao Projeto Pioneiro de

Colonização. O interesse na região era o extrativismo florestal, que se desenvolveu

junto com a pecuária. Buriticupu viveu muitos conflitos de terra, intensificados no fim

da década de 1980, antes da conquista da autonomia municipal, em 1994. O município

foi um dos primeiros no Maranhão a ter fazendas ocupadas por trabalhadores sem-terra.

Atualmente possui dez assentamentos rurais, que totalizam mais de 123 mil hectares

(48% do território local) e têm 87% dos 4.188 lotes ocupados.

A extração da madeira ainda é a principal atividade econômica de Buriticupu. Às

margens da BR-222, funcionam cerca de 40 estabelecimentos industriais, comerciais e

de serviços ligados à exploração madeireira, segundo o estudo realizado pela vale e

publicado com o título Um olhar sobre Buriticupu - Maranhão. O município apresenta

um dos maiores índices de desflorestamento do estado do Maranhão, 71% de sua área já

desmatada (Inpe, 2013) e, por não ter mais suporte para obtenção de matéria-prima para

Page 128: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3286 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

as atividades madeireiras, tornou-se foco de pressão sobre a Reserva Biólogica do

Gurupi e as áreas indígenas situadas a oeste e noroeste do estado do Maranhão.

Essas informações socioeconomicas evidenciam com clareza a rede de interesses

em torno do municipio de Buriticupu, o que na realidade não se trata de interesse estrito

sobre o municipio e sim sobre toda a mesoregioão oeste do Maranhão que tem, de

maneral geral, as mesmas caracteristicas socioeconomicas.

4. CONCLUSÕES

Mesmo em caráter provisório creio que com essas considerações é possível

concluir que as transformações produtivas que ocorre na Amazônia Legal é decorrente,

principalmente, da sua integração com o comércio internacional, impulsionadas,

sobretudo, pelas políticas neoliberais a partir da década de 90 e pelas políticas de cunho

estatal, sobretudo, no que se refere ás políticas de financiamento ao agronegócio. Dessa

forma, contribui para que ocorra um desenvolvimento intrarregional desigual entre os

Estados Amazônicos, uma vez que, as atividades produtivas ligadas ao agronegócio não

possuem a mesma dinâmica em determinadas localidades, o que acaba impactando

negativamente a agricultura familiar, marginalizando os pequenos produtores e

excluindo-os desse processo de globalização e retirando deles a sua sobrevivência.

Diante da maior inserção da região Amazônica ao cenário internacional, é

possível identifica as transformações relativas ao perfil produtivo dos Estados da

Amazônia Legal, impactando desfavoravelmente a dinâmica da agricultura familiar. Se

antes eram as atividades extrativistas que caracterizavam o perfil produtivo daqueles

estados, atualmente a dinâmica é decorrente de atividades ligadas ao agronegócio,

especialmente à cultura de soja e à pecuária. Nota-se uma redução bastante significativa

da cultura do arroz na Amazônia Legal em detrimento da expansão da soja nos

respectivos Estados, elucidando que o grande capital passa a financiar e a determinar os

ditames produtivos na região. Logicamente, que esse processo não é benéfico para a

Amazônia, pois esse fenômeno não considera as especificidades locais o que acaba por

reforçar as desigualdades já existentes no desenvolvimento intrarregional.

Page 129: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3287

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Isaias Neres. (2005). Buriticupu: sua história, geografia e características gerais – do antigo Projeto de Colonização ao progressista município maranhense. Gráfica e Editora Tauá (2ª. ed.) São Luís. ARRIGHI, Giovanni. (1997). A ilusão do desenvolvimento. Ed. Vozes, Petrópolis - Rio de Janeiro. ATLAS do Desenvolvimento Humano. PNUD. (2000) Disponível em http://www.pnud.org.br/atlas/tabelas/index.php, acessado em 30/06/2013. BECKER, Bertha K. (1998). A especificidade do urbano na Amazônia (Mímeo). Brásília, Secretaria de Coordenação da Amazônia/MMA, Brasília. ________. (2009). Amazônia: Geopolítica na virada do III milênio. Ed. Garamond, Rio de Janeiro. CORRÊA, Roberto Lobato. (2008). Espaço: um conceito chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias de. Et all (org.). Geografia: conceitos e temas. Ed. Bertrand Brasil (11ª ed.), Rio de Janeiro. COSTA, Jodival Maurício da. (2011). Atualidade das políticas territoriais na Amazônia Oriental: questões sobre meio ambiente e ordenação territorial em Carajás. In: NETO, Joaquim Shiraishi. Et all (org.). Meio Ambiente, Território e Práticas Jurídicas: enredos em conflitos. EDUFMA, São Luís. FURTADO, Celso. (1974). O Mito do Desenvolvimento econômico. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. (2008). Amazônia, Amazônias. Ed. Contexto (2ª. ed.), Rio de Janeiro. IBGE. Sistema de Recuperação Automática SIDRA. (2013). Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/carto.asp?func=imp&z=t&o=10&i=P (acesso em 7 de julho de 2013). MANDEL, Ernest. (1985). Capitalismo tardio. Ed. Nova Cultural, São Paulo. MESQUITA, Benjamin Alvino de. (2011). Conflitos territoriais na Amazônia na “Era do capital. In: NETO, Joaquim Shiraishi. Et all (org.). Meio Ambiente, Território e Práticas Jurídicas: enredos em conflitos. EDUFMA, São Luís. _________, Benjamin Alvino de. (2009). Demanda por alimentos e as consequências na Amazônia brasileira “sucesso” do agronegócio e tragédia do desmatamento. In: 12ª Encuentro de Geógrafos de América Latina; Montevidéu, Uruguai (on line). Disponível

Page 130: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3288 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

em http://egal2009.easyplanners.info/area07/7584_Mesquita_Benjamin_Alvino_de.pdf (acesso em: 5 de julho 2013).

Page 131: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3289

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

1

Novos Investimentos no Maranhão: um cenário desenvolvimentista?

Msc. Fabiana Araujo Diniz. Bolsista CAPES. Doutoranda em

Desenvolvimento Regional e Urbano (DRU). Programa de Pós Graduação em

Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Endereço eletrônico: [email protected]

Mini-Curículo: Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal

do Maranhão (2006) e mestrado na área de Desenvolvimento Regional e Urbano

(Formação Sócio Espacial: Mundo/Brasil/Regiões) pela Universidade Federal de Santa

Catarina (2009). Atualmente é Doutoranda na área de Desenvolvimento Regional e

Urbano (Formação Sócio Espacial: Mundo/Brasil/Regiões) pela Universidade Federal

de Santa Catarina (2012-2016). Atuando principalmente nos seguintes temas: Economia

Brasileira e Economia Regional.

Page 132: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3290 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

NOVOS INVESTIMENTOS NO MARANHÃO: UM CENÁRIO

DESENVOLVIMENTISTA?

Resumo: Este artigo se propõe analisar o atual desenvolvimento econômico do Estado

do Maranhão, com as novas promessas de investimentos que ocorrerão entre os anos de

2010 a 2016. Para tanto é necessário resgatar o pensamento de Celso Furtado sobre

desenvolvimento e planejamento regional, esta abordagem irá permitir visualizar o atual

estágio econômico e social do Nordeste e do Estado do Maranhão, com seus entraves e

possíveis avanços, inseridos em uma perspectiva desenvolvimentista.

Palavras-chave: Maranhão, Nordeste, Novos Investimentos, “novo

desenvolvimentismo”.

1 Introdução

Ao longo dos anos 1930-1980 a concentração industrial brasileira na região

Sudeste proporcionou à região Nordeste um dos principais entraves para seu

desenvolvimento, gerando grandes desigualdades econômicas e sociais. Neste período

observou-se no modelo nacional desenvolvimentista, o foco era consolidar o processo

de industrialização, assim o Estado era o promotor do desenvolvimento, mas não

transformador das relações da sociedade e muito menos redutor das desigualdades

regionais.

O Brasil do século XX foi desenvolvimentista, mas também um grande agente

da concentração regional e de renda, não houve um Estado do bem-estar social, e as

desigualdades tanto regionais como econômicas e sociais só acentuaram. No século XXI

o Brasil ensaia novamente um modelo desenvolvimentista, principalmente com avanços

em setores importantes da indústria e da sociedade. Neste sentido, para dar um enfoque

teórico, será apresentado os pilares desta nova corrente do desenvolvimentismo e seu

desenvolvimento histórico no Brasil, fazendo uma distinção do “nacional

Page 133: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3291

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

3

desenvolvimentismo” e da ortodoxia convencional, objetivando elencar as

características deste “novo desenvolvimentismo”. A abordagem teórica dos principais

pensadores do “novo desenvolvimentismo”, sobretudo com uma estratégia nacional de

desenvolvimento são as referências para um projeto Nacional de Desenvolvimento.

Dados recentes da região Nordeste demonstram uma sensível melhoria na

economia e no aspecto social, retirando progressivamente a imagem nordestina como

apêndice do desenvolvimento nacional. A mudança histórica do papel do Estado da

economia brasileira no século XXI (anos 2000), com o “novo desenvolvimentismo”

revela melhorias e redução das desigualdades, entretanto ainda há um longo período a

percorrer. As novas políticas nacionais devem também atender as políticas de

desenvolvimento regional, sobretudo na região Nordeste.

O Maranhão considerado um dos estados mais pobres da federação, com os

índices mais baixos de desenvolvimento, ensaia seu crescimento econômico e social,

através das promessas de novos investimentos no período de 2010 a 2016. Estes novos

investimentos compreende o complexo Minerometalúrgico (na região oeste –

Açailândia, imperatriz e Santa Inês), o Agronegócio (na região Sul – Balsas e Riachão)

e as Indústrias de Alumínio, minério de ferro e de petróleo (na região norte, em torno de

São Luís).

O objetivo do artigo é investigar via pensamento “novo desenvolvimentista” e

políticas regionais para o Nordeste propostas por Celso Furtado, que também

influenciam sobremaneira este novo pensamento de desenvolvimento brasileiro, se o

que está acontecendo no Brasil e no Maranhão é uma nova fase desenvolvimentista. E a

partir desta análise perceber os limites teóricos e práticos desde novo pensamento, e,

sobretudo, como objetivo maior verificar os possíveis entraves e avanços da economia

maranhense diante desta nova fase da economia brasileira, que no Maranhão se

manifesta com as promessas de novos investimentos.

Este artigo além da introdução e conclusão terá 4 seções, o debate teórico “novo

desenvolvimentista” será discutido na segunda seção deste artigo. Na seção 3, faz-se um

resgate do pensamento de Celso Furtado das políticas de desenvolvimento para o

Nordeste. Por fim, nas seções 4 e 5, e como objetivo maior, tratará do desenvolvimento

econômico e social do Maranhão dentro de uma perspectiva histórica (Formação

Economia e Social do Maranhão), e no período atual com advento dos novos

Page 134: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3292 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

investimentos. Para tanto, foi realizado uma atualização de dados sobre os

investimentos preteridos, o produto interno bruto e indicadores sociais. Será realizada

uma análise para verificar que se os investimentos em curso no Estado do Maranhão

representam um modelo “novo desenvolvimentista” em curso.

2 Estado e o “novo desenvolvimentismo”

A análise do desenvolvimento econômico e social no Brasil deve ter como base

estrutural uma relação entre o Estado e o desenvolvimento, em que participação ativa do

Estado (Estado-nação) é premissa para o desenvolvimento econômico.

Para a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) o caso

brasileiro é considerado um dos mais bem-sucedidos projetos latino-americano de

desenvolvimento nacional, no período de 1930 a 1960, o Estado foi um fator de

desenvolvimento econômico e social, com taxas elevadas de crescimento econômico. O

Brasil altera sua estrutura econômica por meio do pensamento desenvolvimentista

saindo de uma base agrário-exportadora para uma base urbano-industrial.

Neste período o “desenvolvimentismo” ou “nacional desenvolvimentismo”

tinham com influências diretas três correntes teóricas: a teoria econômica clássica

(Adam Smith e Marx), a macroeconomia (Keynes e Kalecki) e a teoria estruturalista

latino americana, que foram as inspirações para a formulação das estratégias nacionais

de desenvolvimento, tendo com pilares a proteção da indústria nacional e a promoção da

poupança forçada do Estado. O objetivo não era substituir o mercado, pelo Estado, mas

sim fortalecer o Estado e dar condições para as empresas se inserirem no mercado

competitivo, com inovação e investimentos.

A partir dos anos 70 com o processo de globalização, o Estado entre em crise

(baixo crescimento econômico, elevado desemprego, aumento da inflação) e as

reformas neoliberais orientado para o mercado e Estado mínimo foi o remédio

receitado. Na década de 1980, o receituário da ortodoxia convencional e as reformas

institucionais neoliberais, levaram o Brasil ao auge da crise da dívida com altas taxas de

inflação.

Historicamente a participação do Estado no Brasil se torna um desafio na década

de 1990 e se constatou que estas reformas eram inviáveis e que era urgente a reforma ou

Page 135: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3293

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

5

reconstrução do Estado no sentido de ampliar a função do Estado em garantir os direitos

sociais e promover a competividade do seu país.

O próprio fracasso das políticas neoliberais foi um impulso para renascer o

“novo desenvolvimentismo”, mas agora como uma estratégia nacional de

desenvolvimento, reforçando a ideia de Estado-nação e objetivando principalmente a

rejeição das reformas ditada pelos países ricos de cunho neoliberal (ortodoxia

convencional) que tornava o Brasil em uma situação de dependência.

As diferenças entre o discurso do novo desenvolvimentismo com o antigo-

desenvolvimentismo e a ortodoxia convencional, permite visualizar os pontos centrais

desta nova proposta de desenvolvimento. Enquanto que no antigo-desenvolvimentismo

(nacional desenvolvimentismo) o Estado tinha a função de provedor total do

desenvolvimento (poupança forçada e investimento das empresas), era protecionista e

pessimista, a indústria era infante e tinham complacência com a inflação, no “novo

desenvolvimentismo” o Estado tem papel subsidiário fortalecendo o Estado e

promovendo mercado, direciona suas exportações para exterior com produtos de alto

valor agregado e taxas de câmbio administrada e desvalorizada com uma indústria

agora madura, tendo um crescimento econômico sem se basear em demanda e déficit

público e não tem tolerância com a inflação (BRESSER-PEREIRA, 2006)

Recentemente, mais precisamente nos anos 2000, se percebe que os resultados

das políticas atuais, sobretudo as monetárias e fiscais de cunho heterodoxo (menos

rígida) tem se revelado menos restritiva, mesmo que haja a defesa por alguns autores de

que não há ruptura do modelo neoliberal 1. Entretanto, sobretudo no atual governo

Dilma há uma mudança em que coloca o Estado com propagador do crescimento

econômico. Ensaia-se uma nova estratégia de desenvolvimento, com o ressurgimento de

estratégias neste atual momento desenvolvimentista, mesmo que ainda não sejam

satisfatórias.

Para Bielschowsky (2012), a melhoria do bem-estar da população brasileira nos

anos recentes é resultado das tentativas de implantar o “novo desenvolvimentismo”

contemplando de forma integrada a dimensão econômica e social. O autor elenca três

frentes de expansão do crescimento econômico, ou melhor, três “motores do

1 Para Gonçalves (2011) no governo Lula (2003-2010) houve mais continuidade das políticas ortodoxas, do que ruptura destas políticas neoliberais. Pois os eixos estruturantes do Nacional-desenvolvimentismo foram invertidos (Nacional-desenvolvimentismo às Avessas).

Page 136: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3294 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

investimento”: mercado interno de produção e consumo de massa, Infraestrutura

(produtiva e social) e recursos naturais, que dependerá diretamente no plano externo dos

desdobramentos da crise, e no plano interno da estratégia e as políticas aqui empregadas

com foco na inovação tecnológica e na ampliação de encadeamentos produtivos

internos. E para que não haja desperdício do potencial de produtividade neste “novo

desenvolvimentismo” é necessário ir além da macroeconomia para o crescimento e

competitividade, se faz necessário incluir a esfera da transformação produtiva pela via

do investimento e da inovação.

No campo social, Fagnani (2013), coordenador da rede Plataforma Política

Social, revela que a melhoria nos rendimentos das famílias é umas das causas do

crescimento econômico e da redução das desigualdades.

Fonseca, Cunha e Bichara (2012) também corroboram com o desempenho

recente da economia que se aproxima de uma nova fase desenvolvimentista e realizam

uma análise conjuntural no governo Lula (2003-2010) que sinaliza tal perspectiva “novo

desenvolvimentista” de forma positiva.

O ponto central do “novo desenvolvimentismo” é possibilitar ao Estado, via

estratégias nacional de desenvolvimento (processo histórico de acumulação e aumento

de produtividade), romper de forma definitiva com os resquícios neoliberais de política

econômica, sobretudo com o individualismo de mercado. No campo social, deve-se

revigorar o pensamento de Celso Furtado, sobretudo no que se refere à eliminação da

concentração de renda e consumo, e no seu lugar maior equidade de consumo e renda.

3 Desenvolvimento regional: uma política desenvolvimentista para o Nordeste

O pensamento de Celso Furtado pode ser retratado em duas análises históricas e

marcantes no desenvolvimento econômico do Nordeste. O primeiro período,

caracterizado pelo sentimento nacional-desenvolvimentista do período JK com o Plano

de Metas, o Brasil tentava construir uma identidade nacional através da produção de

bem duráveis impulsionadas pela indústria automobilística, neste mesmo período o

próprio Celso Furtado coordena um Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do

Nordeste (GTDN), e sonhava com um Estado desenvolvimentista para o Nordeste com

atuação forte do Estado e neste anseio foi criada a SUDENE, que tinha como principal

Page 137: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3295

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

7

objetivo tirar o atraso econômico do Nordeste, sobretudo com o problema da seca

(1958) que para ele tinha uma raiz na organização socioeconômica estruturada no

semiárido, e não na seca em si.

O segundo momento o Brasil foi marcado pala crise dívida (1980), subordinando

a economia brasileira ao capital estrangeiro e reduzindo drasticamente a possibilidade

de identidade nacional que acentuou sobremaneira as desigualdades regionais.

A partir destas duas vivências históricas brasileiras Celso Furtado escreve uma

obra muito cara para o planejamento regional do Brasil: Uma política de

desenvolvimento econômico para o Nordeste. A ideia força desta obra nos orienta para

um desenvolvimento nacional em que o desenvolvimento da economia regional deve

está imbricados e andar juntos. Não é possível entender nem o Nordeste nem o Brasil

sem levar em conta que o primeiro sintetiza as contradições do segundo, em grau

elevadamente dramático (FURTADO, 1981:13).

Este trabalho tinha como premissa principal o desenvolvimento nacional

partindo da redução das desigualdades regionais, o que implica diretamente a região

Nordeste. Ou seja, o fim dos exclusivismos regionais deve ser o primeiro passo para

uma proposta de desenvolvimento econômico, pois o Nordeste não pode ser

considerado um apêndice do desenvolvimento brasileiro, a industrialização nordestina

não pode ser um prolongamento do desenvolvimento industrial do Centro-Sul.

As disparidades regionais são permeadas por dessimetrias entre duas regiões:

Centro-sul e Nordeste, tendo com fator principal a concentração de renda (concentração

de gastos em consumo) que possui projeções no setor agropecuário, por exemplo,

estando à margem do processo de integração nacional, havendo desníveis de

produtividade entre estas duas regiões, o setor agrícola acumula atraso, declinando sua

produtividade tanto com respeito ao setor industrial como relativamente à agricultura de

exportação e pecuária (FURTADO, 1981).

Em suma, as relações entre as duas regiões se desenvolve de forma a acentuar a

dependência do Nordeste, pois o mercado nordestino vem sendo um complemento do

mercado Centro-Sul e os investimentos industriais são subordinados à lógica da

economia Centro-Sul, tendo como consequência direta a herança pobre e

subdesenvolvida da região nordeste.

Page 138: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3296 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

O que deve ser percebido com urgência é que o atraso da região Nordeste

dificultava o desenvolvimento econômico em âmbito nacional, pois gera desigualdades

e assimetrias econômicas e sociais.

A transferência maciça de recursos para a região pelo menos por um decênio,

introduzir modificações estruturais que reproduzam melhoras sensíveis nas condições

de vida e na capacidade de iniciativa da massa trabalhadora e aumentar de forma

substancial a participação do Nordeste na atividade industrial do país são os três eixos

de ação que podem transformar o Nordeste, segundo Furtado (1981). Estes três planos

devem agir conjuntamente, um complementando o outro simultaneamente.

Furtado (1984: 22, grifo nosso) sentencia que:

No caso brasileiro e, mais particularmente, no nordestino, a estrutura

agrária é o principal fator causante da extremada concentração de

renda no conjunto da economia. Não tanto porque a renda seja mais

concentrada no setor agrícola do que no conjunto das atividades

produtivas. Mas pelo fato de que, não havendo no campo nenhuma

possibilidade de melhora das condições de vida para a massa

trabalhadora, a população rural tende a se deslocar para as zonas

urbanas, congestionando nestas a oferta de mão de obra não

especializada. A sobreurbanização que se observa no Nordeste é uma

das consequências negativas de sua atual estrutura agrária.

A melhora das condições da massa trabalhadora, parte primeiramente de modificar a

estrutura agrária, ou seja, incorporar a classe rural no processo de desenvolvimento. Os

minifúndios e os latifúndios e sua estrutura dominadora e exploradora são raízes

históricas que devem ser arrancadas em prol do crescimento do homem do campo,

utilizando sua capacidade de trabalho e que seja possível absolver novas técnicas e se

capitalizar. O homem do campo como ator político ativo e não apenas como força de

trabalho. (FURTADO, 1981:17)

É importante perceber o aspecto histórico-estrutural da formação do

desenvolvimento do Nordeste, o caráter inicial da colonização do Brasil contribui pra

desigualdade no Nordeste, principalmente na questão fundiária, dado a produção de

commodities para exportação em grandes latifúndios.

Page 139: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3297

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

9

Furtado (1984:27, grifo nosso) alerta também:

Não basta modificar a estrutura agrária; também é indispensável

redirecionar o processo de industrialização (...) maior integração da

industrial regional e vinculá-la progressivamente ao mercado local.

Isto exige que se estabeleça um regime de reserva de mercado para as

indústrias que se localizem na região e adotem opções tecnológicas

compatíveis com uma ampla criação de emprego. Indústrias com uma

orientação tecnológica também poderão localizar-se na região, mas

não há razão para que se beneficiem de estímulos oficiais. O sistema

de subsídios deverá ser posto a serviço do desenvolvimento do

mercado local e da homogeneização social.

O aumento da participação da indústria nordestina no Brasil deve se dirigir para a

redução do estilo centralizador da indústria nacional (Centro-Sul), sobretudo com a

descentralização da indústria manufatureira e aumentando participação do Nordeste na

atividade manufatureira. Para atuar nos desníveis regionais de desenvolvimento é

necessária uma planificação das dimensões continentais do país orientada para

localização de atividades industriais. Essa descentralização favorecerá os grupos

nacionais e reduzirá a participação das indústrias estrangeiras.

No século XX, o desenvolvimento é determinado historicamente por uma herança

desenvolvimentista e conservadora entre 1920-1980 em que acentuou as desigualdades

social e regional, que são aspectos históricos embrincados na realidade brasileira. Para

Bacelar (2003:1),

(...) o que caracterizava o Estado brasileiro neste período (1920-1980)

era o seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e

autoritário. Não era um Estado de Bem-Estar Social. O Estado

conservador que logrou promover transformações fantásticas sem

alterar a estrutura de propriedade, por exemplo.

Nos anos 2000, as ideias do pensamento de Celso Furtado para o

desenvolvimento do Nordeste são vivas, e neste novo cenário em que o

desenvolvimentismo aparece agora com o “novo desenvolvimentismo”, é importante

Page 140: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3298 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

colocar o desenvolvimento da região Nordeste como parte integrante das estratégias

nacionais desenvolvimento, apontando avanços e os entraves, sobretudo por se tratar da

região menos desenvolvida. Ou melhor, se faz necessário resgatar o sonho do Celso

Furtado de trazer o Estado desenvolvimentista para o Nordeste.

É urgente a formulação de uma política nacional de desenvolvimento regional

inserida no âmbito do “novo desenvolvimentismo” no sentido que a presença ativa e

articulada do Estado. É fundamental para integração das diversas regiões do País, ou

melhor, é tarefa do Estado subordinar à dinâmica econômica regional a consolidação da

integração nacional principalmente no sentindo de aumentar a participação da região

nordeste na produção industrial via desconcentração da dinâmica territorial do País.

O combate das desigualdades sociais deve partir em nível nacional, mas também

de forma inter-regional. Os programas sociais do Governo Federal, como: Bolsa

Família, Minha Casa Minha Vida (retomada da construção civil), Políticas Nacional de

Desenvolvimento Regional (PNDR) e Recriação da SUDENE aplicados desde 2003 têm

impactado de forma positiva na redução das desigualdades, porém ainda é muito

pequena diante da grande demanda da região Nordeste. Segue alguns dados

elucidativos.

Dados das contas regionais do IBGE (2010) apontam que a Região Nordeste, em

2009, atingiu a maior participação da série desde 2002, 13,5%, mesmo que o

crescimento ainda seja quase o mesmo dos anos anteriores, mantendo-a no mesmo

patamar em 2010, como segue na tabela abaixo:

Tabela 1 Participação percentual das Grandes Regiões no Produto Interno Bruto – 2002 a 2010

Fonte: IBGE, contas nacionais 2010.

O PIB per capita da região Nordeste em 2009 atingiu a maior participação da

série desde 2002, com segue na tabela 2:

Grandes Regiões

Participação percentual no Produto Interno Bruto (%) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Norte 4,7 4,8 4,9 5,0 5,1 5,0 5,1 5,0 5,3

Nordeste 13,0 12,8 12,7 13,1 13,1 13,1 13,1 13,5 13,5 Sudeste 56,7 55,8 55,8 56,8 56,4 56,0 56,0 55,3 55,4

Sul 16,9 17,7 16,6 16,3 16,6 16,6 16,6 16,5 16,5 Centro-oeste 8,8 9,0 9,1 8,9 8,7 8,9 9,2 9,6 9,3

Page 141: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3299

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

11

Tabela 2: PIB Estadual per capita - R$ de 2000 (mil) Região 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Região Centro-oeste 8,77 8,93 9,35 9,20 9,23 10,21 10,55 10,80

Região Norte 4,19 4,22 4,51 4,56 4,74 5,23 5,29 5,13

Região Nordeste 3,23 3,18 3,31 3,47 3,58 3,86 3,88 3,94

Região Sul 7,98 8,35 8,56 8,32 8,40 9,48 9,45 9,33

Região Sudeste 9,25 9,07 9,46 9,75 10,04 11,03 10,96 10,70

Fonte: IBGE, organizado por IPEADATA.

No recente seminário do BNDES sobre o Nordeste, Bacelar (2013) traça as

tendências recentes e novas perceptivas para região Nordeste. Neste trabalho verificam-

se mudanças no ritmo e no padrão de crescimento econômico e alterações no quadro

social na região Nordeste.

Melhorias da renda, na taxa de crescimento do PIB, atração de investimentos

públicos e na infraestrutura (PAC), crescimento do emprego formal na construção civil

e maior participação da indústria de transformação no Nordeste, são reflexo da mudança

do padrão de crescimento do Brasil (BACELAR, 2013).

Os investimentos tendem a mudar o perfil produtivo com maior peso da

indústria e novos setores. O Gráfico 1, a seguir, demonstra um crescimento significativo

na indústria de transformação na Região Nordeste.

Gráfico 1: PIB Estadual - indústria - transformação - valor adicionado - preços

básicos - R$ de 2000 (mil) - 2002 a 2009 Fonte: IBGE, organizado por IPEADATA.

Page 142: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3300 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

No âmbito social, e seguindo o pensamento social de Celso Furtado da

eliminação da concentração de renda e consumo, e, também da proposta “novo

desenvolvimentista”, Bacelar (2013) faz uma analise comparando Brasil e Nordeste,

com redução da pobreza e desigualdades no Brasil, ao verificar: um aumento nos

rendimentos médios; queda da mortalidade; melhoria da escolaridade média e taxa de

analfabetismo.

É importante verificar que no estudo realizador por Bacelar (2013), a autora

elenca algumas mudanças importantes da base produtiva nordestina, sobretudo com um

novo perfil industrial com novos segmentos, como por exemplo, o avanço de segmentos

ligados ao consumo popular e o avanço da integração na moderna base produtora de

grãos do país (cerrados do NE), acompanhadas pelo crescimento das APLs e pequenos e

micro empreendimentos, e a presença na energia eólica como matriz energética.

O discurso e imagem do Nordeste se alteram: do “nordeste coitadinho” para o

nordeste de potenciais em busca de novos investimentos, o Brasil revisita o Nordeste

(reduz visão de “região problema” e é visto como região em desenvolvimento)

(BACELAR, 2013).

Entretanto, é necessário analisar os possíveis entraves. O primeiro é de ordem

nacional, a economia brasileira vem desacelerando com a redução do PIB acompanhada

com a redução do nível de investimentos e consumo. Além deste cenário da conjuntura

brasileira, na região Nordeste os principais entraves estão ligados à crise federativa

(redefinição do FPE e reformulação do ICMS) a reconcentração produtiva (região

sudeste, sul e centro-oeste), baixo investimento em infraestrutura (rodovias e ferrovias),

modesta presença de atividades tecnológicas, pequenos gastos em ciência e tecnologia,

assinala Bacelar (2013).

Diante deste estudo, o que deve retomar de forma imediata é realização de

políticas regionais inseridas nas políticas nacionais de desenvolvimento, atendendo a

matriz teórica do pensamento de Celso Furtado e dos anseios do “novo

desenvolvimentismo”, crescimento econômico e maior justiça social. O

desenvolvimento de um projeto Nacional é requisito principal, pois não é possível

pensar o Nordeste, sem pensar o Brasil.

Seguindo a leitura de Celso Furtado sobre a interpretação da questão regional

para superação das desigualdades, devemos realizar uma análise que parta

Page 143: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3301

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

13

primeiramente das especificidades de cada região, e, sobretudo, enfatizar um processo

mais amplo, para além da questão econômica, e que responda as lacunas sociais. O

enfoque as análises histórico-estruturais são importantes para que não se afirme

mudanças repentinas em dados sociais, sem prévia consulta histórica.

4 A Formação Econômica e Social do Maranhão: Enfoque Histórico-Estrutural

No sentido de não ter uma falsa percepção das mudanças econômicas sociais do

Maranhão, faz-se necessário recorrer ao processo histórico e estrutural da Formação

Econômica e Social Maranhense, que pode ser entendida por quatro fases distintas, a

saber:

A primeira fase é caracterizada pela integração ao modelo-primário exportador

(1755-1889) com o sistema colonial português através da Companhia do Grão-Pará e

Maranhão, superando um século de atraso com a exportação para Europa de: algodão,

arroz, couro e açúcar. De acordo com Furtado (2001) a economia maranhense se integra

à economia açucareira a partir da periferia pecuária. Este momento só foi possível

devido aos surtos momentâneos das exportações de algodão e arroz nos Estados Unidos.

No século XIX, a economia maranhense é marcada pelo avanço das platations

(sistema agrícola baseado na monocultura de exportação, com latifúndios e mão de obra

escrava) de algodão e cana-de-açúcar que condicionaram o expressivo crescimento

populacional. De acordo com Arcangeli (1987) a decadência deste surto decorre da

retomada da economia Europeia e dos Estados Unidos no mercado internacional.

A segunda fase (1890-1940) é marcada pela desarticulação do sistema de

plantations e os surtos de crescimento da indústria têxtil influenciados pela abolição da

escravidão. Os ciclos de plantations foram substituídos pela pecuária extensiva e

agricultura familiar. O desenvolvimento da indústria têxtil, sobretudo na década de

1940, representou 70% das exportações maranhenses, entretanto nesta mesma época já

se verificava o atraso e processo de decadência desta indústria em relação à região

centro-sul devido à modernização e barateamento dos custos de transportes da produção

têxtil do Centro-Sul.

Page 144: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3302 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Na terceira fase podemos relatar a integração comercial maranhense à economia

nacional, que se desenvolve entre 1940-1970, marcada pelo fim do setor têxtil no

Maranhão e a importância comercial do extrativismo.

No início da década de 1940 a extração de babaçu e as plantações arroz irrigado

e sequeiro tiveram uma importância salutar na economia maranhense. Porém no final da

década de 1970, a baixa produtividade destas duas culturas levou à sua decadência. Esta

decadência foi originária do desenvolvimento tecnológico na região sul do país (o

cultivo do babaçu era realizado de forma extrativista e em grandes extensões

territoriais), na Argentina e Uruguai e o barateamento dos óleos de soja e de palma.

A quarta fase relaciona-se ao contexto histórico nacional com a implantação do

II PND (governo Geisel, 1974-1978) que no Maranhão se transfigurou no Projeto

Carajás, com a implantação da Vale do Rio Doce e da ALUMAR em São Luís. Dessa

forma, nesta fase (1970) o Maranhão integra-se à economia nacional. No final da

década de 1970, no sul do Maranhão desenvolve-se uma agricultura graneleira

mecanizada (milho, arroz, algodão e, sobretudo a soja) que nos anos seguintes se

expande para o leste do Estado (Chapadinha e baixo do Parnaíba).

No período mais recente, para Holanda & Paula (2011) a década de 1980,

mesmo com a crise econômica e fiscal no Brasil (crise da dívida), o Maranhão

continuou com a produção mineral e a pecuária extensiva com índices positivos no nível

de renda (8,3% a.a.), com novas commodities (soja e eucalipto), observa-se a reinserção

do Maranhão no mercado externo não havendo a não a construção de um modelo de

desenvolvimento sustentável. Somente na década de 1990 que o impacto econômico foi

sentido com o esgotamento dos ciclos de investimentos (Vale-Carajás, Alumar e Porto

do Itaqui) e crise fiscal originária do ajuste fiscal pré-plano Real (1993-1994).

Todo esse processo histórico da formação econômica e social maranhense é

marcado por uma descontinuidade, como dizia Rangel (2008, p.58), o Maranhão foi a

“terra do que já teve”. Além das fábricas de fiação e tecelagem, inclusive lã, meias e

cânhamo, tínhamos tido até fábricas de fósforos e pregos, raros no Brasil. Estas

descontinuidades serão de fundamental importância para levantar as bases estruturais ao

desenvolvimento recente (anos 2000) da economia maranhense, marcadas pelas

promessas de novos investimentos.

Page 145: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3303

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

15

5 Novos investimentos no Maranhão: Um cenário desenvolvimentista?

De acordo com a Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (RENAI),

os novos investimentos no Estado do Maranhão estão ligados a três setores são eles:

Complexo Minerometalúrgico (na região oeste – Açailândia, imperatriz e Santa Inês),

o Agronegócio (na região Sul – Balsas e Riachão) e as Indústrias de Alumínio,

minério de ferro e de petróleo (na região norte, em torno de São Luís). O montante

total destes investimentos é estimado em mais de R$ 100 bilhões (três vezes o PIB atual

do Estado) entre recursos públicos e privados. O projeto de maior envergadura é o da

Petrobrás, com a Refinaria Premium I, que já está em andamento, no município de

Bacabeira, avaliada por US$ 20 bilhões. Outros projetos importantes e significativos são

a Suzano Papel e Celulose que investe US$ 1,8 bilhão para produzir 1,3 toneladas de

celulose de eucalipto por ano. Em Açailândia, a Aciaria Gusa Nordeste levanta uma

indústria de R$ 300 milhões para fabricar 600 mil toneladas de tarugos de aço por ano.

De acordo com o IMESC (2010) verificou-se uma aceleração recente em suas

taxas de crescimento econômico nos últimos anos no Estado do Maranhão. Números

relacionados à produção e emprego vêm mostrando aceleração nos anos recentes no

Maranhão. Este cenário nos revela uma melhoria em muitos indicadores econômicos no

Maranhão, e que poderão se elevar com os novos investimentos na ordem de R$ 66

bilhões anunciados para o período 2010-2016, como nos mostra o Tabela 3 abaixo:

Tabela 3: Investimentos em andamento e planejados – Estado do Maranhão (2010-

2016) Investimentos em andamento e Planejados Total (em

%)

Petroquímica 52,7

Logística 20,1

Geração e distribuição de energia 8,9

Minero-Metalúrgico 8,3

Reflorestamento, Papel e Celulose. 5,6

Açúcar e Álcool, Biodiesel e óleos Especiais. 1,9

Outros 2,4

Fonte: IMESC/ Indicadores de Conjuntura jan./mar 2010

Page 146: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3304 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

As tendências econômicas e sociais que impulsionam o desenvolvimento do

Estado do Maranhão são positivas, porém ainda existem muitos entraves. A evolução

positiva do PIB do Maranhão a preços correntes em relação ao Nordeste e Brasil, na

tabela 4, sinaliza uma evolução no que diz respeito ao desenvolvimento econômico do

Estado.

Tabela 4: Produto Interno Bruto a preços correntes, do Brasil, Nordeste e Maranhão – 2006 – 2010.

Abrangência Geográfica

Produto Interno Bruto a preços correntes (1 000 000 R$)

2006 2007 2008 2009 2010 Brasil 2 369 484 2 661 345 3 032 203 3 239 404 3 770 085

Nordeste 311 104 347 797 397 500 437 720 507 502 Maranhão 28 620 31 606 38 486 39 855 45 256

Fonte: IBGE

A tabela 5 demonstra o percentual das atividades que compõe o PIB do

Maranhão apontando um pequeno crescimento no setor de serviços e agropecuário.

Tabela 5: Participação das Atividades no Valor Adicionado Bruto do Maranhão - 2006 – 2010

Atividades

Participação por setores (%)

2006 2007 2008 2009 2010 Agropecuária 16,6 18,6 22,2 16,6 17,2

Indústria 19,6 17,9 16,9 15,4 15,7 Serviços 63,8 63,5 60,9 68,1 67,1

Fonte: IBGE

A distribuição por atividade econômica na indústria, na tabela 6, revela um

maior destaque de crescimento no setor da construção civil impulsionada pelas políticas

habitacionais do Governo Federal e indústria extrativa mineral influenciada pelo

aumento da produção de minério de ferro e minerais não-metálicos.

Tabela 6: Participação do setor da Indústria no valor adicionado bruto do Maranhão – 2006 – 2010.

Maranhão

Participação no valor adicionado bruto (%)

2006 2007 2008 2009 2010 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Indústria 19,6 17,9 16,9 15,5 15,7 Indústria extrativa mineral 1,75 1,29 2,73 2,11 2,42

Page 147: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3305

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

17

Indústria de transformação 9,50 8,10 5,87 3,83 3,31 Construção 5,98 6,37 6,44 7,29 7,76

Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana.

2,35

2,10

1,83

2,12

2,21

Fonte: IBGE

Entretanto, ao contrário da tendência do Nordeste (ver gráfico 1), a queda da

indústria com valor adicionado, a indústria de transformação no Maranhão, é algo

preocupante. Esta queda tem um vínculo direto com a especialização da pauta

exportadora do Maranhão em commodities agrícolas e minerais (milho, soja, minério de

ferro, alumínio, alumina, ouro ferro-gusa) que chegam a 95% das exportações

maranhenses. Para Furtado (2000:101) essa especialização que liga-se diretamente à

demanda externa e à atividade interna primária, elas estão destituídas de toda

capacidade transformadora direta da estrutura produtiva do país onde se localizam.

É necessário romper com dependência que o Maranhão tem com o comércio

internacional, e criar um mercado interno (local e regional), que também possa

diversificar sua matriz produtiva e desconcentrar o desenvolvimento em direção a

regiões mais pobres. Furtado (1984:26) já orientava para esta mudança:

Para que o processo de industrialização seja não apenas um “motor”

do crescimento, mas também um instrumento de homogeneização

social é necessário que essa industrialização se vincule amplamente ao

mercado regional. Isso não significa que não possam existir indústrias

primariamente ligadas ao mercado externo à região, mas sim, que no

seu conjunto as atividades industriais reflitam as condições

socioeconômicas do Nordeste.

A principal ação é a reforma agrária, ou seja, a estrutura agrária também deve

ser reestruturada:

Essa nova estrutura agrária deverá ser instrumento de uma política

econômica que tenha como principal objetivo dar elasticidade à oferta

de consumo popular. Nas condições estruturais que atualmente

prevalecem, os recursos de crédito oficial tendem a favorecer a

produção de excedentes utilizados fora da região, ou são absorvidos

pela intermediação e canalizados para fora da agricultura. É necessário

Page 148: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3306 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

que se compreenda que as consequências antissociais da política de

crédito subsidiado são reflexos da estrutura agrária, que surgiu

historicamente vinculada a mercados externos. No quadro desta

estrutura a pobreza dos que trabalham a terra transforma-se em fonte

de renda dos grandes proprietários e dos intermediários. O objetivo

terá que se dotar a região de uma estrutura agrária que favoreça e

elevação da renda real da massa dos agricultores e os estimule a

investir e absorver avanços técnicos. Se não se satisfazem esses

requisitos estruturais, torna-se impraticável uma verdadeira política de

desenvolvimento, ou melhor, as políticas de fomento agrícola tendem

rapidamente a degenerar em políticas de criação de excedentes em

benefícios de grupos privilegiados. (FURTADO, 1984:23/24)

A vulnerabilidade da economia maranhense em se especializar em commodities

situa-se sobremaneira nas oscilações do mercado internacional. A crise financeira

internacional de 2008 teve consequências negativas no mercado de trabalho

maranhense.

Conforme dados do Ministério do Trabalho (CAGED) em 2008 foram extintos

mais de 6,6 mil empregos na agricultura, silvicultura, indústrias metalúrgicas e

mecânicas, e no setor de serviços, em 2009 foi caracterizado por forte concentração de

desligamentos, com 8,1 mil demissões (HOLANDA & PAULA, 2011).

O “novo desenvolvimentismo” sinaliza um desenvolvimento industrial pautado

da diversificação de produtos industrializados com alto valor agregado. A exploração de

recursos naturais pode ser um primeiro passo, para agregação de valor, porém sem um

Estado Nacional forte, não haverá um direcionamento do desenvolvimento nacional e

regional.

No que se refere à Infraestrutura os novos investimentos têm direcionado para

um conjunto intermodal de transportes (ferrovias, rodovias e hidrovias), articulado com

o complexo portuário do porto do Itaqui e Ponta da Madeira (base naval). Também é

favorecido pela integração de três rodovias: Norte-Sul, Carajás e Transnordestina. A

expansão do porto do Itaqui, um dos portos mais importantes do Brasil, pela

proximidade com o canal do Panamá e mercados Europeus e Asiático, é um dos

investimentos mais importantes.

Page 149: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3307

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

19

Entretanto, o fluxo maior desde conjunto intermodal de transportes tem

favorecido a produção de commodities agrícolas e minerais, que representam um

enclave econômico para região, sobretudo porque respondem massivamente a pauta

exportadora do estado. A “Mapitoba” (acrônimo para o enclave econômico agrícola nas

regiões entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) é um exemplo típico, produção

voltada para o mercado externo, ou seja, não gera renda interna.

A qualificação de mão de obra e à capacitação de fornecedores, é um grande

obstáculo a ser enfrentado, pois o Estado tem os piores índices educacionais do Brasil, a

taxa de analfabetismo da população com mais de 15 anos é de 19,09%, o dobro da

média nacional 9,70% (IPEA, 2012).

E não para por aqui, o nível de renda também acompanha tal patamar, a renda

per capita é a última entre os Estados brasileiros. O Maranhão, menor PIB per capita

brasileiro, apesar de ter registrado o 16o maior PIB brasileiro em 2010, tem a décima

maior população brasileira. (IBGE, 2010)

O mercado de trabalho possui um entrave estrutural, no sentido que a criação de

emprego acontece no momento da instalação e construção dos projetos, mas na fase de

operação, os trabalhadores não são incorporados aos novos empreendimentos, é o que

acontece na Hidroelétrica do município de Estreito (MA). Para Holanda & Paula

(2011:71-72): há uma grande discrepância entre a geração de empregos na fase

instalação e na fase de operação. Com efeito, enquanto são esperados

a geração de cerca 223 mil postos de trabalho nas fases de instalação

dos projetos, a fase de operação deverá assegurar tão somente a

geração de cerca de 9 mil postos de trabalho.

De acordo com o estudo realizado pelo IPEA (2011) e Situação Social nos

Estados – Maranhão (IPEA, 2012) segue abaixo dados elucidativos de cunho social.

O Nordeste e o Maranhão possui a renda domiciliar per capita abaixo da

nacional (Brasil: 631,71; Nordeste: 395,48 e Maranhão 340,08), mas o crescimento da

renda média foi bem maior que o nacional, como segue na tabela 7.

Page 150: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3308 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

Tabela 7: Renda média por região no período de 2004-2009 (em R$)

Fonte: IPEADATA

No período de 2004 a 2009, a redução do percentual das pessoas que vivem em

extrema pobreza (daqueles que auferem uma renda per capita inferior a R$ 67,07) no

Nordeste foi pouco menor do que a do Brasil, mas no Maranhão foi mais acentuada,

como demonstra a tabela 8.

Tabela 8: Renda per capita (%) por região no período de 2004-2009 Região Renda per capita (%) 2004 Renda per capita (%) 2009 Var. (%)

Brasil 8% 5% -42%

Nordeste 19% 11% -40%

Maranhão 27% 13% -47%

Fonte: IPEADATA

A diminuição da pobreza extrema no Nordeste foi responsável por 58% da

queda nacional. O Maranhão foi responsável por 20% da queda do Nordeste, 12% da

queda nacional. O rendimento médio do trabalho (salário), em out. 2009, foi R$

1.116,39 no Brasil, R$ 743,56 no Nordeste e R$ 734,52 no Maranhão, bem abaixo da

média nacional.

Enquanto a extrema pobreza e a renda média diminuíram nas zonas urbanas no

Maranhão, na zona rural os índices são alarmantes. A extrema pobreza na zona rural

maranhense em 2009 chega a 27,86%, contra 20,44% no Nordeste e 12,64% no Brasil.

No Maranhão, as desigualdades de renda média aumentaram. A renda domiciliar

per capita da zona rural teve um crescimento de 22,8% – passando de R$ 162,75 em

2001 para R$ 198,78 em 2009 –, enquanto o aumento na zona urbana foi de 51,7%.

Os programas sociais e de infraestrutura do Governo Federal no Maranhão ainda

são insuficientes para reduzir a pobreza no campo, as condições de vida da população

urbana e rural são delicadas.

Região Renda média (2004) Renda média (2009) Var. (%)

Brasil 495 635 28%

Nordeste 286 398 39%

Maranhão 251 343 37%

Page 151: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3309

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

21

Para o pensamento “novo desenvolvimentista” a redução das desigualdades,

sobretudo da pobreza, é um fator importante, defendida também por Celso Furtado, pois

possibilita o crescimento econômico com maior justiça social. No caso do Maranhão

observam-se poucos efeitos desencadeadores em função da redução das desigualdades.

Os novos investimentos são de grande magnitude, porém os efeitos

multiplicadores se desenvolvem a passos lentos, existem muitos entraves econômicos e

sociais, refletindo também a realidade brasileira e, sobretudo da região Nordeste. O

grande desafio do Maranhão no âmbito do “novo desenvolvimento” brasileiro está em

articular os novos investimentos como ações políticas e econômicas que proporcionem

maior justiça social, por meio da maior diversificação produtiva e criando espaços para

um mercado regional e local, que possibilite esta justiça social via aumento do número

de empregos.

O “novo desenvolvimentismo” no Brasil tem como essência a atuação ativa do

Estado com o objetivo de fortalecer o mercado por meio de uma estratégia nacional de

desenvolvimento. Não dá para deixar o Nordeste, e mais especificamente o Maranhão,

com apêndice desde desenvolvimento, pois formam um todo orgânico, no âmbito

econômico, social e político.

É urgente a formulação de uma política nacional de desenvolvimento regional

inserida no âmbito do “novo desenvolvimentismo” no sentido que a presença ativa e

articulada do Estado, são fundamentais para integração das diversas regiões do País, ou

melhor, é tarefa do Estado subordinar à dinâmica econômica regional a consolidação da

integração nacional principalmente no sentindo de aumentar a participação da região

Nordeste na produção industrial via desconcentração da dinâmica territorial do País.

Pensar no desenvolvimento econômico e social Maranhão é pensar em um “novo

desenvolvimentismo”, sobretudo com as promessas de novos investimentos em solo

maranhense, acompanhados com aumento do crescimento econômico e

desenvolvimento econômico e social com a redução das desigualdades sociais, tendo o

Estado o grande facilitador através de políticas desenvolvimentistas.

6 Conclusões

A ênfase dada neste trabalho ao ensaio teórico “novo desenvolvimentista” se

justifica, pois os anos 2000 são tanto para o Brasil como para o Maranhão, um período

Page 152: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3310 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

22

de mudanças econômicas e sociais, se comparadas com a década anterior. Tomar como

referência esta perspectiva permitiu elencar os principais pontos para um Projeto

Nacional de Desenvolvimento, ou melhor, possibilitando verificar quais estratégias

nacionais de desenvolvimento devem ser realizadas e seus entraves.

A política de desenvolvimento para o Nordeste, proposta por Celso Furtado,

alerta para inclusão da região Nordeste nas pautas das políticas do desenvolvimento

nacional. O desenvolvimento nacional não pode colocar a região Nordeste com um

apêndice das políticas do Estado brasileiro, é necessário integrar todo território

nacional, sobretudo com maior participação da indústria do Nordeste. Este deverá ser

um dos pilares do “novo desenvolvimentismo”.

As disparidades regionais e de renda, só emperram o desenvolvimento das

regiões pobres e também o desenvolvimento brasileiro. A concentração industrial na

região Sudeste ainda é um fator que eleva os desequilíbrios regionais, sobretudo na

região mais pobre do Brasil, o Nordeste.

As análises efetuadas dos dados recentes demonstram um Nordeste menos

desigual e com crescimento econômico, porém ainda não se verifica um patamar de

desenvolvimento econômico efetivo, é urgente uma melhor qualidade destes dados, que

permita a redução das dessimetrias regionais.

Os dados sobre produção e a realidade social contribuíram para se pensar em um

“novo desenvolvimentismo”, são tentativas de se chegar a um projeto de Nação com

maior justiça social.

A nova perspectiva desenvolvimentista não pode focar apenas em políticas

macroeconômicas, deve-se primar também por uma relação multidimensional do

desenvolvimento, como políticas sociais, que reduzem as desigualdades regionais. A

questão social não deve está desvinculada da questão econômica, ela deve incorporá-la.

Olhar para o Maranhão, neste momento, com as promessas dos novos

investimentos, é ter uma percepção do território e nele buscar as principais variáveis que

viabilizem um novo desenvolvimento brasileiro. Não é admissível olhar o Brasil por

uma média nacional, e ver o Maranhão com um apêndice do desenvolvimento nacional,

sobretudo porque nestes territórios temos uma diversidade regional já posta.

Page 153: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3311

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

23

Pelo exposto no artigo constata-se que a concentração dos novos investimentos

tende a aprofundar as tendências de especialização em commodities da economia

maranhense, e não configuram em um cenário desenvolvimentista.

A concentração dos novos investimentos (públicos e privados) no Maranhão em

commodities agrícolas e minerais revela um aumento progressivo na participação do

PIB e na renda, como já foi constatado nos dados expostos neste trabalho. Este aumento

não é garantia para o dinamismo industrial com efeitos que possam se propagar para

zona urbana, e, sobretudo para zona rural, com geração de empregos e dinamização da

economia local. As commodities agrícolas e minerais devem deixar de representar a

grande massa das exportações do estado e ser integradas ao mercado local e regional via

diversificação produtiva com maior valor agregado, para que a maldição dos produtos

naturais não transforme o Maranhão definitivamente em enclave econômico e social,

que é o atual estágio da economia do estado. A redução da participação da indústria

maranhense na indústria de transformação é algo que deve ser revertido, pois este setor

industrial é o pilar principal do desenvolvimento econômico, defendido por Celso

Furtado e também pelos teóricos “novos desenvolvimentistas” como para Celso

Furtado.

Em suma, a maior justiça social no Maranhão partirá primeiramente da

restruturação agrária, no sentido de incorporar a massa trabalhadora rural ao

desenvolvimento em curso, através da diversificação produtiva agrícola (produção de

alimentos). Mas também é indispensável redirecionar o processo de industrialização

com maior integração da industrial regional e vinculá-la progressivamente ao mercado

local e regional, como alertava Furtado na sua proposta política de desenvolvimento

para o Nordeste, que é tão cara para o pensamento desenvolvimentista.

Referências

ARCANGELI, Alberto. O mito da terra: uma análise da colonização da Pré-Amazônia

maranhense. São Luís, EDUFMA, 1987 (Coleção Ciências Sociais).

BACELAR, Tânia. Nordeste: tendências recentes e perspectivas (2013)

Page 154: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

3312 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

24

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/

conhecimento/seminario/Car_ima_NE_TaniaBacelar.pdf > Acesso em 01 de março de

2012.

______________. As Políticas Públicas no Brasil: heranças, tendências e desafios. In:

Santos Junior, Orlando Alves dos... [et al.]. (organizadores). Políticas Públicas e Gestão

Local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de

Janeiro: FASE, 2003.

<http://franciscoqueiroz.com.br/portal/phocadownload/gestao/taniabacelar.pdf > Acesso

em fevereiro de 2013.

BRESSER PEREIRA, L. C. O novo desenvolvimentismo e A ortodoxia convencional

(2006). São Paulo em Perspectiva, v. 20, n. 3, p. 5-24, jul./set.

<https://www.seade.gov.br/produtos/spp/v20n03/v20n03_01.pdf> Acesso em: 12 de

dezembro de 2012.

BIELSCHOSKY, Ricardo. O velho e novo desenvolvimentismo. <

http://www.reded.net.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=183&view=finish

&cid=228&catid=16&lang=pt > Acesso em: 05 abril 2013

FAGNANI, Eduardo. Agenda do Desenvolvimento. Jornal do Brasil, 03 de maio.

<http://www.jb.com.br/plataforma-politica-social/noticias/2013/04/03/agenda-do-

desenvolvimento/>>. Acesso em: 10 de abril de 2013.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 30ª ed., São Paulo, Editora

Nacional, 2001.

_______________. O Brasil pós-milagre. Rio de Janeiro. Paz e Terra, Rio de Janeiro:

1981.

_______________. O Nordeste: reflexões sobre uma política alternativa de

desenvolvimento (1984) In: Furtado, Celso... [et al] O pensamento de Celso Furtado e o

Nordeste hoje. Editora Contraponto, Rio de Janeiro: 2009.

_______________. Introdução ao Desenvolvimento: enfoque histórico estrutural –

3ed Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

FONSECA, P.; CUNHA, A.; BICHARA J. O Brasil na era Lula: Retorno ao

Desenvolvimentismo? Texto de discussão nº 4, maio de 2012. Disponível em:

Page 155: Empresas Globais e o Desenvolvimento socioeconômico da … · 2013-12-20 · Atas Proceedings | 3161 1 CARACTERIZAÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO EM UMA

Atas Proceedings | 3313

Empresas Globais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia P06

25

<http://www.reded.net.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=419&view=vie

wdownload&catid=14&cid=179&lang=pt#.UYuOs7Xvveo >. Acesso em: 10 de janeiro

de 2013.

GONÇALVES, Reinaldo. Nacional-desenvolvimentismo às Avessas. Anais do

primeiro circuito de debate acadêmicos IPEA CODE 2011 (Anais do I Circuito de

Debates Acadêmicos)

HOLANDA, F & PAULA, R. Padrão de Acumulação e dinâmica da economia

maranhense na década dos anos 2000. Revista de História Econômica & Economia

Regional Aplicada – Vol. 6 Nº 10 Jan-Jun. 2011.

IBGE. Contas Regionais. 2010

____. Contas Nacionais. 2010

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. IPEA. Combatendo a

pobreza extrema: o Maranhão e o Brasil Sem Miséria (2011). Disponível em: <

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/110617_pobrezaextrema_maranhao.

pdf> Acesso em: 3 de janeiro de 2013.

______________________________________________________. Situação Social

dos Estados: Maranhão. Brasília, 2012.

IMESC/SEPLAN. Indicadores de Conjuntura Econômica do Maranhão/Instituto

Maranhense de Estudos Socioeconômico e Cartográfico. V.3 n.1 p. 1 – 51 jan./mar.

2010

RANGEL, Ignácio. Maranhão: Antigo e Novo. A Singularidade do Pensamento de

Ignácio Rangel, Coleção Ignácio Rangel, Volume 2. São Luís: IMESC, 2008.

RENAI/MIDIC, O Maranhão e a nova década.

<http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/renai//public/arquivo/arq1307388151.pdf>

8920. Acesso em: 21 de fevereiro de 2013.