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Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro - Ano II - Número 3 Encontros NO TRIBUNAL Encontros NO TRIBUNAL SAÚDE - SEUS DESAFIOS ÉTICOS TURISMO - O RIO MARAVILHA ESPORTE - OS INVESTIMENTOS DO MUNICÍPIO TECNOLOGIA - A ERA DO CONHECIMENTO TRABALHO - COMO REDUZIR AS DESIGUALDADES

 · ENCONTROS NO TRIBUNAL /20003 C om a inauguração do Au-ditório Luiz Alberto Ba-hia, reiniciaremos os En-contros promovidos pelo Centro Cultural. L ogramos, no entanto, em 1999,

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Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro - Ano II - Número 3

EncontrosNO TRIBUNALEncontrosNO TRIBUNAL

SAÚDE - SEUS DESAFIOS ÉTICOSTURISMO - O RIO MARAVILHA

ESPORTE - OS INVESTIMENTOS DO MUNICÍPIO

TECNOLOGIA - A ERA DO CONHECIMENTOTRABALHO - COMO REDUZIR AS DESIGUALDADES

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O TCMRJ está na linha.ON-LINE

Administração que não seinformatiza é deletada.

SERVIÇO MÉDICO E ODONTOLÓGICO

SECRETARIA DAS SESSÕES

BIBLIOTECA

C A D

PRESIDÊNCIA

www.tcm.rj.gov.br

Todos os setores do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro estão conectados a uma rede de informações para atender ao cidadão carioca.

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C om a inauguração do Au-ditório Luiz Alberto Ba-hia, reiniciaremos os En-

contros promovidos pelo CentroCultural.

L ogramos, no entanto, em1999, assistir palestras dealto nível cultural e desfru-

tar da agradável companhia depersonalidades interessantes ecompetentes. Algumas palestrasforam especialmente estimu-lantes na medida em que leva-ram a platéia a refletir, inclusi-ve sobre fatores que vêm alte-rando nossa realidade a todomomento e nem sempre sãopercebidos ou avaliados em suaimportância.

U ma dessas palestras foi a profe-rida pelo Dr. Marcos Cavalcanti,Coordenador da Cooperativa de

Pesquisas, Gestão do Conhecimento eInteligência Empresarial e do Centrode Referência em Inteligência Empre-sarial (COOPE, UFRJ). Por um lado, oPalestrante trouxe uma mensagemde otimismo: considerou a próprianecessidade econômica geradora deuma melhor distribuição de renda,como conseqüência da procura denovos mercados consumidores, e pro-fetizou que o potencial de criativida-de do brasileiro proporcionará aoPaís um melhor lugar no futuro; emseguida, nos colocou um enorme de-safio, descortinando o alto nível tec-nológico necessário ao trabalhadornacional na “Era do Conhecimento”.

O utras palestras, como “DesafiosÉticos no Final do Século, naÁrea da Saúde”, “Rio, Esportes e

Integração Social” e “Projetos da Se-cretaria Municipal Trabalho”, profe-ridas, em datas anteriores, respecti-

vamente pelos Secretários munici-pais de Saúde e Lazer e de Trabalho,tiveram a Ética, a Saúde e a Educa-ção como temas principais ou para-lelos.

N essas últimas palestras, não obs-tante a excelência de cada umadelas, não seria excessivo abor-

dar a nova sociedade citada pelo D.Marcos Cavalcanti, dando a extensãodo indispensável preparo para se in-gressar na “Nova Era”. Afinal, nessanova sociedade, o fator de produção,como bem salientou o Palestrante, é oconhecimento. E Ética, Saúde e Edu-cação formam a base necessária aoflorescimento da inteligência e do co-nhecimento. Sem esses fatores, per-dem sentido discussões sobre “gestãodo conhecimento” ou “inteligênciacompetitiva”. E não há dúvida deque, sem esses fatores, seremos lanter-ninhas na “Era do Conhecimento”,como o fomos na “Era Industrial”.

ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

E D I TO R I A L

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S U MÁR I O

� O Secretário Municipal de Turismo, GérardBourgeaiseau, fala sobre a política do setor paraa cidade, e a trajetória do “Plano Maravilha” – abem sucedida iniciativa do órgão, que mudou acara do Rio.

� Para José de Moraes Correia Neto, ex-Secretário Municipal de Esportes e Lazer,“quando se investe no esporte, se investe nosocial, na educação, na saúde”. Ele fala tambémsobre o Centro Poliesportivo Miécimo da Silva,o maior investimento na área já realizado noMunicípio.

� Até que ponto o desenvolvimentotecnológico pode constranger a qualidade devida da sociedade é uma das preocupações doex- Secretário Municipal de Saúde, José Assad.

CAPA

O Rio de Janeiro continua lindo, não só na música de Gilberto Gil, como na lente do fotógrafoIvan Gorito Maurity. Privilegiado pela natureza, o Rio é o primeiro destino de turistas no Brasil,possui as maiores redes públicas de ensino e de serviços de saúde da América Latina e uma dasmaiores rendas per capita do país. Nesta publicação, que reúne as palestras realizadas peloCentro Cultural do TCMRJ, no período de julho a dezembro de 1999, Secretários, ex-Secretários eestudiosos debatem os problemas da cidade e apresentam as possíveis soluções.

32 –ESPORTESRRIIOO,, EESSPPOORRTTEESS EE IINNTTEEGGRRAAÇÇÃÃOO SSOOCCIIAALL

22 –SAÚDEDDEESSAAFFIIOOSS ÉÉTTIICCOOSS NNOO FFIINNAALL DDOOSSÉÉCCUULLOO,, NNAA ÁÁRREEAA DDAA SSAAÚÚDDEE

6 –TURISMO““PPLLAANNOO MMAARRAAVVIILLHHAA - RRIIOOIINNCCOOMMPPAARRÁÁVVEELL””

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� André Urani, Secretário Municipal deTrabalho, apresenta os projetos de suaSecretaria e considera a Educação uma daspossíveis soluções para reduzir asdesigualdades existentes no País.

� Tecnologia da informação, gestão doconhecimento, capital intelectual são algunsdos conceitos esclarecidos pelosapresentadores Marcos Cavalcanti, RosanaTeixeira e Doris Cavalcanti durante jornadasobre a nova era em que vivemos.

50 –TRABALHOPPRROOJJEETTOOSS DDAA SSEECCRREETTAARRIIAA MMUUNNIICCIIPPAALL

62–TECNOLOGIAEERRAA DDOO CCOONNHHEECCIIMMEENNTTOO

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T U R I S M O

“Senhor Presidente AntonioCarlos Flores de Moraes,Conselheiros Thiers Mon-tebello e Maurício Azedo.Senhores da Casa, meuscompanheiros, diretores.

É um privilégio poder estar com vocêsaqui, esta tarde, porque eu acho que umadas coisas mais importantes que podeexistir é a nossa comunicação, nosso diá-logo. E vou tomar algum tempo, porquefalo sobre alguma coisa que eu amo, queeu realmente gosto, que é o turismo, e adefesa da nossa cidade. Depois da pales-tra terei imenso prazer em conversarcom todos vocês, e responder às pergun-tas. Fiquem totalmente à vontade. O diá-logo é sempre a parte mais importante.

Gostaria de esclarecer que eu não ten-ciono exaurir o assunto na minha pales-tra. Serão algumas pinceladas com o ob-jetivo de suscitar perguntas, para a gentepoder dialogar e procurar melhorar cadavez mais o turismo na cidade do Rio deJaneiro.

Tudo começou logo após a eleição do

“Plano Maravilha-Rio Incomparável”

“Boa tarde a todos. O Centro Cultural do Tribunal de Contas doMunicípio do Rio de Janeiro inicia mais uma palestra da programação“Encontros no Tribunal”. O nosso convidado de hoje é o doutor GérardBourgeaiseau. Ele irá conversar conosco sobre o programa “RioIncomparável - Plano Maravilha”. O Gérard é Secretário Especial de Turismo da cidade do Rio deJaneiro, Presidente da Riotur e do Riocentro, além de ter mais de trintaanos de experiência na área do Turismo, onde já recebeu prêmiosimportantes, como “O Executivo de Turismo do Ano”, concedido peloJornal do Commercio; e o European Incentive Travel Meeting, entreoutros de real importância.Ao assumir a Secretaria Especial de Turismo do Rio, em março de1997, recebeu do Prefeito Luiz Paulo Conde a importante missão deimplementar um grande projeto de turismo para a cidade, e assimsurgiu o “Plano Maravilha”. No exame das contas, verificamos que o“Plano Maravilha” é destinatário de um valor que chama atenção pelasua importância. A nossa 6ª I.G.E. - que é a 6ª Inspetoria - dirigida pelaInspetora Lúcia, está fazendo o acompanhamento da inspeção sobre aRiotur e sobre todas as questões que envolvem o projeto.Para podermos entender melhor a finalidade desse plano, e nãoficarmos presos aos números frios que o projeto envolve, convidamos odoutor Gérard, que se faz acompanhar pelo Subsecretário OsvaldoDrumond, pela Diretora Administrativa e Financeira, doutora MargaridaMolino, pelo Diretor de Projetos Especiais, doutor Renato Longo, peloDiretor de Operações e Eventos, doutor Antônio Angionilo; pelaDiretora de Marketing, doutora Glória de Brito Pereira; e pelo Diretor daárea Jurídica da Riotur, doutor Paulo Meireles. Agradecemos apresença de todos, especialmente dos membros do nosso CorpoDeliberativo, Conselheiros Thiers Montebello e Maurício Azêdo. Passo apalavra ao doutor Gérard.”

PALAVRAS DO CONSELHEIRO-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

GÉRARD BOURGEAISEAU

18 . 0 8 . 9 9

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Prefeito Luiz Paulo Conde. Eleito em umasexta-feira, no domingo me convidou pa-ra continuar no Riocentro, assumir a Se-cretaria de Turismo e a Riotur. E, antesque eu pudesse agradecer ao convite, elecolocou que era seu desejo fazer um pla-no de turismo com uma política para oturismo na cidade do Rio de Janeiro, por-que tínhamos políticas mais ou menosestabelecidas para vários setores da cida-de, mas o turismo ainda não tinha a sua.E por que ainda não tinha sido privilegia-do com uma política se essa cidade éuma cidade que vive de um passado glo-rioso, é uma cidade muito bonita, que foidesenhada pelo Criador como nenhumaoutra cidade no mundo, além de ter umainfra-estrutura de turismo altamente po-sitiva?

Quem viaja muito sabe que em algunspontos podemos nos comparar à Europae aos Estados Unidos. É claro que pode-mos melhorar, mas a nossa infra-estrutu-ra é totalmente aceitável. Nós temos, emtermos de profissionais na área de Turis-mo, na área de eventos, profissionais do

mesmo calibre do pessoal do exterior, vi-de a organização da Rio 92, vide os gran-des congressos que acontecem na cida-de. Somos tão bons quanto o pessoal láfora, e temos ainda o maior ganho, que éo povo carioca, os brasileiros, mas em es-pecial o carioca, imbatível na sua manei-ra de receber as pessoas, na maneira quese comporta no dia-a-dia.

Eu milito nisto há quarenta anos. Co-mecei aos quatorze anos, em uma agên-cia de viagens aqui perto, a duas esqui-nas daqui, que era a maior agência deviagens do mundo, depois fui para a PanAmerican, e passei os últimos trinta anosna Varig.

O Rio de Janeiro é uma cidade alta-mente desejada. Mas a gente não podeviver só de glórias, viver achando que es-tá tudo ótimo. A concorrência é muitogrande. Todos os destinos, em qualquerlugar do mundo, estão competindo. Todomundo se posiciona no mercado, os me-nores lugares. Por exemplo, agora, umaregião que nem é mais um país, mas umaregião da Iugoslávia, que foi dividida,

O Município do Rio deJaneiro abriga cerca de40% da população doEstado,e responde por75% de sua economia

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tem enviado representantes aos grandeseventos internacionais, buscando a suafatia de mercado, quando a gente sabeque eles estão passando momentos terrí-veis, que a gente vê pela televisão todosos dias. Mas estão presentes nos dizendo:“Venham nos visitar que está tudo bem,obrigado”.

Em outras regiões do planeta, que nãosão tão privilegiadas como o Rio de Janei-ro, ou outras, que são muito desenvolvi-das, como Hong Kong, por exemplo,ocorre uma guerra total para se atrair osturistas. Enquanto isso nós deixamos deestar presentes, fazendo coisas aleató-rias. Assim, essa decisão do Prefeito dedesenvolver um plano para o turismo foiótima. Mesmo antes de eu poder agrade-cer o honroso convite que me foi feito, fi-quei alegre em saber que ele queria quese fizesse uma política para o turismo,porque sem uma política a gente não te-ria um destino. Devo agradecer à Câmarados Vereadores que, prontamente, e in-dependente dos partidos, das tendên-cias, naturais e saudáveis em uma demo-cracia, votou a favor de uma verba, porque, sem verba, a gente não pode traba-lhar, não dá pra fazer milagre.

Tendo essa verba, nós temos que res-ponder com profissionalismo e com co-nhecimento, para que possamos conti-nuar a merecer essa confiança no futuro.Em 1997 começamos a elaborar o “PlanoMaravilha”, que é a política de turismo dacidade do Rio de Janeiro. Da primeira se-mana de janeiro, até o final de agosto,realizamos um levantamento, um diag-nóstico da situação do Rio. Fizemos pes-quisa de mercado na cidade com os turis-tas, no aeroporto, na chegada e na saída.Um terço dos turistas que chegavam aoRio não tinham uma boa imagem da ci-dade. Tinham vindo porque era o Rio...Mas eles não estavam muito satisfeitos.Encontravam algumas negativas, mas,quando iam embora, cinco ou sete diasdepois, 92% desses turistas tinham altasatisfação com a cidade do Rio de Janei-ro, e queriam voltar ou recomendar aosseus amigos.

Fizemos também pesquisas no exte-rior, na França, no Reino Unido, na Ale-

manha, Itália, Espanha e em Portugal.Por que? Porque nós precisávamos sabero que o turista de fora pensava. Aquelesque estão habituados a viajar longas dis-tâncias: um europeu que vá para a Ásia,um americano que vá para a Europa oupara a África - porque a tendência do tu-rismo nos Estados Unidos é mais para aEuropa do que pra cá - e que não vinhampara cá. Por que não vinham? Qual era aimagem que eles tinham da gente?

No Rio de Janeiro, um outro fator mui-to importante era envolver a sociedadecarioca, a comunidade. Não poderia ser o“Plano Maravilha” um plano do meu ga-binete, um plano do Secretário, um planodo Prefeito da cidade do Rio de Janeiro.Esse plano precisava ter o envolvimentoda cidade. Envolvimento dos seus cida-dãos, de todo mundo. Mais de 1.500 pes-soas foram reunidas, em mesas-redon-das, em entrevistas individuais. Pessoasdo turismo, envolvidas direta ou indireta-mente com o turismo. Pessoas que nãotinham nada a ver com o turismo, masque moram aqui, que gostam dessa cida-de e queriam contribuir com o seu de-senvolvimento.

Nós queríamos o comprometimentodos cidadãos, e acredito que esse com-prometimento foi bem sucedido. Pode-mos ver no desenrolar da nossa campa-nha. Nós recebemos consultas, cartas etelefonemas de pessoas que estão inte-ressadas em saber como está indo o “Pla-no Maravilha”, colaborações, idéias pragente desenvolver. O resultado do diag-nóstico, que vocês vão receber, foi frutode um levantamento de 18 meses. Sãodados muito consistentes. Eu posso dizerque há muito tempo não se fazia um tra-balho desses. Inclusive, meus colegas doturismo me criticaram... Como é que agente vai fazer mais um plano? A gente jáfez tantos planos... Eu tinha uma cópiade todos esses planos que, em geral, seresumiam a quatro ou seis folhas. Quan-do eles enxergaram que nós estávamosfazendo esse diagnóstico, no mês deagosto, calaram-se e viram que nós está-vamos com um trabalho extremamenteprofissional.

Nos meses de setembro, outubro

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““Nos anos 80 e nos anos 90enfrentamosuma baixa da auto-estima,que precisa serrecuperada””

TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

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e novembro, desenvolve-mos o plano de ação, quequeria atingir, exatamente,quatro segmentos: primei-ro, os cariocas, porque erapreciso aumentar a auto-estima do carioca. Nosanos 80 e nos anos 90 en-frentamos uma baixa daauto-estima do carioca,que precisava ser recupera-da.

Segundo, precisava setrabalhar público consumi-dor, pois hoje em dia não émais o agente de viagensquem decide as viagens daspessoas.

O público consumidorhoje tem um grande acessoaos meios de comunicação, com a Inter-net, os jornais, decidindo ele mesmo oseu destino, aonde vai querer passar asférias, o que vai fazer com o seu tempovago. Houve essa mudança. Terceiro, tra-balhar os agentes de viagem, operado-res. Por mais que o público consumidorvenha a decidir: “Eu quero ir a Paris, aNova Iorque”, ou o alemão que vai deci-dir vir para o Rio de Janeiro, o argentinoque quer vir ao Rio, ele vai ligar para oseu agente de viagem e vai dizer: “Olha,eu tenho ouvido boas sugestões sobre oRio, o que você acha disso? “Se não fortrabalhado esse agente de viagem, se ooperador que organiza essas viagens nãofor trabalhado, ele vai dizer: “Olha, o Rioé lindo, mas não está no momento de ir,eu tenho um outro destino espetacular,que é novidade, a um preço muito bom”.

Então, nós precisávamos trabalhar es-ses agentes de viagem e operadores, pa-ra eles mudarem a imagem que tinhamdo Rio de Janeiro, para sentirem confian-ça no nosso produto, para que, quandofossem procurados, eles respondessempositivamente. E o quarto segmento, queé fundamental, são os jornalistas, a im-prensa, que pode ser uma grande aliada,mas também pode ser destruidora. Nósestamos trabalhando junto com os jor-nalistas, trazendo jornalistas dos merca-dos alvos que foram escolhidos, para es-

creverem sobre a arquitetura, sobre agastronomia, sobre a natureza, o meioambiente, enfim, sobre inúmeros pontosdesta cidade extraordinária, esta cidademaravilhosa, esta cidade incomparável,que oferece uma diversidade tão grande,que nós podemos trazer jornalistas dequalquer área: cultural, econômica, mar-keting, qualquer uma.

Inclusive, eu esqueci de trazer o jornalMiami Herald, que saiu há dez dias, comduas páginas coloridas de uma reporta-gem feita graças ao nosso esforço de con-vencer uma jornalista americana de virpara cá. Ela não queria vir porque o Rionão era positivo, já sabia... coisa e tal. In-sistimos, insistimos, e ela veio, passouaqui quatro dias, escreveu duas páginasaltamente positivas. Este é um trabalhoque é fundamental a gente mostrar, semcensura. A gente não obriga ninguém, agente convida, com risco. Porque vocênão pode dizer ao jornalista o que ele vaiescrever, mas como nós acreditamos nanossa cidade, acreditamos no nosso pro-duto, nós sabemos que, em geral, em99,9% - porque nada é absoluto, não é? -escrevem positivamente sobre a cidadedo Rio de Janeiro.

Para atender à demanda do mercado,dentro do “Plano Maravilha”, nós fizemosacordos de marketing em São Paulo. Es-critórios de marketing representam a

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gente em São Paulo, para trabalhar omercado de São Paulo, que é o mercadonúmero um. Em qualquer lugar, o mer-cado doméstico é o número um. O nú-mero dois é Buenos Aires, que traz omaior número de turistas internacionais.Precisamos tomar cuidado porque omercado de turismo na Argentina é mui-to volátil, varia conforme o andamentoda economia. Temos uma invasão de ar-gentinos, o que é muito bom, ótimo...Mas, se a economia não for bem, os ar-gentinos desaparecem. Então, temos quetomar muito cuidado. Depois tem os Es-tados Unidos, em Los Angeles e Nova Ior-que, e na Europa, em Londres, Paris eFrankfurt.

Nós íamos abrir em Madri também,mas devido a desvalorização monetáriaque nós sofremos, para medida de con-tenção de custos, paramos por aí. Nóscomparamos o mercado europeu com oamericano. Qual é o mais importante? Émuito difícil porque a Europa, em seu to-do, traz mais turistas do que os EstadosUnidos. Os laços culturais são muitomaiores da Europa conosco, do que dosEstados Unidos.

Porque o americano vai para Irlanda,vai pra Inglaterra, onde estão as suas raí-zes. E, inclusive, vai para a Ásia, por cau-sa da guerra do Pacífico... Conosco, como Brasil, a relação é meramente comer-cial, sem nenhum traço afetivo, e o nossotrabalho nos Estados Unidos é muitomais duro do que na Europa. Nessa mes-ma época, nós levantamos esta pesquisa,com a reabertura dos postos de informa-ções.

Reabrimos os postos do Aeroporto In-ternacional do Rio, onde temos três pos-tos de informações, que funcionam das 6horas da manhã até meia-noite, paraatender a chegada dos turistas interna-cionais. Vamos abrir mais dois postos nanova área desse aeroporto, já conversa-mos com a Infraero. Um na área interna-cional e outro na área doméstica. Reabri-mos o da rodoviária, que estava fechado.Incrementamos o do nosso escritório,aqui no Centro e em Copacabana. Só pravocês terem uma idéia, nós tivemos, sónos primeiros seis meses deste ano,

34.518 turistas nacionais e internacio-nais que vieram nos visitar, com umamaioria esmagadora de turistas interna-cionais, na base de 27 mil.

Mas o interessante, por outro lado, éque, por consultas telefônicas - e nós ti-vemos seis mil consultas telefônicas –ocorre o inverso: o estrangeiro não tele-fona por que ele tem medo da língua,apesar da gente poder responder em vá-rios idiomas. É o turista nacional quepergunta muito, com quase seis mil tele-fonemas. Quantas cidades no mundo po-dem oferecer, dentro dos limites de umacidade, 86 quilômetros de praias?

Nós temos a única floresta tropical domundo, no meio de uma cidade, que co-bre 18% da área da cidade, o Parque Na-cional da Tijuca. E 30% da cidade do Riode Janeiro é coberta pelo verde, com par-ques, jardins, o Jardim Botânico etc. Poroutro lado, a herança histórica dessa ci-dade é extraordinária.

O Rio de Janeiro foi, por 197 anos, a ca-pital da República. Dois séculos de histó-ria acontecem aqui no Centro, como osmuseus, os centros culturais. Temos aquino centro da cidade a maior concentra-ção de monumentos e centros culturaisda América do Sul. Temos atividades es-portivas 365 dias por ano. Nesses últimosdois dias, inclusive, com esse frio de “ra-char” que a gente teve, tinha gente an-dando na praia, o que é uma maneira dese praticar esporte. Quer dizer, a gentepode praticar esporte o ano todo.

O setor de gastronomia está muito di-versificado, com o exótico e a comida in-ternacional, que satisfaz a todos os gos-tos, inclusive aos mais sofisticados. O tu-rista é sofisticado, ele gosta da gastrono-mia internacional, mas ele também gos-ta da nossa comida, gosta daquilo que opaís pode oferecer, e o Rio de Janeiro ofe-rece uma diversidade de gastronomia detodo o Brasil.

Inclusive, nessa busca, eu sou um fa-nático do guia verde da Michelin, que éótimo para se viajar pela Europa e atémesmo pelos Estados Unidos. Nós con-sultamos a Michelin sobre se havia inte-resse dela fazer um guia sobre o Rio deJaneiro, já que ela havia feito um no pas-

““Quantascidades nomundo podem oferecer 86quilômetros depraias?””

TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

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sado, e a Michelin desdenhou o Rio, di-zendo que o Rio de Janeiro não era umbom destino, e que não havia interessenenhum. Se a gente quisesse, podería-mos pagar US$ 1 milhão e eles fariam aedição, e nos dariam para fazermos o quequiséssemos, porque eles não queriamvender. Eu achei um pouco indecente aproposta. A Gallimard veio nos procurardizendo que queria fazer um guia sobre oRio de Janeiro. Não, desculpe. Entre esseepisódio, eu estava em Paris e fui até umalivraria especializada em viagens, fui pro-curar os livros sobre o Rio de Janeiro, ehavia falta do produto. Eu perguntei: “Oque vocês acham... coisa e tal”... “É, nósestamos precisando”. Não sabiam que euera Secretário de Turismo do Rio, passeicomo turista, já que eu falo um pouco defrancês, dava pra disfarçar bem. Na con-versa, havia essa necessidade. Como oadido cultural da França tinha bons con-tatos na Gallimard, ele disse: “Olha, nósqueríamos fazer um guia sobre o Rio,com a assistência de vocês, sem dúvidanenhuma, e colaboramos com eles”. Esseguia é para homens de negócios, quevêm rapidamente à cidade. Indica hotéis,restaurantes, é extraordinário. Essa edi-ção que saiu foi a edição de maior suces-so que a Gallimard teve nos últimos anos.

A edição do Rio de Janeiro, no ano pas-sado, quando foi lançada, vendeu maisque o guia de Nova Iorque, mais do queos guias de Londres, Madri, Milão, Romaou de qualquer outro guia. Recorde devendas da Gallimard, para mostrar o in-teresse que está despertando a cidade doRio de Janeiro. Hoje em dia o guia estásendo traduzido em vários idiomas e, in-clusive, em alguns meses estará disponí-vel aqui no Brasil, em português.

O Rio é uma esfera de felicidade per-manente, alegria, e a receptividade docarioca, como eu já falei, é extraordiná-ria. Dentro desta pesquisa nós vimos queo Rio de Janeiro não é só o Corcovado,não é só o Pão de Açúcar, não é só as ilhastropicais, e não é só três dias... Logo o tu-rista descobre que ele precisa passaraqui, no mínimo, sete dias. Dentro do fo-lheto que vocês vão receber - porque vo-cês vão receber todos os folhetos - vocês

têm uma sugestão do que fazer no Rio deJaneiro, com uma belíssima apresenta-ção, mostrando um Rio de Janeiro alta-mente positivo. Mas, com uma propostaconcreta de se passar sete dias no Rio deJaneiro.

Nós precisamos sugerir às pessoas,porque as pessoas descobrem o Rio deJaneiro aos poucos. Os operadores esta-vam habituados a fazerem dois ou trêsdias. Eu disse que não daria apoio ne-nhum se não fizessem sete dias. Eles di-ziam que não havia o que se fazer em se-te dias, e a gente está demonstrando queé possível ficar sete dias no Rio de Janei-ro. Nós estamos trabalhando para criaruma maior permanência do turista na ci-dade. Fizemos materiais promocionais, oque é básico, a gente não está inventandonada. Eu acho que a gente tem que imitaro que os outros fazem de bom e evitar oque fazem de ruim. Então nós fizemos omapa, que teve um sucesso muito gran-de. Esse mapa permite ao turista estran-geiro se dar conta da geografia da cidadedo Rio de Janeiro, que é uma geografiamuito difícil de se entender. Por exemplo,quando a gente está em Manhattan, éuma cidade lisa, é tudo plano. Paris, amesma coisa, fora o Sacré-cœur, tudo éplano. Enquanto isso o Rio de Janeirotem uma geografia extraordinária, entreo mar, montanhas, lagos e florestas, queprecisa ser mostrada, como também to-da a parte do centro cultural, com os mo-numentos principais, e sugestões de iti-nerários. Fizemos cartazes, guias de ho-téis, mostrando uma belíssima fotografiade Ipanema, para os agentes de viagempoderem localizar onde estão os hotéis -com um descritivo de todos os hotéis eserviços que são oferecidos.

Seguindo essa linha, nós estamos fa-zendo agora - e vocês vão receber em pri-meira mão, pois nem a indústria recebeu- alguns dos folhetos que nós estaremoslançando no dia 9. Já comentei com osConselheiros e com o Presidente que nodia 9 de setembro nós vamos lançar maisuma série de folhetos. São 14 folhetos te-máticos, para mostrar a diversidade dacidade do Rio de Janeiro. E alguns já es-tão prontos. Os que vocês irão receber di-

““O turista nãovai só aoSambódromo,ele também quer ver o queacontece na rua ””

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zem respeito à natureza do Rio de Janei-ro, aos museus e os centros culturais, umterceiro, sobre a Baía de Guanabara; umquarto, sobre gostos e sabores, com osrestaurantes; dois sobre os eventos in-comparáveis, que são o carnaval e o ré-veillon, que não tinha folheto. A propósi-to, é difícil mostrar o réveillon e tudo oque acontece nessa noite extraordinária.É difícil passar para o papel o sentimentoque vem de dentro da gente, do queacontece aqui no Rio de Janeiro, comoem nenhum outro lugar do mundo; e ocarnaval, para que o turista possa conhe-cer melhor o carnaval e ter uma idéia decomo é o Sambódromo. Teremos tam-bém um folheto sobre os blocos carnava-lescos, pois o turista não vai só ao Sam-bódromo, ele também quer ver o queacontece na rua. Muitas vezes ele está emum hotel, e a duas quadras dali está pas-sando a Banda de Ipanema, ou qualqueruma outra. Por que não mostrar o itine-rário da Banda naquele bairro, quais sãoos horários, se o turista já está ali perto?Ele pode descer do quarto, andar umasduas ou três quadras, se der vontade — eisso tem passado muito despercebido.Nós vamos fazer um folheto que vai mos-trar em toda a cidade, não privilegiandosomente a Zona Sul, mas, democratica-mente, toda a cidade. Outro folheto quevocês também vão receber, é sobre a La-goa Rodrigo de Freitas, um novo pointque despontou nesse último ano e meio,com gente até duas horas da manhã; umoutro sobre a nossa história e a arquite-tura, que é muito rica no Rio de Janeiro.

Como chegar ao Rio por mar? Nós te-mos todo esse mar, mas não temos ne-nhuma intimidade com esse mar. A gen-te com 86 quilômetros de praias e não ve-leja. Então, nós fizemos folhetos paragrandes velejadores que venham dos Es-tados Unidos, que venham da Austrália,explicando como chegar de Búzios a Pa-rati, onde ficam as marinas, informandocomo é que eles chegam, como devemfazer para conhecer a nossa costa. Outrosfolhetos sobre a nossa música e ritmo,também incomparáveis; sobre os espor-tes ao ar livre; a Zona Oeste. Um novo fo-lheto sobre a Zona Oeste, porque já tí-

nhamos feito um no início da gestão, queestamos refazendo porque a Zona Oesteé um novo point de turismo.

A riqueza que existe na Barra da Tiju-ca, na Zona Oeste, é muito grande. Nóstemos inúmeros restaurantes. Quantaspessoas sabem ir a esses restaurantes,quantos sabem chegar ao restaurante doCésar, quantos sabem chegar no Museudo Pontal, quantos vão saber ir no Bar doBira, no Barreado? São todos restauran-tes extraordinários para nós, cariocas,conhecermos e sabermos ir lá e os turis-tas também. Saber que se pode andar acavalo, pode-se andar a pé, de bicicleta...Temos o Riocentro, o autódromo. Temosshoppings extraordinários, uma praia de20 quilômetros na Barra, deslumbrante,tudo isso precisa ser conhecido.

E a vedete dos folhetos, que eu tenhomuita honra de ter lançado, é o folhetochamado E o Rio, se chover? Por que? Oturista chega, está no Hotel Trocadero,está no Rio Othon. Ele vai passar uma se-mana no Rio de Janeiro, abre a janela, eestá aquela chuva, e pensa: o que eu voufazer no Rio? É uma frustração muitogrande. O item número um que os turis-tas declaram querer ver, são as praias,acreditem. Depois vem o Corcovado e oPão de Açúcar. A gente não dá valor por-que mora em frente. Vão ver se aquelaspraias “mixurucas” lá do sul da França,da Côte D’azur, podem competir com agente, com essas praias maravilhosas deCopacabana, de Ipanema, da Barra, deAngra, Ilha Grande? Nós temos esse marimenso, essas praias e essa gente maravi-lhosa. Vão ver se os europeus se compor-tam como a gente se comporta na praia?Então, o turista quer ir à praia, quer ver apraia. Se abre a janela e está chovendo,está perdido, é uma frustração.

Esse folheto, E o Rio, se chover?, é paramostrar ao turista que nós temos uma vi-da cultural muito intensa e muito positi-va, que precisa ser divulgada. Nós quere-mos mostrar um Rio onde se é possívelfazer muitas coisas, independentementedas condições do tempo. Afinal de con-tas, precisamos regar as plantas, paramanter esse ambiente de 18% de área defloresta tropical dentro da cidade. É pre-

TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

““Nós temosuma vidacultural muitointensa e muitopositiva, queprecisa ser divulgada ””

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ciso regar de vez em quando, é até saudá-vel!

Eu acho que nós estamos tendo, peloterceiro ano, uma lotação dos hotéis mui-to boa, apesar que os números da ABIAdizem que tiveram em 1996 somente 63%de ocupação, depois passou para 63,4% e,em 1998, para 66,2%. A área comercial jádiz que a ocupação hoteleira está em78%. Estou mais com a pesquisa da Asso-ciação Comercial, ao dizerem que elestem uma taxa de ocupação, com certeza,perto dos 80%. Isso quer dizer que nós es-tamos precisando de hotéis no Rio de Ja-neiro. Não há mais espaço em Copacaba-na, e a gente precisa ter hotéis.

O problema do custo dos terrenos naBarra é muito alto, mas, graças a Deus, jáestão construindo hotéis na Barra, por-que é altamente necessário. Porque, senós formos uma cidade que no passado -como estávamos conversando eu e o Pre-sidente, agora há pouco - uma cidade deviolência... Você chega em Los Angeles ediz assim: “Eu vou pro Rio”. “Olha, cuida-do, é perigoso, é violento, etcétera e tal”.Mas essa é uma visão da gente. Todos nóstemos um conhecido que já foi assaltado,todos nós conhecemos um prédio que jáfoi assaltado, todos nós conhecemos ca-sos de pessoas que foram seqüestradas.Então, a nossa sensibilidade com a segu-rança é muito grande, é um negócio sé-rio; mas, para o turista, as coisas muda-ram muito positivamente. Isso se refleteem números que eu irei mostrar no final.

O grau de satisfação do turista no Riode Janeiro é muito alto. O número de visi-tantes internacionais em 1996 era de 813mil turistas; em 1997 passou para 1 mi-lhão 120 mil; em 1998 para 1 milhão emeio, e, em 1999, estamos esperando 1milhão e 800 mil turistas internacionais.Vocês podem ver que há um crescimentomuito acentuado, o que sugere uma mu-dança da metodologia da Embratur.

Ela mudou a metodologia e, hoje emdia, temos todo o tráfego de fronteiras,que está desvirtuando esse método. Eutenho quase certeza que nós deveremosalcançar a marca de 2 milhões de turistaseste ano. O nosso incremento está muitomaior, está muito positivo, e a nossa me-

ta é ter 2 milhões de turistas estrangeirosaté o final de 1999. Há grandes possibili-dades de conseguirmos comemorar estamarca. Estamos caminhando para isso.”

�CONSELHEIRO MAURICIO AZÊDO

A Cascata Taunay ficasituada na Floresta daTijuca,única florestatropical urbana domundo

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“Gérard, aqui na coluna de baixo, háuma indicação de queda no percentualdo Rio, no movimento turístico geral.”

�GÉRARD BOURGEAISEAU

“Conselheiro, muito boa a pergunta.Devido à mudança de metodologia, hou-ve uma rearrumação dos principais des-tinos internacionais no Brasil. Nós éra-mos o destino número um, com 37%.Continuamos o número um, com 30,2%.O Rio de Janeiro continua em primeirolugar em termos de destino. O segundolugar fica com São Paulo, com 18%. Ter-ceiro, Florianópolis, com 14%. Por queFlorianópolis? Por causa do tráfego ar-gentino, que é muito grande, e tambémdesvirtua as estatísticas. Em quarto lugar,Bahia, com 10%. Portanto, não houvequeda, houve uma mudança de metodo-logia. Eu agradeço a sua colocação, que émuito importante. O que ocorreu foi amudança de metodologia da Embratur.

No turismo doméstico, nós temos 38milhões de pessoas que viajam pelo Bra-sil. O Brasil é praticamente um continen-te. Em termos continentais, é maior doque os Estados Unidos, é maior do que aEuropa, de Lisboa a Moscou.

O Rio de Janeiro é um destino ideal pa-ra viagens de incentivo. São profissionaisque trabalham na IBM, na Xerox, naShell, e que são premiados no final doano pelas suas performances, pelas suasvendas, pela melhoria da produtividade.Ou ganham em dinheiro, em forma decomissões; ou ganham carros, barcos; ouuma terceira modalidade, que fica parasempre, que é a viagem. A viagem vocênão apaga da sua cabeça, porque a via-gem não some na memória.

O destino número um desses turistas éo Rio de Janeiro, junto com a Bahia e coma Amazônia, que são os outros dois pon-tos muito importantes, no Brasil, paraviagens de incentivo. Já estamos prepa-rando um folheto específico, com lingua-gem apropriada, para viagens desse tipo.Estamos muito bem posicionados, temosuma cidade muito boa, mas, para as via-gens de incentivo, precisamos de muitacriatividade.

Nossos profissionais, que são os agen-tes de viagem, os operadores de viagem,os hoteleiros, são muito criativos. Essesturistas são recebidos, em média, porquase cinco dias. São cinco ou seis diasque eles ficam na cidade feito reis. Quan-do eles chegam de noite ao hotel, sempretem uma lembrança, sempre tem umjantar. Por que? Porque eles foram vence-dores, atingiram as metas da empresa, edurante aquela semana, - uma semanade sonho - eles são os reis. Inclusive, opresidente da empresa vai lá cumpri-mentar cada um, recebê-los pessoal-mente, pela manhã. É um público muitobom, e que gasta três ou quatro vezesmais do que o turista normal, que gastauma média de US$ 90 por dia; ou o turis-ta de congresso, que gasta uma média deUS$ 240 a US$ 300. Esses gastam, em mé-dia, de US$ 300 a US$ 400, por causa dasfestas que fazem

E nós temos também as festas. O AnoNovo, o réveillon e o carnaval. Sobre ocarnaval, parece até uma anedota. Eucheguei aqui no Rio no dia 8 de fevereirode 1956, em pleno carnaval. Era uma lou-cura! Eu tinha 12 anos de idade e não po-dia imaginar que 41 anos depois eu seriaum dos organizadores do carnaval, que éa maior festa do planeta, orientado peloPrefeito, Luiz Paulo Conde, que está re-novando o nosso carnaval. Nós temosum ótimo entendimento com a Liesa, jáque são eles que entendem de samba, eorganizam a grande festa.

A orientação fundamental é de se fazero carnaval na rua. Se o povo não descerpra rua e brincar o carnaval, um dia oSambódromo vai acabar. Nós precisamosreviver esse carnaval de rua, que é abso-lutamente positivo. E assim foi feito: nóspassamos de cerca de 50 bailes popula-res, para quase 300, em toda a cidade —não como imposição da Riotur, mas coma participação das comunidades, vendoonde são os melhores lugares, onde a co-munidade quer que os bailes aconteçam.Isso traz mais turistas, mais empregos.

Esse aumento de receita advinda doturismo é importante para ajudar a resol-ver os problemas sociais, cruciais, quenós temos. Do lado do Sambódromo nós

““O réveilloné uma festa com 80% de brasileiros,somente 20% sãoestrangeiros ””

TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

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temos o Terreirão. Fizemos lá uma mu-dança radical, e hoje em dia o Terreirão éum orgulho da Riotur, porque é um lugarde muita expressão popular, onde vai to-do mundo que não tem dinheiro pra po-der ir a outros lugares. Em geral quem vaiao Terreirão não tem com quem deixar ascrianças. Mas lá eles podem ir com ascrianças, com toda a segurança. Eu tenhovisto, junto com os meus diretores, noTerreirão, às 2 horas da madrugada, às 4horas, às 5 horas da manhã, tem gentebrincando, com crianças de colo, crian-ças de seus cinco ou seis anos.

Hoje em dia o Terreirão recebe mais de20 mil pessoas todos os dias. Começa às 7horas da noite, vai até as 7 horas da ma-nhã, em segurança, na maior paz, namaior alegria.

E aqui está o folheto sobre o carnaval,feito em vários idiomas. No final temuma explicação de como é o Sambódro-mo. Isto porque não só os estrangeirosnão conhecem o Sambódromo, os brasi-leiros também não o conhecem, não sa-bem onde ficam as frisas, os camarotes,as arquibancadas, etc.

O réveillon também está ganhando oseu folheto, que está aqui, e descreve umpouco de toda a alegria que acontece nacidade. O réveillon já foi um problemano passado, mas acho que a gente conse-guiu equilibrar nestes últimos anos. Esta-mos sempre pensando o réveillon, pri-meiro, para a população. O réveillon éuma festa com 80% de brasileiros, so-mente 20% são estrangeiros. No carnavalé diferente, tem-se mais estrangeiros.Nós estamos fazendo, hoje em dia, trêspalcos em Copacabana, onde a progra-mação começa às 21 horas, para atrair opessoal mais cedo, para se evitar a con-centração da meia-noite. A festa conti-nua após meia-noite, para repor as pes-soas, e tem um fluxo de esvaziamentogradativo. Tem sido um sucesso.

No ano passado estive no palco, com aSandra de Sá, e tinha um mar de gente,umas 300 ou 400 mil pessoas, na maiorordem, na maior alegria... Como bemdisse o Presidente, há pouco, nós somosabençoados por conseguir colocar doismilhões de pessoas na praia, com muita

alegria, e ordem. É extraordinário. No final do ano passado, depois de or-

ganizar esses três réveillons com suces-so, eu sugeri ao Prefeito - que acolheu -democratizar o réveillon. Isto queria di-zer não nos concentrar somente em Co-pacabana, que é a Rainha do Mar, a Prin-cesinha, é onde acontece tudo. Essa cida-de tem cinco milhões e meio de habitan-tes, tem 70 quilômetros de comprimentopor 35 quilômetros de largura. Ela é 14vezes maior do que Paris, duas vezesmaior do que Manhattan, é uma cidadegrande, e tem uma população que nãopode ir à praia.

Nós vamos fazer nesse final de ano -estamos quase fechando com os patroci-nadores - um projeto em que nós vamospôr palcos na Praia do Flamengo, na Ilhado Governador, dois palcos na Barra daTijuca, um em Sepetiba, um na Praça Se-ca, Oswaldo Cruz, Irajá e Padre Miguel.Porque essas populações merecem. Nósvamos poder fazer 300 bailes, comoacontece no carnaval, mas vamos colo-car palcos em pontos estratégicos da ci-dade, para que possam proporcionar ànossa população momentos de alegria efesta, iguais ao que a gente tem propor-cionado em Copacabana, sempre privile-giando o artista popular, aquele que nãotem muito sucesso, que não tem muitamídia, mas que faz sucesso com o povo. Agente está dando emprego para essaspessoas, gerando recursos para centenasde músicos que precisam tocar, mostrarsua musicalidade, mas não têm muito es-paço, e proporcionamos ao povo aquiloque eles gostam. O retorno tem sido mui-to bom.

Sobre a segurança, que é fundamentalpara esses dois eventos, nós temos tidoum grande apoio da Guarda Municipal,como vocês sabem, que passou nessesúltimos anos de 600 para quase 5 mil ho-mens. Temos o apoio do Governador, quenos prometeu renovar a segurança noRio de Janeiro, e isso ele renovou — nãose muda em seis meses, claro que as coi-sas levam tempo — mas isso tudo é im-portante porque o turista vem atrás dasegurança, tudo vem atrás da segurança.A gente precisa de um pouco mais de po-

““O turismo geraempregos o ano todo e,automaticamente, gera riquezas””

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lícia na rua. E por que precisa? Eu nãoquero privilegiar nenhum bairro, masonde o turista vai é do centro ao Leblon,a São Conrado. Então precisamos demais polícia na rua nesses bairros, paraque às turista saia do hotel e vá a pé às lo-jas, fazer suas compras. Vá a pé aos res-taurantes.

A maioria dos turistas não fica em ho-téis, fica em residências. O turista preci-sa se sentir seguro para sair a pé da casade seu amigo, para ir às compras. Com asegurança vem o turista, e aí a gente estágerando empregos, mantendo o empre-go do garçom do hotel, da arrumadeirado hotel, da menina que está vendendona loja, do garçom, no bar. E onde moraessa gente? Será que eles moram em Co-pacabana e Ipanema? Talvez o pessoalque trabalha no Sheraton more, princi-palmente, no Vidigal. O pessoal que tra-balha no Intercontinental, mora, em ge-ral, na Rocinha. Mas, nos outros hotéis,estão morando em Padre Miguel, em Ni-lópolis, estão morando em Campo Gran-de. Toda essa gente vem de lá para traba-lhar. Nós só precisamos de um pouco dereforço. A gente está sentindo uma von-tade política importante para que a gen-te possa dar um pouco mais da seguran-ça necessária para que a gente possamanter esse clima para os turistas, paraque eles possam gastar dinheiro e que agente possa manter pleno emprego. Por-que o turismo gera emprego o ano todo e,automaticamente, gera riquezas.

Como uma prova das mudanças noRio de Janeiro que foram positivas, pode-mos colocar o Riocentro, que teve a suaárea de exposições duplicada nesses últi-mos três anos, passando de três pavi-lhões para cinco, aumentando a área deexposições de 50 para 100 mil metrosquadrados.

Quando assumi o Riocentro, em 1992,tínhamos uma média de 22 eventos emum ano, e agora estamos com uma médiade 80 eventos por ano. O calendário só ti-nha 30 eventos até 1997, hoje em dia te-mos 324 eventos reservados até o ano2005. Isso mostra uma retomada alta-mente positiva. Esse crescimento do Rio-centro permitiu mantê-lo na ponta, em

termos de liderança na América do Sul,inclusive a América Latina. Há eventosque poderiam ir para os Estados Unidos,e estão vindo para o Riocentro, que estáaltamente preparado para os grandeseventos, como a Abras, porque eles nãotinham mais espaço para crescer, esta-vam para ir para São Paulo, mas, com aexpansão da área de exposição, eles per-manecem no Rio de Janeiro.

O crescimento do Riocentro nos per-mitiu fazer vários eventos ao mesmotempo. Antigamente nós só tínhamosdois pavilhões e a área de congressos, en-tão, ficava difícil. Agora não. Podemosmontar e desmontar vários eventos aomesmo tempo, podemos ter grandeeventos, como a Abras e o American Ce-lecon, que ocupam o Riocentro inteiro. Amédia tem sido de três eventos ao mes-mo tempo. De acordo com a Internatio-nal Congress and Convention Association,com sede em Amsterdã - do qual fui dire-tor durante dez anos - que é a melhorfonte de pesquisas sobre congressos econvenções, o Rio de Janeiro foi em 1997,a cidade que mais sediou eventos inter-nacionais nas Américas.

Em 1998 não foi, mas eu garanto queem 1999 voltaremos a ser a cidade pri-meiro colocada. Voltando ao assunto dasegurança e da carestia. Nós éramos umacidade violenta, e com uma má imagem,mas agora os turistas estão adorando oRio de Janeiro. No entanto, estamos naameaça de nos tornarmos uma cidadecara, um destino caro. Eu tive uma con-versa com o pessoal da rede hoteleira, háumas três semanas, e disse: “Olha, meusamigos, o governo não pode intervir nainiciativa privada, nem acho que deve in-terferir na iniciativa privada, é livre omercado, mas vocês precisam tomar cui-dado com os preços que estão cobrando,que está uma loucura! Agora que a genteestá melhorando a cidade, que não émais aquela cidade, a percepção de vio-lência não é mais a mesma. Os números,vocês viram, estão cada vez melhores.Mas vocês estão só aumentando. Nós va-mos matar a galinha dos ovos de ouro,porque estamos virando um destino ca-ro”. Escrevi, inclusive um artigo para um

““O Rio deJaneiro foi, em 1997, a cidade quemais sedioueventosinternacionaisnas Américas ””

TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

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jornal. Pedi a eles que tomassem cons-ciência disso, eles acolheram muito bem,não sei se vão cumprir, mas eu recomen-dei que se tivesse uma política de preçospara a baixa estação. Porque, se a gentenão tiver essa política de preços, se a gen-te não tomar cuidado com isso, e comuma cidade com alguma fama ainda deviolenta, vamos ser um destino impossí-vel. Irão para um outro destino, mais ba-rato.

Um exemplo do nosso sucesso noscongressos, é o Congresso de Cardiolo-gia, que no ano passado foi o congressomundial, um dos maiores congressosque existem no mundo. Nós estávamosesperando 8 mil médicos, e vieram maisde 12 mil. Os hotéis ficaram lotados emFriburgo, Itatiaia, Parati e Búzios, porquenão tínhamos hotéis para receber. A Ci-meira foi um outro grande marco paranós. Poderia ter acontecido em qualqueroutra cidade da América Latina, fora osEstados Unidos e o Canadá. Escolheramo Rio. Escolheram o Rio porque o Riomudou, isso é positivo.

Nós tivemos uma exposição no exte-rior, muito mais positiva, e a cidade doRio de Janeiro saiu na frente, porque to-dos os jornalistas que vieram, mais oumenos em torno de mil, mil e duzentosjornalistas, um número significativo, fo-ram olhar nos arquivos sobre a cidade.

A Assessoria de Comunicação Socialdo Prefeito, junto com a Riotur, mandouuma série de informações sobre o Rio deJaneiro, falando sobre a cidade, sobre oque estava acontecendo. Fizemos umprograma de visitas às áreas sociais, visi-tando o programa “Favela-Bairro”, que foimuito bom, para que essas pessoas vies-sem já com espírito um pouco desarma-do, com uma outra visão da cidade e,com certeza, foi um sucesso.

Uma outra confirmação das mudan-ças no Rio de Janeiro, que mostra que es-tamos muito bem no nosso plano de tu-rismo, é o fato dos hotéis estarem inves-tindo cerca de US$ 78 milhões em reno-vações. O Rio Palace, sozinho, investiuUS$ 18 milhões. O Copacabana Palace foitotalmente refeito, e agora quer construirum anexo, que será muito bem-vindo.

O Marina está reabrindo, o Interconti-nental abriu um centro de convençõesmaior. Isso mostra a prova de confiançana cidade, a mudança que teve esta cida-de. O Mariot, onde era a casa de pedraem Copacabana, na Avenida Atlântica,deve terminar no final do ano 2000.

Na Barra, a Wrobel, está construindoum hotel de 345 apartamentos; na Ser-nambetiba tem um outro grupo espa-nhol que está construindo um hotel, de169 apartamentos. E temos o Renaissan-ce Copacabana, com 225 apartamentos.Temos um estudo da Mariot, na Barra,onde estão pensando em ter um hotel, eo grupo do César Park, que também estápensando em ter hotéis na Barra. E va-mos ter um apart-hotel, que tambématende turistas, com 102 apartamentos,que ficará pronto daqui há um ano emeio, em Jacarepaguá, e que vai ser mui-to bem-vindo, porque o Riocentro estáprecisando de hotéis lá perto.

O progresso da cidade, evidente, estáajudando o turismo. Nós temos o Aero-porto Internacional do Rio, que está do-brando a sua área; temos a Linha Amare-la, que está trazendo as pessoas da Barraao aeroporto em 18 minutos. Os reflexospara os negócios é extraordinário, para oturismo também, para investimentos ho-teleiros. As pessoas estão pensando: “Pô-xa, eu posso sair de São Paulo, descer noGaleão e, em 18 minutos, estar no Rio-centro.

O Riomar, que é o programa que o Pre-feito tem, para transformar, desde o Mu-seu de Arte Moderna, até o Leblon, emum cartão postal. A gente já começou,com alguns restaurantes de Copacabana,o Dom Camilo, e os outros vão imitar, pa-ra que nós possamos ter uma AvenidaAtlântica onde se possa transitar, possapassear.

O turista gosta de sair do Rio Palace, irjantar no Marius e voltar a pé. Nós esta-mos com um projeto junto à Guarda Mu-nicipal para, junto com a Polícia Militar,criar condições para que as pessoas pos-sam circular de noite, porque o clima émuito bom, é extraordinário. Essa mu-dança de imagem, essa transformação, éaltamente positiva. O “Favela-Bairro”,

““Uma outraconfirmação dasmudanças noRio é o fato dos hotéisestareminvestindo cerca de US$ 78 milhõesem renovações””

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TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

não vou contar para vocês o que é o Fave-la-Bairro, mas tem sido muito positivo láfora, e mostra uma preocupação dos nos-sos governos com a área social. Por que,muitas vezes, infelizmente, os estrangei-ros, os europeus, os americanos, queremditar muitas regras aqui, e isso é uma res-posta a certas prepotência de lá, mos-trando que nós estamos sensibilizados, ea gente não quer somente o embeleza-mento da cidade, a gente também estápreocupado com o social, e com que ascoisas venham a melhorar.

O programa “Favela-Bairro” foi esco-lhido pela feira de Hannover, que é amaior feira industrial do mundo, na Ale-manha, e no ano que vem eles terão umafeira especial, com quatro meses de dura-ção, que será visitada por mais de 50 mi-lhões de pessoas, e vai ter um stand do“Favela-Bairro”, porque eles escolheramo “Favela-Bairro” como o melhor progra-ma social hoje existente no mundo. OBird recomendou que esse programa fos-se exportado para outros países, comomodelo. Vocês não imaginam a impor-tância dessa mudança da cidade para oturismo. Isso é fundamental, e isso temtrazido um retorno altamente positivo.

O projeto “Rio Cidade” também foi

muito importante - Copacabana, Ipane-ma, Leblon - cada um tem uma imagemdiferente, e o retorno para os turistas têmsido muito bom, que ficam encantadoscom essas diferenças. A Floresta da Tijucaestá com uma administração do municí-pio, compartilhada com o Ibama. Nóslimpamos, com a Comlurb, a Floresta daTijuca. Aumentamos a segurança, com apresença da Guarda Municipal. A fre-qüência aumentou em três vezes mais.Nós estamos pensando, em primeiro lu-gar, nos cariocas. Porque, pensando pri-meiro nos que moram aqui, nós vamostrazer um bem ao carioca, e o turista vaionde a população vai.

Não adianta inventar lugar para turis-ta. A gente tem que inventar lugar paranós, os cariocas. E a Floresta da Tijuca es-tá sendo um sucesso. Em meados de ou-tubro, nós vamos ter uma grande inova-ção na cidade do Rio de Janeiro: vamoster linhas de ônibus turísticos. Um negó-cio extraordinário, que vai abranger qua-tro linhas, que vão sair mais ou menosassim: do Pão de Açúcar, vão para o cen-tro da cidade, e voltam para o Pão deAçúcar. E assim, interliga, descendo peloCosme Velho, Rebouças, Lagoa, indo paraSão Conrado pela orla marítima, voltan-

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O Município do Rioinvestiu mais de R$ 7milhões de seuorçamento anual noprojeto “Carnaval 2000”

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do até o Pão de Açúcar. Quem estiver emuma linha pode pegar uma conexão comoutra. De São Conrado, teremos uma ter-ceira linha que irá até o Riocentro, e aquarta linha, na Floresta da Tijuca. O tu-rista vai poder comprar um bilhete porR$ 16,00 e, se pegar o ônibus às 14 horasda tarde, tem direito a andar nos ônibusaté dia seguinte, às 14 horas do dia se-guinte. Ou por um período de 48 horas,pagando R$ 30,00. Ou um período de trêsdias, por R$ 40,00. E poderão fazer todosos percursos que quiserem, porque vaiter paradas em vários pontos, vai ter to-tens para indicar onde o turista está para-do, onde estão os monumentos, os cen-tros culturais que estão em volta, etc. Ostotens vão ser na rua, discretos, mas visí-veis. E os ônibus não vão ser como estesque temos na rua, onde o pessoal da ter-ceira idade têm que sofrer, as senhoraspraticamente têm que colocar uma esca-da para subir naqueles ônibus. Nós va-mos aumentar o nível das calçadas, paraa pessoa poder subir. Também vai ter umsistema para os deficiente físicos pode-rem ir de cadeira de rodas dentro do ôni-bus. Teremos também um sistema de áu-dio, em quatro idiomas, onde se vai expli-car o que se está vendo, o que está pas-sando por aquele percurso. Esses ônibusvão começar às 8 horas da manhã, se nãome engano, e vão até às 18 ou 19 horas, ede meia em meia hora. São mais ou me-nos 15 ônibus, que vão atender à popula-ção e aos turistas. Serão ônibus de qua-renta e poucos lugares. Somente o da Flo-resta da Tijuca vai ser um microônibusespecial, pois temos que respeitar o meioambiente, as estradas são menores. É umprograma de primeiro mundo.

Estamos com a licitação do mobiliáriourbano, que vai mudar toda a imagem doRio, com alguma coisa ordenada, comotemos em Nova Iorque, em Paris. Vamoster banheiros públicos, vamos ter ban-cos, para você poder sentar, vamos ter tu-do limpo, não vai ter essa parafernália deanúncio pra lá e pra cá, vai ser tudo orga-nizado, esse é o plano. Um plano para acidade e um plano para o turismo.

O Rio de Janeiro foi eleito pela firma deconsultoria Arthur Anderson, junto à re-

vista Forbes Magazine, como uma dastrês melhores cidades para negócios daAmérica do Sul. No ano passado decidi-mos fazer um evento. Como nós estáva-mos vindo com esse programa do “PlanoMaravilha” e do “Rio Incomparável”, nósdecidimos trazer os operadores e osagentes de viagem para conhecer a nossacidade, conhecer nosso produto, conhe-cer os profissionais brasileiros que ven-dem o produto Brasil. Não podia ser umevento só para o Rio, e nós fizemos umabolsa de turismo, aqui no Rio de Janeiro.Seria mais um evento. Nós queríamos400 operadores de fora, que nunca tives-sem vindo ao Brasil, e achávamos que sóviriam uns 150, 180 no primeiro ano. Ti-vemos 572 participantes. Tivemos queparar as inscrições. Foi um sucesso emostrou que realmente a imagem da ci-dade está mudando e está mais positiva.Para vocês terem uma idéia, esse pessoal,formado de agentes de viagem e opera-dores, não vendiam o destino Brasil, ven-diam outros destinos. Quando chegaramaqui, mais ou menos 66,7% tinham umaboa imagem da cidade. Quando foramembora, a imagem boa passou para96,8%, com três dias de trabalho. Chega-ram no fim de semana, trabalharam a se-gunda, terça e quarta. Passou de 66,7%para 96,8% a boa imagem. Quando che-garam, 22,8% tinham uma imagem regu-lar; quando foram embora, 3,2% tinhamuma imagem regular do Rio de Janeiro.Na chegada, 11,1% tinham uma péssimaimagem do Rio de Janeiro, quando foramembora, 0% tinha uma imagem péssimado Rio. Vejam o que aconteceu: em ter-mos de negócios, 86,9% disseram queiam ter possibilidades e perspectivasimediatas para os seus negócios, 13,1%teriam a médio e longo prazos. É um re-torno muito bom e positivo. Devido a to-das essas mudanças, o Rio de Janeiro es-tá sendo beneficiado.

Um dado que sai todos os anos, pelaEmbratur, e é a primeira coisa que os jor-nais vão buscar, é saber o que o turistanão gosta, o que está ruim. A gente nãoprocura ver o que o turista gostou. Procu-ramos saber o que turista não gosta e,realmente a gente não vive em um paraí-

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““Sorte nossa devivermos numa cidade ondetodos gostariam de passarférias””

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TURISMO / “PLANO MARAVILHA - RIO INCOMPARAVÉL”

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so, não está tudo ótimo, mas, vendo osdados, podemos observar que os índicesde insatisfação têm baixado todos osanos. Em 1990, 38,8% dos turistas esta-vam preocupados com a segurança, de-pois baixou para 36,5%, depois para32,9%, depois foi para 23,2%, subiu para26%, depois veio em queda para 21,5%,21%, 14% e, no ano passado, somente 8%dos turistas tinham preocupações com asegurança. Baixamos este índice de 38%para 8,4%. Uma queda na preocupaçãocom a segurança.

Na parte da limpeza, nós tínhamosuma preocupação de 36,9%, em 1990, eeste ano a preocupação com a limpezabaixou para 13%, está em queda. Há umavisibilidade, por parte dos turistas, deque as coisas estão melhorando. E todosos outros itens sinalizam a mesma coisa.O item comunicação, que era o pior, pas-sou de 23% para 13,7%. Informações, quetinha um índice de 25,3%, passou para6,1%. Comunicações vai melhorar comas privatizações, apesar da Telemar estarpassando alguns maus momentos agora,mas a previsão é de um resultado positi-vo. Não se conserta tudo de uma hora pa-ra outra. As privatizações serão positivas,mas sempre haverá reclamações. As re-clamações fazem parte do jogo, e ajudama melhorar os serviços na nossa cidade.Mas uma coisa é certa, todas as reclama-ções estão em queda. Há uma mudançageral na cidade, que está beneficiando oturismo.

Agora eu vou mostrar algumas fotossobre a nossa campanha para os turistas.Vendo estas fotos percebemos porque oRio é incomparável. Durante esta pesqui-sa nós fizemos um diagnóstico. Duranteas pesquisas, ao perguntarmos o que oRio de Janeiro lembra, não havia compa-rações. Foram os próprios turistas quenos deram essa dica, o Rio é uma cidadeincomparável. Os outros destinos podemtentar imitá-la um dia, mas vai ser difícil.É fácil de se entender porque 92% dos tu-ristas que visitam o Rio, gostariam de vol-tar. As vezes a gente se esquece do que te-mos aqui mesmo na nossa cidade, nãodamos o devido valor. Quando o turistachega aqui em Copacabana ou Ipanema,

e vê centenas de pessoas de todas as ida-des passeando no calçadão, fazendo gi-nástica, passeando com o cachorro, an-dando de bicicleta, ele fica “babando”.Não existe isso em nenhum outro lugar.Eu já passeei no Central Park, já passeeiem vários lugares, e não se encontra ou-tro lugar como aqui. O Rio é mesmo in-comparável. Sorte nossa de vivermos emuma cidade onde todos gostariam depassar as férias. Rio, uma cidade localiza-da entre a alegria e o sorriso do carioca.Para terminar, antes de passar o vídeo, éo terceiro ano que nós estamos fazendopesquisas com os turistas que chegamaqui no Rio de Janeiro, na chegada e nasaída. Os brasileiros, em 1997, 1998 e1999, que irão recomendar a amigos,100% na primeira pesquisa, 95,7%, na se-gunda, e 96,6% na terceira pesquisa, vãorecomendar. Quando se está neste nível,de 95%, 97%, 100%, é tudo a mesma coi-sa, é um nível muito alto. Estrangeiros,95% no primeiro ano, 96,6%, no segundoano, e 97,5% no terceiro ano, irão reco-mendar a seus amigos a cidade do Rio deJaneiro. Brasileiros que pensam em vol-tar para o Rio de Janeiro, também em1997, 1998 e 1999, 100% nos primeirosdois anos e 97,9%, no terceiro. Estrangei-ros que pensam em voltar para o Rio deJaneiro, 92%, 94,4%, e 94%, querem vol-tar ao Rio de Janeiro. E, para terminar,antes do vídeo, esses são os números, in-questionáveis, que mostram que a nossacidade é um marco, na figura maior dopaís, que por acaso falou, mas que mos-tra que a campanha do “Rio Incompará-vel” foi adota por inúmeras outras cam-panhas. E esse nosso ilustre cidadão, Fer-nando Henrique Cardoso, deu a declara-ção de que “a chegada ao Rio é algo in-comparável”, que saiu nos jornais do dia6 de janeiro de 1999. Foi uma declaraçãoespontânea. Nós vamos agora mostrar ovídeo, o último que foi feito, depois va-mos à segunda parte, com as perguntas.Foi um prazer esse bate-papo. Muitoobrigado.”

�PERGUNTA

“O senhor poderia nos falar algo sobre

““O turismo éfundamentalpara a cidade do Rio deJaneiro. Oturismo é glamour, masserve tambémcomo umaredenção social””

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o turismo sexual na cidade do Rio de Ja-neiro.”

�GÉRARD BOURGEAISEAU

“Dizem que a prostituição é a profissãomais velha do mundo. Mas acho que nãotemos esse problema. A gente tem queestar atento. Inclusive, quando eu vejo naAvenida Atlântica os travestis, eu tambémfico indignado, porque eu gostaria que oturista pudesse andar tranqüilamente daMarius até o Rio Palace. Nós estamos de-senvolvendo um trabalho a esse respeito.Por um outro lado, nós temos a boateHelp, que é um antro de prostituição. Ou-tro dia colocaram, em um vídeo, o restau-rante Sobre as Ondas, e eu mandei cortar.Vocês vão dizer, o que a gente faz? Vamosintervir na Help? Acabar com a boateHelp? Não. A prostituição vai se deslocarpara outro ponto. Vai se deslocar, porqueisso aí, sinceramente, não acaba. Talvezseja melhor deixá-la onde ela está, e aípassa a ser um problema policial de fisca-lizar e ver até que ponto a justiça querdeixar esse tipo de estabelecimento fun-cionar. Eu estou incomodado com o ladodo travesti na Avenida Atlântica, que estáalém da conta. Mas o problema é que, ti-rando eles de lá, pra onde é que eles vãose deslocar? Para a Praça Paris, para aAníbal de Mendonça? É um jogo difícil, eestamos atentos a isso.

Uma vergonha é o que acontece emuma outra região do Brasil. Você acha quevai ter alguma repercussão na Europa sedisserem que em Recife tem turismo se-xual? Mas no Rio de Janeiro sim. Então, oRio de Janeiro é uma ótima vitrine para sedivulgar, para se chamar atenção. Quan-do eu ia muito a Fortaleza, eu chegavameia-noite e meia, pelo avião da Varig, esempre andava na praia durante meiahora, quarenta minutos. A última vez queeu fui, não pude passear, porque é um as-sédio terrível, é degradante o que aconte-ce. E ali está na cara. E por que eles nãovão atrás, onde está acontecendo, princi-palmente nos aeroportos?”

�PERGUNTA

“Doutor Gérard, tenho curiosidade so-bre um assunto que o senhor abordou, deuma forma ligeira - o fato do turista, ao sehospedar na nossa cidade, ao acordar pe-la manhã, ele abre a janela e vê a chuvacaindo. Dizem que a curiosidade é um pe-cado, mas como eu sou um pecador, eugostaria de saber quais seriam esses luga-res.”

�GÉRARD BOURGEAISEAU

“Aconselho a você ver o folheto sobre oassunto e seguir o itinerário dele. É umafolheto muito bonito, que já foi testado. Éuma realidade, não sobre sonhos. Dizaonde ir. Você pode ir no sábado, porexemplo, a um botequim sensacional emBotafogo. Comer uma lula no botequimAurora, em Botafogo, é uma delícia. Podetestar, você vai pecar à beça!”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Encerrando e agradecendo a presençado nosso Presidente Gérard. A questão doturismo hoje é de total importância. Coma redução do crescimento econômico, coma diminuição da participação da indús-tria, indubitavelmente os serviços têm queempregar essa turma. E o turismo é ogrande contratante de uma mão-de-obraque está desempregada hoje em dia. Nossoconvidado quer dar uma palavra final.”

�GÉRARD BOURGEAISEAU

“Eu queria agradecer ao senhor a aco-lhida, dos seus Conselheiros, e a partici-pação de todo o corpo da Casa. Eu estouà disposição. Quando quiserem, me cha-mem. Esse diálogo é muito importante. Oturismo é fundamental para a cidade doRio de Janeiro, o turismo é glamour, émuito bonito, mas serve também comouma redenção social. Estamos fazendoalgo da maior importância para a cidade.Eu e a minha equipe estamos à disposi-ção de todos vocês, a qualquer tempo.Através do diálogo é que nós poderemosconstruir juntos um Rio de Janeiro me-lhor. Muito obrigado.”

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SAÚDE

“Boa tarde. Queria agradecerao Presidente Antonio Car-los pelo convite e pela pos-sibilidade de estar aqui comos senhores, neste centro deestudos. E, num mundo tão

atabalhoado como o que nós vivemos,quando alguém faz alguma coisa na áreada cultura, temos obrigação de prestigiar.

Nós estamos em um final de século emque duas correntes se afirmam de maneiramuito afirmativa. De um lado, a correnteecológica, e do outro, a corrente ética. Oque elas têm em comum? Ou será apenasmera coincidência a citação de ambas?Elas têm em comum, como substrato bási-co, a preservação da vida. Não existe vidasem meio ambiente, como não existe so-ciedade viva sem ética. E vivemos um mo-mento em que a humanidade sofre verda-deiras pressões; de um lado, com o desen-volvimento tecnológico - a mesma tecno-logia que salva, que facilita o diagnóstico, éaquela que desemprega. Hoje, nos EstadosUnidos, dispomos de 1 milhão e 724 milpostos de trabalho que, às vezes, represen-tam três, quatro empregos diferentes. Aprevisão para o ano 2020 é que esses 1 mi-

Desafios éticos no final do século, na área da saúde

“Esta tarde, mais um “Encontros no Tribunal”. Desta vez,sobre a ética médica no final de século. Estamoschegando ao final de uma era, com questões deglobalização. Diz-se que já estamos numa fase pósindustrial, com uma mudança total de mentalidade. E ficaum princípio fundamental no comportamento humano queé a questão da ética e, basicamente a ética médica, quemexe com o corpo humano. O José Assad participoucomigo, do primeiro debate, em 1991, da OAB e Cremerj,coordenado pela professora Tânia Silva Pereira,Conselheira da OAB. Estavam presentes o saudoso AguiarDias, o hoje Ministro Carlos Alberto Direito, Caio Mário daSilva Pereira e José Assad, que deu uma aula para todos.Hoje ele foi convidado por nós para exatamente trazer essetema, e abrir nossas mentes com outros assuntos que nãosão apenas contábeis. Então, passo a palavra a JoséAssad.”

JOSÉ ASSAD

07. 07. 9 9

PALAVRAS DO CONSELHEIRO-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

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O neurocirurgiãoArmando da GloriaJúnior responde pelachefia de equipe doHospital Salgado Filho

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““Até que ponto odesenvolvimentotecnológico pode constrangera qualidade de vida dasociedade? ””

SAÚDE / “DESAFIOS ÉTICOS NO FINAL DO SÉCULO, NA ÁREA DE SAÚDE”

lhão e 724 mil postos de trabalho min-güem para 324 mil postos. O que é isso? Ainformatização, a informática, a robotiza-ção começam a desempregar maciçamen-te. Esse é um conflito que a sociedade vi-vencia. Até que ponto o desenvolvimentotecnológico pode constranger a qualidadede vida da sociedade? Esta é uma perguntaque se põe à mesa em todos os debates.

Do outro lado, o desenvolvimento cien-tífico. Hoje, determinados procedimentosestão sendo feitos, no sentido de mexercom a vida da sociedade no “atacado”. E asociedade ainda não tem percepção dissonem está conscientizada do impacto queisso poderá representar sobre a sua pró-pria existência e sobre a sua própria quali-dade de vida.

Eu vou falar com os senhores sobre al-guns aspectos que preocupam muito aárea da Saúde no presente momento. Evou começar por um que é a relação médi-co-paciente.

Numa sociedade globalizada, onde osúnicos objetivos são o lucro, a sobrevivên-cia e ganhar dinheiro, os valores ligados àmoral e à ética ficam relegados a um planosubsidiário.

Na área da Saúde, a relação médico-pa-ciente tem sofrido modificações substanti-vas. Eu costumo perguntar, nas faculdadesde medicina, por que a medicina tem pres-tígio, se no final o doente acaba morrendo?Se a morte é a exaustão de um ciclo bioló-gico, que faz parte da própria existência? Amedicina tem prestígio por duas razõesbásicas: de um lado, a relação médico-pa-ciente e, por outro, o sigilo profissional. Sóque essa relação médico-paciente, ela estásofrendo uma série de influências que vêmmodificando sensivelmente a sua densida-de.

O primeiro fator que abalou muito essarelação foi interposição institucional entreo médico e o paciente. O doente não sabeo nome do médico e o médico não sabe onome do doente. Costuma-se dizer: “Ah!Ele é um doente do Hospital de Bonsuces-so; esse é um doente da Amil”. Isso, de cer-ta forma, enfraquece muito essa relação, oaproach o médico com seu paciente e opaciente com seu médico.

O segundo fator foi a interposição da

tecnologia, em que muitas vezes um médi-co, embevecido com visores sonoros e lu-minosos, esquece que ali está deitado al-guém jogando a última cartada de espe-rança na sua própria vida. E ele, visualizan-do somente o tumor pediculado, rico emvascularização, deixou de imaginar que aliestá um chefe de família, cuja sobrevivên-cia da família depende muito daquele mo-mento.

O terceiro fator que interfere nessa rela-ção é a excessiva super especialização, emque existem médicos especialistas em na-rina do lado direito e unha do pé esquerdo.Às vezes, o paciente tem dezenas de médi-cos, e ninguém assume o seu próprio des-tino. Quem tem mais de um médico nãotem médico algum. Esse é um axioma quea gente tem em medicina para dizer que al-guém tem que ser responsável pelo desti-no do paciente. Se houver necessidade, pa-receres serão solicitados, mas alguém esta-rá a cargo a responsabilidade do destinodaquele paciente.

E, por fim, outro fator que consideroque beneficamente influenciou esse duomédico-paciente, foi a participação da im-prensa. Porque hoje, um paciente que vaiao meu consultório, e eu coloco um mar-capasso cardíaco nele, pelo menos já leuou já ouviu duas reportagens sobre o tema.E o patamar do diálogo se situa num planomais elevado, porque a imprensa tem essefator de alta relevância, que é o da infor-mação, da disseminação do conhecimen-to. Isso trouxe, na realidade, a relação mé-dico-paciente para um nível melhor.

Não há nada, em medicina, que substi-tua a conversa do médico com o doente. Amão que apalpa o fígado, é a mão queabraça, é a mão que acena, é a mão quepercute e é a mão que, acima de tudo,transmite calor e cumplicidade de uma so-lidariedade que se faz necessária.

Uma segunda questão importante, quevem preocupando muito nossa área, é aquestão do sigilo médico. O sigilo médico éum baluarte e, se nós analisarmos do pon-to de vista jurídico, ele permaneceu intac-to no regime do Estado Novo, na ditadurade Vargas, em 1937, e manteve-se intocávelna ditadura militar, em 1964. E é uma coi-sa tão importante que faz parte do Código

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““Não há nada, emMedicina, que substitua aconversa domédico com o doente ””

Civil, do Código Penal e do Código de Pro-cesso Civil. Tal é a relevância disso, paraprofissões onde a confiança é fundamen-tal, como também em Direito, é no Jorna-lismo, entre outras, que a própria Consti-tuição garante o sigilo da fonte de informa-ção. Esse sigilo profissional nasceu com odireito canônico, ou mesmo antes, comSanto Agostinho, quando disse: “O que seipela confissão sei menos do que aquiloque nunca soube”.

Esse sigilo é que traz o lacre da cumpli-cidade entre o médico e o paciente. Odoente impotente, o doente homossexual,a mulher frígida, que trazem ao médico to-das as suas angústias, o transformam numfiel depositário da incerteza alheia. E não éà toa que o Código de Ética Médica destinanove artigos ao capítulo do sigilo profissio-nal. Mas a nossa preocupação é uma preo-cupação que vem com o desenvolvimentoe nós não podemos nos iludir, a roda den-tada da ciência e da tecnologia não páramde jeito nenhum. Porque uma idéia gerauma ação, uma ação gera uma nova idéiae, nessa sucessão de eventos, a ciência e atecnologia vêm se desenvolvendo. E comona vida o fato sempre antecede o direito, épreciso que determinadas coisas causem,desde já, atitudes preventivas para queaborrecimentos muito sérios possam serevitados. Na área do sigilo profissional nósnos defrontamos com a questão do sigilona Internet. Essa é uma questão da mais al-ta seriedade. A Internet é uma rede de in-formações multimídia, fundamental parao crescimento da sociedade, para dissemi-nação do conhecimento; mas, por outrolado, é preciso que a privacidade alheianão seja desnudada. Então, essa questãode sigilo é um desafio que nós vamos en-frentar. Hoje, com os prontuários dos pa-cientes sendo manipulados por mais deum profissional de saúde, é preciso que to-dos tenham consciência de que todos - ab-solutamente todos profissionais de saúde -e mesmo os administrativos, que tomemconhecimento de alguma informação rela-tiva à vida do paciente, estão sob tutela dosigilo profissional e sob as garras da lei,quer seja nos trâmites éticos ou nos trâmi-tes judiciais.

Um outro tema em medicina que vem

preocupando muito nesse final de século,e que tem muito a ver com este Tribunal,diz respeito aos custos em medicina. É ex-tremamente assustador o crescimento ex-poencial da despesa em medicina, que nãoreverte em redução de mortes e melhoriada qualidade de vida na mesma propor-ção.

Existem vários fatores que contribuemdefinitivamente para isso. Um deles é queas revistas que os médicos estudam, queeu mesmo estudo, são patrocinadas peloslaboratórios farmacêuticos e pelas indús-trias de equipamentos. E da mesma forma,na medicina e nas outras profissões, exis-tem os modismos. São extremamentepreocupantes os altos índices de tecnolo-gia de ponta utilizada rotineiramente. Te-mos cerca de 80% de tomografia com re-sultados normais - isso significa um volu-me de dólares jogado pelo ralo que nãovolta mais. Existe um exame chamadodensitometria óssea, que se ajuda no diag-nóstico, ajuda só uns 5%. Coronariografia,nós temos uma faixa de 60% de normalida-de. Isso faz com que os custos de saúde as-sustem. Para se ter uma noção, os EstadosUnidos chegam a 15% de um PIB de US$ 6trilhões, para a Saúde. É realmente assus-tador: um em cada US$ 7 gerados pela eco-nomia americana, vão para a Saúde.

O que não está ainda completamentemedularizado, é que saúde seja obtidacom medicalização. Certamente, grandeparte do PIB vai para doenças do coração,mas os grandes benefícios configuram naverdade, medidas baratas, que são as me-didas preventivas. Os tratamentos aindarepresentam “meia-solas”, que não resul-tam naquilo que nós esperamos.

Essa é uma questão crucial, porque o di-nheiro da sociedade está indo muito para ocusto da Saúde. E é um tema que precisaser discutido. É preciso saber se o examesolicitado pelo médico vale a pena na mes-ma medida em que se desembolsa umacerta quantia em dinheiro, que quebra oserviço público e, não demora, vai quebrara assistência médica particular, também,quer seja do plano de saúde, quer seja dequalquer outro tipo. É definitivamente im-possível manter o nível de despesas nessepatamar que vem sendo consumido, quer

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““Outroproblema é oprolongamentoda vida; ilimitada mas semqualidade ””

SAÚDE / “DESAFIOS ÉTICOS NO FINAL DO SÉCULO, NA ÁREA DE SAÚDE”

seja no Canadá, no Brasil, nos Estados Uni-dos. Muito alto para um resultado muitoabaixo do esperado.

Existem ainda algumas questões sériasque preocupam o meio médico. Uma delasé que a sociedade mudou seu modo denascer e de morrer. Hoje nós temos a re-produção assistida, que traz a alegria dapaternidade e da maternidade para pes-soas que não conseguiam ter filhos. No en-tanto, esse fenômeno já traz aos tribunaisuma série de contendas sobre desvio deembrião - a quem pertence, a quem nãopertence.

E uma outra observação é que a socie-dade mudou o seu jeito de morrer. Antiga-mente as pessoas morriam em casa, tendoem volta seus entes queridos. Hoje mor-rem nos CTIs, ao lado de profissionais ves-tidos de branco, com os quais não se vin-culam, com os quais não se tem outra rela-ção a não ser a relação profissional. Mor-rem longe do seu modo, dos seus familia-res. Por aí passa também outro problema,que é o prolongamento da vida; ilimitada,mas sem qualidade. Não temos dúvida,que a longevidade vai aumentar sensivel-mente no próximo milênio. A medicina es-tá indo por caminhos que vão elevar a vidamédia para 100 anos, não vai demorarmuito. Com a manipulação do código ge-nético e com o conhecimento da biologiamolecular, a vida há de se prolongar indis-cutivelmente.

E aí se aponta, no campo da moral, e daética, a discussão de um tema que se cha-ma distanásia, que é diferente de eutaná-sia. Eutanásia é a morte boa, se é que elaexiste, eu não acredito. A distanásia é umamorte sofrida, que tem como válido o pro-longamento indefinido de uma vida semqualidade.

Essa é uma questão muito séria, quealguns países já vem discutindo. A Ho-landa tendo à frente as suas decisões.Mas isso aí tem o outro lado da moeda,que com frieza precisa ser analisado. Evi-dente que se eu for analisar o que eu voufalar agora, levando em conta a minhamãe, eu vou ser contra. Mas, de uma ma-neira fria, é a questão do prolongamentoda vida indefinida, de uma vida que nãoestabelece com o meio ambiente uma re-

lação, uma vida vegetativa. Vou citar como exemplo o que aconte-

ceu com a mãe do nosso ex-presidenteFernando Collor, D. Leda Collor, que é dedomínio público. Fui visitá-la no Pró-Car-díaco, como Diretor do Conselho Regionalde Medicina, pois diziam que ela estavamorta e, por causa da questão do im-peachment, estariam enganando a popu-lação. Não, D. Leda estava viva, com vidavegetativa, da qual não saiu por dois anos edez meses, a um custo de US$ 150mil/mês. Ou seja, US$ 150 mil por 34 me-ses resolviam o problema de muitas uni-versidades, de habitações, de creches, umasérie de coisas. Sobre esse conflito a socie-dade, mais cedo ou mais tarde, será cha-mada a participar porque respeito diz dire-tamente a ela.

Existem outros problemas que são mui-to sérios, que trazem esperanças enormese preocupações que não são menores queas esperanças. É questão do projeto Geno-ma, que é a manipulação do código gené-tico.

Hoje, o DNA humano até o ano 2005 es-tará todo mapeado. Existem 150 universi-dades no mundo estudando os caracteresgenéticos de toda a humanidade, e isso viaInternet, de tal forma que ninguém se tor-ne depositário exclusivo da informação so-bre o conhecimento do DNA humano.

Isso já tem avançado muito e para o ano2005 se espera que todo esse DNA, todo es-se código genético da humanidade sejacompletamente desvendado.

Isso, por um lado, traz a esperança decura de uma série de doenças genéticas,transmissíveis geneticamente, como dis-trofia, como a questão do filho do diabéti-co ter que vir a ser diabético. Doençasmentais de transmissão genética. Essa é agrande esperança que a medicina está cau-sando e que, sem dúvida alguma, traráenormes benefícios à sociedade.

Por outro lado, se essa é a grande espe-rança, corre paralelamente uma grandepreocupação, porque o conhecimentocientífico se volta para a humanidade, mastoda vez que ele não serve à humanidade,esse desserviço é determinado por umaatuação política.

Em 1921, quando Einstein trabalhava

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““Se o médiconão tiver acumplicidadesadia de seupaciente, onúmero decontenciososserá cada vezmaior””

em fissão atômica, o estagiário dele virou-se e disse: “Professor, o senhor não temmedo que isso possa trazer um transtornopara a humanidade?” Ele falou: “Não, masde jeito nenhum”.

Em 1945, quando houve o bombardeiocriminoso de Nagasaki e Hiroshima, en-trevistaram o Einstein e ele falou: “É, real-mente a humanidade não estava prepara-da para isso.”

Lembra um pouco o pensamento doCamus, que diz que há muitos anos epide-mias e guerras têm assolado a humanida-de. E até hoje, epidemias e guerras pegama humanidade de surpresa. Nós precisa-mos estar preparados, porque essa avalan-che de transformações do conhecimentocientífico vai trazer muita coisa problemá-tica. Do mesmo lado que a manipulaçãodo código genético é esperança da cura dedoenças, de uma qualidade de vida me-lhor, de que o filho de um determinado paicom tal ou qual doença não obrigatoria-mente a contrairá; por outro lado, ela podese transformar no substrato que faltou aoHitler para fazer vingar o arianismo. Amesma manipulação do código genéticoque vai curar distrofia, vai permitir que acriança nasça com dois metros de altura,loira e de olhos azuis.

E isso só tem uma maneira de evitar: é atutela da sociedade, é a participação da so-ciedade para que os avanços científicosnão se voltem contra essa própria humani-dade.

Uma outra questão surge com o adven-to de uma ciência que nasce em 1970, queé a bioética, que é a ética da vida. Umaquestão muito séria, que é a respeito deum princípio, uma pedra angular da bioé-tica - que é o princípio da autonomia, emque se considera que cada cidadão é autô-nomo da sua própria decisão. Isso tem tra-zido ao nível médico uma série de conten-ciosos, principalmente no campo daemergência médica, ligadas a uma religião- a Testemunhas de Jeová. Evidentementeque eu respeito o credo religioso, que é li-vre, universal,e cada um tem o direito deescolher aquela religião na qual se sintamelhor contemplado. Essa religião tem co-mo base o fato de não se receber sangue ehemoderivados. Eu tive a oportunidade de

estudar este assunto, porque o parecer doConselho Regional sobre isso, foi meu. Eestudei a fundo a história dessa religião.Essa religião nasce em 1831, com um ho-mem chamado Hutterford, onde ele previao fim do mundo em 1914. Em 1914 veio aprimeira guerra mundial. Há aquela con-fusão toda, e eles adiam o fim do mundopara 2014.

Eles partem de um equívoco bíblico queé o “Não beberás o sangue do seu irmão”,que é equivalente ao “Não matarás”, comoimpedimento a qualquer cidadão recebersangue ou hemoderivados. Sucede que nadécada de 80, surge a síndrome da imunodeficiência adquirida, a AIDS, onde umdos vetores principais da transmissão é atransfusão sangüínea. E com isso a religiãoganha grande peso e grande densidade. Éuma religião que cresce muito, e quemacha que essa religião é professada porpessoas de nível cultural baixo, se enganaredondamente. Lá os senhores vão encon-trar juizes, médicos, advogados, engenhei-ros, gente de um nível cultural muito bom.Eu tive oportunidade de travar alguns de-bates e vi que são pessoas preparadas, pes-soas de um nível muito bom.

Com o advento da AIDS eles crescerammuito, e eles dispõem de muito dinheiro.Aliás, é uma questão séria. Eu fui pesquisarisso e acho que por trás deles estão as mul-tinacionais do sangue sintético. Estão for-çando a entrada do sangue sintético, já en-trou no Japão e em outros países. Agoraimagine num país em que falta Aspirina, agente ainda ter que esperar o sangue sinté-tico!

Eles não permitem a transfusão de san-gue, e com isso tem havido conflitos sériosporque, se você pega um garoto de 19anos, baleado na carótida, sangrando, vocêvai cruzar os braços e não vai intervir? Issofere completamente a formação do médi-co, que é uma formação de salvar, de atuar,de tentar evitar o pior. E do outro lado a au-tonomia da pessoa. Eles se estratificaramde tal forma, que trazem um documento:“Se eu estiver inconsciente ou por outra ra-zão impossibilitado de decisão, fulano,beltrano e sicrano decidirão por mim paramanter a minha vontade de não recebersangue e hemoderivados”.

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““Nósprecisamos estar preparados para enfrentaruma novarealidade, emque vida temque serqualidade de vida também””

SAÚDE / “DESAFIOS ÉTICOS NO FINAL DO SÉCULO, NA ÁREA DE SAÚDE”

Esse conflito é muito sério. De um lado alegislação não permite ao médico omissãode socorro; de outro, o princípio da auto-nomia. No Brasil ainda prevalece que, emhavendo risco de vida, teremos que inter-vir. Essa é uma questão que está dando“pano pra manga”, porque às vezes os paisquerem que não se intervenha em crian-ças, o que é um verdadeiro absurdo.

A legislação italiana admite a vontadedo adulto, mas na criança os pais não po-dem interferir sobre o tratamento. E aí tu-do se resume a um ponto. A quem perten-ce a vida? E aí nós vamos entrar em corren-tes teológicas, correntes filosóficas, antoló-gicas e não vai se decidir nada.

Eu estou trazendo esse contencioso queno final do século XX está ocorrendo, por-que essa é uma questão séria e que a genteprecisa de fato estar atento. Certa vez foifeita a seguinte colocação: que autoridadeterá um médico de cruzar os braços paraum testemunha de Jeová, que não quer to-mar sangue, quer morrer? E um médico vaiatuar diante de um suicida, que tambémquer morrer?

O suicídio é, também, uma manifesta-ção extrema de extermínio da vida. Então,a questão da autonomia é uma questãoque pulula, e pulula muito, no meio médi-co.

Esses conflitos todos que estão perpas-sando a área da Saúde, desde a questão docusto para a sobrevivência à questão da re-lação médico-paciente melhor trabalhada- já que sem ela o médico não avança umpasso, a medida que a medicina se tornamais invasiva, maior possibilidade decomplicações advirão. Se o médico não ti-ver a cumplicidade sadia de seu paciente,conquistar a sua confiança, o número decontenciosos será cada vez maior. E a áreada Saúde então, com muitas esperanças,principalmente essa, em que vai se mexerno DNA e vai se poder antecipar a maioriados problemas. Hoje ocorre uma coisamuito interessante: no século XX, com oadvento dos antibióticos, o homem quemorria aos 30, ganha a idade das chama-das doenças degenerativas, as doenças docoração, o câncer.

Ele chega à essa idade, morrendo cadavez mais velho, porque a infecção que ma-

tava, o antibiótico conseguiu debelar, à ex-ceção da AIDS e às vezes da meningite me-ningocócica, que ainda também é um pro-blema sério para nós.

E com os métodos de tratamento, deprevenção, o homem está aumentando ca-da vez mais a sua vida média. E essa vidamédia, nos próximos anos, com as mani-pulações genéticas, com os avanços dabiologia molecular, essa vida média vaicrescer, e crescer muito.

E nós precisamos estar preparados paraenfrentar uma nova realidade em que vida,fundamentalmente, tem que ser qualidadede vida também: um homem integrado àsociedade, com um nível de saúde aceitá-vel, compatível com a sua idade. É preciso,então, compatibilizar uma série da fatores,para que a sociedade possa ser mais feliz epossa ter uma qualidade de vida melhor.

Eu costumo dizer que o que fez eu meencontrar, do ponto de vista de médico,não foi nenhum compêndio de anatomia,nenhum livro de clínica médica. Eu achoque a medicina é retratada muito bemnum poema de um poeta botafoguense,que como botafoguense, tinha que ser lú-cido: Paulo Mendes Campos, falecido. Co-nhecido como o poema didático, ele diz oseguinte: “E desprezando outrora / impedique a rosa me perturbasse / e não olhei aferrovia, mas um homem que sangrou naferrovia / e não olhei a fábrica, mas o ho-mem que se consumiu na fábrica / e nemolhei a estrela, mas o rosto que resplande-ceu seu fulgor.” O que importa é o homem,e quando nós pensamos na humanidade,estamos no caminho da verdade. Muitoobrigado.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Nosso José Assad independe de apre-sentação, mas - apenas uma recordação:fomos companheiros de governo, ele Se-cretário Municipal de Saúde. Essa visão decustos dele vem desde essa ocasião. É umcardiologista da mais alta competência enos deu também o prazer de participar docurso de Direito na Pontifícia UniversidadeCatólica que concluiu ano passado. Os ad-vogados que se cuidem, um advogado que

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““A grandepreocupaçãocom ostransgênicos é o impactosobre o meio ambiente e sobre a vida””

entende de medicina... estamos liquidadospela concorrência. Está aberto o debate”.

�PERGUNTA

“Com essa questão toda, a minha preo-cupação não é sobre a questão do DNA. Ésobre a questão da centralização dos pode-res. O senhor diz que a sociedade tem queparticipar. Mas o meu medo é exatamentea centralização dos poderes. Sobre a ques-tão ética e moral - eu não vou citar o muni-cípio – mas, em determinado município, oSecretario de Saúde credenciou três labo-ratórios. O município deve ter uns 30 labo-ratórios de análises clínicas, mas ele cre-denciou três. Nesses três ele centralizou80% dos atendimentos, porque é ele quedá as cotas. Então nesses, ele deu quase80% das cotas, ou mais de 80%. E pulveri-zou nos demais os 20%.

Conclusão: no dia 26 de junho, eu tive adenúncia de uma pessoa que foi procurarum desses laboratórios para fazer um exa-me de sangue para saber se está com sífilis.E, pasme, doutor! O exame foi marcado pa-ra o ano 2000, fevereiro do ano 2000. Claro,a centralização é tão forte que não oferececondições de atendimento, quando o mu-nicípio tem mais de 20 laboratórios. E o Se-cretário de Saúde não dá as cotas para osoutros. Isso é uma questão ética-moral. Epor quê? Por que esse Sistema Único deSaúde centralizou demais a decisão deuma só pessoa. Eu pergunto, não está nahora de rever essa questão da centraliza-ção do poder na medicina? Somente noserviço público.”

�JOSÉ ASSAD

“Eu não sei se a questão é a centraliza-ção da medicina. O poder tem que ser cita-do. E há um erro grave nesse município,porque esse município tem um ConselhoMunicipal de Saúde. E esse Conselho Mu-nicipal de Saúde é a esfera de cobrança.Foge a qualquer razoabilidade admitir quetrês laboratórios concentrem toda a feiturados exames, atrasando os exames. Então,se há cheiro de corrupção – e parece quesim – há também a maneira de se atuarjunto ao Ministério Público, solicitar que o

Ministério Público intervenha nessa ques-tão. O que não pode ocorrer é a sociedadeparar de atuar. E seguramente acontece is-so porque nesse município a sociedadeatua pouco. Ou porque não está motivadaa fazê-lo, ou porque se acomoda com aspreocupações do dia-a-dia.

Então eu acho que a via, aí, seria o Con-selho Municipal de Saúde e o MinistérioPúblico para intervir judicialmente.”

�PERGUNTA

“Meu nobre amigo Assad, é uma alegriaestar aqui na sua palestra. Eu gostaria quevocê me desse um enfoque, já que se faloudo Projeto Genoma. É sobre o projeto dosprodutos transgênicos, que hoje está gras-sando aí, na nova tecnologia dos alimen-tos. E o alimento, a bem da verdade, é a es-sência da vida, a nutrição. Gostaria que vo-cê me desse uma palavra sobre o assunto.E eu gostaria de abordar também - já que ocompanheiro aqui lembrou bem - essaquestão do Sistema Único. A questão daassistência médica dos servidores públi-cos. Hoje o município enviou um projetopara a Câmara extinguindo praticamente aassistência médica dos servidores munici-pais, não havendo mais a contribuição pa-ra o IASERJ. Eu gostaria que você desseuma palavra, já que você conhece perfeita-mente esse assunto.”

�JOSÉ ASSAD

“Muito bem. Em relação à questão dostransgênicos, passa pelo DNA, pela mani-pulação do DNA, não humano, mas das se-mentes, das plantas, das árvores. E a gran-de preocupação com os transgênicos é oimpacto sobre o meio ambiente e sobre avida. O Brasil, hoje, tem cerca de centenasde transgênicos, que estão congelados sempoder atuar. No Rio Grande do Sul tivemoso problema do arroz transgênico, e quenão se sabe como isso vai repercutir. A ver-dade é que, em muitos países do mundo, asafra transgênica já está sendo produzida,já está sendo até exportada para o Brasil.Há uma preocupação - e se houve umaárea em que o Direito evoluiu muito - foi a

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SAÚDE / “DESAFIOS ÉTICOS NO FINAL DO SÉCULO, NA ÁREA DE SAÚDE”

área do meio ambiente. O direito ambien-tal brasileiro é um dos mais avançados. Re-centemente, em 1998, saiu a Lei nº 9.605,dos crimes ambientais, o que é preserva-ção do meio ambiente. Mais que a preser-vação, a questão do transgênico está liga-do ao princípio 15 da declaração da Cartade 1992, da ECO 92, que é o princípio daprecaução. Antigamente só se utilizava oprincípio da prevenção quando algumacoisa cientificamente comprovada era da-nosa para o meio ambiente. Agora, mesmonão tendo comprovação científica, em ha-vendo probabilidade de dano, de lesão aomeio ambiente, nós, através do princípioda precaução, podemos evitar que istoaconteça. E a questão do transgênico éuma questão que está mobilizando omundo inteiro. De um lado, a esperançade que num hectare se consiga produziruma safra maior, sem necessidade de de-fensivos agrícolas. Por outro lado, não sesabe qual é o impacto que a transformaçãodo DNA da planta, do fruto, sobre o meioambiente, pode causar sobre a saúde dahumanidade.

Isso ainda vai levar algum tempo. Temsido motivo de grandes discussões, mas euacho que é questão de tempo e a evoluçãoda genética vai passar por aí também.”

�PERGUNTA

“O senhor falou sobre esta questão doGenoma, do aumento do tempo de vidado ser humano, e tem também a questãoda clonagem humana. O senhor não achaque deve se impor um limite em cima dis-so?”

�JOSÉ ASSAD

“Este é o grande xis, porque você nãopode cercear a imaginação humana. A so-ciedade tem mecanismos. Na questão daclonagem, é preciso entender bem o se-guinte: a partir de uma célula, pega-se umóvulo, desenvolve, e esta célula é clonadaem vários clones que têm o mesmo carac-ter genético da primitiva. Uma coisa temque ser dita: a memória não é clonada, en-tão esta é uma questão. Existe a vida, aquestão genuína, intrinsecamente genéti-

ca, e há o agrupamento que a experiênciavivencial traz ao ser humano. Então, não seclona memória. Clona-se os caracteres.Evidentemente que isso, a sociedade vaicircunscrever. Porque a grande caracterís-tica do ser humano é a individualidade. Nomomento em que você transforma o serhumano em número de série, ele começa aperder as suas características. Mas a clona-gem traz grandes esperanças. Por exem-plo, no que concerne às espécies em extin-ção. Muitos animais em vias de extinção,através da clonagem poderão ter a espéciepreservada. Esta é a realidade. Eu não acre-dito que a clonagem humana vá ocorrer.Não por dificuldade técnica, porque nãoexiste nenhuma. Mas eu acho que a socie-dade vai estabelecer bem os limites até on-de isso pode ocorrer.”

�PERGUNTA

“O que eu tenho um pouco de medo,também, é o avanço da medicina sendousado para fazer armas biológicas e coisasdo gênero.”

�JOSÉ ASSAD

“Você está se referindo mais à guerrabacteriológica, não é isso? Quer dizer, aquestão da participação da sociedade. Damesma maneira que o Einstein fissou oátomo e não pensava que pudesse originaruma bomba nuclear para destruir a huma-nidade, quando se descobre um microor-ganismo, uma cepa de uma determinadabactéria - até para desenvolver medica-mentos capazes de liquidá-la, para que elanão mate o homem por infecção, não seespera seu uso para destruição. E, de re-pente, estas cepas são preparadas num ar-senal bacteriológico. Só tem uma saída:uma sociedade participativa. Quanto maisdemocrática for a sociedade, menos chan-ce a teremos de ocorrências desse tipo. Opoder estará na mão de quem se preocupaem acabar com a pobreza, e não na mãode quem queira concentrar cada vez maisa riqueza.”

�PERGUNTA

““No momento em que setransforma o ser humano emnúmero de série, ele começa a perderas suascaracterísticas””

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““Para o governoseria maisbarato dar oremédio, porquetratar umderrame custa,seguramente, otratamento de10, 15 milpacientes””

“Há tempos houve uma reportagem,num jornal de grande circulação, a respei-to de remédios proibidos lá fora que conti-nuam sendo liberados aqui no Brasil, co-mo a dipirona, por exemplo. A dipironacausa efeitos contraditórios se usada comfreqüência. A pessoa, com uma simplesdor de cabeça, corre logo para tomar umadipirona ou algum analgésico, assim comooutros remédios - entraríamos aí na ques-tão de custos também. O que leva as auto-ridades a permitirem o interesse de empre-sas, e tudo mais a respeito desses remédios– proibidos lá fora – que continuam cau-sando danos à população?”

�JOSÉ ASSAD

“Olha, a dipirona é um bom exemplo.Em muito países ela é admitida. E existemoutros remédios que são prescritos no Bra-sil e lá fora não têm patente. A verdade queperpassa em meio da indústria farmacêu-tica é o interesse incontido de lucro. E háverdadeiros crimes nessa área. Eu partici-pei de um Congresso de Cardiologia e fizquestão de denunciar isto publicamente.Questão séria é a questão, por exemplo,dos hipertensos. Tiraram do mercado to-dos os hipotensores baratos, todos. E subs-tituíram por hipotensores muito caros, eque se tornam completamente inacessí-veis à nossa população. Porque a maioriadas pessoas que consomem hipotensoresestá na faixa de aposentados, que ganhamuma miséria. Então, quem vive este pro-blema, como eu vivo no Hospital do Anda-raí, sabe. O paciente chega com 20 de pres-são, você medica, e ele volta com 23. “A se-nhora tomou o remédio?” “Não, não pos-so!” E realmente não pode.

E o mais criminoso é que os hipotenso-res que eram baratos, se tornaram caros.Tem um chamado Aldomet, cuja pesquisaé da década de 60, que hoje está custandotanto quanto esses novos medicamentospotentes. Isso é uma vergonha, verdadeiravergonha. O Brasil tinha a Central de Medi-camentos, onde roubou-se tanto, que aca-bou destruída uma boa idéia.

Na realidade, as margens de lucro dosmedicamentos é altíssima. E o que aconte-ce? Os pacientes crônicos que precisam to-

mar remédios regularmente, acabam in-terrompendo o uso do medicamento e,com isso, a doença se manifesta nas for-mas mais perversas das suas complica-ções. É o diabético tendo que amputar aperna, ficando cego; é o hipertenso tendoum derrame, o cardíaco tendo um enfarto,porque realmente não podem manter oscustos do tratamento. E para o governo se-ria muito mais barato dar o remédio. Por-que tratar um derrame vai custar, segura-mente, o tratamento de 10, 15 mil pacien-tes com hipertensão. A lógica deles é a lógi-ca do lucro, e onde a única lógica é o lucro,não espere nenhum sentimento de solida-riedade.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Bom, ele lembrou que é botafoguense.A maior propaganda de que ele é um gran-de cardiologista , é que o Rolin está vivo atéhoje, apesar do Wilson Nunes, então, é amaior prova que ele é muito competente!

No Centro Cultural nós teremos breve-mente dois eventos. Um é mais para o pú-blico externo, ou seja, o Tribunal vai seapresentar às suas jurisdicionadas, deixan-do de ser uma caixa preta, se abrindo paraelas, para apresentar suas posições e deba-ter com elas. Será o primeiro seminário decontrole interno e controle externo, e pre-parativo para a primeira jornada, que seráem outubro, aberta a todos.

A inauguração oficial da sede do CentroCultural, lá no 13º andar – que era um espa-ço absolutamente perdido, foi reformado eestá muito bonito – será dia 20 de julho, eestão todos convidados para o coquetel, às17h, quando também lançaremos a revista“Encontros às quartas-feiras”, com todos osdebates organizados pelo Centro Cultural eocorridos no ano passado.

Obrigado pela presença de todos, espe-cialmente do nosso José Assad, que se dis-pôs a vir conversar conosco. Registramos apresença do Fernando Sanches Cascavel,presidente do Sindicato dos Servidores Pú-blicos do Município do Rio de Janeiro, quefez a sua pergunta.

Boa tarde a todos.”

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ESPORTE

“Boa tarde. Em primeiro lugareu gostaria de agradecerimensamente e saudar onosso querido Presidente, osConselheiros, os funcioná-rios do Tribunal e todas as

pessoas que estão aqui como convidados,que vieram nos prestigiar neste evento.

Na verdade, o esporte hoje, no Rio de Ja-neiro, está na berlinda. O esporte sempreesteve completamente abandonado na ci-dade do Rio de Janeiro, com certeza, e tam-bém nos estados e no nosso Brasil. O Prefei-to Luiz Paulo Conde, quando assumiu a Pre-feitura, me fez o convite para assumir a Se-cretaria de Esportes e Lazer da cidade doRio, e a primeira coisa que eu perguntei a elefoi: “Prefeito, na verdade o senhor querapoiar o esporte, ou nós vamos dar conti-nuidade a essa brincadeira que sempre exis-tiu de apoio aos esportes no Rio de Janeiro,no nosso Estado e no nosso país? E ele meassegurou: “Não, não, Secretário, na realida-de eu quero mudar esse layout da cidade,quero dar apoio muito especial ao esporte, e

“Rio, esportes e integração social”

“Hoje, conosco, José de Moraes Correia Neto. Eu vou mesentar na platéia, para poder ver as projeções. Com apalavra, o Secretário Municipal de Esportes e Lazer , Joséde Moraes, para a sua palestra sobre Rio, esportes eintegração social.”

JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO*

29 . 0 9 . 9 9

*José de Moraes Correia Neto realizou esta palestra quando Secretário

Municipal de Esportes.

PALAVRAS DO CONSELHEIRO-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

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você, como Comodoro de um grande clube,homem que sempre viveu no esporte, quefoi atleta – vivi 50 anos da minha vida ligadodiretamente às atividades esportivas – podedar conta da Secretaria de Esportes e Lazerdo Rio de Janeiro. Aqui eu me sinto em ca-sa. Primeiro, porque aqui existem quatroex-vereadores que trabalharam comigo lána Câmara, no meu primeiro e segundomandato. E por uma admiração muito es-pecial que tenho pelo nosso vice-presiden-te, um carinho ímpar, pois talvez seja eleum dos meus melhores amigos, pela aten-ção, lealdade, pelo seu caráter – o de umapessoa séria que é o nosso ConselheiroThiers Montebello, uma pessoa por quemeu tenho o maior carinho. E me sinto emcasa exatamente por isso. Em segundo lu-gar porque há questão de seis meses fui in-dicado para disputar uma vaga aqui no Tri-bunal, vejam vocês. E aí, todo mundo queconversava comigo sobre essa indicaçãome dizia o seguinte: “Mas José de Moraes,você está indicado pro Tribunal, você estámaluco?!”E eu dizia: “Por quê? É uma coisa

fantástica!” “Que nada, você vai pra lá e nãovai mais fazer nada, aquilo é lugar de apo-sentado, e não sei o quê...” A imagem que aspessoas têm do Tribunal é completamentediferente da que eu vejo hoje, quando estouno Executivo, porque o que se vê hoje sãodiligências atrás de diligências, um trabalhosério, fiscalizando. O que eu vejo e um Tri-bunal altamente atuante; as pessoas co-brando, sérias, competentes, técnicas. E oque vendem para a população, inclusive aimprensa, é o inverso disso tudo. Então, foimuito bom esse meu contato na área admi-nistrativa da cidade, quando eu larguei oparlamento. Eu, que fui líder do governoCésar Maia por quatro anos, do próprioPFL, agora, vindo para o Executivo, eu sin-ceramente não conhecia esse trabalho quehoje posso garantir e defender em qualquertribunal do mundo, porque eu tenho, comoSecretário, visto esse trabalho, e queria pa-rabenizar o Tribunal por esse trabalho deexcelência que vocês desempenham não sóna Secretaria, mas fiscalizando todo o go-verno do Município.

A piscina do CentroPoliesportivoMiécimo da Silvarecebe milharesde crianças eadultos por ano

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Eu disse para vocês que o esporte no Riode Janeiro estava abandonado, e a provadisso é, se a gente pára um pouquinho e faza pergunta: “Quem foram os Secretários deEsportes do Rio de Janeiro, da cidade, doEstado, nos últimos 12 anos?” Talvez não sesaiba citar um. A culpa não é do Secretário,com certeza. A culpa era- e é- dos Prefeitos,dos Governadores, e da área federal, em re-lação ao Ministério. Culpa, absolutamente,que podemos garantir, sem dúvida, do se-nhor Presidente da República. Esse esporteabandonado. A gente tinha que mudar esselayout e começar a fazer um trabalho sériona cidade do Rio de Janeiro. E aí, o queaconteceu de repente? A Secretaria de Es-portes e Lazer, que tinha capacidade, quetinha dinheiro suficiente para comprar umVolkswagen, acabou comprando um Rolls-Royce. Mas só que comprou o Rolls-Roycecom o dinheiro do Volkswagen, isso é que éa grande verdade.

Uma vez, conversando com o Sérgio Ca-bral Filho, na frente de alguns jornalistas,inclusive o dono do jornal O Dia, o doutorAry Carvalho e do vice-presidente, Fernan-do Portella, ele virou para mim e disse:“Mas olha, qual é o teu orçamento? Quefesta é essa que você faz na cidade do Riode Janeiro?” E eu disse pra ele, Sérgio Ca-bral Filho: “Eu estou com um orçamento de0,5% do orçamento do Governo da cidade”.Ele disse: “Você deve estar brincando, deveter uns 4 ou 5%”. Ele, que é uma pessoaatuante, Presidente da nossa Assembléia,um deputado que conhece perfeitamenteorçamento e sabe como as coisas andam.Mas, na verdade, é isso que as pessoas in-terpretam. Isso vem em decorrência, euacho – e aqui nós temos alguns parlamen-tares que foram vereadores comigo, pro-fundos conhecedores de como funciona oparlamento, de como funciona o mecanis-mo do parlamento na Câmara Municipal,como Thiers Montebello e o professorMaurício Azêdo, que é, sem dúvida, omaior professor que a Câmara já teve,atuante, competente... cobrava as posturasem defesa do interesse público. Ele sabeque o orçamento é uma ficção. Eu disse is-so ao César Maia, e disse isso ao Prefeito. Eme lembro que o Maurício também... Issoaqui tudo é ficção, disso aqui nada funcio-

na, o Thiers dizia várias vezes, e é verdadeisso, por quê? Porque quando funciona oesporte na cidade, para vocês entenderemmelhor, quando funciona na verdade esseorçamento, essa peça de ficção? Na verda-de, a Secretaria da Fazenda elabora umprojeto, discute com o Prefeito, que temmilhões de afazeres, não tem tempo. NemCésar Maia, nem Conde, nem Bené, nemChico Alencar, nem ninguém. Amanhã,Sérgio Cabral, Brizola, qualquer prefeitoque assuma aquela cadeira ali, tambémnão vai ter tempo suficiente para se apro-fundar na proposta orçamentária, isso éque é a verdade, no meu entendimento, co-mo isso devia funcionar. O que é orçamen-to? Todo mundo aqui conhece. Fácil. Orça-mento é receita de um lado e despesa, pre-visão, do outro. Não tem outra mágica, nãotem outro mecanismo para se fazer um or-çamento.

Na minha concepção, o que eu acho quedeveria ser feito? O Senhor Prefeito da cida-de tem uma previsão de receita para o anode, vamos supor, R$ 5 bilhões, que é por on-de gira mais ou menos o orçamento da ci-dade do Rio de Janeiro. Desses R$ 5 bilhõesde previsão de receita, todos sabemos quehá aproximadamente um comprometi-mento de 80% com despesas operacionaisfixas, administrativas, e aí está incluída anossa folha de pagamento. Então, na verda-de, nós vamos ter apenas R$ 1 bilhão, quenós podemos distribuir para as Secretarias,para investimento e custeio em determina-dos segmentos. Funciona dessa maneira.Na minha cabeça, isso devia ser feito combastante clareza. O orçamento é R$ 5 bi-lhões, você tem R$ 1 bilhão de que você vaipoder dispor. Você garante uns 20% paraeventuais, faz uma reserva técnica de 20%,ou de 15%, ou de 10% - cada Prefeito temuma cabeça - e vão sobrar R$ 800 milhões. Ademocracia elegeu o Prefeito, as políticasque vão ser implementadas na cidade, atépara a gente respeitar essa democracia, da-quele que foi eleito, que recebeu o voto.Com certeza, amanhã, se tivermos lá senta-do na cadeira do Prefeito, por voto popular,a dona Benedita, ou o senhor Sérgio Cabral,ou o César Maia, ou o Conde, o aval que foidado, foi para aquele candidato vencedor.As políticas que devem ser implementadas

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““A democracia, na minha é você respeitar adecisão da maioria””

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na cidade devem ser conduzidas por aquelePrefeito, seja ele de qual partido for, qual-quer cor ideológica, não vamos discutir isso,a verdade é que a população deu um aval enós vamos cobrar isso, nós os parlamenta-res e a própria população. Mas as decisõesde aplicação, e da aplicações das políticas aserem implementadas no governo, devemser do Prefeito da cidade. Então, seguindoesse raciocínio, o Prefeito tem um saldo deR$ 800 ou R$ 600 milhões. Eu, se sou Prefei-to da cidade, pegaria aqueles R$ 600 mi-lhões e iria priorizar os segmentos que meinteressavam implantar as minhas medidaspolíticas administrativas, e políticas de go-verno. Isso é uma coisa clara. “ Bem, o se-nhor Secretário de Esportes, nós queremosdar para ele uma verba de R$ 30 milhões, oturismo R$ 50 milhões,” sei lá. Cada um de-ve ter a sua política de governo. “Senhor Se-cretário José Moraes, o senhor tem R$ 30milhões. O senhor faça um projeto para osR$ 30 milhões, mostre onde o senhor vaigastar, que nós queremos discutir”. Depoisdisso discutido, cada um com os seus secre-tários elaboram os projetos de cada Secreta-ria, com o aval do Prefeito e a indicação bá-sica da Secretaria, discutindo com os técni-cos da Secretaria. O Secretário pode proporo que quiser, baseado nas necessidades desua Secretaria, com a certeza de que a Secre-tária Sol não vai poder determinar onde éque vai o dinheiro, e aonde eu vou gastar. Is-so tem que ser de competência do Secretá-rio, com os seus técnicos, com os seus fun-cionários. Então, com essa visão - eu não seise os vereadores concordam muito, os Con-selheiros que já foram vereadores, concor-dam com essa minha postura – então, dan-do prosseguimento a esse raciocínio de quea democracia, na minha visão é essa - vocêrespeitar a decisão da maioria - é funda-mental para um governo ter a maioria naCâmara, ou na Assembléia, ou seja lá ondefor, no Senado. Porque, para você imple-mentar as suas políticas, se você não tiveresse apoio, a coisa não vai andar, com certe-za. Você vai ter muita dificuldade e, no final,cai em cima da população. Isso é incontes-te, isso não tem outra maneira. Se isso nãofluir dessa maneira, nós vamos ter dificulda-des, a máquina pára.

E, pensando nisso, o que o Prefeito da ci-

dade, o Governador, deviam fazer? Pensan-do dessa maneira, que é o meu raciocínio -vocês podem até discordar - eles deviamchamar a sua base parlamentar, porquequem vive o problema do morador da cida-de do Rio de Janeiro é, na verdade, o verea-dor. Quando vereador, eu me lembro quenão tinha um dia que eu não atendessecem pessoas. O Thiers, o Maurício, todos osoutros viveram a mesma situação. A co-brança é muita. É luz, é buraco, é não sei oquê. Você é cobrado diariamente. Então, es-ses vereadores, que compõem a base doGoverno, deviam ser consultados. “Olhaaqui, no seu bairro, na Ilha do Governador,seu José Moraes, o que o senhor acha, nasua visão, que deve ser melhorado na suacidade, pensando-se apenas no poder pú-blico, no interesse público?”

O vereador é que estaria representandoaquele segmento da sociedade, ou o seubairro. E aí ele, dentro dessa sobra orça-mentária, daria, vamos dizer, R$ 500 mil, R$1 milhão, R$ 2 milhões, não importa o valoragora, é apenas um número frio, para cadaum dos vereadores apresentar suas propos-tas para melhorar o seu bairro. Melhorandoo seu bairro, melhoraria o viver na cidade.Essa era a idéia geral. Isso pronto, você pe-ga esse pacote, aprovou com os vereadores,

O Centro PoliesportivoMiécimo da Silva,emCampo Grande,é omaior projeto deressocialização de jovensda América do Sul

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aprovou com os Secretários, você tem umorçamento com receita e despesa. Entregaisso para os técnicos da Fazenda, eles ela-boram um projeto de orçamento, esse pro-jeto vai para a Câmara e, na minha visão, oprojeto que tem que ser implementado éesse que foi discutido com a base, é esseque foi discutido com a maioria. Quandovota o vereador no projeto original, levan-tam 22, ou 23 ou 28 vereadores. “Está apro-vado o projeto”. E aí sim, a oposição tem to-do o direito de cobrar isso: se as verbas es-tão sendo bem aplicadas; se o Governo es-tá fazendo uma boa aplicação; se as obrasestão em andamento... Eu acho que o par-lamento, nós, Tribunal, o vereador, têm quecobrar essas medidas. O sucesso ou o insu-cesso desse programa cabe a nós, e a res-ponsabilidade total é do senhor Prefeito edos seus Secretários. Mas o que acontece?Nada disso acontece, como este ano agora,Maurício: o meu orçamento era de R$ 29milhões e 800 mil. Foi para Câmara. Achoque muita gente aqui não conhece comofunciona a Câmara. Quando chega um pro-jeto lá, de orçamento, sabe o que que acon-tece? São 42 vereadores. Dos 42 vereadores,têm 20 assessores, cada assessor tememendas que ele faz e dá para os vereado-res assinarem, emendas transferindo aque-las verbas, valores dos Programas de Traba-lho- pê-tê e aí, pasmem, vocês sabem dis-so... O Maurício e o Thiers sabem perfeita-mente do que eu estou falando. São núme-ros, os Programas de Trabalho são núme-ros: 28, 30, 40. Então, tem lá R$ 8 milhõesnesse pê-tê. “Ah, não! A Secretaria de Espor-tes tem muito dinheiro nesse pê-tê.” Amaioria funciona assim. Ele não quer nemsaber o que tem naquele pê-tê. Ele quer nú-meros, e transfere aquele dinheiro para ou-tros segmentos, para outros Programa deTrabalho, para outras Secretarias. Só quemuitas vezes, o que que acontece? Aquelepê-tê era de um compromisso internacio-nal, por exemplo, o contrato da Fórmula 1,ou da Fórmula Indy, surf internacional, ouseja lá o que for. Então, como é que você ti-ra do orçamento uma verba que está com-promissada internacionalmente?

Sabe o que aconteceu com o nosso orça-mento? Ele, que era de R$ 28 milhões, o pla-nejamento global foi para R$ 3 ou 4 mi-

lhões. E aí, na mesma votação, no mesmoprojeto, quando você vai votar esse projeto-se passam 60 dias discutindo esse orça-mento, uma confusão danada, vai pra cá,vai pra lá- e no final aquilo é uma peça deficção. Por que? Porque no mesmo ato re-cebe uma emenda de flexibilização, quevocê pode mexer no orçamento, no saldotodo, 20%. Oitenta por cento está compro-metido. Quando você recebe um aval paramexer em 20% do orçamento, na verdadevocê mexe no orçamento todo. Tudo aquiloque se fez não valeu nada; tudo que seaprovou, depois de discussões e mais dis-cussões, passa a valer absolutamente nada.O Prefeito ou o Governador conduz paraonde ele quiser. E aí refaz tudo que foi feitono projeto base.

O que aconteceu com a Secretaria de Es-portes e Lazer? Isso, exatamente isso. Devez em quando eu vejo aí na imprensa: “Ah!O Prefeito tirou da Saúde, tirou do Turismo.Tirou R$ 5 milhões, botou na Secretaria deEsportes e Lazer”. Isso não é verdade. Elevoltou com um orçamento que a gente játinha no planejamento básico, e que quan-do foi para a Câmara, foi todo mudado. Ecomo é que você vai funcionar, como é quevocê paga as suas despesas operacionais,fixas, administrativas, os seus projetos, osseus compromissos? Você tem que ter ver-ba, e a verba está naquele planejamentoque você fez durante 90 dias.

Para vocês entenderem o que aconteceu,por exemplo, na Secretaria - isso é até bompara os Conselheiros - foi exatamente isso.Nós não estamos pedindo um centavo amais do que estava projetado, planejado eaprovado por 40 vereadores, porque eu fuidiscutir com os vereadores os meus progra-mas. Fui o único Secretário que se sentou àmesa com os 40 vereadores, e discutiu comtodos eles, e que tem uma emenda queaprovava todo o nosso orçamento, projetopor projeto.

E aí a imprensa, desinformada - muitasvezes com má fé, muitas vezes recebendoe-mails e faxes clandestinos, de informa-ções deturpadas, mentirosas, cretinas, per-versas – começa a botar na cabeça da po-pulação coisas que, na verdade, não exis-tem. Foi o que aconteceu com a Secretariade Esportes. Eu disse isso ao Prefeito. “Pre-

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““O esporte é tãofundamentalpara apopulação,quanto é aeducação,quanto é a saúde ””

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feito, o senhor está dando muito pouco,0,5% do orçamento da cidade para o Es-porte, isso é uma verba baixíssima, porqueo vetor esporte é tão fundamental para apopulação, quanto é a educação, quanto éa saúde”. Quando você dá esporte pro ga-roto, você tira ele do vício, do crime, da vio-lência. E ele tem um atleta, tem uma equi-pe, cria um ídolo, ele quer seguir o seu ído-lo. Isso a gente tem a prova a cada dia. A ca-da implemento de um projeto nosso, a ga-rotada que estava na rua assaltando, prati-cando crime, pára e vai ter o seu ídolo, vaiter a bola, vai ter o professor.

Logo, esse vetor esporte é um vetor fun-damental para o desenvolvimento de umacidade. E o que acontece no nosso país?Vergonha total. O que acontece no Estado?Vergonha total. O que que acontecia noMunicípio? Vergonha total. Abandono to-tal. Estou vendo aqui várias pessoas quesão do esporte, e que sabem que isso é ver-dade. O que o governante faz, o que o Go-vernador faz, o que o Prefeito faz, o que oPresidente da República faz? O Presidente,o que ele faz exatamente é querer se apro-veitar - nessa hora aqui a gente vai quebrarum pouco o protocolo - é aproveitar daglória, da vitória daqueles atletas, daquelasequipes quando chegam com uma vitória,como no Pan-Americano de agora, ou deum campeonato. No aeroporto, a primeira

coisa que você vê é um super carro do Cor-po de Bombeiros, vermelho, pintado coma bandeira do Brasil. Colocam os atletasdentro daquele carro, banda de música e aícaminham pela cidade, todo mundo sol-tando fogos, todos batendo palmas narua... e lá se vão os atletas, as equipes, aospalácios, tirar fotografias com o senhorPresidente da República.

Aconteceu isso agora. O Presidente, embaixa total, em baixa total na opinião pú-blica. O que ele fez com a Seleção Brasilei-ra? Convidou a Seleção, depois da vitória,para ir lá. Convidou os atletas pan-ameri-canos para ir lá tirar fotografias. Noventa eoito por cento dos jornais do país publica-ram o Presidente da República na primeirapágina. E agora, Presidente? A sua equipede judô brasileira não pode ir ao Mundialporque não tem dinheiro, Presidente. Issoé uma vergonha. Onde é que está, INDESP,onde está o nosso Ministro? É isso que vo-cê quer? É isso que a gente quer para nossacidade, para nossa população? Como é quea gente vai poder colher resultados se agente não tiver investimentos maciços,que é investimento social.

Quando você investe no esporte vocêestá investindo no social, está investindona educação, na saúde. Tira ele do vício damaconha, da cocaína, seja lá do que for, ebota ele na quadra, com um professor.

O futebol é umdos esportes quemais desperta ointeresse de criançase adolescentes no Rio

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É isso o que acontece no Brasil, indiscu-tivelmente. Atleta não tem dinheiro paracompetir no campeonato brasileiro, mui-tas vezes, em Curitiba. Isso é fácil de serpesquisado, é só ler os jornais.

O que você vê mais e via no Rio de Janei-ro – mudou esse layout – era o atleta mor-to, no final de uma competição, no final deuma maratona. E aí você perguntava: “Oque houve, como foi a competição?” “Mui-to boa, mas eu preciso um apoiozinho fi-nanceiro, porque eu não tenho nem o quecomer, estou pegando ônibus...” É isso. En-quanto atletas de países socialistas, e pe-quenos, como Cuba, ganharam mais de180 medalhas, mais uma vergonha nacio-nal: estamos achando que ganhamos mui-tas medalhas, quando ganhamos 15 meda-lhas numa Olimpíada, como na última. E aínão vamos colocar a culpa em cima do pre-sidente do Comitê Olímpico, que é um de-fensor ferrenho, lutador e profundo conhe-cedor dessas necessidades, mas que, sozi-nho, coitado — está aí a Seleção sem poderir, porque o COBE não tem dinheiro.O IN-DESP não libera, e a Seleção não vai. E as-sim são várias outras situações que a gentevê no esporte.

A situação do esporte do Brasil e da cida-de do Rio de Janeiro é essa, abandono total.Com esse comprometimento do Prefeito,vamos mudar esse layout, vamos imple-mentar alguns programas que são funda-mentais para a cidade do Rio de Janeiro. Ba-seado nesses programas é que a gente estámudando esse layout, e o Rio hoje é umafesta 24 horas por dia. Em qualquer lugarque você vá, uma festa na cidade, com 18 a25, 26 eventos simultâneos, todo final de se-mana. Nós temos os eventos pequenos, osmédios, os mega eventos, e temos aqueleseventos altamente sociais, que são desen-volvidos nas comunidades carentes, noscondomínios, nas praias, onde se colocamos garotos. E mais uma vez tiramos os garo-tos dessa violência, desses descaminhos,dando e praticando esportes.

Não adianta agora querer andar em car-ro blindado, não adianta querer colocargrades nos seus apartamentos, não adiantaestar com segurança do lado, todo dia: aviolência está aí. E se você não atacar a ba-se, não for lá no garoto, porque ele começa

vender maconha – com 10, 11, 12 anos jáfaz avião – se você pegar esse garoto, botarele dentro de uma escola e depois dar es-porte, ele não vai estar lá, servindo ao mar-ginal.

Hoje a situação da cidade é que está to-do mundo com medo, todo mundo tranca-do, tremendo. Ninguém consegue ir à cida-de. Vai em uma festa, tem briga. Vai não seiaonde, tem briga. Vai à praia, tem arrastão.Pára no sinal, vão roubar teu cordão; se rea-gir, leva um tiro na cabeça. E quem está nis-so envolvido é o garoto de 16, 17 anos, é osistema.

É um bê-a-bá claro. Os políticos estãoaqui, mais uma vez, os vereadores, que seelegeram com o voto popular, sabem. Vocênão vê nenhuma plataforma de partido po-lítico falar em esporte. Basicamente, o quevocê vê lá? Educação, trabalho, saúde, e oesporte está relegado. Ninguém se preocu-pa com o esporte, os partidos políticos nãose preocupam. Você olha um programa dacampanha política na televisão, e não temnenhum político que fale uma vírgula so-bre o esporte. Vocês já viram algum falar so-bre esporte? Não. Por quê? Porque é aquelademagogia: porque a saúde, a educação, otrabalho... Claro que para se desenvolverum país, há que se ter uma revolução naeducação, mas em paralelo você tem queter a saúde, o trabalho, e a casa para morar.Fundamentalmente é isso, mas se você nãotiver o pilar social do esporte, nada vai fun-cionar.

Se a gente não mudar esse layout, emtermos de Brasil, e ficar nessa demagogia,nessa mentira do dia- a- dia, essas fotogra-fias que são tiradas, esse ôba-ôba, porque éum ôba-ôba. Os clubes estão abandona-dos, as federações estão abandonadas, nãotêm sede. As confederações não têm sede,não têm dinheiro para pagar o aluguel —os clubes estão todos falidos — é isso!

É até uma falta de inteligência, andamna contramão da inteligência, porque nãotem um parlamentar, não tem um político,não tem ninguém da sociedade que nãoesteja vinculado a um clube. De uma ma-neira ou de outra, se não está, está o filho.

Quem é contra o esporte? Ninguém,porque todo mundo tem alguém que estáno esporte, ou é o filho, ou a filha, ou é o

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““O vetor esporte é umvetorfundamentalpara odesenvolvimentode uma cidade ””

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pai, ou o sogro. Para vocês terem uma no-ção, em Copacabana fizeram uma pesqui-sa, onde se constatou que fazem esporteaeróbico diário cerca de 15 mil pessoas, to-dos os dias. Caminham e correm, todos osdias. Multiplique isso por 30, para se teruma idéia da quantidade de pessoas quepraticam esporte na praia de Copacabanapor mês. Então, estando o esporte tãoabandonado como está, temos que tomarsérias providências.

Pensando nessa situação, implementa-mos algumas medidas e projetos para mu-dar essa imagem do esporte na cidade doRio de Janeiro, dar uma nova transparênciaao layout.

O projeto “Rio, Atleta 2000”; “Jogos Estu-dantis”; o “Rio Bem-Estar”; o “Feliz Idade”;o “Rio Futebol Arte”; o “Rio Criança Espor-te”; o “Rio Escolinhas de Praia”; o programa“Esporte Solidário”; o programa “MuscleBeach”, de musculação na praia; os progra-mas de “Escolinhas de Vela”; o programa“Meninos do Boxe”; o programa “Criançado Futuro”; o programa “Rio ComunidadeCapoeira”; e o programa “Viva Vôlei”. Essesforam os programas que desenvolvidosdentro da Secretaria.

São programas altamente sociais, queestão completamente desassociados doseventos desenvolvidos na cidade. No anopassado tivemos aproximadamente 1.300eventos desenvolvidos na cidade do Rio deJaneiro, pasmem, 1.300 eventos esportivos.

Os “Jogos Estudantis”, são 15 mil porano. Depois que assumimos desenvolve-mos esse projeto e aumentamos a sua par-ticipação para 15 mil.

O “Feliz Idade” é um projeto fantástico.Na praia de Copacabana, em atividade des-de julho de 1999, com aulas de alongamen-to, ginástica, tai-chi-chuan, dança, estéti-ca, alimentação, workshop, dança de salão,trabalhos manuais, exposições de pintura,poesia, torneios, jogos de sueca e xadrez.

O “Feliz Idade” é um programa dirigido àterceira idade, já com 5 mil inscritos.

O “Esporte Solidário” é desenvolvidodentro do projeto “Favela-Bairro”. Aulas re-gulares de atletismo, basquete, futebol desalão, handebol, voleibol, capoeira, dança,música, artes, teatro, oficinas de instru-mentos, atividades complementares, todos

eles com lanche. Outro projeto fantástico é o “Escola de

Vela”, destinado a dar uma oportunidadena classe optimist, às crianças e jovens dapopulação carente. Normalmente quemfaz este esporte é o garoto que tem dinhei-ro e pode ser sócio de um Iate Clube. Quemmais faz vela? Ninguém. Porque não temcondição de ter barco, de ter nada. Entãonós temos os optimist, que funcionam lána Lagoa, totalmente de graça, cada turmacom 130 alunos. Nós damos tudo.

Não sei se vocês conhecem a favela doCantagalo, lá em cima no CIEP, o trabalhodo professor Cláudio com os meninos ca-rentes? São atendidas 80 crianças em cadaturma, lá na favela. Estimular através do bo-xe o respeito, a disciplina despertando o in-teresse pela prática de atividades físicas e osvalores sociais. Faixa etária de 8 a 15 anos.

Eu gostaria de convidar vocês para al-gum dia irem lá nessa favela, porque isso éum programa de arrepiar. Você dentro dafavela vê esses garotos praticando o espor-te, uma arte marcial como o boxe.

O “Rio Capoeira” é um projeto que hojeatende a 2 mil alunos. Tivemos a maior au-la do mundo de artes marciais, em Copaca-bana, há 21 dias passados, com 2 mil garo-tos ao mesmo tempo, uma aula para 2 milatletas. Foi feita na praia de Copacabana amaior aula do mundo, é um recorde. Issofoi desenvolvido no ex-buraco do Lume, nocentro, Arcos da Lapa, Cruzada São Sebas-tião, Parque Columbia, Pavuna, Rocinha,São Conrado, morro Dona Marta, morrodo Salgueiro, Serrinha, Borel, Jacarezinho,com faixa etária a partir de sete anos. Como mestre Camisa, que é considerado hoje omaior mestre vivo de capoeira do Brasil.

O “Viva Vôlei”, programa de iniciação aovôlei, utilizado como veículo para a diver-são, o movimento e a ressocialização, naQuadra do Império Serrano, Madureira,Parque Ari Barroso, Parque Rubens Vaz,Maré, faixa etária de 8 a 14 anos, em parce-ria com a Confederação Brasileira de Vôlei.Início das atividades em agosto de 99, im-plantação de oito núcleos até dezembro de99, com previsão de atendimento de milcrianças, no mês passado.

O “Rio Escolinhas de Praia”, nas praiasdo Rio de Janeiro. Com inserção de mate-

““Quando vocêinveste noesporte, vocêestá investindono social, estáinvestindo naeducação, na saúde ””

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rial esportivo, orientação técnica, organiza-ção de eventos e torneios, apoio institucio-nal. Em contrapartida, 20% de todas as va-gas são para meninos carentes que estejammatriculados na rede municipal de ensino,com média sete. Como modalidades temoso surf, o beach soccer, o vôlei, o footvôlei, apeteca e o bodyboard. Escolinha comuni-tária, desenvolvidas dentro das própriascomunidades, com uma orientação técni-ca perfeita.

O projeto “Rio Futebol Arte” é uma coisafantástica. O que é isso? Nós convidamosum grupo de artistas, os principais atoresda Globo e cantores de pagode, e fazemosjogos de apresentação nas favelas. No Jaca-rezinho, na Rocinha, no Complexo da Ma-ré, em média o público é de quatro mil pes-soas, com a arrecadação de alimentos nãoperecíveis para distribuição na própria co-munidade. É incrível isso, em cada comu-nidade nós estamos arrecadando quatro,cinco, seis toneladas de alimentos. O pró-prio morador vai lá e entrega o alimento.São 50 participantes, com os atores da Glo-bo, e a campanha é “diga não à violência eàs drogas”. Esporte é vida, diga não à vio-lência. Essa é a campanha-mãe desse pro-grama.

O “Rio Bem-estar” , que é desenvolvidona Quinta da Boa Vista, um programa mui-to bom, visando proporcionar a ocupaçãode tempo livre, de forma orientada, visan-do a melhoria da qualidade de vida. O par-que da Quinta da Boa Vista está muito bemcuidado e limpo. Com ginástica, capoeira,tai-chi-chuan, skate e vôlei. Com ativida-des extras, de visitas orientadas ao Museu,lanche comunitário, etc. Com atendimentomensal de 830 pessoas.

Em Venice, nos Estados Unidos, haviauma academia de praia, mas os equipa-mentos eram todos de ferro, enferrujavam.Todo mundo hoje faz ginástica, faz muscu-lação, todos querem ficar mais jovens, maisbonitos, só que frequentar uma academiahoje custa entre R$ 80,00 e R$ 200,00. Pri-meiro nós proporcionamos, em Ipanema,30 mil atendimentos por mês, totalmentede graça, com os aparelhos que foram de-senvolvidos por técnicos do IPA e do Fun-dão, aparelhos inovadores, todos em açoinoxidável. Aparelhos que, ao ar livre, não

atrapalham a vista, não atrapalham em na-da. Acho que alguns de vocês já devem co-nhecer. Temos tido filas a cada aula de 200alunos. Um show de programa, que já foitransmitido para 26 países. Vinte e seis paí-ses fizeram reportagens divulgando esseprojeto do Rio de Janeiro, no mundo intei-ro.

O projeto que é a minha menina dosolhos. Foi polêmico, porque geralmente aspessoas são desinformadas, e não têm ne-nhum conhecimento sobre o esporte. Al-gumas pessoas desinformadas começarama plantar nota dizendo que os atletas esta-vam ganhando R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50mil, R$ 80 mil. Coitados, não têm nenhumanoção do que é um projeto desses. O artis-ta do futebol é o jogador de futebol, quemfaz o quadro é o Van Gogh, ele pintava. Oartista do esporte é o atleta. Se o atleta nãotiver o apoio, nós nunca vamos ser nada noesporte. O país nunca vai parecer. Basica-mente, o show quem faz é o atleta. Claroque é importante você dar um apoio àsConfederações, às Federações e aos clubes,principalmente. Mas quem faz o show é oatleta.

Para vocês terem uma idéia, o resultadodesse programa foi fantástico no últimoPan-Americano. Este projeto consiste emapoiar 150 atletas de nível AA, todos cam-peões mundiais, pan-americanos e sul-americanos. Não houve nenhum apadri-nhamento. Se o atleta não estiver creden-ciado, não adianta vir o Prefeito pedir, oPresidente do Tribunal, o Presidente da Re-pública, o Joaquim ou o Carlinhos. Para eleestar dentro desse nosso programa ele temque ter credenciamento, tem que ter o avaldas Federações e das Confederações.

Todos os nossos atletas são altamentecapazes, são atletas que mostraram agorano Pan-Americano o resultado de quandovocê faz um investimento sério. Nós damoso apoio técnico, nutricional, psicológico,médico, jurídico, viagens e treinamento.Para esclarecer este assunto, pois tem mui-ta gente que diz: “Ah! O atleta ganha R$ 20mil...” Isso é uma mentira deslavada. Ne-nhum atleta ganha mais do que R$ 5 mil,para toda a sua equipe. Aí você diz assim...“R$ 5 mil?” Quando você diz R$ 5 mil paraum atleta e toda a sua equipe, isso não é na-

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““EmCopacabana 15 mil pessoasfazem esporte aeróbicotodos os dias ””

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da porque um atleta, para vocês terem umanoção - as nossas atletas do vôlei, campeãsmundiais, campeãs olímpicas, gastam US$1.300 em uma passagem do Rio para Mia-mi- em duas viagens já vai a verba que elasganham. Como é que elas se mantém como preparo físico, médicos, nutricionistas?Esses atletas precisam ter a tranqüilidadede ter um apoio da cidade: se cada cidadedo Brasil fizesse um programa desse — eujá disse isso ao Presidente, e já disse ao Mi-nistro Greca — se cada cidade do Brasil, ca-da Estado, fizesse um programa desse, den-tro de quatro, oito, doze anos, a gente ia pa-ra 40 medalhas, 80 medalhas, 120 meda-lhas, 150, e amanhã nós estaríamos no ní-vel de Cuba, que é um país desse tamanho,mas que, com a visão socialista e inteligen-te do Fidel, sabe que esse é o caminho, e in-veste maciçamente no esporte, e obtém re-sultados. Ah! Como é que os cubanos ga-nharam? É porque eles têm olhos verdes,são carecas, cabeludos, bonitos, fortes?Não é nada disso, eles ganharam porquetreinaram. Treinaram e tiveram apoio, coi-sa que nós não temos aqui.

Os nossos atletas que participaram doprograma, atletas que foram para as Olim-píadas, para o Pan-Americano- foram 436atletas do Brasil- nós mandamos apenas29. Ou seja, nós mandamos 7% dos atletasdo Brasil. Resultado: modalidades esporti-vas - 36, modalidades disputadas - 9. Parti-cipação dos “Atletas 2000” - 25%. Medalhasconquistadas - 101. Medalhas conquista-das pelos “Atletas 2000” - 20%. No ouro,32% das medalhas de ouro foram ganhaspelos nossos atletas, só que nós mandamosapenas 7%. Ou seja, com apenas 7% deatletas do Rio, nós ganhamos 32% de todasas medalhas do país. Observem, com 7%ganhamos 32% das medalhas. Se fôssemoscontar o Rio como país, seríamos o sextoou sétimo colocado. Nas medalhas de pra-ta tivemos um índice de 19%. No bronze,14% de todas as medalhas. Vejam como osresultados são fantásticos quando fazemosum trabalho de investimentos em cima doatleta.

“Footsal Rio Miécimo”. Estimular a práti-ca do futebol de salão nas crianças jovensatravés do contato direto com seus ídolos,estimulando a população a torcer pela ci-

dade do Rio de Janeiro. Eu acho que toda cidade deveria ter o

seu time. Quando você tem um time querepresenta a cidade, “Rio de Janeiro Miéci-mo” — depois nós vamos falar do Miécimo,o maior centro poliesportivo da América doSul , ou talvez do mundo — o que aconte-ce? Você tem uma equipe que representa asua cidade.

Não sei se vocês sabem, mas o footsalhoje, depois do futebol, é o esporte maisvisto pela televisão. O nosso último jogo, doRio de Janeiro contra o Atlético, no Minei-rão, teve recorde mundial de público. A TVGlobo transmitiu no domingo passado -não sei se vocês viram - um jogo direto daRússia. No primeiro ano de competiçõesfomos vice- campeões brasileiros, dispu-tando com o Vasco, Flamengo, Corinthians,Internacional, enfim, todos os clubes gran-des, e o Rio de Janeiro Miécimo, time de ca-rentes, lá em Campo Grande, no Centro Po-liesportivo, vice-campeão, segundo do Bra-sil. Já vai disputar o campeonato carioca, ejá está na final do Municipal, com o Vascoda Gama, está liderando o Estadual. Vejamos resultados apenas um ano após o iníciodos investimentos.

O Centro Poliesportivo Miécimo da Sil-va, em Campo Grande, é o maior projeto deressocialização de jovens da América doSul, não tem nada igual. O ginásio e o cen-tro poliesportivo, modéstia a parte, vocêsentram lá e pensam que estão em uma vilaolímpica nos Estados Unidos, ou na Euro-pa. Temos um ginásio com três andares, arcondicionado, piso flutuante e, para vocêsterem uma idéia, 33 mil inscritos, com 200professores estagiários dando aulas diaria-mente das 6 horas da manhã às 22 horas. Éum verdadeiro shopping do esporte. Quemcoordena isso? Quem coordena esses atle-tas olímpicos? Os atletas medalhistas. Nóstemos os professores, temos os estagiários,mais os coordenadores dos programas es-portivos, e aí são 20 esportes. Tudo funcio-na, e os grandes eventos do Rio de Janeiroestão sendo realizados lá. Estamos imple-mentando a mais moderna pista de atletis-mo da América do Sul, e uma das mais mo-dernas do mundo. Nós fizemos um convê-nio com a Caixa Econômica, o dinheiro jáestá depositado, e nós temos R$ 3 milhões

““Todo mundohoje fazginástica, fazmusculação,todos queremficar maisjovens, maisbonitos ””

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para terminar algumas coisas que faltamno ginásio. E fomos também informadosque vamos receber um prêmio da ONU poresse projeto, que eu gostaria imensamenteque todos vocês, inclusive os Conselheiros,fizessem uma visita para sentirem como éesse projeto social.

Eu vou dar um exemplo. O professor Tu-bino, do INDESP esteve lá e disse o seguin-te: “Moraes, o Prefeito Luiz Paulo Condetem que trazer aqui o Presidente da Repú-blica, tem que trazer o Ministro Greca, porque esse projeto é uma prova de que o es-porte no Brasil dá certo”. Palavras do Tubi-no que, no meu entendimento, é a maiorautoridade do esporte no Brasil.

Campo Grande, Zona Oeste, zona muitopobre. Depois de consolidado o projeto,começamos com 5 mil, fomos para 7, para8, para 12, para 15, estamos em 33, e vamoschegar ao final do ano em 40 mil por dia.Vocês já imaginaram o que é 40 mil pessoastendo aula todos os dias? Por mais que eudescreva o projeto, não dá para avaliar, épreciso ir visitar mesmo.

Quando terminamos de implantar o pro-jeto das escolinhas, o que fizemos? Imple-mentamos aqueles projetos de lazer espor-tivo. Aos sábados e domingos abrimos asportas do centro esportivo às comunidadescarentes e a todo o povo de Campo Grande.No último domingo de verão tivemos 7 mile 800 pessoas passando pelas roletas, só napiscina. Um atrás do outro. Uma coisa estu-pidamente bem freqüentada.

É um grande clube de lazer, sem vocêpagar nada. Os uniformes de todas as esco-linhas são totalmente de graça; nós damostudo, bancamos tudo. Você chega lá temum tênis, tem um vôlei, tem um basquete,tem a capoeira, tem boxe, tem tai-ken-dô,tem luta livre, tem jiu-jitsu, o judô, o fute-bol de campo, é uma coisa de arrepiar, esteprojeto. Por isso eu faço questão de convi-dar os amigos, todas as pessoas aqui pre-sentes, para conhecer o projeto do CentroPoliesportivo Miécimo da Silva.

Eu gostaria de passar aqui, rapidamente,um quadro dos atletas nossos, até porquehouve muita crítica. Sempre de um jornal,de uma coluna... “Ah! o atleta ganha tan-to...” E como é que é avaliado? As pessoasnão têm conhecimento de nada, acham

que esses atletas são apadrinhados, que aspessoas botam lá porque são meus amigos,que o camarada ganha uma fortuna, coisae tal. Aqui nós temos a modalidade esporti-va, os principais títulos, e os valores médiosdo que eles receberam esse ano, em média.Onde é que estão os tais R$ 20 mil, R$ 30mil, que os atletas ganhariam? Se você divi-dir o que eles receberam, no conjunto ge-ral, pelos meses... Quando você empenhauma verba, você empenha uma verba doano, vamos dizer, R$ 24 mil reais para umatleta que ganha R$ 2 mil por mês, aí ele bo-ta lá que o atleta ganha R$ 24 mil por mês,quando na verdade esse é o valor anual.

Além desses programas, que são os pro-gramas sociais, nós temos os programasque trazem além do esporte a imagem dacidade, porque esses eventos são transmiti-dos para o mundo, por exemplo, FórmulaIndy e Motovelocidade que são transmiti-dos em média para 180 países, duranteduas horas e meia; Campeonato Mundialde Vôo Livre, transmitido pela Esporte TVdurante quatro horas para o Brasil inteiro eretransmitido para o mundo. Você traz aimagem do turismo na Cidade do Rio de Ja-neiro. Quando nós fizemos a Meia Marato-na da cidade do Rio de Janeiro, com a RedeGlobo, nós passamos duas horas e meia dehelicóptero filmando as praias e a MeiaMaratona. Uma coisa fantástica! Imaginemquanto custa isso, se eu fosse pagar as duashoras de televisão dos últimos dois jogos dadecisão do footsal, com o Atlético Mineiro,um jogo aqui e outro lá em Minas? Se eufosse pagar à Rede Globo, direto, como ago-ra essa transmissão deles, do jogo Brasil eRússia? Se eu fosse botar em anúncio, mí-dia, eu pagaria em um jogo desses 30% amais do que eu paguei em todo o programade footsal durante o ano todo. Só que tive-mos 15 jogos.

A Maratona do Rio de Janeiro a Fe-deração de Atletismo recebe, vamos supor,para ela fazer uma maratona dessas. Se fos-semos pagar o retorno que isso traz em ter-mos de imagem da cidade, positiva, não sepagaria nem com R$ 5 milhões, em qual-quer veículo. Agora você imagina 100, 150veículos divulgando essas imagens peloBrasil e pelo mundo!

Nós fizemos aproximadamente

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““Com apenas7% de atletasdo Rio, nós ganhamos32% de todasas medalhas do país””

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1.280 eventos por ano, com público acimade 2 mil pessoas: Corrida do Dia Olímpico,Campeonato Estadual, Campeonato Ca-rioca, Circuito Rio, Copa Semana da Pátria.

Nós temos aqui uma pesquisa doIbope sobre como a população julgou osserviços públicos, no Jornal do Brasil. Aliás,o Jornal do Brasil sempre foi contra mim,naquela coluna da dona “Danuza”. O “Ca-derno Cidade”, em 25.07.99, publicou umamatéria de uma página, com notas de zeroa cinco para todos os serviços públicos doRio de Janeiro. Projetos esportivos: 4,6. De-pois nós temos: “Favela-Bairro”, obras reali-zadas, etc. “Já os projetos esportivos foramos campeões da avaliação, com nota 4,6, oque, na escala de um a cinco se aproximada unanimidade...”explica Bastos, que foi oanalista da pesquisa. Isso massageia o ego eo coração. Quando você vê a populaçãoavaliar uma Secretaria de Esportes que atéentão era totalmente desconhecida, nãopor culpa da dona Zélia, que é uma pessoafantástica e sempre trabalhou muito bem,mas que não tinha apoio — e você vê pas-sando na frente do “Rio Cidade”, passandona frente do “Favela-Bairro”, passando nafrente das obras, que estão toda hora aí natelevisão... e a gente tem um resultado des-se, isso mostra que o nosso trabalho, a nos-sa opção e o que a gente está afirmandoaqui está completamente associado com opensamento da população da cidade.

Vamos assistir ao vídeo sobre o CentroPoliesportivo Miécimo da Silva. Eu tam-bém gostaria de lembrar, apenas para ter-minar, que a nossa atividade-fim é o espor-te. Nós tínhamos uma atividade-meio, queera a estrutura da Secretaria e da Fundação,já tínhamos uma despesa operacional fixa,administrativa, para aquela atividade-meio, mas a atividade-fim não existia, e nósimplementamos tudo isso sem nenhum ti-po de custo, sem nenhum cargo a mais. Tu-do que a gente tinha na Secretaria a genteapenas botou para funcionar, em torno daatividade-fim, que é o esporte. Muitas ve-zes eu vejo uma cobrança, às vezes no jor-nal, dizendo o seguinte: “O José de Moraesvai ser investigado porque gastou R$ 3 mi-lhões no esporte”, sei lá, R$ 4 milhões. Meligou um repórter dizendo: “O senhor estásendo investigado na Câmara porque o se-

nhor gastou R$ 4 milhões em esportes?” Eudigo: “Não, eu não gastei R$ 4 milhões, eugastei R$ 28 milhões”. O meu investimentoé R$ 28 milhões. Em que? No esporte. Eunão posso construir hospital, eu não possotapar buraco, não posso fazer estrada. O di-nheiro do meu orçamento eu tenho que in-vestir na atividade-fim da Secretaria, que éo esporte.

É um despreparo total, uma desinforma-ção total. As pessoas estão completamentedespreparadas e começam a fazer esse tipode colocação. É melhor a gente errar poração que por omissão. A gente deve tersempre coragem, ter certeza do que se estáfazendo, ser honesto nas suas ações, traba-lhar. Eu não conheço ninguém que traba-lhe que esteja mal. As pessoas que traba-lham têm resultados. Os que trabalhammuito vão ser sempre vencedores. E o quea gente faz com a nossa equipe na Secreta-ria, é exatamente por aí. Eles trabalham sá-bado, domingo, dia santo, feriado. Não temcarro nem gasolina, pagam a condução, éverdade. Estão aqui as meninas que pro-vam isso, técnicos da Secretaria que eu nãolevei para lá, já estavam todos lá. Dia santo,feriado, sábado, domingo, trabalham atéquase meia-noite, e ganham a mesma coi-sa, não estão ganhando nem mais um cen-

O judô despertasempre ointeressedos jovens

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tavo por isso. Não tem carro. Eu tenho quedar dinheiro. “Pô, você sabe, meu maridoficou sem emprego, vê se me dá uma ajudi-nha”. É verdade! Agora mesmo vou arrumarum emprego para o marido. Mas ela estácerta, coitada, se mata! A outra ali, tam-bém, a Rita. Todos passando fome com es-ses salários. O Município até que paga emdia, a culpa não é do senhor Prefeito, muitopelo contrário, mas o salário do funcioná-rio público é de passar fome - ou não é? To-do mundo sabe. E não é para trabalhar sá-bado e domingo. Essas meninas fazem essesucesso, e eu fico triste quando tem unsidiotas que querem ir contra esse trabalho,porque não conhecem o esforço e a dedica-ção. A minha mulher, coitada, chora todasemana. Diz que não me vê mais, que eusaio de casa às 6 horas da manhã, que eupasso o sábado e domingo em eventos...Começa até a botar coisa na cabeça... “On-de é que você andou? Saiu às 6h30min echegou às 22h.” É verdade. Tem evento demanhã, à tarde, tem evento de noite. Minhasorte é que eu tenho um álibi, que são assecretárias que estão aqui do lado, as técni-cas. De vez em quando eu mando uma de-las ligar pra Mônica e dizer que “está aquicomigo”, e coisa e tal. E aí bota um barulhodo evento, um barulho de motor lá no au-tódromo...

É muito desgastante. Para essa máquinafuncionar, eu sei o que a gente faz ali den-tro. O Hamilton, que está ali, o meu Chefede Gabinete, que vocês conhecem bem, re-cebeu 1.398 processos no ano passado. ADiretora de Técnica diz assim para mim: “ÔSecretário, o senhor não vai responder, bo-taram isso...” Deixa a Danuza botar. Ela bo-tou 47 notas em 90 dias. Só que das 47 no-tas que ela botou, não tem nenhuma com averdade. Eu juntei uma mala de documen-tos, fui lá com o vice-presidente do jornal, emostrei que nenhuma das notas têm nadaparecido com a verdade. E eu perguntei:“Por que a senhora não me liga? Por que asenhora não se informa?” “Não, eu recebomuitos e-mails sobre o senhor, dando essasnotas.” “E eu também recebo vários da se-nhora, que eu não posso nem falar, se nãoa senhora ‘cai dura pra trás”. Aí, sabe o queela fez? “Então, acabou o diálogo! Vou melevantar”. E eu digo: “E que democracia é

essa, jornalista? A senhora pode dizer o quequiser de mim, tudo mentira. Injúria, calú-nia, difamação. E eu não posso dizer querecebo informações da senhora, eu recebovárias, da sociedade, coisas perigosíssi-mas...” Aí ela levantou, é verdade. Mas quehistória é essa? Eu sou um parlamentar, umSecretário. Ela pode botar 40 notas menti-rosas, ela, que é uma jornalista, e eu nãoposso dizer que recebo nenhum tipo de in-formação dela? Isso é uma piada. Mas, emcontrapartida, nós já tivemos ao longo des-ses três anos, pasmem, quase 1.500 repor-tagens de esporte. Eu já fui umas 120 ou130 vezes à televisão. E no rádio umas 200.“Essa fica nervosa, vamos responder, va-mos mandar e-mail”. Eu digo: “Não”. “Isso éverdade?” “Não”. “Então, é por isso que va-mos responder”. “Deixa, a população é queestá me promovendo”. Agora eu dei azarporque ela parou de falar, não sei o que foi.Nunca mais falou, ninguém me ligou mais.Quando ela botava, todo mundo me ligava:“Zé Moraes, tá vendo essa desgraçada, va-mos botar uma bomba na casa dela”, nãosei o quê. Agora pararam. “Ela caminhaaonde? Tá feia pra diabo!” É verdade, aspessoas comentam, aí eu digo: “Que estáfeia nada, está uma senhora super bela”.Que eu vou dizer? Ela trabalha lá e a gentetrabalha aqui.

Eu fiquei muito feliz quando fui convi-dado para vir aqui. E, para ser franco, tenhoque dizer que tomei dois Lexotan antes decomeçar a palestra, pois tremia. Aí eu che-gou um amigo meu e disse: “Rapaz, tu támaluco?” “Por quê?” “Tu vais hoje numconfronto com o Maurício Azêdo, tu tá lou-co?!” “Aí eu disse: “Ô rapaz, eu convivi como Maurício quatro anos, tivemos várias di-vergências, brigamos, mas nunca vi umapessoa” — aí não é fazendo média — “umapessoa que defendesse tanto o Poder Públi-co, e com tanta capacidade de defender oque defendeu”. Eu não tenho medo ne-nhum, a minha consciência está tranqüilaporque o que ele pode fazer - e deve - é fa-zer qualquer pergunta para eu esclarecerqualquer coisa, que eu vou responder. Ago-ra, a avaliação, se isso é bom, se se deve fa-zer investimentos aqui ou ali, se o atleta de-ve ganhar xis ou ípsilon, se isso deve acon-tecer, isso é competência minha. O resulta-

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““Vocês jáimaginaram oque é 40 milpessoastendo aula todosos dias?””

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do quem vai avaliar é a população, e eu es-tou fazendo do lado da consciência, da ho-nestidade, do trabalho e, principalmente,da visão pública. Mesmo errando, eu tenhocerteza de que os meus técnicos e eu, pes-soalmente, estamos fazendo, estamos ten-tando acertar. Às vezes você erra. Esse ne-gócio de gosto é um negócio muito relativo.Outro dia eu estava com a Mônica e osmeus seis filhos, fomos jantar fora, ótimo.Você quer ir aonde? Aí ela queria ir num lu-gar, o menorzinho queria ir no MacDonald’s, cada um queria ir num lugar.Nem na sua casa você pode contentar todomundo. Eu disse: “Mônica, toma conta aíque eu vou comer um sanduba lá em cima”.Comi um sanduíche de carne assada, queeu adoro, com um suquinho de cupuaçu, ládo nordeste. Cada um queria ir num lugar.O mais velho dando “cascudo” no menorporque ele queria ir no Mac Donald’s, e to-do mundo com fome.

Bem, eu agradeço bastante. Presidente,eu me sinto muito honrado, sinceramente,estou à disposição de vocês. Quero ressal-tar mais uma vez a admiração que eu pas-sei a ter pelo Tribunal, com essas diligên-cias, com esses atos muito corretos e apu-rados, dos seus técnicos, na Secretaria, naFundação, cobrando, pedindo informa-ções, mandando processos, realizando dili-gências. Enfim, eu acho que vocês deviamtransmitir essa imagem para a população.A população acha que aqui só tem aposen-tados, todo mundo vive que nem marajá, enão sabem do trabalho efetivo e indispen-sável do Tribunal de Contas, essa que é agrande verdade. Me coloco à disposição doTribunal. Vamos ter agora uma série de per-guntas, e espero que o Maurício não façamuitas perguntas que eu não possa res-ponder. O Thiers combinou comigo umasdez perguntas pra enaltecer a Secretaria!”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Bem, o Tribunal se sente muito honra-do com a sua presença. Pessoalmente euestou absolutamente convencido do es-porte ser indispensável na formação edu-cacional. Pela minha experiência na Uni-

versidade Católica do Rio de Janeiro, eu te-nho visto resultados fantásticos do esporte.O Juiz Siro Darlan está aí para mostrar co-mo a criminalidade cai assustadoramente,no bom sentido. Quando o Bill Clinton foijogar aquela bolinha na Mangueira, não foipor acaso, foi um projeto patrocinado pelaXerox. Está certo que a Mangueira tem umaliderança fantástica, que é a dona Zica, e oJuizado da Infância e Adolescência mostraque a criminalidade na Mangueira, na faseda adolescência teve uma queda enormenos últimos dois anos. Essa integração edu-cação-esportes é fundamental. Está abertoo nosso debate para quem quiser fazer al-guma pergunta ao nosso ilustre Secretário.”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“Presidente, falando seriamente, eu gos-taria que as pessoas que tiverem algumadúvida – às vezes a gente não entende bem– ou quer uma informação maior, mais de-talhada, e eu tenho aqui oportunidade deexplicar isso, de esclarecer as coisas.”

�PERGUNTA

“Meu nome é Marcos, eu trabalho na 3ª

O “Rio Capoeira”é um projeto quehoje atendea 2 mil alunos

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I.G.E. e gostaria de fazer duas perguntas. Aprimeira é: qual foi o critério utilizado pelaSecretaria para fixar o valor de cada apoio aatleta do Rio 2000? Dou como exemplo o fa-to de os atletas da equipe de beach soccer,apesar de terem o mesmo título, recebemvalores diferentes. E não é o caso do Júnior.E a segunda pergunta é: como o senhor, queincentiva o esporte, se sentiu quando o Mu-nicípio teve que cancelar uma etapa da Fór-mula de Motociclismo, e teve que pagaruma multa a respeito disso?”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“Em relação à sua segunda pergunta, eume senti com o coração chorando, essa éque é a verdade. Porque eu tive que ir à Suí-ça três vezes, para tentar que isso não fosseviabilizado. O cancelamento, no ano passa-do, do Grande Prêmio de Fórmula Indy deMotovelocidade não foi cancelado por cul-pa do Município, e sim por culpa do solo doautódromo de Jacarepaguá. O solo de Jaca-repaguá tem uma acomodação, em decor-rência daquela área pantanosa, e o queaconteceu é que hoje, com a evolução téc-nica das máquinas, das motos, que evo-luem cada vez mais, as pessoas andam a380 quilômetros. Eles cada vez são maisexigentes, e as pistas precisam estar alta-mente preparadas, sem nenhum desnível,por que, se não, eles cancelam. A vida paraeles - como não podia ser diferente - estáacima de qualquer ganho comercial, dequalquer outro fator, que não o da seguran-ça do próprio piloto. E, infelizmente, nós ti-vemos um problema de solo, tivemos odesnível da pista. Foram apurados essesdesníveis. A tecnologia empregada no Bra-sil, em construções de solo de pista de au-tódromos, e até de concreto, de estradas, émuito inferior à tecnologia desenvolvidana Europa e nos Estados Unidos. Essa foi arazão deles não abrirem mão. Nós tenta-mos corrigir, corrigimos. O brasileiro dásempre um jeitinho aqui, me dá mais umprazo, e tal. Para o europeu - vocês conhe-cem bem - dia 15 é dia 15. Chegou dia 15,não estava pronto, e dia 16 estava pronto.Foi incrível. Foram 48 horas, a diferença dapista, do dia da vistoria, para o dia que fi-cou pronta. E aconteceu, e infelizmente a

gente não teve o Grande Prêmio. Este ano agente correu. Logo depois do Grande Prê-mio a gente contratou uma empresa deconsultoria alemã, de consultoria em asfal-to, que trabalha para Ferrari, que trabalhapara Mac Laren, para os autódromos parti-culares. Trouxemos esses técnicos e eles éque fizeram a composição do asfalto. A pe-dra brita foi escolhida entre dez pedreiras, ausina foi especial, quer dizer, todo esse tra-balho se pensando na pista. A pista hoje éconsiderada, em termos de segurança,uma das três melhores do mundo, e eu es-pero que a gente não tenha nenhuma outraacomodação do solo, por que, se tiver, vaiser cancelado de novo, e não tem prova. Eaí a gente não pode fazer nada, porque issoindepende do nosso desejo. Em relação aosatletas, especificamente do beach soccer, aequipe contratada foi a do Brasil, que é aúnica equipe oficial que representa o país,do Júnior, que lidera isso. Nós temos umprograma praia com ele, fazendo o atendi-mento na praias daquela garotada dosmorros, das favelas da Zona Sul, e o valorde cada atleta foi estipulado por ele, que éo coordenador da equipe. Alguns atletas játinham complementos de patrocínios, en-tão ele é que decidiu se um ganhava R$ 1mil, o outro ganhava R$ 700 ou R$ 1.500reais. Em relação ao patrocínio dos outrosatletas, o presidente Calçada, quando con-trata o Edmundo, ou contrata o Romário,ou amanhã, se contratar o Ronaldinho, elevai dar um salário e uma luva ao jogador,compatível com o que ele representa para apopulação em termos de esportes, nomundo. É claro que a gente não pode pegarum atleta que nem o Xuxa, que tem cincomedalhas, que é medalha garantida napróxima Olimpíada, e dar a mesma coisapara um atleta como o Luiz Lima, que tam-bém é medalhista, e que ganhou agora me-dalha no Pan-Americano, e que certamen-te vai disputar uma medalha, mas que nãotem o mesmo nome, de equilíbrio, de di-vulgação de imagem. O Xuxa, por exemplo,apareceu agora em 28 jornais em uma se-mana. Vinte e oito matérias em uma sema-na, inclusive matérias nas revistas Veja e Is-to é, por exemplo. Então, ele tem um salárioum pouco maior do que o Luiz Lima, quetambém é um campeão. Em contrapartida,

ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““Nós tivemos,ao longo de trêsanos, quase1.500reportagens deesporte””

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a gente faz alguns investimentos que sãofantásticos. A Ciça, Maria Cecília, campeãmundial de karatê, ela veio das ruas, eramenina de rua, drogada. Ela hoje é campeãmundial de karatê. No Japão existem maisde 200 mil academias de artes marciais. Evocê pega uma garota que veio da rua, queera drogada, e hoje é campeã mundial. NoJapão, a cada esquina tem uma academiade artes marciais, com uma tradição mile-nar. Ela é uma das atletas apoiada pela Se-cretaria de Esportes e Lazer, ou seja, nósapoiamos desde o juvenil. Temos váriosatletas do juvenil e juniores, com 16, 17anos, que estão começando, ganhandoapoio de R$ 700 a R$ 1.500, como aquelesgrandes atletas, que são os que vão divulgarmelhor a imagem da cidade. Procuramosmesclar as duas coisas. O resultado espor-tivo do atleta, como também o resultado dapropagação da imagem da cidade do Riode Janeiro como cidade que apoia o espor-te, e não como cidade que mata no meio darua. A partir do momento que a genteapoia o esporte e promove esses atletas,estamos levando ao mundo esse tipo deimagem, e não aquela imagem, que quan-do você chega lá fora, perguntam quantosmataram na semana passada. Ou então fa-lam de índio, ou falam de preto, porqueacham que aqui no Brasil só tem preto e ín-dio, ainda existe essa cultura lá fora. É opaís do futebol. Temos que acabar com is-so. Toda vez que se fala em Brasil lá fora, aimagem negativa é a que prevalece. A gen-te tenta vender esta imagem. Os critériossão todos das Federações ou Confedera-ções, que indicam os atletas. Elas são ava-liadas pelo nosso departamento técnico,pelo Secretário de Esportes e Lazer e, even-tualmente, por indicação de pessoas emquem eu confio, que me apontam um atle-ta. Eu consulto a Federação ou Confedera-ção ao qual ele está filiado por quê, apesarde ser indicado, o atleta precisa ter o respal-do dessas Confederações ou Federações.”

�PERGUNTA

“Meu nome é Sueli, trabalho na 3ª I.G.E.,e gostaria de perguntar ao senhor que ou-tros retornos, além da valorização da ima-gem da nossa cidade, que outros retornos

foram advindos do apoio da sua Secretaria.”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“O principal retorno é o resultado espor-tivo. Todos os atletas da Secretaria de Es-portes e Lazer, os 150 atletas, sem exceção,ganharam no mínimo dois, três ou quatrocampeonatos. Este resultado esportivo é oque nos interessa mais do que o retorno deimagem. Você conhece alguém que é ou jáfoi atleta? Não? Pois eu vou lhe dizer. Anti-gamente, aqui no Rio, o atleta passava fo-me, ele tinha que andar de ônibus, tinhaque trabalhar até às 17 horas da tarde. A es-sa hora, já estava morto. Ele precisa conse-guir o índice. Só mesmo uma pessoa des-preparada, que não conhece a vida de umatleta, como é difícil ganhar uma medalhade ouro, pode reclamar de um apoio aoatleta. Para o atleta ganhar uma medalha,conseguir o índice... São milhões de atletasespalhados pelo mundo, tentando baterum índice. Por exemplo, na natação tem100 mil atletas, um só ganha, o Xuxa. Quan-to vale esse Xuxa? É um grande ídolo nacio-nal. É assim que a gente vê o atleta. Sãocentenas de países, com milhares de atle-tas, e todos com a mesma vontade, ganharum campeonato, ganhar uma competição.Então, eu acho que o maior retorno que eutenho, que eu estou trazendo para a cidade,é o reconhecimento desses atletas, todosganhando medalhas, e a cidade inteira fa-zendo essa avaliação, ou seja, na avaliaçãoda própria população o trabalho da Secre-taria é altamente social.”

�CONSELHEIRO FERNANDO BUENO GUIMARÃES

“Secretário, a minha pergunta é a respei-to do Centro Miécimo da Silva que, ao queme parece, ocupa um lugar central nessapolítica social esportiva, vamos chamar as-sim. A partir desse exemplo, que é um mag-nífico exemplo, conforme a gente já viu,existe a possibilidade de se repetir a expe-riência com outros centros pela cidade.Existe espaço, ou projetos nesse sentido?”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

““Eu estoufazendo do lado daconsciência, dahonestidade, do trabalho e da visãopública. O resultadoquem vai avaliar é apopulação””

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de comparar uma coisa com a outra. O pa-drão do Miécimo é um padrão ONU, deprêmio internacional. Tenho certeza deque não existe na América do Sul programasemelhante, e no mundo, poucos iguais.Agora, se eu fosse Prefeito um dia, faria umem cada ponto da cidade, como investi-mento social, porque acho que é altamen-te compensador para a cidade. Minha vi-são é essa. É uma coisa cara, é um investi-mento, mas que tem um retorno excelente.Se você multiplicar 30 mil por dez, você vaidar atendimento a 300 mil crianças, todosos dias. Imaginem se tivéssemos isso noRio de Janeiro? Será que essa garotada esta-va matando no sinal, estava pedindo es-mola? Não, estava praticando ali. Eles têmtudo lá dentro, eles vivem lá dentro. Aquilopara eles é como se você fosse Mont Blanc,na Suíça. Aquilo para eles é o máximo. Vocêpegar uma Mercedes e ir com a sua esposavisitar Mont Blanc é a mesma coisa que umgaroto daqueles ir para o Miécimo. Às vezeseu chego lá, e fico encabulado, envergo-nhado, com as senhoras me agarrando, mebeijando. Não posso andar com a garotadame segurando pelas pernas. Eu não dounada para eles, sem brincadeira, mas euchego lá e todo mundo me acompanha, to-do mundo querendo me agarrar, agrade-cer, me beijando... As senhoras, porque agente tem um programa para a terceira ida-de, com 5 mil participantes. É uma obriga-ção nossa. A gente não deu nada à comuni-dade. O que a gente deu àquela populaçãocarente, pobre? Nada. Só demos uma bes-teira, um esporte. E o retorno é esse. Praque dar na Zona Sul, pro garotão curtir oevento? Na Zona Sul a mentalidade é outra.Nêgo rico, competição 24 horas, é outracoisa. O camarada vai pro evento para pa-querar. É um paquerando o outro, culto aocorpo, beleza. Lá na Zona Norte é o inverso.Aquilo ali pra ele é tudo, é comida, é Deus,é religião. O dia em que um prefeito ou umgovernador fizer isso, ele vai ter um resulta-do espantoso, vai ter um resultado positivomuito grande. Eu tenho certeza de que eunão tenho condições de ser prefeito, e nãoterei condições de viabilizar este projeto,mas espero que o Conde possa viabilizá-lo,ou qualquer outro que assuma amanhã,pois é uma idéia fantástica.”

“Eu vou lhe dizer o seguinte: eu, se fossePrefeito, faria dez centros desses, em váriospontos da cidade. Mas um investimentodesses, para se ter uma idéia, um centropoliesportivo como aquele, para ser imple-mentado hoje, gasta no mínimo uns R$ 15milhões. Se for num lugar melhor, uns R$20 milhões. E você tem uma despesa deuns R$ 600 mil para manter o negócio. Vo-cê pode ter um custo barato se você pegaruns campos de comunidades carentes –bota um professor, uma bola, e não gastanada. Mas ali eu tenho segurança, e só desegurança nós gastamos R$ 50 mil por mês:manutenção predial, mais R$ 50 mil, e as-sim por diante. É um negócio de primeiromundo que se tem que manter, se não ficaigual ao Maracanãzinho ou o Maracanã.Você vai lá no nosso centro, não tem ummuro grafitado. Os nossos jardins parecemjardins da Suíça, você colhe a rosa no jar-dim. A limpeza é muito boa, não temos ne-nhum vaso quebrado. É como um grandehospital. Não adianta ter esses hospitaisgrandes, do Estado, todos quebrados, todomundo morrendo sem remédio, nãoadianta. Você tem que ter o hospital comoexemplo, tudo funcionando muito bem. E,para funcionar muito bem, você tem quegastar. Outro dia o Prefeito me fez a seguin-te pergunta: “Ô Zé Moraes, o custo do alu-no do Miécimo sai o dobro do custo do alu-no da Secretaria de Desenvolvimento So-cial...?” Eu disse: “O senhor está reprovan-do? Está contra ou a favor?!” Ele respondeu:“Estou achando caro”. Aí eu disse: “O se-nhor não compreendeu, deveria custarcinco vezes mais”. “Ah! mas como, cinco ve-zes mais?. “Por que para o aluno da Secre-taria de Desenvolvimento Social é um pro-fessor que chega em uma comunidade ca-rente, puxa uma bola da mala do carro de-le, chama ali dez “gatos pingados”, joga abola dentro do gramado, e faz uma escoli-nha. No Centro Miécimo da Silva o senhortem um ar condicionado funcionando 24horas, tem os jardins, tem 200 professores,tem os coordenadores... Tem uma piscinade água azul, tem 20 mil uniformes dadostodos os meses. O senhor quer compararum Rolls-Royce com um Volkswagen? Nãopode. Um Rolls-Royce é um Rolls-Royce,um Volkswagen é um Volkswagen. Não po-

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ESPORTE / “RIO, ESPORTES E INTEGRAÇÃO SOCIAL”

““O padrão doMiécimo é umpadrão ONU, de prêmiointernacional””

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�PERGUNTA

“E as empresas privadas, trazem algumretorno financeiro para a Prefeitura?”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“Empresa privada gosta muito é de lu-cro, é de dinheiro, que eles gostam. Se fize-rem um evento em Copacabana, todosquerem promover, botar suas placas, mon-tar arena. Eles gastam milhões com a TVGlobo, para divulgar. Para a Secretaria, di-nheiro dessa iniciativa privada é difícil. Eucorro atrás, hoje mesmo eu falei com o pre-sidente da Light, já falei com o presidenteda Telemar, falei com o Sendas... “Artur, va-mos entrar ali na Ilha, você tem uma loja, oExtra tá entrando lá...” “É mesmo, precisofazer um investimentozinho, mas quanto éque a gente vai gastar, uns mil?” Eu disse:“Mil o quê? Mil reais! É brincadeira, Seu Ar-tur Sendas! Não! Mil vai ser o nosso almoço,que o senhor vai pagar para a gente discu-tir um projeto que eu vou levar, ali no Es-planada Grill, com os nossos técnicos. Vãoser uns 34, vamos tomar um vinho, e no fi-nal o senhor vai pagar uns mil reais. Agorao senhor precisa fazer um investimento naIlha, naquelas escolinhas...” É uma decep-ção a iniciativa privada. Nêgo só quer gastardinheiro em Copacabana, aí todo mundoquer aparecer, colocar suas placas. Fala as-sim: “Vamos fazer em Bonsucesso, na Ilha,Pavãozinho...” Dá um projeto desses paraver se alguém entra? Não entra. Isso é umavergonha. Mas eu já disse isso para eles,disse ao presidente da Telemar: “Se vocêsnão mudarem essa filosofia, cada vez maisvão ter que andar em carro blindado, e ca-da vez mais vai estar morrendo empresárioe filho de empresário sendo seqüestrado.”É verdade. Nêgo só vê lucro, só vê cifrão navida dele, não faz um investimento social. Ainiciativa privada investe é na mídia, TVGlobo, etc., visando lucro, o retorno do in-vestimento social é zero.”

�PERGUNTA

“Senhor Secretário, os atletas apoiadospela Secretaria, além do credenciamento,eles são necessariamente carentes.”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“Não, de jeito nenhum. Como eu aca-bei de dizer, o Xuxa, por exemplo, é umatleta considerado hoje, em natação, entreos três maiores do mundo inteiro, e temum pai que tem uma condição média devida, mas ele tem que ter preparador físi-co, ele tem que ter médico, nutricionista,tem que morar nos Estados Unidos, esta-giar, tem que estar viajando toda hora. OFlamengo dá uma parte, nós damos outra.Temos lá umas duas ou três empresas queapoiam a Confederação de Natação, es-portes aquáticos. Não é só o carente. Háatletas que têm uma condição de vida es-tável, e a gente dá uma ajuda para que elestenham condições melhores de treina-mento, porque, sem isso, ele não vai ga-nhar medalha.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Então, Secretário, prepare o seu mi-croônibus para nos levar ao Miécimo,porque na última visita que organizamoscom a Riourbe, ao “Favela-Bairro”, fomosde microônibus. Para o Miécimo achoque um da Cometa será suficiente!”

�JOSÉ DE MORAES CORREIA NETO

“Eu queria mais uma vez agradecerimensamente o convite e colocar toda aSecretaria, os nossos técnicos, os nossosprofessores, à disposição. E dizer que oque eu disse aqui eu disse de coração. Omeu pai me ensinou que a gente devesempre dizer o que sente e as minhas co-locações foram exatamente essas. Eu sin-to essa necessidade, acho que o Brasil de-ve ter uma mudança muito séria. O Presi-dente da República precisa repensar oBrasil em várias áreas, mas nessa áreaprincipalmente, e essa demagogia temque acabar... Você ficar convidando atletaspara tirar fotografias, e no outro dia o atle-ta não poder ir a uma competição por fal-ta de verba. Isso é ridículo para a imagemdo país. Muito obrigado pela compreen-são de todos. Boa tarde.”

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““Só mesmoquem nãoconhece a vidade um atleta,como é difícilganhar umamedalha deouro, podereclamar de umapoio ao atleta ””

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T R A B A L H O

“Primeiramente eu gostaria deagradecer o convite para es-tar aqui com vocês. Achoque é extremamente impor-tante para nós, da SecretariaMunicipal do Trabalho, po-

dermos ter essa interlocução com o Tribu-nal de Contas e poder estabelecer um diá-logo, uma troca de idéias, partindo dessaoportunidade de se fazer conhecer umpouco do trabalho que estamos procuran-do implementar em nossa Secretaria.

A Secretaria Municipal do Trabalho éuma Secretaria nova. Foi criada no começodo governo Conde, e a sua gestação — achoisso uma coisa importante de ser dita — sedeu ao longo de três anos de Plano Estraté-gico da Cidade do Rio de Janeiro. Eu, naépoca, era pesquisador do IPEA, e me lem-bro um dia em que o meu amigo EdwardAmadeu me chamou em casa, à noite, di-zendo: “Amanhã você tem que me ajudar,me salvar de uma “roubada”, porque ele ti-nha aceito presidir um grupo do Plano Es-tratégico sobre geração de trabalho e renda.

“Projetos da SecretariaMunicipal do Trabalho”

“Boa tarde a todos. De volta com o nosso programa“Encontros no Tribunal”, hoje recebendo a visita doSecretário Municipal de Trabalho, André Urani, que vaiconversar conosco sobre os programas da Secretaria nestefinal de século, com tantas mudanças na economia mundiale na nossa própria. Passo a palavra ao Secretário AndréUrani.”

ANDRÉ URANI

20 . 10 . 9 9

PALAVRAS DO CONSELHEIRO-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

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E ele não tinha a menor idéia do que fosseaquilo — ficou honrado pelo convite, acei-tou, e na hora que ele recebeu a lista dosparticipantes, ele viu que não conhecianinguém. Eram sindicalistas, empresários,membros da administração pública em vá-rios níveis, acadêmicos, lideranças comu-nitárias que, se não fosse pela ocasião doPlano Estratégico, nunca teriam sentadopara conversar, nas suas vidas. E, de fato, oAmadeu tinha alguma razão. No primeirodia, a primeira reunião foi uma Babel com-pleta, as pessoas não se entendiam, não ti-nham o hábito de conversar, vinham detradições diferentes, com olhares diferen-tes, ideologias e preocupações diferentes.Foi aquela coisa insuportável, cada um pe-gava a palavra, falava do seu sobrinho, dasua tia, do seu conhecido, do vizinho, en-fim, todo mundo aflito com essa questãodo trabalho. O trabalho é a principal preo-cupação do carioca e do brasileiro, hoje emdia, e do cidadão ocidental, com certeza. Aspessoas usavam aquele espaço para extra-vasar o seu desconforto com relação àqui-

lo, e ficava uma “lenga-lenga” que não leva-va à nada, a lugar nenhum, porque: “Vamosresolver o problema da costureira em SantaCruz”. “Vamos resolver o problema da tele-fonista no centro da cidade, do ascensoris-ta na Zona Sul”. Mas aquilo era como enxu-gar gelo, e aos poucos se foi construindoum consenso de que soluções tópicas nãoiam resolver nada, ia ser um processo de seenxugar gelo, e o que se precisava era armara cidade, dotá-la de instrumentos capazesde, a longo prazo, enfrentar de uma manei-ra mais corajosa e mais audaz a questão doTrabalho.

Isso pressupunha a constituição de umainstitucionalidade, e a criação da SecretariaMunicipal do Trabalho foi uma idéia queveio no sentido de contribuir e criar essainstitucionalidade. Certamente o que foipensado no Plano Estratégico não se esgo-ta na criação de uma Secretaria Municipaldo Trabalho, pelo contrário. A criação daSecretaria nunca foi pensada como sendouma estrutura dentro da AdministraçãoMunicipal, que seja capaz de monopolizar

O trabalho é aprincipalpreocupaçãodo carioca edo brasileiro,hoje em dia

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as ações de geração de trabalho e renda noMunicípio do Rio de Janeiro. Nunca foi isso.Foi sempre uma idéia um tanto quanto ori-ginal, de tentar coordenar, animar uma sé-rie de atores públicos e privados da socie-dade civil, no sentido de atuarem conjunta-mente na criação de mecanismos que, alongo prazo, fossem capazes de dar algumaresposta satisfatória a essa fissão que aspessoas sentem.

Eu me lembro que fui aluno - tive o pri-vilégio de ser aluno - do Ministro da Fazen-da, Pedro Malan, há muitos anos atrás. Euma das frases dele que me ficou, era a deque “todo problema complicado tem umasolução simples, e ela está errada”. Essa so-lução simples está errada. Os problemascomplicados têm soluções complicadas. Oproblema do Trabalho, hoje, é um proble-ma extremamente complicado. O nossopaís se encontra na situação em que está; anossa cidade também se encontra em umasituação complicada, por conta não apenasdas transformações ocorridas na últimadécada, como a abertura da economia, aestabilização, a privatização-com as fusõese as aquisições, o progresso tecnológico,etc. Mas, também, por uma série de maze-las que fomos acumulando ao longo danossa história, e que hoje, num contexto deuma economia mais estável, se revelam deforma mais nítida.

Conversando com o presidente AntonioCarlos, ele me perguntou: “Como está a cri-se? A minha resposta foi de que a gente nãomergulhou numa crise tão profunda comoa que esperávamos no início do ano. Nãoestamos bem, evidentemente, mas, no des-conforto que todos nós sentimos — eu, pe-lo menos, enxergo assim — nesse contextode uma economia mais estável, ou menos“bagunçada” do que era há alguns anosatrás, a gente percebe o quão feio, sujo emalvado a gente sempre foi. Nunca fomosum país justo, sempre fomos um país desi-gual. A nossa Pátria Mãe é gentil no HinoNacional, mas na prática ela faz com que aspessoas nasçam desiguais e que elas se tor-nem mais desiguais nas suas trajetórias devida. A escola é desigual. Quando as pes-soas entram no mercado de trabalho elas jásão desiguais, e o mercado de trabalho pio-ra essa desigualdade. Nós temos um con-

tingente monstruoso de pessoas que nãoestão preparadas para as exigências domundo do trabalho tal qual ele se apresen-ta hoje, nessa entrada do terceiro milênio e,evidentemente, isso incomoda. A genteolha e diz: “Meu Deus do céu, como a gen-te está mal!” Mas isso não é um problemaque esteja ligado à taxa de juros, ou à aber-tura da economia, ou ao comércio ecológi-co. É um problema que tem a ver com anossa história, da maneira como se estru-turou a nossa sociedade, e estamos emtempo de mudar. A história não terminou,a história continua evoluindo. Hoje perce-bemos que estamos mal, e percebemostambém, graças a Deus, que temos pers-pectivas para encontrar armas para superaressa situação triste em que nós nos encon-tramos hoje.

É um pouco sobre essas armas que euqueria falar com vocês, sobre que tipo decoisas a gente tem tentado montar.

A primeira coisa que a gente se propôs aalavancar aqui na cidade do Rio de Janeiro- eu acredito que vai crescer muito ao lon-go do próximo ano, e aqui vai um esclareci-mento: a Secretaria é uma Secretaria nova,pequena, que mais uma vez se propõe a ar-ticular, a coordenar, a animar pessoas e en-tidades públicas e privadas, da sociedadecivil, etc., que estão presentes por aí, nemsempre de implementar na primeira pes-soa, se possível, não implementar na pri-meira pessoa mas a nossa filosofia sempreé de incubar pequenos projetos e de, a par-tir dessa incubação, a gente conseguiratrair outros parceiros, para fazer cresceresse programa.

O mais importante é se criar uma estra-tégia clara, bem definida, de superação deuma vergonha que a gente acumulou du-rante 500 anos da história desse país, que éa baixa escolaridade da nossa população, eda nossa população adulta, em particular.Nós temos em nível nacional uma escolari-dade relativamente boa, e o Rio pode servisto como a capital da educação no nossopaís. Nossa escolaridade média é abaixo decinco anos e meio de estudos; no Rio é pra-ticamente oito. Nós temos a PUC, temos aUFRJ, temos a UERJ, temos a Fundação Ge-túlio Vargas, mas temos 1 milhão 757 miladultos acima de 15 anos, que segundo a

TRABALHO / “PROJETOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DO TRABALHO”

““Nunca fomosum país justo. Semprefomos um paísdesigual ””

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OIT, que não completaram o ensino funda-mental. Seiscentos e trinta e cinco miladultos que têm, no máximo, três anos deestudo, e 262 mil adultos que sequer com-pletaram um ano de estudo.

Um sujeito que não completou o ensinofundamental está condenado a ser pobre oresto da sua vida. E, pior do que ser pobre,é ele ser pobre e os filhos continuarem sen-do pobres. É um círculo vicioso de repro-dução da desigualdade, da pobreza, da mi-séria, da falta de oportunidades, e assimpor diante.

Sem entrar em detalhes aqui, tenho quea única solução para isso, viável, é cortaresse círculo vicioso pela raiz. Não é colocaras crianças na escola, é colocar as mães naescola, os pais na escola, sobretudo asmães na escola. Devemos ser capazes de,em algum momento, olhar para o espelho,identificar o problema, e correr atrás deuma estratégia. Arma existe. Nos últimosdois anos, quase três, nós investimos pesa-damente, com os parcos recursos da Secre-taria Municipal do Trabalho — porque anossa participação no orçamento do Mu-nicípio é irrisória — em educação de jovense adultos. Colocamos 23 mil pessoas em sa-la de aula, nos últimos dois anos e dois me-ses; em cursos de alfabetização e de su-plência, que vai levá-los até o final do Pri-meiro Grau, ou ao equivalente ao PrimeiroGrau.

Testamos ferramentas em parcerias coma Firjan, Sesi, Senai e Sebrae; com a Funda-ção Roberto Marinho; com o MovimentoViva Rio e outras 34 ONGs; 163 associaçõesde moradores, 53 entidades religiosas e 60outras entidades que eu não sei classificarsegundo esses parâmetros. Mostramos oseguinte: existe arma, em profusão. Temoso Telecurso, o supletivo do Sesi, o supletivodo Senai, tem ene métodos de alfabetiza-ção na Paulo Freire, temos 50 coisas quetêm o certificado ISO 9001, ISO 9002; temarma à vontade. Essas armas funcionam,elas são eficazes, elas produzem efeitos eresultados e, por incrível que pareça, elassão incrivelmente baratas.

Se você pegar 1 milhão 750 mil adultosno Rio de Janeiro e levá-los até o equivalen-te ao ensino fundamental completo, custa,hoje, R$ 800 milhões. R$ 800 milhões é di-

nheiro “pra burro!” Eu acho que é pouquís-simo dinheiro, mas vou mostrar para vocêsque não é pouco; é enorme para o orça-mento que eu tenho na Secretaria Munici-pal do Trabalho. É enorme até mesmo parao orçamento do meu chefe, o prefeito LuizPaulo Conde.

Mas, para a cidade do Rio de Janeiro, é0,15 % da renda aqui gerada durante qua-tro anos. Se quiserem traduzir em moedacorrente, seria como se todos nós, cidadãosdessa cidade, contribuíssemos para umFundo, com R$ 0,80 por semana. Vale à pe-na aplicar R$ 0,80 por semana, cada um denós, em um Fundo para financiar um es-forço como esse, e daqui há quatro anostermos todos os cidadãos adultos dessa ci-dade com, pelo menos, o ensino funda-mental completo. É um custo, mas qual é obenefício em termos de violência, em ter-mos de desigualdade, em termos de pobre-za, em termos de atratividade de investi-mentos, em termos de cidadania, em ter-mos de redes que se formam cidadãos? Du-rante quatro anos teríamos 15 mil salas deaulas funcionando, geridas por entidadescomunitárias, etc. É uma coisa gigantesca.Então, se colocou a questão, e eu coloco es-sa questão na frente, não só porque é ne-cessária para todo o resto, mas tambémporque ela organiza um pouco o discurso emostra qual é a nossa filosofia.

Cooperativa decostureiras no projeto“Favela Bairro”,que hojereúne 15 cooperativas,devendo chegar a 38 atéo final do ano

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Nós montamos uma entidade, chamada“Rio Nota Dez”, que está saindo da lamaagora. Ela foi criada, ultimamente foi for-malizada, e deve decolar nesse final de ano,início do ano que vem. O “Rio Nota Dez” éum nome que eu não gosto, mas, em suma,é disso que se trata. É é uma OSCIP – Orga-nização da Sociedade Civil de Interesse Pú-blico, que se distingue de uma ONG pelofato de poder fazer Termo de Parceria como setor público. É uma nova lei, emanadapelo Executivo Federal, sob inspiração daDona Ruth Cardoso, em 30 de junho de1999 – não me lembro exatamente do nú-mero da lei.

São sócios dessa OSCIP o prefeito LuizPaulo Conde, a Secretária Carmem Moura;eu próprio; o Secretário Estadual de Traba-lho, Gilberto Palmares; dois diretores doBNDES; o presidente da Finep; os reitoresda PUC, UERJ, UFRJ; o presidente da Fir-jan; o presidente do Icatú, o presidente daCUT estadual; o presidente do Sindicatodos Bancários; o Rubem César Fernandes;do “Movimento Viva Rio” e vários outros.Com isso a gente junta três níveis de gover-no: junta o setor privado, a sociedade civil,junta sindicato – porque a gente conseguiufazer isso – conseguimos porque, para su-perar esse quadro, não é possível no espec-tro de um mandato do Executivo, de quatroanos.

É um plano de quatro anos, a partir deum piloto que teve quase um ano para ala-vancar e mais dois anos para ser testado.Com isso, são sete anos que a gente vai pre-cisar para executar. Tem lá o setor privado,a sociedade civil, os sindicatos. Está todomundo marcando todo mundo. Não é maisum esforço só da Prefeitura, é um esforçoda cidade - da cidade unida, e não da cida-de partida - em torno de um objetivo único,que é tentar aumentar a escolaridade de jo-vens e adultos. Essa campanha conta hojecom o apoio garantido das OrganizaçõesGlobo, da revista Veja, da Folha Mercantil,da Folha Dirigida, de outras mídias, degrandes empresas do setor público e do se-tor privado, e deve estar indo para a rua navirada do ano, para termos como pontapéinicial, 2 mil salas em funcionamento, com50 mil alunos sendo beneficiados até o mo-mento dos 500 anos do descobrimento. Pa-

ra se chegar ao ponto de equilíbrio, que agente imagina ser de 15 mil salas até o finaldo ano que vem, hoje, 20 de outubro de1999, temos 500 salas em funcionamentona cidade do Rio de Janeiro; e mais 500 pra-ticamente terminadas, o que nos permitever a eficácia daquilo que está sendo feito.

A escolaridade, a educação básica, éuma ferramenta importante mas, se fossetudo, Cuba seria um país rico, certo? Cubatem uma escolaridade muito mais alta doque a nossa e, no entanto, é um país pobre.É condição necessária, mas longe de ser su-ficiente, e não vai ser apenas através dissoque a gente vai resolver o problema do tra-balho.

Eu entreguei ao Presidente um texto queexplica com maiores detalhes quais são ca-da um dos nossos programas. Eu não vouter tempo, aqui, de entrar nos detalhes decada um deles. Eu vou lê-lo e peço descul-pas por uma linguagem mais de economis-ta, talvez por má formação profissional.

O desafio se insere basicamente no com-promisso e na luta contra a desigualdade ea pobreza, na nossa cidade, e na criação decondições de um tipo de crescimento eco-nômico que será capaz, não apenas de criarmelhores oportunidades de trabalho, masde reduzir a pobreza e a desigualdade.

A questão da pobreza no nosso país sedeve ao fato da desigualdade, essa é a pri-meira coisa. Nós não somos a Nicarágua, aGuatemala, que têm uma desigualdade tãogrande como a nossa, nem uma serra Leoa,ou a Somália. Mas hoje está no jornal - achoque o Estado de São Paulo - uma matériadizendo que Serra Leoa teria uma desigual-dade que se compara à nossa. É verdade.Serra Leoa tem uma desigualdade, que nãoé tão grande quanto a nossa, mas é quasecomo a nossa, com uma grande diferença:em Serra Leoa, se a gente fosse distribuir arenda que existe de maneira igual entre to-dos os habitantes, ficariam todos pobres.No nosso país, se a gente fosse distribuir arenda de maneira igual entre todos os queaqui estão, estariamos todos ricos; não é“não pobre”, mas sim ricos.

Três quartos da população mundial viveem países mais pobres do que o Brasil. Issoé uma coisa que a gente tem que ter na ca-beça, que o abismo está conosco, aqui.

TRABALHO / “PROJETOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DO TRABALHO”

““Em nenhumoutro país existeuma distânciatão grandequanto a queexiste no Brasil, entreos 10% mais ricos e os 90% mais pobres””

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Quando eu digo “conosco”, quase todosnós que estamos aqui, nós fazemos partedos 10% mais ricos dessa população. Senão todos, praticamente todos.

Eu vou lhes dar um número. Vocês sa-bem quanto precisa ser a renda mensalbruta para vocês estarem entre os 10%mais ricos – renda per capita da família? R$620,00. Isso quer dizer o seguinte: quemconsegue gastar mais de R$ 15,00 por dia,do seu próprio bolso, por si próprio, fazparte dos 10% mais ricos da população dopaís. Essa é a nossa situação. Em nenhumoutro país, nem mesmo em Serra Leoa,existe uma distância tão grande quanto aque existe no Brasil, entre o 10% mais ricose os 90% mais pobres.

O salto entre a elite e os 90% mais po-bres, a grande maioria, é maior do que emqualquer outro país do mundo. Ao que sedeve essa desigualdade de renda? Essa de-sigualdade de renda se deve à desigualda-de de acesso à riqueza, essencialmente.Quando eu digo desigualdade de acesso àriqueza, eu digo, em primeiro lugar, a esco-la. Há pessoas que ficaram excluídas dissono passado, então é preciso recuperar al-guma coisa que a gente perdeu. Mas não ésó a escola, mas o conhecimento de umponto de vista lato, o capital humano, in-cluindo formação profissional em váriasvertentes. Acesso à terra, acesso à proprie-dade imobiliária, acesso ao crédito, acessoao mercado, acesso a uma série de coisas.Nós hoje não temos o acesso à riqueza de-mocratizado. Nós avançamos na demo-cracia em nosso país. Nós temos a demo-cracia política, formal — as pessoas supos-tamente têm direito, como cidadãos, departicipação na vida política — mas a gen-te não avançou nada, ou muito pouco, emtermos de democratizar os canais de aces-so à riqueza.

O que a gente se propunha é exacerbar,radicalizar, uma aposta de democratizaçãoeconômica, o que significa democratizar oacesso a essa série de coisas.

Vou dar um exemplo: esse negócio daeducação básica, para nós, é chave. É cha-ve por que, melhorando a escolaridade doadulto, vamos melhorar a escolaridade dascrianças, vamos permitir que os pais emães sejam capazes de acompanhar me-

lhor seus filhos na escola, e vamos poderpensar que a pressão da sociedade por me-lhores condições de educação vai aumen-tar.

Em segundo lugar, quando a gente falade educação lato sensu, além da educaçãobásica, a gente está falando também daeducação profissional para aumentar aempregabilidade. O que quer dizer essamaldita empregabilidade? Quer dizer au-mentar a chance de se obter um empregoformal. E para quem a gente vai dar isso? Agente dá para quem está “ferrado”, paraquem nunca teve nada, e é por isso que agente tem uma eficácia monstruosa. Comos poucos recursos que a gente consegue,conseguimos, no ano passado, botar12.500 pessoas em sala de aula, em educa-ção profissional. E conseguimos mostrarque o nível de ocupação aumentou 70%. Onúmero de empregos com carteira assina-da aumentou 87%, uma eficácia mons-truosa, acho que não tem paralelo nem noBrasil nem fora do Brasil, que eu tenha lidopor aí. Por que? Porque a gente selecionaentre os pobres. A gente se dirige para asmulheres do “Favela-Bairro,” ou da favelasem ser bairro; a gente se dirige àquelesque nunca tiveram acesso a nada, e elesconseguem, através do acesso à educaçãoprofissional, encontrar o caminho da auto-estima, o caminho de se considerar cida-

Projeto “Favela-Bairro”.Creche no Morrodo Tuiuti

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dão, de recuperar o sentido de pertencer auma sociedade que sempre lhe negou tu-do. E aí ele de repente percebe: “Não, euposso alguma coisa”. Isso tem dado muitocerto.

Também investimos pesadamente emcapacitação profissional de microem-preendedores e trabalhadores autônomos,assim como também investimos pesada-mente na capacitação de cooperativas, detrabalhadores cooperativados. Temos umprograma, que eu não vou ter tempo de fa-lar aqui, de incubação de cooperativas po-pulares nas comunidades que são benefi-ciadas pelo “Favela-Bairro”, programa quejá incuba hoje 15 cooperativas, e devem sercerca de 38 até o final do ano. Tem outrasque estão “deslanchando” agora, já esta-mos com umas 2 mil pessoas trabalhandonessas cooperativas.

Uma quarta e última coisa, que para nósé a mais importante de todas, é que nós es-tamos capacitando lideranças comunitá-rias. Estamos capacitando lideranças co-munitárias para quê? Para várias coisas: emprimeiro lugar, para diagnosticar proble-mas em suas comunidades; em segundolugar, formular políticas; em terceiro, nego-ciá-las dentro e fora da comunidade, no se-tor público e no setor privado; em quartolugar, implementar políticas, serem capa-zes eles próprios de implementarem essapolítica. E quinto e último, gerir estas polí-ticas, ser gestor dessas políticas. Esse negó-cio de descentralizar a política pública, atémesmo do ponto-de-vista da formalizaçãodos pequenos negócios, a eficácia de cadatostão que a gente tiver para gastar, au-menta terrivelmente quando você transfe-re o controle do meu gabinete para umacomunidade qualquer. Por quê? Porque o“cara” está lá para ver o resultado, o “cara”está lá marcando em cima de cada coisaque está acontecendo, e o controle de fora,para nós, é claramente mais fácil e maissimples, muito mais barato. Nós não bota-mos nada em atividade-meio, nós coloca-mos tudo em uma atividade-fim. Então, oque acontece? Acontece que, por um lado ocontrole social aumenta, a cobrança au-menta dentro da comunidade; o controlesocial lá na ponta, aumenta, e a eficácia, oresultado disso acaba aumentando.

Isso, no que diz respeito ao conheci-mento. Nós temos trabalhado pesadamen-te em termos de democratizar o acesso aocrédito, por exemplo. Nós estamos com umsistema de incentivo para o desenvolvi-mento do setor de microcrédito na nossacidade, que fez com que a gente termine oano, agora em 1999, com cinco entidadesformais trabalhando com o microcréditoem nossa cidade. Começamos com o “Vi-vaCred,” uma ONG; veio a “RioCred,” que éuma coisa não convencional — foi até di-vertido o pessoal do Tribunal de Contas ex-plicando como é que se dava isso — umalei que a gente passou pela Câmara dos Ve-readores, por unanimidade, há cerca dedois anos atrás, que nos autorizou a criar oFundo, vinculado à Secretaria. Esse Fundotem uma gestão compartilhada com umpatronato. No caso da Firjan, o EduardoEugênio é Conselheiro, com os sindicatos,a Fernanda Caliso - que é presidente doSindicato dos Bancários - é Conselheira; ecom um fórum de ONGs.

Então, embora o Fundo seja ligado à mi-nha Secretaria, eu não mando nele. Eu souo presidente do Fundo, mas não tenhonem mesmo o voto de Minerva. Então, ofato de eu ser presidente não faz diferençanenhuma.

O Fundo faz o quê? Ele empresta paraentidades que trabalham com micro crédi-to. Qual é a idéia? A idéia é se criar incenti-vos para que se multipliquem experiênciasde empresas e entidades que emprestampara as micro empresas e para os profissio-nais autônomos. Por quê? Porque é uma in-dústria que não existia. Nós não quisemosfazer o caminho do “Banco do Povo”, por-que os bancos do povo são instituições quetendem a ser muito pequenas, muito frá-geis, muito recuadas ao centro político e aopoder público. Nós preferimos espalhar oleque. Tínhamos a “VivaCred”, e criamos a“RioCred”. O que é o “RioCred”? A Câmaranos autorizou a fazer uma sociedade comuma empresa privada, nós somos sócios daFininvest. Por quê? Porque a gente quer vi-rar banqueiro? Não. Porque a gente querensinar à Fininvest a ganhar dinheiro em-prestando para pobres.

Estamos preparando uma negociaçãoacirrada para vender a nossa participação

TRABALHO / “PROJETOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DO TRABALHO”

““A educaçãobásica para nós é chave,porquemelhorando a escolaridade do adulto vamos melhorar aescolaridade das crianças ””

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para a Fininvest, na “RioCred”, porque elesestão vendo que vai dar certo. O dinheirovai voltar para os cofres municipais, querodizer, vai vir, por que, nesse caso, é umamarca que se consolidou, nós somos os de-tentores do copyright, temos o direito depropriedade sobre essa marca, e vamos fa-turar com uma taxa de retorno positiva.Nós criamos uma empresa e vamos vendê-la para o sócio, e o sócio vai dar de volta odireito em cima do nome que foi criado.

O “SindiCred” é uma maravilha. O “Sin-diCred” são os sindicatos da cidade do Riode Janeiro. Os urbanitários, bancários, tra-balhadores das telecomunicações, traba-lhadores da construção civil e mais umameia dúzia de sindicatos que se uniram pa-ra criar uma ONG, para emprestar para mi-croempreendedores, que sejam pessoasdesligadas aos setores deles. Pessoas queentraram no PVD, num programa de de-missão voluntária, ou involuntária, e queabriram seus próprios negócios — e os sin-dicatos estão entrando nessa. Isso é fantás-tico. Na Europa, onde o problema do de-semprego é muito grave, tem uma teoriaque ficou na moda por lá: os insiders e osoutsiders, que os sindicatos eram muitoegoístas, que não se preocupavam comquem estava fora do sindicato, só olhavampara o seu próprio umbigo, coisa e tal... E aíos sindicatos cariocas dão um exemplo pa-ra o mundo, de que um sindicato pode seralguma coisa melhor, que nasce através doFundo.

O “Banco da Mulher”, uma instituiçãoespecializada em transações com mulhe-res e, finalmente, vamos abrir em breve o“Rio Sol”. O “Rio Sol” é o seguinte: alguémjá deve ter ouvido falar do Porto Sol, que éuma experiência que foi desenvolvida emPorto Alegre, a pioneira nesse tipo de crédi-to popular em nosso país, e nós estamosimportando a cabeça do “Porto Sol”. Nósvamos pegar a Jane Barcellos, que é a supe-rintendente do “Porto Sol”, e a estamos tra-zendo aqui, sem gastar um tostão. Apenasconvencendo parceiros de que vale a penapegar a Jane lá, e trazer pra cá. Para quê?Para disseminar crédito, que é o que a gen-te quer. Ver o carioca com acesso ao crédi-to. Nós temos 1 milhão 150 mil trabalhado-res autônomos na cidade do Rio de Janeiro.

Esse “cara” tem que ter acesso ao crédito,esse “cara” não pode estar excluído do cré-dito. Não é só autônomo, é também o mi-croempresário. Hoje esse “cara” está excluí-do do crédito, está excluído do cheque es-pecial e dos canais convencionais. É preci-so se criar mecanismos para que eles pos-sam financiar o seu capital de giro, as suasmáquinas, a sua reforma, e assim por dian-te.

Por isso eu digo sem medo de errar, quea nossa experiência, por mais tênue, pormais frágil que seja, já é paradigmática emtermos brasileiros, e a gente já fez um car-naval em cima disso, que vai dar resultadosmuito importantes num médio prazo.

Uma terceira coisa é se trabalhar em ci-ma das falhas de mercado. O que quer di-zer trabalhar nas falhas de mercado? Não écoisa de neoliberal, realmente eu não mereconheço sob a etiqueta do neoliberalis-mo, assim como não me reconheço sobnenhuma outra, a essa altura do campeo-nato. Acho que existem instrumentos efi-cazes, e que se tem que trabalhar em cimadeles.

O que é a falha de mercado? Falha demercado é algum obstáculo que impede omercado de trabalhar direito, e o mercadonão funcionando direito, ele acaba tendodistorções, em alguns casos, que prejudi-cam a economia de todos os cidadãos, co-

No ano passado aSecretaria Municipal deTrabalho colocou 12.500alunos em sala de aulade ensinoprofissionalizante

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mo um todo. Eu vou dar um exemplo bemprático, para sair do discurso e ir para a prá-tica. Eu, consumidor dessa cidade. Eu mo-ro no Alto Leblon, quebrou a minha televi-são, estourou um cano, preciso chamar ummarceneiro. O que eu faço? Em uma situa-ção normal eu não sei o que eu faço, não seipara quem apelar. Tem uma selva de servi-ços nessa cidade, uma selva. E, como é queeu vou reconhecer um prestador de servi-ços que seja honesto, competente, que vaientrar na minha casa, vai fazer um orça-mento minimamente decente, vai sair semsujar, vai sair sem me roubar nada, vai fazero serviço bem feito. Eu, em uma situaçãonormal, não saberia como fazer.

Isso é uma falha de mercado. Uma falhaporque eu não estou informado sobre aoferta. Eu sou demanda, e não estou infor-mado sobre como é que eu me dirijo à ofer-ta. Corrigir essa falha de mercado, nesse ca-so, significa criar informação. Significa medisponibilizar, a mim, consumidor, o aces-so a um serviço onde eu sei que se eu ligarpara aquele número eu vou botar na minhacasa um sujeito que tem bons anteceden-tes, que é capacitado, é certificado, e quematesta isso é a própria Prefeitura. Ele vempara a minha casa, e se não fizer um orça-mento bom, ou se eu não gostar da cara de-le, me mandam outro, enfim. Esse trabalhoexiste, foi montado. Um problema simples.A gente rastreia em comunidades de baixarenda os trabalhadores, temos agentes pa-ra isso. A gente certifica os bons anteceden-tes, capacita — temos uma central de co-mercialização. O dia que vocês precisarem,por favor, consultem. O telefone é 588-9100. Nós já atendemos 2 mil e 200 pes-soas, que passaram pela Central, e até hojesó tivemos uma reclamação. O índice daspessoas que dizem que o serviço é bom éótimo. É de 97%, e isso é bom para o consu-midor. Após cada consulta a gente vai sabercomo é que foi atendida a pessoa, e isso échave, a qualidade do cadastro que a gentetem. São 700 pessoas que estão cadastra-das, por enquanto, e eu estava falando parao Presidente que vamos chegar, provavel-mente, a 10 mil pessoas até o final do anoque vem.

Esse é um programa da Prefeitura? Sei lá.Começou aqui com a gente. Agora, a Cen-

tral de Comercialização, a nossa, vai seemancipar. Nós vamos criar um concor-rente pra ela, “já-já”. Porque a concorrênciaé a lógica da coisa. Se eu tiver que fazer aCentral de Atendimento que eu preciso,dentro da Secretaria, vou ter que alugarumas quatro salas como essa, só para o te-le-atendimento. Como eu vou fazer isso emuma Secretaria pequena? Isso é negócio.Intermediar negócio de autônomo é negó-cio, e o importante é que funcione. Impor-tante é que o trabalhador autônomo tenhao seu cliente, e que o consumidor saibacomprar.

Isso é uma correção de uma falha demercado. Tem outras, a gente trabalha naintermediação de mão-de-obra não só in-formal, também para as empresas, para setentar diminuir os custos do trabalhadorque busca um novo emprego, e diminuir ocusto da empresa que contrata mão-de-obra. Temos várias empresas cadastradas, ealgumas agências já funcionando, e a idéiaé termos uma rede espalhada pelo Municí-pio de agências que tenham capacidade deatender ao trabalhador desempregado e,ao mesmo tempo, atender às necessidadesdas empresas. Por que, especialmente,atender às necessidades das empresas?.Porque, se não for capaz de atender às ne-cessidades das empresas, eu não vou ternada para o trabalhador. Eu preciso mos-trar à empresa que eu sou bom e possoatender à demanda, se não, não vai ser comassistencialismo que essa coisa vai funcio-nar.

Isso também é produção de informação.A gente está chegando a um ponto que oempresário, pela Internet, vai poder recru-tar mão-de-obra cadastrada pela gente. Is-so reduz os custos de contratação de mão-de-obra do empresário e melhora terrivel-mente a vida do trabalhador que, ao invésde ficar correndo feito uma barata tonta,ele tem locais específicos, onde ele vai e secadastra. Posteriormente ele é chamado,em casa, pela empresa, direto, em funçãodas características que já estão rastreadaspela gente. Isso não vai gerar emprego ne-nhum. A intermediação de mão-de-obranão gera, em si, emprego nenhum, mas elamelhora o casamento entre a oferta e a de-manda. Acho que isso é uma coisa impor-

TRABALHO / “PROJETOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DO TRABALHO”

““Nós temos 1 milhão 150 miltrabalhadoresautônamos na cidade do Rio de Janeiro””

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tante. Um outra falha de mercado que a gente

tenta combater seriamente, é a questão dadiscriminação aos grupos vulneráveis, quesão as mulheres - sobretudo as mulheresque são chefe de família, os negros e osportadores de deficiências físicas e men-tais. Ser discriminado, para quem é econo-mista, como eu, é o seguinte: a minha ca-pacidade produtiva é igual a do outro sujei-to só que eu sou branco, ou negro, ou ocontrário, e aí o sujeito que enxerga os dois,vai preferir um, só por causa da cor da pele,ou da idade, do sexo, ou de qualquer outracoisa.

Existem mecanismos que são possíveisde se utilizar para “by passar” essas falhasde mercado. Nós temos, por exemplo, in-cubadas cooperativas, com um pacote in-tegrado de instrumentos para esses gruposmais discriminados. Mas, o que a gente po-de fazer de mais importante é obter a infor-mação. A informação, voltando ao Voltaire,ilumina! A discriminação é, sobretudo, ig-norância. Ignorância, no sentido verdadei-ro da coisa. Quem discrimina ignora quenão é a cor da pele que determina a produ-tividade, por exemplo, ou não é o sexo deuma pessoa que determina isso. A informa-ção é capaz de elucidar muitas coisas, en-tão a gente investe muito pesado em infor-mação de todos os tipos: a gente tem bole-tins periódicos sobre o mercado de traba-lho; temos uma home page, onde fazemoso maior esforço para que ela esteja sempreatualizada; temos um vínculo direto com oIPEA e o IBGE, para ficarmos tabulandocontinuamente as pesquisas que são pro-duzidas pelo IBGE; temos pesquisas o tem-po inteiro nas comunidades do “Favela-Bairro”, para descobrir quais são as condi-ções sócio-econômicas das comunidadesdo “Favela-Bairro”, que é a maior base dedados sobre condições de vida em favelas,que já foi criado, na história desse país — efoi a gente que criou — em um convêniocom a Fundação Banco do Brasil e o IBGE.E temos também um esforço pioneiro, queestá sendo assinado esses dias: vamos pro-duzir o primeiro relatório de desenvolvi-mento humano de uma cidade, no mundo.Estamos firmando um convênio com o Nu-de e com o IPEA, para termos indicadores

de condições de vida e desenvolvimentohumano por bairro. Até abril, no mês emque comemoraremos os 500 anos, estare-mos divulgando à cidade do Rio de Janeiroinformações sobre mortalidade, esperançade vida, pobreza, desigualdade, saúde,educação, esgotamento sanitário, violên-cia, e mais uma série de coisas, por bairro.E, mais do que isso, vamos estar capacitan-do 500 lideranças comunitárias para ler einterpretar esses dados. Para quê? Para tiraras conseqüências a menina do Irajá, da Pa-vuna, que for acompanhar a expectativa devida, com a de Ipanema, e perceber que es-tá pior, vai perceber porque está pior. Por-que a esperança de vida dela é mais baixa,é porque a qualidade da saúde é pior, e issovai criar demandas com o Poder Público, evai se comportar em conseqüência.

Em suma, temos aí um canteiro. A infor-mação é necessária, inclusive, para se atrairinvestimentos. Esses, sim, são necessáriospara gerar postos de trabalho de qualidadena nossa cidade. O nosso trabalhador édesperdiçado. Nós somos melhores do queos paulistas, nós temos mais qualidadesque os paulistas, e nós ganhamos 30% amenos que os paulistas, porque os investi-mentos vão para lá. Se os investimentosvão para lá, é porque as empresas não sa-bem que o carioca é melhor que o paulista,trabalha mais do que o paulista, deu no Jor-nal Nacional, ninguém acreditava nisso: ocarioca trabalha mais do que o paulista!

É preciso se tirar o véu da ignorância edizer: “Vocês já pensaram que o carioca tra-balha mais, é mais escolarizado que o pau-lista, e ganha 30% a menos?” E que não vaiprecisar ganhar tanto quanto o paulista,porque não vai precisar passar o final de se-mana no Guarujá, pode passar o fim de se-mana aqui mesmo, já que nós temos praiase florestas, e não precisamos ficar fugindoda cidade? A gente tem amor pela cidade,aqui a gente está bem, etc., então a genteaté aceita ganhar um pouquinho menosque em São Paulo. A gente consegue atrairinvestimentos por causa disso, por incrívelque pareça.

Queria terminar falando um pouquinho— certamente eu fiz uma leitura muito per-pendicular — quem quiser saber em deta-lhes aquilo que a gente faz, eu recomenda-

““A gente estáchegando a umponto que oempresário, pela Internet, vai poderrecrutar mão-de-obra cadastrada pelagente””

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ria que lesse o texto, não daria tempo aquipara entrar em detalhes.

Duas coisas, uma para terminar e fazero gancho: trabalho é um fim para o ser hu-mano, eu gosto de trabalhar. Minha mu-lher às vezes reclama: “Você trabalha de-mais, blá-blá-blá”. Mas eu gosto de traba-lhar, para mim é um fim, e estou envolvidonisso, é isso mesmo. Para muita gente nãoé, mas no meu caso é. E eu acho que seria“bacana” que a gente caminhasse para ummundo onde o trabalho fosse uma coisaprazerosa. Nem todos tiveram a sorte queeu tive de poder ter um trabalho prazeroso.A oportunidade para que as pessoas pos-sam ter um trabalho prazeroso é um sonhoque vem desde Marx, certamente desdeantes.

Do ponto de vista econômico, o traba-lho não é um fim, ele é um meio. O traba-lho não é um fim em si próprio, ele é uminsumo. Do ponto de vista pessoal ele po-de ser alguma coisa necessária ao ser hu-mano, para a sua realização, a sua satisfa-ção; do ponto de vista econômico, nãoexiste isso, porque ele é demandado, de-mandado para produzir. E se eu quiser termaiores e melhores oportunidades de tra-balho, eu tenho que pensar em como é queeu vou aumentar a demanda desse insu-mo que é o trabalho. E aí a questão é pen-sar a retomada do desenvolvimento dessacidade, e em que molde ela tem que se dar.Primeiro: gerar as condições para que elaseja menos desigual; “desengargalando”essas fontes de acesso à riqueza, isso é cha-ve. Segundo: promover uma articulação anível local, de atração de empresas, de eli-minação de falhas de mercado, etc. De quemaneira fazer isso? Estamos prestes a lan-çar, dentro de um mês, possivelmente,duas Câmaras de Desenvolvimento local,para a cidade do Rio de Janeiro. Uma noZona Sul e outra para a atual Avenida DomHélder Câmara, atual Suburbana. Qual é aidéia? A idéia é que o futuro do desenvolvi-mento econômico dessa cidade, uma cida-de tão grande e tão complexa como essa,se a gente for pensar rapidamente: turis-mo, lazer, cultura, serviços sofisticados.Bom, isso é daqui até a Barra, talvez seja is-so. Se a gente conseguir fazer muita coisadaqui até a Barra, usando esses setores, o

que a gente vai fazer? Vamos ser capazes debeneficiar a Rocinha, Pavão, Pavãozinho,Vila Canoas, Cantagalo e outras comuni-dades, reduzindo as desigualdades. Masesse negócio não vai chegar no Jacarezi-nho, por maior que seja a onda de turistasque a gente seja capaz de trazer, por maisque a gente desenvolva o setor de cultura,na Zona Norte, na Zona Oeste, a coisa nãovai se espalhar, essa locomotiva não é tãoforte, tem que se ter outras locomotivas.

Na Zona Norte vamos ter um outro pilo-to. O que é a Zona Norte? É o berço indus-trial deste país, em torno da Avenida Su-burbana, com seus têxteis. Hoje é um ce-mitério, hoje é o nosso ABC. As empresasfugiram, favelizou. Hoje a Prefeitura estáfazendo um esforço hercúleo, é preciso le-var o “Favela-Bairro”, urbanizar, etc.

Mas não vai ser só transformando gal-pões em Nova América Outlets, e sei lá oquê, que a gente vai conseguir superar es-se problema. O comércio só não é locomo-tiva para nada, tem que ter alguém queconsuma, e para se consumir tem que seproduzir, deve haver a recuperação de al-guma atividade produtiva, que não vai po-der ser só a do turismo, porque o turistaque vem para cá passar três dias no Rio, elenão vai até o Méier. Ele vai passar em Ipa-nema, Copacabana, São Conrado, vai ficarpor ali, na Zona Sul. Ele não vai até lá por-que não tem muito tempo para perder, eesse lado aqui da cidade é mesmo maisbonito, a gente não tem como “tapar o solcom a peneira”. O que eles podem fazer lá?A gente tem que pensar em um novo mo-delo de desenvolvimento para aquela re-gião, que para nós é baseado em uma baseindustrial. Sim, mas não vamos catar umamontadora, a gente não está interessadoem correr atrás de uma montadora daFord. Queremos investimento de qualida-de, que seja compatível com a nossa cultu-ra, com a nossa trajetória, e assim pordiante.

Se nós perdemos a indústria para SãoPaulo – estou inteiramente convencidoque o carioca não gosta de relógio, nãogosta de chefe, não gosta de hierarquia,não gosta dessas coisas que são o símbolodo fordismo, que tão bem se adaptaramem São Paulo e tão mal se adaptaram aqui.

TRABALHO / “PROJETOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DO TRABALHO”

““Quemdiscrimina ignora que não é a cor dapele quedetermina aprodutividade””

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Em compensação nós somos muitos maisempreendedores, somos muitos mais cria-tivos e muito mais “caras-de-pau” do queos paulistas. Nós não tivemos os benefíciosda modernidade; mas hoje nós estamospagando um custo tão grande pelo declí-nio da modernidade, quanto São Paulo es-tá pagando.

Para nós, que de alguma maneira fica-mos pré-modernos, vai ser mais fácil pas-sar para a modernidade — é preciso criaras condições para que isso ocorra. É preci-so criar as condições para que as pessoaspossam, com seu empreendedorismo,com a sua capacidade, com a sua criativi-dade, ter os meios de realizar alguma coisaprodutiva. É preciso pegar aquela moçaque produz confecções em um fundo dequintal no Jacarezinho, e dar a ela condi-ções de produzir. Isso quer dizer que elatem que ter condições de comprar equipa-mentos, matéria-prima, de ter acesso aoconhecimento, de ter acesso à assistênciatécnica, de ter acesso ao mercado, de teracesso a uma rede de interlocutores, e as-sim por diante. É essa base que a gente es-tá pensando em catapultar. Uma base ba-seada na microempresa. Uma base fabril,sim, possivelmente recuperando essaquestão das confecções, mas não apenas.Também estamos investindo pesado nastelecomunicações, mas na lógica do mi-cro, com investimentos grandes que te-nham um grande efeito desencadeadorpara trás, sendo capazes de alavancar re-des de pequenas empresas. Isso é muitomais a nossa cara, é muito mais a cara deuma cidade como o Rio de Janeiro, do queas grandes fábricas, que nunca derammuito certo por aqui.

Na Zona Oeste, onde a gente está che-gando, a realidade ainda é outra, não vouter tempo de discutir aqui. De uma formaou de outra a gente está “deslanchando” naZona Sul e na Zona Norte.

Finalmente, todas essas brincadeirasque eu estou falando aqui, elas não depen-dem apenas da Prefeitura. Mais uma vez, onosso papel é coordenar, animar, incenti-var, botar os brinquedinhos funcionando,mostrar para parceiros do setor privado, deoutras esferas do setor público, e dizer:“Vamos brincar, vocês não querem ser par-

ceiros dessa brincadeira?” E aí eles entram.Eles entram por quê? Eles entram, nãoporque são bonzinhos, mas porque elestêm algum tipo de interesse estratégiconessa história.

É fácil convencer empresário, big shot,de entrar no aumento da escolaridade, se apessoa percebe que 1 milhão e 700 miladultos que não completaram o ensinofundamental, se eu continuar a imple-mentar só a segurança, daqui a pouco nãovou ter dinheiro para mais nada. As pes-soas entram, não porque elas são boazi-nhas, mas porque elas percebem que aqui-lo é uma fonte de melhora do seu própriobem estar. Qual é o desenho institucionalque tem essa articulação entre o Poder Pú-blico, o setor privado e a sociedade civil? Éuma grande aposta, é um grande ponto deinterrogação. É claro, a gente tem arranjos,para o crédito, para a educação, para o de-senvolvimento local – tudo é tênue, tudo éfrágil. A gente tem essa ousadia, e a genteinsiste nisso. Por quê? Primeiro que a gen-te não tem a capacidade de fazer de outramaneira orçamentária. A idéia de que apolítica fiscal resolve tudo, sepultou-se há20 anos. A gente percebeu há cinco, mashá mais de 20 que essa história ficou paratrás, pelo menos nos livros texto de ma-croeconomia.

Segundo, porque é importantíssimo en-volver outros atores para dar eficácia, con-trole social e, sobretudo, romper o ciclopolítico. Eu tenho um amigo que diz quepior do que a corrupção é a descontinui-dade. E esses problemas com que a gentelida, que são a pobreza, miséria, violência,desigualdade, desemprego, são problemasde longo prazo. As soluções não são pon-tuais, as soluções têm que ser duradouras.Se a gente descontinuar alguma coisa, éum crime que a gente está cometendocontra a população dessa cidade. Então, onosso compromisso é estabelecer institui-ções que venham sendo moldadas desde oPlano Estratégico – é por isso que eu come-cei a falar do Plano Estratégico – e que vemse solidificando até hoje, são sempre par-cerias, que a gente tenta ao máximo forta-lecer para dar durabilidade a essas coisas.Agradeço mais uma vez a oportunidade deestar com todos vocês.”

““Se eu quiserter maiores emelhoresoportunidades detrabalho, eu tenho quepensar em comoé que eu vouaumentar ademanda desseinsumo que é otrabalho””

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Lá na Coope nós criamos esse Centro deReferência de Inteligência Empresarial, oCRIE, para discutir essa questão da socie-dade do conhecimento. A Coope — vouapresentar aqui rapidamente, nem todos aconhecem — é a Coordenação dos Progra-mas de Pós-graduação em Engenharia daUniversidade Federal do Rio de Janeiro. Sãodoze programas de pós-graduação, e foi oprimeiro Centro de Pós-graduação naAmérica Latina. Em 1963 o primeiro Mes-trado foi criado aqui no Rio de Janeiro, naUniversidade Federal do Rio de Janeiro, emum curso de Engenharia Química. De lápara cá, mais de 5 mil teses de mestrado e

T E C N O L O G I A

“Eu queria primeiramenteagradecer a oportunidade deestar hoje aqui com vocês.Este ano cresceu muito o in-teresse das pessoas pelo as-sunto, já conseguimos ver a

grande imprensa falando sobre isso, comoeu vejo o Brasil nessa nova sociedade doconhecimento, e procurar apresentar algu-mas idéias para esclarecer as pessoas, queestão ouvindo falar sobre capital intelec-tual, gestão do conhecimento, inteligênciaempresarial, que tantos nomes são esses, ecomo eu entendo o que cada um delesquer dizer.

“A Era do Conhecimento”

ROSANA TEIXEIRA DORIS FONSECA MARCOS CAVALCANTI

0 8 . 1 2 . 9 9

"O Centro Cultural do Tribunal de Contas do Município do Rio deJaneiro novamente se reúne hoje para conversar sobre achamada "Era do Conhecimento".Eu tinha preparado um papelzinho, com a minha assessoria, mas,caminhado para cá, eu pensei em fazer um brevíssimo, umrapidíssimo testemunho da minha própria existência, nos últimos25 anos, em termos de que eu pude ser testemunha - a vida medeu essa chance - testemunha da mudança completa que houveneste último final de século, sobre as relações do trabalho.

Em 1974 eu iniciei - no dia 2 de janeiro, porque primeiro de janeiroera feriado - a minha função pública no Ministério do Trabalho,numa realidade absolutamente diferente de hoje. Em 1974, apesarde termos saído recentemente da primeira guerra do Yonkpur, daprimeira crise do petróleo, tínhamos ainda a euforia da eraindustrial, e o mundo, em especial a Europa, estavam em umdesenvolvimento incrível. E nós, aqui no Brasil, mantendo a nossapolítica de substituição das importações, a indústria proliferando.São Paulo, onde eu trabalhava no Tribunal da Segunda Região,com aquele desenvolvimentismo assustador, baseado em suaindústria.Pouco depois, já na década de 80, quando enfrentamos asegunda grande crise do petróleo - entramos em um francoprocesso inflacionário, assustadoramente alto - quando o mundo

PALAVRAS DO CONSELHEIRO-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

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já está se consolidando na terceira revolução industrial, que é arevolução do chip.O que decorre desse desenvolvimento? Muda-se toda umaestrutura, entra-se nessa questão da informação, livre edemocrática, derrubando os regimes políticos, baseados noautoritarismo e no totalitarismo. Todos desmontam, a América doSul, como um todo, se democratiza, a Grécia se democratiza, aCortina de Ferro cai sem ser dado um tiro sequer, o Muro deBerlim é derrubado.Assim, mudou-se todo o conceito de produção, agora baseadonum conceito de informação ágil, e cada vez mais acontece umanova realidade que muda o mundo do trabalho completamente.Cada vez mais passa-se a exigir uma mão-de-obra extremamenteespecializada, preparada e polivalente.Isso atinge a nós, pois na década de 80 quando me encontravana administração municipal exercendo a Fazenda, e depois aquino Tribunal de Contas. Na Fazenda, junto com o Milton Braga,pelo Iplan, nós tivemos a chance de informatizar aquelaSecretaria, que não conhecia o que era informática, trazendo oconhecimento para esta área.Com esse desmonte todo, das relações de produção, asmudanças, os Estados também sofrem muito. E o Brasil, comosempre, vem atrasado e depois quer atingir o desenvolvimento tãorápido quanto a Europa. Houve um desmonte, efetivamente, semse fazer qualquer análise política ou ideológica - de jeito nenhum -houve um desmonte efetivo do Estado, rápido demais. O Estado,que era exageradamente grande, como era o Estado brasileiro.Na década de 90, concretiza-se, e o Estado perde muito da suaidentidade, com a desvalorização do servidor público. A maioriacomeça a ir para iniciativa privada, até com planos de demissãovoluntária e, de repente, a memória do setor público corre o riscode ser desfeita.Espero não ter sido muito rápido; mas, em linhas gerais, são 25anos de uma vida, para chegar ao dia de hoje, para que

comecemos a debater a "Era do Conhecimento", em termos deque, não só enfatizando a questão da informação, mas também,enfatizando a construção da nossa própria memória, como vamosenfrentar o futuro, conhecendo tudo que fizemos no passado.Com todos esses novos desafios, eu solicitei ao Centro Cultural, eparticularmente ao Cláudio Câmara, meu assessor pessoal, queorganizasse esse evento, para que nós iniciássemos esse debate.Para tal fim foram convidados o Marcos Cavalcanti, que é daCoope, UFRJ, com uma visão de pesquisa universitária sobre esseassunto. Ele é coordenador da Cooperativa de Pesquisas, Gestãodo Conhecimento e Inteligência Empresarial, e do Centro deReferência em Inteligência Empresarial, e vai exatamente nos falarsobre a inteligência empresarial.Em seguida foi convidada a Rosana Teixeira, do Serpro. Eutambém fiz parte do Governo Federal, e sei muito bem o querepresenta o Serpro na organização. O Serpro consegue fazeruma questão que foi elogiada pelo próprio Bill Gates, o nosso guruda "Era do Conhecimento".O Brasil tem um sistema de imposto de renda invejável no mundointeiro. A declaração do imposto de renda, vocês não encontramesse modelo em lugar nenhum, principalmente a declaração viaInternet. Isso é um fenômeno do qual a Rosana Teixeira vai podernos falar, como representante do Serpro e Superintendente deGestão do Conhecimento desse órgão, em Brasília.Em seguida teremos a visão da iniciativa privada, e nada como aIBM do Brasil, que foi efetivamente um órgão que criou e definiuessa informação entre todos nós, pioneira no nosso país - econvidamos a Doris Fonseca, que é Gerente de Desenvolvimentode Recursos Humanos da IBM Brasil. Ao final de cada palestrateremos um período de perguntas, aberto a todos, para tirarmostodos as dúvidas existentes. Sem mais delongas, eu convidaria oMarcos Cavalcanti para vir aqui na frente, para fazer a suapalestra, e eu vou para o plenário, para também poder assisti-lapela primeira vez."

doutorado foram defendidas, e a Coope, dealguns anos pra cá, tem feito, além de todoum trabalho acadêmico e científico, um in-tenso trabalho de colaboração e de retornopara a sociedade, através de uma fundação,a Fundação Coope-Tec, onde hoje a gentetem mais de 600 projetos, atualmente. Maisde 2 mil projetos já foram concluídos, e cer-ca de 600 projetos estão em andamento,nas mais diversas áreas. No Maracanã, porexemplo, tivemos um problema de estrutu-ra. Os engenheiros da Coope foram lá paraatestar que o Maracanã não ia cair. O aero-porto Santos Dumont pegou fogo, da mes-ma forma a Ponte Rio-Niterói apresentou

problemas da mesma forma nós estamoslá, desenvolvendo junto com a empresaprivada que administra a Ponte, uma novametodologia para o vão central, para evitaraquele desgaste do pavimento da ponte,que no vão central é um problema crítico.Nós temos uma grande experiência nessaárea, junto às empresas, procurando de-senvolver projetos que são diferentes dacomunidade.

Então, é natural que a gente se interes-sasse pelo tema da gestão do conhecimen-to. Eu vou falar um pouco sobre a “Era doConhecimento”. O presidente Antonio Car-los falou aqui da trajetória dele nos últimos

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25 anos, e o que eu acho mais importante agente perceber, no contexto que a gente es-tá vivendo, é essa mudança de uma socie-dade tipicamente industrial para uma so-ciedade do conhecimento, e o que isso sig-nifica, tanto para a vida profissional daspessoas, quanto para a vida das empresas,dos estados, dos governos e dos indivíduosque estão ali dentro.

Certamente eu vou comentar com vocêsos aspectos que influenciam na vida coti-diana de todos nós. Em uma economia in-dustrial a gente tinha, tipicamente, do pon-to-de-vista da escala, da produção, umaeconomia onde a gente via o filme do Cha-plin, quem não viu “Tempos Modernos”,um clássico do cinema, eu recomendo quevejam — onde se via claramente o trabalhorepetitivo, onde você tinha que reproduziruma quantidade muito grande de um de-terminado produto, para aquele produtoser economicamente viável. Então, a famo-sa frase do Ford, na década de 20, dizendoque todos mundo podia ter o carro da corque quisesse, desde que fosse preto erauma exemplo típico. Você tinha que produ-zir o mesmo produto, e o consumidor tinhaque se adaptar. Se quisesse um carro, tinhaque ser aquele carro Ford T, e daquela cor.

De lá pra cá a grande questão na indús-tria é a flexibilidade, para mim uma das pa-lavras-chave desse final de século. É a flexi-bilidade e a capacidade das empresas e dosindivíduos se adaptarem às novas situaçõesque vão surgindo todo dia.

Inclusive, quando eu fui fazer a minhatese de doutorado, em 1988, na França, aminha tese era Sistemas Flexíveis de Manu-fatura, exatamente porque a idéia de que,com um simples apertar de botão, uma fá-brica deixasse de produzir liqüidificadorese passasse a produzir armamentos, umacoisa completamente diferente.

Por esta época o Pentágono americanofinanciava muitas pesquisas sobre essaárea de sistemas flexíveis de manufatura.Hoje a gente certamente não tem isso, umafábrica em que, ao apertar um botão, deixade produzir liqüidificadores e começa aproduzir tanques. Mas todos nós já pode-mos escolher o carro que a gente quer, aconfiguração, o estofado, escolher quaissão os opcionais que quer ter naquele car-

ro, qual é a cor do carro, e uma série de ou-tras opções, de forma que está extrema-mente complicado, do ponto-de-vista daprodução, você gerenciar. É muito mais fá-cil você fazer o mesmo carro, da mesmacor, com o mesmo tipo de opcionais. Vocêter estas possibilidades torna a construçãode carros um negócio extremamente com-plexo e, necessariamente, com o uso deuma tecnologia muito forte.

Nós estamos vivendo hoje o momentoda flexibilidade, os profissionais tem queser flexíveis, eles tem que ser capazes de es-tar continuamente aprendendo para podermudar. De repente profissões inteiras po-dem desaparecer, em um momento detransição. Em termos de tempo, estamosdeixando de ser uma sociedade onde agente admitia um grande tempo de respos-ta, para ser a sociedade em tempo real.Qualquer um de nós aqui, se for tirar di-nheiro num caixa eletrônico, e aquilo de-morar mais de 30 segundos para entregar odinheiro, já está socando a máquina, por-que já não aceitamos mais 30 segundos deespera para se tirar um dinheiro ou obterum extrato bancário. Nós estamos vivendoo tempo real. Se hoje você pensar, porexemplo, que o planejamento estratégicode uma empresa, vai demorar dois anos, étotalmente impensável: em dois anos,quando se concluir o trabalho, já mudoucompletamente a situação, e não vale maisnada o que você acabou de concluir.

Tudo isso é uma outra realidade que exi-ge das empresas, das organizações, dos go-vernos, um outro tipo de postura. As pes-soas estão começando a cobrar mais flexi-bilidade, maior rapidez. E todas essas orga-nizações têm que se adaptar a isso. Em ter-mos de massa, deixa de ser tão importanteproduzir bens tangíveis, e passa a ser umasociedade de bens intangíveis, como é osoftware, como é a cultura do cinema, damúsica, do teatro, como são as consultoriasdiversas. Temos um dado interessante quesão as importações dos Estados Unidos: de1994 para cá, 1999 e 2000 – são previsõesevidente – em amarelo temos os bens tan-gíveis, exportações de bens tangíveis, e emazul, a exportação de bens intangíveis. Bemintangível é o que eu comentei, software,indústria cultural, marketing, propaganda,

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““A flexibilidade é uma daspalavras-chavedesse final de século ””

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consultoria, um tipo de produto que real-mente a gente não toca nele. Você podemandar via Internet, mas não é um produ-to, fisicamente.

E notem que nesta estatística avião, porexemplo, ou computador, que são dois pro-dutos intensivos de tecnologia certamenteo preço de um computador ou de um avião,tem muito pouco a ver com a quantidadede aço, de plástico, ou outras matérias-pri-mas que estão embutidas na construção emuito mais a ver com os softwares que es-tão embarcando dentro, com sistemas ope-racionais, dentro dos computadores – a tec-nologia embutida naqueles produtos – ape-sar disso, avião e computador entrou noamarelo, apesar de serem produtos que,evidentemente, a gente pode tocar. Masque o custo deles não é um custo basica-mente só da matéria-prima, nós estamospagando pela tecnologia que está ali den-tro, apesar disso, de muita tecnologia nes-tes produtos, nesta estatística avião e com-putador entram no amarelo, o que só refor-ça o fato de que o que está crescendo hojeno mundo é a exportação de bens intangí-veis.

Em 1995 e 1996 era praticamente des-prezível, menos de 3% da pauta de exporta-ções dos Estados Unidos, e em 1998, já foiquase 10%, cerca de 8% das exportaçõesamericanas foram de produtos considera-dos intangíveis. Neste ano a expectativa éde que seja mais de 15%, e em 2000, que se-ja da ordem de 25% da pauta de exporta-ções dos Estados Unidos, a venda de pro-dutos intangíveis, que são aqueles que eumencionei anteriormente.

Cada vez mais eu estou vendo isso, e oprimeiro dado que eu queria que vocêsguardassem — economicamente, hoje, oque dá dinheiro – e o Ludwic, que é umconsultor que fala no Globo News, tem umexemplo muito interessante: ele diz que eleproduz carne de boi e a margem dele émuito pequena, desse tamaninho; o caraque produz sêmen de boi, a margem dele émaior, mas o cara que distribui o boi, quefaz a logística, absolutamente de nada tan-gível — ele é o intermediário — a margemdele é desse tamanho! Ele agrega valor por-que ele sabe quem quer comprar boi, sabequem tem boi para vender, e está lidando

com coisas... Ele nem precisa ter um escri-tório para isso, e é quem mais ganha di-nheiro nessa cadeia.

Hoje em dia, em quais áreas se ganha di-nheiro? Não é à toa que hoje a Microsoft é amaior empresa do mundo. O balanço patri-monial da Microsoft, perto do da GeneralMotors, é ridículo. Se jogarem uma bombahoje na Microsoft, destruir o prédio da Mi-crosoft, e não matar ninguém, as ações vãocair muito pouco, porque o valor da Micro-soft não está nos prédios, nos equipamen-tos — está nas pessoas, no capital intelec-tual, na tecnologia que ela desenvolveu. Sejogarem uma bomba em uma das fábricasda General Motors, pára a produção, etc.Ele iria sofrer seriamente, porque o prédio,as máquinas, os robôs têm muita impor-tância para o tipo de negócio que ela estáfazendo.

Nós estamos vivendo em uma sociedadeem que esse outro tipo de negócio estádando mais dinheiro, não é à toa que o BillGates é o homem mais rico do mundo. ANetscape, que é uma outra empresa dessaárea, cresceu assustadoramente. A AmazonBooks, empresa da qual vocês já devem terouvido falar, que vende livros e CDs pela In-ternet, ela vale na Bolsa de Valores 30 vezeso valor patrimonial dela. Existe até umabrincadeira, onde se diz que a sede daAmazon Books, uma das empresas mais fa-mosas da Internet, fica em Manaus — aí to-do mundo fica parado assim, porque é umprofessor que está falando, então deve serverdade — e não fica em Manaus. Mas issonão tem a menor importância, milhões depessoas já compraram livros e CDs naAmazon, sem ter a menor idéia de onde fi-ca Amazon, ninguém aqui sabe onde fica aAmazon. Dezenas de milhares de pessoasjá compraram livros e CDs via Internet,através dessa empresa. Quem recebeu oimposto desse livro que eu comprei? Com-prei via Internet, paguei com o meu cartãode crédito. Eu não tenho certeza se o muni-cípio ou o estado e quem mais tenha im-postos a receber, recebeu devidamente tu-do, por uma compra que eu fiz, que está lo-calizada não se sabe nem aonde, possivel-mente nos Estados Unidos. É uma outrarealidade que esta economia está trazendo.

A sede da IBM fica na Avenida Pasteur;

A IBM,no Rio,fica naAvenida Pasteur,emBotafogo

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mas a sede da Amazon, onde é que fica?Não tem a menor importância a questão doespaço. Deixou de se ter um espaço limita-do para você desenvolver as suas ativida-des, e hoje você pode uma série de ativida-des, em, qualquer lugar.

Eu tenho um cunhado que é consultorde uma empresa americana. Ele é america-no e mora, literalmente, em uma pequenailha na costa dos Estados Unidos, e trabalhaem casa, via satélite, sem o menor proble-ma. De vez em quando precisa haver umareunião, ou um evento como esse aqui, en-tão ele pega o aviãozinho dele e vai até oevento.

Cada vez mais isso passa a ser realidade.As pessoas podem trabalhar em casa, o es-paço físico deixou de ser uma coisa crítica.Isso tem um impacto enorme para o desen-volvimento de um estado ou de um muni-cípio. Nem todas as pessoas precisam sedeslocar para ir ao trabalho, você pode dis-tribuir melhor as atividades, pode ofereceruma melhor qualidade de vida. Podemospensar em uma série de outros impactos,mas o que eu quero mostrar é uma mudan-ça profunda no tipo de relação econômica,e mesmo na vida das pessoas. Basta vocêpensar o seguinte: na era agrícola — todomundo deve estar vendo a novela TerraNostra — o que era típico em uma socieda-de agrícola, eram famílias inteiras morandoem uma mesma propriedade. Era o pai, amãe, os avós, os tios, sobrinhos, todos mo-rando no mesmo lugar, vivendo juntos,porque precisavam de braços para plantar,para colher, enfim.

Na sociedade industrial, como é a famí-lia típica? É um casal e dois filhos tipica-mente, morando em um apartamento, etc.E na sociedade do conhecimento, como se-rá a família? Sem querer fazer previsões,porque isso é uma questão extremamentedelicada; mas, se vocês repararem a últimapesquisa do IBGE, verão que o grupo quemais cresce é o grupo de pessoas morandosozinhas. Mulheres ou homens descasa-dos, morando com seus filhos, ou não tãodescasados — não quer dizer que isso sejauma tendência — mas é o grupo que nosúltimos dez anos tem crescido. Tanto quevocês vão ver, analisando o marketing e apropaganda, que já existe uma série de pro-

dutos focados para esse nicho, o nicho depessoas que moram sozinhas. São os ali-mentos congelados, são uma série de facili-dades que visam atender a esse público,que é crescente, tem poder aquisitivo, etc.

Isso gera um impacto na vida das pes-soas. Uma mudança de paradigma comoessa causa um impacto. As pessoas estãomorando em Friburgo, Lumiar, ou no meiodo mato, e estão integrados à sociedade, es-tão comprando, estão prestando seus servi-ços, fazendo seus trabalhos. Lógico, se eletrabalhar numa fábrica, ele vai ter que ir lá.A fábrica não vai sair do lugar, e precisacontinuar a produzir bens, mas o perfil es-tá mudando. Pouca gente hoje, na agricul-tura, faz o que dezenas de milhares faziama 50 anos atrás.

Da mesma forma na indústria, hoje commuito menos operários, você faz muitomais carros ou muito mais aviões. Então, aperspectiva de se ter um emprego em umasociedade desse tipo muda completamen-te – que tipo de profissional está sendo de-mandado.

Um primeiro dado que eu gostaria quevocês guardassem é aquele anterior, de quenos Estados Unidos está crescendo a ex-portação de bens intangíveis. O segundodado é sobre o Banco Mundial. No Brasilnós temos 160 milhões de habitantes, massomente 30 milhões de consumidores, cer-ca de 20% do total, o resto sobrevive.

Nos Estados Unidos e na Europa essepercentual é muito maior, quase toda a po-pulação é consumidora, é classe média. OBanco Mundial fez uma estatística: em1990, quase 40% do mercado mundial eranos Estados Unidos, daí porque as empre-sas nunca precisaram sair de lá, porque40% do mercado mundial está ali dentro.Os 15 países mais desenvolvidos da Europaparticipam com 35%, o Japão com um pou-co mais do que 15%, a Ásia com menos de10%, e a América Latina com 10%.

Mas, em 2010, a participação americanacai – não porque vá morrer gente – masporque nesses outros países, na Ásia, naAmérica Latina, no Leste Europeu, maisgente vai se incorporar ao mercado de tra-balho. Essa é a expectativa do mundo intei-ro. Eu trabalhei na Thompson, que é umaempresa francesa – quando fiz minha tese

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““No Brasil nós temos 160 milhões de habitantes, mas somente 30 milhões são consumidores””

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lá na França, e um colega meu, engenhei-ro, foi para o Japão e voltou dizendo: “Mar-cos, você é um cara de sorte, você vai voltarpara o Brasil e o Brasil é o país do futuro”.Eu disse: essa história eu já ouvia do meuavô quando eu era pequenininho, que oBrasil ia ser o país do futuro. O que não éverdade, porque no Japão todo mundotem walkman, televisão, geladeira, eletro-domésticos – todos que querem ter. Numpaís como o Brasil muita gente ainda estáfora, então o potencial de consumo é mui-to grande, isso o mundo inteiro está vendo.

Quando a Renault decidiu instalar suafábrica aqui no Brasil, ela estava vendo issoaí, e todas essas fábricas que estão vindopara o Brasil. E onde se vai incorporar maisgente no mercado de trabalho, ou no mer-cado consumidor, são nesses países.

Nesse ponto eu sou extremamente oti-mista em relação ao futuro do Brasil, inde-pendentemente de quem seja o presidenteda República. Acho que o Brasil terá umamelhor distribuição de renda, porque éuma necessidade econômica. As grandesempresas, para poderem continuar ven-dendo carros, geladeiras e eletrodomésti-cos, precisam encontrar novos mercadosconsumidores, e não vai ser nos EstadosUnidos, onde o mercado está saturado,que isso vai acontecer. O percentual de po-bres nesses países desenvolvidos está au-mentando, mas é muito pequeno, mudapouco, e o consumo é mais ou menos está-vel.

Vimos isso no Brasil, com o Plano Real,toda vez que há uma melhora, uma melho-ra pequenininha, a distribuição de renda, aquantidade de comida que se vende, deeletrodomésticos, cresce, mostrando oenorme potencial que existe nesses paísesque, não à toa, são chamados de paísesemergentes. Os países asiáticos, a AméricaLatina e a Europa do Leste, que tem um ní-vel de profissionalismo muito alto. Então,sou um cara otimista, acho que no Brasilvai haver uma melhoria na distribuição darenda, e vai haver gente querendo investiraqui — e vão ganhar dinheiro — não é por-que eles se convenceram que ter muito po-bre é ruim, filosoficamente, ou religiosa-mente, sei lá, mas porque economicamen-te é um bom negócio se estimular uma

maior distribuição de renda nesses países.A pergunta que eu deixo para encerrar

esta primeira fase é: e o Brasil, dentro disso— quando o mundo transitou da socieda-de agrícola para a sociedade industrial, nóséramos o maior exportador de café – maisuma vez a novela – o Brasil vendia café.Agora que o mundo está transitando da so-ciedade industrial para a do conhecimen-to, o que a gente quer ser?

Na minha opinião, o mundo já sabequal o papel que nos reserva, o de exporta-dor de produtos não somente agrícolas,mas industriais – já estamos exportandocarros – e de importador de produtos in-tangíveis. Nós vamos comprar softwares,nós vamos comprar filmes, consultorias,vamos pagar royalties às empresas que de-senvolveram tecnologias lá fora.

O papel que o mundo nos reserva é esse,porque lá o valor agregado é maior, a mar-gem de lucro é muito maior. Fazer carro,fazer computador, é uma briga de foice, amargem de lucro é mínima. Se alguémaqui trabalha nessa área, sabe que quemvende computador, hardware, a margemde lucro é quase nada, porque a competi-ção é muito intensa, e a margem de lucro émuito baixa, não vale a pena vender e fazercomputador. Então, “toca pro” Brasil, parafazer carro. Fazer carro na Europa, com osindicato em cima, com o nível salarialmuito maior — vamos fazer carro no Bra-sil! Na Europa do Leste, que tem uma mão-de-obra muito bem formada, lá é muitomais barato fazer carro. E de é exportado

““Acho que oBrasil terá uma melhordistribuição de renda, porque é umanecessidadeeconômica ””

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para o mundo inteiro.O papel que o mundo nos reserva é esse.

Resta saber se é isso, ou se é só isso que agente quer; só ter fábricas estrangeiras. Naminha opinião o filé não é nesse tipo de in-dústria, é você desenvolver a indústria cul-tural, por exemplo.

A música brasileira é uma música apre-ciada no mundo inteiro; a propaganda bra-sileira ganha prêmios em todos os eventosinternacionais de propaganda pela criativi-dade, pela efetividade da propaganda queeles estão fazendo; o futebol brasileiro, porexemplo, é uma indústria cultural, aprecia-do no mundo inteiro. Os softwares brasilei-ros - isso as pessoas não sabem mas o dou-tor Antonio Carlos citou bem, aqui - nós so-mos o país que mais declarou – apesar dafebre da Internet, foram seis milhões de de-clarações do Imposto de Renda no Brasil.

Já existem declarações de Imposto deRenda, em muitos países; mas, no volumeem que foi feito, só no Brasil, através deempresas brasileiras. O Serpro está aqui –um exemplo – as eleições eletrônicas, nasdimensões em que dão as nossas, só exis-tem no Brasil, com a tecnologia de empre-sas brasileiras, como a Módulo, que cuidade segurança na informática. As indústriasde softwares no Brasil estão na ponta, comcondições de disputar esse mercado, nãosomos só nós, os indianos, por exemplo,também.

Um outro exemplo é a Aeronáutica —um setor de ponta — a Embraer é lídermundial em venda de aviões de aviação re-gional, que é o mercado que mais cresce nomundo, atualmente. Uma empresa brasi-leira, que era estatal, pública, e agora é umaempresa privada, mas uma empresa priva-da brasileira, com tecnologia brasileira, lí-der no mundo.

O mercado de lançamento de satélites éde US$ 15 bilhões por ano, nos próximoscinco anos. O Brasil tem uma base em Al-cântara, que fica em cima da Linha doEquador, o que torna imbatível o custo dolançamento de um satélite. De cima da Li-nha do Equador é muitíssimo mais baixodo que em qualquer outro ponto do plane-ta, com menos problemas técnicos, se gas-tando menos combustível. O caminho émais curto, digamos assim. Nós estamos

super bem localizados na base de Alcânta-ra, podemos ser um líder no mercadomundial de lançamento de satélites, quetem um mercado nada desprezível – é mui-to maior do que o da venda do café, ou deautomóveis – US$ 15 bilhões por ano. Émuita “grana” e nós podemos ser um dos lí-deres nesse área.

Biotecnologia – nós temos a FlorestaAmazônica, a cura da AIDS pode estar lá, acura do câncer pode estar lá, em uma sériede plantas que a gente nem sabe que existe– mas os gringos sabem. Estão lá na Ama-zônia – conversando com índio, inclusive:“quer dizer que se você passar essa planti-nha aqui no machucado cura mais rápido?Ah! Interessante!” Vamos olhar, botar lá oscientistas estudando o que que tem naque-la plantinha que faz curar mais rápido.

E a gente está lá. A Amazônia está lá,agora com o Sivan, que é um projeto quevisa defender a Amazônia. Eu acho quenessa área da biotecnologia também pode-mos ser um país de ponta, é uma área quegera muita riqueza, emprego, etc.

Esse tipo de questionamento é que agente devia ter: em que áreas podemosatuar? Fazer chip de computador? Não dápra competir com a Intel e com os japone-ses – tudo bem. Deixem eles fazerem chipse vamos fazer softwares, onde a margemde lucro é maior do que a do chip.

Essa discussão, enquanto destino, euacho que a gente tem que ter, para não ficarmais uma vez, como foi durante a transiçãoda agrícola para a industrial, vendendo coi-sas que não são as mais importantes.

Nessa sociedade industrial, se você forum economista de esquerda ou de direita,neoliberal, marxista, ou qualquer que sejao seu rótulo, você vai dizer que os fatores deprodução na sociedade industrial são: ter-ra, capital e trabalho. Quem domina os fa-tores de produção, em particular o capital,é quem domina, quem é rico, gera mais ri-quezas, etc.

Nós estamos falando que estamos tran-sitando para uma outra sociedade, onde sepassa a ter um novo fator de produção, queé o conhecimento. A gente, até hoje, apren-deu a gerenciar a terra, o capital e o traba-lho. Quantos cursos que não temos aí, deMBA, da Fundação Getúlio Vargas, que são

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““Agora que o mundo está transitandoda sociedadeindustrial para a doconhecimento, oque a gente quer ser? ””

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excelentes, que ensinam as pessoas a ge-renciar a terra, o capital e o trabalho, que étudo que a gente precisou gerenciar até ho-je? Mas agora estamos vendo que há umnovo fator, que é o crítico, é o que está pro-vocando o diferencial, é o que fez a Micro-soft ser a maior empresa do mundo, e nãouma outra. E por aí vai. Como é que se ge-rencia o conhecimento? É complicado.Existe um modelo, a gente adota esse mo-delo. Como é que a gente faz isso dentro deuma empresa, dentro da sociedade? O queeu vou apresentar aqui, no tempo que meresta, é um modelo para estimular vocês apensarem: como é que eu faço isso no meutrabalho, se eu trabalho no governo; ou nu-ma empresa, o que isso tem a ver comigo,dentro da empresa. A gente costuma dizerque dentro de uma organização, governa-mental ou não, a gente tem três tipos de ca-pital: o capital intelectual que tem a vercom as pessoas, é propriedade das pessoas,certo? É a competência e a habilidade queas pessoas vivem ao longo da sua vida pro-fissional.

No conhecimento, sem querer ser muitoformal, a gente tem dois tipos de conheci-mento: o conhecimento explícito e o co-nhecimento tácito. O conhecimento explí-cito é aquele que a gente consegue docu-mentar: escrever um livro, ler uma enciclo-pédia. O conhecimento está explicitado,está escrito alí: como é que se fazem as coi-sas, o que querem dizer as coisas. O conhe-cimento tácito é aquele que a gente nãoconsegue explicitar, é bem simples. Porexemplo, mesmo se o próprio Pelé ficasseum ano nos explicando como é que é o ân-gulo do pé, não ia dar; ou o Michael Jordanexplicando como é que ele joga e arremes-sa a cesta no basquete. Mesmo que eu fi-casse um ano inteiro observando o Mi-chael Jordan arremessar, eu não ia ser umjogador bom, porque é um tipo de conhe-cimento que ele não consegue transmitir, éindividual, é propriedade dele.

Então, o capital intelectual – do jeito queeu trato dele aqui – ele é propriedade daspessoas, tem a ver com as pessoas, que vãoembora pra casa e carregam esse conheci-mento e esse capital junto com elas.

O capital estrutural é tudo que tem a vercom a estrutura da organização. São os

softwares que a organização usa, é o fatodela usar Word, Excel, ou um software queintegra a empresa. Tem a ver com a estru-tura organizacional da empresa, — presi-dentes, diretores, assessores; tem a ver coma cultura da empresa — veja que qualquerMac’ Donalds do mundo tem a mesma ca-ra, as pessoas trabalham do mesmo jeito, éuma cultura aquela empresa, tem um jeitopróprio de trabalhar, e isso tem valor, tantotem valor que se vendem franquias, o quenada mais é do que você pegar o seu capi-tal estrutural — ou seja, a maneira de setrabalhar, como é que se estrutura umaempresa, quais são os seus fornecedores evende aquilo, uma franquia. Para a pessoacopiar você, a sua maneira de trabalhar, emum outro lugar, um outro estado ou muni-cípio.

O capital de relacionamento eu acho ex-tremamente importante, e as pessoas nãofazem, não gerenciam isso, mas eu achoque, em algumas áreas, é o principal: vercom os fornecedores, com os clientes amaneira que eu detalhar cada um deles. Ocapital estrutural são as patentes — não fa-lei de patentes, por exemplo — os modelosde sistemas administrativos têm a ver coma cultura e o espírito.

Para se ter uma idéia, para se ver como agente menospreza isso no Brasil, mais de90% das patentes depositadas no INPI, queo Instituto Nacional de Propriedade Inte-lectual e Industrial, são da Petrobrás. Pa-tentes de empresas brasileiras, depositadasno INPI, 92% são da Petrobrás. Se a gentefechar a Petrobrás, o Brasil não depositapatente. Noventa e dois por cento de tudoo que foi registrado e está para ser defendi-do, foi feito pela Petrobrás. Mostra como agente faz pouco isso, aqui no Brasil.

Voltando ao capital de relacionamento,sobre o qual eu estava falando, o relaciona-mento entre clientes e fornecedores temcom uma marca, como a Coca-Cola, porexemplo. Vocês certamente pagariammais, se disporiam a pagar mais por umcurso da PUC, do que um curso da TeresaBatista, digamos que existisse a faculdadeTeresa Batista. Certamente, mesmo quefossem os mesmo professores, que o con-teúdo do curso fosse exatamente o mesmo,vocês iam pagar mais pela PUC, porque is-

““O capitalintelectual é propriedade das pessoas, tem a ver com elas, que vão para casa e carregam esseconhecimento””

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so tem valor — é a imagem de uma Univer-sidade, ajuda a vocês a arrumarem empre-go. Com um diploma da PUC, ou da UFRJ,se tem muito mais facilidade em arrumaremprego, do que da faculdade Teresa Batis-ta, que eu nem sei se existe. Portanto, issotem valor. O mercado reconhece a imagem,a reputação, e você gerenciar isso é funda-mental. Às vezes a gente tem um clienteque é um cara chato; mas, de repente, essecara está forçando a sua empresa a ter umnível de qualidade muito maior, porque elereclama de um produto que não veio em-balado corretamente. Este cara é um chato,mas ele está agregando valor à sua empre-sa, porque ele está te forçando a ter um ní-vel de qualidade maior, então este cara estáagregando valor, não financeiro, mas fa-zendo você ter mais qualidade, melhoran-do a sua imagem, etc., etc.

Também, se só tiver esse tipo de cliente,tá roubado. Tem que gerenciar isso, temque ter um mix, uma parte dos clientes sólhe dá lucro, pagam em dia e não te “en-chem o saco”. Um exemplo: qualquer umaqui que trabalha em empresa de consul-toria vai querer dizer: olha, a Petrobrás éminha cliente, a IBM é minha cliente, aWhite Martins é minha cliente – porque is-so ajuda a me vender. Se eu tenho esses ca-ras como clientes, as pessoas percebem e agente não nota isso.

O capital intelectual eu já comentei, épropriedade dos indivíduos. mas a gentenão gerencia isso e não coloca como valo-res. Quando você vai avaliar uma empresa,basta você pensar o seguinte: mesmo queseja uma instituição do governo – eu já co-mentei um dos impactos que eu acho queisso tem sobre o governo, que é comércioeletrônico. Nós estamos em época de Na-tal, e eu estou convencido que esse ano va-mos ter muito mais vendas pela Internet,do que no ano passado, no Brasil.

Talvez isso não se repercuta no ISS, naarrecadação de impostos, que a gente ain-da não sabe como será feito – é uma discus-são no mundo inteiro. O Clinton fez a pro-posta de que na Internet é tudo livre, nin-guém paga nada. Mercado livre, geral, semrestrições. A maioria das empresas vão es-tar sediadas lá, é nisso em que ele estáapostando. Mas como é que se faz, como é

que tributa? Não sei, é uma discussão. Co-mo é que se faz isso? Devemos ou não con-trolar as vendas pela Internet?

O fato é que, ao comprar um livro daAmazon Books, eu estou deixando quecomprar o livro aqui na livraria Saraiva, porexemplo, aqui no centro da cidade, que es-tá empregando uma pessoa, está pagandoimpostos.

Tem um lado perverso e tem um ladopositivo. Eu posso pagar meus impostos to-dos pela Internet porque eu não tenho queir ao banco. Hoje, nos Estados Unidos, aemissão de carteira de motorista está sen-do feita via Internet – o sujeito imprime nacasa dele e sai com aquilo, não tem porquevocê duvidar que aquilo é uma carteira fal-sa. Você pode pagar impostos pela Internet,sai muito mais barato.

Eu soube de um dado recentemente, emuma palestra em Curitiba, onde uma pes-soa estava falando que nos Estados Unidos,a companhia telefônica, a AT&T, estavadando um desconto de 8% para pagamen-tos via Internet. Ao invés de eu ter que im-primir uma fatura, enviá-la para a sua resi-dência, pagar ao correio, você ir ao bancopagar, a AT&T ou você, pagar a tarifa ban-cária, etc., eles te dão 8% de desconto se vo-cê baixar a sua fatura e pagar diretamentepela Internet – não se tem os custos de im-pressão, custos de gerenciar isso, porque écomplicado mandar para as pessoas, nãotem custo de correio – facilita a vida do ci-dadão e da empresa, e ela está repassandoparte desses ganhos para o cidadão.

Isso gera um impacto grande e, em nívelde governo, você pode gerenciar compras elicitações via Internet. Por exemplo: o go-verno diz: eu quero comprar canetas BIC –tem uma série de empresas lá, cadastradas,e as empresas estão lá cotando, diariamen-te, on line, quanto é que é a caneta BIC. To-dos os dias as empresas estão lá, dizendo:“olha, eu estou vendendo canetas BIC a R$0,50”. Assim o governo, na hora de lançaruma licitação, já teria uma boa idéia dospreços de fato praticados pelo mercado,porque as empresas estão cotando diaria-mente, e na hora da licitação você podeconseguir preços ainda mais baixos.

Isso é uma revolução. Primeiro, que ór-gãos do governo diferentes, não estão com-

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““Mais de 90%das patentesdepositadas no INPI são da Petrobrás ””

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prando o mesmo produto por preços com-pletamente diferentes, o que, certamente, éo caso aqui. Vocês, Tribunal de Contas, umdos trabalhos é se verificar isso. Mas isso énormal, porque são diferentes órgãos, aspessoas não se falam umas com as outras.Então, às vezes eu compro caneta BIC a R$0,50, outro compra a R$ 1,00, ou R$ 0,80, nomesmo governo, e não tem como se saberdisso. Com o advento da Internet muda tu-do isso.

Uma outra coisa sobre a qual alguns devocês já devem ter ouvido falar, é inteligên-cia competitiva. Inteligência competitiva éuma definição. Vou dar um exemplo. A Re-nault está estudando o hidrogênio comofonte de combustão, para mover carros.Eles tem um laboratório aqui no Rio, naCOOP, para estudar isso. Eles precisam sa-ber tudo sobre hidrogênio. Quem está fa-zendo este mesmo tipo de pesquisa; quemestá depositando patente sobre esse assun-to, quem publica sobre esse assunto, quaissão as empresas que trabalham com hidro-gênio, quem fornece e quem consome hi-drogênio. Tudo, enfim, porque isso vai afe-tar o negócio dela — a isso chamamos deinteligência competitiva. Monitorar o am-biente, monitorar as informações que têmimpacto sobre aquele determinado negó-cio. Muitos fazem isso através de clippings.Eu me lembro que quando eu trabalhavaem uma corretora de valores, eu tinha quefazer um relatório sobre a área agrícola, erecebia todas as manhãs um recorte dasnotícias de agricultura dos principais jor-nais, para eu me informar e, a partir daí,poder fazer o relatório. Então, a inteligênciacompetitiva, a grosso modo, sem entrar emdetalhes, é isso. É vocês monitorarem oambiente, buscando e captando as infor-mações, que afetam o seu negócio ou a suaorganização.

Um deputado, por exemplo, certamentetem que fazer isso. É bom ele saber o queestá acontecendo no município dele, quaissão as demandas da população, o que elepode fazer, quais são as novas pessoas queestão se lançando, quais as associações quese criaram, tudo que afeta a vida daquelaorganização ou daquela pessoa, você temque monitorar de uma forma sistemática.

Evidente que o problema hoje, com a In-

ternet, não é se ter acesso à informação,embora às vezes isso ainda seja um proble-ma; mas é o excesso de informação. É co-mo você se situar diante de uma avalanchede informação. Você tem que ter ferramen-tas que te ajudem a fazer uma triagem des-sa informação, e a fazer com que chegueapenas a informação que te interessa. Sevocês entrarem em uma máquina de buscada Internet, tipo Alta Vista, e colocar qual-quer palavra lá – prefeitura, por exemplo -vão vir milhões de sites. Você ter zero oumilhões, você está tão perdido quanto. Vo-cê tem que ter um outro tipo de refinamen-to, e essas técnicas de inteligência competi-tiva permite você selecionar informações,de maneira que você tenha só a informaçãoque conta, no momento certo.

Os sistemas de inteligência competitivatêm por objetivo prover as empresas de umprograma sistemático de coleta, tratamen-to, análise e disseminação da informação,sobre as atividades dos concorrentes, sobreas tecnologias e tendências gerais do negó-cio, a fim de atingir as metas corporativas.

Essa é apenas uma maneira de se escre-ver, em síntese, o que eu falei aqui para vo-cês. Então, inteligência competitiva é maisou menos isso – a gente chama de vigilân-cia comercial. Você está lá no meio da caixi-nha, você e seus concorrentes, você temclientes, você tem que monitorar, ter infor-mações sobre os seus clientes, seus forne-cedores, e a isso chamamos vigilância co-mercial. Também é preciso monitorar se háoutro produto que possa afetar o seu, achamada vigilância tecnológica, e a vigilân-cia concorrencial, para se saber se tem gen-te querendo entrar no seu negócio. Se eusou uma empresa da Internet, por exem-plo, a vigilância tecnológica que eu faria se-ria sobre os provedores da Internet, eu es-taria monitorando a possibilidade real devocê acessar a Internet via rede elétrica, é aLight poder fazer com que você enfie o seucomputador numa tomada, literalmentena tomada e, além de você trafegar energia,você também pode trafegar dados alí den-tro. Isso e real e afeta completamente a Te-lemar, por que, ao invés de eu trafegar osmeus dados pela Telemar, eu vou trafegarpela Light. A Light pode ser um provedor deInternet, ou prover algum outro meio para

““Inteligênciacompetitiva émonitorar oambiente,monitorar asinformações quetêm impactosobredeterminadonegócio ””

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eu trafegar dados e informações, e a tecno-logia que permitirá eu fazer essa transmis-são via rede elétrica, está sendo estudada,alguém vai depositar patente, enfim, trata-se da vigilância tecnológica.

Em resumo, a inteligência competitivatem a ver com o monitoramento do am-biente. O que a gente chama de gestão doconhecimento é a integração desses doisaspectos: a gente poder fazer a gestão doconhecimento dentro da empresa, e podermonitorar o ambiente. Você vão encontrarum monte de outras pessoas que pensamde uma outra forma, para quem a gestãodo conhecimento é fazer a inteligênciacompetitiva, monitorar o ambiente, ou éfazer aquilo dentro da empresa – você mo-nitorar o seu capital, ou fazer a gestão doseu capital intelectual, estrutural e de rela-cionamento.

E a inteligência empresarial, o que queé? Dentro desse ambiente onde o principalfator de produção é o conhecimento, é vo-cê fazer a gestão desse conhecimento. Mashá dois novos aspectos que são chave, nes-sa nova sociedade: fazer a gestão do conhe-cimento ainda é você olhar o que estáacontecendo, ainda é você olhar para trásou para os lados. E a empresa que vai ven-cer nos próximos anos, no novo século, vaiser a empresa que, além de fazer isso, demonitorar o que já existe, ser capaz de ino-var, estar continuamente inovando, lan-çando novos produtos e novos serviços. Is-so vale tanto para as empresas quanto parao governo, e talvez o governo seja a áreaque muda por último — é assim em qual-quer lugar do mundo, as leis são as últimascoisas a serem mudadas — e deve mesmoser assim, a lei não deve mudar antes queuma determinada prática venha sendoaceita pela sociedade. O governo deve sercapaz de inovar, de dizer: “olha, está haven-do essa mudança, as pessoas agora estão seligando na Internet, ainda é pouco, no Bra-sil são só cinco milhões de pessoas conec-tadas na Internet, segundo o Ibop — parase ter uma idéia, em toda a América Latina,são sete milhões e meio de pessoas. E só oBrasil tem cinco desses sete milhões, é ummercado bastante interessante. Não é à toaque a gente vê a American Online fazeruma propaganda pesada, o ZAZ, um mon-

te de empresas disputando o mercado. Háum ano atrás, quantas empresas estavamcom propaganda na televisão? Nenhuma!Hoje em dia, no meio do Jornal Nacional,no meio da novela, quase metade das pro-pagandas são da Internet, porque isso estágerando um mercado, está gerando dinhei-ro.

O Governo precisa ficar atento a isso. Ogoverno pode hoje usar a Internet, e o cida-dão também. Hoje o cidadão pode contro-lar o orçamento do Congresso Nacional,você entra lá no site do Congresso Nacio-nal, e fica sabendo onde o Governo estágastando o dinheiro. O Governo tambémpode prestar serviços via Internet. Em SãoPaulo, por exemplo, impostos como o IPVApodem ser pagos pela Internet. Você podeprestar informação ao cidadão e pode ob-ter informação do cidadão.

Estes três conceitos, na minha opinião,devem andar juntos, tanto do lado das em-presas, quanto do governo e instituiçõesgovernamentais. São novos modelos de ne-gócio aparecendo por aí, novas formas dese relacionar e de se estruturar com um de-terminado tipo de negócio.

A Compet-Net é uma rede que agrupadiversas organizações e empresas, em tor-no da gestão do conhecimento. É uma redecooperativa, a qual as pessoas aderem es-pontaneamente, podem mandar e-mails,que eu terei o maior prazer em responder.Muito obrigado.”

�PERGUNTA

“Presidente, eu tenho uma colocação afazer. Se falou da PUC, da qual Vossa Exce-lência é professor, se falou da Coope, daUFRJ, e não posso deixar de lembrar deuma figura amada por mim, de nome Toto-nho – para quem não sabe, meu pai – ele jádizia, lá atrás, que a única coisa permanen-te aqui no Brasil é a mudança, e daí vem aminha pergunta. Em um país com tantasmudanças, tantos choques econômicos,tanta mudança entre as gerações, esse paísBrasil estimularia investimentos no consu-mo de bens intangíveis.”

�MARCOS CAVALCANTI

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““O problemahoje, com aInternet, não é se ter acessoà informação;mas o excesso deinformação””

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“Eu acho que uma das características es-senciais dessa nova sociedade é exatamen-te o que você está falando, a flexibilidade, acapacidade de se adaptar a uma nova si-tuação. Quando eu estava na França, epensava sobre o Brasil, pensava que isso se-ria uma vantagem para o Brasil, nós termosuma população que está acostumada àsmudanças. O empresário brasileiro é hojepresidente de uma série de empresas, debancos, no mundo inteiro, por essa capaci-dade de se adaptar rapidamente às mu-danças. Acho isso uma qualidade, e nostorna, por esse aspecto, um lugar privile-giado para se investir, porque as pessoasdaqui são mais flexíveis, elas gostam damudança. Se você quer lançar um produto,venha pra cá, porque aqui as pessoas sãosimpáticas a isso. Acho isso uma qualidadenessa nova sociedade.”

�GILSON MORAES

“Achei por demais interessante o que foidito aqui. O meu nome é Gilson Moraes, eeu estou impressionado com a assertiva deum certo determinismo da “Era do Conhe-cimento”. Tudo que violenta a natureza hu-mana, a tendência é desaparecer. Nós tive-mos o determinismo de uma parte extremada sociedade, e vimos no que deu. É pró-prio do ser humano a questão da liberdade.Nós queremos ficar em ambientes de em-patia, no qual nós possamos ir e vir livre-mente. A forma de exclusão proposta pela“Era do Conhecimento” é brutal, é elitizan-te. Até que ponto isso não vai gerar umacontra reação, que já começa a se esboçarna questão do aprimoramento do espírito,a valorização do homem ao invés da má-quina? Até que ponto nos vamos ter um de-terminismo dessa “Era do Conhecimento”,é o que eu gostaria de perguntar ao profes-sor.”

�MARCOS CAVALCANTI

“Não acho que exista determinismo ne-nhum. Não acho que o futuro está escritoem lugar nenhum. O futuro é construídopelas pessoas, e ele vai ser do jeito que agente o fizer. No caso da “Era do Conheci-mento”, da Internet, ela pode ser usada pa-

ra se controlar o cidadão. Essas novas tec-nologias poderão ser usadas cada vez maispara se controlar o cidadão e diminuir o es-paço para as pessoas serem livres. Umexemplo é que podemos usar câmeras emtodos os lugares da cidade, para saber se aspessoas estão avançando sinal, ou se estãoroubando. E essas câmeras podem estarsendo controladas por um grande Big Bro-ther, um grande irmão, que vai controlartudo e saber onde nós estamos a cada dia,em cada espaço, coisa e tal. Acho que exis-te o risco disso acontecer, a tecnologia jáexiste, e a sociedade deve estar atenta a is-so. Também temos o outro lado, essa mes-ma tecnologia também pode aumentar aliberdade do cidadão, permitindo que eletambém controle o Estado, ver se os recur-sos que o Estado recolhe estão sendo usa-dos corretamente. Pode permitir a ele se re-lacionar com mais gente – eu falo hoje comum monte de gente que eu nunca vi na mi-nha vida, e estou podendo me relacionarcom muito mais pessoas. Nós fizemos ou-tro dia uma reunião através de uma video-conferência, com pessoas aqui e na França.Existe uma maior possibilidade de nós nosaproximarmos da tecnologia que tambémviabilizou um maior contato entre as pes-soas.

Hoje é mais fácil se relacionar com aspessoas, pelo uso do telefone celular. Eunão defendo a tecnologia, até pelo contrá-rio, quem entrar no nosso site vai ver umafrase: “Tecnologia iguala as empresas e aspessoas”. As pessoas é que fazem a diferen-ça. Serão sempre as pessoas que farão umaempresa ser melhor do que outra, e não atecnologia. A tecnologia pode, temporaria-mente, dar uma vantagem para uma deter-minada empresa, que sempre outra poderácopiar, então tecnologia não é fonte com-petitiva sustentável, as pessoas são. Elas éque podem inovar, usar a tecnologia de ou-tras formas. Não acho que está determina-do como vai ser a sociedade do futuro, achoque a gente tem que discutir, ver qual é opapel que a gente quer ter, enquanto país,enquanto cidadão, o que é admissível, oque não é. Na Europa, por exemplo, já setem uma série de leis que proíbem, ou queobrigam a informar o cidadão toda vez quevocê cadastra ele em um banco de dados. O

““No Brasil são cinco milhões depessoasconectadas naInternet””

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acesso às informações sobre um determi-nado cidadão, em qualquer banco de da-dos, na França, é totalmente livre ao cida-dão. Ele tem o direito de saber o que a polí-cia sabe sobre ele, o que o imposto de ren-da sabe sobre ele, enfim, se ele quiser elepode procurar e ter acesso às informações.É uma mudança, e você tem razão em nosalertar. Se a gente não se preocupar com is-so, ninguém vai se preocupar em nosso lu-gar. Como cidadão eu fico preocupado,mas isso tem dois lados. Eu não acho que asociedade do conhecimento exclui. Quan-do o homem inventou a roda, as pessoasque podiam andar de carroça tinham mui-to mais acesso às diversas culturas, podiamse deslocar de uma cidade a outra, eles ti-nham uma vantagem sobre os outros, quenão podiam usar a carroça. Assim, naquelemomento a tecnologia fez com que algunstivessem mais facilidades. Cabe à socieda-de fazer com que a carroça seja para todomundo, que a Internet seja para todo mun-do, que nas escolas públicas se acesse a In-ternet, senão estaremos criando um novoanalfabeto, não é só a pessoa que não sabeler nem escrever, mas também o cara quenão tem acesso à Internet, não tem acessoa quantidade de informação que hoje umacriança em uma escola particular, porexemplo, tem.

Nós temos que estar atentos a esses pro-blemas, mas estando atentos para parcelarque tudo tem um lado positivo e um nega-tivo. Para encerrar, vou contar uma peque-na história: uma pessoa mandou duas pes-soas para uma ilha, para ver a possibilidadeda venda de sapatos, era uma empresa quevendia sapatos. Aí, o vendedor mandou orelatório para a empresa. Falou: “olha, de-sisto, aqui nessa ilha, ninguém usa sapato”.O relatório de segundo vendedor foi o se-guinte: “grandes oportunidades de negó-cio, ninguém usa sapato nessa ilha, nós po-demos vender sapato para todo mundo”! Oque nós podemos ilustrar com essa histori-nha, é que podemos ver na sociedade doconhecimento um motivo de exclusão,mas também pode ser exatamente o opos-to, que ela pode ser uma oportunidade pa-ra mais gente, para um aluno do interior deManaus ter acesso a um bom professor — aeducação presencial não vai acabar, é fun-

damental o olho no olho. Mas o aluno dointerior do Amazonas, ou do Maranhão, vaipoder ter acesso a um bom professor daPUC, por exemplo. Vai poder assistir a umapalestra, e depois interagir com o professor.É uma forma de democratizar o acesso àinformação. Muito obrigado a todos.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Agradecendo as palavras e a presençado Marcos Cavalcanti, convidamos aqui àmesa a Rosana Teixeira, Superintendentede Gestão do Conhecimento do Serpro, emBrasília, que vai nos falar sobre a experiên-cia do órgão, Gestão de Conhecimento, noSerpro.”

�ROSANA TEIXEIRA

“Eu gostaria de agradecer, em nome doSerpro, a oportunidade de estar aqui com-partilhando esse trabalho que a gente estádesenvolvendo na nossa empresa, e que éfundamental para a construção do futuroda nossa empresa, para que a gente possacontinuar colaborando para a construçãodo futuro da nossa nação e da sociedadebrasileira.

Antes de mais nada, eu gostaria de dizerque da próxima vez eu quero fazer a apre-sentação na frente do Marcos, porque ele émuito especial, ele tem uma dinâmica ma-ravilhosa, muito simpática — então euquero, da próxima vez, fazer antes dele, es-tá certo?

Eu queria também aproveitar uns minu-tinhos antes para dizer que eu também souuma apaixonada pela tecnologia. Eu enten-do que todos esses receios que foram le-vantados, eu também me preocupo comeles, mas acho que a tecnologia tem trazidomuito mais benefícios para a humanidade,do que qualquer outra coisa. É uma coisapessoal, tenho paixão por tecnologia, atéporque é o nosso ramo de atividade.

No que diz respeito à observação finalque o Marcos fez — não basta realmente agente fazer a gestão do conhecimento pre-sente, aquele conhecimento que a genteprecisa para executar as atividade do dia-a-dia, a gente tem que pensar na construção

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““A tecnologiaiguala asempresas e aspessoas ””

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do futuro e da inovação, e o Serpro, especi-ficamente, é uma empresa que dependefundamentalmente da sua capacidade deinovar, e da sua capacidade de utilizar, efe-tivamente, o conhecimento especializadode que a gente precisa. Eu vou apresentarisso aqui. Nesse sentido, não há dúvida ne-nhuma de que a Internet representa umagrande mudança de paradigma na socieda-de, e a gente tem procurado acompanharesse evolução. Nós temos diversos serviçosjá disponíveis na Internet. O mais conheci-do de todos é o Receita Net, que é o resulta-do de um trabalho executado em parceriado Serpro com o nosso principal cliente,que é a Receita Federal, e que resultou nes-sa mudança de paradigma da entrega dasdeclarações de Imposto de Renda, comoreferencial para o mundo inteiro.

Nós recebemos pela Internet mais de-clarações de Imposto de Renda, do que oBrasil tem de usuários da Internet, foi umvolume muito expressivo neste evento.

E temos outros exemplos: todas as infor-mações de licitações do Governo Federal jáestão disponíveis na Internet, inclusive oseditais dessas licitações, os contrachequesdos funcionários públicos do Governo Fe-deral também são consultados e obtidospela Internet; enfim, tem um conjuntogrande de exemplos nesse sentido, e nosentido de integrar toda uma comunidadeque utiliza esses serviços. O Marcos citou opagamento de tributos, ou de qualquer ou-tra necessidade de pagamento, por inter-médio da Internet. Nós temos um outroexemplo, no Serpro também, que são ossistemas de comércio exterior, onde a co-munidade de importadores, ao registraruma operação de importação, o pagamen-to dos tributos, que anteriormente era feitopor intermédio do papel, e das guias de pa-pel, nas redes bancárias, etc., já é eletrônicohoje, é debitado automaticamente por in-termédio da conexão dos sistemas que oSerpro desenvolveu e produz; e os sistemasda rede bancária arrecadadora.

Isso incorreu nesse conjunto de reduçãode atividades, de fluxo de papéis e de cus-tos, como o Marcos citou; enfim, são algunsexemplos do que o Serpro vem buscandopara acompanhar a evolução dessa era dainformação e do conhecimento. Mais re-

centemente, há coisa de uns dois anos, noscomeçamos a estudar a questão da gestãodo conhecimento, para aplicar à nossa rea-lidade, por que, não simplesmente pelo fa-to de ser mais uma nova onda no segmen-to gestão empresarial, mas porque nósidentificamos claramente que nós precisa-mos fazer gestão de conhecimento, paragarantir a continuidade da empresa, paragarantir a continuidade dos serviços queprestamos ao Governo Federal e à socieda-de.

O que eu vou apresentar aqui são algu-mas idéias, uma abordagem de como nósestamos tratando essa questão na nossaempresa. É um projeto experimental, nósvamos fazer no ano 2000 o ano da gestão doconhecimento no Serpro, onde nós vamoshomologar essas soluções que nós estamospropondo e, evidentemente, fazer os ajus-tes que se fizerem necessários.

O Serpro é uma empresa do Governo Fe-deral, uma empresa do Estado brasileiro,que é vinculada ao Ministério da Fazenda,e tem como missão prestar serviços de tec-nologia da informação, no sentido de darsuporte às ações estruturadoras do Estado.Exemplifiquei aqui alguns serviços da Re-ceita Federal, temos também serviços como Tesouro Nacional, da Conta Única do Te-souro, também, por intermédio de um sis-tema construído pelo Serpro, vocês devemconhecer, dentre outros, o sistema de co-mércio exterior, a Procuradoria Geral daFazenda, também.

Eu tenho aqui alguns números paraexemplificar o tamanho, a proporção dosserviços da empresa. Os nossos sistemastêm, aproximadamente, 120 mil usuários,entre servidores públicos e iniciativa priva-da. Estamos presentes em 700 cidades, dealguma forma, ou por intermédio das nos-sas regionais, escritórios, ou alguns funcio-nários do Serpro que atuam dentro da casados nossos clientes, com um suporte técni-co para utilização dos serviços que nósprestamos.

Temos aproximadamente 750 redes lo-cais para os nossos clientes, que são admi-nistradas por nós, em todo o território na-cional. Nós processamos diariamente doismilhões de transações em nossos compu-tadores de grande porte, e temos aproxi-

““Não basta agente fazer agestão doconhecimentopresente, temosque pensar naconstrução do futuro e dainovação””

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madamente 600 sistemas que nós produzi-mos e mantemos para esses clientes.

Bom, como eu disse anteriormente, oSerpro é uma empresa que depende fun-damentalmente de conhecimento e da suacapacidade de inovação, o ramo de negó-cios do Serpro é informação. Informaçãopara dar suporte ao Governo Federal naexecução das ações estruturadoras do Es-tado, no segmento finanças públicas e sis-temas estruturadores. E, a conjugação doconhecimento relativo à tecnologia da in-formação que a gente aplica a esses ramosde atuação dos nossos clientes, e mais, oconhecimento especializado sobre essesramos de atuação dos nossos clientes, é es-sa conjugação de conhecimentos que re-presenta aquele conjunto de conhecimen-to essencial ao funcionamento da nossaempresa, e que dá a construção de solu-ções que geram informações para o supor-te das ações do Governo Federal.

Em termos de estruturação da ação ges-tão do conhecimento da nossa empresa,essa é uma decisão estratégica da diretoriada empresa, que identificou essa necessi-dade de um processo de transformação nanossa gestão empresarial, no sentido decolaborar para a construção do futuro danossa empresa e para garantir – como eufalei anteriormente – a continuidade des-ses serviços, que hoje se tornaram essen-ciais para o Estado e para a sociedade.

Diversas atividades do Governo Federalestão fundamentadas no suporte dessessistemas, e nós precisamos garantir a suacontinuidade, a sua efetividade, a sua qua-lidade e disponibilidade. Então, a diretoriado Serpro, mais especificamente o presi-dente da empresa, identificou a necessida-de da gente tratar essa questão rapidamen-te na nossa empresa, exatamente para quepossamos continuar garantindo isso paraos nossos cliente.

Foi definido um processo, que na nossacorporação se chama processo corporati-vo, supervisionado diretamente pelo presi-dente, para implantar na empresa as açõesque se fizerem necessárias para a gente ter,efetivamente, a gestão do conhecimentoimplementado.

E nós temos o nosso modelo de gestãonas unidades de gestão de infra-estrutura,

que são aquelas que cuidam de todos os re-cursos de informática necessários à presta-ção de serviços, e unidades de negócio queconstróem soluções e atendem aos nossosclientes e àqueles 120 mil usuários direta-mente.

Vou citar algumas informações de or-dem genérica sobre a necessidade que nóstemos com relação à gestão do conheci-mento. Nós temos um dado da realidade daempresa: a empresa, no dia primeiro de de-zembro, fez 35 anos de existência. Nós te-mos um conjunto de profissionais muitosignificativo que está na empresa há muitosanos, alguns desde o início da empresa, enós temos, nos últimos dez anos, perdidomuitos profissionais. E junto com essesprofissionais estão indo embora da empre-sa conhecimentos essenciais para o seufuncionamento e a continuidade dos servi-ços. Além disso, temos um outro aspectoque eu acredito seja comum a todas as ou-tras organizações - as novas contratações,ou seja, os novos empregados que chegamàs organizações - não representam, de ime-diato, a necessidade de conhecimento quenós temos para a execução das nossas ativi-dades. São pessoas que chegam à organiza-ção com conhecimento técnico da área deinformática, mas sem aquele conhecimen-to essencial sobre o ramo de atuação dosnossos cliente. Nós temos então que provera essas pessoas ferramentas e conhecimen-tos para que elas possam, rapidamente, porum processo de auto desenvolvimento oupor um processo formal de ensino, se capa-citarem para esta necessidade da empresa.

Um outro aspecto é que, por sermos umaempresa grande, onde as pessoas tem opor-tunidades de se movimentarem de umaárea para outra, obtendo novos conheci-mentos de outros processos da empresa e,as pessoas também estão levando da suaárea para outra, o conhecimento essencialda área anterior. Esse é um dos aspectos querepresenta a nossa necessidade de fazergestão do conhecimento. Temos outras ne-cessidades identificadas, que é a garantia dacontinuidade dos negócios, o que é quaseuma conseqüência da anterior, facilitar aaprendizagem organizacional, ou seja, nósprecisamos saber o que o Serpro sabe, comoo Marcos citou. O capital intelectual, o co-

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““Nósprecisamos fazergestão doconhecimentopara garantir a continuidadeda empresa,para garantir a continuidadedos serviços queprestamos ao Governo e à sociedade””

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nhecimento tácito, que pertence a cada umde nós, é o conhecimento mais precioso pa-ra o sucesso da organização, ou seja, comoas pessoas pensam e executam as suas ati-vidades é que tem trazido esses resultadosque o Serpro tem obtido ao longo dos seus35 anos de existência. Então nós temos queter uma forma de facilitar a aprendizagempor intermédio, inclusive, da reutilização,do compartilhamento desse conhecimentojá existente, que pode servir de matéria pri-ma para geração de novas idéias e novos co-nhecimentos. Mas temos que prover meca-nismos, espaços específicos, sistemáticos,para que isso aconteça de uma certa formaestruturada, embora eu penso que sejacomplicado a gente falar em estruturar, pa-dronizar e organizar demais essa questãodo conhecimento tácito — não é uma coisasimples — mas precisamos tentar trabalharisso de uma certa forma que a gente possareaproveitar esse conhecimento, registrar edistribuir para todas as pessoas que preci-sam de utilizá-lo.

Um outro resultado que nós esperamosé o aumento da produtividade, uma vezque vamos utilizar idéias e soluções já exis-tentes, testadas, homologadas e de suces-so, para aplicar em novos serviços e novasnecessidades — e aí nós temos ponderadomuito que a gestão do conhecimento tam-bém deve contribuir para que a gente pos-sa medir o valor do conhecimento, e nessesentido, ter bastante atenção com a suamanutenção e atualização.

Se nós imaginarmos que o ativo mate-rial perde o valor com o uso, seja por des-gaste natural, ponderamos, por outro lado,que o ativo do conhecimento, que é um ati-vo intangível, ele aumenta sempre o valorcom o uso, porque na medida que você outiliza, está agregando novos conhecimen-tos. E isso é muito importante para a gentetrabalhar a atualização desse conhecimen-to. Nesse sentido a gestão do conhecimen-to tem que nós ajudar a mensurar exata-mente o valor do conhecimento que nóstemos, o conhecimento organizacional,para a continuidade dos nossos serviços. Oque deve propiciar, então? Deve propiciarque a gente identifique onde estão essesconhecimentos e quem precisa utilizá-los.O Serpro tem pessoas, talentos e conheci-

mentos, distribuídos pelo Brasil inteiro, eesses conhecimentos essenciais para o seufuncionamento e a sua continuidade, estãotambém distribuídos para todo o país.

Precisamos identificar quais são essesconhecimentos essenciais, onde estão, equem necessita utilizá-los. E deixar issodisponível para essas pessoas utilizarem. E,além disso, como já citei, facilitar o aprimo-ramento e a geração de novas idéias. Quaisseriam esses conhecimentos? São os co-nhecimentos dos nossos processos organi-zacionais, dos nossos produtos e dos nos-sos serviços.

É ambiciosa a missão, porque nós esta-mos querendo tentar transformar o conhe-cimento tácito das pessoas, ou seja, comonós pensamos e como executamos as nos-sas atividades, em conhecimento explícito,que possa de alguma forma ser registrado edistribuído para todas as pessoas da em-presa que precisam utilizá-lo. Nós vamoster como resultado uma facilidade no pro-cesso de auto desenvolvimento das pes-soas e um aumento da capilaridade desseconhecimento essencial. Vou citar poste-riormente alguns exemplos de coisas quenós já fizemos, de como nós fizemos, e osresultados que obtivemos e são realmentenecessários para a empresa.

Nós vamos tentar mapear esse conheci-mento e vamos prover sistemáticos recur-sos e espaços para distribuição e reutiliza-ção desse conhecimento, facilitando o pro-cesso de inovação e melhoria contínua dosnossos produtos.

Essa figurinha meio embaçada, difícil dese ver, ela pretende demonstrar o ambien-te por intermédio do qual estão fluindo es-ses conhecimentos essenciais ao funciona-mento da empresa. Nós temos o conheci-mento dos indivíduos, ou seja, aquele co-nhecimento tratado individualmente naexecução das suas atividades diárias.

Temos no intermediário todos os siste-mas de comunicação utilizados pelos em-pregados, que seriam o correio eletrônico,os nossos sistemas de gestão interna, as ba-ses de dados que já temos instaladas, osambientes de colaboração e aprendiza-gem, enfim, todos os ambientes de tecno-logia da informação que os nossos empre-gados já utilizam, já contém um volume

““O capitalintelectual, oconhecimentotácito, quepertence a cada um de nós,é oconhecimentomais preciosopara o sucessode umaorganização””

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expressivo de conhecimento dos nossosprocessos, dos nossos produtos e dos nos-sos serviços. Só que hoje esse conjunto deconhecimentos não está organizado daforma que possa subsidiar efetivamente oprocesso de gestão do conhecimento, en-tão é um outro ambiente que estamos tra-tando — estamos integrando tudo isso eorganizando de forma que as pessoas pos-sam ter efetividade na sua utilização.

O Marcos citou a questão do volume deinformação — não basta a gente ter umgrande volume de informação — a nossaIntranet, hoje, é um grande exemplo de umvolume enorme de informação, só que elanão está estruturada de uma forma que fa-cilite a utilização dessa informação. A ges-tão do conhecimento vai fazer isso, vai or-ganizar essa informação de tal forma quefique mais ou menos intuitivo para as pes-soas encontrarem o que elas precisam. Te-mos que tratar isso por áreas de interesse,por área de atuação.

O processo de desenvolvimento de solu-ção é aquele que estuda, faz a prospeção detecnologia e de conhecimento dos ramosde atuação dos nossos clientes, para cons-truir as soluções de tecnologia da informa-ção para o Governo Federal. Esse processo -as pessoas que atuam nesse processo - têmum conjunto de interesses diferente daspessoas que atuam nos processos de gestãofinanceira, por exemplo. Então vamos terque organizar esse conjunto de informa-ções de forma que as pessoas possam aces-sar intuitivamente, por área de interesse,aquilo que interessa a elas e é necessáriopara a execução das suas atividades.

Temos, no final, o ambiente que esta-mos caracterizando como o mais comple-xo, e o nosso maior desafio, que é o am-biente de interação das pessoas e dos ti-mes. A interação das pessoas dentro de ummesmo time, de um time com times par-ceiros, equipes de trabalho da empresa e,especialmente, as interações com os nos-sos clientes, por que é exatamente nessainteração com os nossos clientes que nósconseguimos identificar as necessidadesde serviço, os níveis de satisfação e adequa-ção às soluções que a gente está fornecen-do, enfim, esse conjunto de interação entreas pessoas, as equipes internas do Serpro,

com os nossos clientes, parceiros e fornece-dores, nesse ambiente e que flui o conheci-mento mais sensível e mais importante,que vamos ter que tratar.

Estamos falando de um conhecimentoprofundamente tácito, que é aquele conhe-cimento inerente às experiências que aspessoas têm na execução dessas atividades,no atendimento aos nossos clientes, naidentificação de necessidades. Enfim, a ex-periência na execução dessas atividades éque deu às pessoas esse conhecimento —então nós vamos ter que encontrar formascriativas e inovadoras de ajudar aos profis-sionais do Serpro a explicitar esse conheci-mento que eles possuem e que é funda-mental para o futuro da nossa organização.

Esse ambiente de pessoas e times repre-senta o nosso maior desafio, porque nelevamos estar trabalhando a transformaçãodo conhecimento tácito em explícito, e ocompartilhamento do conhecimento. Ven-do essas duas expressões a gente já podeenxergar uma mudança de paradigma e,muitas vezes, de comportamento e de cul-tura. As pessoas não têm o hábito de faze-rem isso, não têm isso inserido no seu dia-a-dia de trabalho, por isso representa umgrande desafio. Vamos ter que encontrartécnicas de abordagem das pessoas e forne-cer às pessoas ferramentas e índices siste-máticos que facilitem a elas explicitar o seuconhecimento. Nesse momento vamos terque respeitaria forma de pensar e executardas pessoas. Respeitando isso é que nós va-mos estar tentando fazer com que, natural-mente, as pessoas possam explicitar essesseus conhecimentos.

E o que nós estamos pensando? Estamosestruturando espaços e ferramentas especí-ficos para tratar esse tema. Estamos estru-turando isso de tal forma que a gente deixeespaço para as pessoas discutirem com ou-tros colegas de área de interesse comum asquestões relevantes sobre as suas atividadee sobre a construção dos nossos produtos eserviços, e gestão dos nossos produtos eprocessos internos. Mas de forma que, si-multaneamente, a gente possa aproveitaresses espaços para registrar aquele conhe-cimento que vai estar sendo discutido. E aínós vamos fazer uso de pessoas que têm es-sa habilidade, de trabalhar com pessoas em

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““A gestão doconhecimentodeve possibilitarque a genteidentifique onde estão osconhecimentos e quem precisa utilizá-los””

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ambientes propícios de troca e treinamen-to, de capacitação, para que a gente possaencontrar o melhor modelo. Não temosainda o melhor modelo, estamos experi-mentando alguns modelos.

Estamos estruturando fóruns setoriais,empresariais. Os fóruns setoriais vão dis-cutir e avaliar o desempenho da gestão doconhecimento, por processo organizacio-nal, e os fóruns empresariais vão fazeruma avaliação do desempenho da gestãodo conhecimento de forma corporativa,na organização.

Redes de pessoas com interesses em co-mum, programa de repasse de conheci-mentos — vou apresentar um programa demuito sucesso que nós temos implantadolá na empresa. Isso significa que nós esta-mos especialistas em ramos de atuação dosnossos clientes, profissionais da empresaque executam essa atividade ao longo deum período grande, e que estão explicitan-do esse conhecimento tácito para as de-mais pessoas que também executam essasatividades. Vou apresentar adiante.

É um conjunto de ações para criar essesespaços, sistemáticas e ferramentas paracontribuir para as pessoas explicitarem seuconhecimento tácito. Do ponto-de-vista detecnologia da informação, o que a gentetem trabalhado? A gente tem tomado umcuidado muito grande com a questão datecnologia, até por esta paixão que eu citeianteriormente — o nosso negócio é tecno-logia da informação; então, naturalmente,pela natureza do nosso negócio, somosapaixonados pela tecnologia da informa-ção, e temos que tomar um cuidado enor-me para a gente não achar que a tecnologiada informação vai resolver os problemas degestão do conhecimento, porque não vai,ela vai ser uma grande aliada, especialmen-te por sermos uma empresa grande, distri-buída pelo país inteiro— sem tecnologia dainformação a gente não vai conseguir fazera gestão do conhecimento. A gestão do co-nhecimento tem esse lado muito especial,que é o tratamento do conhecimento ine-rente a cada um de nós, e a abordagem daspessoas, a forma de pensar, o comporta-mento enfim. Mas a tecnologia da informa-ção vai ser uma grande aliada, e vai colabo-rar significamente para isso.

Nós estamos testando em laboratório –nós implantamos um laboratório de tecno-logia dedicada à gestão do conhecimento –é uma coisa pequena, nada sofisticado. Al-gumas máquinas, com produtos que nósidentificamos no mercado, e que possamnos dar subsídio pra implantação do pro-cesso de gestão do conhecimento. Nós va-mos construir uma base Serpro de conheci-mento. É uma base corporativa, onde agente pretende armazenar os conhecimen-tos de todos processos organizacionais, detodos os produtos e serviços, a nossa rela-ção com os nossos clientes, enfim, cons-truir uma solução de tecnologia da infor-mação onde a gente possa sistematizar oknow how técnico da execução dos nossosprocessos, construção dos produtos e pres-tação dos serviços.

Nós já temos alguma soluções desenvol-vidas, implantadas, em uso já há algumtempo. Não pretendemos descartar essassoluções. Vamos integrá-las a essa soluçãode aplicar a gestão do conhecimento, va-mos integrar e tentar fazer que a gente te-nha uma única interface para tudo isso. E,por outro lado, as outras atividades de ges-tão do conhecimento também precisam deter suporte da tecnologia da informação,para facilitar esse trabalho. A captura desseconhecimento, a distribuição, enfim, todo oprocesso de análise, de validação, de reco-nhecimento do conhecimento essencial,também vem sendo trabalhado com algu-mas tecnologias identificadas no mercado,para nos ajudar a fazer isso.

Como é que nós estamos implementan-do isso na nossa empresa? Nós estabelece-mos uma política de gestão do conheci-mento para o Serpro. Essa política tem co-mo objetivo principal definir as atribuiçõese as responsabilidades, ou seja, dentre tudoisso que a gente precisa fazer, quem vai fa-zer o quê, e com quais responsabilidades.Nós vamos ter gestores de conhecimentopor processo organizacional, gestores deconteúdo, gestores dos espaços onde aspessoas vão estar conversando, e temos umconjunto de atribuições para efetivamenteimplantar esse processo na empresa.

Essa política define exatamente isso - oque é a gestão do conhecimento para o Ser-pro - porque a gente precisa da gestão do

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““Temos quetomar muitocuidado para não acharque a tecnologiada informação vai resolver osproblemas degestão doconhecimento,porque não vai””

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conhecimento. O que a gente precisa fazer,e quais são os responsáveis. Para nós im-plantarmos efetivamente essa política, nósdesenhamos um plano empresarial comum conjunto de ações corporativas commetas, o que deve ser feito, como e em queprazo.

Isso está começando a ser implantadoexatamente nesse momento. Para facilitaresse processo todo, nós temos 23 unidadesde gestão daquele modelo que eu citei noinício. Nós definimos que cada uma dessasunidades têm que ter um representante degestão do conhecimento, para trabalhar deforma cooperativa na implantação desseprocesso na empresa. Eles têm a responsa-bilidade de estar atuando diretamente co-migo, no sentido de levar para as suas uni-dades conceitos básicos sobre gestão doconhecimento, o entendimento sobre apolítica do Serpro para a gestão do conhe-cimento e das ações que nós vamos execu-tar para implementar essa política. E tam-bém, efetivamente coordenar as ações nasuas unidades de gestão e nas interaçõescom as demais unidades, para se saber oque acontecer na empresa.

Além disso estamos estabelecendo umconjunto de atribuições para as lideranças.Nós acreditamos que o papel das lideran-ças será preponderante para a implanta-ção desse processo, porque todo o trabalhode sensibilização, o envolvimento das pes-soas, precisa ser feito praticamente corpo-a-corpo, e nada como as lideranças, queestão no dia-a-dia com as pessoas, paraexecutar esse trabalho.

Nós estamos fazendo uma proposta umpouco diferente, também, no sentido deque nós estamos capacitando essas lide-ranças por intermédio de um kit que nóscriamos, com um conjunto de material deformação, para que essas lideranças apli-quem esse kit de divulgação sobre o pro-cesso de gestão do conhecimento em outraunidade diferente daquela em que eleatua. Já vai ser um exercício de comparti-lhamento, para que ele possa, quando re-tornar para a sua unidade, exercitar issocom o time com o qual ele trabalha.

Nós já estamos providenciando para opróximo ciclo de avaliação empresarial —nós temos lá na empresa um ciclo anual de

avaliação empresarial, onde avaliamos odesempenho de cada uma das unidades;temos o ciclo de avaliação gerencial, ou se-ja, da ação de todas as lideranças, tambéme do desempenho de todos os funcionários,que é a avaliação funcional. Estamos fazen-do um alinhamento já para o próximo ciclo,que é no primeiro semestre do ano quevem, dos processos de avaliação com aquestão do conhecimento. Os aspectos decooperação, de compartilhamento, reutili-zação de conhecimento e colaboração paracapacitação dos colegas de time, todos es-ses aspectos já estão sendo incluídos nonosso processo de avaliação. Como conse-qüência, a distribuição de alguns benefí-cios que a empresa tem é feito com basenesse processo de avaliação. Um conjuntode benefícios é distribuído em função daavaliação empresarial que nós fazemos.

O processo de gestão do conhecimentotem supervisão e monitoração corporativa.Para a nossa empresa é fundamental queesse seja um processo empresarial – nãoadianta que cada unidade faça um proces-so de gestão do conhecimento por que, pe-la natureza do nosso negócio, os produtos eos serviços necessitam ser construídos emparceria das diversas unidades. Uma uni-dade não tem como construir e prestar oserviço sozinha.

Nós temos as unidades de infra-estrutu-ra, que cuidam de toda a parte de recursostecnológicos: nossa rede de comunicaçãoque tem abrangência nacional, é uma dasmaiores redes da América Latina. Nós te-mos acessos internacionais diversos, a nos-sa rede também — temos os recursos demáquinas de grande porte, servidores deplataforma baixa, enfim, um conjunto derecursos técnicos, que não vem ao casoagora, mas que precisam trabalhar de for-ma integrada. Assim, a nossa visão do pro-cesso do conhecimento precisa ser corpo-rativa também, para que a gente possa real-mente ter os processos de cooperação ecompartilhamento de uma forma eficaz naorganização.

O programa de divulgação, sensibiliza-ção e envolvimento dos empregados — co-mo eu citei anteriormente — nós criamos,montamos um kit, e isso vai ser aplicadopelas lideranças, ou seja, os gerentes de to-

““A visão doprocesso doconhecimentoprecisa sercorporativa, para que a gentepossa ter osprocessos decooperação ecompartilhamentode uma forma eficaz na organização””

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dos os níveis hierárquicos vão estar apli-cando esse programa para todos os empre-gados da empresa em unidades diferentesdaquela de sua atuação.

Para dar suporte a esse processo comoum todo, estamos estabelecendo algumassistemáticas para subsidiar a parte de im-plantação das ferramentas. Nós já temos, evou apresentar aqui, uma solução de TI quese dedica a gestão da nossa árvore de co-nhecimento e dos currículos das pessoasdo Serpro. Vou explicar mais adiante o quesignifica isso. Nós estamos fazendo umasistemática que possa promover uma revi-são e uma atualização periódica dessa ár-vore de conhecimento, no sentido de vali-dar os conhecimentos que lá estão registra-dos e garantir a sua efetividade, garantirque o que está definido como sendo o con-junto de conhecimento necessário para oSerpro, é aquilo que ele precisa para execu-tar o que ele faz hoje e para se preparar pa-ra a construção do futuro.

A outra sistemática, utilizando as expe-riências que nós já temos, internas, de exe-cução de transformação de conhecimentotácito em explícito, e algumas metodolo-gias que o mercado está apresentando, éexatamente no sentido de estabelecer ummodelo que todas as áreas da empresa pos-sam utilizar para fazer esse mapeamentodo conhecimento essencial. A outra siste-mática diz respeito a estruturação dessesfóruns e dos modelos para intercâmbio ecompartilhamento de conhecimentos.

Vou citar alguns exemplos de coisas quejá temos implementadas. Apenas a título dealerta e esclarecimento interno na empre-sa, nós temos utilizado a questão dos por-tais. Não sei se é do conhecimento de to-dos, o portal é uma solução da tecnologiada informação, que oferece aos usuários deuma organização ou de uma comunidade,uma janela única para o conjunto de infor-mações, sistemas, processos dessa organi-zação ou comunidade.

Em alguns fóruns o portal está sendo re-ferenciado também como uma solução pa-ra a gestão do conhecimento, e na realida-de, ele é um grande suporte a isso, só queele precisa ser contextualizado em funçãodo negócio da organização, do ramo deatuação da organização, como eu citei em

relação à questão de tornar as informaçõesde fácil acesso, intuitivas e necessárias, so-mente aquelas informações que são neces-sárias por áreas de interesse das pessoas.

Eu vou apresentar rapidamente algu-mas soluções que nós já temos implemen-tadas. Pela natureza do nosso negócio e pe-la característica do nosso profissional, ana-lista de sistema, nós fazemos organizaçãode informações desde o início da existên-cia do Serpro. Fazíamos processamento dedados, depois nós começamos a fazer sis-temas geradores de informação de suporteao processo decisório, enfim, na realidadeo Serpro já fazia gestão do conhecimento,de alguma forma, há muito tempo, e nãosabia disso. Só que, da forma que a gestãodo conhecimento hoje preconiza, nós esta-mos organizando a partir de agora. E já te-mos algumas soluções, em função das ne-cessidades do nosso serviço, que desenvol-vemos setorialmente, e que nós, agora, es-tamos analisando a viabilidade de trans-formá-la em solução corporativa ou, pelomenos de integrá-la a essa solução corpo-rativa que nós estamos definindo. Nós te-mos o sistema que trabalha a nossa árvoredo conhecimento, que eu citei anterior-mente. Árvore de conhecimento é a defini-ção, por processo organizacional, de quaisramos de conhecimento são necessáriospara a execução desse processo organiza-cional e para a garantia de continuidadedos nossos serviços.

Para cada processo organizacional fo-ram definidos os ramos de conhecimentonecessários ao seu funcionamento e execu-ção. A partir desses ramos de conhecimen-to foram definidos assuntos relacionados aele. Exemplificando, no nosso processo deatendimento, por exemplo, teríamos comoramo de conhecimento assistência aousuário e assuntos vinculados a isso, acessoà rede de comunicação, controle de senha,todos os assuntos necessários a prestar as-sistência ao usuário.

Nós temos um sistema que se chama sis-tema perfil, onde nós fazemos a gestão des-sa árvore de conhecimento e os talentos as-sociados. Os talentos são as pessoas, ou se-ja, cada um dos empregados do Serpro, apartir dessa definição da árvore de conheci-mento, ou seja, do mapeamento das com-

““Árvore doconhecimento éa definição, porprocessoorganizacional,de quais ramosde conhecimentosão necessáriospara a execuçãodesse processoe para a garantiade continuidadede serviços””

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petências essências ao funcionamento decada processo, entra no sistema e define oseu perfil. Ele identifica os ramos de conhe-cimento e os assuntos em que ele tem co-nhecimento e define o nível de conheci-mento que nós estabelecemos como três:conhece, aplica e domina.

Isso aqui é apenas uma tela inicial — ca-da empregado tem uma senha de acesso aesse sistema, e aí tem um exemplo de nave-gação no sistema, onde estão definidos al-guns ramos de conhecimento e as áreasque são responsáveis. Isso é muito impor-tante porque cada um dos processos orga-nizacionais terá um gestor de conhecimen-to que será responsável pela efetividade danossa árvore de conhecimento.

Alí temos identificados alguns ramos deconhecimento, são ramos de uso internodo Serpro, não sei se é de conhecimento, eas áreas que são responsáveis pela garantiada sua atualização e manutenção. A partirdesses ramos nós, empregados do Serpro,atualizamos o nosso currículo — existemalguns dados de identificação do emprega-do que são obtidos a partir do nosso siste-ma de Recursos Humanos — o empregadoindica a sua formação acadêmica, idiomasconhecidos e, a partir daí, assuntos conhe-cidos, no final da tela, onde ele já vai estaridentificando dentro do sistema aquelesramos de conhecimento em que ele atuaou tem conhecimento. Ele identifica os ra-mos de conhecimento e os assuntos vincu-lados, e o nível de conhecimento. Na partedireita da tela, existem três categorias: do-mina, aplica e conhece. E cada empregadofaz a montagem do seu próprio currículo.Todos os currículos dos 9 mil empregadosficam disponíveis para todos os 9 mil em-pregados consultarem. Esse sistema temum conjunto de atribuições e de benefíciospara a organização, eu posso exemplificaralguns mais evidentes: a gestão do nossoplano de capacitação e da construção dabase de conhecimento, ela estará muitofundamentada na nossa árvore de conhe-cimento. Então, cada processo organiza-cional define quais são os ramos de conhe-cimento necessários ao funcionamento doprocesso e à continuidade e previsão deevolução futura. A partir disso nós pode-mos identificar nos sistemas se as áreas

têm profissionais qualificados em todos es-ses ramos de conhecimento, se não tive-rem, montamos um plano de capacitaçãopara prover a capacitação necessária aofuncionamento. Esse é um dos benefíciosque traz à empresa.

O outro é o processo de auto desenvolvi-mento. Cada empregado do Serpro, aoexercer as suas atividades do dia-a-dia, seele tiver qualquer dificuldade na obtençãode um conhecimento ou execução de algu-ma atividade, ele tem como entrar no siste-ma e identificar um colega de qualquerparte do Brasil, que possui esse conheci-mento e possa auxiliá-lo na execução dassuas atividades. Ele tem como encontraressa pessoa. Por intermédio do sistema. Eletem alí a identificação da área de lotação, acidade onde a pessoa está, o telefone, o e-mail, enfim, e quais os conhecimentos quea pessoa possui. Esse é um outro benefícioque o sistema pode trazer.

Sob o ponto de vista de mapear os co-nhecimentos essenciais, vamos partir exa-tamente desses ramos de atuação. Os ges-tores de processo irão atualizar a árvore deconhecimento e, a partir dos ramos de co-nhecimento identificados nós vamos ma-pear como os processos estão sendo exe-cutados pelas pessoas. Esse sistema temum conjunto grande de aplicações para anossa organização.

O exemplo relativo ao intercâmbio ecompartilhamento de conhecimento, queeu citei lá no início, nós temos um exemploque trouxe resultados muito positivos paraa empresa. Nós temos profissionais queatuam no desenvolvimento de soluções denossos clientes, há muito tempo, há muitosanos, e essas pessoas, ao longo dessa expe-riência possuem um conhecimento pro-fundamente tácito sobre esse trabalho esobre as soluções que foram desenvolvi-das. Possuem também um conhecimentoexcepcional sobre planos de atuação dosnossos clientes, ou seja, o conhecimentonecessário para que a gente possa aplicarcorretamente as soluções de tecnologia dainformação.

Uma das nossa áreas que atende aosnossos clientes, especificamente a ReceitaFederal, para a questão de tributos federais,nós temos duas áreas que atendem à Re-

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““Todos oscurrículos dos 9 milempregadosficam disponíveispara todos os 9 milempregadosconsultarem””

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ceita Federal, uma para tributos e outra pa-ra comércio exterior — essa área reuniudois profissionais que atuam nessa cons-trução de soluções, há mais de vinte anos,e realizou um trabalho de explicitar esseconhecimento tácito e registrá-lo de formaque pudesse se tornar um plano de capaci-tação dos demais colegas dos pólos de de-senvolvimento e solução. Esse trabalho foifeito mais ou menos utilizando a metodo-logia de brainstorm, de entrevistas. Essesprofissionais ficaram dedicados a essas ati-vidades com pessoas de montagem de trei-namento, e explicitaram um conjunto sig-nificativo de conhecimento necessário aodesenvolvimento desse trabalho, ou seja,de aplicar a tecnologia da informação paraa satisfação dos nossos clientes. A partirdisso foi montado um conteúdo muito ex-tenso, muito detalhado, para a construçãode um programa de capacitação que foiaplicado em mais de 600 pessoas, em dezlocalidades diferentes do país, e hoje nóstemos uma capilaridade desse conheci-mento bem maior.

O conjunto de profissionais que atuamno desenvolvimento de produção para essesegmento, todo ele recebeu esse treina-mento, e todo esse registro de conhecimen-to está disponível na nossa Intranet, para osprofissionais que atuam nesse segmento.

Este foi um dos exemplos que nós já te-mos, de explicitação de conhecimento tá-cito. Esse aqui também é um outro exem-plo de explicitação de conhecimento táci-to, que utilizou uma metodologia diferen-te. Esse sistema é um banco de soluções,uma base de conhecimento, que é utiliza-da pelos técnicos que trabalham no aten-dimento aos usuários do serviço de co-mércio exterior.

Até dezembro de 1996 o Brasil possuía osistema informatizado para comércio exte-rior, para o módulo exportação – a partir deprimeiro de janeiro de 1997 foi implantadoo módulo importação – e existiam aproxi-madamente entre 30 e 35 mil usuários domódulo exportação, e nós tínhamos umaestrutura de atendimento para essa comu-nidade. A partir do dia primeiro de janeiroesse número de usuários aumentou parapraticamente o dobro, ou seja, entre os 60,70 mil usuários, mas mantivemos a mesma

estrutura. Assim, o conjunto de demanda ea pressão em cima das pessoas foi enorme,e nós precisávamos dar uma solução rápi-da, para manter a qualidade do atendi-mento. Como é que nós fizemos? Como is-so era tratado? As pessoas que atendiam ousuário mandavam para um órgão centralresponsável pela coordenação desse aten-dimento, fax, correio eletrônico, telefone-mas, enfim, todo tipo de recursos, malotes,e etc. E isso era impraticável de ser admi-nistrado, porque o volume de informaçãoera grande, e o mais grave, a maioria daquestões levantadas pelos usuários era amesma no Brasil inteiro, então isso se repe-tia inúmeras vezes.

Para tentar manter a qualidade desseatendimento, manter o atendimento a essacomunidade de comércio exterior, com omesmo nível de qualidade que nós tínha-mos, buscamos uma solução com o uso datecnologia da informação, para explicitar oconhecimento dos técno especialistas nosistema e na infra-estrutura de tecnologiada informação, que pudesse ficar disponí-vel para todos esses técnicos pelo Brasil, eele rapidamente acessasse e respondesseaos usuários.

Em questão de dois ou três meses nósconstruímos uma base de conhecimentoque é utilizada até hoje. E, como foi feita aexplicitação do conhecimento tácito nessemodelo? Foi uma metodologia diferenteda anterior, que juntou especialistas emuma sala e construiu um programa de trei-namento. Aqui não dava tempo de fazer is-so, as pessoas estavam totalmente envolvi-das com o processo de implantação e ga-rantia de uso dos serviços; então, à medidaque as questões estavam sendo registradaspelos usuários, uma área de coordenaçãogeral fazia o filtro, verificava o que podiaser respondido imediatamente, e o quenão podia era direcionado para um espe-cialista no tema, e esse especialista, na suaestação de trabalho, recebia uma mensa-gem avisando que tinha um registro paraele verificar. Ele entrava, analisava e regis-trava todo o conhecimento relativo àquelaquestão. Explicava porque ocorreu o erro,ou o suposto erro, indicava quais os módu-los do sistema que estavam afetados comaquilo, qual foi a solução adequada, quais

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““Cada processoorganizacionaldefine quais sãoos ramos deconhecimentonecessários aofuncionamento eà continuidade eprevisão deevolução futura””

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eram as orientações que eram para ser da-das para os usuários.

Esse foi um modelo diferente dos outros,e que resultou, também, numa melhoriasignificativa na qualidade do atendimentoe, especialmente, no que diz respeito à agi-lidade. Os processos de comércio exteriortêm prazos muito curto para acontecer, e ogoverno e a sociedade precisam de respos-tas rápidas para qualquer coisa que possaestar empatando a execução desse proces-so. O resultado também foi extremamentepositivo.

No último exemplo que eu trouxe aquipara vocês, também utilizamos uma meto-dologia diferente para explicitar conheci-mento essencial ao funcionamento de umprocesso.

Aquelas 750 redes locais que eu citei noinício da apresentação, que estão conecta-das à nossa rede de comunicação — nós te-mos administradores de rede local e admi-nistradores de bancos de dados, localiza-dos fisicamente nessas redes. Esse conjun-to de técnicos, que são aproximadamenteentre 500 e 600 - não me lembro exatamen-te o número - eles precisam ter um conjun-to de conhecimento técnico e de procedi-mento, para garantir o funcionamento des-sas redes locais e o acesso dos nossos clien-tes aos serviços, por intermédio da nossarede de comunicação.

Foi construído para eles, também, umabase de conhecimento contendo toda essainformação. Nesse modelo nós utilizamosuma metodologia diferente das anteriores.Os profissionais que eram responsáveis porcoordenar esse trabalho, eram profissio-nais técnicos de administração dessas re-des locais. Eles se juntaram num fórum es-pecífico e mapearam esse conhecimentotodo; e também utilizaram muito publica-ções técnicas do ambiente operacional quea gente utilizava, e conseguiram mapeartodos esse conhecimento de operação: ad-ministração de redes locais, administraçãode banco de dados e procedimentos paraalimentar essa base de conhecimento.

Esse foi o último exemplo que eu trouxe.O Serpro está aprendendo com a comuni-dade que está estudando gestão do conhe-cimento, e o importante é que nós já iden-tificamos a necessidade de fazer isso, por

que, se nós não fizermos, dificilmente acontinuidade da empresa poderá ser ga-rantida. Eu entendo que todas as organiza-ções precisam se preocupar com isso, atéporque nós não vamos ficar nas organiza-ções para sempre. Outras pessoas virão nossubstituir, e essas pessoas precisam adqui-rir rapidamente, ou pelo menos em umtempo razoável, os conhecimentos neces-sários à execução das diversas atividades.

Essa característica que eu citei, de movi-mentação de pessoas entre uma área e ou-tra, e para fora da empresa também - ou se-ja, as pessoas saem por diversos eventos:aposentadoria, ou vão trabalhar em outrolugar - enfim, a gente precisa trabalhar a re-dução do impacto dessa movimentação,para garantir a efetividade das ações do Es-tado brasileiro. Espero que o Serpro possaestar presente na construção desse novoBrasil que se anuncia a partir do ano 2000,e continuando inovando nas soluções dosuporte a isso. Muito obrigada.”

�PERGUNTA

“Doutora Rosana, antes de haver o ma-peamento do conhecimento foi necessáriouma reengenharia de processo ou foramcoletadas informações dos processos exis-tentes? E uma segunda pergunta, só emtermos de curiosidade: ferramentas de TIforam utilizadas no Serpro. Por acaso foipensado em data warehouse, ou foi utiliza-da outra ferramenta?”

�ROSANA TEIXEIRA

“Na realidade o Serpro passou, há coisade uns quatro ou cinco anos, por um pro-cesso de transformação, e já fez uma revi-são de toda a sua estrutura organizacional,inclusive os processos, e que deu origem aessa organização do modelo de gestão porprocessos de infra-estrutura, processos denegócios e processos de direção, controle eplanejamento. Isso já havia sido executado.Mas também já tínhamos o mapeamentode alguns processos, era um mapeamentodo processo, e não dos conhecimentos doprocesso. Nós partirmos desse modelo, eestamos fazendo o mapeamento do co-nhecimento dos processos da forma que já

TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

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““Se nós nãofizermos oestudo da gestão doconhecimento,dificilmente acontinuidade daempresa poderáser garantida””

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está definida nesse modelo de gestão, quenós estamos, inclusive nesse momento, fa-zendo uma revisão e um realinhamento;mas os processos são esses mesmos, os de-finidos no modelo. A outra pergunta, comrelação à solução. Nós estamos investindointensivamente no uso da tecnologia datawarehouse, só que, para o processo de ges-tão do conhecimento, estamos utilizandooutras tecnologias, não necessariamentedata warehouse. Até por que, o nível decomplexidade de gestão do conhecimentonão exige uma solução de data warehouse;mas nós utilizamos para soluções que nósprestamos aos nossos clientes, em suporteà decisão.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Bem, eu sugiro uma pausa aos compa-nheiros, para logo depois conhecermos aIBM do Brasil.”

Vamos dar prosseguimento com a DorisFonseca, que vai falar sobre a experiênciaenriquecedora da IBM, que foi uma empre-sa que se adaptou muito à era moderna, à“Era do Conhecimento”, ou seja, de um gi-gantismo que era adaptável, há algunsanos, hoje ela teve exatamente que enxugara sua forma de gerir, para que não fosse en-golida no novo século. Então, essa expe-riência fantástica é a sua grande aplicaçãono ser humano que compõe a IBM, por is-so, exatamente, a convidada é a gerente derecursos humanos. Doris Fonseca com apalavra.”

�DORIS FONSECA

“Nessa altura, a idéia que vocês tiveramsobre inteligência empresarial, sobre capitalintelectual e gestão do conhecimento, já ébem complexa, bem ampla. Eu fiquei muitocontente em ver a experiência do Serpro,por que, há cinco anos eu trabalho numaárea da IBM, num projeto da IBM chamadoExcuse Management Process. Esse projetoé mundial e eu participo dele desde os pri-meiros momentos, quando aqui no Brasilnão se conseguia encontrar um interlocu-tor. Apesar de que eu tenho conhecimentoem RH de todas as grandes empresas priva-

das que estão aqui no Brasil – e nós temosum grupo que se reúne com freqüência –nesse grupo de grandes empresas eu nãoconhecia ninguém que estivesse fazendoum trabalho voltado para a gestão do co-nhecimento da forma como o Serpro estáfazendo. Para mim foi uma coisa muito pra-zerosa a apresentação da Rosana.

Eu vou falar sobre a gestão de competên-cias, e coloquei competências de uma ma-neira mais localizada, e não gestão do co-nhecimento, porque gestão do conhecimen-to para a IBM, implica em várias ações emvárias áreas diferentes. Por exemplo, algumaprendizado que eu faça, que um consultormeu faça, num projeto, ele tem que ser cap-turado e guardado num banco de dados es-pecial, para uso futuro. Isso é uma parte dagestão do conhecimento. Uma outra parte,onde eu vou focar mais, é a gestão da própriacompetência: quem somos nós, qual é acompetência que cada um de nós tem.

Antes de falar sobre essa gestão de com-petências, eu vou dar um pequeno retratoda IBM para vocês. A primeira coisa que agente pensa quando se fala em IBM é, nor-malmente, o quê? Alguém sabe qual é o ne-gócio da IBM? Computador, processamen-to da informação – é verdade, é isso mesmo.Mas agora a IBM está definindo melhor asua área de atuação com a tecnologia da in-formação, quer dizer, é mais abrangente. AIBM foi o maior vendedor de hardware domundo. Ainda é o maior vendedor de hard-ware do mundo, mas ela também faz outrosnegócios. Como o Marcos falou, a margemé pequena no hardware, nos serviços amargem é maior, e o número de transações,o comércio de equipamentos, em compara-ção com o comércio de intangíveis, está di-minuindo porque o comércio de intangí-veis cresce numa proporção assustadora. Ea IBM já está no comércio de intangíveis, hábastante tempo, desde que o novo chair-man da companhia – que é o Lou Gessner,que é um cara reconhecido internacional-mente como sendo o guru de administra-ção moderna, porque em cada empresaque ele entra ele salva a empresa – veio pa-ra salvar a IBM, que em determinado mo-mento estava com um baixo valor na bolsa,e vendo seus negócios terem uma previsãode futuro perigosa.

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Então, quando esse presidente chegou,há oito anos, ele fez uma redefinição daempresa. E uma das redefinições foi essa: onegócio da companhia é a tecnologia dainformação. Ela está trabalhando nessaárea de tecnologia da informação com umatransformação constante desde o seu iní-cio. Não sei se todos sabem, mas a IBM nãocomeçou com computadores. Os compu-tadores não existiam até meados deste sé-culo. Com o quê a IBM começou, se ela játem 100 anos? Começou vendendo balan-ças para os açougues. Olha que transfor-mação! Nós estamos fazendo a transfor-mação. Sofremos a transformação, mastambém fazemos as transformações. AIBM é uma das grandes culpadas, ou vir-tuosa, de trazer a tecnologia desse séculobem perto de nós. Todos nós somos afeta-dos pela transformação dessa companhia.Para vocês terem uma idéia dessa transfor-mação, na primeira década do século agente estava fazendo relógios de ponto. AIBM fazia relógios de ponto, era o únicoproduto que ela tinha naquela época. Reló-gios de ponto super precisos, etc. E a pri-meira fábrica que a IBM abriu fora dos Es-tados Unidos foi uma fábrica de relógios deponto, adivinhem aonde? No Rio de Janei-ro. Em Benfica tinha uma fábrica da IBM,que foi a primeira a ser aberta fora dos Es-tados Unidos. Nós fazíamos relógios deponto, e alguns lugares ainda têm relógiosde ponto feitos pela IBM. Tem um relógioaqui no Rio, que todo mundo conhece, quefoi feito nessa fábrica de Benfica, que é o daCentral do Brasil, que é um dos maiores re-lógios do mundo, talvez o maior do mun-do, ainda.

Depois, em 1930, a IBM estava lançandoas primeiras máquinas elétricas. Eram má-quinas com uma velocidade impressio-nante, e foi um espaço em que a IBM co-meçou a tratar dessa manipulação da in-formação.

Aquela foto alí é de um computador.Aquele móvel todo, onde tem uma moçasentada, aquilo é um computador — narealidade, uma calculadora eletrônica, tal-vez com uma capacidade menor do que es-sa que vocês têm no bolso, era uma calcu-ladora eletrônica, em 1948. Na década de60, exatamente em 1964, vieram os compu-

tadores da série 360. Eram os mainframes,computadores de grande porte. Esse mo-mento foi uma revolução, realmente umarevolução em termos de informática. A pa-lavra mágica daquela família de computa-dores era compatibilidade.

Pela primeira vez o cliente tinha direitode escolher a configuração. Antes todocomputador tinha que ser preto - era iguala Ford - o cliente que se adaptasse ao com-putador, e aí apareceram cinco modelos deprocessador, com vários modelos de peri-féricos, e você podia escolher as caracterís-ticas em relação às suas necessidades.

Em 1981 a IBM lançou uma campanha,que também foi feita aqui no Brasil – nãosei se alguém se lembra – o Carlitos era o te-ma da campanha, lançando o PC, o Perso-nal Computer. Essa expressão PC foi inven-tada pela IBM, aliás, a IBM inventou mui-tas expressões, palavras que a gente usa, fo-ram criadas dentro da empresa – algumasprofissões foram criadas dentro da empre-sa. Neste ano eu fiz 25 anos de IBM, e den-tro desse meu percurso, eu também tiveuma história: eu passei pela área de máqui-nas de escrever, e em determinado mo-mento eu fiz o curso de análise de sistemas,dentro da IBM, porque não existia fora. AIBM formava o profissional, e até hoje aIBM é vista pelo mercado como uma gran-de formadora de pessoas, os headhuntersfamosos mapeiam as pessoas da IBM, e fi-cam convidando, porque sabem que aspessoas da IBM são muito treinadas, a IBMcuida muito bem dessa parte de desenvol-vimento de pessoas.

A IBM, em setembro de 1998 anunciou omenor drive de disco que existe, e hoje já éusado por nós. A gente não sabe, mas mui-tos de nós já estamos usando. Esse disco éque proporciona condições — um discotão pequeno quanto uma moeda — queestá nos proporcionando condições de ter-mos máquinas fotográficas digitais, com-putadores em vários lugares onde a genteainda nem estava percebendo. Já está co-meçando a ter computador invadindo anossa vida por todos os lados. Daqui a pou-co a gente vai ter computador medindo atemperatura ambiente para adequar a ca-pacidade de aquecimento da sua roupa. Jáexiste até.

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TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““A IBM é umadas grandesculpadas, ouvirtuosa, detrazer atecnologia desseséculo para bemperto de nós””

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Isso aqui é um protótipo que ainda nãoestá para uso nosso, mas que já existe pron-to, testado, que é o seguinte: um jornal ele-trônico, a textura é de um jornal. Seria umafolha flexível, igual às folhas de um jornal,ou várias folhas. Se você é um viajante, porexemplo: você leva o seu jornal eletrônico e,onde quer que você esteja — você está emSingapura — você quer ler O Globo toman-do café, quer ler o Jornal do Brasil, porquetodos os dias você faz isso, você quer ler ojornal da sua cidade — você liga lá no pro-vedor da Internet, qualquer um que seja, ebaixa o seu jornal, com um detalhe: vocêpode baixar o jornal inteiro ou customisa-do, ou seja, só as seções que você gosta deler, e ler. E lê o jornal com a mesma atitudeque você teria com um jornal de papel, por-que você pode dobrá-lo, você pode seguraraquele jornal, que tem a textura de um pa-pel, é uma tela flexível.

Não sei se isso vai virar um produto co-mercializável, pode ser que não, pode serque isso seja apenas interessante, engraça-do; mas, com certeza, a tecnologia que apa-rece, nova, um dia será útil para alguma coi-sa. Muitas coisas que às vezes a gente nãosabe qual a utilidade real, mas, mais tardeacaba descobrindo como usar aquilo, e dáum salto na vida da gente.

Por último, isso daqui, que eu achei mui-to legal. Eu gostaria de ter um negócio des-ses, eu realmente gostaria de ter um negó-cio desses. Alguém tem idéia do que isso? Éum computador de vestir, eu vou podervestir o meu computador. Em vez de eu fi-car carregando isso aqui, uma mala, eu pos-so estar vestindo o meu computador, por-que ele tem ali toda a parte da inteligênciadele é aquela figura do meio, do tamanhode um discman, que eu penduro na cintu-ra, com o mouse na mão, e na cabeça comum headphone, e um phone, e mais um vi-sor, em frente a minha vista. E eu posso fa-zer o meu jogging de manhã, lendo o meujornal eletrônico, sei lá! Pode-se fazer milcoisas. São curiosidades. A IBM tem várioslaboratórios espalhados pelo mundo, e temgênios pensando em coisas mirabolantes, otempo todo. Afora as curiosidades, a IBMtem uma estratégia muito bem definida, eque todos os profissionais da IBM no mun-do sabem, o nosso big boss disse o seguin-

te: a estratégia da IBM é fazer com que omundo use a Internet para fazer negócios.Não é só para se fazer pesquisas, trocar e-mails, ficar em chats, não. A IBM tem queser a percursora disso, ela tem que ter umpapel de levar as pessoas a esse novo mun-do, e ser a principal provedora, claro.

Esse novo modelo de negócios via Inter-net ainda é hoje, na prática, muito incipien-te. Quando a gente fala nos provedores queestão disputando o mercado, isso ainda émuito incipiente, é só o começo. Temos quepensar o seguinte: não é só uma página naInternet, que eu abro, que vai resolver omeu negócio. Eu não passo a ser um em-preendedor porque abri uma página na In-ternet, não é só isso, não é bem isso. Traba-lhar com a Internet é um ângulo de possibi-lidades. As grandes empresas, ou as peque-nas, podem usar a Internet para fazer ca-deias de negócios acontecerem de uma ma-neira rápida. Temos um anúncio da IBM,que estava há pouco tempo na televisão,onde tínhamos uma vendedora de uma lo-ja de meias, e acabou a meia, o cliente esta-va lá, ela telefona pro cara que faz as meias,que telefona pro outro que transporta, quetelefona pro outro — isso mostra uma ca-deia. Realmente, todos os negócios estãoencadeados, não é? Nós somos interdepen-dentes, eu dependo de você, você de mim, éuma coisa louca.

Os negócios hoje em dia são tão rápidosque ninguém pode ter estoque. Os negóciosexigem uma otimização, você não pode terdinheiro investido num estoque que estáparalisado. Assim a Internet vem propor-cionar condições de você realmente otimi-zar os negócios, e não tem jeito. Nesse pon-to eu sou um pouco mais determinista queo Marcos: não adianta a gente ser a favor oucontra, vai acontecer, está acontecendo, e agente tem que dar a oportunidade, como oschineses usam o ideograma da crise para aoportunidade, vamos usar a crise comooportunidade, porque a oportunidade tam-bém é fantástica para nós, Brasil, que temosexcelentes cabeças, somos flexíveis, temoshabilidades que são reconhecidas por todomundo. Todo mundo acha que somos incrí-veis, porque agora, nesse momento que osnegócios dependem desse capital que estáaqui, o capital intelectual, muito mais do

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““Daqui a poucoa gente vai tercomputadormedindo atemperaturaambiente para adequar a capacidade de aquecimentoda sua roupa””

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cionários nesses países, um faturamento,em 1998, de US$ 81,7 bilhões — é muitacoisa. Maior vendedor, maior negociantede serviços de tecnologia da informação,no mundo; maior negociador de hardwaredo mundo e pasmem, é também o maiornegociador de software, também, em ren-da. Isso não quer dizer que a Microsoft sejamenor que a IBM. Quer dizer que a rendaque a IBM fatura, também tem um customuito alto, mas a renda que ela faz é maiordo que a da Microsoft, e a maioria das pes-soas não sabe disso.

Fazemos também um investimentomuito alto em pesquisa de desenvolvimen-to. No ano passado foram US$ 5,6 bilhões,isso é muito mais do que a maioria das em-presas. A maioria das empresas faz na or-dem de 2% da sua renda, outras não fazem,e a IBM faz muito mais do que isso, e porcausa disso ela teve, no ano passado, 2.658patentes registradas nos Estados Unidos, oque é mais do que o dobro da segunda co-locada em número de patentes.

Durante esses anos todos nós tivemoscinco prêmios Nobel trabalhando paranós. Ganharam os prêmios sendo funcio-nários da IBM, usando os laboratórios daIBM em suas pesquisas.

É claro que a gente também usa a Inter-net para vender nossos produtos, só no anopassado US$ 3 bilhões da nossa renda fo-ram feitos pela Internet.

Todo esse cenário da IBM que eu quismostrar, é para mostrar a complexidadedesse mundo. A IBM lida com muitos tiposde negócios diferentes, em muitos locais,lidando com os clientes dos mais variadostamanhos — temos por clientes as grandesempresas, os governos, mas também aque-la pessoa que vai comprar um PC e vai levarpara casa. Então, para cada coisa, para ca-da ambiente de vendas, a gente tem que terdiferente capacidade, temos que ter profis-sionais com competências diferenciadas...Aquele que vai vender para um cliente go-verno, ele tem que ter um conhecimentode como é a negociação com o governo,quais são as necessidades daquele cliente,quais são as soluções adequadas para seoferecer àquele cliente. O que vai negociarcom um distribuidor, ou uma loja que vaivender os nossos micros, ele tem outro ti-

que o capital econômico e financeiro, é anossa grande chance. A gente não podeperder essa chance.

As organizações estão ficando mais inte-ligentes, o comércio permite um reabaste-cimento, a remarcação de preços eficientevai ser do seguinte tipo: se eu tiver umamaquininha de Coca-Cola em vários pon-tos da cidade, e em algum ponto a deman-da repentinamente cresceu — sei lá, estátendo um evento naquela rua onde temaquela máquina — se eu tiver a Internet li-gada a essas máquinas, talvez eu possa au-tomaticamente ajustar o preço, porque ademanda está maior; ou o inverso - estáencalhando em algum lugar - eu posso,através de uma relação inteligente dessamáquina, pela Internet, eu posso fazer umabatimento naquele lugar. Eu posso baixaro preço momentaneamente, em temporeal. As coisas acontecendo e você reagin-do em tempo real.

Muito mais eficiente do que, por exem-plo, um dono de um negócio que tem queesperar um relatório que vai ser feito no fi-nal do mês, e aí ele viu: naquela data eu ti-ve uma oportunidade, uma demanda, “pu-xa-vida”, se eu soubesse na hora... E agora agente tem condições de passar a saber.

Percepção do mercado total quer dizer oseguinte: nós, enquanto estamos fazendocompras através de cartão de crédito, prin-cipalmente através da Internet, a gente es-tá sendo mapeado. Nossas preferências,como consumidores, estão sendo captura-das. Essas informações valem ouro paraquem quer comercializar qualquer coisa, eé por isso que algumas empresas que tra-balham na Internet oferecem coisas gratui-tas. “É gratuito você fazer um site aqui...”ou então tem um descontos que você ficapensando, a Amazon está tendo lucro, não,não está... E como é que está no prejuízo econtinua negociando? Porque a capturadessas preferências de consumo forma umbanco de dados que é tão valioso paraqualquer negociante, no futuro, que vale apena ter prejuízo enquanto isso, porquevender este banco de dados vai ser muitomelhor do que vender livros.

A IBM opera, hoje, em 164 países, issoquer dizer quase todos os países do mundotem uma IBM. Duzentos e noventa mil fun-

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TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““Esse novomodelo denegócios viaInternet ainda é hoje, naprática, muitoincipiente””

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po de formação, de conhecimento, de com-petência. Para cada profissional que tem acompetência adequada. O que a gente dizpara ele é o seguinte: “olha, não dá tempo,não temos condições de gerenciar a com-petência e a carreira de cada um de vocês” -até porque o adulto é rebelde, criança agente manda pra escola e tem que tirar no-ta boa porque o pai mandou — adulto sóaprende aquilo que ele quer aprender. Seele for para uma sala de aula, mandado pe-lo gerente, e não estiver disposto, ele vai fi-car lá olhando aquilo três dias, e volta “zera-do”. Porque o adulto só aprende aquilo emque ele está interessado em aprender, aqui-lo para o qual ele está motivado em apren-der, e ele só se desenvolve se ele entenderque isso é necessário.

A gente diz para os funcionários que elestêm que orquestrar a sua carreira. A sua car-reira, quem faz, é você. Ninguém mais... AIBM pode dar condições de chegar lá, elapode dar suporte a essa empreitada, mas aempreitada é sua. O funcionário tem essacerteza, já entrou no sangue de todos: omaior responsável pelo meu perfil de co-nhecimentos sou eu mesmo, não tem nin-guém mais responsável por isso do que eu.Essa parte é o início da apresentação que agente faz para o funcionário, onde a gentefala sobre os ciclos cada vez mais rápidos. Agente está aqui, desde o começo, falandonisso: o mundo está girando mais rápido,tudo. Os estoques giram mais rápido, a eco-nomia gira mais rápido, tudo funciona maisrápido — até os relacionamentos hoje emdia são mais rápidos, não é?

A competição é global, isso é fato, jáacontece. Quando você tem uma Amazoncompetindo com a Saraiva, que tem loja, oteu concorrente não está na loja ao lado, oteu concorrente é intangível, você não o en-xerga, e ele pode estar em qualquer lugar domundo. A customização de massa é aquilode você ter que vender para muita gente,mas cada coisa com a característica de pre-ferência do consumidor. E a tecnologia per-mite que as empresas cuidem dessas exi-gências. Vai fabricar muito carro, vai. Tudoigual? Não. O consumidor tem o direito, elequer escolher.

A demanda por talentos, com certeza, émaior. Quando estou falando de talento, es-

tou falando das pessoas que têm compe-tências especiais, que têm competênciasúteis para os negócios das empresas. Aliás,está uma briga. Quando a gente fala de de-semprego no mundo, não no Brasil, a gentefala que o desemprego está aumentando, eeu sei que o que está aumentando é umainadequação da força de trabalho, não é odesemprego. Porque ao mesmo tempo nóstemos muitos postos de trabalho em abertopor falta de gente com aquele competência.Esse problema é sério e é uma outra discus-são, que tem a ver com educação e tem a vercom uma porção de ações que a gente temque tomar com urgência.

O novo pacto empresa-funcionário éque, antigamente, as empresas podiam tero pacto da segurança do emprego, isso aca-bou. As empresas privadas não tem maissegurança, nenhuma delas, porque a con-corrência não permite isso, e o novo pactoqual é? O novo pacto se chama empregabi-lidade. A empresa que oferece condições aoempregado dele se manter atualizado ebem informado — a sua competência, queé o maior bem dele, é preservada e estimu-lada - esse é o pacto, a empresa quer ofere-cer ao funcionário condições de fazer isso.Primeiro porque ele vai dar retorno, ele setorna um talento usado pela empresa. Se-gundo porque o funcionário não sai en-quanto ele tiver percebendo isso. E o co-nhecimento é o diferencial competitivo,único, depois de um certo tempo. Você po-de inventar um computador novo, com oqual você sai andando, você veste, se vocêlançar e isso tiver mercado, daqui a poucoqualquer outra empresa vai fazer igual, coma mesma qualidade, tudo igual. Então, oque me garante uma liderança no mercado,como empresa? A única garantia é o conhe-cimento do meu pessoal, quer dizer, é omeu capital intelectual, estrutural e o de re-lacionamentos – esses bens, esses ativos in-tangíveis, são, realmente, a única coisa quevai dar competitividade, e todas as empre-sas já estão se preocupando com isso.

A IBM inventou, há cinco anos, um pro-cesso chamado skill management. Eu voupedir licença a vocês para usar o termo eminglês mesmo, porque é o nome do proces-so. Skill management é um desejo de geren-ciamento de competências, de uma manei-

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““Acustomização de massa é aquilo de vocêter que venderpara muitagente, mas cada coisa com acaracterística de preferênciado consumidor””

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ra mais direta, seria isso. A IBM reuniu umtime mundial, eu representava o Brasil nes-se time, e nós começamos a discutir como éque se podia fazer isso, e o modelo do pro-cesso é esse aqui. Ele tem que garantir queas pessoas da IBM tenham skills, as compe-tências necessárias para atender aos objeti-vos do negócio, é claro.

Essa definição é muito simples, masmuito difícil de se conseguir. Esse processotem quatro momentos principais. O pri-meiro momento, que a gente chama de pla-nejamento, é o momento em que um outroprocesso, chamado market management,que faz a análise de mercado — toda em-presa tem isso, não é? — toda empresa temum gerenciamento de mercado, até o seuJoaquim, quando foi abrir a peixaria dele,nas Laranjeiras, ele foi ver se o pessoal co-mia peixe, se lá havia outras peixarias. Esseplanejamento de mercado todo mundo faz,a IBM tem um complexo para se fazer isso— é muito grande, tem muitos produtos emuitas áreas de negócios; mas, cada área denegócios faz diálogo com o processo demarket management e o de skills manage-ment, por que? Porque se eu sou o seu Joa-quim, que vai abrir a peixaria, primeiro eutenho que ver o seguinte: eu conheço genteque sabe vender peixe, se eu preciso contra-tar empregados, e todo mundo só sabe fa-zer pão, ninguém sabe vender peixe... O ca-ra que eu contratei mal sabe a diferença deuma sardinha para um salmão.. não dá pratrabalhar com ele. Aí, eu tenho que pensar oseguinte: ou eu treino essa pessoa, e aí eutenho que ver se o custo do treinamentocompensa, se a pessoa vai aprender notempo adequado, ou eu vou desistir dessenegócio e abro uma padaria. São decisõesiguais, as empresas também tomam deci-sões baseadas nesse tipo de diálogo. Temosa competência? Essa é a primeira pergunta.Temos a competência, em casa? Temos co-mo desenvolvê-la? Então, é feito um plano.E, depois do plano, é feito um inventário,como se fosse um estoque de competên-cias. Cada funcionário vai lá no sistema ecoloca uma informação, dizendo eu sei isso,isso, mais ou menos em tais níveis. E eu te-nho aquele sistema, que é como se fosseum escaninho de competências, com todasas informações das pessoas.

Uma vez que eu tenha definido em qualárea de negócio eu vou atuar, eu defini oplano, qual é o requerimento de compe-tências. Comparando o requerimento decompetências com o inventário, eu tenho oque a gente chama de gap, que é a lacuna,a lacuna de competência. Este terceiro mo-mento é o momento que nós vamos solu-cionar as lacunas, e as soluções têm váriasnaturezas. Eu posso preencher uma lacunacontratando pessoas, eu posso treinar pes-soas, mentorizar, que é uma outra forma dedesenvolver, onde se elege um mentor pa-ra desenvolver uma pessoa com menos ex-periência. Temos a IBM Global Campus,que é como se fosse um campus virtualcom cursos de todos os tipos – qualquerdaqueles 290 mil funcionários, espalhadospelo mundo, podem entrar nesse campus elá buscar o curso que quiserem. É o ensinoà distância: pega aquele curso, baixa para oseu computador. No meu caso aqui, eu le-vo o meu computador para um piqueni-que, se eu quiser, e nas horas vagas eu voufazendo um pouquinho do meu treina-mento – faço meia horinha aqui, faço outrameia hora amanhã, no dia que eu estoudisposta ou que tenho tempo, vou fazendotreinamento à distância, dessa forma.

Eu posso também definir parcerias, eunão tenho a competência, mas eu faço umacordo com um parceiro que tem aquelacompetência, eu posso fazer aquisições.Aquisições quer dizer o seguinte: adquiriruma outra empresa. Há alguns anos atrás aIBM adquiriu uma empresa chamada Lo-tus. A Lotus tem softwares excelentes paramicro informática – e porque a IBM com-prou a Lotus? A IBM comprou a Lotus porcausa de um processo desses. Ela viu queera uma oportunidade de mercado, era namicro informática – ela requeria esse tipode competência e, no inventário, não tí-nhamos, estava em falta.

Valia treinar as pessoas, valia. Só que de-mora e se perde uma oportunidade. Então,vamos adquirir uma empresa que sabe tu-do sobre isso, e na hora que a IBM com-prou a Lotus, que ela botou dinheiro nessatransação comercial, ela não estava nemum pouco interessada em quantos prédiosou quantos móveis a Lotus estava venden-do naquele momento. Se fosse para com-

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TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““Não adiantariaestarmosdesenvolvendoas pessoas se a gente não soubesseusar a pessoacerta no lugarcerto””

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prar prédios e equipamentos, a IBM, commenos dinheiro, compraria. Ela não estavacomprando o ativo tangível da Lotus, ela es-tava comprando o intangível, que eramaquelas pessoas, o capital intelectual — aestrutura, como aquilo se relacionava, co-mo aquilo funcionava. Comprou, e deu cer-to. A Lotus tem um software que permiteque você tenha salas virtuais de encontrospara times. Nesse caso que eu disse, que euparticipo de um time mundial – eventual-mente fazemos reuniões ao vivo – mas amaior parte do tempo estamos nos reunin-do em uma sala virtual, onde se tem todauma característica de facilidades para o en-trosamento do time.

Por último, não adiantaria estarmos de-senvolvendo as pessoas se a gente não sou-besse usar a pessoa no lugar certo, e usar apessoa no lugar certo tem uma limitação,porque as pessoas, dentro da organizaçãotradicional, elas pertencem a um departa-mento. Quem já não ouviu o chefe dizer:Fulano é meu funcionário, não é? E é. Elenão vende, não empresta, nada. Fica limita-do ao departamento. Só que o conheci-mento daquele funcionário está sendo ne-cessário em um outro lugar. O cliente nãoestá ligando para os limites entre departa-mentos dentro da empresa, o cliente nãotem que saber disso. Imaginem se o clientebate na porta de uma área de negócios cha-mada serviço, ele precisa de uma solução, erespondem para ele: “Olha, a pessoa que sa-be fazer isso fica alocada na área de main-frame, e o senhor vai ter que bater lá na-quela outra porta”. Não, o cliente bateu nu-ma porta e quer ser atendido ali. A gente, ládentro, é que se desloca. E isso sempre foimuito difícil.

Por conta desse processo, foi criada umanova profissão, que é chamada o gerente dealocação de recursos — ele não é dono dosfuncionários, ele não é dono de ninguém,mas é dono de todos, porque quando ocliente aparece, ele sabe qual é a necessida-de, ele usa o inventário para ver onde estáaquela informação ou aquela pessoa. E aí,sim ele conecta a pessoa certa ao lugar cer-to. Os outros gerentes, que são donos daspessoas, têm outras tarefas em relação à ge-rência de pessoas, têm mil coisas a fazer emrelação à gerência de pessoas, menos defi-

nir onde ele vai estar atuando, porquequem define onde ele vai estar atuando é ogerente de alocação de recursos.

O processo era aquele, agora eu voumostrar para vocês por dentro, como é quea gente faz que aquele processo, que é con-ceptual, aconteça. Num primeiro momen-to, a gente tinha que identificar, afinal decontas, o que são as competências. E a gen-te, chamando novamente de skill, a gentedefiniu que as competências podiam tam-bém ter uma árvore, onde tinham as setecategorias iniciais, depois a gente incluiuuma oitava, só para competências geren-cias, e aquelas categorias principais se sub-dividiam em secundárias, e assim por dian-te, até o ponto de que, naquela categoriaque se fala em conhecimentos técnicos deprodutos, o grau de especialização é tãogrande, que a gente tem seis níveis de que-bra. Você tem produtos, aí você quebra emmainframe e micro, e depois quebra em fa-mílias de mainframes, e assim vai quebran-do até uma sexta quebra.

Hoje, o banco de dados da IBM que faladas competências, que tem toda a estruturadas competências, tem mais de dez militens. E, como é que a gente usa esses itenspara mapear as pessoas? Temos um sistemaque nos dá sustentação para todo o concei-to teórico, temos um sistema chamado skillmanagement sistem – muito criativo o no-me – e nesse sistema a gente tem templates.É como se fosse o banco de dados principal,onde se tem todos aqueles skills que eu fa-lei, com 16 mil itens de competências, sol-tos, organizados em forma de árvore, mastem, ao lado, alguns subconjuntos disso,que a gente chama de templates. Esses sub-conjuntos são criados e controlados por ex-perts mundiais em determinados assuntos.

Por exemplo: se eu sou um analista desistemas, tem um analista de sistemas que éo expert mundial, que define qual o perfilde competências que um analista de siste-mas tem que ter, ele define o template. Eu,como analista de sistemas, eu tenho que tra-zer uma cópia desse template para o meujob profile, o meu perfil de trabalho. Aquelequadrado maior, skill profile, é o perfil decompetências de cada pessoa. Cada funcio-nário da IBM tem, no sistema, aquilo ali. Pa-ra cada um de nós tem lá uma coisa pareci-

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““As empresasprivadas não têm mais segurança, nenhuma delas,porque a concorrência nãopermite isso. O novo pacto se chamaempregabilidade””

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da, o meu perfil de competências, que estáorganizado pelo perfil que o meu trabalhoexige – então, job profile é o perfil de com-petências exigido pela minha atividade pro-fissional, e eu tenho alguns skills que estãosoltos, ali em baixo, e são competências queeu tenho, que eu trago de outras experiên-cias, e que não são mais exigência do meutrabalho, mas coisas que eu sei – então, co-loco lá. Por exemplo: uma competência deidiomas não é exigência do trabalho, nor-malmente. Mas, imaginem um profissionaltécnico, em São Paulo, onde tem, aos mon-tes, nissei. Sabem japonês, falam japonêsem casa, falam português. Se eles informa-rem essas duas coisas ali no perfil de com-petências dele – não é uma exigência do bu-siness, aqui do Brasil; mas, eventualmente,uma grande corporação brasileira podeabrir uma subsidiária no Japão, e a IBM doJapão pode procurar nesse banco de dadoscompartilhado no mundo inteiro, ela podeprocurar quem é que, no mundo, sabe ins-talar sistemas AS 400, e além disso saibamjaponês e português, porque a equipe émista – aí acha aquele meu coleguinha láem São Paulo. A IBM já tem encontradopessoas que estão fazendo parte de projetosinternacionais, por causa disso aí.

Nós temos um conjunto de pessoas quesão identificadas através desse sistema, pa-ra formar equipes que vão atender uma ne-cessidade de cliente, muito específica. Issopode se dar inter departamentos, quer di-zer, eu elimino o limite departamental, maseu elimino até o limite da fronteira nacio-nal. As pessoas podem estar, e têm sidomobilizadas para projetos fora do país.Aqui, por exemplo, no Brasil, algumas pes-soas são especializadas na área de atendi-mento às empresas de petróleo, estão dan-do atendimento na Colômbia, na Venezue-la, que não tem profissionais do nível que agente tem por aqui.

Aqueles numerozinhos que eu coloqueisão os níveis que a gente usa para contabi-lizar este estoque. Temos níveis de zero acinco, que são os níveis de proficiência. Emzero a pessoa não conhece nada e nuncaouviu falar, depois ela tem um conheci-mento muito limitado, ouviu falar de algu-ma coisa, vai aumentando até que no nívelcinco ele é um guru do assunto. Essa grada-

ção é usada pelo expert, quando ele faz otemplate, que ele planeja qual é o requeri-mento, ele usa esses números e diz assim:uma pessoa de vendas, no perfil dele, temque ter um grau quatro ou cinco de nego-ciação. Talvez aquele que trabalhe interna-mente, que não vai ao cliente, não precisetanto. Precisa de negociação, com certeza.Profissional, hoje, mesmo aquele que é in-terno, precisa saber negociar com o colega,saber se relacionar. Então, o perfil diz, quealém da competência técnica, tenha as ha-bilidades de relacionamento.

Aquela oitava categoria, que eu falei pa-ra vocês, são as competências que nós esta-mos mapeando em todos os gerentes domundo inteiro. Foi feito um trabalho paraidentificar quais os gerentes mais bem su-cedidos na companhia, quais obtiveram osmelhores resultados, e depois disso foi ana-lisado o perfil desse gerente bem sucedido,e se chegou à conclusão do seguinte: essaseram as competências comuns aos geren-tes bem sucedidos — e nós estamos que-rendo desenvolver todos os gerentes nissoaí — é uma mistura de inglês com portu-guês, às vezes é difícil traduzir: costumerinsight, que quer dizer você se colocar nolugar do cliente, você entender o pensa-mento do cliente.

O pensamento inovador se dá comaquela pessoa que pensa: será que temuma outra maneira de eu fazer isso, quenunca foi pensada antes... Orientação porresultados — alguém que tem um focomuito claro, trabalho em equipe — comcerteza, muito importante, e no último,que é muito interessante, é a paixão pelonegócio. Que é um pano de fundo para to-do o mais. Por fim, nesta última transpa-rência, estão os benefícios. Acho que a me-lhor forma de terminar essa apresentação émostrar para o quê, ao final das contas, ser-ve isso tudo. Os beneficiados são os nossosclientes, é claro. Eles têm acesso a nossaforça de trabalho de uma maneira world-wide, IBM WW seria worldwide, global...Em todo o mundo os funcionários da IBMpodem estar me servindo, se eu precisar dealguma coisa especial — isso vai aumentara satisfação do cliente, e para a IBM, ela vaigastar melhor em treinamento — se eu seio que eu preciso desenvolver, em que pes-

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TECNOLOGIA / “A ERA DO CONHECIMENTO”

““Profissional,hoje, precisasaber negociar com ocolega, saber serelacionar””

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soas, eu gasto melhor. Não vou treinar sóna intuição, vou treinar baseado nos relató-rios de lacunas — eu posso planejar a dis-ponibilidade de profissionais que tem queter competências em determinados locaisonde vão acontecer negócios diferentes. Euestou acompanhando o desenvolvimentodas pessoas através desse sistema, e eu vouidentificar, atrair, reter e desenvolver talen-tos — a missão máxima em RH seria essa,missão de recursos humanos de uma em-presa, máxima, seria essa: identificar aspessoas certas, dentro ou fora da empresa,para atrair as pessoas certas, reter as pes-soas certas, e aí a gente tem uma porção deferramentas de retenção, e desenvolver aspessoas na direção certa, é claro.

E o indivíduo? Euzinha, lá... os funcioná-rios... Os funcionários têm uma ferramentapara desenvolverem a sua carreira, nin-guém tem mais preocupação com isso doque eu. Divulgar os skills na organizaçãoquer dizer o seguinte: na hora em que eu in-ventariei, que eu coloquei o meu perfil lá nosistema, é como se eu estivesse anunciandonos classificados quem sou eu, eu estou meoferecendo, me colocando para a compa-nhia inteira. É lá que eu vou ser localizada,para participar de um projeto, que pode serem Paris, por exemplo, na virada do século.Lá é o classificados, onde se pode obter asinformações necessárias para se aumentara empregabilidade, que também é umapreocupação de todo mundo.

Esses são os principais benefícios. Te-mos também um outro beneficiário, que éo tal do acionista. O acionista, com certeza,ele está feliz com isso tudo, porque clientessatisfeitos compram mais, funcionáriosmais satisfeitos produzem mais, é isso.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

“Alguma outra pergunta. Bem, pelovisto, acho que a fome está maior do quea curiosidade...”

�DORIS FONSECA

“De qualquer forma, eu não botei o meue-mail, eu queria oferecer pra vocês, paraqualquer contato que vocês queiram ter

comigo, será um prazer. O meu e-mail é[email protected] – e o telefone é 546-3836. Estejam à vontade. Eu acho que con-versar sobre esse assunto é excitante pramim, não se preocupem. Muito obrigado.”

�CONSELHEIRO ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES

"Vamos encerrando o nosso encontro,que teve a finalidade de trazer essa matériapara o nosso debate, porque não cabemais neste final de século o mesmo temorque se teve na primeira RevoluçãoIndustrial, quando se achou ser a máquinainimiga do Homem, e promoveu-se a suaquebra. Tal reação não gerou maisemprego a ninguém. Não adianta, no finaldo século XX, nós repetirmos essefenômeno, e sermos os quebradores demáquinas.

Um dos questionamentos maisinteressantes, o Gilson trouxe: nãopodemos esquecer o ser humano. Euespero que a “Era do Conhecimento”para a Era Industrial, seja comorenascimento para a Era Medieval, ouseja, vencer todos os erros do passado, oexcessivo patrimonialismo e o excessivomaterialismo de todas as ideologiasplanejadas no século XIX, e executadasno século XX. O grande erro foijustamente o materialismo, nãotransformar o ser humano na finalidadeprincipal. A "Era do Conhecimento" temessa finalidade, e cabe a nós, entes degoverno, termos a ousadia.

Sem provocar a IBM, qual é o grandeacerto do Bill Gates, que sempre teve acoragem de iniciar? Muitas vezes o seuWindows foi apresentado e congelou aimagem, como ocorreu em 1995 ou 1997.Um fracasso terrível, mas ele teve acapacidade de ser o primeiro, e aí foiconquistando novos espaços.

Eu tenho aqui uma lista tão extensa deautoridades, que eu não ouso ler, iria noslevar até as três horas da tarde. Abraço, noentanto, minhas queridas amigas e amigosda educação, que é o grande desafio donovo milênio.

Agradecendo a presença de todos, doupor encerrada a sessão."

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““A missãomáxima em RH,de umaempresa, seria identificaras pessoascertas, dentro e fora daempresa””

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TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIROPresidente - Conselheiro Antonio Carlos Flores de MoraesVice-Presidente - Conselheiro Thiers MontebelloConselheiro Jair Lins NettoConselheiro Fernando Bueno GuimarãesConselheiro Sérgio CabralConselheiro Nestor Guimarães Martins da RochaConselheiro Maurício AzêdoProcurador Chefe - Carlos Henrique Amorim Costa

CENTRO CULTURAL

Diretor - Antonio Carlos Flores de MoraesAdriana MarinhoCarla PerdigãoFausto de Oliveira CarvalhoFrancisca TalaricoLúcia Maria AssadMárcia Leal de FreitasMaria Adélia Saturnino BragaMaria Bethânia Vilella Naef ThadeuMoisés Castro MendesRita Alencar e SilvaTathiana Dantas de Albuquerque

EDIÇÃO

Editor - Roberto MotaConsultor Técnico - Conselheiro Jair Lins NetoTextos - Fausto de Oliveira Carvalho, Pepa Saldanha, Vera Mary Passos Equipe - Cassia Neves, Denise Losso, Iony de Souza Viana, Rose Pereira de OliveiraEditor de Arte - Laerte GomesFotos - Ivan Gorito MaurityTratamento de Imagens - Ricardo GandraIlustrações - Antonio Fernandez Prada

TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Rua Santa Luzia, 732 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20.030-040 - Telefone: (21) 824-3641 - Fax: (21) 824-3655Internet: www.tcm.rj.gov.brE-mail Centro Cultural: [email protected] de Janeiro

EncontrosNO TRIBUNAL

EXPEDIENTE

Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro - Ano II - Número 3 - Julho a Dezembro de 1999

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Na era do conhecimento, o saber está no centro do Rio,

na sede do TCMRJ. Sabendo disso, o Centro Cultural

do Tribunal realiza seminários, palestras

cursos e debates.

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