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Aliar a vida religiosa ao gosto pe- las artes plásticas e a história. Esse é o compromisso diário de Celso Bordignon, frei capuchinho de 57 anos, que atua na direção e organização do Museu dos Fra- des Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul (Muscap), locali- zado no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul. O religioso mora na Fraternidade (nome dado às casas dos frades) São Maximilia- no Kolbe, do bairro Desvio Rizzo, também em Caxias. Doutor em Arqueologia Cristã, pelo Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã (PIAC), de Roma, Itália, ele conta nesta entrevista como começou a gostar de desenho, pintura e res- tauro. “Não fiz faculdade na área das artes plásticas, mas procurei vários cursos com os artistas que mais me interessavam”, afirma. Frei Celso relata também que a vocação religiosa, alimentada desde a infância, em Cachoei- ra do Sul, só foi concretizada na maioridade. “Quando eu tinha nove anos, já dizia que queria ir pro seminário. Só que o meu ir- mão menor queria ir também, aí eu disse: ‘se tu vai, eu não vou’”, relembra. Além do trabalho na di- retoria do Museu, ele também au- xilia nas atividades pastorais da Paróquia Imaculada Conceição. A seguir, os principais trechos da conversa, realizada em seu escritório junto ao Muscap: TeXtando: Como é o tra- balho realizado pelo se- nhor atualmente no Mu- seu dos Capuchinhos? Frei Celso Bordignon: Nosso trabalho aqui no museu é um pouco invisível, no sentido de que não dá para quantificar em termos econômicos. Geralmente quase tudo que chega ao mu- seu é coisa descartada ou que não serve mais, e muitas vezes apenas fragmentos. Nós procu- ramos registrar a entrada desses objetos, fazendo o tratamento de conservação, depois tem a catalogação, a descrição, a re- lação com a nossa história (da Ordem dos Frades Menores Ca- puchinhos), e o significado desse objeto. Às vezes as pessoas pen- sam de forma romântica que os museus são um lugar aonde se vai lá para ver um monte de coi- sas velhas, que alguém fica cui- dando para outras pessoas irem conhecer também. Mas não. Tem todo um trabalho de museolo- gia e museografia, que tem que ser feito de uma forma técnica e correta. É um trabalho de me- mória, saber a origem daquele objeto específico, de quem foi, quem fabricou, para o que ser- via, onde foi usado, de que con- vento dos capuchinhos veio, etc. TeXtando: Qual a estrutu- ra que vocês têm no Mus- cap, em termos de recur- sos humanos e de acervo? Frei Celso: Nós trabalhamos com vários tipos de acervos, mui- tas coleções, e para cada um tem um tipo de conservação, de ar- mazenamento e de catalogação. Mas para fazer isso ainda faltam recursos humanos. Contamos com quatro funcionários fixos, uma estagiária e um grupo de 10 voluntários. Como são na maioria aposentados, só umas cinco pes- soas vêm constantemente para nos ajudar. Hoje nós contamos no Muscap com uma biblioteca de livros antigos e raros; acervo de documentos, principalmente cartas; acervo completo do Jor- nal Correio Riograndense, com todas as edições dos 102 anos de existência da publicação; co- leções de estátuas e ícones reli- giosos, objetos pessoais dos fra- des, como fotos, móveis, vídeos, obras de arte; a discoteca de três rádios dos Capuchinhos, que so- mam cerca de 30 mil discos que estavam nas emissoras de Ca- xias, Garibaldi e Soledade, além de equipamentos antigos das rádios. Enfim, milhares de obje- tos históricos ligados à Ordem. TeXtando: Como surgiu o envolvimento e o gos- to pelas artes plásticas? Frei Celso: A história é longa (ri- sos). Tenho uma formação bem eclética. Até os meus 21 anos, morei com a minha família em Cachoeira do Sul. Trabalhava de dia e estudava o segundo grau (ensino médio) à noite. Cumpri carreira militar com 18, fiquei um ano no exército. Depois, com 21 completos, entrei no seminário, fui para Flores da Cunha e co- mecei o estudo da Filosofia, em 1976, na Universidade de Ca- xias do Sul (UCS), mas sempre gostei de pintar e desenhar, por “Quem não tem memória, não sabe quem é” O desafio de preservar a história e a paixão pela arte marcam a vida de Frei Celso Bordignon influência de uma das minhas irmãs, a do meio de três mu- lheres entre meus nove irmãos. Ela cursou Belas Artes e eu a via fazendo os trabalhos de aula e fazia também. Sempre gostei e ela me dava os materiais para também mexer. Isso quando eu tinha meus 15, 16 anos. Depois fui bastante incentivado pelos superiores da Ordem a continu- ar com este meu gosto. Quando fui para Porto Alegre cursar Te- ologia, comecei a estudar artes paralelamente, no Ateliê Livre da Prefeitura da Capital. Tive gran- des mestres como Clébio Sória, Wilson Alves e Eliane Santos Ro- cha. Segui estudando o que me interessava ao mesmo tempo em que me preparava para a vida re- ligiosa. Não fiz faculdade na área das Artes Plásticas, mas procu- rei vários cursos com os artistas que mais me interessavam. Mo- rei um tempo no Rio de Janeiro (RJ), onde estudei restauro e ar- tes. Na Itália, durante os perío- dos em que cursei o Mestrado e o Doutorado em Arqueologia Cris- tã, tive contato com a pintura e a arte antiga, e me especializei na arte das catacumbas, na pin- tura greco-romana, além de ter feito cursos de iconografia. Só depois é que assumi o compro- misso de retomar o Museu dos Frades Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Desde 1984 existia o acervo, que ficou por 10 anos, em uma sala sem condi- ções em Veranópolis. Eu comecei a organizar tudo em 1994, quan- do retornei da Itália para Caxias. “Tento conciliar as duas atividades (arte e história). Quando di- minuem as tarefas do Muscap, me dedico aos meus trabalhos.” LUCAS GUARNIERI Fotos: João Carlos Romanini Crítica nos filmes de terror - pgs 10 e 11 Defesa da cultura em Farroupilha - pg. 5

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Revista encarte da Textando 2012

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Page 1: Encarte Resenha

Aliar a vida religiosa ao gosto pe-las artes plásticas e a história. Esse é o compromisso diário de Celso Bordignon, frei capuchinho de 57 anos, que atua na direção e organização do Museu dos Fra-des Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul (Muscap), locali-zado no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul. O religioso mora na Fraternidade (nome dado às casas dos frades) São Maximilia-no Kolbe, do bairro Desvio Rizzo, também em Caxias. Doutor em Arqueologia Cristã, pelo Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã (PIAC), de Roma, Itália, ele conta nesta entrevista como começou a gostar de desenho, pintura e res-tauro. “Não fiz faculdade na área das artes plásticas, mas procurei vários cursos com os artistas que mais me interessavam”, afirma. Frei Celso relata também que a vocação religiosa, alimentada desde a infância, em Cachoei-ra do Sul, só foi concretizada na maioridade. “Quando eu tinha nove anos, já dizia que queria ir pro seminário. Só que o meu ir-mão menor queria ir também, aí eu disse: ‘se tu vai, eu não vou’”, relembra. Além do trabalho na di-retoria do Museu, ele também au-xilia nas atividades pastorais da Paróquia Imaculada Conceição.

A seguir, os principais trechos da conversa, realizada em seu escritório junto ao Muscap:

TeXtando: Como é o tra-balho realizado pelo se-nhor atualmente no Mu-seu dos Capuchinhos?Frei Celso Bordignon: Nosso trabalho aqui no museu é um pouco invisível, no sentido de que não dá para quantificar em termos econômicos. Geralmente quase tudo que chega ao mu-seu é coisa descartada ou que não serve mais, e muitas vezes apenas fragmentos. Nós procu-ramos registrar a entrada desses objetos, fazendo o tratamento de conservação, depois tem a catalogação, a descrição, a re-lação com a nossa história (da Ordem dos Frades Menores Ca-puchinhos), e o significado desse objeto. Às vezes as pessoas pen-sam de forma romântica que os museus são um lugar aonde se vai lá para ver um monte de coi-

sas velhas, que alguém fica cui-dando para outras pessoas irem conhecer também. Mas não. Tem todo um trabalho de museolo-gia e museografia, que tem que ser feito de uma forma técnica e correta. É um trabalho de me-mória, saber a origem daquele objeto específico, de quem foi, quem fabricou, para o que ser-via, onde foi usado, de que con-vento dos capuchinhos veio, etc.

TeXtando: Qual a estrutu-ra que vocês têm no Mus-cap, em termos de recur-sos humanos e de acervo?Frei Celso: Nós trabalhamos com vários tipos de acervos, mui-tas coleções, e para cada um tem um tipo de conservação, de ar-mazenamento e de catalogação. Mas para fazer isso ainda faltam recursos humanos. Contamos com quatro funcionários fixos, uma estagiária e um grupo de 10 voluntários. Como são na maioria aposentados, só umas cinco pes-soas vêm constantemente para nos ajudar. Hoje nós contamos no Muscap com uma biblioteca de livros antigos e raros; acervo de documentos, principalmente cartas; acervo completo do Jor-nal Correio Riograndense, com todas as edições dos 102 anos de existência da publicação; co-leções de estátuas e ícones reli-giosos, objetos pessoais dos fra-des, como fotos, móveis, vídeos, obras de arte; a discoteca de três rádios dos Capuchinhos, que so-mam cerca de 30 mil discos que estavam nas emissoras de Ca-xias, Garibaldi e Soledade, além de equipamentos antigos das rádios. Enfim, milhares de obje-tos históricos ligados à Ordem.

TeXtando: Como surgiu o envolvimento e o gos-to pelas artes plásticas?Frei Celso: A história é longa (ri-sos). Tenho uma formação bem eclética. Até os meus 21 anos, morei com a minha família em Cachoeira do Sul. Trabalhava de dia e estudava o segundo grau (ensino médio) à noite. Cumpri carreira militar com 18, fiquei um ano no exército. Depois, com 21 completos, entrei no seminário, fui para Flores da Cunha e co-mecei o estudo da Filosofia, em 1976, na Universidade de Ca-xias do Sul (UCS), mas sempre gostei de pintar e desenhar, por

“Quem não tem memória,não sabe quem é”

O desafio de preservar a história e a paixão pela arte marcam a vida de Frei Celso Bordignon

influência de uma das minhas irmãs, a do meio de três mu-lheres entre meus nove irmãos. Ela cursou Belas Artes e eu a via fazendo os trabalhos de aula e fazia também. Sempre gostei e ela me dava os materiais para também mexer. Isso quando eu

tinha meus 15, 16 anos. Depois fui bastante incentivado pelos superiores da Ordem a continu-ar com este meu gosto. Quando fui para Porto Alegre cursar Te-ologia, comecei a estudar artes paralelamente, no Ateliê Livre da Prefeitura da Capital. Tive gran-

des mestres como Clébio Sória, Wilson Alves e Eliane Santos Ro-cha. Segui estudando o que me interessava ao mesmo tempo em que me preparava para a vida re-ligiosa. Não fiz faculdade na área das Artes Plásticas, mas procu-rei vários cursos com os artistas que mais me interessavam. Mo-rei um tempo no Rio de Janeiro (RJ), onde estudei restauro e ar-tes. Na Itália, durante os perío-dos em que cursei o Mestrado e o Doutorado em Arqueologia Cris-tã, tive contato com a pintura e a arte antiga, e me especializei na arte das catacumbas, na pin-tura greco-romana, além de ter feito cursos de iconografia. Só depois é que assumi o compro-misso de retomar o Museu dos Frades Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Desde 1984 existia o acervo, que ficou por 10 anos, em uma sala sem condi-ções em Veranópolis. Eu comecei a organizar tudo em 1994, quan-do retornei da Itália para Caxias.

“Tento conciliar as duas atividades (arte e história). Quando di-minuem as tarefas do

Muscap, me dedico aos meus trabalhos.”

LUCAS GUARNIERI

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s: João

Carlo

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iCrítica nos filmes de terror - pgs 10 e 11

Defesa da cultura em Farroupilha - pg. 5

Page 2: Encarte Resenha

Mais tarde, em 2000, logo após eu voltar do Doutorado, inau-guramos o Muscap. Nesse perí-odo atuei ainda por cinco anos como professor de artes da UCS.

TeXtando: Então o senhor sempre aliou arte e his-tória? Ainda mantém es-ses trabalhos simultâneos?Frei Celso: Sim. Tenho alunos que participam de cursos (de de-senho, pintura e restauro) no meu ateliê (que funciona junto ao Mu-seu). Trabalho também com res-tauro de materiais históricos para particulares, que procuram o meu trabalho. Além disso, aproveito o tempo para pintura de ícones e bestiários. Mas não descuido do Museu. Tento conciliar as duas atividades. Quando diminui a quantidade de tarefas do Muscap, me dedico aos meus trabalhos.

TeXtando: Como foi a esco-lha pela vida capuchinha?Frei Celso: A família dos meus pais era muito religiosa. Meu avô, agricultor comerciante, ven-deu tudo e foi pra cidade. Eu nasci na cidade, mas nós conser-vamos essa religiosidade. Meus pais foram muito bons pra nós, 10 filhos. Quando eu tinha nove anos, já dizia que queria ir pro seminário. Só que o meu irmão menor queria ir também, aí eu disse “se tu vai, eu não vou”. Eu era o nono e ele o décimo irmão (risos). Mas era muito difícil na-quele tempo ir para o seminá-rio. Os pais tinham que gastar muito dinheiro e naquela época nós não tínhamos como pagar. Cresci e aos 16 entrei para um grupo de jovens na paróquia lá em Cachoeira. Tinha uns padres italianos que eram muito amigos dos jovens, animavam a gurizada e não usavam batina – o que era uma novidade para a época. Da-

quela turma, eu e mais um outro viramos padres e outra menina se tornou irmã religiosa. Depois desse período do grupo, comecei a pensar no assunto, e passado o serviço militar, veio o promo-tor vocacional dos Capuchinhos, Frei Raul Susin, que conversou comigo, me deu uns livros para ler e daí eu entrei. Tive minhas crises, mas segui em frente. Es-tou contente com a minha vo-cação. É um amadurecimento, é um discernimento, a vocação não

cai pronta do céu. Tu tens aque-la intuição, mas tem que culti-var. E tem que ver se realmen-te é isso. Estou realizado como frei, com o trabalho que eu faço.

TeXtando: Quais são os maiores desafios do traba-lho realizado pelo senhor, principalmente junto ao Muscap? Existe um entendi-mento de que é importante a preservação da memória?Frei Celso: É preciso batalhar para formar consciência, primeiro nos funcionários, que o trabalho deles é importante. Depois, tem que criar gradativamente com os meus confrades o entendimento sobre a importância para a con-servação da própria história da Ordem. Quem não tem memória, não sabe quem é. Se nós, freis, não preservarmos a nossa his-tória, o que as gerações futuras vão saber de nós? Mesmo os fra-

“É um amadurecimen-to, a vocação não cai pronta do céu. Estou realizado como frei,

com o trabalho que eu faço.”

des que virão no futuro, eles vão saber como é que começou a or-dem, as dificuldades iniciais, etc.? Meu grande desafio é preservar a história, sendo fiel àquilo que aconteceu, sem deturpar, não co-locar a minha ideologia, mas ten-tar relatar essa história como foi

realmente. Se tu não conheces a tua história, não sabe quem é, da onde veio e pra onde vai. Vale para qualquer pessoa. Hoje um grande mal das pessoas é não sa-ber a história da própria família.

[email protected]

DOUGLAS BARRETO

Hoje, um dia normal. Aqueles dias azedos. Você “pega” um ônibus lotado, olha para o lado e vê uma senhora com um guarda-chuva. E pen-sa: será que vai chover? Corro o olho atentamente para o relógio eletrônico, da praça, que além de informar as horas, fornece a temperatura, que no momento é 27° graus. Fico escutando o meu “radinho” para amenizar a situação. Me desconecto, fujo do calor. As janelas estão abertas, está abafado. Tento me concentrar, mas reparo que as pessoas repa-ram-se. Reflito intensamente, e disparo um reparo através das

lentes dos meus óculos escuros. Reparo-me, faço analogias es-tranhas, sem sentido nenhum. Contextualizo a estética das pessoas, com a direção do olhar que as mesmas metralham. Um cabelo diferente, muitos livros nas mãos, são sinais de reparo fortíssimos dentro de um ôni-bus. Ainda bem que estou de pé. Reparo que entra uma senhora bem velhinha com um guarda-chuva. E agora? Quem vai sair de seu lugar para a senhora se sentar? A senhora “passa” a ro-leta, e está aproximando-se de mim, e eu ali “esmagado” pelo bafo do calor. E as pessoas con-tinuam reparando entre si. E a velhinha ainda de pé.

Sinto que tem algumas pessoas que fogem desse “jogo de reparo”. Elas se teletranspor-tam para dentro de um livro, dentro de um pensamento, ao olhar penetrante através do vi-dro do ônibus. Começo a rir por den-tro, pois ninguém sabe que es-tou sem almoço, que estou sem grana, que estou com sono, que estou sem água em casa, que estou reparando todo mui-to. Convenço-me que é melhor parar de rir, pois, vá que descu-bram. Não quero que ninguém repare nesses fatos, da minha singela vida. Está chegando a hora de descer, já avisto a minha “pa-rada”. Peço licença para a se-

nhora, que ainda está de pé, cheia de sacolas em uma mão, na outra um belo guarda-chuva (aqueles que demoram um pou-co mais para quebrar). Ela olha para mim, e abre uma brecha, por onde mal passa meu braço.Desço. Desculpo-me pelas es-barradas que dou no trajeto de saída. Caminho e reflito: “Tenho que relatar isso”. “Um dia azedo, torna-se em um dia engraçado”. “E o pior, num pegar de ônibus”. Sigo caminhando sob o sol, ameaçando chuva, e repa-ro que cabelos estranhos devem ser sim reparados, e a falta de cabelo também. Acho que me reparam, pela falta deles.

[email protected]

CRÔNICA

Reparo que reparam

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Page 3: Encarte Resenha

Uma história de resistênciaDribando dificuldades, secretário de Cultura garante que obras no Museu do Imigrante vão continuar

A captação de verbas para o restauro do Museu do Imigran-te, localizado em Bento Gonçal-ves, através da Lei Rouanet não surtiu o efeito esperado pela Se-cretaria Municipal de Cultura, já que poucas empresas aderiram a causa. Com o risco de as obras fi-carem paradas, o órgão precisou buscar outras soluções para dar andamento ao projeto. As men-salidades de oficinas da Fundação Casa das Artes, o projeto “Patri-mônio é show” e alguns recursos do próprio Museu foram suficien-tes para finalizar a primeira e a segunda etapas. A partir de agora, o secre-tário municipal de Cultura, Julia-no Volpato, diz que continuará tentando angariar recursos para o projeto e buscando o apoio de mais empresas. A secretaria pre-cisa arre-cadar até o final do ano pelo menos 25% do va-lor do proje-to, que é de quase R$ 1 milhão, para c o n s e g u i r prorrogar o prazo de captação da Lei de in-centivo à cultura. O TeXtando conversou com o secretário para obter mais informações sobre a situação do projeto.

TeXtando: Como está o anda-mento do projeto de restauro do Museu do Imigrante?Juliano Volpato: O trabalho de captação é bastante complicado, durante o ano de 2009 eu mes-mo visitei empresas colocando a situação e buscando recursos. É um projeto de Lei Rouanet, tan-to para pessoas jurídicas como para pessoas físicas. Por isso, fi-zemos quatro oficinas de capaci-tação com empresários, pois tem empresário que tem medo de doar, e não é nem doar, ao invés do empresário pagar o imposto para a receita federal, ele financia projetos culturais. Qual a vanta-gem disso? O recurso fica dentro do município e o empresário faz uma boa ação na questão cultural e econômica. No entanto, Bento perde muito com isso, porque o empresário tem medo e acha que tem “malha fina. Tem muitos que acham que Museu é um local que não dá visibilidade, o que é um grande erro, porque antes de nós termos que interditá-lo, ele era o segundo lugar mais visitado do

município. Eu acho que é um local excelente para uma empresa ter visibilidade e não só em Bento, mas para todos os turistas. Então esse é um dos dilemas que a gen-te enfrenta.

TeXtando: Quanto foi captado até o momento, através da Lei Rouanet?Volpato: Até o final do mês de outubro as únicas empresas que apoiaram foram a Dell Anno e a Única, através do intermédio do Sr. Tarcísio Michelon, do Hotel Dall’Onder. Essas foram as únicas que manifestaram esse interesse. Temos que chegar a R$ 250 mil para usar as verbas da Lei Roua-net, que é um projeto de R$ 975 mil, e nós não chegamos nem a R$ 50 mil de captação.

TeXtando: Quais as ações que foram feitas para captar ver-

bas?Volpato: A gen-te contratou uma empresa especí-fica de captação com um chama-mento público. Exigimos inúme-ros critérios para ter uma empresa top de linha, e

conseguimos uma de Porto Ale-gre, essa empresa trabalhou todo ano de 2010, em 2011 e ainda está trabalhando. Então tem uma série de empresas que foram vi-sitadas, além das propostas en-

caminhadas durante este ano. Nós temos outro relatório, onde de todas as visitadas algumas já disseram que não e outras estão analisando e até dezembro da-riam uma resposta. É uma ação muito desgastante, que dá muito trabalho e realmente a questão dos empresários investirem pela Lei Rouanet é difícil, não foi por falta de insistência.

TeXtando: O projeto pode se perder se a verba necessária não foi captada? Volpato: O projeto de restauro é um só, que tem ações diversas. O edital de modernização do Museu é uma das ações que a gente faz pra restaurar o prédio, o projeto

“Patrimônio é show” é outra ação, e o projeto de Lei Rouanet é outro. Enquanto não dá certo a captação pela Lei Rouanet que é federal, a gente tem tudo isso de investi-mentos municipais, porque o mu-nicípio tem que dar exemplo e está fazendo isso. O prazo de captação encerraria em 31 de dezembro, mas é possível prorrogar. Inclu-sive, estive no mês passado em Brasília, na Secretaria de Fomento ao Incentivo a Cultura, conversan-do com o coordenador de projetos de Lei Rouanet e aproveitei para conversar sobre o Museu. Então por nós termos uma verba capta-da e por não termos conseguido utilizá-la ainda não tem problema nenhum em prorrogar o prazo, e não tem perigo de acabar o pro-jeto. Se nós não tivermos apoio de empresários na captação, eu nao vou condenar ninguém, por-que cada um tem a sua razão. Nós fizemos a nossa parte em tentar capacitar os que quiseram.

TeXtando: E o que será feito?Volpato: Então se não conse-guirmos captar, vamos manter o restauro de etapa em etapa com os recursos, como a gente vem fazendo e como tem dado certo. E não adianta querer apressar isso, porque é restauro, não é ir lá e derrubar a parede e fazer novo. Estamos fazendo o restau-ro como deve ser. E os principais problemas nós estamos resol-vendo, que era a parte do telha-do e parte das alvenarias.

“Se não conseguirmos captar, vamos manter

o restauro de etapa em etapa, como a gente vem fazendo e como

tem dado certo”

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Secretário Juliano Volpato

Segunda etapa de obras no Museu do Imigrante, que inclui as 44 aberturas, já possui recursos para iniciar

MAIKELI ALVES

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Page 4: Encarte Resenha

TeXtando: Quais ações a Secretaria Municipal da Cultura está desenvolvendo para dar continuidade ao projeto?Volpato: Enquanto a gente não consegue captar esses 25% nós não desistimos, fizemos ações da Casa das Artes e da Secreta-ria de Cultura. Utilizamos alguns recursos próprios do Museu, pois como ele está interditado, alguns custos diminuíram. Essas poucas verbas que sobraram, porque os recursos do Museu também são mínimos, a gente está investindo no restauro, junto com todas as mensalidades arrecadadas nas oficinas e com os cursos da Casa das Artes, que também não são muito altos. Além dos recursos do projeto “Patrimônio é show”, que vem funcionando muito bem, sendo que já participaram Oswal-do Montenegro, Tom Zé, Sergi-nho Moah e a banda 14 Bis. Na 1a etapa, que já foi concluída, de todo telhado foi investido R$ 55 mil, tudo com recursos nossos, arrecadados. A 2a etapa, que já foi terminada toda parte de lici-tação, também é com recursos próprios, e vai custar em torno de R$ 60 mil. Ela compreende 44 aberturas, aquelas janelas que vão ser restauradas, e todas as portas, internas e externas. E isso não é um trabalho tão simples, porque a gente não pode colocar novas. O processo de restauro é bastante delicado, porque tudo que tem deve ser preservado na íntegra e é um prédio que já tem mais de meio século. Relembran-do que esse Museu já foi restau-rado em 1988 e muitas das ca-racterísticas originais do prédio foram perdidas na época. A gen-

*Projeto: elaborado por William Pavan Xavier, um dos melhores arquitetos do país no âmbito de restauro. *Telhado: concluída.*Aberturas: em andamento.

O tempo dura o bastan-te para aqueles que sabem aproveitá-lo. Hoje, para mui-tos de nós, o pensamento de Leonardo da Vinci parece algo impossível de ser compreendi-do na prática. No século XXI, com o advento de novas tec-nologias e o ritmo alucinante de vida que temos, a moda é não ter tempo. Sair com os amigos, permanecer com a

te vai pegar a tipologia original do prédio e todas vão ficar iguais, substituindo as que foram colo-cadas parecidas em 1988. Consi-dero a parte das janelas e aber-turas uma das mais complicadas, por isso, já queremos emitir a or-dem de serviço para iniciar. Nós também estamos inscrevendo o Museu em um outro edital do Ministério da Cultura, que é o de modernização, que consiste na parte do elevador panorâmico, climatização, parte elétrica, logí-ca, internet, telefone e câmeras de monitoramento.Então toda essa parte, que inclui projetos complementares, a gente quer que fique tudo novo. Estamos pleiteando pelo terceiro ano uma verba para essa etapa, que será de repasse direto.

TeXtando: A causa do Museu acabou se tornando sua tam-bém?Volpato: Eu gosto de falar sobre isso porque comecei sozinho. Eu sou o coordenador do Museu tam-bém, pois não adiantava ter um coordenador sem ter o Museu na mão para trabalhar. E estou ten-do o maior prazer em trabalhar no restauro, como gestor públi-co e como cidadão. Porque acho uma coisa importantíssima o Mu-seu, ele é um local que eu visi-tava quando estudava na terceira e quarta séries. As professoras levavam a gente para conhecer e quando eu era criança isso ficou marcado. Lembro da loba roma-na, que é a única réplica do mun-do e temos uma aqui em Bento. E hoje tenho a oportunidade de tra-balhar com o restauro. É recom-pensador saber que eu estou co-laborando com outras gerações.

A comunidade pode ajudar?

Etapas do restauro

Segundo secretário de Cul-tura de Bento, Juliano Volpato, se alguma empresa não quiser apoiar com aporte financeiro pela Lei Rouanet, ela também pode apoiar na parte de logística. “Por exemplo, uma empresa que tra-balha com ar condicionado pode fornecer os equipamentos e a in-stalação. Uma empresa que tra-balha com cimento, areia, pode fornecer esta parte, enfim, quem quiser contribuir dessa forma também pode”, explica.

Se a comunidade quiser pa-trocinar como pessoa física, pode destinar seu imposto de renda par o projeto de Lei Rouanet. “Para mais informações sobre como fun-ciona é só ir até a Casa das Artes para saber como doar. É uma forma de ter sua empresa asso-ciada a nossa memória, a nossa história e aos bens do Museu”, assegura Volpato, que convocou os secretários e o prefeito do mu-nicipio para doar seu imposto de renda para o restauro do Museu.

*Entrepisos e drenagens: em captação de verbas.*Rebocos externos e internos: captação.*Modernização: em captação.*Pintura: captação.

[email protected]

[email protected]

CRÔNICA

O valor do tempo

A escassez de tempo pare-ce afetar as mais diversas clas-ses sociais, não tendo nenhu-ma distinção quanto à idade ou profissão. Crianças reclamam da falta de tempo para assis-tir seus desenhos animados favoritos. Adolescentes recla-mam que não há mais tempo para as festas, que a carga de estudos está demais. Querem tempo para dormir também. E os adultos, então? Com uma quantidade de demandas e compromissos ainda maior, são os que menos reclamam.

A palavra-solução para isso talvez seja organização. Con-tudo, não apenas ela poderá nos livrar do encargo de não ter disponibilidade para o que realmente gostamos de fazer. Precisamos lembrar-nos de vi-ver. Entender a importância de uma leitura sem obrigações, ou de um simples almoço na com-panhia de amigos e familiares. Descansar é também tempo de viver. Precisamos aprender a

CAROLINA DALLEGRAVE

família e realizar tarefas rela-cionadas ao lazer são deixadas de lado, em função da carga de trabalho ou dos estudos. O stress toma conta de nossas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. A desorgani-zação é cada vez mais vista e se tornou uma consequência de nossas vidas atribuladas e recheadas com uma infinidade de atividades diárias.

agendar horários para as tare-fas que exigem mais atenção e tendem a ser mais tediosas. Desenvolver responsabilidade para delegar e realizar as ta-refas em seus respectivos pra-zos. Sermos felizes com nos-sas obrigações.

Ouvir pessoas reclamando de falta de tempo se tornou algo banal. Não ter tempo agora é normal. Uma espécie de “válvula de escape” para o “não estou com vontade de fazer”. Mas, ainda há es-perança. O amanhã está re-pleto de coisas boas. Cabe a nós dar prioridade a tudo que nos comprometemos a fazer, vendo o tempo não como um empecilho, mas, sim, como o meio que possibilita apro-veitar o que há de melhor na vida. Ter tempo para si e para tudo é possível! Que tal co-meçar agora?

Divu

lgação

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Page 5: Encarte Resenha

“Cultura por toda parte”Slogan do Sesc no Estado é levado ao pé da letra por Luciana Stello, gerente em Farroupilha

Apontada por muitos no pas-sado como cidade onde a cul-tura não vingava, Farroupilha hoje, além de ter derrubado tal estigma, tornou-se referência quando o assunto é consumo de shows e espetáculos teatrais. E boa parte dessa mudança ob-servou-se a partir da chegada do Serviço Social do Comércio (Sesc) ao município, em 2005. A mudança no hábito do far-roupilhense neste aspecto tam-bém foi possível por meio de uma figura que tem trabalhado para oferecer à comunidade no-vas opções de entretenimento. À frente da unidade desde abril de 2006, Luciana Stello, 39, conseguiu em cinco anos em-placar diversas programações culturais, colocando a cidade no roteiro privilegiado de espetácu-los trazidos ao Estado. Relações públicas formada pela Univer-sidade de Caxias do Sul (UCS), a gerente do Sesc Farroupilha e funcionária da entidade desde 1991, aposta na receptividade do público, principalmente quan-do a temática é o humor, para manter a trajetória de sucesso.

TeXtando: Qual o principal incentivo para impulsionar a cultura em Farroupilha?Luciana Stello: São três os grandes motivos que me impul-sionam a trabalhar com cultu-ra, em Farroupilha. Primeiro é a paixão pela arte e por acreditar que a cultura é o alimento da alma. Segundo é a possibilidade de trabalhar numa entidade que

tem como missão a promoção da qualidade de vida das pessoas, através de ações de cultura, la-zer, saúde, esporte e educação. Por último, o grande potencial que Farroupilha tem, também na área cultural.

TeXtando: Desde a sua che-gada, o que mudou no modo como a comunidade consome as iniciativas do Sesc?Luciana: Observamos uma de-manda crescente. A continuida-

de das ações cria a expectativa nas pessoas com relação às pró-ximas atrações. Com essa es-tratégia, temos mesclado os es-petáculos mais “cults” e os que possuem um apelo mais popular. Essa fórmula tem dado certo, pois estamos conseguindo inse-rir novos gêneros nas apresenta-ções artísticas. O apoio incondi-cional da imprensa local também tem sido muito importante.

TeXtando: É difícil trabalhar a cultura no interior?Luciana: A receptividade do pú-blico é muito boa. O que dificul-ta, um pouco, é falta de estru-tura adequada para a realização destas ações. Temos feito apre-sentações em clubes, auditórios. Quando a estrutura é boa, con-fortável para o público, para o artista o espaço é restrito, palco pequeno, com camarins adap-tados. Esses espaços também não dispõem de equipamentos de som e luz necessários para as mais simples produções. As difi-culdades, por vezes, inviabilizam a apresentação de determinados grupos e/ou espetáculos

TeXtando: O humor é o gêne-ro que mais tem apelo junto ao público?Luciana: Sim, sem dúvidas, é o de maior aceitação junto à co-munidade.

TeXtando: Por que acre-dita dar mais resultado? Luciana: Há uma grande neces-sidade de descontração, de rir

dos próprios problemas, das si-tuaçãoes do dia a dia. Isso faz com que o humor tenha uma resposta mais imediata de inte-resse do público.

TeXtando: Qual foi o espe-táculo que mais marcou? Luciana: “O Homem Inespera-do”, com Paulo Goulart e Nicet-te Bruno. Esse foi um marco das ações culturais do SESC no mu-nicípio, sendo um dos primeiros espetáculos com atores de re-nome da dramaturgia brasileira que se apresentaram por aqui. Além do que o espetáculo não estava previsto para a cidade, e após grande insistência com a gerência de Cultura, consegui-mos realizar a apresentação.

TeXtando: Qual é a sua pers-pectiva para a cultura no mu-nicípio nos próximos anos? Luciana: A proposta do Sesc é apoiar, cada vez mais, a cultura em todo Rio Grande do Sul. Para Farroupilha, especificamente, almejamos, além de criar o há-bito nas pessoas de frequentar teatro, apresentações musicais e de dança (que ainda não pode ser trabalhada por falta de es-trutura física), ter um local ade-quado a essas realizações, com capacidade para atender as mais variadas formas de apresenta-ções artísticas, tanto para quem se apresenta quanto para quem prestigia o evento.

Show da banda O Teatro Mágico, em 2009, foi um dos grandes sucessos de público dos últimos anos

Há 20 anos no Sesc, Luciana assumiu a unidade local em abril de 2006

EGUI BALDASSO

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Egui B

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Page 6: Encarte Resenha

Em parceria com a União, Caxias abre espaço para as mais variadas manifestações culturais

Valorizar a diversidade cul-tural e suas mais variadas formas de manifestação no país. Foi com este fim que os Pontos de Cultura foram criados no Brasil. Em Caxias do Sul, a rede formada por 10 pon-tos, lançada em junho de 2011, é resultado de um convênio firmado entre a Prefeitura de Caxias do Sul, a Secretaria Municipal da Cultura e o Ministério da Cultura. Para que o projeto dos pontos se desenvolva no municí-pio, um grupo de trabalho orienta as atividades desenvolvidas nos pontos, fornecendo todo o suporte necessário. “Um Ponto de Cultura surge da necessidade de se valorizar a diversidade cultural que a gente tem no nosso país. De trazer à luz esses grupos e suas manifestações culturais, para todo o ambiente no qual eles estão inseridos”, destaca Claudete Terol Travi, um dos mem-bros da equipe de coordenação dos Pontos de Cultura. Claudete ressalta que por serem iniciativas vindas da sociedade, os Pontos geram um sentimento de pertencimento e fomentam a inclusão social. “Com isso, passa-se a refletir sobre outras áreas e a ver a cultura além do que é erudito”. Na cidade, o investimento nos Pontos totaliza R$ 1,8 milhão, R$ 600 mil correspondentes ao investimento do município. O res-tante é fornecido pelo Ministério da Cultura. Desta forma, a cada ponto é destinado um total de R$ 180 mil, para as atividades programadas e a construção do ambiente cultural. “Cada ponto tem pré-requisitos a cumprir, como a sala multiuso, para que sejam organizados eventos. Isso

colabora para que o fazer cultural de cada ponto apareça e tenha mais divulgação. Com Caxias circulando seus eventos nessa rede de Cultura, nós a estamos disseminando ainda mais”, ressalta Elaine Pasquali Ca-vion, coordenadora dos Pontos de Cultura no município. Segundo ela, a partir da ideia do Ponto “Teia Cultural”, que elabo-rou um curso de Agentes de Cultura, pretende-se estabelecer uma rede, em que cada agente seja um mul-tiplicador. “Fazendo com que cada Ponto divulgue suas ações em Rede, criando fóruns, redes sociais, isso vai fomentar a troca de ideias. E é a partir disso que começa a se pensar que a cultura pode ser sustentável”, explica Elaine. De acordo com o Diretor-Geral da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, João Tonus, que é um dos grandes incentivadores dos Pon-tos de Cultura, eles são um desafio novo para fazer a cultura em Caxias do Sul se enraizar mais na sociedade. “Com o trabalho dos Pontos se espe-ra construir a adesão do cidadão co-mum para participar da cultura, para que se interesse, participe e entenda a sua importância para a criação de uma cultura cidadã”. Tonus destaca que devido a cada Ponto trabalhar com questões culturais referentes ao seu ambiente, isso fortalecerá o papel dinamizador da cultura. “Os Pontos vão gerar o fortalecimento da diversidade cultural da cidade porque cada um deles têm um foco de trabalho”. Cada ponto de Cultura tem um convênio de três anos com o município. Confira a rede contem-plada em 2011 (tabela ao lado).

CAROLINA DALLEGRAVE

1 – Capoeira Cultura que Une (Santos Dumont - Foto) Realiza oficinas de capoeira, maculelê, danças afro-brasileiras, com a capa-citação de oficineiros e moni-tores para realização dessas e de outras atividades.

2 – Casa das Etnias (Bairro Panazzolo) Cultivo e preservação da cultura das etnias que formaram Caxias do Sul, por meio do teatro, artesanato, música e outras atividades.

3 – Comunitário Zona Sul (Bom Pastor II) Oficinas de artesanato, dança, capoeira e exibição de filmes para as comunidades da região.

4 – Costurando Sonhos (Forqueta) Preservação da cultura da região, com oficinas e a formação de guias de turismo da comunidade.

5 – História nas Mãos (3ª légua) Seminários, oficinas de educação ambiental, tea-tro em dialeto vêneto, coral italiano, entre outras ativida-des.

6 – Música para todos (Belo Horizonte) Cursos na área mu-sical, estúdio de gravação semi-profissional e oficinas de produção de áudio e técnica musical.

7 – Núcleo Audiovisual Teatro Moinho da Estação (São Pelegrino) Cursos na área au-diovisual, com experiências práticas e discussões teóricas.

8 – Teia Cultural (Kayser) Cursos de formação de “Agentes de Cultura”, realização de oficinas e apre-sentações, exibição de filmes, mostras fotográficas e encon-tros de literatura.

9 – UAB Cultural (Panazzolo) Oficinas de circo, cinema e ação Griô, para a preservação dos saberes dos mestres da comunidade. Hip-Hop e grafite também inte-gram as atividades do Ponto.

10 – Vila Seca em Cultura (Vila Seca) Promoção de ativida-des relacionadas ao turismo e à educação ambiental. Além de oficinas que visam ao res-gate das raízes culturais.

[email protected]

Elaine Cavion

A cultura em cada Ponto da cidade

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Page 7: Encarte Resenha

A independência financei-ra do Brasil vai além do nosso mercado futebolístico. A paixão por um hobbie faz “florescer”uma nova perspectiva de empre-sas, em um cenário ainda reple-to de obstáculos. Um exemplo desse empreendedorismo está no ramo de microcrevejarias. Ao falar da bebida preferida dos brasileiros, não se pode confun-dir quantidade consumida com qualidade. Embora a “cesta bá-sica de fim de semana” incluacarne para churrasco, carvão e cerveja”, principalmente noSul,uma cultura de apreciação mais sofisticada, que contemple asvariedades desse produto, ain-da é o grande desejo dos que investem nesse mercado, além, é claro, da revisão tributária. Para Augusto Luz, proprie-tário da Rasen Bier, uma micro-cervejariadeGramado,naSerraGaúcha, a maior dificuldade demanter o negócio são os impostos abusivos. O empresário salienta que a unidade da Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) - integrante da maior plataforma de produção e comercialização de cervejas do mundo: a Anheuser-Busch InBev - em Viamão, produz 300 mil litros de cerveja em 6h. Já as 35 microcervejarias gaú-chas reunidas não alcançam essa quantidade em um mês. Augus-to destaca ainda que os mesmos tributos são exigidos em ambas

as categorias empresariais, sen-do que 67% sobre o faturamento dos produtos são recolhidos pelo governo, ou seja, se uma cerveja custa R$10, R$ 6,70 é imposto, os outros R$ 3,30 sobram para pagar funcionários, matéria-pri-ma, energia, água, taxas, cer-tificados e ainda lucrar algumacoisa, conforme Augusto. A alta tributação sobre a cerveja faz com que o setor con-tribua com 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Além disso, a indústria brasileira de cerveja conquista, aos poucos, lugar no cenário internacional, graças à qualidade.SegundoAugustoLuz,

a exportação é ainda tímida, se comparada com a importação. “As cervejas importadas estão chegando a um valor relativa-mente baixo por ter alguns be-nefícios fiscais que não existempara nossa própria producão. Também temos a questão da le-gislacão do Ministério da Agricul-tura. Eles permitem cervejas com insumos de origem animal para importadas, mas não permitem que sejam produzidas cervejas desse feitio aqui no Brasil”, diz. Contrariando essa dificul-dade de mercado, as microcerve-jarias artesanais estão crescen-do em média 70% ao ano. Isso

mostra um crescimento na acei-tacão dos consumidores a pro-dutos de maior valor agregado. SegundooSindicatoNacionaldaIndústriadaCerveja(Sindicerv),o mercado de cerveja do Bra-sil só perde, em volume, para a China (35 bilhões de litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de litros/ano), Alemanha (10,7 bi-lhões de litros/ano). Quanto ao consumo per capita, no entanto, o Brasil, possui uma média de 47,6 litros/ano por habitante. A terra do samba está abaixo do total registrado por vários países, como por exemplo, México (50 li-tros/ano) e Japão (56 litros/ano).

Lúpulo confere amargor à cerveja - O lúpulo sai de flo-res de uma planta trepadei-ra existente em apenas al-gumas regiões do planeta.

O lúpulo confere per-sonalidade à cerveja. Suasresinas e óleos são respon-sáveis tanto pelo sabor amar-go como pelo aroma que ca-racterizam a bebida. Originado de uma planta trepadeira, que pode chegar a sete metros de altura, o lúpulo precisa de longos períodos de luz solar no verão. Condições climá-

Malte - O malte usado em cer-vejaria é obtido a partir de ceva-das de variedades selecionadas

Proveniente da cevada, o malte é resultado da maltagem, processo que transforma o ami-do, abundante na cevada, em açúcares como maltose e glico-se na primeira etapa de elabo-ração da bebida. O malte usado em cervejaria é obtido a partir de cevadas de variedades selecio-nadasespecificamenteparaessafinalidade-oschamadosblends

Ingredientes da cerveja

ticasegeográficasquenãoexis-tem no Brasil. Por isso, todo o su-primento do País é importado dos Estados Unidos e da Europa. Os americanos são os maiores produ-tores mundiais, mas as espécies mais aromáticas, de um amargor maisfinoedelicado,vêmdaAle-manha e da República Tcheca. Apenas flores fêmeas sãoutilizadas na fabricação. Bastam algumas gramas para produ-zir 10 litros de cerveja. A forma mais comum de uso do lúpulo é em pellets, pequenas pelotas de flores prensadas. Esse formatoreduz o volume de lúpulo, geran-do ganhos logísticos, sem alte-rar suas características originais.

“A água corresponde a pelo menos 90% da

composição da cerveja.”

Água: ingrediente fundamental

Semáguanãotemcerve-ja. É desse recurso natural que sai pelo menos 90% da compo-siçãodabebida.Nãoporacaso,entre o final do século XIX e oiníciodoséculoXX,aprocedên-cia da fonte era decisiva. In-fluenciava no sabor da cerveja

A cevada é uma planta da família das gramíneas, nati-va de climas temperados, cujos grãos são muito similares aos do trigo. No Brasil, é produzi-da predominantemente no Rio Grande do Sul. Na América doSul, a Argentina é grande pro-dutora, seguida pelo Uruguai. Após a colheita, os grãos de cevada são enviados para as maltarias. Os grãos de ceva-da são submetidos à germina-ção controlada, um processo de umedecimento que forma enzi-mas fundamentais para o pro-cesso de fabricação de cerve-ja. Esse “malte verde” tem seuprocesso de germinação inter-rompido por meio de secagem.

Apreciação ainda moderada

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DOUGLASBARRETO

Desafiosdasmicrocervejariassãocriarculturadeconsumoerevertributaçãodosegmento

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Page 8: Encarte Resenha

O baterista do Nenhum de Nós, Sady Hömrich é um dos idealizadores do projeto Extra Malte: por um mundo cervejei-ro melhor, que ocorre no Espa-ço StudioClio em Porto Alegre. Sady é um dos maiores incen-tivadores da cultura cervejeira.

Como surgiu sua apreciação pela cerveja? Sempre respeita-mos muito a cerveja na nossa fa-mília. Meu tio-avô contava o que aprendera com seu avô, que veio da Alemanha com seus irmãos. Dois deles abriram a cervejaria Rodolpho Homrich, em Cachoeira do Sul. No curso de Engenharia Química conheci o processo e as viagens com a banda me ensi-naram a diversidade de estilos. Na sua opinião, quais os fato-res para que a cerveja seja tão adorada mundialmente? A his-tória da cerveja se confunde com a da humanidade, pois ela surgiu como alimento, ao lado do pão. É uma bebida gregária, dificilmente alguém bebe por prazer sozinho. Tem alguma nacionalidade de cerveja que você curte mais? Por que? Há ótimas cervejas em muitos países, mas fiquei impressionado com a Pilsner Ur-quell produzida artesanalmente nos túneis subterrâneos da fá-brica em Pilsen (Rep. Tcheca), da mesma maneira como foi cria-da em 1842. Seu equilíbrio en-tre o malte e o lúpulo é perfeito!

Sua formação em Engenharia Química contribuiu na tua sen-

sibilidade cervejeira? Como já falei, durante o curso me aproxi-mei do processo. Visitei fábricas, estudei fermentação e fiz cerve-ja em casa, de forma rudimen-tar. Com as ferramentas da en-genharia foi mais fácil distinguir certos atributos das cervejas. Mas foi com treinamento senso-rial que comecei a diferencia-las.

O quanto ser baterista, e in-tegrante do Nenhum de Nós, contribuiu com este hobbie cervejeiro? Comecei minha co-leção de garrafas durante as gravações do disco Cardume, de 1989, em SP, ao encontrar um Brahma Porter, que nunca ha-via tomado. Experimentei e co-mecei a colecionar, sempre com a intenção de degustá-las pra aprender as diferenças. Tam-bém havia a Porter Nacional, da Antarctica e uma série de cer-vejarias regionais, que foram vendidas e/ou desativadas. De-pois, nas viagens, vi um mundo fascinante que combina muito com música! Não importa o es-tilo, tem que ser boa e sincera!

Por ser músico, em sua opi-nião, qual estilo/banda tem a ver mais com a cerveja? Este mês está sendo lançada a Bam-berg Camila Camila, em home-nagem à música. É um presente dessa cervejaria de Votorantim (SP) ao Nenhum de Nós, por con-siderar que as qualidades de uma boa música não passam com as modas, não se perdem com o tempo, como uma receita origi-nal de cerveja. Usando um tipo

especial de malte e pronunciado lúpulo tcheco, Camila Camila é uma pilsen clássica, tradicional da região da Bohemia Tcheca. Harmoniza bem com a história da banda! Mas não confunda com as pilsens comerciais de ocasião...

Na sua avaliação como está o mercado de cerveja nacional? Cada vez melhor, especialmente pra quem procura cervejas com aroma, sabor e diversidade. Já temos mais de 130 microcerve-jarias em todo o país com vários estilos sendo produzidos. Está sendo talhado um estilo próprio nacional, com adição de ingre-dientes regionais. Hoje temos op-ções para várias ocasiões. As cer-vejas artesanais, por não usarem aditivos químicos, são muito sau-dáveis e deixam a ressaca longe.

Esta invasão de cervejas im-portadas, na sua opinião, pre-judica o mercado brasileiro, ou há espaço para ambos os mercados? Considero sua pre-sença importante no mercado, elevando o nível geral das cerve-jas. Desleal é a tributação impos-ta às microcervejarias. Elas deve-riam ser enquadradas no simples nacional, mas pagam impostos como os gigantes conglomera-dos, mais altos do que os de im-portação. Se continua assim elas vão acabar. Ou sonegar. É triste ver os olhos fechados pra isso.QUE A FONTE NUNCA SEQUE!

[email protected]

A cerveja deve ser servida com algo equivalente a dois a três dedos de espuma. O “colarinho” faz parte da com-posição da bebida e contri-bui para preservar melhor o aroma e o sabor da cerveja.

Ao contrário do vinho, as gar-rafas de cerveja devem ser armazenadas verticalmente.

Cerveja não pede envelheci-mento, como o vinho. Quanto mais jovem o produto, melhor.

Os mais variados tipos de cer-veja combinam com a baixa e alta gastronomia. Queijos, massas, carnes vermelhas e brancas, saladas, e sobre-mesas harmonizam com di-ferentes cervejas. A cerveja chega a ser mais versátil que o vinho, que não harmoni-za muito bem com pratos apimentados, por exemplo.

O que pode influenciar no aroma e no sabor do produ-to é o modo de resfriar, con-servar, e transportar, além da idade da bebida. A expo-sição ao sol e ao calor e o congelamento são os maio-res inimigos da boa cerveja.

Sady: Engenheiro químico de formação, músico de profissão, e mestre cervejeiro por adoração

Fermento transforma açúca-res em álcool - O fermento é es-sencial para a produção da cerveja

O processo de fermen-tação da cerveja acontece por meio de micro-organismos cha-mados leveduras. Os levedos são essenciais na produção de cerveja. Transformam açúcares, como a maltose, em álcool e gás carbônico. O fermento também é responsável por conferir sa-bor e aroma ao produto final.

Fonte: Ambev

Burgomestre: o Mestre Cervejeiro do Nenhum de Nós

“Cervejabem”

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Page 9: Encarte Resenha

Fortes terremotos, erup-ções vulcânicas, tsunamis e der-retimento de geleiras polares. Es-sas são algumas previsões para o ano de 2012. O Planeta Terra sofrerá mudanças geográficas e a raça humana estará sujeita a ser extinta. Essas catástrofes fo-ram profetizadas,primeiramente, pela cosmologia Maia, que anun-cia o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012. Mas essa não é a primei-ra vez que anunciam o “Armage-dom”, o “Apocalipse”, ou o “dia do juízo final”. Em 1840, se co-meçou a falar que o mundo ia acabar e Cristo regressaria, pre-vendo um grande incêndio entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844. Outra data mais recente apontada foi dia seis de setembro de 1994, baseada em cálculos de acontecimentos Bíbli-cos. A diferença destas pro-fecias com a de 2012 é o apoio científico que a atual veem rece-bendo. Em 2006, o ex-presidente americano Al Gore lançou o livro “Uma verdade inconveniente”, onde apresentou dados e trans-formações que o planeta estava sofrendo, em razão do aqueci-mento global. Dois anos antes, em 2004, a Indonésia recebeu um Tsuna-mi, até então, um desconhecido fenômeno natural. O número de mortos passou de 280 mil. A cos-ta litorânea foi totalmente modi-ficada. Em 2011, a vítima foi o Japão. Um terremoto atingindo 8,9 graus na escala Richter criou ondas gigantescas, ocasionou a explosão de usinas nucleares, destruição de prédios, pontes, e matou cerca de 16 mil pessoas. Apesar dos fatos terem proporções gigantescas, ainda são considerados, para alguns meteorologistas, como casos isolados. Cléo Kuhn, responsável pela Central de Meteorologia do

Grupo RBS destaca que as mu-danças que estão ocorrendo não afetarão drasticamente o ano de 2012. “As estações do ano es-tão cada vez mais misturadas, mas as mudanças que ocorrem são muito lentas e o ser humano está se moldando a elas”, explica Kuhn. A religião católica, fonte de grande influência para a po-pulação, também não acredita nesta profecia. Segundo o pa-dre Paulo Gasparetto, 2012 será um ano como qualquer outro. “A escrita bíblica, como de outras religiões, deve ser interpretada simbolicamente. Pode, sim, ha-ver um grande acontecimento nesta data, mas não será o fim dos dias”, afirma Gasparetto, as-sessor de comunicação do bispa-do de Caxias do Sul.

A mídia como Nostradamus

O que os Maias não ha-viam imaginado é o alcance que suas profecias ganhariam diante do cinema e da opinião pública,

Realidade que virou ficçãoPor filmes, livros e redes sociais, a população conheceu a profecia de 2012

GABRIEL VENZON

[email protected]

Usuário prepara uma contagem regressiva para o 21 de dezembro de 2012

muitas vezes divulgadas via re-des sociais. Essa profecia virou mais uma grande comédia para a população. Muitas vezes enrique-cida pela ficção hollywoodiana, como no caso do filme de 2009, intitulado: 2012, o ano da profe-cia. Uma obra de ficção do diretor Nick Everhart. Para o montador de filmes e professor de cinema Giba As-sis Brasil, o misticismo sempre fascinou o ser humano. “Cada vez mais a ficção científica está tornando o imaginario em real, e quando essa técnica é apoiada ou baseada em fatos reais se tor-na mais interessante”, resume o cineasta. Já no twitter, uma rede de compartilhamento de opiniões e notícias, o assunto é sempre tratado com ironia. Para manter o assunto na rede, cerca de 19 usuários utilizam seus nomes re-ferentes a 2012, ou fim do mun-do. Uma forma de discutir, pole-mizar e brincar sobre o assunto.

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GABRIE

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N Um tema que sempre me chamou atenção foram as pin-ups. É interessante perceber a sensua-lidade dessas bonecas e como elas foram apaixonantes no século XIX, a ponto de fazer sonhar os soldados americanos da segunda guerra mun-dial em pleno campo de batalha. As pin-ups girls ou “garotas penduradas” marcaram a década de 40, quando viveram o ápice de seu sucesso, e ganharam este nome jus-tamente porque os soldados costu-mavam pendurar seus pôsteres em armários. No entanto, apesar de toda a sensualidade ligada à sua imagem, essas mulheres carregavam também um toque de inocência, ou seja, elas jamais eram vulgares, apenas convi-dativas. Outro traço importante eram suas pernas suntuosas e as cinturas bem marcadas, que aguçavam ainda mais a imaginação dos homens. As pin-ups mais célebres foram Betty Grable, Rita Hayworth e Marilyn Mon-roe. No teatro, várias delas surgiam como ícones do feminismo e, atual-mente, são símbolos da cultura pop.

Garotas do calendário

MAIKELI ALVES

Mas, por que eu resolvi falar das pin-ups? Deve ser porque estamos no tempo da liberdade sexual, onde tudo é exposto de forma escancarada e sem nenhum pudor. Acredito que o mundo atual precisa dessa “sensuali-dade recatada”, precisa da inocência, precisa de uma beleza diferente, sem vulgaridade, precisa de um toque de encanto nos calendários. Pensem bem, ia ser um mundo muito mais românti-co se os homens só imaginassem. Se bem que na época em que vivemos, dificilmente essa moda volta-ria sem se tonar kitsch. E se voltasse, as pin-ups se tornariam capas da Play-boy, como foram em outros tempos, e de nada adiantaria. Aquele encan-to mágico, que nos faz refletir sobre conceitos de beleza e ficar imaginan-do como era a vida dessa garota cada vez que olhamos para uma foto ou um quadro com uma pin-up, não teria sentido, ela seria só mais uma mulher vulgar com roupas diferentes. Melhor deixar como está, as garotas do calendário são muito mais interessantes no imaginário das pes-soas do que se saíssem do papel e viessem para esse mundo louco em que vivemos. Melhor assim, apenas convidativas.

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Polêmicos, indigestos – e críticosMais do que chocar e assustar, os filmes de terror podem conter críticas sociais e reflexões

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JEFEERSON SCHOLZ

Em “A Casa do Terror” de 1974, o personagem Paul Tombes, in-terpretado pelo ícone dos filmes de terror Vincent Price, ao ser perguntado do porque esse tipo de produção faz tanto sucesso responde: “Acho que por não se tratar deste mundo que vivemos. É um mundo preso dentro de nós. De instintos e impulsos que não admitimos, impulsos que às vezes nem sabemos que temos. Crueldade animal, violência bru-tal e sangue, estão domados e presos. Às vezes ficam rondando presos dentro de nós e uma hora eles suspiram que querem sair e nós não os libertamos. Os filmes fazem sucesso pois os libertam”.

Mas falar de um assunto tão controverso quanto este gênero cinematográfico não é uma tare-fa fácil. Para isso, conversamos com Felipe M. Guerra, um gaú-cho de Carlos Barbosa forma-do em jornalismo e apaixonado por cinema, especialmente por aqueles longa–metragens mais assustadores. Em um bate-papo descontraído e esclarecedor, nos-so entrevistado, que também é cineasta independente de produ-ções sangrentas, falou um pouco mais sobre sua ligação com o ci-nema fantástico, e o impacto que estes filmes tem na sociedade.

TeXtando: Como a tua ligação com o gênero cinematográ-fico de terror foi estabeleci-da? Desde quando você gosta deste estilo de filmes?Felipe M. Guerra: Essa é uma história que eu sempre gosto de contar. Na verdade, eu morria de medo de filmes de terror quan-do era moleque. Os tempos eram outros, e passava muito filme do gênero na TV aberta. Lembro que, em época de férias, a Globo exibia Tubarão e suas continua-ções em plena Sessão da Tarde. Meus irmãos, muito mais novos que eu, adoravam assistir a es-ses filmes, mas eu não conse-guia, ficava apavorado. Sempre que o tubarão se aproximava de uma possível vítima, por exem-plo, eu virava a cara ou saía cor-rendo da sala! Até os comerciais de filmes como Halloween 2 me deixavam com medo. Então, cer-ta noite, quando eu tinha oito ou nove anos de idade, a família toda estava reunida na sala e o SBT começou a exibir Um Lobi-somem Americano em Londres, do John Landis. E havia algo naquela mis-

tura de horror gráfico com humor negro que me deixou hipnotizado. A transformação do David Nau-ghton em lobisomem, marcante até os dias atuais, deveria ter me deixado traumatizado na época. Mas o Landis me ganhou, taí um diretor que eu respeito muito até hoje. Inclusive acho que os mo-lequinhos deveriam ser “alfabeti-zados” para o gênero horror ven-do Um Lobisomem Americano em Londres. A partir de então, virei um fanático por horror, mas nun-ca deixei de lado outros gêne-ros. Na verdade, sou amante de cinema em geral. Com o terror tenho mais afinidade, mas gosto de tudo, de comédias bobonas e filmes pornográficos.

TeXtando: O que mais te cha-ma a atenção nestas produ-ções? Felipe M. Guerra: O que mais me chama a atenção em filmes de horror é que você volunta-riamente se entrega a 1h30min de desconforto: quando você vai ao cinema ou assiste uma obra do gênero em casa, já o faz sa-bendo que aquilo vai te provo-car medo, repulsa, ansiedade, enfim, esses sentimentos que normalmente você não gosta de sentir. E você espera por isso, ou então se queixa que o filme é fraquinho. Eu sempre achei algo muito curioso, porque as pessoas geralmente não gostam de ter pesadelos; acordam as-sustadas no meio da noite e às

vezes até têm dificuldades para voltar a dormir depois. Mas você procura voluntariamente pelo fil-me de horror, que pode ser con-siderado um pesadelo filmado. Eu acho que, de certa forma, o terror cinematográfico funcio-na como uma válvula de escape para esses sentimentos ruins. Eu não gosto de sentir medo ou ficar tenso na vida real, caminhando por uma rua deserta e perigosa à noite, por exemplo. Eu odeio a violência na vida real, fico choca-do quando assisto ao noticiário e mostram essas cenas de panca-darias entre torcidas de jogos de futebol. Mas, ao ver um filme de horror, esses medos do cotidiano se diluem. É como uma volta no trem-fantasma: você sabe que aquilo não vai te fazer mal, que o medo e a repulsa são parte da brincadeira.

TeXtando: E qual é a impor-tância social do gênero?Felipe M. Guerra: Eu também vejo o gênero terror como uma oportunidade de enfocar temas sociais delicados e tabus que ge-

ralmente não são discutidos em produções de outros gêneros. Recentemente, o filme A Ser-bian Film foi censurado no país por abordar, entre outros temas fortes, a pedofilia. Um partido político brasileiro, com emba-samento de advogados e juí-zes desinformados, conseguiu proibir o lançamento comercial da obra nos cinemas brasileiros alegando que a trama incitava a pedofilia, quando na verdade é justamente o contrário! Aí, ao invés de deixarem o filme che-gar aos cinemas até para moti-var um debate sobre esse crime hediondo que é a exploração se-xual de crianças, os caras sim-plesmente proíbem, tentam es-conder, como se a pedofilia não fosse uma triste realidade em nosso país.Enfim, o que estou tentando di-zer é que você pode assistir algo como A Noite dos Mortos-Vivos, do George A. Romero, simples-mente como um filme de terror com zumbis, mas também pode olhar além e perceber que o di-retor aproveitou o tema - e o

gênero - para criticar aspectos da nossa sociedade, como o ra-cismo e a intolerância. E mesmo obras mais rasas e “comerciais”, como recentemente a série Jogos Mortais, podem levar o especta-dor ao questionamento. Nesse caso específico, a maneira como algumas pessoas não valorizam suas vidas enquanto outras fa-zem o impossível para viver mais um dia, uma “lição” que o vilão Jigsaw tenta aplicar nas suas ví-timas expondo-as a tenebrosas armadilhas, das quais só sairão vivas se fizerem algum sacrifício.Aliás, é bom destacar que a proi-bição de A Serbian Film no país acabou se revelando um tiro no pé para os responsáveis por essa atitude imbecil. Porque muitas pessoas que anteriormente não teriam o menor interesse pelo fil-me agora estão procurando-o por meios “ilegais” (leia-se downlo-ad) justamente para ver o que ele tem de tão forte para mere-cer a censura no Brasil (algo que não acontecia com uma produção cinematográfica desde 1986). De certa forma, isso comprova aquilo que tentei dizer no começo dessa minha resposta: você sabe que vai ficar incomodado, sabe que não vai gostar, mas mesmo assim quer ver só para saber porque foi proibido, muitas vezes como uma forma de superação dos próprios medos, do tipo “Eu tive coragem de ver com meus próprios olhos o tal filme polêmico”.

Marcelo M

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“O que me chama a atenção em filmes

de horror é que você voluntariamente se entrega a 1h30min

de desconforto”

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O longa de Srdjan Spasojevic divididiu opiniões. A história foca em um ator de filmes adultos, que recebe uma proposta de atuar numa produção secreta, e mergulha num mundo sádico e cruel. Com um enredo simples apoiado em cenas chocantes, o longa foi proibido em vários países além do Brasil, acusado de incitar crimes como a pedofilia e a violência gratuita. Porém para a crítica, este filme é uma produção artística, que tem o direito de existir baseada na liberdade de expressão, e condena de maneira incisiva todos os crimes que mostra.

CRÔNICA

Banalidades sangrentasJEFERSON SCHOLZ

Observar o mundo é uma coisa engraçada e assustadora. Quando me peguei pensando sobre isso, enquanto lia algumas críticas de cinema, percebi o óbvio: estamos cercados por pro-duções que até não muito tempo atrás seriam dignas do ques-tionamento da sanidade mental de seus autores. Mas como a brutalidade e a violência física e verbal parecem ter se tornado naturais, isso fatalmente se refletiu na sétima arte, fazendo com que limites do comportamento humano fossem repensados e co-locados em questão. Em 2011, dois filmes nos trouxeram o conceito mais visce-ral do terror gráfico e violento, naturalmente não sem polêmicas e proibições. Os longa-metragens A Serbian Film – Terror sem Li-mites, do sérvio Srdjan Spasojevic, e A Centopeia Humana 2, do norueguês Tom Six, reuniram uma coleção de cenas chocantes, como mutilações, estupros, degradações e pedofilia. Concordo com a arte ser sinônimo de liberdade de expressão e a visão do artista deve ser respeitada, mas qual é o objetivo de tanta esca-tologia e violência gratuita? Não me entendam mal, sempre fui fã do cinema fantás-tico. Mas mesmo que não seja velho, sou do tempo em que o terror prendia com sustos e uma trama bem construída, e o uso da violência era justificado. Mas enquanto o primeiro cineasta tenta argumentar que seu filme é uma metáfora para representar a situação atual da Sérvia, o segundo apenas parece se orgu-lhar com o quanto sua obra perturba e apavora pessoas. Sendo assim, comecei a acreditar que a violência extrema serve para preencher a falta de criatividade. Tudo bem que o bloqueio criativo não acomete só meros mortais, ele também é direito (ou problema) de grandes mentes inventivas. William Shakespeare amaldiçoava o palco por limitar sua imaginação e frustrar suas criações. Mas cineastas que fa-zem verdadeiros circos de horrores para tentar matar a sede de sangue de seus espectadores, mais parecem adolescentes rebel-des querendo chocar os outros. O diretor italiano Dario Argento, lenda do suspense e ter-ror, declarou em uma visita recente ao Brasil que filmes de tor-tura são muito fáceis de fazer, e que o público sabe disso. O ci-neasta usa a violência de maneira surreal, como um personagem que conduz a trama de seus filmes. Seu conterrâneo, Rugero Deodato traz questões importantes por meio da violência, como sua banalização. O coreano Chan-wook Park metaforiza a violên-cia em suas produções, fazendo com que as pessoas repensarem seus valores. Nestes casos, acredito que a criatividade prevaleça. Olhar para dentro de nós pode aterrorizar, e saber que su-primimos instintos sanguinários é ainda pior. Então, quando nos depararmos com a violência ao ligar a TV, ir ao cinema ou mesmo caminhar pela rua temos duas opções: aceitar passivamente o que estamos presenciando, ou nos questionar se ainda estamos vivendo dentro dos limites da racionalidade humana. [email protected]

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TeXtando: Por que você acha que o cinema fantástico em geral é tão discriminado e in-compreendido? Em sua opi-nião, quais os elementos que ele carrega que mais incomo-dam o espectador?Felipe M. Guerra: Eu não acho que o gênero seja discrimina-do, mas há filmes e filmes. Por exemplo, ao mesmo tempo em que uns políticos e juízes sem noção proíbem A Serbian Film no país, você pode ir tranquila-mente a um cinema de shopping ver filmes como o já citado Jogos Mortais ou o recente Doce Vin-gança, produções que tratam de temas igualmente fortes, como estupro e tortura. Inclusive, am-bos são obras muito mais violen-tas e escabrosas que o polêmico A Serbian Film, mas passaram batido, sem provocar polêmica, e eram exibidas nos cinemas de shopping ao lado de Harry Pot-ter ou Homem de Ferro 2. O que acontece é que muitas vezes a polêmica ou as discussões em torno de algumas obras acabam se tornando maiores do que os filmes em si. OK, Jogos Mortais pode ter as cenas mais explícitas de violência, mas esse excesso de sangue e mutilações não in-comoda tanto quanto, por exem-plo, a sugestão de pedofilia de A Serbian Film (sugestão mesmo, porque nada é exibido escanca-radamente na tela, ao contrário do que pensam algumas pessoas que nem viram o filme). Além disso, há outros fatores que ajudam a transformar o ter-ror num gênero um pouco mais marginalizado: não é todo tipo de espectador que aguenta ce-nas sangrentas explícitas, e mui-tos filmes de horror trazem es-sas cenas; não é todo tipo de espectador que encara cenas de brutalidade contra mulheres ou crianças, outro elemento comum no cinema do gênero. Também há aqueles que não suportam a visão de fantasmas ou monstros melequentos, por mais que sai-bam que são criaturas absurdas e muito menos ameaçadoras que os perigos da vida real. Tudo isso contribui para que o horror fique “à margem” da produção cine-matográfica, um gênero para um público bem seleto e pré-dispos-to a ele.

TeXtando: Além de jornalis-ta formado, você também é crítico e diretor independen-te de produções de terror. Você pode comentar um pou-co mais sobre esses trbalhos? Existem dificuldades para de-sempenhar essas funções? Felipe M. Guerra: Para mim, trabalhar com cinema fantástico é mais difícil em fun-ção das limitações que tenho. Como minhas produções são to-talmente independentes, impro-visadas até, não tenho recursos

para fazer tudo que gostaria. Um filme de zumbis, por exemplo, seria inviável pela quantidade de efeitos, figurantes e dinheiro que exigiria. Fora isso, não vejo mui-tas dificuldades. Nos meus fil-mes, eu costumo enfocar o cine-ma fantástico por um viés mais satírico e autorreferencial, mas acho que há muitos temas e his-tórias tipicamente brasileiras que poderiam render belos filmes de horror, inclusive o sincretismo re-ligioso tão comum no país. Todo mundo tem medo de macumba, e é uma pena que existam tão pou-cos filmes de horror brasileiros enfocando esse tema (enquan-to no exterior existem inúmeras histórias sobre vodu, por exem-plo). Em uma hora de conversa com alguma pessoa bem idosa, você conseguiria histórias assus-tadoras e 100% brasileiras su-ficientes para uns dez filmes de horror. Portanto, é uma pena que estejamos tão ocupados reve-renciando o terror estrangeiro e suas criaturas ao invés de tentar criar nosso próprio universo fan-tástico, baseado no folclore. Até existem filmes brasileiros com o chupa-cabras, a pomba-gira... O próprio Zé do Caixão é um per-sonagem brasileiro. Mas ainda é pouco pela riqueza e diversida-de da nossa cultura popular. Há muitas histórias para contar, e eu mesmo pretendo fazer, nos pró-ximos meses, um filme em episó-dios sobre uma famosa criatura do folclore da Serra gaúcha.

TeXtando: Pode nos contar um pouco mais sobre esse projeto...Felipe M. Guerra: Estou pro-duzindo um longa-metragem di-vidido em três episódios sobre o Sanguanel, um diabinho que sempre amedrontou os imigran-tes italianos que colonizaram o interior do Rio Grande do Sul. Originalmente, eu ia fazer um curta-metragem chamado A Mal-dição do Sanguanel, mas aí re-solvemos ampliar para um lon-ga. Meus amigos Eliseu Demari e Rafael Giovanella vão escrever e dirigir as outras duas histórias. O interessante do projeto é a va-lorização de uma figura do nos-so folclore, praticamente desco-nhecida no resto do Brasil, e que está meio esquecida até mesmo na Serra gaúcha, pois as novas gerações foram deixando de te-mer o Sanguanel desde a metade do século 20. Bem, nossos ante-passados viviam por aqui quando essa região era uma gigantesca floresta, e aí é compreensível o medo de um diabinho circulando entre as árvores. A ameaça do Sanguanel pode ter sido esque-cida, mas queremos resgatá-la e reapresentá-la para o público do século 21. Esperamos que o pro-jeto vingue e incentive o resgate de outras histórias fantásticas do nosso Estado e do nosso país!

Polêmica justificada?

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Tradições milenares na integração cultural

Um grande povo é caracterizado pelos seus feitos, suas conquistas sociais e econômicas, e também por seus valores. Assim, ao analisar a cultura marcante de um país como o Japão, que alia suas tradições milenares com um universo tecnológico e futurista, não é difícil perceber por que ela exerce tanto fascínio no ocidente. Em Caxias do Sul, uma cidade derivada de uma típica colônia italiana e cujo estilo de vida sério e regrado se baseia no trabalho, a presença do mundo oriental conquista mais espaço a cada dia.

O estilo de vida deste país considerado pouco convencional no ocidente está sendo recebido com admiração e respeito na medida em que é desmistificado. É cada vez mais comum notar restaurantes, escolas de idiomas e a incorporação de usos e costumes do Japão na cidade. A Associação de Cultura Japonesa de Caxias do Sul é uma fundação que consegue exemplificar este crescente aumento na integração entre duas culturas tão diferentes.

A instituição surgiu há mais de cinco anos, após um evento de divulgação do livro de ensinamentos de um ícone da identidade oriental no país, Sensei Jorge Kishikawa. Desde então, o local traz o espírito de um povo que se baseia na disciplina, caráter, educação e autoconhecimento. A diretora da entidade, Jussara Lima, afirma que a cultura oriental deriva de ensinamentos milenares, e encanta principalmente por ter sentido em tudo. “Todas as coisas que os japoneses fazem têm um significado, por isso o conteúdo de ícones como mangás e animes chama a atenção”. Ela destaca que a associação é o único lugar do Estado que traz anualmente professores diretamente do Japão, o que fortalece os ensinamentos orientais para os alunos.

Cada vez mais difundido no mundo todo, o espírito cultural do Japão já está se consolidando na cidade

Chiharu Ito, de 21 anos, é professora da instituição, e veio da cidade de Akita. Ela conta que para vir dar aula no Brasil, foi preciso estudar português durante um ano, ler 500 livros e ter lições de conversação quase diariamente. Chiharu comenta que, além de conseguir trazer para cá sua cultura e sua língua, quando voltar para seu país também quer levar algumas coisas daqui. “No Japão as pessoas têm que trabalhar muito

para viver, então quero levar para lá um pouco da tranquilidade dos brasileiros”. Além do trabalho realizado por essa associação, existem outras entidades que propagam a cultura japonesa na cidade. Formada em 2007 por uma turma de amigos, a Banzai é uma delas. Entre as atividades desenvolvidas pelo grupo, estão sessões de animes que são exibidos no segundo sábado de cada mês no Centro de Cultura

Ordovás com entrada gratuita. Emmanuel Rambo do Santos, de 19 anos, é um dos organizadores da instituição e acredita que sua importância vai além de propagar as tradições orientais. “A Banzai não é apenas um grupo de divulgação, ela é um grupo de amigos, o que aproxima ainda mais seus membros e quem quer conhecer mais sobre a cultura do Japão”, destaca. [email protected]

Palavras da cultura oriental incorporadas no

ocidente

Otaku – Termo utilizado para

denominar um fã de qualquer assunto ligado à cultura

japonesa.

Mangás – São histórias em

quadrinhos feitas no estilo japonês.

Diferenciam-se dos ocidentais por seu conteúdo profundo e sua ligação com o

espírito oriental.

Animês – São desenhos animados

produzidos no Japão. Assim como

os mangás, são histórias profundas e de caráter reflexivo.

Cosplay – Denomina uma fã de desenhos

japoneses que se veste como

seus personagens favoritos.

Kanjis - São caracteres típicos

da escrita japonesa, baseados em

símbolos.

JEFERSON SCHOLZ

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Ilustração

: Em

man

uel R

ambo d

os S

anto

s

Dōmo arigato gozaimashita = Muito Obrigado

(どうもありがとうございました)

Kon’ ninchiwa = Olá (こんにちは)

Sayōnara = Até logo (さようなら)

Yoi ichi-nichi = Bom dia (良い一日)

Yoi gogo = Boa tarde (良い午後)

Oyasumi = Boa noite (おやすみ)

Gomene = Desculpe (ソーリー)

Shitsurei shimashita = Com licença (失礼しました)

Watashi wa anata o aishite = Eu te amo (私はあなたを愛して)

Algumas expressões em japonês: