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ENCONTO MARCADO A bola rolou para os pés do garoto no meio fio que, há poucos minutos, decidira sentar-se ali para desfrutar daquele começo de tarde. Ele pegou a bola e sorriu ao ver que um grupo de crianças se aproximava. – Essa bola deve ser de vocês. – É sim, obrigado tio. Quem disse foi um garotinho parrudinho e de bochechas macias que não deveria passar dos seis anos de idade assim como o resto das crianças que o acompanhavam. Grupos de mães conversavam em suas portas enquanto as crianças se divertiam. Minho não se lembrava desde quando sua rua havia se infestado de crianças assim. – Quer brincar com a gente? A incitação tão pura e inocente, quase lhe fez aceitar de primeira. – Brincar com vocês? – perguntou já de pé e com as mãos na cintura. – Sim, você fica no meu time! Minho viu por cima todos aqueles olhinhos cheios de expectativa o encarando e não conseguiu negar. Muito menos

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ENCONTO MARCADO

A bola rolou para os ps do garoto no meio fio que, h poucos minutos, decidira sentar-se ali para desfrutar daquele comeo de tarde. Ele pegou a bola e sorriu ao ver que um grupo de crianas se aproximava. Essa bola deve ser de vocs. sim, obrigado tio.Quem disse foi um garotinho parrudinho e de bochechas macias que no deveria passar dos seis anos de idade assim como o resto das crianas que o acompanhavam.Grupos de mes conversavam em suas portas enquanto as crianas se divertiam. Minho no se lembrava desde quando sua rua havia se infestado de crianas assim. Quer brincar com a gente?A incitao to pura e inocente, quase lhe fez aceitar de primeira. Brincar com vocs? perguntou j de p e com as mos na cintura. Sim, voc fica no meu time!Minho viu por cima todos aqueles olhinhos cheios de expectativa o encarando e no conseguiu negar. Muito menos quando mozinhas pequenas tocaram a sua guiando-lhe para o centro do campo de futebol imaginrio.Jogar com um grupo de crianas que mais pareciam pingos de gente resultou extremamente divertido. O garoto se empolgou tanto que se esqueceu de sua fora. Chutou a bola colorida e esta cruzou a cabea dos pequenos, indo parar do outro lado do muro branco que protegia a caixa dgua abastecedora do condomnio. Era consideravelmente alto, principalmente para os pequeninos. Ah no! E agora? O que vamos fazer? Como vamos buscar ela?As crianas lamentavam encarando a enorme barreira branca.O maior daquele grupo contemplava a cena por cima, vendo como as crianas pareciam realmente abatidas por perderem a bola por sua culpa. Encarou o muro e calculou as possibilidades que teria de subir ali sem se estatelar no cho utilizando a enorme rvore que se encontrava perto.Puxou um pouco os prprios fios castanhos e soltou um suspiro. Era sua obrigao ir buscar aquela bola, as crianas haviam sido legais com ele e no mereciam ficar sem brincar por sua culpa. Eu vou busc-la. disse firme chamando a ateno das crianas. Srio? perguntou aquele que lhe havia convidado para brincar muito alto, tio! Eu sou muito bom em escalar coisas.Piscou para o pequeno bagunando-lhe os cabelos e avanou at a rvore.Os muitos pequenos pares de olhos viam ansiosos como o maior subia com grande agilidade a enorme rvore espantando um gato preto pelo caminho.Uma das senhoras sentadas numa banqueta no jardim procurava curiosa o que possivelmente seu filho e os amiguinhos tanto observavam, mas ao ver um gato preto pular de entre as folhas da rvore e correr sobre o muro branco deixou de dar importncia e voltou a contemplar os cosmticos numa revista enquanto conversava com as vizinhas.Minho quase gritou ao encontrar-se sentado sobre o muro: Estou vendo a bola!As crianas mostraram largos sorrisos.O garoto comeou a mover-se de forma torpe buscando o melhor jeito para descer e recuperar a bendita bola.A altura era bastante considervel e uma queda no seria muito boa. Pensando nisso e analisando o lugar, percebeu que do outro lado, onde o muro fechava um perfeito quadrado em volta da caixa dgua, havia uma enorme casa de dois andares com grandes janelas onde, quase colada, crescia uma enorme amoreira. Mas ainda no encontrava uma forma de descer dali. O cho l dentro era de concreto igualmente branco s paredes, algumas partes estavam cobertas por folhas secas. Avistou num dos cantos uma construo branca com duas grandes portas trancadas com cadeado. Talvez pudesse pular ali e descer com mais facilidade.As crianas a essa altura j haviam deixado de observ-lo - j que ele demorava tanto - e foram ficar perto de suas mes esperando pela bola.Descer dali havia sido um martrio, suas mos ficaram avermelhadas e ardidas por causa da parede spera. Caminhando pelo lugar sentia-se dentro de uma enorme caixa branca, ouvindo o eco exagerado de seus passos e o rudo da gua corrente.De repente, seus passos se detiveram.O vento que passava por cima das paredes brancas criava um leve som de assobio e movia seus cabelos escuros enquanto ele permanecia ali, parado, contemplando aquele ser que se encontrava junto a ele dentro daquela caixa.Primeiro pensou que estivesse alucinando, mas l estava a silhueta tnue e magra do que a principio pensou ser uma menina, mas que quando o viu inclinar-se para pegar a esfera colorida entre as mos plidas, percebeu que era um menino. A roupa de tons azulados do que parecia ser um pijama e os cabelos desalinhados, davam quele ser um ar mais cndido.O garoto um tanto menor que ele se aproximou com um leve sorriso e a pequena bola nas mos. Essa bola sua? No, dos meus... amigos.Ouviu uma breve risada se espalhar pelo interior da caixa num eco suave e travesso. Sim, isso costuma acontecer bastante. disse enquanto lhe entregava a bola Diga para que tomem cuidado. Aqui dentro pode ser perigoso, caso um deles queira se meter a vir buscar. Eu sei, por isso eu vim. sorriu Como voc se chama? Taemin.Taemin tinha cheiro de flores. Seus cabelos desprendiam um profundo aroma de jasmim e sua pele plida a sabonete. Talvez fosse essa combinao de aromas que tivesse deixado Minho paralisado a contempl-lo. Os cabelos lisos caiam um pouco pelo rosto cobrindo um daqueles olhos sob uma fina cortina castanha. Minho. murmurou.No lembrava quando havia sido a ltima vez que vira algum to bonito. um nome bonito. o menor sorriu fechando os olhos Seria melhor devolver logo a bola, essas crianas no costumam ter muita pacincia.Minho assentiu sem conseguir tirar os olhos do menor. Sabia que era a primeira vez que o via, mas ao mesmo tempo era como se lhe fosse comum. Foi justo a que se lembrou de como faria para voltar para o outro lado do muro.Taemin pareceu adivinhar seus pensamentos: Eu te ajudo.A rvore pela qual havia subido estendia seus galhos at muito dentro da barragem branca, criando ali dentro uma sombra boa e fresca. Minho olhou pra cima e viu aquele mesmo gato preto deitado num dos galhos. melhor jogar logo a bola, as crianas esto impacientes. Est ouvindo?Era verdade, as crianas j reclamavam do outro lado, impacientes. Jogou a bola com todas as foras e logo os gritos histricos e felizes foram ouvidos.E agora como voc vai sair tio?! ouviu abafadamente, um dos pequenos perguntando desde o outro lado. Eu me viro! Continuem brincando! Suba nas minhas costas, talvez d altura. sugeriu Taemin. Mas... Talvez no seja boa ideia. Vamos! Se olhar bem, vai ver que h alguns buracos na parede; pode se apoiar em mim e segurar num deles pra subir.Os olhos de Minho vasculharam a parede e viram que Taemin tinha razo. Ento, montou nas costas magras do menor com extremo cuidado pelo medo de machuc-lo. S no contava com que alguns dos fios eriados do cabelo claro de Taemin tocassem seu nariz... o intenso cheiro de jasmim o invadiu... um aroma quase que embriagador.Como possvel ser to delicado e aparentar quase a mesma idade que eu? pensou ao fechar os olhos inconscientemente para desfrutar mais daquele aroma. Logo quis saber: Quantos anos voc tem?Ouviu Taemin murmurar como se carregar seu peso lhe custasse muito esforo: Quase dezoito.Era dois anos mais novo que ele. Obrigado por me ajudar a sair daqui. murmurou enquanto tentava alcanar um dos buracos no muro. Nem me diga... Ainda no conseguiu se segurar? Consegui! anunciou com um sorriso Woah!O nico que conseguiu ver depois foi o muro branco, um pouco do cu e as folhas da rvore. Tudo girando ao mesmo tempo.Havia cado no cho.Bom, no diretamente no cho. E percebeu isso ao ouvir um grunhido de dor vindo do corpo debaixo do seu. Piscou algumas vezes ao v-lo sorrir com doura e s ento Minho notou a situao em que estavam. Me desculpe!Levantou-se rapidamente e entendeu a mo para ajudar o menor a se levantar tambm. Sinto muito... Voc se machucou?Taemin apenas sorriu cobrindo a boca evitando rir. Havia sido estranho ser quase esmagado. Eu estou bem... Vamos tentar de novo?Minho comearia a falar, mas deu uma olhada em volta. Tudo era to branco que lhe passava certa tranqilidade. Seus olhos voltaram ao menino a sua frente que lhe mirava confuso. O desejo de ficar ali dentro daquela caixa branca e desfrutar de sua companhia o venceram.Suspirou. Aconteceu alguma coisa? Na verdade nada... foi a estranha resposta.O maior dirigiu-se at a sombra que a densa rvore lhes proporcionava ali dentro e sentou-se apoiado no muro. Minho? S estou cansado e aqui me parece bem agradvel. respondeu com um belo sorriso ao fechar os olhos e respirar fundo Depois continuamos com isso...Taemin no o entendeu, mas deu de ombros e terminou sentado ao lado dele desprendendo em cada movimento o cheiro bom de seus cabelos.... A fragrncia de jasmim a minha favorita.Minho murmurou quase sem se dar conta. Eu sei... foi a resposta que obteve do menor.Minho abriu os olhos surpreendendo-se por suas prprias palavras e ainda mais por causa da resposta que obteve. Virou-se encarando Taemin. O menor apenas encarava o cu com um sorriso feliz no rosto e, ao mesmo tempo, um brilho de tristeza nos olhos.O que aquela expresso queria dizer?Encontrou-se perdido naquela pergunta em sua mente. O que era aquilo que rodeava aquele pequeno garoto a sua frente? O que significava aquele alvio em seu peito? Como que nunca te vi do outro lado antes? Acho que... suspirou no algo que eu possa fazer...E seus olhos se encontraram.Taemin tinha uma aparncia bastante tnue, era realmente plido e quase irreal, mas a delicada e profunda beleza que possua provavelmente provia disso. Parecia to indefeso que causava o sentimento devontade proteg-lo concluiu Minho.A mo vacilante tocou levemente o rosto de Minho ao mesmo tempo em que um quase sussurro foi ouvido: Muito... muito tempo esperando.Minho piscou surpreso e desviou-se, por reflexo, daquela mo plida e extremamente delicada. Fixou-se naqueles olhos que repentinamente lhe pareciam to vazios e quase mortos. Aquilo o desconcertou.Minho! Voc est bem a?!Ambos giraram encarando a parede. Do outro lado uma das crianas lhe chamava. o Yoogeun... afirmou Taemin. Tenho que ir, ou ficaro preocupados... Me ajuda a subir de novo?Taemin sorriu e Minho sentiu-se feliz pelo vazio ter desaparecido daqueles olhos. Claro, mas s se prometer que amanh voltar pra me fazer companhia.Minho quase deu risada. Aquilo era chantagem, mas no lhe custava nada ceder. Respondeu bagunando-lhe os cabelos sentindo-se muito a vontade: Pois me diga onde nos encontraremos.[...] Voc demorou muito! Me desculpe.Desculpou-se assim que pulou da rvore onde havia levado um bom arranho daquele gato maluco.O pequeno realmente parecia preocupado com Minho preso l daquele lado. Por que demorou tanto, tio? perguntou enquanto caminhavam juntos at os bancos. As outras crianas j haviam entrado para lanchar.Minho parou por um segundo mirando o grande muro branco.- Aqui mesmo?- Sim, como voc mesmo disse, aqui agradvel e ningum incomoda, diz que sim! Digamos que... do outro lado eu encontrei algo muito interessante...Os olhinhos de Yoogeun piscaram confusos. O que poderia haver de interessante atrs de um muro assustador?Era uma boa pergunta, mas nem Yoogeun, nem Minho estavam preparados para descobrir o que de verdade havia do outro lado do muro.Enquanto caminhavam, uma sbita dvida rondou a mente de Minho fazendo com que ele se virasse mais uma vez para trs intrigado.Aquelas quatro paredes eram muito altas......Como se supe que aquele garoto sairia de l?XXXOs cachorros ladravam de forma escandalosa. A Travessa Girassol se preparava para receber o sol naquela fresca madrugada de sbado. O vento aumentava balanando alguns galhos enquanto os primeiros raios de sol tocavam os cristais das janelas.O dono de olhinhos curiosos j mirava atravs do vidro. No havia ningum na rua h essas horas. Bocejou fitando curiosamente a parede branca e enorme que se encontrava em frente a sua casa.A rua era composta basicamente de casas idnticas em sua estrutura, uma ao lado da outra. Cada uma com um distinto jardim e cores diferentes em suas paredes.O radiante sol matinal j iluminava tudo o que alcanava trazendo um belo dia de primavera. Yoogeun, venha tomar o caf!Segundos aps o chamado da me, um pequenino de escassos seis anos e meio de idade sentava-se a mesa desejando um bom dia ao pai que lia o jornal enquanto tomava uma boa xcara de caf. Mame, quando eu terminar posso sair pra brincar?A mulher que preparava um sanduche para o filho ficou encarando-o com olhos interrogantes. To cedo? Vou ir com um amigo comprar um presente pra algum...A mulher observou o pequeno desconfiada, mas no respondeu.Meia hora mais tarde, Yoogeun e Minho voltavam daquele paraso de doces, bolos e sabores. Compraram trs bolinhos individuais. Yoogeun foi quem os escolheu, j que Minho considerava-se uma negao para doces.Yoogeun no fazia ideia do porque Minho o levara para comprar bolo quela hora da manh e nem para quem seria o outro que sobrava. Mas tratando-se de doces, Minho poderia t-lo acordado no meio da madrugada! pensou depois de provar o primeiro pedao de seu bolo recheado de chocolate. Quando voc vai falar o que encontrou a dentro?A pergunta no poderia ter soado mais curiosa. Minho j estava sentado sobre o muro branco e Yoogeun admirava a agilidade com que ele j subia a rvore. Depois eu te conto Nossa, so quase nove e meia! O que tem a? Um tesouro?Minho riu com graa. Mais ou menos... Depois apresento vocs. Apresentar? Ento uma pessoa?Minho sentiu certo orgulho bobo, aquele menino era muito esperto! At mais tarde Yoogeun! resolveu no prolongar mais o assunto. tio!!O menino tentou chamar, mas o maior j havia sumido atrs da barreira branca.Yoogeun sabia de sobra, pela boca de sua me, o quanto poderia ser perigoso para um menino pequeno tentar subir nesse muro imenso. Est certo que Minho no tinha nada de menino pequeno, mas no evitava sentir-se preocupado com ele.Assim que Minho conseguiu por os ps l dentro, percebeu que as grandes paredes ainda faziam sombra impedindo que o sol chegasse a todos os cantos. O vento parecia mais intenso l dentro fazendo as folhas secas passearem numa quase dana pelo cho. Fazia um pouco de frio e seus passos faziam um eco ainda maior do que no dia anterior, o que lhe devolveu aquela estranha sensao de estar numa enorme caixa branca e vazia.- Por favor!- Mas muito cedo!No fazia ideia do porque Taemin desejava v-lo to cedo, mas pensou que talvez ele tivesse suas razes. Minho poderia jurar ter visto naqueles olhos que ele fugia de algo. Minho!Sorriu com surpresa ao ver o quo perto Taemin j estava sem que percebesse. Pensei que voc no viria. Se fui eu quem te convidou, como no iria estar presente?... Hum, o que isso?Minho seguiu os olhos curiosos de Taemin e sorriu ainda mais. um presente. Voc que comprou? Eu tive uma ajudinha.Taemin abriu a caixa enfeitada, encontrando l dentro dois bolinhos idnticos. Eu adoro bolo! Pena que no posso comer sempre... Ento lhe trarei um todos os dias.Quem sorriu mais dessa vez foi Taemin. Um sorriso puro.[...]... e ento a minha me me pegou! Foi muito injusto!Minho contava todo espalhafatoso enquanto Taemin ria largamente tapando a boca para no parecer to escandaloso. Minho o encarou com um sorriso. Estava surpreso com o quanto uma pessoa havia lhe agradado em menos de um dia.Os bolos foram comidos entre uma boa conversa e divertidas anedotas. Entre elas Minho pde notar que Taemin parecia bastante interessado em saber mais sobre si, a ateno que lhe dava poderia ser considerada... adorao.Minho tinha vinte anos e morava naquela vizinhana desde que tinha memria. Era filho nico, seus pais trabalhavam o dia inteiro e ele mal os via em casa. J havia terminado os estudos, pensava em cursar Veterinria, adorava futebol e seu melhor amigo era... Yoogeun.Da boca do prprio Taemin, Minho soube que era dois anos mais novo que ele, que adorava doces e que tambm era filho nico; e que por alguma estranha razo, no freqentava a escola.Minho tambm queria saber mais: E os seus amigos?Taemin sorriu com tanta amargura que Minho sentiu a necessidade de desviar o olhar. Ningum quer ser amigo de algum como eu.Os olhos que estavam sobre a caixinha vazia dos bolos voltou a encarar os de Taemin com algo parecido a uma doce compaixo. Quando se deu conta, j estava acariciando os cabelos extremamente finos do menor. E eu no sou seu amigo? Voc me conheceu ontem Se lembra? Mais ou menos. seu olhar era divertido Eu costumo conhecer tantas pessoas atrs de muros gigantes e desertos que at esqueo!O olhar confuso de Taemin converteu-se numa gostosa gargalhada que ecoou pela caixa branca. Obrigado pelo bolo...Quando deram conta, a sombra que lhes cobria no era proporcionada pelo muro, mas sim pela frondosa rvore e eles se perguntavam onde diabos havia ido parar o tempo.Os dois miravam o alto do muro quando chegou a hora de se despedir. Haviam conversado tanto e sentiram-se to bem na companhia um do outro que acabaram convertendo-se numa espcie muito especial de amigos. Voc volta amanh, no ? Claro que sim. Sabe...?O olhar de Minho tornou-se de repente mais analtico e sua mo dirigiu-se aos cabelos de Taemin tirando-os de seu rosto, como se a confiana entre eles houvesse sempre estado ali. O que foi? Tenho a impresso de que... j vi seu rosto em algum lugar. Como se...... j nos conhecssemos?Minho riu e balanou a cabea ignorando o olhar esperanoso de Taemin. uma idiotice, no?Ambos caminharam at a casinha com portas de ferro que havia l dentro descobrindo que seria muito mais fcil sair escalando por ali do que pelas pobres costas do Taemin. Minho caminhava pelo muro at a rvore que servia de apoio para sua descida e Taemin lhe acompanhava pelo lado de dentro. At amanh!Minho despediu-se com um aceno e logo sumiu de vista. No uma idiotice, Minho... murmurou Taemin Voc tem que se dar conta logo...[...]A tarde, a noite... Tudo transcorria comumente. Minho viu as crianas da rua brincando com a mesma bola colorida, mas dessa vez no quis brincar com eles apesar da insistncia de Yoogeun. Curiosamente, o nico que ocupava sua mente naquele dia encontrava-se atrs daquela grande barreira branca.Observou o reflexo da lua no vidro de sua janela.Eram quase trs da manh e no conseguia dormir. Ento, como pde, colocou-se de p. Cuidando para que ningum notasse, saiu de casa de ps descalos em direo ao muro branco como se algo lhe chamasse at l. Minho encarou o muro como se desejasse que ele no estivesse ali. Avanou alguns passos e tocou sua textura rude. Logo j estava sentado sobre o muro encarando seu interior. As luzes l dentro ficavam voltadas para o enorme continer de gua. O vento frio fazia rudo pelos cantos resguardados pela penumbra, como se vozes sussurrassem l e c. Mas o que que eu estou fazendo aqui?Minho...Estremeceu quando de um daqueles cantos obscuros sussurrou uma voz. A vista logo aguou tentando enxergar alguma coisa, sem sucesso.Minho...Aquela voz voltou a soar e ento, do meio da escurido, algo se moveu. Quem est a?Minho... agora sim pde reconhecer Voc veio me ver? Fique aqui comigo...E ento Minho viu Taemin de p encarando-lhe com os olhos vazios... quase mortos, estendendo os braos. O aspecto que possua nesse momento, nem se comparava ao que tinha de dia. Estava derrudo, com olhos fundos no cansao, fraco e ainda mais plido e magro.Da boca de Minho s pde escapar um grito de horror antes de ele cair do muro. Seus gritos de socorro se perdiam na imensido e o mais estranho, era que o nico a quem chamava era ao prprio Taemin.Abriu os olhos e sentou-se rapidamente na cama. Os raios de sol j eram intensos e invadiam seu quarto. TaeminEra apenas um sonho.O relgio marcava as onze da manh. Seus pais numa hora dessas j saram h muito tempo. Um suspiro lhe escapou. O sonho que tivera parecia que no lhe deixaria mais em paz. Era como se Taemin estivesse lhe pedindo alguma coisa, mas ao mesmo tempo lhe escondesse algo ainda maior. A nica verdade era que queria v-lo de novo. Sentir suas mos e ver seu sorriso para comprovar que estava bem. Deixou o caf de lado e foi tentar distrair-se fazendo seus rabiscos, como costumava dizer. Todos eles inspirados no cheiro de Taemin.Passado o meio dia, Minho caminhava pelas caladas procurando no pisar nas linhas. Comeou a sentir-se triste sem motivo aparente, sufocado por um sentimento de vazio que jamais havia sentido. Caminhava vendo como os vizinhos iam e vinham agitados, alguns revisando coisas em seus carros, arrumando bolsas e muitos brinquedos. As crianas corriam animadas e eltricas, uma e outra lhe cumprimentava com um aceno antes de seus pais lhe puxarem pelo brao. Mais a frente estava a famlia de Yoogeun. Ol! os dentinhos logo se esconderam Tudo bem?O pequeno havia reparado na expresso diferente, triste do maior. Minho achava estranho uma criana preocupar-se tanto consigo. Deveria ser o contrrio! Yoogeun era realmente uma criana muito especial. Tudo bem. J esto saindo? Sim! respondeu recobrando a animao Quer vir com a gente?Minho negou com um sinal de cabea.Todos os domingos, as famlias da vizinhana saam para o parque mais prximo para desfrutarem de piqueniques e brincadeiras. Mas Minho... Yoogeun-ah! Vamos! Divirta-se pequeno!Minho bagunou-lhe os cabelos e o menino correu para sua me, acenando pela janela quando partiram. Minho olhou em volta e sentiu-se ainda mais sozinho. A rua quase deserta. Os carros partindo... Seus olhos encontraram o enorme muro branco. Um sorriso adornou seus lbios quando uma ideia passou por sua mente.[...] Pensei que voc no viria mais!Ouviu a reclamao do menor assim que ps os ps no piso liso. Trouxe isso pra voc. So uns biscoitos que eu fiz. Espero que estejam bons.Taemin riu do sorriso envergonhado de Minho. Obrigado... Por que voc no foi com o Yoogeun? Voc costuma sempre sair com ele. Anda me espionando? o que se v todos os domingos, oras.Taemin pegou um dos biscoitos da bolsinha plstica e deu uma bela mordida. Hum, esto timos!A sombra da rvore j se fazia presente. O saquinho de biscoitos j havia esvaziado e os meninos dividido muitas risadas. Como que voc sempre est aqui antes que eu chegue?A resposta demorou, mas chegou suave: Eu gosto desse lugar... L fora parece que ningum nota minha presena.Minho notou certo cansao no rosto e nas expresses de Taemin que no havia reparado mais cedo. Est tudo bem? Sim... s estou um pouquinho cansado.O olhar de Minho entregava sua preocupao. Ele sequer notou que Taemin havia evadido sua primeira pergunta.Taemin fechou os olhos e recostou a cabea na parede. Este simples movimento conseguiu prender totalmente a ateno de Minho... Alguns raios de sol filtravam pelas folhas da rvore formando alguns desenhos abstratos na pele clara e no cabelo brilhoso, um deles adornava o canto do lbio inferior de Taemin, rosado e convidativo, como se pedisse para ser tocado...Minho piscou incrdulo ante seus prprios pensamentos. Levou a mo ao rosto como se aquilo pudesse expulsar aquele sentimento estranho.Taemin lhe atraa?Comeou a recordar daquele sonho estranho que tivera, no qual Taemin lhe atraa de uma forma que lhe eriava a pele de um modo ruim. Na perspectiva do maior, era como se Taemin tivesse cado no sono. Minho suspirou de forma profunda, tentando reavaliar a situao e encontrar o porqu havia se deixado cair nela to facilmente.Seus olhares haviam se encontrado intensamente por trs vezes: a primeira foi acidental e confusa, na segunda o olhar de Taemin era vazio quase inexistente e a terceira era agora, um olhar apaixonado, desejoso, esperanoso.Minho assustou-se um pouco ao perceber aquilo. No havia se dado conta do momento em que Taemin havia aberto os olhos e se aproximado daquela forma, a mo delicada em sua bochecha. Taemin moveu os lbios como se dissesse alguma coisa, mas Minho no pde ouvi-lo. Uma brisa suave havia sacudido as folhas da rvore, levando com ela as palavras. Sem que se desse conta, os lbios de Taemin j tocavam os seus, no comeo tmidos, mas depois ansiosos buscando um contato mais profundo; e nesse momento, no havia nada em que Minho pudesse pensar alm daquele toque.E ento o beijo terminou to naturalmente quanto havia comeado. Mas o sorriso satisfeito de Taemin se desfez assim que ele abriu os olhos e viu a confuso estampada no rosto de Minho. Por... Por que voc fez isso? Sim eu te espio. murmurou Taemin bem prximo aos lbios de Minho, as mos ainda no rosto deste Sempre que eu posso, sempre Minho.Minho afastou-se assustado e no sabia bem o porqu. Viu Taemin levantar-se tambm e seguir em sua direo com os braos esticados, tentou dar alguns passos para trs, mas os braos de Taemin lhe prenderam, possessivos. Taemin...No houve mais palavras. Inconscientemente seus lbios buscaram os daquele garoto estranho avidamente, como se toda a sua conscincia tivesse ido ao cho. O beijo tinha um ritmo mais intenso do que o primeiro, os sentimentos passavam de um para o outro como correntes eltricas. Minho sentiu algo em seu peito se completar, algo que havia se quebrado h muito tempo.Quando se separaram as respiraes estavam ofegantes. As mos pequenas de Taemin espremiam a roupa de Minho no querendo deix-lo ir. Os olhares se encontraram mais uma vez e os olhos amendoados de Minho viram algo nos olhos de Taemin que no sabia interpretar.At Taemin murmurar com voz sonhadora, perdida: Finalmente... Finalmente sou o suficiente pra voc Minho.A respirao de Minho se agitou diante de tais palavras. Sentiu-se sufocado e rapidamente tentou soltar as mos de Taemin de si, mas este resistiu. Minho!Taemin chamou ao ver Minho negar com a cabea. O maior ouvia vozes vindas de lugar nenhum, como no sonho.Minho...E de golpe Minho se afastou, correndo em direo a sada daquele lugar. Subiu no muro sentindo a respirao mais agitada, um suor frio escorrendo por sua tmpora. Fugia, mas ao mesmo tempo queria ficar ali, proteger Taemin. Minho! Por favor! - Taemin j implorava, com o olhar cristalino, as lgrimas grossas marcando o rosto triste amanh! Voc prometeu pra mim!O menor gritava, mas Minho fingia no ouvir. Apoiou-se na rvore e desceu ouvindo seu nome ser chamado uma ltima uma vez.Desceu da rvore pondo-se a correr pela calada. A confuso e o medo que sentia estampados em seu rosto.O que havia acontecido?O que havia sido aquilo?No sabia. No compreendia.Levou uma das mos ao peito agitado, apertando a roupa como se aquilo amenizasse a situao. Seus olhos beiravam s lgrimas. O pior de tudo era que sabia ter magoado Taemin e isso no conseguia suportar. Minho?Agitou-se com o chamado e dando a volta, encontrou-se com Yoogeun e seus olhos curiosos. Olhou em volta e percebeu que quase todos j haviam voltado do passeio. Yoogeun-ah... Tudo bem? Voc t estranho. comentou um dos outros meninos.Todas as crianas j estavam em volta de si, com olhinhos curiosos e cheios de expectativa. Foi a que algo parecido a soluos ecoou sobre suas cabeas.Eles proviam de trs do muro.Algum chorava do outro lado. Gemidos eram multiplicados mil vezes inundando o interior daquele lugar num eco agonizante. Minho sabia que era Taemin e algo dentro de si se oprimiu com violncia.As crianas ali, inclusive Yoogeun, retrocederam assustadas. Era verdade!As atenes se voltaram para um garotinho que continuou a dizer: O que meu irmo dissedomuro...E no disse mais, saiu correndo em direo a sua me para proteger-se, sendo imitado por todos ali. Menos por Yoogeun que teve o brao segurado por Minho. Me solta! Quer me dizer o que aconteceu aqui?! Minho pediu sem soltar-lhe o brao. Dizem que um menino morreu a dentro quando pulou o muro. o aperto no brao do pequeno foi afrouxando Dizem que ele chora porque no consegue sair. Tio, o que voc encontrou atrs do muro pode ser um fantas- Essas coisas no existem! Eu moro aqui h anos e nunca soube disso. Tem coisas... que s as crianas podem ver... Porque os adultos no quer- No!Minho interrompeu-lhe mais uma vez. Um olhar apreensivo e incrdulo transformou o seu rosto. Murmurou para si mesmo olhando para o alto daquele muro de onde um pranto desesperanado brotava: O Taemin no pode ser...Yoogeun observava, desde a janela de seu quarto, um Minho completamente indeciso entre voltar ou no ao outro lado do muro. Yoogeun pde ver o maior tocar a superfcie spera do muro com uma das mos, cheio de receios.Na cabeceira de Yoogeun, o relgio marcava quatro e meia da tarde. O dia logo viraria noite e Minho no saa dali; e isso j comeava a agoniar o pequeno. Ele havia lhe dito que l dentro havia um fantasma, havia pedido que nunca mais voltasse l. Mas Minho era teimoso, disse que fantasmas no existem e que atrs daquele muro s havia um garoto com estranhos problemas... Mas as horas passaram rpidas e nem ele prprio decidia o que fazer, s permanecia ali, andando de um lado para o outro, com o olhar to perturbado quanto inseguro.E se as crianas tivessem razo? E se atrs do muro tivesse encontrado mesmo ofantasmade Taemin?Minho agitou a cabea tentando tirar essas idias de sua cabea. Fantasmas no existem., repetia-se vez ou outra. Mas o som vago de soluos ecoando e os fatos estranhos que haviam transcorrido nas ltimas horas ajudavam a duvidar cada vez mais de suas prprias palavras.Ele suspirou fundo e caminhou decidido at a rvore que se encontrava a alguns passos.Yoogeun correu a cortina. Minho de verdade ia voltar para o outro lado daquele muro assustador. O pequeno, ento, sentou-se na cama disposto a esperar.[...]Assim que colocou os ps do outro lado, sentiu aquela mesma sensao de estar preso dentro de uma caixa. O rumor de gua correndo, o som de seus prprios passos... era como se estivesse l dentro pela primeira vez.Passando os olhos pelo local, ele encontrou Taemin, sentado no mesmo lugar onde o deixara. O menor apresentava um aspecto frgil e indefeso, encolhido, desprotegido.Ele no poderia ser um fantasma.E se fosse, ser que ele prprio saberia?Sem saber o porqu, algo oprimiu o seu peito.Comeou a caminhar at ele. Passos seguros. Movimentos decididos. Mas to lentamente, que imaginou que jamais chegaria ao seu lado.Quando deteve seus passos, encontrava-se exatamente de frente pra ele. Taemin ainda mantinha seu rosto escondido. Mas ele sabia que Minho estava ali, de frente para ele. E os soluos voltaram a ecoar baixinho.Comovido e desejando reparar o que quer tenha feito, sentou-se ao lado do pequeno. Levou uma das mos, cheio de insegurana, aqueles cabelos finos, acariciando-o com delicadeza.Taemin ento, finalmente saiu de seu esconderijo, revelando os olhos encharcados de tristeza e mgoa. Minho...O maior no agentou mais ver aquelas lgrimas. Seu nome sendo pronunciado daquela forma. Ento pediu com a voz falha: Por favor, pare de chorar...Minho utilizou as duas mos para limpar as bochechas marcadas de Taemin, mas foi intil, mais lgrimas escorreram, substituindo aquelas. No chore mais Taemin... Por favor...Tudo o que pde fazer foi cobrir aqueles olhos de beijos. Sentiu-os queimando em seus lbios. Os braos de Taemin rodearam sua cintura e lhe apertaram. Voc voltou...E o abrao possessivo cessou apenas para que as mos plidas acariciassem o rosto do maior. Minho viu que Taemin no mais chorava e sentiu um alvio no peito. Taemin, acho que devemos conversar...Taemin recolheu suas mos e negou com a cabea, como se lhe aterrorizasse o que viria a seguir. No Minho, no! ele parecia aflito Voc prometeu... voc... Taemin! Minho elevou a voz Me escute! Por favor, Minho...Foi a vez de Taemin pedir, com os lbios colados aos dele e os braos em seu pescoo num abrao forte. Minho podia sentir o desespero de Taemin naquele ato, nos lbios dele implorando por um beijo que ele logo concedeu. Nesse momento Minho teve certeza que toda sua sanidade havia ido ao cho. O que havia ido fazer l dentro outra vez? No sabia mais.S sabia que suas mos buscavam ansiosas pelo contato da pele do menor. O beijo tornou-se mais intenso, como se o desejo de Taemin tivesse se tornado o seu prprio.Ambos caram suavemente sobre um pequeno amontoado de folhas secas. E elas nunca pareceram to confortveis... Minho cortou o beijo apenas para encarar aqueles olhos cheios de um desejo puro. No resistiu e beijou-lhe as bochechas, os olhos at a curva do maxilar. Um sorriso satisfeito fixo nos lbios de Taemin e o olfato de Minho impregnado por aquele cheiro suave de jasmim.Minho estava admirado, como o toque das mos dele poderia ser to macio, to suave? To suave que era quase irreal. O corpo dele era quente e ao mesmo tempo quase impalpvel. Isso s aguava o desejo de Minho de desvendar o mistrio, de se certificar se aquilo era mesmo real. Quis saber at onde poderia chegar...Taemin j estava sentado sobre as pernas do maior, despido, ruborizado, completamente merc de suas carcias. A voz saiu entrecortada pelos gemidos enquanto Minho lhe tocava num lugar ntimo e to sensvel: Minho... Eu te desejei tanto... Eu sonhei... tanto Minho...Ele vibrava sob os toques, sob os lbios que acariciavam to gentilmente seu pescoo. Mas no era o suficiente. Taemin queria mais daquele contato to almejado. Ele ento se acomodou, guiando o corpo do maior para dentro do seu. Desejava senti-lo inundar sua alma, sua razo, seu corpo j to cansado de resistir. Voc vai... se machucar... No me importa... A dor no algo que me preocupa...Minho no entendia o que ele era, mas o ltimo que queria era machuc-lo, por isso levou as mos cintura fina tentando control-lo. Mas Taemin iniciou um beijo forte, roubando a ateno do maior. E apertando os ombros do maior, deixou que Minho mergulhasse dentro de seu corpo.Os gemidos se encontraram em suas bocas. Os olhos apertados de Taemin, as bochechas rosadas e o cabelo desalinhado. Minho pensou que jamais o veria ainda mais belo. Estava encantado. Taemin no poderia ser mais real do que naquele momento. Ali, sentindo-se to aconchegado, to amado, to deliciado, todas as suas teorias foram ao cho, como se aquela histria de fantasma no existisse. Eram apenas os dois, em um s.A entrega foi to estranha quanto doce. Ambos ofegavam, terminando em um beijo cheio de significados ainda ocultos pela cortina de uma memria anuviada pelo tempo.Minutos mais tarde os dois j se encontravam vestidos e alinhados, como se nada tivesse acontecido. Estavam deitados sobre as folhas secas, um de frente para o outro com as mos entrelaadas. O pedido saiu suave: Minho, fique aqui comigo.Ambos se encaravam com olhares serenos sem nada a dizer por algum tempo. Apenas se olhavam, apreciando um ao outro. Taemin, o que realmente voc ?Taemin piscou um pouco confuso, evadindo mais uma pergunta: Pensei que a essa altura voc j soubesse... Eu... s quero estar contigo.Minho, nesse momento, quase teve certeza de que nem o prprio Taemin sabia em qual condio estava. Virou-se deitando de costas para ver o cu: Est escurecendo, eu... No v! Taemin sentou-se sobre as folhas No quero ficar sozinho de novo.Minho sentou-se tambm e segurou as mos plidas, sendo fraco mais uma vez: Eu gostaria... que pudssemos ir para outro lugar...Taemin deu um sorriso to feliz que este chegou aos seus olhos. Apontou para aquela casa de grandes janelas que se encontrava praticamente colada ao muro branco: Eu gosto dali. e puxou o maior pela mo Vem comigo!Minho se deixou guiar pelo cheiro que desprendiam os cabelos do menor... Sentiu tanta paz ao seguir o garoto at onde era guiado que jamais soube o exato momento no qual haviam sado de dentro da caixa. Prontamente ambos se encontravam numa pequena varanda que dava para a rua, bem na sada de uma das enormes janelas. O vento soprava agradvel, balanando as longas cortinas brancas.Sentaram-se ao cho mirando a rua, onde algumas crianas voltavam para casa e outras, um pouco maiores, j paqueravam pelos bancos da pracinha. Minho chegou a ver Yoogeun rabiscando em algum caderno. A vista daqui tima. Por isso eu gosto. Sempre venho aqui quando quero te ver...E os olhares se encontraram mais uma vez, quase tristes. Taemin... Sobre o que aconteceu l dentro, eu- Shhh... Taemin negou com a cabea No precisa dizer nada.Enquanto o cu mudava de cor formando o crepsculo no horizonte, as primeiras estrelas comeavam a brilhar no cu e ambos voltaram a observar a rua.Ouviram a me de Yoogeun lhe chamar, brigando por ter comido doces fora de hora. Minho sorriu, Yoogeun era mesmo um amante de doces clandestinos.Taemin percebeu esse sorriso. Sabe... A Eunhye colocou o nome de Yoogeun no filho em homenagem a voc.Minho no compreendeu o porqu de Taemin lhe dizer aquilo, quis saber, mas quando tentou perguntar, seus olhos se encontraram e ento perdeu toda a noo. Taemin lhe olhava com tanto amor, tanta tristeza... Parece que voc no quer se lembrar... uma lgrima escorreu pelo rosto plido, mas Taemin logo a enxugou com fora Eu te amo, Minho.No foi estranho para Minho ouvir aquilo. Aquele olhar era to cheio de ternura e to profundo, que chegou a sentir-se cair no desconhecido, percebendo-o aconchegante e macio. Tentou falar, se explicar... Mas o que dizer? Eu te amo. Mas voc se esqueceu de mim... da promessa que me fez.Taemin sorria, porm lgrimas magoadas marcavam o seu rosto triste. De verdade, sou to fcil de esquecer, Minho?Minho debatia-se entre as palavras, no sabia o que responder, j que nem meia palavra entendia.Ser que Taemin no percebia?Todo um mundo lhes separava.Porque agora ele sabia: as crianas estavam certas. Taemin no era como ele. Minho deu conta disso na fuso de corpo e alma que havia acontecido por trs dos muros. Eram completamente distintos...Tinha a obrigao de faz-lo entender. Taemin, voc... ns- Taemin-ssi!Ambos giraram de encontro a voz que chamava. Bem no meio da janela, estava uma jovem visivelmente preocupada. Finalmente te encontrei!Ela foi de encontro ao menor e lhe tomou pela mo, tocou-lhe o rosto como se verificasse se estava com febre: Se seus pais chegam e te encontram aqui, me matam! Voc no pode tomar esse vento frio menino, v se deitar. Mas Hyojung-nim... Taemin tentou reclamar, mas a moa j lhe puxava para dentro Minho, amanh... alcanou dizer antes que as janelas e as cortinas fossem fechadas pela tal Hyojung.Minho observou a cena toda, de p, confuso e perdido.No entendia nada.No compreendia absolutamente nada.O que havia sido aquilo?Taemin no era um fantasma!Ento...Deu-se conta de que aquela mulher sequer notou sua presena. Nem ao menos se atreveu a olh-lo.E tirando as crianas de sua rua, ela no era a nica.Apoiou-se na grade da pequena varanda e respirou fundo, de olhos fechados. Quando os abriu, viu uma mulher apartando uma mecha dos cabelos curtos do rosto. Ela chamou algum: Yoogeun-ah! Est na hora de entrar, j est tarde, vamos!E um calafrio de medo percorreu seu corpo. As mos apertando com fora o metal da grade. Foi ento que ele soube.Olhou ambas as mos, as palmas e os dorsos enquanto certas palavras lhe pulsavam na memria...Tem coisas... que s as crianas podem ver...Eunhye colocou o nome de Yoogeun no filho em homenagem a voc. Vai se chamar Yoogeun sim! E vai ser o camisa dez da seleo! Pra de falar bobagem!Girou o rosto em direo quela voz que soava to prxima e levou um susto ao ver que era Eunhye, a me de Yoogeun, ao seu lado, aparentando alguns anos mais jovem.E como se tratasse de um sonho, viu um garoto passar na sua frente sem mi-lo, para abraar a jovem por trs cheio de carinho... No podia crer, mas estava vendo a si mesmo e... Por que estava com ela? Pareciam estar dentro da casa da garota, pois ela logo se desvencilhou e pediu, sem muita vontade, para que ele sasse: T, j chega Minho. Agora voc tem que ir pra casa. Mas por qu? sentiu vergonha de si mesmo por ter agido to manhoso. Meus pais j vo chegar!Viu a garota empurrar a si mesmo at a porta, literalmente expulsando-o. Foi atrs e acompanhou de perto. Mas nosso primeiro filho vai se chamar Yoogeun, no vai? E vai ir pra escolinha de futebol, no vai? Tudo o que voc quiser Minho, agora tchau!Viu a garota lhe empurrar mais uma vez e a si mesmo roubando um beijo dela. Pelo modo que sorriam pareciam ser to apaixonados... A garota lhe empurrou mais uma vez e fechou a porta, deixando ele e seu outro eu do lado de fora.Olhou ao redor e percebeu que aquela era a mesma Travessa Girassol. Tudo do mesmo jeitinho. Viu tambm o enorme muro, ainda mais branco do que da ltima vez que o vira, como se a pintura fosse recente. O sol brilhava forte, sendo oposto noite recente que deixara naquela varanda. Minho!Minho e seu outro eu viraram-se na direo daquela voz, vendo que quem chamava era um garotinho de cabelos claros. Ele viu a si mesmo se aproximar do pequeno: Ol Taemin!Minho cobriu a boca com a mo, os olhos arregalados vendo como aquele garotinho sorria feliz, todo tmido.Aquele era o seu Taemin?! Como? Eles j se conheciam, mesmo?Tudo ainda mais confuso.Resolveu segui-los enquanto caminhavam pela calada, aguou os ouvidos para no perder sequer uma palavra que os dois trocavam. Minho... eu sei que voc est com a Eunhye, mas, ainda assim... o pequeno parecia duvidar Eu queria que voc soubesse de algo...Minho viu uma expresso intrigada surgir em seu prprio rosto, como se fosse mesmo um reflexo do seu. S que o primeiro parecia desconcertado e o segundo, quase sabia o que Taemin tinha a dizer. E o que ? os trs pararam os passos. Eu... o pequeno Taemin abaixou o olhar e mexeu nos dedos, encabulado Eu... gosto de voc.E o Minho daquela poca sorriu, bagunando-lhe os cabelos com ternura. Voc sabe que... e inclinou-se para mais perto Eu tambm gosto de voc Taemin.Os olhinhos do pequeno Taemin brilharam cheios de lgrimas, a voz saiu embargada: Mas... Eu gosto de voc Minho... Gosto muito!Minho e seu outro eu se surpreenderam, sendo a surpresa mais marcada no rosto do que pertencia aquela poca. Ele perguntou baixinho, olhando para os lados como se temesse que algum houvesse escutado: O que voc disse? a verdade... o pequeno Taemin murmurava Eu no queria que voc soubesse... Mas eu juro, juro que no conseguia mais guardar. Mas Taemin... voc um menino.Minho via a confuso e o desconcerto refletidos em seu prprio rosto, estava claro que no sabia o que dizer. Voc s uma criana... falava com toda a pacincia do mundo Como pode pensar que gosta de mim?Sim... o pequeno deveria estar apenas confuso. Mas ele tinha a resposta na ponta da lngua: Eu s penso em voc Minho... comeou sem mirar o maior Quando no te vejo sinto uma saudade to grande, uma coisa ruim aqui no peito. Mas quando voc me olha, meu corao acelera e me sinto to feliz quando voc sorri... suspirou Eu gosto de voc, Minho.E o Minho que no pertencia quele tempo sorriu com tamanha doura implicada naquelas palavras, encantado com a sinceridade com que eram proferidas. Mas o Minho daquela poca negava com a cabea sem chegar a compreender os sentimentos do menor.Minho viu os olhinhos do pequeno Taemin se encharcar de lgrimas e este virar-se pronto para ir embora, mas seu outro eu logo lhe segurou o brao, impedindo-o de ir. Taemin... Diga-me, quantos anos voc tem? Doze, mas... E quanto anos eu tenho? Vinte.Minho no entendia a si mesmo. Por que estava perguntando aquelas coisas ao pequeno? Por que simplesmente no o deixou ir? Estava to confuso quanto o prprio Taemin com suas prprias atitudes naquela poca. Isso. E sou oito anos mais velho do que voc... no podemos ficar juntos. Ento... e Minho comeou a prestar mais ateno em suas prprias palavras, assim como o Taemin por isso que esperarei at que voc tenha alguns anos mais. Alguns anos mais?Taemin fez a mesma pergunta que rondava a mente de Minho. A resposta logo veio: Isso mesmo. Por enquanto no posso te prometer nada, Eunhye a minha namorada, voc sabe. sorriu Por isso, quando voc tiver a mesma idade que eu, a sim poderemos ficar juntos.Sabia perfeitamente que aquilo resultaria impossvel. Jamais haveria o momento que Taemin tivesse a sua mesma idade. Sabia, mas o pequeno era to inocente, to ingnuo para chegar a essa concluso sozinho. Talvez, quando chegasse, seus sentimentos j estariam mais claros. Ento... os olhinhos estavam cheios de esperana Quando eu tiver a mesma idade que voc... Voc vai me amar? Dezoito. J me conformo com que voc seja maior de idade. E ento eu vou te amar, ficaremos juntos para sempre. Promete? Eu prometo.Minho viu como ele mesmo se inclinava e roubava um terno e rpido beijo de Taemin. Viu o pequeno sorrir com tanta felicidade, com tanto amor... Taemin lhe amava e estava disposto a esperar o tempo que fosse para poder ter o amor retribudo. Porque para ele uma promessa de amor era indestrutvel e teria que ser cumprida, cedo ou tarde.Taemin se afastou correndo, tentando esconder o rosto ruborizado. E o Minho que assistia toda a cena encontrou-se mais perdido do que nunca. Jamais, em absoluto, chegou a pensar na conseqncia daquela promessa. A forma com a qual havia selado sua vida e sua existncia a um garotinho de doze anos, que seguiria esperando que a promessa de amor se cumprisse.Minho viu a si mesmo se aproximar de um pequeno grupo de meninos que reclamavam, alguns com a cara amarrada e alguns com expresses tristes. Ento ele soube o que aconteceria a seguir, como se de golpe toda sua memria lhe atingisse junto com o medo. O que aconteceu? o Minho da poca quis saber. A bola! Caiu do outro lado...As crianas pareciam desoladas. Minho suspirou resignado antes de dizer: Fazer o que n? Eu vou busc-la. Srio?As crianas comemoraram animadas.O Minho que assistia a tudo se sentiu to aterrorizado, a ponto de correr at si mesmo: No! gritou No v! Por favor, no! No suba a!Mas o Minho de sua memria no lhe dava ouvidos, passava entre ele como se ali no houvesse ningum.O vento se agitou. Foi intil tentar deter a si mesmo. Era o seu destino. Viu o Minho de suas lembranas subir na rvore sob o olhar curioso das crianas. Estava quase l quando... Minho!Minho contemplava a cena recordando por completo do que havia sido sua vida.Ante os gritos das crianas, um alvoroo se formou enfrente ao muro branco. Minho viu Eunhye sair de casa correndo para ver o que acontecia. As portas de metal da parte lateral da barreira foram abertas enquanto paramdicos acudiam o lugar sendo seguidos por algumas pessoas, dentre elas Taemin, Eunhye e o prprio Minho do presente.Foi tarde demais. Minho jazia ao cho, estendido no meio de uma poa de sangue que provinha de sua cabea, os olhos semicerrados com a morte refletida neles.Minho viu Taemin abraar-se com fora a sua ex-namorada, os dois pondo-se a chorar. Os paramdicos saram carregando o corpo de Minho coberto por um lenol branco e como se Taemin s naquele momento compreendesse o que havia de verdade acontecido, ps-se a gritar: No! Minho! ele se debatia sendo amparado por Eunhye que lhe apertou com fora Voc prometeu Minho!! Voc me prometeu! Minho!!

Dando meia volta a noite lhe caiu em cima. E logo, j estava novamente no presente. De p sobre a varanda da casa de Taemin.Estava aterrorizado, mas mesmo assim obrigou-se a aceitar o que no tinha remdio algum. Suspirou fechando os olhos por um momento.Tinha coisas importantes a fazer.[...]XXXParte FinalMinho mirou ao longe e logo, com apenas desej-lo, estava de p em frente ao que, uma vez, foi sua casa.Contemplou fixamente por alguns instantes: a pintura estava corroda pelos anos, o canteiro que era to bem cuidado por sua me estava seco e o vidro de algumas janelas estava quebrado. Atravessou a porta e passou a observar o interior. Tudo vazio e empoeirado. L dentro s restava uma mesa corroda e alguns mveis de canto. No que uma vez foi seu quarto, s restava uma cama velha e uma estante cheia de livros amarelados. Teias de aranha em todo canto.Escuro e carregado, assim como sua mente. O lamento de seus pais se desprendia do papel de parede descascado e enrugado pelo tempo. O choro de sua me abraada tristeza do pai. O casal que havia perdido o filho de maneira to banal resolveu ir embora, sem se dar conta de que deixavam para trs, submergido numa realidade idealizada, o esprito desorientado daquele que havia sido seu filho.Minho se deu conta que tudo o que estava vivendo era apenas mera alucinao de sua mente que se negava a aceitar que j no fazia parte desse mundo, no qual permanecia atado por uma promessa que, de qualquer jeito, teria que cumprir. Era hora de deixar tudo aquilo para trs.Mas antes deveria se despedir de algum.Avanou alguns passos e, como se a dimenso do espao no existisse, j se encontrava de p em frente cama de Yoogeun. O pequeno dormia tranqilo sob as cobertas... O garotinho que poderia estar chamando de filho, ensinando a fazer embaixadinhas e a comer doces escondido da me. Poderia ser ele a quem Yoogeun viesse correndo abraar toda noite quando chegasse do trabalho, no a um estranho a quem ele agora chamava de pai.Sentou-se ao lado do pequeno acariciando-lhe os cabelos. Admirou aquele menino to parecido consigo com extrema ternura. Sem saber se o que sentia era felicidade ou tristeza.Yoogeun moveu-se e abriu os olhos. Quando viu Minho ali, sentou-se rapidamente esfregando os olhinhos. Voc sabia, no ?O pequeno fez que sim com a cabea. No lhe surpreendia nem um pouco a presena de Minho ali. Mame me falou de voc. Na vez que eu tentei subir na rvore. Ela disse que gostava muito de voc e no queria que acontecesse comigo o mesmo que aconteceu contigo... No a culpe por ter casado com o papai.O pequeno falava quase se desculpando. Minho quis abra-lo, quis dizer tanta coisa... Mas o n em sua garganta o impedia, no podia chorar na frente do filho... Por isso, apenas sorriu. Obrigado por estar comigo, Yoogeun-ah... Voc... foi um grandeamigo. Voc vai ir embora agora? O meu lugar no aqui... e acariciou a cabea do pequeno mais uma vez, com todo o carinho. Se cuida, t? Eu te amo, voc o meu melhor amigo. Eu tambm, pequeno...Minho beijou-lhe a testa e o acomodou novamente sob as cobertas macias. Yoogeun murmurou depois de um bocejo, quase dormindo: Voc vai voltar algum dia? Vou sim... Promete? perguntou de olhinhos fechados. Eu prometo.E o pequeno se entregou ao sono.Minho levantou-se em meio a um suspiro, decidido a cumprir com outra promessa feita h muito tempo. Virou-se para trs e sentiu o vento gelado da noite no rosto. Estava sobre aquela mesma varanda da casa de Taemin. A janela estava aberta convidando-o a entrar...Entrou no quarto logo avistando um relgio na parede: era quase meia noite, faltavam poucos minutos.Encontrou Taemin deitado, todo encolhido, respirando fracamente. A pele dele parecia ainda mais plida... Sobre a mesinha de cabeceira, se encontrava uma poro de caixinhas de diferentes tamanhos e vidros de cor escura. Eram remdios, muitos remdios.Minho subiu na cama por cima de Taemin, lhe distribuiu beijos pela bochecha suavemente e sussurrou entre um e outro: Taemin... Taemin acorda...Taemin despertou e virou-se preguiosamente percebendo Minho sobre si. Sorriu e passou uma das mos no rosto do maior dizendo fracamente: Sabia que voc viria.Dezoito de julho: o aniversrio de Taemin. Em poucos minutos ele completaria seus dezoito anos e a promessa teria que ser cumprida.Minho deitou sobre o peito magro e frgil do menor abraando-o, embriagando-se com aquele cheiro gostoso e familiar que ele tinha. Embalado pela respirao fraquinha e os batimentos lentos. Logo sentiu a mo pequena e gentil em seus cabelos.Para Minho, Taemin representava o escape do mundo ao qual j no pertencia. Por causa da promessa, havia ficado preso nessa dimenso esperando por algo que estava perdido em sua memria. Mas finalmente cumpriria a promessa e ento poderia partir.Foi a que ele se deu conta de algo...Taemin estava vivo. Cumprir a promessa de ficarem juntos significava tir-lo desse mundo. E Minho no sabia se estava disposto a fazer algo como isso. Taemin, como de costume, pareceu ler seus pensamentos: Te esperei por tanto tempo Minho... Voc no vai me deixar agora, vai? Mas e a sua famlia? Minha famlia j espera por isso. afirmou. Minho ergueu-se um pouco para mir-lo Acho que esto surpresos que no tenha ido antes. Mas eu no podia... Jurei a mim mesmo que estaria aqui esperando... at que voc voltasse pra cumprir a promessa...E lgrimas puras deslizaram pelo rosto do maior. O amor que aquele garotinho havia dito sentir por si era genuno, forte e indestrutvel. Porque nem o passar dos anos, nem mesmo a morte, nem a prpria enfermidade foram capazes de afet-lo.As mos plidas secaram as lgrimas do rosto bonito do maior e este s dedicou-se a beijar-lhe o rosto mais uma vez. Quando voc comeou a me ver? A perceber que eu estava aqui? Quando a morte te ronda, voc comea a perceber os dois mundos e passa a ver o que os outros no...Minho estava surpreso com a simplicidade qual Taemin lidava com isso. Aquele garoto era muito mais forte do que parecia. Tinha uma perseverana invejvel e uma f admirvel naquilo que acreditava. Tudo com tanta doura que fazia parecer to mais fcil... Eu te amo Taemin. declarou.O relgio marcou exatamente meia noite. Era a hora. Minho encarou aqueles olhos que lhe fitavam serenos, com um brilho precioso de esperana e amor infinito. Feliz aniversrio, meu amor... e beijou-lhe os lbios Quer sair pra dar uma volta?Taemin assentiu com a cabea e um sorriso reluzente no rosto. Minho tambm sorriu e deu espao para que ele se levantasse. Tomou o menor pela mo e saram pela enorme janela onde as cortinas brancas se agitavam com o vento.[...] Senhora!A jovem gritava desde a porta do quarto de Taemin. Uma mulher bem mais velha chegou agitada: O que houve Hyojung?!A jovem no respondeu. Ela estava assustada, os olhos cheios de lgrimas. Cobriu a boca encolhendo-se e deu espao para que a patroa entrasse no quarto.A mulher entrou a passos lentos sendo seguida pela moa. Ela aproximou-se da cama do filho e abaixou-se para tocar-lhe os cabelos finos. Eu tentei acord-lo, senhora. Eu tentei, mas... a jovem no conseguia falar. O garoto que ela havia cuidado todos estes anos estava ali, imvel sobre a cama. E com a pele to fria, como ela mesma havia constatado ao toc-lo.Mesmo assim ele parecia estar apenas dormindo. Num sono profundo demais para ser acordado. Deixe-o descansar, Hyojung-sshi...A mulher levou as duas mos ao rosto gelado do filho e beijou-lhe a testa com infinito carinho. Eu sabia que voc estava certo meu filho... Mas a mame tinha tanto medo de aceitar... ela dizia com a voz embargada pelo choro Espero que ele cuide de voc, meu amor.E ento ela chorou. Chorou com tristeza sobre o corpo frgil e inerte do filho. Hyojung sentou-se ao lado da me de Taemin e a abraou timidamente, tentando passar-lhe algum conforto, mesmo sendo ela a mais fragilizada.Aps a morte de Minho, Taemin havia se submergido numa profunda depresso. Ele deixou de comer, de dormir... E seu corpo enfraqueceu, terminando impregnado por uma anemia devastadora.E ento a notcia chegou. Aos quinze anos Taemin foi diagnosticado com uma doena terminal, sendo estabelecido a ele pouco mais de um ano de vida.Mas Taemin se ergueu contra! Decidiu que no seria doena nenhuma que fragmentaria sua vida. Somente quando a promessa se cumprisse ele estaria pronto. E contra todos os prognsticos ele conservou sua vida. Mesmo tendo as portas da morte abertas ante seus olhos, ele estava decidido a no atravess-las sozinho.Manteve-se vivo, para a surpresa de todos que no compreendiam o quanto a vontade humana era poderosa para conseguir objetivos considerados impossveis.Pelo simples fim de alcanar o amor que uma promessa lhe oferecia.FIM.

Eplogo. O que voc est fazendo, a?Um par de belos e redondos olhos castanhos girou para mirar aqueles que tanto se pareciam com os seus. Olhando... respondeu a garotinha de uns sete anos de idade.O maior se aproximou e piscou algumas vezes ao ver para onde sua irmzinha tanto olhava, mas sem realmente saber o que era.Estavam de p em frente ao grande muro branco cuja pintura havia sido retocada poucos dias atrs. E o que est olhando? Esses meninos. ela apontou e deu mais uma lambida em seu sorvete de chocolate Aquele ali disse que no se esqueceu de voc. No t vendo?O garoto juntou as sobrancelhas, confuso, tentando enxergar alguma coisa no alto do muro onde sua irm apontava com tanto afobamento. Coisa que ele sabia que no conseguiria.Prontamente a lembrana de ter um amigo imaginrio quando era criana veio em sua mente.Aquele ali disse que no se esqueceu de voc.Seria possvel?Sorriu com a lembrana da promessa que Minho lhe fizera.Ele havia mesmo voltado para cumpri-la. Voc conhece eles, Yoogeun-oppa? uma longa histria, Minhye. declarou com ternura.Tomou a menina pela mo e a levou para casa.A menina virava a cada trs passos para olhar para os meninos que se encontravam sentados sobre o muro lhe acenando com grandes sorrisos. Parece que eles esto bem. disse Minho todo bobo vendo os dois se afastarem. Isso me alegra muito.E durante um doce beijo, desvaneceram-se no ar. Deixando um eco de risadas travessas pelo interior da famosa caixa branca, da qual, agora, muitos contam haver escutado a risada de um par de anjos que gostam de aparecer por l de vez em quando.Mesmo que, claro, apenas as crianas possam enxerg-los. Porque somente elas tm a inocncia e brandura necessrias para ver o que os adultos j esqueceram.FIM.